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Podcast A Mulher da Casa Abandonada, 6º episódio - Folha - 13/07/2... https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2022/07/podcast-procura-a-...

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A MULHER DA CASA ABANDONADA (HTTPS://WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR/PODCASTS/A-MULHER-DA-CASA-ABANDONADA/)

Podcast procura a mulher da casa abandonada com


ajuda de vizinhos
Sexto episódio também explica os desdobramentos da acusação contra Margarida e o
que pode acontecer com o casarão

13.jul.2022 às 7h00

SÃO PAULO O sexto episódio de A Mulher da Casa Abandonada


(https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/a-mulher-da-casa-abandonada/), podcast da Folha que investiga

o passado de crimes por trás de uma mansão degradada em São Paulo, narra as
buscas da reportagem por Margarida Bonetti (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2022/07
/mulher-da-casa-abandonada-teria-se-irritado-por-nome-de-seu-cachorro-em-podcast.shtml).

O objetivo é que ela finalmente dê uma entrevista e conte a sua versão sobre a
acusação de ter mantido uma empregada doméstica em condições análogas à
escravidão durante 20 anos nos EUA. A equipe do podcast recebe a ajuda de
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vizinhos nessa missão, que se revela árdua.
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O programa também explica


3 MESESo que POR
se sabe
R$sobre os desdobramentos jurídicos
1,90/mês
das acusações e entrevista um reconhecido advogado criminalista para analisar
o caso. AlémA disso, aponta
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semelhantes, com comoo casarão de Higienópolis
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Podcast A Mulher da Casa Abandonada, 6º episódio - Folha - 13/07/2... https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2022/07/podcast-procura-a-...

O sexto episódio do podcast já está disponível de graça nas principais


plataformas de áudio, como Spotify (https://open.spotify.com/show/0xyzsMcSzudBIen2Ki2dqV),
Apple Podcasts (https://podcasts.apple.com/br/podcast/a-mulher-da-casa-abandonada/id1627336898) e Deezer
(https://www.deezer.com/br/show/3764967), além do YouTube (https://www.youtube.com/c/folha/videos). A

transcrição do roteiro está disponível no fim deste texto. O sétimo episódio vai
ao ar em 20 de julho.

O podcast A Mulher da Casa Abandonada investiga a vida de uma brasileira que foi procurada
pelo FBI - Editoria de Arte

A Mulher da Casa Abandonada é apresentado e escrito por Chico Felitti


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(https://www1.folha.uol.com.br/autores/chico-felitti.shtml), autor do livro "Ricardo & Vânia", que
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narra a história de vida de um artista de rua (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/02
/ricardo-e-vania-revela-mais-do-homem-por-tras-do-apelido-fofao.shtml) conhecido como Fofão da
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Augusta, e que foi finalista do Prêmio Jabuti de 2020. Felitti também criou e
apresenta "Além
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A série tem participação da atriz e dramaturga Renata Carvalho, que interpreta


em português as entrevistas feitas em inglês, e de Magê Flores, que apresenta o
Café da Manhã, podcast diário da Folha, e também coordena a produção de A
Mulher da Casa Abandonada. A edição de som do podcast é de Luan Alencar, e
a produção é de Beatriz Trevisan e Otávio Bonfá.

Transcrição do sexto episódio

Um Fim que Não É Bem Um Fim

Este podcast é uma reportagem que se baseou em registros de um caso de


notório interesse público. Procurou ouvir todos os envolvidos e deu espaço às
versões dos que se manifestaram. Essa série não é uma investigação policial,
nem um processo judicial. A Folha condena qualquer tipo de agressão e
perseguição contra as pessoas aqui retratadas.

VINHETA DE TRANSIÇÃO

Eu estou na praça Vilaboim numa madrugada do fim de maio. A produtora


Beatriz Trevisan está comigo. Cada um tá sentado em um banco de madeira, de
frente pra uma muda de árvore. Esse pé de ipê foi plantado no lugar em que
ficava uma árvore derrubada na antevéspera do Natal de 2021, sob os protestos
de uma mulher com o rosto coberto por pomada branca.

[Beatriz] Eu acho muito legal passar pelos lugares que você fala na história e
reconhecer e ir lembrando.

[Chico] É, a árvore era ali ó.

[Beatriz] Ahhhh boa!

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[Chico] A árvore era exatamente ali. ESPECIAL FOLHA
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Eu mostro para a Beatriz os lugares que aparecem no primeiro dia em que eu


3 MESES POR R$ 1,90/mês
conversei com Margarida Bonetti.
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[Chico] Aqui Aé Folha utiliza cookies
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farmácia semelhantes,
que ela entra…. comoAqui é o ponto de táxi que
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sempre, que eu entrevisteicancele o taxista.quando quiser , para recomendar OK
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Faz exatos cinco meses que eu encontrei Margarida ali, lutando contra a
derrubada de uma árvore. Em 150 dias, o lugar que ela ocupa na minha mente
migrou. Foi de uma ex-socialite excêntrica que morava numa mansão caindo
aos pedaços a uma pessoa acusada de um crime impensável: de submeter
alguém a trabalho análogo à escravidão por 20 anos e, segundo relatos da
Justiça americana, de agredir essa pessoa.

Eu e a Beatriz voltamos à praça no fim de maio porque precisamos ouvir essa


mulher. Deixar registrado que estamos fazendo um documentário sobre a
história dela, e oferecer a chance de contar a versão dela dos fatos. O que
chamam no jornalismo de outro lado. Ela nunca deu uma entrevista sobre o
caso. E parece que não vai ser dessa vez.

A mulher da casa abandonada nunca mais apareceu.

Faz meses que ela me ignora. Não atende mais quando eu ligo. Foge quando eu
passo na frente da casa e tento conversar com ela. Então, a gente decidiu
esperar o tempo que fosse até ela sair da casa, para falar com ela.

VINHETA DE ABERTURA

Eu sou Chico Felitti e esse é o sexto episódio de A Mulher da Casa Abandonada,


um podcast da Folha que investiga a história de uma brasileira acusada de
manter uma empregada doméstica em trabalho análogo à escravidão nos
Estados Unidos por quase 20 anos. Essa mesma mulher, Margarida Bonetti, se
esconde há duas décadas numa mansão abandonada em um dos bairros mais
ricos do Brasil.

