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Sword Art Online Volume 19 - Moon Cradle

Sumário

❏ Introdução - Página 9
❏ Capítulo 1 - Página 10
❏ Capitulo 2 - Página 22
❏ Capítulo 3 - Página 41
❏ Capítulo 4 - Página 48
❏ Capítulo 5 - Página 58
❏ Capítulo 6 - Página 82
❏ Capítulo 7 - Página 107
❏ Capítulo 8 - Página 126
❏ Capítulo 9 - Página 137
❏ Capítulo 10 - Página 151
❏ Posfácio ‐ Página 156

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Introdução

O som de passos ecoaram através do corredor.

Liderando o caminho através dos pilares brancos como giz, estava uma garota vestida com uma armadura
cinza-clara e com cabelo castanho escuro balançando sobre os ombros. Uma espada longa e estreita estava
pendurada em sua cintura. Logo atrás dela, estava um jovem dragão, coberto por um cabelo amarelo-pálido,
com sua longa cauda balançando. O dragão era alto o suficiente para ver por cima da garota, embora seus
chifres ainda não tivessem crescido. O nome desta garota era Ronie Arabel, e seu jovem dragão se chamava
Tsukigake. Baseado nesta agradável e linda imagem de conto de fadas, seria difícil pensar que, em poucos
anos, esta garota e seu dragão formariam uma parceria como Cavaleiro da Integridade e sua montaria – a
unidade de batalha mais forte em Underword.

Mas, na verdade, neste momento, não havia nem mesmo cem pessoas em todo o mundo, com maiores
habilidades em esgrimas e artes sagradas do que Ronie. Ela lutou na linha de frente durante a terível Guerra
do Underworld e depois na Rebelião dos Quatro Impérios e finalmente, foi promovida à aprendiz de
Cavaleiro da Integridade – a primeira na história a receber essa honra inteiramente baseada em seus méritos.
Apesar de tudo, no entanto, a habilidade da garota com sua lâmina – que com certeza irá florescer ainda mais
com o seu futuro treinamento – provavelmente nunca seria testada em combate. Depois de 300 anos de caos
e guerra, a verdadeira e absoluta paz havia chegado ao Underword finalmente.

O Império Humano, os Habitantes do Território Negro, os Goblins, os Orcs, os Ogros e os Gigantes: todas
as seis raças firmaram um pacto de paz permanente. A hierarquia dos quatro clãs imperiais e dos nobres
superiores responsáveis por torturar as pessoas comuns foi eliminada de uma vez por todas. Caravanas
mercantes iam e vinham pelo espaço vazio onde antes ficava o Portão Leste, e visitantes do Território Negro
chegavam à capital Centoria. O medo e a ignorância que separaram os dois mundos começaram a se dissipar,
tão certamente quanto o último floco de neve se derretia ao sol. A garota correu com seu dragão, e a luz de
Solus saltava sua figura para frente e para trás, enquanto a linha de pilares a dividia em faixas de fogo. Em seu
quadril, balançava uma espada que nunca mais sentiria o gosto do sangue de um inimigo. Assim, o som dos
passos *tak-tak-tak-tak, plit-plat-plit-plat* continuaram até desaparecer ao alcance dos ouvidos.

Aparentemente do nada, uma grande borboleta apareceu em seu rastro, esvoaçando pelo corredor como se
apreciando o retorno do silêncio.

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Capítulo 1

"Por aqui, Ronie!"

Ela se virou e ficou na ponta dos pés, olhando na direção da voz, e logo viu o cabelo de cor vermelho-fogo
balançando para cima e para baixo na multidão. Se desculpando o tempo todo, Ronie abriu caminho entre
os mestres de artes e a massa de membros da equipe da Catedral Central. Alguns deles se viraram para ela
aborrecidos, mas todos pularam para trás, alarmados, quando perceberam Tsukigake correndo atrás dela. Só
quando ela finalmente deslizou até a frente, que Ronie suspirou aliviada.

"Você está tão atrasada! Já vai começar!" – disse sua amiga ruiva, fumegando e inchando as bochechas com
indignação.

"Sinto muito!" – Ronie se desculpou pela última vez. – "Eu simplesmente não conseguia escolher o que
vestir…"

"Você não sabia o que vestir? Você está vestindo a mesma roupa de sempre!" – Tiese Schtrinen exclamou
desacreditada.

Como Ronie, Tiese era uma aprendiz de Cavaleiro da Integridade. Seus olhos vermelho-bordo estavam
cintilantes próximos à tonalidade do seu cabelo, e ela usava uma saia azul marinho e um top lindo e
estampado que envolvia seu peito magro. Uma bainha de couro vermelho estava pendurada em sua cintura,
mas, mesmo assim, era mais como um acessório para completar sua roupa.

Ronie percebeu, com pesar, que deveria ter usado o xale feito no sul que tinha comprado na semana passada.
Do outro lado de sua amiga, o dragão de Tiese, Shimosaki, estava esfregando focinhos com Tsukigake. Perto
dali, um jovem observava à exibição com um sorriso gentil. Sua aparência era mais parecida com a de um
menino do que de um homem, mas em seu cinturão havia uma impressionante espada longa, bem como
duas lâminas de arremesso curvadas no meio. O nível de prioridade que exalava da espada era considerável,
mas não era nada comparado às armas de arremesso. Pareciam tão finas como papel, mas eram armas divinas,
uma classe de itens que só podiam ser encontrados em pequenos números em todo mundo. Ronie ergueu o
punho direito na altura do peito e colocou a mão esquerda no punho da espada – isto era a saudação formal
do cavaleiro – e logo falou.

"Bom dia, Renly-sama."

O Cavaleiro da Integridade Renly Synthesis Twenty-Seven sorriu sem jeito para elas por cima das cabeças dos
dragões, e em seguida respondeu.

"Bom dia, Ronie… Você não precisa ser tão formal hoje. Afinal, isto é um festival."

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'Você chama isso de... Um festival?' – Ela pensou.

Era dia 17 de fevereiro do ano 382 da Era Humana, um dia perfeitamente comum no calendário. Não havia
uma única frase sobre qualquer celebração neste dia na Lei Humana Básica emitida no ano passado ou no
Código de Tabus, que estava atualmente sob modificação. Mas, olhando ao redor, à frente da espaçosa praça
da Catedral Central, notava-se uma multidão tão grande que poderia conter todo o corpo docente da torre.
Todos estavam em clima de comemoração, segurando bebidas e beliscando comida. Além disso, o portão da
frente da catedral, que normalmente ficava bem fechado, estava aberto ao povo da capital hoje. Espaços
improvisados designados ao longo do interior do portão estavam lotados com uma multidão de pelo menos
mil espectadores.

"…Sim, eu suponho que você não pode chamar isto de nada, além de um festival…" – admitiu Tiese. – "Mas
provavelmente devemos esperar isso sempre que o Kiri... Sempre que o espadachim representante fizer algo."

Ronie concordou com a cabeça. – "Claro… Só espero que os eventos de hoje não derrubem o prédio…"

Os três olharam para a praça – no centro das atenções – para algo que era muito difícil de descrever.

O objeto foi amarrado com finas cordas amarelas no meio da praça de pedra branca, onde um bloco em
formato quadrado flutuava no céu com cem mels de comprimento, e quando o vento passava por ele, se
ouvia um uivo assustador. A descrição mais simples seria chamar aquilo de 'escultura do dragão metálico'.
Mas como um sinal de que não era apenas uma instalação de arte, a metade superior de sua cabeça
pontiaguda era feita de vidro transparente. Suas asas curtas estavam presas a cada lado de seu corpo, que era
bastante longo e plano e, em vez de pernas, dois cilindros grossos se estendiam de sua garupa aumentada.
Não tinha cauda. O objeto tinha cerca de cinco mels de tamanho, ficando verticalmente de forma que os
cilindros apontassem para baixo, e tinha chamas laranjas lambendo a garupa. Era impossível dizer exatamente
o que deveria ser aquilo.

'…Tudo que posso dizer com certeza é que tenho um pressentimento muito ruim em relação à isto…' – Ronie
pensou. Ela desviou os olhos do dragão de metal e olhou para as três pessoas próximas. Uma delas – uma
jovem espadachim com longos cabelos castanhos que balançavam com a brisa, carregando um florete à
esquerda de sua saia branco pérola – se virou para Ronie, sentindo seu olhar. Ela sorriu e levantou a mão
direita para chamar a garota.

"Vai lá… Ela está chamando!" – disse Tiese com um sorriso, cutucando as costas de Ronie. A garota hesitou
um pouco, antes de reunir coragem e passar por cima da corda amarela à sua frente. Tsukigake a seguiu,
como sempre. Tentando chamar a menor atenção possível, ciente de que a multidão estava olhando, Ronie
andou pelo espaço aberto e parou na frente da espadachim, dando outra saudação rápida e diligente.

"Bom dia, Sub-representante Espadachim."

"Bom dia, Ronie. Como hoje é semelhante à um dia de festival, você pode relaxar um pouco…" – disse a

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jovem mulher com um lindo sorriso que poderia deixar qualquer um sem fôlego. Ronie deixou a tensão em
seus ombros diminuir um pouco.

"... Sim, Asuna-sama."

"Eu já te disse que você não precisa estar fazendo reverência e me chamando de 'sama' toda hora." –
respondeu a outra mulher fazendo beicinho. Infelizmente, ainda era um pedido muito difícil de atender.

A mulher diante dela – que parecia apenas alguns anos mais velha que Ronie – era Asuna, a espadachim
sub-representante do Conselho de Unificação Humana. E, de certa forma, ela era uma pessoa ainda mais
exaltada do que o próprio representante. Cada pessoa no reino humano acreditava que ela era Stacia, a Deusa
da Criação, que havia renascido, uma das três deusas da lenda da criação mundial. Ela mesma negou
veementemente ser um deusa em carne humana, mas Ronie testemunhou pessoalmente, de perto, a visão de
Asuna criando uma tremenda ravina na terra com um único balançar de sua espada durante a Guerra do
Underworld. Depois de ver algo assim, chamá-la de qualquer coisa menos que 'sama' era algo impensável. Se
eles adicionassem uma regra ao livro de regras da cavalaria de que «nenhum título ou tratamento formal
deve ser reconhecido», isso resolveria a questão. Mas até então, ela iria continuar, não importava o que
acontecesse, e ela balançou a cabeça trêmula para indicar isso. Asuna fez uma careta estranha e mudou de
assunto.

"De qualquer forma, Ronie, eu entendo que quando se trata de artes sagradas, você é a melhor usuária de
elementos de calor, não é verdade?"

"S-Sim." – Ela respondeu, surpresa. Então, Asuna se aproximou dela para sussurrar.

"Nesse caso, tenho um pedido para você. Você pode ficar de olho nos elementos de calor ali e me avisar se eles
estiverem prestes a sair de controle?"

"O-O quê...? Há elementos de calor... alí?" – Ronie repetiu confusa, sem saber ao que exatamente Asuna
estava se referindo. Ela olhou para o dragão metálico lá em cima, e então notou que dois homens próximos
estavam discutindo.

"…Me escute, Kiri, meu garoto. A vida dos recipientes de elemento de calor pode ser capaz de suportar
teoricamente o calor que é gerado, mas apenas se houver um amplo suprimento de elementos de gelo! Eu sei
que você não é habilidoso em artes de gelo, então irei deixar claro que se a geração de elementos parar por um
momento, todo o recipiente pode explodir de uma vez!" – Gritou um homem de bigode de cinquenta e
poucos anos.

Suas palavras não significavam nada para Ronie, mas soavam perigosas. Ronie conhecia bem esse homem; ele
era Sadore, um metalúrgico considerado o melhor em sua profissão em toda Centoria. Ele trabalhou na
cidade por muitos anos, até que começou a ajudar a cavalaria durante a Rebelião dos Quatro Impérios,
quando foi nomeado mestre do arsenal da Catedral Central. À frente do Mestre Sadore, parecendo

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aborrecido por causa da bronca, estava um jovem de aparência muito comum, com cabelos e olhos pretos.
Ele estava vestindo roupas cinzas bem estranhas, como uma jaqueta curta de mangas compridas e com calças
conectadas à ela. Não haviam armas ao seu lado. As mãos enluvadas de marrom estavam cerradas atrás de sua
cabeça, enquanto ele argumentava com Sadore com aborrecimento.

"Ok, ok, já ouvi isso tantas vezes que sinto que isto já está zunindo em meus ouvidos. Além disso, senhor,
você pode parar com essa coisa de 'Kiri, meu garoto'?"

"Hmph. Eu nunca vou parar. Desde que você me trouxe aquele galho terrivelmente duro 3 anos atrás e me
fez estragar seis valiosos amoladores de tijolo preto para afiar aquela lâmina, jurei para mim mesmo que o
chamaria de 'garoto' pelo resto da eternidade."

"Caramba! …Se eu não tivesse aquela espada, o mundo estaria em um estado terrível agora, você sabe..."

Murmurando para si mesmo, o jovem girou abruptamente e avistou Ronie. Assim que ela viu um grande
sorriso surgir naquele rosto, que parecia um tanto com o de uma criança indisciplinada como no dia em que
o conheceu, Ronie sentiu algo apertar seu peito, bem no fundo. Ela se curvou, para que ela não visse o rosto
dele, ou para pelo menos que ele não visse o dela.

"Bom dia, Kirito-senpai."

Ela o teria chamado de 'sama' também, mas, no caso dele, realmente havia uma regra oficial contra chamá-lo
assim. Então Ronie não teve escolha a não ser se referir à ele como seu veterano, como fazia quando os dois
eram alunos na academia. Kirito já foi um Discípulo de Elite na Academia Imperial de Espadachins de
Centoria do Norte, e agora ele era o espadachim representante do Conselho de Unificação Humana. Ele
ergueu a mão para acenar e sorriu.

"Ei, Ronie! Como vai, Tsukigake?"

Atrás de Ronie, o jovem dragão vibrou alto e bateu suas pequenas asas, então saltou sobre Kirito e começou
a lamber suas bochechas com naturalidade. Ela não pôde deixar de sorrir para isso. Então, Ronie disse ao
mestre do arsenal.

"Bom dia, Mestre."

"Ah, bom dia, Senhorita Ronie." – disse o velho, e sua expressão instantaneamente se transformou em um
sorriso suave e radiante. Ela correu até ele e perguntou gentilmente.

"Hum… O que era aquilo de... Recipientes de elementos de calor de que vocês estavam falando?"

"É exatamente o que parece. Olhe para o traseiro da Unidade Protótipo Nº 1 da Dragoncraft lá em cima."

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"Dragon… craft?" – Ela perguntou. Estava claro pelo contexto que ele estava se referindo ao dragão metálico
diante deles. Parecia estranho para ela se referir à esta criação sem vida como um dragão. Após um exame
mais atento, o estranho som de assobio pareceu vir da parte traseira elíptica do objeto.

"Existem dois contêineres feitos de adamantium ocidental lá, e cada um tem dez elementos de calor inteiros
presos dentro dele."

"O-O quê?!" – Ronie gritou, chocada.

Dos oito diferentes elementos que compunham as artes sagradas, o elemento de calor era o mais
tempestuoso. Ao contrário dos elementos de gelo ou vento, que podiam ser contidos com segurança por um
bom tempo, os elementos de calor exalavam calor e luz rapidamente, e queimavam em poucos instantes. A
primeira lição que qualquer criança que estudava artes sagradas aprendia era que, se você invocasse um
elemento de calor, você teria que se concentrar nele até aplicar ou liberar seu poder.

"M-Mas… Eu sei que o adamantium deve ser altamente resistente ao calor, mas expô-lo a dez elementos de
calor inteiros de uma vez não fará com que ele derreta e exploda...?"

"É aí que entra o truque. No exterior do contêiner, colocamos tubos feitos de casca de centopéia gigante
Jorund, que é altamente resistente ao gelo. Esses tubos são ligados à tubos de gelo que fornecem um fluxo
constante de frio que é projetado para evitar que os recipientes de calor derretam, veja."

"……Uh… Huh……"

Foi difícil para Ronie avaliar o 'truque', porque para ela, os elementos de calor e de gelo eram os blocos de
construção das artes sagradas divinas – muito longe da fabricação de metal e carapaça que ferreiros e artesãos
realizavam. Ela nunca havia considerado o conceito de combinar essas duas coisas muito diferentes.

"...E isso... Vai funcionar...?" – Ela murmurou em estado de choque.

Os braços fortes de Sadore se espalharam para os lados em um encolher de ombros, e então ele respondeu. –
"Eu não sei."

"O quê?!"

"Não sou eu que estou montando nele – é o garoto."

"O queeeê?!"

'O que ele quis dizer com "montando nele"?' – Ela ergueu o rosto na direção da dragoncraft ameaçadora, quase
com medo do que veria. Então ela percebeu que, na parte da cabeça pontiaguda sob o painel de vidro
transparente, havia o que era indiscutivelmente um assento. Tubos de metal se espalhavam e se contorciam

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ao redor do assento, e pequenos painéis circulares foram colocados aqui e ali com marcas de tique. Agulhas
finas estavam presas ao centro dos painéis, contraindo-se e girando a cada rugido estranho que a nave
produzia.

"...V-Você quer dizer que... Alguém vai sentar ali… E vai liberar os elementos de calor... Para fazer com que as
chamas saiam dos recipientes traseiros... Para..."

"Para voar, sim. Como um dragão!" – disse Kirito, juntando-se à eles.

Perto dali, Tsukigake bufou de desgosto com o cheiro das asas de metal da nave.

"V... V-V-Você não pode fazer isso, senpai!!" – ela gritou, puxando a manga da roupa estranha de Kirito. – "Se
vinte elementos de calor ficarem fora de controle ao mesmo tempo, isso vai quebrar tudo! V-Você deve usar
elementos de vento, como o disco levitando na catedral."

"Na verdade, todo o eixo é hermético, que é como se houvesse pressão suficiente dos elementos de vento
apenas para fazê-lo funcionar. Se você quiser voar ao ar livre, você precisa do poder propulsivo absoluto da
explosão de um elemento de calor." – disse Kirito, sorrindo e olhando ao redor. – "Além disso, veja quantas
pessoas estão aqui para assistir. Se tentarmos cancelar agora, teremos uma segunda rebelião em nossas mãos."

"F-Foi você quem convidou todos para assistir!!"

A multidão estava aqui na praça em frente à Catedral Central porque Kirito havia feito uma grande
proclamação de que o arsenal da catedral realizaria uma demonstração-teste para o público. Agora que a paz
havia chegado ao Underworld, o maior alvoroço a ser encontrado era o que quer que o espadachim
representante do reino humano estava fazendo a seguir. Os membros do corpo docente e os cidadãos
gostaram bastante do renascimento do teste do dragão guardião da caverna do norte, então era natural que
estivessem ansiosos para o próximo experimento. Se a conversa de Kirito com o dragão revivido tivesse sido
pior do que fora, o dano teria sido muito pior do que apenas algumas árvores da catedral congelando. Ronie
sabia o quão perto eles haviam chegado disso, e o pensamento a fez perder o equilíbrio. Felizmente, a
sub-representante estava bem atrás dela para fornecer estabilidade. Asuna conhecia Kirito há muito tempo,
aparentemente, e ela disse com uma expressão de resignação.

"Não há razão para discutir, Ronie. Quando ele fica assim, você apenas tem que deixá-lo ir em frente."

"M-Mas... Você não pode... Bem... Suponho que você esteja certa..." – Ronie lamentou, parando no ato de
balançar a cabeça negativamente para acenar em concordância. Nesses poucos anos, Ronie aprendera muito
bem que, quando Kirito estava decidido a fazer alguma coisa, faria de uma forma ou de outra.

'Bem, podemos muito bem fazer tudo o que pudermos para evitar um desastre terrível…' – Ela pensou, focando
no coração da dragoncraft. Enquanto ela era uma aprendiz de Cavaleiro da Integridade, Ronie ainda não
havia alcançado o ponto de controle livre sobre a arte secreta da cavalaria conhecida como Encarnação.

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Encurtar as artes sagradas à um comprimento mínimo durante a Encarnação, do jeito que Kirito e os
cavaleiros mais velhos faziam, era impossível para ela, mas ultimamente ela estava adquirindo a habilidade de
sentir o status dos elementos gerados, pelo menos. Como o Mestre Sadore havia dito, havia muitos
elementos de calor presos dentro da dragoncraft. Mas isso não significava que eles estavam se comportando.
Eles estremeceram e tremeram de indignação, pulsando enquanto esperavam a chance de romper a concha
ao redor deles. Se eles fossem tão indisciplinados em seu estado elementar, o que aconteceria se eles fossem
soltos? O pensamento enviou um arrepio por sua espinha – mas neste ponto, tudo o que ela podia fazer era
observar e esperar.

"Hum... Eu me comuniquei com os elementos de calor, Asuna-sama. Parece que eles ainda estão sob
controle, por enquanto…" – ela relatou em um murmúrio.

"Obrigada." – Asuna sussurrou de volta. – "Fique de olho neles, então."

"Eu irei." – Ronie afirmou, enquanto ouvia Kirito gritar à distância.

"Vamos começar então! Asuna, pode começar a contagem regressiva!"

"P-Por que tem que ser eu?!"

"Você sempre fez isto antes de invadirmos as câmaras do chefe, lembra?" – disse Kirito, o que não fazia
sentido para Ronie. Mas Asuna entendeu e balançou a cabeça em descrença. Então, ela levantou a mão e
pronunciou o início de uma arte sagrada.

"System Call!"

Em seguida, ela construiu suavemente o comando para uma arte de ampliação de voz a partir de elementos
de vento e cristal. O controle de Asuna sobre a Encarnação ainda estava se desenvolvendo, mas no que diz
respeito à aplicação prática das artes sagradas, nem mesmo os membros da elite da catedral podiam se
comparar à ela.

Asuna encarou o fino redemoinho de vidro em forma de funil flutuando no ar e disse em voz alta e clara.

"Obrigada pela paciência e pelo empenho de todos! O arsenal da Catedral Central está prestes a
realizar um teste de vôo do Protótipo Dragoncraft Nº 1!"

Sua magnifica voz ampliada encheu a área, provocando um rugido além das cordas da faculdade da catedral e
os civis aglomerados na área de espectadores dentro do portão. Ao norte, a armadura dos Cavaleiros da
Integridade brilhava e cintilava ao sol no grande terraço do 30º andar do próprio edifício. Em meio aos
aplausos e gritos, Kirito acenou para os espectadores e começou a subir a longa escada que conduzia à
dragoncraft. Ele alcançou a cabeça em apenas alguns segundos, abriu parte do painel de vidro transparente e
deslizou para dentro. Logo, Kirito se sentou no assento que apontava para o céu e se amarrou com faixas de

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couro. Havia um óculos bastante grande pendurado em seu pescoço, e ele o ergueu para envolver sua cabeça.
Então, ele se inclinou para olhar para Sadore lá embaixo e apontou o polegar para cima. Sadore se retirou
para onde Ronie e Asuna estavam, então eles se afastaram mais vinte mels para longe. Ronie teve que medir a
distância com cuidado, para não perder sua conexão com os elementos de calor.

"Agora, irei começar a contagem regressiva! Sintam-se todos à vontade para participar!"

Asuna anunciou para a multidão, tão confortavelmente como se ela estivesse acostumada a fazer isso. Ela
ergueu as mãos e estendeu todos os dedos.

"Vamos lá! 10! 9! 8!"

A cada número ela fechava um dedo, e a multidão de milhares acrescentavam suas vozes ao coro. Tiese e
Renly também se juntaram alegremente. Ronie apertou Tsukigake em volta do pescoço e gritou.

"7! 6! 5!"

De repente, a vibração dos elementos de calor aumentou. Kirito começou a controlá-los diretamente através
da Encarnação. Seu poder surpreendente fluiu para Ronie também, através dos elementos com os quais ela
estava se comunicando. Mais uma vez, houve uma sensação de aperto em seu peito.

'Esse sentimento é a única coisa que não posso deixar que me abandone. Como sua aprendiz, eu tenho que
deixá-lo dormir calmamente, até o dia em que minha vida acabe por minguar devido à velhice.'

Ronie podia sentir seus olhos se enchendo de lágrimas, então ela piscou forte, mantendo a emoção longe da
atenção de Asuna que estava por perto, enquanto gritava.

"4! 3! 2!"

*Hwirrrrr!* O rugido da dragoncraft ficou cada vez mais alto. O objeto prateado brilhante começou a
tremer, e a luz que vinha dos tubos em sua base mudou de vermelho para laranja, e logo para amarelo.

"1... 0!!"

A multidão aplaudiu, sacudindo os paralelepípedos da rua. A voz de Kirito podia ser ouvida gritando ao
longe.

"Discharge!!"

Essa era a palavra para liberar o poder dos elementos. Imediatamente, vinte elementos de calor explodiram,
liberando a energia que continham. Houve uma explosão tremenda, e chamas brancas dispararam da
retaguarda da dragoncraft. Queimando a pedra de mármore branco que supostamente continha uma vida

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quase infinita a ponto de ficar vermelha, e enviando nuvens de fumaça brilhante. A multidão ouviu um
zunido em alarme. E através de toda aquela fumaça, o dragão de metal disparou para cima como uma flecha
de prata.

O céu se encheu com um som agudo, como algo sendo rasgado. Ronie nunca tinha ouvido nada parecido
antes. Jatos de fogo rugiam dos dois tubos, enquanto a dragoncraft subia cada vez mais alto no ar. A
ferocidade dos elementos de calor liberados era tão grande que, quando Ronie estendeu as mãos, a sensação
picou sua pele. Normalmente, qualquer recipiente contendo esse tipo de calor fenomenal perderia seu valor
de vida instantaneamente, derretendo ou queimando. A dragoncraft deveria ter explodido. Mas, como a
tubulação estreita embutida ao redor dos recipientes estava bombeando elementos de gelo ultra-frios o
tempo todo, o calor foi contido. Como resultado, o incrível poder dos elementos de calor foi canalizado
diretamente para a extremidade aberta dos tubos, empurrando a enorme dragoncraft para cima. Pela
primeira vez na história do Underworld, uma pessoa estava voando pelo céu em algo diferente de um dragão.

"……É incrível…"

Lágrimas apareceram nos olhos de Ronie por um motivo diferente do que antes. Através de sua visão
embaçada, a dragoncraft prateada disparou cada vez mais, aparentemente superando até mesmo o topo da
Catedral Central.

Se a dragoncraft ficasse em um ponto no solo, os requisitos para gerar infinitos elementos de gelo esgotariam
rapidamente todos os recursos sagrados espaciais próximos, mas se movendo em alta velocidade significava
que a nave estaria viajando consistentemente rápida o suficiente para ficar com um suprimento adequado de
novos recursos. Isso significava que – hipoteticamente – o dragão feito pelo homem poderia atingir alturas
que nem mesmo um dragão comum poderia se aproximar.

Por fim, Ronie sentiu como se entendesse a verdadeira intenção do espadachim representante. Kirito não
estava apenas tentando fazer com que aquela coisa voasse; ele poderia estar tentando usá-la para cruzar o
obstáculo que nenhuma coisa viva poderia superar: o Muro do Fim do Mundo...

Mas assim que esse pensamento ocorreu a Ronie, ela percebeu os elementos de calor se expandindo. Os
recipientes estavam começando a entortar. O calor os estava derretendo. Por alguma razão, se estagnou o
fornecimento de elementos de gelo que se destinava a manter a temperatura baixa do metal.

"Ah! Asuna-sama! Os elementos de calor…" – Ela gritou, mas então houve um som feio vindo de cima –
*Bum!* – e uma fumaça preta começou a surgir de um dos tubos do propulsor. A dragoncraft entrou
abruptamente em um giro de rotação enquanto subia. O curso do objeto desviou para o sul – bem em
direção à parede da Catedral Central, em torno do 95º andar.

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"Vai bater!!" – Gritou Ronie, apertando as mãos contra o peito. A multidão também gritou alarmada.

*Shang!!* Asuna puxou o florete da bainha ao seu lado. Ela apontou a impressionante lâmina, brilhando
com a luz do arco-íris de Solus, direto para a catedral acima.

"…Pode deixar!" – Ela gritou, o que não parecia o tipo de coisa que um deus diria, e então ela acenou com a
ponta da espada para a esquerda.

Como se ela mesma tivesse acabado de arrastá-lo, o 95º andar e aqueles acima dele na enorme Catedral
Central se deslocaram ruidosamente para o oeste. No espaço de um único momento, a dragoncraft disparou
através do espaço que aquilo criou, com uma trilha de fumaça preta atrás dela. Houve um clarão brilhante
no céu ao sul. Então veio a explosão.

Embora parte do poder sem dúvida tenha sido gasto no vôo ascendente da dragoncraft, a erupção simultânea
de vinte elementos de calor foi, no entanto, uma coisa tremenda de se ver. Como os elementos normalmente
podem ser controlados por apenas um dedo de cada vez, mesmo o maior dos artífices só conseguia gerar e
manter apenas dez elementos de uma vez. De acordo com as histórias, o chefe do senado que antes
controlava a Igreja Axioma também podia usar os dedos dos pés, para usar um total de vinte elementos
simultaneamente. A falecida pontífice, Administradora, poderia até usar as pontas de seu cabelo como
pontos terminais, dando-lhe o comando de quase cem elementos de uma vez – mas é claro, Ronie nunca
tinha visto essas coisas por si mesma. Se isso era verdade para uma cavaleira como Ronie, então os civis que
haviam se aglomerado na catedral ficaram compreensivelmente chocados. Uma luz laranja como um
segundo Solus brilhou no alto, e um rugido de tremer a terra atingiu seus ouvidos, enquanto quase toda a
multidão erguia os braços para cobrir a cabeça. Claro, eram apenas elementos de calor não processados
​explodindo no ar, então, apesar da luz e do som de arregalar os olhos, não houve danos reais às pessoas que
estavam centenas de mels abaixo no solo.

Os espectadores lentamente olharam para cima e viram uma espessa fumaça negra saindo, escondendo o
topo da catedral, que havia deslizado de volta ao seu devido lugar. A explosão foi várias vezes maior que os
fogos de artifício disparados para comemorar o ano novo dois meses atrás. Todos devem ter se perguntado o
que aconteceu com o espadachim representante que estava montando aquele dragão de aço. Ronie era uma
delas, é claro, e ela assistiu aquilo com os olhos arregalados, e com as mãos agarradas ao peito.

"K—!"

Ela estava prestes a gritar o nome dele, quando Asuna deu um tapinha em seu ombro.

"Ele está bem." – disse a outra garota, sem um pingo de preocupação, no momento em que uma pequena
forma despencava desde o fundo da espessa nuvem de fumaça preta.

Aquilo era uma pessoa. Todo o material que compunha a dragoncraft tinha evaporado e se transformado em
recursos sagrados espaciais, mas não havia uma única marca de queimadura visível na roupa escura da figura

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Sword Art Online Volume 19 - Moon Cradle

que girava e despencava para baixo. Então aquela silhueta abriu os braços. O tecido das mangas pareceu
derreter atrás dele, formando asas finas que se estendiam diretamente dos ombros. Essas asas de dragão
bateram algumas vezes, desacelerando a descida da figura até que ele finalmente parou no ar. Parecia ser a arte
sagrada de voar, considerada perdida para sempre com a morte da pontífice. Mas, na verdade, isso não era
uma arte. Ele havia substituído os métodos do mundo inteiramente, usando a Encarnação para transformar
o material de suas roupas em asas reais e se tornando um ser vivo capaz de voar. Não havia outro ser humano
que pudesse realizar tal façanha.

Um murmúrio percorreu a multidão que assistia, e rapidamente se transformou em uma tremenda


tempestade de aplausos. O teste de vôo da dagoncraft, que tinha sido o propósito deste evento, foi um
grande fracasso, mas Kirito sorriu e acenou, enquanto descia lentamente em direção ao solo. Ronie se viu
batendo palmas descontroladamente ao vê-lo também. A capacidade de Kirito de colocar ideias absurdas em
movimento e alcançar resultados absurdos não havia mudado desde o momento em que ela o conheceu há
alguns anos atrás. Apesar de estar sorrindo, Ronie podia sentir as lágrimas se acumulando nos cantos de seus
olhos. Ela cerrou as pálpebras fechadas e enxugou as lágrimas, fazendo uma oração silenciosa que não
alcançou os ouvidos de ninguém, somente os seus próprios ouvidos.

'Se possível, espero que esses dias durem por toda a eternidade.'

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Capítulo 2

O vasto espaço no 50º andar da Catedral Central, conhecido como o Grande Salão da Luz
Fantasmagórica, era agora o espaço de reunião do Conselho de Unificação Humana. No centro do
piso, onde antes não havia nada além de pedra de mármore polido, havia agora uma mesa redonda
gigantesca esculpida de um antigo carvalho de platina, cercada por vinte cadeiras. Sentado numa
dessas cadeiras, com os ombros curvados de vergonha, estava Kirito. Um homem grande estava sobre
ele, berrando com uma voz que soava como um trovão.

"Agora, Espadachim Representante, eu vou fazê-lo ouvir isto por um bom tempo desta vez!!"

"……Sim senhor."

"'Eu não irei destruir nada desta vez' – Você jurou por suas espadas! Eu presumo que você não se
esqueceu de ter dito isso, certo?"

"………Não senhor."

O maior espadachim de todo o reino humano estava sendo repreendido como um estudante, e
desempenhando o papel de professor estava um cavaleiro vestindo uma armadura de bronze
vermelho escuro. Seu rosto era severo e imponente, e seu cabelo curto e olhos penetrantes eram da
cor de chamas. Esse era Deusolbert Synthesis Seven, um dos Cavaleiros da Integridade mais antigos.

"Se Asuna-sama não tivesse feito uso de seu poder divino, o 95º andar da catedral estaria
completamente queimado neste momento! Eu não me importo se ela está desabitada agora – pense
em como as pessoas da cidade lamentariam se a histórica e simbólica torre branca se tornasse
conhecida como 'A Torre Carbonizada'! Parece-me que você não tem consciência do status que
possui! Deixe as questões mais sutis de desenvolver artes e ferramentas para os mestres das artes e
ferreiros que fazem disso sua vocação!"

Outro cavaleiro, sentado à uma pequena distância da mesa, interrompeu a palestra de Deusolbert
antes que aquilo durasse para sempre.

"Isso é o suficiente por agora, Deusolbert. Olhe para o espadachim representante – ele está murcho
como uma lesma ao sol."

Sua voz sedutora, contendo mais do que uma pitada de alegria, acompanhava uma armadura polida
até brilhar como um espelho, e o cabelo preto esvoaçante que caía pelas suas costas. Uma espada
longa com punho de platina repousava em seu quadril esquerdo, e embalado em seu braço direito
estava um bebê com um tom de cabelo azul escuro, que era raro no reino humano.

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"Mas, Comandante…"

"Não seria bom repreender o representante a ponto de fazê-lo fugir de casa novamente. Afinal, temos
a reunião com o Território Negro no próximo mês."

A mulher sorridente, linda e graciosa como uma flor, era a comandante dos Cavaleiros da
Integridade, Fanatio Synthesis Two. Ela era a segunda comandante na história da cavalaria e possuía o
maior manejo de espada do mundo, mas você não notaria isto pela maneira como ela suavemente
segurava o bebê adormecido. Fanatio olhou para o jovem desanimado, com um sorriso brilhando em
seu rosto, e disse.

"Então você vai ter que se comportar por um tempo, garoto."

Kirito olhou para cima, com uma grande careta estranha. – "É muito mais assustador quando você
me chama de 'garoto' em vez de 'representante'."

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"Ha-ha. Você não diria que seu medo é uma admissão de culpa vinda de dentro?"

Fanatio disse, olhando de lado para Asuna, a sub-representante, que estava por perto com os braços
cruzados. Asuna estava sorrindo, mas seus olhos não; na verdade, eles pareciam estar se contraindo.
Fanatio então olhou para Ronie, que estava parada ao lado de um pilar não muito longe da mesa. Por
algum motivo, o sorriso de Fanatio parecia um pouco diabólico. Mas o olhar malicioso desapareceu
rapidamente, e ela deu um tapinha no ombro de Kirito.

"O importante é que não houve danos reais novamente, então suponho que podemos deixar sua
repreensão por isso. Em vez disso, vou simplesmente insistir que você passe o resto do dia até a hora do
jantar cuidando de seu trabalho no escritório."

"……Tudo bem…" – Kirito murmurou em resignação.

Fanatio agarrou seus ombros enquanto ele ainda estava sentado e o empurrou em direção à mesa, antes de
acenar para Ronie. A menina correu para receber o bebê.

"Você se importaria de cuidar do Berche um pouco, Ronie? Ultimamente, sempre que eu o deixo
brincando sozinho, ele acaba destruindo coisas."

"C-Claro, será um prazer!" – Ronie disse, estendendo os braços.

A cavaleira comandante entregou-lhe o bebê adormecido. A aprendiz ficou atordoada com o aumento
repentino de peso. Como uma cavaleira em treinamento, Ronie poderia facilmente brandir uma espada
grande de dois mels com uma única mão, mas o peso de uma criança era algo totalmente diferente. Ela
cuidadosamente reequilibrou os braços, provocando um murmúrio sonolento do menino de 1 ano,
embora aquilo não fosse o suficiente para acordá-lo. Ela fez uma breve reverência para Fanatio e voltou
para o pilar. Tsukigake a cumprimentou ali, estendendo o focinho para farejar curiosamente o bebê. Na
mesa redonda, Kirito, Asuna, Fanatio e Deusolbert se juntaram ao líder da brigada dos artífices sagrados –
o grupo que antes era conhecido como sacerdotes ou monges – e outros altos funcionários da catedral
sentados aqui e ali no momento em que a reunião da ordem começou.

"Vamos começar com a reabertura da caverna ao sul nas Montanhas do Fim, conforme relatado
anteriormente…"

"Cavar a caverna deve ser possível, mas o maior problema será construir uma estrada que atravesse as
densas selvas do sul…"

Esta não era uma reunião formal do conselho, então, como uma aprendiz, Ronie não precisava estar
presente. Sua parceira, Tiese, por exemplo, estava na grande biblioteca estudando as fórmulas das artes

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sagradas que ela achava tão difíceis. Mas havia algo que Ronie queria perguntar à Kirito em segredo. Ela
queria saber a verdade sobre uma imagem mental fugaz que ela vislumbrou enquanto assistia ao teste de
vôo naquela manhã. E se você tirasse os olhos de Kirito por um momento, ele desapareceria para algum
outro local na catedral ou no distrito comercial de Centoria – ou até mesmo voaria para alguma outra
cidade ou vila no reino – então ela precisava pegá-lo quando a reunião acabasse, antes que ele pudesse
desaparecer.

Durante o treinamento de Encarnação, eles, às vezes, forçavam os aprendizes a se equilibrarem em cima


de um pilar de metal estreito em um pé por horas seguidas, então, descansar contra um pilar e esperar a
reunião terminar não era exatamente um problema. Seu dragão era melhor comportado do que o de
Tiese, então, pelo menos, ela não precisava se preocupar com a possibilidade de que ele tentasse afiar seus
dentes na pedra por causa do tédio.

Enquanto ela estava ali, ouvindo o debate animado à mesa, veio um espirro adorável do bebê em seus
braços. Ele não acordou, mas ela temeu que ele pudesse estar com frio, então ela foi até a janela, por onde
os raios de Solus entravam. Seu cabelo azul escuro brilhava sob a luz do sol, e a visão daquelas bochechas
rechonchudas inocentes fez com que a respiração de Ronie ficasse presa em sua garganta.

'Um bebê…' – Ela pensou, sorrindo.

Sua mente viajou de volta ao mês passado, quando ela voltou para casa, no lado norte da capital. Aquelas
memórias não eram tão agradáveis.

A família Arabel era originalmente de uma casa nobre da sexta posição sob o antigo sistema de nobreza.
Eles não levavam uma vida rica e extravagante. Eles não possuíam propriedade própria como os nobres
mais elevados, e sua única renda era o salário do trabalho de seu pai como líder de pelotão da Guarda
Imperial e uma pequena mesada da nobreza. Estava longe das grandes somas de dinheiro de impostos que
os nobres de primeiro e segundo graus recebiam todos os meses sem trabalhar, e nem sequer correspondia
à renda dos comerciantes bem-sucedidos que faziam negócios no distrito central de Centoria. Ainda
assim, ela passou um tempo agradável, vivendo com sua mãe, brilhante e delicada, com seu pai severo, mas
gentil, e com seu travesso irmãozinho mais novo.

A única coisa que desgastava seu ânimo eram as festas que a família de seu pai, de uma família de quarto
grau, dava de vez em quando. Ele era o quarto filho, e embora o avô de Ronie tenha morrido quando ela
era apenas um bebê, o primeiro filho, que se tornou o patriarca – o tio de Ronie – mantinha uma atitude
de que ele e sua família eram nobres orgulhosos e estavam acima de todos. A extravagante tia de Ronie
exibia uma expressão de desgosto desenfreado sempre que o costume social exigia elogiar a mãe de Ronie
por seu vestido velho e desbotado, e por isso, Ronie costumava ter um ataque e ficar de mau humor
quando chegava a hora de ir à outra festa.

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Mas após o aniquilamento da Rebelião dos Quatro Impérios, o sistema de nobreza foi revolucionado.
Todas as propriedades foram liberadas e os nobres não foram mais separados por graus. As mesadas dos
nobres permaneceram por um curto período de tempo após isto, mas não eram o suficiente para
sobreviver, então todos os nobres foram forçados a encontrar emprego no exército humano
recém-reformado. Para as grandes casas dos nobres, isso foi nada menos que uma transformação
profunda, como uma catástrofe, mas do ponto de vista de Ronie, era simplesmente colocá-los de volta no
lugar a que pertenciam. O tempo em que o nome de família de uma pessoa lhe rendia títulos sofisticados
como general ou estrategista havia acabado. Somente aqueles que foram reconhecidos por suas
habilidades, inteligência e experiência reais foram colocados em posições de importância. Em outras
palavras, no momento, todas as famílias nobres estavam no mesmo nível.

Mas houveram algumas pequenas exceções à esta regra. E de todas as famílias nobres em Centoria, elas
eram as famílias de Ronie Arabel e Tiese Schtrinen, as duas pessoas escolhidas para serem aprendizes de
Cavaleiros da Integridade.

No mês passado, Ronie voltou para casa pela primeira vez desde que se tornara aprendiz. Seus pais e
irmão estavam passando bem, especialmente seu irmão, que agora era um estudante na Academia
Imperial de Espada de Centoria do Norte. Ele estava tão animado por vê-la que tentou brandir sua espada
(mas ele não conseguia nem puxá-la de sua bainha), tentou desafiá-la na queda de braço (mas ele não
conseguia empurrar o pulso dela nem meio cen) e assim por diante. Seu pai queria lhe perguntar tudo
sobre a vida na catedral, e a comida de sua mãe estava deliciosa como sempre. Aquela foi uma noite
maravilhosa…

Mas no dia seguinte, seus três tios e seus familiares chegaram inesperadamente em sua casa e, para sua
surpresa, trouxeram muitos presentes: no caso, eram propostas de casamento para Ronie, claro.

Os Cavaleiros da Integridade, dos quais Ronie um dia seria um membro de pleno direito, eram os
protetores da Igreja Axioma sob o antigo regime e eram objetos de medo e reverência esmagadora para
toda a população. Essa situação não havia mudado muito agora que a Igreja foi renovada no Conselho de
Unificação Humana. Na verdade, o fato de muitos Cavaleiros da Integridade terem perdido suas vidas na
Guerra do Underworld só os tornou ainda mais heróicos aos olhos do público. Se eles pudessem se casar
com um desses cavaleiros em sua família, sua posição e renda aumentariam exponencialmente; seus tios e
tias pareciam pensar assim. Famílias com filhos de idade apropriada os ofereciam como prêmios. Se não
houvesse filhos, herdeiros de parentes próximos seriam oferecidos. O número de papéis de identificação
pessoal que eles reuniram para apresentar a ela com o propósito de fazer suas ofertas parecerem melhores
era realmente impressionante.

