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Apostila AnaliseCriminal
Apostila AnaliseCriminal
MJ
BRASÍLIA
2017
3
Presidente da República
Michel Temer
Secretário Executivo
José Levi Mello do Amaral Júnior
Coordenadora-Geral de Ensino
Ana Paula Garutti da Silva
4
Ministério da Justiça e Segurança Pública
Secretaria Nacional de Segurança Pública
MJ
BRASÍLIA
2017
5
© 2017 Secretaria Nacional de Segurança Pública
Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução total ou parcial desta obra, desde que seja citada a fonte
e não seja para venda ou qualquer fim comercial.
Esplanada dos Ministérios, Bloco T, Palácio da Justiça, Edifício Sede, 5º andar, Brasília-DF, CEP 70.064-900
Equipe Responsável
Coordenadora-Geral de Ensino
Ana Paula Garutti da Silva
Ministério da Justiça
Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP
Créditos da 1ª versão
Andrea de Oliveira Macedo – Mestre em Sociologia pela UnB
Profa. Betânia Totino Peixoto – Professora da UFMG/CEDEPLA
Prof. Marcelo Ottoni Durante – Professor Adjunto da Universidade de Viçosa
6
Câmara Técnica
Antônio Casado de Farias Neto - SENASP
Bernadete Cordeiro - Consultora Pedagógica
Cristiane do Socorro Loureiro Lima
Elias Milaré Junior - Benner
Gustavo Camilo Batista
Rafael Rodrigues de Sousa
Vinicius Augusto de Mattos L Soares
Roteirização
Kátia Roseane Cortez dos Santos - Benner
Vinícius dos Santos Villa - Benner
Ilustração e Design
Frank Paris - Benner
Johnny Santos Oliveira - Benner
Programação
Jhonatan Edi Mervan Carneiro - Benner
Jorge Ferreira Junior - Benner
7
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca do Ministério da Justiça
8
Sumário
APRESENTAÇÃO ....................................................................................................................................................................................... 13
Objetivos do Curso.................................................................................................................................................................................. 14
Estrutura do Curso................................................................................................................................................................................... 14
MÓDULO 1 ........................................................................................................................................................... 16
Apresentação ............................................................................................................................................................................................... 16
Objetivos do módulo ................................................................................................................................................................................ 16
Estrutura do módulo ................................................................................................................................................................................. 16
Aula 1 – A análise criminal e seu campo de aplicação ......................................................................................................... 16
1.1 Dimensões do campo de aplicação ........................................................................................................................................16
1.2 Definição ...........................................................................................................................................................................................17
Aula 2 – A análise criminal frente à nova perspectiva de policiamento ..................................................................... 17
2.1 Nova perspectiva............................................................................................................................................................................17
2.2 O trabalho do analista criminal ................................................................................................................................................18
Aula 3 – Análise criminal X Alocação de recursos .................................................................................................................. 20
Aula 4 – Focalização das ações e o trabalho da análise criminal .................................................................................... 21
41. A dinâmica de trabalho do analista criminal .......................................................................................................................21
4.2 A focalização das ações ...............................................................................................................................................................21
Aula 5 – Vertentes básicas................................................................................................................................................................... 22
5.1 Vertentes da produção de conhecimento para segurança pública ............................................................................22
Exercícios ....................................................................................................................................................................................................... 25
Gabarito ......................................................................................................................................................................................................... 26
MÓDULO 2 ................................................................................................................................................................................................... 28
Apresentação ............................................................................................................................................................................................... 28
Objetivos do módulo ................................................................................................................................................................................ 28
Estrutura do módulo ................................................................................................................................................................................. 28
Aula 1 – Métodos de abordagem ..................................................................................................................................................... 29
1.1 Abordagem e técnicas de análise ............................................................................................................................................29
1.2 Vantagens e limitações das técnicas de análise .................................................................................................................29
1.3 Métodos e técnicas X Aplicações .............................................................................................................................................32
Aula 2 – Contrução de um questionário ...................................................................................................................................... 32
2.1 Definição e relação com a pesquisa .......................................................................................................................................33
2.2 Elaboração de um questionário ...............................................................................................................................................33
2.3 Contexto social da aplicação do questionário ....................................................................................................................34
2.4 Estrutura lógica do questionário ..............................................................................................................................................34
2.5 A estrutura do questionário .......................................................................................................................................................35
9
2.6 As perguntas ....................................................................................................................................................................................35
2.7 Aspectos a serem observados...................................................................................................................................................36
2.8 Problemas que devem ser evitados ........................................................................................................................................36
2.9 Escala de respostas........................................................................................................................................................................37
Aula 3 – Fontes de dados ..................................................................................................................................................................... 38
3.1 Fontes de dados .............................................................................................................................................................................39
3.2 SINESP – Sistema Nacional de Estatísticas em Segurança Pública .............................................................................40
3.3 Fontes alternativas de informação ..........................................................................................................................................41
Exercícios ....................................................................................................................................................................................................... 44
Gabarito ......................................................................................................................................................................................................... 45
MÓDULO 3 ........................................................................................................................................................... 46
Apresentação ............................................................................................................................................................................................... 46
Objetivos do módulo ................................................................................................................................................................................ 46
Estrutura do módulo ................................................................................................................................................................................. 46
Aula 1 – Conceitos básicos .................................................................................................................................................................. 47
1.1 Estatística e análise estatística criminal .................................................................................................................................47
1.2 Conceitos básicos ..........................................................................................................................................................................47
1.3 Fluxo de execução da análise estatística...............................................................................................................................48
Aula 2 - Séries estatísticas .................................................................................................................................................................. 48
2.1 O que é uma série estatística? ..................................................................................................................................................48
Aula 3 – Apresentação dos dados.................................................................................................................................................... 51
3.1 Construção de tabelas..................................................................................................................................................................51
3.2 Construção de gráficos ..................................................................................................................................................................... 52
Aula 4 – Estatística descritiva ............................................................................................................................................................ 54
4.1 Parâmetros para descrição dos dados ...................................................................................................................................54
Aula 5 – Análise de regressão............................................................................................................................................................ 65
5.1 Origem ...............................................................................................................................................................................................65
5.2 Objetivos da regressão ................................................................................................................................................................66
Exercícios ....................................................................................................................................................................................................... 67
Gabarito ......................................................................................................................................................................................................... 69
MÓDULO 4 ........................................................................................................................................................... 70
Apresentação ............................................................................................................................................................................................... 70
Objetivos do módulo ................................................................................................................................................................................ 70
Estrutura do módulo ................................................................................................................................................................................. 70
Aula 1 – Estatística espacial: conceitos básicos ....................................................................................................................... 70
1.1 Geoprocessamento .......................................................................................................................................................................70
1.2 Coleta de dados georeferenciados .........................................................................................................................................71
10
1.3 Coordenadas geográficas ...........................................................................................................................................................71
Aula 2 – Projeções cartográficas ...................................................................................................................................................... 72
2.1 Projeções cartográficas ................................................................................................................................................................72
2.2 Tipos de projeções ........................................................................................................................................................................72
Aula 3 – Escala cartográfica ................................................................................................................................................................ 73
3.1 O que é uma escala cartográfica..............................................................................................................................................73
3.2 Formas de escala cartográfica ...................................................................................................................................................73
Aula 4 – Construção de mapas no Sistema de Informação Geográfica (SIG)............................................................ 74
4.1 Representações de objetos geográficos ...............................................................................................................................74
Exercícios ....................................................................................................................................................................................................... 78
Gabarito ......................................................................................................................................................................................................... 80
MÓDULO 5 ........................................................................................................................................................... 81
Apresentação ............................................................................................................................................................................................... 81
Objetivos do módulo ................................................................................................................................................................................ 81
Estrutura do módulo ................................................................................................................................................................................. 81
Aula 1 – Contribuições das ciências sociais para a análise criminal ............................................................................. 82
1.1 Abordagem ecológica do crime ...............................................................................................................................................82
1.2. O objetivo da abordagem ecológica do crime.............................................................................................................82
1.3 Correntes teóricas ....................................................................................................................................................................82
Aula 2 – Exemplos de gestão de políticas e ações de segurança pública ................................................................... 83
Aula 3 – Problemas comuns na análise de dados ................................................................................................................... 85
Aula 4 – Estrutura do relatório de análise criminal ............................................................................................................... 89
4.1 Definição .....................................................................................................................................................................................89
4.2 A Estrutura do relatório de análise criminal ..................................................................................................................89
Exercícios ....................................................................................................................................................................................................... 91
Gabarito ......................................................................................................................................................................................................... 93
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................................................................... 94
11
12
APRESENTAÇÃO
Bons estudos!
Segundo alguns autores há três tipos de mentiras sobre a estatística: as mentiras, as mentiras sérias e as
estatísticas. Veja algumas delas:
“Se torturarmos os dados por bastante tempo, eles acabam por admitir qualquer coisa.”
O historiador Andrew Lang disse que algumas pessoas usam a estatística “como um bêbado utiliza um
poste de iluminação – para servir de apoio e não para iluminar”.
Estas são algumas das perguntas que servirão de base para os seus estudos sobre o tema em questão.
As principais razões para a produção de impressões distorcidas da realidade a partir das estatísticas são:
O uso de pequenas amostras.
Distorções deliberadas.
Perguntas tendenciosas.
A elaboração de gráficos enganosos.
Pressões políticas.
Este curso tem como propósito a construção de um alicerce que amplie a formação de analistas criminais
no Brasil. Dessa forma, a perspectiva é contribuir para que novos conteúdos relacionados às modernas técnicas
de análise sejam agregados em futuro próximo.
Aqui você estudará os conceitos básicos da análise estatística que fundamentam o processo de análise
criminal.
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Objetivos do Curso
Ao finalizar o curso, você será capaz de:
Reconhecer a importância da análise criminal;
Descrever os principais conceitos e aplicações da estatística criminal;
Identificar as técnicas e instrumentos que possibilitam a coleta de informações;
Aplicar os conceitos básicos relacionados à estatística para compreender melhor as técnicas
utilizadas na análise criminal; Identificar os diferentes tipos de mapas, relacionando-os às suas
informações; Compreender os elementos conceituais e metodológicos necessários para a ope-
racionalização da análise criminal.
Identificar os diferentes tipos de mapas relacionando às informações que reúnem;
Compreender os elementos conceituais e metodológicos necessários para a operacionalização
da análise criminal.
Estrutura do Curso
O curso está dividido nos seguintes módulos:
Módulo 1 – Por que fazer análise criminal?
Módulo 2 – Coleta de informações
Módulo 3 – Análise Estatística Criminal
Módulo 4 – Sistemas de Informação Geográfica
Módulo 5 – Operacionalização da análise criminal
Bom curso!
14
15
MÓDULO POR QUÊ FAZER ANÁLISE CRIMINAL?
1
Apresentação
Seja bem-vindo(a) ao primeiro módulo deste curso!
Neste módulo, você estudará a importância da análise criminal frente à nova perspectiva de policiamento
e a sua contribuição para a gestão das ações de segurança pública.
Objetivos do módulo
Ao final do módulo, você será capaz de:
Definir análise criminal e identificar as contribuições para a gestão da segurança pública;
Compreender os aspectos relacionados à nova perspectiva de policiamento e a importância do
foco nas ações de análise criminal; e
Classificar a produção de conhecimento em segurança pública de acordo com as vertentes
utilizadas.
