Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Tiago Henriques
AVISO LEGAL
AVISO DE DIREITOS AUTORAIS
Introdução — Como sua vida seria diferente se
entendesse o que se passa dentro do cérebro de alguém
com autismo?
Capítulo 1 — Diferente, Estranho, ou Fascinante?
O que é um síndrome?
Síndrome de Asperger
O que é o autismo?
Capítulo 2 — Como Funciona o Cérebro Autista?
Um cérebro, muitas áreas especializadas
Comunicação — a base do processamento mental
Como ajudar o autista?
Qual a conclusão?
Capítulo 3 — A Diferença Entre Pensamento Concreto
e Pensamento Abstrato — O Segredo Para Comunicar
Com Alguém Com Autismo
“Os cães são mamíferos.”
“Temos de amar os outros.”
“É bom estar vivo.”
O que é um conceito abstrato?
Como você pode se treinar para explicar algo abstrato de modo concreto?
Capítulo 4 — Inteligência Emocional para Autistas —
sim, é possível para um autista entender as emoções
Por onde começar?
Necessidades
Recursos
Emoções
● Entendendo as emoções: Alegria
● Entendendo as emoções: Medo
● Entendendo as emoções: Raiva
● Entendendo as emoções: Repulsa
● Entendendo as emoções: Surpresa
● Entendendo as emoções: Tristeza
Como o autista sente as emoções?
Várias emoções podem ocorrer juntas e em graus
Como aplicar a inteligência emocional de modo prático no caso do
autismo
● Identificar e lidar com a Alegria
● Identificar e ajudar alguém com Medo
● Identificar e acalmar alguém com Raiva
● Identificar e ajudar alguém com Repulsa
● Identificar e ajudar alguém Surpreendido
● Identificar e ajudar alguém muito Triste
Engenharia reversa nas emoções
Capítulo 5 — Desvendado o Mistério do Stimming
Como lidar com o stimming de alguém com autismo moderado, como o
síndrome de Asperger?
Como lidar com o stimming de um autista profundo?
A mensagem importantíssima por trás do stimming
Capítulo 6 — Hipersensibilidade Sensorial — Um
Aspecto Fundamental do Cérebro Autista
Frequentemente Ignorado
Afinal, quantos sentidos nós temos?
O autismo e a percepção das sensações
● A audição
● A visão
● O olfato
● O tato e a nocicepção — percepção da dor
● O paladar
● O aparelho vestibular e a propriocepção
● A termocepção — percepção de temperatura
Uma nota sobre a neuroplasticidade e a terapia de dessensibilização
Sobrecarga sensorial
Capítulo 7 — Como Identificar e Parar Um Meltdown?
O que acabou de acontecer?
O que é um meltdown?
O que provoca o meltdown?
Como prever que está quase a acontecer um meltdown?
Como impedir que o meltdown ocorra?
Como lidar com um meltdown depois de ele começar?
Capítulo 8 — Pessoas Favoritas — Mito ou Realidade?
O que todas estas ligações têm em comum?
Como adquirir o estatuto de pessoa favorita?
Alterações de rotina e a pessoa favorita
Será que você conseguirá alcançar o estatuto de pessoa favorita?
E se você cometer erros?
E quando somos nós a pessoa que tratou mal a outra?
Como comunicar com alguém autista?
Capítulo 9 — Necessidades Especiais do Autista e
Como as Preencher
O diagnóstico
1. Processamento sensorial
2. Processamento emocional
3. Processamento social e teoria da mente
4. Comunicação
5. Funções executivas
Definindo “Autismo” de modo concreto
Quais são as necessidades especiais de alguém com autismo?
A. Necessidade de Processar a Informação
B. Necessidade de Controlar as Emoções
C. Necessidade de Se Proteger da Hipersensibilidade Sensorial
D. Necessidade de Descansar
E. Necessidade de Sentir Apoio
Capítulo 10 — As Dificuldades de Um Diagnóstico
Oficial
Doenças que se confundem com algumas particularidades do autismo
Capítulo 11 — Um Novo Vocabulário
Capítulo 12 — Porque Podemos Ter Esperança de
Melhoras?
Existe esperança?
Apêndice — Quatro suplementos que demonstraram
aliviar os sintomas de autismo em estudos científicos
publicados
Vitamina D3
L-carnitina
N-acetilcisteína
Enzimas digestivas
Outros Livros e Projetos de Tiago Henriques
Vitamina D e Vitamina K2: Desvendando o Mistério das Altas Doses em
Segurança
Como Fazer um Currículo e Uma Carta de Apresentação, Otimizados e
Irresistíveis em 24 Horas — um guia passo a passo
Você Sabia?
Como Parar um Ataque de Pânico Rapidamente?
A Cafeína é Perigosa? Como Funciona?
Antidepressivos Impedem a Paixão? Como?
Ciência Complicada Explicada de Modo Simples
Referências e Bibliografia
AVISO LEGAL
O autor fez todos os esforços para garantir a precisão das informações
constantes neste livro e que elas eram corretas no momento da publicação. O
autor não assume, e renuncia, qualquer responsabilidade perante qualquer
parte por qualquer perda, danos ou inconvenientes causados por erros ou
omissões presentes neste livro, quer tais erros ou omissões sejam o resultado
de acidente, negligência ou qualquer outra causa.
O que é o Autismo?
Quando você olha para uma lista de sintomas fica com uma ideia geral. Mas
as perguntas persistem: “O que realmente se passa na mente do meu filho?
Como é viver no mundo dele?”
Imagine como tudo seria mais fácil: Você iria se tornar capaz de prever
quando aconteceriam os ataques de nervos ou pânico.
Imagine se você soubesse exatamente o que fazer nessas alturas. Nesse caso,
você não se sentiria mais impotente e passaria a poder ajudar imediatamente
seu filho a lidar com esses ataques.
“Que alívio isso seria,” talvez esteja pensado e tem razão. Isso seria algo
único, que poucas pessoas conseguem fazer. Seria um grande alívio. Mas
mais do que alívio, saber o que fazer, e o que não fazer, fará com que o seu
filho se sinta confortável na sua presença. Isso é realmente importante, pois
muitos pais de filhos autistas se queixam de que têm dificuldades na hora de
se achegar emocionalmente a seus filhos.
No entanto, se suas ações mostrarem, vez após vez, que realmente o está
entendendo e levando a sério, o que irá acontecer? Ele começará a ganhar
uma forte confiança em si. Esse tipo de confiança profunda é fundamental
pois ela lança a base para um relacionamento achegado.
Você ama o seu filho e quer o melhor para ele. Prova disso é o que está
fazendo agora ao ler este livro. Mas o autismo, incluindo o Síndrome de
Asperger, o coloca numa situação complicada, porque o seu filho não vê o
mundo da mesma maneira que você.
A verdade é que muitas das coisas que um pai faz por amor e que ajudam
outras crianças a se achegar a ele, simplesmente não funcionam com o
autista. De fato, algo tão simples como um abraço, pode piorar as coisas.
Qual a solução?
Este livro nos ajuda a entender claramente o que fazer e o que não fazer para
que todo o filho autista realmente sinta o amor de seus pais por ele. Essa é a
solução. E isso é algo que todo o pai amoroso valoriza.
Mais ainda, cada um destes princípios será útil para qualquer portador de
autismo e também para os educadores, professores, e profissionais de saúde
que tenham de lidar com alguém com autismo ou Síndrome de Asperger.
Boa leitura,
Pense por exemplo na cor do cabelo. Se eu tenho cabelo preto e você tem
cabelo ruivo nossas cores de cabelo são diferentes mas nenhum de nós acha
isso estranho. Agora, imagine que alguém com o cabelo loiro chega perto de
nós. Mais uma vez, essa cor é diferente mas não é estranha.
Com o tempo nós nos habituamos a todas essas diferenças, sejam elas ao
nível da cor dos cabelos, do peso ou da altura.
Agora, imagine que um dia nós vemos alguém com o cabelo verde. Verde?
Sem dúvida que isso é diferente mas é um diferente diferente. É estranho.
O mesmo acontece com a altura. Alguém com 3 metros de altura não seria
apenas diferente, ele seria bem estranho.
Com o tempo, o cientistas descobre que todas estas pessoas partilham outra
característica em comum. Todos eles conseguem tirar a carteira de motorista
rapidamente, parece que nasceram com o dom de conduzir veículos
motorizados. Você pega até em um caminhão e eles começam conduzindo
como se tivessem passado toda a vida fazendo isso.
Bem, agora as coisas estão se tornando cada vez mais fascinantes. Você não
sabe porquê, mas percebe que todo o mundo que tem cabelo verde tem quatro
dedos no pé direito e conduz seu carro desde o primeiro dia com a mesma
habilidade de um motorista com 20 anos de experiência.
Bem, suponha agora que você se chama Roberto Aguiar. Acontece que você
foi o primeiro investigador a entender que essas 3 características sempre
ocorrem juntas. Daí, você publica os resultados de sua pesquisa numa revista
científica conceituada.
De um momento para o outro você nota que esses cientistas estão começando
a se referir a esse conjunto de 3 sintomas estranhos como “Síndrome de
Aguiar” em sua honra.
Síndrome de Asperger
Hans Asperger viveu entre 1906 e 1980 e foi o Diretor da Clínica para
Crianças da Universidade de Viena. Através de suas observações, ele notou
que algumas crianças eram diferentes. No entanto, essas diferenças eram
estranhas .
Por exemplo, ele observou que algumas crianças tinham muitas dificuldades
em fazer amizade com outras crianças da sua idade. Hans Asperger ficou
intrigado pois estas crianças tinham uma inteligência normal. De fato,
Asperger os chamava de “pequenos professores” pois quando nós falávamos
com eles sobre um assunto do seu interesse eles eram capazes de o explicar
detalhadamente.
Quando analisou mais de perto estes jovens, Asperger notou que eles tinham
muitas dificuldades em entender a comunicação não-verbal. Parecia que eles
prestavam atenção apenas ao que ouviam, sem levar em conta as expressões
faciais, a linguagem corporal ou o tom de voz da outra pessoa. Mais ainda,
eles pareciam ter muita dificuldade em expressar empatia e em se interessar
pelos outros.
Além de tudo isso, eles eram algo desajeitados, revelando dificuldades acima
do normal ao nível da coordenação motora.
Hans Asperger escreveu mais de 300 artigos científicos, muitos dos quais
sobre o autismo. No entanto, a sua pesquisa só recebeu o devido
reconhecimento após a sua morte.
Além disso, temos uma outra área fascinante, a área responsável por extrair
mensagens subtis presentes no tom de voz usado e nas expressões faciais de
quem falou.
Por exemplo, imagine que se aproxima de alguém conhecido e lhe diz: “Olá,
tudo bem com você?” Essa pessoa poderá responder “Oi, tudo bem” mas,
será que ela está sendo sincera? Depende. Para entender o sentido real do que
ela falou, você presta atenção no tom de voz dela. Se ela falou de modo
vagaroso, num volume baixinho e num tom mais grave você se apercebe que
não está tudo bem. Sua próxima pergunta será: “Estou vendo que você não
está se sentindo bem hoje, o que aconteceu?” e provavelmente a pessoa
começará a desabafar consigo. No entanto, se ela falou num tom agudo, com
um passo mais rápido e num volume mais elevado, você concluirá que seu
amigo está mesmo bem e ajustará sua reação de acordo.
Você nem notou, mas dentro de seu cérebro a informação passou por diversos
departamentos, ou áreas. Isso aconteceu de modo automático. Você não
precisou ficar pensando e gastando energia mental para conseguir interpretar
a informação. Porquê? Porque você não tem autismo.
O autismo existe num espectro. Isso significa que uma pessoa pode ser mais
ou menos autista. Como isso funciona?
Por exemplo, alguém com uma forma moderada de autismo — muitas vezes
chamado de síndrome de Asperger — talvez tenha muitas dificuldades em
entender se este “Sim, está tudo bem” foi sincero ou não. Os departamentos
do cérebro dele relacionados com o processamento de tom de voz não
funcionam bem, então ele precisa ficar pensando no significado subjacente
das palavras de seu interlocutor.
Talvez ele leve alguns minutos comparando este “Sim, estou bem” com
outras frases semelhantes que ele ouviu ao longo de sua vida. Passado um
pouco de tempo ele consegue chegar a uma conclusão.
No entanto, por vezes, o autista não tem tempo para ficar pensando no
assunto e precisa arriscar reagir. Talvez ele decida que a pessoa estava sendo
sincera, então ele não lhe vai perguntar: “Nossa, que se passou?” pois não
detetou que o tom de voz era o de alguém triste e deprimido. A pessoa, por
outro lado, encara essa indiferença como desprezo e conclui que o autista é
alguém frio e desinteressado nos assuntos alheios. Isso não é verdade. O que
aconteceu foi apenas o resultado do autista ter um cérebro configurado de
maneira diferente.
Uma pessoa com autismo profundo pode ser incapaz de falar ou de reagir a
estímulos externos. Voltando à ilustração da empresa, é como se o
departamento de serviço ao cliente nem existisse. Então as reclamações nem
são processadas, elas simplesmente acumulam nas caixas de correspondência.
O autismo, no entanto, não afeta apenas essas áreas. Simplesmente, essas são
as áreas em que mais se nota que a pessoa tem autismo. Que outras áreas são
afetadas? Por exemplo, as relacionadas com o processamento de informação
sensorial, como a percepção de temperatura, as áreas relacionadas com o
controlo de impulsos, entre muitas outras.
Isso significa que você pode ter alguém com uma forma mais moderada de
autismo, como o síndrome de Asperger, que toca piano e compõe música
como um gênio musical, mas que é incapaz de perceber se você está usando
de ironia ou sendo sincero.
Isso vai permitir que você entenda o que fazer para lidar com esse detalhe
específico da personalidade autista. Não interessa se quem tem esse detalhe
da personalidade autista, ou em que grau. Pode ser você, seu filho, seu aluno
ou um colega de trabalho. A partir do momento em que você entende o que
se está passando, você saberá como lidar com esse detalhe em qualquer
pessoa.
Talvez esse seja o único sintoma de seu filho, além de algumas dificuldades
de interação social. Se for esse o caso seu filho nunca receberá um
diagnóstico de autismo. Mas o problema da hipersensibilidade continua lá e
você precisa de saber como agir para minimizar as dificuldades que esse
problema causa.
Além disso, quando você souber como lidar com cada um desses detalhes,
você será um especialista em autismo.
Por outro lado, se é você quem tem esses sintomas, este livro lhe permitirá
olhar toda a sua vida de uma perspectiva completamente nova.
Imagine olhar para trás e dar por si a dizer: “Ah, então é por isso que eu..:”
ou então: “agora entendi! É por isso que eu agi assim quando…”
Mais ainda, equipado com o conhecimento que este livro lhe dá, você
conseguirá tomar decisões melhores. Decisões que o beneficiarão a si e
qualquer outra pessoa com autismo, especialmente aqueles que estão aos seus
cuidados.
