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E-BOOK -X X X- CONTEÚDO EXCLUSIVO -X X X- W W W. F I N C L A S S .C O M


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E-BOOK -X X X- CONTEÚDO EXCLUSIVO -X X X- W W W. F I N C L A S S .C O M
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INTRODUÇÃO
CAP. I

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A história monetária brasileira é de destruição
do valor da moeda. Voltei no tempo, peguei a
história desde a época do Império Romano, e
para minha grande surpresa, a história da mo-
eda no Império Romano também é de destrui-
ção do valor da moeda. Comecei a me atentar,
principalmente, em certos momentos do ciclo
econômico, para essa classe de ativos que man-
tém o valor - o grande objetivo de uma reserva
de valor - para que você não sofra os efeitos
da inflação e da destruição monetária que ge-
ralmente acontece com moedas sujeitas a um
monopólio governamental.

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Comecei a investir com 17 anos por influência
do meu pai, em 2006. Naquele ano, praticamen-
te tudo que você comprasse em Bolsa estava
subindo, não importava se era bom ou ruim. Ha-

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via fundos de investimento que cobravam taxa
de administração de 3 a 4% para investir em

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uma única ação, esses fundos subindo 50, 60,
70%, alguns até dobrando de valor no ano.
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Passei em um concurso do Exército, ganhava
400 reais por mês, resolvi pegar parte desse
valor e começar a investir. Fui ao hoje extinto
Banco Real, adquirido depois pelo Santander;
procurei uma opção de investimento que acei-
tasse um aporte de 100 reais, que era 25% do
que eu ganhava, e havia uma única opção de
fundo. Por coincidência, era um fundo até inte-
ressante, porque investia em algumas empresas,
não só em uma.

Era um fundo de ações, e já tinha uma preocu-


pação, porque tinha empresas que não eram en-

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volvidas em esquemas de corrupção, com preo-
cupação ambiental, quase um antecessor dessa
política que vemos hoje do ESG, Environmental,
Social and Governance. Investi e depois de dois
meses o fundo tinha rendido 40%. Um grande

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resultado proporcional, mas em termos absolu-
tos não era muita coisa; afinal, investi 100 reais
e tinha 140. CONTEÚDO EXCLUSIVO
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Mesmo assim, aquilo mudou uma chave na mi-
nha cabeça. Comecei a fazer contas de juros
compostos, sabia que um dia conseguiria che-
gar ao meu objetivo de liberdade financeira.

Desde então, fui estudando mais sobre o assun-


to, fui investindo mensalmente. Quando tinha
20 anos, defini uma meta de ter, até os 30 anos
de idade, 1 milhão de reais. Depois, essa meta
mudou, porque descobri a inflação, também es-
tudando; com 1 milhão em 1994 comprava-se
muito mais coisas do que se compra com 1 mi-

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lhão de reais hoje; então, mudei essa meta para
viver de renda.

O que seria viver de renda? Queria que meu pa-


trimônio acumulado tivesse algum tipo de renda
maior do que aquilo que eu ganhava na minha

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profissão da época, como oficial do Exército.

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Nem sempre valorizei o papel da reserva de
valor dentro do meu portfólio, um erro devido
à minha ignorância na época. Não tinha para-
do para estudar a história das moedas no Brasil,
demorei para conhecer, verdadeiramente, o que
era o conceito de inflação, e por conta disso,
não via tanto valor em ouro.

Depois, quando descobri o bitcoin, inicialmente


não via como uma possível reserva de valor, não
considerava essa classe de ativos no meu por-

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tfólio. Eu pensava, como muitas pessoas ainda
pensam, que devia comprar apenas ativos que
gerassem caixa e me pagassem juros. Não via
porque mobilizar uma parte do capital em um
metal amarelo que não faria nada, ficaria parado

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dentro do cofre de um banco.

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Apenas para citar um exemplo extremamen-
te atual, podemos pegar os dados da Bolsa de
Valores de Caracas, na Venezuela. Eles têm um
índice chamado IBC, que seria o Índice da Bol-
sa de Valores de Caracas, que iniciou o ano de
2020, em torno de 90.224 pontos. Esse índice
subiu muito, subiu mais de 1.000%, terminando
o ano de 2020 uma pontuação acima de um 1
milhão e 332 mil pontos, isso dá uma rentabili-
dade de uns 1.300%.

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Você deve estar pensando, “Nossa, que mara-
vilha investir na Bolsa de Caracas, o socialismo
deu certo. Viva Bolívar!”; e não é assim, porque
nesse mesmo período nós tivemos uma infla-
ção calculada pelo próprio governo venezue-
lano acima de 3.000%. Então, de que adianta a
Bolsa subir 1.300% se a moeda desvaloriza em
mais de 3.000%; e isso não aconteceu só na Ve-
nezuela, isso já aconteceu no Brasil, aconteceu
na Argentina, no passado e agora, aconteceu
em vários países do mundo que sofreram com
esses efeitos.

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Durante esse período, se um venezuelano tivesse alocado parte do
seu capital em algum daqueles elementos que reúnem as caracte-
rísticas necessárias para que possam ser considerados uma reserva
de valor, ele teria protegido seu capital de maneira a não sofrer os
efeitos dessa grande desvalorização da moeda, que pode, inclusive,
ser muito maior do que esse número que foi divulgado pelo governo
venezuelano.

Se é para medir a inflação, nós pegamos o aumento do preço dos itens


no mercado. Como você faz para medir o aumento do preço de itens
que estão faltando no mercado, já que na Venezuela existe um grande
desabastecimento por conta do grande intervencionismo do governo,
e uma total falta de liberdade econômica?

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Pense no seguinte: vemos diversas pessoas fa-
lando no mercado que, para você ficar rico com
investimentos no longo prazo, basta que faça
igual ao que Warren Buffett fez: compre ativos
durante 50 anos e espere que alguns deles se
valorizem muito, enquanto outros podem não
dar certo; mas esses que vão se valorizar muito,
tendem a compensar as perdas, que possam vir
a acontecer com os outros ativos ao longo do
caminho - isso é uma meia verdade.

Vamos pensar no exemplo de um Warren Buffett


Venezuelano, que comprou os melhores ativos
que a Venezuela tinha ao longo dos últimos 20
anos. No final, como já vimos aqui, a Bolsa pode
ter subido muito, mas devido à grande desva-

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lorização da moeda, ele está incrivelmente po-
bre hoje em dia, mesmo comparado com outros
venezuelanos que não investiram - ele vai estar
praticamente no mesmo lugar, com a diferença
de que, pelo menos o venezuelano que não in-

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vestiu, ainda consumiu mais no presente.

Ele fez um sacrifício se abstendo do consumo CONTEÚDO EXCLUSIVO

no presente para construir um patrimônio maior


no futuro, mas como a moeda desvalorizou de-
mais, ele não conseguiu o objetivo.
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Isso seria óbvio se ele estivesse atento às con-
sequências econômicas do que estava aconte-
cendo na Venezuela, e investisse em algo que
fosse uma reserva de valor. Pelo menos, teria
conservado parte do seu patrimônio, o que lhe
daria a possibilidade de ir para um outro país e
utilizar essas estratégias vencedoras do Warren
Buffett em um mercado que não foi altamente
perdedor.

Uma coisa que confundem muito é achar que a


trajetória do mercado é a trajetória de um indi-
víduo: não é. Para que isso aconteça, o indiví-
duo tem que estar vivo; e se, simplesmente, ele

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abrir mão, pensando que pode só contar com a
estratégia simples de comprar ativos, sem ob-
servar o ciclo econômico, a inflação, e sem uma
reserva de valor portfólio; em determinados
momentos, pode acabar igual ao venezuelano

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pobre, ao invés de acabar como Warren Buf-
fett, que ficou rico.
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Eu sou Bruno Perini e essa
é a minha Finclass.
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VALOR?
RESERVA DE
O QUE É UMA
CAP. II

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O que é uma reserva de valor? Existem algumas
características que tornam certos elementos
uma reserva de valor; outros acabam sendo ex-
cluídos por não a possuírem.

São cinco características para que algo seja


considerado reserva de valor: é necessário que
o elemento seja ao mesmo tempo escasso, não

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deteriorável, negociado em mercado global,
tenha um longo histórico de aceitação, e pos-
sua, na ausência de melhores palavras, um cer-
to valor intrínseco.

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Escassez
Se algo for muito abundante, o valor tende a
ser menor. Por que a areia vale tão pouco, en-
quanto o ouro ou os diamantes valem muito?
Simplesmente porque a areia é extremamente
abundante, enquanto o ouro e diamantes são
escassos.

Existem reportagens falando sobre uma possí-


vel mineração de metais preciosos em outros
planetas, com a evolução tecnológica; sobre
meteoros de ouro que estão rondando a terra.

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Já vi uma reportagem que falava “se conseguir-
mos pegar um meteoro de ouro e minerar, todos
ficariam milionários”; mas não, isso não aconte-
ceria, porque se o ouro passasse a ser abundan-
te, seu preço cairia muito e poderíamos ver o

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ouro sendo tão usado quanto qualquer outro
metal barato - as pessoas colocariam portas de
ouro, piso de ouro. CONTEÚDO EXCLUSIVO
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O ouro desperta uma atração no homem há mui-
to tempo; incluindo as culturas antigas, que não
tinham contato entre si, valorizavam o ouro por
diferentes motivos; mas a questão é que essa
escassez é importante.

Citando um exemplo histórico muito conhecido:


a corte de Napoleão III, sobrinho de Napoleão,
que governou a França na metade do século
19: Napoleão III guardava lingotes de alumínio
- conhecido por nós, hoje, como um metal usa-
do para embrulhar sanduíches - no cofre, como

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algo extremamente valioso, e tinha talheres de
alumínio separados para os seus convidados
mais ilustres em banquetes. Os outros convida-
dos, não tão ilustres, tinham que se contentar
com meros talheres de ouro; o alumínio era mui-

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to valorizado porque era tremendamente escas-
so, até mais do que o ouro.
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O processo de mineração do alumínio não havia
evoluído, era muito complicado separar o alumí-
nio de outros metais, para fazer lingotes de alu-
mínio ou talheres de alumínio, era preciso achar
um bom pedaço do metal puro, ou submetê-lo
a processos caríssimos para separá-lo.

Com a evolução tecnológica, o processo ficou


cada vez mais barato, e no começo do sécu-
lo 20, o alumínio já havia caído muito de pre-
ço, enquanto o ouro, que permaneceu escasso,
manteve o seu valor - por isso a escassez é im-
portante.

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Negociação Global
A próxima característica para ser considerado
uma reserva de valor é que o elemento tem que
ser negociado em um mercado global. O ouro é
negociado no mercado global, não há distinções
claras entre o ouro que é produzido na Améri-
ca do Sul, na Austrália, ou nos Estados Unidos.
Na China, existe uma distinção por falsificações
no teor de pureza, mas somente por isso há um
desconto no preço do ouro de lá. Se não hou-
vesse a falsificação, o ouro teria o mesmo preço
no mercado global, e outros elementos também
passam nessa característica. Prata, café, soja; as
commodities, no geral; o próprio petróleo tem

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barris diferentes, mas de modo geral, é negocia-
do como uma mercadoria global.

No entanto, das commodities citadas, maté-


rias-primas negociadas no mercado global que
não têm muita distinção entre si, algumas não

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passariam em outros critérios. Esse critério da
negociação global também acaba barrando um
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elemento que é conhecido por muitos como re-
serva de valor (na minha opinião, não se enqua-
dra) - as terras.
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Você pode pensar, terras são escassas, terras
podem ser negociadas com pessoas de fora do
país - posso, como brasileiro, vender um apar-
tamento, uma casa para um estrangeiro, ela não
se deteriora com o tempo; as construções po-
dem se deteriorar, mas basta que você construa
algo novo, ou se usa a terra para plantio, e plan-
te novamente alguma coisa ali, corrija possíveis
defeitos daquela terra -, elas possuem valor in-
trínseco, e têm um longo histórico de aceitação
- terras são valiosas desde sempre.

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Por que as terras não se enquadram como re-
serva de valor?

Porque enquanto o ouro, a prata, e os outros


elementos têm portabilidade, as terras não po-

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dem ser entregues - elas ficam no local para
que a pessoa venha e tome posse.
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Você pode considerar vários exemplos históri-
cos de terras mantendo o valor do patrimônio,
como já aconteceu no Brasil durante tempos
anteriores ao Plano Real. Nós sofremos com um
longo histórico de inflação muito alta, uma hipe-
rinflação em algumas vezes.

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No período do Brasil de 1954 a 1994, até o co-
meço do Plano Real, nós tivemos 40 anos inin-
terruptos de inflação de no mínimo dois dígitos;
às vezes, três; às vezes, quatro dígitos. Durante
esse período prolongado, as terras mantiveram
o seu valor no país, o que leva muitos brasileiros
a acreditarem que “quem investe em terra não
erra”.

Contudo, pense no caso de países socialistas: o


que adiantava ter terras como reserva de valor

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na Rússia Imperial, se, em 1917, os revolucioná-
rios bolcheviques liderados por Vladimir Lenin
falaram: o que era seu, agora é nosso, do gover-
no. A sua reserva de valor deixou de preservar
o valor do seu patrimônio, graças ao poder de

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uma canetada lastreada com alguns canos de
fuzis.

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Por isso, as terras seriam algo interessante para
preservar valor, mas até certo ponto. Elas po-
dem ser confiscadas com muito mais facilidade
do que se confiscaria o ouro. O ouro também já
foi confiscado em 1933 pelos americanos - e não
estamos falando de Hitler confiscando ouro na
Alemanha, estamos falando sobre os líderes do
mundo livre confiscando o ouro de sua própria
população, e punindo a população com multa
de 10 mil dólares ou cadeia para quem não qui-
sesse entregar o ouro.

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Felizmente, o governo americano não che-
gou ao cúmulo de invadir a casa das pessoas
em busca desse ouro; mas, se invadisse, como
ouro é portátil e é possível concentrar grandes
quantidades de riqueza em pequenos espaços,

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as pessoas ainda conseguiriam se proteger
escondendo o metal, muito diferente do que

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acontece com as terras.
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não deteriorável
Uma reserva de valor tem que ser algo não de-
teriorável. Havia um grego antigo, Simônides de
Ceos, que falava “O tempo tem dentes afiados
que devoram tudo, até mesmo as coisas mais
sólidas”.

Já citei que café, soja, e petróleo são negocia-


dos em um mercado global; mas porque a soja e
o café, embora sejam escassos - produzidos em
grande quantidade, logicamente são abundan-
tes, mas ainda há algum tipo de limitação - não
podem ser enquadrados como reserva de valor?

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Por que ninguém fica acumulando soja, pensan-
do em passar isso para as próximas gerações?
Porque é um alimento, tem um prazo de vali-
dade para aquilo; já o ouro, a prata, o bitcoin ,

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até mesmo o dinheiro normal, reais ou dólares,
como não tem prazo de validade, acabam se

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encaixando melhor dentro dessa característica
de ser algo não deteriorável.
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A joia de ouro mais antiga já achada na história da hu-
manidade data de 6.500 anos atrás. Uma joia de ouro,
produzida há milênios, até hoje permanece com as mes-
mas características: o metal permanece dourado, com

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sua coloração amarela, que chamou a atenção de muita
gente durante a Antiguidade; inclusive de civilizações
que não tinham contato entre si, todas acabaram valori-
zando o ouro de alguma forma; seja para uso monetário,
seja para uso religioso, ou uso na indústria de adornos.

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Já outros metais, que não tinham essa mesma caracte-
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rística, como por exemplo o cobre (que torna as coisas
mais esverdeadas, através de reações com outros ele-
mentos); ou ferro (que enferrujando com o passar do
tempo); acabaram não sendo utilizados como reserva
de valor, porque perdiam suas propriedades ao longo
do tempo.
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Histórico de Aceitação
Uma reserva de valor tem que ter um longo his-
tórico de aceitação; e quanto mais longo o his-
tórico melhor, pelo chamado Efeito Lindy. Um
termo cunhado pelo matemático e escritor Nas-
sim Taleb, que observou uma dinâmica entre co-
mediantes americanos que se reuniam em uma
loja chamada Lindy, que vendia cheese cakes e
outros lanches.

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Os comediantes que já estavam na carreira há
mais tempo, cerca de 20 anos, tendiam a ter
um tempo de carreira mais longo no futuro; e
aqueles que apareciam do nada com um suces-
so repentino ao longo de um ano, geralmente

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sumiam no ano seguinte.

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Quem tinha um histórico grande de trabalho,
geralmente tinha mais tempo de expectativa

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quanto ao seu trabalho no futuro; já aqueles que
tinham um histórico pequeno, geralmente não
tinham muito mais tempo de carreira à frente.

Pegando isso das coisas orgânicas, como acon-

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teceu com os comediantes, para as inorgânicas,
acabamos observando a mesma coisa. O ouro,
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que já é valorizado há milhares de anos, pro-
vavelmente será valorizado por mais tempo; o
alumínio já foi valorizado durante um curto es-
paço de tempo e acabou perdendo seu valor
também em um curto espaço de tempo. A mes-
ma coisa acontece com outros metais.
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Aquilo que tem esse histórico de negociação
muito antigo, já consolidado, tende a ser uma
melhor reserva de valor comparado àquilo que
é muito novo. Nós já temos até mesmo uma ima-
gem mental, e ninguém precisa ensinar para as
crianças que o ouro é valioso, elas ouvem tanto
isso, temos na cabeça que o ouro tem valor.

Uma vez me perguntaram: por que o ouro tem


tanto valor se ele não serve para nada? Devolvi
a pergunta: se ele não serve para nada, por que
tem tanto valor? Se o ouro ficasse muito bara-
to, várias pessoas começariam a usá-lo, deixa-
riam de usar bijuterias para usar somente joia de

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ouro, colocariam ouro como objeto de decora-
ção, piso, porta, quadros; mas como ele é caro,
não acontece.

Contudo, repare que esse longo histórico joga

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muito a favor de certos elementos, e contra ou-
tros que veremos mais à frente, que podem ser
enquadrados com uma reserva de valor - mas CONTEÚDO EXCLUSIVO

com certas ressalvas no histórico de aceitação.


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Valor Intrínseco
Não gosto muito do termo “valor intrínseco”,
porque passa a impressão de que as coisas têm
um valor fixo e imutável, o que já foi uma ideia
econômica. Adam Smith, o pai do liberalismo;
Karl Marx, que tinha a ideia do valor do trabalho,
de que as coisas deveriam ter um valor compa-
tível com o trabalho utilizado para produzi-las
- mas a ideia caiu por terra com o conceito que
veio do Carl Menger, do valor mutável das coi-
sas, ou seja, subjetivo até, de maneira que duas
pessoas podem olhar o mesmo item e valorizar

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de modo diferente.

Um grande exemplo é o próprio mercado de


arte. De vez em quando, nós vemos algum tipo
de obra de arte, principalmente, aquelas mais
modernas como mictório no meio da sala, ou

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uma banana pregada num quadro com uma fita.
Para mim, não vale nada, mas algumas pessoas
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chegam a dar milhões em leilão para ter a posse.
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Por que o valor das coisas é subjetivo? O valor
vai variar devido à oferta e demanda: aquilo que
é mais escasso, tem uma oferta limitada e uma
grande demanda, tende a ter um valor mais alto;
o que é abundante e não tem demanda, tende a
ter um valor mais baixo.

