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DADOS DE ODINRIGHT

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VOCÊ VALE A PENA

LANDER FLEURY XAVIER


Copyright © 2011 por Lander F. Xavier

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro


pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios
existentes sem autorização por escrito do autor.

Título em inglês: You Are Worth It

Revisão: Annita Carvallho, Fernando Carvalho e Iara Fleury


Diagramação: Lander Fleury
Web site: vocevaleapena.com
Capa: Lander Fleury
Primeira edição: 2011

ISBN: 978-1-4507-5826-0
ESTA HISTÓRIA FOI ESCRITA PARA MEU PAI E AMIGO
Leandro Jorge Xavier – o Pai Herói
MEUS IRMÃOS
Leandro Fleury,
Luciano Fleury,
Suzzan Sharon,
MINHA QUERIDA MÃE
Solange Fleury – a Protetora,
MINHA AMADA ESPOSA
Iara Fleury – Fiel companheira,
MEU INSTRUTOR,
Fernando Carvalho – o Gamaliel,

MEUS AMIGOS
Todos que fazem ou fizeram parte de minha
caminhada,

E DEDICADA EM PRIMEIRO LUGAR A


Jesus Cristo, o exemplo – obrigado por salvar minha
vida -,

E EM SEGUNDO A
“...todos nós, que Valemos a Pena e acreditamos
que ainda
há chance para um novo começo.”
PREFÁCIO

O relato da conversão de uma pessoa é algo lindo de se


ouvir e de se ler. Conversão, é uma mudança radical da
maneira como uma pessoa pensava e vivia para uma nova
forma de viver e pensar.
A Bíblia registra conversões de vários indivíduos mas,
talvez, a mais marcante de todas, seja a de um homem
chamado Saulo de Tarso, relatada em Atos 9.
Esse homem que, por admissão própria, “perseguia com
violência a igreja de Deus procurando destruí-la”, após
convertido, se tornou o maior dos seus defensores e o que
mais contribuiu para a edificação dela. Conversão é isso.
Deus transforma a vida de um indivíduo efetuando uma
mudança radical de 180 graus, de um lado para outro.
Considera-se também, importante nesse ato de Deus, que
ela seja duradoura.
É comum ouvirmos sobre conversões marcantes de
pessoas que, anos depois, voltam à vida passada
mostrando, assim, que ela não foi baseada em convicção
mas em emoção e por isso não durou. Mas, com Paulo, foi
diferente. Anos mais tarde aos eventos de Atos 9 e já no
final da sua vida, esse homem escreve: “Combati o bom
combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2 Timóteo 4:7).
A história que você vai ler neste livro é a história da
conversão de um homem que, como Paulo, ia por um
caminho e, depois de uma experiência marcante com Deus,
baseada na convicção da Sua Palavra, se transformou. Ele
deu uma volta de 180 graus e, como Paulo, se tornou um
“vaso escolhido de Deus”.
É uma história real de uma pessoa transformada que não
só vive essa transformação mas que também, como Paulo,
quer que outros tenham a mesma experiência dele.
Lander é genuíno e crê que Deus o arrancou da vida que
vivia, quando olhou para ele e disse: “Você vale a pena.
Valeu todo o sacrifício do meu filho”. Lander crê que, com
este livro, ele dirá a todos que temos valor para Deus e que
Deus quer nos alcançar.
Como seu pastor, sei que Ele viverá essa mensagem até o
final quando, como Paulo, ele dirá: Eu também “combati o
bom combate, acabei a corrida, guardei a fé.”

Pastor Fernando Carvalho


Igreja Mensagem de Paz – San Francisco, Califórnia
Janeiro de 2011
1
NOITE TRAIÇOEIRA

Cidade de Goiânia, Brasil. Madrugada de quarta-feira e


início de um feriado prolongado. Tudo corria bem e, como
sempre, eu rodeado de amigos na melhor boate da cidade.
Muita grana na conta bancária e no bolso, anel com um
lindo diamante, discreta pulseira de ouro, relógio cobiçado
no pulso, roupa da melhor “griffe” e, estacionado na porta,
um carro conversível importado; “whisky” de ótima
qualidade na mesa e a companhia de uma garota linda.
Tudo que um jovem com vinte e dois anos sonhara em
desfrutar em um país como o Brasil. Um sonho real, mas
também, rodeado de pesadelos.
Estávamos felizes e empolgados com aquele momento,
mas, faltava uma pessoa muito especial no nosso meio. Era
o Fredy. Ele era o centro das atenções em uma cidade com
cerca de dois milhões de habitantes, aquele tipo de pessoa
que se destaca em meio à multidão, por seus atos de
coragem ou, simplesmente, pela sua capacidade
inexplicável de cativar pessoas. Era considerado um herói
da juventude naqueles dias, camarada simpático, com seus
carros luxuosos, muito dinheiro, bem trajado e com
mulheres lindas ao seu redor.
Eu, sempre o vira como um “mafioso” mas, na verdade,
ele era um empresário, no ramo de equipamentos
importados.
Colocava o que quisesse dentro do Brasil e isso era a sua
maior fonte de renda.
Se esquivava de questionamentos a seu respeito e sobre
o seu trabalho. Ele nunca se “abria” com ninguém. Era uma
pessoa totalmente reservada.
Assim, também, era eu. Todos questionavam a minha
fonte de renda, porém, nada conseguiam descobrir.
A minha forma de pensar e de me expressar, combinavam
com o estilo de vida do Fredy. Nos tornamos grandes
amigos.
Os que estavam comigo, naquela boate, decidiram ligar
para ele e convidá-lo a encontrar-se conosco, porém, não
obtinham resposta. Fredy não atendia às chamadas.
Por volta de uma hora da manhã, pediram para ligar do
meu celular pois, muitos diziam, que se ele visse o meu
número atenderia de imediato e, isso, era algo que eu
mesmo afirmava, abertamente: “se o Fredy vir o meu
número no visor do seu telefone atende, sem nenhuma
restrição”.
Sempre falávamos ou nos encontrávamos nas
madrugadas, isto, quando não estávamos juntos em algum
bar ou no autódromo da cidade participando do “quilômetro
de arrancada”, prática esportiva que nos trazia muita
alegria e prazer. Mas, o melhor, era quando ficávamos nas
oficinas, mexendo com os carros específicos para aquele
tipo de evento.
Quando estávamos juntos, conversávamos a respeito de
coisas que somente os grandes amigos falam entre si,
diferente dos outros, que só queriam estar ao nosso lado
por ganância ou para beber por nossa conta e já estávamos
cansados disso. Eram como abutres na carniça embora,
devo reconhecer, havia exceções entre essas pessoas.
Liguei para o Fredy e, no segundo toque, logo escutei:
“ Fala, Plus!” ele respondera a ligação usando o apelido
que eles me deram e, alguns ficaram contrariados ao ver
que Freddy me atendera, já que eles não tiveram o mesmo
sucesso. Procurei um lugar onde o som estivesse mais baixo
e falei:
“ Brother, cadê você? o que está rolando?”
“ Plus, estou em um “esquema” com o Sandro e aqui só
tem as lindas”. Ele se referia às mulheres que estavam no
local.
“ Estou ligado Fredy, quando tem mulher na “ parada”
você some mas, onde é a casa de “striper” mesmo?”
Eu sabia que ele estava em um “Striper Club” pelo fato de
estar com Sandro. Isso era evidente.
“ Plus, onde estou? você e o Sandro me apresentam o
lugar e agora, você me faz esta pergunta?
“ Gostou, né malandro! cuida bem dessas garotas”.
“ Plus, é o seguinte: vamos aproveitar o feriadão. Daqui a
duas horas passo no seu apartamento para te pegar; estou
com o Sandro e um “playboy” amigo dele, mas vou dizer-
lhes que tenho que fazer isto; pego as garotas e passo no
seu apartamento para irmos para a Cidade de Caldas
Novas”.
“ Pô Fredy, estou com uma garota linda aqui, brother,
mais tarde pego meu carro e nos encontramos naquele
club-hotel.
“ Beleza Plus, vou levar esse camarada, amigo do Sandro,
que está aqui conosco. Conheci esse “ playboy” hoje e me
parece que o cara é gente fina”.
“ E o Sandro?”
“ O Sandro, como sempre, já está bêbado e indo embora
dormir. Vou ficar aqui mais umas duas horas e vou direto.
Nos encontramos naquele hotel. E, mais uma Plus, vai na
moral, porque está chovendo e não acelera muito não,
brother. Você se lembra da vez passada”...
Disse-me isto porque, na nossa última viagem para aquele
local, sofri um acidente na rodovia, por estar alcoolizado e
em excesso de velocidade, resultando na perda total do
veículo que eu usava e, por um milagre, não morri.
“ Valeu Fredy; vai devagar também, brother”.
“ Ah! Plus, nunca se esqueça! você mora no meu coração
e não paga aluguel, brother. Te vejo lá”. Encerramos a
conversa.

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Sandro e um outro jovem estavam com ele naquele


“Striper Club”.
Sandro, era um camarada calmo, que não se preocupava
com nada. Do tipo que, para morrer de repente, levava
umas duas semanas. Pessoa bem tranquila mas, se queria
algo, era melhor sair da frente dele. Faria qualquer loucura
por um desejo seu.
O pai, um pastor renomado na cidade e já bem idoso,
amava o seu único filho como ninguém, porém, como já se
sabia, com relação aos desejos de Sandro, era o pai quem
sofria toda a consequência; se o filho fosse atraído por uma
moto ou por um carro, só faltava virá-lo pelo avêsso para
fazê-lo comprar.
Certo dia, um dos pastores auxiliares do pai de Sandro, se
revoltou com as atitudes dele em relação às suas vontades.
Chamou-o na igreja e disse-lhe umas boas verdades,
desconhecendo que ele estivesse armado.
Diante das palavras do Pastor, Sandro não pensou duas
vezes, sacou da arma e deu-lhe um tiro no pé.
Quando eu soube disso, não pude acreditar. Pensei
comigo que, o meu amigo estava enlouquecendo.

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Tínhamos um atrativo especial por armas. Eu, andava


com duas pistolas calibre 380 em meu carro, uma Imbel de
cor preta com vinte munições e uma Inox, marca Taurus,
com o mesmo carregamento. Aquilo me deixava seguro e,
onde eu fosse, estavam comigo.
Obtive permissão do Governo Federal para portar armas
podendo, obviamente, andar armado em qualquer região do
território nacional.
Isso era algo quase impossível de se conseguir, porém, o
meu trabalho assim o exigia.

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Eu não conhecia o outro jovem que estava com Fredy e


Sandro mas, quando não aceitei o convite para ir, soube
que ele fora em meu lugar. Na verdade, qualquer um
gostaria de ir a uma viagem daquelas. Não sabia ele, que
essa seria a última viagem da sua vida como foi também a
última de todos eles.
O que o Fredy me recomendou para fazer, ele mesmo não
fez. Pediu-me que andasse devagar pois estava chovendo,
contudo, eles sofreram um acidente, por volta das cinco
horas da manhã de quarta-feira, dirigindo a mais de
duzentos quilômetros por hora.
Foi uma colisão frontal com um caminhão, causando
explosão no veículo e despedaçando a todos. Infelizmente,
esta é a palavra que devo usar, já que, não consigo
encontrar outra mais apropriada para definir aquele
impacto.

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Bêbado, exausto e sozinho, cheguei em casa às quatro da


manhã.
Aconselhada pela prima, ou algo assim, a garota que
estava comigo, não me acompanhou, o que me deixou
muito revoltado, afinal, eu não fora com o Freddy por causa
dela.
Deitei-me para dormir e, após uma hora de sono, meu
telefone começou a tocar insistentemente. Quando eu via o
nome da pessoa que chamava, logo desligava e, dessa vez,
vi que era o Kevin. Pensei comigo: “dá um tempo, deixa eu
dormir”.
Kevin, era o único amigo do grupo que não bebia, não
fumava e não traía a namorada. Achávamos que ele não
“batia” muito bem da cabeça. Ele era muito certinho e vivia
querendo me consertar, com claras intenções de que eu
pudesse namorar a Lara, cunhada dele.
Ela, por sua vez, era uma jovem morena e muito bonita,
porém, evangélica e mais sistemática do que ele. Consegui
beijá-la algumas vezes, mas ela viu logo que não seria bom
se relacionar comigo, sobretudo, depois que Kevin contou-
lhe sobre o que ele achava ser a realidade da minha vida.
Logo que nos afastamos, comecei a receber mensagens
anônimas em meu celular com palavras da Bíblia e, por
alguma razão, eu sabia que era ela quem me enviava tais
mensagens, o que me deixava furioso, porque, o que menos
eu queria, era tornar-me um crente e ir para igreja. Ela não
teria sucesso.
Kevin era sócio de seu irmão Marcius em uma loja de som
automotivo, considerada a melhor do país, por realizar seus
eventos com este tipo de som em que dezenas de veículos
tocavam a mesma música ligados a uma mesa de Dj
profissional.
Cada festa dessas reunia até vinte mil pessoas. A loja,
tinha estrutura para atender a grandes acontecimentos e
também uma equipe formada por dezenas de carros, de
várias marcas e modelos, que eram modificados ao padrão
exigido por ela e providos com som de alto preço e de
volume inimaginável.
Eu não entendia como Kevin e Marcius conseguiam dar
tanto volume e qualidade a um som automotivo! Havia
carro com sessenta auto-falantes. Era incrível ver aquela
engenharia toda funcionando.
Através desta equipe Fredy foi visto como líder, nela nos
conhecemos e acabei fazendo parte dela.

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Kevin não parava de ligar e, por um instante, pensei no
Fredy e disse para mim mesmo: “deve ter acontecido
alguma coisa pois Kevin não é tão insistente assim; deve ter
acontecido algo”.
Não deu outra, atendi e ouvi o que jamais gostaria de ter
ouvido:
“ Plus, o Fredy está morto. Perdemos o nosso amigo”.
Aquelas palavras entraram no meu ouvido como uma
espada, rasgando a minha mente e chegando ao coração;
senti uma dor e um sentimento de perca imensos, não sabia
se chorava ou se corria em direção ao local onde ele estava.
“ Kevin, não brinca comigo, brother, isso é muito sério!”
Eu sabia que ele não estava brincando, Kevin não contava
nem piada... mas eu precisava de algum argumento, de
alguma razão; cheguei a pensar que ainda estava dormindo
e tendo um pesadelo e que aquilo tudo era irreal.
“Plus, vá ao local e veja você mesmo com seus próprios
olhos”. Anotei o endereço e corri para a garagem,
precisando de um carro que respondesse àquela minha
ansiedade; queria chegar depressa à direção que eu tinha
em mãos. Entrei no melhor carro e, em desespero, cheguei
ao local do acidente.
2
INÍCIO DE UM DESPERTAR

Antes eu não tivesse ido lá. Aquela imagem nunca me


saiu da mente. Na minha vida, jamais presenciara algo tão
trágico! meu desejo era juntar os pedaços do meu amigo e
fazê-lo renascer. Entrei em estado de choque, tamanha a
violência do acidente.
Caminhando, em meio aos corpos encontrei, estirado, o
corpo do Fredy e acabei pisando em uma parte de massa
encefálica que, ao sair do crânio dele, se esparramou pelo
chão. Quando vi aquilo, questionei:
“Por que, Fredy? por que, meu brother? você falou para eu
não correr e bateu a mais de duzentos por hora!”
Fiquei esperando por um suspiro ou talvez escutá-lo
chamando-me, como de costume: “Plus!” - mas não houve
resposta. Só o silêncio da morte pairando no ar; um silêncio
que apaga os sonhos e troca a alegria pelo vazio da perca
insuperável.
Não pude distinguir os demais cadáveres. As duas jovens
que foram no carro estavam completamente desfiguradas
devido ao forte impacto da batida. Uma delas, tinha a
metade do corpo para um lado, a cabeça toda ferida, e os
olhos arregalados numa expressão de pânico e desespero e
o resto do corpo, com os orgãos internos expostos, virados
para o lado oposto.
Da outra, só havia pedaços de carne espalhadas, o corpo
fora partido por causa do cinto de segurança atravessado,
que a prendia ao assento do carro.
Logo os bombeiros pediram que todos se afastassem para
fazerem o trabalho de recolhimento.
Naquele dia, parte da minha juventude se foi; senti que
envelhecera uns dez anos e ainda escutei o que não queria,
de um conhecido que estava no local:
“ Plus, o Fredy já foi e se você não mudar seu estilo de
vida será o próximo”.
Fiquei calado, ignorei-o e logo me lembrei que, se
houvesse aceitado o convite do Fredy, eu estaria morto
naquele momento. Meus olhos procuraram pelo jovem que
fora em meu lugar. O corpo dele estava sendo colocado em
um saco preto para facilitar o trabalho dos bombeiros,
então, as minhas lágrimas rolaram e entendi que algo ou
alguém me livrara da morte naquele dia.
Quando presenciei aquilo tudo, percebi que necessitava
de despertar, de procurar um novo estilo de vida senão,
realmente, eu poderia ser o próximo, conforme aquela
pessoa citou.
Sem nenhuma reação, todos contemplavam a cena; o que
parecia indestrutível, foi aniquilado. Aquele camarada, que
era o centro das atenções em uma cidade de quase dois
milhões de habitantes, desta vez, causara um maior
impacto. Ele conseguiu ser notícia de primeira página em
todos os jornais por um período de uma semana, com
manchetes chamativas:
“JOVEM BATE CARRO A MAIS DE 200 KM POR HORA”.
“QUATRO JOVENS MORTOS EM COLISÃO FRONTAL COM
CAMINHÃO”.

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O velório foi de caixão lacrado com uma foto do meu


amigo presa à tampa, pois o corpo estava todo desfigurado.
Multidão chorando, alguns curiosos, outros dizendo que
eram íntimos do morto, tentando atrair algum tipo de glória.
Várias mulheres jovens em volta do caixão que se diziam
namoradas ou ex-namoradas dele, e eu, pensei comigo
naquele momento:
“Somos como um vento, que passa e deixa um rastro que
logo será esquecido... Por mais que tenha dinheiro, boa
fama, bons carros, amigos, o destino do homem é igual ao
de um cachorro que morre e vira pó. Te vejo no céu, meu
brother, lá você me explica melhor o que aconteceu”.
Mesmo sem entender nada a respeito desse assunto,
tentei imaginá-lo no céu e isso, de uma forma ou outra,
trazia conforto ao meu coração e à minha mente.
Foi um tanto agressivo esse meu pensamento naquele
momento do funeral, sei disso, pois se tratava do velório do
meu melhor amigo, porém eu sabia que após o enterro,
todos continuariam a sua caminhada na corrida pela
sobrevivência, pelos sonhos, negócios ou procurando um
novo líder para se espelharem nele. A não ser os pais, que
carregariam a dor da saudade até o fim das suas vidas.
3
PRIMEIROS PASSOS APÓS
A TEMPESTADE

Depois deste fato, meu pai me chamou, na casa onde ele


morava com a sua segunda esposa e a minha amada irmã
Priscila.
Cheguei, e ele já me aguardava no portão; abriu a porta
do meu carro e disse:
“ Oi, filho, tudo bem com você? vamos dar uma volta?”
“ Pai, estou tranquilo, entra e vamos dar essa volta”. Saí
bem devagar sem saber aonde ia.
“ Tomei conhecimento do acontecido com o seu amigo”.
“ É. Infelizmente, ele se foi, pai”.
“ Filho, nós seres humanos, não conseguimos lidar com as
nossas próprias criações, veja o carro, algo de conforto,
para nos levar e trazer, algo criado para facilitar a nossa
vida mas que, também, pode ser usado como uma arma. Se
você correr muito pode te matar e levar outras vidas a
morrer também”.
Ele falava assim, porque sabia da forma que eu dirigia e o
motivo de todos os acidentes que ocorreram comigo, ou
seja, a velocidade. Tinha medo de algum dia ter más
notícias a meu respeito como os pais de Fredy tiveram.
“ Pai, acho que vou mudar o meu estilo de vida, estou
cansado dessas aventuras e sinto que estou envelhecendo
aos 22 anos de idade”.
Tive vontade de parar o carro e chorar no ombro do meu
pai. Dizer-lhe, que aquilo tudo que eu vivia não passava de
um grande vazio.
Tanto eu, como Fredy já havíamos conversado sobre isto.
Lembro-me, quando um dia, ele me perguntou se, às vezes,
eu não chorava à noite antes de dormir, ressaltando que, o
que fazíamos era sempre em função de sermos vistos e
reconhecidos e, por conta disto, passávamos em cima de
tudo.
Já havíamos feito coisas, que um homem de oitenta anos
de idade ainda não conseguira fazer. No estilo de vida que
levávamos, as coisas eram muito rápidas. Não esperávamos
os acontecimentos, nós os fazíamos acontecer.

Mas, o orgulho não me deixara dar aquele abraço no meu


pai, pelo fato dele ter abandonado a minha mãe com três
filhos, quando ainda éramos crianças. Aquilo criou uma
barreira entre nós e só nos abraçávamos e dizíamos que nos
amávamos quando sob o efeito de, no mínimo, dez
cervejas. Ali tínhamos coragem de falar “eu te amo filho”,
“eu te amo pai”. Uma dor que era visível em ambas as
partes.
Logo mudamos de assunto e começamos a falar de
trabalho:
“ Como vai o seu trabalho na empresa de petróleo e na
transportadora?
“ Pai, estou saindo da empresa distribuidora de petróleo.
Preciso dar mais atenção à minha transportadora e cuidar
dos meus negócios. Estou viajando muito, porque, a matriz
da empresa não fica no Estado de Goiás e isto está me
atrapalhando demais na transportadora.

