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CARTOGRAFIA TEMÁTICA

CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD

Cartograia Temáica – Prof. Ms. Luiz Henrique Pereira

Olá! Meu nome é Luiz Henrique Pereira. Sou graduado e


mestre em Geograia pela Universidade Estadual Paulista
– UNESP/Rio Claro-SP. Tenho experiência na área de
Geociências, com ênfase em Geograia Física. Desenvolvo
pesquisas relacionadas ao Manejo de Bacias Hidrográicas,
Sensoriamento Remoto, Geoprocessamento e Cartograia.
E-mail: e_luizh@yahoo.com.br

Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação


Luiz Henrique Pereira

CARTOGRAFIA TEMÁTICA

Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Clareiana, 2011 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013

526 P489c

Pereira, Luiz Henrique


Cartografia temática / Luiz Henrique Pereira – Batatais, SP : Claretiano,
2013.
238 p.

ISBN: 978-85-8377-081-7

1. Geoinformação. 2. Tratamento da informação espacial. 3. Representação


cartográfica. 4. Comunicação cartográfica. 5. Geotecnologias. I. Cartografia
temática.

CDD 526

Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional


Coordenador de Material Didáico Mediacional: J. Alves

Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cáia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Marins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Rita Cristina Bartolomeu Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos

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SUMÁRIO

CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9
2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO ............................................................................. 11
3 E-REFERÊNCIAS .................................................................................................. 35
4 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.............................................................................. 36

UNIDADE 1 – FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA CARTOGRAFIA


TEMÁTICA E A PROBLEMÁTICA DO TERMO "ESCALA"
1 OBJETIVOS.......................................................................................................... 37
2 CONTEÚDOS....................................................................................................... 37
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .................................................... 37
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE .................................................................................. 39
5 BREVE PANORAMA TEÓRICO DA CARTOGRAFIA ............................................... 41
6 O DESENVOLVIMENTO DA CARTOGRAFIA TEMÁTICA ........................................ 53
7 ESCALA CARTOGRÁFICA X ESCALA GEOGRÁFICA ............................................... 57
8 DETERMINAÇÃO DA ESCALA NUMÉRICA E A GENERALIZAÇÃO
CARTOGRÁFICA .................................................................................................. 59
9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ............................................................................ 63
10 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................ 63
11 E-REFERÊNCIAS .................................................................................................. 64
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 64

UNIDADE 2 – OS MAPAS SOB A ÓTICA DA COMUNICAÇÃO VISUAL


1 OBJETIVOS.......................................................................................................... 67
2 CONTEÚDOS....................................................................................................... 67
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .................................................... 68
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE .................................................................................. 68
5 TRADUÇÃO GRÁFICA ......................................................................................... 69
6 VARIÁVEIS VISUAIS ............................................................................................ 77
7 FUNDAMENTOS E APLICAÇÕES DA VARIÁVEL VISUAL COR ................................ 82
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ............................................................................ 95
9 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................... 96
10 E-REFERÊNCIA .................................................................................................... 97
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 97
UNIDADE 3 – AQUISIÇÃO DE DADOS GEOGRÁFICOS E TRATAMENTO
ESTATÍSTICO DA INFORMAÇÃO ESPACIAL
1 OBJETIVOS.......................................................................................................... 99
2 CONTEÚDOS....................................................................................................... 99
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .................................................... 100
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE .................................................................................. 101
5 FONTES DE DADOS GEOGRÁFICOS ..................................................................... 102
6 FONTE DE DADOS CARTOGRÁFICOS: DOCUMENTAÇÃO CARTOGRÁFICA,
SENSORIAMENTO REMOTO E OBSERVAÇÃO DE CAMPO (GPS) ......................... 104
7 FONTES DOS DADOS CARTOGRÁFICAS............................................................... 108
8 TRATAMENTO ESTATÍSTICO DE DADOS GEOGRÁFICOS PARA A
ELABORAÇÃO DE MAPAS TEMÁTICOS ................................................................ 109
9 ANÁLISE DE DADOS ESTATÍSTICOS...................................................................... 116
10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ............................................................................ 118
11 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................ 119
12 E-REFERÊNCIAS .................................................................................................. 119
13 REFERÊNCIAS BOBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 120

UNIDADE 4 – MÉTODOS DE REPRESENTAÇÃO DA CARTOGRAFIA


TEMÁTICA
1 OBJETIVO ........................................................................................................... 121
2 CONTEÚDOS....................................................................................................... 121
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .................................................... 121
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE .................................................................................. 122
5 MÉTODOS DE MAPEAMENTO PARA DADOS QUANTITATIVOS:
MAPAS COROPLÉTICOS ...................................................................................... 123
6 MÉTODOS DE MAPEAMENTO PARA DADOS QUANTITATIVOS:
MAPAS ISOPLÉTICOS .......................................................................................... 127
7 MÉTODOS DE MAPEAMENTO PARA DADOS QUALITATIVOS:
COLEÇÃO DE MAPAS .......................................................................................... 130
8 MÉTODOS DE MAPEAMENTO PARA REPRESENTAÇÕES DINÂMICAS:
REPRESENTAÇÃO POR FLUXO ............................................................................. 133
9 MÉTODOS DE MAPEAMENTO PARA REPRESENTAÇÕES DINÂMICAS:
REPRESENTAÇÃO CRONOLÓGICA ....................................................................... 135
10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ............................................................................ 139
11 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................ 139
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 140

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UNIDADE 5 – CARTOGRAFIA DE SÍNTESE E OUTRAS FORMAS DE
VISUALIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO ESPACIAL
1 OBJETIVOS.......................................................................................................... 141
2 CONTEÚDOS....................................................................................................... 141
3 ORIENTAÇÃO PARA O ESTUDO DA UNIDADE ..................................................... 141
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE .................................................................................. 142
5 SÍNTESE CARTOGRÁFICA .................................................................................... 143
6 OUTRAS FORMAS DE REPRESENTAÇÃO GRÁFICA: DIAGRAMAS ....................... 147
7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ............................................................................ 153
8 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................ 153
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 154

UNIDADE 6 – CARTOGRAFIA DIGITAL: COMPREENDENDO A


ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO
1 OBJETIVOS.......................................................................................................... 155
2 CONTEÚDOS....................................................................................................... 155
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .................................................... 156
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE .................................................................................. 156
5 GEOTECNOLOGIAS: O SENSORIAMENTO REMOTO NA
AQUISIÇÃO DE DADOS GEOGRÁFICOS E O SIG COMO MEIO DE
VISUALIZAÇÃO.................................................................................................... 158
6 CARTOGRAFIA E ENSINO: CONSTRUÇÃO SOCIAL E MEIO
ENTRE O SUJEITO E O OBJETO DE CONHECIMENTO .......................................... 165
7 CARTOGRAFIA MEDIANDO A CONSTRUÇÃO DE UM CONHECIMENTO
INTEGRADO: SOCIEDADE, NATUREZA E ESPAÇO ................................................ 166
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ............................................................................ 171
9 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................ 172
10 E-REFERÊNCIAS .................................................................................................. 172
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 173

UNIDADE 7 – A INFLUÊNCIA DAS CORES NO PROCESSO DE


COMUNICAÇÃO VISUAL
1 OBJETIVOS.......................................................................................................... 175
2 CONTEÚDOS....................................................................................................... 175
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .................................................... 176

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4 INTRODUÇÃO À UNIDADE .................................................................................. 176
5 A COR E A COMUNICAÇÃO ................................................................................. 178
6 HOMEM, CULTURA, CIÊNCIA... E A COR ............................................................. 182
7 A PSICODINÂMICA DAS CORES: AS CORES APLICADAS À
CRIATIVIDADE E A APRESENTAÇÃO DE IDEIAS.................................................... 194
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ............................................................................ 200
9 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................ 201
10 E-REFERÊNCIAS .................................................................................................. 202
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 202

UNIDADE 8 – AS FACES DA CARTOGRAFIA: O PODER DA IDEOLOGIA E A


CONSTRUÇÃO DO SABER
1 OBJETIVOS.......................................................................................................... 205
2 CONTEÚDOS....................................................................................................... 205
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .................................................... 206
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE .................................................................................. 207
5 CONSIDERAÇÕES INICIAIS: O DESAFIO DE UMA CARTOGRAFIA
SOCIALMENTE ÚTIL ............................................................................................ 208
6 SUGESTÕES PARA REFLEXÃO SOBRE O TEMA PROPOSTO:
PRESSUPOSTOS E OBJETIVOS QUE DEVEM SER PENSADOS
PELO PROFESSOR ............................................................................................... 212
7 CARTOGRAFIA E ESTADO: UMA RELAÇÃO ESTRATÉGICA ................................... 214
8 PROPOSIÇÕES PARA UMA CARTOGRAFIA DE INTERESSE SOCIAL ...................... 226
9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ............................................................................ 233
10 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................... 234
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 237

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EAD
Caderno de
Referência de
Conteúdo

CRC
Ementa –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Princípios teóricos da Cartograia Temática e suas relações com a Geograia.
Aquisição de dados geográicos e tratamento estatístico da informação espa-
cial. Fundamentos da semiologia gráica aplicados à comunicação cartográica.
Generalização Cartográica. Métodos para mapeamento de dados geográicos
quantitativos, qualitativos, estáticos e dinâmicos. Cartograia de Síntese. Análise
e interpretação de Cartas Temáticas. Tendências cartográicas atuais.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

1. INTRODUÇÃO
Para facilitar seu estudo sobre Cartografia Temática, divi-
dimos o conteúdo em oito unidades, que serão resumidamente
apresentadas a seguir.
Na Unidade 1, apresentaremos os princípios teóricos que
fundamentam a Cartografia do ponto de vista da comunicação
científica. A compreensão das bases teóricas é fundamental para o
entendimento de suas potencialidades e para o desenvolvimento
de sua prática, especialmente no segmento temático da atividade
cartográfica. Nesse contexto, abordaremos, também, as diferentes
concepções de escala (matemática e geográfica), essencial quando
se trata de representação (generalização) do espaço geográfico.
10 © Cartograia Temática

Na Unidade 2, conheceremos as diretrizes que norteiam a


elaboração dos mapas temáticos, enfatizando os procedimentos
que vão desde a compreensão da natureza da informação geográ-
fica que se deseja apresentar, até a diagramação cartográfica.
Em seguida, na Unidade 3, consideraremos a diversidade de
dados passíveis de representação espacial e como convertê-los em
informação. Aprenderemos a obter dados para serem mapeados,
bem como as principais fontes utilizadas pela Cartografia. Os as-
suntos pertinentes a esse tema são: fontes para aquisição de da-
dos geográficos e procedimentos estatísticos direcionados ao tra-
tamento, à apresentação, à interpretação e à análise desses dados.
Ao longo da Unidade 4, conheceremos os principais métodos
de mapeamento que viabilizam a visualização dos dados trabalha-
dos na unidade anterior. Dentre os métodos mais difundidos nes-
sa área, destacaremos os mapas coropléticos, isopléticos, coleção
de mapas, representação por fluxo e representação cronológica.
O conceito e a importância da síntese cartográfica serão
apresentados na quinta unidade. Nela, também serão abordados
outras possibilidades de representação dos dados geográficos,
como: cartogramas e diagramas.
A abordagem da sexta unidade compreende a atual tendên-
cia da Cartografia, representada pela Cartografia Digital, inserida
no contexto das Geotecnologias. Com caráter reflexivo, discutire-
mos brevemente o processo de aprendizagem da Cartografia e a
proposta educacional para o ensino dessa ciência.
Finalmente, as Unidades 7 e 8 possuem caráter complemen-
tar, com o propósito de salientar duas importantes questões para a
Cartografia. Na Unidade 7, serão aprofundados os conceitos rela-
cionados ao elemento "cor", enfatizando os estímulos fisiológicos
desencadeados pela variabilidade espectral, a fim de elucidar que
a escolha da cor não deve ser simplesmente um operação alea-
tória ou estética, mas, sim, técnica e objetiva. Já na Unidade 8,
traremos textos reflexivos, cujo objetivo é avaliar e estabelecer
críticas sobre a Cartografia apresentada em sala de aula no Ensino
Fundamental e Médio, refletindo sobre como algumas instituições
muitas vezes se apropriam da informação espacial como meio de
© Caderno de Referência de Conteúdo 11

direcionamento de interpretações, nem sempre condizentes com


a realidade observada.
Bons estudos!

2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO


Abordagem Geral
Neste tópico, apresentamos uma visão geral do que será es-
tudado neste Caderno de Referência de Conteúdo. Aqui, você en-
trará em contato com os assuntos principais deste conteúdo de
forma breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas
questões no estudo de cada unidade. Desse modo, essa Aborda-
gem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a
partir do qual você possa construir um referencial teórico com
base sólida – científica e cultural – para que, no futuro exercício
de sua profissão, você a exerça com competência cognitiva, ética e
responsabilidade social.
Veremos, no decorrer do nosso estudo, que as áreas como
Cartografia Temática, Sensoriamento Remoto e Geoprocessamen-
to aplicados à análise e gestão ambiental possuem estreita relação
entre si. No entanto, focaremos mais precisamente o estudo da
Cartografia.
A Cartografia, de acordo com a definição adotada pela Asso-
ciação Cartográfica Internacional, é o conjunto de estudos e ope-
rações científicas, artísticas e técnicas, baseado nos resultados de
observações diretas ou de análise de documentação, com vistas à
elaboração e preparação de cartas, planos e outras formas de ex-
pressão, bem como à sua utilização (CARTOGRAFIA, 2012).
Por meio dessa definição, podemos ver que a Cartografia en-
globa as atividades que vão desde o levantamento dos dados, pas-
sando pela preparação e organização, até a divulgação do mapa e
sua posterior leitura.

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12 © Cartograia Temática

Se considerarmos as etapas de coleta de dados e os proce-


dimentos metodológicos adotados para a elaboração dos mapas,
poderemos dividir a Cartografia em dois campos.
O primeiro é o campo da Cartografia Sistemática, que se
caracteriza por objetivar a representação exata e detalhada da
superfície terrestre. Isso vai garantir para o mapa topográfico (ou
mapa base) a precisão da posição, da forma e da dimensão das
áreas medidas sobre o terreno.
Sobre essa base, o mapa topográfico ainda dispõe de algu-
mas outras informações descritivas do terreno, que são as rodo-
vias e ferrovias e os limites políticos (como as divisões estaduais,
municipais e até mesmo algumas propriedades rurais).
Em essência, a Cartografia Sistemática elabora documen-
tos capazes de atender a vários propósitos, pois se constitui num
mapa base para o desenvolvimento de inúmeras atividades. Além
disso, esses documentos podem ser utilizados por muito tempo,
visto que os elementos representados não costumam sofrer gran-
des alterações.
Quando surgiu a necessidade de representar aspectos parti-
culares da superfície terrestre, ou seja, incluir mais informações do
que as já mencionadas, percebeu-se que o melhor meio não seria
sobrepor as várias informações no mapa topográfico, o que geraria
grande confusão dado o volume de informações num único plano.
A solução encontrada foi tratar cada assunto de interesse de
uma maneira particular. Assim, ainda no século 17, desenvolve-
ram-se os mapas de assuntos especializados, que são atualmente
os mapas temáticos!
Logo, o outro campo da Cartografia que mencionamos refe-
re-se à Cartografia Temática.
Esses mapas tratam de qualquer assunto, das mais diversas
naturezas, sejam reais, como os fenômenos naturais e sociais, se-
jam imateriais, como os fenômenos culturais, econômicos, fluxos
de informação, entre outros do espaço virtual.
© Caderno de Referência de Conteúdo 13

E, assim, de maneira simplista, a Cartografia Temática tem


por objetivo fornecer a representação dos fenômenos geográficos.
Vale dizer que o termo “geográfico" está relacionado a aqui-
lo que possui dimensão ou que apresenta distribuição no espaço.
Todos os elementos, fenômenos ou dados que atendem a esse re-
quisito são passíveis de cartografação, ou seja, podem ser apre-
sentados por meio da representação gráfica.
Enquanto a Cartografia Sistemática é descritiva e geométri-
ca, a Cartografia Temática é analítica, pois requer certo conheci-
mento para a sua compreensão e, às vezes, pode ser considera-
da até mesmo autoexplicativa, caso o mapa tenha sido elaborado
dentro das normas da representação cartográfica.
É importante destacar que os elementos representados no
mapa, tanto na Cartografia Sistemática como na Temática, são de-
terminados unicamente em função da escala cartográfica adotada
para elaboração do mapa.
Podemos concluir com isso que a escala cartográfica é a con-
dição primordial para a precisão, legibilidade e eficiência do mapa,
pois o acúmulo ou não dos símbolos dispostos no mapa depende-
rá do tamanho do espaço disponível.
Nesse sentido, é preciso relembrar que uma escala carto-
gráfica pequena implica poucos detalhes, pois representa uma ex-
tensa área num espaço restrito, como os planisférios ou os globos
terrestres, representados num único pedaço de papel.
Já uma escala cartográfica grande implica um mapa rico em
detalhes, pois representa uma pequena porção do terreno, signifi-
cando, assim, uma maior aproximação do real.
A decisão de incorporar ou não determinados elementos na
representação cartográfica em função da escala é o objetivo da
generalização.

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14 © Cartograia Temática

Então temos que, quanto menor for a escala cartográfica do


mapa, maior será a necessidade de generalização da informação.
Logo, o que encerra a Cartografia Temática é sua função em
representar, de modo adequado, os fatos que se passam na super-
fície da Terra.
O modo adequado ao qual nos referimos é indicado pelas
normas da Semiologia Gráfica, que tem por objetivo analisar a na-
tureza da informação espacial (ou seja, se é qualitativa ou quan-
titativa; discreta ou ordenada) e selecionar o melhor método de
transcrevê-la para o mapa.
A Cartografia, especialmente a Temática, constitui-se num
instrumento indispensável para o trabalho tanto do geógrafo
como para o professor de Geografia, pois ela possibilita o registro
e a análise espacial dos dados, permitindo que sejam estabeleci-
das importantes relações entre os fenômenos e o espaço, desven-
dando as causas e os efeitos que regem a dinâmica da natureza e
do nosso cotidiano na constante construção e transformação do
espaço.
Análise espacial dos dados
Na elaboração de produtos cartográficos, o que fazemos é
nada mais do que espacializar informações, ou seja, dispor sobre
um plano cartográfico, que representa uma determinada área, os
dados ou fenômenos que constroem e formam o espaço geográ-
fico.
Buscaremos na Geografia novamente a função da Cartogra-
fia. Generalizando um pouco, sabemos que a Geografia é a ciência
responsável por estudar a relação entre o homem e a natureza,
cabendo ao geógrafo compreender as relações existentes entre
ambos no processo de produção do espaço geográfico.
Em outras palavras, a Cartografia é responsável por dar visi-
bilidade ao fenômeno geográfico.
© Caderno de Referência de Conteúdo 15

Assim, mostra-se a grande contribuição da Cartografia pe-


rante a sociedade, cumprindo, como ciência, o seu papel social.
As informações cartográficas constituem as bases sobre as
quais se tomam decisões e encontram soluções para os problemas
socioeconômicos e técnicos existentes.
A Cartografia foi a principal ferramenta usada pela humani-
dade para ampliar os espaços territoriais e organizar sua ocupação.
Hoje, ela está presente no cotidiano da sociedade, informando-a,
levando soluções para problemas urbanos, de segurança, saúde
pública, turismo, bem como fornecendo subsídios ao planejamen-
to rural e à gestão ambiental de maneira geral.
Conceitualmente, pode-se dizer que a Cartografia é uma
“atividade meio”, ou seja, não possui uma finalidade em si mesma.
Seu uso é abrangente, servindo de suporte a diversas ciências e
tecnologias. A Cartografia constrói seu produto conforme as ne-
cessidades apresentadas e entrega-o na forma de mapa, único ins-
trumento capaz de representar em escala, com o grau de exatidão
requerido, informações quantitativas e qualitativas necessárias ao
planejamento territorial.
Considerando tudo o que foi exposto até o momento, pode-
mos afirmar que a Cartografia Temática é a expressão gráfica da
Geografia!
Ao longo das décadas, as técnicas de representação da in-
formação espacial foram se aperfeiçoando e, cuidadosamente,
transformando-se numa linguagem universal, própria da Carto-
grafia. No entanto, para melhor utilizá-la e compreende-la, é de
fundamental importância que conheçamos sua linguagem, suas
potencialidades e seus limites.
No que diz respeito ao uso das representações cartográficas
no ensino escolar, enfatizamos o seu papel enquanto linguagem.

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16 © Cartograia Temática

As representações são abstrações do mundo real necessárias


ao nosso desenvolvimento cognitivo. São símbolos que atribuímos
aos elementos que nos rodeiam para que possamos representar a
realidade.
O uso de símbolos como forma de linguagem é muito impor-
tante para a cognição e assimilação do indivíduo e para o desen-
volvimento de seu aprendizado. Na escola, é a linguagem que for-
nece os conceitos e as formas de organização do real; na verdade,
é a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento.
As representações cartográficas caracterizam-se como um
tipo de linguagem no qual se escrevem (grafam) o espaço geográ-
fico e os fenômenos que nele ocorrem.
Compreendemos a Cartografia Temática, foco do nosso es-
tudo, como um meio de comunicação, um veículo que possibilita a
discussão das realidades geográficas.
A linguagem é um sistema simbólico elaborado pelos grupos
sociais e é particular a cada grupo. É ela que fornece os conceitos,
as formas de organização do real, ou seja, a retificação dos concei-
tos para interpretarmos o nosso mundo.
A linguagem é a mediação entre o sujeito e o objeto do co-
nhecimento. Assim, entendemos que é por meio dela que as ideias
são socialmente formadas e culturalmente transmitidas; portanto,
sociedades e culturas diferentes conduzem a linguagens diferen-
ciadas.
A noção de mediação indica que, como sujeito do conheci-
mento, o homem não tem acesso direto aos objetos, mas acesso
mediado, por meio de recortes do real, operados pelos sistemas
simbólicos de que nós dispomos. Essa mediação é realizada por
objetos, por meio da organização do ambiente, do mundo cultural
que rodeia o indivíduo, ou seja, tudo o que influi na construção do
conhecimento.
© Caderno de Referência de Conteúdo 17

E é nesse contexto que podemos inserir a Cartografia – como


uma linguagem mediadora entre o sujeito e o objeto do conheci-
mento.
Só para esclarecer os termos, “sujeitos” somos nós, e o “ob-
jeto do conhecimento” é o nosso mundo exterior.
Tradicionalmente, a Cartografia é subutilizada na Educação
Básica. Reduz-se ao simplismo da mera ilustração artística.
Contudo, ela deve ser entendida como um meio para a cons-
trução social, não como algo acabado e estático. A Cartografia
não é meramente um amontoado de técnicas; ela tem o poder de
construir, reconstruir e, acima de tudo, revelar informações!
A Cartografia é aceita como meio de construção do conhe-
cimento, inserindo-se como grande aliada para compreensão de
qualquer tema abordado dentro da aula de Geografia.
Os mapas podem ser instrumentos extremamente ricos em
informação; pode-se considerar como uma de suas grandes vir-
tudes o entendimento de diferentes variáveis sobre um mesmo
espaço, auxiliando na compreensão das relações entre fenômenos
(as causas) e no entendimento da realidade como um todo inte-
grado (os efeitos).
Mas o que realmente observamos na maioria dos materiais
didáticos é que eles simplesmente usam a Cartografia como uma
ferramenta para a compreensão e exemplificação dos assuntos
tratados, e não como uma forma de construção do conhecimento.
É preciso encarar a Cartografia além de seus aspectos visuais
e artísticos, propondo alternativas para a sua utilização, que ultra-
passem o simplismo da imagem e cheguem ao nível de conheci-
mento necessário para a compreensão da realidade que o aluno
vive, pois a maneira como os mapas são utilizados, apresentando o
conteúdo imediato do texto, e não incorporando nada ao que já se
foi mencionado, expõe ao aluno uma realidade um tanto caótica,

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18 © Cartograia Temática

uma vez que os fenômenos aparecem bagunçados e independen-


tes. Assim, os conteúdos dos mapas pouco ou em nada subsidiam
o aluno no entendimento da realidade.
Há outro problema no uso dos mapas no ensino. As repre-
sentações cartográficas são capazes de expressar a percepção do
espaço daqueles grupos e/ou pessoas que a construíram. As cartas
e mapas expõem territórios, paisagens, elementos ou até mesmo
fenômenos que são representados mediante ideologias de seus
realizadores, pois essas representações são condicionadas pela
forma de como esses grupos veem o mundo; em outros termos,
são “olhares”, e como coloca Japiassu (1975) em sua obra O mito
da neutralidade científica: não há “olhares neutros”. Eles são ba-
nhados por uma atmosfera sociopolítica.
Esse mesmo autor lembra que a produção do conhecimento
se faz numa sociedade determinada, que condiciona seus objeti-
vos, seus agentes e seu modo de funcionamento. Ela é profunda-
mente marcada pela cultura em que se insere e carrega em si os
traços da sociedade que a engendram, refletindo suas contradi-
ções, tanto em sua organização interna quanto em suas exterio-
rizações, como a arquitetura e a arte, ou mesmo a forma de uma
cidade em termos de suas características.
Assim, a Cartografia apresenta-se como algo muito além do
que uma simples técnica.
É necessário se ter em mente que seu uso e sua construção
não são neutras. Por exemplo, ao darmos uma definição ampla e
geral de que a Cartografia é uma atividade de construção, repre-
sentação e interpretação do território a partir da generalização de
elementos da paisagem, estamos aceitando o fato de que quem
faz a cartografia é um indivíduo carregado de ideologias, mesmo
que ingenuamente.
Diante desse contexto, cabe a seguinte indagação: é possível
a aplicação na Educação Básica de mapas construídos sob determi-
nada condição sociopolítica a alunos que vivem outras realidades?
© Caderno de Referência de Conteúdo 19

Que espaço é esse que se observa nas representações car-


tográficas? O que são essas representações em termos de territó-
rios? A que se destinam?
O que entra em questão é: qual realidade que está sendo
transmitida ao aluno? Uma realidade distante do seu cotidiano
com mapas carregados de conteúdos ideológicos díspares à sua
realidade, que não estejam relacionados com o seu dia a dia.
Essa problemática incentivou pesquisadores, grupos de es-
tudos e laboratórios de programas científicos a iniciar um novo
processo de produção de conhecimento cartográfico, mais compa-
tível com a realidade dos alunos, aproximando-os de seu espaço.
A solução a esse problema foi a elaboração dos Atlas Municipais,
que são um conjunto de mapas específicos de uma localidade, de
um território específico, restringindo a representação a uma reali-
dade mais próxima para determinada comunidade.
Esse projeto, que entra na linha de melhoria do ensino pú-
blico, teve como objetivo central elaborar material didático e pro-
cedimentos de ensino para o estudo da localidade dentro da disci-
plina de Geografia.
Esse material parte do pressuposto de que é o próprio aluno
o principal usuário dos mapas. Assim, definem-se claramente as
finalidades dos mapas. E, se retomarmos as questões iniciais, sa-
beríamos responder a quem ele se destina, à qual uso etc. Além
disso, minimizaríamos o principal problema aqui levantado, que
corresponde à questão da contextualização da realidade em que o
mapa foi gerado com a realidade do indivíduo.
A educação cartográfica por meio do lugar de vivência do
aluno permite que ele relacione facilmente no mapa os espaços
representados com sua realidade. Assim, os Atlas Municipais po-
dem levar os alunos a uma melhor compreensão crítica e reflexiva
da realidade.

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20 © Cartograia Temática

Grupos de pesquisa têm concluído que a temática dos ma-


pas municipais e o consequente estudo da localidade têm favore-
cido um processo de ensino e aprendizagem mais significativo, já
que se trata de aspectos do lugar vivido pelos alunos e até mesmo
dos professores.
Para finalizar, concluímos que a Cartografia tornou-se essen-
cial para a educação contemporânea, tanto para o aluno atender
às necessidades do seu cotidiano quanto para estudar o ambiente
em que vive. Aprendendo as características físicas, econômicas,
sociais e humanas do ambiente, ele pode entender as transforma-
ções causadas pela ação do homem e dos fenômenos naturais ao
longo do tempo.
Há a necessidade de refletir acerca da teoria e metodologia
da Cartografia quando se considera o ambiente educacional, pois
falar de Cartografia no ensino de Geografia implica a Cartografia
feita de forma crítica, sem esquecer ou reduzir o conhecimento
teórico e científico dos mapas.
Contudo, não adianta um material ser elaborado calcado nas
melhores teorias pedagógicas, utilizando-se dos melhores recur-
sos didáticos e linguísticos, se não houver um comprometimento
e ética por parte dos professores perante sua profissão e seus alu-
nos.
Reflita sobre as ideias expostas nesta Abordagem Geral e,
principalmente, comece você, futuro professor de Geografia, a
desenvolver o hábito de avaliar criticamente os mapas presentes
em seu cotidiano, sejam eles apresentados na televisão, em mídias
impressas, em simples panfletos, nos livros didáticos etc.
Não se esqueça de que a Cartografia é uma ciência só; a di-
visão entre sistemática e temática é apenas uma questão didática.
© Caderno de Referência de Conteúdo 21

Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados neste Caderno de Referência de
Conteúdo. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos:
1) Acurácia: na Cartografia, pode ser entendida como a dis-
crepância entre o valor do dado estimado e o observado
(referência), ou seja, o quanto o dado se difere espacial-
mente.
2) Aplicativo: desde os anos de 1980, com a difusão dos
computadores, a informática tornou-se indispensável
nas áreas de Geociências, e a palavra “aplicativo” confi-
gurou-se como um termo usual, que se refere a progra-
mas de computador (softwares), criados para atender
às necessidades específicas de um determinado usuá-
rio. pode, também, designar uma ferramenta específica
dentro do software. Por exemplo: o Sistema de Infor-
mações Geográficas SPRING/INPE possui aplicativos de
processamento digital de imagens.
3) Arquivos raster: são comumente denominados de ima-
gem, pois consistem em uma matriz regular, formada
por linhas e colunas, em que cada unidade (célula) é de-
nominada de pixel. Cada pixel, por sua vez, contempla
um valor numérico. Pode ser compreendido como um
modo de armazenamento de dados.
4) Arquivos vetoriais: constituem-se em um modo de ar-
mazenamento de dados por coordenadas (vetores),
compostos por linhas, pontos ou polígonos, passíveis de
edição que permitam alterações em sua geometria e po-
sição espacial, sem que haja, necessariamente, perda de
informação, diferentemente dos dados raster.
5) Banco de Dados Geográfico (BDG): arquitetura compu-
tacional que permite o armazenamento de dados alfa-
-numérico, sob a forma de tabelas, com o diferencial de
suportar feições geométricas com suas respectivas coor-
denadas espaciais.

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22 © Cartograia Temática

6) CAD: a sigla significa Computer Aided Design ou Desenho


Assistido (auxiliado) por Computador. Abrange o conjun-
to de softwares com funções de auxiliar a manipulação
e criação de informações vetoriais, baseado no uso de
planos cartesianos, em que os eixos X, Y e Z podem as-
sumir variadas unidades de medida, como metros, qui-
lômetros ou graus, minutos e segundos. Justamente por
esse fato, os softwares CAD foram largamente utilizados
para suprir as necessidades da cartografia digital, pois
simulavam o plano cartesino como um plano.
7) Carta: representação simbólica, geralmente plana, da
superfície terrestre e de seus objetos e fenômenos. Na
bibliografia, observa-se que a distinção entre os termos
“mapa” e “carta” não é consolidado. De modo geral, o
mais aceito é que “mapa” se refere a um termo de utili-
zação comum, enquanto “carta” é especialmente usada
no âmbito da cartografia topográfica, hidrográfica, náu-
tica e aérea, em que as medidas de distância e orienta-
ção são precisas, sendo normalmente apresentadas em
média e grande escalas (até 1:25.000).
Particularmente, acreditamos que a definição de mapa
contém a “ideia de carta” e restringe sua utilização ape-
nas para quando há subdivisão, sistematização e articu-
lação entre folhas, obedecendo a um plano nacional ou
internacional, como: as folhas das cartas topográficas
1:50.000 do IBGE.
8) Carta cadastral: o mesmo que planta cadastral. Repre-
sentação detalhada das ruas, quadras e lotes de uma
área urbana.
9) Carta corográfica: carta topográfica de escala intermé-
dia, em regra compreendida entre 1:500 000 e 1:50 000,
que representa os traços gerais de países ou regiões (ter-
mo em desuso).
10) Carta imagem: tendo como fundo uma imagem da su-
perfície terrestre (visada perpendicular), são delineadas
(como um desenho sobreposto) apenas algumas infor-
mações que se deseja evidenciar.
© Caderno de Referência de Conteúdo 23

11) Cartografia topográfica: ramo da Cartografia que trata


das cartas topográficas. Devido ao seu interesse nacional,
normalmente a responsabilidade de seu levantamento
é atribuída a organismos estatais ou reconhecidos pelo
Estado. No Brasil, o IBGE é o grande responsável pela or-
ganização, criação e atualização das informações planial-
timétricas (X, Y e Z). No estado de São Paulo, destaca-se
o Instituto Geográfico Cartográfico (IGC). Com o advento
das novas tecnologias de aquisição de dados terrestres,
como o imageamento de altimetria realizado a laser ou
RADAR transportados por aeronaves, algumas empresas
privadas de aerolevantamento iniciaram a comercializa-
ção de informações topográficas de elevado detalhe e
precisão para áreas específicas.
12) Cartodiagramas: são representações com diagramas so-
brepostos. Aplicam-se a fenômenos discretos, e seu uso
tem sido bastante discutido. Não que os diagramas em
si não sejam importantes instrumentos de análise de fe-
nômenos geográficos; eles de fato são. No entanto, sua
disposição sobre mapas costuma confundir o leitor. Nes-
se tipo de representação, são dispostos especialmente
diagramas de linha, colunas, histogramas e diagramas
de área (também conhecido como "pizza").
13) Compilação cartográfica: conforme IBGE (1998), é o
processo de elaboração de um novo e atualizado original
cartográfico, tendo por base a análise de documentação
existente, em que um ou mais mapas e cartas, fotogra-
fias aéreas e/ou levantamentos de diversas naturezas
são adaptados e compilados sobre uma base confiável,
atribuindo escala e projeção únicas. Esses elementos
têm origem em documentação variada, que inclui outras
cartas, fotografias aéreas, entre outros.
14) Comunicação visual: meio de comunicação baseado
em elementos visuais, como signos, imagens, desenhos
e gráficos. No processo de comunicação, estabelecido
entre o remetente da mensagem e o destinatário, pode
haver perda de informação, devido a fatores como re-
presentação inadequada (erro do redator) ou falta de
arcabouço conceitual por parte do destinatário. Dessa

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24 © Cartograia Temática

forma, a comunicação visual, quando destinada à ciên-


cia, encontra a dificuldade na subjetividade da inter-
pretação. Assim, a Cartografia é obrigada a estabelecer
procedimentos metodológicos rigorosos para diminuir a
possibilidade de apresentar informações ambíguas.
15) Coordenadas (sistema de): designa uma grandeza linear
e ou angular que indica um valor único de localização,
que pode ser ocupado por um ponto, baseado numa
estrutura ou um sistema de referência. Justamente por
isso, é importante designar seu complemento quando
utilizamos esse termo, como: coordenadas “planas”,
“geodésicas”, “geográficas”, entre outras.
16) Coordenadas geodésicas: coordenadas geográficas
(graus, minutos e segundos) definidas sobre uma super-
fície de referência (elipisoide).
17) Coordenadas geodésicas elipsoidais: coordenadas geo-
désicas relativas ao elipsoide de referência.
18) Coordenadas geográficas: a latitude e a longitude defi-
nidas sobre a superfície terrestre, ou um modelo.
19) Coordenadas retangulares: um sistema de coordenadas
retangulares, no plano, é aquele que utiliza duas medi-
das de distância retilíneas a dois eixos perpendiculares
entre si para referenciar a posição dos pontos relativa-
mente a uma origem arbitrária.
20) Cores hipsométricas: sequência convencional de cores
destinada a representar as classes de altitude definidas
entre curvas de nível adjacentes. As cores são ordenadas
do verde escuro (usado para as menores altitudes) até
ao castanho avermelhado (para áreas mais elevadas).
A utilização da cor branca posteriomente ao vermelho
restringe-se aos morros cobertos por neves perenes ou
intermitentes. Devem-se excluir tons de azul para qual-
quer relevo acima da cota 0m, o qual é reservado para a
representação da batimetria.
21) Dado: de forma abrangente, pode ser caracterizado
como uma sequência de símbolos quantificados ou
quantificáveis apropriados para o processamento. En-
tende-se, assim, que o dado antecede a informação.
© Caderno de Referência de Conteúdo 25

22) Datum geodésico: conceito muito relevante para as ope-


rações cartográficas, que diz respeito ao conjunto dos
parâmetros que constituem a referência de um deter-
minado sistema de coordenadas geográficas e que inclui
a definição do “elipsoide de referência” e a sua posição
relativamente ao globo terrestre. Denomina-se como
superfície de referência, que contém cinco parâmetros:
ponto do terreno, altura goidal, elipsoide de referência,
coordenadas astronômicas e azimute. O datum forma a
base para o cálculo dos levantamentos de controle hori-
zontal do terreno. A definição do datum é fundamental
para a precisão das operações cartográficas.
23) Decodificação: é o processo realizado pelo destinatário
no ato de compreender a informação, que consiste em
captar o significante e extrair o significado.
24) Escala cartográfica: relação matemática. Termo genéri-
co que expressa o quociente entre o comprimento de
um segmento no mapa e seu correspondente na super-
fície real. Em geral, as escalas nos mapas variam com a
posição e com a direção consideradas.
25) Escala geográfica: refere-se ao recorte espacial, tama-
nho da área ou território abordado para análise. Im-
portante destacar que é de coneito inverso ao da esca-
la cartográfica. Quando nos referimos à escala grande,
estamos considerando uma área superficial grande, um
país, o globo. Por sua vez, quando nos referimos à es-
cala geográfica pequena, consideramos uma cidade, um
bairro.
26) Exatidão cartográfica: grau de conformidade de um va-
lor com o valor verdadeiro ou aceito como padrão. Na
cartografia, as operações são normatizadas por leis e
normas, que definem padrões de precisão que variam
conforme finalidade do estudo e escala de de trabalho.
Trabalhos em escalas cartográficas reduzidas aceitam er-
ros maiores (por isso, são mais generalizadas); logo, pos-
suem menor exatidão. Já aqueles trabalhos realizados
em escalas grandes, de detalhe, devem possuir elevada
exatidão cartográfica.

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26 © Cartograia Temática

Como regra geral, para determinar o erro tolerável, ou


seja, a margem de erro aceita em um mapa de modo
a cumprir os critérios de exatidão cartográfica, deve-se
sempre considerar escala cartográfica de referência, sen-
do que o erro será 1/5 de milímetro (0,0002m) do deno-
minador da escala.
27) Fotogrametria: para a American Society for Photogram-
metry and Remote Sensing (ASPRS, 1979), a fotograme-
tria consiste na arte, ciência e tecnologia de obtenção
de informação confiável sobre objetos físicos e o meio
ambiente por meio de processos de gravação, medição
e interpretação de imagens fotográficas e padrões de
energia eletromagnética radiante e outras fontes.
28) Generalização: operação que consiste em selecionar,
classificar, simplificar e harmonizar a informação a in-
cluir numa carta, de acordo com a sua escala e finalida-
de. A generalização implica, em regra, uma redução da
complexidade da informação original, necessária quan-
do se trata de a adaptar a uma carta de menor escala ou
finalidade diversa.
29) Geodesia: ciência que se ocupa do estudo da forma e
dimensões da Terra.
30) Geoide: superfície de nível aproximadamente coinciden-
te com o nível médio do mar, supostamente prolongado
por sob os continentes. O geoide é, em cada ponto, per-
pendicular à vertical do lugar.
31) Geoprocessamento: de acordo com o Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (INPE), pode ser definido como
um conjunto de tecnologias voltadas à coleta e ao trata-
mento de informações espaciais para um objetivo espe-
cífico. Assim, as atividades que envolvem o geoproces-
samento são executadas por sistemas específicos para
cada aplicação. Esses sistemas são mais comumente
tratados como Sistemas de Informação Geográfica (SIG)
(DSR, 2012).
32) GIS – Geographic Information System; SIG – Sistema de
Informação Geográfica: de acordo com o Instituto na-
cional de Pesquisas Espaciais (INPE), SIG é o conjunto de
© Caderno de Referência de Conteúdo 27

tecnologias matemáticas e informacionais responsáveis


pelo processamento de dados gráficos e não gráficos (al-
fanuméricos) com ênfase a análises espaciais e modela-
gens de superfícies.
33) GPS – Global Positioning System: sistema de posiciona-
mento global baseado num conjunto de satélites de ór-
bita polar, mantido pelo governo dos EUA.
34) Isoietas: linha que une pontos de igual valor de precipi-
tação num determinado período de tempo.
35) Landsat: o programa Landsat, desenvolvido pela Natio-
nal Aeronautics and Space Administration – NASA, foi
originalmente denominado Earth Resources Technology
Satellite – ERTS. Foi o primeiro programa de satélite de
sensoriamento remoto para observação dos recursos
terrestres posto em órbita da Terra. O primeiro satélite,
de caráter experimental, foi construído para demonstrar
a viabilidade de mapeamento e monitoramento de fei-
ções da superfície da Terra a partir de imagens orbitais.
Esse programa foi desenvolvido com o objetivo de pos-
sibilitar a aquisição de imagens da superfície da Terra
de maneira global e repetitiva. O primeiro satélite dessa
série foi lançado em 23 de julho de 1972 com a deno-
minação de ERTS-1. Em 14 de janeiro de 1975, o nome
foi trocado para Landsat – Landsatellite, e, em 22 de ja-
neiro, foi lançado o segundo satélite, então denominado
Landsat-2.
36) Mapa Base: É o mapa cujo objetivo é a representação
espacial de informação geográfica de carácter genérico,
comportando em geral um conjunto organizado de fo-
lhas que cobrem um país ou região, de forma sistemáti-
ca. São mapas de base as cartas topográficas e hidrográ-
ficas. Pode ser, também, o mapa que serve de suporte,
ou fundo, a uma carta temática.
37) Mapa físico: mapa temático que representa, essencial-
mente, os aspectos naturais da topografia e hidrografia
da superfície terrestre (termo em desuso, embora ainda
utilizado em atlas).

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28 © Cartograia Temática

38) Mapa hipsométrico: mapa temático que representa as


classes de altitude por meio de cores hipsométricas. Es-
sencialmente, seus dados são de natureza contínua, e
sua representação é feita em tons dégradés, de cores
frias a cores quentes, respectivamente, do mais baixo ao
mais alto.
39) Mapa temático: mapa cujo objetivo é representar in-
formação geográfica ou apoiar atividades, de carácter
especializado. Tipicamente, os mapas temáticos apre-
sentam, sobre um fundo de informação geral mais ou
menos simplificado, muitas vezes extraído de cartas to-
pográficas, hidrográficas e administrativas, fenômenos
localizáveis de qualquer natureza, sob forma qualitativa
ou quantitativa. Antigamente, os mapas temáticos tam-
bém eram denominados de Mapas Geográficos.
40) Modelo digital do terreno: também denominado de
Modelo Digital de Elevação (MDE), representa uma su-
perfície contínua, formada pela variação de valores de
altimetria, que indica as variações de geometria do re-
levo. É estimado por meio de métodos de interpolação
espacial, a partir dos dados originais observados, mais
comumente modelados por grades retangulares ou mé-
todos de triangulação.
41) Precisão: importante conceito para a Cartografia, pois
indica o quanto os valores de uma série de dados estão
próximos uns dos outros. É comum na avaliação de re-
sultados obtidos pelas tecnologias certa confusão entre
precisão e acurácia.
42) Precisão gráfica: é a menor grandeza medida no terre-
no, capaz de ser representada no mapa sem que seja
necessário utilizar símbolos ou convenções cartográficas
(IBGE, 2012).
43) Rede geodésica: composta por um conjunto de pontos
materializados (pontos reais, fixos na superfície terres-
tre, e articulados às coordenadas geográficas precisa-
mente conhecidas) distribuídos de forma homogênea
ao longo de um determinado território, estruturando
uma malha triangular. Uma rede geodésica constitui o
© Caderno de Referência de Conteúdo 29

referencial de apoio à Cartografia e às operações de ge-


orreferenciamento em geral.
44) Representação gráfica: é a linguagem gráfica, bidimen-
sional, atemporal, destinada à vista. Se expressa por
meio da construção da imagem, tem supremacia sobre
as outras formas de linguagem, pois demanda apenas
de um instante mínimo de percepção. E, especialmente,
integra o sistema semiológico monossêmico.
45) Resolução espacial (espectral): é a capacidade de um
sensor "enxergar" ou distinguir os objetos da superfície
terrestre; já a resolução temporal se refere à frequência
com que são obtidas imagens de um determinado local
por uma determinada plataforma orbital.
46) Sistema de projeção: quando se refere a um sistema de
projeção, na verdade está se referindo a um conjunto de
referências espaciais composto por: um elipsoide de re-
ferência, um datum geodésico e a projeção cartográfica.
47) Sombreado: forma de representação gráfica do relevo
através de manchas que simulam as sombras resultantes
de hipotéticas fontes de luz colocadas em locais deter-
minados (em geral, no canto superior esquerdo das car-
tas, incidindo a luz segundo um ângulo de 45º).
48) SPOT: a série SPOT (Satellite pour l’Observation de la
Terre) foi iniciada com o satélite franco-europeu SPOT
1, em 1986, sob a responsabilidade do Centre National
d’Etudes Spatiales – CNES da França. Hoje, a plataforma
do SPOT está em órbita com três satélites (2, 4 e 5), o
que possibilita acesso a qualquer ponto da Terra em me-
nos de 24 horas e atuando em conjunto, com revisitas
em intervalos de 3 a 5 dias. Os satélites da família SPOT
operam com sensores ópticos, em bandas do visível, in-
fravermelho próximo e infravermelho médio.

