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Curso de

Tarô
Divinatório

Fábio Donaire
2012
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“Ter imaginação” é gozar de uma riqueza interior, de um fluxo


ininterrupto e espontâneo de imagens. Porém, espontaneidade não quer dizer
invenção arbitrária. Etimologicamente, “imaginação” está ligada a imago,
“representação, imitação” e com imitor, “imitar, reproduzir”. Excepcionalmente,
a etimologia responde tanto às realidades psicológicas como à verdade
espiritual. A imaginação imita modelos exemplares - as Imagens –
reproduzindo-os, reatualizando-os, repetindo-os infinitamente. Ter imaginação
é ver o mundo na sua totalidade; pois as Imagens têm o poder e a missão de
mostrar tudo o que permanece refratário ao conceito. Isso explica a desgraça e
a ruína do homem a quem “falta imaginação”: ele é cortado da realidade
profunda da vida e de sua própria alma.”

Mircea Eliade em
Imagens e Símbolos – Ensaio sobre o
simbolismo mágico-religioso
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Introdução

Ganhei meu primeiro baralho de tarô, uma miniatura dos arcanos


maiores que vinha com um manual de leitura, aos nove anos de idade. Alguns
anos depois, aos treze, eu já realizava consultas para a vizinhança. Desde
então venho me dedicando ao estudo do tarô e das ciências ocultas. Tive
muitas experiências, muitas boas e algumas ruins. Rapidamente descobri que
nem tudo no mundo esotérico são anjos e luzes coloridas e nem todo mundo,
pelo simples fato de se autodenominar esotérico, é um ser iluminado.
Entretanto conheci pessoas incríveis também, verdadeiros guias espirituais
encarnados, pessoas que devotam sua vida ao bem-estar da humanidade.
O tarô, além de muitas possibilidades, é uma ferramenta de
conhecimento esotérico. É possível, através do estudo sistemático e contínuo
das cartas, chegar àquilo que Éliphas Levi chamou de “O Grande Arcano” do
ocultismo. Mas começar o estudo do tarô sob esse ponto de vista pode ser
arriscado. O risco maior é o de incorporar ideias mal elaboradas e se orientar
por elas, caindo na “zona da ilusão”. Um dos problemas que encontrei – e
ainda encontro muito – é o fato de alguns espiritualistas ficarem tão presos ao
ponto de vista de determinados autores ou escolas esotéricas que caem
facilmente no dogmatismo e na ignorância. Tornam-se cegos de tanto olharem
para aquilo que eles creem ser a luz.
Por isso escrevi esse curso. Trata-se do primeiro contato com as cartas,
um estudo geral de sua história, simbolismo, significado e técnicas divinatórias.
É o primeiro passo na jornada do andarilho rumo à totalidade, à reintegração
de suas partes negligenciadas e de cujo equilíbrio dinâmico depende a sua
entrada nas dimensões mais profundas do ser – a iniciação.
Em algum momento da vida paramos. Todas as crenças negativas que
temos a respeito de nós mesmos surgem com todo o seu poder de nos
destruir. Não somos bons o suficiente, não somos bonitos, não nos casamos
ou fizemos um péssimo casamento, somos covardes, não temos dinheiro, há
pessoas melhores que nós em todos os aspectos e nossos chefes,
professores, pais, maridos, esposas, namorados e amigos não se cansam de
apontar nossos defeitos, onde estamos falhando. Neste momento fazemos um
pacto. Criamos alguém que gostaríamos de ser ou alguém que gostariam que
fôssemos e passamos a viver um personagem, um eu idealizado.
Fazemos o pacto de não sermos nós mesmos, de deixarmos de lado
nossos sonhos, nossas vontades. “Vendemos nossa alma ao diabo” em troca
da imagem de alguém que supomos ser melhor. Passamos a nos colocar em
formas que as pessoas nos oferecem, a forma da boa educação, da
obediência. Nos vestimos de acordo com o gosto dos outros ou para chamar a
atenção deles; enfim, perdemos o contato com a nossa essência, com o nosso
eu mais profundo e verdadeiro, e o preço disso é uma vida com algumas
conquistas, mas nenhuma felicidade de fato. Existe uma diferença entre aquilo
que satisfaz e aquilo que realiza. A satisfação é o alcance de um desejo
efêmero, o prazer pelo prazer. Como fazer sexo com um desconhecido, que
minutos depois desaparecerá e de quem algumas semanas depois sequer
lembraremos. A realização é algo maior, mais profundo, e tem o alcance da
alma. É como encontrar o grande amor da sua vida. As coisas que realizam
reverberam uma vida inteira, quando acontecem são divisores de águas. No
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pacto temos algumas satisfações, mas nos comprometemos a nunca termos


qualquer realização. A Alma aspira à realização, a personalidade só conhece
satisfações.
Uma condição fundamental para uma vida mais espiritual é ser guiado
pelos seus sonhos, pela sua Alma. Somente quem está conectado com sua
essência profunda, quem é capaz de entender e buscar realizações, é capaz
dar um salto na evolução.
Somos o que somos. Não é o que o passado fez de nós, mas o que
estamos fazendo conosco agora o que importa. O passado e o futuro não são
reais, não têm substância, só existem em nossas mentes. O passado existe
enquanto recordação e o futuro enquanto expectativa.
O espiritualista não tem passado nem futuro, tem o que ele é no
momento presente, no local que seus pés pisam. Essa realidade, a do aqui e
do agora, é onde ele encontra seu eixo, seu poder, sintonizando-se através de
seu eu profundo, verdadeiro, seu caminho individual. E é essa a jornada do
tarô, o mapa do caminho da conexão da personalidade com o Eu Superior.
O tarô clássico, padrão mais popular do baralho, é constituído por
setenta e oito cartas chamadas “arcanos 1 ” e divididas em dois grupos. Os
arcanos maiores, vinte e duas cartas numeradas de I a XXI em numerais
romanos. A carta “O Louco” não tem equivalente numérico. Dos baralhos
numerados, nos mais antigos não há número sobre ela. Baseando-se no fato
de que no sistema romano de numeração não existe um sinal para representar
o zero e “O Louco” não ser numerado, é provável que seja a carta zero. Se
fosse a vigésima segunda carta teria sua numeração representada como nas
outras. Eu acredito que “O Louco” deva poder caminhar por todo o baralho.
Numerá-lo seria limitar sua mobilidade, logo, seu crescimento. Uma segunda
questão a respeito dos arcanos maiores é que a ordem das cartas nem sempre
foi a mesma. A ordem que adotamos segue o padrão francês. Ainda assim
existem variações, como as cartas “A Justiça” que no baralho francês ocupa a
posição VIII e “A Força”, a XI carta. (propositalmente trocaremos as ordens
dessas cartas em momentos diferentes desse curso para que o leitor se
recorde dessa possibilidade). Nos baralhos criados pelos adeptos da Ordem
Hermética da Aurora Dourada, essas posições são trocadas, sendo “A Força” a
oitava carta e “A Justiça” a décima primeira.
Algumas teorias modernas, influenciadas pelas ideias do médico suíço
Carl Gustav Jung, afirmam que as vinte e uma cartas dos arcanos maiores
representam as vinte e uma etapas do caminho do amadurecimento psíquico e
espiritual chamado por Jung de individuação e “O Louco” simboliza o indivíduo
que percorre esse caminho. É o andarilho, o peregrino.
Em seguida temos os arcanos menores, cinquenta e seis cartas
subdivididas em dois grupos e quatro naipes. No primeiro grupo estão as cartas
da corte, dezesseis cartas que representam especificamente as pessoas: o rei,

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A palavra arcano, do latim arcanum, significa mistério. Podemos entender por arcano aquilo que não
pode ser compreendido apenas pela mente racional. Para apreender um arcano é necessário usar
também o conhecimento adquirido pela prática, pela intuição e pelos sentimentos. O médico e alquimista
suíço Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, ou Paracelso, como ficou conhecido,
atribuiu essa palavra aos alquimistas. Paracelso foi pioneiro na utilização terapêutica de plantas, minerais
e outras substâncias. Partindo do princípio que o universo também está dentro do homem, ele afirmava
que as substâncias da natureza podem agir internamente por uma questão de “afinidade” com aquilo que
o homem tem dentro de si. Essa idéia não era exatamente nova na época de Paracelso mas foi ele quem
mais a utilizou na prática médica.
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a rainha, o cavaleiro (ou príncipe) e o valete (o pajem ou a princesa). O baralho


mais antigo existente, chamado Visconti Cary-Yale, não apenas possuía as
rainhas como também as cartas femininas correspondendo aos cavaleiros e
pajens, ficando cada naipe com seis figuras da corte, três masculinas e três
femininas, totalizando vinte e quatro figuras. O último grupo são as quarenta
cartas numeradas de as a dez. Os naipes são paus (bastões), copas (taças),
espadas (gládios) e ouros (moedas).
Divinatoriamente os arcanos maiores representam as forças mais
profundas de uma situação, seus aspectos simbólico e espiritual. As cartas da
corte representam as pessoas envolvidas na situação ou personificam
aspectos fortes da situação. As cartas numeradas referem-se a fatos mais
concretos e a ações, ideias ou sentimentos.
Algumas pessoas se acostumam a usar somente os arcanos maiores na
leitura, dado que em alguns baralhos os arcanos menores não tem ilustrações
que favoreçam a memorização de seus significados. Para superar essa
dificuldade aparente os arcanos menores são negligenciados. Na minha
opinião isso diminui as possibilidades interpretativas e a riqueza da consulta.
Se for uma prática ocasional, não vejo problema nenhum, inclusive também é
possível usar somente os arcanos menores. Mas o ideal é que o tarólogo
domine as setenta e oito cartas.
A função mais comum – e que eu considero a mais importante – em uma
leitura de tarô é orientar. Mas além de uma ferramenta de orientação, por que
estudar tarô? A evolução espiritual pode ser definida como a mudança do
ponto de vista. Evoluir significa sair da perspectiva do ego, limitada, e alinhar-
se ao que temos de melhor, nosso repositório interno de sabedoria, o Eu
Superior. Em uma consulta de tarô, esforçando-nos para entender as cartas
selecionadas, exercitamos a capacidade que temos de ver a mesma situação
sob diferentes pontos de vista. Facilitamos esse deslocamento do centro de
nossas vidas para o Eu Superior. A voz da sabedoria interna, a intuição, se
torna mais clara e mais fluída. A ciência comprova as diferentes funções dos
hemisférios cerebrais, o esquerdo mais lógico e o direito mais holístico e
simbólico. Também sabemos que para desenvolver a criatividade, o
autoconhecimento e a compreensão das linguagens simbólicas, é necessário
tornar o hemisfério direito mais ativo, o que o tarô nos permite com maestria.
Em uma consulta desenvolvemos a compreensão do significado individual da
carta, de sua relação com as cartas vizinhas e de sua posição no esquema de
tiragem. Ou seja, exercitamos a interpretação, a visão do todo e a capacidade
de sintetizar. E de uma forma não dogmática. O tarô é uma ferramenta séria
que não perdeu seu caráter lúdico. E não existem representantes oficiais dos
mistérios do tarô nem qualquer informação institucionalizada. Justamente por
isso outra vantagem é a grande quantidade de modelos de baralho existentes,
o que possibilita ao tarólogo trabalhar com o que mais lhe agrada. Há algumas
décadas era bastante difícil encontrar um baralho de tarô. Hoje existem estilos
adaptados a literalmente todos os gostos. Baralhos esotéricos, astrológicos,
budistas, eróticos, com heróis de estórias em quadrinhos, baseados no
calendário maia e no candomblé, entre milhares de possibilidades. Se isso
também permite a criação de baralhos pouco funcionais ou significativos, essa
explosão evidencia por outro lado, como disse Gareth Knight, que realmente há
no tarô uma resposta às necessidades modernas. O baralho de tarô é fácil de
carregar, não é como sair por ai com uma bola de cristal ou um conjunto de
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instrumentos para a leitura da borra do café. Se considerarmos a qualidade e


