(20230300-PT) Exame 467 PDF

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Análise Hotelaria Empresas Março 2023

Publicação Mensal
É possível combater a Adélia Carvalho, Como a tecnologia
exame.pt inflação sem esmagar de rececionista do ISQ vai do fundo 467
Portugal
os trabalhadores? a diretora-geral do mar a Marte
467
março 2023

OS NOVOS ELDORADOS
DAS EXPORTAÇÕES
O S N O V O S E L D O R A D O S D A S E X P O R TA Ç Õ E S P O R T U G U E S A S

PORTUGUESAS
As vendas de bens ao exterior bateram recordes em 2022. Conheça
os mercados que mais crescem, os produtos que se destacam
e os conselhos práticos para as empresas que querem entrar nos
países, que compram cada vez mais made in Portugal
Exame
Nº467 . 3/23
34
A DIRETORA HUMANISTA
A EXAME foi conhecer
Adélia Carvalho, diretora-geral
do Valverde Hotel, e já distinguida
como a gestora mais motivadora
de Portugal
© ENGDAO WICHITPUNYA

12
PORTUGAL LÁ FORA
As exportações nacionais têm
sido um dos grandes motores
do crescimento económico nos
últimos tempos. O que estamos
a exportar, para onde estamos

LUÍS BARRA
a exportar e para onde vamos,
em análise este mês

. Enter . Micro . Macro . Exit . Opinião


6 44 54 92 32
GIRA O DISCO “ALL OVER TRABALHADORES UM COPO PEDRO AFONSO
ALGUNS
As vendas dos discos THE UNIVERSE” DO MUNDO INTEIRO... DE VINHO POR DIA... #DESAFIOSDESEMPRE!
de vinil continuam a subir O ISQ está envolvido em Os assalariados estão Os tintos continuam
3
e bateram recordes de alguns dos mais inovadores a suportar, com baixa a ser preferência
décadas, no ano passado projetos internacionais. resistência, significativas dos consumidores
De Marte aos oceanos, uma perdas de poder real. portugueses e sugerimos
71
SOUMODIP SARKAR
8 história de aposta técnica Como se trava a subida três, de países diferentes, O ENSINO
EM EXAME dos preços? para o mês que agora E A PROMOÇÃO
“A economia na 52 começa DE CRIATIVIDADE
encruzilhada” foi o tema ADAPTAR PARA 62
da conferência anual SOBREVIVER HÍBRIDO, 96 89
da EXAME, cujo resumo O CEO da Benamôr, Pierre A BEM DA SAÚDE LIGADO À CORRENTE INÊS VAZ PEREIRA
pode ler aqui Stark, falou à EXAME sobre O psicólogo norte- Fomos conhecer O FUTURO
-americano David DO CAPITAL
adaptação, reinvenção o primeiro modelo 100% HUMANO NO
e sustentabilidade Ballard explica porque elétrico da Renault,
o trabalho nunca mais
SETOR DA AEC
para as PME o Mégane E-Tech
devia de voltar
a ser o que era antes 98
da pandemia GESTÃO E GEOPOLÍTICA
Na estante deste mês há
66 sugestões para
A CIÊNCIA JÁ NÃO os mais diversos gostos
MUDA O MUNDO? e interesses
A nossa capa
Mais tecnológicos mas
Destaque para o exaustivo
trabalho do jornalista menos inovadores?
Rui Barroso, numa A ciência está menos
capa desenhada disruptiva apesar
por Edgar Antunes dos avanços

4 . EXAM E . MARÇO 2023


E Editorial

Proprietária/Editora:
TRUST IN NEWS, UNIPESSOAL LDA.
Sede: Rua da Fonte da Caspolima – Quinta da Fonte
Edifício Fernão de Magalhães, 8
2770-190 Paço de Arcos. NIPC: 514674520
Gerência da TRUST IN NEWS: Luís Delgado,
POR Filipe Passadouro e Cláudia Serra Campos
TIAGO FREIRE Composição do Capital da Entidade Proprietária: 10 000,00 euros
Principal acionista: Luís Delgado (100%)
Diretor

Adeus Novo Banco! Exame


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Olá Novo Banco!


Revista Mensal

Diretor Tiago Freire


Redação Cesaltina Pinto, Clara Teixeira, Margarida Vaqueiro Lopes
(editora), Marta Marques Silva, Nuno Aguiar, Paulo M. Santos e Rui Barroso
Arte Edgar Antunes (editor), Patrícia Pereira e Rita Cabral
Infografia Álvaro Rosendo e Manuela Tomé
Revisão Rui Carvalho e Teresa Machado

P
Colaboradores de revisão Margarida Robalo e Sónia Graça
arece ter termina- O que podemos dizer com se- Secretariado Sofia Vicente (direção) e Ana Paula Figueiredo
REDAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS COMERCIAIS
do, oficialmente, o gurança é que os termos do acordo Rua da Fonte da Caspolima – Quinta da Fonte
Edifício Fernão de Magalhães, 8, 8A e 8B, 2770-190 Paço de Arcos
processo de rees- acabaram por ser maus. Maus por- Tel.: 21 870 5000
truturação do Novo que foram dados à Lone Star todos os Delegação Norte: Rua Santos Pousada 441- sala 206/208, 4000-486 Porto
Telefone: 22 099 0052
Banco, e com isso a incentivos para ir buscar o máximo Marketing e Publicidade
Vânia Delgado (diretora) vdelgado@trustinnews.pt
sua saída da alçada (e da carteira) de dinheiro ao Fundo de Resolução. Marketing
Joana Hipólito (gestora de marca) jhipolito@trustinnews.pt
do Fundo de Resolução e da rede Aquilo que ficou no papel como um Publicidade
de financiamento público. É certo “ir buscar em caso de ser estritamen- Tel.: 21 870 5000
Manuel Geraldes (diretor coordenador de publicidade)
que ainda há disputas de verbas em te necessário” foi, na prática, um pla- mgeraldes@trustinnews.pt
Mariana Jesus (gestora de marca) mjesus@trustinnews.pt
tribunal, mas estamos tão cansados fond ao qual o Novo Banco tinha todo Rita Roseiro (gestora de marca) rroseiro@trustinnews.pt
disto tudo que devemos, pelo me- o interesse em recorrer no máximo Tiago Garrido (gestor de marca) tgarrido@trustinnews.pt
Florbela Figueiras (assistente comercial Lisboa) ffigueiras@trustinnews.pt
nos, saudar uma garantia: mesmo possível, pagando toda a sua limpeza. Elisabete Anacleto (assistente comercial Lisboa) eanacleto@trustinnews.pt
Delegação Norte – Tel.: 22 099 0052
que o banco ganhe essa ação (per- E já nem falo do resto, da necessidade Margarida Vasconcelos (gestora de marca) mvasconvelos@trustinnews.pt
Digital e Parcerias
to de 200 milhões), para o futuro a de limpar tanta coisa naquilo que era Hugo Lourenço Furão (coordenador) hfurao@trustinnews.pt
conta está fechada. supostamente o “banco bom” (o lixo Tecnologias de Informação
João Mendes (diretor)
Num processo iniciado em 2017, tinha ficado de fora, diziam-nos). Produção, Circulação
Vasco Fernandez (diretor)
o Fundo de Resolução (detido pelos Sendo um acordo mau, era possível, Pedro Guilhermino (coordenador de produção)
bancos mas com suporte de fundos naquela altura, fazer um melhor? Nuno Carvalho, Nuno Gonçalves e Paulo Duarte (produtores)
Isabel Anton (coordenadora de circulação)
públicos, a título de empréstimos) Francamente, não sei. Assinaturas
Helena Matoso (coordenadora de assinaturas)
injetou 3,4 mil milhões de euros na Com este desfecho, atingimos Serviço de apoio ao assinante. Tel.: 21 870 5050 (Dias úteis das 9h às 19h)
Custo de chamada para a rede fixa, de acordo com o seu tarifário
instituição controlada maioritaria- um momento de importante simbo- apoiocliente@trustinnews.pt
mente pelo fundo norte-america- lismo: finalmente não há nenhuma Impressão Lisgráfica – Estrada de São Marcos n.º 27
São Marcos – 2735-521 Cacém
no Lone Star (o Estado e o Fundo instituição financeira portuguesa Distribuição VASP – MLP, Media Logistics Park, Quinta do Grajal,
Venda Seca, 2739-511, Agualva-Cacém, Tel.: 21 433 7000
de Resolução têm uma participação sob intervenção pública, nacional Pontos de Venda contactcenter@vasp.pt
de cerca de 25%). É muito dinheiro, ou europeia. Isto, que seria o nor- Tel.: 808 206 545 – Fax: 808 206 133
Tiragem 5 800 exemplares. Registo na ERC
sem dúvida, mas as regras desenha- mal, merece festejo. com o n.º 113 709, de 14/04/1989
Depósito Legal n.º 24 202/89
das até previam a possibilidade de Até porque vivemos tempos sen- Estatuto Editorial disponível em visao.sapo.pt/
informacaopermanente/2018-01-01-Estatuto-editorial-da-EXAME
ser mais. síveis, em que a classe média, co- “A TRUST IN NEWS, UNIPESSOAL, LDA. não é responsável pelo conteúdo
E isso leva-nos à questão: valeu mida irremediavelmente pela infla- dos anúncios nem pela exatidão das características e propriedades dos
produtos e/ou bens anunciados. As respetivas veracidade e conformidade
a pena? ção e pelos salários baixos, perdeu com a realidade são da integral e exclusiva responsabilidade dos
anunciantes e agências ou empresas publicitárias.” Interdita a reprodução,
É impossível responder de for- de vez a paciência e a compreensão mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios
ma séria, porque não sentimos, na para grandes gastos públicos, deste e para quaisquer fins, inclusive comerciais.

pele, o que seria o caminho alterna- e de outro tipo, por mais racionais
tivo. Quais seriam os custos, para os que até possam ser.
stakeholders do banco, para o sis- É o fim de um ciclo e o início
tema financeiro português em geral de outro para o Novo Banco. Prova-
e para a nossa economia, se o ca- velmente segue-se um processo de
minho tivesse sido outro? Não sa- venda, que não será isento de polé-
bemos, e tenha cuidado com quem micas (mas alguma coisa o é, hoje
lhe diz que sabe. em dia?). Que haja bom senso. E

MARÇO 2023 . EXAM E . 5


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EXAME

NOTÍCIAS . FOCO

A ASCENSÃO DO VINIL
As vendas de discos de vinil continuam a subir de ano para ano e deverão ter atingido um volume
de negócios na ordem dos 1,7 mil milhões de euros, em 2022, a maior receita dos últimos 30 anos.
Na era do streaming e dos serviços digitais, esta plataforma física já representa 6,5% do volume
de negócios global da indústria fonográfica
Texto Paulo M. Santos

50
O REGRESSO DO VINIL 43,5
A grande procura por discos de vinil nos EUA, o maior mercado 40
mundial de música, representa bem a força que este “velho” formato
tem vindo a ganhar nos últimos anos 28,6 30
VALORES EM MILHÕES DE DISCOS

20
11,4
10
1,3 1,0 3,1
0,8
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

AO RITMO DO STREAMING
A indústria fonográfica atingiu um volume de negócios de 25,9 mil milhões de euros, em 2021,
e deverá continuar a subir até ao final da década. O serviço de streaming é a principal fonte de receita,
mas a grande procura pelo vinil conseguiu, pela primeira vez desde 2001, travar a curva descendente
das vendas de música em formato físico

Receitas globais da indústria fonográfica


VALORES EM MILHARES DE MILHÕES DE EUROS
TOTAL Streaming Físico (vinil, CD e outos) Direitos Download

25 24 2001 Apple lança o primeiro iPod 2015 A Apple dá início à Apple Music
25,9
2003 A Apple abre o iTunes Store
20 2008 A Spotify inicia-se na Europa
2011 A Spotify entra nos EUA
15 16,9

10

5
5,0
0,6 0,4 0,1
2,4
0
0,5
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

6 . EXAM E . MARÇO 2023


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REFLEXÃO

Debater
“a economia na
encruzilhada”
Na conferência anual Portugal em Exame, mais
de uma dezena de oradores procurou tomar o pulso
à economia nacional, suas forças e fraquezas,
e encontrar o rumo que vai marcar este ano
Numa sala cheia, no cen- forma notável, com um cresci-
tro de Lisboa, deu-se o mento de 6,7%, o maior desde
regresso da conferência 1987”. António Costa Silva realça
Portugal em Exame, que contou que há três efeitos que explicam
com o apoio do Bankinter, da este resultado: “Há um efeito de
KPMG e do Grupo Your. A ma- base que não podemos ignorar,
nhã começou da melhor forma, mas houve também uma contri-
com a intervenção de abertura buição do consumo interno e da
de António Costa Silva, ministro procura externa líquida.”
da Economia e do Mar. Entre os setores destacados
A economia global passa por pelo ministro da Economia e do
tempos desafiantes. Após o im- Mar e que contribuíram para os
pacto da pandemia, surgiu um resultados positivos da econo- Sala cheia
choque geopolítico causado pela mia portuguesa esteve o do tu- O ministro da
invasão da Ucrânia pela Rússia e rismo, que considerou ser um Economia, António
pela concorrência cada vez mais “motor fulcral”. O responsá- Costa Silva, abriu a
conferência anual da
aguerrida entre os EUA e a Chi- vel da pasta da Economia su- EXAME, que, durante
na. António Costa Silva conside- blinhou ainda “a resposta da a manhã, contou
ra que “ainda é muito cedo para metalomecânica, fabricação com uma casa cheia.
Francisco Assis e
dizer que terminamos uma era de máquinas e equipamento”, Marques Mendes
e começamos outra”, mas o mi- e realçou o trabalho feito na estiveram à conversa
nistro da Economia e do Mar não área do têxtil, que se conseguiu no importante “Clube
LUÍS BARRA

dos Moderados”, uma


tem dúvidas de que “há impac- transformar. rubrica já habitual
tos muito grandes no funciona- Mas, mesmo com os núme- nesta iniciativa
mento da economia mundial”. ros positivos do crescimento no
Após uma fase, em que a ano passado, António Costa Sil-
globalização avançou a um rit- va afirma que há vários desafios
mo sem precedentes e em que que têm de ser ultrapassados,
as taxas de juro e de inflação es- numa realidade que tem sido
tavam historicamente baixas, marcada por “policrises”. Des-
houve uma “disrupção desse pa- de logo, o ministro da Economia
radigma”, com uma “fragmenta- salienta ser necessário diminuir
ção do comércio internacional” e o conteúdo importado das nos-
um agravamento dos índices de sas exportações, que é dos mais
preços e nas taxas de juro, obser- altos da Europa.
vou António Costa Silva. Outro problema por resol-
Apesar dos desafios, o gover- ver é o da solidez financeira das
LUÍS BARRA

nante considera que “a econo- empresas nacionais: “A questão


mia portuguesa respondeu de em Portugal não é o grande ca-

8 . EXAM E . MARÇO 2023


Uma política expansionista, Entre as preocupações
desenhada para assegurar a li- apontadas como prioritárias
quidez na economia e a estabi- pelos CEO estão as perspetivas
lidade de preços, mas que teve económicas, a dificuldade de
como consequência a transfe- reter talento e a incorporação
rência de risco para o balanço dos critérios ESG na atividade
dos bancos centrais. A inflação empresarial. Apesar de haver
e a consequente subida das ta- algumas diferenças entre o lu-
xas de juro – “em seis meses, su- gar que ocupam no ranking das
bimos as taxas de juro em três preocupações, consoante a geo-
pontos percentuais, um dos ci- grafia ou o setor, a verdade é que
clos de aumentos mais rápidos estes serão os grandes temas em
nas últimas décadas” – inver- agenda, nos próximos anos.
teram, subitamente, a relação Para Vítor Ribeirinho, a ci-
de remuneração entre ativos e bersegurança deve continuar a
passivos. “Não se imaginávamos estar no topo das apostas das li-
que isso acontecesse tão depres- deranças, numa altura em que,
sa. A remuneração do passivo já em Portugal, o tema tem estado
é superior à do ativo. Esperamos na ordem do dia – muito à con-
que seja uma situação transitó- ta de uma maior mediatização,
ria, mas não sabemos quanto recordou, mas sobretudo por-
tempo durará”, admite o res- que todas as questões associa-
ponsável. das trabalham em ecossistema.
Desde 2016, o BdP entre- Uma ideia partilhada por Isabel
gou ao Estado, sob a forma de Vaz, que lembra que, “se houver
dividendos, cerca de €3 mil um ataque informático ao setor
LUÍS BARRA

milhões. Num momento em das telecomunicações, isso terá


que vários bancos centrais eu- impacto nos meus hospitais”.
ropeus já anunciam prejuízos Mas, admite, há outro tema
pital, mas a escassez de capital.” PARA QUE SERVE respeitantes ao último exercí- que, em paralelo, também lhe
António Costa Silva calcula que UM BANCO CENTRAL? cio e alertam para o fim da era tira o sono e que é a atração do
sejam necessários entre €8 mil Em contraciclo com vários ban- de resultados positivos, durante talento. “Estamos todos a pas-
milhões e €10 mil milhões, para cos centrais do Eurossistema, o alguns anos, o BdP terá fechado sar por uma guerra de talento
suprir as necessidades de capi- regulador nacional prepara-se 2022 em contraciclo. Hélder Ro- mundial. Não vivemos numa
tal das empresas portuguesas, e para apresentar resultados posi- salino faz, no entanto, questão paróquia, estamos a competir
afirma que o Banco de Fomento tivos, garantiu Hélder Rosalino. de frisar que “os bancos cen- por talento à escala global – e
terá um papel essencial na reso- Ainda assim, o administrador trais não existem para gerar lu- isso é verdade também no setor
lução deste problema. do BdP fez questão de desmis- cro, mas para prosseguir o in- da saúde, porque falamos bem
O ano de 2023 está marcado tificar o papel dos bancos cen- teresse público através dos seus línguas. Não vale a pena fazer
por um conjunto de incertezas, trais, alertando para o facto de instrumentos de política mone- leis a dizer que os obrigamos a
mas António Costa Silva conse- “não existirem para gerar divi- tária”. “Mal seria que o BdP dei- ficar por cá, porque isso é uma
gue antever alguns sinais enco- dendos e, por vezes, existir al- xasse condicionar a sua missão tolice completa”, atira. “Temos
rajadores. “Vamos ver a Alema- gum ruído nesta mensagem”. por outros objetivos que não o de responder àquilo que nós,
nha a evitar a recessão ou a ter Entre 2014 e 2021, o balan- interesse público.” como CEO, sabemos que as
uma recessão ligeira, e Espanha ço da instituição duplicou para pessoas procuram”, que é uma
e França também a podem evi- €219 mil milhões, maioritari- PARA ONDE OLHAM OS CEO maior flexibilidade e bons sa-
tar”, disse. Já nos mercados de amente constituído por dívida Foi numa conversa divertida e lários.
energia, o governante antevê pública portuguesa de médio e informal que Isabel Vaz e Vítor “Portugal tem muitas coi-
uma aparente estabilização. O longo prazo, com uma taxa de Ribeirinho tentaram traçar prog- sas boas, mas tem muitas coisas
objetivo, revelou o ministro, “é juro média ligeiramente abaixo nósticos para os desafios das li- más. E nesta área tem muitas
voltar a desmentir as previsões” dos 2%. Anos em que o regulador deranças, nos próximos meses e coisas más”, continuou Isa-
e conseguir um crescimen- atingiu resultados líquidos re- anos, tendo como base o KPMG bel Vaz. “Por que razão os EUA
to mais alto do que o previsto. corde – com o máximo de €806 CEO Outlook 2022, um estudo se adaptam mais rapidamen-
“Aconteceu isso em 2022 e es- milhões, em 2018 –, potenciados que a consultora faz, há vários te a tudo? Porque a economia
pero que aconteça novamente por uma política de taxa de juro anos, ao nível global mas tam- acompanha muito mais depres-
em 2023”, concluiu. zero ou mesmo negativa. bém para o mercado nacional. sa o mercado, porque não têm

MARÇO 2023 . EXAM E . 9


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o espartilho e as pessoas adap- tugal, a sueca Helen Duphorn Anna Lenz, que assumiu a
tam-se mais depressa. Porque admite que pediu para vir para presidência-executiva da Nestlé
as pessoas, ao invés de estarem cá, quando lhe deram uma ge- Portugal, há sete meses, lembra,
a aboborar em sítios em que não ografia à escolha e depois de ter com a assertividade suíça que a
são precisas, vão para outros lo- passado por vários mercados, ao nacionalidade lhe dá, que “a
cais em que são precisas. Isso é longo dos 20 anos de carreira no produtividade em Portugal é
um tema que tem muito impac- grupo Ingka, a holding que de- mais baixa do que em outros
to na economia e, curiosamen- tém a IKEA. sítios, mas creio também que
te, raramente se fala nisso.” “Acho Portugal um mercado isso está muito ligado ao facto de
No mesmo sentido, Vítor Ri- muito interessante para a IKEA, o País ter muitas PME. Os por-
beirinho deu o exemplo da pró- porque conseguimos mesmo tugueses expatriados são mui-
pria empresa para recordar que ajudar pessoas com baixo poder to procurados, pela sua cultura,
o “S”, que representa o “Social” de compra – e genericamente, pelo domínio do inglês” e, claro,
quando se fala em critérios ESG, em Portugal, há um baixo po- por também estarem mais dis-
é crítico para a sobrevivência der de compra – a ter uma casa poníveis, devido às “condições
das organizações, e que as em- muito confortável, o que é muito muito precárias” que os jovens
presas têm mesmo de priorizá- interessante”, justifica. Acresce encontram em Portugal, quan-
-lo nos próximos tempos: “Na a isso o facto de os portugueses do começam a trabalhar. Mas,
KPMG, estamos a dar voz aos terem facilidade em falar línguas salienta, na Nestlé Portugal não
nossos jovens, a permitir-lhes estrangeiras e, claro, de ser um sente essa falta de produtivi-
multiexperiências, que é isso País com um clima apelativo. dade, talvez porque, reflete, tal
que muitos dos nossos jovens Numa conversa em que par- como na IKEA, a empresa tem
referem como fator de retenção. tilhou o palco com as CEO da uma liderança menos hierar-
O caminho do ESG não é ape- Volvo Portugal e da Nestlé Por- quizada, o que permite uma
nas um instrumento sexy para tugal, Helen chamou a atenção comunicação mais fluida e um
se falar numa conferência des- para, culturalmente, os portu- ambiente propício à troca de
tas. É algo que tem mesmo de gueses serem muito acolhedores ideias. “Não há um respeito exa-
estar incorporado” nos planos e muito honestos, apesar de de- gerado pelas chefias”, acrescen-
operacionais, salienta. Porém, morarem o seu tempo para con- ta Helen Duphorn.
admite que ainda há empre- fiarem nas pessoas, “algo que é “Acho que uma das questões
sas em Portugal que não con- parecido com o que acontece na que realmente têm de ser traba-
seguem entender os impactos Suécia”, admite. lhadas é a se refere às pessoas
financeiros que essa urgência Mas, à semelhança do que poderem falar e pôr em causa
pode ter nas organizações. apontou a sua colega sueca Su- as lideranças”, adianta ainda a
Em jeito de conclusão, e sanne Hägglund, há um ano à CEO da Volvo. “E aqui não há
quase em resumo, Isabel Vaz frente da Volvo Portugal, He- essa cultura. Portanto, possivel-
recordou que só não olha para len acredita que é fundamen- mente o que acontece quando
os critérios ESG com seriedade tal encorajar “os trabalhadores os portugueses saem é que as
quem “esteja a desconversar”, a falar mais e mais cedo. A di- pessoas florescem no seu am-
uma vez que, recorda, todos eles zer às chefias, mas também aos biente de trabalho porque po-
contribuem para a margem fi- outros colegas, quando não es- dem ser ouvidas e criar valor.
nanceira das organizações. tão no caminho certo ou a falar Temos de tentar que as pessoas
Isto “tem que ver com in- sobre aquilo de que não gostam. se sintam atraídas a ficar aqui”,
centivos de longo prazo e com Eu queria mesmo que as pesso- salienta.
políticas, e eu não vejo como as falassem mais, que dissessem Em jeito de curiosidade, as
poderão não ter impacto na mais cedo quando algo não está três executivas admitiram ain-
margem. Só um CEO com muita bem!”, partilha. da que Portugal foi uma escolha
má vontade e que esteja a des- As gestoras respondiam à pessoal, quando lhes deram op-
conversar é que não vê o impac- questão do diretor da EXAME, ções sobre que país queriam ir.
LUÍS BARRA

to a curto, médio e longo prazos Tiago Freire, sobre o facto de os “Eu vivi em 20 países, e este foi
na incorporação dos critérios trabalhadores portugueses se- o único em que comprei casa”,
ESG”, termina. rem muito valorizados quando confessa Anna Lenz com uma Os números não enganam
estão fora do País, enquanto cá gargalhada. “Eu já não me vou O administrador do Banco
GERIR EM PORTUGUÊS dentro parecem não conseguir embora”, responde Helen, di- de Portugal, Hélder Rosalino, falou
do papel dos bancos centrais
Há cinco anos a trabalhar e a li- atingir os mesmos níveis de pro- vertida. “Fico aqui para a refor- e dos seus resultados financeiros,
derar os destinos da IKEA Por- dutividade. ma, já decidi.” Com as famílias numa apresentação rica em dados

1 0 . EXAM E . MARÇO 2023


A voz dos especialistas
Alberto Ramos, António Saraiva, João Duque
e Sara do Ó refletiram sobre a economia na
encruzilhada, com a moderação de Nuno Aguiar

a partilhar do seu entusiasmo vas”, mais condições têm para


por Portugal, todas garantiram dar melhores salários e gerar
que foi fácil integrar-se na vida mais retorno em termos sociais.
social, no sistema educativo e Alberto Ramos deu o pon-
também na forma de trabalhar to de vista da banca e conside-
e de viver no País. ra que a economia está “numa
encruzilhada, e não no preci-
A AMBIÇÃO pício”. O responsável do Ban-
E A ENCRUZILHADA kinter Portugal acredita que,
Ambição. Foi uma das ideias apesar de a economia poder
mais destacadas no painel que desacelerar, será possível evi-
fechou a manhã. Numa con- tar uma recessão. “Os dados
versa que teve a participação vão comprovar isso mesmo, e
de Alberto Ramos, António Sa- o mercado de trabalho é mais
raiva, João Duque e Sara do Ó, resiliente do que o esperado”,
foi realçada a importância de o justificou.
País, o Governo e as empresas Ainda assim, o banqueiro
terem uma estratégia de cresci- ressalva que o fenómeno da
mento, que permita ganhar es- desglobalização e as maiores
cala e competir de forma mais tensões geopolíticas têm um
eficaz no mercado global. preço. “Estamos num momen-
Mas, segundo Sara do Ó, to de passagem que tem custos,
“em Portugal é muito difícil quer para as empresas quer
aceitar a palavra ambição”. A para os particulares”, disse. O
LUÍS BARRA

fundadora e CEO do Grupo crédito para os bons projetos,


Your considera que os objeti- esse, não faltará.
vos das microempresas devi- Por seu lado, António Sarai-
am ser tornarem-se pequenas, va defende que Portugal já está
Os desafios para depois passarem a médias numa encruzilhada há cerca
da liderança e acabarem por chegar a gran- de duas décadas. O presiden-
Vítor Ribeirinho des. Mas observa que não há te da Confederação Empresa-
e Isabel Vaz elencaram
os desafios dos CEO incentivos para que isso acon- rial de Portugal (CIP) considera
para os próximos teça e que “o lucro acaba por que “não há uma estratégia de
meses, e Anna Lenz, não ser bem-visto”. Considera crescimento, e esse é o nosso
Helen Duphorn
e Susanne Hägglund que faltam “políticas de con- grande problema, já que não te-
contaram como é gerir centração e que os próximos mos um desígnio que nos faça
em português, com anos deveriam ser de fusões e escolher um dos caminhos”.
LUÍS BARRA

a ajuda do diretor
da EXAME, Tiago Freire aquisições”, já que, constata, Conclui que “há 20 anos que
(em baixo) “não conseguimos ter escala”, temos um crescimento ané-
também por alguma resistência mico” e adverte que, enquan-
das próprias empresas. to não existir coragem política
Também o economista João para se fazer reformas na Ad-
Duque considera que “nos fal- ministração Pública, na Justiça
ta ambição coletiva” e que esta e ao nível fiscal, dificilmente o
“poderia ser acicatada pelo Go- País terá condições para crescer
verno”. No entanto, o professor de forma vigorosa e sustentada.
catedrático do ISEG constata E aproveita para apontar que o
que, “além de não serem apoia- caminho do crescimento passa
das, as empresas são mesmo re- pela aposta na dimensão, ino-
primidas no seu crescimento”. vação e internacionalização.
E questiona: “Se quanto mais A discussão acabou, assim,
cresces, mais levas na cabeça, por centrar-se mais em desafi-
qual o incentivo de crescer?”. O os de longo prazo, até porque
economista defende que “é bom uma das nossas debilidades é a
LUÍS BARRA

ter empresas grandes, já que, incapacidade de planeamento e


quanto maiores e mais lucrati- de execução coerente. E

MARÇO 2023 . EXAM E . 11


1 2 . EXAM E . MARÇO 2023
COMÉRCIO
INTERNACIONAL
OS ELDORADOS
QUE AJUDARAM
PORTUGAL
A BATER
RECORDES NAS
EXPORTAÇÕES
As exportações portuguesas de bens e serviços terão
atingido um valor equivalente a 50% do PIB, no ano
passado. A EXAME enumera alguns dos mercados que mais
cresceram, em volume e em termos relativos, e analisa
a trajetória de Portugal no tabuleiro do comércio
internacional. Há muitas histórias de sucesso,
mas também problemas estruturais por resolver
Texto Rui Barroso

MARÇO 2023 . EXAM E . 13


Foi o ano de todos os recordes nas exportações. As
vendas de bens portugueses ao exterior totalizaram
€78 326 milhões, em 2022, um novo máximo his-
tórico, segundo os dados preliminares do Instituto
Nacional de Estatística (INE). Do têxtil ao metal, da
indústria automóvel aos produtos agrícolas, passando mais competitivos do mundo e a desbravar oportu-
pelo mobiliário, foram vários os setores que supera- nidades em novas geografias. Só na última década,
ram as expectativas e registaram máximos o valor das exportações de produtos para
no valor dos bens escoados nos mercados fora de portas aumentou 65,6%. Em 2022,
externos. O ritmo foi tão intenso que Por- “É natural que, face ao ano anterior – que ainda teve al-
tugal chegou alguns anos antes do previs-
to à fasquia de ter um valor de exporta-
resolvida guns constrangimentos relacionados com
a pandemia –, a melhoria foi de 23%. A
ções, de bens e de serviços, equivalente a pandemia, haja EXAME dá-lhe a conhecer, nas próximas
a 50% do Produto Interno Bruto (PIB). O uma atitude páginas, os mercados para os quais as em-
ministro da Economia, António Costa Sil-
va, revelou recentemente que essa meta
de reposição presas portuguesas apresentam um maior
aumento em volume e analisa também os
foi superada, em 2022. de stocks, o que países – com um mínimo de compras de
Apesar do simbolismo desse marco, se reflete no valor bens portugueses no valor de €100 mi-
há fraquezas estruturais que precisam de
ser resolvidas, como o aparente paradoxo
das exportações” lhões – para os quais as exportações por-
tuguesas de bens mais aceleraram em ter-
de se ter de importar cada vez mais para Vítor Magriço mos relativos (ver caixas).
se ter combustível a alimentar as expor- Professor de Economia, no ISEG Além do crescimento das vendas de
tações nacionais. Ainda assim, e mesmo bens nos mercados externos, também as
com esse elefante na sala, a evolução das exportações de serviços aceleraram. To-
vendas de bens em mercados externos é um forte talizaram €44 193 milhões no ano passado, segundo
indício de que as empresas portuguesas têm tido su- os dados do Banco de Portugal (BdP) sobre a balança
cesso a reforçar a presença em alguns dos mercados de pagamentos. Este acréscimo foi conseguido princi-

1 4 . EXAM E . MARÇO 2023


ESPANHA REFORÇA ESTATUTO
DE MAIOR CLIENTE DE PORTUGAL
O país vizinho absorveu cerca de 26% das exportações
portuguesas de bens, mas, mesmo com o aumento das
exportações, o défice da balança comercial de bens com
este mercado subiu significativamente na última década

Espanha é, de longe, o maior a EXAME, com base em dados do


parceiro comercial de Portugal, Instituto Nacional de Estatísti-
o que não é surpreendente, ca (INE). Em termos setoriais,
dada a proximidade dos dois destaque ainda para o acréscimo
países. Mas as exportações e de €900 milhões nas vendas de
as importações entre as duas bens relacionados com plásticos
economias têm acelerado a um e borrachas. A relação tem-se
ritmo bem elevado. Aliás, as ven- intensificado de tal forma que
das portuguesas de bens para o nenhuma das grandes categorias
país vizinho foram as que mais de bens regista um decréscimo
aumentaram em volume, na úl- das exportações para Espanha,
tima década. Cresceram €9 234 nos últimos dez anos.
milhões para um total de €20 Apesar do peso gigante de mer-
411 milhões, um acréscimo de cado do país vizinho nas vendas
mais de 80%. Espanha reforçou portuguesas ao exterior, o
o estatuto de maior cliente de presidente da AICEP, Luís Castro
Portugal, absorvendo 26% das Henriques, recomenda alguma
vendas de bens das empresas cautela na leitura dos dados,
nacionais ao exterior. Esse peso porque nem tudo tem como des-
do “vizinho” tem aumentado. Há tino o mercado espanhol: “Uma
GETTYIMAGES

uma década, a proporção deste parte do que exportamos para


país nas exportações portugue- Espanha é depois novamente
sas era 23,7%. exportado a partir dos portos do
Os produtos agrícolas, os país vizinho. Mas é preciso per-
palmente à custa do turismo, que aparenta ter saído veículos e outros materiais de ceber que essa integração ibérica
mais forte do que nunca do choque da Covid-19. As transporte, as máquinas e apa- é positiva para Portugal.”
relhos, e os metais estão entre Não obstante o crescimento das
exportações do setor atingiram um novo recorde de
as categorias de bens expor- exportações portuguesas para
€21 107 milhões.
tados para Espanha que mais Espanha, as compras de bens
Contas feitas, somando o valor das exportações de cresceram nos últimos dez anos. ao país vizinho avançaram a
bens e de serviços, tudo parece encaminhar-se para Todos estes setores um ritmo ainda mais
que, em 2022, as vendas ao exterior tenham já sido registaram aumentos elevado. Isso fez
equivalentes a cerca de metade do PIB. António Sa- ESPANHA
nas vendas a Espanha com que o défice da
raiva nota que, “de facto, em termos trimestrais, essa superiores a €1 000 > VALOR balança comercial de
DAS EXPORTAÇÕES
fasquia já foi ultrapassada no segundo trimestre”. O milhões, mais do bens com este país
€20 410,7 milhões
presidente da Confederação Empresarial de Portu- que duplicando as tivesse praticamente
exportações para este > AUMENTO NO VOLUME duplicado, numa dé-
gal (CIP) considera que se trata “de um marco com DE EXPORTAÇÕES,
inegável simbolismo, até porque esse era um objeti- mercado e registando NA ÚLTIMA DÉCADA
cada, passando de €7
taxas de crescimento €9 233,9 milhões 217 milhões, em 2013,
vo fixado, em 2017, no Programa Internacionalizar,
médias anuais de > SUBIDA RELATIVA
para €14 585 milhões.
para a primeira metade da presente década, tendo
cerca de 10% ao ano, DAS EXPORTAÇÕES Este valor equivale a
sido, depois, adiado para 2027, nas metas do PRR”. segundo dados pre- EM 10 ANOS quase metade do total
António Saraiva explica que a concretização desta parados pela Agência 82,6% do défice da balança
meta “se deve, sem dúvida, ao bom desempenho das para o Investimento e > POSIÇÃO NO RANKING comercial de bens que
exportações de bens, bem como (sobretudo) à forte Comércio Externo de DE MERCADOS Portugal acumula com
recuperação do turismo”, mas ressalva que se deve Portugal (AICEP) para 1.ª o resto do mundo.
também “à desaceleração do consumo e à queda do
investimento, a partir do segundo trimestre”.

