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(20230300-PT) Exame 467 PDF
(20230300-PT) Exame 467 PDF
(20230300-PT) Exame 467 PDF
Publicação Mensal
É possível combater a Adélia Carvalho, Como a tecnologia
exame.pt inflação sem esmagar de rececionista do ISQ vai do fundo 467
Portugal
os trabalhadores? a diretora-geral do mar a Marte
467
março 2023
OS NOVOS ELDORADOS
DAS EXPORTAÇÕES
O S N O V O S E L D O R A D O S D A S E X P O R TA Ç Õ E S P O R T U G U E S A S
PORTUGUESAS
As vendas de bens ao exterior bateram recordes em 2022. Conheça
os mercados que mais crescem, os produtos que se destacam
e os conselhos práticos para as empresas que querem entrar nos
países, que compram cada vez mais made in Portugal
Exame
Nº467 . 3/23
34
A DIRETORA HUMANISTA
A EXAME foi conhecer
Adélia Carvalho, diretora-geral
do Valverde Hotel, e já distinguida
como a gestora mais motivadora
de Portugal
© ENGDAO WICHITPUNYA
12
PORTUGAL LÁ FORA
As exportações nacionais têm
sido um dos grandes motores
do crescimento económico nos
últimos tempos. O que estamos
a exportar, para onde estamos
LUÍS BARRA
a exportar e para onde vamos,
em análise este mês
Proprietária/Editora:
TRUST IN NEWS, UNIPESSOAL LDA.
Sede: Rua da Fonte da Caspolima – Quinta da Fonte
Edifício Fernão de Magalhães, 8
2770-190 Paço de Arcos. NIPC: 514674520
Gerência da TRUST IN NEWS: Luís Delgado,
POR Filipe Passadouro e Cláudia Serra Campos
TIAGO FREIRE Composição do Capital da Entidade Proprietária: 10 000,00 euros
Principal acionista: Luís Delgado (100%)
Diretor
P
Colaboradores de revisão Margarida Robalo e Sónia Graça
arece ter termina- O que podemos dizer com se- Secretariado Sofia Vicente (direção) e Ana Paula Figueiredo
REDAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS COMERCIAIS
do, oficialmente, o gurança é que os termos do acordo Rua da Fonte da Caspolima – Quinta da Fonte
Edifício Fernão de Magalhães, 8, 8A e 8B, 2770-190 Paço de Arcos
processo de rees- acabaram por ser maus. Maus por- Tel.: 21 870 5000
truturação do Novo que foram dados à Lone Star todos os Delegação Norte: Rua Santos Pousada 441- sala 206/208, 4000-486 Porto
Telefone: 22 099 0052
Banco, e com isso a incentivos para ir buscar o máximo Marketing e Publicidade
Vânia Delgado (diretora) vdelgado@trustinnews.pt
sua saída da alçada (e da carteira) de dinheiro ao Fundo de Resolução. Marketing
Joana Hipólito (gestora de marca) jhipolito@trustinnews.pt
do Fundo de Resolução e da rede Aquilo que ficou no papel como um Publicidade
de financiamento público. É certo “ir buscar em caso de ser estritamen- Tel.: 21 870 5000
Manuel Geraldes (diretor coordenador de publicidade)
que ainda há disputas de verbas em te necessário” foi, na prática, um pla- mgeraldes@trustinnews.pt
Mariana Jesus (gestora de marca) mjesus@trustinnews.pt
tribunal, mas estamos tão cansados fond ao qual o Novo Banco tinha todo Rita Roseiro (gestora de marca) rroseiro@trustinnews.pt
disto tudo que devemos, pelo me- o interesse em recorrer no máximo Tiago Garrido (gestor de marca) tgarrido@trustinnews.pt
Florbela Figueiras (assistente comercial Lisboa) ffigueiras@trustinnews.pt
nos, saudar uma garantia: mesmo possível, pagando toda a sua limpeza. Elisabete Anacleto (assistente comercial Lisboa) eanacleto@trustinnews.pt
Delegação Norte – Tel.: 22 099 0052
que o banco ganhe essa ação (per- E já nem falo do resto, da necessidade Margarida Vasconcelos (gestora de marca) mvasconvelos@trustinnews.pt
Digital e Parcerias
to de 200 milhões), para o futuro a de limpar tanta coisa naquilo que era Hugo Lourenço Furão (coordenador) hfurao@trustinnews.pt
conta está fechada. supostamente o “banco bom” (o lixo Tecnologias de Informação
João Mendes (diretor)
Num processo iniciado em 2017, tinha ficado de fora, diziam-nos). Produção, Circulação
Vasco Fernandez (diretor)
o Fundo de Resolução (detido pelos Sendo um acordo mau, era possível, Pedro Guilhermino (coordenador de produção)
bancos mas com suporte de fundos naquela altura, fazer um melhor? Nuno Carvalho, Nuno Gonçalves e Paulo Duarte (produtores)
Isabel Anton (coordenadora de circulação)
públicos, a título de empréstimos) Francamente, não sei. Assinaturas
Helena Matoso (coordenadora de assinaturas)
injetou 3,4 mil milhões de euros na Com este desfecho, atingimos Serviço de apoio ao assinante. Tel.: 21 870 5050 (Dias úteis das 9h às 19h)
Custo de chamada para a rede fixa, de acordo com o seu tarifário
instituição controlada maioritaria- um momento de importante simbo- apoiocliente@trustinnews.pt
mente pelo fundo norte-america- lismo: finalmente não há nenhuma Impressão Lisgráfica – Estrada de São Marcos n.º 27
São Marcos – 2735-521 Cacém
no Lone Star (o Estado e o Fundo instituição financeira portuguesa Distribuição VASP – MLP, Media Logistics Park, Quinta do Grajal,
Venda Seca, 2739-511, Agualva-Cacém, Tel.: 21 433 7000
de Resolução têm uma participação sob intervenção pública, nacional Pontos de Venda contactcenter@vasp.pt
de cerca de 25%). É muito dinheiro, ou europeia. Isto, que seria o nor- Tel.: 808 206 545 – Fax: 808 206 133
Tiragem 5 800 exemplares. Registo na ERC
sem dúvida, mas as regras desenha- mal, merece festejo. com o n.º 113 709, de 14/04/1989
Depósito Legal n.º 24 202/89
das até previam a possibilidade de Até porque vivemos tempos sen- Estatuto Editorial disponível em visao.sapo.pt/
informacaopermanente/2018-01-01-Estatuto-editorial-da-EXAME
ser mais. síveis, em que a classe média, co- “A TRUST IN NEWS, UNIPESSOAL, LDA. não é responsável pelo conteúdo
E isso leva-nos à questão: valeu mida irremediavelmente pela infla- dos anúncios nem pela exatidão das características e propriedades dos
produtos e/ou bens anunciados. As respetivas veracidade e conformidade
a pena? ção e pelos salários baixos, perdeu com a realidade são da integral e exclusiva responsabilidade dos
anunciantes e agências ou empresas publicitárias.” Interdita a reprodução,
É impossível responder de for- de vez a paciência e a compreensão mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios
ma séria, porque não sentimos, na para grandes gastos públicos, deste e para quaisquer fins, inclusive comerciais.
pele, o que seria o caminho alterna- e de outro tipo, por mais racionais
tivo. Quais seriam os custos, para os que até possam ser.
stakeholders do banco, para o sis- É o fim de um ciclo e o início
tema financeiro português em geral de outro para o Novo Banco. Prova-
e para a nossa economia, se o ca- velmente segue-se um processo de
minho tivesse sido outro? Não sa- venda, que não será isento de polé-
bemos, e tenha cuidado com quem micas (mas alguma coisa o é, hoje
lhe diz que sabe. em dia?). Que haja bom senso. E
NOTÍCIAS . FOCO
A ASCENSÃO DO VINIL
As vendas de discos de vinil continuam a subir de ano para ano e deverão ter atingido um volume
de negócios na ordem dos 1,7 mil milhões de euros, em 2022, a maior receita dos últimos 30 anos.
Na era do streaming e dos serviços digitais, esta plataforma física já representa 6,5% do volume
de negócios global da indústria fonográfica
Texto Paulo M. Santos
50
O REGRESSO DO VINIL 43,5
A grande procura por discos de vinil nos EUA, o maior mercado 40
mundial de música, representa bem a força que este “velho” formato
tem vindo a ganhar nos últimos anos 28,6 30
VALORES EM MILHÕES DE DISCOS
20
11,4
10
1,3 1,0 3,1
0,8
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
AO RITMO DO STREAMING
A indústria fonográfica atingiu um volume de negócios de 25,9 mil milhões de euros, em 2021,
e deverá continuar a subir até ao final da década. O serviço de streaming é a principal fonte de receita,
mas a grande procura pelo vinil conseguiu, pela primeira vez desde 2001, travar a curva descendente
das vendas de música em formato físico
25 24 2001 Apple lança o primeiro iPod 2015 A Apple dá início à Apple Music
25,9
2003 A Apple abre o iTunes Store
20 2008 A Spotify inicia-se na Europa
2011 A Spotify entra nos EUA
15 16,9
10
5
5,0
0,6 0,4 0,1
2,4
0
0,5
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
REFLEXÃO
Debater
“a economia na
encruzilhada”
Na conferência anual Portugal em Exame, mais
de uma dezena de oradores procurou tomar o pulso
à economia nacional, suas forças e fraquezas,
e encontrar o rumo que vai marcar este ano
Numa sala cheia, no cen- forma notável, com um cresci-
tro de Lisboa, deu-se o mento de 6,7%, o maior desde
regresso da conferência 1987”. António Costa Silva realça
Portugal em Exame, que contou que há três efeitos que explicam
com o apoio do Bankinter, da este resultado: “Há um efeito de
KPMG e do Grupo Your. A ma- base que não podemos ignorar,
nhã começou da melhor forma, mas houve também uma contri-
com a intervenção de abertura buição do consumo interno e da
de António Costa Silva, ministro procura externa líquida.”
da Economia e do Mar. Entre os setores destacados
A economia global passa por pelo ministro da Economia e do
tempos desafiantes. Após o im- Mar e que contribuíram para os
pacto da pandemia, surgiu um resultados positivos da econo- Sala cheia
choque geopolítico causado pela mia portuguesa esteve o do tu- O ministro da
invasão da Ucrânia pela Rússia e rismo, que considerou ser um Economia, António
pela concorrência cada vez mais “motor fulcral”. O responsá- Costa Silva, abriu a
conferência anual da
aguerrida entre os EUA e a Chi- vel da pasta da Economia su- EXAME, que, durante
na. António Costa Silva conside- blinhou ainda “a resposta da a manhã, contou
ra que “ainda é muito cedo para metalomecânica, fabricação com uma casa cheia.
Francisco Assis e
dizer que terminamos uma era de máquinas e equipamento”, Marques Mendes
e começamos outra”, mas o mi- e realçou o trabalho feito na estiveram à conversa
nistro da Economia e do Mar não área do têxtil, que se conseguiu no importante “Clube
LUÍS BARRA
o espartilho e as pessoas adap- tugal, a sueca Helen Duphorn Anna Lenz, que assumiu a
tam-se mais depressa. Porque admite que pediu para vir para presidência-executiva da Nestlé
as pessoas, ao invés de estarem cá, quando lhe deram uma ge- Portugal, há sete meses, lembra,
a aboborar em sítios em que não ografia à escolha e depois de ter com a assertividade suíça que a
são precisas, vão para outros lo- passado por vários mercados, ao nacionalidade lhe dá, que “a
cais em que são precisas. Isso é longo dos 20 anos de carreira no produtividade em Portugal é
um tema que tem muito impac- grupo Ingka, a holding que de- mais baixa do que em outros
to na economia e, curiosamen- tém a IKEA. sítios, mas creio também que
te, raramente se fala nisso.” “Acho Portugal um mercado isso está muito ligado ao facto de
No mesmo sentido, Vítor Ri- muito interessante para a IKEA, o País ter muitas PME. Os por-
beirinho deu o exemplo da pró- porque conseguimos mesmo tugueses expatriados são mui-
pria empresa para recordar que ajudar pessoas com baixo poder to procurados, pela sua cultura,
o “S”, que representa o “Social” de compra – e genericamente, pelo domínio do inglês” e, claro,
quando se fala em critérios ESG, em Portugal, há um baixo po- por também estarem mais dis-
é crítico para a sobrevivência der de compra – a ter uma casa poníveis, devido às “condições
das organizações, e que as em- muito confortável, o que é muito muito precárias” que os jovens
presas têm mesmo de priorizá- interessante”, justifica. Acresce encontram em Portugal, quan-
-lo nos próximos tempos: “Na a isso o facto de os portugueses do começam a trabalhar. Mas,
KPMG, estamos a dar voz aos terem facilidade em falar línguas salienta, na Nestlé Portugal não
nossos jovens, a permitir-lhes estrangeiras e, claro, de ser um sente essa falta de produtivi-
multiexperiências, que é isso País com um clima apelativo. dade, talvez porque, reflete, tal
que muitos dos nossos jovens Numa conversa em que par- como na IKEA, a empresa tem
referem como fator de retenção. tilhou o palco com as CEO da uma liderança menos hierar-
O caminho do ESG não é ape- Volvo Portugal e da Nestlé Por- quizada, o que permite uma
nas um instrumento sexy para tugal, Helen chamou a atenção comunicação mais fluida e um
se falar numa conferência des- para, culturalmente, os portu- ambiente propício à troca de
tas. É algo que tem mesmo de gueses serem muito acolhedores ideias. “Não há um respeito exa-
estar incorporado” nos planos e muito honestos, apesar de de- gerado pelas chefias”, acrescen-
operacionais, salienta. Porém, morarem o seu tempo para con- ta Helen Duphorn.
admite que ainda há empre- fiarem nas pessoas, “algo que é “Acho que uma das questões
sas em Portugal que não con- parecido com o que acontece na que realmente têm de ser traba-
seguem entender os impactos Suécia”, admite. lhadas é a se refere às pessoas
financeiros que essa urgência Mas, à semelhança do que poderem falar e pôr em causa
pode ter nas organizações. apontou a sua colega sueca Su- as lideranças”, adianta ainda a
Em jeito de conclusão, e sanne Hägglund, há um ano à CEO da Volvo. “E aqui não há
quase em resumo, Isabel Vaz frente da Volvo Portugal, He- essa cultura. Portanto, possivel-
recordou que só não olha para len acredita que é fundamen- mente o que acontece quando
os critérios ESG com seriedade tal encorajar “os trabalhadores os portugueses saem é que as
quem “esteja a desconversar”, a falar mais e mais cedo. A di- pessoas florescem no seu am-
uma vez que, recorda, todos eles zer às chefias, mas também aos biente de trabalho porque po-
contribuem para a margem fi- outros colegas, quando não es- dem ser ouvidas e criar valor.
nanceira das organizações. tão no caminho certo ou a falar Temos de tentar que as pessoas
Isto “tem que ver com in- sobre aquilo de que não gostam. se sintam atraídas a ficar aqui”,
centivos de longo prazo e com Eu queria mesmo que as pesso- salienta.
políticas, e eu não vejo como as falassem mais, que dissessem Em jeito de curiosidade, as
poderão não ter impacto na mais cedo quando algo não está três executivas admitiram ain-
margem. Só um CEO com muita bem!”, partilha. da que Portugal foi uma escolha
má vontade e que esteja a des- As gestoras respondiam à pessoal, quando lhes deram op-
conversar é que não vê o impac- questão do diretor da EXAME, ções sobre que país queriam ir.
LUÍS BARRA
to a curto, médio e longo prazos Tiago Freire, sobre o facto de os “Eu vivi em 20 países, e este foi
na incorporação dos critérios trabalhadores portugueses se- o único em que comprei casa”,
ESG”, termina. rem muito valorizados quando confessa Anna Lenz com uma Os números não enganam
estão fora do País, enquanto cá gargalhada. “Eu já não me vou O administrador do Banco
GERIR EM PORTUGUÊS dentro parecem não conseguir embora”, responde Helen, di- de Portugal, Hélder Rosalino, falou
do papel dos bancos centrais
Há cinco anos a trabalhar e a li- atingir os mesmos níveis de pro- vertida. “Fico aqui para a refor- e dos seus resultados financeiros,
derar os destinos da IKEA Por- dutividade. ma, já decidi.” Com as famílias numa apresentação rica em dados
a ajuda do diretor
da EXAME, Tiago Freire aquisições”, já que, constata, Conclui que “há 20 anos que
(em baixo) “não conseguimos ter escala”, temos um crescimento ané-
também por alguma resistência mico” e adverte que, enquan-
das próprias empresas. to não existir coragem política
Também o economista João para se fazer reformas na Ad-
Duque considera que “nos fal- ministração Pública, na Justiça
ta ambição coletiva” e que esta e ao nível fiscal, dificilmente o
“poderia ser acicatada pelo Go- País terá condições para crescer
verno”. No entanto, o professor de forma vigorosa e sustentada.
catedrático do ISEG constata E aproveita para apontar que o
que, “além de não serem apoia- caminho do crescimento passa
das, as empresas são mesmo re- pela aposta na dimensão, ino-
primidas no seu crescimento”. vação e internacionalização.
