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2019
Copyright © 2019 Editora Livraria da Física
1ª Edição
Bibliografia.
ISBN 978-85-7861-632-8
19-30386 CDD-523.8
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida
sejam quais forem os meios empregados sem a permissão da Editora.
Aos infratores aplicam-se as sanções previstas nos artigos 102, 104, 106 e 107
da Lei Nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998
A
Educação é para este autor um longo caminho, no qual as mãos
de Paulo Bretones, Luiz Carlos Jafelice, Lys Figueredo, Marcelo
Porto Allen e Nelson Vani Leister serviram de guia inestimá-
vel. Agradeço também a minhas alunas Mônica Bandecchi e Karina
Brasil pela presença e esforços que ajudaram a elaborar e definir
vários tópicos deste texto. Os inúmeros colegas dedicados partici-
pantes nos SNEAs e atividades similares serviram de inspiração
e exemplo, muito em especial meu querido amigo e mentor Juan
Bernardino Marques Barrio que nos deixou no zenit da sua vida.
Sumário
O
século 21 está sendo denominado “o século da Biologia”,
mas poderia também ser chamado do “século da Astrofísica”.
Os avanços no estudo do Cosmos e seus componentes têm
sido muito grandes, e o futuro promete ainda mais. No entanto, a
Educação científica no Ensino Médio está parada em algum lugar
do final do século 19, omitindo quase toda a Mecânica Quântica,
Relatividade e todos seus desdobramentos dos programas de estudo.
A Astrofísica Estelar é uma disciplina onde este problema se sente
com força: existem assim várias razões para abordar as estrelas na
sala de aula: talvez a primeira seja a “novidade” que trazem e o inte-
resse espontâneo dos alunos pelo céu e o Cosmos. Mas também por-
que as estrelas integram transversalmente conteúdos separados nos
programas na Física, Química, Matemática e História, servindo de
“panela” interdisciplinar de amplo alcance. Finalmente, nas estre-
las estão presentes algumas das questões que ocupam a Humanidade
por muitos séculos, importantes para o devenir da nossa própria
História e seu futuro. Esta monografia tem a missão de auxiliar os
professores que queiram contrariar esta corrente, expondo os conte-
údos e sugerindo atividades e discussões a respeito. A flexibilidade
para montar e inserir estes no currículo escolar corre por conta de
cada um, embora haveria material para, pelo menos, um ano inteiro.
Boa leitura e melhor aplicação.
J.E.H., Guarujá, Julho de 2019
CAPÍTULO 1
É
possível afirmar sem temor a errar que a curiosidade dos seres
humanos pelos céus é muito antiga e precede à civilização
mesma. A partir do estabelecimento da agricultura, há uns 10 000
anos, os povos que deixaram a vida nômade precisaram desenvolver
conhecimento organizado das estações do ano e outros fenômenos
celestes para semear, cultivar e coletar. Dos fragmentos históricos
que nos chegaram, se deduz que havia uma relação muito próxima
entre a vida destes povos e os céus.
No período Neolítico, o assentamento que a Agricultura pro-
moveu levou também ao desenvolvimento das grandes civilizações
do Mundo Antigo. Existe evidência de que no Mundo Antigo a
Astronomia e a Astrologia eram completamente simbióticas. A prá-
tica das duas era, em geral, exercida por uma classe de sacerdotes-
-mágicos muito próxima aos reis e imperadores, a exemplo do que
aconteceu na Suméria e Egito. Mas este viés que hoje chamaríamos
de “místico” na cosmovisão antiga não impediu o desenvolvimento
de observações e idéias objetivas avançadas a respeito dos céus,
estes últimos necessários para interpretar sua influência na própria
Terra. Sem nenhuma pretensão de completeza, vamos enumerar
algumas das visões mais interessantes dos povos antigos a respeito
das estrelas que aqui nos ocupam.
A astronomia chinesa é a única que apresenta mais de 5000
anos de observações e desenvolvimentos continuados, por exem-
plo, o mais antigo registro de um eclipse solar conhecido, no ano
14 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Fig. 1.1. Carta estelar chinesa na região do Pólo Norte da dinastia Tang, datada em
705-710 A.D. Três diferentes cores foram usadas para as constelações. Ao total, as
cartas completas contém umas 1300 estrelas e contém material do catálogo de Gan
e Shi somado a observações posteriores.
Capítulo 1 15
Fig. 1.2. Um mosaico romano do século III d.C. com a figura de Anaximandro,
conservado em Johannisstrasse, Alemanha.
a questão das estrelas, com a conclusão que estas eram outros sóis,
acrescentada por ele da presença de planetas e seres vivos no seu
entorno. Esta pluralidade trouxe sérios problemas para Bruno, final-
mente executado em Roma pela Igreja no ano 1600 (Fig. 1.3) sob
acusação de heresia.
Fig. 1.3. Estátua dedicada a Giordano Bruno, localizada no Campo dei Fiori, Roma
estrelas fracas que ele viu pela primeira vez foi tão numerosa que
não se deu ao luxo de gastar muito tempo nelas, já que havia outros
assuntos vários de importância a serem abordados.
Fig. 1.4. Desenho das Plêiades feito por Galileu, publicado na obra Sidereus
Nuncius (“O Mensageiro das Estrelas”) de 1610 baseado nas observações próprias
com a luneta que ele adaptou para a Astronomia.
Fig. 1.5. O conceito e medida da paralaxe estelar. Em duas datas separadas por
seis meses (Janeiro e Julho na figura), a Terra está em duas posições separadas por
umas duas unidades astronômicas. Algumas estrelas parecem se deslocar respeito
das outras, que estão muito mais longe (“imóveis”), por efeito da linha de visada.
O deslocamento angular (marcado com a em amarelo) permite medir a distância D
até a estrela que se “mexeu”. Se o ângulo é medido em segundos de arco, D = 1/a
da a distância em parsecs (1 pc = 3,26 anos – luz). De fato, a definição de parsec é
a distância cujo paralaxe resulta exatamente de 1 segundo de arco.
O mais importante
As estrelas balizaram a Humanidade por muitos séculos,
mas a visão que prevaleceu a respeito da sua natureza e carac-
terísticas era bastante diferente para cada cultura. As distâncias
estelares e a natureza exata das estrelas começou a ficar clara
no Ocidente a partir do Renascimento, mas somente quando F.
Bessel mediu a paralaxe de uma estrela estas distâncias foram
confirmadas. A composição estelar deveu esperar ainda pelos
estudos dos espectros obtidos com a dispersão da luz que
Newton começou, técnica importante que será objeto de estudo
nos Capítulos seguintes.
CAPÍTULO 2
O
fato que a maior parte do nosso conhecimento a respeito do
Universo, e das estrelas em particular, tenha sido obtido através
das observações ópticas (acrescentadas depois de instrumentos
que estenderam o rango para o infravermelho e ultravioleta, e poste-
riormente para todas as faixas do espectro...) merece uma discussão
que envolva e fundamente o quê conhecemos da luz e como isso foi
obtido.
No Mundo Antigo havia um consenso geral, como expressado,
por exemplo, na obra de Lucrecio (55 a.C.) De Rerum Natura (Fig.
2.1) em considerar a luz como de propagação instantânea (veloci-
dade infinita), feita de pequenas partículas (corpúsculos) e origi-
nada no olho do observador até chegar no objeto observado. Esta
concepção se manteve com poucas variantes até o século XII no
Ocidente, quando o pensador e filósofo árabe Averróis escreve uma
longa crítica aos trabalhos de Aristóteles onde contesta várias destas
características da luz. Abre-se assim uma via para o entendimento
da luz da forma “moderna”, a qual demorará séculos para chegar a
sua forma atual.
26 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Fig. 2.1. Busto do filósofo Lucrécio (esquerda), autor do poema De Rerum Natura
(Da Natureza das Coisas) no séulo I a.C. (direita).
Fig. 2.2. O astrônomo (esquerda) mede o mesmo fluxo luminoso de uma lâmpada
de L1 = 25W a D1 = 2m de distância que de uma segunda lâmpada de a de distância.
Sem informação independente da distância D, não terá como saber a potência
da lâmpada. Isto é conseqüência do chamado Teorema de Gauss, que resulta em
.
. (2.1)
Fig.2.3. O logaritmo do fluxo da luz estelar F, função que cresce suavemente conforme
F aumenta. Hiparco e seus seguidores adotaram implicitamente esta forma ao definir
o intervalo (escala) de 5 magnitudes visíveis, expressada matematicamente na eq.
(2.1) com posterioridade. Esta definição continua sendo utilizada até hoje. Note-se
que quando o fluxo F resulta menor que aquele da referência F0, a função é negativa
e a magnitude aparente m cresce numericamente, correndo assintoticamente junto
ao eixo vertical.
(2.3)
(2.5)
o que mostrava que a energia emitida teria que crescer sem limites
para freqüências altas, o qual e físicamente impossível porque a
quantidade de energia radiada não pode ser infinita. Esta inconsis-
tência (ou “catástrofe” nas palavras de P. Ehrenfest) apontava para
algum erro sério nas hipóteses básicas, o qual precisava ser identifi-
cado e corrigido (Eisberg e Resnick, 1979).
34 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
E = hν (2.6)
(2.7)
. (2.8)
Capítulo 2 35
(2.9)
(2.10)
(2.11)
(2.12)
(2.13)
Fig. 2.5. Vários corpos negros de diferentes temperaturas indicadas (de 300 K da
inferior até 107 K na superior). Note-se o deslocamento do máximo da emissão com
a temperatura crescente.
(2.14)
(2.15)
Fig. 2.7. O espectro real (curva irregular) do Sol e o modelo de um corpo negro ideal
com T = 5800 K (linha suave). As diferenças decorrem de processos de absorção,
mas são pequenas e podem ser ignoradas.
