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LEMOYNE
Copyright © 2022
Sumário
Copyright © 2022
NOTA DA AUTORA:
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Noite de núpcias
Epílogo 1
Epílogo 2
Bônus 1
Bônus 2
D. A. LEMOYNE
dalemoynewriter@gmail.com
Copyright © 2022 por D. A. Lemoyne
Título Original: Senador Gray – Meu Cowboy Protetor
Primeira Edição 2022
Carolina do Norte - EUA
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta
publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida por
qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia,
gravação ou outros métodos eletrônicos ou mecânicos, sem a
prévia autorização por escrito da autora, exceto no caso de
breves citações incluídas em revisões críticas e alguns outros
usos não-comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.
Nome do Autor: D. A. Lemoyne
Revisão: Dani Smith Books
Capa: D. A. Lemoyne
ISBN: 978-65-00-46854-0
Esse é um trabalho de ficção. Nomes, personagens,
lugares, negócios, eventos e incidentes são ou produtos da
imaginação da autora ou usados de forma fictícia. Qualquer
semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas ou eventos
reais é mera coincidência.
Atenção: pode conter gatilhos.
Aviso: Senador Gray – Meu Cowboy Protetor, livro 5 da
série Alma de Cowboy, é um volume único. Por ser com casais
diferentes, cada livro da saga pode ser lido separadamente, mas
é provável que o posterior contenha spoilers do anterior.
Para Bryce Gray, ser um bilionário cuja família domina o
estado do Texas não é o bastante.
Ocupando uma cadeira no Senado americano, o cowboy
sonha com a Casa Branca e é a aposta do partido republicano
para as próximas eleições para presidente.
Dono de uma fama de mulherengo, fora sua inconstância
com parceiras sexuais, não há mais nada em seu passado que o
desabone. A caminhada para o que será a coroação de sua
carreira política parece garantida.
Louise Whitlock é uma jornalista contratada para ser
assessora de imprensa do senador texano e tem uma história
conturbada que envolve a morte de seu pai.
Ele quer a glória que somente a ascensão ao cargo mais alto
do país poderá lhe conceder.
Ela quer vingança.
Quando a forte atração física que sentem um pelo outro se
transforma em um amor irrefreável, o magnata se vê obrigado a
escolher entre o poder ou proteger a mulher que se transformou
no centro de sua vida.
A todos os que estavam esperando a história de Bryce Gray.
A Deus, porque Ele nunca me desampara.
Carolina do Norte, junho de 2022.
NOTA DA AUTORA:
Senador Gray – Meu Cowboy Protetor, livro 5 da série
Alma de Cowboy, contará a história do Bryce Gray, o caçula
dessa família que tanto amamos e também um cowboy
ambicioso e que nós já conhecemos de outros livros da série, e
Louise, que fará sua estreia na presente obra.
Ele, um Senador poderoso, que almeja chegar à Casa
Branca; ela, uma jornalista em início de carreira, em busca de
vingança contra aqueles que mataram seu pai e que não medirá
esforços para limpar o nome dele.
Reparem que nesse livro há uma grande passagem de
tempo depois de Proibida para o Cowboy, livro 4 da série. No
livro O Devasso e a Viúva Virgem , spin-off da série Alma de
Cowboy, Bryce começa a história ainda querendo entrar para a
política (Hudson está no último terço do mandato como
governador e não pretende disputar as reeleições). Já no epílogo
desse referido livro, muitos anos se passaram e Bryce acaba de
ganhar as eleições para o Senado depois de ter cumprido o
mandato como governador.
Eu amei escrever sobre esse casal tão diferente e ao mesmo
tempo, complementar e espero que vocês apreciem também.
Um beijo carinhoso e boa leitura.
D.A. Lemoyne
Prólogo
Aos onze anos
Branco por todos os lados.
O branco, assim como o preto, não é cor, é o resultado da
presença de luz — parece que ouço a voz da minha professora
dizer.
Bipe. Bipe. Bipe.
O aparelho irritante não para de avisar para o mundo inteiro
que está tomando conta de mim para que eu não morra.
Tento erguer o braço, mas há uma agulha nele.
Ao contrário da maioria das crianças, não tenho problema
com agulhas. Quando tomamos vacinas, mesmo ainda
pequenas, minha irmã chorava e esperneava. Eu só ficava
olhando.
Papai dizia que eu sou muito determinada e que, por isso, eu
poderia ser qualquer coisa que eu quisesse, até mesmo,
corajosa.
Bipe. Bipe. Bipe.
Meu pai está morto. É por isso que fui trazida para cá.
Eu deveria estar morta, também.
— Ela vai sobreviver? — Ouço a voz da minha mãe
perguntar.
Ela vai sobreviver. — digo, dessa vez, afirmando. — Porque
ela é determinada e pode ser qualquer coisa, até mesmo, uma
sobrevivente.
Ou uma assassina.
Pré-adolescentes podem ser chamadas de assassinas? Eu
acho que sim.
Matar é pecado, o padre sempre disse.
Bipe. Bipe. Bipe.
Eu não me arrependo de ter matado aquele homem. Eu
tentei salvar o meu pai e faria tudo de novo porque sou
determinada.
Ela vai sobreviver — repito a frase como se fosse uma
oração e querendo convencer a mim mesma, mas também a
Deus, disso.
Eu não quero morrer porque preciso descobrir por que
roubaram o papai de nós. Preciso entender as palavras daquele
homem. Ele sim, é um verdadeiro assassino. Eu sou apenas
determinada.
Naquele dia, minha determinação era proteger meu pai.
Hoje, é viver para vingá-lo.
Capítulo 1
Texas
Doze anos depois
Sorri.
Capítulo 2
Ele me traíra.
Dirigi bêbada uma vez e até fui levada a juízo por conta
disso.
A solidão é perigosa.
Capítulo 3
— Eu adorei — minto.
— Mesmo?
Não o meu.
Não foi algo que ele me tenha feito. Mesmo que depois de
ter assumido o senado se tornou próximo ao meu padrasto, não
nos vimos mais do que meia dúzia de vezes e trocamos poucas
palavras.
Louise.
Capítulo 4
Sei que não foi educado da minha parte deixar que ela
pensasse que estava sozinha, mas não pude evitar ficar
admirando o corpo delicioso, delineado pela luz da lua.
Rosa, nunca.
Ele ri novamente.
Capítulo 5
Maldita impulsividade.
Depois de dar um sorriso amarelo e acenar com a cabeça,
eu me afasto do grupo ainda sentindo os olhos do senador Gray
em mim.
Eu sei que o convite — ou seria melhor dizer intimação? —
dele, é mais do que eu poderia sonhar.
Justamente o que nós estávamos esperando.
Apesar de ser enteada de Cassius, eu não posso me
aproximar tanto do trabalho do meu padrasto sem levantar
suspeitas, assim, me tornar assessora de imprensa de um
senador seria o ideal.
Então, por que tudo dentro de mim reluta em se conformar
com esse presente inesperado?
Porque ele enxerga você — uma voz avisa — e isso pode ser
muito perigoso.
Depois de cumprimentar algumas pessoas pelo caminho,
sigo para o lugar que papai chamava quando eu era criança de
“jardim secreto”. Ele o batizou assim depois que, uma vez,
cansada das mil atividades que minha mãe me obrigava a
participar todos os dias para satisfazer a demanda da imprensa,
sempre atenta à nossa perfeita família não apenas porque papai
era um ex-governador como também um “dinheiro antigo”,
como se chama no sul, eu me escondi aqui.
Ele mandou até mesmo cercar o espaço de arbustos e disse
que uma vez que eu pisasse no jardim, me tornaria invisível.
Sorrio com a lembrança, ao mesmo tempo em que meu
coração se contrai de saudade.
Dessa vez, entretanto, não é para pensar no meu pai que
vim para cá, mas para falar com ele.
O celular chama algumas vezes antes que finalmente
atenda.
— Desculpe-me por ligar a essa hora. De antemão, peça
perdão à sua família por mim.
— Louise, aconteceu alguma coisa? Não se preocupe com
isso. Eles já estão mais do que acostumados a chamadas tarde
da noite. Diga-me o que há de errado.
Sei que ele tem mais irmãos que são agentes do FBI, então
telefonemas em horários não convencionais devem ser uma
espécie de rotina.
— Nós ganhamos um presente. — começo.
— Mesmo? E se é uma coisa boa, por que sua voz está
tensa?
Pela primeira vez na noite eu sorrio.
— Você me conhece bem demais. Não sei se gosto disso.
— Conte-me.
— Meu padrasto conseguiu um emprego para mim como
assessora de imprensa de um senador.
— O quê? Isso é fantástico! Quase como ganhar um prêmio
de loteria. Quem é seu novo empregador?
— Como sabe que eu aceitei?
— Porque não desperdiçaria uma chance como essa. Não
chegamos tão longe para recuarmos agora. Para qual senador
trabalhará?
— Outro texano, Bryce Gray.
— Corrigindo, a surpresa foi boa… em parte.
— O que isso significa?
— Será um ótimo disfarce para você…
— Mas? — estimulo porque ficou claro que ele não disse
tudo o que estava pensando.
— Mas tinha que ser assessora justo do senador mais
honesto dos Estados Unidos? O cara não tem um deslize sequer
na ficha dele.
Sorrio, porque agrada-me o que está dizendo. Tanto quanto
antipatizo com Bryce Gray, ficaria muito desapontada se fosse
corrupto.
— É o que temos no menu hoje, senhor. Acha que qualquer
senador me contrataria? Eu mal me formei.
— Sim, eu sei. E nesse caso, por que acha que Gray a
chamou?
— Ele não me chamou, para ser franca. Cassius meio que
disse: toma aqui uma assessora de imprensa para você.
— E está bem com isso? Sei que acabou se apaixonando
pelo jornalismo, mas também sei que odeia se expor e se tem
algo a ser dito sobre ser assessora de imprensa, é que você será
aquela a tomar as pedradas antes dele.
— O que eu gosto ou deixo de gostar não vem ao caso. Eu
esperei mais de quatro anos para chegar até aqui, Drake. Está
na hora de começar a trabalhar efetivamente para limpar o
nome do meu pai.
— Nós faremos isso, Louise. Eu lhe dei minha palavra. Não
vamos parar até que os verdadeiros culpados sejam punidos.
Fique bem. E pode me ligar quando quiser, você sabe.
— Eu sei. Boa noite.
Depois que desligo, me pergunto não pela primeira vez
porque ele está me ajudando, mas então me lembro das nossas
conversas ao longo dos últimos anos.
Não há uma explicação mirabolante. Drake é bom porque é
bom.
Lidamos com tantas maldades no mundo no dia a dia que às
vezes nos esquecemos que existem seres humanos assim.
Os heróis disfarçados de pessoas comuns; os incorruptíveis.
— Estou começando a crer que você tem um fetiche por
lugares escuros, Louise.
Um estremecimento de excitação atravessa meu corpo ao
ouvir a voz poderosa.
Eu deveria ficar com raiva por ele possivelmente estar me
espreitando pela segunda vez na mesma noite, mas meu corpo
pensa diferente.
Estou quase me virando para encará-lo quando de repente,
algo me vem à mente.
Ele escutou minha conversa com Drake?
Sinto um suor frio escorrer pela minha coluna e volto-me
devagar, tentando acalmar as batidas do meu coração.
No momento, não é por conta da furiosa resposta hormonal
do meu corpo a ele, mas porque se Bryce Gray tiver a mais vaga
ideia de que farei uso da função que ele me ofereceu para tentar
desvendar os mistérios que envolvem a morte do meu pai, estou
perdida.
Desde a primeira vez em que nos vimos, sempre houve uma
espécie de embate silencioso entre nós, como se um adorasse
provocar o outro. Nesse instante, no entanto, temendo ter sido
flagrada, visto a mesma imagem que uso para o resto do
mundo: a de mulher perfeita, inabalável e comportada. Quase
uma versão mais velha de Emory.
Se vou trabalhar com Bryce Gray, devo esconder as reações
do meu corpo a ele e usá-lo como um meio para atingir um fim.
Assim, ao invés de provocá-lo com uma resposta
impertinente, uso um tom doce.
— Veio conhecer meu jardim secreto, senador?
Um “v” se forma entre suas sobrancelhas e juro por Deus
que isso faz com que fique ainda mais sexy.
Eu só não tenho certeza se a confusão que demonstra é
sobre minha falta de combatividade com relação à sua
provocação ou pela menção do meu jardim.
Ele me estuda por uns segundos e preciso me esforçar para
não me mexer de uma perna de apoio para a outra.
Instantes depois, no entanto, parece se decidir.
— Fale-me sobre esse jardim.
Escondo um suspiro de alívio.
Ele não ouviu meu telefonema. Se fosse o caso, não
conversaria tão calmamente.
Ou conversaria?
— Não está na hora do jantar? — Olho no relógio de ouro em
meu pulso, presente de Cassius no último aniversário. — Não.
Ainda temos dez minutos.
— Está com fome? — Ele me devolve.
— Não.
— Então eu prefiro falar sobre o seu jardim antes de
entramos.
Começo a caminhar e ele me acompanha. Mesmo apenas ao
meu lado, consigo sentir o calor do corpo dele emitindo ondas.
É estranho ficar tão perto de Bryce sem enfrentá-lo, mas
então lembro-me de que será meu chefe e que terei que
exercitar o controle do meu mau gênio a todo custo.
— Não há muito a ser dito — começo, disposta a lhe dar
uma parcela da verdade sobre a minha vida. — Eu costumava
fugir da minha mãe.
— Ela a agredia?
Seu tom protetor faz algo se aquecer em meu peito, mas
empurro a sensação para longe.
— Não. Ela me sufocava de atividades. Nossa casa também
sempre vivia cheia, então eu fugia para cá. Meu pai mandou
cercá-lo para que ficasse como um labirinto quando descobriu
que era meu esconderijo. Dizia que eu podia me tornar invisível
aqui dentro.
Um nó tranca minha garganta. Não falo do meu pai com
qualquer um, então por que diabos, de todas as pessoas, fui
fazê-lo justo com Bryce?
— Sente falta dele?
Chegamos na frente da mansão e várias pessoas estão
entrando nesse momento, provavelmente por causa do jantar.
— Só sentimos falta de alguém quando pensamos nele. Eu
sei fechar portas — minto. — Meu superpoder é o esquecimento.
Subo os quatro degraus para o hall, mas antes, não resisto
em olhar para trás.
— Qual é o seu, senador?
Um canto de sua boca se ergue em um fantasma de sorriso
irônico.
— A persistência. Eu nunca desisto, Louise.
Aquilo soa como um flerte, mas também uma ameaça.
Bryce Gray não é alguém para se ter como adversário e ao
invés disso me amedrontar, me excita.
Ando depressa para o salão, fugindo dele, mas também do
meu corpo traiçoeiro.
Capítulo 6
Eu não gosto de obsessões. Elas nos tiram o foco, afastando
a mente do planejamento.
Planejar é algo que levo a sério e raramente, fora os
momentos em família, relaxo o suficiente para me esquecer dos
meus planos.
Algo parecido com temor passa pelo rosto dela, mas disfarça
rápido, em seguida erguendo o canto da boca em um sorriso
irônico, como em um desafio.
— A filha de Cassius?
— Sim. Com licença. — Encerro a conversa para evitar
quaisquer outras perguntas.
— Eu quero o emprego.
— O quê?
Capítulo 7
— Por que quer trabalhar com política, Louise?
Ela termina de fechar o cinto de segurança e leva um tempo
até levantar o rosto para me encarar.
— Talvez eu goste do poder.
— Não, você despreza o poder.
Observo fascinado seus lindos olhos se arregalarem. Ela é tão
petulante comigo, que às vezes me esqueço do quanto é jovem.
O rosto dela se fecha depois que lhe jogo a verdade na cara,
mas não parece disposta a ceder tão fácil.
— Eu não poderia odiar o poder. Cresci no meio dele. — Ela
está sentada rígida, as mãos entrelaçadas no colo. Mantém o
rosto impassível, mas continuo a encará-la sem piscar e depois
de um tempo, suspira, finalmente cedendo. — Eu não tenho
nada contra a política enquanto instituição, mas com o que o
poder faz com as pessoas.
— Não admira os políticos.
— Todos, não.
— E ainda assim, quer trabalhar nesse meio.
— Fiz jornalismo por uma razão: sou curiosa.
— A função de assessora de imprensa não é exatamente algo
que vá saciar sua curiosidade. Na verdade, seu papel será me
blindar para que eu não fale bobagens.
— Você é advogado antes de ser político. Nunca fala sem
pensar. Esse papel é reservado aos tolos.
Não posso deixar de sorrir.
— Já assistiu alguma entrevista minha?
— Várias — confessa, me surpreendendo. — Em todas, você
estava sempre um passo à frente do repórter.
— É muito analítica, Louise. E perspicaz também, para sua
idade.
Depois que pedi o endereço dela, o motorista arrancou com o
carro, começando a percorrer as ruas vazias de Dallas.
Ela se volta para mim.
— Perguntou-me porque quero trabalhar com política,
senador, e lhe dei meus motivos. Por que me contratou? Poderia
ter conseguido um assessor de imprensa muito mais experiente.
— Talvez eu não queira alguém cheio de vícios. Talvez me
agrade a ideia de ensiná-la.
A boca sexy se abre levemente e o lábio cheio inferior me faz
ter vontade de mordê-lo.
Obrigo-me a olhar para frente. Não é um bom começo de
relação de trabalho.
A verdade é que também não sou capaz de dar uma resposta
a ela sobre a razão de tê-la escolhido.
— Ou talvez não tenha conseguido dizer não a um pedido de
Cassius.
Volto a encará-la.
— Vai aprender algo sobre mim, Louise: só faço o que quero.
Ninguém pode me forçar se eu estiver convicto.
— Não diria forçar, mas e quanto a convencer?
Dou um sorriso irônico.
— Como você bem apontou, sou advogado. Precisa ser um
excelente orador para me convencer de algo.
Ela me estuda em silêncio por uns segundos, como se
tentasse adivinhar se estou falando sério, mas não consegue
sustentar meu olhar por muito tempo.
— Qual será minha função?
— Como todo o resto da equipe, será minha sombra, até o
momento em que eu disser que não preciso de você. O contrato
é feito por fora. Não tem nada a ver com o dinheiro público. Não
preciso que paguem minhas contas pessoais.
— Pessoais?