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Na verdade, eu queria sair da empresa de petróleo, por


causa do desvio de verba que estava acontecendo lá
naqueles dias e, nos quais, eu acabei entrando “de cabeça”.
Decidi dar um basta naquele esquema fraudulento pois
não suportava mais aquilo; como não podia contar o
verdadeiro motivo da minha saída, me escondia atrás dos
meus falsos argumentos.
Deixei meu pai, de volta, em sua casa e fui procurar
algum lugar para beber uma cerveja e pensar nas decisões
que eu deveria tomar.
Uma delas, envolvia o meu trabalho naquela empresa,
bem estruturada, na verdade, e que possuía várias filiais no
país distribuindo petróleo.
Diáriamente passava, nas minhas mãos, uns 500 mil
reais; média de 10 milhões de reais por mês, fora o que
passava nas mãos dos outros profissionais contratados na
mesma função que eu exercia.
Esse era o motivo pelo qual eu fui habilitado a possuir o
porte Federal de armas, usado em todo território nacional.
Eu lidava e, às vezes, transportava muito dinheiro.

É que, os donos e diretores da empresa estavam armando


um esquema para levá-la a pedir concordata e, assim, as
dívidas com os fornecedores e os impostos seriam anulados.
Eu e os outros auditores, éramos usados para fazer todo o
trâmite do desvio de dinheiro, que era levado à diretoria e
lá, dividido entre eles.
Mas logo percebi que aquele barco iria afundar e resolvi
também comer uma “fatia do bolo”, pois, já estava
envolvido até o pescoço, e não recebia nada em troca.
Em um único dia consegui desviar uma quantia de 180 mil
reais e já me considerava um “expert” no assunto.
Usava a mesma fórmula dos donos e diretores. Trocava
documentos contábeis por dinheiro vivo, seguido das
assinaturas da própria diretoria, e ninguém contestava
aquelas retiradas na conciliação de contas.
A “operação” envolvia muitas questões contábeis como,
por exemplo, desvio de impostos e coisas desse tipo e,
assim, o “rombo” não apareceria no caixa da empresa.
Já estava com cinco carros na garagem, moto de alta
cilindradas, “Jet Ski” do ano, apartamento, em uma boa
região da cidade e, no cofre, já não cabia tanto dinheiro.
Então, foi quando tive a idéia de colocar de trás do sofá
que possuia um zíper tornando fácil a abertura daquela
capa. Ninguém acharia o dinheiro naquele lugar. Estava tão
seguro quanto o restante no cofre.
Já tinha uma transportadora que levava, em média, 600
toneladas mensais de grãos e outros produtos, fazendo um
percurso de ida e volta do centro-oeste do país ao nordeste
e isso me rendia um bom dinheiro no final do mês.
Deixei a ambição do dinheiro fácil, roubado, que poderia
me colocar em uma grande encrenca e passei a usar a
inteligência, abandonando o “esquema” enquanto ainda
havia tempo.
Resolvi deixar a empresa, onde ninguém sabia que eu já
possuía um meio de renda ou algum tipo de patrimônio,
porque lá, eu usava um carro simples, modelo popular, que
era o veículo oficial em dias de trabalho.
Não deixava nada transparecer da minha “prosperidade”
o que, na minha mente, era um crime perfeito.
Foi difícil, porém, consegui dar um basta naquela vida
desonesta.
4
PERSEGUIDO PELO
PASSADO

Logo que saí daquela empresa e, como eu imaginara, ela


passou por uma auditoria do Governo Federal e teve que
arcar com muitos impostos atrasados. Isso a levou à
falência, apreensão de bens e fechamento por completo das
suas atividades.
Quantos amigos desempregados pela irresponsabilidade e
egoísmo do qual, infelizmente, participei! sei que, mesmo
que eu não participasse, aquilo iria acontecer mas, à partir
do momento em que me “sujei” com o dinheiro também me
tornei responsável por aquela situação.
Fiquei dias arrasado, sem poder falar nada para ninguém.
Tudo aquilo feria a forma pela qual a minha mãe me criara
pois ela nunca me dera um exemplo de desonestidade!
seria uma dor terrível, para ela tomar conhecimento disso!
Minha mãe sempre pensava em mim como um
empresário bem sucedido, que havia prosperado pelo
próprio esforço.
Quando reformei a sua casa, onde cresci com meus dois
irmãos e nosso avô, ficou tudo ao seu gosto, porém, certo
dia na ausência dela, acabei me revoltando e disparei vários
tiros nas paredes e janelas que haviam sido reformadas.
Tive essa atitude pelo ódio de ter que mentir e enganar à
minha mãe.
Foi terrível quando, ao chegar, ela viu as marcas de tiros
nas paredes. Pensou que eu estivesse ficando maluco, e eu
não tive coragem de falar o porquê daquela atitude
covarde; preferi dizer que estava bêbado.

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Não aguentava mais a companhia de amigos e familiares,


bajulando-me como um jovem que se deu bem, e que
venceu financeiramente por seu próprio mérito. Era
apresentado como um vencedor, alguém que rompeu todos
obstáculos no jogo da vida e se tornou um vitorioso na arte
de ganhar dinheiro. Aquilo me matava aos poucos.
Lembro-me do aniversário de quinze anos da minha irmã,
por parte de pai. Sua mãe me levava de mesa em mesa
apresentando-me como “o homem bem sucedido da
família”.
Era uma verdadeira desgraça, ia embora para casa como
o pior dos homens, me sentindo derrotado por dentro, um
falso e um hipócrita.
O que eu achava que fora um crime perfeito me trouxera
uma consequência maior do que eu esperava.
Deitava a cabeça no travesseiro mas não dormia; ficava
vendo vultos a noite toda, parece que estava sendo
perseguido por demônios, como se tivesse que dar alguma
satisfação a eles. Com o tempo comecei a ficar abalado.
Mas, essa sensação de preseguição era tão frequente que
me acostumei a ela e já não me importava tanto.
Certa noite, senti o meu corpo flutuar e cheguei a
perguntar o que os vultos queriam, mas não obtive resposta
alguma; amanheceu e comecei a pensar que eu estava
enlouquecendo.
Várias vezes acendia velas na casa achando que, ao
acendê-las, a sua luz mudaria o ambiente e algo ou alguém
me protegeria mas, ao contrário, parecia que piorava, criava
um ambiente místico como num filme de terror americano,
formando na minha mente, uma cena de suspense.
A luz da vela fazia sombras imensas no quarto e me
assustavam bastante a ponto de, ao dormir, colocar sob o
meu travesseiro uma das pistolas que possuia, com vinte
munições no pente, como se aquilo fosse funcionar no caso
de um ataque de algum espírito, alma penada ou fantasma.
Difícil de explicar tal pavor.
Pensei várias vezes em procurar ajuda psicológica mas
tinha medo de que me internassem. Falava para mim
mesmo:
“ Acalme-se Lander, essa loucura vai passar, exerça o seu
auto- controle; você está no domínio da sua vida; sua
caminhada depende de você, nada vai te parar; daqui para
frente é só alegria pois você já encheu o seu bolso de
dinheiro; sua garagem está repleta de carros e motos; a
transportadora a todo o vapor. Relaxe, viaje, beba uma
cerveja, arrume uma “princesa” e dê uma pausa para sua
cabeça”.
Imediatamente eu retomava o controle da situação
através do pensamento positivo.

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Passaram-se alguns dias após a morte do Fredy e tudo


começou a voltar à rotina de antes.
Muitos me ligavam me procurando para dizer que a vida
continuava e que eu precisava voltar a atuar novamente,
voltar para a equipe e participar das festas já que, a minha
presença, era indispensável.
Dei um tempo a tudo e a todos mas, um dia, resolvi “sair
da toca” e fui à procura de Marcius e Kevin, os irmãos donos
da loja e líderes da equipe.
Cheguei lá e encontrei vários amigos, todos ainda
abalados, meio sem direção, alguns, somente balançavam a
cabeça em forma de lamento.
De longe escutei a voz de Kevin tentando animar as coisas
com um grito de bem vindo.
“ E aí Plus!! até que enfim deste as caras”.
“ Grande Kevin! como andam as coisas por aqui?”
“ Do jeito que você está vendo. Todo mundo ainda está
meio abalado”.
Comecei observar a loja e olhei em direção à sala do
Fredy, a porta estava fechada e, no seu interior, um silêncio
absoluto. Senti uma tristeza que provocou, nitidamente o
cair do meu semblante.
“ Plus, se anima, “cara”. O Fredy se foi, mas não creio que
ele quisesse nos ver nessa tristeza. Vamos em frente que a
equipe continua”, disse Marcius.
“ Acho que vou sair fora, brother, sinto que meu tempo na
equipe está se findando”.
“ Plus, relaxa “cara”. Você esta misturando as coisas.
Independente de ter você na equipe saiba que eu e meu
irmão prezamos muito a sua amizade. Você é um dos que se
sentam em nossa mesa para comer conosco e nós o temos
como amigo. Tem vários que querem ocupar o seu lugar na
equipe, mas o que importa para nós, não é seu carro e sim
a sua presença”.
“ Marcius, obrigado pelas palavras e saiba que também
prezo muito a você, a seu irmão e a toda a equipe mas,
realmente, necessito de um tempo. Sei que daqui a vinte
dias tem uma festa para uma multidão; podem levar o meu
carro e depois desta festa vamos desmontar o som”.

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Despedi-me de Marcius e dos demais amigos que ali se


encontravam e voltei para o meu apartamento.
Entrei e fui ao barzinho onde peguei uma garrafa de
“whisky” e comecei a bebê-la como se bebe uma coca-cola
gelada no deserto. Estava decidido a me embriagar e tentar
esquecer tudo aquilo que me afligia. Sentei-me no sofá e já
me sentia um pouco alterado, porém, bem melhor e mais
tranquilo.
Comecei a me revoltar com a situação em que estava
vivendo, olhava tudo em minha volta e sentia um vazio no
meu peito, parece que faltava algo em minha vida e pensei
comigo:
“Mulher não é, dinheiro e carros, tão pouco, amigos tenho
vários...
Mas, o sentimento começou a aumentar pelo fato de eu já
estar embriagado.
Dei um chute no som residencial que havia acabado de
comprar e que era o sonho de consumo de qualquer pessoa,
ter um equipamento daquele em sua sala de som, porém,
fui possuído de uma revolta muito grande e havia chegado à
conclusão que, aquilo tudo que estava à minha volta não
valia nada, pois eu não tinha paz.
O chute foi tão forte que o som partiu-se em pedaços,
depois, peguei a minha pistola e dei um tiro na parede do
apartamento.
Pensei comigo:
“Ou este “whisky” está muito forte ou eu estou
estressado.”
Parei e me acalmei, porém muito bêbado, comecei a
vomitar. Me engasguei com o meu próprio vômito e aquilo
estava entupindo a minha garganta. Já não conseguia
respirar, parece que havia alguém naquele apartamento
que queria me ver morto. Comecei a cuspir o vômito e a
engolir o que não conseguia cuspir. Passei a ter visões de
vultos ao meu redor que falavam entre si. Eu gritava para
que eles se calassem mas não obtinha sucesso. Pensei que
aquilo era por causa do álcool que estava no meu sangue.
Consegui me levantar e abrir a porta e, por sorte minha,
Wilson estava chegando e me viu naquela situação.
“ Plus, o que está pegando “cara”? responde brother!”
“ Wilson, pega a chave do carro e vamos sair fora daqui.”
“ Para aonde?”
“ Me leva para um hospital, porque vou me internar.”
“ Plus, você esta bêbado, o que você bebeu?”
“ Wilson, vamos embora, porque eu preciso de uma
glicose na veia. Bebi além da conta”.
“ Mas eu vou dirigindo. Nesse estado em que você está
não chegaremos a sair do portão do prédio porque você nos
mata antes”.
Entramos no carro e fiquei calado pensando no que havia
feito e visto, não conseguindo acreditar que estava naquela
situação e que havia perdido o controle das minhas
emoções devido ao uso excessivo do álcool. Perguntei ao
Wilson:
“ Você acha que eu estou virando um alcoólatra? preciso
beber todos os dias e sinto que isto está me dominando”.
“ Plus, você é maluco? meteu o pé no som novinho e deu
tiro em todo apartamento? que loucura é essa, brother ?
“ Não sei, só sei que estou muito bêbado. Acelera para o
hospital que hoje eu me interno”.
“ Se internar... que pensamento é esse?”
Chegamos ao hospital e fui direto à recepção:
“ Boa noite, em que posso lhe ajudar?” perguntou o
atendente.
“ Por gentileza, você tem uma suíte disponível?”
“ Isso aqui não é hotel, senhor. Isto é um hospital. Você
está com algum problema de saúde?”
Wilson interrompeu-nos e disse:
“ Me perdoe, amigo, é que ele está um pouco bêbado e
precisa tomar uma glicose na veia para melhorar a sua
situação”.
“ Tem plano de saúde, para ser atendido?”
“ Tenho sim.” E entreguei o cartão ao atendente.
“ Ok, o plano cobre a consulta”.
“ Não quero consulta, quero me internar”.
“ Senhor, seu plano não cobre a internação neste hospital;
se, por acaso, o médico quiser interná-lo, o senhor terá que
nos deixar um cheque- caução de cinco mil reais”.
“ Espere um momento.” Wilson me dê a chave do carro.
“ Onde você vai?”
“ Pegar o que ele quer”.
Fui no carro, abri o porta-malas, peguei um pacote de
dinheiro que continha dez mil reais e o coloquei na mesa do
atendente dizendo que ali estava o “calção” que ele queria
e que me internasse naquele momento.
Wilson se desesperou e disse:
“ Relaxa Plus, desse jeito você está dando o “calção” e as
cuecas! dá um cheque no valor de cinco mil reais e fica tudo
certo”.
O médico escutou aquilo tudo e saiu da sua sala para ver
o que estava acontecendo no horário do seu plantão. Ele viu
a minha situação, pediu que eu entrasse em sua sala e me
perguntou:
“ Você bebeu ou usou drogas?”
“ Hoje, eu só bebi doutor; bebi quase duas garrafas de
“whisky”. Pode fazer o exame, se você quiser, e por favor
me interne, porque eu não quero voltar para casa hoje”.
“ Jovem, você está tendo um ataque de “stress”. Quantos
anos você tem?”
“ Vinte e dois doutor. Vinte e dois” – repeti.
“ Vamos. Eu vou lhe internar, mas amanhã cedo você
pode sair”.
“ Ok doutor, amanhã cedo eu vou embora”.
O médico chamou o atendente e lhe perguntou sobre o
meu plano, ao que ele respondeu que eu havia deixado um
pacote de dinheiro para ficar como caução até que
obtivesse a resposta do plano de saúde.
“Ok” - disse o médico – “ vamos interná-lo e aplicar um
soro com glicose em suas veias. Pode devolver o dinheiro a
ele.”
“ Certo doutor, vou encaminhá-lo para o quarto.”- disse o
atendente.
Wilson, me olhando passar no corredor, ficou com cara de
espanto e, confuso com aquela minha decisão e disse de
longe:
“ Plus, você pode ir para um hotel cinco estrelas, vamos
embora daqui’.
“ Wilson, pode ir no carro, amanhã você me busca. Vou
passar esta noite aqui”.
O atendente entregou o dinheiro para o Wilson e ele se foi
balançando a cabeça.

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Aquela foi a pior noite da minha vida. Me colocaram em


um quarto onde fiquei assistindo desenho animado do
“pica-pau” na TV, durante todo o tempo e tomando soro
com glicose na veia. Escutava o vizinho de quarto, em
desespero, gritar por horas, que queria viver e clamava para
a dor passar. Ele estava em estágio agonizante causado
pelo câncer que dominara o seu corpo.
Consegui dormir já na parte da manhã e acordei, ainda
bêbado. Meu pai, estava ao lado da minha cama, com um
olhar preocupado, vendo-me naquela situação.
“ Filhote, o que aconteceu?”
“ Pai, não me pergunta nada não, vamos embora daqui”.
Ainda podia escutar os gritos do homem agonizante em
minha mente o que me fez pensar a dar mais valor à minha
vida.

Eu sabia que precisava de uma mudança, mas não tinha


forças para fazê-la e, logo, estaria tudo da mesma forma.
5
AMIZADE, MOMENTOS
INESQUECÍVEIS

Diante dos últimos acontecimentos, resolvi levar Wilson


para morar comigo. Ele estava precisando de um lugar e,
também, seria bom ter a sua companhia em meu
apartamento. Ele fizera parte da minha infância na época
em que eu vivia na periferia da cidade.
Lembro-me que, ficávamos encostados em um poste de
luz, nas madrugadas, tomando vinho de quinta categoria,
fumando cigarro e inventando estórias.
Sonhávamos em ter um carro, não interessava a marca ou
o ano. Queríamos algo que nos levasse a sair daquele poste,
nosso refúgio e lazer.
Certa vez troquei a minha bicicleta por um aparelho toca
CD para carro. Fiz algumas adaptações e consegui instalar
dois auto-falantes automotivos e uma bateria portátil.
Uau!!! Aquilo ficou o máximo. O som não ficara de boa
qualidade, mas este era o nosso maior lazer naqueles dias!
Ficávamos sentados, embaixo da luz daquele poste, com o
som no último volume sonhando que estávamos dentro de
um carro. Fechávamos os olhos e nos imaginávamos
dirigindo na cidade, passando em frente aos bares, boates,
e locais movimentados onde havia jovens dispostos a se
divertirem.
Fazíamos o som do motor do carro com a boca e, quanto
mais o prolongávamos maior era o tempo da mudança das
marchas. Creio que, algumas vezes, atingíamos a marca de
duzentos quilômetros por hora; era uma gritaria só, dentro
daquele carro ilusório.
Mas logo, tudo aquilo começou a virar discussão, pois
ninguém queria ficar no banco do “carona”, todos queriam
estar no volante.
Um dos amigos, que não tinha noção alguma de como
dirigir um carro, quando pegava naquele volante ilusório
promovia uma gritaria desesperada. Obviamente, ele não
sabia como mudar as marchas aí, o barulho que ele fazia
com a boca era um só, até ficar vermelho e sem fôlego,
como se andasse de primeira marcha o tempo todo.
Confesso que nunca vi algo tão engraçado em toda minha
vida.

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Nos finais de semana, sempre observávamos todos saindo


para as festas, boates e com as namoradas.
Nós, tínhamos pouco dinheiro e ninguém nos convidava
para lugar algum, namorada, nem pensar! mas, eu creio
que tenho uma explicação para o fato das garotas não se
aproximarem de nós: que garota ia querer perder tempo
com aqueles malucos? mal tínhamos dinheiro para tomar
uma garrafa de vinho de quinta categoria, e isso, quando
não roubávamos dinheiro nas bolsas das nossas mães,
coitadas, como foram lesadas!
Às vezes, até conseguíamos trocar um olhar com alguma
garota, mas o primeiro “playboy” que chegava com um
motor, fosse de carro ou de moto, já levava a garota e nós
ficávamos só observando, frustrados. Resumindo: a situação
era triste.
Quando não estávamos sentados naquela esquina, íamos
tomar banho no “Meia Ponte”, um rio de água bem impura.
Toda vez que arriscávamos um banho nele saíamos com
cheiro de “privada de rodoviária”.
Eu não consigo entender o que nos levava a tal ousadia,
qual seja, a de entrar naquela água misturada com esgoto e
animais mortos.
Fui várias vezes lá e eu não sabia nadar, mas mesmo
assim, enfrentei o risco de entrar no rio uma vez, e prefiro
não comentar a experiência de ter bebido daquela água.

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Lembro-me de uma garota que tinha o apelido de “Olívia


Palito”. Eu a achava linda, com os seus cabelos lisos e eu
sempre ficava dando voltas com a minha bicicleta “Caloi
Cross” no bloco onde ficava a casa dela só para vê-la e, às
vezes, tinha sorte.
Certa vez estava saindo do colégio juntamente com o
Wilson e sentimos vontade de fumar um cigarro, porém, não
tínhamos dinheiro. Wilson me perguntou se eu tinha a
passagem do ônibus e eu respondi que era única coisa que
eu possuia naquele momento mas eu não poderia dá-la em
troca de cigarro. Ele foi tão insistente e disse que éramos
adolescentes e poderíamos passar por baixo da roleta do
ônibus, algo que eu tinha muita vergonha de fazer.
Eu já não passava embaixo de roleta há anos, afinal,
somente crianças faziam aquilo. Entretanto, naquele dia,
resolvi e troquei a passagem por três cigarros. Fumamos, e
logo veio o nosso ônibus. Entramos e Wilson, mais que
depressa, jogou a sua mochila do outro lado da roleta e
passou como um relâmpago sem ninguém perceber. Eu,
infelizmente, não tive a mesma sorte e fiquei ensaiando a
melhor forma de passar embaixo daquela roleta.
Havia um cobrador que recebia o dinheiro da passagem e
ficou me encarando, com raiva de ter visto Wilson, daquele
tamanho, ter tal ousadia. Eu podia ver nos olhos dele que
não era para eu tentar o mesmo mas, não aguentando mais
esperar, aproveitei a oportunidade, quando ele olhou para
outro lado e fui, usando a mesma estratégia que Wilson
usara mas, ao passar, não joguei a mochila, o que acabou
me travando embaixo na roleta e não ia nem para a frente e
nem para trás.
Todo o pessoal que estava no ônibus ficou olhando aquela
cena, mas o pior, foi quando me deparei com ela, “Olívia
Palito”, ela mesma, juntamente com a sua amiga
inseparável! as duas me olharam e “Olívia” meneou a
cabeça com desprezo.
Meu Deus, que vergonha! e o pior, foi quando amiga dela
me ajudou a sair daquela situação puxando as minhas
pernas. Jamais me arrependi tanto por ter fumado um
cigarro! Levantei-me, agradeci-lhe pela ajuda e fui para o
fundo do ônibus escutando os resmungos do cobrador e as
risadas do Wilson. Depois daquele dia nunca mais quis ver
“Olívia Palito” e, se ela surgisse na mesma rua em que eu
estivesse, eu mudava de direção.

