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Direitos Humanos e Gerao Da Paz Fascculo 6
Direitos Humanos e Gerao Da Paz Fascculo 6
agir local:
passos para a paz
Maria Aládia Brandão Silveira Guilherme
Maria Socorro Brandão Everton
6
Pensar global, agir local: passos para a paz
Maria Aládia Brandão Silveira Guilherme
Maria Socorro Brandão Everton
Ao final da leitura deste material espera-se que o cursista seja capaz de:
• Elaborar questionamentos sobre a sua existência como indivíduo e vida que deseja viver;
• Propiciar um diálogo sobre os temas: felicidade, dignidade humana e ética, refle-
tindo sobre o projeto de vida;
• Fortalecer conceitos, valores, práticas e métodos de convivência numa cultura de
paz, reconhecendo que a paz se constrói no cotidiano pessoal, social e ambiental;
• Refletir sobre valores e atitudes diante da proposta de corresponsabilidade na cons-
trução de uma cultura de paz;
• Estimular a criatividade e as oportunidades de cooperação, de protagonismo e de
vivência de uma cultura de paz nas escolas, nas famílias e nas comunidades;
• Propor alternativas para ações de geração da paz compatíveis com a realidade local,
relacionando as ações locais com as propostas de mudanças globais.
Introdução
Neste fascículo, continuaremos a refletir sobre conceitos, valores e práticas que le-
vem a ações voltadas para a valorização da vida e geração da paz. Acreditamos que a
teoria em âmbito global se desdobra em ações locais que possibilitam alcançar a paz
consigo mesmo, com o outro, com a comunidade, com a natureza, com o planeta.
Inicialmente, procuraremos compreender as intrínsecas relações entre o pensar
global e o agir local, a partir da ideia de que a paz não pode se restringir ao campo da
teoria e que as ações, globais e locais, estão interligadas e são interdependentes, devendo
ser identificadas, reconhecidas e valorizadas. Num segundo momento somos convida-
dos a nos comprometer com uma paz coletiva. Da África para o mundo: Ubuntar –
a paz é o caminho demonstra que trilhar o caminho da paz exige de cada indivíduo o
comprometimento com a coletividade, pois a paz alcançada individualmente contribui
para a construção de uma sociedade mais solidária. Ubuntar é um convite à paz!
Que a paz esteja dentro de você hoje.
Que você creia estar exatamente onde você deve estar.
Que você acredite nas infinitas possibilidades que nascem do destino.
Que você usufrua as graças que recebeu e passe adiante o amor que lhe foi dado.
Que você seja feliz sabendo que é um filho de Deus.
Que você deixe a presença de Deus entrar em seu corpo e permita à sua
alma a liberdade de cantar, dançar, orgulhar-se e amar.
Ele está lá, para cada um de nós.
Madre Teresa de Calcutá
Fonte: pensador.uol.com.br/frase/MjE3MjQz/
Nada de nada
Sabes me dizer quanto pesa um floco de neve?, perguntou um pardal a
um pombo silvestre.
Nada de nada, foi a resposta.
Nesse caso vou lhe contar uma história maravilhosa, disse o pardal. Eu
estava sentado no ramo de um pinheiro quando começou a nevar. Não era ne-
vasca pesada ou furiosa. Nevava como em um sonho: sem ruído nem violência.
Já que não tinha nada melhor a fazer, pus-me a contar os flocos de neve que se
acumulavam nos galhos e agulhas do meu ramo. Contei exatamente 3.741.952.
Quando o floco número 3.741.953 pousou sobre o ramo, nada de nada como
você diz, o ramo se quebrou.
Dito isso, o pardal partiu em voo. A pomba, uma autoridade no assunto
desde Noé, pensou um pouco na história e finalmente refletiu: Talvez esteja
faltando uma única voz para trazer paz ao mundo. Talvez a sua... Vamos ubuntar?
Fonte: Vamos ubuntar? Um convite para cultivar a paz / Lia Diskin, 2008.
Respeitar a vida
A vida brota a cada instante, basta olhar ao redor. Em cada semente que germina,
em cada flor que desabrocha, em cada canto de pássaro, em cada criança que nasce,
ela se mostra como um milagre, o milagre da vida. O mais impressionante é pensar
que a vida está ameaçada. Milhares de vidas, das mais diferentes espécies, são des-
truídas a todo instante. E o ser humano com sua inteligência, tem sido o mentor
de toda esta destruição. Vivemos uma dura e assustadora realidade, uma situação de
profundo desrespeito à vida.
Ao falar sobre o respeito à vida, estamos falando de participar da vida, praticar e
disseminar seu resgate e sua defesa, cultivando-a, preservando-a. Resgatar e cultivar
a vida é construir um cotidiano de vínculo consigo, com o outro, com a natureza; é
trabalhar com o prazer; é abrir-se ao encontro com outras pessoas, respeitando seus
limites, especificidades, seu jeito de ser. É lutar contra qualquer forma de opressão e
injustiça, simplesmente porque ama o outro e a vida. É aceitar e estimular a expres-
são de cada um numa ciranda de amor, aceitação e integração das diferenças.