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30 © Cartograia Temática

Esquema dos Conceitos-chave


Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais
importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um
Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhável é que você
mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o
seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o
seu conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas
próprias percepções.
É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos
Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en-
tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais
complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você
na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de
ensino.
Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-
-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em
esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu co-
nhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pe-
dagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendiza-
gem.
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-
colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas
em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda,
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-
tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim,
novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem
pontos de ancoragem.
Tem-se de destacar que “aprendizagem” não significa, ape-
nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-
so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure
como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-
siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais
© Caderno de Referência de Conteúdo 31

de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-


tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez
que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog-
nitivas, outros serão também relembrados.
Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você
o principal agente da construção do próprio conhecimento, por
meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas
e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tor-
nar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhe-
cimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabele-
cendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com
o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do
site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapascon-
ceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2010).

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32 © Cartograia Temática

Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave – Cartografia Temática.


© Caderno de Referência de Conteúdo 33

Como você pode observar, esse Esquema dá a você, como


dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre
um e outro conceito e descobrir o caminho para construir o seu
processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo, observe que para
atingirmos a finalidade da ciência Cartográfica, que é apresentar
informações úteis a sociedade, obrigatoriamente devemos conhe-
cer os procedimentos teóricos e práticos para elaboração de um
mapa, diagrama ou um cartograma. Desta forma, observamos em
nosso mapa conceitual um caminhamento lógico que vai da com-
preensão de conceitos a abordagens pragmáticas. Paralelamente
ao pragmatismo cartográfico (e concomitantemente), caminha sua
bagagem de conhecimento, os assuntos que serão espacializados
em um plano bidimensional. Por isso, observamos que as informa-
ções contidas no espaço geográfico, deverão ser compreendidas
em termos de sua natureza para, posteriormente, selecionar os
métodos de representação cartográfica mais adequados!
O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de
aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambien-
te virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como
àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realiza-
das presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD,
deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio co-
nhecimento.

Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem
ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertati-
vas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com a prática do ensino de Cartografia Temática
pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim,

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34 © Cartograia Temática

mediante a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado,


você estará se preparando para a avaliação final, que será disser-
tativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar
seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua
prática profissional.

Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus es-
tudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as bibliogra-
fias apresentadas no Plano de Ensino e no item Orientações para o
estudo da unidade.

Figuras (ilustrações, quadros...)


Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-
grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-
tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no
texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-
teúdos estudados, pois relacionar aquilo que está no campo visual
com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual.

Dicas (motivacionais)
O estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo convida
você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como processo
de emancipação do ser humano. É importante que você se atente
às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes
nos meios de comunicação, bem como partilhe suas descobertas
com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aqui-
lo que você observa, permite-se descobrir algo que ainda não se
conhece, aprendendo a ver e a notar o que não havia sido perce-
bido antes. Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele
à maturidade.
Você, como aluno do Curso de Graduação na modalidade
EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente.
© Caderno de Referência de Conteúdo 35

Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor


presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-
mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades
nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discu-
ta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoau-
las.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a
este Caderno de Referência de Conteúdo, entre em contato com
seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você.

3. E-REFERÊNCIAS
ASPRS – SOCIEDADE AMERICANA DE FOTOGRAMETRIA E SENSORIAMENTO REMOTO.
Home page. Disponível em: <http://www.asprs.org/>. Acesso em: 27 mar. 2012.
CARTOGRAFIA. O que é? Disponível em: <http://www.cartografia.eng.br/artigos/carto.
php>. Acesso em: 29 mar. 2012.
IBGE. Noções básicas de cartografia. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/
geociencias/cartografia/manual_nocoes/representacao.html>. Acesso em: 27 mar. 2012.
IMPE – DIVISÃO DE SENSORIAMENTO REMOTO. Introdução sobre o geoprocessamento.
Disponível em: <http://www.dsr.inpe.br/intro_sr.htm>. Acesso em: 27 mar. 2012.

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36 © Cartograia Temática

4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
JAPIASSU, H. O mito da neutralidade científica. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
EAD
Fundamentos Teóricos da
Cartografia Temática e a
Problemática do
Termo “Escala”
1
1. OBJETIVOS
• Conhecer e descrever os princípios teóricos da Cartogra-
fia Temática.
• Compreender e discutir as diferentes abordagens do ter-
mo “escala”.

2. CONTEÚDOS
• Fundamentos teóricos da Cartografia Temática.
• Escala cartográfica x escala geográfica.
• Generalização cartográfica e cálculo da precisão gráfica
para determinação do valor da escala numérica.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
38 © Cartograia Temática

1) Tenha em mente que o intuito final da cartografia é ofe-


recer condições visuais adequadas para a transmissão
de uma ideia; logo, é de extrema importância que você
compreenda a proposta da comunicação cartográfica e
os conceitos que a embasam.
2) A história da cartografia teórica moderna e a da Geo-
grafia enquanto ciência são sincrônicas. Para o enten-
dimento dos fatos e da evolução da ciência geográfica,
indicamos um clássico da Geografia, a obra Geografia:
pequena história crítica, de Antonio Carlos Robert de
Morais.
3) Para saber mais sobre a International Cartographicqu
Association, acesse o site disponível em: <http://carto-
graphy.tuwien.ac.at/ica/>. Acesso em: 27 mar. 2012.
4) A comunicação cartográfica faz parte da Teoria da Infor-
mação. Nessa teoria, fundamentada pela matemática,
admite-se que a presença de ruídos na mensagem pro-
voca perda de informação. Para saber mais, realize uma
pesquisa na internet a respeito da Teoria da Informação.
5) É importante ressaltar que existem autores que de-
fendem uma outra abordagem para a cartografia, uma
cartografia não normativa. Essa abordagem está funda-
mentada em uma corrente de pensamento direcionada
ao Ensino Básico. Aprofunde seus conhecimentos sobre
esse assunto pesquisando as obras, especialmente, do
Professor Jhon Seeman. Faça uma busca pela internet e
veja quais são as outras correntes cartográficas.
6) Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante
que você saiba que a Cartografia Temática e a Sistemá-
tica possuem muitos pontos em comum, uma vez que a
Cartografia Temática surgiu a partir da Sistêmica, quan-
do esta não mais pôde atender às necessidades impos-
tas pelos avanços do século 17. Entre as semelhanças,
podemos destacar as bases da comunicação gráfica e
as teorias de linguagem. Entretanto, em nada elas se
assemelham quanto à obtenção e coleta de dados, ao
tratamento da informação e aos procedimentos meto-
dológicos que geram os mapas. Outro ponto discrepante
© U1 - Fundamentos Teóricos da Cartograia Temática e a Problemática do Termo “Escala” 39

aparece até mesmo no campo profissional, pois as for-


mações dos cartógrafos não são as mesmas.
7) Neste Caderno de Referência de Conteúdo, optamos por
adotar a cartografia como arte, por concordar que ela é
adequada ao ambiente acadêmico de discussões e de-
senvolvimento do conhecimento científico, além de per-
mitir abranger um volume maior de informações sobre a
cartografia, fornecendo condições necessárias para que
no final deste estudo você possa formar sua própria opi-
nião a respeito do tema e das suas diversas correntes
que o definem.
8) Nesta unidade, vamos estudar a compreensão do pro-
cesso de comunicação visual, a qual nos permitirá criti-
car os mapas. Mas será que os mapas com os quais nos
deparamos cumprem com clareza o papel de transmitir a
mensagem? Sugerimos que você observe nos materiais
didáticos como os mapas são abordados. O texto expli-
cativo que os seguem aproveita as informações transmi-
tidas pelo mapa ou o “despreza”, tomando-o como uma
mera ilustração? Ressaltando a necessidade de a ciência
utilizar a linguagem monossêmica, será que os mapas
que vemos conseguem cumprir esse papel? Lembre-se
de que a ciência é crítica e rigorosa em seus métodos;
logo, ela nos "abre" espaço para avaliações.
9) É importante destacar que, nas referências bibliográficas
disponíveis, a terminologia para os mapas da cartografia
sistemática é variada. Pode ser encontrada como: mapa
topográfico (BARBOSA, 1967), mapa geral (RAISZ, 1969)
e mapa base (SANCHEZ, 1973; 1981).

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Você já notou que, em nosso cotidiano, as representações
cartográficas se tornaram elementos essenciais em nossas vidas?
Deparamo-nos com mapas nas escolas, nos telejornais, nos rotei-
ros de viagem, no computador de bordo do carro, na rede mundial

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40 © Cartograia Temática

de computadores, nas estações rodoviárias, enfim, sua apresenta-


ção tornou-se essencial em inúmeros locais.
Pois é, na era da informação, na qual o grande fluxo de infor-
mações dita as regras das atuais relações de poder, nada melhor
do que um instante de “abarcar de olhos” para compreender a
mensagem comunicativa e "pular" para a próxima. Se a mensagem
for bem estruturada, esse "abarcar de olhos" é o tempo necessário
para percebermos a informação, captar a mensagem, entendê-la e
assimilá-la. E não para por aí, porque, após a sua assimilação, você
ainda pode acreditar ou não na informação veiculada.
Essa tarefa é o desafio da comunicação visual. A composi-
ção de cores e de elementos é uma "arma" na mão de quem sabe
manuseá-la, tornando simples mensagens em verdadeiras obras
de arte de forte valor ideológico.
Com os mapas não são diferentes. Os mapas pertencem à
família da representação gráfica, são respaldados por teorias cien-
tíficas e, por isso, nada em um mapa pode ser considerado por
acaso, nem seus símbolos, nem suas cores, nem seu tamanho e,
muito menos, seu conteúdo.
Dessa forma, convidamos você a ir além da simples visuali-
zação de um mapa, ou seja, ir em busca de construir um conhe-
cimento específico capaz de nos dar condições para desvendar o
universo que está por trás dos mapas, conhecê-lo a fundo, para,
assim, compreender a dimensão da ciência Cartográfica!
Iniciaremos nossos estudos pelas principais teorias que re-
gem a cartografia. Veremos seus aspectos básicos e suas intrínse-
cas ligações com a Geografia, o que a torna essencial neste curso,
afinal, a cartografia nada mais é do que a expressão gráfica da Ge-
ografia. Pense nisso!
© U1 - Fundamentos Teóricos da Cartograia Temática e a Problemática do Termo “Escala” 41

5. BREVE PANORAMA TEÓRICO DA CARTOGRAFIA


Para que o estudo da cartografia seja proveitoso, é de funda-
mental importância conhecer o seu propósito como ciência. Para
isso, será apresentada suas principais bases teóricas.

Princípios teóricos da Cartografia


Apesar de registros históricos apontarem que os primeiros
documentos cartográficos datam de séculos antes do apareci-
mento da própria escrita, a preocupação com a questão teórica
é recente, surgindo apenas na metade do século 19, com grande
expressão na Alemanha e na França.
No século 17, a cartografia desenvolvia-se, principalmente,
em função das grandes navegações e da necessidade de explora-
ção de novas terras para se confirmar a expansão territorial. Nes-
sa época, buscava-se mais aprimorar as técnicas matemáticas e a
arte para a apresentação dos mapas do que o seu conteúdo cien-
tífico em termos de sistematização das atividades e divulgação do
conhecimento.
Somente no final dos anos de 1930, a cartografia firma-se
como um campo da ciência. A partir desse período, surgem inúme-
ras definições, elaboradas por diversos autores nas mais distintas
épocas que explicam seus meios e fins (por exemplo, o livro Intro-
dução à Cartografia Temática, de Paulo Araújo Duarte, de 1991,
traz um conjunto de definições sobre cartografia). Todavia, essas
definições possuem algumas divergências entre si, que variam de
acordo com as concepções dos autores, seus princípios pessoais,
a cultura na qual se inserem, a atmosfera política que os envolve,
em resumo, o contexto histórico em que viveram.
A característica técnica do mapa é indiscutível. Além dis-
so, alguns autores entendem a cartografia como ciência, outros,
ainda, como arte, e a grande maioria aceita as duas concepções.
Esta última possui uma grande aceitação no Brasil, e é adotada por

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42 © Cartograia Temática

importantes autores especializados na área. Ainda na década de


1990, surgiram outras definições que a classificaram como disci-
plina, como fez a International Cartographic Association em 1991.
Como mencionado, a grande maioria das definições compar-
tilham um objetivo comum. Podemos considerar que a cartografia
é ao mesmo tempo:
• Ciência.
• Arte.
• Técnica.
Esses três tópicos serão os pilares de nossos estudos. Assim,
transcrevemos, a seguir, uma definição dada à Cartografia no ano
de 1964, pela International Cartographic Association (ICA), que
engloba esses itens e satisfaz às necessidades do curso.

Cartograia ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Cartograia é o conjunto de estudos e operações cientíicas, artísticas e
técnicas, baseadas nos resultados de observações diretas ou de análise de
documentação, com vistas à elaboração e preparação de cartas, planos e outras
formas de expressão, bem como sua utilização (ASSOCIAÇÃO CARTOGRÁFICA
INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA, 2012).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, analisaremos cada um dos tópicos destacados an-
teriormente. Vejamos:
• Ciência: de acordo com Duarte (2002), a cartografia pode
ser considerada uma ciência, pois está inserida em um
campo de atividade humana que requer o desenvolvi-
mento de conhecimentos específicos, aplicação sistemá-
tica de operações de campo e laboratório, planejamento
dessas operações, metodologia de trabalho e aplicação
de técnicas, além do conhecimento de outras ciências.
• Arte: a sensibilidade artística é própria, também, de todo
trabalho cartográfico. Por ser caracterizado como docu-
mento exclusivamente visual, o mapa está submetido a
leis fisiológicas de percepção da imagem. Assim, para que
© U1 - Fundamentos Teóricos da Cartograia Temática e a Problemática do Termo “Escala” 43

se cumpra corretamente sua função de transmitir a infor-


mação ao receptor (dentro da ótica de comunicação), é
essencial que haja harmonia entre cores, símbolos, boa
disposição dos elementos (traçados, legenda, letreiros),
respeitando sempre as regras da semiologia gráfica, e
primando pela estética. Nesse sentido, Duarte (1991)
afirma que o trabalho cartográfico deve objetivar o ide-
al da beleza. Deve-se salientar que a arte não quer dizer
complexidade, e muito menos que deva se priorizar o as-
pecto decorativo do mapa em detrimento da precisão de
sua informação. Na representação cartográfica, o caráter
artístico, juntamente com o científico, deve compor um
conjunto harmonioso, que satisfaça o leitor por meio da
beleza, e garanta a qualidade e o nível de informação for-
necida.
• Técnica: a técnica justifica-se pelo fato de que todo con-
junto de operações ser direcionado à obtenção de um do-
cumento com caráter altamente técnico, o mapa. Seu ob-
jetivo primeiro, de comunicar uma idéia sem dar margens
a interpretações contraditórias (MARTINELLI, 1991), con-
firma esta posição. Outro fator que destaca claramente
a tecnicidade do mapa é, como indica Joly (2003), que a
atividade cartográfica engloba as atividades que vão des-
de o levantamento de campo, ou mesmo de documentos
cartográficos já existentes na bibliografia, até a impressão
definitiva e publicação do mapa elaborado.
Atualmente, com a difusão das geotecnologias, em especial
das ferramentas de geoprocessamento, nas quais se inserem os
sistemas de informações geográficas (SIG), a técnica assume des-
tacada relevância entre os três itens discutidos. No entanto, não
haverá êxito na manipulação das ferramentas essencialmente
técnicas se o operador não dispuser de bom senso em relação à
arte e, especialmente, à ciência. Caso contrário, a difusão dessas

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44 © Cartograia Temática

ferramentas condicionará a banalização do tratamento das infor-


mações geográficas e, consequentemente, a publicação de falsas
informações.
A necessidade de compreendermos a influência exercida
pela ciência, arte e a técnica em um simples mapa reside na pre-
tensão deste Caderno de Referência de Conteúdo em abordar a car-
tografia sob uma visão holística, para que possamos compreender
seu potencial e seus limites, e não apenas conceber o mapa como
produto já pronto em papel ou num monitor de vídeo, passando
despercebido todo o processo de elaboração que o antecedeu.
Mas será que é necessário que todos aprendam essas carac-
terísticas tão peculiares da ciência cartográfica? A justificativa para
aceitarmos a afirmativa anterior é muito simples.
Estamos nos propondo a nos especializarmos em numa área
do conhecimento humano (a Geografia) que nos torna indivídu-
os com conhecimentos específicos, diferenciados. O que é de do-
mínio do senso comum, por exemplo, a leitura dos mapas (pelo
menos deveria ser), como mencionado, todos sabem. No entan-
to, o conhecimento dessas peculiaridades serão o seu diferencial
no campo profissional. O domínio dessas informações garantirá
a você a segurança diante dos obstáculos que surgirem, seja em
perguntas em sala de aula, seja fora dela. Não se esqueça de que
temos muito mais facilidade de ensinar aquilo que conhecemos a
fundo e com o qual temos experiência.
Sendo assim, é aconselhável que conheçamos todas as suas
etapas. Como salientou Joly (2003), as operações cartográficas são
extensas, vão desde o levantamento de dados até a divulgação do
material. No entanto, isso não significa que devemos dominar o
manuseio de cada etapa do processo de elaboração do mapa. É
desejável, pelo menos no campo profissional, que haja especialis-
tas para as diversas etapas do trabalho cartográfico.
Podemos concluir que o material cartográfico é o responsá-
vel por representar, de modo adequado, os fatos e fenômenos que
© U1 - Fundamentos Teóricos da Cartograia Temática e a Problemática do Termo “Escala” 45

ocorrem sobre a superfície da Terra, no céu, no mar e até mes-


mo nos astros, constituindo um instrumento indispensável para
o trabalho do geógrafo, pois possibilita tanto o registro como a
análise espacial dos dados. Conhecer e representar a Terra foram
os primeiros objetivos da cartografia, e ainda hoje é a sua maior
preocupação.
Agora, com o foco na Geografia, convidamos você a exercitar
seu raciocínio de pesquisador. À luz do que você conhece sobre as
diversas concepções de espaço na Geografia, como a cartográfia
pode contribuir em cada corrente do pensamento geográfico?
É importante destacar que a cartografia convive com plura-
lismos epistemológicos, o que ocorre em qualquer outra ciência.
Compreender pontos de vista distintos nos permite visualizar o as-
sunto por outro ângulo, facilitando o entendimento dos "porquês"
de diferentes abordagens. Ao defender uma posição, é importante
conhecê-la tão bem quanto suas antagônicas, para que as críticas
sejam baseadas em argumentos científicos concretos, e não em
"achismos" do senso comum. Desse modo, é de fundamental im-
portância que você pesquise sobre as diversas abordagens existen-
tes na cartografia, assim como na Geografia em geral.

Comunicação cartográfica
Há inúmeras formas de comunicar uma mensagem. De ma-
neira simplista, podemos indicar a comunicação por meio da fala
(comunicação verbal), da música, da escrita e de várias outras pos-
sibilidades desenvolvidas ao longo da história do homem.
Esses meios de comunicação atingem o seu objetivo median-
te o uso de uma linguagem específica, que pode ser compreendida
como:

Linguagem ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Qualquer e todo sistema de signos que serve como meio de comunicação de idéias
ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráicos, gestuais etc.,
podendo ser percebida pelos diversos órgãos dos sentidos, o que leva a distinguir

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46 © Cartograia Temática

várias espécies de linguagem: visual, auditiva, tátil, etc., ou, ainda, outras mais
complexas, constituídas, ao mesmo tempo, de elementos diversos, como se faz
nos ilmes que misturam a linguagem visual com a sonora (ALMEIDA, 1980, n. p.;
HOUAISS, 2001, n. p.).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Dessa forma, podemos considerar a cartografia como uma
linguagem específica, pois atende a todos os requisitos mencio-
nados. Ou seja, possui seus signos (normatizados pela semiologia
gráfica), exprime uma ideia (o tema abordado) e é, na maioria das
vezes, uma linguagem visual. Existem mapas cuja finalidade não
se destina apenas ao sentido visual. Há mapas especiais desen-
volvidos para deficientes visuais também. A Cartografia Tátil é a
responsável pela elaboração de mapas (maquetes), formados por
materiais distintos, apresentando formas e rugosidades específi-
cas, segundo o objeto da realidade que esteja representando. É
especial por ser um meio de comunicação entre indivíduos, como,
por exemplo, o editor do mapa e o receptor.
Segundo Martinelli (1991), as representações gráficas com-
põem, de maneira abrangente, os sistemas de sinais que o homem
desenvolveu para possibilitar a comunicação entre si, criando uma
linguagem exclusivamente visual.
O conceito de representação gráfica sustentou a cartografia
por longas décadas. Vejamos:
Representação Gráfica é a linguagem gráfica; bidimensional; atem-
poral; destinada à vista. Se expressa por meio da construção da
imagem, por isso tem supremacia sobre as outras formas de lin-
guagem, pois demanda apenas de um instante mínimo de percep-
ção. E principalmente, integra o sistema semiológico monossêmico
(MARTINELLI, 1991, p. 9).

Para melhor compreendermos como estrutura a hierarquia


da comunicação visual, apresentamos na Figura 1 o organograma
que expõe com clareza esta ideia.
© U1 - Fundamentos Teóricos da Cartograia Temática e a Problemática do Termo “Escala” 47

Fonte: Matias (1996, p. 64).


Figura 1 A representação gráfica no universo da semiologia.

A Figura 1 expõe a hierarquia existente na semiologia. Ob-


serve que da "comunicação visual" se derivam as "imagens está-
ticas" e "dinâmicas", sendo os mapas representados como figuras
estáticas. Essa hierarquia foi elaborada pelo autor no ano de 1996
e, sem dúvida, é extremamente válida e didática ainda hoje. No
entanto, com o passar dos anos, novas necessidades surgem, e os
métodos vão se adequando aos novos paradigmas científicos.
Observa-se atualmente que em algumas áreas específicas,
como, por exemplo, a Defesa Civil e o monitoramento ambiental,
os mapas com representações estáticas já não satisfazem mais as
necessidades, pois esses serviços estratégicos precisam de repre-
sentações gráficas que indiquem a dinâmica dos fenômenos geo-
gráficos, como eles variam no espaço em pequenos lapsos de tem-
po – como é o caso do monitoramento de atividades climáticas
extremas (tempestades, furações, tornados, geadas, ondas de ca-
lor, entre outros), enchentes, queimadas, derramamento de óleo.
Ou seja, são informações fundamentais para tomadas de decisões
em curtos prazos. O desenvolvimento da computação na área das

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48 © Cartograia Temática

Geociências tem avançado nas técnicas denominadas “modela-


gem dinâmica de sistemas ambientais”, que buscam suprir as atu-
ais necessidades. Quando partimos da concepção de Cartografia
como linguagem, aceitamos, concomitantemente, seu papel de
comunicação visual. Pois, como indicado anteriormente, a lingua-
gem destina-se à comunicação entre pessoas.
Nesse sentido, a compreensão do processo de comunica-
ção visual auxilia-nos na construção dos produtos cartográficos e
permite-nos criticar o mapa, bem como avaliar o seu papel social.
A comunicação visual, então, objetiva a compreensão e o en-
tendimento de uma mensagem, e, no caso da representação gráfi-
ca, a comunicação revela-se por meio da linguagem monossêmica,
que, por sua vez, objetiva evidenciar as relações fundamentais en-
tre objetos e dados apresentados. Mas, afinal, como funciona esse
processo?
O processo de comunicação gráfica fundamenta-se em uma
estrutura composta por seis elementos. Acompanhe, a seguir,
como Duarte (2002) descreve cada um deles.
• Remetente: é aquele que envia a mensagem. Dessa for-
ma, para que uma mensagem seja transmitida com efi-
ciência será necessário que o cartógrafo (remetente)
apresente pleno domínio das técnicas cartográficas, para
que possa conceber a simbologia mais adequada capaz
de representar a informação desejada, obtendo êxito na
transmissão da informação. No entanto, somente obtere-
mos sucesso se o cartógrafo compreender a natureza da
informação que estará representando. Ou seja, é preciso
que o cartógrafo compreenda e domine o assunto.
Complementando essa definição, Joly (2003, p. 134) afir-
ma que “[...] para um bom cartógrafo, primeiro é preciso
ser um bom especialista. É preciso dominar o assunto a
ser tratado [...] ao mesmo tempo que uma séria maestria
da composição gráfica”.
© U1 - Fundamentos Teóricos da Cartograia Temática e a Problemática do Termo “Escala” 49

Isso significa que o remetente só será capaz de elaborar


uma boa mensagem visual se possuir um bom repertó-
rio. Nesse contexto, cabe definir repertório e destinatá-
rio.
• Repertório: conjunto de conhecimentos e experiências
que permitirão a elaboração de uma mensagem clara.
• Destinatário: aquele ao qual a mensagem se destina. Se a
mensagem estimular uma resposta igual à esperada pelo
remetente, o processo de comunicação está completo.
Como vimos, o destinatário também deve possuir um bom
repertório, pois a leitura do mapa será tanto mais rica, quanto
maior for o repertório do leitor. Outro importante elemento nesse
processo é a mensagem, vejamos:
• Mensagem: é a resultante de uma associação de ideias a
um ou mais estímulos físicos. Caso contrário, admite-se
que houve nesse processo a interferência de um ruído.
A ideia (significado), por sua vez, compreende o pensamen-
to a ser transmitido. O estímulo físico ou significante, no caso da
cartografia, são as imagens que compõem o mapa. E a união des-
ses dois elementos forma o signo, responsável por transmitir a
mensagem.
• Código: é o meio que possibilita a compreensão do signo.
Ele pode ser uma norma, uma convenção ou uma instru-
ção que facilita a compreensão do signo. Por exemplo,
em um mapa que se proponha a indicar a distribuição
dos hospitais e dos postos de gasolina em um determi-
nado território, poderemos optar por representar esses
elementos por "pontos" verdes para os hospitais e azuis
para os postos. Desse modo, primeiramente o destinatá-
rio deverá se remeter à legenda para compreender o que
é cada ponto representado. No entanto, se representar-
mos no mesmo mapa os locais com: cruzes vermelhas e
bombas de gasolina, a descodificação será imediata por

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50 © Cartograia Temática

parte do destinatário, nesse caso os códigos facilitaram a


identificação imediata dos pontos no mapa.
Esses símbolos visuais gráficos são encontrados na literatura
como Signos Icônicos. Eles representam os símbolos que possuem
uma relação muito estreita entre o significante e o significado,
proporcionando uma descodificação quase que imediata. Por isso,
são mais vantajosos do que os outros signos linguísticos.
Outro fator contemplado pela comunicação visual é o veícu-
lo.
• Veículo: é qualquer elemento de natureza física usado
para transportar ou conduzir a mensagem até o destina-
tário, tal como o papel, rádio, TV etc.
A Figura 2 ilustra o modelo de comunicação visual utilizado
pela cartografia. Vejamos.

Fonte: Duarte (2002, p. 172).


Figura 2 Modelo do processo de comunicação cartográfica.

Atualmente, os princípios da comunicação visual são bem


aceitos para a cartografia. Contudo, a intensificação da informática
e da automação nas relações sociais permitiu maior interatividade
entre remetente e destinatário, implicando em algumas modifica-
ções e no desenvolvimento de outras concepções para a cartogra-
fia, como poderá ser observado na abordagem sobre visualização
cartográfica.

Visualização Cartográfica
Segundo Ramos (2001), a visualização cartográfica é uma
nova forma de conceber a cartografia.
© U1 - Fundamentos Teóricos da Cartograia Temática e a Problemática do Termo “Escala” 51

Inicialmente, é importante desvincularmos a ideia popular


de visualização e assumirmos a acepção científica do termo.
Em cartografia, o termo visualização, conforme cita Scolum
(1998), indica não somente a visualização de um resultado final,
mas também a apresentação de informações que possibilitem ao
leitor, por meio de sua exploração, estabelecer suas próprias aná-
lises e chegar a um novo conhecimento.
Portanto, o termo visualização cartográfica não centra suas
atenções apenas no trabalho de criação do mapa (como prega a
comunicação cartográfica), mas também no seu uso pelo leitor. O
processo de visualização cartográfica está relacionado, especial-
mente, aos mapas estruturados para a consulta em ambientes di-
gitais interativos, ou seja, mapa como instrumento de análise e
interatividade.
Apesar de ser unânime a compreensão desse termo, há al-
gumas diferenças na forma de como autores abordam o mapa na
visualização cartográfica. DiBiase (1990, apud RAMOS 2001), por
exemplo, enfatiza o uso do mapa como relação entre cartógrafo e
leitor, enquanto Taylor (1991, apud RAMOS, 2001) destaca a tec-
nologia envolvida no processo de visualização.
Ramos (2001), também, salienta que, em essência, o proces-
so de visualização cartográfica relaciona-se às dualidades:
• Análise versus comunicação.
• Exploração de informações versus apresentação de infor-
mações.
De maneira representativa, MacEachren (1994) desenvolveu
um modelo muito interessante denominado “(cartografia)” – car-
tografia ao cubo.
Esse modelo é baseado em 3 eixos, como veremos a seguir:
• Eixo 1: relacionado à apresentação do conhecido ou des-
cobrimento do desconhecido.

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52 © Cartograia Temática

• Eixo 2: relacionado à interatividade alta e interatividade


baixa.
• Eixo 3: relacionado ao uso público ou privado.
Veja o exemplo apresentado na Figura 3.

Fonte: Maceachren (1994 apud RAMOS, 2001, p. 23).


Figura 3 Cartografia ao cubo.

Podemos considerar, portanto, que o princípio do processo


de visualização cartográfica é a interação existente entre usuário e
mapa. Além disso, a visualização cartográfica preocupa-se de que
forma o mapa será utilizado, quais instrumentos de análise serão
fornecidos, quais mecanismos de exploração serão disponibiliza-
dos e quais combinações de informação o usuário poderá fazer.
Por essas razões, a visualização cartográfica mantém estreita
relação com a cartografia digital, pela infinidade de possibilidades
de desenvolvimento de aplicações interativas.
Desse modo, podemos concluir que a utilização de uma
abordagem cartográfica não é superior à outra, uma vez que a vi-
sualização cartográfica não invalida a comunicação cartográfica,
nem mesmo o inverso. Como ambas possuem objetivos distintos,
© U1 - Fundamentos Teóricos da Cartograia Temática e a Problemática do Termo “Escala” 53

aplicam-se em diferentes situações. Cabe ao pesquisador, ou ao


educador, tendo em vista seus objetivos, escolher a abordagem
cartográfica que melhor se adéque às suas pretensões.
Após compreender a comunicação e a visualização cartográ-
fica, iniciaremos os estudos sobre o universo da cartografia temá-
tica.

6. O DESENVOLVIMENTO DA CARTOGRAFIA TEMÁTI-


CA
Quantos tipos de mapa você já viu?
Ao responder a essa questão podemos nos referir a uma
grande variedade de mapas, tais como mapas em pequena escala
cartográfica, capazes de representar o planeta Terra de uma única
vez (os planisférios), ou, parte de mapas topográficos utilizados
para estabelecer a rota a ser seguida numa trilha ecológica, ou até
mesmo mapas menos técnicos, por exemplo, aqueles que apenas
informam o local da "casa dos seus sonhos", como faz os folders
publicitários distribuídos por construtoras de imóveis e imobiliá-
rias. Já notou quais são as semelhanças entre eles? Ou quais as
suas diferenças?
De maneira geral, podemos dividir a cartografia em dois ra-
mos bastante abrangentes: a cartografia sistemática e a cartogra-
fia temática.

Panorama histórico da cartografia temática


Em meados do século 17, com origem francesa, a cartografia
topográfica, ou de base, caracterizou-se por objetivar a represen-
tação exata e detalhada da superfície terrestre no que se refere à
posição, forma e dimensão das áreas e suas distâncias. Para garan-
tir essa precisão, consideravam-se topográficos apenas os mapas
que se inseriam entre as escalas de 1:10 000 (um para dez mil) e
1:100 000 (um para cem mil).

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54 © Cartograia Temática

Nesses mapas, eram registrados essencialmente os elemen-


tos descritivos do terreno, como a hidrografia, as curvas de nível,
a vegetação e alguns detalhes planimétricos (vias de comunicação,
cercas de propriedades rurais), limites políticos (estados, municí-
pios, distritos, área urbana). Portanto, foram utilizados como um
recurso essencial no traçado de estratégias de cunho militar e or-
ganização do espaço geográfico por conta do Estado.
Além disso, paralelamente à sua utilização, outros mapas se
dedicaram a representar, separadamente, aspectos e fenômenos
particulares da superfície terrestre, de modo que não houvesse
acúmulo de informações sobrepostas em um único mapa.
Por exemplo, se imaginássemos um mapa com uma infini-
dade de informações sobre um mesmo território, como ele seria?
Acompanhe pela Figura 4 como seria sua representação.

Informações temáticas sobre o município X

Pontos turísticos

Glebas Agro-pastoris
C- Cana-de-açúcar
P- Pastagem
L- Laranja
Escolas Públicas

Área urbana

Limite do município X

Curva de nível

Figura 4 Sobreposição de informações.

Como podemos observar, o mapa não é capaz de informar


nada. A solução para este problema, como menciona Joly (2003),
foi bastante simples: multiplicá-los e diversificá-los.
Sobre uma base cartográfica de limites precisos (mapa topo-
gráfico) desenvolveu-se os mapas especializados, tais como: ma-
© U1 - Fundamentos Teóricos da Cartograia Temática e a Problemática do Termo “Escala” 55

pas administrativos, mapas geológicos, mapas pedológicos, mapas


demográficos, mapas industriais, mapas de fluxos, mapas climáti-
cos entre outros.
Como podemos observar, houve a necessidade de tratar es-
tes mapas de uma maneira mais particularizada, pois, apesar de
todo mapa ser especializado naquilo que representa, há diferenças
consideráveis entre os mapas topográficos e os outros. Adotou-
-se, desse modo, o nome de Cartografia Temática para generalizar
todos os mapas que abordassem outro assunto que não fosse a
representação precisa do terreno, mas, sim, a espacialização de
fenômenos diversos e de qualquer natureza sobre o espaço geo-
gráfico (em literaturas mais antigas, observamos, também, o uso
da denominação cartografia geográfica para cartografia temática).
Os mapas temáticos objetivam fornecer uma representação
convencional dos fenômenos localizáveis de qualquer natureza e
de suas correlações, com o auxílio de símbolos qualitativos e/ou
quantitativos dispostos sobre uma base de referência, geralmente
extraída dos mapas topográficos, ou dos mapas de conjunto (JOLY,
2003).
Entretanto, se a intenção do movimento foi dar à cartogra-
fia temática a conotação de um assunto particular, partiu-se da
premissa de que há, em contrapartida, um assunto de conotação
geral. Desse modo, legitimou-se a divisão da cartografia em dois
grandes ramos:
• Cartografia geral – sistemática: descritiva e geométrica.
• Cartografia temática: analítica e explicativa.
Para elucidar melhor as distinções entre os ramos da carto-
grafia, apresentamos um quadro explicativo baseado em Duarte
(1991). Acompanhe a seguir.

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56 © Cartograia Temática

Quadro 1 Caracterização dos segmentos cartográficos.


CARTOGRAFIA SISTEMÁTICA CARTOGRAFIA TEMÁTICA

Mapas topográicos (representação do Mapas temáicos (representação de


terreno) qualquer tema)
Atendem a uma ampla diversidade de
Atendem aos usuários especíicos.
propósitos.
Geralmente os dados são superados com
Podem ser uilizados por muito tempo.
rapidez.
Requerem conhecimento especíico
Não requerem conhecimento especíico
para sua compreensão. Interpretação
para sua compreensão. Leitura simples.
complexa.
Elaborados por pessoas especializadas Geralmente elaborados por pessoas não
em cartograia. especializadas em cartograia.
Uilizam cores de acordo com a
Uilizam cores de acordo com as relações
convenção estabelecida para mapas
entre os dados que apresentam.
topográicos.
Uso de símbolos gráicos, especialmente
Uso generalizado de palavras e números
planejados para facilitar a compreensão
para mostrar os fatos.
de diferenças quanitaivas e qualitaivas.
Sempre servem de base para outras Raramente servem de base para outras
representações. representações.
Fonte: adaptado de Archela (2000); Duarte (1991, p. 22).

A definição de Salichtchev (1977, apud MARTINELLI, 1991, p.


35) apresenta de forma explícita o que a cartografia temática é ca-
paz de oferecer à sociedade, ao mencionar que ela é a “[...] ciência
que trata e investiga a distribuição espacial dos fenômenos natu-
rais e culturais, suas relações e suas mudanças através do tempo,
por meio da representação cartográfica”.
Podemos perceber em sua definição a preocupação com a
reprodução da realidade de forma gráfica e generalizada, que in-
cluem as distribuições espaciais dos fenômenos naturais e sociais.
Refletindo sobre essa definição, Santos (2002) afirma que
ela se aproxima muito da Geografia, visto que nela se apresentam
dois elementos fundamentais para essas ciências: a relação Natu-
reza – Sociedade.
A cartografia, portanto, pode influenciar o geógrafo, o pro-
fessor de Geografia e o estudante de Geografia. Nesse caso, a car-
© U1 - Fundamentos Teóricos da Cartograia Temática e a Problemática do Termo “Escala” 57

tografia deve atuar especialmente como reveladora de informa-


ções geográficas.
Vale salientar que a extensão e a localização, dois dos cinco
princípios da Geografia, evidenciam-se por meio da representação
gráfica.
Por fim, é importante ressaltar que a cartografia temática, da
mesma forma que o processo de representação gráfica, possui uma
função tríplice: registrar/coletar, tratar e comunicar informações.
Nas próximas unidades, aprenderemos cada etapa desse
processo!

7. ESCALA CARTOGRÁFICA X ESCALA GEOGRÁFICA


Conforme discutimos no tópico anterior, a cartografia temá-
tica aproxima-se muito da Geografia. Essa semelhança, portanto,
surge da necessidade de representar e compreender espacial-
mente os fenômenos naturais e culturais que nos cercam, sua aná-
lise e a busca pelo entendimento das correlações.
Um dos elementos que aproximam essas ciências é a escala.
Com base na compreensão dos conteúdos estudados, res-
ponda: qual das imagens a seguir possui a maior escala?

Figura 5 Imagem escala terra Brasil.

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58 © Cartograia Temática

Como podemos notar, a imagem apresentada pela Figura


“B” apresenta uma escala cartográfica maior se comparada à esca-
la da Figura “A”. Acompanhe, agora, o caso a seguir.
Um determinado geógrafo está realizando um estudo sobre
as alterações climáticas nos últimos 100 anos. Sua pesquisa está
dividida em dois momentos distintos. No primeiro momento, ele
faz uma observação geral considerando todo o planeta Terra. Em
um segundo momento, ele aborda apenas as alterações ocorridas
no território brasileiro. Pergunta-se: em qual dos momentos de
sua pesquisa o geógrafo adotou uma escala maior para abordar
seus estudos? É evidente que a imagem apresentada pela Figura
“A” representa maior escala se comparada à da Figura “B”.
A confusão que fazemos para responder a essas questões
está no fato de utilizarmos o termo escala aleatoriamente em nos-
so cotidiano. Como salienta Castro (2003), na Geografia, o raciocí-
nio analógico entre escala cartográfica e escala geográfica dificulta
a problematização deste conceito.
Logo, na verdade, o que se observa é a confusão entre a es-
cala fração matemática e a escala extensão.
Em razão disso, o geógrafo tem dificuldades ao utilizar os
termos "grande" e "pequena" escala para designar superfícies de
tamanhos inversos a esses qualificativos.
Refletindo sobre esse assunto, Castro (2003, p. 119) afirma
que “[...] referir-se ao local como grande escala e ao mundo como
pequena escala é utilizar a fração como base descritiva e analítica,
quando ela é apenas um instrumental”.
O conceito de escala geográfica se contrapõe ao conceito de
escala cartográfica, uma vez que o primeiro se traduz pela amplitu-
de da área geográfica em estudo, ou seja, quanto maior a extensão
da área, maior será a escala geográfica associada.
De acordo com Castro (2003, n.p.): "A análise geográfica dos
fenômenos requer objetivar os espaços na escala em que eles são
percebidos".
© U1 - Fundamentos Teóricos da Cartograia Temática e a Problemática do Termo “Escala” 59

Evidencia-se, assim, o conceito antagônico que é a esca-


la cartográfica. Esta é escolhida apenas para dar visibilidade ao
espaço mediante sua representação. Lembre-se de que, quanto
maior a escala geográfica, menor será a escala cartográfica.
Para elaboração de um projeto de pesquisa, momento em
que decidimos a problemática a ser trabalhada, devemos decidir
também o recorte espacial que iremos abordar. Este recorte irá
variar de acordo com os objetivos de análise, e infraestruturas
disponíveis para realizar a pesquisa. Sobre esse contexto, Castro
(2003) comenta que os gregos já haviam afirmado que quando o
tamanho muda, as coisas mudam, e que na relação entre fenô-
menos e tamanho não se transferem leis de um tamanho a outro
sem problemas. O recorte espacial refere-se à escala geográfica,
posteriormente, em função dela, será determinada a escala carto-
gráfica, que dará apenas visibilidade ao fenômeno.
Para complementar nossa compreensão, acompanharemos,
no próximo tópico, como obter a escala cartográfica adequada
para dar visibilidade a um fenômeno, mediante um recorte espa-
cial definido. A partir de agora, será necessário utilizar as expres-
sões completas, como "escala cartográfica" e "escala geográfica",
para que não haja confusões entre esses conceitos (distintos).

8. DETERMINAÇÃO DA ESCALA NUMÉRICA E A GE-


NERALIZAÇÃO CARTOGRÁFICA
Ao apresentar um mapa que contenha informações precisas,
como, por exemplo, um mapa de “uso do solo e cobertura vege-
tal”, disposto na Figura 6, devemos ter o cuidado em representar
todos os elementos que deverão ser propostos para a escala carto-
gráfica sugerida, ou seja, não podemos omitir informações, e nem
mesmo apresentá-las em excesso. Vejamos.

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60 © Cartograia Temática

Figura 6 Mapa de uso do solo e cobertura vegetal.

