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17 - Guilhardi, H. J. Et Al. (2006) - Sobre Comportamento e Cognià à o (Vol. 17)
17 - Guilhardi, H. J. Et Al. (2006) - Sobre Comportamento e Cognià à o (Vol. 17)
e Cognição
Expondo a variabilidade
ESETec
Sobre
Comportamento e
Cognição
Associação Brasileira de Psicoterapia e
Medicina Comportamental
Volume 17
ESETec
E d ito r« « A s s o c ia d o s
2006
Copyright © desta edição:
ESETec Editores Associados, Santo Andró, 2006.
Todos os direitos reservados
450 p 24cm
CDD 155.2
CDU 159.9.019.4
ISBN - 85-88303-74-6
5
Obesidade infantil: tratamento comportamental....................................... 110
Denise Cerqueira Leite Heller
Comportamento e Saúde: Vulnerabilidade B iológica..............................116
Diana Tosello Laloni
A dor e a delicia de ser um terapeuta: considerações sobre o impacto da
psicoterapia na pessoa do profissional de ajud a.................................135
Eliane Mary de Oíiveira Falcone
“ Quem constrói o quô e como?": uma perspectiva analitico-funcional do
mótodo clínico de P ia get.......................................................................146
Elizeu Batista Borloti, Rafael Rubens de Queiroz Balbi Neto, Anna Beatriz Carnielli
Howat Rodrigues, Daniefly Bart do Nascimento
A contribuição do treinamento de habilidades sociais para a intervenção
em casos de transtorno de ansiedade................................................... 162
Fabricio de Souza, Felipe de Carvalho Pimentel, Thais Tebaldi Carvalho e Eduardo
Barbosa Lopes
Intervenção precoce com crianças agressivas: Suporte à familia e à
escola...........................................................................................................168
Gabriela Reyes Ormeno, Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams
Terapia nào-farmacoiógica dos Transtornos de Ansiedade: aplicabilidade
da Terapia Cognitiva e Comportamental................................................ 183
Gildo Angelottia, Marisa Fortesb
A Prática Profissional sob a óptica do Mótodo da Observação Direta .... 204
Gina Nolêto Bueno, Fabiana Alves Leite de Aguiar, Ada Sitna Trindade Silva,
Uólen Camargo dos Passos e Ana Carolina Ferreira Moura
Uma Introdução ao Modelo de Seleção pelas Conseqüências..................222
Helen Lucia Freitas Copque
Urgência e Emergência com crianças: A Experiência de Plantào Psicoló
gico numa Clinica -E scola.........................................................................226
Helena Bazanelli Prebianchi
História de contingôncias coercitivas e suas implicações: estudo de caso sob
a perspectiva da Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR.... 231
Luciana Júlio Martins, Hélio José Guilhardi
Hlperatlvidade e Dóficit de Atenção: Análise e Intervenção pela Terapia
por Contingências de Reforçamento (TCR)..............................................260
Evelyn Christina Peres Barrelin,Hélio José Guilhardi
Análise de Comportamento e Prática Cultural ACPC:A experiência do
Núcleo de Estudos em Análise do Comportamento e Prática Cultural282
João Carlos Muniz Martinelli.Marco Antônio Amaral Chequer, Maria Auxiliadora
Coelho Lopes Damázlo
Da distância ou da falta de diálogo entre analistas do comportamento
e educadores: alguns apontamentos.......................................................... 289
João dos Santos Carmo
6
Identificação de Estratégias de Enfrentamento Adotadas por Individuos
que Sofreram A m putação.......................................................................297
Michelle Santana Santos, Renóe Menezes Chaar, Eliana Maria Siqueira De Brito,
Lorena Sabá Fonseca, Luciana Costa Pontes, Lucynara Barroso Galo e João dos
Santos Carmo
Análise comparativa entre estresse, Burnout e habilidades sociais de
profissionais de s a ú d e ............................................................................ 305
Karina Mueller, Suzane Schmidlin Lõhr
A perspectiva biológica do lu to ...................................................................313
Katsumasa Hoshino
Contribuições conceituais do contextualismo pepperiano para a compre
ensão da causalidade no Behaviorismo R adical.................................327
Kester Carrara
Delineamento cultural, Ética e Behaviorismo Contextualista Humanista ..334
Kester Carrara, Marlana P. Carra
Delineamentos culturais e práticas descritas por politicas públicas: análise
conceituai e projetos de intervenção....................................................354
Kester Carrara, Alessandra Turini Bolsoni-Silva e Ana Cláudia Moreira
Almeida-Verdu
A mídia e o desenvolvimento de crianças e jovens. Reflexões fundamen
tais para a Terapia Analitico-Comportamental Infantil......................... 367
Laércia Abreu Vasconcelos
Pesquisa Sobre Interpretação de Sonhos na Análise de Comportamento 376
Laiz Helena de Souza Ferreira
Inclusão escolar sob a perspectiva da Análise do Com portam ento......... 390
Leila Bagaiolo, Cíntia Guilhardi e Claudia Romano
7
Apresentação
1
(Dtttrtch. 2003:2004«: 20Mb; Dfflrich A Abtb, 2004)
• fim lrab«»K> anterior (Dtttrtch, 2004a), veruimo* »otxn eeta* duaa kxma* de compreender o »ermo "ébca", e *ofore tua» conseqüência» per*
a uMizaçâo do (ermo na expNcaçâo do comportamento
12 Alcx«indrc Pittrich
em um mundo onde tais coisas não se façam presentes?", pode alguém argumentar. A
isso, um behaviorista radical bem poderia retrucar: "De que adiantam o prazer, a felicidade
ou a liberdade se a humanidade corre sério risco de, em breve, não poder mais desfrutar
deles?".
Talvez o ideal seja conciliar os dois aspectos. Seria isso possível? Não
poderíamos garantir um longo futuro para nossas culturas e, ainda assim, sentirmo-
nos livres e felizes? Teoricamente, sim! Pensemos em Walden II (Skinner, 1948/1978).
O que temos ali senão pessoas que sentem prazer no que fazem, que são felizes, que
sentem-se livres - e que, em assim sendo, integram a estrutura “(...) sólida, fidedigna,
essencial" (p. 169) de uma comunidade que tanto sabe desfrutar do presente como
planejar o futuro? Não parece, portanto, que Skinner ignore a importância de valores,
digamos, mais prosaicos. Há espaço para outros valores no sistema ótico skinneriano,
para além da sobrevivência das culturas?
Falávamos há pouco em possíveis razóes para defender a sobrevivência das
culturas enquanto valor; já apontamos uma delas. Notemos agora uma segunda:
enquanto valor, a sobrevivência prepara a cultura que a adota para a experimentação e
a mudança. Essa é uma diferença importante em relação aos valores tradicionais. A
sobrevivência é um valor “plástico", que se adapta às circunstâncias - entre outros
motivos, porque aponta não apenas para conseqüências, como ocorre com freqüência
no discurso ético, mas também para sua relação com o comportamento que as precede:
não basta apontar o que queremos, precisamos especificar como isso será conseguido
(Skinner, 1968/1972). Em função disso, qualquer prática derivada desse valor principal
ó mutável: “(...) o que pode, nesse sentido, ser uma ‘boa’ cultura em um período não ó
necessariamente 'bom' em outro" (Skinner, 1953/1965, p. 431). A ótica de uma cultura,
para Skinner (1948/1978, p. 176), deve ser uma “ótica experimental". Sob essa concepção,
não há espaço para valores absolutos: as práticas de uma cultura devem ser
continuamente avaliadas em relação às contingências de sobrevivência.6
No entanto, em diversas ocasiões, Skinner indica o que chamamos, já em
outras oportunidades (Dittrich, 2003; 2004b; Dittrich & Abib, 2004), de valores secundários
- isto ó, valores que, se empregados da maneira correta, presumivelmente contribuirão
para a sobrevivência da cultura que os adote: felicidade (1955-1956/1972, p. 03; 1956/
1972, p. 36; 1971, p. 152), saúde (1955-1956/1972, p. 06; 1956/1972, p. 36; 1971, p.
152), segurança (1956/1972, p. 36; 1971, p. 152), produtividade (1955-1956/1972, p. 03,
p. 06; 1956/1972, p. 36; 1971, p. 152), educação (1955-1956/1972, p. 03, p. 06; 1971, p.
152), criatividade (1956/1972, p. 36), experimentação (1971, p. 153), amor (1955-1956/
1972, p. 06), cooperação e apoio (1972/1978, p. 197) e preservação do melo ambiente
(1971, p. 152; 1987, p 01). Sobre esses valores secundários, porém, ó preciso fazer a
seguinte observação: eles devem estar a serviço do valor fundamental do sistema - a
sobrevivência; dependem deste valor primário, subordinam-se a ele - e, em virtude
desta subordinação, são maleáveis: "Os valores que eu tenho ocasionalmente
recomendado são transitórios" (Skinner, 1956/1972, p. 36).
Obviamente, esta subordinação não se dá de modo automático: “(...) a
sobrevivência está, freqüentemente, em conflito direto com valores tradicionais" (Skinner,
1953/1965, p. 432). Para que os valores secundários de fato promovam a sobrevivência
das culturas ó preciso planejamento. Mas, em princípio, todos os valores dos sistemas
óticos tradicionais interessam ao planejador cujo norte ó a sobrevivência das culturas,
• l$»o explica. em parte, por que a »obmvtvèncl» é um crttério d» dWcHaantãçto •!»"(. .>lem, Utvw, dimeneOM »md« mono» óbvta» do quo
Mlddnde, ltt»rdacle, conhecimento ou Móde’ (Sktnnef, 1963/1866, p. 431). • è “( ) meno* nfttcta [d—i-aA do que alflune crtlérto« obtoMos do
certoeerrado(...)" (Skinner, 1966/19/2,p 22).
14 Alcx<intlrc Pittrirh
nossos pais e avós? Bem, podemos discutir sobre tudo isso, mas a pergunta final será
sempre a mesma: em que medida nossas decisões contribuirão para a sobrevivência
de nossa cultura? Amor, bem estar e saúde, por exemplo, são valores secundários.
Podemos adotá-los, mas apenas na medida em que contribuam para o valor fundamental
de nossa ética - e só os adotamos por esse motivo.
Para fortalecer ainda mais seu argumento, Staddon faz referência a uma
reportagem publicada em 2001 no New York Times que informa sobre um estudo enviado
pela fabricante de cigarros Philip Morris ao governo da República Checa. De acordo com
o autor, o estudo afirma que
(...) numa economia socialista, na qual o estado deve pagar pensões, serviços de
saúde e habitação, uma população de fumantes custará menos do que uma
população de nâo-fumantes, porque a redução nos custos com pensões e habitação
mais do que compensa o aumento nos custos módicos A economia chega a 1.227
dólares por cadáver (...) (2004, p. 239).
Novamente, a conclusão de Staddon é: um eventual governo skinneriano, guiado
por uma ética skinneriana, deveria estimular o fumo diante de evidências como essa.
Talvez o leitor possa oferecer objeções aos dados apresentados e ao seu possível
impacto sobre a probabilidade de sobrevivência de uma cultura. Ignore-se por um momento
o fato de que o relatório citado trata a vida humana como reles mercadoria: não poderíamos
rechaçá-lo simplesmente mostrando gue estimular o fumo, na verdade, produz uma série
de efeitos prejudiciais às culturas? E possível que sim. Como aponta Staddon em seu
artigo - e como Skinner reconhece em diversas ocasiões (1953/1965, pp. 434-435; 1971, p.
549, pp. 550-551; 1955-1956/1972, p. 6, p. 13) -, o planejamento cultural é uma tarefa
extremamente complexa, e nunca podemos estar absolutamente certos de que as decisões
que tomamos hoje produzirão os resultados esperados amanhã. O que podemos fazer é
projetar tendências, prever o que poderá acontecer no futuro e como podemos nos preparar
para ele, admitindo abertamente que nossas previsões estão sujeitas a erro. Não obstante,
diz Skinner, se a escolha for entre planejar o futuro das culturas, mesmo que com algum
grau de incerteza, ou desistir da tarefa em virtude de sua complexidade, certamente a
primeira alternativa é preferívell Diante disso, a atitude de uma cultura em relação ao
comportamento de fumar certamente é relevante. Fumar produz diversos efeitos, e tais
efeitos dependem, ao menos em parte, do contexto de cada cultura (como deixa claro o
trecho citado referente ao relatório da Philip Morris). Decisões sobre as práticas culturais
relativas ao fumar devem levar em consideração o maior número possível desses efeitos,
mesmo que eles sejam apenas prováveis. Não poderia tal análise nos levar à conclusão de
que fumar, afinal, é prejudicial à sobrevivência de qualquer cultura?
Deve-se notar, contudo, que o cerne do argumento de Staddon não perde força
diante dessa estratégia, pois estamos lidando com um caso isolado. Mesmo que
consigamos angariar um grande número de dados que indiquem que fumar é,
provavelmente, prejudicial à sobrevivência das culturas, outras situações podem repetir
o mesmo tipo de dilema entre um valor fundamental e valores secundários - e nem
sempre a sobrevivência das culturas estará em harmonia com nossos valores
tradicionais. Estaremos prontos a abdicar deles quando isso acontecer?
A possibilidade de contraposição entre a sobrevivência das culturas e valores
tradicionais não deveria ser surpreendente para os behavioristas radicais. Ouçamos Skinner:
"(...) a sobrevivência está, freqüentemente, em c o n flito d ire to com valores
tradicionais. Há circunstâncias sob as quais é mais provável que um grupo
sobreviva se não for feliz, ou sob as quais sobreviverá apenas se grande número
de seus membros subm eterem -se à escravidão.''(...) Para que aceitem os a
16 Alcx.mdrc Pittrich
pertinência do exemplo de Staddon, mas a força de sua crítica permanece inalterada.
Suponhamos que, uma vez realizadas todas as análises e previsões relativas ao
problema (e temos que aceitar que algum tipo de previsão é de fato possível, de acordo
com o próprio Skinner), chegue-se à conclusão de que um regime autoritário é preferível
a um regime democrático na promoção da sobrevivência de certa cultura. Dado o fato de
que todos os valores secundários devem ser julgados, no interior do sistema ótico
skinneriano, a partir de sua possível contribuição para a sobrevivência das culturas,
seríamos logicamente obrigados a apoiar a opção autoritária. Não há absolutamente
nada no sistema ótico skinneriano que nos permita argumentar contra o autoritarismo,
desde que ele tenha valor de sobrevivência. Não há absolutamente nada no sistema
ótico skinneriano que nos permita dizer, por exemplo, que o bem estar dos indivíduos,
ou ainda suas opiniões sobre regimes de governo, devem ser valorizados sob qualquer
circunstância. O único objetivo valorizado sob qualquer circunstância na ética skinneriana
ó a sobrevivência das culturas. Diante dela, qualquer outro valor é instrumental.
Temos, portanto, um problema. Se quisermos preservar o caráter experimental
da ótica skinneriana, não podemos adotar quaisquer valores secundários como valores
fixos. Todos eles devem ser mutáveis, sempre visando atingir o "alvo móvel" denominado
sobrevivência das culturas. Por outro lado, se não adotarmos certos valores secundários
como princípios, deixaremos em aberto a possibilidade de que práticas que agridem
nossas concepções óticas “de senso comum" (autoritarismo, censura, escravidão,
desconsideração pela saúde e bem estar do próximo, etc.) sejam adotadas a fim de
promover nosso valor fundamental. No que segue, buscaremos contribuir para a análise
do problema, reconhecendo a possibilidade de avaliações divergentes.
Parece impossível ignorar os valores secundários na avaliação da adequação
das práticas culturais. Para muitos de nós, que vivemos em culturas democráticas, o
autoritarismo, a censura e a escravidão, por exemplo, tornaram-se intoleráveis - e
nenhuma argumentação sobre seu possível valor de sobrevivência far-nos-á aceitá-los.
Um governo que não adota uma plataforma mínima de valores secundários pode justificar
toda e qualquer medida, sob a alegação de que, num futuro mais ou menos distante,
seus efeitos benéficos para a sobrevivência da cultura finalmente serão reconhecidos.
Decisões políticas, portanto, não podem ter como único horizonte a sobrevivência -
embora esta deva, sempre, ser o critério fundamental mas também aqueles valores
que dizem respeito ao cotidiano imediato dos cidadãos. É provavelmente nesse sentido
que Skinner diz, por exemplo, que a felicidade ó um problema de “grande importância
política" (1978, p. 93). Há, portanto, algum exagero na exortação de Skinner para que
nos libertemos das “(...) atitudes que têm sido geradas em nós enquanto membros de
um grupo ético" (Skinner, 1956/1972, p. 28) - o que contribui, certamente, para a rejeição
à sobrevivência das culturas enquanto valor. Conforme reconhece o próprio Skinner,
Uma ruptura completa com o passado ó impossível. O planejador de uma nova
cultura estará sempre ligado à sua cultura [c u ltu rt-b o u n d ], dado que ele não
poderá llbertar-se inteiramente das predisposições que têm sido geradas pelo
ambiente social no qual tem vivido. Em alguma medida, ele vai, necessariamente.
práticas cutturai» d É M i i citadas por Skinner O lato de uma cultura tof sobrevivido nAo significa que hxJtui as suas práticas tonlwm oontrlbuido
para larrto - ata poda ter sobrevivido « desperto d» certas prátkai Inversamente, nem toda* aa pi ática» de uma cultura extinta contrtbufrom,
naoeaaarlamenta, para aua artnç*o CondueAee como aaaaa podam minar oa exemptoe da Staddon, ma» podom Igualmente aar usattas contra
oa behavtonslaa radoata. pota tomam ainda mata evidente a oomptaxldade da tarefa de determinar o poeeivei valor da sobrevivência (ia» práticas
uoltunM. mesmo cte forma retroepectK* Emutamaanálee.overedKodeSklnnerscbreasprátioaecuíuralecfilneaasbaeela aeemumaaupoeiçáo
htatórk* se tlvaaae ae aproveitado da tecnoiogM que atou, a cultura chineaa leria «jmentoúbauaaohanoÉa da aotorevfver o dlmtnuldouma chance»
de deaaparecer. A anáUee da culturas que eletvamente deaapareceram em funçáo de certas prátcas cruciais retadonadas à sobrevivência pode,
de lato. ser bastante instrutiva (vide Diamond, 2009), e corrobora a preoa^MçÃo oonetante de Stormer oom quealOea ecológicas
18 Alcx«mdrr Ditlrich
Possíveis objeções a discussão anterior
1) Qual a importância de discutir a ética Skinneriana?
Algum behaviorista radical bem poderia dizer algo como o seguinte: “Toda essa
discussão talvez seja interessante, mas, na prática, os analistas do comportamento
não são pessoas cruéis e desumanas, nem perseguem cegamente a sobrevivência de
suas culturas sem considerar o bem estar das pessoas, e jamais aceitariam práticas
autoritárias, censura ou escravidão. Qual é, portanto, a importância de discutir a ética
skinneriana?" Sugerimos abaixo algumas respostas, dentre outras possíveis:
1) Um dos pilares de um projeto científico digno desse nome é sua coerência
interna. Isso vale para a filosofia e para a ciência, e vale para um projeto como a análise
do comportamento, no qual filosofia e ciência estão intimamente conjugadas. Talvez
nenhuma teoria apresente coerência absoluta - mas, não obstante, devemos tornar
nossa teoria tão coerente quanto possível. Skinner é um autor de coerência notável. Há,
entre os diferentes aspectos de sua teoria, conexões que nem sempre se revelam ao
primeiro olhar, mas que se evidenciam gradualmente mediante estudo dedicado,
ilustrando a beleza e a grandeza de um projeto científico sólido e abrangente. Talvez
este fato tenha ajudado a garantir a sobrevivência do behaviorismo radical. Mas esta
filosofia também tem, em Skinner e para além dele, suas contradições, como acontece
com qualquer filosofia viva, eternamente inacabada.
Um pragmatismo pouco refinado poderia objetar, afirmando que apenas as
conseqüências práticas de uma teoria importam, e não sua coerência interna. Objeções
como essa revelam uma visão limitada do que sejam “conseqüências práticas” - e um
dos aspectos mais ricos do modelo de seleção por conseqüências é, exatamente, sua
capacidade de mostrar que “conseqüências práticas" não se limitam apenas à tecnologia.
Não é à toa que evitamos “naturalmente” proferir sentenças contraditórias em nosso
discurso. A comunidade científica rechaçaria de pronto qualquer teoria que pecasse em
demasia nesse aspecto. A "mera” coerência de nosso projeto filosófico e científico é um
requisito indispensável à sua sobrevivência.
Um behaviorista radical ansioso por encontrar “conseqüências práticas”
imediatas para cada problema enfrentado por sua filosofia pode facilmente concluir que
o trabalho filosófico não é útil. Mais uma vez, trata-se de um pragmatismo grosseiro -
vamos chamá-lo, com o perdão do leitor pela brincadeira, de "pragmatismo mecanicista”.
Os behavioristas radicais, melhor do que ninguém, deveriam mostrar uma compreensão
apurada sobre as conseqüências de curto e longo prazo daquilo que fazem - na filosofia,
na ciência ou em qualquer outro campo.
2) Para além da coerência interna daquilo que falamos e escrevemos, deve
haver algum grau de coerência entre o que falamos e escrevemos e o que fazemos.
Essa afirmação deveria ser óbvia. Discordar dela equivaleria a afirmar que nossa prática
enquanto analistas do comportamento não deve nada à filosofia behaviorista radical.
Novamente, talvez uma coerência absoluta entre falar e fazer seja impossível - mas,
não obstante, devemos buscar nos aproximar tanto quanto possível dessa coerência. É
natural pensar que, também aqui, a comunidade científica reprovaria desvios excessivos.
A ética faz parte da filosofia behaviorista radical. Se nosso comportamento
enquanto behavioristas radicais não está sendo controlado por essa ética, ou está
sendo apenas parcialmente controlado por ela, algo está errado. O que, exatamente,
está errado é discutível, mas arriscaríamos afirmar que os behavioristas radicais não
dedicam a esse aspecto da sua filosofia a mesma atenção que dispensam a outros. O
20 A lexan d re Dittrich
pesadas e pouco produtivas que caracterizam parte considerável da filosofia moral,
“limpando o terreno" para que possamos raciocinar com clareza. É aproximadamente o
mesmo que ocorre quando Skinner rejeita o mentalismo: ele nos livra da obrigação de
lidar com um inesgotável universo de conceitos psicológicos obscuros e mal definidos
- ó algo como encontrar novo ar para respirar!
Além disso, há no sistema ético skinneriano uma beleza revolucionária,
iconoclasta: todos os valores tradicionais da filosofia moral são derrubados, ou ao
menos assumem papel secundário. Apenas a sobrevivência das culturas - um valor
obviamente estranho às filosofias tradicionais - tem lugar garantido como guia de
nossas ações. Skinner é, nesse e em muitos outros aspectos, um especialista em
confrontar a tradição.
Que interesse haveria em modificar um sistema com tais características? Que
vantagem haveria em fazer a filosofia behaviorista radical progredir para além da filosofia
skinneriana - na ética ou em outros campos? A resposta torna-se evidente caso façamos
as mesmas perguntas em relação à análise experimental e à análise aplicada do
comportamento. Certamente, deve ser motivo de orgulho o fato de que a análise do
comportamento tenha progredido para aiém das descobertas de Skinner. É óbvio que
isso não significa a rejeição de suas descobertas. É da natureza da ciência construir
novos caminhos a partir daqueles anteriormente trilhados. Resultados experimentais
atuais podem mesmo contrariar aqueles registrados ou previstos por Skinner, mas
nada disso nos torna menos skinnerianos. Uma ciência que não expande seu poder
explicativo está morta - não é, aliás, uma ciência.
O mesmo se aplica à filosofia skinneriana. Freqüentemente, praticar o
behaviorismo radical significa apenas estender os conceitos skinnerianos à análise e
interpretação de problemas ou conceitos ainda não abordados por esta filosofia.
Eventualmente, porém, praticar o behaviorismo radical significa questionar os conceitos
skinnerianos e a forma como são utilizados. É natural que assim seja. Tal como ocorre
com a ciência, uma filosofia que não evolui não é digna desse nome. Isso deveria ser
ainda menos surpreendente para os behavioristas radicais, considerando as íntimas
relações entre filosofia e ciência no projeto científico denominado análise do
comportamento. Behaviorismo radical e análise do comportamento devem progredir
conjuntamente - e contribuições à filosofia behaviorista radical que a tornem mais
coerente e produtiva dignificam e engrandecem a obra deste filósofo e cientista sui
generis chamado B.F. Skinner.
Referências
Diamond, J. (2005). Colapso: Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. (A. Raposo,
Trad.) Rio do Janoiro: Rocord.
Dittrich, A. (2003). Introduçôo à filosofia moral skinneriana. Em C.E. Costa, J.C. Luzia & H.H.N.
Sant Anna (Orgs.), Primeiros passos em análise do comportamento e cogniçáo (pp. 11-
24). Santo Andró, SP: ESETec.
Dittrich, A. (2004a). A ética como elemento explicativo do comportamento no bohavlorismo radical. Em
M.Z.S. Brandão, F.C.S. Conto, F.S. Brandão, Y.K. Ingberman, V.L.M. Silva o S.M. Olianl (Orgs.),
Sobre comportamento e cognição - voi. 13: Contingências e metacontingôncias: contextos
sócio-verbais e o comportamento do terapeuta (pp. 21-26). Santo Andró, SP: ESETec.
Dltlrlch, A. (2004b). Behaviorismo radical, ótica e política: Aspectos teóricos do compromisso
social. Tose de doutorado nôo publicada, Universidade Federal de Sôo Carlos.
22 Alcx«irulre Pittrich
Capítulo 2
Comportamentos de indivíduos e
práticas culturais: em busca de
um consumo ético, responsável
e solidário
Ana Lucia Cortegoso
Universidade Federal de São Carlos
Apresentação
Este texto apresenta uma exploração de aspectos relacionados a práticas de
consumo, do ponto de vista de comportamentos e contingências individuais e de práticas
culturais e metacontingências no campo da Economia Solidária, a partir de uma
experiência concreta de organização de consumidores e produtores, indicativos da
necessidade de aprofundamento da compreensão destes processos, e de uso de
tecnologia comportamental em favor do desenvolvimento de formas alternativas de
relação do homem com seu meio. A experiência a partir da qual estes aspectos foram
identificados é o ConsumoSol - Articulação Ética e Solidária para um Consumo
Responsável, em São Carlos, SP
Dentre as importantes marcas da sociedade capitalista moderna, em tempos
de globalização radical e desequilíbrio sócio-ambiental, os padrões de consumo
promovidos e mantidos pela lógica e pela prática capitalista ocupam um lugar de enorme
relevância. Por meio principalmente da propaganda, embora não apenas dela, a
população é controlada, por meio da criação de privações que não correspondem a
necessidades efetivas e de fortalecimento das respostas de consumir, para orientar
sua vida pessoal e profissional na direção de acúmulo de bens e produtos, seja
efetivando aquisições, seja almejando este bens e serviços e buscando alcançá-los -
mesmo quando eles estão, de fato, inacessíveis. Como parte deste padrão, são
valorizadas as novidades que, deixando de sê-lo de forma muito rápida, em um tempo
de desenvolvimento tecnológico desenfreado - muitas vezes sem valor social efetivo,
enquanto que permanecem sem atendimento necessidades básicas de seres humanos
pelo planeta afora - imediatamente abrem espaço para uma nova privação, e nova
"necessidade de consumo". Em um tempo de descartáveis, também as pessoas e os
26 A n a l.uciti C o rtejo *«
7) Incentivar e facilitar a relação ética e respeitosa entre produtores, fornecedores,
distribuidores e consumidores, por meio de fidelidade, transparência e integração
das atividades destes atores;
8) Apoiar tambóm empreendimento» que, mesmo atendendo a apenas parte das
características previstas, possam vir a melhorar suas condições de
funcionamento na direção dos objetivos do grupo.
9) Promover a cultura local, valorizando a diversidade cultural, o conhecimento e a
identidade das comunidades tradicionais nas transações comerciais;
10) Contribuir para a construção de práticas de produção, comercialização e consumo
baseadas em valores que questionem as regras dos mercados vigentes
(incluindo os de trabalho, da ciência, da tecnologia, das mercadorias, do dinheiro,
da comunicação, da publicidade, da cultura etc.), priorizando, bem estar do ser
humano (vs das corporações), beneficio coletivo (vs apenas individual), ganho
social (vs ganho e acúmulo financeiro), cooperação (vs competição), prevenção
(vs apenas remedlação);
11) Buscar e consolidar relações com outras iniciativas similares, em redes de
cooperação solidária;
12) Pautar-se, em seu funcionamento, pelos principios do cooperativismo, como:
livre acesso, adesão voluntária, participação coletiva e democrática dos
membros, auto-gestâo, cooperação e intercooperação;
13) Monitorar os processos de funcionamento do grupo, permanentemente, por
meio de indicadores diversos.
30 A n .i I uci.i Cortefloso
emblemática em termos das contingências imediatas que a mantém, a despeito dos
efeitos danosos que gera a médio e longo prazos: o uso de sacolas plásticas de baixa
durabilidade para transporte de mercadorias, até mesmo independente de serem estas
efetivamente necessárias para esta finalidade.
O Projeto Sacoleco, como condição para interferir nesta prática, de modo a reduzir
resíduos, substituir práticas produtivas que se utilizem de recursos não renováveis no
planeta por outras mais adequadas do ponto de vista ambiental, e fortalecer iniciativas
econômicas associativas de populações de baixa renda compatíveis com princípios da
Economia Solidária (cuidado ao ambiente entre eles), foi proposto e implementado a
partir de iniciativa do grupo ConsumoSol. A partir de parceria estabelecida com dois
estabelecimentos comerciais do município em que o grupo funciona (uma panificadora e
uma mercearia participante de uma rede de pequenas mercearias que realizam compras
conjuntas) e com dois empreendimentos solidários que atuam nas cadeias de costura e
artesanato, o projeto prevê a produção de sacolas duráveis, inicialmente doadas a clientes
fiéis dos estabelecimentos comerciais parceiros em um contexto em que estes clientes
recebem, também, informações sobre o projeto e o convite para participar dele, por meio
do uso das sacolas duráveis em substituição a sacolas plásticas descartáveis.
Posteriormente, sacolas equivalentes a estas deverão estar à disposição de todos os
clientes para aquisição, principalmente à medida que o uso das sacolas esteja
suficientemente disseminado nestes estabelecimentos, e sejam mantidas as condições
de divulgação do projeto (a partir de cartazes, folhetos explicativos e comportamentos
favorecedores dos funcionários do estabelecimento, consultando clientes sobre a
necessidade e interesse em colocar suas mercadorias em sacolas descartáveis antes
de fazê-lo e oferecendo alternativas). Uma distribuição exploratória de sacolas deste tipo
já foi feita nestes estabelecimentos, para teste dos protótipos criados pelos
empreendimentos solidários e selecionados pelos proprietários dos empreendimentos.
A avaliação deste teste, em termos do uso efetivo das sacolas doadas, indicou a
necessidade de adequar os protótipos às necessidades dos clientes dos
estabelecimentos, bem como de desenvolver novas contingências favorecedoras para
implementar o uso destes equipamentos, a partir das dificuldades apontadas pelos
usuários e das observações feitas no dia a dia dos estabelecimentos, particularmente no
que se refere à ação dos funcionários como suporte de promoção às práticas de interesse.
Como suporte à intervenção, estão previstas (e em parte já implementadas),
atividades de capacitação das equipes de funcionários que trabalham nos
empreendimentos, campanhas de esclarecimento e estímulo ao uso de suportes
duráveis para transporte de mercadorias pelos clientes, e implementação de
contingências reforçadoras artificiais (freqüentes e tangíveis) para uso de suportes
duráveis no transporte de mercadorias adquiridas nos estabelecimentos parceiros.
Desta forma, até o limite do estoque adquirido pelo estabelecimento, sacolas produzidas
pelos empreendimentos solidários serão doadas a clientes interessados que
acumulem cinco cupons, cada um deles correspondente a uma compra, sem valor
mínimo estabelecido, com cada cliente recebendo no máximo um cupom por dia. Após
a distribuição das sacolas, mas valendo também para aqueles que utilizem outros
suportes duráveis (sacolas, carrinhos, caixas, etc), tragam suas próprias sacolas
plásticas, ou simplesmente dispensem a colocação de mercadorias em sacolas
plásticas, e por um período a ser definido pelo estabelecimento, será mantido um
esquema de premiação por meio de troca de um certo número de cupons acumulados
em compras em que sejam atendidos os critérios acima (inicialmente cinco, devendo
ser esta razão gradualmente ampliada e o esquema, finalmente suspenso) por produtos
32 A n .i l.uci.i Cortetioío
comportamentos desejáveis como parte destas práticas (os objetivos do ConsumoSol
constituem propostas de classes de comportamentos deste tipo), formas de promovê-
las e mantê-las para o maior número possível de pessoas, de articulá-las de modo a
compor produtos agregados que não podem ser alcançados senão coletivamente (por
meio de metacontingências a serem identificadas e construídas); mas requer,
principalmente, desenvolvimento de tecnologia comportamental a partir de conhecimento
sobre comportamento humano que já está disponível, em muitos aspectos, como parte
da produção da Análise do Comportamento. Este texto corresponde a uma análise
preliminar de contribuições conceituais desta área para lidar com um problema social de
grande relevância, ao menos para aqueles que almejam por um mundo menos desigual.
Referências
1 laxto baaaado na Cont®réncta apraaontada o« XIV Encontro d* AuocwçAo UraaM«tra da Tarapia Cognlttva - CornportamarUal, Camptnat/SP
em » 0 6
S o lw Comport.imcnlo c Coflniçfin 35
A forma como o indivíduo lida com os eventos diários ó denominada estratégia
de enfrentamento. Estas ações são necessárias em situações de conflito e de confrontos,
muito freqüentes nas interações sociais; assim como no controle e na habilidade de
desenvolver laços sociais.
Finalmente os hábitos de saúde incluem o tabagismo, o abuso de álcool e
outras drogas, dieta, exercícios físicos, o uso de serviços de saúde preventivos e adesão
às recomendações profissionais para o tratamento. Ha evidência de que o estilo de vida
sedentário diminui a expectativa de vida, tanto para homens como para mulheres, e
contribui para o desenvolvimento de doenças crônicas (Dubbert, 1992).
A pesquisa cognitiva tem avançado na área da Saúde, quando explícita a
diversidade de variáveis envolvidas e a grande variabilidade dos estudos e programas
de intervenção No entanto, as contribuições da analise do comportamento não tem
sido suficientemente incorporadas ao conhecimento cientifico da área de modo a
representar uma alternativa importante para se compreender o processo saúde -doença.
Um olhar aparentemente sintético para a questão de como os organismos
adoecem, proposto por Taylor e colaboradores (1997), indica que os modelos cognitivos
clássicos de estresse representam uma forma mais ou menos hegemônica de reflexão
e intervenção em Psicologia da Saúde (Lazarus e Folkman 1984; Saraflno, 1998; Straub,
2005). Para tais modelos o estresse representa uma experiência negativa acompanhada
por mudanças emocionais, fisiológicas, cognitivas e comportamentais que se
destinariam a alterar o evento estressor e/ ou adaptar-se a seus efeitos.
Perspectiva Comportamental
Para uma visão analítico-comportamental é preciso identificar as respostas
que ocorrem frente a ambientes/eventos adversos e analisar funcionalmente a inter-
relação entre ambientes ditos não saudáveis e as respostas do organismo e então
compreender como comportamento gera doença ou saúde.
Nesta visâo, náo faz sentido abordar o ambiente exclusivamente, posto que ele
não se separa das respostas que nele ocorrem. Por outro lado, o reconhecimento e
identificação dos ambientes como não saudáveis (poluição, aglomeração, violência,
abandono, negligência, abuso, etc.), mesmo que não tenham sido funcionalmente
identificados, representa uma contribuição importante, enquanto macromodelos para a
compreensão das relações comportamento-doença e eventualmente para a
implementação de intervenções e políticas de saúde.
Pesquisas na área da saúde (Dubbert, 1992; Roberts, 1994; Tkachuk e Martin,
1999;) discutem a correlação entre os estados do corpo e os comportamentos na
produção de doença ou saúde. Há indícios sobre a inter-relaçào ou interferência de um
sobre o outro, no entanto a verificação empírica inequívoca destes indícios tem se
revelada incerta e náo conclusiva. Muitos profissionais de saúde presumem uma relação
quase perfeita entre o comportamento de cuidar da saúde e o estado de saúde, mas
para muitas doenças, a relação lógica entre o comportamento de cuidar da saúde e o
estado de saúde é fraca, inexistente, ou não testada (Johnson, 1994).
Para a análise do comportamento toda ação humana está sempre relacionada a
um contexto. Na história da evolução dos organismos, respostas têm sido continuamente
selecionadas frente a demandas ambientais. Nesta Inter-relaçâo acontece a adaptação
do organismo às exigências do ambiente, ao mesmo tempo o ambiente é modificado
pelas respostas do organismo. Os processos de adaptação são dinâmicos e complexos
Referências
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4. Considerações finais
A partir de princípios que emergem do estudo científico do comportamento, B. F.
Skinner defende o planejamento de contingências para a promoção de “um mundo
melhor", o que em termos comportamentais seria traduzido por uma cultura que
possibilite práticas que a fortaleçam. O valor que estabelece o critério para o emprego
de uma tecnologia do comportamento é a sobrevivência da cultura. Mas, não nos
esqueçamos que Skinner defende um planejamento cultural que proporcione o ‘‘bem"
do Indivíduo, o “bem" dos outros e por fim o "bem" da cultura. È em função desse
equilíbrio que devemos planejar, em vez de deixar que as mudanças sejam frutos de
simplesmente alguns acasos e acidentes...
