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INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA DE TURBINAS EÓLICAS OFFSHORE

SOBRE FUNDAÇÃO DE GRAVIDADE

Eduardo Dorscheidt

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-graduação em Engenharia
Civil, COPPE, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do tı́tulo de Mestre em
Engenharia Civil.

Orientadores: Gilberto Bruno Ellwanger


Maria Cascão Ferreira de
Almeida

Rio de Janeiro
Outubro de 2020
INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA DE TURBINAS EÓLICAS OFFSHORE SOBRE
FUNDAÇÃO DE GRAVIDADE

Eduardo Dorscheidt

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO


LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM
CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL.

Orientadores: Gilberto Bruno Ellwanger


Maria Cascão Ferreira de Almeida

Aprovada por: Prof. Gilberto Bruno Ellwanger


Prof.a Maria Cascão Ferreira de Almeida
Prof. Marcio de Souza Soares de Almeida
Prof. Sérgio Hampshire de Carvalho Santos
Prof. Anderson Pereira

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL


OUTUBRO DE 2020
Dorscheidt, Eduardo
Interação solo-estrutura de turbinas eólicas offshore
sobre fundação de gravidade / Eduardo Dorscheidt. – Rio
de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2020.
XX, 108 p.: il.; 29,7 cm.
Orientadores: Gilberto Bruno Ellwanger
Maria Cascão Ferreira de Almeida
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de
Engenharia Civil, 2020.
Referências Bibliográficas: p. 93-102.
1. Turbina eólica offshore. 2. Interação solo-estrutura.
3. Fundação de gravidade. 4. Hardening Soil. I.
Ellwanger, Gilberto Bruno et al. II. Universidade Federal
do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia Civil.
III. Título.
Nós estamos agora mesmo no início de uma crise climática e
ecológica e nós precisamos chamá-la pelo que ela é: uma
emergência. Resolvê-la é o maior e mais complexo desafio
que o Homo sapiens já enfrentou. A principal solução,
entretanto, é tão simples que até mesmo uma criança pequena
é capaz de entendê-la: nós precisamos parar as nossas emissões
de gases de efeito estuda.
(...)
Agora, todos nós temos uma escolha. Nós podemos criar ações
de transformação que vão garantir condições para a vida das
futuras gerações, ou nós podemos seguir com os nossos
negócios como de costume e fracassar. Isso só depende de nós.
E, sim, nós precisamos de uma mudança sistemática mais do
que de mudanças individuais, mas não existe uma sem a outra.
Se vocês olharem ao longo da história, verão que todas as
grandes mudanças da sociedade foram iniciadas por pessoas
nos níveis mais básicos, pessoas como eu e vocês.
Então, eu peço a vocês que, por favor, acordem e tornem
possíveis as mudanças necessárias. Fazer o seu melhor não é
mais bom o suficiente. Nós todos precisamos fazer o que é
aparentemente impossível. Hoje, nós usamos cerca de 100
milhões de barris de petróleo todo dia. Não há políticas para
mudar isso; não há leis para manter esse petróleo embaixo do
solo. Nós não podemos mais salvar o planeta seguindo as
regras, porque as regras precisam mudar. Tudo precisa
mudar e tem que começar hoje. Então, todos aí fora: agora é
hora de desobediência civil. É hora de se rebelar.

Greta Thunberg, “The 1975” (em tradução livre)

iv
Faço desta a minha declaração
de amor às estruturas que
dançam.

v
Agradecimentos

Peço desculpas ao leitor, mas não posso ser breve (e talvez quebre algumas
formalidades).

Aos meus pais, pela vida e pela liberdade.


Se houve quem questionou as minhas escolhas profissionais e desrespeitou o que era
importante para mim, esses nunca foram vocês. Eu serei eternamente grato por isso
(e por todo o resto também). Mais uma vez, vocês me encontram defendendo uma
dissertação de mestrado, mas, dessa vez, é com muito mais convicção.

Ao Prof. Gilberto Bruno Ellwanger, pelas oportunidades.


Pensando um pouco sobre Teoria do Caos, nós nunca saberı́amos que fim terı́amos
levado se alguma das nossas escolhas fosse alterada na história. Então, não temos
como saber que destino eu teria tido se tu não tivesse respondido aquele meu primeiro
e-mail e não tivesse me instigado a vir para o Rio de Janeiro. Porém, eu aposto
que o caminho que eu teria traçado não teria sido tão bom quanto este que tu
me deu a oportunidade de traçar. Obrigado por ter sido tão atencioso desde o
começo. Obrigado, também, por ser um orientador tão presente e confiar tanto no
meu trabalho.

À Profa. Maria Cascão Ferreira de Almeida, pelo apoio.


Sem a sua ajuda e os recursos do seu laboratório, essa dissertação não teria sido
possı́vel. Sou muito grato a senhora por ter adentrado nessa missão comigo e o Prof.
Gilberto e espero poder sempre renovar essa parceria. Agradecendo-lhe, espero estar
podendo também dizer o meu “obrigado” a todas as pessoas da Geotecnia que me
ajudaram ao longo do meu mestrado.

Aos meus colegas do grupo de energia eólica do LACEO e também todas amiza-
des que se construı́ram dentro da COPPE.
Agradeço, principalmente, meus colegas e amigos, Fellipe Araújo Gomes e Gabriel
Nogueira, por terem me ajudado nesse tempo que estive no laboratório. Se não
fosse pelo trabalho que vocês já haviam desenvolvido, o caminho teria sido muito

vi
mais difı́cil. Obrigado, também, pela convivência diária, pelos alı́vios cômicos e por
sempre acreditar no projeto.

Aos meus amigos que sempre foram únicos.


Giácomo e Thalles, minha fonte inesgotável de conselhos e o que tive de mais
próximo do conceito de irmãos; e Ana, Cynthia e Paola, minhas guias e parcei-
ras desde o primeiro momento aqui no Rio.

Aos mestres que antecederam a minha vida na COPPE.


Os meus professores de formação da UNISINOS, com especial agradecimento a Vol-
nei Pereira da Silva e Ranier Adonis Barbieri, meus orientadores de TCC, os quais
tiveram grande influência na minha escolha por Estruturas. Também aos docentes
do meu primeiro mestrado, na UFSC, com todo destaque ao Prof. Daniel Loriggio,
orientador, amigo e conselheiro, que foi quem primeiramente me incentivou a estudar
interação solo-estrutura. Além das pessoas, também agradeço às instituições, sem-
pre éticas e de excelência, que me formaram como engenheiro, pesquisador, mestre
uma vez e mestre uma nova vez.

Aos financiadores do nosso projeto: ANEEL e Petrobras, por nos ter dado a
chance de trabalhar nesses primeiros passos da energia eólica offshore do nosso paı́s.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientı́fico e Tecnológico (CNPq), pela


bolsa que me foi concedida para conclusão deste mestrado.

vii
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA DE TURBINAS EÓLICAS OFFSHORE


SOBRE FUNDAÇÃO DE GRAVIDADE

Eduardo Dorscheidt

Outubro/2020

Orientadores: Gilberto Bruno Ellwanger


Maria Cascão Ferreira de Almeida
Programa: Engenharia Civil

A energia eólica offshore é uma das possı́veis formas de tornar matrizes


energéticas mais sustentáveis e renováveis. Com a implantação em lâminas d’água
cada vez mais profundas, a exploração de ventos cada vez mais intensos e o uso
de turbinas cada vez mais potentes, uma série de questões estruturais se apresen-
tam para que essas estruturas sejam viáveis economicamente, algumas das quais
envolvem o mecanismo de interação solo-estrutura. Isso pois, para a realização de
análises acopladas do sistema como um todo, o solo usualmente é modelado como
um conjunto de molas cujas formulações são baseadas na Teoria da Elasticidade e
em uma série de hipóteses simplificadoras. O intuito deste trabalho é investigar
a interação de um aerogerador de 10 MW com o meio geotécnico, avaliando dife-
rentes possibilidades de relações constitutivas para o solo, utilizando o Método dos
Elementos Finitos a partir do software Plaxis 3D. Teve-se como objetivo central
uma calibração para as molas, possibilitando análises acopladas no software SIMA-
RIFLEX com o solo avaliado de forma mais elaborada, tendo, assim, respostas
estruturais mais confiáveis. Os resultados obtidos demonstraram que a Hipótese de
Winkler pode gerar deslocamentos 20% menores do que a modelagem considerando
a relação constitutiva de endurecimento do solo com rigidez a pequenas deformações
(HSS ), já que ela despreza um patamar de plastificação e ruptura do solo. Além
disso, indicou-se que o amortecimento geotécnico representa uma parecela pequena
no amortecimento total e que o modelo de Mohr-Coulomb pode prever deformações
superestimadas frente às demais relações.

viii
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

SOIL-STRUCTURE INTERACTION MODELLING OF GRAVITY-BASED


FOUNDATIONS FOR OFFSHORE WIND TURBINES

Eduardo Dorscheidt

October/2020

Advisors: Gilberto Bruno Ellwanger


Maria Cascão Ferreira de Almeida
Department: Civil Engineering

Offshore wind energy is a possible mean to make energy matrices more sus-
tainable. Given the increase of water depths, the exploration of winds increasingly
powerful and the usage of bigger turbines, some structural tasks are being introduced
to make these offshore wind farms projects viable. An important part of these tasks
involves soil-structure interaction (SSI). In coupled analysis, soil is usually modelled
as a set of elastic springs based on the Theory of Elasticity and in a series of simpli-
fied hypothesis. This thesis aims to investigate the SSI of a gravity-based foundation
for a 10 MW offshore wind turbine, applying different constitutive models for the
soil, such as Mohr Coulomb and hardening models, from a finite element approach
using Plaxis 3D. The main goal of this thesis was to calibrate more reliable springs
using the Finite Element Method to use them in the coupled analysis of the offshore
wind turbines in SIMA-RIFLEX. The obtained results showed that classic Winkler
Hypothesis can predict displacements 20% smaller than the springs generated by
the finite element modelling using HSS (Hardening Soil with Small-strain stiffness),
since the linear elastic spring do not account plasticity and failure envolope in soil.
Besides that, the results indicate that the soil’s damping represents only a little por-
tion of the whole system damping, and that Mohr-Coulomb showed overestimated
displacements and stresses when compared to the remaining constitutive models.

ix
Sumário

Lista de Figuras xiii

Lista de Tabelas xvii

1 Introdução 1
1.1 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.1.1 Objetivo geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.1.2 Objetivos especı́ficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2 Justificativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

2 Revisão bibliográfica 8
2.1 Estado da arte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.1.1 Literatura internacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.1.2 Literatura nacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2 Estado da prática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.3 Turbinas eólicas offshore: uma introdução . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.4 Possı́veis estruturas de suporte de OWTs . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.4.1 Estrutura de gravidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

3 Metodologia 29
3.1 Modelagem da interação solo-estrutura . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.1.1 Hipótese de Winkler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.1.2 Coeficientes de reação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.1.3 A ISE a partir do Método dos Elementos Finitos . . . . . . . 33
3.1.4 Elementos empregados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.1.5 Elemento de interface . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.2 Modelos constitutivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.2.1 Modelo linear-elástico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.2.2 Modelos elastoplásticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.2.3 Comparativo entre modelos constitutivos . . . . . . . . . . . . 46
3.3 Amortecimento do solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.3.1 Histerese do solo segundo o HSS . . . . . . . . . . . . . . . . 47

x
3.3.2 Amortecimento de Rayleigh . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3.3.3 Relação entre histerese do solo e amortecimento de Rayleigh . 50
3.3.4 Amortecimento total do HSS . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
3.4 Carregamentos ambientais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.5 Programas utilizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3.5.1 SIMA-RIFLEX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3.5.2 Plaxis 3D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

4 Análises numéricas 53
4.1 Subsistema estrutural proposto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.1.1 Turbina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.1.2 Torre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.1.3 Estrutura de suporte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.2 Subsistema geotécnico proposto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.3 Massas e esforços . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.3.1 Massas estruturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.3.2 Consideração do empuxo hidrostático . . . . . . . . . . . . . . 58
4.4 Análises propostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.4.1 Validação do modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.4.2 Avaliação das hipóteses clássicas . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.4.3 Módulos de reação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.4.4 Relações constitutivas - curvas não lineares . . . . . . . . . . . 60
4.4.5 Amortecimento do solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
4.4.6 Comparação de respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.4.7 Estratigrafia heterogênea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

5 Resultados 70
5.1 Avaliação do modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
5.1.1 Frequência natural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
5.2 Avaliação das hipóteses clássicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
5.3 Módulos de reação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
5.3.1 Linear-elástico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
5.4 Relações constitutivas elastoplásticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
5.4.1 Mohr-Coulomb . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
5.4.2 Hardening Soil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
5.4.3 HSS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
5.5 Amortecimento do solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
5.5.1 Influência do amortecimento histerético . . . . . . . . . . . . . 81
5.6 Comparação de respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
5.6.1 Análise de extremos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

xi
5.6.2 Análise a cargas tı́picas de fadiga . . . . . . . . . . . . . . . . 86
5.7 Estratigrafia heterogênea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

6 Conclusões 90
6.1 Sugestão de trabalhos futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

Referências Bibliográficas 93

A Avaliação do modelo 103


A.1 Resistência ao momento tombante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
A.2 Capacidade de carga do solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

B Montagem das curvas não lineares 108

xii
Lista de Figuras

1.1 Fontes da oferta energética brasileira, ano base 2019 (adaptado de [1],
2020). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Fontes da oferta de energia elétrica no paı́s, ano base 2019 (adaptado
de [1], 2020). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Walney Extension, conjunto de fazendas eólicas offshore britânicas
com capacidade de geração de 1 GW de energia [6] . . . . . . . . . . 4
1.4 Fundações de gravidade do projeto de Blyth sendo transportadas de
doca seca para o ponto de instalação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2.1 Nacelle de uma turbina eólica moderna (adaptada de [54]). . . . . . . 20


2.2 Espectros de frequência das solicitações de vento e onda e faixas res-
sonantes 1P e 3P para diferentes modelos de turbina (adaptado de
[55]). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.3 Estruturas de suportes para turbinas eólicas offshore mais comuns
([28], 2017). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.4 Alpha Ventus, na Alemanha, fazenda que emprega monopile, jaqueta
e trı́poda ([57], 2017). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.5 Construção das fundações de Middelgrunden [58]. . . . . . . . . . . . 26
2.6 Construção das fundações de Lillgrund. Destaque para as células
vazadas na estrutura de concreto armado [59]. . . . . . . . . . . . . . 26
2.7 Construção das fundações de Thorntonbank I. Destaque para o for-
mato cônico das estruturas de fundação [60]. . . . . . . . . . . . . . . 27
2.8 À esquerda: o projeto de demonstração de Blyth; à direita: o
protótipo Elisa, parte do projeto ELICAN [61], [62] . . . . . . . . . . 28

3.1 Modelagem do problema de interação solo-estrutura por um conjunto


de molas lineares [65]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.2 Solicitações suportadas pelo elemento unidimensional (adaptada de
[79]). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.3 Solicitações suportadas pelo elemento plano empregado pelo Plaxis
3D para modelar elementos estruturais bidimensionais [79]. . . . . . . 36

xiii
3.4 Numeração dos nós locais e pontos de integração do elemento te-
traédrico de 10 nós [80]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.5 Comportamento de diferentes modelos constitutivos para carga de-
formação uniaxial,  (adaptada de [78]). . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.6 Envelope de ruptura de Mohr-Coulomb considerando três tensões
principais distintas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.7 Comparação dos módulos de elasticidade utilizados pelos diferentes
modelos (adaptado de [79] e [86]). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.8 Variação da rigidez conforme dá-se o acréscimo das deformações, des-
tacando a aplicação de cada escala de deformação (apatada de [90]). . 43
3.9 Resposta de um ensaio de cisalhamento cı́clico, evidenciando a curva
backbone caracterı́stica do comportamento histerético dos materiais
[79]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.10 Diferenças das relações constitutivas em termos de: (a) curvas tensão-
deformação; e (b) variação da regidez ao cisalhamento normalizada
(secante/inicial) ao longo do acréscimo de deformações (adaptada de
[85]). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.11 Método gráfico de interpretação da taxa de amortecimento (força F
[kN] × deslocamento u [m]) [99]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.12 Curvas fornecidas pelo Plaxis representando a redução da rigidez e o
aumento do amortecimento a partir do acréscimo das deformações no
modelo HSS. Estas curvas representam o solo que de fato é utilizado
para as análises numéricas desta dissertação, cujos parâmetros serão
apresentados na Tabela 4.4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3.13 Avaliação do sinal de resposta para extração da taxa de amorteci-
mento (adaptada de [99]). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

4.1 Modelagem do sistema proposto no SIMA-RIFLEX . . . . . . . . . . 53


4.2 Modelagem inicial da fundação, da torre e da nacelle no Plaxis 3D . . 55
4.3 Subsistema estrutural em análise com destaque para as seções da GBF. 56
4.4 Os dois primeiros modos de vibração de uma torre eólica offshore: o
fore-aft e o side-to-side. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.5 Modelos criados no Plaxis 3D para a avaliação dos critérios que regem
os coeficientes de reação empregados na Hipótese de Winkler. Sendo:
(a) o deslocamento vertical; (b) o deslocamento horizontal; e (c) a
rotação à flexão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.6 Etapas de montagem das curvas para avaliação não linear do solo. . . 62

xiv
4.7 Sinal de deslocamentos no topo da torre entre 100 e 200 segundos
(regime permanente) da resposta do SIMA-RIFLEX com todos os
amortecimentos desativados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.8 Aplicada à nacelle a importação do que o Plaxis chamada “multi-
plicador dinâmico”: sinais adimensionais que são multiplicados ao
carregamento médio do vento em cada uma das direções citadas. . . . 67
4.9 Input da função de multiplicadores da onda regular no Plaxis 3D
cujos valores máximos positivos estão contidos na Tabela 4.10. . . . . 68
4.10 Caracterı́sticas da estratigrafia das três camadas adotadas. . . . . . . 69

5.1 Frequências naturais obtidas pelo SIMA-RIFLEX para o modelo ori-


ginal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
5.2 Ajuste e modelo final da GBF . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
5.3 Espectros das frequências ressonantes de vento, onda, 1P e 3P com-
parados aos modelos antes e depois do ajuste. . . . . . . . . . . . . . 73
5.4 Decaimento da resposta dinâmica para os diferentes modelos consti-
tutivos analisados: diferença na frequência natural. . . . . . . . . . . 76
5.5 Sinais de resposta no topo da torre entre 0 e 100 segundos de de-
caimento, comparando duas avaliações de amortecimento no SIMA-
RIFLEX e duas no Plaxis 3D. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
5.6 Output do Plaxis 3D evidenciando a variação da resposta para dife-
rentes time-steps no modelo Hardening Soil. O aumento do time-step
resultando em um ganho de amortecimento. . . . . . . . . . . . . . . 81
5.7 Comparação dos sinais de deslocamento no topo da torre (direção x)
com o modelo no SIMA-RIFLEX de HSS com e sem a parcela de
amortecimento do solo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
5.8 Mesma análise da Figura 5.7, mas com situação hipotética de onda
ressonante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
5.9 Deslocamentos à altura do hub obtidos no sentido do eixo x no pós-
processamento do SIMA-RIFLEX, considerando a Hipótese de Win-
kler e o modelo de HSS (plastificação original) . . . . . . . . . . . . . 83
5.10 Deslocamentos obtidos no sentido do eixo x para o Plaxis 3D e para
o SIMA-RIFLEX, considerando o último ponto original da curva de
HSS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
5.11 Deslocamentos obtidos no sentido do eixo x para o Plaxis 3D e para
o SIMA-RIFLEX, considerando o último ponto suavizado da curva
de HSS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

xv
5.12 Deslocamentos à altura do hub obtidos no sentido do eixo x no pós-
processamento do SIMA-RIFLEX, considerando a Hipótese de Win-
kler e o modelo de HSS (plastificação suavizada). . . . . . . . . . . . 85
5.13 Deslocamentos à altura do hub obtidos no sentido do eixo x pelo
Plaxis 3D, comparando os modelos de HSS, Hardening Soil e Mohr-
Coulomb. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
5.14 Deslocamentos à altura do hub obtidos no sentido do eixo x no pós-
processamento do SIMA-RIFLEX, considerando a Hipótese de Win-
kler e o modelo de HSS (plastificação suavizada) com cargas de fadiga. 86
5.15 Deslocamentos à altura do hub obtidos no sentido do eixo x pelo
Plaxis 3D, comparando os modelos com solo homogêneo (HSS ) e com
três camadas (Figura 4.10). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
5.16 Curvas Q − z obtidas para as diferentes relações contitutivas. Desta-
cando o comportamento às pequenas deformações. . . . . . . . . . . . 88
5.17 Curvas t − y obtidas para as diferentes relações contitutivas. . . . . . 89
5.18 Curvas M − ψ obtidas para as diferentes relações contitutivas. . . . . 89

A.1 Esquema de forças solicitantes e resultantes para conferência da re-


sistência ao momento tombante, baseado no trabalho de Koekkoek
(2017) [22]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
A.2 Esforços resultantes na fundação de gravidade (DNVGL, 2016) [24]. . 105
A.3 Área efetiva (Aef f ) de uma fundação de gravidade de base circular
(DNVGL, 2016) [24]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106

B.1 Quadro de pontos para a montagem das curvas. . . . . . . . . . . . . 108

xvi
Lista de Tabelas

2.1 Histórico de fazendas eólicas offshore sobre estrutura de suporte de


gravidade pelo mundo [16, 31] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

3.1 Propriedades de molas para interação solo-estrutura de placa rı́gida


circular sobre meio elástico [74]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

4.1 Resumo das propriedades da turbina da DTU de 10 MW. . . . . . . . 54


4.2 Propriedades geométricas iniciais da torre. . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.3 Propriedades geométricas da fundação. . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.4 Propriedades do solo proposto para as análises numéricas. . . . . . . 57
4.5 Massa dos elementos estruturais do sistema . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.6 Empuxo hidrostático e compensação à massa adicional de cada ele-
mento submerso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.7 Conjunto de cargas aplicadas para elaborar a curva Q − z. . . . . . . 62
4.8 Conjunto de cargas aplicadas para elaborar a curva t − y. . . . . . . . 63
4.9 Conjunto de momentos aplicados para elaborar a curva M − ψ. . . . 63
4.10 Esforços horizontais máximos impostos pelas condições ambientais
(considerando a lâmina d’água como cota zero) . . . . . . . . . . . . 68

5.1 Propriedades geométricas da estrutura ajustada. . . . . . . . . . . . . 71


5.2 Frequências fore-aft após o ajuste do subsistema estrutural. . . . . . . 76

xvii
NOMENCLATURA

LETRAS ROMANAS
𝑐 coesão do solo.
𝐸0 módulo de elasticidade inicial.
𝐸50 módulo de elasticidade do ensaio de compressão axial à 50% da
tensão máxima medida.
𝐸𝑜𝑒𝑑 módulo de elasticidade edométrico.
𝐸𝑢𝑟 módulo de elasticidade de descarga-recarga.
𝐺 módulo de cisalhamento.
𝐺0 módulo de cisalhamento inicial.
𝐺𝑢𝑟 módulo de cisalhamento de descarga-recarga.
𝑘 coeficiente de reação da Hipótese de Winkler [N/m³].
𝐾 módulo de reação da Hipótese de Winkler [N/m].
𝑚 expoente de rigidez no modelo HSM.
𝑅𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟 parâmetro de elemento de interface do Plaxis 3D.

LETRAS GREGAS
𝛼 parcela de amortecimento referente à massa, para amortecimento
de Rayleigh.
𝛽 parcela de amortecimento referente à rigidez, para amortecimento
de Rayleigh.
𝛾0,7 deformação por cisalhamento que confere 70% de perda de rigidez
inicial.
𝛾𝑐𝑢𝑡−𝑜𝑓𝑓 deformação por cisalhamento limite no modelo HSS.

𝜃 rotação em relação ao eixo x.


𝜈 coeficiente de Poisson.
𝜉 taxa de amortecimento.
𝜑 rotação em relação ao eixo z; ângulo de atrito interno.
𝜓 rotação em relação ao eixo y; ângulo de dilatância.
𝜔𝑖 frequência angular referente ao modo de vibração i.

xviii
ABREVIATURAS
ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica
API American Petroleum Institute
BEM Blade Element Momentum
DNV GL Det Norske Veritas Germanischer Lloyd
GBF Gravity-based foundation
GBS Gravity-based structure
HSM Hardening Soil Model (standard)
HSS Hardening Soil with Small-strain stiffness
IEC International Electrotechnical Commission
ISE Interação solo-estrutura
LDA Lâmina d’água
MEF Método dos Elementos Finitos
NREL National Renewable Energy Laboratory
OWT Offshore wind turbine

xix
GLOSSÁRIO
Backbone curva que representa o ciclo de carga e descarga no solo.
Base (da GBF) parte inferior, mais robusta, da fundação de gravidade.
Dashpot ponto de amortecimento concentrado.
Endurecimento comportamento geotécnico de ganho de rigidez a partir do
do solo escoamento.
Fore-aft modo de vibração na direção de ataque do vento.
Hub peça metálica que une as pás ao eixo principal da torre eólica.
Meio semi- meio geotécnico grande o suficiente para se admitir que o contorno
infinito não influencie na resposta mecânica.
Nacelle componente da turbina constituída pelo rotor e pelas pás.
Onda regular onda que possui altura e período repetidos ao longo do tempo.
Shaft (da GBF) parte superior, mais esbelta, da fundação de gravidade.
Side-to-side modo de vibração perpendicular à direção de ataque do vento.
Subsistema em um problema de interação solo-estrutura, refere-se à estrutura
estrutural analisada.
Subsistema em um problema de interação solo-estrutura, refere-se ao solo
geotécnico analisado.
Thrust esforço perpendicular ao plano do rotor (empuxo).
Velocidade de velocidade mínima do vento para a turbina eólica produzir energia.
cut-in
Velocidade de velocidade máximo do vento para a turbina eólica produzir energia.
cut-out

xx
Capı́tulo 1

Introdução

Em 2019, 46,1% da energia produzida no território brasileiro foi oriunda de fontes


renováveis, conforme ilustra a Figura 1.1. Esse é um dado que pode ser analisado
de diferentes perspectivas: o ponto de vista pessimista diz que mais da metade da
matriz energética é insustentável, ou seja, por mais que essa energia esteja sendo
produzida e consumida de maneira módica e, portanto, acessı́vel para a maioria
da população brasileira, ela vem de fontes finitas (não renováveis em um futuro
alcançável, caso do petróleo, do carvão e do gás natural) e, além disso, são, em sua
maioria, contribuintes com a emissão de gases tóxicos, como o dióxido de carbono
(CO2) e o metano (CH4), os quais são alguns dos causadores do efeito estufa e,
consequentemente, agentes do aquecimento global [1, 2].