Dessa forma, é importante prever qual é o menor


elemento a ser cartografado, para garantir a sua presença no
© U1 - Fundamentos Teóricos da Cartograia Temática e a Problemática do Termo “Escala” 61

mapa, desprezando os elementos inferiores, de modo que não


haja excesso de informação. Esta tarefa pode ser alcançada
considerando a precisão gráfica do mapa.
Retomemos o exemplo do mapa de uso e de cobertura
do solo. Já delimitada a porção da superfície terrestre a ser
representada cartograficamente (uma bacia hidrográfica, por
exemplo), decidimos que o menor elemento de nosso interesse
que será representado são formações arbóreas, cujo diâmetro
de seu dossel é de 10 metros. Ou seja, na visão vertical (visão
cartográfica), o menor objeto a ser representado é um elemento
de 10 metros.
Como indicado pelo IBGE, o menor comprimento gráfico que
se pode representar em um desenho é um ponto com diâmetro
igual ou superior a 0,2mm.
A medida de 0,2mm ficou estabelecida como erro gráfico –
o menor ponto perceptível pelo homem. Assim, partindo de uma
escala cartográfica definida, pode-se determinar o erro admissível
ou erro tolerável para um determinado elemento, que é calculado
da seguinte forma:
Et = 0,0002m * M
Onde:
• Et = Erro tolerável, em metros.
• M = Denominador da escala numérica.
Acompanhe o seguinte caso: na escala cartográfica de 1:1
(dimensão real), temos a capacidade fisiológica de enxergar um
ponto com 0,0002m de diâmetro. Ao diminuirmos a escala carto-
gráfica, como faz qualquer mapa (pois todo mapa é uma redução
da realidade), esse valor precisa ser reajustado para que possamos
enxergá-lo. Logo, ao reduzirmos a escala cartográfica de 1:1 para
1:10 000 (um para dez mil), por exemplo, devemos ajustar o valor
0,0002m em:

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62 © Cartograia Temática

1) Escala cartográfica 1:1 – Dimensão real.


a) Et = 0,0002m * M
b) Et = 0,0002*1
c) Et = 0,0002
2) Escala cartográfica 1:10 000 – Redução do Real.
a) Et = 0,0002m * M
b) Et = 0,0002m * 10 000
c) Et = 2m.
Isso significa que, se tivermos o valor da escala numérica, é
possível obter o erro tolerável do mapa.
Da fórmula apresentada, obtém-se que:
M = Et / 0,0002
Retornando ao exemplo do mapa e sabendo-se que o me-
nor objeto a ser mapeado é de 10m, a menor escala que se deve
adotar sem que haja a necessidade de utilizar uma simbologia ou
convenção cartográfica é:
• M = 10 / 0,0002
• M = 50 000
Logo, a escala cartográfica adota para satisfazer às conside-
rações iniciais deste exemplo é de 1:50 000 ou maior.
Os acidentes geográficos, cujas dimensões forem menores
que os valores dos erros de tolerância, não deverão ser represen-
tados graficamente. No caso, seria necessário utilizar-se conven-
ções cartográficas, cujos símbolos irão ocupar, no desenho, dimen-
sões independentes da escala.

Generalização cartográfica
A escolha e a conveniência da escala a ser utilizada depende-
rão das dimensões da porção do território que se queira mapear,
bem como do objetivo do mapa.
© U1 - Fundamentos Teóricos da Cartograia Temática e a Problemática do Termo “Escala” 63

Tais fatores irão determinar a quantidade dos detalhes que


se deseja visualizar baseando-se em suas dimensões reais.
A decisão quanto ao nível de detalhamento ou quantidade
de informações contidas em um mapa é denominada generaliza-
ção.
A generalização, portanto, corresponde ao grau de minucio-
sidade dos detalhes representados, distinguindo-se daquilo que é
essencial e adaptando os elementos quantitativos e qualitativos
de tal forma que não prejudique tanto a clareza e apresentação,
quanto à precisão da informação.

9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Para finalizar, sugerimos que você faça uma síntese dos con-
teúdos estudados nesta unidade, procurando responder para si
mesmo:
1) O que faz a Cartografia? Como ela pode ser útil para a sociedade?

2) O que representam, para Cartografia, a ciência, a arte e a técnica?

3) A Cartografia pode ser considerada uma linguagem? Justifique.

4) A escala cartográfica apresenta diferenças em relação à escala geográfica.


Uma depende da outra?

5) Pesquise as diferenças entre as características monossêmicas e polissêmi-


cas de uma imagem e responda: as fotografias que tiramos em nosso dia a
dia são monossêmicas ou polissêmicas? Qual a importância de uma imagem
monossêmica?

10. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, foram apresentados os principais conceitos
sobre a cartografia.
Poderíamos nos estender e apresentar outras abordagens
além da comunicação cartográfica, e da visualização. Contudo,

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64 © Cartograia Temática

nosso objetivo não é esgotar o tema, e sim abrir o caminho para


que possamos ter uma visão crítica e buscarmos conhecimentos
cientificamente válidos.
O mapa deve ser visto mais a fundo. A partir de agora já po-
demos conceber o mapa como um instrumento de descobertas e
de comunicação a serviço de um saber ou de uma ação.
Com objetivos um pouco mais específicos dentro da ciência
cartográfica, convidamos você a estudar, na Unidade 2, o processo
de construção da sua linguagem.

11. E-REFERÊNCIAS
ICACI – ASSOCIAÇÃO CARTOGRÁFICA INTERNACIONAL. Home page. Disponível em:
<http://icaci.org/>. Acesso em: 27 mar. 2012.
IBGE. Noções básicas de cartografia. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/
geociencias/cartografia/manual_nocoes/representacao.html>. Acesso em: 27 mar. 2012.

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ALMEIDA, R. C. Dicionário etimológico da língua portuguesa. Brasília: s. n., 1980.
ARCHELA, R. S. Análise da cartografia brasileira: bibliografia da cartografia na geografia
no período de 1935-1997. São Paulo: USP, 2000. (Tese de Doutorado).
CASTRO, I. E. O problema da escala. In: CASTRO, I. E.; GOMES, P. C. C.; CORRÊA, R. L.
Geografia: conceitos e temas. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2003.
DUARTE, P. A. Cartografia temática. Florianópolis: UFSC, 1991.
______. Fundamentos de cartografia. Florianópolis: UFSC, 2002.
HOUAISS, A.; VILLAR, M. S.; FRANCO, F. M. M. Dicionário Houaiss da língua portuguesa.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
JOLY, F. A Cartografia. Campinas: Papirus, 2003.
MACEACHREN, A. M. Visualization in modern cartography: Setting the Agenda, In:
MACEACHREN, A. M.; TAYLOR, D. R. F. (Eds.). Visualization in Modern Cartography.
Oxford: Pergamon, 1994.
MARTINELLI, M. Curso de cartografia temática. São Paulo: Contexto, 1991.
MATIAS, L. F. Por uma Cartografia Geográfica – uma análise da representação gráfica na
Geografia. São Paulo: USP, 1996.
© U1 - Fundamentos Teóricos da Cartograia Temática e a Problemática do Termo “Escala” 65

RAMOS, C. S. Visualização Cartográfica: possibilidades de desenvolvimento em meio


digital. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 2001. (Dissertação de Mestrado).
SANTOS, C. A Cartografia Temática no ensino médio de Geografia: a relevância da
representação gráfica do relevo. São Paulo: USP, 2002. (Dissertação de Mestrado).
SLOCUM, T. A. Thematic Cartography and Visualization. New Jersey: Prentice Hall, 1998.

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EAD
Os Mapas Sob a Ótica
da Comunicação
Visual
2
1. OBJETIVOS
• Identificar e conhecer os elementos essenciais para dia-
gramação cartográfica.
• Compreender e analisar a natureza da informação espa-
cial.
• Compreender e avaliar as regras básicas para a represen-
tação temática da informação espacial.

2. CONTEÚDOS
• Modos de implementação: pontual, linear, zonal.
• Escalas de mensuração estatística: nominal, ordinal, in-
tervalar, razão.
• Níveis de organização cartográfica: associativo, seletivo,
ordenado, quantitativo.
68 © Cartograia Temática

• Aplicação das variáveis visuais na representação cartográ-


fica: forma, tamanho, orientação, cor, valor e granulação.
• Fenômenos contínuos e Fenômenos discretos.
• Simbologia cartográfica.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


1) Fique atento aos fatos de seu cotidiano que podem ser
apropriados pela cartografia temática e reflita sobre
como representá-los num mapa. Esse tipo de exercício
o ajudará a incorporar os procedimentos cartográficos,
e isso se converterá em atividade habitual. Assim, vários
dos elementos apresentados nesta unidade não precisa-
rão ser memorizados, pois serão facilmente assimilados
por você.
2) Preocupe-se em estabelecer uma relação lógica entre
a natureza da informação e as possibilidades existentes
para representação gráfica dos elementos geográficos.
Nessa etapa do trabalho cartográfico, a criatividade é
fundamental; no entanto, ela é dependente do seu nível
de conhecimento teórico.
3) Atente-se para o uso da palavra espaço. Ela possui um
conteúdo diferenciado para os geógrafos. Portanto,
aprofunde seus estudos sobre as diversas correntes geo-
gráficas e suas respectivas concepções de espaço.
4) É importante que você se familiarize com as nomencla-
turas utilizadas tanto pela Estatística como pela Semio-
logia Gráfica, pois alguns livros de Cartografia empregam
ambos os termos.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, conhecemos as principais teorias que
regem a Cartografia, e o modo como se insere no processo de co-
municação visual, por meio de sua linguagem própria.
© U2 - Os Mapas Sob a Ótica da Comunicação Visual 69

Além disso, conhecemos as diferentes acepções da palavra


escala em seu âmbito cartográfico e geográfico. Destacou-se, tam-
bém, o fato de que é importante partimos do estudo do fenôme-
no, natural ou social, na escala geográfica em que eles são perce-
bidos, para posteriormente chegarmos a uma escala cartográfica
adequada, que dê visibilidade ao fenômeno.
Na Unidade 2, iniciaremos o estudo da "gramática" da lin-
guagem cartográfica. Teremos aqui um longo caminho pela frente.
Além disso, conheceremos as diretrizes que norteiam a elaboração
dos mapas, em função da natureza da informação que se deseja
representar.
O aprendizado de sua linguagem em bases sólidas conferirá
a você um grande diferencial em seu campo profissional. O enten-
dimento da dinâmica da linguagem permitirá criticar (construtiva-
mente ou não) qualquer produto da representação gráfica.
Logo, esta unidade é fundamental para todo restante do cur-
so. Ela é pré-requisito para as próximas unidades. Dessa forma, é
importante que você se dedique à leitura, à realização dos exercí-
cios e à discussão sobre as dificuldades encontradas.
Vamos lá?

5. TRADUÇÃO GRÁFICA
Para iniciarmos os estudos desta unidade, é importante re-
lembrar a definição de Cartografia Temática, vejamos:
A Cartografia Temática é o ramo da cartografia que se preo-
cupa com a representação espacial de fenômenos Geográficos. Ou
seja, sua preocupação é transcrever para o mapa tudo aquilo que
possui dimensão espacial (SALICHTCHEV, 1977 apud MARTINELLI,
1991, p. 35).
Para facilitar nossos estudos, aceitaremos quatro regras bá-
sicas propostas por Duarte (1991), as quais serão tomadas como

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70 © Cartograia Temática

"leis" na representação gráfica, mais precisamente para a repre-


sentação temática.
1) Um fenômeno se traduz por um sinal, e só um.
2) Um valor forte ou fraco se traduz por um sinal forte ou
fraco, respectivamente.
3) As variações qualitativas se traduzem pela variação da
forma dos sinais.
4) As variações quantitativas traduzem-se pela variação do
tamanho e/ou intensidade dos sinais.
No decorrer desta unidade, abordaremos cada uma das leis
da representação temática.

Compreendendo a natureza da informação espacial – Semiologia


Gráfica
Devemos considerar uma série de fatores que são prelimina-
res à elaboração do produto final, o mapa. Dessa forma, as etapas
preliminares visam à análise da natureza da informação espacial, e
sua melhor representação.
Segundo Bertin (1967), a representação cartográfica eficien-
te deve ser construída para possibilitar a visão do fenômeno re-
presentado, e não sua leitura, ou seja, quanto mais “natural” for a
apreensão do fenômeno representado, mais eficiente será a ima-
gem gráfica.
Visando à pesquisa de novas formas de representação grá-
fica, Bertin (1967) criou, então, a semiologia gráfica, que é uma
linha de pesquisa na qual se busca a compreensão da natureza da
informação para viabilizar a melhor representação, por meio do
conhecimento e aplicação dos princípios de linguagem visual, o
que torna sua apreensão imediata.
Desse modo, Bertin (1967), em sua teoria, afirma que a re-
presentação gráfica tem por base transcrever visualmente três
relações lógicas fundamentais que podem se estabelecer entre
objetos.
© U2 - Os Mapas Sob a Ótica da Comunicação Visual 71

• Diversidade (≠) /similaridade (=).


• Ordem (O).
• Proporção (Q).
Essas relações, descritas anteriormente entre objetos, de-
vem ser transcritas graficamente por relações visuais de mesma
natureza. Vejamos:
• A diversidade entre objetos deve ser representada por
uma diversidade visual.
• A ordem, por uma ordem visual.
• A proporção, mediante uma proporção visual.
Desse modo, tanto o emissor quanto o receptor têm uma
única interpretação dos fatos representados.
Com esse processo, Bertin (1967) afirma que se efetiva o es-
quema de comunicação monossêmica, o qual se refere à expres-
são que remete a um mesmo sentido. O signo monossêmico é fe-
chado, impede uma leitura plural. Cada significado corresponde a
um único significante.
Na semiologia gráfica, a relação entre objetos é tratada pelo
nível de organização. Ele transcreve a relação que existe entre os
objetos de um determinado tema. A compreensão dessa relação é
fundamental para selecionar apropriadamente a melhor forma de
se representar graficamente os dados. Vale dizer, neste contexto,
que o conceito de nível de organização utilizado pela semiologia
gráfica é correlato ao conceito de escala de mensuração, muito
utilizado pela Estatística.
Contudo, a nomenclatura usada para semiologia gráfica foi
adequada da estatística, visando atender aos seus propósitos.
Dessa forma, temos que (Tabela 1):

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72 © Cartograia Temática

Tabela 1 Classificação da natureza da informação.


Estatística Semiologia Gráfica
(Escala de mensuração) (Nível de Organização) Síntese descritiva das
relações entre objetos
Relações entre objetos
É caracterizada por objetos
ou fenômenos que apenas
Associativo (Ξ) têm relação de igualdade
Nominal
Seletivo (≠) ou diferença mútua, por
exemplo: tipos de biomas;
unidades pedológicas.
É caracterizada por
elementos que guardam
relação de grandeza
ou hierarquia entre si,
podendo, portanto,
Ordinal Ordenado (O)
organizar-se de forma
crescente ou decrescente:
Classes sociais; degradação
ambiental – baixa, média,
alta; hierarquia urbana.
A mesma característica da
escala ordinal, porém, os
dados estão organizados
em intervalo de classes
pré-definidas, e o "ponto
Intervalar
zero" nesta escala não
significa ausência do
fenômeno: Altimetria
do relevo; classes de
declividade; faixa etária.
Quantitativo(Q)
Igual à intervalar, porém,
o ponto zero significa
ausência do fenômeno:
Número de mortes entre
crianças de até um ano
Razão
de idade; presença de
casos de dengue; número
de crimes cometidos
com arma de fogo por
bairro de uma cidade.
Fonte: adaptado de Ramos (2001, p. 64).
© U2 - Os Mapas Sob a Ótica da Comunicação Visual 73

A escolha dos níveis de organização significará, no mapa, a


escolha do nível da informação que o redator do mapa pretenderá
transmitir ao receptor.

Planejamento do documento cartográfico


Para compreender a representação gráfica nesse contexto, é
importante observar como ocorre o processo que envolve a cria-
ção da imagem.
A representação gráfica se expressa mediante a construção
de uma imagem. A criação da imagem visual é, inevitavelmente,
realizada sobre as duas dimensões do plano cartesiano (X, Y). Esse
binômio determina a localização geográfica da informação (X – la-
titude; Y – longitude), e permite que se identifique a distância e a
orientação da informação.
A terceira dimensão visual (Z) representa a tradução gráfi-
ca assumida pelo fenômeno na imagem. Acompanhe a ilustração
pela Figura 1.

X e Y são as duas
Z é a variação da
dimensões do plano na
mancha inscrita na
folha de papel, definem
posição (X:, Y:)
a posição (X:, Y:) da
mancha elementar

Fonte: Martinelli (1991, p. 3).


Figura 1 Plano cartesiano e a tradução gráfica.

O produto dos eixos X e Y, (a área), determina uma super-


fície. Dessa forma, considera-se o plano cartográfico como uma

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74 © Cartograia Temática

superfície de propriedades métricas consideráveis. Assim, a obser-


vação do mapa permite, de antemão, que a primeira compreensão
que se tenha dele seja uma mensagem de localização.
Já a dimensão "Z" é denominada de componente de qualifi-
cação. É na verdade um sinal que traduz as características quanti-
tativas e/ou qualitativa de um objeto, ou fenômeno real.
Traduzir graficamente uma informação, segundo Duarte
(1991), significa transformar dados descritivos (ou tabulares) em
alguma forma de representação gráfica, tais como: mapas ou dia-
gramas. Para tanto, é necessário compreender como ocorre o fe-
nômeno no espaço, e, assim, escolher o melhor símbolo que o re-
presente no papel.
Determinados quais fenômenos serão representados no
mapa (cidade, ruas, formações vegetais, lagos, população, distri-
buição de renda etc.), e tendo por referência a escala cartográfica
que se irá trabalhar, é possível prever o modo de implantação do
sinal (fenômeno) sobre o plano cartográfico.
Os modos de implantação podem ser definidos da seguinte
forma:
• Implantação pontual: quando a superfície ocupada é in-
significante, mas localizável com precisão. Entre exem-
plos, podemos destacar cidades, casas, indústrias, coor-
denadas informadas pelo GPS, ocorrências de fenômenos
etc. Estes símbolos transmitem a ideia de localização
exata no território, podendo ser usado o próprio ponto,
ou até mesmo figuras geométricas, convenções cartográ-
ficas, enfim, variados códigos, de preferência, fechados
(posto de gasolina, avião, casa, entre outros).
• Implantação linear: quando sua largura é desprezível
em relação ao seu comprimento, apesar disso, pode ser
traçado com exatidão. Como exemplo, podemos citar as
estradas, rodovias, ferrovias, rios, correntes marinhas, li-
mites de propriedades, limites políticos etc.
© U2 - Os Mapas Sob a Ótica da Comunicação Visual 75

• Implantação zonal: quando cobre no terreno uma su-


perfície suficiente para ser representada sobre o mapa.
Transmite a ideia de distribuição espacial do fenômeno.
Alguns temas que podem ser retratados por meio da im-
plantação zonal são as unidades de solo, biomas, climas,
densidade demográfica, bacias hidrográficas, entre ou-
tros.
Os modos de implantação variarão em função da escala car-
tográfica adotada no mapa. Por exemplo, o modo de implantação
zonal utilizado para representar as cidades em uma carta em es-
cala de 1: 50 000, na qual são esboçados os contornos da área
urbana, terá de ser ajustado para o modo de implantação pontual
se houver uma redução da escala cartográfica. No entanto, não
será possível representar o objeto com a riqueza de seus detalhes,
embora possamos pontuá-lo precisamente no plano cartográfico.

Fenômenos Contínuos x Fenômenos Discretos


Como discutimos, de maneira geral, toda a teoria inerente à
cartografia temática baseia-se em três modos de implantação da
informação: pontual, linear e areal (zonal). Contudo, existe outra
discussão implícita à representação gráfica, relacionada à nature-
za do fenômeno geográfico, que pode ser contínuo ou discreto,
abrupto ou suave.
Temos que:
• Fenômeno discreto: compreende um fenômeno, ou um
atributo, que ocorre em posições distintas, com um espa-
ço vazio entre estas posições. Ou seja, o espaço vazio é o
espaço em que o fenômeno ou atributo não existe. Pode-
mos citar como exemplo a população urbana, nesse caso
são encontrados "vazios" demográficos nas áreas rurais
em função da grande concentração existente nas áreas
urbanas. A produção agrícola, também, exemplifica esta
situação, uma vez que a produção agrícola de diferentes
produtos varia seus cultivos ao longo do espaço.

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76 © Cartograia Temática

• Fenômeno contínuo: compreende um fenômeno que


ocorre continuamente ao longo do espaço, sem interrup-
ção ou lacuna, ou seja, um fenômeno, ou atributo, contí-
nuo ocorre em todo o lugar, embora seu valor varie. São
exemplos a temperatura, a pressão atmosférica, a densi-
dade demográfica, a produtividade agrícola. Estes últimos
são considerados contínuos, pois constituem índices em
que o valor total é divido por unidades de área, o que ca-
racteriza a continuidade espacial.
Segundo Slocum (1998), os fenômenos (contínuos ou discre-
tos) podem ser abruptos ou suaves. O fenômeno suave é aquele
cujos valores modificam-se ao longo do espaço, enquanto nos fe-
nômenos abruptos as mudanças dos valores são mais bruscas. A
distribuição das indústrias no estado de São Paulo pode ser con-
siderada um exemplo de fenômeno abrupto, pois há uma expres-
siva concentração industrial nessa região. Em contrapartida, nos
demais municípios, a distribuição é mais uniforme.
De maneira geral, fenômenos abruptos ou suaves são mais
facilmente associados a fenômenos contínuos, no entanto, os dis-
cretos também podem ter esta conotação.
Todavia, para que o mapa obtenha o resultado esperado
pelo remetente, há formas visuais incorporadas aos modos de
implantação que viabilizam a assimilação da mensagem pelo re-
ceptor. São as chamadas variáveis visuais, que são definidas em
função da mensagem que se pretende transmitir ao destinatário.
Considera-se variável visual toda a diversificação imposta
aos símbolos de modo a traduzir uma informação para a lingua-
gem gráfica. Bertin (1967) definiu as seguintes variáveis visuais, o
tamanho, a intensidade (valor), a granulação, a cor, a orientação e
a forma.
No tópico seguinte, veremos particularmente as especifici-
dades de cada variável visual.
© U2 - Os Mapas Sob a Ótica da Comunicação Visual 77

6. VARIÁVEIS VISUAIS
Conhecemos, até o momento, a necessidade da compreen-
são da natureza da informação espacial, decifrando a relação entre
objetos (similaridade/diversidade, de ordem e de proporcionali-
dade) para, assim, optar pela melhor forma de transcrevê-la para
o mapa. Para viabilizar esse processo, foram apresentadas as três
dimensões do plano para a construção do mapa, retomemos:
• A dimensão "X e Y": responsáveis pela localização geográ-
fica e orientação do fenômeno na superfície representa-
da.
• A dimensão "Z": variação visual da mancha que trans-
crevemos no plano, responsável pela percepção da men-
sagem pelo destinatário, pode assumir três significados
variáveis em função do fenômeno observado: ponto, li-
nha e zona (superfície). Cada um desses significados pode
sofrer variações visuais, tais como: tamanho, intensidade
(valor), granulação, cor, orientação e forma.
Estudaremos agora, apoiados nas descrições de Duarte
(2002), as principais características de cada variável visual (ou va-
riáveis retinianas). No entanto, abordaremos com maior ênfase a
variável visual cor, atualmente muito utilizada em função das pos-
sibilidades oferecidas pelo universo digital. Vejamos.

Tamanho
O tamanho compreende a variação da dimensão dos símbo-
los (altura, largura, profundidade), permitindo que sejam extraídas
informações sobre a grandeza dos componentes do mapa. Esta é a
variável mais apropriada quando se pretende transmitir um nível
de informação quantitativo (Q). Observe a ilustração pela Figura 2.

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78 © Cartograia Temática

Fonte: Martinelli (1991, n. p.).


Figura 2 Tamanho.

Valor (intensidade)
A variável valor, consiste na diversificação da tonalidade de
uma cor, quando valores fortes e fracos são representados, respec-
tivamente, por tons escuros e claros, ou seja, variação do preto ao
branco (ou de qualquer outra variação tonal). Essa variável é dis-
sociativa, pois dissocia qualquer outra variável com a qual ela pode
combinar. Vale destacar que, no caso de uma só tinta, a técnica de
degrade é que mostrará a intensidade do fenômeno. Acompanhe
a demonstração dessa variável por meio da Figura 3.

Fonte: Martinelli (1991, n. p.).


Figura 3 Valor.

A variação de valores fracos e fortes por tonalidades claras


e escuras vale para todas as relações ordenadas ou quantitativas.
Por exemplo, se representássemos a expansão da área urbana de
uma cidade, os bairros mais antigos seriam representados por co-
res mais claras, e os bairros mais recentes seriam indicados por va-
lores mais escuros. A sequência de cores segue uma ordem lógica
já definida, que será apresentada posteriormente.
© U2 - Os Mapas Sob a Ótica da Comunicação Visual 79

Granulação (Textura)
Esta opção é pouco usada, e se assemelha à variável valor,
porém definida como uma variação de tamanho de elementos fi-
gurados, sem modificação da proporção de cor. É obtida a partir
do tamanho e espaçamento das primitivas gráficas ponto e linha.
Nesse caso, as linhas apresentam sempre a mesma direção, va-
riando apenas o espaçamento ou a espessura, capaz de transmitir
a sensação de diferentes valores. Veja mediante a Figura 4 a vari-
ável granulação.

Fonte: Martinelli (1991, n. p.).


Figura 4 Granulação.

Cor
A cor é uma variável seletiva que mais se empregada nas re-
presentações, juntamente com as variáveis tamanho e valor. Ela
pode ser usada para agrupar objetos pertencentes a uma mesma
classe ou distinguir grupos de formas semelhantes, ou ainda suge-
rir noções de hierarquia a elas. É uma variável muito importante
e complexa, principalmente devido à intensificação de seu uso e
à utilização dos recursos dos softwares gráficos que são aprimo-
rados constantemente. Além disso, em termos de manuseio, ela
é a mais delicada, pois contém maior número de conceitos, o que
dificulta o seu uso. Em função dessas características, a variável cor
será analisada com mais profundamente logo adiante.
Acompanhe pela Figura 5 a disposição da variável cor.

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80 © Cartograia Temática

Fonte: Martinelli (1991, n. p.).


Figura 5 Cor.

Orientação
A orientação (Figura 6) é aplicada como linhas e formas alon-
gadas, a variação na direção das linhas que preenchem a área é
obrigatória, mas a distância entre elas deve ser a mesma. Além dis-
so, esta variável corresponde à inclinação do traço nas representa-
ções em uma só linha, quando então usamos hachuras e tramas.
Loch (2006) considera que as diferentes direções assumidas
pelas linhas são: vertical, horizontal e inclinada (45°).

Fonte: Martinelli (1991, n. p.).


Figura 6 Orientação.

Forma
Trata-se do efeito ou da configuração dos símbolos, podendo
ser usadas variações geométricas, combinações de traços e figuras,
além de símbolos evocativos. Neste caso, devemos prestar aten-
ção às convenções cartográficas adotadas para representação de
determinados temas e objetos, como, por exemplo, a mineração
representada por dois martelos cruzados, aeroporto pelo símbolo
de um avião, entre outros. E por fim a forma (Figura 7) representa
uma variável ideal para diferenciar inúmeros caracteres, ou seja,
para diferenciar dados qualitativos. Vejamos:
© U2 - Os Mapas Sob a Ótica da Comunicação Visual 81

Fonte: Martinelli (1991, n. p.).


Figura 7 Forma.

De acordo com Joly (2003), cada uma dessas variáveis tem


suas propriedades perceptivas, no entanto, nenhuma delas pos-
sui todas as propriedades ao mesmo tempo. Em contrapartida, é
possível combinar muitas variáveis num mesmo ponto no plano
para caracterizar várias qualidades de um mesmo objeto, como,
por exemplo, a forma mais a cor.
Martinelli (1991) destaca que as seis variáveis visuais mais as
duas dimensões do plano têm propriedades perceptivas necessá-
rias para uma adequada transcrição gráfica que deve ser conside-
rada para traduzir adequadamente as três relações fundamentais
entre objetos, a relação de similaridade e diversidade, de ordem e
de proporcionalidade.
Com base nos conceitos descritos anteriormente, vejamos o
quadro proposto por Bertin (1967) (Figura 8), que sugere que estes
elementos sejam memorizados pelo redator gráfico.

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82 © Cartograia Temática

Fonte: Cardoso (1984, n. p.).


Figura 8 Quadro das variáveis visuais.

7. FUNDAMENTOS E APLICAÇÕES DA VARIÁVEL VI-


SUAL COR
Inicialmente, identificaremos a natureza das cores para de-
pois compreendermos sua relação com a Cartografia.
De acordo com Farina (1986), a cor não existe por si só, na
realidade ela é uma sensação, ou uma realidade sensorial. Ou seja,
o que percebemos é apenas a reflexão de parte da radiação ele-
tromagnética (REM), proveniente de determinada fonte, que pode
ser natural, como o sol, ou qualquer outra fonte artificial que emi-
ta luz visível, como uma lâmpada. A luz visível que incide sobre
a superfície da terra, ao interagir com a matéria, tem uma parte
absorvida e outra, refletida, sendo que esta última é interceptada
por nossos olhos.
A porção do espectro eletromagnético, à qual nossos olhos
são sensíveis, ou seja, podemos enxergar, é denominada de faixa do
visível e representa uma pequena faixa espectral que varia do viole-
ta ao vermelho (380 a 760 nanômetros), e cada cor corresponde a
um intervalo espectral. Observe essa descrição na Tabela 2.
© U2 - Os Mapas Sob a Ótica da Comunicação Visual 83

Tabela 2 Distribuição espectral da região do visível.


MATIZ FAIXA ESPECTRAL (NM)
Violeta 380 - 450
Ciano 450 – 500

Verde 500 – 570

Amarelo 570 – 590

Laranja 590 – 610

Vermelho 610 - 760


Fonte: adaptado de Meneses e Madeira Neto (2001, p. 12).

Com base na disposição da Tabela 2, podemos observar que


o espectro eletromagnético representa a distribuição da radiação
eletromagnética por regiões, segundo o comprimento de onda e
frequência, que abrange desde curtos comprimentos, que carac-
terizam a alta frequência, até longos comprimentos ou de baixa
frequência.
Além disso, observa-se a existência de radiação fora da faixa
do espectro visível. Essa radiação é invisível a olho nu, entretanto,
determinados comprimentos de onda podem ser vistos por meio
de outras formas de registros da REM (como fotografias e ima-
gens).
O sensoriamento remoto é a ciência responsável por estes
registros. Ou seja, o sensoriamento remoto possibilita adquirir da-
dos a distância, sem contato físico com o objeto de estudo. Pode-
mos citar como exemplo a máquina de raio X. Quando sofremos
uma fratura óssea e tiramos uma radiografia da região desejada, o
que vemos é a imagem obtida através da reflexão do raio X (invisí-
vel a olho nu) sobre a estrutura óssea, mas que pode ser registrado
por sistemas que possuem sensibilidade a esta faixa do espectro,
que é capaz de registrar a radiação como se fosse uma máquina
fotográfica trabalhando com a luz visível. Outro exemplo são os
satélites artificiais que orbitam sobre a Terra. Seus sensores pos-
suem sensibilidade para registrar a energia refletida em diversos
comprimentos de onda, como o infra-vermelho, entre outras.

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84 © Cartograia Temática

Concluímos, portanto, que olho e cérebro humanos consti-


tuem-se num sistema sensível a REM na faixa visível, e para a vi-
sualização dos outros comprimentos espectrais, há determinados
sistemas artificiais.
Como ocorre, então, o processo de percepção da luz pelo
olho?
De maneira geral, pode-se dizer que a luz visível é captada
por nosso sistema ocular, transformada em impulsos elétricos para
posteriormente ser transferida ao cérebro, a cor é, portanto, um
produto do processamento mental da faixa visível da REM. Nota-
-se que a cor é subjetiva, pois depende da sensibilidade e percep-
ção de cada indivíduo.
Enquanto produto do processamento mental, a cor, quan-
do interpretada pelo cérebro, tem a capacidade de desencadear
diversas reações emocionais e fisiológicas no indivíduo. Algumas
experiências psicológicas têm provado que há uma reação física
do indivíduo diante da cor. A premissa de que o estímulo provo-
cado por determinadas cores conduzem a determinadas reações
fisiológicas levou hospitais a adotarem as cores como técnica au-
xiliar no tratamento de patologias. O hospital das clínicas em São
Paulo-SP, por exemplo, pintou as paredes do ambulatório infantil
de azul claro, obtendo bons resultados no sentido de recuperação
dos pacientes e melhora de estima, uma vez que esse tom de azul
é capaz de provocar a diminuição do ritmo cardíaco e da respira-
ção, proporcionando a sensação de bem-estar ao indivíduo.
Também é com base nas reações fisiológicas causadas pelas
cores que as propagandas e o marketing em geral se assentam. As
cores expostas de forma isoladas ou combinadas são capazes de
despertar desejos como fome, sede, consumo, sensação de bem-
-estar, irritação, excitação, relaxamento, volume, distância, proxi-
midade etc. Logo, a escolha das cores não é aleatória, pois existe
uma ordem natural que rege a harmonia para o uso das cores, e
esta ordem está intimamente ligada à distribuição espectral das
cores.
© U2 - Os Mapas Sob a Ótica da Comunicação Visual 85

A Cartografia, na busca de aprimorar a linguagem monos-


sêmica, utiliza a disposição das cores a seu favor. O intuito é o de
facilitar a comunicação entre o redator do mapa e o receptor da
mensagem, além de tornar a leitura do mapa uma tarefa agradá-
vel.
Para a aplicação desse mecanismo na cartografia, é necessá-
rio compreender alguns aspectos relativos ao uso das cores.
Na Cartografia Temática tanto na aplicação das cores como
na de qualquer outra simbologia há diretrizes sugeridas que res-
paldam o redator para a aplicação das variáveis. No entanto, em
grande parte, o importante é que os mapas sejam elaborados me-
diante o bom senso do redator.
Quando se trabalha com cores, segundo autores como Mc-
Cleary (1983), Morrison (1984), DiBiase et al. (1991) e MacEachren
(1994), citados por Slocum (1998), complementando os estudos
de Bertin (1977), acrescentam como variáveis visuais para mapas
coloridos as dimensões da cor: matiz, brilho e saturação. Vejamos.
• Matiz (Tom): é o atributo associado ao comprimento de
onda dominante. Assim, o matiz representa a cor domi-
nante. Quando nos referimos a um objeto como verme-
lho, azul ou verde, estamos nos referindo ao matiz. Se-
gundo Martinelli (1991), o matiz está associado a uma
radiação espectral pura, correspondendo a um único in-
tervalo espectral. É a cor pura.
• Saturação: refere-se à pureza relativa, ou seja, a satura-
ção ocorre quando a cor se afasta da cor neutra. Essa sen-
sação é proporcionada pela quantidade de cinza mistura-
da à cor. Quanto mais saturada a cor, menor a presença
de cinza. É a variação que assume um mesmo matiz.
• Brilho (luminosidade): indica a quantidade de branco in-
serida em cada matiz, ou a quantidade de energia refle-
tida.

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86 © Cartograia Temática

O uso das cores no mapa deve ser considerado em conjun-


to com os elementos que compõem o produto cartográfico, que
proporcione um resultado perceptivelmente harmonioso, leve aos
olhos de quem o vê.
Diante dos detalhes apresentados, é de fundamental impor-
tância conhecer as cores mais profundamente, a fim de que possa-
mos contribuir para a elaboração de mapas mais eficientes.

Cores primárias, secundárias e terciárias


Ao mencionar a classificação das cores em primárias e se-
cundárias, torna-se necessário levar em consideração o processo
de formação da cor. Vimos anteriormente que a luz é fundamental
para a percepção da cor, uma vez que as cores só existem e só são
vistas com a presença da luz. Dessa forma, será essencial abordar
os conceitos de cor-pigmento e da cor-luz.
A cor-pigmento é a substância usada para imitar os fenôme-
nos da cor-luz. Cores que podem ser extraídas da natureza, como
materiais de origem vegetal, animal ou mineral, e que da sua mis-
tura, por meio dos processos industriais, surge o pigmento (CAR-
VALHO, 2006).
Os pigmentos classificam-se pelas cores:
• Primárias: essas cores são constituídas pelos seguintes
pigmentos: magenta, amarelo e ciano. Misturadas em
proporções variáveis, produzem todas as cores do espec-
tro.
• Secundária: é a cor formada por duas cores primárias
misturadas em partes iguais: verde, laranja e violeta.
• Terciária: é a cor intermediária entre uma cor secundária
e qualquer das duas primárias que lhe dão origem.
A cor-luz baseia-se na luz solar e pode ser vista por meio dos
raios luminosos. A cor-luz representa a própria luz, capaz de se
decompor em várias cores. A formação das cores nesse sistema é
© U2 - Os Mapas Sob a Ótica da Comunicação Visual 87

feita pelo processo aditivo. No sistema cor-luz, as cores primárias


serão: verde, vermelho e azul.

Círculo das cores e paleta de cores


Para a compreensão da utilização das cores, iremos dispô-las
em um círculo cromático. Este círculo é construído considerando
uma série de círculos coloridos segundo a sucessão espectral dos
comprimentos de onda da REM na região do visível. Ele, portan-
to, é composto pelas cores: violeta, azul, Verde, amarelo, laranja e
vermelho. Acompanhe pela Figura 9 esta disposição.

Figura 9 Círculo das cores padrão.

O círculo das cores pode facilitar o entendimento das paletas


de cores utilizadas nos sistemas gráficos (Figura 10) para geração
de mapas digitais. A sequência de cores apresentadas será funda-
mental para a representação de ordem, hierarquia, similaridade/
diversidade entre objetos.

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88 © Cartograia Temática

Na edição gráfica computadorizada, a paleta de cores (pa-


drão para os sistemas operacionais e softwares) é equivalente ao
círculo das cores. Seu uso é muito mais fácil, pois permite uma
visualização imediata das inúmeras possibilidades de matizes e nu-
ances que podem ser aplicadas na construção da imagem.

Figura 10 Círculo das cores de um sistema gráfico.

O matiz amarelo pertence às cores quentes. No entanto, po-


de-se dizer que o amarelo é a cor mais fria entre as cores quentes.
Considerando a sequência espectral, as cores criam duas or-
dens visuais opostas a partir do amarelo: os matizes frios em di-
reção ao violeta (cores frias), e os matizes quentes em direção ao
vermelho (cores quentes).

Aplicação das cores na representação cartográficas


Podemos aplicar as cores na representação cartográfica por
meio dos esquemas: qualitativo e quantitativos. A seguir, será
apresentado cada esquema em particular.
© U2 - Os Mapas Sob a Ótica da Comunicação Visual 89

Nesse sentido, o esquema qualitativo de cores é empregado


para mostrar as relações associativas ou seletivas entre objetos.
Podem ser usados diferentes matizes como verde, azul e
magenta, de brilhos e saturação semelhantes. Cada cor é associa-
da a uma classe, o que torna possível indicar as classes temáticas
semelhantes (mesmas cores) ou distintas (cores diferentes).
Na escolha das cores em um mapa qualitativo associativo ou
seletivo, o cartógrafo deve se atentar para não escolher cores que
conotem graus de importância entre as classes, como, por exem-
plo, de cores discretas a cores vivas, ou uma sequência hierárqui-
ca, de cores frias para quentes. O ideal, nesse caso, é escolher as
cores de maneira aleatória no círculo cromático.
A escolha aleatória das cores deve levar em consideração a
harmonia visual no conjunto do mapa, dando preferência a ma-
tizes claros, ou com pouco mais de brilho. Um bom exemplo de
escolhas de cores para mapas qualitativos em que não se deseja
indicar hierarquia ou importância são aquelas apresentadas nos
mapas de divisão política.
Para indicar fenômenos opostos, ou apenas distinção entre
eles, sugere-se o uso do método denominado harmonia pelas co-
res opostas, demonstrado pela Figura 11. É necessário ressaltar
que cor oposta é aquela que se encontra em posição diretamente
oposta no círculo das cores.

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90 © Cartograia Temática

Figura 11 Mapa de divisão dos bairros da área urbana de Piracicaba – SP.


© U2 - Os Mapas Sob a Ótica da Comunicação Visual 91

Contudo, nos mapas qualitativos pode haver também a ne-


cessidade de expressar hierarquia ou importância entre os obje-
tos. Neste caso, é preciso seguir a ordem cromática apresentada
no círculo das cores. O redator do mapa decide qual das categorias
mapeadas é a mais importante para os objetivos do mapa, e lhe
atribui a cor mais forte (escura).
As cores empregadas podem ser de matizes claros para escu-
ros, como, por exemplo, verde, amarelo, laranja e vermelho, mé-
todo conhecido por esquema sequencial, que se utiliza do método
harmonia policromática. Observe o mapa de declividade apresen-
tado pela Figura 12.
Observe que no esquema sequencial (Figura 12) a harmonia
das cores é formada pelo emprego de cores vizinhas no círculo
cromático.

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92 © Cartograia Temática

Figura 12 Declividade.

Outro método utilizado é a harmonia monocromática, na


qual se aplica a variação de tom em um único matiz, por exemplo,
a variação do matiz verde claro até o verde escuro, apenas com a
diminuição do brilho. Vejamos essa demonstração na Figura 13.
© U2 - Os Mapas Sob a Ótica da Comunicação Visual 93

Figura 13 Harmonia monocromática.

Esquema quantitativo de cores


A representação de mapas quantitativos segue o mesmo ra-
ciocínio apresentado na harmonia policromática e monocromáti-
ca. Os dados quantitativos e ordenados são arranjados de forma
lógica, em uma sequência de degraus de alto para baixo como an-
teriormente descrito. Em que:
• Categorias de valores baixos são representadas por cores
claras.
• Categorias de valores altos são representadas por cores
escuras.
Acompanhe a aplicação do esquema quantitativo na Figura
14.

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94 © Cartograia Temática

Figura 14 Mapa de distribuição da população negra em Piracicaba.

Até o presente momento, estamos vendo como podemos uti-


lizar as cores, o que elas significam e sua importância como forte
© U2 - Os Mapas Sob a Ótica da Comunicação Visual 95

elemento a serviço da comunicação visual por meio da represen-


tação gráfica. No entanto, o conceito de "cor", no amplo universo
da comunicação visual, é muito mais complexo e delicado do que
simplesmente seu discernimento entre cores quentes e cores frias.
A cor, como vimos, é uma realidade sensorial, induzida por
determinado comprimento de onda eletromagnética. Em contato
com nosso sistema visual, cada comprimento é processado e in-
terpretado por nosso cérebro de distintas maneiras; consequen-
temente, nosso corpo responderá de diferentes maneiras a cada
comprimento de onda. Dessa forma, entramos num assunto ex-
tremamente importante para a comunicação visual, que é o poder
psicológico e fisiológico exercido pela cor sobre o indivíduo.
Por existir tais reações, a cor assume um caráter estratégico
e pode ser manipulada para realçar ou mascarar certas informa-
ções. Esse tema é tão importante e tão relevante quando estamos
tratando de comunicação visual que sua discussão não cabe no
momento, até mesmo porque, agora, é muito mais importante co-
nhecermos como é que as cores podem ser aplicadas, segundo a
natureza da informação espacial.
Mas, como dissemos, o conhecimento daquilo que denomi-
namos de psicodinâmica das cores é tão importante para o pro-
cesso de comunicação visual que reservamos uma unidade com-
plementar neste Caderno de Referência de Conteúdo, a Unidade 7,
apenas para tratar dele. Como observamos, é uma unidade com-
plementar a essas considerações e você pode buscá-la quando
quiser mais respostas!

8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Ao final desta unidade, é válido que você se questione:
1) O que significa "tradução gráfica"?

2) Para a Cartografia, quais são as três relações existentes entre objetos? Dê


exemplos para cada uma delas.

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96 © Cartograia Temática

3) Porque na Cartografia é importante que se identifique a natureza da infor-


mação espacial?

4) Qual é a característica dos níveis de organização:


a) Associativo/seletivo.
b) Ordenado.
c) Quantitativo:
d) Intervalar.
e) Razão.
5) Quais são os modos de implantação conhecidos para representar os fe-
nômenos geográficos? Eles possuem relação com a escala cartográfica do
mapa? Por quê?

6) Um mapa de “unidade de solos” pode ser representado a partir de qual va-


riável visual? E um mapa de distribuição de chuva em intervalo de classes?

7) Qual é a ordem das cores no espectro visível da luz? Qual é a relação que ela
apresenta com a hierarquização de dados num mapa?