Episódio seis: Um Fim que Não É Bem Um Fim

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VINHETA DE TRANSIÇÃO
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Depois de cinco meses, eu estou na esperança de dar um fim a essa história. É


3 MESES POR R$ 1,90/mês
uma expectativa modesta. Bem mais micha do que os planos de meses atrás.
Quando eu descobri que a mulher
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da casa abandonada era uma foragida, talvez
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tenha brotado ememmim


explicado nossaa Política
expectativa de resolver
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FBI e dizer "está aqui a pessoa que vocês
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procuram", e que um helicóptero
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fosse descer do céu e apreender uma procurada pela polícia. A justiça estaria
feita. O arco da história estaria completo. Mas eu já adianto. Dou um spoiler
mesmo: isso não vai acontecer, porque essa história é real, e não uma ficção
escrita por um estúdio de Hollywood.

Acontece que eu escondi uma coisa de vocês até agora. De propósito. E eu peço
desculpa sem realmente sentir culpa, porque era importante para a história
que eu deixasse para contar só agora.

Lembram da Mari Muradas, a doula que mora perto da casa abandonada? A


vizinha que primeiro pensou em ajudar a senhora que morava na mansão em
pandarecos, até descobrir que ela era acusada de ter mantido uma empregada
em condições análogas à escravidão por quase vinte anos? Pois é. A Mari é
cidadã americana. E, no auge da indignação dela ao descobrir quem era a
mulher da casa abandonada, ela entrou em contato com o FBI.

[Mari] Chico, eu fiquei tão na loucura que eu comecei eu eu mandei e-mail pra FBI tipo
pra falar essa mulher está aqui.

A Mari Muradas passou o nome completo e o endereço de uma foragida. Isso


faz mais de dois anos. E, por mais que a gente não saiba o que a polícia federal
americana fez com essa informação, a gente sabe de outra coisa. O que ela não
fez. Margarida não foi presa. Ela continua num exílio auto-imposto na casa
abandonada. Ela não foi julgada pelos crimes. Ela continua livre para ralhar
com funcionários da prefeitura de São Paulo que estão podando uma árvore na
antevéspera do Natal. É uma mulher que sai pouco por escolha, não porque
teve a liberdade revogada pela lei.

Depois de investigar o caso, encontrar a pessoa que reconquistou a liberdade


dela e chegar perto do ex-marido de Margarida, que cumpriu a pena dele, resta
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uma dúvida para essa história. Uma dúvida enorme, tatuada na minha mente.
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Por que a Justiça perdeu


3 Margarida
MESES POR Bonetti?
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Para começo de conversa, nunca existiu
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levada de volta aos Estados Unidos para ser julgada. É uma questão
constitucional. O inciso LI (51) do artigo quinto da Constituição Brasileira é
claro: "Nenhum brasileiro será extraditado". Ou seja, o governo brasileiro não
iria colocar Margarida em um avião com destino a Maryland, onde ela seria
julgada. Mas existia , sim, uma possibilidade de ela responder aqui pelos crimes
de que era acusada.

E é para entender esse jogo de cooperação entre países que eu procuro um dos
advogados que mais entende de direito internacional no Brasil.

[som de ligação do Skype]

[João Mestieri] Alô?

[Chico] Boa tarde, professor João?

[João Mestieri] Sim, tudo bem?

[Chico] O Chico Felitti da Folha de S. Paulo, tudo bem com o senhor?

João Mestieri é professor adjunto da PUC do Rio. É também o advogado que


ocupa a cadeira 16 da Academia Brasileira de Letras Jurídicas. Foi consultor de
tribunais americanos durante décadas.

[João Mestieri] Tudo bom, querido. É que você estava ligando e o meu telefone, (risos)
seletivo, estava empurrando o seu chamado para spam ou alguma coisa assim.

Mas tem outro motivo para eu ter ido atrás do professor João Mestieri. Uma
entrevista que ele deu 20 anos atrás para o site Consultor Jurídico, um dos mais
respeitados sobre direito. Nela, ele fazia essa previsão, lida pela Magê Flores

[narração de Magê Flores]OFERTA ESPECIAL FOLHA


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Margarida Bonetti, patroa da empregada escravizada nos Estados Unidos, fugiu para
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o Brasil mas não escapará da lei. Segundo o professor João Mestieri, consultor de
alguns tribunais federais americanos,
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e o defensor público Franklin Dore, ela não
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escapará da prisão.
explicado emMesmo que o governo
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processada aqui pelos crimes cometidos no exterior, de cárcere privado e de
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6 de 30 13/7/2022 10:55
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escravidão: o código penal brasileiro prevê sua punição com um mínimo de dois anos
de prisão e um máximo de oito para cada crime.

A previsão do professor Mestieri não se confirmou. Em 2022, Margarida


acumula meia dúzia de processos. Todos ligados à herança dos pais dela.
Nenhuma ação criminal pelo que ela foi acusada de fazer com a empregada.

Como todo bom professor, João Mestieri começa do começo. Ele analisa
primeiro se o caso poderia ter sido trazido à justiça brasileira.

[João Mestieri] Qual é a competência brasileira? Se ela é brasileira, há competência. Se


o crime é cometido no Brasil, há competência. Se o crime é cometido contra brasileiro,
é competente. E por aí vai.

E a resposta para maioria dessas perguntas é sim: ela é cidadã brasileira e o


suposto crime foi cometido contra outra cidadã brasileira. Isso facilitava a
transferência do caso para a Justiça brasileira. Se uma das duas fosse
americana, por exemplo, já seria mais complicado.

[João Mestieri] A primeira pergunta é: é crime no Brasil também ou não? Entendeu?


No caso poderia ser um ato selvagem, um ato absurdo, um ato imoral, imoralíssimo,
mas… não ser um crime.

Outro sim aqui. O que Margarida fez é crime, segundo a lei brasileira. O artigo
149 do código Penal define o crime: "Reduzir alguém à condição análoga à de
escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer
sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por
qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o
empregador ou preposto".

OFERTA
[João Mestieri] Como a escravidão nãoESPECIAL
é mais oficial,FOLHA
você tem um crime reduzir
alguém a condição análoga à escravidão.
Notícias Análoga,
em tempo real parecida
com acesso ilimitadocom, né? E ela estava

submetida pela prova, né, prisional. Esse promotor conseguiu trazer essa situação, foi
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interrogada e tal como sempre e ela expôs com a simplicidade peculiar mas ela
admitiu e descreveu todos os pontos essenciais desse crime.
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Tá. Então, Margarida poderia tercancele sido quando
julgada , aqui
quiser
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acusada nos Estados Unidos, usuário aceitaque taistambém condições. eram crimes no Brasil. Além disso, o

7 de 30 13/7/2022 10:55
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advogado afirma que havia um corpo de provas que podia compor um caso.

Então, com tudo isso, era só a promotoria americana ter mandado uma carta
rogatória para o Ministério da Justiça, em Brasília, pedindo que a Justiça
brasileira abraçasse o caso.

[Chico] Porque geralmente pela pela lei seria isso né? A justiça americana pediria a
colaboração do governo brasileiro e o governo brasileiro colaboraria, né?