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O tempo passou e eu segui o meu caminho. Deixei a


periferia onde, às vezes eu ia, só para rever os amigos.
Wilson cansou de esperar que o futuro lhe abrisse as portas
e partiu para o tráfico, revoltado com a realidade em que
vivia. Decidiu levantar um dinheiro “fácil”. Traficava
“maconha” e “citotec” um remédio proibido em território
nacional, usado para praticar aborto.
Esse medicamento era contrabandeado do Paraguai, país
que faz fronteira com o Brasil e era grande o número de
garotas que procuravam esse remédio para livrar-se de uma
gravidez indesejável.
Aquele “business” do Wilson me dava ódio. Certa vez
conversamos a respeito:
“ Pô Wilson, quer vender maconha e se dar mal vai em
frente, mas matar bebê é “sacanagem” brother”.
“ Plus, quem não tem cão, caça com gato. Seja bem vindo
à realidade. Eu, preciso dar os meus pulos e fazer o meu
dinheiro”.
Wilson estava tão decidido em sua nova caminhada, que
certa vez, a mãe dele me ligou e disse:
“ Plus, preciso falar com você, urgente!”
“ Diga agora dona Cida, o que está acontecendo?” senti a
sua aflição ao telefone”.
“ É o Wilson, ele endoidou de vez; quebrou tudo aqui em
casa, porque não o deixei colocar a maconha no congelador.
Tirou toda a carne de lá e ocupou o espaço com uns sacos
prensados; disse que fazia isto para conservar um produto
que tinha que ser vendido em um período de trinta dias.
Não aguentei e fui ver o que era, logo reconheci que era
maconha. Seu amigo enlouqueceu mesmo. Eu nunca o vi
tão violento”.
“ Calma dona Cida, o Wilson está apavorado, vou
conversar com ele”.
Pobre da dona Cida, já não tinha mais direito de colocar a
sua carne no congelador, pois o drogado do filho dela se
achou no direito de roubar-lhe aquele espaço.
Sacudi a cabeça e disse para mim mesmo: “meu brother
está mau. O cara enlouqueceu”.
Foi então que resolvi levá-lo para o meu apartamento, a
fim de que me fizesse companhia e, no meu pensamento,
eu também iria ajudá-lo a entender que a vida não era um
conto de fadas.
É fácil querer mexer na realidade de vida de outras
pessoas e querer que alguém se redima dos seus erros, mas
é duro quando você olha no espelho e se enxerga, usando
uma máscara de boa pessoa, se iludindo, que pode resolver
algo para alguém e quando dá de cara com a sua realidade,
percebe que está pior do que o mais miserável dos homens,
que sua vida não passa de uma mentira baseada em um
orgulho podre que te faz se enganar. Impossível ajudar
Wilson na situação em que me encontrava.
Todas as noites saíamos a fim de buscar algum tipo de
refúgio para nossa alma perturbada ele, de um lado, com
suas drogas e eu, do outro, com minhas bebidas fortes.
Às vezes, saíamos e tomávamos uma garrafa de “whisky”
em menos de duas horas; muitas vezes íamos nos lugares
onde havia várias garotas de programa, jovens lindas,
porém machucadas pela vida e pelo desespero de conseguir
dinheiro fácil.
6
SUCESSOS E DESEJOS -
UMA ESTRADA PERIGOSA

Certa vez, eu estava sozinho em um local onde uma


dessas jovens me perguntou se podia assentar-se à minha
mesa, respondi-lhe que não haveria problema nenhum.
Garota linda, talvez com vinte e um anos de idade.
Percebi em seu semblante tristeza e preocupação,
sentimentos que ela tentava disfarçar a fim de conseguir
algum cliente.
Falei-lhe:
“ Você é linda e tem um sorriso maravilhoso mas vejo que
atrás disso tudo existe uma pessoa triste e machucada”.
Ela respondeu, se defendendo:
“ Você não sabe o que está dizendo, eu nunca estive
melhor. Só sentei-me aqui para saber se podemos nos
conhecer mais intimamente mas já vi que, nesta mesa, não
terei sucesso.”
“ Calma garota, não quero ofendê-la, mas vejo que você
não está bem e posso enxergar isso nos seus olhos”.
Realmente eu via naqueles olhos um pedido de socorro.
Aquele lugar não tinha nada a ver com aquela garota, aquilo
não era para ela. Parecia-me que ela havia saído de um
caminho onde tudo ia bem e se afundou em um labirinto
onde não encontrara nenhuma saída .
“ Olha meu amigo, estou bem, você não me conhece e já
estou saindo da sua mesa.”
“ Com certeza não lhe conheço, e digo que isto aqui não é
ambiente para você. Esta desgraça não vai te levar a lugar
algum e tenho certeza que hoje é a primeira vez que você
tenta se prostituir”.
“ Você é policial? se for, esta perdendo seu tempo, pois já
sou maior de idade e responsável por minhas atitudes”.
“ Não sou policial, sou só mais um que escolheu o
caminho fácil para chegar ao dinheiro e posso falar, com
autoridade, que o preço dele e mais alto do que você pode
pagar”.
“ E o que você fez ? vendeu o seu corpo também ?”
“ Roubei dinheiro. Não vendi o meu corpo, mas parece
que perdi a minha alma, nunca mais tive paz”.
Os olhos da garota começaram a lacrimejar e, sem resistir
mais, desabafou:
“ Realmente esta é a minha primeira vez aqui e você
estragou tudo, me fez estragar minha “maquilagem” e
atrapalhou a minha forma de ganhar dinheiro. Tenho contas
para pagar e já não sei o que fazer, estou desesperada. Foi
o que apareceu através de algumas amigas que trabalham
aqui e me trouxeram, mas vejo que coloquei tudo a perder”.
“ Quanto você deve?”
“ Quanto, o quê? deitar com você?”
“ Quanto é a sua divida? e não quero o seu serviço”.
Falou um valor que não era muito, mas para conseguí-lo,
ela teria que trabalhar, pelo menos, umas três semanas
naquele lugar para levantar o dinheiro que precisava.
“ Ok, eu te dou esse dinheiro e não precisamos fazer sexo,
com a condição de você não voltar mais aqui”.
“ Quem é você?”
“ Alguém que obteve dinheiro fácil e quer pagar as suas
contas, mas só desta vez. Vamos embora deste lugar”.
“ Meu nome é Flávia e muito obrigada pelo que está
fazendo por mim”.
Entramos no carro e a levei para casa.
Chegando à porta, entreguei o dinheiro e ela me deu um
abraço bem apertado em forma de agradecimento”.
“ Flávia, siga a sua vida e procure outra forma de ganhar
dinheiro, ou aquela tristeza que você estava sentindo agora
a pouco vai lhe acompanhar por muito tempo”.
“ Qual seu nome?”
“ Melhor você não saber. Um dia a gente se vê
novamente. Tchau”.
Saí com o carro me sentindo bem. Aquilo, na verdade, era
um meio que eu usava para tirar um pouco de peso que
estava sobre mim. Tirava a culpa que carregava dos meus
atos passados e, também, não queria que aquela garota
linda passasse pelo mesmo que eu estava passando, com
aquela aflição que é bastante familiar a todas as pessoas
que cometem algo errado. Aflito dia após dia, quer seja por
atos desonestos ou por se prostituir.

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No caminho de volta, comecei a me indignar e sentir


angústia em meu coração. Fiquei com raiva do dinheiro.
Tudo girava em torno dele; o ser humano vende fácil o que
não tem preço, a garota linda e maravilhosa vende o seu
corpo por uma miséria. Vendemos a verdade e em troca
recebemos a mentira. Comecei a analisar como o sistema
funciona e de que forma somos lesados por ele,
cotidianamente. Como somos induzidos e declarados
fracassados, se não conseguirmos adquirir o que a televisão
nos induz a ser e a ter. Nas novelas e nos filmes, todos
querem ser famosos e aplaudidos e em função disto, muitos
se entregam ao mais cruel de todos os fracassos. Vende
fácil o que não tem preço: a integridade, o amor e o respeito
a si mesmo e ao próximo.
Com esse monte de informações em minha mente estava
passando pela rodovia onde avistei de longe uns radares
eletrônicos, multando errôneamente muitos carros, há um
bom tempo, e ninguém atendia as reclamações que eram
feitas para reparar ou regular aqueles radares.
Eles eram usados para multar motoristas que andavam
em alta velocidade, mas estavam multando os que iam em
uma velocidade permitida para aquela rodovia. Foi quando
parei o carro no meio dela, já de madrugada; liguei a luz de
emergência, abri a capota do carro, saquei duas pistolas e
explodi aqueles radares com quarenta munições explosivas.
E gritava: “chega de roubo!”
Achei que havia feito um ato heróico e um bem à
comunidade, porém, quando cheguei em meu apartamento,
me senti como um idiota e declarei para mim mesmo:
“agora me transformei em um vândalo, preciso subir
degraus e estou descendo ao nível mais baixo”.
Fiquei envergonhado por dias e, como havia decidido, em
minha vida, que não lesaria a mais ninguém, mesmo que
fosse o governo, paguei caro por aquele ato irresponsável.

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Meus negócios iam muitíssimo bem; a transportadora


estava ótima, rendendo um bom dinheiro e não precisava
mais me preocupar com a minha sobrevivência.
Peguei o Wilson, que já estava morando comigo em meu
apartamento, e fomos à casa de um amigo que acabara de
voltar para nosso meio, chamava-se Marley. Cantava muito
bem em uma igreja evangélica onde permaneceu por cinco
anos de sua vida.
Ele vivia me chamando para ir naquela igreja, mas aquilo
não condizia com a vida que escolhera para mim e também
não tinha paciência para ficar sentado em uma banco de
Igreja.
Levamos algumas cervejas e foi aquela alegria quando
encontramos Marley sentado com seu violão. Dei um abraço
apertado em meu amigo e lhe dei bem vindo ao nosso
convívio novamente pois, quando ele estava na igreja, se
afastara um bom tempo das suas amizades. Na verdade, ele
não conseguira compatibilizar a nossa amizade com igreja;
talvez atrapalhássemos a sua comunhão com ela ou algo
assim.
Marley começou a cantar como nunca! no dia em que
fomos visitá-lo cantamos juntos várias músicas da nossa
época e relembramos bandas do tempo da adolescência e
que fizeram sucesso. Foi um momento inesquecível, só que
o Marley tocava um violão com quatro cordas, velho e
acabado.
Decidi fazer algo por ele e, depois de um tempo
agradável, convenci os amigos a parar um pouco com as
canções e levar o Marley ao mais próximo “shopping”, para
comprar-lhe um violão novo.
Foi uma alegria tremenda na vida dele! falei-lhe que
poderia escolher o melhor violão da loja e ele o fez.
Escolheu um acústico preto e de ótima marca.
Voltamos à sua casa, ele mostrou algumas músicas de sua
autoria e a festa foi até o amanhecer.
Surgiu a idéia de que Marley deveria gravar um CD.
Concordei imediatamente devido ao seu visível potencial
como cantor, as composições e a voz que estavam em
perfeita harmonia para o mercado musical daquele tempo.
Com certeza, ele iria obter muito sucesso e, mesmo que o
seu foco não fosse o dinheiro, certamente, ele o conseguiria
no mercado musical. Faltava aquele “empurrão” e a ajuda
financeira de alguma pessoa, para que um sonho viesse a
se tornar realidade. Decidi que essa pessoa seria eu.
Uma semana depois, percorremos quase toda cidade em
busca de uma boa gravadora.
Não encontramos nenhuma que combinasse com as
nossas idéias de trabalho e fomos ao bar de um amigo para
vê-lo e também tomar uma cerveja, já que não o víamos há
um bom tempo.
Chamava-se Júnior. Ele era dono de um bar na periferia da
cidade, e traficante de maconha e cocaína.
Sempre que o via era uma festa mas sempre, também,
estava sob a reação das drogas. Raríssimas vezes o vi
sóbrio.
Falamos com ele sobre o CD que Marley estava para
gravar e que precisávamos de uma gravadora de boa
qualidade e com um bom preço.
Logo o Júnior se lembrou de um de seus clientes que lhe
vendia maconha.
“ Plus, conheço um camarada que pode fazer o serviço.
Gente fina e profissional. Cliente de primeira, esse eu
garanto”.
“ Ok, liga para ele agora e vê se dá para agendar um
horário conosco”.
“ Agora, Plus”.
Júnior ligou e marcou para o próximo dia encontrarmos
com Dimitri, o sócio do estúdio de gravação.
Logo após a conversa ao telefone, Júnior, decidiu fechar o
bar, pois ficaríamos mais à vontade e somente os amigos.
Trouxe a cocaína e a maconha e disse:
“ Vamos comemorar a gravação desse CD”.
E ali ficamos a noite toda curtindo aquele momento
maluco.
Eu fiquei mais na bebida, fumei um “baseado”,
experimentei um pouco só da cocaína, pois tinha um certo
receio de “entrar de cabeça” nela e não dar conta de sair
daquele pesadelo.
Todos os que eu conhecia e que usavam cocaína não se
controlaram e afundaram além do que queriam. Eu não
gostava muito de ser dominado por nada, por isso, era
cauteloso em lidar com tudo que pudesse me dominar.

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Encontramos Dimitri no dia seguinte e vi logo que ele era


o camarada mais maluco que eu já havia conhecido. Calmo,
magro e bem alto. Ele nos recebeu alegre e aberto às
nossas idéias.
Marley pegou o violão e cantou algumas músicas de sua
autoria. Dimitri telefonou para o seu sócio encontrar-se
conosco de imediato, pois queria que ele ouvisse aquelas
letras e a melodia. O sócio dele chegou e, quando ouviu,
gostou, achando que aquele trabalho daria futuro. Valeria a
pena investir conhecimento e tempo com o Marley.
Negociamos o preço da gravação de doze músicas e
saímos dali na certeza de que o sonho de Marley iria se
realizar.
Meu amigo gravou o seu CD, com muito esforço e
dedicação. Foram dias de imensa alegria! eram sonhos que
pouco a pouco iam acontecendo.
Ele fumava muito, em média duas carteiras de cigarro por
dia, devido a ansiedade.
Com o CD pronto decidi que iria colocar algumas coisas
em ordem na transportadora e levaria o Marley para São
Paulo, cidade onde as coisas aconteciam na área das artes e
televisão. Arrumei minha bagagem e fui com Marley e
Dimitri a São Paulo procurar uma casa para alugar e fazer
contatos com músicos e cantores.
Nessa viagem conheci quem era Dimitri.
Chegamos a um hotel pela manhã e resolvemos dormir
um pouco, antes de fazer algum contato.
Dimitri esperou que eu e Marley dormisse e começou a
fazer algumas rezas naquele quarto, invocando algum tipo
de entidade.
Acordei com o barulho e vi Dimitri com os olhos virados,
em transe, fazendo perguntas para o Marley enquanto ele
dormia e ele respondia como se estivesse acordado.
Fingi que dormia para não interromper a sessão e também
porque eu queria ver qual era a intenção do Dimitri.
Mesmo sem entender nada, percebi que se tratava de
uma espécie de bruxo ou algo desse tipo; fiquei imaginando
como ele conseguia fazer Marley falar, dormindo!
Dimitri perguntava ao Marley coisas relacionadas a
dinheiro e o que ele daria em troca para obter o sucesso.
Não suportando mais a situação entrei no meio da
conversa, interrompi Dimitri e falei em alta voz:
Que parada é essa aqui? que palhaçada é essa, Dimitri,
isso é macumba ou o quê?
Como se nada tivesse acontecido, ninguém me respondeu
e continuaram imóveis como se estivessem dormindo e não
escutassem nada daquilo que eu falara.
Levantei-me e fui averiguar o rosto de cada um, se
realmente estavam dormindo, e estavam. Como pedras!
Vestí-me, acordei os dois e falei: vamos sair e organizar a
nossa vida que o tempo está passando e esse hotel é mal
assombrado. Vocês estavam fazendo um ritual meio maluco
aqui nesse quarto e eu estou fora desse “esquema”.
Dimitri me olhou, espantado, mas ficou calado.
Saímos em direção a uma área residencial e encontramos
uma boa casa para alugar no bairro de Interlagos, próximo
ao Autódromo.
Ali daria, até mesmo, para montar um estúdio de ensaio
onde Marley ficaria à vontade.
Aluguei a casa e voltamos para cidade de Goiânia.
7
A IMPORTÂNCIA DO
PERDÃO

Chegando à Goiânia recebi uma notícia que abalou as


minhas estruturas. Fui informado, por meu irmão Xavier,
que o meu pai sofrera um derrame cerebral danificando boa
parte do seu cérebro.
Abalado, corri em direção ao hospital, que era um pronto
socorro.
Lá, encontrei meu pai, literalmente jogado a um canto da
sala, sobre uma uma maca e agonizando. Que decepção!
cheguei perto dele e percebi que um lado de seu corpo
estava totalmente paralisado e ele tentava, em desespero,
falar comigo, mas não conseguia pronunciar palavra, ao não
ser: “filho”.
Vi o pavor em seus olhos, o medo da morte, da separação
e uma profunda solidão.
Chamei o médico e lhe perguntei se não iam fazer nada
pelo meu pai ao que ele, com ar de cansaço, respondeu:
“ Amigo, o que você quer que eu faça? seu pai já foi
medicado e, daqui a pouco, ele volta ao normal. Você não
está vendo que a sala tem mais vinte pessoas esperando
atendimento?”
“ Claro que estou vendo mas também percebo que
preciso retirá-lo daqui o mais rápido possível; o que não
vejo mesmo é a mínima preocupação da sua parte quanto
ao fato de ele vir a falecer ou não.”
Fomos até ao pátio do hospital, eu e o Xavier, onde havia
algumas ambulâncias e conseguimos logo alugar uma
delas. Transferimos nosso pai para um hospital a fim de que,
mais rápida e eficazmente, ele fosse melhor atendido.
Logo na chegada, um grupo de médicos o examinou,
fizeram-lhe uma tomografia da cabeça e um deles, que
também participara dos exames, trouxe-nos a notícia:
“ Preciso falar com alguém da família do paciente”.
“ Somos nós doutor, pode falar”. Respondi.
“ Este homem está mal e não posso dar-lhes esperança de
que ele viva; se viver, correrá o risco de ter vida vegetativa
para o resto dos seus anos, ou seja, será vítima da síndrome
do cativeiro”.
“ Síndrome de quê, doutor?”
“ Do cativeiro. É um estado provocado por uma lesão
cerebral, igual à que seu pai sofreu e em que, a pessoa fica
presa em seu próprio corpo, consciente, porém, sem
controle sobre ele. É que ficam anulados todos os sinais que
o cérebro envia para as demais partes do corpo”.
Na hora fiquei em estado de choque pois nunca vira um
médico falar daquela forma, sem nenhuma emoção, dizendo
a verdade dos fatos cruamente, por mais que eles fossem
dolorosos.
Passaram-se onze dias e Sandro, o filho do pastor, me
procurou a fim de consolar-me.
“ E aí Plus, como vão as coisas?”
“ Sandro estou mal, meu velho não reage.”
“ Vou ligar na Igreja do meu pai e pedir que um pastor vá
até ao hospital para orar pela vida dele.”
“ Sandro, você acha que pode mudar alguma coisa a ida
desse camarada até o hospital?”
“ Plus estou fora da igreja a um bom tempo,
“desandando” com vocês, mas já presenciei milagres e, se
seu pai morrer, pelo menos tentei fazer alguma coisa. Na
situação em que ele se encontra, os recursos humanos se
esgotaram”.
“ Tudo bem, eu não “curto” muito essa estória de igreja,
mas pede a esse camarada para dar uma chegada lá. Muito
obrigado, Sandro, pela sua preocupação”.

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Naquele mesmo dia chegou, na porta do hospital, um


homem humilde que veio de carona com outra pessoa,
perguntando pelo meu pai e pedindo permissão à
recepcionista para entrar na UTI. Concedida a solicitação ele
foi direto ao lugar em que o meu pai se encontrava. Não
falou nada com a família indo imediatamente cumprir o
objetivo para o qual fora enviado.
Ficou, talvez, uns quinze minutos na sala e voltou em
direção à saída, mas antes passou pela família e disse:
“ Este homem está salvo”.
Entrou no carro com seu acompanhante e saiu, sabendo
que cumprira sua missão naquele lugar.
Os familiares não gostaram da visita do Pastor algo que,
imagino, ele também percebera, razão pela qual, evitara
conversar conosco.

Na madrugada do dia seguinte, recebi uma ligação da


minha amada irmã Priscila.
Acordei assustado, peguei o telefone e olhei no visor para
certificar-me sobre quem estava ligando. Quando vi o nome
da minha irmã, meu coração gelou e, antes de atender, falei
para mim mesmo: “Meu pai morreu”.
“ Fala Priscila”.
“ Irmão, o nosso pai não suportou. Estou levantando
agora e te encontro aí na casa da sua mãe para
organizarmos o funeral”.