MARÇO 2023 . EXAM E . 15


REINO UNIDO
€ 3 845,4
EXPORTAÇÕES
DE BENS BATERAM
RECORDES
Evolução, em milhões de euros,
das exportações de bens

80 000 PAÍSES BAIXOS


€ 3 152,4

70 000

60 000

10
50 000 EUA
€ 5 076,0
40 000
>OS MERCADOS COM MAIOR AUMENTO
30 000 MAIORES NO VOLUME DE EXPORTAÇÕES
DESTINOS DAS Subida, em milhões de euros, no valor
20 000
EXPORTAÇÕES das exportações de bens, na última década

10 000
PORTUGUESAS
Valor, em milhões BÉLGICA EUA ITÁLIA
0 de euros, das exportações € 521,7 € 3 078,2 € 1 931,8
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 de bens em 2022 ALEMANHA ESPANHA FRANÇA PAÍSES BAIXOS
Fonte: INE Fonte: INE e AICEP € 3 023,7 € 9 233,9 € 4 213,1 € 1 260,3

INFLAÇÃO E NOVAS CADEIAS DE VALOR


Uma parte significativa das subidas das exportações
portuguesas pode ser explicada pelo “fator preço”,
num cenário de inflação generalizada um pouco por OS INVESTIMENTOS FRANCESES
todo o mundo. “As exportações são maiores, porque
os preços dos bens e serviços em questão subiram.
E O “MERCADO DA SAUDADE”
Isto é particularmente relevante no caso dos com- Portugal tem um excedente com França na balança comercial de bens,
bustíveis, automóveis, peças metálicas e pasta de pa- e há oportunidades para continuar a aumentar o ritmo das exportações
pel – que têm um peso importante nas exportações
–, mas admito que possa ser um fator transversal”, As exportações portu- clientes de Portugal. Em
refere Filipe Garcia, economista da IMF. Já António guesas de bens para o 2022, França absorveu
FRANÇA
Saraiva observa que “temos, evidentemente, o efeito mercado gaulês tiveram o 12,4% das exportações
do aumento do preço unitário das exportações, na segundo maior crescimen- portuguesas de bens, um > VALOR
to em termos de volume, aumento face ao peso de DAS EXPORTAÇÕES
atual conjuntura inflacionista”, porém realça que “o
€9 709,9 milhões
aumento das exportações de bens, em termos reais, na última década. Assim, 11,6%, que se registava
as empresas nacionais há dez anos. Além disso, > AUMENTO NO VOLUME
terá sido superior a 6%, de acordo com as estimativas DE EXPORTAÇÕES,
aumentaram as vendas é um dos poucos países
do Banco de Portugal”. NA ÚLTIMA DÉCADA
para França em €4 213 com os quais Portugal tem € 4 213,1 milhões
Além do efeito dos preços mais elevados, há ou-
milhões, para um total um excedente na balança
tras possíveis explicações para a subida das expor- de €9 710 milhões, um comercial de bens, o qual
> SUBIDA RELATIVA
DAS EXPORTAÇÕES
tações portuguesas de bens, algumas relacionadas acréscimo de mais de subiu de €1 622 milhões EM 10 ANOS
com a recuperação da procura, após a paralisação 76%. Uma subida que para €3 090 milhões, na 76,6%
causada pela Covid-19. “Do meu ponto de vista, este permitiu a este mercado última década. > POSIÇÃO NO RANKING
resultado é sobretudo explicado pelo facto de o confi- destacar-se no segundo “Historicamente, os dois DE MERCADOS
namento no âmbito da pandemia ter provocado uma lugar na lista dos maiores mercados sempre foram 2.ª
diminuição muito significativa dos stocks dos clientes
das empresas portuguesas. É natural que, resolvida a

1 6 . EXAM E . MARÇO 2023


BÉLGICA ALEMANHA
€ 1 865,0 € 8 532,4
pandemia, haja uma atitude de reposição de stocks, o
que se reflete no valor das exportações”, afirma Vítor
Magriço, professor de Economia Internacional e do
Desenvolvimento, no ISEG.
Mas há outros ventos a soprar no ta-
[O peso de 50% buleiro do comércio internacional, que

POLÓNIA
de exportações no podem estar a ser favoráveis às empresas
portuguesas, nomeadamente a reconfi-
€ 1 070,5 PIB é] “um marco guração das cadeias de valor. José Caeta-
com inegável no considera que “os impactos negativos
simbolismo, até dos bloqueios ocorridos durante a pande-
mia afetaram mais as empresas de maior
FRANÇA porque era um dimensão e com participação de capital
€ 9 709,9 objetivo fixado estrangeiro, atingindo especialmente as
ITÁLIA para a primeira indústrias com alto conteúdo importado
ESPANHA € 3 496,7 metade da presente
e mais integradas nas cadeias globais de
€ 20 410,7 valor”. O professor associado do departa-
ANGOLA
década, tendo sido, mento de Economia da Universidade de
€ 1 424,3 depois, adiado Évora nota que, “ao invés, as empresas de
menor dimensão (PME) lidaram melhor
para 2027” com tais impedimentos e aproveitaram os
desvios de comércio de outros fornecedo-
António Saraiva
Presidente da CIP
res, sobretudo nas indústrias de têxteis,
vestuário e calçado, da madeira, cortiça
POLÓNIA SUÉCIA e papel e de produtos minerais não me-
€ 630,4 € 554,3 tálicos”. Considera ainda que, no pós-pandemia, as
REINO UNIDO empresas portuguesas têm revelado uma “forte com-
€ 1 232,8 petitividade nos mercados externos”.

muito próximos, e as em Portugal é altamente os nossos dois países, a “exportação de produtos ser grandes e isto ajudará
trocas comerciais muito diversificado, tanto na França é o segundo maior tipicamente portugueses, a cumprir os prazos de
intensas. O fim da pande- indústria – de salientar mercado da União Euro- que se destinem à comu- entrega”.
mia intensificou os fluxos os setores automóvel e peia ao nível de população. nidade portuguesa”. Outro fator a ter em conta
entre os nossos dois mer- aeronáutico – como nos É, portanto, um mercado Às empresas que ainda é a escolha de um par-
cados”, explica Laurent serviços, nomeadamente incontornável para as não tenham posto o pé no ceiro que conheça bem o
Marionnet à EXAME. O as tecnologias de informa- empresas portuguesas mercado gaulês, Laurent mercado francês. Laurent
diretor-geral da Câmara ção, o digital, os centros que desejem exportar.” Marionnet deixa alguns Marionnet destaca que
de Comércio e Indústria de competências, entre No entanto, realça que “é conselhos: “É necessário a AICEP acompanha as
Luso-Francesa (CCILF) outros”. Entre algumas um mercado maduro e estar bem preparado e empresas no seu desen-
refere também que das grandes empresas muito competitivo”. Entre oferecer produtos e servi- volvimento em França
França é um dos maiores francesas com produção as “muitas oportunidades” ços adaptados ao merca- e que “a CCILF oferece
investidores estrangeiros em Portugal contam-se por explorar, o responsá- do.” Neste ponto, salienta também vários serviços
em Portugal e que as em- a Faurecia e a Decathlon, vel da CCILF destaca os que “propor um website para promover contactos
presas com filiais no nosso por exemplo, que têm “setores da subcontrata- e uma apresentação dos entre empresas portugue-
país “exportam os seus unidades são das maiores ção mecânica, da constru- produtos e/ou serviços sas e o mercado francês”,
produtos ou serviços para exportadoras para França. ção, da indústria alimentar, em francês é uma verda- destacando “a procura
França e pelo mundo fora, Laurent Marionnet destaca do setor do turismo e, deira vantagem” e realça de agentes comerciais,
contribuindo assim para o algumas potencialidades claro, o setor digital, em que “é também impor- a participação em feiras
aumento do volume das do mercado gaulês para que muitas parcerias são tante ter uma capacidade e salões e as nossas
exportações”. O respon- as empresas portuguesas: possíveis”. E aconselha a de produção conforme o prestações de serviços
sável da CCILF afirma que “Além da tradicional rela- não esquecer o mercado mercado, porque as quan- sob medida para encontrar
“o investimento francês ção de amizade, que une da “saudade”, ou seja a tidades solicitadas podem parceiros em França”.

MARÇO 2023 . EXAM E . 17


A pandemia e, mais recentemente, a guerra lan-
çada pela Rússia contra a Ucrânia levaram a grandes
mudanças nas cadeias logísticas, que se começaram
a tornar mais regionais e cada vez menos
globais. Ora Portugal tem conseguido po-
sicionar-se por forma a ser uma solução “A dependência
para alguns mercados, que tentam ficar,
por exemplo, menos dependentes de for- do comércio externo
necedores asiáticos. Um desses casos é português face à UE
a Alemanha, a maior economia da Zona é das mais elevadas
Euro e um dos destinos para onde as ex-
portações portuguesas mais têm ido e cres- comparativa-mente
cido em volume. a outros Estados-
Thomas Kötschau refere que os impac- membros”
tos da Covid-19 e os danos causados pela
guerra vieram acentuar a questão da fra- José Caetano
gilidade das cadeias de abastecimento. O Professor associado do Departamento
diretor-executivo da Câmara de Comér- de Economia, da Universidade de Évora
cio e Indústria Luso-Alemã explica que a
economia germânica “assenta na produ-
ção industrial e na exportação destes produtos, logo
as falhas nas cadeias de abastecimento representam
um sério risco para o normal desenrolar da ativida-

À PROCURA DO SONHO AMERICANO


As exportações de bens para os EUA aumentaram mais de 150%, na última década

A maior economia do Portugal (AmCham), explica de informação de mercado, é normalmente mais Aliás, algumas das maiores
mundo tem sido uma das este facto da multiplicação nos contactos e nos servi- prudente e racional do que exportadoras para o mer-
grandes apostas das expor- das exportações portugue- ços de apoio ao negócio”. aquela que se tem quando cado norte-americano
tações portuguesas. Numa sas para os EUA com a atra- Outro fator que tem incen- pensamos em entradas atuam em algumas dessas
década, as vendas de bens tividade do mercado norte- tivado as exportações para globais”, e “também há que áreas, como acontece com
para os EUA subiram de €1 -americano, devido à sua os EUA está relacionado ter em conta a sofisticação as farmacêuticas Hikma
998 milhões para €5 076 dimensão, elevado poder com “os casos de sucesso dos modelos de negócio e e Hovione, por exemplo.
milhões, um incremento de de compra dos consumido- das empresas portuguesas a intensa competição exis-
154%. O peso deste merca- res, diversidade no acesso a que exportam ou investem tente, o que normalmente ESTADOS UNIDOS
do nas exportações de bens soluções de financiamento nos EUA, que têm tido um aconselha ao estabeleci- DA AMÉRICA
nacionais aumentou de e celeridade no sistema efeito de arrastamento de mento de parcerias ou de
> VALOR
4,2% para 6,5%, e os EUA judicial e regulatório. Des- outros negócios”, considera acordos com empresas e
DAS EXPORTAÇÕES
foram, em 2022, o quarto taca também, à EXAME, “o António Martins da Costa. especialistas nas oportuni- €5 076 milhões
maior cliente de Portugal, trabalho desenvolvido pelas O responsável da AmCham dades em análise”, refere
> AUMENTO NO VOLUME
escalando dois lugares em agências de comércio e afirma que “há um mundo António Martins da Costa.
DE EXPORTAÇÕES,
dez anos. Além disso, é um investimento em ambos os de oportunidades para as Entre as principais opor- NA ÚLTIMA DÉCADA
dos mercados com os quais países e pelas câmaras de empresas portuguesas nos tunidades nos EUA estão, € 3 078 milhões
a economia portuguesa comércio, como a AmCham EUA”. Mas, e não estivés- segundo o presidente da > SUBIDA RELATIVA
acumula um excedente em Portugal, o que tem semos nós a falar da maior AmCham, “tudo o que DAS EXPORTAÇÕES
comercial de bens no valor permitido uma divulgação economia do mundo, há tem que ver com transição EM 10 ANOS
de €1 571 milhões. dessas vantagens junto dos alguns fatores a ter em energética, sustentabilida- 154,1%
António Martins da Costa, empresários portugueses, consideração quando de, transformação digital, > POSIÇÃO NO RANKING
presidente da Câmara do auxiliando, ao mesmo falamos deste mercado. biotecnologia e DEI (diversi- DE MERCADOS
Comércio Americana em tempo, na disponibilização “A abordagem por Estados dade, equidade e inclusão)”. 4.ª

1 8 . EXAM E . MARÇO 2023


À BOLEIA DA LOCOMOTIVA EUROPEIA
Portugal tornou-se um mercado competitivo para as empresas
germânicas diversificarem as suas cadeias logísticas
As empresas portuguesas aumen- o défice da balança comercial de bens
taram significativamente as vendas entre Portugal e a Alemanha agravou-
de bens à economia germânica. -se, na última década, passando de
As exportações para a Alemanha €979 milhões para €3 653 milhões.
subiram €3 024 milhões, nos últimos Ainda assim, tudo indica que há
dez anos, para um total de €8 532 potencial para que as exportações
milhões. Uma parte significativa deste nacionais para a Alemanha conti-
aumento é explicada pelas unidades nuem a crescer. Thomas Kötschau
industriais montadas no País por considera que as oportunidades
empresas germânicas. “A maioria para as empresas portuguesas que
das empresas alemãs, em Portugal, queiram exportar para a Alemanha se
pertence ao setor industrial, e a sua centram “sobretudo no fornecimento
produção destina-se, maioritariamen- de produtos e serviços destinados
te, ao mercado alemão ou é exporta- à indústria, nomeadamente na
GETTYIMAGES

da para a Alemanha, para depois ser indústria automóvel, metalomecânica


reencaminhada para outros destinos”, ou nos moldes”. Inclui ainda nesta
detalha Thomas Kötschau à EXAME. lista o setor tecnológico, através do
Estes são os casos da Autoeuropa e desenvolvimento de softwares ou
da Bosch. da criação de serviços específicos
Mas o diretor-executivo da Câmara para empresas. O diretor-executi-
de Comércio e Indústria Luso-Alemã vo da CCILA aponta também, nos
Também a Navigator tem (CCILA) realça também que Portugal setores mais tradicionais, “os têxteis,
uma forte componente de está a ser encarado como uma os produtos de cerâmica e ainda os
exportação para os EUA, e alternativa, numa fase em que as em- agroalimentares, que contam com
há empresas portuguesas presas germânicas tentam diversificar uma boa recetividade junto do merca-
com uma presença relevante as cadeias logísticas. “A pandemia do alemão”.
nesse mercado, como é o e, agora, a guerra na Ucrânia vieram Para as empresas que queiram iniciar
caso da EDP Renováveis. acentuar outra questão, que é a fragi- a sua presença na Alemanha, Thomas
Às empresas portuguesas lidade das cadeias de abastecimento. Kötschau avisa que é fundamental
que queiram perseguir o so- Os empresários alemães começaram estudar este mercado, conhecer a
nho americano, o presidente a procurar alternativas aos fornecedo- sua dinâmica e funcionamento, bem
da AmCham recomenda res asiáticos, as quais têm de preen- como os concorrentes. Sublinha que
que recolham a melhor in- cher elevados critérios de qualidade e a Câmara Luso-Alemã disponibiliza
formação disponível sobre o de confiabilidade. Nesse contexto, as às empresas portuguesas um serviço
mercado, para “conhecerem empresas portuguesas de apoio à internaciona-
preferências de consumo, estão muito bem posicio- lização, tendo em vista a
ALEMANHA
formas de promoção e nadas”, considera. Portu- elaboração de um plano
distribuição, estrutura da gal também tem tentado > VALOR operacional. Além disso,
concorrência, regulação e fazer o trabalho de casa DAS EXPORTAÇÕES realça que “a participação
€8 532,4 milhões
legislação”. Aconselha ainda por forma a reforçar a em feiras internacionais
a estabelecer, através de mis- presença no mercado > AUMENTO NO VOLUME na Alemanha rele-
DE EXPORTAÇÕES,
sões comerciais ou de visitas germânico e, no ano vantes para o setor de
NA ÚLTIMA DÉCADA
organizadas, contactos com passado, foi o País-par- € 3 023,7 milhões atividade da empresa é
potenciais parceiros. “Tam- ceiro da Hannover Messe, outro passo importante
> SUBIDA RELATIVA
bém é fundamental obter, considerada uma das DAS EXPORTAÇÕES a considerar, o qual
desde o início, o apoio de mais importantes feiras EM 10 ANOS pode trazer resultados
especialistas em fiscalidade e do mundo no segmento 54,9% muito positivos no âmbito
em temas jurídicos, em parti- da tecnologia industrial. > POSIÇÃO NO RANKING de uma estratégia de
cular vistos, legislação laboral Apesar destes esforços DE MERCADOS internacionalização bem
e concorrência”, conclui. do lado das exportações, 3.ª planeada”.

MARÇO 2023 . EXAM E . 19


VENDAS PARA ITÁLIA ACELERAM
As exportações para o mercado italiano são dominadas pela indústria
pesada. No entanto, podem existir oportunidades noutros setores
Itália escalou dois luga- a Peugeot Citroën e a EXAME, considera que totalmente aproveitado: Outra forma consiste em,
res, na última década, na Aptivport. Também os há mais oportunida- “No meu entendimen- através da CCLI, marcar
lista dos maiores clientes produtos agrícolas têm des que podem ser to, e lidando já com o reuniões através de
de Portugal. As exporta- acelerado rumo a Itália, exploradas, e estas mercado italiano há mais plataformas digitais para
ções de bens para este com as exportações não estão circunscritas de dez anos, a filigrana apresentar os produtos a
mercado cresceram deste segmento a cres- às empresas de maior portuguesa ainda não potenciais clientes, uma
€1 932 milhões, nesse cerem €202,6 milhões, dimensão industrial. “No tem uma divulgação à opção que acaba por
período, o equivale a nos últimos dez anos, segmento alimentar, há altura que merece, num ser menos dispendiosa
um acréscimo de 123%. segundo dados da AICEP muita oportunidade de mercado sofisticado de do que a deslocação
Segundo os dados baseados na informação expansão”, considera moda como é o italiano”, presencial a feiras em
preliminares do INE, em do INE. Mesmo com este a responsável da CCLI. confessa a responsável, Itália. Além disso, Denise
2022 as vendas de bens crescimento, Portugal Denise Peres menci- revelando que as vendas Peres sugere que se
para Itália totalizaram €3 acumula um défice na ona, no entanto, um de produtos desse tipo utilizem plataformas
497 milhões, tornando balança comercial de produto específico, cujo para Itália tiveram um tecnológicas para se
este país o sexto maior bens com Itália de €1 555 potencial não está a ser crescimento de 255%, começar a ter presença
comprador de bens milhões. entre 2018 e 2022. A neste mercado: “A nossa
portugueses. Entre os Denise Peres, secretá- secretária-geral da perceção é a de que
ITÁLIA
produtos com uma maior ria-geral da Câmara de CCLI destaca ainda os Portugal ainda ocupa
exportação estiveram Comércio Luso-Italiana > VALOR segmentos alimentar e um lugar muito tímido
os veículos e outros (CCLI), observa que a DAS EXPORTAÇÕES do calçado como outros no que diz respeito ao
materiais de transpor- fatia de leão das expor- €3 496,7 milhões produtos com potencial comércio eletrónico”,
te, bem como bens do tações portuguesas para > AUMENTO NO VOLUME de crescimento nas diz. E revela que a CCLI
DE EXPORTAÇÕES,
segmento das máqui- Itália vem da grande exportações para Itália. vai disponibilizar, em
NA ÚLTIMA DÉCADA
nas e aparelhos, com indústria. Salienta ainda € 1 931,8 milhões Os conselhos para as breve, uma ferramenta
aumentos de €498,2 o crescimento rápido empresas que ponde- de marketing digital, que
> SUBIDA RELATIVA
milhões e de €205,5 que as vendas de bens DAS EXPORTAÇÕES
rem ir para o mercado irá recorrer à Inteligência
milhões, respetivamen- nacionais para esse EM 10 ANOS italiano passam pela Artificial para simular a
te. Algumas das maiores mercado tiveram, entre 123,5% presença em feiras, em resposta do mercado
exportadoras para o país 2019 e 2022, com um > POSIÇÃO NO RANKING que poderão tentar cap- italiano a determinados
são do setor automóvel, salto de 30%. Porém, DE MERCADOS tar clientes e também produtos de empresas
como a Autoeuropa, em conversa com a 6.ª conhecer distribuidores. portuguesas.

de”. Além disso, revela, “os empresários alemães co- CONCENTRAÇÃO DE MERCADOS
meçaram a procurar alternativas aos fornecedores Portugal tem acelerado o fornecimento de produtos ao
asiáticos, alternativas, essas, que têm de preencher exterior e até tem investido em novos mercados, que
elevados critérios de qualidade e de confiabilidade. mostram taxas de crescimento elevadas. Mas a reali-
Nesse contexto, as empresas portuguesas estão muito dade é que as exportações de bens nacionais continu-
bem posicionadas”. am muito dependentes de poucos mercados. Os três
O investimento de grandes empresas alemãs – e maiores destinos dos produtos nacionais – Espanha,
também de outros países, como França – em uni- França e Alemanha – absorvem quase metade do total
dades industriais em Portugal tornou o País um elo do valor exportado. Luís Castro Henriques recomen-
importante nas cadeias de valor de grandes multi- da cautela na análise dos dados das vendas de bens
nacionais. Isso tem sido visível, por exemplo, no se- para o país vizinho – que pesam 26% do total –, já que
tor automóvel, que tem aumentado as exportações há produtos que vão para o mercado espanhol para
para grandes mercados e conseguido entrar em novas serem exportados novamente para outras geografias.
economias, que têm uma dimensão relevante nessa Mas, ainda assim, será aquela concentração em pou-
indústria. Um desses casos é a Eslováquia, um dos cos mercados um risco para a economia portuguesa?
mercados de maior crescimento relativo de vendas de “Há um provérbio popular que nos adverte que não
bens made in Portugal e que tem escalado lugares na podemos pôr todos os ovos no mesmo cesto, pois este
lista dos maiores clientes de produtos portugueses. pode partir-se”, comenta José Caetano. O professor

20 . EXAM E . MARÇO 2023


EXPORTAÇÕES MOVIDAS A COMBUSTÍVEIS
O Panamá foi um dos mercados em que as exportações portuguesas
mais subiram em termos relativos, na última década, à boleia da Galp
As vendas de bens por- milhões, no ano passa- ram de valor, na última setoriais têm destacado
tugueses para o Panamá do. Este fator contribuiu década, ascendendo a que há potencial para se
tiveram um dos maiores para que as vendas de PANAMÁ €8,2 milhões. aproveitar a localização
crescimentos percen- bens portugueses para o Apesar de a multipli- estratégica do Panamá,
> VALOR
tuais na última década. Panamá duplicassem de cação das exportações dada a sua ligação com
DAS EXPORTAÇÕES
Mas, mais do que uma €13,4 milhões, em 2013, €133,4 milhões para o Panamá se dever, a América Central, do
aposta generalizada de para €133,4 milhões, no sobretudo, ao movi- Sul e a América do Norte
> AUMENTO NO VOLUME
empresas nacionais, ano passado, passando mento de apenas uma e também por ser uma
DE EXPORTAÇÕES,
esta evolução é expli- este país a ser o 48.º NA ÚLTIMA DÉCADA empresa, começam a passagem importante
cada, sobretudo, pelas maior cliente de Portu- € 120 milhões surgir sinais de que há de rotas comerciais
vendas de óleos de base gal. Excluindo produtos > SUBIDA RELATIVA
abertura para novos marítimas. Outro ponto
por parte da Galp para relacionados com com- DAS EXPORTAÇÕES produtos. Nos últimos de ligação entre os dois
esta geografia, que aju- bustíveis, os bens mais EM 10 ANOS anos, Portugal tem ten- países reside nos portos,
daram as exportações vendidos neste mercado 895% tado abrir mercados no já que Sines é a grande
de combustíveis mine- foram as máquinas e os > POSIÇÃO NO RANKING setor agroalimentar, por infraestrutura portuária
rais a disparar de um aparelhos, cujas expor- DE MERCADOS exemplo. Além disso, europeia mais próxima
valor residual para €112,2 tações quase duplica- 48.ª algumas associações do canal do Panamá.

da Universidade de Évora, especializado em Econo- Já José Caetano nota que, “face à inserção do País
mia Internacional e Integração Económica, salienta nas cadeias globais de valor de alguns setores de ativi-
que, além da exposição a esses três países, Portugal dade (como o automóvel, em que são gerados elevados
está também muito mais dependente do volumes de bens intermédios) e às fortes
que outros países dos mercados da Uni- ligações intra e interempresariais existentes
ão Europeia (UE). “A dependência do co- “Os empresários ao longo das cadeias de valor, esta (inter)de-
mércio externo português face à UE é das alemães pendência dificilmente poderá ser alterada
mais elevadas, comparativamente a outros começaram num prazo curto”. Ainda assim, realça que
Estados-membros, atingindo valores que “o facto de os parceiros da UE serem estáveis
variam entre os 70% e os 75% ao longo dos a procurar e credíveis constitui um fator favorável, por-
anos. O comércio intracomunitário dos pa- alternativas aos que diminui o risco e a incerteza e melhora
íses de maior dimensão económica, como fornecedores a resiliência da economia nacional”.
Alemanha, França e Itália, situa-se no in- Apesar de as exportações nacionais
tervalo de 50% e 55%”, observa. asiáticos. Nesse ainda terem um elevado grau de concen-
Contudo, esta elevada concentração em contexto, as tração em poucos mercados, é inegável
poucos mercados mais próximos pode ser empresas o esforço feito no sentido de se abrir ou-
quase um paradoxo: por um lado, pode tras portas. Um caso de estudo é os EUA,
revestir-se como um ponto de fragilida- portuguesas que entraram no top 5 das geografias que
de, mas, por outro, em determinadas situ- estão muito bem mais absorvem os bens vendidos ao exte-
ações, até pode servir como um porto de posicionadas” rior por empresas nacionais. “Os EUA fo-
abrigo. “Há muitos anos que é assim”, re- ram, já em 2022, o quarto maior destino
fere Filipe Garcia. O economista considera Thomas Kötschau exportador de Portugal, com um peso de
que isso, “às vezes, é um risco, outras, uma Diretor-executivo da Câmara 6,5% em bens e de 8,6% em serviços, no
ajuda, porque já tivemos situações em que, de Comércio e Indústria Luso-Alemã total dos números de exportação nacio-
por exemplo, Espanha fez melhor do que nais”, revela António Martins da Costa.
a Zona Euro, o que acabou por beneficiar Portugal”. E Entre os vários fatores que explicam esse crescimento
contextualiza que em economias pequenas e abertas, estiveram, segundo o presidente da Câmara do Co-
como a portuguesa, é normal que o comércio externo mércio Americana em Portugal, “os casos de sucesso
se faça muito com os países mais próximos, alertando de empresas portuguesas que exportam ou investem
para o facto de a “diversificação por crescimento ser nos EUA, que têm tido um efeito de arrastamento
sempre bem-vinda, mas por substituição, não”. de outros negócios, muitas vezes ligados às respeti-

2 2 . EXAM E . MARÇO 2023


23
vas cadeias de valor”. Já Filipe Garcia destaca que “a
competitividade cambial, nos últimos dois anos”, foi
um elemento que pode ter ajudado no crescimento
das exportações para o mercado norte-americano.

O ELEFANTE NA SALA
Seja em valor nominal seja no peso no PIB, os dados
apontam para uma história positiva na evolução das
exportações portuguesas. Mas há outro lado na relação
da economia nacional com o comércio internacional,
que está longe de ser favorável e que se tem agravado.
O défice da balança comercial de bens tem crescido e
atingiu, em 2022, €30 783 milhões, assumindo uma
dimensão económica apenas foi conhecida nos anos
que antecederam o resgate financeiro. Esse desequilí-
brio nas trocas comerciais de bens foi um dos fatores
que levaram o saldo das balanças corrente e de capital
a interromper a tendência positiva que se observava
desde 2011. “Em 2022, a economia portuguesa registou
um défice externo de €1 100 milhões, o que correspon-
de a 0,5% do PIB. Excluindo o ano de 2020, em que se
verificou um valor marginalmente negativo do saldo, a
economia portuguesa já não apresentava necessidades
de financiamento desde 2011.”
À semelhança de um carro que gasta cada vez
mais combustível quando começa a andar mais de-
pressa, também a economia portuguesa parece preci-
sar de consumir muito mais importações para suster
um ritmo mais elevado nas exportações de bens. “O
crescimento das exportações continua inevitavel-
mente a levar a um crescimento mais acentuado das
importações, conduzindo à conclusão paradoxal de
que mais exportações geram maior défice externo”, TAIWAN APOSTA NO TURISMO, PARA
observa Vítor Magriço. Também Filipe Garcia ressalva ACELERAR MAIS AS TROCAS COMERCIAIS
que “só nos adianta ter 50% do PIB em exportações,
se as importações pesarem menos”. O economista re- As exportações portuguesas de bens para Taiwan
comenda que se dê atenção ao “grau de incorporação aumentaram mais de 500%, na última década
de importações nessas exportações, ou seja ao valor Taiwan é um dos lhos e de veículos, bem da Amkor Technology,
acrescentado das nossas exportações”. mercados em que as como de outros mate- uma multinacional nor-
O ministro da Economia, António Costa Silva, exportações portu- riais de transporte, que te-americana, que ficou
identificou esse problema como um dos desafios a guesas mais aceleram. valem 76% da venda de com o negócio da antiga
ultrapassar pelo País. Na conferência Portugal em Na última década, as bens para Taiwan, se- Qimonda em Portugal
Exame – que se realizou no passado dia 16 de feve- vendas de bens para gundo dados da AICEP e que tem também
reiro –, o governante reconheceu que “o conteúdo esse destino passaram baseados na informação unidades em Taiwan.
importado das nossas exportações é dos mais eleva- de uns modestos €26,4 do INE. Algumas das Fora esses setores, uma
milhões para €167,2 grandes exportadoras nota para a Amorim
dos”, mas considerou que “é possível reverter essa
milhões, permitindo a são do setor automóvel, Cork Composites, que
tendência”, através, por exemplo, de “consórcios en-
Israel escalar 30 lugares mas também há empre- tem fornecido soluções
tre empresas, universidades e investigação, que po- no ranking de maiores sas integradas na cadeia à base de cortiça para
dem propiciar a capacidade de se construir grandes clientes de Portugal. O de valor dos semicon- aplicação nas juntas de
plataformas colaborativas”. crescimento tem sido dutores – setor em que dilatação dos edifícios e
Independentemente disso, os números de 2022 po- alcançado, sobretudo, Taiwan é, de longe, líder outras infraestruturas,
dem ter sido influenciados negativamente pela crise devido às exportações mundial – a vender para que compõem o novo
energética e inflação no preço das matérias-primas, o de máquinas e apare- este mercado. É o caso terminal 3 do aeroporto
que tornou as importações mais caras. “Essa quebra da
taxa de cobertura reflete a perda dos termos de troca,

2 4 . EXAM E . MARÇO 2023


devido ao aumento de preços, que afetam muito mais
o valor das importações do que o das exportações”,
considera António Saraiva. O presidente da CIP sa-
lienta que, se olharmos para “a evolução recente das
exportações e das importações de bens, a
preços constantes, vemos que as respetivas
“Só nos adianta taxas de crescimento estão bastante pró-
ter 50% do PIB ximas, com uma ligeira vantagem para as
em exportações, exportações”.
Apesar de o choque nos mercados de
se as importações energia e de matérias-primas poder ter
pesarem menos. um peso importante no desequilíbrio da
Temos de ver balança, há muitos indícios a apontar para
que este seja um problema estrutural. “Em
qual o grau de suma, a tendência histórica mostra-nos
incorporação que o crescimento da economia portu-
de importações guesa tem estado indelevelmente associ-
ado ao aumento do défice da balança co-
nessas mercial de bens”, verifica José Caetano. Já
exportações” Vítor Magriço defende que “o problema de
fundo permanece” e que “não se vislum-
Filipe Garcia bra, nas tendências recentes, qualquer al-
Economista da IMF teração de natureza estrutural”.
De referir, no entanto, que os serviços
têm ajudado a compensar este desequilíbrio na ba-
GETTYIMAGES

lança comercial de mercadorias. “Têm-se registado,


paulatinamente, relevantes excedentes comerciais,
o que é muito favorável, pois tradicionalmente estes

internacional de Taiwan seja um mercado pequeno para se intensificar as Lisboa e Taipé poderia ser
Taoyuan. Mas, mesmo e que deva ser ignora- relações comerciais deve eficaz para se atingir estes
com o forte crescimento do. “Os navegadores passar pelo turismo, já objetivos.
das exportações para portugueses encontraram que, antes da pandemia, Já aos empresários portu-
este mercado, o défice da Taiwan, mas não fizeram o número de turistas de gueses que tenham inte-
balança comercial de bens grande coisa. Depois Taiwan a viajar para fora resse em entrar no merca-
tem aumentado signifi- chegaram os holandeses de portas foi 17 milhões. do de Taiwan, Tsung-che
cativamente. Foi de €507 e os espanhóis, que inves- “Se conseguirmos ir bus- Chang recomenda que
milhões, no ano passado. tiram lá”, relembra numa car mais turismo taiwanês visitem o site do Taiwan TAIWAN
Não obstante a velocidade conversa com a EXAME. para Portugal seria bom, Trade Center e consultem
do aumento das expor- O diplomata defende que porque 98% das nossas as feiras que se realizam > VALOR
DAS EXPORTAÇÕES
tações portuguesas para há muitas oportunidades empresas são PME. Ima- nesse mercado. Depois, €167,2 milhões
este destino, o represen- por explorar. E, após uma gine quantos, naqueles 17 sugere, “participe na feira,
> AUMENTO NO VOLUME
tante de Taiwan em Por- fase em que país asiático milhões de turistas, são investigue um pouco e
DE EXPORTAÇÕES,
tugal, Tsung-che Chang, acabou por ser ofuscado donos de empresas. E conheça melhor o país”. NA ÚLTIMA DÉCADA
considera que ainda há pela dimensão da China sabe que os empresários, O diplomata afirma que €140,9 milhões
trabalho a fazer no sentido continental, a cadeia de quando viajam, não é só está também a encorajar > SUBIDA RELATIVA
de se fortalecer as trocas valor está a mudar e mui- para passear, comer e os empresários de Taiwan DAS EXPORTAÇÕES
comerciais entre as duas tas fábricas estão a sair beber. Eles vão também a visitar Portugal e que EM 10 ANOS
geografias e recorda a do mercado chinês para investigar o mercado”, “estão a chegar muitos 533,8%
História para apontar que, outros países na região. esclarece Tsung-che mais, com os pedidos de > POSIÇÃO NO RANKING
apesar de Taiwan ser uma Tsung-che Chang argu- Chang. O diplomata diz passaporte a aumentarem DE MERCADOS
ilha, isso não implica que menta que a estratégia que um voo direto entre bastante”. 40.ª

MARÇO 2023 . EXAM E . 25


setores geram um maior valor acrescentado face aos
setores industriais ou agrícolas. Também por aqui a
estrutura da economia portuguesas parece ter evolu-
ído favoravelmente, não obstante a forte dependência
verificada do setor do turismo”, conclui José Caetano.

A MISSÃO DE REFORÇO
DAS EXPORTAÇÕES “O conteúdo
Atingir um peso de 50% das exportações
no PIB até pode ser um importante marco
importado
simbólico. Porém, Portugal ainda está lon- das nossas
ge de outros países no que toca à prepon- exportações é dos
derância que as vendas ao exterior têm na
economia. “No que respeita ao grau de aber-
mais elevados,
tura das exportações face ao PIB, Portugal é mas é possível
das economias menos abertas da UE, pois reverter essa
apenas Grécia, Roménia, Espanha, França e
Itália têm um registo inferior”, observa José
tendência”
Caetano. O professor da Universidade de António Costa Silva
Évora refere que “a maioria dos países com Ministro da Economia e do Mar
dimensão equivalente à de Portugal regista
um grau de abertura bem superior, mais do
que duplicando o valor obtido” pela economia nacio-
nal. A diferença é que, face a França, Itália ou Espanha,
o nosso país tem uma população bem mais pequena.
Isso faz com que o mercado interno seja muito limitado
e torna as exportações a principal via para se aumen-

TURBO NAS EXPORTAÇÕES PARA A ESLOVÁQUIA


As vendas de bens para a Eslováquia quase que sextuplicaram,
na última década, impulsionadas pela indústria automóvel
A Eslováquia é o país ponentes essenciais a acumula um excedente mercados em que a precisão, que passa-
que produz mais esta indústria, como, por de €245,7 milhões na economia nacional tem ram de uma dimensão
automóveis per capita. exemplo, a Aptivport, a balança comercial de uma balança favorável. residual, em 2013, para
Este mercado está no Continental, a Bosch Car bens com a Eslováquia, Os veículos e outros um valor exportado de
coração das cadeias de Multimedia e a Coindu. sendo um dos poucos materiais de transporte, €83,8 milhões, no ano
valor de algumas das De acordo com a infor- assim como as máqui- passado. Também os
maiores construtoras mação disponibilizada ESLOVÁQUIA nas e os aparelhos, são plásticos e as borrachas
do mundo. Assim, não é pela AICEP à EXAME, as principais classes de têm apresentado um
> VALOR
de estranhar que o setor com base em dados do produtos exportadas, incremento significativo
DAS EXPORTAÇÕES
nacional do automóvel INE, as exportações de €521,8 milhões representando cada nas vendas para a Eslo-
esteja cada vez mais bens para a Eslováquia uma destas categorias váquia, alcançando, no
> AUMENTO NO VOLUME
interligado com o passaram de €89,2 DE EXPORTAÇÕES, cerca de 22% do total ano passado, exporta-
eslovaco, o que resultou milhões para €521,8 NA ÚLTIMA DÉCADA de vendas de bens para ções no valor de €76,4
numa subida expressiva milhões, na última €432,6 milhões a Eslováquia, ou seja: milhões. Este é um dos
das exportações para década. Nesse período, > SUBIDA RELATIVA DAS vendem, cada, cerca de mercados em que as
esse destino. Entre as este país passou do 44º EXPORTAÇÕES EM 10 ANOS €113 milhões. Mas há exportações portugue-
maiores exportadoras lugar para o 22º na lista 485% outros setores que têm sas têm crescido de
para a Eslováquia estão, dos maiores clientes de > POSIÇÃO NO RANKING vindo a ganhar desta- forma mais rápida e que
sobretudo, empresas Portugal. Além disso, DE MERCADOS que, como é o caso dos começam a ter já uma
que fornecem com- a economia nacional 22.ª produtos de ótica e de dimensão considerável.