sua durabilidade, mesmo os baralhos importados acabam sendo acessíveis já
que, a não ser no caso de colecionadores, possuir dois ou três baralhos é o
suficiente por muitos anos. O nível de complexidade e de profundidade da
interpretação é variável e depende do tarólogo. Entretanto, não há consulta
mais “certa” ou “errada” e a habilidade de interpretar vai sendo desenvolvida
com o tempo, naturalmente. Ninguém está absolutamente pronto e é possível
mesmo aos estudiosos mais experientes ampliarem seu nível de compreensão.
Seja buscando a previsão de eventos futuros, como ferramenta de
autoconhecimento ou como chave dos mistérios da iniciação oculta, o contato
com as cartas por si só já nos revela dimensões espirituais da existência,
mesmo que em um nível de percepção inacessível à mente consciente. Por
isso é possível sua utilização às cartomantes, tarólogos, psicólogos,
pedagogos e a quem se dispuser a estudar as cartas e seu simbolismo. Tal
como as placas de trânsito que sinalizam o caminho na estrada, o tarô nos
fornece uma estrutura para o caminho do desenvolvimento interior. Em uma
consulta, o consulente tem o apoio emocional do tarólogo e a possibilidade de
escolher a área da vida a respeito da qual deseja ampliar sua percepção. A
consulta, por não poder ser repetida, torna-se um evento mágico, único,
carregado de significado e poder. Ao sistematizar o estudo do tarô,
principalmente através da análise comparada, também nos aprofundamos no
entendimento de outras linguagens simbólicas como a astrologia, a alquimia e
a cabalá. E por fim, o tarô vem sendo utilizado há séculos por diversas ordens
ocultistas, grupos de estudo, místicos, magos e mestres espirituais. Certa vez
me disseram que o universo prepara os escolhidos. Eu discordo. Acredito que
o universo escolhe os preparados. Dessa forma existe em torno do tarô uma
enorme egrégora de Luz e Sabedoria, o estudioso sério se conecta a essa
egrégora e se tiver mérito torna-se iniciado nos mistérios dos arcanos.
Outro esclarecimento preliminar diz respeito à questão dos símbolos do
tarô. A área acadêmica que estuda o significado dos símbolos é a
hermenêutica. Ao afirmar que a cor azul significa passividade e que um
personagem de uma carta olhando para a direita conecta-se ao futuro, não
estou sendo acadêmico. A abordagem hermenêutica do símbolo é diferente
buscando, antes, localizá-lo no tempo e no espaço. Qual a sua história? Onde
ele já apareceu? Em quais momentos históricos foi mais frequente? Quais
religiões, seitas ou grupos ocultistas o consideram importante? Ainda assim, do
ponto de vista acadêmico, ao símbolo não pode ser atribuído um significado
fixo porque ai ele passaria a ser um sinal. Jung relacionava os símbolos a
arquétipos, mas não a significados.
Por isso preciso esclarecer que as pretensões desse curso não são
acadêmicas. Sou, antes, um ocultista e escrevo para pessoas que buscam
experiências espirituais. Tenho o rigor acadêmico com a história do tarô, mas
não estou interessado em criar um modelo imutável e definitivo de sua
estrutura e funcionamento. Ao descrever as cartas e propor formas de tiragem,
os métodos que utilizei foram próprios do ocultismo, do qual não me
envergonho. Existe mesmo entre alguns tarólogos atuais o desprezo pelas
ciências ocultas. Traçando um paralelo com outra disciplina, a psicologia,
devemos nos lembrar de alguns autores de psicologia profunda que se
apropriam das percepções de místicos e ocultistas, incorporam essas
percepções ao seu corpo de conhecimento e depois colocam o misticismo e o
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ocultismo em uma posição inferior com relação às suas “próprias” ideias. Não
tenho dúvidas que sem o I-Ching, a alquimia e outras ferramentas de trabalho
dos ocultistas as obras de C. G. Jung teriam tido outros rumos. E eu ainda
considero o tarô mais válido para o homem ocidental que o I-Ching, por
exemplo, que está estruturado em uma visão cosmogônica muito distante da
cultura na qual estamos inseridos. Se as imagens propostas pelo I-Ching são
características do pensamento oriental, o tarô conserva sua universalidade. Eu
também estudo Jung, Joseph Campbell, Mircea Eliade e todos os grandes
estudiosos da alma e dos mitos que têm algo a contribuir com meu
conhecimento sobre o tarô, mas não torno o ocultismo inferior ou superior às
disciplinas desses autores. As novas perspectivas da ciência, as descobertas
mais recentes da física, as áreas que a psicologia vem desbravando e o próprio
método científico, aliás, se aproximam muito mais daquilo que grandes tratados
de ocultismo já afirmavam há séculos que do modelo cartesiano-newtoniano no
qual alguns acadêmicos, e alguns tarólogos com pretensões acadêmicas,
estão “amarrados”.
É por todas as razões desse prefácio que considero uma honra poder
compartilhar um pouco do que aprendi todos esses anos. Não escrevi esse
curso pensando no especialista, no pesquisador experiente. Minha intenção é
oferecer bases seguras e comprometidas com o desenvolvimento dos talentos
e habilidades de todos aqueles que estão dando seus primeiros passos na
estrada que conduz ao crescimento espiritual. Entretanto, meu ponto de vista
pode ser diferente do de outros tarólogos tornando o curso, de qualquer forma,
uma fonte de informações inéditas a quem se dispuser a lê-lo, especialista ou
não.
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1. Onde a História Começa

Não existe nenhuma evidência concreta de onde ou porque as cartas do


tarô foram criadas. Ao longo de sua história, que começa no fim do século XIV
quando aparecem os primeiros registros escritos sobre sua existência, muitas
teorias foram propostas. Desde uma criação medieval para entreter um rei
louco até a referência ao continente perdido da Atlântida, o fato é que os
mistérios que rondam as cartas do tarô existem desde o seu surgimento.
Alguns historiadores atribuem a primeira referência escrita às cartas de
jogar ao monge dominicano Johannes von Rheinfelden, que em 1377
menciona o aparecimento de um jogo de cartas. O monge cita três baralhos, de
52, 60 e 72 cartas. Outros historiadores veem como a primeira fonte confiável
sobre a introdução das cartas na Europa um livro escrito em 1480 pelo
historiador Giovanni Covelluzzo, da comuna italiana de Viterbo, no qual o autor
afirma que os mouros trouxeram para a Itália, em 1379, um jogo de cartas
conhecido como “naib”. Corroborando a origem árabe das cartas, o escritor e
mestre sufi Idries Shah sugere que a palavra tarô possa ser uma derivação de
“turuq”, palavra árabe usada para se referir às ordens sufis e que significa
literalmente “quatro caminhos”. No ano de 1387, em Castela, um dos antigos
reinos cristãos da Península Ibérica, o rei João I decreta a proibição de todos
os jogos de azar, inclusive os jogos de “naib”.
Entretanto, o primeiro conjunto de cartas que pode ser identificado com
o atual tarô foi pintado pelo artista Jacquemin Gringonneur à pedido do rei
Carlos VI, da França, em 1392. Charles VI reinou de 1380 a 1422. O rei sofria
de ataques de loucura e encomendou três baralhos esperando que a distração
do jogo de cartas amenizasse seu sofrimento. A maioria dos estudiosos afirma
que as cartas que pertenciam à coleção do antiquário e colecionador francês
François Roger de Gaignières são hoje erroneamente atribuídas a
Gringonneur. Um padre que se dedicou á pesquisa da história das cartas,
Claude-Francois Pere Menestrier, declarou em seu texto publicado em 1704
“Os princípios da ciência e da arte dispostos em forma de jogos” que as cartas
foram uma invenção de Gringonneur, hipótese atualmente descartada.
Quando Bianca Maria Visconti, filha ilegítima de Filippo Maria Visconti, o
último governante da casa dos Visconti, nome de uma das importantes famílias
da nobreza italiana na Idade Média, tinha seis anos de idade fora prometida em
casamento a Francesco I Sforza, que na ocasião tinha trinta anos. Filippo, pai
de Bianca, encomendara vários baralhos chamados “trionfi” cujas cartas
sobreviventes são hoje as mais antigas conhecidas. Sabemos de ao menos 15
baralhos diferentes, os baralhos Visconti, algumas vezes chamados de
Visconti-Sforza por retratarem membros de ambas as casas. Um desses jogos,
conhecido por Brera-Brambilla devido a ter sido adquirido pelo colecionador
Giovanni Brambilla, provavelmente foi pintado pelo artista Bonifácio Bembo.
Outro baralho também atribuído a Bembo e confeccionado por volta de 1466 se
tornou conhecido como Cary-Yale por ter sido parte da coleção da família Cary
e posteriormente ter sido incorporado ao acervo da Universidade de Yale é tido
pela maioria dos estudiosos como o mais antigo existente. Se antiguidade
fosse sinônimo de autenticidade, os baralhos atuais deveriam seguir o padrão
Cary-Yale, o baralho de oitenta e seis cartas, com vinte e quatro cartas da corte
entre os arcanos menores. Além das sessenta e sete cartas restantes do
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baralho original, dezenove foram recriadas e hoje a empresa U.S.Games


System Inc. publica o Cary-Yale Visconti. De todos os baralhos Visconti, o que
permaneceu com o maior número de cartas, setenta e quatro, é chamado
Pierpont-Morgan Bergamo porque trinta e cinco de suas cartas estão na
biblioteca Pierpont-Morgan de Nova York. Esse baralho foi produzido em 1451
aproximadamente.
Reza uma lenda que no fim do século XIV o pregador cristão Bernardino
de Siena, posteriormente canonizado pela igreja, recebeu um jogador de cartas
furioso por suas constantes perdas financeiras. O santo ordenou ao homem
que pintasse as iniciais JHS nas cartas, o que foi feito e então o homem não
sofreu mais nenhuma derrota. A relação entre a igreja e as cartas sempre foi
controversa, em alguns momentos mostrando claramente a estreita ligação
entre ambas, outras vezes marcada pelas acusações da igreja, que chegou a
afirmar que as cartas foram criadas pelo próprio diabo para afastar os homens
do caminho reto.
Se pensarmos que o baralho de tarô surge no fim do século XIV e se
torna extremamente popular no século XV, imagens que fazem referências a
mulheres em posição de destaque, principalmente na carta “A Papisa” que
mostra a mulher em uma posição de poder espiritual, realmente não é estranho
imaginar o incômodo que as cartas provocaram na igreja medieval.
Nessa mesma época surge uma estrutura que se tornaria clássica na
confecção do baralho. Essa estrutura nem sempre foi mantida, mas foi aceita
pelos ocultistas e posteriormente pelos estudiosos como padrão. Trata-se do
baralho de setenta e oito cartas dividido em dois grupos. Um chamado
“arcanos maiores” composto por vinte e duas cartas e outro, os “arcanos
menores”, formado por quatro grupos chamados naipes com quatorze cartas
cada um, totalizando cinquenta e seis cartas. Devemos lembrar que muitos
tarôs não mantiveram esse padrão e nem por isso podem ser desqualificados.
A tentativa de manter uma norma reflete muitas vezes a necessidade de deter
o poder. Se eu sei como as coisas devem ser e se meu modelo for
publicamente reconhecido, isso pode legitimar minha autoridade sobre o
assunto.
No caso do tarô isso deve ser analisado com cuidado. Se por um lado
esse modelo não pode ser “padronizado”, por outro nem todo oráculo formado
por cartas pode ser chamado de tarô.
Existe um problema quando falamos sobre a história do tarô e dos
baralhos existentes que é a tentativa que algumas pessoas fazem de ganhar
notoriedade sobre um assunto muito comentado mas cujos estudos
acadêmicos são pouco difundidos. Dessa forma algumas ideias acabam se
tornando “verdades” não pelo que as sustentam mas pela suposta autoridade
de quem as profere. Existe um antigo oráculo chinês chamado Kau cim. Esse
oráculo é consultado através de varetas que ficam armazenadas em tubos de
bambu. Trata-se de uma prática milenar e que originalmente utilizava cerca de
cem varetas. Certa vez um autor americano afirmou que o tarô seria uma
variação desse oráculo. Tamanha foi a confusão criada a partir disso que hoje
nos Estado Unidos os kits de Kau cim são vendidos com setenta e oito varetas,
sendo que o tarô nem sempre teve setenta e oito cartas. O que sempre
recomendo aos alunos em meus cursos é estudarem, criarem autonomia e
jamais defenderem o ponto de vista de um autor sem que eles mesmos tenham
estudado o suficiente para sustentar o que o autor afirma.
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Nenhuma pessoa que realmente entenda de tarô fala sobre sua história
em termos definitivos porque quem realmente estuda o assunto sabe que
desde sua origem até os desenhos das cartas o tarô é cercado de muitos
mistérios e dúvidas.
O baralho cuja história veremos agora é o que se tornou popular na mais
antiga cidade francesa – Marselha. O baralho de tarô inicialmente teve sua
maior popularidade no norte da Itália, entretanto quase desapareceu,
sobrevivendo na França e na Suíça. Quando voltou à Itália o tarô já seguia o
modelo francês como padrão. Entretanto nem mesmo os baralhos de Marselha
eram uniformes, sendo mais populares os produzidos por Jean Noblet (Paris,
aproximadamente 1650), Jean Dodal (Lyon, aproximadamente 1701) e Nicolas
Conver (Marselha, aproximadamente 1760). Um exemplo que mostra
claramente o quanto os próprios baralhos de Marselha não estavam presos a
um padrão é o baralho de Jacques Vieville (Paris, aproximadamente 1650).
Nesse baralho não há títulos nas cartas, a ordem dos Arcanos Maiores é
diferente da estabelecida em Marselha e algumas imagens são
substancialmente diferentes como a carta XVI, no padrão marselhês chamada
“A Casa de Deus”, que Vieville troca por uma carta sem nome mostrando um
pastor sob uma árvore carregada de frutas. Na verdade quem estabelece a
“legitimidade” desse modelo é o ocultista francês Papus em seu livro publicado
em 1889, “O Tarô dos Boêmios”. Antes do livro de Papus o modelo marselhês
era seguido por questão de popularidade e não legitimidade. Papus, que em
seu primeiro livro sobre o tarô tacha o uso oracular do baralho como de menor
importância diante do ponto de vista ocultista, escreve em 1909 o “Tarô
Divinatório”, um manual completo de adivinhação pelas cartas que vinha com
um baralho inspirado na criação de outro francês, Eteilla. Se Papus atribuiu ao
estilo de Marselha o privilégio de “tarô oficial”, foi o cartomante Paul Marteau
que o tornou popular após ter orientado a “recriação” do baralho para a editora
Grimaud por volta de 1930, seguindo o padrão de Nicolas Conver.
Outro modelo de baralho, diferente do padrão francês, é o tarô de
Bolonha. O mais famoso tarô bolonhês foi pintado entre 1660 e 1665 pelo
artista Giuseppe Maria Mitelli para a família Bentivoglio de Bolonha. Uma
característica do baralho de Mitelli é a ausência dos nomes e dos números das
cartas, o que torna bastante difícil colocá-las em alguma ordem.
Os baralhos com maior distinção do chamado tarô clássico são os
italianos. O tarocchini (Bolonha, Itália) com 62 cartas, o Tarocco Siciliano
(Sicília, Itália) com 64 cartas, o Minchiate (Florença, Itália) com 97 cartas sendo
40 arcanos maiores, 4 naipes com 14 cartas cada mais o coringa (O Louco) e o
baralho mais citado como variante do tarô, o famoso Mantegna Tarocchi com
50 cartas, 5 séries de 10 cartas cada.
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2. Do Mundo Primitivo ao Mundo Moderno