E questiona: “Se quanto mais A discussão acabou, assim,
cresces, mais levas na cabeça, por centrar-se mais em desafi-
qual o incentivo de crescer?”. O os de longo prazo, até porque
economista defende que “é bom uma das nossas debilidades é a
LUÍS BARRA
70 000
60 000
10
50 000 EUA
€ 5 076,0
40 000
>OS MERCADOS COM MAIOR AUMENTO
30 000 MAIORES NO VOLUME DE EXPORTAÇÕES
DESTINOS DAS Subida, em milhões de euros, no valor
20 000
EXPORTAÇÕES das exportações de bens, na última década
10 000
PORTUGUESAS
Valor, em milhões BÉLGICA EUA ITÁLIA
0 de euros, das exportações € 521,7 € 3 078,2 € 1 931,8
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 de bens em 2022 ALEMANHA ESPANHA FRANÇA PAÍSES BAIXOS
Fonte: INE Fonte: INE e AICEP € 3 023,7 € 9 233,9 € 4 213,1 € 1 260,3
POLÓNIA
de exportações no podem estar a ser favoráveis às empresas
portuguesas, nomeadamente a reconfi-
€ 1 070,5 PIB é] “um marco guração das cadeias de valor. José Caeta-
com inegável no considera que “os impactos negativos
simbolismo, até dos bloqueios ocorridos durante a pande-
mia afetaram mais as empresas de maior
FRANÇA porque era um dimensão e com participação de capital
€ 9 709,9 objetivo fixado estrangeiro, atingindo especialmente as
ITÁLIA para a primeira indústrias com alto conteúdo importado
ESPANHA € 3 496,7 metade da presente
e mais integradas nas cadeias globais de
€ 20 410,7 valor”. O professor associado do departa-
ANGOLA
década, tendo sido, mento de Economia da Universidade de
€ 1 424,3 depois, adiado Évora nota que, “ao invés, as empresas de
menor dimensão (PME) lidaram melhor
para 2027” com tais impedimentos e aproveitaram os
desvios de comércio de outros fornecedo-
António Saraiva
Presidente da CIP
res, sobretudo nas indústrias de têxteis,
vestuário e calçado, da madeira, cortiça
POLÓNIA SUÉCIA e papel e de produtos minerais não me-
€ 630,4 € 554,3 tálicos”. Considera ainda que, no pós-pandemia, as
REINO UNIDO empresas portuguesas têm revelado uma “forte com-
€ 1 232,8 petitividade nos mercados externos”.
muito próximos, e as em Portugal é altamente os nossos dois países, a “exportação de produtos ser grandes e isto ajudará
trocas comerciais muito diversificado, tanto na França é o segundo maior tipicamente portugueses, a cumprir os prazos de
intensas. O fim da pande- indústria – de salientar mercado da União Euro- que se destinem à comu- entrega”.
mia intensificou os fluxos os setores automóvel e peia ao nível de população. nidade portuguesa”. Outro fator a ter em conta
entre os nossos dois mer- aeronáutico – como nos É, portanto, um mercado Às empresas que ainda é a escolha de um par-
cados”, explica Laurent serviços, nomeadamente incontornável para as não tenham posto o pé no ceiro que conheça bem o
Marionnet à EXAME. O as tecnologias de informa- empresas portuguesas mercado gaulês, Laurent mercado francês. Laurent
diretor-geral da Câmara ção, o digital, os centros que desejem exportar.” Marionnet deixa alguns Marionnet destaca que
de Comércio e Indústria de competências, entre No entanto, realça que “é conselhos: “É necessário a AICEP acompanha as
Luso-Francesa (CCILF) outros”. Entre algumas um mercado maduro e estar bem preparado e empresas no seu desen-
refere também que das grandes empresas muito competitivo”. Entre oferecer produtos e servi- volvimento em França
França é um dos maiores francesas com produção as “muitas oportunidades” ços adaptados ao merca- e que “a CCILF oferece
investidores estrangeiros em Portugal contam-se por explorar, o responsá- do.” Neste ponto, salienta também vários serviços
em Portugal e que as em- a Faurecia e a Decathlon, vel da CCILF destaca os que “propor um website para promover contactos
presas com filiais no nosso por exemplo, que têm “setores da subcontrata- e uma apresentação dos entre empresas portugue-
país “exportam os seus unidades são das maiores ção mecânica, da constru- produtos e/ou serviços sas e o mercado francês”,
produtos ou serviços para exportadoras para França. ção, da indústria alimentar, em francês é uma verda- destacando “a procura
França e pelo mundo fora, Laurent Marionnet destaca do setor do turismo e, deira vantagem” e realça de agentes comerciais,
contribuindo assim para o algumas potencialidades claro, o setor digital, em que “é também impor- a participação em feiras
aumento do volume das do mercado gaulês para que muitas parcerias são tante ter uma capacidade e salões e as nossas
exportações”. O respon- as empresas portuguesas: possíveis”. E aconselha a de produção conforme o prestações de serviços
sável da CCILF afirma que “Além da tradicional rela- não esquecer o mercado mercado, porque as quan- sob medida para encontrar
“o investimento francês ção de amizade, que une da “saudade”, ou seja a tidades solicitadas podem parceiros em França”.
A maior economia do Portugal (AmCham), explica de informação de mercado, é normalmente mais Aliás, algumas das maiores
mundo tem sido uma das este facto da multiplicação nos contactos e nos servi- prudente e racional do que exportadoras para o mer-
grandes apostas das expor- das exportações portugue- ços de apoio ao negócio”. aquela que se tem quando cado norte-americano
tações portuguesas. Numa sas para os EUA com a atra- Outro fator que tem incen- pensamos em entradas atuam em algumas dessas
década, as vendas de bens tividade do mercado norte- tivado as exportações para globais”, e “também há que áreas, como acontece com
para os EUA subiram de €1 -americano, devido à sua os EUA está relacionado ter em conta a sofisticação as farmacêuticas Hikma
998 milhões para €5 076 dimensão, elevado poder com “os casos de sucesso dos modelos de negócio e e Hovione, por exemplo.
milhões, um incremento de de compra dos consumido- das empresas portuguesas a intensa competição exis-
154%. O peso deste merca- res, diversidade no acesso a que exportam ou investem tente, o que normalmente ESTADOS UNIDOS
do nas exportações de bens soluções de financiamento nos EUA, que têm tido um aconselha ao estabeleci- DA AMÉRICA
nacionais aumentou de e celeridade no sistema efeito de arrastamento de mento de parcerias ou de
> VALOR
4,2% para 6,5%, e os EUA judicial e regulatório. Des- outros negócios”, considera acordos com empresas e
DAS EXPORTAÇÕES
foram, em 2022, o quarto taca também, à EXAME, “o António Martins da Costa. especialistas nas oportuni- €5 076 milhões
maior cliente de Portugal, trabalho desenvolvido pelas O responsável da AmCham dades em análise”, refere
> AUMENTO NO VOLUME
escalando dois lugares em agências de comércio e afirma que “há um mundo António Martins da Costa.
DE EXPORTAÇÕES,
dez anos. Além disso, é um investimento em ambos os de oportunidades para as Entre as principais opor- NA ÚLTIMA DÉCADA
dos mercados com os quais países e pelas câmaras de empresas portuguesas nos tunidades nos EUA estão, € 3 078 milhões
a economia portuguesa comércio, como a AmCham EUA”. Mas, e não estivés- segundo o presidente da > SUBIDA RELATIVA
acumula um excedente em Portugal, o que tem semos nós a falar da maior AmCham, “tudo o que DAS EXPORTAÇÕES
comercial de bens no valor permitido uma divulgação economia do mundo, há tem que ver com transição EM 10 ANOS
de €1 571 milhões. dessas vantagens junto dos alguns fatores a ter em energética, sustentabilida- 154,1%
António Martins da Costa, empresários portugueses, consideração quando de, transformação digital, > POSIÇÃO NO RANKING
presidente da Câmara do auxiliando, ao mesmo falamos deste mercado. biotecnologia e DEI (diversi- DE MERCADOS
Comércio Americana em tempo, na disponibilização “A abordagem por Estados dade, equidade e inclusão)”. 4.ª
de”. Além disso, revela, “os empresários alemães co- CONCENTRAÇÃO DE MERCADOS
meçaram a procurar alternativas aos fornecedores Portugal tem acelerado o fornecimento de produtos ao
asiáticos, alternativas, essas, que têm de preencher exterior e até tem investido em novos mercados, que
elevados critérios de qualidade e de confiabilidade. mostram taxas de crescimento elevadas. Mas a reali-
Nesse contexto, as empresas portuguesas estão muito dade é que as exportações de bens nacionais continu-
bem posicionadas”. am muito dependentes de poucos mercados. Os três
O investimento de grandes empresas alemãs – e maiores destinos dos produtos nacionais – Espanha,
também de outros países, como França – em uni- França e Alemanha – absorvem quase metade do total
dades industriais em Portugal tornou o País um elo do valor exportado. Luís Castro Henriques recomen-
importante nas cadeias de valor de grandes multi- da cautela na análise dos dados das vendas de bens
nacionais. Isso tem sido visível, por exemplo, no se- para o país vizinho – que pesam 26% do total –, já que
tor automóvel, que tem aumentado as exportações há produtos que vão para o mercado espanhol para
para grandes mercados e conseguido entrar em novas serem exportados novamente para outras geografias.
economias, que têm uma dimensão relevante nessa Mas, ainda assim, será aquela concentração em pou-
indústria. Um desses casos é a Eslováquia, um dos cos mercados um risco para a economia portuguesa?
mercados de maior crescimento relativo de vendas de “Há um provérbio popular que nos adverte que não
bens made in Portugal e que tem escalado lugares na podemos pôr todos os ovos no mesmo cesto, pois este
lista dos maiores clientes de produtos portugueses. pode partir-se”, comenta José Caetano. O professor
da Universidade de Évora, especializado em Econo- Já José Caetano nota que, “face à inserção do País
mia Internacional e Integração Económica, salienta nas cadeias globais de valor de alguns setores de ativi-
que, além da exposição a esses três países, Portugal dade (como o automóvel, em que são gerados elevados
está também muito mais dependente do volumes de bens intermédios) e às fortes
que outros países dos mercados da Uni- ligações intra e interempresariais existentes
ão Europeia (UE). “A dependência do co- “Os empresários ao longo das cadeias de valor, esta (inter)de-
mércio externo português face à UE é das alemães pendência dificilmente poderá ser alterada
mais elevadas, comparativamente a outros começaram num prazo curto”. Ainda assim, realça que
Estados-membros, atingindo valores que “o facto de os parceiros da UE serem estáveis
variam entre os 70% e os 75% ao longo dos a procurar e credíveis constitui um fator favorável, por-
anos. O comércio intracomunitário dos pa- alternativas aos que diminui o risco e a incerteza e melhora
íses de maior dimensão económica, como fornecedores a resiliência da economia nacional”.
Alemanha, França e Itália, situa-se no in- Apesar de as exportações nacionais
tervalo de 50% e 55%”, observa. asiáticos. Nesse ainda terem um elevado grau de concen-
Contudo, esta elevada concentração em contexto, as tração em poucos mercados, é inegável
poucos mercados mais próximos pode ser empresas o esforço feito no sentido de se abrir ou-
quase um paradoxo: por um lado, pode tras portas. Um caso de estudo é os EUA,
revestir-se como um ponto de fragilida- portuguesas que entraram no top 5 das geografias que
de, mas, por outro, em determinadas situ- estão muito bem mais absorvem os bens vendidos ao exte-
ações, até pode servir como um porto de posicionadas” rior por empresas nacionais. “Os EUA fo-
abrigo. “Há muitos anos que é assim”, re- ram, já em 2022, o quarto maior destino
fere Filipe Garcia. O economista considera Thomas Kötschau exportador de Portugal, com um peso de
que isso, “às vezes, é um risco, outras, uma Diretor-executivo da Câmara 6,5% em bens e de 8,6% em serviços, no
ajuda, porque já tivemos situações em que, de Comércio e Indústria Luso-Alemã total dos números de exportação nacio-
por exemplo, Espanha fez melhor do que nais”, revela António Martins da Costa.
a Zona Euro, o que acabou por beneficiar Portugal”. E Entre os vários fatores que explicam esse crescimento
contextualiza que em economias pequenas e abertas, estiveram, segundo o presidente da Câmara do Co-
como a portuguesa, é normal que o comércio externo mércio Americana em Portugal, “os casos de sucesso
se faça muito com os países mais próximos, alertando de empresas portuguesas que exportam ou investem
para o facto de a “diversificação por crescimento ser nos EUA, que têm tido um efeito de arrastamento
sempre bem-vinda, mas por substituição, não”. de outros negócios, muitas vezes ligados às respeti-
O ELEFANTE NA SALA
Seja em valor nominal seja no peso no PIB, os dados
apontam para uma história positiva na evolução das
exportações portuguesas. Mas há outro lado na relação
da economia nacional com o comércio internacional,
que está longe de ser favorável e que se tem agravado.
O défice da balança comercial de bens tem crescido e
atingiu, em 2022, €30 783 milhões, assumindo uma
dimensão económica apenas foi conhecida nos anos
que antecederam o resgate financeiro. Esse desequilí-
brio nas trocas comerciais de bens foi um dos fatores
que levaram o saldo das balanças corrente e de capital
a interromper a tendência positiva que se observava
desde 2011. “Em 2022, a economia portuguesa registou
um défice externo de €1 100 milhões, o que correspon-
de a 0,5% do PIB. Excluindo o ano de 2020, em que se
verificou um valor marginalmente negativo do saldo, a
economia portuguesa já não apresentava necessidades
de financiamento desde 2011.”
À semelhança de um carro que gasta cada vez
mais combustível quando começa a andar mais de-
pressa, também a economia portuguesa parece preci-
sar de consumir muito mais importações para suster
um ritmo mais elevado nas exportações de bens. “O
crescimento das exportações continua inevitavel-
mente a levar a um crescimento mais acentuado das
importações, conduzindo à conclusão paradoxal de
que mais exportações geram maior défice externo”, TAIWAN APOSTA NO TURISMO, PARA
observa Vítor Magriço. Também Filipe Garcia ressalva ACELERAR MAIS AS TROCAS COMERCIAIS
que “só nos adianta ter 50% do PIB em exportações,
se as importações pesarem menos”. O economista re- As exportações portuguesas de bens para Taiwan
comenda que se dê atenção ao “grau de incorporação aumentaram mais de 500%, na última década
de importações nessas exportações, ou seja ao valor Taiwan é um dos lhos e de veículos, bem da Amkor Technology,
acrescentado das nossas exportações”. mercados em que as como de outros mate- uma multinacional nor-
O ministro da Economia, António Costa Silva, exportações portu- riais de transporte, que te-americana, que ficou
identificou esse problema como um dos desafios a guesas mais aceleram. valem 76% da venda de com o negócio da antiga
ultrapassar pelo País. Na conferência Portugal em Na última década, as bens para Taiwan, se- Qimonda em Portugal
Exame – que se realizou no passado dia 16 de feve- vendas de bens para gundo dados da AICEP e que tem também
reiro –, o governante reconheceu que “o conteúdo esse destino passaram baseados na informação unidades em Taiwan.
importado das nossas exportações é dos mais eleva- de uns modestos €26,4 do INE. Algumas das Fora esses setores, uma
milhões para €167,2 grandes exportadoras nota para a Amorim
dos”, mas considerou que “é possível reverter essa
milhões, permitindo a são do setor automóvel, Cork Composites, que
tendência”, através, por exemplo, de “consórcios en-
Israel escalar 30 lugares mas também há empre- tem fornecido soluções
tre empresas, universidades e investigação, que po- no ranking de maiores sas integradas na cadeia à base de cortiça para
dem propiciar a capacidade de se construir grandes clientes de Portugal. O de valor dos semicon- aplicação nas juntas de
plataformas colaborativas”. crescimento tem sido dutores – setor em que dilatação dos edifícios e
Independentemente disso, os números de 2022 po- alcançado, sobretudo, Taiwan é, de longe, líder outras infraestruturas,
dem ter sido influenciados negativamente pela crise devido às exportações mundial – a vender para que compõem o novo
energética e inflação no preço das matérias-primas, o de máquinas e apare- este mercado. É o caso terminal 3 do aeroporto
que tornou as importações mais caras. “Essa quebra da
taxa de cobertura reflete a perda dos termos de troca,
internacional de Taiwan seja um mercado pequeno para se intensificar as Lisboa e Taipé poderia ser
Taoyuan. Mas, mesmo e que deva ser ignora- relações comerciais deve eficaz para se atingir estes
com o forte crescimento do. “Os navegadores passar pelo turismo, já objetivos.
das exportações para portugueses encontraram que, antes da pandemia, Já aos empresários portu-
este mercado, o défice da Taiwan, mas não fizeram o número de turistas de gueses que tenham inte-
balança comercial de bens grande coisa. Depois Taiwan a viajar para fora resse em entrar no merca-
tem aumentado signifi- chegaram os holandeses de portas foi 17 milhões. do de Taiwan, Tsung-che
cativamente. Foi de €507 e os espanhóis, que inves- “Se conseguirmos ir bus- Chang recomenda que
milhões, no ano passado. tiram lá”, relembra numa car mais turismo taiwanês visitem o site do Taiwan TAIWAN
Não obstante a velocidade conversa com a EXAME. para Portugal seria bom, Trade Center e consultem
do aumento das expor- O diplomata defende que porque 98% das nossas as feiras que se realizam > VALOR
DAS EXPORTAÇÕES
tações portuguesas para há muitas oportunidades empresas são PME. Ima- nesse mercado. Depois, €167,2 milhões
este destino, o represen- por explorar. E, após uma gine quantos, naqueles 17 sugere, “participe na feira,
> AUMENTO NO VOLUME
tante de Taiwan em Por- fase em que país asiático milhões de turistas, são investigue um pouco e
DE EXPORTAÇÕES,
tugal, Tsung-che Chang, acabou por ser ofuscado donos de empresas. E conheça melhor o país”. NA ÚLTIMA DÉCADA
considera que ainda há pela dimensão da China sabe que os empresários, O diplomata afirma que €140,9 milhões
trabalho a fazer no sentido continental, a cadeia de quando viajam, não é só está também a encorajar > SUBIDA RELATIVA
de se fortalecer as trocas valor está a mudar e mui- para passear, comer e os empresários de Taiwan DAS EXPORTAÇÕES
comerciais entre as duas tas fábricas estão a sair beber. Eles vão também a visitar Portugal e que EM 10 ANOS
geografias e recorda a do mercado chinês para investigar o mercado”, “estão a chegar muitos 533,8%
História para apontar que, outros países na região. esclarece Tsung-che mais, com os pedidos de > POSIÇÃO NO RANKING
apesar de Taiwan ser uma Tsung-che Chang argu- Chang. O diplomata diz passaporte a aumentarem DE MERCADOS
ilha, isso não implica que menta que a estratégia que um voo direto entre bastante”. 40.ª
A MISSÃO DE REFORÇO
DAS EXPORTAÇÕES “O conteúdo
Atingir um peso de 50% das exportações
no PIB até pode ser um importante marco
importado
simbólico. Porém, Portugal ainda está lon- das nossas
ge de outros países no que toca à prepon- exportações é dos
derância que as vendas ao exterior têm na
economia. “No que respeita ao grau de aber-
mais elevados,
tura das exportações face ao PIB, Portugal é mas é possível
das economias menos abertas da UE, pois reverter essa
apenas Grécia, Roménia, Espanha, França e
Itália têm um registo inferior”, observa José
tendência”
Caetano. O professor da Universidade de António Costa Silva
Évora refere que “a maioria dos países com Ministro da Economia e do Mar
dimensão equivalente à de Portugal regista
um grau de abertura bem superior, mais do
que duplicando o valor obtido” pela economia nacio-
nal. A diferença é que, face a França, Itália ou Espanha,
o nosso país tem uma população bem mais pequena.