Estrutura do módulo
O conteúdo deste módulo está dividido nas seguintes aulas:
Aula 1 – A análise criminal e seu campo de aplicação
Aula 2 – A análise criminal frente à nova perspectiva de policiamento
Aula 3 – Análise criminal X alocação de recursos
Aula 4 – Focalização das ações da análise criminal
Aula 5 – Vertentes básicas
1.2 Definição
A definição de análise criminal abrange muito mais que um simples traçado de gráficos, tabelas
e mapas. Constitui-se no uso de uma coleção de métodos para planejar ações e políticas de
segurança pública, obter dados, organizá-los, analisá-los, interpretá-los e deles tirar
CONCLUSÕES.
A realização da análise criminal envolve, principalmente, o uso de métodos estatísticos, por meio
dos quais tratam as informações para tentar conhecer as causas que determinam o fenômeno da
segurança pública, buscando identificar, no resultado final, quais influências cabem a cada uma
dessas causas.
O modelo atual de alocação eficiente dos gastos públicos cria a necessidade de repensar a forma como
a segurança pública é feita. Os profissionais dessa área devem se questionar sobre os resultados esperados de
sua atividade profissional, assim como sobre a forma de agir para cumprirem essa expectativa: como fazer mais
com menos recursos?
Para responder a questão levantada no slide anterior – como fazer mais com menos recursos? – é preciso
passar da reação para a ação. Ao invés de apenas reagir diante de uma cadeia de incidentes, a principal
estratégia para quebrar esse ciclo é a execução de ações preventivas para a criação de ambientes seguros.
Importante!
Essa é a nova perspectiva que contrasta com a forma tradicional de pensar policiamento. A atitude mais
comum é o pronto atendimento à vítima, mas dessa forma, o alcance de resultados depende somente do
aumento do efetivo e da compra de armas e viaturas.
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Escolha a opção a ser utilizada com base em uma relação de custo e benefício, pautada no alcance
de resultados.
Observa-se uma mudança na lógica de gestão, pois o objetivo prioritário deixa de ser apenas a solução
dos crimes que já ocorreram e passa a ser a manutenção de um ambiente social onde não ocorra nenhum
crime, as pessoas possam andar nas ruas tranquilamente e a sensação de segurança seja compartilhada por
todos e todas, independentemente de suas características culturais, econômicas e naturais.
Importante!
O bom analista criminal não espera uma demanda de informação para iniciar seu trabalho.
Espontaneamente, ele passa todo seu tempo de trabalho buscando identificar problemas que devem ser
resolvidos, avalia as principais causas do problema para identificar as respostas com o maior potencial de
efetividade e traça um projeto de execução que sempre parte da diretriz que é preciso aprender com os
resultados alcançados, quer sejam positivos ou negativos.
Outro importante ponto a ser destacado no trabalho do analista criminal é a existência, entre esses
profissionais, de uma concepção modesta sobre a importância do seu trabalho, visto sempre como um trabalho
de bastidores. É preciso repensar essa concepção.
O analista criminal tem importância fundamental na garantia do sucesso do trabalho dos órgãos de
segurança pública, pois tem influência direta sobre o processo de tomada de decisão, assim como sobre a
forma de resolver o problema.
Mais que uma fonte de informações, o analista criminal deve assumir o papel de conselheiro. Mais que
um técnico especialista em análise de dados, o analista criminal deve agir como um pesquisador que visa trazer
as melhores contribuições possíveis da ciência para o aperfeiçoamento do trabalho policial.
No quadro funcional dos órgãos de segurança pública, o analista criminal é a pessoa com maior
conhecimento sobre o processo de produção e coleta de informações, a análise de dados e sobre a avaliação
de resultados. Além disso, é a pessoa com maior capacidade de encontrar fontes alternativas de dados e
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relatórios que podem ser utilizados para dar sustentação e aperfeiçoar as análises a serem empreendidas e as
conclusões a serem alcançadas.
A importância do trabalho do analista criminal foi demonstrada em uma pesquisa sobre a efetividade
das estratégias de ação policial desenvolvida nos Estados Unidos, em 2003.
Veja na Fgura 1 um quadro de avaliação de resultados de diferentes estratégias de policiamento. As
estratégias selecionadas pela pesquisa foram distribuídas considerando dois eixos principais: a focalização do
objeto alvo da ação (eixo horizontal) e a ampliação do conjunto de estratégias de policiamento utilizadas
(eixo vertical).
A partir da Figura 1, percebe-se que a perspectiva restrita apenas ao reforço da lei foi trocada por uma
perspectiva mais abrangente que inclui uma aproximação da polícia com a comunidade, além da realização de
ações sociais.
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Observe que, no contexto da estratégia tradicional, a focalização é baixa e a estratégia envolve apenas
o reforço da lei (perspectiva jurídica).
A pesquisa conclui que não existem evidências empíricas de um resultado efetivo das ações em relação
à redução da incidência criminal. Por outro lado, no policiamento orientado para o problema (Clarke & Eck,
2007), marcado pela focalização da ação e pelo uso de um conjunto diversificado de estratégias orientadas para
a solução dos problemas abordados, a pesquisa identificou fortes evidências empíricas de um resultado efetivo
em relação à redução da incidência criminal.
O policiamento orientado para o problema tem como principal estratégia de intervenção a promoção
de mudanças nas condições que fazem do crime um problema repetitivo. Ele apresenta um grande avanço em
relação à estratégia tradicional de policiamento, pois objetiva um resultado mais efetivo do que o alcançado
pelas respostas reativas aos incidentes e pelas patrulhas policiais preventivas.
Nesta aula, você viu vários aspectos sobre o trabalho do analista criminal frente à nova perspectiva de
policiamento!
Vamos prosseguir para a próxima aula?
SAIBA MAIS...
Antes de prosseguir, leia o texto em anexo: Recorte 1: “A análise criminal contribuindo para mudanças
na política nacional.”, que está nos anexos do curso.
Nota: Há na REDE EAD um curso de Policiamento Orientado para o Problema. Matricule-se para o
próximo ciclo, caso ainda não tenha cursado.
21
4.2.1 A valorização de uma perspectiva local de ação
Ao focalizar uma perspectiva mais local, o analista criminal faz com que sua instituição seja mais bem
informada, eficiente e capaz de usar seus recursos para reduzir o crime.
A perspectiva local atribui ao analista criminal maior capacidade para investigar e identificar as causas
do problema abordado.
Essa orientação do trabalho numa perspectiva local propõe que o analista:
Converse com os policiais sobre como eles concebem seu trabalho; participe diretamente de atividades
desenvolvidas pelos órgãos de segurança pública; troque informações com profissionais das empresas de
segurança privada; crie uma rede com analistas criminais das regiões vizinhas; colete informações diretamente
com agressores e vítimas; e busque contribuir para aprimorar os processos de coleta de informação.
Importante!
Cada tipo criminal específico tem causas particulares e recomenda-se que as intervenções sejam
focalizadas em cada um deles separadamente.
Parabéns, você está quase no fim deste módulo! Vamos prosseguir para a última aula?
Exemplificando...
Se o analista identifica que o fenômeno criminal apresenta uma tendência ascendente, essa informação
será utilizada para formular e determinar prioridades das ações dos operadores do sistema de segurança pública.
Finalizando...
Parabéns! Você finalizou este módulo!
Agora, para fixar o conteúdo é importante que você realize os exercícios propostos a seguir.
No próximo módulo você aprenderá sobre:
A descrição dos métodos de abordagem;
A enumeração dos aspectos que devem ser observados na construção de um questionário; e
A identificação das fontes de dados e informações de segurança pública.
Bons estudos!
24
Exercícios
Com base nos conhecimentos adquiridos no módulo 1, realize as atividades propostas a seguir.
3. A produção do conhecimento de gestão em segurança pública pode ser classificada segundo três
vertentes. Considerando estas vertentes, associe a 2ª coluna de acordo com a 1ª:
(1) Análise criminal estratégica (ACE)
(2) Análise criminal tática (ACT)
(3) Análise criminal administrativa (ACA)
( ) Trata da atividade de produção do conhecimento voltada para o estudo dos fenômenos e suas
influências em médio prazo.
( ) Trata da atividade de produção do conhecimento voltada para o público-alvo.
( ) Trata da atividade de produção do conhecimento voltado para o estudo dos fenômenos e suas
influências no longo prazo.
25
Gabarito
26
27
MÓDULO COLETA DE INFORMAÇÕES
2
Apresentação
Neste módulo, você estudará alguns dos métodos de abordagem dos fenômenos sociais que podem ser
utilizados para a elaboração de diagnósticos sobre a situação da segurança pública e monitoramento de
resultados das ações e políticas.
Cabe destacar que um método não exclui o outro. Muitas vezes é preciso combiná-los, pois cada um
possui vantagens e limitações; a combinação possibilita que se complementem.
Objetivos do módulo
Ao final do módulo, você deverá ser capaz de:
Descrever os métodos de abordagem;
Enumerar os aspectos que devem ser observados na construção de um questionário; e
Identificar as fontes de dados e informações de segurança pública.
Estrutura do módulo
28
Aula 1 – Métodos de abordagem
2. Criação de situações artificiais e observação do comportamento antes das tarefas definidas para
as situações.
Avaliação de impacto (laboratório).
Análise de conteúdo
Alguns tópicos de pesquisa são suscetíveis ao exame sistemático de documentos, como romances,
poemas, publicações governamentais, músicas, boletins de ocorrências etc. As informações trazidas pelos
documentos são sistematizadas, buscando a existência de semelhanças.
As principais desvantagens desta técnica são:
O tipo de documento selecionado para o exame pode não ser a medida mais apropriada da
questão ou fenômeno a ser estudado.
A análise dos documentos sempre envolve um espaço de arbitrariedade.
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Estudo de caso
O estudo de caso envolve a descrição e explicação abrangente dos muitos componentes de uma
determinada situação social.
Num estudo de caso, você busca coletar e examinar o máximo de informações possíveis sobre o tema.
Se o estudo é sobre a comunidade, você aborda a sua história, seus aspectos religiosos, políticos, econômicos,
geográficos, sua composição racial etc.
Em resumo, você procura a descrição mais abrangente e tenta determinar as inter-relações lógicas
dos seus vários componentes.
Enquanto a maioria das pesquisas busca diretamente o conhecimento generalizado, o estudo de caso
busca o conhecimento abrangente de um só caso. Dessa forma, o conhecimento produzido não é
necessariamente generalizável.
Se o estudo de caso é realizado pelo pesquisador que é participante no evento ou grupo social estudado,
este é denominado de Estudo de Caso com Observação Participante.
Na prática, como observador participante, o pesquisador pode ou não se revelar como tal. Essa decisão
tem importantes implicações metodológicas e éticas. O pesquisador que admitir que esteja realizando um
estudo pode afetar diretamente o fenômeno que pretende estudar.
Por outro lado, a não identificação do pesquisador pode ter implicações éticas relativas ao engano. Como
estudo de caso, a observação participante busca colher informações muito detalhadas.
A grande desvantagem desse método é que o pesquisador dificilmente consegue manter
procedimentos sistemáticos de pesquisa.