Passando a palavra ao autor:
Uma cultura bem planejada 6 um conjunto de contingências de reforço, sob o qual
os membros se comportam de acordo com os procedimentos que mantêm a cultura,
capacitam-na a enfrentar emergências, e modificam-na de modo a realizar essas
mesmas coisas mais eficientemente no futuro. Sacrifícios pessoais podem ser
exemplos dramáticos do conflito de interesse entre o grupo e seus membros, mas
sâ o p ro du tos de um m au plan eja m e nto . Sob m e lho re s co n ting ê ncia s, o
comportamento que fortalece uma cultura pode ser altamente reforçador. (Skinner,
1969a, p. 41). (Meus grifos).
Referências
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Sklnnor, B.F. (1981). Selection by consequences Science, 213, 4507, 501*504.
A problemática da acessibilidade
Mas o que há de errado com o emprego tradicional dos termos 'público' e
'privado'? Ou ainda, por que deveríamos abandonar a vinculação entre subjetividade e
privacidade? Para responder a essas questões temos que compreender a origem da
teoria de eventos privados. Tal teoria tem em sua raiz a tese de que se uma "parte do
universo está encerrada dentro da própria pele do organismo (...) uma pequena parte
do universo é prívadá' (Skinner, 1953, p. 257). Essa tese, por sua vez, está vinculada à
tradição que engloba o dualismo, o materialismo, o fisicalismo, e o positivismo lógico1.
Dessa forma, se o behaviorismo radical não se vincula com essa tradição, a
tese que dela deriva tambóm não pode ser defendida por ele. Em outras palavras, ao
formular a teoria de eventos privados, Skinner (1945, 1953, 1957, 1974) parece cair na
esparrela de responder a uma questão que não se põe, vinculando-se, assim
(possivelmente sem perceber), a uma tradição que repudia (Lopes, 2005).
Mas dito dessa maneira parece que o behaviorismo radical está impedido de
empregar os termos 'público', 'privado', ou mesmo falar de privacidade. No entanto,
essa conclusão não é necessária. A crítica, ató aqui apresentada, limita-se ao fato de
que tal terminologia não deve ser aplicada como qualificadora da acessibilidade a
eventos e, conseqüentemente, não devemos identificar subjetividade com privacidade.
'OdmM«MiMnianki(|iM>rKMtnio«MvtnjtaçAonAawnkaprMMnlKloiK|ul EmtahMgMfe.pwtemmdmqMftaprobtoniMIcadaacMSIblIldada
cltoga ao b#havton»mo radtcal por Irtfluénow d# oulrot t>*fi«vk>rt*mo«" (como o wataoniano • o rrnHodolúgèoo) Ora. m o b#h*vtort»mo radical
dManda wdaaM»oono»>pçô**,«tantod*v»r1ariio*lwiWa*qiMilqi»f»i&(frK»poa«tva Par» «itmadoWhMdeaae argumento d. Lopes (?006)
10 concotto do 'profoto hindactoruil' dl/ mapotto ao «anMo atribuído a uma obra duranl« tua IntarprataçAo. D m m forma, uma mtorpretaçAo
Im aaría na alrtbutçÃo da um projalo hindactonal M li n l w n u d i tm traçai influência» a atlntdaóa» teórica» que darão coerência à obra
mtiirpnrtada (Outra* caractarfattoaa da uma tantativa d* Intarprataçâo da obra •Mnnartana «mbasada am um projeto fundadonal podom asr
wKontradM am l.opaa (2006).)
Valores pessoais
Podemos agora nos voltar para os valores pessoais à luz dos diferentes níveis
de análise das relações sociais. Para tanto, precisamos, inicialmente, explicitar a relação
entre os diferentes níveis. Partindo do nível interpessoal, encontramos um grau crescente
de complexidade, de modo que os níveis superiores (intracultural e intercultural)
emergem a partir desse primeiro nível. No entanto, do ponto de vista de uma discussão
ética, o nível superior é, em última instância, quem “regula" o inferior. Um exemplo pode
deixar essa afirmação mais evidente.
Como podemos empreender um juízo ético no caso de um representante que
conta com grande apoio popular junto à comunidade que ele representa? Uma resposta
adequada não pode ser dada analisando-se apenas um nível. Isso porque nada impede
que o representante em questão apresente um comportamento ético no nível intracultural
(o que se reflete no seu apoio popular), e um comportamento antiético no nível intercultural.
Cabe, então, a pergunta: em qual nível devemos nos basear para julgar a conduta de
um representante?
* 0 qu» no» condu/ à oondurto, qu«M bwMl, de que a aotxwtvtncM da» ouMuom eó ta/ eankdo m ■ •obmwéncia (In ctilture tor ixMorvjidM
Conclusão
Com a presente proposta alcançamos alguns resultados interessantes. O
primeiro deles diz respeito à apresentação de uma análise comportamental do conceito
de 'papel social'. Uma pessoa (confluência da filogênese e da cultura), a depender das
contingências sociais, pode ser um indivíduo ou um representante. Isso quer dizer que
contingências sociais diferentes produzem “papéis sociais" diferentes, o que ecoa em
uma discussão ética: a conduta ótica de uma pessoa no nível interpessoal náo garante
que ela será um representante ético, e vice-versa. Logo, um juízo ético não pode pautar-
se em apenas um dos níveis de análise das relações sociais, mas na coerência entre
diferentes níveis.
Além disso, podemos extrapolar a discussão que empreendemos em relação
ao representante governamental para outros tipos de homens públicos. Um
representante é o governante de uma cidade, estado ou país, mas também pode ser
um presidente de um clube, de uma associação, de uma organização não-
governamental, e assim por diante. Em todos esses casos, o que se espera é que o
representante se comporte para o bem dos membros, ou associados, da comunidade
que ele representa. Claro que com isso ampliamos a complexidade de nossa análise
e devemos agora nos perguntar sobre a relação entre agências governamentais e não-
governamentais (o que, infelizmente, não poderemos examinar aqui).
Esses resultados têm um importante desdobramento: o esclarecimento da
escolha da "sobrevivência das culturas" como o bem primordial de uma ética skinneriana.
Na presente proposta a “sobrevivência das culturas”, que à primeira vista pode parecer
um bem abstrato restrito ao nível intercultural, torna-se passível de uma interpretação
mais concreta. Devemos escolher a “sobrevivência das culturas" como bem primordial
Referências
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Cambridge University Press. (Originalmente publicado em 1945)
Definição de comportamento
É quase lugar comum o fato de o behaviorismo radical ser a filosofia da ciôncia
do comportamento. No entanto, se analisarmos algumas outras propostas de psicologia
científica, como, por exemplo, aquela embasada pela Gestalttheorie, descobriremos
(talvez com surpresa) que ela também defende a tese de que a psicologia ó o estudo do
comportamento (Koffka, 1935). Assim, parece que a definição de behaviorismo radical
não se constitui pela proposta de estudo do comportamento, mas sim por como essa
filosofia define e explica comportamento.
Resta-nos, então, perguntar pelo conceito de comportamento adotado pelo
behaviorismo radical e, conseqüentemente, pela análise do comportamento. Tal
questionamento, aparentemente simples, revela-se complexo quando tentamos buscar
uma resposta nos textos skinnerianos (Skinner, 1953, 1957, 1969, 1974, 1987/1984). Isso
porque é possível encontrar nesses textos mais de um emprego do termo 'comportamento'.
Na tentativa de construir uma definição que sintetize os diferentes empregos do
termo ‘comportamento’, analisaremos a participação das formas' evento, estado e processo.
10 termo '(ornia’ è ompr«gado rwctn contoxto como a ountnvarttda d* oontaúdo. É pradao dattar daro que oom Imo nûo oatamos ompnoganck >
o termo forma* oomo Wnôntmo d» topogra»« tal como laz alguna textos sklnnerlanoe (e.Q SWonar, 1B74) Além r*Mo, dado o ofo|8ttvo do prosento
texto, nâo poderemos empreender uma dtecussâo »obre o posalvel "oontaodo do comportamanto" Baata detxar dam quo na prosonlo proposta
defandemoaquoaalumia* do comportamento' rtoevanlo.aalado a prooaaao. (UmadtauaatopomMNiori/adadeumapnipoMadeGontetidodo
comportamento, bem como da aua rataçAo com a i trta formas poda s«r encontrada em Lopea. ?000. )
Estados
Na análise do comportamento, a forma estado identifica-se com a probabilidade
de responder de um organismo em um dado momento. A primeira coisa que temos que
esclarecer nesse assunto é que todo organismo é ativo, o que equivale a dizer que todo
organismo tem, desde o nascimento, uma tendência a se comportar. Em outras palavras,
sempre encontramos a participação de estados comportamentais (de uma probabilidade
para responder), ainda que em muitos casos a gênese desses estados deva ser
buscada na filogênese.
Uma vez que os estados são a probabilidade de responder, eles não devem ser
confundidos com as respostas (é absurdo dizer que a probabilidade de uma resposta
é a própria resposta). Por isso, o estado comportamental, embora esteja relacionado
com os eventos comportamentais, não se identifica com eles. O estado comportamental
é urna disposição para agir e, portanto, não é o que o organismo está fazendo agora,
mas a tendência, ou mesmo a capacidade, de fazê-lo.
Até aqui já temos duas formas in terrelacionadas no nosso conceito de
comportamento: os eventos comportamentais atualizam os estados comportamentais*.
Desse modo, está barrada a possibilidade de existir um evento comportamental que
não seja atualização de um estado, assim como de um estado comportamental que
não seja atualizado, em algum momento, por um evento.
Processos
A forma processo é a responsável pela explicação da mudança no responder
de um organismo, que sinaliza a substituição de um estado anteriormente vigente, por
um novo estado. Em outras palavras, os processos comportamentais constroem,
mantém e destroem estados comportamentais. Através da articulação entre eventos
comportamentais e eventos ambientais, os processos comportamentais influenciam
os estados comportamentais (a probabilidade de responder). Assim, com os processos
comportamentais é possível, para a análise do comportamento, alterar o comportamento
como um todo (fluxo comportamental).
’ Uiim mlnçAo [wocKla pode ser encontrada mn Rylo (1949/1900). quando aala trata da ralação antra oco rtnd M a dtopoatçAa«
Explicação do comportamento
Podemos agora nos voltar para a explicação do comportamento. Comecemos
com os objetivos da ciência do comportamento. Parece ser lugar comum que esses
objetivos são a previsão e o controla do comportamento. No entanto, podemos
acrescentar uma outra preocupação que parece estar (ou pelo menos deveria estar) no
horizonte de tal ciência: a compreensão do comportamento. Isso se justifica pelo fato
de que sem compreender o "funcionamento" do comportamento a previsão e controle
tornam-se inviáveis. Assim, parece mais razoável dizer que a explicação do
comportamento identifica-se com sua compreensão (explicar é compreender, ou
descrever), o que, em muitos casos, propicia previsão e controle.
A definição de comportamento, anteriormente proposta, nos conduz a um modelo
de explicação que consiste na descrição da inter-relação entre eventos, estados e processos.
Podemos, assim, construir o seguinte itinerário de explicação do comportamento:
1) Nosso ponto de partida é o fluxo comportamental (fluido e evanescente), que
admitimos contar com a participação de eventos, estados e processos. A primeira etapa
será, então, isolar os eventos comportamentais desse fluxo. Isso é feito através da
“proposta" de uma relação entre topografia e função, que pode ser testada através da
manipulação de eventos ambientais.
2) A segunda etapa da explicação do comportamento consiste em considerar a
operação dos estados comportamentais que são atualizados pelas respostas de um
organismo. Isso é feito a partir da regularidade do responder; um responder uniforme
indica a operação de determinado estado comportamental (um operante, por exemplo),
um responder sem uniformidade indica a transição de um estado para outro (ou a
operação de dois estados antagônicos).
3) Por fim, a última etapa da explicação do comportamento consiste em
reconstruir o fluxo comportamental de onde se partiu, introduzindo os processos
comportamentais responsáveis pela mudança ou manutenção de estados e,
conseqüentemente, de eventos comportamentais atuais. Com essa última etapa, é
possível alterar esse fluxo, através da repetição sistemática da organização entre eventos
comportamentais e eventos ambientais até que haja uma mudança na regularidade do
responder, indicando, assim, a criação de um novo estado comportamental.
(É importante notar que embora o ponto de partida e chegada da explicação do
comportamento seja o lluxo comportamental, isso não constitui um itinerário circular.
Os pontos de partida e chegada coincidem, mas não são os mesmos: o fluxo a que se
chega é mais "rico", e pode ser alterado ou controlado.)
SobreComport.imcnlocCoRníçfio 59
da descrição da relação entre topografia e função constrói os eventos comportamentais.
A segunda ó a explicação dlsposicional, que insere os eventos comportamentais em
estados comportamentais, explicando, assim, as regularidades no responder. Por último,
temos a explicação dinâmica, que inclui o tempo na articulação entre eventos e estados,
mostrando que o comportamento está em constante mudança e que essa mudança
pode ser controlada, ou modificada, através da manipulação de eventos ambientais.
Uma vez que o objetivo último da análise do comportamento é previsão e controle,
o interesse dessa disciplina é empreender uma explicação dinâmica do comportamento.
Em outros termos, a análise do comportamento busca controlar o fluxo comportamental,
o que só pode ser feito depois da compreensão de seu "funcionamento" (da relação
entre eventos, estados e processos).
Mas se a análise do comportamento está interessada em uma explicação dinâmica
do comportamento, ela está interessada no tempo. Isso porque o fluxo comportamental
constitui e é constituído por três diferentes temporalidades inter-relacionadas:
1) evento: instantaneidade.
2) estado: constância ou duração.
3) processo: fluidez ou mudança (inter-relação entre instantaneidade e constância).
Conclusão
Com esta breve reflexão podemos dar uma possível resposta ao questionamento
sobre o conceito de tempo na análise do comportamento. Ao contrário de muitas filosofias,
o behaviorismo radical não considera o tempo como uma categoria de análise “externa"
ao comportamento. Ao contrário, o tempo é imanente ao comportamento.
Como conseqüência disso temos o fato de que uma explicação do
comportamento adequada é dinâmica, revelando, assim, não só o interesse, como
também a impossibilidade da análise do comportamento se desvencilhar do tempo.
A busca de uma explicação dinâmica do comportamento, por parte da análise do
comportamento, revela não só o interesse dessa disciplina pelo tempo, mas nos conduz
à conclusão de que ela trabalha construindo o tempo (alterando as diferentes
temporalidades envolvidas no fluxo comportamental: criando e extinguindo estados
comportamentais, o que, conseqüentemente, altera tanto o responder atual - a emissão
de eventos comportamentais quanto o responder futuro - a probabilidade de responder).
Referências
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'Doutor»ida do ProQramo do Pó* GraduaçAo em FloaoflaeMetodotoflia das Cténctas.UnivnriiidiHk» Federal de Sâo Carlos h maH para oontato:
cbandtnfOMjpartg com br
■' Doutoranda do ProQrama da Pós-Graduação am Educação Espacial. Universidade Federal da S*o Carlos E mail para contato'
cflrotsedaOyahoo com br
Professora THular do Departamento de Pticotogú» da Unlvorsldade Federal da SAo Carlo* E ma» para oontato: ddgsOpowor ufscar.br.
Sobrr ComportiimrntoeCognição 61
Dube e Mcllvane (1997b) afirmam que a formação de repertórios inadequados,
decorrentes de topografias de controle de estímulos variadas, pode ser resultado de
contingências de reforço que colocam o comportamento sob controle de um número
menor de propriedades de um estímulo do que o esperado ou de propriedades diferentes
daquelas programadas pelo experimentador ou professor. Exemplos comuns são o
controle pela posição do estímulo (o comportamento fica sob controle apenas da posição
em que o estímulo é apresentado), o controle pela dica (se há um modelo fornecendo
uma dica, o participante atenta apenas à dica e não aos estímulos envolvidos na
discriminação), o controle temporal (o participante escolhe um estímulo baseando-se
na seqüência temporal em que é apresentado, por exemplo, escolhe sempre o primeiro
estímulo apresentado), o controle pelo reforço (escolha do estímulo na presença do
qual foi obtida a conseqüência anterior), entre outros.
Topografias de controle de estímulos inadequadas não são apenas resultantes
de controle espúrio por estímulos antecedentes. Erros acontecem quando a relação
entre propriedades irrelevantes do estímulo e comportamento se fortalece. Conforme
discutido por Sidman (1980), se uma dada relação espúria entre estímulo antecedente
e comportamento for reforçada, além de favorecer a ocorrência de erros, o planejador
das condições de ensino pode não conseguir estabelecer o repertório planejado.
Mais do que o não estabelecimento do repertório programado, pesquisas indicam
que as ocorrências de erros podem ser danosas para o repertório do indivíduo. Lambert
(1980), Sidman e Stoddard (1967) e Stoddard e col. (1986), por exemplo, mostraram que
a ocorrência de erros durante o processo de aprendizagem pode ter um efeito deletério no
repertório do aluno. Isto significa que, havendo reforçamento de relações espúrias entre
estímulos antecedentes e comportamento, pode haver a deterioração de habilidades que
já estavam presentes no repertório do indivíduo e discriminações que aparentemente já
estavam estabelecidas passam a ficar imprecisas ou não acuradas.
Além dos problemas de estabelecimento de repertórios inadequados e da
perda de repertórios já estabelecidos, os erros comumente implicam em punição do
comportamento inadequado. Conforme discutido por Sidman (1989) e Skinner (1953,
1989), entre outros, professores empregam a punição do erro visando reduzir ou suprimir
o comportamento que consideram incorreto, geralmente apresentando um estímulo
averslvo ou retirando reforçadores. O grande problema com a punição são seus efeitos
colaterais (Sidman, 1989; Skinner, 1953, 1989). O primeiro desses efeitos é a ocorrência
de comportamentos de fuga-esquiva da punição, que o indivíduo passa a emitir. Por
exemplo, uma criança que tem seu comportamento punido em sala de aula, pode
passar a evitar freqüentar as aulas. Pode, ainda, como mais comumente ocorre, deixar
de "prestar atenção" às atividades acadêmicas, engajando-se em “devaneios" ou outros
tipos de distrações (de Rose, 1999). Além disso, outros efeitos da punição podem ser
encontrados, tais como a ellciação de comportamentos reflexos associados (taquicardia,
sudorese, enurese).
Devido a todos estes fatores, o desenvolvimento e a aplicação de procedimentos
de ensino que minimizem (ou eliminem) as oportunidades de erros são de grande
importância.
Com base nas pesquisas iniciais de Terrace (1963a, 1963b), Sidman e Stoddard
(1967) mostraram que é possível reduzir o número de erros ao mínimo se o procedimento
utilizado para o ensino for adequadamente planejado. Esses autores elaboraram um
programa de ensino de discriminação entre círculos e elipses para 19 crianças com
SobreComporl.imcnloe(.'ofinição 63
intermediários que funcionavam como pré-requisitos para um controle de estímulos
mais refinado. Dito de outra forma, se a discriminação requerida começa com uma
tentativa impossível e se não avança de um passo mais fácil para outro sutilmente mais
difícil, então, erros, como os cometidos pelos participantes do Grupo Teste,
provavelmente serão produzidos.
Este estudo teve outros desdobramentos. Stoddard e Sidman (1967) testaram
essas suposições empregando o mesmo procedimento de ensino do Grupo Programa,
porém acrescido de uma tarefa de discriminação entre diferenças sutis no tamanho do
eixo vertical das elipses e do círculo. Mais precisamente, após o esvanecimento da
espessura das elipses, foram introduzidas tentativas nas quais o eixo vertical de todas
as elipses era aumentado gradativamente. Em cada tentativa, portanto, as elipses iam
se tornando mais parecidas com o círculo projetado em uma das janelas. Se o participante
não respondesse corretamente apontando o círculo (S‘), o programa apresentava o
procedimento de correção exemplificado no estudo de Sidman e Stoddard (1967). Em
relação ao estudo anterior, a ordem de apresentação das tentativas também foi alterada.
No Grupo Controle, as crianças que passavam pelo programa de ensino de discriminação
entre círculo e elipses eram submetidas, ininterruptamente, às tentativas nas quais os
eixos verticais das elipses eram gradualmente aumentados, até atingirem critério para
o final da sessão. Nesse procedimento os erros somente apareceriam quando as
diferenças entre o círculo e as elipses eram quase imperceptíveis. Já o Grupo
Experimental fazia o percurso contrário: quando terminavam as sessões nas quais se
estabelecia a discriminação entre círculo e elipses, eram imediatamente submetidas à
última tentativa do novo programa, ou seja, à tentativa na qual o eixo vertical das elipses
estava tão aumentado que ela correspondia, praticamente, a um círculo. Sendo assim,
a discriminação entre círculo (S‘ ) e elipses (S ) passava a ser quase impossível e, desta
forma, as crianças deste grupo eram induzidas ao erro desde o começo. À medida que
respondiam equivocadamente, o procedimento de correção era utilizado. Assim, as
crianças poderiam chegar a tentativas de fácil discriminação e, uma vez estabelecida a
discriminação nessa etapa, poderiam novamente avançar no programa. O Grupo
Controle mostrou altos escores de acertos. As crianças deste grupo progrediram no
programa até graus refinados de discriminação entre círculo e elipses. Já no caso do
Grupo Experimental, as crianças foram cometendo erros, retornando assim, para passos
onde a discriminação exigida era mais fácil. Os resultados indicaram que a contínua
progressão de discriminações fáceis entre círculo e elipses foi suficiente para ensinar
tais discriminações. Segundo os autores, o programa dava à criança a oportunidade de
aprender comportamentos que possibilitavam discriminações cada vez mais refinadas.
Os passos de ensino elaborados por Sidman e Stoddard (1967) e Stoddard e
Sidman (1967) apresentavam uma característica especial que consiste no fornecimento
de dicas. Ao deixar iluminada apenas a janela com o círculo, aumentava-se a
probabilidade do participante responder a esta janela e não às janelas escuras.
Conforme discutido por Skinner (1968), recursos como diferentes tonalidades de voz e
som, iluminação, brilho e cores, podem ser importantes por auxiliarem no controle de
comportamentos relevantes neste tipo de tarefas, como, por exemplo, o comportamento
de atentar. A literatura sobre procedimentos de ensino de discriminações sem erro
demonstra a eficácia de uma variedade de tipos de dicas na redução, ou mesmo na
eliminação da ocorrência de erros, entre as quais podem ser mencionadas, brevemente,
o fading por remoção ou introdução gradual de estímulo ou propriedade de estímulo
(Dube, 1996; Martin & Pear, 1988) e a dica atrasada (Gallo & de Souza, 2004; Ollveira-
Castro, Faria, Dias e Coelho, 2002; Stoddard & Sidman, 1967; Martin & Pear, 1988).
SobreComportumcnlocCoflmvão 65
exposto tanto a exemplos (S*) como a contra-exemplos (S ) pudesse favorecer
discriminações mais acuradas das diferentes categorias. Ao implementar o
procedimento com alunos de quarta-série que apresentavam muita dificuldade de leitura
e de compreensão de leitura, verificamos que, apesar de um bom desempenho nas
tarefas de discriminação propostas, os participantes apresentaram erros, que, embora
pouco freqüentes, ocorreram de forma sistemática (Sella, Bandinl, & de Souza, em
preparação). Neste texto, serão analisados os possíveis controles de estímulos
inadequados, que podem ter induzido os erros e o papel que o planejamento de ensino
pode ter tido no estabelecimento de tais controles.
6 6 Ciirrncn Silvia M . H.imlini, A n .i t.irolin.i Scll.i c I >ci*y d«is C/r.iç.is tio Nou/.i
Tabela 1
Exemplos de questões de múltipla escolha em graus de dificuldade para a categoria
resolução
História Exemplos
Tabela 2
Distribuição de freqüência de erros no treino de Identificação de Categorias por questão,
categoria e história
(Mefjorma mtorrni HlBlÓtlH2 Totalporcm
QÍ 02 03 ÛI Q2 " 02
Canário 0 2 7 0 1 5 15
Tema 0 0 1 0 0 1 2
Enrado 0 1 0 0 0 2
Haanhirao 0 0 0 0 3 1 4
Total por quastio 0 3 8 0 4 8
Tola) por história n 12
* Q1, Q2 e Q3 referem-se ás Questões 1, 2 e 3, respectivamente
1DevtdoaolatoquanèotoramapraaantadaadtfamnçMno*fraudado»oWWutquandoa«damd»analnodaaoatogoriailoialtararia,o*naauftadoa
ohtldosainambasai Mquéndai loramaprMantadoa#mconjuntonaTabata2.
68 Cttrmcn Silvút M. Btimlini/ An«i Curolitw Sell<i c Pcuy d»is C/rdÇdt dc Sou/.t
Quanto à dificuldade discriminativa das questões, os erros, mostrados na Figura
2, foram mais freqüentes nas questões 3 (Q3), que eram exatamente aquelas nas
quais todas as alternativas continham informações incluídas na história lida (embora
em categorias diferentes), o que tornava mais difícil discriminar. No caso, uma informação
empregada como S era verdadeira, do ponto de vista de que se referia à história em
questão, porém era incorreta, do ponto de vista do que estava sendo perguntado (o que
caracteriza a discriminação como uma discriminação condicional). Com base nas
considerações apresentadas por Dube (1996), Sidman e Stoddard (1967) e Stoddard e
Sidman (1967), a discrepância entre os estímulos na passagem das questões 2 para
questões 3 pode ter sido reduzida de forma mais abrupta do que o que seria necessário
para manter o repertório sob controle do estímulo discriminativo (S*). Esse efeito,
decorrente da redução na discrepância, poderia ter sido reduzido se a discrepância
entre as alternativas de resposta tivesse sido diminuída de uma forma menos abrupta.
Questões que contivessem discrepâncias intermediárias poderiam ter minimizado ainda
mais o número de erros cometidos pelas crianças.
15 | A
*
- 12 I *
— «• História 1
■■ História 2
- ac total
Considerações Finais
Este capítulo focalizou aprendizagens discriminativas e empregou alguns
resultados ilustrativos, que foram selecionados de um estudo mais amplo, para evidenciar
alguns aspectos importantes na análise, planejamento e na avaliação de ensino, quando
se pretende um ensino eficiente e livre de componentes aversivos (Skinner, 1968).
O comportamento de interesse era a compreensão e produção de histórias. No
entanto, não tratamos desse aspecto do repertório, que será objeto de outro trabalho
(Sella e col, em preparação), mas da aprendizagem de discriminações complexas (de
aspectos estruturais de conteúdos de histórias), consideradas como importantes
requisitos para se chegar ao comportamento alvo.
De forma geral, o procedimento proposto a partir de uma análise minuciosa
das discriminações a serem ensinadas e do planejamento das condições de ensino,
colaborou com a aprendizagem da descrição e identificação de categorias essenciais
de histórias para os alunos participantes. Tendo em vista o número total de oportunidades
de resposta, o número de acertos foi acentuadamente maior do que o número de erros.
Contudo, o bom desempenho dos alunos poderia ter sido maximizado se o planejamento
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Introdução
Os problemas na Educação e no ensino vêm sendo amplamente estudados e
discutidos. Comumente nos deparamos com a queixa de que o sistema tradicional de
ensino produz alunos que aprendem pouco, os que aprendem, aprendem mal e, como
conseqüência, são alunos pouco criativos. B. F. Skinner foi um autor diretamente envolvido
na procura de soluções para estes problemas e muitos textos de sua obra foram
dedicados exclusivamente a este tema. Um dos trabalhos mais importantes do autor
sobre o assunto foi o livro Tecnologia do Ensino (1968), o qual, apesar de publicado há
quase quarenta anos, nos mostra muito sobre os problemas encontrados nas queixas
atuais sobre o sistema educacional.
No presente trabalho, realizou-se uma análise conceituai de textos de Skinner
relacionados ao ensino e a aprendizagem, principalmente do livro Tecnologia do Ensino,
com o objetivo de verificar quais tecnologias o autor propôs para a melhoria da Educação,
focalizando de forma especial a formação de alunos criativos no contexto de ensino. O
itinerário a ser seguido envolve uma apresentação do que Skinner considera como sendo
uma Educação eficaz e quais as tecnologias disponíveis para a construção deste tipo de
Educação. Encaminharemos a seguir, uma análise de como o autor concebe o ensino de
comportamentos que usualmente são conhecidos como pensar e como, por meio desta
análise, torna-se possível que comportamentos criativos sejam promovidos.
' fclaboraçâo do trtibulho financiada pota Fundação de Amparo à Peaqulea do Ettado d« S*o Paulo FAPE8P, proceaao 03000?« 4
0
' Departamentode FHoaofla Metodologia daa Clftndaada Untveraidade Federal da 3âoCario« E mad para contato nhanrtmiOaiinnmi nmn.hr
Auxilio financeiro FundaçAo da Ampam A Peaqulea do Estado da Sâo Paulo-FAPfcSP
* Dapamimanto da Pslcoiogin da UntvoriKlado Fodoral de Sâo Cario« Emall para contato minx A n m ii O valtaü.uom.bt
4Da manoira como (m definida, uma niA<tuinti de miMwir podo assumir drtorentes loimaa Por exomplo, um livro que oontenho maternal
programado do eiwltio ou um computador que exiba um programa tambóm de limtruçAo programada, podem ser, desta perspectiva, uma
máquina de onsJnar NAo nocessariamento, portanto, uma máquma de onslnar precisa se aproximar em sou aspecto IIskx) das máquina«
descritas por Sklnnor em seu livro Tecnologia do bnsmo (1966) ou de qualquer outru de suas pubUcaçôos
' Usualmente o material progmmado é disposto em uma máquina de ensinar na forma de ‘quadros". Cada quadro corresponde A apresentação
de material (Informações, diagramas, figuras, ele) que requer um ttpo de resposta do aluno Dependendo do tipo de máquina utW/ada, a resposta
pcxle sor oral, escrita, de apontar, etc Um computador é, portanto, um Upode máquina de ensinar bastante Interessante porque lucAntenle podo
dls|>or o malnrial programado na forma de quadros
• Pesquisas na área de enalno moetram que contingências de retorço podem ser dispostas de forma a mlntmlíarem oe erroe doa alunos e que.
como resultado, garantem um ensino mala eficiente O ensino de discriminação por meio de procedimento de tmMmi in, por exemplo, pode ser
considerado um procedimento deeto *po o <x*nporlamento do afuno de reeponder a um determinado eehmuto á modelado e, em segukla, um novo
estimulo vai sendo úMrodu/ido de lorma muito gradual (o eetfmuio pode aparecer esmaeodo e eeus uontomoe podem Msendo mal» bem definidos
até que se tomem bem nítido», por exemplo) Ao finai do processo, o aluno consegue reeponder corretamente também diante do novo estimulo
Um estudo clássico que uttza tal prnoecímento á de Stdman e Stoddard (1967), Inclusive oNado por Skinner (1968), no qual Indivíduos oom retardo
mental foram enainadoe a dtocrimmar círculos de eüpses. Inicialmente, o procedimento modelou a resposta dos participantes em responder ao
circulo que aparecia eo/lnho em uma tela Depois de modelada eeta reapoeta. oito elpeee esmaecidas Iam sendo apresentadas simulaneamente
e gradatfvemente, a cada tentattva, seus contornos Iam se tomando nítidos Ao ftnnl do programa de eneino. oe alunos respondwm corretamente
pressionando o circulo meemo diante das aipsee. Para maiores eedareosnentoe ver 9toddarde Stdman, 1967; Sidman e Stnddard. 1967; Skinner,
1968 eStoddard.de Roso oMdh/nno, 1966
3. Conclusão
Consideramos importante a discussão sobre como um ensino planejado pode
favorecer a formação de nossos alunos. A proposta tecnológica skinneriana, apesar de
publicada há quarenta anos, aproximadamente, foi pouco difundida entre os profissionais
Referências
SobreComportamentoeCo^m^lo 81
Mas também argumentar, que se trata de uma alternativa coerente com os pressupostos
do behaviorismo radical. Para sondar essa questào, apresentaremos, primeiramente,
algumas características das relações funcionais na perspectiva do físico Ernst Mach
(1838-1916). Tal estratégia justifica-se pela notável influência machiana na filosofia do
behaviorismo radical, que se revela, inclusive, pelo emprego, por parte de Skinner (1931/
1961, 1953), da relação funcional em oposição à relação causai.
82 C<iroli»<i l .iurcnli
corpos intermediários e suas posições participam dessa determinação (Mach, 1905/
1976). Dessa forma, a ‘dependência funcional' quebra com a obrigatoriedade da relação
unidirecional de "um-para-um", afirmada pela relação causal1.
Ademais, a relação funcional ultrapassa a descrição em termos de um laço
inexorável em um outro sentido: as relações funcionais permitem expressar relações
probabilistlcas de interdependência entre eventos. Muitas vezes, a apresentação de
um evento A não é seguida da ocorrência do evento B. Pode ser seguida do evento C, D,
E, F. E mais: a ocorrência do evento B pode não ter sido precedida pela apresentação do
evento A. Em outras palavras, a ocorrência do evento A não é nem suficiente nem
necessária para a ocorrência do evento B. Nesse sentido, não há uma determinação
inexorável na relação de A para B. A noção de função expressa essa não obrigatoriedade
da relação, pois ela é probabilística. Em suma, a noção de dependência funcional
admite exceções' a ocorrência do evento A pode ser seguida da ocorrência do evento B.
Não lidamos, aqui, com as relações implacáveis de necessidade e suficiência causal,
mas com a noção flexível de probabilidade.
Assim como Hume (1748/1980)2, Mach (1893/1960, 1894/1943) também critica
a idéia de causa como força ou agência, argumentando que noção de causa como um
evento ou fator que gera, produz ou impulsiona algo ó adicionada às relações entre os
eventos. Não é verificada empiricamente. Por isso, alega que a idéia de causa como
força está carregada de obscuridades metafísicas Distanciando-se da noção de causa
como força ou agência, o conceito de relação funcional tem conteúdo empírico. As
relações funcionais não são concebidas como conexões necessárias que poderiam
ser conhecidas a priori, elas são determinadas empiricamente através da observação
e experimentação. Elas descrevem, apenas, que os eventos seguem-se uns aos outros
de maneira uniforme ou constante. Nesse sentido, as relações funcionais não expressam
a conexão genética entre os eventos (isto é, a produção de um evento por outro), mas
sim, a dependência mútua entre eventos.
Além disso, a explicação causal, geralmente, rompe os limites da experiência
em um outro nível de análise. Segundo Mach (1893/1960), a noção de causalidade
considera que os eventos que participam de uma relação causal são inicialmente
isolados. Por isso, a constituição do nexo causal exige a postulação de um elo
intermediário, comumente náo-empíríco, que conecte causa e efeito. O principal
problema, indicado por Mach, é que essas entidades hipotéticas, invocadas para
preencher as fissuras entre causa e efeito, acabam por se tornar o objeto principal da
pesquisa3. Contrariamente, o conceito de função expressa uma concepção relacional:
os eventos não acontecem isoladamente. Isso significa que a ocorrência de um evento
é explicada na sua relação de dependência com um outro evento. Em suma: os eventos
não têm sentido neles mesmos; não podem ser definidos fora da relação.
'Acrílica machiai ia relorente à rtgide/ do concerto de cauaa e o dealaque para m vantagana explanatôrta» dtui rotayôw lundu m» fkwin evkientoft
na «egulnl» paaaagem: ‘A antiga ooncapçâo iradMonal rtecauaalWedeértgopeflBltainenle rtgklo: i m i doae do ofotlo togue a uma doto dn causa
Uma eapéde d* concapçào primitiva • tamuniullca do unlvano éaxpnwaa n t w vltâo, oomo na doutrina doa qualm okminnto» A prúpiw iwltwru
cauta' deixa laao ctaro Aa cunexOea da nature/a raramente ato (Ao atmptet que em qualquer caao dado poaaamc» apontar uma uim;a cautu o
um único efeNo. tu , portanto, há muito pmput «ubaltuir a concepção da cauta pala oonoapçto matamAHoa de tunpto - wto ò pota «»»oopçAodn
dependência doa fenômeno» una doa outroa. ou, mala procl«amonla, pala dependênda daa caracterlatca» doa tanômanoa una doa outro» E«na
concepção é capa/de qualquer exlantâo ou Imitação que aadaaa)a, de acordo oomo que 6 exigidopeloafato«ivi«a>gartna*(1BB& 19f>9 p B‘l)
• Segundo Hume (17 W 1880), a experiência. fundamento do conhedmanlo aotxa quaatOaa da lalo, n*o noa pom*o aoaaaar oa atoa quo ounoctnm
liilaUvttliiiei th» a cauaa ao efaMo Em vlata dlaao, aa noçtok de força, energia e podtx nâo ato mala invocada* para promovar uma uumpruorikAo
das relaçOea entre oa avanloa • |4 qua nèo aâo fundamentada» na experténda Flcamoa, entâo, oom aa ralaçA*« que noa »to aulnn/adit» peln
oxiwrVWKia a mninnran r.n«»tant« Nm palavra» do Móaofo eacocéa *a axpertftnoa aó noa enaina t^ua um acxxitociinonlu «agua onnatanUmanlri
n outro, «otn no» moatrar a ronoxâo sacmta qtie o» Kgn entre ai a oa toma InseparáveM” (p 161) Daaaa modo, a cauM iiáo 6 viela oomo o evento
que produz ou impulaiona o ofetto, maa o evento que 6 aaguldo. de maneira unMorme, por um outro evento
‘ Com raipelto a a»»e a»pacto, Mach (1906/1970) cenaurou Newton por poatular qua a gravidada deveria Mr cauaada por um agonto materinl
ou Imalartal contíguo, |Aque «erta um abaurdo. na perapedtva newtonlana, »uatentar que a gravidada podnria aar cauandn (>oln nçflo do algum
oviinlo h dlstAncia
SobreComportiimcntocCofjniçcto 83
Por fim, podemos concluir que Mach (1886/1959) não re-significa ‘causalidade’,
mas propõe uma eliminação do conceito da ciência. Ou seja, ele opera uma
desvinculação entre explicação científica e causalidade. Em vista disso, podemos dizer
que, segundo esse autor, explicar é descrever relações funcionais e não buscar as
causas dos fenômenos.
