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“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
APLICAÇÃO DA MATRIZ DE
PROBABILIDADE E IMPACTO NO
GERENCIAMENTO DE PROJETOS EM
UMA EMPRESA DE CONSTRUÇÃO
METÁLICA
Marina Penazzi Gaudêncio
marina_penazzi@hotmail.com
Fernando Schramm
mailto:fernandoepufcg@gmail.com
Vanessa Batista de Sousa Silva
vbschramm@gmail.com
1. Introdução
Os investimentos do governo brasileiro na siderurgia surgiram como uma opção estratégica
para desenvolver a industrialização no país, partindo do pressuposto de que as aplicações do
aço eram favoráveis ao desenvolvimento de todos os demais setores industriais, além de
favorecer aos interesses estatais em desenvolver obras de infraestrutura e transporte
(MOREIRA, 2018). Dessa forma, com baixo custo e elevada resistência mecânica, o aço passou
a ser símbolo de soluções para inúmeras aplicações industriais, com destaque para a aplicação
em estruturação metálica voltada para a construção civil.
Todavia, foi apenas a partir da década de 60, na implantação da Usina Hidrelétrica de Estreito,
que se tem notícia da primeira metodologia gerencial utilizada em um projeto brasileiro de
estrutura metálica (BIEZUS et al., 1986, apud SABBAG, 2002, p. 11). Até a década de 60, não
somente os projetos de construção metálica, como todos os projetos em curso no país, foram
realizados sem o respaldo de metodologias formais de gerenciamento de projetos.
Faleiros (2012, p. 50-51) afirma, com base nas estatísticas do IBGE, que o crescimento do setor
teve seu ápice no ano de 2009, apontando a indústria de estruturas metálicas como o grupo de
maior participação no faturamento da indústria geral de fabricação de produtos de metal.
Para garantir a sustentabilidade desses resultados e a evolução do gerenciamento de projetos no
Brasil, a gestão de projetos e, mais especificamente, a de riscos, precisa ser integrada ao negócio
de maneira sistêmica. Como explica Kerzner (2000, apud SABBAG, 2002, p. 126), “se antes
eram enfatizados os objetivos técnicos, hoje o são os do negócio; se antes o gerenciamento era
reativo, hoje passa a ser proativo; se antes as habilidades técnicas eram enfatizadas, hoje passam
a ser o conhecimento do negócio, a gestão de riscos e as habilidades de integração”.
Portanto, o objetivo deste artigo é aplicar uma ferramenta de gerenciamento de riscos em uma
indústria de construção metálica localizada em Queimadas/PB, a fim de poder traçar um
panorama dos principais riscos envolvidos na gestão de projetos de obras metálicas dessa
empresa. A ferramenta utilizada é a Matriz de Probabilidade e Impacto (MPI), cuja usabilidade
é pautada na análise qualitativa dos riscos, dando a devida importância às demandas particulares
desse tipo de projeto e do mercado de construção civil que a empresa atende.
2. Gerenciamento de riscos
O conceito de risco, em projetos, é descrito pelo PMI (2014, p.310) como “evento ou condição
incerta que, se ocorrer, provocará um efeito positivo ou negativo em um ou mais objetivos do
projeto tais como escopo, cronograma, custo e qualidade”.
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3. A MPI
A MPI é uma ferramenta de gerenciamento de riscos que prima por evidenciar o grau de
exposição (E) de eventos de risco. Grau de exposição é o resultado da relação entre a
probabilidade (P) de um risco acontecer e a dimensão do impacto (I) que ele pode gerar ao
projeto. O seu cálculo é dado por: Grau de exposição (E) = Probabilidade (P) × Impacto (I).
Para obter o grau de exposição dos riscos de forma orgânica, isto é, sem a aplicação da MPI,
seria necessário realizar esse cálculo para cada um dos riscos identificados. Através da
aplicação da MPI, porém, é possível obter este resultado de forma muito mais prática. É
necessário apenas olhar para a célula da matriz que está no cruzamento entre o valor da
estimativa da probabilidade do risco e o valor da estimativa do impacto do risco.
As probabilidades são divididas em cinco categorias, variando entre 0,10 e 0,90. Enquanto que,
os impactos são postos também em cinco categorias, mas estes variam entre 0,05 e 0,80. Para
cada evento caracterizado como risco do projeto, deve-se estimar o valor da sua probabilidade
e impacto. Tomando como exemplo um risco que possua probabilidade 0,90 e impacto 0,80, o
seu grau de exposição será, conforme a matriz (Quadro 1), de 0,72. Portanto, a MPI resume
todas as possibilidades de produto entre a probabilidade (P) e o impacto (I) de um dado risco.
