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Para que serve este livro

Não existe uma forma específica de ser um «bom aluno»,


tal como não existe uma forma específica de ser uma «boa
pessoa», mas ha muitas maneiras de se ser melhor estudante
, especialmente quando se têm ideias claras acerca do
tipo de estudante que se é neste momento. Este livro foi
escrito na crença de que alguma análise do que outras
pessoas pensam acerca da aprendizagem e acerca das finalidades
de várias tarefas de aprendizagem ajudará o leitor a
determinar alguma coisa sobre o tipo de estudante que e,
como poderia desenvolver as abordagens da aprendizagem e
como se podem obter os melhores resultados no curso.
Começar no ponto em que se esta
Uma das ideias centrais deste livro e que não se pode
começar em ponto nenhum excepto naquele em que se esta.
Todas as pessoas têm os seus hábitos, desejos e receios
próprios, que estão entretecidos na forma como se comportam
como estudantes, tal como na forma como se comportam
em todos os outros aspectos da vida. Todas as pessoas têm
também u m fundo de conhecimentos e experiência que é
específico delas e um padrão único de aprendizagem que lhes
permite adquirir mais conhecimentos e experiência. Como

ANNEHOWE
estudantes, podem desenvolver e adaptar os padrões exis-
tentes para ir ao encontro de novos tipos de tarefas de
aprendizagem. E mais fácil fazê-lo se se tiver alguma ideia
do ponto de onde se parte e da forma como se gostaria de
mudar.
Como é que se lá chegou?
raza
espe
repe
pess
quer
obte
Ter
Uma das melhores formas descobrir o ponto de partida
é esclarecer por que é que, afinal de contas, se está a partir.
Existem imensos tipos de razões para avançar para uma
gera
instrução superior.
que
• Pode estar a começar-se o curso com a clara intenção de se preparar
que
para uma carreira específica ou de ganhar uma qualificação profissional
que auxilie na carreira em que se está já envolvido.

• Pode não ter ideias claras sobre oque se vai fazer mas acreditar
que uma habilitação ou outra qualificação ajudarão aconseguir um
por
emprego melhor, independentemente do que eventualmente se
OS
venha a decidir fazer.
• Pode sentir-se um interesse genuino por um assunto por ele
vid;
proprio.
• Pode querer-se a experiência de ser estudante, no sentido de se
cur
misturar com outras pessoas da mesma idade e com os mesmos
all
interesses gerais ede darasi própriotempo para pensar acerca da
арс
vida e de como se pretende passá-la.
der

Pode regressar-se àescola depois de um periodo atrabalhar, por se
achar que se necessita do desafio intelectual de uma habilitação ou taX
de outro curso que se perdeu ao abandonar a escola, e que se
consegue corresponder a esse desafio. çao

Pode-se simplesmente estar a reagir àpressão da escolae dos pais.
sob
• Pode achar-se que ser estudante é uma forma de adiar decisões
difi
acerca da vida ou até que é uma alternativa melhor que a perspec-
qué
tiva do desemprego oude um trabalho maçador e intelectualmente
abr
poucocompensador.
rel.
de
São todas razões válidas correntemente apresentadas
pelos estudantes. E importante ter ideias claras sobre a
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suti
POSI

COMO ESTUDAR
razao pela qual se esta a fazer um curso e sobre o que se
espera obter com ele. Se a razão da pessoa for uma das menos
positivas, como a pressao dos pais, pode ser necessário
repensar um pouco, para analisar o que é que se vai obter
pessoalmente. Afinal de contas, e o estudante e não os pais
quem tira o curso e é da conta do estudante descobrir se vai
obter, pessoalmente, alguma coisa com ele para si próprio.
Ter confiança
As universidades e outras instituições não aceitam, em
geral, estudantes nos seus cursos, a menos que o professor
que recomenda as admissões ou a pessoa responsavel achem
que oestudante pode atingir os objetivos do curso. Ele deve,
portanto, ser capaz de começar o curso com um sentimento
razoavel de confiança em que, s e foi aceite, pode fazê-lo.
Existem, claro, excepçoes. Ha pessoas que abandonam
poresta ou aquela razao: algumas ficam tao encantadas com
os prazeres da vida de estudante que não trabalham o
suficiente para sobreviver ao curso; algumas acham que a
vida académica não é o que realmente pretendem; alguns
cursos aceitam um númeromaior deestudantes no primeiro
ano do que contam deixar passar para o segundo --estão a
apostar na taxa média de abandono que a experiência lhes
demonstrou ser característica daquele curso.
A propósito, é bastante conveniente informar-se sobre a
taxa de abandono do curso em perspectiva. E uma informa-
ção útil sobre as expectativas do corpo docente do curso e
sobre o tipo de tratamento com que se pode contar se se tiver
dificuldade em estudar. Pode ser também um indicador da
qualidade do curso. No geral, contudo, taxas elevadas de
abandono e reprovações são caras e nao ficam bem nos
relatorios anuais. Geralmente, pode partir-se do princípio
de que a instituição pretende e espera que a pessoa passe.
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Voltaratras
ANNE HOWE
As pessoas que estaoa iniciar um curso de estudos superiores
numa universidade, colegio o u escolapolitecnica sentem
frequentemente que estão a voltar atrás nos estudos. Sen-
tem que estao mais ou menos a começar onde tinham parado
naescola. Se se regressa aos estudos algum tempo depois de
saird a escola, comoestudante maduroo u para estudar para
uma qualificação profissional, não sedeve pensar ques e esta
em desvantagem. Pelo contrario, o conhecimento do mundo
e a experiênciaprofissional são peças valiosas da bagagem
do estudante. Podem enriquecer grandemente os estudos,
m e s m o s ee s t e s n a o p a r e c e r e m e s t a r d i r e t a m e n t e r e l a c i o n a -
dos com elas. Se se saiu directamente da escola para entrar
de imediato num trabalho de grande responsabilidade, em
certo sentido esta a voltar-se atras, mas um curso superior
nao se parece nada com a escola. Para se obterem os melho-
res resultados, exigem-se capacidades e atitudes bastante
diferentes das que se adaptavam ao trabalho escolar.
Ser estudante não é o mesmo que ser aluno
Como estudante, o relacionamento com a instituição e
bastante diferente do do aluno com a escola. As distinçoes
fundamentais estão ligadas à responsabilidade.
Responsabilidade geral
Quando se estavan aescola, estaconsiderava-se a si própria
responsavel pelo aluno perante os pais - razao pela qual
eles recebiam um relatório por período sobre o aluno, razao
pela qual eram encorajados a interessar-se pelas activida-
des da escola, etc. Algumas escolas com uma tradiçãoacadé-
mica consideravam-se a si próprias responsaveis por levar
tantos dos seus alunos quantos fosse possivel aentrarem na
universidade ou noutros cursos superiores e tinham muito
trabalho para que tal sucedesse.
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COMO ESTUDAR
Num curso superior ou especializado, a instituição consi-
dera o estudante como sendo responsável porl aestar, por
escolher o seu proprio curso e por levar o trabalho a bom
termo. O estudante tem provavelmente consciencia de que a
natureza das tarefas de aprendizagem no ensino superior é
bastante diferente daquela a que estava habituado na escola
secundaria. Discutiremos estes aspectos em pormenor em
capítulos posteriores. A diferença básica reside n a quanti-
dade de supervisão e deretorno de informação que se recebe
e na forma como o tempo e estruturado. Certamente que o
estudanteterá trabalho determinado, mas haverá muito
menos vigilância e a distribuição do tempo esta muito mais
nas mãos decada um. Uma vigilância apertada e um horario
altamente estruturadofornecem um apoio para a aprendiza-
gem e o estudante pode demorar algum tempo ate se habi-
tuar a uma forma diferente de trabalhar.
Disciplina
No ensino superior, não existe qualquerequivalente real
do problema queenfrenta o professor da escola secundária que
tem de manter a ordem numa aula de 30 ou 40 adolescentes
que prefeririam estar noutro sítio qualquer. A maioria das
instituiçoes nao impoem regras de condutapormenorizadas.
Normalmente haverá um código disciplinar que não e muito
rígido e é tudo. Muito provavelmente, os pais não serão
consultados acerca do comportamento do estudante e do seu
bem-estar - nestes assuntos, ele e considerado como um
adulto responsavel.
Autoridade
Na escola secundária, existe uma distância grande entre
oconhecimento e a experiencia dos professores e dos seus
alunos. Os professores têm a autoridade não apenas do
maior conhecimento mas tambem de serem adultos entre
crianças e têm a obrigação de manter a disciplina. Nos
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METODOS 5 - 2