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Sentei-me na cama e comecei lembrar-me de quantas
vezes havia recebido ligações de meu pai e não as atendia;
quantas vezes meu pai me dizia que tínhamos que passar
mais tempo juntos, e mesmo, assim eu só o via uma vez por
mês.
O motivo disto era a mágoa que carregava em meu
coração de não ter tido a sua presença constante na minha
infância devido a separação entre ele e minha mãe, acabei
carregando comigo decepção em relação ao meu pai.
Antes da separação de meus pais éramos unidos e
vivíamos em família numa área nobre da cidade, mas,
quando meu pai decidiu começar uma nova vida e constituir
uma outra família, as coisas mudaram, então, eu e meus
amados irmãos Xavier e Fleury, junto com a nossa mãe,
tivemos que ir morar na casa do nosso avô, em uma região
afastada num local onde vivia uma população de baixa
renda.
Algumas vezes, no mês, nosso pai ia nos visitar.
Chegava à porta de casa e buzinava antes de parar o
carro. Quando ouvíamos o som da sua buzina ficávamos
alegres e eufóricos, por vê-lo.
Creio que toda criança tem em seu pai um herói e um
mentor; eu, particularmente, desejava ser como ele.
Meu pai era piloto de avião e, dentro de mim, eu decidi
que seria como ele - um piloto de avião.
Em uma de suas visitas, quando buzinou, eu saí correndo
ao seu encontro para ver o “meu herói” e percebi que ele
tinha bebido além do que costumava.
Desceu do carro e me abraçou com muita força chegando
a tirar-me o fôlego. Efeito da pressão sobre o meu peito, eu
lhe disse:
“ Pai, o senhor vai nos levar para sair hoje?”
“ Hoje não filhote” - essa era a forma que me chamava -
“mas amanhã, passo aqui às oito da manhã para te pegar e
irmos em uma pescaria naquele rio que você tanto deseja
ir”.
Fiquei muito feliz, era meu sonho pescarmos juntos no rio
Araguaia que, naquela época, tinha muito peixe, de várias
espécies e tamanhos.
Trocamos algumas palavras, ele entregou um dinheiro
para as despesas mensais, e logo partiu com a promessa de
voltar no dia seguinte às oito da manhã.
Como meus irmãos, não eram chegados à pescaria, não
se importaram com o convite feito a mim, pelo meu pai.
Entrei em casa, o mais rápido possível, e comecei a me
organizar para aquela que seria a mais importante pescaria
de toda a minha vida, tão aguardada, no rio Araguaia, o
sonho de qualquer pescador naquela época.
Peguei a minha mochila e fui logo escolhendo as roupas
mais próprias para o local: camisas de mangas compridas e
calças, compridas também, pois já sabia sobre os ataques
dos mosquitos naquele rio. Peguei a minha maleta de
equipamentos de pesca - minha preciosidade - que eu
adquirira com muito esforço e dedicação.
Na terreno da casa do nosso avô, onde morávamos,
cresciam juntos plantas alguns capins, então, eu era o
responsável pela limpeza do quintal pois o mato dava um
aspecto feio ao jardim. Fazia isto uma vez por mês e meu
avô me pagava. Eu, pegava o dinheiro, e ia ao centro da
cidade para comprar anzóis, linha e todo o meu material de
pesca.
Tinha muito apreço por aquela maleta; foram meses de
suor no quintal, arrancando matinho e, agora, não via a
hora de chegar o dia seguinte para desfrutar do meu
trabalho.
Passei quase a noite toda em claro devido a ansiedade
que sentia em meu coração.
Amanheceu e eu me levantei. Meu café estava sobre a
mesa pois, minha mãe já estava de pé. Olhou-me fixamente
e falou:
“ Filho, seu pai bebeu um pouco demais ontem”.
“ Eu sei mãe, mas não vou deixar ele beber no caminho
para o rio, não.” Respondi sem entender bem o significado
daquelas palavras.
Levantei-me da mesa, peguei a minha mochila e disse
para minha mãe que iria esperar pelo meu pai sentado na
esquina da rua. Ela me abraçou, beijou-me na cabeça e
disse que podia ir em paz e que tomasse cuidado com
aquele rio.
Sai de casa e fiquei assentado na calçada do bar da
esquina. Olhei em meu pequeno e singelo relógio de pulso
digital e vi que já eram oito e vinte da manhã e meu pai
ainda não viera para me buscar.
Sr. Mário, o dono do bar, me perguntou se eu estava
esperando por alguém, pois observara que eu estava
olhando insistentemente na direção da rua, de acesso
àquela esquina.
“ Ei garoto, quem você esta esperando?”
“ Meu pai, ele hoje vai me levar para pescar lá no rio
Araguaia. Ele está um pouco atrasado mas logo, logo eu vou
ver o carro dele apontar naquela outra esquina”.
“ Ok! tudo bem. Fique à vontade e, se quiser, pode pegar
uma cadeira para ficar mais confortável. Este chão deve
estar duro”.
“ Obrigado, Sr. Mário. Estou bem aqui.”
Todo carro que surgia no início da rua me fazia gelar o
coração. Não existiam telefones celulares, naquela época,
senão, eu ligava para meu pai para saber qual o motivo da
demora.
Já eram dez horas da manhã e, nada.
Meus amigos estavam andando de bicicleta e me viram
sentado naquele lugar com a mochila do lado e
perguntaram:
“ Plus, aonde você vai?”
“ Vou pescar com meu pai. Ele está vindo para me
buscar”.
Já estava cansado de dar a mesma resposta a todos que
passavam e comecei a ficar envergonhado.
Um sentimento de frustração invadiu a minha mente e o
meu coração.
Deu uma hora da tarde e nada daquele carro aparecer na
rua. Ví vindo, na direção da esquina, um carro da mesma
côr e modelo do carro do meu pai e me levantei logo. Bati a
mão no ombro de um amigo, que havia parado por um
instante naquele lugar, e disse:
“ Meu pai está vindo. Agora tenho que ir”.
Tinha certeza que era o carro dele, gritei de alegria. O tal
carro da mesma côr e modelo se aproximava cada vez mais
perto e o gelo no coração de um menino, que já não se
controlava de tanta alegria, começou a aumentar, mas o
carro passou por mim devagar, olhei e o motorista e não era
o meu pai. Era uma mulher loira que conduzia o veículo.
Pensei comigo: “não pode ser, é o mesmo carro, até a côr
é igual”... Mas de novo, senti-me frustrado.
Meu amigo ficou rindo do lado. “Olha Plus, seu pai é tão
bonito!”
Minha mãe chegou ao local, pegou-me no braço dizendo:
“ Filho, vamos para casa, pois seu pai já foi”.
“ Não pode ser mãe, ele não iria me esquecer”.
“ Pois ele se esqueceu. Tentei te falar aquela hora em
casa que seu pai estava um pouco tonto e que não se
lembraria do compromisso feito contigo. Ele já foi para o rio
meu filho.”
“ Mãe, me deixa esperar só mais alguns minutos e já vou
para casa”.
Fiquei alí até as sete da noite, movido pelo desejo
desenfreado de estar com meu pai naquele rio, que tanto
sonhara em conhecer.
Antes de eu sair daquela calçada, Sr. Mário, me deu um
refrigerante e disse que era um presente e que eu não
precisaria pagar.
Acho que ele tentou compensar a minha decepção com o
refrigerante. Era o máximo que ele podia fazer por mim.
Agradeci, peguei a minha mochila e voltei para minha
casa, pensando e questionando em minha mente: “Por
quê?”

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Sentado na cama, após a ligação da minha irmã Priscila,


falando-me sobre a morte do meu pai, relembrei desse dia e
cheguei à conclusão de que eu o amava muito e que jamais
deveria ter deixado aquela mágoa fazer parte da minha vida
por tanto tempo.
Ele me levou para pescar outras vezes, em lugares
maravilhosos! foi um bom pai que errava, como qualquer
outro ser humano, mas nós, muitas vezes preferimos
ignorar a situação e até mesmo, uma pessoa, como uma
forma de punição, ao invés de perdoá-la. E quando se
percebe que o fim chegou naquela vida que desprezamos e
não tem como voltar atrás, encaramos a realidade e
percebemos que o orgulho falou mais alto do que o amor.
Cheguei à conclusão ali, sentado na minha cama que, não
usar o direito de perdoar é roubar o seu próprio destino.
Quantos momentos maravilhosos eu poderia ter vivido
com meu pai! quantas palavras poderíamos ter trocado, se
ao menos, eu atendesse às suas ligações!
Fiquei pensando nos filhos de casais separados - ou não -
que estavam vivendo a mesma realidade, retendo o amor e
o perdão, levando uma vida misturada de revolta e
carência, cuja base é um lar destruído.

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Levantei-me, vesti um terno, e fui encontrar-me com


Xavier para irmos ao hospital e tomar as decisões referentes
ao funeral do nosso pai.
Havia enterrado Fredy, meu melhor amigo, morto em um
acidente de carro. Nem bem cicatrizara a ferida, e já me vi
obrigado a ter que enterrar o meu pai, falecido aos
cinquenta anos de idade.
8
MUDANÇA DE PLANO

Passada uma semana do enterro do meu pai, sentei-me


com Marley e Wilson considerando qual a melhor forma de
nos mudarmos para o estado de São Paulo a fim de darmos
um impulso na carreira artística do Marley.
As preparações, aceleradas como estavam, causavam
muito medo e desconforto ao meu amigo cantor e ele pediu-
nos para irmos mais devagar com os planos.
Separei algum dinheiro para investir naquele projeto pois
precisaríamos pagar a algumas rádios para tocarem as
músicas dele até que elas se tornassem conhecidas
embora, eu sentisse, que haveria interesse das emissoras
pelo trabalho que ele fizera o que faltava, mesmo, eram:
uma oportunidade na vida e o capital inicial, que ele não
tinha, mas acreditando no talento dele, eu apareci.
Marley tinha muito medo de fazer sucesso e sair do
anonimato e isto me fazia sorrir.
Na noite seguinte fui a casa do Dimitri, tirar algumas
dúvidas quanto aos custos para a organização de uma
banda, saber dos músicos que ele conhecia em São Paulo e
que, possivelmente, fariam parte dessa banda e também
sobre o valor que uma rádio nos cobraria para divulgar as
músicas do Marley. Chegamos à conclusão de que tudo
funcionaria da melhor forma possível.

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Era tarde da noite e eu já estava de saída quando Dimitri
me chamou para ir com ele ao sótão da sua casa dizendo
que precisávamos colocar tudo aquilo que conversamos na
presença do seu “guia espiritual”.
“ Quem é ele Dimitri ?”
“ Plus, ele é um deus que abre as portas a qualquer
sucesso”.
“ Dimitri o motivo, aqui, não é tanto o sucesso. Marley não
precisa de ser famoso ou rico, ele apenas quer transmitir
nas canções suas idéias e sentimentos e desde já te digo,
estou nisso só até que ele deslanche e consiga andar com
as próprias pernas, depois, eu estou fora. Você sabe que
tenho minha transportadora para cuidar e não posso me
envolver nisso mais do que já o fiz.
“ Tudo bem Plus, mas deixe-me colocar este projeto na
presença de meu guia”.
Subimos ao sótão, onde havia um altar todo preparado,
com velas coloridas e um livro, que parecia ser de magias,
aberto sobre uma pequena mesa.
Em silencio total, fiquei observando tudo aquilo, meus
olhos fitos em Dimitri que, agora, pronunciava palavras
ininteligíveis. Ele revirou os olhos e se prostrou diante do
altar em atitude de dedicação. Ficou totalmente em transe
como se outra pessoa houvesse se apossado do seu corpo.
Calado, eu não via a hora daquilo tudo acabar.
Ele se levantou e me chamou para voltarmos dizendo que
já estava tudo feito.
“ Ok Dimitri, vamos”.
Dei partida na camionete, engatando a ré para sair
depressa dali.
“ Tchau, Dimitri!
“ Tchau, Plus!”
Fui direto ao encontro do Marley e contei-lhe o que
acontecera na casa do Dimitri falando-lhe, também, do tal
“guia” espiritual.
A reação dele foi imediata:
“ Esse camarada é bruxo e não vai conosco para São
Paulo. Sei muito bem como funcionam esses pactos; em
todos eles, a pessoa tem que dar algo em troca. Logo, logo
esse “guia” pede a nossa alma”.
“ Marley, eu não entendo de bruxarias e pactos, na
verdade, nem dou muita “moral” para essas coisas mas, se
você acha que ele não deva ir conosco, resolvam isto entre
vocês. Ele participa deste projeto e é o responsável por
grande parte dele” .
“ Deixa comigo Plus, vou escrever uma carta e você a
entrega, pois não quero me encontrar com ele”.
“ Uma carta, brother? liga para ele e fala a verdade!”
“ Não, Eu sei que me expresso melhor escrevendo. É por
isso que faço músicas.”
“ Ok. Faz a carta que eu entrego. Vou ser o seu “pombo
correio” só por um dia; mas não se acostuma, porque a
próxima será cobrada, e minha hora tem um preço
exorbitante”.
Voltei à camionete e fui para o apartamento, pois já
passava das duas da manhã e eu tinha que liberar os meus
caminhões bem cedo para irem em direção ao nordeste do
país.

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Acordei atrasado e zonzo pelas informações da


madrugada. Apressei-me, em direção à transportadora,
onde os motoristas, nervosos e contrariados pela minha
demora, me esperavam.
“ Plus, você está distante dos negócios. Pensa em parar
com a transportadora? ou quer investir em algo diferente e
mudar de ramo?”
“ Gente, calma! cheguei um pouco atrasado por estar
organizando algumas outras coisas mas sei das minhas
responsabilidades; não pretendo mudar de negócio e só vou
precisar que o meu tio administre a transportadora por
alguns dias”.
Referia-me ao tio Noel que trabalhava comigo e era o
mais sistemático e correto dos motoristas.
“ Preciso passar alguns dias em São Paulo mas,
quinzenalmente, estarei em Goiânia e darei atenção a todos
vocês”.
“ Vai fazer o que em São Paulo, Plus?”
“ Vamos trabalhar, pessoal! as carretas estão carregadas
e o tempo está passando. São Paulo é responsabilidade
minha”.
Eles partiram para as respectivas viagens e eu, fui tratar
de deixar tudo organizado para meu tio Noel, com relação à
administração da transportadora.
Visitei os fornecedores, quitei todas as faturas e fiz um
novo estoque de pneus. Essas eram as duas atividades
dentro da firma, que mais exigiam a minha presença: fazer
os pagamentos e comprar pneus, o mais, tio Noel conduziria
tudo muito bem.

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Ao final do expediente e com tudo organizado, fechei o


escritório por um tempo, liguei o alarme do galpão e voltei
para casa pensando em descansar um pouco. Foi quando vi,
no banco do passageiro, o que faltava para que eu
terminasse as minhas obrigações daquele dia, a carta que
Marley escrevera para entregar ao Dimitri.
Parti para a casa dele, pensando no que lhe diria: “Dimitri,
você está fora do nosso projeto... seus olhos revirados me
deram pânico... o Marley acha que você é um bruxo e que
vai pôr tudo a perder”... Blá, blá, blá.
Realmente, esta era uma situação nova para mim e eu
não sabia como lidar com ela.
Dimitri, tinha muita esperança de ir conosco além, é claro,
da influência dele no meio musical, o que ajudaria muito na
carreira do Marley.

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Cheguei à sua casa mas preferi não descer do carro, ao


invés disso, usei o celular, pedindo-lhe que saísse:
“ Ei Dimitri, dá uma chegada aqui na porta que eu preciso
falar com você e entregar-lhe algo.
“ Você já está aí na porta Plus?”
“ Estou sim e confesso que tenho um pouco de pressa.”
Ele saiu, feliz por me ver, talvez pensando que eu
trouxesse boas notícias mas, infelizmente, era chegada a
hora de lhe entregar a carta e esperar a sua reação.
“ Dimitri, o Marley pediu para eu lhe entregar esta carta.
Vou esperar você ler e, depois, podemos conversar a
respeito”.
“ Ok Plus, vamos ver o que tem aqui”.
Logo, ao começar a leitura, já pude ver mudança em seu
semblante. Pairou no ar uma decepção misturada com
raiva.
“ Plus, o que é isto? que negócio é este aqui?
Ele estava revoltado.
“ Isto é a conclusão do Marley a seu respeito e que não
pode ser mudada, a menos que, você mesmo, vá adiante
com este assunto e discuta com ele o teor desta carta”.
“ Qual é a do Marley, “cara”? o que ele pensa que é?”
“ Dimitri, me perdoe, acontece que quando falei para ele,
essa coisa toda de consagração para fazer sucesso, ele se
fechou contigo e disse que não troca a alma dele por fama
alguma, que prefere seguir sem você. Desculpe-me mas, a
decisão de Marley permanece”.
“ Ok Plus, saiba que esse camarada não vai muito longe.
Já se acha uma “estrela” porque consegue reunir algumas
pessoas em torno do seu violão em uma mesa de bar. Eu,
na verdade, só queria adiantar as coisas”.
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Não concordando com aquelas palavras entrei na


camionete, acenei-lhe, agradecendo por tudo e fui para
minha casa. No caminho, pus-me a pensar sobre os últimos
acontecimentos: a cena no hotel em São Paulo quando
Dimitri tirava palavras da boca do Marley enquanto ele
dormia; o altar no sótão e, ele mesmo, em estado de transe.
Comecei a ligar os fatos, concluindo que, definitivamente, a
idéia do “guia espiritual” de Dimitri não caberia em nosso
projeto.
Ele usava aquilo para proveito próprio a fim de conseguir
o que queria. Tirara informações de um camarada em pleno
sono e eu presenciei isso. Pensei : “se ele for conosco, o
próximo pode ser eu e, dormindo, fica difícil de se manter
alguma privacidade”. Eu não gostava de ser interrogado por
ninguém, então, não tive mais nenhuma dúvida de que
Marley fizera a coisa certa.

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No dia seguinte iniciei os preparativos da nossa ida para


São Paulo.
Precisávamos de um lugar com maiores possibilidades
artísticas.
Então, resolvi apressar um pouco as coisas.
Deixei uma mensagem no celular do Marley esclarecendo
que partiríamos para São Paulo até o final da semana.
“ Pôxa Plus, mais por que a pressa?”
“ Marley, aceleremos as coisas; chega de falar. Vamos
agir”.
Ele concordou e, no fim de semana partimos para São
Paulo juntamente com Wilson.
Foi só alegria aquela viagem! ficávamos imaginando e
verbalisávamos tudo o que ia nos acontecer!
Dez horas de viagem e Wilson deve ter enrolado uns dez
cigarros de maconha durante o percurso. Era um autêntico
viciado, se ficasse sem maconha entrava em desespero
completo.
Acabei entrando, também, naquela “onda” de fumar
“baseado”, o que começou a virar rotina; algo quase
imperceptível mas quando vi, aquilo já era parte de minha
vida.
Com o passar do tempo a maconha já não fazia tanto
efeito, pois fumávamos como descontrolados e passamos a
usar cocaína, porém, confesso que tinha muito medo desta
droga por causa do sentimento de poder, que ela dava, de
se sentir imbatível.
Isto me preocupava, porque, tudo em minha vida era
muito calculado e eu sentia que as drogas e o álcool
estavam me fazendo perder o auto-controle em minhas
decisões, nas diversas áreas da minha vida. Para mim, já
era normal tomar uma garrafa de “whisky” em poucas
horas.

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Fizemos uma boa viagem e, enfim, chegamos a São Paulo.


Fomos para Interlagos, bairro onde aluguei a casa que nos
serviria de escritório. Com algumas alterações também
seria ali o lugar de ensaio para os futuros “shows” da banda
do Marley.
A casa ficava em uma área nobre da cidade e tudo
favorecia o sucesso desta nossa nova caminhada.

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Logo na primeira noite, acordamos, em pânico por causa


do barulho dos tiros de metralhadora e fuzil vindos do lado
de fora. Disse para os companheiros que as duas pistolas
que eu tinha em mãos não fariam efeito algum contra
aquele arsenal de barulho estrondoso.
São Paulo cidade bacana, porém, cheia de tiros na noite.
É que, havia uma favela próxima ao bairro que
escolhemos onde, às vezes, os traficantes trocavam tiros.
Mas logo nos acostumamos e os tiros se tornaram como
música de ninar para nossos ouvidos.
A vizinhança, curiosa, não compreendia o motivo pelo
qual estávamos naquela casa. Sempre que nos viam saindo
ficavam de olho na placa do nosso carro e apontavam, uns
aos outros. para o nome do Estado que constava nela.
Ficavam se questionando o porquê de mudarmos do estado
de Goiás para o estado de São Paulo.
Até que, um dia, chegamos com os instrumentos musicais
que compramos no centro da cidade e, nos ensaios com o
barulho deles, todos os vizinhos ficaram sabendo o motivo
pelo qual havíamos trocado um Estado pelo outro: era a
música e o acesso rápido às gravadoras.
Começamos a nos entrosar e conhecemos alguns jovens,
vendedores na loja de instrumentos musicais, que eram
bons instrumentistas e, na minha mente, a banda já havia
começado.
9
UM VAZIO QUASE
PALPÁVEL

Já havia alguns meses que estávamos em São Paulo e


tudo ia bem com os ensaios da banda prestes a começar,
mas, Wilson estava completamente dependente das drogas.
Nossa convivência se tornara insuportável. Conversei com
Marley e lhe disse que não compraria mais drogas e que
precisávamos prosseguir com o trabalho. Eu via que as
coisas caminhavam muito lentamente, nada acontecia
devido ao nosso vício.

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No mesmo dia, acabou a maconha e não me preocupei.


Marley também se controlou, mas, Wilson entrou em
desespero e começou a ficar inquieto e a dizer que
precisava de dinheiro e que queria as chaves do carro para
ir ao encontro de algum traficante.
A princípio recusei-me a dar dinheiro e não moveria uma
palha para ir atrás de drogas.
Realmente eu estava cansado daquela vida estúpida de
ficar drogado vinte quatro horas por dia.
Wilson não compreendeu e começou a ficar agressivo, foi
quando Marley chamou-me à parte e disse:
“ Plus, arruma uma “grana” e as chaves do carro pra mim,
porque vou com Wilson buscar esta droga. Ele está
desesperado e agora, neste momento, não podemos mudar
a situação”.
“ Ok Marley, aqui está o dinheiro e a chave do carro, mas
cheguei ao meu limite; não posso deixar que isto nos
domine”. Na verdade, em São Paulo, as drogas estavam
presentes todos os dias nas nossas vidas.