[João Mestieri] Uhum. É verdade. É verdade verdadeira.

Simples assim. Uma carta rogatória é um documento de duas, no máximo três


páginas. Mas algo aconteceu no meio do caminho. Porque Margarida não foi
processada por esses crimes. Então, há duas possibilidades. Primeira: a
promotoria do Estado americano não mandou essa carta. Segunda: o Judiciário
brasileiro não respondeu com ações a esse pedido.

[João Mestieri] Agora, teve a cooperação de Brasília? É impossível adivinhar o que


aconteceu.

E Brasília não cooperou. Eu escrevi para o Ministério da Justiça com todas as


informações sobre o caso e perguntei se havia registro de uma carta rogatória
pedindo que a Justiça brasileira abraçasse o caso de Margarida. A resposta foi a
seguinte:

[narração de Magê Flores]

O Ministério da Justiça e Segurança Pública não se manifesta sobre pedidos ou


processos migratórios de determinada pessoa. Em cumprimento à legislação vigente,
o MJSP presta informações sobre processos individualizados somente aos respectivos
titulares ou pessoas autorizadas por lei.
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E eu também fui perguntar para a promotoria do Estado americano em que
Margarida foi acusada. 3
Também
MESES não tive R$
POR resposta. Ou seja, não dá para dizer se
1,90/mês
os Estados Unidos não pediram a ajuda da Justiça brasileira ou se foi a Justiça
brasileira que ouviu
A Folha oASSINE
utilizapedido ee tecnologias
A FOLHA
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O professor resume o que a gente sabe sobre o caso.
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8 de 30 13/7/2022 10:55
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[João Mestieri] Sabe-se que ela não sofreu nada. Ela veio pro Brasil, se livrou disso.
Bom, por que ela se livrou disso?

Eu gostaria muito de saber. Mas, parece que vou parar nessa dúvida: quem foi
que não agiu, a Justiça americana ou a Justiça brasileira? É um beco sem saída,
porque essa informação não é pública.

Essa história de colaboração jurídica internacional pode parecer uma operação


complicada demais para ser colocada em prática, eu sei. O tipo de coisa que só
existe no papel. Mas acontece com alguma frequência. E há casos de brasileiros
que foram julgados aqui por crimes que cometeram do outro lado do mundo.

Um dos mais notáveis parece ter saído de um romance policial. Em 2001, dois
brasileiros foram recrutados em São Paulo pela Yakuza, maior máfia do Japão,
para matar um comerciante em Tóquio. Um homem que não estava pagando a
taxa de proteção da Yakuza. A máfia escolheu assassinos brasileiros por pensar
que eles não seriam presos. Os dois entraram na casa do homem e dispararam
contra ele e a esposa . Ela sobreviveu. Ele, não. Os dois brasileiros, então,
fugiram. Conseguiram cruzar o mundo e voltar para casa, onde pensavam estar
fora do alcance da lei. Cada um recebeu pelo crime 3 milhões de ienes, o que na
época dava 71 mil reais.

A Justiça japonesa emitiu uma dessas cartas rogatórias. Um pedido de


cooperação. E o caso foi trazido para a Justiça brasileira. A polícia daqui abriu
uma investigação e… eles foram presos. Tudo bem que só foram encontrados
em 2011, dez anos depois do crime. Mas foram. E o julgamento levou mais cinco
anos para acontecer. Rolou em 2016. E eles foram responsabilizados por um
crime que tinham cometido 15 anos antes.

[trecho de reportagem da OFERTA ESPECIAL


Record TV sobre FOLHA
o caso Yakuza]
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Foram condenados os dois brasileiros que mataram um comerciante japonês a mando
da temida máfia Yakuza, 3 MESES POR
perigosíssima. R$ 1,90/mês
Acompanhe comigo a reportagem

Cristiano daA Silva


Folha Severo
utiliza ItoA foi
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semelhantes, e um mês de prisão. A
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pena de Marcelo Cristian Gomescancele
Fukuda foiquiser
quando de 23 anos e 7 meses de prisão.
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9 de 30 13/7/2022 10:55
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Algo parecido poderia ter acontecido com Margarida Bonetti. Os Estados


Unidos, inclusive, têm um acordo de cooperação jurídica com o Brasil. Mas não
aconteceu. E provavelmente não vai acontecer mais. O professor Mestieri
explica que os crimes de Margarida não podem mais ser punidos, porque as
justiças não agiram a tempo.

[João Mestieri] Ela é brasileira, voltou para o Brasil, território nacional e tal e etc etc. É
crime aqui também. É… lógico. Agora… não aconteceu. Por que não aconteceu?
Provavelmente deveria estar prescrito pela lei brasileira.

Crimes prescrevem. É como se tivessem uma data de validade. Se o Estado


demorar além do prazo previsto para processar um cidadão, ele perde esse
direito. Ou seja, a pessoa não pode mais ser punida pelo crime.

Por exemplo, se a possível pena do crime ficar entre um e dois anos de cadeia,
o crime dessa pessoa vai prescrever em quatro anos. Se a pena prevista for
maior do que oito anos de cadeia, mas menor de 12 anos, o crime prescreve em
16 anos. Se a pena abstrata for maior do que 12 anos, o crime deixa de ser
passível de punição depois de 20 anos. E sabe quanto tempo faz que o crime de
Margarida foi investigado e denunciado? Vinte e dois anos. Como diria o
professor Mestieri.

[João Mestieri] Então nós temos prazo, vinte anos prescreve tudo, até homicídio da
avó.

Em vinte anos prescreve tudo. Ou seja, mesmo que houvesse uma


movimentação em 2022 para que Margarida respondesse às acusações dos
Estados Unidos, é muito, mas muito improvável que a Justiça pudesse fazer
qualquer coisa. Na avaliação do professor, ela não será mais punida pelos
crimes de que foi acusada.
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Tá. Eu entendo a sua frustração. Até porque eu vivi uma frustração parecida.
Vivi durante os cinco meses em quePOR
3 MESES estiveR$
debruçado
1,90/mês sobre essa história. Ela
nasce porque a gente acredita na Justiça. Se uma pessoa cometeu um crime, ela
vai ser julgada porutiliza
A Folha ele.ASSINE
Se for considerada
A FOLHA
cookies e tecnologias culpada, vai
semelhantes, como ter que cumprir uma
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pena, queexplicado
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cancele tempoquiser de reclusão. Mas, nesse caso,
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houve denúncia
conteúdo dee crimes.
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10 de 30 13/7/2022 10:55
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Houve até uma condenação unânime do marido de Margarida no tribunal do


júri. Mas, com ela, não houve nada.