Avaliação de impacto
A avaliação de impacto procura determinar os resultados das ações e políticas. Para mensurar esses
resultados, não basta olhar o objeto de análise e ver o que aconteceu com ele depois da aplicação da política.
Para garantir que as mudanças observadas são resultantes da política empreendida, é preciso comparar
o grupo em que ela foi implementada – chamado de tratado – com um grupo similar que não a experimentou
– chamado de controle.
30
TRATADO: Grupo em que foi implementada a política.
CONTROLE: Grupo similar em que não foi implementada a política.
Quando se está trabalhando com experimento aleatório, também chamado de experimento puro, é
bastante simples medir o impacto.
Os experimentos aleatórios são aqueles em que os “tratados” e “controles” são escolhidos de forma
aleatória na população. Esse tipo de estudo é muito usado na medicina para testes de remédios.
Das pessoas inscritas para o teste são selecionados dois grupos de forma aleatória, por sorteio.
Para um grupo é distribuído o placebo (grupo controle) e para o outro grupo é dado o remédio (grupo
tratado). Depois do tratamento, compara-se a condição de saúde dos dois grupos.
Se o grupo tratado apresenta melhor condição de saúde de que o grupo controle, o remédio tem
resultado positivo. Caso contrário, o remédio não tem resultado.
PARA REFLETIR...
Sendo o objetivo fazer uma política de prevenção à criminalidade em áreas de alta periculosidade da
cidade, como escolher uma área que não vai receber essa política?
Normalmente, as ações e políticas têm desenhos não aleatórios e as avaliações devem buscar desenhos
não experimentais, denominados por avaliações de estudos observacionais ou quase-experimentais.
A implicação do desenho não experimental para a avaliação do impacto é que o “controle” não pode ser
comparado diretamente com o “tratado”, pois os atributos de ambos não são, necessariamente, equivalentes.
Para fazer essa comparação é necessário que se apliquem técnicas estatísticas que tornam o “controle”
equivalente ao tratado.
Existem várias técnicas para isso, as mais usadas são “pareamento com escore de propensão” e
“diferenças em diferenças”. Neste curso não serão tratadas essas técnicas, pois exigem um conhecimento
avançado em estatística. Para mais detalhes, veja Ravallion (2001; 2005) e Heckman et al. (1998).
Survey
Um survey é realizado quando se pretende construir enunciados sobre uma população, isto é, descobrir
a distribuição de certos traços e atributos, avaliar o impacto de alguma política ou ação etc.
Para que seja viável, em termos técnicos e econômicos, a pesquisa é realizada em uma amostra
cientificamente selecionada da população, de forma a representá-la. Essa seleção científica da amostra
permite a extrapolação dos resultados encontrados para a população, ou seja, se a amostra é composta por 50%
de homens, pode-se extrapolar o resultado dizendo que nossa população é composta de 50% de homens.
31
A coleta de informações envolve sempre a aplicação de um questionário, que deve priorizar a construção
de questões com respostas fechadas, retirando ao máximo a possibilidade de respostas abertas em formato de
texto. Assim, esses instrumentos de coleta de informação favorecem o uso de técnicas quantitativas para análise
dos dados.
32
Olá!
Na aula anterior você conheceu os três métodos de abordagem dos fenômenos sociais e também
estudou sobre as várias técnicas de análise de tais fenômenos.
Dando sequência ao conteúdo deste módulo, agora você aprenderá a construir um questionário.
Preparado(a)?
Vamos lá!
O que é um questionário?
Um questionário pode ser definido como um:
conjunto de perguntas sobre um determinado tópico que não testa a habilidade do respondente,
mas mede sua opinião, seus interesses, aspectos de personali- dade e informação biográfica.
(YAREMKO et al., 1986).
O objetivo de uma pesquisa determina a forma do questionário e a maneira da sua aplicação por meio
dos conceitos e da população-alvo.
33
A interação pode ocorrer no âmbito de uma entrevista presencial, na qual os dois atores são colocados
frente a frente numa relação de entrevistador e entrevistado, ou no âmbito da resposta a um questionário
encaminhado, por exemplo, via e-mail ou correio, no qual ocorre uma interação entre os dois atores pela
apresentação do questionário (na maneira como as questões foram escritas, no agradecimento pela
disponibilidade de responder ao questionário, dentre outros fatores). Ou seja, mesmo no preenchi- mento de
um questionário, ocorre uma entrevista, mas nesse caso, a relação entre entrevistado e entrevis- tador é
mediada pelo questionário.
Muitas pessoas participam de pesquisas por se sentirem importantes em ter sua opinião valori- zada ou
pela oportunidade de falar e serem ouvidos. Comunicar resultados e/ou facilitar o acesso a eles é outra forma
importante de recompensar os respondentes.
2.6 As perguntas
As perguntas iniciais servem para estabelecer um relacionamento de confiança entre respondente e
pesquisador. Nunca se deve começar o questionário por perguntas burocráticas (nome, sexo, idade, renda
familiar etc.), pois essas questões só terão respostas autênticas quando o respondente desenvolver certo grau
de confiança no entrevistador.
As perguntas burocráticas devem ser inseridas sempre no final do questionário. Cabe destacar também
que perguntar o nome no início da entrevista contradiz qualquer afirmação sobre o caráter confidencial da
entrevista.
Quais são as características de uma boa pergunta?
Uma boa pergunta é aquela que gera respostas fidedignas e válidas e, por essa razão, devem
apresentar algumas características básicas:
A pergunta precisa ser compreendida e comunicada consistentemente;
35
As expectativas quanto às respostas precisam ser explicitadas para os respondentes;
Os respondentes devem ter todas as informações necessárias para a resposta; e
Os respondentes precisam estar dispostos a responder.
Linguagem
Quanto à linguagem usada na formulação das perguntas, é preciso ficar sempre atento à população-alvo
da pesquisa. A compreensão da linguagem utilizada pode mudar de acordo com o público.
Abreviações, gírias ou termos regionais, termos especiais ou sofisticados devem ser evitados.
Há dois problemas nos questionários relacionados à linguagem. São eles:
Importante!
Uma vez que as questões estiverem elaboradas, pergunte-se:
O respondente está entendendo o que o entrevistador quis perguntar?
O enunciado da pergunta induz a resposta de alguma forma?
36
Outro problema diz respeito ao entrevistado fornecer respostas falsas às perguntas. Um dos motivos é
que o respondente pode ter algo a esconder ou não saber como responder. Por fim, se o respondente não
lembrar de alguma resposta, o entrevistador não deve deixá-lo constrangido. É preciso frisar que as perguntas
não constituem em um teste e que é natural não ter respostas para todas as perguntas.
A Escala Nominal utiliza símbolos ou números somente para identificar as pessoas, objetos ou
categorias. Por exemplo, o gênero, estado civil ou atributos como cor de cabelo, uso de bengala e existência de
tatuagem.
Mesmo para as medições em escala nominal, é preciso se preocupar em estabelecer um bom
relacionamento com o respondente.
Exemplo: A frase “Qual o estado civil de V.Sa?” soa melhor do que solicitar simplesmente “Estado civil”.
Dependendo da população-alvo e do objetivo da pesquisa, um maior ou menor número de alternativas
é apropriado.
Exemplos: A raça pode ter como categoria apenas: (a) brancos e (b) não brancos OU (a) brancos, (b)
negros, (c) pardos, (d) indígenas, (e) asiáticos e (f) outros.
Lembre-se!
O importante é que as opções sejam mutuamente exclusivas e cubram todas as alternativas.
Na Escala Ordinal, além de se identificarem as pessoas, objetos ou categorias, ocorre uma ordenação
desses elementos. Por exemplo, a hierarquização da percepção de níveis de violência entre diferentes locais de
uma cidade, status social ou ordem de chegada em uma competição.
Uma técnica de mensuração muito utilizada nas ciências sociais para levantar atitudes, opiniões e
avaliações é a construção de escalas Likert. Nela, o respondente avalia um fenômeno numa escala de,
geralmente, cinco alternativas.
O conteúdo das alternativas varia de acordo com o tema abordado na pergunta. Um ponto interessante
na utilização de escalas é a decisão quanto ao uso de número par ou ímpar de alternativas, pois o uso de um
número ímpar de alternativas indica que se criou um ponto neutro no meio da escala, ou seja, foi aberto
espaço para o entrevistado expor uma posição neutra sobre o tema abordado.
37
Independentemente do número de alternativas, é importante que as opções estejam balanceadas, isto
é, as direções opostas de respostas devem possuir o mesmo número de opções.
Veja abaixo dois exemplos de perguntas na escala ordinal.
a) Em termos gerais, o quão satisfeito você está com as suas condições de trabalho?
1. Bastante satisfeito
2. Muito satisfeito
3. Pouco satisfeito
4. Nada satisfeito
b) O quão seguro, você se sente ao andar sozinho pelas ruas na região onde reside ao anoitecer?
1. Muito seguro
2. Razoavelmente seguro
3. Nada seguro
Neste módulo você estudou as três abordagens dos fenômenos sociais e suas respectivas técnicas de
análise.
Além disso, você também aprendeu a construir questionários de forma apropriada. Agora, na próxima
aula, você estudará sobre as fontes de dados.
Vamos lá!
O uso científico das informações de segurança pública e de justiça criminal para a gestão de políticas
envolve não apenas informações específicas dessa área, mas também informações socioeconômicas e urbanas
necessárias para se contextualizar a sua situação.
Essa contextualização permite, por exemplo, identificar as causas sociais dos fenômenos de segurança
pública e também aperfeiçoar a visão sobre o resultado alcançado. Possibilita, ainda, verificar se as mudanças
que ocorrem na segurança pública têm também outras condições além da atuação dos órgãos dessa área.
38
Do ponto de vista da pesquisa social, há um consenso de que apenas as informações administrativas de
agências de segurança pública e justiça criminal não são suficientes para a compreensão dos fenômenos
relacionados à incidência criminal ou à violência.
Para uma visão efetivamente compreensiva dos fenômenos relacionados a tal problemática, como
enfatiza Kahn (2002), é necessário atentar para as condições gerais de vida da população.
3.1.1 Características e limitações dos registros das polícias militares e das polícias civis
Polícia Militar: Os registros da Polícia Militar incluem crimes e ocorrências diversas, mas não
abrangem o conjunto total de crimes e, portanto, não podem ser usados como base exclusiva de
um sistema de informação criminal. O grande problema dessa base de dados está relacionado à
subnotificação dos crimes, ou seja, muitos indivíduos não reportam os crimes à polícia.
Polícia Civil: A Polícia Civil praticamente só registra crimes, mas deixa de registrar uma ampla
gama de incidentes que perturbam a segurança pública e não chegam a constituir crime. Um dos
grandes problemas dessa base de dados também é a subnotificação dos crimes. Por causa das
características dos dados gerados pelas polícias e suas limitações, muitas vezes são necessárias
fontes alternativas de informações.
39
3.2 SINESP – Sistema Nacional de Estatísticas em Segurança Pública
Desde o ano de 2004, a Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça, vem
despendendo esforços para a concretização de uma base nacional de dados e informações de segurança pública,
com o apoio dos entes federados, órgãos federais e estaduais, instituições de segurança pública, profissionais
em segurança pública, pesquisadores e demais parceiros.