Figura 1.1: Fontes da oferta energética brasileira, ano base 2019 (adaptado de [1],
2020).

1
Do ponto de vista otimista, pode-se dizer que a produção de energia renovável
do Brasil está bastante à frente da média mundial, cujo valor fica em torno de 14%.
Inclusive, se avaliados os dados de fontes de energia somente elétrica, apresentados
na Figura 1.2, percebe-se uma matriz renovável em sua grande maioria. As fontes de
energia sustentável no paı́s são baseadas principalmente nos recursos hı́dricos e ve-
getais existentes pelo território nacional. A queima do carvão vegetal e da biomassa
(cana-de-açúcar, em sua maioria) é um processo sustentável, ou seja, é possı́vel, num
futuro breve, deter de mais recursos para extrair mais energia. Entretanto, toda ex-
tração baseada em queima gera gases poluentes, mesmo que em menor quantidade
do que os produzidos pelos combustı́veis fósseis. A energia hidráulica, comum em
quase todo o paı́s, é sustentável e não depende de queima de qualquer combustı́vel,
porém pode gerar uma série de impactos na natureza e nas populações locais, princi-
palmente no seu processo de implementação. Além disso, as hidrelétricas dependem
substancialmente de que seus rios estejam com boa vazão, ou seja, épocas de baixa
do nı́vel de água equivalem em aumento nas contas de luz dos usuários e possı́veis
apagões.

Figura 1.2: Fontes da oferta de energia elétrica no paı́s, ano base 2019 (adaptado de
[1], 2020).

Entende-se, assim, que o Brasil possui mais da metade de sua matriz energética
total composta por fontes não renováveis e cerca de 40% oriunda de fontes renováveis
porém originadas de meios que, de alguma forma, impactam a natureza. Os menos
de 5% restantes guardam opções extremamente vantajosas do ponto de vista da
conservação do meio ambiente e da sustentabilidade da Terra: a energia solar e,
principalmente, a energia eólica (além de outras fontes, como o biodiesel). Como

2
se percebe na Figura 1.1, a energia solar equivale a quase irrisórios 0,2% da matriz
nacional, o que ocorre por ela ainda ser uma opção bastante onerosa e com limitações
de escala.
Dessa forma, a energia eólica surge como uma solução a diversas questões e em-
pecilhos presentes na matriz energética: ela é renovável, sustentável, possui impacto
ambiental baixı́ssimo e causado quase que somente no seu processo de fabricação,
possui regularidade na produção energética ao longo do ano e vem gradualmente me-
lhorando o seu custo-benefı́cio. Atualmente, os ventos geram 1,62% da energia total
brasileira (8,6% da energia elétrica), sendo que todas as fazendas eólicas são onshore,
ou seja, localizadas em terra. A energia eólica passou a ter um notório crescimento
em meados de 2005 (quando a capacidade instalada era de apenas 27,1 MW), graças
a projetos como o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas (Proinfa) que facili-
taram o investimento de empreendedores que não eram vinculados às concessionárias
que detinham a produção ou transmissão de eletricidade. A partir de então, a as-
censão da energia eólica no paı́s seguiu uma margem média de 40% ao ano (em
2019, ultrapassou-se a marca dos 15.000 MW instalados). Órgãos como a ANEEL e
a ABEEólica estimam que, até 2025, se atinja 20.000 MW de capacidade de geração
energética por meio eólico no Brasil [3, 4].
Baseada na experiência internacional, a expansão da parcela da matriz energética
nacional constituı́da pela energia eólica dependerá, provavelmente, da transferência
de grande parte dos investimentos em fazendas do ambiente onshore para o offshore.
Essa é uma tendência mundial que vem se agravando na última década. Isso porque,
apesar de serem estruturas mais onerosas financeiramente na implementação, as
turbinas eólicas offshore podem alcançar maior custo-benefı́cio por apresentarem
algumas vantagens, como [5]:

• perenidade e uniformidade dos ventos em ambiente marı́timo, diminuindo,


assim, a turbulência nas turbinas, o que é vantajoso tanto para a geração de
energia quanto para a elaboração do projeto estrutural;

• a velocidade dos ventos aumenta quase que proporcionalmente à medida que


se afasta da costa;

• não se faz ocupação de terras habitáveis e/ou agricultáveis;

• há a possibilidade de implantação de turbinas de maiores dimensões e, conse-


quentemente, mais potentes;

• permite-se a redução de alguns fatores ambientais negativos dos aerogeradores


onshore, como a emissão de ruı́dos.

3
Por questões como estas, a Wind Europe [5] alega que as turbinas offshore pos-
suem, em média, 63% a mais de capacidade de produção energética quando com-
paradas às turbinas onshore. A Figura 1.3 representa a distribuição das turbinas
eólicas em uma fazenda offshore, no caso Walney Extension, localizada no Mar da
Irlanda.

Figura 1.3: Walney Extension, conjunto de fazendas eólicas offshore britânicas com
capacidade de geração de 1 GW de energia [6]

Percebe-se, então, que a implementação de fazendas eólicas offshore é uma al-


ternativa para tornar a matriz energética brasileira mais sustentável e eficiente.
Entretanto, por se tratar de uma ciência relativamente nova e com um alto grau de
inovação em curto prazo, há uma série de questões que ainda são pontos a serem
investigados pela Engenharia para tornar o projeto desses sistemas mais otimizado
e vantajoso economicamente. Algumas destas questões dizem respeito às estruturas
de suporte e fundações do sistema, à medida que a tendência é se trabalhar com
turbinas cada vez mais potentes e localizadas em lâminas d’água cada vez mais
profundas, esses conjuntos estruturais, assim como o solo, passam a ser ainda mais
solicitados, tanto pelo sistema mais pesado quanto pelas maiores cargas ambientais.
Entre as possı́veis soluções de estrutura de suporte de turbinas eólicas offshore, as
fundações de gravidade (gravity-based foundation, GBF; ou gravity-based structure,
GBS ) são uma das opções mais frequentemente empregadas. Até a década passada,
indicava-se o seu uso somente para profundidades rasas (< 20 m), porém esse con-
ceito vem sendo modificado recentemente, principalmente a partir dos projetos de
demonstração de Blyth (2017) e de Elisa-ELICAN (2018), que empregaram turbinas
de 8,3 e 5 MW, respectivamente, em profundidades entre 40 e 35 metros. Inclusive,
graças a otimizações propostas recentemente nos projetos dessas fundações, elas pas-
saram a ser uma solução para quando as monopiles – que costumam ser a opção
mais usual e econômica – tornarem-se inviáveis por questões geotécnicas.
Por causa de sua geometria, as fundações de gravidade acabam tendo um alto
grau de contato com o solo e, graças a isso, a interação solo-estrutura (ISE) passa
a ser relevante para a precisão de análises numéricas desses sistemas. A ISE é uma

4
Figura 1.4: Fundações de gravidade do projeto de Blyth sendo transportadas de
doca seca para o ponto de instalação.

área de estudo da Engenharia de Fundações dedicada a avaliar o mecanismo de


interação entre a estrutura (subsistema estrutural) e o solo (subsistema geotécnico),
aplicada em obras como túneis, edificações, barragens e estruturas offshore. Seu
intuito é estabelecer uma comunicação entre os dois subsistemas, evitando que eles
sejam avaliados separadamente, mitigando algumas das simplificações das análises
e, assim, aproximando o projeto do comportamento real do conjunto. No sistema
que se analisa nesta dissertação, propõe-se que a interação solo-estrutura tenha um
papel central, uma vez que o efeito do solo sendo negligenciado ou mal avaliado,
possa acarretar imprecisões tanto na análise estática quanto na dinâmica.
Parte crucial da análise de interação solo-estrutura é a escolha da metodologia
para modelar o subsistema geotécnico. Métodos mais sofisticados podem inviabilizar
a análise acoplada do sistema, já que tendem a ser muito onerosos em termos de
custo computacional. Dessa forma, para a resolução de análises do sistema como
um todo, costuma-se fazer uso da Hipótese de Winkler, a qual representa o efeito
do solo por molas elásticas. Porém, na literatura, normalmente os coeficientes que
representam essas molas são fundamentados em teorias semiempı́ricas traçadas com
base em estruturas genéricas, bastante distintas de uma fundação de gravidade de
turbina eólica offshore, para poderem ser empregados numa ampla gama de sistemas
estruturas. Ou seja, devido a este caráter genérico, o uso em si destes coeficientes
já incorpora imprecisões ao modelo.
Assim, o intuito central deste trabalho é realizar a calibração destes coeficientes
de mola para uma turbina eólica offshore de 10 MW sobre fundação de gravidade
a partir de uma ferramenta numérica de avaliação do subsistema geotécnico base-
ada no Método dos Elementos Finitos, empregando elementos sólidos (tridimensio-

5
nais) e considerando particularidades constitutivas do meio. Após esta modelagem,
comparar-se-á a resposta do sistema dada por estes coeficientes calibrados e pelos
genéricos propostos pela literatura para diferentes critérios de projeto e espera-se,
por fim, poder avaliar qual a implicação da reação do solo na análise acoplada desses
sistemas estruturais.

1.1 Objetivos
1.1.1 Objetivo geral
O estudo tem como objetivo avaliar a influência da interação solo-estrutura na
resposta estrutural de uma turbina eólica offshore de 10 MW sobre estrutura de
suporte de gravidade em lâmina d’água de 40 metros.

1.1.2 Objetivos especı́ficos


• Demonstrar algumas das possı́veis formas de se modelar a interação solo-
estrutura de uma fundação de gravidade;

• Dimensionar uma GBF para suportar uma turbina eólica offshore de 10 me-
gawatts em 40 metros de lâmina d’água, segundo modelo proposto pela DTU
(Danmarks Tekniske Universitet), utilizando molas lineares baseadas em for-
mulações clássicas para representar a ISE;

• Formular molas elásticas especı́ficas para a ISE da GBF a partir de uma mo-
delagem tridimensional em elementos finitos do solo e da estrutura de suporte
no software PLAXIS 3D;

• Propor refinamentos a essas molas, baseados em relações constitutivas adequa-


das para a Geotecnia, como os modelos de Mohr-Coulomb e de endurecimento
do solo (Hardening Soil e HSS );

• Apresentar, ao final do estudo, um comparativo entre as respostas das for-


mulações de interação solo-estrutura, evidenciando as possı́veis melhorias ob-
tidas por cada refinamento da modelagem.

1.2 Justificativa
Dada a evolução da energia eólica ao redor do mundo, carece, na literatura, um
estudo em relação à aplicação de fundações de gravidade em aerogeradores offshore
de 10 MW. Visto que trabalhar-se-á, num futuro breve, com turbinas cada vez mais

6
potentes e lâminas d’água cada vez mais profundas, é importante que se conheça
o comportamento estrutural e geotécnico dessa estrutura de suporte para, assim,
avaliar a sua viabilidade para os mais diversos critérios de projeto.
Pelo panorama das possı́veis soluções de fundações e estruturas de suporte de
OWTs, é relevante que se estude as particularidades que cercam a GBF. Isso pois,
muito do que foi pesquisado na última década se deteve às soluções do tipo mo-
nopile: como será descrito na Revisão Bibliográfica, quase a totalidade do estudo
existente na literatura envolvendo ISE e energia eólica offshore é restrito a elas.
Porém, sabe-se que essa é uma alternativa de suporte que pode ser inviável depen-
dendo das condições geotécnicas da localidade em que se propõe implementar uma
fazenda. Dessa forma, eleva-se a motivação de avaliar outras possibilidades, como
as fundações de gravidade, as jaquetas e as soluções flutuantes.
Em relação à interação solo-estrutura, algumas das formulações utilizadas até
a atualidade para calcular os coeficientes de reação empregados nas análises aco-
pladas de estruturas offshore são oriundas de relações semiempı́ricas que datam da
primeira metade do Século XX [7, 8]. Muitas destas aplicam simplificações bastante
significativas em suas equações e possuem embasamento em condições diferentes
das presentes em uma turbina eólica offshore. Evidencia-se, portanto, a relevância
de uma análise a respeito da relação entre carga e resposta geotécnica de um sis-
tema como o estudado para, então, propor novas molas, cujas formulações sejam
especı́ficas para projetos de OWTs sobre fundações de gravidade.

7
Capı́tulo 2

Revisão bibliográfica

2.1 Estado da arte


A pesquisa voltada especificamente para a interação solo-estrutura em turbinas
eólicas offshore é bastante recente quando comparada a outras questões que en-
volvam individualmente as turbinas eólicas ou as estruturas offshore. A literatura
internacional possuir um acervo muito maior e mais consolidado do que as recen-
tes referências nacionais, sendo grande parte destes sido escrita na última década.
Isso ocorre porque, as primeiras fazendas eólicas offshore foram pensadas, proje-
tadas e executadas baseadas em uma bibliografia não especı́fica [9]. As primeiras
gerações de energia eólica offshore, ainda na década de 1990, eram baseadas em um
estado da arte de OAEs (obras de arte especiais) costeiras e da indústria de petróleo
e gás. Pesquisas envolvendo turbinas eólicas offshore e mecanismos de interação
solo-estrutura de suas fundações iniciaram somente a partir do Século XXI e, princi-
palmente, depois de sua segunda década, investigando diversas questões especı́ficas
como a interação com o ambiente, os processos construtivos e a fadiga dos materiais.
A seguir, faz-se um aparado geral dos trabalhos voltados especificamente para a
interação solo-estrutura e para fundações de gravidade em turbinas eólicas offshore,
destacando-se seus principais objetivos e evidenciando-se o que ainda precisa ser
investigado.

2.1.1 Literatura internacional


Zaaijer (2002) [10] apresentou uma das primeiras investigações sobre o papel
das modelagens das fundações e do meio geotécnico na análise das OWTs. Este
trabalho deu continuidade a um artigo do ano anterior, Zaaijer et al. (2001) [11],
o qual analisava a influência que alguns parâmetros do solo poderiam ter sobre as
propriedades dinâmicas das estruturas fixas offshore. O artigo de 2002 analisava
especificamente as torres eólicas sobre fundações fixas e comparava alguns modelos

8
lineares e não lineares baseados na Hipótese de Winkler, explicitando a contribuição
que o mecanismo de ISE traz para a análise de frequências do sistema. Esta pesquisa
teve sequência em Zaaijer (2006) [12], onde o autor constatou considerável influencia
da ISE no primeiro e no segundo modo de vibração da OWT e que a sua modelagem
por molas lineares possuı́a uma imprecisão de 4% ao ser comparada a um modelo
em elementos finitos.
Em relação a fundações de gravidade, Thomsen, Forsberg e Bittner (2007) [9]
apresentaram um compilado das experiências obtidas na década anterior em projetos
realizadas pela COWI S/A na Europa. A COWI foi o grupo de consultoria em enge-
nharia responsável por duas fazendas eólicas baseadas em GBF bastante importante
à época: a dinamarquesa Nysted I (2003) e a belga Thorntonbank I (que iniciaria
o seu comissionamento somente em 2009). O documento cita que, na realização
dos projetos, utilizou-se conceitos aplicados ou a OAEs costeiras ou à indústria de
petróleo e gás e comenta sobre a constatação da empresa, ao longo daqueles anos, da
necessidade de que se possuı́sse critérios especı́ficos para o projeto dessas fundações,
respeitando as unicidades das OWTs. O documento sugeria maiores estudos sobre:
as questões geotécnicas e a ISE, as condições ambientais, os métodos construtivos e
os equipamentos para transporte e instalação. Além disso, na época, comentava-se
sobre a falta de padronização para profundidades acima de 20 m, o que dificultava
a exploração em águas “profundas” e também sobre as limitações que eles possuı́am
para lidar com a fadiga em monopiles.
Pradhan (2012) [13] analisou a metodologia recomendada para a análise da in-
teração solo-estrutura das estruturas offshore pela American Petroleum Institute
(API RP2A-WSD:1993, [14]), as curvas p − y, já que estas são propostas para todo
tipo de estrutura marı́tima e não especificamente para OWTs. Comparando-as com
uma modelagem numérica bastante detalhada, o autor concluiu que a imprecisão da
metodologia normativa cresce à medida que se utilizam estacas de maior diâmetro,
as quais passam a ter um comportamento mais rı́gido, não previsto pelas curvas p−y
sugeridas pela API. Algo semelhante foi feito por Jung et al. (2015) [15], onde se
pesquisou a variação de modelos de curvas p − y e modelagens numéricas utilizando
o MEF para dois pontos crı́ticos da estrutura: o nı́vel do leito marinho e a cabeça da
estaca. Este estudo constatou que as estimativas de inclinação na junção da estaca
com a torre podem variar consideravelmente de uma metodologia para a outra, em
torno de 14%.
Alonso (2013) [16] desenvolveu a sua dissertação de mestrado tratando sobre os
aspectos construtivos das fundações de gravidade de turbinas eólicas offshore. Este
trabalho elaborou uma vasta revisão bibliográfica sobre operações com transporte,
preparação do leito marinho, instalação e proteção à erosão de algumas das maiores
fazendas eólicas sobre fundações de gravidade da Europa. O autor, após expor todo

9
o seu referencial teórico, propõe algumas avaliações econômicas das estruturas e
apresenta alguns quantitativos sobre as técnicas construtivas empregadas.
Philippe et al. (2013) [17] propuseram uma abordagem para modelar efi-
cientemente fundações de gravidade de turbinas eólicas offshore no domı́nio do
tempo, considerando carregamentos aerodinâmicos, hidrodinâmicos e a interação
solo-estrutura. Em sua análise, os autores empregaram o software FAST para ava-
liar as cargas da turbina, adotando um modelo não linear de simulação da ISE, ba-
seado numa modelagem de elementos finitos própria para a avaliação de fundações
rasas, a partir de um algoritmo chamado GeM Lab, desenvolvido na École Centrale
de Nantes. Um dos objetivos deste artigo foi apresentar rotinas que haviam sido
desenvolvidas na universidade e demonstrar a sua eficiência para modelagens não
lineares de problemas envolvendo cargas dinâmicas complexas, formulações elabora-
das de interação solo-estrutura e fenômenos fı́sicos e geométricos do concreto, como
redução da rigidez em função ao dano e deformações permanentes. Os autores con-
cluı́ram ser a modelagem adequada porque cada uma das ferramentas utilizadas já
fora validada individualmente, porém sugerem, como trabalho futuro, que se avalie o
sistema proposto como um todo com elementos finitos sólidos e com fluidodinâmica
computacional (CFD).
Carswell (2012) [18] e Carswell et al. (2015) [19] consideraram a influência do
amortecimento do solo na resposta de torres NREL 5 MW com fundação monopile
no nı́vel do leito marinho, primeiramente como um amortecedor translacional hori-
zontal e, posteriormente, rotacional. O artigo mais recente constatou que o amorte-
cimento do solo acaba representando uma pequena parcela do amortecimento total
do sistema.
A tese de doutorado de Damgaard (2014) [20] buscou investigar as propriedades
dinâmicas das fundações das turbinas eólicas offshore sobre monopods. Este trabalho
consiste em um compilado de sete artigos: três dedicados à pesquisa das proprieda-
des modais de turbinas eólicas, e à influência da interação solo-estrutura, utilizando
inclusive modelos em escala real; enquanto os demais são análises numéricas das
OWTs considerando modelagens elásticas dos carregamentos aplicados ao sistema.
Damgaard (2014) [20] apresenta vários resultados construtivos em relação ao enten-
dimento da influência da ISE na avaliação das propriedades dinâmicas. Entre eles,
o autor relata que, em torres sobre monopile, a inclusão do meio geotécnico e da
fundação na análise dinâmica pode alterar o primeiro autovalor da torre em 10% e
mais do que dobrar o correspondente coeficiente de amortecimento.
Assim como o trabalho anterior, Arany et al. (2014) [21] também propuseram
uma análise das questões dinâmicas da interação solo-estrutura das OWTs. Neste
trabalho, onde se deu bastante destaque para os danos da fadiga, os autores apresen-
taram a análise da torre a partir do Modelo de Viga de Euler-Bernoulli, calculando

10
a frequência natural de maneira analı́tica e numérica, as quais tiveram resultados
bastante próximos. Além disso, os autores propuseram uma análise de sensibili-
dade do modelo de Winkler utilizado para analisar a ISE, tendo, como resultado, os
coeficientes de reação à rotação como os mais sensı́veis.
Koekkoek (2015) [22], em sua dissertação de mestrado, desenvolve um roteiro
para a análise acoplada e dimensionamento de uma fundação de gravidade de tur-
bina eólica offshore, propondo algumas discussões sobre os estados limites da norma
DNV-OS-J101:2014 [23], que apesar de não estar mais em vigência, foi base para
a elaboração da atual DNVGL-ST-0126:2018 [24]. O autor empregou uma turbina
Repower de 5 MW, considerando lâmina d’água de 15, 25 e 35 metros. Avaliando
os critérios de projeto da norma estudada, ele conclui que o caso governante para os
esforços estruturais é o que tem o sistema em cut-out (ventos acima de 30 m/s, para
o modelo de turbina em questão) com ondas extremas. O autor também propôs
algumas análises envolvendo parâmetros do solo e da fundação, constatando, por
exemplo, que o ângulo de atrito interno influencia na capacidade de resistência do
solo muito mais do que o peso especı́fico e a coesão; e, também, que a aplicação de
saias na base da fundação é uma forma mais eficiente, do ponto de vista logı́stico,
de se melhorar a resistência do que aumentando o diâmetro da base ou alterando o
solo. Assim como no presente trabalho, empregou-se análises geotécnicas no Plaxis
(2D e 3D), estáticas e dinâmicas. Entretanto, o autor acabou constatando que seus
resultados para avaliar as propriedades dinâmicas do sistema eram inconsistentes e
acabou não apresentando uma conclusão a respeito.
Beuckelaers (2015) [25] apresentou uma abordagem não linear para a simulação
do amortecimento do solo, utilizando um modelo de endurecimento cinemático. Si-
mulando a parada do rotor para uma OWT sobre monopile, ele comparou algumas
abordagens de curvas p − y e concluiu que, perante a precisão dos resultados, o seu
modelo é adequado para análises deste tipo no domı́nio do tempo.
A dissertação de mestrado de Aasen (2016) [26] buscou avaliar a variação das
respostas da fadiga utilizando métodos analı́ticos lineares e não lineares quando
comparados a modelagens pelo MEF para a análise da interação solo-estrutura em
uma torre eólica offshore de modelo NREL 5MW utilizando o software 3DFloat,
programa desenvolvido em FORTRAN90 na sua universidade, a Norwegian Univer-
sity of Life Sciences – NMBU. Os resultados do seu trabalho fizeram com que ele
apontasse alguns superdimensionamentos utilizados pela norma DNV-OS-J101:2014
[23]. Seu modelo de amortecedor à rotação teve valores de acúmulo de dano por fa-
diga que estiveram 11% abaixo no nı́vel do leito marinho e 14% abaixo na cabeça
da estaca quando comparados aos métodos normativos. Da mesma forma que uti-
lizando endurecimento cinemático, a redução da estimativa do dano ficou 3 e 7%
abaixo, no nı́vel do leito e na cabeça da estaca, respectivamente.

11
Van Wijngaarden (2017) [27] desenvolveu sua dissertação de mestrado a partir
da motivação de que as normas vigentes que tratam de fundações de turbinas eólicas
offshore possuem bom embasamento para a avaliação de cargas estáticas, porém são
superficiais ao tratar de carregamentos cı́clicos. Tendo essa premissa, o autor se
propôs a investigar o risco de perda de estabilidade por liquefação do solo, avaliando
principalmente a poro-pressão em condições de tempestade, a partir de uma análise
de interação solo-estrutura-fluido. Esta referência se diferencia das demais por pro-
por um estudo com total foco geotécnico e hidrodinâmico. Após a realização de suas
análises, considerando parâmetros ambientais da fazenda eólica de Blyth, no Reino
Unido, o autor concluiu que o maior potencial de liquefação é encontrado logo à
borda da base da fundação. Em suas conclusões, o autor reitera a importância de
se avaliar o excesso de poro-pressão a partir de ensaios de laboratório e de utilizar
ferramentas probabilı́sticas em análises numéricas.
Bhattacharya et al. (2017) [28] apresentaram um trabalho que tratava das pe-
culiaridades de alguns modelos de fundação de turbinas eólicas offshore e as suas
respectivas influências na análise dos modos de vibração do sistema, considerando
tanto análises numéricas quanto experimentos em escala real. Os autores concluem,
ao final dos resultados, que os modos de vibração são altamente afetados pela tipo-
logia de fundação empregada, e os ganhos gerados pela interação solo-estrutura na
avaliação da fadiga, por exemplo, também dependem dessa escolha de fundação.
A dissertação de mestrado de Nadal (2018) [29], uma das principais referências
deste trabalho, apresenta uma revisão bibliográfica e avaliações bastante comple-
tas para a análise de OWTs sobre fundações de gravidade. Nela, o autor propõe
discussões sobre fatores que influenciam no dimensionamento de estruturas como es-
tas, desde modelos hidrodinâmicos até fadiga. O trabalho aqui posto e a dissertação
comentada possuem diversos pontos em comum. Ambos trabalham com o pacote
SESAM, empregando softwares como o SIMA, o GeniE e o WAMIT para realizar
as análises propostas. E, de certa forma, os dois trabalhos complementam-se, já
que Nadal (2018) [29] não avalia efeitos da interação solo-estrutura, ele somente
apresenta a metodologia baseada em Winkler que utiliza em seus modelos, porém
propõe um estudo mais aprofundado da influência geotécnica entre os seus tópicos
de trabalhos futuros. Ao final da realização da sua análise acoplada, ele questiona
alguns pontos sobre a forma com que se avalia a fadiga de estruturas de concreto na
indústria offshore.
Skau et al. (2018) [30] modelaram a interação solo-estrutura de caixões de sucção
flexı́veis empregados tanto na base de estruturas de suporte como jaquetas quanto
em fundações de gravidade. A motivação desse estudo deu-se a partir de trabalhos
anteriores que revelaram que a hipótese de base rı́gida promovia ruı́dos relevantes
na resposta dinâmica do sistema como um todo. Os autores realizaram a modela-

12
gem do conjunto em elementos finitos, empregando o software comercial Plaxis 3D
AE, utilizando elementos tetraédricos de 10 nós para o solo e placas quadráticas
triangulares de 6 nós para a estrutura. Ao final da análise, chegou-se em conclusões
muito próximas das suas referências, constatando a importância da flexibilidade
para avaliações mais precisas de estruturas desse tipo.
Esteban, López-Gutiérrez e Negro (2019) [31], por fim, apresentaram um artigo
abordando as fundações de gravidade de OWTs em três pontos: o primeiro deles
foi apresentar um estado da prática, descrevendo as treze fazendas eólicas existen-
tes sobre GBF na Europa e expondo alguns pontos sobre as suas construções e
operações. Em seguida, os autores propuseram uma classificação dessas estruturas
já existentes em três “gerações”, as quais são divididas em função de sua geometria,
lâmina d’água e uso de lastro. Finalmente, são apresentadas algumas discussões
com foco no processo construtivo para tornar as fundações de gravidade uma opção
economicamente mais vantajosa, principalmente em comparação com as monopiles
que seguem sendo a opção mais viável na maioria das implementações de fazendas
eólicas.