Por semanas, eu não conseguia pensar em outra coisa. Falar de outra coisa.
Ficava mastigando a palavra prescreveu enquanto andava na rua. Até que, em
uma madrugada, eu estava conversando com meu marido em casa. E ele me
perguntou: "Mas vem cá, qual é a diferença de ela estar presa numa cadeia e
estar presa numa casa abandonada? Ela já está presa há mais de 20 anos."

Eu nunca tinha pensado nisso. Então, precisei de dias para elaborar uma
resposta. E, como sempre acontece, eu só fui pensar em uma resposta boa
semanas depois que a conversa já tinha acabado.

O que eu deveria ter respondido é: "Tem, sim, uma diferença entre estar isolada
numa casa abandonada e estar na cadeia". Porque não é a regra do jogo. Muito
do que o mundo se tornou nos últimos anos é porque a gente deixou de
acreditar nas instituições. A partir do momento que a gente não crê mais na
Justiça, na democracia e nos direitos humanos, acabou a cerca invisível que
divide a civilização da barbárie. É como se a gente fosse até o contrato social e
apagasse nossa assinatura.

VINHETA DE TRANSIÇÃO

Saindo do mundo das ideias e voltando ao mundo real. Nada aconteceu


juridicamente com a mulher da casa abandonada, mas em breve deve
acontecer algo de prático com ela.

É provável que em breve a mulher não more mais na casa abandonada. Mas o
motivo não tem nada a ver com a lei. Lá no segundo episódio, eu tinha dito que
a herança da família do pai dela, um médico muito rico, era um ninho de
OFERTA
mafagafos, né? Tá na hora ESPECIAL
de entrar FOLHA
nesse ninho.
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Margarida tem duas irmãs com quem compartilha a herança deixada pelos
3 MESES POR R$ 1,90/mês
pais. Eu procurei as duas, mas elas não toparam dar entrevista. Quando o pai
morreu, em 1998, Margarida
ASSINE
se mudou
A FOLHA
dos Estados Unidos para a casa
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abandonada. Foi em
explicado morar
nossacom a mãe
Política e nunca(https:/
de Privacidade mais saiu de lá. Com a morte da
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mãe, em/paineldoleitor/2020/04/termos-e-condicoes-de-uso-folha-de-spaulo.shtml)
2011, as três irmãs herdaram uma
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porção de imóveis. E a casa
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abandonada passou a ter três donas. Mas não só ela. O pai e a mãe de
Margarida deixaram mais de dez imóveis para as filhas. São dezenas de milhões
de reais em herança. Uma herança a que elas não tiveram acesso ainda, porque
as três nunca conseguiram se entender. Até que a Justiça intercedeu.

[narração de Magê Flores]

Tendo em vista o elevado grau de litigiosidade que se verifica no feito, a necessidade de


finalização do processo que foi distribuído em 03 de dezembro de 1998, bem como a
correta administração de bens do espólio nomeio inventariante dativa

Em 2009, a juíza decidiu colocar uma curadora dativa para cuidar do espólio
dos pais de Margarida. Isso acontece quando o juiz ou a juíza consideram que a
famĩlia não vai conseguir resolver o imbróglio sozinha. É como se fosse uma
intervenção do Estado, dizendo "eu vou contratar uma profissional para fazer
isso, porque se depender de vocês a coisa não anda."

Não vem ao caso dizer o que são esses problemas, porque eles envolvem o resto
da família. Pessoas que não são foragidas da Justiça. Mas basta a gente ler uma
linha do processo para ter noção do tanto de treta que nasceu entre essas três
irmãs. É o sumário de todas as acusações feitas entre elas. Elas estão na página
325, 361, 367, 368, 370, 371, 373, 375, 377, 451, 454, 513, 516 e 533.

Acontece que essas brigas impedem que os imóveis sejam vendidos, porque
todos os herdeiros precisariam assinar um documento concordando com a
venda. E, enquanto isso, o patrimônio está gangrenando. Como ninguém paga
contas como condomínios e alguns impostos dos imóveis, eles vão virando
bolas de neve de dívidas. Então, nos últimos anos, a Justiça começou a
autorizar a venda dos bens da família em leilão. Ou, como diz o processo:

[narração de Magê Flores]OFERTA ESPECIAL FOLHA


Notícias em tempo real com acesso ilimitado

É necessário para venda em leilão de bem do espólio para enfrentamento dos impostos
3 MESES POR R$ 1,90/mês
devidos há mais de década. Intime-se

A Folha ASSINE A FOLHA (HTTPS://ASSINATURAS.FOLHA.COM.BR/420314)


utilizafoi
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Em fevereiro de 2019, a leilão um conjunto de salas comerciais na frente do
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prédio mais famoso docancele centro de São
quando quiser Paulo.
, para Era um conjunto com
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sete salas, onde funcionava
usuárioum laboratório
aceita de análises clínicas, mais cinco salas
tais condições.

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que estavam vazias. Somadas, as 12 salas comerciais foram avaliadas em mais


de um milhão e 200 mil reais.

Em primeiro de março de 2021, foi autorizada a venda de um apartamento no


encontro das avenidas Higienópolis e Angélica. Até novembro de 2020, a dívida
do imóvel era de R$ 5.300,82, de condomínios não pagos e de multas. Os
apartamentos no mesmo prédio têm de 120 m2 a 300 m2 de área, e são
vendidos por mais 1 milhão. Podem custar até 3 milhões.

Não que a herança esteja perto de acabar. Além da Casa Abandonada,


Margarida ainda tem uma fatia de dois imóveis na rua Tinhorão, uma viela de
Higienópolis, e mais uma fazenda em Itajubá, no interior de São Paulo. Ou seja,
a mulher da casa abandonada é herdeira de parte de pelo menos uma dúzia de
imóveis. Todos esses bens estão parados. Acumulando pó e dívidas. Só que isso
pode mudar em breve. Porque a casa abandonada acaba de receber um lance.

VINHETA DE TRANSIÇÃO

Depois de meses insistindo, uma das pessoas envolvidas nesse processo de


herança, que tem muitas partes, topa me encontrar, desde que o nome dela não
seja divulgado. Ela me recebe munida de uma pasta que é quase tão grossa
quanto a Bíblia. É o processo da herança. Em meio a decisões judiciais e
avaliações de imóveis, tem uma pastinha com duas imagens impressas por
página.