9. CONSIDERAÇÕES
É muito importante que despenda esforços para compreen-
der o uso das variáveis visuais, estudas nesta unidade.
Para colocar em prática todas as questões abordadas na Uni-
dade 2, recomendamos a reflexão sobre a natureza das informa-
ções: quantitativa, qualitativa, ordenadas, proporcionais, discre-
tas, contínuas etc.; presentes em seu cotidiano. Assim, para cada
informação que encontrar, escolha qual é a representação visual
que melhor representa esse fenômeno. É importante, também,
fazer análises de diversos mapas temáticos, observando aspectos
como: cores usadas, legenda, disposição das informações na le-
genda, símbolos empregados, dados abordados, clareza de infor-
mação, tamanho de fonte, entre outros aspectos que formam o
seu conjunto.
Para finalizar esta unidade, é importante destacar que com-
pete ao redator gráfico aplicar convenientemente o sistema mo-
nossêmico de signos a cada questão a ser transcrita visualmen-
te, observando cuidadosamente as propriedades perceptivas das
© U2 - Os Mapas Sob a Ótica da Comunicação Visual 97

variáveis visuais adotadas. Caso contrário, correremos o risco de


comunicar inverdades e falsidades.

10. E-REFERÊNCIA
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Noções básicas de
cartografia. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/
manual_nocoes/indice.htm>. Acesso em: 28 mar. 2012.

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BERTIN, J. Sémiologie graphique: les diagrammes, lês réseaux, lês cartes. Paris: Gauthier-
villars, 1967.
CARDOSO, J. A construção de gráficos e linguagem visual. História: questões & debate.
Curitiba, v. 5, n. 8, p. 37-58, 1984.
DUARTE, P. A. Cartografia temática. Florianópolis: UFSC, 1991.
______. Fundamentos de cartografia. Florianópolis: UFSC, 2002.
FARINA, M. Psicodinâmica das cores em comunicação. São Paulo: Edgard Blucher Ltda,
1986.
JOLY, F. A cartografia. Campinas: Papirus, 2003.
MARTINELLI, M. Curso de cartografia temática. São Paulo: Contexto, 1991.
MENESES, R.; NETO, J. S. M. Sensoriamento remoto: reflectância e alvos naturais. Brasília,
DF: UnB, Planaltina: Embrapa Cerrados, 2001.
RAMOS, C. S. Visualização cartográfica: possibilidades de desenvolvimento em meio
digital. Rio Claro: Universidade Estadual Paulista, 2001. (Dissertação de Mestrado).
SLOCUM, T. A. Thematic Cartography and Visualization. New Jersey, Prentice Hall, 1998.

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EAD
Aquisição de Dados
Geográficos e Tratamento
Estatístico da
Informação Espacial
3
1. OBJETIVOS
• Compreender as diferentes fontes de dados geográficos,
de natureza variada (social e natural), passíveis de serem
representadas espacialmente.
• Entender os procedimentos estatísticos voltados ao trata-
mento e à apresentação, interpretação e análise de dados
quantitativos.

2. CONTEÚDOS
• Fontes para aquisição de dados geográficos: documentos
cartográficos de base, produtos de sensoriamento remo-
to e observação direta da paisagem (análise de campo –
GPS).
• Levantamento e tratamento de dados socioeconômicos a
partir de fontes públicas.
100 © Cartograia Temática

• Introdução ao tratamento estatístico de dados quantitati-


vos, visando à representação espacial.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


1) O produto cartográfico final, como já discutido em uni-
dades anteriores, pode ser fortemente influenciado pelo
contexto social em que vive o cartógrafo. Ou seja, a rea-
lidade apresentada em um mapa pode conter alto valor
ideológico, com conteúdo político e filosófico, veiculado
ingenuamente – ou não – de forma visual. Refletindo so-
bre essa questão, além da probabilidade de "erro" vei-
culada pelo cartógrafo, temos, ainda, o risco de se traba-
lhar com um dado que não seja confiável. Dessa forma,
é de extrema importância selecionar fontes de dados
confiáveis, pois, caso contrário, o ideal de neutralidade
cartográfica ficará ainda mais comprometido.
2) Considerando as colocações inicialmente expostas, su-
gerimos que você estabeleça um olhar crítico aos órgãos
públicos e a outras instituições privadas que fornecem
dados socioeconômicos ou de qualquer natureza, pois,
quando os dados primários são incongruentes, a carto-
grafia, pela sua necessidade de simplificar as observa-
ções, tenderá a maximizar tal incoerência.
3) Nesta unidade, vamos abordar um pouco mais sobre as
características dos dados com as classificações: quanti-
tativo e qualitativo. Caso você precise relembrar alguns
detalhes, leia novamente a Unidade 2 e os livros indica-
dos na Bibliografia Básica.
4) Nesta unidade, não será possível abordar todas as es-
tatísticas responsáveis pelo tratamento dos dados geo-
gráficos. Assim, para suprir os conhecimentos sobre esse
assunto, sugerimos os livros Quantificação em Geogra-
fia, das professoras Lúcia Helena Gerardi e Barbara Nen-
twig Silva; e Fundamentos de estatística e geoestatísti-
ca, do professor José Leonardo Andriotti. As referências
completas estão disponíveis no final da unidade.
© U3 - Aquisição de Dados Geográicos e Tratamento Estatístico da Informação Espacial 101

5) Após o estudo desta unidade, procure observar os ma-


pas divulgados, principalmente, por órgãos públicos, e
analise como os dados levantados foram trabalhados.
Aponte falhas, manipulação de dados (para direcionar
os resultados), a ideologia que está por trás de sua con-
fecção etc. Desvendar essas questões é de fundamental
importância no exercício da leitura do mapa, especial-
mente quando consideramos indivíduos que serão res-
ponsáveis pela construção do conhecimento de outras
pessoas.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Até o presente momento, estudamos nas Unidades 1 e 2 o
corpo teórico da Cartografia. Aprofundamos, na unidade anterior,
as regras da gramática da linguagem cartográfica, dando ênfase ao
uso das cores nos mapas.
Além disso, vimos que a semiologia gráfica é o ramo da Car-
tografia responsável em analisar a natureza da informação espacial
para, posteriormente, selecionar as melhores e mais adequadas
variáveis visuais capazes de realizar a transcrição gráfica dos da-
dos desejados. Ou seja, a tradução para mapas ou diagramas dos
dados descritivos e/ou tabulares que possuem dimensão espacial.
Contudo, agora se torna pertinente a seguinte questão:
como podemos obter os dados para ser mapeado? Quais são as
fontes de dados que a cartografia se baseia para a elaboração dos
produtos? Observações diretas da Terra? Mas como? E os dados
abstratos, como distribuição de renda, como são tratados e ma-
peados? A presente unidade, portanto, objetiva responder a essas
questões.
Como sabemos, a Geografia é a ciência que estuda a relação
entre o homem e a natureza, considerando suas interações e pro-
dução do espaço, logo, há uma infinidade de temas abarcados por

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102 © Cartograia Temática

ela. Sendo a Cartografia Temática a expressão gráfica da Geogra-


fia, os temas que podem ser representados cartograficamente são
igualmente imensuráveis.
Dessa forma, torna-se fundamental apresentar, nesta uni-
dade, as fontes de dados utilizadas pela cartografia. No decorrer
deste estudo, observaremos a diferença existente entre fenôme-
nos geográficos e dados geográficos, e que os dados numéricos
devam ser estatisticamente manipulados para possibilitar a trans-
formação do dado bruto (primário) em informação espacial útil à
sociedade.
Além disso, será fundamental desenvolver uma postura críti-
ca em relação à função social da Cartografia, uma vez que veremos
como a estatística, se mal empregada, pode mascarar os dados
reais e apresentar informações distorcidas da realidade.
Para tanto, sugerimos que a tarefa de realizar análises críti-
cas nos materiais cartográficos se transforme em um hábito coti-
diano, pois, assim, por meio da prática, seremos capazes de des-
vendar imprecisões, incorreções e inverdades contidas nos mapas.
Bons estudos!

5. FONTES DE DADOS GEOGRÁFICOS


Você sabe como o cartógrafo obtém o traçado dos elemen-
tos em um mapa? Imagine um mapa rodoviário. Como podemos
extrair os contornos das rodovias e estradas e dispô-los novamen-
te sobre a base cartográfica?
Os cartógrafos, assim como os profissionais de diversas ci-
ências, desde a década de 1950, dispõem das técnicas de senso-
riamento remoto que viabilizam os trabalhos cartográficos com
rapidez e riqueza de informações. Os produtos de sensoriamen-
to remoto utilizados possibilitam uma visão diferenciada daque-
la que temos no dia-a-dia. Com eles, podemos observar a terra
© U3 - Aquisição de Dados Geográicos e Tratamento Estatístico da Informação Espacial 103

vista de cima, de maneira reduzida, porém com riquezas de de-


talhes, tornando-se possível desvendar as formas dos elementos
naturais e antrópicos, seus arranjos espaciais, bem como os dife-
rentes padrões que figuram esse espaço. Todos estes elementos
constituem-se em um documento com exaustivo número de in-
formação, cabendo ao foto-intérprete selecionar os atributos que
interessam no momento.
Retomando o exemplo anterior, para que seja feito o registro
do espaço que se quer mapear, são utilizadas as fotografias aé-
reas (ou aerofotografias), que são registros fotográficos obtidos a
partir de plataformas aéreas (aviões) que recobrem determinada
área do terreno em sequências de fotos, que, posteriormente, são
sobrepostas obtendo um mosaico da área sobrevoada. Essas ima-
gens têm a importante característica de possuir uma visada verti-
cal, ou seja, a fotografia é focada perpendicularmente em relação
ao terreno, da mesma forma como é a visão que temos do terreno
nos mapas. Esse fato permite que os dados obtidos a partir das
fotografias aéreas sejam transpostos para o plano cartográfico.
A transposição de dados adquiridos a partir de fotografias
aéreas para as bases cartográficas não é tão simples. Nas fotogra-
fias, como em qualquer outra imagem, existem distorções geomé-
tricas que precisam ser eliminadas, para, posteriormente, serem
sobrepostas corretamente à base cartográfica. Estes procedimen-
tos de correção normalmente são oferecidos pela empresa que re-
alizou o aerolevantamento, contudo seu custo é muito alto.
Sobre essas aerofotografias, como num desenho em papel
vegetal, são extraídas as informações que interessam, no caso, às
rodovias. E, por fim, o traçado adquirido é ajustado no mapa base,
obtendo um produto cartográfico/temático, como o apresentado
pela Figura 1.

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104 © Cartograia Temática

Figura 1 Elaboração de mapa temático a partir da interpretação de fotografias aéreas.

A aerofotografia é apenas uma forma das possibilidades de


extração dos dados. A seguir, conheceremos as demais. Contudo,
não abordaremos todas as fontes de dados, pois, como afirma Joly
(2003), as fontes de dados do cartógrafo temático são as mesmas
que as do pesquisador não cartógrafo. É necessário ressaltar que
as bibliografias fornecem dados para mapeamento, basta tratá-las
e representá-las dentro das normas visuais aceitas.

6. FONTE DE DADOS CARTOGRÁFICOS: DOCUMEN-


TAÇÃO CARTOGRÁFICA, SENSORIAMENTO REMOTO
E OBSERVAÇÃO DE CAMPO (GPS)
A coleta de informação com o objetivo de representação
do espaço obriga o redator do mapa a reunir uma documentação
exaustiva, uma vez que o recobrimento do espaço deve ser total.
Nesse caso, não se pode deixar áreas sem classificação ou sem in-
formação.
Podemos citar três fontes de aquisição de dados para o ma-
peamento temático: levantamento da documentação disponível
© U3 - Aquisição de Dados Geográicos e Tratamento Estatístico da Informação Espacial 105

referente à área de interesse, levantamentos terrestres e produtos


de sensoriamento remoto. A seguir, veremos cada um deles.

Dados cartográficos
Na etapa de aquisição de dados ou informação, não só para
mapeamento, mas para qualquer outra pesquisa, é importante
fazer um levantamento do tema que será abordado. No caso da
cartografia, os primeiros materiais a serem levantados são os do-
cumentos cartográficos de base, pois, como menciona Joly (2003),
eles fornecerão informações precisas de configurações do terreno
e limites, podendo dispor seguramente qualquer outra informa-
ção.
Dos mapas de base, a cartografia pode beneficiar-se tam-
bém com a extração da rede hidrográfica, rede viária, limite de
municípios (limites políticos em geral), localização geográfica (co-
ordenadas "X, Y" e a variável altimétrica "Z"). Além dos mapas de
base, a Cartografia Temática pode se utilizar também de outros
mapas temáticos, como, por exemplo, para elaborar um mapa de
aptidão agrícola das terras em uma determinada área, precisare-
mos do mapa de declividade, do mapa pedológico entre outros.
Desse modo, podemos concluir que o próprio documento
cartográfico representa uma fonte de dados para a Cartografia Te-
mática.

Levantamentos terrestres
Levantamento terrestre ou levantamento de campo é um
conjunto de operações realizadas em um terreno para se obter as
medidas de interesse à representação desejada. Este tipo de ativi-
dade fornece informações de detalhes, como medidas precisas de
distâncias horizontais e verticais, ângulo e orientações, para repre-
sentar os pontos que definem a forma, as dimensões e as posições
relativas de uma parcela da superfície terrestre. Normalmente, o
levantamento terrestre é mais indicado para geração de mapas de
base, como as plantas topográficas.

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106 © Cartograia Temática

Um instrumento fundamental utilizado para este tipo de le-


vantamento é o GPS (Global Positioning System). Consiste em um
sistema de posicionamento geodésico baseado num conjunto de
satélites artificiais, capazes de fornecer posições precisas das coor-
denadas geográficas, altimetria e pressão da superfície terrestre.
Nos mapeamentos temáticos, o GPS é de fundamental importân-
cia para testar a acurácia do mapeamento, e poderá ser realizado
de duas maneiras, vejamos:
• Coleta de dados em campo e, posteriormente, realiza-se
o registro no plano cartográfico.
• Ou de forma inversa, quando é possível identificar a posi-
ção geográfica do objeto, por meio do GPS, e assim con-
firmar as informações extraídas de imagens orbitais ou
aéreas, no campo.
O GPS é, hoje, uma ferramenta essencial para profissionais
que trabalham com questões ambientais (no sentido mais amplo
de sua concepção), bem como para diversas outras finalidades,
que vão do lazer à segurança. Dessa forma, trataremos o GPS de
modo independente mais adiante.

Produtos de sensoriamento remoto


Nesse caso, destacam-se os levantamentos aéreos e as ima-
gens orbitais. Mas deve-se ressaltar que há ainda os produtos ge-
rados a partir de RADAR. Observe:
• Levantamentos aéreos: os dados obtidos por levanta-
mentos aéreos são transformados em produtos carto-
gráficos a partir da interpretação dos registros, fotointer-
pretação. A partir de fotografias aéreas são produzidos
mapas em diversas escalas, atendendo às necessidades
de planejamento urbano e rural. A fotointerpretação é
utilizada para se obter mapas temáticos, e realizadas por
analistas especialistas no tema ou questão.
© U3 - Aquisição de Dados Geográicos e Tratamento Estatístico da Informação Espacial 107

Interpretação de imagens nada mais é do que identificar


objetos nelas representados e dar um significado a esses objetos.
Dessa forma, quando identificamos e traçamos rios e estradas a
partir de uma imagem ou fotografia, estamos fazendo a sua inter-
pretação.
• Imagens orbitais: o desenvolvimento dessa tecnologia
facilitou muito a aquisição de dados ou informações da
superfície terrestre, pois as imagens orbitais abrangem
uma extensa área da superfície terrestre, dada a distância
em que se encontram da superfície, com alta resolução
espacial e, especialmente, por sua resolução temporal,
permite um controle sistemático da superfície terrestre.
O procedimento de aquisição de dados segue o mesmo
princípio das fotografias aéreas, ou seja, a partir de inter-
pretação das imagens.
Atualmente, o desenvolvimento das tecnologias de sensoria-
mento remoto permite ampla divulgação de seus produtos. Nesse
sentido, estão disponíveis na rede mundial de computadores inú-
meras imagens orbitais que podem ser observadas, analisadas e
até mesmo trabalhadas com segurança.

Imagens orbitais de satélites ambientais (meteorológicos) e


de recursos terrestres–––––––––––––––––––––––––––––––––
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) disponibiliza gratuitamente
imagens orbitais de satélites ambientais (meteorológicos) e de recursos terrestres.
Entre eles, destacam-se produtos dos satélites Landsat (imagens atuais e de
arquivo) e do satélite sino-brasileiro CBERS, com imagens de arquivo.
As imagens orbiatis podem ser adquiridas junto à divisão de Geração de imagens
(DGI/INPE), disponível no site: <http://www.dgi.inpe.br/CDSR/>. Acesso em: 28
mar. 2012.
Imagens orbitais de todo o planeta Terra, na forma de um mosaico, também
podem ser adquiridas a partir do software Google Earth, disponível em: <http://
earth.google.com/intl/pt/>. Acesso em: 28 mar. 2012.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
As fotografias aéreas e as imagens orbitais nos fornecem não
somente informações sobre fenômenos geográficos naturais (físi-
cos) e suas feições, mas, também, estruturas das materializações

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108 © Cartograia Temática

humanas, como cidades, estradas, culturas agrícolas, limites políti-


cos entre outros. Mas não nos fornecem, pelo menos diretamente,
informações sobre o conteúdo imaterial que também faz parte do
espaço, como dados sociais, econômicos, culturais, virtuais, entre
outros.
A seguir, conheceremos algumas fontes públicas responsá-
veis em adquirir e divulgar dados socioeconômicos da população
brasileira, que, por possuírem dimensão espacial, podem ser car-
tografados.
Mas antes chamamos a atenção para que você avalie o uso
dos termos fenômenos e dados geográficos, os quais, se mal em-
pregados, podem gerar alguma confusão.

7. FONTES DOS DADOS CARTOGRÁFICAS

Fenômeno Geográfico X Dados Geográficos


Antes de apresentar as fontes de dados cartográficas, pre-
cisamos entender a diferença entre fenômeno geográfico e dado
geográfico.
Loch (2006) menciona que a diferença entre os termos resi-
de no fato de que os dados geográficos são feições selecionadas
(geralmente numéricas) que os geógrafos usam para descrever ou
medir, direta ou indiretamente, os fenômenos com característi-
cas espaciais, ou seja, os fenômenos antecedem os dados. Como
exemplo, podemos citar o fenômeno clima, que pode ser visto, em
parte, por meio dos dados de precipitação.
Como vimos na Unidade 2, os fenômenos geográficos po-
dem ser representados por linhas, pontos e áreas. Estes modos
de implantação são capazes de representar a maioria dos fenô-
menos que ocorrem no espaço geográfico, tais como fenômenos
derivados das ações humanas, fenômenos naturais e até mesmo
© U3 - Aquisição de Dados Geográicos e Tratamento Estatístico da Informação Espacial 109

aqueles elaborados pela mente humana. A representação torna-se


possível porque os fenômenos apresentam atributos localizáveis
no espaço.

Fonte de dados socioeconômicos


No Brasil, a fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-
tística (IBGE) é o órgão nacional responsável pela coleta e disponi-
bilização dos dados estatísticos socioeconômicos do país. Contudo,
existem outros organismos que publicam dados de outros setores
como o órgão de pesquisa agropecuária, a EMBRAPA, os tribunais
regionais eleitorais (TREs) de alguns estados, entre outros. Todos
estes dados estão disponíveis para uso e consulta pública, e são
largamente usados para pesquisas, preparo de aulas entre inúme-
ras outras finalidades.
Nesses órgãos, podem ser encontrados dados, brutos e se-
cundários, confiáveis para a realização de trabalhos.
Além disso, podemos destacar alguns softwares desenvol-
vidos com finalidade de armazenar, tratar, recuperar e apresentar
variados dados socioeconômicos em formas de tabelas, gráficos
e mapas. Entre estes programas, destacam-se o "Atlas do Desen-
volvimento Humano" e o "ESTATCART", desenvolvidos pelo IBGE.
Esses softwares são bastante didáticos, possuem uma interface
muito simples e apresentam os dados de maneira clara. Na repre-
sentação cartográfica, os dois programas apresentam algumas fa-
lhas, como ausência de coordenadas geográficas, escala cartográ-
fica, norte geográfico, e o mapa de localização.

8. TRATAMENTO ESTATÍSTICO DE DADOS GEOGRÁFI-


COS PARA A ELABORAÇÃO DE MAPAS TEMÁTICOS
A prática cartográfica mostra que é essencial organizar os
dados de modo eficiente, ou seja, é preciso dispô-los de tal ma-
neira que seja visualmente fácil distingui-los individualmente ou
em conjunto.

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110 © Cartograia Temática

Portanto, o primeiro passo é analisar as características dos


dados que serão trabalhados. Por exemplo, podemos classificá-los
da seguinte forma:
• Quantitativo ou qualitativo.
• Concreto ou abstrato.
Além disso, podem ser observadas a quantidade e a amplitu-
de de seus valores e como foram obtidos.
É preciso, inclusive, analisar a distribuição espacial dos fenô-
menos, se discretos ou contínuos, abruptos ou suaves.
Em uma pesquisa, quando se analisa dados secundários, é
importante rastrear a maneira como os dados brutos foram trata-
dos e agrupados. Assim, ao pesquisar, saberá que tipo de informa-
ção será privilegiada em detrimento de outras. Este tipo de análise
será facilmente efetuada se o pesquisador tiver conhecimento de
alguns procedimentos estatísticos.
Analisaremos, entre os procedimentos estatísticos, o mé-
todo da elaboração do gráfico de dispersão (ou frequência), que
pode ser aplicado sobre dados socioeconômicos e imateriais em
geral. Esse método, de grande aplicabilidade na maioria dos dados
geográficos, permitirá agrupar os dados, facilitando a sua repre-
sentação espacial.
Uma das primeiras preocupações ao se trabalhar com dados
numéricos para confecção do mapa é o agrupamento dos valores,
a fim de facilitar seu manuseio. O agrupamento dos dados propor-
ciona como resultados valores distribuídos dentro de intervalo de
classes. Há inúmeros métodos para a determinação do número de
classes e da amplitude de cada classe. Contudo, o bom senso na
construção cartográfica demonstra que o número de classes deve
variar entre 4 e 8, passando de 8 classes, a leitura do mapa torna-
-se carregada e poluída.
Na Tabela 1, estão dispostos os dados, levantados pelo IBGE,
da população da microrregião administrativa de Iguatemi-MS, que
© U3 - Aquisição de Dados Geográicos e Tratamento Estatístico da Informação Espacial 111

serão mapeados. Com base na tabela, realizaremos os cálculos


para a determinação do número de classes e determinação do in-
tervalo entre elas.

Tabela 1 Número total da população por município pertencente à


microrregião administrativa de Iguatemi-MS.
MUNICÍPIO POPULAÇÃO MUNICÍPIO POPULAÇÃO
1 Angélica 7.721 9 Japoró 4.595
2 Coronel Sapucaí 15.810 10 Jateí 4.020
3 Deadópolis 10.837 11 Mundo Novo 15.124
4 Eldorado 9.825 12 Naviraí 37.581
Glória de Novo Horizonte
5 9.968 13 5.793
Dourados do Sul
6 Iguatemi 12.709 14 Paranhos 10.730
7 Itaquiraí 12.881 15 Sete Quedas 19.062
8 Ivinhema 20.704 16 Tacuru 7.365
Fonte: Censo (IBGE, 2001).

Quando nos deparamos com dados numéricos, convém dis-


pô-los em forma de rol.
O rol corresponde ao arranjo dos dados em ordem de gran-
deza crescente ou decrescente, como apresenta a Tabela 2. Dessa
forma, é possível obter a amplitude (range), ou seja, a diferença
entre o maior e o menor valor, e as medidas de tendência central
do conjunto de dados (importante para a interpretação dos da-
dos).

Tabela 2 Rol do conjunto de dados da população da microrregião


de Iguatemi-MS.
MUNICÍPIO POPULAÇÃO MUNICÍPIO POPULAÇÃO
1 Jateí 4.020 9 Deadópolis 10.837
2 Japoró 4.595 10 Iguatemi 12.709
Novo Horizonte
3 5.793 11 Itaquiraí 12.881
do Sul
4 Tacuru 7.365 12 Mundo Novo 15.124
5 Angélica 7.721 13 Coronel Sapucaí 15.810

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MUNICÍPIO POPULAÇÃO MUNICÍPIO POPULAÇÃO


6 Eldorado 9.825 14 Sete Quedas 19.062
Glória de
7 9.968 15 Ivinhema 20.704
Dourados
8 Paranhos 10.730 16 Naviraí 37.581
Fonte: Censo (IBGE, 2001).

Como vimos, para facilitar o manuseio e a visibilidade dos


dados, devem-se estabelecer os números de classes do conjunto
de dados. O método utilizado para este fim é dado pela fórmula de
Sturges. Vejamos.

Fórmula de Sturges = 1 + (3,3 X log n)= 1 + (3,3 X 1,20)= 4,96


Em que:
• n = número de dados = 16.
• log = o logaritmo para a base 10.
O número de classes estimado a partir da fórmula de Sturges
foi 5.
Para a determinação do intervalo entre as classes, podemos
utilizar o método da amplitude.
É possível observar pela Tabela 2 o maior e o menor valor da
população nos municípios, respectivamente 37.581 e 4.020, que
serão utilizados para calcular a amplitude (range). Temos que:
Amplitude = 37.581 – 4.020 = 33.561
No entanto, apesar de seguir as regras estatísticas, o resul-
tado que prevalece na análise de dados é o bom senso do pesqui-
sador. Se observarmos o conjunto de dados na Tabela 2, veremos
que o último valor destoa completamente do restante do conjunto
de dados, apresentando um valor muito superior. Denominamos
este ponto de “outlier” (dados que podem ser "excluídos" tem-
porariamente). Assim, calculamos novamente a amplitude a partir
de um valor mais coerente. Podemos estabelecer, então, um maior
valor de 20.704, referente à população do município de Ivinhema.
© U3 - Aquisição de Dados Geográicos e Tratamento Estatístico da Informação Espacial 113

Temos então que:


Amplitude = 20.704 – 4.020 = 16.684
A amplitude é dividida pelo número de classes para determi-
nar o intervalo entre elas.
16.684 / 5 = 3336,8
O intervalo entre as classes será de 3336,8.
Temos, então, 5 classes em que cada uma tem o seu limite
inferior, ou seja, o valor mais baixo; e o limite superior, dado pela
soma do valor mais baixo mais o valor do intervalo de classes.
Podemos encontrar a frequência absoluta contando as ocor-
rências para cada classe. E, ao dividir a frequência absoluta de
cada classe pelo número total de ocorrências, encontramos a fre-
quência relativa, importante valor para realizar comparações entre
dados.
Dessa forma, é possível organizar os dados distribuindo-os
em classes e observando o número de frequência para cada classe,
conforme demonstra a Tabela 3.

Tabela 3 Divisão das classes e distribuição de frequência da popu-


lação da microrregião de Iguatemi-MS (2001).
LIMITE LIMITE FREQUÊNCIA
CLASSES FREQUÊNCIA
INFERIOR SUPERIOR RELATIVA (%)
1 4.020 7.357 3 18,8
2 7358 10.695 4 25
3 10696 14.033 4 25
4 14034 17.371 2 12,5
5 17372 20.709 2 12,5
6 > 20.710 1 6,3

Repare que o valor que havíamos excluído, 37.581, do


município de Naviraí para calcular a amplitude volta a compor
a tabela. Foi acrescida uma classe para comportar este dado.
Entretanto, a escolha de classes dependerá da riqueza de detalhes

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que se deseja apresentar, pois podemos manter 5 classes, como


indicado a seguir.

Tabela 4 Divisão das classes e distribuição de frequência da popu-


lação da microrregião de Iguatemi-MS (2001).
LIMITE LIMITE FREQUÊNCIA
CLASSES FREQUÊNCIA
INFERIOR SUPERIOR RELATIVA (%)
1 4.020 7.357 3 18,8
2 7.358 10.695 4 25
3 10.696 14.033 4 25
4 14.034 17.371 2 12,5
5 > 17.372 3 18,8

Dessa forma, a Tabela 4 apresenta o agrupamento dos dados


de maneira mais generalizada do que a apresentada pela Tabela
3. Nesse exemplo, como há um número pequeno de observações
(16), a diferença é muito pouca, contudo, para um número grande,
esta decisão é de fundamental importância para a qualidade da
apresentação.
Gerardi e Silva (1981), analisando um conjunto grande de da-
dos, argumentam que a construção de um número muito peque-
no de classes reduziria tanto a informação que acarretaria muita
perda de detalhe. É importante ressaltar que a fórmula de Sturge
dá apenas uma estimativa do número de classes a ser utilizadas,
podendo sofrer alterações para melhor se adequar ao conjunto de
dados e à sua representação.
A partir da Tabela 3 ou 4, podemos gerar o histograma de
frequência.
O método de histograma de frequência consiste em plotar
os valores de frequência observados, em ordem crescente, segun-
do uma escala fixa representada na ordenada do gráfico cartesia-
no. Na abscissa são plotados os intervalos de classes utilizados,
acompanhe pela Figura 2.
© U3 - Aquisição de Dados Geográicos e Tratamento Estatístico da Informação Espacial 115

Figura 2 Histigrama polígono de frequência.

O histograma que indica a frequência em forma relativa


chama-se histograma de freqüência relativa. Para a análise dos
problemas geográficos é bastante útil juntar ao mesmo gráfico a
frequência absoluta e relativa, como indicado na figura anterior. O
polígono de frequência, outro tipo de representação gráfica, tem
indicado na abscissa os pontos médios, e na ordenada, as frequên-
cias absolutas e relativas.
Para Gerardi e Silva (1981), o polígono de frequência é, por-
tanto, utilizado para indicar a forma de distribuição de frequência
de um conjunto de dados.
Observe que a distribuição da frequência possui a maioria
dos dados do lado esquerdo do gráfico. Esta simetria positiva é
normal para dados da Geografia humana. Como indica Gerardi
e Silva (1981), há outro tipo de assimetria, a negativa, na qual a
maioria dos dados se encontra no lado direito, esse tipo de distri-
buição é mais rara na Geografia. Em contrapartida, a forma simé-
trica de distribuição é encontrada muitas vezes na Geografia física.

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116 © Cartograia Temática

9. ANÁLISE DE DADOS ESTATÍSTICOS


Segundo Gerardi e Silva (1981), os métodos que resumem os
dados em forma de tabelas de frequência e gráficos são sem dúvi-
das úteis, contudo, é necessária, em algumas situações, a análise
mais precisa de um conjunto de dados.
Quando agrupamos os dados em intervalo de classes, po-
dem-se ressaltar as características mais importantes do conjunto
de dados, que são obtidos em detrimento da perda de detalhes da
informação. Neste contexto, deixamos de saber como está a distri-
buição dos dados dentro de cada classe.
Se observarmos um conjunto de dados, notaremos que qua-
se todos eles tendem a se agrupar em torno de um valor central.
Dessa forma, para melhor descrever uma sequência de da-
dos ou uma distribuição de frequência, sugere-se o uso de dois pa-
râmetros: as medidas de tendência central e medidas e dispersão,
vejamos:
• Medidas de tendência central: são chamadas de medidas
de tendência central, pois representam os fenômenos pe-
los seus valores médios, em torno das quais tendem a se
concentrar os dados. Três medidas de tendência central
são largamente usadas na Geografia: média, mediana e
moda (ANDRIOTTI, 2004).
• Medidas de dispersão: é a maior ou menor diversifica-
ção dos valores de uma variável em torno de um valor de
tendência central tomado como ponto de comparação.
Destaca-se o uso da amplitude, da variância, do desvio
padrão e do coeficiente de variação.
A média aritmética é facilmente calculada, entretanto, tor-
na-se importante avaliar sua precisão pelo cálculo da medida de
"tendência central" da distribuição. Se a variação dentro de um
conjunto de dados é pequena, a média é um bom indicativo. Quan-
do os números dispersos variam consideravelmente, não convém
© U3 - Aquisição de Dados Geográicos e Tratamento Estatístico da Informação Espacial 117

que se aplique a média ao conjunto, pois os pontos discrepantes


dos demais podem interferir significativamente baixando ou au-
mentando a média.
O índice de dispersão dos dados sobre a média é estatistica-
mente dado pelo desvio padrão. Por isso, quando se quer conhe-
cer melhor o comportamento espacial dos dados e sua variação, é
útil obter estes valores.
Na estatística descritiva, o desvio padrão por si só tem gran-
des limitações. Dessa forma, um desvio padrão de 2 unidades
pode ser considerado pequeno para uma série de valores, cujo
valor médio é 200; no entanto, se a média for igual a 20, o nossa
resposta será inversa.
Para contornar essas dificuldades e limitações, podemos ca-
racterizar a dispersão ou variabilidade dos dados em termos rela-
tivos ao seu valor médio, medida esta denominada de coeficiente
de variação (CV), que é a razão encontrada entre o desvio padrão
e a média de um mesmo conjunto de dados.
Retomando o exemplo anterior, temos que (Tabela 5):

Tabela 5 Valores para a média e desvio padrão do conjunto de da-


dos da população da micro região de Iguatemi-MS.

TOTAL DA POPULAÇÃO 204.725


Média 12.795
Desvio Padrão 8181,7
CV (%) 63,9 %

O CV (coeficiente de variação) pode ser interpretado como


a variabilidade dos dados em relação à média. Portanto, quanto
menor o CV, mais homogêneo é o conjunto de dados.
Analisando os dados da microrregião de Iguatemi (MS), po-
demos observar que a população não está bem distribuída pelos
municípios, pois seu CV apresenta uma alta porcentagem.

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118 © Cartograia Temática

Em contrapartida, um CV é considerado baixo ao indicar um


conjunto de dados razoavelmente homogêneo, ou seja, quando
for menor ou igual a 25%. Entretanto, esse padrão varia de acordo
com a aplicação.
Apesar da dificuldade em classificar um coeficiente de varia-
ção como baixo, médio, alto ou muito alto, este pode ser bastante
útil na comparação de duas variáveis ou dois grupos que a princí-
pio não são comparáveis.
Vale salientar, ainda, que o CV tem inúmeras aplicações,
pode servir para comparar conjuntos distintos de dados, como
renda per capita e índices de industrialização dos municípios e,
também, para analisarmos se há relações entre as variáveis.
Para garantir tratamento e análise seguros do conjunto de
dados, é importante ter razoável conhecimento das possibilidades
e limites das ferramentas estatísticas. Dessa forma, sugerimos que
analise, utilizando como apoio a bibliografia sugerida, os mapas,
tabelas, gráficos gerados pelo “Atlas do Desenvolvimento Huma-
no”.

10. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS


Esta unidade tem um grande caráter prático. Sendo assim,
sugerimos que sua autoavaliação seja feita em termos práticos
também!
1) Selecione um conjunto de dados qualquer, de no mínimo 20 observações, e
realize o mesmo procedimento que fizemos para elaborar o histograma de
frequência absoluta e relativa.

2) Procure na internet algumas fotografias aéreas e imagens orbitais (o sof-


tware “Google Earth” é uma boa escolha!) e navegue calmamente por elas,
tentando identificar:
a) Rios, ribeirões e córregos.
b) Rodovias, ferrovias, estradas, linhas de transmissão de energia.
c) Campos agrícolas, áreas de reflorestamento (eucaliptos), matas ciliares.
d) Áreas urbanas.
© U3 - Aquisição de Dados Geográicos e Tratamento Estatístico da Informação Espacial 119

11. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final de mais uma unidade! Os conceitos estu-
dados até o momento tornam-nos capazes de mapear e represen-
tar adequadamente qualquer tipo de dado geográfico, seja quali-
tativo, seja quantitativo.
Nesta unidade, vimos a importância de tratar um conjunto
de dados para que ele possa ser apresentado como informação
visível e compreensível. No entanto, somente introduzimos alguns
importantes métodos e conceitos estatísticos.
Desse modo, sugerimos que você aprofunde seus conheci-
mentos a fim de utilizar os métodos que mais se adéquem à si-
tuação imposta. Para tanto, tenha à disposição alguns livros das
Bibliografias Básica e Complementar para usá-los, inclusive, como
um manual cartográfico. A habilidade adquirida com os trabalhos
ao longo do tempo lhe dará mais segurança para ponderar as pos-
sibilidades e tomar as decisões corretas. Lembre-se de que, na car-
tografia, vezes o que prevalece, muitas vezes, é o bom senso do
redator do mapa!
Na próxima unidade, veremos como representar no mapa as
informações aqui elaboradas, segundo diferentes métodos do ma-
peamento temático, como os mapas coropléticos e isarítimicos.

12. E-REFERÊNCIAS
EMBRAPA – EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Home page. Disponível
em: <http://www.embrapa.br/>. Acesso em: 28 mar. 2012.
FJP – FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Home page. Disponível em: <http://www.fjp.gov.br/>.
Acesso em: 28 mar. 2012.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Home page. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em: 28 mar. 2012.
INPE – INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS. Home page. Disponível em:
<http://www.inpe.br/>. Acesso em: 28 mar. 2012.
SEADE – FUNDAÇÃO SISTEMA ESTADUAL DE ANÁLISE DE DADOS. Home page. Disponível
em: <http://www.seade.gov.br/>. Acesso em: 28 mar. 2012.

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120 © Cartograia Temática

13. REFERÊNCIAS BOBLIOGRÁFICAS


ANDRIOTTI, J. L. S. Fundamentos de estatística e geoestatística. São Leopoldo: Unisinos,
2004.
JOLY, F. A Cartografia. Campinas: Papirus, 2003.
LOCH, R. N. Cartografia: representação, comunicação e visualização de dados espaciais.
Florianópolis: UFSC, 2006.
EAD
Métodos de Representação
da Cartografia
Temática
4
1. OBJETIVO
• Conhecer e analisar os métodos de representação da Car-
tografia Temática.

2. CONTEÚDOS
• Representações quantitativas, qualitativas, ordenadas e
dinâmicas (no tempo e no espaço).
• Representação coroplética e isoplética.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


1) É de extrema importância que, neste momento do curso,
você tenha pleno domínio das possibilidades de repre-
sentação cartográfica oferecidas pela linguagem semio-
lógica, bem como a constante preocupação em avaliar
criticamente os dados e os mapas veiculados.
122 © Cartograia Temática

2) Indicamos para o acompanhamento desta unidade o li-


vro de Marcelo Martinelli, Curso de cartografia temática.
São Paulo: Contexto, 1991. Essa obra traz informações e
procedimentos necessários para a elaboração dos diver-
sos tipos de mapeamento e representação.
3) Nesta unidade, vamos estudar o método coroplético.
Assim como qualquer outro método de mapeamento de
dados estatísticos, não podemos aplicá-lo se o interesse
do usuário for a obtenção de valores precisos dentro de
cada unidade geográfica. Portanto, nesse caso, o melhor
é permanecer com a utilização de tabelas ou diagramas,
que veremos mais adiante, na Unidade 5.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Como visto anteriormente, uma série de fatores devem ser
considerados na construção de um documento cartográfico eficaz,
como, por exemplo, o modo de implantação da informação espa-
cial (pontual, linear ou zonal), a escala de mensuração (nominal,
ordinal, intervalar ou razão) e a distribuição espacial (contínua ou
discreta).
Novamente, é importante lembrarmos que o estudo prévio
da natureza e as características dos dados são determinantes para
selecionar corretamente as variáveis a serem empregadas no do-
cumento cartográfico.
Na unidade anterior, conhecemos e trabalhamos com a or-
ganização de dados geográficos. Tivemos como exemplo a distri-
buição da população da microrregião de Iguatemi – MS. Dividimos
os dados em classes, estabelecemos o intervalo entre elas, distri-
buímos a ocorrência de dados em frequências para cada classe,
geramos o histograma de frequência e analisamos a dispersão dos
dados, tendo como referência a média do conjunto.
Agora, nesta unidade, conheceremos alguns métodos de ma-
peamento que viabilizam a visualização desses dados trabalhados.
© U4 - Métodos de Representação da Cartograia Temática 123

Vale destacar que o conteúdo fundamental da linguagem


cartográfica foi oferecido a você até a Unidade 3. Assim, a partir
de agora, os exercícios se tornarão mais claros, pois você já dispõe
de condições teóricas e práticas para idealizar as possibilidades de
representação cartográfica.
Nesta unidade, estudaremos juntos alguns métodos aplica-
dos para representar informações de diferentes naturezas. As pos-
sibilidades de métodos para elaboração de mapas com finalidades
qualitativas, quantitativas, dinâmicas são enormes, contudo, ve-
remos apenas um método para cada uma delas, cabendo a você
a responsabilidade de pesquisar sobre as outras possibilidades de
representação.
Bom estudo!

5. MÉTODOS DE MAPEAMENTO PARA DADOS QUAN-


TITATIVOS: MAPAS COROPLÉTICOS
Segundo Martinelli (1991), o termo Coroplético tem origem
nas palavras gregas "choros", que significa área, mais "plethos",
que significa valor. Logo, a técnica coroplética de representação
cartográfica tem por finalidade traduzir valores para as áreas.
O método coroplético é apropriado para ilustrar temas geo-
gráficos quantitativos que ocorrem em unidades geográficas bem
definidas, como, por exemplo, em unidades políticas, tais como
municípios, estados e países. Os valores a serem representados
devem ser transformados em valores relativos com razões ou pro-
porções. Já os valores absolutos devem ser representados com ou-
tro método.
Conceitualmente, o método coroplético utiliza a variável
valor e intensidade da cor para mostrar diferenças na intensida-
de dos dados. As diferenças são hierarquizadas ou ordenadas em
classes distintas de modo que possam ser bem percebidas.

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124 © Cartograia Temática

Prosseguindo o exemplo da unidade anterior, distribuição


da população da microrregião de Iguatemi (MS), o próximo passo
será transcrever os dados que estão dispostos em classes para o
mapa. Isto é realizado de maneira simples, vejamos.
Será associada para cada classe uma cor. Retomando o que
estudamos na Unidade 2, as cores possuem uma ordem lógica, se-
gundo sua distribuição no espectro visível de luz. Assim, as cores
nos transmitem sensações de hierarquia e ordem se usadas das
cores frias para as cores quentes.
Diante o exposto, temos que:
• Para as classes de valores mais baixos, serão associadas
cores frias.
• Para as classes de valores altos, serão associadas cores
quentes.
Na unidade anterior, chegamos aos seguintes resultados (Ta-
bela 1):

Tabela 1 Divisão das classes e distribuição de frequência da popu-


lação da microrregião de Iguatemi-MS (2001).
LIMITE LIMITE FREQUÊNCIA
CLASSES FREQUÊNCIA
INFERIOR SUPERIOR RELATIVA (%)
1 4.020 7.357 3 18,8
2 7.358 10.695 4 25
3 10.696 14.033 4 25
4 14.034 17.371 2 12,5
5 17.372 20.709 2 12,5
6 > 20.710 1 6,3

Transcrevendo os valores numéricos para os valores visuais,


observe, na Figura 1, as sugestões das seguintes cores:
© U4 - Métodos de Representação da Cartograia Temática 125

Figura 1 Apresentação dos intervalos de classe segundo a ordem cromática.

Agora, basta identificarmos os municípios e atribuir a cada


um deles a cor que corresponde à sua classe.
Dessa maneira, obtemos o seguinte mapa coroplético (Figu-
ra 2).

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126 © Cartograia Temática

Figura 2 Mapa coroplético: Distribuição da população na microrregião - MS.


© U4 - Métodos de Representação da Cartograia Temática 127

Preste atenção nas cores que foram usadas. Poderiam ter


sido usadas uma infinidade de técnicas, como harmonia monocro-
mática e harmonia policromática, e aplicadas infinitas variações de
cores, até mesmo com a sequência mais usual, verde claro, verde
escuro, amarelo, laranja e vermelho. Contudo, neste último caso,
teríamos a nítida impressão de ordem entre as classes, pois o ver-
melho destacaria em muito a última classe, "camuflando" a clas-
ses mais baixas.
Vale ressaltar que, no mapa apresentado na Figura 2, todas
as classes possuem o mesmo valor de importância, portanto, op-
tou-se por usar cores de matizes próximos, mantendo a saturação
e o brilho constantes para todas.
Caso nosso objetivo fosse analisar as áreas que possuíssem
mais de 20.710 habitantes, aí sim o vermelho seria uma boa esco-
lha. Inclusive, deveria vir discriminado no título do mapa enfati-
zando a classe.
Reafirmando o que já discutimos, a principal desvantagem
deste tipo de mapa é a generalização, pois ele mostra a informa-
ção distribuída uniformemente em cada unidade de análise, no
caso do exemplo, o município, sem considerar a área urbana ou
rural.