26 . EXAM E . MARÇO 2023


PONTO DE ENTRADA NOS BÁLTICOS
A Lituânia já está entre os 40 maiores clientes
das empresas portuguesas. As exportações para esse
mercado cresceram mais de 430%, em dez anos

Um dos merca- “este mercado mercado lituano.


dos bálticos está apetecível para as Mas há outros seto-
também na lista empresas”. res em que se nota
dos países em que O setor químico é o um crescimento nas
as exportações que mais aumentou vendas para este
portuguesas mais em vendas para a país báltico. Alguns
crescem. As vendas Lituânia. Em 2022, dos exemplos
de bens para a Litu- as exportações des- são os metais, a
ânia aumentaram te tipo de produtos pasta de papel e o
de €37,2 milhões atingiram €104,4 têxtil. Jorge Antas
para €197,8 milhões, milhões, mais de de Barros acredita
na última década, o metade do valor que há margem para
que torna este país o dos bens vendidos crescer. Considera
37.º maior cliente de a este destino. Para mesmo que os paí-
Portugal. A econo- tal, não será alheio o ses bálticos podem
mia nacional passou facto de Portugal ter ser uma espécie
de um défice para uma unidade indus- de nova Polónia,
GETTYIMAGES

um excedente com trial de uma multina- um dos países que


a Lituânia, o qual se cional – a Indorama conquistaram luga-
situou, em 2022, em Ventures, que res no ranking dos
€85 milhões. comprou a antiga maiores comprado-
DÉFICE DA BALANÇA Jorge Antas de
Barros, presiden-
fábrica petroquímica
da Artlant, em Sines
res de Portugal, no
passado recente. O
COMERCIAL DE BENS te da Câmara de –, que também tem presidente da Câ-
AGRAVASE Comércio Luso-
-Báltica, justifica
presença na Lituâ-
nia, o que estimula
mara de Comércio
Luso-Báltica acredi-
Evolução, em milhões de euros, este desempenho os dois mercados ta que estes merca-
do défice da balança comercial de bens das exportações a entrar na mesma dos ainda não estão
portuguesas para cadeia de produção. suficientemente
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 o mercado lituano Esta empresa é divulgados e revela
0 com o forte cresci- uma das maiores que, nos próximos
mento económico exportadoras para o tempos, irão ser
do país. “Sente-se lançadas iniciativas
-5 000 que houve um pulo de aproximação
LITUÂNIA
impressionante em das empresas das
€ 9 710
-10 000 termos económi- > VALOR
DAS EXPORTAÇÕES
duas geografias.
cos, nos últimos Além do mercado
€197,8 milhões
dez anos”, afirma à lituano, Jorge Antas
-15 000 EXAME. O respon- > AUMENTO NO VOLUME de Barros salienta
DE EXPORTAÇÕES,
sável detalha que a NA ÚLTIMA DÉCADA
que este país pode
-20 000 Lituânia tem dado €160,6 milhões servir como uma
um apoio muito plataforma não
> SUBIDA RELATIVA
grande às empre- DAS EXPORTAÇÕES só para os outros
-25 000 sas, em termos de EM 10 ANOS países bálticos mas
isenções fiscais, por 432% também para as
-30 000 € 30 783 exemplo, o que, a > POSIÇÃO NO RANKING economias nórdicas,
par da expansão DE MERCADOS como a Finlândia e a
económica, tornam 37.ª Suécia, por exemplo.
-35 000
Fonte: Exame e INE

MARÇO 2023 . EXAM E . 27


OS MERCADOS COM
MAIOR ACELERAÇÃO
Evolução, em %, do aumento
das exportações, na última década

173,4%
148,6%
485,3%
154,1%
318,1%
346,5%
431,6%
190,8%
894,5%
533,8%
0 200 400 600 800 1 000
Nota: Para excluir alguns efeitos-base, apenas
foram incluídos mercados com exportações acima
de €100 milhões, em 2022
Fonte: INE, AICEP e EXAME

tar o crescimento e a riqueza per capita. “Se queremos


continuar a crescer, temos de fazê-lo à base do consu-
mo externo”, considera Luís Castro Henriques, numa
entrevista à EXAME (ver pp. 30 e 31). AGROALIMENTAR
Também António Saraiva defende que “a reduzida ENGORDA EXPORTAÇÕES
dimensão do mercado nacional faz com que o caminho
do crescimento e do sucesso das empresas produtoras
PARA ISRAEL
de bens e serviços transacionáveis passe, necessaria- As vendas de bens para o mercado
mente, por uma maior presença nos mercados exter- israelita mais do que quadruplicaram, na
nos”. Nesse sentido, o presidente da CIP considera que última década, devido, em boa parte,
há várias medidas a adotar. Um primeiro eixo passa às exportações de agropecuária
por se “atuar em aspetos como a disponibilização de
informação sobre os mercados, as ações de promoção Em 2015, e após anos lendo mais de metade
externa e de prospeção de oportunidades, bem como de negociações, Portu- das exportações de
o apoio e o aconselhamento nos mercados externos”. gal alcançou um acordo bens para Israel. Este
O segundo, diz, consiste em “estimular a cooperação com Israel, que previa o desempenho ajudou
envio de animais vivos Portugal a conseguir um
empresarial, tendo em vista as economias de escala, as
para esse país. A partir excedente comercial
complementaridades e a importância de grandes em-
daí, as exportações de bens com aquele
presas arrastarem consigo as de menor dimensão nos dispararam e, no ano país, que se situou em
projetos de internacionalização”. O responsável da as- passado, as vendas €325,6 milhões, no ano
sociação empresarial realça, ainda, a “necessidade de relacionadas com o passado.
uma política económica que, globalmente, posicione a setor agroalimentar Luís Castro Henriques
competitividade empresarial como uma preocupação bateram um recorde considera o caso das
transversal na intervenção do Estado na economia”, sa- de €237 milhões, va- vendas do setor agro-
lientando que “não venceremos o desafio dos mercados
globais, se não vencermos o desafio da produtividade”.

2 8 . EXAM E . MARÇO 2023


Na última década foram dados passos de gigante
no sentido de se afirmar os produtos made in Por-
tugal nos mercados internacionais. Nas conversas da
EXAME com responsáveis de várias câmaras de co-
mércio, foi reiterada a melhoria da competitividade
da economia portuguesa e da qualificação dos recur-
sos humanos, nos últimos anos.
Thomas Kötschau, por exemplo, refere que, “em re-
ação à crise financeira de 2008, as empresas
portuguesas têm vindo a investir ainda mais
“As empresas na qualidade da sua produção, no desenvol-
[francesas] vimento dos produtos, o que, por sua vez,
se reflete na competitividade nos mercados
que investem internacionais”, e assegura: “Esta nova rea-
[em Portugal] lidade não passou despercebida às empresas
encontram na Alemanha.” Também António Martins
da Costa observa que os norte-americanos
condições passaram a ter um maior conhecimento
favoráveis para e uma melhor perceção de Portugal, uma
permanecerem imagem “baseada nas capacidades e nos ní-
veis de sofisticação de algumas das nossas
competitivas indústrias e serviços, a par da qualificação
internacional dos respetivos quadros e da mão de obra,
mente” em geral”. Já Laurent Marionnet, diretor-
-geral da Câmara de Comércio e Indústria
GETTYIMAGES

Laurent Marionnet Luso-Francesa, considera que “as empresas


Diretor-geral da Câmara de Comércio e que aqui investem encontram condições fa-
Indústria Luso-Francesa voráveis para permanecerem competitivas
internacionalmente”.
Apesar de esse trabalho feito pelas empresas por-
tuguesas e de a atração de investimento estrangeiro
com potencial exportador ter resultado num aumento
alimentar para Israel Algumas das maiores o Monte do Pasto, a significativo de vendas de bens ao exterior, os dados
“muito interessante”, já exportadoras para Sociedade AgroPe-
dos últimos anos – influenciados pelos choques da
que é um resultado ob- Israel são empresas cuária HCR, a Pasto
pandemia e da guerra – podem ter tido algum tipo de
tido graças “ao inves- agroalimentares, que Alentejano Expor-
timento de standards têm enviado animais tação e a Sociedade
distorção. E isso dificulta que se perceba a parte es-
diferentes na nossa vivos para esse mer- Agropecuária João trutural e a parte conjuntural na evolução do comér-
indústria”. O presidente cado, nomeadamente Costa & Filhos. Porém, cio internacional. Filipe Garcia recorda que “tivemos
da AICEP explica que o crescimento das muita volatilidade de preços de matérias-primas e
esses investimentos vendas para o mercado energia, inflação muito alta em 2022, confinamentos
ISRAEL
permitiram a algumas israelita não se circuns- e retomas, problemas logísticos, substituição de for-
empresas começar > VALOR creve ao setor agro- necedores e cadeias logísticas”, e considera que “2023
DAS EXPORTAÇÕES
a exportar produtos alimentar. As pastas poderá ser um ano mais ‘normal’, o que nos permitirá
€442 milhões
kosher – que seguem celulósicas de papel perceber o que é conjuntural e o que é estrutural”.
as leis judaicas de > AUMENTO NO VOLUME também se impuseram
DE EXPORTAÇÕES, Mesmo com todo este ruído, conseguir elevar as
alimentação – para nesse mercado, com o
NA ÚLTIMA DÉCADA exportações para 50% do PIB acaba por ser um ca-
Israel. Além disso, o €343 milhões valor de exportações a
responsável nota que subir de €5,8 milhões
pítulo relevante na história de internacionalização,
>SUBIDA RELATIVA
também se começa a para €49,7 milhões. que as empresas portuguesas foram forçadas a fazer
DAS EXPORTAÇÕES
observar “algum inves- EM 10 ANOS Destaque ainda para os em resposta às diversas crises que Portugal enfrentou
timento israelita, que 347% metais e as máqui- nos últimos 15 anos. Conseguimos vencer inúmeros
se estabelece cá para > POSIÇÃO NO RANKING nas e aparelhos, que testes em mercados altamente competitivos e abrir
alimentar o próprio DE MERCADOS registam aumentos de novas geografias, mas há ainda problemas estruturais
mercado”. 25.ª vendas neste mercado. que precisam de ser resolvidos, para que a economia
nacional ganhe um maior lastro na balança do co-
mércio internacional. E

MARÇO 2023 . EXAM E . 29


LUÍS CASTRO HENRIQUES / Presidente da AICEP

“Há um grande trabalho,


para a próxima década,
no posicionamento
da marca Portugal”
As exportações portuguesas preparam-se para atingir a marca
de um peso de 50% no PIB. O presidente da AICEP aponta os
caminhos a seguir para se continuar a reforçar as vendas ao exterior
Texto Rui Barroso

L
uís Castro Henriques está em final de mais depressa do que o PIB, e estou confiante de que
mandato na Agência para o Investi- isso se vai manter.
mento e Comércio Externo de Portugal
(AICEP), após quase seis anos na lide- Considera possível chegar a um peso de 70% no PIB?
rança da instituição. Em jeito de balan- Sim. Mas, como é óbvio, não conseguiremos
ço, revela à EXAME as estratégias seguidas no sentido de chegar aos 70% já em 2025. Creio que,
impulsionar as exportações e aponta os próximos passos chegados aos 50%, se impõe uma re-
a seguir para se manter esta tendência. flexão nacional de como se pode che-
gar aos 70% ou aos 75%. Podemos de-
As exportações portuguesas estão prestes a atingir finir uma meta intermédia de 60%
um valor de cerca de 50% do PIB. Qual a importân- para uma data em que se consiga, de
cia de se conseguir atingir este marco, alguns anos modo sustentado e graças à inova-
antes do previsto? ção produtiva, chegar a esse pa-
O peso das exportações no PIB é uma tendência que tamar, mas por forma a come-
arrancou em força entre 2015 e 2016, período a partir çarmos a percorrer o caminho
do qual começa a estar sistematicamente acima de 40%. para chegarmos aos 75%. E
Depois tivemos um revés muito grande com a Covid-19, porque digo que é possível?
mas, logo em 2021, batemos novamente um recorde de Em primeiro lugar, porque
exportações. Era bastante provável que conseguíssemos tenho a nítida noção da al-
estar nos 50% antes de 2025, devido a dois efeitos do- tíssima competitividade e
minantes. O primeiro está relacionado com toda a ino- da resiliência das nossas
vação empresarial e industrial dos setores exportadores empresas exportadoras.
de bens, a qual lhes aumentou imenso a competitivi- Em segundo, porque países
dade. Não só alguns passaram a posicionar produtos europeus com o mesmo ta-
de outra maneira – o que permitiu um aumento de va- manho do que o nosso têm
lor acrescentado muito relevante – como outros pas- exportações no PIB nesse
saram a produzir de forma mais eficiente e ganharam nível. Quando se tem uma
automaticamente quota de mercado. O segundo efeito população pequena, como é o
decorreu do facto de termos angariado não só inves- nosso caso, e queremos conti-
timento estrangeiro mas também nacional, em larga nuar a crescer, temos de fazê-lo à
escala, e este tinha contratos com objetivos de exporta- base do consumo externo. Creio que
ções. Tipicamente, essas empresas conseguem alcançar, os portugueses têm o desejo de con-
e muitas vezes superar, esses objetivos. Só por este efeito tinuar a crescer, ter uma vida melhor
já sabíamos que teríamos um impacto de mais de €10 e um PIB per capita mais alto, e o úni-
mil milhões nas exportações. Algum desse valor pode co caminho sustentável para se alcan-
ter entrado ainda em 2022; outro vai entrar neste ano çar isso é ter uma proporção cada vez
e em 2024. Sabíamos que as exportações iam crescer maior das exportações no PIB. Estou

30 . EXAM E . MARÇO 2023


convencido de que conseguimos fazer isso, já que ou- de trabalhar um pouco no design, mas que era um pro-
tros países também o conseguiram, e porque as nossas duto bom. Ninguém dizia que era barato. Isso põe-nos
empresas exportadoras demonstraram, sobretudo des- num patamar diferente, e é esse trabalho que eu acho
de 2018, uma competitividade e resiliência impressio- que se tem de fazer agora. As empresas portuguesas ex-
nantes. Deixe-me só dar este exemplo: se for ver o top portadoras conseguiram conquistar os distribuidores e,
de crescimento de mercados, estamos a falar de Espa- daqui em diante, têm de começar a conquistar os con-
nha, França, Alemanha, EUA e Reino Unido, ou seja, sumidores finais. Há um grande trabalho até 2030 no
alguns dos mercados mais competitivos do mundo. Se posicionamento da marca Portugal para um espectro
as nossas empresas exportadoras conseguirem entrar alargado de setores exportadores. No investimento, as
nestes mercados, de certeza que também terão suces- coisas já estão montadas. Os investidores olham para
so noutros. Portugal como um País estável, competitivo, com um
talento ímpar e pessoas altamente qualificadas. Con-
Está de saída da AICEP. Quais as estratégias que im- seguimos fazer isso, está montado, e penso que, nesta
plementou e que se revelaram mais certeiras e quais década, vamos conseguir atrair investimento e proje-
os pontos em que gostaria de ter ido mais além? tos cada vez maiores. Onde temos de trabalhar muito?
As duas estratégias que eu penso que se revelaram ven- É nesta notoriedade e na perceção da marca Portugal.
cedoras foram, em primeiro lugar, uma grande apos-
ta no posicionamento de Portugal em vários setores – Há condições para que mais empresas se tornem
mobiliário, agroalimentar, maquinaria, automóvel, por exportadoras? O que é preciso fazer para convencê-
exemplo –, em mercados-chave, que vão da Alemanha -las a arriscar a vender fora de portas?
à França, passando pelos EUA. Essas apostas Espero que o exemplo de outras seja inspi-
demonstraram que a nossa indústria é alta- rador. Continuamos a desenvolver muitas
mente competitiva e inovadora. Ainda no “As empresas ações de capacitação e estamos a chegar a
ano passado, apresentámos Portugal
como o País parceiro na feira de Ha-
portuguesas cada vez mais empresas. No entanto, no
curto prazo, a alavanca de aumento das ex-
nôver e surpreendemos os alemães exportadoras portações continuará a ser as empresas que
com a capacidade de inovação da conseguiram estão no meio da tabela, porque já têm ex-
nossa indústria e com a qualidade
dos nossos produtos e serviços. O
conquistar periência. E há aqui dois efeitos. O primei-
ro é como estas empresas, que estiveram a
segundo aspeto foi a definição de os distribuidores. investir em capacidade produtiva inovado-
uma nova estratégia de angariação Agora têm ra e competitiva, vão conseguir produzir e
de investimento em 2015, muito
segmentada e pró-ativa. E isso ge-
de começar exportar mais. Mas há um segundo efeito:
as empresas que já estão bastante diversi-
rou grandes resultados de novos a conquistar ficadas e já estão em mais de cinco ou seis
clientes industriais para o País, os os consumidores mercados têm muito mais facilidade em
quais se converteram em exporta-
ções, porque as empresas que vêm
finais” diversificar ainda mais. Mas vamos conti-
nuar a capacitar as empresas para que cada
para cá tipicamente têm contratos de Luís Castro Henriques vez mais participem no que eu chamo, na
incentivos com objetivos muito eleva- Presidente da AICEP brincadeira, o jogo da exportação.
dos em termos de exportações. Já em
relação à segunda questão, não é tanto O que um empresário que ainda não ex-
um tema de arrependimento por não ter ido mais porte precisa de saber antes de entrar nesse jogo?
além. Há agora um caminho a seguir para chegarmos De uma forma muito resumida, mencionaria três as-
aos 60%, e continuar a crescer exige tempo. petos. Primeiro: foco – identificar um ou dois merca-
dos target e fazer um excelente planeamento para um
O que é necessário fazer para se seguir esse ca- deles, por forma a perceber qual o mercado em que o
minho? produto vai ter uma boa aceitação e em qual poderá
Até 2018-2019, tivemos de perceber qual a perce- ter bons parceiros e uma cadeia de valor semelhan-
ção dos compradores. Participámos e apoiámos te à que conhece. Segundo: planeamento – e, mesmo
a presença em centenas de feiras por ano. Deslo- depois desse plano, assumir que o investimento pode
quei-me a muitas delas, e fazíamos sempre esta ser o dobro e contar com uma boa fatia de contingên-
pergunta a clientes e a potenciais clientes: O cias, porque, por vezes, não encontramos à primeira
que acha dos produtos portugueses? A respos- os importadores mais adequados ou não posicionamos
ta era sistematicamente a mesma: “É portu- bem o produto. Terceiro: conquista gradual – isto é,
guês, é bom, é competitivo.” Alguns diziam após ter um mercado bem dominado, começar logo a
inovador, outros respondiam que tínhamos trabalhar no segundo. E

MARÇO 2023 . EXAM E . 31


Opinião
POR
PEDRO AFONSO

Alguns
#desafiosdesempre! (3)
Assenta bem este tema sobre os mercados para onde Portugal está a
exportar mais. Vem mesmo a jeito para encerrar o ciclo de reflexões sobre
o livro O Novo Capital, de Francisco Jaime Quesado. Nesta coluna refletimos
sobre temas importantes, em vez dos temas urgentes da espuma dos dias > CEO da VINCI Energies Portugal

Q
uando se que são responsabilidade das de pagar investimento com mais – a olhar por elas. É preciso um
tenta en- empresas: a) assegurar proje- investimento. O investimento é sonho, a partir do qual se cons-
co nt ra r tos desafiantes; b) ter um sen- finito no tempo. O profit & loss trói uma visão, e em sequência
razões tido de propósito em concreto, é infinito! traça-se um plano de ação para
para não e não apenas no powerpoint dos Atenção PRR: a adrenali- concretizar!
fazermos mais, vamos sempre gestores; c) desenvolver um sen- na dos stakeholders na aplica-
tocar nestes temas: política, le- tido de pertença com o talento ção do PRR pode trazer dissa- 6. “CALIMEROS”:
gislação, justiça, impostos... – no limite, com partilha de va- bores. Como vai ser o profit & NÃO, OBRIGADO!
Importa trazer outros ar- lor acionista. São as pessoas que loss e o free cash flow depois de Há mais capital disponível do
gumentos – os que podemos e escolhem as empresas para tra- uma aplicação PRR? Devemos que mão de obra e cérebro de
devemos trabalhar – e que estão balhar, e não o contrário. sempre acautelar o nível de re- obra para fazer o trabalho na
ao alcance de cada um de nós: produtividade do investimento: economia real. Faz todo o sen-
cultura, vontade, planeamen- 3. LIÇÕES DA AMÉRICA sustentabilidade no longo prazo tido procurar as oportunidades
to, organização, processos para O Novo Capital invoca lições é determinante! que nos fazem acrescentar va-
o crescimento! dos EUA: a) a criatividade em- lor. Por isso, faz pouco sentido
presarial, avaliando os negócios 5. É PRECISO LIDERANÇA a) entregarmos o nosso tempo a
1. A ESCOLA NOVA que escalaram no mundo; b) a Ou melhor: um sistema de Li- ouvir o longo e exaustivo diag-
N‘O Novo Capital, refere-se a inovação, sempre para resolver derança. Procurar diferenciação, nóstico, para depois b) continu-
Escola Nova – novas qualifica- problemas específicos; c) a re- colocar em marcha a exportação ar a aprofundar o diagnóstico,
ções, como línguas, tecnologia volução social pela participa- e criar processos de internacio- para depois c) fazer o exorcis-
–, cuja resposta se pode acelerar, ção de cada um. No entanto, nalização, ao mesmo tempo que mo do diagnóstico, e a seguir d)
apesar das melhorias evidentes há o contraponto: falta muito se garante a execução com um contar aos amigos o diagnóstico,
nas últimas décadas. De forma à América para ser um espaço grande nível de método e disci- e depois e) termos uma histeria
lata, não é abusivo referir que a socialmente tão completo. O plina de gestão, precisa de lide- coletiva com o diagnóstico. Já
Educação devia ser repensada, nosso Estado social – europeu rança (s) que olhe (m) para os sabemos o diagnóstico: é sem-
com foco no aluno e no seu futu- – democratizou 4 áreas funda- pés e para o caminho. pre muito mau o diagnóstico.
ro aplicado no trabalho, tipo task mentais: educação, saúde, se- Estas pessoas não gostarão Pergunto-me: porque não faze-
force. É importante olhar para a gurança física, segurança so- de ter um pai maior – o Estado mos apenas a) e b) e dedicamos
educação tradicional obrigató- cial. Muitas vezes constatamos o tempo de c), d) e e) a discutir
ria, o ensino profissional, o en- ameaças reais, que exigem es- – e testar – soluções reais para
sino superior e tecnológico e a forço para sanar. De forma lata, os nossos desafios?
aprendizagem ao longo da vida, não é abusivo Uma vez numa reunião, um
4. INVESTIMENTOS
com foco a dar valor reciclado e
E CAPITAL REPRODUTIVOS
referir que cliente disse-me que a ambição,
renovado à força de trabalho de desde que controlada pela ética,
Portugal. Talvez com um almi- É necessário ter coragem para a Educação é um excelente valor! Acrescen-
rante, pudéssemos progredir. correr o risco, e coragem para devia ser to – com convicção – que a mo-

2. O TALENTO NO PAÍS
cortar o risco. Só se pode fazer repensada, com tivação para vencer é conduzida
este processo se conseguirmos pela ambição de crescer. A pro-
Por princípio gostamos da ideia medir – bem – o que estamos foco no aluno cura de novos mercados inter-
de prepararmos os nossos filhos a fazer. e no seu futuro nacionais – que podem ser di-
para o mundo. Mas então temos O investimento deve ser aplicado no ferentes em cada época da vida
a responsabilidade de tudo fazer pago de volta com o profit & loss do país – aparece nesse sistema
para os motivar a ficar. E sim, que se gera da atividade resul- trabalho, tipo mental, ou melhor, nesse tom
existem fatores determinantes tante do Investimento, em vez task force emocional! E

3 2 . EXAM E . MARÇO 2023


CONTEÚDO
PATROCINADO

CUPRA BORN COM CONTRATO


DE SUBSCRIÇÃO
O novo carro 100% eléctrico da CUPRA está agora disponível em opção renting. Uma escolha vantajosa e ecológica tanto para
particulares, como para empresas, tal como comprova a atribuição do Prémio Fleet Magazine de 2022 para melhor carro de empresa

A CUPRA acaba de lançar uma


campanha de renting (aluguer
operacional) para o seu mode-
lo Born – 58 kWh com 204 ca-
valos. O contrato, com a dura-
ção de 60 meses e/ou 75 mil
quilómetros, prevê uma en-
trada ajustada e uma renda
mensal a partir de 399 euros.
O serviço inclui a manutenção
completa, seguros, assistência
em viagem, linha de apoio 24
horas e inspecção periódica. O
CUPRA Born é o primeiro mo-
delo 100% eléctrico da marca
e tem uma autonomia de mais
de 400 quilómetros. Cada car-
regamento – feito em sua casa
ou na sua empresa – pode cus-
tar cerca de 15 euros. que foi lançado. Para come- e num futuro mais rentável e
Desenhado e desenvolvido em çar, recebeu o troféu Volante sem emissões.
Barcelona, na sede da CUPRA, de Cristal 2022 nas categorias Como se não bastasse, o
em Martorell, e produzido na de Carro Eléctrico e Carro Des- CUPRA Born recebeu ainda
fábrica de Zwicknau, na Ale- portivo. Este pequeno grande a classificação de segurança
manha, o CUPRA Born tem carro eléctrico junta o for- mais alta da Euro NCAP reve-
uma forte consciência ecoló- mato mais compacto e práti- lando-se um dos veículos mais
gica. Para além de ser fabrica- co do mercado com a melhor seguros do mercado, com uma
do com materiais reciclados e relação de habitabilidade para pontuação elevada nas quatro
de usar tecidos com fios ela- cinco pessoas. Ao mesmo tem- categorias: ocupante adulto,
borados a partir de plásticos po, é um desportivo de emo- ocupante criança, utentes vul-
poluentes recolhidos no mar, ções instantâneas, com o mais neráveis da estrada e assistên-
o CUPRA Born é o primeiro baixo centro de gravidade da cia à segurança.
modelo da marca a ser entre- classe e distribuição de mas- Pode vir equipado com ilumi-
gue ao cliente com um conceito sas perfeita entre os dois eixos, nação exterior em LED, jantes
de CO2 neutro, com a cadeia de importante em qualquer des- de liga leve de 18 polegadas,
fornecimento a utilizar energia portivo: 50/50. bancos tipo bacquet, cores de
de fontes renováveis e as res- Conquistou também o Prémio carroçaria exclusivas, aplica-
tantes emissões a serem com- Fleet Magazine de 2022 para ções cobreadas, ecrã táctil de
pensadas com investimentos e melhor carro de empresa, re- 12 polegadas e volante forrado
projectos ambientais. velando-se um veículo multi- a pele, aquecido e com coman-
O CUPRA Born é, portanto, facetado, que vai além de uma dos multifunções, e muito mais.
muito mais do que um simples utilização pessoal, sendo uma
carro eléctrico. Não é por aca- solução sustentável para qual-
so que tem recolhido o reco- quer empresa que queira in- Descubra tudo em
nhecimento do mercado desde vestir na mobilidade elétrica cupraofficial.pt
Micro
EXAME

E M PRESAS . N EGÓCIOS . G ESTÃO

ADÉLIA CARVALHO
“A CHAVE
É AS PESSOAS
SENTIREM
QUE CUIDAMOS
DELAS”
Começou como rececionista, foi diretora de vendas,
passou pelo F&B e, hoje, é uma das diretoras-gerais
mais reconhecidas – e cobiçadas – da hotelaria
nacional. A responsável pelo Valverde Hotel falou
à EXAME sobre o seu percurso e sobre a forma como
lidera uma equipa que não a quer abandonar
Texto Margarida Vaqueiro Lopes Fotografia Luís Barra

3 4 . EXAM E . MARÇO 2023


Micro

F
Foi na antevéspera da reabertura do Val-
verde Hotel, em plena Avenida da Liber-
dade, em Lisboa, que falámos com Adélia
Carvalho, a diretora-geral da única unida-
de da capital pertencente ao exclusivo clu-
be Relais & Châteaux. Entre papel de pa-
rede a ser colocado, mobília fora do lugar
e muitas tarefas para serem completadas,
a executiva contou à EXAME como passou
de rececionista a responsável máxima de
hotéis, quem são os seus exemplos e como
consegue manter equipas num setor co-
nhecido pela elevada rotatividade.
De trato simples e gargalhada fácil,
Adélia conduz-nos numa viagem pela sua
história e também pelos desafios da hos-
pitalidade, quando se prepara para abrir
o Hotel Valverde Santar, ao mesmo tem-
po que coordena a expansão do Valverde
Hotel Lisboa, unidade que dirige desde a
abertura, em 2014.

Comecemos pelo início: como é que


entra na hotelaria, como rececionista,
e chega a diretora-geral de hotéis pre- nada em específico, devias tentar.” E, por- minha atitude diária era de não ligar às
miados? tanto, fui tirar o curso médio de Receção horas que trabalhava, não sabia que tur-
Basicamente, cheguei ao 12º ano e não sa- de Hotelaria, fiz um estágio naquele que, nos fazia, adorava trabalhar, adorava o
bia o que queria fazer. Até que a minha hoje, é o Hotel Intercontinental, na altura que fazia, gostava imenso de ter imensos
irmã me disse: “Tu tens um ar sempre tão era o Le Méridien, e lembro-me até ago- clientes de culturas diferentes.
simpático que acho que devias ir trabalhar ra de ter a sensação de entrar na receção,
para um hotel.” E, realmente, o mundo do de abrir a porta e de ter tudo a acontecer! Já falava línguas?
turismo era algo que me encantava. Ela é Como a sensação que temos no primeiro Falava francês e inglês, o espanhol, como
guia turística e contava-me muitas coisas dia de escola. Também me lembro de pen- todos os portugueses [risos], e estava a es-
pelas quais eu me interessava: perceber o sar: “Não sei se vou ser capaz.” tudar japonês. Hoje em dia, falo algumas
que fazia o rececionista num hotel, ir ao palavras de japonês, frases que decorei,
aeroporto ver o que se passava, as transa- Tinha o objetivo de ser diretora de um mas que não dá sequer para uma conver-
ções de pessoas, o que as pessoas sentem hotel? sação. Fiz um percurso tanto de reservas
ao chegar, os abraços, o dizer “adeus”… E Não tinha. Entrei ali a achar que era onde como de receção, e gostei sempre muito
a minha irmã disse-me: “A receção é um ia ficar o resto da vida. Não tinha essa am- do que fazia. Portanto, a dedicação e a en-
sítio onde acontece tudo. Tu és super des- bição, pelo menos consciente. Agora, acho trega eram totais. Eu vivia para trabalhar,
pachada e, se não estás vocacionada para que ela era inerente à minha atitude. A porque tudo era uma experiência. O Le

36 . EXAM E . MARÇO 2023


Méridien pertencia a uma cadeia que ti- Chegou a diretora de vendas e marketing
nha um sistema organizativo muito inte- no Penha Longa, antes de sair, em 2004.
ressante – gosto muito de ordem, gosto de Sim, era o meu cargo antes de ser convi-
um caos controlado – e, por esse motivo, dada para fazer a abertura do Bairro Alto
tudo era muito aliciante, para mim. De- Hotel, nesse ano, o que aceitei. Fiquei en-
pois, quando abriu o Penha Longa, que, cantada pelo hotel; achei-o um hotel de
na altura, era dos asiáticos da Westin, foi bonecas, à minha dimensão. Vinha do Le
uma brigada de pessoas para lá, e muitos Méridien, do Penha Longa e, quando vejo
de nós passámos do Le Méridien para esse um hotel muito mais pequeno, começo a
projeto. E, aqui, acho que é importante pensar em muitas oportunidades. Mas o
referir que não somos só nós que faze- que me fez aceitar e ir para lá foi o facto
mos o nosso futuro. Ele também é feito de me terem dito que eu podia escolher a
por muitas pessoas que nos rodeiam e que minha equipa.
acabam sempre por nos descobrir e por
nos ver de uma forma que nós, às vezes, Foi uma decisão óbvia para si? Ser dire-
não vemos. E eu tive sempre essa sorte tora-geral de um hotel naquele local e
e esse mérito, de conseguir movimentar sem nunca o ter feito?
pessoas que ficavam atraídas pela minha Foi algo pensado, partilhado com a famí-
forma de trabalhar. lia, e hesitei bastante. Tinha 33 anos, era
nova. Era uma grande estreia. Mas também
Entra para o Penha Longa, em 1993, e me disseram que, às vezes, o comboio não
esteve lá durante 11 anos, passando por passa à porta duas vezes. O facto de ser
muitos departamentos… um boutique hotel, mesmo que na Praça
Sim, fiz lá um percurso super transver- Luís de Camões, com comidas e bebidas
sal, também porque já tinha alguma expe- de qualidade, não era algo muito comum,
riência, e muitas vezes vinham perguntar- não havia em Lisboa. E, portanto, eu tinha
-me coisas porque eu “devia saber” [risos]. ali uma coisa um bocadinho pioneira, que
Fiz uma transição da área de alojamento era possível fazer à minha imagem. Gosto
para a área de Food & Beverage (F&B), que de dar personalidade às coisas e senti, da
hoje já é algo mais comum de acontecer, parte da administração, que havia essa li-
mas na altura não era. E lá fui eu, sem berdade. E, de facto, o que me fez aceitar foi
saber muito de cozinha. Com uma van- mesmo deixarem-me escolher as minhas
tagem: a partir desse momento, fiz sem- pessoas. Mas foi um namoro longo, de qua-
pre aberturas [de hotéis]. E aquilo que se se um ano, até eu dizer que sim. Quando
ganha de conhecimento numa abertura, me disseram “Traga a sua equipa, as pesso-
em que sabemos os cantos da casa, quem as com quem quer trabalhar”, isso fez-me
são os fornecedores, como repor tudo, tomar a decisão.
como chegar a cada sítio… tudo isso dá
um know-how espetacular. Portanto, fiz A Adélia tem uma liderança muito hu-
a abertura do Penha Longa e, aí, fiz ven- manizada. Já encontrei pessoas que vol-
das, alojamento, banquetes, área de SPA, taram mais do que uma vez para traba-
tomei conta da tabacaria – tive um per- lhar consigo, somente porque é a Adélia
Gosto muito curso mesmo muito transversal. à frente da equipa...
de pessoas, Eu dedico-me muito às pessoas. Gosto
Quais foram as áreas que nunca fez? muito das pessoas, e trabalhar as pes-
e trabalhar Financeira e cozinha – ninguém me ia que- soas é trabalhar para o sucesso. Quando
as pessoas rer a fazer cozinha [risos]. É certo que, na temos um trabalho que é muito front of-
é trabalhar receção, há uma pequena parte relativa a fice, mas quando as preparamos no ba-
finanças, mas nunca trabalhei nessas duas. ckstage, as taxas de reclamação são muito
para o E o meu marido é chefe; portanto, resolvi mais baixas. Porque as pessoas apren-
sucesso” também a outra questão! Ah, e nunca tra- dem e são capazes de resolver problemas
balhei em restaurante. Nunca servi à mesa. se estiverem bem preparadas. E eu gosto
Acho que sirvo mais à mesa agora, que sou de fazer um cross-training com as pes-
diretora, quando é preciso levar um prato soas, tal como fizeram comigo. Acho que
ou outro a um hóspede [risos]. a receita é certa; logo, continuo a aplicá-

MARÇO 2023 . EXAM E . 37


Micro

-la. E a gratidão é importante, porque eu


sei que não estaria aqui se não tivessem
apostado em mim. Portanto, quero con-
tinuar a retribuir, apostando noutros. E
espero isso das pessoas também. Quero
fazê-las ver e aprender, e mando-as para
outros sítios, para aprenderem. Basica-
mente, repito a fórmula que aplicaram
em mim. Há uns anos, distinguiram-me
como a gestora mais motivadora de Por-
tugal [I Concurso Nacional de Motivação
do ISCTE] e perguntaram-me se a lide-
rança era ou não inata. Acho que é uma
mistura. Sempre fui a pessoa que gostava
de agrupar, de construir eventos… desde
criança. Por isso, penso que há uma parte
que é minha. Mas sou uma pessoa super
disponível, acredito sempre que é possí-
vel; acredito que, com um pouco de sor-
te, chegamos sempre aonde queremos – e
eu sou o exemplo disso, mesmo que não
soubesse bem aonde queria chegar [risos].
Mas queria um caminho! Queria um ca-
minho de progressão, de aprendizagem.
Tudo me despertava interesse; queria
aprender e achava sempre que mal não fa-
zia. Frequentava as formações todas… Até
que houve uma fase na minha vida em
que achei que me faltava algo, faltava-me
um curso superior. E, aos 40 anos, decidi
fazer uma licenciatura em Comunicação
Empresarial no Instituto Superior de Co-
municação Empresarial.

Porquê comunicação?
Porque achei que era importante aprender
mais na área de comunicação e do digi-
tal. E, embora o curso não tenha sido tão
dedicado ao digital como estava à espera,
deu-me muito networking, deu segui-
mento à nossa área de comunicação in-
terna e veio trazer-me ferramentas como
diretora-geral. Anteriormente, já tinha
feito um curso mais dedicado aos Recur-
sos Humanos, na Católica, e, portanto,
houve uma altura em que estive mais de-
dicada a essa formação pessoal.

Isso tudo enquanto era diretora-geral de


um hotel?
E mãe! E já estava a sair do Bairro Alto Ho-
tel para o Vidago Palace – trabalhava três
dias lá em cima e, nos outros dois dias,
estava em Lisboa, a dar apoio a alguns
projetos que, na altura, estavam a abrir

38 . EXAM E . MARÇO 2023


aqui. Portanto, é possível, com uma turma ça. As pessoas não estão sozinhas. É claro
muito simpática de gente mais nova, que que, num boutique hotel, isso é mais fá-
me dizia o que eu havia de fazer, como se cil. Mas eu sempre apliquei isto, mesmo
faziam estatísticas… [Risos] quando estava nos hotéis grandes; só que
fazia isto nas equipas que geria.
Mas é preciso ter muita energia.
Sim, e também muitas ajudas. E ter uma Podemos dizer que vocês não têm sen-
mentalidade de não desistir. Com uma fa- tido esta crise dos recursos humanos de
mília fantástica e com uma base de ami- que se fala?
gos que sempre me ajudaram muito. Com a Covid-19, sentimos – a pandemia
surge na altura da expansão do hotel –, e
As decisões de um diretor são solitárias, foi um momento muito difícil para nós.
mas ter este grupo de pessoas que a aju- Mas, depois disso, as coisas começaram
dam é fundamental? a estabilizar. Diria que há cerca de oito
Sou uma diretora que gosta de decidir em meses que tudo está mais estável.
equipa. Não sou muito ditadora nesse as-
peto, sou super exigente, mas estou sempre Fale-nos um bocadinho da Valverde Aca-
aberta a ouvir opiniões. Na base, sei o que demy, que me parece muito feita à sua
quero, mas é importante ouvir as pessoas medida e que, presumo, surge precisa-
que estão na operação. Ninguém sabe tão mente porque se notou essa escassez de
bem como funciona a máquina de lavar recursos.
loiça como o copeiro. É claro que a tomada Sim. Por exemplo, enquanto, antigamen-
de decisões é um caminho solitário, e isso te, não recrutava ninguém em período de
tem de se aguentar. Mas alivia um pouco férias – era um esforço impensável, por-
quando somos abertos a ir recolhendo in- que, entre o investimento em fardas e for-
formação e a testar o que nos sugerem. Eu mação, era um esforço que não compen-
não reajo a impulsos, sou super racional, sava para um período tão curto –, hoje
apesar de ser muito sensível. E acho que as já não tenho como não o fazer. A pande-
pessoas me desculpam a exigência, por- mia mudou as regras do jogo. A Valver-
que entendem que por trás disso está uma de Academy surge após a Covid-19, e o
possibilidade de crescimento, em que dou nosso objetivo é recrutar pessoas que têm
espaço ao erro e os ajudo a estar mais bem bom looking, que sabem inglês, que se-
preparados para o caminho. Acredito que jam extrovertidas e que queiram ter con-
é nossa obrigação perceber de que forma tacto com a hotelaria. Foi assim que co-
cada pessoa pode crescer, numa equipa, e meçámos a trazer estagiários para a área
mostrar-lhe que é possível, dando-lhe essa do front office, para estar à porta, para
oportunidade. Porque, às vezes, as pessoas acompanhar o cliente ao restaurante… co-
não acreditam. Consigo, dentro da equipa, meçámos a experimentar este modelo e
partilhar emoções e, portanto, não sinto tivemos uma excelente surpresa, porque,
tanto essa “solidão”. atualmente, temos alunos com 18 anos
Tudo me que vêm super preparados em termos de
despertava O truque para manter as pessoas consigo línguas, jovens muito entusiasmados, que
interesse; é ouvi-las? querem voltar no ano seguinte. Sentimos
Creio que a chave é as pessoas sentirem que isto podia mesmo fazer sentido.
queria que estamos a cuidar delas, da sua carrei-
aprender ra. Que, à primeira oportunidade, quando E vêm de todas as áreas?
e achava se abre um lugar, nós lha damos. Aqui, Temos um protocolo estabelecido com o
por exemplo, quando surge uma nova Colégio Pedro Arrupe, e que engloba os
sempre que vaga – e tem acontecido, porque o hotel alunos do ensino secundário, e também
mal não fazia. expandiu-se de 25 para 49 quartos –, difi- com a Universidade Europeia. Podem es-
Frequentava cilmente recrutamos fora. Damos forma- tagiar, pode surgir a oportunidade de fica-
ção interna e, se não houver ninguém para rem mais tempo em part-time… no fundo,
as formações dar essa formação específica, damos-lhes o que queremos é que estes jovens descu-
todas...” fora… Há uma dedicação do meu tempo e bram se a hotelaria pode ser um caminho
da equipa, em geral, para que isso aconte- para eles.

