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Montanhas"
Quando Nego vivia na carne, era escravo e trabalhava mui-to. Não recebia pelo o
que fazia, comia os restos dos senhores, isso quando eles nos davam o que
comer. E por qualquer motivo, levavam Nego para o tronco, amarravam e batiam.
O chicote cor-tava nosso couro. E era para agüentar as dores sem gritar, porque
se gritasse as chicotadas eram dobradas. Então Nego fechava os olhos, engolia o
choro, a ira… Não se podia ter ódio dos senhores. Além disso, os Orixás que lhes
orientam hoje, já nos orientavam e nos acalentavam naquelas épocas.
Quando eles baixavam, diziam que nós não podíamos ter ódio, nem mágoa.
“Porque o ódio no coração traz tristeza para nossos espíritos” e para eles, que se
afastariam de nós e nos dei-xariam à mercê dos senhores. Por isso, é que não
devemos acalen-tar mágoas.
Quando o chicote ardia nas costas, eu fechava os olhos e pedia ao Criador que
abrandasse a dor das chicotadas e as dores da alma.
Quando eles terminavam, Nego banhado de sangue e suor era desamarrado.
Caía de fraqueza no chão. Então, nossos irmãos corriam, pegava Nego e levava
para a senzala, onde a preta cu-randeira passava ervas para secar o sangue. Pois
a dor, Nego já não sentia mais. Hoje, o sofrimento, as dores de vocês, nem se
comparam com as nossas, se torna mais fácil de recompor, pois vocês são livres,
livres para decidir vossos destinos, não estão pre-sos no tronco e podem recorrer
a nós, a qualquer hora.
Nego Gerson