Um outro ponto é o chamado teorema da utili-


dade marginal decrescente, do mesmo econo-
mista Carl Menger, da Escola Austríaca. Ele cita-

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va o exemplo do diamante vs. o copo de água.
Um diamante é algo escasso, não deteriorável,
tem um longo histórico de aceitação, é negocia-
do no mercado global, e as pessoas valorizam
muito mais do que um simples copo de água - a

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água é extremamente abundante.

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Contudo, se você está vagando no deserto durante dois
dias, sem água, com um monte de diamantes no seu bol-

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so, e de repente um comerciante aparece e oferece um
copo d’água, mas fala “esse copo custa um dos seus dia-
mantes.”.

Você trocaria um diamante por um copo d’água? Muito


provavelmente, na situação, sim, porque nesse estágio

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em que você depende de água para sobreviver, e os dia-
mantes não têm nenhum tipo de serventia no seu bolso
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- mostrando como o valor das coisas muda de acordo
com as condições a que o indivíduo ou a população es-
tão submetidos.
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Interessante também notar que você até pode-
ria comprar um copo de água por um diamante;
um segundo copo de água por outro diaman-
te, talvez até um terceiro, dependendo da sede;
mas, se você bebesse três, quatro, cinco copos
de água, e já estivesse satisfeito, você não tro-
caria mais um diamante por um copo de água,
porque veria que tinha dado diamantes demais,
e já estaria com a sede saciada; de agora em
diante esses diamantes passam a valer mais do
que a água.

Por isso não gosto da ideia de valor intrínseco,


mas como podemos interpretar dentro de uma

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ótica de uma reserva de valor? Pensando que
aquilo tem que ter valor por outros motivos que
não só os atuais, como o dinheiro. Tenho aqui
uma nota de 1 real e por que essa nota tem va-
lor? Porque o papel tem um custo, a tinta utili-

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zada na nota também, mas esse é um custo bai-
xo - não é por isso que o real tem valor; ele tem

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valor porque o governo falou “Isso aqui vale um
real e todo mundo dentro do território nacional
é obrigado a aceitar esse tipo de moeda”.
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Repare que, se não houvesse essa obrigação da
aceitação, um curso forçado da moeda, não te-
ria valor nenhum - afinal, é só papel colorido,
deveria valer menos que um papel em branco;
em um papel em branco, posso desenhar; já o
dinheiro, não posso fazer mais nada com ele.
Observe que o papel, em si, tem um valor in-
trínseco muito baixo. Já o ouro, por mais que
as pessoas deixassem de valorizar o ouro como
um recurso financeiro, uma proteção, ele ainda
tem algum tipo de uso industrial.

Tudo bem que, se fôssemos utilizar o ouro ape-

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nas para uso industrial, o valor dele tenderia a
ser muito mais baixo, aquele valor percebido
pelas pessoas. Contudo, ele tem um certo va-
lor intrínseco; a prata, a mesma coisa, tem um
uso industrial, possui um certo valor intrínseco.

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E quando falarmos de O bitcoin, será que ele
possui um certo valor intrínseco? Bem, veremos
isso mais à frente. CONTEÚDO EXCLUSIVO
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A questão do valor
intrínseco é importante para
entendermos o que é uma
reserva de valor
de fato.

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Pegando essas cinco características e resumin-
do, vamos lembrar: tem que ser escasso, nego-
ciado no mercado global, não deteriorável, com
longo histórico de aceitação, e possuir, na au-
sência de melhores palavras, algum valor intrín-
seco.

Para fechar este capítulo, vamos pensar no


exemplo da construção de um portfólio com
três carteiras diferentes, uma totalmente com-
prada em S&P 500, que é o índice da Bolsa de

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Valores Americana, composta pelas 500 maio-
res empresas do país; vamos pensar em uma ou-
tra carteira comprada apenas em ouro; e pensar
em uma terceira carteira com 80% em SP 500
e 20% em ouro, que seria um elemento com as

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cinco características da reserva de valor.

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Nessa comparação, o melhor desempenho veio para a carteira mista
entre S&P 500 e ouro, observando o ciclo econômico, talvez não tives-
se ouro durante todo esse caminho. Entretanto, ele acabou diminuin-

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do a volatilidade do portfólio, e dando uma rentabilidade final mais
alta, com menos variação. Muita gente pensa “Não vou ter uma reser-
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va de valor no meu portfólio porque, afinal, o ouro não paga juros, não
produz fluxo de caixa”.
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Observe que, quando a Bolsa caiu, o ouro se-
gurou um pouco o desempenho da carteira; e
quando a Bolsa subiu durante muito tempo, o
ouro até pode ter ficado para trás, mas, na mé-
dia, como você poderia subir 25% do que a Bol-
sa sobe, ficando para trás, porque o ouro não
tem um desempenho tão bom em certos perí-
odos; mas na hora que cai, cai apenas 20% do
que a Bolsa cai, porque o ouro segurou o seu
portfólio.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Ao longo do tempo, como você tende a subir
mais percentualmente do que cai, e a Bolsa sobe
caindo, e cai subindo - ela está sempre com al-
gum nível de volatilidade - o ouro deixaria o seu
portfólio menos volátil e, dependendo do ciclo

-X X X-
econômico, poderia entregar uma melhor renta-
bilidade com mais segurança.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

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37
DA MOEDA
FUNCIONALIDADES
CRIAÇÃO E
CAP. III

E-BOOK -X X X- CONTEÚDO EXCLUSIVO -X X X- W W W. F I N C L A S S .C O M


Vamos falar agora sobre a criação e as funcio-
nalidades da moeda. Pensemos primeiro em
uma economia antiga, na qual as pessoas fa-
ziam o escambo; pense no nível de complexi-
dade que existia para conseguir algo, adequado
para a simples manutenção e sobrevivência do

W W W. F I N C L A S S .C O M
indivíduo.

-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

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Se você era, por exemplo, um criador de porcos e, de
repente, se dá conta de que precisa de uma espada e um
escudo para defender as suas terras, então você vai até

W W W. F I N C L A S S .C O M
o ferreiro que produz espadas e escudos e fala “Olha,
tenho porcos para trocar por armas”. Porém, o ferreiro
fala “Não como porco, porque sou judeu.

Na verdade, tenho que comer peixe”, você vai até o pei-

-X X X-
xeiro para tentar trocar o seu porco por peixes, só que o
peixeiro fala “Olha, até gosto de porco. Mas agora, que-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
ro maçãs, porque gosto de ter uma dieta equilibrada”.
Você vai até o produtor de maçã levando o seu porco; e,
enquanto isso, talvez o ferreiro já tenha vendido o que
você queria para uma outra pessoa que trouxe os peixes
para ele.
-X X X-
E-BOOK

39
Com menos trocas, a economia crescia menos,
a vida das pessoas era mais miserável. Até que,
naturalmente, as pessoas foram vendo, nem
sempre o ferreiro quer porco, nem sempre quer
peixe, mas ele sempre precisa de sal, porque
todos nós temos que consumir sal de alguma
maneira; e começaram a trocar as suas merca-
dorias por bens que eram mais líquidos.

O termo liquidez significa a capacidade que


algo tem de se transformar em dinheiro; como

W W W. F I N C L A S S .C O M
o sal era um bem muito líquido, acabou sendo
utilizado como dinheiro durante um certo tem-
po - e disso vem a palavra salário. No entanto, o
sal não era um dinheiro adequado, porque nin-
guém quer um dinheiro que, se molhado, desa-

-X X X-
parece.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

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W W W. F I N C L A S S .C O M
Pensemos nos elementos que nós temos, pegando a popular - ou não
tão popular assim - Tabela Periódica. Olhando a tabela periódica, o
que você poderia utilizar como o dinheiro?

De cara, teríamos que cortar o que é gasoso em temperatura ambien-

-X X X-
te, não poderia ter um dinheiro de oxigênio, de nitrogênio, de hidrogê-
nio, até porque um dinheiro de hidrogênio seria altamente explosivo;
CONTEÚDO EXCLUSIVO
ou feito de gases raros, embora sejam raros e escassos - mas como
você faria trocas com dinheiro que não é palpável? Isso pensando em
culturas antigas, porque hoje nós temos um dinheiro digital - aí você
já corta os gases.
-X X X-
E-BOOK

41
Passamos para o que é líquido: por que um di-
nheiro líquido não é bom para ser negociado? É
difícil de ser armazenado - então, também tira o
que é líquido em temperatura ambiente.

Alguns metais já não poderiam ser utilizados


como dinheiro, por exemplo, o mercúrio, que
além de ser líquido em temperatura ambiente,
também é tóxico - demoramos muito tempo

W W W. F I N C L A S S .C O M
para descobrir isso, muitas pessoas morreram
intoxicadas por mercúrio ao longo da história,
durante um tempo foi utilizado como remédio -
mas como moeda não era adequado.

-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

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Seguindo o mesmo raciocínio, também tiramos
outros elementos nocivos ao ser humano, por-
que ninguém quer carregar um dinheiro que vai
deixar o povo doente; tira elementos radioati-
vos, como urânio, porque ninguém quer um di-
nheiro que cause câncer; e você vai ficando res-
trito a um grupo cada vez menor de elementos.

Dentro desse grupo, temos alguns metais que


eram raríssimos, a ponto de dificilmente serem
encontrados - como foi o caso do alumínio até a
mudança do seu processo de mineração; outros
metais são deterioráveis, e não resistem à ação
do tempo, como o ferro; vão perdendo suas ca-
racterísticas, como o cobre, que vai mudando
de cor.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Fechando cada vez mais o grupo, nós chega-
ríamos a alguns poucos metais que poderiam
ser utilizados como moeda, porque teriam uma
relativa escassez, mas não tão grande a pon-

-X X X-
to de serem encontrados somente em regiões
muito particulares do Globo; e apresentariam
uma facilidade na cunhagem de certos objetos CONTEÚDO EXCLUSIVO

por culturas primitivas que não tinham acesso à


metalurgia avançada como nós temos nos dias
de hoje.
-X X X-
E-BOOK

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W W W. F I N C L A S S .C O M
Que metais seriam esses? Seriam basicamente oito: prata, platina, pa-
ládio, ródio, irídio, ósmio, rutênio e ouro. Só que dentre esses oito me-
tais, o único dourado era o ouro, os outros eram parecidos. O rutênio

-X X X-
é mais escuro do que a prata, a platina é um pouco mais clara, mas
todos são mais ou menos prateados.
CONTEÚDO EXCLUSIVO
Algumas características interessantes que nós já vimos na reserva de
valor: além de serem escassos, não se deterioram, têm um longo his-
tórico de aceitação, foram valorizados por diferentes culturas que ti-
nham zero ou pouco contato entre si.
-X X X-
E-BOOK

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Quando os espanhóis chegaram na América,
no século 16, viram que embora astecas e incas
não utilizassem moeda, eles valorizavam tanto o
ouro quanto a prata. Para os incas, o ouro era o
suor do Sol, e a prata eram as lágrimas da Lua;
então, aquilo tinha um valor tanto por termos
religiosos, quanto para confecção de artefatos.

Pegando esses poucos elementos, as culturas


começaram a fabricar moedas para dinamizar
as trocas comerciais, e essas moedas têm três
características precípuas e básicas, e sem essas
três características fica difícil que algo se torne
uma boa moeda.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Quais seriam elas? A primeira coisa é que uma
moeda é utilizada como um meio de troca; se
uma moeda não é aceita por ambas as partes,
então aquela não é uma boa moeda. A segunda

-X X X-
característica é que a maioria tem que ser uma
unidade de conta, as pessoas possam facilmen-
te fazer planos, programações e contratos utili- CONTEÚDO EXCLUSIVO

zando aquilo como uma unidade de referência.


-X X X-
E-BOOK

45
A terceira coisa é que moedas devem ser uma
reserva de valor, porque se não forem, as pes-
soas tendem a não querer acumular aquelas
moedas. Acúmulo de capital leva à poupança,
o excesso de poupança leva ao surgimento de
um mercado de crédito; e, através do mercado
de crédito, a economia tem mais trocas e cresce
mais.

Citando exemplos de moedas antigas: a primei-


ra moeda é do ano 650 A.C., cunhada pelos an-

W W W. F I N C L A S S .C O M
tigos reis da Lídia e são moedas famosas, carís-
simas hoje em dia. Foram feitas de uma liga de
ouro e prata chamada electro. Infelizmente, não
sou rico o suficiente para ter uma dessas moe-
das, mas tenho uma outra moeda muito antiga

-X X X-
chamada de tetra dracma de prata, da cidade-
-Estado de Atenas.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

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De um lado tem a coruja, símbolo da sabedoria associada à deusa
Atena, e do outro lado a própria figura da deusa Atena. Essa moeda

W W W. F I N C L A S S .C O M
foi cunhada entre os anos de 450 e 400 a.C, a cidade de Atenas se
preocupava com a pureza da prata e buscava fazer moedas muito si-
milares: elas tinham que ser parecidas, com o mesmo peso, com a efí-
gie da deusa Atena, mostrando que haviam sido cunhadas por aquela
cidade, que praticamente se transformaram numa unidade monetária
na região da Grécia.

-X X X-
Repare que ela possui todas as características de uma moeda. Era um
adequado meio de troca; era uma reserva de valor - afinal, ela é feita CONTEÚDO EXCLUSIVO

de prata, e a prata bate em todos os critérios já citados anteriormente,


e também era uma unidade de conta, a ponto dos antigos gregos po-
derem fazer contratos utilizando a moeda como referência.
-X X X-
E-BOOK

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Uma outra questão interessante podemos ana-
lisar através dessa moeda feita por Felipe II. Ele
era da Macedônia, uma região tida pelos gregos
como uma região bárbara; falavam um idioma
diferente, eram vistos como pessoas atrasadas
- com exceção de Aristóteles que, apesar de ter
uma ligação com a Macedônia, era admirado
pelos gregos, exceto durante um período em
que ele teve que fugir de Atenas, achando que
podia ser morto devido à xenofobia que existia
pelo que acontecia na Grécia por Filipe II e seu
filho Alexandre.

O interessante dessa moeda é que Filipe II, du-


rante muito tempo, tentou competir nos Jogos

W W W. F I N C L A S S .C O M
Olímpicos, mas não era aceito. Até que conse-
guiu anexar uma região da Grécia, e ganhou o
direito de disputar como um grego. Ele ganhou
os Jogos Olímpicos em três modalidades dife-
rentes, em três edições diferentes. Na primeira

-X X X-
que ganhou, no ano de 356 a.C, queria espalhar
a notícia para os gregos - porque a crença era
CONTEÚDO EXCLUSIVO
de que se você ganhasse os Jogos Olímpicos,
você devia ser favorecido pelos deuses, e isso
facilitaria um processo de dominação do Filipe
sobre a Grécia.
-X X X-
E-BOOK

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W W W. F I N C L A S S .C O M
Como ele fez isso? Enviou mensageiros para diferentes cidades? Não.
Ele até fez isso também, mas cunhou uma moeda comemorativa com
Zeus de um lado, e no seu anverso, há um cavaleiro dando a sua volta

-X X X-
olímpica - porque a primeira modalidade que ele ganhou na Olimpíada
foi uma corrida de cavalos - dessa forma, ele conseguiu a simpatia dos
CONTEÚDO EXCLUSIVO
gregos e cunhou uma moeda que chegou até aos nossos dias, porque
foi feita num metal que não se deteriora com o tempo.
-X X X-
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Esparta demorou muito tempo para começar a
cunhar moedas - e sabe por quê? Porque em Es-
parta a economia era baseada em mão de obra
escrava. Os Hilotas produziam, enquanto os es-
partanos se dedicavam ao treinamento militar.

Como a economia não tinha muitas trocas, os es-


partanos demoraram muito tempo para cunhar
uma moeda, mostrando que a própria criação

W W W. F I N C L A S S .C O M
de uma moeda veio a favor da liberdade; por-
que com ela, fica mais fácil das pessoas fazerem
trocas voluntárias, enquanto sem ela, não tinha
trocas, mas sim a dominação de alguém mais
forte sobre o mais fraco.

-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
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51
CAP. IV

FIDUCIÁRIAS
E AS MOEDAS
INFLAÇÃO

E-BOOK -X X X- CONTEÚDO EXCLUSIVO -X X X- W W W. F I N C L A S S .C O M


No capítulo anterior, falamos sobre um breve
histórico de criação da moeda, mostrando como
a moeda foi uma evolução natural tão boa, que
passou a ser adotada por culturas que tiveram
contato com ela, para dinamizar as trocas. No
entanto, quando falamos de história da moeda,
não podemos deixar de falar sobre a história da
destruição da moeda através da inflação.

A inflação é um conceito explicado de forma


diferente por diferentes escolas econômicas.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Aqui no Brasil, costumamos chamar de infla-
ção o simples aumento dos preços. Utilizamos
esse tema de uma forma muito errônea, falando
sobre a inflação do tomate, a inflação do arroz,
utilizando essa palavra, que deveria mostrar um
aumento generalizado nos preços, para alguns

-X X X-
poucos itens.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

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O aumento de um único item pode estar rela-
cionado a questões de oferta e demanda: as
pessoas começaram a demandar mais, porque
descobriram que tal alimento tem propriedades
curativas, antioxidantes, boas para a saúde; ou
teve um problema de safra que ocasionou uma
diminuição da oferta, enquanto ainda há uma
demanda muito grande, levando ao aumento
dos preços. Falar de inflação de um item espe-
cífico não faz absolutamente nenhum sentido,
pensando na inflação quanto à definição.

Para a Escola Austríaca de Economia, que é


uma escola de que gosto bastante pelo pensa-

W W W. F I N C L A S S .C O M
mento e linha de raciocínio, a inflação não seria
um aumento dos preços, mas a consequência
de um aumento da oferta monetária - essa, sim,
responsável pelo surgimento da inflação; não
só agora, como em épocas muito, muito anti-

-X X X-
gas. Se citamos a Grécia Antiga para falar so-
bre o surgimento das moedas, citaremos agora
Roma, na sua fase de República e Império, para CONTEÚDO EXCLUSIVO

falar sobre o mal chamado inflação.


-X X X-
E-BOOK

53
INFLAÇÃO
Essa é a moeda feita por Sula, ditador que go-
vernou Roma, durante o período do século II
a.C., já chegando próximo do século I a.C. Pri-
meiro, vamos falar o que era um ditador. Roma
era uma república; e então, o Senado escolhia
seus representantes, seus cônsules. Em um perí-

W W W. F I N C L A S S .C O M
odo de grande turbulência, o cônsul poderia ter
poderes absolutos, e no período de Sula houve
uma guerra civil.

-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

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W W W. F I N C L A S S .C O M
A moeda de Sula, feita de prata, pesa 4 gramas. O nome dessa moeda
é denário, que vem de denaro (dinheiro em italiano); dinar, utilizado
pelos muçulmanos durante muito tempo; diñero, em espanhol; e em
português dinheiro. O denário seria o começo do dinheiro moderno,

-X X X-
foi introduzido em Roma mais ou menos em 200 a.C., com um peso de
4,5 gramas de prata.