Capítulo 2
Como Funciona o Cérebro Autista?
Num bar as pessoas parecem mais atraentes. Porquê?
Nós achamos mais atraentes pessoas com o lado direito da cara parecido com
o lado esquerdo, ou simétrico. Se uma pessoa tem o olho direito maior do que
o olho esquerdo não a achamos tão atraente como acharíamos se os dois
olhos tivessem o mesmo tamanho. O mesmo acontece com a boca, o nariz e
todos os outros detalhes da face humana.
Quando olhamos para a cara de outra pessoa existe uma parte específica em
nosso cérebro que responde a esta pergunta: “De 0 a 10, em que 0 significa
‘completamente diferente’ e 10 significa ‘os dois são iguais’ qual é o grau de
semelhança entre os dois lados da cara dessa pessoa?”
Se essa área do cérebro achar que a resposta é “10” isso vai influenciar
positivamente o que nós achamos sobre a beleza da pessoa. Mas se a resposta
for 0 a influência vai ser muito negativa. Como o álcool afeta esse processo?
Se você beber álcool demais seu cérebro vai dar nota 10 a todo o mundo.
Quando alguém bebe álcool demais isso afeta também sua coordenação
motora, seu raciocínio e sua capacidade de inibir reações — o autodomínio.
Você não espera que alguém embriagado consiga manter uma conversa
inteligente, ande em linha reta ou tenha pleno controle sobre seus impulsos.
Este exemplo nos ajuda a entender que nosso cérebro tem muitas áreas e que
quando uma dessas áreas é afetada, isso modifica por completo as
capacidades e a personalidade da pessoa.
Por exemplo, para conduzir seu carro, seu cérebro tem de prestar atenção à
estrada, aos sinais de trânsito, aos outros carros e a quaisquer outros
obstáculos.
Imagine que vai na estrada e o carro da frente freia de repente. Talvez você
estivesse distraído, mas assim que vê as luzes vermelhas acender o que
acontece? Imediatamente seu coração dispara, você começa a respirar mais
rápido e as suas mãos ficam geladas. Mas graças a essa energia extra,
consegue reagir a tempo, frear e evitar bater no carro da frente.
Vamos olhar mais de perto para esse processo. Quando você der por isso vai
ter aprendido algo fundamental sobre o autismo. Preparado?
Comunicação — a base do processamento mental
Quando as luzes vermelhas do carro da frente acenderam seu cérebro teve
uma conversa consigo próprio, fazendo perguntas e respondendo a cada uma
delas. Para simplificar as coisas, imagine que todas as áreas de seu cérebro
estão comunicando em videoconferência umas com as outras:
Mas, olhe mais de perto para esse diálogo. Podemos imaginar esse mesmo
diálogo acontecendo em uma aula de condução. O aluno está pegando no
carro pela primeira vez e, embora ele esteja indo muito devagar, tudo chama
sua atenção. Ele vai apenas a 30 km/h e o carro da frente freia subitamente.
Ele pergunta a seu instrutor: “E agora?” O instrutor responde: “Agora você
frea. Carregue no pedal central, rápido!”
Semanas depois, quando você já tem sua carteira e conduz seu próprio carro,
o que acontece? Você já consegue tomar decisões por si mesmo, mas ainda
precisa processar a informação de modo consciente.
Alguns meses depois seu cérebro já se habituou a conduzir. Ele sabe como
lidar com situações inteiramente novas. Por exemplo, talvez você nunca tenha
lidado com um animal que se atravessa no meio da rua. Mas quando isso
acontece você não precisa ficar pensando no que fazer. Imediatamente surge
em sua mente consciente o desejo de frear. Esse desejo é tão intenso e
consumidor que você não tem outra possibilidade senão carregar no freio o
mais rápido possível. Mas o diálogo que você teve com seu instrutor não
desapareceu. Como assim?
A conversa que você tinha com ele em voz alta, durante suas aulas de
condução, continua lá. Simplesmente ela se tornou automática, ou seja,
inconsciente.
Bem, você não nasceu com nenhuma área de seu cérebro responsável por
conduzir seu carro, não é mesmo? Você teve de aprender a fazê-lo. Ao início
o processo era desgastante. A primeira vez que tocou num carro tudo era
novo.
Você dependia de seu diálogo com seu instrutor. Ele lhe dizia o que fazer,
como fazer, e quando o fazer.
Você diria: “Mas eu nunca conduzi. Eu não sei nem como ligar o carro. Eu
preciso de instruções detalhadas.”
Quando nós temos de executar uma tarefa, e não temos nenhuma área de
nosso cérebro preparada de nascença para executar essa tarefa, nós
necessitamos de instruções detalhadas.
Imagine que que essas pessoas nascem com cérebros já com várias áreas
dedicadas à condução. Os cientistas não conseguem entender porquê, mas os
portadores de síndrome de Aguiar possuem uma área de seu cérebro
inteiramente dedicada ao uso do volante. Outra área está preparada logo
desde nascença para processar informação relativa ao uso dos pedais. Além
disso, têm ainda 2 áreas dedicadas ao uso da manete das mudanças. Parece
magia, mas quando você coloca uma pessoa com síndrome de Aguiar em um
automóvel ele parece um peixe na água. Ele está em casa. Suas mãos e seus
pés viajam para todos os sítios certos. É algo fascinante de se ver. Parece que
ele fez isso toda a sua vida.
Bem, agora imagine que alguém com síndrome de Aguiar vai ensinar outra
pessoa a conduzir. Como seria seu diálogo? Vejamos.
Pessoa com Síndrome de Aguiar: “Muito bem, agora por favor, ligue
o carro e conduza à volta do bairro.”
E assim chegamos ao fim da ilustração, por agora. Talvez você não tenha
percebido, mas já aprendeu mais sobre autismo do que a maioria das pessoas.
Vamos analisar as verdades fundamentais sobre o autismo que aprendeu.
Por outro lado, quem não tem autismo, consegue conduzir este “carro” logo
desde que nasceu. Uma pessoa que não tem autismo é chamado de
neurotípico, ou seja, alguém cujo cérebro tem uma configuração neurológica
típica, ou comum. O neurotípico não tem nem idéia de como isso acontece,
mas suas “mãos e pés,” isto é, suas palavras, expressões faciais e linguagem
corporal simplesmente batem certo. Ele consegue fazer amigos e entender as
pessoas pois seu cérebro está capacitado para processar tudo isso
inconscientemente, logo de origem.
Bem, e como você pode ajudar o autista a melhorar suas aptidões sociais?
Note o seguinte diálogo que nos mostra o que não fazer.
Pessoa Neurotípica: “Muito bem, agora por favor, vá ter com seus
coleguinhas de escola e faça amigos.”
Como é que o neurotípico pode olhar para o que seu inconsciente está
fazendo e discernir como ensinar isso passo a passo para alguém que não
possui essas áreas? Isso é como pedir a um inglês para ensinar sua língua a
um português. Por onde começar? A não ser que o inglês tenha algum curso
na área da educação será muito difícil. Para ele falar inglês simplesmente
surge naturalmente.
Por outro lado, para o autista a situação não é menos frustrante. Dependendo
do grau de autismo dele, o conceito de fazer amigos pode ser tão complexo
quanto conduzir um avião comercial de último modelo. Quando o autista
chega perto de outra pessoa ele se sente como se estivesse entrando no
cockpit do Boeing A320.
Ele fica tentando relembrar o que fazer: “Muito bem, primeiro eu digo ‘oi
tudo bem?’ depois espero pela resposta e digo… digo o quê mesmo?”
O problema é maior ainda do que isso pois, mesmo que ele memorize tudo o
que deve dizer, a verdade é que as interações sociais são demasiado
imprevisíveis.
O autista chega perto da pessoa e o seu “oi tudo bem?” sai furado pois ele
não usa a expressão facial correta. É como se ele chegasse no cockpit do
avião e mexesse na manete certa, mas acabasse empurrando ela em demasia.
Todo o mundo que percebe de pilotagem de aviões perceberia imediatamente
que ele não é um bom piloto. Do mesmo modo, as outras crianças percebem
que algo não está certo naquele “oi tudo bem?”
Como então ajudar o autista?
Aí você aprende que quando um carro está bloqueando a estrada pode ser
necessário violar algumas regras para poder continuar seu caminho, como por
exemplo a regra de nunca pisar um traço contínuo.
Quanto mais tempo você andar na estrada junto com seu instrutor de
condução e mais situações diferentes você viver, maior será a sua capacidade
de interpretar corretamente o que fazer numa situação inteiramente nova.
Isto é verdade sempre que você tem de executar uma tarefa para a qual
você não tem nenhuma área especializada em seu cérebro.
Por isso, em cada um desses casos, nós necessitamos de ser ensinados, passo
a passo. Esse ensino tem de ser bem específico, simples e fácil de entender.
Depois, nós tentamos fazer por nós mesmos e só aí temos uma noção real do
que está envolvido na tarefa. Quanto mais vezes nós repetimos a tarefa tanto
mais as situações diferentes que surgem. À medida que aprendemos a lidar
com cada uma dessas novas situações nós aumentamos nossa especialização
na tarefa.
Ao início, esta tarefa lhe exigia esforço consciente constante: “agora eu pego
qual tijolo mesmo? E ponho quanta massa? Onde? E agora de que jeito e com
quanta força eu devo colocar um novo tijolo em cima dos outros tijolos?”
É verdade que você não nasceu com uma área especializada na construção de
paredes, mas com o tempo e com muita experiência você desenvolveu uma
“pseudo-área”. De que maneira? Acontece que as outras áreas com as quais
você de fato nasceu — como a coordenação motora, o pensamento abstrato, o
cálculo matemático, a percepção de cores e distâncias, entre muitas outras —
aprenderam como trabalhar em conjunto para permitir que você assente
tijolos como ninguém.
Sempre que o autista tem de executar uma tarefa para a qual ele não tem
uma área especializada em seu cérebro ele precisa ser ensinado passo a
passo. Esses passos têm de ser específicos e simples, tais como aqueles que
você encontra num manual de instruções de uma máquina de lavar roupa.
Afinal, esse manual foi escrito para ajudar alguém que nunca usou aquela
máquina na vida.
Qual a conclusão?
Quanto mais complexa for a tarefa, tanto maior é a necessidade de instruções
simples e diretas.
Depois, o autista precisa de muito espaço para aprender por tentativa e erro.
É verdade que há muitas áreas no cérebro do autista que não funcionam bem,
mas há outras que estão lá e que funcionam adequadamente. De fato, algumas
delas funcionam mesmo muito bem. Isso significa que as instruções têm de
ser dadas numa forma que essas áreas entendam.
Algo concreto é algo para o qual você pode apontar. São coisas que
envolvem os sentidos. Elas podem ser vistas, cheiradas, tocadas, ouvidas ou
até, em alguns casos, saboreadas.
Alguém com autismo necessita de converter essas ideias abstratas para algo
concreto e só depois é que consegue entender. Este processo é praticamente
automático, mas o ponto é que este processo de conversão de concreto para
abstrato está presente em quem tem autismo.
“Cães” e “mamíferos” são categorias, não são coisas concretas para as quais
podemos apontar como “pão”, “água”, “Sol” e por aí adiante..
Sobre este assunto, um homem com asperger disse: “Eu não fazia ideia que
isso [o pensamento abstrato] existia. E sinceramente, não consigo entender
bem como é possível entender algo sem recorrer a exemplos concretos.”
Por exemplo, para entender a palavra “possível”, note como este mesmo
homem descreveu seus processos mentais:
Nem todas as imagens que surgem na mente do autista fazem sentido para
outras pessoas. Algumas são imagens misturadas com sentimentos e todas
surgem muito depressa. Mas o ponto é que o seu cérebro sempre necessita
de recorrer a algo palpável que ele já conhece a fim de entender a
linguagem abstrata.
Mais uma vez recorremos a alguém com Asperger, que preferiu permanecer
no anonimato, e lhe pedimos que descreva o processo para nós:
Por exemplo, perguntamos a essa pessoa: “Será que dar um aperto de mão faz
parte de “amar os outros?” Note a fascinante explicação:
Estes exemplos concretos são variáveis. Não significa que sempre vão
aparecer estas imagens e vídeos específicos, mas algo aparecerá.
Isso significa que a melhor forma de ensinar algo a alguém com autismo é
por apresentar uma imagem ou uma história e dizer: “isto é um é um exemplo
de “x”.”
Essas regras estão escritas de modo concreto. Ou, quando não estão, estão
escrita numa linguagem abstrata mais próxima do concreto. É como uma
cebola. Você tem várias camadas de abstração.
Mais uma vez, recorremos a alguém com autismo para nos dizer como seu
cérebro funciona:
«Penso na vaca, com suas tetas. É a primeira imagem que surge em minha
mente »
Talvez fizesse mímica. Que gestos você usaria? Para onde você apontaria? O
que desenharia numa folha de papel?
Com certeza você daria por si a desenhar animais. Mas será que se você
desenhasse 3 ou 4 isso seria suficiente para a pessoa entender que você estava
se referindo a mamíferos e não, por exemplo, ao conceito abstrato de
“animais”?
Talvez você acabasse desenhando outros animais que não são mamíferos,
como aves ou peixes e colocasse um “X” em cima deles para mostrar que
esses estão fora.
“Olhe, estes são os limites do conceito abstrato que eu lhe quero ensinar.
“Baleia, cão e gato estão dentro dos limites. Esta sardinha, esta águia e este
sapo já estão do lado de fora dos limites.”
Mas mesmo assim, isso não seria suficiente para definir o conceito de
“mamífero.” Você precisaria de mais animais, muitos mais. Dezenas ou
centenas de bonecos na folha de papel de muitos tipos diferentes de animais.
Quantos mais exemplos de animais você desse, maior a compreensão daquilo
que você estava tentando descrever.
Chegaria a uma altura em que a pessoa já seria capaz de perceber que animais
fazem parte da categoria e que animais não fazem, mesmo se você nunca lhe
tivesse dito literalmente que estava falando de “mamíferos”.
Agora, tente fazer o mesmo com outras ideias ainda mais abstratas como, por
exemplo, explicar o conceito de “categoria” ou explicar o significado de
“abstrato” ou até mesmo, explicar o conceito de “exemplo” e da própria
palavra “conceito”! Se torna cada vez mais complicado fazê-lo sem poder
falar ou escrever, não concorda?
Por outro lado, se você descer o grau de abstração e tentar explicar palavras
abstratas mais simples como “roupa”, “comida”, “cães” ou “livros” sua tarefa
se torna mais fácil.
Portanto, comece pelo mais concreto e aos poucos, use as palavras concretas
que o autista já conhece para lhe ensinar coisas ligeiramente mais abstratas.
Quanto mais profundo o nível de autismo maior será seu desafio. Alguns
autistas podem até levar muito tempo para aprender algumas palavras
básicas. Mas não desista! Seu esforço será recompensado.
Por outro lado, se está lidando com alguém com uma forma mais moderada
de autismo e que já tem domínio da linguagem falada, como acontece com o
síndrome de Asperger, que coisas deverá ensinar?