Uma grande ação foi a criação do Sistema Nacional de Estatísticas de Segurança Pública e Justiça Criminal
– SINESPJC, implantado em 2004, com o módulo Polícia Civil e posteriormente com o módulo Polícia Militar em
2006. Este sistema teve como principal objetivo iniciar o processo informatizado de coleta de dados estatísticos
junto das 27 UFs, em um cenário que contava apenas com 07 UFs com sistemas de registro de ocorrências
informatizados.
Neste contexto, a SENASP veio fomentando – junto dos entes federados e por meio de convênios com
a União – o desenvolvimento, customização e ampliação de sistemas informatizados de registros de ocorrências
policiais e sistemas de atendimento e despacho das Polícias e Corpos de Bombeiros Militares. O objetivo foi o
de melhorar os processos de envio, tratamento e análise de dados.
Mesmo com o apoio da SENASP, as instituições de segurança pública não deixaram de arcar com o ônus
de ter que alimentar, de forma manual ou minimamente informatizada, a base de dados nacional. Limitações do
SINESPJC não permitiam que sistemas estaduais fossem integrados diretamente ao sistema nacional, tornando
o processo de alimentação lento e árduo. Além disso, havia o problema da falta de padronização dos formulários
de coleta nos Estados.
Partindo deste novo cenário, identificados os problemas e desafios, a SENASP em maio de 2012,
juntamente com representantes das Polícias Civis, Militares e Corpos de Bombeiros Militares das 27 Unidades
de Federação, definiu os campos e conteúdos mínimos dos boletins de ocorrências e atendimento e despacho
das instituições de segurança pública. Neste mesmo ano, foi promulgada a Lei 12.681, que institui o Sistema
Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas, com a finalidade de armazenar, tratar
e integrar dados e informações para auxiliar na formulação, implementação, execução, acompanhamento e
avaliação das políticas relacionadas à segurança pública; sistema prisional e execução penal; e enfrentamento
do tráfico de crack e outras drogas ilícitas. Com isto, o SINESPJC torna-se o módulo de estatística do SINESP.
Logo após a criação da lei do SINESP, o Ministério da Justiça, por meio da SENASP, toma o compromisso
de firmar junto às Unidades da Federação 27 termos de adesão ao SINESP, ratificando o compromisso de todos
em cooperar com a implantação, manutenção e atualização do sistema. O não envio dos dados previstos no
Termo implica na impossibilidade de receber recursos ou celebrar parcerias com a União para financiamento de
programas, projetos ou ações de segurança pública e do sistema prisional.
Enviar os dados previstos no Termo.
Possibilidade de receber recursos e celebrar parceiras com a União.
40
O SINESP tem como objetivo sanar o problema da má qualidade de informações de crime no Brasil. Essa
má qualidade se deve aos diversos problemas estruturais que impediram, ao longo dos anos, uma melhor
qualidade da informação, e, além disso, a particularidades dos próprios eventos criminais, que, por natureza,
são difíceis de serem registrados pela população.
Por exemplo, furtos e roubos de pequenos valores e casos de estupros, abusos, assédios e coerções,
muitas vezes, estão inseridos dentro de contextos pessoais ou familiares, fazendo com que as vítimas raramente
procurem as autoridades para registro dos fatos.
Para saber mais sobre essa pesquisa, acesse o arquivo “Pesquisa de vitimização”, que está nos anexos
do curso.
41
No caso de roubos e furtos de carros, os dados das seguradoras são importantes para comprovar
tendências. Entretanto, como nem todos os carros estão segurados, as informações das seguradoras devem
conter menos registros que as das polícias.
No caso dos homicídios, os dados do Datasus/Ministério da Saúde são geralmente de uma confiabilidade
superior aos da polícia, pela própria natureza de sua produção e por estarem submetidos a uma crítica mais
detalhada. Mas eles também apresentam problemas, como a existência de uma categoria de mortes violentas
de intencionalidade desconhecida, que incluiria homicídios, suicídios e mortes acidentais.
Para chegar a uma estimativa mais precisa, é necessário submeter essa categoria a uma estimativa que
reclassifica uma parte dela como homicídio. Além disso, a dificuldade maior para utilizar esses dados como
indicadores de segurança pública é a demora na sua divulgação, justamente devido ao tempo dedicado à crítica
dos dados. De qualquer forma, é muito importante que, mesmo com certo atraso, tais registros sejam
comparados com os da polícia, para testar a validade dos últimos.
Existem inúmeras instituições públicas e privadas que compilam informações que podem ser relevantes
para a análise de crimes, criminosos ou vítimas específicas. Alguns exemplos: as agências de regulação dos
produtos controlados (tais como armas, álcool ou drogas), agências reguladoras que fiscalizam
instituições bancárias ou de segurança, autoridades fiscais e alfandegárias, departamentos de segu-
rança de instituições privadas etc.
SAIBA MAIS...
O site do Ministério da Justiça vem se institucionalizando nos últimos anos como referência nacional em
relação às informações de segurança pública. Destacam-se como exemplo de relatórios disponíveis nessa
página:
Para saber mais sobre o Ministério da Justiça, acesse: http://www.justica.gov.br/sua-seguranca/se-
guranca-publica/estatisticas
Efetivo dos Órgãos Estaduais de Segurança Pública (2003 a 2007);
Análise das Ocorrências Registradas pelas Polícias Civis (2004 e 2005);
Perfil das Instituições de Segurança Pública (2004 a 2007);
Investimentos dos Governos Estaduais em Segurança Pública (2005 a 2008);
Diagnóstico da Perícia Criminal no Brasil (2012);
Estudo Profissiográfico e Mapeamento de Competências: Perfil dos Cargos das Instituições
Estaduais de Segurança Pública (2012);
Mulheres nas Instituições de Segurança Pública (2013);
Pesquisa Perfil das Instituições de Segurança Pública (2013);
Pensando a Segurança Pública (2013).
Há ainda...
42
Os portais das Secretarias Estaduais de Segurança Pública, da Polícia Civil e da Polícia
Militar. Quando as informações estatísticas não estão disponibilizadas no portal é preciso fazer
um contato telefônico ou por e-mail com os gestores dessas instituições, solicitando-as.
Os Grupos de pesquisa e portais acadêmicos relacionados a essa questão.
Censo demográfico realizado pelo IBGE a cada 10 anos.
Para saber mais sobre Censo demográfico, acesse o arquivo “Censo”, que está nos anexos do curso.
Finalizando...
Neste módulo, você estudou que:
A compreensão dos fenômenos sociais pode ser feita a partir de três abordagens: observação do
comportamento que ocorre naturalmente no âmbito real; criação de situações artificiais e
observação do comportamento antes das tarefas definidas para as situações e realização de
perguntas às pessoas sobre o que fazem (fizeram) e pensam (pensaram).
Para cada uma das abordagens há técnicas de análise específicas. Cada uma delas tem vantagens
e limitações.
Os vários métodos de abordagem dos fenômenos sociais têm aplicações distintas quanto ao tipo
de pesquisa que se pretende realizar e tipo de informações a serem coletadas. Eles também
podem ser utilizados de forma complementar quando necessário.
Um questionário pode ser definido como um “conjunto de perguntas sobre um determinado
tópico que não testa a habilidade do respondente, mas mede sua opinião, seus interesses,
aspectos de personalidade e informação biográfica”. (YAREMKO et al., 1986).
Os dados frequentemente trabalhados em sistemas de segurança pública e justiça criminal são
dados policiais, do Ministério Público, da Justiça e do sistema prisional, para fins de administração
dos procedimentos de rotina. Em geral, essas informações não são utilizadas na área de gestão.
Os registros da Polícia Militar incluem crimes e ocorrências diversas, mas não abrangem o
conjunto total de crimes e, portanto, não podem ser usados como base exclusiva de um sistema
de informação criminal.
A Polícia Civil praticamente só registra crimes, mas deixa de registrar uma ampla gama de
incidentes que perturbam a segurança pública e não chegam a constituir crime.
Na maior parte dos crimes, a única fonte alternativa possível são as pesquisas de vitimização, que
permitem não apenas estimar a incidência real do fenômeno, mas também o tamanho e o perfil
da subnotificação.
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Exercícios
Com base nos conhecimentos adquiridos no módulo 2, realize as atividades propostas a seguir.
Atividade 1.
O método de pesquisa de avaliação de impacto inclui:
a) ( ) Sistematização das informações trazidas pelos documentos, buscando a existência de
semelhanças.
b) ( ) Determinação dos resultados das ações e políticas de segurança pública.
c) ( ) Descrição e explicação abrangente dos muitos componentes de uma determinada situação
social.
d) ( ) Construção de enunciados sobre uma população.
Atividade 2.
Qual a principal vantagem da coleta de informação por dados secundários?
a) ( ) O pesquisador fica limitado a dados já coletados e compilados.
b) ( ) O pesquisador tem que selecionar a amostra de forma científica.
c) ( ) O pesquisador não precisa arcar com os custos de amostragens, entrevistas e codificações.
d) ( ) O pesquisador não pode representar adequadamente a questão que lhe interessa.
Atividade 3.
Em relação às perguntas contidas no questionário, assinale a afirmativa FALSA:
a) ( ) As perguntas devem apresentar quatro características básicas: a pergunta precisa ser
compreendida e comunicada consistentemente; as expectativas quanto às respostas precisam ser explicitadas
para o respondente; os respondentes devem ter todas as informações necessárias para a resposta; e os
respondentes precisam estar dispostos a responder.
b) ( ) As perguntas abertas são indicadas quando não se conhece a abrangência e variabilidade das
possíveis respostas. Esse tipo de pergunta estabelece, no início da entrevista, um clima receptivo entre
pesquisador e respondente, e, no final, captura as opiniões não cobertas pelas perguntas fechadas.
c) ( ) Quanto à linguagem usada na formulação das perguntas, é preciso atentar para a sua
compreensão pela população-alvo da pesquisa. Abreviações, gírias ou termos regionais, termos especiais ou
sofisticados devem ser utilizados para facilitar a compreensão do entrevistado.
d) ( ) Perguntas em escala nominal utilizam símbolos ou números somente para identificar as
pessoas, objetos ou categorias.
44
Gabarito
45
MÓDULO ANÁLISE ESTATÍSTICA CRIMINAL
Apresentação
Olá, seja bem-vindo(a) ao módulo “Análise Estatística Criminal”!
Neste módulo, você estudará os conceitos básicos relacionados ao estudo da estatística para
compreender melhor as técnicas utilizadas na análise criminal.
Lembrando que, no módulo anterior, você aprendeu a descrever os métodos de abordagem dos
fenômenos sociais (e as técnicas de análise correspondentes). Também estudou sobre os aspectos que devem
ser observados na construção de um questionário. E, por fim, conheceu diversas fontes de dados e informações
de segurança pública.
Preparado(a) para aprender mais sobre Análise Criminal?
Então, vamos lá!
Objetivos do módulo
Ao final do módulo, você deverá ser capaz de:
Estrutura do módulo
O conteúdo deste módulo está dividido nas seguintes aulas:
46
Aula 1 – Conceitos básicos
47
1.3 Fluxo de execução da análise estatística
O trabalho de análise estatística resulta da execução de quatro etapas: coleta, crítica,
apresentação e análise dos dados.