O pastor protestante Antoine Court de Gébelin publicou em 1781 o


oitavo volume de sua obra "O Mundo Primitivo Analisado e Comparado ao
Mundo Moderno". Neste volume Gébelin, que também era maçom, inclui um
ensaio denominado "Tarô", no qual afirma sem nenhuma evidência histórica
que as cartas são uma criação de sacerdotes egípcios e que nelas estaria
contido o misterioso "Livro de Toth". Gébelin também afirma que o tarô esteve
em Roma, ocultado pelos papas até o século XIV, quando foi levado à França.
O autor associa as palavras egípcias tar (caminho) e ro, ros ou rog (real) à
palavra tarô, cuja tradução seria “o caminho real da vida”. O conde Mellet, que
escreveu um ensaio também incluído por Gébelin em seu livro, faz a
associação entre as cartas do tarô e o alfabeto hebraico e seu uso divinatório.
A partir dessa obra começa o interesse dos ocultistas pelo baralho. Ainda que a
obra de Gébelin não seja reconhecida pelos historiadores modernos como uma
fonte confiável de dados históricos, não podemos negar seu mérito em ter
popularizado o tarô como um depositório de sabedoria. Gébelin também
introduziu teoria de que os ciganos teriam difundido o tarô pela Europa.
Sabemos que dificilmente isso seria verdade mas essa tenha sido, talvez, a
primeira vez que alguém associa o tarô à divinação e afirma que os ciganos já
liam e conheciam as cartas.
O ocultista francês Jean-Baptiste Alliette, fascinado com as ideias de
Gébelin, escreveu em 1785 um livro chamado "Como entreter a si mesmo
usando um jogo de cartas chamado tarô", o primeiro manual de tarô divinatório.
Alliette, que se autodenominava Etteilla (seu nome invertido) também se tornou
o primeiro ocultista a transformar as consultas ao tarô em uma profissão.
Etteilla argumentava que tinha sido apresentado à arte da cartomancia em
1751, bem antes da obra de Gébelin. De fato, onze anos antes de “O Mundo
Primitivo...” ele publicara um baralho conhecido como “Pequeno Etteilla” (Rei,
Rainha, Valete, ás, dez, nove, oito e sete de cada naipe mais uma carta
denominada “Etteilla” perfazendo um total de trinta e três cartas) e um manual
de cartomancia descrevendo a adivinhação através do baralho comum. Em
1788 Etteilla criou o primeiro baralho de tarô especificamente ocultista,
resultado de comparações com outros sistemas como a astrologia e o estudo
dos símbolos. Etteilla foi além de Gébelin sobre a origem egípcia das cartas,
afirmando que elas foram criadas por dezessete magos, descendentes de
Mercúrio-Thoth, no Templo do Fogo localizado perto de Memphis, exatamente
1828 anos após a criação ou 171 anos após o Dilúvio, que o tarô teria
exatamente 2125 anos de idade quando ele publicou seu livro. Entretanto,
como Gébelin, Etteilla não tinha nenhuma evidência concreta dessas ideias.
O trabalho de Etteilla, que já foi chamado de charlatão por muitos
ocultistas, teve mais repercussão que podemos suspeitar. Um exemplo está no
“baralho cigano”.
Durante muito tempo foi divulgado que Marie-Anne Adelaide Lenormand
nasceu em 27 de maio de 1772, na cidade francesa de Alençon. Segundo as
pesquisas mais recentes acredita-se que ela tenha nascido em 16 de setembro
de 1768. Batizada com o mesmo nome de uma irmã falecida anos antes, desde
criança Lenormand fazia previsões. Educada em uma instituição religiosa, ela
causava escândalo entre as religiosas por conta de suas previsões, sempre
infalíveis. Sua fama levou-a a Paris, onde permaneceu até o começo da
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Revolução Francesa. Em Paris Lenormand conheceu a cartomante Madame


Gilbert, que lhe ensinou a adivinhação através do tarô de Etteilla. Poucos anos
depois Lenormand atendia em seu escritório particular celebridades como
Jean-Paul Marat, Maximilien de Robespierre e Louis Antoine de Saint-Just. A
confiança que a esposa de Napoleão Bonaparte, Joséphine de Beauharnais,
depositava em Lenormand fez com que sua fama se espalhasse ainda mais, o
que não foi de todo bom, já que o próprio Napoleão ordenara-lhe a prisão em
1803 e em 1809. Entretanto a sibila nunca perdeu sua fama e quando faleceu,
aos 71 anos em Paris, deixou uma fortuna considerável. Lenormand não criou
nenhum baralho. Ela usava cartas do baralho comum com o significado
anotado na parte superior segundo as atribuições de Etteilla, o que deu a ideia
para a criação de baralhos cujas ilustrações representassem pictoricamente o
significado de cada carta, ideia posteriormente aproveitava por Arthur Edward
Waite na criação dos arcanos menores de seu tarô. Muitos baralhos foram
desenvolvidos sob o nome “Lenormand”. Na Alemanha um desses baralhos, o
Petit Lenormand, que tem 36 cartas e é conhecido no Brasil como “baralho
cigano” é quase tão popular quanto o tarô.
Por falar em ciganos, quando eu tinha vinte e um anos, resolvi estudar
minha árvore genealógica e descobri que meu avô paterno era descendente de
ciganos calós franceses que emigraram da França para a Espanha, se
estabelecendo em Granada (na minha ascendência, toda proveniente da
Espanha, tenho uma feliz mistura de ciganos calós e judeus sefaraditas). Eu já
sabia que era descendente de ciganos mas confirmar essa informação
despertou em mim um grande interesse pela cultura desse povo. Os ciganos
vieram de uma região entre a Índia e o Paquistão e se espalharam pelo mundo.
Os calós foram para Portugal, França e Espanha e são o povo cujo estilo é o
mais próximo da imagem popular que temos desse povo, coloridos, dançando
ao redor da fogueira e lendo a sorte. Nesse ano, 1999, procurei um
acampamento e passei alguns meses frequentando as festas, encontros
sociais e, principalmente, aprendendo com os mais velhos um pouco da magia
e das tradições. A tribo com quem convivi tinha vindo da Espanha. Ao contrário
do que alguns ciganos brasileiros afirmam, eles nunca tinham ouvido falar do
“baralho cigano” e liam a sorte com o tarô mesmo ou com as cartas do baralho
comum. As mulheres exibiam belos exemplares de tarôs franceses que via-se
serem bem antigos. Isso, entretanto, não diminuiu o carinho que tenho pelo
baralho Lenormand, que inclusive, profissionalmente, foi o primeiro que usei.
(Qualquer método deste livro pode ser realizado utilizando-se o baralho
Lenormand, cujos significados das cartas estão no apêndice).
Os ciganos são reconhecidos em todo o mundo como mestres da
cartomancia e detentores de segredos ocultos poderosos. Não sei se hoje em
dia as coisas são exatamente assim mas não duvido nem um pouco que uma
aura mágica paira sobre o acampamento e muitas coisas no mínimo intrigantes
são vivenciadas cotidianamente. O que sinto é que existe uma sabedoria
cigana impressa na natureza aguardando as pessoas preparadas, que existem,
para acessá-la. No entanto, entre os mais velhos, e mais sábios, não conheci
nenhum que gostasse muito do contato com os não-ciganos.
O grande ocultista francês Alphonse-Louis Constant, que nasceu em
1810, em Paris teria sido ordenado padre se não tivesse confessado seu amor
por uma jovem pouco antes da ordenação. Em 1854 Alphonse publica Dogma
e Ritual de Alta Magia, seu primeiro livro sob o pseudônimo que seria
13

mundialmente reconhecido: Éliphas Levi Zahed. Levi, que já tinha publicado


muitos livros antes, estrutura essa obra em vinte e dois capítulos,
correspondendo-os ao vinte e dois arcanos maiores do tarô. No entanto, pouca
informação sobre o tarô propriamente dito é encontrada no livro. Há, é claro, a
possibilidade de estabelecer alguma relação entre cada capítulo e o que Levi
atribuia à carta correspondente, no entanto, além da grande inspiração que
Levi causou em seus sucessores como Jean Baptiste Pitois, que foi seu
discípulo direto, Papus, que escolheu seu nome iniciático num texto publicado
no prólogo do Dogma e Ritual de Alta Magia, e Aleister Crowley, que acreditava
piamente ser a reencarnação do próprio Éliphas Levi, nada de relevante sobre
o tarô pode ser encontrado nessa obra. Outro livreto de Levi, Sanctum Regnum
publicado postumamente trata especificamente do tarô.
Gérard Encausse, um médico e ocultista espanhol educado na França e
que adotou o pseudônimo de Papus, foi o autor que escreveu o primeiro livro
que sistematiza o estudo esotérico do tarô. “O Tarô dos Boêmios” foi publicado
em 1889 com ilustrações do baralho do ocultista suíço Oswald Wirth. Wirth,
que era um artista amador, estudou ocultismo com Stanislas de Guaita, de
quem foi secretário, e criou em 1889 um baralho inspirado no modelo
marselhês no qual incorpora símbolos astrológicos e maçons. Sua intenção
era, junto com Stanislas de Guaita, recriar o tarô original que Lévi afirmara ter
existido. Papus usou essas imagens em seu livro. Uma confusão que acontece
até mesmo fora do Brasil é atribuir as ilustrações de O Tarô dos Boêmios ao
artista Jean-Gabriel Goulinat, que na verdade criou as ilustrações de um outro
livro de Papus lançado em 1909 chamado “O Tarô Divinatório”. Os desenhos
de Goulinat, inspirados nos baralhos de Etteilla e de Paul Christian, mais tarde
seriam lançados como baralho. Provavelmente a origem dessa confusão está
no fato de edições posteriores de O Tarô dos Boêmios trazerem as ilustrações
de Goulinat.
Paul Christian foi outro discípulo de Levi. O francês Jean Baptiste Pitois,
que ao mudar para Paris se tornou amigo de Charles Nodier, iniciou sua
carreira como jornalista e adotou o pseudônimo de Paul Christian, que usava
para assinar seus artigos, foi influenciado pelas ideias do amigo Nodier, um
escritor da geração romântica interessado em contos obscuros, vampirismo e
magia, passando a se interessar pelo ocultismo. Pitois escreveu sobre o tarô,
reviu e ampliou a associação das cartas com a astrologia, desenhou um
baralho de estilo egípcio e influenciou todos os estudiosos posteriores. Entre as
contribuições de Pitois está o fato de ter utilizado o termo arcano, que
encontrou nos escritos de Lévi, para se referir às cartas do tarô. Pitois também
descreve em seu livro “História e Prática da Magia”, publicado em 1870, uma
cerimônia egípcia na qual o candidato à iniciação percorreria uma galeria
formada por vinte e dois quadros, onze de cada lado, que corresponderiam aos
vinte e dois arcanos maiores. Se essa descrição não convenceu os
historiadores, ao menos serviu como uma das fontes para a criação dos rituais
daquela que se tornaria a mais influente escola de ocultismo dos séculos XIX e
XX: a Ordem Hermética da Aurora Dourada, em inglês Hermetic Order of the
Golden Dawn, criada por William Robert Woodman, William Wynn Westcott e
Samuel Liddell MacGregor Mathers na Grã-Bretanha no fim do século XIX, e
que se tornaria o instituto mais popular de ensinos ocultistas da história. Não
vou entrar em detalhes sobre a Ordem, que já possui uma bibliografia bem
extensa, para os fins deste livro basta dizer que foi uma Ordem paralela à
14