Quando existe uma alteração ao nível dos recursos ou das necessidades nosso
corpo nos avisa e se modifica para nos ajudar a lidar com essa alteração.
Estas duas frases deixaram você confuso? Não se preocupe. Vários exemplos
vão deixar o assunto claro. Depois falaremos sobre como tudo isso se
relaciona com o autismo.
Necessidades
Todos nós temos as mesmas necessidades humanas. Essas necessidades
incluem:[3]
● Alimentação
● Ingestão de água
● Dormir
● Descansar
● Respirar
● Ter nosso corpo na temperatura certa
● Estar longe de coisas que nos causem dor
● Excreção
No que diz respeito a respirar é necessário outro recurso que não dá mesmo
para substituir: ar com a concentração correta de gases.
Em todo o caso, o ponto é: Existem necessidades básicas que todos nós temos
e todos usamos recursos para as satisfazer.
Além destas, existem outras necessidades mais abstratas que falaremos daqui
a pouco.
Emoções
O que acontece quando nossas necessidades não estão sendo satisfeitas? Duas
coisas:
Existem áreas de nosso cérebro responsáveis por verificar como estão nossas
necessidades. A forma como elas fazem isso é muito complexa e envolve
hormônios, sinais elétricos e a interacção entre o cérebro e vários outros
órgãos.
Por exemplo, para que uma sensação como a fome surja, acontece o seguinte:
Nosso cérebro aprendeu desde muito cedo quais os recursos que usamos para
satisfazer nossas necessidades. Por isso quando temos sede pensamos em
água, não em nossa cama.
1. Alegria
2. Medo
3. Raiva
4. Repulsa
5. Surpresa
6. Tristeza
Vamos agora analisar cada uma delas. Não desespere. Daqui a alguns
minutos tudo fará pleno sentido e você estará na posse de informação
concreta que lhe permitirá entender e explicar de modo simples todo este
mundo abstrato de necessidades, recursos e emoções.
Exemplos:
● Eu tenho sono. Começo pensando que no fim do dia vou ter uma cama
bem fofinha onde me deitar: eu sinto alegria. Quando chega na hora de
ir dormir eu me deito. Ao acordar eu me sinto bem, pois satisfiz minha
necessidade de descansar.
Tal como as outras emoções, a alegria também existe em graus. Quanto maior
minha certeza de que minha necessidade vai mesmo ser satisfeita maior o
meu grau de alegria. Depois de considerarmos as restantes emoções,
falaremos mais sobre os graus.
Qual o objetivo da alegria?
A alegria serve de motivação. Ela nos faz desejar usar os recursos e é uma
recompensa que nosso corpo nos dá quando obtemos um recurso de que
necessitamos. Dessa forma, da próxima vez desejaremos ainda mais usar
aquele recurso.
Entendendo as emoções: Medo
Nós sentimos medo quando acreditamos que algo mau vai acontecer a um
recurso capaz de satisfazer uma necessidade. Essa expectativa de que algo
mau vai acontecer causa muitas mudanças em nosso corpo. Essas mudanças
causam sensações. Nós chamamos “medo” a esse conjunto de mudanças e
sensações.
Quanto mais eu acreditar que é possível que essas coisas aconteçam, maior
será o meu medo.
Mas porque eu sinto medo? Porque eu acredito que preciso do emprego para
ter acesso aos recursos que me permitem satisfazer necessidades. Eu acredito
que aquele emprego é necessário para me dar dinheiro, o que por sua vez me
dá acesso a comida e a outras coisas importantes.
Esse emprego também aumenta o valor que eu acho que tenho. Perder o
emprego significa perder esse valor. Porque o valor é importante? É
interessante que no grego antigo, a palavra “valor” estava intimamente ligada
com o conceito de “peso.” Quanto menos “valor” eu tiver diante dos olhos
das outras pessoas menos “peso” minhas necessidades terão para eles.
Quando eles tiverem de tomar decisões eu terei menos poder para influenciar
essas decisões e para lidar com elas.
Nestes exemplos parece que o medo não é útil. Afinal, como é que o medo
me protege de ser despedido? Como é que o medo me protege de ter um
ataque cardíaco?
Como último exemplo, imagine que está descendo a rua e aparece um cão.
Esse cão é bem grande e fica ladrando na sua direção. Ele rosna e se
aproxima. Você não sabe como agir, então seu cérebro faz um cálculo rápido:
“esse cão é perigoso, se ele me atacar eu vou ficar bastante mal.” Quanto
mais você acreditar que pode ser atacado e que esse ataque lhe fará danos,
maior será o seu medo. Quanto maior for o seu medo tanto mais concentrado
você estará em fazer o melhor que pode para se proteger.
Agora, dependendo daquilo que você acredita que o vai proteger, o medo
poderá motivá-lo a ficar parado, paralisado sem se mover, a fugir para dentro
de algum quintal ou até a atacar o cão!
Qual o objetivo do medo?
O medo é o nome que se dá às sensações que sentimos em nosso corpo
quando nosso cérebro detecta um perigo. O medo garante que não vamos
ignorar esse perigo e que vamos fazer tudo o que pudermos para tentar nos
livrar dele. A ação que nós tomaremos debaixo do medo depende do que nós
acreditarmos que é o melhor a fazer para nos protegermos.
Entendendo as emoções: Raiva
A raiva é uma das emoções mais fascinantes. Ela surge quando acreditamos
que ocorreu uma injustiça. Isso porque a necessidade de justiça é tão
importante para nós que temos toda uma emoção desenhada para lidar com
qualquer ataque ao que acreditamos que é justo.
A raiva é uma emoção muito poderosa. Quando nosso cérebro detecta uma
injustiça ele envia vários hormônios, ou mensageiros, que nos modificam por
completo. De que maneira?
Tal como o medo, a raiva é uma emoção que nos leva a ação. Infelizmente a
raiva pode ser tão grande que se torna difícil perceber como agir. Esse é o
problema.
Por exemplo, se uma senhora idosa vai andando pela rua e deixa cair algumas
moedas, como as outras pessoas devem agir? A coisa certa a fazer é apanhar
a moeda do chão, chamar a senhora e lhe devolver a moeda. Isso significa
que se um homem pega na moeda e a guarda no bolso, ele está fazendo algo
errado.
Perante esta situação o juiz compara o que foi feito — roubar a moeda ou
devolver a moeda — com o que deveria ter sido feito: entregar a moeda à
senhora. Se a moeda foi devolvida, o juiz decide que ação foi justa e fica
feliz, elogiando o homem por ter sido correto em suas ações. Mas, se a moeda
foi roubada, o juiz se sente irritado pois a ação do homem foi ruim, ou seja:
injusta.
Depois, o juiz decidirá uma medida apropriada que corrija as coisas. Essa
medida poderá envolver compensar a senhora pela perda do dinheiro e pelos
nervos que ela passou e punir o ladrão pela sua ação errada.
Da mesma maneira, nosso cérebro tem como que uma longa lista de regras.
Essas regras se relacionam com todas as nossas necessidades. Já falamos
sobre as necessidades mais óbvias, como a necessidade de comer ou dormir.
Mas existem outras necessidades mais abstratas.
Talvez não pensemos muito nisso, mas o ser humano tem uma forte
necessidade de justiça. Isso é observado logo nas crianças. Por exemplo, elas
acham injusto se seu coleguinha recebe uma fatia de bolo maior do que a sua.
É interessante que até mesmo um ladrão possui senso de justiça. O ladrão não
gosta de ser roubado. Ele fica irritado. Seu cérebro fica lhe dizendo: “Não é
justo!” e ele fica com raiva de quem o roubou.
Essa raiva nos move a ação. No caso da criança ela poderá chorar ou dizer
“Porque a fatia dele é maior do que a minha?” No caso do ladrão ele poderá
partir para a violência física.
A raiva é assim: uma força interior que nos leva a desejar fazer algo para
corrigir aquilo que nós achamos que é injusto. Essa força surge sempre que
nosso cérebro, igual a um juiz, compara o que aconteceu com o que nosso
livro de regras internas diz que deveria ter acontecido. Se é detectada uma
diferença entre essas duas coisas e se acreditamos que a pessoa agiu com
intenção nós criamos uma imagem em nossa mente de um inimigo a abater.
Às vezes ficamos até com raiva de nós mesmos. Isso acontece quando
percebemos que fizemos algo que não devíamos ter feito. Embora
normalmente não usemos uma palavra tão forte como “raiva”. Usamos outras
expressões como “estou chateado comigo mesmo” ou “fiquei frustrado
comigo próprio.” No entanto, todas essas expressões se referem à mesma
emoção em maior, ou menor grau: a raiva.
Por exemplo, se eu pedir a você para fazer muitas contas de cabeça como
você se sente?
Faça o teste:
● 1+1 = ?
● 3+5=?
● 24 + 65 = ?
● 55 + 15 = ?
● 9 x 78 = ?
● 1849 x 4 = ?
● 354651 - 456651 = ?
● 2375 / 51 = ?
A não ser que você ame aritmética, seu estômago se comprimirá um pouco,
seus músculos ficarão tensos e, caso você deteste mesmo todas as formas de
matemática, poderá até sentir um certo nível de náusea e vontade de vomitar!
Isso é o sentimento de repulsa e é uma das emoções primárias dos seres
humanos.
Mais uma vez, a comida estragada nos fornece um exemplo familiar. Assim
que você sente o cheiro a podre pode facilmente sentir seu corpo se
constringindo e seu sistema digestivo se modificando para promover a
expulsão de comida, ao invés de se preparar para a digerir.
O que muitas vezes não nos apercebemos, é que outras pessoas ou coisas,
podem provocar essa mesma emoção em nós. O que acontece é que, da
mesma forma que nosso corpo tem dificuldade em digerir alimento estragado,
nossa mente também tem dificuldade em processar uma interação com uma
pessoa difícil.
Às vezes, estar cansado é tudo o que é necessário. Quando você está cansado,
até mesmo o pensamento de resolver 41+27 pode fazer com que seu
estômago se contraia em sinal de repulsa.
Consegue se recordar de uma altura em que não lhe apetecia ver ninguém?
Talvez você estivesse se sentindo com muito sono ou talvez simplesmente
estivesse se sentido muito desgastado depois de um dia de trabalho intenso.
Em momentos como esses, até mesmo a ideia de lidar com um ente querido
pode causar certo nível de repulsa.
Quanto mais nós acreditarmos que algo nos irá desgastar, maior a
repulsa que sentimos.
Qual o objetivo da repulsa?
A repulsa nos dá força para rejeitar coisas que nos desgastam ou nos fazem
mal. É apenas um mecanismo de proteção. Ela nos motiva a cair fora.
Entendendo as emoções: Surpresa
Nosso cérebro é muito rápido. Toda a hora ele processa quantidades
gigantescas de informação. No entanto, nosso cérebro não é infinitamente
rápido.
Imagine que você está prestes a abrir a porta para entrar em casa depois de
um dia de trabalho. Nesses instantes em que você está abrindo a porta seu
cérebro está trabalhando para o auxiliar. Na sua mente surgem detalhes sobre
o que você precisa fazer a seguir. Você se imagina a entrar em casa, ligar as
luzes, colocar suas chaves e casaco no sítio certo e caminhar até ao banheiro
para lavar as mãos e refrescar sua cara.
Dessa forma, quando você termina de rodar a chave e destranca a porta, todas
essas ações fluem suavemente, quase de modo automático. Você não
necessita de gastar energia mental. Dessa forma você não tem repulsa de
entrar em casa. Entrar em casa é seu refúgio mental, sua fonte de descanso.
Mas…
Durante uns breves instantes você fica parado. Processando tudo o que acaba
de observar.
A situação com que você se deparou é tão diferente do que você esperava
que seu cérebro não consegue processar tudo em tempo real. Ele leva uns
segundos. Você está sentindo surpresa.
A surpresa é uma emoção que ocorre quando aquilo que acontece é muito
diferente daquilo que tínhamos previsto. Nessa ocasião nosso cérebro e nosso
corpo se modificam para facilitar o processamento daquela situação nova e
inesperada.
Note alguns exemplos:
● Seu celular toca enquanto você estava absorvido numa tarefa e durante
uns momentos você paralisa, mudando de “disco” em seu cérebro.
● Você está falando com sua esposa e de repente a cara dela fica pálida.
Você fica paralisado por um instante “o que aconteceu?” aí você reage
e pergunta: “Você está bem?”
Podemos até dizer que, de certa forma, a surpresa é uma “pré-emoção” pois
ela ocorre antes das outras emoções. É o instante antes de nosso cérebro
decidir como deve reagir. Mas às vezes esse instante de surpresa dura
alguns segundos.
Aí você sentirá medo se acreditar que os ladrões ainda podem estar em casa
ou se ficar pensando que existe uma forte probabilidade de voltar a ser
assaltado. Ou raiva, à medida que se apercebe da injustiça tremenda da
situação. Pode até sentir uma forte dor no estômago à medida que sua mente
se apercebe do quão inconcebível esta situação é.
“Ligar para a polícia, verificar tudo para perceber o que foi roubado, lidar
com a perda das coisas” tudo isso é demais para processar. Pode até acabar
literalmente vomitando de repulsa.
● Um pai que ama seu filho se oferece para transplantar um órgão, como
um rim ou uma porção do seu fígado.
Quanto mais amamos nosso próximo, mais fácil se torna colocar suas
necessidades à frente das nossas. E quando fazemos isso sentimos uma
satisfação muito grande.
É muito difícil lidar com a tristeza. Primeiro precisamos dar tempo a nosso
cérebro para processar o que aconteceu e as mudanças que irão acontecer em
nossa vida agora que não temos mais esse recurso que desapareceu. Depois
precisamos buscar outros recursos que nos permitam satisfazer as
necessidades que estavam sendo satisfeitas por ele. Esse tempo e essa busca
por outros recursos que satisfaçam nossas necessidades irá atenuar a tristeza
causada pela perda.
Além disso, a tristeza promove reações que estimulam nos outros o desejo de
ajudar. Quanto maior a tristeza tanto maior o choro, as expressões faciais
expressando dor e as mudanças em nosso tom de voz e linguagem corporal.
Tudo isso estimula nos outros compaixão e o desejo de ajudar. É como se, ao
provocar essas mudanças em nosso comportamento, nosso cérebro
estivesse recrutando outros cérebros para nos ajudarem a processar a
perda.
Dessa forma a tristeza não precisa ser encarada como algo mau, pois ela não
é má em si mesma. Ela é apenas a reação correta para lidar com a perda de
algo importante.
Como o autista sente as emoções?
Recapitulando de modo simplificado:
Note a diferença:
4. Ao mesmo tempo, o jovem sente medo do futuro. Como vai ser sua
vida agora que ele não tem mais seu objeto favorito? Isso faz com que
seu estômago se contrai e ele fica aflito.
5. Seu cérebro cria nele a necessidade de partilhar esses receios com sua
mãe em busca de ajuda.