Isso faz com que o mercado interno seja muito limitado
e torna as exportações a principal via para se aumen-
173,4%
148,6%
485,3%
154,1%
318,1%
346,5%
431,6%
190,8%
894,5%
533,8%
0 200 400 600 800 1 000
Nota: Para excluir alguns efeitos-base, apenas
foram incluídos mercados com exportações acima
de €100 milhões, em 2022
Fonte: INE, AICEP e EXAME
L
uís Castro Henriques está em final de mais depressa do que o PIB, e estou confiante de que
mandato na Agência para o Investi- isso se vai manter.
mento e Comércio Externo de Portugal
(AICEP), após quase seis anos na lide- Considera possível chegar a um peso de 70% no PIB?
rança da instituição. Em jeito de balan- Sim. Mas, como é óbvio, não conseguiremos
ço, revela à EXAME as estratégias seguidas no sentido de chegar aos 70% já em 2025. Creio que,
impulsionar as exportações e aponta os próximos passos chegados aos 50%, se impõe uma re-
a seguir para se manter esta tendência. flexão nacional de como se pode che-
gar aos 70% ou aos 75%. Podemos de-
As exportações portuguesas estão prestes a atingir finir uma meta intermédia de 60%
um valor de cerca de 50% do PIB. Qual a importân- para uma data em que se consiga, de
cia de se conseguir atingir este marco, alguns anos modo sustentado e graças à inova-
antes do previsto? ção produtiva, chegar a esse pa-
O peso das exportações no PIB é uma tendência que tamar, mas por forma a come-
arrancou em força entre 2015 e 2016, período a partir çarmos a percorrer o caminho
do qual começa a estar sistematicamente acima de 40%. para chegarmos aos 75%. E
Depois tivemos um revés muito grande com a Covid-19, porque digo que é possível?
mas, logo em 2021, batemos novamente um recorde de Em primeiro lugar, porque
exportações. Era bastante provável que conseguíssemos tenho a nítida noção da al-
estar nos 50% antes de 2025, devido a dois efeitos do- tíssima competitividade e
minantes. O primeiro está relacionado com toda a ino- da resiliência das nossas
vação empresarial e industrial dos setores exportadores empresas exportadoras.
de bens, a qual lhes aumentou imenso a competitivi- Em segundo, porque países
dade. Não só alguns passaram a posicionar produtos europeus com o mesmo ta-
de outra maneira – o que permitiu um aumento de va- manho do que o nosso têm
lor acrescentado muito relevante – como outros pas- exportações no PIB nesse
saram a produzir de forma mais eficiente e ganharam nível. Quando se tem uma
automaticamente quota de mercado. O segundo efeito população pequena, como é o
decorreu do facto de termos angariado não só inves- nosso caso, e queremos conti-
timento estrangeiro mas também nacional, em larga nuar a crescer, temos de fazê-lo à
escala, e este tinha contratos com objetivos de exporta- base do consumo externo. Creio que
ções. Tipicamente, essas empresas conseguem alcançar, os portugueses têm o desejo de con-
e muitas vezes superar, esses objetivos. Só por este efeito tinuar a crescer, ter uma vida melhor
já sabíamos que teríamos um impacto de mais de €10 e um PIB per capita mais alto, e o úni-
mil milhões nas exportações. Algum desse valor pode co caminho sustentável para se alcan-
ter entrado ainda em 2022; outro vai entrar neste ano çar isso é ter uma proporção cada vez
e em 2024. Sabíamos que as exportações iam crescer maior das exportações no PIB. Estou
Alguns
#desafiosdesempre! (3)
Assenta bem este tema sobre os mercados para onde Portugal está a
exportar mais. Vem mesmo a jeito para encerrar o ciclo de reflexões sobre
o livro O Novo Capital, de Francisco Jaime Quesado. Nesta coluna refletimos
sobre temas importantes, em vez dos temas urgentes da espuma dos dias > CEO da VINCI Energies Portugal
Q
uando se que são responsabilidade das de pagar investimento com mais – a olhar por elas. É preciso um
tenta en- empresas: a) assegurar proje- investimento. O investimento é sonho, a partir do qual se cons-
co nt ra r tos desafiantes; b) ter um sen- finito no tempo. O profit & loss trói uma visão, e em sequência
razões tido de propósito em concreto, é infinito! traça-se um plano de ação para
para não e não apenas no powerpoint dos Atenção PRR: a adrenali- concretizar!
fazermos mais, vamos sempre gestores; c) desenvolver um sen- na dos stakeholders na aplica-
tocar nestes temas: política, le- tido de pertença com o talento ção do PRR pode trazer dissa- 6. “CALIMEROS”:
gislação, justiça, impostos... – no limite, com partilha de va- bores. Como vai ser o profit & NÃO, OBRIGADO!
Importa trazer outros ar- lor acionista. São as pessoas que loss e o free cash flow depois de Há mais capital disponível do
gumentos – os que podemos e escolhem as empresas para tra- uma aplicação PRR? Devemos que mão de obra e cérebro de
devemos trabalhar – e que estão balhar, e não o contrário. sempre acautelar o nível de re- obra para fazer o trabalho na
ao alcance de cada um de nós: produtividade do investimento: economia real. Faz todo o sen-
cultura, vontade, planeamen- 3. LIÇÕES DA AMÉRICA sustentabilidade no longo prazo tido procurar as oportunidades
to, organização, processos para O Novo Capital invoca lições é determinante! que nos fazem acrescentar va-
o crescimento! dos EUA: a) a criatividade em- lor. Por isso, faz pouco sentido
presarial, avaliando os negócios 5. É PRECISO LIDERANÇA a) entregarmos o nosso tempo a
1. A ESCOLA NOVA que escalaram no mundo; b) a Ou melhor: um sistema de Li- ouvir o longo e exaustivo diag-
N‘O Novo Capital, refere-se a inovação, sempre para resolver derança. Procurar diferenciação, nóstico, para depois b) continu-
Escola Nova – novas qualifica- problemas específicos; c) a re- colocar em marcha a exportação ar a aprofundar o diagnóstico,
ções, como línguas, tecnologia volução social pela participa- e criar processos de internacio- para depois c) fazer o exorcis-
–, cuja resposta se pode acelerar, ção de cada um. No entanto, nalização, ao mesmo tempo que mo do diagnóstico, e a seguir d)
apesar das melhorias evidentes há o contraponto: falta muito se garante a execução com um contar aos amigos o diagnóstico,
nas últimas décadas. De forma à América para ser um espaço grande nível de método e disci- e depois e) termos uma histeria
lata, não é abusivo referir que a socialmente tão completo. O plina de gestão, precisa de lide- coletiva com o diagnóstico. Já
Educação devia ser repensada, nosso Estado social – europeu rança (s) que olhe (m) para os sabemos o diagnóstico: é sem-
com foco no aluno e no seu futu- – democratizou 4 áreas funda- pés e para o caminho. pre muito mau o diagnóstico.
ro aplicado no trabalho, tipo task mentais: educação, saúde, se- Estas pessoas não gostarão Pergunto-me: porque não faze-
force. É importante olhar para a gurança física, segurança so- de ter um pai maior – o Estado mos apenas a) e b) e dedicamos
educação tradicional obrigató- cial. Muitas vezes constatamos o tempo de c), d) e e) a discutir
ria, o ensino profissional, o en- ameaças reais, que exigem es- – e testar – soluções reais para
sino superior e tecnológico e a forço para sanar. De forma lata, os nossos desafios?
aprendizagem ao longo da vida, não é abusivo Uma vez numa reunião, um
4. INVESTIMENTOS
com foco a dar valor reciclado e
E CAPITAL REPRODUTIVOS
referir que cliente disse-me que a ambição,
renovado à força de trabalho de desde que controlada pela ética,
Portugal. Talvez com um almi- É necessário ter coragem para a Educação é um excelente valor! Acrescen-
rante, pudéssemos progredir. correr o risco, e coragem para devia ser to – com convicção – que a mo-
2. O TALENTO NO PAÍS
cortar o risco. Só se pode fazer repensada, com tivação para vencer é conduzida
este processo se conseguirmos pela ambição de crescer. A pro-
Por princípio gostamos da ideia medir – bem – o que estamos foco no aluno cura de novos mercados inter-
de prepararmos os nossos filhos a fazer. e no seu futuro nacionais – que podem ser di-
para o mundo. Mas então temos O investimento deve ser aplicado no ferentes em cada época da vida
a responsabilidade de tudo fazer pago de volta com o profit & loss do país – aparece nesse sistema
para os motivar a ficar. E sim, que se gera da atividade resul- trabalho, tipo mental, ou melhor, nesse tom
existem fatores determinantes tante do Investimento, em vez task force emocional! E
ADÉLIA CARVALHO
“A CHAVE
É AS PESSOAS
SENTIREM
QUE CUIDAMOS
DELAS”
Começou como rececionista, foi diretora de vendas,
passou pelo F&B e, hoje, é uma das diretoras-gerais
mais reconhecidas – e cobiçadas – da hotelaria
nacional. A responsável pelo Valverde Hotel falou
à EXAME sobre o seu percurso e sobre a forma como
lidera uma equipa que não a quer abandonar
Texto Margarida Vaqueiro Lopes Fotografia Luís Barra
F
Foi na antevéspera da reabertura do Val-
verde Hotel, em plena Avenida da Liber-
dade, em Lisboa, que falámos com Adélia
Carvalho, a diretora-geral da única unida-
de da capital pertencente ao exclusivo clu-
be Relais & Châteaux. Entre papel de pa-
rede a ser colocado, mobília fora do lugar
e muitas tarefas para serem completadas,
a executiva contou à EXAME como passou
de rececionista a responsável máxima de
hotéis, quem são os seus exemplos e como
consegue manter equipas num setor co-
nhecido pela elevada rotatividade.
De trato simples e gargalhada fácil,
Adélia conduz-nos numa viagem pela sua
história e também pelos desafios da hos-
pitalidade, quando se prepara para abrir
o Hotel Valverde Santar, ao mesmo tem-
po que coordena a expansão do Valverde
Hotel Lisboa, unidade que dirige desde a
abertura, em 2014.
Porquê comunicação?
Porque achei que era importante aprender
mais na área de comunicação e do digi-
tal. E, embora o curso não tenha sido tão
dedicado ao digital como estava à espera,
deu-me muito networking, deu segui-
mento à nossa área de comunicação in-
terna e veio trazer-me ferramentas como
diretora-geral. Anteriormente, já tinha
feito um curso mais dedicado aos Recur-
sos Humanos, na Católica, e, portanto,
houve uma altura em que estive mais de-
dicada a essa formação pessoal.
E também criou uma bolsa de estudos, o Turismo for sempre no sentido da qua-
com o seu nome. Como surgiu a ideia? lidade, e é essa a realidade que conheço,
Como eu sou um exemplo de que não creio que pode ser acertado, porque Por-
se tem de estudar convencionalmente, tugal continua a ser um país muito atra-
este era um desejo meu: o de proporcio- No fundo, o que tivo. Creio que estamos no caminho certo,
nar às pessoas que vieram para hotelaria queremos é que estes embora devamos ter cuidado para que as
cedo, e não têm possibilidade de fazer um coisas não fiquem fora de controlo. Diria
percurso académico, essa possibilidade. jovens descubram se que, sempre que se faça algo muito au-
Acredito que, com a idade, consegue ter- a hotelaria pode ser têntico, muito próprio do sítio onde está
-se mais certeza e mais vontade de saber um caminho para inserido – e têm surgido projetos interes-
o que se quer. E o know-how profissional santes em todo o País e nas ilhas –, desde
também ajuda a fazer o curso. eles” que sejam coisas diferenciadoras, vale a
pena. Mas temos de ter cuidado e, se ca-
E como funciona? Como é atribuída? ou gestão pura, ou comunicação, recur- lhar, em zonas que já têm uma dimensão
No fundo, é quase como um bónus [atri- sos humanos... hoteleira muito elevada, não colocar mais
buído através de um processo de candi- [unidades] e desenvolver outras.
datura e seleção]. A quem estiver dispo- O Turismo tem sido apontado como a
nível dentro da equipa do grupo Valverde, nossa galinha dos ovos de ouro, mas há Como se faz esse serviço de qualidade?
e mostre vontade de estudar, continuan- quem diga que corremos o risco de a ma- Hoje, há muito orgulho na hotelaria que
do a trabalhar, num regime part-time ou tar, por querermos oferecer volume em Portugal tem, e vemos o Valverde e outras
outro, eu e a empresa ficaríamos super vez de qualidade. Temos hotéis a mais em unidades a serem premiadas internacio-
contentes e orgulhosos por poder ofere- Portugal? nalmente, conseguindo o País ter muito
cer essa possibilidade. Começa já no pró- Há, aqui, uma coisa importante, que é: mérito. Nos recentes World Travel Awards,
ximo ano letivo; tem é de ser um curso acho que toda a reabilitação que se faça Portugal ganhou muitas distinções, o que
numa área relacionada com a hotelaria, para ter hotéis é interessante. Diria que, se significa que o destino está mais nessa vi-
PREMIAR A INOVAÇÃO
DA PREVENÇÃO EM 2023
O Prémio Inovação em Pre- receção de candidaturas que
venção, tem como objetivo a iniciou em novembro do ano
premiação de boas práticas anterior.
em matéria de prevenção (na
gestão do risco) em diferentes A iniciativa é promovida pela
níveis: Pessoas, Ambiente e Ageas Seguros, marca do
Património. E, ainda, a dis- Grupo Ageas Portugal, que
tinção do Melhor Projeto de juntamente com a Revista
Inovação a nível nacional. Na Exame e um conjunto de par-
3.ª edição, o Prémio encon- ceiros como ISQ, Ordem dos
tra-se de momento na fase Economistas, CIP, IAPMEI,
de pré-análise e preparação COMPETE 2020, AHP e A
das candidaturas para efei- Cor do Dinheiro, pretendem doras, que contribuam para aprofundadamente este Pré-
tos de observação técnica e promover e divulgar a parti- uma economia mais segura mio apresentamos as catego-
seleção, após um período de lha de boas práticas, inova- e eficaz. Para conhecer mais rias que o compõem.
Património: nesta categoria Pessoas: este segmento procura Ambiente: Este segmento procura
procuram-se projetos/medidas selecionar projetos/medidas que tenham projetos/medidas que promovam a
de definição e implementação de impacto na prevenção e promoção das existência de política(s) ambiental(is),
estratégias e planos de ação que condições de segurança, saúde a implementação de medidas alinhadas
permitam a identificação e preservação e bem-estar das partes interessadas, com os indicadores de sustentabilidade
da continuidade do negócio ou seja, Colaboradores, Clientes, que, visem a diminuição do impacto
após a ocorrência de incidentes, Fornecedores, Parceiros e Comunidade. ambiental e a gestão eficiente de
nomeadamente em duas áreas: 1) Colaboradores: Promoção de ações recursos.
1) Cibersegurança: Medidas e políticas que incentivem a igualdade de género, 1) Ambiente: Prevenção e controlo da
de proteção da empresa contra os diversidade e inclusão; Estratégia poluição para redução das emissões
principais cibercrimes; Segurança para a atração e retenção de talentos; para o ar, água e solo e a gestão de
da infraestrutura, equipamentos Políticas contra o absentismo e resíduos.
informáticos, recursos, entre outros aumento da produtividade; Garantia da 2) Recursos: Promoção da eficiência
e partilha de boas práticas contra o proteção dos dados pessoais (RGPD); energética e uso de energias
cibercrime. Bem-estar, satisfação e valorização renováveis; Preservação da
2) Edifícios (património): Construção pessoal; Formação/Capacitação biodiversidade; Promoção da economia
sustentável; Gestão do risco; profissional; circular intraempresa e extraempresa;
Planos de manutenção preventiva, 2) Fornecedores/Clientes/Parceiros: Alterações climáticas e emissões
preditiva e corretiva de sistemas Nível de satisfação; Proteção dos de carbono (descarbonização);
e equipamentos; Segurança contra dados; Riscos da cadeia de valor. Implementação de medidas para
incêndio. 3) Comunidade: Relações com os redução das emissões de CO2.
Colaboradores e com a Comunidade; 3) Compras sustentáveis: Incorporação
Projetos para envolver a Comunidade. de critérios de aquisição ambientais na
cadeia de valor.
ISQ
Do fundo
dos oceanos
ao solo de Marte
O Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ) está
envolvido em alguns dos mais inovadores projetos
internacionais. Desde a pesquisa por uma fonte
de energia limpa e quase inesgotável até à criação
da sonda que irá recolher amostras do solo de Marte,
passando pelo maior telescópio do mundo, esta
entidade quer agora desenvolver um projeto para
fazer pesquisa de profundidade nos oceanos
Texto Paulo M. Santos
É
uma instituição pouco “É um trabalho invisível que garante de 60 anos de existência, e já participámos
conhecida do português o bom funcionamento económico e so- em mais de 500 projetos de investigação
comum, mas o seu tra- cial do País”, afirma Pedro Matias, presi- e desenvolvimento a nível internacional,
balho está presente em dente do ISQ. Esta entidade privada sem nos setores mais diversificados”.
toda a nossa vida quo- fins lucrativos é também chamada a ve- As suas competências têm sido muito
tidiana. É difícil passarmos um dia sem rificar muitas das infraestruturas existen- solicitadas por empresas portuguesas para
contactar com um qualquer aparelho que tes, como redes de distribuição de energia, integrarem projetos no âmbito do PRR,
não tenha tido a intervenção do ISQ. Des- estradas, viadutos, pontes, entre muitas estando presente em dez agendas mobi-
de a aferição das balanças dos supermer- outras. “Temos uma equipa em perma- lizadoras, oito das quais já assinadas, que
cados aos aparelhos de suporte de vida nência, 365 dias por ano e quase 24 horas vão desde a atuação na cadeia de valor das
dos hospitais, passando pelas bombas de por dia, na Ponte 25 de Abril, que inspe- baterias de lítio até ao reforço do cluster
gasolina, pelas análise de alimentos, até ciona se existem fissuras, corrosão ou fa- aeronáutico e espacial, passando pelo ar-
aos contadores de gás, água e eletricidade, diga dos materiais”, avança o gestor. mazenamento de hidrogénio e neutralida-
o ISQ tem equipas que todos os dias vão Mas o trabalho deste instituto não se de carbónica dos edifícios. “Somos, prova-
assegurando a fiabilidade de todos estes esgota aqui. O ISQ é atualmente, segun- velmente, a entidade portuguesa que está
bens e equipamentos que fazem parte do do Pedro Matias, “a maior infraestrutura em mais agendas do PRR”, admite Pedro
nosso dia a dia. tecnológica nacional. Temos pouco mais Matias.
NA AVIAÇÃO COMERCIAL
presente em projetos tão avançados como
o da sonda que vai recolher amostras de
solo em Marte ou o do desenvolvimento de
O futuro da aviação verde já está em marcha e conta
software para ajudar equipas de resgate em
com a participação de três entidades portuguesas
situações de calamidade, como no caso dos
terramotos que ocorreram recentemente
Responsável por quase elétrica será proporcio- to, ou Lisboa-Madrid. O
na Turquia e na Síria. Está também en-
3% das emissões de nada pelas células de primeiro destes aviões
carbono para a atmos- combustível alimentadas deverá estar concluído
volvido no desenvolvimento do primeiro
fera, a aviação comercial a hidrogénio. O objetivo para teste em meados de avião a hidrogénio, no maior telescópio do
é um dos setores que é reduzir até 90% as 2030 e terá entre 50 e mundo e na criação de um processo para a
menos tem feito a tran- emissões de carbono dos 100 lugares. pesquisa no fundo dos oceanos.
sição energética. Apesar aviões. Após os testes nestes Entre os múltiplos trabalhos, um pou-
de ter vindo a adotar O projeto, coordenado percursos mais peque- co por todos os continentes, o ISQ tem
motores mais eficientes pela empresa italiana nos, será lançada uma estado também a colaborar na constru-
e utilizado materiais mais Leonardo, especializada nova fase de investigação ção do ITER, o reator nuclear que pro-
leves na construção dos no setor da aviação e da para desenvolver aviões mete revolucionar o mercado da energia
aviões, a poluição gerada defesa, conta com outras que possam efetuar
(ver caixa À procura de energia limpa e
continuará a subir. As úl- 48 entidades como a voos de longo curso,
“inesgotável”).
timas previsões apontam Airbus, Rolls-Royce, Ho- nomeadamente viagens
para que o número de neywell, Thales, Siemens transatlânticas.