— Sim. Precisa saber que ao trabalhar para mim, Bryce Gray e
não para o estado do Texas, exigirei sua total lealdade. Em
contrapartida, sou um tirano. Feriados e fins de semana são
conceitos fluidos no meu mundo.
— Eu não me importo com isso — diz, me deixando intrigado.
— Não sai para se divertir?
Ela desvia o olhar.
— Huh… claro que sim, mas levarei a carreira mais a sério do
que a vida pessoal.
Ergo uma sobrancelha, parcialmente surpreso. Não consigo
imaginá-la se perdendo na noite sem se preocupar com as
consequências, mas ao mesmo tempo, com vinte e três anos
somente, na teoria deveria estar vivenciando o auge da vida.
— Não sei se entendeu, Louise. Minhas jornadas de trabalho
por vezes varam a madrugada. Eu posso avisá-la que viajaremos
apenas uma hora antes e constantemente trabalho da minha
fazenda em Grayland.
— Contanto que não seja montada em um cavalo, por mim,
tudo bem.
Olho-a, horrorizado.
— Não sabe montar?
Ela dá de ombros.
— Uso táxi.
— Espera. Não dirige e não sabe montar? Tem certeza de que
nasceu no Texas?
Recebo uma revirada de olhos em resposta e uma sensação
boa para caralho se espalha pelo meu peito. Se eu pudesse
chutar, é a primeira vez que ela está relaxada na minha frente.
— Eu sei dirigir, só não gosto. Tenho um celular, senador Gray.
Posso conseguir um meio de transporte através de aplicativo.
Quanto aos cavalos, vou ficar devendo. Só estive em uma
fazenda meia dúzia de vezes e mamãe nos deixou trancadas o
tempo todo para que não nos sujássemos. Vida no campo não é
para mim. Entretanto, prometo que não desmaiarei se ao
trabalharmos em suas terras, eu cruzar com uma vaca.
Sinto-me quase que pessoalmente ofendido.
Como no inferno alguém pode não amar a vida no campo?
Ela parece ler minha mente, porque sorri.
— A minha mãe tem verdadeiro horror a sujeira ou qualquer
fio de cabelo fora do lugar. Quando íamos às fazendas era tão
estressante que passei a pedir ao meu pai que não nos levasse
mais. Ele chegou a considerar a possibilidade de comprar uma
propriedade rural, mas implorei que não o fizesse.
O motorista estaciona no que suponho seja o edifício dela.
— Nos reuniremos para um brunch[15] amanhã, Louise.
Discutiremos seu salário e também assinará o contrato de
trabalho.
Ela acena com a cabeça e eu desço do carro para abrir sua
porta.
Quando ficamos frente a frente, mesmo sendo mais alta do
que a média das mulheres, é ainda uns bons vinte centímetros
menor do que eu.
— Tem certeza sobre a minha contratação, senador? Quero
dizer, não sei se sou o que procura.
Concentro-me nela, tentando adivinhar se está fazendo algum
tipo de jogo, mas tudo o que percebo é uma ponta de
vulnerabilidade.
— Só saberemos se tentarmos, Louise. Está com medo?
Ela nem pisca.
— A idade de sentir medo já passou. Sou uma adulta, agora.
De algum modo, algo se contrai dentro de mim ao ouvir aquilo
porque sim, ela parece assustada.
Quem é você realmente, Louise Whitlock?
Acompanho com o olhar enquanto entra na portaria. Ela não
olha para trás nem uma vez e tenho o pressentimento de que é
a maneira como leva a vida: quando decide partir, não há
arrependimentos.
Capítulo 8
Mais tarde
— Como foi o jantar?
— Não deveria estar dormindo? Pensei que uma esposa e três
filhos fossem o suficiente para não lhe sobrar tempo para nada.
— Você me conhece, Bryce. Eu nunca me desligo
completamente.
— É, essa talvez seja uma maldição que nós Gray carregamos:
a mania por controle. Quanto ao jantar, consegui contratar uma
nova assessora de imprensa.
— Quem?
— Louise Whitlock, a enteada de Cassius.
— Eu já sabia. Só queria ouvir de você — diz, sem qualquer
constrangimento. — Não acho que deva ficar com um parente
de um adversário tão perto.
— Cassius não é meu adversário. Está exercendo o último
mandato e me disse que se aposentará da vida pública em
seguida.
— Não existe essa história de ex-político, Bryce. Na ativa ou
não, qualquer um que já provou o gostinho do poder é um
adversário.
— Até mesmo você?
— Eu não preciso desse tipo de poder. Sou o dono do Texas —
fala, em um raro momento em que faz piada com o apelido que
detesta.
— Qual era sua preocupação em relação ao jantar dessa
noite? Não foi diferente de dezenas que já frequentei desde que
entrei para a política.
— Não acredite nisso. O cerco está se fechando. Cada
respiração que você der daqui por diante, estará sob avaliação.
— Não tenho nada a esconder.
— Todos nós temos segredos.
— Os meus não são algo de que eu me envergonhe.
— Eu sei, mas de qualquer modo, não confie totalmente em
alguém além da família. Sabe que cada um de nós daríamos a
vida por você. Jamais o trairíamos. Quanto a estranhos, alianças
são forjadas e depois desfeitas. Amizades acabam e traições
acontecem. Família será sempre família.
— Por que me ligou? Não foi a troco de nada. Conheço você.
Ele suspira, antes de me dizer:
— Alguém que estava no jantar ouviu que tinha contratado a
filha de Cassius como assessora de imprensa.
Então foi Louise a razão.
Não importa quantos anos eu tenha, acho que para Hudson,
serei sempre o caçula.
— E o que tem isso de mais?
— Por que ela?
Boa pergunta.
— Por que não? Estou precisando de uma assessora. Falar com
a imprensa não está entre as minhas três coisas preferidas.
Louise é jovem, está recém-formada, mas sei que fez pequenos
trabalhos temporários nessa função. Foi muito elogiada.
— Já sabia disso tudo antes de hoje? — ele pausa e eu
adivinho o que dirá em seguida. — Sabe que se envolver com
ela seria estupidez, né?
— Jesus, homem! Você está pensando dez passos na frente.
Eu e ela ainda teremos uma reunião amanhã para acertar
detalhes.
— Ela tem um arquivo fechado.
— O quê?
— Achei que gostaria de saber. Há um arquivo fechado sobre
ela na justiça. O evento aconteceu na adolescência e por isso
está indisponível ao público.
Sento-me em minha poltrona favorita, mais atento à conversa
agora.
— Como sabe disso?
— Porque a verifiquei.
— Hoje?
— Não, irmão. Assim que Cassius se aproximou de você.
Verifiquei a família inteira. Principalmente depois que me disse
uma vez que talvez se casaria com Emory Stonebraker.
— Eu devia estar louco na época. A garota não desperta
qualquer emoção em mim. Sequer o desejo de conversar. Por
que não me falou nada sobre essa história da Louise antes?
— Porque até agora não era relevante.
— Algo do que descobriu prejudicará minha carreira?
— Não. Se eu pudesse chutar, diria que trancaram o arquivo
para livrá-la da imprensa.
Luto uma guerra interna. Eu não quero saber o que é. De
algum modo, parece errado invadir a privacidade de Louise.
— Ela matou o assassino do pai. Eles acobertaram tudo para
que a menina não ficasse estigmatizada. — Ele solta antes que
eu possa encerrar a conversa.
— O quê? Quando o ex-governador Emment Whitlock morreu
ela ainda era uma garotinha!
— Sim, mas uma garotinha texana e que sabia atirar.
— Eu havia me esquecido completamente de que ela também
estava presente durante o ataque.
— Não só presente, como conseguiu matar o agressor. A
menina é uma heroína.
— O pai dela era um corrupto sujo. Nesse caso, os crimes dele
quase custaram a vida da filha, Hudson.
— Sim, eu sei de toda aquela imundície. Desvio de verbas
públicas para paraísos fiscais, lavagem de dinheiro, fora tantos
outros crimes que não foram noticiados.
— Mas você tem conhecimento?
— Sim. O problema é que agora, Louise estará próxima a você.
E se as pessoas que mataram o pai dela tentarem eliminá-la
mais uma vez? No fim das contas, ela é uma testemunha.
— Está ficando paranoico, irmão. Não faz o menor sentido.
Emment Whitlock morreu há mais de dez anos. Se quisessem
matá-la, já teriam feito.
— De qualquer modo, quero que tome cuidado.
— Eu tomarei.
Desligo o telefone e olho sem enxergar a parede à minha
frente. As informações que Hudson acaba de me entregar ficam
girando sem parar em meu cérebro.
Tiro o blazer do terno, solto a gravata e pego meu notebook.
Quando volto a olhar no relógio horas depois, já passam de
três da manhã, mas sei muito mais sobre minha nova assessora
de imprensa do que quando cheguei em casa mais cedo,
embora não tenha encontrado qualquer referência sobre ter sido
ela quem matou o assassino do pai.
Após as informações que descobri em minhas pesquisas,
percebo que a intuição sobre ela estava certa o tempo todo.
O que Louise mostra ao mundo e o que ela é são coisas
completamente diferentes.
Ninguém passa por uma experiência daquelas e sai disso
incólume. Eu não tenho dúvida de que deve haver uma cicatriz
emocional gigantesca na garota.
É por isso que é assim, tão arredia? Sim, porque a falsa
sociabilidade não me convence de jeito algum. Nenhum dos
sorrisos que deu hoje foram sinceros, se eu pudesse apostar.
Por que representar? Para agradar a mãe? Para não destoar da
irmã? Percebi que elas mal se falaram. A única pessoa perto da
qual Louise parece se sentir confortável é Cassius.
Desligo o computador, questionando pela primeira vez na
noite se foi uma boa ideia manter a mulher perto de mim.
Além da atração física poderosa, há toda essa carga sobre o
passado dela.
Eu poderia, ao nos reunirmos amanhã, lhe dizer que mudei a
decisão de contratá-la, mas sei que não farei. Se antes do que
Hudson me contou, Louise já despertava minha curiosidade pelo
jeito arisco, agora transmutou-se em admiração.
Apesar disso, gosto de saber onde estou pisando, então uma
ideia surge: ao invés de encontrá-la em um ambiente formal, um
restaurante, vou tentar pegá-la desprevenida, fora da zona de
conforto.
Digito no celular.
“Mudança de planos, senhorita Whitlock. Eu enviarei meu
motorista para buscá-la. Esteja pronta às oito. Traga roupa para
academia.”
Não espero que vá me responder porque já é madrugada,
então fico surpreso quando a tela do meu smartphone acende.
Louise: “Não dorme, senador Gray? Estarei a postos, mas
devo avisar que sou meio viciada em exercícios físicos. Não
respondo por mim dentro de uma academia. Faz parte da minha
função ter um bom fôlego?”
Sorrio, vários pensamentos de como eu poderia lhe roubar o
ar, passando como um filme pela minha mente.
Ah, Louise, por que tem que ser tão deliciosamente
impertinente?
“Foi avisada de que não sou um chefe regular, senhorita
Whitlock. Ter um bom fôlego vai ajudá-la a acompanhar o meu
ritmo, mas isso é o mínimo esperado. Sou exigente.”
Capítulo 9
Qualquer outra pessoa estranharia ou se sentiria
desconfortável ao ter o novo chefe marcando a primeira reunião
em um sábado, em uma academia de ginástica.
Não eu.
— Chegou agora?
— Há quinze minutos.
Foi recíproco.
Ela não esconde o fascínio por ele enquanto nos guia para
uma mesa e eu preciso me segurar para não revirar os olhos.
Antes de nos sentarmos, entretanto, cada um de nós vai
ao toalete. Quando volto, ele já se acomodou, mas levanta-se
quando me vê e só torna a se sentar depois que ocupo meu
lugar.
Capítulo 10
— Eu não gosto de pensar assim. Que tem alguém
vigiando minha vida o tempo todo, quero dizer.
— Seria uma frase que eu esperaria ouvir da minha avó.
Sua geração nasceu dentro da tecnologia.
— Sou adulta.
Merda.
— E se eu for indiscreta?
— Por quê?
— São amigas?
— E você, não?
— Percebeu?
— Por quê?
— Fique à vontade.
— Tem namorado?
— Eu me reportarei a quem?
— Mas pode ser que nada aconteça, Louise. Pode ser que
a cada dia ele a receba em casa com lambidas e carinho. O risco
nunca deixará de existir, mas há o outro lado, também. O pote
de ouro no fim do arco-íris.
Capítulo 12
No dia seguinte
Grayland
— Você vai ser, meu filho. Não existe isso de “se”. Hudson
não nasceu para a vida pública. Ele queria o poder pelo poder,
mas é essencialmente um homem do campo. Você tem a
peculiar habilidade de conseguir viver com um pé em cada
mundo sem perder as raízes.
— Vó…
— Não me venha com essa de “vó”, o que estou falando
não é nada mais do que a verdade, Bryce. O mundo pode ter
evoluído. Há computadores por todos os lados e até mesmo
namoro virtual, mas família será sempre família, ainda mais
para o partido republicano.
Uma hora e meia depois, estamos Wyatt, eu e meus
quatro irmãos desmaiados no campo de futebol americano que
mandamos construir na Império Gray.
— Sobre?
Desligo o telefone, tentando esconder um sorriso porque
dois membros do meu partido acabam de entrar em meu
gabinete em D.C.
Minha conversa com Louise seria um prato cheio para um
escândalo, mas trabalhar com ela, embora até essa ligação só
tenhamos trocado mensagens, é como receber uma injeção de
adrenalina na veia.
Até mesmo quando responde meus e-mails, por vezes posso
imaginá-la revirando os olhos ao digitar.
Louise é impertinente e provocadora não porque jogue, mas
porque é da natureza dela.
Totalmente compatível comigo.
Em um outro contexto, eu não pensaria duas vezes antes de
investir pesado até conseguir o que quero: suas coxas em cima
dos meus ombros, enquanto a como. Bater naquela bunda,
metendo por trás, segurando um punhado daquele cabelo
vermelho nas mãos.
Merda.
A reunião mal começou e já está perdida.
Não há a menor chance de conseguir me concentrar, porque
tudo o que posso pensar é nela toda suja de tinta e que por
baixo da roupa — um vestido curtinho? Um shorts? — há uma
boceta quase sem pelos, esperando pela minha boca.
Porra!
— Está de acordo então com esse projeto sobre as creches
para mães que trabalham no turno da noite, senador? — os
homens que estão na minha sala perguntam, meia hora depois.
Limpo a garganta.
— Sim, claro — digo, me obrigando a focar no trabalho.
A proposta deles é realmente interessante. Há muitas mães
solo trabalhando no turno da noite e que não têm com quem
deixar os filhos.
— Contamos com seu apoio?
— Eu preciso de tudo detalhado. Enviem-me e lhes darei
uma resposta essa semana ainda.
Os dois homens se despedem e em seguida, Alfred entra.
— Tenho que dar meu braço a torcer — diz.
— Por que acho que está sendo irônico?
— Dessa vez, não. O que estou dizendo é que tinha uma má
impressão da filha mais velha de Cassius, mas Louise parece ser
uma boa moça.
Não é a primeira vez que ele fala dela desde que a contratei.
Na verdade, parece meio obcecado.
— Por que má impressão?
Ele parece desconfortável.
— Há rumores sobre ela durante a adolescência.
Levanto-me, me sentindo protetor com relação a Louise.
— Ela viu o pai ser morto aos doze anos incompletos, Alfred,
então qualquer que sejam os pecados dela na adolescência,
tenho certeza de que foi absolvida.
Ele não perde tempo.
— Isso significa que ela poderia ser uma candidata a
esposa?
— Jesus, está parecendo minha avó, com ideia fixa em
casamento.
Ele esconde um sorriso.
Como pode ter adivinhado que Louise estava dominando
meus pensamentos?
Juro por Deus que o homem parece saber de tudo como um
maldito oráculo.
— O avião está esperando, senador. Hora de voltar para
casa.
Estamos viajando de estado em estado há cerca de quinze
dias, em parte, já como estratégia de campanha visando a
presidência, mas também para ver se consigo votos para alguns
dos meus projetos.
— Mal posso esperar — digo.
— Algum motivo especial para querer voltar para o Texas?
— Estamos fora do expediente, né?
Ele dá risada, já antecipando o que virá, antes de acenar
com a cabeça.
— Nesse caso, vá para o inferno, Alfred.
Eu o conheço há tempo demais para saber que está atento
em tudo à minha volta e agora o foco dele passou a ser minha
interação com Louise.
Maldito homem enxerido.
Quarenta e cinco minutos depois, tiro o blazer do terno
quando entro em meu avião particular e aceito de bom grado a
dose de uísque que o comissário de bordo vem me oferecer.
Depois de dar um gole, seguro meu celular com força,
lutando uma guerra interna.
Talvez tudo o que deva fazer seja sair com uma mulher.
Desde o jantar em que contratei Louise, nunca mais estive com
alguém.
Não faltaram ofertas. Com o meu currículo de devassidão,
como Mary Grace chama, recebo várias mensagens por dia de
ex-parceiras de sexo.
Entretanto, não quero outra que não seja a ruiva atrevida.
Eu me senti um adolescente ao ter ereções à noite no meu
quarto, lembrando a maneira como a calça de yoga que vestia
no dia em que treinamos se agarrava à bunda redonda.
A memória é o bastante para me convencer de que preciso
ouvi-la. O desejo mandando a prudência para o inferno.
O celular toca algumas vezes antes que ela atenda.
— Repita o que falou sobre sua depilação.
Louise ofega do outro lado da linha.
— Não me lembro — diz.
Eu poderia empurrá-la mais, mas resolvo deixar passar
porque estamos caminhando sobre areia movediça.
— Vai me deixar conhecer esse espaço que usa para pintar?
É um galpão?
— Não, um apartamento que comprei só para isso.
— Por que não o faz onde mora?
— Porque se tornaria algo comum. Vir aqui é especial.
— Me deixará conhecê-lo? — repito.
Não costumo pedir duas vezes. Na verdade, é raro quando
preciso pedir algo a uma mulher, elas geralmente se antecipam.
Com Louise, é como um jogo de caçador e presa.
— Por que quer conhecê-lo? Eu nunca trouxe alguém aqui.
— Agora minha vontade de ir em seu esconderijo aumentou.
Gosto dessa coisa de exclusividade.
— Você é tão mimado, senador. Está acostumado a ter tudo
o que quer.
— Não posso negar.
Eu não posso ter você e nunca quis tanto uma mulher na
minha vida.