MARÇO 2023 . EXAM E . 39


Micro

E também criou uma bolsa de estudos, o Turismo for sempre no sentido da qua-
com o seu nome. Como surgiu a ideia? lidade, e é essa a realidade que conheço,
Como eu sou um exemplo de que não creio que pode ser acertado, porque Por-
se tem de estudar convencionalmente, tugal continua a ser um país muito atra-
este era um desejo meu: o de proporcio- No fundo, o que tivo. Creio que estamos no caminho certo,
nar às pessoas que vieram para hotelaria queremos é que estes embora devamos ter cuidado para que as
cedo, e não têm possibilidade de fazer um coisas não fiquem fora de controlo. Diria
percurso académico, essa possibilidade. jovens descubram se que, sempre que se faça algo muito au-
Acredito que, com a idade, consegue ter- a hotelaria pode ser têntico, muito próprio do sítio onde está
-se mais certeza e mais vontade de saber um caminho para inserido – e têm surgido projetos interes-
o que se quer. E o know-how profissional santes em todo o País e nas ilhas –, desde
também ajuda a fazer o curso. eles” que sejam coisas diferenciadoras, vale a
pena. Mas temos de ter cuidado e, se ca-
E como funciona? Como é atribuída? ou gestão pura, ou comunicação, recur- lhar, em zonas que já têm uma dimensão
No fundo, é quase como um bónus [atri- sos humanos... hoteleira muito elevada, não colocar mais
buído através de um processo de candi- [unidades] e desenvolver outras.
datura e seleção]. A quem estiver dispo- O Turismo tem sido apontado como a
nível dentro da equipa do grupo Valverde, nossa galinha dos ovos de ouro, mas há Como se faz esse serviço de qualidade?
e mostre vontade de estudar, continuan- quem diga que corremos o risco de a ma- Hoje, há muito orgulho na hotelaria que
do a trabalhar, num regime part-time ou tar, por querermos oferecer volume em Portugal tem, e vemos o Valverde e outras
outro, eu e a empresa ficaríamos super vez de qualidade. Temos hotéis a mais em unidades a serem premiadas internacio-
contentes e orgulhosos por poder ofere- Portugal? nalmente, conseguindo o País ter muito
cer essa possibilidade. Começa já no pró- Há, aqui, uma coisa importante, que é: mérito. Nos recentes World Travel Awards,
ximo ano letivo; tem é de ser um curso acho que toda a reabilitação que se faça Portugal ganhou muitas distinções, o que
numa área relacionada com a hotelaria, para ter hotéis é interessante. Diria que, se significa que o destino está mais nessa vi-

4 0 . EXAM E . MARÇO 2023


Micro

trina, e o nosso produto está em primei- imaginário. Contudo, em termos de servi-


ro lugar. Esse palco também nos tornou ço, de exemplo, gostei muito do Mandarin
mais vaidosos e mais exigentes com a Oriental Madrid. É um hotel de que tenho
nossa aparência. Esse palco que foi dado falado muito e, ao nível de serviço, é a mi-
[a Portugal] também exigiu que nós, ho- Não temos de temer nha referência internacional, atualmente.
teleiros, percebamos que temos de fazer o preço; temos é de
bem. Estamos na pole position, se é que Se não vivesse em Lisboa, onde viveria?
isso se pode dizer [risos]. E isso ajuda a ter a noção de que um Talvez em Paris. Gosto muito de Paris.
posicionar-nos. Estes prémios têm muito certo nível de preço
valor para o destino e enriqueceram mui- tem de entregar um Gostava de ter uma experiência interna-
to a parte hoteleira. cional?
valor acrescido” Nunca aceitei. Tive algumas propostas, ao
Os preços médios subiram muito e afas- longo dos anos, mas não tenho essa ambi-
tam clientes portugueses. Estão a ser es- noção de que um certo nível de preço tem ção. Embora, hoje, talvez já encarasse de
quecidos? de entregar um valor acrescido. E, numa outra forma uma oportunidade. Poderia
Face à inflação, também não temos mui- hotelaria tão variada como a de Portugal, ter alguma curiosidade.
ta alternativa – e eu sou uma pessoa que vamos ter capacidade de oferta para tudo.
viaja e estou sempre a testar e a compa- Quais são as pessoas que foram, ou que
rar mercados. Se o produto vale o preço, Qual é o seu hotel favorito, em termos são, para si, referência na área da hote-
temos de estar alinhados com os valores mundiais? laria?
europeus e mundiais praticados na ho- Estive num hotel de que gostei muito, o O José Silva [que, durante mais de 20
telaria. Temos é de entregar o que cobra- Hotel Nacional, em Havana, pela história anos, exerceu funções no Four Seasons,
mos, porque, quando paga determinado de todas as estrelas de cinema que lá es- em cargos internacionais e, mais recen-
valor, o cliente tem uma expectativa! Não tiveram. Foi um hotel que me marcou e temente, como CEO do grupo Jumeirah]
temos de temer o preço; temos é de ter a que fiz questão de conhecer, mas mais pelo e o Rui de Sousa [Tivoli]. E

4 2 . EXAM E . MARÇO 2023


CONTEÚDO
PATROCINADO

PREMIAR A INOVAÇÃO
DA PREVENÇÃO EM 2023
O Prémio Inovação em Pre- receção de candidaturas que
venção, tem como objetivo a iniciou em novembro do ano
premiação de boas práticas anterior.
em matéria de prevenção (na
gestão do risco) em diferentes A iniciativa é promovida pela
níveis: Pessoas, Ambiente e Ageas Seguros, marca do
Património. E, ainda, a dis- Grupo Ageas Portugal, que
tinção do Melhor Projeto de juntamente com a Revista
Inovação a nível nacional. Na Exame e um conjunto de par-
3.ª edição, o Prémio encon- ceiros como ISQ, Ordem dos
tra-se de momento na fase Economistas, CIP, IAPMEI,
de pré-análise e preparação COMPETE 2020, AHP e A
das candidaturas para efei- Cor do Dinheiro, pretendem doras, que contribuam para aprofundadamente este Pré-
tos de observação técnica e promover e divulgar a parti- uma economia mais segura mio apresentamos as catego-
seleção, após um período de lha de boas práticas, inova- e eficaz. Para conhecer mais rias que o compõem.

Património: nesta categoria Pessoas: este segmento procura Ambiente: Este segmento procura
procuram-se projetos/medidas selecionar projetos/medidas que tenham projetos/medidas que promovam a
de definição e implementação de impacto na prevenção e promoção das existência de política(s) ambiental(is),
estratégias e planos de ação que condições de segurança, saúde a implementação de medidas alinhadas
permitam a identificação e preservação e bem-estar das partes interessadas, com os indicadores de sustentabilidade
da continuidade do negócio ou seja, Colaboradores, Clientes, que, visem a diminuição do impacto
após a ocorrência de incidentes, Fornecedores, Parceiros e Comunidade. ambiental e a gestão eficiente de
nomeadamente em duas áreas: 1) Colaboradores: Promoção de ações recursos.
1) Cibersegurança: Medidas e políticas que incentivem a igualdade de género, 1) Ambiente: Prevenção e controlo da
de proteção da empresa contra os diversidade e inclusão; Estratégia poluição para redução das emissões
principais cibercrimes; Segurança para a atração e retenção de talentos; para o ar, água e solo e a gestão de
da infraestrutura, equipamentos Políticas contra o absentismo e resíduos.
informáticos, recursos, entre outros aumento da produtividade; Garantia da 2) Recursos: Promoção da eficiência
e partilha de boas práticas contra o proteção dos dados pessoais (RGPD); energética e uso de energias
cibercrime. Bem-estar, satisfação e valorização renováveis; Preservação da
2) Edifícios (património): Construção pessoal; Formação/Capacitação biodiversidade; Promoção da economia
sustentável; Gestão do risco; profissional; circular intraempresa e extraempresa;
Planos de manutenção preventiva, 2) Fornecedores/Clientes/Parceiros: Alterações climáticas e emissões
preditiva e corretiva de sistemas Nível de satisfação; Proteção dos de carbono (descarbonização);
e equipamentos; Segurança contra dados; Riscos da cadeia de valor. Implementação de medidas para
incêndio. 3) Comunidade: Relações com os redução das emissões de CO2.
Colaboradores e com a Comunidade; 3) Compras sustentáveis: Incorporação
Projetos para envolver a Comunidade. de critérios de aquisição ambientais na
cadeia de valor.

Poderá acompanhar esta iniciativa e os vencedores, a premiar em maio de 2023,


no site www.ageas.pt/premio-prevencao.
Ageas Seguros, um mundo para proteger o seu negócio
Micro

ISQ

Do fundo
dos oceanos
ao solo de Marte
O Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ) está
envolvido em alguns dos mais inovadores projetos
internacionais. Desde a pesquisa por uma fonte
de energia limpa e quase inesgotável até à criação
da sonda que irá recolher amostras do solo de Marte,
passando pelo maior telescópio do mundo, esta
entidade quer agora desenvolver um projeto para
fazer pesquisa de profundidade nos oceanos
Texto Paulo M. Santos

É
uma instituição pouco “É um trabalho invisível que garante de 60 anos de existência, e já participámos
conhecida do português o bom funcionamento económico e so- em mais de 500 projetos de investigação
comum, mas o seu tra- cial do País”, afirma Pedro Matias, presi- e desenvolvimento a nível internacional,
balho está presente em dente do ISQ. Esta entidade privada sem nos setores mais diversificados”.
toda a nossa vida quo- fins lucrativos é também chamada a ve- As suas competências têm sido muito
tidiana. É difícil passarmos um dia sem rificar muitas das infraestruturas existen- solicitadas por empresas portuguesas para
contactar com um qualquer aparelho que tes, como redes de distribuição de energia, integrarem projetos no âmbito do PRR,
não tenha tido a intervenção do ISQ. Des- estradas, viadutos, pontes, entre muitas estando presente em dez agendas mobi-
de a aferição das balanças dos supermer- outras. “Temos uma equipa em perma- lizadoras, oito das quais já assinadas, que
cados aos aparelhos de suporte de vida nência, 365 dias por ano e quase 24 horas vão desde a atuação na cadeia de valor das
dos hospitais, passando pelas bombas de por dia, na Ponte 25 de Abril, que inspe- baterias de lítio até ao reforço do cluster
gasolina, pelas análise de alimentos, até ciona se existem fissuras, corrosão ou fa- aeronáutico e espacial, passando pelo ar-
aos contadores de gás, água e eletricidade, diga dos materiais”, avança o gestor. mazenamento de hidrogénio e neutralida-
o ISQ tem equipas que todos os dias vão Mas o trabalho deste instituto não se de carbónica dos edifícios. “Somos, prova-
assegurando a fiabilidade de todos estes esgota aqui. O ISQ é atualmente, segun- velmente, a entidade portuguesa que está
bens e equipamentos que fazem parte do do Pedro Matias, “a maior infraestrutura em mais agendas do PRR”, admite Pedro
nosso dia a dia. tecnológica nacional. Temos pouco mais Matias.

4 4 . EXAM E . MARÇO 2023


Atualmente, o ISQ tem uma equipa de

UMA NOVA “HERA”


cerca de 1 500 pessoas e desenvolve ativi-
dade em 14 países. A sua tecnologia está

NA AVIAÇÃO COMERCIAL
presente em projetos tão avançados como
o da sonda que vai recolher amostras de
solo em Marte ou o do desenvolvimento de
O futuro da aviação verde já está em marcha e conta
software para ajudar equipas de resgate em
com a participação de três entidades portuguesas
situações de calamidade, como no caso dos
terramotos que ocorreram recentemente
Responsável por quase elétrica será proporcio- to, ou Lisboa-Madrid. O
na Turquia e na Síria. Está também en-
3% das emissões de nada pelas células de primeiro destes aviões
carbono para a atmos- combustível alimentadas deverá estar concluído
volvido no desenvolvimento do primeiro
fera, a aviação comercial a hidrogénio. O objetivo para teste em meados de avião a hidrogénio, no maior telescópio do
é um dos setores que é reduzir até 90% as 2030 e terá entre 50 e mundo e na criação de um processo para a
menos tem feito a tran- emissões de carbono dos 100 lugares. pesquisa no fundo dos oceanos.
sição energética. Apesar aviões. Após os testes nestes Entre os múltiplos trabalhos, um pou-
de ter vindo a adotar O projeto, coordenado percursos mais peque- co por todos os continentes, o ISQ tem
motores mais eficientes pela empresa italiana nos, será lançada uma estado também a colaborar na constru-
e utilizado materiais mais Leonardo, especializada nova fase de investigação ção do ITER, o reator nuclear que pro-
leves na construção dos no setor da aviação e da para desenvolver aviões mete revolucionar o mercado da energia
aviões, a poluição gerada defesa, conta com outras que possam efetuar
(ver caixa À procura de energia limpa e
continuará a subir. As úl- 48 entidades como a voos de longo curso,
“inesgotável”).
timas previsões apontam Airbus, Rolls-Royce, Ho- nomeadamente viagens
para que o número de neywell, Thales, Siemens transatlânticas.
Pedro Matias classifica-o como “um dos
passageiros triplique até e ainda três organizações O objetivo final é conse- projetos mais importantes que estão a ser
2050, o que irá duplicar portuguesas, o ISQ, o guir substituir cerca de 40 desenvolvidos”, aquele que poderá “mudar
a pegada ecológica da INEGI e a Almadesign. mil aviões tradicionais por radicalmente o padrão de consumo de ener-
aeronáutica. “Estamos a fazer os es- estes novos aparelhos gia no planeta” e acabar com muitas “das
Para tentar acelerar o tudos de compatibilidade ecológicos, entre 2035 e tensões geopolíticas” geradas pelos interes-
processo de transição, eletromagnética de todas 2050, processo que, se- ses económicos ligados ao setor.
a União Europeia está as estruturas do avião. gundo os estudos feitos
a financiar um projeto Ou seja, verificamos pela Comissão Europeia, AJUDA COORDENADA
de investigação para o previamente eventuais poderá gerar um impacto
Um dos empreendimentos em que o ISQ
desenvolvimento de interferências que de 3 biliões de euros na
participou mais recentemente foi no siste-
aeronaves menos po- possam existir entre os economia mundial.
luentes chamado HERA, inúmeros elementos que Para além das aeronaves,
ma Overwatch, que deverá entrar em fun-
acrónimo de Hybrid-Ele- irão integrar a aeronave”, o consórcio está também cionamento dentro de quatro anos. Trata-
MARCOS BORGA

tric Regional Architecture, explica Pedro Matias. a estudar as alterações -se de um software que vai fazer a recolha
e que pretende reduzir Nesta primeira fase, e modificações que e processamento de informação após uma
substancialmente as o avião que está a ser terão de ser feitas nas catástrofe natural, para melhorar os pro-
emissões carbónicas desenvolvido deverá infraestruturas aeropor- cessos de procura e salvamento de pessoas.
no setor da aviação, um ter uma autonomia de tuárias para que o projeto O sistema vai buscar informação a
dos mais poluidores do voo da ordem dos 400 seja viável, como, por várias fontes ‒ desde os indicadores me-
planeta. a 500 quilómetros. Será exemplo, todo o processo teorológicos até à morfologia do terreno,
A ideia é criar aeronaves primeiramente testado de armazenamento e
aos dados históricos, informação capta-
com motores híbrido-e- em voos de pequeno distribuição de hidrogé-
da por câmaras de vídeo ou sensores de
létricos, cuja alimentação curso, como Lisboa-Por- nio nos aeroportos.
infravermelhos instalados em drones – e,
posteriormente, através de algoritmos e
Inteligência Artificial, consegue dar uma
resposta mais imediata de atuação às
equipas de resgate que estão no terreno.
“Os sensores dos drones, por exem-
plo, conseguem detetar o calor de corpos
soterrados até uma determinada profun-
didade. E essa informação pode ser passa-
da às equipas de salvamento com alguma
celeridade, o que pode fazer a diferença
entre a vida e a morte de muitas pessoas,

MARÇO 2023 . EXAM E . 45


Micro

À PROCURA DA ENERGIA LIMPA E “INESGOTÁVEL”


O protótipo de uma central de fusão nuclear está a ser construído no Sul de França e conta com o investimento de 35 países

> ENERGIA LIMPA zida pelas reações de fusão. criação de trítio (um isótopo o interesse que a grande maioria
Este método permite manter do hidrogénio), que poderá levar destes países está a ter nesta
Em apenas um segundo, a temperatura do plasma, sem à criação de um reator autossu- investigação. O ISQ, que tem
o Sol irradia para o espaço mais necessidade de aquecimento ficiente. uma equipa de 12 pessoas em
energia do que aquela que externo. Em paralelo, estão tam- permanência no local, está
é consumida anualmente pelos bém a ser testadas tecnologias > €50 MIL MILHÕES a fazer o controlo de assembla-
oito mil milhões de pessoas que essenciais para estes reatores, gem do núcleo do reator.
habitam o planeta. Uma fonte como os supercondutores, A primeira fase da investigação É também responsável por
de energia quase inesgotável a manutenção remota e siste- custou cerca de 25 mil milhões ações de formação de equipas
que os cientistas estão agora mas que permitem parar de euros e, para avançar com que trabalham no projeto.
a tentar replicar em ambiente a energia do plasma, bem como o protótipo, foi investida uma
fechado. O projeto chama-se a produção de módulos para a verba idêntica, o que prova > FUSÃO EM VEZ DE FISSÃO
ITER, está a ser desenvolvido no
Sul de França e conta com Ao contrário dos reatores tra-
a colaboração de 35 países. dicionais, que usam o processo
Trata-se da construção de um de fissão nuclear, o ITER está a
reator nuclear, que irá tentar investigar o processo de fusão
provar a viabilidade da fusão de plasma que, segundo esta
como fonte de energia livre de entidade, não tem problemas
carbono, com produção em larga associados a radioatividade.
escala, recorrendo ao mesmo A temperaturas extremas, os
princípio que alimenta as estre- eletrões são separados dos nú-
las do Universo. O objetivo do cleos e o gás torna-se um plas-
ITER (que em latim significa via- ma – conhecido como o quarto
gem, caminho) é a investigação estado da matéria. Os plasmas
e demonstração da combustão de fusão criam condições para
de plasma, através da energia que os elementos leves se fun-
dos núcleos de hélio, produ- dam e produzam energia.

num caso de uma catástrofe como aque- da recentemente a Noruega encontrou,


la que se vive agora na Turquia e na Síria. nas profundezas do mar do Norte, um
O Overwatch irá dar informação muito dos maiores jazigos mundiais de metais
precisa dos locais onde estas equipas de- raros, já chamados o petróleo do século
vem concentrar as operações de resgate”, XXI, essenciais para produzir quase todos
esclarece Pedro Matias. os equipamentos e tecnologias necessá-
Para estes projetos, o ISQ vai buscar rios à digitalização e transição energética.
muita da experiência que já acumula a Temos Com a extensa área marítima de Portu-
outros setores. Pedro Matias explica que, uma equipa gal, mais de 1,7 milhões de km2 de Zona
neste caso, irão adotar métodos seme- Económica Exclusiva, esta pode ser uma
lhantes aos que utilizam nas inspeções permanente tecnologia importante para a descoberta
em gasodutos. “São trabalhos feitos com na Ponte de novos minérios que poderão tornar-se
drones que, através de ultrassons e raios 25 de Abril cada vez mais caros.
infravermelhos, conseguem detetar fissu-
ras ou variações de temperatura em estru- que inspeciona PREPARAR O FUTURO
turas que se encontram abaixo do solo”, se existem Os projetos em que está envolvido levaram
justifica.
Esta mesma tecnologia está agora a
fissuras ou a que 2022 tivesse sido “um dos melhores
anos de sempre em termos de resultados”.
ser aproveitada para se começar a fazer corrosão O ISQ conseguiu uma faturação total de 47
investigação no fundo dos oceanos. Ain- dos materiais” milhões de euros e obteve um lucro de 4

4 6 . EXAM E . MARÇO 2023


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milhões de euros. Resultados líquidos mui-

O TELESCÓPIO MAIS
to acima dos que tinham sido conseguidos
no período pré-pandemia, mais propria-

PODEROSO ATÉ HOJE CRIADO


mente em 2019, ano em que os lucros as-
cenderam a 2,5 milhões de euros.
Como é uma associação privada sem
O novo “olho” astronómico conta com tecnologia e soluções
fins lucrativos, os resultados serão reinvesti-
portuguesas e deverá entrar em funcionamento já a partir de 2028
dos na investigação de novas áreas de negó-
cio, na compra de equipamentos mais mo-
Chama-se European “Pela sua dimensão e que foi preciso conceber
dernos e em novas tecnologias. “Na nossa
Extremely Large Teles- curvatura, o espelho não um telescópio maior.
atividade, temos de estar sempre à frente cope (ELT), está a ser pode ser feito em uma A dimensão do ELT foi
das necessidades dos clientes. Só assim con- construído no deserto peça. É composto por considerada a necessária
seguimos ser úteis para o desenvolvimento do Atacama, no Norte do 798 favos, uns espelhos para conseguir efetuar
económico e social. Temos de investir já na Chile, e consegue obter hexagonais, com cerca de algumas das atuais
criação de competências em áreas que se- quinze vezes mais luz um metro e pouco cada, pesquisas científicas.
rão fundamentais para a indústria dentro que o maior telescópio que encaixam uns nos Por exemplo, o ELT será
de quatro ou cinco anos”, garante. atualmente em funcio- outros e permitem que capaz de obter imagens
Pedro Matias dá como exemplo o namento. O projeto, que haja a curvatura necessá- de exoplanetas rochosos
grande investimento que está a ser feito no faz parte da Agência ESO ria. No entanto, sempre e caracterizar as suas
(European South Obser- que existe a necessidade atmosferas, enquanto os
hidrogénio, um pouco por todo o mundo,
vatory), foi iniciado em de deslocar o olho do outros telescópios ape-
área onde o ISQ “tem estado a trabalhar e
2016, terá um custo total telescópio, estes favos nas conseguem detetar
a desenvolver competências há 15 ou 20 superior a 1,3 mil milhões têm de se mover com planetas semelhantes à
anos. E essa é a razão pela qual estamos de euros, e deverá entrar uma precisão milimétrica, Terra. Além disso, o ELT
preparados para poder fazer parcerias e em funcionamento em e, para que isso aconteça, permitirá medir direta-
ajudar a indústria que agora começa a 2028. cada um deles tem quatro mente a aceleração da
apostar no hidrogénio”. Ao todo, este “óculo” motores que os movi- expansão do Universo.
O gestor iniciou, neste ano, o seu tercei- gigante terá uma redoma mentam em vários eixos. Este telescópio deverá
ro mandato como presidente do ISQ, cargo com um diâmetro de 88 Nós estamos a trabalhar manter-se em fun-
que irá manter até ao final de 2025. E já defi- metros, o equivalente à nesses motores”, escla- cionamento durante
niu aqueles que serão os grandes eixos des- área de meio campo de rece Pedro Matias. pelo menos 30 anos. A
futebol, um peso total O ELT será o maior agência ESO já começou
te novo mandato: indústria 4.0, desenvol-
de 6 100 toneladas e um telescópio ótico do a desenhar o substitu-
vimento sustentável e internacionalização.
espelho principal, o “olho” mundo. Para termos uma to do ELT, o chamado
“A indústria vai sofrer uma grande do telescópio, com uma noção das diferenças, os Overwhelmingly Large
transformação nos próximos anos. A in- área de 39,9 metros e um atuais telescópios com a Telescope (OWL), mas
trodução da sensorização, do big data e peso de 132 toneladas. É mesma tecnologia têm ainda é considerado um
da Internet das Coisas vai trazer uma rea- neste centro nevrálgico um espelho principal com “estudo de projeto” que,
lidade nova para o setor. E nós temos de desta infraestrutura que o um diâmetro de cerca como a própria entidade
acompanhar essa tendência”, justifica. ISQ está a desenvolver o de dez metros, ou seja admite, poderá nunca vir a
Algumas das mudanças podem pare- seu trabalho. quatro vezes menor. Só conhecer a luz do dia.
cer pequenas, mas poderão gerar muito
valor para toda a indústria e fazer a di-
ferença entre ser ou não rentável. “Por
exemplo, nós fazemos testes para com-
ponentes do setor automóvel, para saber
qual a durabilidade e resistência dos equi-
pamentos ao longo dos anos. Para isso te-
mos uma câmara especial que consegue,
em três meses, saber quais os efeitos do
envelhecimento de 20 anos numa deter-
minada peça. É feito de uma forma física,
mas no futuro os testes serão realizados
de um modo virtual, através de simulação
por computador”, explica.
Também os equipamentos fabris estão
a deixar de ser inspecionados de modo

4 8 . EXAM E . MARÇO 2023


A MELHOR INFORMAÇÃO
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TRAZER AMOSTRAS DE MARTE PARA A TERRA


A primeira cápsula espacial desenvolvida para recolher amostras de solo em Marte foi desenhada e concebida em Portugal

> RECOLHER LÁ, ESTUDAR CÁ Esta é colocada no interior da Marte). Mais importante é a sua reduzir a massa da cápsula em
cápsula maior, que será outra leveza, pois cada grama que se cerca de 25% do que estava
Este foi um pedido da Agência vez lançada para a órbita do coloca no espaço custa vários definido inicialmente como valor
Espacial Europeia (ESA) para que Planeta Vermelho para ser milhões de euros. máximo. As entidades nacionais
fosse desenvolvida uma cápsula recolhida pela nave. eliminaram ainda alguns siste-
capaz de recolher amostras O revestimento final da cápsula > “MADE IN PORTUGAL” mas auxiliares de atenuação de
do solo de Marte. Os estudos principal é feito em cortiça, um cargas de impacto e reduziram
realizados até agora foram material que aguenta altas tem- O projeto foi concebido por os custos de produção.
feitos no Planeta Vermelho e os peraturas e que tem uma boa várias entidades portuguesas,
resultados enviados, poste- absorção do impacto (necessá- nomeadamente a Amorim Cork > DESAFIO SUPERADO
riormente, para a Terra. Com o rio para a aterragem no solo de Solutions, a Critical Materials, o
novo conceito, a ESA pretende ISQ e o Polo de Inovação Com este projeto, as empresas
recolher amostras e estudá- em Engenharia de portuguesas conseguiram dar
-las nos seus laboratórios, já Polímeros. A resposta às exigências da ESA,
na Terra, onde poderão ser solução made que pretendia uma cápsula com
utilizados outros recursos para in Portugal as caraterísticas termomecâni-
obter resultados mais precisos. conseguiu cas otimizadas a uma reentrada
A cápsula desenvolvida por atmosférica passiva que dispen-
este consórcio nacional terá um sasse o auxílio de paraquedas
diâmetro pouco superior a um ou outros sistemas auxiliares
metro e integra no seu interior de atenuação de forças de
uma outra cápsula em titânio. impacto na fase de contacto
Após a aterragem em Marte, os com a superfície terrestre. E
robots irão recolher uma amos- que, ao mesmo tempo, fosse
tra do solo, que será colocada capaz de assegurar a integri-
dentro da cápsula de titânio, a dade estrutural do reservatório
qual ficará totalmente selada. com as amostras.

tradicional, com inspeções físicas, pas- financiamentos, para saber se um deter-


sando o processo a ser feito através de sen- minado projeto que é submetido à insti-
sores. E, no futuro, ainda evoluirá mais. tuição bancária está de acordo com as es-
“Nós temos vindo a alterar as competên- pecificações exigidas, no âmbito das green
cias”, diz Pedro Matias, que explica: “cada bonds, por exemplo”, diz Pedro Matias.
vez mais fazemos a inspeção aos sensores Para o gestor, o ESG traz novos produtos
que inspecionam o equipamento. No fu- e serviços que podem ser feitos pelo ISQ
turo, passaremos a inspecionar o softwa- e que irão gerar muito trabalho no futuro.
re que faz a monitorização dos sensores.” O ITER é um Por fim, Pedro Matias quer dar uma
Outras das áreas em que o ISQ irá in- maior ênfase à internacionalização do
vestir é na implementação de estratégias dos projetos ISQ. “Portugal já é muito pequeno para
de padrões ambientais, sociais e de gover- mais importantes continuarmos a crescer”, garante. Apesar
nança corporativa que elevam o nível de que estão a ser de já ter atividade em 14 países, o gestor,
compromisso das empresas com a susten- quando lhe perguntamos quais os países
tabilidade, o chamado ESG. “Existe uma desenvolvidos para onde quer crescer, responde que a
cada vez maior pressão da sociedade sobre e que irá mudar atividade do ISQ “não depende de geogra-
as empresas, para que estas práticas sejam o padrão fias. Nós temos de ir para onde os projetos
adotadas. Nós já estamos a dar formação estão. O nosso foco na internacionalização
e a ajudar setores, como a banca, em que de consumo é ir atrás das competências, das tecnolo-
fazemos avaliação de conformidade de de energia” gias e da criação de valor”. E

5 0 . EXAM E . MARÇO 2023


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Para PME,
capacidade
de adaptação
é sobrevivência
Pierre Stark, responsável da Benamôr, falou com
a EXAME sobre como o passado deve dar diretivas
para o futuro, sem travar a inovação e a ambição
Texto Margarida Vaqueiro Lopes Fotografia Marcos Borga

Q
uando comprou a que tem consumidores cada vez mais exi-
Sociedade de Perfu- gentes e que não sabe funcionar de outra
marias Nally, com Fi- forma, a não ser com total respeito pelas
lipe Serzedelo, Pierre boas práticas, hoje englobadas no chapéu
Stark sabia que tinha da sustentabilidade.
em mãos, além de uma fábrica cheia de “Nós temos o mesmo fornecedor des-
conhecimento, uma marca com qualidade tas bisnagas desde 1926. É a Sociedade
e reconhecida pelos portugueses – afinal, Portuguesa de Alumínio, que hoje é uma
quem não cresceu com o creme de rosto empresa de capital espanhol e que está a
Benamôr na casa de banho? Era, portan- produzir imenso para o mundo da cos-
to, necessário reposicioná-la e torná-la mética, que, entretanto, se desenvolveu.
conhecida internacionalmente, mas os É uma empresa bastante interessante que
valores, a inovação e a sustentabilidade se adaptou. Ficámos com esta fidelidade,
eram predicados que já existiam e que só com este acompanhamento… Acho esta
precisavam de ser mais explorados. história muito importante”, partilha Pier-
“A bisnaga de alumínio é o produ- re num português perfeito, traído apenas
to mais emblemático que temos e sem- pelo delicioso sotaque francês que, pos-
pre tivemos, porque o próprio creme de sivelmente, nunca perderá – e ainda bem. tar o que foi feito, mas temos também de
rosto, na fórmula de 1925 [entretanto Pierre e Filipe adquiriram a Nally em ter a cabeça no futuro”, resume Stark. “O
melhorada], sempre foi embalado, pro- 2015 e, além de terem mantido as pessoas que aconteceu no século XX tem que ver
duzido e preparado dentro de uma bis- que trabalhavam na fábrica do Carregado, com esta história de evolução e de adapta-
naga de alumínio”, começa por lembrar dedicaram-se a capitalizar a história de ção”, para a qual todas as PME devem es-
o CEO da Nally. E porque esta informa- quase 100 anos, que a Benamôr guardava tar preparadas, lembra. “Antes de mais, é
ção é importante? Porque “é um material e que tão bem honrava com produtos que uma história de fábrica. Esta empresa, que
que, na altura, não tinha muito que ver tinham mantido a qualidade, adaptando- é a sociedade de perfumaria Nally criada
com a sustentabilidade, mas hoje tem: é -se às regras agora aplicadas à indústria da nos anos 1930, um pouco depois da funda-
o símbolo do perfect loop da reciclagem. cosmética, usando cada vez mais produtos ção da Benamôr, foi uma fábrica que, num
A reprodução deste material vai poupar naturais e alterando o mínimo possível as primeiro momento, criou muitas marcas,
95% de energia, depois da primeira vez fórmulas originais. “Havia tudo para fa- tinha grande criatividade e instalações no
(a sua produção é um bocadinho exigen- zer, mas, como tudo na vida, aproveitámos centro do Campo Grande. E criou imensas
te em termos de requisitos de energia), e muito do passado… Numa empresa cria- coisas de cosmética – aqui a inovação e a
tem uma reciclagem infinita, guardando da de raiz, quando comparada com uma criatividade aparecem mesmo como drive
as propriedades e a qualidade”. Ou seja: antiga, a parte da inovação não é o desa- destas pessoas, que pertenciam a uma fa-
aquilo que foi feito por intuição, no início fio mais importante ou o mais duro. Uma mília muito criativa, os Abecassis [uma fa-
do século passado, é hoje um dos maiores empresa como a nossa não pode parar de mília de industriais, que detinha também a
ativos da marca – uma marca que sabe olhar para o que existe. Temos de respei- Lusalite, Cel Cat e a Mundial Seguros, além

5 2 . EXAM E . MARÇO 2023


as coisas. O passado tem de ser transfor-
mado com muita inovação, e só consegui-
mos fazer isso com uma equipa alinhada
com esta visão de mudar e não de gerir
o existente. É necessário ter pessoas que
não aceitem um passado como uma coisa
inerte”, salienta.
A Nally tem uma equipa de Investi-
gação e Desenvolvimento que se dedi-
ca, precisamente, a monitorizar o que
de melhor se faz no mundo, para poder
responder em conformidade e para que
os cremes Benamôr continuem na van-
guarda da cosmética. Sob a marca Nally,
a fábrica do Carregado mantém a produ-
ção de produtos para outras casas, ten-
do sido essa operação que permitiu, por
exemplo, que a empresa atravessasse o
período da pandemia sem nunca parar e
sem recorrer a apoios do Estado. Durante
o período de confinamento, os funcioná-
rios das seis lojas Benamôr existentes em
Lisboa foram trabalhar para a fábrica – “é
Esta é uma algo de que me orgulho muito”, confessa
história o CEO –, compreendendo que tudo fazia
parte de uma estratégia de longo prazo e
de adaptação que era preciso manter a operação a fun-
e de preservação cionar, para que a faturação não ficasse
de capital; comprometida.
Atualmente, a Nally fatura cerca de €9
uma adaptação milhões, sendo que a Benamôr represen-
muito radical” ta uma percentagem muito reduzida des-
se valor, cerca de 3%. “A nossa empresa
Pierre Stark engloba dois projetos bastante diferentes
CEO da Nally
e, às vezes, complementares: um deles é
o das marcas, em que o marketing e as
fórmulas e o retalho são os drivers prin-
de estruturas em Angola e Moçambique]. rou até à nossa compra em 2015. A ino- cipais; o outro projeto é uma fábrica. O
Nos anos 70 e 80, quando as marcas portu- vação e a adaptação ao novo paradigma que a faz mexer, o que faz com que uma
guesas ficaram um bocadinho em segundo são fundamentais para a manutenção das fábrica se desenvolva de uma forma sus-
lugar, face às marcas internacionais, a fá- empresas”, avisa. Para Pierre, esta é uma tentável?” É esta noção do que são as prio-
brica teve de mudar as prioridades de pro- das mais importantes lições para os em- ridades e do que pode alimentar o quê,
dução e de desenvolvimento e, portanto, presários, sobretudo aqueles de organi- a cada momento, que garante o sucesso
centraram-se naquilo que se chamava, na zações com menor dimensão: “É preciso de uma empresa”, esclarece Pierre, lem-
altura, marca branca. Produziram para identificar prioridades, assumi-las e levar brando que tanto ele como Filipe inves-
marcas de terceiros, para o mass market isso de forma frontal. Uma fábrica é uma tiram tudo o que tinham para comprar
português”, recorda Pierre. fábrica, uma marca é uma marca, e têm a empresa. Agora, ela só pode dar certo.
Um movimento que, apesar de ter objetivos diferentes. Nós temos de assu- “Não estou a dizer que é o modelo mais
posicionado a Nally num patamar me- mi-los com coragem”, resume. “Acima de fácil, mas, para nós, é interessante e tem
nos nobre em termos de reputação, per- tudo, é preciso reduzir a margem de erro. funcionado”, conclui, animado.
mitiu que a empresa chegasse ao século O segredo de tudo não é a visão de uma Pierre Stark falou com a EXAME no
XXI. “Esta é uma história de adaptação e pessoa, não é a convicção de um projeto. âmbito do ciclo de conversas Traduzir
de preservação de capital; uma adapta- Acho mesmo – e não quero parecer banal Sustentabilidade em Negócio. Descodi-
ção muito radical. E não estamos a falar – que o segredo de tudo reside na equipa. ficar ESG para PME, que resulta de uma
somente de cosmética, mas também de Na sorte e no talento (às vezes, os dois!) parceria entre a EXAME e a Flexdeal, dis-
um negócio que se desenvolveu e perdu- de ter connosco pessoas que vão mudar ponível na íntegra no site da EXAME. E

MARÇO 2023 . EXAM E . 53


Macro
EXAME

ECONOMIA . TENDÊNCIAS . SOCIEDADE

NO JOGO
DA INFLAÇÃO,
OS TRABALHADORES
ESTÃO A LEVAR
UMA GOLEADA
Com um poder negocial muito diminuído, os trabalhadores estão
a suportar, com baixa resistência, perdas de rendimento real.
Deve o combate à inflação ser também visto como uma relação de poder?
Existe outra forma de travar a subida dos preços?
Texto Nuno Aguiar