ANNE HOWE
estudos superiores, esta distância diminui dramaticamente.
Todas as pessoas envolvidas tem estatuto de adultos-
ensinei frequentemente estudantes que eram mais velhos
que eu. A autoridade conferida pelo maior conhecimento
diminui. Conforme avança no curso, o estudante aproxima-
-se dos professores. Descobre que surgem mais questões
acerca dotema de queele trata para as quais nao existe uma
resposta definitiva. Existem apenas pontos de vista melhor
ou pior informados. Aautoridade dos professores acaba por
se apoiar, não na ideia de que eles têm conhecimentos e de
que os estudantes não tem, mas na sua experiencia mais
vasta e em pontos de vista mais bem informados.
Ser estudante engloba, pois, tomar a responsabilidade da
forma como se organiza a sua vida e aprender o modo de
estudar demaneira mais independente, tanto na forma como
se desempenham as tarefas de aprendizagem como na atitu-
de em relação ao tema a estudar.
Entrarnocurso
N u m certo sentido, e perfeitamente possível completar os
estudos num curso, mesmo num curso superior qued u r a três
ou quatro anos, sem sequer se ter «entrado» nele. Tenho por
vezes encontrado estudantes que não sabem os nomes das
pessoas que se sentam ao seu lado nas aulas ou das que os
ensinam, que nao tem bem a certeza do currículo e que não
sabem quandoé q u e vão ter de escolher entre opções ou quais
sao as opções, até chegar o diae m quet ê m de tomar a decisão
necessaria. Lista espécie de distanciamento em relação ao
curso pode bem ser a atitude mais comum nas instituições
das grandes cidades ou onde a maioria dosestudantes tem de
viajar para trás ep a r a diante. Não significa necessariamen-
te que os estudantes não estejam a trabalhar bem, embora
esta situaçao seja, por vezes, acompanhada por um sentido
de alienação que não augura bons resultados para os seus
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COMO ESTUDAR
estudos. o conjunto, a vida e o trabalho serão provavel-
mente mais fáceis se se tentar entrar no curso no sentido
descrito.
Alguns dos factores que ilustram ate que ponto se esta
comprometido com o curso sao:
° Ate que ponto se conhecem ocurrículo, as alternativas existentes e
opadrão de avaliação?
• Até que ponto se conhecem os meandros da instituição e as suas
instalações?
• Até que ponto é difícil fazeramizades com os outros estudantes do
curso?
• Até que ponto se conhece o corpo docente do curso, as suas respon-
sabilidades e as suas áreas de interesse?
Os estudantes devem utilizar as instalações da institui-
ção e da Associação de Alunos. Ainstituição pode ter alas de
residencia, onde se pode viver durante todo o curso o uparte
dele. Provavelmente,terá pessoas que ajudam a realizar a
pretensao e a arranjar a instalação. Se se necessitar de
auxílio em questões académicas ou privadas, provavelmente
tem-se umprofessorassistente pessoal, com quem se podem
•discutir tais problemas e normalmente existem facilidades
de aconselhamento e médicas. A Associação tambem pode
ter a capacidade deoferecer auxílio em alguns destes assun-
tos e informa sobre as instalações desportivas e sociais
existentes.
Organizar o estilo de vida
O primeiro passo para uma pessoas e organizar como
estudante pode parecer bastante mundano: devem prepa-
rar-se a s condições de vida, considerando o facto de que
agora se eumestudanteque precisa deser capaz de sobre-
viver e trabalhar com eficiência e sozinho.
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ANNE HOWE
Começar diretamente ao sair da escola
Se começar um cursonovo, talvez numa cidadenova ou a
viverlonge de casa pela primeira vez, oestudante tem muitas
adaptações a fazer. Ao mesmo tempo, vai encontrar pessoas
desconhecidas, começar os estudose orientar-se nainstitui-
ção. As capacidades de viver, sozinho ou com outras pessoas
da mesma idade, numa cidade ou vilaestranhas, gerir o
dinheiro e garantir um conforto doméstico razoável para si
proprio sao diferentes dascapacidades necessárias ao traba-
lho académico, mas são igualmente exigentes na sua espe-
cificidade. Pode achar op r i m e i r o período do curso gerador
de bastante tensão, simplesmente porque demorou algum
tempo a aprender estas capacidades.
E, por vezes, um pouco dificil pensar claramente acerca
das alternativas existentes, especialmente quandos e esta a
tratar de tantos problemas novos ao mesmo tempo. As
perguntas seguintes podem ajudar a esclarecer algumas das
alternativas que se abrem diante de cada um:
• Com quanto dinheiro se vai ter de viver
•Será necessário ganhar dinheiro durante as férias?
• Quantas viagens se está preparado p a r a suportar?
Qual vai ser aforma de deslocação? Automóvel,
transportes públicos, bicicleta?
• Quanto vão custar as deslocações?
• Que tipo de instalações se gostaria, de um ponto de vista ideal,
de ter:
compartilhar um apartamento com outros estudantes?
viver sozinhonum quarto alugado ou, se puder arranjar,
hospedado?
viver n u m hotel?
vIver em residências de estudantes?
Quais destas alternativas estão, ou poderiam estar, real-
mente em aberto? (Pode ser necessário ir fazendo algumas
perguntas antes de se poder decidir sobre a resposta a esta
pergunta.)
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COMO ESTUDAR
Que e que esta implícito em cada escolha em termos de:
• adaptação a viver com outras pessoas;
• solidão;
• tarefas domésticas;
• despesa;
° outras considerações?
e s t u d a n t e pode continuar a viver em casa com osp a i s ou
outros membros da familia. e s s e caso, deve considerar o
seguinte:
• Que diferença fara o facto de se ser estudante:
para o proprio?
para a família?
•Espera um tratamento diferente, agora que é estudante?
• A família espera trata-lo de forma diferente?
• Que espécie de diferenças de comportamento espera que a família
aceite e com quais espera que ela se ressinta?
• Os acordos financeiros entre oestudante eos pais são satistatorios
ejustos para ambos os lados?
al-
as
ita
Não se pode necessariamente prever as respostas a estas
perguntas sem se ter alguma experiencia da vida de estu-
dante, mas o relacionamento familiar entre pais ou outros
membros mais velhos da família e uma criança altera-se
quando a criança se transforma em adulto e precisa de uma
liberdade de acção de adulto. A alteração pode ser dolorosa
para ambos os lados, especialmente seoestudante ainda for
financeiramente semidependente da família.
•Que espécie de vida social encara o estudante para si próprio:
Vai entrar para algumas sociedades e quais?
Quais os desportos que gostaria depraticar?
• Quando é queestas atividades têm lugar e quanto tempo lhes vai
dedicar?
• Onde é que estas actividades tem lugar.
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ANNE HOWE
Ser um estudante maduro
Se for um estudante maduro, provavelmente não experi-
mentara estas tensões específicas tão fortemente como
acontece a algumas pessoas mais jovens. Tambem pode não
conseguir aproveitar algumas das oportunidades que lhes
estão abertas. Avida mudara, evidentemente. Apessoa pode
achar-se muito mais pobre ou muito mais ocupada ou uma
coisa e outra. Afamília, se ativer, será certamente afectada
pela nova forma de vida e não e sempre muito fácil garantir
que nem ela nem o estudante sofram devido à mudança.
Como estudante, tem-se necessidades especiais: tempo e
paze silêncio para trabalhar, espaçona sua vida durante
periodos de trabalho muito concentrado em que não se pode
ser interrompido; reconhecimento de que, mesmo quese
esteja em casa, pode não se estar disponível, porque se está
a trabalhare se tem u m horário próprio que tem de ser
respeitado. Por outro lado, as necessidades familiares não
mudarão absolutamente nada -
continuam a amar a pessoa
e a precisar de atenção. Se se tiver filhos pequenos, eles
precisam domesmo cuidado de quesempre precisaram eas
estudantes em especial acham muitas vezes que estas da-
divas sao problemas bastante serios.
E pouco provável que a instituição aumente estes proble-
mas, queixando-se, por exemplo,se se tiver desair de uma
aula mais cedo para ir buscar os filhos à escola. O problema
é de cada um; ou se tem de perderuma parte da aula ou se
organiza outra forma de levar os filhos para casa.
Começar em casa
Por isso, como primeiro passo para uma pessoa s e organi-
zarpara tirar oseu curso, nãoé má ideia começar pelo ponto
onde se vai começar todos os dias - em casa - e estudar a
forma como vai tratar dos assuntos domésticos.
Uma maneira de o fazer é avaliar que tempo tomam as
obrigações domésticas e depois ver como é que vai organizar
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avida para arranjar as horas necessárias para estudar. Para