— Eu vou pensar sobre isso. Não sou uma artista, se é o que
está pensando. Não vai encontrar pinturas dignas de Picasso.
Esse é o espaço que uso para me libertar.
— De quê?
— Não é de quê, Bryce, é de quem: de mim mesma.
Capítulo 15
No dia seguinte
Desperto assustada com o celular tocando e ao
mesmo tempo, sem saber direito onde estou, porque custo
um pouco a acordar.
Sento-me na cama em alerta e tateio a mesinha de
cabeceira, ainda de olhos fechados.
— Senhorita Whitlock?
Eu reconheço a voz do outro lado da linha, acho que é
do assistente de Bryce.
— Sim, sou eu.
— Aqui quem fala é Alfred Johnson. — Ele confirma
minhas suspeitas. — Precisamos que venha imediatamente
para o gabinete do senador Gray. Ah, e traga uma mala
pronta. Iremos para D. C.[27] ainda hoje. Um motorista estará
esperando-a na portaria do seu prédio.
Ele desliga sem falar mais nada e é toda informação
que preciso para ter certeza de que há algo muito errado.
Eu rompi a velocidade da luz no momento em que
pulei da cama, tomei banho e me vesti.
Como ele avisara, há um motorista à minha espera.
— Bom dia, senhorita Whitlock. Tomei a liberdade de
lhe trazer café. Há três tipos diferentes. O do copo bege é
descafeinado.
— Obrigada.
Nesse instante, eu poderia beijar o homem em
agradecimento.
Sou movida a cafeína e ainda é muito cedo para que
meus neurônios entrem em pleno funcionamento sem um
estímulo extra.
Olho as inscrições no copo e escolho o café puro.
Dou um gole e quando o líquido quente desce pela
minha garganta, preciso conter um gemido de prazer.
Uma vez eu li, e claro que não levei a sério, que
pessoas capazes de tomar café sem açúcar tem tendência à
sociopatia. Se for verdade, sou uma. É como gosto do meu.
Segundos depois, já me sentindo um pouco melhor,
coloco o copo no suporte e abro meu celular para ver o que
pode ter acontecido envolvendo o nome de Bryce.
Ao invés de ir para sites oficiais do partido
republicano, abro o da emissora de tv que apadrinha o
partido democrata.
Só de passar os olhos na manchete, um suor frio
escorre pela minha coluna e meu coração dispara.
Jesus Cristo!
Leio toda a matéria, sentindo meu estômago revirar e
eu nem sei identificar o motivo direito — se é por meu novo
empregador estar no olho do furacão ou porque...
Claro que é pelo prejuízo à carreira dele que está se
sentindo mal, Louise. Não seja tola.
Enquanto o motorista se aproxima do destino, tento
fazer um esboço mental de uma estratégia para contermos
os danos, mas por todos os ângulos que analiso a questão, o
cenário parece péssimo.
O que eles noticiaram pode encerrar de uma vez por
todas as chances de que Bryce alcance a Casa Branca.
Capítulo 16
— O quê? — ela pergunta com os olhos arregalados.
— Jesus, Hudson! — falo, dando um passo à frente porque
Louise parece prestes a desmaiar.
— É verdade?
— Não.
— Acredito, sim.
— Então aceite, pelo bem do país. Deus sabe que os
Estados Unidos estão precisando de políticos honestos. Quem
fez isso queria tirá-lo do páreo, Louise, porque sabe que se
Bryce sair como candidato, vencerá as eleições.
Capítulo 17
Antes que eu tenha a chance de responder, uma batida na
porta antecede a entrada da secretária.
— Senador Gray, o senador Cassius Stonebraker acaba de
chegar.
— Mande-o entrar — Bryce diz.
Quando a secretária lhe dá passagem, meu padrasto parece
surpreso de me ver aqui.
— Louise, filha — fala, vindo me abraçar e beijar antes de
falar com qualquer um — Não sabia que já havia começado a
trabalhar para Bryce.
— Oi, Cassius. Sim, nós nos encontramos para acertar os
detalhes no dia seguinte do jantar que você e mamãe
ofereceram. Já estou como assessora dele há duas semanas,
mas como deve saber, o senador estava viajando. Como vai?
Cassius faz uma cara de desgosto e acho que é porque
agora todos estão cientes de que não falo com frequência com
meus parentes.
— Melhor agora que vi você, amor. — Ele olha em volta. —
Bom dia, rapazes.
Caminha até onde Bryce está.
— Descobriremos de onde partiu isso. — fala, quando para
em frente a ele.
— Já está sendo providenciado, senador — Bryce responde,
estendendo a mão.
— Sim, eu imaginei que seu irmão o orientaria.
De algum modo, o que ele diz me irrita. Sei que Hudson é
mais velho e os Gray se protegem entre si. Ficou claro, por virem
tão cedo de Grayland para apoiarem Bryce, o quanto são unidos,
mas em momento algum o trataram com condescendência
como Cassius está fazendo agora.
Fico constrangida pelo comportamento do meu padrasto.
— De qualquer modo, vim trazer uma solução. Claro que
conseguiremos contornar a situação, mas como sabe, após anos
na política, a opinião pública é muito volátil. O eleitor muda de
ideia em um piscar de olhos.
Ele faz uma pausa como se quisesse que Bryce absorvesse
as palavras.
Ao invés de focar em Cassius, presto atenção no homem que
agora é meu chefe e, caso eu concorde com a ideia maluca, se
transformará em meu noivo de mentira. Ele não demonstra
qualquer emoção.
— Continue. — Bryce diz.
— O ideal para que sua reputação não seja manchada, será
dar a crer que está em um relacionamento estável. De modo
que, o melhor a ser feito é fingir um namoro de mentira com a
minha Emory. Ela é perfeita em todos os sentidos e também está
acima de qualquer suspeita. Linda, excelente filha e aluna
exemplar do curso de Belas Artes. Não precisa me agradecer.
Ele olha de Bryce para mim e sorri com aquele ar de
autoconfiança tão peculiar, mas eu não consigo devolver o
sorriso.
O silêncio na sala é tão denso que daria para ser cortado à
faca e sei que todos os olhos estão em mim.
Sem pegar a dica do clima estranho, Cassius continua.
— Louise, sendo sua assessora de imprensa, poderá lhe
dizer que a escolha da irmã dela para fazer o papel de
namorada não poderia ser mais perfeita.
Agora eu finalmente o encaro. Cassius, ao contrário de todos
os Gray, incluindo o próprio Bryce, sequer me considerou como
alternativa. Por que o faria? Para ele e mamãe, apesar de tudo,
sempre serei a esquisita da família.
Eles sabem todos os meus segredos.
Olho para Bryce e ele cruza os braços no peito. Sei que
espera que eu tome uma decisão.
— Por que não pensou nela? — pergunto ao senador Gray,
ignorando todos à minha volta.
Ele não titubeia.
— Desde o primeiro momento, você foi a única alternativa.
Sei que é bobagem porque ele está apenas sendo prático,
mas o que diz mexe comigo.
Finalmente, crio coragem para falar.
— Não será necessário envolver Emory, Cassius. Bryce me
pediu para ser a noiva dele por um tempo e eu aceitei.
— O quê? — meu padrasto pergunta sem esconder o
espanto.
— Foi para isso que a chamei tão cedo. — Bryce diz, como
se minha decisão não tivesse sido tomada naquele segundo. —
Louise é a melhor opção. Linda, inteligente e estará sempre ao
meu lado, de qualquer modo. Ninguém duvidará que nos
apaixonamos.
O silêncio do meu padrasto se torna desconfortável porque
está claro até para o mais desatento dos observadores que ele
pensa diferente.
Entretanto, Cassius é, antes de tudo, um político, o que
significa que sabe a hora de recuar.
— Ah, nesse caso, estamos com mais de meio caminho
andado para a solução dessa questão desagradável. Bom, sabe
que tem em mim um amigo. — Ele me olha — Não considerei
você porque achei que não aceitaria, meu bem.
Nós dois sabemos que está mentindo.
Não importa o quanto eu tenha me revestido de camadas e
camadas de boa moça, para minha família, sempre serei aquela
que passou por um período de loucura.
— Eu prezo a lealdade, Cassius. Os Gray disseram que agora
faço parte da família e família, a gente defende não importa a
razão.
— Claro que sim, meu bem. Bryce tem uma família incrível.
— Ele me dá um sorriso amarelo. — Virá para o almoço de
domingo?
Você sabe que eu nunca vou ao almoço de domingo.
Eu o adoro, mas essa necessidade que tem de manter as
aparências realmente me irrita.
— Eu não sei ao certo ainda. O senador Gray voltou de
viagem ontem. Estarei à disposição dos horários dele.
Ele se aproxima e segura meu rosto.
— Eu às vezes esqueço que a minha garotinha cresceu.
Perdoe seu velho por ainda tratá-la como uma criança.
Beija-me a testa e então se volta para Bryce.
— Telefone-me a qualquer momento se precisar de alguma
coisa. — diz, puxando-o para um abraço. — E se descobrir a
origem do vídeo, não deixe de me avisar, embora eu tenha
quase certeza de que partiu dos democratas. Eles sabem que
você está se aproximando e que se for a escolha do nosso
partido, nada o deterá. A única arma é tentar destruir sua
reputação.
— Já estou investigando. Obrigado por vir tão rápido. É bom
ter em você um rival e um aliado ao mesmo tempo — meu chefe
responde.
— Não sou um rival. Estou lhe dando passagem, Bryce. Eu
servi ao nosso país por muitos anos, mas estou cansado. Sonho
com o momento em que a coisa mais difícil que eu tenha que
fazer será optar entre pescar ou jogar golfe.
Depois que ele sai, Dominika para na minha frente.
— Boa decisão, Louise. Agora precisamos conversar sobre
tudo o que precisará para que se torne uma futura primeira-
dama perfeita aos olhos do público.
— Pensei que havia se aposentado do mundo da política,
Dominika — Hudson diz e detecto uma ponta de ironia na voz
dele.
— Não ligue para ele — a cunhada de Bryce fala. — Não se
conforma de eu ter trocado meu emprego para me casar com
Reed.
Rio do clima de camaradagem ao qual não estou
acostumada, mas ao mesmo tempo fico pensando se não fui
muito impulsiva em me oferecer para o papel de noiva fictícia.
Dominika não me deixa puxar outra respiração, porque já
coloca ordem na casa.
— Não estou querendo seu emprego, Alfred, mas temos que
agir rápido. Providencie a medida do dedo de Louise e compre o
mais exclusivo e chamativo anel de noivado que você encontrar.
Em seguida, temos que voltar para Grayland.
— Mas hoje é dia de semana. Pensei em irmos para D.C.
para fazermos o anúncio do noivado — o assistente do senador
diz.
— Não. Os eleitores sabem que Bryce trabalha da fazenda às
vezes. Desmarque todos os compromissos dele. Quando o
noivado for anunciado, estaremos em família. Se a ideia é
passar credibilidade à imagem do nosso futuro presidente, nada
melhor do que estarmos todos reunidos, com Grayland como
plano de fundo.
Capítulo 18
— O quanto está nervosa? — Dominika, a cunhada de
Bryce, me pergunta, assim que entramos na sala em anexo,
onde ela me chamou para uma conversa privada.
— De zero a dez? Onze.
Ela dá risada.
— Sim.
— Por quê?
— Além de vir de uma família tradicionalmente formada
por políticos, você é jornalista. Vai saber exatamente o que dizer
e quando calar, o que poupará muito o meu trabalho e o de
Alfred.
— O quê?
— Eu sei disso.
— Oh!
— Perdoe-me se estou sendo enxerida, Louise. Hudson
sempre diz que fiquei com esse “defeito” da época em que era
chefe de campanha dele e precisava saber de tudo, mas o que
estou tentando dizer é que se precisar de alguém para
conversar, estarei aqui.
— O que houve?
— Não.
— Por quê?
— Eu sei e não foi por isso que liguei, mas para contar que
hoje sairá a notícia de nosso noivado nos noticiários.
— O quê?
Capítulo 19
Preparo-me mentalmente para fazer o telefonema mais
difícil de todos: para minha mãe.
O aparelho chama algumas vezes antes que ela
finalmente atenda.
— Mãe?
— Não?
— O que mais?
— Tipo o quê?
Ela sorri.
Capítulo 20
A caminho de Grayland
Ela tenta agir com naturalidade no espaço restrito do
helicóptero, mas desde o momento em que entrou, seguida por
mim e fechou o cinto de segurança, aperta as mãos no colo para
conter o nervosismo.
— O que há de errado? — pergunto, quando o silêncio se torna
mais do que posso lidar.
Fui acordado por Alfred às quatro horas da manhã avisando-
me que esse maldito vídeo foi jogado na internet de madrugada
e que uma reportagem completa sairia na emissora de tv rival
em poucas horas.
Irritação nem começa a explicar o que estou sentindo. Se a
intenção deles era me fazer recuar ao me exporem, mexeram
com a pessoa errada. Um Gray, quando provocado, se prepara e
ataca com o dobro das forças.
Eu irei até o inferno, mas vou descobrir quem está por trás
dessa armação.
— Tudo. Estou apavorada, Bryce — ela finalmente responde. —
Como expliquei a Dominika, acho difícil que as pessoas
acreditem que estávamos juntos. Nunca saímos.
— Desde que entrei para a vida pública, jamais fui visto com
mulher alguma em eventos, Louise. Esse argumento, então, não
procede.
Ela me olha, parecendo surpresa.
— Por que não? Digo, por que não fez aparições públicas com
mulheres? Não seria nada de mais, já que é solteiro.
— Eu já não fazia isso antes, para início de conversa. Quando
era bem mais jovem, até posso ter sido fotografado com uma
das minhas namoradas, mas jamais as levei para dentro da
família ou dei a entender que nosso relacionamento era algo
permanente.
— Para não se comprometer?
— Para não iludir, Louise. Eu não tenho uma reputação muito
louvável. Aos trinta e oito anos, sou um cara normal, com uma
vida sexual ativa — falo e observo seu rosto corar. — Entretanto,
jamais menti para minhas parceiras.
— Parceiras soa tão… frio.
— Não há outro nome para designar. Namoro talvez seja mais
bonito, mas totalmente inadequado, também.
— Por quê?
— Não acho que você queira saber disso.
— Eu não sou um cristal. Fale-me.
— As minhas saídas com mulheres, não envolvem conversas
profundas. Ambos sabemos o que queremos. Nos divertir e fazer
sexo. Não tem nada a ver com conhecer o outro, mas satisfazer
uma necessidade física.
— Você é um colecionador de corações quebrados, Bryce?
Não há condenação na pergunta. É como se estivesse exigindo
que eu fosse honesto, então é o que faço.
— Se me transformei em um, não foi de propósito. Sempre fui
sincero em minhas intenções. Não vejo qualquer satisfação em
magoar uma mulher.
— Não ache que estou querendo me meter na sua vida.
Apenas tentando entender o contexto porque, em algum
momento, os repórteres ficarão atrás de mim para saber
detalhes tanto do nosso relacionamento quanto do passado.
Suspiro, sabendo que ela tem razão, mas ao mesmo tempo,
estou exausto mentalmente.
— Não os alimente com respostas muito elaboradas. Deixe
que especulem. Mentiras são difíceis de serem mantidas porque
precisam ser memorizadas. Quanto menos você falar, melhor.
— Eu conversei com Dominika.
— Sim, eu sei.
— Eu revelei a ela fatos do meu passado porque não quero
prejudicá-lo.
— Sobre seu pai?
— Envolvendo meu pai, sim, mas especificamente sobre mim.
— Quer me contar?
— Não — diz. — Mas acho que devo. Não quero que seja pego
de surpresa por minha causa.
— O que é?
Não me sinto tenso sobre aquilo porque desconfio que seja
sobre o que Hudson revelou: o dia da morte do pai dela.
Imagino o quanto seja difícil para Louise relembrar algo assim
e saber que tem a intenção de fazê-lo apenas para evitar que
me peguem de surpresa, mexe para caralho comigo.
— O assassino do meu pai não foi morto por um segurança,
mas por mim. Fui eu quem atirou no homem que matou papai.
Eu poderia fingir desconhecimento, mas ela está sendo
honesta, então, merece o mesmo de volta.
— Eu sei.
Volta-se no assento para me encarar.
— Como é possível?
Não respondo, apenas a olho e depois de um tempo, algo
como decepção atravessa seu rosto.
— Você me investigou.
— Minha família o fez — falo, sem entrar em detalhes de que
foi Hudson. — Desde o momento em que Cassius se aproximou
de mim, eles investigaram todos os que estavam relacionados a
ele. Eu poderia me desculpar por essa atitude, Louise, mas não
vou. No lugar deles, teria feito o mesmo.
— É invasão de privacidade.
— Em algum nível, é sim, mas também é sobre tomarmos
conta uns dos outros.
— Pode usar o argumento que quiser, Bryce, ainda assim,
vocês investigaram minha vida como se eu fosse uma criminosa.
— Eu não vou me desculpar, Louise — repito. — Não teria feito
a pesquisa eu mesmo, mas entendo a preocupação deles.
Quando meus pais morreram, nos tornamos ainda mais unidos.
Só tínhamos como família uns aos outros e minha avó.
Ela olha para fora da janela do helicóptero.
— Se vamos conviver, agora mais próximos do que imaginei a
princípio, tem que saber que sou sempre honesto — continuo. —
Eu poderia ter fingido que não sabia que foi você quem matou o
assassino do seu pai, mas não é assim que as coisas funcionam
comigo. Prefiro a franqueza, mesmo que traga dor.
Ela me encara com os olhos magoados.
— Dor aos outros, né? Porque você, aparentemente, é
inatingível.
Ignoro o rancor em sua voz.
— Essa discussão não tem o menor sentido. Você começou
com esse assunto por uma razão — falo, me forçando a relevar o
quanto parece chateada e me apegar aos aspectos práticos.
Vejo-a respirar fundo para se acalmar e intuo que tenta
controlar o mau gênio.
— O quanto sabe de suas pesquisas sobre mim?
— Não são minhas pesquisas, como lhe falei. Ao menos, as
buscas profundas, não fui eu quem fez. Entretanto, joguei seu
nome na internet no dia em que a contratei. Não encontrei nada
de mais. O que sei a seu respeito é muito pouco. Na verdade,
apenas que matou um homem em legítima defesa do seu pai.