maçonaria inglesa e que teve como resultado fornecer a estrutura básica que
daria origem à quase todas as Ordens posteriores, como exemplo a AMORC
(Harvey Spencer Lewis, que fundou a AMORC, foi um ex-membro da Golden
Dawn que em uma das várias cisões que a Ordem sofreu aproveitou a
oportunidade e fundou a AMORC, clamando para si uma suposta origem
egípcia de sua nova ordem, bem ao gosto dos magos da Golden Dawn). Outro
legado da Golden Dawn, embora exista um verdadeiro movimento que procura
refutar esse fato, é a wicca. Um dos fundadores da Golden Dawn, Samuel
Liddell MacGregor Mathers, publica em 1888 um pequeno texto intitulado “O
Tarô” no qual descreve as cartas, seu significado divinatório, algumas
correspondências simbólicas, métodos de leitura e um método de usar o tarô
como jogo comum, de azar. Entretanto, a influência da Golden Dawn sobre o
estudo do tarô seria amplamente disseminada a partir de dois de seus
membros.
Em 1891 Arthur Edward Waite se tornou membro da Golden Dawn.
Waite também foi um grande ocultista inglês e foi o co-criador do baralho de
tarô mais popular nos países de língua inglesa. A editora Rider foi inaugurada
na Grã-Bretanha em 1908, dirigida por William Rider. Sob a supervisão editorial
de Ralph Shirley a Rider começou a publicar uma vasta gama de livros
esotéricos e em 1909 lançaria seu maior sucesso: o tarô Rider-Waite. O título
do baralho deveria incluir o nome de Pamela Colman Smith, a artista, escritora
e ilustradora que sob a supervisão de A. E. Waite confeccionou o baralho. Em
1910 o baralho passaria a vir acompanhado de um manual de autoria do
próprio Waite chamado “A Chave do Tarô” Um ano depois uma versão revisada
do manual chamada “A Chave Pictórica do Tarô” seria lançada. Em 1918 o
escritor ocultista americano L. W. de Laurence lançou o mesmo livro sob o
nome “A Chave Ilustrada do Tarô” sem atribuir a autoria a Waite. Outro grande
“best-seller” da Golden Dawn foi Edward Alexander Crowley, conhecido como
Aleister Crowley, a figura mais controversa do ocultismo contemporâneo e que
ao mesmo tempo é considerado por alguns o maior ocultista que já existiu. Ele
zombava das religiões institucionalizadas, dava declarações polêmicas à
imprensa, rompeu com a Ordem Hermética da Aurora Dourada, da qual
tornara-se membro em 1898, recebeu mediunicamente um livro sagrado que
ditou à uma de suas esposas enquanto viajavam pelo Egito, publicou alguns
segredos guardados à sete chaves pelas ordens das quais fez parte e nos
deixou um legado de valor incalculável: seu baralho conhecido como Tarô de
Thoth.
Outro nome que tornou-se importante no estudo do tarô é Paul Foster
Case, o ocultista americano do início do século XX que publicou um baralho
que, segundo ele, é uma versão corrigida do baralho de Waite. Case foi
membro da Golden Dawn e chegou a ser o responsável pelas atividades da
ordem na América, porém, após um conflito com Moina Mathers, a esposa de
Samuel Liddell MacGregor Mathers, abandonou a ordem e fundou seu próprio
grupo. O baralho recebeu o nome do círculo esotérico de Case, Builders of the
Adytum, os “Construtores de Adytum”, conhecido como B.O.T.A. O grupo, que
permaneceu seguindo a mesma linha de trabalho da Golden Dawn e de outros
grupos para-maçônicos, recebeu esse nome porque adytum, do grego adytom,
é a palavra latina usada para se referir à parte secreta, inacessível do templo.
De fato os membros do B.O.T.A. guardavam os segredos do grupo a sete
chaves. Case, que publicou seu tarô em preto e branco permitindo a cada
15

estudante colorir seu próprio baralho, sempre enfatizava a ideia que o baralho
deveria ser usado para meditação e não para a leitura da sorte. Entretanto o
ocultista publicou um livro sobre tarô com métodos de consulta, alegando que
existe diferença entre a leitura da sorte e a divinação.
Em 1984 foi publicado em francês, com o prólogo escrito pelo padre
católico Hans Urs von Balthasar, um livro de autor anônimo intitulado
"Meditações sobre os vinte e dois arcanos maiores do tarô". Quem seria o
autor desse livro misterioso que na mesma década serviria de base para os
escritos dos primeiros livros de um dos autores mais populares da história,
Paulo Coelho?
Valentin Arnoldevitch Tomberg nasceu na Rússia, no ano de 1900.
Desde cedo um incansável estudioso do misticismo cristão e praticante do
catolicismo ortodoxo russo, Tomberg também se interessou por teosofia e pelo
hermetismo de G. O. Mebes. Nos anos 20 Tomberg se filiou à Sociedade
Antroposófica, da qual seria “convidado a se retirar” em 1940 após ter ocupado
posições de liderança dentro do movimento. Mais tarde ele se converteu ao
catolicismo romano. Valentin Tomberg escreveu um livro cuja recepção dos
leitores, ele acreditava, não deveria ser influenciada pela vida de seu autor e
por isso determinou que o livro fosse publicado postumamente sem identificar a
autoria. Meditações sobre os 22 arcanos maiores do tarô, escrito em francês e
publicado pela primeira vez na França em 1984 (uma edição “vazou” na
Holanda quando Tomberg ainda estava vivo, o que causou reprovação por
parte do autor), ainda não foi “digerido” pelos leitores ocultistas, trata-se de um
livro complexo e recheado de conceitos cuja compreensão, aparentemente
simples, demanda anos de estudos e meditação. Muitas pessoas leem o livro e
saem com o sentimento de terem entendido, entretanto, há quem afirme que o
autor foi um dos últimos responsáveis pelo conhecimento da Ordem dos
Templários (sem teorias conspiratórias, Maria Madalena ou Leonardo da Vinci.
Tomberg era um erudito, jamais teria se deixado levar por essas coisas) e que
o seu livro seria uma segunda bíblia com o conhecimento que permitiria a plena
compreensão dos aspectos ocultos da bíblia cristã, uma tarefa nada fácil.
Além de um excelente estudo do tarô em seu aspecto ocultista, o livro de
Tomberg influenciou muitos autores posteriores como o Dr. Robert A. Powell e
o brasileiro Paulo Coelho. Muito do que lemos nos primeiros livros de Paulo
Coelho e que o autor atribui a seu mestre pode ser encontrado nos escritos de
Tomberg. Outro fato curioso é a aceitação de seu livro pela igreja católica,
tendo sido prefaciado por uma das maiores autoridades da igreja no século XX,
o cardeal Hans Urs von Balthasar. Em uma foto do Papa João Paulo II vemos
os livros de Tomberg sobre sua mesa de trabalho, quem tiver interesse não
terá dificuldades para encontrá-las usando um dos maiores “oráculos” que o
mundo contemporâneo criou: o Google.
16

Carta “O Louco” do Tarô Gaignières, baralho “O Louco” do baralho Pierpont-Morgan Bergamo, que
erroneamente atribuído a Gringonneur pertence ao grupo conhecido por Visconti-Sforza

Carta “O Mago” do tarô de Marselha publicado O tarô suíço recebeu a designação de JJ


em 1983 pela empresa espanhola Heraclio porque troca as cartas “A Papisa” e “O Papa”
Fournier. Rico em cores e detalhes, esse por “Juno” e “Júpiter”, respectivamente.
baralho é uma releitura da versão do baralho
criada pela Casa Grimaud nos anos 30.
17

Ilustração de Jean-Gabriel Goulinat para o Carta do Tarô Egípcio da editora argentina


livro “O Tarô Divinatório” lançado por Papus Kier, lançado na versão colorida em 1971. A
em 1909. primeira versão, em preto e branco, foi criada
pelo ocultista Jesus Iglesias Janeiro para seu
livro La Cabala de Predicción, lançado no
início dos anos 50.
18

3. Exercício com os Arcanos Menores

Embora haja muita teoria a ser estudada sobre o tarô, esse curso foi
planejado tendo em vista quem está dando os primeiros passos na
compreensão das cartas. Para evitar o erro que as pessoas cometem ao
“decorar” os significados ao invés de entender como esses significados são
atribuídos, vamos iniciar o estudo das cartas com um exercício de
compreensão dos elementos simbólicos. Um alerta: não devemos jamais
confundir imagens e conceitos. Os conceitos são intelectuais e quando chegam
a seu limite, ou seja, quando não são mais capazes de abarcar as percepções,
surgem as imagens. O limite do conceito é a contradição e as imagens
abarcam as contradições. Reproduzo aqui as palavras de Alberto Cousté em
seu livro “Tarô ou a máquina de imaginar” sobre a tentação de atribuir às cartas
significados fixos ou de ser dogmático: “O oráculo é mutável, como os homens
que o interrogam. Se me refiro a alguns deles, é somente porque a sua
experiência merece ser tomada em conta como ponto de partida. Assim, as
referências a Wirth, Ouspensky ou Marteau não são de forma alguma
canônicas, mas sim produto da necessidade de estabelecer um modelo
operativo. Sabemos que o tarô não tem um autor; que é fruto de uma soma de
indivíduos, da paciência dos séculos. Podemos imaginar que esta proposta se
completa no outro extremo da equação: ninguém acabará de ler este livro que
ninguém escreveu, porque o olhar de quem o lê torna a escrevê-lo; se as
formas são convertidas em palavras durante o curto tempo que dura uma
leitura, é somente para encarnar num fantasma o rio imaginário; para usar
dessas formas o que elas têm de sensíveis, e em seguida devolvê-las ao
silêncio.” (COUSTÉ, A. 1983, p. 91 e 92).
Para começar, leia o que significam os números, naipes e cartas da corte.
Em seguida, associe cada carta numerada e cada carta da corte a cada naipe.
Por exemplo, se os Reis são cartas de atividade, como essa atividade acontece
no naipe de copas, que está relacionado aos sentimentos? E o cinco, que é um
número que sempre traz resultados desfavoráveis, como atua no naipe de
espadas, que é relacionado à luta? Escreva suas próprias associações nos
formulários dos arcanos menores. Se preferir, consulte a tabela com as
palavras-chave disponibilizadas no Tarô de Thoth, de Aleister Crowley,
reproduzida na próxima parte. Quando terminar o exercício compare suas
respostas com os significados resumidos dos arcanos menores no fim do livro.
Associe ambas as possibilidades, estabeleça um diálogo entre as diferentes
perspectivas.
19

4. Pequeno Guia dos Símbolos

Cores

Amarelo – estimula as ideias, cor do trabalho espiritual.


Anil – purificação, compreensão espiritual, sensibilidade.
Azul – passividade, frescor, calma, inércia.
Branco – pureza, inocência, consciência, totalidade.
Laranja – excitação, vitalidade, sensualidade.
Preto – matéria, conservação, discrição, proteção.
Verde – equilíbrio, crescimento, renovação, regeneração.
Vermelho – atividade, energia, empenho. Representa o espírito ativo
que sobrepuja a inércia.
Violeta – espiritualidade pura, misticismo.

Formas

Círculo – representa a totalidade, o mundo, o ciclo.


Crescente – sabedoria, o feminino, receptividade.
Cruz – representa a relação com o mundo material. De sofrimento, se o
mundo material sobrepujar a inteligência, e de vitória, se a inteligência
estiver acima das forças do mundo material. Intersecção entre a linha
vertical (masculino, racional, espaço) e a linha horizontal (feminino,
intuição, tempo). Também relacionada ao carma.
Estrela – plano espiritual.
Lemniscata (∞) – integração entre o consciente e o inconsciente.
Eternidade. Conexão com o Eu Superior.
Ponto – representa a alma.
Quadrado – matéria. Os quatro elementos. Estrutura. Limitação.
Torre – elevação aos planos superiores.
Triângulo – no geral mostra movimento, energia direcionada para um
fim. Com o vértice para cima representa a evolução, ascensão. Com o
vértice para baixo representa a criação, a concretização.

