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mudança
da
agricultura
amazônica
conflitos e oportunidades
Alfredo Kingo Oyama Homma
Editor Técnico
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Embrapa Amazônia Oriental
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Embrapa
Brasília, DF
2022
Disponível no endereço eletrônico:
https://www.embrapa.br/amazonia-oriental/publicacoes
Embrapa Amazônia Oriental
Tv. Dr. Enéas Pinheiro, s/n
CEP 66095-903 Belém, PA
Fone: (91) 3204-1000
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www.embrapa.br/fale-conosco/sac
Unidade responsável pelo conteúdo e pela edição
Embrapa Amazônia Oriental
Comitê Local de Publicação
Presidente
Bruno Giovany de Maria
Secretário-executivo
Luciana Gatto Brito
Membros
Alexandre Mehl Lunz
Alfredo Kingo Oyama Homma
Alysson Roberto Baizi e Silva
Andréa Liliane Pereira da Silva
Laura Figueiredo Abreu
Luciana Serra da Silva Mota
Narjara de Fátima Galiza da Silva Pastana
Vitor Trindade Lôbo
Patrícia de Paula Ledoux Ruy de Souza
Supervisão editorial e revisão de texto
Narjara de Fátima Galiza da Silva Pastana
Normalização bibliográfica
Andréa Liliane Pereira da Silva
Projeto gráfico, capa, tratamento de ilustrações e fotografias e editoração eletrônica
Vitor Trindade Lôbo
Foto da capa
1ª capa - Max Steinbrenner - Rodovia Cuiabá-Santarém, próximo a Rurópolis, antes do asfaltamento.
4ª capa - Marcelo Casimiro Cavalcante - Visão panorâmica de 3 mil hectares de castanheiras plantadas na
década de 1980 nas margens da Rodovia Manaus-Itacoatiara.
1ª edição
Publicação digital (2022): PDF
Adriano Venturieri
Engenheiro-agrônomo, doutor em Geografia, pesquisador da Embrapa
Amazônia Oriental, Belém, PA
Hervé Théry
Geógrafo, doutor em Geografia, pesquisador emérito do Centre National
de la Recherche Scientifique e professor visitante da Universidade de São
Paulo, Paris, França
A
Carlos Augusto Mattos Santana, coordenador do Arranjo
NOVOBR, cuja ajuda foi inestimável para a viabilização desta
proposta. A Zander Navarro, cuja visão, assumindo riscos com suas
opiniões, torna-se necessária para criar antíteses, motor para a criatividade
e a “destruição criativa”.
A
praz-me apresentar o livro Sinergias de Mudança da Agricultura
Amazônica: conflitos e oportunidades, editado pelo pesquisador
Alfredo Homma e do qual participaram 37 autores pertencentes a 16
instituições nacionais e internacionais.
São esses desafios que este livro procura colocar em discussão para seus
leitores. Uma boa leitura para todos!
Recebemos com grande satisfação o convite para incluir neste livro o selo dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Sendo assim, é salutar fazer
um breve histórico. A Rio-92 colocou a questão ambiental da Amazônia na
agenda mundial e a redução dos desmatamentos e queimadas passou a ser
cobrada em todos os fóruns internacionais. Em 2000, durante a gestão de Kofi
Annan (1938–2018), no período (1997–2007), a Organização das Nações Unidas
(ONU) estabeleceu oito Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM),
assinado por 189 países e com término para 2015. Durante a gestão de Ban
Ki-moon (2007–2016), foram estabelecidos 17 ODS, com 169 metas até 2030,
assinados por 193 países. A importância da Amazônia no equilíbrio climático
mundial está subjacente em todas as discussões.
H
á uma vertente exclusivamente ambiental para a região amazônica
defendida por organizações não governamentais (ONGs), organismos
internacionais e uma parcela da comunidade acadêmica nacional e
externa para acabar com os desmatamentos e queimadas. O editor deste
livro sempre tem defendido a necessidade de manter a fronteira velha
contida nos atuais limites e reduzir a incorporação de novas fronteiras,
mediante aumento da produtividade da atual agricultura, além de aumentar
a presença do Estado no interior e na domesticação de recursos da flora e da
fauna que apresentam conflitos com a oferta e a demanda.
1
Homenagem a Joseph Schumpeter (1883–1950) para ressaltar o papel dos empresários
inovadores promovendo contínuo processo de “destruição criadora”, alavancando a economia.
18 Sinergias de mudança da agricultura amazônica:
conflitos e oportunidades
2
Liliput, terra imaginária habitada por pessoas de minúscula estatura, do romance Viagens de
Gulliver, do escritor inglês Jonathan Swift (1667–1745)
Prolegômenos 21
A falta de água que assolou o Sudeste e o Sul do País em 2014, na qual foi
emblemática a crise do Cantareira, antes exclusivo do Nordeste brasileiro
e com prognósticos de repetição futura, traz diversos recados para a
agricultura e a geração de energia na Amazônia e no País. O primeiro refere-
-se ao aumento de risco climático para as atividades agrícolas nessas regiões,
já presentes, também, na Amazônia, com maior disponibilidade de recursos
hídricos e de energia hidráulica. O segundo diz respeito à necessidade
premente de pôr em prática a recomposição das ARLs e APPs, priorizando
as margens dos rios, tanto na região amazônica como nas áreas fora da
Amazônia. O terceiro ressalta a importância de se desenvolver variedades
de plantas mais resistentes à seca, reciclar a água, aproveitar a água da
chuva e aumentar a produtividade agrícola.
Isto faz com que a agricultura amazônica nunca tenha sido tão questionada
e desafiada como no presente. Torna-se urgente identificar uma agenda
de pesquisa que consiga coevolucionar o desenvolvimento agrícola com a
conservação ambiental necessária para o fortalecimento das instituições de
pesquisa agrícola na Amazônia. Há necessidade de tecnologias para utilizar
o solo, a biodiversidade e a água, que compõem o ecossistema amazônico,
por meio do manejo florestal, da pecuária, da agricultura, da silvicultura, em
bases mais sustentáveis.
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conflitos e oportunidades
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mar. 2020.
PARTE I
AGRICULTURA NA
AMAZÔNIA:
SUSTENTABILIDADE E MEIO AMBIENTE
Introdução
A
área1desmatada constitui a Segunda Natureza e a floresta intocada
a Primeira Natureza. O desafio seria como transformar uma parte
da Segunda Natureza em uma Terceira Natureza, com atividades
produtivas mais adequadas. A Terceira Natureza seria uma resposta à
Curva de Kuznets, em que algumas medidas de degradação ambiental
aumentariam nos momentos iniciais do crescimento econômico, porém,
eventualmente, diminuiriam quando certo nível de renda fosse alcançado
(Vesentini, 1996; Cohn et al., 2016; Tritsch; Arvor, 2016). Ressalta-se que a
preocupação exclusivamente ambiental sobre a Amazônia tem colocado
em segundo plano as necessidades prementes como a de garantir
segurança alimentar e a de gerar renda e emprego para a população local.
Entre o Censo Demográfico de 1970 e a estimativa para 2020, a população
da Amazônia Legal passou de 7,8 milhões para 29,3 milhões. Rondônia e
Roraima tiveram a população multiplicada por 15 vezes, Pará e Amazonas,
quadruplicada e Mato Grosso sextuplicada.
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, ou ainda duas vezes a superfície
do Japão ou da Alemanha, respectivamente a terceira e a quarta economia
do planeta. A despeito dessa extensão, a participação da Amazônia Legal
no Produto Interno Bruto (PIB) do País é de apenas 8,9% (2017), equivalente
ao dobro do estado de Santa Catarina, e não tem o impacto que deveria ter
para o desenvolvimento local.
São listadas algumas atividades com potencial de mercado que podem ser
importantes para promover o desenvolvimento da Amazônia e, ao mesmo
tempo, retirar incentivos aos desmatamentos e queimadas. Algumas das
alternativas apresentadas não têm volume e valor de produção em níveis
comparáveis aos cultivos líderes da agricultura brasileira. Porém, são
alternativas importantes para o aumento da renda de um grande número
de pequenos produtores e podem ser a base de agroindústrias necessárias
ao desenvolvimento local e regional (Vieira et al., 2014).
Sistemas agroflorestais
Outra solução está relacionada com a evolução do extrativismo e a
domesticação para a implantação de sistemas agroflorestais (SAFs).
Consiste na combinação de cultivos perenes, baseada na experiência da
imigração japonesa em Tomé-Açu, Pará. Trata-se de um sistema adequado
para ocupar as áreas degradadas e seu sucesso depende do mercado das
plantas componentes, tais como cacaueiro, seringueira, castanheira-do-
-pará, cupuaçuzeiro, açaizeiro, árvores madeireiras, bacurizeiro, cumaruzeiro,
uxizeiro, etc. A existência de dezenas de plantas sombreadas e sombreadoras
faz com que as possibilidades de combinações sejam grandes. Deve
ser mencionado que nem todas apresentam viabilidade econômica ou
sustentabilidade no longo prazo. As plantas, ao se combinarem, apresentam
relações complementares, suplementares, competitivas ou antagônicas,
que dependem da densidade e do crescimento, promovendo a mudança
dessas categorias. É regra geral que prevaleça uma relação competitiva entre
as plantas nos SAFs. As mudanças de preços e de mercado, o aparecimento
de pragas e doenças, a legislação ambiental e trabalhista e a migração rural
e urbana tendem a provocar mudanças nos SAFs.
Em favor do reflorestamento
Na Amazônia, encontram-se somente 9,84% da área reflorestada do País,
com 973.766 ha (2018) de eucalipto, pinus, paricá, etc. Isto representa uma
área reflorestada inferior à de Santa Catarina, São Paulo ou do Rio Grande
do Sul. É possível duplicar o reflorestamento e substituir o modelo de
extração de florestas nativas, sobretudo por meio de concessões florestais
manejadas (Lei 11.284/2006). Para muitas reservas extrativistas (resex), a
extração de madeira representa a melhor alternativa de renda, apoiando-se
no privilégio da dotação de estoques disponíveis, em comparação com os
produtos ditos não madeireiros.
Tabela 2. Área total dos efetivos da silvicultura, por espécie florestal, 2018.
Outras
Estado Total Eucalipto Pinus
espécies
Brasil 9.895.560 7.543.542 1.984.333 367.685
Mato Grosso 258.805 187.947 - 70.858
Maranhão 253.055 253.043 - 12
Pará 208.074 151.110 - 56.964
Tocantins 152.138 144.793 73 7.272
Amapá 53.819 52.293 48 1.478
Rondônia 26.318 6.686 2.130 17.502
Roraima 21.557 - - 21.557
Considerações finais
A partir da década de 1990, novas atividades mais intensivas em tecnologia
surgiram em diversos estados da Amazônia Legal, contradizendo a imagem
da contínua destruição, indicando que o pressuposto da Curva de Kuznets
estaria em voga. Com as políticas de governança, o desmatamento na
região amazônica caiu a partir de 2004 até 2014, mas pela falta de uma
política visando à utilização das áreas já desmatadas e de maior fiscalização,
começou novamente a subir a partir de 2015. Outro movimento identificado
pelos levantamentos do TerraClass e das pesquisas de campo pontuais
está relacionado às mudanças de áreas de pastagens para agricultura e ao
crescimento do estoque de vegetação secundária.
Isto fez com que a agricultura regional nunca tenha sido tão questionada
e desafiada como no presente. Torna-se urgente identificar uma agenda
de pesquisa que consiga coevolucionar o desenvolvimento agrícola com a
conservação ambiental, para subsidiar as instituições de pesquisa regionais,
do País e do exterior.
Amazônia não são avessos a inovações, desde que tenham mercado e sejam
lucrativas, estas são rapidamente difundidas. Esta mesma solução precisa
ser encontrada para os problemas ambientais e agrícolas na Amazônia, com
a criação de alternativas tecnológicas e econômicas em vez da criação de
mercados difusos ou artificiais, como a venda de créditos de carbono ou de
serviços ambientais.
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conflitos e oportunidades
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A SUSTENTABILIDADE DA
AGRICULTURA NA AMAZÔNIA:
MEUS PENSAMENTOS
Philip Martin Fearnside
N
ão é frequente que alguém seja convidado a escrever sobre suas
perspectivas e experiências pessoais sobre um assunto como este –
as questões criticamente importantes em torno da sustentabilidade
da agricultura na Amazônia. As questões sobre o que faz ou não o uso
sustentável da terra e em que escalas espaciais são fundamentais para
formular políticas nacionais que orientem o desenvolvimento da Amazônia
de forma a manter a produtividade das áreas já desmatadas, os meios
de sustento da população da região e os serviços ambientais da Floresta
Amazônica. Aqui, o que é necessário para a agricultura sustentável é dividido
em discussões dos limites físicos e dos processos sociais que levam à perda
de sustentabilidade. Em seguida, são discutidas as alternativas, divididas
para áreas já desmatadas e para áreas ainda em floresta.
Limites físicos
A agricultura “sustentável” implica que a produção durará para sempre, ou
pelo menos por um tempo muito longo (Fearnside, 2018a). Fisicamente,
a sustentabilidade requer um equilíbrio entre a entrada e a remoção de
nutrientes, de modo que um nível minimamente aceitável de produtividade
para uso humano seja mantido (Luizão et al., 2009). Isso requer evitar a
degradação física que irá impactar o solo, como a erosão extrema (formação
de voçorocas, etc.), bem como a perda de solo por meio da contínua erosão
laminar que ocorre em muitos usos da terra na Amazônia (Fearnside, 1980a,
PARTE I - AGRICULTURA NA AMAZÔNIA: 47
SUSTENTABILIDADE E MEIO AMBIENTE
barrigas. Isso não limita aqueles que estão desmatando para pastagens e
agricultura na Amazônia. A ineficácia da intensificação como remédio para
o desmatamento na Amazônia foi mostrada estatisticamente tanto para a
agricultura (Barretto et al., 2013) quanto para a pecuária (Muller-Hansen
et al., 2019). Os limites implicados pelos suprimentos de fertilizantes,
mercados, etc., também se aplicam a esses sistemas (Fearnside, 1987b). No
caso da pastagem, no entanto, a “mão invisível” da economia também não
impõe um limite razoável, já que, do ponto de vista do Brasil, a demanda
crescente da China representa um potencial essencialmente ilimitado para
a exportação de carne bovina.
dos dois métodos seja feita, pois a mistura resulta em contagem dupla de
carbono ou em omissões (Fearnside; Laurance, 2003, 2004).
Uma vez calculadas as emissões que ocorreriam se uma área de floresta fosse
desmatada, precisamos então ser capazes de determinar quanto benefício
climático isso representa. O resultado depende muito da maneira como se
faz os cálculos, e há uma ampla variedade de visões sobre como isso deve
ser feito (Fearnside, 2012a, 2012b). As principais perguntas incluem como é
derivada a linha de base que representa o que teria acontecido na ausência
de um projeto ou programa de mitigação (Yanai et al., 2012; Vitel et al.,
2013; Fearnside et al., 2014), a permanência e o valor atribuído ao tempo
(Fearnside, 1995b, 2002; Fearnside et al., 2000), ajustes para vazamento, ou
seja, o deslocamento da atividade de desmatamento que teria ocorrido
na área do projeto para locais fora da área do projeto (Fearnside, 1995b,
2009c) e exigências (ou ajustes) para certeza nos valores usados no cálculo
(Fearnside, 2000c). A abordagem geral para calcular os benefícios também
tem um efeito muito grande tanto sobre o benefício total quanto sobre quais
atores amazônicos são recompensados: basear os cálculos nos fluxos de
carbono (isto é, a adicionalidade, como no Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo do Protocolo de Kyoto) recompensa os que desmatam mais, como
grandes fazendeiros, enquanto uma abordagem baseada em estoques de
carbono recompensa aqueles com grandes áreas de floresta conservada,
como povos indígenas e extrativistas tradicionais (Fearnside, 2018c). A
proposta deste autor de explorar os serviços ambientais como um meio
de desenvolvimento sustentável para a Amazônia rural defende uma
abordagem “Robin Hood” em que deter o desmatamento por grandes
proprietários gera fluxos financeiros que sustentam a população pobre e
tradicional (Fearnside, 1997b).
expressa por uma taxa de desconto (Clark, 1973, 1990). As árvores crescem
a uma taxa que é determinada pela biologia, que nada tem a ver com a taxa
em que o dinheiro pode ser ganho em investimentos alternativos. Como
o crescimento das árvores é muito mais lento do que o crescimento real
dos fundos investidos em outras partes da economia, é financeiramente
lógico que o investidor destrua deliberadamente o recurso potencialmente
renovável e sustentável, colhendo-o o mais rápido possível, e depois invista
os recursos financeiros em outro lugar. Ilustrações quantitativas deixam
isso claro (Fearnside, 1995c). Essa é a justificativa para a proposta inicial
deste autor de explorar os serviços ambientais, que era proposta como um
subsídio para o manejo florestal sustentável (Fearnside, 1989c).
