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A Sombra Do Vampiro - Bella Forrest
A Sombra Do Vampiro - Bella Forrest
Bella Forrest
A Sombra do Vampiro
Bella Forrest
Apesar de seu vício pelo poder e sua sede obsessiva por sangue, Sofia logo percebe
que o local mais seguro de toda a ilha é dentro dos aposentos do príncipe, e ela deve
fazer tudo o que está ao seu alcance para conquistá-lo se quiser sobreviver mais uma
noite.
Ela conseguirá? Ou estará fadada ao mesmo destino que todas as outras garotas
encontraram nas mãos dos Novaks?
Prólogo
E u sempre temi as noites em que meu pai era chamado
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Eles não sabiam que quando a casa ficava em silêncio, exceto
pelo som de nossa respiração, uma mulher diferente surgia.
A memória mais antiga que eu tenho dela é um olho verde, me
espiando através do buraco da fechadura. As pontas de sua franja
ruiva tocavam seus cílios enquanto ela me encarava, sem piscar. Ela
ficava em silêncio, quando a única coisa que eu queria era ouvi-la
falar. Dizer que destrancaria o armário antes da meia noite, quando
ela dizia que os monstros viriam me buscar.
Embora os monstros nunca tenham vindo, ela também não
vinha.
Eu ainda me lembro da escuridão daquela noite, parecia que não
tinha fim. Eu me lembro do frio, e da pontada de dor nos meus dedos
quando os coloquei na fechadura, tentando abri-la com meus
pequenos dedos. Mas a fechadura era velha, o metal afiado. Acabei
me cortando. Profundamente. Quando Camilla me encontrou pela
manhã, havia marcas de sangue por todos os lados das paredes claras.
Ela me colocou para fora do armário, me castigou, e pintou as
paredes antes do meu pai retornar.
Ela se certificou de substituir a fechadura por um metal mais
suave depois disso.
Quando comecei a ir à escola, passei a vê-la menos. Cada vez
mais eu percebia que meu pai me incentivava a passar meu tempo
com os Hudsons, velhos amigos da família.
Então, quando eu tinha nove anos, ele finalmente mandou
Camilla embora. Eu não me lembro de ter dito adeus, e nunca a
visitei. Meu pai achava melhor que eu não fosse. Ela surtou e ficou
louca, ele dizia. Mas ele me garantia que os médicos do hospital
psiquiátrico eram os melhores do mundo. Verdade seja dita, eu
nunca senti vontade de localizá-la.
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Depois que ela se mudou, eu achei que teria uma chance de viver
normalmente. Eu esperava que, sem ela em nossas vidas, meu pai
passaria mais tempo em casa e nossa relação melhoraria.
Mas quando Camilla foi embora, ele também foi.
Suas viagens a trabalho se tornaram cada vez mais longas até
que, eventualmente, a casa dos Hudsons se tornou meu lar
permanente. Depois disso, as únicas vezes que eu ficava sabendo do
meu pai eram quando um cheque chegava pelo correio. E mesmo
assim, era sempre endereçado a Lyle Hudson.
Eu me perguntava, às vezes, se ele havia me abandonado
porque eu o fazia lembrar de Camilla. Nunca tive a chance de
perguntar.
Conforme os anos foram se passando e entrei no colegial, muitas
vezes eu pensava sobre as últimas palavras que me lembrava de ter
ouvido Camilla dizer. Ela dizia que eu deveria esperar que a vida me
servisse uma boa dose de surpresas.
Aos dezessete anos eu sentia que a vida havia me servido mais
do que uma boa dose – mais do que qualquer pessoa deveria ter que
passar na vida.
Mas então, eu conheci Derek Novak. E de repente, parecia que
eu havia vivido a vida mais previsível do mundo.
Ele certamente era uma surpresa que estava longe de ser justa...
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Sofia
A gora não. Por favor, agora não.
— Tem certeza de que está bem? —Dessa vez foi o pai de Ben,
Lyle, olhando para mim de seu assento a alguns centímetros.
Mordi o lábio e dei um breve aceno, desejando que eles me
deixassem em paz. Eles ainda não entendiam que perguntar se eu
estava bem nunca ajudava. Em nada.
Quando o som estridente de um apito invadiu aquele turbilhão
de sensações nas quais eu já estava me afogando, minha decisão de
não ceder se desintegrou.
Abaixar minha cabeça e colocá-la entre meus joelhos era tudo o
que eu podia fazer para parar de tremer.
Era pensar na minha mãe o que desencadeava meus ataques de
pânico, pois com os outros aspectos da minha condição mental eu já
havia aprendido a lidar. Era pensar naqueles olhos verdes e na última
vez que eu me lembro de tê-la visto. Pensar que eu estava fadada a
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acabar como ela. A inevitabilidade dessa ideia me levou a um estado
sem volta. Todo pensamento racional se desligou e a dúvida
torturante se repetia na minha mente.
Senti mãos tocando meus ombros.
— Sofia. —Era a voz de Amelia.
Mais estímulos com que lidar – a voz dela e o toque das suas
mãos.
Ela estava tentando fazer com que eu me sentasse direito, mas
eu me recusei. Escorreguei da cadeira e me ajoelhei no chão.
Sentindo a humilhação de tudo isso, eu queria desaparecer.
— Sofia, —uma voz diferente me chamou dessa vez.
Uma voz forte, masculina.
A voz de Benjamim Hudson.
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pânico ainda me encobria. Ele levou a mão ao meu queixo e me
forçou a olhá-lo.
— Sente-se. —Sua voz era firme conforme ele se ajoelhava,
colocando a bola entre seus joelhos.
Eu senti que não tinha mais controle sobre meus membros. —
Não consigo, —eu sussurrei.
Ele franziu a testa para mim, um olhar de profunda
desaprovação desfigurando suas lindas feições. Seu rosto estava
agora a apenas alguns centímetros do meu, seus olhos azuis
penetravam nos meus. — Eu conheço uma desculpa quando vejo
uma. Não ouse se enganar acreditando que você é uma vítima, Sofia
Claremont.
Quase no mesmo momento em que ele disse essas palavras –
palavras que ele havia dito para mim muitas vezes antes – uma onda
de alívio invadiu meu corpo. Suas mãos fortes me seguravam pelos
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Futebol americano nunca foi o meu esporte favorito. Eu assistia
por causa do Ben, já que ele fazia parte do time da escola. Depois de
cinco minutos tentando me concentrar e seguir o que estava
acontecendo, me encontrei vagando pelos meus próprios
pensamentos. O que havia acabado de acontecer se repetia na minha
mente.
Dois problemas me afligiram durante meus anos de ginásio e
colegial. Consciência excruciante de estímulos externos e ataques de
ansiedade. Me consultei com inúmeros médicos e psiquiatras.
Embora nenhum deles tenha concordado sobre o diagnóstico – cada
um tinha uma teoria diferente, desde Síndrome de Asperger1 até TOC –
todos eles concluíram que os dois problemas estavam relacionados.
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Transtorno de desenvolvimento que afeta a capacidade de se socializar e de se comunicar com
eficiência.
2
Sofia
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aeronave estava lotada e, por isso, Amelia, Lyle e Abby tiveram que
se sentar algumas fileiras atrás de nós. Eu me sentei na janela,
enquanto Ben se sentou ao meu lado.
Seus olhos estavam fechados, sua cabeça balançando de um lado
ao outro. Estávamos há uma hora no voo.
Seu time ganhou o jogo ontem e ele havia ficado celebrando até
mais tarde do que deveria. Duvido que ele tenha dormido mais do
que três horas antes de levantarmos para irmos até o aeroporto esta
manhã. Ele não acordou até que uma comissária chegou nos
oferecendo bebidas.
— Eu apenas ... estou feliz por estar aqui. Não estou com muita
fome.
Se eu realmente ia levar isso adiante, a primeira noite seria a
melhor noite para fazer isso. Se ele concordasse, nós teríamos as
férias todas para ficarmos juntos como namorado e namorada. Se ele
não concordasse... eu coloquei essa ideia bem longe da minha mente
por hora.
Eu não participei muito da conversa. Quem mais falava era a
Amelia, contando sobre como amava este lugar, e lendo um guia de
coisas que poderíamos fazer lá.
Quando Amelia e Lyle pediram a conta, eu olhei para Ben.
— Quer dar um passeio? —Perguntei.
Ele parecia cansado, mas seu rosto se iluminou. — Claro. —Ele
se virou para a mãe. — Sofia e eu vamos à praia. — Posso ir junto?
18 —Abby perguntou, pulando de sua cadeira.
Senti um alívio quando Amelia a deteve. — Não, Abby. É hora
de dormir. —Ela olhou para mim e Ben. — Está bem, mas não
fiquem até muito tarde e não caminhem até muito longe. Fiquem
onde os outros turistas estão.
Nós nos despedimos e fomos para a praia. Tiramos nossos
sapatos e os seguramos nas mãos enquanto caminhávamos. Fomos
em direção ao oceano, desfrutando da sensação das ondas batendo
em nossos pés.
Queria que Ben já fosse meu namorado. Tudo nessa cena era tão
romântico. A lua, as estrelas, a praia ... Eu queria que em um passe
de mágica nós pudéssemos passar daquele estágio de finalmente
ficarmos juntos, e que ele me tomasse em seus braços e me beijasse
agora.
bem pequeno, seus longos cabelos loiros dançando nas suas costas.
Ela estava molhada quando chegou até nós.
— Oi, Ben, —ela disse, recuperando o fôlego. Ela não olhou
para mim nenhuma vez. Era como se eu fosse invisível para ela.