5 4 . EXAM E . MARÇO 2023


GETTYIMAGES

MARÇO 2023 . EXAM E . 55


Macro

Q
Quando Lionel Messi meteu o primeiro
drible em Joško Gvardiol quase no meio-
-campo, o público que assistia à meia-final
entre a Argentina e a Croácia começou a
levantar-se das cadeiras. No final do lance,
tinha o melhor jogador do mundo engana-
do o central croata e assistido Julián Álvarez
para o golo que fechou o jogo, não deveria
restar uma pessoa sentada no Estádio Lu-
sail. A experiência que estamos a viver na
economia não é muito diferente: empresas
e trabalhadores têm de se ir “levantando” se
quiserem continuar a “ver o jogo”, subindo
GETTYIMAGES

preços ou pedindo aumentos de salários,


num ciclo contínuo.
Esta é uma forma (não totalmente con-
sensual) de olhar para a inflação. Em vez de
nos focarmos simplesmente no fenómeno da recuperação da pandemia e da guerra
monetário, podemos entender a subida ge- PODER NEGOCIAL na Ucrânia. Os preços atingiram recordes
neralizada de preços como uma coleção de % de trabalhadores sindicalizados de várias décadas e motivaram os bancos
Os sindicatos foram perdendo força
microdecisões diárias, numa tensão per- centrais a responder com uma das mais
um pouco por todo o mundo
manente entre diferentes interesses. Ma- agressivas e abrangentes subidas de juros
térias-primas ficam mais caras, as empre- PORTUGAL de sempre, castigando a economia. Neste
sas sobem os seus preços, outras empresas 75% momento, as famílias vivem o pior de dois
(clientes ou concorrentes) reagem, os tra- mundos: conta de supermercado ainda a
OCDE
balhadores exigem salários mais altos, fa- 37,9% crescer e juros a fazerem já disparar a pres-
PORTUGAL OCDE
zendo as empresas aumentar ainda mais tação da casa. As dificuldades em lidar com
os preços e regressando ao início do ciclo.
15,3% 16,2% o fenómeno de forma equitativa fazem le-
No entanto, não é exatamente isso que está vantar a questão: poderia ser diferente?
a acontecer. Nem todas as rodas dentadas 1973 2016 O tiro de partida neste debate foi dado
dessa engrenagem estão a girar. A forma por Olivier Blanchard. Enquanto ex-econo-
como a sociedade lida com a subida de pre- % de trabalhadores abrangidos mista-chefe do FMI e um dos nomes mais
ços é um reflexo das suas relações de po- por acordo de contratação coletiva respeitados na macroeconomia, quando ele
der. E, pelo menos para já, ficou exposta a Em Portugal, a maioria dos trabalhadores fala, o mundo económico ouve e reage. “Um
impotência dos trabalhadores. continua abrangida ponto que é frequentemente esquecido nas
Embora seja um dos indicadores econó- PORTUGAL discussões sobre inflação e política monetá-
PORTUGAL
micos mais importantes que temos, a infla-
68% 73,6% ria: a inflação é fundamentalmente o resul-
ção não tem sido especialmente discutida, OCDE tado de um conflito distributivo, entre em-
fruto de décadas de preços controlados, in- 48,6% OCDE presas, trabalhadores e contribuintes. Ele
cluindo episódios de deflação recente, de- 32,1% para quando os vários atores são forçados
safiando até o que achávamos que sabíamos a aceitar o resultado”, escreveu no Twitter.
sobre a economia. Isso mudaria em 2022, Blanchard explicava que o Estado pode to-
com a explosão inflacionária que nasceu 1978 2018 mar algumas medidas, mas o essencial do

5 6 . EXAM E . MARÇO 2023


Relação de poder
A perda de capacidade
negocial dos trabalhadores
ajuda a explicar a falta de
resistência às perdas de
poder de compra > INFLAÇÃO
12
10 A totalidade dos preços já começou
claramente a desacelerar, mas
8 a inflação “core” (sem combustíveis
e alimentos) parece resistir
6
4 INFLAÇÃO:QZONA EURO QPORTUGAL
INFLAÇÃO “CORE”:QZONA EURO QPORTUGAL
2
0
2
012019 012023

6
5 QSALÁRIOS NOMINAIS QSALÁRIOS REAIS
4
3
2
1
0
1
2 > VARIAÇÃO DOS RENDIMENTOS EM PORTUGAL
3
4 Para as famílias portuguesas, a subida dos salários
5 está longe de compensar o agravamento dos preços,
provocando enormes perdas de poder de compra
6
JANEIRO DEZEMBRO
DE 2019 DE 2022
combate à inflação é normalmente deixado
aos bancos centrais, o que é “uma forma al- 10
tamente ineficiente para lidar com conflitos
distributivos”. 8
Nada disso é particularmente revolucio-
nário. Mas pode fazer franzir alguns sobro-
6
lhos, ao questionar a história simples que > TAXA DE DESEMPREGO
4
normalmente nos contam: é preciso subir
O mercado de trabalho tem-se aguentado, mas QZONA EURO QPORTUGAL
os juros, para arrefecer a economia (possi- 2
velmente aumentando o desemprego), e evi- esta subida recente do desemprego preocupa
tar que os salários subam muito para não ser 0
criada uma espiral inflacionista. É uma dor 012019 122022
passageira à qual é impossível escapar, o pre-
> JUROS DO BCE
ço a pagar para normalizar a economia. 5
“Corretamente interpretada, esta ideia
Estamos a viver a mais
[da inflação como problema de distribui- 4 agressiva subida de juros
ção] não é completamente nova. É até eco- de sempre na Zona Euro
nomicamente muito intuitiva”, refere Iván
3
Werning, professor de Economia do MIT, em
resposta à EXAME. “Contudo, é frequente-
mente ignorada a ideia de que a inflação re- 2
sulta de um desequilíbrio ou de uma tensão
nos preços relativos. Se as empresas querem 1
uma margem de lucro mais alta e os traba-
lhadores querem salários reais mais altos, há 0
uma incompatibilidade. Isso leva a inflação.” 31011999 28022023

MARÇO 20 2 3 . EXAM E . 57
Macro

IVÁN WERNING / Professor no MIT


“A PANDEMIA E A CRISE
ENERGÉTICA COLOCARAM
NOS NUMA SITUAÇÃO NOVA”
Iván Werning diz à EXAME que os economistas têm de ir mais
longe para perceber como evitar os custos para os trabalhadores

Sabemos o suficiente Qual é a desvantagem de


sobre o que provoca outras soluções?
inflação? Acho que a ideia é abrir a
É uma excelente pergunta. discussão, estamos longe
Por um lado, os econo- de propor políticas espe-
mistas sabem muito sobre cíficas, pelo menos com
inflação e existe muito algum consenso. A política
consenso nalgumas áreas. monetária continua a ser a
Por exemplo, inflação ferramenta principal para li-
persistentemente elevada dar com a inflação. Dito isto,
(como atualmente na a questão relevante é se há
Argentina), deve-se a má situações especiais, como
política monetária, desde Corretamente interpre- a atual crise energética,
aumentar a massa mo- tada, esta ideia não é em que talvez queiramos
netária a financiar défices completamente nova. recorrer a políticas e insti-
orçamentais. Embora hoje É até economicamente tuições complementares. Werning foi um dos economistas que
seja menos comum, esta muito intuitiva. Contudo, é Como é que os sindicatos entraram no debate online, com o Twitter
situação foi responsável por frequentemente ignorada e as negociações afetam a transformar-se, por alguns dias, numa
muitas inflações eleva- a ideia de que a inflação o resultado? Poderíamos conferência gigante sobre inflação. Vários
das ao longo da História. resulta de um desequi- coordenar uma forma de economistas quiseram entrar na discussão,
Esse é um conhecimento líbrio ou de uma tensão reduzir a inflação? Subsí- da economista-chefe do Tesouro francês ao
importante. Por outro lado, nos preços relativos. Se as dios temporários aos con- principal conselheiro económico de Joe Bi-
quando nos afastamos empresas querem uma sumidores para lidar com o den, que elogiou Blanchard por trazer para
dessas situações extremas, margem de lucro mais alta preço da energia ajudam? o debate “a importância do poder” para ne-
continuamos a saber e os trabalhadores que- É este tipo de questões que
gociar e fixar preços.
muito, mas existem menos rem salários reais mais temos de considerar de for-
altos, há uma incompatibi-
O Nobel da Economia Paul Krugman
certeza e consenso. Algu- ma mais aberta, mas ainda
mas situações são mais lidade. Isso leva a inflação. não temos respostas. também deu o seu contributo, escrevendo
subtis ou menos comuns, Esta perspetiva não está no New York Times um texto onde compara
portanto temos menos em conflito com a visão Os trabalhadores estão o momento inflacionário com adeptos a le-
experiência com elas. Acho tradicional atribuída à po- a ser excessivamente vantarem-se nas bancadas quando o jogo de
que a pandemia e o que se lítica monetária. A política penalizados? futebol aquece. “As empresas que cobram
lhe seguiu, assim como a monetária tem um papel Esta é a preocupação: po- preços mais elevados e os trabalhadores que
crise energética na Europa, ao reduzir o consumo, o demos encontrar uma for- exigem salários mais altos não o estão a fa-
colocaram-nos numa situa- que diminui as vendas e o ma melhor de evitar esses zer porque a massa monetária aumentou;
ção relativamente nova. Isto emprego e pode moderar custos? Os economistas estão a tentar aumentar o seu rendimento
testa o nosso conhecimen- os objetivos para lucros e sempre se preocuparam
(ou suavizar perdas de rendimento provo-
to e obriga-nos a pensar de salários, equilibrando-os. com o impacto que diminuir
Mas, ao compreender a
cadas, por exemplo, por subidas do preço
forma mais profunda sobre a inflação tem no emprego.
inflação, as suas origens, fonte da inflação, isso abre Eu acredito que a teoria e a da energia)”, sublinha o economista. “E a
efeitos e políticas a adotar. a porta a um conheci- prática de política monetária inflação acontece quando os esforços das
mento mais profundo e, minimizaram esse risco, empresas e dos trabalhadores para ficarem
O que significa dizer que a possivelmente, a outras mas precisamos de ir mais com uma fatia maior da tarte são inconsis-
inflação é um problema de soluções políticas e insti- longe e explorar se pode- tentes, quando o maior poder de compra
distribuição? tucionais. mos fazer melhor. exigido excede aquilo que a economia con-
segue dar.”

5 8 . EXAM E . MARÇO 2023


Conservador
O Governo português tem tomado
medidas para mitigar o efeito da inflação,
mas têm sido relativamente contidas

“No final, terão os dois de ajustar o mes- Outra hipótese é os trabalhadores esta-
mo. Mas será nos próximos seis meses? Seis rem convencidos da narrativa de que é pre-
anos? E a que ritmo? E será essa a fase fi- ciso evitar grandes aumentos nesta altura,
nal do processo? Perceber este conflito é a para não criar uma espiral inflacionista –
chave para saber se vamos ter inflação forte mesmo que ela não exista, como reconhe-
durante anos ou se está prestes a descer.” ce o próprio Banco Central Europeu (BCE).
“Não se está a verificar uma espiral de
TRABALHO CILINDRADO subida dos salários. Isto quer dizer que, na-
Ao aceitarmos que há um conflito no cora- turalmente, os trabalhadores estão a per-
ção da inflação, isso significa sermos con- der poder de compra (em termos reais)”,
frontados com vencedores e derrotados. E, reconhece Catarina Martins, investigadora
até agora, mantendo a metáfora futebolís- do Bruegel. “No entanto, a subida imediata
tica, os trabalhadores estão a levar uma go- dos salários para corrigir esta disparidade
leada. não é aconselhada, uma vez que isso iria
Um pouco por todo o mundo, há per- contribuir ainda mais para a continuada
das generalizadas de poder de compra, em subida dos preços. Após a estabilização do
certos casos dramáticas, como acontece nal- processo inflacionário, aí sim, podem ser
guns países europeus. Em Portugal, os da- feitos ajustes.”
dos do último trimestre do ano mostram Talvez o conformismo não seja bem
uma quebra dos salários reais superior a um mistério. Afinal, as últimas décadas
5%. Embora os rendimentos até estejam a trouxeram uma quebra drástica no poder
crescer, estão longe de compensar a esca- negocial dos trabalhadores, traduzida em
MARCOS BORGA

lada dos preços. Ao sentir-se mais nos bens diminuições generalizadas das taxas de sin-
alimentares – parece ser a categoria mais dicalização e menor relevância da contrata-
resistente à descida –, a inflação acaba tam- ção coletiva. Em Portugal, a percentagem
bém por ser um fardo maior para as famílias de trabalhadores sindicalizados passou de
mais pobres. 75% na véspera da Revolução de 1974 para
Faria sentido que este fosse um momen- perto de metade em 1984 e para cerca de
to de alta tensão, com protestos e greves 15% em 2016. A descida é transversal aos
agressivas. Há alguns exemplos localizados. países da OCDE.
Tem havido uma Em Portugal, os professores estão na rua, “Faz parte das dificuldades. Tem havi-
mudança na mas o seu protesto deve-se mais a decisões do uma mudança na relação de poder. Os
passadas (congelamento das carreiras) do trabalhadores já foram mais fortes, os sindi-
relação de poder. que propriamente ao momento atual. Em catos também”, reconhece Paul de Grauwe,
Os trabalhadores já França, as manifestações foram motivadas professor da London School of Economics
foram mais fortes, os pela subida da idade da reforma. O mun- e vice-presidente do Conselho das Finan-
do não está a fervilhar com protestos. E o ças Públicas.
sindicatos também” ímpeto pode já ter passado: um pouco por Recentemente, tem havido bastante re-
Paul de Grauwe
toda a Europa, os salários parecem estar já flexão sobre como essa transformação tem
London School of Economics
a desacelerar. sido prejudicial em várias facetas da econo-
Talvez esta tensão social de baixa fre- mia, incluindo a lentidão de subida de salá-
Para que uma situação destas se resol- quência se deva a um mercado de traba- rios, a desigualdade e até o crescimento eco-
va, ou entramos numa tão temida “espiral”, lho relativamente estável, sem as vagas de nómico. A pandemia pode ter agravado este
com consecutivos aumentos de preços/sa- desemprego que marcaram a crise ante- problema. Trabalhadores que não se veem
lários, ou alguém terá de aceitar o custo do rior. Pelo contrário, nos EUA, a taxa de de- terão mais dificuldade em se coordenarem.
ajustamento: os lucros das empresas ou os semprego é a mais baixa desde 1969. Em A falta de contestação surpreende mais
salários dos trabalhadores. Portugal, nem durante o pico da pandemia quando vamos assistindo a lucros recorde
Ricardo Reis tem dúvidas na utilização o desemprego explodiu, embora duas re- registados por grandes empresas, como foi
da expressão “conflito” para descrever este centes subidas, em novembro e dezembro, o caso da Galp (881 milhões em 2022) e da
processo. Prefere “ajuste dinâmico”. Mas re- talvez mereçam um alerta amarelo (a taxa Navigator (duplicaram para 393 milhões). A
conhece que entender o fenómeno é impor- está agora em 6,7%). Por outro lado, um am- EDP, que ainda não apresentou resultados,
tante. “Nos últimos 12 meses, tivemos um biente de desemprego baixo e empresas re- tinha até setembro os lucros mais elevados
ajustamento grande dos preços e um mui- correntemente a queixaram-se de falta de em cinco anos. NOS e Jerónimo Martins ob-
to menor dos salários”, explica à EXAME o mão de obra deveria aumentar a capacidade tiveram também uma melhoria significativa
professor da London School of Economics. reivindicativa. de resultados no terceiro trimestre.

MARÇO 2023 . EXAM E . 59


Macro

Se juntarmos a isto a ideia de que grande


parte da pressão sobre os preços é externa
(energia e outras matérias-primas), pode
parecer que a cautela com aumentos sala-
riais é desnecessária e o esforço exigido pelo
BCE na subida de juros é gratuito.
“Do que precisamos é de um modelo
de inflação e de decisão política adequado
às condições existentes em 2023 de extre-
ma assimetria de poder negocial, demo-

GETTYIMAGES
cracia num impasse e consequente falta de
protesto social, mesmo quando os salários
reais estão a sofrer”, escreveu recentemen-
te o historiador económico Adam Tooze.
“Quaisquer que sejam as nossas posições gramas de apoio, compra de dívida, fundo
sobre sindicatos, cabe-nos a nós pelo menos comum na UE, controlo de preços, subsí-
registar a novidade da situação.” dios, cheques para todos – parece, aliás, o
Porém, pode argumentar-se que esta que andamos a fazer desde que as primei-
história ainda só está a começar e, portan- A subida imediata ras pessoas começaram a tossir em Wuhan
to, nesta tensão trabalho-capital, é possível dos salários não é e Vladimir Putin enviou tanques para o
que dentro de alguns anos as coisas deem Donbass. “A Fed não é a única saída. O go-
a volta. É essa a hipótese de Ricardo Reis. aconselhada, iria verno chegou-se à frente. Os preços da ga-
“Vamos dar um ano. No último ano, os capi- contribuir ainda mais solina estão abaixo do valor aquando da in-
talistas ficaram a ganhar e os trabalhadores para a continuada vasão da Ucrânia. Isso não foi a Fed, foi a
a perder. Mas vamos dar mais um ano, ano Casa Branca”, escreveu a economista Clau-
e meio, para ver como é que os trabalhado- subida dos preços” dia Sahm. “O Congresso aprovou a Lei de
res recuperam ou superam”, diz à EXAME. Catarina Martins
Redução da Inflação, com a nossa primeira
Bruegel política de alterações climáticas, que ajuda-
PODEMOS SONHAR? rá a proteger-nos de picos futuros de preços
O que pode então ser feito? Não é fácil fazer de energia nos mercados de combustíveis
prescrições. Não atuar para baixar a inflação distribuiu cheques pelas famílias e assinou fósseis. É possível muito mais.”
seria incomportável para as famílias, prin- um acordo de concertação social que prevê O que sobra? No arranque desta discus-
cipalmente as mais pobres. A forma como aumentos de mais de 5%. são, Blanchard defendia que devíamos ter
se convencionou lidar com uma subida de Mas têm sido medidas muito cautelo- uma forma de resolver o conflito na origem
preços parece poder ser resumida por “cara, sas. Veja-se o caso da Função Pública, cujos da inflação, coordenando os diferentes in-
os ricos ganham, coroa, os pobres perdem”, aumentos servem de referência para o resto teresses. Num mundo imaginado, empre-
como escreveu Leah Downey, na Foreign da economia. Os trabalhadores com salá- sas e trabalhadores sentavam-se à mesa e,
Policy. É também um debate que faz tre- rios mais baixos tiveram aumentos em li- coordenados por algum poder centralizado,
mer alguns economistas, porque muito nha com inflação, mas à medida que se sobe acordariam como iriam repartir o esforço
facilmente se começa a questionar a inde- na escada remunerativa, vão deixando de neste momento mais difícil. Na metáfora
pendência destas instituições. Mas deve um acompanhar. Está também por provar que futebolística, seria como convencer todas
problema tão central ser deixado totalmente os incentivos no acordo de concertação se- as pessoas do estádio a sentarem-se para
nas mãos de instituições sem responsabili- jam suficientes para convencer as empresas podermos continuar a ver o jogo.
zação democrática? a dar aumentos de 5%. “Isso é sonhar”, diz Paul de Grauwe.
Entre os responsáveis eleitos, há mar- A esquerda tem pedido mais atuação no “Não nos sentamos à mesa para resolver es-
gem para fazer mais? As políticas alternati- controlo de preços, mas as experiências do tes problemas. O banco central tem de fazer
vas mais vezes mencionadas são o controlo passado devem servir de alerta. As inicia- o seu trabalho, nem que provoque uma re-
dos preços (ou das margens das empresas), tivas nos anos 70, nos EUA, de Richard Ni- cessão, o que é sempre muito mau.”
subsídios às famílias e coordenação ou si- xon, ainda provocam arrepios e memórias Não significa que devamos desistir. “Eu
nalização na subida de salários. Em parte, de longas filas e escassez de bens. Alguns acredito que a teoria e a prática de políti-
esse caminho já começou a ser feito. O Go- economistas, contudo, admitem que numa ca monetária minimizaram o risco [de dor
verno português avançou com um controlo economia de guerra, como a Europa parece económica], mas precisamos de ir mais lon-
do preço do gás natural, subsidiou a com- viver, deve tentar-se o impensável, de forma ge e explorar se podemos fazer melhor”, diz
pra de combustíveis, aumentou os salários temporária e localizada. Werning à EXAME. Talvez seja tarde para o
dos funcionários públicos e apoios sociais, Experimentar o impensável – megapro- fazer nesta crise. E

60 . EXAM E . MARÇO 2023


RICARDO REIS / Professor na London School of Economics
“OS TRABALHADORES FICARAM A
PERDER, MAS VAMOS DAR MAIS UM ANO”
Ricardo Reis explica à EXAME o que sabemos sobre o que provoca inflação e aponta
as dificuldades em escapar a este momento transitório de dor económica

Sabemos exatamente o que Mas poucos economistas dirão e recessões. Podemos chamar OK, é difícil fazer. Mas faria
provoca inflação? que o banco central não tem “conflito” a este processo de ajuste sentido?
Sim. Política monetária. Ponto final. nada a ver com inflação. dinâmico, como fez Blanchard. Faria sentido fazer num mundo
Exatamente. Não há um campo Estamos os dois a correr para ver ideal, mas que eu chamaria de
E existe algum debate? razoável que não ache que o banco quem ajusta primeiro. Porque é absurdo. Num momento de
Sim. Como eu tenho uma posição central não tenha um papel central relevante hoje? Nos últimos 12 negociação, que sabemos que
forte nesse debate, aquela é uma na inflação. Onde existe muita meses, tivemos um ajustamento é custoso, a ideia de que vamos
versão resumida do que eu penso. discordância é até que ponto, faça grande dos preços e um muito todos ajustar preços e salários
Claro que há debate. A inflação o banco central o melhor que con- menor dos salários. No final, terão ao mesmo tempo em 10% e que,
é um dos principais agrega- siga, não há uma série de choques os dois de ajustar o mesmo. Mas depois disso, vamos negociar se
dos macroeconómicos, como e mudanças que puxam os preços será nos próximos seis meses? devo receber mais ou menos é
crescimento, consumo, poupança para cima e para baixo. Vêm daí Seis anos? E a que ritmo? E será a irrealista.
ou desigualdade. Seria muito as teorias que colocam ênfase fase final do processo? Perceber
estranho que houvesse consenso. na política orçamental, há teorias este conflito é a chave para saber Em parte, este debate surge
Mas não quer dizer que não sai- políticas (porque o banco central é se vamos ter inflação forte durante porque os trabalhadores parecem
bamos imenso. E, para as pessoas uma divisão do Estado), há teorias anos ou se está prestes a descer. estar a sofrer e a aceitar grandes
não dizerem que os economistas de conflito que se concentram em perdas de poder de compra.
não sabem o que estão a dizer, se quem fixa preços e salários… Essa leitura pode levar-nos a Vamos dar um ano. No último ano,
perguntar o que causa o cancro, achar que é possível centralizar os capitalistas ficaram a ganhar e
também há dezenas de teorias, E é nessa última tradição que uma negociação para resolver os trabalhadores a perder. Mas va-
umas mais consistentes umas se enquadra aquela perspetiva essa tensão entre trabalhadores mos dar mais um ano, ano e meio,
com as outras. Na economia, não de a inflação ser um problema e empresas. Seria difícil? para ver como é que os trabalha-
quer dizer que uma teoria esteja de distribuição, sublinhada por Sim, porque estarias a centralizar dores recuperam ou superam.
totalmente certa ou errada, é mais Blanchard. toda a economia. Nos anos 80,
que uma contribui mais ou menos Vamos imaginar que há um choque quando estávamos a reduzir o ní- Mas, se calhar, é isso que está a
e o que se quer enfatizar. que leva a mudanças de preços. vel de inflação, tivemos de aceitar motivar a discussão.
Se duplicássemos os preços, num salários e preços menores para É uma reflexão do que dizia antes.
Qual é a visão prevalecente? mundo absurdo, os preços salta- acabarmos todos iguais. Apren- Os trabalhadores vão sentar-se
Uma visão também chamada de riam todos de 1 para 2 euros. Mas demos que os países onde havia com os capitalistas e ver quanto
“monetarista”, que talvez seja não existe esse mecanismo de sindicatos e negociação salarial deve aumentar o salário. Podemos
a que recolhe mais apoiantes coordenação. Tu sobes para 1,5, eu conseguiram fazer esse ajuste de dizer que deverá ser repartido,
entre os economistas, diz que o mantenho em 1, depois subo para forma mais rápida. O problema mas haverá uma negociação, em
banco central tem sempre um 1,7 e acabamos nos 2, num proces- aqui é que o sindicato quer que o que o trabalhador dirá que tem de
papel central no que determina so iterativo, que demora meses salário suba mais do que o preço. ficar a ganhar porque perdeu antes
a inflação. E porquê? Um euro é e mesmo anos. É um processo Se se conseguisse separar [nomi- e a empresa dirá que se mudará
uma célula com o teu nome e um que traz imensa dor à economia nal vs. real], tudo bem. Mas nunca para a China.
1 à frente. É uma entrada numa e ineficiência. Gera desemprego se conseguirá fazer isso.
folha de cálculo. O nível dos preços Este momento de ajustamento é
é quanto é que um euro vale em inevitável?
bens, como o meu telefone. A “Seria muito Houve um choque grande e uma
inflação é a mudança do valor de
telefones numa entrada na folha
estranho que o tipo resposta da política monetária que
não foi adequada. Agora está a
de Excel. Quem controla a folha que desenha a folha recuperar terreno. É perfeitamente
de Excel? É o banco central. Seria
muito estranho que o tipo que
de Excel não tivesse razoável achar que a inflação den-
tro de 12 meses já caiu bastante e o
desenha a folha não tivesse nada a nada a ver com processo de ajustamento já estará
ver com a inflação. a inflação” concluído.

MARÇO 2023 . EXAM E . 61


Macro

DAVID BALLARD/Psicólogo

“Não faz sentido


chamar toda a gente
para o escritório
para terem reuniões
no computador
o dia todo”
A pandemia e as novas exigências ESG – com foco no “S”
– vieram alterar a forma como as empresas olham para o bem-
-estar dentro das organizações. Uma mudança de “chip”, que
David Ballard diz estarem criadas as condições para que seja
permanente, com benefícios para trabalhadores e empresas
Texto Marta Marques Silva Fotografia José Carlos Carvalho

D
avid Ballard esteve recen- sunto que é relevante para todos. Tornou-
temente em Portugal, a -se relevante para que as próprias empre-
convite da Ordem dos sas continuassem a operar, o que as levou
Psicólogos Portugueses a reagir rapidamente. Existe um trabalho
e da Confederação Em- de campo e normativo que tem décadas – a
presarial de Portugal, para falar sobre bem- Organização Mundial da Saúde emitiu tam-
-estar, produtividade e sustentabilidade das bém novas orientações após a pandemia – e
organizações. Psicólogo, liderou o progra- penso que as empresas começaram a per-
ma Center for Organizational Excellence ceber a sua importância. Mas em termos de
and Psychologically Healthy Workplace na implementação efetiva, de medição, de co-
American Psychological Association. Con- nhecer os seus resultados e a qualidade das
sultor de referência em empresas de todo o evidências, ainda está muito atrás do mun-
mundo, gosta particularmente de trabalhar do da saúde física e da segurança.
ao nível dos sistemas, onde diz que a psi-
cologia pode ter um impacto significativo O tema tornou-se mais premente porque
na definição de políticas e na cultura das existiu uma degradação da saúde psicoló-
organizações. gica dos trabalhadores com a pandemia?
Pegando nos EUA como exemplo, os níveis
A pandemia veio alterar a forma como as pré-pandémicos de casos clinicamente sig-
empresas olham para o impacto da saú- nificativos de ansiedade e depressão eram
de psicológica, não só no bem-estar e na de cerca de 11% da população. No final de
satisfação dos profissionais, mas também 2022, eram de 36% da população. Mais de
na produtividade das empresas? três vezes os valores pré-pandemia, e esses
Não sendo uma questão nova, a pandemia números são muito semelhantes aos que
colocou um foco sobre ela. De repente, dei- vemos noutros países, como o Reino Uni-
xou de ser um tema apenas para algumas do, a China, a Austrália e outros. Trata-se de
pessoas que poderiam estar a debater-se uma combinação de fatores – as pressões e o
com fatores de stresse, e tornou-se um as- stresse da pandemia, as mudanças no local

6 2 . EXAM E . MARÇO 2023


de trabalho, nas responsabilidades domés- cubículos e terem reuniões no computador
ticas, com as crianças em casa – e é difícil o dia todo. As pessoas ficam ressentidas por
perceber o que resulta do quê. Na American sentirem que estão a perder o seu tempo. Há
Psychological Association também fizemos que o fazer de forma ponderada e estraté-
alguns estudos sobre o impacto das tecno- gica. Quando as pessoas estão no escritó-
logias de comunicação relacionadas com o rio, vamos utilizar esse tempo para o tipo
trabalho, como emails, mensagens de texto, de trabalho em que é preciso colaboração
ou as plataformas de chat, mas aí, curio- e interdependências, ou um tipo de traba-
samente, encontrámos um mix de pontos lho mais criativo. E aí elas gostam de estar
negativos e positivos. presentes. Mas acho que são processos que
vão continuar a evoluir. As empresas devem
Que são...? ser flexíveis na sua flexibilidade. Aquilo que
Passamos a vida a ouvir falar sobre os pon- estão a fazer agora pode não resultar daqui
tos negativos e a necessidade de desconec- a um ano.
tar. E é verdade que pode ser opressor, pode
confundir os limites entre casa e trabalho São tendências que vieram, portanto,
– nunca estamos de folga, respondemos a para ficar.
emails ou mensagens à noite e aos fins de No início da pandemia, temi que fosse algo
semana. Mas também encontrámos pon- apenas reativo e que passados alguns meses
tos positivos, nomeadamente a flexibilidade voltássemos ao “velho normal”. Mas o facto
que isso deu às pessoas de poderem traba- de a pandemia se ter prolongado por tanto
lhar e responder nos horários que lhes fos- tempo, e ter sido tão disruptiva, manteve
sem mais convenientes. Descobrimos que este tema no centro das atenções e isso co-
a forma como as tecnologias afetam os tra- meçou a mudar a forma como fazemos as
balhadores tem mais a ver com quão bem coisas. E, portanto, já não era o “estamos a
são usadas para atender às necessidades e fazer isto para ultrapassar este momento e
expectativas de cada um. Se alguém sentir voltar ao normal”; começou a ser “é sim-
que é algo que tem de fazer, que é isso que plesmente a forma como fazemos as coisas”.
é esperado dela, e se isso se intrometer na Penso que isso, combinado com muitas di-
sua vida, então terá certamente mais pon- retrizes e com os recursos que apareceram,
tos negativos. É por isso que é importan- preparou o terreno para tornar o tema mais
te que os gestores conversem com as suas permanente. Mas, atenção, não basta colo-
equipas e clarifiquem as expectativas que car um “check” nas caixas corretas. Não
têm, como, por exemplo, que se enviarem basta ter os benefícios corretos, e os pro-
um email à noite ou ao fim de semana não gramas e as políticas. Eu conheci empresas
esperam uma resposta até ao dia de traba- que têm todos os benefícios e políticas que
lho seguinte. Mas se eles não deixarem essa possa imaginar, e quando pergunto aos fun-
expectativa clara, a pressão e as suposições cionários se gostam de trabalhar ali, como é
em torno disso levarão a problemas. que é o seu dia a dia, eles dizem-me “é terrí-
vel”. Não faz parte da cultura, é tudo muito
Trabalho totalmente remoto ou híbrido, superficial. A verdadeira cultura são as nor-
como iremos evoluir? mas, os valores, as crenças e os comporta-
O que muitos inquéritos nos mostram é que mentos que estão sob toda essa camada. Só
as pessoas gostam de ter a flexibilidade de são efetivos quando se tornam embebidos
trabalhar a partir de casa. Com o regresso na organização, na forma de fazer negócio,
Nas pesquisas ao local de trabalho, muitas vezes em mo- no plano estratégico global. Não pode ser
que realizei ao delos híbridos, o que nos contam é que con- algo compartimentado: “Aqui está a sua ini-
tinuam a não gostar das mesmas coisas de ciativa de bem-estar psicológico!”
longo dos anos, que não gostavam antes – de ter de se des-
25% a 33% locar, de se vestir para o trabalho, das polí- Os executivos de topo estão suficiente-
dos trabalhadores ticas do escritório – mas gostam do contac- mente sensibilizados para este tema?
to pessoal. E, por isso, os modelos híbridos Acho que existem cada vez mais executi-
relatavam funcionam bem desde que se use o remo- vos de topo sensibilizados para este tema,
stresse crónico” to e o presencial para suportar as funções e para o impacto que tem na produtividade
certas. Não faz sentido chamar toda a gente e na criatividade das equipas. Quando faço
para o escritório para se sentarem nos seus apresentações sobre os resultados de ter

MARÇO 2023 . EXAM E . 63


Macro

uma cultura organizacional saudável, mos- pode ser visto como um empregador prefe-
tro duas colunas: uma que é sobre a redução rencial, pode atrair e reter pessoas melho-
de aspetos negativos, como o absentismo, a res. Nas empresas que têm uma cultura de
rotatividade, os custos com a saúde dos fun- bem-estar – e não é apenas ter um progra-
cionários, as reclamações, etc.; mas a outra ma ou benefícios, é ter esses valores verda-
coluna, que penso ser ainda mais importan- deiramente incorporados na organização e
te, tem que ver com melhorar a performan- nos seus líderes –, o nível de motivação dos
ce e a produtividade, ser mais competitivo, trabalhadores para apoiarem a organização
ser um empregador de referência, melhorar e fazerem um bom trabalho era o dobro, a
a relação com os clientes. E isso é o que faz probabilidade de um funcionário recomen-
o sucesso das empresas. dar essa empresa a um amigo ou familiar
como um bom lugar de trabalho era cinco
A necessidade de atrair e reter talentos vezes superior, e o número de funcionários
desempenha aqui um papel essencial. que diziam pretender deixar a empresa nos
O que mais ouço atualmente por parte das próximos 12 meses era metade, face às em-
empresas é sobre a necessidade de atrair presas que não têm essa cultura. São dife-
e reter talento. Todas as empresas com as renças brutais.
quais tenho trabalhado – e tenho trabalhado
com muitas tecnológicas – têm esta preocu- E como se cria essa cultura de bem-estar
pação, porque existe um mercado compe- nas empresas?
titivo e as pessoas podem ir trabalhar para De forma geral, um local de trabalho psi-
qualquer lado e, possivelmente, ser mais cologicamente saudável é aquele que não
bem pagas. E a forma de manter estes traba- só protege os trabalhadores de potenciais
lhadores é pelo ambiente de trabalho, onde riscos como também promove os aspetos
têm boas relações e sentem que se preocu- positivos do trabalho. Os locais de trabalho
pam com eles, em contraponto com outra podem desempenhar um papel muito posi-
organização que até pode pagar-lhes mais tivo na vida das pessoas. Podem dar signifi-
20% mas onde o ambiente de trabalho não cado às suas vidas, podem ser uma forma de
é bom. Essa é a chave. contribuírem para as suas comunidades, de
terem boas relações pessoais e de apoio, de
Quais são os principais fatores de stresse crescerem e de se desenvolverem. Acho que
no trabalho e de que forma as empresas existem três camadas: proteger, promover
podem atuar? e fornecer o acesso a recursos que ajudem
Há muitos fatores de stresse. Não são ape- as pessoas a resolver problemas, quando
nas o excesso de trabalho ou deadlines aper- precisam.
tados. São também não ter autonomia ou
controlo sobre a forma como exerce as suas De que forma é possível medir a eficiên-
funções; podem ser exigências irracionais cia dessas medidas?
colocadas sobre si ou expectativas pouco É difícil e os esforços estão consideravel-
claras; podem ser situações de conflito e mente atrasados. A maioria das empresas
relações pessoais negativas. Nas pesquisas não mede ou não o faz de forma eficaz. Na
que realizei ao longo dos anos, os números melhor das hipóteses, estão a rastrear quan-
caíam consistentemente em 25% a 33% de tas pessoas participam nos programas. E Os modelos
trabalhadores que relatavam stresse cróni- isso é importante, mas não lhes diz se estão híbridos
co no trabalho. Se pensarmos que uma em a mudar comportamentos ou a ter algum funcionam bem
cada três ou quatro pessoas da sua equipa se impacto. É também importante perceber se
sente sobrecarregada e altamente stressada estão a chegar às camadas certas da força de desde que se
todos os dias… E quando atingem o estado trabalho. E isso implica pensar em questões use o remoto
de burnout isso começa a afetá-los física e de diversidade, equidade e inclusão. Porque e o presencial
mentalmente e, claro está, afeta o desem- o que vimos na pandemia, por exemplo, é
penho no trabalho. É por isso que os em- que teve um impacto maior nas mulheres, para suportar
pregadores estão a prestar mais atenção e a em grupos minoritários e em pessoas com as funções
perceber que se trata de um investimento, e rendimentos mais baixos. É preciso prestar certas”
não de um custo, porque é assim que a or- uma atenção especial a diferentes grupos.
ganização também se beneficia. Tem menos Há empresas a constituírem uma espécie de
rotatividade, maior satisfação no trabalho, “grupos de apoio de pares”, que são lugares

64 . EXAM E . MARÇO 2023


que aquilo que estão a retirar, elas vão tentar
tornar essa relação mais justa e equitativa. E,
portanto, ou procuram aumentar a recom-
pensa – ter acesso a mais formação, a mais
oportunidades, a um aumento salarial – ou
vão colocar menos esforço no que fazem de
forma a balancear a relação. É real, mas estas
dinâmicas não são novas. E não estou a tentar
diminuir o fenómeno, porque é importante.
Se existe uma nova geração que está ciente
destes desequilíbrios e age perante isso, acho
que é algo benéfico.