Agradecimentos
Ao Conselho de Nacional Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq: 305880/2007-1, 575853/2008-5; 573810/2008-7; 304020/2010-9), à
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam: 708565)
e ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa: PRJ13.03), pelo
financiamento das pesquisas deste autor.
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VALOR, PERCEPÇÃO E O FIM
DA AMAZÔNIA
Alexandre Almir Ferreira Rivas
D
iscorrer sobre visões alternativas em relação à valoração econômica
da Amazônia é uma tarefa desafiadora. Esse é um tema bastante
complexo por envolver percepções muito distintas, entre as quais
estão questões relativas à economia e ao desenvolvimento regional, ao meio
ambiente, à soberania, entre outros assuntos pertinentes à região e com
relevância nacional e internacional. Todos esses elementos têm efeito nas
percepções e, por consequência, na concepção e no desenho de políticas,
ações e seus respectivos financiamentos.
da Amazônia um importante símbolo. Isso ocorre não somente pelo uso nas
atividades humanas, mas também pelas suas funções no meio físico, biótico
e pela importância para o sistema climático do hemisfério, o que permite
e afeta o desenvolvimento da vida e de atividades econômicas em outras
partes do planeta.
Diante dessas diferentes visões, o debate sobre o que fazer para salvar
a Amazônia acaba girando em torno de mais do mesmo, ou seja,
maior controle governamental, maior atuação de organizações não
governamentais (ONGs) e muitos discursos. O Brasil, apesar de já dispor
de tecnologia de monitoramento por satélite de alto padrão, ainda hesita
ou não está preparado para atuar com políticas alternativas que levem em
conta os aspectos econômicos e estratégicos de curto, médio e longo prazo
para cuidar da região utilizando essas novas abordagens e tecnologias.
Valorar e valorizar
Valorar é diferente de valorizar. Segundo Mota (2001), valorar significa emitir
juízo de valor, multidimensionalidade, intangibilidade, bio e ecocentrismo,
além de incorporar fortes doses metafísicas e transcendentais. Por sua vez,
valorizar significa atribuir um preço, unidimensionalidade, tangibilidade,
utilitarismo e antropocentrismo. Essa confusão entre valor e valorizar tem
influência direta sobre o desenho de políticas para a proteção e cuidado da
Amazônia. Em relação aos ativos ambientais e naturais, o autor sustenta que
o Valor Econômico Total (VET) é o resultado da soma de três outros valores,
quais sejam: valores de uso, de opção e de existência. Cada um deles ainda
se subdivide indicando que o VET é o resultado de uma compreensão
ampla e complexa de cada indivíduo sobre esses ativos. Considerando-
-se que políticas públicas para a proteção da Amazônia devem levar em
72 Sinergias de mudança da agricultura amazônica:
conflitos e oportunidades
em que escolhas deverão ser feitas por elas. Tomar uma decisão e escolher
uma alternativa exige comparar custos e benefícios, mesmo que não seja
de maneira explícita e sistemática. Em muitos casos, essa comparação
envolve a consideração de alternativas de ações cujos custos não são tão
claros como podem parecer à primeira vista. Por exemplo, aqueles dois
tipos de moradores mencionados acima podem ter que escolher entre
desmatar mais uma quadra de terra para a plantação ou outra alternativa.
Em qualquer caso, eles estarão considerando, segundo suas percepções e
realidades, quais são os custos e benefícios envolvidos. Quando a escolha for
por produzir um pouco mais de desflorestamento, ele estará considerando
apenas o seu custo adicional (marginal) de incluir mais uma quadra de área
para satisfazer suas necessidades e não os custos ambientais cumulativos e
sinergéticos associados a essa decisão.
Para que a ideia fique mais clara, é importante enfatizar que essa segunda
hipótese não representa uma concepção estritamente desenvolvimentista.
Pelo contrário, o que é exposto e realçado é a necessidade de predominar a
abordagem antropocêntrica e da liderança institucional brasileira no que diz
respeito à gestão da região. Essa abordagem precisa necessariamente partir
de uma visão global; contudo, formulada a partir da perspectiva regional e
nacional de como cuidar desse patrimônio. Não se pode desprezar todas
as contribuições que visem a sua conservação. Da mesma maneira, não se
pode achar que todas as bem-intencionadas iniciativas disponibilizadas
para a região devam ser aceitas de pronto. Nesse sentido, a construção da
percepção do valor da Amazônia deverá emergir de maneira endógena,
a partir da realização da relação de seus cuidadores com os diferentes
mercados, ou seja, regional, nacional e internacional.
Considerações finais
Considerando que a Amazônia é um recurso ambiental cuja percepção
de sua escassez é crescente, mas que oferece reais oportunidades para a
utilização de seus recursos naturais, a excessiva preocupação em protegê-
-la do seu iminente fim pode na verdade acelerar a sua chegada. Se a
Floresta Amazônica é importante, então ela possui elevado valor, o qual
reflete sua importância intrínseca, bem como sua escassez. Dessa maneira,
todas as ações para a sua conservação devem levar em conta pelo menos
dois aspectos: o preço de sua conservação e a distribuição de benefícios
e custos. No aspecto preço, devem ser levadas em conta compensações
adequadas e formais ao governo do Brasil, a fim de que este possa ter as
devidas condições para cuidar ordenadamente da proteção da Amazônia. O
País então deveria assumir compromissos, mas a liderança do processo deve
ser totalmente nacional.
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Introdução
O
discurso institucional (1960 e 1970) de vazio demográfico, segurança
nacional, crescimento econômico e integração amazônica conduziu
disputas e conflitos territoriais em distintos pontos da Amazônia. De
um lado, fazendeiros em nome do agronegócio, de outro, seringueiros em
defesa da floresta e de sua sobrevivência. A derrubada e queima da floresta
para implantação de projetos agropecuários de larga escala, acompanhada
da expulsão dos seringueiros de suas posses, representou a perda dos meios
de vida de centenas de famílias (Allegretti et al., 2018).
2
Áreas que contemplam as categorias de uso integral e sustentável. A primeira se refere às
de grande interesse biológico e permite visitação, turismo e pesquisa científica. A segunda
autoriza permanência de comunidades tradicionais à subsistência e conservação.
PARTE I - AGRICULTURA NA AMAZÔNIA: 89
SUSTENTABILIDADE E MEIO AMBIENTE
Conclusão
Após 32 anos do assassinato de Chico Mendes, o maior legado do movimento
de seringueiros foi a demarcação de territórios. Contudo, a manutenção dos
habitantes nessas três décadas ocorreu de forma tímida. Isto é, os projetos
com finalidade de suprir as necessidades de sobrevivência e resultar em
qualidade de vida não atingiram as expectativas dos moradores. Além
disso, a maioria das famílias realiza atividades combinadas de agricultura,
criação de animais e extrativismo, porque a renda das atividades de coleta é
insuficiente para sobrevivência familiar.
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ESTIMULANDO UMA
TRANSIÇÃO FLORESTAL
PRODUTIVA
Charles Roland Clement
Ronaldo Pereira Santos
T
ransições florestais ocorrem em países, ou regiões dentro de países,
quando a área desflorestada diminui em comparação com áreas de
expansão florestal secundária (Barbier et al., 2017). Transições desse
tipo foram identificadas em países desenvolvidos nas últimas décadas e
estão ocorrendo em alguns estados da Mata Atlântica brasileira. No início
da década 2010–2020, com a diminuição das taxas de desflorestamento
na Amazônia, a ideia de que uma transição florestal poderia ser esperada
em curto prazo na região parecia possível. Infelizmente a instabilidade
política em meados da década e especialmente a eleição de um governo
sem nenhuma preocupação ambiental aparente aumentaram as taxas de
desflorestamento na Amazônia novamente, chegando a serem alarmantes
nos anos de 2019 e 2020.
Ocorre que esse arcabouço institucional, com estreita relação com as metas
dos gases do efeito estufa, fica ameaçado se o aparato estatal de comando
e controle, responsável pelo controle do desflorestamento ilegal, for
desmantelado, como tem ocorrido recentemente. O cenário político atual
está desfavorável, dado o desinteresse do atual governo em controlar o
PARTE I - AGRICULTURA NA AMAZÔNIA: 101
SUSTENTABILIDADE E MEIO AMBIENTE
Outra possibilidade para uma transição florestal que não pode ser
negligenciada é o surgimento de um mercado que é resultado do próprio
desmatamento. Mesmo que o Código Florestal tenha dado brecha para uma
moratória das multas ou a não recuperação de parte das áreas degradadas,
verdade é que ainda assim há um vasto conjunto de áreas que por lei
devem ser recuperadas. As pequenas empresas agropecuárias que querem
se associar às cadeias de exportação abertas pelos grandes exportadores
não têm outra opção se querem participar. Por isso, com o avanço do
desmatamento, ganhou força também a ideia de gerar emprego e renda
a partir da recuperação dessas áreas (Checoli et al., 2016). Alguns motivos
dão força a essa previsão, sendo o primeiro o fato de o Brasil ter assumido
no Acordo de Paris o desafio de restaurar 12 milhões de hectares até 2030.
Embora este não pareça ser muito provável, dada a estagnação econômica
atual e o desmonte administrativo federal, o Brasil vai ser cobrado. Segundo,
é o fato de que o Código Florestal estimula a recuperação dessas áreas com
espécies que não precisam ser florestais, mas que possam gerar renda (art.
54 e 66), o que pode ser combinado com o Proveg, o Plano ABC e os recursos
do Fundo Amazônia (se retorna).
O que importa aqui é que muitos atores têm interesse próprio em estimular
transições florestais produtivas, mesmo que às vezes nem reconheçam esse
interesse ainda. Muitos ainda não têm o conhecimento necessário, nem o
capital disponível para investir no que é necessário. Mas existem possibilidades
de colaboração internacional que aumentaram com o desflorestamento
e as queimadas de 2019 e 2020, embora provavelmente vão precisar ser
construídos sem a colaboração do governo federal. É importante lembrar
que há vários mecanismos institucionais e legais prontos para fomentar a
transição florestal: Cadastro Ambiental Rural, Proveg, Programa Agricultura
de Baixo Carbono, estímulos do Código Florestal e recursos do Fundo
Amazônia. No entanto, essas ferramentas são inócuas se não acontecer uma
mudança radical na atual administração pública federal, o que demandará
110 Sinergias de mudança da agricultura amazônica:
conflitos e oportunidades
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112 Sinergias de mudança da agricultura amazônica:
conflitos e oportunidades
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PARTE II
OCUPAÇÃO, MUDANÇA
NO USO DA TERRA E
AGRICULTURA
Introdução
N
as relações humanas, quando os conflitos de interesse fogem da
capacidade de entendimento entre as partes, o poder público é
demandado para intermediar as discussões ou aplicar os instrumentos
legais de restauração da ordem. A intermediação do Estado nos projetos
de assentamentos implantados pelo governo federal ocorre por ação das
ouvidorias agrárias e tem acomodação na aplicação de legislação específica,
o que torna a barganha célere e justa, mesmo com prejuízo para as partes
envolvidas.
Situação do problema
A Ouvidoria Agrária Nacional é o instrumento de governo criado para
interceder nas situações de conflitos no campo, como os embates pela
posse e uso da terra, os casos que envolvem os beneficiários do Programa
de Reforma Agrária e o Estado e os conflitos entre beneficiários de
assentamentos rurais. Para Lyra (2003), as ouvidorias agrárias têm sido
efetivas na mediação dos conflitos agrários, o que perpassa por busca de
entendimento entre as partes de modo a evitar a evolução para uso da
força, a exemplo dos mandados de manutenção e reintegração de posse,
nas ocupações irregulares, e de busca e apreensão quando há violação dos
direitos humanos.
Teorias em foco
Os conflitos nos PAs estão predominantemente relacionados à complexidade
de gestão dos bens econômicos e por externalidades que emanam da
atividade humana, com abordagens que se modificam consoante com os
direitos de propriedade a que estão submetidos. Heller (1998) reitera ao
afirmar que, em uma propriedade rural, os bens de importância ambiental,
social e econômica estão sujeitos a tratamentos construídos ao sabor do
pertencimento a que estão submetidos.
O autor reitera a alegação de que a liberdade num terreno baldio traz ruína
para todos e expressa soluções potenciais na administração de problemas
envolvendo os comuns, quando sugere a privatização ou o loteamento dos
bens em causa, o que favorece a responsabilização de infratores. A aplicação
de expedientes coercitivos e repressivos, a exemplo da estratégia do poluidor-
-pagador e das multas, é uma clara definição dos autores.
Filipe et al. (2006) enfatizam que, pela importância que vem assumindo no
tratamento de muitas matérias, a Teoria dos Anticomuns passou a ter uma
relevância considerável em questões que se prendem à disseminação dos
direitos sobre um recurso, que passam a ser detidos por várias entidades. No
caso dos comuns, a existência de muitos agentes a utilizar um recurso leva
a um ineficiente nível de utilização e a uma especial propensão para o uso
excessivo. Quando vários donos têm direitos de exclusão sobre terceiros,
relativo ao uso de recurso escasso, e nenhum desses donos exerce um
efetivo privilégio de uso sobre o recurso, esse recurso poderá ficar sujeito
a uma utilização deficitária, o que corresponde à tragédia dos anticomuns.
Teorema de Coase
Além das possibilidades econômicas de produção de riqueza e renda,
vinculadas a bens tangíveis, a desordem espacial desencadeada pela
intervenção humana no ambiente suscita externalidades diversas. Para
Soares (1999), externalidades são efeitos colaterais de uma decisão sobre
aqueles que não participaram dela. Existe uma externalidade quando há
consequências para terceiros que não são levadas em conta por quem
toma a decisão. São as intervenções humanas no meio ambiente que
podem apresentar externalidades positivas, quando a floresta é manejada
de modo apropriado, ou negativas, quando os resíduos são descartados
de modo inadequado.
Resultados
De acordo com Hardin, a existência de bens comuns nas comunidades
rurais é temerária, uma vez que, por razões de individualismo e egoísmo de
natureza humana, a degradação dos recursos por uso excessivo é iminente.
O autor sugere, para evitar a tragédia e suas derivações sociais e ambientais,
que os prédios rústicos a fazer parte do Programa de Reforma Agrária sejam
parcelados e destinados em sua totalidade. Os direitos de propriedade,
quando bem definidos, favorecem a identificação de infratores e, por
conseguinte, a aplicação dos instrumentos de defesa do meio ambiente.
É o caso do PA Benedito Alves Bandeira, em Acará, PA, quando uma área com
pastagem foi excluída do parcelamento para compor os itens de usufruto
coletivo do assentamento. A dificuldade em compartilhar o manejo do
bem e a desordem de interesses culminaram na completa degradação do
recurso. Na mesma esteira, os remanescentes florestais, a exemplo das áreas
de interesse ambiental, quando coletivos, em regra são objeto de ilícitos
ambientais, o que tem fortalecido a teoria de privatização dos recursos.
Conclusão
As investigações permitem concluir que parcela dos conflitos nos
assentamentos rurais tem origem nos procedimentos de implantação dos
projetos e em questões de instabilidades nas relações interpessoais. Em
ambos os casos, os problemas estão associados à tipologia das famílias
assentadas e na governança dos empreendimentos.
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Introdução
D
urante um longo período, a avaliação do uso e cobertura da terra
na Amazônia esteve centrada, quase exclusivamente, na questão
do desflorestamento (Fearnside, 1993, 2005, 2006; Wood; Porro,
2002), seus efeitos (Prates, 2008; Lorena; Lambin, 2009; Prates; Bacha, 2010;
Valeriano et al., 2012) e suas causas (Margulis, 2004; Soares-Filho et al., 2006;
Garcia et al., 2007).