2.1.2 Literatura nacional


Pereira (1993) [32], Paula (2012) [33], Rivera (2013) [34] e de Souza (2019) [35]
participaram de uma mesma linha de pesquisa da COPPE/UFRJ, desenvolvendo
suas dissertações de mestrado na avaliação do comportamento dinâmico de turbinas
eólicas. O primeiro destes trabalhos, Pereira (1993) [32], se propôs como uma in-
trodução ao estudo da aeroelástica de turbinas eólicas. Nele, o autor se preocupou
em apresentar com minúcia as particularidades da formação e atuação do vento,
assim como o tratamento matemático para os esforços formados no rotor e nas pás,
concluı́da com uma análise numérica de uma turbina localizada em Fernando de
Noronha.
Um dos primeiros trabalhos de pesquisa publicados no Brasil a respeito de
fundações de turbinas eólicas foi a dissertação de Gabor (2010) [36], na qual a
autora primeiramente levantou um grande comparativo entre as diferenças dos re-
cursos investidos em energia na Alemanha e no Brasil. Na sequência, realizou uma
revisão bibliográfica em relação às fundações das torres onshore e offshore, citando,
por exemplo, a GBF de Middelgrunden, na Dinamarca. Um tema semelhante foi
estudado por Matias (2018) [37], porém focando em aprimorar especificamente o
projeto estrutural de um tipo especı́fico de fundação onshore: a de bloco sobre esta-
cas cavalete. Para isso, o autor realizou estudos paramétricos, avaliando a estrutura
numericamente para diferentes tipos de estaca.
Paula (2012) [33] propôs uma análise acoplada da turbina e da torre a partir

13
de um modelo analı́tico simplificado do seu comportamento dinâmico, empregando
o Princı́pio de Hamilton e integrações numéricas no domı́nio do tempo (utilizando
o método Runge Kutta de quarta ordem). O autor concluiu que os resultados se
aproximavam das respostas experimentais tidas como referência. Rivera (2013) [34]
deu sequência ao mesmo estudo, mas implementando efeitos antes desprezados ou
considerados muito simplificadamente como: o gradiente de velocidade do vento
com a altura, a seção transversal variada da pá, o efeito de sombra da torre e o
momento flexional do empuxo imposto pelas pás na torre. Finalmente, de Souza
(2019) [35] estuda aspectos aerodinâmicos de uma turbina de 5 MW proposta pelo
NREL utilizando tanto o FAST quanto o TurbSim para a avaliação da turbulência.
Neste trabalho, o autor avalia situações de estado limite último (ELU), considerando
especificidades como o efeito tridimensional na ponta das pás.
Maiolino (2014) [38] também analisou aspectos da dinâmica de monopiles.
Partindo da modelagem de uma turbina de 2,3 MW, a autora efetuou o pré-
dimensionamento de uma torre de aço analisando combinações de carregamentos
estáticos prescritos pelas normas brasileiras vigentes e, em seguida, analisando fai-
xas de frequência ressonantes, com intuito de evitar amplificações dinâmicas. Por
fim, fez uma análise dinâmica da turbina sob ações ambientais para comparar a sua
resposta com critérios de segurança de normas internacionais. Da mesma forma,
Zwierzikowski (2019) [39] dedicou-se a avaliar o mesmo tipo de estrutura de su-
porte, porém levando em consideração aspectos não lineares da análise dinâmica.
Para isso, o autor avaliou o comportamento de uma OWT de 5 MW em termos de vi-
bração livre, vibração forçada e vibração com um controlador linear passivo de massa
sincronizada (TMD). Como esperado, o autor concluiu que o TMD possui grande
influência no amortecimento da estrutura em faixas ressonantes de frequência.
A dissertação de mestrado de Pegoraro (2018) [40] abordou o desenvolvimento
de um método numérico para a análise de esforços aerodinâmicos no domı́nio do
tempo para OWTs fixas e flutuantes, utilizando a Blade Element Momentum The-
ory (BEMT ) na linguagem C++. A ferramenta computacional desenvolvida pelo
autor foi validada pelo software FAST, tendo tido resultados concordantes. Beraldo
(2019) [41] também buscou avaliar a dinâmica de turbinas eólicas, mas dedicando-
se especialmente ao comportamento da torre. Para isso, a autora trabalhou com
modelos de ordem reduzida e simulações numéricas pelo MEF, concluindo que em
ambiente offshore, é importante que se avalie as faixas ressonantes de frequência.

Estudos desenvolvidos no LACEO

O Laboratório de Análise e Confiabilidade de Estruturas Offshore vinculado ao


Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ) produziu, ao longo dos

14
últimos anos, dissertações de mestrado voltadas a solução de suporte para turbinas
eólicas offshore graças a um projeto de pesquisa sob interesse da Petrobras S.A. e da
Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). A presente dissertação é parte deste
projeto e pode ser entendida como uma continuação dos trabalhos já apresentados.
O primeiro destes, Nogueira (2019) [42], propôs-se a analisar uma série de com-
portamentos aerodinâmicos e estruturais de turbinas eólicas de 5 e 10 MW sobre
monopile. A partir da aplicação das cargas extremas de vento, onda e corrente,
o autor buscou indicar um ponto crı́tico na fundação para a avaliação da resposta
à fadiga. Esta análise foi concluı́da como bastante precisa, por utilizar o software
SIMA-RIFLEX, o qual é capaz de realizar análises acopladas dinâmicas não lineares.
A avaliação à fadiga do aço empregou curvas S-N sugeridas pela DNV-RP-C203:2016
[43], utilizando contagem de ciclos de tensão pelo método do rainflow e acúmulo de
dano pela regra de Palmgren-Miner.
Em seguida, Gomes (2019) [44] avaliou a fadiga de conexões grauteadas entre
a peça de transição da torre eólica e a fundação do tipo monopile. Neste tra-
balho, também empregou-se o software SIMA-RIFLEX, considerando a interação
solo-estrutura tanto de solo coesivo como não coesivo. A análise da fadiga deu-se
em diferentes pontos da fundação, considerando junta cônica e tubular com conec-
tor de cisalhamento. Os maiores danos obtidos pelo autor foram para a situação
não operacional, tanto para o graute quanto para a junta soldada, isso pois, nesta
condição, não há o amortecimento aerodinâmico conferido pelo funcionamento do
rotor para atenuar as tensões.
O trabalho de Dantas (2019) [45] apresentou a análise acoplada de uma turbina
de 5 MW sobre estrutura de suporte semissubmersı́vel, também empregando o SIMA
como ferramenta para a resolução da análise dinâmica, mas, nesse caso empregando o
código SIMO-RIFLEX. Além disso, a autora também utilizou o software MAXSURF
para o estudo da estabilidade estática. O modelo empregado consistiu em três
colunas laterais rı́gidas e uma coluna central, ligadas por braces, onde avaliou-se os
movimentos de corpo rı́gido, a frequência natural e a resposta das ancoragens.
Levy (2019) [46], por sua vez, avaliou a resposta de uma estrutura TLP para
o suporte de uma turbina eólica de 10 MW. Em suas análises hidrodinâmicas, o
autor empregou o software Ansys AQWA e, na avaliação aerodinâmica, o Aerodyn,
programa desenvolvido pela NREL. Concluindo, por fim, que houve resposta satis-
fatória do sistema aos critérios de frequência natural e de estabilidade estática.
Também trabalhando com solução flutuante, De Souza (2019) [47] apresentou
o estudo de uma turbina eólica offshore de 5 MW sobre unidade spar-buoy com
ancoragens em catenária, para as quais foi analisada à fadiga. O autor analisou
frequências naturais e a condição de operação da turbina segundo a estabilidade
proporcionada pela estrutura flutuante.

15
Em sua dissertação de mestrado, De Mendonça (2020) [48] buscou avaliar diver-
sos fenômenos estruturais da estrutura de suporte do tipo jaqueta sobre fundação
profunda. Utilizando a mesma turbina de 10 MW empregada neste presente tra-
balho [49], a autora constatou que o critério de dimensionamento mais relevante
para uma jaqueta é o fenômeno de fadiga nas juntas metálicas. Em sua pesquisa,
ela também evidenciou a influência de algumas propriedades do vento na resposta
estrutural – em especial, a da intensidade de turbulência – já que a jaqueta é uma
estrutura com comportamento dinâmico comandado pelo vento.
Por fim, Cabral (2020) [50] propôs uma formulação de curvas p − y para estru-
turas de suporte do tipo monopile a partir de uma modelagem de elementos finitos.
Em seu trabalho, a autora demonstrou como que a forma com que a API [51] tra-
balha com a resposta horizontal leva a uma superdimensionamento de elementos
de grande diâmetro, como as monopiles. Evidenciou-se que tanto a rigidez inicial
quanto a carga última nas estacas acaba sendo minorada pela formulação normativa
e, aplicando isso em um programa de análise acoplada de turbina eólica offshore,
essa consideração mais elaborada do solo argiloso levou a estrutura ao aumento
da frequência natural, o que pode ser benéfico ou não para uma análise de fadiga,
dependendo da estrutura em projeto.

2.2 Estado da prática


A partir do final da década de 1980, empresas de energia dinamarquesas se
detiveram ao estudo de viabilidade de fazendas eólicas offshore utilizando estruturas
de suporte de gravidade. Uma dessas foi a Elkraft - hoje parte da Ørsted S/A, maior
companhia de energia do paı́s escandinavo - que, ao longo desses anos, analisou
a implementação de aerogeradores offshore próximos à ilha de Lolland. O estudo
resultou na execução do parque eólico de Vindeby, em 1991, projeto feito em parceria
com a SEAS, que foi a primeira implementação comercial de energia eólica offshore
da história.
Há quase 30 anos, o aparato tecnológico de exploração eólica possuı́a diversas
limitações se comparado ao atual, mas a implementação de onze turbinas de 450
kW de potência (Bonus 1 B35/450), o que seria equivalente a uma turbina moderna
de 5 MW, era absolutamente inovador para a época. Graças ao sucesso de Vindeby,
houve uma expansão na indústria eólica offshore. Tunø Knob foi a segunda fazenda
dinamarquesa, com especificações muito parecidas com a primeira e, novamente,
sobre fundação de gravidade.
1
A Bonus Energy S/A foi uma empresa dinamarquesa, fabricante de turbinas eólicas que
manteve-se no mercado até 2004, quando, então, foi adquirida pela alemã Siemens Wind Power
S/A., hoje Siemens Gamesa Renewable Energy S/A.

16
Na virada do milênio, uma mudança de patamar na geração de energia eólica
offshore ocorreu com a implantação das fazendas de Middelgrunden e Nysted I com,
respectivamente, 40 e 166 MW de potência. Esses dois parques eólicos utilizavam-se
de turbinas muito semelhantes e em quantidades e potências individuais bastante
acima das primeiras fazendas. Segundo Esteban, Lópes-Gutiérrez e Negro (2019)
[31], Nysted I foi uma fazenda bastante importante para o desenvolvimento das
fundações de gravidade como um todo, já que nelas foi onde surgiu a tipologia
de fundação classificada, por ele, de segunda geração de GBF, as quais não são
de concreto maciço, mas sim possuindo células que são preenchidas conforme a
necessidade de lastro. No Subcapı́tulo 2.4.1, trata-se sobre cada uma das gerações
relacionadas por [31].
Após a construção da pequena fazenda experimental de Breitling, utilizando
uma única turbina Nordex N90/2500, implementou-se mais um grande parque eólico
offshore na Escandinávia baseada em fundações de gravidade: Lillgrund, a qual é,
até a data de hoje, a maior das fazendas da Suécia. Em 2007 e 2008, também
houve a implementação de duas etapas da usina de Kemi e Ajos, duas pequenas
cidades litorâneas na Finlândia, que juntas somam uma capacidade total de 30 MW
divididas em dez turbinas Siemens de 3 MW de potência.
A partir de 2009, houve uma proposta de mudança na geometria das fundações
de gravidade, que segue sendo adotada em projetos até a atualidade, com a primeira
fase da fazenda de Thorntonbank. Nela, lançou-se o que Esteban, López-Gutiérrez
e Negro (2019) [31] classificam como a terceira geração de GBF, a qual possui um
formato mais otimizado para maiores profundidades e oca em quase a sua totalidade,
para possibilitar o transporte por flutuação. Seis das cinquenta e quatro turbinas
implementadas ao longo dos seus seis primeiros anos de comissionamento (2009 a
2015) foram instaladas sobre fundação de gravidade. Outra novidade desta usina foi
implementar turbinas de 5 MW, as quais, na época, eram inovações tecnológicas.
Entre 2009 e 2011, foram implementadas mais três fazendas eólicas na Dinamarca
sobre fundações de gravidade. Sprogø foi a primeira delas, utilizando um modelo
de GBF semelhante ao de Nysted I (segunda geração), possuindo potência total de
21 MW, provenienete de sete turbinas Vestas de 3 MW. Nysted II foi a segunda
implementação, dando continuidade à fazenda que já estava comissionada desde
2003, empregando mais 207 MW de geração elétrica, totalizando 373 MW entre as
duas etapas da fazenda localizada no banco de areia de Rødsan. Por fim, a última
fazenda dinamarquesa que empregou GBF até a atualidade foi Avedøre Holme, uma
pequena usina de apenas três turbinas de 3,6 MW, usada para fins industriais na
região metropolitana de Copenhague.
Na Finlândia, em 2010, iniciou-se o comissionamento de uma turbina eólica teste
na fazenda offshore de Tahkoluoto de 2,3 MW. Nela, empregou-se fundações de

17
Tabela 2.1: Histórico de fazendas eólicas offshore sobre estrutura de suporte de
gravidade pelo mundo [16, 31]
Ano Fazenda Paı́s Potência Modelo da Prof.
total [MW] turbina [m]
1991 Vindeby Dinamarca 4,95 Bonus 2-4
450 kW
1995 Tunø Knob Dinamarca 5 Vestas 4-7
500 kW
2001 Middelgrunden Dinamarca 40 Bonus, Siemens 3-6
2 MW
2003 Nysted I Dinamarca 166 Siemens 6-10
(Rødsan I) 2,3 MW
2006 Breitling Alemanha 2,5 Nordex 0,5
2,5 MW
2007 Lillgrund Suécia 110 Siemens 4-13
2,3 MW
2007 Kemi Ajos I Finlândia 15 Siemens 3-8
3 MW
2008 Kemi Ajos II Finlândia 15 Siemens 3-8
3 MW
2009 Thorntonbank I Bélgica 30 Senvion 13-20
5 MW
2009 Sprogø Dinamarca 21 Vestas 10-16
3 MW
2010/ Tahkoluoto Finlândia 44,3 Siemens 9
2017 2,3-4,2 MW
2010 Nysted II Dinamarca 207 Siemens 6-12
(Rødsan II) 2,3 MW
2011 Avedøre Holme Dinamarca 10,8 Siemens 2
3,6 MW
2012 Vindpark Vänern Suécia 30 WWD 3-13
3 MW
2013 Kårehamn Suécia 48 Vestas 6-20
3 MW
2017 Blyth Reino Unido 41,5 Vestas 40
8,3 MW
2018 Arinaga/PLOCAN Espanha - Siemens Gamesa 35
(Elisa-ELICAN) 5 MW

gravidade metálicas, preenchidas com lastro de grande peso. Em 2017, houve a


instalação de mais 42 MW a partir da implementação de dez turbinas mais potentes
do que a primeira. Atualmente, existe a perspectiva de uma grande extensão dessa
fazenda eólica, ampliando-a em 500 MW com turbinas entre 11 e 16 MW. Ainda sem
confirmação de qual será a estrutura de suporte empregada, a tendência é de que se

18
mantenha o uso de fundações de gravidade em profundidades entre 10 e 50 metros.
A expectativa é que a construção ocorra em 2023 para inı́cio do comissionamento
em 2025 [52]. Caso o projeto se concretize, Tahkoluoto seria a maior fazenda eólica
offshore do mundo sobre GBF.
Duas fazendas eólicas suecas utilizaram-se de GBF na sustentação de suas tur-
binas, entre 2011 e 2013. Vindpark Vänern implementou dez aerogeradores WWD-
3 D100 2 , em profundidades que variavam de 3 a 13 metros, no Lago Vänern.
Kårehamn foi a mais recente experiência com fundações de gravidade nos paı́ses
escandinavos, onde se implementou turbinas Vestas de 3 MW, instaladas em pontos
de até 20 metros de profundidade. Em ambas usinas, utilizou-se modelos de GBF
da segunda geração.
Em 2017, com o projeto de demonstração de Blyth, deu-se inı́cio ao uso da
técnica de transporte/instalação de flutuação e submersão de fundações de concreto.
A implementação desta usina possui caráter experimental em alguns pontos e, por
isso, nela só foram instaladas cinco turbinas Vestas de 8,3 MW. A modalidade
de GBF utilizada em Blyth aproxima-se geometricamente da terceira geração de
fundações proposta por Esteban, López-Gutiérrez e Negro (2019) [31], porém ela
possui um modelo fı́sico único, composto por uma base cônica de concreto e um
shaft de seção uniforme de aço.
A mais recente experiência mundial com uso de fundações de gravidade em OWTs
é no protótipo Elisa, parte do projeto ELICAN, nas Ilhas Canárias (pertencentes
à Espanha), instalada no final de 2018. ELICAN implementa uma nova tecnologia
de construção de turbinas eólicas offshore, empregando concreto pré-moldado da
fundação até o rotor. O projeto se apresenta como uma solução para o futuro da
energia eólica já que, pelo formato telescópico da torre, possibilita que o transporte
seja feito sem a necessidade de barcas de grande porte, evitando assim grandes
despesas no transporte e na instalação das peças, os quais são empecilhos para a
implementação de turbinas cada vez mais potentes. PLOCAN é uma zona de testes
experimentais que fica na ilha de Las Palmas e lá que se instalou o protótipo Elisa, a
qual comporta uma turbina Siemens Gamesa de 5 MW a 35 metros de profundidade.
O protótipo deve se manter em fase de demonstração por sete anos, quando, por fim,
se avaliará a continuidade do projeto. Assim como as fundações de Blyth, Elisa não
segue as gerações classificadas por Esteban, López-Gutiérrez e Negro (2019) [31].
2
A WinWind Ltd. foi uma fabricante de turbinas eólicas finlandesa. A linha D100 foi o seu
último lançamento.

19
2.3 Turbinas eólicas offshore: uma introdução
Segundo Hansen (2011) [53], o estudo de uma turbina eólica exige multidisciplina-
ridade de diversas ciências, tais como: aerodinâmica, mecânica, dinâmica estrutural,
elétrica e metereologia, ou seja o projeto de uma estrutura como essa é uma ativi-
dade bastante complexa que demanda uma equipe de profissionais. Ao se tratar de
energia eólica offshore, acrescenta-se à lista uma outra gama de estudos referentes à
Engenharia Offshore. Este subcapı́tulo apresenta alguns pontos importantes para o
entendimento de um projeto estrutural de uma turbina eólica como um todo.
Um aerogerador pode ser entendido como uma máquina que transforma a ener-
gia cinética do vento em energia elétrica. Seu sistema estrutural pode ser entendido
como o conjunto de dois elementos: torre e nacelle. A torre é uma peça estrutu-
ralmente simples que pode ser modelada como um grande cilindro, normalmente de
aço. Já a nacelle, representada na Figura 2.1, contém uma série de componentes
responsáveis pela conversão de energia. Para o seu entendimento estrutural, pode-se
pensar na nacelle como uma grande massa concentrada, cuja componente mais im-
portante é o rotor aerodinâmico. Este é o responsável por captar a energia cinética
do vento, sendo composto principalmente pelo hub e pelas pás, as quais tipicamente
são três.

Figura 2.1: Nacelle de uma turbina eólica moderna (adaptada de [54]).

Pelas caracterı́sticas geométricas e fı́sicas do aerogerador, para avaliar as estru-


turas de suporte e as fundações das turbinas eólicas offshore, é possı́vel simplificar o
entendimento de sua geometria como uma coluna (torre) e uma massa concentrada
no topo (nacelle), desprezando, até mesmo, a disposição das pás. Essa forma de mo-
delagem é ilustrada pela Figura 4.2. Ressalta-se que este modelo não é útil somente
para análise última das fundações, mas também para análises dinâmicas e de fadiga
já que, como será demonstrado nesta dissertação, o modelo estrutural completo não
possui grandes diferenças de resposta para análises de frequência natural (Tabela

20
5.2).
A avaliação dos modos de vibração do sistema da OWT é crucial para a sua se-
gurança estrutural, isso porque há, ao menos, quatro faixas ressonantes que operam
em frequências próximas às primeiras frequências naturais da estrutura. Operar
em uma faixa ressonante significa estar constantemente excitando a estrutura com
carregamentos que geram ressonância, ampliando as suas deformações e reduzindo
a sua vida útil. A Figura 2.2 apresenta esses espectros ressonantes e indica as faixas
1P e 3P de diferentes modelos de turbina eólica. A faixa 1P diz respeito à frequência
do funcionamento do rotor e a 3P se trata do chamado efeito de shadowing, o qual
é o desbalanceamento que ocorre na turbina toda vez que uma das pás passa pela
torre, como isso ocorre uma vez a cada um terço do perı́odo da rotação completa
da pá, a frequência desta solicitação é três vezes a frequência angular do aerogera-
dor. Discussões a respeito da ressonância em turbinas eólicas offshore podem ser
encontradas especialmente em Damgaard (2014) [20].

Figura 2.2: Espectros de frequência das solicitações de vento e onda e faixas resso-
nantes 1P e 3P para diferentes modelos de turbina (adaptado de [55]).

Dadas as faixas 1P e 3P, do ponto de vista de frequência natural, há três possı́veis
formas de se modelar a estrutura de suporte de uma OWT:

• soft-soft: quando a rigidez da estrutura é baixa perante a sua massa e, por-


tanto, a sua frequência natural fica abaixo da faixa 1P.

• soft-stiff : quando se determina uma rigidez um pouco mais alta para a estru-
tura e manipula-se a sua frequência natural para que ela esteja entre as faixas
1P e 3P.

• stiff-stiff : quando a rigidez da estrutura é bastante elevada em comparação a


sua massa e, dessa forma, a sua frequência natural fica acima da faixa 3P.

21
O domı́nio soft-soft não é seguro por resultar em estruturas muitos flexı́veis. O
stiff-stiff, que é o mais rı́gido e seguro, resulta numa estrutura superdimensionada e,
portanto, economicamente inviável. Assim, geralmente, toda fundação e estrutura
de suporte de OWTs são modeladas com o intuito de terem os seus dois primei-
ros modos de vibração comportados na estreita faixa soft-stiff. Essa discussão é
retomada no Subcapı́tulo 4.4.1.

2.4 Possı́veis estruturas de suporte de OWTs


Com a evolução em conjunto do estado da arte e do estado da prática nas últimas
décadas, desenvolveu-se, adaptou-se e aprimorou-se uma série de possı́veis estruturas
de suporte para turbinas eólicas offshore. O conceito de estrutura de suporte é ser
um elemento que liga a torre (com a peça de transição) às fundações, porém, como
apresentado na Figura 2.3, algumas dessas opções são tanto a estrutura de suporte
quanto as fundações, caso das monopiles e das fundações de gravidade.

Figura 2.3: Estruturas de suportes para turbinas eólicas offshore mais comuns ([28],
2017).

Adotando a classificação utilizada por Damgaard (2014) [20], onde o autor divide
as alternativas a à h entre monopods, multipods e flutuantes:

Monopods

São estruturas de suporte que possuem um contato geometricamente único e


direto com o solo, independendo, normalmente, de um sistema de fundações.

• (a) fundação de gravidade:


por ser o foco desta dissertação, ela é tratada especificamente no subcapı́tulo
2.4.1.

• (b) monopile:
As monoestacas (ou monocolunas, dependendo da tradução adotada) são as
opções de suporte para aerogeradores offshore mais populares no planeta sendo

22
utilizadas em 76% das torres em funcionamento na Europa [5]. De acordo
com Bhattacharya et al. (2017) [28], isso ocorre porque elas são opções mais
econômicas, de formato simples e de fácil fabricação e instalação.

• (c) caixão de sucção:


Como o nome indica, essa alternativa de suporte faz uso do princı́pio de sucção
para cumprir os requisitos estruturais do sistema. Os caixões podem ser usados
como estrutura de suporte por si só ou como fundação auxiliar a algum outro
tipo de estrutura, como as jaquetas.

Multipods

Assim como os monopods, são estruturas de suporte fixas, porém não possuem
contato direto com o solo, necessitando de um conjunto de fundações profundas.