Uso de drogas começa como uma brincadeira, curiosidade


ou um momento de descontração e, quando você menos
espera, já esta atolado até o pescoço, na dependência.
“ Marley, quando vocês voltarem, conversaremos sobre
isto”.

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Eles sairam e eu fiquei em casa, pensando no que eu


estava fazendo com a minha vida e me vi cansado dela;
comecei a perguntar a mim mesmo a finalidade pela qual
eu estava no planeta Terra, se tinha algum outro propósito a
não ser o de viver a duzentos quilômetros por hora, na
loucura de curtir a vida, sem me dar tempo de pensar que
poderia haver outra forma de ser realmente feliz.
Naquele dia cheguei à conclusão que eu era o homem
mais triste que conhecia; estava rodeado de pessoas, mas
sozinho intimamente; tinha tudo o que queria, mas
continuava triste e vazio por dentro, não sabia nem o
motivo pelo qual estava vivo a não ser para viver o que
sabia viver e não me dar ao direito de conhecer uma nova
vida.
Senti que precisava de algo mais, porém não sabia o que
era.
Já havia tentado encontrar o prazer no sexo, com garotas
lindas, e não encontrei; nas bebidas e drogas e também não
encontrei; no dinheiro que trazia “status”, e fiquei frustrado.
Acendi um cigarro e fiquei imerso em meus pensamento
até que chegaram com a droga e Wilson totalmente maluco
com ela.
Chamei o Marley para tomarmos uma decisão a respeito
dele, pois seria impossível continuarmos daquela forma.
Como precisava ir à Goiânia e ficar por lá uns vinte dias
para resolver alguns problemas em minha transportadora e
fazer alguns acertos com os fornecedores, decidimos partir
no outro dia pela manhã e não mais voltaríamos com Wilson
para São Paulo.
Precisávamos muito dele e, por mais que fosse uma
decisão difícil de ser tomada, nós decidimos por ela.
No caminho para Goiânia discutimos algumas vezes e
Wilson passou a ficar mais e mais agressivo esmurrando o
painel do No caminho para Goiânia discutimos algumas
vezes e Wilson passou a ficar mais e mais agressivo
esmurrando o painel do carro, como um descontrolado, e
acabamos nos ofendendo, falando o que não devíamos.
Nunca havíamos discutido em mais de dezoito anos de
amizade, e isso me deu mais ânimo para procurar outra
forma de conduzir a minha vida.
Cheguei no limite daquela “vidinha” medíocre que estava
levando até os meus vinte e quatro anos de idade.

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Deixamos Wilson na casa da mãe dele e fomos ao


encontro da família do Marley. Chegando lá encontrei
Stefany, sua prima, que morava em outro Estado e fôra
passar uma semana com a família do Marley.
Jovem linda, parecia uma modelo, porém viciada em
cocaína. Já havia sofrido duas “overdoses” e não desistia do
vício que, para ela, era algo incontrolável.
Stefany, começou a se relacionar comigo e passamos a
usar cocaína juntos, mas logo me afastei dela, sentindo que
eu não estava ajudando a garota que tinha o olhar mais
triste que eu já conhecera.
Já não via brilho no olhar dela mas, sim, uma pessoa
distante e desamparada, trancada em um mundo paralelo,
acorrentada por um inimigo que havia criado em sua mente
e que não lhe permitia pedir socorro - o vício.
Ela voltou para o seu Estado e, no dia em que chegou, foi
à uma festa para receber um amigo que vivia nos Estados
Unidos e que havia regressado ao Brasil.
No meio dessa festa, Stefany decidiu ir para casa
descansar, pois sentia-se muito cansada e tinha
compromissos para o dia seguinte. Despediu-se de todos e
saiu mas, o jovem recém chegado, a seguiu e, no meio do
caminho, a abordou mostrando que tinha cocaína suficiente
para suprir a necessidade dos dois por um longo período.
Ela ficou firme e decidiu não entrar em seu carro mas
continuar a caminho de sua casa. O jovem voltou para festa
onde comentou com os amigos a sua frustração.
Stefany deitou-se em sua cama mas não conseguiu
dormir, então, decidiu voltar para festa, que estava
programada para se prolongar até de manhã.
Saiu de mansinho, para não incomodar ninguém e foi ao
seu destino. Chegando lá, comentou com os amigos que
não conseguira dormir e que queria curtir mais a noite.
O jovem, que estava com a cocaína, logo que a viu puxou-
a pelo braço e disse:
“ Vamos sair daqui e procurar um lugar onde possamos
ficar mais tranquilos para usarmos esta cocaína”.
Ao que ela respondeu:
“ Vamos, voltei para isso”.
Entraram no carro e não andaram dez minutos. O jovem,
que já estava completamente bêbado e drogado, colidiu o
carro com outro veículo em uma curva e, os dois, morreram
de imediato.
Quando fiquei sabendo disto me entristeci e, assustado,
pensei a que ponto um ser humano chega pelo prazer, até
aonde vamos para satisfazer o desejo obscuro que sufoca o
vazio da nossa alma.
Chorei ao lembrar que não ajudara aquela garota e
porque tinha feito a mesma coisa com Stefany que aquele
jovem tentou fazer através da droga, e não obteve o mesmo
sucesso que eu tive.
Mais uma vez senti a morte ao meu lado, um vazio, um
sentimento de perca, como no dia em que presenciei o fim
de meu amigo Fredy.
Quantos agora, neste momento, estão em alguma parte
do mundo se debatendo contra algum tipo de desejo
desesperador que o levará à morte em poucos minutos e
ninguém se preocupa com eles! Porque, na verdade, o que
vale é nosso sucesso pessoal e a forma como
administraremos a realização dos nossos prazeres. O lema é
respeitarmos a ética do individualismo.
As “Stefanys”, que encontrem um acidente nas curvas da
vida para finalizarem suas lutas... e esquecemos que, neste
mundo doente, nós somos os atores principais e podemos
mudar a estória desse filme de “terror”, começando pela
nossa própria estória de vida.
No dia após o acidente fui ao encontro do Marley e vi a
sua tristeza pelo que ocorrera com a sua prima.
Estávamos prontos para voltar à São Paulo, mas
resolvemos sair um pouco e ir uma boate tomar um bom
“whisky”, dançar com algumas garotas e tentar apagar
aquele transtorno.
Chegando lá, encontramos alguns amigos e, no primeiro
instante, foi muito divertido; dançamos e brindamos pelo
próximo CD do Marley e por nossas futuras vitórias, mas,
logo comecei a olhar ao meu redor e perceber que nada
daquilo estava me satisfazendo, tudo era a mesma coisa.
Marley notou e me perguntou:
“ Plus, o que está acontecendo? você já está assim há um
bom tempo, na verdade, há mais de um mês”.
“ Assim como, Marley?”
“ Esquisito, calado, sorri por sorrir, está junto de todos,
mas parece que ao mesmo tempo esta longe de tudo.
“ Marley, tenho só vinte quatro anos e estou cansado
disso tudo brother, cansado dessa mesmice e esta corrida
para acompanhar o sistema, preciso de algo novo”.
“ Realmente você não está legal cara. Vamos embora
deste lugar ou você vai surtar aqui”.
“ Não sou maluco não Marley, maluco é esse povo que
vive de boate em boate dançando e pulando, bebendo e se
drogando; se não arruma com quem transar na noite vai
para casa e se masturba por horas navegando na internet,
mentindo para si e para todos que está tudo bem enquanto
está tudo uma verdadeira desgraça. Não sabem, e nem se
preocupam em saber, no que vai dar essa loucura toda. Já
enterrei muitos amigos jovens nessa loucura de vida Marley,
só não quero ser o próximo a ser enterrado. Ainda não .Vou
sair fora disso tudo, pode escrever o que estou falando.
Chega!”
“ Ok Plus, agora vamos despedir da galera e vamos sair
fora.”
“ Já é hora Marley, vamos mesmo, porque amanhã temos
que sair cedo para São Paulo. Vamos em frente com este
projeto, pois agora falta pouco, muito pouco, para as suas
músicas começarem a tocar nas rádios.” Despedimos de
todos e partimos.

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Horas depois já estávamos a caminho de São Paulo,


escutávamos o CD do Marley, repetindo várias vezes
algumas músicas e discutindo o que poderia ser mudado
para melhorar a qualidade de algumas melodias. Chegamos
à noite na casa que havíamos alugado e tudo estava da
forma que foi deixado, porém, sentimos falta do Wilson.
10
VOCÊ NUNCA MAIS SERÁ
O MESMO

No outro dia, pela manhã, fiz contato com um baterista e


ele aceitou tocar na banda; logo conseguiu arrumar um
baixista para nós.
Liguei para o rapaz que havia nos vendido os
instrumentos musicais e, que soubemos, ser um ótimo
guitarrista e o convidamos para trabalhar conosco. Ele
também aceitou. Tudo estava se encaixando, graças à
qualidade do vocalista e a minha disponibilidade em investir
na banda.
No final da tarde, fui com Marley em um “shopping
center”, para comprarmos algumas roupas e tomarmos uma
cerveja.
Ao entrarmos no carro, Marley enrolou um cigarro de
maconha e fomos fumando até chegarmos ao shopping.
Entramos lá, como se estivéssemos andando sobre as
nuvens. Esquecemos das compras e fomos direto para uma
mesa pedir uma cerveja, e depois outra, e mais uma e
depois outras. Eu me vi novamente, completamente
embriagado e, bem na minha frente, avistei uma livraria.
Perguntei ao Marley se gostava de ler e qual tipo de livros
ele gostava, ao que ele respondeu:
“ Plus, eu gosto de ler brother, porém, ultimamente, estou
lendo somente as músicas que componho”.
“ Já li vários livros Marley, disse-lhe, mas do que eu mais
gostava eram os de estórias infantis, sem maldade ou
malícia, coisas que perdi hà muito tempo”.
Olhei para a vitrine da livraria e vi uma Bíblia. Perguntei
ao meu amigo:
“ O que é que tem naquele livro que deixa algumas
pessoas mais malucas do que nós dois? Dias atrás vi um
camarada em uma praça levantando um livro desses e
gritando, com convicção, que havia um novo Caminho,
capaz de trazer a paz em meio à guerra e às
dificuldades e ele dizia que esse Caminho era Jesus.
Cheguei a pensar que ele estava maluco e passei direto.
“ Plus, esse livro é a Bíblia. A Palavra de Deus”.
“ Você já o leu todo?”
“ Li, há anos atrás e esse maluco que você viu na praça
estava certo, não precisa ter dúvida alguma. Fiz parte de
uma igreja cristã, inclusive, foi lá onde aprendi a compor e
cantar e onde paticipei em vários eventos”.
“ Eu me lembro quando você ia na igreja, porque você
sumiu naquela época.
Conheço uma garota que é cristã, gente fina a menina,
mas queria me levar para igreja e saí fora. Marley, vai
naquela livraria e compra aquela Bíblia de presente para
mim, estou a fim de ler essa “parada”.
“ Pô Plus, estou liso brother. Sem nenhuma “grana” no
bolso”.
“ Toma aqui a “grana”. Agora, vai lá e compra a Bíblia de
presente para mim. Vou me transformar num desses
malucos”.
“ Não brinca com isso não, “cara”, isso é sério. Vamos
tomar nossa cerveja e ficar de “boa”.
“ Vai lá Marley, eu quero esse livro. É sério”.
Ele foi e voltou com a Bíblia embrulhada em um papel de
presente tendo um cartão, com a seguinte mensagem:
“Você nunca mais será o mesmo”.
Li e perguntei-lhe sobre o que vinha a ser aquela
mensagem. E ele me respondeu:
“ Plus, eu nunca vi uma pessoa desta forma em que você
está, se interessar em ler a Bíblia, a não ser que o próprio
Deus esteja nisto, ou seja, o próprio Deus está te
chamando para conhecê-lo.Não têm ninguém aqui
falando de Jesus ou Bíblia e você começa com este assunto,
e mais, você está totalmente “chapado!” se isso não for
Deus, dou minha cara para você bater. Pode se preparar,
você nunca mais será o mesmo!”
Marley coçou a cabeça, intrigado e ficou me olhando
folheando as páginas daquele livro do qual eu nada
entendia.
Chegamos em casa e eu fui logo enrolar um cigarro de
maconha, dei uma tragada e fui ler o meu novo livro - a
Bíblia.
Li umas três páginas e comecei a fazer perguntas ao
Marley a respeito de algumas estórias e ele me respondeu:
“ Plus, não me sinto apto para ficar falando sobre a Bíblia
e na verdade não quero nem ficar comentando, mas posso
lhe dizer que é melhor começar ler o Novo Testamento, que
é mais fácil de se entender e depois, se quiser, você passa
para o Velho Testamento”.
“ Onde é isso, Novo Testamento?”
Pegou a Bíblia, dando um suspiro, e me entregou
novamente aberta no primeiro livro do Novo Testamento:
Mateus.
Dei mais uma tragada na maconha e fui adiante com
minha leitura. Cheguei a uma parte onde dizia que Jesus
fora para um deserto onde ficou quarenta dias sem comer e
foi tentado por satanás. Parei de ler, dei mais uma tragada e
comecei meditar naquela loucura toda.
Será que esse camarada, Jesus existe mesmo? será que
esse desgraçado de satanás mexe comigo? será que era
esse safado que ficava atormentando a minha mente e
passava, como vultos, em meu apartamento onde eu
acabava dormindo com minhas pistolas nas mãos?
Coloquei a Bíblia em cima da mesa, apaguei o cigarro de
maconha e falei:
Por hoje já chega, estou maluco demais. Vou tomar um
banho e dormir.
Quando entrei debaixo do chuveiro comecei a escutar
uma voz na minha própria mente, como se fosse algo que
soprasse em meu ouvido e ia direto ao meu cérebro, que
dizia:
“ Por que você não lê a Bíblia sem fumar a maconha? por
que você não dá um tempo para sua mente ficar sã e então
volta a ler a Bíblia?”
Pensei comigo: “Agora é só o que me faltava, estou
escutando voz dentro da minha própria mente”.
E me veio um sentimento de temor que tomou conta do
meu ser. “Será que existe um Deus que vê tudo o que
acontece aqui na terra? será que tudo, a respeito de Jesus, é
verdade?”
Terminei o banho e, saindo do meu quarto, dei de cara
com Marley que me disse:
“ Plus, vou te dar uma “dica” brother, não significa que
precisa acatá-la. Não fique se drogando e lendo a Bíblia,
desta forma, você não vai conseguir entender nada da
mensagem que este livro tem a lhe oferecer.”
“ Ok Marley. Engraçado! Eu estava pensando justamente
isso durante o banho”.
“ Plus, então saiba que é isso o que você tem que fazer”.

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Fui dormir já fora do efeito da droga e com aquilo na


cabeça, questionando se havia alguma possibilidade de
haver algum ser no invisível que estava soprando palavras
em minha mente querendo me mostrar algo que eu ainda
não conhecia, e logo senti outra voz que dizia:
“ Isso é loucura, isso é uma verdadeira palhaçada, você
não precisa de nada e de ninguém, você sempre se virou,
você faz sua própria caminhada e não precisa de ninguém
para lhe dizer o que deve fazer ou deixar de fazer, você é o
Plus, você está no topo. Quem você conhece em sua idade
que chegou aonde você está? Não é agora que você vai
procurar um Deus que nunca existiu, uma lenda, para
direcionar os seus caminhos. Você tem dinheiro, mulheres,
influência com empresários e autoridades, carros, imóveis e
um porte federal que lhe permite andar armado em
qualquer lugar desse país, a própria polícia não pode fazer
nada contra você, o quê quer mais? qualquer um na sua
idade daria a vida para estar em seu lugar”.
Levantei-me da cama, fui à cozinha e peguei uma cerveja.
Falei em voz alta:
“ Vou curtir minha vida e quem tiver alguma coisa contra,
que se exploda. Nunca ninguém fez nada por mim, muito
pelo contrário, sou eu que faço pelos outros; se não puder
viver a minha vida, o que mais vou fazer nesse mundo?”
Tomei umas cinco cervejas e saí com meu carro em busca
de algum prazer. Me senti um pouco desanimado e cheirei
uma porção de cocaína para levantar o ânimo, que veio em
instantes. Era muito tarde e a cidade estava morta, nada
me atraía, nem mesmo as garotas semi-nuas na rua em
busca de um cliente. Cheirei mais um pouco de cocaína e
parei em um bar da alta sociedade, onde bebi mais algumas
cervejas, sozinho em uma mesa, à procura não sabia de
quê.
Fui pegar o meu carro e um jovem se aproximou de mim
dizendo que, se eu quisesse sair dali, teria que lhe dar
dinheiro.
“ Claro que lhe dou mas, da próxima vez, vigie o carro. Sei
muito bem que você não olhou carro algum, pois não estava
aqui quando eu cheguei e qualquer um leva este carro se te
der uma “grana”.
“ Leva sim, bacana, e tem mais uma: o preço para sair
com este carro vai ser bem alto. Meu serviço é caro”.
Respondi que eu já havia pago um preço alto pelo carro
quando o retirei da concessionária, mas ele disse que me
atacaria e quebraria o carro, se caso eu tentasse sair com
ele.
Movido pela raiva fiz o que eu não devia ter feito. Saquei
duas pistolas calibre 380 e soquei uma na face do jovem
antes dele puxar qualquer tipo de arma, isto é, se tivesse
alguma. E lhe disse:
“ Se você der mais um passo vai virar peneira. Olha hoje é
o seu dia de sorte. Você está me vendo nesse carro e está
achando que sou um “playboy mané” que ganhou o carro
do papai; não vou estourar sua cabeça porque te entendo,
também já fiz besteira por causa de grana; sei o que é
sonhar e querer realizar o sonho na força do braço. Muda de
vida enquanto é tempo, sai fora do dinheiro fácil porque o
preço é mais alto do que se pode pagar, o preço é a sua paz
e a sua alma. E, preste atenção, porque existem pessoas
que não tem nada a perder nesse mundo, que cresceu em
periferia como você e está pouco se importando com o dia
de amanhã. Vai para sua casa, tranque a porta e só saia de
lá quando resolver respeitar sua própria vida”.
Entrei no carro e descarreguei o pente atirando para cima
e o jovem saiu correndo desesperado.
Saí acelerado e fui para casa a fim de descansar de mais
um dia decepcionante em minha vida.

Deitei na cama e rolei até o amanhecer, pois não


conseguia dormir sob o efeito da cocaína e do álcool.
Levantei-me tarde, tonto e com zonzeira mas não
comentei nada com Marley, porém, era muito difícil não
notar em mim a ressaca em que eu me encontrava. A
depressão tomara conta de mim e eu estava desanimado.
Peguei meu telefone para tentar trabalhar um pouco, mas
não tinha ânimo ou algum tipo de iniciativa; tentei
conversar com Marley sobre as rádios que estavam
aguardando o CD e nada fluía, então, passei pela mesa e vi
a Bíblia que eu já decidira não abrir mais.
Peguei-a e abri em uma palavra que Jesus dizia: (Mateus,
capítulo 11 versículo 28) -“Vinde a mim, todos os que
estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.”
(Mateus, capítulo 11 versículo 29) - “Tomai sobre
vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e
humilde de coração; e encontrareis descanso para as
vossas almas.”
(Mateus, capítulo 11 versículo 30) - “Porque o meu
jugo é suave e o meu fardo é leve.”
Li três vezes esta passagem e me concentrei nas
seguintes palavras: “Cansados” e “descanso para
vossas almas”.
Fiquei imaginando o quanto necessitava daquilo em
minha vida e cheguei à conclusão que realmente estava
cansado e não conseguia me livrar daquela corrente que me
prendia e não me deixava ir além da minha queda.
Quando meditei na frase “descanso para vossas
almas”fiquei imaginando como um ser invisível poderia
trazer descanso para alguém, porém, eu estava disposto a
acreditar e me dar uma chance de conhecer esse Deus que
me prometia descanso.
Sabia que teria que dar um passo em direção a Ele, mas
não tinha idéia alguma de como fazê-lo; sentia que a minha
vida estava mergulhada em um poço de confusão onde essa
palavra, descanso, já se tornara algo ilusório e impossível.
Gastei mais algum tempo lendo a Bíblia e Marley passou
ao meu lado com um cigarro de maconha. Fechei o livro e
peguei o cigarro da sua mão. Dei uma tragada e depois
outra e devolvi dizendo que meu tempo de ficar maluco
estava se findando e eu sentia que, daquela vez, era algo
verdadeiro.
Marley olhou-me nos olhos e disse:
“ Plus, eu sei que você esta cansado disso tudo, brother, e
também sei o quanto é pressionado por todos ao seu redor.
Todo mundo quer estar ao seu lado e andar contigo para
desfrutar de algo, mas ninguém sabe a guerra que você
tem. Lembro-me quando você sumia do nada e aparecia
dias depois. Ninguém conhece você a fundo, nem a sua
família e, confesso, que também eu não lhe conheço apesar
do tempo todo em que estamos trabalhando juntos. Plus é
chegada a hora de você se encontrar”.