Essa discussão, iniciada no fim dos anos 1980, versa sobre a substituição da
cobertura florestal original em seus diversificados tipos, a saber: Florestas
Densas, Savanas, Campinas/Campinaranas, florestas monodominantes,
Manguezais e Vegetação Secundária. Esta última apresentando diferentes
conformações fitofisionômicas dependentes de seu tempo de regeneração
e uso anterior (Vieira et al., 2003; Almeida et al., 2010; Wandelli; Fearnside,
2015). Entretanto, as avaliações de desflorestamento são orientadas
exclusivamente por seu referencial em Florestas Densas e Vegetação
Secundária (Souza Filho et al., 2006; Câmara et al., 2006).
Material e Métodos
Categorias e classes de uso e cobertura da terra
A partir de uma matriz de dados TerraClass consolidada, composta do
total de área nas diferentes categorias e classes de uso e cobertura da
terra no estado do Pará (Tabela 1), compreendendo os anos de 2004, 2008,
2010, 2012 e 2014, foram calculados os valores relativos de cada uma das
categorias e classes, em função da área total dos municípios. Com fins de
análise, foram selecionadas somente as categorias situadas em condições
130 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Continua...
PARTE II - OCUPAÇÃO, MUDANÇA NO USO DA TERRA E AGRICULTURA 131
Tabela 1. Continuação.
Classes
Acrônimo Descrição(1)
adotadas
Áreas que, após o corte raso da floresta e o desenvolvimento de
Pasto com Solo
PAS-SOLEX (%) alguma atividade agropastoril, apresentam uma cobertura de
Exposto
pelo menos 50% de solo exposto
Áreas representadas por uma associação de diversas
modalidades de uso da terra e que devido à resolução espacial
Mosaico de das imagens de satélite não é possível uma discriminação entre
MOSAI (%)
Ocupações seus componentes. Nesta classe, a agricultura familiar é realizada
de forma conjugada ao subsistema de pastagens para criação
tradicional de gado
Áreas de manchas urbanas decorrentes da concentração
populacional formadora de lugarejos, vilas ou cidades
Área Urbana URB (%) que apresentam infraestrutura diferenciada da área rural,
apresentando adensamento de arruamentos, casas, prédios e
outros equipamentos públicos
Áreas de extração mineral com a presença de clareiras e solos
Mineração MINER (%) expostos, envolvendo desflorestamentos nas proximidades de
águas superficiais
Áreas que não se enquadram nas chaves de classificação e
apresentam padrão de cobertura diferenciada de todas as
Outros OUTRO (%)
classes do projeto, tais como afloramentos rochosos, praias
fluviais, bancos de areia entre outros
Representado por rios, lagos e represas, com presença
Hidrografia HIDRO (%)
mandatória de corpos de água com 100% de cobertura
Áreas que tiveram sua interpretação impossibilitada pela
Área Não presença de nuvens ou sombra de nuvens, no momento de
NO (%)
Observada passagem para aquisição de imagens de satélite, além das áreas
recentemente queimadas
(1)
Conforme descrição de Coutinho et al. (2013).
Na análise fatorial, a extração dos fatores foi obtida por meio da técnica de
componentes principais. Como significante, adotou-se o autovalor com
valor superior a 1,0 (regra de Kaiser) e o autovetor com |λ| ≥ 0,20 (Johnson;
Wichern, 2007; Fabrigar; Wegener, 2011). As análises foram conduzidas com
auxílio da linguagem R.
[BAM]
[MRJ] [MET]
[NE]
[SW]
[SE]
Figura 2. Cartograma da
tipificação das classes
de tamanho de rebanho
municipal, nas mesorregiões
do estado do Pará em 2014.
134 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Resultados e discussão
Categorias e classes de uso e cobertura da terra
Por meio da análise fatorial, foram extraídos cinco componentes principais,
os quais conseguiram explicar cerca de 95% da variação total dos dados. O
primeiro componente (PCA I) compreendeu cerca de 70% da variação total
dos dados, tendo como autovetores significativos (todos com orientação
negativa) todas as observações da categoria pastagens e da classe pasto
limpo ao longo dos anos (Tabela 2). Já o segundo componente (PCA II),
que compreendeu cerca de 15% da variação total e teve como autovetores
significativos (todos com orientação positiva) os usos de pastagens na
primeira observação da série (2004), tanto uso amplo de pastagens, quanto
em boas condições ou em condições demandantes de reforma de pastagens
(Tabela 2). O terceiro componente (PCA III) explicou cerca de 7% da variação
global e teve como autovetores significativos: (PCA III.a) com orientação
positiva – observação inicial das pastagens em boas condições e (PCA III.b)
com orientação negativa – observação inicial das pastagens demandantes
de reformas e da Vegetação Secundária ao longo de toda a série, à exceção
da observação inicial (Tabela 2). Os outros componentes (PCA IV e PCA V)
apresentaram valores de explicação da variação global baixos (< 3%) e, de
um modo geral, reverberaram outros componentes já explicitados (Tabela 2).
Continua...
PARTE II - OCUPAÇÃO, MUDANÇA NO USO DA TERRA E AGRICULTURA 135
Tabela 2. Continuação.
Indicador
UC-Ano PCA I PCA II PCA III PCA IV PCA V
síntese
VS-04 -0,010 0,102 -0,134 0,034 0,138
VS-08 -0,053 0,035 -0,353 -0,177 0,094
VS-10 -0,036 0,109 -0,639 -0,335 0,008 VS
VS-12 -0,054 0,022 -0,394 -0,229 0,205
VS-14 -0,032 0,083 -0,341 -0,213 0,238
{P*}-04 -0,258 0,729 0,094 0,092 0,052
{P*}-08 -0,417 -0,101 -0,166 0,044 -0,343
{P*}-10 -0,424 -0,147 0,039 0,110 -0,278 P
{P*}-12 -0,393 -0,159 0,044 -0,057 0,415
{P*}-14 -0,287 -0,163 0,001 0,040 0,286
PL-04 -0,207 0,478 0,314 -0,489 -0,103
PL-08 -0,344 -0,118 0,017 0,049 0,055
PL-10 -0,351 -0,159 0,089 0,015 -0,044 P[+]
PL-12 -0,333 -0,158 0,073 -0,072 0,420
PL-14 -0,261 -0,152 0,063 -0,024 0,317
PS-04 -0,033 0,118 -0,032 0,228 0,044
PS-08 -0,053 -0,002 -0,103 0,030 -0,257
PS-10 -0,034 0,010 -0,022 0,034 -0,096 P[-]
PS-12 -0,045 -0,005 -0,006 0,007 0,031
PS-14 -0,037 -0,006 -0,004 0,001 0,002
{PD}-04 -0,061 0,251 -0,220 0,581 0,154
{PD}-08 -0,073 0,019 -0,183 -0,005 -0,398
{PD}-10 -0,073 0,011 -0,050 0,095 -0,233
{PD}-12 -0,060 -0,001 -0,029 0,014 -0,004
{PD}-12 -0,002 -0,001 -0,014 0,006 -0,001
PR-04 -0,028 0,133 -0,188 0,353 0,111
PR-08 -0,019 0,021 -0,082 -0,035 -0,142
PR-10 -0,039 0,001 -0,028 0,061 -0,137
PR-12 -0,015 0,004 -0,023 0,007 -0,035
PR-14 -0,008 0,002 -0,018 0,004 -0,002
PE-04 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
PE-08 -0,001 0,000 0,001 -0,001 0,001
Continua...
136 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Tabela 2. Continuação.
Indicador
UC-Ano PCA I PCA II PCA III PCA IV PCA V
síntese
PE-10 0,000 0,000 0,000 0,000 -0,001
PE-12 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
PE-14 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Autovalores 2.670 593 263 96 86
Variação (%) 69,0 14,8 6,6 2,4 2,1
Variação
cumulativa 69,0 83,8 90,4 92,8 94,9
(%)
[P] áreas de pastagem; [Q] qualidade das pastagens; (+) incremento; (0) manutenção; (-)
redução. Valores entre parênteses referem-se ao percentual do total tamanho do rebanho.
(Tabela 3), sendo constituída pelos municípios [SE] Água Azul do Norte,
São Geraldo do Araguaia, [SW] Novo Progresso e Pacajá. Já a conformação
G(3) apresentou manutenção das áreas de pastagens, mas assinalou uma
redução na qualidade (P(0)|Q(-)) das pastagens, concentrando cerca de 2%
do rebanho estadual (Tabela 3), sendo constituída pelo município de [SE]
Rondon do Pará.
Santa Bárbara do Pará, Santa Isabel do Pará, Santo Antônio do Tauá, [NE]
Abaetetuba, Acará, Concórdia do Pará e Igarapé-Açu.
[P] áreas de pastagem; [Q] qualidade das pastagens; (+) incremento; (0) manutenção; (-)
redução; [BAM] Baixo Amazonas paraense, [MET] Metropolitana de Belém, [MRJ] Marajó, [NE]
Nordeste Paraense, [SE] Sudeste Paraense e [SW] Sudoeste Paraense.
Uma segmentação na cadeia foi expressa por Arima et al. (2005), com
base no uso de eixos rodoviários: {BR-010} » Castanhal e Paragominas,
representando subpolos pecuários nas mesorregiões MET e início da SE;
{PA-150} » Marabá, Xinguara, Redenção, Santana do Araguaia e Conceição
do Araguaia, representando o grande polo pecuário totalmente localizado
na mesorregião SE; {BR-230} » Altamira, representando o subpolo pecuário
na mesorregião SW.
Figura 4. Tipologia da
P(-)│Q(-) dinâmica das áreas e
P(-)│Q(0)Q(+)
P(0)│Q(-)
qualidade das pastagens
P(0)│Q(0)Q(+) (2004–2014).
P(+)│Q(-)
P(+)│Q(0)Q(+) [P] áreas de pastagem;
Não desflorestada [Q] qualidade das
pastagens; (+)
incremento; (0)
manutenção; (-) redução.
PARTE II - OCUPAÇÃO, MUDANÇA NO USO DA TERRA E AGRICULTURA 145
Figura 7. Disposição de
municípios, em função
da quantidade de área de
pastagens a recuperar e
Vegetação Secundária,
segundo TerraClass 2014,
em que o tamanho do
bullet é proporcional à
função do tamanho do
rebanho.
PARTE II - OCUPAÇÃO, MUDANÇA NO USO DA TERRA E AGRICULTURA 149
Conclusão
A diversificação da legenda, representada nas classes fornecidas pelo
TerraClass, pode ser substituída, no caso de estudos de dinâmica de
uso e cobertura da terra por categorias, especialmente as relativas às
classes de pecuária e sua qualificação sob a forma de indicadores-síntese,
especialmente quando associado à interpretação de dados da classe
Vegetação Secundária.
Referências
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QUO VADIS, CAPOEIRA?
OU TIPIFICAÇÃO DE
DESFLORESTAMENTO
NO ESTADO DO PARÁ
(2000‒2014)
Moisés Cordeiro Mourão de Oliveira Júnior
Adriano Venturieri
Claudio Aparecido de Almeida
René Jean Marie Poccard-Chapuis
Hervé Théry
Introdução
C
omo exemplo mais difundido de expansão do desflorestamento no
mundo (London; Kelly, 2007), a Amazônia brasileira tem apresentado
diferentes comportamentos ao longo de sua história recente.
Segundo Becker (2005), as fases de desenvolvimento da Amazônia podem
ser distinguidas em duas, tais sejam: (i) 1960–1970 – em que, sob orientação
do governo federal, buscou-se agregar e homogeneizar todo o território
nacional, com vistas à integração às demais regiões do País, por meio do
estímulo de assentamentos agrícolas, subsídios a projetos agroextrativistas
e agroindustriais e criação de polos de produção industrial, como no caso
da Zona Franca de Manaus; (ii) meados da década de 1980 até o presente
– em que o avanço espontâneo de atividades econômicas e seus agentes,
na maioria das vezes articulados à economia internacional, buscam atender
demandas por produtos oriundos de recursos naturais.
Material e métodos
A partir de uma matriz de dados TerraClass consolidada (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais, 2016b; Almeida et al., 2016) contendo as diferentes
formas de uso e cobertura da terra em cada um dos municípios do estado
do Pará no intervalo dos anos de 2000–2014, foram obtidas as taxas de
desflorestamento acumulado em relação a área total do município, oriunda
de uma máscara Prodes (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2016a)
em cada um dos anos constituintes do intervalo.
Resultados e discussão
Limiar de desflorestamento
A série temporal de desflorestamento acumulado nos municípios foi
segmentada em quatro momentos, a saber: 2000, 2005, 2010 e 2014. Em
cada um desses segmentos foi assinalado o município que compreendia um
limiar mínimo alcançado de 20% de desflorestamento (Tabela 1).
PARTE II - OCUPAÇÃO, MUDANÇA NO USO DA TERRA E AGRICULTURA 159
Metropolitana de Belém 5 1 6
Belém Castanhal 5 5
Arari 7 7
Marajó Furos de Breves 5 5
Portel 4 4
Bragantina 12 1 13
Cametá 3 2 2 7
Nordeste Paraense Guamá 13 13
Salgado 8 1 2 11
Tomé-Açu 5 5
Conceição do
4 4
Araguaia
Marabá 5 5
Paragominas 7 7
Sudeste Paraense
Parauapebas 4 1 5
Redenção 7 7
São Félix do Xingu 3 1 1 5
Tucuruí 6 6
Altamira 1 4 3 8
Sudoeste Paraense
Itaituba 1 5 6
Total 89 12 2 40 143
Ritmo de desflorestamento
Foi possível adotar um critério situando em três categorias as taxas médias
anuais de desflorestamento, no período de 2000–2014 (amplitude: 0,0% a
2,32%), a saber: (i) estável [R0] – valores inferiores a 0,5% de desflorestamento;
(ii) elevado [R1] – valores iguais ou superiores a 0,5% e inferiores a 1,0%; (iii)
muito elevado [R2] – valores iguais ou superiores a 1,0% e inferiores a 1,5% e
(iv) valores extremos [R3] – valores superiores a 1,5%.
Desflorestamento(2014)(%)
Figura 3. Valores
médios e erro padrão
da taxa acumulada
de desflorestamento,
em função dos
limiares e ritmos de
Ritmo desflorestamento.
Já na condição L1, todos os ritmos, à exceção dos mais intensos (R2 e R3),
apresentaram diferença significativa (p < 0.01) entre si e situaram-se próximo
do limite máximo dessa classe (60,4±2,2%; 58,2±5,9%, respectivamente).
A condição L3 apresentou equivalência (p < 0.15) entre todos os ritmos
de desflorestamento, mesmo com a maior oscilação observada no ritmo
extremo (R3: 91,8±5,2%). A variação média de desflorestamento acumulado
nesse limiar situou-se entre 81% e 92%, ou seja, muito próxima do limite
máximo da classe (Figura 3).
Expansão
00%–10%
10%–20%
20%–30%
30%–40%
40%–50%
50%–60% Figura 4. Disposição
60%–70% das taxas de incremento
70%–80%
80%–90% médio anual e extensão
90%–100% do desflorestamento
entre 2000 e 2014 nos
municípios do estado
Incremento médio anual (%) do Pará.
Desflorestamento(2000–2014)(%)
Figura 5. Disposição da extensão das taxas e ritmo de desflorestamento dos municípios nas
mesorregiões Marajó (a) e Baixo Amazonas (b) do estado do Pará, em função das tipificações
propostas, agregadas sob reticulação do tipo Delanauy.
Desflorestamento(2000–2014)(%)
Incremento médio anual (%) Incremento médio anual (%)
Figura 6. Disposição da extensão das taxas e ritmo de desflorestamento dos municípios nas
mesorregiões Metropolitana de Belém (a) e Sudoeste Paraense (b) do estado do Pará, em
função das tipificações propostas, agregadas sob reticulação do tipo Delanauy.