48
Veja a seguir mais detalhes sobre cada série.
A série temporal (cronológica, histórica, evolutiva ou marcha) é identificada pelo caráter variável do
fator cronológico.
A série geográfica (territorial, espacial ou de localização) é identificada pelo caráter variável do fator
local.
49
Tabela 3 – Ordenamento das UF por taxas de homicídio (em 100 mil) – Brasil 2000-2010*
A série específica (ou categórica) é identificada pelo caráter variável do fator fenômeno.
50
Tabela 4 – Ocorrências registradas pelas polícias civis por número e taxas por 100 mil habitantes
(Brasil-2012)
51
1. TÍTULO DA TABELA – Conjunto de informações, as mais completas possíveis, respondendo às
perguntas: O quê? Quando? e Onde? É localizado no topo da tabela, além de conter a palavra “TABELA” e sua
respectiva numeração.
2. CORPO DA TABELA - É o conjunto de linhas e colunas que contém informações sobre a variável
em estudo.
Nota: A substituição de uma informação da tabela pode ser feita pelos seguintes sinais: (...) informação
é coletada, mas não está disponível; (–) informação não coletada e (?) quando há dúvida da validade da
informação.
3. RODAPÉ - Elementos complementares da tabela:
1. Fonte: Identifica o responsável (pessoa física ou jurídica) pela sistematização dos dados
numéricos.
2. Notas: É o texto que irá esclarecer de forma geral ou específica algum conteúdo da tabela.
3. Chamadas: Símbolo remissivo atribuído a algum elemento de uma tabela que necessita de uma
nota específica.
ados de forma simples, clara e verdadeira; demonstrar a evolução do fenômeno em estudo e observar a
Na análise criminal, se trabalha com 4 tipos de gráficos. Veja a seguir cada um deles.
52
Gráficos em colunas
Gráficos de Barras
Conjunto de retângulos dispostos horizontalmente, separados por um espaço.
Gráfico 2 – Percentual da população que considera ter aumentado a delinquência nos últimos 12 meses
(América Latina, 2011)
Gráficos em setores
Representação através de um círculo, por meio de setores, sendo muito utilizado quando se quer
comparar cada valor de uma série com o seu total (proporção).
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Gráficos em linhas ou curvas
Utilizado principalmente para representar séries temporais.
Como você estudou anteriormente no curso, a análise descritiva envolve técnicas para organizar,
resumir e descrever os dados de uma pesquisa.
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Para facilitar a descrição dos dados, são utilizados alguns parâmetros que serão apresentados a seguir,
didaticamente divididos em cinco grupos:
Porcentagem
As porcentagens são obtidas a partir do cálculo das proporções, simplesmente multiplicando-se
o quociente obtido por 100 (a palavra porcentagem significa “por cem”). Enquanto a soma das proporções é
igual a 1, a soma das porcentagens é igual a 100, a menos que as partes não sejam mutuamente exclusivas e
exaustivas.
Exemplo: Considerando os exemplos de proporção, há 40% de homens entre as pessoas retidas e 50%
de homicídios entre as ocorrências registradas no município
Razão
É o resultado de um número A em relação a um número B (“A dividido por B”).
Exemplo: A razão de policiais por viatura no Brasil é de (policiais)/(viaturas) = 618.613 / 76.074 = 8,13,
ou seja, há 8,13 policiais por viatura.
Cabe ressaltar que a razão busca relacionar quantidades de itens diferentes, como: policiais por
viatura, PIB por habitantes, recursos financeiros gastos pela polícia militar pelo total do efetivo da polícia militar
etc.
A seguir, você aprenderá a calcular a proporção, a porcentagem e a razão, a partir da tabela 6.
55
Cálculos da proporção, porcentagem e razão – Tabela 6
Proporção de gastos com a subfunção policiamento
Gasto com a função policiamento/Gasto total > 18.591.783.723,58/51.547.486.525,76 = 0,36
Para cada real gasto com segurança pública, 36 centavos são referentes à subfunção
policiamento.
Porcentagem de gastos com a subfunção policiamento
0,36 x 100 = 36%
Cerca dos 36% dos gastos com a função segurança pública no Brasil são referentes à subfunção
policiamento
Razão de gastos com a subfunção policiamento por gastos com a subfunção defesa civil.
Gastos com a subfunção policiamento/Gastos com a subfunção defesa civil >
18.591.783.723,58/1.630.080.129,49 = 11,40
Para cada real gasto com a subfunção defesa civil são gastos R$ 11,40 com a subfunção
policiamento
56
Frequência relativa: É a razão da frequência absoluta pelo número total de observações.
Frequência relativa acumulada: É a soma das frequências relativas dos valores inferiores ou iguais ao
valor dado.
Distribuição de frequência: É uma forma de apresentar as frequências. São apresentadas as variáveis
seguidas de suas frequências absolutas.
A seguir, você estudará a explicação dos conceitos relacionados à distribuição de frequência, com base
na Tabela 8.
Distribuição de frequências
Frequência absoluta: Na primeira coluna foram colocados, em ordem crescente, todos os possíveis
números de homicídios ocorridos em 16 cidades. Na segunda coluna, aparecem quantas cidades sofreram
aquele número de homicídios.
Observe, na tabela 8, que a frequência absoluta de 0 homicídio é um, ou seja, das 16 cidades
analisadas somente uma delas teve 0 homicídio. A frequência absoluta de 3 homicídios é dois, ou seja, duas
cidades tiveram 3 homicídios. A frequência absoluta de 4 homicídios é um, ou seja, uma cidade teve 4
homicídios, e assim por diante.
Frequência absoluta acumulada: Foi construída a terceira coluna da tabela 8 somando-se à cada linha
a frequência absoluta.
Na primeira linha, a frequência absoluta acumulada coincide com a frequência absoluta (1). Na
segunda linha soma-se a frequência absoluta acumulada da primeira linha (1) à frequência absoluta da segunda
linha (2), obtendo-se uma frequência acumulada 3. Na terceira linha, soma-se a frequência absoluta acumulada
anterior (3) à frequência absoluta dessa categoria (1), sendo a frequência acumulada igual a 4, e assim por diante.
Frequência relativa: A frequência relativa é dada pela divisão da frequência absoluta da categoria pelo
número total de cidades, obtendo-se o percentual das cidades que sofreram aquele número de crimes.
Para obter a frequência relativa de 0 homicídio, divide-se a frequência absoluta dessa categoria (1) pelo
total (16) – (1)/(16) = 0,0625, ou seja, 0,0625 das cidades têm 0 homicídio. Da mesma forma, encontra-se que
0,125 das cidades têm 3 homicídios, 0,625 das cidades têm 4 homicídios, 0,25 das cidades têm 5 homicídios.
57
Multiplicando a frequência relativa por cem, encontra-se a porcentagem das cidades com determinado
número de homicídios. Por exemplo: 0,0625 x 100 = 6,25, ou seja, 6,25% das cidades não sofrem homicídios.
Frequência relativa acumulada: É obtida de forma similar à frequência absoluta acumulada, ou seja,
somando-se à cada linha a frequência relativa das categorias dos números de homicídio.
Na primeira linha, a frequência relativa acumulada coincide com a frequência relativa. Na segunda linha,
ao se somar a frequência relativa acumulada da primeira linha (0,0625) à frequência relativa da segunda linha
(0,125), o que resulta na frequência acumulada de 0,1875.
Histograma
O histograma é um gráfico de barras justapostas, com a área das barras proporcional à frequência
absoluta.
Exemplo:
Polígono de frequência
É a representação gráfica de uma distribuição de frequências absolutas. São gráficos de linhas
que unem os pontos médios das bases superiores dos retângulos de um histograma.
58
Polígono de frequência acumulada
É a representação gráfica de uma distribuição de frequências absolutas acumuladas. São gráficos
de linhas que unem os pontos correspondentes ao limite superior da frequência acumulada.
59
MÉDIA: Somam-se todos os homicídios ocorridos e divide-se por 16, que é o número de cidades.
Média = (0+3+3+4+5+5+5+5+6+8+9+10+12+12+14+18)/16 = 119/16 = 7,4375
Para o cálculo da mediana, o primeiro passo é a ordenação crescente das observações, como mostrado
no exemplo anterior (cálculo da média). Após a ordenação das observações, identifica-se cada uma delas por
um índice numérico. No exemplo citado “X 2” é igual a 3, ou seja, a cidade 2, nesta sequência de cidades em
ordem crescente de número de homicídios, possui 3 homicídios. No mesmo exemplo, a mediana é calculada
da seguinte forma:
Outros conceitos:
Para compreender melhor os cálculos das medidas apresentadas, conheça mais três:
Taxa bruta - é o estimador mais simples para o risco de ocorrência de um evento, definindo-se como
a razão entre o número de eventos ocorridos na área e o número de pessoas expostas à ocorrência
desse evento. O cálculo da taxa é desenvolvido quando se precisa comparar a incidência de
fenômenos entre diferentes regiões, com tamanho populacional diferente, ou uma mesma região
onde a população varia com o tempo. O valor da taxa é calculado pela divisão do número de vítimas
efetivas pelo tamanho da população de risco, ou seja, pelo tamanho da população que poderia
sofrer esse crime, e o valor obtido é multiplicado por 100 mil.
Quartis - São os valores que determinam uma divisão do conjunto de dados em quatro partes iguais.
Decis - São os valores que determinam uma divisão do conjunto de dados em dez partes iguais.
Para ver a Tabela 9, acesse o arquivo de mesmo nome que está disponível nos anexos do curso.
Para calcular a taxa por 100 mil habitantes de estupros considera-se a quantidade de registros de
estupro como o numerador, a população como denominador e multiplica-se 100.000.
Com base na Tabela 9, o cálculo da taxa de estupros em Rondônia é efetuado pela seguinte fórmula:
60
(número de estupros ocorridos em Rondônia) x (100.000) = 678 x (100.000) = 43,39
(população em Rondônia) 1.562.409
A importância do cálculo da taxa é verificada, por exemplo, quando se observa que, apesar da Polícia
Civil do Rio de Janeiro ter registrado 4.418 vítimas de estupro em 2010, a unidade da federação com maior
incidência de estupros foi Roraima, com apenas 302 ocorrências registradas.
Dada a diferença de tamanho entre a população dessas UFs, no Rio de Janeiro foram 27,63 vítimas para
cada grupo de 100.000 habitantes e, em Roraima, 67,04 vítimas para cada grupo de 100.000 habitantes.
Cálculos
Para se determinar a taxa de uma região geográfica (que reúne várias UFs) não se deve calcular a
média das taxas das UFs, pois esse cálculo não leva em consideração o tamanho da população de cada UF dentro
da região geográfica. O correto é somar as vítimas de todas as UFs, a população de todas as UFs e realizar o
cálculo da taxa média da região geográfica.
Veja a seguir a diferença gerada a partir desses dois tipos de cálculo.
Obs. A Lei Federal 12.015/2009 altera a conceituação de “estupro”, passando a incluir, além da
conjunção carnal, os “atos libidinosos” e “atentados violentos ao pudor”.