Outra tendência que tem causado algu-


ma polémica é a semana de quatro dias
de trabalho…
Acho que pode funcionar muito bem nal-
gumas organizações e não tão bem noutras.
Tem potencial, mas temos de olhar para
os diferentes contextos. Existem empresas
onde funciona lindamente. Já se estiver-
mos a falar de uma fábrica, é altamente
ineficiente. Existem setores, como a saúde
ou a assistência social, que necessitam de
suporte 24 horas por dia. Embora nestas
funções já tenha visto casos em que sim-
plesmente têm um dia rotativo e assim as-
seguram a continuidade do trabalho. Outra
situação em que a semana de quatro dias
não funciona é quando as expectativas dos
líderes e dos gestores não se adaptam a esta
nova realidade. Já trabalha 60 horas por se-
mana e agora tem de “enfiar” todo esse tra-
balho em quatro dias. Não é realista. E não
é que alguém vá forçá-la a trabalhar duran-
te as horas de folga, mas sabe que se não for
assim não vai conseguir fazer o seu traba-
lho e cumprir prazos. Ou mesmo que con-
importantes para envolver esses trabalha- e os resultados de desempenho organiza- siga, vai chegar a segunda-feira com uma
dores no desenvolvimento, na implemen- cional. Mas a verdade é que o elemento de montanha de trabalho e começar a semana
tação e na avaliação de facto das políticas, bem-estar da força de trabalho começa a já sobrecarregada e stressada.
em vez de existir alguém que decide o que ser incluído no “S” de ESG [Environmen-
é melhor para eles. Mas é possível medir tal, social and governance], e começa a ficar Como é que vê a evolução da psicologia
várias camadas: qual é a taxa de utilização vinculado a relatórios que têm impacto nas aplicada no contexto empresarial, nos
dos programas? Qual é a taxa de resolução finanças e até nos empréstimos. Vivemos próximos cinco a dez anos?
positiva desses problemas? Qual é a taxa de num tempo interessante. Penso que existe uma enorme necessidade
sinistralidade? Qual é a tendência de cus- de ter psicólogos envolvidos nas organiza-
tos ao longo do tempo? Acompanhar tam- Temos ouvido falar sobre o “quiet quit- ções. E tendemos a falar destes temas de
bém os resultados organizacionais: Qual é a ting”. É um fenómeno real? forma muito focada nos funcionários, mas
taxa de retenção e de rotatividade? Qual é a É um fenómeno real, mas não é um fenó- penso que há aqui também um papel re-
relação custo/retorno desses programas? E meno novo. A terminologia é nova, mas este lativo ao governance das organizações. No
eu não quero focar demasiado esta questão tipo de coisas acontece há décadas nas or- trabalho direto com os quadros e com as
porque acho que as empresas por vezes se ganizações. Tem que ver com a psicologia lideranças, num papel de aconselhamento
concentram demasiado no retorno do in- organizacional e com o equilíbrio entre es- especializado, de apresentação de evidên-
vestimento. No fundo, é um equilíbrio entre forço e recompensa. Se as pessoas sentirem cias, para que consigam rastrear os resul-
os resultados de bem-estar dos funcionários que estão a colocar mais numa relação do tados ao longo do tempo. E

MARÇO 2023 . EXAM E . 65


Macro

I N O VA Ç Ã O

Anões
aos ombros
de gigantes?
A Ciência
dá saltos
cada vez mais
pequenos
Um novo estudo mostra que a Ciência se tornou
menos disruptiva, com consequências óbvias
para a produtividade e o crescimento económico.
O que mudou e que soluções existem?
Texto Nuno Aguiar

H
á um chatbot que con- Há dias em que o telejornal parece um O documento mostrava que os estudos
segue explicar-lhe a filme de ficção científica. Mas o entusi- científicos e patentes dão saltos de conheci-
Teoria da Relativida- asmo que gera pode não corresponder a mento menos ambiciosos. Ao analisarem 45
de como um poema uma inovação significativa. Na verdade, milhões de papers e 3,9 milhões de patentes
de Fernando Pessoa. os avanços científicos têm sido cada vez de seis grandes bases de dados, os autores
Um telescópio espacial está a enviar-nos menos revolucionários. As últimas sete criaram um novo indicador, que sugere que
imagens de galáxias como elas eram há décadas deixaram-nos uma Ciência me- os avanços são, hoje, mais incrementais do
13,5 mil milhões de anos. A Inteligência nos disruptiva, com consequências óbvias que disruptivos, naquilo que consideram
Artificial (IA) consegue prever a estrutu- para o crescimento económico. ser “uma mudança estrutural na natureza
ra de quase todas as proteínas e estamos O debate já tem alguns anos, mas ga- da ciência e da tecnologia” e uma ameaça
mais perto de uma vacina universal con- nhou novo fôlego com a publicação de um ao “crescimento económico, saúde humana
tra a gripe. As fontes de energia alterna- estudo na Nature, no arranque deste ano, e bem-estar e segurança nacional”.
tivas continuam a dar saltos gigantescos e que indicava que os papers científicos e Trata-se de um desenvolvimento preo-
baterias poderosas podem ser carregadas patentes têm uma probabilidade cada vez cupante. Nem todos os avanços científicos
em poucos minutos. Estamos a voltar ao mais baixa de mudar o rumo de um cam- têm de ser disruptivos, mas essa dimensão
Espaço! po científico. é importante. É desses saltos que depen-

66 . EXAM E . MARÇO 2023


Park assina o estudo com Russell
Funk, professor na Faculdade de Gestão
O QUE ESTÁ daquela universidade, e Erin Leahey, di-
A TRAVAR retora de Sociologia da Universidade do
A DISRUPÇÃO Arizona, tendo criado um indicador sin-
tético de disrupção, baseado na literatura
Quais são as principais que cada estudo ou patente cita. É algo
hipóteses por trás desta complicado, mas basicamente, se um pa-
mudança? per for disruptivo, é mais provável que os
próximos trabalhos o citem apenas a ele
> FRUTA MADURA
e não aos seus antecessores. Um método
Esta hipótese assume que há uma série
novo, que recebeu muita atenção e que
de descobertas relativamente “fáceis”- representa mais um indício de que é cada
de alcançar (fruta pronta a colher) e vez mais difícil ter um momento eureka!.
que tudo o que vem depois exige mais É necessário um esforço muito maior para
esforço. Não é possível voltarmos a obter o mesmo nível de disrupção.
inventar o motor de combustão interna, “Embora essa percentagem tenha ca-
e qualquer invenção que queira replicar ído muito nas últimas décadas, um facto
esse impacto exigirá mais recursos. Os encorajador é que a quantidade de papers
autores do estudo da Nature notam disruptivos não diminuiu. É preciso muito
que, se esse fosse o motivo, a quebra
mais cientistas do que nos anos 60 para
da disrupção não seria homogénea
ter um paper disruptivo… Mas, felizmente,
entre os diferentes campos científicos.
temos muito mais cientistas do que nos
> CITAÇÕES anos 60”, explica Matthew Clancy, inves-
tigador na Open Philanthropy. Ainda as-
Como a análise publicada na Nature sim, reconhece: “É um problema real, que
se baseia na literatura citada por cada deveríamos tentar resolver.”
estudo e patente, uma hipótese “óbvia” De facto, tudo indicaria que devería-
é que hoje se cite muito mais do que mos estar a atravessar uma idade de ouro
antigamente, o que pode fazer com que
na disrupção. Há cada vez mais cientis-
pareça que um paper é menos disrup-
tas, cada vez mais publicações – algumas
tivo. Os autores dizem que analisaram
essa possibilidade sem mudanças na
estimativas apontam para quase dois mi-
conclusão. lhões por ano – e cada vez mais financia-
mento. A produção de conhecimento tem
> LIXO crescido, mas a fatia desse conhecimento
GETTYIMAGES

que coloca uma área de cabeça para baixo


Outra possibilidade é que o mundo tem-se mantido estável.
académico esteja simplesmente cheio Trabalhos recentes são cada vez me-
de investigação e investigadores que
nos citados por estudos que surgem a se-
acrescentam muito pouco aos seus
dem a expansão do nosso bem-estar ma- guir, é cada vez menos provável um No-
campos, mas que os inundam de pa-
terial e até a nossa sobrevivência. pers. Os autores também rejeitam esta
bel reconhecer uma descoberta feita nos
“Não estamos a tentar fazer um juízo de tese, dizendo que, ao olhar apenas para últimos 20 anos, os papers tendem a ser
valor sobre a disrupção ser sempre boa ou as revistas de topo (as mais exigentes mais sobre os mesmos temas e há menos
melhor do que a consolidação de descober- na publicação), observam a mesma “patentes criativas” (com base em inves-
tas. Um campo científico ou tecnológico tendência. tigação recente).
saudável, provavelmente, tem um equilí- Isto sugere que algo pode estar a mu-
brio entre inovação disruptiva e de consoli- > ESPECIALIZAÇÃO dar no campo científico. Um estudo mui-
dação”, explica à EXAME Michael Park, um to citado nesta área, atualizado em 2020
A hipótese preferida dos autores é que
dos autores do estudo, que está a concluir o e intitulado “É mais difícil ter ideias?”,
cientistas e inventores, assoberbados
doutoramento na Universidade do Minne- pelo “fardo” de tanto conhecimento à
olhava para várias indústrias, produtos e
sota. “Contudo, como explicamos, grandes sua disposição, se estejam a espe- empresas, concluindo que a “produtivi-
organizações intergovernamentais, como a cializar cada vez mais em pequenos dade da investigação” estava a cair subs-
OCDE, têm sugerido que a disrupção pode subcampos, o que lhes permite publi- tancialmente. E dá como exemplo a Lei
ajudar-nos a lidar com grandes desafios, car mais e avançar na carreira, sem que de Moore – previsão de que a velocida-
como as alterações climáticas.” cada passo seja disruptivo. de de processamento dos computadores

MARÇO 2023 . EXAM E . 67


Macro

duplicaria a cada dois anos –, que, para


ser cumprida, necessita, hoje, de 18 vezes
mais investigadores do que há cinco dé-
cadas. “Para qualquer lado que olhemos,
concluímos que ideias, e o crescimento
exponencial que elas implicam, estão a
ficar mais difíceis de encontrar”, escreve
Nicholas Bloom e os coautores do estudo.

FIM DO CRESCIMENTO?
O motivo para um texto como este estar
numa revista de economia como a EXAME
não é difícil de entender. Inovação me-
nos disruptiva é uma má notícia para o
dinamismo económico de um país e do
mundo. “A produtividade e o crescimento
dependem, em última análise, da tecno-
logia. E o avanço tecnológico está, hoje,
muito ligado à Ciência. Se o ritmo da des-
coberta científica desacelerar, então o rit-
mo do progresso tecnológico em geral, e,
por isso, do crescimento, também irá de-
sacelerar”, nota Clancy.
Para termos uma ideia do impacto que
tem este aparente deserto de ideias, para dourada da inovação (eletricidade, motor
que os EUA sejam capazes de manter o de combustão interna, automóvel, expan-
mesmo crescimento de PIB per capita, são da ferrovia, aviação, saneamento bá-
teriam de duplicar os esforços de investi- sico, aquecimento central, rádio, telefone,
gação a cada 13 anos, calcula o já referido Grandes aceleração da urbanização).
estudo de Bloom. organizações, Talvez esta seja uma visão limitada. A
A economia preocupa-se há alguns inovação pode estar a avançar, sem que
anos com este problema. A produtivida- como a OCDE, nos seja visível (a produtividade nos EUA
de e o crescimento têm estado a arrefe- têm sugerido que só começou a reagir cerca de 30 anos após
cer nas economias mais ricas do mundo. a disrupção nos pode a eletrificação da indústria). Além disso,
A estagnação fez parte de grande parte da há desenvolvimentos imprevisíveis. Bas-
nossa História. Entre 1300 e a Revolução ajudar a lidar com ta olhar para a Inteligência Artificial. Nos
Industrial, crescemos a um ritmo de 0,2% grandes desafios, poucos meses que passaram desde o lan-
ao ano. Economistas como Tyler Cowen e como as alterações çamento do ChatGPT, têm-se multipli-
Robert Gordon argumentam que as con- cado notícias sobre como pessoas e em-
dições que permitiram o enorme avanço climáticas” presas estão a utilizá-lo, levando outras
económico dos últimos 200 anos foram Michael Park
empresas a acelerar os seus projetos de
excecionais e desapareceram. Entre elas Universidade do Minnesota IA e dirigindo milhões para esta área. Que
está a capacidade de gerar inovações re- impacto terá esta tecnologia na produti-
volucionárias. vidade? Não sabemos, mas é possível que
Talvez lhe pareça estranho. Afinal, limite de escrita no Twitter]”, afirmou o seja grande (trazendo também possíveis
a tecnologia nunca esteve tão integrada polémico empresário Peter Thiel, funda- efeitos negativos).
nas nossas vidas. Contudo, passar ho- dor do PayPal. “Há 100 milhões de pessoas no plane-
ras a publicar stories no Instagram ou a Um carro elétrico é um avanço impor- ta a interagir com Inteligência Artificial.
fazer scroll no Twitter não faz milagres tante, mas o seu impacto na produtividade É um momento histórico. Já passei por
pela nossa economia. Inovação tornou- dificilmente se pode comparar a deixarmos vários ciclos e comparo isto ao momento
-se sinónimo de Silicon Valley. Mas como de andar de carroça, tal como um iPhone em que vi a Web começar a ser utilizada
é que estas inovações tecnológicas com- não consegue competir com um sistema de forma mais universal”, afirmava Pau-
param com a eletrificação das fábricas? de esgotos. Uma visão que tem reunido al- lo Dimas, vice-presidente de inovação de
“Queríamos carros voadores e, em vez guns apoiantes argumenta que as inven- produto da Unbabel, em declarações re-
disso, recebemos 140 caracteres [anterior ções atuais não conseguirão replicar a era centes à VISÃO sobre o ChatGPT.

6 8 . EXAM E . MARÇO 2023


MATTHEW CLANCY / Investigador na Open Philanthropy
“SEM DISRUPÇÃO, CADA
AVANÇO TEM MENOR IMPACTO”
Economista especializado em inovação, Clancy
explica à EXAME os efeitos desta transformação

A disrupção é boa? recem, embora haja coisas


Porquê? que podemos fazer.
Conforme é definido pelos
papers da Nature, estudos Que soluções podería-
disruptivos são aqueles mos considerar?
que colocam a Ciência Há imensas coisas. Po-
numa nova trajetória ou demos tentar reformar a
que tornam obsoletos forma como organizamos
trabalhos antigos. Sem es- a Ciência – por exemplo,
tudos disruptivos, a Ciência como atribuímos bolsas
GETTYIMAGES

pode continuar a progredir –, de modo a tentar criar


incrementalmente, mas melhores incentivos para
cada avanço é mais difícil que as pessoas façam mais
de alcançar e tem um im- como os campos mudam trabalho novo e arriscado.
O mesmo pode acontecer com a nova pacto mais pequeno. Nem à medida que amadure- Podemos criar estruturas
todos os papers têm de ser cem, mas a principal razão que melhorem a circulação
corrida ao Espaço, computação quântica,
disruptivos, mas disrupção é a hipótese de “fardo de ideias entre diferentes
nova geração de vacinas, carros autóno-
ocasional ou mesmo fre- de conhecimento” do campos. É importante refe-
mos, clonagem de carne, avanços nas ba- quente é, provavelmente, economista Ben Jones. É a rir que não sabemos o que
terias e energias alternativas. importante para a Ciência ideia de que a quantidade funciona, o que torna esta
No entanto, muitas dessas coisas não continuar a avançar a um de conhecimento que uma excelente (e nova!)
são propriamente revolucionárias. São in- ritmo rápido. precisa para desafiar a área para fazer investiga-
crementos ou aperfeiçoamentos de inova- fronteira do conhecimento ção. Podemos aprender
ções anteriores. Aliás, o ChatGPT é um bom Como é que isto conta- está a ficar cada vez maior, muito!
exemplo disso. A tecnologia que o alimenta mina a produtividade e o o que, por sua vez, força as
não representa um salto substancial face ao crescimento? pessoas a especializar-se Devemos estar
que a OpenAI e os seus concorrentes já fa- A produtividade e o cresci- cada vez mais. O paper preocupados?
mento dependem, em últi- da Nature, assim como É um problema real, que
ziam. Mas criou um enorme entusiasmo.
ma análise, da tecnologia, e outros trabalhos, sugere deveríamos tentar resolver.
O que nos leva a refletir sobre se nos
o avanço tecnológico está, que estudos disruptivos Ao mesmo tempo, note
concentramos nas coisas certas. O New York hoje, muito ligado à Ciência. nascem frequentemente que os resultados mostram
Times referia que uma das maiores inova- Se o ritmo da descoberta de ir beber a um grande a quantidade de papers
ções identificadas pelo estudo da Nature – científica desacelerar, número de diferentes disruptivos relativamente
splicing, uma técnica para modificação de então o ritmo do progresso disciplinas e temas, e que à totalidade de papers
ADN – mereceu apenas quatro parágrafos no tecnológico em geral, e, isso se torna mais difícil publicados. Embora essa
jornal, quando foi patenteada, em 1983. Até por isso, do crescimento, quando toda a gente tem percentagem tenha caído
hoje, já acumulou quase mil milhões de dó- também irá desacelerar. de se esforçar tanto para muito nas últimas décadas,
lares em licenciamento. As vacinas mRNA, É impressionante que as simplesmente se manter um facto encorajador
que permitiram que voltássemos a jantar patentes estejam a citar a par da literatura da sua é que a quantidade de
menos investigação recen- pequena subdisciplina. papers disruptivos não
em restaurantes e a visitar os nossos avós,
te do que no passado. diminuiu. É preciso muito
“baseiam-se em décadas de trabalho pouco
É uma mudança mais cientistas do que
glamoroso”, durante anos quase ignorado. Quais são as explicações estrutural? nos anos 60 para ter um
mais plausíveis? Acho que é um desafio paper disruptivo… mas,
O FARDO DO CONHECIMENTO Existem muitos fatores a com que, eventualmente, felizmente, temos muito
O que está a provocar a quebra na disrup- contribuir, a maioria dos todos os campos terão de mais cientistas do que nos
ção? Não existem respostas definitivas, mas quais associados à forma lidar à medida que amadu- anos 60.
há várias teorias. Uma delas é que as des-

MARÇO 2023 . EXAM E . 69


Macro

GETTYIMAGES
cobertas mais “fáceis” já foram todas feitas. > PERDA DE PODER DISRUPTIVO pidas, e é até duvidoso que consigam ter
Só há uma Teoria da Relatividade, e só po- espaço no atual ecossistema académico e
demos descodificar uma vez o genoma hu- O gráfico ilustra a métrica do estudo de inovação. Os autores do estudo da Na-
mano. Também não voltaremos a inventar publicado na Nature, revelando uma quebra ture sugerem que seja dado mais tempo
na percentagem de papers disruptivos
o motor de combustão interna. aos académicos para conhecer o campo,
Esta tese assume que há um núme- 0,5 em vez de estarem na rodinha de hams-
ro limitado de avançados relativamente QCiências Sociais ter da publicação, e que as universidades
0,4 QTecnologia
simples e com elevado impacto, que se foi QCiências Físicas
se foquem menos na quantidade de pu-
esgotando. Uma hipótese aparentemente 0,3 QCiências blicações e mais na qualidade, propondo
desmentida pelo facto de todos os campos 0,2 Biomédicas subsidiar sabáticas de um ano.
da Ciência registarem uma quebra muito O setor público também pode ter um
semelhante da disrupção.
0,1 papel a desempenhar, talvez assumindo
Outras possibilidades seriam: mudan- 0 muito mais riscos do que era habitual,
ças na forma como se publicam ou como 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 nas últimas décadas. No pós-II Guerra
se citam outros trabalhos académicos, cri- Mundial, departamentos como a DARPA,
ando uma “aparência” de menor disrup- nos EUA, foram responsáveis por criar os
ção, porque as convenções ditam que se Pelo meio, há obviamente incentivos fi- embriões de que sairiam tecnologias que
cite mais; e a existência de muito mais in- nanceiros a considerar. Há muita pressão mudaram a nossa vida, como a internet
vestigação da “treta”, que não acrescenta para publicar e fazê-lo rápido, o que afasta e o GPS.
valor. A análise dos autores exclui ambas. o dinheiro de opções mais arriscadas ou de "Agências federais podem investir em
A sua hipótese preferida é que cien- mais longo prazo. “Os críticos também apon- metas mais arriscadas e de longo prazo,
tistas e inventores estão a usar fatias cada tam para os incentivos de publicação e as ava- que apoiem carreiras e não simplesmen-
vez mais estreitas de conhecimento. Uma liações de investigação baseadas em métricas, te projetos específicos, dando aos acadé-
especialização que permite mais publica- que viram o estudo científico para longe do micos tempo para sair do desgaste diário,
ções e beneficia a carreira individual dos risco, à medida que financiadores, investido- imunizar-se contra a cultura de ‘publicar
cientistas, mas favorece menos saltos no res e instituições tomam a opção mais segura, ou morrer’ e produzir trabalho verdadeira-
progresso científico como um todo. Ao para manter a roda de bolsa-publicação-ci- mente consequente”, escrevem os autores.
mesmo tempo, à medida que o conheci- tação a girar”, escrevia a Nature. Isaac Newton afirmou: “Se eu vi mais
mento de cada área aumenta, os investi- longe, foi por estar aos ombros de gigan-
gadores enfrentam um “fardo” maior para MAIS RISCO? tes.” Uma referência ao conhecimento
dominar cada campo, demorando mais Esta tendência tem gerado preocupação acumulado antes do seu contributo. Esta
até serem capazes de desafiar as frontei- no campo científico. Não existem solu- tendência sugere que estamos a ficar cada
ras desse campo. ções consensuais, elas nunca seriam rá- vez mais pequeninos. E

70 . EXAM E . MARÇO 2023


Opinião
POR
SOUMODIP SARKAR

O ensino e a promoção
de criatividade
O ensino é um tópico sobre o qual reflito regularmente,
como poderá ser do conhecimento dos meus estimados
leitores. Como sempre reforço, acredito que Portugal tem
um enorme potencial para se tornar grande no que toca > Professor catedrático,
ao empreendedorismo e inovação e dinâmica empresarial Universidade de Évora

P
reocupa-me, necessidades dos alunos e do cola procura novas formas de pessoas interessadas em le-
no entanto, modo de vida atual. aprender, abrindo-se ao mun- cionar. O salário é um tópico
que o sistema Voltando à questão de como do em redor. Tem havido al- relevante quando falamos de
de ensino pos- fazê-lo, penso que um primei- gum progresso importante valorização. No entanto, será o
sa não estar a ro passo importante, muitas nos ensinos básico e secundá- aumento de salários suficiente
estimular a criatividade e o po- vezes esquecido quando ela- rio portugueses, mas continua- para combater esta insatisfa-
tencial de inovação dos nossos boramos políticas públicas, é mos a ter alunos e professores ção? Eu acredito que não, ou
jovens da maneira mais eficaz. olharmos para bons exemplos, esgotados com os extensos pro- pelo menos, não unicamente.
Acredito que este estímulo de- noutros países. Fazer um ben- gramas letivos, com as longas Salários mais elevados (e jus-
verá começar, desde cedo, nos chmarking, ou seja, uma análi- horas nas salas de aula, com a tos) poderão contribuir para
ensinos básico e secundário, se profunda de boas práticas, é pressão dos exames e os longos atrair e reter professores al-
durante os quais os jovens for- essencial na reestruturação dos trabalhos de casa. O foco conti- tamente qualificados. No en-
mam os seus valores e persona- nossos sistemas. Não precisa- nua na quantidade e não tanto tanto, não serão suficientes
lidades. Para além de criar uma mos de sair da Europa para es- na qualidade. para melhorar a qualidade do
forte base de conhecimento, é tudar alguns dos que são con- Falando em professores, sistema de ensino. Para tal, é
importante providenciar os re- siderados os melhores sistemas estes sentem-se também des- necessário providenciar os re-
cursos necessários para enco- de educação a nível mundial. motivados e frustrados com o cursos adequados às escolas,
rajar o espírito de inovação, de Pegando num exemplo, a Fin- sistema educativo atual. Como ajustar o tamanho das turmas
criação de redes interpessoais, lândia, é possível identificar em qualquer profissão, o tra- e os currículos das disciplinas,
e a vontade de arriscar e agar- práticas que estimulam o es- balhador não conseguirá dar o e adaptar os métodos de ensi-
rar oportunidades. A pergunta pírito crítico e criativo dos melhor de si enquanto não se no. Para além disso, é necessá-
que persiste é: como fazê-lo? alunos. O sistema educacional sentir motivado e valorizado. rio promover uma cultura de
Uma total disrupção do siste- sofreu uma reforma em 2016, De facto, há cada vez menos inclusão nas escolas, procu-
ma educativo não é, de todo, focando-se em aumentar a rando uma maior participação
desejável, e acredito que tam- participação dos alunos na sua dos alunos e dos seus encar-
bém não é necessária. Acredito própria educação, contribuin- regados de educação. Os pro-
que podemos aliar o que já há do, ao mesmo tempo, para que fessores, por sua vez, precisam
de positivo no ensino e ajustá-lo se sintam realizados, tanto do de se sentir apoiados e de ter
à realidade de hoje: o conheci- ponto de vista académico como A educação, perspetivas de carreira ade-
mento está por todo o lado, não pessoal. Por exemplo, o currí- começando nos quadas. Existem vários pon-
só nos livros. Aliás, à velocidade culo escolar finlandês comple- ensinos básico tos a melhorar, e por enquanto
a que o mundo está a mudar, os menta o conhecimento cientí- acredito no potencial de che-
livros rapidamente se vão desa- fico com o desenvolvimento e secundário, garmos a bom porto. A edu-
tualizando. A forma clássica de de competências transversais, é a base cação não pode, de todo, ser
aprender, em formato de semi- desde a autoexpressão ao em- fundamental descurada. A educação, come-
nário, está também desatuali- preendedorismo, ajudando-os çando nos ensinos básico e se-
zada. É também fundamental a crescer como seres humanos. para formarmos cundário, é a base fundamen-
incluir formação que acompa- Os objetivos e métodos de ava- cidadãos felizes tal para formarmos cidadãos
nhe as tendências tecnológicas liação são diferenciados e indi- e capazes felizes e capazes de desenvol-
atuais, tais como, programação. vidualizados, de acordo com as ver novas ideias, contribuin-
É, portanto, necessário ajustar características e necessidades de desenvolver do para um mundo inovador
o sistema, de acordo com as de cada aluno. Em suma, a es- novas ideias e sustentável. E

MARÇO 2023 . EXAM E . 71


Macro

PA R T I C I PA Ç Ã O P O L Í T I C A

G rl
Talk D E BATE . R E F L EXÃO

Porque têm os portugueses


tão pouca confiança nos
políticos? O que fazer para
travar os movimentos
extremistas? Que democracia
queremos daqui a 25 anos?
A ex-ministra Graça Fonseca
e a politóloga Marina Costa
Lobo refletem sobre política,
participação cívica
e comunicação
Texto Margarida Vaqueiro Lopes
Fotografia Luís Barra

N
as últimas eleições legis-
lativas, em 2022, a taxa
de abstenção fixou-se
em 48,6%, em Portu-
gal. Desde 1983 que
está acima dos 20% e, a partir de 2009,
manteve-se acima dos 40%. Quando se
olha para as eleições para o Palácio de de Lisboa, vice-diretora do IPP - Instituto to democrático e no funcionamento das
Belém, o caso é ainda mais grave: a abs- de Políticas Públicas e editora da revista democracias, em geral. Isso vê-se em vá-
tenção atingiu o máximo recorde de 60% European Political Science Review. rios indicadores, como a confiança em
nas últimas presidenciais, o que significa “Lembro-me de que, quando comecei relação às instituições políticas, a parti-
que houve mais eleitores a não ir às urnas a estudar Ciência Política, há mais de 20 cipação eleitoral, que vem diminuindo, a
do que aqueles que ativamente decidiram anos, ainda havia uma questão, que era se militância partidária, que também dimi-
escolher um Presidente da República. O existia uma crise das democracias euro- nuiu drasticamente. E temos outro tipo de
número é muito elevado, mas desde 1991 peias ou não”, lembra a académica. “Era indicadores, que são a eleição de partidos
que a taxa de abstenção nestas eleições um debate, porque havia quem achasse de direita radical, que são partidos popu-
ronda os 40%. que não havia crise – uma vez que, em listas que rejeitam os partidos tradicionais
Os dados, compilados pela Pordata, são muitos países, a participação eleitoral e a forma tradicional de fazer política e
um bom ponto de partida para a conversa continuava a ser alta e o envolvimento tentam criar uma narrativa de que existe
que sentou, no já costumeiro sofá do Mar- político também; e, depois, havia paí- uma elite partidária. E, depois, existe o
tinhal Chiado – parceiro da EXAME nesta ses onde a insatisfação com a democra- povo, e o que interessa é diferenciar entre
rubrica –, Graça Fonseca, antiga ministra cia também era elevada e não havia um a elite partidária, que é corrupta, e esse
da Cultura, e Marina Costa Lobo, investi- padrão consistente. Mas acho que, hoje povo, que é bom, honrado e trabalhador;
gadora principal de Ciência Política do Ins- em dia, já não há qualquer dúvida de que e, se não fosse essa elite partidária, tudo
tituto de Ciências Sociais da Universidade existe um problema no funcionamen- correria melhor.”

7 2 . EXAM E . MARÇO 2023


cracia portuguesa mas também ao baixo
nível de escolaridade da população e à ida-
de avançada de grande parte dos eleitores
nacionais, lembram ambas.
Aliás, recorda a antiga ministra da Cul-
tura, foi precisamente por sentir ausência
de ativismo político quando ainda era in-
vestigadora na Universidade de Coimbra
que decidiu aceitar o seu primeiro cargo
público, na altura como diretora-adjunta
do Gabinete de Política Legislativa e Pla-
neamento do Ministério da Justiça.
“Querer fazer projetos ou pôr em mar-
cha ideias que podiam mudar algo na
realidade social – sempre foi isso que me
moveu. A minha causa foi essa. Não fazia
parte da Juventude Socialista, na altura.
Nunca foi o meu percurso; nem sequer
participei em movimentos académicos”,
recorda, quando lhe pedimos que nos
diga como percebeu que a política seria
parte da sua vida. E, admite, saiu apenas
porque sentiu que era hora de recome-
çar – “acho que devemos recomeçar várias
vezes ao longo da vida” –, até para evitar
o desgaste em funções que exigem muita
energia e dedicação. Depois de ter deixa-
do o Ministério da Cultura, Graça Fonseca
fundou a Because Impacts, de que é CEO,
uma startup que quer ajudar empresas e
organizações a causar o máximo impac-
to positivo na sociedade. Outra forma de
fazer ativismo, portanto.
“Em Portugal, sempre tivemos indica-
dores relativamente elevados de descon-
fiança em relação aos políticos”, recorda,
Em Portugal, os partidos de extrema- por seu lado, Marina Costa Lobo, quando
-direita tiveram expressão mais tarde do perguntamos o que está a afastar tanto os
que nos seus congéneres europeus – re- cidadãos dos partidos e até da participação
corde-se que, no ano passado, a União política. “Temos sempre tido bastante mais
Nacional de Marine Le Pen garantiu o seu abstenção do que outros países europeus”,
“Em Portugal, melhor resultado de sempre, ao conseguir que protestam votando em partidos antis-
sempre tivemos 90 assentos parlamentares, e, em Itália, os
Irmãos de Itália garantiram o governo com
sistema. Portugal simplesmente não vota.
E essa ausência de ativismo faz com que
indicadores a eleição de Giorgia Meloni. Isso deve-se sejamos “uma sociedade menos envolvida
relativamente também aos elevados níveis de abstenção, e menos atenta”, considera.
elevados de que foram preferidos pelos eleitores, ao in- “Não podemos esquecer-nos de que te-
vés de se virarem, logo nos anos da crise, mos menos de 50 anos de democracia, o
desconfiança para estes movimentos mais antissistema. que significa que há também um lastro que
em relação aos Algo que é muito motivado por uma é pesado e que, de alguma maneira, con-
políticos” generalizada ausência de ativismo políti- diciona a forma como a passagem de gera-
co na sociedade, como Graça Fonseca fez ções, no fundo, se traduz na intervenção no
Marina Costa Lobo questão de sublinhar. E que poderá estar espaço público, de participações em estru-
Politóloga ligado não apenas à juventude da demo- turas políticas, em manifestações… tudo o

MARÇO 2023 . EXAM E . 73


Macro

que tem que ver com algumas causas que muitas diferenças ao longo dos mais de
sabemos que mobilizam muitas camadas 20 anos em que ocupou cargos públicos.
mais jovens, aqui e em qualquer país da “Porque a forma como comunicamos mu-
Europa. Isso é uma boa forma de aferir de dou imenso.”
que maneira estão a participar ou são ati- Por tudo isto, defende Graça, era im-
vistas ou querem participar. Porque a cau- portante que comunicação social, uni-
sa pública não se faz só através da política versidades, instituições de investigação
dos partidos. A causa pública não signifi- e desenvolvimento científico e políticos
ca partido político! São coisas diferentes. se juntassem, porque “estamos a falar do
Às vezes, confundem-se, mas são coisas que vai ser o País daqui a 50 anos – e es-
diferentes: posso ser um ativista de polí- tamos quase a celebrar 50 anos do 25 de
tica pública, de causas públicas, e nunca Abril e queremos chegar aos 100 anos com
ter passado por um partido político”, sa- uma democracia viva, que funciona com
lienta Graça. os seus pilares importantes intactos. Acho
que queremos todos isso”, resume.
DEFESA DA DEMOCRACIA DEVIA ”E a questão da participação política
SER CAUSA NACIONAL das pessoas que estão em cargos políti-
“Penso que a questão da participação po- cos é fulcral, porque, se não conseguirmos
lítica é mesmo um problema muito com- aumentar a confiança nas pessoas que go-
plexo e é um dos principais problemas vernam, se não conseguirmos diminuir
da nossa democracia”, lamenta ainda. “A esta espécie de ‘Jogo Nacional de Caça ao
partir do momento em que observamos, Político’, estamos simplesmente a fazer
mais ou menos inativos, a degradação da mal”, continua, referindo-se aos recentes
qualidade da democracia, estamos a co- casos que têm varrido o Governo de Antó-
meter um erro dramático do ponto de vis- nio Costa, levando a demissões, algumas
ta geracional, do ponto de vista do futuro delas relâmpago.
do País. Acho isto já há muitos anos e, se
calhar, muitas vezes podia ter tido mais RESULTADOS POLÍTICOS
participação do que tive, mas enfim… foi E FRUSTRAÇÃO
a vida que foi. Mas creio que isto é mes- Questionada sobre por que razão se ouve feito um esforço enorme para obter esses
mo um problema e diria até que devia tanto, em Portugal, que “os políticos são graus [académicos] e havia uma expecta-
ser uma causa nacional dos partidos po- todos iguais” e por que razão houve, ago- tiva enorme dos pais e dos próprios.” Con-
líticos, que estão dentro daquilo a que se ra, terreno fértil para que partidos de ex- tudo, o que se tem visto, nos últimos anos,
chama, digamos, o espaço da democracia trema-direita chegassem à Assembleia da é uma “emigração significativa de jovens
tal como ela existe em Portugal!”, defen- República, Marina Costa Lobo lembra que qualificados”. Uma sensação entre os jo-
de, com um sorriso. Que é como quem essa é uma ideia muito antiga e que “tem vens, “talvez exagerada, mas muito forte,
diz: é uma preocupação que deve unir que ver com outra questão. A satisfação de que é muito difícil fazer uma vida tal
todos os partidos democráticos em tor- com a qualidade da democracia pode ter como os seus pais têm, hoje em dia, em
no de uma agenda comum – a de reforçar que ver tanto com os procedimentos da Portugal. E que, para o conseguir, é pre-
os pilares da democracia, a confiança nas democracia – a forma como elegemos os ciso emigrar ou ter muitos contactos so-
instituições e a validade da causa pública. deputados, como o governo é formado – ciais… Os jovens sentem muito isso, até na
Até porque, recordam, é precisamente na como com os resultados dessa democra- universidade. Vejo um desânimo entre os
incerteza, no medo e no discurso de “os cia. E o que acontece, em Portugal, é que alunos... É uma realidade portuguesa que
políticos são maus” que a extrema-direita temos uma fraca convergência com a Eu- creio que tem que ver com os resultados
ganha poder, ao pedir apenas 30 segundos ropa, no século XXI, e temos problemas das políticas”, lamenta.
de atenção a quem os ouve. estruturais muito difíceis de resolver, que “Portugal é um dos países menos de-
“E, quando se quer explicar porque a democracia tem tentado resolver, mas senvolvidos da União Europeia. Estamos
é que os políticos não são maus, as pes- as pessoas sentem que podia ter havido sempre a comparar-nos com os mais ricos,
soas já não estão a ouvir, porque, hoje, o resultados melhores”, explica. mas não somos ricos. Tem havido mui-
nosso cérebro não aguenta a quantidade “Isso está diretamente relacionado ta evolução positiva em muitos domínios,
de informação com que somos bombar- com a frustração que se sente em relação mas, quando nos comparamos com os vi-
deados”, simplifica a antiga ministra da à política. E, nos jovens, com maioria de zinhos, eles estão tendencialmente melho-
Cultura. Aliás, dirá mais à frente, foi pre- razão. Os jovens sentem que têm qualifi- res do que nós, e isso leva a frustração. E os
cisamente na comunicação que sentiu cações como os seus pais não tinham, foi alvos são os políticos”, afirma a politóloga.