Pedro Matias classifica-o como “um dos
passageiros triplique até e ainda três organizações O objetivo final é conse- projetos mais importantes que estão a ser
2050, o que irá duplicar portuguesas, o ISQ, o guir substituir cerca de 40 desenvolvidos”, aquele que poderá “mudar
a pegada ecológica da INEGI e a Almadesign. mil aviões tradicionais por radicalmente o padrão de consumo de ener-
aeronáutica. “Estamos a fazer os es- estes novos aparelhos gia no planeta” e acabar com muitas “das
Para tentar acelerar o tudos de compatibilidade ecológicos, entre 2035 e tensões geopolíticas” geradas pelos interes-
processo de transição, eletromagnética de todas 2050, processo que, se- ses económicos ligados ao setor.
a União Europeia está as estruturas do avião. gundo os estudos feitos
a financiar um projeto Ou seja, verificamos pela Comissão Europeia, AJUDA COORDENADA
de investigação para o previamente eventuais poderá gerar um impacto
Um dos empreendimentos em que o ISQ
desenvolvimento de interferências que de 3 biliões de euros na
participou mais recentemente foi no siste-
aeronaves menos po- possam existir entre os economia mundial.
luentes chamado HERA, inúmeros elementos que Para além das aeronaves,
ma Overwatch, que deverá entrar em fun-
acrónimo de Hybrid-Ele- irão integrar a aeronave”, o consórcio está também cionamento dentro de quatro anos. Trata-
MARCOS BORGA
tric Regional Architecture, explica Pedro Matias. a estudar as alterações -se de um software que vai fazer a recolha
e que pretende reduzir Nesta primeira fase, e modificações que e processamento de informação após uma
substancialmente as o avião que está a ser terão de ser feitas nas catástrofe natural, para melhorar os pro-
emissões carbónicas desenvolvido deverá infraestruturas aeropor- cessos de procura e salvamento de pessoas.
no setor da aviação, um ter uma autonomia de tuárias para que o projeto O sistema vai buscar informação a
dos mais poluidores do voo da ordem dos 400 seja viável, como, por várias fontes ‒ desde os indicadores me-
planeta. a 500 quilómetros. Será exemplo, todo o processo teorológicos até à morfologia do terreno,
A ideia é criar aeronaves primeiramente testado de armazenamento e
aos dados históricos, informação capta-
com motores híbrido-e- em voos de pequeno distribuição de hidrogé-
da por câmaras de vídeo ou sensores de
létricos, cuja alimentação curso, como Lisboa-Por- nio nos aeroportos.
infravermelhos instalados em drones – e,
posteriormente, através de algoritmos e
Inteligência Artificial, consegue dar uma
resposta mais imediata de atuação às
equipas de resgate que estão no terreno.
“Os sensores dos drones, por exem-
plo, conseguem detetar o calor de corpos
soterrados até uma determinada profun-
didade. E essa informação pode ser passa-
da às equipas de salvamento com alguma
celeridade, o que pode fazer a diferença
entre a vida e a morte de muitas pessoas,
> ENERGIA LIMPA zida pelas reações de fusão. criação de trítio (um isótopo o interesse que a grande maioria
Este método permite manter do hidrogénio), que poderá levar destes países está a ter nesta
Em apenas um segundo, a temperatura do plasma, sem à criação de um reator autossu- investigação. O ISQ, que tem
o Sol irradia para o espaço mais necessidade de aquecimento ficiente. uma equipa de 12 pessoas em
energia do que aquela que externo. Em paralelo, estão tam- permanência no local, está
é consumida anualmente pelos bém a ser testadas tecnologias > €50 MIL MILHÕES a fazer o controlo de assembla-
oito mil milhões de pessoas que essenciais para estes reatores, gem do núcleo do reator.
habitam o planeta. Uma fonte como os supercondutores, A primeira fase da investigação É também responsável por
de energia quase inesgotável a manutenção remota e siste- custou cerca de 25 mil milhões ações de formação de equipas
que os cientistas estão agora mas que permitem parar de euros e, para avançar com que trabalham no projeto.
a tentar replicar em ambiente a energia do plasma, bem como o protótipo, foi investida uma
fechado. O projeto chama-se a produção de módulos para a verba idêntica, o que prova > FUSÃO EM VEZ DE FISSÃO
ITER, está a ser desenvolvido no
Sul de França e conta com Ao contrário dos reatores tra-
a colaboração de 35 países. dicionais, que usam o processo
Trata-se da construção de um de fissão nuclear, o ITER está a
reator nuclear, que irá tentar investigar o processo de fusão
provar a viabilidade da fusão de plasma que, segundo esta
como fonte de energia livre de entidade, não tem problemas
carbono, com produção em larga associados a radioatividade.
escala, recorrendo ao mesmo A temperaturas extremas, os
princípio que alimenta as estre- eletrões são separados dos nú-
las do Universo. O objetivo do cleos e o gás torna-se um plas-
ITER (que em latim significa via- ma – conhecido como o quarto
gem, caminho) é a investigação estado da matéria. Os plasmas
e demonstração da combustão de fusão criam condições para
de plasma, através da energia que os elementos leves se fun-
dos núcleos de hélio, produ- dam e produzam energia.
A P R O V E I T E O S B E N E F Í C I O S F I S C A I S E R E C U P E R E P A R T E D O I V A DA
A S U A A S S I N AT
AT U R A
O TELESCÓPIO MAIS
to acima dos que tinham sido conseguidos
no período pré-pandemia, mais propria-
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COMO FUNCIONA,, TESTE DE GRUPO
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AS CONSEQUÊNCIAS
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Micro
> RECOLHER LÁ, ESTUDAR CÁ Esta é colocada no interior da Marte). Mais importante é a sua reduzir a massa da cápsula em
cápsula maior, que será outra leveza, pois cada grama que se cerca de 25% do que estava
Este foi um pedido da Agência vez lançada para a órbita do coloca no espaço custa vários definido inicialmente como valor
Espacial Europeia (ESA) para que Planeta Vermelho para ser milhões de euros. máximo. As entidades nacionais
fosse desenvolvida uma cápsula recolhida pela nave. eliminaram ainda alguns siste-
capaz de recolher amostras O revestimento final da cápsula > “MADE IN PORTUGAL” mas auxiliares de atenuação de
do solo de Marte. Os estudos principal é feito em cortiça, um cargas de impacto e reduziram
realizados até agora foram material que aguenta altas tem- O projeto foi concebido por os custos de produção.
feitos no Planeta Vermelho e os peraturas e que tem uma boa várias entidades portuguesas,
resultados enviados, poste- absorção do impacto (necessá- nomeadamente a Amorim Cork > DESAFIO SUPERADO
riormente, para a Terra. Com o rio para a aterragem no solo de Solutions, a Critical Materials, o
novo conceito, a ESA pretende ISQ e o Polo de Inovação Com este projeto, as empresas
recolher amostras e estudá- em Engenharia de portuguesas conseguiram dar
-las nos seus laboratórios, já Polímeros. A resposta às exigências da ESA,
na Terra, onde poderão ser solução made que pretendia uma cápsula com
utilizados outros recursos para in Portugal as caraterísticas termomecâni-
obter resultados mais precisos. conseguiu cas otimizadas a uma reentrada
A cápsula desenvolvida por atmosférica passiva que dispen-
este consórcio nacional terá um sasse o auxílio de paraquedas
diâmetro pouco superior a um ou outros sistemas auxiliares
metro e integra no seu interior de atenuação de forças de
uma outra cápsula em titânio. impacto na fase de contacto
Após a aterragem em Marte, os com a superfície terrestre. E
robots irão recolher uma amos- que, ao mesmo tempo, fosse
tra do solo, que será colocada capaz de assegurar a integri-
dentro da cápsula de titânio, a dade estrutural do reservatório
qual ficará totalmente selada. com as amostras.
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S U S T E N TA B I L I D A D E
Para PME,
capacidade
de adaptação
é sobrevivência
Pierre Stark, responsável da Benamôr, falou com
a EXAME sobre como o passado deve dar diretivas
para o futuro, sem travar a inovação e a ambição
Texto Margarida Vaqueiro Lopes Fotografia Marcos Borga
Q
uando comprou a que tem consumidores cada vez mais exi-
Sociedade de Perfu- gentes e que não sabe funcionar de outra
marias Nally, com Fi- forma, a não ser com total respeito pelas
lipe Serzedelo, Pierre boas práticas, hoje englobadas no chapéu
Stark sabia que tinha da sustentabilidade.
em mãos, além de uma fábrica cheia de “Nós temos o mesmo fornecedor des-
conhecimento, uma marca com qualidade tas bisnagas desde 1926. É a Sociedade
e reconhecida pelos portugueses – afinal, Portuguesa de Alumínio, que hoje é uma
quem não cresceu com o creme de rosto empresa de capital espanhol e que está a
Benamôr na casa de banho? Era, portan- produzir imenso para o mundo da cos-
to, necessário reposicioná-la e torná-la mética, que, entretanto, se desenvolveu.
conhecida internacionalmente, mas os É uma empresa bastante interessante que
valores, a inovação e a sustentabilidade se adaptou. Ficámos com esta fidelidade,
eram predicados que já existiam e que só com este acompanhamento… Acho esta
precisavam de ser mais explorados. história muito importante”, partilha Pier-
“A bisnaga de alumínio é o produ- re num português perfeito, traído apenas
to mais emblemático que temos e sem- pelo delicioso sotaque francês que, pos-
pre tivemos, porque o próprio creme de sivelmente, nunca perderá – e ainda bem. tar o que foi feito, mas temos também de
rosto, na fórmula de 1925 [entretanto Pierre e Filipe adquiriram a Nally em ter a cabeça no futuro”, resume Stark. “O
melhorada], sempre foi embalado, pro- 2015 e, além de terem mantido as pessoas que aconteceu no século XX tem que ver
duzido e preparado dentro de uma bis- que trabalhavam na fábrica do Carregado, com esta história de evolução e de adapta-
naga de alumínio”, começa por lembrar dedicaram-se a capitalizar a história de ção”, para a qual todas as PME devem es-
o CEO da Nally. E porque esta informa- quase 100 anos, que a Benamôr guardava tar preparadas, lembra. “Antes de mais, é
ção é importante? Porque “é um material e que tão bem honrava com produtos que uma história de fábrica. Esta empresa, que
que, na altura, não tinha muito que ver tinham mantido a qualidade, adaptando- é a sociedade de perfumaria Nally criada
com a sustentabilidade, mas hoje tem: é -se às regras agora aplicadas à indústria da nos anos 1930, um pouco depois da funda-
o símbolo do perfect loop da reciclagem. cosmética, usando cada vez mais produtos ção da Benamôr, foi uma fábrica que, num
A reprodução deste material vai poupar naturais e alterando o mínimo possível as primeiro momento, criou muitas marcas,
95% de energia, depois da primeira vez fórmulas originais. “Havia tudo para fa- tinha grande criatividade e instalações no
(a sua produção é um bocadinho exigen- zer, mas, como tudo na vida, aproveitámos centro do Campo Grande. E criou imensas
te em termos de requisitos de energia), e muito do passado… Numa empresa cria- coisas de cosmética – aqui a inovação e a
tem uma reciclagem infinita, guardando da de raiz, quando comparada com uma criatividade aparecem mesmo como drive
as propriedades e a qualidade”. Ou seja: antiga, a parte da inovação não é o desa- destas pessoas, que pertenciam a uma fa-
aquilo que foi feito por intuição, no início fio mais importante ou o mais duro. Uma mília muito criativa, os Abecassis [uma fa-
do século passado, é hoje um dos maiores empresa como a nossa não pode parar de mília de industriais, que detinha também a
ativos da marca – uma marca que sabe olhar para o que existe. Temos de respei- Lusalite, Cel Cat e a Mundial Seguros, além
NO JOGO
DA INFLAÇÃO,
OS TRABALHADORES
ESTÃO A LEVAR
UMA GOLEADA
Com um poder negocial muito diminuído, os trabalhadores estão
a suportar, com baixa resistência, perdas de rendimento real.
Deve o combate à inflação ser também visto como uma relação de poder?
Existe outra forma de travar a subida dos preços?
Texto Nuno Aguiar
Q
Quando Lionel Messi meteu o primeiro
drible em Joško Gvardiol quase no meio-
-campo, o público que assistia à meia-final
entre a Argentina e a Croácia começou a
levantar-se das cadeiras. No final do lance,
tinha o melhor jogador do mundo engana-
do o central croata e assistido Julián Álvarez
para o golo que fechou o jogo, não deveria
restar uma pessoa sentada no Estádio Lu-
sail. A experiência que estamos a viver na
economia não é muito diferente: empresas
e trabalhadores têm de se ir “levantando” se
quiserem continuar a “ver o jogo”, subindo
GETTYIMAGES
6
5 QSALÁRIOS NOMINAIS QSALÁRIOS REAIS
4
3
2
1
0
1
2 > VARIAÇÃO DOS RENDIMENTOS EM PORTUGAL
3
4 Para as famílias portuguesas, a subida dos salários
5 está longe de compensar o agravamento dos preços,
provocando enormes perdas de poder de compra
6
JANEIRO DEZEMBRO
DE 2019 DE 2022
combate à inflação é normalmente deixado
aos bancos centrais, o que é “uma forma al- 10
tamente ineficiente para lidar com conflitos
distributivos”. 8
Nada disso é particularmente revolucio-
nário. Mas pode fazer franzir alguns sobro-
6
lhos, ao questionar a história simples que > TAXA DE DESEMPREGO
4
normalmente nos contam: é preciso subir
O mercado de trabalho tem-se aguentado, mas QZONA EURO QPORTUGAL
os juros, para arrefecer a economia (possi- 2
velmente aumentando o desemprego), e evi- esta subida recente do desemprego preocupa
tar que os salários subam muito para não ser 0
criada uma espiral inflacionista. É uma dor 012019 122022
passageira à qual é impossível escapar, o pre-
> JUROS DO BCE
ço a pagar para normalizar a economia. 5
“Corretamente interpretada, esta ideia
Estamos a viver a mais
[da inflação como problema de distribui- 4 agressiva subida de juros
ção] não é completamente nova. É até eco- de sempre na Zona Euro
nomicamente muito intuitiva”, refere Iván
3
Werning, professor de Economia do MIT, em
resposta à EXAME. “Contudo, é frequente-
mente ignorada a ideia de que a inflação re- 2
sulta de um desequilíbrio ou de uma tensão
nos preços relativos. Se as empresas querem 1
uma margem de lucro mais alta e os traba-
lhadores querem salários reais mais altos, há 0
uma incompatibilidade. Isso leva a inflação.” 31011999 28022023
MARÇO 20 2 3 . EXAM E . 57
Macro
“No final, terão os dois de ajustar o mes- Outra hipótese é os trabalhadores esta-
mo. Mas será nos próximos seis meses? Seis rem convencidos da narrativa de que é pre-
anos? E a que ritmo? E será essa a fase fi- ciso evitar grandes aumentos nesta altura,
nal do processo? Perceber este conflito é a para não criar uma espiral inflacionista –
chave para saber se vamos ter inflação forte mesmo que ela não exista, como reconhe-
durante anos ou se está prestes a descer.” ce o próprio Banco Central Europeu (BCE).
“Não se está a verificar uma espiral de
TRABALHO CILINDRADO subida dos salários. Isto quer dizer que, na-
Ao aceitarmos que há um conflito no cora- turalmente, os trabalhadores estão a per-
ção da inflação, isso significa sermos con- der poder de compra (em termos reais)”,
frontados com vencedores e derrotados. E, reconhece Catarina Martins, investigadora
até agora, mantendo a metáfora futebolís- do Bruegel. “No entanto, a subida imediata
tica, os trabalhadores estão a levar uma go- dos salários para corrigir esta disparidade
leada. não é aconselhada, uma vez que isso iria
Um pouco por todo o mundo, há per- contribuir ainda mais para a continuada
das generalizadas de poder de compra, em subida dos preços. Após a estabilização do
certos casos dramáticas, como acontece nal- processo inflacionário, aí sim, podem ser
guns países europeus. Em Portugal, os da- feitos ajustes.”
dos do último trimestre do ano mostram Talvez o conformismo não seja bem
uma quebra dos salários reais superior a um mistério. Afinal, as últimas décadas
5%. Embora os rendimentos até estejam a trouxeram uma quebra drástica no poder
crescer, estão longe de compensar a esca- negocial dos trabalhadores, traduzida em
MARCOS BORGA
lada dos preços. Ao sentir-se mais nos bens diminuições generalizadas das taxas de sin-
alimentares – parece ser a categoria mais dicalização e menor relevância da contrata-
resistente à descida –, a inflação acaba tam- ção coletiva. Em Portugal, a percentagem
bém por ser um fardo maior para as famílias de trabalhadores sindicalizados passou de
mais pobres. 75% na véspera da Revolução de 1974 para
Faria sentido que este fosse um momen- perto de metade em 1984 e para cerca de
to de alta tensão, com protestos e greves 15% em 2016. A descida é transversal aos
agressivas. Há alguns exemplos localizados. países da OCDE.
Tem havido uma Em Portugal, os professores estão na rua, “Faz parte das dificuldades. Tem havi-
mudança na mas o seu protesto deve-se mais a decisões do uma mudança na relação de poder. Os
passadas (congelamento das carreiras) do trabalhadores já foram mais fortes, os sindi-
relação de poder. que propriamente ao momento atual. Em catos também”, reconhece Paul de Grauwe,
Os trabalhadores já França, as manifestações foram motivadas professor da London School of Economics
foram mais fortes, os pela subida da idade da reforma. O mun- e vice-presidente do Conselho das Finan-
do não está a fervilhar com protestos. E o ças Públicas.
sindicatos também” ímpeto pode já ter passado: um pouco por Recentemente, tem havido bastante re-
Paul de Grauwe
toda a Europa, os salários parecem estar já flexão sobre como essa transformação tem
London School of Economics
a desacelerar. sido prejudicial em várias facetas da econo-
Talvez esta tensão social de baixa fre- mia, incluindo a lentidão de subida de salá-
Para que uma situação destas se resol- quência se deva a um mercado de traba- rios, a desigualdade e até o crescimento eco-
va, ou entramos numa tão temida “espiral”, lho relativamente estável, sem as vagas de nómico. A pandemia pode ter agravado este
com consecutivos aumentos de preços/sa- desemprego que marcaram a crise ante- problema. Trabalhadores que não se veem
lários, ou alguém terá de aceitar o custo do rior. Pelo contrário, nos EUA, a taxa de de- terão mais dificuldade em se coordenarem.
ajustamento: os lucros das empresas ou os semprego é a mais baixa desde 1969. Em A falta de contestação surpreende mais
salários dos trabalhadores. Portugal, nem durante o pico da pandemia quando vamos assistindo a lucros recorde
Ricardo Reis tem dúvidas na utilização o desemprego explodiu, embora duas re- registados por grandes empresas, como foi
da expressão “conflito” para descrever este centes subidas, em novembro e dezembro, o caso da Galp (881 milhões em 2022) e da
processo. Prefere “ajuste dinâmico”. Mas re- talvez mereçam um alerta amarelo (a taxa Navigator (duplicaram para 393 milhões). A
conhece que entender o fenómeno é impor- está agora em 6,7%). Por outro lado, um am- EDP, que ainda não apresentou resultados,
tante. “Nos últimos 12 meses, tivemos um biente de desemprego baixo e empresas re- tinha até setembro os lucros mais elevados
ajustamento grande dos preços e um mui- correntemente a queixaram-se de falta de em cinco anos. NOS e Jerónimo Martins ob-
to menor dos salários”, explica à EXAME o mão de obra deveria aumentar a capacidade tiveram também uma melhoria significativa
professor da London School of Economics. reivindicativa. de resultados no terceiro trimestre.
