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| SELETA | EM PROSA E VERSO , UMA COLETANEA DE EXEMPLARES DIVERSIFICADOS DE GENEROS TEXTUAIS ESCRITOS : { see lesclecsoides | 0 he "David Ferreira Severo -IFAL “3015 >) Sse ad APRESENTACAO, Prezado (a) Estudante Esta coletanea de textos representando varios géneros textuais da lingua escrita foi elaborada com o propésito de proporcionar a vocé um material de leitura no apenas em sala de aula, como também noutros lugares, onde vocé puder se sentir confortavel para ler e cultivar o prazer de apreciar textos interessantes. Do ponto de vista diddtico-pedagdgico, a iniciativa de organizar esta seleta foi Garantir a prética de leitura, andlise e discussSo de textos, que é uma atividade muito nobre, necessaria e prazerosa nas aulas de Lingua Portuguesa, além de set uma habilidade imprescindivel para a formaco inicial e continuada de seus estudos. Os textos se apresentam de forma organizada por géneros textuals para dar a ideia da diversidade de formatos textuais e das diferentes linguagens. Isso Ihe dard a Oportunidade de ter uma no¢o aproximada da diversidade dos géneros que circulam na sociedade, suas particularidades linguistico-discursivas e suas fungées sociais. Hoje em dia se fala muito em letramento, cujo conceito est ligado as praticas ¢ 0s usos sociais da lingua escrita. Com certeza, o contato, a leitura ¢ a apreciacao dos variados géneros textuals io muito importantes para aumentar o nivel de letramento Assim sendo, quanto mais géneros textuais a pessoa tonhece, mais letrada ela é Espero que vocé aprecie, que curta e aproveite a0 ‘midximo esta coleténea, ¢ que também comece a organizar outras seletas com outros textos com que vocé certamente vai se deparar ao longo da sua vida. Desenvolver 0 prazer e 0 gosto pelos textos e pelo ato de ler ¢ fundamental para se alcancar a proficiéncia nesta habilidade, que é indispensavel para a realiza¢o pessoal e 0 desempenho escolar, social profissional de todos os individuos. : Boa leitura! David Ferreira Severo Dezembro de 2015 PEPER EHRRARHRKHKHPSAOKRHSSHRSeSSMSMSOHMSeSOSeeoweennase®ei SUMARIO CRONICAS Texto 1~ Os cheiros Danuza Leao (p. 1) Texto’ 2- A propria sorte Nunes Lima (p: 2) Texto 3- Um cio, apenas Ceotia Meireles (Pp. 2), Texto 4 — Uma rosa ainda viva na lembranga Marie inez Matoso (p.3) Texto 5— O bico Silvio Ribeiro de Siva (p. 4) Texto S— Antdnia odo Pauio Holanda de Assis (p.5) Texto 7-Menior perverso Ojavo Biiac (p. 6) Texto $ ~ Tirania das pequenas causas Lindembery Medeires de Araujo (p. 7) Texto 19-Um pé de milho Rubem Braga (p. 9) Texto 11 — Mila - Cars Heitor Cony (p. 9) Texto 12 — Os buracos da vida Vosies de Souza (p. 10) Texto 13-Crénica da loucura Luis Femando Verissimo (p.11) Texto 14-—A raga superior Walsyr Carrasco (p.12) Texto 15—Simplicidade Luis Femando Verissimo (p.13) PARABOLAS: ‘ Texto “ - Licko de Ciéncias (p. 14) Texto 2-Parabola do Filho Prodigo (p. 15) Texto: 5 ~ Parabola‘da Convivéncia (p. 16) Texto 4—A Lig&o da Borboleta (p. 17) FABULAS Texto * -@ Camundongo da Cidade e o do Campo (p. 18) Texto 2 - A Raposa e a Cegonha (p. 18) Texto 3— A Lebre e a Tartaruga (p. 19) Texto 4 — A Galinha Reivindicativa (ou The Hen's Liberation) milor Femandes (p. 19) ARTIGOS DE OPINIAO Texto 1 — Bom mesmo 6 “ficar” (Autor desconhecide) (p.20) Texto 2~Ficar e namorar estdo em alta (Autor desconhecido) (p. 20) Texto 3-“Ficar” pode ser fatal (Autor desconhecido) (p.20) Texto 4-Os Coitadinhos ciévis Rossi _(p. 21) Texto 5- Pena de Morte: A Favor ou Contra? (Autordesconhecido) (p. 21) Texto 6 -Formagao académica e cientifica Roberta Cajueiro (p. 22) Texto 7-Maos 20 alto Josias de Souza (p:23) Texto &- Consumo, logo existo Frei Beto (p. 24) GENEROS DE AUTO-AJUDA Texto 1—Na hora do siléncio (p.25) Pa ~ Texto 2- Sem titulo (p. 26) FZ 7 Texto 3-Prece (p.26) Texto 4—Na hora do siléncio (p.27) Texto 5—Desidgrata (p. 27) Texto 6 - Oragao da maturidade (p. 28) Texto 7 ~ Coisas que a vida nos ensina depois dos 40 Artur da Tavola (p. 29) CONTOS LITERARIOS - CONTOS POPULARES } Texto 1~ Felicidade clandestina Clarice Lispector (p. 30) Texto 2-© Grande Mistério Stanislaw Ponte Prota (p. 31) CRONICAS Texto 1 ‘ Qs cheiros Danuza Ledo Existem cheircs inesqueciveis. Cada pessoa tem seus prediletos, E basta uma minima fembranca para que tudo volte: a temperatura do momento, a felicidade ou a tristeza que se sentia, 2 imagens de quem estava perto, tudo. Tudo. Cheiros podem ser alegres ou tristes. Ere muito borr quando se entrava em casa depois do colégio, logo antes do almogo, e se ‘sentia o cheire do refogado — alho, cebola e tomate — para fazer 0 picadinho ou o bife de Panela enroiace no bacon e preso por um palitinho. Quantos segundos vocé leva para atravessar 0 tempo € voltar aos seus 11 anos? Lembre quando hé muitos, muitos anos, vocé ia passar as férias ne fazenda? Ah, uma fazenda tem aromas absoiutamente inesqueciveis: 0 do Capim, o da terra depois da chuva, odo estabulo onda se ia de manh& bem cedo tomar o lete tiado da vaca, ainda morno, numa canequinina de aluminio. E 0 cheiro da tangerina? Alids, tangerina no, mexerica; aquela Pobrinhe, madesta, de casea fina, que deixava a m&o cheirando durante trés dias, Esse 6 um heiro muito alegre. © cheiro do bolo saindo do.forno 6 para sempre - bolo de tabuleiro, cortade em losangos, com cobertura de agticar com limo, e um detalhe precioso: naquele tempo, por mais que 86 comesse néo se engordave, e em cima da mesa havia sempre um vidro de fortiieante para abrir 0 apatite. Que felicidade ter tido uma inféncia no interior! Mas existem ovtros aromas igo ligados ao paladar e também inesqueciveis. O cheiro do mar quando se chega sm Salvador — uma licenca poética, com licenga. E voce jé teve uma tia-avo que morava numa case bem arrumada, cujo assoalho era encerado toda semana? O brilho era “ dado a mo, com uma escova de cabo alto como uma vassoura, @ era chegar ¢ ouvir: "Cuidado para nc sscorreger’. Que cheiro limpo, honesto, que cheiro de gente direita. Sera que isso ainda existe? Mas ha tembérr os cheiros angustiantes: os de hospital, de sala de cirurgia. Muito cheiro de flor Voss save © que lembra ~ melhor néo falar disso. E existem 0s perfumes ricos: de carro novo, de um bom fum> de cachimbo, vathos combiner: cheiro de alho é bom na cozinha, de sexo no quarto. © @ proibido misturar. Por falar nisso, 0 cheiro fe homer cus sa ama, depots do ‘amor, é melhor. yem jembrar para n&o desmaiar de saudkde, As cidades tamtém tém seu cheiro, cada uma muito particular: se vocé for levada, de olhos vendados. para o Bloomingdale's, sabe na hora que esta em Nova York. E se respirar um ‘aroma de cominno misturado a curry e a canela vai saber que esté no souk de Marrakesh. Mas existe um cheiro que s6 as mulheres conhecem. E 0 que elas sentem quando esto || enxugando seut bebés depois'dé banho. E preciso que néo haja uma s6 pessoa por perto num raio de 209 metr2s para néo haver interferéncia de qualquer ordem. Sem nenhuma presenga estranha ~ nem mesmo @ do pai -, mae ¢ filho poderdo dizer bobagens e rir de coisas que sé eles vao entender. Depois do talco, a mae vai botar o nariz no pescoco de sua cria e cheirar todos os ses cinco sentides. No principio timidamente, mas cada vez mais forte, até quase arreberta’ os pulmées de tanto amor. Na hora a gente no sabe, mas um dia vai saber: do existe nada guel 2 esse cheiro nem a esse momento, e nunca vai haver um melhor. Porque esse ¢ 0 cheiro da vida. Publicado originalrmente na Revista Claudia casebre ¢, apontando Voce grossas & mostra. [am “chumbregar” longe. A histova da menina Ritinha é i i, soltas, bancando mo andar p © namora de Ritinha era avangs & esperando pra quando, minha filha? A PROPRIA'SORTE Nunes Lima >uracada, onde a lei no chegou. Esg ‘adcira que passava, arrastando as sandalias japonesas, parow ara a barriga da menina, perguntou: dias, Peijos © abrazos, assim como nas novelas. Sebastido jurava que era solteirinho da Silva, Mas'as bairro todos sabiam que ele que tinha uma mulh; casinhas enfileicadas, perdidas na periferia, > Ritinha, Amie d: A menina, por labia e pelos ceri separada do marido, sempre dizia que aquele nimoro nio ia dar certo, julo dava ouvidos ao que a mae falava ¢ cada vez mais se deixava iludir pela ies do namorado. Nequela noite, Sebastido chegou em casa embriagado, vindo de um bar, ¢ encontrou a mulher toda assaniia Ritinha’ quantos FE Texto 3 ada, fula de raiva, toda nervosa, dizendo palavrdes. “Tinha ido conhecer Yocé nfo devia ter ido 1é ~ gritou Sebastio, soltando arroto de cachaga. = Mas eu fi iebrar a cara daquela sem-vergonha! Se ela estivesse em casa, ia ver com paus sc fez wma jangadal uve Ita corporal ¢, no meio da briga, Sebastido quebroui uma garrafa na pia