6. MÉTODOS DE MAPEAMENTO PARA DADOS QUAN-


TITATIVOS: MAPAS ISOPLÉTICOS
A origem da palavra “iso” vem do grego e significa igual, e
“Plethos” significa valor, por isso, isoplético quer dizer de mesmo
valor.
O método isoplético é aplicável para fenômenos geográfi-
cos contínuos na natureza, como pressão, temperatura, umidade,
densidade populacional etc.

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128 © Cartograia Temática

Os valores que podem ser mapeados por este método são:


médias, razões, proporções e medidas de dispersão, sempre en-
volvendo áreas. Lembre-se, porém, de que os fenômenos discre-
tos não podem ser mapeados por esse método.
Ao contrário do método coroplético, o mapa de isolinhas
mostra claramente em que direção no espaço o fenômeno cresce
ou decresce. Os dados não são distribuídos por unidades geográ-
ficas de estudo, e sim por sua distribuição contínua no espaço ge-
ográfico.
A Figura 3 mostra o mapa de distribuição das chuvas para a
bacia do rio Corumbataí – SP, elaborado a partir da interpolação
de dados pluviométricos obtidos em postos meteorológicos. Ob-
serve.
© U4 - Métodos de Representação da Cartograia Temática 129

Fonte: adaptado de CEAPLA/IGCE/UNESP (2006).


Figura 3 Mapa Isoplético: distribuição das chuvas na bacia hidrográfica do rio Corumbataí
– SP.

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130 © Cartograia Temática

Para a construção deste mapa, apresentado na Figura 3, fo-


ram plotados na base cartográfica da bacia do rio Corumbataí os
pontos onde estavam localizadas as estações meteorológicas. Em
seguida, foram definidos os números de classes e respectivos in-
tervalos. Com base nos dados de chuva dos postos pluviométricos
situados na área da bacia e em seu entorno imediato, foram ob-
tidas isoietas ligando os valores pertencentes às mesmas classes.
Para o mapa da Figura 3, as isoietas foram obtidas utilizando
interpolador no software ARC-GIS. A introdução dos computado-
res para gerar mapas tornou o método de isolinhas ou isopléticos
muito mais fácil e rápido.

7. MÉTODOS DE MAPEAMENTO PARA DADOS QUA-


LITATIVOS: COLEÇÃO DE MAPAS
Martinelli (1991) sugere que o termo qualitativo seja substi-
tuído por representações tipológicas, pois esses mapas tratam da
diversidade entre objetos, os quais se diferenciam pelo seu tipo.
Na Unidade 1, vimos que o terceiro componente da imagem,
componente “Z”, pode expressar apenas um atributo, o que nos
remete, na maioria das vezes, para soluções exaustivas, pois a di-
versidade dos objetos é representada sobre o mesmo mapa. Veja
a Figura 4.
© U4 - Métodos de Representação da Cartograia Temática 131

Figura 4 Mapa qualitativo apresentado de modo exaustivo: sobreposição de informações


geográficas.

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132 © Cartograia Temática

Como solução para este problema, de modo a eliminar a po-


luição visual na imagem, sugerimos o método de coleção de ma-
pas, disponível na Figura 5.

Figura 5 Mapa qualitativo apresentado por método de coleção de mapas.


© U4 - Métodos de Representação da Cartograia Temática 133

Assim, a solução é gerar, a partir do mapa de superposição


dos atributos, vários mapas, cada um contendo uma variável ma-
peada. Portanto, se há quatro variáveis, deverão ser apresentados
quatro mapas, se houver seis variáveis, seis mapas, e assim por
diante.
Este método permite ao receptor da mensagem captar ime-
diatamente a distribuição espacial do atributo desejado, mas sem
perder a noção de conjunto dos dados.

8. MÉTODOS DE MAPEAMENTO PARA REPRESENTA-


ÇÕES DINÂMICAS: REPRESENTAÇÃO POR FLUXO
Este tipo de representação tem por característica mostrar o
movimento do fenômeno ao longo do espaço. Para representar a
ordem ou a proporção do fenômeno, pode-se utilizar diferentes
espessuras ou tonalidades nas linhas.
Segundo Joly (2003), para os mapas de deslocamento no es-
paço, ou mapas de fluxos, a dificuldade está em sugerir visualmen-
te, num plano estático, a cinemática que se sucede no espaço.
A representação mais corrente consiste em simbolizar o mo-
vimento por vetores, traçados sobre a rota que se quer represen-
tar. Os vetores assumem formas de flechas ou de faixas, contínuas
ou tracejadas, qualificadas por configurações de cores e quantifi-
cadas por larguras proporcionais. Observe a Figura 6.

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134 © Cartograia Temática

Figura 6 Mapa de Fluxos: apresentação da intensidade de veículos em rodovias Federais -


MS.
© U4 - Métodos de Representação da Cartograia Temática 135

9. MÉTODOS DE MAPEAMENTO PARA REPRESENTA-


ÇÕES DINÂMICAS: REPRESENTAÇÃO CRONOLÓGICA
Segundo Martinelli (1991), as variações no tempo podem
ser apreciadas em termos qualitativos, como o avanço da devas-
tação florestal de uma área, expansão urbana, ou como natureza
quantitativa, como crescimento de uma população.
Ambos os mapas, quantitativo e qualitativo, podem ser apre-
sentados mediante uma série de mapas, conforme demonstrado
na Figura 7, ou por meio de um único mapa, conforme disposto na
Figura 8.

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136 © Cartograia Temática
© U4 - Métodos de Representação da Cartograia Temática 137

Figura 7 Mapa Cronológico: Evolução do Bioma Cerrado na bacia hidrográfica do rio


Corumbataí – SP – 1962 a 2003.

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138 © Cartograia Temática

Joly (2003) comenta que para exprimir uma verdadeira


evolução, uma sequência de transformações num mesmo sentido,
o melhor meio é cartografar as situações sucessivas realizadas no
decorrer do tempo.

Fonte: adaptado de Rosseti (2006, n. p).


Figura 8 Mapa Cronológico: expansão da área Urbana no município de Rio Claro - 1972 a 1988.
© U4 - Métodos de Representação da Cartograia Temática 139

Repare que o sentido do tempo no mapa apresentado na


Figura 8 ocorre de um tom mais claro para um mais escuro, da cor
ouro para a cor vermelha.
Vale destacar que este tipo de representação condiciona fa-
lhas, pois as imagens são puramente estáticas, mais abstratas que
o real. Porém, a aplicação deste método tem preferência nos casos
de fenômenos relativamente estáveis no intervalo de tempo esco-
lhido.

10. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS


Ao finalizar seus estudos, procure responder às seguintes
questões:
1) Quais são as características dos mapas coropléticos? Dados de que natureza
podem ser representados segundo esse método?

2) Quais são os fenômenos geográficos passíveis de representação por método


isoplético? Quais são suas vantagens e desvantagens?

3) Os exemplos que vimos nesta unidade serviram como estratégias eficientes


para garantir a sua aprendizagem?

11. CONSIDERAÇÕES
Procure analisar os mapas apresentados nesta unidade. Per-
ceba a disposição dos elementos no conjunto do mapa: as letras
usadas, os elementos comuns a todos os mapas, o uso das coor-
denadas geográficas, os mapas de localização, as cores, o título, a
legenda etc. Lembre-se de que não há regras para a disposição dos
elementos em um mapa, mas há elementos que são essenciais em
sua diagramação.
Novamente, ressaltamos que o senso artístico para deter-
minar a harmonia e a clareza da apresentação do conjunto e o
"bom senso" devem prevalecer sobre qualquer regra inflexível da
apresentação cartográfica. Caso você não tenha ainda esse "sen-

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140 © Cartograia Temática

so" apurado, exercite-se! Analise a disposição dos objetos em seu


dia a dia. Não é preciso se prender a mapas, mas observe o espaço
geográfico de seu cotidiano. Repare nos ambientes que o deixam
à vontade e tente perceber o arranjo dos objetos desse espaço,
suas cores.
Nesse sentido, a natureza dá a nós inúmeros exemplos de
harmonização de ambiente, especialmente no que se refere às
cores. Esse exercício o ajudará a estimular a sua percepção para
as coisas e, consequentemente, o auxiliará não só na Cartografia,
como também em outras atividades.
Nesta unidade, encerramos os métodos de representação
gráfica em mapas. Se recordarmos a Unidade 1, veremos que os
elementos da representação gráfica não se restringem a mapas,
uma vez que englobam, também, os diagramas e os cartodiagra-
mas.
Na próxima unidade, estudaremos alguns modelos de gráfi-
cos e tabelas para apresentação de dados.
Até lá!

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


JOLY, F. A Cartografia. Campinas: Papirus, 2003.
MARTINELLI, M. Curso de Cartografia Temática. São Paulo: Contexto, 1991.
EAD
Cartografia de Síntese
e Outras Formas de
Visualização
da Informação
Espacial 5
1. OBJETIVOS
• Compreender o conceito de síntese cartográfica e reco-
nhecer sua importância para a Cartografia Temática.
• Identificar, além do uso dos mapas, outras possibilidades
de apresentação dos dados geográficos.

2. CONTEÚDOS
• Pressupostos da síntese cartográfica e meios para sua
execução.
• Tipos e construção de cartogramas e diagramas.

3. ORIENTAÇÃO PARA O ESTUDO DA UNIDADE


1) O desenvolvimento da técnica de síntese cartográfica,
foco desta unidade, depende muito mais do seu domí-
142 © Cartograia Temática

nio sobre assunto de interesse a ser mapeado, do que


dos conhecimentos cartográficos em si. Nesse método,
é importante o bom manuseio das técnicas cartográfi-
cas, no entanto, a síntese envolve um esforço maior por
parte do cartógrafo na atividade de abstração e generali-
zação das informações. Esses dois procedimentos, como
você perceberá na prática, demandam grande sensibi-
lidade sobre o tema tratado, ainda mais pelo fato de a
síntese representar a consequência, condicionada pela
integração de dois ou mais "fatos", "fenômenos" ou da-
dos de natureza diferentes.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Entre os exemplos de mapas expostos até o momento, todos
representavam uma única variável, como, por exemplo, o mapa de
uso da terra e cobertura vegetal natural, apresentado na Unidade
1, e o mapa de distribuição da população, exposto na Unidade 3.
Contudo, pode ocorrer a necessidade de representar duas
ou mais variáveis que estabelecem relação entre si em um único
mapa. Como resolver este problema? Ora, a solução imediata é
óbvia, fazer uma sobreposição de informações ou uma justaposi-
ção entre elas!
Sabemos, no entanto, que a apresentação demasiada de da-
dos num único documento conduz à exaustão visual e é totalmen-
te contrária às normas da comunicação cartográfica, que primam
pela visualização imediata do mapa, ou, por sua leitura simples.
Desse modo, para resolver este problema, é necessário
realizar um cruzamento de informações entre as variáveis
consideradas, de maneira a sintetizar as informações, ou seja,
elaborar um mapa síntese.
O procedimento manual para elaboração de mapas síntese
não é simples de ser realizado, depende inclusive de algumas téc-
nicas de desenho e aparelhos específicos, como mesa de luz.
© U5 - Cartograia de Síntese e Outras Formas de Visualização da Informação Espacial 143

Daí a importância de conhecermos os pressupostos da sín-


tese cartográfica e distingui-la da ideia de superposição de infor-
mações.
Em unidades anteriores, conhecemos os diferentes métodos
de representação gráfica por meio de mapas, e vimos que o uni-
verso das representações gráficas se estende também aos diagra-
mas (gráficos e tabelas).
Os diagramas têm a mesma finalidade do mapa, que é apre-
sentar, sinteticamente, dados na forma de informação visual. Con-
tudo, a grande diferença entre mapas e diagramas é que estes
últimos não têm a capacidade de espacializar a informação, po-
rém, podem servir como auxílio na geração de mapas, ou mesmo
acompanhar o mapa para facilitar sua análise e interpretação. Nes-
ta unidade, abordaremos os pressupostos da síntese cartográfica
e algumas maneiras de apresentação dos dados em formato de
gráficos e tabelas.

5. SÍNTESE CARTOGRÁFICA
Grande parte dos livros de Cartografia ou de Cartografia Te-
mática não aborda a síntese cartográfica. Ou, quando abordado, o
assunto é mencionado nos tópicos de generalização cartográfica,
o que é um erro.
Joly (2003) denomina a cartografia de síntese como Carto-
grafia das Correlações, dando um enfoque claro da problemática
em seu livro A Cartografia.
A generalização cartográfica corresponde na verdade à es-
colha do nível visual das informações (seus detalhes) que devem
compor um mapa. Ela é determinada exclusivamente em função
da escala cartográfica adotada no trabalho.

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144 © Cartograia Temática

Martinelli (1991) comenta que o fato de haver confusão no


conceito de síntese cartográfica conduz os redatores cartográfi-
cos a elaborarem mapas muito confusos, nos quais se acumulam
uma multidão de informações, representadas por hachuras, cores
e símbolos, e até mesmo índices alfa-numéricos, que, segundo o
autor, nega a própria ideia de síntese.
Para Martinelli (1991), em uma síntese cartográfica não
pode haver elementos em superposição, e sim uma fusão deles
em tipos.
Assim, o que Martinelli (1991) quer dizer com "tipo" é que a
junção de duas ou mais variáveis devem ser fundidas em um único
atributo, um único tipo, e que obter agrupamentos de unidades
espaciais em função de vários critérios é mapear o resultado ob-
tido!
Joly (2003) comenta que os mapas de correlação, nome dado
pelo autor para designar os mapas síntese, combinam, em um
mesmo fundo, duas ou mais variáveis do espaço, entre as quais se
pretende exprimir relações lógicas. E, ainda, destaca que o grande
diferencial dos mapas de correlação é que eles têm a capacidade
de informam ao leitor os laços de causalidade ou de dependência
existente entre vários dados.
Lembre-se de que a busca pela correlação entre os fenôme-
nos é a essência da Geografia. A partir do momento que conse-
guimos estabelecer a ligação de causa e efeito que se processa na
natureza, ou mesmo na sociedade em sua produção do espaço,
damos um passo à frente na compreensão da dinâmica do sistema
Terra. A correlação nos induz a uma abordagem sistêmica na ma-
neira de vermos o mundo!
É possível a Cartografia contribuir, no Ensino Básico, de
modo a desenvolver uma percepção da correlação dos fenômenos
e ao mesmo tempo contribuir com o desenvolvimento da educa-
ção ambiental? Reflita sobre essa questão.
© U5 - Cartograia de Síntese e Outras Formas de Visualização da Informação Espacial 145

De acordo com Joly (2003), os mapas de correlação não são


simples, pois, mais do que mapas de referência, eles são mapas de
explicação e de comunicação.
Quando houve maior integração da informática com as Geo-
ciências, os mapas síntese tiveram seu ápice nos estudos ambien-
tais, pois mapas que levavam meses para serem finalizados tive-
ram seu tempo reduzido a semanas ou a dias de trabalho.
Para exemplificar um tipo de mapa síntese, ou mapa de
correlação, veja a seguir, na Figura 1, um mapa típico de levanta-
mentos ambientais, que é o mapa de Potencial Natural de Erosão
(PNE). O PNE é o resultado da combinação dos dados que compõe
os elementos do meio físico de uma área, como predisposição de
determinado solo à erosão, declividade e extensão da vertente. O
cruzamento dessas informações gera um material cartográfico que
demonstra onde a sobreposição destes fatores indica um ponto
crítico do solo vulnerável à erosão, ou mesmo os pontos mais re-
sistentes da área.

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146 © Cartograia Temática

Figura 1 Mapa Síntese – Cruzamento de diversas informações para elaboração do mapa de


Potencial Natural de Erosão (PNE).
© U5 - Cartograia de Síntese e Outras Formas de Visualização da Informação Espacial 147

6. OUTRAS FORMAS DE REPRESENTAÇÃO GRÁFICA:


DIAGRAMAS
Os diagramas, como se sabe, não são de domínio da Carto-
grafia, mas sim uma ferramenta utilizada por todas as áreas do co-
nhecimento que se utilizam deste meio para expressar seus dados
de modo resumido, ordenado e objetivo.
É importante lembrarmos que os diagramas estão inseridos
no universo das representações gráficas, conforme apresentado na
Unidade 1, por meio da Figura 1. Logo, seu objetivo é apresentar,
assim como os mapas, um documento visual, esteticamente har-
monioso e que respeite algumas normas de representação. Assim,
para cada natureza do dado e objetivo da pesquisa ou trabalho, há
a necessidade de escolher uma "representação ideal" para o con-
junto de dados, e essa escolha não tem uma regra, apenas, como
já dito anteriormente, dependerá do bom senso de quem a faz.
Duarte (1991, n. p.), ao tratar dos diagramas na Cartografia,
resume claramente seus objetivos:
a. Concentrar a massa de informações, reduzindo o conjunto ao
que é mais significativo.
b. Facilitar a análise dos dados, dando uma visão de conjunto.
c. Facilitar o estabelecimento de comparações.
d. Possibilitar uma visão temporal e espacial do comportamento
do fenômeno enfocado.
e. Permitir a leitura de dados quantitativos e qualitativos.
f. Fornecer subsídios para orientar a análise de um fato.

Esses objetivos são plenamente atendidos por meio de tabe-


las e gráficos que formam o conjunto dos diagramas.
Quando na Cartografia há o emprego de gráficos junto aos
mapas ou intercalados a eles, de maneira a completar informa-
ções sobre determinado tema, chamamos esse método de Car-
todiagramas. Esse método é expressivamente usado em vários
livros e materiais didáticos, mas, muitas vezes, ele pouco ajuda na

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148 © Cartograia Temática

compreensão do conteúdo apresentado, pois não possui uma boa


apresentação visual.

Tipos de gráficos
Os gráficos são elaborados tendo como referência um
conjunto de dados, geralmente dispostos em tabelas.
Na literatura, encontramos "tabela" descrita como "séries
estatísticas", correspondendo à organização dos dados em uma
tabela ou em um quadro.
Os dados em uma tabela podem ser organizados segundo o
tempo, o espaço ou a categoria do fenômeno observado:
• Tempo (série histórica): registro de uma série de observa-
ções em instantes distintos ao longo do tempo, manten-
do-se fixas a área de análise e a categoria (LOCH, 2006).
• Espaço (série geográfica): informações colhidas em luga-
res distintos, e são mantidos fixos o tempo e as categorias
de análise.
• Categoria (série categórica): quando mostra o registro
de dados diversos, mantendo fixos a área em análise e o
tempo considerado.
Muitas vezes, as tabelas são suficientes para apresentar um
conjunto de dados, principalmente se estes não forem extensos,
e quando se está considerando no máximo duas ou três variáveis.
Caso contrário, a elaboração de simples gráficos garante o objetivo
da representação gráfica.
Para se criar um gráfico é preciso primeiro conhecer o tipo
de informação que se deseja transmitir, assim como toda tradu-
ção gráfica, pois um gráfico poderá informar de forma visual as
tendências de uma série de valores em relação a um determinado
espaço de tempo, a comparação de duas ou mais situações etc.
Os gráficos descritos a seguir estão baseados no livro de Ruth
Nogueira Loch (2006), e serão expostos de maneira simplificada. A
© U5 - Cartograia de Síntese e Outras Formas de Visualização da Informação Espacial 149

elaboração minuciosa desses gráficos está descrita em livros de


estatística descritiva e na grande maioria dos livros de Cartografia
Temática. Observe.

Gráfico de linhas
Segundo Loch (2006), este tipo de gráfico é recomendado
para apresentação de frequência acumulada ou porcentagem acu-
mulada, e para apresentação de séries temporais. Observe a Figu-
ra 2.

Fonte: adaptado de Meneses e Madeira Neto (2001, n. p.).


Figura 2 Gráfico de linhas: distribuição espectral de alvos naturais.

Gráfico de barras
O gráfico de barras ou de colunas é uma das mais antigas
formas de representar dados em gráficos.
Este tipo de gráfico é útil para comparar quantidades entre
diversos grupos, facilitando ao leitor a tarefa de elaborar extensos
julgamentos.
Alguns trabalhos apontam que mais de duas categorias em
lugares distintos ou mais de dois lugares em tempos diferentes são
difíceis de serem comparados com a construção de um único grá-

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150 © Cartograia Temática

fico de barra ou de colunas. Assim, a solução para isso é transfor-


mar um único gráfico com várias informações em um conjunto de
gráficos. Observe a Figura 3.

Fonte: Loch (2006, p. 276).


Figura 3 Série histórica em gráfico de barras: Densidade demográfica das macroregiões do
Brasil.

Lembre-se de que o Histograma visto na Unidade 3 é um grá-


fico de barras, porém, representa exclusivamente a frequência das
ocorrências.

Gráficos de setores
Devido à sua aparência, são comumente chamados de gráfi-
co de pizza ou torta. Assim como os de coluna, também são muito
utilizados para representar séries estatísticas ou observações di-
retas.
© U5 - Cartograia de Síntese e Outras Formas de Visualização da Informação Espacial 151

Figura 4 Gráfico de setores: Distribuição das áreas em termos de uso da terra e cobertura
vegetal na bacia hidrográfica do Ribeirão Jacu - SP.

O gráfico de setores deve ser utilizado especialmente quan-


do se quer comparar cada valor da série com o total. Aconselha-se
a não ultrapassar o máximo de seis valores.

Gráfico triangular
De acordo com diversos autores, este tipo de gráfico tem
sido mais usado na Geografia do que em outras disciplinas. Loch
(2006) destaca que o gráfico triangular é mais apropriado para
leitura do que para comparação visual imediata.
Ainda segundo Loch (2006), o gráfico triangular não é de
fácil execução, ele é utilizado para representar três componentes
ou variáveis em quantidades diferentes que formam o todo. Dessa
forma, cada lado do triângulo serve de linha base para uma vari-
ável.
Na Geografia, o emprego mais comum deste gráfico é para
representar a textura do solo. Ele ilustra os componentes de areia,

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152 © Cartograia Temática

argila e silte. No entanto, ele não se limita à representação deste


fenômeno. O gráfico triangular pode ainda ser usado sempre que
a soma das três partes constituírem o todo, como, por exemplo,
a porcentagem da população economicamente ativa nos três se-
tores: primário, secundário e terciário. Observe, na Figura 5, um
dado hipotético.

Figura 5 Gráfico Triangular: distribuição dos setores econômicos de determinada região.

Atualmente, os programas computacionais oferecem ferra-


mentas muito práticas para elaboração de gráficos e tabelas, con-
tudo, saber usá-los e saber escolher a melhor forma de represen-
tação tornaram-se as partes mais difíceis do trabalho.
© U5 - Cartograia de Síntese e Outras Formas de Visualização da Informação Espacial 153

7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Para formalizar o aproveitamento de seus estudos sobre o
conteúdo desta unidade, vamos, neste momento, responder às
questões autoavaliativas.
1) Um mapa síntese pode ser encarado com um mapa temático comum? Qual
é a relação fundamental que ele representa entre as variáveis abordadas no
mapa?

2) Quais são os objetivos dos diagramas?

3) Como os diagramas podem ajudar os mapas? O uso de cartodiagramas é


indicado? Você acha que eles atendem às diretrizes da comunicação visual?

8. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, apresentamos mais alguns complementos
para representação gráfica, como os diagramas.
O jornal, mídia impressa, faz bom uso de diagramas, princi-
palmente de cartogramas para ilustrar o conteúdo da matéria vei-
culada. Contudo, na Educação Básica, nem sempre vemos o em-
prego correto dos diagramas, cabendo a você, futuro licenciado
em Geografia, esclarecer aos seus alunos os eventuais erros de um
material didático ou mesmo potencializar o que está sendo apre-
sentado.
Inúmeras teses e dissertações elaboradas nos últimos anos
que analisam materiais didáticos de Geografia enfatizaram a ques-
tão do uso do mapa nas séries do Ensino Básico, e, como resulta-
do, chama a atenção de que o mau uso do material cartográfico
é decorrente da má formação do professor de Geografia na área
cartográfica.
Portanto, procure compreender todo o conteúdo, discuti-lo
com seus colegas e retirar eventuais dúvidas com o tutor, além
de encarar os exemplos e as figuras expostos nesta unidade como
ferramentas para sua reflexão na condição de futuro responsável
pela formação de novos indivíduos.
Claretiano - Centro Universitário
154 © Cartograia Temática

Você já parou para pensar em como usar todas essas


ferramentas a seu favor no ensino da Geografia? Pense nisso.

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DUARTE, P. A. Cartografia temática. Florianópolis: UFSC, 1991.
JOLY, F. A Cartografia. Campinas: Papirus, 2003.
LOCH, R. N. Cartografia: representação, comunicação e visualização de dados espaciais.
Florianópolis: UFSC, 2006.
MARTINELLI, M. Curso de Cartografia Temática. São Paulo: Contexto, 1991.
MENESES, R.; NETO, J. S. M. Sensoriamento remoto: reflectância e alvos naturais. Brasília:
UnB, Planaltina: Embrapa Cerrados, 2001.
EAD
Cartografia Digital:
Compreendendo a
Organização do
Espaço Geográfico 6
1. OBJETIVOS
• Apresentar temas pertinentes ao atual momento da Car-
tografia, considerando seu viés tecnológico e educacio-
nal, oferecendo conteúdo crítico para discussão e avalia-
ção de sua utilização.
• Compreender o conceito de geotecnologias, enfatizando
as ferramentas de geoprocessamento no contexto da atu-
al produção cartográfica.
• Criticar o uso da Cartografia nos Ensinos Fundamental e
Médio.

2. CONTEÚDOS
• Evolução das geotecnologias e novas ferramentas de mo-
nitoramento e planejamento do espaço geográfico.
• Cartografia e educação.
156 © Cartograia Temática

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


1) A temática apresentada nesta unidade é relativamente
recente se comparada ao que foi visto anteriormente.
A facilidade de acesso às geotecnologias vem acompa-
nhando o desenvolvimento e a difusão da informática,
da internet e das redes sociais. Observa-se que hoje há
um grande conteúdo de informações disponíveis, mun-
dialmente conhecidas como geoinformação. É impor-
tante atentar-se a fóruns virtuais de discussão e sites
especializados no assunto para que você acompanhe o
rápido desenvolvimento de novos conceitos, bem como
faça parte da estruturação de um novo paradigma que
está sendo absorvido pela ciência cartográfica.
2) Fique atento ao fato de que, por mais que surjam novas
propostas e meios para representar os elementos geo-
gráficos, as bases da semiologia gráfica e a cartografia
enquanto meio de comunicação se mantêm. Contudo,
o que antes era obtido com muito esforço manualmen-
te de forma analógica, hoje o meio digital oferece com
inúmeras facilidades. A real evolução está fortemente
vinculada à acurácia com que as informações são adqui-
ridas e nos meios a que as geoinformações podem ser
veiculadas.
3) Lembre-se de que não há uma regra de como utilizar as
tecnologias geográficas no ensino. O ideal é que você te-
nha ciência de sua potencialidade e compreenda como
extrair o máximo da Cartografia no ensino. De posse dis-
so, sua criatividade indicará o melhor caminho!

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nas unidades anteriores, tivemos a oportunidade de conhe-
cer, estudar, discutir e compreender as bases teórico-conceituais
e práticas da Cartografia Temática. Enfatizamos a veiculação da in-
formação espacial pela ótica da comunicação cartográfica e enten-
demos que essa abordagem é um facilitador para transmissão do
conhecimento, acentuando o caráter de linguagem da Cartografia.
© U6 - Cartograia Digital: Compreendendo a Organização do Espaço Geográico 157

Por ser a Cartografia uma linguagem universal, há a neces-


sidade de representar determinados elementos por meio de con-
venções cartográficas; todavia, destacamos que é o bom senso ar-
tístico e científico que sobressai na redação de um mapa temático.
Atualmente, a Cartografia possui o auxílio dos computado-
res e de softwares especializados em armazenar e editar informa-
ção georreferenciada (objeto “georreferenciado” significa dizer
que um determinado elemento – seja um dado, seja um fenôme-
no – contempla informação relativa à sua localização no espaço),
por meio de um Banco de Dados, auxiliando a visualização (mapas,
gráficos e tabelas), além de permitir cruzamento entre diferentes
informações. Os Sistemas de Informações Geográficas – SIG – são
exemplos desses softwares especialistas, que garantem matema-
ticamente a precisão das informações representadas, atribuindo à
Cartografia Digital um status de primordial importância e interdi-
cisplinaridade.
Devemos sempre nos lembrar da utilidade social das ciên-
cias e, para a Cartografia, sua aplicação em âmbito do planejamen-
to e gerenciamento de elementos do meio ambiente confere be-
nefícios sociais a curto e médio prazos, devendo-se em muito ao
desenvolvimento das geotecnologias, que amplia as possibilidades
de interpretação do contexto geográfico por parte dos agentes so-
ciais.
O avanço tecnológico inserido na Cartografia também pode
ser estendido às salas de aula, em todos os níveis de ensino e,
se utilizado da maneira correta, pode em muito contribuir com o
desenvolvimento do aluno e na sua capacidade de compreender a
organização do espaço.
Temos, agora, a proposta de oferecer dois temas relativa-
mente distintos, mas que o ajudarão no exercício da reflexão e crí-
tica do uso da Cartografia no ensino da Geografia, considerando
um mundo extremamente dinâmico, em que as transformações

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158 © Cartograia Temática

territoriais são aceleradas, e a compreensão da organização do


espaço é pré-requisito para intervenções sociais ambientalmente
sustentáveis!

5. GEOTECNOLOGIAS: O SENSORIAMENTO REMOTO


NA AQUISIÇÃO DE DADOS GEOGRÁFICOS E O SIG
COMO MEIO DE VISUALIZAÇÃO
No território brasileiro, os problemas ambientais têm
sido intensificados como resultado da velocidade e extensão da
ocupação do homem, particularmente a partir da década de 1950.
Assim, fez-se necessária a utilização de tecnologias que
possuíssem agilidade para acompanhar as mudanças na paisagem,
com o intuito de detectar e monitorar sistematicamente os
problemas ambientais.
Neste contexto, as técnicas de sensoriamento remoto têm se
mostrado importantes instrumentos para execução das atividades
de monitoramento no meio ambiente, uma vez que elas permitem
uma visão detalhada e sinótica da superfície terrestre.

ATENÇÃO!
Os sistemas sensores, principalmente os orbitais, viabilizam o le-
vantamento, a análise e o monitoramento sistemático de elemen-
tos do meio físico terrestre. Como exemplo de monitoramento,
podemos destacar o programa do Instituto de Pesquisas Espa-
ciais – INPE, denominado Sistema DETER – Detecção de Des-
matamento em Tempo Real (http://www.obt.inpe.br/deter/), entre
outros, como PRODES (http://www.obt.inpe.br/prodes/index.html)
e CANASAT (http://www.dsr.inpe.br/laf/canasat/).

De acordo com Novo (1992, p. 15), o sensoriamento remoto


é um sistema composto por duas fases principais, a saber:
• Aquisição de dados: relacionado a processos de detecção
e registros das informações.
© U6 - Cartograia Digital: Compreendendo a Organização do Espaço Geográico 159

• Análise de dados: constitui no tratamento e interpreta-


ção das informações obtidas pelo sistema sensor.
Dessa forma, os produtos originados a partir do sensoria-
mento remoto, em nível de plataformas aéreas ou orbitais, vêm se
tornando indispensáveis aos trabalhos que se destinam à temática
geo-ambiental. A periodicidade com que os dados são disponibi-
lizados viabiliza a realização dos trabalhos, pois a atual tecnologia
permite a obtenção de sucessivos registros para um mesmo local,
permitindo a caracterização e o controle sistemático das áreas de
interesse.
As técnicas de sensoriamento remoto envolvem a utilização
de imagens obtidas a partir de diversos tipos de sistemas sensores,
destacando-se as fotografias aéreas e aquelas obtidas por meio de
plataformas orbitais, permitindo a aquisição de informações em
diferentes níveis, para diferentes objetivos temáticos.
As fotografias aéreas são produtos de larga aplicação para a
identificação e mapeamento dos recursos naturais utilizados em
diversos estudos temáticos. Para Garcia (1982), as fotografias aé-
reas podem aumentar consideravelmente o rendimento das ope-
rações relativas ao planejamento de bacias de drenagem, mapea-
mento de solos e uso e manejo das terras em função da sua boa
resolução espacial. Destacamos, também, a importância das foto-
grafias aéreas para a caracterização dos elementos da paisagem,
tais como a geometria das vertentes, especialmente favorecidas
pela visão estereoscópica dos pares aerofotográficos.

Informação complementar –––––––––––––––––––––––––––––


Imagens ou fotograias aéreas de mesma área, porém, obtidas de uma posição
diferente, nos permitem uma visão tridimensional da paisagem. Segundo
Florenzano (2002), a estereoscopia refere-se ao uso da visão binocular na
observação de um par de fotograias ou imagens desse tipo. Ela é um recurso
que proporciona, mantendo a perspectiva vertical, uma visão de imagens ou
fotograias em três dimensões (3D). O estereocópio é o equipamento utilizado
para observarmos pares estereoscópicos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

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160 © Cartograia Temática

Entre as fotografias aéreas, as mais utilizadas são as pancro-


máticas, referentes à faixa da luz visível do espectro eletromagné-
tico. Entretanto, em alguns trabalhos, tem sido utilizado um tipo
especial de fotos aéreas coloridas que abrangem a porção do infra-
vermelho próximo, e são denominadas de falsa-cor, uma vez que
nelas as cores naturais dos alvos apresentam-se modificadas, e o
infravermelho próximo não se associa a nenhuma cor naturalmen-
te perceptível pelo olho humano.

INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR:
A aquisição de dados de uso do solo/cobertura vegetal por meio
de registros aerofotogramétricos é realizada por procedimentos de
foto-interpretação, amplamente difundidos por manuais específi-
cos, como o American Society of Photogrammetry (1952).

No procedimento de interpretação das imagens, devem ser


analisados elementos como a forma, a tonalidade, a textura, o pa-
drão e os arranjos dos outros alvos da superfície analisada. Assim,
torna-se necessário para a interpretação dos registros o conheci-
mento do comportamento espectral de alvos (objetos terrestres)
e o conhecimento dos fatores que os influenciam.
No entanto, uma das desvantagens apresentadas pelas fo-
tografias aéreas reside no fato de que a análise mais detalhada
da variação da cobertura vegetal em termos temporais torna-se
limitada pela ausência de constantes recobrimentos aerofotogra-
métricos, em pequenos intervalos temporais, como, por exemplo,
a cada semana ou a cada dia. E, como alternativa, sugere-se o uso
de imagens orbitais para a avaliação ambiental, pois o sensoria-
mento remoto orbital propicia maior frequência de imagens para
a atualização de dados.
Os sistemas de sensoriamento remoto orbital tiveram seu
advento a partir do ano de 1972, com o lançamento do primeiro
satélite da série Landsat, pela NASA. Em 1984, a agência espacial
francesa CNES lançou o primeiro satélite da série SPOT. Desde en-
© U6 - Cartograia Digital: Compreendendo a Organização do Espaço Geográico 161

tão, inúmeros trabalhos são desenvolvidos visando à caracteriza-


ção do meio ambiente e ao levantamento dos indicadores que pro-
movem sua degradação.

A extensão do território brasileiro e o pouco conhecimento dos


recursos naturais, aliados ao custo de se obter informações por
métodos convencionais, foram fatores decisivos para a entrada do
país no programa de sensoriamento remoto por satélite.

A partir de de 1999, com a nova geração de sistemas de


sensoriamento remoto, estão disponíveis à comunidade científica
imagens orbitais de alta resolução espacial, como, por exemplo, os
sistemas Ikonos II e QuickBird, respectivamente, com resoluções
nominais de até 1metro e 60 centímetros em seus módulos pan-
cromáticos.
Atualmente, a repetitividade de cobertura proporcionada
pelos sistemas orbitais, com capacidade de obter imagens com
frequências que variam entre 5, 16, 26 dias sobre um dado ponto
na superfície terrestre, favorece o acompanhamento de alvos que
apresentam caráter dinâmico, como é o caso das alterações da co-
bertura vegetal face à agressiva intervenção do homem.
Com as facilidades dessas imagens orbitais de alta resolução
e possibilidade de obtenção de produtos ortoretificados, é promis-
sora a intensificação de suas aplicações em estudos de detalhes
em grandes escalas, que necessitam de informações com precisão
geométrica e cujos alvos apresentam, em geral, pequenas dimen-
sões espaciais.
Os aplicativos mais usados atualmente para o manuseio e
análise dos dados provenientes de sensores remotos são os de
Processamento Digital de Imagens e os denominados Sistemas
de Informações Geográficas - SIGs. Esses sistemas de geoproces-
samento têm se mostrado competentes para combinar diferentes
dados temáticos georreferenciados, ou seja, planos de informa-
ção, e gerar novos produtos cartográficos.

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162 © Cartograia Temática

Análise e integração de dados por meio de Sistemas de Informações


Geográficas

Historicamente, a coleta de informações sobre a distribuição


geográfica dos recursos naturais era feita por meio de documentos
e mapas em papel. No entanto, a partir do desenvolvimento de
novas tecnologias em meados do século 20, tornou-se possível o
armazenamento, manipulação e análise das informações em am-
bientes computacionais, e é neste contexto que desponta o termo
geoprocessamento (CÂMARA, 1996).

Geoprocessamento –––––––––––––––––––––––––––––––––––
O geoprocessamento engloba a área do conhecimento que tem por base
técnicas matemáticas e computacionais com a inalidade de tratamento e análise
de informações geográicas.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Dentro da tecnologia do geoprocessamento, destaca-se a
ferramenta computacional denominada Sistemas de Informações
Geográficas - SIG, ou Geographic Information Systems – GIS, que
permite realizar análises complexas, integrando dados de diversas
fontes e criando bancos de dados georreferenciados e relacioná-
veis (DRUCK, et al, 2004).
Os Sistemas de Informações Geográficas - SIGs são ferra-
mentas capazes de manipular funções que representam os pro-
cessos ambientais em diversas regiões, de uma forma simples e
eficiente, permitindo uma economia de recursos e tempo. Estas
manipulações permitem agregar dados de diferentes fontes, como
imagens de satélite, mapas topográficos, mapas temáticos etc. em
diferentes escalas. Assim, o resultado geralmente é apresentado
sob a forma de mapas temáticos com as informações desejadas.
É importante salientar que muitas vezes o termo "Sistemas
de Informações Geográficas" é confundido com o termo "Geopro-
cessamento". O Geoprocessamento, segundo Câmara (1996), é o
conceito mais abrangente e representa qualquer tipo de proces-
samento de dados georreferenciados, enquanto um Sistema de
Informações Geográficas processa dados gráficos e não gráficos
© U6 - Cartograia Digital: Compreendendo a Organização do Espaço Geográico 163

(alfanuméricos) com ênfase nas análises espaciais e modelagens


de superfícies.
Em resumo, Goodchild (1987) menciona que os Sistemas de
Informações Geográficas - SIGs constituem pacotes computacio-
nais (softwares) estruturados para aquisição, armazenagem, ma-
nipulação e suporte à análise de dados geocodificados.
Em função dessas características, a aplicação dos SIGs pode
auxiliar no desenvolvimento de instrumentos para o planejamen-
to e gestão da ocupação adequada da terra, pois contribui com
estudos ambientais ao proporcionar métodos de análise e de inte-
gração de dados referente aos aspectos sócio-ambientais de uma
área.
Quanto ao uso dos SIGs, podemos elencar quatro grandes
finalidades ligadas aos estudos ambientais:
• mapeamento temático;
• diagnóstico ambiental;
• avaliação de impacto ambiental;
• ordenamento territorial (CÂMARA et al., 1998, p. 86)

Os SIGs, por meio dos seus diferentes módulos, permitem a


elaboração das diversas análises necessárias ao conhecimento da
ocupação atual do solo em uma determinada área, além de per-
mitir a caracterização dos elementos da paisagem, fornecendo va-
lores quantitativos de suas extensões e a distribuição espacial dos
diferentes tipos de fragmentos que a compõe.
A utilização combinada das técnicas de sensoriamento remo-
to e geoprocessamento permitem a manutenção de registros do
uso da terra ao longo do tempo. As imagens de satélite tornaram-
-se muito importantes e úteis, pois permitem avaliar as mudanças
ocorridas na paisagem de uma região em um dado período, regis-
trando a cobertura vegetal em cada momento.
Já sobre a inserção dos SIGs, podemos afirmar que ela per-
mitiu quantificar e tratar as informações extraídas, gerando, sob

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164 © Cartograia Temática

supervisão do pesquisador, mapas derivados, como os de riscos


ambientais. A estrutura do SIG é capaz de armazenar informações
georreferenciadas em um banco de dados geográfico, além de per-
mitir a constante atualização dos dados e, consequentemente, a
retomada dos dados arquivados para futuros planejamentos na
área.

No Brasil, têm sido realizados eventos específicos na área de


SIGs e geotecnologias de uma forma geral. Especialmente a partir
do início dos anos de 1990, como GEOBRASIL, posteriormente
o Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto realizado pelo
INPE, têm sido apresentados e publicados trabalhos de diversos
interesses temáticos.
Deve-se destacar, também, a atenção dada nesse evento à área
da educação. Para saber mais sobre esses trabalhos, acesse o
seguinte endereço eletrônico: <http://www.dsr.inpe.br/sbsr2011>.
Acesso em: 6 jun. 2012. Confira, também, as edições anteriores.

As tecnologias geográficas ganharam dimensões que extra-


polam em muito o campo da pesquisa e, atualmente, são ferra-
mentas fundamentais em empresas privadas e em instituições go-
vernamentais em inúmeros ramos de atividade.
O forte conteúdo estratégico que as ferramentas proporcio-
nam conduziu o surgimento de grupos de discussão em rede, que
divulgam socialmente seus benefícios e estimulam o seu uso. Ne-
sas linha, softwares livres passaram a ser desenvolvidos, garantin-
do a acessibilidade do emprego da geoinformação independente-
mente da presença de capital disponível.

Para conhecer um pouco mais sobre o assunto e interagir em


diversos fóruns e redes de discussão, sugerimos o site FOSSGIS
Brasil, disponível em: <http://fossgisbrasil.com.br>, acesso em 6
jun. 2012. Nesse site, promovem-se o debate e a divulgação de
tecnologias livres de geoprocessamento.
© U6 - Cartograia Digital: Compreendendo a Organização do Espaço Geográico 165

6. CARTOGRAFIA E ENSINO: CONSTRUÇÃO SOCIAL


E MEIO ENTRE O SUJEITO E O OBJETO DE CONHECI-
MENTO
Zacharias (2008), citando Vygotsky, comenta que a lingua-
gem significa um sistema simbólico dos grupos humanos, e re-
presenta um salto qualitativo na evolução da espécie. É ela que
fornece os conceitos e as formas de organização do real, a media-
ção entre o sujeito e o objeto do conhecimento. É por meio dela
que as funções mentais são socialmente formadas e culturalmente
transmitidas, portanto, sociedades e culturas diferentes produzem
estruturas diferenciadas.
De acordo com Vygotsky (1988), a ideia de mediação indica
que, enquanto sujeito do conhecimento, o homem não tem aces-
so direto aos objetos, mas acesso mediado, por meio de recortes
do real, operados pelos sistemas simbólicos de que dispõe. Assim,
a construção do conhecimento é mediada por outros sujeitos. O
"outro sujeito" pode apresentar-se por meio de objetos, da orga-
nização do ambiente e do mundo cultural que rodeia o indivíduo.
Neste contexto, pode ser inserida a Cartografia. Como uma
linguagem mediadora entre o sujeito e o objeto do conhecimento.
Tradicionalmente, a Cartografia é subutilizada no ensino bá-
sico e reduz-se ao simplismo da mera ilustração artística, como
discute Sousa e Katuta (2001). Contudo, ela deve ser entendida
como construção social, não como algo acabado e estático.
No próximo tópico, trataremos do uso da Cartografia na edu-
cação.