— Tanya? O que você está fazendo aqui? —Ben perguntou, seus
olhos arregalados.
— Vim com a minha família para um pequeno descanso. Nós
viemos alguns dias antes do final das aulas para economizar ... Onde
você está ficando?
Ben apontou para o nosso resort, claramente visível mesmo à
distância em que nos encontrávamos.
— Eu também estou hospedada lá! Em qual quarto você está? —
Cinquenta e quatro, —ele respondeu.
Ela pegou nas mãos dele, esticando suas longas pernas para dar
20 um beijo em sua bochecha. — Não estou longe de você. Setenta e
oito.
Os olhos de Tanya finalmente se fixaram em mim. O desdém em
seu olhar era quase palpável. Ela olhou novamente para Ben. —
Posso conversar com você em particular?
Ben olhou para mim, hesitante.
Tanya apertou o braço dele ainda mais forte. — Estou partindo
em três dias. Eu ficaria muito feliz se nós pudéssemos conversar ...
Prometo não demorar.
Ben suspirou e concordou. — Certo. —Ele olhou para mim se
desculpando. — Sinto muito, Sofia. Se importa se nós conversarmos?
— Oh, claro que não, eu ... Eu vou voltar para o hotel, eu acho.
— Encontro você lá.
— Aham ...
Minha boca seca, meu peito doendo por deixar Ben ali, sozinho
com Tanya vestida daquele jeito, eu me virei e encarei o hotel,
caminhando de volta.
Amigos antes do futebol.
Mas não antes das amantes.
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21 Sofia
A cho que no momento em que vi Tanya correndo em
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uma mão gentil tocando o meu ombro. Achei que era Ben, então
permaneci imóvel, meus olhos fechados, fingindo dormir.
Senti dedos quentes tocando o meu cabelo que caía sobre o meu
rosto.
— Me desculpe, Sofia, —ele sussurrou.
Não sei se ele percebeu que eu estava acordada, ou apenas se
sentiu culpado e quis se desculpar, mesmo eu estando dormindo.
Abri meus olhos e olhei para ele. Me arrependi. Seus lindos
olhos azuis olhando para mim cheios de preocupação me faziam
desejá-lo ainda mais. Joguei as cobertas para o lado e, sem dizer uma
palavra, caminhei até a varanda.
Me debrucei sobre a grade e olhei para baixo, quando o senti se
aproximando. — Não sei como eu me esqueci.
— Tudo bem, —eu disse baixo, com medo de que se falasse mais
alto minha voz falharia. — Não, não é. E eu posso ver que não é.
Quero compensar isso de alguma forma. —Suas mãos tocaram meus
ombros e ele me virou de frente para ele.
Minha voz ficou presa na minha garganta. Eu queria tanto dizer
para ele, ali naquele momento, sobre a tortura que ele estava
infligindo em mim por causa da Tanya. Senti meus lábios coçando
para finalmente colocar tudo para fora. E então, ele que lidasse com
a minha proposta como quisesse.
Mas eu ainda era uma covarde. Eu ficava pensando no quão
linda e perfeita era a Tanya junto do Ben. Eu sentia que não estava à
altura dele.
Então eu fugi.
Sentindo as lágrimas se formando nos meus olhos novamente,
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eu voltei para o quarto antes que ele pudesse perceber. Eu ainda
estava usando meu biquíni – seco, depois de horas no sol da tarde.
Embora a brisa da noite fosse fresca, eu não queria parar por muito
tempo caso Ben tentasse me segurar e me impedir.
Pegando minha saída de praia, saí do quarto, correndo pelo
corredor, pelas escadas e para fora do prédio.
Quando cheguei na praia, corri ainda mais, a areia castigando
meus pés. Tentei esquecer meus pensamentos e deixar a noite me
levar. O som das ondas batendo acalmavam meus ouvidos. Minha
pele arrepiada com a brisa leve do verão, o cheiro salgado do oceano
em meu nariz. Perdi a conta de quanto tempo passei correndo.
Quando minhas pernas ficaram cansadas, diminuí o ritmo e passei a
caminhar.
Avancei para dentro do oceano até que a água chegasse na
minha cintura. Me deitei para trás, boiando e olhando as estrelas. A
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Havia algo de errado com esse homem, e eu não queria ficar ali para
descobrir o que era.
Mas parecia que eu iria ficar ali, querendo ou não.
Uma mão gelada segurou meu braço, me fazendo virar de frente
para ele. Ele me segurou, seus olhos azuis penetrando nos meus.
— Eu fiz uma pergunta.
— Me solta, —eu sussurrei.
Minha mão direita ainda estava livre e segurando minhas
sandálias. Eu levei-as com força em direção ao seu rosto. Ele desviou
com uma velocidade e agilidade que eu nunca havia visto em um
homem antes. Ele segurou minha mão direita, fazendo com que
minhas sandálias caíssem no chão.
Eu o encarei. Com esperança de que ele me soltasse, respondi,
— Sofia.
Seus olhos brilharam. Trazendo a mão até meu rosto, ele tocou
meu queixo com seu polegar. — Sofia. É um prazer conhecê-la.
Ele segurou o broche que Abby havia me dado mais cedo, ainda
preso na minha saída de praia. — Feliz 17º aniversário, —estava
escrito. Seu sorriso pareceu ficar ainda mais largo.
Eu estava a ponto de gritar por socorro, mas de repente fui
dominada pelas sensações à minha volta. Ouvi as ondas, senti a
areia, o cheiro salgado do oceano, o sabor do cacau de cereja nos
meus lábios, e tentei assimilar a aparência maníaca daquele estranho
enquanto ele enfiava uma agulha no meu pescoço.
O efeito foi instantâneo. Eu mal conseguia puxar o ar, quanto
mais gritar. Eu passei do estágio em que estava sentindo tudo para o
estágio em que não sentia absolutamente nada.
Meu último pensamento foi que talvez eu jamais visse Ben
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novamente.
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Sofia
P isquei diversas vezes, tentando enxergar com mais
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segundos, a porta se abriu. Uma luz incandescente cintilou, me
cegando.
Meus olhos mal haviam se acostumado à mudança de claridade,
quando senti uma mão me segurando pela garganta e me colocando
de pé. Era o estranho da praia.
— O que você quer de mim? —Eu gritei. Não fiz essa pergunta
esperando ouvir uma resposta. Só precisava quebrar o silêncio, na
esperança de esconder o som dos meus batimentos cardíacos
frenéticos.
Sua mão me apertava ainda mais enquanto eu me debatia. Ele
levantou a outra mão e afastou uma mecha de cabelo do meu rosto.
Estremeci com o seu toque. Ele me empurrou em direção à parede e
me prensou contra ela. Arquejei com seu peso me esmagando.
— Bem-vinda à Sombra, Sofia. —Ele chegou mais perto, sua
respiração gelada em minha orelha. — Você é muito bonita, não é?
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pessoa, além de mim, havia tocado antes. Seus olhos penetravam nos
meus enquanto eu tentava me desvencilhar do seu toque.
— Não há saída. Se quer sobreviver, você deve entender que
neste reino você existe apenas para obedecer. Faça o que mandamos
e nós poderemos, talvez, permitir que você viva.
Reino? O quê?
Cuspi em seu rosto. Era o único ato de desafio que eu conseguia
manejar com todo o seu peso em cima de mim.
Minha sensação de vitória durou cerca de um segundo. Ele
limpou o rosto com dorso da mão e apertou meu pescoço.
— Você perguntou o que eu quero de você. Só existe uma coisa
que você pode me dar, Sofia. —Eu o encarei, determinada a, pelo
menos, manter minha dignidade e respeito. — O quê? —Sua resposta
causou calafrios por todo o meu corpo.
— Você.
Seus caninos projetaram-se para fora de sua boca. Ele inclinou
minha cabeça para o lado, expondo meu pescoço. Parecia um sonho,
mas embora eu tentasse acordar, não havia saída.
Eu estava convencida de que eu havia sido drogada com um
alucinógeno, ou então de que a doença da minha mãe havia
finalmente me acometido, porque naquele momento tive a certeza de
que estava prestes a ser comida viva por um vampiro.
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Sofia
A ntes que eu pudesse ter um ataque, uma voz feminina
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polegar. Gemi quando ele riscou meu lábio inferior, cortando-o.
— Lucas. Pare, —Vivienne gritou.
Ele me soltou, permitindo que eu recuperasse o fôlego. Dando
um passo para trás, ele me olhou como se eu fosse a coisa mais
nojenta que ele já havia visto na vida.
— Estou apenas tentando ajudá-la a acordar o seu amado Derek,
Vivienne. Leve essa daí e faça com que ela beije a Bela Adormecida.
Quem sabe o sabor de seu sangue não acorde o príncipe? —Lucas
caminhou em direção à porta, mas parou para encarar sua irmã. —
Não é isso que você acredita que vá acontecer quando Derek acordar?
Um conto de fadas?
O alívio tomou conta de mim quando ele finalmente foi embora,
batendo a porta. Olhei para Vivienne pela primeira vez.
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Peão? Peça? Ganhar a afeição? Há algumas horas, eu era apenas
uma turista caminhando pela praia. Embora não entendesse o que
ela queria dizer com aquilo, suas palavras eram como um golpe
certeiro no que me restava de esperança.
Seja o que for este lugar chamado “A Sombra”, eu não tinha
aliados aqui. Nenhum amigo. Eu só tinha a mim. E isso, logo
percebi, era o aspecto mais assustador do meu dilema. Afinal, como
eu poderia depender de alguém em quem não confiava?