da cozinha © Parti pare acabar com a muther. Sebastiao viajou de camburlo e foi metido Ritinha. com a derviga enorme, esté entregue & propria sorte i no xadrez, E) “(Gazeta de Alagoas 18/07/2007) UM CAO, APENAS ' Cecilia Meireles Subidos, de animo leve'e descansados passos, os quarenta degraus 60 jardin ~ plantas em flor, de cada lado; borboletas incertas: salpicos de 1 uz ni Fanito — eis-me no patamar. Ea meus pés, no aspero capacho de coco, a fescura da cal do pértico, um cfozinho triste interrompe o seu sono, ‘evanta a cabega e fita-me. E um triste cdozinho doente, com todo o corpo ferido; gastas, as mechas brancas do pélo; 0 olhar dorido e ofuundo, com esse lustro de Légrima que hé nos olhos das pessoas muito ‘Gosas, Com uum grande esforgo, acaba de levantar-se. Eu nao Ihe digo raga; tancas Se ole estava feliz ali, eu no devia ter chegatlo. J4 que lhe faltavam fio fago nenhum gesto, Envergonha-me ter interrompido 0 seu. : coisas, que ao menos dormisse: também os animais devem esquecer enquanto dormem, Ele. porém, levantava-se ¢ olhava-me, Levaniava-se com a icade dos enfermos graves: acomodando as patas da frente, o resto igual a de tantas outras “ritinhas” de menor idade que as. Pintam as unhas ¢ os labios, mascam chicletes e chegam ado, Sem responsabilidad, sem futuro, um desperdicio de ier na Vila Redene&o, um aglomerado de i @ee@eenaea »Heeeeeveeeeeeenseneonneeneeoeeneeoeaeneaeeneneeeeeo { 3 <0 compo, sempre com os olhos em mim, como a espera de uma palavra ou de um gesto. Mas eu no queria vexar nem oprimir. Gostaria de ocupar-me dele: chamar alguém, pedir-Ihe que o examinasse, que o receitasse, encaminhé- lo para uma tratamento... Mas tudo é longe, meu Deus, tudo é to longe. ¢ estava na minha frente inébil, como que envergonhado de se achar ‘80 sujo e doente, com o envelhecido olhar numa espécie de siplica. Avé © fim da minha vida guardarei o seu olhar no meu coragiio. Até © firn da vida sentirei esta humana infelicidade de nem sempre poder socomrer, néste complexo mundo dos homens. Entao o triste cdozinho reuniu todas as suas forgas, atravessou 0 seth nenhuma divida sobre 0 caminho, como sé fosse um sitante habitual, ¢ comegou a descer as escadas e as suas rampas, com as plantas em flor de cada lado, as borboletas incertas, salpicos de luz no anito, até o limiar da entrada. Passou por entre as grades do portio, prosseguiu para o lado esquerdo, desapareceu. Ele ia descendo como um velhinho andrajoso, esfarrapado, de cabega baixa, sem firmeza e sem destino, Era, no entanto, uma forma de vide. Uma criatura deste mundo de criaturas inumerdveis. Esteve a0 meu alcance; talyez tivesse fome e sede: e eu nada fiz por ele; amei-o, apenas, com’ uma caridade inatil, sem qualquer expresso concreta. Deixei-o partit, assim, humithado, © to digno, no entanto: como alguém que Fespeitosamente pede desculpas de ter ocupado um lugar que nifo era seu. Depois pensei que nés todos somos, um dia, esse caozinho triste, & sombra de uma porta. E hé o dono da casa, ¢ a escada que descemos, ¢ a ade final da solidao. UMA ROSA AINDA VIVA NA LEMBRANGA Maria Inez Matoso Tinha tudo 0 que uma senhora bonachona tem quanto ao aspecto fisico: um pouco gorda, nao muito alta, cabelos brancos enrolados mum cocé. Era religiosa, mas nao era carola, xem chata, nem vivia no pé do padre. Mas no perdia a missa das sete aos domingos. Tinha lé + suas rezas, suas devogbes © seus salmos, que recomendava a quem ‘estivesse angustiado, ansioso, deprimido, precisando de ura injegdo de coragem, de otimismo ou simplesmente de * um ouvido para escutar lamirias, queixas € mégoas. Tja Rosa, apesar de s6 ter cursado 0 Primario,tinka uma sabedoria nata, um bom senso que nfuita gente estadada ndo tem. Por isso simplesment> cuvia as pessoas ¢ dava aqueles conselhos meio dbvios, mas que a gente as vezes precisa ouvir, ¢ no entrava em questGes que ndo entendia; afinal, essa velhinha simpdtica tinha 4 grande qualidade de nao julgar as coisas ¢ as pessoas logo de pronto, Acho que esse era 0 segredo «ia velha: ela nao envenenava o espirito das pessoas. essa pessoa no tinha defeitos? Tinha sim: ficava muito triste quando os “ parentes a esqueciam, quandovnio a convidavam para os batizados, casamentos e enterros. Nesse onto els era meio exigente ¢, as vezes, até pegajosa. E também gostava de se lamentar de umas dores na coluna, e dava muito: trabalho para ir a um médico. E niio queria tomar remedios. acrecitava mais em remédio casciro. As vezes, era meio hiperativa. A tia Rosa era uma eximia fazedora de croché: um colete para um, sobrinho que ia estudar no Sul; um par de sapatinho: sobrinho-neto que ia nascer. Era figura obrigatoria nos preparativos dos casamentos da familie. Era parteira, doceira e costureira. ‘Tia Rosa s6 teve um filho, que embarcou na Marinha Mercante ¢ s6 vinha vé-la de vez em quando. Ai, ela se debulhava em lagrimas, tanto na chegada quanto na partida do filho " Ficou vidva ginds moga, criou muitos sobrinhos, que vinham estudar na cidade. Depois, foram- se todos morar na capital. Quiseram levé-la para morar no apartamento de um dos sobrinhos. Mas a veiha seutia uma grande falta das galinhas de pinto, das vizinhas ¢ das comadres velhas com quem batia papo na cozinha da sua casa e trocava quitutes, Vivia falando das roseiras que cultivava na sua modesta casa perto da estagio do trem. a mie ptnter na casa. Acho que nem pagavam direito, porque o pessoal que ficou a sasa Sra mulko pobre. Mas a velha nem ligava: queria era que a casa fosse habitada e mantivessen: ae ‘suas plantas no quintal, no jardim, 4 velha horta do oito com pés de capim santo e outras ervas para fazer ché j Mas as coisas se vo, a gente vai caminhando nessa vida e as mudangas vio Fann 0. Ui di, as rossiras da casa perto da estapio secaram e morreram. Faz um rempao he nao vejo uma gelinha de pinto num quintal de casa, a Tia Rosa faz muita falta nas ream es fami ™ retrato oval, jé meio desbotado, nos traz a Tia Rosa jovenzinha: sorriso franco, 8 nos cabelos e pele assentada. Um pouco bochechudinha, uma tipica morena gus conservou, até a velhice, a mesma simpatia e serenidade que hoje vejo no tal” Fetrafo, sempre que vou & casa da minha irma mais velha, sua afilhada, que mora em Recife. Texto s O bico Silvio Ribeiro da Silva 2 comum ouvir por al as pessoas dicerem que ni se pode perder S experancas de Iuta, pois de grdo'em griio a galinka enche o papo. Send gue , sso € verdade? ‘Tomemos como exemplo o dia-a-dia dos trabalhadores brasileiros Bi “oréria trabalhada ¢ equivalente a 08 horas diérias. Somando-se os cinco dias, dé um total de 40 horas, no minimo. O salérib 6 minimo e tem de 5 cobrir Cespesas com aluguel, moradia, sade © ‘gbalhador se vé obrigado a fazer os chamados bieos. E bico pra << pra la: E muito bico, mas ¢ o trabalhador quem acaba bicado. Pensando bem, até que poderia dar certo essa histéria de bico, Se de 8 galinha enche 0 papo e ¢ com o bico que ela faz isso, tudo teria : 1e dar certo, s6 que ndo dé, ! ‘ Se a historia do gréo fosse comreta, os policiais brasileiros esteriam ‘ pgs Alem de também serem adeptos do bico, alguns vendem armas pare bandides, sdo:traficantes de drogas, cobram pedigio de pobres transeuntes Olba o bico at. gente! 3 Se formos fazer uma pesquisa a respeito da vida desses “bicantes”, Seto: que rauitos nfo tém um papo assim to cheio. Ha os que s6 fazem isso or pur falta de gro no papo. Outra classe que mais leva bicada do que bica é a dos professores. Ha ‘queles que, tém cargas horirias equivalentes a 60 horas semansis stumam trabalhar nos tés tumos e em mais de uma escola, 5 Pera garantir um papo mais cheio, vao para escolas particulares. Lé, Bicads de diretor, bicada de aluno, bicada de pai de aluno, E'o papo? E os gros? C's urs se perderam e 0 papo esti cada vez mais murcho, Apés tantas bicadas por parte dos bicudos da escola, resta ao Hist buir os poucos gros que angariou com o médico, o psicdlogo, 2. Ao professor resta um bico de papagaio, Os professores universitirios s80 0 maior exemplo de papo vazio. O Dice deles ado Bica mais nada, As greves de fome que se fazem por ai fazem + ‘com que, niio 86 0 papo, mas também a moela fique vazia, io em offesso psicarial o- o - e o o Ce o wo o eo o 5 Percebe como a historia do gro & pdbo furado? Furado mesmo, no péra um rao nesse pape E 0 pior é que somos levados pelo papo daqueles que nos prometem am jervesro farto de grdos. : Mas, pensando bem, hé aqueles que confirmam a histbria do grio om griio. Quem sfo eles? Séo muitos. Um deles ¢ o grande bicudo socidlogo ucene ¢ seus seguidores. A cada dia seus papos estflo mais cheios. Também pudere, jd vid 0 tamanho ds bico dos mcanos? E nés? Pobres coitados, nosso bico é darecido com o do beija-flor, s6 permite uma