"Aprendiz de cavaleiro ou não, o dever mais importante de uma mulher é ter e criar seus filhos. Até a
comandante dos Cavaleiros da Integridade deu à luz a um menino! Portanto, não pode haver nenhuma lei
que diga que você não pode fazer o mesmo, minha garota. Olha aqui, eu recomendo meu filho."

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"Não, o meu é melhor!"

"Mas você ainda não viu o nosso garoto..."

Há muito tempo, Kirito contara a Ronie e Tiese um segredo. A pontífice que governou a velha Igreja
Axioma, encontrou os indivíduos mais habilidosos em esgrima e artes sagradas de todo o país e os
moldou como Cavaleiros da Integridade. Na verdade, isso significava realizar um processo proibido
chamado «Synthesis Ritual»1, que removia todas as suas memórias antigas e implantava uma falsa no
lugar. De acordo com essa falsa memória, eles não eram seres humanos, mas cavaleiros invocados para o
mundo mortal do reino celestial.

Era uma coisa horrível e terrível de se fazer – mas na presença de suas tias e tios, Ronie não pôde deixar de
admitir a contragosto o brilhantismo lógico de como isso configurou a operação da cavalaria. Ela resistiu
ao desejo de realizar a arte sagrada de criar uma cortina de fumaça e fugir, mas, em vez disso, explicou aos
seus parentes que um Cavaleiro da Integridade na família não traria maiores patrimônios ou propriedades
nobres. Mas eles se recusaram a acreditar nela, a ponto de a acusarem de viver no luxo dentro da catedral,
e nesse momento, o pai de Ronie ficou furioso e os expulsou de casa. Mas embora ela agradecesse ao seu
pai, ela não conseguia afastar aquele pensamento.

Ele sempre disse que ela deveria escolher o homem com quem quisesse se casar, mas com certeza ele já
devia estar morrendo de vontade de ter netos. E mais importante do que isso, seus pais deviam estar
muito preocupados com o fato dela pertencer aos Cavaleiros da Integridade. Se a guerra não tivesse
estourado, Ronie teria se formado na Academia de Espadachins, aceitado o segundo ou terceiro filho de
alguma outra família nobre como marido e continuado com o sobrenome Arabel. Portanto, estava claro
que eles esperavam que ela se casasse e constituísse uma família mais cedo ou mais tarde. E, por sua vez,
ela queria tornar isso realidade para que eles soubessem que seu futuro estava garantido. Mas depois que
ela saiu e voltou para a Catedral Central, Ronie se encontrou silenciosamente pedindo desculpas a eles
sem parar.

'Sinto muito, pai. Sinto muito, mãe. Tenho certeza – bastante certeza, na verdade – de que eu nunca vou me
casar ou ter filhos na vida… Porque eu nunca estarei com quem eu realmente amo.'

Ronie foi interrompida de suas reminiscências quando o pequeno Berche acordou e começou a se mexer
em seus braços. Em pânico, ela tentou desajeitadamente acalmá-lo, mas o bebê não mostrou sinais de se
acalmar tão cedo.

"Está tudo bem. Pronto, pronto. Quem é um bom menino?" – Ronie murmurou, enquanto o rosto do
bebê ficava cada vez mais vermelho. No momento em que ele se enrugou e Berche se preparou para
começar a chorar, uma mão se estendeu e agarrou o bebê pelas roupas.

1
Ritual de Síntese.

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"Vai ser preciso mais do que isso, acredite em mim." – disse sua mãe, a Comandante Fanatio. Seu sorriso
benevolente e seus belos traços eram emoldurados por cabelos pretos esvoaçantes.

"Aqui vamos nós! Veja, você está voando!" – Fanatio disse, jogando o pequeno Berche no ar.

Parecia tão fácil quanto um movimento do pulso, mas esta era a mais forte dos Cavaleiros da Integridade,
afinal. O bebê girava e girava cada vez mais alto em direção ao teto alto do Grande Salão da Luz
Fantasmagórica.

"O q-? Fana-... C-Cuidado...!!" – gritou Ronie, congelando de medo.

O impulso ascendente do menino diminuiu pouco antes de sua cabeça tocar o mapa do reino celestial no
teto, e ele começou a cair. Quando ele pousou de volta nos braços de sua mãe, ele imediatamente riu e
gargalhou de empolgação.

"Não consigo imaginar como vou lidar com ele. Obrigada por cuidar dele, Ronie. Terei que lhe pedir
ajuda novamente no futuro." – disse Fanatio, dando-lhe um sorriso e dirigindo-se à saída. Deusolbert e os
outros líderes a seguiram; a reunião foi encerrada.

"Parece que parte do problema é como ela o está criando…" – murmurou uma voz ao fundo. Ronie se
virou para ver Kirito, e sua expressão continha uma mistura de desespero e medo. Ao lado dele, Asuna
estava fazendo uma cara estranha também.

"B-Bem, um dia ele vai ser um cavaleiro e irá cavalgar em um dragão, en-então... Provavelmente é bom
para ele se acostumar com as alturas ainda jovem."

"Entre o bebê de Sheyta e ele, o futuro será um verdadeiro desast... Quero dizer, um verdadeiro deleite." –
continuou Kirito, balançando a cabeça e colocando suas mãos nos quadris. – "E agora que meu trabalho
de hoje acabou, vou verificar a Unidade Dois..."

"O-O quê?! Você já tem outro?!"

"Sim, e este é incrível. Entre o motor de elementos de calor e propulsores, há um compressor de


elementos de vento, que torna possível interligar com o turbo—"

"Talvez, em vez de se concentrar no poder, Kirito-kun, você deva fazer algo sobre sua segurança!"

Ronie mal teve força de vontade para se colocar entre o Espadachim Negro e sua parceira divina, que

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falavam na língua sagrada desconhecida consideravelmente mais do que uma pessoa comum.

"Hum, com... Com licença, Kirito-senpai…"

"Pois não?"

"Hum, eu queria conversar... Ah, bem, eu queria te perguntar uma coisa, na verdade..."

Os olhos negros de Kirito piscaram para ela, mas ele rapidamente mostrou-lhe um sorriso amigável e
respondeu.

"Sim, claro. Acho que podemos conversar tomando um chá. O que acha, Asuna?"

Ele olhou para a espadachim sub-representante, que estava murmurando para si mesma.

"Bem, eu gostaria de me juntar à vocês, mas depois disso, devo assistir a uma palestra sobre artes sagradas
na Grande Biblioteca."

"Ah, entendo. Bem, o segundo escriba é intimidante, devo admitir. Melhor não se atrasar." – Kirito disse
com um arrepio visível.

"Apenas para alunos com desempenho ruim, talvez." – Asuna sorriu. Ela deu um passo para trás e se
virou para Ronie. – "Bem, vejo vocês no jantar, então. Ronie, certifique-se de que Kirito-kun não se
encha de doces."

"Eu... Eu irei!" – Ronie disse, curvando-se, enquanto Kirito resmungava sobre ser tratado como uma
criança.

Asuna acenou e se virou para se afastar, deixando uma imagem residual tingida de arco-íris para trás.
Kirito a observou passar pelas grandes portas em direção ao sul, então olhou para Ronie e falou.

"Então... Acho que poderíamos subir até o 80º andar ou algo assim. Eu com certeza poderia comer um
bolo de ameixa agora mesmo…"

"Vou pedir ao pessoal da cozinha que prepare um pouco para você."

"Traga-me duas... Não, três fatias! Te vejo lá em cima!" – Kirito disse sem dar tempo para Ronie intervir, e
correu pela porta norte para a plataforma de levitação.

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Ela estendeu a mão para acariciar o pescoço de Tsukigake, que finalmente estava adormecendo, e
murmurou.

"Eu provavelmente deveria trazer o bolo inteiro..."

Na cozinha do 10º andar, Ronie pegou um bolo inteiro com ameixas geladas e coberto de açúcar por
cima – com o olhar fixo do cozinheiro chef desaprovando tal atitude – colocou-o em uma cesta com uma
chaleira portátil e se dirigiu para o 80º andar da catedral. Quando ela pisou na plataforma de levitação, a
própria plataforma subiu sozinha. Já havia sido operada por uma pessoa no passado, mas agora que era
automática, aquela garota havia sido dispensada do serviço. Pelo que Ronie tinha ouvido, ela havia
começado uma nova carreira no arsenal em reconhecimento a sua excelente habilidade com artes de
vento.

Como sugeria seu nome informal de Jardim no topo das nuvens, o 80º andar da Catedral Central estava
coberto de flores, apesar de ser interno. No topo de uma pequena e suave colina no centro da campina
espaçosa coberta de ninhos de gelo prateados, estava o representante espadachim vestido de preto. Kirito
estava com a mão contra a jovem árvore osmanthus plantada no meio do topo da colina. Quando Ronie
se aproximou, ele se virou, sorriu para ela e falou.

"Olá. E obrigado."

"Essa é uma das funções de uma pajem, afinal."

Ronie sorriu e estendeu um pano. Em seguida, ela tirou os pratos da cesta, bem como o grande bolo
pré-fatiado, para o deleite infantil de Kirito. Ela preparou fatias para ela mesma, Tsukigake e Kirito; serviu
duas xícaras de chá; e disse a ele para comer.

"Obrigado, isso parece ótimo!" – Kirito disse, começando a comer rápido, como se estivesse competindo
com o dragão.

Ronie sentiu um calor se espalhar por seu peito enquanto o observava comer. Quando ela teve a
oportunidade de ficar sozinha com Kirito esses dias, ela sentiu uma sensação de felicidade e uma
profunda vontade de que seu desejo se tornasse realidade. Se ao menos houvesse uma arte sagrada de
congelar o tempo… Ela só queria poder viver neste momento por toda a eternidade…

Mas é claro, nenhum comando de artes sagradas poderia controlar o fluxo do tempo. Ela jamais poderia
fazer o tempo regressar e tampouco fazê-lo parar, de modo que o tempo continuou fluindo em direção ao
futuro na mesma velocidade constante. Foi por causa do fluxo eterno do tempo que o mundo sobreviveu
ao seu maior perigo e chegou à paz de que agora desfrutava. Algum dia, Ronie se tornaria uma Cavaleira
da Integridade de pleno direito e voaria pelos céus nas costas de seu dragão Tsukigake adulto. Parte dela

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ansiava por isso, é claro. Mas ela não conseguia parar de desejar…

'Por favor, tempo, apenas pare.'

"…nie. Ronie?"

A voz de Kirito a tirou de seu gentil devaneio.

"Oh, desculpe! Você queria mais?"

"Não. Quer dizer, sim... Mas não era isso que eu estava dizendo." – Kirito estendeu seu prato vazio para
ela e perguntou.

"Você não ia me perguntar algo?"

"Ah…"

Por fim, ela lembrou por que estava aqui em primeiro lugar.

"Eu sinto muito!" – Ronie gaguejou. – "Isso mesmo... Hum, era sobre aquele dragão de aço que você
criou… A dragoncraft."

Kirito deu uma grande mordida na segunda fatia de bolo que ela ofereceu a ele e acenou com a cabeça. –
"Uh-huh."

"Hum, bem, eu estava pensando... Eh, na verdade, eu estava preocupada que..." – ela olhou para a
esquerda e para a direita, antes de continuar em voz baixa. – "Você estaria planejando usar aquela
dragoncraft... Para voar sobre o Muro do Fim…?"

Kirito de repente soltou um gorgolejo abafado, bateu no peito com uma das mãos e lutou no ar vazio com
a outra. Ronie entregou-lhe apressadamente sua xícara de chá, então ele bebeu de uma vez, antes de
expirar. O jovem de cabelos negros sorriu da mesma forma que sorria quando ela o conheceu – como um
menino travesso que sabia exatamente no que estava se metendo.

"Eu deveria ter imaginado que minha pajem me conheceria muito bem. Eu não posso esconder nada de
você."

"O quê? En-Então é verdade?"

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"Sim, é basicamente isso que eu planejo." – Ele admitiu, coçando a bochecha como se aquilo não fosse
grande coisa. Ronie olhou para ele incrédula.

O Muro do Fim do Mundo. Esse era o nome comum para a barreira que abrangia o perímetro em torno
do reino humano e o separava do reino das trevas – o Underworld como um todo. Sua altura parecia
infinita, na verdade. A partir de Centoria, ele simplesmente se misturava ao azul do céu, escondendo sua
existência dos residentes, mas Ronie o tinha visto com seus próprios olhos apenas uma vez. Foi quando
ela se juntou a Kirito em uma visita aos domínios dos goblins das montanhas, no extremo norte do
Território Negro. Ela ficou sem fôlego quando notou o penhasco distante e desbotado no horizonte.

De acordo com os goblins, a parede não era feita de terra, mas de algum mineral ultraduro. Eles tiveram
dificuldade até mesmo para esculpir um pequeno buraco nele, muito menos esculpir cavernas ou escadas
em sua superfície. Em 300 anos de história, cada última tentativa temerária de escalá-lo terminou em
morte. Os gigantes e ogros contavam histórias semelhantes sobre o muro, deixando claro que havia um
entendimento comum compartilhado pelos povos do Território Negro: o muro era completamente
intransponível e literalmente representava o fim do mundo.

'Ou assim nós pensávamos.'

"Então, hum, bem…"

Ronie gaguejou, tentando recuperar o equilíbrio. Ela tinha uma ideia de quais eram suas intenções, mas
não esperava que ele admitisse tão facilmente. Ela tomou um gole de chá para se acalmar e logo
continuou.

"Hum... Então isso significa que você já testou se conseguia cruzar o muro com suas artes de voar?"

"Sim." – Kirito respondeu, mas logo balançou a cabeça. – "Eu tentei e desisti. Não consegui nem
superá-lo com asas feitas de Encarnação, muito menos voar com elementos de vento. Parece que chegar à
uma certa altura fixa aumenta a gravidade num nível quase ilimitado…"

Ele se recostou na árvore osmanthus, com os braços cruzados, murmurando mais para si mesmo do
que para ela.

"...Mas quando eu joguei uma faca direto para cima daquele limite teórico de elevação, ela foi muito,
muito mais alto. O que significa que o limite não bloqueia completamente todos os objetos. Acho que
bloqueia seletivamente os humanóides. Afinal de contas, desenvolver asas não muda meu ID de
unidade... Então, a única opção que tenho é apostar que, ao me selar completamente dentro de um casco
móvel, o próprio sistema reconhecerá o casco como um objeto não vivo, permitindo-me passar…"

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Nesse ponto, Ronie estava completamente perdida. Então, ela levantou a mão e perguntou.

"Hum, você está dizendo que ninguém pode cruzar o muro usando o próprio corpo, mas se montar
naquele dragão de metal, pode ser capaz de superá-lo?"

"Hã…?" – Kirito olhou para cima finalmente, piscando repetidamente. – "Ah, me desculpe. Certo, sim,
você está correta. A verdade é que eu já tentei voar em aviões de papel ou de couro – eh, dragões –
usando artes sagradas e Encarnação. Mas isto não funcionou... Se eu mesmo as mover, parece que estou
tratando isto como se fosse uma roupa ou uma armadura. O dragão tem que ser capaz de voar por conta
própria. Mas para suportar a temperatura dos elementos de calor, ele precisa ser feito de metal e precisa
de energia para ser capaz de empurrar todo esse peso, o que significa usar mais elementos de calor, e isto
resulta num ciclo vicioso, entende…"

"Uau... Isso tudo parece muito complicado..." – Ronie murmurou, caindo no mesmo pântano de
pensamentos que atormentava Kirito, antes dela voltar a si. – "Oh, quero dizer, não é isso! Eu queria te
perguntar sobre outra coisa…"

"Humm? O quê?"

"Por que você precisa passar por cima do muro? Fui sua pajem por muito tempo, então entendo seu
instinto de querer superar qualquer obstáculo com que você se depara... Mas sinto como se houvesse...
Coisas mais importantes nas quais você está focado agora…"

Ela começou a falar em um tom forte, mas logo percebeu que estava começando a soar como um sermão,
e logo se sentiu envergonhada. Kirito deu um tapinha em seu ombro e falou.

"Obrigado, Ronie. Eu me sinto mal por fazer você se preocupar o tempo todo."

Ele disse com um sorriso no rosto, fazendo que as batidas do coração de Ronie acelerassem. Ela
rapidamente suprimiu suas emoções. No entanto, Kirito não pareceu reconhecer o efeito que suas
palavras causaram sobre ela. Ele colocou as mãos atrás da cabeça, olhou para o céu e voltou a falar.

"…Mas na verdade, eu acho que passar por cima desse muro é a maior prioridade de todo o Underworld
agora."

"Hum... O que isso significa?"

"...Ouça, mas não conte a ninguém. Nem mesmo para Tiese ou Fanatio."

Ela ficou surpresa com o pedido repentino dele, mas concordou mesmo assim. No entanto, o verdadeiro

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choque foi o que Kirito disse em seguida.

"Nesse ritmo, haverá outra guerra."

"……!! N-Não, isso não pode ser...! Finalmente alcançamos uma era de paz…"

Kirito balançou a cabeça, mostrando uma expressão severa. E então continuou.

"Temo que este tempo de paz não vai durar muito tempo... O Portão Leste desmoronou, o comércio
começou entre os dois mundos e os turistas vieram em grande número do Território Negro. Por
enquanto, eles estão desfrutando de paisagens e alimentos que são raros e exóticos para eles. Mas,
eventualmente, eles não serão capazes de deixar de notar a diferença definitiva entre os dois mundos."

"Diferença…?"

"Sim. O reino humano é muito rico em recursos, e o reino escuro é muito pobre. Você viu aquele céu
vermelho e o carvão preto escuro... A terra ao redor de Obsidia era o único lugar razoavelmente
exuberante, mas os demi-humanos não têm direito a esse lugar – por ser administrado por humanos.
Lentamente, mas com toda a certeza, a inquietação aumentará entre os goblins, orcs e gigantes. Asuna e
eu tentamos fazer o que pudemos para tornar suas terras mais férteis, mas nada funcionou. Os recursos
espaciais… O poder sagrado simplesmente não existe lá."

Ela o ouviu, sem falar uma palavra. – 'Sim, a visão da terra árida do Território Negro está gravada em
minha mente. Mas até este momento, eu sempre achei que era assim que deveria ser. Nunca tive a ideia de
realmente fazer algo a respeito.'

"Kirito-senpai... Eu…" – ela murmurou.

Ele olhou para ela com aqueles olhos negros profundos e sorriu gentilmente, antes de falar.

"Sinto muito Ronie, não estou criticando você. Ninguém pode evitar isto; é assim que o Underworld foi
construído desde o princípio. Ele foi projetado para a guerra acontecer entre o reino escuro sedento e
pobre e o reino humano rico e fértil. A guerra eclodiu e consequentemente muitas vidas foram perdidas.
Tudo o que conseguimos fazer foi evitar o pior final possível. Então, pelo bem daqueles que morreram,
temos que garantir que a história não se repita."

"M-Mas, o que nós devemos fazer...?"

"Só há uma resposta. Os demi-humanos precisam de terras de que possam se orgulhar – algo mais do
que as terras distantes para onde os humanos os conduziram. Eles precisam de países reais próprios, onde

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Sword Art Online Volume 19 - Moon Cradle

não precisem ser 'não-humanos'."

"Países… Reais."

Ela estava tendo problemas para seguir qualquer coisa que Kirito estava dizendo nesta conversa, mas essa
frase foi a única coisa que ela entendeu instintivamente.

O território dos goblins das montanhas era a única terra demi-humana que Ronie tinha visto por si
mesma. Seu país era uma região montanhosa bem ao nordeste de onde ficava o Portão Leste. Nenhum
trigo crescia de seu solo e nenhum peixe nadava em seus rios. Era literalmente um deserto árido. Suas
duas gerações anteriores de líderes, Hagashi e Kosogi, morreram na guerra, e eles tinham acabado de
conseguir um novo líder, então a tribo estava estagnada e lenta para se recuperar. Nos velhos tempos,
quando o poder era lei, os gigantes, orcs, ou talvez até os goblins das planícies já os teriam exterminado.

Quando Ronie acompanhou Kirito na viagem para suas terras, a visão dos enfraquecidos e abandonados
em rudes esteiras de palha, bem como crianças famintas choramingando na terra, a deixou sem palavras.
O grande estoque de suprimentos que eles trouxeram do reino humano ajudou a evitar um colapso
total, mas não era mais do que uma solução de curto prazo para uma crise de longo prazo. O solo
simplesmente não era capaz de suportar a multiplicação da população de goblins. Mas antes desse
momento, Ronie nunca havia pensado nisso. Se qualquer coisa fizesse ela lembrar, ela tentava esquecer
aquilo. Ela tentou esquecer a visão de crianças goblins arrancando de suas mãos o pão duro, conhecido
por sua textura duradoura e certamente não por seu sabor. O entusiasmo com que o devoraram foi
suficiente para fazer o pão simples parecer um banquete digno de um rei.

Os suprimentos ainda estavam sendo enviados regularmente do reino humano, pelo que ela sabia. Ela
disse a si mesma que isso era o suficiente, e ela fez vista grossa para o fato de que ela viveu uma vida de
conforto e luxo como uma nobre humana, mesmo sendo uma inferior. Mas quando Kirito mencionou
'países reais', Ronie não pôde deixar de enfrentar a dura verdade. Aquela terra devastada e desértica não
era nenhum país – não era nem mesmo um território verdadeiro. Aquela era uma terra de exílio. Era um
lugar de punição, não de habitação.

"……Kirito-senpai… Eu…… Eu…"

Ronie baixou a cabeça. Seu garfo retiniu no prato que continha seu bolo comido pela metade.

'Os nobres têm um dever muito maior do que os privilégios que lhes são concedidos. Eles devem lutar sempre pelo
bem dos impotentes. Na língua sagrada, isso é chamado de «noblesse oblige»2.'

2 anos atrás, quando ela era uma estagiária ignorante em seu primeiro ano na academia, foi Kirito quem a

2
Obrigação de um nobre.

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ensinou isso.

'E de alguma forma, eu me permiti esquecer... Na verdade, eu nunca pensei nos goblins como seres humanos,
para começar. Tive pena de sua situação, mas uma parte de mim pensava que era apenas seu destino na vida
sofrer assim…'

Uma lágrima surgiu e pingou de seu olho no prato branco. Tsukigake vibrou de preocupação, e uma mão se
esticou e esfregou a cabeça de Ronie.

"Sinto muito, Ronie. Eu sabia que falar sobre isso poderia incomodar você…" – Kirito murmurou
suavemente. – "Mas... Você não precisa ser tão dura consigo mesma. Somos capazes de enviar suprimentos
para o reino das trevas porque controlamos a extravagância dos imperadores e nobres e reconstruímos o
reino humano muito rapidamente. Nada disso teria acontecido sem o seu trabalho duro. Então, a verdade é
que você já está fazendo sua parte para ajudá-los."

"Você... Realmente acha isso?"

"Mas é claro. Eu estive na terra dos goblins das montanhas desde então, e as crianças para as quais você deu
pão ainda se lembram de você."

Mais lágrimas escorreram por suas bochechas, por uma razão ligeiramente diferente desta vez. Ele estendeu a
mão com um lenço simples para enxugá-las. Ela teve que lutar contra o desejo de pular em seus braços,
enterrar o rosto em seu peito e chorar. Em vez disso, ela deixou sua cabeça pender até que as lágrimas
parassem, então ergueu o rosto e sorriu.

"…Obrigada. Estou bem agora... Sinto muito por chorar no meio de nossa conversa."

"Eu sabia que você era uma garota chorona desde seu primeiro ano na academia, Ronie."

Kirito a tranquilizou com um sorriso. Ela fez uma careta e olhou para ele, mas havia outra rodada de
agulhamento doloroso no fundo de seu coração que ela teve que suportar. Ela engoliu mais chá e piscou,
tentando suprimir as lágrimas restantes que teimavam em sair de seus olhos.

"Hum... Eu acho que entendo seus pensamentos sobre o assunto agora. Os goblins e orcs precisam de
terras lindas e férteis, assim como no reino humano. Se não existe tal lugar assim no Underworld,
teremos que ir além do Fim do Mundo. E o primeiro passo para fazer isso é passar por aquele muro com
aquela dragoncraft… Certo?"

"É isso aí... Mas eu aposto que a parte realmente difícil vem depois de cruzar o muro…" – Kirito admitiu,
balançando a cabeça.

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"Mas…" – ela perguntou hesitante – "…Existe realmente algo além do muro? E se o muro simplesmente
continuar infinitamente...?"

"Eu levei isso em conta. Mas a questão é... Se esse muro realmente é o fim deste mundo, não acho que
haja necessidade de que seja um muro. Isto seria simplesmente um endereço impenetrável... Algo como
um vazio."

"Um vazio…? Como algum espaço invisível que não pode ser percorrido?"

"Exatamente. Mas o Muro do Fim do Mundo é um muro real e físico – extremamente alto e difícil de
superar, só isso. E se a razão para isso for evitar que os residentes do mundo enfrentem algum fenômeno
que eles não estão preparados para entender...? É possível que o fim do mundo não seja mais o fim uma
vez você chegue lá... Embora tudo dependa de quanta energia sobressalente e espaço o Visualizador
Principal possui, é claro…"

Ronie franziu a testa. Ele estava saindo por uma de suas tangentes impossíveis de compreender
novamente. Kirito percebeu isso também e coçou a cabeça se desculpando.

"Desculpe, quando estou falando com você, pareço ter o hábito de apenas dizer o que quer que esteja
na minha cabeça. Vamos ver... Que tal isso? O fato é que o mundo não tem fim."

"Sem... Fim...?"

Novamente, era um conceito desconhecido para Ronie. Ela nasceu e foi criada em Centoria do Norte,
então o primeiro conceito de 'fim do mundo' que ela conheceu foram as Paredes Eternas que dividiam
Centoria em quatro partes. Mas então ela soube que o Império Norlangarth se estendia muito ao
norte, além dessas paredes. Especificamente, que ele, junto com os outros três impérios de forma
semelhante, compôs a totalidade do reino humano, assumindo a forma de um círculo.

Foi só quando ela começou na academia de treinamento de jovens, aos 8 anos, que ela aprendeu sobre o
assustador Território Negro que existia no espaço além das Montanhas do Fim, que cercava o reino
circular. Mas seu professor não lhe disse nenhum detalhe sobre o reino das trevas – pensando bem, ela
duvidava que o professor soubesse – então, foi aí que ela se alistou no Exército Guardião Humano,
junto com Tiese, e se dirigiu para o Portão Leste que ela conhecia por causa do muro infinito no Fim
do Mundo, em torno do Território Negro.

Em outras palavras, o mundo que Ronie conhecia sempre teve um fim. E sempre que ela ultrapassava
esse limite, havia outro além dele. Apesar desse ciclo de revelação, ela sempre acreditou que um deles
realmente poderia ser o fim completo e absoluto do que existia.

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"Então... Você está dizendo que... Além do Muro do Fim do Mundo, existe mais terra, como as terras do
reino humano e do reino escuro... Com prados, florestas e desertos, continuando infinitamente?" – Ronie
perguntou incerta.

"Humm…" – Kirito cantarolou. – "Como posso explicar isso...? Ah. Venha aqui."

Ele se levantou e estendeu a mão para ela. Envergonhada, ela a agarrou; ele a puxou para cima e a conduziu
até uma das janelas estreitas ao redor do Jardim no topo das nuvens.

"Ali. Veja aquilo."

Seu braço de mangas pretas apontava para o azul cada vez mais escuro do céu do leste, onde um
semicírculo branco como neve se erguia – Lunaria. Ronie e Tsukigake olharam para o grande corpo que
era a fonte do nome do pequeno dragão; «Tsukigake»3. Então Kirito disse algo que parecia
extremamente óbvio.

"Com certeza é redonda, não é?"

"S... Sim. É redonda…" – Ronie concordou, se perguntando onde Kirito queria chegar com isso.

"Essa lua não é um círculo plano no céu. É um corpo esférico. Isso explica o porque dela ficar cada vez
maior e menor, já que apenas as partes iluminadas pelos raios de Solus são visíveis." – ele então perguntou
incerto. – "Isso é algo que você aprende na escola em Centoria... Certo?"

Ela sorriu sem jeito e acenou com a cabeça.

"Claro. Na academia de treinamento de jovens, aprendemos que esta jóia dourada é o trono de Lunaria no
reino celestial…"

"Ah. Bem, hum… A verdade é que tenho uma hipótese bastante forte de que este mundo, incluindo o
reino humano e o reino das trevas, tem, na verdade, o formato de uma esfera, assim como aquela lua."

"O-O quê?! Uma esfera?!" – gritou Ronie. Seus pés de repente ficaram instáveis e ela teve que se
concentrar para manter o equilíbrio. Tsukigake suspirou levemente, como se zombasse da hipótese de
Kirito.

Nos 5 minutos seguintes, ele a ensinou sobre o conceito de um mundo esférico – o qual ele chamou
de planeta. Não era algo que ela achava fácil de aceitar, mas havia uma coisa em que ela acreditava. O

3
Uma parte de seu nome usa o kanji de lua em japonês. 月 (tsuki)

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95º andar da Catedral Central, o Mirante da Estrela da Manhã, estava totalmente aberto para o céu
em suas bordas. Se você ficasse na borda e olhasse para a terra, de fato poderia ver uma curva suave ao
longo do horizonte. Se o mundo realmente tivesse a forma de uma esfera, seria natural que o
horizonte tivesse essa aparência – talvez – mas ela não conseguia assimilar tudo isto em sua mente. Ela
olhou para a lua no céu e de repente, palavras que ela nunca havia pensado conscientemente
escaparam de seus lábios.

"Se este mundo possui o mesmo formato esférico como a lua... Isso significa que a lua tem prados,
florestas e cidades com pessoas vivendo nelas também?"

"Hã…?"

Kirito não esperava essa pergunta também. O espadachim de cabelo preto piscou várias vezes
rapidamente, mas seus olhos suavizaram rapidamente depois disso.

"…Talvez. Dependendo da distância até a lua, ela pode não ser apenas um pequeno satélite, mas outro
planeta de tamanho equivalente... Mas vamos descobrir isso quando formos lá." – Kirito falou tão
casualmente que Ronie não achou isso surpreendente a princípio. No mínimo, parecia inevitável para
ela agora que ele diria algo assim.

Então, Ronie apenas sorriu, inclinou-se um único cen para mais perto de Kirito e sussurrou. –
"Quando você fizer isso, eu irei acompanhá-lo. Como sua pajem."

"Então, acho melhor eu construir uma grande e boa dragoncraft."

Por algum tempo depois disso, dois humanos e um dragão silenciosamente olharam para o
semicírculo flutuando no céu distante.

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Capítulo 3

Após a conclusão da pequena e espontânea festa do chá, Ronie voltou com os pratos e talheres para a
cozinha, mas o tempo todo, ela continuou pensando sobre o que Kirito havia dito. Não sobre o outro lado
do Muro no Fim do Mundo, ou sobre o mundo ser uma esfera, nem mesmo a viagem à lua. Ela estava
pensando sobre a primeira coisa que surgiu na conversa: a possibilidade de acontecer outra guerra. Ela
concordava que a riqueza das terras humanas continuaria a criar descontentamento entre as raças
demi-humanas. Mas com toda a honestidade, ela achava difícil ver que aquilo realmente se traduziria em
outro conflito armado.

Isso era por causa do Pacto de Paz dos Cinco Povos do Território Negro, um acordo que ligava todas as várias
raças do reino negro. A lei era muito mais primitiva lá do que nas terras humanas, mas, pelo menos, isso
proibia claramente o assassinato e o roubo. Claro, por centenas de anos, a única lei exercida no
Território Negro tinha sido a Lei do Poder, então mesmo isso era como um terremoto, uma mudança
revolucionária para eles. Como um meio de reduzir o choque neste período de transição, eles foram
autorizados a duelar livremente, desde que a vida não fosse tirada no processo. Se isto fosse para a guerra, esse
tipo de autocontrole sairia pela culatra.

E as pessoas do territótio negro não eram diferentes dos humanos normais quando se tratava do selo de alma
que evitava a criminalidade. Foi dessa forma que, apenas alguns anos após a última guerra, o reino humano
aceitou pacificamente tantos visitantes do reino negro…

"…Ronie. Você está me ouvindo, Ronie?"

Sua cabeça se ergueu quando alguém a cutucou no ombro algumas vezes. Ela estava praticando sua
Encarnação em um canto da sala de treinamento no 4º andar da catedral e, em algum ponto, ela caiu
profundamente nos seus pensamentos. O exercício de hoje era a meditação sentada e, ao contrário de manter
os elementos sagrados ou se equilibrar no topo de postes, era muito fácil se distrair com pensamentos
mundanos durante esta prática.

No entanto, sua parceira próxima à ela estava tentando ir diretamente além dos pensamentos mundanos para
ter uma conversa com ela. Só para ter certeza, Ronie olhou para o mestre de treinamento – Deusolbert do
Arco de Conflagração – que hoje estava dando instruções sobre espada para os cavaleiros inferiores no centro
do salão, e confirmou que ele estava ocupado, antes de sussurrar para sua melhor amiga.

"Desculpe, eu estava sonhando acordada."

Ela rapidamente percebeu que não fazia sentido se desculpar, mas sua parceira ruiva estufou as bochechas
com indignação e sussurrou de volta.

"O quê, você não ouviu nada do que eu falei? Eu estava dizendo que quero seu conselho sobre algo."

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"Conselho?" – Ronie repetiu, olhando para sua amiga.

Tiese Schtrinen, a aprendiz de cavaleiro que era sua amiga desde os dias da Academia de Espada, acenou com
a cabeça seriamente. – "Sim... Veja, a questão é que... Eu recebi uma proposta."

"O quê, para duelar?! Não, você não pode duelar!"

Ronie assobiou de volta imediatamente, mas Tiese apenas olhou para ela com seus olhos vermelho-escuros e
respondeu.

"Não! É exatamente o oposto... Não se trata de um duelo... Mas, mas uma... Uma proposta para formar uma
família…"

Por alguns segundos, Ronie não conseguiu entender o que ela quis dizer. Ela apenas olhou
inexpressivamente até que caiu a ficha. Foi preciso todo o seu poder de Encarnação para evitá-la de gritar alto
em descrença. Ela respirou fundo, prendeu a respiração e exalou longa e profundamente. Então, ela inalou
novamente e perguntou, com muito cuidado.

"Você... Você quer dizer... Casamento...?"

Tiese olhou para o chão à sua frente e acenou com a cabeça quase imperceptivelmente. Novamente, Ronie
teve que se controlar para não deixar o instinto assumir o controle e perguntar quem havia feito a proposta.
Mas havia apenas um homem possível que poderia pedir a mão de Tiese em casamento neste momento. Esse
era o Cavaleiro da Integridade de elite e portador das Lâminas de Asas Duplas, Renly Synthesis
Twenty-Seven.

Ficou claro desde a Guerra de Underworld que ele sentia afeto por Tiese. Portanto, não era surpreendente
que ele a pedisse em casamento; na verdade, demorou muito.

Ronie imaginou o rosto do pequeno cavaleiro que sempre usava aquele sorriso tímido e começou a
parabenizar a amiga. Mas Tiese balançou a cabeça rapidamente antes que pudesse pronunciar as palavras.

"Eu... Ainda não decidi qual será minha resposta." – Tiese sussurrou.

Isso foi uma surpresa para Ronie.

"Hã…? Mas por quê? Você não desgosta dele não é? Na verdade, pensei que você gostasse do Renly-sama
também. Vocês estão juntos com tanta frequência…"

Ronie sugeriu, mas o rosto de Tiese ficou ainda mais desanimado. Era completamente impensável que
aquela garota inteligente e animada fizesse uma expressão tão sofrida.

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"Eu gosto dele. Mas, eu sei porque gosto dele. E é porque... O Renly-sama me lembra um pouco do meu
mentor."

"…!" – Ronie respirou fundo.

Tiese não estava falando sobre o Espadachim Representante Kirito, é claro. Quando elas eram aprendizes
primárias da Academia de Espada, Ronie servia como pajem de Kirito, enquanto Tiese atendia outro
Discípulo de Elite. Sua maneira gentil e sorriso suave ocultavam um talento para lutas com espadas e uma
força de vontade tão indomável quanto Kirito. Ronie sabia que Tiese o admirava com todo o seu ser. Mas ele
não estava mais entre os vivos.

Ronie havia acreditado que sua amiga ruiva havia superado essa tristeza. Ela assumiu que Tiese havia
trancado essas memórias como jóias preciosas em seu coração e retomado a caminhada de sua vida
novamente.

As lágrimas escorrendo daqueles cílios ruivos diziam a Ronie que não era esse o caso.

"Tiese…" – Ronie disse, mordendo o lábio com hesitação. Então ela se fortaleceu e se levantou. Ela se virou
para Deusolbert, que estava dando ordens no centro da sala de treinamento, e gritou.

"Mestre de instruções! Permita-nos concluir a sessão de treinamento de hoje por que a Aprendiz Schtrinen
não está se sentindo bem por causa do clima!"

O homem severo de cabelos curtos lançou-lhe um olhar parecido com flechas de aço, mas acenou com a
cabeça sem dizer o contrário. Ronie colocou Tiese de pé e a ajudou a se curvar em agradecimento para que
ninguém pudesse ver seu rosto, depois saiu do salão com ela. Ela colocou um braço em volta dos ombros de
Tiese e desceu rapidamente as escadas com ela em direção ao Jardim das Rosas atrás da catedral. Fizeram uma
pequena reverência de saudação ao grande jardineiro – segundo os rumores, ele já fora guarda de prisão – e
seguiram cegamente pelos caminhos labirínticos, até encontrarem um pequeno banco bem no fundo dali,
onde ninguém as encontraria.

Em fevereiro, até mesmo os primeiros tipos de rosas que floresciam no jardim estavam apenas começando a
brotar. As plantas estremeceram com a brisa fria, com apenas folhas e espinhos. Os olhos vermelhos-bordo
úmidos de Tiese olharam para as roseiras sem realmente vê-las. Depois de um tempo, ela murmurou.

"Eu acreditava que... Se eu estivesse com o Renly-sama, eu poderia finalmente ser capaz de esquecê-lo... Quer
dizer, eu gostaria de poder."

"Tiese..."

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Ronie colocou o braço em volta das costas da garota. Tiese se inclinou molemente e apoiou a cabeça no
ombro de Ronie.

"Mas... Então eu percebi que estou sempre procurando por sinais dele nos sorrisos, palavras e gestos de
Renly... E Renly sabe que também não sou capaz de esquecê-lo. Ele disse que estava tudo bem. E ainda assim
ele escolheu me pedir em casamento. Isso me deixou tão feliz... Tão feliz... Mas…"

As lágrimas se acumularam em seus longos cílios novamente e caíram. Desta vez não foi apenas um par de
gotas, mas um fluxo constante que veio sem parar, infiltrando-se em seu uniforme simples de treinamento.

"Isso me deixou feliz, mas eu realmente não quero esquecer. No fundo do meu coração, eu sei que quero
permanecer com minhas memórias dele para sempre. E porque estou ciente disso... Eu simplesmente não
posso…"

Ela soltou um soluço trêmulo, pressionou o rosto no peito de Ronie e gritou. – "Eu quero vê-lo... Eu quero
ver Eugeo-senpai de novo!"

Ronie abraçou Tiese com força enquanto ela soluçava. Ronie sentiu seus olhos ficarem quentes também.

A experiência delas como aprendizes estagiárias na Academia de Espada durou apenas um mês. Mas para as
meninas, aquele tempo fora o próprio destino – um milagre que aconteceria apenas uma vez na vida delas.

Há muito tempo, Ronie jurou viver por aquele milagre e nunca amar outra pessoa em sua vida.
Provavelmente era por isso que ela esperava que Tiese pudesse seguir em frente e encontrar aquela felicidade
para ambas – uma esperança que ela agora percebeu ter sido incrivelmente egoísta da parte dela. Porque, ao
contrário de Ronie, Tiese nunca mais veria aquele amor de sua vida. Ela nunca mais tocaria em sua mão,
falaria com ele ou mesmo olharia para ele de longe.

Ronie não tinha palavras que confortariam sua melhor amiga enquanto chorava. Então, ela esfregou as
costas dela e acariciou seus cabelos durante o momento do choro dela. Quando as lágrimas de Tiese
finalmente diminuíram, a escuridão do pôr do sol estava invadindo o Jardim das Rosas. Sua cabeça
repousava sobre o ombro de Ronie, e ela estava claramente amargurada e exausta. Juntas, elas assistiram a
lenta descida de Solus em um entorpecimento monótono.

"……Desculpe. Obrigada." – Tiese finalmente murmurou, e sua voz soou como um miserável sussurro.

Ronie balançou a cabeça e respondeu. – "Está tudo bem. Na verdade, eu sinto muito, Tiese. Eu... Eu falhei
completamente em entender como você se sentia. Aqui estava eu, de forma egoísta, esperando que você
seguisse em frente e fosse feliz com o Renly-sama..."

"Está tudo bem. Há uma parte de mim que quer fazer exatamente isso…" – concordou Tiese. Ela respirou
fundo; parecia que a força estava voltando para sua voz agora. E logo continuou.

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"Vou pedir ao Renly-sama que espere um pouco mais. Talvez o tempo adicional não vá fazer nenhuma
diferença... Mas eu apenas tenho um pressentimento."

"Um pressentimento…?"

"Sim. A partir do momento que eu vi a dragoncraft de Kirito-senpai... Tive a sensação de que algo estava para
acontecer. Que algo iria mudar."

As palavras de Tiese forçaram Ronie a recordar aquele momento inesquecível. Uma luz prateada subindo
sem parar contra o fundo do céu azul. Isso a encheu de uma alegria tão aguda que chegou a ser dolorosa. De
fato, havia algo naquela imagem que era um presságio de uma mudança revolucionária.

"……Sim. Eu sinto isso também…" – ela murmurou. Tiese concordou.

As duas aprendizes de cavaleiros permaneceram sentadas no assento de pedra por mais algum tempo.
Eventualmente, o sino das cinco tocou. Tiese se levantou, olhou para Ronie e disse, para a surpresa da outra
garota.

"E você, Ronie?"

"Uh... Eu o quê?"

Os olhos vermelhos-bordo de sua amiga piscaram, e ela até pareceu sorrir um pouco.

"Você disse ao Kirito-senpai como se sente? Mesmo que um pouco?"

"N… Não, claro que não!" – gritou Ronie. Ela curvou os ombros e olhou em volta, então balançou a cabeça e
sussurrou. – "Você sabe que eu... Eu não poderia fazer isso. Eu estou bem com as coisas do jeito que estão."

"Se você acha que precisa se conter por minha causa, não há necessidade de fazer isso." – disse Tiese, com
toda a seriedade.

"Não, honestamente, está tudo bem…" – Ronie insistiu. – "Afinal... Ele tem a Asuna-sama. E há também a
Alice-sama, que está destinada a voltar à este mundo eventualmente, e a general Serlut, e… E até mesmo a
Fanatio-sama, talvez..."

"Oh, Ronie…" – Tiese lamentou com um suspiro. – "Kirito-senpai não é casado com nenhuma dessas
pessoas. E ele supera até mesmo imperadores neste ponto, então se você quisesse seguir a Lei Imperial Básica,
ele poderia ter... 3 esposas? Ou talvez 4...?"

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"V-Você sabe que ele nunca faria algo assim!" – Ronie disse, gritando de novo, e se levantou rapidamente para
evitar que Tiese visse o vermelhidão em suas bochechas. – "Honestamente, estou bem! Se preocupe apenas
com você, Tiese!"

Ela se virou para olhar para o lado. Sua amiga suspirou audivelmente mais uma vez, então caminhou até ela e
disse.

"Bem, acho que o próprio Kirito-senpai nunca diria isso... Vamos, Ronie… Vamos voltar. Shimosaki deve
estar com fome agora."

"Sim, eu ia mencionar isso também. Mas…" – Ronie disse, olhando para a esquerda e para a direita, na
direção da cerca de arbustos – "…Você sabe o caminho de volta, Tiese?"