Na época de Sula, que enfrentou uma guerra civil e teve que cunhar CONTEÚDO EXCLUSIVO

mais moedas para poder enfrentar essa ameaça, o denário já pesava


4 gramas. Depois de Sula, tivemos mais alguns governantes até o tér-
mino da República com Júlio César, e começamos a fase do Império.
-X X X-
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W W W. F I N C L A S S .C O M
A moeda do primeiro imperador romano, Otaviano Augusto, sobrinho
neto de Júlio César. É um denário, também feito de prata, muito boni-
to, mas já não pesava 4 gramas, pesava 3,8 gramas; e depois, o proble-
ma do peso do denário foi se agravando, até que na época do impera-

-X X X-
dor Commodus (o imperador famoso que aparece no filme Gladiador,
ele entrava no Coliseu para combater gladiadores; a questão é que a
CONTEÚDO EXCLUSIVO
espada dele era muito afiada e a dos outros não tinha fio, então ele ti-
nha uma certa vantagem), no século II d.C., pesava apenas 2,6 gramas.
-X X X-
E-BOOK

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W W W. F I N C L A S S .C O M
Por que o denário foi perdendo seu peso em prata? Porque, com a
mesma quantidade de prata, conseguiam cunhar mais moedas; duran-
te a história do Império Romano, houve um aumento de oferta mone-

-X X X-
tária que ocasionou a diminuição do poder de compra do denário, e o
aumento dos preços do que era negociado em denários. Até porque,
CONTEÚDO EXCLUSIVO
a palavra denário deu origem à palavra moderna dinheiro, mas teve o
seu significado retirado de um dia de trabalho.
-X X X-
E-BOOK

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Originalmente, o denário era o pagamento por
um dia; depois de muito tempo, com a degrada-
ção da moeda, o salário passou a ser muito mais
do que um denário por dia trabalhado, porque,
com menos prata, o denário comprava cada vez
menos coisas.

A queda do Império Romano do Ocidente tam-


bém tem a ver com o aumento de oferta mone-

W W W. F I N C L A S S .C O M
tária, que levou a uma desarticulação da eco-
nomia, a um grande aumento de preços, e às
intervenções cada vez maiores feitas pelos im-
peradores da época.

-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
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Ficou famosa a história do imperador Dioclecia-
no, que assumiu após a crise do século III, um

W W W. F I N C L A S S .C O M
período em que Roma trocava de imperador a
todo instante; foram mais ou menos vinte impe-
radores em um período de cinquenta anos - o
que é muita coisa, considerando que, durante o
início do Império, houve cerca de 26 imperado-

-X X X-
res durante quase duzentos anos.

Com as trocas e uma falta de mentalidade de


CONTEÚDO EXCLUSIVO
longo prazo, o denário foi ficando cada vez mais
leve em prata, até que desapareceu da econo-
mia romana. Eles passaram a utilizar moedas
feitas de uma liga com um pouquinho de prata
e muito cobre, chamada bilhão, em que cerca de
-X X X-

5% da moeda era prata, comparado aos 100%


de antigamente.
E-BOOK

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W W W. F I N C L A S S .C O M
Durante a crise, com preços aumentando, Diocleciano

-X X X-
tabelou os preços do Império Romano. A desobediên-
cia ao imperador, era a morte no Coliseu, para ser comi-

CONTEÚDO EXCLUSIVO
do por leões - o que era um grande estímulo para que
as pessoas respeitassem o tabelamento de preços.
-X X X-
E-BOOK

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W W W. F I N C L A S S .C O M
Contudo, assim como no Brasil, na época do governo Sarney, o tabe-

-X X X-
lamento de preços na época de Diocleciano levou à escassez de bens.
Se você proíbe as pessoas de venderem as mercadorias pelo preço
que deveriam custar, coloca um preço tabelado, às vezes, abaixo do CONTEÚDO EXCLUSIVO

custo de produção, o fazendeiro romano que queria vender o seu li-


tro de leite por 10 denários, mas devido a um decreto do imperador
não poderia vender por mais de 5 denários, observava que não valia a
pena vender o leite, porque são 6 denários para produzir. Então, parou
de vender e começou a transformar o leite em queijo.
-X X X-
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61
O imperador foi lá e tabelou o queijo. Ele viu que
o preço do queijo não era atrativo, pois gastava
mais para produzir. Ele parou de vender o queijo
e começou a consumir, e às vezes, até matou a
vaca para poder vender a carne. O imperador,
no seu édito de preços máximos, estabeleceu o
preço da carne.

A restrição à atividade econômica ficou tão


grande, que os romanos começaram a sair das
cidades e voltar para o campo para cultivar e
sobreviver do que cultivavam - sem comércio.
Foram se fechando nas vilas romanas, e quan-
do o império caiu, já estava todo mundo nas vi-
las. Foi um pulo para se transformar nos feudos,
porque muitas vezes parece que tocaram um
sino e acabou a Roma das togas, e todo mundo

W W W. F I N C L A S S .C O M
virou cristão dentro de um feudo, senhores da
nobreza, e não foi uma transição rápida, foi gra-
dual, e muito por causa da inflação.

Apesar dos vários erros cometidos no passado,


que nos levaram a um aprendizado, hoje co-

-X X X-
metemos o mesmo tipo de erro ao aumentar
a oferta monetária, muito além do aumento da
CONTEÚDO EXCLUSIVO
produção dos bens na economia, se você come-
ça a ter muito mais dinheiro circulando do que
bens, a quantidade de dinheiro começa a com-
petir por bens escassos, levando ao aumento
dos preços, e isso é a inflação.
-X X X-
E-BOOK

62
Lastro das Moedas
Com o conceito de inflação como aumento da
oferta monetária definido, é interessante falar
sobre algo que existiu durante boa parte da his-
tória da humanidade: o lastro em metais.

Já falei de várias moedas de prata, e agora vou


falar de uma moeda de ouro do imperador Nero,
um sujeito que não era muito querido pelos ro-
manos e foi culpado de botar fogo em Roma,
embora nem em Roma ele estivesse. Em todo
caso, a moeda tinha um lastro em algum tipo
de metal; para mais moedas produzidas, era ne-
cessário ter mais metal acumulado; segurava o
processo inflacionário de algum modo, evitando
que ele fosse muito grande.

W W W. F I N C L A S S .C O M
-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

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Esse tipo de lastro em metal, que acaba sendo
um lastro na escassez, esteve presente durante
boa parte da história da humanidade. O sécu-
lo 20 foi um século extremamente tumultuado.
Nós tínhamos um lastro em ouro no começo do
século 20, que foi quebrado no período da Pri-
meira Guerra Mundial.

Um filósofo grego chamado Heráclito, muito co-


nhecido pela ideia de que as coisas estão em
permanente mutação - aquela frase que diz que
você nunca poderá mergulhar duas vezes nas
águas do mesmo rio, porque nem o rio será o
mesmo, e nem você - falava que a guerra é a
mãe de todas as coisas.

W W W. F I N C L A S S .C O M
De fato, podemos colocar a guerra também
como a mãe da inflação. Estados lutando pela
sobrevivência, não tinham mais ouro para
cunhar mais moeda, e começaram a aumentar a
oferta de papel moeda, sem ter o lastro em ouro

-X X X-
respectivo. Depois da guerra, eles viam como
resolver e, geralmente, a medida resultava em
um novo acordo econômico. Durante o come- CONTEÚDO EXCLUSIVO

ço do século 20, havia um lastro em ouro. Por


causa da Primeira Guerra Mundial, o lastro foi
modificado.
-X X X-
E-BOOK

64
No final da Segunda Guerra Mundial, tivemos novamente uma mo-
dificação, em que o dólar assumiu um papel central na economia
mundial, que antes era ocupado pela libra. O dólar passaria a ter um
lastro em ouro, e todas as moedas teriam um lastro em dólar.

Durante esse tempo, aparece em um gráfico utilizado pelo autor


Jeremy Seagal, quando compara rendimentos de diferentes aplica-
ções, ouro ainda era dinheiro e tem uma performance quase linear
do ouro, durante bastante tempo, porque dinheiro não paga juros.

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CONTEÚDO EXCLUSIVO
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Como não paga juros, se ponho dinheiro no ban-
co e recebo juros? Sim, porque você transfor-
mou seu dinheiro em depósito bancário - aquilo
deixou de ser papel moeda, é um meio de troca
que pode utilizar naquele momento de liquidez
máxima, afinal todos são obrigados a aceitar
aquele dinheiro na economia -, um passivo que
o banco tem com você, a obrigação que passa a
ter de devolver aquele valor.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Por isso você recebe juros sobre os depósitos
bancários, mas o dinheiro em si não paga juros,
por isso a performance do ouro era extrema-
mente linear, segurando a inflação da época.

-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
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E-BOOK

66
Esse acordo, que passou a vigorar colocando
o dólar em um papel central, a partir de 1944,
ficou conhecido como o Acordo de Bretton
Woods. Ele vigorou até 1971, quando o governo
americano sofreu um ataque especulativo, nas
palavras do presidente Richard Nixon. Ele fala-
va que vários países estavam querendo acabar
com as reservas de ouro dos Estados Unidos; só
esqueceu de falar que os Estados Unidos frau-
daram um acordo que haviam feito com outros
países.

O acordo era, se o dólar tem um lastro em ouro,


só poderá emitir mais dólares tendo mais ouro
em reservas; mas, como os americanos não dei-
xavam os outros países vistoriarem suas reser-

W W W. F I N C L A S S .C O M
vas de ouro, começaram a criar cada vez mais
dólares, sem ligar para o lastro em ouro, e espa-
lhar aquilo pelo mundo.

Imagine que você cria todo esse dinheiro, e ele

-X X X-
primeiro está nas mãos dos americanos; então,
os americanos podem começar a consumir sem
que o dinheiro rode pela economia toda, au- CONTEÚDO EXCLUSIVO

mentando os preços - esse é o chamado Efei-


to Cantillon, observado pelo banqueiro francês,
Richard Cantillon, no século 18.
-X X X-
E-BOOK

67
Uma bolha especulativa conhecida como a Bolha do Mississippi, em que
o Estado francês começou a emitir muito mais moeda do que tinha em
lastro metálico; essa moeda foi investida na Bolsa de Valores, nas ações
da Companhia do Mississippi, que explorava negócios no Novo Mundo, e
falaram que o Mississippi era uma terra de riqueza sem igual, quando na
verdade era só um grande pântano.

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-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
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68
Essa bolha chegou ao fim, quando alguns fran-
ceses começaram a querer trocar os seus lucros
acionários por metal, e os bancos não tinham
metal suficiente.

Com os Estados Unidos, a história era pratica-


mente a mesma, porque os outros países que
tinham a moeda lastreada em dólares poderiam
a qualquer momento trocar seus dólares por
ouro, junto ao banco central americano.

W W W. F I N C L A S S .C O M
À medida que os países começaram a descon-
fiar que os Estados Unidos estavam fraudando o
acordo, começaram a pedir o ouro para os Esta-
dos Unidos; esse ouro, de fato, saiu dos Estados
Unidos em navios, e os americanos viram que

-X X X-
ficariam sem ouro.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
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-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
Em 1971, o presidente Nixon falou “A partir de hoje, temporariamente,
a nossa moeda não tem mais um lastro em ouro”. Como nada é mais
permanente do que uma política temporária do governo, até hoje,
50 anos depois da medida temporária, as moedas não possuem mais
nenhum lastro real.
-X X X-
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70
Nós vimos em capítulos anteriores que, para
que algo seja considerado uma boa moeda, é
necessário ser um meio de troca, unidade de
conta, e uma reserva de valor; e vimos também
que uma reserva de valor tem que ser escassa
- agora que não há mais nenhum lastro real, o
dinheiro passou a ser algo abundante.

Quando o Banco Central quer, vai lá e cria mais

W W W. F I N C L A S S .C O M
dinheiro. Hoje, esse processo de criação nem é
mais impressão de moeda, porque se fosse, ain-
da haveria algum tipo de limitação física, mas
não, é apertar um botão para que mais dígitos
sejam criados em telas de cristal líquido.

-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
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71
W W W. F I N C L A S S .C O M
Pense no que aconteceu durante a crise de 2020. Nós vivemos, em um
único ano, o aumento da oferta monetária do dólar em mais de 20%.
Isso quer dizer que, de todos os dólares que existem no mundo, 20%

-X X X-
foram criados em um único ano. Se fosse necessário imprimir esse
dinheiro, ainda haveria uma limitação física; como não é necessário, o
dinheiro se transformou em algo quase infinito, criado ao bel-prazer CONTEÚDO EXCLUSIVO

de governos pelo mundo.

Se a inflação vem do aumento da oferta monetária, qual poderá ser a


consequência de uma falta de limite do aumento da oferta monetária
no mundo? Uma desvalorização cada vez maior do dinheiro.
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E-BOOK

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Os governos não escondem que querem fazer
isso. Os países que possuem bancos centrais, e
praticamente todos os países do mundo pos-
suem um banco central há bastante tempo, cos-
tumam ter suas metas de inflação. Pegando a
meta de inflação do Brasil, atualmente está em

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3,75% ao ano, com 1,5 pontos de tolerância, para
cima ou para baixo.

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CONTEÚDO EXCLUSIVO
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O que significa essa meta de
inflação para o nosso país e
para os outros países?
O Banco Central está falando para todos os bra-
sileiros, publicamente, sem esconder nada de
ninguém, que eles pretendem desvalorizar o di-
nheiro que você possui em 3,75%, com uma to-
lerância de 1,5 pontos para cima ou para baixo.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Se todo ano há uma meta de inflação, se sempre
queremos desvalorizar o dinheiro em 5, em 4,
em 3 % ao longo de bastante tempo, coloque
isso em termos de juros compostos e nós temos
a história da destruição monetária das moedas.

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CONTEÚDO EXCLUSIVO
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O próprio real, criado em julho de 1994, é uma
moeda extremamente nova, não possui nem
30 anos. Se fosse um ser humano estaria agora
descobrindo o que ele quer da vida, é basica-
mente essa a história do real.

Qual foi o estrago feito pela inflação dessa mo-


eda tão nova? Simplesmente, desde 1994, o real
perdeu quase 90% do seu poder de compra, e
isso não vai parar agora, porque se nós temos
uma meta de inflação para esse ano, também

W W W. F I N C L A S S .C O M
temos uma para o ano que vem, fixada atual-
mente em 3,5% - o que já acho uma meta extre-
mamente baixa, é muito difícil de ser cumprida
- e se você quer pensar no efeito que a inflação
causa na sua vida, basta lembrar das idas que

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você teve ao mercado desde quando era pe-
queno até os dias de hoje.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
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E-BOOK

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Gosto de usar o exemplo da inflação deixar os
brasileiros mais fortes: quando era pequeno,
meu pai, que era forte, precisava da minha ajuda
para carregar 100 reais, em compras, do merca-
do para a casa; hoje em dia, meu irmão pequeno
consegue carregar 200 reais, em compras, sozi-
nho. Isso mostra como a moeda foi perdendo o
seu poder de compra ao longo do tempo.

Existem alguns índices utilizados, aqui no Brasil,


para que nós possamos medir a diminuição do
poder de compra da moeda. Dois dos mais po-
pulares são o IPCA, o índice de Preços ao Con-
sumidor Amplo, que é uma média da variação,
de certos preços, medidos em diversas cidades
importantes no Brasil, para famílias que ganham

W W W. F I N C L A S S .C O M
entre 1 e 40 salários mínimos.

O outro é o IGPM, muito utilizado para reajuste


de alguns serviços, aluguéis (muita gente cha-
ma até de inflação de aluguel), seguros. O IGPM
costuma ter uma volatilidade mais alta do que

-X X X-
o IPCA, porque o seu cálculo também leva em
conta preços ao consumidor, mas apenas em
CONTEÚDO EXCLUSIVO
cerca de 30% do índice. Tem outros 10% que le-
vam em conta o índice Nacional de Custos da
Construção, o chamado INCC, e 60% que levam
em conta os índices de preços ao produtor.
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W W W. F I N C L A S S .C O M
Podemos ter uma grande discrepância entre medidas de inflação vistas pelo
IPCA e vistas pelo IGPM, porque o que está acontecendo é um grande au-
mento de preços ao produtor, represado pelo produtor, porque ele entende

-X X X-
que, se passar o preço de uma vez, vai perder mercado ou pode até quebrar,
porque o aumento de preço também causa uma diminuição da demanda por
CONTEÚDO EXCLUSIVO
aquele bem.

Se o preço do arroz sobe muito, as pessoas acabam substituindo por outro


tipo de carboidrato - o macarrão pode não ter subido tanto - a mesma coisa
pode acontecer com um produtor, que repassa preços de maneira muito rá-
pida.
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77
O Problema dos Índices
de Inflação
Repare que, quando falamos desses índices, es-
tamos apenas medindo aumentos de preços -
que são consequência de um processo inflacio-
nário, segundo a Escola Austríaca de Economia,
mas não a sua causa. Medir aumento de preços
pode ser extremamente enganoso.

Como já citei, no caso da Venezuela, que tem

W W W. F I N C L A S S .C O M
um grande desabastecimento de mercadorias:
como você faz para medir o aumento de preços
e mercadorias que não existem mais no merca-
do? Um outro exemplo é o caso do governo ar-
gentino, em que fazer medições de preços che-

-X X X-
gou a ser considerado um crime.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
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Somente o governo podia fazer esse tipo de coi-
sa; e se só governo pode medir o aumento dos

W W W. F I N C L A S S .C O M
preços; a medição tende a ser usada em prol do
governo para mascarar o efeito inflacionário.

A minha primeira viagem internacional, feita


no ano de 2012, quando fui para a Argentina;
Buenos Aires é uma bela cidade, gosto muito

-X X X-
da Argentina; mas o que me chamou a atenção
na época, é que, indo ao McDonald’s, havia uma
CONTEÚDO EXCLUSIVO
série de ofertas muito parecidas com as ofertas
aqui no Brasil, ao fazer a conversão da moeda,
mas o Big Mac era extremamente barato.
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Havia uma promoção permanente que colocava
o preço do sanduíche lá embaixo. Achei curio-
so, ainda estava no começo da minha jornada
de aprendizado de economia, fui pesquisar, e
descobri o chamado índice Big Mac, que é usa-
do para medir a inflação em diferentes locais
do mundo pela paridade do poder de compra.
Já que o Big Mac é negociado praticamente no
mundo todo, pode-se comparar o preço do Big
Mac e ter ideia do poder de compra de uma mo-
eda.

Sabendo disso - não há nenhum documento ofi-


cial, pelo menos nunca vi - o governo argentino
pegava os elementos utilizados para a compa-
ração de poder de compra e dava um jeito de

W W W. F I N C L A S S .C O M
fixar um valor mais baixo do que seria o natural
da economia. Mostrando que índices inflacioná-
rios podem vir a ser manipulados por governos
sem escrúpulos.

Por mais que você tenha um índice inflacioná-

-X X X-
rio mediano, um certo aumento de preços, a in-
flação real é calculada para o custo de vida, o
aluguel, o mercado que você consome, a men- CONTEÚDO EXCLUSIVO

salidade da escola do seu filho, pode ser muito


mais alta do que os índices oficiais divulgados
pelo governo ou por agências que têm uma cer-
ta aproximação com o governo.
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Efeitos Devastadores
da Inflação
Para fechar o capítulo dando dois exemplos prá-
ticos do efeito da inflação, nós podemos pensar
primeiro em imóveis. Muitas vezes, você vê al-
guém se gabando de que comprou um imóvel
em 1994, e esse imóvel se valorizou seis vezes
desde então, defendendo que você tem que in-

W W W. F I N C L A S S .C O M
vestir em imóvel, porque é muito mais seguro
do que outros mercados. Porém, se tirar o efeito
inflacionário, muitas vezes a valorização não foi
tão grande assim.