A luz e os espectros
Novidades de grande importância para a Astronomia já
tinham acontecido nos começos do século 19, quando Wollaston
e Fraunhöfer analisaram a luz do Sol utilizando a decomposição
espectral de Newton, utilizando grades de dispersão da luz mais
modernas. Observaram que as faixas de cores estavam atravessadas
por numerosas linhas, ou seja, locais definidos onde faltava fluxo
40 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Fig. 2.8. O espectro solar e algumas das linhas mais notórias indicadas pelas flechas.
Fig. 2.9. Três casos estudados por Bunsen e Kirchoff, e que levaram à formulação
das Leis de Kirchoff da radiação, o resultado é bem diferente para cada configuração
da fonte, com e sem absorvedor.
(2.16)
(2.17)
(2.18)
O mais importante
Embora hoje existam instrumentos e técnicas que detectam
“luz” não visível, e até partículas que nada têm a ver com elas
(neutrinos, etc.), a Astronomia se desenvolveu até o século 20
pela observação da luz das estrelas. Começando com Hiparco
o brilho estelar foi classificado, primeiro a “olho nu”, e depois
mais formalmente para comparar as magnitudes em várias cores
(bandas). Faltava ainda uma compreensão da natureza da emis-
são estelar, a qual resultou esclarecida assim que o conceito
de “pacote” discreto de luz (o fóton) foi postulado. O fracasso
da Física Clássica em explicar a chamada radiação de corpo
negro (do qual as estrelas são um exemplo fundamental) levou
ao desenvolvimento por Planck e outros da primeira forma
quântica para a emissão, a chamada distribuição de Planck. O
máximo desta indica precisamente onde escoa a maior parte dos
fótons, o qual explica como é que uma estrela emitindo segundo
a distribuição de Planck revela sua temperatura. A descoberta
das linhas de absorção nos começos do século 19 revelou que
estas são uma espécie de “digital” dos elementos que existem na
atmosfera da estrela, conclusão que foi possível de compreender
e quantificar quando Bohr desenvolveu o modelo do átomo que
leva seu nome. Farta informação viaja nos pouquíssimos fótons
que coletamos das estrelas, este último o passo principal para
compreendê-las e analisá-las.
CAPÍTULO 3
C
omo vimos no Capítulo 2, a identificação de linhas nos espec-
tros no Sol por Wollaston e Fraunhöfer promoveu o estudo dos
gases em laboratório, e culminou na formulação das Leis de
Kirchoff que são importantes para entender a natureza deste fenô-
meno. Depois de achada a distribuição do corpo negro, e de conferir
que o Sol é com boa aproximação um exemplo, há uma forma inte-
ressante de visualizar estas linhas: podemos agora graficar a inten-
sidade luminosa I vs. o comprimento de onda λ (Fig. 3.1). A forma
geral do espectro, não fosse pela “falta” de fluxo observada por
Wollaston e Fraunhöfer, corresponderia com boa exatidão à expres-
são da eq.(2.13), com T a temperatura da superfície do Sol. Mas
esta absorção de fluxo produz essas quedas na intensidade (dips)
que evidenciam a falta de fótons respeito do chamado contínuo, ou
curva ideal do corpo negro, predita pela eq.(2.13).
48 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Fig. 3.3. Intensidade relativa das linhas como função do tipo espectral para diferentes
estrelas. Como exemplo, o tipo espectral G correspondente ao Sol apresentará as
linhas do hidrogênio como as mais intensas, com contribuições menos intensas de
metais neutros e ionizados respectivamente.
Fig. 3.4. Um campo estelar mostrando as estrelas em cores reais, as que veria
um olho humano enxergando pelo ocular. Vemos uma variedade de cores, agora
possíveis de serem associados com as temperaturas efetivas
(3.1)
(3.2)
Watts (3.3)
estelar foi desenvolvida com base nas leis da Física para explicar e
racionalizar estas observações, como veremos logo a seguir.
(3.4)
Fig. 3.8. As forças que atuamnuma concha esférica de espessura infinitesimal dr.
(3.5)
(3.6)
(3.7)
(3.8)
(3.9)
(3.10)
(3.11)
Fig. 3.11. O potencial central efetivo no problema da fusão. A colisão de dois prótons
é tratada como o de uma partícula de massa que se aproxima da direita (grandes r)
nesse potencial fixo. A região repulsiva decorrente da interação Coulombiana está
em cor cinza, onde as forças nucleares dominam e efetivarão a fusão.
(3.12)
Fig. 3.13. A fusão do hidrogênio em hélio tal como apresentada na maioria dos textos
básicos. Este quadro supersimplificado esconde boa parte dos fatos importantes da
fusão, embora seja verdadeiro em termos do estado inicial-estado final.
Fig. 3.14. A forma mais comum da fusão no Sol e muitas estrelas, uma seqüência
denominada ciclo PPI. Note-se que somente o segundo estágio da fusão é “fusão
de hidrogênio em hélio”. O primeiro e decisivo estágio que liga dois prótons
(esquerda) precisa de decaimentos e provoca que, de todas as colisões, 1 em 1028
aproximadamente seja bem-sucedida para continuar o ciclo.
Fig. 3.15. O ciclo PPII, que também começa com a produção do deuteron (parte
superior), mas onde a produção de seguido do decaimento em permite
finalizar com dois núcleos de . Esta forma acontece das vezes. A
contribuição do PPIII é muito pequena e não se mostra.
Fig. 3.16. O ramo mais importante do ciclo catalítico CNO. Uma série de capturas e
decaimentos encima de carbono, nitrogênio e oxigênio culminam com a produção
de a partir de quatro prótons “consumidos” (os que entram na seqüência). O
carbono é “restituído” no último estágio que retorna ao “começo”.
(3.13)
(3.14)
a qual precisa agora ser resolvida, em geral, junto às (3.7) e (3.8) pela
presença das variáveis no segundo membro. Mas ainda nos falta
saber como vai se distribuir esta energia gerada na estrela...
(3.15)
(3.16)
(3.17)
Fig. 3.18. Os quatro processos básicos que contribuem para a opacidade. Note-se que
todos eles são, no fundo, “obstáculos” para o fóton inicial que é obrigado a trocar
energia e momento com um elétron, seja este ligado (casos a) e b)) ou livre. Nos três
primeiros o fóton inicial some, já que são processos de absorção. No Compton, o
fóton é espalhado e troca de direção com mudança da sua energia inicial, mas não
some do mapa como nos casos anteriores.
Capítulo 3 75
Fig. 3.19. Um circuito com várias resistências em paralelo como análogo à passagem
dos fótons pelas camadas concêntricas da estrela.
(3.18)
(3.19)
(3.20)
(3.21)
(3.22)
(3.23)
(3.24)
O mais importante
As quantidades básicas que precisamos saber das estrelas
estão “escritas” na luz que emitem, a qual nos da uma ideia
real das temperaturas, raios, composição (da atmosfera) e mas-
sas (acuradas no caso de binárias). Com estes dados precisamos
um esquema matemático que as “construa” como bonecos para
testar se todo confere. A estrutura das estrelas é descrita por
quatro equações diferencias que relacionam os “gradientes” ,
, e com a pressão, temperatura etc. e que, quando resolvi-
das simultaneamente, fornecem o “boneco” almejado (chamado
de modelo pelos astrônomos). É muito importante destacar que
estas equações de estrutura são construídas com a mesma Física
que se aplica nos laboratórios, adaptada para as condições este-
lares mas sem elementos «mágicos». Os bonecos/modelos têm a
obrigação de explicar como «funcionam» as estrelas e também
sua evolução no tempo, tema que será abordado no Capítulo
seguinte. Não haveria Estrutura Estelar sem os desenvolvimen-
tos da Física do século 20, e neste sentido a Astrofísica Estelar é
sua herdeira e seu banco de testes.
CAPÍTULO 4
E
m posse agora de um esquema construido para descrever mate-
maticamente as estrelas, e de um conjunto de observações a
serem explicadas e sistematizadas utilizando aquele, vamos ver
a seguir como a realimentação de teoria e observação leva a um qua-
dro consistente e harmonioso das estrelas, legado dos esforços de
várias gerações de cientistas que vemos hoje em todo seu esplendor.
Começamos por expressar de novo um fato, esperado intuitiva-
mente, e confirmado pelos modelos numéricos: a existência de uma
mudança no mecanismo mais importante de fusão (do ciclo PP para
o CNO) em torno de ʘ causa diferenças (vísiveis) no diagrama HR
e que estão ligadas a estrutura interna. Quando o CNO é o principal
mecanismo de fusão do hidrogênio, sua depedência extrema com a
temperatura causa um perfil de temperatura muito empinado, con-
dição que leva os caroços a superar o gradiente máximo (adiabático)
e provocar a covecção no interior. Nas estrelas onde domina o PP a
região do caroço não é tão extrema, mas a caminho da superfície o
envelope também fica convectivo, e sua extensão convectiva cresce
para dentro conforme a massa da estrela considerada diminui. Por
volta de ʘ, o caroço radiativo some e toda a estrela é convec-
tiva. Assim, na Seqüência Principal inferior as estrelas são con-
vectivas fora e radiativas dentro, enquanto na Seqüência Principal
superior acontece o contrário! A situação é mostrada na Fig. 4.1
84 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Fig. 4.2. A granulação solar em torno de uma mancha solar (de tamanho similar à
Terra...), observada pelo grupo do Institute for Solar Physics, Suécia (https://www.
isf.astro.su.se/). Os “grãos” da figura são as células convectivas do processo.
Fig. 4.3. As quatro funções solução do problema da estrutura estelar para o caso do
Sol, ou seja, impondo composição solar e massa (vide texto).
Capítulo 4 87
, (4.1)
, (4.2)
para obter
, (4.3)
que difere em um fator 1/3 da expressão exata por não termos feito
realmente uma integração da eq.(3.7). De fato em todas estas expres-
sões há diferenças de fatores numéricos tais como etc. igno-
rados em favor de uma simplificação que resulta em uma melhor
visualização da relação entre a física do problema e sua descrição
matemática, coisa que consideramos da maior importância para alu-
nos do Ensino Médio e que facilita muito a tarefa do professor.