GETTYIMAGES
cracia num impasse e consequente falta de
protesto social, mesmo quando os salários
reais estão a sofrer”, escreveu recentemen-
te o historiador económico Adam Tooze.
“Quaisquer que sejam as nossas posições gramas de apoio, compra de dívida, fundo
sobre sindicatos, cabe-nos a nós pelo menos comum na UE, controlo de preços, subsí-
registar a novidade da situação.” dios, cheques para todos – parece, aliás, o
Porém, pode argumentar-se que esta que andamos a fazer desde que as primei-
história ainda só está a começar e, portan- A subida imediata ras pessoas começaram a tossir em Wuhan
to, nesta tensão trabalho-capital, é possível dos salários não é e Vladimir Putin enviou tanques para o
que dentro de alguns anos as coisas deem Donbass. “A Fed não é a única saída. O go-
a volta. É essa a hipótese de Ricardo Reis. aconselhada, iria verno chegou-se à frente. Os preços da ga-
“Vamos dar um ano. No último ano, os capi- contribuir ainda mais solina estão abaixo do valor aquando da in-
talistas ficaram a ganhar e os trabalhadores para a continuada vasão da Ucrânia. Isso não foi a Fed, foi a
a perder. Mas vamos dar mais um ano, ano Casa Branca”, escreveu a economista Clau-
e meio, para ver como é que os trabalhado- subida dos preços” dia Sahm. “O Congresso aprovou a Lei de
res recuperam ou superam”, diz à EXAME. Catarina Martins
Redução da Inflação, com a nossa primeira
Bruegel política de alterações climáticas, que ajuda-
PODEMOS SONHAR? rá a proteger-nos de picos futuros de preços
O que pode então ser feito? Não é fácil fazer de energia nos mercados de combustíveis
prescrições. Não atuar para baixar a inflação distribuiu cheques pelas famílias e assinou fósseis. É possível muito mais.”
seria incomportável para as famílias, prin- um acordo de concertação social que prevê O que sobra? No arranque desta discus-
cipalmente as mais pobres. A forma como aumentos de mais de 5%. são, Blanchard defendia que devíamos ter
se convencionou lidar com uma subida de Mas têm sido medidas muito cautelo- uma forma de resolver o conflito na origem
preços parece poder ser resumida por “cara, sas. Veja-se o caso da Função Pública, cujos da inflação, coordenando os diferentes in-
os ricos ganham, coroa, os pobres perdem”, aumentos servem de referência para o resto teresses. Num mundo imaginado, empre-
como escreveu Leah Downey, na Foreign da economia. Os trabalhadores com salá- sas e trabalhadores sentavam-se à mesa e,
Policy. É também um debate que faz tre- rios mais baixos tiveram aumentos em li- coordenados por algum poder centralizado,
mer alguns economistas, porque muito nha com inflação, mas à medida que se sobe acordariam como iriam repartir o esforço
facilmente se começa a questionar a inde- na escada remunerativa, vão deixando de neste momento mais difícil. Na metáfora
pendência destas instituições. Mas deve um acompanhar. Está também por provar que futebolística, seria como convencer todas
problema tão central ser deixado totalmente os incentivos no acordo de concertação se- as pessoas do estádio a sentarem-se para
nas mãos de instituições sem responsabili- jam suficientes para convencer as empresas podermos continuar a ver o jogo.
zação democrática? a dar aumentos de 5%. “Isso é sonhar”, diz Paul de Grauwe.
Entre os responsáveis eleitos, há mar- A esquerda tem pedido mais atuação no “Não nos sentamos à mesa para resolver es-
gem para fazer mais? As políticas alternati- controlo de preços, mas as experiências do tes problemas. O banco central tem de fazer
vas mais vezes mencionadas são o controlo passado devem servir de alerta. As inicia- o seu trabalho, nem que provoque uma re-
dos preços (ou das margens das empresas), tivas nos anos 70, nos EUA, de Richard Ni- cessão, o que é sempre muito mau.”
subsídios às famílias e coordenação ou si- xon, ainda provocam arrepios e memórias Não significa que devamos desistir. “Eu
nalização na subida de salários. Em parte, de longas filas e escassez de bens. Alguns acredito que a teoria e a prática de políti-
esse caminho já começou a ser feito. O Go- economistas, contudo, admitem que numa ca monetária minimizaram o risco [de dor
verno português avançou com um controlo economia de guerra, como a Europa parece económica], mas precisamos de ir mais lon-
do preço do gás natural, subsidiou a com- viver, deve tentar-se o impensável, de forma ge e explorar se podemos fazer melhor”, diz
pra de combustíveis, aumentou os salários temporária e localizada. Werning à EXAME. Talvez seja tarde para o
dos funcionários públicos e apoios sociais, Experimentar o impensável – megapro- fazer nesta crise. E
Sabemos exatamente o que Mas poucos economistas dirão e recessões. Podemos chamar OK, é difícil fazer. Mas faria
provoca inflação? que o banco central não tem “conflito” a este processo de ajuste sentido?
Sim. Política monetária. Ponto final. nada a ver com inflação. dinâmico, como fez Blanchard. Faria sentido fazer num mundo
Exatamente. Não há um campo Estamos os dois a correr para ver ideal, mas que eu chamaria de
E existe algum debate? razoável que não ache que o banco quem ajusta primeiro. Porque é absurdo. Num momento de
Sim. Como eu tenho uma posição central não tenha um papel central relevante hoje? Nos últimos 12 negociação, que sabemos que
forte nesse debate, aquela é uma na inflação. Onde existe muita meses, tivemos um ajustamento é custoso, a ideia de que vamos
versão resumida do que eu penso. discordância é até que ponto, faça grande dos preços e um muito todos ajustar preços e salários
Claro que há debate. A inflação o banco central o melhor que con- menor dos salários. No final, terão ao mesmo tempo em 10% e que,
é um dos principais agrega- siga, não há uma série de choques os dois de ajustar o mesmo. Mas depois disso, vamos negociar se
dos macroeconómicos, como e mudanças que puxam os preços será nos próximos seis meses? devo receber mais ou menos é
crescimento, consumo, poupança para cima e para baixo. Vêm daí Seis anos? E a que ritmo? E será a irrealista.
ou desigualdade. Seria muito as teorias que colocam ênfase fase final do processo? Perceber
estranho que houvesse consenso. na política orçamental, há teorias este conflito é a chave para saber Em parte, este debate surge
Mas não quer dizer que não sai- políticas (porque o banco central é se vamos ter inflação forte durante porque os trabalhadores parecem
bamos imenso. E, para as pessoas uma divisão do Estado), há teorias anos ou se está prestes a descer. estar a sofrer e a aceitar grandes
não dizerem que os economistas de conflito que se concentram em perdas de poder de compra.
não sabem o que estão a dizer, se quem fixa preços e salários… Essa leitura pode levar-nos a Vamos dar um ano. No último ano,
perguntar o que causa o cancro, achar que é possível centralizar os capitalistas ficaram a ganhar e
também há dezenas de teorias, E é nessa última tradição que uma negociação para resolver os trabalhadores a perder. Mas va-
umas mais consistentes umas se enquadra aquela perspetiva essa tensão entre trabalhadores mos dar mais um ano, ano e meio,
com as outras. Na economia, não de a inflação ser um problema e empresas. Seria difícil? para ver como é que os trabalha-
quer dizer que uma teoria esteja de distribuição, sublinhada por Sim, porque estarias a centralizar dores recuperam ou superam.
totalmente certa ou errada, é mais Blanchard. toda a economia. Nos anos 80,
que uma contribui mais ou menos Vamos imaginar que há um choque quando estávamos a reduzir o ní- Mas, se calhar, é isso que está a
e o que se quer enfatizar. que leva a mudanças de preços. vel de inflação, tivemos de aceitar motivar a discussão.
Se duplicássemos os preços, num salários e preços menores para É uma reflexão do que dizia antes.
Qual é a visão prevalecente? mundo absurdo, os preços salta- acabarmos todos iguais. Apren- Os trabalhadores vão sentar-se
Uma visão também chamada de riam todos de 1 para 2 euros. Mas demos que os países onde havia com os capitalistas e ver quanto
“monetarista”, que talvez seja não existe esse mecanismo de sindicatos e negociação salarial deve aumentar o salário. Podemos
a que recolhe mais apoiantes coordenação. Tu sobes para 1,5, eu conseguiram fazer esse ajuste de dizer que deverá ser repartido,
entre os economistas, diz que o mantenho em 1, depois subo para forma mais rápida. O problema mas haverá uma negociação, em
banco central tem sempre um 1,7 e acabamos nos 2, num proces- aqui é que o sindicato quer que o que o trabalhador dirá que tem de
papel central no que determina so iterativo, que demora meses salário suba mais do que o preço. ficar a ganhar porque perdeu antes
a inflação. E porquê? Um euro é e mesmo anos. É um processo Se se conseguisse separar [nomi- e a empresa dirá que se mudará
uma célula com o teu nome e um que traz imensa dor à economia nal vs. real], tudo bem. Mas nunca para a China.
1 à frente. É uma entrada numa e ineficiência. Gera desemprego se conseguirá fazer isso.
folha de cálculo. O nível dos preços Este momento de ajustamento é
é quanto é que um euro vale em inevitável?
bens, como o meu telefone. A “Seria muito Houve um choque grande e uma
inflação é a mudança do valor de
telefones numa entrada na folha
estranho que o tipo resposta da política monetária que
não foi adequada. Agora está a
de Excel. Quem controla a folha que desenha a folha recuperar terreno. É perfeitamente
de Excel? É o banco central. Seria
muito estranho que o tipo que
de Excel não tivesse razoável achar que a inflação den-
tro de 12 meses já caiu bastante e o
desenha a folha não tivesse nada a nada a ver com processo de ajustamento já estará
ver com a inflação. a inflação” concluído.
DAVID BALLARD/Psicólogo
D
avid Ballard esteve recen- sunto que é relevante para todos. Tornou-
temente em Portugal, a -se relevante para que as próprias empre-
convite da Ordem dos sas continuassem a operar, o que as levou
Psicólogos Portugueses a reagir rapidamente. Existe um trabalho
e da Confederação Em- de campo e normativo que tem décadas – a
presarial de Portugal, para falar sobre bem- Organização Mundial da Saúde emitiu tam-
-estar, produtividade e sustentabilidade das bém novas orientações após a pandemia – e
organizações. Psicólogo, liderou o progra- penso que as empresas começaram a per-
ma Center for Organizational Excellence ceber a sua importância. Mas em termos de
and Psychologically Healthy Workplace na implementação efetiva, de medição, de co-
American Psychological Association. Con- nhecer os seus resultados e a qualidade das
sultor de referência em empresas de todo o evidências, ainda está muito atrás do mun-
mundo, gosta particularmente de trabalhar do da saúde física e da segurança.
ao nível dos sistemas, onde diz que a psi-
cologia pode ter um impacto significativo O tema tornou-se mais premente porque
na definição de políticas e na cultura das existiu uma degradação da saúde psicoló-
organizações. gica dos trabalhadores com a pandemia?
Pegando nos EUA como exemplo, os níveis
A pandemia veio alterar a forma como as pré-pandémicos de casos clinicamente sig-
empresas olham para o impacto da saú- nificativos de ansiedade e depressão eram
de psicológica, não só no bem-estar e na de cerca de 11% da população. No final de
satisfação dos profissionais, mas também 2022, eram de 36% da população. Mais de
na produtividade das empresas? três vezes os valores pré-pandemia, e esses
Não sendo uma questão nova, a pandemia números são muito semelhantes aos que
colocou um foco sobre ela. De repente, dei- vemos noutros países, como o Reino Uni-
xou de ser um tema apenas para algumas do, a China, a Austrália e outros. Trata-se de
pessoas que poderiam estar a debater-se uma combinação de fatores – as pressões e o
com fatores de stresse, e tornou-se um as- stresse da pandemia, as mudanças no local
uma cultura organizacional saudável, mos- pode ser visto como um empregador prefe-
tro duas colunas: uma que é sobre a redução rencial, pode atrair e reter pessoas melho-
de aspetos negativos, como o absentismo, a res. Nas empresas que têm uma cultura de
rotatividade, os custos com a saúde dos fun- bem-estar – e não é apenas ter um progra-
cionários, as reclamações, etc.; mas a outra ma ou benefícios, é ter esses valores verda-
coluna, que penso ser ainda mais importan- deiramente incorporados na organização e
te, tem que ver com melhorar a performan- nos seus líderes –, o nível de motivação dos
ce e a produtividade, ser mais competitivo, trabalhadores para apoiarem a organização
ser um empregador de referência, melhorar e fazerem um bom trabalho era o dobro, a
a relação com os clientes. E isso é o que faz probabilidade de um funcionário recomen-
o sucesso das empresas. dar essa empresa a um amigo ou familiar
como um bom lugar de trabalho era cinco
A necessidade de atrair e reter talentos vezes superior, e o número de funcionários
desempenha aqui um papel essencial. que diziam pretender deixar a empresa nos
O que mais ouço atualmente por parte das próximos 12 meses era metade, face às em-
empresas é sobre a necessidade de atrair presas que não têm essa cultura. São dife-
e reter talento. Todas as empresas com as renças brutais.
quais tenho trabalhado – e tenho trabalhado
com muitas tecnológicas – têm esta preocu- E como se cria essa cultura de bem-estar
pação, porque existe um mercado compe- nas empresas?
titivo e as pessoas podem ir trabalhar para De forma geral, um local de trabalho psi-
qualquer lado e, possivelmente, ser mais cologicamente saudável é aquele que não
bem pagas. E a forma de manter estes traba- só protege os trabalhadores de potenciais
lhadores é pelo ambiente de trabalho, onde riscos como também promove os aspetos
têm boas relações e sentem que se preocu- positivos do trabalho. Os locais de trabalho
pam com eles, em contraponto com outra podem desempenhar um papel muito posi-
organização que até pode pagar-lhes mais tivo na vida das pessoas. Podem dar signifi-
20% mas onde o ambiente de trabalho não cado às suas vidas, podem ser uma forma de
é bom. Essa é a chave. contribuírem para as suas comunidades, de
terem boas relações pessoais e de apoio, de
Quais são os principais fatores de stresse crescerem e de se desenvolverem. Acho que
no trabalho e de que forma as empresas existem três camadas: proteger, promover
podem atuar? e fornecer o acesso a recursos que ajudem
Há muitos fatores de stresse. Não são ape- as pessoas a resolver problemas, quando
nas o excesso de trabalho ou deadlines aper- precisam.
tados. São também não ter autonomia ou
controlo sobre a forma como exerce as suas De que forma é possível medir a eficiên-
funções; podem ser exigências irracionais cia dessas medidas?
colocadas sobre si ou expectativas pouco É difícil e os esforços estão consideravel-
claras; podem ser situações de conflito e mente atrasados. A maioria das empresas
relações pessoais negativas. Nas pesquisas não mede ou não o faz de forma eficaz. Na
que realizei ao longo dos anos, os números melhor das hipóteses, estão a rastrear quan-
caíam consistentemente em 25% a 33% de tas pessoas participam nos programas. E Os modelos
trabalhadores que relatavam stresse cróni- isso é importante, mas não lhes diz se estão híbridos
co no trabalho. Se pensarmos que uma em a mudar comportamentos ou a ter algum funcionam bem
cada três ou quatro pessoas da sua equipa se impacto. É também importante perceber se
sente sobrecarregada e altamente stressada estão a chegar às camadas certas da força de desde que se
todos os dias… E quando atingem o estado trabalho. E isso implica pensar em questões use o remoto
de burnout isso começa a afetá-los física e de diversidade, equidade e inclusão. Porque e o presencial
mentalmente e, claro está, afeta o desem- o que vimos na pandemia, por exemplo, é
penho no trabalho. É por isso que os em- que teve um impacto maior nas mulheres, para suportar
pregadores estão a prestar mais atenção e a em grupos minoritários e em pessoas com as funções
perceber que se trata de um investimento, e rendimentos mais baixos. É preciso prestar certas”
não de um custo, porque é assim que a or- uma atenção especial a diferentes grupos.
ganização também se beneficia. Tem menos Há empresas a constituírem uma espécie de
rotatividade, maior satisfação no trabalho, “grupos de apoio de pares”, que são lugares
I N O VA Ç Ã O
Anões
aos ombros
de gigantes?
A Ciência
dá saltos
cada vez mais
pequenos
Um novo estudo mostra que a Ciência se tornou
menos disruptiva, com consequências óbvias
para a produtividade e o crescimento económico.
O que mudou e que soluções existem?
Texto Nuno Aguiar
H
á um chatbot que con- Há dias em que o telejornal parece um O documento mostrava que os estudos
segue explicar-lhe a filme de ficção científica. Mas o entusi- científicos e patentes dão saltos de conheci-
Teoria da Relativida- asmo que gera pode não corresponder a mento menos ambiciosos. Ao analisarem 45
de como um poema uma inovação significativa. Na verdade, milhões de papers e 3,9 milhões de patentes
de Fernando Pessoa. os avanços científicos têm sido cada vez de seis grandes bases de dados, os autores
Um telescópio espacial está a enviar-nos menos revolucionários. As últimas sete criaram um novo indicador, que sugere que
imagens de galáxias como elas eram há décadas deixaram-nos uma Ciência me- os avanços são, hoje, mais incrementais do
13,5 mil milhões de anos. A Inteligência nos disruptiva, com consequências óbvias que disruptivos, naquilo que consideram
Artificial (IA) consegue prever a estrutu- para o crescimento económico. ser “uma mudança estrutural na natureza
ra de quase todas as proteínas e estamos O debate já tem alguns anos, mas ga- da ciência e da tecnologia” e uma ameaça
mais perto de uma vacina universal con- nhou novo fôlego com a publicação de um ao “crescimento económico, saúde humana
tra a gripe. As fontes de energia alterna- estudo na Nature, no arranque deste ano, e bem-estar e segurança nacional”.
tivas continuam a dar saltos gigantescos e que indicava que os papers científicos e Trata-se de um desenvolvimento preo-
baterias poderosas podem ser carregadas patentes têm uma probabilidade cada vez cupante. Nem todos os avanços científicos
em poucos minutos. Estamos a voltar ao mais baixa de mudar o rumo de um cam- têm de ser disruptivos, mas essa dimensão
Espaço! po científico. é importante. É desses saltos que depen-
FIM DO CRESCIMENTO?
O motivo para um texto como este estar
numa revista de economia como a EXAME
não é difícil de entender. Inovação me-
nos disruptiva é uma má notícia para o
dinamismo económico de um país e do
mundo. “A produtividade e o crescimento
dependem, em última análise, da tecno-
logia. E o avanço tecnológico está, hoje,
muito ligado à Ciência. Se o ritmo da des-
coberta científica desacelerar, então o rit-
mo do progresso tecnológico em geral, e,
por isso, do crescimento, também irá de-
sacelerar”, nota Clancy.