• (d) trı́poda:
Subestruturas do tipo tripé (tripod ou tripile) são constituı́das de uma torre
semelhante à monopile, porém soldada, em sua base, a três estacas cilı́ndricas
inclinadas, as quais geralmente ainda são soldadas a outros elementos estrutu-
rais diagonais em sua base. Segundo Malhotra (2011) [56], à medida que se ex-
plora águas mais profundas, a monopile torna-se uma opção demasiadamente
flexı́vel, mesmo que esta adote cabos fixados ao leito para a sua estabilização,
e, para estes casos, estruturas de suporte do tipo tripod podem ser bastante
úteis. A sua rigidez é conferida não somente pela estrutura de suporte, mas
também por estacas de fundação que são concretadas a cada uma das pernas
da torre. Damgaard (2014) [20] destaca que essas subestruturas são limitadas
pelos impactos laterais e pelas complexas conexões dos nós - as quais ainda
não detém de análises precisas sobre o risco de fadiga - fazendo com que, em
muitos casos, adote-se opções mais bem estabelecidas no mercado, como as
jaquetas.

• (e) jaqueta:
A jaqueta de aço é uma das opções de estrutura de suporte que, mais evi-
dentemente, foi herdada da indústria de petróleo e gás e que, por ter um
comportamento já mais bem conhecido, é uma alternativa recorrente dos pro-
jetistas de estruturas offshore (Damgaard, 2014). Na literatura anglófona,
pode ser mencionada como jacket ou lattice (termo que faz referência à es-
trutura treliçada). Assim como na trı́poda, a análise à fadiga nas jaquetas é,
geralmente, a avaliação dimensionante.

23
Figura 2.4: Alpha Ventus, na Alemanha, fazenda que emprega monopile, jaqueta e
trı́poda ([57], 2017).

Flutuantes

• (f ) TLP :
Estruturas de suporte do tipo TLP (Tension Leg Platform) também são vindas
da indústria de petróleo e gás, sendo formadas por um casco (base da turbina
eólica) que possui excesso de flutuação, fazendo com que as amarrações sejam
tracionadas e mantenham a estrutura complacente.

• (g) semissubmersı́vel:
Letcher (2017) [55] descreve o sistema de flutuação desta estrutura como uma
combinação de lastro de água e de tração vinda do ancoramento. Uma das
principais vantagens da base semissubmersı́vel é que ela pode sustentar qual-
quer tipo comercial de turbina mediante pequenas alterações de projeto.

• (h) spar-buoy:
O sistema spar-buoy funciona segundo os mesmos princı́pios do que é utili-
zado em plataformas de petróleo, onde uma estrutura de suporte cilı́ndrica
e relativamente profunda garante a estabilidade do conjunto, podendo ainda
contar com um sistema de estabilização de movimento para reduzir as in-
clinações provocadas pelos carregamentos. De todos os sistemas flutuantes
que já possuı́ram estudo ou protótipo, o que emprega flutuação por spar-buoy
é o que teve maior sucesso no mercado eólico. O maior exemplo disso é o pro-
jeto Hywind, da norueguesa Equinor, que em 2017, implementou o primeiro
parque eólico sob estruturas complacentes do mundo em escala comercial [55].

24
2.4.1 Estrutura de gravidade
Fundações de gravidade (GBF, Gravity-Based Structure; ou GBF, Gravity-Based
Foundation) são estruturas de suporte de turbinas eólicas tanto onshore quanto
offshore. Por serem monopods, elas dispensam fundações auxiliares, porém podem
contar com saias, caso não haja capacidade resistente suficiente no solo. Assim como
todo tipo de estrutura de gravidade, como contenções e barragens, a GBF tira pro-
veito de sua geometria robusta para resistir aos esforços solicitantes da turbina, em
especial ao momento tombante resultante do esforço de thrust. Como são fundações
rasas, com transmissão direta de carregamentos ao solo, é válido ressaltar que a sua
aplicação fica restrita a solos que possuam boa resistência à compressão.
Desde o princı́pio da exploração da energia eólica offshore, a fundação de gravi-
dade é utilizada como solução estrutural. Porém, ao longo destas décadas, diversos
aprimoramentos foram propostos em suas geometrias, otimizado-as tanto estrutu-
ral quanto logisticamente, em termos de transporte e instalação. Esteban, López-
Gutiérrez e Negro (2019) [31] propuseram uma classificação, dada em três gerações,
para separar as fundações de gravidade ao longo do seu histórico de implantação:

1a geração

Fundações de gravidade da primeira geração (de 1991 à 2003) foram implemen-


tadas nas primeiras fazendas offshore dinamarquesas, possuindo em comum carac-
terı́sticas como seção maciça de concreto armado e aplicação em profundidades de
até sete metros de lâmina d’água. O grande empecilho dessas estruturas era o fato
de serem excessivamente pesadas, dificultando o seu transporte e instalação. Como
há limitação de peso para os guindastes, as dimensões da fundações também ficavam
limitadas e sua aplicação acabava restrita para águas rasas. Middelgrunden (Figura
2.5) é a maior fazenda eólica offshore que emprega a primeira geração de GBF.

2a geração

A segunda geração (de 2003 à 2013) teve inı́cio com Nysted I, também na Di-
namarca, e trouxe a inovação de usar estruturas vazadas que eram preenchidas com
lastro após o fim da etapa de transporte. Isso permitiu que se explorasse mares
mais profundos (até 20 m), já que o transporte de fundações com maior geometria
foi facilitado. Lillgrund (Figura 2.6) e Nysted II foram as maiores fazendas eólicas
empregando esta solução de fundação.

3a geração

A terceira geração de fundações de gravidade (desde 2008) não deu necessaria-


mente fim a anterior, mas, na verdade, representou uma nova opção construtiva para

25
Figura 2.5: Construção das fundações de Middelgrunden [58].

Figura 2.6: Construção das fundações de Lillgrund. Destaque para as células vazadas
na estrutura de concreto armado [59].

as GBF. Essa nova divisão foi marcada pela construção da primeira fase de Thorn-
tonbank (Figura 2.7), a qual empregou, pela primeira vez, fundações que usavam
técnicas de flutuação no transporte, dispensando, assim, guindastes em alto mar (a
fase final de Thorntonbank utilizou jaquetas). Essa inovação foi acompanhada pelo
formato cônico das estruturas.

26
Figura 2.7: Construção das fundações de Thorntonbank I. Destaque para o formato
cônico das estruturas de fundação [60].

Inovações tecnológicas

Como destacado por Esteban, López-Gutiérrez e Negro (2019) [31], a maior parte
das pesquisas propostas em novas tecnologias de fundação de gravidade seguem a
mesma linha de Thorntonbank, utilizando elementos que flutuem até o local de ins-
talação. A terceira geração de GBF ainda demandava guindastes em solo e o intuito
das novas concepções é eliminar essa necessidade, tendo, dessa forma, fundações que
sejam crane-free (ou seja, livres de guindastes), dependendo somente de pequenos
barcos para serem transportadas individualmente por flutuação.
Como comentado no Estado da Prática, atualmente dois projetos possuem noto-
riedade em termos de inovação tecnológica em fundação de gravidade: o projeto de
demonstração de Blyth (Inglaterra, 2017) e o protótipo Elisa-ELICAN (Espanha,
2018). O primeiro deles segue um projeto mais próximo à Thorntonbank, com o
acréscimo de ser crane-free. Já Elisa é uma aposta mais ousada por empregar uma
série de inovações que talvez tenham maior resistência do mercado, como o uso de
torre telescópica de concreto.

27
Figura 2.8: À esquerda: o projeto de demonstração de Blyth; à direita: o protótipo
Elisa, parte do projeto ELICAN [61], [62] .

28
Capı́tulo 3

Metodologia

3.1 Modelagem da interação solo-estrutura


A modelagem numérica da interação solo-estrutura é uma tarefa cercada de
questões complexas e incertas, grande parte disso devido às complexidades do solo.
Bhatia (2008) [63] destaca a exploração, a avaliação das propriedades dinâmicas
e das formas de modelagem como os maiores empecilhos para análises acuradas.
Além disso, pode-se também destacar a heterogeneidade do perfil geotécnico e o
seu comportamento não linear como agravantes às complicações. Entretanto, como
tratar-se-á ao longo desde subcapı́tulo, a avaliação dos mecanismos da ISE é um
trabalho mais do que centenário e grandes evoluções já foram feitas desde então,
principalmente a partir do aprimoramento computacional, que permitiu o uso de
métodos numéricos mais elaborados, como o Método dos Elementos Finitos (MEF)
e o Método dos Elementos de Contorno (MEC).
Este subcapı́tulo apresenta métodos possı́veis de modelagem da interação solo-
estrutura, buscando esboçar o roteiro a ser seguido nas análises numéricas.

3.1.1 Hipótese de Winkler


O interesse por avaliar a interação de um corpo em meio elástico iniciou-se no
final do Século XIX. Emil Winkler [64] foi quem primeiramente propôs a hipótese
de que o meio em questão poderia ser substituı́do por molas elásticas cuja rigidez
fosse capaz de simular o seu efeito sobre o corpo. Em problemas de ISE, a técnica
de modelar o solo por molas é comumente tratada por Hipótese de Winkler [65].
Genericamente, a Hipótese de Winkler pode ser representada segundo a Equação
3.1. A Figura 3.1 indica esquematicamente como uma fundação pode ser modelada
por molas lineares.

q =k×w (3.1)

29
Figura 3.1: Modelagem do problema de interação solo-estrutura por um conjunto
de molas lineares [65].

onde:
q: pressão de contato [N/m2 ];
k: coeficiente de reação [N/m3 ];
w: deslocamento [m].
A Equação 3.1 possui resposta linear, ou seja, a Hipótese de Winkler é elástica-
linear, obedecendo a Lei de Hooke. Entretanto, também é possı́vel utilizar o conceito
de Winkler para análises não lineares. Usualmente, a “não linearidade”em Winkler
refere-se a duas possı́veis descontinuidades na rigidez. A primeira delas ocorre pela
distribuição geométrica das molas, numa estaca, por exemplo, pode haver variação
da rigidez do solo ao longo da profundidade. E a segunda diz respeito ao fato de
que o solo não terá comportamento elástico-linear para qualquer carregamento, a
partir de determinado ponto, ele atingirá um limite de plastificação e, em seguida,
romperá. Assim, a mola deverá ter uma rigidez que varie conforme a carga a ela im-
posta. Segundo Santa Maria, Velloso e Lopes (2016) [66], para este segundo tipo de
não linearidade, é possı́vel empregar algoritmos com rotinas incrementais ou iterati-
vas que respondam conforme o nı́vel de esforço aplicado à mola. Uma metodologia
bastante utilizada em problemas de interação solo-estrutura não lineares são as cur-
vas p-y, t-z e Q-z, onde a rigidez das molas varia em função da profundidade e do
carregamento imposto.
O emprego das técnicas de modelagem de Winkler pode se dar para carregamen-
tos verticais, horizontais e rotacionais. Para cada uma dessas aplicações, o que varia
são os coeficientes de reação, ou seja, a rigidez das molas (k).

3.1.2 Coeficientes de reação


Segundo vários autores [65, 67, 68], uma modelagem ideal para a avaliação da
deformabilidade e reação do solo faria uso de análises iterativas e tridimensionais,
empregando métodos numéricos robustos e considerando o solo e a estrutura como
um único conjunto. Porém, esse tipo de análise além de ainda ser bastante restrita
ao meio acadêmico e cientı́fico, é computacionalmente muito onerosa quando se

30
trabalha com sistemas envolvendo diversas variáveis e complexidades, como uma
turbina eólica offshore submetida a carregamentos ambientais dinâmicos.
O uso da Hipótese de Winkler facilita a execução de análises acopladas com um
custo computacional mais eficiente. Porém, a precisão de uma análise de interação
solo-estrutura que adote um método de discretização por molas elásticas, lineares ou
não, depende crucialmente da obtenção de adequados coeficientes de reação [20, 26].
Na literatura, conhece-se uma série de métodos para se obter coeficientes de
reação em edificações. Estes podem ser baseados em correlações com teorias
elásticas, como a de Boussinesq (1885)[69], tabelas empı́ricas de valores tı́picos,
ensaios de placa, estimativa de recalques a partir de métodos empı́ricos e semi-
empı́ricos, entre outros [65, 67, 70]. Já, na indústria offshore, grande parte do
conhecimento obtido em relação a coeficientes de reação foi compilado de maneira
normatizada nas já mencionadas curvas p − y, t − z e Q − z. Normas como a API
RP 2GEO:2014 [51], a DNV-OS-J101:2014 [23], a DNVGL-RP-C212:2017 [71] e a
DNVGL-ST-0126:2018 [24] fazem menção e propõe o uso de alguns padrões de curvas
que utilizam a Hipótese de Winkler de forma não linear.
Entretanto, a aplicação dessas curvas é feita para fundações profundas. Em
turbinas eólicas offshore, o seu uso é indispensável ao se trabalhar com a Hipótese
de Winkler em estruturas de suporte como as monopiles e as jaquetas, as quais
possuem fundações verticais que podem chegar a dezenas de metros de profundidade.
Estruturas de gravidade, todavia, são fundações rasas com transmissão direta de
esforços ao solo. Dessa forma, não há variação significativa na rigidez conferida
pelo solo ao longo da profundidade da GBF. Portanto, é adequado que se modele
a interação solo-estrutura por molas lineares, utilizando a Hipótese de Winkler na
sua formatação original.
A DNV, desde a sua norma intitulada Foundations de 1992 [72], sugere o uso
da formulação de molas apresentadas no livro de Gazetas (1983) [73], as quais são
mostradas na Tabela 3.1. Essa indicação perpassou as atualizações feitas a essa
norma e hoje é encontrada na DNVGL-RP-C212:2017 [71]. Antes de publicadas
pela entidade, as formulações também estiveram presentes no livro de estruturas
offshore fixas de Barltrop e Adams (1991) [74] e foram primeiramente apresentadas
na obra de Richart (1970) [75]. Elas consistem em uma compilação de equações
baseadas em correlações elásticas vindas de diferentes referências bibliográficas para
o uso em interação solo-estrutura de placas rı́gidas sobre meio elástico semi-infinito.
Para a qual:
z: deslocamento vertical (recalque) [m];
x (ou y): deslocamento horizontal [m];
θ: rotação à flexão [rad];
φ: giro à torção [rad];

31
Tabela 3.1: Propriedades de molas para interação solo-estrutura de placa rı́gida
circular sobre meio elástico [74].
Direção Rigidez da mola Coef. de amortecimento Massa efetiva
(K) (C) (M )

4GR 3, 40R2 p 1, 08ρR3


Vertical (z) ρG
1−ν 1−ν 1−ν
8GR 4, 60R2 p 0, 76ρR3
Horizontal (x ou y) ρG
2−ν 2−ν 2−ν
8GR3 0, 65R4 p 0, 64ρR5
Rotação (θ) ρG
3(1 − ν) 1−ν 1−ν
16GR3 p
Torção (φ) 1, 32R4 ρG 0, 24ρR5
3

G: módulo de cisalhamento [P a];


R: raio da fundação [m];
ν: coeficiente de Poisson [m/m];
ρ: densidade do solo [kg/m3 ].
As equações apresentadas pela DNVGL-RP-C212:2017 [71] seguem, em geral,
as mesmas hipóteses para simplificação do comportamento geotécnico e tratamento
matemático. De forma intuitiva, percebe-se que quanto mais próximo deste com-
portamento idealizado o solo em questão for, melhor será a precisão da resposta. A
partir de Timoshenko e Goodier (1951) [76], Bycroft (1956) [77] e Reissner e Sagoci
(1944) [8], lista-se, abaixo, as principais hipóteses adotadas para esta metodologia
de interação solo-estrutura:

• Comportamento linear-elástico
Por serem baseadas na Teoria da Elasticidade, admite-se que a relação cons-
titutiva de ambos subsistemas (estrutural e geotécnico) seja linear-elástica.

• Placa rı́gida e sem massa


Considera-se, assim, que a fundação é um elemento extremamente rı́gido e que,
dessa forma, sua flexibilidade e consequentes deformações diferenciais podem
ser desprezadas. Desta hipótese entende-se, por exemplo, que o recalque ao
longo de toda a base da fundação é uniforme.

• Espaço semi-infinito
Esta idealização prevê que o meio geotécnico abaixo da fundação possui con-
tornos suficientemente distantes para que as cargas se dissipem sem influências
externas. Essa hipótese leva em conta, também, a ausência de efeito de grupo,

32
ou seja, um elemento de fundação deve estar consideravelmente distante do
outro.

• Estratigrafia homogênea
A consideração do espaço semi-infinito não se aplica somente para os contornos
laterais do solo, mas também ao longo da profundidade. Este critério admite
que o meio analisado seja suficientemente profundo e constante, configurando
o idealizado meio homogêneo e semi-infinito.

Na Tabela 3.1, a rigidez da mola elástica é dada em N/m ao invés de N/m3 , como
era feito na Equação 3.1. Trabalhos como Dorscheidt (2018) [65] e Scarlat (1993)
[68] chamam a primeira abordagem de módulo de reação para, assim, diferenciá-lo
do coeficiente de reação. Dessa forma, o módulo de reação vertical (Kv ) relaciona
a reação de apoio no sentido gravitacional com o recalque da fundação e pode ser
convertido do coeficiente de reação vertical (kv ) quando este é multiplicado por sua
área de influência (Ainf ) [68], conforme Equação 3.2:

Kv = kv × Ainf (3.2)

A área de influência depende de qual o nı́vel de discretização empregado na mo-


delagem da fundação. Por exemplo, se foram empregadas vinte molas para modelar
a interação solo-estrutura, cada área de influência será vinte avos na área total.
Como as rigidezes são somadas em série, por fim, todas as molas juntas devem pos-
suir a mesma rigidez que uma única mola considerando toda a área da base como
Ainf [65].

3.1.3 A ISE a partir do Método dos Elementos Finitos


A discretização de um meio contı́nuo de infinitas partı́culas em um corpo com-
posto por finitos elementos cujas propriedades fı́sicas, geométricas e mecânicas são
conhecidas constitui a base do Método dos Elementos Finitos (MEF). Desenvol-
vido ao longo do Século XX, este método numérico passou a ter notoriedade com a
evolução do cálculo computacional, o qual permitiu análises robustas antes inviáveis.
O MEF é aplicado a uma vasta gama de problemas da ciência como um todo, desde
Engenharia Aeroespacial à Odontologia. Seu propósito, conforme comentado, é
discretizar e dar tratamento fı́sico-matemático a meios contı́nuos, cujos comporta-
mentos e respostas não possuem formulação analı́tica precisa ou conhecida.
Potts e Zdravković (1999) [78] comentam que a aplicação do MEF na Geotec-
nia se deu de maneira muito mais tardia do que em outros campos da Engenharia.
Uma explicação muito plausı́vel para essa questão, segundo os autores, dá-se pela

33
quantidade de complicadores que existem ao se tentar analisar a mecânica do sub-
sistema geotécnico. Em escala microscópica, pode-se dizer que nenhum material é
perfeitamente uniforme e, dessa forma, sempre haverá aproximações nos tratamen-
tos matemáticos que são feitos aos problemas de Mecânica Computacional. Porém,
o solo é um aglomerado de partı́culas altamente inconstantes, no qual até complexas
formulações plásticas podem ter um grau significativo de simplificação. A modela-
gem de propriedades como a coesão, o ângulo de atrito dos grãos, a poropressão e o
comportamento de enrijecimento/amolecimento são questões em constante aprimo-
ramento nas formulações de elementos finitos empregadas a problemas geotécnicos,
como os de interação solo-estrutura.
Não faz parte do escopo desta dissertação apresentar a teoria matemática por
detrás do Método dos Elementos Finitos, mas sim apresentar os elementos utiliza-
dos nas análises numéricas, abordando alguns pontos de destaque nas formulações
adotadas. Detalhes em relação à concepção do método, com enfoque geotécnico,
podem ser encontrados em Potts e Zdravković (1999) [78].

3.1.4 Elementos empregados


A biblioteca de elementos do Plaxis 3D é bastante restrita quando comparada
a de outros softwares que empregam o MEF, o que limita um pouco a liberdade
das análises numéricas. Informações importantes para os usuários do Plaxis são
dispostas nos manuais de materiais e modelos [79] e cientı́fico [80]. Os elementos
empregados são apresentados a seguir.

Elementos unidimensionais

O elemento unidimensional disponı́vel no Plaxis 3D é intitulado pelo software


como elemento de viga. Entretanto, por possuir rigidez axial, à flexão e ao esforço
cortante, conforme indica a Figura 3.2, a correta denominação seria elemento de
pórtico espacial.

Elemento plano (bidimensionais)

Difere-se os elementos planos em três modalidades: membrana, placa e casca.


A membrana é capaz de resistir a um momento torsor (sentido normal do plano)
e dois esforços longitudinais ao plano, comportamento que garante o seu emprego
para modelagens de coberturas flexı́veis, por exemplo. Por sua vez, o elemento placa
possui rigidez à flexão nos eixos do plano e ao esforço cortante perpendicular a eles,
o que faz com que seja aplicado para modelar lajes e estruturas semelhantes. Uma
casca é a combinação da membrana e da placa, possuindo, portanto, seis graus de
liberdade [65].

34
Figura 3.2: Solicitações suportadas pelo elemento unidimensional (adaptada de [79]).

O elemento plano disponı́vel no Plaxis 3D para modelar peças estruturais bi-


dimensionais é a placa de cinco graus de liberdade. A qual seria um elemento de
casca porém com a ausência do sexto grau de liberdade, o qual confere resistência
ao esforço normal no eixo 3 (Figura 3.3). Assim, na sua formulação, o elemento
admite que a tensão normal (σ33 ) é nula e, então, não há resistência a uma even-
tual solicitação N3 . Dessa forma, há rigidez somente a oito solicitações estruturais.
Na prática, ao se modelar uma placa no Plaxis 3D, fornece-se as duas dimensões
principais e uma espessura, porém para essa última dimensão não são contabiliza-
das deformações normais. Ou seja, a espessura permanece constante para qualquer
compo de tensões imposto.

Elemento sólido/volumétrico

Todo sólido modelado no Plaxis 3D é representado por um elemento tetraédrico


com dez nós e quatro pontos de integração, conforme indica a Figura 3.4. Qua-
tro nós são localizados nos vértices e seis nas arestas, cada um tendo três graus de
liberdade, o que configura um elemento bastante poderoso para representar compor-
tamentos complexos, mas, também, um elemento com maior custo computacional
já que, dentro da formulação do MEF, dez nós indicam dez funções de interpolação
e matrizes mais robustas para serem operadas.

35
Figura 3.3: Solicitações suportadas pelo elemento plano empregado pelo Plaxis 3D
para modelar elementos estruturais bidimensionais [79].

Figura 3.4: Numeração dos nós locais e pontos de integração do elemento tetraédrico
de 10 nós [80].

3.1.5 Elemento de interface


Elementos de interface podem ser empregados sempre que se trabalha com dois
subsistemas distintos e cujas propriedades e respostas mecânicas possuem alguma
diferença considerável. Em problemas de interação solo-estrutura, eles são especi-
almente aplicados na face de contato de elementos estruturais com o solo, princi-
palmente pelo fato de que o solo não possui resistência à tração. Isso quer dizer
que, diante de uma solicitação de flexão, por exemplo, o solo pode ser comprimido,
mas não tracionado. No Plaxis 3D, os elementos de interface podem ser aplicados
em dois cenários: na junção entre um elemento plano ou sólido com o subsistema
geotécnico; ou entre dois maciços de solo com propriedades distintas. Porém há
algumas limitações em relação à modelagem desse elemento, já que a única forma
de incluı́-lo em uma análise é a partir de um parâmetro Rinter que diz respeito a

36
um fator de perda de rigidez na interface, o qual, ao longo dos manuais ([79], [80] e
[81]), não há muitas diretrizes a respeito de como obtê-lo.

3.2 Modelos constitutivos


Segundo Velloso, Santa Maria e Lopes (2016) [66] para que se atribuam modelos
matemáticos para o tratamento de problemas geotécnicos, é fundamental que se
estabeleça relações constitutivas, ou seja, equações que permitam avaliar a ligação
entre tensões, deformações e tempo. Segundo os autores, problemas que envolvem
o estudo de deformação, em geral, podem ser divididos em dois grandes grupos: os
elásticos e os plásticos. Os elásticos são os que seguem a Lei de Hooke, podendo ou
não ter alguma não linearidade. E os plásticos são aqueles que acumulam deformação
ao longo do histórico de tensões, não sendo lineares e tendo, portanto, maiores
complexidades na sua previsão.
Para que alguma das teorias, elásticas ou plásticas, forneça uma resposta
analı́tica, é necessário um conjunto de condições ideais. Porém, salvo alguma even-
tual exceção, nenhum material detém dessas determinadas condições, isso pois eles
não são perfeitamente contı́nuos e não possuem, na prática, uma resposta exata
àquela encontrada por uma determinada relação constitutiva, possuindo sempre al-
gum grau de aproximação. Assim, entende-se que o solo, um composto natural
altamente não linear, não é um material simples de se avaliar e prever o compor-
tamento. Com o avanço da Geotecnia, desde os trabalhos de Karl von Terzaghi
(1883 – 1963), uma série de modelos foram propostos para que se avalie com válida
precisão o subsistema geotécnico. Nesse trabalho, apresenta-se três modelos elas-
toplásticos: primeiramente, o de Mohr-Coulomb, baseado no critério de ruptura de
mesmo nome, e, em seguida, dois modelos de endurecimento do solo (Hardening soil,
HS ), os quais são amplamente reconhecidos e que serão empregados posteriormente
nas análises desenvolvidas.
A Figura 3.5 apresenta as respostas de diferentes modelos constitutivos quando
submetidos a uma deformação uniaxial e também o comportamento genérico que se
encontra em solos reais. Essa figura será comentada ao longo deste capı́tulo.