‘ Nu Mtatm d H U anáUM. uma outra oty«ç*>qu« poda sarlavantadaoontra a noçAo de causaçAomúMpla «sUI am seu próprio nom« Sagurtdo
Utrngo ( I 96W1983), • cautaçfc) rnüMpla' sondo, pof daflrtçio. um« oor»x*o d» “um-para-vários", nio m a|utla às tomxjteçOe* do principio causal,
quo afirmam a conaxâo única (to "um para um". Em suma. a 'causaçAo rnüMpla' n*o é «strttamenla causal. Para outras (usttftcaKvM do porquê
ft'cniisaçtomuniplA'nâoMtlsfiu outras«xlgAndas do princípiocausai, d. Bunga (1053/1909, pp. 122-125).
84 Cumlin.i l .iurcnti
rompe a relação específica e obrigatória da causa ao efeito (a unilateralidade da relação
causal). Além do mais, a relação funcional admite que as relações de dependência
entre os eventos sejam probabilísticas, ou seja, a mudança em um evento ambiental
pode acarretar na ocorrência de um evento comportamental,
Em segundo lugar, as relações funcionais possibilitam uma descrição plástica
e ampla do comportamento. Em um modelo de explicação do comportamento
behaviorista radical, em que a ênfase está nas conseqüências da ação, a nomenclatura
da causa como antecedente, e do efeito como conseqüente (assimetria temporal) perde
o seu sentido. Incorreríamos em um absurdo lógico ao dizer que as causas são as
conseqüências da ação. A noção de variável independente expressa o papel tanto do
estímulo antecedente quanto da conseqüência e a lógica das relações entre eles é
recursiva e nâo-linear. Por exemplo, no encadeamento, um outro exemplo de caso
complexo, a ocorrência da conseqüência não é vista somente como adição de mais um
elemento. Ao contrário, a sua ocorrência dá sentido ou função a toda seqüência de
eventos anterior a ela. Essa afirmação merece o seguinte comentário. Se a explicação
do comportamento, na perspectiva das relações funcionais, mostrou*se, ató o momento,
dinâmica e recursiva, parece não fazer sentido empregar o termo ‘encadeamento’, que
sugere uma seqüência linear entre os eventos, como elos em uma corrente. Uma
representação mais correta poderia ser a de uma rede comportamental
Em terceiro lugar, a relação funcional nos obriga a encarar os eventos ambientais e
comportamentais sempre em relação. Isso significa que estímulos, respostas e
conseqüências são encarados como divisões de trabalho e não como distinções de existência.
O sentido de cada evento é dado pela função que desempenha no todo (na relação com
outros eventos). Sendo assim, estímulos, respostas e conseqüências não são coisas-em-si;
não têm uma existência fixa e independente. São distinções arbitrárias, isto é, são recortes
orientados pelos objetivos da ciência do comportamento (previsáo, controle, compreensão)
Um exemplo pode ser elucidativo. Consideremos uma situação experimental em que a
resposta de um organismo é seguida por choque. Em relação a classes de respostas que o
evitam, o choque tem a função de reforçador negativo. Por outro lado, em relaçáo às respostas
emocionais subseqüentes ao choque, ele tem funçáo de estímulo eliciador. Nos dois casos,
o choque é definido pela função, o que não quer dizer que um mesmo choque desempenha
ora uma função, ora outra. A depender da relação com outros eventos, o choque é reforçador
negativo, ou é estímulo eliciador. Trata-se, pois, de eventos ambientais distintos; e não de um
mesmo evento ambiental com diferentes funções.
Além disso, há outra conseqüência da definição funcional e relacional dos
eventos. Se nessa perspectiva, os eventos não são concebidos como elementos
isolados, desconexos e independentes entre si, evitamos o problema de como relacioná-
los. Assim, não nos comprometemos com explicações que invocam entidades exteriores
ou transcendentes ao comportamento para conectar um evento a outro.
Em suma, a explicação do comportamento, na perspectiva das relações
funcionais, e nào-causais, permite expressar a complexidade do comportamento, ou
seja, as múltiplas combinações entre as variáveis ambientais e comportamentais. Mais
do que isso: destaca o aspecto relacional do comportamento - estímulos, resposta e
conseqüências são definidos na relação. O todo, o comportamento, é o dado primordial,
e a delimitação dos eventos dá-se conforme propósitos estritamente pragmáticos. Em
vista disso, a relação funcional é coerente com os pressupostos do behaviorismo radical,
em especial, o comportamento como matéria de estudo em si mesmo (Skinner, 1989).
SobreComportiimentocCotfniçào 85
Algumas conseqüências da adoção das ‘relações funcionais’ na
explicação do comportamento
Podemos dizer que o behaviorismo skinneriano, assumindo radicalmente o paradigma
das relações funcionais, distancia-se de algumas tradições de pensamento psicológico e de
doutrinas filosóficas, que comumente sâo filiadas ao behaviorismo radical, a saber;
A Psicologia ostfmulo-resposta: a psicologia estímulo-resposta (S-R) estó
comprometida com a noçôo de causa como força ou agência. O estimulo é algo que
Impulsiona ou força a ocorrência do comportamento, assegurando uma relação inexorável
com a resposta (Skinner, 1969). Ora, a noção de relação funcional critica justamente a
noção de causa como força ou agência e o caráter inflexível das relações. Lembremos
que a variável independente não produz ou gera o comportamento, mas altera a sua
probabilidade de ocorrência (Skinner, 1953). Alóm do mais, a noção de causalidade
enfatiza os estímulos antecedentes do comportamento; eles são a causa. Já na
explicação behaviorísta radical, as conseqüências são mais importantes que os
antecedentes: elas selecionam o comportamento. Em vista disso, o paradigma das
relações funcionais descreve o papel das conseqüências na explicação do
comportamento, pois o que está em jogo são os eventos que modificam ou mantêm o
comportamento, sejam eles anteriores ou posteriores à ocorrência do comportamento.
O Associacionismo: como já examinamos, a noção de relação funcional admite
que a ocorrência dos eventos não ó isolada, não havendo existências independentes. A
ocorrência dos eventos ó explicada na relação com outros eventos. Sendo assim,
estímulos, respostas e conseqüências não são "coisas" desconexas que existem na
natureza, e que, portanto, requerem algum princípio de associação, seja ele empirista
(semelhança, contigüidade temporal e espacial) ou intelectualista (cognição, metáfora
computacional da mente) para relacioná-las. Em contraste, a análise do comportamento,
orientada pela noção de dependência funcional, concebe o comportamento como
unidade primordial. Partimos, então, do comportamento em direção à definição funcional
dos eventos comportamentais e ambientais; e não o reverso, tratando estímulos,
respostas e conseqüências como unidades elementares (Morris, 1988).
O Mecanicismo: de acordo com a filosofia mecanicista as causas de todos os
fenômenos da natureza são buscadas em partículas primárias, universais, e imutáveis
da matéria indiferenciada, e na combinação das formas, tamanhos e movimentos
dessas partículas (Gifford & Hayes, 1999). Nesse tipo de explicação, as partes são
prioritárias e o todo é secundário. O que fundamenta um reducionismo, em que a
explicação do todo é dada pela identificação de suas partes constituintes. No contexto
psicológico, isso significa que a explicação do comportamento será reduzida a eventos
neurais, e estes, por sua vez, a eventos físico-químicos subjacentes a uma dada estrutura
neural (Gifford & Hayes). Ora, a noção de relação funcional admite a prioridade da
relação: o todo é primário e os elementos são derivados como abstrações. No caso do
behaviorismo radical, o comportamento é a unidade de análise, e os eventos como
estímulos, respostas e conseqüências são definições funcionais ou abstrações do
fluxo comportamental. Além de uma ênfase nas parles, a causalidade mecânica dispõe
os eventos de maneira contígua, sucessiva, linear e unidirecional como elos em uma
corrente (Chiesa, 1994). Em contraste, a relação funcional, como já mencionamos,
permite expressar a dinâmica dos eventos na forma de redes complexas de relações.
Se por um lado, a noção de relação funcional afasta o behaviorismo radical das referidas
posições psicológicas e filosóficas, por outro, parece aproximá-lo de outras visões de mundo,
tal como o contextualismo de Stephen Cobum Pepper (Morris, 1988; Carrara, 2001).
86 Ciirolirhi I «turrntl
O contextualismo pepperiano apresenta alguns aspectos para a compreensão
da realidade que são coerentes com a proposta de análise na perspectiva das relações
funcionais. A metáfora raiz do contextualismo ó o ato-no-contexto. Aplicada à análise do
comportamento, teríamos uma interpretação que admite uma multiplicidade de
combinações das variáveis que explicam o comportamento. O que abre o flanco para
envolver variáveis remotas ou históricas, e não necessariamente contíguas à ocorrôncia
do comportamento. Nesse sentido, a metáfora contextualista amplia o foco e o escopo de
análise das variáveis que participam da explicação do comportamento (Carrara, 2001).
Por tal razão, o contextualismo privilegia uma análise não-linear das relações entre
organismo e ambiente: o comportamento é visto como uma rede de relações complexas,
que não mais pode ser explicado pela metáfora da cadeia, que pressupõe justaposição,
contigüidade e associação de estímulos e respostas (Morris, 1988; Carrara, 2001).
Ademais, o contextualismo privilegia uma explicação molar do comportamento:
o todo, a relação ou contexto ó primordial. As partes (estímulos, respostas e
conseqüências) só ganham sentido em relação ao todo. Em vista disso, estímulos e
respostas desenvolvem*se historicamente e existem simultaneamente em relação a
um e outro, e são definidos em termos de seu contexto (Morris, 1988). Finalmente, o
contextualismo exige que o contexto não seja mais visto como algo externo, que incita o
comportamento. Mas que seja incorporado ao fenômeno, mantendo com este uma
relação interna e indissociável (Morris, 1988).
Vimos que o paradigma das relações funcionais nos conduz a: 1) uma ênfase
em uma interpretação dinâmica e complexa do comportamento; 2) um compromisso
com uma análise não-linear das relações entre organismo e ambiente; 3) uma prioridade
do todo (comportamento) em relação às partes (os eventos ambientais e
comportamentais); e 4) uma concepção relacional dos eventos. Ora, não são justamente
essas, características de uma interpretação contextualista da realidade?
Conclusão
Há ambigüidades notórias no texto de Skinner (1953, 1981/1984) quando a
questão em tela é o seu posicionamento com respeito à causalidade. Nesse sentido, ó
possível, por um lado, defender a causalidade como o tipo de explicação legítima do
comportamento. Explicar o comportamento consistiria, então, na busca de suas causas.
Nessa perspectiva, a relação funcional seria um refinamento da causalidade.
Uma proposta diferente seria radicalizar o posicionamento skinneriano, e
assumir as relações funcionais, ou interdependência funcional, como a maneira mais
adequada de explicar as relações entre eventos ambientais e comportamentais.
O que tentamos argumentar é que as posturas inovadoras e interessantes do
behaviorismo de Skinner são decorrentes da centralidade do paradigma das relações
funcionais na explicação do comportamento. O que envolve um afastamento completo
da lógica da causalidade. Isso se revelou no contexto científico com a análise de casos
complexos. E também em uma perspectiva filosófica: por um lado, as relações funcionais
permitiram estabelecer um diálogo virtuoso do behaviorismo radical com correntes
filosóficas de inspiração pragmática, tais como o contextualismo pepperiano. Por outro
lado, acabou por distanciá-lo de doutrinas que ainda o assombram, como o mecanicismo
e associacionismo, e a psicologia estímulo-resposta.
Por fim, levando em consideração as influências machianas na filosofia da ciência
de B. F. Skinner, parece razoável admitir que explicar no behaviorismo radical é descrever
relações funcionais entre organismo e ambiente, e não desvendar as causas do
comportamento.
Sofonr Comport.imcntocCojjniÇilo 87
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Skinnor, B. F. (1989). Recent issues in the analysis of behavior. Columbus: Merrill Publishing Company.
88 C<irolin<i I «iiircnti
Capítulo 10
Habilidades sodais de filhos cujas mães
não trabalham fora
Carolina Çermano Sicuro1
Su/üne Schmidlin Lõhr*
SobreComporl.imentocCofiniç.lo 89
mas a responsabilidade pela educação dos filhos permanece sob sua tutela. As mães
que não trabalham fora são por vezes pressionadas pela sociedade para que contribuam
no orçamento familiar e/ou busquem a realização profissional, o que pode gerar
sentimento de culpa ou deixá-las confusas, já que continuam definindo-se como as
principais encarregadas da educação dos filhos
Dentre as responsabilidades atribuídas à família podemos enfatizar o
desenvolvimento de habilidades que favoreçam o relacionamento interpessoal, as
chamadas habilidades sociais. Reppold, Pacheco, Bardagl & Hutz (2002) apontam os
familiares como essenciais no processo de socialização da criança, pois é através da
família que a criança adquire comportamentos, habilidades e valores da cultura à qual
pertence. A efetivação do processo faz-se via estratégias e práticas educativas utilizadas.
Aron e Milicic (1994) têm posicionamento parecido, ao considerarem o lar o primeiro
contexto social da criança, a matriz social, onde são aprendidos os primeiros
comportamentos interpessoais.
A determinação de aspectos que podem ser englobados sob a denominação de
habilidades sociais foi feita, dentre outros autores, por Falcone (2002). A autora cita que as
habilidades sociais englobam uma série de fatores, como: perceber quais são as
informações necessárias e importantes para aquele contexto social e interpessoal; saber
usufruir dessas informações para poder determinar comportamentos adequados; executar
o comportamento de maneira assertiva visando atingir seus objetivos e também
respeitando a relação com o outro. Em trabalho anterior, Falcone (2000) já citava que é no
contato com os pais, que a criança pode aprender habilidades e valores importantes para
uma boa interação social, sendo que a escola constitui um contexto bastante apropriado
para a criança avaliar as próprias habilidades e sua aceitação no grupo, ao se comparar
com seus pares, colocando em prática as habilidades desenvolvidas no âmbito familiar.
Lubi (2002) descreve os processos que levam à aprendizagem de habilidades
sociais. A autora mostra que grande parte da aprendizagem de habilidades sociais
ocorre através da modelação, ou seja, as crianças observam o comportamento de
outros, especialmente os próprios pais, e passam a imitá-los. A reação dos pais frente
às manifestações de habilidades de seus filhos leva a outra forma de aquisição de
habilidades sociais, a modelagem. Nela os pais ao reforçarem os comportamentos
cada vez mais próximos do desempenho esperado nas relações interpessoais, vão
construindo em seus filhos um repertório de comportamentos socialmente habilidosos
e preparando-os para interações com outras pessoas. É neste ponto que os estudos
de Gomide (2003), tornam-se importante fonte de reflexão, ao definir que as práticas
educativas utilizadas pelos pais poderão tanto desenvolver comportamentos pró-sociais,
como anti-sociais, dependendo da freqüência e intensidade que o casal parental utHize
determinadas estratégias educativas, caracterizando diferentes estilos parentais.
Conte (2001) por sua vez, defende que algumas condutas paternas são
consideradas protetoras para o jovem: suporte parental (qualificação dos sentimentos
da criança, troca de afeto, apoio a iniciativas); encorajamento ao desenvolvimento de
competência social; mais interações positivas que negativas (elogiar, procurar aspectos
positivos que possam ser valorizados e resgatados); expressão de afeto positivo;
fortalecimento da identificação dos jovens com seus pais, desde que esses sejam
boas referências; apoio ao desenvolvimento da autonomia (liberdade para fazer
escolhas); uso de métodos racionais e verbais de disciplina e não as punições físicas;
minimização de brigas e agressões no ambiente familiar. Ou seja, os pais podem agir
preventivamente, protegendo seus filhos, ao estimulá-los no desenvolvimento de
habilidades essenciais para a vida.
90 .1
Girolin C/crmuno Sicuro cSuAinc Sdimkllin I oljr
Tomando por base o panorama teórico descrito, surgiu o interesse em
compreender se a presença contínua da mãe junto aos filhos, não trabalhando fora,
poderia ser um fator protetivo importante do desenvolvimento infantil, especificamente
na área do desenvolvimento das habilidades sociais. Estruturou-se então a monografia
de final de especialização de Sicuro, orientada por Lõhr em 2005, cujos resultados
apresentaremos a seguir.
Participaram da pesquisa 30 crianças na faixa etária de 9 e 10 anos de idade,
estudantes de duas turmas de 3A série e uma turma de 4* série de uma escola de
ensino fundamental da rede pública de Curitiba-PR. Após contato com as turmas, foram
selecionadas de cada turma as crianças cujas mães não trabalhavam fora. Fez-se
contato com as mães das referidas crianças informando sobre o estudo e solicitando
autorização para a inclusão da criança no mesmo. Todas as mães concordaram com a
participação. O estudo realizou-se então na própria escola, com as crianças respondendo
a dois inventários, o IEP - Inventário de Estilos Parentais (Gomide,2004) e o IMHSC -
Inventário Multimídia de Habilidades Sociais (Del Prette e Del Prette, 2003). Cada turma
realizou o preenchimento dos inventários em dois dias não consecutivos, ou seja, um
primeiro encontro para aplicação do IEP e um segundo encontro para a aplicação do
IMHSC em cada turma.
Os resultados do IMHSC e do IEP de cada criança foram colocados em uma base
de dados no software estatístico SPSS 12 for Windows (Stalistical Package for Social
Sciences, Inc, 1994). O teste de correlação de Pearson apontou as possíveis relações
entre as variáveis em estudo, enquanto que o Teste não paramétrico U de Mann-Whitney,
permitiu comparar os grupos de meninos e meninas quanto aos escores do IEP e IMHSC.
Dentre as crianças estudadas 24 mães não trabalham fora de casa o que
possibilita um contato maior com seus filhos e seis mães trabalham fora de casa
apenas no período em que a criança está na escola.
A média do índice das práticas educativas parentais utilizadas com os 16
meninos que compuseram a amostra foi -6, ou seja, em geral estão sendo aplicadas
práticas parentais de risco. A média do indice das práticas educativas parentais utilizadas
com as meninas foi -3 com percentil do IEP 15, ou seja, resultando também em práticas
parentais de risco. Percebe-se, portanto, que tanto as mães de meninos quanto de
meninas, faziam uso de alguma dentre as práticas parentais negativas (punição
inconsistente, negligência, disciplina relaxada, monitoria negativa e abuso físico).
O Teste Estatístico não-paramétrico U de Mann-Whitney, considerando p s 0,05,
mostrou que o alto índice de estilo parental de risco está relacionado com o déficit de
habilidades sociais apresentados pelas crianças. Na amostra estudada os meninos
estão mais sujeitos ao estilo parental de risco (12/16) do que as meninas (8/14).
Pode-se levantar a hipótese de que o convívio social em casa com as mães que
não trabalham fora, não é uma condição essencial para o desenvolvimento de
habilidades sociais das crianças, uma vez que este desenvolvimento depende da mãe
utilizar práticas parentais que possibilitem o desenvolvimento das habilidades sociais,
o que não ocorreu na amostra estudada. Constatou-se, pelas respostas aos inventários,
que muitas das mães não apresentavam manejo que fornecesse modelo e nem
reforçavam a criança na direção de ampliar o seu repertório comportamental social.
Gomide (2004) indica que famílias com práticas de risco apresentam repertório
insuficiente em habilidades sociais. Assim, tais crianças podem estar sem modelos
apropriados, o que poderia levar a um déficit na aquisição de habilidades sociais. Lõhr
(2003) relata que desde cedo se constrói o processo de interação entre mães e filhos
SobreComport.imcntocCognição 93
Capítulo 11
Psicologia do esporte e sua aplicação:
como ser aceito no meio
esportivo
Criitiana Tieppo ScaUí
\JSP
Reforçar
Desde o início do trabalho é preciso esclarecer qual a função da psicologia do
esporte e como poderá auxilliar o atleta a incrementar seu desempenho. No entanto é
preciso ser realista e falar francamente das possíveis limitações (Martin, 2001).
O fato de ser realista não impede que o psicólogo coloque o atleta em contato com
reforços logo no início do programa. Deve-se considerar que o treinamento para a competição
é repleto de compromissos e cobranças. Os técnicos, preocupados com o aprimoramento
costumam passar mais tempo corrigindo do que elogiando. O psicólogo pode, em contraponto,
reforçar o auto-aprimoramento com elogios e atenção e fortalecer o repertório que é esperado.
Conseqüenciar positivamente técnicas de aprendizagem para manutenção do repertório,
pode evidenciar melhora de rendimento e manter o atleta treinando apesar das adversidades.
Treinadores
O relacionamento com os treinadores, pode definir o sucesso ou não, do
trabalho do psicólogo. Se eles o consideram importante, a penetração em treinos é
C om o tra b a lh a r
Uma boa maneira de começar na área, é desenvolver um programa para
apresentar em clubes. Em palestras pode-se apresentar o que é Psicologia do Esporte,
SobreCom|Hirt<imentoeCoRniçíio 97
quais seus objetivos, as técnicas utilizadas e seus efeitos. Contar pesquisas realizadas
na área e os resultados já alcançados com outros atletas, dá credibilidade ao trabalho.
Um ponto que considero importante e que já discuti em outras publicações é a
postura com a qual se apresentar (Scala, 2000). Para ser visto como especialista em
Psicologia do Esporte evite o trabalho clínico, mesmo que esteja credenciado para fazê-
lo. O atleta não procurou por terapia. Caso apareçam questões que fogem ao
desempenho esportivo, encaminhe. Manter separados os papéis evita confusões por
parte de atletas e treinadores.
Outro ponto que defendo é que para ser psicólogo do esporte, você deve estar
no meio esportivo, isto significa que o trabalho deve ser feito no local de treinamento dos
atletas. Kerbauy (1997) salienta que uma contribuição da Psicologia Comportamental,
decorrente de analisar interação do comportamento com o ambiente, é sua aceitação e
exigência de diversidade de locais de trabalho. As técnicas quando introduzidas na
rotina de treinamento, são incorporadas sistematicamente, de maneira eficaz (Scala e
Kerbauy, 2005).
Para fazer parte deste ambiente, vista-se de maneira adequada, assista aos
treinos, converse com os treinadores, conheça as regras, a linguagem e os atletas
conhecidos da modalidade e o mais importante, traduza a linguagem da análise do
comportamento para o esporte.
Referências
Kerbauy, R.R. (1997). Contribuições da Psicologia experimental para a psicoterapia. In Maly Dollttl
(org.). Sobre comportamneto e cognlçôo, Vol.2. Santo Andró, ESETec.
Martin, G.L. (2001). Consultoria em Psicologia do Esporte: orientações práticas em análise do
comportamento. (Traduzido por Noroon Campboll òe Aguirre) Campinas: Instituto do Análiso
do Comportamento.
Scala, C.T. & Korbauy, R.R. (2000). Penso ou Faço: a prática encoberla no osporto. In Rogina
Chrlstina Wlelenska (org ). Sobre Comportamento e Cognição, Vol. 6, Santo Andró: ESETec.
Scala, C.T. (2000). Proposta de Intervenção em psicologia do esporte. Revista Brasileira de Terapia
Comportamental e Cognitiva, Vol 2 (1), p. 53-59
Scala, C.T. (2004). O desemponho no osporte como resultado do análises comportamentals complexas,
in Maria Zilah da Silva Brandão e cols (Org.) Sobre Comportamento e cognição, vol 14,
Santo Andró: ESETec,
Scala, C.T. e Kerbauy,R.R. (2005) Auto-fala e esporte: o estímulo discriminativo do ambiente natural
na melhora de rendimento. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva,
vol. VII (2)
Syer, J. e Connolly, C. (1984). Sporting Body, Sporting Mind. Cambrldge: Cambridge Unlversity Pross
Weinborg, R.S. & Qould, D (1996). Fundamentos de Psicologia dei Deporte y el Exercido Físico.
Barcelona: Editorial Ariol.
98 Crisli.iriii IicppoScaLi
Capítulo 12
Investigação da Formação de alunos de
cursos de Psicologia em Análise
do Comportamento
Cristina Moreira Fonseca/ F.liana Isabel de Moraes I lamasaki e
L/niA
Angélica Capelari
VMFSP
100 Criftimi Morcir.i lonscca, fliiirw kibcl ile Mor.ics I l.im.i&iki cAiifjclic.i Ciípcl.iri
No 1“ semestre, a disciplina começa com uma discussão filosófica e conceituai
do Behaviorismo Radical fazendo-se uma distinção entre Behaviorismo Metodológico
de J. B. Watson e Behaviorismo Radical de B. F. Skinner. Tal distinção se faz necessária,
uma vez que há confusão na compreensão das duas propostas, tanto entre alunos
como também em livros didáticos, cujos conteúdos fazem referência a Skinner como
um Behaviorista Metodológico (Cirino, 2000). Em seguida, a disciplina se desenvolve
com a discussão dos princípios da Análise do Comportamento, mais especificamente
sobre a aquisição e extinção de comportamento.
No 2a semestre, a disciplina avança para a discussão dos princípios que se
referem à manutenção do comportamento, por meio de diferentes esquemas de
reforçamento, bem como a discussão de comportamentos mais complexos, como
comportamento sob controle de estímulos e comportamento verbal.
As estratégias usadas para a implementação do programa da disciplina
Psicologia Experimental referem-se a; roteiros de estudo, verificação de leitura, discussão
de textos, exercícios em sala de aula, elaboração de relatórios etc.
A despeito de como a disciplina é ministrada, existe grande preconceito em
torno do Behaviorismo Radical e da Análise do Comportamento. O preconceito em
relação à disciplina que vai desde a idéia de “mecanicista" até a idéia de “superficialidade"
por não valorizar a subjetividade humana, muitas vezes se deve à incompreensão da
filosofia da ciência do comportamento - Behaviorismo Radical - bem como da própria
ciência do comportamento - Análise do Comportamento.
Pensando nessa questão, foi desenvolvido um questionário baseado nas 20 críticas
mais freqüentes ao Behaviorismo Radical e discutidas por Skinner em seu livro About
Behaviorísm (1974/2002). Neste livro, Skinner responde às críticas e descreve a concepção
do Behaviorismo Radical acerca de consciência, de emoção, de pensamento etc.
O questionário foi aplicado em alunos do curso de Psicologia de duas
instituições da Grande São Paulo com o objetivo de:
1) Investigar a formação desses alunos em Análise do Comportamento:
2) Comparar a) a compreensão dos alunos acerca dos conceitos da Análise do
Comportamento, nos semestres inicial e final da disciplina de cada uma das
instituições e entre as duas instituições.
M é todo
Participantes
Participaram dessa investigação 142 alunos, sendo que 106 eram alunos da
Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e 36 do Centro Universitário de Santo
André (UniA).
Dos 106 alunos da UMESP, 90 cursavam o 3o semestre do curso na disciplina
denominada Pressupostos da Análise do Comportamento, aqui admitida como a
disciplina inicial específica de Análise do Comportamento (a partir daqui, esta disciplina
será referida como disciplina inicial). Os outros 16 alunos cursavam o 6“ semestre do
curso, na disciplina denominada Aplicações da Análise do Comportamento, o ultimo
semestre de disciplina específica de Análise do Comportamento (a partir daqui, esta
disciplina será referida como disciplina finaf).
Em relação aos alunos do UniA, 23 cursavam o 4a semestre na disciplina
denominada Psicologia Experimentall (disciplina inicial) e 13 alunos cursavam o 6“
semestre, na disciplina denominada Psicologia Experimental III (disciplina final).
SobreComport.imcnfocCoflmviio 101
Instrumento
Questionário baseado nas proposições do Behaviorismo Radical de Skinner
(Costa, 2004; Skinner, 1974). O questionário era constituído de duas partes: a primeira
parte contendo oito questões dicotômicas do tipo SIM ou NÀO e a segunda parte contendo
16 questões dicotômicas do tipo VERDADEIRA ou FALSA.
Procedimento
A aplicação do questionário foi coletiva na própria sala de aula.
Para os alunos da UMESP, a aplicação foi realizada pelas próprias professoras
das referidas disciplinas’ .
Para os alunos do UniA, a aplicação no semestre inicial foi realizada pela própria
professora da disciplina e para os alunos do semestre final, a responsável pela aplicação
foi essa mesma professora, em horário cedido pela professora que ministrava a
disciplina Psicologia e Educação.
Após a apresentação da proposta dessa investigação e a assinatura do Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido, os alunos responderam ao questionário.
Resultados e Discussão
A partir da literatura sobre o ensino da Análise do Comportamento e da
investigação realizada, foram elaborados alguns tópicos nos quais os dados coletados
são inseridos. Os tópicos são: A) Concepções errôneas sobre o Behaviorismo Radical
e a Análise do Comportamento; B) Informações prévias acerca da Análise do
Comportamento e C) Negligência ao mundo privado. Assim, foram selecionados alguns
dos dados obtidos que exemplificam os tópicos citados. As Figuras apresentam o
percentual das respostas dos participantes das duas disciplinas (inicial - I e final - F) e
das duas instituições (UMESP e UniA).
111
1 verifica-se que a confusão entre
o paradigma do Behaviorismo
Metodológico atribuindo-o (o
paradigma S-» R) á concepção
behaviorista radical ó
Inversamente proporcional entre SIM NAO NR SIM NAO
os alunos da disciplina inicial (I) e UMESP UniA
da disciplina final (F) da UMESP: a
confusão é maior (63,0%) entre os Figura 1: Rospostas à questão 3 (Parte I) dos alunos
alunos que estão na F do que a das disciplinas de Início (I) e Final (F) em AEC das duas
confusão (32,0%) entre os alunos instituições de ensino (UMESP e UniA).
que estão na I. Quanto à confusão
'Umaduaprutoamxiuidaadlic^via de AnMae do CornportaiTMtfo participa daaaagmpo da lnvaa«gaçfc) do anaino da maama a aoutra. participa
Indlrotnmontt)
102 Crislin.i Morcini lorucc.i, Hi.tnd Iwbcl Je Morue* I l.midSdki cAngélicii C.ípcl.in
entre os alunos do UníA, verifica-se um resultado bastante homogêneo entre os alunos que
estáo em I e os que estão em F, sendo que 34,8% dos alunos em Ie 38,5% dos alunosem
F apresentam essa confusão.
A questão 6 investigava se,
segundo os alunos, ua Análise do
Comportamento investiga
sentimentos, pensamentos e
sonhos". A Figura 2 destaca que a
maioria dos alunos - de ambas as
disciplinas (I e F) e das duas
instituições - essa afirmação é ,M 1, í
verdadeira para próximo ou acima NAO NR SIM NAO NF4
:j] r
nos tais comentários ouvidos" e,
conforme verifica-se na Figura 4, a
maioria dos alunos respondeu que j
não acreditou nos comentários: a SIM NAO NR SIM NAO NR
104 CrishrKi Morcir.i lon*cc«i/ Hi<inti Iwbcl ilc Mordes I Kimu&iki cAnflclicii C.ipcl«iri
A questáo 3 dessa segunda parte investigava se, segundo os alunos, “o
Behaviorismo Radical procura explicar os processos que convencionalmente são
chamados de cognitivos?. A Figura 6 mostra que, para a maioria dos alunos da UMESP,
essa alternativa é FALSA: 61,0%
para os alunos I e 69,0% para os
alunos F. Entre os alunos do UniA, o i mi
resultado foi totalmente diferente,
I! „11
pois para a maioria desses alunos,
essa alternativa é VERDADEIRA,
segundo 61,0% dos alunos I e 76,9%
dos alunos F.
Em relação especificamente
11
Vord Falsa Vord. Falsa
a essa questáo, é pertinente discutir
UnIA
se o termo cognitivo tenha sido uma
variável que tenha controlado a
resposta dos alunos da UMESP Figura 6: Respostas à questão 3 (Parte II) dos alunos
das disciplinas do Inicio (I) o Final (F) om AEC das duas
gerando certa confusão, pois pode- instituições de ensino (UMESP o UniA).
se verificar que ao longo dos
semestres, os alunos da UMESP,
passaram a responder com maior
freqüência que a afirmação era falsa.
A discussão de que o termo cognitivo pode ter sido uma variável que tenha
controlado a resposta “incorreta" dos alunos, é baseada na idéia de que, geralmente, tal
termo estar atrelado ao mentalismo e, exatamente por isso, ser evitado entre os analistas
do comportamento (a não ser que se especifique a que esse termo se refere).
Por fim, a questão 9 dessa parte do questionário investigava se, segundo os
alunos, “o Behaviorismo Radical só se interessa pelos princípios gerais e, por isso,
negligencia a unicidade individual". Entre os alunos da UMESP foi quase total (com exceção
de 18,0% dos alunos I) a compreensão de que essa afirmação é FALSA. Entre os alunos
do UniA, os resultados apresentam uma maior incompreensão entre os alunos F, uma
vez que 46,2% destes assinalaram a questão 9 como VERDADEIRA. Por outro lado, todos
os alunos I respondentes assinalaram a alternativa FALSA para essa afirmação.
Todas as questões da parte
II do questionário investigavam, mais
especificamente, se os alunos
confundiam Behaviorismo Radical
com o Behaviorismo Metodológico.
Além da própria confusão entre os
behaviorismos (Skinner, 1974),
alguns mitos são freqüentemente
comuns entre os alunos em relação
J I
Falsa NR Vord Falsa
à proposta sklnneriana, como
UMESP UnIA
apontam Debel e Harless (1992).
Dentre esses mitos, destacam-se:
Figura 7: Respostas à questão 9 (Parte II) dos alunos
• desconsideração da fisiologia e das disciplinas de Início (I) e Final (F) om AEC das duas
da genética, Instituições do onsino (UMESP e UniA).
• possibilidade de qualquer
comportamento ser condicionado;
Referências
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Webor, L. N. D. (2002), Conceitos o pró-conceitos sobre o behaviorismo. Psicologia Argumento,
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106 Criitin.i Morciru I ontecd, Hiund lubel de Moraes H.im.t&ikí e Anftélicd Ctiprluri
Capítulo 13
A terapia do terapeuta: considerações a
respeito da formação do futuro
terapeuta
Denise Cerquei ra Leite I leller*
UTP
O presente trabalho tem por objetivo discutir e refletir sobre a relação entre o
processo terapêutico do terapeuta e seu comportamento frente ao seu cliente.
Sabe-se que a terapia busca através da análise funcional do comportamento
problema, proceder à discriminação de estímulos que desencadeiam e mantém tal
comportamento. Cabe ao terapeuta facilitar tal discriminação para o seu cliente mostrando-
lhe as respostas que ele dá em situações específicas e como essas são generalizadas.
É um treino discriminativo onde o terapeuta sinaliza para o cliente todo seu encadeamento
de respostas mostrando-lhe os antecedentes e conseqüentes da mesma.
"O processo terapêutico tem, em última análise, como objetivo final o
autoconhecimento por parte do cliente" (Quillhiardi, 2001, p. 44). “A psicoterapia ó,
freqüentemente, um esforço para melhorar a auto observação, para trazer à consciência
uma parcela maior daquilo que é feito e das razões pelas quais as coisas são feitas"
(Skinner, 1991, pp. 46-47). Ser capaz de analisar funcionalmente o seu próprio
comportamento é, em definitivo, a função da psicoterapia. Como o próprio Skinner
afirmou, o condicionamento se mantém a despeito da consciência e, saber as causas
de origem de um dado comportamento não é suficiente para se proceder a sua
modificação. É preciso que se compreendam também suas causas de manutenção.
Para que este processo transcorra de forma adequada e eficaz é mister que o
terapeuta possua boa formação acadêmica, com respaldo teórico consistente além de
experiência profissional. Entretanto, apenas a formação acadêmica não é suficiente. É
importante salientar que o processo terapêutico pode ser comprometido por dificuldades
do próprio terapeuta. Ansiedade generalizada, depressão, déficit em habilidades sociais,
são algumas das situações onde o problema do terapeuta impede ou dificulta a análise
correta do problema do cliente e a busca de soluções.
1
'flnkiiintioll o viiIilkj. i mi hf ■Mmlrn (OT PitcologM peta Unhwrsktacto rtn 8Ao Paulo • USP
Referências
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Santo Andró: ESETec.
Skinner, B. F. (1991) Cióncia e Comportamento Humano. Sâo Paulo, SP: Martins Fontos
Primeira entrevista
Sexo; Masculino
Idade: 49 anos
Casado, 3 filhos
Escolaridade: Fundamental Incompleto
Doença: Psoríase, há 8 anos
Tratamento médico: “Já procurei tratamento várias vezes e parei. Atualmente
faço tratamento há 6 meses, estou afastado do trabalho e cumpro regularmente os
banhos de luz duas vezes na semana e retorno no médico de 20 em 20 dias. Não tinha
Segunda entrevista
Terapeuta: O senhor sabe me dizer quando surgiu a doença?
Cliente: Não sei falar o dia certo, e a época certa, em torno de uns 8/9 anos.
T; O que fazia nessa época, onde trabalhava?
C: Olha, eu fazia a mesma coisa que eu faço hoje, eu era caminhoneiro. E foi quando
começou a surgir a primeira lesão no corpo. Começou a surgir um pouco no cotovelo,
e no joelho. Eu era motorista, só que na época era um serviço mais pesado, era
menos tempo, mais era mais pesado.
T: O senhor viajava muito?
C: Eu viaja o dia inteiro e geralmente voltava à noite. Era uma época corrida, eu tinha
meus filhos quase todos numa faixa da adolescência. O mais velho estava com 11
para 12 anos, e era uma fase que a gente ganhava pouco, e fica aquela coisa,
aquela correria, você entendeu? É cansativo, você trabalha, trabalha, e não consegue
nada. (risos)
T: Então, começou a lesão no cotovelo?
C: Isso, e no joelho. Então, eu acho que foi aonde começou. E aí piorou, porque de lá
para cá, só foi correria, correria, sempre dobrando, tudo sobe, então você tem que
dobrar o serviço para você poder acompanhar o ritmo (risos), então cada dia
aumentava mais, aí foi passando, aí foi subindo, subindo, aí foi nos dois braços, do
joelho também desceu e as pernas ficaram todas ruim.
T: Então as partes do seu corpo onde tem mais lesão são os braços, e as pernas?