lambidinha de cada vez. Enquanto isso, 0 papo vazio por muito tempo pode se tomar um. oroblena social erénico, porque corremos o risco de nko podermos seguir : viagem, pois saco vazio nfo para em pé, ou melhor, papo vazio nfo se sustenta = pior: o saco vazio pode se encher de revolta, de édio contido ¢ de msanidade Ai as bicadas insanas poderio se tomar um problema de , ‘nseguranga para toda a populagao. Muita gente vai pagar 0 pato inocente ¢ vai ser bicada de forma muito cruel. Texto 6 ANTONIA Joao Paulo Holanda de Assis Moga pobre, sem muitos recursos, moradora de um povoado na regio do Bananal, 1é prixime a cidade de Vigosa. Faceira, perto de seus 16 anos, néo queria saber de namorar ninguém. Até que conheceu um rapaz vistoso, olhos azuis, metido a senhor de engenho, jé que seus pais possuiam uma grande propriedade de terra, cheia de cabegas de ado e pientacdes de cana de agiicar. Seu defeito era set divorciado. Nossal Os pais de ‘Antonie la pevmitiriam alguma coisa dessa?! Sua familia nunca iria aceitar esse moo, jé pai de cinco filhos. A solugao foi a fuga. Numa noite ou de dia mesmo, ninguém sabe a0 certo como acanteceu, 86 se sabe que ele a tirou da casa dos pais ¢ foram-se embora. Nao para muito longe, pois os pais dele aceitaram a unio. Jé os pais dela! Hum! Sabe-se 16 0 (que teria feite se os pegassem, imbuidos de raiva pela vergonha causada pela filha. De corto, a espingarda ¢ o cinturdo iriam cantar. Assim, 0 casal acabou indo morar numas tarefas de Zé Cristévao e os filhos dele tarnbém. Antonia mal tinha casado, logo ja se tormara me. Nasceu o primeiro e depois |. _-yeio uma récula de moledues. Comegava a vida sofrida daquela mocinha que pensava em * viver ainda em lua de mel. Como’o destino poderia ter sido téio cruel assim com ela? . . Mas a verdade é que o amor tomou forma no nascimento do primeiro filho do casal, depos do segundo, do terceiro... a brincaddra no sitio, sem energia e sem muitos afazeres a noite, parecia boa, pois ano apés ano nascia um descendente, e os futuros herdeiros néo paravam de chegar. Veio 0 quarto e 0 quinto, junto com os cinco filhos que Zé jé tinha... \gora sim, no sentido mais nobre da palavra: Pobre Antonia, mae de dez filhos. Comp diz 0 escritor: “E agora, José?” E agora que ele teria que trabalhar ‘muito, Seu ¢ebanho crescia, j4 dono de mais terras, apés a ida de seus ilustres pais ao : enconiro com Sio Pedro, Nessa altura do campeonato, Antonia preocupava-se com a educagéc das criangas, ndo queria, que eles passassem necessidade por néio saberem “escraver » nem ler. *A.sgim nio da!” Pensou Antonia. “Como posso deixar esses seis meninos ¢ quatro menines sera uma educagéo, regular? Ah, Zé Cristovio que me perdoe, mas amanh& sei o que faga!” Yao deu outra: no raiar do sol, nos primeiros pingos de leite de vaca, ‘Antonia juniou suas coisas, seu dinheiro escondido embaixo do colchéo, pois apesar de analfabeta, nao era boba. Junfou tudo, os filhos, umas poucas roupas € foi ao ccurral: “Zé, eu 0s meninos vamos morar em Vigosa, ja aluguei uma casa ¢ cles precisam estudar!” A mulher havia enlouquecido, passou na cabega do marido, Hole, mundo modemo, Antonia vive na h devido a uns problemas dé Tree om Seu Velho, jé cansadinhg © com 94 anos, SOTaS aposentadas, ‘& Outto dono de tarefas wesuana esta historia, © a bisneta também, enchem de “iova ¢ mulher ousada, mie batalhn dengo aquela que fo, ora © hoje & anossa amada V6 To Menor Perverso Olavo Bilee ¢: Aoticia de um Sm Condicdes que ainda senor perverso" ensopou en espirits Parece aso triste, - (ou de imprudéncia?) o pibblice o/24 tarde, exausto, banhado 2 anne RePiiblica e conduzide pers uma delegacia 'c0 do caso triste, Pedem quase todos, em - wen Ae “Se castigue esse precoce Bolicial. E os sornais, ase undnime acordo de idele facinora, cujos instin Que se castigue, como? Metendo- Fuzilando-9? 26 Nerificar quanto estamos mal dltiplas necessidades ag assisténcia social, Um it 2 de 20S0:.. Se & verdade que esse ade de que é acusado, 0 neces dever nao ‘ 0s, das suas tendénciag 2 4 2ndo-Ihe uma educacko especial, le? E aqui que surge a dificuldade, e é aqui $2205 Multo adiantados on Matéria de % atrasadissimos em matéria de Verdadeira se hd Soube da vida inti al uma Esco} ima dessa la Correcional, *¥2- SO pensamos nessas a suando um escéngaio, os que ha dentro d ee? > @ p freer e ree PHOHHKHLHLKLHLHLLHKEHLeTAOAAEHEE fereere 7 fros ou indignando-nos. Ent&o, hé uma grita convulsa, um grande espalhafato, um grance dispéndio de artigos pelas folhas e de atividade pela policia; mas, logo F depois, tude volta ae mesmo estado... 2 esperb de novo escandalo, Tive muita Dena da pobre crianca de trés anos, morta no meio de horriveis torturas. Mas tenho também muita pena dessa outra crianga, que uma brincadeira funesta (ou uma inconsciente moléstia moral, perfeitamente curdvel) levou & “pratica de um ato to cruel. Nesse pequeno infeliz, que os jornais consideram um : grande criminoso, hé um homem que se vai perder, por nossa culpa, - porque ndo Ihe podemos dar 0 tratamento que a sta enfermidade requer... Texto extraiae 22 livre: Obra reuniée. Olavo Blac. Editora Nova Aguilar, Rio de Janelro, 1997. p. 737-738. No inicio do livro Jronia e Piedade, que integra Obra Reunida, Olavo Bilac escreve:"Quase todas estas paginas foram publicadas na Gazeta de Noticias do Rio de Janeiro. (..)" (Obra reunida, p. 715) Bibliografia de Olavo Bilac - Olavo Braz Martins dos Guimarses Bilac (1865-1918) é dos fundadores de Academia Brasileira de Letras e o autor de nosso Hino & Bandelra. Foi Jornaliste e peeta. Fundou diversos jornais que duraram pouco tempo. Sempre esteve muito envolvide com politica, chegando a ser perseguido e preso. E um dos principais representantes do Parnasianismo brasileiro, merecendo destaque poesias como Via-Lactea, Profisso de Fé e O cacador de esmeraldas. Bilac escreveu, também, diversas crénicas. Precisou, entratanto, simplificar bastante a linguagem rebuscada que costumava usar em seus posmes « textes em prosa, Texto & TIRANIA DAS PEQUENAS CAUSAS LINDEMBERG MEDEIROS DE ARALLIO— Gedgrafo e Professor ds UFAL Muita gente associa os problemas ambientais unicamente a grandes artefatos humanos ~ rodovias, usinas nucleares, resorts e hidrelétricas, etc. De certa forma, essa associacdo é justificada. Obras de grande porte tendem a ganhar maior Visibilidade na midia. Por isso, influenciam mais a percepgdo das pessoas. De forma andloga, técnicos responsaveis pelos Estudos de Impacto Ambiental (EIA) tem dado maior atengdo as agdes de engenharia que causam impactos de grande magnitude: desmatamentos,, aterros de 4reas Umidas e dragagens de canais e lagunas. Os impactos de menor porte tendem a ser subestimados. 5 Entretanto, recentemente,,aiguns cientistas comecaram a se perguntar sobre 0 /° papel cue acées de pequeno porte tém nos problemas ambientais. Levantaram a hipotese de que agdes de pequena escala, atuantio juntas, poderiam causar grandes simpactos. Tais pecuenas ages, uma vez negligenciadas, constituiriam uma espécie de “caixa preta’, associada ao planejamento ambiental, Deram o nome de ‘tirania das Pequenas causas® 20 efeito sinérgico que tal fendmeno teria no meio ambiente, De forme semelhante, escondidos na multidao que circula pela cidade a cada dia, milhares de andnimos cidadaos deixam suas pegadas pontuais no meio ambiente: sao pontas de cigurro, palitos de picolé, papel de confeito, garrafas descartaveis, latas de refrigerante 2 cerveje langados negligentemente nas ruas, caleadas, estradas, rios, riachos ¢ lagoas. Esses aces individuais levami ao entupimento de galerias pluviais, & proliferagao de insétos vetores de doengas - 0 Aedes aegypti/dengue é um exemplo que todos p conhecem —., @ poluig&o das aguas dos rios, lagoas e mar, com sérias consequéncias Para a satide publica, para a paisagem e para a qualidade do meio ambiente, Portanto, todos nés, pobres ou ricos, anaifabetos ou letrados, temos a nossa parcela de responsabilidade em relac&o a poluig&o ambiental. O que € bom, e esté ao alcance de tocos, 6 que podemos contribuir para melhorar a qualidade ambiental de nossa cidade, adetando pequenas mudangas comportamentais frente a Nossa, Pegada ecoligica, Inegaveimente, grandes obras de engenharia causam os maiores impactos ambientais, ¢ por isso merecem toda a atencao dos érgaos responsaveis © da ‘sociedade civil. As pequenas causas, mais diretamente ligadas a cada umn de nés, merecem atengéo redobrada, pois aprendemos, ao longo dos séculos, a penser unicamente nia nossa comodidade, Agora, precisamos aprender a penser no bem comum de sociedade. Publicace nz Garste de Alagoas, em 27 de janeiro de 2012 Texto 9 GRANDE FIGURA HUMANA Carlos Heitor Cony © unico defeito que um c&o pode ter 6 0 dono, Obra-prima da natureza em matéria de ateto e lealdade, independentemente de racas e climas, 0 co s6 pode ser estragado quando de propésito o estragam. . 