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Sofia
A mulher me deixou sozinha no calabouço antes que eu
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Ele não havia nem percebido que eu estava tentando me segurar à
parede.
O que são essas pessoas?
Agarrando meus ombros, ele me levantou do chão e me colocou
em pé novamente. Olhando para os meus joelhos esfolados, ele fez
uma careta para mim. Suas mãos cercaram minha cintura e, quando
percebi, ele havia me jogado sobre os seus ombros, minha cabeça
para baixo.
Eu chutava, mas ele me agarrava com mais força, esmagando
meu estômago contra o seu ombro e dificultando minha respiração.
Eu não tinha outra escolha senão ceder.
Sendo carregada nesta posição esquisita, ficava difícil ver para
onde ele estava me levando. Mas logo o homem começou a descer
por uma escada em espiral. Minhas entranhas se contorciam a cada
volta que ele dava. Não havia corrimão, e em mais de uma ocasião
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Vivienne me olhou rapidamente, antes de encarar o meu
acompanhante.
— Bom, —ela disse. — Agora você pode nos ajudar a reunir as
outras.
O homem me puxou para frente em direção a eles. Vivienne
abriu uma porta e nós entramos. Um odor de mofo entrou pelo meu
nariz enquanto caminhávamos até o final de um longo corredor – que
não era muito mais iluminado do que o lugar de onde acabávamos
de sair. Barras de aço delineavam os dois lados. Gritos e lamúrias
ecoavam através das paredes de pedra. Conforme meu guarda me
puxava, eu era capaz de ver através das primeiras grades, e avistei
uma cela com uma dúzia de homens e mulheres – tanto jovens
quanto velhos. Eles se amontoavam o mais longe possível dos
portões das celas. Suas roupas estavam sujas e rasgadas. Círculos
pretos estampavam seus olhos e todos estavam tão magros que me
perguntei há quanto tempo não comiam.
percebi que aquela não era uma parede comum. Estávamos parados
aos pés de uma montanha, seus cumes acentuados acima de nós.
Engoli em seco quando percebi onde estávamos. A rede de túneis por
onde havíamos acabado de passar tinha sido esculpida em uma
montanha.
Meu guarda me colocou de pé e me virou para frente. Árvores
delimitavam as extremidades da clareira. Árvores tão altas que eu
mal podia ver os topos. Perdi o fôlego. Eram sequoias gigantes, do
tipo que eu jamais havia visto, nem mesmo nos livros.
— Vamos continuar andando, —Vivienne disse.
O guarda puxou as correntes, forçando a garota e eu. Conforme
passamos pela clareira e adentramos a floresta, fiquei um passo para
trás e tentei pegar no braço da garota que caminhava do outro lado
do guarda. Seu rosto assustado olhou para mim. Fiz com que ela
diminuísse o passo também. Eu estava prestes a conversar com ela
40 quando o guarda percebeu o que eu tentava fazer. Ele nos segurou
pelos braços e nos separou novamente.
O homem nos levantou novamente e voltou a correr pela
floresta, embora em uma velocidade menor do que quando
estávamos na rede de prisões. Eu conseguia observar nossos
arredores. O bosque era tão espesso naquele ponto, a cobertura de
folhas tão densa, que tudo era breu, exceto por uns raios de luz da
lua que escapavam por entre as folhas. A não ser pelos sons dos
passos dos guardas, a noite estava assustadoramente silenciosa. Eu
podia ouvir o suave farfalhar das árvores no vento, os ruídos de
algum animal estranho e a respiração pesada dos homens que
seguiam em frente.
— Para onde estamos indo? —Perguntei.
Fui ignorada, mais uma vez. Mas a garota ao meu lado me olhou
de relance novamente, enquanto ficávamos penduradas, de cabeça
para baixo, nos ombros do nosso guarda corpulento.
— Eu sou Gwen, —ela sussurrou.
— Sofia.
Ela parecia ter muito medo de que o guarda nos castigasse se
continuássemos a conversar, então permaneceu em silêncio depois
disso. Não poderíamos conversar muito, de qualquer maneira,
penduradas naquele ângulo em que estávamos, sendo chacoalhadas
como pedaços de carne. O homem diminuiu o ritmo até parar e eu
fui jogada no chão mais uma vez. Segurando com minhas mãos
suadas a corrente que me prendia a ele, encarei uma abertura nas
árvores, que acabara de entrar em meu campo de visão. Luzes
quentes brilhavam através daquela abertura, e conforme emergíamos
por uma passagem suja, pude ver o primeiro sinal de civilização
41 desde que havia deixado Cancún.
— Aqui, garotas, —um dos guardas falou, sem tentar esconder
o modo lascivo como ainda nos olhava, — é O Vale.
A estrada de terra nos levou até uma rua de pedras, iluminada
por lanternas acesas fixadas do lado de fora de construções. Meus
olhos se arregalavam conforme eu tentava entender a cena ao meu
redor. Os prédios que revestiam as ruas eram como residências que
poderiam ser encontradas em qualquer cidade moderna. No entanto,
conforme andávamos pela cidade, passando por diferentes ruas,
outras construções pareciam remanescentes da era medieval. Elas
apresentavam paredes de pedra áspera e telhados de palha. Era como
se aquele lugar fosse uma mistura de passado e presente. Não pude
evitar imaginar há quanto tempo este lugar existiria.
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assim eu não sentia nada além de medo.
— Você está linda. —Marie disse enquanto me ajudava a subir
o zíper do meu vestido. — Para que tudo isso? —Sussurrei, minha
voz rouca. Marie parecia ser mais falante do que a mulher mais
velha, então tentei a minha sorte.
— Você será parte do harém do príncipe, —ela disse. — Todos
que fazem parte da elite da Sombra possuem seus próprios haréns.
Vocês tiveram sorte de serem escolhidas para servir ao lendário
Derek Novak.
— Qu-Quem é Derek Novak?
— Me desculpe. Não posso revelar mais ... mas apenas um
conselho: não o desagrade. —Ela passou os dedos pelo meu cabelo.
— Mas não fique tão preocupada. Você está linda. Duvido que
encontrará dificuldades em agradá-lo.
7
Derek
N o momento em que meus olhos se abriram, pude ouvir
8
50
Sofia
M eus olhos estavam fixos no jovem que Vivienne abraçou.
Não havia dúvidas em minha mente de que era ele. Era para ele que
eu estava ali.
Ele era Derek Novak.
Ele tinha as mesmas feições de seu irmão – queixo forte, olhos
azuis, cabelos castanho-escuros, quase pretos – mas havia algo mais
refinado nele. Pude perceber imediatamente que ele era mais novo
do que Lucas. Havia um ar de meninice em seu rosto. Comecei a
achar que realmente seria melhor para mim estar nas mãos dele do
Derek o olhou de soslaio antes de voltar seu olhar para cada uma
de nós.
— Um Harém? Caça? Desde quando fazemos isso? Quem são
estas garotas e onde exatamente vocês as ‘caçaram’?
Lucas, Vivienne e outra mulher presente na câmara trocaram
olhares desconfortáveis. Foi Vivienne quem respondeu.
— São humanas abduzidas do mundo externo. Nós caçamos
humanos para escravizá-los aqui, para trabalharem. Aqueles que são
inúteis acabam sendo o banquete. As mais bonitas dentre as
prisioneiras são usadas pela Elite como parte do que chamamos de
harém. Alguns dos inquilinos também têm uma ou duas belas para
seu próprio proveito. As humanas que formam os haréns são
mantidas vivas por um ano, e então seus proprietários decidem qual
será seu destino final.
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— Na verdade é apenas uma desculpa para tê-las em seu melhor
momento, —Lucas acrescentou com um sorriso.
Pela expressão no rosto de Derek, ele não parecia satisfeito. Ele
olhou para nós – a distância que nos separava era de apenas alguns
passos.
— Eu sei o que você está pensando e, não, você não pode deixá-
las ir. —Lucas falou como se estivesse conversando com uma criança
de cinco anos de idade. — Elas já viram A Sombra. Elas ficam ou
morrem.
A expressão de Derek demonstrava aversão. — Elas não podem
ser mais velhas do que éramos quando nos transformamos.
— Eu sei, —Lucas sorriu. — Todas têm dezessete anos.
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Derek
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percebia, não havia mais ninguém ali conosco. Era somente eu e esta
inocente – esta inocente que eu estava prestes a destruir.
Coloquei um braço ao redor de sua cintura fina e a levantei
contra a pilastra, apoiando o seu peso em meus quadris. Ela tentou
me empurrar, se livrar dos meus braços, mas não demorou muito até
que percebesse que não haveria como fugir. Eu era muito forte para
ela e ela estava à minha mercê. Ela sabia. Eu sabia. E eu me odiava
porque, naquele momento, não havia uma gota de misericórdia
circulando em minhas veias sedentas de sangue. Não havia nada em
mim além de um sentimento primitivo que estava implorando para
ser satisfeito – desejo.
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Sofia
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S enti a dor invadindo meu corpo quando Derek Novak me
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que toquei o chão, meus joelhos tremeram, e, para o meu horror, me
segurei a ele para não cair. Ele deslizou seu braço em volta de mim e
me segurou.
— Diga-me o seu nome, —ele sussurrou, alto o suficiente para
que somente eu o ouvisse. Seu rosto estava a alguns centímetros do
meu.
Estremeci, querendo recusar, mas eu não tinha mais forças para
lutar. — Sofia ... Sofia Claremont. —Silêncio tomou conta da câmara
enquanto ele continuava a me encarar. Seu olhar era tão intenso que
era exaustivo retribui-lo. Desviei meu olhar para o chão.