6. Ao mesmo tempo o jovem está sentindo raiva também. “Como pude ser
tão bobo e perder meu urso?” diz ele em voz alta. Isso permite que sua
mãe o ajude a ver as coisas de um modo mais equilibrado.
Imagine agora que um jovem com autismo passou pela mesma situação. O
que acontece?
4. Ele pode até reconhecer que precisa de apoio mas seu organismo sente
repulsa dos outros, pois eles são desgastantes para sua psique,
especialmente agora que ele está lidando com todas estas sensações
desagradáveis em seu corpo.
5. Ele fica quieto, fechado, sente raiva mas não entende bem porquê e é
incapaz de verbalizar as imagens que estão passando em sua mente.
8. A aflição que ele sente dentro dele é tão grande que ele começa se
abananado e se mexendo muito.
9. Sua mãe tenta abraçá-lo para o reconfortar mas ele rejeita o abraço pois
o toque é mais uma informação para seu cérebro esgotado processar.
10. A mãe se afasta e o observa se abanando muito até que aos poucos ele
começa a se acalmar.
Se o jovem tem autismo isso significa que ele pode ficar quieto, fechado, sem
querer ver ninguém ou até se tornar agressivo. Em todo o caso, é muito mais
provável que ele não queira ver ninguém se ele for autista do que se ele não
fosse autista.
A partir de agora, você que está lendo este livro, faz parte desse grupo de
pessoas perspicazes, capazes de entender as coisas mais a fundo. Use esse
conhecimento para educar os outros.
Várias emoções podem ocorrer juntas e em graus
Além da dificuldade em processar o que são emoções — visto que elas são
abstratas — e da dificuldade em perceber o que ele está sentido, alguém com
autismo tem ainda outras dificuldades. Um dos problemas do autismo tem a
ver com o grau das suas reações.
Além disso, a própria pessoa tem dificuldade em entender qual a emoção que
está sentido, excepto quando ela já está num grau muito elevado.
Isso pode ser causado por problemas relacionados com a área responsável por
detectar a contração do estômago, ou por uma incapacidade de associar a
contração do estômago com um estímulo externo.
Vamos observar como aplicar o que aprendemos em cada uma dessas duas
áreas.
Identificar e lidar com a Alegria
Como identificar a alegria?
Ajudamos a nós mesmos a ficar alegres sempre que fazemos algo por outra
pessoa — pois isso satisfaz nossa necessidade inata de dar de nós aos outros
— ou quando nós, ou outra pessoa, satisfaz qualquer outra de nossas muitas
necessidades.
Porque elas têm em comum muitas sensações, como por exemplo estômago
apertado, formigueiros, tensão muscular e alterações do ritmo cardíaco e
frequência respiratória.
Além disso, o fato de elas terem em comum tudo isso, torna difícil identificar
a emoção negativa apenas à base dessas sensações.
Como tal, focaremos outro aspecto: a relação entre cada uma destas emoções
com (1) nossas necessidades e (2) os recursos que nosso cérebro acredita que
conseguem satisfazer essas necessidades.
Se não podemos escapar do que acreditamos que é prejudicial para nós temos
pelo menos três opções:
Quantas mais pessoas compreensivas se unirem para lidar com uma ameaça,
menor essa ameaça parecerá aos olhos da pessoa que está com medo.
Lembre-se que o medo, tal como todas as outras emoções, existe em graus.
Isso significa que mesmo que não consigamos tirar todo o medo da pessoa,
podemos ajudá-la a reduzir o medo que ela está sentido, ou no mínimo,
ajudá-la a entender o que está originando esse receio.
Identificar e acalmar alguém com Raiva
Que perguntas nos ajudam a perceber se as sensações desagradáveis
evidenciam raiva?
A partir daí eu posso me perguntar: “Como posso agir para proteger minha
necessidade?”
● Posso levantar a mão e pedir desculpa ao homem para que ele pare de
buzinar.
● Posso aguardar até que o trânsito volte a fluir e me afastar do homem.
● Posso me obrigar a pensar em outra coisa.
● Posso contar até 10 e respirar bem fundo.
● Posso pensar nas consequências de agir de acordo com a raiva que estou
sentindo. Como isso afetaria minha reputação? Meus familiares? Os
familiares do homem que está buzinando?
A raiva foi útil pois me alertou para a necessidade que estava em perigo de
ficar insatisfeita. No entanto, ela não era útil para me ajudar a lidar com o
problema.
No entanto, até que ponto é útil essa raiva? A verdade é que se eu fizer aos
valentões o que eles fizeram ao meu filho a violência apenas irá continuar
escalando e as consequência serão cada vez piores. Como então lidar com a
raiva?
Daí eu pergunto a mim mesmo: “Como posso agir para proteger essas
necessidades?”
Dessa forma a raiva terá cumprido sua função: me alertado para a injustiça
que ocorreu e que não pode ser ignorada. A raiva me motiva a agir e se
transforma em medo devido a ameaça que paira sobre meu filho. Mas não é
um tipo de medo paralisante. Antes, se trata do tipo de medo baseado em
fatos que me leva a tomar ação no sentido de tentar ajudar meu filho a evitar
o desfecho que receamos.
Sobre este assunto de lidar com alguém agressivo, uma das técnicas que eu
mais gosto é a proposta pelo Dr. David M. Burns, Professor Adjunto
Emeritus do Departamento de Psiquiatria e Ciências Comportamentais da
Escola de Medicina da Universidade de Stanford, Estados Unidos.
Em termos simples, quando alguém nos chama nomes ou nos acusa de algo
temos duas hipóteses para desarmar essa pessoa:
1. Acalmar a pessoa mostrando que ela tem alguma razão. Quer aquilo
que ela está dizendo esteja certo ou errado, procure achar um meio de
concordar com a pessoa. Isso desarma a crítica.
Por outro lado, dar razão a quem nos critica ou é agressivo, tem a tendência
de acalmar a pessoa. Ao mesmo tempo, pedir exemplos é uma excelente
forma de conduzir rapidamente a conversa na direção de um diálogo pacífico.
No fim da conversa não se surpreenda se a pessoa agressiva acabar lhe
pedindo desculpa por sua atitude.
A chave para que a técnica funcione é que é proibido mentir. Você só pode
dar razão nos campos em que a pessoa realmente tem razão. Existem duas
formas de conseguir fazer isso:
● Concordar que às vezes você faz as coisas de que está sendo acusado.
● Concordar que a pessoa tem razão para estar zangada com aquele tipo
de assunto.
Exemplo 1:
Exemplo 2:
● Resposta desarmante 1: Já vi que houve algo que eu fiz que não esteve
bem (dar alguma razão ao agressor), pode me dizer o que foi? (Pedir
detalhes)
● Resposta desarmante 2: Vejo que você está furioso porque gosta que
as coisas sejam bem feitas (concordar que a pessoa está zangada por
uma razão válida) pode me dizer o que fiz de errado? (Pedir
detalhes).
Exemplo 3:
● Frase agressiva: Você é o aluno mais burro que esta escola alguma vez
teve!
Exemplo 4:
Em cada um destes casos a crítica agressiva veio de uma pessoa que estava
em modo de batalha. Ela lançou suas palavras iguais a flechas, tentando
perfurar você e vencer a guerra.
“Tendo ouvido que ele tinha em sua biblioteca um livro muito raro e
interessante, eu escrevi uma nota para ele, expressando meu desejo de
ler esse livro, e pedindo que ele me fizesse o favor de emprestá-lo por
alguns dias. Ele o enviou imediatamente, e eu o retornei em cerca de
uma semana com outra nota, expressando fortemente o meu
agradecimento. Quando nos encontramos na Casa [dos Representantes],
ele falou comigo (o que ele nunca havia feito antes) e com grande
civilidade; e daí em diante ele sempre manifestou prontidão em me
servir em todas as ocasiões, de modo que nos tornamos grandes
amigos, e nossa amizade continuou até à sua morte.”[4]
Porque pedir um pequeno favor haveria de funcionar tão bem? Acontece que
nosso cérebro sente a necessidade de ser congruente. É como se a parte
inconsciente de nosso cérebro ficasse raciocinando:
“Eu não gosto daquela pessoa, mas eu fiz aquele favor para ele. Como eu
posso ter feito um favor para ele se eu não gosto dele? Obviamente eu devo
gostar um pouco dele. Sim, isso faz mais sentido do que acreditar que não
gosto dele.”
Esta é a mesma razão pela qual nós temos tendência de gostar mais de um
produto logo após o termos comprado. Novamente, é como se a parte
inconsciente de nosso cérebro ficasse pensando:
“Bem, eu estava muito indeciso quanto a se este produto era bom ou não, mas
eu o acabei comprando, não foi mesmo? Com certeza isso significa que eu
não estou assim tão indeciso quanto a se ele é bom ou não.”
Tudo isto faz sentido. Mas talvez exista uma razão adicional. Qual?
Que mais você pode pedir? Pode pedir algum conselho ou opinião:
● Sinto nauseas?
● Sinto vontade de vomitar?
● Vou ter de fazer algo que eu desejaria não ir fazer?
● Vou ter de ir ter com alguém que me gasta muita energia mental?
● Acabei de estar junto de algo ou alguém que me gastou muita energia
mental ou física?
● Me pediram para fazer algo que me obrigou a parar de fazer algo que eu
estava gostando de fazer?
● Há alguma coisa que faz parte da minha vida que eu desejo muito que
deixe de fazer parte dela?
● Me estou sentindo mentalmente cansado?
● Noto que meu cérebro está rejeitando até pensar?
O melhor modo de lidar com a repulsa é nos afastar e descansar nossa mente.
Se estamos sentindo mesmo muita repulsa devido ao cansaço mental pode ser
necessário nos envolver em alguma atividade que realmente gostamos. No
caso de alguém com autismo isso envolveria isolar-se com a sua obsessão.
Por exemplo, um passatempo favorito.
Assim como a raiva é uma forte emoção que nos leva a querer nos aproximar
da situação e a agir, a repulsa nos leva a rejeitar a situação e a nos afastar.
Além disso, podemos procurar identificar que necessidade nossa está sendo
afetada. Na maioria dos casos a necessidade sendo perturbada se trata da
necessidade de descansar a cabeça. No entanto, se afastar e descansar não
resolver o problema, isso é sinal que existem outras necessidades envolvidas.
Mais uma vez, a solução passa por tirar tempo para processar tudo. Além
disso, a ajuda de um amigo compreensivo que esteja familiarizado com o
autismo será de muita ajuda.
● O que aconteceu?
● Porque isso surpreendeu você?
● O que esperava que tivesse acontecido?
● Porque acha que as coisas aconteceram de outra forma?
● Como acha que as coisas vão mudar no futuro por causa do que
aconteceu?
● Quais são os pontos negativos do que aconteceu?
● Quais são os pontos positivos?
● Como poderá se adaptar para lidar com os pontos negativos?
● Quem o poderá ajudar?
● O que precisa que faça por si agora para o ajudar a lidar com a situação?
Quando a pessoa entender isso ela estará pronta para sair do estado de
choque. Mas isso não é o fim da história. Agora, dependendo de como o seu
entendimento da situação a faz encarar o futuro ela poderá sentir medo,
repulsa, raiva ou tristeza e terá de ser ajudada de acordo.
Identificar e ajudar alguém muito Triste
Que perguntas nos ajudam a perceber se estamos sentido tristeza?
Todas estas perguntas têm uma temática em comum: a perda. Quer ela seja
real ou imaginada, a sensação de perder algo que nos é precioso causa
tristeza.
1. Perguntas que ajudem outros a explicar porque razão aquilo que foi
perdido é tão importante assim. Esse tipo de perguntas são as que
ajudam a pessoa a estabelecer uma relação entre o recurso perdido e
suas necessidades.
2. Perguntas que os ajudem a raciocinar sobre como ajustar sua vida para
encontrar novos recursos. Esse tipo de questões são as que auxiliam a
pessoa a entender como usar outros recursos a fim de satisfazer essas
mesmas necessidades.
Vejamos alguns exemplos práticos. Claro que, esse tipo de perguntas deverá
ser feito quando a pessoa estiver preparada. Dependendo da magnitude da
perda pode ser preciso esperar vários dias, ou até semanas, até que a pessoa
esteja capaz de raciocinar deste jeito sobre o que foi perdido.
Que outros objetos você pode usar para alcançar o mesmo que o
objecto perdido lhe permitia fazer?
Se o objeto perdido tinha sido oferecido e era uma memória de
uma pessoa querida, poderia se perguntar: “Que outros objectos
você tem que o ajudam a recordar essa pessoa?”
Engenharia reversa nas emoções
Neste capítulo adquirimos uma noção concreta das emoções e do objectivo
delas em nosso corpo. Isso nos permite fazer uma “engenharia reversa.”
Se o autista está sentindo raiva e não sabe porquê, ele pode usar estas
perguntas para perceber qual é a injustiça que seu cérebro detetou:
Todas essas perguntas ajudam o autista a fazer manualmente aquilo que seu
cérebro deveria ter feito automaticamente. A boa notícia é que devido às
características neuroplásticas de nosso cérebro, com o tempo e o treino, este
processo manual se tornará cada vez mais automático e rápido.
Chegará num ponto em que a pessoa com autismo processará as coisas cada
vez mais rápido. Por exemplo, após passar várias vezes por este processo ela
talvez comece se apercebendo que existem 2 ou 3 necessidades que surgem
com mais frequência.
“Sofri uma injustiça! Minha necessidade de respeito não foi levada em conta.
Isso me faz sentir irritado. Mas se perdi respeito isso também me faz sentir
triste. Como posso fazer para recuperar o respeito sem ser agressivo?”
E o que antes levaria muitos minutos ou horas, agora acaba sendo processado
em alguns instantes.
Claro que, tudo isto pressupõe que a pessoa com autismo tem uma forma
mais moderada dessa condição, tal como síndrome de Asperger. Alguém com
uma forma mais profunda de autismo, em que até as áreas do cérebro
relacionadas com a comunicação estão afetadas necessitará de uma ajuda
muito maior para entender estes conceitos abstratos de um modo que seu
cérebro consiga processar. Infelizmente pode até não ser possível que isso
aconteça nos próximos anos. Mas para quem tem a capacidade de ler, até
mesmo a leitura deste capítulo pode ser suficiente para mudar para sempre a
sua vida e a forma como essa pessoa lida com as sensações estranhas que
surgem em seu corpo.
Ainda sobre o tópico das emoções, com certeza você já notou a tendência
autística para a pessoa se abanar, mover de modo aparentemente errático e
fazer ruídos com sua boca. Tudo isso é parte de um mecanismo interno para
lidar com as emoções. Porque isso acontece? O que pode ser de ajuda? No
próximo capítulo analisaremos isso.
Capítulo 5
Os minutos passam e você nem dá por isso. Apenas se ouve sua voz. A outra
pessoa já nem olha para si, ela apenas fica olhando para o relógio imaginando
quando a conversa vai finalmente acabar. As mãos dele não param quietas.