3.2.1 Modelo linear-elástico


Antes de tratar dos modelos com plastificação, é válido destacar que o modelo
baseado na Lei de Hooke, o qual prevê isotropia, elasticidade e linearidade entre
tensão e deformação, também pode ser empregado com boa precisão em problemas
de interação solo-estrutura. Segundo Helwany (2007) [82] e o manual do Plaxis
3D [79], ele pode ser aplicado na modelagem de volumes rı́gidos como paredes e

37
Figura 3.5: Comportamento de diferentes modelos constitutivos para carga de-
formação uniaxial,  (adaptada de [78]).

contenções de concreto ou formações rochosas intactas. Além disso, evidentemente


que a estrutura também pode ser inteiramente modelada segundo a Lei de Hooke,
dependendo dos critérios adotados. Conforme indicado pela Figura 3.5, todos os
modelos aqui tratados partem de uma resposta elástica, isso quer dizer que para
baixas tensões, o comportamento previsto por eles é o mesmo (com exceção do
modelo HSS, o qual emprega maior rigidez para pequenas deformações).

38
3.2.2 Modelos elastoplásticos
A Teoria da Plasticidade difere da Elasticidade por não seguir a Lei de Hooke
e poder ter ou não relação direta entre tensão e deformação. Usa-se o termo “elas-
toplástico” porque, conforme indicado pela Figura 3.5, os modelos tratados nesta
dissertação partem de um princı́pio elástico para, em seguida, escoarem e plastifica-
rem.
Segundo Helwany (2007) [82], um modelo elastoplástico para avaliar o com-
portamento geotécnico deve apresentar três atribuições: (1) possuir um critério de
escoamento para prever quando o material deve comportar-se de forma elástica ou
plástica, (2) estabelecer uma regra de endurecimento (ou amolecimento) do solo
para as deformações, para, assim, avaliar o formato da relação desenvolvida entre
tensão × deformação e (3) indicar como será o fluxo do escoamento deste material,
prevendo a direção das deformações plásticas dadas pelos acréscimos de tensão. Os
dois primeiros destes critérios podem ser compreendidos ao analisar os modelos da
Figura 3.5: onde sempre há a divisão entre a fase elástica e plástica definida pelo
ponto B; e onde o comportamento do escoamento B −C pode ser expresso de formas
diferentes até atingir a plastificação perfeita F . Por simplificação, o terceiro ponto é
resolvido a partir de uma hipótese de cálculo, na qual se admite que os incrementos
plásticos de deformação seguirão as tensões principais [78]. A seguir, são descritos os
modelos elastoplásticos empregados nesta dissertação, para informações mais deta-
lhadas a respeito das formulações e aplicações desses modelos em elementos finitos,
sugere-se a leitura de [78] e [82].

Modelo de Mohr-Coulomb - perfeitamente plástico

Mohr-Coulomb é uma relação constitutiva historicamente muito empregada na


Mecânica dos Solos, carregando esse nome por combinar o Cı́rculo de Mohr, método
bastante utilizado na Resistência dos Materiais para avaliar tensões normais e tan-
genciais, com a Equação de Coulomb (Equação 3.3) a qual define o critério de
ruptura baseada na coesão e no ângulo de atrito interno do solo em análise.

τf = c0 + σ 0 × tan(φ0 ) (3.3)

onde:
τf : tensão cisalhante no plano de ruptura;
c0 : coesão efetiva;
σ 0 : tensão normal efetiva no plano de ruptura;
φ0 : ângulo de atrito interno efetivo.
O modelo de Mohr-Coulomb é classificado pelo Plaxis como uma relação “linear-
elástica perfeitamente plástica”[79]. Isso porque, conforme evidencia a Figura 3.5,

39
um modelo perfeitamente plástico segue a Teoria da Elasticidade até atingir o limite
de plastificação, no qual ele não possui escoamento, ele simplesmente plastifica até a
ruptura. Ou seja, não há nem endurecimento nem amolecimento no modelo padrão
de Mohr-Coulomb. A Figura 3.6 representa como esta relação combina tensões
normais (efetivas) e cisalhantes a partir da coesão e do ângulo de atrito interno do
solo analisado.

Figura 3.6: Envelope de ruptura de Mohr-Coulomb considerando três tensões prin-


cipais distintas.

Na Figura 3.6, a reta que tangencia o cı́rculo de Mohr formado pelas tensões
principais determina o limiar entre o domı́nio elástico e plástico. Dado o fato de
que o modelo plastifica perfeitamente, qualquer tensão que ultrapasse o limite de
plastificação significa uma tensão de ruptura.

Hardening Soil (HSM)

O modelo de endurecimento do solo (normalmente referido como Hardening Soil


ou pela sigla HS ou, ainda, HSM, dependendo da bibliografia consultada) foi pro-
posto por Schanz, Vermeer e Bonnier (1999) [83] com o intuito de reproduzir me-
canicamente alguns fenômenos vistos em solos, em especial a variação da rigidez
conforme o nı́vel de aplicação de tensões. Ou seja, o HSM – e suas variações – não
considera a rigidez constante para todo carregamento [79].
Assim como é feito em Mohr-Coulomb, o Hardening Soil possui limites de tensão
em função do ângulo de atrito interno (φ), da coesão (c) e do ângulo de dilatância
(ψ). Entretanto se diferencia por aplicar três diferentes módulos de elasticidade, o
que faz com que a rigidez seja descrita, teoricamente, de forma mais precisa. Os
três módulos são:

40
• Módulo de elasticidade do ensaio de compressão triaxial (E50 )
Empregado em análises gerais de solos, o E50 é fruto do ensaio de compressão
triaxial e possui essa sigla por dizer respeito à secante da resistência à 50% da
máxima tensão medida.

• Módulo de elasticidade de descarga-recarga (Eur )


Essa propriedade mecânica é aplicada a solos que possuem ciclos de carga e
descarga, sua função é simular o comportamento histerético. O Eur pode ser
relacionado a obras de escavação, por exemplo, onde a pressão inicial exercida
pelo solo previamente presente foi retirada. Além disso, esse módulo possui um
papel importante em carregamentos dinâmicos, onde os esforços possuem esse
caráter cı́clico. Sua determinação também depende de ensaio de compressão
triaxial, porém, na ausência desse, propõe-se a correlação estabelecida pela
Equação 3.4 [79, 84]:

Eur ≈ αE50 (3.4)

onde:
α: constante com valor entre 3 e 4.

• Módulo de elasticidade edométrico (Eoed ou D)


O módulo edométrico vem do ensaio de compressão edométrica, o qual simula
a situação de impedimento de deformações em direções normais àquela que
está recebendo um carregamento compressivo. O Eoed é uma importante pro-
priedade de avaliação do adensamento do solo. Segundo a Lei de Hooke, ele
pode ser estimado a partir da Equação 3.5:

(1 − ν)E
Eoed = (3.5)
(1 − 2ν)(1 + ν)

Percebe-se que quanto maior for o coeficiente de Poisson, maior será a variação
entre o módulo edométrico e o módulo de elasticidade linear.

Além deles, salienta-se o conceito de:

• Módulo de elasticidade inicial ou Módulo de elasticidade a pequenas de-


formações (E0 )
Como já foi abordado em relação ao endurecimento e amolecimento, o solo
possui uma natureza mecânica não linear, e quando se trata de carregamentos
de baixa intensidade, a relação tensão × deformação é diferente daquela con-
ferida para tensões mais altas. Esse, inclusive, é o princı́pio básico do modelo

41
HSS, tratado a seguir. Dessa forma, a pequenas deformações, o módulo de
elasticidade “inicial” (E0 ) é diferente de um módulo secante qualquer. Para
casos gerais de Geotecnia, o E0 é consideravelmente mais alto que o linear ou
que o medido pelo ensaio triaxial.

• Expoente de rigidez (m)


Os módulos de elasticidade longitudinal e de cisalhamento são obtidos a partir
de pressões de referência (pref ). Para relacioná-los com quaisquer tensões
de mesma direção (σ1 ou σ3 ) é necessário estabelecer uma correlação como
a da Equação 3.6 para Eoed , em que a razão das tensões está elevada a um
expoente de rigidez (m). Os valores de m costumam estar em torno de 0,5,
porém Obrzud & Truty (2018) [85] listam uma série de obtenções de m para
diferentes solos ao redor do mundo, variando entre 0,43 e 0,62.
 m
σ1
Eoed = Eoed,ref (3.6)
pref

A Figura 3.7 relaciona os módulos mencionados. É válido ressaltar, também,


que a pressão confinante majora os módulos de elasticidade, em especial o E50 e o
Eur , isso faz com que a rigidez cresça com a profundidade [79]. Nesta figura, Esec
indica o módulo de elasticidade secante utilizado para as análises elástica linear e de
Mohr-Coulomb. A consideração de que E50 e Eoed são próximos é válida para casos
genéricos, mas não indica que são valores idênticos.

Figura 3.7: Comparação dos módulos de elasticidade utilizados pelos diferentes


modelos (adaptado de [79] e [86]).

Portanto, o modelo de endurecimento do solo depende das mesmas propriedades


de Mohr-Coulomb, porém com o acréscimo dos três módulos de elasticidade (E50 ,
Eur e Eoed ) que descrevem a não linearidade da rigidez. Essa variação da rigidez faz
com que, ao invés de se trabalhar com uma curva bi-linear (plastificação perfeita), se
trabalhe com uma curva com comportamento hiperbólico. A aproximação por uma
hipérbole foi, primeiramente, proposta por Kondner (1963) [87] e depois aprimorada

42
no modelo de Duncan e Chang (1970) [88]. Para formular esse caráter hiperbólico,
o HSM utiliza os seus três módulos de elasticidade, conforme indica a Figura 3.7,
em um gráfico da tensão desviadora (diferença das tensões principais) em função da
deformação axial, ambas propriedades do ensaio de compressão triaxial.
O modelo de Hardening Soil empregado nas análises numéricas desta dissertação
possui endurecimento isotrópico, isso quer dizer que a relação entre os módulos de
elasticidade e de cisalhamento seguem os princı́pios da Lei de Hooke. A formulação
completa dele pode ser encontrada no manual de materiais do Plaxis 3D [79] ou nos
trabalhos de Schanz, Vermeer e Bonnier (1999) [83].

Hardening Soil with small-strain stiffness (HSS)

O modelo padrão de Hardening Soil possui, hoje, suas ramificações. A mais


comum delas talvez seja a proposta pela tese de doutoramento de Benz (2007) [89]:
o modelo de endurecimento do solo com rigidez a pequenas deformações, tradução
literal para Hardening Soil with Small-strain stiffness, o qual possui como carac-
terı́stica principal uma maior rigidez para deformações de pequena escala.
No contexto de interação solo-estrutura, Atkinson & Sallfors (1991) [90] propõem
a Figura 3.8 para diferenciar as escalas de deformações. Essa mesma classificação
é adotada pelo manual do Plaxis 3D (2019) [79] e por Obrzud e Truty (2018) [85].
Entende-se, então, que uma pequena deformação ao cisalhamento está abaixo do
limite de 0,1% da dimensão original.

Figura 3.8: Variação da rigidez conforme dá-se o acréscimo das deformações, desta-
cando a aplicação de cada escala de deformação (apatada de [90]).

Da curva apresentada pela Figura 3.8 pode-se observar uma propriedade


mecânica essencial para o entendimento do HSS, a variação não linear do módulo de
cisalhamento com o aumento das deformações (como o endurecimento é isotrópico, os
módulos de elasticidade e cisalhamento variam de forma proporcional). No eixo das
ordenadas, apresenta-se a normalização do módulo secante (G ou Gs ) pelo módulo

43
inicial (G0 ), o qual varia de 0 a 1. A partir disso, percebe-se que o G é sempre uma
fração do G0 e que essa razão diminui com o aumento das deformações, ou seja, em
pequenas deformações a rigidez secante é uma fração mais alta da rigidez inicial do
que em deformações maiores.
Brinkgreve, Kappert e Bonnier (2007) [91] – que são alguns dos responsáveis
pelos modelos constitutivos presentes no Plaxis 3D – explicam que o HSS não foi
desenvolvido especificamente para problemas dinâmicos, porém acaba sendo apli-
cado para carregamentos cı́clicos obtendo-se boas respostas graças a duas de suas
capacidades: a representação da perda de rigidez com o acréscimo das deformações e
a regeneração desta rigidez ao ter reversão de carregamento, caracterı́sticas que con-
figuram um comportamento de histerese do solo. Assim, em problemas dinâmicos,
uma relação bastante empregada para descrever a variação da rigidez é a de Har-
din e Drnevich (1972) [92] a qual é uma adaptação da lei hiperbólica de grandes
deformações de Kondner (1963) [87], já mencionada no modelo de endurecimento
padrão. A relação Hardin-Drnevich é definida pela Equação 3.7:

Gs 1
=
γ (3.7)
G0
1 +
γr
onde:
γr : deformação por cisalhamento limite, dada pela razão da tensão cisalhante de
ruptura (τmax ) e o módulo de cisalhamento inicial (G0 ).
Porém, a relação empregada pelo Plaxis 3D e outros programas de análise é
uma variação de Hardin-Drnevich proposta pelos pesquisadores brasileiros Santos e
Correia (2001) [93]. Nela, emprega-se o parâmetro γ0,7 que diz respeito à deformação
para a qual o módulo de cisalhamento secante (Gs ) foi reduzido a 70% do valor inicial
(G0 ). O uso da relação Santos-Correia (Equação 3.8) também indica que, comparado
a HSM padrão, o input de HSS, no Plaxis 3D, demandará dois novos parâmetros:
G0 e γ0,7 .

Gs 1
=
γ
(3.8)
G0
1 + a
γ0,7
onde:
a: é uma constante obtida por ensaio de laboratório, igual a 0,385.
Gs
Ao se aplicar a = 0, 385 e γ = γ0,7 à Equação 3.8, percebe-se que resulta em
G0
0,722. Isso indica que, na verdade, os “70%” do valor inicial do módulo cisalhante
seriam, mais precisamente, 72,2%. Dessa
 equação, entende-se que quanto maior  for
γ Gs
a normalização da deformação , menor será a normalização da rigidez
γ0,7 G0

44
e vice-versa. Ou seja: menor a deformação, maior a rigidez.
Essa redução de rigidez com o aumento das deformações pode ser associada à
perda de força intermolecular dentro do esqueleto do solo à medida que se aplica
maior carregamento. Porém, uma vez que a direção do esforço é revertida, pode-
se dizer que a microestrutura geotécnica é regenerada e a rigidez retoma um valor
próximo ao inicial. Assim, no modelo HSS, a deformação cisalhante é sempre de-
pendente do histórico de deformações, o que Benz (2007) caracterizou por γhist . Um
pouco sobre a formulação do cálculo dessa deformação é discorrido em [79] e [85].
Uma noção importante em relação ao histórico de carregamento e à redução da ri-
gidez é que γhist está intimamente ligado ao módulo cisalhante de descarga-recarga
(Gur ). As formulações empregadas no HSS permitiriam uma diminuição cada vez
maior com o ganho de deformação, porém o Gur é o que estipula o limite de perda
de rigidez, conforme ilustra, mais adiante, a Figura 3.12. Disso, entende-se que no
momento de descarga, o subsistema se encontra com a sua rigidez mais baixa, refe-
rente a Gur que, por ainda se trabalhar com modelo isotrópico, respeita a Equação
3.9:

Eur
Gur = (3.9)
2(1 + νur )
Da Equação 3.9 já abordou-se o Eur e mostrou-se como calculá-lo na Equação 3.4
a partir de dados de rigidez inicial. Porém, como é evidenciado pela Equação 3.9,
o coeficiente de Poisson pode sofrer alterações do seu valor inicial ν para os ciclos
de descarga e recarga νur . A sua determinação depende de ensaio de compressão
triaxial com curva de descarga-recarga [85], porém, para valores usuais de ν – em
torno de 0,3 – relações empı́ricas estabelecem que se use νur = 0, 2. Tendo o limite
de perda de rigidez estabelecido por Gur pode-se, por fim, calcular a deformação
limite (γcut−of f ou γc ), a qual estabelece o valor máximo para o qual as relações do
HSS são válidas. A Equação 3.10 demonstra como obter essa deformação baseado
nas demais equações já apresentadas nesse subcapı́tulo.
r !
γ0,7 G0
γcut−of f = −1 (3.10)
a Gur

O comportamento de descarregamento e recarregamento descrito anteriormente


remete a um fenômeno de histerese. O modelo de endurecimento HSS admite o
caráter histerético do solo segundo as regras de Masing [94] (as quais são ilustradas
na Figura 3.9):

• Primeira regra: o módulo de cisalhamento no descarregamento é igual ao


módulo tangente da curva de carregamento inicial;

45
• Segunda regra: a forma das curvas de descarga-recarga é idêntica a de carre-
gamento inicial, porém com escala dobrada.

Figura 3.9: Resposta de um ensaio de cisalhamento cı́clico, evidenciando a curva


backbone caracterı́stica do comportamento histerético dos materiais [79].

3.2.3 Comparativo entre modelos constitutivos

Figura 3.10: Diferenças das relações constitutivas em termos de: (a) curvas tensão-
deformação; e (b) variação da regidez ao cisalhamento normalizada (secante/inicial)
ao longo do acréscimo de deformações (adaptada de [85]).

Na busca de comparar os modelos constitutivos oferecidos pelo Plaxis, Hsiung


& Dao (2014) [95] propuseram uma análise numérica bidimensional com Mohr-
Coulomb, Hardening Soil e HSS comparando-os com dados experimentais em uma
escavação profunda em solo arenoso com E 0 variando entre 16 e 70 MPa ao longo da

46
profundidade. Avaliando deflexão e recalque, os autores são categóricos em afirmar
que Mohr-Coulomb produz resultados ruins se comprados aos modelos de endureci-
mento. Analisando os seus resultados, percebe-se que HSS foi o modelo que melhor
representou os fenômenos mecânicos e Mohr-Coulomb foi falho na avaliação dos re-
calques do solo próximo à parede de contenção, estimando valores consideravelmente
mais baixos do que os medidos.
Por sua vez, Bahloul & Moussai (2016) investigaram os modelos elástico-linear,
de Mohr-Coulomb e de endurecimento do solo para estacas carregadas lateralmente
no Plaxis 3D. Utilizando duas areias bastante resistentes (E 0 = 120MPa e φ = 33◦ ;
E 0 = 140MPa e φ = 39◦ ) os autores concluı́ram que, para critério de deslocamento
horizontal, os modelos elastoplásticos estiveram bastante próximos, contrastando
com o elástico, onde as deformações foram significativamente menores, conforme
esperado.
Empregando o Plaxis 2D, Çelik (2017) [96] traçou um comparativo da avaliação
de Mohr-Coulomb e Hardening Soil padrão para uma escavação de túnel em areia
(E 0 = 34MPa e φ = 32◦ ). O autor conclui, a partir dos resultados apresentados,
que o modelo de endurecimento do solo é mais preciso na análise de recalques,
destacando que Mohr-Coulomb acaba tendo resultados menos acurados por não
considerar o ganho de rigidez com o aumento da profundidade.
Em seu artigo, Sekhavatian & Choobbasti (2018) [97], realizaram a comparação
dos modelos constitutivos de Mohr-Coulomb, uma proposta modificada de Mohr-
Coulomb (com rigidez variando ao longo da profundidade), Hardening Soil padrão,
uma proposta simplificada de Hardening Soil e Cysoil (cap yield soil model ) para
uma obra de escavação e contenção, para a qual os pesquisadores possuı́am dados
de medição de campo, cujo solo analisado era uma areia com φ = 32◦ e E 0 = 32, 6
MPa. Dentre os modelos analisados, para análise de deflexão e deslocamento no
topo da parede de contenção realizada no Plaxis, os mais satisfatórios foram o HSM
e o Mohr-Coulomb modificado. Porém, os autores buscaram, em suas conclusões,
reiterar os bons resultados do endurecimento do solo, já que o modelo foi capaz de
simular com boa precisão a deflexão da parede ao longo de toda a profundidade.

3.3 Amortecimento do solo


3.3.1 Histerese do solo segundo o HSS
Além das qualidades já descritas no Subcapı́tulo 3.2.2, o modelo de Hardening
Soil com rigidez a pequenas deformações proposto por Benz (2007) [89], possui
também a propriedade de representar o processo de histerese do solo. As figuras
3.9 e 3.11 são equivalentes, a partir delas, percebe-se que os módulos cisalhantes

47
inicial e de descarga-recarga são fundamentais para a construção da curva backbone.
Válidas as regras de Masing [94], Gur pode ser entendido como o módulo secante
do ponto inicial até o final da curva backbone. Do ponto final da backbone, pode-se
traçar um triângulo retângulo que representaria a energia gasta caso o solo pudesse
ser idealizado como um módulo elástico igual ao secante Gur . Da teoria clássica de
histerese, válida para qualquer material histerético, a taxa de amortecimento (ξh )
pode ser dada por uma relação entre essa área idealizada (WS ) com a área total da
histerese (WD ) segundo a Equação 3.11:

WD
ξh = (3.11)
4πWS

Figura 3.11: Método gráfico de interpretação da taxa de amortecimento (força F


[kN] × deslocamento u [m]) [99].

Porém, uma propriedade dinâmica muito importante do solo que o HSS é capaz
de representar é que essa taxa de amortecimento não é fixa. Conforme indica a
Figura 3.12, não somente a rigidez varia para o campo de tensões como também a
taxa de amortecimento. Entretando, ao contrário dos módulos de rigidez que caem
com o acréscimo das deformações, a taxa de amortecimento cresce.
A variação desses parâmetros para o estado de tensões imposto é função de pro-
priedades como a plasticidade e a poropressão, os quais podem alterar as inclinações
e distância entra as curvas apresentadas na Figura 3.12.
A Figura 3.13 apresente um teste de decaimento cujo solo é modelado por HSS.
Segundo a Equação 3.12, a taxa de amortecimento num sinal de resposta como esse
pode ser medida a partir de uma correlação logarı́tmica relacionando o pico un com
o seu subsequente un+1 .

48
Figura 3.12: Curvas fornecidas pelo Plaxis representando a redução da rigidez e o
aumento do amortecimento a partir do acréscimo das deformações no modelo HSS.
Estas curvas representam o solo que de fato é utilizado para as análises numéricas
desta dissertação, cujos parâmetros serão apresentados na Tabela 4.4.

Figura 3.13: Avaliação do sinal de resposta para extração da taxa de amortecimento


(adaptada de [99]).

ln(un /un+1 )
ξ=p (3.12)
(ln(un /un+1 ))2 + 4π 2
Porém, conforme indicou a curva da Figura 3.12, o valor de ξ pode variar depen-
dendo do estado de tensões no qual o sistema está submetido.

3.3.2 Amortecimento de Rayleigh


A forma com que muitos softwares tratam o amortecimento é a partir do método
proposto por Rayleigh (Lord Rayleigh, tı́tulo de John William Strutt (1842-1919),
desenvolveu esse método para, primeiramente, aplicá-lo no tratamento matemático
do amortecimento do som [100]). Nele, o amortecimento do sistema é calculado a
partir de uma correlação com a sua rigidez e a sua massa, conforme ilustra a Equação

49
3.13:

CRayleigh = αM + βK (3.13)

onde:
CRayleigh : matriz de amortecimento de Rayleigh;
M: matriz de massa;
K: matriz de rigidez;
α: coeficiente proporcional à massa;
β: coeficiente proporcional à rigidez.
Observa-se na Equação 3.13 que o que determina o amortecimento a partir das
caracterı́sticas fı́sicas e geométricas da estrutura (matrizes de rigidez e massa) são
os coeficientes α e β. Esses podem ser determinados a partir da taxa de amorteci-
mento “alvo” (ξ) conhecida para o material em questão e duas frequências naturais
consecutivas:
 
1 α
ξ= βωi + (3.14)
2 ωi
onde:
ωi : frequências naturais, em rad/s, cujo ı́ndice i pode ser substituı́do pelos dois
primeiros valores do modo de vibração em questão.

3.3.3 Relação entre histerese do solo e amortecimento de


Rayleigh
Devido às limitações numéricas de muitos programas de análise de estruturas, é
necessário, muitas vezes, traçar equivalência entre o amortecimento histerético do
solo e o amortecimento de Rayleigh. Pesquisadores como Orologopoulos & Loukidis
(2014) [99] e Hall (2006) [101] relatam que se utilizados ambos os coeficientes α e
β, o amortecimento passa a ser minorado. E que, portanto, a solução é manter o
amortecimento proporcional somente à rigidez, tomando α = 0 e obtendo β segundo
a Equação 3.15, com base na Equação 3.14:


β= (3.15)
ω

3.3.4 Amortecimento total do HSS


O amortecimento é uma questão de projeto pouco explorada nos manuais do
Plaxis 3D. Raikar (2016) [98] buscou, em sua dissertação de mestrado, entender o
que de fato é levado em conta na avaliação de amortecimento do programa, algo que

50
ela chama de “caixa preta”. A autora concluiu que o Plaxis considera três parcelas
de amortecimento geotécnico para o modelo HSS, esses são:

• Amortecimento histerético
Como já tratado, fruto dos ciclos de histerese do solo.

• Amortecimento de radiação
Dado pela transmissão de ondas entre os grãos do solo.

• Amortecimento viscoso
Dado pela viscosidade da água presente nos poros do solo saturado.

Portanto, a calibração do amortecimento que será feita a partir do Plaxis con-


siderará não somente o efeito da histerese presente no HSS, mas também as duas
outras parcelas de amortecimento existentes em qualquer outro modelo constitutivo
empregado no programa.

3.4 Carregamentos ambientais


Esta dissertação não abordará as formulações de hidrodinâmica e aerodinâmica
que regem a mensuração dos carregamentos ambientais. No Capı́tulo 4, ao se abor-
dar as análises propostas, explicitar-se-á qual o método empregado para avaliar
cada carregamento. Caso haja dúvidas a respeito destes, recomenda-se as seguintes
bibliografias:

Aerodinâmica

Em relação ao tratamento da carga eólica e, em especial, à Teoria do BEM (Blade


Element Momentum) indica-se a leitura da dissertação de mestrado de Nogueira
(2019) [42] e do livro de Hansen (2015) [54].