Cálculos
Moda: A amostra da taxa de estupro não apresenta moda, dado que, considerando as casas decimais,
as taxas de estupro entre as 27 UFs não têm valores repetidos.
Mediana: A mediana de uma série de observações é o número que fica exatamente no meio da série
quando os dados estão ordenados e o número de observações é ímpar. Caso o número de observações
61
seja par, a mediana é a média aritmética de dois números do meio. Isso significa que, para um conjunto
de dados ordenados, a mediana ocupará o centro do conjunto.
Mediana: 21,28
Identificação dos quartis para a taxa de estupros (por 100 mil hab.) entre as Unidades da
Federação
• Amplitude: É a diferença entre o maior e o menor valor dos dados analisados. Se os dados são
categóricos, a amplitude é a diferença entre o limite superior da última categoria e o limite inferior da primeira
categoria.
• Variância: É a medida do grau de dispersão dos dados em torno da média. A variância mostra
em que medida os dados estão agrupados ou dispersos. A variância é representada por s².
Desvio Padrão: É obtido calculando a raiz quadrada da variância. O desvio padrão é representado pelo
símbolo “o”.
Como calcular o desvio padrão?
Após descobrir o valor da variância, calcula-se sua raiz quadrada. Esse resultado é o valor do desvio
padrão.
63
Nota: Todos os pacotes estatísticos, incluindo o Excel, fazem o cálculo da variância e do desvio padrão
automaticamente.
Resumindo...
Após o diagnóstico da situação de um Estado, identifica-se que duas (2) regiões se destacam pelas altas
taxas de incidência de homicídios.
Comparando as medidas de dispersão das taxas municipais de homicídios para essas duas
regiões, descobre-se que em uma delas os valores estão mais dispersos do que na outra região. Isso significa
que, na região onde os valores estão menos dispersos, o problema da alta incidência de homicídios está
distribuído de forma ampla, atingindo grande parte dos municípios da região.
Na região onde os valores estão mais dispersos, ocorre o contrário: a incidência de homicídios está
concentrada em alguns poucos municípios e outro conjunto significativo de municípios tem incidência baixa de
homicídios. Nesse caso, identificar o grau de dispersão dos dados informará se é preciso planejar a ação tendo
como foco todos os municípios da região ou apenas alguns que têm a situação mais precária.
A análise de correlação tem como objetivo medir a intensidade ou grau de associação linear entre
duas variáveis, mas sem determinar a relação funcional entre elas, ou seja, sem determinar que uma variável é
responsável pela alteração da outra.
A análise é feita por meio da interpretação do coeficiente de correlação, permitindo identificar se um
fator está associado a outro. Veja o exemplo a seguir.
64
O coeficiente de correlação mede a intensidade de associação linear entre duas variáveis.
B: A associação entre número de homicídios e número de armas de fogo. O cálculo do coeficiente
de correlação é realizado com base na variância da amostra, através da seguinte fórmula:
A interpretação desse coeficiente é simples. Considerando que r é sempre um valor entre -1 e +1,
temos:
Se r = 0, não existe correlação;
Quanto mais próximo de -1 ou de +1, mais forte é a correlação;
Se r < 0, existe uma correlação negativa, ou seja, quando uma variável cresce a outra decresce. No
exemplo, quando o número de armas de fogo decresce, o número de homicídios cresce; e
Se r > 0, existe uma correlação positiva, ou seja, quando uma variável cresce a outra também cresce.
No exemplo, quando o número de armas de fogo cresce, o número de homicídios cresce também.
Importante!
A interpretação do coeficiente de correlação não permite fazer inferências (deduções). Considerando o
exemplo da arma de fogo e do homicídio, suponha que o coeficiente de correlação seja 0,6, portanto positivo.
Pode-se afirmar que as duas variáveis se correlacionam positivamente, mas não é possível prever o número de
homicídios com base no número de armas de fogo. Para se constatar a relação funcional entre as duas variáveis
e fazer a inferência, é necessário a análise de regressão, apresentada na aula seguinte.
O termo regressão foi introduzido pela primeira vez em 1886, por Francis Galton, no estudo da relação
entre as alturas de pais e filhos.
A análise de regressão procura determinar a relação funcional entre duas ou mais variáveis. Hoje, os
modelos de regressão são amplamente utilizados em várias áreas do conhecimento, inclusive na análise criminal.
65
5.2 Objetivos da regressão
O principal objetivo da análise de regressão é modelar o relacionamento entre uma variável (chamada
de dependente) e outras variáveis (chamadas de explicativas). Em outras palavras, procura determinar em
que medida as variáveis explicativas se relacionam com a variável dependente. Para isso, estima-se o
valor médio da variável dependente, a partir dos valores das variáveis explicativas.
Exemplo:
No exemplo do coeficiente de correlação (associação entre número de homicídios e número de
armas de fogo), não há interesse em saber somente a correlação entre a arma de fogo e o homicídio. O objetivo
final é saber em que medida um aumento ou diminuição no número de armas de fogo implica no aumento ou
na diminuição de homicídios.
Para isso, estima-se uma regressão linear considerando como variável dependente o número
de homicídios e como variável explicativa o número de armas de fogo. Essa estimativa fornece
uma equação, por meio da qual é possível inferir o número médio de homicídios de acordo com o
número de arma de fogo. Entretanto, como a regressão estima uma relação estatística, ela está sujeita
a erros.
Toda a análise de regressão se baseia na correção desses possíveis erros por meio de diversos
métodos que variam de acordo com o tipo e distribuição dos dados.
SAIBA MAIS...
Aos que desejam se aprofundar no assunto, dois manuais bastante conhecidos na área são
indicados:
Wooldridge, J.M. Introdução à Econometria: uma abordagem moderna, São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2006).
Gujarati, D. Econometria Básica. São Paulo, Makron, 3a edição, 2000).
Finalizando...
Neste módulo, você estudou que:
66
• A análise estatística criminal consiste na aplicação da análise estatística aos dados de
criminalidade e segurança pública;
• O trabalho de análise estatística resulta da execução de quatro etapas: coleta, crítica,
apresentação e análise dos dados;
• Uma série estatística é constituída por uma coleção de dados estatísticos referidos a uma mesma
ordem de classificação, ou seja, uma sequência de números que se refere a certa variável. Existem três
tipos distintos de séries estatísticas: série temporal; série geográfica; e série específica;
• Uma vez que os dados foram coletados, deve-se ter atenção ao examiná-los, pois, muitas vezes,
o conjunto de valores é extenso e desorganizado e há risco de se perder a visão global do fenômeno
analisado. Para que isso não ocorra, é interessante reunir os valores em tabelas, gráficos ou mapas,
facilitando sua compreensão;
• Para facilitar a descrição dos dados são utilizados alguns parâmetros: parâmetros para
comparação relativa; distribuição de frequência; medidas de tendência central; medidas de
dispersão; e análise de correlação;
• A análise de regressão tem por objetivo determinar em que medida as variáveis explicativas
se relacionam com a variável dependente. Para isso, estima-se o valor médio da variável dependente,
a partir dos valores das variáveis explicativas.
Exercícios
Com base nos conhecimentos adquiridos no módulo 2, realize as atividades propostas a seguir.
Atividade 1.
Uma série estatística constitui uma coleção de dados estatísticos referidos a uma mesma
ordem de classificação. Quando o fator básico que estrutura a construção de séries estatísticas é
o fator descrito, podemos dizer que esta série é:
Atividade 2.
Uma vez que os dados foram coletados, muitas vezes o conjunto de valores é extenso e
desorganizado e seu exame requer atenção, pois há risco de se perder a visão global do
fenômeno analisado. Para que isso não ocorra, é interessante reunir os valores em:
67
Atividade 3.
A análise descritiva se constitui de técnicas utilizadas para organizar, resumir e descrever
os dados de uma pesquisa. O parâmetro para a comparação relativa, obtido a partir do cálculo
de uma parte do conjunto sobre o seu total, é denominado:
a.( ) Porcentagem
b.( ) Razão
c.( ) Proporção
d.( ) Relação
Atividade 4.
68
Gabarito
69
MÓDULO SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)
4
Apresentação
Olá! Seja bem-vindo(a) ao Módulo 4 – Sistema de Informação Geográfica (SIG).
Neste módulo, você estudará a representação dos dados e informações a partir de mapas.
A seguir, veja os objetivos desse conteúdo.
Bons estudos!
Objetivos do módulo
Ao final do módulo, você deverá ser capaz de:
Definir os principais conceitos relacionados à estatística espacial;
Identificar os tipos de projeções cartográficas;
Compreender a utilização de escalas;
Identificar os diferentes tipos de mapas; e
Correlacionar os diferentes tipos de mapas às suas informações;
Estrutura do módulo
O conteúdo deste módulo está dividido nas seguintes aulas:
70
1.2 Coleta de dados georeferenciados
Para que haja análise espacial, é necessário, antes de tudo, uma base cartográfica ou um mapa digital
da região foco do estudo.
A coleta da base cartográfica ou construção do mapa digital pode ser realizada por levantamentos
terrestres ou sensoriamento remoto. Essa coleta é muito onerosa, o que dificulta o acesso gratuito das bases e
mapas.
1.3.1 Latitude
É determinada pelos paralelos. Os paralelos são linhas imaginárias que cortam a Terra no sentido leste-
oeste, paralelas à linha do Equador.
A linha do Equador é o paralelo mais conhecido e corta o globo terrestre exatamente ao meio,
dividindo a Terra em duas partes iguais. É por esse motivo que seu nome deriva do radical grego equi, que
significa igual. Por convenção, a linha do Equador é a latitude “zero”.
Conforme nos movemos para o norte ou para o sul, a latitude aumenta em proporções iguais. Ao norte
da Linha do Equador, a latitude é positiva e ao sul ela é negativa. Dois outros paralelos também famosos são os
trópicos de Câncer (23°26’00”) e de Capricórnio (23°27’09”). As zonas tropicais recebem esse nome porque estão
situadas entre esses trópicos, na zona próxima à linha do Equador.
1.3.2 Longitude
É determinada por linhas imaginárias que cortam o globo terrestre no sentido norte-sul, passando
pelos dois polos. Essas linhas imaginárias são chamadas de meridianos.
Ao contrário dos paralelos, todos os meridianos dividem a Terra ao meio, porque todos passam
nos polos. Em 1884, a International Meridian Conference adotou o meridiano de Greenwich como marco “zero”,
que é usado, universalmente, para a localização de pontos na Terra. Os outros meridianos foram calculados em
180° para leste e oeste do meridiano de Greenwich, totalizando os 360° do globo terrestre.
A oeste do meridiano de Greenwich, a longitude é negativa, e a leste é positiva. Cada grau de longitude
é subdividido em 60 minutos, e estes em 60 segundos. Dessa forma, a longitude é especificada no formato de
Graus (°), Minutos (‘) e Segundos (‘’).
71
Aula 2 – Projeções cartográficas
2.1 Projeções cartográficas
Compreendendo a questão
Imagine a abertura da esfera terrestre até o ponto em que ela fica plana. Se existem os pontos A, B e C
na Terra e eles apresentam a mesma distância entre si, quando essa representação for feita em uma superfície
plana, provavelmente, ocorrerão distorções da distância real entre os pontos.
