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querem crer - uma leitura mais atenta dos textos nos mostra os ira- Gos mais dominantes desta filosofia. Vem primeiro a idéia de wim individualismo ou de um certo per- sonalismo. A educagdo esté “primeiro a servigo da pessoa”, dizem os textos. As vezes sc avanica um pouce mais afirmando que ela esta “a servico de ser”. Dai a exigéncia de “armar” o individyo numa “sociedade em mudanga” para afrontar os “desafios” desta mesma sociedade. Sozinho afrontar um mundo selvagem e desconhecido, aceita de antemdo. Este homem homérico ¢ modelado por uma sé dimensiio, a dimensdo individual, “aperfeigoada” permanentemen- te pelo saher e pela técnica. E, como a dimensao da mudanga, da mutag&o, é o motor desta luta contra o mundo, pode-se dizer que a corolario do individualismo ¢ 0 mutacienismo, entendendo-se com isso uma doutrina que reduz o mundo a um sé aspecto da realidade: a aceleracio da mudanga. Nao faltam na civilizagda ocidental modelos “filoséficos”, concepgées de homem tribal do Aomo bellicosus formado pelo indi- vidualismo e pelo mutacionisme. O homem grotesco que Miguel de Cervantes personifica no seu herdi, o cavaleiro errante Don Quixo- te, €um exemplo disso. Um dos inspiradores da Educagdo Perma- nente escreve jd em 1962: “é preciso dar aos homens caracteres e al- mas a0 mesmo tempa tdo fortes e tao flexiveis, 140 adaptiveis, que possam se manter num tal estada de disponibilidade que as trans- formagées nao os abaterdo (...). A trangililidade nao é para nds. Nos temos que viver em equilibrio incessantemente recolocado em queslip ¢ que precisaremos incessantemente restabelecer’’*. Sera precisa que renunciemos 4 trangililidade porque as coisas yaa mui- to rapidas? Mas, ndo se termina jamais de correr, de se “aperfei- coar”, de se “reciclar’’, de se informar, de se instruir? Em outras pa- lavras, esta doutrina pressupGe que o homem € um ser capaz de se “aperteicoar” indefinidamente, capaz de se adaptar, sem cessar, 2 novas mudangas. A aceleragio do progresso conduz os promatores ‘‘da educa- go interminavel” 4 reciclagem continua, exigidas pelas pressdes econdmicas, Esta reciclagem 4 apresentada como temédio para o atrasa sobre o desenvolvimento da informagdo nos dominios técni- cos € cientificos, ¢ ao mesmo tempo, ¢ apresentada como urn meio de fornecer uma atitude critica face a mudanga. Trata-se, contudo, * Gaston BERGER, L’homme moderne et son éducation, p. 14d 145

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