0 que vem acontecendo com determinadas experiéncias genéticas que buscam fazer do c4o uma arma, mais de exibico do que de guarda L =o Em principio, qualquer cio, mesmo os pequeninos que, até certo ponto, jetos de adorno, espantam bandidos e evitam assaltos, E curiosa a: * psicologia de criminoso: ele ndo teme a metralhadora do policial, a arma do dono da: casa. Mas quando se depara com um cdo, treme nos alicerces. Nao dé para entender, Jai a inutilidade de criar caes especificamente para guarda. £ um desperdicin da natureza. If crime maior € crié-lo, geneticamente ou experimentalmente, para ataque. : Nao sei no, mas acredito ue a humanidade seré mais feliz no dia em que cada lar, cada familia, tiver um cdo perto. . Sle ipipoe uma totina de servidao e alerta, uma solidatiedade cuja unica ~ Feconipensa ¢ saber que alguém nos ama, sejamos bons ou inaus, dignos ou indignos, Na outra ponta da corda, nada mais esttipido do que criar ou ensinar esses animais a serem sanguinérios. Evidente que eles aprendem, como qualquer homem : aprence o que nao presta, E mais facil ensinar o vicio do que a virtude - esse conceito banal ¢ antigo, veio dos gregos anteriores a Socrates, ; Com licenca de um ex-ministro que classificou sua.cadela de grande figura humane, o episédio da viralata que salvou uma crianga da firia de um cao * corrompido pelo dono deve envergonhar a todos nés, que nos fulgamos reis da criacao, * Grande vantagem ser ref da crueldade ¢ da destruicio em prol da ganancia ¢ da ostentacio, ‘Um cao, em sew estado natural, é bem melhor do que qualquer ser humano, Fle Sabe que o milagre biologico da vida s6 tem sentido quando as condigdes que o favem viver tém um compromisso maior do que a vida, que é 0 amor. Folha de Sito Paulo, 09/03/1999. Texto 50 ‘UM PE DE MiLHO Rubem Braga " Cs dmericanos, através do radar, entraram em contato com a Lua, o gue nao deixa de ser emocionante. Mas o fato mais importante da semana aconteceu com o meu pé de milho. Aconteceu que no men quintal, em um monte de terra trazido pelo Jardineiro, nasceu alguma coisa que podia ser um pé de capim — mas descobri que era um pé de milho. Transplantei-o para o exiguo canteiro na frente da casa Secaram as pequenas folhas, pensei que fosse morrer. Mas ele reagiu. Quando estava do tamanho de um palmo, veio um amigo e declarou desdenhosamente que na verdade aquilo era capim. Quando estava com dois palmos, veio outro amigo e afirmou que era cana. Sou um ignorante, um pobre homem de cidade. Mas eu tinha razio. Ele cresceu, esti. com dois metros, langa suas folhas além do muro — e um espléncido pé de milho. Jé viu o leitor um pé de milho? Eu nunca tinha visto. Tinha visto centenas de milharais — mas é diferente. Um pé de milho sozinho, em um canteiro, espremido, junto do porto numa esquina de rua — ndo é um numero numa lavoura, € um ser vivo e independente. Suas raizes roxas se agarram no chao e suas folhas longas e verdes nunca esto iméveis. Detesto comparagées Surrealistas ~ mas na gloria do seu crescimento, tal como o vi numa noite de luar, © pé de mitho parecia um cavalo empinado, as crinas ao vento — e em outra madrugade parecia um galo cantando. Anteontem aconteceu o que era inevitavel, mas que nos encantou como se fosse, inesperado: meu pé de milho pendoou. Ha muitas flores belas no mundo, ea flor de milho no ser a mais linda. Mas aquele pendao firme, vertical, beijedo pelo vento do mar, veio enriquecer nosso canteirinho vulgar com uma forga e uma alegria que fazem bem. _E alguma coisa de vivo que se afirma com impeto e certeza. Meu pé de milho é um belo gesto da terra. Eeu ndo sou mais um mediocre homem que vive atrés de uma maquina de escrever: sou um rico lavrador da Rua Julio de Castilhos. Texto 11 MILA -Carlos Heitor Cony Era pouco maior do que minha mao: por Isso eu precisei das duas para seguré-la, 13 anos atrds. E, como eu néo tinha muito jelto, encostei-a ao pelto para que ela no.caisse, simples apoio nessa primeira vez. Gostei desse calor e acredito que ela também. Dias depois, quando abriu os olhinhos, olhou-me fundamente: escolheu-me para dono. Pior: me aceitou. e “wes wuriinimos Muitas noites junky & patina dela em cima do meu ombro. Tinha medo de vento. O que fazer cont vento? : endo-a ao meu lado, eu perdi o medo do mundo e do vento. E ela'teve uma ninhade de nove filhotes, escolhi uma de suas filhinhas e nossa dupla ficou Gla agers nade Passamos a ser trés. E passedvamos pela Lagse, Gon idade ela adquiriy 'fumos fidalgos'; como o Dom Casmurro, de Machado de Assis, Era uma /ady, uma rainha de Saba i siiditos imagindrios, No evade, olhando-me nos olhos, com seus olhinhos cor de mel, bonita crn nunca, mais que amada de todas, deixou que eu a beijasse chorando, Talvez tz teria compreendido. Bem maior do que minha mBo, bars Mmalor do que o meu Peito, ievei-a até o fim. Eu me considerava um profissional decente. A\ NguvEsSE © gue houvesse, procurava cumprir o dever dentro an minhas limitagdes. N&o foi possivel chegar ao gabinete onde, quietinha, deltade © meus pés, esperava que eu acabasse a crénica para ficar com ela, té semana passada, At 0 siltimo momento, olhou para mim, me escolhendo e me aceltando, chvete, em meus bracos, apoiada em meu peito. Aperteice cove forca, sabendo que la seri maior do que a saudade. 2 texto acima foi publicado no jomel "Falha de S80 Paulo" ,edigso de 04-06-1955, ’ Texto 12 OS BURACOS DA viDA Josias de Souza BRASILIA ~ 4 vide no passa de uma rela existéncia. Sabemo-nos vives quando, conforte uterina. Joven: Velhos, i ndo passamos a lin! apodrecer nura buraco, Assit, 0 bem-estar do homem est lidar com buracos de todo o tipo: de crateras abissale, come o abismo de conheciment>, a pequenos orificios, comoa eérie de um dente, Ne guerre cotidiana contra os orifcios da vida, © menor descuido pode custar caro, ‘Anos atrés, por exemplo, Fernando Henrique Cardoso teve um desses inevitaveis embates do homem com seus buracos. Deu-se em Ibitna, onde possui ume elegante casa de praia. Bem equlpada, a casa tem adega no susolo, com um aleapao ‘ue dé para o quintal, vor kempo, a madeira do algapfo apodreceu. £ Farnando Henrique, inadvertidaments, pisou sobre ela, des} rca de dois metros. Foi , despencando num buraco de cei onto que garhou uma dor nas costas que, nos instantes de malor tenso, rouba-the a paz, A despeito da experigncia, Femando Henrique estd prestes a eat nary novo buraco. residente e a aco do governo, Uma fenda enorme, bem 's40 conflituosa do homem com os buracos de sua expelidos pelo buraco materno, somos arrancados do td diretamente relacionado & sua capacidadie de que separa 2 ignoréncia > 2000 OOOOH LO HOLE HOCHH OHO LELELO OOO LO LEED u ‘mais profunda que a paz de metros que o obrigou a abandonar a satide de sua coluna vertebral no chéo frio da adega de Ibitina. Nes laboratérios académicos de,sociologia, Fernando Henrique formulava solucSes de proveta para o pais, Na cadeira de presidente, ndo consegue implementar as préprias, *férmulas. . 7 Por sorte, ainda dispde de tempo. No alcapao de Ibidna, pds uma tampa de ferro. Para tapar o buraco metaférico que 0 ameaca agora pfecisaré de muito mais. Terd de ser menos intelectual e mals presidente. Do contrério, provocaré um tipo de avaria que no se resolve com rassagem e fisioterapia. Mancharé sua to prezada biografia. Publicado na Folha de Séo Paulo, em 03 de abril de 1998. ‘Texto 13 CRONICA DA LOUCURA. *Luis Fernando Verissimo 0 'melhor da teraia ¢ ficar observando os meus colegas loucos. Existem dois tipos de loucos. © Jouve propriamente dito © 9 que cuida do louco: o analista, 0 terapeuta, o psicblogo e o psiquiatra Sim, somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou sete outros loucos todos os dias, meses, anos. Se no era louco, ficou. Durante quarente anes, passei longe deles. Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas Joucuras acumuledas. Contfesso, como louco confess, que estou adorando estar louco semanal melhor da terapia ¢ chegar antes, alguns minutos e ficar observando 0$ meus colegas loucos na sala de espera, Onde fago a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas. Portanto, a sala de espera sernpre tem trés ou quatro ali, ansiosos, pensando na loucura que vdo dizer da li a pouco, ‘Ninguém olha para ninguém. O silencio é uma loucura E eu, como escritor, adoro observar pessoas, imaginar os nomes, a profissid, quantos filhos tém, se s80 rotarianos ou leoninos, corintianos ou palmeirenses Acho que todo eseritor gosta desse brinquedo, no minimo, criativo. E a sala de espera de um *consultério médico’, como diz a atendente absolutamente normal (apenas uma pessoa normal 1é tanto Paulo Coelho como ela), é um prato cheio para um louco escritor como eu. Sendo, vejamos. Na idtima quarta-feira, estévamos: 1Eu 2: Um crioulinhio maito bem vestido, 3. Um senhor de uns cinquenta anos ¢ 4, Uma velha gorda Comecei, ¢ claro, imediatamente a imaginar qual seria 0 problema de cada um deles. Nao foi dificil, porque et jé parte do principio que todos eram loucos, como eu. Sendo, néo estariam ali, 120 eabisbaixes e ensimesmados. . ‘@)Opretinho, pox exemplo, Claro que a cor, num pafs racista gorno o nosso, deve ter contribuido ‘muito para leva-fo até aquela poltrona de.vime. Deve gostar de uma branca, ¢ os pais dela no provam o namoro endo consegniu: entrar como sécio do "Harmonia do Samba"? Notei que o ténis estava um pouco velho Probleme de ascensdo sociel, com certeza. O olhar dele era triste, cansado, Comecei a ficar com. pena dele. Depoit notei que ele trazia uma mala. Podia ser o corpo da namorada esquartejada 1é dentrs, Taivez apenas a cabera. Devia ser um assassino, ou suicida, no minimo. Podia ter também uma arma Ié dentro, Podia ser perigpso. Afastei-me um pouco dele no sof. Ble dava olhadas furtivas Bera dentro da mala assassina. (3) Eosenhor de temo preto, gravata, meias e sapatos também pretos? Como ele estava softendo, coitado, Ble disfergava, mas notei que e tinha um pequeno tique no olho esquerdo. Como, na certa. E ‘manso, Como manso sempre tem tiques, J4 notaram? Observo as mos. Rofa as unhas, Inseguranga Tnorar num flat, pagar caro, devia ter dividas i ‘0. Ninguém beijeria um homem com um bigode daqueles, Tingido: macarronad dele ha dezenas e dezenas Ge Gomingos. Tsnha cara também de quem mentia para o analista, Minha mae rezaria uma Salve- Rainha por ela, se a conhecesse. Acabou e meu tempo; Tenho "Viagem" na sala de espera Ele ri, ‘que it conversar com o meu psicanalista. Conto para ele a minha ri muito, o meu psicanalista, e diz: ~ 0 Ditinho ¢ 0 20880 office-boy. 1 passa a0 bro ¢repesentante de um laboratirio mulinacional de remédios Ino irangs'e Passa aqui uma vez por més com as novidades r + Eagordinha é a Dona Dirce, a minha mae = E voce, nfo vai ter alta tio cedo..." ‘i -A raga superior - veleyr carasco moida. Estava eem empregada. Durante um més, comida ¢ saia para trabelher. Ao volt Geanil C8 dedos. Eu me sentia no ciimulo da fellidade sf de reccberotec lambidinhas! Soja dite a verdade: quem era dono de quem? | Seca Gestée aroresa? Quando gosta de alguém, 0 co abana o rabo. Péde ‘ser um ether bee oestou, @danoU. Quando esta a fim, deita-se de patas pars cima'e tanga um clhar bem pedincho. Nem o coracda mals duro resiste a der cernioe, cogar as orelhas, fazer UBS #lages. Eu, néo. Nunca me deitei de barriga para cima para flees me Gferecando. Vontade no faltou, mas 2 2 coragem? Nés, seres humanos, usamo Perfumes, om cabelsireros, am dermatologistas. Vamos a happy hours, jantares, fesias, bBarzinhos da mcda, entramos em chats da internet, co Le = e © © + © © . - © - © = + o o © e S + = & = = + +e = = - * = - - o- - - = 13 (se aiguém fa festa para todo mundo que conhece, rebolando como.um céozinho, vem o veredicto: '~ tht Est4 com caréncia afetiva, ‘Toca a procurar terepeuta. Horas ¢ horas destinadas a analiser e pura vontade de buscar amor! Revistas dedicam quilémetros de papel a praticas de seducdo. Como olhar de lado, come sarrir, como se oferecer sem dar na vista. Mais: como ter coragem de expressar os sentimentos. Cachorro, nao. Abana o rabo e pronto. Muitas vezes, com cidme, jé tive vontade de morder aiguém. Ao contrério, sorri simpaticamente enquanto o sangue fervia. Ces néo possuem esse tipo de constrangimento. Atiram-se em cima do rival. Mordem @ méo de quem acaricia. Até conseguir seu quinhéo de afeto. Mas também néo guardam raiva. Depois de Fosnarem um pera 0 outro, dois c&es saem pulando e brincando juntos. Que espécie sabe lidar inelhor com as proprias emogdes? ‘A.questéo ca pele também & importante, Criamos industrias do vestuério porque ndo estamos Satisfeitos com 2 propria pele, e inventamos estratagemas para cobri-a. Boa parte da humenidade s2 dedica a fabricar tecidos, a inventar e a vender roupas. Qualquer pessoa ambiciona se vestir bem. Fortunas s&o despendidas em novos guarda-roupes. A moda vira, toca a gastar tdo outra vez. Cachorro, no. Nasoe vestido. Imagine-se quanto delirio, quanta m&o-de-obre seria évitada se o ser humano tivesse @ mesma tranqallidade a respeito da propria eparéncie, Chegamos ao X da questo, Griamos fllosofias, escrevemos livros. Hé quem faga ioga, meditago. Tudo para aprender a aceitar 0 fardo da existéncia. O cdo jé nasce aceitando. A Vida € e no 6, deve pensar 0 co, com a sabedoria de um mestre zen. E 0 que constato todo dia, ao chegar em casa exausto do trabalho, de mau humor com o chefe, com a fatura do Cartéo de crédito préstes a me degolar, o cheque especial batendo as folhas em torno de hinhas oreihas como uma ave de rapina. Sento na varanda e meu cachorro se aproxima. Sem Nenhuma preocupacdo na vida. Deita-se aos meus pés e prepara-se para receber sua dose Cotidiane de cerinho. Eu me submeto. Raga superior 6 isso al. Revista: Veja, 12 de dezembro de 2001. Texto 15, ' Simplicidade ‘ Luiz Fernando Verissimo Quando tinha 14 anos, esperava ter uma namorada algum dia. Quando tinha 16 anos tive uma narnorada, mas ndo tinha paixio. Entio percebi que precisava de uma mulher apaixonada, com vontade de viver. Na faculdade sai com uma mulher apaixonada, mas era emocional demais. Tudo era térrivel, era a rainha dos problemas, chorava o tempo todo ¢ ameacava de se suicidar. Descobri que precisava uma mulher estavel. Quando tinha 25 encontrei uma mulher bem estavel, mas chata. Era totalmente previsivel e hnunca nada a excitava, A vida tomou-se tio monétona que decidi que precisava de uma mulher mais excitante. Aos 28 encontrei uma mulher excitante, mas n&o consegui acompanthé-la. Ia de um lado para o outro sem se deter em lugar nenhum. Fazia coisas impetuosas, paquerava com qualquer um e que me fez sentir tio miserével quanto feliz. ‘No comego foi divertido e eletrizante, mas sem futuro. Decidi buscar uma mulher com alguma ambig20. Quando cheguei nos 31, encontrei uma mulher inteligente, ambiciosa € com os pés no cho. Casei com ela, Era tio ambiciosa que pediu o divércio e ficou com tudo 0 que eu tinha. Hoje, com 40 anos, gosto de mulheres com bunda grande... E 86! Nada como a simplicidade. Texto 1 _ PARABOLAS ~ Lig&o de Ciéncias Um professor de Ciéncias Naturais deum colégio queria demonstrat um conceito a seus alunos. Ento, pegou um vaso de boca large © colocou algumas pedras dentro dele. EntZo, perguntou professor & classe: Esté cheio? Unanimemente, os alunos responderam: 2 SeeeSiniees ig : © professor entio pegou um balde de pedregulhos ¢ virou dentro do vaso. Os pequenos pedregulhos'se alojaram nos espacos entre as rochas grandes. EntZo, o professor perguntou aos alunos: ~ __E.agora, esté cheio? Desta vez, alguns estavam hesitantes, mas @ maioria respondeu: - > Sim! © professor entio levou uma lata cheis de areia e comegou a decrama-la dentro do vaso. A areia preencheu os espagos entre os pedregulhos. Pela terceira vez, 0 professor perguntou: - __ Entio, esta cheio? . Agora, 2 maioria dos alunos estava receosa, mas novamente muitos responderam: - Sim! © professor entio mandou buscar um jarro de gua e jogou-a dentro do vaso. A agua saturou a areia, Neste ponto, 0 professor perguntou a classe: ~___Além do aspecto fisico, podemos tirar uma ligo de vida dessa demonstragao? Jovem e brilhante aluno levantou a mao e respondeu: ~ Sim. Nio importa 0 quanto a “agenda” da vida de alguém esteje cheia, sempre se conseguiré “espremer” dentro dela muito mais coisas! Tudo bem. Pode-se interpretar assim. Mas ha uma outra forma de compreender essa li¢o, que é a seguinte Se vocé nfo colocar as pedras grandes em primeiro lugar no interior do vaso, nunca mais conseguiré colocé-las lé dentro, As pedras grandes so as coisas mais importantes de sua vida: formar am bom relacionamento com Deus ‘¢ com a Natureza; achar um sentido para a vida, prezar sua familia e seus amigos, buscar seu Grescimento pessoal ¢ profissional, manter 0 compromisso: de solideriedade com seus semelhantes. Por outro lado, se vocé preencher sia vida somente com questies pequenas, preocupando-se apenas com as coisas imediatas ¢ corriqueiras, a exemplo do que foi demonstrado com os petiregulhos, a areia © a égua, as grandes pedras, ou seja, as coisas-realmente ‘mportantes da nossa existéncia nfo encontraro tempo nem espago om sua vida PARABOLA DO FILHO PRODIGO Jm Homem tina dois filhos. Disse 0 mais novo deles ao pai: Pai di-me 0 quinhdo dos bens que me toca, Ao que ele thes repartiu