este efeito, pode calcular-se que o curso (a tempo inteiro)
leva mais ou menos o mesmo tempo que um
emprego,
digamos 35-45 horas de trabalho porsemana. Pode usar-se
a forma oposta, para avaliar como seesta presentemente a
utilizar o tempo. Isto dará uma espécie de orientação acerca
das mudanças que pode ser necessáriofazer notipo devida,
para a conciliar com o trabalho académico.
Por definição, os estudantes a tempo parcial nao tem de
reorganizar completamente as suas vidas para as conciliar
como seu trabalho académico. Contudo, não deixa de ser
necessário ter uma ideia clara acerca dequanto tempo vai ser
necessario reservar para trabalhar. Este varia bastante e
pode e deve pedir-se orientação aos professores assistentes
do curso sobre o assunto, antes de decidir iniciá-lo. E possível
que a carga do trabalho habitual não se tornem a i s leve e, se
se quiser fazer convenientemente um curso como trabalha-
dor-estudante, será necessário arranjar tempo para encal-
xar as leituras necessárias. O quadro da p. 24 pode ajudar,
ao forçar cada um a identificar asformas como gasta actual-
mente o tempo e a descobrir como pode alterar os habitos,
talvez apenas ligeiramente, para os conciliar com o tempo
necessário para estudar.