A eq.(4.1) permite uma compreensão importante de um dos
fatos básicos da estrutura estelar: é evidente que se considerar-
mos , então o raio estelar deve crescer com a massa como
Capítulo 4 89
Temperatura Lumino-
Tipo Massa Raio Temperatura
Efetiva sidade Nome
Espectral ( ) ( ) média ( )
( ) ( )
B0 15,5 6,4 5,3 30 28800 φ1 Orionis
B1 13 6 4,8 30 26000 β Lyræ Aa1
B2 8,3 3,7 4,9 24 3900 1 Scorpii
π Andromedae
B5 6,5 3,8 3,4 12 1136
A
a Coronæ
A0 3,2 2,5 2,8 9,7 74
Borealis A
A5 2,1 1,7 2,7 8 8,7 β Pictoris
F0 1,7 1,3 2,9 6,7 4 γ Virginis
F5 1,3 1,2 2,4 6,4 2,5 η Arietis
G2 1 1 2,2 5,8 1 Sol
G5 0,93 0,93 2,1 5,6 0,8 a Mensae
70 Ophiuchi
K0 0,78 0,85 2 5,3 0,13
A
K5 0,69 0,74 2 4.5 0,16 61 Cygni A
M0 0,47 0,63 1,7 3,5 0,09 Gliese 185
, (4.4)
Capítulo 4 91
Fig. 4.4. Comparação entre os dados me massas e raios da Tabela 1 (pontos) e uma
expressão que decorre de supor uma queda na densidade do tipo
(linha cheia). Isto mostra que o que é suposto a respeito do interior (a queda na
densidade, com certa forma matemática) produz uma das relações observadas, a
qual comprova indiretamente a modelagem.
92 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
, (4.5)
, (4.6)
. (4.7)
. (4.8)
Capítulo 4 95
(4.9)
(4.10)
Capítulo 4 97
(4.11)
onde .
O membro à esquerda da relação , que contém
as propriedades da matéria e a radiação , pode ser escrito
como a soma dos termos de gás e radiação, ambos funções conhe-
cidas de e T, ou seja e . Ao termos a soma
de dois termos bem diferentes, não é óbvio qual é a forma da rela-
ção entre a pressão e a densidade chamada de equação de estado.
Porém, a equação de estado é enormemente simplificada para um
caso especial muito relevante: quando a componente da radiação
é pequena e o transporte de energia no interior estelar é totalmente
convectivo.
Este último problema foi considerado pela primeira vez por
Lord Kelvin, quem considerou estrela em equilíbrio convectivo
adiabático. Nesta situação, onde bolhas de gás sobem e descem
radialmente sem trocar calor com o ambiente até que estão no topo
(ou seja, em toda a trajetória não há troca nenhuma, por hipótese,
esta ocorre somente antes da bolha virar). É um exercício comum
na Termodinâmica elementar encontrar a descrição de uma traje-
tória adiabática nessas condições para um gás ideal, o resultado
é , com e . Lord Kelvin raciocinou que,
como o equilíbrio térmico se mantém ponto a ponto, a pressão e a
densidade devem satisfazer sempre a mesma relação no interior (na
Astronomia é dito que tem a mesma forma funcional de uma relação
politrópica de índice 3/2). Como a hipótese inicial diz a componente
dominante da pressão no interior estelar é a do gás ideal, temos que
(4.12)
(4.13)
(4.14)
(4.15)
(4.16)
100 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Fig. 4.7. Algumas das estrelas mais massivas conhecidas no diagrama HR. A
Seqüência Principal de idade zero com os valores das massas iniciais calculados
teoricamente se mostram na linha preta quase vertical à esquerda. O progenitor da
supernova 1987A cuja massa inicial é estimada em é também indicado.
(4.17)
(4.18)
(4.19)
(4.20)
(4.21)
(4.22)
ou seja
(4.23)
106 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Fig. 4.10. Esquema da trajetória de uma estrela como o Sol no diagrama HR. As
razões físicas para o trecho horizontal e a posterior subida quase vertical são
discutidas no texto.
Fig. 4.11. Esquerda: a sala com estados vazios (cadeiras livres). Direita: todos os
estados estão ocupados e os “elétrons” não podem mudar.
Princípio de Pauli, que diz que não pode haver mais de dois elétrons
ocupando um dos cubinhos (e desde que tenham espínes opostos)
são os que determinam uma nova fonte de pressão, que aumenta
conforme quisermos “apertá-los” ainda mais. Assim, a agitação tér-
mica deixa de ser importante, mas não porque a temperatura seja
baixa (ela é muito grande quando medida em ), mas porque a
degenerescência fornece uma pressão que cresce muito mais rapida-
mente e a domina (Fig. 4.12)
Fig. 4.12. A pressão nos regimes clássico e quântico. Para certa densidade
(linha pontilhada), o gás clássico não mais é a fonte dominante da pressão, a
degenerescência dos elétrons produz uma pressão independente da temperatura
que sobe muito rapidamente e permite a existência de anãs brancas.
(ultra-relativísticos) (4.25)
110 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
(4.26)
Fig. 4.13. Trajetórias de uma estrela de na subida e descida do Ramo das Gigantes,
para se estabelecer na “Seqüência Principal” do hélio como indicado. A saída
posterior do RH ou RC responde à mesma razão física discutida anteriormente para
o caso da Seqüência Principal.
Fig. 4.14. Uma das inúmeras nebulosas planetárias (IC 418) produzidas pelos pulsos
térmicos das estrelas do tipo solar. Imagem do Hubble Space Telescope. Note-se o
caroço (composto de brilhando como um ponto no centro), o qual deve se
converter em uma verdadeira anã branca quando finalmente esfriar.
(4.27)
(4.28)
(4.29)
(4.30)
Fig. 4.15. A estrutura de cebola de uma estrela massiva quando já acendeu todos os
ciclos possíveis para se manter, e que desenvolve um caroço de (elementos em
torno de no seu interior.
116 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
O mais importante
Aplicamos aqui o esquema matemático do Capítulo ante-
rior para obtermos soluções que refletem os interiores estelares
(Sol e outros casos), mas também a Evolução Estelar das estrelas
divididas em dois grandes grupos: as do tipo solar e as de grande
massa. Vimos que a estrutura é diferente para cada caso porque
existe o domínio de um u outro modo das reações nucleares, e
que a Evolução posterior é também diferente (incluído o desfe-
cho/morte da estrela). Mostramos que as equações de estrutura
explicam as relações observadas entre L,M etc. sem ter precisado
integrar o sistema, somente com o auxílio da relação Virial do
reparto da energia. A existência de uma massa máxima e uma
mínima são também decorrência dos ingredientes físicos. Todo
isto é importante e reforça que as nossas ideias a respeito estão
basicamente corretas, não há nada terrivelmente desconhecido
ou misterioso nas estrelas. Finalmente vimos que somos capa-
zes de entender e predizer o quê acontece quando as estrelas
saem da Seqüência Principal rumo a outros setores do diagrama
HR, procurando novos estados de equilíbrio mas já “condena-
das” a terminar suas vidas, ora como nebulosa planetária+anã
branca, ou explodindo para formar uma estrela de nêutrons ou
um buraco negro. Estes “cadáveres” serão estudados no Capítulo
6 logo a seguir.
CAPÍTULO 5
Supernovas
O
s astrônomos chineses detêm o mérito de ter sido os primeiros
que registraram uma supernova (ou “guest star”) no ano 185
A.D. No Ocidente, o registro visual das primeiras supernovas é
muito posterior, no fim da Alta Idade Média com o registro esporá-
dico da supernova do 1006 A.D.. É muito possível que, embora as
supernovas estivessem visíveis, o dogma aristotélico da imutabili-
dade dos céus conspirasse contra seu registro, já que “não poderiam
estar aí”. Alguns relatos muito elípticos de religiososforam inter-
pretados, por exemplo, como registros observacionais da supernova
do ano 393 A.D. Já a supernova do 1054 A.D. (que deu origem à
Nebulosa do Caranguejo) sim foi registrada tanto no Oriente quanto
no Ocidente. Durante o Renascimento a atitude dos astrônomos
tinha mudado muito: tanto Tycho (1572 A.D.) quanto Kepler (1604
A.D.) observaram e estudaram as supernovas que hoje levam seus
nomes e pavimentaram o caminho dos estudos modernos (Clark e
Stephenson, 1977).
122 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Fig. 5.1. Esquerda: imagem (mosaico) da supernova de Kepler no ano 1604 A.D. em
raios X (Chandra), visível (Hubble) e infravermelho (Spitzer) mostrando diferentes
elementos químicos sintetizados no remanescente em cores falsas. O tipo de evento
que deu origem ao remanescente é ainda disputado. Direita: as anotações originais
do Tycho Brahe registrando a evolução do brilho observado da supernova em 1572
A.D que leva hoje seu nome.
original que eles propuseram), os dois grupos eram até então confun-
didos. Baade e Zwicky reconheceram estar lidando com explosões e
fizeram a primeira proposta de classificação observacional, baseada
na presencia ou ausência das linhas de hidrogênio. Segundo eles, a
ausência de hidrogênio no espectro apontava para uma estrela evo-
luída, possivelmente da chamada população II (velha), e a presença
de hidrogênio indicava a explosão de uma estrela de população I
(jovem). Porém, a energia envolvida nas duas era enorme e muito
similar ( ) em ambos os casos. Esta energia
é igual à radiada pelo Sol acesso por 100 bilhões de anos. A dife-
rença dos dois tipos segundo o critério de Baade e Zwicky, e a visão
“moderna” dos progenitores pode ser vista na Fig. 5.2.