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Não apenas sobre imóveis, como também sobre qualquer outro tipo
de ativo, mesmo os ativos reais. Se pegarmos, por exemplo, um investi-
mento de 100 reais feito no Ibovespa; o índice é formado por cerca das
70 maiores e melhores empresas mais líquidas da nossa Bolsa de Valo-
res, feito no ano 2000, e levado até o ano de 2021, nós veríamos que o
ganho real, retirando o efeito inflacionário de desvalorização do dinhei-
ro, teria sido muito menor, com o seu investimento se transformando
em cerca de 288 reais - ao investir em empresas altamente vencedoras.
Pense no tanto de empresas que quebraram e não estão sendo obser-
vadas em termos de investimento.

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Como última ideia, quero deixar o pensamento
de um economista, Friedrich Hayek, que falava
que a inflação é extremamente nociva, sobretu-
do porque economistas e governos costumam
pensar que pequenos índices de inflação não
são nocivos, mas ao longo do tempo, como nós
vemos através do efeito dos juros compostos,
podemos ver que a inflação seria um juro com-

W W W. F I N C L A S S .C O M
posto ao contrário, ao invés de ser positivo, ela
seria os juros compostos da destruição mone-
tária.

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DÓLAR: A MOEDA
CAP. V

MUNDIAL

E-BOOK -X X X- CONTEÚDO EXCLUSIVO -X X X- W W W. F I N C L A S S .C O M


Chegou o momento de falarmos especificamen-
te sobre uma das moedas mais poderosas do
mundo. Não é a moeda mais valorizada, mas é
aquela que assumiu o posto de moeda de re-
serva mundial, unidade de troca utilizada no co-
mércio mundial, e unidade de conta, já que é
usada para contratos feitos entre países, nego-
ciação de commodities em âmbito internacio-
nal: estou falando do dólar.

Primeiro, temos que pensar porque o dólar tem


essa prerrogativa, como se tornou a moeda

W W W. F I N C L A S S .C O M
mundial e pensar no seu início. Poucas pessoas
sabem, mas o dólar foi escolhido como moeda
oficial dos Estados Unidos, após a sua indepen-
dência em 1776, porque já era uma moeda utili-
zada pelos americanos. O dólar, originalmente,

-X X X-
assim como a libra dos ingleses, nada mais era
do que uma medida de peso, uma prata. Um dó-

CONTEÚDO EXCLUSIVO
lar, em 1792, equivalia a 24,057 gramas de prata.
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E-BOOK

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Tenho um dólar de prata conhecido como American Silver Eagle, que
remonta à época em que o dólar era inicialmente uma unidade de
peso em prata.

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W W W. F I N C L A S S .C O M
Até a década de 60, as moedas de 10 e 25 cen-
tavos americanas ainda eram feitas de prata, o
que gerou um episódio interessante: como o va-
lor da prata era mais alto do que o valor mone-

-X X X-
tário das moedas, pegavam as moedas de 10 e
25 centavos e derretiam para vender como pra-

CONTEÚDO EXCLUSIVO
ta, em vez de utilizarem como moedas em si.
Apesar do dólar ser uma moeda muito antiga,
com 245 anos de existência, passou por um pro-
cesso inflacionário muito menor que o do real,
que tem menos de 30 anos de existência.
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E-BOOK

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Se pegarmos as moedas anteriores, então, nem
se compara - enquanto o dólar é o mesmo des-
de a independência americana. No Brasil, desde
a vinda da Família Real em 1808, fugindo das
guerras napoleônicas, já tivemos dez tentati-
vas de moeda, sendo que somente o real é uma
tentativa bem-sucedida, porque várias outras
foram um completo fracasso. Hoje, o real é a se-

W W W. F I N C L A S S .C O M
gunda moeda mais longeva que temos no Brasil.

Por que a inflação do dólar acabou sendo me-


nor do que a inflação em outras moedas fiduci-
árias criadas por governos?

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CONTEÚDO EXCLUSIVO
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E-BOOK

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A DIFERENÇA DO DÓLAR PARA
OUTRAS MOEDAS
O primeiro motivo é, como já vimos em capítulos
anteriores, a questão do lastro em ouro, que du-
rante muito tempo segurou o valor do dólar. Uma
onça de ouro, que é em torno de 31 gramas, va-
lia 35 dólares pelo Acordo de Bretton Woods. Em
1971, esse acordo acabou, com uma inflação gran-
de no dólar, que chegou até mesmo ao patamar de
dois dígitos durante os anos 70.

W W W. F I N C L A S S .C O M
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CONTEÚDO EXCLUSIVO
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Os americanos, percebendo que o dólar poderia
perder o status de moeda mundial, começaram
a pensar (de uma maneira brilhante, diga-se de
passagem), em termos geopolíticos: como po-
demos garantir que o mundo todo vai continuar
precisando de dólares, agora que o dólar não
tem mais um lastro em ouro para servir como
âncora da economia mundial? “Bom, se as pes-
soas não precisam de dólares agora, porque não
há mais um lastro seguro, do que elas precisam
a ponto de não poder viver sem”? A resposta
foi: o petróleo.

W W W. F I N C L A S S .C O M
“Se todos os países precisam de petróleo, e se
dermos um jeito de garantir que o petróleo só
possa ser negociado em dólares, todos continu-
arão precisando de dólares”. O acordo foi feito,
por isso até hoje os Estados Unidos são aliados

-X X X-
da Arábia Saudita, que levou a uma negociação
do petróleo em dólares, manteve o papel do dó-
lar como uma moeda mundial. CONTEÚDO EXCLUSIVO
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E-BOOK

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Vamos pensar na moeda como qualquer outra
mercadoria, sujeita às leis de oferta e demanda.
Se no nosso país, com nossa moeda exótica, o
real, nós começarmos a imprimir mais notas de
200 reais, ou mesmo com ausência de impres-
são, através do simples apertar de um botão
com a criação de dinheiro eletrônico, a conse-
quência seria um aumento da oferta de reais, ao
mesmo tempo que não há um aumento da de-
manda por reais.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Quem valoriza o real é basicamente o brasilei-
ro e alguns povos vizinhos, na ausência de uma
moeda melhor, já que por mais que o real te-
nha seus defeitos, ainda é melhor do que o peso
argentino, do que o bolívar venezuelano. Con-

-X X X-
tudo, quanto mais você cria reais, menos eles
tendem a valer.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
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E-BOOK

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Para a moeda americana esse mesmo tipo de
dinâmica não existe? Existe, mas o limite para
a criação é muito maior, porque em vez de ser
valorizado apenas por um único país ou alguns
poucos países, como no caso do real, o dólar é
valorizado pelo mundo todo.

Quando japoneses vão fazer negócios com bra-


sileiros, a moeda de referência é o dólar; quando
europeus vão fazer negócios com africanos, a
moeda utilizada é o dólar; quando os chineses
vão fazer negócios com outros países - a China
quer mudar essa dinâmica, mas por enquanto a
moeda utilizada é o dólar.

No dólar há uma dinâmica muito interessante,

W W W. F I N C L A S S .C O M
que foi observada durante o ano de 2020. Devi-
do à crise, os americanos aumentaram muito a
oferta monetária do dólar; e como nós já vimos
neste capítulo, o aumento da oferta monetária
deveria ocasionar uma diminuição do poder de

-X X X-
compra do dólar, todos os preços deveriam au-
mentar contra o dólar.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
No entanto, não foi essa dinâmica que nós ob-
servamos, sobretudo, ao comparar o dólar com
moedas de países emergentes, países com a
economia mais fraca.
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Por quê? Novamente, temos que pensar sob
a ótica de oferta e demanda. Vamos pegar o
exemplo de um empresário, pensando individu-
almente. Vamos supor que você esteja passan-
do por dificuldades devido à crise, e pense em
pegar um empréstimo. Após um breve estudo,
chega à conclusão de que, no Brasil, nós cobra-
mos juros mais altos do que os americanos co-
bram.

Ao pegar crédito nos Estados Unidos, você teria

W W W. F I N C L A S S .C O M
um custo com juros mais baixos, comparado ao
custo que teria no Brasil; e uma outra questão é
que, a todo momento, a mídia mostra o tanto de
dólares que estão sendo criados pelo governo
americano, e dez entre dez economistas falam

-X X X-
que isso não vai terminar bem para o dólar.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
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W W W. F I N C L A S S .C O M
Você, como uma pessoa inteligente, pensa “Bom, se lá fora os
juros são menores do que aqui, e o dólar deve se desvalorizar,
porque estão criando trilhões de dólares, é mais inteligente pegar
crédito lá fora; imagine pegar emprestado com o dólar valendo
quase 6 reais, e quando for pagar o empréstimo, o dólar está va-

-X X X-
lendo 3 reais”. Talvez você nem tenha nada a pagar, você tem até
um ganho na operação cambial.

Agora, vamos pensar que não existe apenas um empresário inteli- CONTEÚDO EXCLUSIVO

gente. Existem milhões de pessoas inteligentes pelo mundo, com


o mesmo raciocínio, pensando em pegar crédito lá fora a juros
mais baixos, porque o dólar vai se desvalorizar.
-X X X-
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Entretanto, se todo mundo pega empréstimos
em dólar, o que vai acontecer é que no tempo
de pagamento dos empréstimos, as pessoas
precisarão de dólares, já que a dívida está feita
na moeda americana e, novamente, oferta e de-
manda: se todos irão querer dólares no futuro, e
o dólar, querendo ou não, ainda é algo escasso,
pode ser criado em volumes cavalares, mas ain-
da escasso (somente os Estados Unidos podem
criar dólares), o que tende a acontecer com um
preço de algo que é muito demandado, mas tem

W W W. F I N C L A S S .C O M
uma oferta menor do que a sua demanda? Esse
preço tende a subir.

Isso explica, em parte, porque os americanos


têm praticamente um superpoder nas mãos,
que é o dólar; por mais que eles criem, o dólar

-X X X-
demora muito mais para perder valor, em com-
paração com outras moedas.
CONTEÚDO EXCLUSIVO
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Um ponto interessante: o dólar é uma reserva
de valor? Pegando os cinco critérios que vimos
anteriormente, não. Apesar de ser escasso, ele
pode ser produzido em quantidades cada vez
maiores; os políticos americanos podem decidir
produzir muito mais dólares do que já tivemos
em termos de produção pregressa.

Em alguma hora, esse efeito do aumento da


oferta monetária poderá chegar até os Estados
Unidos. Ainda assim, o dólar é uma moeda mui-
to melhor em termos de preservação de valor
do que várias outras moedas pelo mundo. Ló-
gico que não é a melhor moeda - pensando nas
moedas fiduciárias, a mais interessante seria o
Franco Suíço, que foi uma das poucas moedas
que se valorizou contra o dólar ao longo do sé-
culo 20 e século 21.

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CONTEÚDO EXCLUSIVO
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Se voltarmos para a época da Primeira Guerra Mundial, a co-
tação do dólar contra o franco suíço era muito parecida com
a cotação do dólar contra o real agora. Você precisava de
apenas um dólar para comprar cerca de 5,5 francos suíços.
Hoje, essa relação já se inverteu, porque com um dólar você
não consegue mais comprar um franco suíço.

A Suíça conseguiu a difícil tarefa de ter sua moeda se valori-


zando muito contra o dólar americano, que ainda é a moeda
de reserva mundial, um meio de troca e a unidade de conta.
É interessante notar que, na Suíça, também tivemos aumento
de oferta monetária, mas, comercialmente, é menor do que
em outros países, temos uma valorização da moeda suíça
contra outras moedas que foram ainda mais desvalorizadas.

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CONTEÚDO EXCLUSIVO
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DESVALORIZAÇÃO PELO MUNDO
Podemos encontrar no livro A Desestatização do Dinheiro, do eco-
nomista austríaco Friedrich Hayek, que teve a brilhante ideia, alta-
mente heterodoxa em sua época, de imaginar um dinheiro que não
dependesse do Estado. O interessante no livro é o seu apêndice,
que tem uma tabela com a desvalorização monetária de diferentes
moedas em 25 anos, desde 1950 até 1975.

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CONTEÚDO EXCLUSIVO
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Várias moedas, sobretudo aquelas de países
emergentes, se desvalorizaram em 99% ao lon-
go de 25 anos. Havia uma grande fragilidade
monetária a que as pessoas estavam submeti-
das. O dólar americano teve uma inflação inte-
ressante após o final do lastro do ouro, em 1971.
Já a moeda suíça valorizou mais de 60% nes-
se mesmo período. Por que gosto de citar esse
dado? Mostra que, embora o dólar não seja uma
moeda de valor tão interessante, já é uma cama-
da a mais para estar protegido contra a desvalo-
rização do dinheiro.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Vemos isso nos dias de hoje, em exemplos da
Economia do Equador e da economia argentina.
O Equador já abriu mão de ter a sua própria mo-
eda, utilizando o dólar como moeda nacional.
Vendo isso, muitas pessoas se perguntam “Não

-X X X-
seria interessante que o Brasil ou a Argentina
fizessem o mesmo, abolindo o real ou o peso, e
adotando o dólar como moeda?”. CONTEÚDO EXCLUSIVO
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Duvido muito que qualquer político queira fazer
isso, porque, ao adotar uma moeda estrangeira,
cuja emissão sai do seu controle, eles perdem
o poder de imprimir mais moeda para pagar os
crescentes gastos de governos, e nenhum políti-
co vai adotar essa medida enquanto ela não for
absolutamente necessária. Tendo o poder de in-
flacionar a moeda, políticos tendem a fazer isso
até a hora que não podem fazer mais, devido ao
crescente caos econômico.

No caso argentino, que não adotou o dólar como


moeda, temos uma coisa interessante, porque
embora o governo oficialmente não o tenha fei-
to, a população já usa dólares para quase tudo
que fazem de modo cotidiano. Várias negocia-

W W W. F I N C L A S S .C O M
ções, contratos, vendas de imóveis, acontece
em dólar. Na Argentina não se tenta vender um
imóvel por não sei quantos milhões de pesos -
eles fixam um preço em dólar.

No Brasil, o mesmo tipo de coisa já aconteceu

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em épocas anteriores ao Plano Real, sobretu-
do, no período hiperinflacionário da década de
CONTEÚDO EXCLUSIVO
1980. As moedas da época não eram mais um
bom meio de troca, porque o preço mudava
todo dia. As pessoas queriam se ver livres da
moeda da maneira mais rápida possível.
-X X X-
E-BOOK

100
Há outros exemplos históricos disso, como na
República de Weimar, Alemanha, após a Primei-
ra Guerra, os alemães recebiam um salário duas
vezes ao dia, para que eles pudessem fazer as
compras pela manhã e pela tarde, já que os pre-
ços não paravam de subir.

No Brasil, tivemos quase um episódio assim; a


moeda, além de não ser um bom meio de troca,
também não era unidade de conta, você não sa-
bia o valor que ela teria nos dias seguintes, ape-
nas sabia que seria um valor menor, mostrando
até um certo componente inercial da inflação:
depois que ela começa a ter uma velocidade
muito grande, as pessoas pensam que ela vai

W W W. F I N C L A S S .C O M
continuar mantendo essa velocidade.

Por último, como a moeda não era uma reserva


de valor, ninguém a acumulava, usando o dólar
para fazer poupança. No Brasil dos anos 80, na
Argentina atualmente, e em vários outros países

-X X X-
submetidos a dinâmicas altamente inflacioná-
rias e muitas vezes até hiperinflacionárias, com
CONTEÚDO EXCLUSIVO
inflações tão grandes a ponto de nós, na nossa
cabeça linear de seres humanos, não consegui-
mos imaginar em termos de aumento de preços.
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101
DOLARIZAÇÃO EM
MERCADOS EMERGENTES
Vamos ver como esse componente inflacioná-
rio mais forte nas moedas emergentes do que o
dólar poderia afetar os seus investimentos. Pri-

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meiro, pegando o valor do dólar desde os anos
2000 até o ano atual.

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102
W W W. F I N C L A S S .C O M
Nos anos 2000, o dólar estava sendo negocia-
do, mais ou menos, na casa de 1,79 reais; hoje, o

-X X X-
preço está em torno de 5,70, mostrando a gran-
de desvalorização do real no período. Pegando

CONTEÚDO EXCLUSIVO
o exemplo dos 100 reais investidos no índice
Bovespa nos anos 2000 até hoje: ao longo de 11
anos o seu ganho teria sido de apenas 50%, se
você pensasse no patrimônio em dólar, que é a
moeda de reserva mundial.
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E-BOOK

103
Tanto que os rankings de bilionários, quando
vão comparar a fortuna um do outro, ninguém
pensa em comparar em bolívares soberanos, em
pesos ou em reais: a comparação é sempre em
dólar, mostrando que, tendo o dólar como uma
primeira camada de proteção, estaria melhor do
que tendo uma moeda emergente.

Vale lembrar que o dólar não é uma adequada


reserva de valor, porque ele está perdendo va-
lor, mas de maneira mais lenta do que outras
moedas ao longo do tempo.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Em suma, nós podemos falar que o dólar é a
melhor moeda do que outras moedas, que já vi-
mos, porque perde valor de maneira mais lenta,
mesmo assim, não seria uma adequada reserva

-X X X-
de valor pensando em termos globais porque
ainda assim sofre um processo inflacionário.
CONTEÚDO EXCLUSIVO
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E-BOOK

104
105
DO OURO
O PODER
CAP. VI

E-BOOK -X X X- CONTEÚDO EXCLUSIVO -X X X- W W W. F I N C L A S S .C O M


Em 2010, tive a oportunidade de fazer um inter-
câmbio na Academia Militar de West Point, que
forma os oficiais do exército americano. Como
estão sempre em guerra, acabei tendo instrução
com militares que participaram de operações
no Iraque e no Afeganistão.

Alguns eram forças especiais que foram para lu-


gares muito remotos no mundo, e o que me cha-
mou a atenção é que, ao ir para essas missões,
os americanos levavam sempre dólares, porque,
como já vimos, é moeda de reserva mundial, a
mais utilizada, mais demandada.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Quando o local era tão remoto ou tão fechado,
a ponto de talvez a população não conhecer o
dólar - e é muito difícil que a população não co-
nheça o dólar - eles também levavam ouro, para

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que pudessem utilizar como meio de troca. Nes-
te capítulo, quero falar um pouco mais sobre o
poder do ouro. CONTEÚDO EXCLUSIVO
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E-BOOK

106
Primeiro, gostaria de dar um exemplo lúdico,
pensando que estou convidando-o para fazer
uma viagem no tempo comigo. Vamos supor
que eu falasse que estou ganhando dinheiro
no mercado financeiro, porque vim do futuro; e
vindo do futuro, sei o que vai acontecer.