"…Eu estava chorando. Como eu saberia para onde estava indo?"

Elas trocaram olhares. Bem no meio do enorme labirinto de rosas, as duas garotas suspiraram pesadamente.

Naquela noite, Ronie se deitou em sua cama no 22º andar da catedral, mas teve dificuldade em adormecer.

'Você tinha mesmo que dizer aquilo, Tiese…' – ela pensou, olhando para a parede de pedra grossa que separava
seu quarto do adjacente. Então ela se sentiu mal, percebendo que sua amiga provavelmente também estava
tendo problemas para adormecer. Tiese, é claro, estava lidando com seu primeiro pedido de casamento.

'Eu me pergunto em que lugar da catedral ele fez o pedido à Tiese? E o que será que ele disse a ela?' – Ronie
imaginou, descobrindo que seus pensamentos se perdiam rapidamente. – 'E se… E se Kirito-senpai fosse me
pedir em casamento? Que tipo de local ele escolheria para a proposta? O Mirante da Estrlela da Manhã no 95º
andar...? Ou talvez o quintal da Academia de Espada, onde compartilhamos tantas memórias...? Na verdade,
ele poderia até mesmo usar suas artes de vôo para me levar ao topo das nuvens…'

Ronie respirou fundo e puxou o cobertor sobre a cabeça para tirar esses pensamentos de sua mente. Ela disse
a si mesma que nem deveria imaginar essa possibilidade. Havia apenas uma coisa que ela poderia esperar: que
a paz persistisse. Ela não podia pedir mais nada. Nada. Então, ela rolou e ficou de bruços, enterrou o rosto no
travesseiro e permitiu que a fada do sono se aproximasse, fechasse suas pálpebras e as mantivesse assim.

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Capítulo 4

Demorou apenas até o banquete do almoço do dia seguinte, 18 de fevereiro, para Ronie saber que seu único
e humilde desejo já estava em perigo.

Um cavaleiro inferior correu para a sala, com o rosto pálido, ajoelhou-se ao lado de Kirito e entregou um
relatório urgente, dizendo que um turista goblin das montanhas que visitava a cidade matou um cidadão de
Centoria.

Tanto o espadachim representante quanto a ainda mais ousada sub-representante espadachim reagiram com
um suspiro agudo e narinas dilatadas. Kirito fechou os olhos, colocou a faca e o garfo sobre a mesa e se
levantou.

"Asuna, Fanatio, assumam o comando do Exército Guardião Humano e da guarda da cidade. Executem
apenas funções normais e não permitam qualquer resposta especial sobre este incidente. Onde está esse
goblin agora?"

A última pergunta era para o cavaleiro inferior que trouxe a mensagem. O jovem cavaleiro ficou ajoelhado e
respondeu. – "Senhor, disseram-me que ele está detido no escritório da guarda de Centoria do sul!"

"Entendido. Obrigado pelo relatório!"

E com isso, a capa preta foi jogada para o lado quando Kirito começou a andar, com seus passos longos e
rápidos. Ronie, então, se recuperou de sua sensação de choque e ficou de pé, gritando do lado oposto da
grande mesa redonda. – "Eu irei me juntar à você, representante!"

Kirito parou por um momento para considerar isso, então acenou com a cabeça. – "Eu apreciaria isto. Vamos
pegar um atalho. Esta tudo bem para você?"

"H... Huh? Sim…" – ela murmurou, alcançando-o. A Catedral Central ficava no centro da cidade circular,
portanto, assim que descessem as escadas principais e saíssem do portão sul, estariam em Centoria do sul,
antiga capital do Império Sothercrois. As principais instalações, como o escritório da guarda da cidade,
estariam bem ao longo da via principal afora, então não havia atalhos, já que era uma rota direta…

Kirito forneceu a resposta por meio da ação. Com um propósito inegável, ele caminhou não em direção às
portas duplas na extremidade sul do corredor, mas para a varanda leste. Ronie o seguiu até a panorâmica
vista de 20 andares no ar – e então teve um momento de descrença. Com a mesma rapidez, o braço esquerdo
de Kirito envolveu suas costas com um breve pedido de desculpas. Antes que seu coração pudesse bater mais
uma vez, houve um estranho som de chicotadas no ar, e uma luz verde encheu sua visão. Ronie começou a
gritar ao se sentir flutuando, mas o som ficou preso em sua garganta quando os dois dispararam
abruptamente para cima no ar. Eles rapidamente se distanciaram da catedral e a vasta capital ficou maior.

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Sword Art Online Volume 19 - Moon Cradle

Essa sensação estava além do rápido. Parecia que estavam indo várias vezes a velocidade máxima de vôo de um
dragão, mas não havia quase nenhuma resistência do vento – como se ele tivesse criado uma película de
elementos de vento que revestia seu corpo para eliminar a resistência, o tempo todo gastando continuamente
os elementos atrás deles para manter a tremenda aceleração que os empurrava.

No momento em que ela reconheceu que esta era uma arte de vôo utilizando elementos de vento – uma
técnica que apenas Kirito poderia controlar neste momento – eles já estavam descendo ao solo como um
tornado. Houve outro som estranho e a cor do mundo voltou ao normal. Ronie manteve os olhos abertos,
lutando contra uma tontura repentina, e viu que um enorme edifício de pedra – para os padrões normais –
estava diante deles. A textura áspera do arenito vermelho era inegavelmente a da arquitetura de Centoria do
Sul. Dois guardas usando armaduras espessas e pesadas estavam na entrada, no topo de um conjunto de
degraus de pedra. Eles brandiram suas alabardas ameaçadoramente, sem fazer nenhum esforço para esconder
seu espanto com aquela entrada repentina. Kirito correu direto para eles.

"Quem são vocês?" – perguntaram os guardas, cruzando as armas.

Da parte de trás, Ronie convocou sua voz mais autoritária e respondeu. – "Nós somos do Conselho de
Unificação!"

Os olhos dos guardas se voltaram para o fecho de sua capa curta, que trazia o brasão dos Cavaleiros da
Integridade sobre ela. Como ela ainda era uma aprendiz, ela ainda não tinha o número oficial gravado na
parte inferior, mas o símbolo por si só teve o efeito desejado, felizmente. Os guardas pularam de volta para
uma posição vertical e bateram a parte inferior de suas alabardas no degrau de pedra. Kirito correu entre eles
e entrou pela porta. Ronie o seguiu.

Tardiamente, Ronie percebeu que o espadachim representante do Conselho de Unificação Humana não
havia trazido sua espada, seu brasão ou mesmo sua capa. Tudo o que ele vestia era uma camisa de linho preta
simples e calças grossas de algodão preto. Os guardas dificilmente poderiam ser culpados por não perceberem
quem ele era. Mas ele deslizou bem entre os funcionários da guarda do escritório, ignorando seus olhares
suspeitos, e se dirigiu para as escadas que levavam ao porão. Quase como se soubesse exatamente onde
encontrar o goblin em questão. Na verdade, é quase certo que sim. Eles estavam no meio da escada de pedra
quando Ronie ouviu o grito característico de um goblin falando.

"…Eu não fiz! Eu não fiz nada! Eu não vi nada!"

"Não minta para mim, seu demi!!" – rugiu uma alta voz humana.

O 2º nível do porão do escritório da guarda da cidade era uma prisão medieval padrão cheia de celas de pedra
atrás de barras pretas brilhantes. Mas, após uma inspeção mais detalhada, ficou claro que quase todas as celas
tinham poeira empilhada no chão e não eram ocupadas há anos. Isso era natural, porque o reino humano,
como regra básica, não produzia criminosos. Apenas uma pessoa ocasional que não conseguia se lembrar de

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Sword Art Online Volume 19 - Moon Cradle

cada uma das inúmeras regras e itens do Código de Tabus e da Lei Imperial Básica entrava em conflito com a
lei por causa de algum assunto trivial. Isso até agora.

No final do corredor havia uma sala maior sem grades, provavelmente para interrogatório. Havia uma mesa
de madeira simples no centro da sala escura, e deitado prostrado em cima dela estava um goblin das
montanhas, claramente ainda muito jovem. O pequeno corpo do goblin estava sendo segurado por trás por
um guarda grande e poderoso. Diante dele estava um homem vestindo um uniforme de capitão com sua
espada longa.

"Vamos ver se você poderá continuar contando essas mentiras horríveis depois que um de seus braços for
decepado!"

A luz das velas deslizou pela superfície da lâmina plana. Ronie ia gritar uma ordem para ele parar, mas assim
que o pensamento entrou em sua mente, um som forte *ting!* fez a espada do capitão soltar faíscas. Como
se atingida por uma lâmina invisível, a espada voou de sua mão e atingiu a parede oposta. Kirito havia
liberado sua técnica secreta de Cavaleiro da Integridade, a «Espada Encarnada». Ele desviou do ataque do
capitão e entrou na sala de interrogatório a toda velocidade.

"Isso já é o bastante! Todo este caso está agora sob a jurisdição do Conselho de Unificação Humana!" – ele
gritou.

"O quê…?" – engasgou o capitão, atordoado com a perda de sua espada. Quando ele se virou e viu Kirito, seu
rosto ficou vermelho e o lábio sob o bigode bem aparado tremeu. Ele parecia estar preparado para gritar algo
quando avistou a crista no ombro de Ronie.

Mais uma vez, seu rosto sofreu uma mudança dramática, empalidecendo rapidamente. O capitão e seu
subordinado caíram sobre um joelho e se curvaram profundamente – para Ronie mais do que para Kirito.

Francamente, esse tipo de coisa acontecia com ela com frequência quando encontrava o povo de Centoria.
Mas ela ainda achava isto muito estranho. Há apenas um ano e três meses, Ronie não passava de uma
estudante. Ela se alistou no Exército Guardião Humano na Guerra do Underworld e, depois de lutar muito
com sua espada, acabou sendo promovida ao posto de aprendiz de cavaleiro. Ela não sentia que havia
crescido na dignidade ou no status do papel ainda.

'Claro, se o Kirito-senpai se vestisse um pouco mais apropriadamente, talvez esse tipo de fardo não caísse sobre
meus ombros com tanta frequência.' – ela pensou amargamente, enquanto Kirito assumia o comando da
cena. O jovem – vestido de maneira indistinguível de qualquer cidadão comum da capital – primeiro acenou
com a cabeça para o trêmulo e aterrorizado goblin, no que deveria ser um gesto reconfortante.

"Qual é o seu nome?" – ele perguntou ao jovem goblin. Seus olhos amarelos piscaram rapidamente em
confusão.

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"...Oroi." – o goblin respondeu com uma voz deplorável.

"Oroi? Essa pena decorativa – você é do clã Ubori de Saw Hill?"

O goblin assentiu rapidamente, sacudindo a pena azul e amarela que se erguia da faixa de couro em torno de
sua testa.

"Tudo bem. Meu nome é Kirito. Eu sou o representante do Conselho de Unificação Humana."

Isso teve um efeito instantâneo nos dois guardas de cabeça baixa. Suas costas se contraíram e os olhos do
jovem goblin chamado Oroi se arregalaram.

"Kirito… Eu conheço você! Você é o lum branco que venceu os Ubori no concurso de captura de
insetos-do-mato!"

'O que diabos ele tem feito?' – Ronie se perguntou, mas ela não deixou sua exasperação transparecer. Kirito
acenou com a cabeça e respondeu.

"Ainda tenho a medalha do centurião que recebi pela vitória. Agora escute-me, Oroi. Vou ouvir as histórias
do que aconteceu, primeiro desses guardas, depois de você. Nenhuma punição será dada com base no que
você disser, então fique tranquilo e simplesmente me diga exatamente o que aconteceu."

O capitão da guarda ficou sob o comando de Kirito e deu seu relatório com medo e um pouco de orgulho
indignado.

"Às 11:30 am de hoje, a guarita do Distrito Quatro de Centoria do Sul recebeu o relatório de um cidadão de
que um demi-humano com uma arma branca estava sendo violento em uma pousada na Rua Carue. Ao
correr para a cena, encontramos um goblin no corredor do 2º andar da pousada com uma adaga
ensanguentada. Um homem estava desmaiado e sangrando na sala atrás dele. O homem era o faxineiro da
pousada. Ele foi apunhalado bem no coração, e sua vida já havia sido totalmente extinta. Com base nas
circunstâncias, julgamos que o goblin matou o homem com a adaga. Assim, nós o trouxemos para o
escritório do prédio e começamos nosso interrogatório."

Então Kirito recebeu uma declaração de Oroi, o goblin da montanha.

"Eu vim visitar Centoria 3 dias atrás junto com um grupo de 5 jovens globins do mesmo clã. Os outros
saíram para a cidade depois do café da manhã, mas eu estava me sentindo mal e fiquei na pousada para
dormir. Alguém bateu na porta antes do meio-dia, então eu abri e não encontrei ninguém, apenas uma adaga
no chão do corredor. Eu a peguei e percebi que havia sangue nela. Fiquei surpreso, e foi quando os soldados
subiram as escadas, gritaram algumas bobagens para mim e me prenderam…"

"... Eu não fiz nada... Eu nem vi nada." – concluiu Oroi.

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No entanto, o capitão estava farto e logo gritou.

"Eu acabei de dizer para você não mentir! Essa adaga não vem de terras humanas! Apenas demi-humanos
usariam um artefato de ferro fundido tão bruto!"

"N-Não! Pode parecer isso, mas não é a mesma coisa! As espadas que os goblins usam têm o símbolo do clã
no punho! Mas não há nenhum símbolo nessa espada! É falsa!" – Oroi gritou de volta. Isso fez o capitão
explodir de raiva.

Mas Kirito estendeu a mão para silenciá-los e disse. – "Isso é algo que um exame rápido deve provar. Capitão,
onde está a adaga agora?"

"...Está sendo mantida no arsenal no 1º andar, senhor."

"Você poderia me mostrar?"

O capitão deu ao seu subordinado um olhar autoritário. O jovem guarda disparou para fora da sala, mas
voltou quase 5 minutos depois, com o rosto pálido.

"...Não está lá…" – ele relatou.

"O quê? O que você quer dizer?!" – o capitão rugiu.

O guarda curvou o pescoço até os ombros o quanto ele podia e repetiu. – "Não está... lá. A adaga não está no
arsenal."

Duas horas depois, Kirito havia retornado à Catedral Central – desta vez de carruagem – para dar uma
explicação aos principais membros do conselho. Ronie foi autorizada a sentar-se à mesa redonda por exceção
especial, porque ela o acompanhou até a sala da guarda. A primeira pessoa a quebrar o silêncio na espaçosa
sala de reuniões no 50º andar foi a Espadachim Sub-representante Asuna.

"...E onde está Oroi, o goblin da montanha agora?"

"Nós o trouxemos até aqui, tiramos ele do escritório da guarda da cidade. Ele está em uma das salas vazias do
4º andar agora. Eu tenho a porta vigiada, então tecnicamente é uma espécie de prisão domiciliar." – disse
Kirito, com a testa franzida.

Asuna também não parecia muito feliz. – "Suponho que isto seja algo inevitável até que cheguemos ao
fundo disso..."

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Do lado oposto da mesa redonda, veio o barítono constante de Deusolbert. – "Presumo que vocês dois têm
certeza de que este goblin não cometeu um assassinato, certo?"

"Sim, essa é minha crença." – admitiu Kirito. Ele juntou os dedos em cima da mesa e continuou. – "O
turismo do Território Negro ao reino humano é tratado como uma forma de intercâmbio cultural entre os
dois reinos por este conselho. Ao passar pelo Portão Leste, todos os visitantes devem entender a lista de ações
proibidas. É apenas uma lista simples de regras, mas que proíbe roubo, agressão e assassinato, em nome do
comandante supremo do Território Negro. Em outras palavras, Oroi está sujeito à Lei do Poder das terras
escuras. Se ele realmente tivesse quebrado essa lei e matado o faxineiro da pousada…"

"Seu olho direito teria explodido." – concluiu a Comandante Fanatio. O resto da mesa refletiu sobre essas
palavras em silêncio.

Todas as pessoas que viviam no Underworld, humanas ou semi-humanas, foram criadas com uma peça de
artes sagradas chamada Código 871. Isso assegurava que uma dor angustiante sacudisse o olho direito de
qualquer pessoa em perigo de quebrar quaisquer leis ou costumes. Na verdade, prosseguir com uma ação
ilegal faria com que o próprio globo ocular explodisse. Além disso, as pessoas comuns nunca pensaram em
violar a lei. A própria Ronie tinha visto a injustiça do Código de Tabus e da Lei Imperial Básica várias vezes
antes, mas ela nunca tentou quebrá-los sozinha. Até onde se sabia, nos 300 anos da história do Underworld,
apenas três pessoas tiveram tais desejos, agiram de acordo com seus pensamentos e experimentaram a perda
do globo ocular – quatro, se você contar aquele que arrancou aquele globo ocular primeiro.

E não havia nada de errado com os olhos de Oroi, o goblin da montanha. Ronie tinha visto isso por si
mesma.

"Mas..." – disse a voz hesitante do Cavaleiro da Integridade Renly. O jovem cavaleiro ainda esperava pela
resposta de Tiese à sua proposta, e Ronie não pôde deixar de ver uma nota extra de melancolia em suas
feições, quer estivesse realmente lá ou não.

"O assassinato é o maior dos tabus para todas as pessoas, não apenas para aqueles como o Oroi. Nós,
Cavaleiros da Integridade, recebemos imunidade de quase todas as leis, mas nem mesmo nós podemos tirar a
vida de um civil inocente. Em outras palavras... Se alguém além de Oroi foi responsável por matar aquele
faxineiro…"

"Esse alguém teria rompido o selo do olho." – Kirito terminou, com uma careta amarga no rosto. – "É
irônico. Se tivéssemos o antigo senado automatizado, poderíamos ter esse culpado sendo interrogado agora."

Asuna balançou a cabeça. – "Não. Você não pode confiar em um sistema desumano como aquele."

O senado automatizado, um predecessor do Conselho de Unificação Humana, era um sistema de observação


remota por meio do poder humano, operado pela Igreja Axioma. Dezenas de clérigos poderosos tiveram suas
vidas e consciências congeladas, tornando-os ferramentas irracionais que observavam os infratores

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remotamente por meio das artes sagradas. Depois da guerra, a magia que prendia os senadores foi desfeita,
mas suas mentes nunca mais voltaram e, em poucos dias, todos eles morreram durante o sono.

Kirito exalou profundamente, lembrando-se daquela maldita visão deles. – "Sim, eu sei, eu sei. Mas... Eu
simplesmente não consigo apagar essa sensação estranha que estou sentindo."

"Do que você está falando?" – Fanatio incitou, voltando seus olhos escuros para ele.

"Como posso dizer isso...? As três pessoas que romperam os selos em seus olhos direitos não o fizeram por
uma questão de assassinato. Cada caso foi um ato de força de vontade avassaladora, de resistência contra algo
desonesto e injusto. O que significaria, para o assassino, que a vítima era algum tipo de símbolo do mal
absoluto que tinha que ser morto por todos os meios necessários…"

Kirito olhou para os papéis sobre a mesa e continuou.

"Mas esse faxineiro que foi morto, Yazen… Pelo que eu pude perceber, ele parece alguém improvável de ter
atraído qualquer ódio de alguém. Ele plantou trigo nas terras particulares de uma das casas nobres durante
anos e, depois que foi solto no ano passado, começou a trabalhar na pousada. Pelo que nos foi dito, ele
tratava os visitantes do Território Negro tão gentilmente quanto qualquer outra pessoa. Na verdade, Oroi
disse que Yazen foi bastante amigável com ele."

"Isso significa que Yazen não poderia estar em uma situação de exercer um poder injusto e abusivo sobre
outra pessoa?" – Asuna perguntou.

"Isto é basicamente impensável." – respondeu Kirito. – "E tem a questão da arma perdida…"

Assim que soube que a adaga supostamente usada para matar Yazen havia desaparecido do arsenal, Kirito
questionou todos os guardas do escritório, em nome do conselho. Mas nenhum deles se apresentou para
dizer quem a havia levado. A guarda da cidade estava sob a jurisdição do Exército Guardião Humano, que
por sua vez estava sob a jurisdição do Conselho de Unificação; nenhum dos guardas poderia desobedecer à
ordem. Assim, depois que a adaga em questão foi levada da pousada para o arsenal, alguma pessoa externa a
roubou ou ela deixou de existir por conta própria.

"Alguém tem alguma opinião sobre isso?" – Kirito perguntou à mesa.

Deusolbert falou imediatamente. – "Parece que a arma era uma adaga de ferro bruto fundido. É possível que
um único uso tenha sido suficiente para consumir toda a sua vida, fazendo com que se desintegrasse a nada
no arsenal?"

"Não... Independentemente da qualidade, uma arma de metal não seria destruída imediatamente. Eu acho
que as sobras de metal ainda permaneceriam no lugar por um tempo…"

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"Ah... De fato." – entoou o homem grande, cruzando os braços com um zumbido pensativo.

De repente, um pensamento flutuou na cabeça de Ronie. Ela olhou ao redor da mesa para se certificar de que
ninguém estava prestes a falar e hesitantemente levantou sua mão.

"O que foi, Ronie?"

"B-Bem... Hum, quando o Instrutor Deu... Er, Deusolbert-sama fica sem flechas em sua «aljava»4, ele as
reabastece com artes sagradas, certo?" – ela perguntou.

O arqueiro assentiu. – "É isso mesmo. Embora seu nível de prioridade seja bastante inferior ao das flechas de
aço adequadas."

"Bem, da mesma forma... É possível que a adaga fosse na verdade uma arma temporária... Feita de elementos
de aço...?"

Sua ideia deixou o salão do conselho num pesado silêncio por alguns momentos. O impasse foi quebrado
não pela voz de Kirito, mas por suas ações. Ele estendeu a mão direita em direção à mesa e estreitou os olhos.
3 luzes prateadas apareceram abaixo de sua palma. Ele havia produzido 3 elementos de aço sem sequer recitar
o comando inicial, muito menos o comando completo das artes sagradas. Os pontos se fundiram em um e
brilharam conforme mudavam de forma. Uma ponta afiada apareceu, seguida por uma curva, enquanto a
borda oposta era longa e estreita. O objeto caiu na mesa com um tinido. Era a adaga de gume único preferida
dos goblins, que Ronie tinha visto muitas vezes antes. A lâmina grossa e o cabo rudemente esculpido
pareciam muito convincentes – mas havia algumas diferenças que permitiam distinguí-la da coisa real. Em
primeiro lugar, a superfície da arma era muito lisa. E o cabo geralmente era envolto por um couro tingido,
mas aqui a coisa toda era de metal. Ficaria claro para quem olhava que se tratava de um substituto criado com
elementos de aço.

Kirito então pegou a adaga que havia criado e disse. – "Estou bastante familiarizado com adagas de goblins, e
nem mesmo eu posso fazer melhor do que isso. Mas a arma do crime real foi cuidadosamente fabricada o
suficiente para que o próprio Oroi não notasse a princípio... O que significaria que um clérigo muito
avançado gastou muito tempo para gerá-la."

Um leve toque metálico se sobrepôs ao final de sua declaração quando Kirito bateu na adaga com um leve
golpe de Encarnação. Isso foi o suficiente para extinguir a vida da arma temporária, e ela se estilhaçou como
vidro, desintegrando-se em pequenos grãos de luz que desapareceram logo depois. Logo não havia mais nada.

"…Se for esse o caso, este é um problema extremamente alarmante." – afirmou a Comandante Fanatio, com
seus cabelos ondulados caindo para o lado, enquanto ela inclinava a cabeça, pensativa. – "Todos os usuários

4
Saco que os arqueiros normalmente usam para guardar suas flechas.

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avançados de artes sagradas em Centoria estão com o exército... Ou sob este conselho. O que significaria que
temos um traidor entre nós... Ou..."

'Ou é um mago das trevas do Território Negro.' – todos os outros pensaram por conta própria nesta
possibilidade.

Se um mago das trevas tivesse se infiltrado em Centoria e matado um civil inocente por algum propósito
nefasto, essa seria uma situação muitas vezes pior do que se Oroi, o goblin, simplesmente tivesse matado
Yazen devido à um súbito ataque de raiva. Entre o turismo e o comércio, as relações dos dois reinos estavam
apenas começando a derreter; qualquer divergência agora poderia provocar outra guerra.

"A menos que... Essa fosse a ideia toda...?" – Kirito murmurou para si mesmo. Então, ele balançou a sua
cabeça. – "Tudo isso ainda está dentro das especulações. À medida que investigamos mais, precisamos
minimizar qualquer efeito que esse incidente possa ter sobre a população. Não podemos impedir que
rumores se espalhem, mas devemos evitar que incidentes secundários ou terciários ocorram como resultado
disso... Que tal o exército, Asuna?"

Ela acenou com a cabeça e relatou. – "Eu pedi a Liena... Er, a General Serlut, que renunciasse a quaisquer
medidas adicionais de manutenção da paz além das usuais. Ela aceitou e concordou... Mas a antiga facção
nobre parece desejar uma postura mais rígida: prender todos os viajantes do Território Negro. Eu enviei um
comando por escrito do Conselho de Unificação, de modo que isso deverá mantê-los sob controle por
enquanto…"

Ela fez uma pausa e respirou fundo. Os olhos cor de avelã de Asuna brilharam intensamente enquanto ela
continuava.

"Mas se o mesmo tipo de incidente ocorrer novamente, essa ordem vai levar à uma opressiva inquietação e
desconfiança em relação ao conselho. E se eu estivesse secretamente mexendo os pauzinhos, causando esse
incidente, certamente teria outra coisa planejada."

"Sim, isso é o que eu faria também." – Kirito suspirou. Ele bateu palmas para encerrar o assunto. – "Portanto,
como fazemos parte do conselho, responderemos das quatro maneiras a seguir. Primeiro, anunciaremos
publicamente que o culpado ainda não foi identificado. Segundo, forneceremos à família de Yazen uma
explicação completa e adequada da situação. Terceiro, vamos mobilizar o máximo de mão de obra para
investigar. Quarto... Discutiremos isso com os líderes do reino das trevas o mais rápido possível. Alguém tem
algo a acrescentar?"

A mão de Fanatio disparou para o ar. Com alguma hesitação, ela apontou. – "Quando você diz 'em breve'...
A próxima reunião agendada com o lado negro é daqui a quase um mês. Você vai acelerar o cronograma?"

"Não." – disse Kirito, balançando a cabeça. – "Eu mesmo irei para Obsidia para me encontrar com Iskahn."

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Quando a reunião foi encerrada, Solus já estava afundando no horizonte ocidental. Ronie correu para os
estábulos dos dragões no lado oeste da catedral. Quando ela chegou lá, ela acenou para Tiese, que estava
cuidando de Tsukigake para ela.

"Desculpa; acabei me atrasando!"

O jovem dragão amarelo-claro ergueu a cabeça da grama ao som de sua voz, vibrou e veio correndo em
direção à ela. Ela abraçou o corpo fofo e acariciou o queixo dele, depois falou novamente com sua amiga.

"Obrigada, Tiese. Eu vou te pagar de volta… Eventualmente... Com favores..."

"Você está começando a parecer cada vez mais com Kirito-senpai." – a garota ruiva repreendeu com um aceno
de cabeça. – "Então... Como foi a reunião?" – ela perguntou, desta vez com uma expressão séria.

Elas se sentaram lado a lado em um banco ao longo da parede do estábulo, e Ronie resumiu o conteúdo da
reunião de emergência. Tiese ouviu até o fim, com um olhar sério. Por fim, ela murmurou. – "Isso parece...
Muito ruim..."

"Sim... No mínimo, os cavaleiros parecem pensar que não é possível que um humano normal daqui possa ter
matado a vítima..."

"Mesmo que haja aqueles que podem burlar as leis e encontrar as brechas para se beneficiar…"

Na verdade, a Rebelião dos Quatro Impérios aconteceu quando os imperadores remanescentes emitiram
decretos declarando o recém-formado Conselho de Unificação Humana como uma força traidora da antiga
Igreja Axioma. A força vinculante da lei – mesmo depois de distorcida – era tão forte que para pacificar a
revolta dos guardas imperiais dos impérios foi preciso derrubar os imperadores de Norlangarth, Wesdarath,
Eastavarieth e Sothercrois, a fim de anular os decretos. Ronie e Tiese invadiram o Palácio Imperial de
Centoria do Norte e acabaram cruzando espadas diretamente com o Imperador Cruiga Norlangarth VI. Elas
haviam experimentado seu ego inchado e vicioso pessoalmente.

As duas garotas esfregaram os braços simultaneamente, sem perceber. Tiese então mudou de assunto e disse.
– "Bem, se for esse o caso, suponho que terei que cuidar de Tsukigake um pouco mais."

"Hã? Por quê?" – Ronie perguntou, parecendo confusa.

Sua amiga sorriu para ela e respondeu. – "Quero dizer, você vai, não é? Para Obsidia. Com Kirito-senpai."

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Capítulo 5

Havia mais de 3 mil kilors de distância no total entre a capital humana de Centoria e a capital do Território
Negro, Obsidia. Essa era uma viagem de 3 dias para um dragão. Um mês em uma carruagem puxada por
cavalos – e pelo menos o dobro a pé. Na Guerra do Underworld, o general e imperador das trevas, Vector, foi
capaz de mover seu exército de 50 mil homens de Obsidia para o Portão Oriental em apenas 5 dias por meio
de elixires secretos e artes. Mas exames futuros mostraram um efeito colateral horrível: que o valor máximo
de vida de qualquer ser humano, demi-humano ou animal que tivesse tomado o medicamento estava
diminuindo de forma constante, mas contínua. Os humanos usaram cavalos e carroças para viajar e não
receberam os medicamentos, mas os demi-humanos, que tiveram que marchar, ainda estavam perdendo vida
até hoje. Os mestres das artes sagradas na catedral estavam ocupados tentando encontrar um antídoto.

Quando o Espadachim Representante Kirito decidiu fazer uma visita repentina à Obsidia para lidar com a
emergência do assassinato de civis, Ronie presumiu que ele iria viajar em um dragão, é claro. Os elementos de
vento que ele usou para voar da Catedral Central para o escritório da guarda em Centoria do sul usavam
muitos recursos sagrados, que seriam escassos no árido Território Negro. Ele não seria capaz de usá-los com
qualquer confiabilidade pelo longo tempo que levaria para chegar até Obsidia. Mas Kirito não tinha seu
próprio dragão para voar, então ele precisaria voar com alguém como Deusolbert ou Renly. Dois cavaleiros
significavam muito mais fadiga para um dragão, então ela pensou que seria presunçoso de sua parte pedir
para ir junto – até que Tiese tentou acender uma fagulha de esperança dentro dela.

Ronie foi dos estábulos dos dragões para o 30º andar da catedral, onde ficavam os aposentos privados de
Kirito, para ajudá-lo a se preparar para a jornada. Asuna a encontrou lá com um olhar de preocupação e
resignação e disse a ela que Kirito tinha ido para o arsenal. Então ela correu mais uma longa distância,
compartilhando a preocupação da sub-representante, de volta aos fundos da catedral – o lugar onde a prisão
havia estado – e em seguida, por um caminho largo em declive, até uma grande porta que estava
momentaneamente aberta.

Além da entrada da porta, havia um grande espaço de pelo menos 30 mels. Ao longo de cada uma das
paredes laterais, cinco ou seis jovens ferreiros e artesãos retiniam repetidamente com seus martelos. No
centro do espaço, iluminado por uma miríade de lâmpadas de elementos de luz, estava um enorme objeto
feito pelo homem. Parecia muito com a Unidade Um, o dragão metálico que explodiu no outro dia. Ao lado
da dragoncraft, Kirito e o Mestre do Arsenal, Sadore, estavam trocando opiniões vigorosamente – na forma
de uma discussão aos gritos.

"Quantas vezes eu tenho que te dizer, garoto?! Ainda está sendo ajustado! Ainda não está pronto para voar
com potência total, e você sabe disso!"

"Vai ficar tudo bem, senhor. Eu estarei voando horizontalmente desta vez, não verticalmente. Contanto que
troquemos as asas primárias para pegar o vento, vai funcionar perfeitamente!"

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"O que você quer dizer com 'vai funcionar'?! Eu ouvi falar sobre o que você está planejando – você está indo
para a capital do reino das trevas! Nem mesmo fizemos um vôo de teste bem-sucedido, e você acha que vai
conseguir fazer uma viagem de ida e volta de 6 mil kilors?!"

"Sem problemas! Os recipientes de elementos de calor desta são duas vezes mais resistentes, e você derramou
seu sangue, suor e lágrimas nesta nave, Mestre. Essa coisa poderia voar 10 mil kilors sem problemas. Não é
verdade?"

"B-Bem, eu certamente não a equipei para cair em pedaços imediatamente... Mas esse não é o ponto! Não
vou deixar você me convencer a fazer isso de novo, porque sempre que o faço, sofro mais do que se uma
mosca do pântano maior me picasse na bunda!"

Ronie sentiu o suor escorrendo de seu rosto enquanto eles discutiam. Kirito estava planejando viajar para
Obsidia não por meio de um dragão ou carruagem, mas usando a Dragoncraft Unidade Dois. O incidente
do outro dia se repetiu em sua mente. Ela balançou a cabeça e correu até eles.

"N-Não, Kirito-senpai, você não pode fazer isso! O Mestre do Arsenal, Sadore, está certo! E se acontecer um
acidente?!"

"Ei, Ronie. Mantenha distância, ou você vai sujar suas roupas com óleo." – Kirito avisou, puxando-a pela
manga até que ela estivesse 50 cens mais longe da dragoncraft. Ele começou sorrindo, mas logo ficou sério. –
"Olha, se algo acontecer, vou voar sozinho. Todos os cavaleiros estão ocupados, então não posso pedir-lhes
que me levem para Obsidia, e vai demorar um mês a cavalo... Tenho a sensação de que a situação está mais
tensa do que imaginamos. Quero contar ao Território Negro sobre essa situação o mais rápido possível, antes
que seja tarde demais…"

"...Mas há outro perigo envolvido, Kirito-senpai." – afirmou Ronie, aproximando-se para defender sua causa.
– "Quem quer que matou Yazen e atribuiu o crime a Oroi, o goblin, não está sujeito às leis do Código de
Tabus. Então, eles podem estar tentando te pegar enquanto você está longe de Centoria e vulnerável... Na
verdade, todo esse crime pode ter sido uma armadilha para fazê-lo ir para Obsidia!"

"Ah... Entendo. Isso é possível…" – Kirito murmurou. Ele fez uma pausa por alguns momentos, pensando
vigorosamente.

Sadore quebrou o silêncio com um suspiro pesado. – "Bem... Parece que meu sonho se tornou realidade,
com a capacidade de trocar técnicas e conhecimento com os ferreiros das terras escuras. Eu não gostaria que
as coisas voltassem a ser como eram antes."

"Sério...? Um mestre como você ainda tem coisas a aprender?" – Kirito perguntou. Sadore apertou sua barba
grisalha e fez uma cara azeda.

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"Humph! Claro. Quando o exército guardião trouxe de volta espadas e armaduras dos cavaleiros das trevas,
você pode acreditar que elas eram notáveis. Pra começar, o tipo de aço que eles usam é completamente
diferente do que eu conheço… Eu não posso morrer sem aprender sobre o minério e os métodos que eles
usam."

Ele golpeou o exterior de prata brilhante da dragoncraft com suas grandes mãos cobertas de cicatrizes. –
"Kiri, meu garoto, pare quando o pressurômetro de elementos de calor atingir 80%. Ah, e é melhor você
estabelecer uma unidade de medição de pressão já."

"Ei, boa ideia! Para pressão… Vejamos... Que tal um kilom de peso por um cen quadrado de área…"

"A-Agora, espere um momento!" – Ronie disse, interrompendo os dois homens. – "A segurança da
dragoncraft é uma coisa, mas isso não muda o risco de que alguém possa estar atrás de você! Como sua
pajem, não posso recomendar que você vá para o Território Negro... Sozinho…"

Mas quando ela olhou para a cabeça da dragoncraft durante sua fala, Ronie percebeu algo e parou. A cadeira
de metal – um cockpit, como ele era chamado – atrás dos painéis de vidro parecia muito mais comprida do
que a da Unidade Um. Na verdade, em um exame mais atento, parecia que havia outro assento preso na
parte de trás da cabine.

"……Hum, Kirito-senpai?"

"...O-O quê?"

"A Unidade Dois acomoda duas pessoas?"

"S... Sim. A Unidade Um explodiu porque não conseguia fornecer os elementos de gelo de forma rápida o
suficiente, mas sabíamos que isso provavelmente aconteceria... Esta foi projetada para que duas pessoas
possam gerar elementos de gelo, mas como eu disse antes, uma pessoa deve ter energia de resfriamento
suficiente para voar paralelo ao solo, então…"

Ele falava cada vez mais rápido enquanto prosseguia, sentindo que ela estava prestes a dizer algo – então ela
tossiu para interrompê-lo.

"Tudo bem, então. Para neutralizar a ameaça de assassinato, você precisará da presença de um guarda-costas."

"G-Guarda-costas?"

"Mas, como você mesmo mencionou, os cavaleiros de elite estão ocupados com seus próprios deveres, então,
como uma aprendiz de cavaleiro, terei que cumprir esta missão eu mesma!"

"O quêêêêê?"

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Sword Art Online Volume 19 - Moon Cradle

"E eu posso ajudar a monitorar o status dos recipientes de elementos de calor!"

"O quêêêêê?!"

Kirito cambaleou para trás, mas antes que ele pudesse argumentar, Ronie colocou o punho direito no peito e
a mão esquerda no punho da espada em uma saudação formal de cavaleiro, anunciando sua aceitação da
missão que ele não tinha realmente dado à ela. Enquanto Kirito lutava para processar o que acabara de
acontecer, Sadore deu uma gargalhada.

"Você perdeu esta rodada, Kiri, meu garoto. Mas eu tenho que dizer, esta jovem realmente se tornou muito
forte, não é verdade?"

Ronie teve sucesso em ganhar a permissão de Kirito para acompanhá-lo através do vasto deserto sozinho, mas
essa foi realmente a parte fácil. Esta seria sua primeira vez visitando Obsidia, capital do Território Negro, e ela
era a única companheira de viagem de Kirito – ambas essas coisas eram novidades para ela. Ela não tinha
ideia de como alguém se preparava para tal coisa, então ela voltou para seu quarto no 22º andar e pegou todas
as suas roupas e pequenos itens para que pudesse decidir o que levar, quando… Uma batida veio em sua
porta.

"Entre!" – gritou Ronie, pensando que provavelmente era Tiese, quando ela correu para responder. –
"Graças a Deus, eu estava prestes a pedir a você para me ajudar a embalar..."

Mas quando ela abriu a porta, ela não viu sua parceira ruiva, mas sim uma bela espadachim com cabelos
castanhos e roupas de cavaleiro branco perolado.

"Ah…! Asuna-sama!" – ela gaguejou, começando a fazer uma saudação formal, quando Asuna estendeu a
mão para impedí-la com um sorriso.

"Lamento interferir quando você está ocupada, Ronie. Eu esperava que você pudesse vir comigo..."

"S... Sim, irei com prazer a qualquer lugar!" – Ronie respondeu. Ela saiu para o corredor e seguiu Asuna.

Se esta fosse a Academia Imperial de Espadachins de Centoria do Norte, e se fosse um veterano chamando-a
assim, ela poderia facilmente ter se imaginado sendo conduzida para atrás do prédio da escola para um grupo
de alunos que diriam algo como: 'Você não está ficando um pouco cheia de si mesma ultimamente?'. Mas esta
era a Catedral Central, então é claro que isso não iria acontecer. Mas Ronie não podia negar que sentia um
pouco de culpa e constrangimento perto de Asuna. Não porque ela era a espadachim sub-representante do
Conselho de Unificação Humana, ou porque ela era uma pessoa do mundo real que veio de fora do
Underworld. Era por uma razão muito pessoal que ela não poderia revelar para ninguém…

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Sword Art Online Volume 19 - Moon Cradle

Faz um ano e três meses que Asuna havia chegado ao Underworld, no meio da Guerra do Underworld.
Ronie e Tiese estavam servindo como iscas na força do exército humano na época, sendo perseguidas pelo
Exército das Trevas do Imperador Vector com tal ferocidade que poderiam realmente ter morrido antes de
cumprir sua missão como iscas. Ronie lutou contra um cavaleiro das trevas que havia se infiltrado para a
retaguarda de sua formação, mas ela foi rapidamente desarmada e esperava a morte naquele momento –
quando Asuna chegou.

Enquanto ela descia do céu, brilhando pura e resplandecente contra a escuridão do céu noturno, Ronie não
viu nada além da Deusa da Criação, Stacia, como retratada na arte que ela cresceu vendo ao redor da casa da
família Arabel e nas paredes da academia. Asuna ergueu um florete de arco-íris cintilante, criou um buraco
gigante no chão e mandou o cavaleiro das trevas, que estava tentando matar Ronie, para um fosso mortal. Na
presença de tal poder divino, Ronie acreditava de todo o coração que Asuna era Stacia. Só que mais tarde foi
revelado a ela que Asuna era, como Kirito – e o cavaleiro das trevas que Ronie havia lutado, como também o
próprio Imperador Vector – uma pessoa do mundo real, mas apesar de passado um ano desde o término da
guerra, a gratidão e reverência de Ronie por Asuna não havia diminuído nem um pouco. E ainda assim,
quando as duas ficavam cara a cara, Ronie sentia uma pontada desagradável no peito.

Isso porque Asuna era a cara-metade de Kirito, como todos agora reconheciam. Ela tinha vindo para o
Underwold primeiramente para salvar Kirito do estado de inconsciência mental que o afligia. Da maneira
como eles conversavam sobre nada em particular sob a luz do sol que entrava pela janela, a maneira como
passavam o sal na mesa, até a maneira como ela repreendia o representante espadachim por seu
comportamento imprudente; Ronie podia sentir o profundo amor que conectava os dois.

Ela nunca tinha pensado em ficar entre eles. Um dia... Provavelmente não muito depois de agora, eles iriam
se casar, e Ronie estava pronta para desejar-lhes felicidades de todo o coração. Mas…... Mas. Não importa
quanto tempo passasse, a dor latejante no fundo de seu peito não diminuía. E ela sentiu que nunca iria…

Enquanto elas caminhavam pelo corredor e desciam as escadas, Ronie estava completamente perdida em seus
pensamentos, então ela quase colidiu com Asuna quando outra garota parou na frente dela. Acidente
evitado, Ronie ergueu os olhos e percebeu que elas estavam em frente ao arsenal no 3º andar do prédio.

Foi dito que, todos, exceto o 1º senador, o cavaleiro comandante e a própria pontífice, estavam proibidos de
abrir as portas duplas do arsenal, que estavam esculpidas com as imagens de Solus e Terraria. Agora qualquer
um poderia entrar, contanto que assinasse seu nome no livro de registro ao lado da porta – mas você ainda
não tinha permissão para retirar nada. O livro, que estava cheio de papel de cânhamo recém-desenvolvido
feito de fibras de cânhamo brancas como a neve, em vez do pergaminho de pele de carneiro mais tradicional,
vinha com uma caneta de cobre que poderia ser recarregada com tinta, outra nova invenção. Asuna escreveu
seu nome e abriu caminho através das portas da câmara. Era noite e não havia estudiosos presentes, então as
duas foram recebidas apenas pela escuridão e pelo silêncio.

Asuna colocou as mãos no tubo de vidro ao lado da entrada e entoou. – "System Call, Generate Luminous
Element."

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Dez elementos de luz apareceram dentro do tubo. Então ela levantou apenas um dedo e fez um elemento de
vento desta vez. A pressão que ele criou empurrou os dez elementos através do comprimento do tubo, que se
estendia ao longo da parede, permitindo que sua luz atingisse a totalidade do arsenal.