os bens”. Passados poucos dias, 0 filho mais mogo juntou tudo e partiu para wma terra 'longingua. Ai esbanjou a sua fortuna numa vida dissoluta. Depois ile tudo dissipado, sobreveio uma grande fome aquele pais; ¢ ele ‘comecon w sofrer necessidade. Retirounse entdo e pés-se ao servico de un dos cidaddos daquéla terra. Este o mandou para os seus campos guardar os porous, Ansiava ele por encher 0 estémago com as vagens que os porcos comiam, mas ninguém thas dava, Fido entrou em si e disse: Quantos trabalhadores, em casa de ‘meu pai, 12m po em abundancia, e eu aqui morro de fome. Levantar-me- ei ¢ irei ter com meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; §é ny sou digno de ser chamado teu filho; trata-me tdo-somente como un dos 12us trabathadores. Levantoii-se, pois, e foi em busca de seu pai. ¢ O pai avistou-o de longe, e, movido de compaixao, correu-lhe ao encontre, lancou- se -lhe aa pescoco e beijou-o. Disse-lhe 0 filho: Pai, pequeicontra o\céu e diante de ti; jé ndo sou digno de ser'chamado teu filiio..O pai, porém, ordenou a seus servos: Depressa, trazei a melhor veste e’vesti-lha; ponde-lhe um anel no dedo e calgado nos pés. Buscai também o novilho gordo e carneai-o. Comamos e celebremos um festim; porque este meu filho estava morto, e ressuscitou; andava perdido, e foi encontrado, E comegaram a celebrar um festim. Entrementes, estava o filho mais velho no campo. Quando voltou e se aproximou da casa, owviu miisice: ¢ dangas. Chamou um dos criados e perguntou-the 0 que era uquito. Respondeu-lhe ele: Chegou teu irmdo, e teu pai mandou carnear © novilho gordo; porque o recebeu sio e salvo. Indignow-se ele e nao quis entrar. Saiu entdo 0 pai e procurou persuadi-lo. Ele, porém, respordeu uo pai: Hd tantos anos que te sirvo, e nunca transgredi nenhum mandamento teu; e nunca me deste um cabrito para eu me hanquetear cam meus amigos. Mas, logo que chegou esse teu filho, que dissipex teus bens com meretrizes, Ihe mandou carnear 0 noviiho gordo. Meu filho — tornou-the 0 pai -, tu estés sempre comigo, tude que & meu é tew, “Mas nito podiamos deixar de celebrar um festim « alegrar-nos; porque este teu irmao estava morto e reviveu; andava perdido e foi encontrado”. (Le. 15,11-32) *PePeereTeerereeeeeePeeePeeeeeetee Ve eeeeeeeeeeeeeneoeoeeeae Texto 3 Parabola da Convivéncia Ha milhdes de anos, durante uma era glacial quando parte de nosso planeta < esteve coberto por grandes camadas de gelo, muitos animais, nfo resistiran ao frio intenso e morreram, indefesos, por ndo se adaptarem as condigoes, ” Foi, entdo, que uma grande quantidade de porcos-espinho, numa tentatieg de *¢ proteger e sobreviver, comecaram a se unir, juntar-se mais e mais. Assim, cada um podia sentir 0 calor do corpo do outro. E todos fuintos, bem unidos, agasalhavam uns aogoutros, aqueciam-se mutuamente,enfrentando Por mais tempo aquele frio rigoroso. : Porém, vida ingrata, os espinhos de cada um comecaram a ferir os : companheiros mais préximos, justamente aqueles que Ihes forneciam mais calor, aquele calor vital, questo de vida ou morte, E afastaram-se, feridos, magoacion, sofridos. Dispersaram-se, por nao suportarem mais tempo os j espinthos dos seus semelhantes. Dofam muito... Mas essa nao foi a melhor solucao! Afastados, separados, logo comecaram a morrer de ‘tio, congelados. Os que nao morreram voltaram a'se aproximar Pouce 2 Poaco, com jeito, com cuidado, de tal forme que, unidos, cada qual conservava uma certa distancia do outro, minima, mas 0 suficiente para conviver sem magoar, Sem causar danos e dores uns nos outros, Assim, suportaram.-se, resistindo a longa era glacial. Sobreviveram. Texto 4 O IDIOTA E A MOEDA Sonte-se que numa cidade do interior um grupo de pessoas se divertia com 9 Idiota da aldeia. 3m Pobre coitado, de pouca inteligéncia, vivia de pequenos biscates € esmoias. 7 : Diarlamente eles chamavam o Idiota ao bar onde se reuniam e cfereciam a ele 2 escola entre duas moedas: uma grande de 400 REIS outra, menor, de 2000 REIS. : : Ele sempre-escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de : iso para todos. I Soft cia, um dos membros de grupé chamou-o e Ihe perguntou sé ainda nao havia percebido que a moeda maior Valia menos, Eu sei", respondeu 0 tolo. "Ela vale cinco vezes menos, mas no dia aeede ssconer @ outra, a brincadeira acaba e no vou mais genhar minha: moeda," a Poder-se tirar varias conclusdes desta pequena narrativa, A primetra: Quem parecd idiota nem sempre é, ‘ , A segunda: Quais eram os verdadeiros idiotas da histéria? reeira : Se vocé for ganancioso, acaba estragando sua fonte de renda Mas a conclusdo mais interessante é: podemos estar bem, mesmo auanco os outros ngo tém uma boa opinio a nosso. respeito. portanto, © que importa nBo é 0 que pensam,de nés, mas, sim, 0 que realmente somos, AO maior prazer de um homem inteligente é armar-se em idiota dlante de um idiota que se arma em inteligente”. Texto,5 A Lig&o da Borboleta Um homem, certo dia, viu surgir uma pequena abertura num casulo, Sentou-se perto * do local onde © casulo se apolava ¢ ficou a observar o que iria acontecer, como é que amassadas. + © hhomem continuo a observé-la porque esperava que, a qualquer momento, as asas dela se abrissem ¢ se estendessem para serem capazes de suportaro corpo que iria Se firmar a tempo, Nada aconteceu! Na verdade a borboleta passou recente ue sua vida rastsjando com um corpo murcho e asas encolhidas. Nunca fol capaz de voar. O.aue © homem em sua gentileza e vontade de ajudar néo compreendia era que o Sesulo aperiaco e o esforeo necesséirio a borboleta para passar através de Pequena iguimas vezes 0 esforgo ¢ Justamente aquilo de que precisamos em nossa vida, Se Deus nos permitisse passar através da existéncia sem quaisquer obstéculos, Ele nos Femgsnarla a uma vida atrofiada. Nao irlamos'ser to fortes como poderiames ter eo. Nunca poderiamos algar véo. VUVELELEDELEVUVEVEDEUUUUUUUESOSSY Texto 1 O Camundongo da Cidade e o do Campo "Um camundongo que morava ng cidade foi, uma vez, visitar um primo que vivia no campo. Este era um pouco arrogaiite e espevitado, mas queria muito berh ao primo, de ‘maneira que 0 recebeu com muita satisfago, Ofereceu-Ihe o que tinha de melhor: feijdo, toucinho, pao ¢ queijo. O camundongo da cidade torceu o nariz e disse: - Nao posso entender, primo, como vocé consegue viver com estes pobres alimentos. Naturalmente, aqui no campo, ¢ dificil obter coisa melhor. Venha comigo ¢ eu Ihe mostrarei como se vive na cidade. Depois que passar ld uma semana, vocé ficard admirado de ter suportado a vida no campo. Os dois puseram-se, entio, a caminho, Tarde da noite, chegaram a casa do camundongo da cidade, ~ Certamente voeé gostaré de tomar um refresco, apés esta caminhada. Disse 0 ele 0 camundongo da cidade polidamente ao primo e 0 conduziu-co A sala de jantar, onde encontraram os restos de uma grande festa. Puseram-se a comer geléias-e bolos deliciosos, De repente, ouviram rosnados ¢ latidos. - O que é isto? Perguntou, assustado, o camundongo do campo. - Sdo, simplesmente, os cies da casa, respondeu o.da cidade. - Simplesmente? Nao gosto desta mésica, durante o meu jantar. ‘Neste momento, a porta se abriu e apareceram dois enormes ces. Os camundongos tiveram que fugir a toda pressa, ~ Adeus, primo, disse o camundongo do campo. Vou voltar para minha casa no campo. - Ja vai tio cedo? Perguntou o da cidade. - Sim, jé vou e no pretendo voltar, concluiu o primeiro.” Moral da Histéria: Mais vale 0 pouco certo, que 0 muito duvidoso. A Raposa e a Cegonha "A raposa e a cegonha mantinham boas relagBes e pareciam ser amigas sinceras, Certo dia, a raposa convidou a cegonha para jantar e, por brincadeira, botou na mesa apenas um prato aso contendo um pouco de sopa. Para ela, foi tudo muito ficil, mas a cegonha pode apenas molhar a ponta do bico e saiu dali com muita fome. - Sinto muito, disse a raposa, parece que vocé niio gostou da sopa. = Nao pense nisso, respondeu a cegonha. Espero que, em retribuigao a esta visita, voce venha em breve jantar comigo. No dia seguinte, a raposa foi pagar a visita. Quando sentaram a mesa, 0 que havia para 0 Jantar estava contido num jarro alto, de pescogo comprido e boca estreita, no qual a raposa, 1ndo podia introcuzir o focinho. Tudo o que ela conseguiu foi lamber a parte extema do jarro. ' - Nao pedirei desculpas pelo jantar, disse a cegonha, assim voo8 sente no proprio estomago © que senti ontem . (Quem com ferro fere, com ferro seré ferido) 19 A Lebre e a Tartaruga A lebre estava se vangloriando de sua rapidez, perante os outros animais: = Nunca perco de ninguém. Desafio a todos aqui a tomarem parte numa corrida comigo. ~ Aceito o desafio! Disse a tartaruga calmamente. ; Isto parece brincadeira. Poderei dangar a sua volta, por