(5.1)
(5.2)
Fig. 5.4. Esquerda: uma analogia quotidiana para visualizar o efeito do enrijecimento
súbito da “sopa” de matéria na região interior; o material que cai reverte sua
velocidade pela rigidez encontrada, e forma uma onda de choque na borda da
região interna, representada aqui pela água que volta e molha o operador. Direita:
a onda de choque real calculada para um modelo de cujo caroço tem ;
o choque começa com velocidade positiva (curva superior) e avança em direção à
superfície, mas perde intensidade rapidamente e se inverte depois de
(curvas inferiores com velocidade negativa).
(5.3)
Fig. 5.5. A neutrinosfera na proto-NS. Os neutrinos são emitidos desde esta com a
luminosidade da eq.(5.3), e depois alguns deles interagem com a matéria do choque
“parado” à direita da figura.
(5.4)
(5.5)
Fig. 5.7. Os dois possíveis cenários que permitiriam a ignição do carbono de uma
anã branca. À esquerda, o single-degenerate, onde a anã branca acreta matéria de
uma companheira pós-MS normal, e à direita, o double-degenerate, onde duas anãs
brancas acabam se fusionando depois de um tempo longo onde a órbita decai.
Fig. 5.8. Realidade vs. simulações. Esquerda: cena de um filme de ação onde um
tanque de gasolina explode (enquanto os protagonistas escapam ilesos...). Direita:
simulações de uma explosão de carbono feitas por S. Blinikov e seu grupo,
mostrando as instabilidades fragmentam a frente original em domínios de vários
tamanhos, a exemplo da explosão da esquerda. Isto pode levar a transformação da
combustão em uma detonação muito antes de transcorrer 1s desde a ignição do
carbono em uma anã branca, que responde a mesma descrição matemática utilizada
na combustão da gasolina.
Fig. 5.9. A curva de luz típica de uma SNIa, mostrando a queda depois do máximo
segundo duas inclinações bem diferentes, associadas ao decaimento de níquel em
cobalto e de cobalto em ferro. Sem estas fontes de energia, o decaimento seria muito
rápido e incompatível com as observações.
Fig. 5.10. As curvas de luz de várias SNIa para diferentes redshifts (esquerda), e a
forma obtida depois de aplicadas as correções cosmológicas (direita).
O mais importante
Existem duas classes bem diferentes de supernovas, e a
energia das explosões são similares, mas provem de mecanis-
mos diferentes. Nos começos do século 20 isto não era claro, e
os nomes originais da classificação podem levar a confusão, mas
hoje as coisas são bem mais claras. As supernovas de colapso
extraem energia em última instância da gravitação, colapsando
e ricocheteando o envelope acima do caroço “duro”, e possivel-
mente auxiliadas para explodir pela emissão de neutrinos. As
supernovas termonucleares (tipo Ia) são uma versão “maxi” do
flash de hélio, consumindo toda a anã branca e nunca deixando
remanescente compacto. Pela sua uniformidade das curvas de
luz e seu brilho extremo, foram utilizadas para estudar a expan-
são do próprio Universo (é como se lâmpadas acessas iguais
fossem arrastadas por uma corrente -o fluxo de Hubble-) e reve-
laram que o Universo recente se acelerou. Todos estes tópicos
estão muito ativos na consideração dos astrofísicos de hoje.
CAPÍTULO 6
A
teoria da Evolução Estelar discutida no Capítulo 4 deu subsí-
dios para o problema que agora nos ocupa: os remanescentes
compactos. Discutimos a evolução das estrelas de massa inter-
mediária (tipo solar) e a transição para as estrelas chamadas “de
alta massa”, as quais procedem a explodir depois de uma rápida
evolução final. É importante notar que a existência dos dois tipos
separados pela massa de deve ser também complementada
com uma avaliação do número relativo de estrelas que chegam a
produzir os objetos compactos respectivos (anãs brancas e estrelas
de nêutrons/buracos negros). A Fig. 6.1 mostra a chamada função
inicial de massas (IMF em inglês), ou seja o número de estrelas por
unidade de massa como função da massa, determinada em estudos
vários do entorno local na Via Láctea, aglomerados estelares e outros
sistemas onde é possível uma contagem de um grande número de
estrelas em um conjunto mais ou menos homogêneo (vide Capítulos
7 e 8 a seguir).
144 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Anãs brancas
Friederich Bessel em 1844 foi o pioneiro na determinação cui-
dadosa das órbitas de Sirius e Procyon, constatando que existiam
desvios periódicos sistemáticos, por ele atribuídos à existência
de “companheiras escuras” invisíveis ao telescópio. Nas décadas
seguintes, algumas destas candidatas foram finalmente detectadas,
até com magnitudes bastante elevadas. Uma delas, denominada 40
Eridiani B foi estudada e, para surpresa geral, Russell, Pickering e
Fleming encontraram em 1910 que esta estrela era do tipo espec-
tral A (ou seja, com temperatura efetiva entre 7500-10000 K, muito
“branca”). Ou seja, essa estrela de brilho muito fraco estava, para-
doxalmente, extremamente quente (Holberg, 2009), e resultava um
mistério.
A conclusão mais lógica é que essas estrelas eram muito peque-
nas em tamanho (já que se a luminosidade é , e a tempera-
tura é alta, somente o raio pode diminuir o valor de L). Mas para isto
deveriam ser muito densas, com densidades estimadas de milhares
de vezes a da água. Em 1927 A.S. Eddington expressou este estra-
nhamento com seu estilo humorístico inconfundível:
“...a mensagem da companheira de Sirius quando decodificada
diz: “Estou composta por matéria 3000 vezes mais densa que qual-
quer outra que você possa encontrar. Uma tonelada do meu material
seria um pequeno caroço que caberia em uma caixa de fósforos.”
Que resposta poderíamos dar para essa mensagem? A resposta da
146 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
maioria de nós em 1914 foi: “Cala a boca. Não fala mais besteiras”.”
(tradução do autor)
Eddington implicitamente diz em este parágrafo que existia
a necessidade de idéias novas para entender o comportamento da
matéria a essas densidades. A hipótese de gás clássico ideal não
é nem um pouco razoável aí. O trabalho de R.H. Fowler em 1926
foi pioneiro para o problema da estrutura de Sirius B (Fig. 6.2) e
outras anãs brancas, nome sugerido pela temperatura e raio pre-
sentes. O trabalho de Fowler foi a primeira aplicação astrofísica da
Mecânica Quântica formulada dois anos antes (1924). Estes estudos
iniciais tiveram assim uma perspectiva revolucionária dos labora-
tórios “naturais” da matéria densa que resultam uma das melhores
realizações físicas dessa nova abordagem. Veremos a seguir o ponto
central desta descrição: como é que a matéria densa obtém a pressão
para sustentar a estrela em contra da gravitação no regime de alta
densidade.
(6.1)
. (6.2)
. (6.3)
. (6.4)
(6.5)
. (6.6)
Fig. 6.3. Estrutura estelar “normal” e degenerada: o Sol, se tivesse que ser suportado
pela pressão dos elétrons degenerados, teria o tamanho da direita, conservando sua
massa. A menos da perda do envelope, isto é o que vai acontecer no futuro onde
pelo menos a metade da massa do Sol formará uma anã branca.
(6.7)
(6.8)
(6.9)
(6.10)
(6.11)
(6.12)
Fig. 6.5. As anãs brancas pertencentes ao aglomerado globular NGC 6397. Com
imagens de alta qualidade a identificação é bastante simples (as candidatas são os
pontinhos nos círculos, ampliados abaixo) e pode-se estender o estudo obtendo
espectros complementares.
Capítulo 6 153
. (6.13)
Fig. 6.7. Um espectro de uma anã branca (preto) mostrando múltiplas linhas (esta
absorção se denomina blanketing no jargão astronômico) que resultam em uma
incerteza na determinação da temperatura efetiva . A curva azul é uma estrela
de comparação.
Fig. 6.8. A distribuição de massas obtida por Kepler et al. (2007). Vários máximos
possivelmente associados com cada canal de formação estão presentes.
de Newton (vide eq. 3.7), as estrelas de nêutrons são tão densas que
a Relatividade Geral deve ser empregada. As equações de estrutura
relativística foram obtidas por Tolman, Oppenheimer e Volkoff (ou
TOV, 1939). A equação de equilíbrio hidrostático (3.7), na versão
que inclui as correções da Relatividade Geral é
(6.14)
Fig. 6.11. A relação massa-raio das anãs brancas e estrelas de nêutrons na mesma
escala. Quando considerada a massa de Chandrasekhar precisamos entender que
desde o ponto de vista da microfísica são os elétrons capturados que “neutronizam”
a matéria, a qual não volta a produzir pressão apreciável até estar em densidades
, e há assim um “deserto” em este plano M-R entre as seqüências de anãs
brancas e as de estrelas de nêutrons. As linhas vermelhas horizontais correspondem
às três massas limite (Chandrasekhar, TOV e Rhoades-Ruffini) definidas no texto.
(6.15)
. (6.16)
(6.17)
(6.18)
(6.19)
Fig. 6.18. O remanescente SNR 5.4-1.2, que leva o apelido “o Pato”. O pulsar
PSR B1757-24 nasceu em essa explosão, mas seu elevado movimento próprio fez
com que depois de alguns milhares de anos esteja “escapando” do mesmo. Num
futuro, não haveria como associar os dois, e sito é relevante para o número total de
associações conhecidas.
Fig. 6.19. O aglomerado globular 47 Tuc em raios X, mostrando mais de 300 fontes
que incluem binárias, pulsares de ms e outros (imagem do arquivo do Observatório
Chandra).
Fig. 6.20. Um dos sistemas relativísticos onde o pulsar está evaporando sua
companheira, chamados de viúvas negras na literatura. À esquerda, o desenho
original (1988), à direita, as observações do Chandra e o HST, mostrando como os
autores tinham acertado. A matéria voando para o espaço por conta do vento (da
mesma forma que um cometa) é claramente visível. O pulsar está muito próximo
da estrela (ponto brilhante) e não pode ser visto nesta imagem, já que o período
é de ~horas (duração do “ano” no sistema). Se a imagem parece com um cometa
é porque o fenômeno é igual (o vento do Sol varre matéria do cometa e forma a
“cauda”), só que em energias altíssimas.