Como o papel de cânhamo e a caneta de cobre, este tubo de elemento de luz foi algo que Kirito e Asuna
desenvolveram; as lâmpadas do arsenal funcionavam da mesma maneira. Ao contrário das tochas e
lamparinas de óleo, não havia risco de incêndio, e a luz era forte e estável. Mas, mesmo bloqueados dentro do
tubo de vidro, os elementos de luz reagiam à presença do vidro pouco a pouco até desaparecerem, exigindo
que alguém os regarregasse regularmente, gerando mais elementos sagrados. Eles poderiam substituir todas
as luzes da Catedral Central desta forma, visto que ela estava cheia de pessoas com domínio das artes
sagradas, mas ainda não era possível para esse tipo de item ser comercializado no mercado centoriano.

A luz de dez elementos fez com que o arsenal brilhasse de maneira gloriosa. Não foi a primeira vez de Ronie
lá dentro, mas ela ficou sem fôlego do mesmo jeito. A sala era do tamanho do grande salão de treinamento da
academia, com conjuntos de armaduras de todas as cores dispostas ao longo do chão e uma proliferação de
espadas, lanças e machados de todos os tamanhos pendurados nas paredes até o teto alto. Algumas dessas
armas eram do tipo Objetos Divinos que foram concedidas aos Cavaleiros da Integridade seniores, mas
Ronie ainda era uma aprendiz, e ela não conseguia notar a diferença.

"…É realmente uma visão de tirar o fôlego." – Ronie suspirou.

"É sim." – concordou Asuna. – "E muitos deles já foram distribuídos para o exército de Liena – er, da
General Serlut. Kirito-kun quer vender a maioria deles e usar os fundos para ajudar as cidades remotas do
reino e do Território Negro, mas Deusolbert e os outros têm sido bastante expressivos em sua oposição
quanto à isso."

"S-Sim, é uma situação muito complicada..." – Ronie respondeu; esse era o tipo de resposta que você dava
quando não sabia mais o que dizer.

Ela tinha visto crianças de goblins das montanhas famintos com seus próprios olhos. Ela sabia a importância
de enviar ajuda para seu reino. De fato, as palavras de Kirito sussurraram para ela mesmo agora: 'Nesse ritmo,
haverá outra guerra.'

Se isso realmente acontecesse... Ela queria que sua família em Centoria do Norte, seus colegas, os cavaleiros e
artífices da catedral, e claro, Tiese ficassem seguros. As armas e armaduras aqui seriam ferramentas muito
valiosas para garantir sua segurança caso isto acontecesse.

Então, Asuna deu um tapinha no ombro de Ronie e mostrou-lhe um sorriso malicioso para quebrar o clima.
– "Tendo dito isso, Aprendiz de Cavaleiro da Integridade Ronie Arabel... Qual é o seu nível de autoridade de
equipamento agora?"

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"O-O quê?! Por que você me perguntaria algo como...?"

"Vá em frente… Você pode me dizer."

A segunda guerreira mais exaltada no reino humano estava esperando uma resposta, então ela não podia
recusar. Mas, na verdade, Ronie percebeu que ela mesma não verificava isto há algum tempo. E se tivesse
diminuído?

Ela desenhou o símbolo no ar com a mão esquerda, depois tocou com seu pulso direito. A janela Stacia
gentilmente brilhante que apareceu exibia a identidade essencial daquela pessoa – Kirito chamava aquilo de
'informações pessoais' – de forma personalizada, de modo que você nunca olharia para a de outra pessoa, a
não ser uma emergência. Asuna se afastou educadamente, e Ronie leu o número ao lado do rótulo escrito em
linguagem sagrada: «AUTORIDADE DE CONTROLE DE OBJETOS».

"Hum... É 39."

"Uau! Isso é quase tanto quanto os cavaleiros já numerados!" – Asuna exclamou com um sorriso. – "Nesse
caso…" – ela murmurou, indo para a parede nos fundos. Ela inspecionou a grande variedade de espadas de
uma mão, escolheu quatro e trouxe duas em cada mão. Ela as colocou em uma mesa de trabalho próxima e
disse.

"Todas estas são de prioridade 38 ou 39. Escolha qualquer uma que você quiser."

Ronie ficou chocada. Uma espada com um nível de prioridade de 39 estava pelo menos no nível de uma
lâmina nomeada famosa – e possivelmente até mesmo o de uma arma divina. Todas as quatro armas na mesa
tinham detalhes finamente trabalhados e lâminas polidas que brilhavam como espelhos de cores diferentes.
As Quatro Lâminas Giratórias da Comandante Fanatio ainda estavam usando espadas padrão, no entanto –
uma mera aprendiz como ela não poderia pegar uma arma tão boa quanto essas.

"N-Não, Asuna-sama... Eu não posso!" – Ronie protestou, acenando com as mãos e balançando a cabeça.

Asuna deu uma risadinha. – "Esse é o mesmo tipo de gesto que Kirito-kun faria."

"Uh… Is-Isso é...?"

"Ha-ha-ha! Não seja tímida, Ronie. Já tenho a permissão da Comandante Fanatio e lembre-se, você é uma
heroína que participou da guerra até o fim."

"...Eu... Eu não..." – ela gaguejou, olhando para o chão. – "Tudo que eu fiz... Foi receber a proteção de você e
Renly-sama, e de todos os espadachins – além dos soldados do mundo real que vieram para ajudar... Eu
estive completamente impotente, mesmo quando aquele cavaleiro negro estava fazendo coisas tão terríveis
com Kirito-senpai."

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"Isso não é verdade. Simplesmente não é."

Asuna caminhou até ela e gentilmente colocou os braços ao redor de Ronie. A garota enrijeceu em choque,
mas o doce e calmante cheiro de jasmim e o calor de Asuna eventualmente acalmaram seus nervos.

"Foram você, Tiese e Alice que garantiram que Kirito-kun estivesse protegido o tempo todo. Para mim, vocês
três são as verdadeiras heroínas… Nunca poderei agradecer o suficiente…"

Para sua surpresa, Ronie percebeu que lágrimas brotavam de seus olhos. Ela então murmurou. – "O que...
Alice-sama está fazendo... Agora...?"

Após uma pausa, Asuna respondeu nitidamente. – "Ela está viva e bem no mundo real. Afinal, ela é a
esperança que conecta nossos dois mundos. Tenho certeza ... Tenho certeza de que vamos vê-la novamente..."

Seus braços se apertaram brevemente com mais força, e então, ela soltou Ronie. Asuna sorriu para ela e falou
de novo. – "Venha, escolha sua espada. Não é apenas sua arma, lembre-se; você vai usá-la para proteger
Kirito-kun."

Nesse ponto, não havia como recusar.

Ronie olhou para as espadas que Asuna havia escolhido. Todas eram espadas longas de uma mão, mas o cabo
e a lâmina de cada uma eram finos. Estava claro que ela as escolheu não apenas pelo número de prioridade,
mas por como elas se encaixavam no estilo de Ronie. Pelo que Kirito descobriu recentemente, por meio de
muita experimentação meticulosa, qualquer peça de equipamento de combate com um nível de prioridade
acima de 30 tinha não apenas o valor de vida listado em sua janela Stacia, mas também um poder que ele
chamava de «bônus oculto». Quando equipado, isto poderia conferir um ataque elemental de algum tipo,
ou oferecer resistência à veneno, fadiga ou maldições. Alguns deles tornava mais fácil gerar elementos de um
certo tipo, aumentar a regeneração da vida em circunstâncias especiais, conferir maior visibilidade no escuro
ou até mesmo efeitos estranhos, como tornar os cães mais amigáveis.

Além disso, as armas divinas que a falecida Administradora deu aos seus Cavaleiros da Integridade revelaram
ter bônus elementais aprimorados e outros parâmetros ocultos, que fortaleciam as artes sagradas para
corresponder às forças particulares de cada cavaleiro. Em outras palavras, ela sabia mais sobre as armas e os
cavaleiros do que pode ser visto apenas com uma janela Stacia. As mentes mais importantes da Catedral
Central estavam trabalhando duro para produzir uma arte sagrada que identificasse essas métricas ocultas,
mas Kirito suspeitava que isto seria um processo longo e difícil.

As quatro espadas que Ronie poderia escolher deviam ter habilidades ocultas próprias, mas era impossível
dizer pela aparência delas. Ela poderia ser capaz de sentir a diferença se tentasse gerar todos os elementos um
por um enquanto segurava cada espada por vez, ou correr ao redor do prédio para testar sua velocidade de
recuperação de vida, mas não havia tempo para tudo isso já que ela estava partindo logo cedo na manhã

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seguinte. Ela ficou ali, atormentada pela indecisão, sem nenhuma ideia do que usar como base para sua
escolha, quando uma voz fraca soou em sua memória.

"...Essa espada costumava ser tão pesada para mim que eu mal conseguia pegá-la, muito menos balançá-la."

Essas palavras foram ditas por Eugeo, o Discípulo de Elite, quando Tiese era sua pajem na academia,
enquanto ele trabalhava no polimento e no cuidado da bela espada longa branca tingida com o mais leve
toque de azul. Kirito sorria ao seu lado, polindo sua própria espada negra, enquanto xícaras cheias de chá
cofil fumegante e tortas de mel primorosamente perfumadas estavam na mesa próxima. Era uma lembrança
afetuosa de cerca de 2 anos atrás.

Na época, Tiese e Ronie eram novas estagiárias no primeiro ano na Academia de Espadachins de Centoria
do Norte Imperial. Suas pontuações altas no teste de admissão as tornaram as principais candidatas para
quando chegasse a hora de escolher as pajens estagiárias, uma honra que era dada para apenas 12 em cada
classe de 120 alunos. Mas as espadas de madeira de carvalho-platina com nível de prioridade 15 eram difíceis
de manusear, então elas perguntaram aos alunos veteranos a quem serviam, como usar espadas pesadas.

Apesar de sua aparência delicada, a Espada Rosa Azul era muito mais pesada do que uma espada longa de aço
de duas mãos, disse Eugeo. Ele a levantou facilmente e continuou. – "De acordo com a teoria, se o nível de
autoridade do equipamento de um espadachim for maior do que a prioridade da arma, ela não será mais
pesada para usar. Mas não acho que a relação entre uma espada e seu portador se resume a simples números.
Digamos que você use uma arma com um nível de prioridade muito menor do que sua autoridade, mas a
trata mal e cuida dela com menos frequência do que deveria. Quando realmente importar, essa arma não vai
fazer o que seu dono quer. A razão pela qual eu não pude usar esta espada no passado não foi porque eu não
tinha autoridade suficiente – foi porque eu não tinha o carinho por ela que deveria ter... Eu acho."

"Carinho… Pela espada…" – repetiram Ronie e Tiese, refletindo sobre a frase desconhecida.

Ambas pertenciam a famílias nobres de sexta classe, o nível mais baixo, mas seus pais não pouparam despesas
para conseguir um bom treinamento com espada, sonhando com a possibilidade de que elas um dia seriam
promovidas a nobres de quarta classe, o que significaria que não seriam sujeitas à autoridade judicial abusiva
de escalões superiores. Se elas treinassem tanto que suas espadas de madeira quebrassem, seus pais pagariam
com prazer pelas substituições, em vez de repreendê-las por desperdiçar suprimentos. Para elas, as espadas
eram como ferramentas para realizar sonhos – não os seus próprios, mas os sonhos de seus pais – bem como
algemas que as confinavam a futuros que elas não necessariamente escolheram. Portanto, a ideia de mostrar
afeto à uma espada não fazia sentido no início.

Mas Eugeo apenas sorriu para as meninas e explicou. – "Não são apenas espadas. Roupas, sapatos, talheres...
Até mesmo elementos individuais gerados pelas artes sagradas. Todas essas coisas irão responder com
gentileza aos seus sentimentos se você abrir seu coração para elas. E as pessoas também vão, aposto."

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Kirito estava ouvindo a conversa sem comentários. Ele fez uma pausa no polimento da Lâmina do Céu
Noturno – na época, ele ainda a chamava de 'A Preta' – e sorriu um pouco, antes de falar.

"É isso mesmo. Eugeo e eu abrimos nossos corações um para o outro também. Eu posso comer a fatia de
torta dele no jantar, e ele vai apenas rir e me deixar fugir com a torta."

"Sinto muito, Kirito, mas no momento em que você fizer isso, nosso vínculo será quebrado para sempre."

Ronie e Tiese riram disso. Mas o que Eugeo disse já estava começando a fazer sentido. Daquele dia em diante,
com a permissão do gerente do dormitório, as duas meninas sempre levavam suas espadas de treinamento de
carvalho-platina da sala de treinamento para seus quartos, para que pudessem polir as espadas e curar os
danos que haviam feito no treino. Não demorou muito para que elas estivessem girando as espadas de
madeira como se fossem extensões de seus próprios braços. Se ao menos aqueles dias rigorosos, mas
agradáveis ​na academia, pudessem durar para sempre...

Mas apenas um mês e meio depois, Eugeo e Kirito usaram a Espada Rosa Azul e a Lâmina do Céu Noturno
para atacar outros Discípulos de Elite a fim de salvar Tiese e Ronie, e eles foram levados para a Igreja Axioma
como punição. Eles escaparam das celas subterrâneas e lançaram um ataque contra a própria Igreja,
derrotando os todo-poderosos Cavaleiros da Integridade um após o outro, culminando na impensável queda
da Administradora, a governante absoluta da humanidade. E durante essa luta, Eugeo havia morrido. A
lembrança de Tiese chorando e desejando poder ver Eugeo novamente quase trouxe lágrimas aos olhos de
Ronie novamente. Ela lutou contra as lágrimas e estendeu a mão direita.

'Um espadachim não escolhe sua espada. A espada escolhe seu mestre. Não importa a espada, contanto que eu
lhe dê afeto e abra meu coração, ela responderá na mesma moeda.'

Ela sentiu como se sua mão estivesse sendo puxada em direção à terceira espada da esquerda – uma com uma
alça de couro preto do mesmo tom do cabelo de Kirito, mas com uma guarda prateada e um pomo que
brilhava suavemente. A pegada nova era um pouco áspera ao toque, mas ela poderia dizer que se ela se
importasse com ela, logo seria muito confortável para ela. Ronie inspirou, expirou e ergueu a espada. Era
bem pesada. O peso foi transmitido por todo o braço, expressando a sensação de existência da espada, desde
seus dedos até o pulso, cotovelo e ombro, até o centro do seu corpo.

Mas não foi uma sensação desagradável. Muito parecido com a espada de treinamento de carvalho-platina e a
espada padrão com a qual ela lutou em duas guerras, Ronie podia sentir que esta também se abriria para ela,
assim que ela demonstrasse algum amor. Ela a apertou ao redor do cabo e apoiou a parte plana da lâmina em
sua mão esquerda, apreciando seu porte, quando uma voz disse gentilmente.

"É essa, então?"

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Ronie se virou para Asuna e assentiu com firmeza. A sub-representante colocou as outras três de volta em
suas bainhas, colocou-as de volta nas prateleiras na parede e deu a volta na mesa para ficar à esquerda de
Ronie.

"Você deveria dar um nome à espada, Ronie. Depois de decidir isto, vá para o escritório de gerenciamento e
peça que registrem sua decisão no registro de arsenal da cavalaria."

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"Eu... Eu irei."

Ela se sentiu confusa sobre isso no início – ela nunca teve uma espada que precisasse de um nome – mas fazia
sentido que nomear uma espada fosse obrigação do proprietário. No passado, a Administradora
aparentemente criou, destruiu, distribuiu e confiscou Objetos Divinos por puro capricho. Mas agora todas
as armas, armaduras e acessórios em toda a Catedral Central foram contabilizados no papel.

Asuna sorriu para ela e olhou para o lado esquerdo de Ronie. – "O que você irá fazer com essa outra? Se você
for devolvê-la ao exército, posso enviá-la para o escritório de comando com o correio de amanhã."

"Uh... Ah, b-boa ideia…" – ela murmurou, pega um pouco de surpresa pela pergunta.

A espada padrão que ela sempre mantinha ao seu lado era de fato propriedade de Ronie – na janela de Stacia,
seu nome aparecia perto da letra sagrada 'P', de possuidor – mas de acordo com as regras do Exército
Guardião, era apenas por empréstimo. Se ela substituísse a arma e não precisasse mais da antiga, ela teria que
devolver a antiga ao exército. O cabo e a bainha de couro eram de um marrom escuro simples e não havia
enfeites ou decorações de qualquer tipo. Era uma arma prática, mas de boa fabricação, com um nível de
prioridade de 25, feita de croisteel do sul. Não era barato de produzir, e Ronie cuidou bem dela, então ainda
havia muita vida nela.

E verdade seja dita, ela deveria ter recebido uma espada de cavaleiro padrão um ano atrás, quando ela foi feita
uma aprendiz de Cavaleiro da Integridade, mas porque as coisas estavam tão agitadas na época, isto foi
adiado. Ronie e Tiese estavam tão apegadas às suas espadas que simplesmente as continuavam usando. Mas
agora que a sub-representante espadachim estava fornecendo-lhe uma nova espada, o momento de seguir em
frente havia chegado. Ainda assim…

"……"

Ronie ficou ali, com a espada nova em uma mão, e o punho da espada velha na outra, congelada no lugar.
Asuna acenou com a cabeça em compreensão.

"É natural sentir-se assim. Tornei as coisas muito difíceis para Kirito-kun porque não queria desistir de
minha primeira espada."

"Hã…?" – Ronie disse, assustada. Ela olhou fixamente. – "Você também, Asuna-sama...? Isso foi… No
mundo real?"

"Bem, não exatamente. Há muito tempo, Kirito-kun e eu lutamos em um lugar que não era o mundo real e
nem o Underworld. Na verdade… Eu não sabia nada sobre aquele lugar, e Kirito-kun me ensinou como
lutar."

"Pensar que alguém com seus poderes divinos já foi uma novata..."

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"Bem, claro que fui! Eu sou apenas um ser humano normal como você, Ronie... Apenas uma garota
normal." – Asuna anunciou com uma risada. E ainda assim, suas feições eram tão belas que estavam além de
um ser humano, e Ronie teve que apertar os olhos por causa do seu brilho.

"Hum... O que aconteceu com a sua primeira espada, Asuna-sama?"

Asuna olhou para a palma de sua mão, como se relembrando sobre a sensação daquela lâmina. Sua cabeça se
ergueu novamente. – "Por recomendação de Kirito-kun, nós a derretemos em lingotes – barras de metal – e
as usamos como material para uma nova espada. Ele disse que dessa forma, a alma da espada seria transferida
para a outra... Ele pode ser muito sentimental quando se trata de espadas, você sabe."

"Hee-hee... Isso soa muito com ele."

As meninas riram juntas por alguns momentos. No instante seguinte, Asuna disse. – "Mas suponho que isso
não te ajuda agora... Não podemos derreter uma espada pertencente ao exército, e você já tem uma nova
espada..."

"... Na verdade, depois do que você disse, eu me decidi. Vou devolver esta espada às forças principais do
Império Humano."

Ela colocou a nova espada sobre a mesa e desfez os fechos do cinto da espada. Ela tirou a espada padrão, com
a bainha e tudo, e a entregou para Asuna.

"Você tem certeza…? Se eu perguntar a Liena, tenho certeza de que ela providenciará para que você fique com
esta também…"

"Sim, eu tenho certeza. Estive achando que essa espada é muito leve para mim ultimamente… Tenho certeza
que a próxima pessoa vai precisar dela mais do que eu."

"Tudo bem." – disse Asuna. – "Então vou devolver isso ao comando do exército com o mensageiro amanhã."

Ela habilmente pegou a espada e pendurou-a do lado direito de seu próprio cinto. Uma espada comum do
exército pode ser leve, mas combinada com a divina Espada de Luz Radiante em seu quadril esquerdo,
parecia pesar muito. Ainda assim, Asuna continuou ao redor da mesa de trabalho, leve como uma pena,
pegou uma bainha de couro preto com uma fina capa de prata e a entregou para Ronie.

Ronie a pegou e abaixou a cabeça, enfiou a nova espada dentro e prendeu-a no cinto. Ela se endireitou,
sentindo a nova sensação de peso ao redor de seu corpo. Asuna a olhou diretamente nos olhos dela e disse. –
"Ronie... Cuide bem de Kirito-kun."

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"Oh... Sim, minha senhora!" – ela respondeu, um pouco surpresa, mas ela conseguiu realizar a saudação de
um cavaleiro. – "A aprendiz de Cavaleiro da Integridade Ronie Arabel irá colocar sua vida em risco para
proteger o representante espadachim!"

Asuna retornou a saudação e sorriu para ela. – "Bem, não desperdice sua vida lá fora. Eu quero que vocês
dois voltem vivos, mas se Kirito-kun mandar você correr, eu quero que você o ouça."

Ronie sentiu uma centelha de emoção por trás daquelas palavras. Ela baixou as mãos e perguntou. – "Hum...
Tem certeza de que não quer acompanhá-lo...?"

"Só um pouco." – brincou Asuna, mas Ronie tinha certeza de que era uma resposta honesta. A
sub-representante apenas balançou a cabeça, e continuou. – "Kirito-kun e eu não podemos ficar longe de
Centoria neste momento. Existem tantas decisões para o conselho tomar, e o descontentamento dos
ex-nobres conosco não vai desaparecer tão cedo…"

"Eu sinto muito..." – Ronie respondeu por reflexo. Asuna piscou surpresa, então se recuperou com um
sorriso e balançou a cabeça.

"Não, Ronie. Você não precisa se desculpar por nada. De modo algum."

"Mas... Eu também sou de origem nobre e, até me tornar pajem de Kirito-senpai, nunca tive dúvidas ou
receios sobre o sistema de nobreza..."

"Ainda assim, seu pai e o pai de Tiese trabalharam em empregos importantes para a guarnição da cidade e
para o governo, não é? Você não era como os nobres superiores que forçavam os servos a trabalhos forçados
em suas propriedades particulares para que você pudesse viver no colo do luxo."

"……"

Ronie silenciosamente curvou-se novamente, desta vez como um pedido de desculpas.

No topo de uma colina não muito longe da Catedral Central ficava o antigo Palácio Imperial, onde o
governo imperial e o quartel da guarda imperial ainda funcionavam como antes, e seu pai continuava a
trabalhar como capitão de pelotão. Mas os Cavaleiros Imperiais, que estavam acima da guarda imperial,
foram completamente removidos, e muitas das funções da guarda foram transferidas para o Exército
Guardião Humano, sob a liderança da General Sortiliena Serlut. No futuro, as guarnições pertencentes aos
quatro impérios seriam fundidas no exército guardião para que o próprio exército pudesse ser reduzido à um
tamanho mínimo. Isso porque a ameaça do Território Negro havia passado, é claro – mas Ronie não sabia se
seu pai ainda teria o mesmo emprego quando isso viesse a acontecer.

Ela sabia que se seu pai trabalhador fosse realocado com a unidade ou transferido para uma posição
gerencial, ele continuaria a desempenhar suas funções. Ele não era como os nobres mais elevados que

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perderam suas enormes rendas não ganhas e tiveram que aceitar os primeiros empregos que desprezavam e
negligenciavam... Ela pensou.

Mas dentro dele, e talvez dentro de Ronie também, ainda precisava haver aquela compreensão, o
autoconceito de que 'sou um nobre, não um plebeu'. E enquanto esse senso herdado de consciência de classe
existisse, Ronie e os outros Arabels não eram fundamentalmente diferentes dos nobres superiores.

"Asuna-sama, talvez…" – ela começou a dizer. Mas ela não conseguiu prosseguir.

Ela não podia sugerir: 'talvez devêssemos eliminar não apenas as classes da nobreza, mas o próprio conceito de
nobreza.' Não quando ela estava em posição de se tornar uma Cavaleira da Integridade, a classe mais exaltada
de todas, graças à sua vantagem privilegiada. E ela não conseguia se separar dessa ambição. Receber o número
de um Cavaleiro da Integridade, armadura de prata, um dragão para voar e a chance de servir Kirito pelo
resto de sua vida... Era o único sonho que Ronie tinha. Era o que a movia.

Asuna inclinou a cabeça, encorajando-a a continuar. Ronie balançou a cabeça e murmurou. – "Eu só ia
dizer... Seria possível permitir que Tiese escolhesse sua própria espada também...? Ela também está usando
uma espada do exército esse tempo todo..."

"Essa era a minha intenção. Recebi permissão para conceder uma espada para Tiese também."

"Fico feliz em ouvir isso. Obrigada."

Esperançosamente, isso ajudaria Tiese a recomeçar do zero e começar um novo capítulo... Embora Ronie
soubesse que não cabia a ela decidir isso. Elas deixaram o arsenal quando os elementos de luz começaram a
desaparecer e os sinos das 7 pm tocaram. Asuna anotou o horário de saída no livro e desceu as grandes
escadas para o escritório de assuntos gerais no 2º andar. Deixada sozinha novamente, Ronie olhou para o céu
noturno, com seu último tom de roxo, através das enormes janelas ao lado da entrada do arsenal. Ela soltou a
respiração que estava prendendo.

Na Academia de Espadachins, onde ela passou apenas meio ano, havia uma regra que o jantar deveria ser
comido às 7 pm, e se você se atrasasse sem uma desculpa válida, você não recebia nada. Essa regra não existia
na Catedral Central, é claro, então você podia comer uma refeição quente no refeitório do 10º andar a
qualquer hora antes das 9 pm. Depois disso, a cozinha ao lado tinha pratos pré-preparados menores que
podiam ser comidos a qualquer hora. Ela deveria estar com fome depois de todas as corridas que deu ao
longo do dia, mas por algum motivo, ela não estava com vontade de comer, então Ronie voltou para seu
quarto. Normalmente, ela subia na plataforma automática até o 22º andar, mas com o peso da nova espada
ao seu lado, ela optou por subir as escadas e se permitir se acostumar com isso.

Quase 2 anos atrás, depois que Kirito e Eugeo escaparam da prisão, eles supostamente correram escada acima
para o 50º andar, lutando contra os Cavaleiros da Integridade ao longo do caminho. Não havia nenhum
vestígio dessa batalha agora, mas ela tentou adotar a mentalidade deles enquanto corria pelos degraus até

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chegar ao 22º andar, respirando pesadamente. Seu quarto ficava algumas portas abaixo, no lado direito do
corredor. Por serem aprendizes, ela dividia o quarto com Tiese, mas sua parceira não estava lá. Presumindo
que ela tivesse ido jantar, Ronie cruzou a sala de estar para seu próprio quarto. Coincidentemente, o layout –
uma sala de estar com dois quartos individuais – era exatamente o mesmo que a suíte de Kirito e Eugeo no
dormitório dos Discípulos de Elite, embora os quartos aqui fossem muito maiores. O espaço dela em casa
antes dela se mudar para a academia tinha apenas a metade deste tamanho, então Ronie se sentia bastante
desconfortável tendo tanto espaço. Mas, à medida que adquiria móveis de seu gosto e mudava o design, ela
estava descobrindo que se sentia cada vez mais em casa.

Na parede direita, enquanto ela passava para o quarto, havia uma grande janela voltada para Centoria do
Leste. A cama e a cômoda ficavam à esquerda, com uma mesinha à direita. Na parede em frente à janela,
havia um par de ganchos de montagem como os do arsenal. Ela se aproximou, removeu sua nova espada e a
colocou lá. A bainha de couro preto combinava perfeitamente com o interior, principalmente com os móveis
de cor marrom-escuro.

"Vou pensar com calma e lhe darei um nome que combine com você." – ela assegurou à espada, em seguida,
removeu sua armadura cinza e a colocou no suporte à direita do suporte da espada. Agora que ela se sentia
muito mais leve, ela queria apenas cair na cama. Mas a jornada de amanhã precisava de preparativos, e ela
tinha que fazer as malas.

Kirito disse que ela precisava manter seus pertences dentro de uma mala padrão de tamanho médio, o que
significava que ela tinha que tomar algumas decisões difíceis. Como uma garota que completaria 17 anos
ainda este ano, ela queria levar o máximo de roupas possíveis, mas esta não era apenas uma viagem turística;
ela estava indo como guarda-costas de Kirito, então itens médicos e reagentes de artes sagradas eram
prioridade. Ronie precisaria examinar o que ela tinha em mãos para saber o que deveria estocar na mala. Mas
primeiro…

"……Eu preciso tomar um banho…" – ela murmurou, saindo do quarto e trazendo apenas uma muda de
roupa íntima.

Os quartos residenciais da catedral se estendiam do 20º ao 30º andar, com um banheiro compartilhado para
cada andar. Normalmente, Ronie e Tiese usavam o do andar, mas de vez em quando... Especialmente
sabendo que ela estava prestes a deixar a catedral por um longo tempo, havia um lugar diferente que ela
gostava de ir. Ronie continuou todo o caminho pelo corredor até o poço vertical no ponto mais ao norte do
piso. Ela definiu o botão de medição para o ponto mais alto, o 90º andar, depois apertou o botão de metal.
Isso liberou o número necessário de elementos de vento para encher a vasilha na parte inferior do disco
levitando e logo enviou Ronie para cima. Meio minuto depois, a subida da plataforma começou a desacelerar
até que parou, e ela abriu a porta de metal novamente.

Havia outro pequeno corredor à frente que terminava em uma divisão para ambos os lados. Haviam cortinas
brancas penduradas no teto pouco antes da divisão, e misteriosamente, nas cortinas foi pintado com uma
forma muito estilizada, o símbolo de banho. As cortinas penduradas foram ideia de Kirito, e ele pintou o

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símbolo nelas, mas ninguém sabia exatamente qual era o propósito disso. Apenas a Sub-representante
Espadachim Asuna pareceu reconhecer aquele símbolo, e ela manteve o silêncio com nada mais do que um
sorriso abafado e ligeiramente irritado.

Cada vez que você caminhava pelo corredor, você se aproximava da cortina perplexo, levantava ela, tirando-a
do caminho – a parte inferior tinha uma longa fenda vertical no meio – e então chegava à divisão. Depois
disso, havia mais cortinas penduradas para os caminhos esquerdo e direito. A cortina azul-escura do lado
direito dizia 《HOMENS》, escrito em branco. A cortina vermelha à esquerda dizia 《MULHERES》. Essas
exibições pelo menos faziam certo tipo de sentido, além do por que precisavam ser escritas em cortinas
penduradas. Então Ronie passou pela cortina marcada para mulheres. O corredor virava à direita, em direção
à uma sala espaçosa.

A sala, que apresentava grandes prateleiras contínuas como paredes divisórias, não estava vazia. Três mulheres
do departamento de artesãos estavam vestidas com roupas de uma só peça no estilo oriental, secando os
cabelos molhados enquanto se sentavam em cadeiras de vime ao longo da parede. Elas começaram a se
levantar quando viram Ronie, mas ela estendeu as mãos para mantê-las no lugar. As mulheres pararam, meio
levantadas, depois se sentaram e curvaram a cabeça em saudação.

"Boa noite, Cavaleira-sama."

"Como você está minha senhora?"

"Boa noite." – Ronie respondeu educadamente, depois correu para o outro lado da sala. Uma vez que ela
estava atrás das prateleiras, ela soltou um suspiro de alívio. Ela tinha sido elevada ao nível de aprendiz de
cavaleiro recentemente, mas ainda achava muito estranho receber tratamento diferente de mulheres mais
velhas. Mesmo que ela se tornasse uma cavaleira de pleno direito, Ronie tinha certeza de que os modos
ousados ​e orgulhosos que a Comandante Fanatio usava nunca seriam naturais para ela.

Ela rapidamente tirou as roupas e as colocou em uma cesta na prateleira, junto com a muda de roupas
íntimas limpas que trouxera, em seguida, pegou uma toalha branca e pressionou-a na sua frente, enquanto
abria a porta de vidro dos fundos. Ela foi recebida com uma onda repentina de vapor espesso e branco, então
ela rapidamente entrou e fechou a porta atrás dela. O vapor se dissipou e ela foi saudada por uma visão que
sempre a deixava sem fôlego.

O enorme espaço ocupava cerca de metade do 90º andar da Catedral Central. O piso e os pilares eram feitos
de mármore branco puro, e as paredes sul e leste eram um enorme painel de vidro, criando uma visão
noturna completa de Centoria. Isso por si só a tornava ainda mais luxuosa do que a antiga sala do trono
imperial, mas ainda mais impressionante era a incrível quantidade de água aquecida que cobria o chão, a qual
caía por uma série de degraus.

A câmara de banho tinha 40 mels de norte a sul, e 25 de leste a oeste. As passagens que cercavam a banheira
tinham 2 mels de largura e cerca de 1 de profundidade, dando um cálculo aproximado de 874 mels cúbicos.

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Convertido em medida líquida, isso significava uma medida astronômica de 874.000 lirs. E, de fato, do outro
lado da parede oeste – o lado além da cortina masculina – havia um banho simetricamente organizado do
mesmo tamanho, então a quantidade total de água era o dobro desse volume. Este era o Grande Banho ou,
como Kirito gostava de dizer: «A instalação mais luxuosa da Catedral Central».

Antes da Guerra do Underwolrd, apenas 30 Cavaleiros da Integridade tinham permissão para usar este
espaço, e não havia parede divisória, então frequentemente acontecia de apenas uma pessoa ter o dobro de
água para si só. Mas com a reestruturação da instituição, o banho foi aberto à todos os outros docentes, e
dividido entre homens e mulheres.

Havia cerca de 20 pessoas usando agora, mas como a banheira era do tamanho de um pequeno lago, não
havia nenhuma sensação de aglomeração. Apesar de tudo, Ronie caminhou até o canto sudeste vazio e
mergulhou o dedo do pé na água cristalina. A princípio parecia quente, mas sua pele se ajustou conforme ela
descia as fileiras até se sentar no degrau final.

Com a água quente até o pescoço, ela sentiu uma sensação esmagadora de alívio que simplesmente não
existia nos banheiros de tamanho prático nos andares residenciais. Isso entorpeceu sua cabeça e a fez gemer. –
"Unhhhh..."

"Grandes banhos são simplesmente os melhores."

"Eles realmente são…" – ela concordou, então olhou ao redor em pânico. De alguma forma, havia alguém
sentada à sua esquerda. Quando o vapor que passava pela superfície se desfez e revelou o rosto da pessoa ali,
Ronie recuou novamente.

Ela tinha um cabelo castanho claro curto o suficiente para que as pontas molhadas grudassem na nuca, e
grandes olhos azul-claros. Ela estava sentada um degrau acima de Ronie e era tão pequena e delicada como
uma criança. Na verdade, ela parecia uma menina de cerca de 10 anos, mas por dentro, ela estava longe de ser
inocente.

"B-Boa noite, Fizel-sama." – ela disse, tão estranhamente quanto as mulheres no vestiário cumprimentaram
Ronie. A garota sacudiu a superfície da água com os dedos.

"Não me venha com essa coisa de 'sama'. Você é mais velha do que eu, Ronie."

"M-Mas... Você é uma cavaleira de pleno direito, Fizel-sama..."

"Grrr. Por que eu sinto que já fizemos isso centenas de vezes?" – a garota se apoiou, ergueu as pernas na
altura da superfície e chutou os pés para respingar. Seu nome era Fizel Synthesis Twenty-Nine.

Durante a Guerra do Underwolrd, ela tinha um status especial de 'aprendiz numerada', mas depois disso, ela
recebeu uma promoção adequada e agora era uma Cavaleira da Integridade de pleno direito. Ela tinha uma

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armadura de prata adequada para sua pequena estatura e um dragão chamado Himawari, ou Girassol, que
ela usava principalmente para reconhecimento em todo o reino humano.

"Eu não tenho visto você ultimamente, Fizel-sama. Você estava em outra missão?" – Ronie perguntou.

Fizel afundou até que sua boca estivesse no nível da água. – "Sim. Os remanescentes dos Cavaleiros Imperiais
do oeste estão agindo de forma estranha, então fui ver como eles estão. Na verdade, Linel ainda está lá… Eu
acabei de voltar para entregar um relatório e reabastecer os suprimentos."

"Entendo... Aldares Wesdarath V foi o único imperador cujo corpo nunca foi encontrado… Não é verdade?
Você acha que existe uma relação aí?"

"Humm, a arte de Liberação de Memória de Fanatio-onee-sama queimou completamente o Palácio Imperial


ocidental, você viu. O imperador já era um homem velho naquele momento, então não posso imaginar que
ele tenha sobrevivido. Mas certamente há pessoas que gostariam de fazer você pensar que ele está vivo."

Ela poderia estar soprando bolhas na superfície da água enquanto falava, mas certamente não era o tipo de
coisa que uma criança de 10 anos falava. Fizel, no entanto, não era necessariamente tão velha quanto parecia.
Ela nasceu na catedral e, junto com sua parceira, Linel Synthesis Twenty-Eight, não haviam se submetido ao
Ritual de Síntese, mas por algum motivo, quando a Administradora decidiu fazer as meninas aprendizes de
Cavaleiras da Integridade, ela realizou uma arte de congelamento de vida – congelando-as quando crianças,
ao invés de congelar no pico de seu crescimento e valor de vida, como era de costume. Em outras palavras, as
meninas manteriam sua aparência atual sem envelhecer – pelo menos visualmente falando.

O pensamento fez Ronie querer abraçar as meninas com força para confortá-las, mas ela nunca o fizera de
verdade. Elas não eram apenas cavaleiros seniores para ela, mas foi dito que elas tinham números oficiais
como aprendizes porque haviam matado os cavaleiros anteriores com esses números. Além disso, elas
supostamente tentaram matar Kirito e Eugeo com facas revestidas com veneno paralisante, e durante a
guerra, elas também massacraram toda a tropa invasora de goblins que haviam se infiltrado na retaguarda do
Exército Guardião Humano, por si próprias. Em outras palavras, as histórias eram inúmeras e todas
horríveis. Não havia nada de assustador em falar com elas, por si só, mas eram claramente pessoas que você
queria ter certeza de que estava mostrando o devido respeito.

"Mais precisamente, Ronie..."

Ronie voltou sua atenção meio que sem jeito com o choque de ouvir seu nome.

"S-Sim?"

"Eu ouvi a notícia." – Fizel sorriu, flutuando na superfície da banheira. – "Você irá acompanhar Kirito em
sua viagem para Obsidia?"

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"Er, bem, eu..."

A viagem para o Território Negro era algo ultrassecreto, mas Ronie logo percebeu que provavelmente seria
inútil manter segredos da melhor agente de inteligência da catedral.

"…Sim, eu vou." – ela admitiu.

"Se você pudesse me trazer uma lembrancinha de lá, eu apreciaria uma seleção de ervas arcanas da guilda dos
magos das trevas."

"...Eu... Eu tentarei…"

"Ah-ha-ha-ha! Estou apenas brincando." – disse Fizel, abrindo um sorriso apropriado para sua idade.

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Ela sentou-se ereta no degrau mais alto e olhou para a paisagem através da janela de vidro. Ronie seguiu seu
exemplo e viu, no fundo da escuridão, as luzes de Centoria do Leste tremeluzindo como estrelas. Muitos de
seus edifícios foram construídos no estilo tradicional de madeira e, em vez de lamparinas à óleo, usavam
lanternas feitas de papel ou tecido fino. Elas fizeram a luz da cidade parecer um pouco mais quente, de
alguma forma.

Muito além, a 750 kilors de distância, ficava o Portão Leste. Obsidia ficava mais de 2 mil kilors além disso. Ela
tinha aprendido na academia que o nome da cidade vinha da palavra sagrada «obsidiana», mas o professor
não sabia o que significava.

Ela se pegou fazendo perguntas um tanto tolas como: 'Será que vou entender quando ver por mim mesma?
Estou realmente indo para lá, para o outro lado do mundo?'

"Quando você for lá…" –Fizel murmurou. Ronie olhou de volta para a jovem cavaleira sênior.

"Sim…?"

"Humm... Bem, a guerra acabou agora, então espero que eu esteja pensando demais nisso, mas..."

Não havia ninguém por perto, e o forte fluxo de água fumegante do bico na parede teria abafado qualquer
som que pudesse ter passado, mas Fizel se inclinou para Ronie em um sussurro conspiratório de qualquer
maneira.

"Mantenha seus olhos abertos em Obsidia. Sempre observe tudo ao redor."

"Eu... Eu irei…"

"O Pacto de Paz dos Cinco Povos está ativo agora, mas as terras escuras ainda são regidas pela Lei do Poder."
– alertou Fizel. – "O Comandante Iskahn é o homem mais poderoso do momento e está na facção pela paz;
Sheyta-sama também está lá, para ajudá-lo a manter as coisas sob controle na superfície... Mas mesmo assim,
existem lacunas e brechas nas muitas camadas do Código de Tabus e da Lei Humana Básica que nos
prendem, e que pessoas sem escrúpulos podem interpretar em seu próprio benefício. Lá, a lei é muito mais
indefinida, então pode haver ainda mais gente perversa espreitando aonde quer que você vá."

Ronie sentiu como se a temperatura da água tivesse caído. Ela estremeceu involuntariamente e Fizel estendeu
a mão para dar um tapinha em sua mão. – "Desculpe, desculpe, não tive a intenção de assustar você."

"N-Não, estou bem. Vou levar o seu conselho a sério."

"Mm-hmm. Quando você voltar, nossas missões provavelmente terão acabado, então podemos convidar
Tiese para uma pequena festa de encerramento para comemorar."

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"Sim, isso seria maravilhoso!" – Ronie concordou.

Fizel sorriu e se levantou. – "Nesse caso, estou saindo agora." – disse ela com um aceno. Quando os pés da
jovem cavaleira tocaram a superfície de mármore da passarela, Ronie curvou-se para ela mais uma vez.

Fizel era a 29ª cavaleira. A 30ª era Alice, a Cavaleira Osmanthus, mas ela havia partido para o mundo real no
final da Guerra do Underwolrd. O 31º era Eldrie, que usava o Frostscale Whip, e que morrera protegendo
Alice. Seus números estavam agora aposentados, então, se Ronie e Tiese fossem promovidas a cavaleiras
oficiais, uma provavelmente seria a 32ª e a outra a 33ª. Ela ansiava por esse dia, sem sombra de dúvida. Mas
isto também a encheu de uma apreensão dolorosa, um sinal claro de que ela ainda não estava pronta para
isso. A habilidade de Ronie com a espada e as artes sagradas, junto com sua força mental, ainda estava longe
das habilidades dos cavaleiros superiores como Renly, ou mesmo Fizel e Linel, as crianças.

Um passo de cada vez. Lento ou não, a única maneira de avançar era um passo de cada vez. Contanto que ela
não desistisse de seu autodesenvolvimento e tentasse seriamente aprender, ela alcançaria o lugar que queria
estar.

"……Ronie Synthesis Thirty-Three……"

Ela olhou em volta rapidamente para se certificar de que ninguém estava lá. Ninguém a tinha ouvido
experimentar o nome, mas ela deixou sua cabeça afundar na água por puro constrangimento. Ela soprou
bolhas em um fluxo constante até que finalmente ficou sem fôlego.

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Capítulo 6

O amanhecer do dia 19 de fevereiro finalmente chegou.

Nos enormes estábulos de dragões ao longo da parede oeste do terreno da catedral, Ronie esfregou o pescoço
de seu pequeno dragão, Tsukigake. A criatura juvenil vibrou levemente e estreitou os olhos por prazer – ou
talvez fosse um pouco de sonolência. O dragão não era o único ali; a ruiva, Tiese, assentiu enquanto ela se
encostava na cerca de prata. Ronie queria ir para a cama cedo na noite passada, mas não conseguia dormir,
então ela e Tiese passaram a maior parte da noite conversando na sala de estar.

Embora elas estivessem juntas há quase 2 anos, era de se perguntar como elas nunca ficavam sem conversas
para se envolverem completamente. Provavelmente era assim que funcionava com as melhores amigas. Kirito
e Eugeo levaram anos para deixar Rulid no distante norte, viajar para Centoria, entrar na academia e avançar
para o status de Discípulo de Elite, mas eles sempre gostaram de conversar, debater táticas de luta ou
simplesmente ocupar o mesmo espaço em silêncio era algo bem acolhedor.