todo 0 caminho, respondeu a lebre ~ Guarde sua presungdio até ver quem ganha, recomendou a tartaruga. A um sinal dado pelos outros animais, as duas partiram. A lebre saiu a toda velocidade. Mais adiante, para demonstrar seu desprezo pela rival, deitou-se e tirou uma soneca. ; A tartaruga continaou avangando, com muita perseveranga, Quando a lebre acordou, * viu-a j8 pertinho do ponto final e nflo teve tempo de correr, para chegar primeiro. Moral: Com perseveranca, uido se alcanca, / Devagar e sempre, se vai ao longe. Texto 4 $ - A Galinha Reivindicativa (ou The Hen’s Liberation) { Millor Femandes Um certo dia de data incerta, um galo velho ¢ uma galinha nova encontraram-se no fundo do quintal e; entre uma bicada e outra, trocaram impress6es sobre como o mundo estava mudado. O galo, porém, fez questo de frisar que sempre vivera bem, .tivera muitas galinhas em sua vida sentimental e agora, velho e cansado, esperava _calmamente o fimn dos seus dias. = Ainds bem que vood esti satisfeito — disse a galinha—e tem razio de estar, pois ¢ galo, Mas eu, galinha, femea da espécie, posso estar satisfeita? Nao posso. Todo dia por vos, todo semestre chocar ovos, criar pintos, isso é vida? Mas agora, a coisa vai mudar, Pode estar certo de que vou levar uma vida de galo, livre e feliz. HA ja seis meses que aio choco e ha uma semana que ponho ovo. A patroa se quiser que arranje outra para esses oficios. Comigo, nfo, volo! (O velho galo ia ponderar filosoficamente que galo ¢ galo e galinha ¢ galinha e que cada ser tent sua fungdo especifica na vida, quando a cozinheira, sorrateiramente, Passou 2 m&o no pescogo da doidivanas e saiu com ela espemeando, dizendo bem alto: “A patros tem razo: galinha que nfio choca nem pe ovo s6 serve mesmo é pra panela”. Moral: Urn trabatho por jomada mantém a faca afastada Do livro: Fabulas Fabulosas, de Millor Fernandes. EULELELIDIIIT SSHSHSELEHSELLLLOELELELELEEELELELLELELE ARTIGOS DE OPINIAG Texto 1 Gre mesmo 6 “ficar” Ne maior parte das vezes, ‘fi ue proporcicna tantas ‘descobertas* q) Pelo contrarie, sempre se tomam em momentos agradaveis vivenciados pelos dois, © descompromisso que a palavra “fear mantém, torna 0 relacionamento entre duas pessoas mais instavel e, Portanto, longe dos conflitos e da monotonia de. um relacionamento mais a sério, © prazer inesperado, a descoberia e o descom, promisso fazem com que a melhor maneira de se relacionar com alguém apenas “ficando* (Redecéo de Vestibular — autor desconhecido) Texto 2 Ficar e namorar estao em alta No clima envolvente das festas n . Stuzado antes, terminar lotumas, pessoas que nunca haviem se Ou em lugares propicios a uma maior usarem @ consciéncia preservativa, Diante am a noite em motéis intimidece ser, na maioria dos casos, 21 ‘dessa situaco, existem duas possibilidades bastante reais: uma 6 a da gravidez F imprevista ¢ multas vezes precocé, e a outra é a da disseminagao de doencas sexualmente transmissiveis, 2s quais, entre elas, pode estar 4 AIDS. De acordo com as estatisticas, é crescente 0 ntimero de jovens gravides € -de pessoas contaminadas por-essas doengas, tendo que conviver com isso para © resto da vida, e pensando como seria o hoje se a decisdo tomada no ontem tivesse sido mais bem pensada. Diferente de um simples “ficar’, 0 namoro gera entre © casal uma maior responsabilidade nas atitudes a serem tomadas; as conseqléncias podem ser posttivas, como © surgimento de um novo lago familiar, em que o respelto seré.o condutor da unio, além da estabilidade emocional que as pessoas desenvolvem. Por isso, é importante haver o resgate dos costumes tradicionais, tendo como ordem correta e desejével 0 conhecimento através da apresentacao normal entre 2 pessoas. Das afinidades surgiré o namoro, e por fim a chegada da deciséo do que sera melhor para os que estéo envolvidos. Redagéo de Vestibular ~ autor desconhecido) be “Texto 4 . OS COITADINHOS ‘Clovis Rossi _ SAO PAULO - Anestesiada ¢ derrotada, a sociedade nem esta percebendo a enorme inversdo de valores em curso. Parece aceitar como normal que um grupo de crimtinosos estenda faixas pela cidade ¢ nelas fale de paz. . Que paz? Nao foram esses'mesmos adoréveis senhores que decapitaram on mandaram * decapitar seus proprios compankeiros te comunidade durante as recentes rebelides? 2S sociedade.ouve em siléncio o juz titular da Vara de Execugdes Penais, Otévio Augusto Barros Filho, dizer que no vai resolver nada a transferéndia ¢ isolamento dos lideres do PCC (Primeiro Comando da Capital ‘ou Partido do Crime). Digamos que nil resolva. Qual é a alternativa oferecida pelo juiz? Liberté-los todos? Devolve-los aos presidios dos quais gerenciam livremente seus negécios ¢ determinam quem deve viver ¢ quem deve morrer? "Vamos, por uum momento que seja, cair na real: os presos, por mais hediondos que tenham = sido seus crimes, merecem, sim, tratamento digno ¢ humano. Mas néo merecem um +» mmicrograma que seia de privilégios, entre eles 0 de determinar onde cada um deles fica preso. ‘Ha um coro, embora surdo, que tenta retratar criminosos como ‘coitadinhos, vitimas do sistema, Calms 14. Coitadinhos ¢ vitimas do sistema, aqui, séo os milhées de brasileiros que sobrevivem cot salérios obscenamente baixos (ou sem salério algum) e, nao obstante, ‘mantém-se teimosamente honestos. —, Coitadinhos ¢ vitimas de um sistema ineficiente, aqui, so os parentes dos abatidos pela violénei2, condenados a priséo perpétua que é a dor pela perda de algném querido, ao passo que.o criminoso nfo fica mais que 30 anos na cadeia, + "" Parafraseando Millér Femandeé: ou restaure-se a dignidade para todos, principalmente para os coitadinhos e verdade, ou nos rendamos de uma vez Crime Incorporation. Fotha de Sdo Paulo, 25/02/01 Texto 5 PENA DE MORTE: A Favor ou Contra? ‘Com a atual escalada da violéncia no mundo e também has nossas cidades, a pena de morte volta a ser discutida, o que nos obriga a tomar um posicionamento firme eeeereedeer2e22e2e22 0202022092028 %8% eeaesdess® Os que defendem a pena de morte argumentam que para aqueles criminosos considerados irrecuperiveis no h4 outra safda, pois nfo seriam-justos os! ‘gastos que 9 Estado despenderia para manté-los dentro do nosso sistema carcerério, Ha também aqueles que « defendem como medida repressiva da criminalidade e, finalmente, hA aqueles que afirmam ser a peng de morte uma questo fundémentada na risto, desprezando, assim, qualquer argumento de ordem emocional ou religiosa. Fe ‘A despeito de parecerem justos os argumentos acima, uma reflexio mais” aprofundade se fax necesséria, pois a questiio nfo pode ser encarada de uma maneira to simplista assim. Primeiramente, fica ‘muito dificil definir 0 que 6 um “criminoso irrecuperivel”, quando temos uma sociedade tao preconceituosa ¢ injusta que, por si $6, Produtora ¢ reprodutore da violencia, em que os recursos dignificadores e reabilitadores do homem so corrompidos ¢ manipulados pela politicagem e pelo poder econémico, levando-nos a prever, indubitavelmente, que “imecuperiveis” sero sempre aqueles que? so desfavorecidos e oprimidos pela prépria condigao social. " For outro lado, mesmo considerando a aplicagdo da pena de morte’ como” medide repressiva, deparamo-nos com os exemplos dados pelos pafses que ja a adotam oficialmente, onde a criminalidade, em ‘vez de diminuir, assume, cada vez mais Proporcdes assustadoras, como é 0 caso de dos Estados Unidos da América. Conciuimos, finalmente, que um crime no corrige outro. A violéncia néo pode ser combatida com medidas igualmente violentas e desumanas, pois a lei nfio deve ser aplicada para tirar, institucionalmente, a vida das pessoas, O ser humano ¢ a Sociedade devem fazer um esforgo para encontrar medidas contra a criminalidade que nos tomem miais evoluidos humanamente, buscando, corajosamente, as verdadeiras ; causas dos comportamentos considerados perniciosos 4 sociedade, a fim de que ossamos legar ds futuras gerag6es um exemplo de esforgo substancial para a desejada netesséria evolugdo ética dos grupos sociais, na perspectiva de’ sua crescente humanizagao. Texto 6 Formagao académica e cientifica Roberta Cajusiro* seek ‘A producdo cientifica 6 de fundamental importéncia para a formagao académiéa ‘Sem duvide iste j4 8 de conhecimento de todos e faz parte da exigéncia curricular que : disciplinas oferegam o suporte necessério para que o aluno desenvolva tal hablidade. Para 2 que Se posse produzir ciéncia 6 necessario que se pense cientificamente durante p processo académico @ qus as discipiinas da grade curricular estimulem a pesquisa e a curiosidade Os. Professors tr: a responsabilidade de desafiar os alunos para a busca de respostas as quest6es cientificas, 2 que se tem observado atuaimente 6 que as chamadas “pesquisas académicas” néo