74 . EXAM E . MARÇO 2023


se liguem e partilhem ideias apenas com
quem comungam ideais, tirando espaço ao
debate – a dificultarem a vida.
Entre muitos outros temas que foram
explorados, houve ainda tempo para falar
sobre o que é comummente conhecido
como a profissionalização da política, um
assunto sobre o qual, concordam Graça e
Marina, devia haver uma discussão séria,
corajosa e frontal no País. Isto a propósito
de os governantes não ganharem propria-
mente salários milionários – o primeiro-
-ministro tem um salário bruto de €5 400
(aos quais acrescem ajudas de custo), os
ministros recebem €4 700 ilíquidos e os
deputados auferem um vencimento de €3
600 – e de ficarem impedidos, depois de
abandonar o governo, de ocupar cargos em
empresas do setor que tutelavam durante
cerca de três anos.
A questão, que estava na ordem do dia
aquando da nossa conversa, devido ao caso
recente de uma antiga secretária de Esta-
do que fora convidada para a administra-
ção de uma empresa de um setor sobre o
qual tinha tomado decisões enquanto go-
vernante, levanta-se por um motivo sim-
ples: se as pessoas não podem voltar a fazer
aquilo que corresponde à sua área de espe-
Numa conversa que durou cerca de cialização, então em que podem trabalhar?
uma hora, e que o convidamos a ver ou Marina Costa Lobo acredita que esta-
a ouvir integralmente, em breve, no site mos a caminhar para a profissionalização
da EXAME, Graça Fonseca e Marina Costa da política – tal como já acontece em al-
Lobo falaram ainda sobre o papel da co- guns países europeus, o que coloca Por-
“A questão municação na forma de fazer política, re- tugal numa via de convergência – e que o
da participação cordando que, por vezes, há uma clivagem debate sobre o assunto é desejável. No mes-
entre o que é feito ao nível da governação mo sentido, Graça Fonseca pede coragem e
política devia e o que passa cá para fora – não porque sugere até que se aproveite o cinquentená-
ser uma causa haja uma dissociação entre os governantes rio do 25 de Abril para inaugurar o tema. “A
nacional” e a população, mas porque o modo como boa discussão a ter é: se queremos assumir
a informação passou a chegar aos eleitores que caminhamos para a profissionalização,
Graça Fonseca mudou profundamente. e isso está a acontecer, vamos discuti-lo. E
Ex-ministra da Cultura Aqui, entram as redes sociais, a pró- não é isso que vejo no espaço público. Só
pria crise do jornalismo – que, com reda- vejo que é apontada como sendo negativa.”
ções mais enxutas e mais jovens, perdeu “É preciso discuti-lo, sem medo. Estou
tempo e memória para um escrutínio mais disponível para isso, se for para se chegar a
rigoroso, como lembrava também Cecília alguma conclusão ou a alguma coisa que
Meireles, em conversa com a EXAME, em seja boa do ponto de vista do futuro. Mas há
2021 – e as fontes de informação cada vez que haver coragem, no geral”, para o fazer
menos reguladas e controladas. com respeito e seriedade por parte de to-
A estes fatores soma-se ainda o cada dos os intervenientes. “Vamos discutir isto
vez menor consumo de informação jorna- como uma causa. Porque acho mesmo que
lística, com as redes sociais e os seus al- esta é uma das formas de responder ao po-
goritmos – que permitem que as pessoas pulismo.” Fica o desafio. E

MARÇO 2023 . EXAM E . 75


Macro PESSOAS

EM TRÂNSITO

JOÃO PEDRO CARVALHO JOÃO VALADARES


Chief sales officer da Makro Partner da Bain & Company
www.linkedin.com/in/jp-carvalho/ www.linkedin.com/in/valadaresjp/
O agora CSO da Makro iniciou a sua João Valadares regressa a Portugal

D.R.
carreira na METRO AG, em 2014, como para ser partner da Bain & Company
TA L E N T O E M AÇ ÃO trainee internacional e ao longo dos em Lisboa. Com mais de 10 anos de
anos desempenhou diferentes fun- experiência em consultoria estraté-

Campline Horses ções de estratégia e desenvolvimento,


tendo passado por Espanha, Japão e
gica, entrou na consultora em 2012
e assessorou, desde então, diversos

anuncia CEO
Alemanha. É licenciado em Economia clientes globais, líderes em bens
pela Nova School of Business and de consumo nas suas estratégias
Economics e fez um mestrado e outras de digital e data, transformação
Rui Hortelão, com uma carreira formações executivas em escolas de modelos organizacionais
dedicada à comunicação, é o novo como a London Business School, e ainda de integração pós-fusão
responsável pela empresa portuguesa Ivey Business School e Hult Busi-
ness School. Nos últimos três anos,
(post-merger). Trabalhou ainda com
clientes em toda a Europa, EUA
de investimento equestre ocupou a função de head of business e América do Sul, fazendo parte,
Texto Margarida Vaqueiro Lopes development, e assume, com esta ao longo da sua carreira, dos escritó-
nomeação, a liderança das áreas rios da Bain em São Paulo, Atlanta

A
Campline Horses, uma empresa de operações, vendas e marketing. e Bruxelas.
portuguesa de investimento eques-
tre, tem como prioridade salvar e
afirmar o cavalo puro-sangue lusi-
tano (PSL) no mundo, sendo pro-
prietária de mais de uma centena de PSL, entre os
quais os mais reputados da atualidade: o Fogoso e o
Escorial. A organização apontou Rui Hortelão como
CEO da empresa, tendo o executivo assumido funções
GUSTAVO MILLER MARIA PORTELA
no passado mês de fevereiro. O agora gestor foi jor- Head of Marketing da Sensei Marketing manager da CBRE
nalista durante cerca de duas décadas, tendo passado www.linkedin.com/in/gustavomiller/ www.linkedin.com/in/maria-portela-
pelos jornais Record e 24 Horas e também pela revista Com um percurso reconhecido nas 1b6b54112
Focus. Foi ainda subdiretor do Correio da Manhã e áreas de jornalismo e de marketing, Licenciada em Administração
diretor-adjunto do Diário de Notícias, antes de assu- o novo responsável de marketing da de Empresas pela Hotelschool The
mir a direção da revista Sábado, entre 2014 e 2017. Sensei terá como principal objetivo Hague, na Holanda, Maria Portela fez
Posteriormente, integrou os quadros da KPMG, em amplificar a imagem inovadora da em- uma pós-graduação em Digital Marke-
presa, não apenas em Portugal, mas ting & Analytics, pela Nova IMS. Passou
que desempenhou as funções de head of Corporate
a nível global, a começar pelo Brasil por várias funções na área da hotelaria
Affairs, Marketing & Communications.
e Espanha. Formado em Jornalismo e dos eventos, tendo tido a sua primei-
A Campline Horses, empresa que agora lidera, le- ra experiência na área de marketing
e com um mestrado em Estratégia
vou dois atletas aos Jogos Olímpicos de Tóquio 2021 na empresa Cityden, em Amesterdão.
Digital e Gestão de Comunicação
e tem hoje quatro desportistas na corrida aos Jogos Empresarial, recebeu vários prémios Posteriormente, e já de regresso
de Paris2024, nomeadamente o português Rodrigo enquanto jornalista antes de se mudar a Portugal, assumiu funções de mar-
Torres (finalista e 16º em Tóquio) e o brasileiro João para o marketing, onde passou por keting manager, no Grupo Lowfat
Victor Oliva (atual 36º do ranking mundial de dres- empresas como a Red Bull, a Eleven (restauração), tendo mais tarde
sage), esclarece fonte oficial à EXAME. Maria Pais do Sports e a Shopify Brasil. Miller é assumido a função de public relations
Amaral (Portugal) e Renderson de Oliveira (Brasil) também professor de Comunicação e manager. É, desde o início do ano,
completam a equipa Campline Horses, que está se- Marketing Digital e foi eleito LinkedIn a responsável de marketing
da consultora CBRE.
diada na Herdade da Aroeira, em Santo Estêvão. E Top Voice em 2019.

76 . EXAM E . MARÇO 2023


A Girl Talk é uma rubrica da revista EXAME que pretende trazer
mais mulheres para a discussão de temas económicos e da
atualidade, e que, para além de ter lugar cativo na revista, ganhou
ainda o seu espaço em formato podcast e videocast.

A SS I S TA M E N SA LM E NTE N O S ITE DA E X A M E

OIÇA EM :
DOSSIÊ PROMOCIONAL ESPECIAL SAÚDE | ABERTURA

SECTOR DA SAÚDE CADA VEZ MAIS


DIGITALIZADO E INOVADOR
A competitividade da indústria nacional de produtos de saúde e a parceria cada vez maior entre o mundo universitário de
I&D e o empresarial parecem estar a ganhar força. Quer no panorama nacional, quer internacional, as oportunidades para a
inovação e tecnologia neste sector de atividade continuam a proliferar

aúde, inovação tec- talento quer no desenvolvi- para mobilizarem investimen- 129 habitantes, um médico por

S nológica, transfor-
mação digital e
empreendedoris-
mento de fármacos, quer de
dispositivos ou plataformas
digitais que prometem me-
tos de empresas de capital de
risco, nacionais e internacio-
nais, e para despertar a visão
cada 176 habitantes e um den-
tista por cada 904 habitantes
(fonte: INE, Pordata) –, já quan-
mo são palavras que andam lhorar a vida das populações, empresarial de multinacionais do se trata de negócio a reali-
cada vez mais juntas. O merca- inclusive no domínio da saúde (farmacêuticas, de tecnologia, dade mostra-se positiva e com
do da saúde, nas suas diferen- mental, que atualmente saltou etc.), que não raras vezes aca- mais dinamismo. As lacunas
tes componentes, tem estado, para a ribalta. bam por incorporar a inova- do Serviço Nacional de Saúde
sobretudo desde a grande crise Aliás, o emergente sector das ção, os produtos e serviços de (SNS) têm aberto espaço para a
da covid-19, na ordem do dia, e chamadas health tech e med- empresas mais pequenas, ta- iniciativa privada (seja de hos-
não estamos a falar da contes- tech tem sido palco do apare- lentosas e inovadoras. pitais ou serviços complemen-
tação social que tem envolvido cimento de invenções disrup- E se, de acordo com os dados tares e negócios indiretamente
várias classes profissionais do tivas de jovens talentos, muitas da Pordata (atualizados em ligados à saúde) conquistar es-
sector, mas sim da componente delas resultado da cada vez agosto de 2022), os números paço no mercado nacional.
empresarial do mesmo. mais profícua relação e par- da saúde em Portugal, no que
As oportunidades de negócio ceria entre os universos aca- respeita ao rácio de profissio- IMPACTO ECONÓMICO
na área da saúde sucedem-se, démico e empresarial. Inova- nais por cada habitante, não Os desafios digitais, de negó-
com novas empresas/star- ções tecnológicas que têm sido são propriamente os melho- cio e de sustentabilidade da
tups a mostrarem todo o seu suficientemente impactantes res – um enfermeiro por cada saúde são uma realidade para

78 . EXAM E . MARÇO 2023


quem atua neste sector, que, ternacional, quer pelos pro-
apesar das vicissitudes, tem fissionais de que dispõe, da
dado provas de resiliência e classe médica à investigação
consistência. Vejam-se os nú- e desenvolvimento, quer pelos
meros revelados pelo Health talentos que têm dado provas
Cluster Portugal, com base de grande inovação tecnoló-
nos dados da Agência para o gica ao serviço da saúde das
Investimento e Comércio Ex- populações.
terno de Portugal (AICEP), Ainda recentemente Manuel
que apontam para um cres- Pizarro, ministro da Saúde, e
cimento das exportações do Fernando Araújo, diretor exe-
sector na ordem dos 35% face cutivo do SNS, formalizaram
ao ano anterior, alcançando os um compromisso – num en-
€2,4 mil milhões. Lembra ain- contro em Copenhaga onde
da o Health Cluster Portugal foram discutidos temas como
que os valores de crescimen- a cooperação nas áreas de
to da saúde estão fortemente tecnologia da saúde, literacia
alicerçados nas preparações e empreendedorismo, para
farmacêuticas, que aumenta- promover o acesso universal CB INSIGHTS REVELA
ram 48%. e equitativo à saúde – para DIGITAL HEALTH INTERNACIONAIS
Esta entidade salienta que “es-
tes dados reforçam o peso da
abrir no Porto o primeiro es-
critório mundial da Organiza-
MAIS PROMISSORAS
saúde na economia nacional ção Mundial de Saúde (OMS) O impacto e o lugar que as designadas digital health têm conquis-
e refletem o esforço que tem para a tecnologia, robótica e tado no mundo empresarial está bem patente na análise da consul-
sido feito pelas diferentes en- empreendedorismo em saú- tora internacional CB Insights, através do seu 4.º Digital Health 150
tidades no sentido de consoli- de. Ficará nas futuras instala- (https://bit.ly/3lNPQpM). Esta plataforma de análise de negócios
dar a presença de Portugal nos ções da direção executiva do e banco de dados global, que fornece informação sobre empresas
mercados externos”. Ainda se- SNS, reforçando assim as si- privadas e atividades de investidores, lançou o seu ranking anual Di-
gundo o Health Cluster Portu- nergias entre as instituições, gital Health, apresentando aquelas que considera serem as startups
gal, em Portugal a saúde repre- e representa, como salientou digital health mais promissoras do mundo, porque transformam os
senta um volume de negócios o Ministério da Saúde, “um cuidados de saúde com tecnologia digital.
anual na ordem dos €34 mil passo importante na ação da A referida lista, relativa a 2022 e onde consta a portuguesa Sword, in-
milhões e um valor acrescen- OMS a nível internacional, e, clui empresas que trabalham com AR/VR em cuidados de saúde, na
tado bruto de cerca de €12 mil de um modo especial, na re- interoperabilidade e integração de dados, cuidados domiciliários e mo-
milhões, envolvendo perto de gião europeia, uma vez que a nitorização ou cuidados híbridos, entre muitos outros sectores de ativi-
105 mil empresas e empregan- implementação de tecnolo- dade. Na lista de vencedores constata-se que houve um crescimento
do quase 400 mil pessoas. gias de saúde, acompanhada da representação global, ou seja, as empresas presentes abrangem 18
Na página oficial do Health de programas de literacia di- países de cinco continentes. Com 25% de empresas presentes, os EUA
Cluster, o seu presidente, Guy gital, contribuirá de um modo lideram esta lista, seguidos do Reino Unido, que ocupa o segundo lu-
Villax, afirma que “o sector da decisivo para a modernização gar, com nove vencedores, do Canadá, com cinco, e do Brasil, com três.
saúde, embora fustigado por dos serviços de saúde, garan- A área de atuação de muitas das startups vencedoras está centrada nos
políticas públicas que não re- tindo acesso a cuidados de diagnósticos. Na categoria de rastreio, monitorização e diagnóstico es-
conhecem o seu valor econó- saúde mais inovadores, que tão presentes 29 startups, o que representa quase um quinto da lista
mico e impõem preços que há respondam às necessidades do Digital Health 150.
mais de 10 anos só descem, dá da população, especialmente Já a categoria de interoperabilidade, dados & analytics é o foco da ati-
cartas nos mercados externos dos mais vulneráveis”. Opor- vidade de 12% dos vencedores, a de cuidados virtuais de 11% e a de en-
mais exigentes”. tunamente será constituído volvimento digital com o paciente também de 11%.
um grupo de trabalho para Entre os critérios que estiveram na base deste ranking estão os modelos
INOVAÇÃO RECONHECIDA definir os trâmites infraes- de negócio, dinâmica no mercado, financiamento, relações comerciais,
Devido à sua performance truturais e de financiamento, perfis de investidores, posicionamento competitivo e novidade tecno-
no domínio da inovação tec- a par da data de abertura deste lógica. As startups que integram o Digital Health 150 de 2022 capta-
nológica em saúde, Portugal escritório da OMS para a tec- ram cerca de 5,6 biliões de dólares em financiamento em 378 negócios,
tem conquistado um lugar nologia, robótica e empreen- desde 2017.
de destaque no cenário in- dedorismo em saúde.

MARÇO 2023 . EXAM E . 79


D O S S I Ê P R O M O C I O N A L E S P E C I A L S A Ú D E | E N T R E V I S TA

LUNDBECK ASSUME COMO MISSÃO AJUDAR


A RECUPERAR A SAÚDE MENTAL
Com um know-how adquirido ao longo de 70 anos de experiência nas neurociências, a Lundbeck continua a inovar
e a transformar-se tecnologicamente para fazer o que sabe melhor: cuidar da saúde mental e do cérebro. Sara Barros,
country manager da farmacêutica, explica qual a missão da multinacional, que chegou a Portugal há 20 anos, e o
papel que quer desempenhar na sociedade

Quais são atualmente os


principais focos de atividade
da Lundbeck?
Somos das únicas empre-
sas farmacêuticas do mundo
com foco exclusivo nas doen-
ças neurológicas e psiquiátri-
cas, diferenciando-nos pela
especialização e pelo trabalho
desenvolvido diariamente no
sentido de compreendermos
cada vez mais estas doenças
e, assim, desenvolver as te-
rapêuticas mais eficazes com
um único objetivo: restaurar
a saúde mental e do cérebro,
para que cada pessoa possa es-
tar no seu melhor. É para isso
que trabalhamos diariamen-
te, com a premissa de tratar
e fazer a diferença na vida de
quem sofre com estas patolo-
gias.
Assim, o nosso propósito cen-
tra-se na investigação e desen-
volvimento de medicamentos
revolucionários nestas áreas
particulares da medicina.
Como uma companhia ba-
seada nas neurociências, as
atividades de investigação e
desenvolvimento (I&D) são o Sara Barros,
nosso contributo mais impor- country manager
tante para o compromisso as- da Lundbeck
sumido em recuperar a saúde
mental e do cérebro, gerando
muito valor acrescentado para
a sociedade. motor de desenvolvimento e que nos tornássemos numa fomos implementando e reno-
inovação. Na Lundbeck, a par das companhias farmacêuti- vando, mas também ao nível
Qual a vossa relação com a com o know-how adquirido cas mais reconhecidas ao ní- das necessidades terapêuticas
tecnologia? ao longo de 70 anos de expe- vel da vanguarda tecnológica. adaptadas a cada patologia.
Dentro da área da saúde, a riência nas neurociências, as Um conhecimento adquirido A par da inovação farmacoló-
indústria farmacêutica é um novas tecnologias permitiram que se reflete nas práticas que gica, não ficamos indiferentes

80 . EXAM E . MARÇO 2023


aos avanços tecnológicos. As- destacando-se as suas vanta- jetivos reduzir o estigma e a da comunidade científica para
sim, e baseados numa abor- gens na recuperação da fun- desvalorização associados à ter esperança na possibilidade
dagem digital, avançámos na ção cognitiva, na melhoria da doença e alertar para a neces- de restaurar a sua saúde men-
implementação de novas so- funcionalidade, permitindo sidade de procurar ajuda mé- tal e do cérebro de forma a me-
luções no âmbito da informa- que muitas pessoas possam dica atempadamente. Neste lhorar a sua qualidade de vida.
ção em saúde, promovendo a voltar a ser ativas e produtivas, âmbito, apresentámos recen- Por exemplo, felizmente, hoje
transformação digital, o tra- ao mesmo tempo que tem de- temente uma nova fase da em dia já não encaramos da
tamento de dados, a susten- monstrado benefícios inequí- campanha que ficou marcada mesma forma um diagnóstico
tabilidade e uma maior pro- vocos ao nível da recuperação pelo lançamento do videocast de esquizofrenia como no pas-
ximidade da comunidade à da energia e do raciocínio. Questionar É Elementar, um sado, em que as opções tera-
inovação e aos benefícios que talk-show que será emitido pêuticas eram limitadas e com
daí advêm. Numa altura em que as ques- quinzenalmente. um perfil de efeitos adversos
A tecnologia tem-nos, por isso, tões da saúde mental estão na muito desfavorável.
permitido estar mais próximo ordem do dia, qual o contri- Enquanto multinacional far- À medida que cresce o núme-
de todos os stakeholders, fazer buto da Lundbeck para mini- macêutica, que desafios en- ro de pessoas que vivem com
uma divulgação mais contígua mizar este problema genera- frentam atualmente? estas perturbações, a necessi-
das terapêuticas que investiga- lizado? Um dos maiores desafios tem dade de alcançar novas gera-
mos e desenvolvemos e da sua Em primeiro lugar, partimos sido, sem dúvida, o de garan- ções de avanços nunca foi tão
proposta de valor. sempre de um princípio fun- tir a melhoria da qualidade de urgente. Na Lundbeck marca-
damental: a preocupação com vida dos doentes que sofrem mos a diferença ao continuar
Qual a área de atuação mais as pessoas e com o restabele- de patologias psiquiátricas e a investir na nossa própria
significativa da Lundbeck no cimento da sua saúde mental. neurológicas, para que estes investigação e a desenvolver
mercado português? É com base neste ponto que não sejam afetados e possam compostos inovadores para
É ao nível da disponibilização nos dedicamos à melhoria do ser mais ativos e consigam vi- milhões de pessoas com estas
de tratamentos inovadores acesso à saúde do cérebro. ver em pleno. necessidades. Marcamos a di-
para uma das patologias men- Para nós, os doentes não são ferença em todos os que vivem
tais mais prevalentes, que é a apenas doentes são, antes de com doenças psiquiátricas e
depressão, e da forma como MARCAMOS tudo, pessoas. Nesse senti- neurológicas. Só assim con-
podemos ajudar e proporcio- A DIFERENÇA do, estamos empenhados em seguimos marcar a diferença

EM TODOS OS
nar uma melhor qualidade de auxiliar e fazer a diferença a no mundo.
vida a estes doentes. Segundo quem sofre com estas doen-
a OMS, mais de 300 milhões QUE VIVEM ças, nomeadamente através Quais a metas definidas pela
de pessoas sofrem com este COM DOENÇAS do desenvolvimento de novos empresa para este ano? Mais

PSIQUIÁTRICAS E
transtorno mental, e nesse e inovadores tratamentos e investigação? Mais investi-
âmbito temos desenvolvido assegurar o seu financiamen- mento tecnológico...
soluções inovadoras e cada NEUROLÓGICAS to público, para que fiquem Neste momento estamos a vi-
vez mais seguras, que fazem efetivamente disponíveis para venciar um momento de gran-
a diferença e que contribuem quem deles mais precisa. de crescimento, onde se in-
para a melhoria da qualidade Estamos, de facto, perante um cluem o lançamento de novos
de vida destas pessoas. problema que afeta milhares Nos próximos anos, como es- produtos para os quais temos
A aposta que temos desenvol- de pessoas e que é a principal peram marcar a diferença no grandes expectativas.
vido nesta área levou-nos ao causa de incapacidade em todo cenário nacional e interna- Alinhados desta forma, con-
lançamento de uma grande o mundo. Para além de desen- cional? tinuaremos a apostar na in-
inovação terapêutica, o mais volvermos novos e melhorados Trabalhamos para encontrar vestigação, na inovação e na
recente fármaco oral dispo- tratamentos médicos, estamos respostas para as questões tecnologia como forma de
nibilizado para a depressão, empenhados em fazer a dife- ainda não resolvidas das neu- evoluirmos mais, dia após dia.
com um mecanismo de ação rença na vida dos doentes, em rociências, com o objetivo de Iremos também continuar a
inovador e mais seguro. Este aumentar o apoio às famílias e compreender o que está na dedicar-nos às neurociên-
medicamento tem vindo a em criar uma aceitação social origem das doenças mentais cias e muito especificamente
conquistar o mercado nacio- mais ampla destes doentes. e do cérebro, como elas pro- a áreas de nicho onde ainda
nal desde o seu lançamento, Lançámos a campanha De- gridem e o que podemos fazer há necessidades médicas não
há seis anos, uma vez que tem pressão sem Rodeios para a para as prevenir ou resolver. atendidas para conseguirmos
demonstrado excelentes resul- comunidade, uma iniciativa Quem vive com estas doenças chegar cada vez mais longe e
tados ao nível da sua eficácia, que tem como principais ob- precisa de certezas por parte a mais doentes e suas famílias.

MARÇO 2023 . EXAM E . 81


DOSSIÊ PROMOCIONAL ESPECIAL SAÚDE | CASOS DE SUCESSO

EXCELÊNCIA VASCULAR GEV:


DO PORTO PARA O MUNDO
O Grupo de Estudos Vasculares, empresa médica do Porto formada por três gerações de cirurgiões vasculares, tornou-se
referência mundial na área do tratamento do acesso vascular para hemodiálise

sultado. Refira-se que, na área


António Norton de Matos, dos acessos vasculares, o pro-
diretor clínico
tocolo de ecodoppler do GEV
e gerente do GEV
tornou-se referência mundial.
Uma experiência que acabou
por resultar na edição do ma-
nual EcoDoppler no Acesso
Vascular para Hemodiálise,
recém-editado em português
e com traduções para inglês e
espanhol em curso.

PARTILHAR CONHECIMENTO
Como referem os responsáveis
do GEV, “o sucesso multipli-
ca-se partilhando”. Por isso o
GEV recebe anualmente para
estágio internos de cirurgia
vascular, internos de nefrolo-
gia e estudantes de enferma-
gem. Nos últimos, a equipa
Grupo de Estudos transplante António Norton de em congressos da especialida- cirúrgica do GEV tem ainda

O Vasculares (http://
w w w. gr u p o e s -
tudosvasculares.
Matos, criou o seu próprio CAV,
que atualmente presta apoio a
2700 doentes do Norte e Centro
de. O espírito de vanguarda e
de excelência do GEV resultou
na nomeação do seu diretor
efetuado, em regime de volun-
tariado, deslocações a Angola
e Cabo Verde, quer para pro-
com/) (GEV) nasceu no Porto de Portugal. clínico e do seu coordenador ceder à formação de equipas
há 40 anos, pela mão de qua- Ao longo dos últimos anos, a científico como council mem- locais quer para realizar inter-
tro médicos empenhados em equipa do GEV têm-se dedica- bers da Vascular Access Society, venções cirúrgicas.
implementar a cirurgia vas- do a criar, investigar e divulgar uma organização científica in- O investimento em equipa-
cular enquanto especialidade boas práticas em cirurgia vas- ternacional europeia dedicada mento-chave individualiza-
cirúrgica autónoma. Nos anos cular e angiologia através da aos acessos vasculares. do e instrumentos cirúrgi-
80 do século passado, com a colaboração multidisciplinar Desta parceria vai resultar este cos personalizados é outra
generalização da hemodiálise e altamente diferenciada das ano a realização do congresso das apostas da empresa. Mas,
em Portugal, a crescente ne- suas equipas, constituídas por bienal daquela sociedade euro- como gosta de frisar o seu res-
cessidade de criação e de tra- cirurgiões vasculares, nefrolo- peia – o VAS Congress 2023 –, ponsável, “o verdadeiro cora-
tamento dos acessos vasculares gistas, anestesistas, enfermei- que decorrerá no Porto entre 27 ção do sucesso do GEV bate
não obtinha uma resposta ne- ros e técnicos de radiologia. e 29 de abril. nas pessoas: a equipa GEV
cessária dos hospitais públicos. A inovação e o pioneirismo funciona como uma família
Mais recentemente, em 2011, a MODELO DE SUCESSO marcam a performance dos unida, em que cada colabo-
organização da hemodiálise foi O GEV desenvolveu com su- médicos do GEV, que têm rador é integrado em toda a
reestruturada com a criação cesso um modelo de gestão do aperfeiçoado a utilização do sua atividade”.
dos CAV - Centros de Acessos património vascular do doente ecodoppler – uma ferramen-
Vasculares, convencionados renal crónico amplamente bem ta de diagnóstico portátil, não
com os centros de diálise, e foi recebido pela sua eficiência e invasiva e indolor, mas cuja
nesta altura que o GEV, lidera- pelo caráter inovador, apresen- manipulação exige destreza e
do pelo cirurgião vascular e de tado em diversas publicações e aptidão na interpretação do re-

8 2 . EXAM E . MARÇO 2023


POLICLÍNICA VILLAS DE PALMELA
LEVA SAÚDE AO DISTRITO DE SETÚBAL
Este mês, a Policlínica Villas de Palmela atinge a maioridade: assinala os 18 anos de atividade com vários projetos em
carteira, um dos quais a prestação de medicina dentária. Sempre com a mesma missão: cuidar das pessoas, promovendo
a sua saúde e bem-estar

om uma oferta REFERÊNCIA GEOGRÁFICA

C que ultrapassa as
31 especialidades,
múltiplas valên-
“5 ESTRELAS”
Ser uma empresa de referên-
cia para os serviços na área
cias técnicas e exames com- da saúde e na área geográ-
plementares de diagnóstico, fica onde se insere, ou seja,
a Policlínica Villas de Palmela o distrito Setúbal, é a visão
leva saúde ao distrito de Setú- empresarial que a Policlíni-
bal desde 2005. Este projeto, ca Villas de Palmela assumiu
que nasceu do espírito em- desde o início. Para isso, es-
preendedor de Sandra Mar- clarece a fundadora do pro-
tins, pauta a sua atuação por jeto, é essencial entender as
valores de excelência, rigor, necessidades dos seus clien-
talento e sustentabilidade es- tes, e da população que po-
senciais para ter um posi- tencialmente poderá ser
cionamento diferenciador e cliente, e adaptar a oferta a
prosseguir a missão que as- estas necessidades. Com uma
sumiu de cuidar da saúde das cultura organizacional cen-
pessoas, construindo relações trada na melhoria continua
de confiança e proximidade e e na sustentabilidade, todas
promovendo a humanização as alterações implementadas
dos cuidados de saúde, como na clínica são assentes em es-
explicou a fundadora. tratégias pensadas “em como
Com uma base de 16 mil clien- Sandra Martins, fundadora e gestora da Policlínica Villas podemos ser melhores no
tes registados, “resultado do de Palmela que fazemos seguindo a má-
esforço de uma equipa mui- xima “Do Good and Do Well”,
to alinhada com os valores da como frisa Sandra Martins.
empresa e que tem crescido ao as necessidades dos clientes e profissionais, e também para Esta abordagem contribuiu
longo dos anos”, afirma a San- a estratégia da empresa, expli- os clientes. Estão reunidas as para que a empresa tenha
dra Martins, a clínica mantém cou Sandra Martins. É com esta condições para que a expe- sido distinguida, em 2022,
o foco na qualidade do serviço premissa que a clínica vai pas- riência de cada cliente na nos- com o “Prémio 5 Estrelas”
e no impacto que pode fazer na sar a disponibilizar serviços de sa clínica seja um dos princi- ao ser eleita a clínica 5 es-
vida dos clientes e das suas fa- medicina dentária, assim como pais fatores de promoção dos trelas do distrito de Setúbal.
mílias. Atualmente, disponibi- investir em novos exames com- nossos serviços”, frisou Sandra “Sentimos que é essencial re-
liza cerca de 400 m2 de área, plementares de diagnóstico. Martins. E como o crescimen- tribuir à comunidade de que
aumentando assim, o número Com estes investimentos, pro- to da base de clientes tem sido fazemos parte e que nos diz
de gabinetes disponíveis, bem cura aumentar o reconheci- permanente “a ampliação das tanto. Promovemos campa-
como o espaço de sala de espera. mento dos clientes e propor- instalações é uma consequên- nhas solidárias e apoiamos
cionar-lhes uma experiência cia do crescimento da empresa, algumas instituições. Em
MODERNIZAÇÃO E EXPANSÃO de excelência em todas as va- que se pretende manter na or- 2022, entre outros, apoiámos
A extensão da oferta de ser- lências prestadas, inclusive nas dem dos dois dígitos, em linha a Academia da Proteção Ci-
viços da Policlínica Villas de instalações. “Temos a perfeita com os resultados dos últimos vil do Município de Palmela”,
Palmela é um processo contí- noção que um ambiente de tra- anos, e que traduzem o exce- conclui a fundadora e gestora
nuo e em permanente desen- balho moderno e bem equipa- lente trabalho de cada um dos da Policlínica Villas de Pal-
volvimento, tendo em conta do é motivador para os nossos nossos profissionais.” mela.

MARÇO 2023 . EXAM E . 83


D O S S I Ê P R O M O C I O N A L E S P E C I A L S A Ú D E | PA I N E L D E N O T Í C I A S

PORTUGUESA LISBOA RECEBE


SWORD EUROPEAN
HEALTH FALA HEALTH
DE NEGÓCIOS CONFERENCE
NA HARVARD & EXHIBITION
BUSINESS EM JUNHO
A Harvard Business School (HBS) A HIMSS (Health Information and
escolheu a Sword Health como Management Systems Society)
um case study. Responsável pela escolheu Portugal, concretamen-
criação de uma solução digital te Lisboa, para fazer a HIMSS23
adequada para o tratamento de European Health Conference and
patologias músculo-esqueléticas, COMISSÃO EUROPEIA LANÇA Exhibition. O evento vai reunir a
a startup portuguesa teve a opor- INICIATIVA EUROPEIA DE comunidade internacional para
tunidade de partilhar a sua história
e a sua visão de negócio com os
IMAGIOLOGIA ONCOLÓGICA debater a transformação digital no
sector da saúde e realiza-se de 7 a
alunos do curso de Innovating in A Comissão Europeia lançou a Iniciativa Europeia de Imagiologia 9 de junho, no Centro de Congres-
Healthcare da HBS. “A Harvard Oncológica, que visa ajudar os prestadores de cuidados de saúde, os sos de Lisboa.
Business School escolheu a Sword institutos de investigação e os inovadores a tirar o máximo partido Com o lema “Saúde que conecta +
como um case study por ser uma possível de soluções inovadoras baseadas em dados vocacionados tecnologia que cuida”, a conferên-
das startups que mais cresce em para o tratamento e a prestação de cuidados oncológicos. cia apresenta conhecimento, expe-
todo o mundo, com um negócio Esta iniciativa, que será desenvolvida no âmbito do Plano Europeu riências e tendências em digitali-
de escala global e com um papel de Luta contra o Cancro, procurará criar uma infraestrutura digital que zação na saúde, além de uma rede
decisivo na investigação clínica e ligue os recursos e as bases de dados de imagiologia oncológica em de profissionais, empreendedores
criação de patentes”, esclareceu a toda a União Europeia, assegurando, simultaneamente, a observância e investidores que ali apresenta-
empresa em comunicado. de elevados padrões éticos, a confiança, a segurança e a proteção dos rão as últimas e mais inovadoras
Os alunos da HBS discutiram o case dados pessoais. Por outro lado, também estabelecerá ligações entre soluções de tecnologia.
“Sword Health: Freeing the World as iniciativas nacionais e da UE, as redes hospitalares e os arquivos A organização prevê que a HIMSS23
from Pain” e contactaram com de investigação que contêm dados de imagiologia e outros dados de European Health Conference and
os desafios que as empresas de saúde pertinentes. Exhibition envolva mais de três mil
saúde digital precisam de enfrentar Graças à nova Iniciativa Europeia de Imagiologia Oncológica os investi- participantes - de mais de 60 países,
para reduzir os custos, assegurar e gadores poderão aceder mais eficazmente a uma maior quantidade de nomeadamente Europa e Estados
desenvolver crescimento ou ainda dados de alta qualidade, a fim de estudarem e aprofundarem a com- Unidos -, entre decisores, regulado-
para manter os padrões elevados preensão da doença. Por sua vez, os inovadores poderão desenvolver res, profissionais de saúde, entida-
de qualidade numa das missões e testar soluções baseadas em dados para prestar determinados des do sector público e privado das
mais nobres: a saúde mundial, cuidados oncológicos. tecnologias da saúde.
explica o referido comunicado. Esta iniciativa facilitará o desenvolvimento de soluções baseadas em A conferência oferece sessões
“Foi uma honra acolher este novo dados, que permitirão aos médicos tomar decisões clínicas, fazer educacionais com a curadoria
business case para partilhar um diagnósticos, efetuar tratamentos e praticar uma medicina preditiva de de líderes globais em saúde. As
exemplo distinto com estudantes, uma forma mais rápida e precisa. Por exemplo, será possível integrar sessões de trabalho concentram-
empreendedores e fazedores as novas tecnologias que utilizam a inteligência artificial (IA) num -se em case studies do mundo
em Harvard e em todo o mundo”, grande conjunto de dados normalizado e plenamente conforme com real, destacam implementações
desatacou Regina Herzlinger, res- o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD), contribuin- em grande escala, discutem as
ponsável pelo curso de Innovating do para acelerar o desenvolvimento de ferramentas inovadoras que melhores práticas voltadas para
in Healthcare. permitam diagnosticar o cancro mais rapidamente e contribuam para resultados e partilham os dados e
melhorar a prestação de cuidados personalizados. Na sequência deste evidências mais recentes sobre a
lançamento. prevê-se que, até dezembro de 2023, a conceção da in- transformação digital internacional.
fraestrutura digital pan-europeia esteja concluída. Os fornecedores de
dados poderão, em seguida, ligar-se a esta nova plataforma federada
europeia.
A primeira versão da plataforma será publica até ao final de 2024,
estando a publicação da versão final prevista para o final de 2025.
Começará a funcionar em 2026.

8 4 . EXAM E . MARÇO 2023


HNN 3.0 SIOSLIFE QUER
DIVULGA MELHORAR
FINANCIAMENTO SAÚDE DIGITAL
NA ÁREA SÉNIOR NA
DA SAÚDE EUROPA
A plataforma HNN 3.0 vai facilitar Com a ambição de, através de
a identificação e divulgação de sistemas interativos e plataformas
oportunidades de financiamento digitais, transformar os cuidados e
na área da saúde a nível europeu. a saúde dos mais idosos, a Sioslife
Desenvolvida no âmbito do proje- captou recentemente um investi-
to HNN 3.0, esta nova plataforma mento na ordem dos €2,3 milhões
permite que os interessados para continuar a concretizar esse
acedam aos vários concursos de objetivo. O trabalho desenvolvido
financiamento em curso em dife- pela startup tem por base a dispo-
rentes segmentos relacionados nibilização de soluções tecnoló-
com a saúde. Em suma, a HNN 3.0 gicas que aumentem a qualidade
apoia os National Contact Points MYCAREFORCE ENTRA NO SNS de vida dos idosos e de quem lhes
– Health/NCP, assim como dispo- E EXPANDESE PARA O BRASIL presta cuidados. Através da tecno-
nibiliza uma lista de iniciativas da logia cria impacto na comunidade
UE relacionados com a saúde, e A MyCareforce começou a trabalhar com o Serviço Nacional de Saúde onde atua, com serviços de apoio
todos os concursos públicos nos (SNS) concretamente através de uma colaboração com o Hospital de (como, por exemplo, acompanha-
diferentes pilares do Horizon- Santo António dos Capuchos, em Lisboa, tendo o objetivo de colmatar mento profissional remoto) e de
te Europa e outros programas cerca de 650 horas semanais de enfermagem e tornar a alocação e a suporte ao envelhecimento ativo
relevantes para a investigação em gestão de recursos humanos mais eficiente. Desta forma, o Hospital de e à saúde mental. Desta forma
saúde. Financiado pela Comissão Santo António dos Capuchos pode, num só local, anunciar e preen- contribui para diminuir e prevenir o
Europeia no âmbito do programa cher vagas, de forma autónoma, através de um banco de enfermeiros isolamento social dos idosos.
Horizonte Europa, este projeto pré-validados junto da Ordem dos Enfermeiros, assim como de técnicos Com esta oferta, a Sioslife quer
europeu visa alinhar e potenciar auxiliares de saúde. mudar o paradigma do cuidado
os serviços dos National Contact Esta plataforma foi criada em 2021 e conecta enfermeiros e técnicos auxi- com um software que oferece aos
Points (NCP) para o Cluster Saúde liares às vagas disponíveis em instituições de saúde, ou seja, agiliza e cen- profissionais um ambiente digital
(CL1), no âmbito do pilar “Desafios traliza o método de contratação e alocação destes profissionais de saúde. para trabalharem a socialização e a
globais e competitividade indus- João Hugo Silva, coCEO da MyCareforce, afirmou que “estamos todos saúde mental e física, plataformas
trial europeia”, aos requerentes conscientes das enormes necessidades de maior agilidade no SNS, para o desenvolvimento do apoio
de financiamento europeu para a especialmente no que diz respeito à gestão de recursos humanos, no- domiciliário remoto potenciadas
investigação em saúde em toda meadamente de profissionais de enfermagem e de técnicos auxiliares por tecnologia, com oferta de valor
a Europa e no mundo. O HNN 3.0 de saúde”. Acrescenta ainda que “há importantes mudanças que podem para toda a equação de cuidado à
será executado ao longo de sete ser feitas e esperamos poder contribuir para uma melhoria real do terceira idade.
anos, de junho de 2022 a maio de serviço prestado aos utentes e para a valorização dos profissionais de Com o investimento captado, a
2029. saúde em causa”. empresa quer reforçar a sua ofer-
Entretanto, a empresa portuguesa prepara-se para entrar no mercado ta no mercado, melhorar e inovar
brasileiro, o primeiro para onde irá expandir a sua solução e tecnologia. nos produtos e levar as suas
Depois de, no final do ano passado, ter marcado presença no Congresso propostas para outras regiões da
Nacional de Hospitais Privados (CONAHP), em São Paulo, a MyCareforce Península Ibérica.
anunciou que neste mês de março vai entrar oficialmente no Brasil. No
primeiro ano de atividade prevê atingir as 10 mil inscrições na platafor-
ma e 70 mil horas trabalhadas, e tem planos de recrutamento, principal-
mente para profissionais que conheçam o mercado brasileiro.
“O mercado brasileiro, à semelhança de Portugal, tem enormes neces-
sidades de agilidade nos processos de recrutamento e preenchimento
de horários por parte de profissionais de saúde” explicou o coCEO da
MyCareforce. Por isso acredita ter tudo para crescer de forma exponen-
cial ao longo de 2023, quer no mercado nacional, quer no brasileiro.

MARÇO 2023 . EXAM E . 85


Macro Honra aos vencedores
Foram entregues mais
de 20 prémios, distribuídos
setorialmente. A grande
vencedora foi a Cutipol,
que liderou no setor da
CONFERÊNCIA Metalomecânica e Metalurgias
de Base e foi considerada

Celebrar
a melhor PME do ano

as PME e
discutir a
economia
Uma tarde de debate e de
entrega dos prémios às melhores
entre as 1000 Maiores PME

P
elo 28º ano consecutivo,
a EXAME distinguiu as
melhores entre as 1000
Maiores PME nacionais,
iniciativa lançada em par-
ceria com a Informa D&B e a EY. O estu-
do, que teve destaque na edição de feverei- cair em 2020, o ano de 2021 foi já de recupe-
ro da EXAME, conheceu o momento alto ração. Mas para 4%, esse ano, tal como 2020,
num evento no final desse mês, na Casa da foi ainda de recuo na faturação. Já quanto
Música, no Porto. A tarde serviu de ponto de às exportações e ao emprego, as 1000 Maio-
encontro para a entrega de prémios – em es- res PME mostraram melhores resultados
pecial para a consagração da Cutipol como do que antes da pandemia, apresentando
PME do ano – e para o debate sobre a eco- igualmente melhor comportamento do que
nomia nacional, numa conferência com o o da totalidade do tecido empresarial por-
LUCÍLIA MONTEIRO

apoio da Ageas Seguros. tuguês.