— Há mais — diz e seus olhos se tornam vazios, como se
estivesse a milhas de distância. — Como contei a Dominika, eu
enlouqueci por um tempo na adolescência. Não usei drogas ou
fiz sexo em público. Não se preocupe, senador. Apenas fui pega
uma vez dirigindo alcoolizada. Na teoria, todos os arquivos estão
trancados, mas depois do que acaba de me contar, acho que o
conceito de “segredo de justiça” não é mais correto.
Deixo passar a raiva em sua voz, embora saiba que tem razão
em se sentir chateada. O que Hudson fez foi mesmo invasão de
privacidade.
— Sobre o que me contou em relação a dirigir embriagada, se
não machucou alguém, são acontecimentos da adolescência.
Todos nós temos esqueletos no armário. No que diz respeito à
morte do seu pai, ter atirado no homem que o matou só faz de
você uma heroína.
Ela não fala mais nada até o instante em que o helicóptero
pousa na minha fazenda. Desço primeiro e vou ajudá-la.
Apesar de ainda parecer indiferente a mim, aceita minha mão.
— Bem-vinda a Rio em Chamas[30], Louise.
Pela primeira vez, a fachada de frieza cai.
— Oh, achei que estávamos indo para a Império Gray, a casa
da sua avó.
— Não. Vamos para lá mais tarde. Preciso dar uns telefonemas
antes.
— Eu também vou dormir aqui?
— Sim, você está comigo.
Assim que as palavras saem da minha boca, percebo que
gosto de como aquilo soa.
Devo estar ficando louco, porra!
Observo, sem entender, seu rosto desanuviar.
— Obrigada.
— Pelo quê? Achei que estava com raiva de mim.
— Sim, não passou ainda, mas obrigada por me trazer para cá.
Não sou boa em conviver com estranhos em um primeiro
momento. Não pego intimidade com facilidade.
Ela está me agradecendo por mantê-la ao meu lado?
A mulher definitivamente é um quebra-cabeça.
— Pareceu se dar bem com Dominika.
— Sim, para uso externo sou a pessoa mais sociável do
mundo, mas eu estava falando sobre ficar dentro de uma
mesma casa.
— Eu sou um estranho também, Louise.
Ela me encara por uns segundos antes de dizer:
— Acredite, pela nossa interação nos últimos dias, é uma das
pessoas mais próximas a mim nesse instante. Minha família
incluída.
E assim, depois de me jogar aquilo em cima sem elaborar
mais a respeito, ela vira as costas e se afasta.
Capítulo 21
Eu não sei definir o que me causou ouvir Louise confessar,
mesmo ainda zangada comigo, que prefere estar aqui porque
me tornei mais próximo dela nos últimos dias do que sua própria
família.
Acostumado a lidar com meus parentes, que são muitos e cujo
número aumenta cada vez mais, tenho certa dificuldade em
entender como a pouca interação que tivemos, no mundo dela,
faz com que sinta segura comigo.
Pegando a dica de que não se sente confortável em ambientes
desconhecidos, ao invés de deixar que minha governanta a leve
até o quarto em que ocupará enquanto estiver como minha
hóspede, resolvo eu mesma fazê-lo.
— Pode escolher qualquer uma das suítes — aviso, quando
chegamos ao corredor. — Mas se quer um conselho, fique com a
do lado da minha, há uma vista incrível para o rio.
Ela acena com a cabeça, concordando e abro a porta do
quarto.
Não diz se gostou, mas vai até a janela e fica alguns segundos
olhando a paisagem lá fora.
— É esse, então? — pergunto.
— Sim… Isso aqui é — ela volta a me encarar —, bonito.
— Espetacular descreveria melhor essa vista, Louise.
Sei que a estou empurrando. O rosto dela está fechado e um
cara menos autoconfiante recuaria, mas não eu.
Ela suspira.
— O quarto é espetacular. Você, não. Eu ainda estou chateada.
— Sei disso, mas a não ser que tenha mudado de ideia sobre o
nosso acordo, teremos que superar esse desentendimento. Os
repórteres não são bobos. Eles prestarão atenção em nós, à
expressão corporal, inclusive, e se quando anunciarmos o
noivado mais tarde ainda parecer aborrecida, vão notar.
— Não vou trair você. Dei minha palavra de que o ajudaria e
vou até o fim com isso.
— Por quê? Esse seria o momento de me mandar para o
inferno e se vingar por minha família ter invadido sua
privacidade.
— Eu não vou te trair — repete.
— Lealdade é importante para você, Louise?
— Lealdade é o meu norte, Bryce. Mesmo que eu esteja muito
zangada por você ter descoberto sobre a morte do meu pai
antes que eu tivesse a oportunidade de lhe contar, não vou virar
as costas para você agora.
Estou subindo a escadaria que leva ao andar dos quartos, para
avisar a Louise que devemos ir para a casa da minha avó,
quando, antes mesmo de pisar no primeiro degrau, a vejo
parada no alto.
Tento não demonstrar espanto enquanto observo-a em um
vestido preto, de saia rodada, na altura dos joelhos e sem
mangas.
Os cabelos estão soltos e parecem selvagens, combinando
muito mais com a personalidade dela do que os penteados
elaborados nos quais já a vi.
Hoje pela manhã ela estava de terninho, com um coque preso
na nuca e linda como sempre, mas essa Louise aqui é ainda
mais irresistível.
Ela parece jovem e livre.
— Alguém mandou entregar — diz, apontando para a própria
roupa. — Foi Dominika quem providenciou. Também disse que
eu deveria usar o cabelo assim. Ela pensa em tudo.
Parece inquieta e sem jeito e aquilo me deixa ligado.
Louise é insegura em relação à própria aparência? Como é
possível? É uma das mulheres mais bonitas que já vi.
— Você está linda — digo quando estou dois degraus abaixo
dela, nossos rostos, dada à diferença de altura, alinhados.
— Não precisa me elogiar.
— Preciso sim e vou fazer isso muitas vezes. Você será minha
noiva.
— De mentirinha — diz, baixinho.
— Ainda está brava?
Ela dá de ombros.
— Estou sempre zangada com alguma coisa. A raiva é um
motivador.
— E por que precisa de um?
— Todos nós precisamos de um objetivo.
— Não estava falando sobre objetivos, e sim, sobre um
motivador. O que a motiva, Louise?
— O medo de esquecer.
— Esquecer do quê?
— Não do quê, é de quem: meu pai. Eu não quero esquecê-lo.
Todos já o fizeram. Ele só tem a mim agora.
Jesus Cristo, a mulher tem a capacidade, com meia dúzia de
palavras, de me fazer querer protegê-la do mundo. Nesse
instante, Louise não parece a ruiva atrevida que sempre me deu
respostas atravessadas, e sim, uma garota solitária e vulnerável.
— Quer falar a respeito?
Ela balança a cabeça de um lado para o outro, fazendo que
não.
— Eu não sei se consigo fazer isso, Bryce.
— O quê?
— Fingir estar apaixonada. Eu não sei qual é a sensação.
— Nunca se envolveu com alguém a sério?
Ela hesita antes de responder, desviando os olhos dos meus.
— Não.
— Então somos ambos estreantes no papel.
Subo mais um degrau e agora uma distância mínima nos
separa.
— Tenho medo de fazer tudo errado — diz.
Diabos, há algo na mulher que rouba todo pensamento
racional do meu cérebro. A proximidade com Louise me
transforma em um ser primitivo e todos os meus instintos de
macho entram em ação.
Eu adoro sexo e o faço com frequência, mas jamais tive uma
reação tão visceral a uma mulher.
Sempre me senti assim em torno dela, mas a vulnerabilidade
que está deixando vir à tona mexe com algo mais que eu não sei
identificar.
Sem pensar no que estou fazendo, seguro sua mão. A intenção
era fazê-la entender que só por ter aceitado participar do plano
já me ajudará muito, mas do mesmo modo que aconteceu na
biblioteca da casa de Cassius, no segundo em que as peles
encostam, nossos olhos se buscam e eu sinto como se o sangue
em minhas veias estivesse em ebulição.
Eu deveria soltá-la, mas não o faço. Ao contrário, sobreponho
a outra mão.
— Do que tem medo?
— De que eles notem.
— Notem o quê, Louise?
— Como posso estar apaixonada se não sou do tipo que
abraça? Se me custa até mesmo estar próxima a alguém?
— Estamos próximos. Sente vontade de se afastar?
Olho o movimento da garganta dela quando engole em seco.
Eu não sei se ela percebe que está olhando para a minha boca,
mas sou experiente demais para deixar passar algo assim.
A Louise segura, aquela que eu desconfio ser uma espécie de
capa protetora que usa contra o mundo, desapareceu. Ela está
se mostrando, descascando as camadas como uma doce
tentação, justamente em um dos momentos mais conturbados
da minha vida.
Em um dia em que eu deveria estar absolutamente
concentrado na declaração que daremos daqui a pouco — na
verdade um pequeno vídeo para ser solto nas redes sociais —,
tudo o que penso é em puxá-la para os meus braços e provar
sua boca.
— Não, eu não sinto vontade de me afastar de você —
responde, depois do que parece uma vida.
A voz soa rouca, como se lhe custasse admitir aquilo.
Subo o último degrau e agora, estamos com nossos corpos
quase colados. A respiração dela encurta, o esforço para puxar
o ar fazendo os seios subirem e descerem contra o tecido do
vestido.
— Mas isso é… — começa — estarmos tão perto é
inapropriado.
— Eu sei. Mas não foi isso que perguntei, Louise, e sim se
minha proximidade a incomoda.
Sei que estou invadindo seu espaço pessoal. Nunca me impus
a uma mulher, mas por outro lado, ela poderia me mandar parar
a qualquer momento. Ao invés disso, o corpo inclina para a
frente, como se não pudesse se controlar.
Somos dois.
Cada músculo meu reage à quentura dos dela. A mulher emite
ondas, como em um chamado silencioso, me seduzindo mesmo
sem qualquer esforço.
— Sua proximidade não me incomoda e mesmo que o fizesse,
preciso me acostumar com isso.
— Disse que não tem hábito de abraçar. Precisamos treinar
porque devemos fazê-lo em público, eventualmente.
— Eu sei — responde quase que em sussurro.
Trago sua mão, que ainda seguro, para o meu peito.
— Toque-me, Louise.
Ela me olha através dos cílios, mas ainda não se move.
Eu a puxo de leve, trazendo-a para mais perto, mas ainda
deixo espaço para que recue se desejar.
— Faça. — Minha voz soa dura, como em um comando, porque
o desejo causa um latejar doloroso em meu corpo.
Eu poderia facilitar sua vida, mas minha intuição diz que ela é
como um animalzinho arisco, e que se eu der o primeiro passo,
fugirá.
Ela se aproxima lentamente e o corpo pressiona de leve no
meu.
Uma espécie de corrente elétrica nos atravessa. Quando nos
encaramos, ela tenta recuar, mas sou mais rápido e passo o
braço em volta da cintura fina.
— Bryce…
— Não estamos fazendo nada de errado. Encare como um
treino. Os repórteres estarão prestando atenção em nossa
linguagem corporal.
— Sou tensa.
— Deixa eu melhorar isso, então.
Eu moldo meus músculos contra as curvas dela.
Não há qualquer espaço entre nossos corpos e a vibração
entre nós dois é quase violenta.
As bocas pairam bem perto e eu sei que o momento de pensar
com clareza se perdeu. Eu preciso prová-la.
— Senador, cheguei! — Ouço a voz de Alfred.
Louise se solta de mim como se tivesse sido picada por um
escorpião, fugindo para longe.
Desce as escadas quase correndo e sem olhar para trás.
Acho que não faz a menor ideia de para onde está indo, mas o
choque pelo que ambos sabemos que iria acontecer a deixou em
pânico.
Eu queria ser um homem melhor e dizer que me arrependo
por ter deixado as coisas entre nós irem tão longe, mas não sou
mentiroso.
Não foi a última vez que tive Louise em meus braços.
Eu a desejo e a terei.
Capítulo 23
— Os abutres estão sentados na arquibancada, guardanapos
no colo, esperando de garfo e faca para devorá-lo — Alfred diz
para Bryce.
Estamos do lado de fora do veículo que nos levará até a
fazenda Império Gray. Depois que Alfred chegou, Bryce pediu
licença e foi trocar o terno por algo mais casual.
Quando voltou, eu precisei conter um suspiro.
Eu nunca o tinha visto de jeans e fiquei meio que hipnotizada
pela maneira como o tecido delineia as coxas grossas e a
camisa xadrez se estica nos braços fortes.
Ele também está de chapéu e gostaria de saber se foi por
orientação de Alfred e Dominika ou se em Grayland ele se veste
assim mesmo.
— Não vai acontecer — Bryce responde com total segurança.
— Além do anúncio do noivado, daqui a pouco o vídeo que
forjaram contra mim será jogado na internet, mas dessa vez,
com os protagonistas reais daquele pornô de quinta.
— Descobriu quem são as pessoas, então? — pergunto.
— Sim.
— Deveria ter me falado, Bryce. Como sua assessora de
imprensa, preciso estar a par desse tipo de coisa.
— Eu planejei te contar, mas acabei me distraindo quando nos
encontramos — diz, os olhos intensos brilhando para mim, me
fazendo lembrar que se não fosse a interrupção de Alfred,
provavelmente teríamos no beijado.
Jesus, onde estou com a cabeça?
Faz apenas algumas horas que cheguei em Grayland e já não
me reconheço mais. Esqueci-me completamente do que havia
prometido a Drake: não misturar meus objetivos, não esquecer a
razão de ter vindo trabalhar para Bryce Gray.
— Se o vídeo real será revelado hoje, por que precisamos
continuar com essa história de noivado? — pergunto.
É Alfred quem responde:
— Porque sempre haverá aqueles que não acreditarão que era
um vídeo manipulado. Bryce se manter em um relacionamento
sério por um tempo, principalmente um noivado, dará validação
a essa ideia de que armaram um complô para prejudicá-lo.
Penso no que está dizendo.
— Acho que faz sentido — falo. — Na verdade, podemos usar a
própria tentativa de difamação como uma arma contra eles. Se
plantarmos a ideia de que eu e Bryce estamos juntos para valer,
com intenção de casamento inclusive, isso pode consolidar a
escolha dos republicanos para que ele seja o candidato. Pelo que
acompanho do partido, não duvido que já haja nesse instante
um grupo pensando em varrer o nome dele de uma possível
disputa. Não podemos deixar acontecer.
— Por que se importa? — Bryce pergunta, parecendo tenso.
— Porque somos um time — digo sem titubear e antes que
consiga me parar, completo. — E porque não me agrada a ideia
de que meu futuro marido seja acusado injustamente.
Era para ser uma piada, mas ele me olha sério, sem sorrir.
Não costumo me expor, então, sem jeito, desvio o olhar e me
despeço de Alfred.
Segundos depois, Bryce toma assento ao meu lado. Fecha o
cinto de segurança e após arrancar com o carro, diz:
— Eu ia te beijar lá dentro.
Mordo o lábio sem saber o que responder e quando falo, peso
as palavras com cuidado.
— Ainda bem que ele chegou, então. Nos envolvermos seria
um erro.
— Eu sei. Não disse que seria uma decisão racional, e sim, que
eu ia te beijar.
— Por quê?
Ele não desvia os olhos da estrada quando responde.
— Porque eu te desejo. Sempre te desejei.
Meu coração dispara.
— Eu…
O telefone do veículo toca, interrompendo-me. Ele atende no
viva-voz.
É um membro do partido, se solidarizando com a situação e
oferecendo apoio.
Bryce agradece, mas não demonstra qualquer entusiasmo
pela oferta.
Enquanto conversa, tento focar na paisagem lá fora, mas
dentro de mim, há uma revolução acontecendo.
Como vou sobreviver meses ao lado dele se nossos corpos
reagem de forma enlouquecida um ao outro?
Ele não deveria ter esse poder sobre mim. Bryce é um
mulherengo arrogante e nenhuma dessas características me
encanta em um homem, então, por que quando estamos perto,
não consigo parar de tremer?
Por que minha pele esquenta como se estivesse febril?
Por que o centro das minhas coxas pulsa, em uma
necessidade desconhecida?
Não, isso é uma mentira. Eu sei o significado de cada reação
que ele me provoca: desejo carnal.
Foco, Louise. Concentre-se no que Drake falou.
Assim que essa questão do vídeo for resolvida, manterei nosso
noivado falso exatamente no lugar em que ele deve ficar:
apenas para uso externo, alimentando a necessidade da
imprensa e acalmando o clamor público.
Se tudo sair como eu e Drake esperamos, em poucos meses
conseguirei saber os nomes de quem ordenou a morte do meu
pai. Ele já tem uma pista, mas disse que não me revelaria nada
até ter certeza.
Quando os verdadeiros culpados forem punidos, finalmente
estarei livre para viver minha vida.
Recomeçar — ou começar, dependendo do ponto de vista —
minha história longe da família e dessa capa de perfeição que
fui obrigada a usar nos últimos cinco anos.
— Está calada — diz, me olhando.
Eu não havia reparado que já encerrara a ligação.
Olho para as mãos enormes segurando o volante, os braços
musculosos e depois para o rosto perfeito.
— Estou pensando.
Meu estômago contorce em agonia com o que vou dizer, mas
devo ser honesta ou quem estiver nos observando descobrirá
essa farsa em tempo recorde.
— Em quê?
— No que aconteceu na sua casa. Não devemos deixar as
coisas irem longe demais, mas como bem apontou, seremos
observados. Eventualmente, terá que me tocar e eu não posso
pular cada vez que isso acontecer.
— Você não “pulou” quando eu te toquei.
Sinto meu rosto esquentar porque ele não está dizendo nada
além da verdade.
— Está me provocando?
— No momento, não. Continue o que estava dizendo, Louise.
— Precisamos criar uma espécie de código quando for fazer
isso para que eu possa… huh… me preparar.
Para minha surpresa, ele dá seta e em seguida, para no
acostamento.
— O que está fazendo?
Vejo que os guarda-costas que nos seguem nos dois carros
pararam também.
— Bryce? — insisto.
Ele solta o próprio cinto e meu coração quase sai pela boca
quando se inclina sobre mim.
Sinto o calor de sua respiração e também seu cheiro delicioso.
Fecho os olhos por um segundo, para tentar me acalmar, mas
quando torno a abri-los, o que vejo nos dele só piora minha
necessidade.
As pontas dos meus seios incham e uma pressão se constrói
em meu baixo ventre.
— O que está fazendo? — repito a pergunta.
— Dando continuidade ao que começamos lá em casa.
Ele vai me beijar?
— O que isso significa?