São fotos da casa abandonada por dentro, feitas em 2009, quando a Justiça
designou uma advogada para cuidar da herança, porque o enrosco da família
era grande demais. E um oficial de Justiça foi autorizado a entrar no casarão,
mesmo que Margarida não quisesse. A pessoa me estende as fotos e pergunta:
"Você quer ver?".
OFERTA ESPECIAL FOLHA
Notícias em tempo real com acesso ilimitado
Eu pego as folhas de papel e é como se eu tivesse passado pelo portão de metal
fechado com uma corrente. Em cinco
3 MESES POR meses
R$ de investigação, eu não consegui
1,90/mês
entrar na casa abandonada. Mas, agora, eu entro. Mesmo que por imagens
feitas uns 13A anos
Folha atrás.
utiliza Cada
ASSINE efoto
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(HTTPS:/ um pedaço
semelhantes, comode um cômodo.
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A casa abandonada é menos abandonada do que parece,
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menos, era. Essas fotos foram feitas 13 anos atrás, então o tempo pode ter
corroído tudo o que está lá dentro. Mas dá um sentimento estranho ver a casa
por dentro. É como encontrar alguém que você só conhece da internet, mas
que parece um velho conhecido da primeira vez que se tromba em carne e osso.

A primeira foto que vejo é da cozinha, com as prateleiras cheias de comida. Há


várias caixas tetrapak de feijão pronto, três potes de achocolatado com um
quilo e meio cada um e pelo menos 15 garrafas de um litro e meio de suco de
uva, ocupando duas prateleiras de uma estante inteira. Do lado da prateleira
fica uma geladeira branca com aparência de nova. Encostadas em outra parede
estão mais duas geladeiras, uma verde-água e outra de cor creme, já com
manchas de ferrugem.

Depois, chego às imagens de uma sala, coalhada de coisas. Uma impressora


ainda na caixa. Um inalador de ar ainda na caixa. Um grampeador ainda na
caixa. Calhamaços de papel impressos sobre a escrivaninha, onde também
estão um coelho e um urso de pelúcia.

Outra foto mostra um estúdio. Lá, tem um sofá em que o dicionário Houaiss
está jogado em meio às cobertas. Encostada no sofá, uma mesa com um código
civil ao lado de um código penal, um fichário com papéis rabiscados, como se
alguém estivesse estudando direito. Em meio aos códigos jurídicos, se espalha
uma planta de plástico, que cobre parte de dois cogumelos de cerâmica e uma
joaninha, também de cerâmica.

As fotos dos corredores mostram quadros, muitos quadros. Uma reprodução da


Monalisa. Uma pintura das musas gregas inspirando um artista. A imagem de
quatro querubins deitados na relva. Um outro quadro tem emoldurado um
crucifixo que parece ser feito de marfim. Em cima de um piano de madeira
OFERTA
envernizada, há porta-retratos ESPECIAL
com imagens emFOLHA
preto e branco de noivas.
Notícias em tempo real com acesso ilimitado
No meio das fotos, tem uma única imagem em que aparece um ser humano. É
3 MESES
Maria de Lourdes Danso, a mãe de POR R$ 1,90/mês
Margarida, que morreu em 2011. Ela está na
cama do que deve ser um quarto, cercada por almofadas e sacos de
A Folha ASSINE A FOLHA (HTTPS://ASSINATURAS.FOLHA.COM.BR/420314)
supermercado. Noutiliza
colocookies
dela está e tecnologias
um cachorro semelhantes, como
branco, que não é um dos dois
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que Margarida cria em 2022. cancele quando quiser
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Agora é hora de contar a história surreal de Lourdes no processo. Lembra que


no ano 2000 ela foi para os Estados Unidos depor a favor de Renê Bonetti? Pois
bem. Renê foi condenado, saiu do tribunal já algemado, direto para a cadeia. E
o que aconteceu com a senhora de 85 anos?

Três meses depois do julgamento, em 19 de maio de 2000, o jornal O Globo


publicou uma reportagem sobre o desfecho. O título era. "Brasileira de 85 anos
é abandonada nos EUA".

[narração de Magê Flores]

"Abandonada pela família no hospital de um subúrbio da capital americana, e sem


dinheiro para pagar a conta da internação que já leva várias semanas, Maria de
Lourdes Danso Vicente de Azevedo, de 85 anos, deve ser repatriada pelo Consulado do
Brasil".

A reportagem contava como Maria de Lourdes tinha ido aos EUA testemunhar
a favor do genro, Renê Bonetti, que era acusado de ter mantido uma
empregada doméstica em trabalho análogo à escravidão por quase 20 anos. Ela
ficou sozinha na casa da família depois do julgamento, caiu e quebrou o
quadril. O consulado brasileiro afirma a essa reportagem que tentou entrar em
contato com as três filhas de Maria de Lourdes, mas nenhuma se
responsabilizou por ir buscar a mãe.

Tem duas frases que ela disse ao jornal O Globo que chamam atenção. A
primeira é "Não tenho com o quê pagar o hospital. Estamos de tanga, meu
filho. O que eu tinha, eu dei para os pobres lá no Brasil". E a segunda frase que
chama atenção é quando ela justifica por que a filha, acusada dos crimes, não
foi com ela para os Estados Unidos: "Minha filha Margarida está no Brasil,
OFERTA
quase morrendo". Semanas depoisESPECIAL
de a reportagem FOLHAser publicada, Maria de
Lourdes foi levada de volta ao em
Notícias país de real
tempo origem peloilimitado
com acesso serviço diplomático. E
tornou a viver na casa abandonada com a filha. Foi nesse momento que fizeram
3 MESES POR R$ 1,90/mês
essa foto, em que Maria está acamada.
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Depois que AeuFolha vejoutiliza cookies
as fotos, e tecnologias
faço mençãosemelhantes,
de devolver como
para a pessoa que me
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mostrou. Mas ela diz: "Quer? Pode ficar."
cancele quando Então,
quiser
/paineldoleitor/2020/04/termos-e-condicoes-de-uso-folha-de-spaulo.shtml) eurecomendar
, para levo as imagens comigo.
OK
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Eu agradeço e, quando estou prestes a ir embora do escritório, ela me conta


uma informação que muda tudo. Tudo. A casa abandonada está prestes a ser
vendida. "Já foi", diz a pessoa. No começo de 2022, as irmãs de Margarida
aceitaram uma oferta de compra. Uma associação cultural ofereceu R$ 10
milhões pela casa mais o terreno onde ela está. A família toda, menos
Margarida, já disse sim. A curadora dativa da herança disse sim. Só falta a juíza
do caso autorizar a venda, com ou sem o sim de Margarida.

É provável que em breve a casa abandonada mude de mãos. E que, com o


tempo, ela seja reformada. Deixe de ser uma casa abandonada. E, quando a
venda for concretizada, a mulher que mora lá dentro vai ser despejada. Por
bem ou por força de polícia, garantem as partes envolvidas no processo.

Até lá, eu continuo passando na frente da casa abandonada, quase todos os


dias. Uma mansão que já viu dias melhores, e hoje está ruindo. Mas eu nunca
mais vejo Margarida.