Hidrodinâmica

Há uma grande quantidade de livros abordando o assunto e explanando a Teoria


Linear de Airy e a Equação de Morison, visto que ambas são formulações clássicas
da Engenharia Offshore. Dentre eles, indica-se o já mencionado Barltrop e Adams
(1991) [74], o qual aborda a análise de estrutruas offshore fixas como um todo. Para
uma leitura mais concisa, recomenda-se a dissertação de mestrado de De Castro
(2013) [102].

51
3.5 Programas utilizados
A seguir, faz-se uma breve apresentação de cada um dos programas utilizados
nesta dissertação.

3.5.1 SIMA-RIFLEX
O SIMA-RIFLEX é o software utilizado neste trabalho para realizar a análise da
turbina eólica offshore de forma acoplada. Como será descrito ao longo do próximo
capı́tulo, ele também possui a funcionabilidade de gerar sinais de carregamento que
representem a carga aerodinâmica, ideal para simular o efeito dinâmico da OWT no
Plaxis 3D.
SIMA-RIFLEX é, na verdade, a associação de dois módulos de um amplo grupo
de softwares para estruturas e sistemas offshore denominado Sesam, o qual é comer-
cializado pela DNV-GL. O RIFLEX era, originalmente, um programa de análise em
elementos finitos de risers e outros componentes da indústria de petróleo e gás. A ele
foi adicionada a possibilidade de se trabalhar com turninas eólicas nos últimos anos.
O SIMA nada mais é do que a interface que possibilita maior interação visual com o
sistema analisado, tanto na modelagem quanto na interpretação dos resultados. Os
seus manuais estão referenciados ao final do texto [103, 104].

3.5.2 Plaxis 3D
Plaxis 3D é o software utilizado em todas as análise geotécnicas desta dissertação.
Ele permite trabalhar com todas as relações constitutivas tratadas neste capı́tulo e
dele serão extraı́das as curvas que serão apresentadas nos capı́tulos 4 e 5.
O Plaxis, como um todo, foi desenvolvido na TU Delft (Technische Universiteit
Delft) e atualmente é comercializado pela Bentley Systems. O software se populari-
zou por ser uma ferramenta bastante eficiente para análises geotécnicas empregando
o Método dos Elementos Finitos para modelar numericamente o solo e a estru-
tura, além de oferecer diferentes modelos constitutivos de solos. O seu conjunto de
manuais que está referenciado nesta dissertação ([79], [80], [81] e [105]) pode ser
encontrado gratuitamente no site da empresa.

52
Capı́tulo 4

Análises numéricas

4.1 Subsistema estrutural proposto


4.1.1 Turbina
Um modelo de turbina eólica de 10 MW disponı́vel na literatura para uso em pes-
quisa é o elaborado pela DTU (Danmarks Tekniske Universitet), cujas propriedades
podem ser encontradas resumidamente na Tabela 4.1 e, de forma mais completa,
em [49]. Este mesmo modelo já foi utilizado nos trabalhos de Nogueira (2019) [42],
Gomes (2019) [44] e De Mendonça (2020) [48]. A Figura 4.1 indica a implementação
deste sistema no software SIMA-RIFLEX. As conferências deste modelo em termos
de forças aerodinâmicas e potência mecânica podem ser encontradas em Nogueira
(2019) [42].

Figura 4.1: Modelagem do sistema proposto no SIMA-RIFLEX

4.1.2 Torre
As propriedades mecânicas da torre possuem grande influência no sistema para a
análise dinâmica. Para as análises preliminares foi proposta a torre de aço (E = 210

53
Tabela 4.1: Resumo das propriedades da turbina da DTU de 10 MW.
Propriedade Valor
Altura do hub (em relação à LDA) 119 m
Diâmetro do rotor 178,3 m
Diâmetro do hub 5,6 m
Número de pás 3
Orientação do rotor Upwind
Massa do rotor 227962 kg
Massa da nacelle 446036 kg
Velocidade de cut-in 4 m/s
Velocidade norminal (máx. thrust) 11,4 m/s
Velocidade de cut-out 25 m/s
Faixa de velocidade angular do rotor 6 - 9,6 rpm

GPa) apresentada na Tabela 4.2, conforme os seus resultados de frequência natural,


poderá ser necessário enrijecê-la ou flexibilizá-la. A Tabela 4.2 é dividida em dez
seções, pois tanto o SIMA-RIFLEX quanto o Plaxis não permitem a inserção de
seções não prismáticas. Dessa forma, escolheu-se segmentar a torre num conjunto de
10 seções cujo comprimento é a única propriedade que não pode ser modificada, isso
porque a altura do hub da turbina deve, necessariamente, estar a 119 metros acima
do nı́vel do mar. Conforme demonstratá a Figura 4.3, esses 119 m são compostos
por 5 m do shaft seco, 110,63 m da torre e 3,37 m do offset entre o final da torre e
o eixo da nacelle onde localiza-se o hub.

Tabela 4.2: Propriedades geométricas iniciais da torre.


Seção Comprimento [m] Dmed [m] Espessura [m] Área transv. [m2 ] I [m4 ]
Seção 1 11,0 9,85 0,0500 1,540 14,11
Seção 2 11,0 9,55 0,0475 1,418 12,19
Seção 3 11,0 9,25 0,0450 1,302 10,47
Seção 4 11,0 8,96 0,0425 1,190 8,94
Seção 5 11,0 8,66 0,0400 1,083 7,57
Seção 6 11,0 8,36 0,0375 0,981 6,36
Seção 7 11,0 8,06 0,0350 0,883 5,30
Seção 8 11,0 7,76 0,0325 0,790 4,37
Seção 9 11,0 7,46 0,0300 0,701 3,57
Seção 10 11,63 7,16 0,0275 0,616 2,86

4.1.3 Estrutura de suporte


A proposta para as análises preliminares consiste numa fundação baseada nos
trabalhos de [22] e de [29], a qual é composta por uma base de diâmetro robusto e um
shaft mais esbelto que é interligado à torre, muito semelhante ao projeto ELICAN
(conforme pode ser visualizado na Figura 2.8). A Figura 4.2 mostra a fundação

54
proposta, cujas dimensões estão compiladas na Tabela 4.3. A necessidade de lastro
será averiguada posteriormente na validação do modelo.

Figura 4.2: Modelagem inicial da fundação, da torre e da nacelle no Plaxis 3D

Tabela 4.3: Propriedades geométricas da fundação.


Seção Compr. [m] Dext [m] Espessura [m] Área [m2 ] Inércia [m4 ]
Shaft seco 5,00 10 1,25 34,3 3,356 ×102
Shaft subm. 26,5 10 1,25 34,3 3,356 ×102
Base superior 2,00 40 30 1.212,0 1,255×105
Base central 9,50 40 1,50 181,4 3,366×104
Base inferior 2,00 40 – 1.257,0 1,257×105
Lastro – – – – –

Para se encontrar a configuração da Tabela 4.3, utilizou-se um concreto de fck


de 50 MPa, coeficiente de Poisson de 0,2 admitindo agregado com αE igual a 1,2
(basalto e diabásio), seguindo os critérios da ABNT NBR 6118:2014 [106].

4.2 Subsistema geotécnico proposto


Para realizar uma análise entre diferentes modelos constitutivos de solo, é
necessário ter resultados de diferentes ensaios geotécnicos. Na ausência desses,
empregou-se o solo arenoso proposto no Tutorial 9 do manual de tutoriais do Plaxis
3D [105], o qual apresenta propriedades para o modelo HSS, as quais servem igual-
mente para o Hardening Soil. Para o modelo linear-elástico e de Mohr-Coulomb, é
possı́vel obter os parâmetros faltantes por correlação com as equações apresentadas
no Subcapı́tulo 3.2.2. A Tabela 4.4 apresenta os parâmetros geotécnicos empregados
nesta dissertação.

55
Figura 4.3: Subsistema estrutural em análise com destaque para as seções da GBF.

onde:
γun : peso especı́fico (aparente seco);
γsat : peso especı́fico saturado;
E 0 : módulo de elasticidade secante linear-elástico (efetivo), obtido correlacionando
Eoed na Equação 3.5;
ν 0 : coeficiente de Poisson inicial (efetivo);
c0 : coesão (efetiva);
φ0 : ângulo de atrito (efetivo);
ψ 0 : ângulo de dilatância (efetivo);
ref
E50 : módulo de elasticidade secante para 50% da tensão máxima no ensaio de
compressão triaxial, considerando a tensão de referência dada (pref );
ref
Eoed : módulo de elasticidade edométrico, considerando pref ;
m: expoente de rigidez;
0
νur : coeficiente de Poisson para ciclo de descarga-recarga;
pref : tensão de referência no ensaio triaxial;
γ0,7 : deformação cisalhante para a qual G ≈ 70% de G0 ;
Gref0 : módulo de cisalhamento inicial, considerando pref .

56
Tabela 4.4: Propriedades do solo proposto para as análises numéricas.
Parâmetro Linear-elástico Mohr-Coulomb Hardening Soil HSS
3
γun [kN/m ] 19 19 19 19
γsat [kN/m3 ] 20 20 20 20
0
E [MPa] 30 30 – –
0
ν 0,3 0,3 0,3 0,3
c0 [kN/m2 ] 5 5 5 5
0
φ [deg] 28 28 28 28
0
ψ [deg] 0 0 0 0
ref
E50 [MPa] – – 30 30
ref
Eoed [MPa] – – 36 36
ref
Eur [MPa] – – 110,80 110,80
m – – 0,5 0,5
0
νur – – 0,2 0,2
2
pref [kN/m ] – – 100 100
γ0,7 – – – 1,5 ×10−4
ref
G0 [MPa] – – – 100

4.3 Massas e esforços


4.3.1 Massas estruturais
A Tabela 4.5 apresenta as massas para todos os elementos estruturais do sistema.
Nela, a primeira coluna de valores apresenta as massas do material estrutural, a
segunda da água interna usada de lastro, a terceira indica o valor da massa adicional
necessária para a análise dinâmica e, por fim, o esforço resultante que soma os valores
de cada elemento e multiplica-os pela aceleração da gravidade. É válido destacar que
o Plaxis 3D não possui formulação hidrodinâmica para a avaliação de estruturas,
dessa forma, a massa adicional deve ser adicionada para a avaliação da resposta
dinâmica.

Tabela 4.5: Massa dos elementos estruturais do sistema


Elemento Estrutura [t] Água [t] Adicional [t] Esforço result. [kN]
Rotor 228 – – 2.236,7
Nacelle 446 – – 4.375,3
Torre 765 – – 7.504,7
Shaft seco 429,5 – – 4.213,4
Shaft submerso 2.276,5 1.200,3 2.134,2 55.043,9
Base superior 5.930,5 90,6 2.576,9 84.346,4
Base central 4.309 10.467,8 12.240 265.034,8
Base inferior 6.285 – 2.576,9 86.935,2
Lastro – – – –

57
4.3.2 Consideração do empuxo hidrostático
Por também não haver formulação hidrostática no Plaxis 3D, o empuxo é outra
propriedade da avaliação que deve ser inserida como um carregamento externo na
análise. Além disso, a carga externa que for imposta deve, também, compensar a
massa adicional que, para a análise estática em sentido gravitacional, é um carrega-
mento fictı́cio. A Tabela 4.6 apresenta os valores obtidos para o empuxo das seções
da fundação de gravidade, além do esforço da água interna e da água externa (massa
adicional), apresentando, por fim, uma carga distribuı́da de 213 kN/m2 .

Tabela 4.6: Empuxo hidrostático e compensação à massa adicional de cada elemento


submerso
Elemento Int. [kN] Empuxo [kN] Ext. [kN] Esforço result. [kN]
Shaft submerso - 11.774,9 20.936,1 20.936,1 30.097,3
Base superior - 888,8 25.278,9 25.278,9 49.669,0
Base central - 102.689,1 120.074,8 120.074,8 137.460,5
Base inferior – 25.278,9 25.278,9 50.557,8
Total 267.784,6
ou 213,03 kN/m2

4.4 Análises propostas


Estabelecido o modelo, as análises que são proposta para esta dissertação são
discorridas a seguir.

4.4.1 Validação do modelo


A etapa de validação do modelo consiste em analisá-lo para três critérios princi-
pais:

Frequência natural – ressonância

A avaliação da frequência natural possui duas funções principais: a primeira, con-


forme indicará adiante a Figura 5.3, é averiguar se o sistema estrutural está fora de
algum dos espectros ressonantes do carregamento de onda, vento ou funcionamento
do rotor (1P e 3P); a segunda, por sua vez, é atentar se tanto o SIMA-RIFLEX
quanto o Plaxis 3D estão obtendo os mesmos valores de modo de vibração – essa ca-
libração dos modelos é fundamental para que seja possı́vel correlacionar as análises
dos dois softwares.
Um sistema estrutural complexo como uma turbina eólica offshore possui diver-
sos modos de vibração. Para realizar esta conferência, buscou-se o primeiro destes

58
modos, o fore-aft, referente ao movimento longitudinal de incidência do vento. O
segundo modo de vibração, side-to-side, o que diz respeito ao movimento transversal
na torre, detém-se a uma frequência muito próxima e, dessa forma, averiguando a
não ressonância de um, confere-se a do outro também [107]. Discussões em relação
às faixas ressonantes de uma OWT podem ser encontradas em [55], [20], [44] e di-
versos outros presente no referencial bibliográfico. A Figura 4.4 ilustra os modos de
vibração fore-aft e side-to-side.

Figura 4.4: Os dois primeiros modos de vibração de uma torre eólica offshore: o
fore-aft e o side-to-side.

Para realizar esta análise no SIMA-RIFLEX, existe a comodidade da avaliação


de autovalores e autovetores do sistema estrutura, a qual fornece, por padrão, os dez
primeiros modos de vibração da estrutura. A execução da comparação no Plaxis 3D
não é tão simples, até por não ser um software desenvolvido especificamente para
estudo de estruturas. Nele, é necessário realizar um teste de decaimento: aplicando
uma carga de valor simbólico na nacelle em uma fase de carregamento e avaliando
a sua resposta dinâmica na fase seguinte.

Resistência ao momento tombante e capacidade de carga do solo

Por serem dois pontos a parte do escopo central deste trabalho, as discussões a
respeito desses dois critérios de validação do modelo são propostas no Apêndice A.

4.4.2 Avaliação das hipóteses clássicas


Os módulos de reação presentes na Tabela 3.1 empregam as já mencionadas
hipóteses de comportamento linear-elástico, placa rı́gida e sem massa, espaço semi-
infinito e estratigrafia homogênea. Teoricamente, quanto mais próximas dessas
hipóteses a fundação de gravidade estiver, mais próxima será a sua resposta dos

59
coeficientes de reação idealizados. Esta análise busca simular essas hipóteses no
Plaxis 3D para identificar qual o grau de aproximação existente entre os desloca-
mentos calculados em planilha interna Mathcad da Hipótese de Winkler empregando
os coeficientes e a modelagem em elementos finitos do software em questão.
Para esta análise, representada pela Figura 4.5, criou-se uma placa de 10 metros
de diâmetro, 1 metro de espessura, peso especı́fico desprezı́vel (γ = 1 × 10−6 ) e
módulo de elasticidade alto (E = 10 × 109 Pa) – configurando uma placa bastante
rı́gida de massa desprezı́vel – sobre um solo linear-elástico cujo módulo de elasti-
cidade é igual a 40 MPa e 0,3 de coeficiente de Poisson – representando o meio
elástico, homogêneo e semi-infinito.

Figura 4.5: Modelos criados no Plaxis 3D para a avaliação dos critérios que re-
gem os coeficientes de reação empregados na Hipótese de Winkler. Sendo: (a) o
deslocamento vertical; (b) o deslocamento horizontal; e (c) a rotação à flexão.

4.4.3 Módulos de reação


Assim como feito na análise de hipóteses clássicas, implementando os módulos
da Tabela 3.1 em planilha Mathcad pode-se, pela Hipótese de Winkler, obter os des-
locamentos e rotações esperados para a estrutura analisada. Esses valores são uma
das formas existentes para se estabelecer um comparativo entre as molas de Winkler
com a modelagem linear-elástica em elementos finitos do Plaxis 3D. Dessa forma, é
possı́vel ver o quanto o comportamento da fundação de gravidade se assemelha da
Hipótese de Winkler empregando módulos de reação clássicos.

4.4.4 Relações constitutivas - curvas não lineares


Esta análise é um dos tópicos centrais desta dissertação, cujo objetivo é traçar
relações não lineares (elastoplásticas) para se avaliar o comportamento do solo em
análises acopladas da turbinas eólica offshore. Conforme descrito no Subcapı́tulo
3.2.2, as relações constitutivas empregadas são os modelos de Mohr-Coulomb, Har-
dening Soil e Hardening Soil with small-strain stiffness. O que se espera é que,

60
a partir destes modelos, consiga se chegar a avaliações mais precisas da interação
solo-estrutura do sistema.
As análises acopladas são realizadas no software SIMA-RIFLEX. Nele, o solo
pode ser considerado de duas formas: ou como uma mola de rigidez linear ou como
uma mola traçada por uma curva de rigidez (força × deslocamento) formada por
um conjunto de pontos de comportamento não linear. Essa segunda possibilidade é
a que se emprega para, por exemplo, inserir curvas p − y no programa.
Ao se realizar as análises geotécnicas no Plaxis 3D, não se extrai curvas ou molas
prontas para inserir em outros programas. Entretanto, é possı́vel que se monte as
curvas não lineares a partir de um trabalho iterativo de incrementos de carga. Para
o SIMA-RIFLEX, as molas devem ser desacopladas sendo que um dos graus de
liberdade deve ser restrito, caso contrário, a análise não converge. Na base da GBF,
há seis deslocamentos possı́veis: translação horizontal (em x e y), translação vertical
(em z), rotação flexional (em x e y) e rotação torsional (em z). Como o giro da
GBF em torno do eixo z tem pouca aplicação para o problema, decidiu-se que este
seria o grau de liberdade impedido.
Assim, haveria a necessidade de se elaborar cinco curvas não lineares para cada
modelo constitutivo. Entretanto, como o solo é considerado homogênio ao longo
do plano, as curvas do eixo x e y, tanto para rotação quanto para translação, são
idênticas. Dessa forma, é necessária a elaboração de três curvas para cada modelo:
translação vertical (em z), translação horizontal e rotação flexional (iguais para x
e y). Como logo será abordado, essas curvas foram chamadas, respectivamente, de
Q − z, t − y e M − ψ.
A Figura 4.6 represeta as etapas de montagem dessas curvas, desde a modelagem
no Plaxis 3D até a execução das análises acopladas no SIMA-RIFLEX. Essas etapas
são descritas a seguir:

Primeira etapa: montagem dos carregamentos

A hipótese adotada nesta etapa só é válida graças a análise executada em 4.4.2,
onde se demonstrou que o comportamento da GBF pode ser analisado de forma
simplificada como uma placa muito rı́gida em comparação ao solo sem significati-
vas imprecisões nas respostas, o que será apresentado no capı́tulo Resultados (5.2).
Então, como demonstra a Figura 4.6, o sistema estrutural passa a ser representado
como uma placa de rigidez elavada (E = 1×1011 Pa) sem peso próprio com o mesmo
diâmetro da GBF analisada. E, a essa placa, são aplicadas as cargas necessárias para
se desenvolver as curvas.

• Curva Q − z: resposta ao deslocamento vertical


Para a curva de rigidez à translação vertical, Q − z, os pesos aplicados (Q)

61
Figura 4.6: Etapas de montagem das curvas para avaliação não linear do solo.

foram distribuı́dos pela área da placa para, assim, ter uma melhor resposta
(como a rigidez da placa é muito elevada, essa medida foi pouco relevante). A
Tabela 4.7 apresenta os incrementos de carga utilizados para a montagem da
curva. O ponto de incremento final sempre indica a carga que gerou ruptura
no solo, no caso 2,213 ×109 N.

Tabela 4.7: Conjunto de cargas aplicadas para elaborar a curva Q − z.


ponto 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Q [×105 kN] 0 0,481 0,9621 2,405 4,811 9,621 14,43 19,24 22,13

• Curva t − y: resposta ao deslocamento horizontal


Para a translação horizontal, curva t−y, se usou a mesma técnica de distribuir
a carga (t) pela área da placa. Ao longo da execução das análises, as cargas
apresentadas na Tabela 4.8 sofreram algumas pequenas alterações nos últimos
pontos porque o desenvolvimento da curva variou consideravelmente para cada
modelo constitutivo. Os pontos finais podem ser obtidos no Apêndice B.

62
Tabela 4.8: Conjunto de cargas aplicadas para elaborar a curva t − y.
ponto 1 2 3 4 5 6 7 8
t [×103 kN] 0 0,096 0,240 0,481 0,962 1,443 2,405 3,608

Como a resposta horizontal da fundação de gravidade é comandada pelo atrito,


buscou-se calibrar elementos de interface para melhor representar esse com-
portamento. Após consulta a Moura (2015) [108], testou-se alguns valores de
Rinter entre 0,6 e 0,9 que reproduzissem o ângulo de atrito entre a interface
concreto × areia. Conforme a figura da curva t − y indicará no Capı́tulo 5
(Figura 5.17), pela falta de melhores critérios, a escolha pela calibração foi
que as curvas lineares (Winkler e MEF) coincidissem. Para a resposta obtida,
utilizou-se Rinter = 0, 75.

• Curva M − ψ: resposta à rotação flexional (tombamento)


A curva de rotação, M − ψ, foi construı́da com um binário de forças aplicado
nas extremidades da placa (os momentos resultantes são apresentados na Ta-
bela 4.9), da mesma forma que havia sido feito em 4.4.2, conforme indica a
Figura 4.6. Manteve-se o elemento de interface para a sua elaboração.

Tabela 4.9: Conjunto de momentos aplicados para elaborar a curva M − ψ.


ponto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
M [×104 kNm] 0 0,035 0,175 0,350 0,875 1,750 3,500 5,250 7,000 7,875 8,750

Segunda etapa: avaliação das deformações

Após o processamento no Plaxis 3D, cada carregamento imposto à placa tem o


seu deslocamento/rotação avaliado no output do programa. Criando, assim, pontos
de força × deslocamento.

Terceira etapa: montagem das curvas

Em planilhas internas, elaboradas em Mathcad e Excel, formou-se conjunto de


pontos força × deslocamento, montando curvas e comparando, trecho a trehco, a
rigidez resultante.

Quarta etapa: input das molas não lineares

No SIMA-RIFLEX, esses conjuntos de pontos são declarados como curvas de


rigidez não linear, formando as cinco molas desacopladas que simulam os modelos
elastoplásticos no software.

63
Quinta etapa: análise acoplada

Por fim, tendo as molas criadas, é possı́vel que se execute as análises acopladas
para cada um dos modelos constitutivos de solo. Essa etapa fornece como resultado
a variação das respostas estruturais do sistema tendo como única alteração entre os
modelos a rigidez da mola não linear considerada.
Assim, a comparação das molas terá, para cada grau de liberdade, cinco curvas
traçadas. Duas lineares: a que obedece a Hipótese de Winkler considerando os co-
eficientes propostos pela DNVGL-RP-C212:2017 [71] e a elástica-linear com rigidez
encontrada no modelo de elementos finitos (análise 4.4.3). E três não lineares mo-
deladas pelo MEF considerando modelos elastoplásticos: a de Mohr-Coulomb, a de
Hardening Soil e a de HSS, a única que não possui qualquer trecho linear. Esses cinco
conjuntos de curva geram cinco diferentes análises acopladas no SIMA-RIFLEX.

4.4.5 Amortecimento do solo


Pela grande quantidade de incertezas envolvidas e destacadas em 3.3, essa análise
acaba se apresentando um tanto primitiva e busca dar uma ideia do comportamento
do fenômeno. O amortecimento é uma questão dinâmica bastante complexa e que
deve, sempre que possı́vel, ser avaliada por análise experimental e não somente por
análises numéricas. Feita esta ressalva, o objetivo deste estudo é avaliar como o
modelo de Hardening Soil with small-strain stiffness do Plaxis 3D analisa o amor-
tecimento histerético e como isso pode ser exportado para um programa de análise
acoplada de turbinas eólicas offshore como o SIMA-RIFLEX. Após uma série de
tentativas efetuadas pelo autor, o roteiro que se mostrou mais adequado foi o se-
guinte:

• Obtenção da razão de amortecimento


Realizando um teste de decaimento no Plaxis 3D, assim como foi feito para
avaliar a frequência natural, é possı́vel analisar os picos e obter a taxa de
amortecimento (ξ). Porém, como indicado na Figura 3.12, para o HSS, o
amortecimento varia conforme o campo de deformações, o que dificulta a ex-
tração de uma única taxa para utilizar externamente, já que o amortecimento
deveria, na verdade, ser avaliado como um funcional da deformação. Como a
partir de deformações cisalhantes acima de cerca de 2×10−4 , o valor da razão é
limitado em torno de 8%, adota-se essa taxa como um teste inicial. Ressalta-se
que esse valor diz respeito às três parcelas de amortecimento mencionadas em
3.3.
Para o teste de decaimento, removem-se todas as cargas externas ao sistema
e impõe-se uma carga impulsiva de 150.000 kN à altura de 2,5 m do solo

64
marinho, na fundação de gravidade. Observa-se a resposta para três pontos:
o topo da torre, a junção torre-fundação e a base da fundação.

• Modelo do SIMA-RIFLEX para isolar o amortecimento do solo


Possivelmente, a maior dificuldade de se comparar o amortecimento dos dois
softwares seja que, para o SIMA-RIFLEX, há a influência do amortecimento
hidrodinâmico e aerodinâmico nas análises. A proposta desta dissertação para
contornar este efeito é remover o funcionamento da turbina, desprezar o vento
e considerar o carregamento da onda com uma altura (H) baixı́ssima e um
perı́odo (T ) de horas. Além de, evidentemente, zerar os coeficientes de amor-
tecimento dos materiais e tomar o amortecimento global como nulo. Assim se
tem um sistema teoricamente desamortecido, conforme ilustra a Figura 4.7.
Criando um modelo paralelo ao originalmente analisado, desprezando todos
os amortecimentos e incluindo somente uma carga impulsiva igual à imposta
no Plaxis 3D é possı́vel realizar um teste de decaimento onde pressupõe-se que
ficará evidenciado somente a parcela de amortecimento do solo.

Figura 4.7: Sinal de deslocamentos no topo da torre entre 100 e 200 segundos
(regime permanente) da resposta do SIMA-RIFLEX com todos os amortecimentos
desativados.