Tiese estava passando por um momento decisivo em sua vida. Se ela aceitasse a proposta de Renly – ou
mesmo se ela não aceitasse – Ronie esperava que elas sempre pudessem ser melhores amigas.

"…Bem, Tsukigake, eu tenho que ir. Faça o que Tiese disser e seja um bom dragão."

Ronie se endireitou e o pequeno dragão ergueu a cabeça para chilrear. – "Kyuru!"

Quando Tiese finalmente acordou novamente, elas foram para o arsenal atrás da catedral, onde a
Dragoncraft Unidade Dois já tinha sido puxada para a superfície de pedra do lado de fora. Não estava de pé
como a Unidade Um estava; em vez disso, ela repousava com três pernas no chão, como estivera dentro do
hangar. Na verdade, os pés da nave não tinham garras como os pés de um dragão; eles terminavam com
rodas.

Kirito, Asuna, Fanatio e o Mestre do Arsenal, Sadore, estavam perto da cabeça da dragoncraft, junto com
uma outra mulher, que parecia ter a mesma idade que Ronie. Essa mulher usava um uniforme de trabalho
do arsenal, realizando artes sagradas na dragoncraft. Ronie percebeu que esta era a geração de elementos de
vento para que aquilo pudesse voar. Ela se inclinou para sua parceira, que estava carregando sua mala para
ela.

"Ei, Tiese, você acha que aquela é...?"

"Oh, sim. É ela. Ela era a operadora da plataforma de levitação antes de ser automatizada."

"Ohhh... Ela é muito linda."

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"Eu concordo, mas pelo que ouvi, ela está viva há pelo menos tanto tempo quanto Deusolbert."

"Uau, eu não sabia..."

Kirito percebeu que as duas estavam conversando à uma curta distância e acenou com a mão. – "Ei, Ronie,
Tiese, venham aqui."

"Ah… Estamos chegando! Bom dia!" "Bom dia!" – Elas falaram em conjunto, aproximando-se.

O céu ainda estava escuro acima, mas agora que estava ao ar livre, a Unidade Dois era ainda maior do que
Ronie havia imaginado. Não só havia dois assentos de piloto, mas as asas eram tão longas quanto as de um
dragão real, e as aberturas exauridas na parte de trás eram enormes. A coisa toda era cerca de 40% maior do
que a Unidade Um, com cerca de 7 mels de comprimento. Agora que ela estava olhando para aquilo, de
repente ela se sentiu nervosa sobre montá-lo, mas acompanhar Kirito tinha sido sua ideia em primeiro lugar,
então não adiantava ficar com medo. Ela se forçou a parar de pensar sobre o fim ardente da Unidade Um e
cumprimentou Kirito e Asuna com uma reverência.

"Eu sinto muito. Eu sei que estou um pouco atrasada."

"Não, ainda faltam dez minutos para as cinco."

Já fazia um bom tempo desde o soar do sino das 4:30 am, mas o anúncio de Kirito sobre o horário foi
bastante confiante. Ele olhou para a nova espada em seu quadril esquerdo e sorriu.

"Obrigado por concordar em ser minha guarda-costas, Ronie."

"Eu... Eu vou!" – ela gaguejou. Ela ia dizer 'protegê-lo com minha própria vida', mas a lembrança do que
Asuna disse na noite passada a parou. Em vez disso, ela murmurou. – "Eu fa- farei o meu melhor!"

Isto soou um pouco infantil, mas fez Kirito e Asuna sorrirem calorosamente. Depois de saudar Fanatio e
Sadore também, ela estava pronta para pegar sua bagagem com Tiese. A mala estava bem pesada, estando tão
cheia de suprimentos. Mas onde ela iria colocá-la na dragoncraft...?

"Kirito, terminei de carregar os elementos de vento." – disse uma voz atrás deles.

Ronie e Tiese se viraram para ver a ex-operadora da plataforma de levitação. Elas ficaram impressionadas com
sua beleza delicada; seria mais adequado para ela um vestido de igreja ou algum vestido de mulher nobre, do
que a roupa de trabalho resistente do arsenal.

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"Obrigado, Airy. Você ajudou muito." – disse Kirito. A garota chamada Airy curvou-se sem qualquer
mudança na expressão, então recuou para ficar ao lado de Sadore. Só então, o toque suave dos sinos das 5 am
tocou na catedral. Kirito prontamente bateu palmas.

"Bem, então acho que devemos ir! Eu vou levar essa mala, Ronie." – disse ele, estendendo as mãos. Ela lhe
entregou e então, ele abriu uma pequena porta na lateral da dragoncraft e a enfiou em um espaço que parecia
projetado para carga. Feito isso, Ronie voltou-se para dar um grande abraço em Tiese. Elas não precisaram
compartilhar nenhuma palavra; Ronie pensou: 'estarei de volta antes que você perceba'; e Tiese retribuiu o
sentimento pensando: 'volte para casa em segurança.'

Ronie afrouxou o aperto do abraço, olhou nos olhos de Tiese uma última vez e se dirigiu para a frente da
dragoncraft, onde Kirito estava esperando por ela. Ele a conduziu até a escada que ia do chão até a cabeça da
espaçonave. Ela timidamente escalou até chegar à pequena sala elíptica com assentos localizados na frente e
atrás. A parte de trás do banco da frente estava inclinada para baixo, então Ronie tirou sua espada e se
acomodou no banco de trás. Era um couro simples esticado sobre uma estrutura de metal, mas o material era
valioso, um couro de chifre vermelho grande e flexível, então parecia mais confortável do que ela esperava.
Kirito subiu a escada logo em seguida, retornou o assento à sua posição correta e ocupou seu lugar. Sadore
puxou a escada e Kirito girou uma maçaneta que abaixou o teto de vidro sobre o pequeno espaço com um
estrondo. De repente, o coração de Ronie estava disparado. Ela engoliu em seco.

Tsukigake ainda era muito jovem para voar, mas ela havia montado várias vezes no dragão de Renly, Kazenui,
no dragão de Fizel, Himawari, e no dragão de Linel, Hinageshi. A primeira e a segunda vez foram
assustadoras, mas logo o prazer de cortar através do vento superou seu medo. Ela não achava que tinha algum
medo particular em voar, mas agora que ela estava em um dragão artificial em grande parte feito de metal e
estava montada dentro dele em vez de montar nas costas, ela se sentiu mais perplexa do que animada.
Estranhamente, não havia asas destinadas a bater no ar, então como eles iriam voltar ao solo depois de
decolar?

A visão da Unidade Um explodindo passou por sua mente novamente, fazendo-a estremecer. – "Ah... Hum,
Kirito-senpai?"

"O que foi?" – ele perguntou casualmente do banco da frente.

Ronie se inclinou para frente, mais perto de sua cabeça, e perguntou. – "Esse dragão voa liberando elementos
de calor assim como o último?"

"Isso mesmo."

"Se começarmos a voar e fizermos um rugido incrível de manhã cedo, não vamos assustar todos na capital...?"

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"Suponho que sim." – Kirito murmurou, e então explicou. – "Mas o problema é que não temos uma pista
longa o suficiente aqui, então não podemos decolar horizontalmente. Infelizmente, teremos que trapacear
um pouco para a decolagem e pouso da Unidade Dois."

Ela realmente não entendeu todas as palavras que ele acabara de dizer. – "Tra-Trapacear…? Isso significa…?"

Kirito apenas sorriu para ela sem responder. Ele agarrou duas hastes de metal presas à parte frontal de seu
assento. As mãos dele começaram a brilhar fracamente e logo Ronie prendeu a respiração.

O que aconteceu a seguir não foi obra dos elementos. A própria força de vontade de Kirito estava brilhando
ao interagir com as leis do mundo. Essa era a luz da Encarnação. O dragão de aço estremeceu como uma coisa
viva. Imediatamente depois, parecia que o corpo estava sendo levantado. Ronie olhou assustada pela
cobertura de vidro. Gradualmente, a visão de paralelepípedos cinzentos e de Tiese e Asuna acenando
descontroladamente ficou mais distante. Kirito estava levantando esta enorme dragoncraft exclusivamente
com sua força de vontade e imaginação.

'Parece que isto é uma trapaça' – Ronie pensou enquanto acenava de volta. À medida que sua velocidade de
ascensão aumentava, as pessoas no solo ficavam cada vez menores, até que foram escondidas pelo branco da
névoa da manhã. O Jardim de Rosas ao norte do arsenal e as paredes brancas da catedral surgiram
imediatamente em sua vista. Ela abaixou sua mão e olhou para frente para ver nada além do céu azul escuro
antes do nascer do sol. A beleza do brilho vermelho fraco no horizonte a deixou sem fôlego.

Assim que alcançaram a altura do Grande Banho no 90º andar da catedral, a dragoncraft parou de subir e
começou a avançar paralelamente ao solo. Esta foi uma aceleração suave, como deslizar sobre a água –
diferente do bater poderoso das asas de um dragão real. Não havia nenhum som, além do uivo baixo do
vento ao redor deles. A menos que alguém estivesse olhando para o céu da manhã, ninguém em Centoria
notaria sua presença. Com essa preocupação resolvida, outra tomou conta de sua mente.

"Kirito-senpai... Você tem certeza que pode controlar algo tão grande apenas com a Encarnação?" – Ronie
perguntou, inclinando-se para o banco da frente. Ela ficou imediatamente preocupada que ela pudesse estar
distraindo-o e quebrando seu foco, mas sua voz voltou tão casualmente como sempre.

"Por enquanto, sim. Mas eu sinto que vai ser difícil voar assim para fora do reino humano..."

"Oh, eu entendo…"

A força de vontade insondável do representante espadachim a deixou atordoada.

Como aprendiz de Cavaleiro da Integridade, Ronie passou pelo treinamento de Encarnação, mas ela
encontrou dificuldades para avançar para o próximo estágio, seja com exercícios mais práticos como o
Isolamento do Pólo (ficar em apenas um pé sobre um pilar estreito) ou Conexão de Elementos (preservando
os elementos no meio do ar com a força de vontade) ou mesmo com simples Meditação Sentada, onde tudo

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o que ela precisava fazer era sentar no chão e se concentrar. Por outro lado, até mesmo cavaleiros experientes
como Fanatio e Deusolbert consideravam os «Braços Encarnados», que moviam um objeto do tamanho de
uma espada curta, e a «Espada Encarnada», que cortava com lâminas invisíveis, como suas técnicas
definitivas. Portanto, o poder de Encarnação de Kirito estava completamente fora de questão se mantivesse
uma enorme dragoncraft de metal para dois passageiros no ar.

"...E mesmo com sua Encarnação avassaladora, você não pode cruzar a Muralha no Fim do Mundo..." –
Ronie murmurou.

Kirito fez uma careta. – "Pode ser que me esteja apenas faltando um pouco de treino... Mas não adianta
cruzar se eu for o único que possa fazer isso. Precisamos tornar possível voar em grandes dragoncrafts ou
plataformas de levitação como a da catedral em intervalos regulares, para que o povo do Território Negro, ou
melhor, o povo de todo o Underworld possa ir e vir livremente."

Como as ideias de Kirito costumavam ser, o conceito de anexar uma plataforma de levitação à paredes cuja
altura nem mesmo podiam ser medidas era algo espantoso. Ronie olhou distraidamente pela janela. A
dragoncraft tinha viajado para fora de Centoria do Leste, então apenas campos e prados cobertos com a neve
recente eram visíveis abaixo. Era uma visão fria de se contemplar, mas em março, o plantio do trigo começaria
e uma nova vegetação cobriria a terra.

Ronie imaginou aquela visão por alguns momentos, então perguntou. – "Hum, Kirito-senpai... Nós ainda
precisamos tentar cruzar a Parede do Fim do Mundo? Por que não apenas trazemos as pessoas do Território
Negro para cá? Há abundância de terras não cultivadas, com espaço para mais campos e aldeias…"

Kirito não tinha uma resposta imediata para ela neste momento. Eventualmente, ele murmurou. – "Se pelo
menos todos no reino humano pensassem da mesma maneira que você, Ronie..."

"Huh…? O que você quer dizer com isso...?"

"Bem, uh... Vamos ver. Atualmente, estimamos que a população total do reino seja de 82 mil. Os últimos
relatórios sugerem que o Território Negro tem quase o mesmo número de pessoas. O reino humano tem
cerca de um milhão, setecentos e setenta mil kilors quadrados, mais da metade dos quais são florestas e
planícies não desenvolvidas. Então, como você diz, em termos de área de terra, poderíamos apoiar a
duplicação da população total... Eu acho."

Ronie ficou chocada com isso por um motivo diferente. – "O quê…? É verdade que a população do reino das
trevas é superior a 80 mil?! Mas durante a guerra, o Imperador Vector não formou um exército de 50 mil
deles...?"

"Não fique surpresa com isso... Fanatio me disse que toda pessoa sã lá é transformada em soldado. É horrível.
Mas tenho certeza de que é um costume causado pela terra estéril do Território Negro. Nesse tipo de mundo,
apenas aqueles que lutam e roubam são os que sobrevivem."

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Ele fez uma pausa, recostando-se no assento. A nave oscilou brevemente e se endireitou novamente, como se
ele tivesse perdido o foco momentaneamente.

"...Assim como o reino das trevas, o reino humano tem sua própria compreensão que foi construída ao longo
de três séculos de história. Eles conhecem o povo do Território Negro como monstros terríveis que vêm das
Montanhas do Fim para roubar crianças e animais. Com a abertura do comércio, há mais turistas e
comerciantes transitando entre os dois lados, mas preconceitos de longa data não mudam do dia pra noite.
Você pode controlar as pessoas com novas leis e tabus, mas não pode eliminar os medos e desejos instintivos
que os movem…"

Sua voz estava grave. Ronie não sabia o que dizer a ele. Ele tinha poder de Encarnação suficiente para erguer
uma dragoncraft, derrotar a Administradora e até mesmo o Imperador Vector, mas Kirito não era um deus.
Ele era apenas uma pessoa nascida em um mundo diferente, com os mesmos problemas, preocupações e
angústias que Ronie tinha.

Kirito sempre ficava de pé, não importando o quanto estivesse ferido, e ele salvou o Underworld de um
perigo existencial. Ele não recebeu homenagens públicas por isso e continuou a lutar pelo bem do mundo.
Ronie queria ajudá-lo a alcançar a façanha sem precedentes de paz entre o Império Humano e o Território
Negro, mas tudo o que ela conseguia pensar era no perigo do caminho à frente, e ela não tinha nenhum
conselho útil a oferecer. Ela forçou sua ida nesta viagem por puro ímpeto e determinação, mas agora ela só
podia se perguntar qual era o sentido de sua presença.

Kirito pareceu sentir sua mudança repentina de humor e disse. – "Ouça, Ronie, estou feliz por você ter
vindo. É mais provável que eu assuste acidentalmente as crianças de lá na primeira reunião."

"Hum... Sério?"

"Sinto que as histórias e rumores me precedem agora... Mas acho que não deveria ficar surpreso, depois da
guerra que tivemos..."

Kirito exalou para reajustar seu humor e disse com firmeza. – "Bem, estamos seguramente bem longe de
Centoria, então vamos mudar do vôo da Encarnação para o vôo elemental."

"O-Ok!" – ela respondeu. E logo em seguida disse. – "O que... Eu deveria estar fazendo...?"

"Boa pergunta. Mantenha um estado de conexão com os elementos, como você fez durante o vôo de teste da
Unidade Um, e me avise se alguma coisa começar a dar errado."

"Entendido!" – ela respondeu.

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Kirito deu a ela um sinal estranho – ele apontou o polegar direito para cima – e então agarrou as alças de
metal novamente e recitou uma arte sagrada: "System call, Generate Thermal Element!"

Suas mãos brilharam em vermelho quando os elementos de calor apareceram dentro das alças de metal, que
eram aparentemente ocas. Com a Encarnação, ele os moveu através dos tubos para dentro dos recipientes no
meio da dragoncraft.

Até mesmo o representante espadachim parecia ter dificuldades para controlar a nave maciça e os elementos
minúsculos com Encarnação ao mesmo tempo, já que houveram mais tremores. Ronie se aproximou e
colocou as mãos nos ombros de Kirito sem pensar. Ela não acrescentou nenhum feitiço, mas ela podia sentir
o fluxo de poder sagrado girando pelo ar ao redor deles diminuindo. O tremor da dragoncraft diminuiu, e os
dez elementos de calor permaneceram firmemente no lugar dentro do recipiente.

"Obrigado, Ronie." – disse Kirito, acariciando sua mão e expirando. – "Discharge."

O comando liberou todos os elementos de calor, criando uma explosão massiva de chamas. A pressão
empurrou as chamas em direção ao final do recipiente na parte traseira da dragoncraft. Ao longo do
caminho, as chamas se misturaram com os elementos de vento que haviam sido carregados em um recipiente
diferente antes da decolagem, e foi comprimido em uma única explosão, como uma gota de sopro flamejante
de dragão, que rugiu pela abertura de saída na parte de trás da nave. A súbita explosão de aceleração
empurrou Ronie para trás em sua cadeira e prendeu o ar em sua garganta. As nuvens flutuando fora da janela
passaram por eles. Apenas em termos de velocidade, o vôo de Kirito usando elementos de vento da Catedral
Central para o prédio da guarda da cidade em Centoria do Sul tinha sido mais rápido, mas no momento, a
dragoncraft quase não estava sob controle da Encarnação. Em outras palavras, um usuário adepto das artes
sagradas, com um pouco de prática, poderia ser capaz de pilotá-la como Kirito estava fazendo agora.

Ronie se perguntou brevemente se isso, mais do que tentar enfrentar o Muro no Fim do Mundo, era o
verdadeiro benefício para a humanidade, mas aquela vaga ideia de um pensamento foi rapidamente apagada
pelo rugido que encheu o pequeno espaço. Ela agarrou a estrutura de seu assento com toda sua força e
gritou. – "Ki… Kirito-senpai! Quão rápido esta dragoncraft está indo agora?!"

"Hmm, vamos ver..." – respondeu Kirito sem muita preocupação. – "A velocidade máxima que um dragão
de um Cavaleiro da Integridade pode chegar é de cerca de 120 kilors por hora, e se quiser percorrer uma
longa distância sem que o dragão se canse, você deve atingir no máximo 80 kilors por hora. Mas eu aposto
que essa coisa está indo a cerca de 250 kilors por hora agora..."

"Du... Duas vezes mais rápido que um dragão??!"

"Aposto que poderíamos chegar à 300 kilors por hora na produção máxima de elementos. Mas Sadore disse
para mantê-los em 80%." – Kirito disse, apontando para um dos muitos mostradores arredondados na frente
de seu assento. A agulha presa à ele tremia alguns centímetros próximo da velocidade máxima.

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"300 kilors por hora..." – Ronie murmurou. Ela balançou a cabeça, incapaz de compreender tal coisa por
qualquer medida prática.

O que ela podia entender era que se a dragoncraft continuasse nessa velocidade, ela alcançaria o distante fim
da terra – o Palácio de Obsidia, que estava a 3 mil kilors de distância – em apenas meio dia. E não havia
ninguém que pudesse fazer algo sobre uma nave voando a tal velocidade e altura.

'Havia realmente um motivo para eu vir junto?' – ela se perguntou novamente enquanto se permitia afundar
na vibração do assento. Eles cruzaram as Montanhas Finais e continuaram voando pelo céu vermelho do
Território Negro por cerca de 15 horas. Apesar de duas pausas ao longo do caminho, sua bunda e costas
estavam começando a doer quando Kirito finalmente apontou para frente.

"Lá está, você pode ver."

Ela apertou os olhos por cima do ombro dele e viu uma luz fraca no horizonte escuro e distante. Era apenas
um vago borrão no início, mas conforme eles se aproximavam, ele se transformou em uma coleção de
incontáveis ​luzes individuais.

"Então essa é... A capital do Território Negro..." – Ronie murmurou roucamente. – "Você já esteve lá antes,
não é verdade senpai?" – ela perguntou à Kirito.

"Sim, mas apenas uma vez. E foi uma visita não oficial, então eu quase não tive tempo de ver o castelo, a
cidade ou qualquer outra coisa."

"Eu acho que será o caso desta vez, também." – ela murmurou.

Ele pareceu tomar sua declaração como uma decepção, então Kirito olhou por cima do ombro e sorriu para
ela. – "Não é apenas uma visita não oficial, eu nem avisei Iskahn antes do tempo. Veja, há certas coisas que
nós podemos fazer se dermos uma fugidinha."

"Fu-Fugidinha...?"

Ela teve outra sensação de mau presságio – parecia acontecer com bastante frequência quando ela estava com
Kirito – e olhou pela janela novamente. A dragoncraft estava viajando à menos da metade de sua velocidade
máxima, mas ainda era rápida o suficiente para que as luzes da cidade à frente fossem começando a tomar
uma forma clara. Ao contrário dos distritos nitidamente compartimentados de Centoria, a abundância de
luzes abaixo parecia não ter padrões, exceto que, no total, formavam uma espécie de lua crescente. No meio,
havia uma montanha de pedra enegrecida que se projetava para o céu como uma lança.

As luzes continuaram subindo a montanha, porque a própria montanha era o palácio do imperador Vector.
Essa formação gigantesca, moldada por sua exposição aos elementos ao longo de muitos anos, era

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considerada tão impressionante quanto a Catedral Central da Igreja Axioma – mas na escuridão, você podia
ver apenas sua silhueta.

"Faltam cerca de 10 kilors... Ok, vamos voltar para o vôo da Encarnação e vamos pousar essa coisa." – disse
Kirito, para o choque de Ronie.

"O quê? Vamos aterrissar tão longe?"

"Sim. Tenho certeza de que causaria um tumulto ao pousar do nada esta nave diretamente na cidade ou
palácio..."

Kirito apertou a haste de metal que ele chamava de alavanca de controle e usou a Encarnação para extinguir
continuamente os elementos de calor que estavam queimando dentro do recipiente selado. O rugido que
enchia a minúscula sala (que ele chamava de cabine de comando) foi ficando cada vez mais silencioso, até
desaparecer. Sem sua fonte de propulsão, a dragoncraft perdeu altitude até Kirito segurá-la firmemente no
alto com a Encarnação novamente. Ronie já havia experimentado essa sequência de pouso antes, quando eles
pararam para uma pausa, mas ela ainda se sentia nervosa, e ela apertou a estrutura do assento com mais força.

Ela fez uma nota mental para pedir algum tipo de apoio perto do banco traseiro para se segurar, assim que
voltassem para Centoria. À medida que desciam, ela sentiu estágios de ausência de peso semelhantes à
experiência de usar a plataforma de levitação da catedral. Com um pequeno baque, a dragoncraft parou e
Kirito se espreguiçou no banco da frente.

"Conseguimos, Ronie. Agora podemos voar com nosso próprio poder."

Apesar de carregar duas espadas, uma pequena bolsa, uma bolsa grande e a bagagem inesperada que era uma
pessoa adicional inteira, também conhecida como Ronie, Kirito cruzou num piscar de olhos os 10 kilors
restantes usando elementos de vento para voar. De acordo com ele, dado o fraco poder sagrado do Território
Negro, 10 kilors era quase o limite que você poderia alcançar para um vôo estável. Inevitavelmente, Ronie
teve que ser pressionada com força contra o corpo de Kirito durante o vôo e, embora tenha feito seu coração
disparar no início, esse sentimento foi prontamente neutralizado pela percepção de que estar em seus braços
a tornava nada mais do que outra peça de bagagem para carregar por aí.

Eles pousaram em uma rua larga que levava à cidade do castelo de Obsidia. Os paralelepípedos estavam tão
gastos e lisos como se tivessem sido polidos, indicando que humanos, demi-humanos e carruagens geravam
aqui um tráfego intenso durante o dia. Mas depois das 10 pm, não havia uma alma para ser vista. Esta era
geralmente a hora em que Ronie já estaria na cama, então no momento em que seus pés tocaram o chão, o
cansaço da longa viagem e a hora tardia a atingiram de uma vez, e ela teve que balançar a cabeça para manter
o foco. Era aqui que seu dever de guarda iria realmente começar...

Exceto que, enquanto ele prendia a lâmina do céu noturno em seu quadril esquerdo, as palavras seguintes de
Kirito foram: "Vamos procurar uma pousada."

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Ronie piscou um pouco surpresa. – "Ué... N-Não vamos para o castelo?"

"Os portões estarão fechados à esta hora, e tenho certeza de que Iskahn já está dormindo. Se tentarmos entrar
furtivamente e qualquer guarda nos avistar, eles vão assumir que somos assassinos."

"…Tem razão…"

Eles cruzaram todo o Underworld para resolver um mistério de assassinato que envolvia um goblin da
montanha sendo incriminado pelo crime. Seria uma piada de mau gosto se eles fossem confundidos com
assassinos agora.

"Tudo bem. Mas que pousada permitirá que humanos como nós fiquem sem suspeitar de algo…" – Ronie
começou a perguntar, mas Kirito já estava remexendo em sua pequena bolsa de couro. Ele puxou algo
pequeno; sob a luz fraca da cidade à frente, ela podia ver que era algum tipo de solução.

"Agora, se você me desculpar..." – Kirito disse, manuseando a solução. Ela se aproximou para ver.

"Eca!" – ela gritou quando ele limpou algo em seu rosto. Ela congelou em choque com a sensação, e Kirito
rapidamente usou as duas mãos para aplicar a solução. Ele esfregou suas bochechas, sua testa, suas orelhas e
até mesmo abaixo de seu queixo, então deu um passo para trás para inspecioná-la.

"Sim, isso parece bom."

"O que... É isto…?"

Ela mesma esfregou sua bochecha, mas a sensação já havia passado e nada saiu na ponta do seu dedo. Kirito
apenas sorriu e fez o mesmo com seu rosto. Sua pele era um pouco mais bronzeada do que a de Ronie e
Tiese, que nasceram em Norlangarth, mas ainda tinha a tonalidade média para um residente do reino
humano. Mas agora, estava ficando cada vez mais escura diante de seus olhos. Em questão de segundos,
Kirito tinha adquirido um tom de marrom que lembrava o chá cofil. Na verdade, ele parecia ter vindo de
Sothercrois... Ou mesmo do Território Negro... E então, ela percebeu.

"Oh... V-Você apenas nos disfarçou como pessoas do Território Negro?"

"Sim. Você e eu temos cabelos escuros e é inverno agora, então eu acho que, se mudarmos um pouco de
rosto, podemos passar despercebidos."

Tardiamente, Ronie percebeu que seu próprio rosto havia mudado, e ela tocou suas bochechas novamente.
Kirito a viu fazer isso e sorriu. – "Está tudo bem, eu juro. Você realmente parece muito bela."

Suas bochechas ficaram quentes sob suas mãos.

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"I-Isso não é permanente, certo?" – ela perguntou, um pouco mais séria do que o necessário para esconder
seu constrangimento.

Ele pareceu um pouco nervoso enquanto respondia. – "S-Sim, é claro. A fitoterapeuta Cutoconia me
garantiu que o efeito passaria por conta própria em cerca de 8 horas."

"Por conta própria…? Do que isso é feito?"

"Parece que é melhor não sabermos." – Kirito murmurou. Ele estendeu a mão para ajeitar seu cabelo
despenteado, e então olhou para o leste.

Em Centoria, havia um grande portão e uma guarita na fronteira com a cidade, mas o castelo da cidade de
Obsidia parecia não ter nada do tipo. Houve apenas um aumento na densidade de edifícios conforme a rua
avançava, até que você estava no meio de uma cidade. Não havia guardas à vista.

"…Acho que devemos ficar bem, mas se alguém nos perguntar quem somos… Vamos ver… Podemos dizer
que viemos de Faldera em busca de trabalho, e que nós somos mari… Que somos irmão e irmã."

Ronie soltou suas bochechas e repetiu. – "Fal… dera? O que é isso?"

"É uma cidade que fica a cerca de 30 kilors à sudoeste."

Na verdade, ela também queria saber o que Kirito estava prestes a dizer antes de mudar para 'irmão e irmã',
mas decidiu não prosseguir nesse assunto. – "Tudo bem. Então vamos lá, senpai."

Ela puxou o capuz de sua capa sobre a cabeça e estendeu a mão para a bolsa que estava na rua para pegar a
espada ainda sem nome, que estava sobre ela e pendurá-la em seu cinto. Ela se abaixou novamente para pegar
a bolsa desta vez, mas Kirito a pegou primeiro.

"Ah... Você sabe, eu posso carregar minha própria bolsa..."

"Oh, mas eu sou seu irmão mais velho agora, e irmãos sempre carregam a bagagem de suas irmãs." – disse ele
com um sorriso. Com a bolsa dela nas mãos e sua própria bolsa de couro pendurada no ombro, ele começou
a caminhar pela estrada. Ela não teve escolha a não ser seguí-lo, perguntando-se como deveria chamá-lo
quando estivessem na cidade. A luz ficava cada vez mais brilhante enquanto eles caminhavam pela estrada, e
logo começaram a passar por outros humanos e demi-humanos. Isso deixou Ronie aliviada e nervosa.

À primeira vista, quase todos os edifícios desta cidade onde localizava-se o castelo de Obsidia pareciam ser
feitos de uma pedra escura, e haviam poucos exemplos de árvores ou água; no geral, parecia sufocante em
comparação com Centoria. Mas as lâmpadas que estavam presas por toda parte nas casas e postes de beira de

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estrada emitiam luzes vermelhas, amarelas e roxas, mesmo tarde da noite, dando ao lugar um ambiente
colorido e festivo.

"Como que essas lâmpadas estão acesas?" – ela perguntou.

"É um tipo de minério que eles extraem de montanhas próximas." – Kirito respondeu prontamente. – "Um
pedaço do tamanho do seu punho vai queimar por 10 dias, aparentemente."

"Uau, isso parece muito útil."

"Você poderia vendê-lo por um preço alto no reino humano, tenho certeza, mas manusear o material é
complicado. Ele vai queimar sozinho, a menos que seja submerso na água, o que torna o transporte de longa
distância difícil…"

Eles seguiram em frente, conversando sobre isso e aquilo, e a área à frente ficou cada vez mais agitada. O
ruído vinha de um quadrado aberto com várias barracas ao longo das bordas e com mesas colocadas no meio,
onde muitos homens comiam e bebiam. Cerca de metade deles eram humanos de pele escura, além do que
haviam também alguns orcs e goblins, mas eles se sentavam em mesas separadas. Mesmo depois do Pacto de
Paz dos Cinco Povos, as diferenças que separavam as raças que viviam no Território Negro não haviam
desaparecido, e Ronie percebeu isso.

Kirito viu que ela estava olhando e falou. – "Já é uma grande mudança eles beberem no mesmo lugar. Vê
como os pugilistas e os orcs estão sentados em mesas adjacentes e ocasionalmente trocando comentários?"

"Oh, você está certo... Parece que eles estão brindando também..."

Um pugilista corpulento sem camisa, apesar do frio de fevereiro, ergueu uma caneca de madeira e gritou algo,
e um orc sentado ao lado dele bateu com sua própria caneca nela. Enquanto ela observava isso acontecer da
borda da praça, Ronie se pegou murmurando: "Os orcs vieram resgatar os pugilistas durante a Guerra do
Underworld, quando os pugilistas foram quase exterminados… Ouvi dizer que os orcs ainda falam com
reverência divina sobre a 'Espadachim Verde' que os liderou."

Ronie não estava lá, mas ela sabia que a Espadachim Verde, Leafa, que havia desaparecido com o fim da
guerra, era a irmã de Kirito, que viera do mundo real.

O rosto escurecido de Kirito se apertou de dor brevemente, mas ele logo recuperou sua expressão usual
indiferente. – "Sim... Não há dúvida de que nossa paz rápida com o Território Negro foi graças à Leafa. E é
por isso que temos que proteger essa paz, agora que estamos aqui."

"…Eu sei."

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Ronie podia sentir profundamente o mal-estar fundamental que ela estava tentando esquecer o dia todo,
batendo em seus calcanhares como ondas. Então, Kirito deu um tapinha nas costas dela e falou.

"Bem, já é um pouco tarde agora, mas devemos jantar. Estou cansado de comer rações para viagens."

"Huh…? V-Vamos comer aqui?"

"Sim, a comida das barracas não cheira tão bem...? Se eu fosse capaz de resistir a esse tipo de tentação, Fanatio
e Deusolbert não gritariam comigo o tempo todo." – disse Kirito, como se isso justificasse seu
comportamento. Ele segurou as sacolas e começou a caminhar para a praça. Ronie não teve escolha a não ser
seguí-lo, e logo um cheiro delicioso estava fazendo cócegas em suas narinas e a lembrando do vazio de seu
estômago. Seis barracas estavam alinhadas ao longo da borda da praça, mas à primeira vista era difícil dizer o
que se vendia ali.

Nessas situações, Ronie geralmente ficava em dúvida dentre as diferentes opções até que Tiese se cansava e
escolhia por ela, mas sua parceira ruiva não estava aqui. Ela olhou para Kirito, com a intenção de avaliar a
capacidade de tomada de decisão do representante espadachim. Ele estava murmurando. – "Humm, esses
espetinhos parecem bons... Mas olhe a hora – eu provavelmente deveria comer aquela sopa de macarrão ali...
Oh, mas aqueles pãezinhos no vapor também..."

Desapontada, ela lembrou que Kirito era geralmente aquele que não conseguia se decidir e precisava que
Eugeo decidisse. Então outro pensamento ocorreu à ela, e ela puxou a capa de Kirito.

"Hum, Kirito-senpai? Antes de começar a comprar qualquer comida... Temos o dinheiro que eles usam
aqui?"

"……"

Seu rosto mudou de choque para desespero em vários estágios distintos.

No reino humano, a moeda vinha em quatro categorias: moedas de ouro de 1000 shia, moedas de prata de
100 shia, moedas de cobre de 10 shia e moedas de ferro de 1 shia. Tecnicamente, havia também uma moeda
de 10 mil shia de platina, mas era usada apenas para transações entre o governo e os principais mercadores, de
modo que cidadãos comuns e nobres inferiores nunca as viram ou usaram.

Para Ronie, dinheiro sempre significou shia, mas é claro, as moedas estampadas pela Igreja Axioma com um
perfil do rosto de Stacia não seriam usadas no Território Negro. Eles devem ter sua própria moeda aqui.
Tendo acabado de perceber isso por si mesmo, os ombros de Kirito baixaram, e ele ficou desanimado.

"...Eles não usam dinheiro da catedral, então eu esqueci completamente..."

"E-Espera aí... Você está dizendo que também não trouxe nenhuma shia...?"

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Ronie não tinha certeza de como reagir à isso. Ela apenas olhou para o representante, paralisada, sem
acreditar naquilo.

Havia uma moeda de ouro costurada na parte de trás do cinto da espada de Ronie, para caso de emergência,
mas não ia ser útil aqui. Então ela detectou um problema ainda maior e perguntou à Kirito. – "Isso significa
que também não podemos ficar em uma pousada...?"

"Bem... Eu suponho que não." – ele concordou de forma séria.

Ronie suspirou bem na cara dele. – "Se tivéssemos entrado para ficar em uma pousada sem uma moeda em
nosso nome, como você planejava pagar por isso?"

"Eu não sei. Eu só imaginei que sairia do meu inventário automaticamente – *ka-ching*." – ele disse, uma
sequência de palavras que não significavam nada para ela. Ele ainda estava olhando para as barracas de
comida com uma dedicação teimosa, então finalmente examinou o palácio que se projetava no céu noturno.

"Ah, bem. Teremos apenas que rezar para que Iskahn ainda esteja acordado e vamos nos infiltrar no Palácio
de Obsidia…"

'Quem estava dizendo que a última coisa que queremos é ser confundidos com assassinos?!'

Ronie respirou fundo, preparando-se para repreendê-lo, quando ela viu uma grande figura aparecer sobre
suas cabeças enquanto sussurravam entre si em um canto da praça.

"…?!"

Ela olhou para cima, forçando-se a não sacar sua espada enquanto seus instintos gritavam para ela fazer isso.
Era um homem muito grande, provavelmente tinha 1 mel e 90 cens de altura. Seu torso estava exposto,
músculos ondulantes e um cinto de couro cravejado, junto com as muitas, muitas cicatrizes em sua pele
bronzeada; eram marcas de um pugilista. Sob o cabelo desgrenhado, seu rosto estava tão vermelho que,
mesmo à luz das lâmpadas de minério, era claro que ele já estava bebendo há um bom tempo.

"O que há de errado, amigo? Não tem dinheiro suficiente para comer?" – ele disse. Não havia hostilidade
clara em sua voz, o que ajudou Ronie a relaxar pelo menos um pouco.

Kirito acenou com a cabeça, sem se preocupar em esconder o olhar patético em seu rosto, e com a voz de um
homem faminto – ela não tinha certeza se isso era uma atuação ou não – ele disse. – "S-Sim, isso mesmo... Eu
vim até aqui de Faldera com minha irmã, procurando trabalho, mas ficamos sem dinheiro no caminho."

"Ah, de Faldera? Meu velho é de lá!" – o homem respondeu. Ronie instantaneamente sentiu um arrepio
percorrer suas costas ao pensar em ter que discutir as memórias de um lugar que ela só sabia o nome e nada

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mais, mas felizmente não se transformou nisso. Em vez disso, o homem deu um tapa no ombro de Kirito
com uma mão enorme tão dura quanto uma luva e disse generosamente. – "Então deixe-me te dar um regalo,
de um Falderan para outro!"

"I-Isso não é o que eu estava pedin..." – Kirito começou a protestar, aparentemente se sentindo culpado, mas
o pugilista o empurrou para a frente. Ronie se apressou para acompanhá-los.

O pugilista os guiou até a menor e menos iluminada das seis barracas da praça. O proprietário, que mexia em
uma panela antiga com uma concha longa, exibia uma franja tão comprida e crescida que a única coisa que
ela conseguia discernir sobre ele era o fato de ser um homem humano. No canto do estandarte de pano
desbotado pendurado na cobertura da barraca, estavam as palavras 《SOPA DE OBSÍDIA》, que parecia ser
o nome do prato servido.

"Esta é a melhor desta praça. Embora nenhum dos meus companheiros pareça concordar!" – o pugilista
bêbado disse, rindo ruidosamente.

Kirito tentou recuar, com sua bochecha se contraindo. – "Eu... Eu não sei se devo aceitar, senhor. Estou
tendo um mau pressentimento sobre…"

"Isso é o que todos dizem no início. Basta acreditar na minha palavra e experimentar. Três tigelas, por favor!"

O pugilista proclamou para o vendedor, puxando três moedas de cobre do pequeno saco pendurado em seu
cinto e jogando-as na longa mesa enegrecida. Se tivessem o mesmo valor que as moedas de cobre no reino
humano, então essa misteriosa sopa de Obsidia custava 10 shia por tigela. Isso seria muito barato, mesmo
para uma comida de barraca.

O vendedor colocou três tigelas de madeira na mesa sem dizer uma palavra e despejou grandes colheres do
conteúdo da panela nelas, então forneceu colheres de madeira. Ele pegou as moedas, ainda em silêncio, e
voltou para seu trabalho de mexer a panela.

Imperturbado pela natureza mal-humorada do homem – seja porque estava acostumado ou porque estava
bêbado – o pugilista pegou as duas tigelas e as entregou à Kirito e Ronie. Nesse ponto, eles não tinham
escolha a não ser aceitar, então agradeceram e aceitaram seu presente. Dentro das tigelas, havia algo que só
poderia ser descrito como uma sopa espessa marrom. Continha muitas coisas, mas o caldo estava tão
lamacento que era impossível determinar o que havia sido colocado nela só de olhar.

A pedido de seu novo amigo, que pegou sua própria tigela, Ronie se sentou ao lado de Kirito em uma mesa
vazia e agarrou sua colher, tentando reunir coragem para a tarefa. Ela pegou uma pequena quantidade do
líquido, que parecia um guisado cozido lentamente por três dias inteiros, soprou sobre ele e provou. No
início, ela o achou muito picante, mas logo ficou um pouco ácido, depois se transformou em uma estranha
mistura suculenta e amarga, seguido por um gosto ligeiramente doce.

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"...Kirito-senpai, como você chamaria esse sabor...?" – ela perguntou-lhe, sussurrando. Ele terminou de
provar da sua própria sopa, parecendo pensativo, e olhou para a colher de pau.

"Eu diria que… O sabor é bem parecido com algo que eu me lembro, mas é estranhamente comestível. Na
verdade, posso até dizer que isso é bom…"

"O quê…? Você já comeu isso antes?"

Kirito olhou para ela, aparentemente saindo de sua admiração por aquilo, e balançou a cabeça. – "Oh, n-não,
não que eu me lembre. Havia um lugar que servia um prato semelhante em... Um lugar onde morei há
muito tempo. Na verdade, este vendedor até parece mesmo um pouco com ele, mas isso não importa... A
sopa que eu estou familiarizado tinha um duelo de sabores entre o picante, o azedo, o amargo e o doce, onde
todos perdiam. Mas essa sopa de Obsidia, é como se o sabor fosse mais confortável, mais maduro. É meio
suavizado, de certa forma…"

"É isso! Eu sabia que você entenderia, amigo!" – disse o pugilista, que já havia terminado um terço de sua
tigela. Ele deu um tapa nas costas de Kirito. – "Dizem que esta panela está borbulhando a mesma mistura,
com ingredientes e água para o caldo sendo adicionados, desde que Obsidia foi fundada, há mais de 200 anos
atrás. Aposto que não existe um único prato como este no reino humano! Ha-ha-ha-ha!"

"S-Sim, eu aposto que não…" – Kirito concordou sem jeito.

Ronie lutou para conter seu choque. – "D-Duzentos anos...?! Como a vida da comida dura tanto tempo?!
Sopas e ensopados geralmente estragam depois de cinco dias, mesmo no inverno…"

"É por que esse cara é fantástico." – declarou o pugilista com orgulho, batendo no próprio peito como se o
dono da barraca fosse um membro estimado da família. – "Ele nunca se afasta da barraca, e mantém as
chamas baixas o suficiente para que a panela nunca esfrie ou queime. Se você mantiver as chamas acesas
indefinidamente, a vida útil do conteúdo da panela nunca diminui. Isso significa que ele faz suas próprias
três refeições diárias com esta mesma panela... E você não pode dizer isso de mais ninguém no reino das
trevas – ou no próprio Underworld inteiro – se você me perguntar."

"T-Todos os dias...?" – Ronie repetiu, chocada. Ela olhou para a barraca. O proprietário mal-humorado
estava olhando para baixo e mexendo a panela, com o rosto escondido como de costume.

"...Isso significa que a vida dele também foi congelada, então ele está vivo... Há mais de dois séculos?" – ela
perguntou.

Este parecia ser um conceito totalmente novo para o pugilista. Ele olhou da tigela para a barraca várias vezes,
para frente e para trás, então balançou a cabeça. – "Nah. Quem você pensa que ele é, aquela pontífice de que
falam do reino humano? Tenho certeza de que é apenas uma tradição de família transmitida de geração em
geração."

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"S-Sim, é claro." – Ronie concordou. Ela pegou uma partícula de alguma coisa no meio da tigela e
timidamente inseriu na boca. Depois de uma ou duas mordidas no que parecia ser carne de alguma ave, um
sabor único inundou sua língua. Apesar do sabor muito estranho, esta sopa pode se provar viciante com o
tempo – talvez. Eventualmente.

Kirito havia se acostumado com isso muito mais rápido do que Ronie, e ele já havia esvaziado sua tigela. Ele
exalou com grande satisfação. – "Ahhh, isso estava bom... Eu acho. Pode não ser exagero dizer isso…"

Então ele se espreguiçou e fez uma profunda reverência ao pugilista sentado do outro lado da mesa. –
"Muito obrigado por esta refeição, meu bom senhor. Eu nunca me esquecerei da gentileza que você nos
mostrou."