VINHETA DE TRANSIÇÃO

É fim de tarde de sexta-feira, dia 27 de maio. Mas eu estou longe de sextar.


Estou andando pela rua da casa abandonada com a Beatriz Trevisan, produtora
desse podcast.

A gente chega à praça Vilaboim. Estamos lá para fazer plantão em frente da


casa abandonada até que Margarida apareça. Faz semanas que eu tento falar
com ela, mas nunca mais a vi. As janelas estão sempre fechadas. Eu desconfio
que ela tenha ficado sabendo que eu estou fazendo uma reportagem sobre a
história dela, e por isso tenha ficado ainda mais reclusa.

Então, a tática é vencer pelo cansaço. Uma hora, ela vai ter que sair para
alimentar os cachorros,OFERTA
que ficam ESPECIAL FOLHA
do lado de fora. Ou ir ao mercado. Ou tentar
Notícias em tempo real com acesso ilimitado
impedir que uma árvore seja derrubada.
3 MESES POR R$ 1,90/mês
Eu e a Beatriz nos sentamos num banco, a metros da entrada da casa. E a gente
passa horas parado esperando.
ASSINE A FOLHA
Plantados na frente da árvore que foi plantada
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onde ficava o pé de
explicado em ipê
nossapodado naPrivacidade
Política de antevéspera do Natal.
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[Beatriz] Mas é que nemusuário
aquelaaceita
da Marina Sena também, adoro ela, mas não
tais condições.

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aguentava mais

[Chico] "Por supuesto"?

[Beatriz] É

[Chico] Eu amo

O tédio deixa a gente em banho maria. Precisamos ficar atentos o suficiente


para caso ela apareça, então nem pro celular a gente olha muito.

[Chico] É, pois é. Daí eu estou falando com o Bonfá, ir ou não ir. Ele mora ali, ele mora
na Santa Efigênia. Na rua. Ele falou assim, ‘vem aqui, deixa o seu celular em casa e a
gente vai a pé’, porque vai ser na Praça das Artes, o Getúlio Abelha.

A gente passa horas olhando para a casa abandonada e jogando conversa fora
com amigos por áudio de Whatsapp.

[trecho de áudio do Whatsapp sobre a Virada Cultural]

Até que a fome bate.

[Chico] Será que eu vou lá ver a pizza? Cê grita qualquer coisa? Ou me manda
mensagem?

E eu atravesso a praça para pegar uma pizza.

[Chico] Eu consigo pegar, pedir pra levar?

[Atendente] Sim.

[Chico] Tem essa promoção de cinquenta reais? Tem de quê? Quero.


OFERTA ESPECIAL FOLHA
[Atendente] Calabresa, marguerita, frango e requeijão e mussarela.
Notícias em tempo real com acesso ilimitado

[Chico] Já era. 3 MESES POR R$ 1,90/mês


Eu volto com a pizza. ASSINE
A gente come.
A FOLHA
E espera. E olha para a casa. E espera. Mas
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ela não sai mais de


explicado emcasa.
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Já é quase meia-noite quando eu vejo uma figura na rua. Não é Margarida. É um


homem alto de terno. Um homem que eu já conheço.

[Chico] Deixa eu ir lá ver se é ele.

Sim, é ele. O João.

[Chico] E aí?

[João] Oba!

[Chico] Tudo bem?

[João] Jóia?

[Chico] Lembra de mim, João? Eu sou o Chico.

[João] Cadê o livro?

[Chico] Tô esperando ela. [a Margarida]

O João, que prefere ser identificado só pelo primeiro nome, é segurança da rua
onde fica a casa abandonada. E foi uma das dezenas de pessoas que eu
entrevistei para essa série. Por mais que a gente ainda não tivesse ouvido a voz
dele até aqui, o João deu informações importantes nessa investigação. E ele já
me conhece há meses, por mais que insista que eu estou escrevendo um livro, e
não fazendo um podcast. Então, não estranha nem um tico me ver ali, parado
na calçada no meio da noite.

Em vez disso, vem puxar papo. Ele diz que nunca mais viu a mulher sair da casa
abandonada. E dá uma sugestão de como fazer Margarida colocar a cabeça
para fora de casa. OFERTA ESPECIAL FOLHA
Notícias em tempo real com acesso ilimitado
[João] Você quer ver ela sair logo? Sabe o que é?
3 MESES POR R$ 1,90/mês
[Chico] Hã?
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[João] Você faz barulho


explicado em nossa prosPolítica
cachorro latir. Ela (https:/
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[João] É!

A casa não tem campainha. E eu não quero gritar, porque imagino que a
Margarida já saiba que estou atrás de uma entrevista. Então a tática de fazer os
cães chamarem sua dona pode funcionar.

Eu atravesso a rua. Vou até o portão.

[som de passos na rua]

Começo a dar batidinhas na placa de metal que cobre todo o portão. E João
tinha razão, os cachorros começam a latir imediatamente.

[sons do Chico mexendo no portão da casa abandonada e do cachorro uivando]

Eu espero um pouco e bato no portão de novo.

[Chico mexe no portão de novo, com mais força para fazer mais barulho, e os
cachorros latem]

E de novo.

[sons do Chico mexendo no portão da casa abandonada e dos cachorros latindo]

O João assobia do outro lado da rua, avisando que viu algo.

[som do João assobiando]

Eu também vi. O vidro da porta virou um filme do Hitchcock. Porque apareceu


o vulto de uma pessoa, olhando de frente para a rua. Não dá para ver o rosto
OFERTA
nem nada, só o contorno do corpoESPECIAL FOLHA
de uma pessoa, parada rente à porta.
Notícias em tempo real com acesso ilimitado
[sons do Chico mexendo no portão mais uma vez]
3 MESES POR R$ 1,90/mês
Só mora uma pessoa lá dentro. Então, é Margarida que está ali. A sombra fica
três ou quatro segundos
A Folha parada.
ASSINE
utiliza A FOLHA
cookies E,(HTTPS:/
então,
e tecnologias sai de frente
semelhantes, comoda porta. Um segundo
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depois, aexplicado em nossa Política de Privacidade (https://www1.folha.uol.com.br


luz do térreo se apaga.cancele quando quiser
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[Chico] Apagou a luz?

[Beatriz] Ela é muito esperta.

[Chico] Vambora.

A casa fica em silêncio. E no breu total. Eu ando até o João, que pergunta o que
aconteceu.

[Chico] Cê viu?

[João] Ela saiu?

[Chico] Ela apareceu no contraluz, a gente viu ela passando no vidro… Apagou a luz.

Já passou da meia-noite. Não há mais esperança de que ela saia. O João ainda
sugere outra tática.