— Vamos gravar um vídeo dentro de pouco tempo, Louise. Eu
vou ter que te abraçar em frente às câmeras. Precisa estar
pronta para o meu toque.
— O que tem em mente?
Ao invés de me responder, ele solta meu cinto e coloca meus
dois braços em volta de seu pescoço.
Os rostos estão colados e por mais que eu saiba que é errado,
contraditoriamente, também não é o bastante. Assim, ao invés
de afastá-lo, deixo meus dedos correrem pelos cabelos grossos.
Um som como um grunhido sai do fundo de sua garganta e
tento recuar.
— Não. Continue.
— Só para me acostumar. — Minto.
— Sim, eu sei. Estamos treinando.
Roço a bochecha contra a barba dele e preciso morder o canto
interno da boca para não gemer, porque é gostoso demais.
— Tem que chegar mais perto, Louise.
— Como?
Antes que eu possa adivinhar o que pretende, ele me puxa
para o colo, me fazendo montá-lo de frente.
Capítulo 24
Não há espaço entre o volante e as minhas costas. Eu fico
imóvel porque consigo sentir a rigidez de seu sexo embaixo de
mim e o ardor no vértice entre as minhas coxas intensifica.
— Acho que é o bastante — digo, morrendo de medo de que
meu corpo me denuncie.
— Ainda não. Se em público, eu fizer isso — fala, passando a
mão aberta em minha coluna, me fazendo estremecer —, vai se
afastar?
Minhas pálpebras se fecham instintivamente, tentando
aproveitar melhor a carícia.
— Olhos em mim, Louise.
— Não gosto que me deem ordens — reclamo, tentando cavar
qualquer resquício de racionalidade.
— Eu sei e por isso mesmo é tão delicioso fazê-lo.
— Não pode me tocar assim em público.
Toque-me assim o tempo todo — meu corpo implora.
— Por que não? É minha noiva. Mostrará ao mundo o quanto
estamos apaixonados. Vem cá.
Ele me encaixou tão bem em seu sexo que agora consigo
sentir a espessura grossa e o comprimento.
Deus, o homem deve estar tentando me matar.
— Estamos em plena luz do dia. O objetivo é conter um
escândalo, não criar outro — pondero, embora a última coisa
que eu deseje seja me afastar.
As mãos dele escorregaram para meus quadris e o apertam,
me puxando contra seu corpo. Em resposta, cravo as unhas em
seus ombros.
Ele ergue a cabeça para me olhar e o azul de seus olhos me
queima.
— Já acha que pode ser tocada e me tocar sem sentir medo?
Aquilo me faz voltar à realidade e saio de seus braços,
sentando-me outra vez no banco do passageiro.
Olho para a frente.
— Eu não sinto medo de nada.
— Nem de mim?
— Você não me assustou. Sentiu desejo porque tinha uma
mulher no seu colo.
Ele se inclina para fechar meu cinto.
— Vou assumir que estamos falando livremente, e não no
papel de senador e assessora de imprensa.
— Agora você se lembra de quem somos?
— Você lembrou quem era quando estava fincando as unhas
nos meus ombros? Quando seu corpo estava pulsando sobre o
meu?
Sinto falta de ar de tanta vergonha.
— Percebeu?
— Sou homem e adoro sexo, Louise. Seu corpo estava me
enviando uma mensagem. Uma tão antiga quanto o Universo.
Nós nos desejamos.
— E não foi exatamente isso o que eu disse? Você ficou…
huh… excitado porque tinha uma mulher atraente no seu colo.
— Errado. Fiquei louco de tesão porque era você no meu colo.
— Não acredito nisso.
— Eu tenho uma camada polida, Louise. Um verniz de
refinamento porque sou um advogado e também senador, mas
embaixo, sou um animal guiado por instinto.
— O que isso significa?
— Não está pronta para me ouvir em meu modo cowboy,
menina. Acredite em mim.
— Eu não sou tão imatura assim.
Ele me encara antes de começar a dizer:
— Eu já estive com várias mulheres na mesma posição em que
se encontrava agora no meu colo, mas não sou um garoto, sou
um homem. Sei me controlar. Por nenhuma vez no passado,
senti vontade de rasgar a roupa delas, e trazê-las para sentar
com força no meu pau.
Perco o fôlego com a crueza das palavras, mas também sinto
minha calcinha encharcar na mesma hora.
— Se não fôssemos quem somos, eu teria dado meia volta
com o carro e te levaria novamente para minhas terras. Eu te
comeria a noite inteira, fazendo você gritar meu nome cada vez
que gozasse.
Sinto a boca seca, a cena se desenhando em minha mente
como em um filme, o corpo implorando para que ele cumpra a
promessa.
— Não podemos.
Ele parece surpreso.
— O que foi? — pergunto.
— Não negou que me quer — diz.
— Não sou uma mentirosa, Bryce.
Não no que diz respeito ao que ele me faz sentir, ao menos,
porque não posso me esquecer de que em algum nível, estou
enganando-o sim.
— Não, você é… — começa, mas o telefone toca outra vez no
viva-voz.
— Oi, cunhado. — Ouço a voz de Dominika dizer assim que ele
o toca para atender. — Está dirigindo, vindo para cá com Louise,
né? Então, peça para ela acessar o site do Washington News[36]
assim que desligarmos. Vai gostar da surpresa. Esse Lykaios não
brinca em serviço. Beijos, vejo vocês em breve.
Sei que a Washington News é a emissora que apoia o partido
republicano, então, pego meu próprio celular e acesso o site.
Clico no botão das notícias da última hora e o nome de Bryce
aparece lá no alto.
“Após o vídeo bombástico que foi amplamente divulgado hoje
cedo de forma irresponsável por uma emissora e vários sites da
internet, na qual aparentemente o senador Bryce Gray
encontrava-se em uma situação íntima com mais três mulheres,
que nas filmagens referiam a si mesmas como acompanhantes
de luxo, temos agora não só a confirmação de que se tratava de
uma fraude com o rosto do senador sendo modificado através
do aplicativo My fake face[37], como também a real identidade dos
participantes. Todos são atores, sendo que duas das mulheres,
inclusive, já protagonizaram filmes adultos.
Nós da Washington News, jamais acreditamos que o senador
Gray, que provém de uma família texana tradicional e segundo
se fala nos bastidores é a aposta dos republicanos para disputar
as próximas eleições para presidente, estivesse envolvido em
algo tão…”
— Pode parar de assistir. Já temos o suficiente — ele pede,
antes de ligar o carro.
— Não parece satisfeito.
— E não estou. Isso aí — diz, apontando para o meu celular —,
é somente para acalmar a opinião pública. Entretanto, não muda
o fato de que acabam de me chamar para a briga. Sei que a
maioria dos políticos, uma vez provado a fraude, deixaria para
lá. Eu não sou a maioria dos políticos. Quem tentou me expor,
será exposto. Eu não vou parar até pegar um por um.
Capítulo 25
— Olá, minha filha. Você deve ser Louise — minha avó
cumprimenta-a com seu jeito informal assim que estaciono.
Não nos falamos ainda depois que o vídeo foi lançado na
internet, mas pela expressão em seu rosto, sei que está com
raiva.
Vovó, apesar de ser a pessoa mais acolhedora e generosa que
eu conheço, como todos nós Gray, tem um gênio infernal e não
admite que pisem em seus calos.
Mexer com qualquer um de nós é como declarar guerra à
nossa matriarca.
— Oi, senhora Gray. É um prazer conhecê-la.
Percebo o quanto Louise está se sentindo deslocada e isso me
faz querer protegê-la ainda mais. Em contrapartida, não vou
tratá-la como um bebê. É uma mulher de vinte e três anos,
então deixarei que caminhe sozinha.
— Nada de “senhora Gray”. Chame-me de vó ou Mary Grace,
fica a seu critério.
Ela acena com a cabeça e não faz nada para se afastar
quando vovó vem para perto e a abraça.
Depois de soltar Louise, vira-se para mim e também me puxa
para um abraço.
Mary tem uma estrutura frágil e é baixinha, mas quando
abraça alguém, você se sente protegido contra o mundo.
Eu posso ter cem anos e ainda assim mexerá para cacete o
modo como ela diz, sem precisar de palavras, que ficará tudo
bem.
— Não vamos deixar isso passar, Bryce — diz, não tenho
dúvida de que se referindo ao vídeo.
— Eu sei, vó.
— Ninguém mexe com um Gray e sai impune. Não me
importaria se você fosse às urnas e perdesse em uma eleição
legítima, mas tentar prejudicá-lo de maneira tão vil é
imperdoável.
Aceno com a cabeça, concordando, porque já esperava essa
reação por parte dela.
— O menino Lykaios é meu novo herói — fala.
— Já está sabendo de tudo, então?
— Já, sim. Dominika me explicou. Inclusive sobre o noivado de
mentira de vocês. Se quer minha opinião, para tornar tudo mais
crível, devemos chamar a família de Louise para almoçar aqui
no próximo domingo. Traga os fotógrafos novamente e nenhum
eleitor duvidará de que esse relacionamento é para valer.
— Acha mesmo necessário? — Louise pergunta, parecendo
incomodada.
Minha avó franze a testa.
— O que há de errado? Não se dá bem com eles?
Jesus Cristo, vovó não conhece o significado da palavra
sutileza.
— Não. — Louise me surpreende respondendo a verdade
porque está óbvio pela interação dela com Cassius hoje cedo
que até mesmo o padrasto, com quem achei que se entendia
melhor, tem preferência por Emory. — E nem somos próximos.
— Eu entendo, minha filha, mas acho que precisaremos inseri-
los no contexto.
— O fotógrafo já chegou? — pergunto, tentando aliviar a
tensão de Louise. Podemos falar sobre a família dela mais tarde.
— Já, sim e também o repórter que filmará a declaração que
darão. Porém, pelo que Dominika me contou, nenhum de vocês
dois comeu ainda. O rapaz pode esperar. Vou alimentá-los antes.
Merda, com a correria fodida que foi nosso dia, eu havia me
esquecido completamente de perguntar se Louise estava com
fome.
Mary sai andando na frente e seguro minha futura noiva
fictícia pelo braço.
— Sou o pior anfitrião do mundo. Não como em horas
predeterminadas, então vamos fazer o seguinte. Enquanto
estiver em minhas casas, qualquer uma delas, fique à vontade
para mexer no que quiser. Não estou acostumado a receber
hóspedes.
— Eu estou bem.
— Não, deve estar morrendo de fome.
Ela parecia tensa desde que encontramos Mary, mas
finalmente me dá um quase sorriso.
— Tudo bem. Estou faminta.
Coloco uma mecha de cabelo que escapou, para trás de sua
orelha.
— Assim está melhor. Vamos manter essa coisa de falarmos a
verdade daqui por diante, okay? Comeremos e depois então,
vou lhe dar o anel que Alfred providenciou.
Como se adivinhasse que estamos falando dele, meu
assistente estaciona onde os guarda-costas pararam também há
alguns minutos.
Faço um gesto para ele de que é para nos seguir para dentro.
Depois, com a mão na parte baixa das costas de Louise, guio-a
para a casa da minha avó.
Provavelmente não deveria tocá-la assim, mas também não
deveria desejar ter suas coxas em volta da minha cintura
enquanto a fodo duro e no entanto, não tenho qualquer controle
quando se trata da atração que sinto por ela.
— Satisfeita, Louise?
— Sim, Mary. Estava uma delícia. Amanhã vou ter que correr
dez quilômetros para queimar todas essas calorias.
No decorrer do almoço, minha avó conseguiu, à sua maneira
peculiar, fazer com que ela relaxasse. Apesar de não se mostrar
completamente à vontade, porque intuo que levará um tempo
para isso acontecer se for me guiar pelo que me disse — que
não fica bem ao redor de estranhos — Louise sorriu, respondeu
às perguntas de Mary e até falou que queria a receita dela do
frango frito[38].
— Podemos fazer isso depois de amanhã, antes de voarmos de
volta para Dallas — digo.
Sinto que a minha avó olha de um para o outro, curiosa.
— Vocês se exercitam juntos? Achei que não conviviam antes
de ser contratada como assessora de imprensa dele.
Com o rosto corado, Louise responde.
— Minha entrevista de emprego foi na academia que seu neto
frequenta. Acho que Bryce tentou me cansar para que eu não
pedisse um salário tão alto.
Mary gargalha.
— Não duvide, minha filha. Se há algo que meus netos, sem
exceção, são bons, é em negociar.
Ela pede licença e sai da cozinha. Quando minha avó nos deu
a opção de comermos na mesa em que serve o café da manhã
ou na sala de jantar, Louise preferiu a primeira.
— Iremos depois de amanhã mesmo para Dallas? Eu tinha
entendido, pelo que Dominika falou, que passaríamos uns dias
em Grayland — fala, assim que estamos a sós.
— Sim, iremos. Não posso ficar aqui por mais do que quarenta
e oito horas. Daremos uma passada rápida em Dallas, mas
preciso ir para D.C. em seguida. Tenho assuntos para resolver lá.
— Mas voltou da capital ontem.
— Com toda essa questão do vídeo, precisarei fazer reuniões
presenciais. Em algumas situações, somente um cara a cara
resolve.
Ela concorda com a cabeça.
— Terá que passar em casa para pegar algo? Mais roupas?
— Eu não sei. Acho que vou conversar com Dominika sobre
como devo me vestir depois que nós… huh… anunciarmos o
noivado.
Lembro-me de que ainda não lhe entreguei o anel.
Pego a caixinha que Alfred deixou em cima da mesa, antes de
se retirar para tomar um banho.
Brinco com ela em minha mão direita, girando-a e Louise
acompanha o movimento.
— Acho que precisamos colocar isso em você.
— Okay — diz, parecendo sem jeito.
Abro a caixa e mostro para ela. Louise olha o interior sem
qualquer reação.
Merda, eu deveria ter lhe consultado sobre o modelo, tipo e
tamanho de pedra, mas deixei tudo nas mãos de Dominika e
Alfred. Afinal, o que sei sobre anéis de noivado?
— Podemos trocar se…
Ela tira a caixa da minha mão, observando o solitário dentro
dela.
— É muito bonito — diz, mas a voz está vazia de emoção. É
como se estivesse me perguntando as horas.
— É algo que escolheria para si?
— Isso importa? É apenas para enganar a imprensa.
Sua resposta me irrita porque ela se esconde atrás de
evasivas.
Avanço o braço para pegar a caixa dela, mas o afasta.
— Não, é meu — diz.
— Achei que não havia gostado — falo, agora sorrindo porque
estou começando a entendê-la. Louise se acostumou a disfarçar
o que sente.
— Eu não disse que não gostei.
— Você não disse nada.
— Eu gostei, mas posso fazer isso sozinha — diz, tirando o
solitário da caixa.
— Eu sei, mas seria… estranho.
Ela ergue os olhos para me olhar.
— Mais do que toda essa situação?
— Bom ponto. Talvez no fundo exista um neandertal dentro de
mim que quer marcá-la como minha mulher.
Ela estava concentrada na minha mão, que segura a dela,
começando a lhe vestir o anel, mas depois do que falo, para e
me encara.
— Não sou sua mulher.
Há um desafio nas palavras e por mais que eu saiba que está
certa, sinto vontade de deitá-la em cima da mesa e montar seu
corpo, beijando-a até que se renda ao meu domínio e a essa
atração incontrolável entre nós dois.
Lentamente, deslizo o anel em seu dedo, cada pedaço de pele
nosso em contato, queimando como se estivéssemos com febre.
Quando termino de colocá-lo, ela respira irregularmente.
Sem qualquer planejamento, aproximo meu braço, segurando-
a pela nunca. Não tenta fugir, ao invés disso, inclina a cabeça,
me deixando acariciar os fios de seda de seu cabelo.
— Ah, estão oficialmente noivos, pelo que vejo — Mary entra
na cozinha e brinca. Louise se afasta, parecendo constrangida.
Não sei se minha avó percebeu o que estava acontecendo,
mas se o fez, disfarçou bem.
Louise lhe mostra a mão.
— Então agora já tem seu anel? É lindo, embora a pedra tenha
ficado enorme para uma mão tão delicada. Mas se a ideia era
chamar a atenção, acertou em cheio, Bryce.
— Foi Alfred quem escolheu — Louise diz, se levantando. — Se
me derem licença, gostaria de ir ao toalete antes de
começarmos a gravação do vídeo e a sessão de fotos.
Capítulo 26
— Vocês têm que se aproximar mais, casal — o fotógrafo
pede, sem ter a menor ideia de que o dia de hoje foi o primeiro
em que eu e meu “noivo” estivemos realmente próximos.
Olho para Bryce, que está atrás de mim, com a mão em meu
ombro e percebo que o rosto dele está tenso. Eu também me
sinto assim, apenas acho que disfarço melhor.
Antes das imagens que estamos fazendo agora, gravamos um
pequeno vídeo e demos uma declaração a um repórter escolhido
a dedo. Foi rápido, por cerca de cinco minutos, mas nunca fiquei
tão envergonhada na vida.
Dominika e Alfred decidiram que deveríamos fazer o anúncio
do noivado pelo Twitter de Bryce e em um horário em que o
engajamento é maior. O vídeo também será “solto” na internet
simultaneamente.
Agora, aqui estamos, há cerca de duas horas fotografando em
vários cenários da fazenda.
Quando Bryce fizer o anúncio, imagens de nós dois juntos e
um comunicado oficial serão enviados para a Washington News.
Graças a Deus só estamos nós e o fotógrafo. Eu morreria de
vergonha se a família dele estivesse nos assistindo.
— E então? — Ouço a voz rouca do meu chefe perguntar no
meu ouvido e levo um tempo para entender que ele quer saber
se vou atender ao pedido do fotógrafo para que fiquemos mais
próximos.
— Faça o que for preciso — respondo rápido.
Ele cola nossos corpos, passando os braços em volta da minha
cintura.
Sinto a rigidez do corpo forte contra as minhas costas e seguro
um gemido. Ele parece pressentir que o clima mudou porque diz
perto da minha orelha:
— Seu cheiro está me deixando louco. Você inteira, Louise.
— Ótimo! Agora sim vejo um casal apaixonado — o fotógrafo
diz. — Sobreponha os braços nos dele, senhorita Whitlock.
Faço o que o homem pede, mas não resisto em passar as
unhas de leve no antebraço grosso.
Ouço um rosnado baixo, profundo, perto do meu lóbulo direito.
— Não comece o que não tem intenção de levar adiante —
Bryce avisa.