C: Teve uma época que pegava o corpo inteiro, nas costas, na barriga, aqui era tudo
aqui eu tenho as marcas, ainda se vêl (mostra as mãos. Era tudo isso aqui (a mão),
quando foi assim que eu afastei e a firma me mandou procurar um médico isso aqui
era tudo inchado, cortava de sair água (mostra as mãos).
T: O senhor sabe me dizer quando, como e onde o senhor começou a fazer o tratamento
para psoríase?
C: Olha, eu fiz uma época, fiz pouco tempo, porque eu voltei a trabalhar e abandonei.
T. O senhor não usa creme, remédio?
C: Nãol Tava usando um creminho, mas nem lembro mais o nome (riso), era um creme
só para amaciar a pele, mas eu parei, porque tá muito caro. Eu tô usando agora um
creme, o óleo de amêndoas, que é bom, o médico falou que é bom para pele
120 locclloLiloni
T: E aí melhorou?
C: É o médico não me mandou passar nada, tomar nada, só fazer o banho de luz, que
eu faço duas vezes por semana.
T: O senhor consegue seguir as orientações do médico?
C: Él Agora eu tô conseguindo porque eu tô afastado, então eu posso vir, entâo não tem
problema com o serviço. Por que como falei meu serviço e eu viajo para fora, como
eu sou caminhoneiro, eu não parava. Parava às vezes no sábado e no domingo à
noite, uma vez por semana eu passo em casa, mas, às vezes, geralmente é à noite
e já tarde, eu passo só pra deixar as roupas mais suja e logo em seguida viajo de
novo, aí volto no sábado à tarde.
T: Mas, e assim dá para o senhor seguir as orientações do módico?
C: É..., tem uns remédios que dá! Porque só não dá se for remédio que tem que ficar na
geladeira. Porque antigamente eu tomava uns remédios homeopáticos, que tinham
que ficar na geladeira, então esses eu não tomava, porque não tinha condições...
T; O senhor sente mais alguma dificuldade de seguir algumas das prescrições do
módico?
C: Não! A única dificuldade era quando eu tava trabalhando, que eu não podia vir no
dia marcado, eu parava, depois voltava e parei de uma vez. Aí eu tava que não
agüentava comigo.
T: Por que piorou?
C: Só piorava e falavam que não tinham como marcar, teve uma vez que eu fiquei tão
nervoso que discuti aí em cima e saí xingando. Eu não tinha condições nem de
andar, a perna tava tudo inchada, e eu tinha que trabalhar, porque eu falei para
afastar e eles não afastaram, porque é uma doença que não é doença.
T: Por que o senhor fala que não é doença?
C: É porque ela é uma doença, mas pra eles, os módicos, não é doença pra afastar, nó?
T: Os módicos acham que não é um motivo para afastar o senhor do trabalho?
C: Isso!
T; O senhor acha que não tinha condições de trabalhar?
C: É, eles não afastavam, porque aqui não afastam, só afastaram porque a minha firma
passou uma carta e mandou eu num módico particular, ela pagou módico particular,
aí eles me deram vinte dias de afastamento. A nossa assistente social olhou e falou:
não tem condições de trabalhar? Ela viu o jeito que a perna tava era terrível, tudo
inchado, a mão você olhava aqui tudo cortado (mostra a parte de cima da mão perto
dos dedos), cortado lá no fundo, a parte assim das nádegas se tirava a cueca ficava
manchada de sangue (por causa da pele), porque cortava, se ia ver no módico, ele
passava um remedinho, uma pomadinha...
T: Não adiantava?
C: Não adiantava, porque você usava um tempo e ficava a mesma coisa, você ficava na
mesma, ai você ficava mais três, quatro meses sem vir.
T: Mas agora o senhor está vindo?
C: É... eu tô vindo pra fazer o acompanhamento, eu venho duas vezes por semana, para
o banho de luz e mais de vinte em vinte dias com a doutora.
T: Quanto tempo que é o banho de luz?
Terceira entrevista
Nesse momento o Sr. D. disse que precisava desabafar. Ele disse que teve
uns problemas no final de semana, que lhe deixaram chateado, que lhe deixaram com
vontade de largar tudo e ir embora, não por não gostar da família, mas por problemas.
Que os filhos, não sabe se é devido a idade deles, não querem entender. E devido a esta
chateação sua psoríase atacou nas pernas e na barriga.
Quarta entrevista
Foi perguntado como passou a semana e ele respondeu que foi ótima, porque
foi para a praia tomou um sol, e que melhor impossível. Aparentava estar feliz, com as
unhas feitas, cabelo e roupas arrumados.
T; Então, o senhor foi passear esse final de semana, foi para a praia?
C: É, eu fui sexta à noite e voltei sábado à noite, porque ontem era dia dos namorados e eu
queria fazer uma surpresa pra minha esposa aqui em casa. Comprei pra ela uma cesta
de café da manhã e uns presentinhos, e queria dar aqui em casa porque é mais gostoso.
T; E ela gostou?
C: Ô! Adorou, ficou o dia inteirinho feliz, ela diz que eu sou cheio das surpresas e ela
adora. E eu gosto, porque é gostoso fazer essas coisas pra alguém. E eu sempre
faço, de vez em quando pros meninos, mesmo eles sendo meio fechados comigo.
Quinta entrevista
Perguntei a ele como passou a semana, se estava tudo bem.
Ele disse que não tinha nenhuma novidade que estava super feliz porque em
casa estava tudo na santa paz, com ele, com os meninos e com a esposa. Graças a
Deuslll Dá uma impressãozinha de que alguma coisa mudou.
T. Por que o senhor acha isso?
C. É porque eu estou mais tranqüilo.né?...
T. O que está acontecendo de diferente?
C. A gente está mais calmo, não estamos discutindo, eu estou mais tranqüilo, mais
brincalhão com os meninos. Eu num sei se ó o papo aqui, a gente começa a conversar
sobre estas coisas, começa a entender, que nâo é discutindo, brigando, batendo
boca, que a gente chega a algum lugar, (risos)
T. Então, o senhor está melhor. E como está a psoríase?
C. Deu uma melhorada, melhorou um pouquinho, mas ainda não está bem seca, tem
mais um pouquinho, assim na parte da bunda, é onde está mais um pouquinho de
ferida, bem pouquinho.
T. E quando está brigado com sua mulher, como é? O senhor procura falar com ela,
quando está magoado, chateado?
C. Não eu me tranco no meu mundinho, ela se tranca no dela. Eu fico esperando. Eu
sei lál Não é tanto pela briga, mais é um ponto que eu tenho que eu gostaria que a
pessoa viesse.
T. O senhor sempre espera que alguém...
C. É que ela venha. É porque eu vejo que muitos homens chegam em casa e acham
que a mulher é uma escrava. Os homens chegam em casa, tomam umas a mais, e
acham que a mulher tem que ser objeto sexual dele. Então, eu fico pensando muito
nisso, nó? De eu procurar, e ela achá...
T. E ela acha isso do senhor?
C. É! Então eu não vou. Para não magoar. Para não chatear, às vezes, não ó o dia certo
ou não quer naquele dia. Aí eu pego e não vou. E ela também não vem.
Referências
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afetando condições módicas (pp. 127-142). Porlo Alegro: Artos Módicas
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146 (3), 458-65
3. Conclusões
Este capítulo procurou discutir os fatores envolvidos no sofrimento e nos
benefícios decorrentes do exercício da psicoterapia. A partir dos estudos apresentados,
pode-se concluir que grande parte do estresse experimentado pelo psicoterapeuta
advém de sua relação com o paciente. Os principais fatores de estresse envolvidos
nessa relação incluem: a resistência excessiva de pacientes difíceis e as dificuldades
do terapeuta para lidar com essa resistência. Tais dificuldades podem decorrer de
treinamento insuficiente e de limitações pessoais do profissional para lidar eficazmente
com a contratransferência. Quando a abordagem teórica que norteia o trabalho do clínico
é diretiva e focaliza a mudança, o profissional necessitará de mais habilidades para
lidar com a resistência do paciente.
Entretanto, se por um lado, a prática da psicoterapia demanda esforço elevado
do profissional, por outro lado, esse esforço constitui um desafio que favorece o
autoconhecimento, especialmente quando o terapeuta investe em treinamento
profissional e psicoterapia, além de outros recursos de manejo do estresse. Assim, a
prática da psicoterapia parece ser um agente de mudança, tanto para o cliente quando
para o psicoterapeuta.
Referências
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trabalhador. Sâo Paulo: Casa do Psicólogo.
Bock, A. & Freeman, A. (1993). Terapia cognitiva dos transtornos de personalidade. Porto Alogro:
Artes módicas.
SobreComporl.imcnlocCoflnlç»lo 145
Capítulo 17
"Quem constrói o quê e como?": uma
perspectiva analítico-funcional
do método clínico de Piaget1
Elizeu Batista Borloti*' Rafael Rubens de Queiroz Balbi Neto'
Anna Beatriz Camielli Howat Rodrigues4' Danielly Bart do Nascimento"
Introdução
A Psicologia do Desenvolvimento ó uma área importante da Psicologia e tem
gerado muitas pesquisas, possivelmente por abarcar uma diversidade de orientações
teóricas. Entretanto, a área aparenta uma certa unidade devido à supremacia de uma ou
outra orientação. Em cursos de Graduação ou Pós-Graduação, os estudos do
desenvolvimento da criança, por exemplo, mostram-se com uma certa unidade pela ênfase,
quase que compulsória, no estudo da teoria de Piaget (1896 - 1980). Na visão de Schlinger
(1992), esta prática acadêmica faz com que os alunos aprendam muitos fatos acerca do
comportamento da criança em pesquisas descritivas, mentalistas e pouco pragmáticas;
quando vão trabalhar, por exemplo, em políticas educacionais para a infância, o pouco
conhecimento prático que possuem não pode ser usado de modo seguro para mudar o
comportamento das crianças. Geralmente, as defesas a esta acusação são afirmações
de que uma tecnologia educacional não era o objetivo dos estudos de Piaget.
Entretanto, pelo fato de “muitas das pesquisas existentes na Psicologia do
Desenvolvimento sugerirem um forte componente ambiental no desenvolvimento do
comportamento, a teoria analítico-comportamental está em uma posição ideal para
interpretar as mudanças comportamentais que definem este desenvolvimento"
(Schlinger, 1992, p. 1396). Portanto, considerando esta “posição ideal", e visando contribuir
para uma diversidade de enfoques teóricos no ensino da Psicologia do Desenvolvimento,
este Capítulo apresenta uma análise comportamental de alguns aspectos do
desenvolvimento da criança, contrapondo-os com as posições mentalistas de Piaget. A
proposta aqui ó, partindo de uma pesquisa teórica, esboçar uma análise comportamental
do método clínico de Piaget, enfocando, principalmente, o controle de regras e de
contingências, e a solução de problemas. A fim de alcançar tal objetivo, realizou-se uma
revisão bibliográfica de algumas das publicações de Piaget, de autores recentes que
tratam do método clínico e de textos contendo análises do comportamento do qual
’ t i l e eaprtuk>4 resuftado do (Hcuttòe* tdcrWco dertfflcM ocorrtdae rw apresentação do (rabafto “ArwUlse de operanie* wrtmtg pr*n4tio« ecn
provasplagelanas quemconstróiooonhedmento?"no8JmpôsloNacionaldePsicologia9odaledo()e»wívoMm*n*o« X EnoontroNacional
PHOCAO Pslcoiogla/CAPES. oom professores do PPGP/UFE8. doutore« om Pnootogle do Desenvolvimento, aluno* do PPGPAJFF8 * do curo
de graduação de pstcotogle-UFES, estudanfes da leoriee ptagetlena. a quein agradecemo« à colaboraçAo e atençAo dlapeneada
' IXxrtx em Piloologia, bipecMMi em Terapia Cogrtfca e ComportamenW e em larapia CanportamenlBl de Giupoe, peaqulaarior do PPGM^FS.
’ Graduando do Curto de Psicologia da U f ES
4Graduanda do Curto de Piicotogla da UFES
" Graduanda do Curso de Psicologia da UFES
146 Hi/cu H. Borloti/ R*ifi»cl Rubens dc t3. B. Neto, A nn.i Be.itri/ C . I I. Rotlrifiues e D.inielly B. do
N.iscimcnto
Piaget inferiu conceitos “mentais". As descrições objetivas do mótodo foram destacadas
e, em seguida, uma análise comportamental foi proposta.
A justificativa deste trabalho está no desconhecimento da existência da Psicologia
Comportamental do Desenvolvimento (sim, ela existe: Bijou, 1976; Bijou & Baer, 1978;
Gewirtz, 1972a, 1972b, 1991; Gewirtz & Pelaez-Nogueras, 1990, 1991; Llpsitt, 1981;
Rovee & Fagen, 1976; Rovee-Collier, 1983; Rovee-Collier & Capatides, 1979; Rovee-
Collier & Sullivan, 1980; Rovee-Collier, Sullivan, Enright, Lucas & Fagen, 1980; Ferster,
Culberton & Boren, 1977; Bandura, 1980). De fato, a maioria dos textos usados nas
disciplinas introdutórias da Psicologia do Desenvolvimento (La Taille, Olibeira & Dantas,
1992; Coll, Palacios, & Marchesi, 2004; Wadsworth, 1993; Carraher, 1989) exclui
erroneamente Skinner da lista dos autores interaclonistas, condicionando os alunos a
colocarem Análise do Comportamento e Psicologia do Desenvolvimento em pólos
opostos. Pior: quando tratam da aprendizagem (por excelência, o fenômeno básico da
Análise do Comportamento) apresentam a teoria analítico-comportamental de modo
anacrónico e mecanicista. Resultado: os alunos desconhecem as contribuições de B.
F. Skinner, Albert Bandura, Donald M. Baer, Sidney W. Bijou, Jacob L. Gewirtz, Lewis P.
Lipsitt e Carolyn Rovee-Collier á disciplina. A crítica de Schlinger (1992) deve ser
seriamente considerada; "esta omissão ó um desserviço aos alunos de Psicologia do
Desenvolvimento por privá-los de valiosas análises empíricas e teóricas do
desenvolvimento do comportamento da criança" (p. 1397).
Um grande serviço aos alunos poderia ser feito se fossem discutidos com eles
os seguintes pontos problemáticos na prática tradicional dos psicólogos do
desenvolvimento (Schlinger, 1992, p. 1397-1399):
1) diferenciar o comportamento de acordo com sua forma ou estrutura e,
conseqüentemente, postular categorias tais como comportamento motor, social,
emocional, cognitivo, moral e assim por diante (e dentro dessas, ainda existiriam
distinções: imitação, conservação, etc.), que seriam fundamentalmente diferentes;
2) postular teorias diferentes para cada tipo de comportamento (a piagetiana é
mais propícia para o cognitivo, a freudiana para o afetivo, etc.) e diferentes estruturas
mentais explicariam diferentes fenômenos, mesmo dentro de uma mesma teoria (por
exemplo, na teoria piagetiana uma estrutura explicaria a conservação, uma outra o
egocentrismo e assim por diante); e postular teorias diferentes para os comportamentos
do adulto e da criança como se fossem governados por princípios psicológicos diversos;
3) explicar as classes de comportamentos de um modo circular: uma classe recebe
um nome, ó reificada (vira uma “coisa", como uma “noção", por exemplo) e, por si mesmo,
torna-se o objeto de estudo que ó, então, usado como a explicação para essa classe;
4) enfatizar fatos coletados por métodos correlacionais, ignorar relações
funcionais entre variáveis controladoras, considerar a idade da criança como uma variável
e inferir dela certas relações funcionais que nâo existem (uma estrutura mental é vista
como uma variável independente e a idade é a reflexão lógica das suas transformações):
ué dito que a variável independente é a idade da criança ou alguma estrutura cognitiva
inventada que se desenvolve e que ó convenientemente dita estar em uma Idade
específica" (p. 1397) O propósito dos pesquisadores parece ser demonstrar a presença
ou a ausência de comportamentos na criança e a idade correspondente, mas não o
"como" o comportamento se desenvolve.
"Mesmo quando uma pesquisa experimental pura é conduzida na Psicologia do
Desenvolvimento, raramente os dados resultantes sâo interpretados de acordo
com qualquer teoria específica. Ao Invés disso, os dados são deixados sem
1. O Método clinico
De acordo com Delval (2002), o método clínico surgiu a partir de um interesse
de Piaget no estudo do problema do conhecimento. Despertado pela Filosofia da Ciência,
ele pensava que esse estudo poderia iniciar-se com a compreensão da História da
Ciência. Ficou curioso em saber qual era a “representação" do mundo que surge,
supostamente, de modo espontâneo nas crianças. Entretanto, ele se deparou com a
ausência de trabalhos sobre a aquisição de “noções" científicas na criança e resolveu
compreender essa aquisição.
Em Paris, Piaget manteve contato com Theodore Simon, que lhe propôs padronizar
os testes de raciocínio de Burt e adaptá-los às crianças. Entâo, a partir da aplicação de tais
testes, Piaget interessou-se não pelos êxitos e fracassos cometidos pelas crianças, mas
sim, em entender o “processo de raciocínio" que ocorria para que elas “alcançassem" tais
respostas. Era uma busca, principalmente, pelo raciocínio existente “por de trás” das
respostas falsas (Delval, 2002). Atentando para as questões da "modalidade do pensamento"
infantil quando a criança explicava o mundo, Piaget (1926) propôs o que denominou de
14 8 Hi/cu B. Rorloli, R«ifiicl Rubens dc O . R. Neto/ Ann.i Bc.ilri/ C . i I. Rinln^ucs c [><iniclly R. ilo
Niiícjm ento
método clínico, sugerindo que esse método fosse aplicado na avaliação das "crenças"
infantis. Carraher (1998) diz que as respostas das crianças durante o método clínico devem
ser analisadas no contexto em que são geradas. Assim, elas funcionariam como um ponto
de partida, pois é mais importante que o pesquisador compreenda o processo que as
resultou, não importando se as respostas sejam “certas” ou “erradas". Foi dessa forma que
esse método, diferentemente da observação pura, possibilitou um maior acesso a
informações minuciosas do contexto da entrevista (Correa, 1991).
Delval (2002) lembra que o método clínico tem como alvo o "pensamento verbal"
e o “não-verbal" da criança, e ele é a própria intervenção do experimentador diante de
tais comportamentos. Portanto, a intervenção sistemática é a essência do método clínico,
consistindo na apresentação de um problema à criança, que terá que resolvê-lo por
melo de “explicações", enquanto o experimentador observa, analisa e esclarece o
significado dos comportamentos. O significado do comportamento da cnança é, então,
relacionado a capacidades “mentais" (cognitivas ou morais) que podem ser inferidas
tanto do comportamento de crianças que ainda não atingiram a etapa da comunicação
por meio a linguagem vocalizada, quanto daquelas que emitem comportamentos vocais,
seja em entrevista aberta, semi-estruturada ou estruturada. Contudo, segundo o seu
próprio criador, o método clínico apresenta problemas: aplicado sob a forma de
entrevista, visa obter o maior número de informações sobre o “pensamento" das crianças,
como conseqüência do aumento do interrogatório a elas, Isto poderia cansá-las ou
aborrecê-las, gerando reações bastante comuns como o "não importismo", a “fabulaçáo"
e a “crença sugerida". Tais problemas ocorreriam, principalmente, devido à forma como
as perguntas são feitas no interrogatório (Piaget, 1926).
Em termos práticos, o experimentador deve clarificar as capacidades “mentais"
da criança, formulando hipóteses sobre o significado ou o sentido das suas ações ou
explicações, levando a criança a comprová-las por meio da intervenção. No trabalho de
Delval (2002) encontramos três formas pelas quais isto pode ser feito: 1) na entrevista
livre a criança é mantida em uma conversa aberta, com pouca ou nenhuma estimulação
física (objetos, especificamente); 2) na explicação sobre uma situação, cria-se um
contexto com objetos e indaga-se a criança sobre mudanças feitas nos objetos; 3) no
método verbal introduzem-se modificações nas situações para comprovar ou refutar
hipóteses sobre o que se passaria na “mente" da criança.
Em quaisquer destas formas, o método clínico vem sendo utilizado para avaliar
supostas “estruturas cognitivas" da criança, seja em intervenções sobre problemas no
desenvolvimento, seja em pesquisas, a partir do pressuposto básico de que a criança
possuiria “pensamentos organizados de forma coerente", que atuariam sobre a sua
ação aberta, mesmo quando ela não tem consciência de sua própria “concepção de
mundo" e do modo como ela o explica. Em resumo, o trabalho do entrevistador é tornar
evidente essa explicação (Delval, 2002). Mostrando-se adequado para a pesquisa na
área da moralidade humana (Alencar, 2003), o método também abriu o campo de
pesquisas na área do desenvolvimento moral.
Tome-se o seguinte excerto de uma transcrição dos comportamentos verbais
emitidos durante a aplicação do método clínico com uma menina de 6 anos 11 meses
e 17 dias, realizado em maio de 2005, na residência da mesma, na Grande Vitória:
Experimentador (E): Você sabe contar? Ou nào sabe?
Criança (C): Sei.
E: [Experimentador coloca notas de dinheiro falso sobre a mesa] Então vamos brincar
de dinheirinho. Estou fazendo um fileira com 8 dinheirinhos.
2. Comportamento verbal
Segundo Skinner (1957), as crianças que tôm repertório verbal agem sobre o
meio ambiente de duas formas básicas: ou causam alterações diretas e mecânicas no
ambiente (pelo comportamento não verbal) ou o alteram por meios indiretos, pela
mediação da ação de um outro comportamento (comportamento verbal) que pode ser
dela, dos seus pais ou de outras pessoas.
O desenvolvimento do comportamento verbal depende do reforço provido pelos
ouvintes, agentes especialmente e naturalmente treinados para reforçar o comportamento
das crianças ("criança" deve ser entendida como falante e “pais" como ouvinte). Trata-se,
portanto, de uma interação social que ocorre em uma instância denominada de episódio
verbal total em momentos de vivência da criança em uma comunidade verbal. Como
comunidade verbal, os pais reforçam a fala da criança de acordo com certos padrões de
velocidade, energia e repetição, em função das circunstâncias de sua ocorrência. Portanto,
além da freqüência das emissões, é importante observar em quais circunstâncias o
comportamento verbal da criança é emitido.
Assim como outros comportamentos, o comportamento verbal da criança
apresenta unidades estruturais-funcionais, as quais sâo únicas para cada evento e
150 Hi/cu B. Borloti; Riifiicl Rubem de O . B. Neto, Anrui Reiiln/ C . I I. Rodrigues e D.imclly B. ik>
Niiscimento
definidas por seus efeitos sobre o meio, compondo classes de eventos particulares.
Como expresso por Baum (1999), a ocorrência de um operante verbal depende dos
estímulos discriminativos do meio, por isso uma palavra isolada nâo pode ser tomada
como uma unidade funcional, já que ela adquire diferentes funções em diferentes contextos.
A função do comportamento verbal está no contexto. Portanto, o significado não pode ser
tido como propriedade do comportamento da criança, mas do contexto no qual ocorre.
Dentre os estímulos discriminativos que modelam o comportamento verbal
das crianças, os principais são os auditivos e visuais (verbais ou não verbais,
antecedentes ou conseqüentes) e a audiência; e eles definem funcionalmente os
operantes, permitindo classificá-los como "relações verbais" em função do controle dos
estímulos antecedentes e conseqüentes (Skinner, 1957).
Um mando é identificado quando a resposta da criança é emitida sob controle
de condições antecedentes específicas de privação ou de estimulação aversiva (a
obtenção de objetos, de informação, de remoção estímulos aversivos e assim por
diante). Uma vez que produzem como conseqüência um reforçador especifico provido
pelos pais, os mandos operam em beneficio da criança. Por exemplo, "O que é isto?"
(uma pergunta) é um mando sob controle da privação da informação obtida pela resposta
dada pelos pais; "Cale a boca" (uma ordem) está sob controle da estimulação aversiva
provida por uma criança chorona e ó reforçado especificamente pela cessação do choro.
Mandos possuem a característica de ser breve e seu "significado" é dada pelo contexto
envolvendo o reforço específico que se segue a eles.
Quando os antecedentes são verbais (um letreiro, uma pergunta, uma palavra
ou número), o tipo de controle exercido por eles pode ser formal ou temático.
Comportamentos ecóicos, textuais e transcritivos têm controle formal. No caso do
operante ecóico, o estímulo antecedente é um estímulo verbal vocal (sonoro) e a resposta
verbal, também vocal, reproduz um estímulo igual ou semelhante (ao ouvir “rosa", a
criança diz “rosa" - nestes exemplos as aspas sinalizam estímulo verbal, seja vocal,
seja escrito). No operante textual, o estímulo antecedente é um estímulo verbal impresso
ou escrito (modalidade visual ou táctil), e a resposta é vocal (modalidade auditiva) e,
portanto, é essencial ao desenvolvimento da leitura no repertório da criança (ao ver
“rosa" a criança diz “rosa"). No operante transcritivo, o estímulo antecedente pode ser
vocal ou escrito e a resposta verbal ó sempre escrita, seja a cópia (ver “rosa" e escrever
"rosa”) ou o tomar ditado (ouvir “rosa" e escrever “rosa"). No operante intraverbal o
controle é temático: uma resposta verbal - vocal ou escrita - fica sobre controle temático
de estímulo antecedente verbal - vocal ou escrito (ver ou ouvir “rosa" e escrever ou dizer
“flor"). Todas estas relações formais ou temáticas são mantidas por um reforço
generalizado provido pelos pais, com atenção e elogios, por exemplo: "Muito bem,
quem mora aqui é papai, mamãe e Juju", “Vamos contar novamente quantos antnhos:
um, dois, três", “Muito bem, você está lendo direitinho" e que, depois, passa a controlar
as mesmas relações no futuro (é um reforçador generalizado que mantém os discursos,
as leituras e as transcrições adequadas nos repertórios dos adultos).
Tactos definem operantes verbais que nào especificam um determinado
reforçador, ou seja, a resposta verbal ó emitida sob controle de estímulo antecedente
especifico não verbal (um objeto, um evento, ou propriedade de um objeto ou evento) e
produz como conseqüência um reforço também generalizado. O tacto é um tipo de
operante cujo ensino beneficia mais aos pais por permiti-los inferir sobre as
circunstancias da vida da criança, pois amplia o contato com o meio da criança,
fornecendo mais “informações" sobre ela do que os demais operantes verbais.
152 Mi/eu B. Rorloli/ R.if.ifl Rubens tlc O . R. N clo; A nn.i Bc.itri/ C . I I. Rodrigues c l><mielly R. do
N.iscim cnlo
se y, então z). A descrição assim gerada pode atuar como regra no controle de
comportamentos em outras situações. Observando seu próprio comportamento e o
mundo ao seu redor, a criança formula regias podendo usá-las como guia para o seu
comportamento. Vejamos como isto ocorre.
3. Contingências e regras
Quando uma criança ganha um Lego®, ou ela monta o robô olhando a figura
impressa na caixa do brinquedo, ou repete tentativas que dão certo e evita aquelas que
dão errado, ou ela abre o manual de instruções e segue atentamente os passos - ou as
regras - para acertar a montagem.
A regra, segundo Skinner (1980), é um estimulo discriminativo verbal que indica
uma contingência (“Agora eu pego o pescoço e encaixo na cabeça"). De acordo com
Galvão e Barros (2001), a regra pode mostrar (ou não) outros estímulos discriminativos,
especificar as respostas adequadas diante desses estímulos e apontar as conseqüências
da resposta. Além disso, muitas vezes, ela livra a criança de se submeter a estímulos
aversivos (“dar murro em ponta de faca"). Isto acontece quando os pais especificam
verbalmente a contingência com ordens, conselhos, instruções, etc., estabelecendo um
controle por regra (Matos, 1992); em termos do senso comum, “dão limites". De acordo
com Galvão e Barros (2001), caso a criança se coloque como seu próprio ouvinte, o seu
comportamento verbal pode estabelecer um controle por auto-regras.
Citando Baum (1999), o comportamento controlado por regra é comentado, dirigido
e instruído, depende do comportamento verbal de outra pessoa e sobre ele se consegue
falar. Já o comportamento modelado pelas contingências surge sem instrução e sobre
ele não se consegue falar; assim que se passa a descrevê-lo, ele pode se tornar controlado
por regra. Contudo, “estritamente falando, qualquer comportamento - até mesmo aquele
controlado por regras - é modelado por contingências" (BAUM, 1999, p. 156) já que as
regras estão nas contingências e o comportamento de descrevê-las é aprendido em uma
comunidade verbal. Essa afirmação ficou mais clara quando Skinner (1982) disse que o
comportamento não precisa da regra para ocorrer, já que existe comportamento antes do
comportamento verbal: "não precisamos dizer que ‘as regras são construídas pela mente
no processo de aquisição do conhecimento’". (Skinner, 1982, p 111)
Outra diferença importante, de acordo com Baum (1999), é que o comportamento
modelado pelas contingências mantém-se por conseqüências relativamente imediatas,
enquanto o comportamento controlado por regras envolve sempre duas contingências:
a contingência última, que será a razão primeira da regra, justificando o comportamento;
e a contingência próxima, que contém o reforço por seguir a regra, encorajando a emissão
do comportamento. No exemplo acima, as peças devidamente encaixadas é a
conseqüência imediata para montar o robô. Se a criança segue o manual, a contingência
última envolve um robô montado como seguimento da regra e a contingência próxima
envolve um “muito bem, você sabe fazer direitinho" (que pode ter sido ouvido em outras
ocasiões) como um reforço generalizado para o seguir instruções.
Faz-se importante atentar para o fato de que, sendo um estímulo verbal, uma
descrição de contingência só pode atuar como regra caso o sujeito possa descrevê-la
e possa usá-la, de modo consistente, em outras ocasiões de generalização de estímulos
(Reese, 1989). Assim, se uma criança, por exemplo, não pode descrever a contingência
que controla seu comportamento, seu comportamento não pode ser tomado como
sendo controlado por regra; idem se, ao ter aprendido uma regra em uma situação, seu
comportamento não é controlado por essa regra em uma situação semelhante. Estes
fatos estão envolvidos no comportamento de solução de problema.
Conclusões
“Na análise do comportamento, o termo desenvolvimento ó uma abstração para as
mudanças ordenadas e progressivas na organização das relações comportamento-
ambiente. Uma análise tunclonal do comportamento da criança deve locallzar-se
sobre as diversas variáveis que provavelmente sâo diretamente responsáveis
pelos padrões de mudança comportamental que denotam desenvolvimento. Assim,
para compreender o desenvolvimento comportamental, são necessárias análises
das mudanças na complexidade do ambiente controlador (Incluindo as origens e
as mudanças nos estímulos reforçadores para o comportamento da criança), das
experiências iniciais como determinantes potenciais do sistema comportamental
posterior, e das variáveis contextuais (Incluindo fatores sltuacionais) envolvidas e
suas relações nas interações entre funções de estimulo e de resposta" (Gewirtz &
Peláez-Nogueras, 1992, p. 1419-1420)
As seguintes citações de Skinner foram adaptadas ao contexto da criança e
concluem com primor toda a discussão ao longo deste Capítulo:
1) A percepção de uma criança é proposital ou intencional. A criança “não é um
expectador indiferente a absorver o mundo como uma esponja". Ela não está apenas
“atenta" ao mundo no qual interage; ela responde ao mundo de modo idiossincrático
por causa do que já aconteceu quando esteve em contato com ele (1982, p. 67).
2) Uma criança é modificada pelas contingências em que age; ela não armazena
as contingências. Não “possui" “estruturas" ou “esquemas cognitivos" do mundo em
que vive. “Foi simplesmente modificada de tal forma que os estímulos controlam agora
tipos particulares de comportamento perceptivo" (1982, p. 74).
3) Inventar conceitos cognitivos, ao invés de explicar o comportamento das
crianças pelas contingências envolvidas, é bastante penoso e pouco útil diante dos
problemas da alfabetização; ou de infrações legais, quando os conceitos inventados
são morais. Esta é uma prática comum no ensino da comutação matemática, quando
se ensina a resposta a “3+6" e depois a “6+3". Uma criança fica confusa e uma outra
responde adequadamente à segunda expressão. Diz-se que esta última “possui" um
“conceito aritmético". “Mas o que isto nos revela? Será que podemos ter a certeza de que
não ensinaram em alguma outra ocasião a segunda criança a dizer '9' em face à
expressão '6+3'? Terá ela aprendido um grande número de casos tais como '1+2=2+1’
e '1+3=3+17 Terá aprendido a formular a regra da comutação e a exemplificá-la? Se
nos contentarmos em falar de um conceito aritmético, nunca descobriremos o que [e
como] a criança realmente aprendeu" (1982, p. 95).
4) Os processos envolvidos no pensamento de uma criança são processos
comportamentais e uma explicação estruturalista (e mentalista) será incompleta se
negligenciar a história genética e a história pessoal da criança. Metáforas hortículas
povoam o discurso estruturalista do desenvolvimento. Nos “jardins de infância”, como
repolhos, cultivam-se crianças para que se desenvolvam. Com isto, geralmente, os
desenvolvimentlstas fazem vistas grossas ao “como" se desenvolve o mundo no qual
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(iouzaOuol.com br
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Criado com oa lloa. a Na ara mudo rtgoroaa a laralat à aapoaa a atia •
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granda*, i o caminho mala drástico",
FamWaraa atatlvoa, mai qua nâo expressavam
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Introdução
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-
TR), a agressão infantil está vinculada a diversos transtornos, poróm, encontra-se mais
especificada no quadro de Transtorno de Conduta caracterizado por um padrão
persistente de comportamento no qual são violados os direitos básicos dos outros, ou
normas ou regras sociais importantes apropriadas à idade (Americam Psychiatric
Association, 2003). A agressividade infantil apresenta-se, também, com freqüência, no
quadro de Transtorno Desafiador Opositivo (forma mais branda de Transtorno de
Conduta) e no Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), caracterizado
por problemas de comportamento que se manifestam desde a idade pró-escolar como
déficit de atenção, nível excessivo e crônico de atividade motora, falta de controle ou
impulsividade, tendência à satisfação imediata dos desejos e pouca tolerância à
frustração (Goldstein & Goldstein, 1992).
Há consenso na literatura de que os comportamentos agressivos da criança
estão articulados com os múltiplos contextos em que essas vivem (no âmbito da família,
da escola e das outras instituições da sociedade), sendo identificadas diversas variáveis
de tais contextos como fatores de risco para o seu desenvolvimento (Fiameghi Jr.,
Bressan & Porto, 2003; Lisboa & Koller 2001; Marinho, 1999; Meneghel, 1998; Kaplan,
Sadock, & Grebb, 1997; Webster-Stratton, 1997). Bandura (1977), em sua Teoria da
Aprendizagem Social, defende que novos padrões de comportamentos agressivos sâo
10 prMenta Irabatw constituiu parte iin DlssnrtnçAo d« Moatmdu dofoncfcJa pela primatra autora o orientada pela segunda no Programa de Pós
QraduaçAo am Fchtcaçâo Fspadal da UFSCar O trabafto contou com «|itda Nnanoatra da CAPES
•Condomlnto Moradas do Bosqua bloco 11 apt 23 FundAo Nh4ua. CEP Bahia BraaM g1617840yahoo.oom (73) 3033 5255
“ Rua Vlrgido Pomí « 283 Santa Paula. S«oCartos, CEP' 136W 040 8âo Paulo-Brasl wWamsOpowar ulscar br (18) 3361 -8745 hax: 361 8357
Objetivo
O presente trabalho teve como objetivo avaliar um programa de intervenção
precoce com crianças agressivas pré-escolares, dirigido a pais e professores e às
próprias crianças, com o intuito de reduzir o nível de agressividade das mesmas, assim
como incrementar seus comportamentos socialmente adaptados. Sendo assim, se for
conduzido um programa de intervenção junto à família e à escola, poderão ser reduzidos
de forma substancial os comportamentos agressivos da criança pré-escolar?
Participantes
Fizeram parte desse estudo três crianças, todas do sexo masculino, com quatro,
cinco, e seis anos de idade, matriculadas em uma Escola Municipal de Educação
Infantil (EMEI) da cidade de São Carlos, SP. As crianças freqüentavam uma creche
municipal, no período vespertino. (O horário de entrada das crianças na EMEI era 7h30;
as atividades escolares terminavam às 11:00h e, aproximadamente às 11h15min
chegava o ônibus da prefeitura para levá-las à creche, onde ficavam até às 17h00
horas) Ao completar sete anos de idade, o participante mais velho passou a freqüentar
uma escola pública na periferia da cidade. Além das crianças, também participaram do
estudo suas respectivas mães e professoras.
Procedimento
Procedimento de coleta de dados
Após obter a autorização por escrito da diretoria da EMEI, a primeira autora contatou as
mães ou responsáveis para informar-lhes sobre o estudo e convidá-las a participar do mesmo.
Após a aceitação, era marcado um encontro na casa de cada mãe participante, no qual era
explicado em que consistia o estudo e suas implicações, solicitando-lhe que assinassem o
Termo de Consentimento Livre Esclarecido. Tal termo apresentava informações sobre o objetivo
do estudo e cuidados éticos (sigilo, participação voluntária e ausência de penalidades para a
não participação). Com relação à professora, a primeira autora conversou com cada uma delas
no horário do café, solicitando sua participação por escrito, após as devidas explicações.
1. Dados relativos ao desempenho da criança
• Observação e registro do comportamento agressivo da criança na escola.
Foi utilizado um Protocolo de Observação no qual constavam agressões físicas
(empurrar, chutar, beliscar, morder, cuspir, enforcar), vertais (xingar, falar palavrões) e outros
comportamentos inadequados, tais como, desobedecer instruções e desafiar. As observações
utilizavam um registro de ocorrência de evento que consistia, inicialmente, em definir os
comportamentos e, em seguida, efetuar uma contagem de freqüência da ocorrência do
comportamento previamente selecionado (Fagundes, 1995) Esses registros foram realizados
em três situações diferentes: ao ar livre (parque da escola), na sala de aula e na aula de
Educação Física. Cada sessão de observação teve 20 minutos de duração. Foram conduzidas
três sessões semanais para cada criança, com um intervalo de um dia entre cada sessão de
observação. As observações foram realizadas antes da intervenção, após a mesma e no
Follow-up, sendo o último realizado dnco semanas após o término da intervenção.