Ele finalmente falou de novo – mais alto desta vez, enquanto se
dirigia a todos naquele lugar.
— Sofia será minha escrava pessoal.
Seus irmãos trocaram olhares.
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Derek
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Q uatrocentos anos. Acabados. Simplesmente assim.
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Agora ela caminhava atrás de mim. Eu podia ouvir seus passos
e o barulho das algemas em seus pulsos. Eu podia sentir o aroma e
praticamente sentir o sabor do sangue em seus lábios. Imaginei se era
esse o efeito que as mulheres causavam em mim antes. Não
conseguia me lembrar.
Parei de repente e chamei por ela. — Sofia. —Todos pararam de
caminhar no momento em que eu falei.
Sua inocência e juventude ficaram claras no modo como ela me
respondeu. — O quê?
Sem nem olhar para trás, eu sabia que ela iria sofrer uma punição
por sua insolência. O guarda atrás de nós levantou a mão para acertá-
la.
— Não toque nela, —eu disse. — Sofia, caminhe ao meu lado.
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que sentia. — Faça o que eu mandei e remova as correntes.
Minha ordem foi obedecida imediatamente. Era mais um
lembrete de quem eu era antes, do quanto todos me temiam. Esperei
até que as algemas fossem removidas antes de voltar a caminhar, com
o grupo me seguindo.
Lucas e Vivienne tentaram iniciar uma conversa enquanto
caminhávamos pela floresta escura, mas eu não estava prestando
atenção. Eu estava muito distraído por Sofia, observando todos os
seus gestos. Ela esfregava os pulsos enquanto observava o que a
rodeava, olhando cada detalhe, seus olhos brilhantes demonstrando
medo e fascinação. Antes que pudesse evitar, segurei sua mão, meus
dedos entrelaçados aos dela.
Ela se esquivou do meu toque, eu não tinha o direito de tomar
este tipo de liberdade com ela, mas me concedi esse prazer. Eu queria
sentir o seu calor.
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Sofia
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S ua mão era tão fria. Um calafrio subiu até meu cotovelo.
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Residências
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Sequoias gigantes
— É lindo, não acha? —A voz de Derek era rouca. Ele deve ter
achado que eu arquejara de prazer.
Apenas acenei e me inclinei em direção ao parapeito de madeira,
tentando distrair minha mente das contorções em meu estômago.
Derek segurou minha mão e me puxou, conforme Vivienne e
Lucas nos guiavam até seus aposentos.
— Esta é uma das residências que formam o Pavilhão,
construído especialmente para os Novaks, —Vivienne explicou no
momento em que destrancava a porta de carvalho de uma residência
luxuosa. — Há uma dessas para cada um de nós – você, Papai, Lucas
e eu.
Enquanto caminhávamos em direção à casa, observei as janelas
gigantes com espanto. Se o que eu sabia sobre vampiros estava
correto, eles não se oporiam à luz que poderia entrar por ali? Do lado
69
de dentro, a casa parecia ainda maior. Entramos nos que parecia ser
a sala de estar.
Uma TV de tela plana, uma lareira, arte abstrata nas paredes
claras, sofás de couro preto ... não era exatamente assim que eu
imaginava o Castelo de Drácula.
Olhei desconfiada para os vampiros ao meu redor. Não
importava o quão impressionada eu estivesse com a beleza da
Sombra, eu ainda precisava me lembrar de que estava ali contra a
minha vontade. Não podia confiar em nenhum deles – nem Lucas,
nem Vivienne, e muito menos em Derek.
Três entradas nos cercavam – além daquela por onde entramos.
Cada uma delas tinha uma porta de vidro que levava a mais
corredores cobertos de vidro que, por sua vez, levavam até os outros
cômodos da residência.
— E onde moram as Elites? —Derek perguntou.
71
lugar. Ele se virou, avaliando seus arredores, até que seus olhos
pousaram em mim.
— Você está aí parada.
Eu o encarei. — O que espera que eu faça?
— Por que não tem medo de mim? —Ele começou a se
aproximar.
Eu queria sair correndo – da mesma forma que deveria ter feito
quando Lucas se aproximou de mim pela primeira vez na praia. —
O que lhe faz pensar que não tenho medo de você?
— Pensei que talvez você fosse uma daquelas garotas.
— Que garotas?
— Garotas que são fascinadas pela nossa espécie. —Derek
parou, como se tivesse medo de chegar mais perto de mim. —
Garotas que querem ser como nós.
13
Derek
N o momento em que me deitei na cama com dossel do
quarto que havia escolhido para mim, a primeira coisa que pensei foi:
O que estou fazendo? Eu havia acabado de acordar de um sono de
quatro séculos. Não havia mais por que dormir.
Me perguntei porque ela não me atraía como Sofia. Ela era tão
agradável ao olhar quanto a ruiva que dormia no quarto ao lado do
meu, e no entanto, o gesto de Sofia no Santuário – segurando a mão
de Gwen para confortá-la – de alguma forma solidificou Sofia, aos
meus olhos, como mais valiosa do que todas as outras garotas juntas.
Ao terminar minha quarta taça, eu quis verificar como estava
minha bela prisioneira. Levantei e caminhei pelo corredor de vidro
de onde era possível ver o céu repleto de estrelas. Sorri. Foi um toque
gentil de Cora banir o sol da Sombra.
Chegando ao quarto de Sofia, respirei fundo. Não conseguia
entender porque estava tão nervoso. Ela era apenas uma garota. Eu
havia me alimentado de sangue, não havia motivo para estar tão
ansioso.
Bati à porta e esperei. Nada. Bati novamente.
74
— Sofia?
Algo estava errado. Abri a porta. Não estava trancada. Por
alguma razão, isso me incomodou. Será que ela é tão tola a ponto de
confiar em um estranho como eu – um vampiro, ainda por cima – que nem
ao menos trancou sua porta? Abri a porta e olhei ao redor do quarto. Ela
não estava à vista.
— Sofia? —Entrei, a verdade começando a recair sobre mim.
Fui um tolo em confiar nela. Nem me preocupei em colocar
guardas do lado de fora de seu quarto. É claro que ela tentaria fugir.
Seria uma idiota se não o fizesse.
14
Sofia
A bri todas as gavetas do meu quarto procurando por
qualquer coisa que pudesse vestir além deste vestido longo de seda.
As roupas aqui eram ainda piores, para dizer o mínimo. Vestidos
75 curtos e mais lingeries de renda. A única coisa mais casual que
encontrei foi uma blusa de moletom que parecia estranha ao lugar.
Com meu coração saindo pela boca, peguei aquilo mesmo e fui para
o banheiro. Avaliei a bancada de mármore e abri um armário afixado
acima da pia. Qualquer coisa afiada serviria. Meus olhos
encontraram uma escova de dentes, pasta e uma pequena tesoura de
unhas.
Peguei a tesoura e sentei na beira da banheira, tentando fazer um
buraco no tecido do meu vestido. Ele era bem fino, por isso não deu
muito trabalho para remover toda a bainha. Joguei o tecido cortado
dentro da banheira e me olhei no espelho.
Prendi o cabelo e fiz um coque no alto da cabeça com um
elástico de cabelo que encontrei no armário. Minha pele parecia
ainda mais pálida e meus lábios estavam ressecados. Encontrei um
protetor labial em uma gaveta cheia de produtos de maquiagem e
78
embaixo. A porta se abriu. Saí do elevador e tentei enxergar através
da escuridão. Ao perceber que não havia ninguém por perto, comecei
a correr. Eu não podia seguir o caminho de terra, pois poderia me
deparar com alguém, então fui forçada a correr pela vegetação
rasteira.
Não demorou para que bolhas começassem a se formar em meus
pés devido aos chinelos de plástico, enquanto folhas afiadas e
arbustos cortavam minhas pernas. Cerrei meus dentes. Eu precisava
aguentar a dor. Não podia parar.
Eu não tinha ideia de quanto tempo havia se passado – duas
horas, eu imaginava. Parecia que sim. Eu estava perto de desistir por
pura exaustão.
Finalmente, avistei uma abertura. A luz da lua recaía sobre a
floresta. Tropecei em uma clareira coberta de grama. Então, dei um
pressionou contra aquela pilastra. Não havia este tipo de conflito nos
olhos do vampiro que ele havia acabado de matar.
Percebi que Derek me deixava intrigada. Ele era um paradoxo,
uma contradição ambulante. O modo como ele era capaz de cometer
um ato tão violento em um momento, e logo após me tratar com
tanta gentileza, era desesperador.
Senti seus olhos correndo pelo meu corpo.
— Você está correndo há horas, não está?
Concordei, mordendo o lábio.
— Mesmo que você passe do muro, você está em uma ilha. A
não ser que você consiga nadar por quilômetros, por entre os
tubarões, até a terra firme, não há como escapar daqui.
Antes que eu pudesse responder, ele me pegou em seus braços e
em questão de minutos estávamos de volta à residência. Ele me
84 carregou até o meu quarto e me colocou na cama.
— O café da manhã será servido em meia hora. Tome um banho
e vista-se com algo diferente disso. —Ele olhou para minhas roupas
rasgadas.
Antes de sair, ele perguntou, — Você precisa de mais alguma
coisa?
Preciso sair daqui.
Fazendo uma careta, sacudi a cabeça.
Ele acenou brevemente e caminhou até a porta. Antes de abri-la,
seus olhos penetraram nos meus e ele me deu o aviso final.
— Você só estará colocando a sua vida em risco se tentar
escapar, Sofia. Então, vamos simplificar. Jamais tente novamente.