Quero convidá-lo para viajar 50 anos para o fu-


turo comigo, e falo “A passagem é por minha
conta, nós vamos entrar na minha máquina do
tempo, mas você tem que levar algum meio de
pagamento, algum tipo de dinheiro para pagar
pelos seus custos lá na frente”.

W W W. F I N C L A S S .C O M
O que você colocaria na mala? Colocaria o real,
que em menos de 30 anos já perdeu quase 90%
de poder de compra? Colocaria o dólar, que
como já vimos é uma moeda melhor, mas vai sa-
ber o que vai acontecer com o dólar daqui a 50

-X X X-
anos ou você colocaria aquilo que já tem valor
há milhares de anos e provavelmente continuará
CONTEÚDO EXCLUSIVO
tendo valor no futuro, o ouro?
-X X X-
E-BOOK

107
Não sei como você preencheria a mala, mas a minha teria bas-
tante ouro, porque se formos pensar naqueles cinco critérios
que definem algo como uma reserva de valor, o ouro é um dos
poucos elementos que consegue bater todos.

Ele é escasso: se formos pegar todo o ouro que já foi produ-


zido durante toda a História da Humanidade, segundo dados
do World Gold Council (Conselho Mundial de Ouro), nós tería-
mos cerca de 2,5 piscinas olímpicas de ouro, isso pensando em
todo o ouro produzido no planeta Terra.

W W W. F I N C L A S S .C O M
-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

108
O ouro também tem um longo histórico de acei-
tação, já que é valorizado desde épocas imemo-
riais; além disso, é negociado em um mercado
global; não se deteriora; e possui um certo valor
intrínseco, porque as pessoas valorizam o ouro
mais do que o seu uso financeiro ou seu uso in-
dustrial; algumas culturas do passado, até por
motivos religiosos; muita gente por motivos es-
téticos; o ouro seria a reserva de valor perfeita,
no sentido de bater todos os atributos anterior-
mente citados.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Pensando no poder do ouro como uma proteção
contra ciclos inflacionários, podemos analisar
um breve comparativo feito entre o desempe-
nho do Ibovespa e o desempenho de uma apli-
cação em ouro realizada no nosso país, ambos

-X X X-
feitos no melhor dia possível para você comprar
ações, durante a crise de 2008.
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

109
W W W. F I N C L A S S .C O M
Mesmo comprando no melhor dia possível, e levando
até o dia de hoje, a Bolsa subiu muito desde a época,
em termos nominais. Vamos considerar inflação, dólar,
já vimos que não é bem assim na história, mas o ouro

-X X X-
teria ganhado o desempenho do Ibovespa.

Isso acontece porque - vamos pensar de uma maneira


CONTEÚDO EXCLUSIVO
simples - se a Bolsa de um país tem algum tipo de cor-
relação com a liberdade econômica, com seu capitalis-
mo, com a capacidade dos empresários gerarem mais
riqueza e o ouro avançar devido à desvalorização mo-
netária, ele ficaria constante, seria a moeda que estaria
-X X X-

caindo em relação ao ouro.


E-BOOK

110
O que é mais forte no nosso país? O capitalismo
ou o desejo do governo, aquele que controla a
máquina de imprimir dinheiro, de desvalorizar o
poder da moeda? Como já vimos, existem me-
tas públicas de inflação mostrando o que vai ser
feito ao longo do tempo. Nesse comparativo fei-
to desde 2008, o que nós vemos é que o ouro
ganha, porque o desejo de desvalorizar a moe-
da acaba sendo mais forte.

Pensando no ouro, como ativo de proteção:

W W W. F I N C L A S S .C O M
tem um desempenho muito interessante du-
rante períodos inflacionários, quando a moeda
perde valor de maneira mais rápida. Como um
caso inicial, podemos citar o já explorado fim de
Bretton Woods em 1971, quando a moeda ame-

-X X X-
ricana deixou de ter lastro ouro.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

111
W W W. F I N C L A S S .C O M
Se em 1971, 35 dólares compravam uma onça de
ouro, na medida de mais ou menos 31 gramas
de ouro, o que aconteceu ao final da década é
que, para comprar a mesma onça de ouro, eram

-X X X-
necessários cerca de 860 dólares, uma valori-
zação de impressionantes 2.357% ao longo de

CONTEÚDO EXCLUSIVO
uma década. Você pode até pensar, “Mas dados
passados não garantem dados futuros” e con-
cordo absolutamente.
-X X X-
E-BOOK

112
Como já disse, o ouro tem valor porque é escasso
e outras coisas podem acontecer na economia
afetando o valor do ouro; contudo, a sua capaci-
dade de proteção em crises passadas continua
também em outros episódios de crises como,
por exemplo, a bolha das empresas Pontocom
no começo do século 21, a bolha do Subprime

W W W. F I N C L A S S .C O M
americana, a crise imobiliária nos anos 2008, e
na crise de 2020.

-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

113
W W W. F I N C L A S S .C O M
O ouro, inicialmente, caiu de valor, e depois recuperou valor mais
rápido do que outros ativos financeiros. Fazendo um comparativo

-X X X-
entre três portfólios: o primeiro portfólio, com uma exposição de
50% ao S&P 500 e mais 50% ao ETF de IAU, que é um dos maiores
CONTEÚDO EXCLUSIVO
ETF de ouro negociados no mercado. Um segundo portfólio, com
70% de S&P e 30% de IAU. E o terceiro portfólio com 100% de S&P.
-X X X-
E-BOOK

114
Vemos que o portfólio com maior exposição a
S&P acabou sendo vencedor, analisando uma
janela temporal de 2006 a 2021. Contudo, ele
também apresentou muito mais volatilidade,
com uma queda máxima de 50%, enquanto os
portfólios com ouro tiveram uma queda máxima
de 34 e 26%.

Lembrando que, quando algo cai 50%, é ne-


cessário que tenha um ganho de 100%, apenas
para compensar a queda; e por mais que ambos

W W W. F I N C L A S S .C O M
os portfólios com ouro, um com 30% e o ou-
tro com 50%, não tenham sido os vencedores, a
rentabilidade não ficou tão distante; enquanto a
volatilidade ficou muito mais baixa, o Indicador
Sharpe é bem mais atrativo. Lembrando que a

-X X X-
trajetória do mercado pode não ser a trajetória
do indivíduo.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

115
Imagine que veja seu patrimônio caindo em
50%, e não acontece descolado do restante do
mundo. A Bolsa não cai 50%, porque o mundo
está com um céu de brigadeiro - geralmente, as
coisas também estão piorando - pessoas estão
perdendo emprego, negócios estão quebran-
do, e muita gente seria obrigada a vender nesse
momento, porque não teriam uma outra alter-
nativa.

Já as pessoas que têm ouro no portfólio, com


uma queda menor, teriam, provavelmente, mais
coragem de continuar no mercado e se fossem
de todo modo obrigadas a vender sua posição,
teriam perdido menos no período.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Logicamente, o ouro não tem só qualidades, até
porque, se não tivesse nenhum tipo de defeito,
muito provavelmente estaríamos utilizando o
ouro como unidade monetária, como um meio
de troca, e isso deixou de acontecer há bastante

-X X X-
tempo, sobretudo se formos pensar no ouro não
como lastro da moeda, mas efetivamente como
CONTEÚDO EXCLUSIVO
a moeda em si. Então, vamos pensar sobre al-
guns dos problemas que o ouro teve ao longo
do tempo.
-X X X-
E-BOOK

116
OS PROBLEMAS DO OURO
Primeira questão: para aceitar uma moeda de
ouro, é necessário ter a confiança de que a mo-
eda não foi adulterada; e como vimos, a história
das moedas metálicas é uma história repleta de
adulterações e diminuições no teor e no peso da
prata e do ouro ao longo do tempo.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Um outro ponto, é que o ouro sempre foi extre-
mamente valioso, tornando difícil sua troca em
negociações de pequenos valores.

-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

117
Tenho um grama de ouro, basicamente, uma fo-
lhinha maleável, que até explica algumas das ce-
nas que costumamos ver nos cinemas quando,
por exemplo, um caubói morde uma pepita de
ouro. Como o ouro é extremamente maleável,
o que o caubói espera é que a marca do den-

W W W. F I N C L A S S .C O M
te fique na pepita, comprovando que, de fato, é
ouro.

No momento em que escrevo este capítulo, vale


mais ou menos 300 reais, um grama de ouro.
Imagine como fazer para adquirir um pão pa-

-X X X-
gando com grama de ouro. Teria que fracionar
quantas vezes? Como vou segurar 1/100 grama
CONTEÚDO EXCLUSIVO
de ouro para passar para o comerciante? Será
que ele vai acreditar que é ouro de verdade?
Talvez não acredite, talvez tenha ressalvas. Até
por isso o ouro quase nunca esteve sozinho no
sistema financeiro, sempre acompanhado de
-X X X-

outros metais como a própria prata.


E-BOOK

118
Outro ponto é a questão do peso do ouro: ima-
gine transportar grandes quantidades de ouro,
adequadas para comprar um imóvel. Por mais
que você consiga armazenar uma grande quan-
tidade de valor, em um relativo espaço peque-
no, em termos de volume, mesmo assim, o peso
costuma ser muito grande.

Vamos imaginar o volume de um litro, você


pode pegar uma caixa de leite, uma caixa de
suco. Nós temos um litro, mas como está preen-
chido com água ou com suco, um litro tem mais

W W W. F I N C L A S S .C O M
ou menos o peso de um quilo.

Contudo, se retirasse o suco e colocasse ouro


dentro da embalagem, nós teríamos um litro pe-
sando mais de 19 quilos. Imagine o trabalho, e
também como teria que ser o esquema de se-

-X X X-
gurança para transportar grandes quantidades
de ouro por aí.
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

119
Por essas limitações, o ouro acabou sendo subs-
tituído e ficou trancado em bancos. Aí houve a
evolução da moeda para o dinheiro representa-
tivo, em que o dinheiro de papel apenas repre-
sentava o valor do ouro; até que, no final, acaba-
mos perdendo o lastro em ouro.

Contudo, ele continua presente como uma pro-


teção em épocas de crises inflacionárias, mas
vamos pensar em outros períodos não inflacio-
nários, períodos até - embora muito raros den-
tro da economia moderna - deflacionários, nos
quais o dinheiro acaba tendo um aumento em
termos de poder de compra.

Será que o ouro será adequado para esses pe-

W W W. F I N C L A S S .C O M
ríodos? Períodos em que há taxas de juros mui-
to altas, bem mais altas do que a inflação, será
que é necessário ter muito ouro no portfólio? Na
minha opinião, e de grande parte do mercado,
pegando o desempenho histórico do ouro, não;

-X X X-
porque o ouro não paga juros, ele não gera fluxo
de caixa.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
Nessas horas, muitos investidores vendem seu
ouro para investirem em ativos que pagam ju-
ros acima da inflação, e é muito importante ser
observado.
-X X X-
E-BOOK

120
Há o momento para que você tenha mais expo-
sição ao ouro, e há o momento para que você
tenha menos exposição; uma exposição maior
deve ser feita quando temos índices inflacio-
nários acima dos juros da economia, como, por
exemplo, os anos 1970, nos Estados Unidos,
quando a inflação estava acima das taxas de
juros; e há momentos em que você deve dimi-
nuir sua exposição ao ouro, como nos anos 80,
quando os Estados Unidos levaram taxas de ju-
ros para o patamar de dois dígitos, bem acima
da inflação, e valia muito mais a pena vender
o ouro para comprar títulos públicos america-
nos - você ficaria exposto a um dos ativos mais
seguros do mundo, porque tem a garantia do

W W W. F I N C L A S S .C O M
governo americano de pagamento, ganhando
juros reais.

Por fim, vale lembrar o, já citado, confisco do


ouro no ano de 1933: por mais que seja possível
esconder o ouro, mesmo assim o governo ame-

-X X X-
ricano já confiscou. Se aquilo que não aconte-
ceu ainda sempre pode vir a acontecer, o que já
aconteceu tem uma chance maior de acontecer CONTEÚDO EXCLUSIVO

novamente; se já tivemos um confisco do ouro


no passado, nada impede que tenhamos o mes-
mo tipo de política no futuro.
-X X X-
E-BOOK

121
122
DIGITAL: BITCOIN
O OURO
CAP. VII

E-BOOK -X X X- CONTEÚDO EXCLUSIVO -X X X- W W W. F I N C L A S S .C O M


Se já falamos anteriormente sobre o ouro ter to-
das as características necessárias para ser uma
reserva de valor, chegou a hora de falar daquele
que pode ser considerado, segundo tudo indica,
o ouro digital. Estamos falando do bitcoin, a pri-
meira criptomoeda, do mundo.

É bem interessante começar com o termo crip-


tomoeda, porque muita gente fala que o bit-
coin é a primeira moeda digital do mundo, e
isso não é verdade: já tivemos outras tentativas
de moeda digital e as próprias moedas fiduciá-
ria, hoje, são muito mais digitais do que físicas:
quanto dos reais que ganha em um mês você vê,

W W W. F I N C L A S S .C O M
de fato, como papel impresso na mão? A maior
parte, fica em conta bancária e são apenas dí-
gitos em uma tela de cristal líquido, são apenas
bytes e informações.

-X X X-
O que muda do bitcoin, que seria um dinheiro
100% digital, para as moedas fiduciárias? Por-
que quando falamos de dinheiro digital, parece CONTEÚDO EXCLUSIVO

que é uma evolução do bitcoin, mas não é.


-X X X-
E-BOOK

123
A grande evolução do bitcoin é
ser uma moeda descentralizada,
independente de qualquer tipo de
governo. não há uma organização
por trás, não há um dono.

W W W. F I N C L A S S .C O M
-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

124
Gosto sempre de lembrar do exemplo da moeda
digital, que seria criada pelo Facebook, inicial-
mente o nome seria libra. Quando o Mark Zucker-
berg anunciou a criação desse possível novo meio

W W W. F I N C L A S S .C O M
de pagamento, um meio de troca, talvez viesse a
ser quem sabe uma reserva de valor, uma unidade
contrato, australianos negociando com brasileiros
dentro do WhatsApp, do Facebook, Instagram,
sem tirar dinheiro de lá - vai saber quais seriam as

-X X X-
implicações.

Porém, por ter uma organização por trás, para os


governos foi ridiculamente fácil acabar com a mo- CONTEÚDO EXCLUSIVO

eda muito antes de surgir. Chegaram intimações


para o Mark Zuckerberg e para os representantes
da empresa criada, junto com a moeda e a iniciati-
va foi radicalmente adulterada para poder agradar
-X X X-

os governos.
E-BOOK

125
Agora pergunto: para quem você vai enviar car-
tas, no caso do bitcoin? Ele foi criado por um
programador ou grupo de programadores anô-
nimos cujo pseudônimo é Satoshi Nakamoto,
mas ninguém sabe quem é esse camarada. É
interessante falar sobre a própria criação do bi-
tcoin.

O paper do bitcoin, falando como o protoco-


lo iria funcionar, surgiu em 2008, na esteira
da grande crise financeira da bolha imobiliária
americana. A saída para a crise, igual a várias
outras crises que já aconteceram, e possivel-
mente outras que ainda acontecerão, foi criar

W W W. F I N C L A S S .C O M
mais dinheiro, aumentar a oferta monetária.

Como já vimos, o aumento de oferta monetária


(sobretudo se feita em moedas que têm pou-
ca demanda), acarretam na desvalorização das

-X X X-
moedas, na perda do poder de compra, e com
isso todos nós acabamos sofrendo. Os benefi-

CONTEÚDO EXCLUSIVO
ciados são apenas aqueles que ganham dinhei-
ro recém-criado antes, porque conseguem con-
sumir antes que os preços aumentem.
-X X X-
E-BOOK

126
Para acabar com esse tipo de coisa, Satoshi
Nakamoto, uma pessoa ou um grupo, munido de
bastante conhecimento econômico, já que ha-
via economistas escrevendo sobre uma possível
desestatização do dinheiro, caso do Frederick
Hayek, escrevendo sobre a história do dinheiro,
mostra como era uma história da degradação
econômica devido à inflação.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Ele pensou em resolver o problema com a cria-
ção de um novo protocolo de dinheiro eletrô-
nico descentralizado, com a ausência de uma
figura central.

-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

127
Podemos falar que o bitcoin é quase uma reser-
va de valor. Falta apenas um elemento, porque
ele bate todos os requisitos como o de escassez
(serão apenas 21 milhões de unidades produzi-
das em um processo conhecido como minera-
ção, que apesar do nome, não tem nada a ver
com a mineração de ouro, de minérios que nós
geralmente vemos); é um processo matemáti-
co de resolução de problemas através do uso
de força computacional, e de um modo muito

W W W. F I N C L A S S .C O M
interessante, a rede passa por um processo de
autoajuste, de maneira que quanto mais força
computacional na rede, maior a dificuldade de
mineração, tornando a recompensa de bitcoins
constante, ao longo do tempo.

-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

128
W W W. F I N C L A S S .C O M
Não só constante, como também menor a cada

-X X X-
quatro anos mais ou menos, quando ocorre um
processo chamado de Halving, que diminui a re-
compensa dos mineradores ao resolver os pro- CONTEÚDO EXCLUSIVO

blemas matemáticos, que dão como recompen-


sa bitcoins.
-X X X-
E-BOOK

129
Isso continua até que lá no final, em torno de
2140, pelo que indicam as previsões, teremos os
21 milhões de bitcoins minerados. Veja que há
uma escassez, de fato. Em termos matemáticos,
o bitcoin seria mais escasso do que o ouro, por-
que não sabemos quanto ouro pode ser produ-
zido no planeta, talvez alguém ache uma gran-
de reserva de ouro; como já descobriram, várias
vezes, novas e grandes reservas de petróleo.

Passando para a próxima característica - ser es-


casso é a primeira - a segunda é ser negociada
no mercado global. O mercado de bitcoin e ou-
tras criptomoedas já é global, e nada me impe-
de - até de maneira muito mais simples do que o
ouro, já que é um bem 100% digital - de comprar

W W W. F I N C L A S S .C O M
bitcoins no Brasil para vender na Malásia, e de-
pois comprar na Malásia para vender na Holan-
da, ou transferir para Taiwan. Não há fronteiras
para o que pode ser transferido em questão de
segundos, dependendo de como se faça.

-X X X-
Por ser digital, o bitcoin também não é dete-
riorável, então acaba ficando imune à ação do
CONTEÚDO EXCLUSIVO
tempo, já que você pode ter os mecanismos, o
hardware do que é usado para minerar o bitcoin
fica velho com o tempo, mas o dado permanece
inalterado.
-X X X-
E-BOOK

130
W W W. F I N C L A S S .C O M
-X X X-
No começo do bitcoin, a primeira transação foi em ja-
neiro de 2009, mostra um segundo resgate que seria
feito a bancos. Isso pode ter dois motivos. Primeiro, CONTEÚDO EXCLUSIVO

comprovar a data da transação, e segundo, mostrar


para que o bitcoin veio.
-X X X-
E-BOOK

131
W W W. F I N C L A S S .C O M
Serão apenas 21 milhões; esses bitcoins vão sendo criados da re-
solução dos problemas matemáticos, através do processo de mi-
neração, do uso de força computacional, e a recompensa por cada
bloco minerado foi, inicialmente, de 50 bitcoins; depois de quatro

-X X X-
anos, 25, depois de mais quatro anos, 12,5. Recentemente, em maio
de 2020, tivemos a redução de 12,5 para 6,25, no processo chama-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
do de halving, que é um corte da recompensa pela metade, e em
2024 teremos novamente a redução para 3,125.
-X X X-
E-BOOK

132
Citando, agora, a questão do valor intrínse-
co (altamente discutível), porque muita gente
fala “O bitcoin não tem valor” e isso deriva de
existência de um valor subjetivo - para algumas
pessoas, algo tem valor, para outras não tem.