Desflorestamento(2000–2014)(%)
Figura 7. Disposição da extensão das taxas e ritmo de desflorestamento dos municípios nas
mesorregiões Nordeste Paraense (a) e Sudeste Paraense (b) do estado do Pará, em função das
tipificações propostas, agregadas sob reticulação do tipo Delanauy.
Figura 9. Definição das classes de fronteira propostas por Rodrigues et al. (2009), adotadas e
adaptadas por Tritsch e Arvor (2016).
172 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Continua...
PARTE II - OCUPAÇÃO, MUDANÇA NO USO DA TERRA E AGRICULTURA 173
Tabela 2. Continuação.
Tipificações
Microrregião Em
Conservado Limítrofe Em expansão Rarefeito
saturação
NE-Guamá 10% 27% 63%
NE-Salgado 10% 16% 67% 3% 4%
NE-Tomé-Açu 40% 57% 3%
SE-Conceição do
30% 70%
Araguaia
SE-Marabá 82% 18%
SE-Parauapebas 31% 46% 24%
SE-Paragominas 60% 38% 1%
SE-Redenção 8% 92%
SE-São Félix 12% 69% 17% 2%
SE-TUC 6% 83% 11%
SW-Altamira 77% 14% 8% 1%
SW-Itaituba 76% 24%
Total 61% 14% 10% 10% 5%
(a) (b)
Conclusão
O desflorestamento no estado do Pará apresenta-se fortemente segmentado,
tendo domínio de zonas conservadas até domínios de rarefeitos. Entretanto, cerca
de 60% de sua área encontra-se em municípios tipificados como “conservados”.
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PARTE II - OCUPAÇÃO, MUDANÇA NO USO DA TERRA E AGRICULTURA 175
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40 ANOS DE
TRANSFORMAÇÕES NA
AGRICULTURA PARAENSE:
implicações para
políticas públicas1
Carlos Augusto Mattos Santana
Geraldo da Silva e Souza
Alfredo Kingo Oyama Homma
Eliane Gonçalves Gomes
Adalberto Araújo Aragão
Introdução
A
agricultura1paraense vem ocupando rapidamente uma posição de
destaque no Brasil e no mundo. Em meados do século passado, o setor
caracterizava-se pelo predomínio do extrativismo e de atividades de
subsistência. A extração de castanha, madeira e borracha, juntamente com
o cultivo de produtos de subsistência como feijão, arroz e mandioca, bem
como a criação de animais de pequeno porte, predominavam na pauta
agropecuária da época. O aproveitamento da malva e da força inercial da
introdução da juta e da pimenta-do-reino também fazia parte do contexto
agrícola daquele período (Rebello; Homma, 2017), assim como uma
estrutura fundiária em que a terra era barata e abundante.
Metodologias de análise
As atividades agropecuárias desenvolvidas no Pará apresentaram mudanças
notáveis no período 1975–2015. A área colhida com os diferentes cultivos
temporários e permanentes expandiu substancialmente, modificando a
posição dos produtos na escala de importância: alguns passaram a ocupar
um lugar de destaque ao longo do tempo em termos da área colhida;
outros perderam essa condição ao terem parte da sua área substituída
por outra atividade; um terceiro grupo manteve estável a sua importância
com respeito à área colhida. Ademais, os diferentes cultivos permanentes
e temporários, assim como o rebanho bovino, registraram deslocamentos
territoriais marcantes no estado.
2
Os cultivos temporários considerados nas análises compreendem os seguintes: mandioca,
milho, arroz, soja, feijão, malva, cana, abacaxi, melancia, tomate, amendoim, batata-doce, fumo,
melão, algodão herbáceo e juta.
3
Os cultivos permanentes considerados nas análises compreendem os seguintes: cacaueiro,
bananeira, coqueiro-da-baía, dendezeiro, pimenteira-do-reino, açaizeiro, cafeeiro, laranjeira,
seringueira, mamoeiro, cajueiro, limoeiro, urucuzeiro, maracujazeiro, tangerineira, palmito,
mangueira, guaranazeiro e abacateiro.
4
O terceiro quartil, também conhecido como quartil superior, é o valor a partir do qual se
encontram 25% das observações com os valores mais elevados (Langford, 2006). Esse conjunto
de observações é designado no capítulo como Grupo Top 25%, isto é, o grupo de produtos ou
microrregiões integrantes do terceiro quartil.
PARTE II - OCUPAÇÃO, MUDANÇA NO USO DA TERRA E AGRICULTURA 181
Yt = e α + β t
em que
α = intercepto.
(1)
(2)
M = A0 (era – 1) (b – a) / a
(3)
em que
Resultados
Situação das culturas temporárias
A aplicação das metodologias apresentadas acima revela mudanças
significativas em termos da importância dada pelos produtores para o
cultivo de algumas lavouras temporárias, quando avaliadas sob o ponto de
vista da área colhida. Como mostra a Tabela 1, dos 16 cultivos examinados,
6 fazem parte, em determinados momentos, do terceiro quartil durante o
período 1975–2015. Entre 1975 e 1980, a mandioca, o milho, o arroz e a malva
destacaram-se por integrar o grupo Top 25% (GT 25% ou terceiro quartil), isto
é, por conformar o conjunto de produtos mais relevantes em termos da área
colhida. No período 1985–2005, uma nova situação emerge: a malva deixa de
fazer parte do GT 25% e, em seu lugar, entra o feijão. Posteriormente, em 2010
e 2015, o quadro é alterado novamente. Dessa vez, o feijão é substituído pela
soja no rol de cultivos pertencentes ao grupo Top 25%.
Em relação à saída do feijão do grupo Top 25% após 2005, os fatores que
explicam esse fato incluem a decisão dos produtores em optar por cultivos
com preços mais atraentes ou com maior potencial econômico e em expansão
no mercado, por exemplo, mandioca, açaí, pimenta-do-reino, soja e espécies
cítricas (Maciel et al., 2018). Segundo Silva e Navegantes-Alves (2018), a
dendeicultura também interferiu na decisão dos agricultores de cultivar
feijão-caupi, ou seja, eles deixaram de produzir esse alimento e passaram a
comprá-lo com a renda obtida no cultivo do dendezeiro. Um terceiro fator
explicativo da mudança assinalada é o limitado número de instituições que,
como as organizações de produtores e cooperativas, favorecem um bom
desempenho da agricultura familiar, isto é, do principal grupo responsável
pela produção de feijão no Pará (Moreira et al., 2017).
Por fim, a mudança mais expressiva que ocorreu entre as culturas temporárias
no período 1975–2015 foi a entrada da soja no grupo Top 25%. O cultivo dessa
oleaginosa no Pará iniciou em 1997, quando foram colhidos 575 ha, ou seja, o
7
A produção de feijão no Brasil envolve basicamente duas espécies, o feijão-comum [Phaseolus
vulgaris L.] e o feijão-caupi [Vigna unguiculata (L.) Walp]. Os dados estatísticos para essas
espécies, em geral, são apresentados de forma agregada. Entretanto, como mostram Filgueiras
et al. (2009b), o feijão-caupi predomina largamente no Pará. Especificamente, segundo esses
autores, na safra 2007/2008 a área plantada com feijão-caupi respondeu por 85% da área total
cultivada com feijão no estado.
PARTE II - OCUPAÇÃO, MUDANÇA NO USO DA TERRA E AGRICULTURA 185
Vários fatores contribuíram para a rápida expansão da soja no Pará, entre eles:
o avanço da fronteira agrícola para o norte do País onde parte da área dedicada
à pecuária de corte no estado foi utilizada por produtores experientes, muitos
deles vindo do sul do País para cultivar a soja; o melhoramento genético e
o desenvolvimento de outras tecnologias que permitiram o cultivo desse
produto em regiões tropicais e de baixa latitude; a disponibilidade de terra
de boa qualidade e relativamente barata em locais com clima favorável; a
existência de uma boa infraestrutura de escoamento e comercialização da
produção (estradas, portos fluviais e tradings); e a concessão de incentivos
governamentais, especialmente o crédito.
Figura 1. Área colhida (em hectares) com arroz, milho e mandioca no Pará, 1975–2015.
Fonte: IBGE (2019c).
8
No Pará, o cacaueiro é cultivado por meio de sistemas agroflorestais, os quais incluem o cultivo
de pimenteira-do-reino, açaizeiro e outras espécies perenes na mesma área que o cacaueiro,
favorecendo a redução de custos na implantação.
188 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
A dendeicultura é uma atividade produtiva que, até o final dos anos 1980,
não fazia parte de forma significativa da paisagem de lavouras do Pará e
da formação do produto interno bruto (PIB) estadual. A partir do início da
década de 2000, a situação mudou rapidamente, convertendo o estado no
principal produtor de dendê do País. De acordo com a literatura (Veiga et al.,
2005; Zoneamento..., 2010; Homma; Vieira, 2012; Nahum; Malcher, 2012, entre
outros), essa transformação resultou, principalmente, da adoção de políticas
públicas como o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB),
190 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Cultivos temporários
Como ilustra a Figura 2, em 1975, o terceiro quartil da área colhida com o
conjunto das culturas temporárias12 compreendia seis microrregiões (Salgado,
Bragantina, Guamá, Cametá, Altamira e Santarém), quatro delas localizadas na
mesorregião Nordeste Paraense, uma no Baixo Amazonas e outra no Sudoeste
Paraense. Dessa maneira, naquela ocasião, a produção estava concentrada na
primeira dessas regiões. Vinte anos depois, o quadro foi alterado com a saída
das microrregiões Guamá, Cametá e Altamira do Grupo Top 25% e a entrada
de Redenção, São Félix do Xingu e Itaituba. Em outras palavras, com o passar
do tempo, uma parcela da área colhida com cultivos temporários deslocou-se
12
Esse conjunto é formado pelos mesmos cultivos indicados na nota de rodapé 2.
192 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Cultivos permanentes
Em comparação com as culturas temporárias, as permanentes registraram
deslocamentos territoriais mais moderados durante o período 1975–
2015. Não houve modificação nem participação significativa de lavouras
permanentes no sudeste do Pará. As mudanças ocorreram, principalmente,
nas mesorregiões Nordeste, Sudoeste e Baixo Amazonas. Em 1975, a área
colhida com cultivos permanentes predominou em quatro microrregiões
do Nordeste Paraense, em uma do Baixo Amazonas e em outra do Sudoeste
Paraense (Figura 3). Em 1995, tais cultivos mantiveram uma presença
importante em três microrregiões do Nordeste Paraense e em uma do
Baixo Amazonas, ao mesmo tempo, e passaram a ocupar mais áreas nas
microrregiões de Altamira e de Itaituba no sudoeste do estado.
Como se pode observar, uma das principais mudanças geográficas dos cultivos
permanentes foi a inclusão da mesorregião Sudoeste Paraense no grupo das
regiões de maior destaque. Analisando o que ocorreu, nota-se que a dinâmica
ocorrida está associada especialmente à acentuada evolução da exploração
de cacau na microrregião de Altamira. A área colhida com esse produto nessa
localidade aumentou de forma extraordinária entre 1976 e 1995, passando de
82 ha para 28.927 ha. A área nesse último ano foi aproximadamente quatro
vezes maior do que a apresentada pela microrregião de Cametá (7.989 ha),
maior área colhida em 1995 depois da observada em Altamira.
Rebanho bovino
A pecuária bovina apresentou uma dinâmica espacial bem definida no
Pará entre 1975 e 2015, concentrando o rebanho em diferentes regiões
durante alguns anos e, posteriormente, deslocando parte do efetivo para
outros locais, transformando-os em polos produtivos e deixando parte
da área anteriormente ocupada em outras localidades para a exploração
de lavouras. Como reflexo da estratégia nacional de desenvolver a região
amazônica, o governo brasileiro executou uma série de iniciativas, a partir de
meados dos anos 1960, que contribuíram para o processo de pecuarização
(Santos, 2017), ou seja, a expansão da pecuária nas mesorregiões Sudeste
Paraense, Nordeste Paraense, Baixo Amazonas e Marajó, as quais, em 1975,
se destacaram por conformar o terceiro quartil do efetivo bovino do estado
(Figura 4). Tais iniciativas incluem: a construção de rodovias como a Belém-
-Brasília e a Transamazônica; a concessão de incentivos fiscais a empresas que
A área colhida com cacaueiro passou de 395 ha em 2002 para 11.715 ha em 2015. No caso da
13
14
Esse relatório ficou conhecido pelo título Nosso Futuro Comum.
PARTE II - OCUPAÇÃO, MUDANÇA NO USO DA TERRA E AGRICULTURA 197
15
Os critérios para identificar as microrregiões mais dinâmicas consistiram em selecionar aquelas
que apresentaram estimativas estatisticamente significativas (R2 ≥ 0,60) para os parâmetros
da equação Yt = eα+βt e que as taxas de crescimento foram positivas e relativamente mais
elevadas.
PARTE II - OCUPAÇÃO, MUDANÇA NO USO DA TERRA E AGRICULTURA 199
Transformações estruturais
A evolução da agricultura juntamente com outros fatores alterou a configuração
do setor nas diferentes regiões do estado, por exemplo, modificou a estrutura
do uso da terra e influenciou o processo de migração para áreas rurais e urbanas.
Os itens abaixo examinam o que ocorreu nas microrregiões mais dinâmicas
com respeito ao comportamento dessas variáveis.
microrregião j) * 100.
Fonte: elaboração própria com base nos dados do IBGE (1970, 1983, 1994, 2012).
PARTE II - OCUPAÇÃO, MUDANÇA NO USO DA TERRA E AGRICULTURA 203
Transformações tecnológicas
O nível de mecanização, o uso de irrigação e o grau de utilização de alguns
insumos, como fertilizantes, agroquímicos e sementes melhoradas, são
associados, em geral, à transição de um padrão tradicional de agricultura
para um moderno (Rebello, 2004; Alves et al., 2008).
Uso de tratores
Irrigação
18
Aproximadamente 116% em cada um dos subperíodos no caso de Altamira. Em São Félix do
Xingu, os crescimentos registrados foram 219% em 1995–2006 e 282% em 2006–2017.
PARTE II - OCUPAÇÃO, MUDANÇA NO USO DA TERRA E AGRICULTURA 205
Transformações socioeconômicas
Ademais de experimentar mudanças estruturais e tecnológicas, as
microrregiões mais dinâmicas registraram modificações no quadro de
pessoal ocupado nos estabelecimentos rurais, assim como no nível de bem-
-estar da população. À continuação, apresenta-se a situação observada no
período 1975–2015 com respeito a essas duas variáveis nessas microrregiões.
Pessoal ocupado
Tabela 10. Pessoal ocupado nas microrregiões mais dinâmicas: participação das
categorias de ocupação, no período 1975–2015.
Pessoal Produtor e
Permanente Temporário Parceiro
Microrregião Ano ocupado familiares
(%) (%) (%)
total (%)
1975 12.370 92,81 1,58 5,38 0,24
1995 66.721 88,11 4,72 4,78 2,40
Altamira
2006 62.122 85,15 3,68 10,38 0,79
2017 81.342 78,57 5,59 12,14 3,70
1975 16.774 86,74 2,81 10,37 0,08
1995 34.063 92,44 2,67 4,74 0,16
Tucuruí
2006 31.699 86,95 4,52 8,48 0,06
2017 49.718 86,43 7,74 5,45 0,39
1975 688 89,24 0,44 10,17 0,15
1995 32.185 84,77 5,57 9,22 0,45
São Félix do Xingu
2006 33.811 90,27 5,22 4,47 0,05
2017 39.657 74,04 14,94 10,49 0,53
1975 10.611 68,22 11,46 20,23 0,08
1995 20.649 56,88 18,72 23,49 0,92
Paragominas
2006 20.538 66,48 17,47 14,72 1,33
2017 30.700 64,60 20,01 14,59 0,80
Continua...
PARTE II - OCUPAÇÃO, MUDANÇA NO USO DA TERRA E AGRICULTURA 207
Qualidade de vida
Esse resultado sugere que o fator educação foi o que mais contribuiu para
a melhora no nível de bem-estar ou de desenvolvimento humano dos
residentes das microrregiões mais dinâmicas. Os elementos que favoreceram
essa situação incluem, entre outros, a execução do Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC) que possibilitou a construção de várias escolas; o
210 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Conclusões
As análises realizadas retrataram com nitidez alguns aspectos marcantes
do processo de transformações em curso na agricultura paraense, o qual
vem convertendo rapidamente o estado em um dos principais atores do
sistema agroalimentar brasileiro. A evolução desse processo traz importantes
implicações para a formulação de políticas públicas.