Buracos Negros
Dois ilustres cientistas no fim do século 18 foram os primeiros a
cogitar a ideia de buraco negro. O religioso inglês J. Michell e o fran-
cês Pierre-Simon, Marquês de Laplace (Fig. 6.21) discutiram a possi-
bilidade de estrelas escuras baseados nos conceitos newtonianos de
velocidade de escape de corpúsculos de luz desde uma superfície
estelar. Estes argumentos se fundamentaram na ideia newtoniana
da natureza corpuscular da luz, já que a luz não fosse composta de
partículas com massa, não haveria como a gravitação de Newton
atraí-la. Mas apesar desta característica enviesada, o raciocínio de
Michell e Laplace foi o que abriu a porta para o estudo moderno dos
buracos negros e merece atenção (Horvath e Custódio, 2013).
A condição crítica com a qual uma partícula pode escapar
desde a superfície de um corpo de massa M e raio R é, aplicando a
conservação da energia
174 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
. (6.20)
Fig. 6.24. A binária e Cyg X-1. Acima, esquerda: o campo que contém a binária.
Acima, direita: imagem óptica da companheira supergigante azul (flecha amarela).
Abaixo: imagem pictórica da binária, onde o buraco negro acreta matéria da estrela
visível.
Fig. 6.25. Esquerda: a imagem de Cyg X-1 com os jatos e lóbulos de rádio próximo
do centro da nossa galáxia. Direita: o movimento superluminal dos jatos do GRS
1915. O intervalo entre a primeira e a última imagem é de menos de 1 mês, e a
distância aparente percorrida pelo material é de umas 8000 UA.
O mais importante
As estrelas deixam “cadáveres» estelares quando sua evolu-
ção acaba. Os cadáveres mais comuns são as anãs brancas, estrelas
inertes com uma massa compostas por carbono e oxigênio
tipicamente. Por serem suportadas pela pressão de degeneres-
cência, que não tem análogo clássico, estão sujeitas a um máximo
da massa (massa de Chandrasekhar). As estrelas de nêutrons, no
entanto, provem de progenitores estelares de massas maiores, e
são bastante análogas a um núcleo atômico de dimensões .
A massa das estrelas de nêutrons também tem um máximo, mas
não esta relacionado com a pressão dos elétrons e sim com as
interações entre núcleons em , a cha-
mada densidade nuclear. Os buracos negros de massa estelar
também são produzidos pelo fim de estrelas de grande massa,
não estão “compostos” de nenhuma matéria (toda a matéria
colapsou e não mais pode ser estudada, já que se encontra atrás
do horizonte), e todo o assunto da “linhagem” destes dois tipos
de objetos precisa ainda de esclarecimento.
Os astrônomos observam e estudam os 3 tipos de objetos
todos os dias, e aprendem como funcionam e que processos
acontecem em eles e suas vizinhanças, quase todos impossíveis
de observar em um laboratório. Esta é uma zona onde a Física e
a Astronomia se misturam com intensidade.
CAPÍTULO 7
P
odemos agora genuinamente colocar a pergunta seguinte: se as
estrelas têm um ciclo de “vital”, uma evolução, e acabam suas
vidas como objetos compactos e nebulosas planetárias/superno-
vas (dependendo da massa), como é que nascem? como é a seqüên-
cia de processos físicos que acaba na formação de uma nova estrela
“bebê”? onde acontece todo isto, e como sabemos que funciona?
A formação estelar será objeto da nossa discussão, complementar
a todo o panorama que foi desenvolvido nos Capítulos anteriores
onde estudamos as estrelas já formadas.
A “matéria prima” das estrelas é evidentemente o gás. Nem
sempre há muito gás disponível nas galáxias, o conteúdo de gás
atual na Via Láctea é de em massa. As galáxias elípticas, por
sua vez, perderam o gás e não podem formar estrelas. Todavia, em
certas galáxias jovens a taxa de formação estelar é muito maior que
na Via Láctea (denominam-se galáxias starburst). Acredita-se que a
própria Via Láctea passou por surtos deste tipo no passado, mas hoje
a formação de estrelas é moderada. Praticamente todo o gás reside
no Meio Interestelar (ISM), e aí devemos nos concentrar para enten-
der a formação estelar (Fig. 7.1).
184 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Fig. 7.1. A galáxia de Andrômeda, em muitos aspectos irmã da Via Láctea, mostra
a ocorrência de regiões onde a formação estelar é substancial. Por outro lado, as
galáxias elípticas quase nem tem estrelas se formando, e isto se deve à ausência de
gás.
. (7.1)
(7.2)
(7.3)
. (7.4)
Fig. 7.4. Uma GMC mostrando algumas aglomerações com caroços no interior, no
começo do processo de colapso gravitacional induzido pela turbulência.
Fig. 7.6. Glóbulos de Bok na região de formação estelar IC 2944. Algumas proto-
estrelas podem ser vistas apesar da forte extinção pela poeira. (Image do arquivo
do HST)
(7.5)
(7.6)
Fig. 7.7. Evolução das estrelas antes de entrar na Seqüência Principal de Idade Zero
(ZAMS). A “zona de exclusão” de Hayashi está marcada na cor verde, as estrelas
não podem entrar nela porque são totalmente convectivas e radiam o máximo. As
trajetórias verticais de Hayashi param no mínimo da luminosidade, quando viram
à esquerda pela presença de um caroço radiativo (caminho de Henyey) finalmente,
entram na ZAMS quando a fusão do hidrogênio começa (linha vermelha diagonal).
Fig. 7.9. Esquerda: o objeto HH 30 o disco de acresção está “de perfil” (ocupa a
região no meio da imagem lenticular inferior, que é formada pela luz espalhada
pelo material do disco) e é muito opaco, nem deixa enxergar a proto-estrela. Os
jatos proto-estelares são perpendiculares, o jato “superior” é claramente visível.
Note-se que o jato atinge pelo menos 1000 U.A. Direita: uma imagem do Hubble
do objeto HH 111, o extremo superior mostra o HH original, produzido pela
energização devida ao jato.
Fig. 7.10. Disco protoplanetário detectado pelo arranjo ALMA em torno do AS 209.
A banda escura mais externa é atribuída a um planeta muito maior que Saturno que
varre a poeira e deixa esta trilha. A banda mais interna pode se dever a um planeta
menor u oura causa dinâmica ainda não estabelecida
198 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Fig. 7.11. A IMF observada (pontos pretos) vs. as várias expressões propostas
por Salpeter (preto) e desenvolvimentos posteriores (demais curvas). O ponto do
máximo e o limite superior são duas características investigadas com intensidade.
Já a inclinação não é disputada, e esta em acordo com as observações como pode
ser conferido.
O mais importante
Entendemos o básico do processo da formação das estrelas,
onde se produz (nas nuvens moleculares) e quais são suas eta-
pas. Existe evidência abundante de todos os estágios formativos
desde as condensações até a entrada na Seqüência Principal, e
seguramente haverá avanços importantes na questão dos discos
protoplanetários e outras relacionadas pelo enorme interesse que
despertam e a disponibilidade de instrumentos de última gera-
ção. Dos agentes físicos que participam da formação, a turbulên-
cia do gás parece ser determinante, mas é muito complexa e não
há ainda uma compreensão abrangente dela, embora o padrão
geral é bastante entendido. A função inicial de massas (IMF) das
estrelas mostra um decréscimo muito rápido para massas gran-
des, e assim as estrelas “leves” como o Sol são absolutamente
majoritárias na população estelar (Fig.7.11).
Capítulo 8 201
CAPÍTULO 8
Sistemas estelares
A
s estrelas isoladas como o Sol são uma exceção antes que uma
regra, tal como observamos no Capítulo. E por isso que vamos
aqui apresentar brevemente o tipo de sistemas estelares comu-
mente encontrados, a residência da maior parte das estrelas na galá-
xia. O nome pretende incluir os vários tipos existentes
Normalmente são reconhecidos quatro tipos de sistemas estela-
res diferentes (Ostlie e Carroll, 2006):
a) Os sistemas múltiplos, desde duas até 8-10 estrelas ligadas gra-
vitacionalmente em órbita entre sim.
b) As associações, de até 10 000 estrelas, que não necessariamente
estão ligadas pela gravitação
c) Os aglomerados abertos, muitas vezes similares às associações,
mas comprovadamente ligados pela gravitação
d) Os aglomerados globulares, de estrelas ou mais, estruturas
esferoidais bem parecidos com uma galáxia anã.
Sistemas múltiplos
A formação de estrelas em sistemas múltiplos como “regra”
poderia ter sido antecipada da consideração da eq.(7.2) para a massa
de Jeans: se as estrelas mais assíduas são do tipo solar ou anãs mais
“leves”, isto quer dizer que a massa de dificilmente ficará
“inteira”. Dependendo dos detalhes da formação, boa parte dessa
massa fragmentará e formará sistemas gravitacionalmente ligados,
ou seja, sistemas múltiplos ou associações/aglomerados.
Os exemplos de sistemas múltiplos são muitos, e incluem desde
sistemas onde todas as estrelas estão ainda na Seqüência Principal,
outros onde ao menos uma componente completou sua evolução (a
exemplo de Sirius A e B do Capítulo 4), e até outros onde a evolu-
ção do sistema levou a suas componentes a interagir (ou seja, trocar
matéria), tal como as binárias de raios X. Nos restringindo aos primei-
ros, podemos dizer que estes são um banco de testes excelente para a
teoria da Evolução Estelar. Nos sistemas múltiplos é muitas possível
obter as massas utilizando a Terceira Lei de Kepler, além das e
luminosidades L. Um caso bem estudado se mostra na Fig. 8.1.
Fig. 8.1. A estrela Polaris, imagem completa do sistema triplo, mas que aparece
visualmente como uma estrela única. O estudo das órbitas somado às luminosidades
e temperaturas permite resolver totalmente o sistema com erros pequenos. A estrela
Polaris A é uma Cefeida de , as duas companheiras estão na Seqüência
Principal com (Polaris Ab) e (Polaris B).