A grande pergunta que faço em torno do valor


intrínseco, que para muitos seria uma espécie
de lastro do bitcoin inexistente é, por que hoje
há uma série de empresas e de pessoas gastan-
do recursos, comprando um monte de equipa-
mentos caros, se mudando para países com um
custo energético mais baixo, como a China ou a
Islândia, onde a energia é barata, onde o clima
naturalmente frio ajuda a resfriar os computa-

W W W. F I N C L A S S .C O M
dores usados na mineração, se esse pessoal não
acreditasse que tem algum valor?

Para essas pessoas que têm gastos, às vezes,


milionários com contas de energia e equipa-

-X X X-
mentos, não faria sentido minerar, participar do
processo de fabricação de bitcoins, se não ti-
vesse algum valor. A crença das pessoas de que CONTEÚDO EXCLUSIVO

aquilo tem valor, é uma espécie de valor intrín-


seco.
-X X X-
E-BOOK

133
Chovem notícias de que o bitcoin gasta mais

W W W. F I N C L A S S .C O M
energia do que a Suíça. Bill Gates, noutro dia,
criticou o bitcoin dizendo que ele gasta muita
energia, que é um caos ambiental, como se a
indústria dele fosse movida a lenha. Os compu-
tadores também gastam mais energia do que

-X X X-
máquinas de escrever, mas a questão é que a
necessidade de usar energia para a criação do
CONTEÚDO EXCLUSIVO
bitcoin poderia ser vista como uma espécie de
lastro.
-X X X-
E-BOOK

134
Um outro ponto muito interessante, sobretudo
quando lembramos do ouro em comparação di-
reta com o bitcoin, é que, enquanto o ouro já
foi confiscado pelos Estados Unidos em 1933,
o bitcoin seria um ativo inconfiscável, porque
ele não tem um órgão central com o qual você
possa reclamar “A fulana está me devendo o bi-
tcoins, vai lá e pega de fulana” - não há como
fazer isso.

A única forma de alguém ter acesso aos seus

W W W. F I N C L A S S .C O M
bitcoins seria se você voluntariamente passas-
se aqueles bitcoins para a pessoa, ou se fosse
obrigado a passar a senha, alguma coisa nesse
sentido, mas entenda que não há como subtrair
de você, sem que passe a senha para quem fizer

-X X X-
isso.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

135
Esse é o ponto central, podemos falar que o bit-
coin é um dos únicos - não vou falar que é o úni-
co, porque hoje já existem mais de 8.500 crip-
tomoedas, com características parecidas - que
são de fato inconfiscáveis.

Dependendo do governo ao qual você este-


ja submetido, podem confiscar seus depósitos
bancários, podem confiscar suas propriedades,
suas terras, seus negócios, talvez nem seja ne-
cessário fazer isso: podem colocar uma taxa de
imposto tão alta, que o seu lucro em qualquer
tipo de operação seja quase zero, quase tudo
vai para o governo, e não para as suas mãos,

W W W. F I N C L A S S .C O M
mas o que conseguem fazer com o bitcoin? Não
muita coisa, porque esse ativo passa de forma
alheia às determinações do governo.

Vale citar ainda que o próprio market cap do


bitcoin, que seria o seu valor de mercado, o nú-

-X X X-
mero de unidades de bitcoins já existentes, mul-
tiplicadas pelo preço real, já é maior do que um
CONTEÚDO EXCLUSIVO
trilhão de dólares - isso é maior do que toda a
nossa Bolsa de Valores.
-X X X-
E-BOOK

136
Além disso, se somarmos as outras criptomo-
edas, já passamos atualmente de 2 trilhões de
dólares, só para mostrar como esse mercado é
realmente global, embora ainda muito novo.

A última característica da reserva de valor, que


dessa vez depõe contra o bitcoin, o que me leva
a afirmar que ele é uma possível reserva de va-
lor, e não uma reserva de valor, de fato, como
o ouro é, é o longo histórico de aceitação. En-
quanto o ouro já é aceito há milhares de anos, o
bitcoin tem um histórico muito novo, porque ele
em si é muito novo, foi criado apenas em 2009,
não há como falar que há um longo histórico de
aceitação para o bitcoin.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Contudo, vale citar um ponto interessante: re-
pare que ter pouco mais de uma década de
vida, hoje em dia, é diferente de ter centenas
de anos no passado. Fazendo um experimento

-X X X-
mental, digamos que um europeu, vivendo no
século XIV, e fosse transportado para o século
XV, o que teria mudado na vida dele em termos CONTEÚDO EXCLUSIVO

de tecnologia? Praticamente nada, a vida seria


basicamente a mesma.
-X X X-
E-BOOK

137
A diferença é que todo mundo que ele conhe-
cia já teria morrido, sobretudo porque morriam
extremamente jovens. Pego esse mesmo ca-
marada do século XIV, que agora está no XV,
e joga para o século XVI. O que teria mudado?
Provavelmente, ouviria falar de um tal de novo
mundo, porque já teriam chegado os europeus
à América, mas fora isso, em termos tecnológi-
cos, pouca coisa teria mudado.

Agora, imagine um camarada do começo da dé-


cada de 1990, e jogue-o nos dias de hoje, coisa

W W W. F I N C L A S S .C O M
de 30 anos - veja o tanto de coisa que mudou.
Se ele for brasileiro, a primeira coisa que mu-
dou foi a moeda, porque ele vivia em épocas
anteriores ao Plano Real; depois, em termos de
tecnologia, veja a evolução tecnológica. Coisas

-X X X-
que foram novidade há dois anos, agora estão
velhas, muitas vezes desapareceram.
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

138
Ter mais de uma década de vida nos tempos
atuais, de uma grande evolução e disrupção
tecnológica, não é algo trivial. Por isso, por mais
moderno que o bitcoin seja, ele já tem algum
tipo de histórico de aceitação.

Falando, agora, da evolução dos preços do bit-


coin - já falamos que ele tem várias característi-
cas que jogam a favor de seu uso como uma re-
serva de valor, mas tem essa ressalva do longo
histórico de aceitação - mas pensando em pre-
ço, quem comprou bitcoins conseguiu se prote-

W W W. F I N C L A S S .C O M
ger da desvalorização monetária?

Com algumas exceções de grandes quedas ao


longo de uma subida quase ininterrupta, se
olharmos de longe, as pessoas que compraram
bitcoins foram muito bem-sucedidas, não ape-

-X X X-
nas em preservar o valor do seu patrimônio,
como também em aumentá-lo.
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

139
W W W. F I N C L A S S .C O M
Uma das primeiras negociações de bitcoin foi o chamado Bi-
tcoin Pizza Day, quando, no dia 22 de maio de 2010, alguns
programadores trocaram 10 mil bitcoins por duas pizzas.

-X X X-
Hoje, essa mesma quantia de 10 mil bitcoins, com o bitcoin na
casa dos 55 mil dólares, poderia comprar todas as pizzarias
do Brasil e ainda pediria troco. Essa foi a grande evolução do CONTEÚDO EXCLUSIVO

bitcoin, ao longo da sua curta existência.


-X X X-
E-BOOK

140
Podemos dizer que o bitcoin foi bem-sucedido
como uma reserva de valor? Em termos, por-
que também há muita volatilidade envolvida. É
um ponto interessante a ser citado, porque mui-
ta gente defende que o bitcoin um dia poderá
ser usado como moeda, e aí devemos relembrar
sobre as funcionalidades, as características de
uma boa moeda.

Ser um meio de troca, e o bitcoin já pode ser


usado como um meio de troca, embora pes-

W W W. F I N C L A S S .C O M
soalmente já conheça esse mercado há algum
tempo e não vejo isso acontecendo de fato; ser
uma reserva de valor, e na minha opinião ele já
está quase lá; só falta o histórico de aceitação,
que aumenta com o passar do tempo; um outro

-X X X-
ponto é ser uma unidade de conta, e nesse pon-
to ficou um pouco complicado.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

141
W W W. F I N C L A S S .C O M
-X X X-
O bitcoin é uma moeda deflacionária, já que é extremamente
limitado, são apenas 21 milhões. Uma oferta limitada para um

CONTEÚDO EXCLUSIVO
grande aumento da demanda, que deve acontecer.

Hoje, segundo o analista estatístico chamado Willy Woo, há


mais ou menos 1,7% do mundo possuindo bitcoins. Imagine
que, somente, para 10%, com uma oferta limitada, onde esse
preço pode parar?
-X X X-
E-BOOK

142
Não parece ser uma boa ideia fechar um con-
trato de trabalho, em que você paga alguém em
bitcoins. Quem fez isso do ano passado para cá,
combinando uma remuneração para um contra-
tado de um bitcoin ao ano, o que, dependendo
da época, pegando um dos menores preços do
ano, seria algo em torno de 30 mil reais, veria
a despesa com contratados saindo de 30 para
mais de 300 mil reais ao ano.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Então, não parece ser uma boa ideia assumir
compromissos ou dívidas em bitcoins. Outro
ponto que joga contra o uso do bitcoin como
moeda é a questão da sua grande volatilidade.

-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

143
Voltando para o começo da cunhagem de moe-
das, o que vimos é que as pessoas começaram a
se aproximar das moedas porque eram os bens
mais líquidos aceitos para as trocas. O que vai
acontecer com um bem que é tão volátil a pon-
to de você não saber direito como se faz uma
troca? Fica mais difícil utilizá-lo como moeda.

Entretanto, para cada problema do bitcoin, nós


provavelmente, veremos empreendedores com

W W W. F I N C L A S S .C O M
soluções; então, se o bitcoin não é um adequa-
do meio de troca por algum motivo, alguém vai
sanar esse motivo. Se o bitcoin é muito volátil, e
você não vai usar como uma unidade de contra-
to, alguém vai passar a utilizar outras unidades

-X X X-
e converter para bitcoin.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

144
Esses obstáculos que existem para o uso do bi-
tcoin podem ser contornados até que ele possa
ser usado de fato como moeda. Para mim, o que
vale em termos de bitcoin - posso estar redon-
damente enganado e ele pode vir a ser usado
como moeda de fato - é o seu uso como uma re-
serva de valor, que ao longo de seu curto histó-
rico de negociação, tem se comprovado devido
à grande evolução dos preços, por mais que no
caminho haja muita volatilidade e queda de até
80% dentro de alguns meses.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Aproveitando esse ponto, vale falar sobre algu-
mas ressalvas em relação ao bitcoin. A primei-
ra, é a própria questão da volatilidade, bitcoin
é muito mais volátil do que outras classes de

-X X X-
ativos; e quando falo bitcoin, estou estendendo
para outras criptomoedas.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

145
Citando as outras criptomoedas, não pense que,
porque o bitcoin pode ser visto talvez com uma
reserva de valor, outras criptomoedas também
o serão. Várias delas são corruptelas do bitcoin,
ao invés de haver uma escassez digital, existe
uma produção abundante, sem limite. Uma des-
sas criptomoedas que ficou muito famosa re-
centemente é o Dogecoin. Muita gente pensa
“O Dogecoin vai vir e vai desbancar o bitcoin,
que já está muito caro, e ela vale quase nada”.

No entanto, essas pessoas não viram que, en-

W W W. F I N C L A S S .C O M
quanto haverá no máximo 21 milhões de bit-
coins, já há quase 130 bilhões de Dogecoins,
no momento em que escrevo este capítulo; e a
cada minuto são produzidos mais 10 mil, e não
há limite, vai ser algo infinito. É quase tão ruim

-X X X-
quanto uma moeda fiduciária, em termos de
produção.
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

146
As moedas fiduciárias de governos podem ser
menos produzidas que o Dogecoin, e a moeda
fiduciária tem um carimbo de confiança do go-
verno, que para muita gente, vale muita coisa
ainda. Além disso, é algo de custo forçado: você
é obrigado a aceitar a moeda, enquanto nin-
guém é obrigado a aceitar Dogecoin, o que tor-
na muito mais difícil o seu uso como qualquer
coisa ligada à moeda. Seria algo voltado à pura
e simples especulação.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Esse raciocínio, para muita gente, também ser-
ve para o bitcoin - como um ativo muito novo e
altamente volátil, ainda é muito utilizado para
a especulação, mas acredito que à medida que
mais pessoas negociem bitcoins, o aumento da

-X X X-
liquidez acabe diminuindo a grande volatilidade
que existe no ativo.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

147
CUSTÓDIA DO BITCOIN
Um outro ponto para o qual poucas pessoas es-
tão preparadas é a custódia do bitcoin. É muito
comum ver casos de pessoas que tinham bit-
coins e perderam o acesso a eles. Não conse-
guem acessar valores que hoje os tornariam

W W W. F I N C L A S S .C O M
milionários. Vi uma manchete sobre um cam-
peonato de videogame feito nos idos de 2010,
2011, e tinha a lista de prêmios.

-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

148
W W W. F I N C L A S S .C O M
O primeiro lugar ganhava 500 dólares, o segundo
ganhava 300; e o que me chamou a atenção é que,
do quinto ao oitavo colocado, o prêmio era de 25

-X X X-
bitcoins. Você pensa, “Hoje seria muito dinheiro” -
sim, mas o bitcoin não valia nada ainda, então era
CONTEÚDO EXCLUSIVO
uma quantia a que ninguém dava atenção, tanto
que as pessoas pegaram os bitcoins, guardaram,
não anotaram a senha, e hoje não conseguem mais
acessar os recursos.
-X X X-
E-BOOK

149
Não há alguém a quem reclamar, você não con-
segue mandar um e-mail para um banco falan-
do “devolva a minha senha”. A senha foi você
que colocou, se não lembra, ninguém vai conse-
guir ajudá-lo, esse saldo está inacessível. Isso é
bom para algumas pessoas, porque existiriam,
no máximo, 21 milhões de bitcoins, mas não te-
remos 21 milhões de bitcoins acessíveis; porque
se alguém perdeu a senha, não tem mais como
recuperar o acesso.

Há estimativas de 2 a 3 milhões de bitcoins per-

W W W. F I N C L A S S .C O M
didos, gente que pode ter falecido e não deixou
instruções de acesso, ou que perdeu a senha e
não consegue mais entrar e recuperar o saldo -
o que é escasso ficou mais escasso. Isso é nega-
tivo, justamente para quem perdeu o acesso ao

-X X X-
saldo; porque, se antes 25 bitcoins do exemplo
eram nada, hoje em dia seria um dinheiro muito

CONTEÚDO EXCLUSIVO
significativo.
-X X X-
E-BOOK

150
O ARMAZENAMENTO DOS BITCOINS
Foi tão presente durante a história da evolução
do bitcoin, que acredito, venha a ficar cada vez
menor com o tempo. Uma coisa é se preocupar
com a senha do que não vale nada, a que você
não dá atenção; outra coisa é se preocupar com
a senha de um grande valor financeiro que você
tem guardado, como agora é o valor de um úni-
co bitcoin.

Você passa a se preocupar tanto com a senha,


que muitas vezes adquire dispositivos apenas
para tornar a senha mais segura. Eu tenho uma
Hardware Wallet de bitcoin, que é uma forma
de tornar as senhas mais seguras - não são os

W W W. F I N C L A S S .C O M
bitcoins que estão ali dentro, os bitcoins estão
registrados na rede, no blockchain; a Hardware
Wallet teria apenas a segurança das senhas.

Se eu não lembrar a minha senha de cabeça,

-X X X-
mas lembro como acesso o dispositivo, consi-
go acessar o meu saldo em bitcoins. Posso ter

CONTEÚDO EXCLUSIVO
as senhas registradas em um pedaço de papel,
ou em algum tipo de aplicativo que seja menos
seguro do que um Hardware Wallet, ou de uma
Paper Wallet, esse pedaço de papel.
-X X X-
E-BOOK

151
O que quero mostrar é que, embora não tenha
a posse física do bitcoin, caso tenha as senhas
guardadas em algum local seguro, você tem, de
fato, a propriedade.

O bitcoin tem esses problemas que podem ser


corrigidos, até pela conduta pessoal das pesso-
as. Um ponto interessante do bitcoin que não
deve ser desprezado, é que algumas pessoas
acreditam que pode vir a ser não só um ouro
digital, como uma disrupção do próprio ouro.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Existe um teórico chamado Peter Diamandis
que fala bastante sobre tecnologias do futuro.
Ele tem uma linha de ideias que chama de 6 Ds,
em que fala que a digitalização vai substituir

-X X X-
tudo que é analógico, que é material.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

152
O primeiro D é o da DIGITALIZAÇÃO de fato,
quando algo que é material se torna digital.

O segundo seria o da DECEPÇÃO, porque ge-


ralmente aquilo que é digital não começa tão
bem quanto a versão material - as primeiras
fotos digitais eram horríveis comparadas às fo-
tos analógicas, que eram reveladas e impressas,
muito melhores - mas quando algo é digital, a
evolução é muito rápida.

Com essa evolução, nós temos a DISRUPÇÃO,


o terceiro D: quase nunca aquele que vai sofrer
a disrupção analisa como uma ameaça, porque
o segundo D é o da decepção, como aconteceu

W W W. F I N C L A S S .C O M
com a Kodak: as pessoas olham a câmera digital,
que foi inventada pela própria Kodak, e pensam
“isso não tem chance de competir contra nós”,
da mesma forma que até há pouquíssimo tem-
po, o bitcoin era tratado como uma espécie de
piada no mercado financeiro, um ativo que sur-

-X X X-
giu, mas seria apenas uma mania que deixaria
de existir em breve - e até agora foi justamente
CONTEÚDO EXCLUSIVO
o contrário. Há grandes nomes que antes eram
detratores do bitcoin e passaram a defendê-lo e
a investir recursos nesse ativo.
-X X X-
E-BOOK

153
O próximo D é o da DESMATERIALIZAÇÃO,
aquilo que anteriormente era físico passa a ser
digital. O ouro físico necessita de uma custódia
física, enquanto o bitcoin é digital e tem uma
custódia também 100% digital, e por isso mais
barata do que uma estrutura de cofres com se-
guranças, para que você possa guardar.

Tanto que o próximo D após a desmaterializa-


ção é o da DESMONETIZAÇÃO, as coisas ficam
mais baratas.

O último D é o da DEMOCRATIZAÇÃO, um aces-


so para grande parte das pessoas. O ouro, pode-
mos falar que, apesar de caro, de certa maneira

W W W. F I N C L A S S .C O M
é democrático. Pequenas quantidades de ouro
podem ser adquiridas por qualquer pessoa, mas
nesse ponto, o bitcoin é ainda mais democráti-
co, porque uma única unidade de bitcoin pode
ser fracionada em até oito casas decimais. Essa

-X X X-
quantia mínima é chamada de Satoshi: uma sé-
rie de pessoas no mundo pode adquirir pelo
menos um pouquinho de bitcoin, sobretudo se CONTEÚDO EXCLUSIVO

compraram quando os preços eram muito mais


baixos do que os preços atuais.
-X X X-
E-BOOK

154
Tem muita gente que enxerga esse 6 Ds na
comparação entre bitcoin e ouro. Não sei se o
bitcoin será de fato a disrupção do ouro, tanto
que, pessoalmente, prefiro ter os dois no meu
portfólio; mas, em termos de assimetria daquilo
que, se subir, deve dar mais ganhos do que se
cair, vejo o bitcoin como um ativo muito mais
assimétrico, já que o ouro participa de um mer-
cado consolidado.