21
Essas áreas poderiam ser utilizadas para o cultivo de lavouras ou como pastagem.
PARTE II - OCUPAÇÃO, MUDANÇA NO USO DA TERRA E AGRICULTURA 213
Referências
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216 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
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Introdução
N
este capítulo procurar-se-á enfocar o papel dos introdutores de plantas
e animais, inventores1e desbravadores que foram responsáveis pelo
desenvolvimento da agricultura e das inovações tecnológicas na
Amazônia. Esses pioneiros nem sempre são pesquisadores ou técnicos da
área agrícola, mas indivíduos dotados de grande curiosidade, sentido de
observação, perseverança e perspicácia em antever o futuro (Tecnologia...,
2009; Mercante, 2012).
Nas primeiras quatro décadas do século 20, destacam-se Henry Ford (1863–
1947), que em 1927 iniciou o primeiro grande plantio de seringueiras no
País na região de Santarém; Ryota Oyama (1882–1972), que aclimatou
a juta indiana para as condições das várzeas amazônicas desde 1937; e
Makinosuke Ussui (1896–1993), que introduziu as mudas de pimenta-do-
-reino em 1933, tornando o País um dos grandes produtores mundiais dessa
cultura (Homma, 2012, 2013).
2
A este respeito, procurar o excelente livro de Fernando Antônio Teixeira Mendes,
Agronegócio cacau no Estado do Pará: origem e desenvolvimento, que, após extensa pesquisa
na Universidade de Coimbra, apresenta outra versão sobre a introdução do cacaueiro na Bahia.
222 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Desbravadores ou destruidores?
Com a intensificação da questão ambiental pós-assassinato de Chico
Mendes (1944–1988), o papel dos desbravadores, responsáveis pela
fundação de diversos povoados, municípios e grandes empreendimentos,
está sendo associado à ideia da destruição da Amazônia. A região conhecida
como Matopiba, acrônimo criado com as iniciais dos estados do Maranhão,
PARTE II - OCUPAÇÃO, MUDANÇA NO USO DA TERRA E AGRICULTURA 223
Os inventos e os inventores
Já passou a época em que as invenções e, sobretudo, as descobertas
tecnológicas decorriam do acaso e da sorte. Isto ocorreu, por exemplo, para
Benjamin Franklin (1706-1790) ao inventar o para-raios, em 1753, quando
PARTE II - OCUPAÇÃO, MUDANÇA NO USO DA TERRA E AGRICULTURA 225
Fotos: (A) Antônio José Elias Amorim de Menezes; (B), (D), (E) e (H) Alfredo Homma; (C) e (F) João Tomé Farias Júnior; (G) Oscar Lameira Nogueira
A B
C D
E F
G H
Figura 1. Evolução do apanhador e do debulhador de açaí desenvolvidos por produtores: (A)
debulhador desenvolvido por Shigeru Hiramizu; (B) modelo mecanizado por Eloy Luís Vaccaro;
(C) e (D) coletor rústico desenvolvido por Eloy Luís Vaccaro; (E) coletor inventado por Shigeru
Hiramizu; (F) variante do modelo simples inventado por Shigeru Hiramizu; (G) apanhador de
vergalhão; (H) apanhador primitivo inventado por Noboru Takakura (1941–2008).
228 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Como sinal de novos avanços, uma firma sediada em Manaus, construiu uma
embarcação com 80,20 m x 17,50 m, na qual transporta uma unidade de
beneficiamento de açaí, frigorificação, tratamento de água, pasteurização,
entre outros, na qual pretende beneficiar açaí nas regiões produtoras
(Gobeth, 2021).
Conclusões
Ainda é forte a contribuição da tecnologia transferida de outros locais e
gestada pelos pequenos, médios e grandes produtores na região, por meio
de tentativa e acerto. O sinal de desenvolvimento seria a redução dessa
participação, válida também para as transferências governamentais (Bolsa
Família, Seguro-Defeso, Bolsa Verde, Bolsa Floresta, aposentadorias, etc.) na
sustentabilidade dos pequenos produtores. Para ganhar tempo, enquanto
não surgirem opções tecnológicas produzidas pelas instituições de
pesquisa, há necessidade de aproveitar as etnotecnologias mais eficientes
desenvolvidas pelos próprios produtores, procurando homogeneizar a
heterogeneidade tecnológica existente na região, decorrente da escassez
de tecnologia gerada pelas instituições de pesquisa. Alerta-se que esse
modelo não pode servir para um contexto de médio e longo prazo, pois
ocorre o esgotamento dessas alternativas.
234 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Referências
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Introdução
A
reflexão sobre os desafios da agricultura no Amazonas passa
necessariamente por uma leitura da opção industrial feita pelo estado,
na segunda metade do século passado. Desde sua implantação, a
Zona Franca de Manaus passou a centralizar todas as decisões, mobilizações
e discursos dos empresários, políticos e agentes públicos. Embora houvesse
concessões e outorgas para o desenvolvimento de projetos agrícolas,
toda a discussão do processo de desenvolvimento econômico do estado
esteve pautada no desenvolvimento industrial. O modelo industrial que
se consolidou foi um modelo fortemente alicerçado nos incentivos fiscais
e, “isoladamente, não foi capaz de interiorizar o crescimento econômico”
(Silva, 2018).
Para Tricaud et al. (2016, p. 41), o problema não está na incapacidade dos
agricultores e sim nos “modelos de inovação descendentes e que ignoram
tanto as práticas locais como o papel das organizações locais sobre a atitude
do agricultor”, como a pouca familiarização “com as modificações propostas
pelos pacotes tecnológicos modernizantes e, sobretudo, negligenciados no
próprio processo de inovação, pois são considerados como simples usuários
passivos da tecnologia”.
A fibra, o guaraná, como pode ser percebido nos dados já citados, e tantos
outros produtos, que articulados com a indústria poderiam alavancar
o desenvolvimento da comunidade e do Amazonas, vivem em crises
constantes. A justificativa da incapacidade e indolência dos amazônicos de
outras épocas continua a ser usada como justificativa para esconder os reais
motivos que inviabilizaram a produção agrícola no estado do Amazonas.
Destacam-se aqui as mais relevantes.
O total de projetos financiados nos 2 anos somou 3.310. Esses dados são
indícios de que esse número de contratos seja o do total de agricultores
familiares que acessaram o crédito pela Afeam nesses 2 anos. É pouco, se
considerarmos o número de estabelecimentos rurais do estado. Dados
do censo agropecuário realizado em 2016–2017 mostram que havia na
época mais de 54 mil produtores de mandioca, mais de 8 mil agricultores
que cultivavam banana e 1.701 agricultores que cultivavam guaraná,
dentre os 80 mil estabelecimentos rurais identificados, segundo o
IBGE (2017). Isto significa que o financiamento chega a apenas 4% dos
estabelecimentos rurais.
Piores Municípios de Maraã, Santa Isabel do Rio Negro, Santo Antônio do Içá e Itamarati,
desempenhos todos com mais de 50% da população em situação de extrema pobreza
Ou seja, os dois relatos mostram que a crise do setor rural se amplia e aprofunda,
ganha contornos estruturais e caminha rumo à catástrofe. A mudança de rumos
está em construção com a afirmação de um projeto de desenvolvimento no qual
o fortalecimento da agricultura figura como um dos elementos estratégicos.
Nessa perspectiva está a valorização de aspectos endógenos como a grande
biodiversidade, que precisa ser apropriada.
Marcio de Souza (Souza, 2002, p. 31) afirma que é preciso se afastar dos
“entulhos promocionais, das falácias da publicidade e a manipulação dos
noticiários de acordo com os interesses econômicos” e percebemos que
a “Amazônia vem sendo quase sempre vítima, repetidamente abatida
pelas simplificações, pela esterilização de suas lutas e neutralização das
vozes regionais”. É preciso desconstruir a ideia de desenvolvimento, que
foca somente no escutar a voz da indústria e compreender a política de
incentivos fiscais como a única capaz de civilizar os bárbaros da região, além
de desdenhar das experiências vividas pelas comunidades locais, impondo
modelos e métodos ineficazes, estéreos e deletérios.
Considerações gerais
O processo de desenvolvimento do Amazonas está pautado em um
modelo industrial, desconectado de outros setores da economia, que tem
seu fundamento e ponto de atração e sustentação nos incentivos fiscais e
sujeito às oscilações das conjunturas econômicas internas e externas, assim
como das políticas macroeconômicas dos governos.
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A
pecuária1bovina na Amazônia tem a sua gênese no longínquo século
17, quando se tem o registro da entrada, através de Belém, no estado
do Pará, das primeiras cabeças de Bos taurus no vale amazônico,
trazidas pelo colonizador português. Esse gado pioneiro, originário da
Península Ibérica, foi inicialmente criado em áreas abertas a fogo, ao redor
de Belém (Reis, 1960). Em seguida, esses animais foram levados para a
Ilha de Marajó e, depois, para outros locais da Amazônia, onde a atividade
pecuária se expandiu em diferentes proporções.
Figura 2. Notícia
publicada no jornal O
Liberal do Pará, de Belém,
PA, em 1885, informando
sobre acidente causado
por um raio, durante o
transporte de bovinos
da Ilha de Marajó para
Belém, PA.
Fonte: O Liberal do Pará
(1885).
Figura 3.
Anúncio
publicado no
jornal O Liberal,
de Belém do
Pará, em 1946,
comunicando
a falta de carne
bovina para o
abastecimento
da população de
Belém.
Fonte: O Liberal
(1946).
270 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Figura 4. Nota de
esclarecimento publicada,
em 27 de novembro de 1947,
sobre a venda de carne in
natura pelo frigorífico da
firma Oscar Steiner e Cia., em
Belém, PA.
Fonte: O Liberal (1947).
A iniciativa pioneira de Oscar Steiner abriu caminho para que outras firmas
passassem a explorar o ramo do transporte aéreo de carne bovina para
Belém e para outras cidades da Amazônia (Figura 6).
Assim, pelo menos até 1965, cerca de 40% da carne bovina consumida em
Belém chegava à cidade por via aérea, resultando em “preços proibitivos
para a maioria da população” (Penteado, 1968). A consequência era o baixo
consumo per capita de carne bovina pelos habitantes de Belém: 23 kg em
1960, 25 kg em 1961, 20 kg em 1962 e apenas 19 kg em 1963 (Penteado, 1968).
A partir do início dos anos 1960, ou seja, um pouco antes de ter sido
deflagrada a Operação Amazônia, teve início uma gradativa expansão das
áreas de pastagens plantadas em terra firme na região amazônica. Essas
pastagens foram formadas com relativo sucesso inicial, principalmente ao
longo da recém-aberta Rodovia Belém-Brasília (BR-010), em particular no
atual município de Paragominas, no Pará (Penteado, 1968).
locais da Amazônia por via fluvial ou aérea, a um custo muito elevado (Dias-
-Filho, 2019) (Figura 8).
Figura 8. Anúncio publicado no jornal Estado do Pará, de Belém, PA, em 1917, comunicando a
venda de reprodutores zebuínos em Belém, PA.
Fonte: Estado do Pará (1917).
Figura 9.
Evolução (%)
das áreas de
pastagens
plantadas na
região Norte
entre 1975 e
2016.
Fonte: IBGE
(2009, 2018,
2019).
Para que essa meta seja atingida, algumas ações serão necessárias, devendo,
portanto, ser vistas como prioritárias na região amazônica (Dias-Filho, 2014):
Considerações finais
A intensificação racional é a alternativa correta para superar os atuais
desafios e legitimar a sustentabilidade da pecuária amazônica do futuro
em um novo patamar de condução. Para isso, produzir mais em menores
áreas de pastagem com coerência em relação aos preceitos agronômicos,
econômicos, ambientais, sociais e de bem-estar animal será a exigência
fundamental. Nesse cenário, o amadorismo no manejo das pastagens
amazônicas deverá definitivamente curvar-se ao profissionalismo, próprio
de uma pecuária empresarial, independentemente do tamanho do
empreendimento pecuário. Para a completa estruturação dessa nova fase da
pecuária na região amazônica, a Embrapa deverá ter papel essencial como
fiadora dessa transição, provendo tecnologia e facilitando a sua difusão.
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Introdução
A
s condições naturais e socioeconômicas do Brasil o credenciam como
um dos principais países com capacidade de incrementar a oferta
mundial de pescado por meio da aquicultura nas próximas décadas,
em especial pela piscicultura continental. Entretanto, os números de
produção atuais ainda são tímidos se comparados aos maiores produtores
mundiais, principalmente por conta de questões burocráticas e ambientais
presentes no arcabouço legal em diferentes esferas administrativas (FAO,
2018, 2019; Associação Brasileira da Piscicultura, 2019).
Este capítulo é composto por cinco seções, além dessa breve introdução.
As três primeiras seções contextualizam o cenário mundial, nacional e
regional da atividade. A seguir, caracteriza-se e discute-se a conjuntura da
piscicultura paraense, além de se apontar os fatores que estão limitando o
seu desenvolvimento. Na última seção, são apresentadas as considerações
finais e proposições de políticas públicas que visam contribuir para a tomada
de decisão de atores privados e públicos envolvidos com a cadeia produtiva
da piscicultura no estado do Pará.
Tabela 1. Produção mundial e consumo per capita de pescado entre 1980 e 2017.
Produção anual (milhões de toneladas)
Atividade
1980 1990 2000 2010 2017
Pesca 67,2 84,7 93,6 87,1 92,5
Aquicultura 4,7 13,1 32,4 57,8 80,1
Total 71,9 97,8 126 144,9 172,6
Consumo per capita (kg/ano) 11,6 13,2 15,7 18,2 20,3
A piscicultura no Brasil
O Brasil possui a quinta maior extensão territorial do mundo, com 8,5 milhões
de quilômetros quadrados. Em termos de população, também é quinto
colocado, com estimativa de 210,5 milhões de habitantes em 2019. É
banhado exclusivamente pelo Oceano Atlântico, faz fronteira com todos
os demais países da região Sul do continente, exceto o Chile e o Equador,
e está dividido em 26 estados e um Distrito Federal, distribuídos em cinco
regiões: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul (IBGE, 2019a).
Quanto à produção por região em 2018, o Sul respondeu por 32% do total,
com destaque para a produção de tilápia, carpa-comum e carpas chinesas;
o Norte contribuiu com 19%, tendo o tambaqui como principal espécie; o
Nordeste com 19% e o Sudeste com 17,7%, ancorados também na tilápia; e o
Centro-Oeste com 12,3%, com a tambatinga, o pacu, os pintados/cacharas/
surubins e a tilápia sendo responsáveis pelos números mais significativos
(IBGE, 2019b).
Os três estados que integram a região Sul estavam entre os dez maiores
produtores do País, a região Norte contou com um único representante
e as demais regiões com duas unidades federativas cada uma (Tabela 4).
Nesse ano, os estados que apresentaram as menores produções piscícolas
foram respectivamente: Distrito Federal, Amapá e Rio Grande do Norte
(IBGE, 2019b).
PARTE III - OPORTUNIDADES PRODUTIVAS MAIS SUSTENTÁVEIS 297
No anuário de 2019, a tilápia aparece como responsável por 400,2 mil toneladas,
em 2018, o que rendeu ao País a quarta colocação no ranking mundial de
produção da espécie, atrás de China, Indonésia e Egito. Desse total, 70,5%
estavam concentrados em cinco estados brasileiros: Paraná, São Paulo, Santa
Catarina, Minas Gerais e Bahia (Associação Brasileira da Piscicultura, 2019).