“ Já me encontrei, Marley, e sei muito bem quem eu sou:


alguém orgulhoso, auto-suficiente, que gosta de bebidas,
drogas, muitas mulheres, carros e baladas.”
“ Plus, eu sei que tem algo oculto em sua vida, isso é
nítido, nem mesmo a sua família lhe conhece direito”.
“ Eu também sou um camarada, como vários outros no
mundo, que carrega um segredo, esse sou eu, mas sinto
necessidade de mudar a minha história, não quero ficar a
minha vida toda dessa forma. Muitos jovens sonham em
estar no meu lugar, mas te garanto que muitos já teriam
sucumbido; a pressão e a cobrança são grandes, brother,
você não imagina o quanto! é como se uma jovem, atriz de
filmes pornô, decidisse mudar de vida e não mais ganhar
dinheiro se expondo, porém, a cobrança na mente, a
cobrança da sociedade e o sistema na vida dela é tão
comprometedor e grande, que ela prefere ir adiante, mesmo
dilacerando a sua alma e o seu consciente, pois, neste
mundo, o que vale é o “status” e o dinheiro que se tem.
Nesse caminho não tem volta, você fica preso, não
consegue dizer basta e o preço é mais alto do que o que
você pode pagar”.
“ Pode ter certeza que, milhões queriam ter a vida que
você tem. Mas não estou conseguindo captar sua
mensagem, você falou em segredo?”

“ Marley, você começou com essa de segredo, e segredo


não se conta a ninguém, este é o motivo de ser um segredo
e pode ficar tranquilo, que ainda não fiz nenhum filme
pornô, meu “esquema” é outro, mas acho que estou
encontrando uma Pessoa para quem eu vou contar este
segredo”.
“ Ok, me desculpe, não está mais aqui quem falou,
tomara que essa pessoa guarde esse segredo”.
“ Marley, vou para a sala ler mais um pouco deste livro e
procurar entender qual a finalidade e o propósito pelo qual
esse Jesus morreu naquela Cruz e hoje não quero mais
saber de nada que vá me deixar zonzo.”
Fui para a sala e fiquei lendo a Bíblia, prestando atenção à
cada palavra, mas não conseguia acreditar em muitas
coisas que estava lendo e fiquei horas e horas lutando
contra a falta de fé. Parei para comer algo e já era mais de
meia-noite.
Marley passava na sala e ficava me observando com os
olhos arregalados, um ar interrogativo no rosto, mas não
dizia nada e foi se trancar em seu quarto.
11
SEUS OLHOS ESTÃO
SOBRE TODA TERRA

Após comer, voltei a meditar naquelas palavras e abri em


um livro que se chama Ezequiel, no capítulo 33e foi
quando aconteceu algo que nunca esquecerei em minha
vida.
Li todo o capítulo e senti algo à minha volta, como se
houvesse alguém me observando o tempo todo e aquilo me
trouxe temor. Escutei a mesma voz em minha mente, que já
havia escutado enquanto tomava banho no dia anterior, e
essa voz dizia uma frase que eu havia lido nesse capítulo:
(Ezequiel capítulo 33 versículo 7) - “A ti, pois, ó
filho do homem, te constituí por atalaia, tu, pois,
ouvirás a palavra da minha boca, e lha anunciarás da
minha parte.”
Não era uma voz audível como quando falamos uns com
os outros, era uma voz que atingia o consciente e penetrava
no coração, causando arrepios.
Peguei a Bíblia e a levantei em direção ao céu pela
enorme janela à minha frente e que dava para o jardim da
casa.
Comecei a questionar Jesus pela espada que é citada
neste capítulo 33 de Ezequiel.
Sem resposta alguma, perguntei se podia escutar minha
voz e se poderia ver a situação em que eu me encontrava.
Foi quando um vento soprou de fora para dentro e tocou em
minha pele me fazendo tremer e quanto mais o vento batia,
mais eu tremia, porém, tem um detalhe: estávamos em dias
quentes em São Paulo, não havia motivo natural algum para
me arrepiar e me fazer tremer daquela forma, então,
comecei a sentir medo de morrer.
Fui perdendo aos poucos os movimentos de meu corpo,
até que dobrei meus joelhos no chão e a voz voltou
novamente no meu consciente dizendo:
“Eu escuto e meus olhos estão sobre toda terra!”
Olhei à minha volta e não via nada, tudo estava da
mesma forma, mas eu tinha certeza absoluta que algo
estava junto do oxigênio ao meu redor e se pudesse ver o
oxigênio, que nos faz viver eu teria visto quem falara
comigo.
Tentei gritar pelo Marley, mas não conseguia emitir uma
palavra, minha boca estava travada, batendo dente nos
dentes e só conseguia me comunicar por pensamento. Foi,
quando não resisti, e me prostrei no chão com o rosto no
piso.
Eu gritava no meu interior:
“ Agora, eu sei que tu existes, não tenho dúvida alguma,
mas estou a ponto de falecer, me ajude, me dê mais uma
chance para mudar a minha vida!”
Foi quando ouvi a mesma voz dizendo:
- “Não vim para matar e sim para levantar o ferido,
vou colocar um novo sopro em ti e levantarás como
um novo homem”.
Meu coração batia lentamente quase parando e tudo
parecia passar em câmera lenta; virei de frente com o rosto
para a janela e o coração começou a bater forte novamente.
Eu escutava cada batido no ouvido do lado direito e podia
ver o saltar da camiseta, que se mexia de acordo com os
batimentos cardíacos, e tudo ainda, como em câmera lenta,
que foi voltando ao normal da mesma forma que o coração
voltava ao seu ritmo. Fiquei mais uns cinco minutos no chão
e fui me refazendo aos poucos, porém, não havia mais
vento e não escutava mais nada em minha mente, ao não
ser, o som de alguns grilos no jardim. De repente, Marley
saiu do quarto, dizendo que sentia que Deus o chamava
para voltar a ter comunhão com ele.
“ Marley, você não pode imaginar o que aconteceu
comigo neste lugar!”
“ Plus, Deus está neste lugar. Posso sentir a Sua
presença”.
“ Marley, me chame de Lander, porque o Plus acabou de
morrer”.
Levantei-me do chão, fui ao banheiro e me olhei no
espelho. Pude ver que a minha face estava assustada com
aquilo tudo que me acontecera.
Falei em voz alta: Chega! sou um novo homem e agora é
vida nova!
Voltei e contei o ocorrido ao Marley. Fui bem claro e disse-
lhe que não havia visto nada com meus olhos, mas tinha
certeza que havia sido visitado pela Presença de Deus e ele
ficou atento a cada palavra que saia da minha boca.
Aquilo deixou Marley impactado a ponto de se ajoelhar no
chão, chorando e dizendo: “perdoa-me, Senhor, por ter te
deixado. Perdoa-me, Pai”.
Ele foi ao seu quarto e trouxe algo, raro de se ver, nos
dias de hoje, uma fita K-7 com suas músicas gravadas no
tempo em que ele cantava na igreja.
“ Lander, vou te mostrar o que Deus me chamou para
fazer neste planeta.” Colocou a fita no aparelho e logo
começou um som suave de violão e uma música linda
começou a ser recitada e que dizia as seguintes palavras:
“Aonde quer chegar com teu orgulho, onde vais, se o que
mais procura já está aqui?
Só o amor é maior que a escuridão, só Jesus é a
esperança da nação...”

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Aquela música entrava em meus ouvidos e invadia a
minha alma. Desmanchei-me em choro, aquele choro que
estava incubado em minha vida por um longo tempo. O
choro do cansaço e ao mesmo tempo o choro da liberdade,
enfim, estava colocando para fora as minhas frustrações e
dores. Sentia que Deus estava colhendo cada lágrima que
caia dos meus olhos; lágrimas sinceras e encharcadas com
a verdade. Ali, me entreguei completamente a Deus e
coloquei a minha vida em Suas mãos.
Fiz uma oração e pedi perdão por todos os meus pecados
e ajuda para aquela nova caminhada e que, por mais difícil
que fosse, eu estaria disposto a estar no centro da sua
vontade.
Levantei-me, após ouvir as músicas de Marley, lhe dei
boa- noite e fui para o meu quarto dormir.
Apaguei a luz, deitei-me na cama e logo adormeci.

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Algumas horas depois, comecei a ter um pesadelo horrível


e tenebroso. Homens com cabeças de porcos e pés de
cabritos, começaram vir da rua e entraram pelas paredes da
casa. Eram multidões e multidões de criaturas e todos
tinham o objetivo de virem ao meu encontro.
Eram tantos, que não cabiam na casa e invadiam os lotes
da vizinhança.
Eu sabia que estava dormindo e não conseguia acordar. O
pânico e o desespero tomavam conta de meu ser e sentia
que aqueles demônios iriam me matar.
Foi quando uma luz entrou pela parede do quarto e
iluminou todo recinto e, da luz, veio um homem em minha
direção que segurou na minha mão que estava fora da
cama e só o fato de entrar aquela luz, naquele quarto, fez
os demônios partirem se atropelando desesperados e
fazendo um barulho terrível, não ficou nada opressor
naquela região, tudo era um sonho até que desta vez, a
única vez, escutei uma voz de forma audível e não mais em
minha consciência que dizia:
“Filho não temas eu sou contigo e seguro tua mão,
nada mais vai te afligir”.
Com uma de suas mãos, segurava a minha e, com a
outra, acariciava a parte superior da mão que tinha presa às
Suas, como um pai faz a um filho.
Vi a mão que segurava a minha e não tive nada de medo
e nem desespero pois, sabia ser aquela, a mão de Jesus e
voltei a dormir.
Não gritei e nem me emocionei, a minha atitude foi de
paz, porque a paz estava comigo. Não a falsa paz que o
mundo pode me proporcionar, mas a verdadeira paz que só
Jesus pode dar a um ser humano; a que excede todo o
entendimento e pode ser exercida em meio à guerra.
Acordei cedo, lembrando-me de tudo e ainda impactado
pelos úlimos acontecimentos, porém, convencido de que
estava transformado pelo Poder de Deus e de que me
tornara em um novo homem.
Sentia que aquele era o meu primeiro dia de vida no
planeta Terra, como se houvesse nascido novamente.
Abri meu guarda-roupas e peguei as drogas que ali
estavam e fui em direção ao banheiro, rumo à privada, onde
lancei toda aquela droga no vaso sanitário e dei a descarga.
Era tanta droga que não descia com a água e eu tive que
ajudar com a pequena vassoura de limpeza sanitária, até
que toda droga se foi e a água ficou limpa. Falei para mim
mesmo: “Chega! Basta!”
Tomei um banho e me arrumei. Animado e decidido, sem
culpa ou dor a respeito do meu passado.
Era como se tudo fosse novo, uma nova história, uma
nova vida.
12
UMA NOVA VIDA, UM
NOVO COMEÇO

Marley ainda estava dormindo quando peguei o meu carro


e fui direto ao aeroporto. Deixei o carro em um
estacionamento, entrei no aeroporto à procura de uma
passagem para Goiânia e encontrei uma Companhia aérea
que tinha assento disponível para um próximo vôo.
Logo que cheguei à Goiânia, embarquei num táxi e fui ao
apartamento para pegar um dos carros que ali estavam.
Decidi por um, importado, conversível do qual eu gostava
muito e, pelo qual, tinha muito zelo. Aquele carro era a
minha marca registrada e as garotas o amavam! Só, que,
quando entrei nele e dei a partida naquele motor possante
já não sentira o mesma sensação de antes, ou seja, de
poder ou de altivez, o que senti foi uma inexplicável
tristeza! porém, tive a certeza, em minha mente de que, o
meu foco de antigamente não era usufruir de um bom
veículo e sim o de “aparecer” para as pessoas. Aquele, era
só mais um vazio que já havia sido preenchido pela
Presença de Deus, que eu recebera em São Paulo.
Já não tinha que provar mais nada para ninguém, estava
liberto daquele peso de valer e de ser reconhecido pela
sociedade pelo que eu tinha e não pelo meu caráter e
conduta de vida.
O que quero dizer é que, a pessoa tem que ser valorizada
como ser humano, pelo que é não pelo que possui.
Abri o portão eletrônico e fui em direção a loja de som do
meu amigo Kevin. Precisava contar a experiência que tive
para mais alguém e, também, queria rever os amigos.
Cheguei à loja e Kevin, como sempre, ocupado ao
extremo, mas insisti com ele no assunto e ele parou tudo o
que estava fazendo, ficou olhando nos meus olhos e,
indignado, perguntou-me:

“ Plus, o que está pegando, amigo? você esta parecendo a


minha cunhada Lara”.
“ Kevin, hoje eu entendo aquela garota”.
Ainda estávamos no assunto quando Sandro, o filho do
pastor, entrou na sala. Ficou calado escutando cada palavra
que saia da minha boca, olhou-me nos olhos e disse:
“ Não interessa o que lhe disserem, não interessa se não
acreditarem em você, nunca saia deste caminho, fica firme,
meu brother, e procure uma igreja que se enquadre com o
seu estilo de ser”.
“ Sandro, não quero ir para igreja nenhuma, não, amigo,
estou bem assim”.
“ Plus, saiba que Deus vai te levar para uma igreja. Aqui
fora vai ser difícil. você está estragado para este mundo e
essa rotina não vai mais te agradar”.
Sandro sabia muito bem do que estava me falando, pois
era filho de pastor. Ele era um dos que estavam com Fredy
no dia do acidente e que, por algum motivo, foi dormir e
não entrou no carro dele.

Fora criado dentro da igreja, mas com o tempo saiu e se


afundou em todo tipo de loucura. Sandro foi além das coisas
que me davam medo de fazer. Ele tinha a capacidade de
puxar o freio de mão do carro, em uma rodovia, em dia
chuvoso, a 160 quilômetros por hora e soltar as mãos do
volante só para matar o passageiro de susto; eu fazia de
tudo para não entrar em um carro dirigido por ele, que era
muito bom de volante mas que lembrava um piloto em
fuga. Eu cansei de ter surpresas com ele no volante e aquilo
me dava pânico.

“ Sandro, obrigado, mas não quero ir para igreja alguma”.


Kevin falou: “esta conversa toda está me dando fome;
vamos arrumar um local para irmos almoçar”.
Saímos da sala e demos de frente com Lara, que chegara
para pedir ajuda a Kevin. Precisava encontrar algum lugar
para reparar e pintar algumas partes danificadas do carro
da sua irmã. Kevin, deu um grito:
“ Lara! você chegou na hora certa! ajuda o Plus, porque
ele agora faz parte do seu povo, o camarada está Bíblia
pura!
- Oi Lander, tudo bem? Perguntou Lara com um brilho no
olhar.
“ Graças a Deus sim, quanto tempo não te vejo Larinha!”
“ Vamos olhar este negócio do carro da Lara e depois
almoçamos” - disse Kevin.
Sandro foi para outra direção, dizendo que queria se
encontrar comigo à noite e eu entrei no carro com Lara e
Kevin.
No caminho, comecei a falar-lhe sobre o que havia
ocorrido comigo deixando-a admirada com o meu relato.
Por mais que tivesse fé em Deus ela não conseguia
acreditar nas minhas palavras, tamanha era a diferença
entre o Plus que ela conheceu e o Lander, que lhe contava
aquela estória.
Quando comecei a citar os versículos bíblicos que lera e o
que eu sentia a respeito de Jesus, ela foi se abrindo e
percebeu que havia verdade naquilo tudo, viu que não era
uma estória em quadrinhos ou um conto de fadas.

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Lara ficou emocionada e feliz em ver que Deus atendera


às suas orações por minha vida - fiquei sabendo que já
faziam dois anos que a garota orava por mim para que Deus
me protegesse de todo mal.
Porém, é claro, eu sabia que ela tinha um certo interesse
pessoal nessas orações, ela orava para Deus me proteger e
me fazer feliz, longe de tudo que me fizesse mal, mas no
fundo, ela tinha interesse em mim mas, do jeito que eu
conduzia a minha vida, não era viável investir em um
relacionamento maduro e duradouro comigo.
Logo depois de sairmos do lugar onde Kevin nos levara
para arrumar o carro, fomos almoçar, depois, nos
despedimos e eu a surpreendi dizendo:
“ Lara, quero te dar um presente. Quero pagar o conserto
do seu carro”.
“ Que é isso Lander, não precisa! eu já havia separado um
dinheiro do meu salário para fazer este reparo”.
Insisti e coloquei o dinheiro em suas mãos. Não para
pagar pelas orações em meu favor, mas como gratidão,
pelo carinho e amor com o qual me tratava, desde quando
nos encontramos pela primeira vez.
Ela ficou sem graça com a minha atitude, mas não teve
como recusar o presente. Eu não permiti.

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Chegou a noite e encontrei-me com Sandro em um bar da


cidade, onde costumávamos ir para conversar e tomar
cerveja. Ele já estava sentado, me aguardando, e foi direto
ao assunto:
“ Lander, sinta-se à vontade para se despedir desse bar e
dos demais bares da cidade, porque você pode sentar
comigo e tentar disfarçar, porém não vai mais conseguir
encontrar prazer neste lugar.”
- Como não Sandro? Veja quantas garotas lindas e que
cerveja gelada! Garçom traga uma bem gelada!
Tomamos algumas cervejas, mas logo senti vontade de
falar sobre o que me acontecera em São Paulo e esqueci
das garotas e da bebida.

Sandro se interessou pelo assunto e, muito mais se


interessou, o garçom que nos atendia. Ele teve a ousadia de
pedir permissão e parar o seu trabalho para ouvir tudo o
que eu falava para Sandro.
Quando terminei o garçom disse:
“ Saiba jovem que Deus vai te levar para a Igreja e que o
seu tempo nas mesas dos bares estão acabando; saiba
também que você vai levar a palavra dele adiante e muitas
pessoas chegarão a Jesus através da sua vida”.
“ Quem é você, meu brother? Perguntei”.
“ Eu sou um garçom que conhece a Jesus, este Deus
verdadeiro que ama e perdoa e ao qual você permitiu entrar
em seu coração e em sua vida”.
Sandro olhou em meus olhos e disse:
“ Você ainda acha que não precisa de uma igreja?”
“ Esta bem, Sandro, eu vou procurar a Lara e vou com ela
à igreja amanhã mesmo”.
“ Traz uma coca-cola garçom, não estou mais a fim de
beber álcool por hoje”.
Fiquei mais um tempo com Sandro e nos despedimos com
um abraço apertado.

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No dia seguinte liguei para Lara e ela atendeu-me com


muita atenção o que me deixou muito feliz, pois podia
contar com alguém que queria me ajudar e estar presente
na minha vida.
Ela comentou comigo que iria a um congresso que
reuniria várias igrejas, mas antes, teria que passar em sua
igreja para entregar alguns documentos que os seus
pastores aguardavam e me convidou para ir com ela e eu
aceitei.
Chegando lá, fiquei impactado pela forma com que fui
tratado pelos pastores Davi e Amanda, tão amáveis e
descontraídos! Eles entendiam muito bem a minha forma de
expressar e me aceitaram como eu era; seus amigos,
também, que ali estavam, foram muito gentis. Nunca vira
tal atenção e amor!
É verdade que, alguns jovens não gostaram, de maneira
alguma, de ver a Lara acompanhada por um desconhecido,
e o motivo não precisa nem falar. Eles eram apaixonados
pela jovem de pele morena e cabelos lisos, que cobriam a
metade da sua face, como uma seda negra.
Saí daquela igreja decidido que ali seria meu lugar e
estava disposto andar com os pastores da Lara.
Como ela ficou feliz ao ouvir-me, dizendo que queria estar
com aquele pessoal e fazer parte daquela família que se
chama Igreja!