Ora cruza os braços, ora coloca as mãos nos bolsos apenas para as tirar de
seguida, para depois as colocar sobre as ancas e de novo nos bolsos.
Bem, não há dúvida que seu ouvinte está ficando muito impaciente. Mas
aquilo que nos interessa saber é: Porque razão as pessoas começam se
mexendo muito quando ficam impacientes?
Isso acontece por pelo menos duas razões. Primeiro, é uma forma educada de
mostrar à outra pessoa que estamos com pressa que a conversa termine. Em
segundo lugar, esses movimentos nos acalmam.
Os pais também observam isso em seus filhos. Quando eles brincam lá fora,
correndo e jogando com a bola eles se cansam, acalmam e ficam mais
sossegados
Algumas páginas atrás observamos o efeito que isso tem sobre a forma como
ele lida com as emoções.
Mas nem todo o stimming é bom. Algumas estratégias de stimming não são
boas, tais como: magoar a si mesmo, derrubar coisas, agir de modo violento,
gritar com os outros. O que fazer então?
Devido a isso, impedir o stimming faz com que a pessoa desenvolva tics
nervosos, tremores — nos lábios e nas pálpebras, por exemplo — e crises de
nervos. Proibir o stimming é também uma garantia que mais cedo ou mais
tarde o autista entrará em depressão.
Pode ser duro ouvir isso. Mas não há nada a fazer. O stimming faz parte de
quem é autista assim como a respiração faz parte de todos nós.
Assim que ele tiver capacidade para entender, explique a ele o que são as
emoções usando um estilo de ensino concreto. Use tantos exemplos quanto
for necessário. Use vídeos, imagens e desenhos para ilustrar seus pontos.
Esses exemplos devem ser adaptados à idade e à compreensão da criança,
adolescente ou adulto.
Assim que seu filho ganhar uma compreensão superior do que se está
passando com ele e da turbulência emocional que está na origem das
sensações desagradáveis que o levam a fazer stimming, poderá ajudá-lo a
encontrar formas ainda mais construtivas de se acalmar. Essas formas
incluem principalmente ficar sossegado num local calmo e sem pessoas e
envolver-se numa tarefa favorita, como ouvir música ou a produção de arte.
Como lidar com o stimming de um autista profundo?
Se o seu filho tem autismo mais profundo pode ser muito difícil ensinar a ele
os princípios básicos da inteligência emocional. Então o que deve fazer?
Por incrível que pareça, a forma mais eficaz de se conectar com alguém com
autismo profundo é imitando o stimming dele.
Se seu filho se está rebolando no chão, deite-se no chão e rebole com ele.
Se ele está abanando as mãos abane as mãos ao pé dele.
Se o seu filho começa tremendo nenhum pai amoroso diz: “Pare de tremer!”
Muito pelo contrário. Esse pai percebe de imediato a mensagem: Seu filho
está com muito frio. Se depois de ajudar seu filho a aquecer os tremores
continuam o pai entende que algo mais grave está provocando esse sintoma.
Será que seu filho está cheio de medo de alguma coisa? Será que está com
febre? Será que ele está tendo algum tipo de ataque e necessita de ajuda
médica imediata?
Um pai amoroso é assim. Ele está atento aos sinais que o corpo do seu filho
dá, especialmente quando o filho é bebê e não consegue comunicar.
Porque um bebê que está tremendo de frio depende do pai para perceber isso
e ir buscar um cobertor. Da mesma maneira, o autista profundo depende da
capacidade do pai, ou mãe, para identificar o que está criando nele a
necessidade de fazer stimming.
Isso se aplica até mesmo no caso da alegria. Por exemplo, se alguém lhe fizer
cócegas você se ri. Mas se lhe continuarem fazendo cócegas essa sensação
agradável se torna muito rapidamente numa sensação bem desagradável. O
mesmo acontece no autismo. É por isso que o autista faz stimming até quando
se sente feliz.
Na verdade seu filho autista é um gênio. Desde muito pequeno ele descobriu
que através do stimming conseguia modelar o grau das emoções. Ele é como
um hacker que perdeu a senha de sua conta de email mas que, mesmo assim,
arranjou um meio de entrar na conta e ler seus emails.
Mas as sensações físicas são apenas um dos tipos de estímulos sensoriais que
nosso cérebro consegue processar.
● Visão
● Audição
● Tato
● Olfato
● Paladar
Como assim?
Também, a audição envolve volume, ritmo, tom — mais agudo ou mais grave
— além do processamento de informações presente nos sons, como as
palavras e a separação destas do ruído de fundo.
● A hipersensibilidade.
● A normalidade.
● A hipossensibilidade.
Vamos começar por analisar um sentido em que cada uma destas três
características é bastante fácil de entender. Depois exploraremos os restantes
sentidos.
A audição
Todos nós gostamos de ouvir música. E todos nós temos um volume predileto
para escutar essa música. Alguns de nós gostam de ouvir música muito alto,
outros preferem ouvi-la mais baixo.
Podemos dizer que todos nós temos um limite de volume. Alguns de nós
conseguem estar ao pé de colunas poderosas sem sentir repulsa do barulho.
Outros ficam muito incomodados. No caso de alguém com autismo, a
tolerância pode ser bem menor.
Isso significa que seu filho pode estar num dia bom, sossegado, e de repente
quando você começa ouvindo música num volume perfeitamente aceitável
para si, ele começa gritando, rolando no chão ou até chorando. O que está
acontecendo?
O que aconteceu é que o volume que é aceitável para si, soa como um avião
decolando dentro da cabeça dele. Como não consegue verbalizar o seu
desconforto e muito menos modelar a repulsa que está sentindo, ele reage
através do stimming. Esse stimming cumpre duas funções: o acalma um
pouco e sinaliza para você: “Baixa essa música! Meus ouvidos estão me
matando!”
Além disso, a própria frequência dos sons pode ser um problema. Tons
baixos como as batidas presentes em muitos tipos de música podem ser uma
fonte de tormento, assim como tons muito agudos. Isso significa que o som
do motor de motas, o som de sirenes de ambulância ou de alarmes disparando
provoca um verdadeiro estado de emergência dentro do cérebro do autista.
Eu costumo brincar dizendo: “Se você quer descobrir quem tem autismo
espere que uma ambulância passe, com suas sirenes buzinando, e observe
quem cobre seus ouvidos e se contorce em sofrimento.” Essas são as pessoas
com hipersensibilidade auditiva e há uma boa probabilidade de terem alguma
forma de autismo.
Como se tudo isso não fosse suficiente, no caso do autismo profundo, o som
pode ser processado de uma maneira tão divergente que torna impossível que
a pessoa autista tenha uma percepção adequada do que é real.
Consegue lembrar o que acontece quando você está dormindo e está
sonhando e os barulhos lá fora estão afetando o que você vê e ouve no sonho?
À base dos relatos existentes, é um pouco assim que talvez seja a percepção
dos sons do mundo exterior por parte de alguns autistas profundos.
É que, no caso da audição, mesmo que você não seja hipersensível ao som, à
medida que você conhece cada vez melhor seu filho com autismo (ou seu
próprio corpo, caso você seja autista) você consegue ter uma boa noção dos
tipos de sons à vossa volta e do volume deles. Dessa forma você se torna
capaz de ter uma boa percepção de como esses mesmos sons podem estar
perturbando seu filho.
Você sabia que algumas luzes piscam? Por exemplo, as luzes fluorescentes
cintilam bastante. Esse é um fenômeno denominado flickering em inglês.
Acontece que o autista não só consegue perceber essa cintilação como
também fica muito incomodado com ela.
Você nem nota, mas no espaço de alguns minutos seu sistema visual
processou inumeráveis detalhes visuais. Tudo isso gastou alguma energia
mental, mas como tudo está configurado adequadamente dentro de seu
crânio, você nem notou.
As coisas podem ser bem diferentes para alguém com autismo.
« Eu estou a conduzir meu carro e meu cérebro não está apenas a processar a
informação referente aos carros. Ao mesmo tempo, estou prestando atenção
aos edifícios em minha volta, aos detalhes na estrada, ao barulho do vento, à
temperatura de meu corpo, ao banco no qual estou sentado e a pressão que ele
faz sobre meu corpo. É como se meu cérebro não conseguisse isolar e ignorar
estímulos sensoriais. Isto é especialmente irritante quando quero dormir ou
quando quero me concentrar numa tarefa. Qualquer coisa me distrai. Daí eu
preferir ouvir música suficientemente alta para isolar os outros ruídos e
distrações. Mas tem de ser música que eu já conheço bem caso contrário a
letra e os ritmos da música me desconcentram. »
Bem, imagine que estão à sua volta 50 pessoas. Todas elas estão falando
consigo ao mesmo tempo de tópicos bem diferentes. Normalmente, você
tentaria prestar atenção apenas a uma delas e ignoraria as restantes. Mas, e se
você não conseguisse ignorar as outras 49 pessoas?
Você se esforça para prestar atenção e responder a cada uma delas, mas não
consegue. Sua cabeça fica cansada e você fica com repulsa delas. Seu único
desejo é sair dali para fora.
Você coloca sua blusa favorita e seu filho autista começa fazendo stimming.
Você nem se apercebe da relação, mas ela está lá.
Para seu filho, estar em casa é como estar entre duas prateleiras de
supermercado: desgastante e repulsivo. No entanto, do ponto de vista de
qualquer outra pessoa neurotípica sua casa é um exemplo de decoro e bom
gosto. E essa?
Cada autista é diferente e você precisa estar atento ao que afeta seu filho —
ou a si próprio — e fazer os possíveis para evitar contato prolongado com
esses odores.
O tato e a nocicepção — percepção da dor
O tato é um dos campos sensoriais onde a dicotomia “hipersensibilidade e
hipossensibilidade” é mais fora do vulgar.
Não raro, o autista evitará o toque. Isso inclui evitar abraços, apertos de mão
e beijos de cumprimento. Por isso, não estranhe se seu filho for de imediato
limpar a cara que acabou de ser beijada — ou lambusada por baba viscosa,
fria e desagradável, segundo a perspectiva dele. De fato, a perspectiva de um
simples beijo na bochecha pode ser encarada do mesmo modo que alguém
neurotípico encararia ser lambido vigorosamente por um cachorro babão.
De fato, não é incomum ouvir alguém com uma forma moderada de autismo
dizer “eu não gosto que me toquem.” Porque isso acontece? Mais uma vez, a
resposta está no modo como as diversas redes neurais envolvidas no
processamento das sensações de toque processam essa informação.
Os toques podem acabar por fazer com que o autista sinta o mesmo que
alguém neurotípico sentiria se estivessem constantemente espetando a ponta
de uma vassoura em seu corpo. Bastante desconfortável, não concorda?
Pais de filhos autistas por vezes se queixam que seus filhos teimam em despir
a roupa. Isso é uma clara indicação que você precisa comprar roupa com
outro tipo de fibras.
Mais ainda, roupa gasta é mais suave, pelo que o autista pode acabar usando
a mesma roupa por anos, mesmo quando ela já está ficando velha e
desatualizada. Outro aspecto comum envolve a tendência de usar roupa um
pouco mais larga. Mais uma vez, o conforto extra proporcionado é a razão
dessa escolha.
Ele não gosta de abraços, a não ser que o abraço seja apertado. É normal ver
autistas se enfiando em espaços apertados ou dormindo debaixo de muitas
mantas: o peso e a pressão exercidos sobre a pele acalmam o autista — é no
fundo uma forma de stimming.
Isso não quer dizer que deva apertar seu filho. É importante deixar que seja
ele a escolher quando e por quanto tempo deseja sentir pressão. Caso
contrário poderá acabar agitando-o ainda mais.
Por esta altura já deve ser bem claro que, tal como acontece com os outros
sentidos, também no paladar existem muitas estratégias que o autista usa para
diminuir seu desconforto com as sensações que diversos sabores — e
misturas de sabores — provocam em seu corpo.
Dessa forma, seu filho se dará a grandes trabalhos para garantir que nem um
única ervilha, ou outro sabor qualquer que ele não suporte, entra em sua boca.
Embora ele aprecie o sabor das batatas e ame a textura da carne, os dois
juntos não funcionam em sua boca — pelo menos não ao mesmo tempo. Qual
a solução simples? Comê-los separadamente. Pronto. Problema resolvido.
E que dizer daquele bife com arroz que lhe soube tão bem? É tão difícil
encontrar um comer que contenha um equilíbrio perfeito de texturas e sabores
e sabe uma coisa? Seu arroz branco com bife grelhado é a epítome da
perfeição para os centros do paladar no cérebro de seu filho. Então, faz o
favor de fazer sempre isso em todas as refeições, pelo resto da vida?
Por outro lado, o obrigar a comer algo que ele não quer provoca stimming e
até mesmo crises nervosas.
É difícil saber a resposta caso seu filho não consiga comunicar consigo. Se
seu filho já comeu esse comer no passado e gostou e se agora ele faz
stimming quando você o tenta dar para ele, talvez seja birra. Mas se ele come
bem qualquer outro comer, excepto esse, é provável que estejam envolvidas
hipersensibilidades.
Será que isso significa que ele nunca comerá peixe ou ervilhas?
Não. Mas significa que tem de procurar encontrar um meio de tornar esses
alimentos mais apelativos para ele. Isso pode envolver usar especiarias ou
outros temperos que alterem significativamente o sabor ou o cheiro ou usar
outros métodos de preparação que alterem a textura ou a aparência final do
alimento.
Claro que essas características fazem parte de cada um de nós, quer sejamos
autistas ou neurotípicos. O ponto é que no autismo, devido às dificuldades
para modelar a intensidade das emoções, uma hipersensibilidade pode acabar
se tornando em mais um motivo para muito stimming ou uma crise de nervos.
O aparelho vestibular e a propriocepção
A coordenação motora pode ser um desafio para alguém com autismo. Isto
acontece porque, como em tudo o resto, o cérebro é que comanda. Se as redes
neurais responsáveis pela percepção da localização dos músculos não
comunicam adequadamente com as outras microáreas responsáveis pelo
movimento, o resultado poderá ser uma pessoa que tem uma forma muito
fora do vulgar de caminhar, ou um jovem que simplesmente não se enquadra
no time de futebol.
Isso não significa que não possa haver melhoras com o treino adequado ou
que ele não possa vir a se tornar muito bom em algum tipo de atividade
esportiva, mas significa que os desafios para alcançar esse nível serão bem
maiores.
Para ilustrar, nosso dedos das mãos estão bem mais adaptados para tocar
piano do que nossos dedos dos pés. A coordenação motora que nosso cérebro
consegue exercer sobre a movimentação individual dos dedos dos pés é bem
menor. No entanto, provavelmente você já viu pessoas tocando piano com os
pés. Isso mostra os desafios que podem ultrapassados com treino e
perseverança.
Quando você tem frio sempre pode vestir mais roupa, mas lidar com o calor é
mais complicado. Um ar condicionado é de ajuda, mas o barulho do ar
condicionado pode trazer alguns problemas devido a hipersensibilidades
auditivas.