Introdução
No Capítulo 1referimos algumas das razões pelasquais
se pode t edecidido entrar para determinado curso. A fina-
lidade deste capítulo é ajudar a examinar os objetivos
pessoais mais em pormenor, dizer alguma coisa acerca das
finalidades do ensino superior no geral e considerar a forma
de harmonizar os objetivos pessoais e as finalidades do
curso, para dar ao tempo do estudante a melhor utilização
possivel.
Propósitos pessoais a longo prazo
Quer se esteja no início do curso quer j á se tenha feito
uma parte, e razoavel partir do princípio de que se tem um
propósito a longo prazo na cabeça - fazer o curso e obter um
diploma ou qualificação. Se se está a trabalhar para um di-
ploma, oestudante develembrar-se de que otipo dediploma
que obtem tem as u a importância. Uma notamuito baixa, um
diploma médio ou secundário podem constituir, mais tarde,
um embaraço na vida e tornar difícil a entrada em certas
carreiras. Por exemplo, se se quiserdevotar a vida a especia-
idade que se tem, num departamento académico ou num
grupo de investigação, será necessário trabalhar muitoe ter
opropósito de obter uma licenciatura, porque os empregos
académicos aparecem raramente hoje em dia. De forma
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ANNEHOWE
semelhante, algumas empresas e departamentos governa-
mentais têm muitos candidatos para os empregos que ofere-
cem e usam a categoria do grau academico dos candidatos
comou m a especie de peneira para determinar se uma pessoa
merece ser seriamente considerada ou não, exatamente da
mesma forma que algumas universidades não aceitam can-
didatosque não tenham, no mínimo, uma média anterior
muito elevada.
Propósitos e expectativas não academicas
Pode muito naturalmente pensar-se que s e pretende
gastar algum do tempo a gozar a vida de estudante. Ser
estudante não se parece com qualquer outro período da vida
de uma pessoa eoestudante pode divertir-se muito, através
do relacionamento com outras pessoas, atraves de associa-
çoes de estudantes, da política e através das experiências
com ideias novas.
Mas se se esteve a ler Brideshead Reuisited ou outros
relatos da vida de estudante em Oxford ou em Cambridge
antes dos anos 50, deve ter-se cuidado. Não e muito provavel
que se possa levar o tipo de vida descrito nesses livros
encantadores e, se se pudesse, poderia não se gostar tanto
dela como sepensa. As associações de estudantese a política
sãoactualmente maisdistracções na moda que outra coisa e
não há nada de errado em se querer ser o presidente das
Associações de Estudantes ou a estrela de uma sociedade
dramática, ou devotar muito tempo aodesporto. Todas estas
sãooportunidades muito mais fáceis de encontrar enquanto
estudante que praticamente em qualquer outra época da
vida.
- Publicadoe mPortugal com otítuloReviver o Passado emBrideshead.
Nele tambem se inspirou uma série televisivade grande qualidade e
sucesso, igualmente apresentada em Portugal com o mesmo título.
(N. da 1.)
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COMO ESTUDAR
Existem, portanto, dois tipos gerais de objectivo a longo
prazo a considerar: que tipo de qualificação énecessária para
a carreira ou para o tipo de carreira em que seestá a pensar;
e que espécie de vida se quer levar enquanto estudante.
Alteração de opinião
Ainstrução superior e, contudo, um tempo de mudança
para a maioria das pessoas. Pode mudar-se de opinião acerca
das expectativas e propósitos, através do que se aprende e
atraves das pessoas que se encontram. As mudançasdeste
genero são geralmente um sinal de crescimento e de desen
volvimento e não uma falta de finalidade. Algumas pessoas
mudam de curso ou abandonam-no pura e simplesmente,
nãoporqueestejam a falhar, mas sim porque têm ideiasmais
claras acerca do que querem da vida do que quando começa-
ram o curso. O aspecto importante e evitar arrastar-se pelo
curso sem nenhuma finalidade especial e m vista, embora
tendo consciência de que se é perfeitamente livre de alterar
as finalidades, ao aprender mais acerca do tema que se
estuda, acerca de si próprio e do mundo em geral.
Objetivos do curso
Apartir domomento em que setem uma ideiaclara acerca
dos objectivos pessoais e da forma como se pretende utilizar
a vida enquanto estudante, tem-se um contexto para anali-
sar os objectivos do curso e para determinar como se val
atingi-los.
Algunsobjectivos são intrinsecos ao curso, no sentido de
que tem de ser atingidos para completar os requisitos do
curso. Tais objetivos estão definidos no currículo e no
padrão de avaliação. De facto, se se quiser ser realmente
rigoroso acerca do assunto, pode dizer-se que o trabalho
avaliado é a expressão prática dasfinalidades do curso e, se
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ANNE HOWE
seconseguir fazê-lo, consegue tirar-se ocurso. Porisso, tem
alguminteresse rever antigos pontos deexame, otrabalhod e
projecto e os ensaios avaliados (se estes estiverem disponí-
veis) de antigos estudantes; estes trabalhos representam a
expressão prática e material das finalidades do curso. Mas a
experiencia do ensino superior e, alongo prazo, tão impor-
tante como o seu resultado e é planificada da mesma forma
cuidadosa por aqueles que concebem o curso.
Propósitos e objetivos em instrução superior
a se pensou muito acerca da definição dos propósitos e
objetivos gerais da instrução superior. Estes propósitos e
objectivos estão relacionados não apenas com o que se
aprende, mas também com o processo pelo qual se aprende.
A concepção e o desenvolvimento do curso e do currículo
são assim objecto de muita atenção cuidadosa por parte do
pessoal académicoe muitos estudantes não têm perfeita
consciência dos elaborados processos de concepção e vali-
dação que integram oseu curso. Avalidação significa opro-
cesso de conseguir que um curso seja aceite como adequado
para o tipo de estudantes a quem se destina, devidamente
fundamentado, contendo materia e processos de avaliação
adequados e abrangendo uma carga de trabalho conveniente.
Os procedimentos de validação dos cursosvariam de acordo
com a instituição e com o tipo de qualificação que se pretende,
mas quase sempre incluem um escrutínio apertado do curso
em todos os seus pormenores pelo pessoal académico perten-
cente a instituição e, por vezes,quando a Universidade
Aberta é responsável pela validação dos cursos, tambem por
especialistasd a matéria vindos defora da instituição. O pro-
pósito deste escrutínio apertado e, entre outras coisas, ga-
rantir que o curso, tal como e concebido, dado e avaliado,
permitirá ao estudante ir ao encontro dos propósitos do
curso, que estão relacionados com a experiência de aprendi-
zagem, bem como com o conteúdo daaprendizagem.
28