Eu não estou pensando direito, porque ao invés de tomar a
advertência com prudência, chego o corpo ainda mais para trás
e cravo as unhas em sua carne.
— Quanto tempo mais precisaremos fotografar? — Bryce
pergunta ao homem e estou tão excitada que nem me importo
com o significado daquilo.
— Cinco minutos e teremos o suficiente.
Depois de decorridos alguns minutos, o homem diz:
— Virem-se de frente um para o outro. Fiquem de lado para
mim. — Bryce me gira em seus braços. — Segure o rosto de sua
futura esposa, senador. Olhem-se nos olhos.
Sinto as mãos enormes erguendo meu rosto e estremeço
quando vejo desejo nos dele.
Eu não tenho experiência com homens ou qualquer tipo de
relacionamento, mas há tantas promessas escondidas na
maneira como me observa, que minha pulsação enlouquece.
— Seria demais se eu pedisse que se beijassem? — o homem
continua.
É o momento em que eu deveria mandar Bryce se afastar
porque já tivemos o suficiente, mas eu não o faço. Ao invés
disso, sem desviar de seus olhos, aceno com a cabeça porque
preciso sentir aqueles lábios nos meus.
Ele se inclina sem pressa e o calor da respiração deixa meus
joelhos fracos.
— É o que quer? — pergunta e sei que aquilo não tem nada a
ver com o pedido do fotógrafo. Bryce está me dando espaço
para fugir se for o que desejo.
A essa altura, a necessidade de prová-lo mandou o bom senso
para o inferno. Eu aceno com a cabeça outra vez,
completamente concentrada nos lábios dele.
— Não me olhe desse jeito, Louise. Estou louco para te comer.
Quero você nua, nenhuma peça de roupa entre nós enquanto eu
te provo todinha.
— Beije-me — peço, a vontade de senti-lo roubando
completamente meu juízo.
Ele se abaixa, as mãos apertando um pouco mais meu rosto,
mas ao invés de me dar o beijo com o qual estou sonhando,
apenas roça nossos lábios.
É um toque sutil, ligeiro, quase imperceptível e que não
combina em nada com a intensidade dele.
Fico chocada e também desapontada quando Bryce se afasta
e dá um passo para trás.
— Perfeito — o fotógrafo diz, a voz demonstrando satisfação.
— Encerramos. Vocês foram o casal mais fácil de fotografar da
minha carreira.
— Por quê? — Bryce pergunta, parecendo totalmente
recuperado e aquilo me deixa zangada.
Como posso ter me perdido tanto nele, no clima entre nós
dois, no seu cheiro e calor e o homem parecer absolutamente
calmo, inatingível?
Cruzo os braços na frente do meu peito, trazendo de volta
minha expressão de indiferença usual.
— Porque, com todo respeito, senador, a química entre vocês
é perfeita.
Ouço a risada do homem, mas é em Bryce que estou
concentrada. Apesar de ter se afastado, ele me olha como se
quisesse me devorar inteira.
— Acabamos? — ele pergunta ao fotógrafo.
— Sim. Vou lhes enviar os arquivos com as imagens por e-
mail, mas ficarei para o jantar, já que o senhor Johnson me
pediu que registrasse a reunião em família. Assim que voltar
para Dallas, vou revelar as imagens que fizemos hoje e enviá-las
impressas para seu gabinete. Foi um prazer trabalhar com os
senhores.
Ele se retira, mas eu apenas registro o movimento pela minha
visão periférica porque no momento, o que me mantém cativa é
o olhar predatório de Bryce em mim.
Sem dizer uma palavra, ele me pega pela mão e sai andando
em direção ao que presumo ser um celeiro.
Meu coração martela dentro do peito e chego à conclusão de
que é inútil tentar conter minhas reações a ele. Além do fato de
ser muito experiente, eu duvido que seja tão habilidosa ao ponto
de esconder o quanto estou excitada.
Dentro do galpão, ele fecha a porta e se recosta nela.
O lugar é imenso e rústico e minhas roupas parecem
absolutamente inadequadas para estar aqui.
Já o cowboy sexy à minha frente está em seu elemento. Bryce,
agora percebo, não importa quanto dinheiro tenha ou que cargo
ocupe, é essencialmente um homem do campo.
— Peça outra vez — ele diz e a voz soa como um desafio.
Eu nem tento fingir que não entendi, porque pelo seu olhar,
sei o que ele quer.
Há uma revolução acontecendo dentro do meu corpo.
Expectativa mesclada com desejo.
Eu não quero pensar com clareza. Não quero que ele me
permita raciocinar. Tudo o que preciso é senti-lo junto a mim. Eu
anseio pelo domínio de Bryce.
— Beije-me. — Rendo-me.
Capítulo 27
Ouvi-la pedir para ser beijada acaba com qualquer chance de
pensamento racional.
Dou um passo até onde está e a puxo contra meu corpo.
— Eu não vou parar no beijo, então pense no que está
pedindo. Não será aqui, porque você merece mais do que o
celeiro da minha avó, mas uma vez que eu começar, vou te
devorar gostoso, Louise.
— Por favor, Bryce…
— Eu sou racional quando não se trata de você, mulher, mas
desde a primeira vez em que te vi, eu sabia que seria minha.
Ela está agitada. A respiração, saindo em puxadas profundas e
quando inclino-me para capturar seu lábio inferior entre meus
dentes e ela geme, sei que passamos do ponto de recuar.
Eu a suspendo em meus braços, agarrando-lhe a parte de
baixo das coxas. Estou duro e quando sinto, como no carro, a
seda da calcinha recobrindo sua boceta, esfrego-me nela
faminto, precisando de qualquer parte do corpo delicioso em
mim.
Seus lábios são quentes e molhados, mas ainda não a beijo;
sugo e lambo a carne macia, provocando, fazendo-a vir atrás do
que quer.
As mãos dela adentram meu cabelo, agarrando, puxando com
força, e então eu sei que finalmente a tenho como desejo:
despudorada, ansiosa.
— Isso mesmo, pegue tudo, Louise. Não quero a socialite,
quero a fêmea louca de tesão. Sei que essa bocetinha está
molhada para mim. Entregue-se.
Quando as bocas finalmente colidem, não é beijo puro, é um
chupar sem regras. São mordidas, línguas dançando em
sincronia, os quadris balançando, querendo o atrito de pau e
boceta que as roupas impedem.
Precisando de mais, sento-me em um fardo de feno com ela
montada em mim. As mãos passeiam na carne firme da bunda
dela, onde a minúscula calcinha se perde entre as bochechas
redondas.
Beijar Louise é como mergulhar profundamente sem a certeza
de que há oxigênio suficiente, sem se importar com a próxima
respiração, a necessidade do corpo suplantando ar e comida.
Os gemidos que me entrega são como os de uma gata
manhosa, mas exigente. Carente pelo meu toque, mas senhora
do próprio desejo.
Agarro um punhado de seus cabelos e deslizo a boca para o
pescoço, a curva do ombro. Planto uma mordida ali e em
seguida sugo a carne doce.
Ela choraminga e rebola, buscando satisfação, esfregando-se
contra minha ereção grossa.
— É disso que você gosta? Quer me deixar louco com esse
corpo sexy?
Ela me surpreende, me mordendo por cima da camisa mesmo,
as unhas arranhando meu peito e em seguida, abrindo os
botões.
— Gata selvagem. Eu sabia que seria assim, Louise. Eu sempre
soube que seria assim.
— Nunca gostamos um do outro — ela diz, talvez para
convencer a si mesma.
— Não tem nada a ver com gostar, e sim, com desejo.
— Eu quero tocar você.
— Termine de abrir minha camisa.
Eu não solto a mão que agarra seu cabelo, fazendo com que
me encare enquanto desabotoa os botões.
Assim que há uma parte do meu peito de fora, ela mergulha a
cabeça e me morde.
— Caralho — rosno. — Lamba. Sugue. Sempre olhando para
mim. Nunca pare de me olhar.
Há tempestade naquelas piscinas azuis. Irrequietos, nublados
de paixão, seus olhos me dizem tudo o que preciso saber: que a
loucura que estou sentindo é recíproca.
Acaricio sua bunda, os dedos brincando com o tecido da
lingerie e ela se remexe.
— Você é tão quente, mulher. Eu quero tirar sua roupa e te
lamber inteira.
Ela tranca as coxas nas minhas costas e se mexe,
escorregando para cima e para baixo no meu pau.
— Ahhhhh…
— Gostosa.
Beijo-lhe a boca novamente porque preciso invadi-la de
alguma maneira, mesmo que seja com a língua.
— Chupe minha língua, pequena. Aprenda como eu gosto.
Não há mais a vaga noção de onde estamos. Não somos um
senador e assessora, somos homem e mulher, controlados por
um desejo avassalador.
— Eu quero te ver gozar — falo, deslizando a mão dentro da
calcinha dela.
Meus dedos ficam melados com o mel e eu gemo em meio ao
beijo.
Naquele fodido instante, onde não me lembro nem mesmo do
próprio nome, ouvimos a voz de Alfred:
— Bryce, senhorita Whitlock?
Louise quase pula do meu colo, tentando escapar, mas não
permito.
— Shhhhh… ele não vai entrar, baby.
— Meu Deus, eu devo estar louca…
— Espere-me na sede, Alfred! — grito.
— Solte-me — pede baixinho, provavelmente com medo de
ser ouvida.
Eu me levanto com ela em meus braços e a ponho de pé
devagar.
— Isso não deveria ter acontecido — fala com o rosto corado.
— Era inevitável… — digo e depois me corrijo. — É inevitável.
Desde a primeira vez em que nos vimos, sabíamos como isso
entre nós acabaria.
— Não tenho ideia do que está falando — diz, dando um passo
para trás.
— Mentirosa. Se não fôssemos interrompidos, você estaria
nesse instante montando minha mão.
— Eu não deixaria ir tão longe.
— Não tem tanto controle sobre seu corpo quanto pensa,
Louise. Eu mal te toquei e você já estava completamente
entregue.
Ela alisa o vestido e ergue o queixo.
— É muito convencido se pensa que eu perderia minha
virgindade em um celeiro, Bryce Gray.
Ela sai sem olhar para trás. Eu, por outro lado, estou
congelado no lugar.
Virgem?
Não é possível!
No entanto, sei de imediato que ela está falando a verdade.
Louise é orgulhosa demais para mentir sobre algo assim.
Foda-me! Eu achei que estávamos na mesma sintonia: uma
mulher e um cara experientes, que sabiam o que queriam.
A descoberta, entretanto, muda totalmente o jogo.
Se antes já seria uma estupidez me envolver com Louise,
agora então, que descobri que é intocada, sei que deveria me
afastar.
Ao mesmo tempo que meu lado racional tenta vir à tona, sinto
meus dedos ainda molhados com a excitação dela e meu pau
reage ao relembrar do quanto estava quente e pronta para mim.
Inocente e selvagem, Louise é uma combinação explosiva,
seduzindo-me com a relutância em se entregar.
Eu nunca desejei tanto uma mulher em minha vida, mas agora
que ela se afastou e consigo puxar algumas respirações, preciso
pensar em tudo o mais que há envolvido em vez de horas — ou
até mesmo dias — de satisfação sexual.
Louise não é uma mulher que eu possa me esquecer na
manhã seguinte. Mesmo que deixe de ser minha assessora,
continuará na minha vida através de Cassius.
Essas são todas as desculpas lógicas que tento encontrar para
recuar, mas nenhuma delas funciona.
No momento em que nossas bocas se encostaram, o martelo
já estava batido.
Capítulo 28
— É como assistir a um reality show em que sou o ator
principal — falo com desgosto, uma hora depois de soltar a
notícia do nosso noivado no Twitter e vê-la viralizar como o
assunto mais comentado.
— Desculpe-me por estourar sua bolha, cunhado — Antonella,
a esposa de Hudson e que até o terceiro filho deles, Orazio,
nascer, trabalhava com marketing de redes sociais, diz —, mas
desde o momento em que você entrou para a política, já estava
dentro de um reality show.
Enquanto finjo prestar atenção ao que a minha família diz,
observo Louise conversando com Mackenzie, Becca e Maribelle.
No começo, ela parecia tensa. As mãos rigidamente apertadas
no colo, mas as mulheres da minha família têm o dom de fazer
todo mundo se sentir em casa e não fiquei surpreso quando ouvi
a risada da minha noiva de mentira minutos depois de
chegarmos na casa da minha avó.
De vez em quando, talvez inconscientemente, seus olhos me
buscam e quando isso acontece, é como ter uma corrente
elétrica atravessando meu corpo.
— Está na hora — Dominika diz, antes de ligar a televisão na
Washington News.
— Como sabe que será a primeira notícia? — vovó pergunta.
— Porque Bryce está no olho do furacão — a mulher de Reed
fala. — Eles sabem que um anúncio do noivado em horário
nobre entre o senador mais cobiçado dos Estados e uma
herdeira de sobrenome tradicional elevará o número da
audiência ao céu.
— Não é porque o tio Bryce saiu pelado no vídeo, então? —
Dante pergunta e Hudson se levanta.
— Dante, peça desculpas ao seu tio!
— O que, papai? Foi o filho do capataz quem disse que meu tio
estava pelado no filme. Eu nem assisti!
Porra! Será que quando esses filhos da puta soltam algo assim
têm ideia de que estão atingindo famílias inteiras e não apenas
o alvo? Pensam que as pessoas têm pai, mãe, avós, filhos? Mas
eu já sei a resposta. Nesse mundo de merda em que vivemos
atualmente, cinco minutos de fama em uma rede social é mais
importante do que o estrago que se pode causar na vida do
outro.
Olho para meu sobrinho.
Dante está naquela idade estranha em que quase deixou de
ser uma criança, mas ainda não é um adolescente.
— Mesmo que fosse verdade, e não é, não se deve dizer esse
tipo de coisa, Dante, porque faz parte da intimidade do seu tio.
— Eu sei, pai. A professora me explicou que ficar pelado só em
casa e mesmo assim até encontrar a roupa depois do banho.
— Deixa que eu falo com ele, Hudson — minha cunhada diz.
— Você só está piorando.
— Não. Deixa comigo — peço, batendo no assento ao meu
lado.
Parecendo louco para fugir da bronca dos pais, meu sobrinho
não hesita.
— Desculpa, tio Bryce — fala, ao se aproximar.
— Não tenho pelo que te desculpar. E não foi por seu amigo
ter dito que eu estava pelado no vídeo que seu pai brigou com
você.
— Não?
— Tenho certeza que não e sim, porque, em primeiro lugar,
não é o tipo de assunto que alguém da sua idade deva discutir:
quem está ou não pelado.
— Okay.
— Em segundo lugar, não era eu naquele vídeo. Você sabe
qual é o meu trabalho?
— Sim, você é senador. Manda em todo mundo!
Bagunço o cabelo dele.
— Não preciso ser um senador para mandar em todo mundo.
Sou um Gray, certo? O que estou tentando explicar é que no
trabalho que faço, que é servir o bom povo do Texas, acabo
ganhando muitos inimigos. Essas pessoas que não gostam de
mim fizeram um vídeo falso para me prejudicar.
— Quem foi, tio?
— Eu ainda não sei, amigo.
— Temos que punir esse cara! — diz, revoltado e eu sorrio.
— Não temos coisa alguma — Antonella interfere. — O que
temos que fazer é, quando descobrirmos quem foi, deixar que a
justiça o puna. Lembra do que seu pai explicou sobre os
tribunais naquela excursão que você fez no colégio?
— Sim.
— Então, quando seu tio Bryce conseguir encontrar o culpado,
nós o levaremos à justiça.
— Eu acho que já entendi. Nada de falar do meu tio Bryce
pelado porque não era ele. Pegar os inimigos e levar para à
justiça.
— Isso mesmo. E o que mais? Qual é a outra razão pela qual
não devemos alimentar fofocas de nossos parentes? — a mãe o
incentiva.
— Porque os Gray defendem uns aos outros, mesmo que vovó
Mary puxe a orelha de todo mundo depois.
Todos riem e depois que Antonella se afasta, Dante se
aproxima de mim de novo.
— Mesmo que fosse você, eu não ligaria, tio Bryce. Eu também
já fiquei pelado sem querer no corredor de casa, no dia que
Rafaello escondeu minha toalha enquanto eu tomava banho.
O irmão do meio se aproxima ao ouvir o próprio nome.
— Foi tãooooo legal!
— Rafaello Gray! — Antonella olha para o menino, séria.
— Oh-oh! — o malandro diz, se afastando.
Para meu espanto, Louise se aproxima de nós.
— Hey, tudo bem? Eu sou a Louise — ela fala, estendendo a
mão para Dante.
Acho que ninguém explicou às crianças que nosso noivado é
de mentira e talvez seja melhor não fazê-lo.
Meu sobrinho, sendo um Gray, não só aceita a mão dela para
o cumprimento, como leva aos lábios.
— Muito prazer, senhorita Louise. Eu sei quem você é: a noiva
do tio Bryce. Agora que vão casar, não vai ter mais problema ele
ficar pelado com você. Meu pai fica com a minha mãe.
— Doce Senhor Jesus, Hudson! — Vovó se escandaliza, meu
irmão cora e todos gargalham.
— Sua família é maravilhosa — Louise diz, acomodando-se ao
meu lado, quando eles se acalmam para assistirem ao noticiário.
Olho à nossa volta.
— Sim, ela é.
Apesar do que falou, ela parece inquieta.
— O que há de errado? — pergunto.
— Estou ansiosa com as notícias. Se eles vão acreditar mesmo
que estamos noivos, quero dizer. Mexe muito comigo essa coisa
de injustiça.
— Por causa do seu pai?
Ela balança a cabeça, concordando.
— Acha que ele não era culpado?
— O que eu acho, não importa. O mundo inteiro pensa que ele
era corrupto.
— Importa, sim. Se dentro de você, tem certeza de que não,
isso conta.
Ela me observa por muito tempo e acredito que o assunto
esteja encerrado quando enfim, diz:
— Eu tenho certeza que não.
Pego a mão dela e entrelaço na minha.
— Você está gelada.
— Como eu disse antes, estou ansiosa. Quero que tudo dê
certo para você.
— Por que, se me odeia?
— Eu não te odeio. Odeio o que me faz sentir. Não gosto de
não ter domínio sobre mim mesma.
Eu me abaixo para sussurrar em sua orelha:
— Me deixa louco a maneira como você reage a mim, Louise.
Gosto quando perde o controle.
A respiração dela fica mais curta, mas antes que possa
responder, o noticiário começa.