Para termos uma ideia do impacto que
tem este aparente deserto de ideias, para dourada da inovação (eletricidade, motor
que os EUA sejam capazes de manter o de combustão interna, automóvel, expan-
mesmo crescimento de PIB per capita, são da ferrovia, aviação, saneamento bá-
teriam de duplicar os esforços de investi- sico, aquecimento central, rádio, telefone,
gação a cada 13 anos, calcula o já referido Grandes aceleração da urbanização).
estudo de Bloom. organizações, Talvez esta seja uma visão limitada. A
A economia preocupa-se há alguns inovação pode estar a avançar, sem que
anos com este problema. A produtivida- como a OCDE, nos seja visível (a produtividade nos EUA
de e o crescimento têm estado a arrefe- têm sugerido que só começou a reagir cerca de 30 anos após
cer nas economias mais ricas do mundo. a disrupção nos pode a eletrificação da indústria). Além disso,
A estagnação fez parte de grande parte da há desenvolvimentos imprevisíveis. Bas-
nossa História. Entre 1300 e a Revolução ajudar a lidar com ta olhar para a Inteligência Artificial. Nos
Industrial, crescemos a um ritmo de 0,2% grandes desafios, poucos meses que passaram desde o lan-
ao ano. Economistas como Tyler Cowen e como as alterações çamento do ChatGPT, têm-se multipli-
Robert Gordon argumentam que as con- cado notícias sobre como pessoas e em-
dições que permitiram o enorme avanço climáticas” presas estão a utilizá-lo, levando outras
económico dos últimos 200 anos foram Michael Park
empresas a acelerar os seus projetos de
excecionais e desapareceram. Entre elas Universidade do Minnesota IA e dirigindo milhões para esta área. Que
está a capacidade de gerar inovações re- impacto terá esta tecnologia na produti-
volucionárias. vidade? Não sabemos, mas é possível que
Talvez lhe pareça estranho. Afinal, limite de escrita no Twitter]”, afirmou o seja grande (trazendo também possíveis
a tecnologia nunca esteve tão integrada polémico empresário Peter Thiel, funda- efeitos negativos).
nas nossas vidas. Contudo, passar ho- dor do PayPal. “Há 100 milhões de pessoas no plane-
ras a publicar stories no Instagram ou a Um carro elétrico é um avanço impor- ta a interagir com Inteligência Artificial.
fazer scroll no Twitter não faz milagres tante, mas o seu impacto na produtividade É um momento histórico. Já passei por
pela nossa economia. Inovação tornou- dificilmente se pode comparar a deixarmos vários ciclos e comparo isto ao momento
-se sinónimo de Silicon Valley. Mas como de andar de carroça, tal como um iPhone em que vi a Web começar a ser utilizada
é que estas inovações tecnológicas com- não consegue competir com um sistema de forma mais universal”, afirmava Pau-
param com a eletrificação das fábricas? de esgotos. Uma visão que tem reunido al- lo Dimas, vice-presidente de inovação de
“Queríamos carros voadores e, em vez guns apoiantes argumenta que as inven- produto da Unbabel, em declarações re-
disso, recebemos 140 caracteres [anterior ções atuais não conseguirão replicar a era centes à VISÃO sobre o ChatGPT.
GETTYIMAGES
cobertas mais “fáceis” já foram todas feitas. > PERDA DE PODER DISRUPTIVO pidas, e é até duvidoso que consigam ter
Só há uma Teoria da Relatividade, e só po- espaço no atual ecossistema académico e
demos descodificar uma vez o genoma hu- O gráfico ilustra a métrica do estudo de inovação. Os autores do estudo da Na-
mano. Também não voltaremos a inventar publicado na Nature, revelando uma quebra ture sugerem que seja dado mais tempo
na percentagem de papers disruptivos
o motor de combustão interna. aos académicos para conhecer o campo,
Esta tese assume que há um núme- 0,5 em vez de estarem na rodinha de hams-
ro limitado de avançados relativamente QCiências Sociais ter da publicação, e que as universidades
0,4 QTecnologia
simples e com elevado impacto, que se foi QCiências Físicas
se foquem menos na quantidade de pu-
esgotando. Uma hipótese aparentemente 0,3 QCiências blicações e mais na qualidade, propondo
desmentida pelo facto de todos os campos 0,2 Biomédicas subsidiar sabáticas de um ano.
da Ciência registarem uma quebra muito O setor público também pode ter um
semelhante da disrupção.
0,1 papel a desempenhar, talvez assumindo
Outras possibilidades seriam: mudan- 0 muito mais riscos do que era habitual,
ças na forma como se publicam ou como 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 nas últimas décadas. No pós-II Guerra
se citam outros trabalhos académicos, cri- Mundial, departamentos como a DARPA,
ando uma “aparência” de menor disrup- nos EUA, foram responsáveis por criar os
ção, porque as convenções ditam que se Pelo meio, há obviamente incentivos fi- embriões de que sairiam tecnologias que
cite mais; e a existência de muito mais in- nanceiros a considerar. Há muita pressão mudaram a nossa vida, como a internet
vestigação da “treta”, que não acrescenta para publicar e fazê-lo rápido, o que afasta e o GPS.
valor. A análise dos autores exclui ambas. o dinheiro de opções mais arriscadas ou de "Agências federais podem investir em
A sua hipótese preferida é que cien- mais longo prazo. “Os críticos também apon- metas mais arriscadas e de longo prazo,
tistas e inventores estão a usar fatias cada tam para os incentivos de publicação e as ava- que apoiem carreiras e não simplesmen-
vez mais estreitas de conhecimento. Uma liações de investigação baseadas em métricas, te projetos específicos, dando aos acadé-
especialização que permite mais publica- que viram o estudo científico para longe do micos tempo para sair do desgaste diário,
ções e beneficia a carreira individual dos risco, à medida que financiadores, investido- imunizar-se contra a cultura de ‘publicar
cientistas, mas favorece menos saltos no res e instituições tomam a opção mais segura, ou morrer’ e produzir trabalho verdadeira-
progresso científico como um todo. Ao para manter a roda de bolsa-publicação-ci- mente consequente”, escrevem os autores.
mesmo tempo, à medida que o conheci- tação a girar”, escrevia a Nature. Isaac Newton afirmou: “Se eu vi mais
mento de cada área aumenta, os investi- longe, foi por estar aos ombros de gigan-
gadores enfrentam um “fardo” maior para MAIS RISCO? tes.” Uma referência ao conhecimento
dominar cada campo, demorando mais Esta tendência tem gerado preocupação acumulado antes do seu contributo. Esta
até serem capazes de desafiar as frontei- no campo científico. Não existem solu- tendência sugere que estamos a ficar cada
ras desse campo. ções consensuais, elas nunca seriam rá- vez mais pequeninos. E
O ensino e a promoção
de criatividade
O ensino é um tópico sobre o qual reflito regularmente,
como poderá ser do conhecimento dos meus estimados
leitores. Como sempre reforço, acredito que Portugal tem
um enorme potencial para se tornar grande no que toca > Professor catedrático,
ao empreendedorismo e inovação e dinâmica empresarial Universidade de Évora
P
reocupa-me, necessidades dos alunos e do cola procura novas formas de pessoas interessadas em le-
no entanto, modo de vida atual. aprender, abrindo-se ao mun- cionar. O salário é um tópico
que o sistema Voltando à questão de como do em redor. Tem havido al- relevante quando falamos de
de ensino pos- fazê-lo, penso que um primei- gum progresso importante valorização. No entanto, será o
sa não estar a ro passo importante, muitas nos ensinos básico e secundá- aumento de salários suficiente
estimular a criatividade e o po- vezes esquecido quando ela- rio portugueses, mas continua- para combater esta insatisfa-
tencial de inovação dos nossos boramos políticas públicas, é mos a ter alunos e professores ção? Eu acredito que não, ou
jovens da maneira mais eficaz. olharmos para bons exemplos, esgotados com os extensos pro- pelo menos, não unicamente.
Acredito que este estímulo de- noutros países. Fazer um ben- gramas letivos, com as longas Salários mais elevados (e jus-
verá começar, desde cedo, nos chmarking, ou seja, uma análi- horas nas salas de aula, com a tos) poderão contribuir para
ensinos básico e secundário, se profunda de boas práticas, é pressão dos exames e os longos atrair e reter professores al-
durante os quais os jovens for- essencial na reestruturação dos trabalhos de casa. O foco conti- tamente qualificados. No en-
mam os seus valores e persona- nossos sistemas. Não precisa- nua na quantidade e não tanto tanto, não serão suficientes
lidades. Para além de criar uma mos de sair da Europa para es- na qualidade. para melhorar a qualidade do
forte base de conhecimento, é tudar alguns dos que são con- Falando em professores, sistema de ensino. Para tal, é
importante providenciar os re- siderados os melhores sistemas estes sentem-se também des- necessário providenciar os re-
cursos necessários para enco- de educação a nível mundial. motivados e frustrados com o cursos adequados às escolas,
rajar o espírito de inovação, de Pegando num exemplo, a Fin- sistema educativo atual. Como ajustar o tamanho das turmas
criação de redes interpessoais, lândia, é possível identificar em qualquer profissão, o tra- e os currículos das disciplinas,
e a vontade de arriscar e agar- práticas que estimulam o es- balhador não conseguirá dar o e adaptar os métodos de ensi-
rar oportunidades. A pergunta pírito crítico e criativo dos melhor de si enquanto não se no. Para além disso, é necessá-
que persiste é: como fazê-lo? alunos. O sistema educacional sentir motivado e valorizado. rio promover uma cultura de
Uma total disrupção do siste- sofreu uma reforma em 2016, De facto, há cada vez menos inclusão nas escolas, procu-
ma educativo não é, de todo, focando-se em aumentar a rando uma maior participação
desejável, e acredito que tam- participação dos alunos na sua dos alunos e dos seus encar-
bém não é necessária. Acredito própria educação, contribuin- regados de educação. Os pro-
que podemos aliar o que já há do, ao mesmo tempo, para que fessores, por sua vez, precisam
de positivo no ensino e ajustá-lo se sintam realizados, tanto do de se sentir apoiados e de ter
à realidade de hoje: o conheci- ponto de vista académico como A educação, perspetivas de carreira ade-
mento está por todo o lado, não pessoal. Por exemplo, o currí- começando nos quadas. Existem vários pon-
só nos livros. Aliás, à velocidade culo escolar finlandês comple- ensinos básico tos a melhorar, e por enquanto
a que o mundo está a mudar, os menta o conhecimento cientí- acredito no potencial de che-
livros rapidamente se vão desa- fico com o desenvolvimento e secundário, garmos a bom porto. A edu-
tualizando. A forma clássica de de competências transversais, é a base cação não pode, de todo, ser
aprender, em formato de semi- desde a autoexpressão ao em- fundamental descurada. A educação, come-
nário, está também desatuali- preendedorismo, ajudando-os çando nos ensinos básico e se-
zada. É também fundamental a crescer como seres humanos. para formarmos cundário, é a base fundamen-
incluir formação que acompa- Os objetivos e métodos de ava- cidadãos felizes tal para formarmos cidadãos
nhe as tendências tecnológicas liação são diferenciados e indi- e capazes felizes e capazes de desenvol-
atuais, tais como, programação. vidualizados, de acordo com as ver novas ideias, contribuin-
É, portanto, necessário ajustar características e necessidades de desenvolver do para um mundo inovador
o sistema, de acordo com as de cada aluno. Em suma, a es- novas ideias e sustentável. E
PA R T I C I PA Ç Ã O P O L Í T I C A
G rl
Talk D E BATE . R E F L EXÃO
N
as últimas eleições legis-
lativas, em 2022, a taxa
de abstenção fixou-se
em 48,6%, em Portu-
gal. Desde 1983 que
está acima dos 20% e, a partir de 2009,
manteve-se acima dos 40%. Quando se
olha para as eleições para o Palácio de de Lisboa, vice-diretora do IPP - Instituto to democrático e no funcionamento das
Belém, o caso é ainda mais grave: a abs- de Políticas Públicas e editora da revista democracias, em geral. Isso vê-se em vá-
tenção atingiu o máximo recorde de 60% European Political Science Review. rios indicadores, como a confiança em
nas últimas presidenciais, o que significa “Lembro-me de que, quando comecei relação às instituições políticas, a parti-
que houve mais eleitores a não ir às urnas a estudar Ciência Política, há mais de 20 cipação eleitoral, que vem diminuindo, a
do que aqueles que ativamente decidiram anos, ainda havia uma questão, que era se militância partidária, que também dimi-
escolher um Presidente da República. O existia uma crise das democracias euro- nuiu drasticamente. E temos outro tipo de
número é muito elevado, mas desde 1991 peias ou não”, lembra a académica. “Era indicadores, que são a eleição de partidos
que a taxa de abstenção nestas eleições um debate, porque havia quem achasse de direita radical, que são partidos popu-
ronda os 40%. que não havia crise – uma vez que, em listas que rejeitam os partidos tradicionais
Os dados, compilados pela Pordata, são muitos países, a participação eleitoral e a forma tradicional de fazer política e
um bom ponto de partida para a conversa continuava a ser alta e o envolvimento tentam criar uma narrativa de que existe
que sentou, no já costumeiro sofá do Mar- político também; e, depois, havia paí- uma elite partidária. E, depois, existe o
tinhal Chiado – parceiro da EXAME nesta ses onde a insatisfação com a democra- povo, e o que interessa é diferenciar entre
rubrica –, Graça Fonseca, antiga ministra cia também era elevada e não havia um a elite partidária, que é corrupta, e esse
da Cultura, e Marina Costa Lobo, investi- padrão consistente. Mas acho que, hoje povo, que é bom, honrado e trabalhador;
gadora principal de Ciência Política do Ins- em dia, já não há qualquer dúvida de que e, se não fosse essa elite partidária, tudo
tituto de Ciências Sociais da Universidade existe um problema no funcionamen- correria melhor.”
que tem que ver com algumas causas que muitas diferenças ao longo dos mais de
sabemos que mobilizam muitas camadas 20 anos em que ocupou cargos públicos.
mais jovens, aqui e em qualquer país da “Porque a forma como comunicamos mu-
Europa. Isso é uma boa forma de aferir de dou imenso.”
que maneira estão a participar ou são ati- Por tudo isto, defende Graça, era im-
vistas ou querem participar. Porque a cau- portante que comunicação social, uni-
sa pública não se faz só através da política versidades, instituições de investigação
dos partidos. A causa pública não signifi- e desenvolvimento científico e políticos
ca partido político! São coisas diferentes. se juntassem, porque “estamos a falar do
Às vezes, confundem-se, mas são coisas que vai ser o País daqui a 50 anos – e es-
diferentes: posso ser um ativista de polí- tamos quase a celebrar 50 anos do 25 de
tica pública, de causas públicas, e nunca Abril e queremos chegar aos 100 anos com
ter passado por um partido político”, sa- uma democracia viva, que funciona com
lienta Graça. os seus pilares importantes intactos. Acho
que queremos todos isso”, resume.
DEFESA DA DEMOCRACIA DEVIA ”E a questão da participação política
SER CAUSA NACIONAL das pessoas que estão em cargos políti-
“Penso que a questão da participação po- cos é fulcral, porque, se não conseguirmos
lítica é mesmo um problema muito com- aumentar a confiança nas pessoas que go-
plexo e é um dos principais problemas vernam, se não conseguirmos diminuir
da nossa democracia”, lamenta ainda. “A esta espécie de ‘Jogo Nacional de Caça ao
partir do momento em que observamos, Político’, estamos simplesmente a fazer
mais ou menos inativos, a degradação da mal”, continua, referindo-se aos recentes
qualidade da democracia, estamos a co- casos que têm varrido o Governo de Antó-
meter um erro dramático do ponto de vis- nio Costa, levando a demissões, algumas
ta geracional, do ponto de vista do futuro delas relâmpago.
do País. Acho isto já há muitos anos e, se
calhar, muitas vezes podia ter tido mais RESULTADOS POLÍTICOS
participação do que tive, mas enfim… foi E FRUSTRAÇÃO
a vida que foi. Mas creio que isto é mes- Questionada sobre por que razão se ouve feito um esforço enorme para obter esses
mo um problema e diria até que devia tanto, em Portugal, que “os políticos são graus [académicos] e havia uma expecta-
ser uma causa nacional dos partidos po- todos iguais” e por que razão houve, ago- tiva enorme dos pais e dos próprios.” Con-
líticos, que estão dentro daquilo a que se ra, terreno fértil para que partidos de ex- tudo, o que se tem visto, nos últimos anos,
chama, digamos, o espaço da democracia trema-direita chegassem à Assembleia da é uma “emigração significativa de jovens
tal como ela existe em Portugal!”, defen- República, Marina Costa Lobo lembra que qualificados”. Uma sensação entre os jo-
de, com um sorriso. Que é como quem essa é uma ideia muito antiga e que “tem vens, “talvez exagerada, mas muito forte,
diz: é uma preocupação que deve unir que ver com outra questão. A satisfação de que é muito difícil fazer uma vida tal
todos os partidos democráticos em tor- com a qualidade da democracia pode ter como os seus pais têm, hoje em dia, em
no de uma agenda comum – a de reforçar que ver tanto com os procedimentos da Portugal. E que, para o conseguir, é pre-
os pilares da democracia, a confiança nas democracia – a forma como elegemos os ciso emigrar ou ter muitos contactos so-
instituições e a validade da causa pública. deputados, como o governo é formado – ciais… Os jovens sentem muito isso, até na
Até porque, recordam, é precisamente na como com os resultados dessa democra- universidade. Vejo um desânimo entre os
incerteza, no medo e no discurso de “os cia. E o que acontece, em Portugal, é que alunos... É uma realidade portuguesa que
políticos são maus” que a extrema-direita temos uma fraca convergência com a Eu- creio que tem que ver com os resultados
ganha poder, ao pedir apenas 30 segundos ropa, no século XXI, e temos problemas das políticas”, lamenta.
de atenção a quem os ouve. estruturais muito difíceis de resolver, que “Portugal é um dos países menos de-
“E, quando se quer explicar porque a democracia tem tentado resolver, mas senvolvidos da União Europeia. Estamos
é que os políticos não são maus, as pes- as pessoas sentem que podia ter havido sempre a comparar-nos com os mais ricos,
soas já não estão a ouvir, porque, hoje, o resultados melhores”, explica. mas não somos ricos. Tem havido mui-
nosso cérebro não aguenta a quantidade “Isso está diretamente relacionado ta evolução positiva em muitos domínios,
de informação com que somos bombar- com a frustração que se sente em relação mas, quando nos comparamos com os vi-
deados”, simplifica a antiga ministra da à política. E, nos jovens, com maioria de zinhos, eles estão tendencialmente melho-
Cultura. Aliás, dirá mais à frente, foi pre- razão. Os jovens sentem que têm qualifi- res do que nós, e isso leva a frustração. E os
cisamente na comunicação que sentiu cações como os seus pais não tinham, foi alvos são os políticos”, afirma a politóloga.