COMO ESTUDAR
Uma das disciplinas do programa do curso destina-se a
tornar explicitos todos os conhecimentos e capacidades para
cuja transmissão o curso éconcebido e para especificar como
se pretende que o estudante demonstre que dominou cada
um dos elementos do curso. Se, por exemplo, um dos propo-
sitos do curso é incentiva-lo a pensar criticamente, a concep-
ção doc u r s o terá de incluir formas de o ajudar a aprender a
pensar desta forma. Isto terá implicações nos métodos se-
gundo os quais se ensina e no trabalho que se espera que o
estudante desenvolva.
Alguns propósitos e objetivos correntemente estabele-
cidos são:
• dar conhecimento factual acerca do assunto;
° dar aos estudantes uma compreensão dos princípios básicos;
• ajudar os estudantes a adquirir capacidades e metodologias ade-
quadas ao assunto;
• ajudar os estudantes a adquirir atitudes e abordagens adequadas
ao assunto (assim, a literatura inglesa não e estudada da mesma
forma que afísica, etc.);
• permitir que os estudantes aprendam de forma independente.
(Algumas formas mais rigorosas de descrever os objec-
tivos da aprendizagem são analisados no Capitulo 4.) vale a
pena e x a m i n a r os p r o p ó s i t o s e o b j e t i v o s do c u r s o q u e se e s t a
a tirar, para ver o que os docentes pensam e esperam que o
estudante consiga obter com ele e relaciona-los com as
formas como o ensino éministrado, para que se possa extrair
omáximo de cada situação de aprendizagem.
Ao mesmo tempo, oestudante pode ver quais os propósitos
que são mais importantes para si. Para se extrair o máximo
de um curso, é necessáriosentir-se que se compreende para
onde se vai e como se esta a chegara , para que se colabore
nospropósitos do curso. Contudo, e inevitavelmente, alguns
destes propósitos irão parecer maisimportantes que outros
e pode s e r necessario pensar cuidadosamente acerca da
forma de harmonizar ospropósitos e expectativas do estu-
dante com os do curso. Mais uma vez, trata-se de uma area
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ANNE HOWE
em q u e as percepções podem mudar conforme se avança no
curso. Acontece frequentemente descobrir, no principio de
um curso, que as pessoas sentem que a sua necessidade mais
forte é da segurança de qualquer conhecimento sólido, fac-
tual, e que so com a continuaçao se apercebem da importan-
cia de outros propositos menos tangiveis.
Objectivos a prazo mais curto
E , contudo, fácil perder de vista os objectivos academicos
a longo prazo; por comparação com outros tipos de trabalho,
a vida académica e longa e aparentemente lenta. O estu-
dante está a trabalhar para
uma qualificação, m a s pode
demorar dois, tres ou quatro anos ate a conseguir. a o sao
muitas as pessoas capazes de trabalhar fielmente durante
todo esse tempo sem terem alguns objetivos intermedios a
atingir. Tal como um viajante, precisam d e alguns marcos.
Quais são estes marcos? Mesmo se a avaliação só for feita
anualmente ou em examesfinais, havera trabalhos de curso
a fazer. Estes trabalhos proporcionam objetivos a curto
prazo, para osquais se trabalha, e aprender-se-á alguma
coisa acerca dos progressos que se esta a fazer com os
comentários dos professores. Em muitos casos, os trabalhos
ao longo do curso contam para a avaliação final, por 1s50 o
estudante podesentir que está atrabalharpara a construção
da eventual qualificação final.
Tempo não estruturado
Uma das características especiais da vida de estudante a
tempo inteiro éque, em muitoscursos, se tem uma proporção
relativamente elevada de tempo «livre». Se see s t á a estudar
um tema de engenharia ou ciência, o trabalho semanal
durante cada período pode incluir até 12-18 horas de aulas
teóricas, seminários e aulas práticas, mais 12-15 horas de
trabalho de laboratorio, e espera-se que o estudante taça,
30

COMO ESTUDAR
ainda por cima, uma quantidade bastante grande de estudo
asós. No conjunto, os estudantes dos cursos dematemática,
ciências eengenharia têm horários muitomais estruturados
que os de temas «mais leves» e, deve dizer-se, da a impressão
de que trabalham mais horas por semana. Talvez isto se
verifique porque, num assunto não técnico ou se se for um
estudante a tempoparcial, a forma como se dispõe do tempo
sera muito mais uma decisão dele. Pode ter-se qualquer
coisa entre 16 e 20 horas de «tempo decontacto», isto e, aulas
teoricas, seminarios e aulas práticas, tudo programado por
um horário preestabelecido, e espera-se que o estudante
gaste mais ou menos outro tanto tempo em estudo privado,
incluindo leitura,preparação de trabalho programado, revi-
sao e consolidação. Este tempo de estudo a sós não está
previamente estruturado; nao tem horario e cada um decide
como o distribui.
Mas o tempo de contactos só ocorre duranteo período de
aulas. Os períodos académicos não duram geralmente mais
de dez semanas. Alguns cursos incluem uma semana sem
aulas ameio do período, conhecida por «semana de leitura»,
que se destina a deixar algum tempo livre para pôr em dia os
trabalhos do curso. Certamente que muitos teraonotado que
os intervalos entre períodos não se chamam folgas mas sim
«férias» - pela boa razão de que não são folgas no sentido
corrente.São«tempo vazio», algum do qual e necessariopara
os trabalhos do curso. Evideemente que a s folgas sao
necessarias, mas as cerca de 22 semanas de férias por ano
têm de incluir pelomenosalgum tempo dedicado ao trabalho
academico e trata-se, mais uma vez, de tempo nao estrutu-
rado. Do cada um pode decidir como o vai utilizar.
Autilização do tempo nãoestruturado
A maioria das pessoas acha dificil administrar o tempo
nao estruturado, especialmente s eesta habituada a uma
rotina completa que engloba trabalho com outras pessoas,
como sucedequando se tem um emprego ou se esta na escola.
E necessária muita autodisciplina para organizar sozinho
31

