Explique qual o critério fundamental de classificação social na
Modernidade segundo Aníbal Quijano, e sobre quais variáveis
estabeleceu-se seu padrão de dominação. De acordo com Aníbal Quijano, o critério de classificação social na modernidade está intrínseco na cristalização de um eurocentrismo vinculado à noção de razão moderna provincianamente europeia. É sobre essa perspectiva que nasce, como tentativa de encobrir a colonização, justificar a dominação e outros feitos europeus, por exemplo, os Direitos Humanos, construídos sobre uma racionalidade eurocêntrica e dicotômica de “Oriente/Ocidente”, “racional/irracional”, “desenvolvido/subdesenvolvido”, em que, “coincidentemente” – com muitas aspas – o lado “bom”, “racional” e etc da história correspondem aos povos europeus. Qual questão surgiu para os povos europeus a partir de 1492 e que está sintetizado no "Debate de Valladolid"? O debate de Valladolid foi um dos primeiros debates morais em torno das questões sobre racionalidade e seu envolvimento na justificativa da colonização e escravização dos povos ameríndios. A pergunta que moveu tal discussão foi “é lícita a guerra movida contra os índios que se opõem à sua evangelização?”. Diversos foram os argumentos antropológicos, culturais e teológicos utilizados para justificar a dominação europeia nas Américas e, dentre os principais, utilizou-se a perspectiva aristotélica para justificar o subjugar dos índigenas. Indo para essa visão, ao considerar a sociedade como criada às bases da natureza e essa como fim de todas as coisas, Aristóteles assimilava o homem como de natureza política – “O homem é um animal político” – e ,portanto, cabe à ele atuar politicamente na polis. Era o fato de participar da polis que reafirmava o caráter humano do homem político e, consequentemente, como o escravo não o fazia, esse digno não era de ser “homem”, em outras palavras, o escravo era irracional e necessitava de um senhor racional que o coordenasse, numa relação “recíproca” de dependência: o senhor, racional, faz política; o escravo, irracional, realiza o trabalho braçal e assim se vive socialmente. Quais foram os conceitos fundamentais lançados por Descartes e Hobbes que os fizeram ser considerados fundadores da filosofia moderna? Começando por Descartes, sua clássica afirmação “Penso, logo existo”, aliada ao racionalismo moderno que posteriormente contribuirá para a “invenção dos direitos humanos”, tem fortes raízes concatenadas ao “eu conquisto “ de autores anteriores à ele. É ele o responsável por fundamentar o método da racionalidade moderna-colonial ao, de modo idealista e solipsista, construir o outro como pensado, partindo da própria consciência, como objeto-periférico numa perspectiva estritamente europeia no sentido geopolítico de sujeito-pensante que domina esse objeto-periférico. Em outras palavras, o sujeito-pensante, europeu, sob a perspectiva de se enxergar como racional, subjugando os demais objetos-periféricos (povos que foram colonizados, como os ameríndios). O paradigma politico, por sua vez, corresponde à Hobbes e sua teoria contratualista. Sua grande fundamentação está em construir um cenário contra-factual, o estado de natureza, onde os homens vivem em uma situação de “guerra de todos contra todos” e, para evitar tal “banho de sangue/violência”, o indivíduo, aqui, tratado também como ponto central, no caso da política (herança solipsista), cede suas liberdades à uma figura quase que divina (“um deus mortal”, nas palavras do próprio autor) – O leviatã – que fundamentará a racional vida em sociedade civil, enquanto a forma de vida no estado natural seria considerada irracional, um ponto peculiar, já que essa visão demonstrava uma clara dicotomia entre os povos europeus (que viviam em sociedade civil pressuposta como fruto de um contrato racional) e os indígenas (que, nessa perspectiva, viveriam num estado de natureza caótico e irracional).