Nesse sentido, não se espante se seu filho preferir andar com o mínimo de
roupa e se mover o mínimo possível — afinal, os movimentos geram calor.
Imagine que você passou vários dias vivendo numa cave, sem ver o sol.
Quando você finalmente é obrigado a encarar a luz do dia, como você se
sente? É isso o que o autista sente quando está debaixo de sobrecarga
emocional — excepto que ele sentirá isso em vários dos seus sentidos.
Como ele poderá lidar com a situação? Usando a ferramenta que ele conhece:
o stimming. Mas, e se o stimming já não for suficiente para o acalmar? Se
ninguém o retirar daquele local, para um sítio calmo e sem estímulos em
demasia, o autista terá uma crise de nervos. Essas crises são muito específicas
e são chamadas de meltdowns. No próximo capítulo analisaremos o que é o
meltdown e o que se pode fazer para o evitar e para o aliviar quando ele
surge.
Capítulo 7
Infelizmente, o filme acaba ficando muito abaixo das expectativas dele. Ele
fica triste e desapontado. Essas sensações desagradáveis ficam dançando em
seu corpo e ele começa abanando os braços para tentar aliviá-las.
No caminho de volta a casa você coloca o rádio tocando uma música para
ajudar a todos a relaxar. Mas a música está um pouco alta. Você tenta
comunicar com seu filho mas ele está visivelmente amuado e lhe responde
mal.
Quando chegam a casa as coisas não melhoram. “José, preciso que você
arrume seu quarto” você lhe diz. “Mas mãe, eu não estou com vontade!” ele
responde, num tom de desagrado. “José, o que é que nós tínhamos
combinado? Nós iríamos ao filme que você tanto queria ver e quando
chegássemos você arrumaria seu quarto. Você me prometeu isso José, agora
tem de cumprir”, você retruca, já um pouco irritado.
Do nada, seu filho explode, lhe responde mal e corre para o quarto, batendo a
porta com força.
O que acabou de acontecer?
Um meltdown. Conforme falado na introdução do livro, esta palavra vem do
inglês e é usada para duas coisas:
Como lidar com algo assim? Para responder a essa pergunta a dividiremos
em várias partes e analisaremos cada uma delas de seguida. Elas são:
● O que é um meltdown?
● O que provoca o meltdown?
● Como prever que está quase a acontecer um meltdown?
● Como impedir que o meltdown ocorra?
● Como lidar com um meltdown depois de ele começar?
O que é um meltdown?
Nosso cérebro está desenhado para analisar o ambiente em nossa volta em
busca de sinais de perigo. Sempre que o cérebro detecta um perigo, nosso
corpo se transforma. Ficamos mais atentos, rápidos e fortes.
Porquê?
Uma dessas mudanças tem que ver com a forma como processamos
informação. Quando estamos em perigo nossa mente se foca no problema até
que este seja resolvido. Em situações normais isso é muito útil. Afinal, se
estamos sendo perseguidos por um animal feroz faz sentido que nosso
cérebro se foque no problema até que o animal pare de nos perseguir.
Por exemplo, se o autista está lidando com um ruído muito alto, algo que
causa dor em seus ouvidos, seu corpo ativa a resposta ao estresse. O coração
dele bate com mais força e seu corpo se transforma para vencer aquela
situação. A mente do autista se foca no ruído alto e na solução: sair dali.
Situação 1:
Situação 2:
Você vai ao banco receber sua renda mensal. Ao voltar para casa dois
homens encapuzados bloqueiam seu caminho e o ameaçam com uma
faca. Seu coração explode de imediato, inundando seus músculos de
sangue rico em adrenalina. Instantes depois, sua mente inconsciente
devolve o controle dos assuntos para a mente consciente. Cabe a você
decidir o que fazer agora.
Seu corpo já está transformado em super humano, mas agora você tem
de tomar uma decisão: lutar, entregar o dinheiro ou fugir. Se decidir
lutar ou fugir seu corpo está plenamente preparado para dar a seus
músculos a energia e o oxigênio necessários para executar a tarefa da
melhor maneira.
Agora que eles estão finalmente fora de vista ela baixou para 6.
Em cada um dos casos seu corpo o preparou para a guerra. Isso aconteceu de
modo automático e inconsciente.
A decisão final sobre o que fazer foi dada à mente consciente. Essa área
responsável pela tomada final das decisões se chama de córtex pré-frontal.
É por meio dessa área que nós somos capazes de exercer autodomínio e nos
controlar, mesmo quando debaixo de extrema pressão para lutar ou fugir.
Assim sendo, no caso de alguém com autismo, até uma situação simples pode
acabar ativando uma resposta ao estresse de nível 9 ou 10. Com que
resultado?
Visto que a pessoa com autismo não consegue exercer controle internamente,
ela tenta acalmar seu sistema límbico externamente, através do stimming.
Mas o stimming é limitado na sua capacidade de reduzir a intensidade do
estresse. Qual o resultado?
Uma crise de nervos, ou meltdown. Essa crise de nervos pode assumir ares de
ataque de pânico, ataque de raiva, vômitos, ataque de choro e depressão ou
paralisação e desligamento.
Imagine uma escala de 0 a 100. O autista começa seu dia com a escala no 0.
Eventualmente os estresses vão acumulando. O ruído irritante de uma mota
passando (+ 5 pontos por cada segundo que o barulho dura), as luzes
cintilantes da sala (+10 pontos por cada 15 minutos que o autista permanece
no local), ter de interagir com uma pessoa por 20 minutos (+10 pontos). Uma
mudança inesperada de planos (+20 pontos). Descobrir que afinal não vai ter
oportunidade de ficar sozinho para recarregar (+30 pontos). Quando você dá
por isso chegamos perto dos 100.
Na verdade o autista está fazendo tudo o que pode para evitar o meltdown. No
entanto, se as situações estressantes continuarem se acumulando, o número
de pontos de estresse acabará passando dos 100 e ocorrerá um meltdown.
O único ponto positivo do meltdown é que quando ele finalmente termina, a
escala volta de novo ao zero.
1. Remover para longe o que está causando o estresse. Ajudar seu filho
a tirar a roupa que está causando comichão ou calor. Desligar as luzes
que estão causando uma reação de fotossensibilidade. Desligar a
música e reduzir ao máximo outros ruídos. Remover objetos de cores
berrantes ou com padrões.
2. Retirar o autista do meio de coisas estressantes. Levar seu filho para
um local sem pessoas. Um local que ele conheça e onde tenha controle
sobre o ambiente, idealmente o seu quarto.
3. Deixar que ele se distraia com algum passatempo que ele ame.
4. Ajudá-lo a ir para um local onde possa fazer todo o stimming que
ele quiser.
5. Falar com ele num tom calmo. Isso é calmante mesmo que seu filho
não entenda o que você está dizendo.
6. Colocá-lo num sítio que faça pressão sobre o seu corpo ou abraçá-
lo com força. Note, no entanto, que é vital que o autista tenha controle
total sobre a quantidade de pressão que é exercida sobre ele e por
quanto tempo. Caso contrário, a pressão pode ter o efeito contrário. Se
abraçar seu filho fique atento a qualquer sinal da parte dele,
empurrando você.
Do mesmo modo, existem coisas que, se forem feitas quando ele está à beira
do meltdown, apenas irão piorar as coisas. O meltdown irá acontecer mais
rapidamente e com mais intensidade. Essas coisas incluem:
1. Ralhar com seu filho. Isso apenas ativará ainda mais a resposta ao
estresse.
2. Obrigá-lo a interagir com pessoas. Essa é uma das formas mais
eficazes de desgastar mentalmente um autista.
3. Fazer perguntas que exijam que ele pense bem no assunto. Ou seja,
perguntas que causem desgaste.
4. Exigir que ele se adapte às mudanças de rotina. Lembre-se que ele
só se adaptará depois de ter tempo suficiente para se imaginar
executando a nova rotina. Isso implica que ele tenha acesso ao máximo
de informação sobre o que irá acontecer.
5. Ignorar as hipersensibilidades sensoriais e a sobrecarga sensorial.
Com o tempo você ganhará uma boa noção do que mais perturba seu filho e
será capaz de distinguir entre o stimming causado por algum estresse e o
stimming que indica que está quase a ocorrer um meltdown. Mais ainda, você
será capaz de distinguir o meltdown da birra.
O meltdown tem sempre uma causa lógica relacionada com uma incapacidade
de exercer autocontrole sobre o sistema límbico. A birra, por outro lado, é
uma estratégia que a criança usa para tentar levar sua vontade avante.
Como lidar com um meltdown depois de ele começar?
Faça o máximo para colocar seu filho num ambiente o mais neutro possível.
O melhor sítio do mundo é o quarto dele. Porquê? Porque aqui ele tem
controle sobre as coisas. Infelizmente muitos meltdowns ocorrem fora de
casa. Ou, mesmo que ocorram dentro de casa, ocorrem devido a
circunstâncias dentro do corpo do autista. Como assim? Preocupações e
outras emoções causam turbulência que vem de dentro e que você não pode
ver.
Mesmo que ele não o consiga expressar, ele sente o seu amor e você pode ter
certeza que esse amor é correspondido.
Na verdade, este assunto é tão vital que merece seu próprio capítulo.
Capítulo 8
“Bem, agora que meu amigo está aqui já não preciso lutar sozinho, então já
não necessito de ativar tanto assim a resposta ao estresse.”
Quando ele está por perto ela fica muito mais calma e confiante. Parece que
as situações difíceis da vida não a afetam tanto assim. Quando ela está por
perto ele tem mais motivação ainda para lidar com os problemas e enfrentar
as dificuldades.
No caso dos autistas as necessidades deles são muito especiais. Por isso é
preciso estar ainda mais atento. Mas quando você se esforça em fazer isso
sistematicamente, o sistema límbico do autista — o mesmo sistema
responsável pela detecção inconsciente de perigos — aprende que você é
sinónimo de segurança.
Isso faz todo o sentido. Afinal, se eu tenho autismo e se sempre que os ruídos
altos estão me fazendo entrar em meltdown, minha mãe chega perto de mim e
coloca suas mãos em meus ouvidos até que eu me acalme, não é preciso
passar muito tempo para eu aprender que “mãe = alívio.”
Se sempre que eu começo entrando em meltdown minha mãe faz tudo o que
pode para me ajudar, qual poderia ser o resultado senão o meu cérebro passar
a associar essa pessoa com tudo o que de melhor este mundo tem para
oferecer?
Autistas não são estúpidos. Diversas áreas de seu cérebro funcionam de modo
atípico e as linhas de comunicação entre elas não funcionam lá muito bem,
mas eles sabem distinguir entre pessoas que lhes causam alívio e pessoas que
lhes causam sofrimento.
Não que seu filho deseje ignorar todo o bem que você faz por ele.
Simplesmente, da perspectiva do cérebro dele, “você = pessoa que às vezes
me faz bem e às vezes me faz mal.”
Por exemplo, imagine que durante a viagem de carro o rádio começa afetando
seu filho. Quando ele se queixa de que o ruído está demasiado alto e todos
começam dizendo que está até baixo demais, o que você faz? Se ignorar isso,
ele aprenderá que às vezes ninguém se importa com suas necessidades.
Mesmo que ele nunca consiga verbalizar isso, é assim que ele se sente.
Por outro lado, se você sempre se preocupa com isso, quando ele estiver em
outro carro com o rádio alto e as pessoas reagirem mal a seus pedidos para
baixar o volume, ele pensará: “quem me dera que minha mãe estivesse aqui”
ao invés de pensar “quem me dera estar sozinho.”
No caso de filhos com Asperger, ser a pessoa favorita significa que você se
tornará o alvo de suas longas conversas sobre os tópicos favoritos dele. Mas
esse é um pequeno preço a pagar em troca da ligação forte que se
desenvolverá. E veja o lado positivo: com o tempo você se tornará um
especialista nos tópicos favoritos dele.
Alterações de rotina e a pessoa favorita
Ao longo do livro falamos várias vezes sobre o efeito negativo que uma
alteração de rotina tem sobre o autista, mesmo sobre aqueles que têm uma
forma moderada de autismo, como o síndrome de Asperger. Porque isso
acontece?
Então, quando ocorre uma mudança de rotina que envolva algum desses tipos
de informação, a pessoa com autismo necessita de tempo para considerar
tudo o que a nova alteração de rotina exigirá dele.
Por exemplo, imagine que um jovem com autismo sabe que tem de ir ao
supermercado. De início ele não quer ir. Ele sente repulsa. Então ele fica
fazendo stimming ao mesmo tempo que tenta se obrigar a desejar ir. Ele fica
se imaginando a executar a tarefa, tentando prever tudo o que pode correr mal
e como ele poderá lidar com isso. Ele se prepara mentalmente para lidar com
as sensibilidades sensoriais que ele já sabe que serão ativadas no
supermercado. Após alguns minutos, ou horas, ele já está plenamente
mentalizado do que vai fazer.
Esse processo exigiu esforço mental e foi desgastante. Mas agora, ele até
sente certo entusiasmo em ir.
Nesse meio tempo, o pai desse jovem acabou por terminar a tarefa que estava
fazendo mais rápido do que ele imaginava. Aí o pai pensa: “Bem, eu sei
como meu filho odeia supermercados. Visto que eu tenho algum tempo vou
ter com ele e lhe direi que ele já não precisa de ir. Nesse caso vou-lhe pedir
que vá apenas arrumar o quarto.”
O pai espera que isto cause muita alegria no autista. E tem razão para esperar
isso. Afinal, esta mudança de rotina parece que vai satisfazer a necessidade
do autista de poupar sua energia mental e de se manter afastado de locais que
ativem suas sensibilidades.
No entanto, assim que o filho percebe que sua rotina mudou por completo ele
entra em meltdown e se fecha no quarto. O pai fica atônito sem entender o
que se passou. “Porque meu filho é tão complicado?” ele pensa, entristecido.
Porquê?
Por todas estas razões é importante comunicar com o autista e tentar entender
como ele se sente a respeito da mudança de rotina.
Talvez. Mas ele também terá tempo extra para se mentalizar. Além disso, ao
aplicar as sugestões encontradas no capítulo 4 você poderá fazer muito para
minimizar a aflição emocional que a perspectiva de uma alteração futura de
rotina causa no autista.
Será que você conseguirá alcançar o estatuto de pessoa
favorita?
Claro que sim. Afinal, você tomou tempo para ler todo este livro. Só isso já é
evidência de seu interesse amoroso nas pessoas com autismo. Elas têm muita
sorte de conhecer você. É esse amor que o motivará a colocar em prática as
sugestões deste livro, mesmo quando for difícil fazê-lo.
E se você cometer erros?
Isso é normal.
Essa regra diz que por cada má ação que fazemos a alguém, temos de
fazer 5 boas ações a fim de compensar.
Isso acontece devido à forma como nosso sistema límbico está construído. As
áreas de nosso cérebro responsáveis por detectar perigos dão muito mais peso
a uma má acção do que a uma boa.