Direção e posição das figuras

Caminhando – movimento, transição.


Em pé – atenção, atividade.
Olhando para a direita – idealismo, futuro.
Olhando para a esquerda – nostalgia, passado, experiência.
Olhando para frente – presente, conexão com o centro da alma,
enfrentamento.
Sentada – descanso, tranquilidade, passividade. (nesse caso observe o
Imperador, que está em pé, porém encostado no trono).
Suspenso – sem contato com a realidade (como no Enforcado ou nos
personagens da Roda da Fortuna).
Voando – ser espiritual, que vê a totalidade.
20

Elementos

Paus Copas Espadas Ouros


Naipe
(Bastões) (Taças) (Gládios) (Moedas)
Elemento Fogo Água Ar Terra
Estação do
Verão Outono Primavera Inverno
Ano
Saber.
Pensamento
racional, a
Querer.
intelectualidade e Calar.
Ousar. A Sensibilidade, a
a sociabilidade. O Estabilidade, a
iniciativa e a emotividade e a
conhecimento. praticidade e o
expressividade. empatia. O
Os voos, a contato com a
Entusiasmo, instinto.
liberdade. realidade. A
espontaneidade, Necessidade de
Simbolismo autoritarismo, ser fluído,
Necessidade de rotina.
refletir, de se Insensibilidade,
violência. A maleável.
distanciar da avareza. Apoio,
transformação, a Receptividade,
situação. alicerce,
vitória em meio intuição,
Desafios. Mente necessidade de
às adversidades. indecisão,
aberta, poder de perseverança.
autoindulgência.
comunicação,
frieza, falta de
senso prático.
Cavaleiro ou
Pajem, Valete
Cartas da Rainha príncipe
Rei (atividade) ou Princesa
Corte (receptividade) (condução,
(cristalização)
transporte)

Números

XII Ordem celestial, salvação, cura.


XI Opostos que não se harmonizam, excesso, transição.
X Abundância, manifestação no mundo material. Retorno à unidade.
Número lunar, os nove meses de gestação, a personalidade, oscilações,
IX deslocamentos, mulheres, viagens curtas, o mar.
VIII Negócios, comércio, habilidades intelectuais, troca, notícias, renovação.
Afeto, beleza, juventude, diversão, mas também conclusões, período de transição que
VII exaure, ordem perfeita, graça, conclusão de ciclo.
Iluminação, crescimento, sucesso, parcerias, prosperidade, a alma humana, consciência
VI do eu.
V Crises que fazem crescer, perigo, vitalidade, energia, a quintessência, o ser humano.
IV Expansão, fartura, viagens longas, generosidade, mundo manifesto.
III Equilíbrio, estabilidade, maturidade, síntese.
II Criatividade, imagem refletida, sabedoria, harmonização, rivalidade, eco, sombra.
I Novidades, oportunidades, começos, foco.
0 Algo latente, não manifesto, o Ovo Cósmico.
21

Palavras-chave (Crowley)

Paus Copas Espadas Ouros


10 Opressão Saciedade Ruína Riqueza
Desespero e
9 Força Felicidade Material
Crueldade
Ganho Material
8 Rapidez Indolência Interferência Prudência
7 Bravura Deboche Futilidade Fracasso
6 Vitória Prazer Ciência Sucesso Material
5 Disputa Desapontamento Derrota Preocupação
4 Conclusão Luxúria Trégua Poder Mundano
3 Virtude Abundância Sofrimento Trabalho
2 Domínio Amor Paz Mudança
A Raiz dos A Raiz dos A Raiz dos Poderes A Raiz dos Poderes da
1 Poderes do Fogo Poderes da Água do Ar Terra
22

Paus

Rei (ou
Cavaleiro,
segundo
Crowley)

Rainha

Cavaleiro
(ou
Príncipe)
Pajem
(Valete ou
Princesa)

II

III

IV

VI

VII

VIII

IX

X
23

Copas

Rei (ou
Cavaleiro,
segundo
Crowley)

Rainha

Cavaleiro
(ou
Príncipe)
Pajem
(Valete ou
Princesa)

II

III

IV

VI

VII

VIII

IX

X
24

Espadas

Rei (ou
Cavaleiro,
segundo
Crowley)

Rainha

Cavaleiro
(ou
Príncipe)
Pajem
(Valete ou
Princesa)

II

III

IV

VI

VII

VIII

IX

X
25

Ouros

Rei (ou
Cavaleiro,
segundo
Crowley)

Rainha

Cavaleiro
(ou
Príncipe)
Pajem
(Valete ou
Princesa)

II

III

IV

VI

VII

VIII

IX

X
26

5. Exercício com os Arcanos Maiores – O Caminho do Andarilho

Em sua viagem em busca de si mesmo o andarilho encontra vinte e


duas figuras nas quais vê refletidos aspectos de sua própria alma. Com base
nessa ideia, analise os Arcanos Maiores do seu baralho. Primeiro descreva os
elementos de cada carta (adereços, cores, números e quaisquer elementos
que parecerem importantes. Algumas sugestões serão oferecidas baseando-
nos no baralho de Marselha Fournier). Depois pesquise em dicionários de
símbolos o que cada elemento pode representar e atribua a esses elementos
significados de acordo com o conhecimento adquirido. Leve em consideração
as cores, formas geométricas e leitura corporal dos personagens. Por exemplo,
os elementos que aparecem em pares (duas colunas, dois cavalos, duas
pessoas, dois animais etc.) podem ser associados à renovação (Sol,
independência, equilíbrio, orgulho. O hemisfério direito do cérebro) e à tradição
(Lua, proteção, lealdade familiar, dedicação, fidelidade. O hemisfério
esquerdo.) ou à ying e yang.
27

I – O Mago

O Mago nos ensina a habilidade


técnica, o conhecimento preparatório
para a jornada. Também é necessário
entender que a descoberta dos
objetivos superiores não ocorre
quando olhamos apenas para o alto,
chapéu
mas quando captamos o que vem do
cinto
alto e direcionamos para o mundo
mesa quadrada
material, o palco onde a cena toda
quatro objetos
acontece. Se a vontade humana foi
coroada pela Vontade Divina vemos
acontecer aquilo que chamamos de
milagre. Momento de comprometer-se,
de busca e de trabalho intenso que
pode gerar desgaste.
28

II – A Papisa (ou A Sacerdotisa)

Enquanto o conhecimento do mundo


objetivo é adquirido, um outro tipo de
conhecimento, mais interno, vai sendo
gerado. A semente do Mago encontra
solo propício nas profundezas da
coroa
Papisa. É necessário aprender a ser
cruz
discreto. Aqui ocorre o encontro com o
duas colunas
Poder Feminino. A Papisa é uma
livro
mulher perfeita não porque se
manto
submeteu ao modelo de
véu
comportamento socialmente atribuído
à mulher, mas porque se conectou
com a verdadeira fonte de poder, que
é interna. Momento de discernimento
e bom senso.
29

III – A Imperatriz

Se uma semente encontra solo


propício, ela germina e vemos os
resultados. A Imperatriz diferencia-se
asas
da Papisa por não ser perfeita,
cetro
entretanto, é uma mulher real, não
coroa
idealizada. Momento de otimismo e
escudo
deleite, de não se deixar perturbar,
grama
aceitar as limitações da condição
humana e colher os primeiros frutos
da jornada.
30

IV – O Imperador

Aquilo que foi conquistado traz


recursos e poder. Os recursos
precisam ser organizados, ainda há
cetro muito por fazer. E a ideia de poder
elmo precisa ser elaborada para que não se
escudo torne tirania. Se o poder for entendido
medalha como capacidade de realização,
pernas cruzadas diferente de autoritarismo e hierarquia,
posição da mão é possível caminhar
trono despreocupadamente, pois o sucesso
estará garantido. Momento de
estabilidade, continuidade e luta por
melhorias.
31

V – O Papa (ou O Hierofante)

Essa elaboração que torna o poder


um recurso a serviço do crescimento
capa interior acontece quando temos claro
colunas o propósito espiritual mais elevado da
coroa jornada. Quando ouvimos nossa voz
cruz interior e permitimos a intervenção
luva espiritual de nosso Eu Superior não
sinal da mão corremos o risco de nos perder no
súditos caminho. O rigor assegura a
continuidade da jornada. Momento de
disciplina e aprendizado.
32

VI – Os Amantes

Manter o centro diante de tantos


caminhos aparentemente opostos é o
próximo desafio. Nos Amantes não
perdemos a inspiração divina
adquirida nas cartas anteriores mas
aqui precisamos aprender a assumir
as consequências de nossas
escolhas. Muitas pessoas, justamente
pela falta de maturidade em assumir
cupido
que o que acontece em suas vidas é
três pessoas
resultado de decisões passadas,
acham que é possível não fazer
nenhuma escolha. Vivem em cima do
muro. Mas permanecer em cima do
muro também é uma escolha – e com
as piores consequências possíveis.
Momento de se responsabilizar e de
compreender a liberdade como
condição na qual o amor se realiza.
33

VII – O Carro

Ao nos responsabilizarmos pelo nosso


armadura caminho e assumirmos nossa
carruagem personalidade nos tornamos senhores
cavalos de nós mesmos. A personalidade
cetro orientada pelos desígnios do Eu
coroa Superior caminha seguramente,
dragonas conquistando aos poucos os tesouros
da jornada. Momento de triunfo.
34

VIII – A Justiça

Centrados em nosso Eu Superior,


naturalmente deixamos de julgar
nossas experiências como boas ou
ruins. Entendemos que tudo o que nos
balança
acontece é para o nosso crescimento.
espada
Para nos mantermos centrados e ao
touca
mesmo tempo superarmos os
trança
desafios, precisamos segurar a
trono
espada do discernimento e a balança
da ponderação. Momento de
austeridade, integridade e
imparcialidade.
35

IX – O Eremita

Uma habilidade esquecida nos dias


atuais é a circunspecção, ou seja,
olhar atentamente uma situação de
todos os lados. Após aprendermos a
bordão lição da Justiça é possível se dedicar
gorro ao estudo, à observação silenciosa, à
lanterna clarificação das ideias obscurecidas
manto pelo turbilhão de pensamentos e
imagens mentais que caracterizava o
estado anterior. Essa é o momento da
quietude espiritual, revelação e
prudência.
36

X – A Roda da Fortuna

Também aprendemos a aceitar aquilo


que não pode ser mudado. Existem
coisas que não podem ser evitadas
porque são as consequências de
escolhas anteriores mas que nos
servem de objeto de estudo para
roca aprendermos a fazer escolhas mais
seres sobrenaturais acertadas no presente que moldarão
nosso futuro. Entretanto,
absolutamente nada é contínuo. A
impermanência caracteriza a
existência no mundo material.
Momento no qual o êxito depende da
aceitação.
37

XI – A Força

Aprendemos até aqui que tudo é


energia e que o que chamamos de
mal é só uma frequência fora da
sintonia adequada. Uma energia
aparentemente ruim, se estivesse no
lugar certo, produziria resultados
chapéu bons. Assim, ao dominar a frequência
leão de nossas próprias vibrações
posicionamento da boca do leão podemos produzir sucesso ou
fracasso. Momento de colocar a
sabedoria acima da visão
fragmentada, parcial, de mobilizar a
coragem e dominar as crenças
negativas, medo, raiva, mágoa e tudo
aquilo que nos impede de caminhar.
38

XII – O Enforcado

Chegamos a um ponto em que


descobrimos muitos talentos e
habilidades, que podem ser usados
para nos aproximarmos de nossas
próprias verdades ou para servir aos
interesses alheios, correndo o risco de
nos sacrificarmos por tiranos, deixar
de lado nosso próprio caminho para
apoiar interesses escusos e
forca formada por tronco com seis mesquinhos de outras pessoas. Essa
galhos cortados em cada lado é a questão que O Enforcado propõe.
posição das mãos O sacrifício é necessário mas se
posição dos pés sacrificar pelo quê? Qual é o preço a
ser pago quando deixamos nossos
sonhos de lado? De que forma
cedemos às pressões do grupo no
qual estamos inseridos? Quando é
necessário ceder e quando é
necessário nos mantermos firmes em
nossas próprias verdades? Momento
de se questionar e de estabelecer
prioridades.
39