EM TRÂNSITO
D.R.
carreira na METRO AG, em 2014, como para ser partner da Bain & Company
TA L E N T O E M AÇ ÃO trainee internacional e ao longo dos em Lisboa. Com mais de 10 anos de
anos desempenhou diferentes fun- experiência em consultoria estraté-
anuncia CEO
Alemanha. É licenciado em Economia clientes globais, líderes em bens
pela Nova School of Business and de consumo nas suas estratégias
Economics e fez um mestrado e outras de digital e data, transformação
Rui Hortelão, com uma carreira formações executivas em escolas de modelos organizacionais
dedicada à comunicação, é o novo como a London Business School, e ainda de integração pós-fusão
responsável pela empresa portuguesa Ivey Business School e Hult Busi-
ness School. Nos últimos três anos,
(post-merger). Trabalhou ainda com
clientes em toda a Europa, EUA
de investimento equestre ocupou a função de head of business e América do Sul, fazendo parte,
Texto Margarida Vaqueiro Lopes development, e assume, com esta ao longo da sua carreira, dos escritó-
nomeação, a liderança das áreas rios da Bain em São Paulo, Atlanta
A
Campline Horses, uma empresa de operações, vendas e marketing. e Bruxelas.
portuguesa de investimento eques-
tre, tem como prioridade salvar e
afirmar o cavalo puro-sangue lusi-
tano (PSL) no mundo, sendo pro-
prietária de mais de uma centena de PSL, entre os
quais os mais reputados da atualidade: o Fogoso e o
Escorial. A organização apontou Rui Hortelão como
CEO da empresa, tendo o executivo assumido funções
GUSTAVO MILLER MARIA PORTELA
no passado mês de fevereiro. O agora gestor foi jor- Head of Marketing da Sensei Marketing manager da CBRE
nalista durante cerca de duas décadas, tendo passado www.linkedin.com/in/gustavomiller/ www.linkedin.com/in/maria-portela-
pelos jornais Record e 24 Horas e também pela revista Com um percurso reconhecido nas 1b6b54112
Focus. Foi ainda subdiretor do Correio da Manhã e áreas de jornalismo e de marketing, Licenciada em Administração
diretor-adjunto do Diário de Notícias, antes de assu- o novo responsável de marketing da de Empresas pela Hotelschool The
mir a direção da revista Sábado, entre 2014 e 2017. Sensei terá como principal objetivo Hague, na Holanda, Maria Portela fez
Posteriormente, integrou os quadros da KPMG, em amplificar a imagem inovadora da em- uma pós-graduação em Digital Marke-
presa, não apenas em Portugal, mas ting & Analytics, pela Nova IMS. Passou
que desempenhou as funções de head of Corporate
a nível global, a começar pelo Brasil por várias funções na área da hotelaria
Affairs, Marketing & Communications.
e Espanha. Formado em Jornalismo e dos eventos, tendo tido a sua primei-
A Campline Horses, empresa que agora lidera, le- ra experiência na área de marketing
e com um mestrado em Estratégia
vou dois atletas aos Jogos Olímpicos de Tóquio 2021 na empresa Cityden, em Amesterdão.
Digital e Gestão de Comunicação
e tem hoje quatro desportistas na corrida aos Jogos Empresarial, recebeu vários prémios Posteriormente, e já de regresso
de Paris2024, nomeadamente o português Rodrigo enquanto jornalista antes de se mudar a Portugal, assumiu funções de mar-
Torres (finalista e 16º em Tóquio) e o brasileiro João para o marketing, onde passou por keting manager, no Grupo Lowfat
Victor Oliva (atual 36º do ranking mundial de dres- empresas como a Red Bull, a Eleven (restauração), tendo mais tarde
sage), esclarece fonte oficial à EXAME. Maria Pais do Sports e a Shopify Brasil. Miller é assumido a função de public relations
Amaral (Portugal) e Renderson de Oliveira (Brasil) também professor de Comunicação e manager. É, desde o início do ano,
completam a equipa Campline Horses, que está se- Marketing Digital e foi eleito LinkedIn a responsável de marketing
da consultora CBRE.
diada na Herdade da Aroeira, em Santo Estêvão. E Top Voice em 2019.
A SS I S TA M E N SA LM E NTE N O S ITE DA E X A M E
OIÇA EM :
DOSSIÊ PROMOCIONAL ESPECIAL SAÚDE | ABERTURA
aúde, inovação tec- talento quer no desenvolvi- para mobilizarem investimen- 129 habitantes, um médico por
S nológica, transfor-
mação digital e
empreendedoris-
mento de fármacos, quer de
dispositivos ou plataformas
digitais que prometem me-
tos de empresas de capital de
risco, nacionais e internacio-
nais, e para despertar a visão
cada 176 habitantes e um den-
tista por cada 904 habitantes
(fonte: INE, Pordata) –, já quan-
mo são palavras que andam lhorar a vida das populações, empresarial de multinacionais do se trata de negócio a reali-
cada vez mais juntas. O merca- inclusive no domínio da saúde (farmacêuticas, de tecnologia, dade mostra-se positiva e com
do da saúde, nas suas diferen- mental, que atualmente saltou etc.), que não raras vezes aca- mais dinamismo. As lacunas
tes componentes, tem estado, para a ribalta. bam por incorporar a inova- do Serviço Nacional de Saúde
sobretudo desde a grande crise Aliás, o emergente sector das ção, os produtos e serviços de (SNS) têm aberto espaço para a
da covid-19, na ordem do dia, e chamadas health tech e med- empresas mais pequenas, ta- iniciativa privada (seja de hos-
não estamos a falar da contes- tech tem sido palco do apare- lentosas e inovadoras. pitais ou serviços complemen-
tação social que tem envolvido cimento de invenções disrup- E se, de acordo com os dados tares e negócios indiretamente
várias classes profissionais do tivas de jovens talentos, muitas da Pordata (atualizados em ligados à saúde) conquistar es-
sector, mas sim da componente delas resultado da cada vez agosto de 2022), os números paço no mercado nacional.
empresarial do mesmo. mais profícua relação e par- da saúde em Portugal, no que
As oportunidades de negócio ceria entre os universos aca- respeita ao rácio de profissio- IMPACTO ECONÓMICO
na área da saúde sucedem-se, démico e empresarial. Inova- nais por cada habitante, não Os desafios digitais, de negó-
com novas empresas/star- ções tecnológicas que têm sido são propriamente os melho- cio e de sustentabilidade da
tups a mostrarem todo o seu suficientemente impactantes res – um enfermeiro por cada saúde são uma realidade para
EM TODOS OS
nar uma melhor qualidade de auxiliar e fazer a diferença a no mundo.
vida a estes doentes. Segundo quem sofre com estas doen-
a OMS, mais de 300 milhões QUE VIVEM ças, nomeadamente através Quais a metas definidas pela
de pessoas sofrem com este COM DOENÇAS do desenvolvimento de novos empresa para este ano? Mais
PSIQUIÁTRICAS E
transtorno mental, e nesse e inovadores tratamentos e investigação? Mais investi-
âmbito temos desenvolvido assegurar o seu financiamen- mento tecnológico...
soluções inovadoras e cada NEUROLÓGICAS to público, para que fiquem Neste momento estamos a vi-
vez mais seguras, que fazem efetivamente disponíveis para venciar um momento de gran-
a diferença e que contribuem quem deles mais precisa. de crescimento, onde se in-
para a melhoria da qualidade Estamos, de facto, perante um cluem o lançamento de novos
de vida destas pessoas. problema que afeta milhares Nos próximos anos, como es- produtos para os quais temos
A aposta que temos desenvol- de pessoas e que é a principal peram marcar a diferença no grandes expectativas.
vido nesta área levou-nos ao causa de incapacidade em todo cenário nacional e interna- Alinhados desta forma, con-
lançamento de uma grande o mundo. Para além de desen- cional? tinuaremos a apostar na in-
inovação terapêutica, o mais volvermos novos e melhorados Trabalhamos para encontrar vestigação, na inovação e na
recente fármaco oral dispo- tratamentos médicos, estamos respostas para as questões tecnologia como forma de
nibilizado para a depressão, empenhados em fazer a dife- ainda não resolvidas das neu- evoluirmos mais, dia após dia.
com um mecanismo de ação rença na vida dos doentes, em rociências, com o objetivo de Iremos também continuar a
inovador e mais seguro. Este aumentar o apoio às famílias e compreender o que está na dedicar-nos às neurociên-
medicamento tem vindo a em criar uma aceitação social origem das doenças mentais cias e muito especificamente
conquistar o mercado nacio- mais ampla destes doentes. e do cérebro, como elas pro- a áreas de nicho onde ainda
nal desde o seu lançamento, Lançámos a campanha De- gridem e o que podemos fazer há necessidades médicas não
há seis anos, uma vez que tem pressão sem Rodeios para a para as prevenir ou resolver. atendidas para conseguirmos
demonstrado excelentes resul- comunidade, uma iniciativa Quem vive com estas doenças chegar cada vez mais longe e
tados ao nível da sua eficácia, que tem como principais ob- precisa de certezas por parte a mais doentes e suas famílias.
PARTILHAR CONHECIMENTO
Como referem os responsáveis
do GEV, “o sucesso multipli-
ca-se partilhando”. Por isso o
GEV recebe anualmente para
estágio internos de cirurgia
vascular, internos de nefrolo-
gia e estudantes de enferma-
gem. Nos últimos, a equipa
Grupo de Estudos transplante António Norton de em congressos da especialida- cirúrgica do GEV tem ainda
O Vasculares (http://
w w w. gr u p o e s -
tudosvasculares.
Matos, criou o seu próprio CAV,
que atualmente presta apoio a
2700 doentes do Norte e Centro
de. O espírito de vanguarda e
de excelência do GEV resultou
na nomeação do seu diretor
efetuado, em regime de volun-
tariado, deslocações a Angola
e Cabo Verde, quer para pro-
com/) (GEV) nasceu no Porto de Portugal. clínico e do seu coordenador ceder à formação de equipas
há 40 anos, pela mão de qua- Ao longo dos últimos anos, a científico como council mem- locais quer para realizar inter-
tro médicos empenhados em equipa do GEV têm-se dedica- bers da Vascular Access Society, venções cirúrgicas.
implementar a cirurgia vas- do a criar, investigar e divulgar uma organização científica in- O investimento em equipa-
cular enquanto especialidade boas práticas em cirurgia vas- ternacional europeia dedicada mento-chave individualiza-
cirúrgica autónoma. Nos anos cular e angiologia através da aos acessos vasculares. do e instrumentos cirúrgi-
80 do século passado, com a colaboração multidisciplinar Desta parceria vai resultar este cos personalizados é outra
generalização da hemodiálise e altamente diferenciada das ano a realização do congresso das apostas da empresa. Mas,
em Portugal, a crescente ne- suas equipas, constituídas por bienal daquela sociedade euro- como gosta de frisar o seu res-
cessidade de criação e de tra- cirurgiões vasculares, nefrolo- peia – o VAS Congress 2023 –, ponsável, “o verdadeiro cora-
tamento dos acessos vasculares gistas, anestesistas, enfermei- que decorrerá no Porto entre 27 ção do sucesso do GEV bate
não obtinha uma resposta ne- ros e técnicos de radiologia. e 29 de abril. nas pessoas: a equipa GEV
cessária dos hospitais públicos. A inovação e o pioneirismo funciona como uma família
Mais recentemente, em 2011, a MODELO DE SUCESSO marcam a performance dos unida, em que cada colabo-
organização da hemodiálise foi O GEV desenvolveu com su- médicos do GEV, que têm rador é integrado em toda a
reestruturada com a criação cesso um modelo de gestão do aperfeiçoado a utilização do sua atividade”.
dos CAV - Centros de Acessos património vascular do doente ecodoppler – uma ferramen-
Vasculares, convencionados renal crónico amplamente bem ta de diagnóstico portátil, não
com os centros de diálise, e foi recebido pela sua eficiência e invasiva e indolor, mas cuja
nesta altura que o GEV, lidera- pelo caráter inovador, apresen- manipulação exige destreza e
do pelo cirurgião vascular e de tado em diversas publicações e aptidão na interpretação do re-
C que ultrapassa as
31 especialidades,
múltiplas valên-
“5 ESTRELAS”
Ser uma empresa de referên-
cia para os serviços na área
cias técnicas e exames com- da saúde e na área geográ-
plementares de diagnóstico, fica onde se insere, ou seja,
a Policlínica Villas de Palmela o distrito Setúbal, é a visão
leva saúde ao distrito de Setú- empresarial que a Policlíni-
bal desde 2005. Este projeto, ca Villas de Palmela assumiu
que nasceu do espírito em- desde o início. Para isso, es-
preendedor de Sandra Mar- clarece a fundadora do pro-
tins, pauta a sua atuação por jeto, é essencial entender as
valores de excelência, rigor, necessidades dos seus clien-
talento e sustentabilidade es- tes, e da população que po-
senciais para ter um posi- tencialmente poderá ser
cionamento diferenciador e cliente, e adaptar a oferta a
prosseguir a missão que as- estas necessidades. Com uma
sumiu de cuidar da saúde das cultura organizacional cen-
pessoas, construindo relações trada na melhoria continua
de confiança e proximidade e e na sustentabilidade, todas
promovendo a humanização as alterações implementadas
dos cuidados de saúde, como na clínica são assentes em es-
explicou a fundadora. tratégias pensadas “em como
Com uma base de 16 mil clien- Sandra Martins, fundadora e gestora da Policlínica Villas podemos ser melhores no
tes registados, “resultado do de Palmela que fazemos seguindo a má-
esforço de uma equipa mui- xima “Do Good and Do Well”,
to alinhada com os valores da como frisa Sandra Martins.
empresa e que tem crescido ao as necessidades dos clientes e profissionais, e também para Esta abordagem contribuiu
longo dos anos”, afirma a San- a estratégia da empresa, expli- os clientes. Estão reunidas as para que a empresa tenha
dra Martins, a clínica mantém cou Sandra Martins. É com esta condições para que a expe- sido distinguida, em 2022,
o foco na qualidade do serviço premissa que a clínica vai pas- riência de cada cliente na nos- com o “Prémio 5 Estrelas”
e no impacto que pode fazer na sar a disponibilizar serviços de sa clínica seja um dos princi- ao ser eleita a clínica 5 es-
vida dos clientes e das suas fa- medicina dentária, assim como pais fatores de promoção dos trelas do distrito de Setúbal.
mílias. Atualmente, disponibi- investir em novos exames com- nossos serviços”, frisou Sandra “Sentimos que é essencial re-
liza cerca de 400 m2 de área, plementares de diagnóstico. Martins. E como o crescimen- tribuir à comunidade de que
aumentando assim, o número Com estes investimentos, pro- to da base de clientes tem sido fazemos parte e que nos diz
de gabinetes disponíveis, bem cura aumentar o reconheci- permanente “a ampliação das tanto. Promovemos campa-
como o espaço de sala de espera. mento dos clientes e propor- instalações é uma consequên- nhas solidárias e apoiamos
cionar-lhes uma experiência cia do crescimento da empresa, algumas instituições. Em
MODERNIZAÇÃO E EXPANSÃO de excelência em todas as va- que se pretende manter na or- 2022, entre outros, apoiámos
A extensão da oferta de ser- lências prestadas, inclusive nas dem dos dois dígitos, em linha a Academia da Proteção Ci-
viços da Policlínica Villas de instalações. “Temos a perfeita com os resultados dos últimos vil do Município de Palmela”,
Palmela é um processo contí- noção que um ambiente de tra- anos, e que traduzem o exce- conclui a fundadora e gestora
nuo e em permanente desen- balho moderno e bem equipa- lente trabalho de cada um dos da Policlínica Villas de Pal-
volvimento, tendo em conta do é motivador para os nossos nossos profissionais.” mela.
Celebrar
a melhor PME do ano
as PME e
discutir a
economia
Uma tarde de debate e de
entrega dos prémios às melhores
entre as 1000 Maiores PME
P
elo 28º ano consecutivo,
a EXAME distinguiu as
melhores entre as 1000
Maiores PME nacionais,
iniciativa lançada em par-
ceria com a Informa D&B e a EY. O estu-
do, que teve destaque na edição de feverei- cair em 2020, o ano de 2021 foi já de recupe-
ro da EXAME, conheceu o momento alto ração. Mas para 4%, esse ano, tal como 2020,
num evento no final desse mês, na Casa da foi ainda de recuo na faturação. Já quanto
Música, no Porto. A tarde serviu de ponto de às exportações e ao emprego, as 1000 Maio-
encontro para a entrega de prémios – em es- res PME mostraram melhores resultados
pecial para a consagração da Cutipol como do que antes da pandemia, apresentando
PME do ano – e para o debate sobre a eco- igualmente melhor comportamento do que
nomia nacional, numa conferência com o o da totalidade do tecido empresarial por-
LUCÍLIA MONTEIRO
forma D&B, durante a conferência que de- um ano particularmente desafiante para as
correu no Porto, para divulgar o desempe- empresas, e em relação aos quais Hermano
nho financeiro das 1000 Maiores PME. Rodrigues, principal na EY-Pharthenon, su-
Em termos comparativos, mais de um gere um foco acrescido.
terço (36%) das empresas analisadas regis- O especialista começou por sublinhar
tou sempre crescimentos em 2019, 2020 e a importância da gestão estratégica nas ca- Casa cheia para ouvir falar de economia
2021, principalmente nas áreas de negócio deias de abastecimento. Um tema que teve O debate que encerrou o evento, numa Casa da
Música muito bem composta, foi protagonizado
do imobiliário e dos serviços. Para 46% das início com a pandemia e que se intensificou por Luís Miguel Ribeiro e António Mendonça,
empresas, que tinham visto as suas vendas com o conflito na Europa, e cuja “gestão da que traçaram o panorama para 2023
LUCÍLIA MONTEIRO
num contexto de juros altos, de incerteza e
de guerra, apontassem os desafios a ter em
conta para o que aí vem. “Manter o foco no
que vai permitir a sustentabilidade da em-
presa, no que a diferencia”, respondeu Sofia
Salgado, frisando ainda que “estes contextos
que levam ao limite os balanços são o mo-
mento em que se deve questionar o que se
pode fazer de novo”.