• Entrevista de Avaliação
No final da intervenção, foi realizada uma entrevista final com as mães para que
as mesmas avaliassem a intervenção, expressando opiniões sobre a qualidade da
mesma. A entrevista foi baseada em um roteiro com oito questões, sendo que exemplos
de tais questões foram: Qual foi o motivo que a levou a participar deste projeto?; Que
problemas você apresentava no Início do projeto?; Em que medida esses problemas
foram superados?; Numa escala de 0 a 10, sendo 0 o pior de atendimento e 10 o melhor
possível, que nota você daria para o atendimento recebido?
SobreC'ompor1.imrnloeCoflniçtJo 171
em quatro fatores. O primeiro fator refere-se ao sistema do militância cujos itens
representam os pensamentos, crenças e comportamentos dos pais a respeito de suas
interações com os membros dos sistemas no qual seu filho está inserido; o segundo
fator refere-se a conhecimento, ou compreensão e habilidade dos pais em trabalhar com
os sistemas de saúde mental; o terceiro fator está relacionado à competência,
representando a percepção dos pais de suas habilidades e competências enquanto
pais; o quarto fator é sobre a Auto-eficácia, representando as percepções dos pais sobre
suas habilidades para produzir mudanças e utilizar o sistema de saúde. Inicialmente
planejou-se aplicar tal escala em três momentos distintos: antes e após a intervenção e
no Follow up, porém, a mesma foi aplicada uma única vez durante a intervenção.
Delineamento Experimental
Foi utilizado um procedimento de Linha-de-Base Múltipla entre participantes
(Hall, 1974). Assim sendo, foram coletados dados de linha-de-base sobre a freqüência
dos comportamentos agressivos de cada criança, sendo a intervenção escalonada em
períodos distintos de cada linha-de-base. No quarto mês da intervenção houve um
intervalo de cinco semanas, seguido de uma coleta de dados de Follow-up.
Resultados
I. Caracterização dos participantes
Com base nos instrumentos utilizados no início do estudo foi possível sumarizar
as principais características das mães das crianças. A idade das mães foi constituída
de 37 (M1), 34 (M2) e 26 anos (M3). Apenas M3 terminara o Ensino Fundamental, sendo
que as outras duas mães não concluíram o Ensino Básico. No Início do estudo duas
das mães encontravam-se desempregadas e a terceira era empregada doméstica. O
número de filhos por família variou de três (M1), quatro (M2) e um (M3). Todas as mães
eram de etnia negra. A renda per capita das famílias foi constituída de R$ 90.00 (M1), R$
40.00 (M2) e R$ 100.00 (M3) sendo todas consideradas abaixo da linha da pobreza pela
ONU/UNDP (1997).
SobreConiportiimciiloeCoflniç<1o 1 7 3
Família 1
Composição da família
A família 1 era composta por pai, mào e três filhos, sendo o mais velho com 16
anos, uma filha de 14 anos e um menino de 6 anos (Cr1). A família morava em casa
própria com très quartos, sala, cozinha e banheiro. A casa era simples, localizada em
um bairro pôriférico da cidade, construída com material de alvenaria, e contava com
infra-estrutura básica (água encanada, luz e telefone). Durante a entrevista, a mãe relatou
que a gestação de Cr1 não fora planejada, uma vez que ela não queria ter mais filhos
(sua última gravidez havia sido há sete anos). Além disso, na ocasião, M1 e o marido
estavam construindo sua casa (sem ajuda de pedreiro).
Família 2
Composição da família
A família 2 era composta pela mãe, um filho de 14 anos do primeiro
relacionamento, um filho de 10 anos de um segundo relacionamento (esses dois filhos
moravam com a avó materna), e dois filhos de um terceiro relacionamento, sendo um
de 7 anos e Cr2 de 4 anos. O pai de Cr2 encontrava-se proso por consumo e tráfico de
drogas. No início do projeto, a família morava em um apartamento alugado de um
cômodo. M2 relatou que a gravidez de Cr2 não fora planejada o que consumira drogas
(cocaína) até o quinto mês de gravidez. M2 realizou pró-natal, ocasião em que o médico
observara que a mesma não estava ganhando peso. Aos poucos, o médico conseguiu
ganhar a confiança de M2. e, ao descobrir que a mesma era farmaco-dependente,
encaminhou-a para uma instituição religiosa que a ajudou na fase final da gravidez. A
criança nasceu com aparência normal, porém, com baixo peso.
Família 3
Composição da família
A família 3, tal como a família 2, era monoparental, sendo constituída por mãe e filho.
No início do estudo, M3 o Cr3 moravam em um cômodo de um bairro periférico da cidado,
local que fora cedido a M3 para que o cuidasse. O cômodo possuía infra-estrutura básica e os
poucos móveis existentes eram emprestados de sua irmã. Tal como as demais mães, M3
relatou que a gravidez de Cr3 não foi planejada e que escondeu a gravidez do sua mãe adotiva
e do pai de seu filho até o nascimento da criança, tendo que para isso, morar em outra cidade.
No inicio da gravidez, M3 decidiu que doaria a criança assim que essa nascesse. Porém, a
criança nascou com dificuldades respiratórias e teve que ficar na UTI. M3 rolatou que, ao ver a
criança indefesa e frágil, desistiu de dá-la para adoção.
LB ét Um) I ( to t .^ l.) r U IM w * )
M1 M2 M3
1 Mudou-se de casa,
pois nâo suportava
mais os vizinhos
2 M2 perdeu o
emprego, nâo tendo
dinheiro para pagar o
aluguel
3 0 marido perdeu
o emprego. M1
foi trabalhar
como empregada
durante o dia e,
de noite, como
cozinheira num
restaurante.
4 A filha foi expulsa Nâo tinha gás para Precisou entregar a
da escola. 0 filho preparar os alimentos casa onde mora e não
foi suspenso e tinha lugar para ficar.
CR.1 continuava
agredindo na
escola
5 A filha foi detida Viu Cr2 agredindo na A patroa diminui o dias
pela policia e escola, bateu na de trabalho e M3
levada para o chança na frente dos passou a ganhar
NAI* amigos e das menos. Não tinha
professoras. dinheiro para levar Cr3
na escola, estava
pensando em mandá-lo
so/inho
6 M1 Espancou Bateu muito no filho Não precisa mais sair
Cr1. de 7 anos da casa, mas tinha que
pagar aluguel e estava
desempregada.
7 0 filho mais velho do Continuava
M2 tentou agredi-la desempregada, e
com um martelo. precisou de uma
fonoaudiologia para o
filho
Cr 1 foi suspenso Cr2 foi diagnosticado Tem que sair da casa.
8 da escola por um com sarna, sondo até o final do môs.
dia, por agressão afastado da escola
a um coleguinha .Mãe relatou não ter
de 9ala comida
9 Cr1 agrediu e foi A família continua Precisou arrumar um
suspenso sem alimentos. advogado para nâo
novamente Precisa pagar a conta sofrer ação de despejo.
de energia olótrica
que veio 500% mais
do que no môs
anterior.
*NAI« Núcleo de Atendimento Integrado (Agencia para intervenção com
adolescentes em conflito com a lei)
IV. Follow up
Na visita de Follow-up, as mães relataram sentir falta da intervenção e da
pesquisadora. M1 disse "as coisas estào andando", Cr1 estava interagindo mais, mas
ainda hão fica quieto". A mãe havia realizado um acordo com o mesmo, elo poderia ir a
escola sozinho, pois parara de agredir seus companheiros de sala
Cabo ressaltar quo Cr 1 pedira à mãe para ir sozinho à escola, mas M1 não
deixava com medo de que alguma coisa acontecesse. Porém, M1 aceitou tal sugestão
corno prêmio por Cr 1 ter parado de apresentar agressões Após algumas semanas,
Cr1 voltou a apresentar comportamentos inadequados, (desta vez perturbando a sala
de aula e desobedecendo a professora). No entanto, Cr1 continuou indo para escola
sozinho, pois segundo a mãe, continuava sem apresontar agressões.
Em relação à M2, essa encontrava-se na ocasião do Follow-up com emprego
de empregada doméstica, ganhando um salário mínimo e continuava realizando faxinas.
Com o aumento da renda, M2 conseguiu comprar alguns móveis (cama, guarda roupas
e sofá) e uma TV. M2 relatou que a relação com seus filhos havia melhorado: haviam
diminuído as agressões físicas aos mesmos (só de vez em quando dando um “tapinha”)
passando a colocá-los de castigo.
Tal como M2, no Follow-up, M3 encontrava-se empregada, trabalhando como
recepcionista de uma empresa do vigilância. Ganhava quase dois salários minirnos,
rocebia cesta básica o vale transporto da firma. Com esse emprego, M3 conseguiu
matricular Cr3 para cursar a primeira série do Ensino básico no Serviço Social da
Indústria (SESI), pois conforme o relato: "Pretondo dar uma molhor oducação o futuro
para Cr3",
M3 relatou que Cr3 estava bem, mas que precisava ser firme com ele. Disse
que não o agredia mais. Informou que Cr3 apresentava um ótimo comportamonto na
EMEI, mas na croche estava "terrível”, pois as profossoras constantomonto reclamavam
do seu comportamonto inadequado. Disse não entender a razão de ele sor uma criança
na EMEI e outra na creche.
As professoras de Cr2 e Cr3 confirmaram, no Follow-up, que as crianças
"molhoraram” oxpressivamento após a intorvonção, já que as mesmas conversavam
mais com as professoras e prestaram maior atenção. As professoras relataram que as
crianças cumpriam os castigos impostos pelas mesmas, com conseqüências para
comportamentos agressivos. Assinalaram, também, que o relacionamento das três
crianças com os colegas de sala de aula havia melhorado consideravelmente, pois os
Discussão
O objetivo desse estudo consistiu em avaliar um programa de intervenção
precoce com crianças agressivas pré-escolares, dirigido também a mães o professores,
com o intuito de reduzir o nível de agressividade das crianças, assim como incrementar
sous comportamentos socialmente adaptados.
Durante a intervenção com as crianças, a primeira autora apresentou um modelo
positivo (relacionamento afetuoso, respeitoso), ignorou os comportamentos inadequados
das crianças e reforçou os comportamentos adoquados, ensinando novas habilidades
sociais. Tal procedimento resultou na eliminação do comportamento agrossivo da criança
na presença da pesquisadora, tal como observado na Figura 1. Entretanto, em apenas
um dos três casos houve generalização para a sala de aula, ou seja, aponas Cr3
também passou a se comportar do forma não agressiva diante da professora. Tal falta
do generalização está, possivelmente, associada às dificuldades das professoras em
sala de aula, á falta de um repertório em lidar com comportamentos agressivos, carôncia
no estudo de um procedimento mais intensivo e eficaz para melhorar o repertório de
interação com os alunos por parte das professoras, somadas aos inúmeros estressores
enfrontados pelas famílias. Dentre os estressores mencionados, cabe salientar a falta
de condições associados ao baixo nível sócio-econòmico das mães (carôncia de
alimentos e de moradia adequada) e falta de uma rede de apoio apropriada.
Se o ambiente em que a criança se desenvolvo for coercitivo e não sofrer
mudanças, a criança continuará a se comportar da mesma forma. Isto confirma a
afirmação do Holland (1978): “O comportamento é resultado de contingôncias o
mudanças d© comportamento duradouras envolvem alterações de contingências que
dão origem ao comportamento e o mantôm"(p. 3).
Outro ponto relevante do estudo diz respeito à concepção quo as profossoras
tém sobre crianças agrossivas, como no caso da professora A de Cr1 que alegava:
"esse nâo tem solução, vai ser um delinqüente quanto crescer” ou da afirmação de
professora A ao relatar que Cr3 era "bom mas se não derem um joito nolo, olo vai acabar
mal." Craig (1992), assinala que o professor tem a possibilidade de gerar alternativas e
encorajar o aluno a desenvolver certas capacidades.
No ontanto, a realidade do dia-a-dia do professor acarreta em grandes dosafios,
pois osso procisa lidar com problemas do aprendizagem, com a agressividade, falta de
afoto (tal como relatado pela professora A em relação a Cr3), entre outros problemas.
Além disso, muitas vezes os profossoros tentam solucionar os problemas das crianças,
mas na verdade acabavam fortalecendo os comportamentos inadequados das mesmas,
o que condiz com a afirmação de Romero (1995), de quo os professores reforçam, com
maior freqüôncia, os comportamentos inadequados das crianças o, desta maneira,
acabam fortalecendo-os.
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Introdução
Os transtornos ansiosos vôm despertando cada vez mais interesse em
pesquisadores no mundo todo, uma vez que a curva de ocorrência notadamente
ascendente deste tipo de patologia chama a atenção para uma tendência à pandemia
claramente perceptível. Em nossa prática clinica, por exemplo, é cada vez mais freqüente
o aparecimento de pacientes que padecem de algum destes transtornos, muitas vezes
com graves prejuízos em suas atividades funcionais, afetivas e sociais. Há quem diga
que essa maior afluência de pacientes “ansiosos" está ligada ao estilo de vida que
levamos atualmente, á loucura das grandes cidades e à agitação que muitas vezes
perdura até o momento em que deitamos a cabeça no travesseiro e nos preparamos
para dormir. A população está exposta a situações cada vez mais complexas como
resultado da vida moderna e, dessa forma, as conseqüências se fazem sentir através
da dificuldade em manter a serenidade e esperar pelos acontecimentos naturalmente.
Ao contrário, tendemos a antecipá-los, a nos preocuparmos demasiadamente com
eles e - em um grau já psicopatológico - temê-los.
Vamos utilizar um exemplo para ilustrar o que foi exposto. Quantas vezes já nos
apanhamos imaginando como seria aquele evento (palestra, reunião, etc.) importante
do dia seguinte? Em uma medida salutar, a idéia de antecipar diálogos e preparar-se
para possíveis ocorrências dentro de uma situação importante que está por vir pode ser
considerada prudente e útil. Porém, se a pessoa nào consegue dormir e atravessa a
madrugada em uma sucessão de imagens mentais das possibilidades dos mais
diversos resultados, em um comportamento claramente danoso ao seu bem-estar,
pode-se dizer que a sua ansiedade está provocando estragos. Até porque, provavelmente,
a pessoa não estará descansada no dia seguinte e seu desempenho pode sofrer com
isso, em um efeito justamente oposto ao desejado.
Momentos como esses são cada vez mais corriqueiros no dia-a-dia das pessoas
e muitas vezes os limiares entre o normal e o patológico fica quase impercoptlvel. As
• Psicólogo Clntco, rrmstre em Psicologia Comportamontnl pota PanMflda Universidade Catódcji de Campinas (PUCAMP). docento d«) grnduavflo
•rn P»k:ok>gla da Universidade SAo Marco» (UNIMARCO) • da (»OsgraduavAo Mn Meòldna Comportamental o Terapia« Cognitivo
Comportamenlaie da Umveuldaòe Federal de SAo Paulo (UNIFESP), diretor dlntoo do Inattulu de Neurociénda e Comportamento de Sío Paulo
e Preekientn da Awociaçâo de Terapia» Cognitiva» do Fatado de Sâo Paulo (ATC SP)
" Jomaltala e PMcOloga Clinica, especialista em Paicntogia Hospitalar, eepedaNzanda em Medlcma Comportamental e Teraplaa Cognitivo
Comportamental» pela Universidade Federal de Sâo Paulo (UNIFbSP), mestranda em Psicologia Social pela Universidade SAo Marco»
(UNIMARCO) o psicóloga «ataglArta do Orupo Operativo de Roagate » Integridade P»lqu>ca do liiattuln de Psiquiatria do Ho»pltal das Clinicai
da Faculdade de Medk.liw da UnlvofsWado de Sâo Paulo (GORIP IPq HCFMUSP)
Etimologia
A palavra ansiedade etimologicamente deriva do grego e traz a idéia de constrição.
Já no latim, as duas palavras anxietas e angor originaram respectivamente ansiedade e
angústia no português (Cordás, 2004, p. 11). Segundo Pereira (2004), há uma delimitação
conceituai no que se refere à definição comparativa dos termos angústia e ansiedade nas
línguas românicas, característica já não tão premente na lingua inglesa (onde há apenas
anxiety), no alemão (há o angst que pode significar angústia ou medo) e em suas
aparentadas. De qualquer forma, os significados estão, como se viu, estreitamente
relacionados à idéia de aperto, estreitamento, tormento e constrição.
No Houaiss (2001) encontramos uma rica gama de significados que aqui
transcrevemos, a fim de dar pistas sobre as sensações (aumentadas em freqüência e
intensidade nos transtornos ansiosos) que permeiam o quadro:
1 grande mal-estar tísico e psíquico, aflição, agonia; 2 flg. desejo veemente e
impaciente; 3 flg falta de tranqüilidade, receio, 4 PSICOP estado afetivo penoso,
caracterizado pela expectativa de algum perigo que se revela indeterminado e
impreciso, e diante do qual o indivíduo se julga indefeso (p. 228).
Assim, dada inclusive a antiguidade do termo, podemos inferir que a ansiedade
já é conhecida de nossa espécie de longa data, porém, somente na modernidade ela
adquire o status epidêmico, a ponto de despertar a preocupação de serviços de saúde
pública do mundo todo.
(FonteaD^O0DSM-IV+H)
Epidemiologia
Segundo Hollandor e Simeon (2004, p 20), os transtornos do ansiodado são
os quadros psiquiátricos mais comuns. Os autores realizaram um estudo longitudinal
nos Estados Unidos entre os anos do 1982 e 2002 o descrevem os resultados divididos
por transtorno, sendo que, por exemplo, o Transtorno de Pânico tem uma prevalência
Transtornos de ansiedade
Para fins didáticos, dividimos os transtornos de forma a oferecer um resumo de
suas principais características, uma vez que o foco de nossa contribuição ó a
aplicabilidade da torapia cognitiva e comportamental em seu tratamonto. Para os
interessados om aprofundar o conhecimento sobre o toma, há uma vasta litoratura
versando em detalhes sobro cada um dos transtornos de ansiedade, a iniciar pelos
próprios manuais CID-10 e DSM-!VTR.
Consideramos eficaz a divisão de Holmes (2001) dos transtornos de ansiedade
em duas vertentes, os transtornos fóbicos e os estados do ansiodade, segundo a
tabola a seguir:
Transtornos fóbicos
De uma maneira geral, as fobias caracterizam-se por um medo irracional,
injustificado e persistente de determinadas situações, atividade ou objetos específicos.
A intensidade aumentada tambóm faz parto do quadro, na modida om quo podo aparecer
sob a forma de um receio exagerado om atividados corriqueiras como, por exemplo,
atravessar a rua. Há uma característica importante nos transtornos fóbicos que
fundamentalmonto os diferonciam dos delírios: o paciente tem plena consciência de
que seu temor não tem razão de ser, porém não consegue controlá-lo.
Há neste universo a Agorafobia (incapacidade de exposição a locais públicos
onde, em caso de súbita ansiedade, uma fuga seria dificultada ou, ainda, constrangedora
perante as pessoas): a Fobia Social (dificuldado em se relacionar com outras pessoas
por receio de suas críticas a um eventual comportamento inadequado); e a Fobia
Específica (medo irracional de objetos ou situações especificas que nâo se enquadram
nos anteriores como, por exemplo, altura, locais fechados e animais).
Estados de ansiedade
De acordo com Holmos (2004, p. 85), os estados de ansiedade podem ser
diferenciados dos transtornos fóbicos no sentido em quo nos primeiros "a resposta
emocional é difusa e não rolacionada a qualquer situação ou estímulo particulares".
Dessa forma, não há um objoto específico quo provoquo a eclosão das crises ansiosas,
mas sim, a sensação de flutuação no quo se refero a cronças irracionais sem origem
dotorminada. Como estados de ansiodade descritos polo autor, tomos:
Transtorno de Pânico - extremamente assustadores, súbitos e breves períodos de
ansiedade intensa, aliados às sensações corporais que envolvem a percepção de
morte iminente (tontura, asfixia, taquicardia, dores no peito, sentimento de irrealidado,
formigamento nas extremidades, fraqueza, tremores, calafrios e calor, sudorose,
respiração curta), eclodem de forma imprevisível, causando um grande sofrimento ao
paciente.
TAG - caracteriza-se, como o próprio nome diz, por uma ansiodade generalizada
persistente por polo menos um mês som qualquer associação a um objeto ou situação.
Embora menos intensa do que no transtorno de pânico, esta ansiedade é constante o
prolongada e acaba provocando um ostado de hiporvigilância que pode desencadear
episódios de fadiga o distração.
Sintomas
O diagnóstico dos transtornos de ansiedade é baseado em observações
cfínfcas, a partir de uma queixa específica que pode conter um ou mais sintomas ligados
ao espectro da ansiedade. Em um primeiro momento torna-se necessário diferenciar o
que é a ansiedade eventual, ligada a um acontecimento específico e absolutamente
passageiro, do comportamento ansioso que, dada a sua intensidade, adquire um caráter
Algumas técnicas
Selecionamos as técnicas que consideramos mais efetivas para o tratamento
dos transtornos ansiosos e as apresentamos a seguir. Porém, gostaríamos de ressaltar
a necessidade e importância de uma avaliação criteriosa do terapeuta ao selecionar a
técnica que mais se aplica ao caso em questão. Depois de escolhida, ela deve ser
aplicada com segurança e de forma a não colocar o paciente em risco, uma vez que o
terapeuta lança mão na prática clinica de ferramentas que, se utilizadas de forma
inadequada, podem prejudicar um quadro já do difícil manejo.
Técnicas de relaxamento
A grande maioria das pessoas vive em um mundo cheio de tensões que,
normalmente, provocam contrações musculares intensas em determinadas regiões do
corpo, desencadeando reações em determinados grupos musculares. Como tratamos
aqui dos transtornos de ansiedade, cabe ressaltar a estreita ligação entre os sintomas
ansiosos e a tensão muscular. Em um mecanismo atávico e fisiológico de preservação da
espécie, frente a determinado estimulo interpretado como sinal de perigo, o organismo
reage através de uma constrição muscular que o prepara uma ação inesperada (luta ou
fuga). Sendo a ansiedade um estado de alerta constante, permeado por temores e
preocupações, é quase inevitável que o corpo passe a apresentar uma tensão constante e
intensa que pode levar ao desenvolvimento de dores lombares, de cabeça, nos ombros e
no pescoço.
Embora exista uma forte tendôncia a definir o relaxamento referindo-se a seu
correlato fisiológico, o relaxamento no sentido restrito constitui um típico processo
psicofisiológico de caráter interativo, onde o fisiológico e o psicológico interagem como
partes integrantes do processo como causa e como produto (Turpin, 1989). Desta forma,
qualquer definição de relaxamento deve fazer referência necessariamente a seus
componentes fisiológicos - redução da ativação somática e autonômica; cognitivos -
tranqüilidade e alivio dos pensamentos incômodos; e comportamentais - estado de
quiescôncia motora, bem como suas possíveis vias de interação e influência (Vera e Vila,
1996).
A investigação sobre o estresse tem sido, sem dúvida, o marco conceituai mais
relevante para o estudo do relaxamento. O estresse tende a ser conceituado atualmente
como uma resposta biológica frente a situações percebidas e avaliadas como ameaçadoras
e às quais o organismo não possui recursos para enfrentar adequadamente. Esta forma de
compreender o estresse ressalta o componente biológico da resposta, mas, ao mesmo
tempo, evidencia a importância de duas variáveis psicológicas mediadoras: a avaliação
cognitiva da situação e a capacidade do indivíduo para enfrentá-la. Por outro lado, se aceita
que a resposta biológica inclua componentes dos sistemas neurofisiológicos,
neuroendócrino e neurolmunológico, além de ser acompanhada de componentes cognitivos
e comportamentais.
Está, portanto, plenamente justificada a necessidade de que um profissional da
saúde mental esteja ciente das técnicas de relaxamento. Descrevemos aqui duas delas, as
que consideramos fundamentais como recurso de tratamento dos transtornos de
ansiedade: o Relaxamento Muscular Progressivo, criado por Jacobson, e o Treinamento
Autogênico de Shultz.
Relaxamento Muscular Progressivo - em 1906, um médico fisiologista chamado
Edmund Jacobson, em seu laboratório da Universidade de Harvard, desenvolveu uma
tócnica de relaxamento muito utilizada até os dias atuais. Trata-se do R e la x a m e n to
Muscular Progressivo (RMP), técnica que proporciona bem estar e alivio das tensões,
fazendo com que o organismo retome suas energias, gastas demasiadamente sem
nenhum controle dadas as contrações musculares desnecessárias e quase imperceptíveis.
Treinamento autogénico
O ambiente ideal para a aplicação do procedimento do TA deve ser o mesmo
descrito acima para o RMP. É essencial manter uma atitude de concentração passiva, sem
nenhuma expectativa, ou seja, apenas ficar alerta à experiência sem a necessidade de
Logo após o domínio da técnica sem a ajuda do terapeuta, passa-se a segunda fase
do treino: o uso de imagens mentais. Nesta fase, solicita-se ao paciente que visualize qualquer
situação ou cena que julgar agradável e se focalize nela. Algumas pessoas costumam visualizar
um passeio em um lago, outras preferem estar numa praia, em um lugar quente e confortável.
Para que esta fase apresente eficácia, diga ao seu paciente que, ao imaginar alguma cena,
busque descrevô-la de forma encoberta tentando experienciar cada momento de realização.
Finalizamos ressaltando que para a aplicação de ambas as técnicas de relaxamento são
necessário treinamento anterior, de preferência com o maior número de sujeitos possíveis,
pois a prática e domínio das técnicas são essenciais para sua efetividade.
Reestruturação cognitiva
Como já exposto, a reestruturação cognitiva é uma das técnicas mais utilizadas
para o tratamento de transtornos de ansiedade e tem alta eficácia, principalmente se
combinada com outras técnicas. Para Greenberger & Padesky (1999), "a ansiedade
pode ser reduzida tanto através da diminuição da percepção do perigo quanto através
do aumento da confiança na capacidade de lidar com ameaças" (p. 154). Assim, ao
trabalhar uma percepção mais próxima da realidade, bem como enfocar aspectos
fortalecedores de recursos que o Indivíduo possui de enfrentamento para estímulos
averslvos, é provocado um processo de reestruturação cognitiva, ou seja, uma mudança
de crenças, percepções e pensamentos disfuncionais.
Como técnicas de reestruturação cognitiva, citaremos trôs recursos descritos
por Dobson e Franche (1996, p. 464) como especialmente efetivos para os casos de
ansiedade:
a) Modificação do componente afetivo - este tópico trata do medo que o paciente tem
de seus estados ansiosos e de quanto isso o perturba e envergonha, principalmente
por temer a reação das pessoas que o cercam frente ao seu descontrole. O papel do
terapeuta é fazé-lo ver que, ao aceitar a ansiedade como um eventual elemento
Parada de pensamento
A parada de pensamento é uma técnica bastante simples, que envolve um
treino de autocontrole por parte do paciente e consiste na interrupção de um pensamento
desconfortável, intrusivo e recorrente quando da sua ocorrôncia. A questão ó que, muitas
vezes, o indivíduo não se apercebe da afluência deste tipo de pensamento até
experimentar as emoções negativas e desagradáveis decorrentes dele ou, até mesmo,
até a concretização do pensamento através de um comportamento tão disfuncional
quanto ele É como se ele vivesse anestesiado para suas próprias reações, sem uma
percepção muito profunda do que está ocorrendo consigo mesmo.
Para completar essa idéia, vamos fazer uma reflexão sobre a forma como ocorrem
os pensamentos automáticos, conceituados por Beck (1997, p. 87) como a expressão da
interpretação de uma situação (e não a situação em si). Segundo a autora, mesmo parecendo
que os pensamentos automáticos são imprevisíveis, é possível antever sua ocorrência a
partir do conhecimento e identificação das crenças subjacentes do paciente. Ela traz um
excelente exemplo quando conta que algumas pessoas, ainda no início de um texto difícil,
subitamente se apanham pensando "eu não consigo entender isso" e, em casos extremos,
"eu nunca vou conseguir entender isso". Nesse momento, alguém treinado com as técnicas
cognitivas provavelmente conseguirá utilizar seu sentimento negativo para identificar, avaliar e
questionar a veracidade de seu pensamento. Afinal, "quando nos tomamos cientes dos nossos
pensamentos, podemos automaticamente fazer uma checagem de realidade quando não
estamos sofrendo de disfunção psicológica" (Beck, 1997, p. 87).
Indução de sintomas
Também chamada de terapia implosiva ou inundação, a técnica consiste om
apresentar o estimulo aversivo ao paciente repetidamente, a fim de estimular o
aparecimento dos sintomas e trabalhar a sua extinção. A idéia aqui descrita pode parecer
cruel, mas ao provocar intencionalmente a crise ansiosa no paciente em um ambiente
minimamente controlado, é possível demonstrar a ele as formas de experimentar a
sensação, reconhecê-la e lidar com ela. Há diversas maneiras de fazer surgirem os
sintomas de ansiedade. Uma delas, focada no transtorno de pânico, é descrita por
Dattilio & Freeman (2004) da seguinte maneira:
Na indução de sintomas, apresenta-se ao cliente um exercido terapêutico em que
ele ó instruído a acom panhar o terapeuta em sucessivas inspirações curtas,
inalando e exalando, por aproximadamente dois a três minutos. Esse procedimento
reproduz os sintomas de pânico ao ativar o sistema nervoso autônomo e romper o
equilíbrio entre níveis de oxigênio e dióxido de carbono, às vezes também
provocando hiperventilaçâo (p. 70).
É possível ao terapeuta, desta forma, acompanhar em conjunto com o paciente
as etapas da crise e obter descrições dos pensamentos que surgem em seu decorrer,
favorecendo assim o controle do evento ansioso através de reestruturação cognitiva o
técnicas de respiração em tempo real. A meta com esse procedimento é demonstrar ao
paciente de que forma o processo ocorre e que, assim como o ataque pode ser
provocado, é possível também debelá-lo contando consigo mesmo para tanto Há três
aspectos que devem ser objeto de atenção do terapeuta após o processo de indução
dos sintomas: sintomas específicos, pensamentos automáticos e reações emocionais
deles resultantes (Dattilio & Freeman, 2004, p. 70).
1Facala da Unidado« SutifoUvai dmAnsmdHde, «mi gu* ao grau mam atto do nnitodadn/tnfmx é atrMxjldo o valor do 100
H ipnose
De maneira nenhuma poderíamos em um simples capitulo detalhar ou instruir
o leitor sobre as formas de realizar uma hipnose, dada a complexidade dos conceitos
que precisam ser absorvidos pelo terapeuta disposto a utilizar esta técnica de forma
competente. Mistificada por muito tempo, graças às apresentações de mágicos e
ilusionistas ao grande público, a hipnose ainda permanece com um forte significado de
ausência de controle perante o senso comum. Afinal, de acordo com ele e historicamente,
apenas os que padeciam de "fraqueza mental" eram susceptíveis à hipnose. Na prática
clinica, a hipnose é uma importante ferramenta terapêutica, sendo possível utilizá-la -
ressalta-se que para tanto é imprescindível uma formação acadêmica especifica na
área - para um sem-número de transtornos, em especial os de ansiedade.
A hipnose pode ser caracterizada como a indução a um estado alterado de consciência
e, ao contrário do que pensa a maioria, o hipnotizado não fica sonolento ou "fora do ar", mas sim,
em um estado de alerta maior do que o que experimenta normalmente. Ferreira (2003) esclarece
que “o ponto essencial em qualquer tipo de tratamento é produzir mudança, e por meio da
hipnose pode-se freqüentemente modificar a maneira como se interpreta uma situação e em
conseqüência influenciar as respostas fisiológicas do organismo” (p. 39). Esse conceito vem de
encontro ao objetivo da terapia cognitivo-comportamental para o tratamento dos transtornos de
ansiedade que consiste, basicamente, em eliminar os estados ansiosos que provocam
comportamentos disfuncionais através de, entre outros, uma reestruturação cognitiva.
Dowd (1996) descreve uma divisão do tratamento hipnoteráplco em cinco
etapas, sendo elas:
1) Preparação do paciente - composta de três elementos básicos, sendo o
estabelecimento de relação terapêutica com o paciente, desmistificaçáo de mitos sobre
a hipnose e a exploração de sua capacidade para o transe;
2) indução hipnótica - consiste em eliciar o transe e pode ser executado através
de diversas técnicas, cabendo ao terapeuta escolher a que mais lhe agrade. Alguns
exemplos de técnicas que podem ser utilizadas são o relaxamento progressivo, a fixação
dos olhos e a de levitação da mão e do braço;
3) Aprofundamento da hipnose - como a hipnose é uma experiência progressiva,
tendo o procedimento um transcurso desenvolvido lentamente, esta etapa configura-se
Meditação
Também considerada antigamente como uma forma mística de se obter a
'‘elevaçãoH, a meditação atualmente ganhou o status de recurso clinico no tratamento de
diversas psicopatologias e, de forma muito efetiva, no controle da ansiedade. Diversos
estudos científicos estão sendo realizados nessa área e comprovam que a meditação,
antes considerada apenas ferramenta para o bem-estar e evolução espiritual, tem de
fato grande influência na fisiologia humana e influência sobre diversos sistemas como,
por exemplo, o nervoso, o imunológico e o endócrino.
Um dos preceitos da meditação é despertar e/ou ampliar a capacidade pessoal
de percepção em relação às sensações, uma vez que na maior parte do tempo pouco
nos dá conta de nossos estados internos. O ideal é que a prática, com duração mínima
de 20 minutos seja realizada duas vezes ao dia, logo pela manhã o no fim da tarde. Há
alguns aspectos a se observar para a obtenção de melhores resultados: escolher um
local calmo e claro; não meditar com o estômago muito cheio; sentar-se em postura
ereta e alerta; levantar o pescoço e manter a cabeça firme, sem recostar; manter os
olhos fechados.
No inicio, é difícil conseguir um estado de total relaxamento - proposta da meditação
- mantondo-se alerta às suas sensações sem sentir sonolência e torpor. Mas, com o treino,
é possível atingir o objetivo de ficar no momento presente e deixar os pensamentos fluírem
sem julgamentos ou preocupações em um processo de simples aceitação. Os iniciantes
costumam utilizar âncoras que ajudam no desenvolvimento da prática como, por exemplo,
prestar atenção na respiração, acompanhando a inspiração e a expiração, procurando não
pensar em nada específico. Existem diversas fontes bibliografias que ensinam a meditar e
descrevem as mais variadas técnicas, tanto para iniciantes quanto para pessoas em nlvel
mais avançado de experiência em práticas meditativas.
De acordo com Cardoso et al. (2004), há alguns parâmetros operacionais para
que o processo possa ser caracterizado como meditação, sendo eles: 1) utilização de
uma técnica claramente definida (necessário escolher e manter-se fiel a uma das
técnicas disponiveis); 2) experimentar um relaxamento muscular durante o processo
meditativo (é necessário que ocorra a instalação de um estado psicofisiológico de
relaxamento); 3) vivenciar um estado de "relaxamento lógico" (significa não analisar,
julgar ou criar expectativas em relação aos possiveis efeitos da meditação); 4) ser capaz
de auto-induzir esse estado sempre que julgar conveniente (a idéia é utilizar a técnica
Considerações finais
Os transtornos de ansiedade, de ocorrência cada vez mais freqüente na população
de modo geral, revelam sintomas que podem ser classificados como disfuncionais para a
manutenção da tranqüilidade na rotina do paciente. O sofrimento se estende à família, que
muitas vezes não dispõe de informações suficientes para compreender a patologia e atuar
como coadjuvante no tratamento do ente querido. Assim, um dos componontes mais
importantes do arsenal do qual o psicoterapeuta dispõe para o manejo desses casos é a
informação, tanto para a familia que pode colaborar e muito com o tratamento, quanto ao
paciente que, de posse de detalhes sobre a sua problemática, pode atuar de modo mais
proativo e engajado em prol de sua própria recuperação.
É de vital importância conhecer profundamente o quadro a ser tratado, a fim de
estabelecer um protocolo de atendimento - que pode envolver algumas das técnicas descritas
neste capitulo - personalizado e inserido corretamente no contexto da problemática especifica
de cada paciente. Além disso, a Idéia de envolvê-lo ativamente no processo psicoterápico e
posicioná-lo como promotor de seu próprio bem-estar faz com que possamos contribuir
para a emergência de um indivíduo mais independente, capaz e autoconfianto. Consideramos
essa noção um dos diferenciais da terapia congnitivo-comportamental e uma ferramenta
importante no que se refere às medidas de prevenção de recaídas.
Referências
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Davls, M., & Eshelman, E.R., & Mckay, M. (1996). Manual de relaxamento e redução do stress. Sâo
O presente estudo teve por objetivo observar a interação verbal entre uma cliente
e uma estagiária-terapeuta nunca clinica escola de psicologia. A finalidade foi verificar
como o comportamento verbal e não-verbal da terapeuta afetaria a cliente e como o
comportamento verbal e não-verbal do cliente afetaria a terapeuta. Objetivou, também,
investigar se a terapeuta mantinha-se atenta a tais comportamentos e se essa intervenção
conseqüenciaria mudanças no repertório comportamental por parte da cliente com o
consoqüente controle dos seus comportamentos-problema.
204 l/in<i N . Hucno/ htbum.i A . L. de AfluMr, A iki S. T. Sllv«i( U ílfn C . ilos P.issos c A n a C.irolin.i
f. Mour.i
vez que esse procedimento favorece a revisão de uma mesma gravação quantas vezes
se fizerem necessárias para observar e descrever diferentes classes comportamentais.
Por esse instrumento, o registro em vídeo, o pesquisador poderá alcançar a
fidedignidade dos dados observados, eliminando falhas. Além de possibilitar a
confrontação dos resultados registrados, através da análise desses dados por outros
pesquisadores, que terão acesso ao material gravado.