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À noite, fomos ao congresso que era um grande evento


evangelístico. Eu nunca vira tamanha multidão em um só
lugar para buscar a Deus!
Muitos estavam ali procurando uma resposta para seus
problemas ou pelo prazer de conhecer a Deus.
Fiquei impressionado com a união de todos, algo que eu
não conhecia. Tudo era novo e muito diferente para mim!
O pregador, fazia daquele microfone uma arma poderosa
em suas mãos, e transmitia a palavra de Deus como uma
espada que entrava em meu coração e me fazia entender
que, a resposta para verdadeira alegria, era Jesus Cristo.
Depois, entrou um grupo de louvor e algumas pessoas à
minha volta cantavam e sorriam; outras choravam e se
arrependiam de suas fraquezas as quais as faziam errar o
alvo, ou seja, desagradar a Deus, mas quando levantavam
do chão, já estavam transformadas e logo começavam a
louvar e sorrir como as outras.
Eu percebia que o próprio Deus as levantava trazendo a
convicção do perdão em suas vidas e realmente entendi o
motivo pelo qual Jesus foi para cruz: para tirar todo o peso
da culpa que nos aflige; tirar todo fardo colocado em nossas
almas e trazer o perdão que foi dado através da morte de
Jesus, na Cruz do Calvário.
Foi quando resolvi me ajoelhar e pedir para Deus arrancar
algo do meu coração, algo que me machucava muito.
Quando eu tinha dezenove anos de idade, conheci uma
garota por nome de Sasha. Uma jovem bonita com os
cabelos loiros e olhos azuis. Me apaixonei pela sua ternura e
vivemos várias aventuras juntos, até que um dia, soube que
ela estava grávida de três meses.
Quando me mostrou os exames, ela me disse que era
impossível contar aquilo para mãe dela se nós não nos
casássemos.
Minha reação foi me afastar e deixá-la. Dei-lhe apoio
financeiro e, às vezes, lhe telefonava, porém, o que ela mais
precisava eu não dei, que eram a minha presença,
segurança e carinho.
Isso abalou completamente o seu emocional e certo dia,
ela me ligou dizendo que iria abortar. Então, eu resolvi
encontrá-la.
Chegando em seu apartamento, ela já estava na porta me
esperando. Parei o carro e ela sentou-se ao meu lado, no
banco do passageiro, dizendo:
“ Lander, por que você esta agindo desta forma? eu estou
com um filho seu dentro de mim, eu preciso estar junto com
você”.
“ Sasha, eu sei que temos que estar juntos, mas preciso
ser claro e verdadeiro com você, eu não vou me casar”.
“ Lander, se não nos casarmos eu vou ter que abortar
essa criança, minha mãe não vai aceitar isso nunca”.
“ Não precisa abortar, eu cuido do nosso filho”.
Então ela começou a chorar e desceu do carro.
Dias depois, uma de suas amigas me ligou, e disse que
Sasha estava passando mal e que sentia fortes dores. Fui ao
seu encontro e corremos para o hospital, alí eu soube que a
criança já estava morta. Sasha me olhou com os olhos
cheios de lágrimas e me abraçou dizendo:
“ Eu não abortei, Lander, eu não tomei remédio algum.
Nosso filho se foi”.
O médico que a acompanhara, disse-me que o fato do
emocional dela estar tão abalado pode ter sido a causa da
morte da criança e nos encaminhou para uma clínica onde
seria feita a retirada do feto com pouco mais de quatro
meses.
- Eu sei Sasha que você não tomou nada.
Fiquei imaginando que a culpa pela morte daquela criança
era minha, pois abandonei aquela jovem no momento mais
difícil da sua vida.
Fomos em outra clínica, indicada por uma amiga, pois a
que o médico recomendara não poderia fazer a curetagem
naquele dia. Cheguei naquela clínica e logo vi que tinha
algo errado, eles faziam curetagem de fetos mortos, mas
também de fetos vivos. Era uma clínica de aborto, algo
proibido em território brasileiro. Havia muitas garotas
esperando para serem atendidas como se não tivessem
nenhum amor pela vida que carregavam em seu ventre;
creio que todas estavam com o psicológico abalado como o
de Sasha, e com certeza, tinham suas desculpas para matar
aquelas crianças antes que elas viessem ao mundo. Motivos
financeiros, profissionais, abandono, ausência familiar,
estupro ou medo da responsabilidade do amanhã.
Como aquelas garotas, não abortamos o nosso filho em
uma clínica, mas abortei o meu filho, na irresponsabilidade
dos meus atos.
Elas tinham coragem de mandar um médico tirar o filho
que traziam no ventre, e eu, esperei este acontecimento, à
distância, em minha covardia.
Sasha entrou para sala onde foi anestesiada e foi feito
todo procedimento.
Horas depois, o médico que fizera o trabalho, veio ao meu
encontro e me entregou um frasco de vidro com o feto
dentro e me disse:
“ Aí está o seu filho, leve em um laboratório para saber
qual foi a causa da morte do feto.”
“ Não precisa, doutor, eu já sei a causa. Foi a falta de
apoio da minha parte”.
“ Então jovem, não seja mais irresponsável. Posso me
desfazer deste material?”
“ Espere doutor, me dê este vidro”.
Peguei aquele frasco e o levei para meu carro, segurando-
o como se segura um bebê no colo e comecei a chorar.
Desenrolei o papel que o envolvia e pude ver a criança em
pedaços, bracinhos, perninhas, a cabeça... e chorei
amargamente.
Voltei com o vidro para a clínica e o entreguei novamente
ao médico, que o levou para dentro de uma sala com
banheiro e pude escutar o barulho da descarga do vaso
sanitário onde foi jogado aquele pequeno corpo, em fase de
desenvolvimento.
Saí da clínica com as mãos sobre a cabeça pois já não
podia fazer nada mais pelo meu filho. Quando poderia ter
feito algo eu não fiz, que era estar com Sasha naqueles
momentos difíceis e não deixar o seu emocional tão
abalado.
Horas depois Sasha teve alta e saiu do quarto totalmente
triste e desamparada. Abracei-a, e colocando-a no carro a
levei para casa em silêncio e com um sentimento de perca
que me destruiu naquele dia.
Se passaram anos e não vi mais Sasha, mas a culpa me
acompanhava todos os dias da minha vida. Toda vez que via
um bebê ou escutava o choro de uma criança de colo,
lembrava-me daquele frasco de vidro.
Foi quando me ajoelhei naquele congresso, enquanto uma
jovem cantava um louvor, que fizera todo ginásio se calar e
somente se entregar nas mãos de Jesus. Eu disse, bem
baixinho, para Deus: “Pai, me ajuda, me perdoe pela minha
ausência na gravidez da Sasha; me perdoe, porque preferi
curtir a minha vida e abandoná-la enquanto ela estava
sozinha e sem amparo. Me ajude a tirar a culpa de ver
aquela criança daquela forma naquele vidro; me perdoe
pelo que eu fiz ao meu filho”.
Veio uma pessoa que estava distante de mim a algumas
fileiras e disse que queria orar por minha vida, o que
permiti, sem demora e que fez a seguinte oração:
“ Deus te faz livre, sem culpa e apaga todas suas
transgressões; Ele te levanta e te purifica. Não temas o mal
e não fique preso ao passado, porque Ele faz tudo novo em
sua vida. Todos os seus erros e pecados foram lançados no
mar do esquecimento e Deus não se lembra deles. Quando
Deus assim o quiser, você vai falar sobre o seu passado e
não terá nenhuma dor ao fazê-lo, pois já foste curado. Isso
será através do testemunho e vai levar outras vidas a
verem, que ainda há chance de serem transformadas pela
palavra de Deus, serão livres de suas culpas e medos, e o
nome de Jesus será exaltado”.
Olhei para aquela pessoa e lhe dei um abraço. Naquele
dia a culpa se foi e tive certeza do chamado de Deus para
minha vida. Decidi que nada impediria que isto
acontecesse.
Após o evento, deixei Lara em sua casa e fui para meu
apartamento, decidido a procurar os meus amigos e falar-
lhes do amor de Deus que tem poder para salvar e
transformar qualquer vida.
Voltei à São Paulo para buscar Marley e resolvemos
abandonar todo aquele projeto...
Chegando em Goiânia, me tornei membro da Igreja e
comecei a fazer parte de um discipulado com o pastor Davi,
onde fui sendo alimentado com a Palavra de Deus e o amor
entre os irmãos em Cristo.
13
RESGATANDO OS FERIDOS

Certo dia, já era tarde da noite, resolvi ir atrás do Wilson


na casa de sua mãe.
Chegando à porta, vi que todas as luzes estavam
apagadas e me lembrei de que, desde pequenos, tínhamos
uma senha para chamar uns aos outros em nossas casas
sem incomodar a ninguém.
Era um assobio, em forma de melodia, que só os mais
chegados conheciam.
Wilson estava no quintal da casa e, pelas grades do
portão, pude vê-lo, saindo do meio da escuridão. Ele veio ao
meu encontro. Dei-lhe um abraço apertado e lhe disse:
“ Wilson, me perdoe amigo, por ter voltado para São Paulo
com Marley e ter lhe deixado. Sei que isto o decepcionou”.
Ele, olhando-me nos olhos, disse:
“ Que isso Plus, sempre fomos irmãos; eu estou tranquilo
quanto a isso”.
“ Wilson, pode me chamar de Lander, porque aquele Plus
já era, brother. Vim aqui para lhe ver e lhe dar um abraço,
meu amigo”.
“ Estou bem Lander, mas, usando drogas. Estava agora no
fundo do quintal me drogando e estou com vergonha dessa
vida que continuo levando.
Fiquei sabendo que, agora você esta na Igreja. Posso ver
em sua face o quanto está iluminado. Posso ver um brilho
na sua vida e isso me deixa feliz”.
“ Wilson, tem chance para você também. Jesus veio para
todos e pode mudar a sua história de vida”.
“ Lander, vou usar o restante da minha droga lá no fundo
do quintal, vai embora e amanhã volte para me levar à
igreja que você está indo; não quero que você me veja
desta forma e pode ter certeza que esta vai ser a última vez
que você me vê assim. Se Deus mudou você Ele pode
mudar a mim também”.

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No outro dia, à noite, haveria um culto na Igreja. Liguei


para Wilson e fui buscá-lo em sua casa para irmos juntos.
Ele já estava na rua, me esperando, ansioso para
experimentar algo novo.
Entramos na igreja e pude ver nos seus olhos a
expectativa por uma nova vida. Ele estava cansado daquela
situação em que se encontrava, daquela cadeia em
liberdade, ou seja, livre andando de um lado para outro,
mas preso pelo vício que destruía sua vida pouco a pouco e,
como uma goteira que não cessava de cair, era o seu desejo
pela droga, algo cansativo e intolerante.
O pregador começou a pregar e parecia que só havia o
Wilson naquele lugar, tudo que ele falava vinha de encontro
à vida que meu amigo estava levando. Então, aos meus
ouvidos, ele me perguntou, se eu havia contado alguma
coisa da sua vida pessoal para o pregador. Respondi-lhe a
verdade dizendo que eu mal conhecia aquele homem.
Wilson começou a chorar e abriu o coração, deixou todo
orgulho de lado, toda a resistência e disse, em voz alta, que
daria uma oportunidade para Deus mudar a sua situação;
era hora de se permitir viver uma vida que ele ainda não
conhecia.
O pregador acabou de falar e chamou à frente alguém
que necessitasse de oração ou de ajuda, pediu que a pessoa
desse só alguns passos, difíceis, na verdade, porém,
necessários; alguém que precisasse de tomar alguma
atitude mas que se sentia fraco para fazê-lo... e, sem muito
pensar ou esperar por ninguém, Wilson se levantou e gritou:
“eu, sou eu essa pessoa! eu preciso! Ali mesmo ele abriu o
coração e permitiu a Jesus entrar em sua vida, não foi uma
atitude só de emoção ou de palavras, mas algo de verdade,
como se esta fosse a sua última chance para continuar a
respirar.
Como fiquei feliz em ver meu amigo permitindo a Jesus
fazer parte da sua vida! nem todo o dinheiro que o mundo
pudesse me oferecer me faria tão feliz quanto aquele dia.
Wilson foi acompanhado e passou por muitas dificuldades
para se desintoxicar, mas após alguns meses e através da
sua perseverança, conseguiu dar um basta no vício.
Após esta decisão, começamos a levar o evangelho a
todos os nossos amigos e vários participavam das nossas
reuniões evangelísticas, onde falávamos a respeito de Jesus
através da Bíblia e orávamos uns pelos outros.
Houve curas no físico e nas emoções, e muitos buscaram
uma intimidade com Deus a ponto de entregar-lhe suas
vidas, como eu e Wilson fizemos. Foi algo extraordinário e
lindo.
14
MOMENTOS DIFÍCEIS -
ELE ESTÁ CONOSCO

Passado algum tempo, eu estava em meu apartamento,


sozinho, e sentia tanto sono que não conseguia manter os
meus olhos abertos; então decidi ir para a cama.
Dormi logo e tive um pesadelo horrível. Sonhei que o
inimigo das nossas almas, entrou no apartamento e foi até
meu quarto, uma cena tão real que eu nunca me esqueci.
Lembro-me de cada detalhe, especialmente do couro de
cobra que cobria a cabeça dele. Ele se inclinou até a altura
do meu rosto e disse:
“ Lander, eu te dei todo dinheiro que você tem mas, se
acaso você não desistir de andar com Jesus, vou lhe tomar
tudo, porém, caso você escute as minhas palavras, eu te
darei muito mais do que você possa imaginar”.
Eu sabia que estava dormindo e que aquilo era um
pesadelo, mas também tive o discernimento de que se
tratava de uma guerra espiritual. Imediatamente ordenei ao
inimigo que pegasse tudo que era dele e saísse da minha
vida.
No mesmo instante acordei e me levantei sabendo que
tinha tido um encontro com quem estava por trás de todas
ciladas, tristezas e decepções que me atingiram antes de
conhecer a Jesus.
Orei a Deus naquele momento e disse ao Senhor Jesus
que, se houvesse algo em minha vida em desacordo com a
sua vontade, e que, se existisse algum tipo de porta para o
inimigo afrontar-me e possuir argumentos contra mim, que
Jesus poderia permitir a retirada de todos os meus bens, por
mais, difícil que fosse.
Realmente, há poder nas nossas palavras, há poder em
uma oração quando ela é feita com fé.

Em oito meses, todo aquele dinheiro sujo se foi, dinheiro


que não era fruto de trabalho. Foram-se a transportadora
com os caminhões, carros, “jet ski”, moto e apartamento.
Perca atrás de perca, prejuízos e mais prejuízos, negócios
errados, tudo contribuiu para a purificação de Deus na
minha vida.
Em um dos meus caminhões apareceu uma ninhada de
ratos entre o banco e o assoalho, que começaram a roer o
interior do veículo e nada acabava com eles.
O motorista estava em pânico e eu calado. Só ficava
observando sentindo a perda, mas não tentava impedir
nada daquilo, pois tudo, na verdade, não era meu, era fruto
de desonestidade e eu não estava mais disposto a viver
com aquela acusação em minha mente.
Fui assaltado em meu escritório, onde dois ladrões
levaram uma boa quantia em dinheiro e todos bens que ali
estavam.
Eu já não andava mais armado, havia guardado as minhas
armas juntamente com a autorização para transportá-las,
então, não reagi.
Fui amarrado e amordaçado com um pano cheio de um
componente químico e deixado no chão como um objeto,
porém, Deus estava comigo naquele momento.
Enquanto eles me amarravam, um falou para o outro em
me sufocar usando um saco plástico que iria tampar toda
minha cabeça até me levar a morte. Disse que o motivo
daquela atitude seria porque olhei muito em seus olhos e
marquei as suas faces. Havia uma bandeira em cima do
armário, gravada com o nome de Jesus, e quando ele
acabou de dizer isso, já preparando aquele saco plástico
para me sufocar, a bandeira começou a balançar de um
lado para outro mas, todas as janelas estavam fechadas e
não havia nenhuma entrada de vento naquele local, algo
que os impressionou, e o outro bandido falou:
“ Deixa esse “cara” deste jeito mesmo. Amarrado e
amordaçado com esse pano cheio de produto de limpeza
dentro da boca que ele vai se sufocar sozinho. Será
impossível ele respirar. Esquece este saco e vamos dar o
fora daqui”.
É que eles ficaram espantados com aquela bandeira se
movendo de um lado para o outro e, naquela hora, tive a
convicção que a presença de Deus estava naquele local e
me deu forças para arrebentar parte daquelas cordas que
ligavam os meus braços aos meus pés com vários nós.
Em questão de minutos eu estava livre de todo laço e
mordaça tóxica dentro da minha boca, o que poderia ter me
levado à morte. Foi um milagre!

Fui a delegacia e prestei queixa, porém não vi boa


vontade da polícia em resolver o meu caso e comecei a
pensar em justiça própria e a procurar os meus meios para
vingar aquela humilhação.
Procurava não reclamar de nada daquilo que estava
acontecendo em minha vida financeira, pois eu mesmo fiz
aquela oração porque queria ser limpo de toda a sujeira do
passado. Mas, após aquele assalto me revoltei e tive o
desejo de vingar-me daqueles marginais.

Pensei em voltar a andar armado e procurá-los onde quer


que eles estivessem, porém, com o apoio do meu amigo e
fiel pastor Davi consegui perdoá-los e entender que, aquilo
tudo, era para mostrar-me que tinha realmente que ser
limpo de algo que ainda existia em minha vida.
Desejo de justiça própria e vingança ainda faziam parte
de mim mas Jesus veio ao mundo para nos ensinar algo
muito maior, que é o amor e o perdão.
Amar quem me faz bem é muito fácil e qualquer ser
humano faz isso, mas amar e orar por quem lhe fere é a
marca de que realmente você entendeu o motivo pelo qual
Jesus foi para Cruz. Não é algo simples ou fácil de se fazer,
porém, quando se consegue, sai um peso imenso das suas
costas, peso do ódio e do desejo de vingança. Isso é nascer
de novo e ser um verdadeiro Cristão. Amar o próximo como
a si mesmo.
Tudo o que o homem semear isso também
ceifará.Assim como todos nós colhemos as conseqüências
dos nossos erros aqueles bandidos também iriam colher as
suas. Isso é algo inevitável. Se você plantar laranja é
impossível você colher uva, como você quer colher o bem
se plantar o mal? como colher paz, alegria, amor e
felicidade se plantou somente ódio, inveja, fofocas, calunias
e traições. Com tal semeadura será impossível ter uma boa
colheita. Reconhecer isso é obter maturidade e caminhar
para uma vida melhor.

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Quando todo aquele dinheiro se foi, fiquei preocupado por


não ter mais os meus bens e sem saber como me manter.
Cheguei ao ponto de juntar as moedas do meu cofrinho para
comprar um macarrão, porém, muito feliz e aliviado por ter
me livrado de uma grande maldição que estava sobre mim.
Sabia que Deus estava comigo naquela situação. Li uma
palavra na Bíblia no livro de João, capítulo 16 versículo
33em que Jesus dizia o seguinte: “No mundo sofrereis
aflições, mas tende bom ânimo Eu venci o mundo”.Ou
seja, Jesus não prometeu que não haveria dificuldades, mas
prometeu a vitória nas dificuldades porque ele venceu e nos
fez vencedores. Nenhuma tribulação é para sempre,
nenhuma dificuldade é eterna quando se conhece a Jesus, e
a minha vida é prova disto.
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Eu e Lara nos casamos e nosso casamento foi


maravilhoso! fui franco para com ela e toda a sua família,
falei-lhes que não tinha mais aquele dinheiro todo e contei-
lhes a forma como o adquiri e como foi a perca, sem ocultar
nada. Foi uma situação um pouco vergonhosa, mas valeu a
pena falar a verdade.
Tive o apoio de toda a sua família e principalmente da
Lara. A verdade pode ser dura, mas tem como consequência
o amadurecimento e a paz.
Para Lara nada daquilo importava. Compramos um carro
usado, popular, que ficou com ela e eu fiquei com uma moto
simples que usava para ir trabalhar.
Abri uma pequena empresa de comércio exterior para a
importação de película solar de Miami, nos Estados Unidos,
para o Brasil e foi nesse período que comecei a ficar com
muita vontade de conhecer os Estados Unidos.
Sempre fui firme e positivo a respeito dos meus sonhos;
não me deixei abalar com tudo o que passei em relação às
percas que tive.
Certo dia, mexendo em meu cofre, encontrei meu
passaporte e comecei a folhear as suas páginas para ver
por quantos lugares havia passado pelo mundo e fiquei
relembrando das viagens, mas, em uma das folhas,
encontrei o visto para os Estados Unidos que eu tinha, mas
não usei.
Ainda não tivera a oportunidade de conhecer os Estados
Unidos. Chamei a Lara no quarto e disse:
“ É chegada a hora de dar um tempo do Brasil e romper
fronteiras”. Ela concordou de imediato pois amava viver
aventuras, viajar e conhecer novos horizontes.
“ Estou pronta, só preciso encontrar alguém para me
substituir em meu trabalho e vamos”.
“ Ok, dona Lara, vamos para América”.
Organizamos toda nossa vida no Brasil e fomos viver nos
Estados Unidos e adquirimos um amor por aquela nação.
Rompemos, através de Deus, obstáculos e com paciência e
honestidade me permiti subir degrau após degrau, sem
nenhuma ambição por dinheiro fácil ou pela riqueza que não
traga a paz.
Quando se conhece Jesus, nenhuma tribulação dura para
sempre. Hoje, tenho um negócio que nos mantém e supre
as nossas necessidades financeiras; voltei a estudar e me
formei em Teologia na Califórnia e, o principal, tenho tempo
para cumprir o meu chamado no planeta Terra onde levo a
Palavra de Deus adiante em função de ver o reino de Deus
crescer, e ver pessoas sendo transformadas em verdadeiros
discípulos de Jesus. Sem a culpa ou a acusação que oprime
a alma, mas com o verdadeiro amor que lança fora todo
medo, e isso, só Jesus pode dar e deu, na Cruz, há muitos
anos atrás, ato este, que o mundo não entende e questiona
até hoje o porquê, de Jesus ter morrido naquela cruz porém,
não consegue achar a resposta nas Ciências, e em nenhuma
parte, mas eu posso responder a essa questão sem medo
de errar.
Porque você vale a pena, a ponto de Jesus ter
permanecido naquela Cruz até a morte, para pagar pelos
seus e pelos meus pecados.
Independente da sua classe social ou raça, pode estar
tudo uma maravilha em sua vida: no seu palácio, boa
família, amigos, as finanças a todo vapor mas, você, vazio e
sem salvação. Ou, pode estar tudo uma verdadeira guerra,
parecendo o seu fim, sozinho, desprezado, abandonado e
quebrado financeiramente. Saiba que Deus pode mudar
qualquer situação e todos precisamos conhecê-lo.
Jesus há de voltar e levar a ter vida eterna a todos
aqueles que se entregarem a Deus. E isso não é um ato
religioso e sim um ato de amor a si mesmo.
Você pode permitir a Jesus entrar em sua vida neste
momento, confessando com a boca que necessita da
presença dele em sua vida; permitindo, em seu coração,
que essas palavras sejam verdadeiras, que você precisa da
salvação que vem de Deus através da morte de Jesus, na
Cruz, o que te levará a ter vida eterna.
E saiba que, após uma oração como esta, você vai entrar
em um processo de transformação.
Permita-se passar por esse processo. Se for necessário,
deixa Deus te limpar e curar todas as feridas e mágoas que
afligiram a sua alma. Leia a Bíblia.
Na Bíblia, no livro de Mateus, capítulo 6 e versículo
33diz: “Busque em primeiro lugar o Reino do Céus e
sua justiça e todas as outras coisas vos serão
acrescentadas”.
Busque uma Igreja onde a Bíblia tenha importância e seja
ensinada. Você será recebido com muito amor; ore a Deus,
converse com Ele, conte-lhe as suas fraquezas, suas
decepções, frustrações e pecados que lhe prendem e o
impedem de avançar, em várias áreas da sua vida. Peça
perdão e se arrependa, e tudo será apagado, e não mais
existirá culpa ou dívida para sua alma, tudo já foi pago na
Cruz. Creia nisto porque, realmente, você vale a pena!
15
ELE NUNCA DESISTIU DE
VOCÊ

Wilson se casou e hoje é pastor. Abriu uma igreja em um


presídio, na cidade de Goiânia, onde se apresenta, algumas
vezes, por semana, para pastorear e pregar a Palavra
naquele lugar. Ali, várias pessoas teem sido transformadas e
salvas pelo poder de Deus.