Capítulo 8 203
Associações estelares
A ligação gravitacional tem sido utilizada como critério para
diferenciar uma associação estelar (desligada) de um aglomerado
(ligado). Não somente isto é muitas vezes difícil de discriminar se as
distâncias são grandes, mas existem astrônomos que apontam casos
onde uma associação é simplesmente um aglomerado que foi pertur-
bado e está se dispersando. As associações podem ser muito nume-
rosas em membros (até 10 000 às vezes) e compreendem alguns casos
notáveis, por exemplo a associação de estrelas OB jovens denomi-
nada Cyg OB2, com idade de poucos Manos e onde estrelas muito
massivas ainda estão na Seqüência Principal (de fato, esta é a princi-
pal razão para afirmar que é muito jovem, a presença de estrelas de
grande massa na Seqüência Principal). A Fig. é uma imagem óptica
de Cyg OB2, com o censo de membros ainda incompleto.
204 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Fig. 8.2. A associação estelar CygOB2 na banda óptica. Cyg OB2 é o local onde se
encontram algumas estrelas de grande massa, de até , a uma distância de da Terra.
(8.1)
Aglomerados abertos
Os aglomerados abertos são grupos muito importantes para
entender tanto a formação estelar quanto a própria formação da galá-
xia. Trata-se de “tijolos” básicos, muito comuns e com um número
de membros muito variável, desde até . Com o crité-
rio que explicamos no ponto anterior, um aglomerado aberto mos-
trará a idade dinâmica , e terá uma energia de ligação finita.
Suas idades reais são muito variáveis: existem aglomerados jovens
com idade e outros muito mais velhos, de
ou mais. De fato, nos mais jovens ainda é possível observar poeira
que envolve as estrelas membros, tal é o caso do Westerlund 1 da
Fig. 8.3.
Devemos notar que o primeiro astrônomo que observou e refle-
tiu a respeito dos aglomerados foi Galileu em 1609, como já vimos
no Capítulo 1. Galileu determinou umas 40 estrelas para o aglome-
rado de Praesepe, e um número maior para as Pléiades da Fig. 1.4 .
Temos assim uns 400 anos de estudo destes sistemas estelares.
206 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Aglomerados globulares
Os aglomerados globulares são sistemas de aspecto espetacu-
lar, dos quais mais de 150 são conhecidos na Via Láctea. O estudo
do diagrama HR das estrelas membros dos aglomerados globulares
revela que, geralmente falando, são conjuntos muito velhos, com
, e mais propriamente associados com a formação
das galáxias. O mais antigo aglomerado datado tem uma idade de
e serve como limite inferior absoluto à idade do
Universo, que não pode ser mais jovem que ele. O número de aglo-
merados globulares para cada galáxia, porém, parece ser bem vari-
ável: a galáxia próxima M87 possui uns 13 000 aglomerados, ~100
vezes mais que a Via Láctea, sem que ninguém seja capaz de dizer
muito bem o por quê e como.
Além desta idade “avançada”, os aglomerados globulares (des-
cobertos em 1665 pelo alemão A. Ihle, mas confirmados somente
em 1764 por C. Messier pela observação de estrelas individuais den-
tro de M4) apresentam uma distribuição espacial bem diferente dos
aglomerados abertos e associações, estes claramente vinculadas ao
disco galáctico: os aglomerados globulares estão espalhados pelo
halo da galáxia, em distâncias de vários kpc, sendo uma das suas
componentes principais. O astrônomo H. Shapley foi o primeiro que
percebeu que a amostra dos aglomerados disponível nos começos
do século XX estava assim distribuída, e que isso apontava para um
centro da galáxia a uns do Sol. Os aglomerados globulares
“desentronizaram” o Sol do centro da Via Láctea para colocá-lo na
atual posição, em um dos braços espirais (Fig.8.5).
208 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Fig. 8.5. A distribuição espacial dos aglomerados globulares achada por Shapley
(Lépine, 2008). O centro desta distribuição não coincide com a posição do Sol
(em amarelo), mas está na posição da cruz vermelha. Shapley utilizou as estrelas
variáveis RR Lyrae para calcular as distâncias e não levou em conta a extinção da
luz pela poeira, o qual provocou um erro de um fator ~2 na distância aceita hoje.
Fig. 8.6. O aglomerado globular jovem NGC 1866 na Nuvem Maior de Magalhães
com > 100 000 estrelas de várias idades (populações) na faixa óptica.
O mais importante
Quase todas as estrelas existentes residem em sistemas
estelares, que compreendem tanto sistemas múltiplos quanto
associações e aglomerados. Cada um destes sistemas contém
informação de grande valor a respeito da Evolução Estelar,
impressa nos seus membros, e até da formação da galáxia inteira,
como no caso dos aglomerados globulares.
CAPÍTULO 9
Estrelas variáveis
N
o Capítulo 7 observamos que os sistemas múltiplos são pos-
sivelmente mais numerosos que as estrelas isoladas. A detec-
ção de sistemas binários (os mais comuns entre os múltiplos) é
muito antiga, mas W. Herschel foi o primeiro que assim os denomi-
nou em 1802. Pelo histórico de observação com pequenos telescó-
pios, fala-se de binárias visuais para a classe de estrelas próximas,
ligadas pela gravitação, onde podemos detectar variações atribuídas
à essa órbita. Mas conforme avançaram os estudos astronômicos,
ficou possível determinar a natureza binária de algumas estrelas, até
mesmo sem detectar a companheira. Para isso, foi suficiente obter
espectros de boa resolução da estrela e identificar deslocamentos
periódicos da posição de alguma linha, revelando assim a presença
de outro membro no sistema. Estes sistemas binários se denominam
espectroscópicos, e muitas vezes as companheiras são detectadas
diretamente depois de uma busca dedicada.
A origem física deste “bamboleio” periódico das linhas deve-
-se aque uma fonte em movimento com velocidade emite luz que
resulta mais vermelha do que aquela emitida em repouso ( positiva,
fonte afastando-se), ou mais azul ( negativa, fonte aproximando-se):
é o chamado efeito Doppler, estudado pelo físico austríaco Christian
Doppler (1803-1853). O deslocamento das linhas resulta, no
limite de baixas velocidades , simplesmente proporcional ao
quociente , ou . Esse deslocamento no comprimento de
onda é, na maior parte dos casos reais, bastante notório e fácil de
medir. Assim, aplicado às binárias,uma companheira “escura” em
212 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Fig. 9.1. Uma binária espectroscópica. Supondo que o espectro obtido (à esquerda)
corresponde à estrela menor (marrom), a variação temporal periódica observada
devida ao efeito Doppler revela o movimento em torno da estrela maior (amarela),
a qual pode ou não ser diretamente observada (por exemplo, poderia ser um buraco
negro).
Capítulo 9 213
Variáveis pulsantes
A classe de variáveis pulsantes apresenta variações periódicas
no seu brilho, produzidas por mecanismo(s) que provocam a pulsa-
ção estelar. As pulsações são um fenômeno da fotosfera, superficial,
e não envolvem necessariamente todo o interior da estrela. Um dos
mecanismos de pulsação proposto por Eddington opera nas chama-
das Cefeidas e outras variáveis, mas ainda existem lacunas impor-
tantes na Física da pulsação para alguns tipos. Aprofundaremos a
variabilidade da classe das Cefeidas e outras associadas mais adiante.
214 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Variáveis eruptivas
Podemos agora passar para a classe das variáveis eruptivas. Pela
sua importância para a Evolução Estelar e a Cosmologia, as superno-
vas ocuparam todo o Capítulo e não precisamos nos referir a elas de
novo. O tipo seguinte, as novas, são na hierarquia histórica as mais
importantes, e como vimos no Capítulo não foi até Baade e Zwicky
reconhecerem que alguma “novas” tinham energias gigantescas que
a classe de “super-novas” foi criada. Porém, fisicamente trata-se
de coisas completamente diferentes. Uma nova é essencialmente
um surto/erupção produzido na superfície de uma anã branca que
acreta matéria de uma companheira. As novas chamadas clássicas
são deste tipo, enquanto existem as novas recorrentes com interva-
los muito variáveis, às vezes de décadas. Isto é associado ao tempo
que precisa o hidrogênio para se acumular na superfície e fusionar
pela compressão e a alta temperatura, que depende das condições de
acresção. Finalmente as novas anãs, de luminosidade muito menor,
estão associadas a mudanças (instabilidades) no disco que fornece o
hidrogênio. Todas as três classes envolvem anãs brancas, nenhuma
destrói a anã branca e são conhecidas pelo nome genérico de variá-
veis cataclísmicas, o nome mais utilizado hoje para todas as novas.
As variáveis simbióticas, por sua vez, também envolvem uma
anã branca mas o estado do sistema é diferente: a companheira está
muito próxima e transferindo massa de tal maneira que quando
acontece a ignição do hidrogênio o surto precisa se abrir caminho
pelo gás em queda. Os eventos são assim muito lentos, e demoram
Capítulo 9 219
O mais importante
As estrelas variáveis são um excelente laboratório para
estudar Evolução Estelar, já que todas elas pertencem a estágios
avançados, e boa parte destas interage com uma companheira
«normal» (isto é, gasosa) na classe das variáveis intrínsecas. As
variáveis devidas aos eclipses e a rotação (extrínsecas) foram
historicamente notadas e estudadas, embora algumas variáveis
eruptivas (por exemplo, as supernovas) as precedem. O meca-
nismo pulsacional das Cefeidas, W Virginis e outras é o chamado
mecanismo de Eddington, e envolve somente a fotosfera este-
lar. Existem nesta área muitos “cabos soltos” ainda a respeito de
outros objetos variáveis.