XIII – A Morte

No momento seguinte é necessário


transformar o aspecto externo da
situação mas não a sua essência. A
essência é imutável, é o centro imóvel
da Roda da Fortuna, e corresponde ao
nosso propósito espiritual, à missão
de nossa alma. Se o andarilho está
caveira em decomposição ou realmente conectado à sua verdade, o
regeneração meio será transformado naturalmente
cor da vegetação para se sintonizar aos seus ideais
pedaços de corpos mais elevados. Aquilo que é supérfluo
deixará de existir ou as pessoas
frívolas naturalmente se afastarão. Se
não há conexão com essa verdade o
Universo sinalizará de alguma forma a
necessidade de renovação. Momento
de abandonar aquilo que não tem
mais utilidade ou significado.
40

XIV – A Temperança

A transformação pode ser dolorida


mas quando é decorrente da busca
interior, mobiliza as forças curativas e
androginia consoladoras do Cosmo. Na
asas Temperança o andarilho encontra os
cântaros anjos, seja espiritualmente, seja
flor através de pessoas que se aproximam
para compartilhar beleza, bondade e
luz. Momento de ponderação,
serenidade e cura.
41

XV – O Diabo

Se no Enforcado o andarilho
reconheceu aquilo que o oprime, aqui
ele busca em si mesmo onde assume
o papel de opressor e em quais
circunstâncias seus êxitos são obtidos
por meios escusos como a
manipulação física ou psicológica das
pessoas ao seu redor. Fortalecido por
androginia
tudo aquilo que aconteceu até agora,
asas de morcego
o andarilho se vê diante de mais uma
chapéu
prova: a sedução do caminho mais
escravos
curto ou mais fácil. Às vezes parece
espada quebrada
mais fácil manipular as pessoas para
pedestal
que façam algo por nós,
pés
principalmente quando descobrimos
que temos esse poder, no entanto,
qual o custo disso? E até que ponto
também não somos manipuláveis, nos
deixando seduzir por um modelo de
felicidade e bem estar artificialmente
produzido? Momento de cultivar a
liberdade.
42

XVI – A Casa de Deus (ou A Torre)

Quando entramos no caminho


espiritual tudo aquilo que não for
verdadeiro é destruído. As mentiras
coroa encontradas em O Diabo consomem
esferas flutuantes energia para que se mantenham em
janelas pé. Destruí-las é sinônimo de liberar
habitantes da torre essa energia que poderá, então, ser
pluma utilizada na realização dos nossos
torre propósitos. Momento de destruição de
tudo aquilo que é rígido, fixo,
inflexível, de cultivar a humildade e de
deixar fluir.
43

XVII – A Estrela

Tendo confrontado algumas mentiras


e liberado mais recursos, podemos
acácia voltar ao caminho original e continuar
ânforas de ouro e prata a peregrinação rumo ao Templo
árvores Interior. Estamos agora na sintonia
elementos naturais dos seres espirituais mais elevados
estrelas que, se já nos inspiravam, agora
nudez podem ser sentidos de uma forma
pássaro (íbis) mais concreta. A nossa missão pode
ser confirmada. Momento de
esperança.
44

XVIII – A Lua

Entretanto, confirmada a missão, mais


uma vez nosso discernimento deve
cão
ser usado para saber o que faz parte
crustáceo (lagostim)
da nossa verdade interna e o que é
gotas invertidas (força centrípeta,
fantasia. Quanto mais fortalecidos e
coagula)
conscientes, mais claro é para nós
lobo
aquilo que nos confunde e nos afasta
piscina
do caminho. Momento de abandonar a
torres de vigia
superficialidade, a frivolidade e a
alienação.
45

XIX – O Sol

A compreensão surge esplendorosa.


Somos capazes de perceber com
muito mais ferramentas que os cinco
crianças sentidos. A voz interna é clara. As
gotas que caem (força centrífuga, pessoas que se aproximam estão
solve) cada vez mais sintonizadas com o que
muro há de melhor em nós. O tipo de
conflito que nos traz o crescimento é
muito mais sutil. Momento de
iluminação.
46

XX – O Julgamento

Assim uma nova personalidade surge,


anjo saindo das nuvens orientada pelo Eu Superior, refletindo
casal toda a sua luz e sabedoria. Momento
criança ou defunto ressuscitando de visão, de tocar os mistérios, de
libertação e iniciação.
47

XXI – O Mundo

E nos tornamos inteiros. O andarilho,


que foi aprendiz de feiticeiro, cruzou o
vale da morte, conversou com anjos e
androginia
demônios, viu mundos sendo criados
baqueta
e destruídos, agora está em seu eixo,
echarpe
conectado, restaurado. Muito mais
guirlanda
que alegre com as pequenas
querubins
satisfações, agora ele está realizado,
pleno, feliz. Momento de integração e
de fim de ciclo.
48

O Louco (O Bufão ou O Alquimista)

E no fim do caminho ele pode


recomeçar a caminhada, mas dessa
vez o que trará na trouxa que carrega
no ombro lhe tornará maior e mais
forte (seus talentos e habilidades).
Não será mais o louco alienado da
realidade, manipulado pelo mundo,
punido por não fazer parte de um
bordão
sistema que ele sabe ser injusto, mas
cachorro
alguém que se encontrou, o Senhor
guizos na gola
de seu próprio Universo. O andarilho
trouxa
só percorreu o Caminho Sagrado
porque deixou de fazer escolhas
baseadas nas crenças negativas
adquiridas nas experiências ruins de
seu passado. Também não tem medo
de enfrentar o desconhecido porque
caminha com fé. Momento de se
descomprometer e relaxar.
49

6. Aplicação dos Arcanos Maiores

Baseando-se no modelo proposto por Oswald Wirth podemos entender


como os arcanos maiores se relacionam colocando-os na seguinte disposição:

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
A I II III IV V VI VII VIII IX X XI
B XXII XXI XX XIX XVIII XVII XVI XV XIV XIII XII

Forme onze colunas com duas fileiras de cartas conforme a numeração


acima e agora compare:

A Razão, inteligência, bom senso. (O Mago)


1 O que te move?
B Fé, descobertas, aventura. (O Louco)

De onde vem as suas A De dentro, da intuição. (A Papisa)


2
respostas? B De fora, dos sinais que vejo ao meu redor. (O Mundo)

Segurança e satisfação através de uma série de conquistas menores.


A
3 O que você busca? ( A Imperatriz)
B Correr riscos e realização através de grandes vitórias. (O Julgamento)

De onde você obtêm A Do poder que existe dentro de mim. (O Imperador)


4
recursos? B Do poder que vem do Universo. (O Sol)

Para onde você orienta suas A Para o mundo espiritual. (O Papa)


5
ações? B Para o mundo material. (A Lua)

A No meu livre arbítrio. (Os Amantes)


6 Você age baseando-se...
B Na minha missão espiritual. (A Estrela)

De onde vêm as maiores A Das conquistas. (O Carro)


7
lições? B Dos fracassos. (A Torre)

Como você organiza seus A Com lógica, coerência e bom-senso. (A Justiça)


8
recursos? B Eu sou bagunceiro, mas isso não é um problema. (O Diabo)

A Ficando sozinho, estudando, meditando. (O Eremita)


Como você recompõe suas
9 Saindo com os amigos, me divertindo, celebrando a vida. (A
forças? B
Temperança)

Pela dor. Não gosto de mudanças e quando as coisas mudam é por


A
intervenção da vida. (A Roda da Fortuna)
10 Você muda...
Pelo amor. Reconheço facilmente quando algo precisa ser mudado e
B
participo ativamente nas mudanças. (A Morte)

Tenho o poder nas mãos. Sou responsável pelo que me acontece. (A


A
Normalmente você sente Força)
11
que... Sou capaz de abrir mão de um objetivo por uma causa maior. Além
B
disso, a vida impõe certos limites. (O Enforcado)
50

7. Métodos de Tiragem

Se você está dando seus primeiros passos no estudo do tarô, pratique


os métodos que achar mais simples primeiro. Quando tiver experimentado
todos os métodos, escolha aqueles com os quais você mais sentiu afinidade.
Pratique-os bastante antes de ler tarô para outras pessoas.
Sempre guarde seu baralho com as cartas na sequência correta,
arcanos maiores de I a XXI, deixando o Louco no começo do baralho, depois
de O Julgamento, depois de O Mundo ou no fim do baralho, como você preferir.
Depois dos arcanos maiores coloque as cartas de paus, copas, espadas e
ouros nessa ordem. Em cada naipe coloque rei, rainha, cavaleiro, pajem e as
cartas numeradas de ás a dez. O dez sempre fica por último. A última carta
será então dez de ouros ou O Louco. Se outra sequencia lhe parecer mais
correta, não hesite em adotá-la, mas mantenha uma sequencia.
Antes de o consulente entrar na sala de consulta, costumo fazer uma
prece de purificação escrita por Hazrat Inayat Khan, um mestre sufi que viveu
na Índia no início do século XX, reproduzida abaixo. Se você conhecer outra
prece ou outra técnica de limpeza e quiser usar não há problema, mas faça
sempre algo para tornar a energia do local mais propícia à consulta, antes do
cliente chegar e depois que ele sair.

“Amado Senhor, Deus Todo-Poderoso!


Através dos raios de sol,
Através das ondas do ar,
Através da Vida que habita o espaço,
Purificai-me e fazei-me reviver, eu oro.
Curai meu corpo, meu coração e minha alma.
Amém.”

Pegue o baralho. Se for usar apenas um grupo, arcanos menores ou


maiores, separe-os. Siga os procedimentos iniciais, no meu caso costumo fazer
algumas respirações mais lentas, visualizo uma esfera de luz branca sobre a
cabeça do consulente e enquanto mentalizo essa esfera faço mentalmente
uma prece pedindo inspiração.
Em seguida entregue as cartas ao consulente, se no método descrito for
ele quem deve embaralhá-las, ou você as embaralha. Siga as instruções do
método escolhido. Se a consulta for uma análise geral, sem perguntas
específicas, oriente o consulente a não pensar em um problema específico. Do
contrário, enquanto embaralha ou corta as cartas, o consulente deve pensar na
questão. O consulente deve sempre dizer a questão em voz alta ao tarólogo ou
no mínimo dizer a que área da vida se refere – amor, saúde, trabalho, dinheiro
etc. Lembre-se que você não está lá para ser testado, mas para servir de
ferramenta, auxiliar o consulente a resolver uma questão difícil ou orientá-lo
sobre seu momento atual. Mantenha respeito por si mesmo enquanto
profissional e exija ser respeitado.
As cartas podem ser embaralhadas de duas formas. A primeira é a mais
comum, basta fazer como se faz para embaralhar as cartas em um jogo de
baralho comum. Na segunda as cartas são colocadas com as faces voltadas
para baixo e misturadas com movimentos circulares no sentido anti-horário,
usando ambas as mãos. Tomo cuidado com esse segundo método, alguns
51

consulentes já danificaram meu baralho tentando fazer isso. Instruo sempre


para misturar com delicadeza.
No geral peço ao cliente que corte o maço em dois e coloco a parte
inferior sore a outra para reagrupar as cartas. Quando o cliente questiona se
deve cortar com a mão esquerda ou direita, digo que tanto faz e observo qual
mão ele usa. Pessoas mais racionais tendem usar a mão direita. Pessoas mais
intuitivas usam a mão esquerda. Saber isso torna a minha comunicação
posterior com o consulente mais fácil.
Entre cada pergunta as cartas devem ser embaralhadas e cortadas
novamente. A consulta dura entre uma hora e uma hora e meia. Aviso
antecipadamente ao consulente que traga suas perguntas já formuladas,
escritas ou não, e a consulta se baseará no que ele trouxer. No entanto, alguns
consulentes não têm perguntas. Aí uso métodos como a Mandala Astrológica
ou O Caminho Cigano, que trazem informações gerais sobre a vida do
consulente.