Porém, o psicólogo clínico depara-se com a necessidade de técnicas para
observar e descrever os comportamentos emitidos pelo cliente. A eficácia do um processo
de intervenção psicológica inicia-se pela adequada e rigorosa descrição dos repertórios
de comportamentos que se pretende mudados. Estudos observacionais em contextos
clínicos desenvolvidos por Britto, Oliveira e Sousa (2003), Elias e Britto (2004) e
Fernandes e Britto (2005) demonstraram que a possibilidade de reprisar fitas de vídeo
várias vezes tornou possível focalizar diferentes aspectos da relação terapêutica, nas
quais novas categorias próprias daquele contexto emergiram. Desse modo, ficou
evidenciado que "Para a análise em contextos clínicos, o registro obtido por meio de
gravação em vídeo é o mais próximo do dado real, isto é, há uma relação entre o registro
e o que ocorreu na sessão" (Britto, Oliveira & Sousa, 2003, p. 141).
Processo Terapêutico
Independente da abordagem teórica sabe-se que o processo terapêutico se
destaca pelo seu papel de ensinar, de criar condições que permitam ao cliente aprender
a observar, a descrever e a controlar seu próprio comportamento, através da
automonitoração. Desta forma, de acordo com Kuhn (1962/1977), o conhecimento pela
descrição necessita do amparo do conhecimento por meio da prática. Porém, Guilhardi
(1997) garante que o autoconhecimento - que será favorecido pelo automonitoramento
- só acontece de forma concreta através de questões feitas pelo terapeuta. Mas, como
sugere Skinner (1957/1978), no inicio da terapia o terapeuta não tem muita “força"
perante o cliente, pois ainda não há laços suficientes para tal progresso. Esses laços
serão construídos à medida que o processo de cooperação entre essa dlade - terapeuta
e cliente - for estabelecido. Isto implicará, necessariamente, na adesão terapêutica que
tem caráter decisivo no alcance dos objetivos propostos a essa ordem de tratamento: o
autocontrole. Pois, como salientam Vázquez, Rodrlguez e Álvarez (1998), a adesão é
assunto comportamental, uma vez que sua ocorrência dependerá do comportamento
do cliente e do comportamento do terapeuta.
Método
Participantes
Os sujeitos deste estudo compreenderam a diade estagiária-terapeuta e cliente:
(a) cliente de 63 anos, á época deste estudo, sexo feminino, aposentada, divorciada,
classe social baixa, primeiro grau incompleto, com diagnóstico de depressão e transtorno
de estresse pós-traumático. Queixa principal: tristeza continua e persistente, agravada
após sua aposentadoria e preocupação exacerbada com a possibilidade de seu filho vir
a suicidar-se, por não conseguir suportar a perda do cunhado (e genro da cliente),
ocorrida por suicídio, a um mês do inicio desta pesquisa: (b) estagiária-terapeuta, de 41
anos, sexo feminino, cursando o estágio supervisionado em psicologia clinica.
206 tyln.i N . Bucno, fabiana A . L do Aguiar* Ada S. T. Silva, Ué IcnC. do* Passos r Ana Carolina
F. Moura
Ambiente e Materiais
As observações e sessões terapêuticas da cliente ocorreram em um dos
consultórios-padráo de uma clinica escola de psicologia, vinculada a uma instituição de
ensino superior.
As sessões foram registradas por uma câmera filmadora em VHSC. Para sua
análise houve a utilização de aparelhos de televisão, de vídeo cassete e cronômetro.
Procedimento
Foram registradas em vídeo 10 sessões iniciais do processo terapêutico: da 2"
a 11" sessões. Não houve o registro em vídeo da primeira sessão entre a dlade, pois
serviu para orientação à participante-cllente de como seria a coleta de dados, bem
como assinatura da documentação de autorização e procedimentos normais da terapia
comportamental-cognitiva.
O registro das sessões em video ocorreu em sou tempo total de realização,
segundo contrato terapêutico, dentro do padrão normal de tempo: 50 minutos, cada. O
consultório sempre foi preparado antes que a dlade nele entrasse: (a) poltronas
organizadas de forma transversal, gerando a perspectiva de cliente e terapeuta de frente
uma para outra; (b) mesinha de apoio lateral à terapeuta; (c) janelas fechadas, para
inibirem os ruídos externos; (d) luzes do consultório acesas; (e) filmadora ligada, sendo
posicionada sempre mais lateralmente à terapeuta e de frente à cliente; posição esta
mantida em todas as sessões.
Transcriçáo das Sessões - Foi estabelecido, após o registro em vídeo das 10
sessões, motivado inclusive pela variabilidade de tempo total das sessões -
conseqüenciada por atrasos da cliente - que a transcrição ocorreria dentro dos 10
minutos iniciais de cada sessão.
A transcrição ocorreu em dois momentos distintos: (1) no primeiro momento,
foram transcritos apenas os comportamentos verbais da díade, de forma contínua; (2)
no segundo momento, foram transcritos os comportamentos não-verbaís de ambas,
também de forma contínua.
Após a transcrição das sessões foi feita a categorização dos comportamentos de
maior ocorrência ao longo das 10 sessões gravadas. Foram selecionadas duas classes
de comportamentos igualmente apresentadas pela dlade: (1) comportamentos motores
repetitivos: (a) das mãos; (b) dos braços; (c) da cabeça; e (d) dos pés; e (2) relação
diàdica: (a) olhar da cliente à terapeuta; (b) olhar da terapeuta à cliente; (c) expressões
faciais da cliente; (d) expressão facial e mudança na postura da terapeuta; (e) e relatos da
cliente à terapeuta sobre dificuldades corporais, financeiras e domésticas; perdas e
doenças. Houve a seleção, também, de uma classe de comportamentos relacionada à
terapeuta: (1) comportamentos reforçadores e punitivos da terapeuta à cliente,
compreendida por (a) mudar do foco da intervenção, sem considerar o verbal da cliente;
(b) ignorar o relato da cliente; (c) interromper fala da cliente; (d) sugerir respostas verbais
á cliente; (e) verbalização de sons afirmativos; (0 verbalizar reforços positivos ó cííente.
As classes de comportamentos, com suas respectivas categorias, tanto da cliente
quanto da terapeuta foram anotadas em folhas de registros, previamente padronizadas:
(a) título, definindo se apresentava comportamentos verbais ou não-verbais; (b) data da
sessão; (c) número da sessão gravada; (d) coluna para as categorias de comportamentos
discriminadas na sessão; (e) coluna especificativa da sessão gravada, onde foi colocado
o número de vezes de ocorrência do referido comportamento categorizado.
2 0 8 C/in.i N . Rucno, fabian.i A . I.. ilc A flu iar; A tia S. T. Silv,i, U é lc n C . dos l\m o s c A n a Carolina
f. M o u ra
verbais que deve apresentar; e num terceiro momento verbaliza sons afirmativos à
cliente bem como frases reforçadoras positivas da ordem: (a) "Isto!"; (b) "Certo!"; (c)
"Você tá bonita hoje!".
A seleção e definição das classes de comportamentos e suas respectivas
categorias/subcategorias foram obtidas no intervalo de tempo de 10 minutos iniciais de
cada sessão, através de observação/descrição direta o ininterrupta, com aproveitamento
de 100% das gravações.
Resultados
Os resultados alcançados são apresentados por classes de comportamentos
e suas categorias/subcategorias mensuradas em forma de freqüência e percentagem.
O intervalo para observação/descrição e análise dos dados, ocorreu entre a 2*
e 11a sessões iniciais do processo terapêutico da participante doste estudo.
Tabela 1 - Freqüência e porcentagem das categorias dos comportamentos motores
repetitivos da cliente e terapeuta
% 11.8 11.6 18.2 3.1 23.8 1.9 17.4 4.3 0 7.9 100
Movimentar
dos braços
da cliente:
Alongar os
braços para
frente 3 0 1 0 1 3 1 4 0 0 13 7.2
Apoiar os
braços na
poltrona 7 9 39 0 0 3 45 1 0 9 113 63.2
Levantar o
braço
esquerdo 6 26 4 0 1 0 4 10 0 2 53 29.6
210 C/ina N . Bucno, fabiana A . I.. de A ^ u i.ir( A d a S. í. Silva, W ílc n C . dos l’ assos c A n a Carolina
E M o u ra
Tabela 1 - Contmuaçâo (b)
Categorias Sessões Gravadas
sobre 1a 2a 3a 4a 5a 6a 7a 8a 9a 10a Total
Movimentos
Movimentar
dos braços
da Terapeuta:
Apoiar braços
na poltrona 59 8 7 2 0 1 18 0 0 10 105 53.6
Apoiar os
braços nas
coxas 23 22 17 0 8 2 17 0 0 2 91 46.4
% 17.3 2.9 15.7 16.5 19.6 7.1 5.5 8.1 0 7.3 100
% 15.2 3.8 20.9 5.7 23.2 5.2 11.8 6.1 0 8.1 100
Movimentos
dos pés da
cliente:
Pé direito
cruzado sobre
o esquerdo 45 20 20 6 40 6 45 1 0 2 185 49.5
Descruzar os
pés direito e
esquerdo 9 4 4 3 32 3 9 1 0 4 6918.5
Balançar os
pés direito e
esquerdo 0 27 14 4 38 1 19 1 0 16 120 32
Total 11 0 0 0 20 6 3 1 0 3 44 100
CD
00
212 C/iiw N . Puerto, Kibl.in.i A . I.. de Aflui.ir, Ad.i S. í. Silvii, U élenC. dos l\i*sos c A n.i C.irolin.i
f . Mour.i
Através da Tabela 1 observa-se que a categoria Movimentos das Mãos da
Cliente’, composta por seis subcategorias, apresenta maiores freqüências nas 3a, 5a e
8a sessões gravadas, com 18.2%, 23.8% e 17.4% respectivamente. Na 3" sessão a
participante deteve-se a descrever, pormenorizadamente, o suicídio do genro e o receio
de que seu filho viesse a fazer o mesmo ato. Na 5a sessão o foco foi o desaparecimento
do filho e o receio de que ele tivesse atentado contra sua vida. Na 8a sessão a participante
verbalizava seu conflito: alegria e tristeza por seu filho ter sido localizado e hospitalizado
em uma clínica para desintoxicação alcoólica. Alegria por ele estar vivo e tristeza porque
elo passaria a semana sem receber visitas: HE se ole se matar, nesse isolamento
todo?”, observava. Ainda nesta categoria de comportamentos é possível perceber que
nas duas primeiras sessões gravadas a froqüência de ocorrência foi superior a casa
dos 11%, momento do processo terapêutico para investigação das queixas explícitas e
implícitas da cliente.
Nas 10 sessões gravadas a cliente apresentou um total de 483 movimentos,
enquanto o total de ‘Movimentos das Mãos da Terapeuta' foi de 185, considerando suas
sete subcategorias Quanto à subcategoria de ‘Passar mãos nos cabelos', apresentada
por ambas (participante e terapeuta) ao longo das 10 gravações, a participante repetiu
este movimento 10 vezes, significando 2% do total; enquanto a terapeuta apresentou um
total de 38 repetições, representando 20.5%.
Já nas categorias ‘Movimentar dos Braços da Cliento' e ‘Movimentar dos Braços
da Terapeuta’ foram observadas três subcategorias para a primeira (participante): alongar
os braços para fronte, apoiar os braços na poltrona e levantar o braço esquerdo; e duas à
terapeuta: apoiar os braços na poltrona e nas coxas. A freqüência total destes movimentos
apresentados pela díade foi de 179 pela participante e 196 pela terapeuta. A participante
apresentou a maior freqüência por sessão, 27.9%, na 7a sessão, quando o filho estava
desaparecido; e 24.6% na 3a, quando relatava o suicídio do genro. Enquanto as maiores
freqüências por sessão da terapeuta foram verificadas na 1a (41.8%), quando da
investigação das queixas e na 7a (17.8%), com o foco da sessão já mencionado. Na 2a
sessão a participante levantou o braço esquerdo por 26 vezes. Este comportamento foi
repetido quando explicava à terapeuta o motivo que a levou ir embora da Clinica Escola
sem atendimento: “Fiquei muito incomodada do a senhora estar ali e eu indo embora,
mas estava agoniada com o que podia estar acontecendo lá em casa”.
Os dados observados quanto ao ‘Movimentar da Cabeça da Cliente’ (com cinco
subcategorias: balançar a cabeça positiva e negativamente, levantá-la, incliná-la para um
dos lados e apoiá-la em uma das mãos) e 'Movimentar da Cabeça da Terapeuta’ (com
apenas duas subcategorias: balançar positiva e negativamente), em seu total geral destaca
que a participante apresentou 163 movimentos positivos; enquanto a terapeuta 181,
representando 85.8% de todos os seus movimentos com a cabeça; sendo que sua maior
ocorrência foi observada na 5a sessão O balançar negativamente a cabeça revela os
seguintes dados: a participante o fez por 68 vezes, enquanto a terapeuta o repetiu 30
vezes, ou seja, 14.2% de todos os seus movimentos com a cabeça; com sua maior
ocorrência verificada na 3a sessão. Os dois outros movimentos feitos pela participante
com sua cabeça, de maior freqüência foram: ‘Inclinar a cabeça para um dos lados’, com
22.7%; e 'Apoiar a cabeça em uma das mãos’, com 14.2%.
Na categoria de movimentos dos pós da participante e da terapeuta ó possível
observar três subcategorias apresentadas pela primeira e apenas uma pola segunda. A
participante movimentou seus pés 374 vezes, enquanto a terapeuta flexionou seus pós
44 vezes. E a sessão com maior registro para ambas foi a 5a: 29.4% para a participante e
45.5% para a terapeuta.
Total | 2 9 7 1 23 0 21 0 0 4 67 100
% 3 13.4 10.4 1.5 34.3 0 31.4 0 0 6 100
Expressão facial
e mudanças na
postura da
torapeuta:
Sorrir à cliente 2 2 6 1 1 0 31 0 0 3 46 15.4
Recostar-se na
poltrona enquanto
cliente fala 6 6 4 3 5 1 4 0 0 1 30 10
Afastar-se da
poltrona enquanto
cliente fala 6 6 5 3 21 0 5 0 0 1 47 15.6
Cruzar e
descruzar as
pernas enquanto
2 1 4 C/itn» N . Hucno, f.ibj.m.i A . I . do Ajjuiiir/ Ad<i S. í. Silvd, U dcnC. do* Pdtios c An.i Cdrolln.i
f. Mouru
Tabela 2 - C o n tin u a ç ã o ___
Categorias Sessões Gravadas
Comportamentais
da Relação 1a 2a 3a 4a 5a 6a 7a 8a 9a 10a Total %
Diádica
Relatos cliente à
terapeuta -
Dificuldades
corporais,
financeiras e
domésticas;
Perdas; Doenças:
Relatar estados
emocionais
positivos 0 0 7 5 2 4 2 2 0 2 24 9.3
Relatar estados
emocionais
negativos 7 14 12 5 14 13 4 5 0 3 77 29.8
Relatar Dor 1 2 0 0 3 4 0 4 0 1 15 5.8
Relatar perdas por
morte 3 1 2 1 0 12 1 0 0 0 20 7.7
Relatar eventos
aos quais 8.1
paralisou-se 2 7 3 1 8 0 0 0 0 0 21
Relatar
dificuldades para
expressar-se 3 3 3 0 5 0 0 2 0 0 16 6.2
Relatar
dificuldades
financeiras 0 1 0 0 5 0 0 0 0 0 6 2.3
Relatar
dificuldades em
realizar as
atividades
domésticas 0 5 5 0 5 0 27 0 0 0 42 16.2
Relatar doença 5 0 0 1 1 2 2 10 0 2 23 8.8
Chorar na
presença da
terapeuta 0 2 3 1 8 1 0 0 0 0 15 5.8
Total 21 35 35 14 51 36 36 23 0 8 259 100
% 8.1 13.5 13.5 5.4 19.7 13.9 13.9 8.9 0 3.1 100
Tabela 2
A Tabela 2 apresenta a freqüência e percentagem dos comportamentos que
compreendem a relação terapêutica como: olhar e desviar o olhar uma à outra;
expressões faciais e mudanças na postura (sendo esta última relacionada à terapeuta);
e relatos de dificuldades corporais, financeiras, domésticas, assim como relatos de
perdas e sobre doenças.
216 l/ina N . Bucno, hibuind A . I.. dc A^uuir, Ad.i S. I. Silva, W ílrn l'. do* í\i«o s c A n.i C\irolin<t
f. M oura
A terapeuta recostou-se e afastou-se da poltrona enquanto a participante falava
30 (10%) e 47 (15.6%) vezes respectivamente. Além de ter cruzado e descruzado as
pernas 177 vezes (59% do total de comportamentos), sendo que a maior ocorrência
(36) deu-se na 5" sessão.
Com relação à categoria ‘Relatos Clionte à Terapeuta - Dificuldades Corporais,
Financeiras e Domésticas; Perdas; Doenças’, a participante apresentou 10
subcategorias, sendo que as duas de maior ocorrência foram: 'Relatar estados
emocionais negativos', com 77 ocorrências, sendo 29.8% do total geral, com maiores
registros (14) nas 2a e 5a sessões; e 'Relatar dificuldades em realizar atividades
domésticas', com 42 ocorrências, ou seja, 16.2%; comportamento ocorrido com maior
freqüência na 7a sessão (27). 'Relatar doença’ e 'Relatar eventos aos quais paralisou-
se', seu percentual foi de 8.8% e 8.1% respectivamente ao longo das 10 sessões
gravadas. Já 'Relatar perdas por morte' ocorreu 20 vezes, isto ó, 7.7% do total geral
desta categoria. As demais subcategorias apresentaram ocorrências inferiores a 7%.
Pela Tabela 3 é possível observar que a categoria 'Comportamentos Reforçadores
e Punitivos da Terapeuta' compreendeu-se por cinco subcategorias. Verbalizar reforçadores
positivos à cliente’, como: "Mmmhmm!”; "Ah!”; “Hhurn!", "Certo!"; "Isto!"; "Muito bom!", obteve
23.6% de todos os comportamentos, sendo que sua maior ocorrência deu-se na 5a
sessão (16 vezes). A segunda subcategoria que mais ocorreu foi a de 'Sugerir respostas
verbais à cliente', com 21.7% do total, com a maior freqüência registrada na 5a sessão: 9
vezes. A seguir, veio a subcategoria 'Interromper fala da cliente' com 21.1% do geral, com
maiores freqüências nas sessões 1a e 5a: 6 vezes respectivamente. Já 'Ignorar o relato da
cliente' e Mudar o foco da intervenção sem seqüenciar fala da cliente', houve a mesma
ocorrência: 16.8%, ou seja, 27 vezes, sendo que a maior freqüência foi registrada, em
ambas, na mesma sessão: 3a, com 6 repetições do referido comportamento.
Discussão
Da coleta de dados, transcrição e análises dos resultados, este estudo ocupou
12 meses. Durante as sessões gravadas (da 2a a 11a do atendimento realizado à
participante, terapeuticamente), o consultório psicológico sempre foi o mesmo, com o
mobiliário disposto igualmente em todas as sessões. Mas é importante relatar que
ambas (participante e terapeuta) apresentaram a cada nova sessão repertórios
emocional-motivacionais diferenciados, o que de acordo com Staats (1996) foram
diretivos na apresentação de novos repertórios sensório-motores e lingülstico-cognitivos.
Apenas nas primeiras sessões e somente nos minutos inicias delas ó que a
dlade observou a filmadora. Posteriormente, tanto a participante quanto a terapeuta
agia como se não mais percebesse o equipamento. O que nos faz levantar a hipótese
de que o mesmo não foi intrusivo á intervenção e a este estudo.
Skinner (1953/1994) destaca a audiência não-punitiva do terapeuta como uma
condição importante para que o cliente possa emitir os repertórios que estão sob controle
aversivo. Quando um indivíduo busca a terapia, essencialmente estará falando sobre
eventos que lhe são aversivos, sobre suas dificuldades e, logicamente, estará entrando
em "(...) contato com o que o faz sofrer. Enquanto o contato com o sofrimento ocorre, o
terapeuta continua exercendo seu papel de audiência não-punitiva, acolhendo,
compreendendo e aceitando as verbalizações ou outros comportamentos apresentados
pelo cliente" (Costa, 2003, p. 2).
Mensurar a emoção, o comportamento, conseqüentemente, identificar os
estímulos que os eliciam, é fator central no processo terapêutico, fonte primária de sua
218 C/iini N . Bucho , A . I., de A«ui.ir( Aild S. T. Sllv.i, U élcnC . tios Pdssos e A nu Cdrolm.i
F. Mour.i
apoiou em uma das mãos, somando 36.9% do total. Enquanto a terapeuta apresentou
seis vezes mais o comportamento reforçador (balançar a cabeça positivamente) à
participante, que o de oposição, com 85.8%, para apenas 14.2% de oposição ao que
verbalizava a cliente. Mas não expressou-lhe em momento algum o motivo da negativa.
As sessões de maior freqüência dos comportamentos confirmativos da participante
pela terapeuta foram a 5a (48 vezes), 3a (34 vezes) e 7a (24 vezes).
Outra categoria de comportamentos de alta ocorrência, como demonstra a Tabela
1, foi a de 'Movimentos dos pós da Cliente’, tendo apresentado 374 movimentos, ao
longo das 10 sessões, com maiores ocorrências por sessões na 5a e 7a sessões com
110 e 73 movimentos, respectivamente. Também a estes comportamentos a terapeuta
realizou nenhuma observação. Enquanto ela própria, terapeuta, flexionou seus pós
para o alto 44 vezes, nas 10 sessões, sendo que o percentual maior, por sessão,
ocorreu na 5a: 45.5%. E, o segundo maior foi registrado na 1a sessão: 25%.
Os resultados apresentados na Tabela 1 refletem a proposta skinneriana sobre
o quanto o comportamento verbal controla o comportamento não-verbal. Ao analisarmos
os resultados contidos na Tabela 1 com os da Tabela 2, há a indicação de que a partir do
momento em que a terapeuta passou a Intervir no repertório básico de comportamento
da participante, após a 5a sessão, ainda que eventos aversivos co-ocorressem no
ambiente social dela, como o desaparecimento do filho, verifica-se, em todas as
categorias de comportamentos, nestas tabelas, a redução das freqüências dos
comportamentos verbais e não-verbais inadequados ou de desconforto físico, como
salienta Catania (1998/1999).
A Tabela 2 destaca ainda que a empatia entre a dlade parece ter favorecido a
evolução da intervenção, ainda que havendo pouca maturidade profissional da terapeuta,
por estar em seus primeiros momentos de prática clínica: o reforço mútuo com o olhar
uma para outra, com o sorrir. Mas, ao mesmo tempo, apresentaram comportamentos
sugestivos de punição, quando desviaram seus olhares (referentes á díade); quando
franziu as sobrancelhas, ou arregalou os olhos (referentes à participante). É exatamente
por isto que Vázquez, Rodrlguez e Ávarez (1998) afirmam estar a adesão dependente do
comportamento do cliente e do comportamento do terapeuta.
Ainda na Tabela 2 é possível identificar um comportamento sugestivo de intensa
ansiedade na terapeuta: 'Cruzar e descruzar as pernas enquanto a cliente fala', com
177 ocorrências, sendo que as freqüências maiores foram registradas na 1a, 7a e 5a
sessões respectivamente (59; 51; e 36 vezes). Esses dados nos remetem ao seguinte
questionamento: as respostas ansiosas da terapeuta teriam favorecido a sua não
discriminação ou pelo menos não intervenção a uma série de comportamentos verbais
e não-verbais da participante, mantenedores importantes de seu repertório de
comportamento disfuncional?
Os relatos verbais da participante (Tabela 2 - continuação) sugerem o quanto
essa ordem de comportamento gerava-lhe respostas emocionais negativas intensas,
levando-a a comportamentos desadaptados em seus diversos papéis sociais.
Desta forma, o terapeuta ao considerar as expressões faciais, gestos, posturas,
fixações visuais, além do repertório verbal, poderá, como indica Guilhardi (1997) criar
condições para que o cliente possa se automonitorar, o que favorecerá o
autoconhecimento necessário para a decisão de mudar a si, consequentemente, ao
seu meio ambiente.
A Tabela 3 apresenta a categoria de 'Comportamentos Reforçadores e Punitivos
da Terapeuta'. Talvez os comportamentos punitivos como 'Mudar o foco da intervenção
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"Coerção nào ó a raiz do lodo mal, mas até que adotemos outros modos, que nào
o coercitivo, para controlar a conduta uns dos outros, nenhum método para melhorar
fisicamente nossa espécie impedirá que o tim er de nossa sobrevivência continue
andando Uma ciência do comportamento desenvolvida pode mais uma vez dar às
p essoas de boa vontade razão para otim ism o sobre nossas chances de
sobrevivência".
Sidman (2003, p x)
Na prática clinica é preocupante a freqüência com quo o terapeuta lida com
clientes que vivem sob controle de contingências coercitivas. A punição reflete uma
herança histórica e cultural ainda froqüentemonto utilizada como procedimento para
suprimir ou controlar o comportamonto do outro. “Nós vivomos om um mundo coercitivo,
bombardeados por sinais de perigo e ameaças." (Sidman, 2003, p. 33)
Toda contingência em que estiver operando alguma forma do evento aversivo será
chamada de contingência coercitiva {Sidman, 2003). Denominaremos de contexto coercitivo
(Guilhardi, 2005) qualquer condição em quo as relações ontre os indivíduos e o ambiento
forem tipicamente de natureza coercitiva. Assim, por oxemplo, uma familia em quo as relações
ontro as possoas se definom por punições e comportamentos de fuga-esquiva podo ser
dofinida como um contexto coercitivo. Em tais contoxtos, o controle aversivo se dá, basicamonto,
atravós do três grupos de procedimentos: paradigma do ansiedado, roforçamonto nogativo o
punição (negativa e positiva). No paradigma experimental de ansiedade, um estimulo (pró-
avorsivo) ê apresentado durante determinado tompo, no final do qual ocorro um evento aversivo
(choque olótrico, por oxemplo), que não ó contingente a nenhum comportamonto especifico e
que não podo ser evitado, nom adiado por nonhuma rosposta particular. Tal procedimonto é
superposto a um esquema de reforçamento positivo intermitonto (om gorai intorvalo variável),
1O* rnikira* HyftKfocnm a Norn««i (k) Ayuirrn Lilian MmJeiro» n ShthM Marln Gimfio» |xtl*i o mvinAo<)o loxlo
Identificação do cliente
Alex (nome fictício), quando começou a terapia, era solteiro, tinha 22 anos e
havia completado o ensino médio em escola pública. Trabalhava em um escritório de
contabilidade. Morava com o pai (52 anos) e a mãe (51 anos). A irmã de 28 anos,
casada, com filhos, era residente em outra cidade. O pai, aposentado, exerceu a profissão
de pedreiro A mãe nunca havia trabalhado fora de casa e apresentava graves problemas
Primeira Sessão
Aconteceu em uma noite fria. Na sala de espera, Alex estava inclinado para
frente e sentado na beira do sofá. A sós com a terapeuta, a testa exibia inúmeras gotlculas
de suor. A ansiedade era notável.
T: - Alex, eu gostaria de saber o que está incomodando você? Por que procurou a terapia?
A: - Ah! No serviço está tudo bem, só que tem umas coisas quo estressam muito em
relação a trabalho. Tem que ter paciência, controlar, tentar ver aquilo de um outro modo
pra nào ter nenhum tipo de constrangimento, mas em outros casos está tudo normal. A
vida, não tão tranqüila como eu queria com relação aos problemas com minha família,
tudo mais, o que tem tipo, certo, não pode desviar pra um outro canto. Tem um problema
sério na minha família, a hemodiálise. Minha mãe perdeu dois rins e agora tá precisando
fazer uma cirurgia no braço e eu e meu pai tem que estar com a cabeça no chão, porque
senão ela não se preocupa muito, mas, com o sofrimento dela, eu não consigo expressar
muito sentimento, isso pra mim, ajudo no que eu posso, só que eu não consigo em
certos casos chorar, estas coisas assim. Não sei seô o caso de eu ser tímido, eu sempre
fui fechado, nunca abri meu coração para alguém. Sabe? Fiquei fechado, trancado no
meu quarto, ficava comigo mesmo, nào se preocupava com o mundo, com o que os
outros pensavam e agora eu estou sentindo umas coisas assim, que estou começando
a me liberar e pretendo, com esse tratamento, ver o que pode ser feito, porque eu ainda
tenho um pouco de receio de conversar com as pessoas. Não sei se é pelo modo de
querer observar primeiro e ver como a pessoa, assim, ver no dia a dia, lida com as
coisas antes de poder chegar pra pessoa e poder falar, começar um assunto. Se eu não
ver a pessoa, raramente vou conseguir conversar com ela. Vou pegando amizade sem
a pessoa se aproximar, se a pessoa aproximar e eu não conhecer, vou ter aquele receio.2
A terapeuta ficou sob controle do relato verbal confuso do cliente e dos
respondentes públicos, tais como sudorese, tremor nas mãos, voz tremida, que
sinalizaram que a situação estava aversiva para Alex.
- Será que tenho função de estímulo pré-aversivo? - pensou a terapeuta. -
Mas, Alex nem me conhece ainda! Pensando bem... não precisa mo conhecer. Posso ter
função aversiva por generalização; a partir de outras pessoas da convivência dele... A
terapeuta atreveu-se a inferir que, em experiências interpessoais passadas, Alex,
possivelmente, teria sido punido na interação com o ouvinte. Temia agora ser punido.
As reações de Alex, na primeira sessão, rometem a um texto de Sidman (2003):
“No experim ento básico, o sujeito (experim ental) aprende a obter alimento
pressionando uma barra ; mas, (...) o trabalho do a nim al è pago apenas
ocasionalmente; ele nào obtém alimento toda vez que pressiona a bana (...) o tempo
entre tentativas bem-sucedidas é imprevisível (...) Agora, enquanto o sujeito está
trabalhando por seu alimento, ligamos um sinal, um tom que dura um minuto. Au finai
do minuto, assim que o tom cessa, um breve choque aparece. Diferentemente do
choque que o sujeito pode prevenir, este é inevitável, nada que o sujeito possa fazer
o manterá longe. Embora desamparado contra o choque iminente, o sujeito pode
continuar pressionando a barra durante o tom e o alimento ainda virá como antes (...)
No laboratório, depois do tom e do breve choque, passa-se um intervalo de duração
SobreComporl.imentoeCognlç.lo 2 3 5
A: - Desde os quatro anos. (Alex não ficou sob controle da pergunta da terapeuta e
respondeu como se a pergunta estivesse relacionada com os remédios que deixaram
seus dentes amarelos)
T: - Faz tempo que você tem esse receio de conversar? (terapeuta retoma a pergunta)
A: - Ah, porque assim, faz bastante tempo, comecei a me liberar um pouco mais com 18
anos.
T: - Dezoito anos, e você está com vinte agora...
A: - Estou com vinte. Porque, assim, por causa dos meus pais, até os 16 anos, não podia
sair de casa. Meus pais colocavam na minha cabeça que eu não tinha amizade nenhuma
na rua, e todo mundo sala, e eu ficava quieto, ficava assim, de casa pra escola, da escola
pra casa, então se eu ficasse na rua ató umas quatro horas da tarde, minha mãe e meu
pai me levavam pra casa. al eu perguntava: "Por quê?", (os pais respondiam) “Tem
muita violência na rua, você vai ser assaltado, vai ser morto e tudo mais". Então ,como eu
não tinha experiência na rua. eu acreditava e ficava em casa. Meus colegas: “Alex,
vamos sad". H Ahf Não posso, que minha mãe não deixa" Aí, com isso, sempre teve briga
em casa do tipo de... conversar não deixa, porque meu pai, você vai conversar com ele,
ele é aquela pessoa que vira as costas pra você e bate a porta na sua cara, ele (pai) nào
dá a resposta do que você está perguntando pra ele, então, algumas vezes, antigamente,
eu retrucava, ele falava alguma coisa, eu pegava, virava as costas, saía e ele ficava
bravo com isso. Al, eu pegava e reclamava da situação, aí eu falava: "Não, você fez isso
comigo primeiro". A gente nunca conversou de pai pra filho até os 16, 17 anos. Depois
que um colega meu abriu uma academia de artes marciais me interessei em fazer, sô
que, antigamente, eu por qualquer coisa eu já brigava, aí por esse motivo também meu
pai nào queria deixar eu sair. Al depois, com tempo, meu vizinho, no caso, convenceu
ele a ir lá ver, porque ele pensava que era só briga, sangue, essas coisas que a televisão
mostra...
O cliente, durante a sessão, apresentou verbalização quase ininterrupta, o que
limitou as intervenções da terapeuta. Os problemas mais importantes que relatou foram
as dificuldades no relacionamento familiar e na interação social. Nas sessões seguintes,
relatou outras dificuldades, as quais se seguem.
Queixas do cliente
1- Dificuldades n at Interações sociais
O cliente ficava semanas som evacuar e sofria de muita cólica intestinal, ató que
conseguisse se aliviar. Alex contou que ficava muito ansioso quando tinha "cólicas intestinais"
História de contingências
Desde que nasceu, Alex foi criado pela irmã, por algumas tias e por vizinhas, já
que sua mãe tinha problemas de saúde e, constantemente, viajava para fazer tratamento
módico.
Ele relatou que presenciava as crises de dor da mãe dosde os quatro anos de
idado e a auxiliava, indo buscar recipientes onde ela pudesse vomitar. Ató os 16 anos, o
clionto não podia sair de casa, pois o pai alegava que havia muita violência na rua.
Alguns comportamentos do pai eram muito inadequados, como, por exemplo, quebrar
o chuveiro, dar murro em objetos e paredes, som quo Alox comproondesso o que
desencadeava tais comportamentos. Utilizou, por várias vezes, tiras de borracha de
pneu para bator em Alox, chegando a machucá-lo. (- E o pai dizia que se preocupava
com a violência das ruas..., ponsou a torapouta) As agrossões, algumas vozes, ocorriam
contingentes a comportamentos de Alex; o pai dizia, gritando, porque batia. Mesmo
assim, eram surras exageradas e os comportamentos punidos oram considerados
inadoquados pelo pai de um modo muito arbitrário. Não havia consistência nas
agressões; o mesmo comportamento ora era punido, ora era ignorado. Outras vezes,
Alex nom sabia a razão pela qual apanhava. O pai não dialogava com elo e,
freqüentemente, mandava “recados" ameaçadores pela mãe (que os repetia para o
filho). Outras vezes, fazia reclamações sobre Alex em voz alta, falando com a esposa,
para quo ele ouvisse. Alex, de uma forma geral, não contrariava as ordens do pai e não
o enfrentava; mantinha-se calado, mesmo que a situação fosse injusta. Sentia-se muito
satisfeito quando o pai fazia algo bom para ele, sondo pouco exigonto com relação a tais
comportamentos. Pode ser citado, como exemplo, o fato de o pai ter-lhe dado pipoca e
10 reais de presente de aniversário. Alex ficou muito feliz com os presentes do pai.
É oportuno apresentar algumas considerações conceituais, que auxiliam a
compreensão dos padrões comportamentais atuais de Alex. Punições severas dificultam
o contracontrolo: a agência controladora que maneja os eventos aversivos inibe e inviabiliza
qualquer comportamento de oposição. Quando o comportamento que produz a
conseqüência punitiva é conhecido, a pessoa pode emitir respostas de fuga-osquiva
(basta omitir outros comportamentos alternativos ou incompatíveis com aquele que produz
a punição). Os comportamentos de fuga-esquiva impedem que o evento aversivo seja
apresentado; não romovem, poróm, as contingências coercitivas. No contracontrole, a
fonte de eventos aversivos é alterada e as contingências coercitivas deixam de operar.
Como so viu, contracontrole não era possível para Alex. As dificuldades do cliente para
lidar com as contingências coercitivas se tomavam ainda mais drásticas porque os eventos
aversivos provenientes do pai não oram, em geral, contingontes a nenhum comportamonto
ospocífico; o pai o agredia sem estar atento às contingências. Não há, em tais
circunstâncias, contracontrolo, nom fuga-osquiva possíveis. Ainda mais, não havia como
discriminar quando o ovento aversivo viria, uma vez que o comportamonto de agrodir
estava sob controlo do eventos inacessíveis para Alex. Uma longa história do contato com
contingências coorcitivas intensas produz dôficits importantes de repertório om múltiplas
áreas, tais como rodução de variabilidade comportamental, com conseqüente aumonto
T: - Você tem medo das pessoas nâo gostarem daquilo que você está falando (cliente
interrompe a fala da terapeuta).
A: - Do que estou falando, principalmente, agora, aquilo que eu tinha receio que como
que eu falei prá você por causa dos meus dentes, então eu sempre, sempre quis colocar
aparelho, mas a condição financeira nâo deixava, até cheguei a falar pro meu pai que ia
trabalhar assim, sem parar, no que ele quisesse fazer que nâo conseguia, e ele nâo
deixava, então sempre ficava em casa trancado.
T: - Com vergonha dos seus dentes...
A: - Da pessoa ver, até agora que eu comecei a trabalhar, a primeira coisa era colocar
aparelho. Coloquei a parte de cima, agora falta a debaixo. A própria dentista, por causa
da minha obsessão de arrumar e tudo mais, ela achou estranho por que as pessoas que
vai, no caso, pra desentortar uma coisa assim, e no meu caso não, foi mais pra clarear
primeiro, pra depois desentortar, no caso, e depois que coloquei, nossa! Já cheguei na
rua, já fui nos outros bairros, comecei conversar, tive aquela... nâo sei, se eu tinha
perdido metade do receio que eu tinha.
h da mAa
sllAnclo
pal
Sau pal (|uar o aeu bom,
A do "pst" tem lunçfto ptA-avai»tva A ptaaança tia lunçêo tl* S / \ CumponamaiMo* do pat 1*m
funçAo averalva Comportamnntoa da mAn tAm funçAo neutra (o comportamanto dlantn dela anfraquflce, ontrn em
nxtlnçAo)
- Você viu o qua o pal tez - Eu nâo posso com seu pai.
comigo? Apenas posso dl/ar o qun
penso
- Nem o qua penso posso dizer
a sau pai. Mas para você eu
possol
- Você lem razão. Quando
crescer e tiver sau dinheiro você
se libertará dala.