15
Derek
A pesar dos meus esforços, eu não parava de encará-la.
16
Sofia
N o momento em que Lucas entrou na sala de jantar, eu
perdi a ponta de apetite que tinha. E agora que ele havia ido embora,
depois das palavras de Derek, a situação não estava melhorando.
Empurrei meu prato para o lado, levantando meus olhos até o jovem
rapaz à minha frente. Ele ainda me olhava, assim como vinha
90 fazendo desde o momento em que entrei na sala de jantar.
Era irritante o modo como ele me olhava. Eu não conseguia
entender o que ele achava tão interessante em mim.
Ele olhou para o prato que eu coloquei de lado. — Você não está
comendo.
— O que você quer de mim?
Ele me olhou pensativo, mas não respondeu.
Empurrei a cadeira para trás e saí da sala. Corri pelos extensos
corredores e me tranquei em meu quarto.
Respirando fundo, tentei me acalmar.
Embora aquilo me irritasse, eu não podia negar que, comparado
ao irmão, havia algo de diferente sobre Derek Novak. Até mesmo
92
Eu precisava ir até a cozinha. Havia facas lá.
Corri até a porta e espiei através do buraco da fechadura. Dois
guardas vampiros caminhavam pelo lado de fora do corredor, em
direção à entrada principal. Respirei fundo e me encostei na porta,
deslizando até o chão enquanto reprisava em minha mente tudo o
que havia acontecido nas últimas vinte e quatro horas.
Ainda parecia um pesadelo. Eu esperava acordar de repente, de
volta ao resort com Ben sentado ao meu lado, se desculpando por ter
esquecido o meu aniversário. Fechei os olhos, tentando tornar aquela
lembrança mais real.
Mas esta era a única parte delirante da situação – desejar não
estar ali.
Vampiros. Se tais criaturas existiam, eu jamais imaginei que elas
pudessem ser mortas ou feridas. De acordo com as histórias que li e
17
93
Derek
E u disse à Vivienne que queria a ruiva para ser minha
94
minha amante?
Eu não sabia. Fiquei surpreso ao perceber que isso nem havia
passado pela minha cabeça até então. Fiquei tão consumido pelo
desejo de seu sangue quando acordei, seu calor, sua luz ...
Não tinha certeza se poderia tratá-la da maneira como havia
tratado inúmeras mulheres antes dela, mesmo que quisesse. Ela
parecia preciosa demais para isso. Eu tinha medo de que tocá-la
daquela maneira pudesse arruinar exatamente o que havia me atraído
nela.
Não queria arriscar quebrá-la.
Por agora, meus irmãos pensariam o que quisessem sobre o que
eu estava fazendo com ela. Mas após uma hora sozinho no escritório,
percebi a verdade: Eu não me importava com o que ela fizesse em
seu tempo livre.
18
Sofia
S omente após algumas horas de silêncio do lado de fora do
95 meu quarto é que tive coragem de abrir a porta. Olhando para os dois
lados do corredor, respirei aliviada quando vi que estava vazio.
Conhecia a residência um pouco melhor agora e consegui não
me perder no caminho até a cozinha. Embora tenha levado mais
tempo assim, eu parava e continuava a cada pequeno sinal de barulho
que meus ouvidos captavam.
Assim que avistei a cozinha, ajoelhei no chão e fui engatinhando
até lá. Somente me levantei quando cheguei até a bancada. Fui direto
até a gaveta dos talheres e procurei, da forma mais silenciosa
possível, pela faca mais afiada que encontrasse.
Somente uma delas estava encapada, e era uma faca bem grande,
mas teria que ser ela mesmo. Levantando meu vestido, fiz o melhor
que pude para prendê-la em minha lingerie.
96
estava reagindo ... ainda. Olhei para ele, tentando ler sua expressão.
— O quê? —Gaguejei, embora não estivesse preparada para
ouvir a resposta.
Ele entrou na cozinha e bateu com a mão na mesa, colocando o
telefone celular em cima dela.
O mesmo que Lucas havia deixado horas antes.
— Ensine-me a usar isso.
Oh.
Meu coração batia acelerado em meu peito. Imaginei que
deveria me sentir aliviada com sua resposta. Abaixei os olhos até o
celular e sua mão grande repousando próxima a ele, em cima da
mesa.
Encarei seus olhos azuis, hesitante. Ponderei o que poderia
acontecer se eu me recusasse a obedecer sua solicitação. Achei que
era melhor não arriscar. Era do meu interesse que ele me visse com
os melhores olhos pelo máximo de tempo possível.
Engolindo em seco, estiquei a mão e peguei o telefone, tentando
esconder o tremor de minhas mãos enquanto eu o examinava. Derek
puxou um banco e se sentou na minha frente, me observando de
perto.
Era difícil me concentrar em qualquer coisa com aqueles olhos
parados em mim. Eu precisava descobrir como usar aquela coisa para
que pudesse ensiná-lo. Eu não sabia nem de que marca era aquilo.
Não havia nenhum logo. Eu tinha um iPhone em casa e não estava
acostumada a usar outros modelos. Porém, era um smartphone, e
não foi difícil descobrir como funcionava.
Caminhei até a mesa onde ele estava, meus dedos tremendo
enquanto apontava o botão de liga/desliga.
97
— Aperte este botão para ligar e desligar. —Demonstrei
enquanto falava. Quando a tela apareceu, apontei para o ícone do
telefone no lado direito da tela. — É um dispositivo de
telecomunicação, então se pressionar aqui ...
Minha voz falhou ao perceber que estava sendo uma idiota por
não ter percebido isso antes.
Um telefone.
Estou segurando um maldito telefone.
Derek não fazia ideia de como usar isto. Ele era do século dezessete, pelo
amor de Deus. Eu poderia usar o telefone para ligar para alguém e talvez
conseguissem me localizar...
— Espere um momento, —eu disse, — nunca usei um desse tipo
antes ...
19
Sofia
101
E ncontrei um cinto e, usando alguns dos elásticos de
104
quase ... pena dele. Como se ele estivesse em algum tipo de
sofrimento.
Seu olhar me fazia querer esticar a mão e tocá-lo. Confortá-lo,
de alguma forma ... Levou um momento até que eu conseguisse
registrar a insanidade daquela ideia.
Eu ainda não sabia se estava ajudando Gwen ao trazê-la para
dormir comigo em um quarto tão próximo a Derek Novak, mas
verdade seja dita, eu estava feliz em ter sua companhia. Eu deitei-a
na cama perto de mim e, com meu braço em sua volta, acariciei seu
cabelo e beijei sua testa.
— Está tudo bem, —sussurrei, tentando me convencer de
minhas próprias palavras. — Nós vamos ficar bem.
20
Derek
S ofia Claremont. Ela era maravilhosa.
21
Sofia
D ormi muito melhor do que esperava naquela noite. Eu
podia apenas supor que era pelo fato de ter a companhia de Gwen.
Ela não me soltou a noite toda. Seus braços ainda ao redor de mim
quando acordei na manhã seguinte. Tive que me desvencilhar dela.
107 Ela também parecia estar melhor. Havia um leve rubor em suas
bochechas. Revezamos o uso do banheiro e chuveiro antes de nos
vestirmos e descermos até a cozinha. Senti que ela começou a tremer
quando chegamos perto da sala de estar. Apertei seu braço. “Está
tudo bem.”
Chegamos à cozinha sem encontrar ninguém. Procurei por
ingredientes na geladeira e nos armários.
— Que tal panquecas? —Perguntei.
Ela concordou. — Panquecas me fazem lembrar de casa.
Ela me ajudou com os ingredientes. Fiz as panquecas enquanto
ela fazia uma salada de frutas. Para vampiros que pareciam não
consumir nada além de sangue, a geladeira estava
surpreendentemente cheia de suprimentos para humanos.
110 Além de seu físico, eu imaginava qual seria o motivo para que
todos demonstrassem tanta reverência por ele.
Segurei o seu pescoço com mais força quando ele voltou a correr.
Logo saímos da floresta e chegamos a um campo aberto de terra,
com inúmeras marcas brancas. Derek caminhou até um edifício de
pedra sem janelas na extremidade do campo. Ele retirou um molho
de chaves de dentro de sua capa e destrancou as pesadas portas de
carvalho, abrindo-as.
Entrei em um saguão. Era muito maior por dentro do que
parecia por fora. As paredes eram delineadas de lanternas turvas que
criavam sombras nas paredes cheias de armas. Espadas, punhais, até
mesmo algumas armas de fogo. Mas, mais do que tudo, vi estacas de
madeira. — Bem-vinda ao depósito de armas da Sombra, —Derek
disse enquanto caminhava até a parede mais próxima, pegando uma
estaca particularmente afiada.
111
abrir o peito de um vampiro, a forma mais rápida de matá-lo é
atravessando seu coração com uma estaca de madeira.
Ele se posicionou atrás de mim. Senti seu peito encostando em
minhas costas enquanto ele colocava seus braços sobre os meus.
Colocando suas palmas abertas sobre o dorso de minhas mãos, ele
posicionou a estaca em um ângulo de trinta graus.
Dei um passo à frente, me distanciando dele e o encarei. — Por
que você está me ensinando isso?
— Porque eu não estarei sempre por perto. Eu me sentirei
melhor em deixá-la sozinha se souber que você tem algum
conhecimento sobre como se defender da minha espécie. Como já
deixei bem claro, – ele me olhou firme – não gosto que toquem no
que é meu.
ponta de sua língua fria, e então seus caninos, tocando minha pele.