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166 © Cartograia Temática

7. CARTOGRAFIA MEDIANDO A CONSTRUÇÃO DE


UM CONHECIMENTO INTEGRADO: SOCIEDADE,
NATUREZA E ESPAÇO
A organização do Ensino Fundamental, proposta pelos Parâ-
metros Curriculares Nacionais – PCNs, subdivide a estrutura curri-
cular em quatro ciclos: 1º ciclo com as 1ª e 2ª séries, 2º ciclo com
as 3ª e 4ª séries, 3º ciclo com as 5ª e 6ª séries e 4º ciclo com as 7ª
e 8ª séries. Com o propósito de minimizar possíveis problemas de
aprendizagem, o PCN prevê vários objetivos a serem alcançados
pelo aluno ao término de cada ciclo (BRASIL, 2007).
Tratando exclusivamente do PCN de Geografia, observa-se
que a maioria dos objetivos pode ser amplamente contemplada a
partir da utilização da Cartografia, pois esta contribui com a abor-
dagem de diversos temas, e como todo e qualquer novo saber,
este deve ser apresentado à “clientela” partindo das noções mais
simples até as mais complexas (ARCHELA et al., 2005).
Nesse mesmo contexto, Simielli (1986) considera a alfabe-
tização cartográfica a essência da Cartografia em termos de pro-
dução e leitura de mapas. Indica que essa alfabetização deve ser
iniciada nos primeiros anos do Ensino Fundamental, quando o pro-
cesso de ensino da linguagem gráfica é transmitido aos alunos do
1º ao 5º ano. Já do 6º a 9º ano, além da alfabetização cartográfica,
devem ser incluídas a análise, a localização e a correlação dos fa-
tores socionaturais.
Dessa forma, a prática da Cartografia é referenciada no PCN
já no 1º ciclo do Ensino Fundamental, e propõe que o espaço vivi-
do pelo aluno seja objeto de estudo ao longo desta etapa do ensi-
no, e que esse seja relacionado com o contexto mundial de forma
gradativa e cada vez mais abrangente.
Nesse sentido, o aluno inicia conhecendo o espaço de sua
sala de aula ou de sua casa. Depois, vai crescendo no conhecimen-
to do espaço de sua escola, da quadra desta escola, de seu bairro,
de sua cidade etc., até entender e compreender o espaço mundial.
© U6 - Cartograia Digital: Compreendendo a Organização do Espaço Geográico 167

Brasil (1997, p. 35), na análise do PCN, observa que os ob-


jetivos gerais propostos para a área da Geografia tentam sanar
determinados problemas conceituais. Esses problemas podem ser
resumidos a: abandono de conteúdos fundamentais como espaço,
paisagem, território etc.; discussão de conceitos sem exemplifica-
ções; modismos para temáticas atuais; memorização de conteú-
dos desnecessários e, principalmente, o dualismo entre geografia
física e humana. Diante deste contexto, é nítido o esforço por parte
do PCN em fazer com que o aluno reconheça e compreenda mais
amplamente as relações e as interações entre fenômenos sociais,
fenômenos naturais e entre ambos, e a consequente transforma-
ção do espaço geográfico.
A partir de atividades que valorizam o conhecimento prévio
dos alunos e que respeitam suas particularidades, parte-se para
a construção da noção de cidadania. Entende-se, pela análise do
PCN, que essa construção é válida quando o aluno é sensibilizado
por meio do reconhecimento do seu espaço cotidiano, que per-
mite com que ele estabeleça maiores laços com o "seu" lugar e,
consequentemente, alcance o entendimento de que as relações
entre sociedade e natureza formam um todo integrado.
Com isso, alcança-se um dos maiores objetivos, pois é ate-
nuada a dicotomia geográfica, havendo uma aproximação e uma
interconectividade da Geografia física com a humana.
De acordo com Brasil (1997, p. 54), para atingir seus objeti-
vos propostos, o PCN sugere pequenos objetivos específicos, que
dão liberdade ao professor tratar dos temas de maneira livre, dada
a generalização em que são apresentados.
Assim, segundo o PCN, ao final do terceiro ciclo, o aluno já
apresenta condições para estabelecer as relações mencionadas
anteriormente (BRASIL, 2007).
Refletindo sobre este contexto, Brasil (1997) argumenta que
o aluno será capaz de:

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168 © Cartograia Temática

Reconhecer que a sociedade e a natureza possuem princípios e leis


próprios e que o espaço geográfico resulta das interações entre
elas, historicamente definidas (BRASIL, 1997, p. 56).
Perceber, na paisagem local e no lugar em que vivem, as diferentes
manifestações da natureza, sua apropriação e transformação pela
ação da coletividade, de seu grupo social (BRASIL, 1998, p. 56).
Reconhecer a importância da Cartografia como uma forma de lin-
guagem para trabalhar em diferentes escalas espaciais as represen-
tações locais e globais do espaço geográfico (BRASIL, 1998, p. 56).
Criar uma linguagem comunicativa, apropriando-se de elementos
da linguagem gráfica utilizada nas representações cartográficas
(BRASIL, 1997, p. 57).

Os mapas são instrumentos extremamente ricos em infor-


mação, e podemos considerar como uma de suas grandes virtudes
o entendimento de diferentes variáveis sobre um mesmo espaço,
auxiliando na relação entre fatos e no entendimento da realidade
como um todo integrado.
Brasil (1997, p. 76) ainda destaca que: “É fundamental, sob
o prisma metodológico, que se estabeleçam as relações entre os
fenômenos, sejam eles naturais ou sociais, com suas espacialida-
des definidas”.
De modo geral, podemos perceber que a preocupação dos
autores que produzem o material didático em relação à Cartogra-
fia é de simplesmente usá-la como uma ferramenta para a com-
preensão e exemplificação dos assuntos tratados, e não utilizá-la
como uma forma de conhecimento em si ou mesmo como cons-
trução do conhecimento.

A Cartografia insere-se como grande aliada para compreensão dos


temas abordados, como veículo de entendimento da ocorrência e
espacialização dos fenômenos.

Souza e Katuta (2001), ao discutirem sobre o papel da Car-


tografia no Ensino Fundamental, afirmam que é preciso encará-la
além de seus aspectos visuais e artísticos, propondo alternativas
© U6 - Cartograia Digital: Compreendendo a Organização do Espaço Geográico 169

para a sua utilização que ultrapassem o simplismo da imagem e


cheguem ao nível de conhecimento necessário para a compreen-
são da realidade que o indivíduo vive e que pode ser transforma-
da, consequentemente, transformando ele também.
Uma última reflexão sobre o uso dos mapas na grande maio-
ria das escolas, apresentados em apostilas ou em livros tradicio-
nais, leva à conclusão de que a maneira como eles são utilizados,
apresentando o conteúdo imediato do texto, mas não integrando
e incorporando o que já foi apresentado, expõe ao aluno uma re-
alidade um tanto caótica, pois os fenômenos aparecem desorde-
nados e independentes. Assim, os conteúdos dos mapas pouco ou
em nada subsidiam o aluno no desenvolvimento/entendimento da
realidade.
Segundo Almeida (2001), é a primeira vez que as recomen-
dações curriculares oficiais tratam a Cartografia de modo mais es-
pecífico, como parte do programa de Geografia. Ainda que isso
represente um avanço, a autora ainda levanta que várias questões
devem ser consideradas para que a Cartografia se torne, de fato,
um bom meio para se conhecer "os lugares e o mundo".
Os mapas, durante muito tempo, foram considerados como
o principal meio para o ensino de Geografia, porém, nos currícu-
los oficiais, constavam poucos detalhes a esse respeito. Tais do-
cumentos mencionavam, principalmente, localização, orientação
e representação de dados, como conhecimentos necessários para
o estudo do espaço geográfico. E, atualmente, os Parâmetros Cur-
riculares Nacionais para o ensino de Geografia nos dois primeiros
ciclos do Ensino Fundamental citam, entre os conteúdos a serem
ensinados, a "linguagem cartográfica" (ALMEIDA, 2001).
Esta colocação nos conduz a uma reflexão sobre as reais pos-
sibilidades da Cartografia no processo de construção do conheci-
mento. Pense nisso.

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170 © Cartograia Temática

PCN e Cartografia
O PCN apresenta a Cartografia como um recurso fundamen-
tal para o ensino e a pesquisa, uma vez que este, ao mesmo tempo
em que restringe os mapas aplicados ao campo do ensino da Ge-
ografia, abre espaço para a utilização de diversos tipos de mapas,
pois os conteúdos propostos pelo PCN, no que diz respeito ao en-
sino de Geografia, são bastante generalistas.
Segundo Brasil (1998, p. 76):
Tanto para a pesquisa como para o ensino da Geografia é preciso
ter clareza sobre a escolha do recorte e da escala com que se irá
trabalhar. Vale a pena lembrar que, no estudo dos lugares, para que
o aluno possa se situar melhor, a Cartografia estará neste ciclo prio-
rizando a grande escala, garantindo-lhe maior detalhamento dos
fatores que caracterizam o espaço de vivência no seu cotidiano.

Todavia, o que se encontra atualmente nos materiais didá-


ticos é a priorização de mapas de escala pequena, o que dificulta
estabelecer uma relação daquilo representado no mapa com seu
espaço de vivência.
No PCN, é mencionada ainda a necessidade de criar condi-
ções para que o aluno possa, por meio de mapas temáticos refe-
rentes tanto a fenômenos naturais como sociais, desenvolver estu-
dos analíticos de maneira a estabelecer relações com a realidade.
No entanto, o que entra em questão é: Qual é a realidade
mostrada ao aluno?
De acordo com Santos (2002), ao apresentarem uma rea-
lidade distante do cotidiano do aluno, os mapas, carregados de
conteúdos técnicos, são úteis ao mercado de trabalho ou como
conteúdos meramente preparatórios para vestibulares, ou mesmo
apresentam uma realidade que não está relacionada com a vida
do aluno.
Ainda segundo o autor:
Devemos entender a Cartografia como uma construção social, não
como algo pronto, acabado e estático. A Cartografia, como também
a Cartografia Escolar, não é meramente um amontoado de técni-
© U6 - Cartograia Digital: Compreendendo a Organização do Espaço Geográico 171

cas, ela constrói, reconstrói e, acima de tudo, revela informações


(SANTOS 2002, p. 10).

Ao ver os mapas nos livros didáticos, o aluno receberá como


informação que os dados relevantes são aqueles expressos nas re-
presentações. Dessa forma, são essas informações que serão valo-
rizadas pelo aluno.

ATENÇÃO!
As informações trabalhadas em representações cartográficas são
selecionadas como relevantes por seus elaboradores e, muitas
vezes, estes são sujeitos aos interesses daqueles que financiam
estas confecções.

Como você pode perceber, a Geografia é uma ciência de ex-


trema importância para que a criança desenvolva seu senso críti-
co, portanto, lembre-se de que os mapas devem contemplar os
diversos elementos que constroem o espaço e a sociedade.

8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Esta unidade tem um caráter fortemente teórico e reflexivo;
logo, sua leitura deve ser realizada atentamente, refletindo sobre
os parágrafos apresentados. Para facilitar a sua compreensão so-
bre os aspectos primordiais daquilo que foi apresentado, sugeri-
mos que você responda e discuta algumas questões referentes à
contribuição das novas propostas de desenvolvimento da Carto-
grafia, como a Cartografia Digital e o forte elo com as Geotecno-
logias. Se sentir dificuldade em responder às questões a seguir,
releia o material e utilize a bibliografia básica indicada.
1) O que são “Geotecnologias”?

2) Qual é a relação entre um Sistema de Informação Geográfica (SIG) e a Car-


tografia? Poderíamos dizer que a Cartografia, por definição, engloba o geo-
processamento? Por quê?

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172 © Cartograia Temática

3) Como você avalia a inserção da Cartografia Digital no ensino? Você acha


que os professores estão preparados para assimilar e implementar tais fer-
ramentas em sala de aula?

9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, contextualizamos a importância da Carto-
grafia no estudo da Geografia contemporânea, tanto para o aluno
atender às necessidades do seu cotidiano quanto para estudar o
ambiente em que vive, pois, aprendendo as características físicas,
econômicas, sociais e humanas do ambiente, ele pode entender as
transformações causadas pela ação do homem e dos fenômenos
naturais ao longo do tempo.
Portanto, lembre-se de refletir sobre a teoria e a metodolo-
gia da Cartografia ao considerar o ambiente educacional, pois falar
de Cartografia no ensino de Geografia implica a Cartografia feita
de forma crítica, sem esquecer ou reduzir o conhecimento teórico
e científico dos mapas.

10. E-REFERÊNCIAS

Sites pesquisados
CADERNO DIDÁTICO. Satélites Landsat. Disponível em: <http://www.dsr.inpe.br/selper/
image/portugues/landsat2.html>. Acesso em: 12 abr. 2011.
EUROPEAN SPACY AGENCY ESA. Home page. Disponível em: <http://www.esa.int/esaCP/
index.html>. Acesso em: 7 abr. 2012.
FOSSGIS BRASIL. Georreferenciando o conhecimento. Disponível em: <http://fossgisbrasil.
com.br/>. Acesso em: 7 abr. 2012.
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS INPE. Divisão de Geração de Imagens.
Disponível em: <http://www.dgi.inpe.br/siteDgi/index_pt.php>. Acesso em: 8 de abr.
2012.
SAT. SPOT. Disponível em: <http://www.sat.cnpm.embrapa.br/satelite/spot.html>.
Acesso em: 12 abr. 2011.
ZACHARIAS, V. L. C. Centro de Referência Educacional. Disponível em: <http://www.
centrorefeducacional.com.br>. Acesso em: 11 abr. 2011.
© U6 - Cartograia Digital: Compreendendo a Organização do Espaço Geográico 173

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ALMEIDA, R. D. Do desenho ao mapa – iniciação cartográfica na escola. São Paulo:
Contexto, 2001.
ARCHELA, R. S.; ARCHELA, E. Mapeamento sistemático brasileiro: evolução histórica da
cartografia. In: SEEMANN, Jörn. (Org.). A aventura cartográfica – perspectivas, pesquisas
e reflexões sobre a cartografia. Fortaleza: Expressão, 2005.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais.
Geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997.
CAMARA G. et al. Spring: Integrating remote sensing and GIS by object-oriented data
modelling. Computers & Graphics, 20: (3) 395-403, May-Jun 1996.
______. Geoprocessamento em projetos ambientais. 2. ed. São José dos Campos: Divisão
de Processamento de Imagens – DPI e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE,
1998.
DRUCK, S. et al. Análise espacial de dados geográficos. Brasília: EMBRAPA, 2004.
GARCIA, G. J. Sensoriamento remoto: princípios e interpretação de imagens. São Paulo:
Nobel, 1982.
GOODCHILD, M. F. A spatial analytical perspective on geographical information systems.
International Journal of Geographical Information Systems, 1 (4):327-334, 1987.
NOVO, E. M. L. Sensoriamento remoto, princípios e aplicações. São Paulo: Blucher, 1992.
SANTOS, C. A Cartografia Temática no Ensino Médio de Geografia: A relevância da
representação gráfica do relevo. São Paulo: Usp, 2002. (Dissertação de Mestrado).
SIMIELLI, M. E. R. O mapa como meio de comunicação: implicações no ensino de
Geografia do 1º grau. São Paulo: USP, 1986. (Tese de Doutorado).
SOUZA, J. G; KATUTA, A. M. Geografia e conhecimentos cartográficos. A cartografia no
movimento de renovação da geografia brasileira e a importância do uso de mapas. São
Paulo: UNESP, 2001.
VYGOTSKY, L. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

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EAD
A Influência das Cores no
Processo de Comunicação
Visual
7
1. OBJETIVOS
• Compreender a cor como elemento determinante da lin-
guagem gráfica no processo de comunicação visual.
• Conhecer algumas reações fisiológicas estimuladas pela
diversidade do espectro de cores.
• Incorporar o conhecimento da Psicodinâmica das cores
para otimização do processo de transmissão de mensa-
gens.

2. CONTEÚDOS
• A importância da boa comunicação.
• Processos psíquicos e fisiológicos desencadeados pela
sensação visual "cor”.
• A mensagem por trás das cores.
• O significado das cores na apresentação de ideias.
176 © Cartograia Temática

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


1) Tenha com você todo o conteúdo apresentado na Uni-
dade 2 de seu CRC. Lembre-se de que, na Cartografia Te-
mática, o atributo "cor" compõe o conjunto das variáveis
visuais da semiologia gráfica e ganha relevância quando
consideramos os mapas elaborados em ambientes digi-
tais, em que o espectro é amplo e proporciona uma infi-
nidade de matizes de cores.
2) Observe o marketing das grandes empresas, aquelas de
grandes marcas no mercado nacional e internacional. Já
parou pra pensar que o êxito tanto do marketing quanto
da Cartografia é dependente da qualidade visual de seus
produtos? Tente estabelecer essa relação, e isso nos aju-
dará a entender a importância de conhecermos a influ-
ência que as cores podem exercer sobre os processos
fisiológicos do corpo humano.
3) O conteúdo desta unidade será baseado, sobretudo, nas
considerações e nos estudos de caso indicados na obra
do professor Modesto Farina, Psicodinâmica das cores
em comunicação.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Vimos, nas unidades anteriores, o conteúdo essencial que
a ciência Cartográfica engloba, mais especificamente, a Cartogra-
fia Temática – sua história, teorias, conceitos, métodos, todos os
requisitos necessários para estabelecermos críticas sobre as infor-
mações cartográficas que o mundo nos apresenta, além de adqui-
rirmos a capacidade de pensar e avaliar aquilo que apresentare-
mos ao mundo.
No entanto, ressaltamos que apresentar sua essência ao lon-
go destas unidades não significou esgotar o tema. Significa ape-
nas sugerir um caminho para que você conheça as potencialidades
dessa ciência e possa promover a construção de seu conhecimen-
to segundo a sua interpretação e o seu entendimento.
© U7 - A Inluência das Cores no Processo de Comunicação Visual 177

A ciência Cartográfica, como outras ciências, é secular, e,


como sabemos, devemos abordar os temas em sua complexida-
de. Reafirmamos que foram abordadas apenas as “obviedades”
essenciais que definem a Cartografia, mas cada obviedade deve
ser tratada em sua complexidade! Confuso?! Vamos exemplificar...
Reflita sobre isto com você mesmo: de tudo o que foi visto
na Cartografia, qual a mensagem final que você tirou dela?
Em primeiro lugar, entendemos que esta disciplina é uma
ciência; logo, seu estudo e desenvolvimento devem ter uma fina-
lidade social. Seguindo esse raciocínio, a Cartografia tem, em seu
produto social final, um documento exclusivamente visual, capaz
de transmitir uma mensagem e, se possível, convencer o recep-
tor daquilo que está sendo apresentando. Assim, o conceito que
temos da Cartografia é que ela encerra um documento de comu-
nicação de alto potencial de persuasão individual e social, que se
constitui em um instrumento extremamente eficiente, ao mesmo
tempo que sua eficiência se torna extremamente “perigosa”, uma
vez que ideologias tendenciosas podem ser veiculadas e assimila-
das pelo público.
Há, ainda, outro ponto que deve ser mencionado. Pode-se
veicular uma informação mentirosa não por maus princípios do
redator, mas apenas pelo uso inadequado dos métodos cartográ-
ficos, pois, em algum procedimento, pode ter se desconsiderado a
sua complexidade. Isso causa constantemente problemas, e, nesse
último caso, a consequência reflete-se na ineficácia da comunica-
ção. Ela não é absorvida, não é memorizada e não é compreendi-
da.
Com esse pressuposto, justificamos a presente unidade de
seu Caderno de Referência de Conteúdo, bem como o assunto nela
abordado.
Seria inviável num curso apresentar as complexidades de
cada método cartográfico. Isso só pode ser apreendido com a prá-
tica da atividade cartográfica, seguida de uma constante autoa-

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178 © Cartograia Temática

valiação do trabalho. No entanto, destacamos que um "artifício"


em especial pode e deve ser apresentado para aprofundamento
e reflexão, que é o uso das cores no processo de comunicação, e
para mostrar qual é a sua influência no comportamento psíquico
do indivíduo.
Dessa forma, pretendemos, nesta unidade, apresentar a
complexidade existente quando tratamos de cores no processo
de comunicação, que corresponde a entender um pouco como o
nosso sistema nervoso recebe e interpreta tais estímulos e como
respondemos fisiologicamente a eles.
O aprofundamento no entendimento sobre o uso das cores
poderá se tornar um grande aliado no procedimento da comuni-
cação, exercendo-a de maneira satisfatória! Assim, nesta unidade,
pretendemos analisar a cor apenas em função da comunicação,
focando alguns aspectos que podem ser relevantes à Cartografia,
para que seu uso se torne um instrumento socialmente útil.

5. A COR E A COMUNICAÇÃO
Hoje em dia, saber comunicar-se é uma questão de sobre-
vivência profissional, seja dentro de qualquer organização, seja
em qualquer ramo de atividade do mercado de trabalho, inclusive
dentro de uma sala de aula. A comunicação cartográfica é apenas
uma das formas de se comunicar, e como faremos isso de forma
eficaz? Simples, dominando sua linguagem, e aproveitando as tec-
nologias disponíveis.
De um jeito ou de outro, todo mundo se comunica. Mas é
grande o número de profissionais em nossa área que apresentam
(sem imaginar) dificuldades para transmitir suas mensagens com
força e clareza por meio de mapas.
A comunicação eficiente consiste em fazer as pessoas enten-
der a sua mensagem e responder de forma a provocar novas tro-
cas. Sendo assim, a comunicação sempre é uma via de duas mãos.
© U7 - A Inluência das Cores no Processo de Comunicação Visual 179

A clareza dessa ideia em sala de aula é fundamental para a cons-


trução do conhecimento.
O primeiro passo para o êxito na comunicação (seja ela qual
for a linguagem utilizada) é ter em mente o binômio clareza e le-
gibilidade. Tais elementos devem andar juntos. Observe que essas
duas palavras encerram os princípios que constam na definição de
Cartografia, pois a clareza e a legibilidade estão intimamente asso-
ciadas à ciência e arte.
Os estudiosos da comunicação social reconhecem a função
vital das cores no contexto da mensagem. Tendo vida e peso pró-
prios, as cores enfatizam ou atenuam, alegram ou entristecem, en-
grandecem ou apequenam. Sua utilização judiciosa pelo redator
contribui para aumentar o impacto e a recordação da mensagem,
aguça a sensibilidade e cria, enfim, o clima mais propício à tarefa
de informar, emocionar e persuadir, segundo objetivos específicos.
Assim, convidamos você a compreender um pouco mais so-
bre o universo das cores!

Legibilidade e Visibilidade
O impacto que a cor traz implícito em si, de eficácia indis-
cutível, não pode ser analisado arbitrariamente pela mera sensação
estética. O impacto está intimamente ligado ao uso que se fará do
elemento cor, ou seja, a sua finalidade.
Sua utilização está diretamente relacionada com as exigên-
cias da área que a explora, seja na área da Educação, prevenção
de acidentes, decoração, medicina, produtividade, trânsito, entre
outros. Cada um desses campos utiliza uma linguagem específica
que explicita seus pontos de vista; por meio dela, procura-se atingir
seus objetivos propostos.
Isso torna o estudo da cor uma necessidade dentro de diver-
sos cursos que se voltam à comunicação visual, principalmente ao
compreendermos que as pesquisas nessa área se respaldam nos

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180 © Cartograia Temática

fundamentos científicos da Fisiologia, Psicologia, Estudos Sociais e


das Artes, temas comuns a diversos segmentos.
Consideremos as amplas possibilidades que a cor oferece. Seu
potencial tem, em primeiro lugar, a capacidade de estimular a cria-
tividade do homem. Ela age não só sobre quem usufruirá a ima-
gem, mas, também, sobre quem a constrói.
Sobre o indivíduo que recebe a comunicação visual, a cor
exerce a ação tríplice de impressionar, expressar e construir.
A cor é vista: impressiona a retina. É sentida: provoca uma
emoção. E é construtiva, pois, tendo um significado próprio, tem
valor de símbolo e capacidade, portanto, de construir uma lingua-
gem que comunique uma ideia.
Repare que aqui estamos tratando da cor direcionada ao
exercício da comunicação, independentemente da área. No entan-
to, estabeleça uma relação do que está sendo apresentado até o
momento com as teorias da linguagem cartográfica apresentadas
na Unidade 1 deste caderno. Você observará o quão íntimo é a
compreensão do uso das cores com o procedimento de comunica-
ção cartográfica.
A cor é um meio de identificação em numerosos objetos,
coisas, letras. Quando um título, uma marca, uma nota de adver-
tência ou uma informação são realizados em cores, torna-se neces-
sário verificar a cor de fundo para se sentir o contraste entre eles.
A legibilidade e a visibilidade de certos detalhes facilita a
memorização deles e, segundo a forma dos detalhes, é preciso
adequar a cor principal para a realização do contraste.
Como exemplo e curiosidade, é comum ver em diversos
filmes os famosos táxis amarelos. Os táxis assumem tal cor pois
oferecem a maior sensação visual contra o fundo cinzento de uma
cidade ou contra as noites escuras.
© U7 - A Inluência das Cores no Processo de Comunicação Visual 181

Pense nisso quando quiser destacar um objeto em seu mapa!


Observam-se outros contrastes também interessantes para
facilitar a visibilidade: o “preto” sobre amarelo, verde ou azul;
o vermelho sobre amarelo ou “branco”; “branco” sobre azul ou
“preto”; e o amarelo sobre “preto”. O “branco-preto” tem valor
médio em relação ao “amarelo-preto”, que possui maior margem
de visibilidade.
Farina (1990, p. 36) afirma:
Os comunicadores visuais têm à disposição enorme variedade de
tipos gráficos, devendo escolhê-los de acordo com os objetivos da
mensagem, com as características do público e com o veículo que
deverá divulgar a mensagem. E, é claro que, quanto maior o núme-
ro de opções, maior a responsabilidade e a preocupação em eleger
criteriosa e corretamente o tipo mais adequado para o trabalho.

Afinal, o que é a cor?


Em pesquisas realizadas por diversos psicólogos, entrevis-
tando físicos, fisiologistas e engenheiros eletrônicos, concluiu-se
que o termo “cor” é empregado com várias significações diferen-
tes. Os fisiologistas empregam-no quando querem se referir à sen-
sação consciente de um observador cuja retina está estimulada
pela energia radiante. Os físicos, por vezes, utilizam-no para in-
dicar uma radiação monocromática visível. Em sentido vulgar, a
mesma palavra é empregada para indicar uma propriedade de um
objeto, como quando se diz: “este livro é azul”.
Não existe um acordo internacional para a definição de
cor. O Comitê de Colorimétrica da Sociedade Americana de Ótica
recomenda a definição seguinte:
A cor consiste nos característicos da luz, resultantes das heteroge-
neidades no espaço e no tempo, sendo a luz o aspecto da energia
radiante que o observador humano constata pelas sensações visu-
ais que decorrem do estímulo da retina.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (2012)


propõe a seguinte definição: “Cor é a característica da luz que atua

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182 © Cartograia Temática

sobre a sensibilidade visual de modo diferente da atuação causada


pelas variações de homogeneidade no espaço e no tempo”.
Luz e cor estão intimamente ligadas; sem luz não há cor. To-
dos os corpos nas trevas são negros. Assim, a cor de um corpo é
sua capacidade de modificar a cor da luz que sobre ele incide.
Os corpos não luminosos podem ser vistos pela transmissão
ou pela reflexão da luz. Assim, por exemplo, uma lâmina de vidro
vermelho, atravessada pela luz branca, só deixa passar o compo-
nente vermelho dessa luz; por isso, na transmissão, todos os de-
mais componentes são absorvidos, sendo transmitido apenas o
vermelho. Uma folha de papel vermelho, opaco, iluminado pela
luz branca, mostra-se vermelha, porque, na reflexão, são absor-
vidos todos os componentes dessa luz, exceto o vermelho, que é
refletido.
Diante o exposto, compreendendo que a apresentação e a
composição da cor são fundamentais na comunicação visual, bem
como entendendo que ela é uma sensação resultante de um pro-
cesso físico-biológico, é importante compreender como essa sen-
sação pode estimular a mente humana, ou seja, conhecer um pou-
co da psicologia e da fisiologia carregadas pela cor.

6. HOMEM, CULTURA, CIÊNCIA... E A COR


Diversos estudos indicam que a cor é uma linguagem indi-
vidual. Farina (1990, p. 27) aponta que “[...] o homem reage a ela
subordinado às suas condições físicas e às suas influências cultu-
rais”. Destaca, ainda, que a cor possui uma sintaxe que pode ser
transmitida, ensinada. Seu domínio abre imensas possibilidades
aos que se dedicam ao estudo dos inúmeros processos de comu-
nicação visual.
Essa sintaxe rege os elementos que constituem a mensagem
visual: a cor possui, como a luz, o movimento, o peso, o equilíbrio
e o espaço, leis que definem a sua utilização.
© U7 - A Inluência das Cores no Processo de Comunicação Visual 183

Sabemos que seu valor de expressividade a torna um ele-


mento importante na transmissão de ideias. Não ignoramos, tam-
bém, que a reação do indivíduo a ela não tem fronteiras espaciais
ou temporais. O impacto produzido pela cor não sofre as barrei-
ras impostas pela língua, pois ela é universal. Sua mensagem pode
ser compreendida até por analfabetos, se aqueles que a manejam
souberem adequá-la ao fim proposto.
No entanto, é preciso saber que o conhecimento da sinta-
xe que rege o domínio da cor é tão importante para aquele que
se comunica através da linguagem visual, quanto a harmonia o é
para o músico. Mas apenas isso não produzirá a “chama da co-
municabilidade”, como indica Farina (1990); o dedo do redator é
insubstituível, a fim de dar à cor o movimento, o peso psicológico,
o equilíbrio e o espaço para que ela se defina e se transmita dentro
de um processo psicossociológico.
Dizemos que a cor é algo muito particular a cada um. Sem-
pre temos nossas cores preferidas. Mas será que nossa predileção
por determinada cor é simplesmente um gosto ao acaso ou há in-
fluências no meio que nos conduzem a tais gostos? Estudos têm
indicado que a escolha da cor é inegavelmente influenciada pelo
clima, e isso se evidencia de várias maneiras.
Para sentir-se menos calor, nas regiões quentes ou no verão,
recomenda-se o uso de roupas brancas, amarelas, azuis e verdes
de tonalidades claras, as quais refletem os raios solares.
O inverno requer a utilização do “preto”, de tonalidades
escuras do azul, do cinzento e do marrom etc., porque essas cores
absorvem mais calor. Grosso modo, é isso que vemos acontecer:
o homem volta-se instintivamente para o uso da cor que, de uma
certa maneira, o clima lhe impõe. Mas não podemos esquecer
que há nesse setor uma influência considerável da moda. A moda,
nesse caso, representa o aspecto cultural que pode conduzir as
mudanças e faz a cor se desligar da influência climatológica, sub-
metendo-a ao processo que caracteriza a sociedade de consumo
em que vivemos.

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184 © Cartograia Temática

No campo da Arte, a influência do clima traduz-se na manei-


ra como a cor é utilizada. No Brasil, por exemplo, a arte do nordes-
tino fica em confronto com a do sulista.
O artista do norte, vivendo dentro de um cromatismo inten-
so causado pelo escaldante Sol da zona equatorial, reflete na sua
arte os tons luminosos e vibrantes de sua paisagem. Ao inclinar-se
para o uso exagerado da cor nos seus tons, contrasta frontalmente
com o sulista, voltado às cores frias, que exprimem muito mais
suas reações através da captação da forma.
É óbvio que isso se reflete e se refletirá cada vez mais no
âmbito publicitário, pois, inserindo-se no meio ambiente, a cor ad-
quire condições de atingir o indivíduo naquilo que ele tem de mais
profundo: suas raízes nativas.
Essa questão é muito válida para a Cartografia. Quando con-
duzimos a construção do conhecimento cartográfico nas crianças,
por exemplo, sabe-se que é muito importante e estimulante que
ela represente no plano bidimensional seu espaço vivido, ou seja,
o seu local, onde há um sentimento de pertencimento. O uso aten-
to das cores, nesse exemplo, pelo professor pode facilitar tal de-
senvolvimento.
Contudo, há sempre algo de relativo na preferência dessa ou
daquela cor. Para alguns, por exemplo, quando se sentem tristes,
doentes ou nervosos, há a preferência pelo marrom; para outros,
essa cor aparenta discrição. Se uma pessoa se sentir alegre, feliz, a
escolha será pelo azul; para outros, essa é uma cor cansativa.
Mas observamos nessas considerações que existe um peso
psicológico na preferência de uma ou outra cor, aliás, cientifica-
mente constatado por pesquisadores norte-americanos há cerca
de 20 anos. Tornou-se evidente o relacionamento físico que há en-
tre o raio de luz e a estrutura do sistema visual e sistema neurofi-
siológico do ser humano. Cada pessoa capta os detalhes do mundo
exterior conforme a estrutura de seus sentidos, em que, apesar
de serem os mesmos em todos os seres humanos, existe sempre
© U7 - A Inluência das Cores no Processo de Comunicação Visual 185

uma diferenciação biológica entre todos, que leva a certos graus


de sensibilidade bastante desiguais.
Na entrada de um raio de luz em nosso olho, é importante
o comprimento de sua onda. Cada estímulo visual tem caracte-
rísticas próprias, possuindo tamanho, proximidade, iluminação e
cor. A percepção visual, portanto, é distinta entre as pessoas. Se
percebermos uma cor laranja agradável, certa e aceita pela nos-
sa consciência, pode não ser assim para outra pessoa, que pode
preferir, por exemplo, um laranja mais vivo. Sem querer, damos
a esse processo preferencial um sentido psicológico, ao dizer que
gostamos ou desgostamos disso ou daquilo, e cometemos certas
indiscrições, às vezes, em comentar que tal pessoa não tem bom
gosto para utilizar as cores adequadas em seu vestuário ou na pin-
tura das paredes de sua casa. Na realidade, não existe gosto al-
gum, pois é apenas uma forma de percepção conforme a estrutura
visual de cada ser.
Outra importante constatação é que os especialistas indicam
que nos lembramos das cores que mais nos impressionaram. Não
existe, praticamente, uma cor que, por si, se fixe mais no nosso
subconsciente. Por ser uma sensação, a cor que mais nos alertou
numa definida circunstância, qualquer que seja ela, se fixa facil-
mente.
Algumas cores que possuem grau de contraste com suas
congêneres apresentam, às vezes, maior facilidade de memoriza-
ção. É o caso de letras e formas em azul, mas não só essa cor como
fundo, como também a cor amarela em si, fácil de memorizar, com
exceção dessa cor aplicada a formas, o que resultaria fraca assimi-
lação. Num mapa, por exemplo, você nunca realçaria um elemento
utilizando o amarelo.
Farina (1990) indica alguns exemplos de combinação que fa-
vorecem a memorização, como o laranja, o violeta e tons de ver-
melho próximo ao violeta. Essa combinação em especial pode ser
observada em mapas hipsométricos indicando as regiões de topo-

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186 © Cartograia Temática

grafias mais elevadas. Normalmente, restringem-se a pequenas


áreas, mas, mesmo assim, tornam-se evidentes. A combinação de
vermelho com verde, segundo as colocações do mencionado au-
tor, favorece o contraste, mas não a memorização.
Farina (1990, p. 35) ainda faz as seguintes observações:
Uma combinação de verde e amarelo resulta um tanto fraca, mas,
se lhe acrescentamos o laranja ou o vermelho, revigora. Isso é muito
importante em termos de comunicação.
A combinação verde e rosa é muito delicada, agradável, mas difí-
cil de memorizar. Porém se lhe for acrescentado vermelho ao lado
do verde, nos lembraremos muito mais. Tem-se comprovado ser
o verde um bom ativante da memória.

Quer um pequeno exemplo do trecho mencionando? Imagi-


ne a floresta amazônica no mapa do Brasil. Pode ser que você não
tenha imaginado o contorno exato do bioma, mas certamente a
localizou, num tamanho relativamente aproximado!
Referindo-se sobre a representação do espaço pela cor, o
autor destaca a capacidade de redimensionar o espaço, recuando
ou avançando os planos bidimensionais por meio do uso de técni-
cas acromáticas ou cromáticas, fato interessante do ponto de vista
sensorial. Como exemplo, temos os ambientes claros e escuros. O
volume dos objetos brancos parecem-nos sempre maiores, pois a
luz que neles reflete lhes confere amplidão. As cores escuras, ao
contrário, diminuem o espaço. A espessura da linha, a posição da
imagem em relação à superfície, a sobreposição e a perspectiva
são maneiras de solucionar o problema do espaço dentro de um
plano bidimensional. A cor permite obter o mesmo efeito, isto é,
ela pode criar um espaço.
Dessa forma, observa-se que as distâncias visuais se tornam
relativas em função da cor, pois cada cor possui uma particulari-
dade e um poder de "mobilidade". O plano bi ou tridimensional
torna-se elástico. Uma parede preta parece aproximar-se, enquan-
to a branca se afasta do observador. Atualmente, a maioria das
exposições de ambientes residenciais (showroom) costuma escu-
© U7 - A Inluência das Cores no Processo de Comunicação Visual 187

recer o forro da sala, pois isso confere a ela um aspecto mais baixo
e acolhedor; caso contrário, haverá um “recuo”, oferecendo um
ambiente mais amplo. Observe esse exemplo na Figura 1.

Fonte: Farnina (1990, p. 30-31).


Figura 1 O potencial da cor em criar ambientes amplos ou retraídos.

A composição de matizes em um espaço bidimensional, se-


gundo diferentes arranjos, pode nos oferecer sensações de equilí-
brio ou desequilíbrio, suscitado exatamente pelo "jogo" de combi-
nação entre cores.
Esse arranjo segue uma lógica natural, a mesma indicada na
distribuição do espectro eletromagnético, o qual estabelece grafica-
mente uma escala de dinâmica de cores que vai do azul escuro ao
vermelho, passando pelas tonalidades de verde, amarelo e laranja.
Tornou-se comum atribuirmos a esse espectro a divisão en-
tre cores “quentes” e cores “frias”, sendo “quentes” as cores que
integram o vermelho, o laranja e pequena parte do amarelo e do
roxo; e de “frias” as que integram grande parte do amarelo e do
roxo, o verde e o azul.
As cores quentes parecem nos dar uma sensação de proximi-
dade, calor, densidade, opacidade, secura, além de serem estimu-
lantes. O vermelho, por exemplo, tem uma representação estática,

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188 © Cartograia Temática

embora agressiva. O amarelo é muito comum para indicar áreas de


expansão, pois parece transbordar de seus limites espaciais. Em
contraposição, as cores frias parecem distantes, frias, leves, trans-
parentes, úmidas, aéreas e são calmantes. O azul cria a sensação
do vazio, de distância, de profundidade (utilizado nos mapas bati-
métricos).
Assim, observe que cores quentes não necessitam de gran-
des espaços para se destacar, pois naturalmente se expandem
mais; já as cores frias requerem maiores espaços, pois não pos-
suem a mesma capacidade. Essas variadas sensações podem ser
atribuídas a ideias de pesos e movimentos.
Dessa forma, observamos como o espaço pode ser modifi-
cado, tornando-se maior ou menor, mais baixo, mais alto, ou mais
estreito, apenas pelo efeito da cor. Mas deve-se destacar que as
variações de sensação também dependem de fatores como ilumi-
nação e a saturação.
Não há dúvida de que existe certa relatividade nessas afir-
mações, pois os seres humanos são diferentes, como diferente é o
mundo de suas sensações. Ainda ninguém pôde nos garantir que o
azul que um indivíduo vê é exatamente o mesmo visto por outro.
No entanto, como discutido até então, é sabido que há de fato
uma reação fisiológica diante a variação de cores. Esse tema ainda
se configura como um vasto campo a ser explorado.
Se um indivíduo pensa, consciente ou inconscientemente,
em uma cor em relação a determinado uso que vai fazer dela, é
evidente que sua reação não está relacionada à cor em si, mas à
função de algo. O efeito produzido pela cor é tão direto e espontâ-
neo que já se descarta a possibilidade de ele conotar apenas expe-
riências vividas, dando margem para se trabalhar a cor no âmbito
do instinto humano. Cientificamente, nada comprova a existência
de um processo fisiológico que explique o porquê dessa reação
física do homem à estimulação de uma cor, mas isso não inibe sua
aplicação, observando seu uso consciente (com propósitos defini-
© U7 - A Inluência das Cores no Processo de Comunicação Visual 189

dos) em materiais educacionais, no campo terapêutico e, especial-


mente, na área da publicidade.
Apesar de o processo fisiológico ainda não ser bem deter-
minado, as experiências empíricas demonstram que, quando as
pessoas são obrigadas a olhar por um determinado tempo para a
cor vermelha, por exemplo, há uma estimulação em todo o siste-
ma nervoso: há uma elevação da pressão arterial e o ritmo cardí-
aco é alterado. Em contrapartida, afirma-se, também, que olhar o
azul puro produz efeito exatamente contrário: o ritmo cardíaco e
a respiração diminuem, o que configura essa cor como “psicologi-
camente calmante”.
Diante de tais observações, Mueuer (1969, p. 203) conclui,
no âmbito da Psicologia, que:
[...] a luz colorida intensifica a circulação sanguínea e age sobre a
musculatura no sentido de aumentar sua força segundo uma se-
qüência que vai do azul, passando pelo verde, o amarelo e o laran-
ja, culminando no vermelho.

A fundamentação científica, indicada por Gregory (1979), é


a seguinte: o sistema nervoso central (SNC) e o sistema neurove-
getativo (SNV) englobam todas as redes de nervos e fibras através
das quais o corpo e todos os seus órgãos são controlados. O siste-
ma nervoso central é responsável pelas funções físicas e sensoriais
que ocorrem no limiar da consciência ou em plena consciência.
O sistema neurovegetativo relaciona-se com as funções que
ocorrem abaixo do limiar da consciência. Seu funcionamento é au-
tomático e autorregulador.
Os resultados da estimulação do simpático são opostos aos
da estimulação do parassimpático. Por exemplo: o ritmo cardíaco
é acelerado por estimulação do simpático, mas esse mesmo ritmo
diminui se a estimulação atinge o parassimpático. A explicação de
cientistas é uma hipótese que pode ser discutida, mas o fato é que
todas as experiências comprovam a validade do uso da cor na te-
rapia ou a importância de não usar determinadas cores quando se
desejam evitar certos efeitos psíquicos ou fisiológicos.

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190 © Cartograia Temática

Por exemplo, recomenda-se não pintar de branco o teto do


quarto onde um doente tenha de permanecer por muito tempo.
Como o branco reflete intensamente a luz, pode ocorrer o fenô-
meno de ofuscamento, que tem a propriedade de ocasionar no
doente uma sensação de cansaço e de peso na cabeça, conside-
rando-se o fato de ele, na maior parte das vezes, ser obrigado a
repousar de costas e, inevitavelmente, fixar os olhos no teto. O
cansaço que parecia ilógico para um indivíduo em repouso encon-
tra, assim, uma explicação. O uso do azul no forro, em substituição
ao branco, confere ao paciente uma sensação de calma, tranquili-
dade e bem-estar.
Já no campo da Biologia, pôde-se observar que há uma ínti-
ma relação entre a cor e as funções biológicas. A cor da fruta, por
exemplo, é índice de maturação e provém da luz e do calor do Sol.
As cores amarela e café devem ser evitadas no interior de
um avião porque produzem enjoo; uma sala de jantar pintada com
cores alegres estimula o apetite; e um dormitório em tons suaves
se torna mais repousante.
A fotografia integrou a cor em sua captação da realidade am-
biente e o cinema tem explorado isso com grande êxito comercial e
artístico. Graças aos progressos da eletrônica, o uso da cor tornou-
-se possível na TV, e ela é hoje um dos maiores instrumentos nas
mãos dos publicitários, que se valem, sobretudo, de seu poder
sobre a emotividade humana. Mas tem sido, também, um instru-
mento eficaz nos meios universitários, na transmissão de experi-
ências psicológicas e médicas, nas quais constitui fator relevante.
Considerando os exemplos mencionados, não é difícil veri-
ficar que, só com o emprego de cores diferentes entre si e numa
definida colocação, conseguiremos uma infinidade de sensações.
Deve-se chamar atenção aos costumes sociais, pois também
são fatores que intervêm nas escolhas das cores. Por exemplo,
em determinadas culturas, como a nossa, é hábito diferenciar as
vestes das mulheres mais idosas das usadas pelas mais jovens. O
© U7 - A Inluência das Cores no Processo de Comunicação Visual 191

mesmo se pode observar na diferenciação dos sexos. Nesse caso,


podemos observar as mudanças nos últimos anos e chegar à con-
clusão de que, na atual cultura ocidental, a diferença entre os se-
xos tende a desaparecer dos hábitos sociais, e um dos fatores pe-
los quais podemos assinalar essa mudança é a invasão de cores na
roupa masculina, o que até há bem pouco tempo se reservava às
roupas femininas.
Derivando de hábitos sociais estabelecidos durante longo
espaço de tempo, fixaram-se atitudes psicológicas que orientam
inconscientemente inclinações individuais.
Analisemos, por exemplo, o seguinte quadro de significados
conotativos na Tabela 1.