ANNE HOWE
um dia ou uma semana produtivos, especialmente se nao
existir uma exigência externa sobre oestudante para produ-
zir qualquer coisa para apresentar pelo tempo gasto.
Assim, embora o trabalho programado faça com que
muitosestudantes se sintam muito ansiosos,a necessidade
de produzir alguma coisa num dado período detempo ajuda
a utilizar esse tempo de forma mais eficiente. A manutenção
de uma rotina de estudonormalmente nao da origem a tanta
ansiedade, mas é mais difícil ter a certeza de que se usou o
tempo deuma forma produtivase não se tiver bem a certeza
de qual deveria ser o resultado do trabalho.
lazer coincidir os propósitos e os objetivos
A administração do tempo não estruturado torna-se
muito mais fácil se se tiver uma ideia definida do que se
pretende, ou se e forçado a fazer dele. Esta é a razãop e l a qual
e tao importante que uma pessoa dê a si própria objetivos
definidos, não s o a longo prazo para todo o curso, mas
também objectivos intermédios e a curto prazo, de forma a
mantero controlo do seu tempoe ter consciência dos progres-
sos que está a fazer. A consciência dos objetivos pessoais e
dos objetivos do curso é essencial para que os objectivos a
longo prazo mantenham o seu significado ao longo dos anos
do curso.
Que cada estudante considere o que cada um dos objecti-
vos docursosignifica parasi pessoalmente: por exemplo, que
significa obter uma compreensão dos princípios básicos ou
dominar as técnicas e métodos adequados ao assunto? Que
implicam esses objectivos? Como é que se sabe quando, se-
gundo as suas próprias condições, se estão a fazer pro-
gressos? Frequentemente, os estudantes não reconhecem
quanto as suas abordagens mudaram e como estão a andar
bem porque, na realidade, não pensaram muito nestes pro-
cessos evolutivos.
32

COMO ESTUDAR
Ter alguma coisa a apresentar pelo tempo gasto
Estes propósitos a longo prazo para o curso representam,
contudo, realizações a longo prazo. Também são necessários
marcadores para o trabalho do dia-a-dia. O currículo e o
horário constituem o esqueleto do curso, mas proporcionam
apenas uma orientaçãogeral sobre a forma como se deviam
passara shoras quen ã o estão especificamente destinadas ao
trabalhosegundo ohorário. Depende decada um usar estas
orientações para organizar o trabalho, de forma as a b e r o que
deve esperar de si próprio, em termos de estudo privado.
O horário e o currículo ajudam a prever mais ou menos
exatamente como éq u e o curso vai evoluir periodo a periodo
e ano a ano e o estudo privado deve acompanhar esta
evoluçao.
• No conjunto, ocurrículodiz qual otrabalho a abranger durante todo
o curso.
• Ocurrículo de cada período reduz a quantidade total de trabalho a
uma escala mais manuseavel.
• Ohoráriod e cada semana divide o trabalho do período em unidades
a que realmente nos podemos agarrar.
• Deve também ser-se capaz de descobrir quando é que o trabalho
programado deveestar pronto eaproximadamente quantotempo se
deve gastar comele. (Lembremo-nos, contudo, de quea quantidade
de t e m p o q u e s e g a s t a c o m o t r a b a l h o p r o g r a m a d o d e p e n d e d e c a
da
um e as expectativas doprofessor acerca do tempo que vai demorar
podem não estar corretas para um determinado estudante.)
Acompanhar aulas, seminários e outro tempo
para contactos
Aideia b á s i c a éo r g a n i z a r a l e i t u r a , de f o r m a q u e o e s t u d o
asos segue o seucurso simultaneamente com o trabalho do
curso. Se sepuder fazer isto, chegar-se-a a conclusãod e que
otrabalho do curso e a leitura se complementam, de forma
que seconseguem muito melhores resultados com um e outro
METODOS 5 - 3
33

ANNE HOWE
que se se assistir ao curso e se fizerem todas as leituras mais
tarde.
Aulas
Alguns professores apoiam muito os estudantes,dando
orientação sobre o que se deve ler em cada semana. Outros
dão umalista de livros e deixam a cada um a organização da
leitura. Isto nãoé tão difícil como parece,porque inevitavel-
mente se obtem uma grande ajuda atraves das referencias a
textos, conforme elas ocorrem nas aulas, e pode sempre
pedir-se mais ajuda, se se precisardela. Ivaosedeveter
medod e perguntar. A maioria dos professores ficará muito
satisfeito por ajudar, especialmente se for evidente que se
está a fazer um esforço sério para progredir.
Seminários, aulas práticas e outro tempo para contactos
Muito do trabalho que se faz em pequenos grupos e
orientado partindo do princípio de que todos leram e são
capazes de discutir ideias especiaisou textos específicos ou
de que completaram trabalhos de laboratório determinados
ou resolveram folhas deproblemas. p r o f e s s o r queacompa-
n h ao grupo dará orientação acerca da leitura e outras
tarefas que devem ser desempenhadas e é de toda a vanta-
gem acompanhar o trabalho. Por exemplo, se não se tiver
pensado sobre os problemas, não se avaliara a razao pela
qual o professor seleciona uma abordagem determinada,
em detrimento de outra; se não se leu, não se tem nenhuma
contribuição útil para a discussão e assim por diante.
Trabalho programado
Usando ocurrículo eohorário, cada um pode estabelecer
para si próprio alguns objetivos aproximados para o traba-
lhod e rotina de cadasemana. Porem,pormuitometodico que
se seja, o desejo de completar o trabalho programado tem
tendência para ofuscar a leitura de rotina e o estudante
34