O peso de seu corpo sobre o meu, seu leve aroma de almíscar e o som
de sua respiração ofegante novamente dominaram meus sentidos.
A princípio, eu estava chocada demais para gritar, quanto mais
para lutar.
Tentei libertar minhas mãos e empurrá-lo para longe de mim,
mas após alguns segundos, quando percebi que seus caninos não
estavam perfurando minha pele, ousei sussurrar, — Derek?
Ele arfava como se estivesse fazendo tudo o que podia para não
me devorar.
Devagar, ele afastou sua cabeça do meu pescoço e saiu de cima
de mim.
— Nunca hesite, —ele disse, sua voz rouca. Seus olhos
entreabertos e ainda focados em meu pescoço, como se estivesse
114 quase arrependido de não ter experimentado o meu sangue enquanto
estava em cima de mim. Golpeie assim que tiver a chance. Porque
não haverá uma segunda chance.
Ele esticou a mão e me levantou. Com as mãos ainda tremendo,
peguei a estaca novamente.
— Certo, —disse.
— Posicione-se novamente, —ele ordenou, desviando
penosamente o olhar de meu pescoço e olhando firme em meus
olhos.
Fiz o que ele disse.
— Afaste mais suas pernas. Não ... mais do que isso.
Ele esticou uma mão até minha coxa direita e bateu levemente
nela até que eu afastasse as pernas da maneira como ele queria.
Depois de fazer isso, eu não podia negar que era muito mais fácil
segurar a estaca.
Pressionei a ponta da estaca contra seu peito até encontrar a
marca novamente. Quando me senti confiante o suficiente para
encontrar o lugar certo com ele parado, ele cobriu a ponta da estaca
com uma capa de plástico e começou a me ensinar como encontrar a
marca enquanto ele se movimentava. Cada movimento era tão veloz
que comecei a achar que seria uma tarefa impossível. Ele sempre
conseguia se aproximar tanto e tão rapidamente de mim, que eu não
era capaz de encontrar a marca e ele derrubava a estaca das minhas
mãos.
Mas duas horas depois, comecei a me acostumar. Consegui
acertar a marca duas vezes – o que era um avanço em relação ao meu
recorde anterior de zero.
Derek ainda não parecia feliz com o meu progresso, mas como
115 após duas horas eu já demonstrava sinais de exaustão, ele não insistiu
para que continuássemos.
Ofegante, sentei no chão com a estaca coberta.
Olhei para ele enquanto ele colocava sua camisa e cobria-se com
sua capa.
— Você ainda tem muito o que aprender, —ele disse.
— Você deveria permitir que as outras garotas tivessem aulas
também, —eu disse, levantando a estaca para entregá-la a ele.
Ele não deu atenção ao comentário que eu acabara de fazer. —
Fique com a estaca, —disse ele, empurrando-a de volta para minhas
mãos. — E colocarei mais duas em seu quarto. Mantenha uma ao
lado de sua cama, uma no banheiro, e uma perto da porta.
— Como pode confiar que ela não vá usar isso contra você? —
Lucas falou.
— Ela não vai. Eu posso confiar nela. —Derek me encarou. —
Não é mesmo, Sofia? —Era mais uma afirmação do que uma
pergunta. Encarei-o de volta.
Ele confiava em mim o suficiente para ficar desprotegido perto
de mim e acreditar que eu não atravessaria seu coração com aquela
estaca, enquanto praticamente me incitava a fazê-lo.
Se ele confiava em mim o suficiente para não tirar sua vida naquele
momento, talvez eu deva confiar nele o suficiente para acreditar que ele não
tirará a minha.
Fiz uma pausa, ponderando se iria me arrepender das palavras
que estava prestes a dizer.
— Sim. Você pode.
117
22
Sofia
H avia chegado a hora de Derek fazer o tour pela ilha. Ele
23
Derek
123
A pós ter dado a Kyle permissão para obedecer aos
127
escapar.
Quando estava prestes a engolir a última porção de seu sangue,
aquela que faria com que seu coração parasse de bater, um momento
de clareza se apossou de mim. Por razões que eu não podia entender
– e não tinha certeza se queria entender –, durante todo o tempo em
que segurei esta bela estranha em meus braços, alimentando-me dela,
senti como se estivesse traindo Sofia.
24
Sofia
A s garotas – Gwen, Ashley, Paige, Rosa – e eu estávamos
— Você é maravilhosa.
Franzi as sobrancelhas. Já havia sido chamada de várias coisas
na minha vida. Maravilhosa certamente nunca foi uma delas.
— Não sou nada disso se comparada a você.
— O que quer dizer com isso?
— Os guardas me contaram que você é uma lenda, o salvador
dos vampiros ... Tudo soou muito impressionante.
Ele desviou o olhar, como se estivesse incomodado com minhas
palavras. — Salvador dos vampiros, —ele zombou. — Eu devo reinar
sobre a nossa espécie. Dizem que meu reinado trará o verdadeiro
santuário aos vampiros. Nem tenho certeza de que merecemos ser
salvos. Depois de tudo o que fizemos ... depois de tudo o que ainda
estamos fazendo ... —Ele se levantou. — Olha o que estamos
fazendo com você.
131 Não sabia como responder. Sentia tanta falta de Ben. Não houve
um momento, desde que cheguei aqui, em que ele não estivesse em
minha mente, em que eu não imaginasse como ele estaria lidando
com o meu desaparecimento. Fiquei me perguntando quantos dos
humanos trazidos para cá haviam sido separados de seus entes
queridos.
— Como ... Como você se transformou? —Perguntei.
Seus olhos ficaram escuros. Não tinha certeza se ele iria
responder. Mas então, ele se sentou novamente e limpou a garganta.
— Meu pai era um fazendeiro, —ele disse. — Era o que fazíamos
antes de nos tornarmos isso. Plantávamos trigo e vegetais. Era uma
vida humilde, mas éramos felizes. —Ele fez uma pausa, engolindo
em seco. — Então, uma noite, meu pai e Lucas estavam na cidade
para trocar nossos produtos. Vivienne e eu tínhamos ido buscar
132
quando, no meu aniversário de dezoito anos, meu pai chegou em
casa como um vampiro. Eu deveria tê-lo matado. Mas não podia. Ele
era meu pai. Ele transformou a Lucas, a Vivienne e a mim naquela
noite. Eu havia me tornado a criatura que eu caçava. A criatura que
eu odiava.
Franzi as sobrancelhas. — Se você odeia tanto os vampiros, por
que lutar para salvá-los? Por que criar A Sombra?
Ele me lançou um olhar. — Nunca se tratou de salvar vampiros,
Sofia. Os cem anos após minha transformação foram dedicados a
salvar minha família. O que acontece é que não havia como salvá-los
sem salvar os outros que nos ajudaram a sobreviver. Nunca pensei
que A Sombra se tornaria o que é agora.
Eu não podia nem imaginar o que aqueles anos haviam sido para
ele, o quão atormentado ele devia ter se sentido, mas, se ele estava
querendo que eu o pintasse como uma vítima de sua própria
existência, eu não estava prestes a ceder. Ele era muito forte, muito
poderoso e muito influente para se fazer de vítima.
— Sinto muito por tudo o que você passou, e eu ... eu suponho
que esteja honrada por você estar me contando estas coisas, mas você
é forte e você é um líder – quer goste disso ou não. Você parece ser o
único por aqui que tem o poder de mudar as coisas para melhor.
Ele fechou a cara e sacudiu a cabeça. Silêncio recaiu sobre nós.
Não sabia o que ele esperava que eu dissesse, se é que esperava
alguma coisa. Percebi que as quatro garotas estavam nos espiando da
soleira da porta. Elas tinham expressões ansiosas em seus rostos
enquanto nos observavam. Elas devem ter pensado que ele
finalmente me atacaria após ouvi-lo entrar em casa e gritar pelo meu
nome.
Olhei para Derek novamente, que estava sentado com a cabeça
133
apoiada em uma das mãos enquanto massageava suas têmporas. Os
cantos de sua boca ainda manchados de sangue.
A atmosfera estava pesada – com as garotas paradas na porta,
esperando que ele me atacasse a qualquer momento, e Derek ainda
exalando intensidade.
Esperando aliviar um pouco da tensão, peguei um lenço e me
levantei.
Com cautela, coloquei minha mão sobre seus ombros largos. Ele
olhou para mim e pegou o lenço, limpando a boca. Havia uma área
pequena que ele não havia limpado, então peguei outro lenço. Seus
olhos se encheram de surpresa quando limpei o que restava de sangue
em sua boca.
Desviei o olhar e observei o cômodo. Meu foco recaiu sobre a
TV de tela plana. Além do telefone, eu não havia visto Derek
135
Então, nós dois nos levantamos e eu o supervisionei enquanto
ele usava o controle remoto, até que o filme aparecesse na tela.
Agora que havíamos colocado o filme, percebi o absurdo da
situação.
Eu estava prestes a assistir um filme com um vampiro ... Um vampiro.
Eu ainda me sentia insana simplesmente por pensar nesta palavra.
Não tive muito tempo para pensar sobre isso, no entanto. Derek
estava impaciente para começar – aparentemente impaciente demais
até para esperar que eu chegasse ao sofá com meus próprios pés. Ele
me levantou em seus braços e me carregou. Colocando-me entre as
almofadas, ele se recostou ao meu lado.
Enquanto ele clicava em play no controle remoto, olhei para a
porta. Estava vazia. Acho que as garotas ficaram satisfeitas em ver
que o perigo havia passado e foram embora fazer suas coisas, me
deixando sozinha com Derek.