Para facilitar o entendimento, pense em um desenho feito na superfície de uma bola de futebol. Ao
cortá-la na metade do diâmetro e abri-la em cima de uma mesa como uma “folha plana” com a intenção de
manter o desenho, seria preciso rasgar a bola em pedaços ou distorcê-lo, aumentando o tamanho de alguns
pedaços e diminuindo outros. A mesma coisa acontece quando se quer representar a Terra em uma superfície
plana.
72
2.2.2 Projeções cônicas
As projeções cônicas representam a esfera terrestre sobre um cone imaginário que entra em contato
com a Terra em um determinado paralelo. Perto desse paralelo, suas distorções são pequenas, aumentando à
medida que se distancia dele. Esse tipo de projeção é muito utilizado para representar áreas de latitude entre
30° e 60° ou áreas de grande extensão latitudinal.
SAIBA MAIS...
73
3.2.1 Forma numérica
A escala é apresentada por uma fração ou proporção, que indica a relação entre a distância no
mapa e a distância na área.
Exemplo: uma escala de 1:1.000.000 (um por um milhão) significa que cada 1 centímetro no mapa
equivale a 1.000.000 centímetros na área, ou seja, cada 1cm no mapa equivale a 10 quilômetros na área real.
Importante!
A escolha da escala é realizada de acordo com a informação que se pretende destacar. Quando se quer
representar elementos básicos de uma área sem seus detalhes, escolha escalas pequenas, como nos mapas
geopolíticos. Por outro lado, se estiver interessado nos detalhes da área, escolha escalas grandes, como nas
plantas de construção civil.
Você está se esforçando, parabéns! Vamos para a última aula?
74
Polígono: É um conjunto de linhas fechadas sobre uma área. É possível representar com polígonos a
fronteira de países, de municípios, a área de atuação de um comando da Polícia Militar, área de atuação de um
grupamento especial e área de favelas, por exemplo.
75
O mapa apresenta cores mais “fortes” nas áreas onde a densidade de eventos criminais é maior, ou
seja, as áreas quentes. À medida que a densidade diminui, as cores ganham tonalidades mais claras. Assim,
surgem manchas no mapa que indicam as regiões onde a criminalidade está mais concentrada.
A estimativa da densidade criminal de um local está na contagem dos casos dentro de um determinado
raio. Essa contagem é ponderada pela distância em relação aos eventos vizinhos e suavizada por uma função
chamada Kernel. Por isso, esse tipo de mapa também é chamado de mapa de Kernel. Essa função associa os
eventos vizinhos, atribuindo cores diferentes dependendo da quantidade e da distância média entre os eventos.
O resultado é o cálculo da concentração e a revelação dos Hot Spots.
O mapa de Hot Spots tem a vantagem de possuir visualização agradável, revelando os locais, os
tamanhos e as formas das manchas criminais. Já como desvantagens, ele não apresenta o número de eventos e
é capaz de causar distorções. As distorções acontecem porque a função de Kernel trabalha com a densidade
relativa entre os locais, sendo possível formar mapas iguais trabalhando com 10 crimes ou com 1000 crimes.
O raio determina o espaço no qual será realizada a contagem de eventos. Assim, quanto maior o raio,
menor é o detalhamento em relação à distribuição dos crimes.
Quando se busca identificar um quarteirão ou esquina mais problemáticos, é preciso utilizar raios
menores. Já quando se quer identificar um bairro ou região mais problemáticos, utiliza-se raios maiores.
76
a quantidade de polígonos que cada grupo deve conter. Existem várias técnicas para a divisão dos polígonos e
o próprio analista criminal pode construir os intervalos, de acordo com o objetivo do estudo.
Veja nas próximas telas três das várias técnicas para estratificação de atributos.
Finalizando...
77
Um objeto geográfico pode ser representado em um mapa por ponto, linha ou polígono. Esses
elementos podem estar ligados a vários atributos. Os atributos são as propriedades do objeto
espacial, ou seja, é a base de dados que define esse objeto.
Exercícios
Com base nos conhecimentos adquiridos no módulo 4, realize as atividades propostas a seguir.
( ) 1: 120.000
( ) 1: 12.000
( ) 1: 1.200.000
( ) 1: 1.200
78
3. Considerando os diferentes tipos de mapa, associe a 2ª coluna de acordo coma 1ª.
1. Mapa de pontos
2. Mapa temático
3. Mapa hot spots
( ) Esse mapa mostra qual a densidade de concentração dos pontos, utilizando gradações de cores.
( ) Sua construção pode ser feita sobre uma camada de mapa de polígonos sobre um mapa de bairros
de uma cidade, municípios de um estado ou países de um continente
( ) Sobre uma camada de mapa de polígono, aparecem os eventos ocorridos com símbolos que os
identifiquem.
79
Gabarito
80
MÓDULO OPERACIONALIZAÇÃO DA ANÁLISE CRIMINAL
Apresentação
Olá! Seja bem-vindo(a) ao Módulo 5 – Operacionalização da análise criminal.
A operacionalização de uma análise criminal envolve a formulação de um quadro de
compreensão sobre o problema analisado, buscando identificar suas causas. Esse quadro é responsável por criar
os subsídios necessários para o processo de tomada de decisão quanto às estratégias a serem adotadas para
solucionar o problema.
Neste módulo, considerando os fatores determinantes da incidência da criminalidade, você
estudará os conceitos de três correntes teóricas importantes na estruturação do trabalho de análise, bem como
a indicação dos caminhos pelos quais o analista criminal pode guiar sua metodologia de coleta, análise e
interpretação dos dados.
Ao final do módulo, será apresentada uma série de exemplos de gestão de políticas e ações de
segurança pública fundamentados na análise criminal de modo a trazer alguns subsídios que ajudem na difusão
dessa prática entre os órgãos de segurança pública brasileiros.
Bons estudos!
Objetivos do módulo
Ao final do módulo, você deverá ser capaz de:
• Reconhecer as contribuições das ciências sociais para a análise criminal;
• Analisar exemplos de boas práticas de análise criminal;
• Identificar os problemas mais comuns na análise criminal; e
• Enumerar os tópicos que compõem a estrutura de relatório.
Estrutura do módulo
O conteúdo deste módulo está dividido nas seguintes aulas:
• Aula 1 – Contribuições das ciências sociais para a análise criminal
• Aula 2 – Exemplos de gestão de políticas e ações de segurança pública
• Aula 3 – Problemas comuns na análise de dados
• Aula 4 – Estrutura do relatório de análise criminal
81
Aula 1 – Contribuições das ciências sociais para a análise criminal
1.1 Abordagem ecológica do crime
Dentre as abordagens que podem ser utilizadas no trabalho de análise criminal, destaca- se a
abordagem ecológica do crime, que abrange três principais correntes teóricas:
Importante!
Um bom trabalho de análise criminal sempre deve considerar os diversos fatores que influenciam,
positiva ou negativamente, a incidência criminal.
A teoria das atividades rotineiras abre espaço para a inserção dos conceitos da escolha racional;
Para saber mais sobre a teoria das atividades rotineiras, acesse o arquivo de mesmo nome, que está
nos anexos do curso.
A teoria dos locais desviantes abre espaço para a inserção das características do ambiente físico como
um elemento importante na explicação do crime; e
82
Para saber mais sobre a teoria dos desviantes, acesse o arquivo de mesmo nome, que está nos anexos
do curso.
A teoria da desorganização social abre espaço para a importância da identidade social como
fundamento do controle social sobre a criminalidade.
Para saber mais sobre a teoria da desorganização, acesse o arquivo de mesmo nome, que está nos
anexos do curso.
Vamos continuar?
Nesta aula, você estudará alguns exemplos práticos de gestão de políticas e ações de segurança pública,
retirados do relatório Ferramentas e Técnicas de Análise Criminal (São Paulo, 2008), elaborado por Túlio Kahn.
Esses exemplos são fundamentados na análise criminal, de modo a trazer subsídios que ajudarão na difusão
dessa prática entre os órgãos de segurança pública. São eles:
1. Prevenção de roubos;
2. Favela, tráfico e homicídios;
3. Desordem urbana: usando a metodologia de policiamento orientado a solução de problemas;
4. Avaliação da eficiência de ações: criação de buffers;
5. Letalidade policial.
Para saber mais sobre os assuntos acima, acesse os arquivos “Prevenção de Roubo”, “Favela”,
“Desordem”, “Avaliação da eficiência de ações” e “Letalidade Policial”, disponíveis nos anexos do
curso.
Outros exemplos:
Para saber mais sobre os assuntos acima, acesse os arquivos “Problemas da segurança nos
postos de saúde”, “Recuperação da sensação de segurança no espaço urbano” e “Programa Fica Vivo”.
83
Os exemplos selecionados abordam várias dimensões da gestão, envolvendo não apenas a tomada de
decisão em termos das estratégias de ação policial no nível operacional.
O primeiro exemplo descreve alguns procedimentos básicos de operacionalização da análise criminal,
usados para traçar ações policiais na prevenção de roubos em transporte coletivo e de veículos, além da
identificação de criminosos.
Os demais exemplos evidenciam a necessidade de ampliar as estratégias de solução, ações envolvendo
alguns problemas, tais como os mostrados a seguir.
A alta rotatividade dos profissionais dos postos de saúde de um município, em função da gravidade da
segurança pública;
A alta incidência de desordem e conflito dentro de uma escola pública;
Atropelamento de crianças e adolescentes; e
A incidência de roubos e furtos na praia.
O último exemplo traz a descrição do programa Fica Vivo, que, baseado na análise criminal,
integra vários atores, como universidades, polícias, Ministério Público, dentre outros, em prol da solução dos
homicídios em um aglomerado urbano da cidade de Belo Horizonte, desde 2002.
Cada região têm seus problemas e, por essa razão, precisa de remédios específicos para
solucioná-los. Mais do que sugerir remédios, os exemplos expostos têm o objetivo de destacar a importância
da realização de boas práticas de análise criminal, antes e durante, a execução das ações e políticas de
segurança pública.
Sem bons diagnósticos dos problemas a serem abordados e de um monitoramento contínuo dos
resultados alcançados pelas ações empreendidas, os recursos financeiros podem ser desperdiçados, vidas
humanas podem ser perdidas e nenhum resultado pode vir a ser alcançado, independentemente da boa vontade
e intenção que oriente a execução da ação.
SAIBA MAIS...
Leia sobre o Método Iara no arquivo de mesmo nome, disponível nos anexos do curso.
Veja na próxima aula uma síntese sobre os problemas mais comuns da análise de dados, destacados
por Túlio Kahn e denominados por ele como fatos que levam a interpretações imprecisas das estatísticas de
segurança pública.
Vamos prosseguir?
84
Aula 3 – Problemas comuns na análise de dados
1) Sazonalidade
A passagem do tempo não é linear, pois implica em mudanças climáticas, alteração das atividades
sociais e econômicas, favorecendo ou inibindo a ocorrência de determinados crimes. Em outras palavras, existem
diversas situações e fatores ligados ao calendário anual que explicam porque a criminalidade sobe ou desce,
sistematicamente, em certos momentos.
No verão, os dias são mais longos e as pessoas vão mais às ruas, aumentando as oportunidades para o
cometimento de crimes;
Nas férias, as pessoas viajam e deixam as casas desprotegidas, facilitando os arrombamentos;
Também aumentam nas férias os mortos nos acidentes em estradas.