Otrabalho académico tem a característica de um assunto


nunca estar verdadeiramente acabado. Há sempre mais
COMO ESTUDAR
revela sensatez se deixar uma margem para que isto acon-
teça. Se se está a escrever um ensaio por quinzena, a rotina
e o trabalho programado encaixar-se-ão num padrão bas-
tante regular, mas não se seria humano se não se devotasse
uma ou d u a s semanas quase por inteiro a terminar um
projecto longo. Op l a n o de trabalho tem de ter uma margem
razoavelmente realista para os periodos em que tem de se
fazer um esforço especial deste genero.
Planificação
Fara muitas pessoas, uma planificação pormenorizada
parece-se bastante com um processo hostil. Desenvolve-se
um sentimento de que o interesse intrinseco do assunto e a
melhor garantia de que se vai trabalhar nele, que, se sefizer
umplano, se acaba por se sercontrolado por ele, que ele, de
certomodo, restringe a liberdade de acção.
São reacções muito naturais. O plano não t e m de ser
muito rígido nem excessivamente pormenorizado. Não tem
de abranger todas as horas do tempo em que se está acor-
dado; de facto, deve permitir alguma flexibilidade. E impor-
tante que, se se fizer um plano, seja possível respeitá-lo
realmente, para que oestudante nãose sintaderrotado pela
incapacidade de respeitar as exigências que faza si próprio.
Porisso, algumas pessoas terão necessidade de um plano
bastanteimpreciso, o qual actua como uma verificação geral
da evolução, enquanto outras, a quem a planificação porme-
norizada proporciona uma estrutura proveitosa, desejarãoe
serão capazes de se servir de um horário pessoal muito mais
pormenorizado.
. . Estabelecimento de limites
para saber; há quase sempre uma forma melhor, ou pelo
menos nova, de compreender um assunto. Neste sentido,
35
ANNE HOWE
nunca se pode traçar uma linha por baixo de um assunto e
dizer «Leito», sabendo que não há absolutamente mais nada
para dizer acerca dele. Assim, não existe limite para a
quantidade de trabalho que se podia fazer sobre um deter-
minado assunto. Mas existem limites para a quantidade de
trabalho que se pode fazer e, felizmente, para aquantidade
que e necessariofazer. Ocurrículo, o horário ea lista de livros
indicarão a importância relativa de cada tópico e, mais uma
vez de forma relativa, quanto tempo se deve gastar com ele.
A planificação do tempo ajuda a estabelecer os necessarios
limites da quantidade e tipo de trabalho a fazer.
Depende muito de cada estudante a forma de fazer o seu
horario pessoal. Trata-se de um dispositivo para ajudar a
controlar o tempo e, para ser eficiente, deve estar de acordo
com as suas necessidades pessoais. Mas, mesmo que se
esteja muito fortemente motivado pelo interesse que se tem
pelo assunto, sera necessaria alguma avaliação do progresso
e alguma perspectiva do sentido em que avança o curso. Dai,
a entase dada à planificação, seja qual for o nível a que ela
melhor se adapte a cada um.
Flexibilidade
E sensato admitir a necessidade de flexibilidade. A ideia
do que se vai fazer em cada semana terá forçosamente de ser
temperada poruma grande variedade de factoresquepodem
não estar necessariamenteprevistos. Talvez a melhorforma
de actuar seja utilizando o plano semanal de trabalho como
contexto dentro do qual se avalia regularmente como se
evolui e o que e necessario fazer a seguir. Neste sentido, as
férias e as semanas para leitura actuam como uma espécie
de rede de segurança. Se alguém se atrasa um bocado, há
tempo pararecuperar durante estes periodos mais longos de
tempo livre.
36

COMO ESTUDAR
Distrações
Tal como a maioria dos conselhos, e maisfacil compreen-
der e talvez concordar com tudo isto que po-lo em pratica.
Não egrande oproblema de fazerpara si próprio um plano
de trabalho racional; já é muito diferente cumpri-lo à risca.
Falta de interesse
E inevitável que se achem algumas partes do curso mais
interessantes que outras e ter-se-á naturalmente tendência
paragastar mais tempo com estas materias interessantes. E
perfeitamenterazoável, dentro de certos limites. Mas se o
estudante negligenciar completamente os assuntos menos
interessantes, mais tarde pode ter problemas. Em primeiro
lugar, goste-se ounão, vai-se ser avaliado em todos os as-
suntos e um mau desempenho num deles normalmente não
podeser completamente redimido, mesmo por um desempe-
nho excepcionalmente bom noutro. Em segundo lugar, nem
sempre éúbvio, especialmentenoiníciodo curso,exactamen-
te como e que os varios assuntos se relacionam u n s com os
. outros. Ao negligenciar uma parte do curso, podem estar a
perder-se pontos de vista úteis e enriquecedores sobre o
assunto como um todo.
Regulação do tempo
Provavelmente, o estudante vai achar bastante difícil
avaliar a quantidade detempo que é necessária para termi-
nar um dado trabalho. Pode vir a verificar-se que um texto.
émaisdifícil do que se esperava, pode ter-se dificuldade em
articular um ensaio,uma experiencia pode demorar mais
tempo do que o que foi planeado, etc. Acaba por se tornar
maislacuavalaraquantidadedetempoqueumdetermi-
nadotrabalho demora, conforme aumenta o treino como
estudante, mas este é um dos problemas intrínsecos da vida
académica. Os professores provavelmente também o acham
37