136
apresentado a uma sala com seus brinquedos favoritos.
— Ela fez tudo tão rápido, —ele disse suavemente enquanto
entrava e observava os instrumentos.
— Sua irmã ama você. —Havia uma ponta de amargura no
modo como eu proferi essas palavras. Ele tinha uma família que o
adorava, enquanto tudo o que eu tinha era uma família que havia me
abandonado e me deixado aos cuidados de outra família.
Ele se sentou em frente ao piano e bateu no assento ao seu lado.
— Sente-se.
Com ele, nunca havia pedidos, apenas ordens. Revirei os olhos,
ainda me acostumando a obedecer às ordens de alguém. Amelia e
Lyle Hudson nunca haviam prestado muita atenção ao que eu fazia,
contanto que eu não colocasse a mim ou a seus filhos em problemas.
Ben também não era autoritário. Esta era uma característica de
Derek e eu achava que nunca fosse me acostumar, mas ainda assim
me sentei ao seu lado enquanto ele tocava uma melodia que me fez
perder o fôlego.
No meio de sua performance, percebi que esse era o efeito exato
que Derek Novak causava em mim; de uma forma ou de outra, ele
sempre me fazia perder o fôlego.
25
Derek
137
com seu vestido subindo por aquelas longas pernas, brancas como o
leite, seu cabelo ruivo caindo sobre a beirada do assento, e seus lábios
rosados entreabertos enquanto ela respirava. Meu estômago se
contorceu só de olhar para ela, imaginando o motivo pelo qual ela se
permitia ficar tão vulnerável perto de uma criatura como eu – que
poderia perder o controle a qualquer momento e destruí-la.
De alguma forma, lá dentro, eu entendia ... eu sabia que nunca
iria machucá-la porque jamais me perdoaria se o fizesse. Eu podia
não ter autocontrole o suficiente em relação às outras, mas com Sofia
eu não podia falhar. Ela havia se tornado o meu único elo com a
humanidade e era claro para mim que sua ruína seria minha própria
ruína.
Peguei-a com cuidado, bastante consciente do modo como seu
pescoço e ombros estavam expostos a mim. Do modo como seu
perfume me atraía. Mas desta vez foi mais fácil me controlar. Ela
138 tinha se tornado preciosa demais para mim.
Deixei-a na cama redonda de colchas cor-de-rosa e cobertores
brancos, próxima a Gwen. Havia um sorriso em meu rosto quando
saí de seu quarto. Com Sofia, parecia que eu finalmente havia
encontrado a minha bússola. Enquanto eu a tivesse, eu teria alguém
para manter meus pés no chão, alguém para me conduzir.
Ainda que somente por Sofia, eu tinha um motivo para ficar
acordado.
Sem desejo – ou necessidade – de dormir, retornei à sala e decidi
assistir ao segundo “filme” que ela havia me apresentado. Fiquei
impressionado com tudo o que a sociedade havia conseguido criar
durante os anos. Na minha época, nunca imaginei que tais coisas
fossem possíveis.
Quando Chicago chegou ao fim, peguei outro filme da prateleira.
Horas se passaram enquanto eu assistia a um filme após o outro,
26
141 Sofia
T udo aconteceu tão rápido. Senti os braços fortes de
27
Derek
— E la está ferida—foi a primeira coisa que Corrine disse
145
quisesse que a dor fosse embora e soubesse que meu sangue em suas
veias aceleraria o processo de cicatrização. Não importava. Contanto
que eu sentisse sua boca sugando o sangue de minha mão, eu estava
satisfeito. Não era o suficiente para diminuir a fúria que eu sentia,
porém aliviava minha preocupação com sua situação.
Senti alívio quando os cortes em suas costas começaram a
cicatrizar. Ela deve ter percebido, pois parou de beber o meu sangue.
Eu estava tão perturbado com o que havia acontecido a ela que
queria que ela continuasse bebendo meu sangue, como se isso
pudesse consertar tudo. O corte em minha mão se fechou enquanto
ela limpava o sangue de seu rosto com seu braço. Eu queria ver a luz
de volta em seus olhos, qualquer indicação de que o fogo dentro dela
não havia se apagado, mas seu olhar vazio me mostrava o contrário
conforme ela repousava a cabeça no travesseiro.
— O que você fez? —Corrine me olhou desconfiada, deixando
claro que não confiava em mim como sua ancestral Cora.
— Não fiz nada. Eu a encontrei desse jeito quando fui vê-la pela
manhã.
— Uma das garotas de seu harém foi encontrada morta – sem
uma gota de sangue – dentro do banheiro, —Vivienne explicou.
Corrine continuou me olhando. — E você não fez isso?
Encarei a mulher. — Você não ouviu o que eu acabei de dizer,
bruxa?
— Você pode me culpar por perguntar? Você olhou para ela
quando acordou e logo jogou-a contra uma pilastra, pronto para
devorá-la. Quem sabe as coisas perversas que você tem em mente
para ela ...
— Corrine, não foi ele quem fez isso, —Vivienne falou, sabendo
que se ela não o fizesse, eu não conseguiria me controlar perante a
insolência daquela bruxa.
146 — Então, quem foi? —Corrine ergueu a sobrancelha. — Vocês
me deixam enojada.
Não tinha certeza se ela estava errada, mas a hipocrisia da bruxa
estava me irritando. — Se você nos odeia tanto assim, por que nos
serve? Por que nos protege?
— Sua espécie me capturou da mesma forma que fez com esta
garota. Eu não tive escolha. —Isso era novidade para mim. — É
verdade, Vivienne?
— Nós precisávamos de uma bruxa para manter o feitiço ... —
Vivienne tentou explicar.
Eu devia estar perdendo o juízo, porque com toda a seriedade,
disse, — Você está livre para ir embora se quiser, bruxa. Ninguém irá
impedi-la. Você tem a minha palavra.
Derek, —Vivienne se sobressaltou. — Não podemos ...
28
Sofia
C orrine não se apressou. Ela me deu um copo d’água, e eu
29
Derek
F iquei de pé no momento em que a porta se abriu.
30
Sofia
N o momento em que nossos olhos se cruzaram, ele olhou
156
me levar a sério ou não. — Estou falando sério, Sofia. Eu entendo
que você esteja indecisa, mas prometo não tentar nada com você. Só
quero garantir sua segurança.
Fiz um esforço consciente para não ficar boquiaberta. Ele estava
solicitando meu consentimento? Não estava ordenando que eu
dormisse em sua cama? Passamos do estágio ‘sem perguntas porque
a palavra do ó-tão-poderoso-príncipe é o que determina e termina a
totalidade da minha existência’? Pensei um pouco. A ideia de voltar
para o meu quarto me dava náuseas. Não tinha certeza se confiava
que Derek não me atacaria, mas ter Lucas subindo em minha cama
no meio da noite era uma opção muito menos atraente.
Concordei e olhei dentro de seus olhos azuis. — Posso confiar
em você, não posso, Derek? —A expressão em seu rosto foi o
suficiente para me dizer que ele não estava brincando. Ele consentiu.
— Sim, Sofia. Pode.
31
Sofia
N os dias que se seguiram, Derek fez jus à sua palavra. Ele
não fez, nem disse nada que pudesse violar minha confiança. Ele se
esforçou para garantir que eu de fato quisesse fazer o que ele me
pedia, e isso fez uma grande diferença. Ele realmente começou a
pedir. Parecia tão diferente no começo, mas conforme o tempo foi
157 passando, nós nos acostumamos a ter o outro por perto. Eu me
acostumei, pelo menos.
Dias – ou no caso da Sombra, noites – viraram uma rotina.
Começávamos com o café da manhã, antes de Derek levar as garotas
e a mim até o depósito de armas para as aulas de defesa pessoal
contra vampiros. Para o horror de seus irmãos, ele deu estacas às
outras garotas também. Ele nos advertiu com firmeza de que as
estacas serviam para defesa pessoal e nada mais. Se usássemos as
armas com qualquer outro propósito, ele mesmo não hesitaria em
nos matar. Era um lembrete de que seu lado feroz ainda existia –
independentemente do quão gentil ele pudesse ser ao meu lado.
Após as sessões de treinamento, Sam e Kyle levavam as garotas
de volta à casa para prepararem o almoço, enquanto Derek me levava
para ver Corrine. Eu não fazia ideia do que ele ficava fazendo
durante as duas horas que eu passava com Corrine, mas isso não me
162
32
Derek
A quele momento no Quarto do Sol me assombrou
Eu queria que ela me quisesse, mas depois de tudo o que ela vira,
depois de tudo o que ela suportara, eu não podia culpá-la por se
esquivar de mim. Eu entendia, mas isto não mudava o fato de que
havia sido doloroso.
Ela se virou na cama, sua coberta caiu para o lado expondo suas
pernas macias. Eu engoli em seco. Noites com Sofia eram
torturantes. Tê-la ali, tão linda e tão perto, sempre me lembravam do
quanto eu a queria. Sua camisola se deslocava mostrando seu
pescoço e ombros, praticamente implorando para que eu a mordesse.
Levantei da cama, sem ter certeza do que estava sentindo por
ela. Eu me sentia mal por pensar sobre o perigo que ela estava
correndo. O assassino de Gwen ainda não havia sido encontrado,
embora lá no fundo eu soubesse quem era. Só não conseguia admitir.
Aquela sensação nauseante que eu já conhecia se apossou de mim
enquanto eu caminhava até as janelas que levavam à sacada e à vista
163 maravilhosa do Pavilhão. A noite estava escura, sem um único sinal
da luz da lua.