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Sandro, nosso único amigo filho de pastor, voltou para


igreja após ter sido perseguido pela Policia Federal, acusado
de tráfico de drogas.
Um dia, ele estava dando uma festa em sua casa, regada
a drogas e muita bebida e foi surpreendido pela presença
da Polícia Federal. Eles arrombaram o portão e entraram na
casa com várias metralhadoras. Sandro correu e se
escondeu no sotão e ninguém sabia onde ele se escondera.
A polícia perguntou a todos se sabiam onde ele estava
mas, não tiveram sucesso.
Após levarem todos presos, alguns policiais
permaneceram na casa, por três dias, esperando a volta do
Sandro àquele lugar. Ao terceiro dia, cansado e com muita
fome e sede, orou a Deus naquele sotão, pedindo que o
livrasse daquela situação. Dizendo que, se Deus atendesse
aquele pedido, ele voltaria para o caminho que o seu pai
sempre sonhara em vê-lo que era seguir os passos de Jesus.
E disse também que iria fazer a obra de levar a salvação de
Cristo pelo resto da sua vida, como seu pai fizera.
Terminada a oração, passaram-se uns vinte minutos e os
políciais deixaram a casa. Sandro saiu do seu esconderijo
certo de que Deus atendera ao seu pedido. Abandonou a
vida de prazer e loucura e foi buscar ajuda com um pastor
que fora amigo de seu pai.
O pai do Sandro, foi líder de um Ministério responsável
pela fundação de mais de quatrocentas igrejas no Brasil e,
orava sem cessar, para que o filho desse continuidade
àquela obra.
Sandro respondeu à Justiça e foi comprovado que tudo
não passava de falsas denúncias dos vizinhos, que não mais
suportavam as tantas festas daquela linda casa.
Deixando tudo para trás, ele, hoje é missionário no Estado
do Amazonas, onde vive em meio à selva, rodeada de
pequenas vilas, levando a Palavra de Deus para os que
ainda não foram alcançados pelo evangelho naquele lugar.

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Eu, Lander, para honra e glória de Jesus, por enquanto,


estou nos Estados Unidos, vivendo próximo à cidade de San
Francisco-California. Faço parte de uma Igreja maravilhosa
onde sou um dos seus evangelistas e, como parte do meu
chamado, estou desenvolvendo um projeto para auxiliar o
trabalho de pessoas como Wilson e Sandro, pregadores
anônimos, que estão levando o amor de Jesus Cristo onde
muitos não querem ir.
Estou na América do Norte, juntamente com minha
esposa Lara pregando a Palavra de Deus da forma que Ele
me chamou para ser e da forma que me chamou para falar.
Levando o amor de Jesus adiante a muitos que estão
como eu estava no passado, com um imenso vazio no peito
e pagando um alto preço por ter vivido iludido com tudo que
pertence e vai ficar nesse mundo.
Ou, como meu grande amigo Fredy, que viveu sua vida a
duzentos quilômetros por hora, e se foi tão jovem, sem se
dar chance de ser feliz e viver o que eu vivo no dia de hoje.
Ou como Sandro, que conhecia toda a verdade da Palavra
de Deus e, por anos, decidiu andar em vales profundos, e
acabou se machucando, mas acordou a tempo e possui uma
nova história de vida.
Ou como Wilson, que estava totalmente preso nos vícios e
no tráfico de drogas, sem força alguma para sair daquela
escuridão. Mas Jesus pode fazer novas todas as coisas...
Ou, como Stefany, que queria curtir mais um pouco a
noite e deixou sua cama à procura de prazer e encontrou
uma curva para parar a sua vida aos vinte anos de idade.
Ou, como Flávia, a jovem linda, que decidiu vender seu
corpo para resolver seus problemas financeiros, movida
pelo desespero e cega quanto as outras oportunidades para
sua vida. Sim, você pode estar como outras pessoas citadas
neste livro.
E você? quando vai sair desses “vales profundos”e voltar
para os braços do Pai? Não desconsidero os seus motivos ou
dores, mas, nunca desista! Jesus, não desistiu de você
naquela Cruz.

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O principal motivo desta obra é trazer convicção ao seu


coração e mente, de que tudo pode ser diferente! Você Vale
a Pena, porque Jesus pagou o preço por você e por mim.
No mundo, não temos valor se não oferecermos algo em
troca. Nele, você vale exatamente aquilo que você pode
proporcionar, ou seja, você é querido(a), visto e amado(a)
pelo que tem e não pelo que você é. Infelizmente, essa é a
realidade.
Faça um exame de consciência agora e se coloque em
uma situação, na qual não poderia oferecer nada a
ninguém, nada como profissional, material ou até mesmo
sua beleza. Te garanto que não sobrará muitas pessoas ao
seu redor.
Pode ser que você não tenha dinheiro ou uma boa
profissão, mas o que realmente tem valor para Deus e o que
tem imensa importância é você. A sua existência, é o sonho
de Deus. Você continua sendo importante para Ele e seu
valor não é ouro nem prata, é o sangue de Jesus que foi
derramado na Cruz. Ele pagou o preço em nosso lugar.

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Baseado no valor social que estou citando, lembro-me de


um fato que aconteceu após o meu casamento com Lara.
Depois de um longo e cansativo dia de trabalho,
estávamos a caminho da nossa residência quando, quase
chegando à casa, deparamos com um trânsito
congestionado ao extremo, onde os motoristas buzinavam,
gritavam e xingavam.
Procurando ver o motivo daquele alvoroço todo, me
deparei com um carro, repleto de papelão e lixo, recolhidos
nas ruas e que são levados aos galpões para reciclagem.
Obviamente, era aquela a causa do engarrafamento.
Porém, tem um detalhe. No Brasil, esses carros são de
tração humana, ou seja, são feitos de ferro, em forma de
carroça com duas rodas, e alguém vai puxando o peso na
sua parte dianteira É um carro usado exclusivamente para
recolher produtos recicláveis.
Esse não é um trabalho prazeroso de se fazer e, imagino
que aquele homem, não estaria nisto por gostar mas
porque, com certeza, precisava vender o material recolhido.
A carroça estava cheia, além da conta; a carga saia pelas
laterais e percebi que o carregamento deveria estar muito
pesado, por causa dos passos lentos que ele dava, puxando
todo aquele peso, desesperado para deixar o trânsito fluir,
findando assim, com a humilhação que estava recebendo
daqueles motoristas enfurecídos, em seus carros
confortavéis.
Comecei ficar aflito por ele e, dominado por um
sentimento de compaixão, disse à minha jovem esposa:
“ Lara, passe para o lado de cá e pegue no volante, pois
preciso fazer algo por esse homem.”
“ Lander, o que você vai fazer?”
“ Vou fazer o que Jesus faria em meu lugar.”
Parei o carro e a orientei a ir para casa e, depois que eu
fizesse o que tinha que ser feito, iria ao encontro dela.
Assim ela agiu e eu, fui em direção à carroça. Meti-me sob
um suporte que era segurado pelo homem para puxar o
peso; pedi- lhe um pouco de espaço e começamos a subir a
rua com o dobro da velocidade anterior, o que provocou a
imediata reação dele, que logo me perguntou:
“ Por que você está fazendo isto?”
“ Porque Você Vale a Pena e merece ser ajudado.”
“ Eu? meu amigo, sou um mero catador de papelão, que
precisa vender isto hoje ainda, para colocar comida na boca
das minhas crianças. Por isso, aguento todas estas buzinas
e palavrões. Meus filhos são mais importantes do que esta
humilhação.”
“ Amigo, estou com você. Vamos puxar este carro até
aonde você precisar. Vamos passar por esta situação,
juntos: nós e Jesus.”
“ Jesus?”
“ Sim, Jesus! acredite você, ou não, Ele é o responsável
por essa força que eu estou lhe dando; Jesus mudou a
minha vida, porque, se fosse há tempos atrás, eu seria mais
um que estaria lhe xingando agora. Jesus lhe ama e quer
fazer parte do seu dia-a-dia, neste trabalho duro e pesado
que é o seu. Pode ter certeza que isto seria um grande
prazer para Ele.”

“ Jovem, não sei quem você é, mas saiba que preciso de


Jesus e aceito que Ele faça parte da minha vida pois, vejo
que não tenho outra saída. Preciso de Deus e de uma nova
oportunidade que, acho, que só Ele pode me dar. Estou
cansado e já não tenho o mesmo vigor de antigamente.
Você viu o quanto estava difícil para subir esta rua”...
“ Não se preocupe, tenha paciência e busque por Ele
através da oração, leitura da Bíblia e, também, procure uma
Igreja, pois Ele não falhará contigo. Pode ter certeza no que
eu estou lhe dizendo: o primeiro passo você já tomou, que
foi o de aceitar que Ele ande com você, o restante, você vai
ver na hora certa.”
Andamos uns vinte minutos e ele me disse que, à partir
dali poderia ir sozinho; seria mais fácil seguir adiante, pois,
o caminho para o galpão, agora, era só descida. Lá ele
receberia o pagamento pela sua carga...
“ Jovem, muito obrigado, Deus lhe abençoe. Pode ter
certeza que vou procurar uma igreja que seja como a sua,
onde as pessoas gastam tempo com as outras pessoas.”
Dei-lhe um forte abraço e lhe disse que aquele tempo,
gerou uma eternidade em sua vida, ou seja, a salvação de
Jesus o alcançara e, salvação, é algo eterno, e não
temporal.
Fui embora para casa, feliz e cantando um louvor, sem
nenhum orgulho por ter feito uma boa obra, pois somente
fiz o que Jesus faria em meu lugar.
Crêr em Jesus é uma coisa, agora ser Cristão é outra, e é
muito simples: nada mais ou nada menos que fazer o que
Jesus faria se estivesse em seu lugar.
Realmente aquilo foi como uma chama que ardeu em meu
coração. Entendi que não importa para Deus quem você é
ou o que você pode oferecer, realmente, o preço que Jesus
pagou naquela Cruz, alcançou a todos.

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Quando Fredy e os jovens que citei no inicio do livro foram


massacrados naquele acidente, analisei e cheguei à
conclusão que não era para ter sido daquela forma. Jesus já
havia sido massacrado em seus lugares, conforme está
escrito no livro de Isaías, capítulo 53 e versículo 5 “Mas
ele foi transpassado por causa das nossas
transgressões, foi esmagado por causa das nossas
iniquidades; o castigo que nos trouxe paz estava
sobre Ele, e pelas suas feridas fomos curados".
Nossa conduta de vida e opção de andar em caminhos
perigosos, nos coloca em situações de risco, e risco de vida.
Pense quantas vezes Deus já te livrou de alguma situação
de risco; quantas vezes você já esteve exposto à uma
fatalidade por opção própria, e obteve um grande
livramento. Saiba que quem te livrou não foi uma mera
sorte e sim Jesus.
Tanto eu como Fredy já havíamos sido livrados de várias
situações de risco.
A mesma velocidade que nos emociona é a que pode nos
matar. O mesmo sexo que nos proporciona um imenso
prazer é o mesmo que pode nos causar um dano
irreparável.
Mas, como eu disse, você tem a sua escolha própria e isso
ninguém pode mudar ao não ser você mesmo.
Eu decidi não mais pagar para ver até onde as emoções
momentâneas me levariam e deixei Deus mudar minha vida
a tempo.

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Lembro-me de uma passagem da Bíblia no livro de Lucas,


capítulo 19 nos versículos de 1 ao 9 que fala a respeito
da vida de um cobrador de impostos que prestava serviço
ao império romano, cujo nome era Zaqueu. Ele era o chefe
dos cobradores e o líder que comandava todo esquema de
extorsão, ou seja, ele cobrava mais do que era devido e
embolsava uma grande parte daquele dinheiro. Era odiado
pelo povo daquela região, que o consideravam um traidor,
por causa das suas atitudes.
Jesus entrou na cidade e Zaqueu queria vê-lo, mas, uma
grande multidão estava à frente dele e, como ele era de
baixa estatura, não conseguiria ver Jesus passar.
Zaqueu, o chefe dos cobradores de impostos, um homem
considerado rico, no texto bíblico, correu e subiu em uma
árvore para ver Jesus. Quando Jesus ia passando e chegou
embaixo da árvore, chamou a Zaqueu e lhe disse para
descer porque, naquele dia, iria pousar em sua casa.
De imediato todo o povo se revoltou e murmuravam entre
si dizendo que Jesus iria se hospedar na casa de um
pecador.
Jesus não se importou com as críticas e foi em frente à
casa de Zaqueu, que lhe recebeu com grande alegria e foi
impactado pelo amor de Cristo, que lhe mostrou um novo
caminho e lhe deu Salvação. Zaqueu deixou o roubo e
devolveu tudo que tinha extorquido do povo.

Ele teve a coragem de deixar o orgulho e sua posição de


líder para subir em uma árvore e ver a presença de Jesus.
Trazendo para os dias de hoje, pode- se dizer que Zaqueu
seria o chefe da Receita Federal naquela região.
Imagine um líder da Receita Federal correndo em uma rua
e subindo em uma árvore para ver um homem passar!
A atitude de Zaqueu comoveu Jesus, pois ele não se
importou em se rebaixar a ponto de ser visto como um
ridículo.
Os que se diziam “santos” não chamaram tanto a atenção
de Jesus como aquele homem pecador e de pequena
estatura.
Um dos maiores obstáculos que pode impedir a alguém de
ter uma experiência com Deus é o orgulho.

É impossível criar um relacionamento com uma pessoa se


não permitirmos que ela faça parte da nossa vida, ou seja, é
impossível você conhecer o plano de Deus para sua vida, se
não abrir mão do orgulho e permitir-lhe entrar em seu
coração.
Outros não conhecem a Deus, porque não suportam
religiosidade. Eu lhe digo que, o próprio Jesus também não
suportava a religiosidade. Leia o Novo Testamento e você
vai ver. Jesus trouxe o amor e não a condenação. O amor
dele mudou a vida de Zaqueu e fez dele um novo homem,
algo que a religião da época jamais conseguiria fazer.

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A morte e a ressurreição de Jesus, representam uma


aliança entre o ser humano e Deus. Funciona como um
caminho de acesso ao Criador e nos leva a ter uma vida em
abundância e paz. E depois dessa caminhada na terra,
viveremos ao lado de Cristo por toda eternidade.
Parece estória de conto de fadas, mas esta é a maior
verdade que vêm sendo anunciada há mais de dois mil
anos, porque ainda há muitos que valem a pena.

Nesse período que você está lendo esse livro, quantas


pessoas já devem ter falecido no Planeta Terra? Milhares.
Todas tiveram uma caminhada nesse mundo e não levaram
nem os retrovisores dos seus carros para olharem para trás
e ver o que foi deixado.
Saiba que tem algo além disso tudo que você está vendo
e vivendo. Você, não acaba aqui.

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Eu descobri que ainda havia uma chance para fazer uma


melhor caminhada pelo planeta Terra. Não precisava mais
provar nada para ninguém e aquele fardo poderia ser
retirado das minhas costas. Mesmo no caminho escuro em
que eu escolhera andar, Jesus já me amava e ansiava por
me ver ao seu lado. Não interessava o que eu tinha feito de
errado, tudo já havia sido pago naquela Cruz e o perdão
estava consumado.
Tenha certeza que o preço foi pago por você também,
permita-se ser transformado pela Palavra de Deus e
baseado em tudo que Jesus fez e continua fazendo por
multidões, posso dizer com toda convicção e fé que Você
Vale a Pena!!!

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vocevaleapena.com

1 Coríntios cap. 13

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos


anjos, e näo
tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o
sino que
tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e
conhecesse todos
os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse
toda a fé, de
maneira tal que transportasse os montes, e näo
tivesse amor,
nada seria...

Para informações sobre como o autor pode falar com sua


organização ou seu grupo, por favor
entre em contato com:
Lander Fleury Xavier
-
Facebook: Lander Fleury
-
e-mail: landerfleury@hotmail.com
AGRADECIMENTOS

Amigo é como um diamante raro que não se acha em


qualquer lugar. Amigo chora e ri com você. Amigo exorta,
amigo abraça, amigo dá e não pede nada em troca. Amigo
não permite que outros te difamem, amigo é escudo, amigo
é mão estendida quando se está a ponto de cair no
precipício, amigo é irmão, amigo, às vezes é pai, e às vezes
é mãe.
Baseado nestas palavras quero agradecer a grandes
amigos, que jamais me abandonaram, mesmo quando lhes
falhei ou não agradei.
Leandro Jorge Xavier, homem que foi de extrema
importância na minha vida. Obrigado por tudo pai.
Antônio Souza Andrade (Toim), amigo que me apoiou em
momentos difíceis de minha vida.
Iara Fleury, ajudadora e mulher sábia. Você é meu
tesouro!
Luciano Fleury, meu amado irmão que parece durão, mas
chora com um simples abraço. Te amo Lu.
Leandro Fleury, uma pedra preciosa em minha vida,
obrigado por ser o ator de nossa família.
Suzzan Sharon, obrigado pelo seu amor sincero.
Solange Fleury, mãe obrigado por ter me amamentado e
me carregado em seus braços, por ter me amado e
educado.
Társis Fleury, não tenho como te agradecer, você fez o
impossível por nós. Vô, você é um grande exemplo de
caráter, eu te amo.
Leonardo Martins Gonçalves, brother que sempre esteve
presente e ora por minha vida.
Leonardo Macedo, você vale a pena! Obrigado amado
irmão.
Alexandre Ribeiro, companheiro que sempre esteve
pronto para ajudar, fosse qual fosse o problema.
Leonardo Martins (Negão), obrigado por ter ido atrás de
mim naquele dia e impedido que eu fizesse uma loucura. Te
amo brother.
Tio Wagner (Wagueta), sem palavras tio, eu te amo muito
cara!
Alexandre Xavier, primo, obrigado por ter vindo me visitar
aqui nos EUA. Foi muito importante ter você conosco.
Fernando Tavares, você deixou saudades brother. Queria
que estivesse conosco hoje.
Hugo Messias, obrigado por ter me falado algumas
verdades que eu precisava ouvir.
Pastor Firmino, amigo que acredita em meu chamado e
ora por mim, juntamente com toda a sua Igreja em Angola,
África.
Evangelista Nelson, amigo do Canadá que fez uma grande
diferença na minha forma de pregar o evangelho.
Evangelista Welder, amigo que me fez entender que, a
Noiva do Senhor é também “a Igreja que ainda não foi
alcançada”.
Pastor Maurílio Diogo, mano, muito obrigado por ter me
discipulado. Você faz parte de tudo aquilo que Deus tem
feito através de minha vida.
Pastora Adriana, orações que fizeram efeito e
atravessaram as nações. Valeu Pastora!
Mário Marques, grande professor de história.
Daniel (Profeta) Intercessor imbatível.
Pastor Fernando Carvalho, obrigado pelo amor em me
ensinar a Palavra de Deus e por seus 30 anos de ministério.
Pastor Beto Carvalho, obrigado por todas aulas que me
deste.
Pastor Márcio Oliveira, muito obrigado por tudo,
companheiro.
Gislaine, muito obrigado amiga, por tudo que fizeste por
minha casa.
Paulo Klein, obrigado por sempre me ajudar com palavras
de ânimo.
Charles e Miriam Lima, obrigado amigos, por todo apoio e
conselhos.
Fabrício Ferraz, muito obrigado por tudo que fizeste para
essa obra se espalhar pelo planeta terra.
Luis Carlos Ribeiro, valeu, brother, pela ajuda e
compreensão.
Thiago Mendes e Claudion Neto, Creso Silva, Leandro,
Flávio, Nágela, valeu por tudo!
Igreja Mensagem de Paz, obrigado a todos irmãos
que fazem ou fizeram parte deste ministério: Pastor
Adalberto, Pastora Annita, você é uma mãe. Adelmo, Reylla,
Fabrícia, Marcelo Gonçalves, Ângelo, Eloisa, Rogério,
William, Humberto, Romário, Toninho, Ademir, Doralice,
Danny, Dora, Pastor Max, Pastor Milson, Pastor Soário,
Pastor Ednilson. Vocês são maravilhosos!
Pastor Lorenço, muito obrigado por ter semeado em
minha vida.
Igreja Luz Para os Povos, Pastor Sinomar, Pastor Cleber,
Pastor Mauro, sou grato a todos vocês.
Silvibel e Marsibel, obrigado meus irmãos, vocês são
especiais.
José Geraldo, Shirlei e Lílian, muito obrigado pelas
orações.
Lúcia Alves, obrigado por tudo que fizeste por minha
família.
Orlando Fleury, Brother você sempre vai morar em meu
coração.
Matheus e Sara, muito obrigado pelas palavras de ânimo!
Vocês são muito especiais para minha vida.
Gusttavo Matteucci, valeu por todas orações e o amor de
toda sua família.
Paulo Lopes, VOCÊ VALE A PENA! Grande brother!!
Pastor Sérgio Ponce, muito obrigado pelas palavras de
vitória.
Grande amigo Ladslau, muito obrigado por ter me ajudado
tanto na América... Queridos, é impossível citar a todos
pois, se o fizesse, não conseguiria terminar esta obra.

“A Graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus,


e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos
vós.” 2 Co 13:13

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