Considerações finais
Não adianta ser um excelente piscicultor no que diz respeito ao manejo
se o cenário econômico e institucional fora da unidade de produção for
desfavorável e, da mesma forma, não é suficiente ter ótimos fornecedores
de insumos e um mercado consumidor atraente se não houver um
planejamento adequado e eficiência no controle da produção. A união
desses fatores, internos e externos à iniciativa, é a chave para minimizar os
riscos dos empreendimentos, o que é dificultado pelo cenário econômico
paraense para a prática da atividade, ou seja, dado o preço praticado pela
PARTE III - OPORTUNIDADES PRODUTIVAS MAIS SUSTENTÁVEIS 307
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POTENCIALIDADES DA
CULTURA DA MANDIOCA NO
ESTADO DO PARÁ
Raimundo Nonato Brabo Alves
Moisés de Souza Modesto Júnior
Introdução
A
mandioca (Manihot esculenta Crantz), originária do Brasil, hoje se
constitui no alimento básico para mais de 700 milhões de pessoas em
pelo menos 105 países (Souza, 2013). Quando os colonizadores aqui
chegaram, já encontraram os indígenas dominando o sistema de cultivo e
exploração da cultura da mandioca, tradição que se disseminou pelo mundo
tropical, atualmente como uma das principais fontes de carboidratos para
as populações carentes.
O sistema de roça sem fogo tem sido a alternativa proposta pela pesquisa
para esse estrato de agricultores, para redução dos impactos ambientais
e produtividade que podem ultrapassar 28 t ha-1 quando associadas com
aplicação do Trio da Produtividade da Mandioca e uso de fertilizantes
(Alves; Modesto Júnior, 2013b; Modesto Júnior; Alves, 2016). Esse grupo
de produtores, em geral, cultiva roçados de 1 a 3 tarefas por ano, em
média, utilizando a mão de obra familiar. Para esse perfil de agricultores, os
retornos econômicos são perceptivelmente maiores que os agricultores da
tradição de derruba e queima. Porém, devido à baixa escala de produção,
podem extrair produtos madeireiros, como lenha para torragem de
farinha ou para carvão, caibros para construção civil e moirões para cercas.
Também podem extrair produtos não madeireiros, como frutas, óleos,
resinas, artefatos para artesanatos, entre outros, provenientes de espécies
que podem permanecer na área de cultivo. Os produtos da mandioca,
como folha, farinha, tucupi e fécula, se destinam predominantemente à
subsistência, com a venda do excedente.
Principais limitações
De modo geral, os agricultores familiares utilizam cultivares de baixa
produtividade, plantadas em arranjos espaciais aleatórios, sem o controle
adequado de invasoras que resultam em baixas produtividades. Nos
últimos 10 anos, a produtividade de mandioca do estado do Pará oscilou
entre 14,27 t ha-1 em 2014 e 15,80 t ha-1 em 2011, muito baixa considerando
que alguns extratos de agricultores conseguem produtividades acima de
40 t ha-1.
Custos de produção
Para que os produtores e os agentes financeiros possam nortear suas decisões
a serem tomadas no momento do planejamento da safra de mandioca,
considerando o sistema de cultivo mecanizado em expansão na mesorregião
Nordeste Paraense, que obtém produtividade média entre 25 t ha-1 e 30 t ha-1,
torna-se oportuno conhecer os custos de produção e os resultados financeiros.
Nesse sentido, é fundamental conhecer o custo da unidade produzida, o
resíduo gerado a cada safra e o retorno dos investimentos, considerando as
condições de mercado (Guiducci et al., 2012).
Tabela 2. Continuação
Valor (R$)
Descrição Unidade(1) Quantidade (%)
Unitário Total
CUSTOS INDIRETOS E ENCARGOS ADMINISTRATIVOS 609,00 7,60
CUSTO TOTAL 8.009,00 100
RECEITA BRUTA 11.100,00
Venda de raízes t 30 370,00 11.100,00
MARGEM BRUTA 3.091,00
Relação benefício/custo (B/C) 1,39
Ponto de nivelamento (R$) 266,97
Ponto de nivelamento (t) 21,65
Margem de segurança (%) 27,85
(1)
H.T.P.= hora trator de pneu de 110 CV, 4 cilindros; DH = dia homem-1.
(2)
Hastes de mandioca selecionadas pelo potencial de produção e sanidade.
Farinha de mesa
No Pará são produzidos diferentes tipos de farinha, em consequência das
diversas cultivares de mandioca utilizadas como matéria-prima: bravas ou
mansas e com raízes de cores branca, creme e amarela. Os consumidores
expressam maiores preferências pelas farinhas amarelas, obtidas a partir das
raízes de mesma cor, principalmente para o consumo de farofas.
Como a oferta de mandioca com raiz de polpa amarela não é suficiente para
atender a demanda do mercado por farinha amarela, os farinheiros tiveram
que recorrer ao uso de corantes artificiais utilizados em outros produtos
para intensificar a cor amarela nas farinhas obtidas de raízes de polpa branca
e creme, para torná-la mais atraente ao consumidor. Passaram a usar o
322 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Tucupi
O tucupi é um líquido de cor amarelada, retirado da raiz da mandioca-
-brava de polpa amarela, que passa por processo artesanal de lavagem,
descascamento, trituração, adição de água e prensagem da massa.
Posteriormente, é colocado em repouso por 24 horas, para que ocorra a
fermentação e decantação, separando o tucupi do amido (fécula a 45% de
umidade). Porém, a raiz da mandioca apresenta glicosídeos cianogênicos
(linamarina e lotaustralina) que por si só não são tóxicos, mas liberam o ácido
cianídrico (HCN) conhecido como cianeto, responsável pela toxidez, após a
ação de enzimas (linamarase). Para eliminar ou reduzir o cianeto, o tucupi
passa por fervura de 40 minutos, sendo adicionados condimentos (alho,
alfavaca, sal, chicória e outros) para ser usado como molho em diferentes
pratos típicos com peru, frango, suíno, peixes, camarão, caranguejo, arroz a
paraense e molho de pimenta-de-cheiro.
O Círio de Nazaré é a única festa religiosa no País capaz de levar às ruas mais
de 2 milhões de pessoas em procissão, como revelam os dados de 2016 da
Diretoria da Festa de Nazaré e do Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese/PA). Não existem dados sobre o
consumo de tucupi durante o Círio, mas Homma (2017), a partir de receitas
do vídeo “Cozinha Paraense” do chef-de-cuisine Paulo Martins (1946–2010),
estabelece uma relação de 1 pato para 3 L de tucupi e 3 maços de jambu.
Estimando que cinco pessoas consomem um pato, calcula-se que cerca de
20% dos romeiros (400 mil pessoas) possam consumir o tradicional pato
no tucupi no almoço do Círio. Considerando essas informações, é possível
haver um consumo de 80 mil patos, 240 mil litros de tucupi e 240 mil maços
de jambu.
Maniva pré-cozida
Na Amazônia quase todo o potencial proteico das folhas e ramas da planta
da mandioca é deixado no campo após a colheita das raízes, exceto nas
propriedades que atendem os nichos de mercado de folhas para produção
de maniçoba. A folhagem é rica em proteína, com teor em torno de 20,77%,
em base seca, (Penteado; Ortega Flores, 2001), podendo atingir 33,04% a
38,44%, aos 12 meses de idade (Modesto et al., 2001). Também é rica em
vitamina A e C, com conteúdo de minerais relativamente alto, especialmente
ferro (Penteado; Ortega Flores, 2001).
Nos últimos anos, o uso de proteína extraída das folhas da mandioca tem
se tornado uma excelente alternativa para alimentação humana e animal,
em razão de a produção de folhas ser muito abundante e da adaptação
da mandioca aos diversos ecossistemas, o que possibilita o seu cultivo em
todo o território brasileiro. Estima-se a produção entre 5 t ha-1 e 10 t ha-1 de
folhas frescas (Almeida; Ferreira Filho, 2005) que podem ser submetidas a
diferentes processos, para obtenção de produtos destinados à alimentação
animal e humana.
Recomendações estratégicas
Nos últimos anos, observam-se diversas mudanças no cultivo da
mandioca, principalmente na mesorregião Nordeste Paraense. Os
agricultores estão aumentando suas áreas de cultivo utilizando a
mecanização no plantio, nos tratos culturais e na colheita. Já existem
casos de agricultores se especializando como produtores de raízes
(que não fabricam farinha) e de agricultores se especializando como
produtores de farinha (farinheiros). O comércio de raízes de mandioca
entre agricultores e farinheiros já é uma realidade na cadeia produtiva.
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338 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Fundamentação histórica
A
área de interesse corresponde à região geográfica imediata de
Cruzeiro do Sul, anteriormente denominada microrregião do Vale do
Juruá, compreendendo os municípios Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima,
Marechal Thaumaturgo, Porto Walter e Rodrigues Alves. Faz fronteira com o
Peru, o estado do Amazonas e os municípios acreanos de Jordão e Tarauacá.
Possui uma população estimada em 154.965 habitantes e uma área total de
31.944,729 km2, aproximadamente 20% da área do estado do Acre.
Oportunidades
Indicação geográfica
O registro de indicação geográfica (IG) é conferido a produtos ou serviços
com o objetivo de distinguir a origem de um produto por meio da
identificação da área de produção, valorizando e atestando seus níveis de
qualidade, os quais são fruto dos fatores naturais de uma área delimitada e
daqueles relacionados à intervenção do homem.
Desafios (dificuldades)
Sistema de produção da matéria-prima e agroindústria
Na região imediata de Cruzeiro do Sul, a atividade agrícola predominante é o
cultivo da mandioca para a produção de farinha, sendo a principal fonte de
renda e subsistência da grande maioria dos pequenos produtores familiares
(Landau et al., 2020).
Na análise da série histórica dos preços pagos aos produtores (Figura 3),
observa-se que os preços da farinha de mandioca se comportaram em
ciclos de elevação e queda com uma tendência de alta. Contudo, a partir
de 2013, observa-se uma queda acentuada. Os melhores preços da farinha
estão relacionados à ocorrência de fatores externos e internos. Entre os
fatores externos, destacou-se o ataque de pragas severas (mandarová) e a
intervenção do governo por meio de políticas públicas (compra antecipada).
Quanto aos fatores internos, destaca-se a atuação das cooperativas,
comprando a produção dos associados com o objetivo de fazer estoque.
348 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Período
Figura 3. Preço médio anual da farinha (saca de 50 kg) pago aos produtores da região de
Cruzeiro do Sul, AC, entre janeiro de 2000 e setembro de 2019, deflacionados pelo IGP-DI,
base setembro de 2019.
Fonte: Conab (2022); Acre (2022); Siviero et al. (2012).
Para identificar as influências dos ciclos de alta e baixa dos preços pagos
aos produtores, foi analisado o comportamento dos preços durante o ano,
entre janeiro de 2000 e dezembro de 2019, no município de Cruzeiro do Sul,
considerado o centro comercial da farinha na região (Figura 4).
Preço da farinha (R$)
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Período
Figura 4. Preços médios mensais da farinha (saca de 50 kg) pagos aos produtores da região
de Cruzeiro do Sul, AC, entre janeiro de 2000 e dezembro de 2019, deflacionados pelo IGP-DI,
base setembro de 2019.
Fonte: Conab (2022); Acre (2022); Siviero et al. (2012).
PARTE III - OPORTUNIDADES PRODUTIVAS MAIS SUSTENTÁVEIS 349
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Período
Índice sazonal Índice sazonal
antes médio
Figura 5. Índice sazonal dos preços pago aos produtores da região de Cruzeiro do Sul, AC,
entre janeiro de 2001 e dezembro de 2006. Acre, 2019.
Fonte: Conab, 2022; Acre (2022); Siviero et al. (2012).
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Mês
Índice sazonal Índice sazonal
depois médio
Figura 6. Índice sazonal dos preços pagos aos produtores da região de Cruzeiro do Sul, AC,
entre janeiro de 2013 e dezembro de 2018. Acre, 2019.
Fonte: Conab (2022); Acre (2022); Siviero et al. (2012).
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Mês
Conclusões
A sobrevivência da unidade de produção familiar converge para dois pontos
críticos: sistema tradicional de cultivo para produção de mandioca praticado
pelos produtores e mercado da farinha controlado por poucos compradores
exercendo grande influência no preço.
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Introdução
O
uso da terra no estado do Pará, a partir do século 19, sempre esteve
ligado à incipiente produção de alimentos básicos, uma vez que a
sustentação econômica da região era o extrativismo das chamadas
“drogas do sertão” (Reis, 1966). No século 20, após a queda do Ciclo da Borracha
(1876–1912), as disputas pela ocupação e posse da terra iniciam sua ascensão,
dado o encaminhamento dos seringueiros retirantes para as áreas rurais da
região do Nordeste Paraense, via Estrada de Ferro Belém-Bragança (1883–1964),
e da região Sul do Pará, via alternativa econômica da coleta e beneficiamento
da castanha-do-pará, com sede no município de Marabá (Emmi, 1988). A partir
da segunda metade do século 20, uma grande extensão de terras do Nordeste
do Pará, no entorno da ferrovia, estava destituída de sua cobertura vegetal
original, fato que recrudesceu, a partir da implantação da Rodovia Belém-
-Brasília e do advento da intervenção militar de 1964 e seu Plano de Integração
Nacional, que favoreceu a ocupação da região amazônica, via incentivos fiscais
da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), e os demais
planos de desenvolvimento regional – Programa de Polos Agropecuários e
Agrominerais da Amazônia (Polamazônia), Programa de Redistribuição de Terras
e de Estímulo à Agroindústria do Norte e do Nordeste (Proterra), Programa de
Incentivo à Produção de Borracha Natural (Probor), entre outros.
358 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Uma vez plantada, a cultura irá depender das condições climáticas, que
estabelecem um considerável nível de risco aos produtores. A ocorrência
de pragas e doenças ainda não tem sido um fator determinante de
preocupação. As doenças mais frequentes têm sido plenamente controladas
com os defensivos existentes no mercado, a saber, antracnose, mancha-
-alvo e outras de ataque menos severo. O aparato mecânico envolvido na
colheita mecanizada é, em grande parte, de propriedade dos produtores
ou contratado de empresas especializadas que atendem as solicitações
quando o negócio lhes é compensador.
Esse polo tem como ponto de apoio o porto para exportação, na cidade
de Santarém (2°22’ S/54°42’ W), o qual, em 2018, exportou 4,3 milhões de
toneladas de grãos, oriundos da região Centro-Oeste (Conab, 2022). Por
sua vez, o porto de Miritituba, às margens do Rio Tapajós, que permite o
transbordo dos caminhões que trafegam na BR-163, complementa esse apoio
logístico. Atualmente, apenas os municípios de Santarém, Belterra e Mojuí
dos Campos apresentam uma crescente atividade produtiva (Tabela 5).
Continua...
PARTE III - OPORTUNIDADES PRODUTIVAS MAIS SUSTENTÁVEIS 373
Tabela 6. Continuação.
Área disponível à produção de grãos (ha)
Polo Município Pasto Regeneração Vegetação Pasto
Total
Limpo Pasto Secundária Sujo
Altamira 408.953 45.126 151.606 75.310 680.995
Brasil Novo 109.851 41.879 41.006 34.095 226.831
Medicilândia 68.332 36.362 63.671 27.783 196.748
Transamazônica
Uruará 127.838 36.846 95.501 38.353 298.538
Placas 47.182 32.781 76.080 24.248 180.291
Rurópolis 38.022 34.122 78.551 26.417 177.112
Subtotal 800.178 536.779 277.116 226.206 1.760.515
Total geral 5.895.778 1.073.558 2.488.986 1.621.334 10.780.878
Fonte: Terraclass (2014).
Em 2017, com a criação do programa Pará 2030, a cadeia produtiva dos grãos
mereceu sua inclusão entre as 13 cadeias eleitas para receber os incentivos
de políticas públicas. Entretanto, dada a autonomia apresentada por essa
cadeia produtiva, as ações efetivas de apoio advindas do governo estadual
têm sido limitadas.
2) A regularização fundiária.
Plataforma logística
Os custos de transporte dos produtos do agronegócio, no Brasil, são elevados.
Segundo dados da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec),
em 2013, o custo do transporte de grãos de soja brasileiro (US$ 92,00 por
tonelada) foi quatro vezes maior que nos Estados Unidos (US$ 23,00 por
tonelada) e 4,18 vezes maior que na Argentina (US$ 22,00 por tonelada).