Eu me senti tão sombrio quanto aquela noite.
Lembrei-me de ter visto Lucas, mais cedo naquele dia,
sussurrando algo no ouvido de Sofia. Percebi como todo o seu corpo
havia ficado tenso e o modo como ela obviamente tentava conter sua
raiva. Não fiz nada. Fingi não ter visto nada.
Quando Sofia veio até mim, ela agiu da mesma forma que eu.
Como se nada tivesse acontecido. Ela sorriu e segurou minha mão.
Então me disse que tinha uma surpresa para mim. Seus cabelos
ruivos e seu sorriso radiante me faziam lembrar dos raios de sol de
uma forma que o Quarto do Sol jamais poderia fazê-lo.
— Derek, —Sofia sussurrou ao meu lado. — Você dorme em
algum momento?
33
Derek
165
L ar.
34
Sofia
A rrepios percorreram o meu corpo quando senti os braços
— Um amigo.
Sua convidada torceu o nariz.
— Apenas um amigo?
— O melhor que eu já tive, —respondi, minha voz embargada
conforme as lágrimas rolavam pelo meu rosto.
— Conceda-me um pedido, Claudia? —Derek falou, seus olhos
fixos em mim.
Eu não conseguia decifrar a expressão em seu rosto. Não tinha
certeza se minha afeição por Ben o havia deixado irritado. Por
alguma razão, senti pena dele. Eu queria assegurá-lo de que o fato de
Ben estar lá não mudava nada entre nós, mas isso seria uma mentira.
Mudava tudo.
Lembrei-me do que havia dito a Derek na noite anterior – que
169 ele estava se tornando o meu lar. Nunca vou me esquecer de seu olhar
depois disso – de que eu significava o mundo para ele. Eu ficava
comovida em perceber que aquele homem forte e poderoso era capaz
de me olhar daquele jeito. Era estranho porque, naquele momento,
eu sentia como se eu tivesse o poder e ele estivesse em minhas mãos.
Enquanto eu permanecia parada ao lado de Ben, temendo por
ele, olhei mais uma vez para o mestre por quem eu havia começado
a me afeiçoar.
É possível que eu transforme Derek Novak?
Acordei de meu monólogo interno quando percebi a repulsa
com que Claudia olhava para mim. — Sim, Majestade? O que posso
fazer por você?
Derek se aproximou, sua mão envolvendo a cintura da vampira
e puxando-a contra seu corpo. Ela não escondeu seu deleite enquanto
me olhava como se, de alguma forma, ela tivesse ganhado de mim.
mão. Seus olhos não se desviaram dos meus enquanto ela ficou na
ponta dos pés para beijá-lo nos lábios.
Olhei para Ben, e era claro que ele sentia por ela o mesmo que
eu sentia por Lucas. Aquela sensação nauseante tomou conta de
mim. Recusei-me a tentar imaginar o que Ben havia suportado na
Sombra.
Claudia olhou mais uma vez para Derek.
— Não poderia negar-lhe nada, querido príncipe. Virei visitá-lo
novamente. —Ela fez uma carranca e foi embora.
Quando ela saiu, segurei a mão de Ben e puxei-o contra o meu
corpo novamente. Olhei para Derek e murmurei um sincero
obrigada. Ele acenou e forçou um sorriso.
Embora estivesse em êxtase por ver o meu melhor amigo, o que
eu mais sentia naquele momento era uma adoração por Derek pelo
171 que ele havia feito. Abracei Ben, quase como se quisesse me sentir
atraída por ele novamente.
— Eu a odeio, —Ben sussurrou em meu ouvido. — Odeio todos
eles. —Eu o abracei mais forte.
— Não se preocupe, Ben. Está tudo bem agora. Derek nos
manterá a salvo.
— Não seja tola, Sofia. Precisamos sair deste lugar antes que ele
decida que está cansado de você e mate nós dois.
Esta ideia me deixou nauseada. O que aconteceria se Derek
percebesse que não sou nada de especial ... e decidisse que se cansou de mim?
Eu queria acreditar que isso nunca aconteceria, mas Ben sempre teve
o dom de me persuadir com suas palavras. Olhei preocupada para
Derek.
Parecia que eu havia acabado de perdê-lo.
35
Derek
E u odiava a tensão. Desde que ela se mudou para o meu
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36
Sofia
P alavras não eram capazes de descrever o quão abalada
— Como você pôde fazer algo por ele? Por alguém da espécie
dele? —O tom de Ben era acusatório. — Você é escrava dele, Sofia.
Como pode conviver com isso?
O que eu poderia dizer a ele? Que Derek era diferente? Que
Derek não era como os outros? Tudo o que eu sabia era que, durante
o tempo em que eu estivera ali, Derek havia passado a significar
muito para mim. Mesmo após o que ele havia feito mais cedo, não
importava o quão magoada e confusa eu estivesse, eu ainda não
conseguia ver Derek por uma perspectiva negativa. Como eu poderia
explicar isso a Ben? Abracei Ben por trás, esperando que isso o fizesse
parar de pensar nos vampiros.
— Podemos esquecê-los agora? Senti tanto a sua falta.
— Não posso simplesmente esquecer, Sofia, —Ben retrucou. —
Você não faz ideia do que aquela vadia me fez passar.
177
Havia um tom amargo em sua voz. Exausto. Violado. Cínico.
Não havia mágoa. Somente ódio. Completamente diferente do Ben
despreocupado que eu conhecia. Ele se virou e me encarou com um
olhar fumegante.
— Eu jamais poderia imaginar que seria você – a garota de quem
Claudia tanto falava, a humana que havia roubado o coração do
príncipe. Fico angustiado por saber que você foi capturada também,
e que a espécie deles pode arruiná-la como quiserem. E depois de
tudo isso, quase parece que você se apaixonou por ele.
Engoli em seco. Me apaixonei? Por Derek? Eu não podia mentir.
Eu sabia que corria o risco de me apaixonar por ele, mas se já havia
acontecido – se já estava apaixonada por Derek – disso eu não tinha
certeza. Não senti a necessidade de defender o que quer que eu tivesse
com Derek, e nem queria, por isso foquei em Ben. Eu sabia que não
havia como escapar desta conversa. Me preparei para o pior.
37
Derek
O que eu fiz? Pelo modo como me comportei, deveria ter logo
Pelo modo como ela falava, pude perceber que ela estava em
conflito, muito provavelmente debatendo consigo mesma se deveria
me impedir de perfurar o coração de Lucas com a estaca.
— Então por que ele deveria viver? Ele tem que morrer.
A resposta de Sofia me fez lembrar o motivo pelo qual eu a
adorava tanto.
— Se matar seu próprio irmão, Derek, você nunca será capaz de
me perdoar. Ou pior, nunca será capaz de perdoar a si próprio.
Ela me conhecia – todas as minhas facetas – mas nunca havia
me tratado como uma criatura da escuridão. Quando olhava para
mim, ela ainda via alguém capaz de luz.
Larguei a estaca e soltei meu irmão. Ele não perdeu tempo em
tirar vantagem do que acreditava ser um lapso momentâneo de
sanidade, e fugiu. Ele não mudou nada. Lucas era um covarde e um
184 valentão. Ele nunca foi capaz de enfrentar aqueles que eram mais
poderosos do que ele, mas se deliciava ao atormentar os mais frágeis.
Por isso eu tinha certeza de que, enquanto estivesse na Sombra,
Sofia jamais estaria a salvo. Lucas iria persegui-la e caçá-la como um
animal. Ele não cederia até conseguir o que queria dela. A não ser
que eu o matasse.
Hesitei quando sua mão suave tocou meu braço. Virei-me e olhei
para ela. Ela havia colocado o que restava de sua camisola por cima
de seu corpo, tentando se cobrir. Tirei a minha camisa
imediatamente e entreguei a ela. Mais uma vez, fiz um corte em
minha mão e fiz com que ela bebesse meu sangue. Foi neste
momento que percebi que seu amigo havia acordado e estava nos
observando – especificamente a mim – com um olhar desconfiado.
38
Sofia
E u queria levar as garotas comigo. Derek não queria nem
ouvir falar nisso. Na verdade, ele não queria nem olhar para mim.
Mas ele olhou para Ben e disse, — Proteja-a.
186 Ben olhou para ele incrédulo, como se dissesse que tais palavras
eram desnecessárias. Ben odiava Derek e não via qualquer razão para
ser grato pelo que Derek estava fazendo.
Eu pensava diferente. Eu sabia o quanto Derek estava arriscando
para nos auxiliar. Ele estava colocando em risco a segurança de todos
na Sombra. Ele estava dando à sua espécie um motivo para
questionarem suas ações. Temi por ele – tanto que até me perguntei
se queria mesmo ir embora.
O que ele disse para Ben em seguida me despedaçou. —
Certifique-se de que ela chegue a salvo em seu lar.
Lar.
Eu havia lhe dito que ele estava se tornando o meu lar e, naquele
momento, eu sabia que estava me enganando ao tentar me convencer
de que, se fosse embora da Sombra, estaria voltando para meu lar.
Naquele momento, eu não sabia onde era meu lar, mas isso não
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Epílogo
Vivienne
F ui acordada de meu sono no momento em que seus
190
Nunca havia me sentido tão insegura sobre o que o futuro
reservava para nós. Mas eu tinha certeza de uma coisa:
Sangue seria derramado.
E continua ...
Mas ela será capaz de esquecer os horrores que roubam seu sono
afastado à noite? ... ou os sentimentos que a assombram por aquele
atormentado príncipe das trevas?