Francisca van Zeller diz que “a História
dá lições”, ou não fosse ela uma licenciada
em História. É, muitas vezes, olhando para
LUCÍLIA MONTEIRO
LUCÍLIA MONTEIRO
a história da empresa que percebe o que a
distingue e como se posicionar. “Olhar para
trás pode ser um processo de aprendiza-
gem”, partilha. E foi aí que a sua empresa
foi buscar a “viticultura regenerativa”, com
própria geografia do abastecimento para a proposta de valor. E dá um exemplo: “Será que enfrenta, hoje, alguns problemas asso-
minimização dos riscos é absolutamente possível que a lógica da ocupação de espaço ciados às alterações climáticas. “É essencial
fundamental”, nota Hermano Rodrigues. para habitação em Portugal continue num ter uma estratégia bem definida, para ter
Com o fim da era do dinheiro barato, modelo histórico de aquisição de imóveis? onde ir buscar as decisões mais acertadas”,
vem também a necessidade de maior pon- Tenho muitas dúvidas. No imobiliário, a justificou, garantindo ter sido esse o truque
deração nas decisões de investimento. “A proposta de valor terá de mudar, obrigato- usado no relançamento da empresa, com
análise de viabilidade vai doer muito mais, riamente.” novos vinhos, em pleno contexto de pan-
o que, por um lado, é naturalmente mau, demia. “Estávamos muito conscientes do
mas, por outro, vai levar certamente a me- OS CONSELHOS DA GIRL TALK nosso posicionamento.”
lhores decisões de investimento.” Sofia Salgado, docente da Católica Porto Bu- De resto, houve ainda tempo para falar
Além disso, o consultor destaca a im- siness School, e Francisca van Zeller, res- de uma cultura em que o erro e o falhan-
portância de definir ou redefinir os mer- ponsável de Marketing e Comunicação da ço são malvistos. “Começa desde pequeni-
cados-alvo, dado o recente bipolarismo in- Van Zeller & Co, foram as convidadas da no. Os alunos chegam à universidade e não
ternacional, que agrava os riscos entre os sessão Girl Talk, durante o evento. Ambas querem falhar, o que está errado. Costumo
dois lados da fronteira que opõe o Ocidente elegeram a retenção de mão de obra qua- dizer que aquele é o melhor sítio para fa-
ao Oriente; um contexto geopolítico que, lificada como uma das prioridades para o lhar”, observa Sofia Salgado.
somado ao cenário macroeconómico, au- ano de 2023. Se Sofia Salgado considera que
menta a necessidade de avaliar e projetar as empresas devem pensar como impedir a PREVENÇÃO DO RISCO NAS PME
os cenários possíveis no planeamento es- fuga de talentos, adotando melhores condi- Ambiente, pessoas e património. São as
tratégico. ções de atratividade para recrutar, Francisca categorias abrangidas pelo Prémio Inova-
No exercício de gestão e planeamento, van Zeller, que vive no terreno onde se pro- ção em Prevenção, que distingue as práti-
que se quer a médio e longo prazos, Her- duz vinho, quer atrair mão de obra qualifi- cas mais inovadoras das PME portuguesas
mano Rodrigues nota ainda a importância cada e ver criadas condições para estabilizar na área da prevenção de risco. Na edição
de alinhar a estratégia das empresas com pessoas em zonas rurais. do ano passado, o grande vencedor foi o
os objetivos dos stakeholders – como, por Mas a responsável pelo marketing de Grupo SOCEM.
exemplo, no ESG -, ainda que períodos de uma empresa familiar, que tem 400 anos Um dos painéis foi, precisamente, de-
crise sejam potenciadores de um maior foco de história, elege como prioridade máxima dicado ao tema da importância da pre-
nos resultados financeiros do exercício. a “transparência na execução do PRR” e na venção. Luís Febra, diretor-geral do Grupo
Por fim, e num panorama de mudan- atuação das lideranças, fatores importantes SOCEM, afirmou que a distinção obtida
ça acelerada, pode ser preciso redefinir a para a credibilização. Já a docente da Cató- foi um reflexo do que a empresa faz no
LUCÍLIA MONTEIRO
mento de complexidade, que nos aconselha
a não fazer previsões. Mas temos de criar
condições para um ganho de escala das nos-
LUCÍLIA MONTEIRO
LUCÍLIA MONTEIRO
sas empresas, e não um contexto em que o
crescimento das empresas está sempre a ser
penalizado. Temos de nos focar nos custos
de contexto, na fiscalidade, na burocracia e
no funcionamento das instituições.”
seu dia a dia e que o Prémio Inovação em Para António Mendonça, é fundamental
Prevenção foi uma forma de partilhar as que se recupere uma dimensão estratégica
práticas da organização, ajudando a in- na atuação do Estado. E criticou a aposta
fluenciar positivamente os outros. do Governo em medidas extraordinárias,
Apesar de a empresa de Leiria ter sido essencialmente dirigidas aos portugueses
distinguida devido a um projeto de com- Faltam medidas mais pobres. “Tenho sérias reservas em re-
ponente ambiental, Luís Febra assinalou a mais estruturais, lação ao que está a ser feito”, referiu. “Há
relevância da cultura da organização: “Ve- políticas que não têm coerência entre si.
mos estas questões, quer da prevenção de que introduzam Faltam medidas mais estruturais, que in-
risco, quer das questões ambientais ou das dinâmicas na troduzam dinâmicas na economia. Temos
relações humanas, como cultura. É a nossa economia” um problema nas camadas médias, e não
cultura; nós somos humanos, e os humanos tem havido capacidade de responder a esse
são tudo menos recursos. É proibido falar António Mendonça setor, na fiscalidade e noutras áreas.”
de recursos humanos na nossa organização. Bastonário da Ordem dos Economistas O ex-ministro das Obras Públicas e
Vivemos para ser felizes.” O responsável do Transportes concorda com a necessidade
Grupo SOCEM afirma que se criou na em- de políticas que permitam às empresas ga-
presa uma “aura de autorresponsabilização, final. No último debate da conferência das nhar escala e aponta uma contradição na
em que todos cuidam de tudo”. 1000 Maiores PME, dois economistas reco- forma como Portugal olha para os seus re-
No mesmo painel – que teve a mode- nheceram a dificuldade de fazer previsões cursos humanos: “Exportamos mão de obra
ração do diretor da EXAME, Tiago Freire –, nesta altura, mas sugeriram uma interven- qualificada e importamos mão de obra não
Gustavo Barreto realçou que, no período da ção diferente da parte do Governo, com qualificada.”
pandemia, “as empresas com mais resiliên- uma visão mais estratégica e maior apoio Olhando para 2023, Luís Miguel Ribeiro
cia não eram as maiores, nem as de um se- às empresas. antecipa que “a indústria continuará a ser
tor em particular, mas sim as que apresen- “Em 2022, houve uma tendência para o motor do desenvolvimento económico do
tavam melhores práticas de gestão de risco”. rever em baixa as projeções e, agora, no final País”, sublinhando que ela só não tem mais
Também Pedro Matias sublinhou que do ano, há uma tendência no sentido positi- relevância devido à falta de apoio público.
“prevenir é antecipar lucros e otimizar”, vo”, aponta António Mendonça, bastonário O líder da AEP deixa várias críticas ao fun-
considerando que esse é um tema crucial da Ordem dos Economistas, respondendo a cionamento e desenho do PRR, seja o facto
para as empresas e para a economia por- uma pergunta sobre os recentes dados que de grande parte das verbas ir para o Esta-
tuguesa. O presidente do ISQ salientou que têm chegado da Europa e que sugerem que do, seja a burocracia excessiva e os atrasos
“a questão da sustentabilidade e do ESG é pode ser possível evitar uma recessão. que provoca.
muito importante para as empresas, já que Luís Miguel Ribeiro, presidente da Asso- Por sua vez, António Mendonça dei-
os clientes são cada vez mais exigentes”. ciação Empresarial de Portugal (AEP), notou xa uma mensagem com um fundo posi-
que a conferência foi no Porto, aproveitando tivo em relação a 2023: “O Governo tem
E A ECONOMIA? para lembrar a célebre frase “prognósticos margem de manobra e flexibilidade para
“Prognósticos só no fim do jogo”, mas com só no fim do jogo”, dita pelo antigo capitão atender à incerteza ou a acontecimentos
o desejo de querer influenciar o resultado do FC Porto, João Pinto. “Vivemos um mo- imprevisíveis.” E
O futuro do capital
humano no setor da AEC
A partir do conhecimento do setor da Construção e do que as gerações
mais jovens valorizam, consegue-se atrair o talento e transformar um
setor que, neste momento, é considerado “envelhecido” > Associate partner EY,
People Advisory Services
T
endo presente 4) existe a necessidade de a aplicação de estratégias de universidades, bem como ex-
o crescimen- desenvolver novas competên- Employer Branding que envol- periências de menor duração
to da compe- cias (reskill e upskill); vem a criação de uma marca como estágios de verão, open
titividade do 5) a legislação laboral en- de valor e um plano de comu- days ou visitas técnicas;
mercado de contra-se pouco alinhada com nicação que posicione as di- 4) criar novas experiên-
talento e os desafios vividos as características atuais do mensões do Employee Value cias de desenvolvimento, ou
ao nível da atratividade, do setor; Proposition (EVP); seja, clarificação de política
desenvolvimento e da reten- 6) o desafio da sustentabi- 2) aproximar a academia de mobilidade e dinamização
ção do talento, urge a neces- lidade será aquele que maior do negócio – ou seja, poten- das oportunidades nacionais e
sidade de reinventar a gestão transformação e desafios im- ciar a presença em feiras de internacionais, como forma de
de talento no setor Arquitetu- primirá ao setor. emprego das universidades e dar resposta não só às necessi-
ra, Engenharia e Construção No estudo realizado, com o investimento na dinamização dades do negócio mas também
‒ AEC. Para que tal aconteça, foco no pilar “qualificar”, o re- de outros momentos de qua- de proporcionar ao talento um
é necessário concretizar uma sultado final culminou numa lidade junto da comunidade leque alargado de experiências
mudança significativa no pa- proposta de revisão das pro- académica, por forma a posi- de desenvolvimento no setor;
radigma do talento no setor. fissões e categorias profissio- cionar realisticamente a marca 5) reimaginar o modelo de
Num estudo recentemente nais do setor, que dará origem do setor entre os mais jovens; carreiras, ou seja, reimaginar
realizado pela EY, em parceira à criação de uma estratégia de 3) desenvolver programas as categorias profissionais e os
com a BuiltColab, foram apre- gestão do capital humano e para jovens, ou seja, criação planos de carreira ajustados à
sentadas recomendações para que alimentará o desenvolvi- de programas de integração e retenção e desenvolvimento
inovar e transformar o futuro mento de uma plataforma web desenvolvimento direcionados das pessoas;
do capital humano no setor. colaborativa setorial e para a ao talento jovem, tais como 6) apostar na transforma-
A relevância deste estudo empregabilidade. programas de trainees, bol- ção digital, no sentido de dotar
foi inserida numa iniciativa Este estudo pretende con- sas de investigação e estágios as pessoas de competências
com 4 pilares, onde o tema do tribuir para a criação de uma curriculares em parceria com digitais que proporcionem
capital humano está presente estratégia de atração de suces- maior eficiência e preparação
de forma transversal em to- so, preparada para responder para a inovação tecnológica
dos. Ou seja, é urgente definir aos desafios colocados pelas que marcará proximamente o
a forma como se resolvem os novas gerações nas organiza- Colocar futuro do setor.
desafios ao nível do capital hu- ções, capaz de atrair e reter o Em conclusão, colocar as
mano, considerando que: melhor talento no setor e que, as pessoas no pessoas no centro do que fa-
1) há uma grave escassez efetivamente, contribua para centro do que zemos no nosso dia a dia é a
de mão de obra, que conti- mudar o paradigma do talento fazemos no premissa mais certa nos dias
nuará a originar problemas no setor AEC em Portugal. de hoje. O setor AEC já está a
de produtividade e de desen- As boas práticas de gestão nosso dia a dia construir a gestão da mudança
volvimento; e a análise aos mercados in- é a premissa e ambiciona alcançar um fu-
2) é um setor com uma ternacionais foram tidas em mais certa nos turo mais promissor ao nível
baixa inovação tecnológica; consideração, para as princi- dos seus processos, tecnologia
3) está fortemente marca- pais conclusões, numa pers- dias de hoje, e gestão de pessoas. Estudos
do por um estigma e imagem petiva de posicionar o futuro também no setor complementares permitem
negativa junto da sociedade do capital humano num outro de Arquitetura, obter factos e recomendações
civil e dos jovens que procu- patamar, que permita: sobre as novas estratégias a
ram um mercado de trabalho 1) potenciar o poder da Engenharia seguir e elevar o devido reco-
digital; marca empregadora, ou seja, e Construção nhecimento do setor. E
LAZER . CONSUMO
BONS INVESTIMENTOS
Em tempos de incerteza económica, selecionámos algumas sugestões de produtos que,
acreditamos, valem mesmo o dinheiro nesta chegada da primavera
Texto Margarida Vaqueiro Lopes e Edgar Freitas Antunes
Amor para
a vida
A Red Wing apresenta mais
Optimus Prime
umas botas indispensáveis de última geração
para quem quer material
de qualidade e resistente a No mundo das Action Figures, este
intempéries – particularmente novo elemento vai conquistar
útil em tempos de alterações todos os fãs dos Transformers:
climáticas. Todas em pele, com programável, interativo, ativável
sola de borracha que não agarra por voz e controlável através
lama e pontos triplos, são umas do telefone. Numa parceria
botas para a vida, com um com a Hasbro, a Robosen
design clássico e elegante. promete, com este
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um robô que fala, conduz,
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que a qualidade do som faz toda
a diferença. Estas colunas, que
contam com uma estrutura de
alumínio e vidro temperado,
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próxima da forma como o som foi
captado em estúdio, o que faz a
delícia de artistas e apaixonados
por este mundo da sonoridade
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Ao Alentejo
Produzido por Afonso Pereira e
Marieke Devillé, e diretamente de
Odemira para esta elegante garrafa,
este medronho Júnior Jacques é Velas realistas
produzido com fruta madura colhida no
outono, destilado artesanalmente, no Este talvez não seja um investimento para
ano passado, num pequeno alambique toda a vida, mas pelo menos é divertido.
de cobre, tendo feito estágio em Pode oferecer esta vela a um amante
cascos de carvalho francês durante do Caminho das Estrelas – ou guardá-la
seis meses. Segundo os produtores, para si e dar um toque de cor e irreverência
o Medronho Envelhecido 2022 é à sua casa. A Candle Hand sugere ainda
uma sublime ode à tradição, feito uma série de outros gestos em forma de
com as melhores matérias-primas e vela que são uma delícia para quem gosta
respeitando as tradições mais puras da de design e de uma boa gargalhada.
arte da destilação.
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GARRAFEIRA
A
ntes de mais, o alerta vinha da casa, numa etiqueta branca e
que se impõe: por mais simples, e tornaram-se um caso sério de
elementos alegadamen- sucesso, depois de, em 1976, terem sur-
te benéficos para a saú- preendido no mítico julgamento de Paris
de, a verdade é que o – uma prova cega em que o Ridge Monte
consumo de álcool em excesso tem efeitos Bello de 1971 suplantou vários congéne-
nocivos a vários níveis. E isso deve sempre res franceses e se afirmou como o me-
ser tido em consideração, mesmo quando lhor tinto em prova. Na repetição da pro-
os estudos dizem que beber um copo de va – com os mesmos vinhos e vintages,
vinho tinto por dia faz bem ao coração ou em 2006, o Monte Bello 1971 sagrou-se
tem efeitos antioxidantes. mesmo campeão, o que evidenciou a ca-
Dito isto, foi sendo declarado que, pacidade de evolução dos vinhos califor-
por ter algum resveratrol, o vinho tinto nianos.
era bom para a saúde dos vasos sanguí- Desde a década de 60, sob a alçada
neos – o resveratrol ajuda na prevenção de Paul Draper, um produtor de vinhos
do desenvolvimento da aterosclerose e autodidata que se tornou referência nos
de doenças cardiovasculares, e também EUA e internacionalmente, as vinhas da RIDGE LYTTON
tem algumas características antienvelhe- casa Ridge ganham pela altitude a que se SPRINGS 2018
cimento. A confirmar-se, terá de ser be- encontram – e muitas delas são vinhas
bido com muita moderação, para que o velhas – e pelo cuidado que Draper sem- > R E G I ÃO
efeito do álcool não suplante os benefícios pre emprestou à produção: pouca inter- Condado de Sonoma, Califórnia,
deste antioxidante. venção, menos álcool do que os tintos EUA
Mas mesmo – ou precisamente por franceses, uvas e castas cuidadosamente
> O N D E E N CO N T R Á LO ?
isso – que beba apenas um copo de vi- escolhidas, além de uma estrutura e ele-
Em garrafeiras internacionais,
nho, de quando em vez, o melhor é des- gância que refletem o terroir da região.
que enviem para Portugal, como
cobrir exatamente qual o seu perfil e O seu trabalho com a recuperação e a
a Vinello, por cerca de €60
apostar num que seja muito bem-feito e utilização da casta Zinfandel não passou
que transforme o momento em algo mui- despercebido e são muitas as referências, > O VINHO
to especial. hoje, que funcionam como uma espécie Produzido a partir das castas Zin-
Neste mês, escolhi de cartão-postal da eno- fandel, Petite Syrah, Carignane e
três vinhos de lugares logia californiana. Mataro, é um vinho muito aromá-
muito diferentes, mas De França, trazemos tico, elegante e equilibrado, com
Criámos uma escala alguns taninos presentes e muito
que cumprem o propó- um vinho do também
sito: acompanhar bem
inspirada nas agências incontornável Château boa perspetiva de envelhecimento
uma refeição ou ser de rating. Boas provas! de Beaucastel, cuja qua- – mais três anos em garrafa, des-
confio, e estará no seu expoente
a companhia perfeita lidade e história qua-
> N OTAÇ ÃO máximo. Sente-se alguma doçura
num momento de des- se superam a da região
AAA ................................... Fabuloso na boca, mas mantém uma boa
contração. AA .................................... Muito bom onde se insere, ao ser acidez. Perfeito para acompanhar
Dos EUA, os vinhos A ..................................................... Bom considerado o expoente um bife ou um guisado.
Ridge são uma referên- BBB ................................ Satisfatório máximo dos Château-
cia incontornável. Ga- BB ................................................ Mau neuf-du-Pape. É, como > N OTAÇ ÃO
nham o nome de cada C ........................................... Não beba! o nome deixa adivinhar, AA
VIVER O DOURO
É difícil parar de olhar e tirar fotos durante a descoberta da sua paisagem inclinada de vinhas,
antes de provar os seus vinhos distintos
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R E N A U LT M É G A N E E T E C H E L É T R I C O
Em plena revolução
O Mégane E-Tech é o primeiro modelo 100% elétrico da Renault
a ser lançado no âmbito do plano “Renaulution”, um programa que
promete transformar o modelo de negócio da marca francesa
Texto Paulo M. Santos
O
Os últimos anos foram, Um projeto ambicioso, que se irá de- O Mégane E-Tech
para a Renault, um dos senrolar até ao final de 2025, mais orien-
períodos mais difíceis tado para o lucro do que para o volume de 100% Elétrico
dos seus 134 anos de vendas e quotas de mercado. Os objetivos está disponível
história. Ainda a refa- estão bem definidos e passam pela redu- com duas baterias,
zer-se do escândalo em que esteve envol- ção drástica da capacidade de produção,
vido o seu carismático líder, Carlos Ghosn, de 4 milhões para 3,1 milhões de unida- de 40 e 60
detido no Japão e destituído do cargo de des por ano, e pelo aumento da margem kWh, com uma
CEO da aliança Renault/Nissan, a mar- operacional para 5%, o equivalente a 6 mil autonomia
ca foi fortemente afetada pelo período da milhões de euros.
pandemia e acabou por registar prejuízos Luca de Meo está apostado em fazer de 300 km
de quase oito mil milhões de euros em mais com menos e, para o conseguir, quer e 470 km
2020. Foi nessa altura que decidiu con- lançar 24 novos veículos ao longo deste
tratar um novo CEO, escolhendo para o período, na sua maioria 100% elétricos,
cargo Luca de Meo, antigo presidente da para que esta motorização represente um
Seat, que depressa definiu um plano, de- terço das vendas do construtor gaulês. Em
nominado “Renaulution”, que pretendia paralelo, será feita uma grande aposta nos
revolucionar o conceito de negócio da serviços digitais em todos os novos auto-
marca francesa. móveis. Como definiu o próprio Luca de
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Gestão, monopólios,
China e geopolítica
Texto Rui Barroso
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