Capítulo 29
“E agora, uma revelação que os eleitores estavam esperando
desde que ele se tornou governador do Texas: o senador Bryce
Gray acaba de anunciar pelo Twitter que ficou noivo da jornalista
Louise Whitlock. A senhorita Whitlock, que é enteada de outro
senador republicano do estado do Texas, Cassius Stonebraker,
segundo a notícia de hoje mais cedo, é também assessora de
imprensa do senador Gray e os dois já se relacionavam
secretamente há um tempo. Nós da Washington News estamos
vibrando com a novidade e esperamos que em breve o jovem
casal anuncie a data do enlace.”
— Eles acreditaram — Louise diz baixinho, somente para mim,
com um sorriso satisfeito.
— Por que não acreditariam? Você é linda e inteligente. A
esposa dos sonhos de qualquer homem.
— Não precisa exagerar…
Eu a puxo pela mão e sem dar a mínima para o fato de que
minha família talvez esteja nos observando, a trago para o meio
das minhas pernas.
— Eu nem comecei a exagerar ainda em relação a você.
Ela me olha com as bochechas vermelhas, mas o que me
fascina é que mesmo claramente embaraçada, não tenta se
soltar.
— Por isso parte tantos corações.
— É disso que tem medo? Acha que posso partir o seu?
— Eu precisaria ter um para que conseguisse fazê-lo, senador
Gray. — Ela tenta soar irônica, mas tudo o que vejo é tristeza,
como se realmente acreditasse naquilo.
Eu, não.
Sim, Louise tem um autocontrole surpreendente sobre si
mesma e quem a olha de fora pode até enxergar uma mulher
fria, mas agora eu sei que há muito de fogo a apenas dois
centímetros da superfície.
Eu quero esse calor todo para mim. Quero me perder e
queimar-me nele.
Ela parece ler meus pensamentos porque as pupilas dilatam e
engole em seco.
— Será que já podemos comer, vovó Mary? — Blaire, a
irmãzinha de Mackenzie, diz. — Estou com um buraco na
barriga.
— Mãe, Blaire está com fome — Dante avisa, como se a sala
inteira não tivesse escutado.
Eu tenho um palpite de que apesar da relação gato e rato dos
dois, teremos um casal no futuro.
— Vamos jantar, meninos — Mary diz. — Dante tem razão. Já
alimentamos os fofoqueiros do país, chegou a vez de recarregar
o corpo.
Capítulo 30
Travo minha arma e a coloco em cima da cômoda.
— Louise?
Ela está sentada, segurando o estômago e seu rosto é puro
terror, enquanto chama pelo pai.
Jesus!
Aproximo-me devagar. Não quero que fique ainda mais
apavorada.
— Louise, sou eu, Bryce.
— Papai!
Não é mais um grito, é algo parecido com um lamento de dor,
como um animalzinho preso em uma armadilha, pedindo por
ajuda.
Eu nunca lidei com nada assim, então nem tento adivinhar o
que fazer. Ajo por instinto.
Vou até onde está e a pego no colo, mantendo-a segura,
apertando-a contra meu corpo.
No início, ela se debate, tentando fugir, mas eu não a solto,
fico repetindo seu nome baixinho, acariciando-lhe o cabelo, até
que finalmente o pânico dá lugar ao choro.
O que acontece em seguida, quase me divide em dois porque
eu sei o que ela está sentindo. Eu vivi o mesmo quando ainda
era uma criança e nossa avó nos acordou de madrugada, para
nos dizer que papai e mamãe nunca mais voltariam para casa
porque foram morar com Deus.
Não há palavras que lhe trarão consolo. Não há carinho que
aplaque a dor porque o caso dela ainda foi pior: ela tentou
salvar o pai matando o assassino dele, e embora tenha tido
êxito nisso, não mudou o fato de que perdeu seu herói.
Sei que não importa o quanto o mundo inteiro diga que
Emment Whitlock era um vilão e não o mocinho. O mesmo se
passou comigo quando descobri que meu pai era um trapaceiro
que havia enganado nossa mãe a vida inteira[39]. A verdade é que
quando perdemos alguém que amamos, só conseguimos nos
lembrar dos bons momentos.
Recosto-me na cama, ainda acariciando seus cabelos e aos
poucos, as lágrimas se transformam em soluços sentidos.
Quando suas mãos vêm para o meu pescoço, olho para baixo.
Ela me observa, resquícios do choro recente ainda marcando seu
rosto.
— Não percebi que havia acordado.
— Eu estava com vergonha. Não estou acostumada a precisar
de ajuda.
— Ou de pedir?
— Tem diferença? — pergunta.
— Tem, sim. Eu não sei pedir, também.
Ela não me pede para soltá-la e graças a Deus por isso,
porque é a última coisa que quero fazer no momento.
— Acontece com frequência?
Ela dá de ombros.
— Só quando estou estressada ou vivendo alguma situação
fora da minha rotina.
— A definição do dia de ontem, né?
— Não foi culpa sua, Bryce. Eu tenho muita bagagem dentro
de mim.
— Quer compartilhar?
— Não. Você ou é meu chefe ou meu noivo de mentira. Nos
dois casos, seria inapropriado compartilhar lembranças ruins.
— Por quê?
— Como meu chefe, eu estaria cruzando uma fronteira, além
de demonstrar fraqueza. Como meu noivo, eu poderia fazê-lo
correr.
— Acha que se tivéssemos noivos de verdade, eu correria por
conta do seu passado?
Ela finalmente tenta se soltar.
— Não — digo, prendendo-a junto a mim.
— Quando menciona meu passado, não faz ideia do que está
falando.
— Conte-me.
— Para quê? Por quê? Mal nos conhecemos.
— Você é minha mulher aos olhos do mundo.
— Não estamos na frente de uma plateia.
— Não, somos só nós dois, Louise, e estou pedindo que
compartilhe comigo.
Ela retira meus braços de volta do seu corpo e dessa vez, eu a
deixo ir.
— Eu não posso fazer isso sentada no seu colo — diz, se
levantando. — Quando me lembro daquele dia, me sinto sufocar.
— Quer apagar a luz? — pergunto, intuindo que ela se sente
exposta.
— Totalmente, não. Pode ligar o abajur?
Faço o que me pediu, depois desligo a luz que acendi ao entrar
no quarto, mas ao invés de voltar para a cama, sento-me na
poltrona.
— Sabe o que aconteceu? — pergunta.
— Apenas o que os jornais noticiaram na época: que ele
estava na quadra de tênis, terminando um jogo, quando foi
alvejado. Até pouco tempo, eu nem me lembrava que você
estava junto.
— Eu e meu pai sempre jogávamos tênis aos fins de semana.
Mesmo naquela época, minha mãe e Emory preferiam fazer
compras ou se refrescar na piscina. Eu gostava de esportes.
— Quantos anos você tinha?
— Onze e meio.
Jesus Cristo!
— Continue.
Ela anda de um lado para o outro, agitada, os braços
novamente segurando o estômago.
— Passamos a manhã na quadra e eu estava feliz de não ter
que dividir meu pai com ninguém mais. Já não era governador,
mas mesmo assim, tinha muitos compromissos com as
empresas dele. Combinamos de dispensar os empregados e
preparar nós mesmos o almoço, hambúrgueres, já que minha
mãe fora visitar uma amiga e levara Emory junto.
Ela parece distante, como se estivesse vendo o dia que está
relatando.
— Gosta de cozinhar?
— Sim — diz e não dá mais explicações. — Não costumávamos
ligar os alarmes durante o dia e se ficávamos em casa,
deixávamos tudo destrancado. Como deve ter visto, nossa casa
era uma fortaleza.
— É a mesma que sua mãe ainda mora com Cassius?
— Aham.
Porra! O quão doloroso deve ser para ela ver outro homem no
lugar que era do pai?
— Conte-me o resto de sua história, Louise.
— Meu pai era peculiar. Inteligente e engraçado de um jeito
meio geek. Ele dizia que cada pessoa poderia ser definida por
uma única palavra. Chato. Interessante. Inteligente. Bonito.
Insuportável.
— Qual era a sua?
— Determinada. — Ela sorri. — Ele sempre dizia que nada
poderia me parar porque eu era determinada.
— E você é?
— Sim. Você nunca vai conhecer alguém mais determinada do
que eu, Bryce. — Ela para e se corrige. — Talvez você mesmo,
né?
Aceno com a cabeça, concordando.
— Eu estava tirando a carne da geladeira e ouvi um barulho.
Quando olhei para trás, meu pai não estava mais lá. Eu não sei
porque, mas prendi o fôlego. Chame de intuição, mas um suor
gelado começou a escorrer pela minha coluna.
Ela não olha para mim. O que quer que tenha acontecido
naquele dia, Louise ainda está presa lá.
— Lembro-me de que comecei a contar os segundos na minha
cabeça e prometi que se chegasse a trinta e meu pai não tivesse
voltado, eu iria lá encontrá-lo. Eu nem cheguei ao quinze e
então, eu ouvi.
— O quê?
— Tiros.
Capítulo 31
Belisco meus braços com minhas unhas afiadas, mantendo-os
trancados em volta do meu corpo. A dor física é mais fácil de se
lidar do que a emocional.
Nem mesmo a Drake eu contei em detalhes o que aconteceu.
Somente à polícia, quando tomou meu depoimento, mesmo
assim só quando fiquei bem o suficiente para falar. No entanto,
para eles, eu pulei algumas partes, me concentrando no
momento em que ouvi os tiros, como o detetive pediu.
Bryce, por outro lado, me fez lembrar não dos fatos, como os
homens da lei chamaram na época, mas de partes daquele dia
que estavam trancados no meu coração.
A risada do meu pai quando, tenho certeza, me deixou ganhar
a partida de tênis. Como andamos de mãos dadas de volta para
casa, sorrindo, sem precisar dizer em voz alta como preferíamos
quando éramos só nós dois e a mamãe não estava lá com
julgamentos de como deveríamos nos comportar.
Regras, sempre tivemos um monte delas em nossa casa, mas
quando éramos só eu e meu pai, fazíamos coisas proibidas,
como abrir um pote de sorvete enquanto preparávamos nosso
hambúrguer.
— Você está sorrindo — Bryce diz, me trazendo de volta ao
presente.
— Porque você me fez lembrar dos bons momentos. Eu me
apeguei ao pesadelo apenas, mas contar a você, trouxe de volta
as memórias felizes. O antes, mesmo que não tenha durado,
existiu. Obrigada.
— A duração não é tão importante. A intensidade, sim. O que
prefere: uma tempestade de cinco minutos que a renovaria ou
uma chuva fina por dias?
A intuição me diz que não estamos falando de fenômenos da
natureza, e sim, de nós dois.
— A tempestade — respondo sem hesitar. — Embora haja o
risco de me viciar, de sofrer quando passar de vez e tudo o que
restar sejam meses de sol inclemente.
Sacudo a cabeça, tentando limpar a mente e me concentrar
no que preciso.
— Como eu lhe falei, eu ouvi tiros. Meu pai sempre foi um
homem importante, mesmo antes de ser político. Sendo um
texano também, apreciava armas. Crescemos para entendermos
a vida real, não dentro de uma bolha, embora minha irmã…
— Prefira o mundo cor-de-rosa?
— Isso. Enfim, eu sabia perfeitamente como era o som de
tiros. Estava acostumada a treinar com meu pai em estandes[40] e
quando os ouvi naquele dia, peguei a arma que sabia que ficava
na dispensa.
— Tinham armas pela casa?
— Sim, mas como meu pai sabia que nem Emory ou mesmo
mamãe seriam capazes de atirar se fosse preciso, era um
segredo nosso.
— E o que fez?
— Eu estava apavorada, tremendo muito, mas o instinto me
dizia para não chamar pelo meu pai. Quando cheguei na sala,
ele estava caído no chão, coberto de sangue. Um homem tinha
uma arma apontada para a cabeça dele.
— Porra!
— Eu não pensei duas vezes. Gritei para chamar a atenção
para mim e no segundo seguinte, puxei o gatilho. Ele cambaleou
no primeiro tiro, mas eu não poderia recontar a sequência exata
do que aconteceu. Só sei que ele continuou de pé e vindo em
minha direção, a arma em riste. Acho que eu estava em choque,
pois não senti medo. De algum modo, sabia que precisava
esvaziar o revólver nele ou aquele homem voltaria e mataria
meu pai. Eu não sabia que já era tarde demais.
Bryce se levanta e minha primeira reação é mantê-lo longe,
mas ele não parece disposto a aceitar aquilo e me puxa para
seus braços.
Não diz nada para me consolar, mas me mantém segura em
um abraço de urso.
— Termine.
— Eu o matei. Mas antes de cair morto ele me disse que eu
não deveria morrer. Falou que não sabia que eu estaria na casa
e que o serviço só tinha sido contratado para o meu pai.
— Ele usou essas palavras?
— Sim. Eu nunca vou me esquecer. Na hora, não entendi
muito bem o que aquilo significava. — Encosto a testa no peito
dele. — Quando ele caiu no chão, chutei a arma dele para longe
e fui para o meu pai. Tentei me abaixar para falar com ele, mas
naquela hora, senti uma dor intensa no abdômen. Ele havia me
atingido. Quando olhei meu uniforme branco manchado de
sangue, comecei a perder os sentidos. As pernas fraquejando.
Foi então que meu pai abriu os olhos. Ele viu meu sangue e uma
lágrima escorreu pelo rosto dele. E então me disse: não morra.
Você é determinada. Vá pegá-los.
— Quem te salvou?
A voz dele sai rouca de tensão, raivosa. Os braços me
prendendo com força.
— Eu mesma. Arrastei-me até o telefone e chamei a polícia. Eu
só acordei muito tempo depois. Segundo minha mãe me contou,
eles me puseram em coma induzido. O tiro foi perto do coração.
O homem errou por muito pouco. Não foi um ferimento de aviso.
Eu deveria ter morrido naquele dia.
Estou tremendo, agarrada a Bryce como se ele fosse uma
parte de mim. Como se nunca mais fosse soltá-lo.
Nesse instante, não sinto vergonha da minha necessidade.
Depois de relembrar tudo, eu não quero mandá-lo me deixar
livre.
— Vamos sair daqui — diz.
— Para onde?
— Confie em mim. Nós dois precisamos de ar puro.
— Devo me trocar?
— Não. Basta vir.
— Tudo bem.
Sem prever seu próximo movimento, tomo um susto quando
ele me pega no colo e desce as escadas. Depois, me leva para a
picape.
Ainda é noite, mas está enluarada.
Ele me senta no banco do carona, prende meu cinto e dirige
em silêncio até chegar no alto de uma colina. Não é muito
íngrime, mas conseguimos ver luzes distantes na cidade.
— Espere aqui.
Observo-o sair do carro e abrir a carroceria. Depois,
novamente me pega no colo e me deita no cobertor que forrou
na parte de trás.
— Vamos dormir aqui? — Tento brincar, mas falho, ainda muito
abalada com as revelações que acabei de fazer.
— Sou um cara de ar livre. Um bicho selvagem, Louise. Eu não
estava conseguindo respirar lá dentro.
— E por que me trouxe?
— Porque nada nesse mundo me afastaria de você hoje.
Ele se deita do meu lado e por um tempo, não dizemos nada,
apenas olhando para o céu.
— Eu poderia dormir assim todas as noites. Lugares fechados
me dão claustrofobia.
— Já acampou? — pergunta.
— Não.
— Podemos fazer isso um dia, mas por agora, relaxe.
Ele passa um braço por baixo da minha cabeça e me puxa
para perto.
Estou só de pijama — shorts e camiseta — mas a noite está
abafada, perfeita para ficar sob as estrelas.
— Você é a mulher mais corajosa que eu conheço — ele diz,
depois de um tempo. — E isso não é pouca coisa. Você viu as
representantes da minha família, elas são todas duronas.
— Corajosa não é minha palavra, se esqueceu? Sou
determinada.
— Sim, você é, mas esse foi o rótulo que seu pai lhe deu.
Quero escolher um.
— Vai ser corajosa, então?
— Não me decidi ainda. Eu lhe direi quando descobrir.
Capítulo 32
Ela adormeceu em meus braços e mesmo sabendo que
deveríamos entrar, eu não quero me mexer.
Enquanto observo o céu estrelado, penso em tudo o que
me contou.
— Não?
— Não.
— Por quê?
— Hein?
— Estou, sim.
Ela abre a boca como se fosse negar, mas depois suspira.
— Por quê?
— Gosta?
Sorrio.
— Aham.
— Aquela sou eu.
— Por quê?
— E como acontece?
— Fale-me.
— Mande-me parar.
Capítulo 33
Ela segura meu rosto e me beija, enquanto desço seu
shorts.
Ajoelho-me para devorar o corpo nu com os olhos.
— Bryce…
— Eu quero… — Começa.
— Fale.
Caralho!
— Hey — chamo.
— O que vem depois? — pergunta e não posso deixar de
sorrir, satisfeito.
— Eu quero.
— Eu sei…
— Quem? A imprensa?
Capítulo 34
Eu acordei mais tarde do que o normal, por volta das nove
e com uma mensagem de Alfred dizendo que o senador Gray
tinha decidido ir para Washington sem mim.
— Eu te amo, Louise.
— Okay.
— Obrigada.
Meia hora depois, olho pela janela do helicóptero,
tentando entender o modo de pensar dele, mas desisto.
— É o que pretendo.
— Quem?
— Perfeito.
— A pista é quente?
Até hoje, não lhe cobrei nada. Como poderia, se sem ele
nunca teria sequer descoberto que meu pai era inocente? Deixei
que me guiasse até aqui, mas agora sinto necessidade de uma
garantia.
Capítulo 35
Já se passaram oito dias desde que eu voltei da fazenda e
Bryce ainda não retornou para Dallas.
Drake acha que o que fizeram com meu pai foi usá-lo
como uma espécie de sacrifício, criando uma cortina de fumaça
para encobrir os verdadeiros culpados. Uma vez que calassem
papai, matando-o e em seguida, espalhassem aquelas mentiras
sobre ele, quem o defenderia? Qualquer investigação que
estivesse sendo feita seria encerrada e o verdadeiro criminoso
ou criminosos, sairia livre.
— Dia ruim?
— Isso importa?
— Não.
Capítulo 36
Oito dias.
Pausa.
Cerca de trinta minutos depois, estou em frente ao edifício
dela. Eu poderia pedir ao porteiro para me anunciar, mas não
farei. Não vou lhe dar a chance de se recusar a me ver. Se ela
não quiser, terá que me dizer com todas as letras.