"Oh, sem problemas." – disse o homem, que há muito tempo havia terminado sua tigela. Seu rosto bêbado se
abriu em um sorriso desleixado. – "Se você encontrar um bom trabalho aqui e estiver estável o suficiente para
comer toda a sopa de Obsidia que você quiser, então você pode retribuir o favor com uma tigela para mim...
Se tudo correr bem…"

Ele deu um tapa no rosto com uma mão carnuda e esfregou até o sorriso desaparecer. – "Olha… Talvez pode
ser mais difícil do que você pensa conseguir um emprego remunerado para você e sua irmã em Obsidia, meu
amigo."

"Oh, sério? Mas é tão movimentado aqui no meio da noite. A cidade parece agitada para mim…"

"Para as aparências, claro. Mas isso é só porque há mais pessoas agora... E mesmo isso não vai durar muito
mais tempo…"

Um goblin vendendo bebida passou por ali, e o agora esvaziado pugilista comprou uma garrafinha de
aparência suspeita. Ele tomou um gole, fez uma careta e a entregou. Kirito aceitou com alguma hesitação,
tomou um gole e começou a tossir violentamente. O pugilista pegou a garrafa de volta com um sorriso
malicioso.

"Isso é o que os goblins das planícies que se estabelecem perto da cidade fazem. Tem gosto de lixo, mas é
barato e eles vendem uma boa quantidade. Por causa disso, as cervejarias da cidade estão perdendo negócios e
a guilda dos mercadores está furiosa. Antes da guerra, a guilda teria contratado tropas mercenárias para
atacar os assentamentos goblins e matá-los todos pela espada, mas agora que o Pacto de Paz dos Cinco Povos
está em vigor…"

"Então você está dizendo que... Por causa dos demi-humanos estarem se mudando para Obsidia, os humanos
estão perdendo seus empregos...?"

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"Não é só por causa deles. Existem muitos mais humanos também... Gente como vocês." – disse o pugilista,
dando de ombros. Ele olhou para a escuridão acima e continuou. – "Se você veio de Faldera, não precisa que
eu diga que a terra é muito fragilizada. Humanos e demi-humanos sofrem de fome e sede desde o início dos
tempos. A grande guerra que encerrou a Era de Sangue e Ferro começou como uma disputa por um único
lago, dizem eles…"

Ronie e Kirito não sabiam muito sobre a história do Território Negro, então eles só puderam acenar em
silêncio. O pugilista tomou outro gole da bebida barata e continuou.

"E nossos ancestrais conseguiram sobreviver neste deserto árido por causa daquele ditado: Um dia, o portão
para o reino humano se abrirá e todos nós viveremos em uma terra fértil dos sonhos."

Ronie se sentiu enrijecer com essas palavras, mas o pugilista não percebeu sua reação.

"Você e sua irmã provavelmente eram muito jovens para fazer parte da campanha, mas quando o imperador
Vector voltou há pouco mais de um ano e disse que íamos invadir o reino deles, a emoção foi avassaladora,
como você pode imaginar. O ditado estava finalmente acontecendo, pensamos... Mas os Cavaleiros da
Integridade das terras humanas eram ainda mais monstruosos do que imaginávamos... E não sabíamos que
haveria um exército do outro lado também. Era tudo caos e combate; e antes que soubéssemos, o imperador
foi batido por algum espadachim de longe, e a guerra acabou…"

Ronie olhou de relance para o 'espadachim de longe', cuja testa estava pingando de suor, ainda mais do que
quando ele provou a sopa infame. O pugilista, que não poderia imaginar com quem estava realmente
falando, apoiou a bochecha contra o punho.

"Se a guerra tivesse continuado, poderia ter sido o fim de todos os cinco povos. Portanto, não tenho
reclamações sobre a paz com o Império Humano, mas ao mesmo tempo... Nosso sonho de ter terras férteis
também se foi. Essa é a razão pela qual todos os goblins, orcs e jovens humanos têm vindo inundar Obsidia...
Eles acham que pode haver uma vida um pouco melhor aqui. Mas só porque a cidade é grande não significa
que há um número ilimitado de trabalhos a serem feitos. Se você for humano, pode conseguir um emprego
de cavaleiro... Mas você e sua irmã parecem muito magros para esse tipo de trabalho..."

Os olhos do pugilista, pesados pelo cansaço e pela bebida, piscaram sonolentos para eles, e Kirito decidiu que
era a hora certa. Ele se curvou e falou. – "Obrigado por tudo, senhor. A sopa de Obsidia estava deliciosa... Eu
retribuirei sua boa vontade algum dia."

"Certo... Boa sorte, jovens…"

E com isso, ele finalmente adormeceu. Eles se levantaram, tomando cuidado para não o incomodar.

Em outros lugares ao redor da praça, os goblins e orcs também haviam partido, deixando apenas alguns dos
pugilistas bêbados para trás, dormindo nas mesas. A maioria dos vendedores das barracas estavam fazendo as

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malas para irem dormir, exceto o mexedor de sopa, que continuava seu trabalho cuidadoso. Aparentemente,
era verdade que ele dormia com sua panela.

"…Acho que devemos procurar uma pousada para ficar." – Kirito disse, bocejando.

"Mas, e quanto ao custo?" – Ronie o lembrou rapidamente. – "Eu não acho que vamos ter sorte novamente
como aconteceu com a comida."

"Oh, vai dar tudo certo." – ele sorriu e começou a caminhar para a saída leste da praça, deixando-a sem
escolha a não ser correr atrás dele.

Quanto mais perto ficavam do centro da cidade, mais lâmpadas de minério haviam ali – e também mais
barulho. Mas depois do que o pugilista havia dito, as lâmpadas coloridas pareciam mais como uma fraca
resistência contra a terra árida, e o burburinho da conversa era apenas um reflexo da frustração acumulada.
Kirito resolveu a questão do dinheiro vendendo uma faca que guardava para um comerciante de beira de
estrada, uma solução surpreendentemente simples. Ele também recebeu instruções para um lugar barato para
ficar e eles continuaram caminhando. O representante espadachim estava menos falante do que o normal,
então Ronie tentou ao máximo manter a conversa leve, sem fazer muito barulho.

"Então o dinheiro aqui é chamado de vecs. Você acha que um vec é aproximadamente equivalente à um
shia?"

"Huh…? Oh, a-algo assim. Ainda assim, isso significaria que dez vecs para uma xícara de sopa de Obsidia é
realmente barato..."

"Você deseja tomar outra tigela daquela sopa, não é senpai?"

"Não consigo esconder nada da minha ex-pajem." – disse ele, parecendo mais com o velho Kirito, e dando
um tapinha na cabeça de Ronie. Então ele apontou para um prédio que estava localizado no lado frontal
direito. – "Parece o lugar que o comerciante de beira de estrada recomendou."

As paredes de pedra negra exibiam uma placa de ferro fundido com as letras sagradas 《I-N-N》, como as
pousadas no reino humano. Uma vaga sensação de inquietação percorreu o peito de Ronie, mas se dissipou
antes que ela pudesse dizer o que a estava incomodando.

"...Qual é o problema, Ronie?" – Kirito perguntou, mas ela balançou a cabeça.

"Não é nada."

"Tudo bem... Foi um longo dia. Vamos dormir um pouco."

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Ele mudou a mão que segurava suas sacolas, uma grande e outra pequena, e se dirigiu para a porta abaixo da
placa. Apesar de ser quase meia-noite, a pousada ainda estava aberta para negócios, felizmente. A proprietária
era uma mulher humana na casa dos quarenta anos, e ela deu a Kirito e Ronie um olhar penetrante por
quase um minuto – mas ela não tratou a história deles sobre serem irmãos vindos de Faldera para trabalhar
com qualquer ceticismo.

Kirito não pareceu prever que essa história inventada pudesse causar novos problemas. E logo, a mulher
prontamente disse. – "Se vocês são irmãos, então vão querer apenas um quarto!" – e começou a empurrá-los
para um quarto no 2º andar sem ouvir uma única palavra de protesto – e somente depois que ela se certificou
de coletar os 100 vecs de custo por noite.

"Certifiquem-se de terem saído antes do sino das 10 da manhã! Já apaguei o fogo para o banho, então se
vocês quiserem se lavar, precisarão visitar a casa de banho mais à frente. Se disserem que são meus clientes,
eles vão te dar um desconto!"

Era difícil dizer se isso era um ato de gentileza ou mesquinhez de sua parte. Mas momentos depois, a mulher
os deixou para descer as escadas.

Ronie ficou chocada e em silêncio, então Kirito disse desconfortavelmente. – "Eu... Sinto muito por isso,
Ronie. Isso só aconteceu porque eu tinha a fixação de ficar em uma pousada…"

"N-Não, não é sua culpa, senpai..."

"Vou apenas encontrar um lugar lá fora para dormir. Você pode usar o quarto."

"E-Encontrar algum lugar...?"

"Deve haver algum beco ou parque onde eu possa descansar. Eu estarei seguro por conta própria. Espero que
você tenha uma boa noite de sono. Eu estarei de volta pela manhã." – Kirito disse, e ele fez menção de sair
pela janela, mas ela agarrou sua capa primeiro.

"N-Não, você não pode, Kirito-senpai! Está frio demais. Você vai ficar doente se tentar copiar o que os
pugilistas fazem!"

Dentro do quarto, havia uma cama simples, junto com um sofá de dois lugares. Mesmo Ronie era muito alta
para que suas pernas coubessem nele, mas não seria impossível dormir assim.

"Vou dormir no sofá. Você fica com a cama. Por favor, senpai."

"H-Huh? M-Mas... O Código de Tabus ou a Lei Imperial Básica não têm alguma restrição sobre homens e
mulheres solteiros dormirem no mesmo quarto?"

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"Não, essa regra não existe. O que é proibido é b-beijar na boca... E…"

"E o quê?" – Kirito perguntou, inclinando-se para mais perto de Ronie. Ela o agarrou pelos ombros e o
empurrou com força em direção à cama.

"N-Não importa quais sejam as regras, você é o representante espadachim do mundo humano, e eu sou
apenas uma Cavaleira da Integridade, aprendiz ou não! Então, não importa!"

"Aaah!" – Kirito gritou ao ser empurrado, tropeçando em seus pés e caindo na cama. Ela rapidamente desfez
o cordão de sua capa para tirá-la, arrancou as botas de seus pés e o empurrou na cama corretamente.

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Ela puxou o edredom acolchoado até o pescoço dele, colocou suavemente sobre ele e, em seguida, deu um
tapinha educado no peito dele através do edredom. O representante olhou para ela com desgosto e falou. –
"Você está parecendo minha mãe ou algo do tipo, Ronie."

"Oh... D-Desculpe, é que quando eu era criança, era isso que minha mãe sempre fazia por nós."

"Entendo... Eu gostaria de conhecer seus pais um dia." – ele murmurou, olhando para o teto. Ronie se
lembrou de ter ido para casa no mês anterior, e a memória ameaçou trazer à tona todas as ofertas de
casamento que seus pais tinham colocado diante dela, antes que ela enxotasse esse pensamento para longe.

"Eu... Eu tenho certeza que eles ficarão muito felizes em vê-lo." – disse ela, pensando, 'embora que meu irmão
mais novo seria o que ficaria mais feliz.'

Kirito sorriu e fechou os olhos. Em questão de segundos, ela podia ouví-lo respirar pacificamente. Ele parecia
bem durante todo o dia, mas o ato de voar com aquela dragoncraft por 3 mil kilors deve ter sido
mentalmente exaustivo.

Aliviada por ele ter adormecido na cama sem protestar, Ronie tirou sua própria capa e, com um pouco de
dificuldade, apagou a lamparina de minério jogando água dentro dela. Ela se sentou no sofá encostado à
parede, colocou os sapatos cuidadosamente no chão e deitou-se de lado. Como ela esperava, seus dedos do pé
travaram, mas usando o pesado manto de lã fina ocidental como cobertor, ela descobriu que o frio não a
incomodava. Ela sentiu o sono chegando imediatamente, mas resistiu olhando para o perfil de Kirito, que
estava iluminado pelo brilho suave da cidade através da janela. Ela se perguntou o que aconteceria se ele
realmente viesse visitar sua família... E então algo lhe ocorreu.

Leafa, a Espadachim Verde, poderia não ser a única pessoa que fazia parte da família de Kirito. De volta ao
mundo real, ele deve ter pais, talvez outros irmãos e amigos. Mas Kirito nunca tinha falado sobre sua família.

'Ele... Alguma vez desejou poder voltar?'

É claro que ele deve ter desejado. A família de Ronie ainda morava em Centoria, muito perto, e até mesmo
ela sentia saudade de seus pais e irmão às vezes. Mas ela não tinha coragem de perguntar sobre isso à Kirito. O
que ela diria se ele admitisse para ela que ele queria voltar para casa algum dia? Ela nem sabia se havia algum
meio para voltar para o mundo real agora.

'Gostaria de saber que tipo de lugar é esse mundo real do qual Kirito-senpai veio.'

O mundo real era uma fonte de medo e desgosto, não apreço, para todos os habitantes do Underworld que
lutaram na grande guerra. Ronie não era exceção. Apenas a ideia de um mundo produzindo aqueles terríveis
cavaleiros vermelhos que exterminaram os exércitos dos reinos humanos e sombrios fez seus membros
congelarem. Mas, por outro lado, o mundo real também era a casa de Kirito, Asuna e os guerreiros que
vieram em auxílio do Exército Guardião Humano durante a guerra.

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No Underworld, haviam pessoas boas e pessoas más. Talvez o mundo real era similar. Mas esse pensamento
não foi suficiente para ela desejar que o portão entre esses dois mundos se abrisse novamente. O que Alice, a
Cavaleira da Integridade, viu e sentiu quando viajou para aquele lugar distante? Chegaria o dia em que ela
poderia retornar e falar sobre essas experiências...?

Ronie se sentiu abalada pela mesma sensação estranha que teve quando viu a placa do lado de fora da
pousada, mas o peso de suas pálpebras estava ficando irresistível e ela adormeceu pela primeira vez em uma
terra estrangeira.

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Capítulo 7

O som de sinos pesados retinindo​​acordou Ronie, e ela viu uma luz brilhante fluindo pelas cortinas finas da
janela. Piscando e esfregando os olhos, ela se sentou, olhando ao redor da sala em uma névoa de sonolência
enquanto se enrolava na capa que estava usando como cobertor. Muito rapidamente ela avistou o
espadachim de cabelo preto dormindo profundamente na cama próxima. Oito horas se passaram e o efeito
das ervas havia passado, porque seu rosto adormecido estava pálido de novo e surpreendentemente angelical.
Isso colocou um sorriso em seu próprio rosto. Mas então os fatos surgiram: ela havia passado uma noite no
mesmo quarto que Kirito, com camas diferentes ou não. A percepção sacudiu o sono de sua mente, e seu
rosto corou. Ela pressionou as mãos nas bochechas, que estavam frias por estarem fora da capa, e respirou
fundo até se acalmar. Imediatamente depois, ela ficou de pé.

Ronie foi até a cama e balançou suavemente o ombro de seu superior, dizendo: "Acorde, senpai. Acorde –
são oito horas."

Foi nesse ponto que ela percebeu que todas as melodias marcantes dos sinos que ouvia desde a noite passada
eram exatamente as mesmas tocadas pelos sinos da Catedral Central.

O que poderia explicar isso? Por que os sinos ligados à Igreja Axioma no reino humano e os sinos nesta
capital escura e longínqua tocam a mesma melodia? A questão saiu de sua mente quando Kirito resmungou
e tentou se contorcer ainda mais sob o cobertor.

"Mmrm... Um pouco mais…"

"Não, não volte a dormir!" – ela puxou o cobertor, mas Kirito se agarrou com força até o fim com as duas
mãos, protestando como uma criança teimosa.

"5 minutos... Só mais 3 minutos, Eugeo..."

Ronie ofegou. Ela largou o cobertor e cobriu a boca com a mão, dando um passo para trás.

O melhor amigo de Kirito, o discípulo de Elite Eugeo, morreu há quase 2 anos na luta contra a
Administradora. Mas para Kirito, seu tempo com Eugeo ainda não era passado. Como Tiese, ele ainda estava
vivendo isso. Ela se esgueirou de volta para o sofá e sentou-se novamente.

A Sub-representante Espadachim Asuna dormia no mesmo quarto que Kirito. Ela provavelmente
conheceria seus pensamentos secretos, a profunda tristeza que ele mantinha escondida sob a superfície. E
ainda assim ela encontrou uma maneira de ficar ao seu lado, sempre sorrindo de forma calorosa e gentil…

Quando voltasse para Centoria, Ronie teria uma adequada conversa com Asuna. Ela não podia revelar os
sentimentos secretos que nutria, mas as duas estavam unidas no desejo de ajudar Kirito. Para sua surpresa,

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cerca de 3 minutos depois, como prometido, Kirito se sentou. Ele olhou ao redor da sala com os olhos meio
fechados. Quando ele avistou sua companheira, ele bocejou enormemente. – "Bom dia, Ronie."

"B... Bom dia, Kirito-senpai."

"Desculpe, dormi um pouco demais... Que horas são?"

"O sino das oito acabou de tocar."

"Entendo. Então, chegaremos a tempo para o checkout... Er, a tempo que ela espera que saiamos."

Ele bocejou de novo e saiu da cama, então se dirigiu para a janela e abriu as cortinas cinzas.

"Ei, Ronie, dê uma olhada. Você pode ver o palácio daqui." – disse ele.

"Sério? Dá para ver?"

Ela se levantou do sofá para se juntar à ele. Com certeza, ao longe e um pouco à direita, pairando sobre o caos
da cidade, estava a figura nítida do palácio escuro como breu, elevando-se no céu. Ele rasgava a névoa da
manhã, que era muito mais vermelha do que ela conhecia em casa. Sendo esculpido em grande parte de
rocha natural, era compreensivelmente mais rústico do que a Catedral Central, mas isso lhe dava um tipo de
beleza própria. Até mesmo Kirito, que estava vendo-o pela segunda vez, exalou longa e profundamente com
admiração.

"Ao contrário da Catedral Central, que a Administradora construiu com seus poderes sobre-humanos,
aquele palácio foi esculpido da rocha por mãos mortais." – disse ele.

Ronie ficou maravilhada com o pensamento. – "Quantos meses...? Quantos anos deve ter levado...?"

"Dizem que demorou mais de 100 anos... Bem, de qualquer maneira, devemos ir. Se demorarmos muito, será
meio-dia antes que percebamos."

"Não vamos esquecer quem foi o responsável por dormir até tarde!" – retrucou Ronie. Ele deu um sorrisinho
malicioso para se esquivar da responsabilidade e começou a arrumar as malas.

Depois de reaplicar a solução de chá cofil e pagar pela noite, encontraram uma cidade iluminada de vermelho
pelo sol da manhã, em vez de lâmpadas de minério. A pousada ficava a mais de 5 kilors do Palácio de Obsidia,
mas a caminhada dificilmente parecia longa devido à todos os novos pontos turísticos.

A estrada ficava cada vez mais larga à medida que se aproximavam do palácio, e as estruturas dos prédios
também ficavam maiores e mais sofisticadas. Mas o número de pessoas andando nas ruas diminuiu e não
havia mais um único demi-humano à vista. Eventualmente, eles chegaram à um rio de tamanho considerável

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– pelo menos para os padrões locais – e havia uma grande ponte de pedra atravessando-o. Do outro lado
havia um grande portão, atrás do qual havia uma suave inclinação para cima que levava à torre de obsidiana
anormalmente afiada que era o palácio.

Kirito parou ao pé da ponte. Logo Ronie perguntou baixinho. – "Então, senpai... Você já descobriu alguma
maneira para entrarmos no castelo?"

O rosto do espadachim se inclinou pensativamente. – "Hmm... Eu não acho que apenas agir como
habitantes do Território Negro será suficiente para nos levar para o palácio... E se tentarmos voar até o topo
dele, os guardas irão nos ver, então…"

"Então você não veio com uma resposta..." – ela concluiu.

Ele se apressou para protestar. – "N-Não, eu não disse isso. Ainda tenho um truque secreto na manga!" – ele
gritou, puxando-a pela mão por um caminho na beira do rio à esquerda da ponte. À medida que a rota para
o castelo ficava mais distante, ela se preocupou que ele estivesse prestes a sugerir que nadassem pelo rio e
subissem a colina rochosa para entrar no palácio.

Kirito parou em um ponto onde o rio era mais largo, colocou as duas sacolas no chão e olhou para o Palácio
de Obsidia novamente. A montanha rochosa negra tinha cerca de 300 mels de base, e sua altura era quase o
dobro disso, então parecia mais uma torre do que uma montanha. A maior parte do lado voltado para a
cidade foi esculpido na forma de um castelo, com pilares majestosos e janelas que brilhavam ao sol da manhã.
A parte de trás ainda era quase inteiramente a face da montanha em bruto, com apenas um grande terraço se
projetando, provavelmente como uma plataforma para dragões.

Ele ergueu a mão direita e apontou para o topo da montanha. Seu dedo se contraiu, como se ele estivesse
procurando por algo.

"Hum, Kirito-senpai... O que você...?" – Ronie começou a perguntar, sentindo-se extremamente apreensiva
de repente. Ele não disse nada, mantendo sua mão erguida por mais 5 segundos, e então acenou com a
cabeça como se tivesse encontrado a resposta que procurava.

Ele alinhou os dedos daquela mão em uma posição cortante. Em seguida, ele ergueu o braço, puxou o pé
esquerdo para trás e baixou seu centro de gravidade. A mão, ereta como uma espada, começou a vibrar
fracamente e adquiriu um brilho branco, para o choque de Ronie. Kirito não tinha falado uma palavra de
comando. O que significava que este era o poder mais secreto dos Cavaleiros da Integridade, uma força que
trabalhava com as próprias leis do mundo, a Encarnação. Mas normalmente, isto não criava nenhum som ou
luz. Quanta energia ele estava concentrando para fazer reagir dessa maneira?

"……Hah!!" – ele gritou, balançando a mão para baixo com uma força tremenda.

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A luz branca disparou na forma de uma lâmina, muito parecida com as Lâminas de Asas Duplas de Renly,
cruzando instantaneamente 1 kilor de espaço e atingindo o corrimão de um pequeno terraço bem no topo
do palácio. Com sua excelente visão, Ronie pôde ver pequenos fragmentos de obsidiana caindo do corrimão.

"Espere… K-K-Kirito-senpai, o que você está fazendo?! Você acabou de danificar o palácio!!" – ela
resmungou, ainda mais assustada com isso do que o fato de que ele havia atirado uma espada encarnada por
um kilor inteiro. Ela puxou sua capa preta em pânico, mas ele se levantou com facilidade.

"Isso não é nada. Misture um pouco de pó de carvão com cola e embale, e as marcas irão desaparecer... Eu
acho. Além disso, veja." – ele disse, levantando a mão novamente para apontar. Ela pôde ver uma pequena
figura emergindo no terraço distante que ele acabara de atacar. Estava muito longe para eles verem seu rosto,
mas a silhueta era estreita o suficiente para que fosse definitivamente um humano. A pessoa percebeu o dano
no corrimão e se inclinou sobre a borda para olhar o mundo abaixo.

Não havia nenhum lugar para Kirito e Ronie se esconderem na margem do rio, mesmo que o palácio
estivesse a mais de um kilor de distância. A pessoa no terraço os avistou... Foi o que pareceu.

A figura levou a mão à boca. Ronie só percebeu que o gesto era um assobio quando um dragão cinza abriu
suas asas e levantou vôo da plataforma de lançamento maior na parte de trás da montanha. O dragão se
ergueu ao contornar a encosta da montanha e então pairou perto do terraço em questão. A figura pulou em
suas costas e apontou diretamente na direção da margem do rio onde Ronie e Kirito estavam.

"I-Isso é uma m-m-m-má notícia! Eles nos viram completamente!!"

"Isso foi rápido. Muito rápido."

"Eu não acho que este seja o momento para admiração ociosa! Precisamos sair daqui, ou…"

Mas o puxão dela em sua capa provou ser inútil. Kirito agarrou o braço de Ronie e a colocou na frente dele.
O dragão agora estava mergulhando para baixo, diretamente na direção deles.

'Bem, acho que tenho que cumprir meu dever como guarda-costas!' – ela disse à si mesma, apertando o cabo de
sua espada longa recém-adquirida.

Apenas 3 segundos depois, o dragão cinza alcançou o espaço acima e bateu suas asas para controlar sua
descida, então a pessoa saltou agilmente de suas costas, pousando na margem rochosa do rio sem fazer
barulho. Como os dois, aquela pessoa estava usando uma capa com capuz que mantinha seu rosto escondido
da vista. A pessoa não usava espada, mas com base em seu domínio do dragão, ela deve ter sido um cavaleiro
das trevas de elite. Ronie estava diante de Kirito, mantendo vigilância máxima para garantir que ela estivesse
pronta para desembainhar sua espada a qualquer momento. Mas…

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O dragão cinza pousou depois de seu cavaleiro, fazendo o chão tremer sob seus pés, e estendeu seu longo
pescoço para farejar primeiro Ronie, depois Kirito. Em seguida, ele vibrou, suave e amigável, e acariciou a
cabeça de Kirito com a lateral de seu longo focinho.

"Huh…?" – Ronie estava pasma. Ela tinha ouvido falar que os dragões do Território Negro, assim como
aqueles do Território Humano, eram muito orgulhosos e distantes com estranhos. Era impossível que algum
deles baixasse a guarda desta forma perto de um estranho... Mas então, ela percebeu as muitas cicatrizes de
lança nas escamas cinzentas do dragão.

"Oh... Esse é...?"

Mas Kirito respondeu à pergunta antes que ela pudesse pronunciar inteiramente da sua boca. Ele esfregou o
queixo do dragão com as duas mãos e falou. – "Pronto, pronto. É bom ver você de novo também, Yoiyobi.
Como você tem estado?"

Ela nunca esqueceria esse nome. Pertencia à um dragão lendário que lutou bravamente por conta própria
contra um exército de cavaleiros vermelhos na Guerra do Underworld. Não era o parceiro de um soldado das
trevas, mas de um Cavaleiro da Integridade – uma pessoa que era outra figura lendária, a Cavaleira
Silenciosa…

"...É... É você... Sheyta-sama?" – Ronie perguntou ao soldado encapuzado.

A figura abaixou o capuz e falou. – "Kirito... Ronie. O que vocês estão fazendo aqui?"

Sheyta Synthesis Twelve.

No estado atual da cavalaria, ela era uma das cavaleiras mais antigas depois de Fanatio e Deusolbert, e de
acordo com os rumores, sua habilidade com a espada era igual à do comandante original, Bercouli Synthesis
One. Sua arma divina fora um presente da própria pontífice. A Espada Lírio Negra poderia cortar qualquer
coisa no mundo, e Sheyta a havia usado com grande efeito contra as hordas de pugilistas e cavaleiros
vermelhos na guerra, em uma verdadeira batalha de um contra mil. Mas assim que a guerra acabou, ela
deixou a Catedral Central; agora ela vivia no Palácio de Obsidia como embaixadora plenipotenciária do
conselho. Em outras palavras, ela era a pessoa perfeita para Kirito e Ronie entrarem em contato – o único
problema era como Kirito a explicaria o fato de se encontrarem aqui. O fato dele ter jogado uma Espada
Encarnada no castelo e a única pessoa que eles precisavam que saísse para investigar parecia mais um
resultado planejado do que um acaso feliz.

Ronie suprimiu seu desejo de interrogar Kirito, optando por observar a interação deles com a respiração
suspensa.

"Lamento assustar você assim, Sheyta." – Kirito se desculpou, abaixando o capuz e coçando a cabeça
envergonhado. – "Foi a única ideia que tive para chamar sua atenção..."

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O mais leve olhar de pesar cruzou as belas feições reservadas de Sheyta. – "Sim, você me assustou. Quando eu
percebi que alguém havia atingido a borda com uma lâmina de Encarnação do outro lado do rio, pensei que
o Comandante Bercouli tinha voltado à vida."

Sua maneira de falar era simples e monótona, sem nada da delicadeza de seu sexo, mas ela estava mais
«prolixa»5que no passado, e o tom de sua voz parecia mais suave de alguma forma.

"...Mas como você sabia que eu estava naquele quarto?" – Sheyta perguntou.

Kirito encolheu os ombros e respondeu. – "Porque parecia o mais perigoso, eu acho."

Sheyta repetiu o gesto, parecendo um pouco descontente. – "Eu achei que tinha suprimido meu espírito de
espada. Se você pôde me sentir de tal distância, então ainda tenho muito que progredir pela frente."

Isso fez Ronie perceber, finalmente, que Kirito não estava simplesmente adivinhando sobre o alvo de sua
Espada Encarnada. O gesto que ele fez com os dedos antes da luz aparecer em sua mão deve ter sido ele
procurando pela presença de Sheyta. Era uma habilidade que ela sabia que nunca poderia replicar. Mas…

"Hum, Kirito-senpai, se você tem poderes tão incríveis, você realmente precisa se envolver no que parece
essencialmente uma criança jogando uma pedra na janela de seu amigo?" – ela interrompeu.

Kirito se virou para ela e sorriu. – "O que é isso? Você já foi visitada por um garoto assim antes?"

"Eu-Eu não estava falando por experiência própria!"

"Então talvez fosse você quem estava usando esse método para..."

"N-Não, é claro que eu nunca fiz nada assim!" – ela protestou vigorosamente.

Sheyta deu-lhes um sorriso tênue e irônico, e disse à Ronie. – "A longa jornada deve ter sido cansativa. Vocês
podem descansar no castelo."

Ela gesticulou com a mão e Yoiyobi abaixou o corpo. Não havia sela nas costas do dragão, mas isso significava
que havia espaço suficiente para os três se espremerem juntos. Com Ronie na frente, Kirito atrás e Sheyta
sentada entre eles, o dragão veterano deu uma corrida rápida ao longo da margem do rio e decolou
graciosamente, suportando facilmente o peso de três pessoas e duas armas divinas. Com uma batida
poderosa de suas asas, o dragão subiu rapidamente, dirigindo-se ao topo do Palácio de Obsidia. Os guardas
devem ter notado agora, mas eles sabiam que era o dragão da embaixadora, e eles não tinham se alarmado
sobre a cena.

5
Alguém que usa palavras em demasia ao falar ou escrever; que não sabe sintetizar o pensamento.

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Em 2 minutos, Yoiyobi os trouxe para o terraço, baixou o trio, vibrou e voltou para a plataforma maior do
outro lado da montanha. Quando a enorme criatura ficou fora de vista, Ronie caminhou até o corrimão de
obsidiana para inspecionar o local que Kirito havia atingido com sua Encarnação. Como ela temia, havia um
pedaço de mais de 1 cen de profundidade cravado ali.

'Isso vai fazer com que gritem com nós...' – ela pensou, desviando o olhar – mas quando ela realmente olhou
para a visão diante dela, aquela breve preocupação que ela tinha foi totalmente esquecida.

"Oh... Uau...!"

Abaixo dela estava toda a cidade de Obsidia. Ao contrário de Centoria e seus padrões radiais ordenados, esta
era uma cidade de caos e desordem, mas isso apenas a fazia parecer ainda mais ousada e viva.

"Ali, parece que o próprio solo está empilhado em várias camadas... Ah, e aquilo é um coliseu? É enorme…
Kirito-senpai, veja!" – Ronie disse, apontando com entusiasmo.

Por cima de seu ombro, Sheyta disse. – "Há muitas outras coisas para ver aqui, e se você tiver tempo, eu
recomendaria alguns passeios turísticos... Mas por outro lado…" – Ela se afastou de Ronie e deu a Kirito um
olhar penetrante. – "Suponho que você não veio até aqui para me visitar e para se divertir. Aconteceu alguma
coisa em Centoria?"

"Isso mesmo." – Kirito confirmou. Ele chamou sua atenção. – "Embaixadora Plenipotenciária Sheyta,
solicito uma reunião urgente com o Comandante Iskahn."

A sala que levava ao terraço estava cheia de luz quente e brilhante, para os padrões do reino escuro. As
paredes e o teto eram pintados de rosa claro, as cortinas eram de um amarelo claro e o tapete era verde como
a grama fresca. A grande lareira queimava pedras em vez de lenha, e estava quente o suficiente para que, se
Ronie se mantivesse vestindo sua capa, ela poderia começar a suar. 'Seria uma escolha surpreendente de
decoração se este fosse o quarto de Sheyta.' – ela pensou, mas a verdadeira resposta tornou-se aparente para ela
muito rapidamente.

Havia uma pequena cama com cerca de 1 mel de largura do outro lado da lareira e, quando Sheyta se
aproximou dela, surgiu um sorriso incrivelmente caloroso e gentil em seu rosto. Ela se virou e acenou para
Ronie e Kirito em silêncio. Eles se aproximaram silenciosamente para mais perto e olharam para a cama,
onde um bebê enrolado em um cobertor branco puro dormia profundamente.

Não tinha mais de 3 meses de idade, com um tufo de cabelo macio que era ruivo escuro; seu nariz, boca e as
mãos agarradas ao lado de sua cabeça eram tão pequenos que era difícil de acreditar. De acordo com as
histórias, esse bebê era filho de Sheyta e Iskahn, o líder da guilda dos pugilistas. Era uma menina, pelo que
Ronie se lembrava. Então, ela sussurrou para a mãe. – "Qual é o nome dela...?"

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"Leazetta." – Sheyta disse em tom de orgulho. Ela olhou para Kirito e acrescentou. – "Peguei a primeira sílaba
da Espadachim Verde, Leafa."

"Você fez isso…? Eu não fazia ideia." – murmurou Kirito, sorrindo enquanto olhava para o bebê adormecido.

Um silêncio suave e reconfortante preencheu os próximos 20 segundos, apenas para ser quebrado pelo som
da porta do corredor se abrindo e o pior exemplo do mundo de uma voz anasalada de bebê jorrando de lá.

"Lea, é hora de tomar seu delicioso «milk»6..."

Um jovem carregando duas bandejas entrou na sala. Seu cabelo curto e encaracolado, da cor
vermelho-dourado como fogo, era mantido no lugar por uma faixa simples de prata e, apesar de ser inverno,
ele usava apenas uma camisa de linho fina. Ele usava também calças curtas e sandálias, mas os músculos
ondulados e incontáveis ​cicatrizes visíveis em seus ombros e braços expostos, junto com seu olho direito
arrancado, indicavam que ele era um guerreiro endurecido pela batalha.

Em contraste, no entanto, o sorriso relaxado e bobo no rosto do guerreiro era muitas vezes mais feliz do que
até mesmo a expressão de Kirito ao comer uma torta de mel. Isso deixou Ronie horrorizada.

O caolho finalmente percebeu Ronie e Kirito parados perto da cama, e seu sorriso sumiu. Suas sobrancelhas
grossas se curvaram para cima com suspeita, e sua linha de visão começou a intercambiar entre eles e Sheyta.

Antes que o homem dissesse qualquer coisa, Kirito ergueu a mão e falou. – "Ei, Iskahn. Há quanto tempo."

6
Significa leite, mas aqui é usada como uma palavra sagrada, então decidi deixar em inglês mesmo. Irão entender o porquê disso mais
à frente.

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O comandante supremo do Território Negro e campeão da guilda dos pugilistas, Iskahn, abriu seu único
olho o máximo que pôde. – "É… É você K-K-Kirito?! Por que seu rosto está dessa cor...? Ou melhor, o que
você está fazendo aqui?! A próxima reunião é somente em março!"

"Na verdade, eu tinha uma pequena incumbência a executar. Desculpe incomodar você sem avisar."

"B-Bem, está tudo bem... Mas espere. Espere, espere, espere." – um sulco profundo percorreu a testa de
Iskahn. Sheyta caminhou até o marido e pegou as bandejas de suas mãos. O pugilista pareceu nem notar de
tão perdido que estava em seus pensamentos. – "Kirito, você... Você ouviu aquilo de agora a pouco...?"

"Ouvi o quê…? Oh, sobre o leite delicioso? Você realmente se apegou à paternidade, não é Ishkan?
Ha-ha-ha."

"Não me venha com 'ha-ha-ha'! Agora que você ouviu isso, não posso deixar você sair ileso. Eu tenho que
tirar essa memória da sua cabeça!" – ele gritou, cerrando seu poderoso punho, e sua pele brilhou em chamas
vermelho-pálidas.

"Hum, K-K-Kirito-senpai...?" – Ronie gaguejou, sem saber como cumprir seu papel de guarda-costas no
momento. Ele estendeu a mão para empurrá-la de volta e parou diante de Iskahn, estendendo a palma de sua
mão esquerda.

"Pode vir!!"

"Raaaah!!"

Iskahn saltou. Ele deixou um rastro de fogo vermelho no ar, lançando um soco com tanta velocidade que
Ronie não conseguiu seguí-lo a olho nu. Aquilo fez contato com a palma da mão de Kirito. Houve um
impacto explosivo que fez as cortinas e outros tecidos decorativos balançarem. Foi claramente um soco
devastadoramente poderoso, mas Kirito permaneceu no lugar com não mais do que uma ligeira inclinação
para trás, parando o golpe de Iskahn com apenas uma mão.

O líder dos pugilistas e o representante espadachim do reino humano ficaram imóveis, com as mãos, direita e
esquerda, conectadas. Eventualmente, Iskahn ergueu a cabeça e sorriu. – "É bom ver que você não perdeu
seu vigor, Kirito."

"Digo o mesmo de você, Iskahn."

Ao lado dos homens sorrindo assustadoramente um para o outro, Sheyta segurava as bandejas com uma
irritação mal disfarçada. Ronie se aproximou da cama, se perguntando se o som havia acordado o bebê. Mas
Leazetta estava dormindo feliz sem notar nada do clamor que acabara de acontecer. Ela realmente era filha da
cavaleira e do pugilista mais forte do mundo.

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Quando os guardas chegaram, atraídos pelo som da explosão, Iskahn os empurrou pela porta e os instruiu a
trazer mais duas cadeiras, que se juntaram as duas já alinhadas perto da janela. Os guardas desconfiaram de
Kirito e Ronie, é claro, mas cederam quando Iskahn disse à eles para não se preocuparem, e que ele explicaria
tudo mais tarde. Esse era o efeito da Lei do Poder ou da confiança que Iskahn gerava como líder.

Depois que os guardas saíram, os sinos das nove horas tocaram e o bebê acordou como se fosse um comando,
franzindo o rosto e chorando. Sheyta pegou Leazetta da cama e sentou-se em uma das cadeiras para lhe dar
leite de uma mamadeira feita de nozes-phibo, que também existia no reino humano. Quando aquecidas, as
nozes-phibo se tornavam tão translúcidas e ocas como garrafas de vidro, e a haste em forma de mamilo tinha
a quantidade certa de resiliência e perfuração para permitir a passagem do líquido. Por isso, dizia-se que a
deusa Terraria havia criado a planta justamente para bebês. Agora que Ronie sabia sobre o mundo real, era
difícil não interpretar essa afirmação literalmente – que elas realmente foram criadas, apenas por pessoas do
mundo real, e não por Terraria.

Sheyta, em transe, observou Leazetta beber ruidosamente, então ergueu a cabeça e disse. – "Você gostaria de
segurá-la?"

"Posso mesmo?" – Ronie perguntou.

"É claro."

Ela pegou o bebê com o braço esquerdo e a mamadeira com o direito e a levou à boca do bebê. Os olhos de
Leazetta fitaram Ronie, cinzentos como os de sua mãe, mas ela voltou a beber o leite imediatamente. Ronie
dera leite a Berche assim várias vezes na catedral, mas segurar uma menina era muito diferente.

"Eu gostaria de amamentá-la pessoalmente, mas os pugilistas têm sua própria mistura secreta de fórmula
láctea." – explicou Sheyta.

Iskahn percebeu o comentário e mudou o assunto de sua conversa sobre as últimas notícias com Kirito para
falar. – "Pode apostar. Se ela beber a fórmula, ela nunca ficará doente, seus ossos ficarão duros e ela será uma
criança saudável e forte."

O termo «milk», no caso desta mistura, era uma palavra sagrada comum – um termo que não se originava
da língua comum, mas era compreendido por todos – e se referia ao leite de vaca ou de cabra, aquecido à
temperatura da pele e misturado com certos elementos medicinais especificamente para bebês. O que essa
mistura consistia variava de acordo com a família e região – portanto, a referência de Sheyta à fórmula
secreta. Ronie sempre ouviu que o leite materno era o melhor, como Sheyta havia dito, e talvez fosse verdade,
mas se não fosse pelas garrafas de noz-phibo e a mistura de leite, seria muito mais difícil para famílias de
agricultores e comerciantes ocupados criarem seus bebês.

De sua parte, Leazetta não tinha queixas sobre a receita secreta da guilda dos pugilistas; ela bebeu
rapidamente e depois arrotou. Ela ainda parecia sonolenta, então Sheyta a pegou de volta de Ronie e a deitou

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na cama novamente. Quando ela voltou e se sentou na cadeira, sua expressão havia passado de uma mãe para
a de um cavaleiro.

"Então, o que aconteceu?" – ela perguntou.

Kirito começou a contar-lhes sobre o assassinato ocorrido 2 dias antes em Centoria do Sul. Iskahn e Sheyta
ouviram em silêncio, mas quando a história chegou ao tópico de Oroi, o goblin da montanha e suspeito do
assassinato, os dois inalaram. Mas eles não interromperam, então Kirito continuou a história, explicando
como ele e Ronie usaram um "dragão" para voar para fora do reino humano e alcançar Obsidia na noite
anterior.

"...Entendo... É uma provação terrível que colocamos sobre você." – disse o comandante, mas o representante
apenas balançou a cabeça.

"Não, eu só queria ter enviado um mensageiro para avisá-lo primeiro... Mas eu sabia que isto levaria cerca de
um mês antes que ele recebesse uma resposta e completasse a viagem de volta."

O contato entre Centoria e Obsidia no momento era feito por meio de mensageiros à cavalo que percorriam
uma série de dezenas de cidades e fortes. Todo o processo demorava duas semanas inteiras para ir de uma
ponta para outra. E isso sem levar em conta o perigo das muitas bestas mágicas maiores que viviam no
Território Negro e que poderiam atacar os mensageiros.

"Verdade... Se ao menos pudéssemos encontrar aquele crânio mestre…" – resmungou Iskahn, arrancando um
aceno de compreensão de Kirito.

Então, coube a Ronie perguntar. – "Hum, o que é um... Crânio mestre?"

"Oh, isso? Eu não sabia sobre isso até depois da guerra, também. Durante a Guerra do Underwolrd, o
Imperador Vector usou um Objeto Divino para dar ordens a Iskahn e ao resto dos dez senhores. Era um
grande crânio mestre e dez crânios de escravos que combinavam. Quando ele falava para o mestre, sua voz
saía instantaneamente nos crânios subsidiários, não importa o quão longe eles estivessem."

Sua explicação a deixou com os olhos arregalados. – "I-Instantaneamente...?! Se tivéssemos tal coisa, não
haveria necessidade de cartas ou mensageiros."

"Não, não haveria... Mas é uma conversa unilateral de mestre para escravo, então você não poderia realmente
responder de volta com apenas um conjunto." – Kirito fez essa observação.

"Mas depois da guerra, o crânio mestre e vários dos escravos desapareceram, então até isso está fora de alcance
por enquanto." – Iskahn explicou, exalando profundamente e balançando a cabeça. – "Mas o maior
problema é esse assassinato no reino humano. Isto é impossível... As pessoas que vão passar férias no reino
humano têm que pegar um documento que proíbe roubo, luta e morte, em nome do Conselho dos Cinco

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das Trevas e em meu nome, o comandante supremo do Exército das Trevas. Eu assino pessoalmente cada um
desses... Então, enquanto a Lei do Poder existir, há apenas uma pessoa em todo o reino das trevas que pode
ignorar essas ordens."

Ronie presumiu que ele estava falando sobre si mesmo, é claro. Mas então Sheyta interrompeu. – "Duas
pessoas."

"……Apenas duas pessoas." – Iskahn se corrigiu, fazendo uma careta. Os cantos da boca de Kirito se curvaram
brevemente para cima.