CAPÍTULO 10
E
stamos finalmente em condições de discutirmos um assunto
de grande importância, mas que rara vez é abordado no ensino
nos colégios, ou até mesmo no ensino superior. É a questão da
origem dos elementos químicos da Tabela Periódica. Nas aulas de
Química a existência de todos os elementos é dada como conhecida,
sem jamais levantar a questão da sua origem, como se isso fosse
automaticamente executado na Natureza e nem precisássemos saber
como. Mas como já vimos que as estrelas são grandes “fornos” que
produzem elementos mais pesados a partir dos mais leves, temos
agora elementos para esboçar uma resposta geral.
A formulação do Big Bang, e sua consistência com as observa-
ções no que diz aos elementos “primordiais” deslocou a questão dos
elementos químicos para o estudo das estrelas: quando o Universo
ficou frio o suficiente quanto para que os prótons e nêutrons pri-
mordiais formassem núcleos, esta “montagem” (fusão) de núcleos a
partir dos núcleons isolados aconteceu enquanto a expansão o per-
mitiu. Rapidamente a densidade de prótons e nêutrons ficou baixa o
suficiente quanto para interromper a nucleossíntese primordial (Fig.
10.1), ajudada por um fato importante: a inexistência de núcleos
estáveis com A = 5 e A = 8. Quando a nucleossíntese encontrou
estes “gargalos”, a seqüência de fusões ficaram truncadas com uma
produção muito pequena de (da ordem de do hidrogê-
nio, no primeiro gargalo) e praticamente zero de (segundo gar-
galo). Quase toda a nucleossíntese primordial é hidrogênio e hélio,
e nada além do lítio, porque a expansão o impediu (note-se que se
222 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Fig. 10.1. Um esquema muito básico da nucleossíntese do Big Bang. As fusões vão
acontecendo enquanto o Universo se expande rapidamente e dilui a densidade de
prótons e nêutrons. O “gargalo” em A = 5, onde não há núcleo estável, dificulta
muito a produção de lítio, já que para esse momento a diluição é importante. O
pouquíssimo lítio produzido não consegue “pular” para o berílio pela mesma
razão, e como resultado, somente elementos com A < 8 resultam deste processo
primordial. Este será o material disponível para as primeiras gerações de estrelas, a
serem formadas muitos bilhões de anos depois (Horvath et al., 2006).
Vemos na Fig. 10.2 que a maior parte dos elementos com abun-
dância significativa no Universo têm A < 56, o qual reflete o fato
que são produzidos copiosamente nas estrelas. Uma outra forma de
enxergar esta questão dos elementos mais abundantes está na Fig.
10.3, onde é mostrada a abundância de todos os elementos da Tabela
Periódica que encontramos na vizinhança solar. Embora muito
pouco abundantes, todos os elementos com A > 56 devem ainda
ser explicados, já que a nucleossíntese estelar discutida não avança
além do ferro.
224 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
(8.1)
Fig. 10.6 A Tabela Periódica com a indicação dos eventos que contribuem para a
abundância de cada elemento conforme determinado em 2019 (Johnson, 2019).
Capítulo 10 229
Fig. 10.7. O ciclo do gás no ISM, enriquecido pelas contribuições de estrelas que
retornam boa parte do que um dia esteve no interior para as nuvens de gás (Capítulo
7), para todo recomeçar (Horvath, 2008).
230 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
O mais importante
As estrelas são as únicas responsáveis pela existência dos
elementos da Tabela Periódica com A > 8. Os elementos até o
ferro (A = 56) são produzidos pelos ciclos nucleares conhecidos.
Todo o que há depois disso se produz pela captura de nêutrons
acima de núcleos «sementes” mais leves. Existem dois processos
principais, o s (lento) e o r (rápido), os dois capturam nêutrons,
mas enquanto o primeiro deixa tempo para o núcleo “filho”
decair se for o caso, no segundo várias capturas sucessivas deslo-
cam o núcleo para a direita do vale da estabilidade, e posteriores
decaimentos povoam o Universo com nuclídeos difíceis de pro-
duzir de outra forma. A fusão de estrelas de nêutrons resulta ser
um local chave para os elementos mais pesados, como o chumbo
e o ouro. As supernovas de colapso são o outro local importante
para a síntese dos elementos pelo processo r. O processo s, no
entanto, opera tanto no estágio de AGB quanto nas explosões
termonucleares. Os núcleos assim produzidos retornam quase
sempre ao ISM, onde novas estrelas os incorporarão quando a
formação estelar opere de novo.
CAPÍTULO 11
As estrelas na Educação
D
epois de expor nos Capítulos anteriores os fundamentos e
conceitos que integram a Astrofísica Estelar, é bastante claro
que, embora embasada em conhecimento do Mundo Antigo e
trabalho profícuo de cientistas de vários séculos posteriores, esta-
mos lidando com uma disciplina “filha” legítima da Física do
século 20. Com efeito, um exame elementar dos conteúdos desses
Capítulos mostrará a impossibilidade de descrever e entender a
Estrutura e Evolução Estelar sem a Mecânica Quântica, a Mecânica
Estatística, a Relatividade, a Física Nuclear e as disciplinas “deca-
nas” que as precedem, a Mecânica de Fluidos, a Termodinâmica e o
Eletromagnetismo. Desta forma, a discussão das estrelas está afetada
dos mesmos problemas que estas últimas enquanto a seu papel na
Educação atual: há um século de atraso inexplicável nos conteúdos
da Física que não conseguimos superar. Continuamos denominando
“Física Moderna” aos desenvolvimentos de Planck, Bohr, Einstein,
Boltzmann e outros. Como conseqüência, as estrelas, verdadeiras
“panelas” onde toda esta Física se mostra no seu esplendor, perma-
necem ausentes na Escola. Os (poucos) conteúdos de “Astronomia”
ministrados continuam sendo aqueles referidos essencialmente à
Astronomia “natural”, isto é, onde a constatação empírica dos senti-
dos permite colocá-la como “Ciência natural” (eclipses, movimento
da Lua, etc.).
Embora as estrelas ainda têm uma componente desta natureza
empírica, enquanto sistemas observáveis a olho nu (ou no máximo,
com binóculos), a Astrofísica Estelar representa um ponto de ruptura
232 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Questões Iniciais
8. Ela emite alguma coisa que você conseguiria sentir, mesmo estando distante
dela?
9. Você pode observar essa estrela por muitos anos sem perceber qualquer
mudança. Como você acha que ela se mantém dessa forma?
11. Ela vai ficar assim para sempre? Se não, o que vai acontecer com ela depois?
Fig. 11.1. Os astrônomos no hemisfério Norte e Sul vem desde seus próprios
sistemas de referência as Três Marias e o resto do céu invertido (embora o Cruzeiro
do Sul não é mesmo visível no Norte). Note-se que somente uma Terra esférica
explica satisfatoriamente este fato.
236 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Fig. 11.2. Esquerda: a capa do tubo (em negro) com a fenda estreita, coberta com
fita para não deixar passar luz extra. O CD deve estar inserido com um ângulo de
60O com a horizontal, e uma pequena janela aberta para observar (em esta imagem
a janela de esta na parte inferior). Direita: a janela de observação, única
abertura sem vedação no aparelho.
Fig. 11.3. Esquema das linhas potencialmente observáveis do Sol e outras fontes,
como o dubleto do sódio visível no amarelo, obtido jogando sal de cozinha acima
de uma chama.
Orion e o diagrama HR
Ainda com a intenção de motivar os alunos com atividades con-
cretas mas ricas em conteúdo, com o auxílio de binóculos pode-
remos observar com certo detalhe grupos interessantes de estrelas,
por exemplo, o conjunto de Orion (o Caçador mitológico da Grécia,
Bretones 2003). Orion é uma dos poucas regiões onde uma boa parte
das estrelas encontram-se também fisicamente associadas, embora
outra fração significativa pertença ao conjunto (constelação) somente
pelo efeito da projeção. Num lugar escuro podem-se ver a olho nu
240 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Fig. 11.4. O campo inteiro da constelação de Orion, tal como visto desde o hemisfério
sul (a maior parte das imagens de sítios em português e espanhol está errada, de
ponta cabeça, porque corresponde aos observatórios do norte...). Várias das estrelas
principais e a Grande Nebulosa de Orion estão indicadas.
Considerações finais
Temos percorrido a maior parte da discussão de conteúdos da
Astrofísica Estelar com a intenção de mostrar a visão contemporâ-
nea da disciplina, seus fundamentos, sucessos e rumos. Existe uma
enorme quantidade (na verdade, um excesso) de conteúdos para
serem eventualmente trabalhados na sala de aula. Porém, é prefe-
rível que cada professor encontre seu próprio caminho, já que o
espaço que pode ser dedicado a estes assuntos varia muito de escola
para escola, na ausência de qualquer obrigatoriedade nos progra-
mas de estudo. Nossa sugestão é tentar desfazer o vale-tudo pessoal
que cada aluno têm a respeito das estrelas (Fig. 11.6) e desenhar
uma seqüência didática própria, fortemente vinculada aos temas
de Física, Matemática, Geografia, História e outras disciplinas, para
inserir ao menos um mínimo que garanta uma visão mais acurada
das estrelas, e mais especificamente, do seu papel como sistemas-
-síntese do século 20 onde todo está em ação simultaneamente. Não
é nada fácil, mas creio com firmeza que no final terá valido a pena.
244 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Fig. 11.6. Uma visão artística das estrelas segundo o artista holandês M. Escher. A
Arte não tem compromisso com a realidade, pode voar livremente, e nisso radica sua
beleza. A Ciência não deixa de ser bela precisamente pela razão contrária: porque
lida com objetos reais e tenta descobrir e entender como eles funcionam. Os alunos
podem ter ideias tão estranhas quanto as da Figura, mas o conhecimento científico
da Astrofísica Estelar pode provocar uma revolução no seu entendimento, a tarefa
suprema pretendida pela Educação.