Rejeitar a violência
“Aprender a viver juntos”, “aprender a viver com os outros”, “aprender a convi-
ver”... aprendizagem que representa um dos maiores desafios da atualidade. O que
é intrigante, pois o homem é essencialmente um ser social.
Ao contrário de muitas outras espécies, o ser humano ao nascer é totalmente
dependente da mãe, não consegue locomover-se, alimentar-se, defender-se, cuidar
de si. E, à medida que o tempo passa, torna-se ainda mais
dependente das relações sociais. Aprendemos e nos desen-
volvemos na relação com as outras pessoas. Relações experi-
mentadas na família, na escola, no trabalho, no lazer.
Não conseguiríamos viver isolados. Mas a convivên-
cia não é algo simples. Não é fácil viver juntos, pois isso exi-
ge cuidados, concessões, reciprocidade, confiança, respeito.
Contudo, esses pilares do convívio social sofrem abalos
quando atingidos por atitudes de violência. Uma violência
que não se revela apenas na agressão física, expressão visí-
vel do que antes foi expresso pela palavra e articulado no
silêncio do sentir e do pensar. A palavra também é violenta
quando humilha, difama, desqualifica, ofende, ironiza e ri-
diculariza alguém, um grupo, uma tradição, uma religião
ou nacionalidade. A recusa em dirigir a palavra também
menospreza, intimida e envergonha. Podemos ainda ferir
com um gesto, um olhar e até com um não olhar. Gandhi
costumava dizer: “Pode-se garantir que um conflito foi so-
lucionado segundo os princípios da não-violência se não
deixa nenhum rancor entre os inimigos e os converte em amigos”. Portanto, se
desejamos disseminar a paz, fazê-la acontecer, assim como fez Gandhi, devemos
viver sob os princípios da não-violência, vivenciar a empatia, sentimento que nos
faz solidários ao sofrimento das outras pessoas. Devemos nos colocar no lugar do
outro, enxergá-lo como nosso semelhante, independentemente de sua condição
social, credo, gênero, capacidade física, cultura, nacionalidade. Rejeitar a violência
é defender a paz.
A disseminação da violência e sua perpetuação não dependem apenas daque-
les que a produzem, mas também dos que se calam, afinal “quem cala consente”.
Ser generoso
Apesar da disseminação da violência, da destruição da vida e do egoísmo instaurado
no coração humano, ainda é possível observar atos de generosidade e de amor ao
próximo. Felizmente, a generosidade está cada vez mais “visível”.
Fruto da nobreza do coração humano, a generosidade é uma virtude que nos
faz sentir parte de algo maior que nós mesmos, nos colocando no lugar do
outro. Ela humaniza e mostra que somos todos iguais. Em todos os cantos
da nossa casa Terra, há crianças, jovens, adultos, idosos, irmãos pobres,
injustiçados, oprimidos, excluídos, solitários, necessitando de ajuda, de
cuidado, de abraço, de palavras de conforto e estímulo. Não importa a
forma da contribuição, só o fato de participarmos já renova nossas forças
e fortalece àqueles que auxiliamos.
Para nos inspirar e encorajar, destacamos duas grandes referências
de generosidade: Irmã Dulce e Betinho. Conhecer suas obras nos levará
a compreender o potencial da generosidade. Não precisamos ser iguais a
eles, tampouco realizar grandiosas obras. Mas seus exemplos nos levam a
pensar: “E eu, o que poderia fazer? O que tenho a oferecer?” Você pode
até não ter reparado, mas bem perto, na sua família, na sua rua, na sua
comunidade, pode ter alguém precisando de uma palavra de estímulo ou
de conforto, um gesto amigo, um livro, um carinho, uma refeição, uma
cesta básica, conhecimentos que podem ser partilhados. Pequenos gestos
que podem fazer toda a diferença na vida dessas pessoas e na nossa vida.
Afinal, “há sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas,
nas mãos que sabem ser generosas.”
Preservar o planeta
É crítico o atual estado do planeta, nossa casa universal, a Terra. A vida está amea-
çada. Centenas de milhares de espécies que deveriam viver juntas, em equilíbrio,
são colocadas em risco ou extintas. Defrontamo-nos com uma série de problemas
globais que estão danificando a biosfera e a vida humana. Quando pensamos que
esses problemas são gerados pelo homem, isso se torna ainda mais assustador.
Que tipo de sentimento leva um homem a destruir sua própria casa, os recursos
de sua sobrevivência, sua família? Sim, fazemos parte de uma mesma família, a huma-
nidade. E foi neste planeta que a espécie humana surgiu e evoluiu, dotada de cérebro
sofisticado, capaz de aprender, criar, inventar coisas incríveis! Pena que não tenhamos
compreendido uma das mais importantes lições: preservar nosso planeta, nossa casa.