"Eu concordo com você." – disse ele. – "Na verdade, a adaga que Oroi supostamente usou para matar o
faxineiro humano desapareceu do arsenal. Acho que provavelmente era uma arma temporária, gerada com
elementos de aço... Embora essa fosse a suspeita de Ronie, não minha."

"Parece que sua aluna tem uma boa cabeça sobre os ombros."

"E-Ela não é uma aluna, na verdade..." – Kirito disse sem jeito.

Ronie começou a se perguntar exatamente o que ela era para Kirito, mas ela afastou o pensamento de sua
mente e ergueu a mão para falar. – "Hum, eu estava pensando um pouco mais sobre isso... A arma do crime
foi uma recriação de uma adaga de goblin da montanha que era realista o suficiente para Oroi confundí-la
com a coisa real por um momento. Portanto, assumimos que um mago das trevas esteve o tempo todo
envolvido no incidente de alguma forma. Mas…"

Ela fez uma pausa momentânea, olhando para Sheyta e Iskahn por sua vez, e reuniu sua coragem para
perguntar. – "Nessa nota, qual é o estado da guilda dos magos das trevas agora...?"

Marido e mulher trocaram um olhar rápido. Iskahn tossiu e respondeu. – "Eu ia relatar isso na próxima
reunião... Infelizmente, não temos uma ideia clara do estado atual da guilda."

"O que isso significa?" – Kirito perguntou, com suas sobrancelhas franzidas.

"Depois que a Espadachim Verde matou Dee Eye Ell, uma maga com o nome de Kay Yu Vee assumiu o
comando. Mas embora eu não saiba muito sobre artes das trevas, até eu poderia dizer que ela não tinha forças
para manter a guilda." – disse Iskahn.

Sheyta acrescentou para maior clareza. – "Até minha habilidade com tais artes é maior do que a dela."

"Após uma investigação mais aprofundada, descobrimos que quando Dee ainda estava viva, Kay era, no
máximo, a décima na hierarquia interna. O que significa que um bando de membros seniores subiram e
desapareceram."

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"...Não fora cerca de 2 mil magos das trevas que morreram na batalha no Portão Leste? Isso não sugere que
essas pessoas estavam nesse grupo?" – Kirito apontou.

Iskahn fez uma careta e respondeu. – "Eu duvido... Essas pessoas dessa guilda são tão tenazes quanto bestas
mágicas quando se trata de se agarrar teimosamente à vida. Se Dee não tivesse lutado com a Espadachim
Verde, ela ainda estaria viva hoje. Não são pessoas nobres o suficiente para que os 10 melhores magos
simplesmente tenham morrido juntos na batalha."

Ele olhou para trás para Ronie e concluiu. – "Então, é possível que a guilda dos magos das trevas atualmente
participando do Conselho dos Cinco seja apenas uma fachada. A verdadeira força dos magos pode estar
escondida em algum lugar. E isso significa que eles podem estar envolvidos neste problema no reino humano.
Mas... Ronie, certo? Você parece pensar diferente."

"Isso mesmo. Não tenho evidências para negar completamente essa possibilidade... Mas achei estranho. Se o
verdadeiro culpado é a guilda dos magos das trevas escondida, por que eles precisariam criar uma arma falsa
com elementos de aço? Eles não seriam capazes de obter uma verdadeira adaga goblin com bastante
facilidade...?"

"…Este é um bom ponto. Para um goblin, uma adaga com o símbolo do clã é um item muito importante,
mas ainda são peças de ferro fundido produzidas em massa. Você poderia facilmente conseguir uma ou duas
roubando ou comprando da pessoa certa." – Iskahn murmurou.

"Se o verdadeiro objetivo do culpado é culpar Oroi pelo assassinato e aumentar as tensões entre os dois
reinos, ter uma adaga de verdade seria um método mais eficaz." – concordou Kirito. – "Então, se eles não
foram capazes de fazer isso, significa que o culpado é... Alguém do lado humano...?"

"Isso levantaria um mistério ainda maior." – Sheyta apontou, e seus olhos amendoados se estreitaram ainda
mais. – "Do lado humano, estamos sujeitos à leis muito mais rígidas do que no reino das trevas. O assassinato
é uma violação muito clara do Código de Tabus. Então, se a pessoa que matou o faxineiro é do reino
humano, isso significa que essa pessoa é capaz de ignorar o Códio de Tabus."

Kirito e Ronie assentiram juntos em silêncio. Esse ponto também foi levantado na discussão com Fanatio
após o incidente. Mesmo um Cavaleiro da Integridade desvinculado do Código de Tabus não poderia
simplesmente tirar a vida de um cidadão inocente como o faxineiro Yazen, inteiramente por sua própria
vontade.

"Nós simplesmente não sabemos de nada com certeza." – Kirito murmurou, balançando a cabeça
lentamente.

Iskahn balançou a cabeça, perdido em seus pensamentos. Eventualmente, ele bateu palmas, cortando a névoa
figurativa que os cercava. – "Tudo bem! Nós entendemos a situação agora. Infelizmente, provavelmente
precisaremos cancelar o negócio de viagens turísticas para o lado humano por um tempo…"

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"Sim... Estamos escondendo as informações dentro de Centoria por enquanto, mas se um segundo ou
terceiro incidente ocorrer, mesmo o Conselho de Unificação não será capaz de controlar a situação. Eu
planejo fechar temporariamente o Portão Leste e fazer com que os visitantes que estão atualmente em
Centoria voltem para casa o mais rápido possível." – disse Kirito, com profundo pesar. – "Além disso…
Quanto a Oroi, o goblin da montanha... Estamos mantendo-o na Catedral Central por enquanto, mas não
podemos deixá-lo ir imediatamente. Ele pode nos fornecer mais informações e nós podemos descobrir por
que ele foi incriminado. Oroi é do clã Ubori, em Saw Hill. Receio que…"

"Compreendo. Vou enviar um mensageiro à Ubori para explicar a situação." – concordou Iskahn. Ele voltou
seu único olho para a janela, então olhou de volta para Kirito. – "Isso resolve a questão dos turistas que vão
para o reino humano... Mas, e os comerciantes que vêm aqui do seu lado? Há uma caravana deles hospedada
em Obsidia no momento."

"Hmm, essa é uma boa pergunta..." – disse Kirito, cruzando os braços.

Como parte do intercâmbio cultural entre os dois lados, além dos turistas que visitavam o reino humano
vindos do reino das trevas, o lado humano enviava suas próprias caravanas comerciais para Obsidia. Estava
em uma escala de teste por enquanto, com apenas alguns vagões de mercadorias selecionadas para
negociação, para ver o que funcionava e o que não funcionava, mas havia muitas coisas exóticas aqui que não
podiam ser encontradas dentro do reino humano, como esses minérios de iluminação. Os maiores
mercadores podiam sentir o cheiro de uma grande oportunidade de negócios surgindo, e estavam batendo na
porta dos funcionários responsáveis por organizar as caravanas com inscrições para fazerem parte dessas
caravanas.

"…Se a parte responsável é um poder organizacional e tem membros aqui em Obsidia, então eles podem estar
procurando causar o reverso da matança de humanos… Digamos, um dos comerciantes humanos matando
um residente de Obsidia. Mas as caravanas têm homens armados veteranos e usuários de artes como guardas
pessoais, e eles não têm permissão para vagar livremente, também... Então, eu penso que não seria tão fácil."
– explicou Kirito.

Sheyta concordou. – "Não acho que haja necessidade de cancelar o negócio dos comerciantes… Pelo menos
não imediatamente. As caravanas estão trazendo muitos medicamentos e reagentes valiosos para cá, então a
presença deles é mais bem-vinda do que eu poderia ter pensado... Só por precaução, vou colocar um aluno na
caravana enquanto eles estão hospedados em Obsidia."

"A-Aluno...? Eu pensei que você estava aqui em uma missão solo, Sheyta…" – Kirito comentou, com seu
rosto escurecido cheio de surpresa.

Com uma mistura de preocupação e orgulho, Iskahn disse. – "É isso aí. Sheyta é atualmente a embaixadora
plenipotenciária e também uma mestra convidada da cavalaria negra."

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"O-O que significa mestra convidada...?"

"Quando ela foi observar os cavaleiros, o jovem capitão deles a desafiou para uma partida de luta, então ela
usou uma espada emprestada – e nem mesmo precisou usar a espada real, apenas a bainha – e o derrotou
facilmente. Agora ela tem seu próprio salão de treinamento no quartel general dos cavaleiros."

"Eu só tenho um punhado de alunos; menos de 10. Mas todos eles têm um grande potencial." – explicou
Sheyta.

"Ah... Entendo..." – disse Kirito, que estava claramente sem palavras.

Ela acrescentou. – "Você deveria vir ao salão e dar-lhes uma boa demonstração."

"Oh, uh, me-melhor não, eu mal treinei nos estilos tradicionais de esgrima…" – Kirito murmurou, tentando
se afastar com a cadeira.

Iskahn estendeu a mão e apertou seu ombro. – "Perfeito. Depois dos cavaleiros, você também pode ir para a
sala de treinamento dos pugilistas. Existem muitos lá que duvidam de sua verdadeira capacidade, e eu preciso
que você mostre à eles a Lei do Poder."

"E-Eu prefiro não ir! Eu mudei de ideia; Eu quero ser um burocrata!"

'Oh, senpai... Eu não acho que ele vai te deixar sair dessa.' – pensou Ronie, desfrutando do pânico de Kirito.

Kirito e Ronie usaram o banheiro privativo de Sheyta e Iskahn para limpar a poeira de suas viagens, bem
como seus rostos, e foram levados para quartos de hóspedes no mesmo andar do palácio. Sua visita não
anunciada foi explicada ao resto da equipe dizendo que eles eram uma equipe de mensageiros do Império
Humano.

Não foi mencionado que Kirito era o representante espadachim do reino humano, então os guardas olharam
sua armadura leve com suspeita – os enviados não costumavam estar armados – mas mudaram de atitude
quando notaram as armas que os dois carregavam. Objetos Divinos eram ainda mais raros no Território
Negro do que em Centoria. Eles descansaram um pouco nos dois quartos de hóspedes adjacentes, depois se
juntaram à Iskahn e Sheyta para almoçar à tarde. Eles foram guiados em torno de Obsidia até o quartel
general da cavalaria negra e a guilda dos pugilistas, em uma carruagem à tarde. Kirito quase foi colocado em
uma partida com o enorme vice-capitão da guilda dos pugilistas, mas mal conseguiu argumentar para sair
disso, alegando: "Estou apenas em uma missão secreta!"

Depois disso, eles visitaram o mercado central e o grande coliseu, mas é claro, o dia inteiro não foi apenas
para passear. Kirito e Iskahn passaram grande parte da viagem trocando opiniões sobre o incidente e o
negócio de intercâmbio cultural, e Ronie estava sempre vigilante em seu dever como guarda-costas. Claro, já
que junto deles estava também a Cavaleira da Integridade de elite Sheyta, a Silenciosa, era improvável que os

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serviços de Ronie fossem necessários. Nesse ponto, um pensamento tardiamente lhe ocorreu. Quando
Sheyta voou sobre Yoiyobi, e durante a viagem pela cidade, ela não estava carregando uma espada. Enquanto
a carruagem rodava de volta para o palácio, Ronie mudou de posição no longo banco na direção de Sheyta.

"Hum, Sheyta-sama? Você não tem uma espada com você...?"

Os olhos da cavaleira se estreitaram brevemente com uma lembrança afetuosa. – "Não. A Espada Lírio Negra
foi minha primeira e última lâmina."

"..."

Ronie ainda não conseguia entender o que significava para um Cavaleiro da Integridade perder a arma divina
com a qual seu coração e alma estavam fundidos. Ela não tinha nenhuma pergunta complementar, então
Sheyta tocou a mão de Ronie de forma tranquilizadora e sorriu.

"Eu não sou mais 'a Silenciosa'. Agora eu sou Sheyta, a Desarmada. E estou muito satisfeita com isso...
Embora que às vezes eu me lembre da Lírio Negra e me sinta solitária."

"Oh, eu entendo…"

'Eu nunca poderei imaginar o quão distante é a altura que ela vive.' – a aprendiz percebeu naquele momento.

Então foi a vez de Sheyta fazer uma pergunta inesperada. – "Você acabou de pegar essa espada?"

"S-Sim... Isso mesmo. No entanto, eu ainda não dei um nome à ela." – Ronie admitiu, tocando o punho de
prata da espada.

"Entendo. Seus laços com ela ainda são superficiais, mas é uma espada muito boa. Valorize-a... Porque as
guerras podem terminar, mas as batalhas de um cavaleiro nunca terminam."

"Sim, senhora!" – Ronie respondeu nitidamente. Em frente à elas, Kirito e Iskahn olharam surpresos.

Por fim, a carruagem passou pela cidade do castelo e cruzou a ponte até o portão, que era o limite oficial do
Palácio de Obsidia. Com 500 mels de altura, o palácio estava muito longe da altura da Catedral Central, mas
ainda tinha 50 andares, ao todo. Não tinha, entretanto, uma plataforma de levitação automatizada para
transportar pessoas para cima e para baixo. As escadas eram a única maneira de se chegar aos andares
superiores, mas dizia-se que servia também como contra-ataque aos ataques.

Os quatro subiram sem parar até o 49º andar, onde Iskahn e Sheyta moravam. Kirito e o casal não estavam
cansados ​da viagem, mas Ronie respirou pesadamente por um ou dois minutos depois que pararam – um
sinal de que ela precisava melhorar mais sua resistência física. Ela agradeceu aos três por esperarem enquanto

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ela recuperava o fôlego, mas então ela percebeu que a grande escada continuava subindo. – "Hum…
Sheyta-sama, o que está acima de nós?"

Foi o comandante supremo, não a embaixadora plenipotenciária, que respondeu à pergunta. – "O 50º andar
é a sala do trono. No entanto, só entrei uma ou duas vezes lá."

"Sala do trono…? Para o Imperador?" – Kirito perguntou.

Iskahn fez uma careta e acenou com a cabeça. – "Isso mesmo. Quando o Imperador Vector apareceu há cerca
de 1 ano, isto aconteceu no andar bem acima de nós."

"P-Podemos ir dar uma olhada...?" – Kirito perguntou, com a curiosidade estampada em seu rosto. Iskahn
estendeu as mãos.

"Eu não me importaria, é claro... Mas no momento em que o Imperador Vector morreu – no momento em
que você o matou – a porta para o 50º andar foi trancada pelas Correntes de Selamento novamente, e não há
nada que você possa fazer para cortá-las. Há uma lenda que diz que você pode ver as Montanhas Finais e o
Portão Leste a partir do 50º andar, então eu gostaria de poder entrar lá de novo…"

A Cavaleira da Integridade de quem foi dito que não havia "nada que ela não pudesse cortar" acenou com a
cabeça severamente. – "Eu até peguei uma espada emprestada do repositório do tesouro para testá-la e
também não consegui cortar as correntes. No entanto, acho que eu poderia cortar isso com apenas um golpe
da Espada Lírio Negra."

"Hmm…"

Ficou claro para Ronie, pela expressão no rosto de Kirito, que ele realmente queria tentar com a Lâmina do
Céu Noturno, então ela rapidamente puxou sua manga duas vezes. Ele captou os sinais mentais dela de "Não
se atreva!!" e recuou, mas não antes de um último olhar de desejo para a escada.

"Tudo bem. Acho que vou ter que esquecer de ver a sala do trono."

"Mas vou compensar: vamos preparar um jantar com todos os tipos de coisas que você nunca comeu antes."

"Isso parece divertido." – Kirito concordou.

Sentindo que a conversa havia acabado, Sheyta deu um passo para trás. – "Vou dar leite à Leazetta agora. Vejo
vocês no jantar."

"Opa, eu tenho que ir com você. Eu só vi o rosto da minha pequena garotinha uma vez hoje."

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Os dois novos pais partiram. Kirito acenou para eles enquanto caminhavam, então deu outra olhada para as
escadas do último andar. Ronie apenas balançou a cabeça em silêncio.

"Eu sei, eu sei" – disse ele, sorrindo. – "Vamos… Vamos voltar para nossos quartos."

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Capítulo 8

O jantar foi apenas entre Iskahn, Sheyta, Kirito, Ronie e Leazetta, mas foi uma noite agradável e
animada, como se Ronie estivesse de volta em sua casa em Centoria do Norte.

Iskahn trouxe pratos exóticos, alguns dos quais quase pareciam ornamentados, como espetos de lagarto
arco-íris e cogumelos espumantes fritos, mas Kirito devorou ​todos com gosto, muitas vezes elogiando os
resultados culinários, para o deleite de Leazetta que dava gargalhadas. A visão de sua filha se divertindo
deixou Sheyta e Iskahn radiantes.

Ronie terminou sua refeição descobrindo um novo apreço pelo calor dos bebês e das famílias. Ela tomou
seu segundo banho do dia e voltou para seu quarto de hóspedes. O banheiro era muito menor do que o
da Catedral Central, é claro, mas considerando que ficava quase no topo de um palácio de 500 mels de
altura, era nada menos que um milagre que houvesse água quente fresca disponível 24 horas por dia.
Não parecia envolver artes sagradas, como na catedral, então era um mistério como eles conseguiam tanta
água quente lá em primeiro lugar. Depois, ela soube que quando isso ainda era apenas uma montanha
intocada, uma fonte de água termal emergia perto do topo, e no processo de esculpir o palácio, os
construtores utilizaram aquela veia de água para a cozinha, banheiros e aquecimento interno.

O quarto estava quente e a cama macia, em comparação com a pousada barata onde eles haviam se
hospedado na noite anterior, então Ronie vestiu a roupa de dormir que lhe foi oferecida e ficou com
sono antes dos sinos das 9 pm. Eles estariam retornando ao reino humano pela manhã, então ir para a
cama cedo era bom, mas uma parte dela não queria que o dia acabasse. Ela estava deitada de lado, de
frente para a parede norte. Do outro lado, Kirito estaria se preparando para dormir. Talvez ele já estivesse
dormindo. Eles estavam juntos há mais de 40 horas desde que deixaram Centoria, mas parecia que ela
ainda não tinha sido capaz de dizer-lhe nada importante para ela. O que realmente importava era seu
dever de protegê-lo, é claro – ela não estava aqui para poder conversar com ele. No entanto, ela teve que
lutar desesperadamente contra o desejo de sair da cama e bater em sua porta.

Kirito já tinha uma parceira: Asuna. Ela era uma pessoa do mundo real como ele, tão bonita quanto
Stacia e gentil com todos, mas tão forte quanto poderia ser quando ela sacava sua espada. Na guerra,
Ronie só pôde se encolher na carroça e tremer, mas Asuna lutou desesperadamente para proteger Kirito,
sofrendo ferimentos tremendos no processo. Ronie não tinha o direito de competir com alguém como
ela.

'Eu não posso dizer à ele como me sinto. Nunca.'

Ela puxou o cobertor fino até sua cabeça e fechou suas pálpebras com força. Mas a sonolência que ela
tinha permitido escapar não queria voltar. Devido ao cansaço da longa viagem, entretanto, Ronie acabou
caindo no sono sem nem mesmo apagar as lâmpadas de minério – até que ela foi acordada pelo som de
gritos distantes.

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O lado de fora da janela estava tomado pela escuridão; seu corpo lhe disse que provavelmente eram duas
ou três da manhã. Ela se concentrou em sua audição sem se mover da cama e estava prestes a fechar os
olhos novamente, achando que aquilo havia sido um sonho, quando ouviu o som novamente. Era
claramente uma voz muito tensa e acalorada vindo do outro lado da porta. Houve vários conjuntos de
passos apressados. Ela saiu da cama de pijama e encostou o ouvido na porta. Os passos, presumivelmente
pertencentes aos guardas, desapareceram na direção das escadas, então ela silenciosamente abriu a porta e
viu que Kirito estava pondo a cabeça para fora de seu quarto ao mesmo tempo.

"Sobre o que você acha que eles estavam gritando?" – ela perguntou, enquanto o representante
sonolento trotava até ela.

"Eu não sei... Mas parece que todos os guardas correram para o andar abaixo de nós..." – ele murmurou,
piscando até estar totalmente acordado. Ele colocou sua capa sobre os ombros dela e disse. – "Devíamos
dar uma olhada."

"Hum... Você tem certeza?"

"Podemos ajudá-los em alguma coisa." – disse ele, dando um tapinha em seu ombro.

"Tudo bem... Mas se começarmos a atrapalhar, então você tem que voltar logo comigo!" – ela gritou,
quando Kirito começou a correr pelo corredor.

Houve outro grito, muito mais claro e alto, bem quando eles alcançaram o 48º andar. – "Para trás!" –
Disse uma voz que era inconfundivelmente a voz de Iskahn. Kirito e Ronie trocaram um olhar e
correram para o sul pelo amplo corredor. Quando a passagem se dividiu no final, eles pegaram a
bifurcação à direita e viram um grande conjunto de portas duplas. Qualquer que fosse a função que
aquela sala servia, era importante; as pesadas portas de obsidiana estavam decoradas com finos
acabamentos de prata. Elas estavam abertas, e gritos de medo e repulsa dos guardas ecoaram de lá. Kirito e
Ronie correram abaixo pelos últimos 20 mels do corredor e entraram na câmara.

Incontáveis fontes de luz deslumbrantes atacaram sua visão de ambos os lados, cegando-os brevemente. Os
10 guardas mais adiante seguravam lanternas de minério que refletiam em incontáveis ​armas, peças de
armadura, jóias e outros itens enchendo a grande sala. Este deveria ser o arsenal – ou talvez o repositório do
tesouro – do Palácio de Obsidia.

"Seus monstros!" – gritou Iskahn, com sua voz vindo do outro lado dos guardas.

Kirito desembainhou sua espada e saltou asseadamente sobre a multidão de guardas, desaparecendo além
deles. Ronie não teve escolha a não ser seguir seu exemplo, dando uma pequena corrida antes de pular, com
sua capa chicoteando sobre sua roupa de dormir.

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Além das técnicas consecutivas de luta com espadas características do estilo Aincrad de Kirito e Asuna, os
dois colocavam grande ênfase em passos rápidos e grandes saltos, táticas que Ronie estava trabalhando duro
para dominar. Graças à isso, ela conseguiu livrar-se do grupo de guardas. Ela os ouviu gritar de surpresa atrás
dela, mas havia um assunto mais urgente que ocupava sua atenção agora. Alguns mels à frente deles estavam
Iskahn e Sheyta, ambos em suas roupas de dormir. E além deles, estavam duas figuras escuras.

'Montros' realmente era a única palavra para descrevê-los. Sua forma era semelhante ao de um humano ou
demi-humano, mas seus pescoços e braços eram muito mais longos, e suas bocas eram círculos perfeitamente
redondos com fileiras de presas apontando para dentro que se esticavam e se contraíam incessantemente,
como uma certa espécie de peixe. Quatro olhos alinhados em cada lado das cabeças alongadas, asas de
membrana fina cresciam em suas costas e uma longa cauda pendia de cada uma de suas cinturas.

"Esses são... Minions?!" – gritou Kirito. Sheyta e Iskahn olharam para trás ao ouvir a voz dele.

"Desculpe, acho que acordamos vocês. Mas não podemos deixar nossos próprios problemas se espalharem
para os nossos convidados! Eu vou destruir essas coisas bizarras com um golpe!!" – berrou Iskahn, cerrando o
punho que brilhava como fogo. Mas Sheyta estendeu sua mão para impedir seu marido.

"O sangue dos minions é venenoso. Você não pode atacá-los com as mãos vazias."

"Sim, mas..." – protestou Iskahn. Como se entendessem a conversa e aproveitassem o momento de


oportunidade, os dois minions assobiaram agressivamente.

Foi a primeira vez que Ronie viu um minion, mas ela sabia sobre eles. Eles eram criaturas artificiais que
serviam aos magos das trevas do Território Negro. Muitos deles foram convocados para a batalha no Portão
Leste no início da Guerra do Underworld, mas a arte de Controle Perfeito de Arma da Espada Divisora ​de
Tempo do Comandante Bercouli acabou eliminando toda a unidade deles. Uma vez que eles não tinham
realmente causado nenhum dano ao exército humano, eles pareciam pouco mais do que grandes morcegos,
mas na verdade, eles eram muito mais horríveis do que isso. Eles tinham quase 2 mels de altura, e as garras
nas pontas de seus braços esguios eram tão longas e afiadas quanto facas. Eles também eram resistentes à
todos os tipos de elementos, bem como a ataques de estocadas e espancamentos. O meio mais eficaz de lhes
causar danos era um corte de uma lâmina afiada, mas Iskahn e Sheyta não tinham espadas, é claro. Tarde
demais para fazer qualquer coisa sobre isso; Ronie desejou que ela ou Kirito tivessem trazido as espadas de
seus quartos.

"Comandante Supremo, deixe-nos cuidar disso!" – gritou um dos guardas atrás deles, mas Iskahn se recusou
a mover-se.

Quaisquer que fossem as ordens sob as quais os minions estivessem, eles apenas faziam aqueles sons de
assobio ameaçadores, sem realmente atacar. Várias prateleiras foram derrubadas dos lados das criaturas, e
jóias e acessórios estavam espalhados por toda parte, mas os monstros não os estavam roubando.

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'Como essas criaturas foram capazes de se esgueirar para o depósito de tesouro perto do topo do palácio sem atrair
qualquer atenção dos guardas de qualquer maneira?' – Ronie se perguntou.

No entanto, ela logo obteve sua resposta: as enormes asas em suas costas significavam que eles não
precisavam subir todas aquelas escadas. Eles tinham acabado de se misturar na escuridão da noite e entraram
por uma janela. Ela olhou para trás e viu, em uma parede distante, a moldura de metal quebrada da janela em
questão. E se eles puderam fazer isso, então... Então…

Os pensamentos explodiram diretamente na mente de Ronie como faíscas, enquanto Kirito engasgava ao
lado dela.

"Saiam do caminho, vocês dois!" – ele gritou, movendo sua mão direita. Uma luz pálida brilhou em torno de
sua palma estendida – ele estava gerando 30 elementos de gelo, todos de uma vez.

Sheyta e Iskahn pularam para os lados imediatamente. Kirito prontamente atirou os elementos de gelo para
frente e os soltou em torno dos dois minions. Normalmente, o simples desencadeamento de elementos de
gelo faria com que seu efeito se difundisse em uma grande área, mas essa explosão gélida se agarrou apenas
aos minions, como se moldada por algumas artes avançadas, congelando as criaturas negras com gelo branco.

"Gshyaaaa!!" – os minions gritaram, com suas longas cabeças se contorcendo, mas logo até suas bocas
estavam congeladas, parando-os com o frio. Aquilo foi uma demonstração tremendamente poderosa, mas os
minions foram criados de argila e eram resistentes contra chamas e gelo. Mesmo congelados, eles não
estariam sofrendo muitos danos no que diz respeito às suas vidas…

Mas Kirito tinha uma resposta para isso, é claro. Com a mão ainda estendida, ele ordenou. – "Agora, vocês
dois!!"

"Tudo bem!!" – gritou Iskahn triunfante ao pular. Sheyta seguiu seu exemplo.

"Raaaah!!" – seu soco estourou direto no corpo do minion da direita. Então Sheyta usou o lado da mão
como uma lâmina improvisada para cortar o minion esquerdo com um golpe descendente vertical.

Um momento depois, o minion direito explodiu em um milhão de pedaços, e o minion esquerdo se dividiu
em duas metades simétricas. Como os dois estavam congelados, nenhuma gota de seu sangue tóxico foi
derramado.

Os guardas na parte de trás aplaudiram e Iskahn se virou com um sorriso exasperado, mas impressionado. –
"Você é ainda mais louco do que as histórias sobre você sugerem, Kirito. Sempre ouvi dizer que mesmo para
o mais avançado dos magos, cinco elementos gerados por uma única mão era o máximo…"

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"Podemos conversar mais tarde, Iskahn!" – Kirito disse, interrompendo seus próprios elogios. Ele parecia
ainda mais agitado agora do que quando estava dando ordens antes. – "Os minions não estavam tentando
roubar tesouros ou nos atacar. Quem quer que os tenha soltado, estava apenas ganhando tempo!"

Foi nesse ponto que o lampejo de inspiração anterior de Ronie se transformou em alarme tangível. O rosto
de Sheyta também ficou pálido.

"Oh, não…" – ela murmurou, acelerando seus passos. Ronie e Kirito correram através dos guardas como o
vento e saíram do repositório do tesouro.

"Nós também iremos!" – gritou Kirito.

Iskahn apertou as roupas de dormir, que eram no estilo das usadas no império oriental, e começou a correr,
com os pés descalços batendo no chão de obsidiana polida. – "O q- que você quis dizer?" – ele perguntou. –
"Distração para quê...?"

"Eu acho que o que quer que o mago esteja atrás, é algo muito mais precioso do que jóias." – Kirito
respondeu.

"Muito mais precioso...?" – Iskahn repetiu. Seu olho de repente se arregalou com alarme. Ronie quase
imaginou ter visto seus cabelos dourados-avermelhados se arrepiarem.

"Leazetta." – o pugilista engasgou. Seus pés brilharam em um vermelho pálido.

Ele disparou do chão com um estrondo, deixando-o rachado como uma teia de aranha. Ele se afastou dos
outros dois com uma velocidade sobre-humana e alcançou as escadas alguns segundos atrás de Sheyta, que
estava na frente. Iskahn saltou sobre elas, dando quatro ou cinco passos de cada vez, e Kirito continuou
seguindo logo atrás com suaves passos.

Ronie correu o mais rápido que pôde, lutando contra um medo que ameaçava paralisar seu corpo. Ela subiu
as escadas e correu para o corredor do 49º andar, mas os outros três já estavam fora de sua vista. Ela apenas
ouvia seus passos distantes. Ela continuou a correr atrás deles, passando pelo quarto do bebê, para onde foi
levada quando chegou ao palácio, e pelo quarto no final do corredor, que provavelmente era o quarto dos
pais. Ela passou pela porta aberta e encontrou um cheiro horrível ardendo em suas narinas.

A sala estava escura, iluminada apenas por uma única lâmpada de minério, mas a grande moldura da janela
estilhaçada, a poça escura de sangue na frente dela e os dois guardas caídos eram claramente visíveis. A poça
miasmática de sangue, que provavelmente pertencia à um minion, se espalhou sob os guardas caídos. Ambos
ainda respiravam, mas gemiam de agonia, tanto por causa dos ferimentos quanto pelo efeito do veneno.
Apenas Iskahn era visível de outra forma.

"Gude! Gaihol!" – gritou Iskahn, lançando-se na direção deles. – "O que aconteceu?!"

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Um dos guardas fez um sinal para ele voltar com um aceno. – "Não, Comandante, não toque nisso…"

O outro fez uma careta, mais por amargo pesar do que por dor. – "Algum tempo depois de vocês dois
descerem, ouvimos a janela quebrando... E quando entramos, um monstro negro estava lá... Quase
conseguimos derrotar a criatura, mas de repente, um mago das trevas estava na sala, lançando um feitiço de
cegueira em Gude e em mim…"

Quando o segundo guarda parou, ofegante, o primeiro continuou a história. – "Ficamos cobertos com o
sangue do monstro, e isso minou nossa capacidade de nos mover. O mago pegou Leazetta da cama e saiu pela
janela no monstro... E essa foi a última coisa que eu vi..."

"……Entendo…" – disse Iskahn, cerrando audivelmente a mandíbula.

No lado direito da sala, havia uma cama para duas pessoas perto da parede, com um berço de criança
pequena do outro lado. Leazetta deve ter passado o dia no quarto do bebê iluminado e ensolarado, antes de
vir aqui à noite para dormir com seus pais. Aquele bebê adorável, de apenas 3 meses, foi sequestrado. Foi um
pensamento tão horrível que Ronie ficou paralisada de choque. Sheyta e Kirito voltaram para a sala do
terraço do outro lado da janela quebrada.

"…Não conseguimos encontrá-los. Nenhuma resposta ao usar arte de busca do elemento escuro." – Sheyta
murmurou baixinho.

Kirito balançou a cabeça também. – "Eu também não consegui sentir nada." – disse ele com desgosto.

Então, ele se virou para os guardas caídos no chão e ergueu a mão, gerando elementos como ele havia feito na
sala do tesouro. Desta vez não era o branco dos elementos de gelo, mas sim os elementos de luz. Havia cerca
de 10 deles, os quais ele dividiu em dois grupos e pressionou contra os corpos dos guardas. Um brilho
aconchegante inundou os dois, e a maior parte do líquido negro acumulado no chão simplesmente
desapareceu, como se evaporado pela luz. Os guardas esfregaram seus próprios corpos maravilhados,
respirando pesadamente, e então pularam e se curvaram profundamente para Sheyta e Iskahn.

"Comandante, Embaixadora, estamos profundamente envergonhados por nossa incapacidade de cumprir


nosso dever!"

"Fomos encarregados de proteger Leazetta com nossas vidas, e agora elas devem ser confiscadas como
punição…"

Iskahn estendeu as mãos e agarrou os ombros dos dois homens. – "Nada disso vai trazer minha filha de volta
para mim. Prefiro ter sua força na luta para trazer Leazetta de volta."

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Apesar da maneira como seu coração deve ter se despedaçado, Iskahn manteve a voz sob controle e ergueu os
homens de volta à posição vertical. – "A primeira coisa que eu quero saber é a aparência desse mago das
trevas. Vocês viram seu rosto? Ouviram sua voz?"

"Bem…" – disse o guarda mais alto, aquele chamado Gude. – "A figura usava um capuz preto puxado para
baixo, escondendo o rosto... Eu não poderia lhe dizer quaisquer detalhes sobre a voz do mago. Eu não
poderia sequer dizer se essa pessoa era um homem ou uma mulher..."

"Entendo..." – Iskahn mordeu o lábio.

Kirito continuou o questionamento. – "Quantos minutos se passaram desde que o mago fugiu pela janela
até o momento em que voltamos para a sala?"

O guarda mais pesado, Gaihol, respondeu. – "3... Ou talvez apenas 2 minutos..."

"2 minutos…?" – Kirito repetiu, franzindo a testa. Ele olhou pela janela para o céu noturno.

Sheyta também ficou surpresa com isso. Ela murmurou. – "Ele montou em um minion ferido e desapareceu
em apenas 2 minutos...?"

De acordo com o que eles ensinavam nas palestras de artes das trevas na Grande Biblioteca, a velocidade de
vôo de um minion era equivalente à velocidade de corrida de um ser humano. Eram 500 mels por hora no ar,
então qualquer que fosse a direção, parecia impossível para eles estarem completamente fora de vista em
apenas 2 minutos, mas o mago das trevas talvez possa ter usado algum tipo de feitiço para se esconder. Em
qualquer caso, se Kirito e Sheyta não conseguissem encontrá-los, Ronie não teria chance.

Atormentada pela sensação de futilidade, ela cruzou o quarto até a cama do bebê. O berço estava vazio, é
claro, exceto por uma chupeta adorável, ursinho de pelúcia e um dragão como brinquedos. Aquela visão
partiu seu coração em pedaços. Ronie estava tirando o olhar da cama quando percebeu que algo estranho
havia caído sobre o dragão de pelúcia. Ela estendeu a mão para pegá-lo. Era um maço de pergaminho,
amarrado com um barbante vermelho. Isso claramente não era um brinquedo de criança.

"Hmm... Encontrei isso na cama…" – disse ela, segurando o pergaminho. Iskahn disparou pela sala como um
raio para pegá-lo. Ele rompeu a corda de aparência dura com a ponta dos dedos e o abriu. O único olho bom
do pugilista encarou aquilo, e o ar escapou de sua garganta. Ele tropeçou e sentou-se na cama. Sheyta
arrancou o papel dele. O choque se espalhou pelas feições da cavaleira. Ela mordeu o lábio e entregou à
Kirito em seguida. Ronie ficou ao lado dele para que ela pudesse ler as letras escuras no pergaminho.

[Ao pôr do sol do 21º dia do segundo mês, o representante espadachim do Conselho de Unificação Humana deve
ser executado publicamente no grande coliseu pelo crime de tentativa de assassinato ao comandante supremo do
Território Negro, e sua cabeça deve ser enviada de volta ao reino humano. Se este requisito não for atendido, a
cabeça de um bebê inocente será entregue ao Palácio de Obsidia.]

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"…N… Não……"

Ronie balançou a cabeça repetidamente. O 21º dia era hoje. Isso significava que eles tinham apenas 13 ou 14
horas até o pôr do sol, que era o prazo para a execução. Seu primeiro pensamento foi que Iskahn e Sheyta
nunca permitiriam que Kirito fosse executado. Mas então, ela percebeu que a vida de sua amada filha
recém-nascida estava em jogo. O que poderia ser mais importante para eles?

Ronie se abaixou e roçou seu lado esquerdo sem pensar. Não havia espada a ser encontrada ali. Como Kirito,
ela havia deixado sua arma no quarto. E mesmo se ela tivesse isso consigo... Se Iskahn e Sheyta fizessem o
impensável e seguissem as demandas do sequestrador, ela poderia realmente lutar contra eles? Se Kirito e
Ronie fugissem, Leazetta morreria.

Ela não conseguia se imaginar abandonando aquele bebê doce e inocente à este destino horrível. Mas
também era seu dever como guarda-costas proteger Kirito; ela não podia permitir que ele fosse executado.
Era a última coisa que ela poderia fazer.

Ronie estava em conflito como nunca antes em sua vida. Ela queria olhar para o rosto de Kirito enquanto ele
lia o pergaminho, mas ela não conseguia nem mover o pescoço para se virar.

"Hum… Meu senhor…" – gaguejou o guarda Gude, parado junto à parede com seu parceiro. Ele
provavelmente estava curioso sobre o conteúdo do pergaminho, mas Iskahn apenas ergueu a mão cansada e
apontou para a porta.

"Gude, Gaihol, vão para o corredor e não deixem ninguém entrar."

"Sim senhor…"

Eles fizeram saudações no estilo do Território Negro, então se dirigiram para a porta. Ao longo do caminho,
Gaihol parou e se virou. – "Hum, há mais uma coisa a relatar..."

Os outros quatro se viraram para olhar para o guarda agachado, que curvou seu pescoço curto, fazendo-o
parecer ainda mais curto.

"Não é nada especialmente importante" – ele continuou. – "Mas... Logo depois que o mago das trevas e o
monstro saíram pela janela, senti como se tivesse ouvido um ruído estranho."

"Ruído…? Que tipo?" – Sheyta perguntou.

Gaihol abriu e fechou a boca várias vezes, em busca das palavras certas. – "Foi como... Um almofariz de pedra
e um pilão girando, como um som de moagem…"

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"Almofariz de pedra e um pilão...?" – repetiu Iskahn. Ele sabia muito sobre este castelo, mas não parecia ser
uma ideia familiar para ele. Gaihol bateu continência novamente, saiu da sala com Gude e fechou a porta.

Um silêncio pesado encheu o quarto, até Kirito falar. – "Iskahn, Sheyta... Eu sinto muito. É minha culpa que
isso tenha acontecido…"

"…O que você está falando? Você não é responsável por isso." – disparou Iskahn da cama, apesar do fato de
que ele deve ter ficado fora de si por preocupação. – "É minha culpa. Eu deixei a guarda de Lea ser reduzida e
caí nessa distração. Mas... Eu odeio dar desculpas, mas os minions dos magos das trevas não deveriam ser
capazes de voar até esta altura. Apenas os dragões dos cavaleiros da cavalaria negra podem chegar tão alto,
mas eles estão proibidos de se aproximar de qualquer ponto, exceto da plataforma de pouso na parte
posterior do castelo. Então, eu simplesmente presumi que ninguém seria capaz de se esgueirar pela janela,
vindo atrás de nós…"

Suas mãos apertaram seus joelhos a ponto de fazê-los estalar. Sheyta se aproximou do marido e colucou sua
mão esguia sobre a dele.

"Mesmo assim, fui eu que provoquei esta situação." – repetiu Kirito, ainda segurando a carta de extorsão. –
"Ronie reconheceu a possibilidade de que o assassinato no reino humano poderia ter sido uma armadilha
para me fazer viajar para Obsidia. Mas presumi que se eu viajasse para Obsidia em um único dia, qualquer
conspiração que estivesse sendo planejada não poderia me alcançar. Entretanto, a pessoa que sequestrou
Leazetta estava um passo à minha frente... Deve ter aliados em ambas as terras, e também algum meio de
comunicação mais rápido do que uma dragoncraft."

"Dragon… craft? E você pode usar isso para viajar de Centoria até Obsidia em um dia?" – Sheyta ficou
maravilhada.

"Sim. Eu vou mostrar para você algum dia. Mas sua filha é a prioridade agora…" – disse Kirito. Ele olhou para
o pergaminho novamente e continuou. – "O propósito do sequestrador, eu presumo, é colocar o reino
humano e o reino das trevas um contra o outro novamente. Se o ignorarmos, ele certamente irá cumprir com
sua ameaça. Vou dar tudo o que tenho para trazer Leazetta de volta... Mas se eu não conseguir encontrá-la,
então eu quero que você—"

"Não diga isso!!" – gritou Iskahn, impedindo Kirito de dizer: 'me execute.'

Ronie tinha ouvido falar de Kirito e Asuna antes, sobre como eles viajaram do mundo real para o
Underword. Eles se deitaram para descansar em uma espécie de Objeto Divino chamado STL, que
transportava suas almas, mas apenas suas almas, para o Underworld. Por causa disso, se eles perdessem todo o
valor de sua vida no Underworld, eles não morreriam. Suas almas voltariam para o mundo real, onde eles
voltariam a despertar.

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Isso provavelmente estava na mente de Kirito agora. Mas se ele voltasse para o mundo real, ele provavelmente
nunca seria capaz de retornar ao Underworld, de acordo com os dois. Para Ronie – e para todas as outras
pessoas que conheceram Kirito e compartilharam seu tempo com ele – isso significava que ele poderia estar
realmente morto. O reino humano... Todo o Underwolrd... Ainda precisava dele. Ela não conseguia colocar
em palavras a tempestade de pensamentos e emoções que a percorriam, então, em vez disso, Ronie deu um
passo para mais perto de Kirito e apertou a manga de sua camisa preta. Sheyta a viu fazer isso, e os cantos de
sua boca suavizaram um pouquinho. Ela acenou com a cabeça para Ronie para deixá-la à vontade.

"Primeiro, eu irei para o quartel general da guilda dos magos das trevas no distrito norte. Tenho certeza de
que foi um mago não afiliado que invadiu esta sala, mas se a fórmula dos minions tiver sido melhorada de
alguma forma, talvez possamos desvendar o mistério a partir daí."

"Tudo bem... Eu vou com você. Se for só você, os malditos magos podem tentar escapar de dizer a verdade."
– disse Iskahn, pondo-se de pé e levantando a faixa de prata da cabeceira da cama para que pudesse colocá-la
em volta da testa. Sheyta tirou a camisola e começou a se trocar, o que forçou Ronie a esconder os olhos
alarmada.

Kirito, entretanto, estava olhando pela janela quebrada novamente. Ele mordeu o lábio pensativamente,
pensando profundamente. O casal havia terminado de se trocar no momento em que ele voltou dizendo. –
"É possível que o mago e o minion que sequestrou Leazetta tenham retornado ao castelo em um andar
diferente?"

Iskahn fez uma careta e grunhiu. – "Hmm... Todas as janelas estão trancadas a esta hora, e se eles quebrassem
uma para entrar, os guardas naquele andar notariam... Mas se houver um intruso no palácio, ele poderia
abrir uma janela para deixá-los entrar…"

Sheyta concordou com ele e acrescentou. – "Mandaremos todos os guardas revistarem o palácio inteiro."

"Ronie e eu podemos ajudar com isso?" – Kirito pediu. Iskahn concordou sem hesitar.

"Por favor, faça isso. Se houver mais minions por perto, precisaremos do seu poder. Pegue isso."

Ele abriu uma pequena gaveta no estribo da cama, tirou um colar de prata e o jogou para Kirito, que o pegou
com uma mão.