Explique de que modo John Locke operou uma "inversão ideológica"
dos direitos humanos. Sendo o principal representante dos interesses da burguesia na revolução gloriosa, as ideias de Locke configuram o chamado liberalismo político, e seus pressupostos partem do mesmo sentido contratualista de hobbes, invertendo-o, contudo. Diferente do estado de guerra de todos contra todos, Locke pressupõe um estado de natureza onde todos tem liberdade ilimitada e o trabalho junto ao natural forma a propriedade privada. A questão aqui, apesar da exímia liberdade e direitos naturais, reside nos conflitos em torno da propriedade do homem e sua consequente implicância na desigualdade. O contrato social, portanto, surge como uma justificativa para fundamentar uma sociedade civil na qual o Estado atue como defensor da absoluta propriedade privada e demais direitos naturais. Surge ai o ponto da inversão ideológica dos direitos humanos: apesar dos Direitos serem protegidos pelo Estado, entende- se que a justificativa para a proteção dos mesmos resguarda-se a si na própria violação dos Direitos humanos, pois, ao retomar a indagação sobre guerra justa, Locke mostra-se favorável que, aqueles que vão contra a proposta da sociedade civil, a modernização e a propriedade, sejam tratados como irracionais e, sendo assim, podem ser subjugados. Isso, não coincidentemente, foi o caso da colonização: povos que não viviam sob a dinâmica da propriedade privada sendo escravizados por, teoricamente, irem contra o movimento de racionalização e modernização das sociedades. De que modo Hegel justifica filosoficamente a escravidão e o colonialismo? Marcando o ápice da complexa filosofia moderna, bem como seu fim, Hegel resguarda a ideia de que o real é racional e liga a realidade à ideia, formando um ser existência que, racionalmente, se manifesta no movimento dialético da história. No entanto, em sua Teodiceia, Hegel manifesta alguns pontos tidos como conservadores, especialmente ao tratar sobre “o fim da história” e da conservação de um status quo com relação ao movimento do Espírito da Razão e do Tempo na história. Para ele, esse espírito (zeitgeist) carrega consigo a razão e se manifesta, de tempos em tempos, em diferentes povos. Quando manifesta-se, o seu portador torna-se Senhor de seu tempo histórico. Nesse sentido, Hegel aponta que o movimento realizado por esse espírito partiu, historicamente, do Oriente e, em seu momento, pairou sobre os povos europeus, sendo esses os senhores de seu tempo e os que marcariam o fim da história. Portanto, o autor coloca a Europa, assim como demais pensadores, num pedestal: os europeus são portadores do espírito do tempo e detém de toda a razão para movimentar os rumos da história, logo, tem o direito de dominar os outros que não detém de tal espírito e, consequentemente, são irracionais. Qual é o papel dos direitos humanos na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann? Renomado pela sua Teoria dos Sistemas, Luhmann elabora uma concepção de Direitos Humanos como tendente à se universalizar, tornando-se um conjunto de direitos da sociedade mundial. Esses Direitos, por sua vez, são frutos de um processo de diferenciação funcional e autopoiético – fenômenos biológicos envolvidos na produção de certas substâncias – que, de acordo com Luhmann, tem seus germes na Europa, daí um dos motivos de considera-lo eurocêntrico. Ademais, segundo o autor, esses Direitos Humanos seriam um resultado maior do fenômeno de diferenciação funcional que torna os sistemas jurídicos cada vez mais complexos e sofisticados e, na sua visão, esses Direitos, com sua tendência de se tornarem mundiais, abrigariam consensos mínimos e protetores de direitos individuais e outros de todas as sociedades. Explique de que modo Habermas vincula os direitos humanos com os diferentes estágios de evolução moral das sociedades De acordo com Habermas, um dos autores que rompe com a primeira geração marxista da Escola de Frankfurt, os direitos humanos estão relacionados com a moralidade, em outras palavras, com a consciência moral das sociedades tradicionais e anteriores. Nessa perspectiva, o autor traça cronologicamente esse processo de evolução moral dos direitos, partindo, primeiramente, do jusnaturalismo e suas concepções de Direitos Naturais anteriores e imutáveis. A próxima etapa dessa evolução moral corresponde, em Habermas, ao processo de codificação com a formação da Escola de Exegese, trazendo uma mudança nos paradigmas de Direito Natural e passando agora ao Positivismo jurídico. Após essa etapa, tem-se a crise dessa perspectiva decorrente das guerras e da derrocada do nazi-fascismo na Europa e, nesse novo contexto, os direitos humanos “evoluíram” novamente com os conceitos democráticos e igualitários do pós- guerra. Por fim, com o fenômeno da globalização e a dissolução das barreiras, o que se tende a ver, segundo Habermas, é o enfraquecimento dos Estados Nacionais e o consequente crescimento de “constelações pós-nacionais”, nas quais os Direitos Humanos teriam um papel fundamental em que seu fundamento moral seria universalmente válido/possível.