É necessário compreender que a Terra, com todas as formas de vida vegetal
e animal, não foi criada apenas para usufruto de nossa espécie, que seus recursos
naturais não são inesgotáveis e que a natureza não se assemelha a uma máquina,
portanto, objeto mecânico de fácil controle por parte do homem. Não somos seres
dissociados de nosso meio, seres não naturais, fora e acima da natureza. Ao contrá-
rio, somos dependentes como um bebê depende da mãe. Como declarou o chefe
Seattle (Manifesto da Terra-Mãe, 1854) “O homem não teceu a teia da vida. Ele é
apenas um de seus fios.” O que quer que faça à teia, ele faz a si mesmo. O que fazemos à
Terra, fazemos a nós mesmos, à nossa casa, ao nosso bairro, à nossa cidade.
Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no
qual as dimensões locais e globais estão ligadas. Cada um compartilha a responsa-
bilidade pelo presente e pelo futuro bem-estar da família humana, dos seres vivos.
O imperativo é: rompermos com a inércia provocada pelo comodismo ou pela re-
signação. Todo indivíduo, família, organização e comunidade tem um papel vital a
desempenhar. Portanto, mãos à obra!
Algumas considerações
Muito do que aqui foi dito pode ser compreendido com o auxílio exclusivo do cére-
bro. Cuidado! A compreensão racional de nada valerá se não procurarmos integrá-la
às dimensões do espírito e do coração. Como vimos, a paz se constrói nas pequenas
ações cotidianas. Para isso, basta deixarmos que os valores da não-violência condu-
Síntese do fascículo
A paz não se restringe ao campo da teoria, a paz é ação global e local, in-
terligadas e interdependentes. A identificação, o reconhecimento e a valori-
zação das ações positivas por uma Cultura de Paz nas famílias, nas escolas,
nas comunidades e nos espaços de convivência social é um importante passo
para alcance da paz local. Mas é impossível alcançar a paz pessoal enquanto
reinam a miséria e a violência na sociedade e a natureza ameaça nos destruir
porque nós a devastamos. Mais do que ausência de conflito, a paz é um estado
de consciência. Todos podem contribuir para práticas de não-violência, tole-
rância, diálogo, reconciliação, justiça e solidariedade nas família, nos bairros,
nas cidades. Somos seres coletivos e a busca pela paz começa por você e pode
refletir no mundo inteiro! Ubuntar é isso, é um convite à paz... aceite-o!
Atividades
1. Pesquise e conheça os principais documentos produzidos por entidades gover-
namentais e não-governamentais fomentando uma Cultura de Paz.
2. De acordo com o texto, estabeleça relações entre as ações globais e locais no
desenvolvimento da Cultura de Paz.
3. Após a leitura do texto, elabore a sua concepção de Ubuntu.
4. Você acredita numa paz coletiva? Em caso afirmativo, reflita: que ações você
tem executado para tornar o seu mundo mais pacífico?
Autores
Maria Aládia Brandão Silveira Guilherme: Pedagoga em Regime Especial pela Universi-
dade Estadual Vale do Acaraú (Uva), graduada com habilitação em Arte e Educação Física pela
Universidade Estadual do Ceará (Uece). Especialista em Gestão Escolar, pela Universidade do
Estado de Santa Catarina (Udesc), Psicopedagogia, pela Faculdades Inta-CE, e Educação Bio-
cêntrica, pela Universidade Estadual do Ceará (Uece). Com experiência na Educação Infantil,
inicialmente como professora e, posteriormente, como assistente técnica pedagógica da célula
de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação de Acaraú, e articuladora pedagógica
do Programa Nacional de Formação de Professores de Educação Infantil (Proinfantil). Minis-
trou o ensino de Arte, em nível fundamental e médio. Atuou como diretora e coordenadora
pedagógica de escolas da rede municipal. Em 2010, atuou como professora e diretora de turma
na Escola de Educação Profissional Marta Maria Giffoni de Sousa, onde, desde 2011, assume a
função de coordenadora escolar.
Maria Socorro Brandão Everton: Pedagoga em Regime Especial pela Universidade Esta-
dual Vale do Acaraú (UVA); graduada em História e Filosofia pela Universidade Estadual do
Ceará (Uece). Experiência no ensino de História e Arte, em nível fundamental e médio e em
Nível Superior nas disciplinas de História Antiga, Medieval e História da África. Atuou como
diretora e coordenadora pedagógica de escolas da rede municipal e como Professora Coordena-
dora da Área (PCA) de Ciências Humanas. Em 2009, atuou como professora diretora de turma
na EEEP Tomaz Pompeu de Souza Brasil, como professora formadora do Projeto “Professor
Aprendiz” e, desde 2010, atua coordenadora regional do Projeto “Professor Diretor da Turma”
na 3ª CREDE. Enquanto especialista em História das Culturas Afro-brasileiras, ministra forma-
ções para professores na área da Educação Étnicorracial e possui vários projetos desenvolvidos
nesta área. Possui, ainda, o título de especialista em Gestão Pública pela Universidade Estadual
do Ceará (Uece).
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