Quadro 1 – Matriz de Probabilidade e Impacto (MPI)
IMPACTOS
PROBABILIDADES Ameaças Oportunidades
0,05 0,10 0,20 0,40 0,80 0,80 0,40 0,20 0,10 0,05
0,90 0,05 0,09 0,18 0,36 0,72 0,72 0,36 0,18 0,09 0,05
0,70 0,04 0,07 0,14 0,28 0,56 0,56 0,28 0,14 0,07 0,04
0,50 0,03 0,05 0,10 0,20 0,40 0,40 0,20 0,10 0,05 0,03
0,30 0,02 0,03 0,06 0,12 0,24 0,24 0,12 0,06 0,03 0,02
0,10 0,01 0,01 0,02 0,04 0,08 0,08 0,04 0,02 0,01 0,01
Fonte: Adaptado do PMI (2014)
Ademais, a MPI possui uma subdivisão entre ameaças e oportunidades. Portanto, conforme a
tipologia do risco, deve-se ater-se ao lado esquerdo ou direito da matriz, a fim de apurar o seu
grau de exposição. O alto grau de exposição é caracterizado pelos espaços em azul escuro,
enquanto que os graus moderados e baixo correspondem a, respectivamente, o azul médio e
claro. Podendo este grau de exposição estar relacionado a uma oportunidade (lado direito da
matriz) ou a uma ameaça (lado esquerdo da matriz).
A importância desse conhecimento está na possibilidade de classificação dos riscos de uma
maneira mais confiável. Isto porque, normalmente, os gestores realizam uma análise intuitiva
que conta apenas com uma perspectiva unilateral. Ora se considera um evento de alto risco
simplesmente por ser “altamente provável” e ora se considera um evento de alto risco apenas
por ser de “alto impacto”. A MPI, por outro lado, oferece ao gestor uma visão global, que
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5. Procedimentos metodológicos
A pesquisa a seguir trata-se da aplicação da MPI em uma empresa de médio porte que é
responsável pelo projeto, fabricação e montagem de estruturas metálicas em obras civis. A
empresa situa-se no Distrito Industrial de Queimadas/PB.
Do ponto de vista de sua natureza, a pesquisa é aplicada. Em relação à sua abordagem, a
pesquisa se classifica como qualitativa. Quanto a seus objetivos, a pesquisa é classificada como
exploratória. Por fim, tratando-se dos procedimentos técnicos, a pesquisa é um estudo de caso.
O primeiro procedimento teve como objetivo o levantamento das fases de projeto de construção
metálica, segundo a bibliografia, e a validação das fases de projeto junto à gerência da empresa.
Feita a validação do modelo das fases de projeto, foi realizada uma entrevista com o intuito de
identificar e registrar os riscos em cada uma das fases de projeto. Para isso, o gerente de
produção foi questionado e levado a pensar sobre todas as fases de projeto descritas no modelo.
As perguntas feitas, para cada uma das fases de projeto, foram “Quais riscos podem ser
identificados nesta fase?” e “Como seria a melhor forma de elencar estes riscos em ordem
cronológica?”. Ao final desse procedimento, chegou-se a uma relação de riscos do projeto.
Para os riscos identificados, foi pedido que a gerência atribuísse um valor, dentre cinco opções
que variavam em uma escala de 0,10 a 0,90, a respeito da probabilidade de ocorrência (P) de
cada risco. E, em seguida, foi pedido também que a gerência atribuísse um valor, dentre cinco
opções que variavam entre 0,05 e 0,80, para o impacto (I) gerado pela ocorrência desses riscos.
Estes valores foram registrados e representaram a percepção do gestor a respeito dos riscos em
cada uma das fases de projeto (Quadro 2).
Quadro 2 – Classificação Qualitativa dos Valores de Probabilidade e Impacto
Probabilidades Impactos
0,10 Nunca 0,05 Muito baixo
0,30 Raramente 0,10 Baixo
0,50 Às vezes 0,20 Moderado
0,70 Muitas vezes 0,40 Alto
0,90 Sempre 0,80 Muito alto
Fonte: Elaborado pela autora
Conhecidas as estimativas de probabilidade (P) e impacto (I) de cada um dos riscos registrados,
foi possível aplicar a MPI para verificar o grau de exposição de cada evento de risco e, assim,
classificá-los em “alto”, “moderado” ou “baixo”.
A análise dos eventos de risco foi estabelecida através da montagem de matrizes específicas
para cada um dos tipos de risco. Sendo assim, foram analisados, primeiramente, os eventos de
baixo risco, depois de risco moderado e, por fim, de alto risco. Dessa forma, os resultados da
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MPI puderam ser interpretados criticamente para cada uma das categorias de risco, de forma
particular.