— Vou subir.
— Não.
— Covarde.
— Venha.
Capítulo 37
Entre ela terminar de falar e eu a ter erguida com as coxas
em volta da minha cintura não se passam mais do que poucos
segundos.
Não acho que qualquer um de nós tenha consciência do
mundo à nossa volta no momento. Cada gota de sangue e
respirar está concentrado no outro.
— Terceira porta.
— Mais — pede.
— Eu quero tudo.
Puta merda!
— Ai…
— Passou a dor?
— Não totalmente, mas eu preciso de tudo.
— Ahhhh…
Capítulo 38
Eu giro na cama, trazendo-a comigo, mas a mantenho
suspensa em meus braços.
— Senta no meu pau. Quero sentir essa boceta me
engolindo.
— Bryce.
— Goze.
— Banho? — pergunto.
Ela cora.
— Mas nós…
— Eu não posso compartilhar refeições com você — diz,
sorrindo, depois de raspar o prato da massa que eu fiz. — Você
cozinha muito bem, mas nem um pouco saudável.
Capítulo 39
Ele não fala nada enquanto me observa guardar a louça
na máquina. Tentou me ajudar, mas eu disse que não precisava,
então está parado na minha cozinha, recostado no balcão, sem
camisa e lindo como sempre, enquanto tento dizer a mim
mesma que sou uma idiota por sentir ciúmes.
A garota perfeita.
— Louise.
— Vem cá — chama.
— Okay.
Eu desço da bancada.
— Como eu?
— Me dê sua palavra.
— Você a tem. Eu nunca nem mesmo tive uma conversa a
sós com sua irmã.
— E de repente está?
— Vai me orientar?
— Minha safada…
— Sim, senhor.
Entretanto, a primeira vez que deixo minha boca deslizar
por sua extensão, arrasto os dentes de leve na carne dura como
aço.
— Vídeos.
— Vai gozar?
Aceno com a cabeça e ele tenta sair.
— Quero tudo.
Capítulo 40
Grayland
Dez dias depois
— Ah, não são mesmo e é assim que tem que ser. Meus
netos fariam massa de modelar de uma mulher que se
casassem se ela não tivesse personalidade forte. Porém, isso
não é o mais importante, Louise.
— Não? — pergunto.
— Tudo bem?
— Achei que tinha dito que faria uma reunião com seus
irmãos antes do almoço.
Engulo em seco.
— Eu não estou.
Capítulo 41
— E então é isso? — Hudson pergunta, irritado. — Nunca
teremos certeza quem encomendou aquele vídeo?
— Não foi o que eu falei e sim que Odin está cavando —
respondo.
— Ai — Callum geme.
— E então? — pergunta.
— Então, o quê?
Capítulo 42
Depois do que Mary fala, minha irmã me encara com ódio.
O que será que deu nela? É certo que nunca fomos
melhores amigas, mas Emory jamais foi agressiva.
Ela gargalha.
— Sente muito pelo quê? Não tem culpa da sua irmã ser
uma pirralha mimada.
Capítulo 43
Washington, D.C.
— Isso.
— Está em D.C.?
— Talvez pudesse, sim, mas não vou. Por que faria isso se
não tenho qualquer intenção de comparecer?
Capítulo 44
— Eu adorei esse vestido, Louise! Posso chamá-la assim,
não é? — a esposa de um dos membros mais rígidos do partido,
pergunta.
Casa.
— Faminto.
— Me dê tudo.
— Ahhhhh….
Sei que não vamos durar muito. Não é um sexo carinhoso,
é necessitado.
— Minha — digo.
— Sua.
Mais tarde
— E um segredo?
Sinto meu sangue gelar, mas não revelo que foi o mesmo
nome que constava como ligação perdida no telefone dela
ontem.
— Um amante? — pergunto.
— O quê, então?
— Fale.
Capítulo 45
— Hey, almoço? — Ouço a voz de Bryce perguntar atrás de
mim e quase infarto.
— Está apaixonada.
— Mudei como?
— Mesmo Cassius?
— Como assim?
— Muito mais.
Capítulo 46
Embora eu já estivesse esperando pegá-la em uma
mentira, baseando-me nos indícios da chamada perdida de
ontem, na conversa com Alfred hoje cedo e em seguida, quando
a encontrei assim que cheguei no gabinete, nada me preparou
para flagrá-la com um homem lhe segurando a mão.
— Bryce…
— Sei?
— Como se atreve?
— Um detetive?
— Continue, Louise.
— Que verdade?
— No começo, sim.
— Bryce.
— Acabou — confirmo.
Capítulo 47
Dallas
Quatro meses depois
“O FBI acaba de deflagrar uma operação envolvendo o alto
escalão na capital do país. Dentre outros crimes apurados,
sabemos que há lavagem de dinheiro, que ocorre quando
agentes criminosos procuram alterar a origem de ganhos
conseguidos de maneira ilícita, mascarando-o de forma que
pareça ter sido obtido por meios legais para enganar a Receita
Federal.
Ele ri.
Porra!
Eu fico de pé em um segundo.
Drake.
— Mande-o entrar.
— O que tenho para dizer não vai demorar. Sei que você e
Louise terminaram.
— Investigações?
— Continue.
— Como?
— Parcialmente.
— Quando?
Ele olha o relógio.
Estou de pé novamente.
— Que razão?
Capítulo 48
Só preciso dar dois passos para dentro da ala vip do
saguão do aeroporto para saber que há algo de muito errado.
Eu fretei um avião particular, a conselho de Drake, que me
disse que a morte de Aston Barlowe, linkando o nome do meu
pai ainda que para absolvê-lo, poderia trazer uma atenção
indesejada por parte da imprensa.
Sim, eu vivi a minha vida inteira cercada por eles para não
reconhecê-los com facilidade.
— Louise…
— Cassius.
— Eu ouvi. Acalme-se.
— Quase cinco.
Casa.
Capítulo 49
— Não teme que com esse escândalo reavivado sobre o
assassinato do meu pai, isso lhe custe a candidatura? —
pergunto, quando ele me ajuda a sair do carro, tentando focar
em qualquer coisa que não seja o fato de que cresci ao lado,
beijei e abracei o homem que foi o mandante da morte do meu
pai.
— Há muito mais por trás que você não sabe, Louise, mas
não acho que seja a hora.
— Em relação ao quê?
— Sua família.
— Sim.
— Cassius?
— Como assim?
— Pense bem. Se no futuro, eu me tornasse presidente, e
depois viesse a descobrir todas as podridões que o envolvem, eu
estaria de mãos atadas. Entregando-o, sempre haveria aqueles
que acreditariam que eu participei das fraudes.
— Ainda ama?
Ele vai até a janela e olha para fora. Desconfio que seja
porque se sente vulnerável como eu me sinto.
— Não… — digo.
— De quê?
Eu não sei como tive sangue frio para dizer algo assim,
mas ele parece não ter percebido o tremor na minha voz.
Capítulo 50
— Por que diabos ele não sai de lá de dentro? — pergunto,
me sentindo como um leão enjaulado.
— Não desista até que Louise diga de vez que não o ama.
É a única hora em que o jogo está realmente finalizado: quando
o amor acaba.
Capítulo 51
Acordei e Bryce não estava mais na cama comigo. Senti
falta do seu corpo junto ao meu, o que é uma loucura, se formos
considerar que passei os últimos meses sozinha.
Durante a madrugada inteira, ele não me soltou.
Não entendi tudo o que disse, mas sei que algumas frases
eram promessas de que cuidaria dele e da mãe — eu.
Abro minha mala, que Bryce deve ter trazido agora pela
manhã e escolho um dos meus vestidos de lã, na altura dos
joelhos. Estou perdendo todas as minhas roupas e comprei meia
dúzia desses na Europa porque são práticos e protegem do frio,
já que estamos quase no inverno.
Malditos hormônios.
— Minha menina.
Bryce.
— Para o todo.
— Porra, Louise!
— Acha que pode ter sido esses homens, essa tal máfia,
quem matou o senador Aston Barlowe?
— Não. Por que fariam isso? Seu pai não era alguém que
lhe interessasse. As mortes ordenadas pela máfia, pelo que
estudei na faculdade de direito e ao contrário do que os filmes
romantizam, tem a ver com negócios. O pessoal está fora da
mesa. Acho que seu pai foi morto a mando de Cassius.
— O que foi?
— Quero que vá para Grayland comigo. Eventualmente
terei que vir a Dallas e a D.C., mas quero que se mude para lá
até isso tudo passar. Quando eu estiver viajando, fique com a
minha avó. Pode fazer isso por mim?
Capítulo 52
Grayland
No dia seguinte
— Determinada.
— Onde, então?
— Lembro, sim.
Naquela noite
— Bryce…
— Eu te amo — repito.
— Palavras?
— Falou que não havia uma só para me classificar. Diga-
me o que sou.
— Linda.
— Corajosa.
— Sexy.
Capítulo 53
— Louise, eu não acredito que teve coragem de dar aquela
entrevista — minha mãe fala, do outro lado da linha e não me
surpreendo que apesar de tudo o que vem acontecendo, ela
ainda se agarre com unhas e dentes às aparências.
Ele disse que estava feliz pelo bebê e mais ainda que eu e
Bryce tenhamos nos acertado. Sei que será um amigo que
carregarei para o resto da vida. Ele esteve comigo e por mim,
quando ninguém mais me enxergava.
— O quê?
— Ela sabe?
— Sim.
— Você mudou.
— Ouviu a chamada?
— Aliviada?
— Ama?
Dias depois
— O que aconteceu?
— Tem certeza?
— A televisão não para de noticiar isso sem parar. Não
assistiu?
— Você fez?
Capítulo 54
Eu sou um cara racional até o último fio de cabelo.
Intuição, sexto sentido, não é algo que tem espaço no meu
mundo. Acredito na ciência. Na lógica.
— Ah, mas você não sabe tanta coisa sobre mim, irmã!
Não tem a mais fodida ideia do quanto não me conhece — diz,
brincando com a trava da arma.
— Sim, gênio. — Ela sorri. — Aquilo não foi ideia dele, foi
minha. Papai era um homem inteligente, mas muito antiquado.
Eu disse a ele que uma má propaganda na mídia poderia fazer
milagres. O plano era simples: senador safado se compromete
com a menina pura para provar que não é tão safado assim. A
princesa salva o príncipe. Fim da história.
Um dia depois
— Não deveríamos entrar todos ao mesmo tempo. — Ouço
Mary dizer.
Capítulo 55
Determinada.
— Determinada, também — Bryce diz, parando à minha
frente.
— Sim.
Capítulo 56
Noite de núpcias
— Eu tinha planejado lhe dar tudo. Se o casamento tivesse
sido há um mês, poderíamos viajar — digo, enquanto a carrego
em meus braços, para a nossa suíte na fazenda.
A boca está inchada dos beijos que lhe dei pelo caminho.
Louise anda mais safada do que nunca e não quis esperar
chegar em casa. Enquanto acontecia a recepção do casamento,
chupou meu pau até que eu gozasse em sua língua, dentro da
biblioteca da Império Gray.
— Sua vez.
— Eu quero um também!
— O que aprontou?
Puxo-a para mim.
Epílogo 1
Nascimento de Hector: mais um cowboy para abalar os
corações!
Dou risada.
— Você é louco.
Ele congela.
— Acabou, mesmo?
Mais de quatro anos depois
— Eu consegui, vó.
— Vó…
— O que foi?
Nós crescemos juntos e as brigas não eram raras.
Bônus 2
PAPO COM A AUTORA
Espero que tenham curtido acompanhar a história de amor
de Bryce Gray, nosso Senador lindo e sua adorada e sofrida
Louise.
Com a presente obra, encerro a série Alma de Cowboy, mas
lembrando que antes de publicar esse livro, lancei um spin-off
(O Devasso e a Viúva Virgem).
Não é o fim dos Gray porque haverá a série sobre os Gray do
Wyoming, além da segunda geração de cowboys.
Um grande beijo e até a próxima aventura.
D. A. Lemoyne
Interaja com a autora através de suas redes sociais
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Obras da autora
Seduzida - Muito Além da Luxúria (Livro 1 da Série
Corações Intensos)
A Protegida do Mafioso
SOBRE A AUTORA
D. A. Lemoyne iniciou como escritora em agosto de 2019
com o livro Seduzida, o primeiro da saga Corações Intensos. De
lá para cá, foram várias séries de sucesso como Alma de
Cowboy, Irmãos Oviedo, Irmãos Kostanidis entre outros.
Sua paixão por livros começou aos oito anos de idade
quando a avó, que morava em outra cidade, a levou para
conhecer sua “biblioteca” particular, que ficava em um quarto
dos fundos do seu apartamento. Ao ver o amor instantâneo da
neta pelos livros, a senhora, que era professora de Letras,
presenteou-a com seu acervo.
Brasileira, mas vivendo atualmente na Carolina do Norte,
EUA, a escritora adora um bom papo e cozinhar para os amigos.
Seus romances são intensos, e os heróis apaixonados. As
heroínas surpreendem pela força.
Acredita no amor, e ler e escrever são suas maiores
paixões.
Contato: dalemoynewriter@gmail.com
[1]
O mandato para senador nos Estados Unidos é de seis anos.
[2]
Hudson Gray, protagonista do livro 1 da série Alma de Cowboy, cujo título é O Dono
do Texas.
[3]
Protagonista de O Devasso e a Viúva Virgem.
[4]
Maribelle Ann, protagonista de O Devasso e a Viúva Virgem.
[5]
Protagonista de O Dono do Texas.
[6]
Quem será? Novo personagem?
[7]
Reconhecida legalmente como filha.
[8]
Protagonista de A Eleita do Grego.
[9]
Christos Lykaios, protagonista de A Eleita do Grego.
[10]
Uma das posições do futebol americano.
[11]
Vinte e quatro horas por dia, sete dias na semana.
[12]
Aqui ele se refere a um dos exemplares originais de “Dom Quixote”. Pelas minhas
pesquisas, houve um que foi vendido por quase três milhões de dólares.
[13]
É um spoiler porque essa revelação acontece no segundo livro da série Alma de
Cowboy. Como avisei antes da sinopse, vários outros poderão ocorrer.
[14]
O Nepotismo ocorre quando um agente público usa de sua posição de poder para
nomear, contratar ou favorecer um ou mais parentes. Para fins de nepotismo,
considera-se como familiar o cônjuge, companheiro ou parente em linha reta ou
colateral, por consanguinidade ou afinidade, até o terceiro grau.
[15]
Uma refeição tipicamente americana, geralmente servida aos domingos, que é
uma mistura de café da manhã com almoço.
[16]
É a maneira como chamam academias mais exclusivas nos Estados Unidos:
“clubes”.
[17]
Termo para recepcionistas de restaurantes e boates.
[18]
Expressão utilizada para se referir pessoas que têm jeito com plantas.
[19]
O evento é citado em todos os livros anteriores da série e não será explicado aqui
para não dar spoilers.
[20]
Protagonista de O Dono do Texas.
[21]
Protagonista de Uma Família para o Cowboy.
[22]
Protagonista de O Herdeiro do Cowboy.
[23]
Protagonista de O Herdeiro do Cowboy.
[24]
Protagonista de Uma Família para o Cowboy.
[25]
Protagonista de Proibida para o Cowboy.
[26]
Nos EUA se chama depilação à brasileira, a depilação de virilha bem mais
“cavada”.
[27]
Washington “Distrito de Colúmbia”(D.C.) e não o estado de Washington, na costa
oeste.
[28]
Protagonista de Sobre Amor e Vingança.
[29]
Protagonista de O Herdeiro do Cowboy.
[30]
Nome fictício da fazenda de Bryce Gray.
[31]
Protagonista de Sob a Proteção do Bilionário.
[32]
O Pentágono é a sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, localizado
no condado de Arlington, Virgínia, através do rio Potomac, em Washington, DC. Fonte:
Wikipédia.
[33]
Aquele que não apoia nenhum Partido.
[34]
A Dark Web é o conjunto oculto de sites da Internet que só podem ser acessados
com um navegador de Internet especializado. Ela é usada para manter atividades
anônimas e privadas na Internet. Documentos falsos como passaportes e diplomas,
drogas, até escravos humanos e serviços de quem pratica crimes podem ser
encomendados nessa parte da internet.
[35]
Diz-se de um sistema que permite o acesso a informação por parte de outros
sistemas ou computadores dispostos em rede.
[36]
Jornal fictício criado para o livro.
[37]
Aplicativo fictício criado para o livro.
[38]
Prato típico do sul dos Estados Unidos.
[39]
Spoiler dos 4 primeiros livros da saga Alma de Cowboy: o pai deles traía a mãe.
[40]
Crianças a partir do 6 anos podem treinar tiro ao alvo em estandes de tiros no
Texas.
[41]
Ela faz uma piada em relação ao filme antigo, querendo dizer que tem dupla
personalidade.
[42]
Ela deveria ter dezesseis quando foi pega. A carteira definitiva só é obtida aos
dezoito anos nos EUA.
[43]
Quem se lembra dele? Esse homem foi citado no livro Sob o Domínio do Mafioso e
era um dos políticos corruptos para quem Cillian lavava dinheiro.
[44]
A lavagem de dinheiro acontece quando agentes criminosos procuram alterar a
origem de um dinheiro conseguido de maneira ilícita. O que se tenta fazer é mascarar
a origem do dinheiro de forma a que pareça ter sido de origem lícita.
[45]
No livro 1 da série Honra Irlandesa, Sob o Domínio do Mafioso, Cillian, o boss,
comenta que lava dinheiro para diversos políticos.
[46]
Protagonista de A Princesa Seduzida pelo Magnata.
[47]
Esse personagem aparece em O Devasso e a Viúva Virgem.
[48]
É uma espécie de quartinho e não um armário de fato.
[49]
Protagonista de Um Bebê para o Italiano.
[50]
Essa personagem aparece em O Devasso e a Viúva Virgem.
[51]
Homem com lábia.
[52]
É o gabinete e local de trabalho do presidente dos Estados Unidos.
[53]
Protagonista de Seduzida e Cativo, livros 1 e 2 da Série Corações Intensos.
Table of Contents
Copyright © 2022
NOTA DA AUTORA:
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Noite de núpcias
Epílogo 1
Epílogo 2
Não deixem de ler, nas próximas páginas, o bônus da segunda
geração dos Gray, assim como o de uma nova série.
Bônus 1
Bônus 2
PAPO COM A AUTORA
Obras da autora
SOBRE A AUTORA