Entre os apelos que sensibilizam os produtores a investirem no agronegócio
da cadeia produtiva da soja no Pará estão o baixo preço da terra e a relativa
curta distância que separa as áreas de produção dos polos produtivos, em
relação aos portos de escoamento (Figura 5). Dessa forma, é imprescindível a
conclusão da plataforma logística multimodal de transporte rodo-ferroviária-
-fluvial-marinha já referida, parte da qual se encontra em estado avançado
de realização. Em 2009, o Brasil exportou 43 milhões de toneladas de soja e
milho. O volume de exportação desses produtos realizado pelos portos do
Arco Norte atingiu 5,24 milhões de toneladas (12,19%). Em 2017, o volume
da exportação brasileira foi de 111,9 milhões de toneladas. Os portos do Arco
Norte exportaram 23,5 milhões de toneladas (21,0%).
PARTE III - OPORTUNIDADES PRODUTIVAS MAIS SUSTENTÁVEIS 375
Regulamentação fundiária
As áreas de domínio público nos estados da região amazônica têm estado
submetidas a forte interferência do governo federal. Durante as últimas quatro
décadas, as intervenções legais nesse patrimônio estatal têm sido prejudiciais.
Essas perdas têm ocasionado limitação na adoção de políticas públicas
capazes de impulsionar o desenvolvimento econômico estadual, o que se
reflete em uma fragilidade na soberania dos governadores. Essa supressão de
dominialidade ocorre em 62,6% das áreas dos estados da região Norte, exceto
o Tocantins, que estão legalmente atribuídas a diferentes usos na forma de
reservas legais, reservas biológicas, florestas nacionais, terras indígenas, áreas
militares, entre outras, e que somam 223,8 milhões de hectares (Tabela 7).
376 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Referências
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Introdução
A
pimenteira-do-reino (Piper nigrum L.), originária da Ásia, é consumida
em todo o mundo e tem sua utilização em produtos alimentícios
industrializados, fazendo com que seu preço seja cotado na bolsa de
valores. No mercado, são três tipos de pimenta-do-reino comercializados
no mundo: a verde, que é produzida no Brasil (reduzida escala) e em
Madagascar; a branca, produzida na Indonésia, Malásia, Brasil e República
Popular da China; e, finalmente, a preta, que é produzida na Índia, Vietnã,
Malásia, Indonésia, Brasil (dominante), Sri Lanka e Tailândia (Duarte, 2002).
Seu cultivo era feito com estacas e/ou estacões, o que causava problemas,
como a retirada de madeira dura para esse fim, mas atualmente vem
ganhando destaque o cultivo com tutores vivos em alguns municípios do
estado do Pará, diminuindo assim os danos ambientais (Menezes et al., 2013).
Por ser uma planta de origem tropical, adaptou-se de maneira fácil na região
amazônica, normalmente em solos de textura média e argilosa, como
descrito por Carneiro Júnior et al. (2017). A partir de 2018, o estado do Pará
foi suplantado pelo estado do Espírito Santo, como tem acontecido com
mamoeiro, pupunheira, cacaueiro e outros cultivos da região amazônica.
Revisão bibliográfica
Carneiro Júnior et al. (2017), mediante um estudo mercadológico da pimenta
em nível abrangente (mundial, nacional e local), constataram que, apesar de
demanda e oferta oscilarem no período analisado (1990 a 2015), os países
asiáticos (Vietnã, Indonésia e Índia) detém a hegemonia do mercado dessa
commodity, correspondendo a mais de 60% da produção de pimenta.
No primeiro ano do manejo do tutor vivo, os brotos não devem ser retirados
até completarem 40 dias, se for no período chuvoso, isto deve ser feito para
enraizar e engrossar o tronco. Passando esse período, os galhos e também
os brotos devem ser retirados, somente poucos galhos devem permanecer.
Metodologia
Método empírico
A presente pesquisa tem como ponto de referência o mercado da pimenta-
-do-reino no Brasil e no mundo. Utilizou-se informações da Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, 2019) e do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2020), pela captura das variáveis de
produção (área colhida em hectares, produção em toneladas, produtividade
em quilogramas por hectare, assim como preços obtidos pela divisão do
VBP pela produção, transformados em preços por quilograma da pimenta).
Zt = A (1 + n)t (1)
em que
Yt = variável dependente.
a = intercepto.
b = inclinação, que indica quanto deve variar, para mais ou menos essa
inclinação atrelada ao Xt.
Resultados e discussão
A conjuntura do mercado nacional
A Figura 1 ilustra as oscilações da produção brasileira nos anos de 1998 a
2020. No ano de 1998, a produção brasileira registrou o pior desempenho
do período analisado, mas com crescimento nos anos seguintes, chegando
nos anos de 2005, 2006 e 2007 com seu melhor desempenho. Nos anos
seguintes, a produção caiu e só voltou a crescer nos anos de 2015 a 2020,
superando a de 2006.
Continua...
396 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Tabela 3. Continuação.
Área colhida Produção Rendimento
País
(ha) (%) (t) (%) (kg/ha)
Gana 5.479 0,88 3.732 0,50 681,1
México 3.889 0,62 10.399 1,39 2.674,0
Filipinas 1.493 0,24 1.028 0,14 688,5
Malaui 422 0,07 370 0,05 876,8
Outros 19.699 3,15 41.900 5,61 2.127,0
Mundo 624.488 100,00 747.192 100,00 1.196,5
reino, pois reduz pela metade o seu ciclo produtivo, em média de 12 anos
para apenas 7 anos. A partir de 2015, a produtividade registrou seu melhor
desempenho, pois a alta nos preços permitiu a aplicação de fertilizantes de
forma mais adequada (Filgueiras et al., 2009). No período que vai de 1970
a 2015, observou-se uma taxa de variação em relação à área colhida de
164%, produção de 396% e produtividade de 87%. Nesse quesito, o Brasil se
destaca em comparação aos seus principais concorrentes por ainda ter um
potencial territorial que permita esse crescimento, com terras abundantes e
baratas, como mostram Conceição e Conceição (2014).
Figura 3. Evolução da área colhida (mil hectares), produção (mil toneladas), e produtividade
(kg/ha) da pimenta-do-reino, em âmbito mundial, com intervalo de 5 anos: 1970–2020.
Fonte: Adaptado de FAO (2022).
Com relação à produtividade desse primeiro período, o Sri Lanka (12,24% a.a.)
e o Vietnã (11,84% a.a.) se destacam e são os dois países que tiveram taxas
positivas tanto em área colhida, quanto em produção e produtividade. A
China (continental) apresentou índice significativo (11,93% a.a.) enquanto o
Brasil apresentou taxa negativa (-5,49% a.a.), mas, no âmbito geral, o mundo
teve um crescimento nesse período (2,50% a.a.).
Considerações finais
Em âmbito mundial, observou-se que os países que dispõem de maior
área destinada à colheita da pimenteira-do-reino não necessariamente
apresentam os melhores índices em relação à produtividade, que estão
relacionados à aplicação de fertilizantes, risco de pragas e doenças,
condições climáticas, tratos culturais, entre outros.
400 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Referências
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MENEZES, A. J. E. A.; HOMMA, A. K. O.; ISHISUKA, Y.; KODAMA, N. R.; KODAMA, E. E. Gliricídia
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VARIAN, H. R. Microeconomia: uma abordagem moderna. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
821 p.
VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2006. 441 p.
Introdução
N
ativas da China1(laranja) e da Índia (limão), as frutas cítricas tornaram-
se uma das principais atividades agrícolas do mundo. Seus produtos
despertam grande interesse do mercado consumidor, independente
da classe social, em razão de seu sabor e das propriedades funcionais presentes
na vitamina C. Sua disseminação pelo mundo está relacionada ao tempo das
Grandes Navegações, no século 17, quando se associou o tratamento da
“doença do explorador”, o escorbuto, considerada uma maldição pior do que
os piratas e o mau tempo, ao consumo de cítrus (Laws, 2013).
produção), Minas Gerais (6,56%), Paraná (4,35%), Bahia (3,34%), Rio Grande
do Sul (2,64%), Pará (2,29%) e Sergipe (1,96%), que participaram com 96,28%
da produção nacional de cítrus (IBGE, 2020).
São 117 países enquadrados nessa categoria, dos quais 80,65% possuem participação
(1)
individual menor que 0,50% da produção mundial (cem países). A média de produção desse
conjunto é de 40.967 t.
Fonte: FAO (2020).
Figura 1. Evolução das exportações mundiais do suco de laranja concentrado do Brasil e dos
Estados Unidos, 1996–2016.
Fonte: FAO (2021).
PARTE III - OPORTUNIDADES PRODUTIVAS MAIS SUSTENTÁVEIS 407
Por sua vez, tem-se percebido uma queda de consumo, ano a ano, dos
produtos da citricultura, com reflexos sobre a exportação brasileira que
apresenta uma tendência de queda (Neves; Trombin, 2017), em decorrência
de alterações no hábito de consumo, principalmente nos Estados Unidos,
e pela concorrência com outras opções de suco que tem se intensificado.
Conjuntura nacional
De acordo com o levantamento realizado pelo Departamento de Agricultura
dos Estados Unidos (USDA, 2019), o Brasil responde por 34% do fruto
produzido e mais da metade do suco processado em todo o mundo,
considerando as últimas cinco safras. Além disso, o País responde por 76% de
participação no comércio mundial de suco de laranja, consolidando-se como
o mais importante fornecedor global desse produto (Neves; Trombin, 2017).
408 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
(Rebello; Homma, 2017; Costa et al., 2017). Na década de 1980, essa atividade
apresentou um forte impulso com a entrada de agricultores de São Paulo,
tornando o município de Capitão Poço o maior produtor paraense. Na
Tabela 2, tem-se a evolução da produção, área colhida e produtividade da
laranja no estado do Pará para o período de 1999 a 2019.
Tabela 3. Continuação.
Município Quantidade produzida (t) Participação (%)
Nova Esperança do Piriá 3.000 0,92
São Francisco do Pará 2.700 0,83
Itaituba 1.914 0,59
Prainha 1.575 0,49
Castanhal 1.500 0,46
Altamira 1.496 0,46
Santarém 1.404 0,43
Vitória do Xingu 1.400 0,43
Estado do Pará 324.422 100,00
A laranja ‘Pera Rio’ possui melhores características de sabor, pois é mais doce
que as outras variedades, sendo a mais consumida nacionalmente (Companhia
de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo, 2011), com destaque tanto
para o consumo de frutos in natura, como para o processamento do suco.
412 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Nesse sentido, vale citar o exemplo do estado do Rio Grande do Sul, que
possui produção pouco maior que a paraense, mas detém seis agroindústrias
de suco de laranja concentrado, as quais, além disso, processam e exportam
óleo essencial da casca de bergamotas, limões e laranjas. Outra oportunidade
desenvolvida foi a criação de várias empresas de médio porte, fabricantes de
sucos prontos/pasteurizados (Efrom; Souza, 2018).
Isso, certamente, deve contribuir para se obter uma fruta com melhor
padronização visual para o mercado de mesa (Figura 2) e para a agroindústria,
contribuindo para fortalecer a citricultura paraense, bem como para elevar
o retorno para os citricultores regionais, com a possibilidade de competir
com produtos de padrão mais elevado e que ainda abastecem fortemente o
mercado local, até mesmo com ganhos de preços de mais de 42%, indicando
margem superior ao custo do frete de trazer o produto de São Paulo.
Fotos: Fabricio Khoury Rebello
A B
C D
Figura 2. Aspectos da comercialização de laranja no mercado de Belém: (A) laranja ‘Pera Rio’
da Cutrale e regional (Capitão Poço) sendo comercializada em supermercado no município
de Belém, PA, em setembro de 2019; (B) destaque do aspecto da laranja Pera Rio regional
comercializada em supermercado em Belém, em setembro de 2019; (C) laranja ‘Pera Rio’
sendo comercializada nas ruas de Belém; (D) caminhão abastecido com tangerina, em Capitão
Poço, por atravessador, para comercialização no Maranhão, em julho de 2017.
PARTE III - OPORTUNIDADES PRODUTIVAS MAIS SUSTENTÁVEIS 419
Referências
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PARTE III - OPORTUNIDADES PRODUTIVAS MAIS SUSTENTÁVEIS 425
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Introdução
S
e tomarmos o termo tendência como a de seguir/fazer a preferência
por determinadas coisas, de pronto poderemos admitir que o
estado do Pará tem na cacauicultura uma forte base para o seu
desenvolvimento agrícola.
Desde essa primeira iniciativa, pelo menos mais cinco programas foram
implementados no estado do Pará. O último deles, ainda em vigor, trata-se
do Planejamento Estratégico 2012–2022 da Comissão Executiva do Plano
da Lavoura Cacaueira (Ceplac), cuja meta mais importante para o estado do
Pará é, até o final do programa, que o estado do Pará esteja produzindo algo
em torno de 233 mil toneladas de amêndoas secas de cacau (Mendes, 2018).
Indicadores gerais
A cacauicultura brasileira está distribuída nas regiões: Nordeste (Bahia),
Sudeste (Espírito Santo), Centro-Oeste (Mato Grosso) e Norte (Pará, Rondônia
e Amazonas). Mais recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) acrescentou em seus dados do Levantamento Sistemático
da Produção Agrícola (LSPA) os estados de Roraima e Minas Gerais. Na
Tabela 1, encontram-se os dados relativos ao ano de 2020 acumulados até
o mês de dezembro.
Essa área está sendo revisada a pedido da Ceplac, haja vista os números apontarem para
(1)
300.000 1.400
Produtores Área total (ha)
Área em desenvolvimento Área colhida (ha)
Produção Produtividade (kg/ha) 1.200
250.000
1.000
200.000
800
150.000
600
100.000
400
50.000 200
0 0
A Figura 1 mostra, ainda, que a cacauicultura paraense conta com uma área
em desenvolvimento já implantada da ordem de 40 mil hectares, o que
garante um volume adicional de no mínimo 40 mil toneladas de cacau à
produção nos próximos anos, independentemente de novos plantios. A
partir dessa área em desenvolvimento, estima-se que a produção de cacau
no estado do Pará deverá apresentar uma taxa de crescimento geométrico
médio de 6,9% nos próximos 4 anos.
Essa dinâmica teve como consequência a ausência cada vez mais marcante
do extensionista do campo, bem como a diminuição considerável de
projetos de pesquisa acionados para resolver os problemas do campo.
Um deles uso aqui como síntese global, haja vista que não se trata de um
problema exclusivo da cacauicultura paraense. Trata-se do artigo escrito
por Raquel Breitenbach e Alessandra Troian, Permanência e sucessão no
meio rural: o caso dos jovens de Santana do Livramento/RS, concordando
com sua tese de que o tema sucessão familiar na agricultura tem se
tornado central nas discussões relacionadas ao campo, assim como
as ações que vêm sendo desenvolvidas na busca em compreender as
dificuldades que circunscrevem o tema, principalmente em torno das
implicações que dificultam a permanência dos jovens no campo e a
adequada transição (especialmente de pai para filhos) de gestão dos
estabelecimentos agropecuários (Breitenbach; Troian, 2020). Uma
PARTE III - OPORTUNIDADES PRODUTIVAS MAIS SUSTENTÁVEIS 439
conclusão que tem sido recorrente é a de que essas soluções passam por
ações de cunho social e econômico.
Com essa premissa, qualquer que seja o rumo a ser tomado, não se
pode excluir o reconhecimento de que o fenômeno está umbilicalmente
ligado a um processo acelerado de envelhecimento da população rural,
sem alternativas de curto prazo para manter e melhorar as atividades de
transferência de tecnologias no campo, especialmente agora quando as
ferramentas para esse fim priorizam métodos digitais.
Esse erro gerencial por parte das famílias rurais faz com que muitos filhos só
assumam a propriedade, do ponto de vista gerencial, quando os pais morrem.
Nesses casos, o despreparo e, em alguns casos, a falta de identificação com o
negócio da família podem ocasionar uma inadequada gestão, culminando
com o insucesso e posterior negociação da propriedade.