[João] Aonde você ver ela por aí, sabe o que você faz? Você fala assim, que ela é doida
por planta, sabe? Você fala assim, ‘ó, moça…’ pra chamar a atenção dela, sabe? ‘Moça,
eu queria saber como é o nome dessa planta aqui’.

Mas eu não tenho mais energia para tentar de novo. É quase uma da manhã
quando a gente desiste de falar com a mulher da casa abandonada.

VINHETA DE TRANSIÇÃO

No dia seguinte, eu acordo e vou para a praça Vilaboim sem nem tomar café da
manhã. Fico mais seis horas parado. Plantado, sentado, sozinho esperando
alguém sair da casa. E ninguém sai.
OFERTA ESPECIAL FOLHA
Eu me dou conta que essa tática
Notícias podereal
em tempo levar
comsemanas, ou meses, até funcionar.
acesso ilimitado

Na noite anterior, o João me disse que nunca mais viu Margarida na rua. O
3 MESES POR R$ 1,90/mês
único sinal de vida da casa abandonada nos últimos meses foi uma entrega de
supermercado. Ou seja, minhas chances são ralas.
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para a política da boa vizinhança. cancele quando Escrevo quiser para uma pessoa queOK
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Margarida conhece melhor usuáriodo quetais
aceita eu, e que ela talvez atenda. A Mari Muradas
condições.

20 de 30 13/7/2022 10:55
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me encontra na praça depois do almoço.

[som de beijo]

[Chico] Tudo bem aí?

[Mari] E aí? Nenhum sinal?

[Chico] Nenhum sinal.

Ela topa fazer um experimento. Como Margarida parece estar fugindo de mim,
a Mari vai até o portão da casa abandonada tentar conversar com a mulher que
mora lá dentro.

Por mais que tenham tido confrontos, as duas não são inimigas. Margarida
ainda fala com Mari quando as duas se cruzam. Ainda mais se a doula estiver
passeando com a cachorra, Banana.

Caso Margarida saia, eu apareço e digo para ela que estou fazendo uma
reportagem sobre a história dela, e peço uma entrevista.

No caminho para a casa, a gente passa pelo edifício Jóia. E o zelador Francisco
está no portão. Ele é o Francisco que se considera amigo da Margarida, que
apareceu no segundo episódio. E, ao contrário de mim, ele tem visto a vizinha
com frequência.

[Francisco zelador] Os abacates estão caindo direto, então ela mudou de canto. Ela
fica até às sete, às vezes tudo escuro, ela fica recolhendo o lixo, ela tá lá, só um clarão
do computador dela.

Porque do fundo do prédio ele vê a mulher no quintal da casa abandonada. Diz


OFERTA
que ela se senta em frente ESPECIAL
ao computador FOLHA
e passa horas. Mas que ela parou de
trafegar na parte da frente do em
Notícias imóvel. Na com
tempo real parte que
acesso dá para a rua. Ela se
ilimitado

escondeu nos fundos da casa.


3 MESES POR R$ 1,90/mês
[Francisco zelador] E mesmo quando tá frio, ela fica com o computador ali atrás,
A Folha coloca ASSINE A FOLHA (HTTPS://ASSINATURAS.FOLHA.COM.BR/420314)
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até às semelhantes,
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21 de 30 13/7/2022 10:55
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Francisco diz que vai me mandar uma mensagem de Whatsapp caso veja
Margarida de novo. E Mari Muradas e eu vamos para o portão de frente da casa.

A Mari fica de pé na frente da porta. Eu saio do campo de visão.

[Mari Muradas bate palma]

Ela bate palmas.

[Mari Muradas bate no portão]

Ela bate no portão. Os cachorros acordam e vêm para perto da rua.

[sons da Mari Muradas batendo no portão da casa abandonada e dos cachorros


latindo]

Mas não acontece nada.

[...]

Mari Muradas então chama Margarida pelo pseudônimo que ela adotou desde
que fugiu dos Estados Unidos para o Brasil.

[Mari] Maaari!

Nada. A não ser a raiva cada vez maior dos cachorros.

[som dos cachorros uivando mais alto e forte]

Eu desisto de me esconder. Levanto com o peito contra o portão e começo a


chamar também.

[Chico] Ô Dona Maaari!!!!


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[sons dos cachorros latindo]
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Podcast A Mulher da Casa Abandonada, 6º episódio - Folha - 13/07/2... https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2022/07/podcast-procura-a-...

vê parado no meio da calçada e pergunta se eu estou bem. Se eu estou perdido.


Eu digo que não, estou só esperando uma conhecida.

E eu desisto de novo. Mais um dia que passei inteiro na frente da Casa


Abandonada e que não rendeu nada. Nem uma sombra do lado de dentro da
sala.

VINHETA DE TRANSIÇÃO

O sol mal nasceu no domingo, dia 29 de maio, e eu estou na rua. Vou passar
mais um dia de plantão na porta da casa abandonada. Mas, antes, eu me
permito um luxo minúsculo. Levo o jornal até a padaria e me sento para tomar
um café enquanto leio.

São sete e pouco da manhã quando meu telefone toca. A tela mostra que é Mari
Muradas do outro lado da linha. Eu atendo e ela não diz alô. Só diz uma
palavra: corre.

E eu corro. Saio sem pagar minha conta e deixo o jornal para trás.

[sons de passos acelerados e de respiração ofegante]

Levo sete minutos para correr o quilômetro e meio que fica entre a padaria e a
casa abandonada. O Google Maps estima que uma pessoa levaria 18 minutos
para se deslocar entre esses dois pontos.

Mas a velocidade vem com um preço. Chego à casa botando os bofes para fora.
E lá está ela. Margarida. De costas, varrendo o jardim.

Eu a chamo com o fiapo de fôlego que resta.


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[Margarida] Ai que susto!!!

[Chico] TudoAbem? ASSINE


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[Chico] Tudo bom. Você se lembra de mim? Eu sou o Francisco.

[Margarida] Lembro. Você está bom, Francisco?

[Chico] Tô e a senhora?

[Margarida] Eu também, obrigada.

[Chico] Que bom.

Ela se vira. O rosto está coberto pela pasta branca.

[Chico] Precisava falar com a senhora.

[Margarida] Oi?

[Chico] Eu precisava falar com a senhora.

[Margarida] Fala ué…

[Chico] A senhora…

[Margarida] É rápido? Porque eu estou correndo aqui que eu tenho que fazer um
monte de coisa.

[Chico] Tá.

Ela deu dois passos em direção à entrada. Eu tenho medo que ela vá fechar a
porta na minha cara, como fez das últimas vezes que a vi.

[Chico] A senhora pode me dar uma entrevista?

[Margarida] Para o quê?