ANNE HOWE
difícil. A forma de oresolver em cada caso particular depende
de uma série de factores. Se se gasta mais tempo com Bloggs,
seraque isto quer dizer que de vai descuidar qualqueroutra
coisa que pode ser igualmente importante, ou significa que se
vai aumentar o número de horas de trabalho durante essa
semana específica? Em qualquer dos casos, e necessário
considerarfriamente oque fazer, à luz do que se sabe acerca
da importancia relativa das varias tarefas que se tem. Seja
qual for a decisão, oimportante é que essa decisão seja
consciente - o estudante tem de manter o controlo do
trabalho e não permitir que ele o controle.
Conversa
Como estudante, vai estar-se em contacto com uma quan-
tidade deideias novas e formas desconhecidas de pensar,não
sóacerca doassunto em estudo, mas também pelo facto de se
estar em contacto estreito com outros estudantes e com
professores, que podem abordar o mundo de uma forma
muito diferente da sua. Até se pode ficar bastante chocado ao
descobrir que, embora sepossa bem ter sido a pessoa mais
brilhante do último ano do liceu, aqui está-se entre iguais.
Pode gastar-se mais tempo do que se contava a discutir e a
atrapalhar-se com novos pontos de vista. Este tempo não e,
contudo, perdido; faz parte do crescimentoe d o desenvolvI
mento que são intrínsecos à vida estudantil. Existe anoção,
entre os especialistas de educação, de que a instrução é o que
fica quando se esquecem os factos. Isto não significa que se
possaadquiririnstrução através do esquecimento de todos
os factos; significa que a instrução é, entre outras coisas, um
processo de crescimento pessoal e uma das formas que toma
este crescimento e o relacionamento com outros membros da
comunidade académica. I a varias formas pelas quais se
pode e deve trabalhar deliberadamente com outros e referir-
-nos-emos a elas em capítulos posteriores. De momento,
estamos apenas a tratar da simples conversa à hora do café
que, embora não se devendo permitir que consuma demasia-
do tempo, merece ser valorizada por si própria.
38

COMO ESTUDAR
Distrações particulares
As distrações particulares
. a vida social, o envolvi-
mento nas atividades estudantis, as relações amorosas, Os
problemas familiares, até a mudança de instalações - podem
perturbar o estudo. E difícil uma pessoa concentrar-se no
trabalho académico se tiver de enfrentar problemas parti-
colares imediatos e talvez dolorosos. Muitas vezes, passam
rapidamente. Se não passam e se o estudante acha que os
problemas estão a interferir no trabalho durante um certo
período de tempo, deve tentar fazer alguma coisa acerca
desses problemas. Se existir um serviço de aconselhamento,
não deve ser demasiado envergonhado nem demasiado orgulhoso
para recorrer a ele. Os conselheiros dos estudantes
podem dar e dão de facto um auxílio real , especialmente se
se conseguir recorrer a eles atempo e horas. Se se deixar para
tarde de mais, pode pura e simplesmente não haver tempo
suficiente para se obterem todos os benefícios da ajuda deles.
Se o estudante está a ter problemas pessoais que afectam
o seu trabalho ou se tiver uma doença, pode sofrer a ansie-
dade adicional de «se atrasar». Sem dúvida que, nalguns
cursos, pode ser bastante difícil recuperar quando se fica
para trás, mas normalmente é possível obter o fundamental
do que se passou enquanto se esteve afastado. Lista e a razão
pela qual e tão importante manter os professores do curso
Informados do que está a acontecer. Não é necessário discutir
dificuldades pessoais, se não se quiser fazê-lo. Os conselheiros
dos estudantes trabalham em estrita confidencialidade
mas, se o estudante quiser, podem informar os professores
do curso de que está a ter dificuldades.Se os estudos tiverem
sido gravemente interrompidos devido a dificuldades pessoais ou a u m a doença e se
estiver a sentir uma dificuldade
genuína em recuperar o fio do curso, o estudante deve a Si
próprio informar o corpo docente do curso. Normalmente,
chegará à conclusão de que ele colabora e e compreensivo,
especialmente se tiver sido mantido informado do que está a
suceder ao estudante.
39

ANNE HOWE
Ferias e semanas para leitura
Todos os planos de trabalho têm de ser flexíveis. Por
vezes, chega-se à conclusão de que se conseguiu fazer um
trabalho mais rapidamente do que se esperava mas, infeliz-
mente, e mais comum descobrir que o trabalho de rotina
demora mais tempo que o previsto. No fim de um período,
pode chegar-se a conclusão de que se teve de dar uma vista
de olhos por textos para os quais se acha que se devia
realmente dar uma segunda leitura e talvez nem sequer se
tenha olhado para outros que estavam nas listas de livros.
Pode ter-se mantido o trabalho em dia, mas precisar-se de
tempo para rever e consolidar o que se aprendeu. As férias e
as semanas para leitura dão o tempo necessário para recuperar,
reflectir e repensar o trabalho do período. Mas não vale
a pena ir para casa com um monte de livros de textos e de
apontamentos e uma decisão geral de trabalhar alguma coisa.
Quando se tem um período de ferias pela frente, e fácil
deixar o tempo correr, quer porque, se a pessoa se esta a
divertir, o tempo parece muito e pode sempre fazer-se
• alguma coisa amanha, quer porque parece que ha tanto para
fazer que é difícil saber por onde começar e muito mais difícil
saber quando é que se conseguira acabar. Para evitar estas
situações difíceis, é necessário um plano de trabalho para
cada período de férias durante o qual se tem trabalho a
recuperar, além de uma revisão geral do trabalho do período.
Lixactamente até que ponto este plano deve ser rigoroso
depende das necessidades pessoais cada um. Devem ter-
-se em consideração os seguintes elementos:
• Foi destinado algum trabalho específico para férias? Quanto tempo
vai demorar este trabalho afazer e que parte dele está relacionado
com o que ja se sabe ou, pelo contrario, que novas leituras se terão
de fazer para o completar?
• Refletindo sobre o assunto, que partes do trabalho do período cha
o estudante que necessitam de mais atenção, quer porque não se
40

COMO ESTUDAR
compreendem muito bem, quer porque foram assuntos que não se
teve tempo de estudar com profundidade durante o período?
• Que parte do trabalho do período se necessita de praticar mais?
Existe algum tipo específico de problema que tenha provocado
dificuldades?
• Quanto tempo, considerado de uma forma realista, se será capaz de
Passar a estudar? É Necessário um intervalo, mesmo que não seja
muito grande; pode ter de se ganhar algum dinheiro; pode haver
pressões para se passar algum tempo com outras pessoas, especialmente se vai para
casa, para junto da família que não se vê muitas
vezes durante o período de aulas.
Só se se tiverem finalidades limitadas realistas e que se
pode esperar usar os períodos de férias da melhor forma
possível. Isto significa saber oque se vai fazer e destinar uma
quantidade de tempo razoável para o fazer. E muito mais
compensador prometer trabalhar três horas por dia e trabalhar
realmente durante esse tempo que estabelecer como
finalidade trabalhar 60 horas por semana seja no que for es o
conseguir trabalhar um quarto desse tempo.

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