Tabela 1 A influência da cultura sobre a reação instintiva.


SENSAÇÕES VISUAIS OBJETO SIGNIFICADO
Branco Vestido de noiva Pureza
Preto Noite Negativo
Cinza Manchas imprecisas Tristeza, coisas amorfas
Vermelho Sangue Calor, dinamismo, ação
Rosa Enxoval de bebê (menina) Graça, ternura
Azul Enxoval de bebê (menino) Pureza, fé, honradez
Fonte: adaptado de Farnina (1990).

Retornando ao início da discussão, fica evidente que, mesmo


que a reação ao estímulo da cor seja instintiva ao homem, é indis-
cutível que há o armazenamento em sua memória de experiências
vividas, as quais determinarão alguns comportamentos. Essa cons-
tatação é muito importante para qualquer comunicador.
Alguns significados ficam tão enraizados na cultura social
que atualmente observamos na linguagem corrente o emprego
de sensações visuais para definir estados emocionais ou situações
vividas pelo indivíduo. É muito comum ouvirmos frases como “a
situação ficou preta”; “Fulano estava roxo de raiva”; “deu um sor-
riso amarelo”.

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192 © Cartograia Temática

No campo psíquico, Farina (1990) menciona a pesquisa


realizada por Rorschach (1961), que concluiu, por meio
de experimentos, que os caracteres alegres respondem
intuitivamente à cor. A reação dos indivíduos deprimidos é
geralmente voltada à forma.
A preferência pela cor geralmente denuncia indivíduos com
mais abertura a estímulos exteriores; é privilégio das pessoas
sensíveis, que se deixam influenciar, e que estão propensas à
desorganização e à oscilação emocional.
As reações à forma indicam, ao contrário, o temperamento
frio, controlado, introspectivo.
Um outro psicólogo citado pelo autor, Schachtel, completa as
explicações de Rorschach concluindo que, ao reagir à cor, o
indivíduo sofre a ação do objeto: é uma atitude passiva. Ao
contrário, ao perceber a forma, ele tem de examinar o objeto,
definir a sua estrutura, elaborar uma resposta: é uma atitude
ativa, e é isso que caracteriza a mente mais ativamente
organizadora.

Em consequência, as reações e as influências físico-sócio-


-psíquicas diante da cor vão direcionar seus usos em campos di-
versificados – especialmente no campo publicitário, onde a suges-
tionabilidade é fator largamente explorado.
Analisemos, por exemplo, o uso da cor no campo da preven-
ção de acidentes. Isso pode demonstrar uma tomada de consciên-
cia do valor das cores na realidade diária. A Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT) emitiu, por exemplo, normas sobre o
uso da cor na segurança do trabalho e o uso das cores no campo
industrial.
Essas normas estão sendo observadas por várias indústrias,
pois se apoiam na linguagem psicológica das cores trazendo em
si toda a carga de um longo processo educacional, que direciona
o indivíduo a reações automáticas e instantâneas. Vejamos uma
síntese dessas normas na Tabela 2.
© U7 - A Inluência das Cores no Processo de Comunicação Visual 193

Tabela 2 Normas ABNT para indicações: relação da sensação visual


com a finalidade fisiológica.
SENSAÇÃO VISUAL UTILIZAÇÃO
Azul Controles de equipamentos elétricos.
Partes móveis e mais perigosas de máquinas e
Laranja
equipamentos, faces externas de polias e engrenagens.
Equipamento de proteção contra incêndio ou de
Vermelho
combate a incêndios
Verde Caixa de socorros de urgência, avisos, boletins etc.
Branco Faixas indicativas de sentido de circulação.
Preto Coletores de resíduos.
Fonte: adaptado de Farnina (1990) e de Abra (2011).

O aprimoramento da representação de signos visuais tem


por objetivo atingir o indivíduo e impeli-lo à ação rápida, seja esta
a obediência às regras sociais estabelecidas, seja à aquisição de
algo. Tais aplicações só possuem valor real quando podem ser fa-
cilmente decodificadas por parte do público-alvo. Isso justifica o
porquê de as cores serem estudadas em termos psíquicos, sociais
e fisiológicos.

Estudo de Bamz––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Há uma pesquisa muito interessante, realizada pelo psicólogo Bamz (apud
FARINA, 1990), que alia o fator idade à preferência que o indivíduo manifesta
por determinada cor. Esse estudo pode conduzir a resultados eicazes quando
você conhce o público a que vai destinar sua mesagem, fundamental no campo
mercadológico.
Você pode se perguntar qual é a importância de saber sugestões para o
campo do marketing. Em essência, os mapas são um “marketing”, ainal,
é a promoção de uma ideia.
Vejamos a Tabela 3:

Tabela 3 Estudo de Bamz: o estímulo das cores em relação à faixa etária.

ESTÍMULO INFLUÊNCIA
Período de 1 a 10 anos; idade da
Vermelho
efervescência e da espontaneidade.
Período de 10 a 20 anos — idade da
Laranja
imaginação, excitação, aventura.

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194 © Cartograia Temática

ESTÍMULO INFLUÊNCIA
Período de 20 a 30 anos — idade da
Amarelo
força, potência, arrogância.
Período de 30 a 40 anos — idade da
Verde
diminuição do fogo juvenil.
Período de 40 a 50 anos — idade do
Azul
pensamento e da inteligência.
Período de 50 a 60 anos — idade do
Lilás
juízo, do misticismo, da lei.
Período além dos 60 anos — idade
Roxo do saber, da experiência e da
benevolência.
Fonte: adaptado de Farnina (1990).

Observou-se que os adultos e idosos preferem tonalidades escuras, con-


forme demonstrou Bamz, indicado na tabela anterior. Demonstrou-se que
a preferência dos adultos é para o azul e o verde, acrescentando também o
vermelho, como reminiscência do seu primeiro período, o infantil.
Ao analisar cientiicamente as preferências, veriicou-se que o cristalino do olho
humano vai se tornando amarelo com o decorrer dos anos.
Uma criança absorve 10% da luz azul, enquanto um ancião absorve 57%. Nos
primeiros meses, a criança enxerga bem e prefere o vermelho, o amarelo, o ver-
de, no mesmo nível preferencial, e depois o azul. Notaremos que o azul vai, na
escala de preferência, subindo proporcionalmente à idade do indivíduo.
Esses princípios, aplicados e direcionados à Cartograia, são úteis quando o re-
dator do mapa tem em mente a qual público-alvo ele deseja transmitir sua men-
sagem. Pensando mais concretamente, você, futuro professor, poderia transmitir
uma mesma informação de diferentes formas (cores) para salas distintas, dese-
jando que fosse bem assimilada pelas turmas. Por exemplo, uma sala de crian-
ças do Educação Básica e uma sala de Jovens e Adultos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

7. A PSICODINÂMICA DAS CORES: AS CORES APLICA-


DAS À CRIATIVIDADE E A APRESENTAÇÃO DE IDEIAS
Como vimos, diante do indivíduo, as cores possuem um ca-
ráter instintivo, pois condicionam estímulos e ajudam a influir so-
bre sua sensibilidade, conduzindo-o a gostar ou não de algo, para
negar ou afirmar, para se abster ou agir. Concomitantemente, as
experiências vividas também determinam as predileções do indi-
© U7 - A Inluência das Cores no Processo de Comunicação Visual 195

víduo às cores, em que são estabelecidas (inconscientemente ou


não) associações com experiências agradáveis ou não, tidas no
passado. Portanto, torna-se difícil mudar as preferências sobre as
cores.
Farina (1990) indica que investigações realizadas nos últimos
cinquenta anos por psicólogos e especialistas em cores propiciaram
um claro esquema de significação das cores. Mas, desde a antigui-
dade, o homem tem dado um significado psicológico às cores e,
a rigor, não tem havido diferença interpretativa no decorrer dos
tempos. Simplesmente, a ciência conta hoje com métodos, pro-
cessos e equipamentos especializados para comprovar como o
homem vive de acordo com a natureza.
Apresentamos, a seguir, o que os cientistas estabelecem a res-
peito do significado psicológico das cores.

Tabela 4 Psicologia das sensações acromáticas e cromáticas.


SENSAÇÕES
ASSOCIAÇÕES E ETIMOLOGIA
ACROMÁTICAS

Associação material: baismo, casamento, cisne, lírio, primei-


ra comunhão, neve, nuvens em tempo claro, areia clara.

Associação afeiva: ordem, simplicidade, limpeza, bem,


pensamento, juventude, oimismo, piedade, paz, pureza,
inocência, dignidade, airmação, modésia, deleite,
Branco despertar, infância, alma, harmonia, estabilidade, divindade.

A palavra “branco” vem do germânico blank (brilhante). Simboliza


a luz, e nunca é considerada uma cor, pois de fato não é. Se para os
ocidentais simboliza a vida e o bem, para os orientais é a morte, o
im, o nada. Representa, também, para nós, ocidentais, o vesíbulo
do im, isto é, o medo ou representa um espaço (entrelinhas).

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SENSAÇÕES
ASSOCIAÇÕES E ETIMOLOGIA
ACROMÁTICAS
Associação material: sujeira, sombra, enterro, noite,
carvão, fumaça, condolência, morto, im, coisas escondidas.

Associação afeiva: mal, miséria, pessimismo, sordidez,


tristeza, frigidez, desgraça, dor, temor, negação,
Preto melancolia, opressão, angúsia, renúncia, intriga.

Deriva do laim niger (escuro, preto, negro). Nós uilizamos o


vocábulo “preto”, cuja eimologia é controverida. É expressivo e
angusiante ao mesmo tempo. É alegre quando combinado com
certas cores. Às vezes, tem conotação de nobreza, seriedade.
Associação material: pó, chuva, ratos,
neblina, máquinas, mar sob tempestade.

Associação afeiva: tédio, tristeza, decadência, velhice, desânimo,


seriedade, sabedoria, passado, inura, pena, aborrecimento,
Cinza
carência vital.

Do laim cinicia (cinza) ou do germânico gris (gris,


cinza). Simboliza a posição intermediária entre a
luz e a sombra. Não interfere nas cores em geral.
Associação material: rubi, cereja, guerra, lugar, sinal de parada,
perigo, vida, Sol, fogo, chama, sangue, combate, lábios, mulher,
feridas, rochas vermelhas, conquista, masculinidade.

Associação afeiva: dinamismo, força, baixeza, energia, revolta,


movimento, barbarismo, coragem, furor, esplendor, intensidade,
Vermelho paixão, vulgaridade, poderio, vigor, glória, calor, violência, dureza,
excitação, ira, interdição, emoção, ação,
agressividade, alegria comunicaiva, extroversão.
Vermelho nos vem do latim vermiculus [verme, inseto (a co-
chonilha)]. Desta se extrai uma substância escarlate, o carmim, e
chamamos a cor de carmesim [do árabe: qirmezi (vermelho bem vi-
vo ou escarlate)]. Simboliza uma cor de aproximação, de encontro.
Associação material: outono, laranja, fogo, pôr do sol, luz,
chama, calor, festa, perigo, aurora, raios solares, robustez.
Associação afetiva: força, luminosidade, dureza, euforia,
Laranja
energia, alegria, advertência, tentação, prazer, senso de humor.
Laranja origina-se do persa narang, através do árabe naranja.
Simboliza o flamejar do fogo.
© U7 - A Inluência das Cores no Processo de Comunicação Visual 197

SENSAÇÕES
ASSOCIAÇÕES E ETIMOLOGIA
ACROMÁTICAS
Associação material: flores grandes, terra argilosa, palha, luz,
topázio, verão, limão, chinês, calor de luz solar.
Associação afetiva: iluminação, conforto, alerta, gozo, ciúme,
Amarelo orgulho, esperança, idealismo, egoísmo, inveja, ódio, adolescência,
espontaneidade, variabilidade, euforia, originalidade, expectativa.
“Amarelo” deriva do latim amaryllis. Simboliza
a corda luz irradiante em todas as direções.
Associação material: umidade, frescor, diafaneidade, primavera,
bosque, águas claras, folhagem, tapete de jogos, mar, verão,
planície, natureza.
Associação afetiva: adolescência, bem-estar, paz, saúde,
ideal, abundância, tranquilidade, segurança, natureza, equilíbrio,
Verde
esperança, serenidade, juventude, suavidade, crença, firmeza,
coragem, desejo, descanso, liberalidade, tolerância, ciúme.
“Verde” vem do latim viridis. Simboliza a faixa harmoniosa que
se interpõe entre o céu e o sol. Cor reservada e de paz
repousante, que favorece o desencadeamento de paixões.
Associação material: montanhas longínquas, frio, mar, céu,
gelo, feminilidade, águas tranquilas.
Associação afetiva: espaço, viagem, verdade, sentido, afeto,
intelectualidade, paz, advertência, precaução,
Azul
serenidade, infinito, meditação, confiança,
amizade, amor, fidelidade, sentimento profundo.
“Azul” tem origem no árabe e no persa lázúrd, por lazaward. É a cor
do céu sem nuvens. Dá a sensação do movimento para o infinito.
Associação material: noite, janela, igreja, aurora, sonho, mar
profundo.
Associação afetiva: fantasia, mistério, profundidade, eletricidade,
Roxo dignidade, justiça, egoísmo, grandeza, misticismo, espiritualidade,
delicadeza, calma.
“Roxo” vem do latim russeus (vermelho-carregado). É uma cor que
possui um forte poder microbicida.
Fonte: adaptado de Farnina, (1990).

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198 © Cartograia Temática

Relembrando o significado psicológico das cores, desejamos


finalizar esta unidade apresentando as cores em sua aplicação à
criatividade e em relação à apresentação de ideias. Esperamos
que a relação apresentada a seguir possa servir como um "guia"
quando desejar facilitar sua comunicação por meio das cores, bem
como garantir seu êxito.
Apresentamos, na Tabela 5, o significado psicológico de al-
gumas cores. Lembre-se de que isso nada mais é do que tentar
viabilizar, com base em resultados científicos, o processo de trans-
ferência de informação entre remetente e o destinatário.

Tabela 5 Psicodinâmica das cores.


CORES PSICODINÂMICA
Aumenta a atenção, é estimulante, motivador. Aplicado
Vermelho em anúncios de artigos que indicam calor e energia;
artigos técnicos e de ginástica.
Aplicado em forma mais moderada nos mesmos casos
Laranja
do vermelho.
Visível a distância, estimulante. Cor imprecisa, que pode
produzir vacilação no indivíduo e dispersar em parte
sua atenção. Em Publicidade, não é uma cor motivadora
Amarelo por excelência. Combinado com o preto, pode resultar
efeito eficaz e interessante. Geralmente aplicado em
anúncios de artigos que indicam luz. É desaconselhável
o uso dessa cor em superfícies muito extensas.
Estimulante, mas com pouca força sugestiva; oferece
uma sensação de repouso. Aplicado em anúncios de
Verde
artigos que caracterizam frio, e em azeites, frutas,
verduras e outros semelhantes.
Possui grande poder de atração; é neutralizante nas
inquietações do ser humano; acalma o indivíduo e seu
Azul
sistema circulatório. Aplicado em anúncios de artigos
que caracterizam frio.
© U7 - A Inluência das Cores no Processo de Comunicação Visual 199

CORES PSICODINÂMICA
Acalma o sistema nervoso. Aplicado em anúncios de
artigos religiosos, em viaturas, acessórios funerários,
etc. Para dar a essa cor maior sensação de calor,
Roxo
acrescenta-se o vermelho; de luminosidade, o amarelo;
de luminosidade ao calor, o laranja; de frio, o azul; de
frio e arejado, o verde; de luminosidade ao frio, o verde.
Cores representativas do valor e da dignidade. Aplicado
Púrpura e ouro
em anúncios de artigos de alta categoria e luxo.
Esconde muito a qualidade e o valor e, portanto, é
pouco recomendável em Publicidade. Sua eventual
Marrom
aplicação em combinação com outras cores deve ser
bem estudada.
Entristece o ser humano, não sendo, portanto, muito
Violeta
bem visto na criatividade publicitária.
Indica discrição. Para as atitudes neutras e diplomáti-
Cinza
cãs, o “cinza” é muito usado em Publicidade.
Pouco recomendável em Publicidade. Uma peça
Preto com muitos detalhes em “preto” deixa o ser humano
geralmente frustrado.
Estimulante, predispõe à simpatia; oferece uma
sensação de paz para produtos e serviços que precisam
Azul e branco
informar sua segurança e estabilidade (por exemplo,
anúncio de companhia aérea).
Estimulante da espiritualidade; combinação delicada e
Azul e vermelho
de maior eficácia em Publicidade.
Sensação de antipatia; deixa o indivíduo preocupado;
Azul e preto desvaloriza completamente a mensagem publicitária e
é contraproducente.
Estimulante, mas de pouca eficácia publicitária.
Vermelho e verde Geralmente se usa essa combinação para publicidade
rural.
Estimulante e eficaz em Publicidade. Pesquisas
demonstraram que, em certas pessoas, essa
Vermelho e amarelo
combinação de cores provoca opressão e, em outras,
insatisfação.
Produz atitude passiva em muitas pessoas. É de pouca
Amarelo e verde eficácia publicitária. Poderá resultar eficaz se houver
mais detalhes coloridos na peça apresentada
Fonte: adaptado de Farnina (1990) e de Abra (2011).

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200 © Cartograia Temática

Lembre-se de que a cor é uma realidade sensorial; dessa for-


ma, é grande a diferença de sensibilidade entre os seres huma-
nos, variando segundo os diferentes meios em que vivem. Por isso,
não podemos estabelecer com exatidão um índice do uso definido
de uma cor ou combinações de cores em relação a determinadas
apresentações de ideia numa combinação.
A aplicação de tais conceitos é ampla, e você pode aplicar
isso na construção de seus mapas, na elaboração de slides para
uma apresentação, para chamar atenção em sala de aula. Nunca
se esqueça de que o seu êxito estará fortemente vinculado à mani-
pulação adequada das cores em função de seu objetivo!

8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Esta unidade teve um caráter complementar, de cunho te-
órico e prático; logo, sua leitura deve ser realizada atentamente,
refletindo sobre o conteúdo apresentados e, principalmente, ava-
liando o mundo ao seu redor, na tentativa de “enxergar” aquilo
que foi exposto. Para auxiliar sua compreensão e dar boa conti-
nuidade aos estudos, sugerimos que você responda e coloque em
discussão algumas questões referentes a Psicodinâmica das Co-
res, bem como reflita sobre a afinidade existente entre a ideia da
propaganda (marketing) e a Cartografia. Se sentir dificuldade em
responder às questões a seguir, releia o material e utilize a biblio-
grafia indicada.
1) Como a manipulação da cor pode auxiliar a comunicação visual, de modo a
garantir boa visibilidade e legibilidade na mensagem?

2) Sabe-se que, fisiologicamente, o indivíduo reage ao estímulo das cores em


função de princípios físicos e psíquicos, sempre subordinados à influência
cultural. Comente como cada um dos três aspectos em destaque pode con-
tribuir para diferentes respostas fisiológicas quando o organismo é submeti-
do a tal estímulo visual.

3) Vimos nesta unidade o forte potencial da utilização das cores no ramo da


promoção das ideias. Obviamente, numa sociedade de consumo, em que
© U7 - A Inluência das Cores no Processo de Comunicação Visual 201

os fluxos de informação representam o grande poder de uma sociedade, a


publicidade é direcionada ao mercado, que se apropriou majoritariamente
da compreensão e da aplicação de tais leis visuais. Você conseguiria estabe-
lecer uma relação, em termos de concepção, entre a Cartografia e a Propa-
ganda e Marketing?

4) Considerando o exposto na questão anterior, você acha que a Cartografia


apresentada nos livros didáticos demonstra preocupação com a utilização
das cores, de modo a facilitar a promoção de uma ideia que queria trans-
mitir?

9. CONSIDERAÇÕES
Esta unidade nos apresentou um pouco mais do complexo
universo contemplado pela Cartografia Temática. Ao longo de seu
CRC, observamos alguns preceitos exclusivamente cartográficos,
que nos ofereceram conteúdo teórico e metodológico para estru-
turarmos os alicerces que sustentam a ciência cartográfica.
Devemos nos lembrar de que esses “alicerces” a que nos re-
ferimos condizem com a realidade e com o contexto histórico em
que vivemos atualmente, no início do século 21. Sabemos que o
conhecimento científico é dinâmico e que a epistemologia cientí-
fica proporciona flutuações de paradigmas; logo, tudo aquilo que
sustenta a ciência cartográfica hoje pode ser superado por novos
conceitos, mais atuais e que respondem às demandas da socieda-
de. Ver as informações georreferenciadas, seja por meio de GPS,
seja por aparelhos celulares, por câmeras fotográficas, seja qual-
quer outra tecnologia, já deixou de ser uma curiosidade.
Portanto, evidenciamos que este material apenas orienta e
que podemos afirmar que outros conhecimentos, de natureza in-
ter e multidisciplinar, se mostram fundamentais para o nosso enri-
quecimento e desenvolvimento.
Ambientes digitais, como softwares de edição gráfica, forne-
cem-nos ferramentas e possibilidades que ampliam nossa capaci-
dade de criação, manipulação e apresentação de ideias. Atualmen-
te, podemos até mesmo reapresentar informações antigas com
novas "roupagens", proporcionando novas conotações e amplian-

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202 © Cartograia Temática

do a capacidade de leitura das informações. Você vê alguma van-


tagem nisso? Afirmaríamos que são inúmeras! Quando se amplia a
capacidade de representação visual de informações, estamos ofe-
recendo novos recursos para realizar a leitura da mensagem, pois,
como vimos, uma ideia (mensagem) bem apresentada é o único
meio para o êxito do processo de comunicação, elevando a pro-
babilidade de assimilação do conteúdo por parte do destinatário.
Retomando a ideia inicial, reapresentar informações antigas,
mas considerando as novas possibilidades tecnológicas, possibilita
que elas sejam potencializadas, ou seja, melhores exploradas e
utilizadas. Obviamente, isso também vale para novas informações.
A ideia de “potencialização” de dados e/ou informações es-
clarece por completo o objetivo desta unidade; pois entender a di-
nâmica que as cores exercem sobre nós permite-nos potencializar
os dados que desejamos trabalhar, transformando-os realmente
em informações úteis, oferecendo recursos para que a sociedade
agregue maior conhecimento quando se utiliza de mapas. Já as
vantagens pelo viés científico é que permite o desenvolvimento
de novos procedimentos cartográficos, que consideram elementos
que atuam sobre a percepção humana, influenciando sua capaci-
dade de interpretação.

10. E-REFERÊNCIAS
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. CB-32 - Equipamentos de
proteção individual. 1996. Disponível em: <http://www.abnt.org.br/m3.asp?cod_
pagina=958>. Acesso em: 28 mar. 2012.
ABRA – ACADÊMIA BRASILEIRA DE ARTE. Como combinar as cores - introdução. 2001.
Disponível em: <http://www.abra.com.br/oficinas/11-como-combinar-as-cores-
introducao=Cores:> Acesso em: 28 mar. 2012.

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


DANGER, E. P. A cor na comunicação. São Paulo: Fórum, 1973.
FARINA, M. Psicodinâmica das cores em comunicação. 4. ed. São Paulo: Edgard Blusher,
1990.
© U7 - A Inluência das Cores no Processo de Comunicação Visual 203

GREGORY, R. L. Olho e cérebro. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.


HOCHBERG, J. E. Percepção. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.
LÉGER, F. Funções da pintura. São Paulo: Difusão Europeia do livro, 1965.
MOLES, A. Teoria da informação e percepção estética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
1969.
MUEUER, C. G. Psicologia Sensorial. Rio de Janeiro: Zahar, 1969.

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EAD
As Faces da Cartografia:
o Poder da Ideologia e
a Construção do
Saber 8
1. OBJETIVOS
• Destacar temas pertinentes ao ensino da cartografia, que
requerem maiores reflexões por parte dos educadores.
• Evidenciar a apropriação da cartografia como instrumen-
to ideológico do Estado.
• Apresentar a origem histórica da relação entre Poder, Car-
tografia e Geopolítica.
• Inserir a Cartografia como instrumento mediador de dis-
cussões dos temas geográficos.
• Promover a autoavaliação enquanto professor de Geogra-
fia, enfatizando a forma de transmissão do conhecimento.

2. CONTEÚDOS
• O desafio de uma Cartografia socialmente útil.
• Sugestões para reflexão do tema Cartografia e Poder.
206 © Cartograia Temática

• Cartografia e estado: uma relação estratégica.


• Proposições para uma Cartografia de interesse social.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Por contemplar temas importantes, que requerem muita
discussão, as orientações para os estudos desta unidade aplicam-
-se simplesmente como um auxílio para ajudá-lo a aproveitar ao
máximo o conteúdo, como também uma "linha guia" para nortear
as reflexões. Observe-as:
1) É importante que você exercite a crítica sobre o conteú-
do desta unidade. Avalie a sua capacidade de argumen-
tação. Discordando das colocações expostas, indique
o porquê e exponha seu ponto de vista, lembrando-se
sempre da importância de fundamentá-lo, para que suas
posições ideológicas não sejam caracterizadas apenas
por suas experiências vividas e/ou contexto histórico e
social.
2) Lembre-se de que, atualmente, a Cartografia assume
um papel fundamental na sociedade, principalmente em
função da expansão da demanda por informações espa-
cializadas. Observa-se que, em qualquer tipo de mídia,
mas principalmente nas redes sociais, a localização geo-
gráfica assume o mesmo nível de importância que qual-
quer outro atributo da informação, pois a resposta para
a questão "aonde?" é fundamental para dar expressivi-
dade às opiniões. Nesse contexto, é essencial repensar-
mos o processo de alfabetização cartográfica, bem como
o conteúdo por ela abordado, principalmente para sa-
bermos avaliar quando ela é utilizada como instrumento
ideológico.
3) O conteúdo desta unidade será baseado, especialmen-
te, nas considerações e estudos de indicados na Tese de
Doutorado do professor Edilson Alves de Carvalho, de tí-
tulo A cartografia e os aparelhos (ideológicos) de Estado
no Brasil.
© U8 - As Faces da Cartograia: o Poder da Ideologia e a Construção do Saber 207

4) Importante destacar que, nesta unidade, a nossa propos-


ta não se trata de mudar conceitos, desfazer técnicas,
nem de menosprezar o valor intrínseco da Cartografia
praticada no Brasil. O que sugerimos é mostrar clara-
mente que a Cartografia tem sido praticada como uma
verdadeira arma nas mãos dos poderosos, os quais, ge-
ralmente, estão à frente dos aparelhos do Estado, in-
clusive dos aparelhos ideológicos do Estado.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Observa-se que a Cartografia sempre esteve ligada, de algu-
ma forma, aos Estados, direcionada a atender aos interesses de
poder, apoiando ações de planejamento econômico e geopolíti-
co em consonância com os objetivos da segurança nacional, nem
sempre se voltando a contribuir com os anseios da sociedade.
Por esse motivo, é importante sabermos avaliar alguns as-
pectos e reconhecer quando há o uso da Cartografia naquilo que
alguns autores costumam denominar de AIE (Aparelhos Ideológi-
cos do Estado). Os AIEs nada mais são do que as instâncias nas
quais o poder do Estado se apoia para o seu pleno exercício.
Como frisado diversas vezes ao longo deste Caderno de Referên-
cia de Conteúdo, é importante realizarmos uma avaliação crítica das for-
mas de veiculação da Cartografia, do modo como ela chega ao público,
o que ela apresenta ou o que ela nos induz a acreditar, a nos convencer.
Inúmeros estudos publicados em periódicos científicos, te-
ses e dissertações indicam que a Cartografia nacional é pouco útil
à sociedade, não visando, prioritariamente, a contribuir para a re-
solução dos problemas sociais, nem para a formação da cidada-
nia. O que isso significa? Significa que, enquanto as tecnologias,
os conceitos e o conhecimento são produzidos em universidades
e institutos, aquele que tem a responsabilidade de executar e dis-
seminar tais ações à sociedade se omite, distorce e, muitas vezes,

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208 © Cartograia Temática

engaveta o conhecimento em Ministérios, Secretarias e outros ins-


trumentos responsáveis pela execução de ações que visem ao bem
estar social.
A presente unidade tem um caráter meramente reflexivo.
Após nos dedicarmos aos métodos pragmáticos da ciência carto-
gráfica, compreender seus objetivos e ter noção de seu potencial
no campo da comunicação, temos condições teóricas e práticas
para avaliar o que nos é apresentado. Obviamente, essa avalia-
ção não se restringe ao conteúdo deste Caderno de Referência de
Conteúdo, mas, sim, a toda a bagagem de conhecimento que você
construiu e que trouxe até este momento.
Talvez, muito do que aqui será exposto você já saiba; no
entanto, o que faremos será fornecer subsídios para discussão e
enriquecimento do conhecimento cartográfico e geográfico. Acre-
ditamos ser esse um importante tema para ser discutido em sala
de aula, pois o mapa é um instrumento de comunicação, além de
ser um direito do cidadão ter todo o conhecimento sobre suas po-
tencialidades.
Outro fator muito importante é que a Cartografia tem o po-
der de sintetizar diversos assuntos num único mapa; assim, a dis-
cussão ganha dimensões que fogem de nosso controle, favorecen-
do a construção do conhecimento.
Ao final, serão apresentadas sugestões e alternativas para
uma possível mudança na Política Cartográfica Nacional, com o
foco na construção de uma Cartografia Temática de interesse so-
cial para o Brasil.

5. CONSIDERAÇÕES INICIAIS: O DESAFIO DE UMA


CARTOGRAFIA SOCIALMENTE ÚTIL
O trabalho intelectual no âmbito de um ambiente acadêmi-
co, em geral, tende a avançar alicerçado no debate, nas pesquisas
e nas aplicações de seus resultados em forma de extensão univer-
sitária, quando teoria e prática devem se efetivar.
© U8 - As Faces da Cartograia: o Poder da Ideologia e a Construção do Saber 209

Resultante de nossas preocupações com o ensino da Carto-


grafia, nossa proposição é discutir, de forma clara e objetiva, uma
questão de real interesse e de grande importância para a Geogra-
fia praticada hoje no Brasil: a relação entre a Cartografia e os apa-
relhos (ideológicos) de Estado.
São vários os motivos que nos levaram a propor um tema tão
abrangente e, ao mesmo tempo, tão específico como esse. Abran-
gente, em função da sua própria essência, já que trata da relação
entre a Cartografia – uma área científica vasta e bastante difundi-
da em vários setores da sociedade nos dias atuais – e os aparelhos
(ideológicos) de Estado, que são as instâncias nas quais o poder do
Estado se apoia para o seu pleno exercício. O tema é abrangente
por procurar desvendar uma relação evidente, mas que se proces-
sa em diversas esferas do saber/poder, de uma forma tão comple-
xa quanto o entendimento das estruturas político-ideológicas que
compõem o arcabouço (geo)político do Estado brasileiro.
A especificidade do tema está na visível ausência de estu-
dos sistematizados nesse sentido, visto não ser muito clara ao
grande público a ideia de que a Cartografia como ciência e téc-
nica (e até como arte) possa ser usada de forma tão eficaz pelos
aparelhos (ideológicos) de Estado, na consecução de alguns in-
teresses.
O exame dessa relação exige, acima de tudo, muita determi-
nação para percorrer os tortuosos caminhos em busca de informa-
ções, as quais estão dispersas em fontes das mais variadas.
Em várias oportunidades de confrontar ideias com docentes
e discentes a respeito dos conteúdos das cadeiras que integram
a área da Cartografia, têm sido comum referências à “aridez dos
programas”, à “pouca aplicação prática” desses conteúdos no co-
tidiano dos professores de Geografia e, também, à aparente “neu-
tralidade” da Cartografia.
É evidente que essas referências têm seus fundamentos. A
Cartografia ensinada só como técnica, sem uma postura filosófica

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210 © Cartograia Temática

explícita, sem um claro envolvimento político-ideológico e, acima


de tudo, sem engajamento social, torna-se, de fato, extremamente
árida. São pontos, linhas e áreas e nada mais. Vale lembrar que
não está nos propósitos deste Caderno de Referência de Conteúdo
(e certamente não está nos seus propósitos) ensinar essa Carto-
grafia a uma sociedade ávida por conteúdos críticos, consequen-
tes, inovadores e coerentes com as propostas de uma Geografia
Crítica, comprometida com as transformações sociais.
No entanto, observa-se que tem sido difícil conciliar os con-
teúdos “acríticos” de boa parte dos programas da área da Cartogra-
fia, com a vontade de participar e apoiar a construção da Geogra-
fia Crítica por meio de uma visão proporcionada pela Cartografia.
Essa diferença estaria na necessidade de estudar a Cartogra-
fia praticada no Brasil como um recurso visual para a represen-
tação do espaço, altamente eficaz e de grande precisão no pla-
nejamento e na realização de estratégias e tomadas de decisões,
por parte daqueles que exercem o poder sobre o espaço e sobre a
sociedade, seja por meio da “força” dos Estados-maiores, seja por
meio do capital das grandes corporações econômicas (que indis-
cutivelmente têm a sua parcela de controle sobre o Estado), seja
por meio do convencimento ideológico que podem exercer sobre
a sociedade.
A diferença está em ensinar a Cartografia, atento para a sua
íntima relação com o poder, procurando os elos existentes entre
a Cartografia praticada no Brasil e a influência das ideologias que
têm sustentado o poder do Estado brasileiro, bem como os resul-
tados práticos dessa influência, em termos geopolíticos.
Mas a diferença também está em mostrar como a Carto-
grafia trabalhada por meio dos aparelhos ideológicos de Estado,
mais especificamente na escola e na mídia, está sendo mal utiliza-
da, destacando as possibilidades que tem a Cartografia Temática
de ser útil à sociedade, desde que novos direcionamentos na Po-
lítica Cartográfica Nacional lhe deem os requisitos necessários ao
seu desenvolvimento.
© U8 - As Faces da Cartograia: o Poder da Ideologia e a Construção do Saber 211

A importância que tentaremos atribuir a esta unidade é a de


não só discutir, questionar e trazer à luz muitos interesses escon-
dido de setores poderosos, que se apoiam na Cartografia como
suporte para “manipulações” que são forjadas sobre o território
do país, mas dar uma contribuição efetiva para que a Cartografia
produzida no Brasil se volte com maior ênfase para a utilização
dos mapas e cartogramas de temas de interesse social, auxiliando
o ensino da Geografia nas salas de aula com relação às questões
cartografáveis, de interesse direto da sociedade.
A tarefa não é simples, pois, apesar de o Estado dispor “apa-
rentemente” do controle da produção cartográfica nacional, ele
não tem exclusividade no setor, já que a Cartografia faz parte
do cotidiano de inúmeras organizações públicas e privadas, que
necessitam, em suas atividades, usar a imagem espacial – como
as empresas de comunicação, por exemplo –, dificultando ações
disciplinadoras no setor. Isso dá margem, entre outras coisas, ao
uso indevido dos produtos cartográficos, seja pelo próprio Estado,
quando direciona essa produção para atender a interesses alheios
à vontade popular (e é aí onde o Estado é posto a serviço de outras
Instituições), seja pelas grandes corporações, quando, utilizando-
-se de mapeamentos feitos por órgãos públicos ou mesmo por em-
presas privadas, planejam sobre as “imagens” do território, para
executar sobre este suas ações, muitas das quais lesivas ao patri-
mônio nacional.
Assim, queremos reafirmar a importância dessas discus-
sões para o enriquecimento do conhecimento cartográfico, mais
especificamente da Cartografia em sala de aula. O assunto tam-
bém será de grande utilidade para todos aqueles que, no intuito
de contribuir para a construção de uma sociedade mais escla-
recida e consciente, procuram apoio em trabalhos críticos que
possam ajudar a desmistificar conceitos e teorias tidos como in-
questionáveis, que são usados como forma de manter parte da
sociedade um tanto alienada dos interesses que se camuflam nas
engrenagens ideológicas do Estado brasileiro, que, afinal, é um
Estado classista e ainda autoritário.

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212 © Cartograia Temática

6. SUGESTÕES PARA REFLEXÃO SOBRE O TEMA PRO-


POSTO: PRESSUPOSTOS E OBJETIVOS QUE DEVEM
SER PENSADOS PELO PROFESSOR
Dentro dessa perspectiva, acreditamos que possa ser facili-
tador e norteador pensarmos em algumas hipóteses e objetivos
que conduzam à compreensão dos temas aqui abordados, enfati-
zando o uso da Cartografia pelos aparelhos (ideológicos) de Estado
no Brasil.
Não apenas para a ciência, mas também para nossa orga-
nização, no exercício de transmissão do saber, é importante que
tenhamos alguns pressupostos que nos guiem e estimulem nossa
reflexão. Vejamos:
1) A Cartografia praticada no Brasil, ligada ao poder desde
as suas origens, é utilizada pelos aparelhos do Estado, o
qual influi decisivamente nas ações que são implemen-
tadas no setor cartográfico.
2) O controle político, social e econômico do território pelo
Estado e por outras instituições pode ser conquistado
mediante a implementação de uma política cartográfica
articulada para tal fim.
3) Sob o pretexto de contribuir para o planejamento de
ações de caráter socioeconômico e de segurança nacio-
nal, a Cartografia brasileira, na realidade, é direcionada
especialmente a atender apenas a interesses econômi-
cos e de segurança nacional, sendo pouco expressivo o
aproveitamento social de seus benefícios, já que não se
vislumbra ainda, no Brasil, um avanço significativo de
uma Cartografia Temática voltada para assuntos de in-
teresse social.
4) As técnicas cartográficas no Brasil têm servido aos apa-
relhos ideológicos como um excelente instrumento de
divulgação e de doutrinação da ideologia das classes
dominantes. Isso ocorre, principalmente, por meio de
aparelhos como os meios de comunicação de massa (a
televisão, as revistas e os jornais) e a escola, onde o ensi-
© U8 - As Faces da Cartograia: o Poder da Ideologia e a Construção do Saber 213

no, (especialmente o de Geografia) é praticado ainda de


forma tradicional, positivista e conservadora.
Como se pode observar, tais pressupostos se referem ao pro-
cesso de estruturação do Sistema Cartográfico do nosso país, que
tornou a Cartografia um saber fortemente voltado aos anseios de
certos interesses que, respaldados em ideologias, nortearam inú-
meras ações do Estado brasileiro.
Direcionando nosso pensamento dessa forma, é mais fácil
que definamos alguns objetivos que possam facilitar o nosso tra-
balho em sala de aula, tais como:
1) Realizar levantamento dos processos históricos que bali-
zaram o desenvolvimento da Cartografia em sua relação
com a formação do Estado em geral e com o Estado bra-
sileiro.
2) Demonstrar como a Cartografia tem servido ao Estado
brasileiro, que, por intermédio de seus aparelhos, esta-
belece metas, direciona e controla parte considerável da
produção cartográfica nacional, com respaldo nas ide-
ologias que norteiam as ações políticas, econômicas e
sociais desse Estado.
3) Avaliar a importância geopolítica da Cartografia brasilei-
ra como um saber de caráter estratégico, tanto na ques-
tão da segurança nacional, como no planejamento e na
execução de planos, programas e projetos de interesse
do Estado e das classes que o controlam.
4) Observar o uso do mapa em sala de aula, em relação ao
seu aproveitamento como recurso didático para o ensi-
no da Geografia, e as dificuldades inerentes ao seu uso
por professores e alunos.
5) Avaliar o material cartográfico produzido e veiculado
pela mídia brasileira e atentar para a difusão de ideolo-
gias.
6) Promover trabalhos e temas que viabilizem e estimulem
uma Cartografia Temática de maior interesse social, com
vistas a expor, de forma clara, as reais dimensões dos
problemas que afligem a nação.

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214 © Cartograia Temática

Tais objetivos, se postos em prática, podem significar um ca-


minho para reflexão da construção de um conhecimento cartográ-
fico livre de "vícios". Do contrário, sabemos que tais metas podem
se tornar fortemente utópicas. Devemos reconhecer que o Estado
carrega diversos erros, equívocos e ações tendenciosas que devem
ser amenizadas e sanadas; no entanto, também devemos reco-
nhecer a nossa parcela de culpa pelo fato de a Cartografia ainda se
encontrar de forma tão distante daquilo que foi concebida – afinal,
temos a responsabilidade na transmissão do saber cartográfico!

7. CARTOGRAFIA E ESTADO: UMA RELAÇÃO ESTRA-


TÉGICA
A questão que estamos colocando em evidência se refere ao
desenvolvimento e à difusão da Cartografia subjugada aos inte-
resses do Estado. Logo, a compreensão de alguns fatos históricos
direcionados pode facilitar tal compreensão.
Estamos acostumados à leitura de compêndios nos quais as
referências históricas à Cartografia são feitas quase sempre em
torno da aventura, do fantástico e do maravilhoso, onde os car-
tógrafos antigos aparecem como homens de inusitado poder de
ação e observação que puderam oferecer à humanidade um pre-
cioso legado: o mapa. Contudo, vimos na unidade anterior que é
muito difícil que esse objeto seja isolado, neutro, como se o ato de
mapear não fosse dependente de uma decisão política e realiza-
do a partir de uma concepção ideológica, além dos ideais de uma
época e sociedade implícitos no modo de ver o mundo.
No entanto, desde suas origens, a Cartografia é um saber
fortemente caracterizado pela não neutralidade, sendo um recur-
so muito significativo quando se trata de atender a interesses de
dominação de um grupo humano sobre outro. Observe a descri-
ção feita por Lacoste (1989, p. 43-44):
Outrora, na época em que a maioria dos homens vivia ainda
para o essencial, no quadro de autosubsistência aldeã, a qua-
© U8 - As Faces da Cartograia: o Poder da Ideologia e a Construção do Saber 215

se totalidade de suas práticas se inscrevia, para cada um deles,


no quadro de um único espaço, relativamente limitado: o
‘terroir’ da aldeia e, na periferia, os territórios que relevam
das aldeias vizinhas. Além disso, começavam os espaços pou-
co conhecidos, desconhecidos, míticos. Para se expressarem e
falar de suas práticas diversas, os homens se referiam, portanto,
antigamente, à representação de um espaço único que eles co-
nheciam bem concretamente, por experiência pessoal. Mas,
desde há muito, os chefes de guerra, os príncipes, sentiram
necessidade de representar outros espaços, consideravelmente
vastos, os territórios que eles dominavam ou que queriam do-
minar; os mercadores também precisavam conhecer as estra-
das, as distâncias em regiões distantes onde eles comercializavam
com outros homens.

Mesmo considerando o contexto a que o autor se refere bas-


tante antigo, depreende-se claramente o significado do mapa, na
medida em que este é usado como instrumento do poder político
e econômico. Nesse sentido, o mapa é, de fato, um instrumento
de poder, visto que o seu uso pressupõe mais facilidades para o
controle e o domínio sobre o espaço nele representado.
Consideramos o mapa um instrumento do poder político
quando o Estado o utiliza para fazer valer as suas ações coercivas
sobre o espaço (interno ou externo), em que ele se julga no di-
reito de aplicar tais ações que podem ser, por exemplo, normas,
decretos, divisões, anexações territoriais ou a violência explícita
da guerra.
Já como instrumento do poder econômico, quando na sua
análise e interpretação, o mapa auxilia no planejamento de ati-
vidades lucrativas para quem detém a riqueza, muitas vezes, em
prejuízo daqueles que não a têm.
É também um instrumento de poder de caráter ideológico,
no momento em que um usuário, detentor de alguma forma de sa-
ber, dele se apropria, retirando-lhe ou acrescentando-lhe informa-
ções úteis para convencer, persuadir, ou induzir as suas próprias
convicções e interesses, aos que estejam à mercê desse saber/po-
der, ou seja, aos menos informados e menos esclarecidos, simboli-
zados por aquilo que denominamos como “a massa”.