APÊNDICE 1
S
endo que o hidrogênio é de longe o elemento mais abundante no
Cosmos, e o mais fácil de fusionar (a repulsão devida à carga é
a menor possível), veremos o quê acontece com o primeiro está-
gio imaginável, dois prótons individuais em colisão. Como feito na
Mecânica clássica, é conveniente descrever o problema das duas par-
tículas com um potencial Coulombiano repulsivo desde o referencial
de centro de massa, transformando o problema de dois corpos em
um problema de um corpo (efetivo) de massa reduzida
em um potencial central fixo (no caso de dois prótons se tem
, mas a expressão é válida para duas partículas quaisquer).
No nosso caso, no potencial Coulombiano, o efeito túnel mencio-
nado no Capítulo 3 faz com que esta probabilidade P não nula, da
partícula passar até a região atrativa do potencial, dependa das
cargas (é menor quanto mais carregadas sejam as partículas) e da
velocidade de aproximação , masos cálculos são complexos e fora
do escopo deste texto. Utilizando a maquinaria quântica o resultado
final é
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
APÊNDICE 2
A
questão dos sistemas planetários em torno às estrelas traz poten-
cialmente enormes implicações (astro)biológicas. É consenso
geral que um planeta do tipo Terra em órbita nem muito pró-
xima nem muito distante de uma estrela pode ser o lugar ideal para
procurar vida, já que o único caso que conhecemos (nós próprios)
dependeu destas características, mais precisamente, da existência
de água líquida.
Desta forma a procura de exoplanetas cobrou força e hoje esta-
mos em uma situação muitíssimo mais avançada que em 1995, data
da primeira confirmação da presença do exoplaneta 51 Pegasi b (Fig.
1), em torno de uma estrela da Seqüência Principal (uns anos antes
A. Wolszczan e D. Frail tinham encontrado dois planetas em torno
do pulsar PSR 1257+12, mas dificilmente seriam candidatos a abri-
gar vida...). Esta técnica de detecção, chamada da velocidade radial,
já foi descrita no Capítulo 9. É evidente que a sensibilidade do espec-
trômetro limita a massa dos planetas capazes de serem descobertos,
quanto mais sensível, mais leve poderá ser a massa detectada por-
que produz velocidades de poucos . Houve assim um grande
interesse em melhorar os instrumentos para conseguir detectar pla-
netas tipo Terra desde grandes telescópios existentes e planejados.
250 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
A
proposta de Bandecchi (2018) para a montagem de quatro aulas
expositivas, com abundante material gráfico, que visam uma
exposição “mínima” do tema está na Tabela seguinte
Aula 1.
Além da apresentação “panorâmica” que relaciona as galáxias
como conjuntos de estrelas, é importante apresentar uma ideia quan-
titativa da escala de distâncias. As distâncias interestelares foram
exemplificadas na eq.(3.4). Uma atividade interessante a seguir é a
de escalonar estas distâncias para obter, com a estimativa inicial de
eq.(3.4), o tamanho da Via Láctea escalonada. Assim que feito isto,
as distâncias intergalácticas podem ser apresentadas tal como em
Horvath (2008), utilizando pires u outros objetos como “modelos”
de galáxias.
É bastante claro no texto que, segundo nossa visão, as conste-
lações estelares têm um valor muito mais cultural que científico.
Nem por isso o assunto deve deixar de ser mencionado. As conste-
lações correspondem quase sempre a efeitos de projeção na abóboda
celeste, e por isso seu caráter fictício fica evidente, mas isto não
resolve ainda a questão da visualização integral, em 3 dimensões.
Recomendamos o trabalho de Garcia e Corrêa (2014) para uma dis-
cussão do caso do Cruzeiro do Sul, disponível em (https://www.
sab-astro.org.br/wp-content/uploads/2017/03/SNEA2014_TCP65.
pdf). Esta atividade ilustrará a questão e também deve ser suficiente
para encerrar a discussão.
As ferramentas básicas para a medida de fluxos, cálculo de mag-
nitudes e demais já foram discutidas no Capítulo 3. Naturalmente
há espaço para alguma atividade prática, além da aula expositiva,
desde que existam condições dos alunos participarem à noite em
um programa de observação. O básico do assunto pode ser consul-
tado na página http://rea-brasil.org/variaveis/pmf8.htm .
A radiação não é, em geral, discutida nos cursos da escola. É por
isso que deve-se dar uma atenção bastante especial a este assunto
Apêndice 3 255
Aula 2.
O “miolo” conceitual da Aula 2 é sem dúvida o papel da gravi-
tação na formação e permanência no tempo das estrelas, ou seja, a
resistência da matéria contra a gravitação que representa a pressão.
O primeiro ponto a trabalhar é a própria ideia da auto-gravitação da
esfera que chamamos “estrela”. É notório que os alunos têm sérias
dificuldades com a gravitação, já que sempre é pensada como algo
externo ao corpo sendo “puxado” e nunca como resultado da agre-
gação da matéria até o ponto onde a própria gravitação o torna esfé-
rico. A forma de introduzir a gravitação na escola é a responsável
de criar esta imagem muito parcial. Sugerimos começar por discutir
que a gravitação atua sempre entre dois partículas, incluindo dois
“elementos de fluido” quaisquer no interior da estrela. O objetivo
aqui é o de chegar ao estabelecimento do equilíbrio de forças, na
sua versão do fluido. E notar que na ausência de uma força que se
256 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Aula 3.
A apresentação do equilíbrio hidrostático é mais complicada
do que aparenta a primeira vista. É de muita utilidade para começar
trazer à discussão o Princípio de Arquimedes, já que essencialmente
este reflete a situação encontrada na estrela para cada camada con-
cêntrica (Fig. 1). Já vimos no Capítulo 3 que o barômetro de Torricelli
é muito relevante para discutir o equilíbrio, sendo construído com
base no Princípio de Arquimedes.
Apêndice 3 257
Aula 4.
Os estágios finais resultam muito atrativos para os alunos. Há
uma profusão de informação fragmentária a respeito das estrelas de
nêutrons e buracos negros, esta aula deve contribuir para “ordenar”
todo este quadro. A própria ideia de finitude (ciclo) da vida estelar é
muito importante como princípio organizador da problemática este-
lar. Também traz como conseqüência o chamado enriquecimento
químico do meio interestelar, produto da ejeção de elementos mais
pesados pelas supernovas, nebulosas planetárias e ventos estelares.
Sugerimos enfatizar estes aspectos antes que o caráter “exótico”
dos remanescentes compactos, desfazendo a ideia de incompreen-
sibilidade passada muitas vezes na mídia a respeito. Por outro lado,
mostrar que esses regimes extremos mudam o estado da matéria e
exigem explorar fisicamente estados bem afastados dos produzi-
dos em laboratórios é importante, já que levara a considerar como a
Natureza opera em aqueles remanescentes.
APÊNDICE 4
M
uitas vezes a classificação das estrelas no diagrama HR sofre
de problemas de ambigüidade e falta de clareza para ser apre-
sentada aos alunos. A nomenclatura astronômica é bastante
obscura às vezes, e contribui para esta confusão. Apresentamos a
seguir um diagrama HR que contém chamadas para esclarecer o
estado evolutivo dos grupos de estrelas que nele aparecem, junto
com o básico dos processos que assim as colocam nele. A funda-
mentação completa pode ser encontrada nos Capítulos 3 e 4.
260 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
A.V.R. Silva, Nossa Estrela: O Sol, (São Paulo, Ed. Livraria da Física e
Sociedade Brasileira de Física) (2006)
D. Galetti e C.L. Lima, Energia nuclear: com fissões e com fusões (São
Paulo, Ed. Unesp) (2006)
Sites de interesse
http://www.das.inpe.br/curso.php
(cursos do INPE para Professores gratuito)
http://www.astronomynotes.com/
(curso geral completo online)
http://astro.if.ufrgs.br/index.html
(livro de Kepler e Saraiva disponível online)
http://www.spacedaily.com/
(site de notícias)
266 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
http://www.astro.iag.usp.br/%7Esylvio/exoplanets/planetas.htm
(texto introdutório aos planetas extrasolares)
http://www-2.cs.cmu.edu/~zhuxj/astro/html/spectrometer.html
(construção do espectrômetro)
Capítulo 1
J. Needham e C.A. Ronan, The shorter Science and civilization in China:
an abridgement of Joseph Needham’s original text. Vol. 3. (Cambridge, UK:
Cambridge University Press), 189 (1986)
http://www-history.mcs.st-and.ac.uk/Biographies/Aryabhata_I.html
(2019)
G. Afonso em : http://www.telescopiosnaescola.pro.br/indigenas.pdf
(2009)
http://solar-center.stanford.edu/FAQ/Qsunasstar.html
Scott, Origin and the Life of the Stars: a History of the Idea, disponível
em https://www.oxfordscholarship.com/view/10.1093/acprof:
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Capítulo 2
T. Lucrécio, Da Natureza das Coisas (De Rerum Natura), (Lisboa, Ed.
Relógio d’Água) (2010)
Capítulo 3
W. J. Maciel, opus citatum (1999)
Capítulo 4
https://scitechdaily.com/astronomers-spot-granulation-cells-on-the-
surface-of-giant-star-%CF%801-gruis/
Capítulo 5
D.H. Clark e F.R. Stephenson, The Historical Supernovae, (London,
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O.G. Benvenuto e J.E. Horvath, Phys. Rev. Lett. 63, 716 (1989)
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Referências Gerais 269
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h t t p s : / / w w w. a s s a . o r g . a u / r e s o u r c e s / v a r i a b l e - s t a r s /
classifying-variable-stars/
Referências Gerais 271
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J.E. Horvath, G. Lugones, M.P. Allen, S. Scarano Jr. e R. Teixeira, opus
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Capítulo 11
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https://eldoradoastronomy.weebly.com/.../orion_h-r_diagram.doc
272 As estrelas na sala de aula: uma abordagem para o ensino da Astronomia estelar
Apêndices
D. Clayton, opus citatum, (1984)
J.N. Winn e D.N. Fabrycky, Annu. Rev. Astron. Astrophys. 53, 409 (2015)