• Incluir amortecimento calibrado


Há três formas de se incluir amortecimento no SIMA-RIFLEX: inserindo co-
eficientes de Rayleigh para cada material; adotando coeficientes de Rayleigh
globais para o sistema; ou, então, inserindo dashpots (pontos de amorteci-
mento) junto de molas externas. Os dashpots podem ser inseridos ou como
grandezas em Ns/m, semelhantes aos apresentados na Tabela 3.1, ou como
“fatores de amortecimento proporcionais à rigidez”, adimensionais. O ma-
nual do software [104] carece de informações sobre a inserção desse fator, mas
crê-se que o intuito é que ele equivalha ao coeficiente β do amortecimento de
Rayleigh, desprezando a parcela da massa (α), o que remeteria à Equação
3.15.

65
Obtida a frequência natural no SIMA-RIFLEX para o modelo de HSS, é
possı́vel obter β para a razão de 8% de amortecimento e inseri-lo na análise
de decaimento. A comparação do sinal de deslocamento dos dois programas
não deve ter absoluta semelhança por não ser possı́vel simular com exatidão
a histerese por Rayleigh, mas é esperado ter relativa compatibilidade para ter
um amortecimento consideravalmente calibrado.

• Levar o dashpot para o modelo completo


Tendo o amortecimento do solo calibrado por dashpots no modelo paralelo,
levar-se-á esses amortecedores para o modelo original onde há também o
amortecimento dos materiais, hidrodinâmico e aerodinâmico. Neste, far-se-
á a análise dinâmica final, a fim de comparar a influência do amortecimento
promovido pela histerese do HSS.

4.4.6 Comparação de respostas


Após a validação do modelo e determinação do comportamento das relações cons-
titutivas do meio geotécnico, propor-se-á as análises hidrodinâmicas e aerodinâmicas
que permitirão comparar as respostas das diferentes modelagens para o Plaxis 3D
e para o SIMA-RIFLEX. Pela quantidade de modelos geotécnicos que foi proposta,
as comparações entre softwares são traçadas somente para a relação constitutiva de
Hardening Soil com Small-strain stiffness (HSS ).
Como foi explicado no Subcapı́tulo 3.5 e comentado em outros pontos do texto, o
SIMA-RIFLEX possui formulação hidrodinâmica e aerodinâmica, algo que o Plaxis
3D não dispõe. Entretando, o que se pode fazer é exportar o sinal de carregamento
dinâmico para dentro do software geotécnico. Esse processo de interação entre os
dois programas é bastante eficiente para transferência de carregamentos mas, ao
se executar a análise, como o Plaxis 3D não é capaz de reproduzir a parcela de
amortecimento hidrodinâmico e aerodinâmico do SIMA-RIFLEX, deve-se encontrar
diferenças nas respostas.
Para as análises numéricas, propõe-se dois cenários de carregamento: o primeiro
envolve uma análise de cargas extremas de onda e vento; o segundo, por sua vez, deve
analisar um conjunto de cargas de fadiga. A aplicação dos esforços hidrodinâmicos
no Plaxis 3D foram facilitadas graças a cessão da planilha de Equação de Morison
feita por Gomes (2019) [44].

Análise de extremos

A análise de extremos consiste em uma combinação de onda centenária [42] com


o vento que proporciona o maior esforço de thrust na turbina de 10 MW. O vento

66
em questão possui velocidade na altura do hub de 11,0 m/s o qual confere esforço
máximo de thrust de 1.587 kN no sentido tranversal da turbina (eixo x) [42]. Já a
onda regular é descrita pelos seguintes parâmetros:
• Altura (H): 7 m

• Perı́odo (T ): 14 s

• Teoria de onda: Linear de Airy

• Formulação hidrodinâmica: Equação de Morison

• Coef. de arrasto: 0,9 [27]

• Coef. de inércia: 2,0 [27]


O SIMA-RIFLEX, a partir da já mencionada Teoria do BEM (Blade Element
Momentum), considera o carregamento gerado pela turbina eólica como um esforço
que varia ao longo do tempo para os três eixos (x, y e z) na altura do hub. Estes
sinais são exportados para o Plaxis 3D para simular o carregamento dinâmico do
aerogerador. O input deste sinal é ilustrado na Figura 4.8 (válido ressaltar que, como
diante do carregamento em x, os esforços em y e z são praticamente desprezı́veis –
cerca de 0,25% –, não se inclui à análise essas direções de carregamento).

Figura 4.8: Aplicada à nacelle a importação do que o Plaxis chamada “multiplicador


dinâmico”: sinais adimensionais que são multiplicados ao carregamento médio do
vento em cada uma das direções citadas.

Já as cargas hidrodinâmicas foram inseridas no Plaxis 3D a partir de oito pontos


de discretização ao longo da lâmina d’água. Em cada um destes, é dado o carrega-
mento máximo medido pela Equação de Morison e cria-se uma função para variá-lo
no tempo segundo os parâmetros hidrodinâmicos estabelecidos, assim como ilustra a
Figura 4.9, atingindo o máximo da sua intensidade ao ser multiplicado por +1 e −1.
Por fim, a Tabela 4.10 apresenta um resumo dos carregamentos médios (ignorando o
sinal dinâmico) inseridos no Plaxis 3D para simular as condições do SIMA-RIFLEX.

67
Figura 4.9: Input da função de multiplicadores da onda regular no Plaxis 3D cujos
valores máximos positivos estão contidos na Tabela 4.10.

Tabela 4.10: Esforços horizontais máximos impostos pelas condições ambientais


(considerando a lâmina d’água como cota zero)
Esforço Altura aplicação [m] Intensidade [kN]
Thrust 115,6 1.587
- 2,5 691
- 7,5 628
Onda shaft - 12,5 576
- 17,5 534
- 23,25 647
- 28,25 5.311
Onda base - 32,5 7.383
- 37,5 7.258
Total: 24.615

Análise a cargas tı́picas de fadiga

A avaliação de cargas tı́picas de fadiga não tem como intuito analisar cargas
altı́ssimas, mas sim entender o comportamento do sistema a cargas bastante repeti-
tivas ao longo da vida útil da estrutura. Para isso, usa-se uma combinação de vento
turbulento com uma onda mais branda. Os parâmetros hidrodinâmicos repetem a
análise de extremos, com a exceção de:

• Altura (H): 2 m

• Perı́odo (T ): 6 s

Optou-se por não trabalhar com onda irregular nesta dissertação porque seria
bastante complexa a implementação desses carregamentos ao Plaxis 3D com precisão
para, então, realizar a comparação entre os dois softwares.

4.4.7 Estratigrafia heterogênea


Avaliar a heterogeneidade do solo é um estudo bastante complexo porque pode
envolver uma enorme quantidade de combinações e uma série de variáveis. O obje-

68
tivo dessa análise especı́fica é demonstrar como que, dependendo da estratigrafia em
questão, a modelagem da interação solo-estrutura pode ser imprecisa se não puder
se contar com um recurso computacional adequado para modelar o solo, como o
Plaxis 3D.
As análises dessas dissertação vieram sempre contrapondo o solo por elementos
finitos com o uso da Hipótese de Winkler. Quando se possui diferentes camadas de
solo, como indica a Figura 4.10, encontra-se diversas limitações para se trabalhar
com a Hipótese de Winkler. Uma forma seria fazer justamente o que foi proposto
nas análises anteriores (4.4.4), ou seja, calibrar as molas a partir de um software
geotécnico como se toda a estratigrafia constituı́sse uma única camada.

Figura 4.10: Caracterı́sticas da estratigrafia das três camadas adotadas.

Propõe-se, para este trabalho, a conferência da variação da frequência natural


do sistema, assim como a comparação dos deslocamentos medidos na estrutura para
as mesmas cargas extremas que foram apresentadas em 4.4.6.

69
Capı́tulo 5

Resultados

5.1 Avaliação do modelo


A seguir são descritos os resultados obtidos para a avaliação do modelo em termos
de frequência natural, além do ajuste deste para critério de segurança à ressonância.
Ressalta-se novamente que as análises em relação ao momento de tombamento e à
capacidade resistente do solo estão apresentadas no Apêndice A, em que se avaliou
o modelo já ajustado, o qual se mostrou seguro para ambos os critérios.

5.1.1 Frequência natural


O primeiro objetivo da análise de frequência natural é ter emparelhamento dos
modelos do Plaxis 3D e do SIMA-RIFLEX, ou seja, avaliar se ambos softwares estão
com essa grandeza calibrada para, então, poder ser executadas as análises dinâmicas.
A Figura 5.1 demonstra a saı́da de resultados do SIMA-RIFLEX para modos de vi-
bração, lembrando que a frequência fore-aft é a primeira, valendo, portanto, 0,3082
Hz.

Figura 5.1: Frequências naturais obtidas pelo SIMA-RIFLEX para o modelo original.

70
O modelo do Plaxis 3D, por sua vez, teve a sua frequência natural fore-aft esti-
mada por um teste de decaimento (mais adiante, a Figura 5.4 representa o formato
da saı́da dessas análises). Nele, pode-se estimar que os tempos entre os picos do
sinal de resposta são de 3,30 segundos (perı́odo amortecido, porém praticamento
idêntico ao natural), o que levaria, então, a uma frequência natural estimada em
0,3030 Hz. Dessa forma, os modelos apresentam entre si uma variação de apenas
1,71% na estimativa do primeiro modo de vibração.
Apesar dos modelos estarem calibrados para a realização das análises dinâmicas,
frequências entre 0,265 Hz e 0,477 Hz estão no domı́nio ressonante 3P da turbina de
10 MW da DTU [49]. Ou seja, a frequência natural 0,3030 Hz pode representar riscos
à estrutura visto que ela está compreendida dentro da faixa de ressonância (Figura
5.3) do efeito de shadowing das pás da turbina na torre, conforme foi explicado no
Subcapı́tulo 2.3.

AJUSTE DO MODELO

Em função dos resultados ressonantes obtidos para o subsistema estrutural origi-


nal, propôs-se um novo modelo (Tabela 5.1) cuja frequência natural estivesse entre o
limite superior da faixa 1P (0,159 Hz) e inferior da faixa 3P (0,265 Hz), algo em torno
de 0,212 Hz, mantendo-a no centro da faixa segura soft-stiff. Otimizou-se, então, a
estrutura para que, com o solo modelado de forma linear-elástica com discretização
em modo refinado (fine), se encontrasse esta frequência ótima.

Tabela 5.1: Propriedades geométricas da estrutura ajustada.


Seção Comprimento [m] Dmed [m] Esp. [m] Área tran. [m2 ] I [m4 ]
Torre
Seção 1 11,0 8,16 0,038 0,970 8,00
Seção 2 11,0 7,88 0,036 0,887 6,84
Seção 3 11,0 7,61 0,034 0,809 5,80
Seção 4 11,0 7,32 0,032 0,733 4,88
Seção 5 11,0 7,05 0,030 0,661 4,08
Seção 6 11,0 6,77 0,028 0,593 3,37
Seção 7 11,0 6,49 0,026 0,528 2,76
Seção 8 11,0 6,21 0,024 0,467 2,24
Seção 9 11,0 5,93 0,022 0,409 1,79
Seção 10 11,63 5,65 0,020 0,354 1,40
GBF
Shaft seco 5,0 8,30 1,00 22,93 155,63
Shaft sub. 26,5 8,30 1,00 22,93 155,63
Base sup. – 35,0 1,50 930,94 7,358×104
Base cen. 13,5 35,0 1,00 106,81 1,545×104
Base inf. – 35,0 1,50 962,11 7,366×104

71
Figura 5.2: Ajuste e modelo final da GBF

Para esta nova concepção estrutural, encontrou-se uma frequência natural de


0,222 para o SIMA-RIFLEX e 0,220 para o Plaxis 3D, as quais estão apresentadas na
Tabela 5.2. A Figura 5.3 mostra as frequências antes e depois do ajuste comparadas
às cargas ambientais e possı́veis ressonâncias da turbina (1P e 3P). Nas frequências
mais baixas, está o vento, ilustrado pelo espectro de Kaimal e, com frequências um
pouco mais altas junto ao 1P, está o espectro de Pierson-Moskowitz representando o
carregamento das ondas. Variações dos modelos de espectro das cargas ambientais
pouco interferem nas suas posições em comparação com o domı́nio soft-stiff.
Dá-se, então, sequência às análises propostas tendo compatibilidade entre os
modelos dos dois softwares, além de frequências naturais adequadas para um projeto
de turbina eólica offshore fora de qualquer domı́nio ressonante.

5.2 Avaliação das hipóteses clássicas


Para obter os coeficientes de reação, empregou-se a Tabela 3.1 e deles são obtidas
as reações do solo pela Hipótese de Winkler (Equação 3.1).

Módulo vertical

Aplicando os parâmetros apresentados no Subcapı́tulo 4.4.2:

4GR 4 × (15, 38 × 103 )kN/m2 × 5m


Kv = = = 4, 394 × 105 kN/m (5.1)
1−ν 1 − 0, 3

Segundo a Hipótese de Winkler, aplicando uma carga de 1 kN sobre essa placa,


encontra-se um deslocamento de 2,275 mm (Equação 3.1) – testou-se, também, a

72
Figura 5.3: Espectros das frequências ressonantes de vento, onda, 1P e 3P compa-
rados aos modelos antes e depois do ajuste.

inserção de carga distribuı́da, encontrando-se uma resposta praticamente idêntica.


O modelo no Plaxis 3D, por sua vez, encontra um deslocamento vertical uniforme na
placa de 2,346 mm. Ou seja, há, entre a idealização da mola e a modelagem linear-
elástica em elementos finitos, cerca de 3% de varição na resposta do deslocamento.

Módulo horizontal

A mola horizontal, por sua vez:

8GR 8 × (15, 38 × 103 )kN/m2 × 5m


Kh = = = 3, 618 × 105 kN/m (5.2)
2−ν 2 − 0, 3

Que submetida à Hipótese de Winkler, com o mesmo carregamento unitário,


sofre um deslocamento de 2,762 mm. O Plaxis 3D apresentou uma resposta bastante
próxima, mensurando o deslocamento em 2,723 mm, conferindo uma variação de
2%.

73
Módulo à rotação

E, por fim, para a rotação utilizou-se binários nas extremidades da placa for-
mando um momento fletor resultante de 1.000 kN. O seu módulo à rotação foi
estimado em:

8GR3 8 × (15, 38 × 103 )kN/m2 × (5m)3


Kθ = = = 1, 279 × 105 kN m/deg (5.3)
3(1 − ν) 3(1 − 0, 3)

E, assim, aplicada à Hipótese de Winkler, a rotação resultante foi de 7,821 ×10−3


graus. A modelagem do Plaxis 3D resultou em 7,447 ×10−3 graus, tendo, portanto,
uma variação de 5%.
Dessa forma, segundo às comparações propostas, as reações tiveram uma boa
aproximação entre a Hipótese de Winkler com módulos de reação clássicos prescritos
pela DNVGL [71] e a modelagem em elementos finitos do Plaxis 3D.

5.3 Módulos de reação


Tendo as hipóteses clássicas avaliadas, possui-se base para analisar a aplicação
dos coeficientes da Tabela 3.1 no modelo completo da Tabela 5.1. Primeiramente,
apresenta-se os resultados para a modelagem linear-elástica, onde é possı́vel estabe-
lecer comparações diretas por serem modelagens com a mesma relação constitutiva.
As curvas encontradas para as análises propostas estão apresentadas ao final deste
capı́tulo.
Para o sistema estrutural estudado, as molas lineares segundo os coeficientes da
Tabela 3.1, prescritos na DNVGL-RP-C212:2017 [71], tiveram as seguintes rigidezes:

• Módulo linear de reação vertical

4GR 4 × (11, 538 × 103 )kN/m2 × 17, 5m


Kv = = = 1, 154 × 106 kN/m
1−ν 1 − 0, 3
(5.4)

• Módulo linear de reação horizontal

8GR 8 × (11, 538 × 103 )kN/m2 × 17, 5m


Kh = = = 9, 502 × 105 kN/m
2−ν 2 − 0, 3
(5.5)

• Módulo linear de reação à rotação

74
8GR3 8 × (11, 538 × 103 )kN/m2 × (17, 5m)3
Kθ = = = 4, 112×106 kN m/deg
3(1 − ν) 3(1 − 0, 3)
(5.6)

5.3.1 Linear-elástico
Um modelo linear-elástico mantém a sua relação entre tensão e deformação uni-
forme ao longo de toda curva.

• Reação vertical
Conforme evidenciado na Figura 5.16, quando analisadas as curvas Q − z, há
uma diferença razoável na inclinação da curva linear-elástica com a linear da
Hipótese de Winkler. Essa variação é de 28,5% a mais para o modelo do Plaxis
3D, ou seja, a modelagem linear-elástica, em elementos finitos, conferiu uma
rigidez quase um terço mais alta que a prevista pelas hipóteses clássicas.

• Reação horizontal
Observando a curva t − y, percebe-se uma sobreposição das duas curvas linea-
res. Isso ocorre porque houve uma variação de apenas 1,4% na rigidez dos dois
modelos, apontando a modelagem por elementos finitos como menos rı́gida.

• Reação à rotação
Em termos de rotação ao tombamento, na curva M − ψ evidencia-se uma
variação de 6% na rigidez, indicando o modelo do Plaxis 3D como o menos
rı́gido.

5.4 Relações constitutivas elastoplásticas


Como pode ser observado nas curvas das figuras 5.16, 5.17 e 5.18, a comparação
com as relações constitutivas elastoplásticas é mais complexa já que começam a ser
inseridas não lineridades nos resultados. No Apêndice B, consta a Figura B.1, a
qual apresenta um quadro com os pontos obtidos para a criação das curvas.
A Tabela 5.2 1 indica que as frequências naturais também sofrem uma leve al-
teração já que a rigidez do solo é modificada para cada modelo. Analisando os
valores da tabela, percebe-se que a maior variação entre o SIMA-RIFLEX e o Pla-
xis 3D, para uma mesma relação constitutiva, é de 3%. A diferença de frequência
1
0,213 diz respeito à curva calibrada para a modelagem linear-elástica no Plaxis 3D, o outro
valor linear-elástico, obtido para a Hipótese de Winkler utilizando as rigidezes da Tabela 3.1, foi o
já apresentado anteriormente, valendo 0,222.

75
repercute em diferentes perı́odos naturais. Esse fenômeno é apresentado na Figura
5.4, a qual demonstra o teste de decaimento realizado para a extração dos modos
de vibração, onde fica evidenciada uma gradual defasagem entre os modelos.

Tabela 5.2: Frequências fore-aft após o ajuste do subsistema estrutural.


software Linear-elástico Mohr-Coulomb Hardening Soil HSS
SIMA 0,213 0,212 0,223 0,229
Plaxis 3D 0,220 0,217 0,230 0,233

Figura 5.4: Decaimento da resposta dinâmica para os diferentes modelos constitu-


tivos analisados: diferença na frequência natural.

5.4.1 Mohr-Coulomb
O que ficou evidenciado nos resultados obtidos para Mohr-Coulomb foi que as
suas curvas acabaram sendo as menos rı́gidas em todos as análises realizadas.

• Reação vertical
A curva Q − z teve uma partida semelhante aos modelos constitutivos que
possuem resposta linear a pequenas deformações (linear-elástico e Hardeing
Soil ), conforme indica o gráfico inferior da Figura 5.16. Porém, à medida que
se incrementa tensões, a curva de Mohr-Coulomb evidencia-se como a menos
rı́gida. Assim, na partida, Mohr-Coulomb era 25% mais rı́gida que o modelo de
Winkler; as duas rigidezes se igualaram para Q = 240.000 kN (mais ou menos
10% da carga de ruptura do solo); e, daı́ em diante, o modelo elastoplástico foi

76
ficando cada vez menos rı́gido, o que pode ser visto na redução de inclinação
na curva Q − z.

• Reação horizontal
A curva t − z possui um formato mais “bilinear”, demonstrando aquele com-
portamento elastoplástico perfeito de Mohr-Coulomb. Na fase mais elástica,
Mohr-Coulomb sempre esteve com rigidez mais baixa do que a reta do módulo
de reação de Winkler, com uma perda de rigidez não tão expressiva com a
evolução das cargas.

• Reação à rotação
Foi à rotação onde ficou mais aparente a menor rigidez do modelo de Mohr-
Coulomb. Como pode ser visto na Figura 5.18, a sua curva teve um formato
bastante parabólico, tendo tido rigidez semelhante aos demais modelos so-
mente às baixas deformações. À metade da tensão de ruptura, a rigidez do
modelo era cerca de 60% do módulo clássico de Winkler.

5.4.2 Hardening Soil


O modelo de endurecimento se mostrou mais rı́gido que o de Mohr-Coulomb,
conforme já era esperado pelo que se levantou na Revisão Bibliográfica e na Meto-
dologia desta dissertação.

• Reação vertical
A curva Q − z constata o modelo de endurecimento com uma rigidez média
entre os modelos linear-elástico e de Mohr-Coulomb. À cerca de 2% da tensão
de ruptura (pequena deformação), Hardening Soil conferiu 20% a mais de
rigidez que o módulo clássico; os modelos estiveram igualados a uma tensão
de, aproximadamente, 22% da ruptura. A partir daı́, houve redução na rigidez
do HSM, porém essa queda foi menor do que no modelo de Mohr-Coulomb:
em função do endurecimento, a perda de rigidez não é tão notória, a ponto
que, se comparados à 50% da tensão final, o modelo de Hardening Soil era
70% mais rı́gido que o elastoplástico perfeito.

• Reação horizontal
A reação horizontal, representada pela curva t − y, se manteve quase linear
até atingir o ponto de escoamento do material, onde há uma grande perda de
rigidez no modelo do solo, até ele atingir a ruptura, a uma tensão um pouco
mais alta.

77
• Reação à rotação
Por fim, à rotação o modelo de endurecimento foi mais rı́gido do que o linear e
o de Mohr-Coulomb, possuindo, inclusive, um comportamento bastante carac-
terı́stico do HSM : uma fase praticamente linear, um ganho de rigidez a partir
do endurecimento e, então, a plastificação seguida pela ruptura.

5.4.3 HSS
O modelo de endurecimento com rigidez a pequenas deformações se mostrou,
assim como o esperado, próximo ao Hardening Soil porém com ganhos de rigidez
em tensões mais baixas.

• Reação vertical
A curva Q − z demonstrou um comportamento dos dois modelos de endure-
cimento muito semelhante ao que foi levantado ao longo do capı́tulo de Me-
todologia. Percebe-se que o comportamento geral das duas curvas é quase
sobreposto, porém, na parte inferior da Figura 5.16, fica nı́tido que o modelo
de HSS é mais rı́gido em baixas tensões, o que remete à Figura 3.10.

• Reação horizontal
Comparado aos demais modelos, o HSS foi levemente mais rı́gido nas respostas
horizontais. Assim como o modelo de endurecimento, manteve-se quase linear
até alcançar o escoamento e plastificar logo em sequência.

• Reação à rotação
As rotações do modelo HSS se mostraram consideravelmente menores do que
os demais até atingir o escoamento e, por uma curta margem de tensões, ter
sido menos rı́gido que o HSM.

5.5 Amortecimento do solo


Seguido o passo a passo apresentado no capı́tulo de Análises Numéricas, obteve-
se os resultados apresentados na Figura 5.5. Dada a frequência natural de 0,229 Hz
para o modelo de HSS no SIMA-RIFLEX, pôde-se, pela Equação 3.15, encontrar o
fator β:

2ξ 2 × 0, 08
β= = = 0, 111 (5.7)
ω 0, 229 × 2π
Na Figura 5.5, a curva vermelha é a que representa o amortecimento com fa-
tor proporcional à rigidez calibrado para o modelo de endurecimento com rigidez a

78
Figura 5.5: Sinais de resposta no topo da torre entre 0 e 100 segundos de decaimento,
comparando duas avaliações de amortecimento no SIMA-RIFLEX e duas no Plaxis
3D.

pequenas deformações. Apesar de estar fora de fase, ela pode ser comparada direta-
mente à curva em azul escuro, a qual representa o modelo no Plaxis 3D que emprega
o HSS com time-step em 0,1 segundo, com frequência natural de 0,233 Hz (o que
equivale a um perı́odo menor, fazendo com que as duas curvas se encontrem em
torno dos 100 segundos). Percebe-se que há boa concordância entre as duas curvas,
porém elas alternam levemente entre qual é a mais amortecida ao longo da contagem
dos picos. No Plaxis 3D, pelo efeito do HSS, o amortecimento vai caindo à medida
que as deformações vão baixando (Figura 3.12), tanto que, perto dos 100 segundos,
há um amortecimento mais suave entre os picos. No SIMA-RIFLEX ocorre algo
semelhante, porém com algum ruı́do numérico no inı́cio do ciclo, o que pode ser
fruto ainda do regime transiente ou causado por algum efeito não identificado.
A curva tracejada em tom claro representa uma análise paralela considerando
os coeficientes de amortecimento lineares apresentados na Tabela 3.1, retirada da
DNVGL. Nela, há uma variação menor no amortecimento ao longo do gráfico, sendo
que ela amortece muito mais no princı́pio, mas acaba tendo uma resposta com maior
amplitude nos perı́odos finais. Os coeficientes aplicados a ela foram:

• Coeficiente linear de amortecimento vertical

3, 4 × R2 p 3, 4 × 17, 52 p Ns
Cv = ρG = 1950 × 11, 538 = 2, 231 × 108 (5.8)
1−ν 1 − 0, 3 m

• Coeficiente linear de amortecimento horizontal

4, 6 × R2 p 4, 6 × 17, 52 p Ns
Ch = ρG = 1950 × 11, 538 = 1, 243 × 108 (5.9)
2−ν 2 − 0, 3 m

79
• Coeficiente linear de amortecimento à rotação

p p N ms
Cθ = 1, 32 × R4 ρG = 1, 32 × 17, 54 195011, 538 = 3, 241 × 108 (5.10)
deg

Por fim, a curva em azul claro representa a mesma análise no Plaxis 3D, tendo
como única alteração o seu time-step. Faz-se, a seguir, algumas observações em
relação às análises dinâmicas executadas no software.