Iskahn apontou o polegar para a própria bandana. – "Este é o sinal do comandante supremo dos militares, e
esse aí é o sinal de seu vice. Mostre isso e dê meu nome à eles, e então você poderá se safar de praticamente
qualquer coisa."

"Entendi. Obrigado." – Kirito disse, colocando a corrente em volta do pescoço; dela estava pendurado um
pequeno pingente de prata com uma crista. Iskahn marchou até o espadachim com grandes passadas e
segurou o ombro de Kirito.

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"...Por favor." – ele disse simplesmente isso, a única palavra que precisava ser dita. Então ele se virou e saiu
correndo da sala com Sheyta. A porta se abriu, fechou e, como se fosse uma deixa, os sinos para as quatro
horas tocaram suavemente sua melodia.

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Capítulo 9

Kirito e Ronie voltaram para seus quartos, mudaram para seus equipamentos normais – espadas incluídas
– e começaram a busca no 49º andar, mas eles não precisaram abrir todas as portas e verificar todos os
cômodos. O poder da Encarnação de Kirito era tão forte que ele pôde sentir o quarto de Sheyta do outro
lado do rio, e ele podia detectar a presença de pessoas ou monstros através das portas e paredes, então
simplesmente se concentrar no centro do chão foi o suficiente para saber o que ele precisava. Cada vez que
um guarda os repreendia, ele mostrava a corrente com o símbolo do comandante supremo e seguia em
frente. Eles passaram duas horas correndo de andar em andar, descendo o castelo. Nesse ponto, Kirito
estava no 3º andar do porão, um enorme espaço de armazenamento bem no fundo do Palacio de Obsidia.
Em um cruzamento de corredor, ele fechou os olhos e se concentrou – apenas para balançar a cabeça.

"Não... Não tem nada aqui também." – ele suspirou e recostou-se na parede de rocha negra. A área de
armazenamento estava completamente vazia; o único movimento no corredor silencioso era a fraca luz
cintilante das lâmpadas de minério.

Ronie perguntou ao seu parceiro pensativo. – "Então, isso significa que eles não estão no castelo...? Eles
poderiam ter escapado pelo lado de fora?"

"Sim... Mas isso significaria que o minion ferido teria que voar mais de 3 kilors em apenas 2 minutos..."

"3 kilors ...? Isso é o quão longe você pode sentir?"

"Depende do alvo, mas no espaço vazio, e rastreando algo tão grande quanto um minion, não há como se
enganar. Então, a 1 kilor e meio por minuto, isso se traduziria em 90 kilors por hora. Não consigo
imaginar que qualquer minion possa voar a uma velocidade tão extrema."

"Seria um dragão nesse ponto... Você acha que a cavalaria das trevas está envolvida de alguma forma,
então?" – Ronie sussurrou.

Kirito balançou a cabeça novamente. – "Eu posso sentir um dragão em 10 kilors. E nenhum dragão
poderia voar tão longe em 2 minutos, embora a dragoncraft pudesse…"

Ele fez uma pausa, balbuciando as palavras 'Sem chance!', mas então descartou isso. – "Não... Se eles
estivessem usando uma dragoncraft, teriam criado um som tremendo. Nada tão silencioso quanto um
pilão de pedra batendo em um almofariz. E... Como soaria um almofariz de pedra e um pilão de moer...?"
– ele se perguntou.

Ronie considerou, mas não conseguiu encontrar uma resposta satisfatória. Em vez disso, tudo que ela
podia imaginar era o calor de Leazetta bebendo leite em seus braços, sem nenhuma preocupação no
mundo, e a maneira como ela gritava e ria durante o jantar. Ronie apertou os braços ao redor de si mesma.

"Leazetta é a esperança que une os dois reinos." – Kirito murmurou. – "Não podemos deixá-la morrer.
Nós simplesmente não podemos…"

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O foco de pura determinação enterrado no meio da profunda preocupação em sua voz tirou o fôlego de
Ronie. Kirito estava encostado na parede com a cabeça baixa, fora de vista. Ela caminhou até ele, como se
estivesse em transe, e agarrou seus ombros.

"...Você não pode, Kirito-senpai. Você não pode se sacrificar."

Depois de um longo silêncio, Kirito murmurou. – "Eu te disse antes, lembra? Se eu morrer neste mundo,
não morro de verdade. Então, é melhor eu do que e—"

"Não!" – gritou Ronie. – "Essa lógica não se aplica... Eu... Eu nunca mais irei te ver novamente. E eu não
quero que isso aconteça... Eu não quero!!"

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Ela enterrou o rosto em seu peito. O pingente de cristal de prata atingiu sua testa, mas a dor em sua pele não
era nada perto do latejar que arrancava seu coração.

"Serei sua pajem pelo o resto da vida. Eu decidi que vou servir ao seu lado para sempre. Eu não quero
mais nada... Mas se você decidir se sacrificar, eu me juntarei a você. Vou forçar você a me executar
também!"

Era injusto transformar-se em refém. Mas também era a verdade nua e crua do que ela queria naquele
momento.

"…Ronie…" – ele murmurou, com sua voz cheia de angústia. Ele ergueu as mãos para agarrar seus
ombros.

Se ele realmente quisesse, ele poderia amarrá-la no lugar ou até deixá-la inconsciente por 2 ou 3 dias – o
tempo que levasse para que tudo acabasse. Mas não haveria sentido. Se ele tivesse sido executado quando
ela acordasse, ela simplesmente o seguiria além do véu.

Ele estendeu a mão para acariciar o cabelo dela e sussurrou. – "Obrigado, Ronie. Eu não vou desistir. Vou
encontrar uma maneira de resgatar Leazetta... E vou voltar para a catedral com você. Essa é a nossa casa…"

Lágrimas fluíram de seus olhos. Sua garganta ficou tensa enquanto ela tentava desesperadamente conter
os soluços que queriam se libertar.

"…Sim…… Sim…" – ela conseguiu gemer essas palavras, e então deixou todo o seu peso descansar contra
Kirito. Ele continuou a acariciar o cabelo dela até que ela se acalmasse.

10 minutos depois, eles voltaram ao andar térreo do castelo quando os sinos das 6 horas tocaram. Sheyta
e Iskahn estavam voltando da sede da guilda dos magos das trevas ao mesmo tempo. Eles se reagruparam e
compartilharam informações – infelizmente, nenhuma delas estava diretamente relacionada ao
sequestrador.

"Na guilda, eles não têm controle sobre os magos que desapareceram na guerra, e eles não têm feito
nenhuma experiência no aumento de minions. Eu os questionei como o comandante supremo, e pela Lei
do Poder, eles não podem mentir para mim." – disse Iskahn.

Sheyta sombriamente acrescentou. – "Há uma pista, no entanto... Cerca de um mês atrás, em um local de
colheita de argila sob o controle da guilda, uma grande quantidade da melhor argila que já havia sido
extraída e ensacada desapareceu."

"Uma grande quantidade? Tipo quanto?" – Kirito perguntou.

Iskahn fez uma careta e respondeu. – "Mais ou menos o suficiente para fazer 3 minions, eles disseram.

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Eles lidaram com o incidente internamente e não relataram ao Conselho dos Cinco... Embora eu duvido
que poderíamos ter previsto que isso aconteceria hoje, mesmo se estivéssemos cientes do roubo…"

"Um mês atrás... Então provavelmente tem algo a ver com o incidente em Centoria." – Kirito
murmurou.

"Já recebemos o relatório dos guardas... Mas como foi sua busca?" – Iskahn perguntou.

"Bem... Nós procuramos desde o último andar até o armazenamento subterrâneo e não encontramos
nenhum minion ou Leazetta. Nem faria diferença se houvesse salas ou espaços escondidos que você não
conhecesse. Contanto que eles não estivessem se escondendo em algum lugar completamente isolado do
espaço consecutivo, eles não poderiam ter evitado minha habilidade de busca."

"Se você diz isso, então deve ser verdade... O que significa que eles devem estar muito, muito longe
agora..." – Iskahn coçou a cabeça com anéis de prata em desespero. Sheyta estendeu a mão para agarrar a
mão dele e detê-lo, e envolveu-a com as suas.

Com o silêncio enchendo o grande salão, o som das portas principais do castelo fechando era alto e
pesado. As portas, incluindo as dobradiças, eram esculpidas em obsidiana, o que tornava o som de toda
aquela rocha raspando bem distinto, quase como o estrondo de um trovão distante. Ronie sentiu como
se tivesse ouvido aquele som a não muito tempo e procurou em suas memórias.

'Foi... Sim, foi durante o vôo de teste da Unidade Um da Dragoncraft na Catedral Central. A fim de evitar
que a nave colidisse com o topo do edifício, Asuna usou o poder divino de Stacia para mover os 5 andares
superiores do edifício para o lado. O enorme pedaço de mármore raspou contra si mesmo e fez aquele som.'

Pedra sobre pedra... Raspando. Como um almofariz e um pilão.

"…Oh! Hum, Sheyta-sama…" – disse ela, correndo até a Cavaleira da Integridade sênior, com sua mente
como um borrão giratório. – "Perto do seu quarto, há outra porta grande de obsidiana como o portão da
frente aqui?!"

"Porta de obsidiana...? Não, todas as portas ao redor são de madeira, e as molduras das janelas são de
ferro."

"Há algum mecanismo que envolva raspagem de pedra em pedra...?"

Essa questão envolveu Kirito.

"Oh…! Quando os guardas disseram que ouviram um som semelhante a um pilão e almofariz de pedra!
Sim... Se houver uma porta escondida no exterior do castelo, pode fazer esse tipo de barulho... Mas..."

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"Mas se fosse apenas uma porta escondida, seu nariz poderia 'farejá-la' certo?" – Iskahn terminou. Ele
cruzou os braços e continuou. – "Mas... Eu nunca ouvi falar de nada parecido perto do nosso quarto.
Além disso, por que você colocaria uma porta secreta do lado de fora que ninguém pudesse usar? Não
faria sentido, a menos que você pudesse voar."

"E se... Não for uma porta secreta...?" – Kirito murmurou, olhando para o teto do grande salão. – "Você
mesmo disse, Iskahn. O verdadeiro último andar fica acima do atual último andar do castelo."

O comandante e a embaixadora engasgaram ao mesmo tempo.

"O… O 50º andar...? M-Mas está selado hermeticamente, e os guardas viram que as correntes não foram
cortadas."

"E do lado de fora? Existe pelo menos uma única janela no 50º andar?"

"...Na verdade... Na verdade... Eu acho…" – Iskahn murmurou, esticando o pescoço enquanto pensava. –
"Quando Vector apareceu... E ele convocou os dez senhores, havia uma enorme janela na sala do trono.
Mas agora... Quando você olha de fora, há apenas uma rocha sólida acima do 49º andar, sem nenhuma
janela…"

"Deve ter sido fechada." – Kirito disse, absolutamente certo agora. – "Quando Vector morreu e as
correntes lacraram a sala, a pedra do lado de fora deve ter se movido para cobrir todas as janelas. O espaço
foi completamente isolado do resto do mundo. O som de pedra que os guardas ouviram foi a pedra se
movendo mais uma vez."

"Mas... Mas…" – gaguejou Iskahn, com sua pele polida ficando pálida. – "Apenas o Imperador Vector
pode desfazer o selo do 50º andar... Isso significa que aquele que sequestrou Lea foi...?"

Ele cerrou os dentes, com medo até de terminar aquela frase. Seguiu-se um silêncio horrorizado, até que
Sheyta o cortou com uma voz como uma lâmina.

"Vamos para 50º andar."

Kirito concordou. – "Sim… Podemos descobrir algo se examinarmos a porta."

Iskahn acenou com a cabeça – de certa forma para dissipar sua apreensão.

Os quatro correram de volta para o topo do castelo sem parar mais uma vez. Ronie foi capaz de
acompanhá-los sem ficar sem fôlego dessa vez; talvez ela tenha pegado o jeito do processo. O grupo parou
no 49º andar e olhou para o último lance de escadas. Ou porque o sistema de aquecimento interno do
palácio não se estendia tão longe ou por algum outro motivo, Ronie sentiu o ar frio varrendo a escada
escura e agarrando-se às suas pernas.

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"...Vamos lá." – disse Iskahn, começando a subir os degraus. Os outros três o seguiram.

Era apenas um lance de escadas, mas parecia ainda mais longo do que a viagem do 1º andar ao 49º. Um
conjunto de portas duplas pretas como breu encontrava-os no topo. Como o pugilista havia dito, as
portas estavam trancadas com correntes enormes de cerca de dez cens de espessura. Elas foram puxadas e
estavam absolutamente apertadas, praticamente sem ceder.

Iskahn caminhou lentamente pelo curto corredor até as portas, tocou a corrente cinza e se afastou,
gritando. – "Está fria!"

Determinado, ele estendeu a mão novamente e agarrou-a totalmente. Ele se agachou, gritou e deu um
puxão, mas a corrente só fez um leve barulho de tinido e não se mexeu.

"...Então, o selo não está quebrado…"

Ele soltou a corrente e tocou a porta preta desta vez, então usou as duas mãos e até pressionou o ouvido
na superfície.

"Eu não ouço nada... Mas se Lea está em algum lugar dentro do castelo, deve ter passado por aqui..."

O pugilista deu alguns passos para trás, parou por alguns instantes e então assumiu uma pose de lutador.
Chamas vermelhas ondularam de seu punho direito cerrado. O ar frio começou a vibrar, e os instintos de
Ronie disseram a ela para manter distância.

Ele iria socar aquelas correntes com o punho nu? Kirito deu um passo à frente naquele momento, não
afetado pela tremenda aura de batalha envolvendo o corpo do pugilista, e colocou a mão em seu ombro.

"Eu farei isso, Iskahn."

"Não... Deixe-me fazer isso."

"Poupe seu punho para a luta contra o minion e o sequestrador. Além disso, sou bom nesse tipo de
coisa." – Kirito disse simplesmente isso. Iskahn exalou, fez uma pausa e finalmente decidiu desfazer sua
postura.

"Você pode escapar impune de qualquer coisa, não é? Tudo bem... É toda sua!" – ele resmungou, ficando
ao lado de sua esposa.

Agora era Kirito quem estava diante das correntes. Sua mão brilhante roçou delicadamente a superfície
do metal. Depois de repetir a ação algumas vezes, ele traçou um ponto no centro da corrente várias vezes
com o dedo.

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"Aqui... É tão superficial que você não consegue ver, mas há uma marca aqui. Você fez isso, Sheyta?" – ele
perguntou sem se virar.

A cavaleira da Integridade respondeu. – "Sim. Como eu disse antes, a Espada Lírio Negra poderia ter
cortado isso."

"Aposto que sim… Então vou, eu irei usar esta marca agora."

Ele largou a corrente e deu três passos para trás, então apertou o cabo de sua espada. Quando ele a puxou
com um som de deslizamento baixo, Iskahn e Sheyta engasgaram maravilhados.

A Lâmina do Céu Noturno não era feita de metal, mas de um material preto com apenas um traço de
translucidez. Parecia muito com a pedra que o Palacio de Obsidia foi esculpido, mas esta substância lisa,
pesada e de aparência úmida não foi feita de rocha: foi esculpida do galho de um cedro gigantesco que
outrora pairava sobre a floresta na borda norte do Império Norlangarth. Sadore, o velho que agora
comandava o arsenal da Catedral Central, passou um ano inteiro utilizando 6 pedras de amolar para afiar
o galho até torná-lo uma espada longa. Kirito a usou para derrotar vários Cavaleiros da Integridade, o
então Primeiro Senador Chudelkin e a Administradora e, por último, o Imperador Vector. Foi
literalmente a espada lendária que salvou o mundo.

Mas não importa quão alto fosse o nível de prioridade da espada, a arma sozinha não seria capaz de cortar
as correntes de selagem. Estas correntes, como o exterior da Catedral Central ou das Muralhas Eternas
que dividiam Centoria em quatro partes, possuíam uma característica que as tornava inquebráveis.
Mesmo Asuna e seus poderes divinos só podia mover as paredes da catedral, não destruí-las. O que
cortaria essas correntes não era a habilidade de um espadachim ou o poder de uma espada, mas a
capacidade milagrosa de sobrescrever as próprias leis do mundo – a Encarnação.

Kirito deu mais três passos para trás, estendeu a mão esquerda e puxou a Lâmina do Céu Noturno com a
direita até que estivesse em seu ombro. Seus pés agarraram o chão, espalhando-se para frente e para trás.
Ele respirou fundo e prendeu a respiração. Uma luz vermelha brilhou por todo o corpo de Kirito, que
agora estava em uma postura que não pertencia a nenhum estilo de luta de espadas tradicional. Um
redemoinho saltou do chão, fazendo Ronie desviar o olhar, mas ela se manteve firme. Eventualmente, a
luz vermelha se fundiu na espada em sua mão, dando um tom carmesim a lâmina negra. Houve um uivo
como o vento através dos galhos, ficando cada vez mais alto, até que assumiu o tom metálico do rugido de
um dragão. O ar estalava e estremecia, e até mesmo o chão de obsidiana e as paredes começaram a tremer.

"Inacreditável…!" – Iskahn exclamou.

"Isso tudo é... A Encarnação de Kirito..." Sheyta se maravilhou silenciosamente.

De repente, Kirito, vestido com uma camisa e calça preta simples, estava piscando como uma ilusão no

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meio de uma tempestade de luz e ar, de tal forma que ele se transformou – ou pelo menos, assim pareceu.
Talvez o efeito de chicotadas para frente e para trás fosse apenas a bainha de sua capa de couro preto. A
armadura de aço brilhava em seus ombros e no lado direito de seu peito.

"Raaah!!" – ele gritou, empurrando o chão.

A espada em sua mão foi projetada para a frente, carregando toda a sua Encarnação. O rugido atingiu um
nível extremo, e pequenas rachaduras apareceram nas paredes laterais. A distância para as correntes era de
5 mels, claramente fora do alcance de sua espada. Mas como se a espada se esticasse e crescesse, a luz
carmesim surgiu como uma lança e penetrou em um único ponto nas correntes que trancavam as portas.
O som desapareceu, a luz desapareceu, o vento desapareceu – e a aparência de Kirito voltou ao normal.

No silêncio que se seguiu, o comprimento da corrente se dividiu silenciosamente em dois, balançando


para as laterais. As portas pesadas pareceram estremecer – ou voltar à vida como portas – e gemeram
brevemente.

Kirito caiu de joelhos no chão. Ronie correu para o lado dele.

"Kirito-senpai!" – ela passou o braço por baixo de seu flanco e o ajudou a se levantar. Sheyta e Iskahn
correram um momento depois.

"Você está bem, Kirito?!" – gritou Iskahn.

Kirito ergueu a mão livre. – "Sim... Eu vou me recuperar em breve. Depressa, atravesse a porta... Antes
que o sistema – er, antes que as leis do mundo percebam a anormalidade e restaurem a corrente."

"Boa ideia." – disse Sheyta, aproximando-se das portas maciças e pressionando as mãos contra as placas de
obsidiana esculpidas de maneira ameaçadora. Elas rugiram e cederam um pouquinho. – "Elas estão
abertas." – anunciou ela, virando-se.

"Depressa, vocês dois!" – o Espadachim Negro ordenou. – "Se o sequestrador estiver lá dentro, irá notar
que as portas estão abertas agora... Eu vou daqui a pouco!"

"E-Entendi!"

Iskahn quebrou as portas abertas com um único chute. O corredor continuava além da porta, mas estava
cheio de uma escuridão de um tipo diferente do que havia nas escadas. O ar gelado foi derramado
adiante. Mas os pais de Leazetta correram pelo corredor sem um momento de hesitação. Alguns
segundos depois que eles desapareceram na escuridão, Kirito gritou para se encorajar e se esforçou para
ficar de pé. "Vamos lá!" – disse ele à Ronie.

Ela suprimiu sua preocupação e respondeu. – "Entendido!"

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Parecia uma boa ideia chamar os guardas que estavam procurando lá embaixo antes que eles entrassem,
mas Kirito estava certo: cada momento era crucial agora. E se o inimigo fosse um usuário avançado das
artes das trevas, alguns guardas com um pouco de treinamento de espada seriam apenas alvos, não uma
fonte de ajuda.

Em vez disso, ela puxou um pequeno frasco de solução medicinal de sua bolsa, removeu a rolha e
entregou a Kirito. Ele a engoliu e fez uma careta para o gosto amargo e azedo, mas sua pele já estava mais
avermelhada quando ele agradeceu. Eles se alinharam na porta e entraram na passagem escura. Parecia
que eles haviam acabado de passar por uma membrana transparente. O ar frio os cercou, tornando sua
respiração gélida, como se o sistema de aquecimento interno não funcionasse aqui. Mas o frio e o medo
desapareceram completamente quando Ronie ouviu um barulho no fundo do corredor.

O som de um bebê chorando.

"…!"

Ela e Kirito trocaram um olhar e começaram a correr. A passagem virava à esquerda à frente. Assim que
dobraram a esquina, um segundo conjunto de portas apareceu. O choro vinha através da porta aberta.
Eles correram desesperadamente por ela e chegaram a um vasto espaço aberto.

Um tapete vermelho escuro cobria o chão. Pilares circulares revestidos de ambos os lados, esculpidos com
horríveis decorações de monstros. Lâmpadas de minério penduradas nas paredes, lançando uma luz
branca pálida. Bem à frente estava uma plataforma mais alta, no centro da qual havia uma cadeira muito
ornamentada. Esse tinha que ser o trono em que o imperador Vector havia se sentado quando retornou.
No centro da sala estavam Iskahn e Sheyta, e além deles estava uma forma negra monstruosa – um
minion com suas asas abertas.

E, finalmente, uma figura sombria estava ao lado do trono. Ele usava um manto com capuz preto, mas as
mangas e a gola do manto eram vagas e esfumadas, escondendo os detalhes do usuário. A figura era
magra, mas muito alta. Havia uma adaga em sua mão direita, brilhando em um tom púrpura venenoso, a
ponta da qual estava apontada para o bebê aninhado em seu braço esquerdo. Os gritos de Leazetta eram
fracos e seu rosto estava contraído. Ela foi exposta a este frio congelante por mais de duas horas, então sua
vida foi diminuída significativamente. Eles precisavam salvá-la o quanto antes, mas não podiam se dar ao
luxo de ser descuidados agora. A raiva e a pressa eram palpáveis ​nas posturas de Sheyta e Iskahn.

O sequestrador de manto falou com uma voz estranha que parecia algum tipo de animal ou pássaro
tentando formar palavras humanas, com sua boca imprópria para falar.

"…Ah, então foi o espadachim representante que cortou a corrente. Você é mais problemático do que até
mesmo as histórias dizem…"

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Era impossível avaliar a idade ou raça de quem falava. Mas havia uma coisa que estava muito clara.

"Então... Você é um homem! Então você não é um mago das trevas!" – gritou Iskahn. O sequestrador riu,
fazendo um som sibilante estranho.

"Pelo que ouvi, os homens usam artes sagradas no reino humano, certo? Então um homem pode ser um
mago das trevas, não pode?"

"Espere... Eu reconheço essa lâmina envenenada… Você faz parte da guilda dos assassinos!"

"Você têm certeza disso…? Qualquer um pode usar esta adaga. Posso até ser um pugilista que você
expulsou da guilda." – o sequestrador riu zombeteiramente de novo, mas imediatamente ficou imóvel. –
"O tempo para conversar acabou. Terei que esquecer a execução pública, mas ainda pretendo ficar com a
cabeça do representante. Embaixadora, use essa sua mão cortante para cortá-la, ou sua filha morre."

Uma mão cinza se estendeu da manga preta, trazendo a adaga mais perto do rosto de Leazetta. Iskahn e
Sheyta ficaram completamente tensos. Naquele exato momento, algo estremeceu e a ponta da lâmina
envenenada desviou para o lado. Uma bola de luz branca envolveu todo o corpo de Leazetta. O
sequestrador quase deixou cair o bebê por completo, mas rapidamente se recompôs e voltou a segurá-la.
Leazetta não tinha feito nada, é claro. Ao lado de Ronie, a mão direita de Kirito estava estendida em
direção ao trono e brilhando da mesma cor. Ele estava protegendo o bebê com uma barreira feita de
Encarnação.

"Sheyta! Iskahn!" – ele gritou, com sua voz embargada de dor. – "Não vou aguentar muito! Depressa…"

"Eu estou trabalhando nisso!!" – gritou Iskahn, enquanto seu corpo emitia uma luz como chamas
flamejantes.

O homem de manto negro deu uma ordem estranha e ininteligível. O minion reagiu a isso.

"Bshooo!" – o monstro rugiu, mas o som foi abafado pelo berro do pugilista. – "Raaaaaaaah!!"

Iskahn avançou com uma força tremenda, dirigindo seu punho em chamas na direção do estômago do
minion. O grande corpo do monstro se dobrou quando o impacto viajou em ondas para fora de sua
barriga até seus membros. Ele explodiu, derramando uma quantidade enorme de sangue negro e imundo,
como uma pele de couro estourando quando cheia de líquido. Iskahn cruzou os braços na frente do
corpo para se proteger contra o veneno espalhado.

Uma sombra delgada então disparou em torno das costas de Iskahn. Tendo sido protegida do caminho
direto do sangue por seu marido, Sheyta avançou para o trono, como um borrão cinza.

"…!!"

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Com um grito silencioso, sua mão esquerda disparou. O braço direito do sequestrador, segurando a
adaga roxa, se soltou do ombro e caiu no chão. Sheyta preparou a mão direita para cortar o braço
restante, que segurava seu bebê. Mas dentro da escuridão do capuz, algo pequeno brilhou perto da boca
dele. Uma zarabatana.

Ela rapidamente levantou a mão para bloquear o dardo, mas seu corpo esguio imediatamente tombou.

O homem de manto preto reajustou Leazetta em sua bola de luz protetora e correu para a esquerda do
trono, deslizando sobre o tapete. Não havia nada além de uma parede preta naquela direção, no entanto.
Não havia escapatória para ele. Exceto…

Uma série de pensamentos surgiu na mente de Ronie, e no momento em que se somaram a uma imagem,
ela estava indo em disparada com sua espada em punho.

À distância, o sequestrador estava avançando direto para a parede, com seu manto preto chicoteando
atrás dele. Uma grande jóia abaixo de seu pescoço brilhava em uma cor escarlate brilhante. Uma parte da
parede brilhou da mesma cor. Uma parte quadrada da parede de obsidiana começou a subir com um som
de pedras pesadas raspando umas nas outras... Como um pilão de pedra sendo esmagado contra um
almofariz.

O sequestrador correu para a janela que não deveria estar ali, carregando Leazetta. A distância para o
atacante era superior a 10 mels. Não era uma distância que Ronie poderia cobrir em um único salto com
a força de sua perna. Mas ela iria alcançá-lo. Ela tinha certeza disso.

"Yaaaaaaa!!" – reunindo toda a sua força física e força de vontade, ela saltou para frente com um grito
selvagem.

Ela preparou sua nova espada. Quando ficou completamente imóvel, fundindo-se com seu braço
enquanto uma forma apontava para uma altura e ângulo muito específicos, a lâmina começou a brilhar
em azul claro. O corpo de Ronie acelerou como se empurrado por mãos invisíveis. Ela deixou um rastro
brilhante no ar enquanto cruzava 10 mels em um único piscar de olhos. Esta era uma técnica de impulso
ultra-carregado do estilo Aincrad, «Sonic Leap»7.

7
Salto Sônico.

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Kirito havia ensinado a ela o movimento e o que seu nome em língua sagrada significava – e a lição valeu
a pena quando ela cortou o braço esquerdo do ombro do sequestrador.

Nesse momento, a barreira da Encarnação de Kirito desapareceu, jogando Leazetta no ar desprotegida. O


homem de manto negro não parou de correr, apesar da perda de seus braços e de tanto sangue. Ele saltou em
direção à janela.

Se ela tivesse executado outra técnica, poderia derrotar o sequestrador de uma vez por todas. Mas Ronie
preferiu parar e pegar o bebê. O intruso se atirou pela janela de cabeça e desapareceu, derretendo-se na luz da
manhã. Enquanto isso, Ronie segurou Leazetta com firmeza com o braço esquerdo e apertou o bebê contra
o peito. Ela imediatamente se agachou, pousou a espada no chão e cobriu a criança chorando com os dois
braços para aquecê-la.

"…Eu sei, pobre Lea, isso foi muito assustador. Mas está tudo bem... Você está segura agora..." – ela
murmurou, esfregando bochecha contra bochecha. Por fim, o choro se acalmou e uma mãozinha tocou o
rosto de Ronie. À sua esquerda, ela ouviu o som da janela fechando novamente. Ronie continuou a segurar
o bebê, até que alguém veio e colocou a mão em suas costas.

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Capítulo 10

Apesar de cem guardas procurarem por meio dia, o corpo do sequestrador nunca foi encontrado. Ele havia
saltado do castelo de uma altura de 500 mels com os braços cortados. Teria parecido uma tarefa impossível
sobreviver a tal situação, mas nem Iskahn, Sheyta ou Kirito pretendiam assumir o melhor cenário quando se
tratasse desse incidente.

Às 4 pm, após a conclusão da limpeza do incidente dentro do castelo, os quatro se reuniram no quarto de
Sheyta e Iskahn novamente, onde a janela já havia sido consertada. Leazetta bebia leite em paz nos braços de
Sheyta, completamente esquecida da terrível provação. O médico do palácio e Sheyta, com sua habilidade em
artes de alto nível, foram muito meticulosos em determinar que o bebê não estava sob os efeitos de qualquer
veneno ou artes das trevas, felizmente. Por outro lado, eles não sabiam quase nada sobre o próprio
sequestrador. E o maior mistério de todos – como ele abriu a janela do 50º andar, que era controlada apenas
pelo imperador Vector – permaneceu sem resposta.

"Bem... Pode não ter nenhuma relação." – disse Ronie enquanto bebia um tipo desconhecido de chá que
cheirava levemente a maçãs. – "Mas eu percebi que quando ele abriu a janela, a grande jóia pendurada em seu
pescoço brilhou em vermelho."

"Jóia vermelha...?" – Kirito repetiu. Sheyta também parecia curiosa. Eles pareciam não reconhecer o conceito.

Mas Iskahn, que estava mordendo uma grande fatia de torta de nozes, franziu a testa e murmurou. – "Uma
jóia vermelha brilhante… Você se lembra do tom de vermelho em particular, Ronie?"

Ela percebeu que esta era a primeira vez que um homem de alto escalão tinha confiantemente a chamado
pelo nome. – "Era, hum, não muito brilhante... Um vermelho mais escuro, como a cor do sol poente ou
sangue." ela respondeu a ele.

"Vermelho sangrento... Não... Não poderia ser..."

"Ei, Iskahn, você não pode simplesmente dar uma dica como essa e nos deixar esperando! É contra as regras!"
– Kirito reclamou.

"Contra quais regras...?" – Iskahn rosnou, parecendo suspeito. Mesmo assim, ele explicou. – "Havia uma
pedra como aquela incrustada na coroa do Imperador Vector quando ele chegou antes da guerra. Eu me
lembro porque era a única jóia que ele usava."

"A coroa de Vector...? Então, definitivamente não pode ser ele. A primeira vez que ele morreu foi em batalha
com o comandante Bercouli, a milhares de kilors ao sul de nós. Quando ele voltou depois disso, ele não
estava mais usando a coroa. Portanto, o que quer que ele estivesse vestindo da primeira vez teria desaparecido
naquela montanha rochosa ao sul."

"Mas você não viu isso acontecer, viu?" – Iskahn replicou.

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Sword Art Online Volume 19 - Moon Cradle

"Bem... Na verdade…" – Kirito murmurou.

Na época, Kirito estava em um estado mentalmente inativo. O duelo mortal de Bercouli e Vector foi
testemunhado apenas por Alice, a Cavaleira da Integridade, e ela não estava mais presente no Underworld.
Alice transportou o corpo de Bercouli com o auxílio de seu dragão, e Kirito o pegou dela no Altar do Fim do
Mundo e o entregou de volta ao reino humano. Seus restos mortais agora descansavam sob uma lápide no
centro do jardim, no canto sudeste do terreno da catedral.

"…Verdade, eu não fiz uma busca do lugar onde Bercouli e Vector lutaram. Seria difícil até mesmo identificar
o local agora…" – Kirito admitiu. Ele se virou e olhou pela janela. – "Mas... Se foi o poder da jóia que abriu e
fechou a janela do 50º andar, então você pode estar certo: pode ser a jóia de Vector. Isso não explica quem a
recuperou e como... Ou quem era aquele homem... Mas você mencionou a guilda dos assassinos na sala do
trono. Como é essa organização?"

Iskahn engoliu o chá de uma vez e proclamou com nojo. – "É exatamente o que parece: eles realizam
assassinatos para viver. Eles usam venenos... O líder, quando os dez senhores estavam por perto, era um cara
chamado Fu Za, e ele morreu quando o General Shasta tentou encenar uma rebelião. Aquilo foi um grande
golpe para a guilda, e eles nem mesmo fazem parte do Conselho dos Cinco agora. Eu tinha quase esquecido
completamente deles... Mas se o cara do manto faz parte da guilda dos assassinos, e ele tem um minion
cumprindo suas ordens, então temos uma situação realmente suspeita em nossas mãos..."

"Devíamos fazer uma investigação completa sobre eles e os magos das trevas desaparecidos." – Sheyta
instruiu.

"Sim." – ele concordou. – "Pretendo falar com a cavalaria e a guilda de comércio também. Eu não quero mais
nenhuma bobagem acontecendo em Obsidia."

Kirito se inclinou para frente e sugeriu. – "Sobre isso – não deveríamos pedir a ajuda da guilda dos magos das
trevas? Depois de ouvir sobre o que Dee Eye Ell fez, eu não, necessariamente, culpo você por virar as costas
para os magos das trevas… Mas acho que você deveria tentar reparar essa relação e fazer com que protejam o
palácio também. Com apenas guardas armados, você está muito suscetível às artes das trevas."

"Como de costume, você tem uma maneira de dizer exatamente o que eu não quero ouvir." – disse Iskahn
com uma careta. Ele deu de ombros e admitiu. – "Mas acho que você tem razão. Se todos os humanos em
Obsidia estão brigando uns com os outros, não podemos esperar resolver nenhum problema com
demi-humanos... Quanto tempo você vai ficar aqui, Kirito?"

Desta vez, foi Iskahn quem estava inclinado para a frente e Kirito que estava recuando. – "E-Eu adoraria
oferecer a você toda a ajuda possível... Mas preciso voltar para o lado humano esta noite. Ainda não
resolvemos o problema lá também…"

"Ah sim; isso é verdade. Por outro lado, não fui capaz de agradecer adequadamente por trazer Leazetta de
volta para nós, e há tanta comida boa para comer…"

A visão de Iskahn franzindo os lábios como uma criança sendo privada da hora de brincar colocou um

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Sword Art Online Volume 19 - Moon Cradle

sorriso afetuoso no rosto de Kirito que também continha uma leve nota de pesar.

"Para que é essa expressão?"

"Oh... É que você soou como um velho, velho amigo meu, Iskahn. Mas olha, a reunião ainda é no mês que
vem, certo? Iremos fazer uma festa muito maior da próxima vez."

"Pode apostar! E prepare seu estômago; vou preparar um menu de iguarias que farão o jantar de ontem à
noite parecer nada... De qualquer forma, foi uma grande bênção ter você aqui. Nunca vou esquecer essa
dívida que tenho com você pelo resto da minha vida."

Iskahn se levantou e estendeu a mão. Kirito se endireitou e a agarrou. Dos braços de Sheyta, Leazetta riu
muito ao vê-los.

Depois de algumas horas de sono em seus respectivos quartos de hóspedes, Kirito e Ronie fizeram uma
refeição rápida e deixaram o Palácio de Obsidia às 8 pm. Desta vez, eles não precisaram colocar nada em seus
rostos ou usar a Encarnação para voar. Sheyta voou com eles nas costas de Yoiyobi para onde a dragoncraft
estava escondida. Mesmo a reservada Sheyta pareceu atordoada quando viu o dragão de aço, mas ela
entendeu as capacidades da dragoncraft imediatamente. Ela disse que estava ansiosa pelo dia em que tais
coisas seriam produzidas em massa para que a viagem entre o reino humano e o Território Negro se tornasse
fácil. Então ela voltou para sua casa no castelo de obsidia, e Kirito e Ronie embarcaram na dragoncraft e
voaram para o céu ocidental.

Quando a nave estava voando e estável, Kirito exalou lentamente no banco da frente e disse. – "Aquele
«Sonic Leap» que você usou para resgatar Leazetta do sequestrador foi incrível, Ronie. Quando você ficou
tão boa nisso?"

"Huh... Eu-Eu não sei. Eu estava desesperada…" – ela gaguejou, roçando o cabo de prata de sua espada, que
estava descansando entre seu assento e a parede. – "Eu sinto que... A espada me deu poder. Eu nunca seria
capaz de saltar aquela distância em circunstâncias normais."

"Entendo... Isso significa que é uma boa espada."

"Eu sei." – Ronie respondeu, se recostando no assento.

O pára-brisa da dragoncraft oferecia uma visão do céu noturno do Território Negro enquanto voava
silenciosamente. Haviam menos estrelas em comparação com o reino humano, mas a lua era grande e pálida,
uma fatia crescente no céu diretamente acima.

'Apesar da grande distância entre os lugares em que moramos, as pessoas de ambos os lados estão olhando para a
mesma lua…'

Naquele exato momento, ela mais uma vez teve a mesma sensação estranha que teve quando viu a placa na
pousada em Obsidia e ouviu a melodia da torre do sino. E desta vez, Ronie sabia o que era.

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Sword Art Online Volume 19 - Moon Cradle

"Hum... Kirito-senpai?"

"O que foi?"

"Por que o reino humano e o reino das trevas usam as mesmas palavras e letras? Quase não havia
comunicação entre os dois mundos desde o nascimento do Underworld, então você pensaria que eles teriam
línguas completamente diferentes…"

Era algo que ela nunca havia se perguntado antes, mas agora que ela tinha visto um pouco do grande mundo
por si mesma, ela queria saber o motivo pelo qual funcionava dessa forma.

O espadachim do mundo real ficou em silêncio por um tempo. Eventualmente, ele respondeu. – "Vamos
ver... Os habitantes do mundo real que criaram este lugar queriam que os dois reinos lutassem entre si, então
deveria ter sido mais conveniente para seus propósitos que os dois mundos usassem línguas completamente
diferentes. Afinal, se vocês não conseguem se entender, vocês nunca podem encontrar entendimento e fazer
as pazes. Mas eles – ou algo além dos habitantes do mundo real – intencionalmente compartilharam a
mesma linguagem entre eles. Eu não sei o real motivo. Mas é possível que tenha tido com o propósito de
trazer um mundo que conseguisse ir além da hostilidade e da luta……"

Ronie achou difícil entender o que ele estava dizendo. Mas ela escolheu continuar pensando sobre isso, em
vez de pedir a ele para explicar isso melhor.

A lua no céu era outra esfera enorme, assim como o mundo deles; fora isso que Kirito havia dito. Era por isso
que brilhava com a luz de Solus, e aumentava e diminuía.

Se as pessoas vivessem na lua, elas veriam a terra, onde Ronie morava, como outra esfera crescente e
brilhante. Será que o povo da lua também falaria a mesma língua? Como as pessoas aqui, cometeriam muitos
erros lamentáveis ​e derramariam sangue, mas ainda dariam o melhor de si e desejariam um mundo melhor?

A lua crescente acima parecia um berço capaz de nutrir muita vida agora. Ela estendeu a mão em direção à
ela.

Mas logo, ela deixou cair a mão de volta para o punho de sua espada. – "Hum, Kirito-senpai?"

"Hum…?"

"Decidi um nome para minha arma. Vou chamá-la de Lua... Ou melhor, de Espada Raio Lunar."

"Entendi. Esse é um bom nome. Tenho certeza de que vai proteger você bem." – disse ele. Ela deu um sorriso
brilhante e concordou, em seguida, enxugou as lágrimas que brotaram de seus olhos sem serem convidadas.

'Eu quero ver Tiese…' – ela pensou. 'Eu quero encontrar minha amiga presa entre o amor pelo falecido Eugeo e
a proposta de Renly e dizer a ela as coisas que aprendi e considerei nesta viagem.'

De alguma forma, Kirito pareceu sentir esse desejo dela, então ele aumentou a velocidade da dragoncraft um

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pouco. Assim, o dragão de aço voou continuamente para o oeste, brilhando sob o pálido luar.

★CONTINUA★

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Sword Art Online Volume 19 - Moon Cradle

Posfácio

Obrigado por ler Sword Art Online Volume 19: Moon Cradle (Berço Lunar).

Esta história é tratada como uma espécie de continuação da saga Alicization que terminou no Volume 18,
mas esse termo pode ser um pouco enganador, então eu gostaria de explicar o conceito mais detalhadamente.
(Cuidado com os spoilers deste livro além deste ponto!)

No meio do Volume 18, o Underworld entrou na fase de aceleração máxima, o que significa que, dentro
dele, o tempo passou 5 milhões de vezes a velocidade do mundo real. Kirito e Asuna foram deixados para trás
durante esse tempo, e eles passaram 200 anos no Underworld antes de se desconectarem. A história de Moon
Cradle se passa bem no início desse período de 200 anos. Em outras palavras, menos de 5 dias se passam no
curso do Volume 19, mas no mundo real, é passam 5 milionésimos desse tempo: apenas 0,08 segundos. Mas
mesmo que aconteça em um piscar de olhos, lamento dizer que haverá mais um livro sobre isso! No volume
seguinte, a história volta a Centoria, onde Kirito, Ronie e Asuna enfrentam o idealizador dessa trama. Eu
quero divulgá-lo o mais rápido possível, então tenha paciência comigo até então.

Eu gostaria de adicionar um pouco mais e ir mais a fundo nesta história. No livro, Ronie está imaginando os
números que ela e Tiese obterão como Cavaleiras da Integridade. Alguns leitores podem ter se perguntado:
"O Eugeo não seria o cavaleiro número Trinta e Dois?". Na verdade, embora suas memórias tenham sido
bloqueadas pela Administradora, e ele se autodenominou Eugeo Synthesis Thirty-Two, ele recuperou essas
memórias na luta com Kirito e então morreu na batalha contra a Administradora imediatamente após isso.
No momento em que Moon Cradle acontece, Kirito é a única pessoa que sabe sobre tudo isso, e ele não
contou para ninguém que Eugeo era um Cavaleiro da Integridade. Portanto, o número Trinta e Dois não foi
aposentado e Tiese acabará por herdá-lo.

Duvido que chegue à isso no próximo volume, mas gostaria de escrever sobre as promoções oficiais de Ronie
e Tiese para cavaleiras, e o resultado de suas vidas amorosas – eventualmente. Cerca de uma semana após o
lançamento deste livro, em 18 de fevereiro de 2017, o longa-metragem de animação Sword Art Online the
Movie: Ordinal Scale chegará aos cinemas. Ao contrário de todas as outras histórias, que acontecem em
VRMMOs, esta é ambientada em um jogo de AR (realidade aumentada), mas é totalmente embalado com
visuais inacreditáveis, então eu recomendo que você dê uma olhada na tela grande! Além disso, sinto muito
por Abec e Miki por chamá-los tão perto do prazo mais uma vez! Espero ver você no próximo volume!!

Reki Kawahara — Janeiro de 2017

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Sword Art Online Volume 19 - Moon Cradle

Tradução:
Bruno Bueno

Edição das imagens traduzidas:


Jon Aviroll

Revisão e edição geral:


Thadeu Leite (Woodstemido)

Temos um grupo de WhatsApp, onde compartilhamos as Light Novels de SAO, dentre outras:
https://chat.whatsapp.com/I1o6NqM016Z6uL0NlkkSM7

E temos também um grupo no Discord:


https://discord.gg/hPeweSc7cx

Quem quiser se juntar à nossa guilda, é só chegar 😉.


E para finalizar, agradecemos a todos que leram este volume de SAO. Espero que tenham curtido tanto quanto
nós que trabalhamos nele.

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