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216 © Cartograia Temática

Lembremos que o exercício do poder, em todas as suas for-


mas, é uma característica fundamental, embora não exclusiva do
Estado. Se a Cartografia é uma ciência, cuja aplicação tem sido,
desde os primórdios, encampada em sua quase totalidade pelo
Estado por meio de seus organismos específicos (como as forças
armadas, os órgãos planejadores etc.), não é difícil entender a im-
portância que atribuímos ao significado teórico do termo “Estado”
no nosso estudo.
O que é o Estado? Onde e quando teve origem o Estado?
O Estado sempre existiu? Para que e para quem serve o Estado?
Essas e outras indagações têm múltiplas respostas, aceitáveis ou
não, dependendo dos pontos de vista de quem as dá e de quem as
recebe, mas, especialmente, do momento histórico e do cenário
político e econômico que lhes serve de base.
Objeto de muitas análises e interpretações, o Estado confi-
gura-se num tema complexo e multidisciplinar, capaz de envolver
filósofos, políticos, militares, historiadores e cientistas sociais em
geral. Fonte de poder e aglutinador de interesses desde as suas
origens, o Estado tem como base material de sua existência o es-
paço físico (território), ao qual dirige grande parte de suas preocu-
pações.
Na passagem da fase média à superior da barbárie, cria-se o
matrimonio monogâmico (pelo menos para a mulher), com o obje-
tivo de dar ao homem a “certeza” da paternidade e, assim, garantir
a manutenção no seio da família de seus bens materiais após a sua
morte, por meio da herança. Ao homem é reservada a tarefa de
prover os bens materiais para a família (“novo” referencial coletivo
que, além da mulher e dos filhos, inclui os escravos), justificando-
-se, assim, o “dever” de acumular fortuna para essa provisão, nas-
cendo, desse modo, a propriedade privada. Como consequência,
surge a divisão do trabalho e das classes sociais, advindo daí o po-
der dos que têm muito sobre os despossuídos, ou seja, o poder
político do qual nasce o Estado.
© U8 - As Faces da Cartograia: o Poder da Ideologia e a Construção do Saber 217

De acordo com Engels (1991, p. 119-120):


[...] o direito paterno, com herança dos haveres pelos filhos, faci-
litando a acumulação das riquezas na família e tornando esta um
poder contrário à gens; [...] primeiros rudimentos de uma nobre-
za hereditária [...] a escravidão, a princípio restrita aos prisioneiros
de guerra, desenvolvendo-se depois no sentido da escravização de
membros da própria tribo e até da própria gens; [...] Faltava ape-
nas uma coisa; [...] uma instituição que, em uma palavra, não só
perpetuasse a nascente divisão da sociedade em classes, mas tam-
bém o direito de a classe possuidora explorar a não possuidora e
o domínio da primeira sobre a segunda. E essa instituição nasceu.
Inventou-se o Estado.

É interessante notar que, nesse estágio inicial de organiza-


ção, o Estado já apresenta traços característicos que permanecem
atuais até hoje: a divisão territorial, uma força pública, o estabele-
cimento dos cárceres, os impostos, as dívidas do Estado e os fun-
cionários. Alguns desses traços representam o que hoje entende-
mos por aparelhos de Estado. Como vemos, na sua versão original,
o Estado já era dotado das condições mínimas para o desenvolvi-
mento inicial do capitalismo, e a sua consolidação foi ocorrendo na
medida em que a civilização foi exigindo novos atributos ao apara-
to estatal ao longo da História.
É verdade que essa interpretação de Engels (1991) para a
origem do Estado se baseia no econômico como fator preponde-
rante, mas o seu valor não pode ser negado, visto que, de uma ma-
neira geral, a economia, especialmente com o desenvolvimento
histórico do capitalismo, tem sido o elemento motivador de mui-
tas teorias políticas e sociais, especialmente das teorias surgidas a
partir do Renascimento e da efervescência das conquistas e expan-
sões territoriais entre os séculos 16 e 17 pelas potências marítimas
de então.
Examinando a História da Cartografia, mesmo que queira-
mos, não podemos dissociá-la da História da humanidade e, con-
sequentemente, da História da formação do Estado, especialmen-
te se considerarmos que o Estado, para atingir sua feição atual, se
forjou basicamente na espoliação e na subsunção dos mais fracos
(incluindo-se aí o subjugo de uma nação por outra mais forte).

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218 © Cartograia Temática

Desde os primórdios, quando o Estado ainda não tinha em


todos os lugares essa organização original, foram os chefes de tri-
bos, os reis, os governantes e os poderosos em geral que fizeram
intenso uso dos mapas.
A Cartografia, antes uma “arte expontânea”, passou a ser,
então, uma atividade estimulada. Devido à emergente importân-
cia estratégica dos mapas, especialmente na fase dos Grandes
Descobrimentos, os desenhistas e estudiosos (matemáticos, agrô-
nomos, agrimensores etc.) que os projetavam – que não eram ain-
da cartógrafos na acepção moderna do termo – passaram a ser
bem pagos. Governantes, mercadores e navegadores tinham, de
fato, um grande interesse em financiar a atividade cartográfica.
Observe nos livros de Cartografia que sua História, em todas
as suas fases, se refere a acontecimentos que nos permitem asse-
gurar que ela sempre esteve colocada a serviço de uma elite polí-
tica e econômica que exerce o poder sobre a maioria dos homens
comuns, em todos os tempos e em todos os lugares, especialmen-
te (e com mais intensidade) quando a humanidade atingiu o está-
gio de civilização, com o estabelecimento da propriedade privada
e, com ela, o comércio, a moeda, a extorsão dos juros, a ambição,
enfim, quando o Estado moderno tornou explícitas todas as suas
contradições.
Será que as grandes incursões por terras e por mares des-
conhecidos que muitos povos empreenderam teriam sido apenas
aventuras? Como seriam essas incursões sem o concurso de uma
ciência que facilitasse essas “aventuras geográficas” (expressão
até bastante despretensiosa, para definir empreitadas tão decisi-
vas e dispendiosas)?
Carvalho (1997) afirma que geógrafos, cientistas sociais (po-
líticos especialmente), militares, chefes de Estado etc. sempre se
ocuparam em buscar na origem da formação dos Estados explica-
ções razoáveis sobre as complicadas engrenagens (se é que pode-
mos usar o termo) filosóficas, ideológicas, (geo)políticas, que com-
põem essa máquina de controle social que é o Estado.
© U8 - As Faces da Cartograia: o Poder da Ideologia e a Construção do Saber 219

Uma abordagem bastante interessante sobre o tema é feita


por Costa (1992, p. 226) ao analisar o chamado “Estado moderno”
e seu significado atual:
Historiadores e cientistas políticos concordam num ponto funda-
mental. O Estado moderno, em sua conformação básica atual, tem
as suas origens nos séculos XV e XVI, no contexto da dissolução
dos impérios e do poder temporal da igreja, então acossados pela
emergência do poder dos príncipes. [...] Em rigor, as suas origens
devem ser buscadas nas cidades-repúblicas da Itália setentrional,
na época da Renascença. Não só as origens do Estado, como tam-
bém das idéias que passaram a inspirá-lo, bastando mencionar que
Nicolau Maquiavel, por exemplo, viveu e escreveu sua obra em Flo-
rença (O Príncipe), com a qual passou a concebê-lo enquanto órgão
político uno e centralizador.

Muitos autores fazem referência a Maquiavel, em virtude


de sua obra principal ter, de fato, inspirado muitos chefes de Es-
tado na condução dos interesses expansionistas desses Estados.
Evidentemente, foi Maquiavel o primeiro a elaborar uma doutrina
objetiva sobre a formação “moderna” do Estado. É verdade que
seus ensinamentos, em linhas gerais, mais servem à formação de
ditadores e tiranos do que a “estadistas”. Porém, um dos pontos
que historiadores chamam a atenção em Maquiavel é a importân-
cia que ele dá aos conhecimentos da Geografia na preparação dos
planos de guerra, o que, inevitavelmente, requer o uso de mapas
para representar no papel os territórios que, na sua concepção:
[...] [todo príncipe deveria] conhecer a natureza das regiões, saber
como se erguem as montanhas, como se aprofundam os vales,
como se estendem as planícies e familiarizar-se com a peculiari-
dade dos rios e dos pântanos, pondo nisto atenção extrema. Esse
conhecimento é útil por dois motivos: primeiro, aprende-se a co-
nhecer o território e pode-se melhor organizar a sua defesa; segun-
do, mediante o conhecimento e a frequência das suas regiões, tem-
-se fácil noção da natureza de outras regiões que ainda se tenha
necessidade de conhecer. [...] O príncipe falto dessa experiência é
falto da principal qualidade inerente a um capitão, pois ela ensina
a descobrir o inimigo, estabelecer os acampamentos, conduzir os
exércitos, planear as campanhas, sitiar vantajosamente as cidades
(MAQUIAVEL, 1987, p. 98).

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220 © Cartograia Temática

Como vimos, entre as inúmeras artimanhas que Maquiavel


ensina àqueles que desejam “sucesso” como soberano de um
Estado, está o conhecimento da Geografia, não só do seu próprio
Estado, como também dos Estados que se deseja conquistar. Nos
épicos filmes de guerra em que, sobre amplas mesas dos Estados-
maiores, debruçam-se os generais a planejar sobre os mapas,
com o auxílio de objetos e símbolos pictóricos adequados as suas
estratégias de ataque e defesa, fica bem caracterizada a utilidade
geopolítica e geoestratégica da Cartografia.
A mesa, hoje, talvez já não seja mais necessária, mas,
no monitor de um computador, bem que os ensinamentos de
Maquiavel ainda são úteis aos planos estratégicos das grandes
potências militares. O mapa de papel, deteriorável, dá lugar a
programas computacionais cada vez mais avançados, nos quais o
planejamento de ações de ataque e defesa é feito com o máximo
de exatidão em termos de localização e de tempo. É o avanço
tecnológico dando relevância ao papel da Cartografia como uma
importante arma geoestratégica.
De nada valeriam os modernos armamentos, como os
mísseis de médio e longo alcance, sem a precisão matemática na
determinação das distâncias, latitudes e longitudes, conhecimentos
que foram aperfeiçoados por cartógrafos e outros profissionais de
áreas afins ao longo de séculos.
Deixemos bem claro que não estamos oferecendo fatos para
convencê-lo de que a Cartografia é uma ciência desonesta, o que
seria um absurdo. Pelo contrário, acreditamos que, mesmo tendo
sempre se revelado como um recurso significativo para as diversas
formas de poder, o primeiro objetivo da cartografia, conforme
Bertin (1998), foi o de nos dar a imagem dos rios, das montanhas,
das cidades e das estradas, isto é, imagens das referências naturais,
úteis ao homem.
Porém, essa “utilidade” ao homem nos indica a exata
medida com que a Cartografia sempre foi usada pelo Estado; não
© U8 - As Faces da Cartograia: o Poder da Ideologia e a Construção do Saber 221

apenas um instrumento de representação, mas, sobretudo, uma


ferramenta de trabalho presente nas ações do Estado, na guerra
ou na paz. Ser útil ao homem não significa que os homens em geral
são beneficiários das vantagens do uso da Cartografia. A utilidade
também ocorre quando o Estado, através de seus aparelhos, usa
os recursos da Cartografia para atingir alguns objetivos de controle
de Estado.
Conforme Carvalho (1997), considerando-se o Estado como
o meio através do qual algumas classes se reproduzem como tal, a
Cartografia é mesmo um recurso útil de que se serve a classe que
domina o Estado e seus aparelhos para perpetuar a sua condição
de classe dominante.
É curioso o fato de que muitos dos principais teóricos do
Estado pouco tenham se inclinado a estudar atentamente o
papel da Cartografia dentro dos aparelhos de Estado. Em geral,
as referências aos mapas são feitas por meio da Geografia,
sinonimizando-se os termos e as ideias, aparecendo a Cartografia
como um mero apêndice da Geografia ou apenas uma técnica
auxiliar, quase nunca procurando identificar o papel decisivo
que tem a Cartografia na definição prática da base territorial dos
Estados e na própria visão que os cidadãos têm desse Estado.
A História da Cartografia, muitas vezes contada em
tom poético ou até mesmo romântico pela maioria dos seus
historiadores, possibilita-nos ver que, mais que um instrumento,
um canal de expressão da Geografia, ela teve seu avanço alicerçado
na “necessidade” de oferecer ao poder uma visão de conjunto
do território, com vistas a que esse poder (o Estado, as grandes
empresas) consiga enxergá-lo amplamente, como se estivesse no
alto de uma torre central, onde pudesse agir plenamente e impor
suas ações.
É evidente que hoje essa torre não seria mais uma constru-
ção. Ele seria, por exemplo, os potentes sensores de um satélite
espacial, que tudo veem sem serem vistos. Hoje, o poder também

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222 © Cartograia Temática

assume outras dimensões: poder local, nacional, continental etc. –


são escalas de poder superáveis pelo poder global do olhar gigan-
tesco do capitalismo avançado, globalizado, transnacionalizado,
informatizado, que conduz essa “Cartografia de papel” a se tornar
simples “peça de museu”.
A Cartografia, como um instrumento que, na prática, auxi-
lia as ações sobre a base física do Estado (o território) e sendo
executada como sempre foi, no sentido de fornecer aos governan-
tes e aos poderosos em geral uma visão ampla (pequena escala)
do espaço e, também, uma visão detalhada, quando conveniente
(grande escala), não pode deixar de ser vista como mais um ins-
trumento com o qual o Estado executa para (e com) as classes do-
minantes, seus projetos políticos que, invariavelmente, servem de
meios de exploração dos pobres pelos ricos.
Além do mais, é preciso considerarmos que todo um conjun-
to de ideias gerado dentro das instituições do Estado e também
fora delas se combina para inserir nos cidadãos a noção de uni-
dade, de homogeneidade, de interesses comuns. Hino, bandeira,
cores nacionais e mapa são os principais símbolos dessa imposição
consentida. Por esse motivo:
[...] há que se observar que mais que a nação é o Estado-país o
centro da linguagem geográfica... [...] temos que nos ater ao dis-
curso político mais comum, onde a confusão parece ser ainda mais
aguda, pois, como num passe de mágica, homogeneiza-se o não-
-homogeneizável, isto é, quando os que concentram o poder do
Estado falam em nome do povo de um certo país, escondem que
falam em nome dos que detêm o poder, sendo, portanto, muito
difícil de aceitar que governantes, lixeiros, camponeses, latifundiá-
rios, industriais e operários tenham todos os mesmos interesses e
incluam-se num único discurso (SANTOS, 1990, p. 48-49).

Nesse sentido é que podemos perceber como, controlando


o Estado, as classes poderosas (o governo com seus ministérios, o
congresso, o judiciário, as instituições governamentais de escalões
menores, os grandes grupos econômico-financeiros e de comuni-
cação, parte da intelectualidade e da cúpula gerencial das escolas
etc.) constroem de forma combinada ou não, mas sempre apoia-
© U8 - As Faces da Cartograia: o Poder da Ideologia e a Construção do Saber 223

das numa ideologia do nacionalismo ou do patriotismo, a legitimi-


dade dos seus poderes, a sua hegemonia.

Geopolítica
Uma análise de como tem ocorrido ao longo de décadas (e,
porque não dizer, ao longo de séculos) essa relação entre a Carto-
grafia, a Geopolítica e o poder requer especial atenção, em virtude
do nível de complexidade que o assunto enseja. A Cartografia, um
saber construído milenarmente a partir das formas primitivas de
representação gráfica do espaço e das práticas humanas e sociais
nele desenvolvidas, cresceu científica e tecnicamente “acompa-
nhando”, por assim dizer, o desenvolvimento das “civilizações”.
É claro que esse “acompanhar” não foi algo espontâneo e
que, nesse seu crescimento, nem tudo foi “civilizado”. Na verda-
de, a Cartografia, enquanto técnica de registro gráfico de áreas e
de informações a elas relativas, sempre esteve a serviço de inte-
resses dos mais poderosos em todos os estágios civilizatórios. Ela
é um excelente apoio à Geopolítica dos Estados, especialmente
daqueles que melhor sabem aproveitar os seus recursos. Ao mes-
mo tempo, a Geopolítica tem servido de estímulo à pesquisa e à
produção cartográficas, no intuito de colocar suas ambições e es-
tratégias em prática.
Ciência ou conjunto de conhecimentos específicos sobre a
funcionalidade do território, a Geopolítica é parte integrante das
preocupações do poder do Estado, face à possibilidade de perda
do controle do território, principalmente. É como cuidar da da nos-
sa casa, protegendo “o que é nosso” contra a cobiça dos vizinhos.
Mas é, também, o “olho grande” no que é “dos outros”, vendo
a possibilidade de conquista. Evidentemente, essas atitudes não
dizem respeito apenas a um espaço específico (como a Europa)
ou a um tempo específico (como os séculos 19 e 20). A Cartografia
historicamente tem servido, por meio civil ou militar, ao uso dos
mapas para o subjugo de homens e nações, em todos os lugares e
tempos, com maior ou menor grau de intensidade.

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224 © Cartograia Temática

Segundo Harvey (1993, p. 8):


Já se comprovou, por exemplo, a utilidade dos mapas da China
antiga como instrumento de poder, quer se tratasse de mapas ca-
dastrais ou demarcatórios de fronteiras, documentos burocráti-
cos ou protocolos diplomáticos, planos para a conservação de
águas, meios de fixar impostos, ou documentos estratégicos da
logística militar.

Não estamos dizendo que a Cartografia tenha sido desen-


volvida para tal fim. Aliás, sempre chamou a atenção de muitos
geógrafos conscientes o fato de que a Geografia e, por meio dela,
a Cartografia tenham sido utilizadas em diferentes etapas da his-
tória, como recursos de alto significado, quando solicitadas a for-
necer as bases científicas e técnicas para a exploração de povos
considerados “atrasados”. Basta-nos citar o colonialismo europeu,
processo que desde o início funcionou amparado pelas informa-
ções geográficas respaldadas pela Cartografia através de seus ma-
pas, cartas, globos e outros tipos de representações. É verdade
que existem áreas do conhecimento em que se admite haver, des-
de as suas origens, um direcionamento para atender a interesses
de grupos poderosos. Uma dessas áreas é a Geopolítica.
Em um interessante texto sobre a Geopolítica, Magnu (1986,
p. 10) faz uma importante observação:
Estados sempre souberam que as fronteiras, mais do que linhas
divisórias, são pontos de contato com o espaço exterior. Antes de
separar, elas aproximam. Antes de segregar, viabilizam fluxos e in-
fluências. São superfícies porosas de contato do território estatal
com outros territórios, outros Estados. Com outras realidades so-
ciais, económicas e políticas. Testemunhas da existência do outro.

Tem sido essa a preocupação desde que o olhar geopolítico


passou a ser uma atitude típica dos idealizadores das ações dos
Estados, especialmente na Europa, onde as bases científicas da
Geopolítica foram postas firmemente a partir da segunda metade
do século 20.
Os acontecimentos históricos que moldaram os Estados eu-
ropeus a partir do século 18, como a Revolução Industrial, a Revo-
© U8 - As Faces da Cartograia: o Poder da Ideologia e a Construção do Saber 225

lução Francesa e a guerra Franco-Prussiana, definindo as posições


das potências europeias de então, diante do desafio de um co-
lonialismo em expansão, encontram, especialmente na segunda
metade do século 21, o respaldo de doutrinas políticas e filosóficas
que bem combinavam com os planos de exploração, especialmen-
te da África e da Ásia, por parte de vários Estados europeus, dentre
eles a Inglaterra, a França e a Alemanha.
Sendo um saber não tão antigo quanto a Cartografia, mas
não tão recente como admitem muitos dos seus estudiosos, a Ge-
opolítica surge sistematicamente organizada no início do século
atual como um conjunto de conhecimentos sobre o espaço geo-
gráfico (visto como território), voltados com grande ênfase para o
uso político e militar desse espaço, com o claro objetivo de instru-
mentalizá-lo na obtenção, manutenção e expansão do poder.
Assim, se a Cartografia com suas técnicas, representa o es-
paço e se nessa representação ela propicia inúmeras maneiras de
projetar e retratar o meio físico e os processos econômicos, so-
ciais, políticos, culturais e muitos outros que nesse meio ocorrem
e se a Geopolítica necessita fazer uso desse espaço representado
para atingir seus fins, nada mais simples e “natural” que os geopo-
líticos recorrerem aos cartógrafos e aos seus mapas ao planejarem
suas ações e estratégias.
As evidências dessa relação, entretanto, nos sugerem inquie-
tantes indagações sobre a legitimidade dos usos (e muitos abusos)
que os ideólogos geopolíticos têm feito das técnicas cartográficas,
especialmente nos períodos anteriores aos dois grandes conflitos
mundiais (mas ainda intensamente nos dias atuais) como recursos
indispensáveis às suas elucubrações teóricas e realizações práti-
cas, cujos resultados são por demais conhecidos.
Não temos pretensão alguma de revisar antigos conceitos da
Geopolítica, embora saibamos que pode ser difícil evitá-los.
Novamente ressaltamos que não estamos apresentando
abominações sobre as obras daqueles que contribuíram para a

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226 © Cartograia Temática

construção e o desenvolvimento científico da Geopolítica, nesse


quase um século após sua sistematização. Também não faremos
nenhuma censura pública aos cartógrafos pelo fato de muitos de-
les terem trabalhado de forma, às vezes, alienada, outras, cons-
ciente, para atender aos interesses geopolíticos de seus Estados.
Pelo exposto até este ponto, observamos que a Cartografia,
como ciência e técnica destinada à representação do espaço, é um
instrumento indispensável tanto ao Estado, quanto à sociedade.
No entanto, o uso efetivo desse instrumento tem se dado muito
mais pelo e para o Estado do que para as finalidades sociais. Consi-
derando que as atividades para a produção cartográfica, em geral,
envolvem conhecimentos técnicos específicos e vultuosos recur-
sos financeiros, é perfeitamente compreensível que o maior volu-
me de material cartográfico publicado tenha origem nos aparelhos
de Estado, que normalmente utilizam esse material em suas ati-
vidades administrativas, de planejamento e geopolíticas, ou seja,
como instrumento de poder. Nos aparelhos ideológicos de estado,
que vão disseminar o discurso, a postura e a visão de mundo das
classes dominantes, tem ocorrido um uso tendencioso e de pouca
utilidade ao equacionamento das questões sociais.
Contudo, de nada valeria uma crítica sem que esta fosse
acompanhada de tentativas de melhoras. Dessa forma, apresen-
tamos, a seguir, algumas sugestões para tornar a Cartografia mais
próxima de sua finalidade científica.

8. PROPOSIÇÕES PARA UMA CARTOGRAFIA DE INTE-


RESSE SOCIAL
A principal finalidade de uma pesquisa científica é a de pro-
porcionar o avanço do conhecimento com a apresentação de pro-
postas para minimizar, mitigar ou, mais raramente, solucionar os
problemas que lhe deram origem. Mesmo que em forma de suges-
tões, as proposições só poderão ser encaminhadas se houver um
© U8 - As Faces da Cartograia: o Poder da Ideologia e a Construção do Saber 227

compromisso do próprio pesquisador (e dos agentes envolvidos,


como os professores) com a realização, na prática, das mudanças
sugeridas. Ou seja, antes de tudo, é preciso que o próprio pes-
quisador, consciente dos problemas levantados e de suas causas,
acredite que suas argumentações servirão, de fato, para novas
abordagens científicas, destinadas a suprir as carências e necessi-
dades por ele constatadas.
Diante de todas as argumentações feitas até agora, a respei-
to de relação entre a Cartografia e os aparelhos (ideológicos) de
Estado e considerando as inúmeras situações problemáticas que
vivenciamos e observamos, percebe-se uma necessidade (quase
uma obrigação) de pensarmos em sugestões, no sentido de corri-
gir as distorções que, no nosso entendimento, se constituem em
problemas no conjunto da Cartografia brasileira.
Mesmo que pareça pretensioso e ousado de nossa parte,
faremos algumas proposições para uma Cartografia voltada, tam-
bém, para o interesse social no Brasil. Dessa forma, tentaremos
reunir algumas das ideias de pesquisadores e professores e nossas
lides no ensino da Cartografia e da Geografia.
Certamente, os encaminhamentos dessas ideias ocorrerão
por meio de canais a serem abertos, tanto nos organismos oficiais
(aparelhos de Estado) que planejam e elaboram a Cartografia no
Brasil, quanto nos aparelhos ideológicos de Estado (nem sempre
oficiais), que são os responsáveis mais diretos pela veiculação des-
sa Cartografia no seio da sociedade brasileira, especialmente por
meio da escola e da mídia.
Dessa forma, apresentaremos como a Cartografia Temática
poderia ser elaborada, de modo a oferecer informações de reais
interesses sociais, visando a uma mudança de atitudes nos princi-
pais canais de divulgação dessa Cartografia, que atinge, de forma
decisiva, por meio da escola e dos meios de comunicação de mas-
sa, a vida da sociedade brasileira.

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228 © Cartograia Temática

São sugestões que, para surtir efeito, terão de ser direcio-


nadas conjuntamente aos órgãos responsáveis pela Política Car-
tográfica Nacional, aqueles que tradicionalmente respondem pela
execução da nossa Cartografia, e, especialmente, aos seus agentes
reprodutores e divulgadores, como as editoras de mapas, os auto-
res de livros didáticos, os professores de Geografia e Cartografia,
os editores de jornais e revistas, os diretores de televisões, enfim,
todos aqueles que, usando a base cartográfica gerada pela Car-
tografia Sistemática, representam temas ou assuntos relativos à
natureza e à sociedade, nem sempre com a qualidade adequada
às análises críticas que a sociedade precisa e que esses temas exi-
gem.
É preciso lembrar que os temas cartografáveis devem ter
múltiplos enfoques e abordagens, em que o tradicional tem seu lu-
gar, embora inúmeros outros temas também precisem ser mapea-
dos, em busca de uma ampla visão da sociedade, em suas diversas
problemáticas. É essa Cartografia Temática (a que elabora também
os cartogramas temáticos) que julgamos pouco estimulada, difun-
dida e, menos ainda, entendida, como instrumento de intervenção
e transformação nas questões sociais.
Assim, diversos autores indicam propostas de criação de um
sistema cartográfico integrado, por meio do qual universidades,
escolas, institutos de pesquisas, órgãos públicos, imprensa e ou-
tras instituições tenham acesso a mapas temáticos e cartogramas
atualizados sobre a situação socioeconômica do país, tais como
as apresentadas no Quadro 1.
© U8 - As Faces da Cartograia: o Poder da Ideologia e a Construção do Saber 229

Quadro 1 Sugestões para mapeamentos temáticos.


SUGESTÕES PARA A CARTOGRAFIA TEMÁTICA
Mapeamento da estrutura agrária do Brasil, com ênfase para a
identificação, localização e dimensionamento dos latifúndios e
minifúndios e suas respectivas produtividades.
Mapeamento da reforma agrária no Brasil, com ênfase nas propostas
de assentamentos e suas reais situações, como o número de famílias
assentadas e o custo das desapropriações.
Mapeamento dos conflitos de terras e assassinatos no campo, em
níveis nacional e estadual.
Mapeamento da produção agrícola nacional, comparando a
produção das grandes lavouras e das pequenas propriedades rurais
e os fins sociais a que se destinam.
Meio Rural
Mapeamento dos financiamentos agrícolas, com a identificação
dos financiados e dos resultados socioeconômicos desses
financiamentos.
Mapeamento dos movimentos pendulares diário/sazonais de boias-
frias, nivelem nível nacional e estadual e das condições em que são
feitos os deslocamentos.
Mapeamento do abastecimento d’água às comunidades rurais
(localização de barragens, açudes, barreiros, poços artesianos) e o
acesso das populações carentes a esses benefícios.
Mapeamento dos programas de irrigação de lavouras e de seus
efeitos na produtividade agrícola.

Mapeamento da infraestrutura social, como saneamento básico


(água, esgotos, galenas pluviais), equipamentos de saúde (hospitais,
postos de saúde, laboratórios de análises clínicas, farmácias),
Meio Urbano educação (escolas de 1º, 2º e 3º graus, rede física escolar, sua
localização e distribuição espacial), habitação popular e condições de
moradia nas áreas periféricas, transportes coletivos (ônibus, trens,
metrôs – demandas e atendimentos).

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230 © Cartograia Temática

SUGESTÕES PARA A CARTOGRAFIA TEMÁTICA


Mapeamento dos espaços sociais segregados, como cárceres,
manicômios, hospitais psiquiátricos, espaços da infância abandonada,
da terceira idade, da prostituição infantil.
Mapeamento de estudos da população, envolvendo temas como
morbidade da população, mortalidade geral e infantil, natalidade,
migrações interregionais e intraurbanas.
Mapeamentos detalhados (plantas) das áreas de risco (mangues,
pântanos, linhas de alta tensão, margens de autoestradas etc.), tanto
para uso da defesa civil, quanto para afixação em locais públicos das
periferias.
Mapeamento da saúde urbana (localização de focos de doenças,
identificação de condições sanitárias deficientes, carências
alimentares, doenças comuns na infância, juventude e fase adulta.
Mapeamento da capacidade de atendimento às demandas por saúde
nos bairros (número de médicos, dentistas, parteiras, enfermeiras e
auxiliares por habitantes).
Mapeamento das redes de distribuição e circulação de bens e
serviços (água, energia elétrica, telefone; encanamento, esgoto,
rádio, televisão, fluxos de capital, fluxos de informações etc.), em
níveis nacional e local.
Mapeamento da criminalidade. Áreas de ocorrências e maiores
incidências no país, nos Estados e na área urbana (grandes cidades)
por tipo de crimes, causas, consequências, processos instaurados,
julgamentos, cumprimento de penas, localização de presídios,
capacidade carcerária nas principais penitenciárias do país,
violência nos presídios, mortes, fugas. Esse mapeamento interessa
diretamente aos profissionais da justiça, mas também ao público em
geral.
Mapeamento dos transportes urbanos (fluxos viários, linhas mais
utilizadas, relação entre o número de passageiros e o de ônibus,
relação custo/distância, pontos de integração com trens, metrôs e
transportes alternativos (mapas e cartogramas a serem afixados no
interior dos próprios transportes, nas estações e paradas).
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SUGESTÕES PARA A CARTOGRAFIA TEMÁTICA


Mapeamento da localização de outros equipamentos, como
estacionamentos públicos e privados, postos de combustíveis,
oficinas, autopeças, órgãos responsáveis pelo trânsito.
Cartografia da microgeopolítica urbana. Mapeamento das ações
do poder no espaço urbano, expondo ao público as reais intenções
do poder, quando do planejamento estratégico da arquitetura dos
conjuntos habitacionais (construídos visando a desagregação sociais,
com ruas desencontradas e numeração elevada das casas), com a
identificação de pontos estratégicos de acesso e controle policiaml.
Fonte: adaptado de Carvalho (1997, p. 103).

Espera-se que essas pontuações sejam realizadas por órgãos


públicos responsáveis por tais levantamentos sistemáticos de in-
formação.
Outra área em que se sugerem alterações é a do ensino.
O sistema de ensino é a pedra fundamental para o avanço social
em qualquer lugar do mundo e, no ensino das ciências sociais e,
de forma mais específica, no ensino da Geografia, na qual a Car-
tografia penetra no sistema escolar, constituindo-se em matéria
do saber, é muito importante que a sua transmissão aos alunos/
cidadãos ocorra de forma clara, correta e, sobretudo, honesta.
Para isso, é necessário dispor-se não apenas de mapas nas
escolas de Ensino Fundamental e Médio, onde a carência é fla-
grante, mas também de documentos cartográficos adequados ao
ensino, no sentido de fazer-se chegar às escolas públicas e priva-
da5s, para o ensino da Geografia de forma mais crítica, conscien-
te e libertadora, mapas temáticos e cartogramas que tratem dos
assuntos que tradicionalmente são omitidos aos que poderiam
encontrar no sistema de ensino um instrumento de reflexão e
conscientização. Essa Cartografia Temática seria feita por meio de
sugestões, as quais disponibilizamos no Quadro 2.

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Quadro 2 Sugestões para o uso da cartografia nos Ensinos


Fundamental e Médio.
SUGESTÕES PARA O ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
Uma educação cartográfica voltada para a alfabetização dos alunos já na sua primeira
idade escolar, em termos de compreensão da linguagem simbólica dos mapas, com
a fixação dos conceitos e princípios básicos que regem as representações espaciais.
Elaboração e distribuição gratuita às escolas públicas, em nível nacional, estadual
e municipal, de mapas temáticos e cartogramas básicos para a formação crítica,
atualizados, pelo menos, a cada dois anos, em formato adequado para uso em sala de
aula, acerca de temas gerais (e específicos) como: educação, saúde, fome, doenças,
cultura, folclore, raças e etnias, justiça, geopolítica, história, alimentação, habitação,
transportes, economia, produção, empregos e salários, trabalho informal, desemprego,
subemprego, espoliação e muitos outros que normalmente não aparecem nas salas de
aulas.
Às escolas privadas, seriam recomendados pelas Secretarias Estaduais de Educação
a aquisição e o uso desse material, já que dispõem de recursos para equipar-se de
material didático adequado e, muitas vezes, não o fazem, a pretexto de reduzir custos.
Uma revisão na Cartografia do livro didático de Geografia, instrumento dos mais
importantes no processo ensino/aprendizagem que, conforme inúmeras constatações,
apresenta sérios problemas em termos de conteúdo cartográfico, especialmente na
não observância das regras básicas, elementares para a representação cartográfica
dos assuntos que visem a auxiliar o ensino da Geografia.
Fonte: adaptado de Carvalho (1997, p. 120).

Seria necessário que a maioria dos autores de livros didáti-


cos se preocupasse com a adoção de sistemas de projeções mais
realistas do ponto de vista da visão de mundo, com a apresentação
correta dos títulos, das escalas, da orientação, do uso das variáveis
visuais em simbologias coerentes com a natureza e dimensões dos
dados, com a observação das fontes que os originaram e, mais do
que tudo, que se preocupassem com os temas que representam,
procurando mapear, de forma mais atuante, as questões que di-
zem respeito às diversas e crescentes conjunturas sociais.
Uma das proposições acerca de uma melhor utilização dos
recursos técnico-científicos da Cartografia Temática, em prol de
© U8 - As Faces da Cartograia: o Poder da Ideologia e a Construção do Saber 233

uma conscientização nacional sobre os problemas sociais, seria a


criação de um “Banco de Dados de Imagens Cartográficas”. Esse
banco, interligado em rede com órgãos públicos, como o IBGE, as
Secretarias de Planejamento estaduais e municipais, as universi-
dades federais, estatuais e particulares, os centros de pesquisa, as
organizações não governamentais etc., seria o órgão aglutinador
de todas as informações cartografáveis, referentes a assuntos do
interesse direto da sociedade, especialmente das classes menos
favorecidas.
Teria como principal atribuição a elaboração anual, semes-
tral ou mensal (conforme a natureza das informações) de mapas e
cartogramas a serem distribuídos nas escolas de todo o país, atua-
lizando efetivamente a Cartografia utilizada na sala de aula, espe-
cialmente nos temas sociais, que, em geral, quando aparecem nos
livros didáticos, já são caducos.
Esse banco de dados, apesar de concentrar as informações,
não seria um órgão centralizador de poder. Pelo contrário, as re-
presentações cartográficas do interesse da população de cada
Estado ou município seriam elaboradas a partir das informações
locais, obedecendo a um padrão de qualidade e seguindo detalhes
técnicos da conveniência de cada realidade.
Em consonância com os programas de Geografia em uso
por todas as unidades da federação e observando-se as opiniões
da comunidade científica mais diretamente envolvida (geógrafos,
cartógrafos, cientistas sociais, historiadores, estatísticos e outros),
essa Cartografia Temática teria como principal preocupação a re-
presentação dos temas que melhor servissem ao despertar de
consciências, à compreensão da realidade, à formação de uma ci-
dadania crítica.

9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você prepare uma suposta aula baseada nes-
ta unidade. Provavelmente, enquanto estiver pensando na orga-

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234 © Cartograia Temática

nização de seu plano de aula, sentirá a necessidade de maiores


explicações e justificativas. Sanar essas dúvidas será fundamental
para a compreensão e enriquecimento das ideias aqui expostas, e
isso pode ser realizado seguindo a bibliografia indicada para este
Caderno de Referência de Conteúdo.
Para ajudar você a pensar nesta unidade de modo integrado,
sugerimos que esteja atento às seguintes questões:
1) Por que o mapa pode ser considerado um instrumento estratégico de forte
teor político, econômico e ideológico?

2) Qual é a relação existente entre a história de desenvolvimento da Cartogra-


fia com a origem do Estado?

3) Estabeleça relação entre Estado e Território e como a Cartografia pode con-


tribuir para o controle da riqueza oriunda de seu território.

4) Atualmente, como você avalia o uso da Cartografia nas aulas de Geografia?


Você acha viável a utilização de mapas em qualquer tema de aula preparado
por você?

10. CONSIDERAÇÕES
As questões aqui expostas refletem a preocupação da Car-
tografia como instrumento de poder, colocada historicamente a
serviço do Estado, que, já na sua formação original, teve na re-
presentação cartográfica do espaço um instrumento de poder de
alto significado geopolítico. De fato, é inegável o histórico papel
desempenhado pela Cartografia no apoio à formação dos Estados,
nas diferentes partes do mundo e, obviamente, aqui no Brasil.
Assim, Estado e Cartografia desenvolveram-se conjuntamen-
te no processo de formação do Estado brasileiro, seguindo a tradi-
ção mundial de sua inserção nos aparelhos do Estado, sendo a Car-
tografia brasileira alicerçada pelo trabalho dos pioneiros, desde o
Brasil Colônia, passando pelo Império e chegando até a República,
sempre com a decisiva experiência dos militares, na organização
dos primeiros mapeamentos e da Política Cartográfica Nacional.
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Os grandes projetos do Estado brasileiro, especialmente nas


últimas décadas do século 20, são uma demonstração inequívoca
de que a Cartografia brasileira tem servido com muita propriedade
a interesses econômicos e de segurança nacional, à medida que
vultosas somas, especialmente no período do regime militar, fo-
ram aplicadas no setor cartográfico, visando ao mapeamento de
áreas de alto valor estratégico, não só para a geopolítica nacional,
mas, também, para as grandes corporações econômico-financeiras
que, de forma indireta e, às vezes, direta, se beneficiaram desses
mapeamentos.
Ou seja, a Cartografia, como um saber gerado por agentes
do Estado e que deveria ser destinada principalmente às ações
do Estado que objetivassem beneficiar a sociedade, tem servido
muito mais aos interesses do Estado do que às ações em prol dos
mais pobres, dos assalariados, do povo em geral. Essa Cartografia,
feita com verbas públicas na maioria das vezes, não se destina ao
cidadão comum, pois sua linguagem, muitas vezes inacessível, só
é compreendida por um público especializado.
A Cartografia utilizada na sala de aula pelos professores de
Geografia e a Cartografia que é veiculada por meio dos meios de
comunicação de massa, no que se refere à linguagem simbólica
dos mapas, é uma Cartografia de pouca utilidade social, pela fraca
aplicabilidade que tem, e omissa, por não representar com clareza
os temas de interesse da sociedade.
Poderíamos afirmar que a Cartografia que nas escolas de
Ensino Fundamental e Médio serve aos professores de Geografia
em suas atividades de ensino é inadequada ao desenvolvimento
crítico da ciência geográfica, em virtude de seus produtos (os ma-
pas) serem excessivamente tradicionais, não permitindo estudos
acerca da problemática social, para que os alunos possam tomar
consciência desses problemas, em uma formação geográfica volta-
da para a cidadania.

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236 © Cartograia Temática

Devemos também atentar aos próprios professores de Ge-


ografia, que demonstraram desconhecer o significado do mapa
como objeto de reflexão e de análises críticas, na medida em que
dão pouca importância ao seu caráter geopolítico e político-ideo-
lógico, fazendo um uso da Cartografia de forma puramente con-
vencional, inclusive sem demonstrar nitidamente conhecer a im-
portância de ter à sua disposição mapas que representem temas
diferentes dos tradicionalmente trabalhados pela Geografia.
Nessa linha, outra crítica que ousamos fazer é que, de modo
controvertido, se observa (não cientificamente) que quanto mais
a Cartografia se aproxima da informática, o que teoricamente sig-
nifica maior facilidade para elaboração de mapas (pois diminui o
tempo gasto em sua elaboração, além de oferecer maior possibi-
lidades de recursos como cores, elementos e afins), maior é o dis-
tanciamento de grande parte dos professores por tais ferramenta.
Observa-se, assim, que a resistência ao novo não é exclusividade
do Estado e de seus aparelhos.
De modo geral, observa-se que a Cartografia do livro didáti-
co de Geografia reflete, de forma muito clara, a descontinuidade
entre o saber acadêmico contemporâneo produzido dentro das
universidades brasileiras e o saber que a sociedade recebe por
meio das escolas de 1º e 2º graus. Ou seja, o uso do livro para a
representação da espacialidade em suas múltiplas feições deveria
significar a ocupação de um importante canal de comunicação por
onde se poderia assegurar um fluxo contínuo de mensagens que
auxiliassem o professor a traduzir visualmente seus conteúdos,
de maneira a obter dos alunos um aprendizado seguro acerca dos
conceitos por ele emitidos ou repassados.
Sabemos, entretanto, que, nos cursos de Geografia ministra-
dos na maioria das nossas universidades, já existe, há muito tempo,
uma consciência crítica acerca da importância da representação
do espaço, especialmente entre os pesquisadores preocupados
com a questão do uso político do território e com a própria forma
© U8 - As Faces da Cartograia: o Poder da Ideologia e a Construção do Saber 237

de organização do espaço no nosso país. Mesmo assim, a continui-


dade e a aplicação no Ensino Médio dessa prática progressista da
Geografia muito deixam a desejar, sendo nossos mapas do Ensino
Fundamental excessivamente conservadores.
Por fim, afirmamos que a Geografia não pode e não deve
continuar utilizando-se das representações cartográficas comuns,
tradicionais, pois elas não podem dar respostas para as questões
emergentes no plano da política, da vida em sociedade, da econo-
mia, do meio ambiente e tantas outras, que na atual conjuntura
nacional e internacional se transformam com incrível rapidez, mas
que, percebidas e apreendidas com antecedência pelos que ocu-
pam posições de poder, lhes outorgam o “direito” de antecipar, em
seu favor, formas cada vez mais ousadas de enfrentá-las.
Estamos no início de um novo século, e a Cartografia, instru-
mento milenar, mais antigo que a própria escrita, não pode con-
tinuar sendo apenas um recurso que permite ao homem a obser-
vação integral dos espaços que sua vista não alcança. Mais que
um meio de representação espacial, de visualização integral do
território, de armação de estratégias geopolíticas, de transmissão
das ideologias do poder, a Cartografia pode ser (e é) uma forma de
expressão a ser utilizada para a liberdade, para o aprimoramento
da democracia, para o desenvolvimento social e para o engrande-
cimento da humanidade.

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BERTIN, J. Um novo olhar sobre a Cartografia. Ver ou ler, São Paulo, Seleção de textos, n.
18, maio, p. 45-62, 1998.
CARVALHO, E. A. A cartografia e os aparelhos (ideológicos) de Estado no Brasil. Rio Claro:
UNESP, 1997. (Tese de Doutorado).
COSTA, W. M. Geografia política e Geopolítica. Discursos sobre o território e o poder. São
Paulo: HUCITEC/EDUSP, 1992.
HARVEY, D. A condição pós-moderna. Uma pesquisa sobre as origens da mudança
cultural. São Paulo: Loyola, 1993.

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LACOSTE, Y. A Geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. 2. ed.
Campinas: Papirus, 1989.
MAQUIAVEL, N. O príncipe. São Paulo: Círculo do Livro, 1982.
SANTOS, D. Estado nacional e capital monopolista. In: OLIVEIRA, A. U. Para onde vai o
ensino da Geografia? São Paulo: Contexto, 1990.

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