Algumas dicas:

Ler as cartas sobre um tecido preto ajuda no processo de percepção das


mensagens simbólicas. Além disso, a cor preta serve como um escudo
energético.
Se preferir, guarde seus baralhos em saquinhos de tecido. Eu costumo
tirar das caixas somente os que mais uso. A caixa de papelão que acompanha
os baralhos os protege melhor de possíveis danos que o saco de tecido.
Ser tarólogo é o resultado de um processo que envolve bastante estudo.
Não “decore” os significados das cartas e saia por ai lendo tarô pra todo
mundo. Além da possibilidade de suscitar ideias equivocadas nas pessoas
(podendo inclusive gerar sofrimentos desnecessários ou expectativas ilusórias),
a imagem pública que você construirá não será das melhores e por conta
disso, se quiser adotar a profissão de tarólogo, certamente terá grandes
dificuldades. Nesse caso é melhor ser paciente, estudar o máximo possível e
praticar antes com amigos. Só depois se aventure a realizar consultas para
pessoas desconhecidas.
Fuja das pessoas que leem tarô “por intuição” ou que ouvem “vozes” que
falam com elas durante a consulta. Você pode estar diante de um psicopata. As
mensagens que surgem através da intuição são bem mais sutis. Além disso,
reforço: ler tarô exige estudo, experiência, paciência e bom-senso.
Não tenho dúvidas que um tarólogo surgirá em você após meses de
estudo e um tarólogo profissional, após anos, não pela capacidade, mas
porque há muitas lições a serem aprendidas e sempre haverá mais. Imagine
um médico praticando medicina após dois anos de faculdade ou um psicólogo
atendendo depois do quinto semestre. Ler tarô para as pessoas exige, além do
conhecimento dos símbolos, da estrutura do baralho, dos métodos e técnicas,
habilidades comunicativas e uma boa experiência sobre a condição humana.
A prática do tarô, por mais incrível que pareça, é relativamente recente
no Brasil. Agora que o tarô se tornou amplamente difundido, ainda nos falta o
reconhecimento da seriedade e especificidade do baralho. Ainda temos aquela
mentalidade de cursos rápidos. Não é possível aprender tarô em um curso
rápido, no máximo seremos apresentados às cartas. Não se iluda.
52

Para realizar uma consulta ao tarô não é necessário criar um altar sobre
a mesa, pelo contrário, quanto mais elementos estiverem na mesa de consulta,
além do baralho, mais interferências haverá no processo. Se você faz parte de
algum grupo, ordem ou religião que sugere práticas relacionadas ao tarô, como
alguns grupos wiccanos que sugerem colocar símbolos dos quatro elementos
sobre a mesa, procure uma forma de manter o equilíbrio entre o ambiente
necessário à consulta e suas próprias crenças. Eu não uso incenso, por
exemplo. Alguns consulentes são alérgicos, outros simplesmente não gostam.
No máximo coloco uma turmalina negra próxima a mim porque, pessoalmente,
acredito nas propriedades de proteção dessa pedra. Entretanto, minhas
consultas fluem melhor sob pouca iluminação, de preferência sob a luz de
velas.

Um Método Cigano de Cortar o Baralho

Eu aprendi esse método com uma senhora cigana há duas décadas.


Não o utilizo mas compartilho aqui para quem é adepto às práticas ciganas. O
consulente corta o maço de cartas em três montes, respectivamente A, B e C.
O tarólogo coloca suas mãos sobre o monte A e diz “dos teus segredos eu sei”
e o coloca num movimento circular ao lado do monte C. Em seguida repete o
processo com a mão sobre o monte C colocando-o na posição inicial do monte
A. A sequencia dos montes será então C, B e A. O tarólogo então coloca a mão
sobre o primeiro monte, o C, e diz “Jesus, Maria e São José”. Coloca-o em
cima do monte do meio, o B, e repete a jaculatória “Jesus, Maria e São José”.
Coloca os dois montes sobre o último, o A, e repete mais uma vez a jaculatória.
Quando estiver com os três montes na mão, unidos, diz “Jesus de Nazaré”.
Logo em seguida coloca as cartas com a face voltada para baixo em suas
respectivas posições de acordo com o método escolhido.
53

A Semente
Um excelente exercício para se
familiarizar com as cartas é, durante
setenta e oito dias, tirar uma carta por
dia, pela manhã, logo que acordar.
Anote em um diário a carta escolhida,
leia o significado dela, medite sobre a
mensagem e no fim do dia medite
mais um instante sobre a relação
entre a mensagem da carta e os
acontecimentos do dia. Quando for
tirar a carta do dia seguinte, retire do
baralho as cartas que foram
selecionadas nos dias anteriores. Eu
aconselho esse exercício não apenas
durante os setenta e oito dias, mas
durante todos os períodos de grandes
transformações, escolhas ou
superação de obstáculos.

O Equilíbrio Dinâmico
Um método aparentemente simples
mas de grande valor é embaralhar
e cortar o baralho enquanto
mentaliza uma questão, juntar as
cartas, espalhá-las em forma de
leque e escolher duas cartas. Uma
revelará os aspectos internos da
situação, seu significado e
propósito espiritual, enquanto a
Significados das Posições: outra falará do aspecto externo,
como a situação se configurou no
1 – O aspecto interno da situação mundo concreto. O desafio é não
2 – O aspecto da situação relacionado separar os aspectos interno e
ao meio externo mas entender como um é
parte do outro, como a vibração
energética (interno) cria a situação
(externo). Trata-se de um grande
exercício, uma forma de ampliar
significativamente a consciência de
uma situação.
54

A Tríade Cósmica

Nesse método é possível


entender uma situação mais
específica. As três cartas
correspondem às qualidades
astrológicas: cardinal, fixo e
mutável. Também associado às
três pontas do tridente de Shiva,
aqui vemos o que causou a
situação, o que a mantém e
qual a melhor maneira de
transformá-la. Siga os
procedimentos costumeiros,
embaralhar e cortar
mentalizando a questão e
escolher as três cartas.

Significados das Posições:

1 – O que deu origem à situação


2 – O que mantém a situação no momento
atual
3 – O que poderá transformar a situação
55

Os Quatro Mundos

Método baseado na concepção


cabalística dos quatro mundos, nos
permite entender uma situação em
suas quatro dimensões: literal,
simbólica, comparada e oculta ou
iniciática.

Significados das Posições:

1 – O aspecto espiritual mais elevado, o lado oculto.


2 – Como a situação se relaciona com o meio. O contexto.
3 – O significado simbólico da situação, a lição a ser aprendida.
4 – A situação em sua forma visível, os fatos.
56

O Pentagrama

Um método mais complexo no


qual podemos analisar o
momento do consulente. Terra
se refere ao dinheiro e trabalho,
ar aos estudos, atividades
intelectuais e dificuldades a
serem superadas, água ao
amor, família e amigos
próximos, fogo ao objetivos e
conquistas em geral e éter ao
lado espiritual, o centro em
torno do qual as outras cartas
“giram”.

Significados das Posições:

1 – Éter: a quintessência
2 – Fogo: espiritual, intuição, vontade
3 – Água: emocional, sentimento
4 – Ar: mental, pensamento
5 – Terra: físico, sensação
57

Outra tiragem por cinco cartas

Separe os arcanos maiores,


embaralhe-os e corte com a
mão direita em dois montes (ou
o consulente corta, se a consulta
for para outra pessoa). O monte
que estava por baixo deve ser
colocado sobre o outro. Escolha
um número de um a vinte e dois
(novamente, se a consulta for
feita para outra pessoa, o
consulente escolhe o número).
De cima para baixo, com a face
das cartas voltadas para baixo,
conte as cartas até achar a que
se encontra na posição
numérica referente ao número
escolhido. Por exemplo, se o
número foi cinco, pegue a quinta
carta de cima para baixo.
Coloque a carta na posição um.
Refaça o processo até a quarta
carta. Em seguida some os
quatro números escolhidos para
obter a quinta carta. Se o
número for maior que vinte e
dois, some seus dígitos. Por
exemplo, se o resultado for
quarenta e cinco, some quatro
mais cinco e o novo número
será nove. Coloque a quinta
carta na posição indicada.

Significados das Posições:

1 – O que favorece, os recursos e


habilidades.
2 – O que atrapalha, os pensamentos,
sentimentos e ações que dificultam a
realização.
3 – O que deve ser feito.
4 – O resultado.
5 – O centro da questão, a partir do qual as
outras cartas devem ser interpretadas.
58

A Estrela dos Elfos

Gosto bastante desse


método, que oferece três
possibilidades distintas de
interpretação. Na primeira
podemos fazer a leitura do
momento do consulente
em diversas áreas de sua
vida, conforme descrito no
significado das posições.
Na segunda, podemos
interpretar uma questão
específica sob sete
aspectos diferentes,
também nos orientando
pelo significado
apresentado. Na terceira
podemos fazer a previsão
para uma semana toda
sendo que cada carta se
relacionaria a um dia

Significados das Posições:

1 – Sol: propósito espiritual, criatividade, vida


financeira. Domingo.
2 – Lua: capacidade de adaptação, emoções,
mudanças, saúde. Segunda-feira
3 – Marte: energia, sexualidade, força de vontade,
cirurgias. Terça-feira
4 – Mercúrio: comércio, comunicação, viagens
curtas, intelecto. Quarta-feira.
5 – Júpiter: possibilidades de crescimento,
expansão, viagens longas, filosofia de vida.
Quinta-feira,
6 – Vênus: relacionamentos, prazeres, arte,
beleza, afeição. Sexta-feira.
7 – Saturno: problemas relacionados às dívidas,
estrutura, limites e lições cármicas, trabalho, o
mestre. Sábado.
59

Os Sete Chakras
Quando a questão do cliente é
relacionada à saúde física ou energética
imediatamente uso o método de análise
dos chakras, que são centros de
captação, armazenamento e distribuição
de energia dos nossos corpos. A saúde
está absolutamente ligada ao equilíbrio e
alinhamento dos chakras. Se um chakra
está em desarmonia, isso reverberará por
todos os outros corpos produzindo a
enfermidade. Geralmente o que
desequilibra um chakra são nossos
pensamentos e sentimentos. Há como
harmonizá-los, mas se a origem da
desarmonia não for corrigida, ou seja, se
não fizermos nossa higiene mental e
emocional diárias, será como colocar mais
água em um caneco furado.

Significados das Posições:

7 – Transcendência
6 – Inspiração, autoconhecimento
5 – Conhecimento, expressão
criativa
4 – Amor
3 – Poder, identidade e
individualidade
2 – Prazer, sexualidade
1 – Segurança, sobrevivência
60

A Árvore da Vida
Outro método de análise geral,
dessa vez baseado na Árvore da
Vida, da Cabalá. Para extrair o
máximo desse método sugiro
uma pesquisa mais ampla sobre
o conceito de Árvore da Vida e
as associações de cada uma de
suas esferas.

Significados das Posições:

1 – Aspecto superior
2 – Aspectos invisíveis (força)
3 – Aspectos visíveis (forma)
4 – O que favorece, o que
precisa ser desenvolvido
5 – O que dificulta, o que precisa
ser abandonado
6 – Conquistas ou conselhos
7 – Sentimentos
8 – Pensamentos
9 – Personalidade
10 – Corpo físico
61

A Cruz Celta

Existem muitas variações desse


método, que nos países de língua
inglesa é o mais popular. A que
ensino aqui é uma possibilidade
mas não a única. O consulente
embaralha os arcanos maiores
enquanto mentaliza a pergunta,
corta o maço em dois e não toca
mais no baralho. O tarólogo une os
maços colocando o que estava
embaixo sobre o outro e dispõe as
dez primeiras cartas nas posições
indicadas. A primeira percepção
geral é a das cartas do círculo e a
das cartas da coluna, que se
Significados das Posições: complementam. No geral o círculo
representa os aspectos lunares da
1 – O presente situação, aquilo que é pessoal,
2 – As dificuldades atuais intuitivo. A linha representa o
3 – As forças ocultas aspecto solar, racional, aquilo que
4 – O que pode ser visto só se realiza ao ser compartilhado.
5 – As influências do passado Depois de sentir os dois aspectos,
6 – As possibilidades do futuro interprete as cartas uma a uma.
7 – O consulente
8 – O meio
9 – O que deve ser feito
10 – Resultado
62

A Mandala Astrológica
Método baseado nas casas
astrológicas, ideal para fazer
uma análise geral da vida do
consulente. Pode ser realizado
somente com os arcanos
maiores; com dois círculos
concêntricos, um formado
pelos arcanos maiores e outro
pelos arcanos menores ou
pelos arcanos menores (use
trinta e seis cartas, retire do
baralho os cavaleiros, dois,
três, quatro e cinco). Nesse
caso faça três círculos
concêntricos, usando as trinta
e seis cartas, sendo que o
círculo mais interno representa
Significados das Posições: o passado, o do meio o
presente e o externo o futuro.
1 – Personalidade Se quiser, use o baralho
2 – Posses, fontes de renda Lenormand, que já possui as
3 – Comunicação, irmãos trinta e seis cartas (lembre-se
4 – Lar, família, os pais que o significado das cartas do
5 – Filhos, diversão baralho Lenormand será dado
6 – Saúde física, trabalho, obrigações no apêndice).
7 – Relacionamentos
8 – Transformações, espiritualidade,
sexualidade
9 – Viagens, educação, filosofia de vida
10 – Carreira, reputação, status, aspirações,
destino
11 – Amigos, vida social
12 – Limitações, saúde mental, provações
63

O Caminho Cigano

Nesse método você


pode usar somente os
arcanos maiores, os
maiores e menores ou
somente os arcanos
menores. Nesse caso
retire as cartas dos
cavaleiros, dois, três,
Significados das Posições:
quatro, cinco, seis e
sete, deixando o
Linha superior – Passado
baralho com trinta e
Linha do meio – Presente
duas cartas. Isso pode
Linha inferior – Futuro
parecer estranho para
Coluna 1 – Personalidade
algumas pessoas mas
Coluna 2 – Amor
entre os ciganos usar os
Coluna 3 – Família
baralhos de trinta e
Coluna 4 – Amigos
duas ou trinta e seis
Coluna 5 – Saúde
cartas (nesse caso os
Coluna 6 – Trabalho
sete permanecem) é
Coluna 7 – Dinheiro
bem comum. O baralho
cigano é, na verdade, o
baralho de trinta e seis
cartas ilustrado com
imagens segundo os
significados atribuídos
às cartas por Etteilla, o
famoso cartomante
francês que viveu no
século XVIII. Para usar
esse método embaralhe
as cartas, peça ao
consulente que corte o
maço em dois, junte-as
e coloque vinte e duas
cartas na posição
indicada.
64

Conclusão

“Se uma joia cair no lago, muitas pessoas cairão na água a fim de recuperá-la,
agitando-a até que se torne turva.
O homem sábio espera que a água se acalme de modo que a joia venha a
brilhar naturalmente,
por si própria.”
Buda Shakyamuni

Se o aluno se reconhecer enquanto indivíduo com níveis de existência


além do material, do concreto, se além de corpo, se perceber mente,
sentimentos e espírito, se abrindo para a dimensão transpessoal, terá cumprido
o objetivo desse curso.