Na volta às aulas, crescem os furtos e roubos de automóveis em torno das universidades;
Nos finais de semana e feriados, as pessoas estão mais em casa, aumentando a ocorrência de violência
doméstica.
85
3) A escolha do período base de comparação
Dependendo do crime que se escolha e do período usado como base para a comparação, pode-se
tanto “provar” que a criminalidade está caindo como o contrário, dependendo da interpretação. Por isso, a
seleção do período base é uma questão de grande importância e, em sua escolha, devem ser considerados dois
aspectos:
Deve-se tomar como base um período “normal”, no qual os valores não sejam nem muito altos nem
muito baixos. Se o período base for atípico, o crime poderá estar superestimado ou subestimado
nos meses de comparação.
Deve-se tomar um período base não muito distante do período de comparação. A princípio, é difícil
estipular o quão próximo ou distante esse período deve ser, porque essa escolha depende, dentre
outros fatores, da escala e do tamanho da série temporal. Nesse caso, o melhor guia é o bom senso
ou, então, a utilização de algum marco simbólico, como mudanças de administração ou alguma
outra data que represente um evento marcante.
A propensão por parte das vítimas em notificar o crime sofrido varia com uma série de fatores e
circunstâncias, relacionadas às percepções da vítima, ao sistema policial ou ao tipo do crime e do bem
roubado. Assim, é possível que o aumento na estatística de determinado crime esteja refletindo um aumento
na “notificação”.
86
Por essa razão, antes de interpretar o aumento dos índices de criminalidade como aumento do crime,
é preciso levantar as mudanças que foram feitas e se elas podem estar refletindo apenas um aumento na
notificação de crimes.
6) Atividade policial
A dimensão dos indicadores de atividade policial de resultados (veículos recuperados, cargas
recuperadas, armas apreendidas, prisões efetuadas, cativeiros descobertos etc.) varia com a quantidade de
crimes.
Por isso, esses indicadores devem ser vistos, quando possível, em relação aos crimes, pois quanto maior
a sua incidência, maior a probabilidade de que a polícia consiga mais flagrantes, armas, entorpecentes, cargas
e veículos recuperados.
Cuidado: Se analisados do ponto de vista de sua dimensão absoluta, esses indicadores podem
ser enganosos.
Por exemplo, se o volume absoluto de veículos roubados está caindo, o mesmo acontecerá em relação
aos veículos recuperados. Nesse caso, o mais correto é verificar qual a porcentagem de veículos recuperados
sobre o total de veículos roubados e furtados.
Cada instituição usa uma fonte e tem uma metodologia própria de coleta e análise dos dados. Por isso,
os dados sempre conterão diferenças. Algumas instituições utilizam como fonte primária de seus
dados de homicídio a declaração de óbito, enquanto outras têm como fonte o boletim de
ocorrência;
87
Na esfera da saúde, a preocupação está em identificar a natureza da morte do ponto de vista
sanitário, enquanto na segurança, a preocupação é de natureza jurídica e criminológica.
Na declaração de óbito, a causa básica da morte pode ser “perfuração do abdome por objeto
contundente”, sendo classificada como homicídio.
Já pelo BO, dependendo da situação, a morte poderá ser classificada como:
o Homicídio doloso;
o Homicídio culposo;
o Latrocínio;
o Morte a esclarecer;
o Suicídio;
o Lesão corporal seguida de morte; ou
o Lesão corporal grave.
Isso ocorre porque na confecção do boletim, é possível que não se tenha ainda o resultado da morte.
Por fim, resta esclarecer que a declaração de óbito utiliza o endereço de residência da vítima,
enquanto o BO usa o endereço da ocorrência. Se a vítima mora em um lugar, mas morre em outro, num local
se contabilizará um homicídio a menos e em outro um a mais, dependendo da fonte.
9) Identificação de tendências
Para que possamos falar com algum grau de confiabilidade sobre uma tendência de aumento ou
queda de um indicador, é aconselhável verificar se existem, pelo menos, três observações consecutivas na
mesma direção, de preferência usando séries “estacionárias”, isto é, descontados os efeitos sazonais e outros,
quanto maior o número de observações consecutivas na mesma direção, maior a certeza de que se está
diante de uma tendência.
88
11) Hierarquização de cidades, bairros e outros rankings
Quando estatísticas são divulgadas, muitas entidades – jornais, agências de turismo e outros
grupos com interesse em crimes – utilizam-nas para compilar rankings de cidades e estados.
Esses rankings não possuem nenhuma percepção sobre muitas variáveis que moldam o crime
numa cidade ou região em particular. Essas hierarquizações levam a interpretações simplistas ou
incompletas da realidade, que criam percepções enganosas e afetam negativamente algumas cidades e seus
residentes.
O leitor deve ser alertado para evitar comparar dados estatísticos apenas com base no tamanho
da população, sem examinar todas variáveis que afetam o crime num determinado local. O usuário do dado
pode fazer comparações bastante errôneas.
Você está quase no fim do módulo. A próxima aula trata de relatórios de análise criminal. Vamos
continuar?
4.1 Definição
O relatório consiste numa apresentação lógica, simples e sistemática das ideias e traz conclusões
referentes ao objetivo da avaliação; todo o resto pode ser dispensável. Ele deve fornecer não só uma descrição
geral do trabalho efetuado, como também os resultados e a importância deles.
O relatório deve ser escrito de modo a garantir sua compreensão pelo pessoal técnico, podendo ser
utilizado por eles como instrumento de trabalho. Enquanto um relatório informal normalmente se dirige ao
supervisor e responde a questões de caráter imediato, um relatório formal tem uma ação mais institucional e
maior importância.
O relatório formal é geralmente lido por pessoas não familiarizadas com o assunto abordado. Por esse
motivo, ele não deve iniciar o assunto sem uma explicação prévia a respeito.
Outro ponto importante é a diferença de leitura dos vários utilizadores. Quando um relatório passa
pelas mãos do supervisor, este dedicará um tempo ao seu estudo e revisão, confirmando os cálculos,
assegurando-se dos resultados e corrigindo a discussão com detalhes.
89
O leitor não deve precisar folhear 20 páginas de cálculos tediosos até encontrar os resultados. O
relatório deve ser dividido em seções. Cada uma delas deve começar numa nova página, convenientemente
anunciada, e todas as páginas devem ser numeradas.
Um trabalho mal apresentado e de difícil leitura dá a impressão de má qualidade. É evidente que, se
for necessário algum esforço para ler e decifrar um relatório, restará menos energia para a compreensão de seu
conteúdo.
1. Página de Título
2. Sumário
3. Índice
4. Metodologia de análise
5. Introdução dos resultados obtidos
6. Observações experimentais e resultados
7. Discussão dos resultados e conclusões
8. Bibliografia
9. Apêndices
SAIBA MAIS...
Para saber mais sobre as seções do relatório, acesse o arquivo “Seções de relatório”, disponível nos
anexos do curso.
Finalizando...
Dentre as abordagens que podem ser utilizadas no trabalho de análise criminal, destaca-se a
abordagem ecológica do crime, que abrange três principais correntes teóricas: teoria das atividades
rotineiras (Felson, 1998); teoria dos lugares desviantes (Weisburd, 2012); teoria da desorganização
social. (Shaw e McKay, 1942);
Cada região tem seus problemas e, por essa razão, precisa de remédios específicos para solucioná-los;
90
Sem bons diagnósticos dos problemas a serem abordados e de um monitoramento contínuo dos
resultados alcançados pelas ações empreendidas, os recursos financeiros podem ser desperdiçados,
vidas humanas podem ser perdidas e nenhum resultado pode vir a ser alcançado,
independentemente da boa vontade e intenção que oriente a execução da ação;
Um relatório de análise criminal deve ser estruturado nas seguintes seções: página de título; sumário;
índice; metodologia de análise; introdução dos resultados obtidos; observações experimentais e
resultados; discussão dos resultados e conclusões; e bibliografia.
Exercícios
Com base nos conhecimentos adquiridos no módulo 5, realize as atividades propostas a seguir.
a) A teoria ecológica do crime, a teoria dos lugares desviantes e a teoria da desorganização social
compõem a abordagem das atividades rotineiras.
b) A teoria dos lugares desviantes, a teoria das atividades rotineiras e a teoria ecológica do crime
compõem a abordagem da desorganização social.
c) A teoria da desorganização social, a teoria das atividades rotineiras e a teoria ecológica do crime
compõem a abordagem dos lugares desviantes.
d) A teoria das atividades rotineiras, a teoria dos lugares desviantes e a teoria da desorganização
social compõem a abordagem ecológica do crime.
( ) Segundo Stark (1987), existem cinco aspectos que caracterizam as áreas urbanas como lugares
desviantes: densidade demográfica, pobreza, mistura do tipo de utilização da área urbana, variação na
composição da vizinhança e a degradação da área urbana.
( ) A conjugação desses cinco fatores levaria a três processos sociais diferentes: (1) aumento nas
oportunidades de crime, (2) aumento na motivação para a ação desviante e (3) diminuição no controle social.
( ) A teoria ecológica analisa a forma pela qual a conjugação desses três processos irá resultar num
aumento da atração de pessoas e atividades desviantes para uma região e num aumento da intensidade do grau
de desvio dessas atividades.
( ) Quanto maior a densidade populacional de uma região, maior seriam as possibilidades de
associação das pessoas predispostas para a ação desviante e maior o cinismo moral dentro da comunidade.
( ) A degradação funcionaria como um estigma (marca) sobre os membros da comunidade, não apenas
refletindo o status de seus membros, mas conferindo status a eles. A presença do estigma resultaria numa
redução da conformação das pessoas às regras sociais. As pessoas mais convencionais tenderiam a se mudar
dessas áreas, gerando um processo de concentração de pessoas tendenciosas ao desvio com baixa moral,
podendo tanto ocupar o papel de vítima quanto de agressores.
91
3. Sobre a teoria da desorganização social, marque a alternativa FALSA:
92
Gabarito
93
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
94
SHAW, C. e MCKAY, H. Juvenile delinquency and urban areas. Chicago: Univ. Press., 1942.
SHERMAN, Lawrence W., GARTIN, Patrick R. e BUERGER, Michael E. (1989), Hot spots of predatory crime:
routine activities and the criminology of place. Criminology, 27, 1: 27-55.
SKOGAN, W. e FRYDL, K. Fairness and effectiveness in policing: the evidence National Research Council
– Committee to review research on Police Policy and practice. Washington D. C., The National Academies Press,
2004.
STARK, R. Deviant place: a theory of the ecology of crime. Criminology. Vol. 25, n. 4, p. 893- 909, 1987.
U.S. Department of Justice. Federal Bureau of Investigation. Crime in the United States. 2001. October,
2002.
WEISBURD, David; et al. The Criminology of Place: Street Segments and Our Understanding of the Crime
Problem. Oxford University Press, 2012, 288 p.
WOOLDRIDGE, J.M. Introdução à econometria: uma abordagem moderna. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2006.
YAREMKO, R.K., HARARI, H., HARRISON, R. C. e LYNN, E. Handbook of research and quantitative
methods. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum, 1986.
95
96
97