Nota em relação às análises dinâmicas no Plaxis 3D

Uma dificuldade encontrada na realização das análises propostas nessa dis-


sertação foi em relação às avaliações dinâmicas do Hardening Soil e do HSS no
Plaxis 3D. Quando se configura um cálculo dinâmico no programa, é assinalada
por default a opção “automatic” para que o software estime os parâmetros que são
aplicados àquela análise. Dois destes parâmetros são o “max steps” e o “sub-steps”.
O time-step no Plaxis 3D é definido pela divisão do tempo de análise pela multi-
plicação destes dois parâmetros. Portanto, para um estudo como o da Figura 5.5,
com extensão de 100 segundos e 0,1 de time-step, pode-se fazer qualquer combinação
entre max steps e sub-steps que, ao dividir 100, chegue a 0,1. Mantendo assinalada
a opção “automatic” o Plaxis assume uma razão ideal para a análise, baseado, entre
outros parâmetros, na discretização escolhida para a malha de elementos finitos do
solo.
Utilizando uma discretização refinada (modo fine mesh), a estimativa automática
de time-step fica em torno de 0,003 s. Entretanto, ao se realizar a análise de
frequências naturais com os modelos de endurecimento do solo com time-step au-
tomático, deparou-se com o gráfico mais amortecido da Figura 5.6. Pela literatura,
em trabalhados como os levantados na Revisão Bibliográfica e no Subcapı́tulo 3.2.3,
sabia-se que as curvas de decaimento em Mohr-Coulomb e dos modelos de endureci-
mento não divergiam de maneira excessiva. Assim, presumiu-se que a curva obtida
pelo time-step automático estava incorreta. Após uma série de testes, avaliando cada
parâmetro da análise dinâmica, percebeu-se a influência do time-step, ilustrada pela
Figura 5.6. Pelas avaliações realizadas, uma escolha entre 0,1 e 0,2 segundos se mos-
trou bastante razoável. Optou-se por 0,1 s para padronizar as análises dinâmicas
deste trabalho.
Buscou-se no Estado da Arte algo a respeito deste problema. Há alguns co-
mentários sobre nos fóruns do Plaxis 3D com sugestões para não se aplicar o time-
step automático e, principalmente, encontrou-se um tutorial elaborado por Laera e
Brinkgreve (2015) [109], dois dos desenvolvedores do Plaxis, recomendando a análise

80
Figura 5.6: Output do Plaxis 3D evidenciando a variação da resposta para diferentes
time-steps no modelo Hardening Soil. O aumento do time-step resultando em um
ganho de amortecimento.

dinâmica sem o uso do time-step automático no estudo realizado no documento.

5.5.1 Influência do amortecimento histerético


Tendo o amortecimento histerético do solo calibrado no SIMA-RIFLEX, avaliou-
se a sua influência perante os demais amortecimentos. A Figura 5.7 apresenta a
comparação de dois sinais, ambos obtidos sob as mesma condições de carregamente
extremo, medidos no topo da torre. Estes dois sinais são referentes ao modelo que
emprega as curvas contruı́das pelo HSS, um considerando e outro desprezando a
parecela de amortecimento do meio geotécnico.

Figura 5.7: Comparação dos sinais de deslocamento no topo da torre (direção x)


com o modelo no SIMA-RIFLEX de HSS com e sem a parcela de amortecimento do
solo.

A fim de tentar evidenciar melhor a diferença entre os modelos, criou-se um


cenário bastante hipotético, onde a onda centenária ocorresse com o mesmo H mas

81
com um T ressonante. Tendo a frequência natural do HSS medida em 0,229 Hz,
adotou-se T = 4, 37 s (ressalta-se, mais uma vez, que esse é um fenômeno irreal, a sua
aplicação foi para somente analisar o efeito do amortecimento sob um carregamento
que gerasse alguma ressonância). A Figura 5.8 representa a resposta dessa hipótese:

Figura 5.8: Mesma análise da Figura 5.7, mas com situação hipotética de onda
ressonante.

Conforme demonstram ambos comparativos de sinais, após a passagem da fase


transiente, onde eles divergem de forma mais acentuada, há uma resposta muito
próxima na fase permanente, demonstrando que para a análise em questão, com os
amortecimentos adotados, não há uma variação relevante a partir da calibração do
amortecimento do solo.
Essa resposta obtida entra em acordo com o já citado trabalho de Carswell et al.
(2015) [19]. Nele, os autores também modelaram o amortecimento por dashpots e
trabalharam com diferentes tipos de solo, obtendo, para todos eles, baixas influências
no amortecimento final. Segundo os seus resultados, a taxa de amortecimento dos
modelos considerando e desprezando a parcela do solo variaram entre 0,17 e 0,28%.

5.6 Comparação de respostas


Pela existência de diversos modelos, a fim de deixar a interpretação dos resultados
mais objetiva, as comparações entre softwares são feitas somente para a relação
constitutiva de HSS.

5.6.1 Análise de extremos


A partir dos critérios estabelecidos para a análise de extremos em 4.4.6, busca-
se estabelecer um comparativo no SIMA-RIFLEX considerando o modelo prescrito
pela DNVGL-RP-C212:2017 [71] (Hipótese de Winkler com coeficientes de Gaze-
tas (1983) [73]) e o calibrado por HSS (molas elastoplásticas com maior rigidez a
pequenas deformações). Essa comparação evidencia a variação no resultado final
do sistema acoplado a partir da inserção do modelo de solo mais elaborado entre

82
os estudados. A Figura 5.9 apresenta a resposta obtida à altura do hub para essa
análise.

Figura 5.9: Deslocamentos à altura do hub obtidos no sentido do eixo x no pós-


processamento do SIMA-RIFLEX, considerando a Hipótese de Winkler e o modelo
de HSS (plastificação original)

Encontrou-se uma enorme diferença na resposta dos dois modelos, porém, ao


se analisar as figuras 5.16, 5.17 e 5.18, percebe-se que não há uma divergência tão
expressiva assim na rigidez como um todo da reta de Winkler (branca) e da curva
do HSS (roxa). Entretanto, realizando algumas análises paralelas2 , notou-se que
o último trecho das curvas t − y e M − ψ exerce uma grande influência na res-
posta como um todo. Neste segmento da curva, os modelos elaborados no Plaxis
3D trabalham muito próximos a suas cargas de ruptura, isso faz com que os des-
locamentos e rotações medidos sejam extremamente influenciados pela plastificação
do solo. Entretanto, se essa deformação acentuada for levada ao SIMA-RIFLEX, a
sua metodologia de avaliar a curva levará a estimativa dos deslocamentos a medidas
exageradas.
A Figura 5.10 constata que, de fato, o SIMA-RIFLEX acaba interpretando essa
plastificação de forma incorreta, pois a sua estimativa de deslocamentos no hub é
igualmente altı́ssima se comparada com a medição feita pelo Plaxis 3D para a mesma
relação constitutiva (HSS ). O valor médio na fase permanente (100 a 1000 segundos)
do SIMA-RIFLEX é medido em 2,77 m tendo, também, uma grande amplitude nos
resultados; no Plaxis 3D, esse mesmo deslocamento é estimado em 0,870 m.
A fim de contornar essa questão, buscou-se “suavizar” o último ponto da curva
de deslocamento horizontal e rotação. Na curva t − y, ao invés de se buscar o
ponto 3.610 kN que resultava em 1,35 cm de deslocamento (acompanhar Figura
B.1), adotou-se como ponto final o carregamento 3.500 kN cuja resposta foi 0,35 cm
(percebe-se pela variação das deformações como, em um domı́nio plástico, qualquer
incremento de carga acarreta grande variação de deslocamento). O mesmo foi feito
para a curva M − ψ, reduzindo o ponto máximo de 87.500 kNm (com 0,034 deg
2
Tentou-se, por exemplo, manipular o time-step, assim como discretizar a curva com mais
pontos no trecho de plastificação. Ambas tentativas não se mostraram muito efetivas em resolver
o problema.

83
Figura 5.10: Deslocamentos obtidos no sentido do eixo x para o Plaxis 3D e para o
SIMA-RIFLEX, considerando o último ponto original da curva de HSS.

de resposta) para 87.000 kNm, na qual encontrou-se uma rotação de 0,00825 deg.
A Figura 5.11 contrapõe-se à 5.10 e demonstra a grande diferença obtida a partir
dessa pequena correção 3 .

Figura 5.11: Deslocamentos obtidos no sentido do eixo x para o Plaxis 3D e para o


SIMA-RIFLEX, considerando o último ponto suavizado da curva de HSS.

Na análise da Figura 5.10, encontra-se um comparativo muito mais coeso entre os


dois softwares para o mesmo ponto da estrutura. Analisando, novamente, somente
a fase permanente da resposta dinâmica, o valor médio agora encontrado no SIMA-
RIFLEX foi de 0,857 m, algo próximo ao 0,870 m medido no Plaxis 3D. Tendo, então,
um modelo de HSS calibrado no SIMA-RIFLEX, é possı́vel refazer a comparação
da Figura 5.9.
A Figura 5.12 apresenta essa análise refeita com a calibração das molas de HSS
calibradas com a plastificação suavizada, esse talvez seja o resultado que mais se
almejou alcançar nos objetivos desta dissertação e a sua interpretação é fundamental
para se entender este trabalho como um todo. Mais uma vez, à altura do hub, vê-se
3
Como se analisa um ponto bastante alto da estrutura (altura do hub), a mola à rotação se
mostrou mais influente nessa análise comparativa, mas a calibração da mola ao deslocamento
horizontal é bastante importante para evitar esse tipo de problema em pontos inferiores da torre
e da fundação.

84
a variação da resposta obtida para uma análise acoplada completa de um sistema
de turbina eólica offshore sob carregamentos extremos. Os deslocamentos medidos
possuem uma variação média da ordem de 20% na fase permanente.

Figura 5.12: Deslocamentos à altura do hub obtidos no sentido do eixo x no pós-


processamento do SIMA-RIFLEX, considerando a Hipótese de Winkler e o modelo
de HSS (plastificação suavizada).

Conforme foi evidenciado ao longo deste capı́tulo de resultados, as diferentes


relações constitutivas dos solos podem conferir rigidezes bastantes distintas para a
avaliação da interação solo-estrutura. Como é sabido, o modelo de Mohr-Coulomb
ainda é muito empregado para representar o fenômeno elastoplástico do solo e, por
causa disso, apresenta-se a Figura 5.13. Este gráfico compara a resposta medida
no Plaxis 3D para os de modelos HSS (mesmo sinal de deslocamentos já apresen-
tado nas figuras 5.10 e 5.11) e Mohr-Coulomb. Ela demonstra como os resultados
obtidos para esta dissertação guardam coerência com o que havia sido levantado
no Subcapı́tulo 3.2.3, onde o Estado da Arte sugeria que Mohr-Coulomb, em geral,
prevê deslocamentos exagerados ao ser comparado aos demais modelos e a ensaios
de campo.

Figura 5.13: Deslocamentos à altura do hub obtidos no sentido do eixo x pelo Plaxis
3D, comparando os modelos de HSS, Hardening Soil e Mohr-Coulomb.

A Figura 5.13 também apresenta o sinal de deslocamentos do modelo de endu-


recimento do solo padrão (HSM ), cuja resposta é muito próxima, para este sistema,
ao HSS. A legenda do gráfico traz o valor médio da fase permanente dos sinais,

85
indicando de maneira numérica a proximidade entre os modelos de endurecimento.
Além disso, a amplitude de deslocamento em HSS fica entre 0,61 m e 1,10 m, algo
bastante próximo do HSM. Já, para Mohr-Coulomb, essa amplitude é significativa-
mente maior, variando entre 0,47 m e 1,48 m.

5.6.2 Análise a cargas tı́picas de fadiga


Avaliando o sistema para o conjunto de cargas de fadiga proposto, encontrou-se
resultados equiparáveis aos dos carregamentos extremos. A Figura 5.14 apresenta a
mesma comparação feita na Figura 5.12 com cargas extremas, também considerando
a calibração por HSS com suavização.

Figura 5.14: Deslocamentos à altura do hub obtidos no sentido do eixo x no pós-


processamento do SIMA-RIFLEX, considerando a Hipótese de Winkler e o modelo
de HSS (plastificação suavizada) com cargas de fadiga.

O sinal linear-elástico da Hipótese de Winkler e o calibrado por HSS mantiveram


boa concordância, tendo, inclusive, diminuido a sua diferença em comparação às
cargas extremas, já que tiveram uma margem de 13,7% entre seus valores médios
na fase permanente do sinal.

5.7 Estratigrafia heterogênea


Para a estratigrafia heterogênea de três camadas apresentada em 4.4.7, conferiu-
se, primeiramente, a variação da frequência natural obtida para o sistema. Conforme
havia sido apresentado na Tabela 5.2, a frequência natural para o HSS era estimada
em 0,233 Hz pelo Plaxis 3D. Nesta nova análise, encontrou-se 0,232 Hz, uma pequena
variação portanto. Dado que a massa do sistema é mantida, percebe-se que houve
uma pequena mudança de rigidez. Como a primeira camada do solo proposto é
a mesma e é consideravelmente profunda, acaba que ela exerce grande influência.
Em seguida, vem uma camada de menor rigidez (argila mole) porém de pequena
profundidade e que, logo, é equilibrada por uma areia bastante densa. Dessa forma,
os dois sistemas acabam sendo globalmente equivalentes em rigidez.

86
A Figura 5.15 apresenta o resultado da mesma análise de cargas extremas feita
para as estratigrafias homogêneas. Dessa vez comparando o sinal de deslocamentos
por HSS e considerando as três camadas de solo, ambos no Plaxis 3D. Assim como
foi para a análise de frequência natural, as respostas dos dois solos se mostraram
bastante semelhantes.

Figura 5.15: Deslocamentos à altura do hub obtidos no sentido do eixo x pelo Plaxis
3D, comparando os modelos com solo homogêneo (HSS ) e com três camadas (Figura
4.10).

87
Figura 5.16: Curvas Q − z obtidas para as diferentes relações contitutivas. Desta-
cando o comportamento às pequenas deformações.

88
Figura 5.17: Curvas t − y obtidas para as diferentes relações contitutivas.

Figura 5.18: Curvas M − ψ obtidas para as diferentes relações contitutivas.

89
Capı́tulo 6

Conclusões

Esta dissertação analisou diferentes formas de se avaliar a interação solo-


estrutura de turbinas eólicas offshore sobre fundação de gravidade. Com base no
que foi levantado ao longo da Revisão Bibliográfica e pelos resultados obtidos para
as análises proposta, constatou-se que:

• A modelagem por molas mostrou-se uma metodologia razoável quando se ten-


tou simular as condições ideais da Hipótese de Winkler a partir de um modelo
de elementos finitos.

• Entretanto, no sistema analisado, ao se introduzir relações constitutivas elas-


toplásticas, observou-se uma considerável variação entre os modelos, principal-
mente em carregamentos próximos à ruptura do solo. Em termos de desloca-
mento vertical e rotação, houve um comportamento esperado dada a Revisão
Bibliográfica: a relação de Mohr-Coulomb preveu deslocamentos mais altos,
enquanto os modelos de endurecimento tiveram semelhança com os elásticos
até que se atingisse esforços de cerca da metade da carga de ruptura.
O deslocamento horizontal, entretanto, teve um comportamento mais próximo
em todos os modelos. Esse fenônemo pode ser explicado pelo elemento de
interface, o qual utilizou o critério de Mohr-Coulomb para representar a plas-
tificação, independentemente da relação constitutiva do solo. Isso se dá por
uma limitação do software utilizado.

• O amortecimento do solo é uma ciência com uma série de variáveis e tentar


calibrá-lo de forma unicamente numérica é uma atividade que pode envolver
uma série de imprecisões. Dados os recursos disponı́veis para a calibração do
modelo, observou-se que frente aos demais amortecimentos – aerodinâmico,
hidrodinâmico e dos materiais – o geotécnico não teve grande influência na
análise dinâmica da fundação de gravidade. Resultado este que esteve de
acordo com a bibliografia levantada.

90
• Avaliando os dois modelos de endurecimento: o padrão (HSM ) e o com re-
sistência a pequenas deformações (HSS ), não se obteve uma diferença signifi-
cativa entre eles. A Figura 5.13 demostrou, inclusive, que a diferença da média
dos sinais de deslocamentos deles esteve na ordem de meio porcento. Esse re-
sultado ilustra que, para um problema como o analisado, o modelo padrão de
Hardening Soil já é suficiente para se ter uma boa modelagem geotécnica e que
a maior parte das excitações do sistema não atingem a faixa de rigidez com
maior resistência do HSS e, dessa forma, ele se torna um modelo constitutivo
dispensável.

• O intuito central deste trabalho foi avaliar a influência da interação solo-


estrutura numa OWT sobre fundação de gravidade e esta influência pôde ser
entendida pela Figura 5.12. Avaliar o mecanismo de interação entre a fundação
e o solo como uma mola linear-elástica que não possui patamar de plastificação
e ruptura conferiu deslocamentos 20% inferiores aos que foram medidos por
uma relação constitutiva complexa numa modelagem de elementos finitos. Isso
significa que, caso se seguisse a modelagem por Hipótese de Winkler com co-
eficientes lineares, poderia se ter uma estrutura subdimensionada.

6.1 Sugestão de trabalhos futuros


O estudo da interação solo-estrutura envolvendo estruturas de suporte de turbi-
nas eólicas offshore ainda é uma ciência recente e diversos pontos seguem em aberto
para serem estudados. No que diz respeito às fundações de gravidade, lista-se alguns
tópicos que não puderam ser incorporados ao escopo desta dissertação, mas que se
mostraram assuntos de grande relevância:

• A heterogeneidade do solo pode ser bastante relevante numa análise de


fundação de gravidade. Propôs-se uma discussão inicial ao final das análises
numéricas, mas a avaliação da influência da estratigrafia do solo é um tópico
vasto com diversas variáveis envolvidas. Visto que os solos podem ser modela-
dos por diferentes relações constitutivas e que as suas propriedades dinâmicas
também variam, o estudo de diversas camadas de solo é um tema a ser explo-
rado com maior refinamento.

• A modelagem da interface entre a estrutura e o solo mostrou-se bastante influ-


ente na resposta ao deslocamento horizontal da fundação de gravidade, uma
vez que ela comanda praticamente a totalidade dessa avaliação já que a GBF
geralmente não é enterrada, tendo um contato superficial com o solo. Nu-
mericamente, o Plaxis 3D talvez não seja a ferramente mais adequada para

91
fazer esta avaliação, uma vez que ele possui limitações para modelar esses
elementos. Além disso, ao se alterar levemente o parâmetro Rinter no pro-
grama, obteve-se respostas significativamente diferentes. Isso indica que ter
parâmetros experimentais adequados para descrever a resistência da interface
também é fundamental para uma boa resposta.

• O amortecimento do solo, como já frisado, é uma ciência bastante complexa.


Para a correta avaliação numérica da sua influência no sistema como um todo,
sugere-se que ele seja avaliado experimentalmente. Dessa forma, seria possı́vel,
inclusive, traçar paralelos mais claros entre o modelo de histerese e os coefici-
entes de Rayleigh.

92
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2020.

102
Apêndice A

Avaliação do modelo

Este apêndice consiste na avaliação do modelo ajustado pela análise de res-


sonância (Tabela 5.1) aos critérios de resistência ao momento fletor de tombamento
e da capacidade de carga do solo. Ambas análises foram possı́veis graças à cessão
de planilhas previamente elaboradas por Nogueira et al. (2020) [110], também uti-
lizadas em Dorscheidt et al. (2020) [111].

A.1 Resistência ao momento tombante


Tendo clareza de que a carga horizontal no sistema estrutural estudado é da
ordem de 1.500 kN e que esta está aplicada a mais de cento e cinquenta metros do
solo, percebe-se que o momento fletor criado pelo vento é uma solicitação elevada e
a avaliação do tombamento é uma validação importante para o modelo proposto.

Figura A.1: Esquema de forças solicitantes e resultantes para conferência da re-


sistência ao momento tombante, baseado no trabalho de Koekkoek (2017) [22].

Utilizando o SIMA-RIFLEX, foi possı́vel resgatar os valores solicitantes de mo-


mento fletor e esforço normal na base da fundação de gravidade, sendo estes:

103
4, 797 × 105 kNm e 8, 908 × 104 kN. Segundo recomendação de [22], multiplica-se o
momento solicitante a uma fator de 1,35 devido a incertezas em relação às cargas
ambientais, o que resulta em 6, 476 × 105 kNm.
Conforme esquema da Figura A.1, ao se avaliar tensões pela Equação A.1,
encontrar-se-á que a compressão é estimada em 246,43 kPa, enquanto a tração em
61,25 kPa.

D
−NSOL MSOL × 2
σ= ± (A.1)
Abase Ibase
onde:
NSOL : esforço normal solicitante na base da fundação [kN ];
MSOL :momento fletor solicitante na base da fundação [kN m];
D: diâmetro da base da fundação [m];
Abase : área da base da fundação [m2 ];
Ibase : momento de inércia da base da fundação [m4 ].
Tendo posse das tensões solicitantes e sabendo que o diâmetro da fundação é de
35 m, encontra-se que a posição da linha neutra (x) é de 28,032 m. Mais uma vez,
analisando a Figura A.1, pode-se obter a excentricidade dos esforços resultantes (e)
a partir da Equação A.2:

D x
e= − = 8, 156m (A.2)
2 3
A conferência ao momento tombante pode ser feita comparando o esforço exer-
cido pela carga normal com a resultante de solicitação do memento tombante quando
dividido pela excentricidade encontrada, conforme indica a Equação A.3:

MSOL
FRES > ∴ 9, 081 × 104 kN > 7, 940 × 104 kN (A.3)
e
Como o esforço do peso próprio é mais alto que o tombamento pelo momento
solicitante multiplicado por fator de segurança, admite-se que a estrutura está segura
ao momento tombante. Caso a condição da Equação A.3 não fosse satisfeita, seria
necessário incruir lastro às celulas internas da fundação de gravidade. Essa é uma
questão mais comum em lâminas d’água mais baixas, onde o esforço aerodinâmico
é o mesmo, mas a estrutura de suporte é menor e mais leve.

A.2 Capacidade de carga do solo


A DNVGL define os critérios para a capacidade resistente do solo para carre-
gamentos extremos no Apêndice G da DNVGL-ST-0126:2016 [24], aqui eles serão
descritos brevemente. O intuito desta análise normativa é avaliar se o solo sob a

104
fundação resiste ao somatório de carregamentos a ele imposto. A Figura A.2 repre-
senta um esquema destes esforços.

Figura A.2: Esforços resultantes na fundação de gravidade (DNVGL, 2016) [24].

Assim como feito na análise do momento tombante, os esforços obtidos pelo


SIMA-RIFLEX são todos multiplicados por um fator de segunça de imprecisão às
cargas ambientias de 1,35. O que resulta em um esforço vertical (Vd ) de 1,203 ×105
kN, em um esforço horizontal (Hd ) de 2,554 ×104 kN e em um momento fletor de
(Md ) de 6,476 ×105 kNm. E cuja a excentricidade entre o momento tombante e o
esforço vertical é de 5,385 m (e = Md /Vd ).
Segundo a metodologia normativa, para a avaliação da capacidade de carga, é
necessário que se conheça a área efetiva da base da fundação, como indicado na
Figura A.3. Já que parte da base está sob tração, nem toda a sua área estará em
contato com o solo, comprimindo-o. A obtenção dessa propriedade do sistema é
dada pela Equação A.4. Por fins comparativos, lembra-se que a área total de uma
base de 35 m de diâmetro equivale a 962 m2 .
h e √ i
Aef f = 2 R2 acos − e R2 − e2 = 591, 206m2 (A.4)
R
Seguindo o processo de cálculo da norma, obtém-se as dimensões efetivas (lef f =
28, 505m e bef f = 20, 74m) e, com elas, calcula-se os fatores da fórmula de Brinch
Hansen, aplicada para a condição de solos drenados, utilizando propriedades como
o ângulo de atrito interno (φ0 ) e a coesão (c0 ). Os quais são:
• Fator de inclinação:

 2
Hd
iγ = 1− = 0, 395 (A.5)
Vd + Aef f c0 cot(φ0 )

• Fator de forma:

bef f
sγ = 1 − 0, 4 = 0, 709 (A.6)
lef f

105
Figura A.3: Área efetiva (Aef f ) de uma fundação de gravidade de base circular
(DNVGL, 2016) [24].

• Fator de capacidade de carga:


Calcula-se dois fatores (Nγ ) e, por segurança, aplica-se o mais baixo, o que
acaba resultando na menor capacidade resistente:

3
Nγ1 = (Nq − 1) tan(φ) = 10, 942 (A.7)
2

Nγ2 = 2(Nq + 1) tan(φ) = 16, 717 (A.8)

Para as quais Nq é dada por:

1 + sin(φ)
Nq = eπtan(φ) = 14, 72 (A.9)
1 − sin(φ)

A fórmula de Brinch Hansen aplica os três fatores segundo a Equação A.10:

1
qd1 = (γsub )bef f Nγ1 sγ iγ = 410, 31kP a (A.10)
2
A tensão resistente qd ao ser multiplicada pela área efetiva (Aef f ) resulta em uma
carga resistente que pode ser diretamente comparada a carga vertical solicitante (Vd ):

Vd
= 0, 496 ∴ 49, 6% (A.11)
(qd1 Aef f )
Assim, conforme evidenciado pela Equação A.11, a solicitação no solo é cerca de

106
50% da sua capacidade resistente, mesmo considerando um fator de segurança de
1,35.
Este apêndice conclui os resultados apresentados no Subcapı́tulo 5.1 em relação à
avaliação do modelo. Entende-se, então, que o sistema estrutural analisado é seguro
para a sustentação de uma turbina eólica de 10 MW e para as condições ambientais
a ela aplicadas segundo critérios de ressonância e resistência ao tombamento. Assim
como, o solo proposto para a análise é resistente às cargas a ele impostas.

107
Apêndice B

Montagem das curvas não lineares

Para fins de reprodução, a Figura B.1 apresenta os pontos necessários para a


montagem das curvas não lineares.

Figura B.1: Quadro de pontos para a montagem das curvas.

108

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