A Alma é o grande Mestre, quem somos quando estamos completos, e é


ela quem sabe quais caminhos devemos percorrer (arcanos maiores) para
alcançar essa totalidade. Os caminhos da Alma nem sempre são fáceis, porém
são gratificantes. A personalidade (cartas da corte) é a identidade que
assumimos em uma vida. Temos muitas vidas, em todas elas somos a mesma
Alma mas em cada vida apenas uma personalidade. A função da
personalidade é desenvolver as ferramentas necessárias à nossa existência no
mundo concreto (representadas no tarô pelos arcanos menores). É a
personalidade, cujo centro é chamado de ego, que nos faz prestar atenção nos
dois lados da rua antes de atravessarmos. Sem ego estaríamos desprotegidos.
Porém, por ser o responsável pela nossa integridade física, mental e
emocional, mas não ser inteiro, não ver o Todo, o ego se esquece de nosso
trabalho espiritual. Como uma mãe superprotetora o ego nos distancia
constantemente dos caminhos da Alma porque são sempre estranhos à sua
natureza. A Alma não é lógica, racional, linear. Seu mecanismo de ação é
intuitivo. Enquanto o ego quer explicar com fórmulas matemáticas a Alma é
aquela voz interior que faz o peito doer quando algo não vai bem e que nos faz
acordar no meio da noite exaltados numa felicidade sem explicação, com o
coração aberto, cheio de Amor. A Alma conversa conosco através de símbolos.
Quando a personalidade se distancia do caminho da Alma cria-se um conflito
que resulta em doença física, mental e emocional. O tarô é uma ferramenta de
transformação, que nos aproxima dos desígnios da Alma.
65

Apêndice

Resumo dos Significados Divinatórios

Arcanos Maiores

O Louco – pode se referir a dois tipos de loucura: a loucura santa ou a


insanidade. O louco no início do processo perdeu a noção de sua
verdade. Suas prioridades são estabelecidas segundo critérios externos
às suas próprias intenções, à sua busca. Ele caminha rumo a um
precipício e pode cair. Por outro lado, no fim do processo, o louco tem
uma forma de perceber e agir que já não são mais compreendidas pelas
pessoas ao seu redor porque ele se libertou de modelos pré-
determinados. As camadas mais primitivas de sua alma dialogam com
ele. Ele se tornou o santo andarilho, o peregrino que faz de sua própria
vida um Caminho Sagrado.

1. O Mago – denota recursos, astúcia, magnetismo. O Mago sabe como


prender a atenção das pessoas e dependendo de suas intenções pode
usar essa habilidade para interferir positivamente ou manipular sua
plateia. Quando o Mago se alinha ao Propósito Maior de sua existência,
se torna o Mestre.
2. A Sacerdotisa – está relacionada às mudanças, às fases da lua e à
sabedoria interior.
3. A Imperatriz – carta da alegria, das coisas belas, do requinte. Também
pode indicar frivolidade e desperdício.
4. O Imperador – carta das conquistas e da ambição.
5. O Hierofante – todo tipo de conhecimento, principalmente os que
conduzem ao crescimento espiritual, estudos, dedicação, disciplina.
6. Os Amantes – necessidade urgente de fazer uma escolha, amor
romântico, inspiração.
7. O Carro – vitória, sucesso, orgulho, presunção.
8. A Força – coragem, controle, magnetismo sexual.
9. O Ermitão – caminho lento, permanente e guiado pela sabedoria interna.
10. A Roda da Fortuna – sorte, predestinação, mudança.
11. A Justiça – equilíbrio, imparcialidade, vitória em disputas.
12. O Enforcado – perda, sofrimento, punição, pagamento de débitos
cármicos.
13. A Morte – regeneração, tempo, transformação.
14. A Temperança – união, parcerias, realização.
15. O Diabo – obsessão, cegueira, avareza.
16. A Torre – remoção de obstáculos através de destruição, conflitos,
separações.
17. A Estrela – esperança e fé, auxílio espiritual.
18. A Lua – ilusão, ingenuidade, mentiras.
19. O Sol – ganhos, revelações, ascensão, arrogância.
20. O Julgamento – renascimento, uma situação que se configura sem
possibilidade de retrocesso, decisões conclusivas.
21. O Mundo – o mundo material, o ambiente, conclusões, síntese.
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Arcanos Menores

Paus Copas Ouros Espadas


Altivez, Romantismo e Inteligência,
Trabalho,
impetuosidade, entusiasmo, coragem,
Rei nobreza, sedução e habilidade,
densidade, avareza,
ciúmes.
autoritarismo. manipulação. dominação.
Imaginação fértil,
Firmeza,
capacidade de Perspicácia, Impetuosidade,
magnetismo,
Rainha obstinação,
perceber as coisas agilidade, timidez, charme,
bonitas da vida, crueldade. melancolia.
dominação.
virtuosidade.
Expansão, ganhos,
Generosidade, Pessoa amável, Idealismo, pessoa calma que
Cavaleiro nobreza, crueldade firme e corajosa. desconfiança, poder quando provocada
e preconceito. Pode ser impiedosa. de destruição. se torna
monstruosa.
Dinamismo e Doçura e beleza,
Generosidade,
inteligência, desejo pessoa sonhadora,
Valete de vingança e bondosa, às vezes
Jovem forte e sábio. benevolência,
consumismo.
superficialidade. egoísta.
Injustiça por parte
Objetivo alcançado, Esforços em vão,
do consulente, Fortuna, riqueza,
Dez dominação sobre os
fruição dos ruína, derrota,
velhice.
resultados. perdas.
outros, opressão.
Força, capacidade Desejos realizados,
Ganhos, herança,
de recuperação, sucesso. Críticas
Nove momento de dúvida por parte das
Doenças, dor. talvez
desonestidade.
sucedido por vitória. pessoas próximas.
Mensagens, Obstáculos,
Mudança de planos,
acontecimentos limitações, Minúcia, habilidade,
resultados que não
Oito rápidos,
satisfazem,
obsessão com perspicácia,
inesperados, detalhes que pequenos ganhos.
instabilidade.
liberdade. atrapalha.
Promessas não
Adversários, cumpridas,
Instabilidade, risco Exploração, perda
Sete coragem, sorte em violência,
de vacilação. da dignidade.
disputas. desperdício de
energia.
Início das
Ganhos, prazer, Trabalho, viagem.
conquistas, Prosperidade,
Seis trabalho
contenção,
Ansiedade sucedida
nobreza, vaidade.
reconhecido. por sucesso.
ingratidão.
Competição, Decepções,
Perdas, sabotagem, Perdas, ansiedade,
Cinco imprudência, conflitos em
difamação. dívidas.
desejo, crueldade. relacionamentos.
Ganhos, influência,
Período de
Alegrias com algum mas também
Conclusão, recuperação e
Quatro descanso, fruição.
inconveniente,
descanso sucedido
avareza,
sucesso temporário. preconceito e
por conflitos.
descontentamento.
Débitos pagos,
Riqueza, Celebração, prazer, Discórdia, tristeza,
Três arrogância, poder. generosidade. separação.
transações
comerciais, utopia.
Equilíbrio dinâmico,
Coragem, ousadia, Amor, união, Paz, solidariedade,
Dois domínio. homoerotismo. fim de conflitos.
mudança,
movimento.
Grande poder,
Conquistas
Às Força, energia. Beleza, fertilidade. discernimento,
materiais, poder.
justiça.
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Baralho Lenormand

Carta do
Número Ilustração Significado Resumido
Baralho Comum
Notícias de um local distante, chegada de
01 O Cavaleiro 09 de Copas pessoas ou novidades que trazem
mudanças.
Problemas que se convertem em
02 O Trevo 06 de Ouros oportunidades, boa sorte, novas chances.
03 O Navio 10 de Espadas Viagens, mudanças.
Questões domésticas, assuntos pessoais,
04 A Casa Rei de Copas imóveis, pequenos empreendimentos.
05 As Árvores 07 de Copas Saúde, energia, vigor.
Obstáculos, dúvidas, presença de pessoas
06 As Nuvens Rei de Paus com energia estranha.
07 A Serpente Rainha de Paus Traição, mentira, ciúmes, decepção.
08 O Caixão 09 de Ouros Melancolia, perdas, pessimismo.
09 O Ramalhete Rainha de Espadas Abundância, saciedade, contentamento.
10 A Foice Valete de Ouros Acidentes, cirurgias, rompimentos.
11 O Chicote Valete de Paus Violência, discussão, energia sexual., rigor.
Comunicação, parcerias, viagens curtas,
12 Os Pássaros 07 de Ouros negociações concretizadas.
13 A Criança Valete de Espadas Sinceridade, imaturidade, simpatia.
14 A Raposa 09 de Paus Deslealdade, armadilhas, sabotagem.
Inveja, ciúmes, proteção, entrada de
15 O Urso 10 de Paus dinheiro.
16 A Estrela 06 de Copas Sucesso, boa sorte, reconhecimento.
17 A Cegonha Rainha de Copas Mudança de casa, gravidez, melhorias.
Os amigos, lealdade, confiança,
18 O Cão 10 de Copas estabilidade.
19 A Torre 06 de Espadas Elevação, proteção, longa vida.
20 O Jardim 08 de Espadas Reunião, atividades públicas.
21 A Montanha 08 de Paus Obstáculos, adversários.
Escolhas, decisões importantes,
22 O Caminho Rainha de Ouros possibilidades.
Furtos, doenças sem gravidade,
23 Os Ratos 07 de Paus preocupações.
24 O Coração Valete de Copas Amor, romance, felicidade.
25 O Anel Ás de Paus Casamento, parcerias, contratos.
Novos conhecimentos, mistérios revelados,
26 O Livro 10 de Ouros segredos desvendados, surpresas.
27 A Carta 07 de Espadas Notícias, documentos, diplomas.
28 O Homem Ás de Copas Um homem.
29 A Mulher Ás de Espadas Uma mulher.
30 Os Lírios Rei de Espadas Satisfação, apoio, promoções.
31 O Sol Ás de Ouros Otimismo, sucesso, felicidade.
32 A Lua 08 de Copas Emoções, romances, mediunidade.
Soluções de problemas, respostas,
33 A Chave 08 de Ouros reviravoltas.
34 Os Peixes Rei de Ouros Comércio, trabalho, entrada de dinheiro.
Segurança, estabilidade, perseverança,
35 A Âncora 09 de Espadas determinação.
As limitações impostas pelas condições
materiais, problemas que impedem o
desenrolar de uma situação mas que não
36 A Cruz 06 de Paus podem ser mudados por razões cármicas,
aquilo que deve ser aceito com resignação e
humildade. O que está escrito no Livro da
Vida. Makhtub.
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Bibliografia

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ELIADE, M. Imagens e símbolos: ensaio sobre o simbolismo mágico-religioso.
1ª. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991
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JANSEN, E. R. O livro das imagens hinduístas: deuses, manifestações e seus
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KASTRUP, A.; ADIB, L. A vida pelo tarot. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.
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VON FRANZ, M. L. A individuação nos contos de fada. São Paulo: Paulinas,
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Weiser, Inc., 1990.

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