Em seguida, foi realizada a construção da Curva ABC para analisar graficamente as categorias
de risco. Considerou-se os eventos de baixo, moderado e alto risco como grupos A, B e C,
respectivamente. Com isso, foi possível aferir o percentual acumulativo dos riscos sob análise.
Por fim, foram feitas as considerações para o plano de resposta aos riscos, tomando como base
as análises feitas. Os procedimentos metodológicos adotados na pesquisa estão resumidos na
Figura 1.
Figura 1 – Procedimentos metodológicos
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Para a melhor visualização dos resultados anteriores, tem-se aqui a representação dos riscos
pela Curva ABC. Como pode-se observar na Figura 2, os “Eventos de Alto Risco” foram
classificados como Grupo A, os “Eventos de Risco Moderado” foram classificados como Grupo
B e os “Eventos de Baixo Risco” foram classificados como Grupo C. No eixo y do gráfico
constam os valores correspondentes ao grau de exposição (E) dos riscos. No eixo x do gráfico
constam os dezenove riscos, na ordem de maior grau de exposição para menor grau de
exposição. As barras do gráfico assumem comprimento correspondente ao seu grau de
exposição, enquanto que a curva traçada corresponde à porcentagem acumulada dos riscos, ou
seja, a linha de base. Estas porcentagens constam em um terceiro eixo graduado de 0% a 100%,
no lado direito do gráfico.
Figura 2 – Gráfico de Curva ABC para representação dos riscos
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7. Conclusão
Os resultados obtidos na pesquisa permitiram o conhecimento sobre dezenove eventos de risco
que são tidos como ameaças aos projetos de uma empresa de estrutura metálica de médio-porte.
As estimativas de probabilidade e impacto apuradas possibilitaram a aplicação da MPI para
serem conhecidos os graus de exposição de cada risco. Nesse ponto do trabalho, foi possível
classificar os riscos e conhecer aqueles que são as maiores ameaças aos projetos, aqueles que
são ameaças moderadas e aqueles que são pequenas ameaças.
Analisando os eventos de baixo, moderado e alto risco, de forma particular, foi verificado que
as dificuldades gerenciais enfrentadas pela empresa durante a execução de seus projetos são
semelhantes às categorias de riscos identificadas neste artigo.
A construção da Curva ABC foi usada para complementar essas análises. Considera-se que a
sua representação foi importante para a melhor visualização das diferenças entre as categorias
de riscos. Através da analogia proposta entre os grupos A, B e C e as três categorias de risco,
foi possível comparar as proporções entre a quantidade de riscos de cada categoria e a parcela
de grau de exposição que elas representam.
Por fim, a proposição de ações estratégicas para coibir os eventos de alto risco, bem como a
proposição de boas práticas para melhor preparar a empresa para os eventos de risco moderado
(excluindo os eventos de baixo risco), foi importante para direcionar a atuação da gestão de
riscos na empresa em estudo, de acordo com os resultados fomentados pela aplicação da MPI.
Espera-se que a pesquisa realizada possa fomentar novos estudos sobre riscos em projetos de
estruturação metálica e trazer resultados cada vez mais consistentes, rumo à uma abordagem de
gestão efetiva de projetos desse tipo. A indústria de construção metálica pode alcançar novos
patamares de desenvolvimento à medida que buscar entender seus eventos de risco e
sistematizar suas respostas a eles.
REFERÊNCIAS
DUFFY, Mary. Gestão de projetos. Rio de Janeiro: Elservier, 2006. 116p.
FALEIROS, João Paulo Martin; TEIXEIRA JÚNIOR, Job Rodrigues; SANTANA, Bruno Marques. O
crescimento da indústria brasileira de estruturas metálicas e o boom da construção civil: Um panorama do
período 2001-2010. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/bibliotecadigital>. Acesso em: 16 maio 2018.
KEELING, R. Gestão de projetos: uma abordagem global. Tradução Cid Knipel Moreira. Editora Saraiva. São
Paulo, 2002.
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PINHEIROS, Antônio Carlos da Fonseca Bragança. Estruturas Metálicas: Cálculos, Detalhes, Exercícios e
Projetos. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2005. 301 p.
SABBAG, Paulo Yazigi. Incerteza e Riscos: O trabalho de gerenciadores de projetos. São Paulo: FGV/EASP,
2002. 348 p. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Administração, Escola de Administração de
Empresas de São Paulo, Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 2002.
SOUZA, Sara Alves Leite de. Etapas de fabricação e montagem em estruturas metálicas. Brasília, 2015.
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