Ele pode ter grandes subidas, dependendo do

W W W. F I N C L A S S .C O M
cenário econômico? Pode, mas o bitcoin está
mais sujeito a esse tipo de coisa, porque menos
gente o conhece; e à medida que for mais co-
nhecido, a demanda vai aumentar, e terá uma
oferta altamente limitada - isso deve levar os

-X X X-
preços para cima.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

155
Uma história pessoal para fechar este capítulo:
conheci o bitcoin, por sorte, muito “cedo” - en-
tre aspas, porque já havia sido criado há alguns
anos - mas em 2014, nem lembro direito o mo-
tivo, estava pesquisando sobre alguma coisa na
internet, e achei um artigo sobre bitcoin. Li e co-
mecei a pesquisar mais.

Na época, não vi o valor que vejo hoje, até por-


que é difícil você ver valor em alguma coisa que

W W W. F I N C L A S S .C O M
não vale quase nada, que era o preço do bitcoin.
A questão é que eu escrevia artigos mostrando
como as pessoas poderiam conseguir bitcoins
de graça, na internet.

-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

156
W W W. F I N C L A S S .C O M
Eu não tinha como saber - ninguém tinha - que
dois dos artigos que escrevi acabariam sendo mui-
to acessados. Eu tinha um site com mais de 100
artigos escritos, e cerca de 90% dos acessos do
site passaram a ser nesses únicos dois artigos, de

-X X X-
pessoas querendo saber como ganhar bitcoins de
graça na internet, e como trocar bitcoins por reais

CONTEÚDO EXCLUSIVO
ou por dólares, já que não havia muitas corretoras
no Brasil.
-X X X-
E-BOOK

157
O interessante é que os sites que davam bit-
coins de graça, me davam recompensas por ter
levado visitantes aos sites, de maneira que, jun-
tando as recompensas, aos poucos consegui a
quantia de nove bitcoins, o que hoje daria quase
3 milhões de reais.

Como não sou nenhum gênio, não segurei os


bitcoins, fui vendendo ao longo do caminho.
Cheguei a vender por 2 mil reais (dá aquela dor
no peito quando lembro). Depois, vendi por 7,

W W W. F I N C L A S S .C O M
vendi por 15, vendi por 58 mil em 2017, quando
o preço do bitcoin chegou a 70 mil reais, e foi a
última venda que fiz.

Depois, houve um grande mergulho nos preços,


até mais ou menos o patamar de 12 mil reais.

-X X X-
Em 2018, ele voltou a subir; e desde então, subiu
praticamente sem quedas tão grandes quanto a
CONTEÚDO EXCLUSIVO
de 2017. -X X X-
E-BOOK

158
Esse movimento do bitcoin mudou a minha vida
de duas maneiras. A primeira delas, é que o meu
lucro na venda desses nove bitcoins, ao todo,
somam mais ou menos 180 mil reais, e isso foi
vital para que eu chegasse ao meu objetivo de
construir um patrimônio que, investido, rendes-
se mais em termos de juros e dividendos do que
eu ganhava como oficial do Exército.

Outro ponto, é que esses artigos eram tão bons,


foram tão bem escritos, que começaram a ser
plagiados - e geralmente, eu não via problema
nisso, porque eram sites muito pequenos. Quan-
do era algum site maior, bastava reclamar com

W W W. F I N C L A S S .C O M
o Google, para que o site fosse removido dos
mecanismos de busca.

Até que alguém plagiou o meu artigo, colocou


em um site, e fez um vídeo mostrando o meu ar-

-X X X-
tigo no site. Achei o vídeo no YouTube, um plá-
gio tão cara de pau, que nem tinha mudado o

CONTEÚDO EXCLUSIVO
meu nome - tenho esse hábito de fazer pergun-
tas para mim mesmo “Mas Bruno...” - e estava
lá escrito no artigo, mas o nome dele era Paulo.
-X X X-
E-BOOK

159
Quando reclamei, o Google removeu o artigo
dele dos seus buscadores, o artigo praticamen-
te deixou de existir; mas o YouTube falou, de
modo acertado, que aquele conteúdo era um
conteúdo novo, que ele poderia ter filmado no
meu site, que aquilo não seria plágio, seria só
um conteúdo derivado do meu conteúdo origi-
nal, e o vídeo da pessoa tinha muito mais aces-
sos do que o meu artigo, sendo que era muito
mais novo.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Quando olhei aquilo, pensei “está na hora de ir
pro Youtube”, e essa fagulha inicial me levou a
criar o meu canal; e por conta do meu canal,
do Instagram, que vim parar neste e-book. Até
brinco que, se um dia encontrar o cara que me

-X X X-
plagiou, vou agradecer.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

160
161
ALOCAÇÃO EM RESERVA
DE VALORES
GUIA PRÁTICO DE
CAP. VIII

E-BOOK -X X X- CONTEÚDO EXCLUSIVO -X X X- W W W. F I N C L A S S .C O M


Agora que já falamos bastante da parte teórica,
chegou a hora de falarmos da prática.

Como fazer para expor partes do seu portfólio a


esses ativos, que são uma reserva de valor pro-
vada pelo tempo?

É o caso do ouro, para aquele que pode vir a ser


uma reserva de valor, como é o caso do bitcoin
e para uma moeda que, apesar de ter os seus
problemas, é uma ideia muito melhor do que a

W W W. F I N C L A S S .C O M
nossa: vamos começar por aquele que divide
menos opiniões, que seria o dólar, já que tanto
o bitcoin quanto o ouro recebem crítica, que é
uma crítica verdadeira, dizendo que ambos não
são bons ativos, porque não pagam juros e não

-X X X-
geram fluxo de caixa.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

162
COMO INVESTIR EM DÓLAR
Na verdade, nem o dólar paga juros ou gera
fluxo de caixa; para que gere fluxo de caixa é
necessário pegar os seus dólares e comprar
empresas; para que pague juros, é necessário
pegar os seus dólares e transformá-los em de-
pósitos bancários, ou comprar títulos públicos
do governo americano, esperando receber algu-
ma coisa em troca.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Como o bitcoin e o ouro não são meios de troca
- tudo bem que o bitcoin já é aceito para algu-
mas trocas, mas nas trocas financeiras, fica mais
difícil que ganhe juros ou gere fluxo de caixa
com ambos.

-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

163
A questão é que ninguém vai comprar ouro ou
bitcoin esperando receber juros e fluxo de cai-
xa. Na verdade, você compra como uma reserva
de valor, e esse é um ponto muito interessante,
como se uma pessoa falasse “Não vou comprar
um cachorro, porque esse cachorro não conse-
gue cozinhar para mim ou fazer a minha barba”.
Ninguém compra um cachorro esperando que
ele faça esse tipo de coisa, você compra por ou-
tros motivos. O mesmo tipo de raciocínio serve

W W W. F I N C L A S S .C O M
para essa classe de ativos.

Começando, então, pelo dólar. Como fazer para


ter uma exposição inicial à moeda mais forte
que o real, que desde o começo do Plano Real

-X X X-
tem se valorizado.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

164
W W W. F I N C L A S S .C O M
No início, era 1 dólar para 1 real; depois, em 1999,
virou 2 para 1, 3 para 1, 4 para 1, 5 para 1, e sabe-

-X X X-
-se lá onde isso vai estar daqui a 50 anos. Será
que o real existirá durante mais 50 anos? Nem
CONTEÚDO EXCLUSIVO
sabemos se o dólar vai existir, mas a chance de
o real existir, como é mais novo, é ainda menor.
-X X X-
E-BOOK

165
O início dessa exposição pode ser feito através
do próprio mercado nacional, existem correto-
ras de fundos cambiais que, basicamente, vão
pegar os seus reais e transformar em dólares,
usando algum instrumento financeiro para isso,
geralmente contratos futuros; mas, no final,
você vai pagar uma pequena taxa de adminis-
tração para ter exposição à moeda.

Uma outra maneira de fazer, também no merca-


do nacional, é adquirir ativos dolarizados, como
por exemplo, o ETF IVVB11 ou alguma BDR de
uma empresa americana. Essas posições ten-
dem a ser mais voláteis do que adquirir dólar,

W W W. F I N C L A S S .C O M
porque você estará submetido tanto à dinâmica
do dólar como do real, e à dinâmica das empre-
sas ou do índice S&P 500.

Contudo, analisando a correlação histórica, o

-X X X-
que vemos, no Brasil, é que nos momentos mui-
to negativos, quando a nossa Bolsa cai bastan-
te, o movimento que nós vemos do dólar é con- CONTEÚDO EXCLUSIVO

trário, e por que isso acontece?


-X X X-
E-BOOK

166
W W W. F I N C L A S S .C O M
Sempre falo que correlação não implica causalidade, mas nesse
fato há um nexo causal. Em momentos muito negativos, o inves-
tidor, principalmente o internacional, mas cada vez mais o próprio

-X X X-
investidor local, fica com medo de estar em posições de um país
emergente, em uma moeda emergente, como é o caso do real; eles
CONTEÚDO EXCLUSIVO
pegam esses reais, trocam por dólares, para poder mandar para um
porto seguro como, por exemplo, o mercado americano; e se você
tem muitos recursos saindo do país, pessoas vendendo no Brasil
para comprar dólares e mandar para outro país, o mercado nacio-
nal cai, enquanto o dólar sobe.
-X X X-
E-BOOK

167
A única ressalva que faço para uma exposição
à moeda americana utilizando instrumentos na-
cionais é que você não vai estar 100% seguro. O
que pode acontecer é algum nível de interven-
ção do governo no câmbio.

A Argentina controla o câmbio de pesos em


dólares, ele é limitado. As pessoas não podem
comprar a quantidade que querem, é definida

W W W. F I N C L A S S .C O M
uma cotação totalmente artificial, que chega
a ficar na metade da cotação conhecida como
dólar blue, aquela praticada no mercado pelas
pessoas que fazem transações de modo inde-
pendente do governo.

-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

168
W W W. F I N C L A S S .C O M
Imagine que o mesmo tipo de coisa pode vir a
acontecer no Brasil, e já aconteceu no passado.
De que adianta você ter exposição a um ativo
polarizado que deveria valer, por exemplo, 100
dólares, com o dólar valendo 6 reais, se o go-

-X X X-
verno vai lá e através de uma canetada fala “O
dólar não vale 6 reais, na verdade ele vale 4,50”.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
Ele diminui o valor da sua exposição internacio-
nal, o que acaba diminuindo o seu nível de pro-
teção contra eventos locais.
-X X X-
E-BOOK

169
Por isso, prefiro ter a exposição estrangeira feita
diretamente no exterior, com abertura de uma
conta em corretora americana, e com isso, con-
sigo comprar tanto os ativos que existem aqui
no mercado nacional dolarizados, as BDRs, o
ETF IVVB 11, por exemplo, quanto uma série de
outros ativos que não existem no Brasil e que
talvez nunca venham a existir, porque o mer-
cado financeiro americano é um dos maiores e
mais maduros do mundo.

Por que me expor de maneira indireta, se posso


me expor com um custo praticamente igual, de-

W W W. F I N C L A S S .C O M
pendendo do horizonte temporal, quanto mais
longo o horizonte de investimento, mais pareci-
do é o custo de usar opções no mercado nacio-
nal ou internacional - se for efetivamente mui-
to curto, aí já vejo mais vantagem no nacional,

-X X X-
apesar do problema de exposição, de interven-
ção do governo, porque o custo para internacio-
nalizar recursos pode ser alto. CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

170
Você vai pagar, no mínimo, a despesa com câm-
bio, já que as casas de câmbio ou os mecanis-
mos para fazer o câmbio querem ter lucro, co-
bram um pequeno spread, uma diferença nessa
cotação do dólar, e vai pagar também o impos-
to necessário para fazer esse câmbio, o IOF, que
varia de 0,38%, se for uma transação para uma
conta em outra titularidade, ou 1,1% para contas
de mesma titularidade.

Pensando no longo espaço de tempo, é uma


despesa que acaba ficando pequena; pensando

W W W. F I N C L A S S .C O M
em um curto espaço de tempo, por exemplo de
dois anos, teria uma despesa com câmbio para
enviar os recursos para fora do país, e depois
para trazer de fora para o Brasil, e teria despesa
com o IOF, tanto na ida quanto na volta, que

-X X X-
acaba gerando um custo maior em um horizon-
te de tempo tão curto.
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

171
COMO INVESTIR EM OURO
Uma das primeiras ideias que as pessoas têm
quando pensam “Vou me expor a esse metal
precioso” é pensar no que mais vemos por aí, as
joias. Esse tipo de exposição não costuma ser
inteligente, pelo menos não se você está com-
prando joias de uma joalheria. Talvez compran-
do de algum terceiro que está vendendo porque
precisa de dinheiro, você consegue um grande
desconto; talvez até seja uma exposição inteli-
gente.

Contudo, pense que uma joia em uma joalheria


tem não só o custo do ouro que foi trazido para
fazer a joia, como também, uma diluição do me-
tal, já que o ouro puro é muito maleável, não é

W W W. F I N C L A S S .C O M
adequado para fazer joias. Se a minha aliança
fosse de ouro puro, ela estaria toda deformada.
O que fazem é transformar o ouro puro em ouro
misturado com outros metais, para que ele fique
menos maleável, mais sólido, e mais adequado

-X X X-
para joias.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
Além disso, você tem um custo do artesão, do
ourives que dedicou o seu tempo. Por isso, as
joias têm um custo por grama de ouro muito
mais alto do que uma exposição feita 100% ao
ouro. Uma outra opção é o ouro físico.
-X X X-
E-BOOK

172
Muita gente gosta dessa opção, porque a custódia fica com a
própria pessoa, apesar de haver a possibilidade de deixar a cus-

W W W. F I N C L A S S .C O M
tódia com as casas que vendem ouro para terceiros. No entanto,
o problema com a barrinha de ouro é o mesmo que acontece
com as posições em dólares comprados como papel moeda.

Para comprar dólar em uma casa de câmbio, vão vender o dó-

-X X X-
lar por um preço mais alto do que o dólar oficial; e quando for
revender na casa de câmbio, vão recomprar por um preço mais

CONTEÚDO EXCLUSIVO
baixo do que o do dólar oficial: eles vão ter lucro tanto na venda
quanto na compra.

No caso do ouro, é exatamente a mesma coisa, existe até uma


garantia de recompra, geralmente das casas que vendem o
ouro, mas pelo preço que eles mesmos definem, que sempre é
-X X X-

um preço que fica abaixo do preço realizado no mercado.


E-BOOK

173
O ouro físico é uma barrinha para você ter em
casa, talvez como um objeto. No meu caso tem
um uso acadêmico, já que costumo mostrar nas
minhas aulas. No entanto, não levo a sério uma
grande reserva de ouro físico como uma reser-
va de valor, porque você entra no problema da
própria segurança. Imagine que outras pessoas
saibam que você tem uma grande quantidade
de ouro em casa, não é uma boa ideia, sobretu-
do aqui, um país que sofre com a violência.

As melhores formas de se expor ao ouro, tanto


utilizando o mercado nacional quanto interna-
cional, são através do uso de fundos e contra-
tos. No Brasil, temos alguns contratos de ouro

W W W. F I N C L A S S .C O M
negociados em Bolsa de Valores, na B3. Esses
contratos têm os códigos de Oz 1D, Oz 2D e Oz
3D; o que muda de um contrato para outro é o
número de gramas de ouro que serão negocia-
dos.

-X X X-
Um contrato Oz 1D, por exemplo, é um contra-
to que negocia 250 gramas de ouro (bastante
CONTEÚDO EXCLUSIVO
coisa), se considerarmos que o preço do ouro
supera 300 reais o grama. Até por isso, não tem
tanta liquidação nesses contratos.
-X X X-
E-BOOK

174
O Oz 2D e Oz 3D são contratos com o menor
número de gramas: 2D negocia 10 gramas de
ouro, e o 3D negocia 0,225 gramas. Uma coisa
interessante é pensar que os contratos menores
deveriam ser mais negociados do que o contra-
to maior, o Oz1D, que negocia 250 gramas de
ouro.

No entanto, é justamente o contrário, já que


grande parte dos pequenos investidores não
fica negociando ouro em Bolsa de Valores, pelas
taxas de corretagem, que ainda podem existir
para esse ativo, vai depender da corretora que
você usa; e também, de uma taxa de custódia
cobrada pela B3, que encarece o custo de car-
regar ouro no portfólio.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Esses contratos são uma opção melhor que
joias, ou muitas vezes do que ouro físico, mas
que vem a perder para a opção dos fundos, por-
que hoje, no mercado nacional, praticamente

-X X X-
todas as corretoras têm alguma opção de fundo
que vai investir em ouro, seja comprando con-
tratos na Bolsa, seja comprando cotas de ouro CONTEÚDO EXCLUSIVO

negociadas nos Estados Unidos, que possuem


a custódia do ouro físico, e esses fundos costu-
mam ter vantagens.
-X X X-
E-BOOK

175
Primeiro, têm uma taxa administração bem bai-
xa, porque não tem um trabalho de administra-
ção, ou um trabalho muito grande em termos
intelectuais; o fundo vai estar exposto 100% ao
ouro. Alguns até mesclam uma exposição a um
pouco de ouro, um pouco de outros ativos, mas
é uma exposição quase sempre passiva, não exi-
ge muita dedicação.

Outra questão são os valores de acesso, geral-


mente colocam os valores muito baixos, coisa
de 100, 500, o máximo que já vi foi em torno de

W W W. F I N C L A S S .C O M
mil reais.

Isso tende a diminuir com o tempo, na medida


em que mais pessoas possam procurar o inves-
timento; sobretudo, no momento do ciclo eco-

-X X X-
nômico atual, com taxas de juros mais baixas do
que a inflação em vários países.
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

176
Faço a ressalva do mercado nacional, porque al-
guns fundos vão pegar o seu dinheiro e comprar
cotas de ETF’s negociadas na Bolsa de Valores,
então você vai ter o custo do ETF americano,
mais o custo do fundo local, quando poderia
enviar recursos para o exterior e comprar você
mesmo algum ETF, que vai ter exposição ao
ouro físico, muitas vezes, guardado em cofres.

Dois desses ETF’s que valem ser citados, são


dois dos maiores do mundo, uma espécie de

W W W. F I N C L A S S .C O M
GLD - esse é o código dele, que lembra a pa-
lavra OURO - que é o maior do mundo; e ou-
tro ETF é o IAU, um pouco menor, mas também
muito grande e com taxa de administração um
pouco mais baixa do que a do GLD. Esse é o ve-

-X X X-
ículo que atualmente uso para ter a maior parte
da exposição ao ouro.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

177
COMO COMPRAR BITCOINS E
OUTRAS CRIPTOMOEDAS
O último ativo seria o bitcoin e outras cripto-
moedas. Duvido muito que 8.500 criptomoedas
vão prosperar ao longo do tempo; várias delas
deixarão de existir, até porque, não são proje-
tos interessantes. São pessoas criando projetos
a torto e a direito, querendo faturar alguns tro-
cados.