Assim oomo vooê, lenho
medo do sau pal.
A presença do "pai" Um lunçAo pré-aversiva. A presença da “niAa" tem lunçâo de SD. Com|>ortamentoa do pal têm
lunçAo avarslva. Comportamentos da mâe tém funçAo da SD para o pai (emilir (>utr»a classes "deseiêveis" da
comportamentos) e de SD e Sr> para Alex.
Procedimentos terapêuticos
1) Acolhimento
SobreComporl.imcnfoeC'ogniv<1o 2 4 7
"aperto de mão" no ensaio e, depois, goneralizasse para a situação real de entrevista
um aperto de mão firme, sem ser exagerado).
Em seguida, os papéis foram invertidos: Alox também se levantou o simulou quo
entrava pola porta, iniciando sua atuação como candidato à omprosa da torapouta. A terapeuta
ia conseqüenciando os comportamontos de Alox. Os comportamontos adequados eram
ignorados, descritos. ("Você apertou minha mão com firmeza", por exemplo), ou elogiados
("Isso mesmo! Vocô ostá se desemponhando bem", por exompb), usando-so, portanto, um
esquoma do roforçamento positivo intormitente. Os comportamontos inadequados oram
corrigidos: “Veja, ficaria melhor desta forma" (a terapeuta dava o modelo); "Tente de outra
maneira" (SD para apresentar variabilidade, com reforçamento social arbitrário para
aproximações sucessivas). Assim, foram sendo conseqüendadas diferendalmente algumas
respostas, tais como apertar firmemente a mão do entrevistador; olhar nos olhos ao conversar
com alguém; manter postura ereta diante do ouvinte; objetividado nas respostas (melhor
descrito no item "modelagem de tatos adequados"). Ao final do ensaio comportamental, a
torapeuta deu modolos de alguns tatos verbais adequados e inadequados a serem emitidos
em entrevistas de emprogo. tais como não falar mal do emprego anterior; mendonar qualidades
desejáveis o indesejáveis do desempenho, próprias para determinada função a sor
desomponhada no trabalho (por exemplo, um candidato ao cargo de auxiliar administrativo
deve ter conhedmentos de informática, digitar com predsão, não procrastinar tarefas otc.) o,
se necessário, falar de defeitos pessoais, expor defeitos quo possam ser funcionais (por
exemplo: - Quando começo a fazer algo fico "om dma" até terminar ou - Tenho mania de
organização). O diente foi orientado a se aprosentar no local da ontrovista de emprego com
alguns minutos de antecedência, para amenizar possíveis ostados corporais altorados (sede,
sudorese, bexiga cheia etc.). Foi indicado vestuário apropriado para diferentes situações.
Outras orientações foram sendo acrescentadas r»o processo de treinamonto.
O treino descrito, embora tenha sido primeiramente programado para
desenvolver repertório em contexto de emprego, se aplica a inúmeras outras situações
de interação social. Por tal razão, o mesmo padrão de treinamento foi aplicado para
desenvolver outros ropertórios: convidar uma garota para sair, interagir com colegas
numa situação de lazer, interagir no grupo de trabalho etc.
b. d * o u tra * pasaoas
ao topala (por ax., da
tarapauta);
- Quo topotn
esqul<o...
(ou qualquer outro
comentário, em gorai,
Irônico) com funçAo
avorulva
Aniacodanta»
b. da oulraa paaaoaa
ao “ novo” topala;
Resultados
Alox foi aprovado em quatro processos seletivos, os quais incluíam ontrevista: em
um não podo iniciar as atividades, pois precisaria de um carro (o pai não omprostou o carro
Antes do procedimento
Trechos transcritos da primeira sessão com Alex.
A: - ... Assim, quando você está em casa, sempre você vai ter algum defeito você que
Depois do procedimento
T: - Fala um pouquinho pra mim como foi sua semana, o quo você fez?
A: - Ah, essa somana... Procurando trabalho, ia na cidado, ontrogava currículo, chogava
em casa, descansava um pouco, saía com os amigos, jogava bola, conversava à noite... 0
pessoal fazia fogueira na rua, pegava e ficava conversando em volta da fogueira até altas
horas, depois chegava em casa, dormia. Acordava no outro dia, mesmo processo.
Procurando trabalho... Ajudo em casa como pode, né? Tem que saber valorizar o dinheiro
quo tom guardado, porque, antigamente, quando eu tinha um trabalho, assim, até podia
gastar com coisas pessoais o tudo mais. Só que, como agora não posso, tenho que
valorizar, buscar guardar o mais possível, pra tá ajudando em casa. Quando minha mãe
precisar do dinheiro, é só ir no banco, pegar e deixar com ela. Não ficar emprestando das
outras pessoas. Al, dá complicação depois, ficar pagando... Foi até que legal essa semana.
T: - Ela (namorada) nào falava pra você: "Ai, não gosto... você só fala de academia...".?
Considerações Finais
Através das queixas e da história do contingências, pode-se entender o papel
da punição na vida do cliente. Segundo Sidman (2003):
"O primeiro efeito colateral da puniçào, entào, é dar a qualquer sinal de puniçÂo a
habilidade para punir por si mesmo (...) Se encontramos punição freqüentemente,
aprendemos que nosso caminho mais seguro à ficar quietos e fazer táo pouco
quanto possível. Nós nos congratulamos por cada dia que passa sem catástrofe
(...) Ambientes em que somos punidos tomam-se eles mesmos punitivos e reagimos
a eles como punidores naturais (...) Qualquer um que use choque torna-se um
choque." (pp. 101-103)
Para Alex, diante dos comportamentos agressivos do pai, nada restava a não
ser se recolher em seu quarto, “ficar quieto" e se esquivar de punições severas, tendo
Referências
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E.P.U.
“Amor como um estado ó uma disposição para agir em direção ao outro de maneiras
que são reforçadoras, mas sem prestar atençÃo a quaisquer contingências. No
amor agimos para agradar e nào para ferir, para ser acolhedor o não para ser
maldoso - mas nào agimos para mudar comportamento."
Antecedente
Indiferença (procedimento da
extinção)
Indiferença (procedimento de
extlnçAo)
•P ro v i (I cixuh flaicujt,
verbais e mexido* com
fundão dc SI) par» cvocur
ou uumentur u
probubilidmlc dc cmissAo
dc reopostas "udequiulas’'
Princípio de Premack
OINCANA
M 4 po«l«« M 3 c»po«t«t |
APLAUSO
| U m M»u ■ 30 —g |
e. Sapo Manco. João atendeu aos critérios de definição do comportamento, em seis das
oito vezes em que essa atividade foi programada. Em apenas duas tentativas,
ultrapassou o número de pulos permitidos, ocasionando a interrupção da atividade.
•APO MANCO
f. Maratona. João andou pela sala de espera, dando uma ou duas voltas ao redor da
mesa de revistas, nas oito vezes em que essa atividade foi proposta. Em uma dessas
tentativas, João contou o número de passos dados pela terapeuta - durante a execução
do modelo de comportamento apresentado à criança antes de cada atividade - e
emitiu o mesmo número de respostas. Na verdade, a terapeuta não sabia quantos
passos havia emitido...elogiou João pela sagacidade da idéia.
MARATONA
[ B 20 tipo«!«» ■ 28 f— po«l»> |
João e a mãe
As descrições do Joào a respeito da relação com a mãe, bom como as
observações realizadas pela terapouta, sugerem que Paula é pouco sensível aos
comportamentos adequados emitidos por João. Grande parte do repertório comportamental
de interação com João emitido por Paula foi selecionado pela suspensão temporária dos
comportamentos inadequados emitidos pelo filho. Tais comportamentos inadequados
tinham para ela a função de Sav, diante do qual a emissão de uma rosposta de fuga-
esquiva ocasiona a suspensão temporária do estimulo aversivo (reforçamento negativo).
Por sua vez, João teve grande parte do seu repertório comportamental selecionado pela
“atenção" que produzia na mãe. Assim, Paula tornou-se para João um SD para a emissão
de comportamentos inadequados e ambos tornaram-se vitimas das contingências em
operação. A terapia teve por objetivo alterar as relações de controle de comportamento em
operação na interação mãe-filho, da seguinte maneira: os comportamentos adequados
emitidos por João deveriam adquirir a função de SD para Paula e a presença de Paula
deveria adquirir a função de SD para emissão de comportamentos adequados de João.
Tais informações encontram-se dispostas, resumidamente, nas Tabelas 2 e 3.
Tnbela 2. C ontin gência s de reforçam ento que operavam na interação entre Paula e JoAo antes da terapia.
Tabela 3. C ontin gência s de reforçam ento que operavam na intw açA o entre Paula e J o io depois da terapia
Tabela 4 C ontrole de estím ulo« estabele cid o pela terapeuta, professora e máe sobre os com portam entos adequados
o inadequados de Joâo.
Conclusões e comentários
O prosento estudo demonstrou que o analista de comportamento deve ficar
sob controle dos determinantes funcionais dos padrões comportamentais do cliente e
não do fenótlpo comportamental (Guilhardi, 2005). João apresentava alta freqüência de
comportamentos e ampla variabilidade comportamental - padrões que eram
considerados indesejados em casa e na escola - em função das contingências de
reforçamento que vigoravam nos dois contextos.
Referências
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’ Nòdao d« fc»tucto« #fn AiiMm do Comportuinonto o Prática Cultuml ACPC - UtUvertwdade VWe do Rk> Doo» Ru« Iwad Plnhotro, 2000 -
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2 8 4 lo<lo C ario* m. M a rtin c lli/ M a rro A n lô n io A . Clicquer e M a ria A uxiliadora C . I.. Pam A /io
1997, 1997b). Tais considerações são utilizadas e fortalecem a idéia de que devemos
ser capazes de planejar ambientes de ensino (Skinner, 1983,1989), adequados aos
objetivos pretendidos na formação académica, em as práticas existentes possam dar
origem às condições necessárias a ocorrência e reforçamento dos comportamentos
de interesse, no caso, os comportamentos profissionais pretendidos.
As práticas do Núcleo ACPC, então, sâo criadas tendo em vista a idéia de que a
formação profissional e a produção cientifica se dão a partir da oferta de ambientes
adequados a sua realização: uma prática contextualizada - onde a participação em
múltiplos ambientes aponta a construção de um repertório variado e singular,
respondendo aos diversos comportamentos necessários à atividade profissional
(Guilhardi, 1988). Neste sentido, os alunos são orientados e motivados a engajarem
nas diversas modalidades de formação propostas pelo Núcleo como sala do aula,
supervisão clinica, grupos de estudo, laboratório de psicologia experimental, palestras
e discussões, trabalho de conclusão de curso [TCC], iniciação cientifica, entre outros.
Além disso, os alunos são orientados a participar em outras atividades que já ganharam
tradição como ambientes formadores como a participação em Congressos e atividades
semelhantes, como os Encontros da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina
Comportamental e da Sociedade Brasileira de Psicologia, quando lhes são indicados
assistir palestras e mesas redondas, realizar contatos profissionais, fazer cursos,
apresentar resultados de pesquisa e seus projetos, seus TCCs, para troca de
informações e aquisição de repertório de divulgação de seus trabalhos.
Os resultados obtidos com a participação nas atividades do Núcleo têm permitido
a diversificação da atuação do profissional formado em psicologia (Martinelli, Leite & Ferraz,
2000; Martinelli, Machado e Chequer, 2004), que passa a encontrar na análise do
comportamento um instrumento de análise e intervenção para a solução de problemas
individuais e coletivos, e a promoção de ambientes e comportamentos de interesse social.
Isso tem se dado a partir da ampliação na oferta de ambientes de formação e apresentação
de temas diversos aos quais se dedicar, permitido aos alunos e futuros profissionais
atuarem ativamente na construção de seu contexto de formação e de atuação, em que o
exercício do uso do conhecimento de forma eficiente depende da presença de contingências
especificas para a produção e manutenção de comportamentos profissionais.
Para efeitos de identificação visual do NUCLEO ACPC, foi desenvolvida uma
logomarca que acompanha todas as atividades e produtos científicos (palestras, artigos,
apresentações, anúncios). Esta foi criada para identificar um grupo em constante
formação, com interesse no acesso a novas idéias e diferentes níveis de participação.
As duas curvas nas laterais, relacionam-se à visão de movimento em um ambiente com
espaços abertos à integração, mostrando que o grupo estará sempre disposto a novas
contribuições, trazendo inovações para a comunidade e inserindo novas metodologias
e profissionais aos projetos.
O uso da cor vermelha explica-
se por sua função de estimulo verbal;
vida, movimento, persistência,
contradição. Enfim, a logomarca
representa um grupo que almeja Cor
expressividade (contingências sociais
no reforçamento de suas práticas),
formado por profissionais, alunos e
demais pessoas interessadas que
buscam adquirir competências e
*w—M —« I«M•IH•U• lu do«
N IW •
AC-PC
raNur*
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“ Bacharéis am Psicologia |wIh UnlvemldtKJo da Ania/ônéa (UNAMA)
" • Prolessof I Itulai do Curso do P«icx>logta da Univar«dndn da Aina/Ania (UNAMA)
2 9 8 M id ic llc S. Santo», Renér M . Cítaar, H ian a M a ria S. I>c Brito, l.orcna S. fo n s a .i/ I uciana C .
1’ ntcs, Lucynara R. C/alo c loAo do* Santos Carm o
As estratégias de enfrentamento comportamentais incluem tentativas de açâo
através de condutas que o indivíduo considera efetivas, como a solução de
problemas, apoio social, relaxamento e busca de prazer' (experiências positivas
através de entretenimento, atividades de lazer etc). Já as estratégias cognitivas
incluem tentativas de enfrentam ento através da cognição, como distração,
reestruturação, minlmização, entre outras.
Segundo Cerqueira (2000, p. 282);
As diferentes estratégias de enfrentamento apresentadas pelas pessoas dependerão
de seus recursos culturais internalizados, de seus valores e crenças, habilidades
sociais, apoio social e recursos materiais. Porém, estes recursos podem não estar
disponíveis, por restrições Impostas tanto por condições Internas (outros valores,
deficiências psicológicas, Intensidade percebida do nlvel de ameaça) como por
externas (exigências institucionais, ausência de recursos materiais)
Apesar dos estudos sobre coping (erem sido produzidos por vertentes cognitivistas,
como podo ser visto na citação do parágrafo anterior, estudar estratégias de enfrentamento
revela-se como central na área de saúde (Miyasaki e Amaral, 1995) e podo ser investigada a
partir de um ponto de vista comportamental. Estratégias de enfrentamento podem ser
entendidas como padrões de fuga e esquiva cuja função é aumentar a probabilidade de
obtenção de reforços positivos e contracontrolar situações aversivas, diminuindo a
probabilidade de ocorrência das mesmas ou mesmo inibindo totalmente sua ocorrência.
Desta maneira, torna-se relevante identificar na história individual quais as
contingências que estão em vigor e que fortalecem comportamentos resilientes. Em outras
palavras, é importante compreender o indivíduo resiliente como alguém que está apoiado por
fatores de proteção (buffers), fatores estes bastante diversificados e que afetam o indivíduo no
sentido de possibilitar a este estratégias de enfrentamento adequadas ao problema que
vivência. Neste sentido, Brandão (1997) afirma que o autoconhocimonto ajuda o indivíduo a
perceber o seu comportamento como fruto de sua história e não como algo inerente a ele,
fazendo com que esta pessoa passe a observar os seus próprios comportamentos.
Sendo assim, os psicólogos que irão trabalhar com individuos amputados devom
ajudá-los a recondicionar estratégias comportamentais para lidar com as novas situações
em sua vida, resultantes da perda de um membro; visto que antes da amputação o indivíduo
já possuía alguns repertórios comportamentais de enfrentamento. A partir do momento em
que ele consegue descrever sua história pessoal como fruto de interações com o ambiente,
poderá analisar o que está influenciando em sua forma de agir, buscando então respostas
mais adaptativas. Para atingir este desiderato, são bastante úteis os grupos de apoio. Segundo
Ponchirolli (1990) o objetivo do grupo de apoio a amputados é levar o paciente a se conscientizar
dos seus problemas e limitações reais para melhor aceitação e adaptação da prótese.
Sabe-se que o comportamento pode ser estabelecido e mantido por contingência ou
modelado e controlado por regras e auto-regras (Skinner, 1974/1993). Pode-se, portanto,
aprender estratégias bem sucedidas de enfrentamento através do fortalecimento de habilidades
produtivas de fuga e esquiva, contracontrole e replanejamento de contingências. Instruções
também são procedimentos válidos que podem gerar respostas adequadas de enfrentamento.
Em outras palavras, estamos nos referindo a auto-controle, conforme Neves et al. (2004, p.
202): “o enfrentamento é considerado uma resposta cujo objetivo é aumentar a percepção do
controle pessoal".
Baseado nestas considerações, o objetivo do presente estudo foi identificar as
principais estratégias de enfrentamento apresentadas por indivíduos que sofreram amputação.
A identificação destas estratégias permite observar de maneira mais especifica as interações
indivlduo-ambiente que são relevantes para o estabelecimento de comportamentos adaptativos
diante de situações adversas, ou seja, comportamentos resilientes.
Resultados e Discussão
Relatos dos indivíduos amputados:
A partir dos relatos dos amputados, constatou-se que a maior incidência de
amputação ocorro entre a faixa etária de vinte a sessenta anos. As principais causas
que levaram os indivíduos ao processo de amputação variaram entre diabetes, acidentes
automobilísticos, acidentes de trabalho, osteomelite, tumor maligno e picadas de cobra.
Há um maior índice de membros inferiores amputados.
Conforme pode ser visto no Quadro I, em relação ao tempo que os indivíduos
possuem de amputados, observa-se que há uma variação entre indivíduos amputados
3 0 0 M lc lie llc S. S«infos, Renée M . C'Iw.ir/ H i.in.i M<tri<i S. De Brilo< I orcn.i S. hm srcii, I uci<in«i C .
l’nle*/ I ucyndM R. t/«ilo c lodo do* Sdulos C \irm o
há seis meses, bem como indivíduos amputados há trinta e cinco anos, à época da
coleta de dados (2o semostre de 2004).
Todos os indivíduos relataram em suas entrevistas que no inicio, após a cirurgia, foi
dificil lidar com o fato de que parte do seu corpo foi retirada. A3 foi o único indivíduo que não
conseguiu doscrevor sua autoimagom, sendo elo o que estava amputado a menos tempo (06
mesos). Outros relataram que perceberam a extensão da mudança quo ocorreu em sou corpo,
e que esta trouxe dificuldades para realizar tarefas cotidianas, levando alguns a se aposentarem
do seus empregos e outros a uma limitação na realização de trabalhos temporários.
A2 T em po 8 ano« , descreve que sente m uita tristeza, e que procura sair de casa pura se
dlslralr
A4 Tempo: 20 anos ; descreve que sua vida m udou, que le m algum as dificuldade» com
A5 T em po 3 ano« ; descreve que sua auto-im agem m udou pnra pior, senle dificuldade de
A6 íe m p o ' 25 «no« , descreve que vive depressiva, que nunca acertou, que te m vergonha das
pessoas, mas que le m esperança de conseguir um a prrttese.
Afl Tem po: 35 anos , descreve que antes vivia m elh or e que agora sua vida eslA limitada
A9 T em po 6 an os , descreve que ante» tinha sonho de ser jo gador ou m olorisla, ma» hoje em
dia devid o a am putaçfto ele sofre discrim inaçAo e diante disso tenta ser (orle
A10 Tem po: 2 anos , descreve que antes era vigilante e hoje está desem pregado, no In ldc
Tristeza (A2, A7) depressão (A6), vergonha (A6), não-aceitação (A6) são
sentimentos comuns no relato dos entrevistados. A10 sinaliza a presença de ideações
suicidas. Comportamentos de fuga e esquiva também são relatados, como "sair de
casa para se distrair" (A2). Nos relatos também são identificadas algumas
conseqüências aversivas, como desemprogo (A4, A10), discriminação (A9), indigência
(A4), limitações (A1, A5, A8, A9)
Por outro lado, alguns entrevistados descrevam comportamentos adaptativos,
como voltar-se para a vida (A10), tentar ser forte (A9), não se revoltar (A5), busca de
distração (A2). Neste último caso, a busca de distração diante de sentimentos de tristeza
ao pensar em sua condição atual pode ser identificado como um indício de
comportamento resiliente, embora possa também nâo passar do mera fuga.
O Quadro II apresenta as respostas dos amputados em relação às estratégias
de onfrentamento por eles utilizadas. Conforme pode ser visto, a maioria dos indivíduos
relatou estratégias adequadas, como: buscar ajuda dos amigos (A1, A4, A9), da família
(A7, A8, A9, A10), da religião (A5, A9, A10), do grupo social de referência (A8). Sair de casa
te m p orário s.
m ulto rece nte E ele esp era a p ró te s e pa ra po de r sab er c o m o vai ser a sua vida
<
302 M iito elle S. Santos, Rcnéc M . C liaar, i ll.m.i M a ria S. De Hrlto, I oren.i S. fonseia, l.uciana C .
1’ nleSi I utynara H. C/alo c loJo dos Santo« Carm o
QUADRO III: Rospostas dos profissionais à questão da auto-imagem e das estratégias
de enfrentamento dos indivíduos amputados:
P1 Afirmou que estas perguntas rtâo estavam dentro de sua área de atuação.
P2 "A maioria dos amputados já se aceita, a expectativa da prótese ó multo grande"
P3 "A maioria doa Indivíduos amputados possuem uma boa auto-imagom, são poucos os
que so encontram sem estimulo A expectativa de receber a prótese é uma forma de
enfrentamento, querem a prótese para se reabilitar"
P4 "A auto-imagom da maioria não chega muito boa, não aceitam muito..., os indivíduos se
apóiam na família e na expectativa da prótese para terem uma vida normal".
Considerações Finais
A amputação gera grandos incortozas o insogurança à possoa amputada. Muitos
relatam que assim que acordam da cirurgia e percebom que uma parto do seu corpo foi
retirada, choram bastante. A amputação está associada à imagem do aleijão, do inválido, do
incapaz, afetando a auto-imagom de uma pessoa que passa a se ver de forma díferento dos
demais. Alguns indivíduos relutam em aceitar o fato de torom sido amputados e acabam
negando também o uso de uma prótese. Ou, mesmo aceitando o fato do torom sido
amputados, náo participam do programa do reabilitação, por vergonha de sair do casa.
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Capítulo 29
Análise comparativa entre estresse,
Burnout e habilidades sociais de
profissionais de saúde
Karina Mueller'
Su/anc Schmidlin Lòhr*
Estresse
O conceito de estresse é definido por Lipp (1996) como uma reação do organismo
frente a situações que causam irritação, medo, excitação, confusão ou alegria. É
considerado um processo e não uma reação única, pois é causado por alterações físicas
e psicológicas do organismo. Com estudos realizados, a definição foi complementada
por Lipp e Malagris (2001), acrescentando que o estresse é manifestado pela interpretação
do evento como desafiante pelo sujeito. Portanto, a partir da identificação de um evento
desafiante para o indivíduo há uma modificação na homeostase do seu organismo,
envolvendo reações físicas, psicológicas, mentais e hormonais. Após a modificação há
uma necessidade de adaptação para manter o bem estar e preservar a vida.
O endocrinologista Hans Selye é considerado o primeiro estudioso desta reação
do organismo (Lipp e Malagris, 2001). O termo estresse se popularizou e passou a ser
utilizado amplamente no cotidiano da pessoas. Porém, segundo Selye (1959), não é
Escore Total
Correlação de Pearson Burnout (Habilidades Estresse
Sociais)
Burnout 1
Escore Total (Habilidades
-0,1471 1
Sociais)
Estresse 0,4736 -0,0240 1
Introdução
O luto pode ser definido de diferentes maneiras segundo o aspecto que se quer
enfocar. Em linguagem singela pode ser definido como uma reação à perda, em geral
de uma pessoa, em especial de uma pessoa amada (Parkes, 1998). Por ser uma das
experiências mais marcantes na vida das pessoas, é um tema bastante abordado pela
Psicologia, principalmente em função da freqüência relativamente alta de procura de
auxilio psicoterápico para as complicações do luto.
A perda desencadeadora do luto consiste em deixar de se ter o que tinha, na
maioria das vezes, alguém ou algo do ambiente a quem ou ao qual se tinha vinculo
afetivo. Isto significa que a perda acarreta modificação de uma situação ambiental que
proporcionava bem-estar. O fato de o luto ser reação a uma modificação, geralmente
ambiontal, implica que ele é um conjunto de respostas de interação com o meio. Como
estas interações são comportamentos, o luto e seus problemas podem ser abordados
pela análise comportamental que se fundamenta no neobehaviorismo radical.
É possível que algumas pessoas rejeitem a abordagem do luto em terrnos
comportamentais. Elas argumentam que os processos psicológicos, como o sofrimento
do luto, são as causas das reações comportamentais do enlutado e que, portanto,
deve-se abordar o psicológico e não o comportamento. Esta dicotomia mente-corpo
derivado das pressuposições filosóficas da antiguidade não mais se sustenta frente
aos conhecimentos atuais das neurociências e a insistência em sua manutenção revela
desconhecimento dos avanços tidos nesta área ou questão de fé. O sogundo ponto é a
crítica que muitas pessoas fazem ao behaviorismo e todas as demais posições
correlatas acusando-os de negarem os processos psicológicos que são eminentemente
subjetivos. Estas pessoas desconhecem que o neobehaviorismo radical aborda estes
processos como comportamentos encobertos (privados) e sua obediência aos mesmos
princípios dos comportamentos observáveis.
O reconhecimento de que o luto se processa normalmente em etapas distintas
em diferentes culturas, embora haja discrepâncias no tocante aos detalhes, indica a
possibilidade de que ele serve a uma função adaptativa importante como já havia
apontado Brown & Stoudemire (1983). Estas observações sugerem que o luto humano
seja uma manifestação filogeneticamente adquirida através de mutações sucessivas e
preservada em função da vantagem trazida para a sobrevivência (valor adaptativo). A
abordagem evolutiva do luto recorre a conceitos da Biologia e suscita a questão de
muitos analistas do comportamento de que a Psicologia comportamental deve ser
3 1 4 K.it*um.is»i I loihrno
perda. O termo vinculo indica estabelecer ligação ou posse, e apego conota ligação e
dedicação com inclinação afetuosa relativamente duradoura. São, portanto, termos que
podem ser signos neutros e mais abrangentes para a descrição das diversas relações
comportamentais que se observam entre organismos ou entre um organismo e um
objeto (material ou imaterial). Assim, o termo vinculo e apego são adequados para
descrever as relações da dlade mãe-filhote de macacos, assim como da dlade mãe-
fillho humano. Como se verá adiante, os mecanismos fisiológicos do amor humano e
do apego em animais são comuns e derivados de uma mesma história filogenótica.
As pessoas leigas e mesmo estudiosas acreditam que os vínculos nos animais
não-humanos sejam genética e deterministicamente programados, Isto ó, sejam
comportamentos inatos cuja expressão ó automática em resposta à apresentação do
estimulo eliciador especifico (estlmulos-sinais). Isto não parece ser verdade, pois a adoção
de filhotes de outras espécies ocorre com bastante freqüência no reino animal (Thews,
sem data), mostrando que a potencialidade de criar vínculos é herdada, entretanto, a quem
se vincular ó aprendido. O fato de um cão formar um novo vinculo quando doado de uma
família para outra mostra que, ao menos em parte, o vinculo ó aprendido. Do ponto de vista
da análise do comportamento, existe um elemento reforçador provido filogeneticamente no
amor e o amor é decorrente dos comportamentos conseqüenciados por este reforçamento
(Skinner, 1991). Além do mais, Skinner admite que internamente o reforçador "dá prazer ou
faz sentir-se bem". Os conhecimentos atuais da fisiologia permitem esboçar de que maneira
os eventos neurais promovem a instalação das relações de apego baseada no reforçamento.
3 1 6 I losltino
de um predador, assim como, a possibilidade de quebrar os ossos de um membro em
uma queda acidental. As mudanças constantes e imprevisíveis das situações na vida
dos animais impõem mudanças nas relações de vínculo/apego. Assim, a fuga de
antílopes em diferentes direções desencadeada pela detecção da presença de uma
leoa pode separar mães e filhotes. O reencontro pode demorar além do um tempo
normal e instalar as reações de perda. Se o reencontro ocorre, a perda pode ser
considerada temporária. Se o reencontro não ó possívol, a perda se torna definitiva.
Assim, imprevistos, acidentes, doação de animais domésticos de uma família para
outra, migrações, rompimento de namoro, etc, por possibilitarem reencontro, podem
ser causas das perdas temporárias ou definitivas. A morte ó causa inexorável de perda
dofinitiva, portanto muito temida o determinante de sofrimento, às vezes, excessivo.
Embora seja freqüente a afirmação de que a morto ó inoxplicável, onvelhocimento
e morto são eventos geneticamente programados em diversas espécies animais ou
limitada ambiontalmente quando se trata de espécies que não envelhecem
(Patrício, 1998). A morte quando encarada do ponto de vista individual podo parecer
absurda, entretanto, possui um valor adaptativo para a espécie como um todo quando
analisada do ponto de vista das transformações o mudanças que ocorrem
constantemente no ambiente.
Os organismos se mantém vivos enquanto conseguem garantir um estado de
equilíbrio frente aos fatores e forças desorganizadoras da natureza. Para isto, eles têm
um repertório geneticamente determinado para a solução dos problemas estáveis de
seu ambiente e a capacidade plástica da aprendizagem para enfrentarem diversos
aspectos do ambiente que se modificam ao longo do tempo. As mudanças do ambiente
são imprevisíveis e algumas delas inviáveis para a vida. Isto condiciona a produção de
variabilidade intorindividuais uma das estratégias mais importantes de sobrevivência. A
variabilidade interindividual é garantida pela reprodução sexuada, onde dois indivíduos
diferentes dão origom a um terceiro ou mais indivíduos diforentes deles. Esta variabilidade
é reforçada pela história ontogenética individual e também em escala mais ampla pela
variabilidade cultural (pense-se em culturas altruístas como a japonsoa e individualistas
como a americana). Alguns indivíduos podem ter variação favorável para a solução do
novo problema imposto polo ambiento e sobrevivem, garantindo a continuidade da espécie.
As mudanças que ocorrom na natureza são infinitas e imprevisíveis e isto torna
impossível uma espécie ter variantes para todas estas mudanças e a aprendizagem
podo solucionar o problema. A capacidade de aprendizagem de um indivíduo, no entanto,
é finita devido ao número limitado de neurônios responsáveis pela sua fixação
mnemónica. Assim, é altamente estratégico a renovação daqueles com a capacidde de
memória em declínio por outros com as capacidades a serem ainda usadas. Mostra
isto, a análise da capacidade dos jovens atuais em incorporam os conhecimentos de
informática que é acentuadamento maior que aquela dos idosos, aos quais o advento
da computação representou mudança. Assim, pode-se dizer que os novos variantes
têm possibilidade de solucionar mais facilmente os novos problemas ambientais e
devem ter prioridade para a manutenção da espécie. Uma voz quo os recursos do meio
ambiento para a sobrevivência são limitados, a obsolescência e morte estão
programadas goneticamente para evitar o probloma da superpopulação o exaustão
dos recursos necessários para a continuidado da espécie. A programação biológica
para os organismos serem temporários faz que a morte possa ser antecipada quando
doenças e acidentes imprevisíveis desequilibram irreversivelmente as condições de
equilíbrio (homeostase) do organismo.
A dependência de obtenção das soluções para a sobrevivência a um
coespecífico do apego faz quo a sua perda seja extromamente dramática em alguns
B - As reações de luto
O luto ó, por definição, uma reação à perda. Vimos que a perda de um coespecifico
de apego, tal como o filhote que perde sua mão, ó uma mudança extremamente
estressante para quem permanece vivo. Assim, pode-se conceber as reações do luto
cotno um conjunto de respostas ao estresse da mudança acarretada pela perda. As
situações de estresse desencadeiam inicialmente um estágio de alarme, seguido do
estágio do resistência e, finalmente, do estágio de falência, se elas são prolongadas.
Esta seqüência de estágios caracteriza a síndrome geral de adaptação, postulada por
Selye que foi o pioneiro no estudo do estresse (Brandão, 2004). Estes estágios são
rápidos e claramente visíveis no hamster dourado macho quando submetidos a uma
mudança repentina devida a sua transposição das condições normais para uma situação
de nado forçado (Michelan & Hoshino, dados não publicados) que ó um método
comportamental preconizado para a indução experimental de depressão om roedores
(Porsolt et al., 1977). Os hamsters apresentam inicialmente um período de enfrentamento
vigoroso para sair da situação, emitindo divorsas tentativas do escape da situação, porém
à medida que as tentativas são frustradas eles passam a apresentar secreção ocular
intensa das glândulas hardorianas indicando um reboto intenso do sistema norvoso
parassimpático o o aparecimento de períodos de imobilidade comportamental indicando
mudança na estratégia comportamental. Esta imobilidade no rato é revertida polo uso do
agentes antidepressivos (Porsolt et al., 1977). O estresse da perda também desencadeia
as reações do luto em estágios ou fases que são basicamente a do alarmo, com negação
da perda e enfrentamento da situação estressante; de aceitação da perda, com sofrimento
e pesar, e de mudança de ostratégia comportamental com as atividades de reorganização
o readaptação á vida. Alguns autores subdividem algumas destas etapas, aumentando o
númoro deles, contudo, sem afetar basicamonte o quadro das reações. É preciso notar
que estas etapas podem ocorrer misturadamente.
3 1 8 Kiitsum.is .1 H o sh in o
humanos, as reações á separação são estressantes (Tabela I) e deixam profundas
seqüelas comportamentais o fisiológicas detectáveis na vida adulta (Dauge, 2003; Hofer,
1996; Gilmer & McKinney, 2002). Vô-se na Tabela 1 que a ativação do alerta, do sistema
simpático e do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA) tem a função do ajustar o
organismo para dar suporte á emissão de comportamentos com o máximo de eficiência.
Por exemplo, o cortisol secretado pelas adrenais mobiliza metaboliza diferentes
olemontos do organismo para o fornecimonto de material necessário à produção de
enorgia em alta demanda nas situações de estresse.
3) o estágio de reorganização
Esta etapa, chamada também de fase de resolução do luto, é pouco estudada
em relação aos outros estágios. Apesar deste fato, pode-se observar que o estágio de
pesar e choro normalmente não se prolonga indefinidamente e que as pessoas vão
diminuindo os comportamentos relativos aos falecidos e adquirindo outros que os
adaptam à mudança promovida pela perda. Este processo é de extinção de respostas
condicionadas e aquisição de novas respostas. Lichtenstein et al. (1998) relatam que
as viúvas com menos de 70 anos reduzem duradouramente o risco de morte se aprendem
novos conjuntos de circunstâncias que aumentam a capacidade de se auto-administrar
e lhes promovem crescimento psicológico.
Uma das poucas soluções para a perda materna nos filhotes de animais
silvestres que dependem de seus cuidados é a adoção. Como já citado, embora raras,
elas acontecem, A adoção na Macaca nemestrina reduz os sintomas de ansiedade e
depressão da separação materna (Reite et al., 1989).
O luto complicado
O luto de algumas pessoas pode ser excessivamente demorado, em outras de
inicio retardado e, ainda, com desenvolvimento de doenças orgânicas, distúrbios de
ansiedade, depressão ou outras complicações que afetam de modo anormal o
desempenho de diferentes atividades. Os estudos existentes apontam que as primeiras
experiências da vida, como as separações maternas precoces, são fatores importantes
na ocorrência das complicações do luto.
Jacobs et al. (1987) constataram que a secreção urinária de cortisol livre é alta
em um enlutados humanos que têm aumento da ansiedade pós-luto e sugeriram que
eles podem ser aqueles que tem luto complicado. Lueken (1998) verificou que adultos
que tiveram vínculo familiares baixos ou perda de um dos pais antes dos 16 anos
apresentam maior aumento de pressão arterial e maior taxa de secreção de cortisol
quando submetidos a situações estressantes.
Hofer (1987, 1994) afirma que ocorrem processos regulatórios na fisiologia e
comportamento dos infantes mediados pelas interações sensório-motoras, térmicas e
3 2 2 K.itsum.isu I lo thino
nutrição provida pelas mães e que esses processos regulatórios precoces tem a
propriedade de modelar processos de longo prazo. Os ratos adultos desenvolvem
hipertensão ou úlceras gastricas se foram separados de suas mães no período de
aleitamento. Ainda segundo Hofer (1996), o risco para desenvolvimento das doenças
no luto é aumentado por fatores como o da experiôncia de separações maternas na
infância que modelam a vulnerabilidade ao luto complicado e doenças, fato confirmado
por outros autores (Dauge, 2003) que acrescentam outros fatores como perda, abuso
ou negligência, privação social (Sanchez et al., 2001). Gilmer & McKinney (2003) fazem
uma revisão dos dados derivados de estudos com separação materna precoce.
Ziabreva et al. (2000) relatam que a separação materna induz alterações na
função glutamatórgica (upregulation) do sistema limbico e podem ser um fator implicado
nas alterações comportamentais decorrentes na vida adulta de animais experimentais.
Dauge (2003) revisa o impacto da separação materna no neurodesenvolvlmento dos
processos peptidérgicos do sistema limbico.
