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18/06/2023, 22:00 Robert Darnton e o Grande Massacre de Gatos | TeoriLab: laboratório de teoria e história da historiografia

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Robert Darnton e o Grande


Aceitar Massacre de Gatos
28 de julho de 2021 Sem categoria
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18/06/2023, 22:00 Robert Darnton e o Grande Massacre de Gatos | TeoriLab: laboratório de teoria e história da historiografia

Gabriela Almeida Abreu

No segundo capítulo de seu livro O grande massacre de gatos e outros episódios da história cul-
tura francesa, intitulado “Os trabalhadores se revoltam: O Grande Massacre de Gatos na Rua
Saint-Sévein”, o historiador norte-americano Robert Darnton utiliza um documento inicial para tra-
zer a discussão histórica e das mentalidades na França no Antigo Regime. Este documento foi
escrito em Paris no ano de 1730 e é uma narrativa do operário Nicolas Contat, que era estagiário
em uma tipografia, contando o que aconteceu neste local 20 anos antes.

Resumidamente o capítulo narra a história de dois aprendizes que trabalhavam em uma tipogra-
fia, sendo eles o próprio Nicolas, que terá seu nome modificado para Jerome, e seu colega Lé-
veille. O relato inicia tratando da falta de condições dignas que os aprendizes tinham, mostrando
que o patrão e sua esposa tinham mais consideração pelos gatos de estimação e que ali viviam
do que por eles. Quando chegava à noite estes aprendizes não conseguiam descansar já que to-
dos os dias os gatos se reuniam, realizando o que Nicolas chama de um verdadeiro Sabá, ui-
vando e miando a noite inteira. Para resolver essa situação, Léveille, que era ótimo em imitação,
uma noite rasteja pelo telhado dos patrões e começa a miar e uivar repetidamente alto, impe-
dindo o descanso de seu chefe e sua esposa, que no outro dia ordenam que os aprendizes se li-
vrem dos bichanos. É aí que começa o grande massacre de gatos, quando, armados com cabos
de vassouras entre outras ferramentas, Jerome e Léveille, partem para cima dos gatos, reali-
zando uma verdadeira chacina.

Esta experiência é destacada como a mais engraçada da carreira do aprendiz Jerome, nos fa-
zendo questionar onde podemos encontrar a graça em um massacre de gatos. Darnton então
dirá que “entender a piada do grande massacre de gatos pode possibilitar o ‘entendimento’ de um
ingrediente fundamental da cultura artesanal, nos tempos do Antigo Regime” (DARNTON, 2015:
106-107). Podemos chegar a dois pontos para a explicação do ocorrido ter virado uma piada, a
primeira é que o massacre dos gatos seria uma forma de ataque indireto ao patrão e a esposa, já
que os operários tinham muitas queixas e raiva dos burgueses. Com o relato de Contat percebe-
mos as desigualdades entre o universo dos operários e dos patrões. Mas daí surge o segundo
ponto: “porque matar os gatos?” A resposta para essa pergunta pode ser encontrada nos rituais e
simbolismos que estavam presentes naquela sociedade.

Estamos familiarizados com os chamados Ciclos Rituais que marcam o “Calendário do Homem”
desde o início da Era Moderna; os mais importantes destes ciclos eram o Carnaval (folia) e a
Quaresma (onde a ordem se restabelece). Darnton nos mostra que os gatos tinham um papel im-
portante nestes festivais, pois torturar animais, principalmente gatos, além de ser visto como algo
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torturas eram populares e consideradas normais na sociedade da Europa Moderna. O ato de “jul-
gar” e enforcar os gatos se dá através dessa normalidade em utilizar esses animais para sacrifi-
car, estando dentro de uma tendência cultural daquela sociedade.
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18/06/2023, 22:00 Robert Darnton e o Grande Massacre de Gatos | TeoriLab: laboratório de teoria e história da historiografia

O autor elucida que o motivo dos operários massacrarem aqueles gatos teria sido a feitiçaria, já
que os operários não conseguiam descansar por causa do Sabá promovido pelos bichanos; apro-
veitaram-se das crenças e superstições do patrão e da esposa para realizar esse massacre, tor-
nando o julgamento uma encenação onde os gatos representavam os burgueses (com foco no
patrão e na esposa) e os operários os juízes, julgando os patrões sem sofrerem retaliação. O que
era tão engraçado era o fato de que os operários realizaram o procedimento com tanta habilidade
e conhecimento do simbolismo que conseguiram insultar os burgueses sem eles sequer
perceberem.

É preciso destacar que só temos uma versão da matança dos gatos, pois a história que o autor
utilizou como referência é a narrativa de Nicolas Contat. Não que seja uma narrativa duvidosa,
mas essa narrativa deve ser lida e pensada como a versão que Contat dá do acontecimento com
a sua tentativa de contar aquela história, mas, assim como Marc Bloch nos alerta no seu livro
Apologia da História de que o historiador tem que fazer suas fontes falarem ao invés de simples-
mente reproduzir o que elas dizem, é preciso saber interrogar nossas fontes (BLOCH, 2001), e é
isso que Robert Darnton faz neste capítulo, investigando o relato de Nicolas Contat para entender
as mentalidades humanas daquele período, buscando mostrar as mudanças que ocorreram nes-
sas mentalidades, que hoje em dia já não normalizam mais uma matança de gatos, mas que na
Europa Moderna era natural e justificável.

BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA

DARNTON, Robert. O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural


francesa. São Paulo: Paz e Terra, 2015

BLOCH, Marc. Apologia da história, ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2001

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