Também não acho que, assim como aconteceu

W W W. F I N C L A S S .C O M
com o ouro - que nunca esteve sozinho, a pra-
ta esteve acompanhando o ouro - que o bitcoin
será a única criptomoeda; então, você pode ter
exposição a mais de uma, mas lembrando que,
em termos de reserva de valor, a única nesse
momento, que para mim atende mais critérios,

-X X X-
e não todos, porque não tem um longo histórico
de aceitação, é o bitcoin.
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

178
Quanto à exposição em bitcoin, como as pesso-
as fazem? Elas abrem conta em uma corretora,
ou em um terceiro de confiança, e compram da
pessoa.

Quando falamos em corretora, vale a pena men-


cionar que, como medida de segurança, não
deixe grandes saldos de bitcoin na custódia das
corretoras: pensando em um hacker que quei-
ra atacar algum sistema, altamente especializa-
do e muito inteligente, do contrário não estaria
fazendo esse tipo de atividade, quando atacar
pensa “O que é mais compensador, atacar a
carteira de uma pessoa física, que provavelmen-

W W W. F I N C L A S S .C O M
te terá poucos bitcoins, ou tentar hackear uma
corretora, em que várias pessoas físicas deixam
o saldo achando que é mais seguro”?

As corretoras têm sistemas de segurança, por-

-X X X-
que se não tivessem, também seriam hackeadas
por todo o mundo. Por ter mais dinheiro lá den-
tro, elas acabam sendo alvos mais compensado- CONTEÚDO EXCLUSIVO

res comparados às carteiras de pessoas físicas.


-X X X-
E-BOOK

179
Por isso, lembre-se de ter uma carteira para pre-

W W W. F I N C L A S S .C O M
servar as senhas, sobretudo se o seu saldo em
criptomoedas começar a ficar muito grande.

Além dessa exposição direta, em que você pode


ter as criptomoedas, nós também temos ago-
ra a funcionalidade de investir através de ETF’s.

-X X X-
São veículos de investimento - um ETF, é basi-
camente, um fundo de investimento com cotas
CONTEÚDO EXCLUSIVO
negociadas em Bolsa de Valores - que estarão
expostos a criptomoedas, e comprando uma
cota desse ETF, acaba ficando exposto também.
-X X X-
E-BOOK

180
Além dos ETFs, existem alguns poucos fundos
de criptomoedas, mas pensando em termos de
tributação, ETF costuma ser mais interessan-
te, já que fundos de criptomoedas - e aí coloco
também os fundos de ouro - são classificados
como fundos multimercado, e os fundos multi-
mercado estão sujeitos, pela legislação do Bra-
sil, ao come cotas, um adiantamento de Imposto
de Renda, que incide a cada seis meses, sempre
no final de maio e de novembro, pegando parte
do lucro do fundo.

Já o ETF não sofre ação do come cotas, tendo


tributação exclusivamente na venda com lucro,
por isso você consegue ficar mais tempo sem
pagar imposto, e dessa forma, como o dinheiro

W W W. F I N C L A S S .C O M
do imposto sai da sua posição e não pode con-
tinuar sendo usado para o crescimento do seu
patrimônio, a exposição na ETF, por diferir desse
pagamento de imposto, acaba sendo mais inte-
ressante, muitas vezes até mais líquida, porque

-X X X-
os fundos exigem alguns dias entre o pedido de
resgate e a execução do resgate de fato. Muitas

CONTEÚDO EXCLUSIVO
vezes até mais fáceis de serem feitas em termos
de valor monetário, porque os fundos de cripto-
moedas também não costumam pedir um valor
muito grande como aporte inicial, e no ETF isso
tende a ser ainda mais baixo.
-X X X-
E-BOOK

181
Dando o exemplo de um ETF que existe no mer-
cado nacional, nós temos o Hash 11, um ETF cria-
do pela gestora HashDex, que vai dar exposição
a uma cesta de criptomoedas, que acompanha
um índice chamado NCI, criado em parceria da
rede HashDex com a Nasdaq, a Bolsa de Valores

W W W. F I N C L A S S .C O M
de tecnologia dos Estados Unidos.

-X X X-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

182
W W W. F I N C L A S S .C O M
Esse índice muda de tempos em tempos, tem
uma composição variável. O interessante é que
a maior parte da exposição será em bitcoin, e
cerca de 20%, um pouco mais, um pouco me-

-X X X-
nos, depende de como esteja o desempenho de
outras criptomoedas, estará espalhado em uma
CONTEÚDO EXCLUSIVO
cesta de ativos. -X X X-
E-BOOK

183
COMO FAZER A SUA EXPOSIÇÃO
O último ponto desse guia prático é pensar em
termos de exposição no seu portfólio. São as
perguntas mais interessantes quando pensamos
em finanças. Muita gente pergunta, devo com-
prar o ativo A ou B? Muitas vezes compro Itaú
ou Itausa, empresas que são quase irmãs gême-
as, de tão parecidas, até porque muito de Itausa
é o Itaú.

Perguntas mais interessantes seriam: quanto

W W W. F I N C L A S S .C O M
devo ter de ouro? Devo ou não comprar bitcoin?
Quanto vou mandar para o exterior? São as per-
guntas que acho mais relevantes. Primeiro, uti-
lizando o princípio de um escritor de que gosto
muito, o Nassim Taleb, já citado neste livro, cos-

-X X X-
tuma usar uma frase em latim: “Facta non Ver-
ba”, ou seja, ação e não palavras.
CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

184
Pensando primeiro em dólar, gosto de ter 50%

W W W. F I N C L A S S .C O M
do meu patrimônio fora do país, exposto direta-
mente a outros mercados, e aí não precisa ser
só o mercado americano, mas mercados nos
quais tem mais segurança, mais previsibilidade,
a moeda mais forte, como por exemplo, o mer-

-X X X-
cado suíço.

Gosto de ter 50% fora do Brasil em mercados


CONTEÚDO EXCLUSIVO
mais amadurecidos, e isso significa não escolher
mercados ruins “vou ter dinheiro fora do país,
vou colocar na Argentina.”. Não, aí realmente
não vale a pena.
-X X X-
E-BOOK

185
Quanto a bitcoin e ouro, depende do ciclo eco-
nômico; se você está em um momento em que
o mundo tem juros abaixo da inflação, acho que
você pode ter mais desses ativos.

O quanto, varia de pessoa para pessoa. Hoje, te-


nho cerca de 10% da posição em ouro, e poderia
até ter uma posição parecida em bitcoin. Quan-
to menos você entende desse assunto, menos
exposição deve ter; contudo, alguma exposição
é interessante, apenas por um princípio de assi-
metria.

Pense o seguinte: se você comprar bitcoin e a


pior coisa do mundo acontecer, que seria ele

W W W. F I N C L A S S .C O M
deixar de existir, algo que não vou falar que é
impossível, mas é extremamente improvável, a
pior coisa que pode acontecer com a sua posi-
ção é você perder aquilo que você investiu, se
comprou 100 e foi a zero; mas qual o melhor
que pode acontecer? Na verdade, não é o me-

-X X X-
lhor, mas o que já aconteceu? Valorizações de
100, 200, 300, 400 até 1000%, em cerca de 12
CONTEÚDO EXCLUSIVO
meses. Um único acerto, um tempo de exposi-
ção ao bitcoin pode compensar uma série de er-
ros anteriores.
-X X X-
E-BOOK

186
Pensando em uma carteira com 5% de expo-
sição ao bitcoin, pense que esses 5% subiram
1000%, pensando na sua carteira como se o
resto dela, 95%, estivessem parados, essa única
multiplicação de 1000% sobre os 5% em bitcoin,
já daria um resultado agregado de 55%. Sendo
que, na pior hipótese, você perderia aqueles 5%,
então, por mais que você não acredite em nada
do que falei aqui em termos de um possível uso
do bitcoin como reserva de valor, apenas por
questões de assimetria de posição ele já seria
algo interessante para ter no seu portfólio, mas

W W W. F I N C L A S S .C O M
veja: algo interessante em pequena quantidade.

Ter muitos bitcoins aumentaria muita volatilida-


de do seu portfólio, e com certeza, poderia ser
algo que mudaria sua vida caso tivesse um de-

-X X X-
sempenho positivo, mas também poderia mu-
dar sua vida no sentido contrário caso tivesse

CONTEÚDO EXCLUSIVO
um desempenho negativo.
-X X X-
E-BOOK

187
É incrível que nos momentos em que o bitcoin
mais subiu, e às vezes está menos atrativo, é jus-
tamente quando as pessoas decidem ter ideias
brilhantes do tipo “vou vender minha casa e co-
locar tudo em bitcoin” e o que costuma acon-
tecer depois? Alguns poucos podem ficar ricos
por entrar no momento certo do ciclo econômi-
co, mas a maioria, quando fizer isso, e geralmen-
te faz isso porque não entende como funciona
ativo, acaba se dando tremendamente mal.

Então, a recomendação que deixaria para um

W W W. F I N C L A S S .C O M
amigo (a recomendação que sigo), é: quanto
à exposição no exterior, é uma opcionalidade,
não tem limite para isso, mas diria que o mínimo
para começar seria 10%, ouro e bitcoin variam
com o ciclo econômico; o ouro, como é menos

-X X X-
volátil, você pode ter mais, entre 5 e 10% já uma
boa exposição; e bitcoin, principalmente para

CONTEÚDO EXCLUSIVO
quem está começando, nada superior a 5%.
-X X X-
E-BOOK

188
189
CAP. IX

PRINCÍPIOS

E-BOOK -X X X- CONTEÚDO EXCLUSIVO -X X X- W W W. F I N C L A S S .C O M


Fechando o e-book, gostaria de falar sobre al-
guns princípios de investimento, talvez não só
de investimento, até de exposição em termos
de vida, já que uma carteira de investimentos
tem que ser uma continuação do que você faz
na sua vida profissional.

Quando era militar, pensava “já que tenho mui-


ta segurança em uma ponta, afinal estou traba-
lhando para aqueles que são donos da máqui-

W W W. F I N C L A S S .C O M
na de imprimir dinheiro no país, devo procurar
mais insegurança, em outra ponta, desde que o
risco seja acompanhado de possíveis maiores
recompensas financeiras”. Possíveis maiores re-
compensas, já que não existe garantia de que

-X X X-
esse tipo de coisa vai acontecer.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

190
Listando alguns princípios que segui ao longo
da minha caminhada, continuo seguindo e mui-
to provavelmente morrerei como seguidor de-
les.

O primeiro dos princípios é a intolerância com


as dívidas. É lógico que existem exceções para
isso: de tempos em tempos, principalmente
para quem possui menos recursos, o governo
faz algumas linhas de crédito, algumas opor-
tunidades com juros abaixo da inflação; não só
para quem tem menos recursos, para quem tem
muitos recursos e é amigo do governo, também
pode acontecer - mas tirando a excepcionalida-
de, geralmente vou evitar ao máximo o endivi-
damento.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Já que os juros compostos, como dizia Einstein,
“são a força mais poderosa do universo”, quero
colocar essa força para trabalhar a meu favor,
nos meus investimentos, e não contra mim, com
dívidas, até porque as taxas de juros das dívidas

-X X X-
costumam ser mais altas do que os rendimentos
de investimentos, pelo menos aqueles conserva-
dores, e os que não são conservadores não têm CONTEÚDO EXCLUSIVO

promessa nenhuma, podem render muito, assim


como podem ter muitas vezes um desempenho
negativo. Esse seria o primeiro ponto: seja into-
lerante com dívidas.
-X X X-
E-BOOK

191
O segundo ponto seria: poupe mais do que as
pessoas acham razoável. Se você poupa 5, 10%
do seu salário, fala isso com seu círculo de ami-
zades e ninguém se assusta, provavelmente já
está poupando pouco.

Gosto que a reação das pessoas seja “nossa,


você poupa 20, 30% daquilo que você ganha”?
Sei que não é exequível para todo mundo, va-
ria dependendo do estágio da vida da pessoa,
é mais fácil sobretudo para quem é mais jovem,
e de repente passa por um grande salto em ter-
mos de remuneração, como foi o meu caso lá
atrás; mas é interessante pensar dessa forma,

W W W. F I N C L A S S .C O M
porque caso venha a acontecer com você, use
como regra o seguinte: se até o mês passado
você vivia com um certo valor, e conseguia de
fato viver com aquilo e, de repente, passa a ga-
nhar 10, 20, 30, 50% a mais, às vezes muito mais

-X X X-
do que isso, por que não fica vivendo com o va-
lor antigo, durante um tempo maior, e acumula
o valor novo, para que possa poupar e investir CONTEÚDO EXCLUSIVO

por mais tempo?


-X X X-
E-BOOK

192
Conforme o tempo for passando, até porque a
inflação provavelmente vai forçar a subir o seu
custo de vida, você vai pegando parte do valor
destinando para o seu futuro, uma versão mais
velha sua que vai ter menos pique, que não vai
conseguir trabalhar, e você trabalha, porque tem
despesas com saúde maiores, despesas com fa-
mília maiores, então, pega o dinheiro e começa
a usar um pouquinho para o presente; mas sem
nunca descuidar desse cara do futuro, que di-
ferente de uma empresa que vende água, luz,

W W W. F I N C L A S S .C O M
energia, e que pode cobrar juros e multa; esse
camarada não pode, ele depende da sua pou-
pança hoje para ter uma qualidade de vida su-
perior lá na frente; então, poupe bastante pen-
sando no seu futuro, porque essa pessoa é você

-X X X-
mesmo.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

193
O terceiro ponto é investir com disciplina. Gos-
to sempre de falar que o investidor bem-sucedi-
do é aquele que faz o corriqueiro, investe o seu
dinheiro mensalmente, mesmo que o ambiente
seja nada corriqueiro, que é a História do Brasil,
desde muito antes de nascermos.

Analisar a História do Brasil é analisar uma his-


tória extremamente turbulenta, com várias tro-
cas de moedas, períodos inflacionários, golpes
que aconteceram dentro do país, impeachment
depois de curto período em que tivemos a rede-
mocratização; então, nunca vai ser fácil, nunca
haverá obviedades na trajetória.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Muito provavelmente, os acontecimentos no
Brasil sempre serão extremamente voláteis, in-
certos até, porque o futuro é incerto por natu-
reza, e no Brasil, diria que é um incerto ao qua-

-X X X-
drado. Há uma frase do Pedro Malan que muito
retrata a História do Brasil, diz que “aqui, até o
passado é incerto, quanto mais o futuro”; mas CONTEÚDO EXCLUSIVO

mesmo assim, invista com disciplina.


-X X X-
E-BOOK

194
Quando digo invista com disciplina, não en-
tenda errado, pensando que você deve investir
sempre nas mesmas coisas. Na verdade, o que
quero é que você construa uma carteira extre-
mamente diversificada, e entraremos no item 4,
que é construir essa carteira, e na verdade uma
vida, pensando em convexidade, ou seja, em es-
colhas assimétricas, que tendem a dar um retor-
no maior quando você acerta, do que perderia
quando erra.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Citei aqui o exemplo do próprio bitcoin, o má-
ximo que você pode perder ao se expor a esse
ativo é 100% do que você investiu, mas se ele
subir bastante, você pode ganhar 100, 200,
300, mil, 10 mil%, então, não se sabe o que pode

-X X X-
acontecer.

CONTEÚDO EXCLUSIVO
-X X X-
E-BOOK

195
Estendo também para negócios, porque as pes-
soas gostam de virar sócias de bons negócios,
comprando empresas na Bolsa de Valores, por-
que não pensar em criar um negócio você mes-
mo, em uma das eras mais simples para empre-
endedorismo que já tivemos na história.

Hoje em dia, qualquer pessoa com um celular na


mão e um acesso à internet pode obter, em re-
lativamente pouco tempo, centenas de milhares
de clientes, e a única coisa que o empreendedor
precisa para ser bem-sucedido é ter mil clientes.
Pense que vendendo algo que custe mil reais
para mil pessoas, você consegue um milhão.

W W W. F I N C L A S S .C O M
Nesse item 4, gostaria de falar sobre isso, sobre
essa exposição convexa tanto em investimentos
quanto em negócios, pensando em termos de
vida realmente.

-X X X-
O quinto e último ponto que sigo na minha
vida é aproveitar as oportunidades tanto den-

CONTEÚDO EXCLUSIVO
tro quanto fora do mercado financeiro, e essas
oportunidades de tempo em tempo aparecem;
na verdade, tem oportunidade todo dia.
-X X X-
E-BOOK

196
O mundo é como se fosse um grande ponto de
ônibus: toda hora tem um ônibus passando, mas
para que você possa embarcar é necessário pa-
gar o ticket da viagem; ou seja, para aproveitar

W W W. F I N C L A S S .C O M
oportunidades, você deve ter recursos preser-
vados em caixa, e quando a Bolsa cai demais,
você pega os recursos e compra ações; quando
as criptomoedas caem muito, você pega recur-
sos e compra criptomoedas; quando o ouro cai

-X X X-
bastante por conta de uma mudança de ciclo
econômico, você consegue comprar; ou com-
CONTEÚDO EXCLUSIVO
prar imóveis e toda a classe de ativos, desde
que você tenha sempre recursos para pagar
esse ticket. Quem não tem, fica parado no pon-
to, observando as oportunidades indo e voltan-
do, mas nunca consegue embarcar.
-X X X-
E-BOOK

197
Para encerrar, gostaria de deixar uma frase do
meu filósofo favorito, Sêneca, um Estoico roma-
no do século 1 que costumava dizer:

“o homem sábio considera a razão


de todas as suas ações, mas não os
resultados. O começo está em nosso
próprio poder; a fortuna decide o
assunto”

De maneira que você nunca sabe o que vai acon-


tecer, fruto das escolhas de suas exposições;
mas entenda que, se você não tem dívidas, acu-
mulou caixa, porque poupa bastante; você in-

W W W. F I N C L A S S .C O M
veste rotineiramente e disciplinadamente, mon-
tando uma carteira diversificada; faz escolhas
convexas, e aproveita as oportunidades dentro
e fora do mercado financeiro - os possíveis ga-
nhos dessas exposições tendem a ser maiores

-X X X-
do que os prejuízos, e algumas poucas escolhas
bem-feitas acabarão compensando aquelas que
porventura não deem os frutos esperados. CONTEÚDO EXCLUSIVO

Eu sou Bruno Perini e essa


foi a minha Finclass.
-X X X-
E-BOOK

198
CO PY R IG H T ©️ 2 0 21
©️ F I N C LASS | TO D O S O S D IR E ITO S R E S E RVAD O S

FINCLASS.COM

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-X X X-
E-BOOK

TODOS OS DI R EI TOS DESTE L IV R O SÃO R E S E RVAD O S E P R OT EG ID O S P E L A L E I


9.61 0 DE 1 9/0 2 /1 9 9 8 . N EN H U MA PART E D E ST E G U IA P O D E RÁ S E R R E P R O D U ZIDA O U
TRA N SMI TI DA SEM AU TO R IZAÇÃO P R ÉV IA DA M AR CA FINCL AS S .

199

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