Logo no arranque, a Informa D&B deu o
mote sobre o universo em causa. O ano de ESTRATÉGIA EM TEMPOS INCERTOS
2021 ainda foi de restrições, causadas pela Um contexto repleto de fatores de mudança
pandemia, mas 84% das 1000 Maiores PME e de incerteza para os agentes económicos:
apresentam uma evolução positiva quanto da guerra na Ucrânia à escalada dos preços
ao volume de negócios. Este valor é bastante da energia, passando pela tensão de forças
superior ao do ano anterior, quando apenas entre uma forte inflação e uma (ainda) pos-
45% destas empresas tinham conseguido fa- sível recessão e pela agressividade da res-
turar mais. “A performance de crescimen- posta dos bancos centrais, sem esquecer a
to destas empresas é superior à de todo o densificação de fronteiras entre o Ocidente
tecido empresarial português”, sublinhou e o Oriente, com os riscos associados a um
António Barreiros, diretor de vendas da In- mundo bipolar. Fatores que vão tornar 2023
LUCÍLIA MONTEIRO

forma D&B, durante a conferência que de- um ano particularmente desafiante para as
correu no Porto, para divulgar o desempe- empresas, e em relação aos quais Hermano
nho financeiro das 1000 Maiores PME. Rodrigues, principal na EY-Pharthenon, su-
Em termos comparativos, mais de um gere um foco acrescido.
terço (36%) das empresas analisadas regis- O especialista começou por sublinhar
tou sempre crescimentos em 2019, 2020 e a importância da gestão estratégica nas ca- Casa cheia para ouvir falar de economia
2021, principalmente nas áreas de negócio deias de abastecimento. Um tema que teve O debate que encerrou o evento, numa Casa da
Música muito bem composta, foi protagonizado
do imobiliário e dos serviços. Para 46% das início com a pandemia e que se intensificou por Luís Miguel Ribeiro e António Mendonça,
empresas, que tinham visto as suas vendas com o conflito na Europa, e cuja “gestão da que traçaram o panorama para 2023

86 . EXAM E . MARÇO 2023


Riscos e prevenção
O debate acerca do Prémio Inovação em Prevenção,
da EXAME e da Ageas Seguros e, abaixo, Hermano
Rodrigues, principal na EY-Parthenon, revela
a estratégia para gerir num tempo de incerteza

lica realça a necessidade de uma boa polí-


tica fiscal – “a diferença em relação a outros
países é enorme”, diz – e, de um ponto de
vista mais micro, elege a introdução de mais
tecnologia no quotidiano das empresas, es-
sencial para vencer no futuro.
Margarida Vaqueiro Lopes, editora da
revista EXAME, começou por pedir que,

LUCÍLIA MONTEIRO
num contexto de juros altos, de incerteza e
de guerra, apontassem os desafios a ter em
conta para o que aí vem. “Manter o foco no
que vai permitir a sustentabilidade da em-
presa, no que a diferencia”, respondeu Sofia
Salgado, frisando ainda que “estes contextos
que levam ao limite os balanços são o mo-
mento em que se deve questionar o que se
pode fazer de novo”.
Francisca van Zeller diz que “a História
dá lições”, ou não fosse ela uma licenciada
em História. É, muitas vezes, olhando para
LUCÍLIA MONTEIRO

LUCÍLIA MONTEIRO
a história da empresa que percebe o que a
distingue e como se posicionar. “Olhar para
trás pode ser um processo de aprendiza-
gem”, partilha. E foi aí que a sua empresa
foi buscar a “viticultura regenerativa”, com
própria geografia do abastecimento para a proposta de valor. E dá um exemplo: “Será que enfrenta, hoje, alguns problemas asso-
minimização dos riscos é absolutamente possível que a lógica da ocupação de espaço ciados às alterações climáticas. “É essencial
fundamental”, nota Hermano Rodrigues. para habitação em Portugal continue num ter uma estratégia bem definida, para ter
Com o fim da era do dinheiro barato, modelo histórico de aquisição de imóveis? onde ir buscar as decisões mais acertadas”,
vem também a necessidade de maior pon- Tenho muitas dúvidas. No imobiliário, a justificou, garantindo ter sido esse o truque
deração nas decisões de investimento. “A proposta de valor terá de mudar, obrigato- usado no relançamento da empresa, com
análise de viabilidade vai doer muito mais, riamente.” novos vinhos, em pleno contexto de pan-
o que, por um lado, é naturalmente mau, demia. “Estávamos muito conscientes do
mas, por outro, vai levar certamente a me- OS CONSELHOS DA GIRL TALK nosso posicionamento.”
lhores decisões de investimento.” Sofia Salgado, docente da Católica Porto Bu- De resto, houve ainda tempo para falar
Além disso, o consultor destaca a im- siness School, e Francisca van Zeller, res- de uma cultura em que o erro e o falhan-
portância de definir ou redefinir os mer- ponsável de Marketing e Comunicação da ço são malvistos. “Começa desde pequeni-
cados-alvo, dado o recente bipolarismo in- Van Zeller & Co, foram as convidadas da no. Os alunos chegam à universidade e não
ternacional, que agrava os riscos entre os sessão Girl Talk, durante o evento. Ambas querem falhar, o que está errado. Costumo
dois lados da fronteira que opõe o Ocidente elegeram a retenção de mão de obra qua- dizer que aquele é o melhor sítio para fa-
ao Oriente; um contexto geopolítico que, lificada como uma das prioridades para o lhar”, observa Sofia Salgado.
somado ao cenário macroeconómico, au- ano de 2023. Se Sofia Salgado considera que
menta a necessidade de avaliar e projetar as empresas devem pensar como impedir a PREVENÇÃO DO RISCO NAS PME
os cenários possíveis no planeamento es- fuga de talentos, adotando melhores condi- Ambiente, pessoas e património. São as
tratégico. ções de atratividade para recrutar, Francisca categorias abrangidas pelo Prémio Inova-
No exercício de gestão e planeamento, van Zeller, que vive no terreno onde se pro- ção em Prevenção, que distingue as práti-
que se quer a médio e longo prazos, Her- duz vinho, quer atrair mão de obra qualifi- cas mais inovadoras das PME portuguesas
mano Rodrigues nota ainda a importância cada e ver criadas condições para estabilizar na área da prevenção de risco. Na edição
de alinhar a estratégia das empresas com pessoas em zonas rurais. do ano passado, o grande vencedor foi o
os objetivos dos stakeholders – como, por Mas a responsável pelo marketing de Grupo SOCEM.
exemplo, no ESG -, ainda que períodos de uma empresa familiar, que tem 400 anos Um dos painéis foi, precisamente, de-
crise sejam potenciadores de um maior foco de história, elege como prioridade máxima dicado ao tema da importância da pre-
nos resultados financeiros do exercício. a “transparência na execução do PRR” e na venção. Luís Febra, diretor-geral do Grupo
Por fim, e num panorama de mudan- atuação das lideranças, fatores importantes SOCEM, afirmou que a distinção obtida
ça acelerada, pode ser preciso redefinir a para a credibilização. Já a docente da Cató- foi um reflexo do que a empresa faz no

MARÇO 2023 . EXAM E . 87


Macro

Informação, mas não só


À direita, momento de debate protagonizado por Sofia
Salgado e Francisca van Zeller; abaixo, o perfil das 1000 PME,
pela voz e pelos dados de António Barreiros, da Informa D&B;
e ainda um tocante momento musical, pela fadista Rute Rita

LUCÍLIA MONTEIRO
mento de complexidade, que nos aconselha
a não fazer previsões. Mas temos de criar
condições para um ganho de escala das nos-

LUCÍLIA MONTEIRO

LUCÍLIA MONTEIRO
sas empresas, e não um contexto em que o
crescimento das empresas está sempre a ser
penalizado. Temos de nos focar nos custos
de contexto, na fiscalidade, na burocracia e
no funcionamento das instituições.”
seu dia a dia e que o Prémio Inovação em Para António Mendonça, é fundamental
Prevenção foi uma forma de partilhar as que se recupere uma dimensão estratégica
práticas da organização, ajudando a in- na atuação do Estado. E criticou a aposta
fluenciar positivamente os outros. do Governo em medidas extraordinárias,
Apesar de a empresa de Leiria ter sido essencialmente dirigidas aos portugueses
distinguida devido a um projeto de com- Faltam medidas mais pobres. “Tenho sérias reservas em re-
ponente ambiental, Luís Febra assinalou a mais estruturais, lação ao que está a ser feito”, referiu. “Há
relevância da cultura da organização: “Ve- políticas que não têm coerência entre si.
mos estas questões, quer da prevenção de que introduzam Faltam medidas mais estruturais, que in-
risco, quer das questões ambientais ou das dinâmicas na troduzam dinâmicas na economia. Temos
relações humanas, como cultura. É a nossa economia” um problema nas camadas médias, e não
cultura; nós somos humanos, e os humanos tem havido capacidade de responder a esse
são tudo menos recursos. É proibido falar António Mendonça setor, na fiscalidade e noutras áreas.”
de recursos humanos na nossa organização. Bastonário da Ordem dos Economistas O ex-ministro das Obras Públicas e
Vivemos para ser felizes.” O responsável do Transportes concorda com a necessidade
Grupo SOCEM afirma que se criou na em- de políticas que permitam às empresas ga-
presa uma “aura de autorresponsabilização, final. No último debate da conferência das nhar escala e aponta uma contradição na
em que todos cuidam de tudo”. 1000 Maiores PME, dois economistas reco- forma como Portugal olha para os seus re-
No mesmo painel – que teve a mode- nheceram a dificuldade de fazer previsões cursos humanos: “Exportamos mão de obra
ração do diretor da EXAME, Tiago Freire –, nesta altura, mas sugeriram uma interven- qualificada e importamos mão de obra não
Gustavo Barreto realçou que, no período da ção diferente da parte do Governo, com qualificada.”
pandemia, “as empresas com mais resiliên- uma visão mais estratégica e maior apoio Olhando para 2023, Luís Miguel Ribeiro
cia não eram as maiores, nem as de um se- às empresas. antecipa que “a indústria continuará a ser
tor em particular, mas sim as que apresen- “Em 2022, houve uma tendência para o motor do desenvolvimento económico do
tavam melhores práticas de gestão de risco”. rever em baixa as projeções e, agora, no final País”, sublinhando que ela só não tem mais
Também Pedro Matias sublinhou que do ano, há uma tendência no sentido positi- relevância devido à falta de apoio público.
“prevenir é antecipar lucros e otimizar”, vo”, aponta António Mendonça, bastonário O líder da AEP deixa várias críticas ao fun-
considerando que esse é um tema crucial da Ordem dos Economistas, respondendo a cionamento e desenho do PRR, seja o facto
para as empresas e para a economia por- uma pergunta sobre os recentes dados que de grande parte das verbas ir para o Esta-
tuguesa. O presidente do ISQ salientou que têm chegado da Europa e que sugerem que do, seja a burocracia excessiva e os atrasos
“a questão da sustentabilidade e do ESG é pode ser possível evitar uma recessão. que provoca.
muito importante para as empresas, já que Luís Miguel Ribeiro, presidente da Asso- Por sua vez, António Mendonça dei-
os clientes são cada vez mais exigentes”. ciação Empresarial de Portugal (AEP), notou xa uma mensagem com um fundo posi-
que a conferência foi no Porto, aproveitando tivo em relação a 2023: “O Governo tem
E A ECONOMIA? para lembrar a célebre frase “prognósticos margem de manobra e flexibilidade para
“Prognósticos só no fim do jogo”, mas com só no fim do jogo”, dita pelo antigo capitão atender à incerteza ou a acontecimentos
o desejo de querer influenciar o resultado do FC Porto, João Pinto. “Vivemos um mo- imprevisíveis.” E

88 . EXAM E . MARÇO 2023


Opinião
POR
INÊS VAZ PEREIRA

O futuro do capital
humano no setor da AEC
A partir do conhecimento do setor da Construção e do que as gerações
mais jovens valorizam, consegue-se atrair o talento e transformar um
setor que, neste momento, é considerado “envelhecido” > Associate partner EY,
People Advisory Services

T
endo presente 4) existe a necessidade de a aplicação de estratégias de universidades, bem como ex-
o crescimen- desenvolver novas competên- Employer Branding que envol- periências de menor duração
to da compe- cias (reskill e upskill); vem a criação de uma marca como estágios de verão, open
titividade do 5) a legislação laboral en- de valor e um plano de comu- days ou visitas técnicas;
mercado de contra-se pouco alinhada com nicação que posicione as di- 4) criar novas experiên-
talento e os desafios vividos as características atuais do mensões do Employee Value cias de desenvolvimento, ou
ao nível da atratividade, do setor; Proposition (EVP); seja, clarificação de política
desenvolvimento e da reten- 6) o desafio da sustentabi- 2) aproximar a academia de mobilidade e dinamização
ção do talento, urge a neces- lidade será aquele que maior do negócio – ou seja, poten- das oportunidades nacionais e
sidade de reinventar a gestão transformação e desafios im- ciar a presença em feiras de internacionais, como forma de
de talento no setor Arquitetu- primirá ao setor. emprego das universidades e dar resposta não só às necessi-
ra, Engenharia e Construção No estudo realizado, com o investimento na dinamização dades do negócio mas também
‒ AEC. Para que tal aconteça, foco no pilar “qualificar”, o re- de outros momentos de qua- de proporcionar ao talento um
é necessário concretizar uma sultado final culminou numa lidade junto da comunidade leque alargado de experiências
mudança significativa no pa- proposta de revisão das pro- académica, por forma a posi- de desenvolvimento no setor;
radigma do talento no setor. fissões e categorias profissio- cionar realisticamente a marca 5) reimaginar o modelo de
Num estudo recentemente nais do setor, que dará origem do setor entre os mais jovens; carreiras, ou seja, reimaginar
realizado pela EY, em parceira à criação de uma estratégia de 3) desenvolver programas as categorias profissionais e os
com a BuiltColab, foram apre- gestão do capital humano e para jovens, ou seja, criação planos de carreira ajustados à
sentadas recomendações para que alimentará o desenvolvi- de programas de integração e retenção e desenvolvimento
inovar e transformar o futuro mento de uma plataforma web desenvolvimento direcionados das pessoas;
do capital humano no setor. colaborativa setorial e para a ao talento jovem, tais como 6) apostar na transforma-
A relevância deste estudo empregabilidade. programas de trainees, bol- ção digital, no sentido de dotar
foi inserida numa iniciativa Este estudo pretende con- sas de investigação e estágios as pessoas de competências
com 4 pilares, onde o tema do tribuir para a criação de uma curriculares em parceria com digitais que proporcionem
capital humano está presente estratégia de atração de suces- maior eficiência e preparação
de forma transversal em to- so, preparada para responder para a inovação tecnológica
dos. Ou seja, é urgente definir aos desafios colocados pelas que marcará proximamente o
a forma como se resolvem os novas gerações nas organiza- Colocar futuro do setor.
desafios ao nível do capital hu- ções, capaz de atrair e reter o Em conclusão, colocar as
mano, considerando que: melhor talento no setor e que, as pessoas no pessoas no centro do que fa-
1) há uma grave escassez efetivamente, contribua para centro do que zemos no nosso dia a dia é a
de mão de obra, que conti- mudar o paradigma do talento fazemos no premissa mais certa nos dias
nuará a originar problemas no setor AEC em Portugal. de hoje. O setor AEC já está a
de produtividade e de desen- As boas práticas de gestão nosso dia a dia construir a gestão da mudança
volvimento; e a análise aos mercados in- é a premissa e ambiciona alcançar um fu-
2) é um setor com uma ternacionais foram tidas em mais certa nos turo mais promissor ao nível
baixa inovação tecnológica; consideração, para as princi- dos seus processos, tecnologia
3) está fortemente marca- pais conclusões, numa pers- dias de hoje, e gestão de pessoas. Estudos
do por um estigma e imagem petiva de posicionar o futuro também no setor complementares permitem
negativa junto da sociedade do capital humano num outro de Arquitetura, obter factos e recomendações
civil e dos jovens que procu- patamar, que permita: sobre as novas estratégias a
ram um mercado de trabalho 1) potenciar o poder da Engenharia seguir e elevar o devido reco-
digital; marca empregadora, ou seja, e Construção nhecimento do setor. E

MARÇO 2023 . EXAM E . 89


Exit
EXAME

LAZER . CONSUMO

BONS INVESTIMENTOS
Em tempos de incerteza económica, selecionámos algumas sugestões de produtos que,
acreditamos, valem mesmo o dinheiro nesta chegada da primavera
Texto Margarida Vaqueiro Lopes e Edgar Freitas Antunes

Amor para
a vida
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9 0 . EXAM E . MARÇO 2023


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que a qualidade do som faz toda
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alumínio e vidro temperado,
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captado em estúdio, o que faz a
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produzido com fruta madura colhida no
outono, destilado artesanalmente, no Este talvez não seja um investimento para
ano passado, num pequeno alambique toda a vida, mas pelo menos é divertido.
de cobre, tendo feito estágio em Pode oferecer esta vela a um amante
cascos de carvalho francês durante do Caminho das Estrelas – ou guardá-la
seis meses. Segundo os produtores, para si e dar um toque de cor e irreverência
o Medronho Envelhecido 2022 é à sua casa. A Candle Hand sugere ainda
uma sublime ode à tradição, feito uma série de outros gestos em forma de
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respeitando as tradições mais puras da de design e de uma boa gargalhada.
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MARÇO 2023 . EXAM E . 91


Exit

GARRAFEIRA

“Red, red wine”


Tem direito a músicas, há quem acredite que faz mesmo bem
à saúde – bom, já lá vamos – e é presença assídua em qualquer
mesa de festa. Em Portugal, o vinho tinto costuma também ser
o preferido dos consumidores, graças à história que conta
Texto Margarida Vaqueiro Lopes

A
ntes de mais, o alerta vinha da casa, numa etiqueta branca e
que se impõe: por mais simples, e tornaram-se um caso sério de
elementos alegadamen- sucesso, depois de, em 1976, terem sur-
te benéficos para a saú- preendido no mítico julgamento de Paris
de, a verdade é que o – uma prova cega em que o Ridge Monte
consumo de álcool em excesso tem efeitos Bello de 1971 suplantou vários congéne-
nocivos a vários níveis. E isso deve sempre res franceses e se afirmou como o me-
ser tido em consideração, mesmo quando lhor tinto em prova. Na repetição da pro-
os estudos dizem que beber um copo de va – com os mesmos vinhos e vintages,
vinho tinto por dia faz bem ao coração ou em 2006, o Monte Bello 1971 sagrou-se
tem efeitos antioxidantes. mesmo campeão, o que evidenciou a ca-
Dito isto, foi sendo declarado que, pacidade de evolução dos vinhos califor-
por ter algum resveratrol, o vinho tinto nianos.
era bom para a saúde dos vasos sanguí- Desde a década de 60, sob a alçada
neos – o resveratrol ajuda na prevenção de Paul Draper, um produtor de vinhos
do desenvolvimento da aterosclerose e autodidata que se tornou referência nos
de doenças cardiovasculares, e também EUA e internacionalmente, as vinhas da RIDGE LYTTON
tem algumas características antienvelhe- casa Ridge ganham pela altitude a que se SPRINGS 2018
cimento. A confirmar-se, terá de ser be- encontram – e muitas delas são vinhas
bido com muita moderação, para que o velhas – e pelo cuidado que Draper sem- > R E G I ÃO
efeito do álcool não suplante os benefícios pre emprestou à produção: pouca inter- Condado de Sonoma, Califórnia,
deste antioxidante. venção, menos álcool do que os tintos EUA
Mas mesmo – ou precisamente por franceses, uvas e castas cuidadosamente
> O N D E E N CO N T R Á  LO ?
isso – que beba apenas um copo de vi- escolhidas, além de uma estrutura e ele-
Em garrafeiras internacionais,
nho, de quando em vez, o melhor é des- gância que refletem o terroir da região.
que enviem para Portugal, como
cobrir exatamente qual o seu perfil e O seu trabalho com a recuperação e a
a Vinello, por cerca de €60
apostar num que seja muito bem-feito e utilização da casta Zinfandel não passou
que transforme o momento em algo mui- despercebido e são muitas as referências, > O VINHO
to especial. hoje, que funcionam como uma espécie Produzido a partir das castas Zin-
Neste mês, escolhi de cartão-postal da eno- fandel, Petite Syrah, Carignane e
três vinhos de lugares logia californiana. Mataro, é um vinho muito aromá-
muito diferentes, mas De França, trazemos tico, elegante e equilibrado, com
Criámos uma escala alguns taninos presentes e muito
que cumprem o propó- um vinho do também
sito: acompanhar bem
inspirada nas agências incontornável Château boa perspetiva de envelhecimento
uma refeição ou ser de rating. Boas provas! de Beaucastel, cuja qua- – mais três anos em garrafa, des-
confio, e estará no seu expoente
a companhia perfeita lidade e história qua-
> N OTAÇ ÃO máximo. Sente-se alguma doçura
num momento de des- se superam a da região
AAA ................................... Fabuloso na boca, mas mantém uma boa
contração. AA .................................... Muito bom onde se insere, ao ser acidez. Perfeito para acompanhar
Dos EUA, os vinhos A ..................................................... Bom considerado o expoente um bife ou um guisado.
Ridge são uma referên- BBB ................................ Satisfatório máximo dos Château-
cia incontornável. Ga- BB ................................................ Mau neuf-du-Pape. É, como > N OTAÇ ÃO
nham o nome de cada C ........................................... Não beba! o nome deixa adivinhar, AA

9 2 . EXAM E . MARÇO 2023


CONTEÚDO
PATROCINADO

VIVER O DOURO
É difícil parar de olhar e tirar fotos durante a descoberta da sua paisagem inclinada de vinhas,
antes de provar os seus vinhos distintos

Um passeio na Região do Dou- to, num processo de origem


ro deve incluir sempre a estra- centenar em que os açucares
da marginal ao rio entre o Peso das uvas vão sendo transfor-
da Régua e o Pinhão, como iní- mados lentamente em álcool,
cio de descoberta de uma re- e o vinho vai sendo enrique-
gião única no mundo. É difícil cido com os componentes das
não parar, para olhar e tirar fo- películas.
tos, uma e outra vez, para des-
cobrir a paisagem inclinada, de UM TINTO CONCENTRADO
uma terra única, moldada por E ELEGANTE
mãos humanas há muitas cen- As vinhas velhas desta Quin-
tenas de anos. ta contêm 41 castas, com mais
Subindo depois um pouco em de 60 anos, e dão origem ao
direção a S. João da Pesqueira, tinto Quinta Vale Dona Maria
para observar mais de perto os Vinhas Velhas, um field blend
profundos vales ornamentados profundo e intenso, onde se
por videiras alinhadas pelas salientam aromas de cereja,
curvas de nível das encostas, ameixa e amora silvestre. Na
ou distribuídas em patama- boca é harmonioso, concen-
res e alguns bosques e olivais, quando as vinhas se enchem dos os anos, para a vindima, trado e elegante, com uma es-
vale a pena sair para descobrir de matizes vermelhos e casta- num trabalho árduo realizado trutura e uma textura sucu-
a Quinta Vale Dona Maria, que nhos no outono. Também pe- às primeiras horas da manhã lentas, um vinho ideal para
produz Vinhos do Douro e do las laranjeiras, oliveiras e me- para evitar os efeitos do calor os sabores da carne vermelha.
Porto no Vale do rio Torto, um dronheiros que ornamentam habitualmente excessivo da Experimente-o, por exemplo,
dos afluentes do Douro. as bordaduras dos caminhos região, nas pessoas e também na companhia de uma posta
e das parcelas de vinha, onde nas uvas, de forma a garantir de grelhada na brasa do car-
BELA E ÚNICA surgem como corredores eco- que estas chegam com a qua- vão, com batatas assadas, gre-
A propriedade, cujos primei- lógicos para diminuir a erosão lidade desejada à adega, para los e azeite da região, para ver
ros registos datam de 1868, é, e criar o ambiente mais apro- dar origem aos vinhos únicos como é bom comer mais deva-
por si só, também bela, úni- priado ao desenvolvimento que caracterizam esta Quinta. gar, para apreciar o prazer para
ca e mesmo surpreendente da fauna local. Ali as uvas são Depois, são escolhidas antes os sentidos desta conjugação
por tudo o que se consegue colhidas à mão, por homens e de serem pisadas a pé, duran- de aromas e sabores únicos.
descobrir quando lá se está. mulheres que se deslocam, to- te horas, em lagares de grani- Isto é viver o Douro.
Ali pratica-se uma viticultura
sustentável, que é, para Antó-
nio Azevedo Guedes, co-CEO e
descendente da 5.ª geração da
família fundadora da Aveleda, Seja responsável. Beba com moderação

a atual proprietária da Quin-


ta Vale Dona Maria, o garante
da consistência da qualidade
dos seus vinhos. Quem visita a
propriedade, em qualquer al-
tura do ano, consegue ver isso
pelo enrelvamento das entreli-
nhas das suas vinhas, cujas co-
res contrastam e dão um toque
ainda mais belo à paisagem
Exit

ao Cisma do Ocidente que podemos


agradecer a criação desta denomina-
ção de origem controlada, a primei-
CHATÊAU ra de sempre em França, e onde ainda
DE BEAUCASTEL hoje se produzem alguns dos melhores
2009 vinhos daquele país. Nas mãos da famí-
lia Perrin desde o início do século XX, o
> R E G I ÃO Château de Beaucastel conta hoje com
Châteauneuf-du-Pape, França várias gerações de Perrin a trabalhar nos
130 hectares de vinha – 100 dedicados
> O N D E E N CO N T R Á  LO ?
à região de Châteauneuf-du-Pape e os
Em garrafeiras internacionais,
que enviem para Portugal, como restantes 30 a produzir vinhos para a de-
a Infinivin, por cerca de €170 nominação de origem controlada de Cô-
te-du-Rhône. Com uma viticultura or-
> O VINHO gânica e biodinâmica há várias décadas,
Com aromas a compota, pimenta os vinhos desta casa são profundamente
e alguma noz-moscada, é muito marcados pelo equilíbrio dos blends –
exuberante no nariz. Perfeitamen- apesar de a Garnacha ser a casta-rainha
te equilibrado, ao fim de quase da região, a família Perrin prefere traba-
14 anos, é um vinho com alguma lhar sempre com as várias possibilidades
amargura que, acreditamos, se
que as 13 variedades permitidas naquela
desvanecerá com o passar de mais
DOC oferecem. O resultado são vinhos
alguns anos. Depois de algum
contacto com o ar, destacam-se os portentosos, com uma incrível capaci-
aromas a frutos secos e a baunilha. dade de envelhecimento e um equilíbrio
que nos faz sempre suspirar a cada golo.
> N OTAÇ ÃO Num outro registo, trazemos tam-
AA+ bém o Douro para a mesa. Apesar de
ainda haver muito a fazer para se po-
der compará-las a qualquer uma das
produções faladas anteriormente, des-
ta região têm saído algumas referências
QUINTA muito curiosas, que fazem adivinhar um
DE VENTOZELO caminho a percorrer na prossecução da-
LOCI 2020 quilo que se quer que sejam os vinhos do
Douro no mundo. Este vinho, produzido
> R E G I ÃO na Quinta de Ventozelo, pertencente ao
Douro grupo Granvinho (anterior Gran Cruz,
ao qual pertencem marcas como a Dalva
> O N D E E N CO N T R Á  LO ?
ou o Porto Cruz), é mais uma tentativa
No site do produtor
(www.granvinho.pt) ou em garrafeiras, de se expandir o portefólio da empre-
por cerca de €25 sa para além dos vinhos do Porto, em
que já tem a sua reputação firmada. A
> O VINHO Quinta de Ventozelo, apontada como a
A partir de uvas de Tinta-amarela, mais antiga e uma das maiores da região,
Tinta-roriz, Touriga-nacional, Sousão e tem sido alvo de um grande investimen-
Tinto-cão, de oito vinhas diferentes, é to por parte de La Martiniquaise, o gru-
um vinho complexo, ainda muito tanino po francês a que pertence a Granvinho.
e com muita fruta vermelha e aromas Comprada em 2015, tem-se afirmado no
vegetais, tanto no nariz como na boca.
enoturismo e tem desafiado José Manuel
Denota boa capacidade de envelheci-
Sousa Soares, o diretor de enologia, a
mento mas, pessoalmente, não o be-
beria já. A sua exuberância é, por agora, produzir mais e melhores vinhos DOC
desconcertante. Aguardemos. Douro. Esta foi a referência mais recen-
te a ser apresentada pelo grupo e pode
> N OTAÇ ÃO ser um interessante complemento aos
A anteriores lançamentos. E

94 . EXAM E . MARÇO 2023


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R E N A U LT M É G A N E E  T E C H E L É T R I C O

Em plena revolução
O Mégane E-Tech é o primeiro modelo 100% elétrico da Renault
a ser lançado no âmbito do plano “Renaulution”, um programa que
promete transformar o modelo de negócio da marca francesa
Texto Paulo M. Santos

O
Os últimos anos foram, Um projeto ambicioso, que se irá de- O Mégane E-Tech
para a Renault, um dos senrolar até ao final de 2025, mais orien-
períodos mais difíceis tado para o lucro do que para o volume de 100% Elétrico
dos seus 134 anos de vendas e quotas de mercado. Os objetivos está disponível
história. Ainda a refa- estão bem definidos e passam pela redu- com duas baterias,
zer-se do escândalo em que esteve envol- ção drástica da capacidade de produção,
vido o seu carismático líder, Carlos Ghosn, de 4 milhões para 3,1 milhões de unida- de 40 e 60
detido no Japão e destituído do cargo de des por ano, e pelo aumento da margem kWh, com uma
CEO da aliança Renault/Nissan, a mar- operacional para 5%, o equivalente a 6 mil autonomia
ca foi fortemente afetada pelo período da milhões de euros.
pandemia e acabou por registar prejuízos Luca de Meo está apostado em fazer de 300 km
de quase oito mil milhões de euros em mais com menos e, para o conseguir, quer e 470 km
2020. Foi nessa altura que decidiu con- lançar 24 novos veículos ao longo deste
tratar um novo CEO, escolhendo para o período, na sua maioria 100% elétricos,
cargo Luca de Meo, antigo presidente da para que esta motorização represente um
Seat, que depressa definiu um plano, de- terço das vendas do construtor gaulês. Em
nominado “Renaulution”, que pretendia paralelo, será feita uma grande aposta nos
revolucionar o conceito de negócio da serviços digitais em todos os novos auto-
marca francesa. móveis. Como definiu o próprio Luca de

9 6 . EXAM E . MARÇO 2023


Meo, a Renault “passará de uma empresa carroçaria. Não mudam a posição de con-
automóvel que utiliza a tecnologia, para dução, mas o seu peso é suficiente para
uma empresa tecnológica que utiliza os AVANÇAR baixar o centro de gravidade do veículo
automóveis”. E foi mais longe: “Em 2030,
pelo menos 20% das nossas receitas terão
NO TEMPO em nove centímetros, tornando-o mais
fiável e dinâmico, e com uma repartição
origem nos serviços de dados e no comér- O Mégane E-Tech Elétrico de peso, quase idêntica, entre a frente e
cio de energia.” traz uma grande aposta a traseira.
Um dos primeiros modelos que a Re- na conetividade e no digital O interior está bem desenhado e a su-
nault lançou no âmbito deste novo pla- perfície plana confere-lhe um melhor uso
no foi o Mégane E-Tech 100% elétrico, do espaço do habitáculo. Os materiais uti-
um veículo que surge quase como uma lizados no interior são de boa qualidade,
montra do que irão ser os novos carros desde a pele sintética, com costuras dos
da marca francesa, quer em termos de bancos, até ao tecido que cobre o tablier,
design, quer de avanços tecnológicos. E mas, numa análise mais profunda, pode-
os resultados parecem bem promissores. mos encontrar alguns plásticos mais duros
Este Mégane surge bem dotado de novas e menos agradáveis ao toque nos revesti-
soluções digitais, é agradável de conduzir mentos das portas e na consola central,
e consegue uma boa eficiência energética. tudo em nome da contenção de custos e
> GRANDES DIMENSÕES
Num primeiro olhar, ficamos com da redução do peso para tornar o veículo
a sensação de que estamos perante um O painel de instrumentos surge num
mais eficiente em termos energéticos.
crossover, ou um pequeno SUV, devido ecrã digital de grandes dimensões, com Apesar de ser mais curto do que o seu
à linha de cintura mais elevada. Mas, se 12,3 polegadas, com possibilidade de “irmão a gasolina”, o modelo elétrico con-
observarmos o carro mais atentamente, alternar, entre três configurações, atra- segue apresentar um generoso espaço no
poderemos dizer que este modelo é, na vés do botão “View” situado no volante habitáculo, não só nos bancos da frente
realidade, uma berlina um pouco mais como também para quem viaja atrás. A
elevada. Apesar de ter mais 6 centímetros mala é profunda e apresenta uma capa-
de altura do que o Mégane tradicional, o cidade volumétrica de quase 400 litros.
E-Tech não só é um pouco mais estreito O Mégane E-Tech elétrico traz consi-
como tem menos 15 centímetros de com- go vários sistemas de apoio ao condutor,
primento, em relação ao seu “irmão mais como o Active Driver Assist – que mantém
velho”. E a posição de condução, embora o veículo no centro da faixa e a uma dis-
pareça mais alta, é muito semelhante à tância de segurança do carro que circula
do Mégane com motor a gasolina, graças > MAIS CONECTADO na frente –, a regulação da velocidade, as
à reduzida espessura das baterias, de ape- luzes adaptativas e, consoante a versão, o
nas 11 centímetros, que estão por baixo da O painel de infoentretenimento, com parqueamento automático.
12 polegadas e colocado na vertical, é Está disponível em duas versões –
bastante intuitivo e inclui o Google Auto
uma com uma bateria de 40 kWh, que
Services, com funções como o assis-
disponibiliza uma autonomia de 300 qui-
tente de voz ou o serviço de navegação
desta plataforma
lómetros, e outra de 60kWh, capaz de
percorrer 450 quilómetros – e duas mo-
> ANALÓGICO QB torizações, de 131 e 218 cavalos, respeti-
vamente. Em termos de preço, o Renault
Ao contrário do que tem Mégane E-Tech Eletric começa nos 36 mil
vindo a ser habitual nou- euros, para a versão equipada com o mo-
tras marcas, a Renault tor menos potente e a bateria com menos
decidiu colocar alguns
capacidade, e estende-se até aos 47 mil
botões “físicos”, que
euros, para o carro com o motor de 218
nos permitem contro-
lar a climatização ou
cavalos e a bateria de 60 kWh.
outros comandos Estes preços estão em conformidade
mais básicos, o que ou até um pouco abaixo dos seus con-
facilita a tarefa do correntes, mas ainda não são valores que
condutor sempre “democratizem” os carros elétricos entre o
que este preten- comum dos cidadãos, um dos fatores que
de aceder a essas Luca de Meo considera essenciais para as-
funções segurar o futuro da indústria automóvel. E

MARÇO 2023 . EXAM E . 97


Exit

E S TA N T E

Gestão, monopólios,
China e geopolítica
Texto Rui Barroso

UM MANUAL
ESSENCIAL
DE GESTÃO O DRAGÃO
DO SÉCULO XXI
Da teoria aos casos
de estudo de grandes Um mapa sobre
multinacionais a China atual

O TikTok, a EDP, a Talk- AS COMPANHIAS Que a China é uma po-


desk, a IKEA, a Tesla e tência incontornável, já
outras grandes empresas são QUE todos o sabemos. Mas, como
verdadeiros casos de estu- GOVERNARAM é realmente esse país? A jorna-
OS CAMINHOS
do em Gestão. Neste livro, os O MUNDO lista e sinóloga Giada Messet-
exemplos destas multinaci- ti – correspondente em órgãos DA GEOPOLÍTICA
onais serviram de ponto de Os grandes monopólios da de comunicação italianos na
Era do Comércio Heroico As reflexões de Miguel
partida para combinar a teo- China, entre 2005 e 2011 – tra-
ria com a prática, dando re- ça, neste livro, um mapa sobre Monjardino sobre como
sultado a um manual riquís- “Quem controla o comér- a China, ajudando a conhecer a História pode ajudar
simo. A obra está dividida cio do mundo controla as coordenadas políticas, cul- a perceber para onde vai
em três temas-chave: Gestão as suas riquezas do mundo e, turais, económicas e sociais do o mundo
de topo, Gestão funcional e consequentemente, o próprio gigante asiático. Além de aju-
Competências de gestão. Em mundo”, disse Walter Raleigh, dar a perceber o Império do A invasão da Ucrânia
cada um desses pontos, são um dos maiores exploradores Meio, este livro tenta desmis- pela Rússia, iniciada em
dados exemplos práticos de ingleses. E poucas empresas tificar alguns aspetos sobre a 24 de fevereiro de 2022, virou
empresas, que se distingui- o conseguiram fazer como China e argumenta que seria de pernas para o ar o tabulei-
ram em áreas como a estraté- as companhias monopolistas positivo que o Ocidente conse- ro geopolítico. Neste livro, Mi-
gia e estrutura, investigação e da Era do Comércio Heroico guisse estabelecer mais pontes guel Monjardino, especialista
desenvolvimento, marketing – que durou entre os séculos com Pequim. em Geopolítica e Geoestraté-
e vendas, recursos humanos, XVII e XIX. Neste livro, é con- TÍTULO: Entender a China
gia, recorre à História para en-
planeamento, implementação tada a história de alguns dos contrar ãs razões do que está a
AUTOR: Guida Messetti
e controlo. maiores monopólios de todos acontecer no mundo e, a partir
EDITORA: Editorial Presença
TÍTULO: Gestão Moderna
os tempos e dos seus líderes, daí, identifica os desequilíbri-
como foi o caso, por exemplo, PVP: €13,90 os do sistema internacional e
AUTOR: Adriano Freire
da Companhia Inglesa das Ín- traça os possíveis cenários dos
EDITORA: Bertrand
dias Orientais, bem como da próximos capítulos da geopo-
PVP: €27,70 Companhia Neerlandesa das lítica internacional. Uma obra
Índias Orientais, da Compa- essencial para entender o que
nhia da Baía de Hudson e da faz mover o mundo e ante-
Companhia Britânica da Áfri- cipar o que pode estar ainda
ca do Sul. por vir.
TÍTULO: Os Reis Mercadores TÍTULO: Por onde irá a História

AUTOR: Stephen R. Bown AUTOR: Miguel Monjardino

EDITORA: Temas & Debates EDITORA: Clube do Autor

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98 . EXAM E . MARÇO 2023


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