S40 bem PESQUISAS. Os alunos estab acostumados, gracas aos recursos da informética, a se limitarem e @ quase no pensarem mais. E possivel encontrar na Intemet textos e até trabalhos | « rontos sobre todas as éreas do conhecimento ® as vezes’b professor ndo se alerta para isso. (ou no quer se dar ao trabalho de acompanhar a produgso dele oa investigé-io quarto a Originalidecte @ referéncias. Desde a educago bésica! os alunos se deparam com a exigencia pelos professores de produzir algum tipo de trabalho, seja ele individual, em dupla ou em grupo. O que pcucas vezes 6 feito pelo professor, 6 fomecer material de consulta para os . alunos ou 0 acesso pera se alcancar o material. Quando isso ocore, dificulta ao aluno fazer cépias explicitas do documento, jé que o professor conhece o material indicado, A gravidade hoje em dia 6 @ comercializagao dos trabalhos académicos. A procura Por trabalnos prantes favorece & preguiga e & ma qualidade da formagao académica, E Impressionante 2 quantidade de trabalhos plagiados ou comprados nas universidades € F 23 ‘entros universitérios. Até trabalhos (re)aproveitados de colegas ou familiares que estudam em outs perldes ou curses! Quando néo ocorre isso, 0s trabaihos se apresentam Gesorganizados @ no planejados, como numa colagem aleatéria de um ou varios sites consultedos, buscados, procurados, mas ndo PESQUISADOS. A Pesquisa necessariamente'ndo é um trabalho digitado, impresso e entregue ao Professor com uma encademagao bem “bonitinha", como se fosse um livro recheado de Paginas que, usualmente, ndo foram desenvolvidas pelos alunos. Quando desenvolve uma Pesquisa, 0 aluno passa por varios processos que vo desde a escolha do tema a crtérios exigides pelo professor na apresentagao desse trabalho. O professor deve determinar as regras. ©) € professora de Metodologia Cientifica - CCET/FEJAL, Publicado ria Gazeta de Alagoas de 09/02/2006. . ~ Texto 7 Maas aa alta - JOSIAS DE SOUZA Siio Paulo—A medida que vamos penetrando no caos, as coisas vio ficando mais.claras: estd mesmo sobrando gente no Brasil. : Gente miserdyel e incorrigivel. Sem opedo, esse pessoal vive as voltas com sua diversto predileta: 0 sexo. Enquanto voce Ié esta frase, ventres abjetos cospem no ambiente um tipo “irreciclavel” de lixo pés-industrial: seres humanos. Desenvolveram-se no Brasil vérias técnicas de exterminio: ’ massacres, chacinas, balas perdidas, fome erdnica, desnutricdo, suspensdo de entrega de cesta béisica, desvio de merenda escolar. Mas 0 miserdvel teima em copspirar contra a modernizacao liberal Ele se reproduz em quantidades épicas. 5 Lim velho torno, quando substituldo por mecanismos mais E modernos e lucratives, conforma-se.O miserdvel revolta-se. Embora 1d rido tenha nenhuma utilidade, ele se reprpduz aos milhbes. Faz-se nolar na marra. # O miseravel entope 0 mercado com seus semelhantes. E como se legides de\ bebés obsoletos, recém-saidos do titero da exclusdo, grtassem para os bem-nascidos: “Vocés ndo vo conséguir nos - ignorar. Estaremos em toda parte: debaixo do viaduto, no semaforo, nna saida do restaurante...” 4té hd bem pouco, gracas & utopia da mobilidade social, a *holdra se comtentava em encenar o papel de multiddo sem rosto. Agora, como que cansado'de esperar por uma deixa que nunca ‘20, 0 miserdvel surpreende a platéia, invadindo a cena. 5 Os miseréveis jé ndo cabem nos depésitos que criamos para armazend-los. Superlotadés, as jaulas transbordam. Mais de mil menores infratores vazaram da Febem nas iiltimas semanas. Eles imundam de panico dionistaco as ruas de Sao Paulo. Agem como se quisessem promover a distribuigdo de renda na porrada. A crise brasileira esté migrando rapidamente da fase do “me dé uma esmola” para o perlodo da “isto & um assalio”. (Folha de S. Paulo, 27/09/1999) Consumo, logo existo } Frei Beto Ao visitar a admirdvel obra social do cantor Carlinhos Brown, no Candeal, em Saivador, ouvi-o contar que na infancia, vivida ali na pobreza, ele nao conheceu a fome. Havia sempre um pouco de farinha, feijao, frutas e hortalicas. "Quem trouxe a fome foi a geladeira’, disse. O cletrodoméstico impés a familia a necessidade do supérfluo: refrigerantes, sorvetes etc. A economia de mereado, centrada no luero e nao nos direitos da populacéo, nos submete ao consumo de simbolos. O valor simb6lico da mercadoria figura acima de sua utilidade. Assim, a fome a que se refere Carlinhos Brown ¢ inelutavelmente insaciével. E préprio do jnumano - e nisso também nos diferenciamos dos animais - manipular 0 alimento que ingere. A refeigo exige preparo, criatividade, ea cozinha 6 laboratério culindrio, como a mesa é missa, no sentido litirgico. A ingestio de alimentos por um gato ou cachorro é um atavismo desprovido de arte. Entre humanos, comer exige um minimo de cerim6nia: sentar a mesa coberta pela toalha, usar talheres, apresentar os Pratos com esmero e, sobretudo, desfrutar da companhia de outros comensais. Trata-se de um ritual cue possui rubricas indeléveis. Parece-me desumano comer de pé ou sozinho, retirando o alimento diretamente da panela. Marx jé havia se dado conta do peso da geladeira. Nos "Manuscritos econdmicos e filosdficos" (1844), ele constata que “ovalor que cada um possui aos olhos do outro 6 o valor de seus respectivos bens. Portanto, em si o homem no tem valor para nés."! © capitalismo de tal modo desumaniza que jé néic'somos apenas consumidores, somos também consumidos, As mereadorias que me revestem e,05 bens simbélioos que me ceream é que determinam meu valor social. Desprovido ou despojado deles, perco 0 valor, condenado ao mundo ignaro da pobreza e a cultura da exclusfo Pare'o povo muori da Nova Zelandia cada coisa, e ndo apenas as pessoas, tem alma, Em comunidades tradicionais de Africa também se encontra essa interag&io matéria- espitito. Ore, se dizem a nés que wh aborfgene cultua uma frvore ou peda, um totem ‘ou ave, com certeza faremos um olhar de desdém. Mas quantos de nés néo cuiltuam 6 proprio carro, um determinado vinho guardado na adega, urna j6ia? Assim como um objeto se associa a seu dono nas comunidades tribais, na sociedade de consumo 0 ‘mesmo ocorre sob a sofisticada égide da grife. Nao se compra um vestido, compra-se um Gaultier; ndo se adquire um carro, ¢ sim uma Ferrari; nfo se bebe um vinho, may um Chateau Margaux. A roupa pode ser a mais horrorosa possivel, poném se traza assinatura de am famoso estilista a gata borralheira transforima-se em Cinderela, Somos consurnidos pelas mereadotias na medida em que essa cuiltiura eoliberal nos faz 1 25 facreditar que delas emana uma energia que nos cobre como uma bendita unco, a de ~ que pertenceros 20 mundo dos eleitos, dos ricos, do poder. Pois a avassaladora indiistria do consumismo imprime aos objetos uma aura, um espirito, que nos transfigura quando neles tocamos. E se somos privados desse privilégio, o sentimento de exclusto causa frustracéo, depressdo, infelicidade. Nio importa que a pessoa seja imbecil. Revestida de objetos cobicados, é aleada ao altar dos incensados pela inveja alheia. Ela se torria também objeto, confundida com seus apetrechos e tudo mais que carrega nela mas no ¢ ela: bens, cifrdes, cargos etc. Comércio deriva de "com mercé", com troca. __ Hoje as relagées de consumo séo desprovidas de troce, impessoais, nao séo mais mediatizadas pelas pessoas. Qutrora, a quitanda, o boteco, a mercearia, criavam vineulos entre o vendedor e o comprador, e também constitufam 0 espaco das relagdes de vizinhanga, como ainda ocorre na feira. ‘Agora o supermercado suprime a presenga humana. L4 esté a géndola abarrotada de + produtos sedutoramente embalados. Ali, a frustragéo da falta de convivio € * compensada pelo consumo supérfluo. "Nada poderia ser maior que a sedugao" - diz Jean Baudrillard - "nem mesmo a ordem que a destréi.” E a sedugdo ganha seu supremo canal na compra pela Internet. Sem sair da cadeira 0 consumidor faz chegar & sua casa todos os produtos que deseja. * Vou com freqiiéncia a livrarias de shoppings. Ao passar diante das lojas e contemplar os “ veneréveis objetos de consumo, vendedores se indagando se necesito algo. "Nao, obrigads. Estou apenas fazendo um passeio socrético", respondo. Olham-me intrigados. EntZo explico: Sécrates era um fil6sofo grego que viveu séculos antes de Cristo, Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas. E, assediado por vendedores como voces, respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de | que ndo preciso para ser feliz". Fonte: hitp:/iwww-adital.com.brsitehindex aspiangsPT ( 22/6et/2008) Texto 1 NA HORA DO SILENCIO Quando te encontrares em qualquer dificuldade emocional, recorda 0 siléncio como instrumento divino de construgio e paz:

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