Tendo por base essa realidade, algumas indicações para a mitigação das
dificuldades apontadas no meio rural podem ser acionadas, quais sejam:
i) estimular o conhecimento dos jovens, favorecendo seus ideais; ii)
implementar programas de Ater com oportunidade de trabalho para os
jovens; iii) fortalecer grupos locais e organizações de produtores; iv) estimular
encontros que propiciem a troca de experiências e socialização no campo;
v) incentivar a modernização no campo, por meio do uso de tecnologias
modernas, mais interativas e atualizadas com a era digital; vi) promover o
reconhecimento, pela sociedade rural, da importância da agricultura como
440 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Considerações finais
Especificando o caso do estado do Pará, em relação ao meio ambiente –
considerando apenas um dos serviços ambientais que a cacauicultura
disponibiliza –, não existe qualquer dúvida de que o sistema de cultivo
do cacaueiro é plenamente amigável às questões ambientais. São mais de
20 milhões de toneladas de carbono sequestrados pelos 200 milhões de
árvores que compõem esse sistema de cultivo (Mendes, 2014, 2018).
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ANÁLISE DA
PRODUÇÃO E
COMERCIALIZAÇÃO
DE AÇAÍ NO ESTADO
DO PARÁ, BRASIL
Geraldo dos Santos Tavares
Alfredo Kingo Oyama Homma
Antônio José Elias Amorim de Menezes
Marivaldo Palha Palheta
Introdução
O
crescimento do mercado de polpa de açaí a partir da década de
1990, facilitado pelo processo de beneficiamento e congelamento,
quadruplicou o consumo paraense da fruta, antes restrito ao período
da safra e da incorporação do mercado nacional e externo (Homma et al.,
2006a; Costa et al., 2017).
Existe certo ufanismo em torno da polpa do açaí que está sendo considerado
como exemplo para o desenvolvimento da Amazônia, justificando a ideia
da “floresta em pé”, com base na coleta extrativa. É interessante que não
enfatizam o guaranazeiro (Paullinia cupana), o cacaueiro (Theobroma
cacao), a seringueira (Hevea brasiliensis), o cupuaçuzeiro (Theobroma
grandiflorum), a pupunheira (Bactris gasipaes), entre outras plantas
da biodiversidade amazônica, muito cultivadas em outros locais, sem
considerar a especificidade de mercados, disponibilidade de tecnologia de
beneficiamento e plantio, dispersão, baixa produtividade da terra e da mão
de obra, logística dos produtos extrativos, entre outros.
Material e métodos
Há necessidade de aprimorar os dados oficiais sobre produção de açaí
extrativo, manejado e plantado e das estatísticas de exportação interestadual
e para outros países. Para essa pesquisa foram utilizados dados disponíveis
no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (Sidra, Censo Agrícola
2017 e LSPA), Secretaria da Fazenda do Estado do Pará (Sefa), ex-Ministério
de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Cooperativa Agrícola
Mista de Tomé-Açu (Camta), Ministério da Economia, Prefeitura Municipal
de Belém e Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da
Pesca do Pará (Sedap), das empresas beneficiadoras de fruto de açaí e de
produtores de açaí.
446 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Os dados foram avaliados com base na experiência dos autores com a cultura
do açaizeiro e de pessoas envolvidas no processo produtivo, comércio e
beneficiamento do fruto (Nogueira; Homma, 1998a, 1998b; Homma et al.,
2006a, 2006b, 2010; Santos et al., 2012).
Resultados e discussões
Nesta seção, procura-se comentar sobre a produção de frutos de açaí
extrativo, manejado e plantado e os aspectos sobre a comercialização de
fruto de açaí, que foi possível agrupar.
Continua...
PARTE III - OPORTUNIDADES PRODUTIVAS MAIS SUSTENTÁVEIS 447
Tabela 1. Continuação.
Área (ha) Quantidade (t)
2015 2016 2017 2018 2019 2015 2016 2017 2018 2019
Rondônia - - 253 277 268 - - 1.152 1.858 2.242
Maranhão - - 450 575 582 - - 526 742 751
Espírito
10 34 48 51 51 50 114 159 178 190
Santo
Tocantins - - 139 127 151 - - 930 100 839
Alagoas - 5 41 53 37 - 10 73 94 58
Fonte: IBGE (2019b).
Tabela 4. Continuação.
Estado e municípios 1990 2000 2010 2018 2019
Anajás 191 290 980 1.250 1.350
Curralinho 80 350 920 1.250 1.800
Baião 925 848 477 1.029 1.100
Portel 12 35 450 980 1.000
Barcarena 2.550 4.100 2.500 900 700
A série de dados para a coleta extrativa é muito mais antiga, está disponível
a partir de 1986 e exige cuidados na sua análise (Figura 1). O aumento
brusco da quantidade extraída de 3.256 t em 2010 para 89.480 t em 2011 no
estado do Amazonas é de difícil interpretação. Provavelmente, a valorização
dos frutos de açaí levou ao aumento das áreas manejadas de E. precatoria e
do plantio de E. oleracea, que levaram a promover a atualização dos dados
pela impossibilidade de criar uma categoria de cultivo permanente ou de
área manejada.
Figura 1. Produção extrativa (t) de açaí, considerando os três estados maiores produtores, no
período 1986–2018.
Fonte: IBGE (2019a).
Panorama do mercado
Comercialização de fruto, polpa e derivados
No período de 2015 a 2018, observa-se um incremento anual no valor e
volume de produtos derivados do açaí comercializado (Figura 2), indicando
existir uma tendência de crescimento para os próximos anos.
PARTE III - OPORTUNIDADES PRODUTIVAS MAIS SUSTENTÁVEIS 453
Figura 2. Volume e valor de produtos de açaí comercializados pelo estado do Pará no período
de 2015 a 2018 (venda interestadual + exportação) (R$ 1.000,00).
Fonte: Marivaldo Palheta (comunicação pessoal)1.
1
Comunicação pessoal dada por Marivaldo Palha Palheta, Técnico da Sefa, em 2019.
2
Idem.
454 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Alemanha, Angola, Argentina, Austrália, Bélgica, Canadá, China, Coreia do Sul, Dinamarca,
(1)
Emirados Árabes Unidos, Eslováquia, Estônia, França, Holanda, Inglaterra, Israel, Noruega,
Nova Zelândia, Peru, Porto Rico, Portugal, República Tcheca, Rússia, Singapura, Suécia, Suíça,
Taiwan, Uruguai.
Fonte: Tavares e Homma (2015).
3
Comunicação pessoal dada por Marivaldo Palha Palheta, Técnico da Sefa, em 2019.
PARTE III - OPORTUNIDADES PRODUTIVAS MAIS SUSTENTÁVEIS 455
Tabela 11. Destino das exportações de polpa de açaí e derivados pelo estado do
Pará, no período de 2016 a 2018.
2016 2017 2018
País Valor Participação Valor Participação Quantidade Valor Participação
(R$) (%) (R$) (%) (kg) (R$) (%)
Estados
37.432.270,21 55,77 87.711.129,60 79,38 6.784.672,37 84.619.780,83 66,50
Unidos
Rússia 3.207.752,23 2,90
Reino
948.551,50 1,41 3.005.433,09 2,72
Unido
Japão 9.557.904,68 14,24 2.995.997,26 2,71 623.442,86 7.030.408,20 5,52
Austrália 6.872.666,91 10,24 2.378.649,81 2,15 832.972,69 10.492.239,43 8,25
Alemanha 1.442.725,67 2,15 2.287.554.78 2,07 200.279,05 2.785.316,95 2,19
França 1.633.222,47 1,48 193.579,60 1.945.210,72 1,53
Coreia do
1.173.359,73 1,06
Sul
Cingapura 103.498,52 1.541.189,13 1,21
Países
1.147.194,33 1,04
Baixos
Porto Rico 2.676.966,32 3,99 107.971,20 2.401.950,20 1,89
Portugal 296.889,11 2.648.791,62 2,08
Uruguai 2.433.890,08 3,63 169.754,62 2.337.445,64 1,84
Chile 1.481.441,33 2,21 159.131,80 1.913.053,24 1,50
Demais
4.273.760,19 6,36 4.945.300.10 4,48 624.980,37 9.537.052,04 7,49
países(1)
Total geral 67.120.176,89 100,00 110.485.593,40 100,00 10.097.172,19 127.252.438,00 100,00
(1)
Em 2016 foram exportados para 30 países e em 2017 para 42 países.
Fonte: Marivaldo Palheta (comunicação pessoal).4
Da produção total do estado do Pará, estima-se que 60% são destinados para
o consumo local e 30% são comercializados para outros estados, sobretudo
São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará e Brasília. No período de 2014
a 2018, observa-se incremento crescente nas exportações, com queda em
2016, motivada pela retração da exportação para o mercado americano
(Figura 3), culminando com o ano de 2018 com mais de 127 milhões de reais.
5
Comunicação pessoal dada por Marivaldo Palha Palheta, Técnico da Sefa, em 2019.
PARTE III - OPORTUNIDADES PRODUTIVAS MAIS SUSTENTÁVEIS 457
A análise das Tabelas 14, 15 e 16, pelo novo mecanismo de cálculo adotado
pela Sefa, fornece um dado interessante. As exportações representaram
R$ 127.252.438,00, as vendas internas R$ 409.469.624,61 e o comércio
interestadual R$ 251.697.185,67, totalizando8R$9788.419.248,28. Como
as quantidades comercializadas (internas, interestaduais e exportadas)
constituem uma mistura de produtos, infere-se pelo valor que as exportações
atingiram 16,14%, as vendas internas 51,93% e as vendas interestaduais
31,92% em 2018 pelas indústrias de beneficiamento de açaí.
Tabela 14. Comercialização de açaí nas suas várias modalidades pelas indústrias
de beneficiamento no estado do Pará em 2018.
Quantidade Valor Preço médio
Produto
(kg) (R$) (R$/kg)
In natura (fruto) 159.452.582,48 322.724.600,14 2,02
Mix 1.545.472,46 26.187.173,40 16,94
Óleo 1.195,20 90.509,91 75,73
Açaí em pó 6.783,05 111.376,86 16,42
Polpa de açaí especial 1.725.238,53 14.176.639,78 8,22
Polpa de açaí indefinida 1.100.584,53 11.468.792,31 10,42
Polpa de açaí médio 6.567.066,55 28.055.028,91 4,27
Polpa de açaí popular 1.683.808,89 6.655.503,30 3,95
Total geral 172.082.731,69 409.469.624,61 2,38
Tabela 15. Exportação de açaí nas suas várias modalidades pelo estado do Pará
em 2018 pelas indústrias de beneficiamento.
Quantidade Valor Preço médio
Produto
(kg) (R$) (R$/kg)
Açaí em pó 106.583,02 4.087.183,97 38,35
Mix 4.573.027,67 57.191.542,35 12,51
Não especificado 4.060.402,09 49.710.891,41 12,24
Polpa açaí popular 16.854,00 124.061,50 7,36
Polpa de açaí especial 405.698,31 5.429.231,92 13,38
Polpa de açaí médio 934.607,10 10.709.526,85 11,46
Total 10.097.172,19 127.252.438,00 12,60
8
Comunicação pessoal dada por Marivaldo Palha Palheta, Técnico da Sefa, em 2019.
9
Idem.
460 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Conclusões
Considerando que apenas Estados Unidos e Japão polarizavam as
exportações, com drásticas mudanças nos últimos 3 anos, e que ainda não
10
Comunicação pessoal dada por Marivaldo Palha Palheta, Técnico da Sefa, em 2019.
PARTE III - OPORTUNIDADES PRODUTIVAS MAIS SUSTENTÁVEIS 461
Referências
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ALMEIDA, H. P.; HOMMA, A. K. O.; MENEZES, A. J. E. A. de; FILGUEIRAS, G. C.; FARIAS NETO, J. T.
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PARTE III - OPORTUNIDADES PRODUTIVAS MAIS SUSTENTÁVEIS 463
Introdução
E
ste capítulo decorreu da opinião de um dos revisores do livro quanto
à necessidade1de contextualizar uma proposta agrícola para a região
amazônica, para não ficar na vala comum de sugestões de políticas
públicas. Há necessidade de sair das discussões abstratas e passar para
propostas concretas para a região. Nesse sentido, procurou-se listar um
conjunto de tópicos que deveriam ser considerados para uma política de
desenvolvimento agrícola para a Amazônia.
Tabela 4. Participação dos pequenos produtores no valor total de produção, número de estabelecimentos agrícolas, área total
dos estabelecimentos, área de lavouras permanentes e temporárias, pastagens naturais, matas naturais e plantadas (2017).
Participação
dos pequenos Estabelecimentos Área total dos Lavouras Lavouras Pastagens Pastagens Matas Matas
Estabelecimentos
Estado produtores no agrícolas pequenos estabelecimentos permanentes temporárias naturais plantadas naturais plantadas
agrícolas
valor total da produtores (ha) (ha) (ha) (ha) (ha) (ha) (ha)
produção (%)
Acre 52,37 37.343 31.109 4.230.216 24.063 57.348 2.902 1.470.260 2.592.861 1.636
Amazonas 67,35 80.914 70.358 4.042.318 108.366 123.269 346.836 795.593 2.529.517 1.865
Amapá 57,14 8.507 6.984 1.506.294 21.233 43.463 387.292 62.342 896.203 56.906
Maranhão 25,69 219.765 187.118 12.233.613 109.820 1.250.326 1.057.114 4.645.134 4.348.858 252.044
Mato
6,45 118.676 81.635 54.830.819 105.244 9.684.623 4.038.736 18.995.877 20.682.060 196.663
Grosso
Pará 38,65 281.704 239.737 29.677.672 778.738 892.228 1.923.911 12.585.818 12.157.209 196.578
Rondônia 37,94 91.437 74.329 9.219.932 125.793 325.288 228.393 5.860.878 2.415.427 29.890
Roraima 32,94 16.850 13.103 2.624.880 35.119 71.558 663.576 447.016 77.293 42.906
Tocantins 16,94 63.691 44.955 14.857.426 172.006 1.007.384 2.379.039 6.019.023 4.703.391 84.543
Amazônia
918.887 749.328 133.223.170 1.480.382 13.455.487 11.027.799 50.881.941 50.402.819 863.031
Legal
Brasil 22,89 5.072.152 3.897.408 350.253.329 7.982.183 55.383.875 46.847.430 111.775.274 106.211.639 8.485.503
Para a recuperação de APP e ARL, uma opção de longo prazo é deixar essas
áreas degradadas em pousio, que seguirão a sequência de capoeirinha,
482 Sinergias de mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades
Conclusões
É praxe em dezenas de congressos, documentos e pronunciamentos
recomendar que a solução da Amazônia está em coleta extrativa, floresta
em pé, sistemas agroflorestais, venda de crédito de carbono e serviços
ambientais e bioeconomia, que ganhou um discurso triunfalista recente.
Referências
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acidentalmente ajudaram a transformar a Amazônia em uma arena política global. Revista
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PARTE III - OPORTUNIDADES PRODUTIVAS MAIS SUSTENTÁVEIS 487
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Rio Marapanim, próximo à Vila Matapiguara,
município de Marapanim, Pará.
Foto: Alfredo Homma
É lugar comum nos eventos sobre a Amazônia colocar como solução
bioeconomia, floresta em pé, coleta extrativa, venda de créditos de carbono e
de serviços ambientais e sistemas agroflorestais, com atenção voltada para
populações indígenas, quilombolas, ribeirinhos e “agricultura familiar”. A
proposta em si carrega um surrealismo econômico atemporal, como se fosse
possível essa mudança abrupta e feita com um estalar de dedos, do
desconhecimento do mercado, das peculiaridades locais, entre outros. São
contra grãos, pecuária, reflorestamento, dendezeiro, entre outros, que não são
considerados nas propostas e que representam importantes forças produtivas
da economia regional.
As soluções para reduzir desmatamentos e queimadas e melhorar a
qualidade de vida dos pequenos produtores na Amazônia exigem
investimentos, sobretudo no desenvolvimento de novas alternativas
tecnológicas e econômicas e de extensão rural. Não existe solução mágica para
a região, leva tempo e exige persistência. Perante o grande número de
pequenos produtores envolvidos, há necessidade de direcionamento
econômico voltado para o social, de desvinculação política do desmatamento e
da mudança climática.
A redução do desmatamento será obtida primeiro com a sua
neutralização (desmatamento = reflorestamento + recuperação do passivo
ambiental das APP e ARL + plantio de cultivos perenes), para então começar a
ter um saldo positivo no crescimento da cobertura florestal.
CGPE 017476