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[Chico] Porque eu sei que aNotícias
senhora é Margarida
em tempo Bonetti.
real com acesso Eu fui pros Estados Unidos,
ilimitado

eu encontrei o Renê, eu encontrei a … [bipado]. Eu tô fazendo pra Folha de S. Paulo


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uma reportagem sobre seu caso.
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[Margarida]AQue
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[Margarida] Esse é um caso horroroso.

[Chico] É um caso horroroso.

Eu só consigo repetir: é um caso horroroso. Mas, pelo menos, ela admitiu que
sabe do que estou falando. Admitiu que é Margarida Bonetti, e não Mari, como
se apresenta para os vizinhos.

[Margarida] Mas esse caso aconteceu em 2000!

[Chico] Tá! Eles podem até prescrever.

[Margarida] Já prescreveu esse negócio.

[Chico] Exato. Eles podem até ter prescrito, como prescreveram.

[Margarida] Sim! Mas mesmo que fosse… a parte dele é uma coisa. Agora eu quero
fazer o que? Já prescreveu. Então pra que ressuscitar esse assunto?

Eu tento explicar para ela que esse assunto nunca morreu. Que ela nunca
respondeu à Justiça, nem foi confrontada com as acusações. Que ela só se
escondeu. E um crime não morre de velho. Por isso, não seria ressuscitar um
assunto. Seria resgatar um assunto. Mas eu ainda estou exausto dos dias
passados em vão na frente da casa e esgotado da corrida até ali.

[Chico] Bom, é isso.

[Margarida] Calma, calma.

[Chico solta uma risadinha]

[Margarida] Cê tá meio, assim, ansioso, né? Com aquele negócio todo, agitado, sei lá.
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[Chico] Não, acho que é… Notícias em tempo real com acesso ilimitado

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[Margarida] Então, fica tranquilo, POR
vamos R$
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calma.

[Chico] Estamos tranquilos.


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Eu tô ansioso e agitado. Faz semanas que eu estou tentando falar com
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Margarida. E ela está ali, calma, ouvindo que uma pessoa investigou a vida dela.
Os crimes que foi acusada de cometer. E ela continua calma quando responde.

[Margarida] A história era uma mentira. Era uma armação, essa história.

E então, ela parece se lembrar de algo.

[Margarida] Foi você que me ligou agora cedo?

[Chico] Foi.

[Margarida] E era por que?

[Chico] Pra tentar falar com a senhora, porque eu já estou tentando ligar há muito
tempo. Eu vim aqui, bati…

[Margarida] Quanto tempo ‘muito tempo’?

[Chico] Ah… três semanas.

Sim, eu tinha ligado para Margarida cedinho. Faz três semanas que eu tentava
falar com ela em horários diferentes. Já tinha ligado do meu celular, do celular
do meu marido e do da minha mãe. Mas ela nunca atendeu. Nem respondeu os
recados.

Mas agora ela está ali. E sabe que vou fazer uma reportagem. E tem de dar uma
resposta.

[Chico] É isso que eu queria ouvir da senhora, a sua versão, a senhora pode falar que é
uma armação.

[Margarida] Deixa eu explicar pra você.


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Mas ela não explica nada. Em vez disso, ela faz uma pergunta. Questiona se
quando a gente conversou, na antevéspera
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Natal, eu já estava interessado no
passado oculto dela.
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[Margarida] Deixaem
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te fazer umade
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muito bacana, sobre o assunto da
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[Chico] Uhum.

Ela respira fundo e levanta a mão. Dá a impressão de que vai falar. Margarida
nunca deu uma entrevista sobre o caso. A TV Globo tentou falar com ela. A Veja
tentou falar com ela. A própria Folha tentou falar com ela.

[Margarida] (suspira) Ai… Deus ajude a gente aqui meu Deus (risada), porque isso
aqui é um nojo.

Mas, em vez de começar a me contar a versão dela, Margarida pede um favor.

[Margarida] Eu quero te pedir…. Eu até posso conversar com você sobre essa coisa
toda.

[Chico] Tá.

Ela quer se preparar para a entrevista. Se preparar fisicamente, quero dizer.

[Margarida] E aí o que eu quero te perguntar é o seguinte. Como tá incomodando


muito, que já faz um tempinho que eu comi coisa doce e tudo… Cê pode esperar só um
minutinho pra eu escovar o dente e voltar pra falar com você?

[Chico] Tô aqui.

[Margarida] Por gentileza.

[Chico] Tô aqui, qualquer coisa eu tô na praça, tá?

[Margarida] Não, não! Fica aqui!

Ela fecha a porta. Eu espero por uma hora. E ela não volta.

OFERTA
[Chico] Esperando na frente ESPECIAL
da casa. Faz quase umaFOLHAhora que ela entrou, dizendo que
ia escovar os dentes Notícias em tempo real com acesso ilimitado

Eu vou embora da casa 3abandonada.


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É o fim. Ou, melhor, é um fim, por mais
que não seja o fim que eu esperava. Essa mulher tem direito de negar uma
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entrevista. De fugir de mim. pelo menos consegui chegar até ela e oferecer a
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oportunidade de dar a versão dela da quando
cancele história. quiser
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Eu volto para casa pensando em como terminar essa série, que foi prevista para
ter seis episódios. E a seguinte frase me vem à mente:

"Essa é a história de uma mulher que se esconde numa casa abandonada em


um dos bairros mais ricos do Brasil. E que esconde o passado dela atrás de uma
camada de pomada branca no rosto, e também de um nome que não é o dela.
Uma história que nunca tinha sido contada, mas que agora existe. Não que isso
vá mudar alguma coisa. Mas, pelo menos, a história existe."

A frase quase me satisfaz. Como o final quase me satisfaz. Mas, de novo, a


realidade não é um filme de Hollywood. Então, eu sento para escrever o último
episódio do podcast.

VINHETA DE TRANSIÇÃO

Mas o que eu pensei ser o fim era só um falso fim. Uma hora depois que eu
chego em casa, meu telefone toca. E, do outro lado da linha está Margarida
Bonetti, a mulher da casa abandonada, disposta a dar a primeira entrevista da
vida dela.

VINHETA DE TRANSIÇÃO

Se você sabe, ou desconfia, que uma pessoa tem seu trabalho explorado.
Denuncie. Dá para fazer uma denúncia anônima à Secretaria Especial da
Previdência e Trabalho num site. É um formulário simples e rápido. Só precisa
do endereço da ocorrência e de um relato breve do que está acontecendo.
Assim, fiscais podem ir até o lugar e avaliar a situação. O site para fazer a
denúncia, que pode ser anônima, é o seguinte: ipe.sit.trabalho.gov.br
(https://ipe.sit.trabalho.gov.br/). Esse link para o site também está no texto de descrição

desse episódio.
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