Devido à forma como nosso cérebro está projetado para dar mais atenção a
coisas más do que a coisas boas, é necessário fazer um esforço consciente
para lutar contra a tendência de encarar os outros de modo negativo quando
eles nos fazem alguma coisa que nós não gostamos.
E quando somos nós a pessoa que tratou mal a outra?
É essencial ajudar a pessoa a processar o que aconteceu.
Por exemplo, imagine que o cão que me deu a dentada sabia falar. Aí ele
aparecia em minha casa e me explicava que me mordeu porque eu o tinha
aleijado no pescoço quando o estava apertando. Ele me explica que sempre
teve problemas de temperamento e me pede muitas desculpas.
Nos dias seguintes eu noto como esse cão faz todo o esforço para me tratar
bem. Com o tempo minha opinião começa mudando.
Talvez eu comece a raciocinar: “Bem, talvez aquilo tenha sido uma vez sem
exemplo. A verdade é que eu realmente o apertei com força. Além disso, ele
nem me mordeu com violência, apenas encostou seus dentes em minha mão.
Eu é que me arranhei nos dentes quando puxei a mão para fora em reflexo.”
Em todo o caso, com o tempo, futuras boas ações rapidamente falarão mais
alto que qualquer coisa errada que tenhamos feito.
Afinal de contas, se você é pai ou mãe, você ainda tem a tarefa de educar seu
filho com autismo. Isso envolve dar a disciplina adequada quando
apropriado. Além disso, muitas vezes um bom pai tem boas razões para não
fazer ou dar ao filho tudo o que ele quer.
A expressão “você é mau” vai fazer surgir em sua mente imagens do que
significa ser mau. Daí, ele associará todas essas imagens a si próprio. Ele o
ama, por isso sua opinião terá um grande impacto nele. O que fazer então?
Seja específico. O discipline por lhe dizer que a ação específica foi má.
Mostre como a ação o fez sentir e explique como ele deveria ter agido.
Devido à forma como seu cérebro está configurado para pensar de modo
concreto, dizer ao autista exatamente o que se espera dele, passo a passo —
se possível por escrito — é muito mais eficaz do que lhe dizer o que ele não
deve fazer.
Como comunicar com alguém autista?
Para ilustrar, suponha que você quer que seu filho arrume o quarto. Note o
que não funcionaria:
Além disso, o tom irritado de sua voz poderia despoletar ansiedade e até
pânico.
Seja o mais concreto e direto possível. Mostre o que fazer passo a passo.
E não esqueça a lista escrita. Pode parecer loucura entregar a um filho uma
lista dos passos necessários para fazer algo aparentemente tão simples como
limpar o quarto. Mas tudo isso são passos que facilitam o trabalho dele.
Novamente, cada caso é um caso. Não há dois autistas iguais. Tudo depende
do grau de autismo e das necessidades e sensibilidades especiais e da
personalidade única que seu filho tem. Uma personalidade que existe junto
com o autismo e é tão ímpar como a de qualquer outra pessoa.
Ainda algumas pessoas defendem que existe uma relação entre as vacinas e o
autismo. Esse é um tópico onde existem opiniões muito fortes em ambos os
lados da questão. Isso é compreensível e uma análise detalhada desse assunto
está fora do objetivo deste livro. Se o leitor possui informação sobre esse
tópico, que o fazem optar por um dos lados da questão, eu faria gosto em a
analisar. Poderá me contatar para o email:
Tiagohenriques@academiaciencia.com
O que acontece é que as redes neurais estão todos lá, mas não funcionam de
modo comum.
1. Processamento sensorial.
2. Processamento emocional.
3. Processamento social e teoria da mente.
4. Comunicação.
5. Funções executivas.
Dessa forma, podemos definir “grau de autismo” como “o grau em que essas
três dificuldades afetam o dia a dia da pessoa.” Confuso? Não se preocupe.
Faremos uma análise detalhada, e concreta, do assunto já de seguida.
1. Processamento sensorial
Esse tipo de processamento ocorre à medida que nosso cérebro tenta obter
respostas às seguintes perguntas:
● O que se passa com este outro ser humano que eu detectei no meu
ambiente?
● O que ele está sentindo?
● O que ele está comunicando?
● O que ele está pensando e não me está comunicando abertamente?
● Quais são as suas intenções?
● Quais são suas necessidades?
● Ele é uma ameaça para mim?
● Como devo reagir a ele?
Isso significa que quando ele come de boca aberta ele pensa: “isto não faz
diferença a mim, então também não faz aos outros.” Já quando é você quem
está comendo de boca aberta, ele raciocina: “Isto me enoja, então também
deve estar enojando todo o mundo.”
Todas essas funções exigem uma boa comunicação entre todo o cérebro:
A. Processar a Informação
B. Controlar as Emoções
C. Proteger-se da Hipersensibilidade Sensorial
D. Descansar
E. Sentir Apoio
Essas são necessidades que todos os seres humanos têm. Então porque
dizemos que no caso de alguém autista elas são especiais?
Para ilustrar, todos necessitamos de comer, mas nem todos podemos comer as
mesmas coisas. Alguém alérgico ao marisco não pode usar a estratégia
“comer marisco” para satisfazer sua necessidade de se alimentar. Se o fizer,
ele sofrerá as consequências. Será que isso o torna sub-humano? Será que nos
revela alguma coisa sobre o caráter real dessa pessoa? Não.
Podemos imaginar que cada nova peça de informação que alguém com
autismo adquire é como uma peça de um puzzle. Quando as peças do puzzle
não encaixam, a pessoa fica com ansiedade. Quando finalmente completa o
puzzle ela se sente bem. Mas o mundo real nunca pára de enviar informação
nova, então o puzzle realmente nunca acaba.
Isso significa que quando o autista precisa de espaço e tempo para processar
informação, adquirir esse silêncio e esse tempo é tão vital como beber água
quando se tem sede.
Podemos imaginar que as palavras são como carros presos em uma fila de
trânsito. Por mais pressa que aquelas pessoas tenham em sair da fila, elas vão
ter de esperar até que o trânsito acalme e volte, aos poucos, a circular.
O mutismo súbito e os desligamentos são uma das razões da fobia social que
frequentemente acomete os autistas — além dos meltdowns.
Usamos aqui o termo “obsessão” não num sentido pejorativo, mas como
indicação da capacidade do autista de se abstrair completamente enquanto se
dedica a pesquisar, ler, ou a interagir com algo que ele ama demais.
Nem todas essas obsessões são saudáveis. Por exemplo, se seu filho fica
dedicando seu tempo e energia a uma pessoa e depois essa pessoa falha em
corresponder, isso será devastador. No entanto, dedicar seu tempo e energia à
astronomia ou a outro campo da ciência fará dele — e da pessoa favorita que
fica escutando suas explicações — um “pequeno professor” do assunto, como
Hans Asperger dizia.
Em todo o caso, não existe muita capacidade para controlo directo das
emoções sem que haja primeiro uma reeducação emocional, em que a
inteligência emocional é ensinada de um modo concreto e compatível com os
interesses do autista.
Visto que é difícil para ele perceber o que está a sentir e qual a causa dessas
emoções, a empatia de outros e a segurança de saber que se tem esse apoio
disponível, sem censura, é vital.
Ser tocado com alguma força por outras pessoas é bastante desconfortável e
pode até causar dor. Como por exemplo, quando apertam a mão dele com
força.
Cheiros fortes, sons de motores, luzes que cintilam — e que por vezes apenas
o autista tem a sensibilidade suficiente para detectar, como as lâmpadas
fluorescentes — levam gradualmente ao meltdown.
Além disso, o estresse faz com seja mais difícil relaxar e adormecer,
dificultando assim a ativação dos meios normais que nosso corpo usa para
recuperar a energia mental e física.
Mais ainda, o estresse prejudica nosso sistema digestivo. Isso faz com que a
pessoa tenha mais dificuldade em absorver a nutrição dos alimentos que
consome, além de afetar diretamente o apetite e a flora intestinal.
O descanso extra é por isso vital. Ele é especialmente importante como mais
um meio de reduzir as possibilidades de um meltdown e de promover a
recuperação pós-meltdown.
Entendemos que se levantar todos os dias e tentar levar uma vida normal
pode ser um ato heróico para alguém com um nível de autismo que lhe
permite trabalhar e ir à escola.
Exigir que o autista tome decisões quando ele tem necessidade de processar
informação ou de descansar é como obrigar o maratonista ofegante a cantar.
E pode levar ao meltdown.
E. Necessidade de Sentir Apoio
Pessoas com autismo não são anti-sociais nem anti-pessoas. Elas
simplesmente têm tendência a sentir muito estresse quando estão junto de
outros. Isso acontece porque eles não só não entendem bem as pessoas, como
também não sabem ao certo como evitar sofrer bullying, intimidação ou
outros tipos de maus tratos por parte de algumas delas.
Até mesmo outros autistas podem não ser capazes de providenciar o apoio
necessário. Imagine um autista que é sensível ao ruído passando tempo com
um que ama escutar música alta.
Dessa forma, o apoio real de alguém que o entende é algo único e muito
necessário. Esse tipo de apoio ajudará na satisfação das outras necessidades
especiais aqui referidas.
Isso lhes permitirá dar a ajuda necessária quando um meltdown está prestes a
ocorrer.
Eles podem fazer isso por (1) dar a necessária empatia ― no caso de um
meltdown que está surgindo devido a pensamentos aflitivos, (2) ajudar a
pessoa a se proteger de estímulos sensoriais aflitivos ― no caso de um
meltdown que está em risco de ocorrer devido a uma sobrecarga sensorial e
(3) por retirá-lo da presença de pessoas que o obrigam a processar
continuamente “qual a coisa certa a dizer” e “qual a coisa certa a fazer” — ou
seja, a maioria das pessoas com as quais o autista não está bem familiarizado.
O máximo que o autista pode fazer é escolher, por exemplo, chorar em vez de
se tornar violento, mas tirando isso, não existe muito mais que ele possa fazer
para se controlar caso as coisas cheguem ao ponto do meltdown e ele não
consiga se afastar das causas do desgaste.
Você, meu leitor, tem em sua posse a informação necessária para se tornar
esse tipo de pessoa para qualquer autista. No entanto, quanto mais
informação procurar adquirir, quer através de literatura científica, quer
através da leitura de relatos bibliográficos, maior se tornará a largueza de seu
entendimento.
Use esta informação para ajudar. Use-a para educar outros a ajudar. Não
deixe de fazer uso do que aprendeu aqui.
Capítulo 10
As Dificuldades de Um Diagnóstico
Oficial
O diagnóstico oficial é importante porque os autistas são sensíveis aos
medicamentos. Por exemplo, no caso dos antidepressivos, Temple Grandin
recomenda que iniciem com uma dose de ⅓ (33%) da dose recomendada para
outras pessoas. No caso de outros medicamentos, é preciso levar em conta
que a dose recomendada poderá ser de ¼ (25%) a ½ (50%) da dose usada
com outras pessoas sem autismo.
Qual o resultado?
É claro que essas doenças podem, e por vezes surgem, junto com o autismo,
pois o autista não é imune a eles.
No entanto, quando um desses diagnósticos surge, antes de partir para a
medicação, é importante verificar se o problema não está na rotina do
autista. Como assim?
Será que está correcto diagnosticar e medicar o autista como se ele tivesse
bipolaridade ou borderline? Não. O autista simplesmente necessita de ajustar
sua rotina um pouco, para ter mais espaço para recuperar sua energia mental
após cada interação social.
No entanto, terapias que ajudem o autista a atender à raíz dos seus problemas
são sempre úteis. Essas incluem terapias que lhe ensinem estratégias para
lidar com pensamentos aflitivos — como a terapia cognitiva, ou exercícios
que aumentem sua inteligência emocional — como os apresentados no
capítulo 4.
Capítulo 11
Um Novo Vocabulário
Neste livro usamos palavras e expressões com as quais o leitor talvez não
estivesse familiarizado. E se elas se tornassem comuns? Em casa, na sala de
aula, entre os amigos da família e os vizinhos?
3. O seu filho está muito agitado, não sabemos mais o que fazer.
3. Notámos que seu filho estava fazendo mais stimming que o normal. Por
isso nos juntamos convosco para avaliar a rotina diária do vosso filho e
tentar perceber se poderíamos encontrar alguns pontos onde as coisas
pudessem ser reorganizadas para levar mais em conta as necessidades
especiais dele.
4. Hoje seu filho teve vários meltdowns. Por isso recomendamos que ele
fique em casa o resto da tarde para ter tempo de se acalmar e recuperar
energia. Amanhã veja como ele está e se já está preparado para voltar a
escola.
1. Porque meu filho não pára de se mexer? Será que lhe devo dar
calmantes? Será que o devo tentar impedir e o disciplinar por ele fazer
isso?
2. Não sei mais o que fazer! Os ataques estão se tornando cada vez mais
frequentes e incontroláveis, tenho medo que meu filho acabe passando
a vida internado em algum hospital psiquiátrico.
3. Parece que meu filho não se importa com meus sentimentos. Ele nem
sabe que eu existo.
4. Mas será possível que ele esteja sempre cansado? Porque ele não ajuda
mais na lida da casa?
5. Mas porque ele sempre faz uma cena quando vamos ao supermercado?
2. Meu filho continua tendo meltdowns e não sei mais o que fazer. Preciso
procurar ajuda médica de um profissional de saúde que esteja bem
familiarizado com o autismo para que meu filho não acabe
indevidamente medicado ou institucionalizado num local onde suas
sensibilidade sensoriais dificilmente seriam levadas em conta.
4. Meu filho anda muito cansado. Isso é sinal que seu corpo está ativando
frequentemente a resposta ao estresse. Preciso analisar de perto sua
rotina diária para ver que coisas estão despoletando esse estresse extra.
Até lá vou deixar que nossa casa seja seu refúgio e cuidar que não
hajam coisas que ativem suas sensibilidades sensoriais.
Além disso, a própria forma como o autista comunica — se ele possuir essa
capacidade — com os pais, com os professores e com os empregadores pode
mudar.
Não mais olhamos para o diagnóstico mas sim para os sintomas e para as
necessidades especiais que esses sintomas evidenciam. Depois, usam-se
estratégias adequadas para satisfazer essas mesmas necessidade. Assim todos
saem ganhando.
Capítulo 12
Por causa disso, autistas sabem o que é sofrer e fazem o máximo para evitar
dizer ou fazer algo que cause sofrimento a outros. Infelizmente, têm de lidar
com dificuldades grandes a nível do autodomínio, meltdowns e muito estresse
emocional — o que só dificulta as coisas.
No entanto, o poder que lhe permite levantar cada dia apesar de todas essas
crescentes dificuldades continua lá. Latente.
Devido a todo esse poder interior podemos esperar que, com ajuda dos pais e
dos educadores, pequenos ajustes chave nas rotinas de um autista causem
alterações significativas na sua qualidade de vida.