O desenvolvimento de quadros depressivos no estágio de pesar do luto
apresenta um aspecto bastante interessante que apesar de meramente especulativo
morece atenção. É fato conhecido que ratos desenvolvem analgesia quando submetidos
a um evento estressante (Pinto-Ribeiro et al., 2004) e esta resposta, baseada na ativação
dos receptores opióides cerebrais, parece ser extremamente adaptativo em uma
situação de emergência onde a prioridade é de fugir ou lutar. A existência de tal
mecanismo ativo para se ignorar a dor, ao menos momentaneamente, leva a pensar se
a perda motivacional, anedonia, hipoatividade e demais manifestações dos quadros
depressivos do luto não tem a função de amenizar o sofrimento dos filhotes cujas
mortes serão lentas, dolorosas e inexoráveis devido à ausência de seus genitores,
como o pingüim que descrevemos. Tal mecanismo não estaria na base da alta correlação
entre depressão, desejo de morte e suicídio?
O luto complicado teria alguma função? A complicação do luto pode ser a expressão
da variabilidade interindividual cuja função é fazer frente à extrema variabilidade que existe
na natureza Considere-se o caso de exagero nas respostas de alarme (negação e procura)
desencadeadas inicialmente pela perda. Este exagero provém de experiências precoces
de separação materna, conforme mostram os trabalhos anteriormente citados. Separações
freqüentes na natureza ocorrem quando os perigos imprevistos aumentam e nestas
condições a intensidade e duração das respostas para reverter as perdas são fundamentais.
Os indivíduos com estas respostas constituem variantes da população que têm maiores
chances de reverter as separações na idade adulta. A alta intensidade das respostas por
tempo longo, em contrapartida, é fator que leva à falência de órgãos e sistemas gerando
doenças e aumento do risco de óbitos que são, r*o fundo, expressão dos processos de
seleção natural. Nesta perspectiva, é compreensível que as complicações no estagio de
pesar sejam de alta intensidade para extinguir a alta intensidade do apego e das respostas
de enfrentamento do estágio anterior. As dificuldades de novas aprendizagens no estágio
de reorganização da vida sem o falecido são conseqüências dos graus de exclusividade e
dependência exercidas pelo elemento de apego.
Epílogo
A visão geral das considerações efetuadas mostra claramente que a análise da
vertente biológica do luto não só é possível como permite, adicionalmente, uma visão
mais abrangente e unificada desta modalidade de comportamento sem reduzi-lo à
Biologia. Assim, à guisa de epílogo podemos concordar com Biondi & Picardi (1996)
que a necessidade de superar a rígida dicotomia do que é psicológico e biológico é um
mandamento atual. Concepções dualísticas que implicam na determinação do que é
físico e do que é psicológico e vice-versa deve dar lugar a uma concepção sistêmica que
implica em interações mútuas e circulares.
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3 2 6 K.t(*umds<i I lo ih m o
Capítulo 31
Contribuições conceituais do
contextualismo pepperiano para
a compreensão da causalidade
no Behaviorismo Radical'
Kcsler Carrara*
VNESP
Embora, a rigor, as formulações conceituais do contextualismo pepperiano não
alterem os fundamentos eplstemológlcos do Behaviorismo Radical, sua releitura pelos
analistas do comportamento a partir do final dos anos 80 sugere a importância de uma
ênfase especial na identificação das variáveis relevantes do modelo de seleção pelas
conseqüências. Tal ênfase origina-se na idéia prevalente na metáfora contextualista
pepperiana, que frisa a necessidade de análise do comportamento noe com o contexto,
mediante uma ampliação horizontal das variáveis que compõem uma rede de relações
e mediante um aprofundamento vertical da análise, a partir dos conceitos de contexto
histórico e contexto corrente. Originalmente pensada por Pepper como uma hipótese
cosmogônica de análise de - em tese - qualquer realidade fenomênica, o contextualismo,
ainda que não acrescentando teoricamente ou alterando o paradigma behaviorista
radical, corrobora e destaca o olhar machiano do descrever é explicar, na medida em
que oferece escopo mais abrangente para a idéia de ambiente: por exemplo,
provavelmente haja ganhos significativos nas análises funcionais voltadas para as
questões da instalação, desenvolvimento e manutenção de comportamentos pró-éticos,
típicos do delineamento cultural. O modelo explicativo behaviorista contextualista ó
apresentado vinculado á análise da questão da escolha do modelo de relações
funcionais como substituto do modelo clássico de causalidade linear. Discutem-se, no
entorno da relação VI-VD, eventuais funções, no mesmo modelo monista, de variáveis
coadjuvantes à variável independente, enquanto operações que alteram a probabilidade
de ocorrência da variável dependente.
Como já frisaram os autores participantes do Simpósio mencionado (ABPMC,
2005, resumo), o modelo explicativo proposto pelo Behaviorismo Radical parece ser
distinto daquele defendido por outras ciências psicológicas. Mas em que consiste essa
distinção? Possíveis respostas resultam do exame de um dos pivôs da discussão acerca
da explicação científica: o conceito de causalidade. São instigantes as contribuições de
Pepper (1942) para a discussão da causalidade, ainda que não constituísse seu interesse
original. Parecem, de toda forma, compatíveis os conceitos centrais do contextualismo
1Vuntâo prollmlnar foi apruaentada no XIV Encontro Anual da ABPMC, 2000. por ocaaiâo do Slmpò»k)
do qual parlldparatn, também, Carotna Laurentl (Pôa otn Moaoflu e Metodologia daa CMndat da Ul-SCar) a I ouronço de Souza Barba
(Unlvertldede IMrapuera)
’ Programa da Pôe-graduaçâo em Ptlcotogla do Daeenvolviroento e Aprendizagem - FC - UNtSP ■Baum
3 2 8 Kc*ter CtirriiM
ambientais e o comportamento, não se vale da suposição de estruturas mentais internas
como necessárias ou auxiliares para explicar o comportamento Em algumas versões
do cognitivismo é freqüente encontrar a suposição de um sistema complexo de memória,
um sistema de processamento de Informação, um mapa cognitivo, um sistema de
manipulação de símbolos, uma rede semântica e assim por diante. A diferença entre o
que o Behaviorismo Radical supõe como interno o o modo como outras mediações
teóricas o fazem, è o estofo de que são constituídas essas estruturas, já que o
Behaviorismo é monista e fisicalista, enquanto outras mantém explicações dualistas.
O Behaviorismo Radical adota um modelo de seleção pelas conseqüências,
focalizando, portanto, relações funcionais do comportamento com o ambiente (recorda-
se o leitor do clássico exemplo de Isaacs, Thomas & Goldiamnond, publicado em 1966,
sobre um paciente psiquiátrico hospitalizado por 19 anos e que era totalmente não
verbal, e em cujo caso o analista fez uso de um procedimento de reforçamento diferencial
por aproximações sucessivas). O analista não tem que inferir que o reforçador atuou em
uma estrutura interna do paciente (embora, por óbvio, não negue a existência de uma
estrutura orgânica intermediadora) e acaba atuando em função do próprio
comportamento. Um observador externo, não familiarizado com a história de reforçamento
daquele paciente, poderia facilmente fazer inferências (apropriadamente exemplificadas
por Chiesa, 1994) tais como “o paciente, obviamente, gosta do terapeuta" ou "o paciente
se sente suficientemente seguro para falar somente na presença do experimentador".
A cada mudança gradual (observada em cada sessão terapêutica), usando reforçadores,
o terapeuta identifica uma mudança confiável em direção ao comportamento esperado.
Nessa perspectiva, para Skinner (1984), há três níveis fundamentais de seleção
pelas conseqüências: 1) seleção filogenética, na dimensão da Biologia; 2) seleção
ontogenética, na dimensão da Psicologia e 3) seleção cultural, na dimensão da
Antropologia. A seleção ontogenética “se parece com um milhão de anos de seleção
natural ou cem anos de evolução de uma cultura, comprimidos em um período de
tempo muito curto” (p. 484). As relações funcionais entre comportamento e suas
conseqüências se faz, portanto, segundo um modelo não-causal, de modo que cada
comportamento se fortalece, se mantém ou se extingue em função das conseqüências
e de eventos estabelecedores ou, mais genericamente, condições antecedentes de um
determinado contexto.
Feitas as ponderações acerca da opção behaviorista pelas relações funcionais,
em detrimento do conceito de causa, é conveniente descrever, abroviadamente, que espécie
de contextualismo está sendo aqui considerada, para fazer alguma articulação com a Análise
do Comportamento e o Behaviorismo Radical, no âmbito da discussão sobre causalidade.
Trata-se da versão contextualista proposta por Stephon Coburn Pepper, por volta de 1942,
quando ele escreveu o livro World Hypotheses: a study in evidence. Pepper faz al um estudo
analítico de seis tipos de modelos paradigmáticos de explicação dos eventos da natureza:
animismo, misticismo, formismo, mecanicismo, organicismo e contextualismo. Seus
trabalhos foram mais centrados na filosofia moral, intelectual e estética e, embora tivesse
convivido com psicólogos (inclusive Tolman), sua pretensão explicativa não se estendia
originalmente ao campo da Psicologia. O contextualismo, portanto, constituiria uma metáfora
de interpretação teórica da natureza (hipóteses cosmogônicas, para Pepper), entre outras
possíveis. É uma espécie de paradigma filosófico-cientlfico que leva em conta uma rede de
condições sob as quais os fatos acontecem.
Por outro lado, a literatura recente, especialmente a publicada pelo professor
Edward K. Morris, tem reconhecido características contextualistas na Análise do
Comportamento. Quando se fala em relações funcionais, ao invés de causas, há um
3 3 0 K fíte r Carrur.»
Fica claro que a idéia de uma Análise Comportamental Contextualista implica
considerar a unidade psicológica como indivisível e interativa, de modo que não é razoável
tentar explicar o psicológico apenas mediante a análise de eventos particulares: é
indispensável o passo seguinte de análise do todo significativo. Assim, o comportamento
será, sempre, um comportamento-no-contexto e com-o-contexto e não pode ser
compreendido com apelo a ações isoladas das partes ou mecanismos envolvidos na
interação (glândulas, braços, cérebro, cognição, mente, etc,).
Dois cuidados adicionais precisam ser tomados aqui; a) assumir a idéia do ato
no e com o contexto, sem apelo a explicações de mecanismos isolados, não significa
negação à influência de outros nlvels de análise: uma análise comportamental
contextualista não pode prescindir do biológico, do antropológico, do sociológico: b)
assumir uma análise contextualista em que a preocupação é o todo interativo e não as
partes não significa, igualmente, que, ingenuamente, se imagine possível visualizar todo
o repertório comportamental durante todo o tempo e sob todas as circunstâncias somadas.
Reitere-se que devem ser aqui considerados os Inevitáveis cortes temporais e
históricos, mas que, no mínimo, constituem recorte com significado reconhecível: aplique-
se al a Navalha de Occam, o principio da parcimônia. Para dimensionar o tamanho de
qualquer parte do contexto que possa ser analisada sem se perder de vista a idéia de
significado, parece ser imprescindível a perspectiva de funcionalidade (o sentido
comparativo entre o mover a perna e o caminhar até a loja para comprar presentes pode
ser grosseiro exemplo). A análise de contingências, embora deva ganhar em
horizontalidade, não deve prescindir do cuidado com a verticalidade.
Portanto, o que se traz para esta discussão, a rigor, não constitui nenhuma novidade.
Não há mudança conceituai efetiva nem na Análise do Comportamento nem no Behaviorismo
Radical. Entretanto, há um redimensionamento da ônfase a ser dada na análise das relações
entre organismo e ambiente, mediadas pelo comportamento. As pesquisas dos últimos 10
a 15 anos têm começado a mostrar essa preocupação, especialmente na área de controle
de estímulo e relações de equivalência. Por outro lado, a ampliação das análises e as
pesquisas acerca dos conceitos de operações estabelecedoras, relações de equivalência
e metacontingências, por vezes por grupos independentes de pesquisadores, conduzem a
explorar mais profundamente as implicações detalhadas do conjunto de condições sob as
quais o comportamento humano ocorre.
Muitas das implicações para a questão da causalidade a partir de uma dinâmica
contextualista da Análise do Comportamento são absolutamente desconhecidas. Apesar
dos congressos que já se realizaram sobre o tema e do crescente envolvimento de
analistas do comportamento em torno do assunto, nos últimos dez a quinze anos, pouco
existe de óbvio nesse campo. Dessa maneira, embora não se possa afirmar
categoricamente a utilidade de sua adoção, torna-se razoável uma ampliação de
informações a respeito: pesquisas e ensaios teóricos constituem o caminho para que a
Análise do Comportamento defina-se por uma resposta positiva ou negativa ao
contextualismo pepperiano. Antes dessa resposta, ainda há muito que pensar e pesquisar
sobre a questão da causalidade. Entretanto, parece que já nos encontramos em melhor
estágio do que pudesse supor o Princípio da Incerteza (ou da Indeterminação), de
Heisenberg. O principio de Heisenberg, a partir dos seus estudos sobre os quanta,
menciona a impossibilidade, na fisica de partículas, de se determinar, a um só tempo, a
localização física (posição) e a velocidade de pequenas partículas. Que a memória deste
autor não falhe, fica a lembrança dos termos de um artigo, dos anos 60 ou 70, de autoria
do eminente professor Rogério Cezar Cerqueira Leite, um dos físicos mais importantes
do Brasil. O metafórico artigo se intitulava A Epistemologia do Pudim de Banana e dizia
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1VaniAo fxwfcnkw M aptoMf toda (»*> prtrxxm autor no XIV fcnoontro Anual da ABPMC, 2006. por (xaaiân (I« mow SutifntMdado. ÍOca Política
no Brnhavtommo Radical, da qual participaram, tamt>Am. o* prata d«« Joaé Antonto DairWMo Af*> (ooordanador), Alexandre Dtttrtcti (UFPR) e
Carlo« tduardo Lopa« (UFSCAR)
* Programa d« Pôa graduação am P»ki*)gia do DaaanvoMmanto e Aprendizagem - FC - UNESP • Bauru
' Curtw d» Especialização em Psicologia Clinica Hoapllatar - Hospital d« RoabtktaçAo da Anomalia* Craniofaclala/Cantrlnho - USP • Bauru
Referências
1Versfto prtHimlniu do loxto M n|>TMUtnl»da *»n n«Mnidortd« no XIV Fnuxitro dn ABPMC, 2006, Caotptnaa
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• Deplo de Pttcok >gtii n Progmrrm d« Pó»-grmkmç*o em Paicologüi do d«*«nvn»vlm*n*o AfXwvJtMQwn, FftUjkJwl« d« CiAnd«! da UNF SP,
Hmkm.SP
3 4 4 K f* lfr Carrara, A lrtian d ra Turini Hol»oni-Silv<i e And ClAuriia M o rrim A lm ad a-W rilu
efeitos de intervenções especificas em contingências entrelaçadas envolvidas no
estabelecimento e manutenção de unidades sócio-culturais, de modo que,
provavelmente, uma das conseqüências finais seria constituída pela promoção de uma
comunidade mais preocupada com direitos humanos e comportamentos pró-éticos e
pró-sociais. Também será apresentado o estado atual de projeto apoiado pela FAPESP
na modalidade de ensino público (proc. 2004/14157-0), que descreve atividades
realizadas com professores e alunos do ensino fundamental, como a instalação,
mudança ou consolidação de comportamentos compatíveis com o desenvolvimento da
cidadania. As pesquisas mencionadas são debatidas sob a ótica das relações entre
delineamentos culturais e políticas públicas, com o auxílio conceituai das
metacontingências.
É inequivoca a influência exercida pelas crescentes o diversificadas demandas
sociais na ampliação da participação de profissionais das classicamonte designadas
ciências humanas na formulação e desenvolvimento de projetos de pesquisa e
intervenção vinculados ao planejamento cultural. Considerada segmento importante
desse conjunto de ciências, a Psicologia tem transposto os limites de sua atuação
prática, demarcados pelas atuações nas áreas clínica, social, organizacional,
educacional. Mais especificamente, de certo modo refletindo as previsões skinnerianas
de Ciência e Comportamento Humano sobre a importância de se estudar o
comportamento no contexto das agências de controle, os analistas têm, nos últimos
tempos, ampliado gradativamente sua produção científica dirigida a questões sociais
importantes para a instalação e desenvolvimento de políticas públicas. O foco dos
delineamentos culturais parece sinalizar aos jovens analistas do comportamento, que
agora consolidam sua formação acadêmica, um campo relevante e inevitável de atuação:
cada vez menos prescindirão, os governos democráticos, na perspectiva do Holland
(1978), das contribuições científicas da Psicologia (e do Bohaviorismo Radical) para o
estabelecimento de procedimentos planejados de conseqüenciação de
comportamentos eleitos para alguma forma pública, transparente e socialmente
acordada de controle.
Desde Walden Two (1948), embora uma novela utópica, Skinner advertiu sobre as
possibilidades do planejamento cultural e das intervenções sociais a partir da Análise do
Comportamento. Dedicou, em Ciência e comportamento humano (1953), os capítulos IV, V
e VI a essa questão, centrando a análise na concepção de agências de controle. Outros
sinais dessa constante e crescente preocupação com questões sociais é a significativa
produção de comunicações de pesquisa veiculada no JABA -_Journal of Applied Behavior
Analysis, desde 1968, assim como o aparecimento de periódicos tomáticos, nos últimos
quinze anos: Behavior Analysis and Social Action, Behaviorists for Social Action Journal e
Behavior and Social (ssues. No Brasil, a recente reunião da ABPMC (XIV, 2005) revelou o
interesse de significativo número de profissionais com tais temas, registrando mais de 80
trabalhos com assuntos de interesse comunitário, questões sociais de variado tipo e temas
ótico-teóricos. Em particular, mais de 20 trabalhos trataram de questões e conceitos
relacionados è análise de práticas culturais. O Conselho Federal de Psicologia, em 1995,
com a instituição de um prêmio monográfico {A Psicologia e a construção da cidadania)
tentara inaugurar uma etapa importante para o avanço das pesquisas com questões sociais
complexas, sem que, contudo, houvesse nos anos subseqüentes uma significativa
ampliação das discussões em eventos científicos. Houve, em contrapartida, uma demanda
social crescente de contribuições da Psicologia para o planejamento cultural e essa
demanda tornou-se coincidente com o avanço de análises conceituais e pesquisas
empíricas sobre práticas culturais, especialmente a partir do behaviorismo radical. No caso
brasileiro e no do outros países em desenvolvimento, tal demanda tem sido ainda mais
Educandos
Avaliação da situação antecedente - Os educandos foram submetidos a uma
avaliação que os expunha a seis figuras que apresentavam cenas de interações em
diversos contextos (Coleção Papel de Carta, Chamat, 1997) e foram solicitados
desempenhos como nomear, descrever e narrar fatos com seqüência lógica e emitir
opiniões. Foram observados desempenhos pobres em todos os desempenhos
avaliados para dois participantes. Para os outros dois, as dificuldades foram registradas
em narrar fatos com seqüência lógica e emitir opiniões Por essa avaliação, aliada às
■Compreende ae. no uxpo ciaste capdukj, o tomio anmunictçèo encurto deecritar de un repertório que preenche oa critôrioa de opteôdio vurtxtl
mti que o comportamento do fulanto (vocal nu uostuMl) Iwn coneequéndea «obre o comportamento do ouvinte (Interlocutor que pode reaponder
por percepçfto auditiva, vtaual ou tátil) a vice vera*. »endo «mbo* eatabeiecidoe n mantido« por contingência» d* i «torço
* fcate «atufo foi poaelvel devido * ootabomçAo de Nédia Duerte Merina, Cemtta Perina e Leuren MermoocN (Boéatata PROEX), fjraduandaa do
curao tio Palcologie da Uneap/Beuru a do apoio financeiro da Prrt Roitoria de Extenaáo Universitária (PHOEX) peie conceaaâo do urna bola«.
Agente educacional
Avaliaçào da situação antecedente - Com a agente educacional, a partir de suas principais
queixas em relação ao grupo, foi elaborado um protocolo de avaliação no qual ela emitiria
pareceres sobre o desempenho de cada aluno do grupo, em oito repertórios distintos
(informar dados pessoais, responder a perguntas, fazer pedidos, descrever situações,
seguir instruções, opinar concordando e discordando, interagir com membros do grupo e
compartilhar atividades) considerando uma escala de três pontos (não faz, faz com ajuda,
faz). Na avaliação da agente educacional, foram registradas necessidades de suporte
Pais
Avaliação da situação antecedente - Com os pais constatou-se que havia queixas da
coordenadora da instituição e da agente educacional sobre a pouca participação destes
no contexto educacional, porém não foram relatadas ações que oferecessem condições
ou oportunidades de participação (como reuniões de pais, por exemplo).
Ações junto aos pais - Com os pais, foram programadas duas reuniões, bimestrais,
com o objetivo de favorecer uma aproximação com a instituição, informar sobre o
conteúdo trabalhado durante as sessões. Além disso, houve o fornecimento de
orientações sobre práticas facilitadoras da comunicação e de interações positivas em
ambiente doméstico tais como diretividade, perguntar sobre a tarefa, solicitar atenção,
repetição, sugestão, feedback, informar, comentar, estabelecer limites, contato fisico de
ajuda e demonstrar afeto (Silva, & Salomão, 2002). Tais práticas foram selecionadas
para o trabalho com os pais com o objetivo de oferecer condições para que os
comportamentos desejados, trabalhados diretamente com os alunos, pudessem ser
apresentados também em ambiente doméstico na interação entre pais e filhos.
Conseqüências sobre a ação dos pais - Observou-se uma maior participação dos pais
na instituição e uma preocupação em identificar práticas que facilitam a ampliação do
repertório social e comunicativo dos filhos, o que aumenta a probabilidade de
generalização para o ambiente familiar, uma vez que estavam se propondo a manter
contingências semelhantes às adotadas na instituição.
SobreCompnrtiimrntocCo^niçílo 3 4 9
De maneira geral, observou-se que a aquisição de comportamentos relevantes
para a cultura, como habilidades comunicativas por pessoas com necessidades especiais,
ocorreu nào só como função de ensino direto, mas também por ações apresentadas
junto a agentes de ensino e pais desses educandos.
A promoção dessas múltiplas condições de aprendizagem pôde promover
condições para que um repertório aprendido em uma situação pudesse ser mantido o
generalizado para outras. Teve-se como hipótese que as ações implementadas em um
segmento funcionaram como antecedentes e conseqüentes para as ações dos outros
segmentos. Por exemplo, os educandos passaram a emitir, mais freqüentemente,
comportamentos comunicativos na rotina da instituição pelo suporte oferecido pelo ensino
direto. A educadora passou a reconhecer as habilidades dos educandos e a apresentar
comportamentos que funcionavam como reforço positivo para estes, além de tornar a
rotina Implementada pelo programa de ensino mais sistemática durante a semana. Os
pais passaram a participar mais da rotina da instituição, freqüentando reuniões de pais e
eventos comemorativos, pois essas atividades passaram a ser conseqüenciadas
positivamente pelos próprios membros da instituição. A conseqüência final para esse
conjunto de intervenções foi uma comunicaçôo mais efetiva entre os três segmentos
envolvidos na rotina dessa instituição. Esse conjunto de conseqüências coincide com o
objetivo central da instituição, qual seja, o de promover práticas coerentes com o paradigma
da inclusão.
A proposta de trabalhar com ações indiretas foi fundamentada em Glenn (1991)
que considera que os segmentos de uma comunidade exercem um duplo papel, a saber,
o de agentes de mudança exercendo ações sobre o meio, e o de ambiente para ação de
outros, caracterizando-se como elementos de unidades culturais.
Intervenção junto a pais: problemas de comportamento
Dentre as variáveis que podem influenciar o aparecimento e/ou a manutenção
de problemas do comportamento encontram-se as práticas parentais.
Ao analisar pesquisas com essa temática, chega-se a algumas conclusões:
a) a maioria dos programas de intervenção foi realizado em grupo e com avaliações pró e
pós intervenção (Webster-Stratton, 1994, Dishion & Andrews, 1995, Ruma, Burke &
Thompson, 1996, Pfinner & McBurnett, 1997, Taylor, Schmidt, Popler & Hodgins, 1998,
Cobham, Dadds & Spence, 1998, Brestan, Jacobs, Rayfield & Eyberg, 1999, Sanders,
Markie-Dadds, Tully & Bor, 2000, Peterson, Tremblay, Ewigman & Saldana, 2003);
b) as sessões (variando de 10 a 16 sessões) ocorriam geralmente uma vez por semana
com o tempo variando entre uma hora e duas horas (Webster-Stratton, 1994, Dishion &
Andrews, 1995, Pfinner & McBurnett, 1997, Taylor & cols., 1998, Cobham & cols., 1998,
Brestan & cols., 1999, Sanders & cols., 2000, Peterson & cols., 2003);
c) os procedimentos utilizados foram: relaxamento e reestruturação cognitiva (Cobham &
cols., 1998), vldeotapes (Webster-Stratton, 1994, Ruma & cols., 1996, Taylor & cols., 1998),
audiotapes (Taylor & cols., 1998), role plavings (Taylor & cols., 1998);
d) as habilidades treinadas consideravam:
- comunicação (Webster-Stratton, 1994, Dishion & Andrews, 1995, Ruma & cols., 1996);
- habilidades parentais de manejo de comportamentos, tais como elogiar, dar feedback,
time-out, ignorar (Webster-Stratton, 1994, Dishion & Andrews, 1995, Ruma & cols.,
1996, Brestan & cols., 1999, Jouriles e cols., 2001, Sanders & cols., 2000);
- suporte social (Webster-Stratton, 1994), conflitos e resolução de problemas (Webster-
Stratton, 1994, Ruma & cols., 1996, Jouriles & cols., 2001), enfrentamento (Webster-
Stratton, 1994, Taylor & cols., 1998, Cobham & cols., 1998);
3 5 0 Ke»ter Carrara, Alcismidra Turini HoUoni-Silva e And CIAudid M orrirrt Alm rida-Vrrdu
- autocontrole (Ruma & cols., 1996, Taylor & cols., 1998);
- promover relacionamento positivo e competência social da criança - tempo de
qualidade, conversar com a criança, afeto físico (Sanders & cols., 2000, Jouriles &
cols., 2001) e ouvir atentamente a criança (Brestan e cols., 1999).
A partir dos estudos acima mencionados percebe-se que a maioria dos estudos
estava preocupada em reduzir problemas de comportamento com população clinica,
sendo, portanto, poucos os que relataram trabalhar com essa população antes mesmo
de haver queixas clinicas. Nota-se também que há estudos preocupados em ampliar o
repertório das familias além das habilidades de manejo do comportamento, tais como
comunicação, competência social e suporte social.
Considerando que as interações estabelecidas entre pais e filhos são
evidentemente de natureza social, o campo teórico-prático do Treinamento em Habilidades
Sociais (THS) tem sido utilizado para avaliar repertório parental relacionado a problemas
de comportamento e à competência social de filhos (Del Prette & Del Prette, 1999). Por
exemplo, Bolsoni-Silva (2003) concluiu que habilidades utilizadas para estabelecer limites
(por exemplo, dizer nâo, estabelecer regras, elogiar comportamentos "desejados” e solicitar
mudança de comportamento) são importantes para a avaliação do surgimento e/ou da
manutenção d r problemas de comportamento; por outro lado, parecem ainda mais cruciais
outras habilidades, tais como a expressão de sentimentos e de opiniões, fazer perguntas,
ter consistência nas práticas parentais e concordância parental quanto à forma de educar,
que foram mais relatadas por pais e por mães de crianças sem dificuldades interpessoais
quando comparadas a crianças com indicativos de problemas de comportamento.
Diante dessa literatura, surge a presente pesquisa que pretendeu descrever
efeitos de um procedimento de intervenção, mediante comparações pré e pós-teste,
realizado com pais e com mães sem queixas clinicas.
A população atendida
Participaram do estudo dois pais e onze mães que buscaram atendimento
com a intenção de melhorar as interações com seus filhos. O trabalho foi realizado em
um Centro de Psicologia Aplicada de uma Universidade Estadual em uma cidade do
interior de São Paulo. A Tabela 1 caracteriza a amostra.
Tabela 1 Caracterização dos participantes da pesquisa
A coleta de dados
Para a avaliação dos procedimentos de intervenção foi empregado um
delineamento que utilizou o participante como seu próprio controle (comparações entre
avaliações pró e pós-intervenção). Esse delineamento permite a descrição de efeitos
do procedimento de intervenção no caso de o comportamento mudar após a introdução
da variável independente (o programa de intervenção). As sessões de intervenção
ocorreram no ano de 2004 (1 0 e 2 0 semestres) e no 1 0 semestre de 2005, num total de
20 sessões de intervenções e 8 sessões de avaliação (4 para medidas pré-teste e 4
para pós-teste) através de entrevistas e de inventários, apontados anteriormente.
■ Pfó-tetta ■ P ô vteM tt
25
Î 20
1 0 .................................................
5 ............................... - - -
P a rtic ip a n t*»
Figura 1. Escore total do QHSE-P dos participantes, Figura 2. Freqüência de respostas das Estratégias
nas medidas de pré e pós intervenção. Parentais para estabeteoer Limites e reações dos filhos.
352 Keiter Carrara, A lo ta ru lra Turini llolsoni-Silva r Ana CIAudia M oreira Almcida-Verdu
A Figura 1 indica que os participantes, já na primeira avaliação, apresentavam
altos escores em HSE-P, cujos Indices aumentaram para seis dos 13 participantes.
Pela Figura 2 observa-se que a qualidade da interação utilizada para estabelecer
limites também melhorou, uma vez que estratégias como conversar o negociar
aumentaram de freqüência e punições positivas e negativas reduziram. Tais mudanças
parecem ter refletido no comportamento das crianças que passaram a obedecer mais,
além de reduzirem os comportamentos de birras.
Referências
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3 5 6 K r»trr Girrflrd, Alc»»andra Turin! HoUoni-Sllva e An« ClAudia M o rrira Alm rida-Vrrdu
Capítulo 34
A mídia e o desenvolvimento
de crianças e jovens.
Reflexões fundamentais para a Terapia
Analítico-Comportamenta!
Infantil
Lalrcia Abreu Vasconcelos
Universidade de Brasflia
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'Agrmlovn «o íth iu orientador de mestrado Piof Dr Aittônkw Térzta paio apoio, o o m a n Urto» a KjgaetdM. raapatto a atxxtura a novaa kkUaa,
ImpraMciiMlivata nu nmMzaçia deate eatudo
Participante
Este estudo foi desenvolvido com participante único, que se encontrava em processo
terapêutico de abordagem comportamental. O participante é do sexo feminino, tem segundo
grau completo, magistério. Na época da coleta de dados tinha 53 anos, casado, dois filhos
e não trabalhava fora, era "dona de casa". Tem repertório verbal bem desenvolvido e relatou
interesse na compreensão de seus sonhos, trazendo para a sessão a descrição do primeiro
sonho que havia tido no inicio do processo terapêutico. Nesta sessão, recebeu instruções
para o registro de seus sonhos e executou a tarefa, tendo feito rogistros por escrito de 56
relatos de sonhos, com as referentes interpretações, durante três anos de processo. O
participante declarou que este material poderia ser utilizado tanto por ele mesmo, para
acompanhar o processo, como pelo terapeuta, para a realização de um estudo. Esta
possibilidade foi acordada logo no inicio do registro de sonhos.
O participante que sempre viveu em condição sócioeconômica considerada boa,
quando iniciou o processo, passava por grandes dificuldades financeiras, não tendo
condições de pagar as sessões terapêuticas e se descrevia como muito constrangido com
a situação. O terapeuta aceitou atendê-lo sem remuneração financeira, propondo que juntos
poderiam produzir material para um possível estudo de caso. Possivelmente esta tenha
sido uma operação estabelecedora para que o participante se engajasse no processo com
tal compromisso e fidedignidade. Insistindo que, o objetivo da produção deste material não
foi responder a uma questão de pesquisa e sim dar conta de uma queixa, pois para o
terapeuta teve a função de estratégia para tentar solucionar o problema do cliente e, para o
cliente a função de produção de material para o seu próprio conhecimento, que pudesse,
também, ser usado para um possível estudo. Com o material coletado, o pesquisador se
deu conta ter em mãos um sistema de referências que lhe permitia tratar e analisar as
informações e que poderia servir para responder a uma quostão de posquisa: Como trabalhar
com o material de sonhos no Behaviorismo Radical?
Local
O participante foi atendido em processo terapêutico uma vez por semana, em
clínica particular. A sala de atendimento é isolada, com ausência de ruídos o proporciona
total privacidade. Os atendimentos se deram com o cliente e terapeuta sentados frente
a frente em poltronas, em sessões de duração de 50 minutos.
Material
Caderno contendo o registro de 56 relatos de sonhos, realizados pelo cliente,
logo após o despertar. Registro de 56 relatos de interpretações dos sonhos e, relatos
de comportamentos e análises de comportamentos, feitos durante as sessões
terapêuticas, realizados pelo cliente em sua casa, após as sessões.
Registros por escrito realizados pelo terapeuta, após as sessões, de dados
referentes às dificuldades do cliente: relatos do cliente que exemplifiquem seu problema;
descrições verbais do cliente a respeito de suas dificuldades. Dados a respeito de
relações do cliente com pessoas relevantes em sua vida; histórico de vida do cliente,
com aspectos relacionados com as dificuldades apresentadas, dados de sua história
de reforçamento, conceituação comportamental das dificuldades do cliente e objetivos
comportamentais a serem alcançados.
Procedimento
O terapeuta, em clinica, realizando análise aplicada de comportamento,
diferentemente de um pesquisador, se comporta em função da demanda de seu cliente,
que vem com uma queixa que precisa ser resolvida. A interação ocorre e os passos do
processo dificilmente podem ser definidos a prlori, como num processo de pesquisa
em laboratório, na qual a função específica do pesquisador é a produção de
conhecimento. O terapeuta procura fazer análises funcionais dos comportamentos de
seu cliente, a partir de suas observações, levando em conta sua história de reforçamento
, bem como as contingências em operação em sua vida presente, sugerindo hipóteses,
ou descrevendo possibilidades, através da descrição de contingências. Estas análises
precisam se aceitas pelo cliente e o terapeuta só pode verificar sua eficácia, se delas
decorrer previsão e controie do seu comportamento. (Guiihardi, 1995) Para poder lidar
com explicações funcionais, o terapeuta necessita coletar informações ao longo do
tempo, ou seja, informações repetidas de um mesmo evento, comparando o
desempenho do cliente consigo mesmo, usando como linha de base a sua história
passada. Quando o terapeuta descreve uma análise funcional do comportamento para
o cliente, ele tem como objetivo produzir uma contingência que poderá funcionar como
estímulo discriminativo, para que o cliente possa vir a manipular as variáveis, das quais
seu comportamento é função. Consequentemente, na prática, o analista de
comportamento formula predições sobre os efeitos das manipulações dessas variáveis
e desses outros comportamentos sobre o comportamento de interesse, mas como não
é ele próprio que as manipula, como ocorre em pesquisa, para testar estas predições,
ele precisa observar se elas ocorrem, quando elas ocorrem, independentemente de
arranjo de operações específicas para tal. O critério de verdade, no entanto, não é só o
comportamento verbal do cliente, descritivo da aceitação das análises realizadas pelo
terapeuta, mas a comprovação de que, ao ficar sob o controle das descrições de
contingências em operação, o cliente consegue a modificação da relação que controla
seu comportamento, que pode ser verificada através da observação de mudanças efetivas
de comportamentos no repertório em geral, do cliente. (Guiihardi, 1995)
Neste estudo, foi tomada como linha de base, a história de reforçamento do cliente,
até o início do processo terapêutico e, para tal, nas primeiras sessões, além da queixa
R&spoatHB Entimulos
rúhhcttx c Incobcrtiis Conaequantos
Kllm ulok V .l
Anleccdcntc»
Na Figura 1, os passos quatro e cinco não fazem parto do diagrama, pois foram
dados posteriormente.
Resultados e Discussão
Este estudo nos permitiu verificar que ocorreram mudanças significativas de
comportamentos tanto públicos quanto privados, generalizadas no repertório total do
cliente. Ocorreram simultaneamente, mudanças no conteúdo dos relatos de sonhos,
que puderam ser relacionadas às mudanças em outras classes de comportamentos,
Conclusão
Pode-se verificar através deste estudo, que o sonho pode ser considerado
material clínico comportamental com mesmo status dos outros conteúdos trazidos pelo
cliente, se incorporando ao conjunto de dados coletados, tendo significado dentro deste
contexto. Também, pode-se verificar que a interpretação de sonhos, integrada à análise
funcional dos outros comportamentos do cliente pode vir a ser incorporada ao conjunto
Referências
' AyrwtwwTKj« n AOPMC, pota oportunldado tio publicar h h tr a M h o Agradecemo*. aÈntíã. o trabalho do fonacriçAo m « M o ti« toxto maltZfRio
por Riifaoln Donlnl
II - terminalidade especifica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido
para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e
a cele ra ção para co n clu ir em m enor tem po o p rogram a e sc o la r para os
superdotados. ’
Resumindo, tanto a Declaração de Salamanca (1994) quanto a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (1996) apresentam o que nos cabe ser feito, em termos
legais, enquanto educadores. Ainda, esses documentos refutam uma visão romântica (e
pouco crítica) acerca da igualdade entre as pessoas. Ambos assumem que cada indivíduo
é um e deve ser tratado como tal, e que os educadores não devem esperar que a criança
se adapte ao sistema já dado. Isso significa, em termos práticos, que a responsabilidade
educacional está fora da criança; que a responsabilidade está na escola (e em todos que
fazem parte dela). No entanto, ainda podemos encontrar em alguns discursos e práticas
das escolas a concepção de que "algumas crianças são problemáticas".
Ao nosso ver, ao falar de inclusão, não deveríamos ver a criança como um problema,
mas tomar a responsabilidade educacional para um sistema flexível. O que isso significa?
Podemos criar um currículo adaptado, podemos investir em outros mótodos de ensino,
abrindo uma brecha para trazer os conceitos e metodologias da Análise do Comportamento
para uma educação individualizada. O passo seguinte seria analisar quais contingências
devemos planejar para termos uma escola que atenda as individualidades.
Enfim, com o apoio que buscamos nas leis citadas acima, conseguimos ampliar
o significado da palavra inclusão em termos do que podemos fazer no processo inclusivo.
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