« Nós não temos pele, pele emocional, é por isso que nos escondemos. »
« Isso dói mesmo muito e só passa depois de irmos para casa e analisarmos
tudo o que aconteceu, às vezes durante dias a fio. »
Cada autista é diferente na forma como lida com a realidade, na forma como
escolhe fazer stimming e na maneira como escolhe expressar o seu puzzle
eternamente inacabado com o mundo. Mas acredito que todos têm em
comum as necessidades especiais que aqui descrevi. Necessidades que são
comuns a todos os seres humanos, mas que necessitam de estratégias
específicas para serem satisfeitas e preenchidas devido à neurologia única do
autistas.
Afinal, se alguém tem autismo moderado e nunca descobre isso, o que será de
sua vida?
Decisões que o farão passar por situações com as quais ele não conseguirá
lidar, como ter um emprego que sempre fica estimulando suas sensibilidades
sensoriais ou estar casado com alguém que não tem noção de suas
necessidades especiais. Como o autista poderá educar essa pessoa se ele
mesmo não sabe o que se está passando com ele?
« Saber que tenho Asperger fez com que eu me perdoasse por muitas coisas
que aconteceram no meu passado, me deu um grande entendimento sobre
quem eu sou, e me permitiu começar a mudar a minha forma de interagir com
o mundo para evitar os meltdowns e as outras coisas que o Asperger provoca.
»
O meu objectivo é que se use a informação contida neste livro como base
para entender melhor como viver com autismo e com um autista. Isso
permitirá que tanto o portador como a sua família e seus educadores ganhem
um maior controle sobre a vida e o futuro.
Para entender o que se consegue fazer quando o autismo está sobre controle,
poderá observar-se a biografia de algumas das pessoas que se acredita que
tenham tido autismo moderado.
● Mozart
● Nikola Tesla
● Thomas Jefferson
● Albert Einstein
● Ludwig Wittgenstein
Será que todos eles seriam diagnosticados com autismo se tivessem feito os
testes necessários? Não sabemos, pois esses testes não existiam no seu tempo.
Mas uma coisa é certa, o que ficou registrado sobre sua vida revela
características que hoje associamos ao autismo e nos mostra a capacidade
intelectual e artística latente no mesmo cérebro que talvez tenha muita
dificuldade em lidar com alterações de rotina, ruídos altos ou em expressar
empatia.
Existe esperança?
Alguns, talvez com demasiado orgulho pessoal, afirmam que as pessoas com
Asperger são responsáveis pelo avanço intelectual no mundo. Calcula-se que
os já citados Albert Einstein, Mozart e Ludwig Wittgenstein tivessem
Asperger devido ao que ficou registrado sobre eles.
Assim como alguém que não tem aptidão para a musculação pode
desenvolver força muscular, também alguém que não possui a maquinaria
cerebral necessária para interações sociais poderá desenvolver capacidade de
interpretar informação social. Com o tempo, com a repetição e com a
introdução de novas experiências a pessoa autista possuirá uma base de
exemplos concretos suficientemente grande à qual poderá recorrer para saber
como lidar com experiências sociais inteiramente novas.
No entanto, tal como uma pessoa geneticamente predisposta para ser magra
dificilmente ganhará tanto músculo quanto o seu colega de treino
geneticamente predisposto para ganhar músculo, também a pessoa com
autismo poderá nunca desenvolver o mesmo nível de aptidão social que
alguém cujo cérebro já nasceu com toda a maquinaria necessária. Mas isso é
muito diferente do conceito generalizado, presente nos filmes e nos mídia, de
que ter autismo é o fim da linha e de que não existe nada a fazer.
Termino por convidar o leitor a dar uma olhada aprofundada no apêndice que
se segue. Ele descreve alguns suplementos que podem ser tomados por
alguém com autismo, após cuidadosa consideração da relação
custo/benefício.
Apêndice
Quatro suplementos que demonstraram
aliviar os sintomas de autismo em estudos
científicos publicados
Embora estas indicações não substituam a necessidade de uma consulta com
um médico especializado, elas nos mostram que sempre existe algo que pode
ser feito para ajudar alguém com autismo, mesmo quando todos à nossa volta
pensam o contrário.
Em cada caso são feitas referências aos estudos clínicos específicos. Isso
permitirá que os dê a conhecer a seu médico e a outras pessoas.
Vitamina D3
Conforme observamos, embora existam muitas teorias sobre as causas do
autismo, ninguém sabe ao certo qual a causa, ou conjunto de causas,
definitiva. No entanto, em tempos recentes, os cientistas descobriram algo
extraordinário: a relação entre a vitamina D e o autismo.
Daí que em meu livro sobre suplementação segura com altas doses de
vitamina D se tenha levantado esta questão: “Como seriam essas estatísticas
se todas as mães suplementassem com doses adequadas de vitamina D
durante a gravidez?”
A análise adequada para verificar os níveis de vitamina D é a que verifica os
níveis de Colecalciferol ou 25 (OH) D3. Outros nomes para esta análise
incluem “Calcifediol”, “Calcidiol”, “25 (OH) D” e “25-
hidroxicolecalciferol.”
Quando uma mulher que já teve um filho com autismo tem outro filho, existe
20% de chances desse novo filho vir a desenvolver autismo. No entanto,
apenas 5% das crianças envolvidas no estudo desenvolveram autismo. Ou
seja, das 19 crianças envolvidas, apenas 1 acabou por desenvolver autismo.[17]
Este foi um estudo de proporções pequenas, mas ele ilustra o potencial da
vitamina D quando administrada à mãe durante a gravidez e período de
amamentação e à criança após esse período de amamentação e até aos 36
meses.
Isso significa que a cada quilo de massa corporal corresponde uma dose
de 100 miligramas.
Já para uma criança de 50 quilos a dose seria de 5 gramas diárias, visto que
50 kg x 100 mg = 5,000 mg.
Resultados semelhantes foram reportados até mesmo com doses mais baixas
de 50 mg/kg/dia por um período de 3 meses.[24]
Durante as primeiras 4 semanas a dose diária de NAC foi de 900 mg. Nas 4
semanas seguintes foi usada uma dose de 900 mg 2 vezes por dia, ou seja
1,800 mg diárias. Nas últimas 4 semanas a dose de NAC foi administrada 3
vezes por dia, ou seja 2,700 mg diárias.
A razão do uso da NAC tem que ver com uma hipótese que liga o estresse
oxidativo e anormalidades nas vias glutamatérgicas — ou seja, nos caminhos
percorridos pelo glutamato, um neurotransmissor — com o autismo. Sendo a
NAC um modulador glutamatérgico e um antioxidante, ela foi usada no
estudo.
Enzimas digestivas
Devido à ligação entre a saúde de nosso sistema digestivo e o bom
funcionamento do cérebro, vários investigadores tentaram verificar qual o
efeito que a suplementação com enzimas digestivas teria sobre os sintomas de
autismo.[30]
Papaína Pepsina
Antes do café da manhã 80 mg 40 mg
Antes do almoço 80 mg 40 mg
Antes do jantar 80 mg 40 mg
Total diário: 240 mg 120 mg
Amazon.com: https://www.amazon.com/dp/B07BNVCTZN
E se aplicassemos principios científicos sólidos à
escrita de um currículo?
Qual destas pessoas você chamaria para uma
entrevista?
Deixe que eu lhe apresente Joel. Joel tem 19 anos e muito pouca experiência
de trabalho. Em seu currículo, na seção sobre Experiência Profissional, ele
tem apenas esta entrada:
Experiência Profissional:
● Operador de Caixa, Wallmart, Setembro de 2015 até ao presente
Meu trabalho envolve registar os produtos que os clientes compram.
Ele fez o que a maioria das pessoas faz na hora de preparar seu currículo. Ele
escreveu seus detalhes de modo claro e sucinto. Ao mesmo tempo, ele se
pergunta porque não está recebendo aquele convite para uma entrevista.
Experiência Profissional:
● Operador de Caixa, Wallmart, Setembro de 2015 até ao presente
Meu trabalho envolve registar milhares de produtos diariamente.
Presto atendimento a mais de 100 pessoas cada dia.
Procuro sorrir ao cumprimentar cada cliente e reagir com
empatia quando alguém demonstra uma atitude agressiva.
Qual deles você chamaria para uma entrevista? João, sem dúvida.
Não é o caso que lidar com muitas pessoas ou registar produtos seja algo
impressionante em si mesmo. O ponto é que o currículo de João pinta uma
imagem em nossa mente, conseguimos imaginar o que é ser o João e
enxergar o ser humano real que ele é, trabalhando atrás de sua caixa e sendo
bem sucedido em suas muitas interações diárias com cada cliente.
Mais ainda, sem ter de o dizer, João nos revela que é alguém atento ao
detalhe, interessado nos outros e capacitado para lidar com pessoas difíceis.
Como?
Joel ou João?
● Amazon.com: https://www.amazon.com/dp/B07BV5M127
Você Sabia?
Este livro foi publicado de modo independente. Isso significa que não há
nenhuma editora por de trás. Isso tem suas vantagens mas uma desvantagem
fundamental é que não existe nenhuma campanha de marketing nacional
promovendo este livro.
Se você gostou do que leu, que acha de deixar uma crítica no sítio da
Amazon Brasil? Sua crítica ajudará outras pessoas a entender os benefícios
que podem colher da informação contida neste livro.
Por outro lado, se existe alguma informação com a qual você não
concorda ou se precisa de informação adicional, sinta-se à vontade para me
contatar através do seguinte email:
● TiagoHenriques@academiaciencia.com
Para terminar, convido você a tirar um tempinho para checar meu canal
no youtube. Esse canal se chama Ciência Desenhada e nele poderá encontrar
vídeos instrutivos no estilo de animação de quadro branco. O moto do canal é
“Ciência complicada explicada de modo simples.” Se você gostou do estilo
de escrita e das explicações ponteadas de analogias usadas ao longo deste
livro tenho a certeza que gostará do canal.
https://www.youtube.com/watch?v=npx4rvhkTro
A Cafeína é Perigosa? Como Funciona?
Nesse vídeo aprendemos sobre a bioquímica da cafeína e descobrimos
um método simples para avaliar se a quantidade de cafeína que alguém está
bebendo está sendo prejudicial ou não. Ele está disponível neste link:
https://www.youtube.com/watch?v=RK_oZdKwE6I
Antidepressivos Impedem a Paixão? Como?
Aqui descobrimos como as pessoas se apaixonam, incluindo o papel
fundamental da serotonina e a relação entre o processo de paixão e os
inibidores seletivos da recaptação da serotonina — os infames ISRS —
usados no tratamento da depressão. Poderá vê-lo aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=PVu96Q4emjM
Ciência Complicada Explicada de Modo Simples
Meu canal do youtube é também meu meio de preferência para dar a
conhecer novos lançamentos de livros e de outros projetos da Academia
Ciência. Espero que goste de meu sotaque europeu. Vejo você por lá!
https://www.youtube.com/channel/UCPPI9W_DVjS2LK_kJPlVwWA
Referências e Bibliografia
Aston MC. Aspergers in Love, Couple Relationships and Family Affairs.
Jessica Kingsley Publishers; 2003.
Burns DD. When Panic Attacks, The New, Drug-Free Anxiety Therapy That
Can Change Your Life. Harmony Books; 2007.
Grandin T. The Way I See it, A Personal Look at Autism & Asperger's.
Future Horizons; 2011.
[1]
Artigo: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmedhealth/PMHT0024869/
[3]
Saad K, Abdel-rahman AA, Elserogy YM, et al. Vitamin D status in autism spectrum disorders
and the efficacy of vitamin D supplementation in autistic children. Nutr Neurosci. 2016;19(8):346-351.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25876214
[7]
Cannell JJ. Vitamin D and autism, what's new?. Rev Endocr Metab Disord. 2017;18(2):183-
193. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28217829
[9]
Cannell JJ, Grant WB. What is the role of vitamin D in autism?. Dermatoendocrinol.
2013;5(1):199-204. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24494055
[10]
Duan XY, Jia FY, Jiang HY. [Relationship between vitamin D and autism spectrum disorder].
Zhongguo Dang Dai Er Ke Za Zhi. 2013;15(8):698-702.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23965890
[11]
Altbäcker A, Plózer E, Darnai G, et al. Alexithymia is associated with low level of vitamin D in
young healthy adults. Nutr Neurosci. 2014;17(6):284-8.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24593042
[12]
Artigo: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmedhealth/PMHT0024869/
[13]
Artigo: http://www.sbpc.org.br/noticias-e-comunicacao/novos-intervalos-de-referencia-de-
vitamina-d/
[14]
Hathcock JN, Shao A, Vieth R, Heaney R. Risk assessment for vitamin D. Am J Clin Nutr.
2007;85(1):6-18. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17209171
[15]
Artigo: https://www.vitamindcouncil.org/about-vitamin-d/am-i-getting-too-much-vitamin-d/
[16]
Stubbs G, Henley K, Green J. Autism: Will vitamin D supplementation during pregnancy and
early childhood reduce the recurrence rate of autism in newborn siblings?. Med Hypotheses.
2016;88:74-8. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26880644
[18]
Saad K, Abdel-rahman AA, Elserogy YM, et al. Vitamin D status in autism spectrum disorders
and the efficacy of vitamin D supplementation in autistic children. Nutr Neurosci. 2016;19(8):346-351.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25876214
[19]
Ligação: www.vitamindcouncil.org
[20]
Cannell JJ. Autism, will vitamin D treat core symptoms?. Med Hypotheses. 2013;81(2):195-8.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23725905
[22]
Artigo: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1750946712000827
[24]
Geier DA, Kern JK, Davis G, et al. A prospective double-blind, randomized clinical trial of
levocarnitine to treat autism spectrum disorders. Med Sci Monit. 2011;17(6):PI15-23.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21629200
[25]
Filipek PA, Juranek J, Nguyen MT, Cummings C, Gargus JJ. Relative carnitine deficiency in
autism. J Autism Dev Disord. 2004;34(6):615-23. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15679182
[26]
Artigo: http://www.genecards.org/cgi-bin/carddisp.pl?gene=TMLHE
[27]
Ziats MN, Comeaux MS, Yang Y, et al. Improvement of regressive autism symptoms in a child
with TMLHE deficiency following carnitine supplementation. Am J Med Genet A.
2015;167A(9):2162-7. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25943046
[28]
Artigo: https://www.webmd.com/vitamins-supplements/ingredientmono-1026-l-carnitine.aspx?
activeingredientid=1026&activeingredientname=l-carnitine
[29]
Hardan AY, Fung LK, Libove RA, et al. A randomized controlled pilot trial of oral N-
acetylcysteine in children with autism. Biol Psychiatry. 2012;71(11):956-61.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22342106
[30]
Saad K, Eltayeb AA, Mohamad IL, et al. A Randomized, Placebo-controlled Trial of Digestive
Enzymes in Children with Autism Spectrum Disorders. Clinical Psychopharmacology and
Neuroscience. 2015;13(2):188-193. doi:10.9758/cpn.2015.13.2.188.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26243847