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ROTEAMENTO

Protocolo de
roteamento IS-IS
Leandro Lottermann

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Descrever o protocolo de roteamento IS-IS.


>> Diferenciar os protocolos IS-IS e OSPF.
>> Explicar a implementação do protocolo IS-IS, especialmente para redes IPv6.

Introdução
Neste capítulo, você será apresentado ao protocolo de roteamento Intermediate
System-Intermediate System (IS-IS), que é um protocolo da International Organi-
zation for Standardization (ISO) em conjunto com a International Electrotechnical
Commission (IEC). O IS-IS pertence a um conjunto de normas produzido para facilitar
a interconexão de sistemas abertos.
O IS-IS acabou não se tornando tão popular quanto o Open Shortest Path
First (OSPF), principalmente pelo fato de não ter sido implementado para uso
com os protocolos TCP/IP, que acabaram se tornando o conjunto de protocolo
padrão da internet.

Descrição e características do protocolo de


roteamento IS-IS
O IS-IS é um protocolo de roteameto dinâmico Interior Gateway Protocol (IGP),
que é um protocolo Link-State que usa o algoritmo de Dijkstra para definição de
melhor rota. Permite a organização da topologia de redes de forma hierárquica,
2 Protocolo de roteamento IS-IS

onde um dispositivo acaba assumindo a responsabilidade de compartilhar os


pacotes Link Sate Packet (LSPs) para os demais dispositivos da rede.
Observando estas características, facilmente somos remetidos às carac-
terísticas do protocolo de roteamento OSPF, visto sua semelhança, princi-
palmente pelo fato de ambos serem protocolos Link-State. É devido a essas
semelhanças que normalmente se usa um comparativo com o OSPF para
auxiliar no entendimento do IS-IS.
O grande detalhe, porém, é que o IS-IS tem por base o modelo Open Sys-
tems Interconnection (OSI) da International Organization for Standardization
(ISO), e não as pilhas de protocolos do TCP/IP, portanto, este vem a ser uma
das principais particularidades deste protocolo, que acabou fazendo que
com ele não se tornasse tão popular quanto o OSPF.
O IS-IS usa encapsulamento L2, ou seja, faz uso do encapsulamento da
camada de enlace do Modelo OSI, vinculado ao Ethernet 802.2 e 802.3, diferen-
temente dos demais protocolos da pilha TCP/IP, que usam o Ethernet II, usado
para o tráfego IP. Observe o encapsulamento IS-IS representado na Figura 1.

Figura 1. Encapsulamento IS-IS.


Fonte: Roy (2014).

Mesmo que o IS-IS não tenha sido projetado inicialmente para IP, ele
fornece uma maneira de adicionar novas extensões usando os campos Type
Length Value (TLV). De fato, os dados IS-IS são transmitidos usando o método
TLV: esse foi o caso do IPv4 e, em seguida, da extensão IPv6. O conceito é: basta
adicionar novos TLVs para uma nova família de protocolo, e se não suportar
um determinado TLV, simplesmente ignore-o silenciosamente (ROY, 2014).
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Conceito de funcionamento
O conceito do IS-IS é o compartilhamento de LSPs entre os sistemas interme-
diários (conceito de roteador para a ISO), passando a conhecer os seus vizinhos
que são os sistemas intermediários ao qual estão diretamente conectados.
Esses dispositivos trocam pacotes IS-IS Hello, criando assim uma adjacência,
que é o estabelecimento de conexão entre eles. Por padrão, o intervalo de
tempo do IS-IS Hello é de 10 segundos, e o tempo de Dead, que é o tempo
até dar um vizinho como inativo, é de 30 segundos.
Após o estabelecimento destas adjacências, os dispositivos passam a
compartilhar LSPs entre si, passando a conhecer toda a topologia da rede
e criando sua base de dados IS-IS LSDB (LSP), definindo assim as melhores
rotas para alcançar os dispositivos ou sistemas finais, que no conceito do
IS-IS são conhecidos como end system (ES).
A Figura 2 mostra os sistemas intermediários e os sistemas finais e o tipo
de informação que são trocadas entre eles, onde se vê que os ISs trocam entre
si pacotes IS-IS Hello (IIH) e os pacotes intermediate system hello (ISH) e end
system hello (ESH), que são os pacotes compartilhados entre os sistemas
intermediários e finais, criando o conceito de End system to Intermediate
System (ES-IS), que define como os sistemas finais e intermediários aprendem
uns sobre os outros. Esse conceito é similar ao Address Resolution Protocol
(ARP) e ao Internet Control Message Protocol (ICMP), da pilha de protocolos
TCP/IP.

IS

IS IIH IS

ISH ESH

ES ES

Figura 2. Sistemas Finais e Intermediários do IS-IS.

O IS-IS é um protocolo que permite a organização hierárquica da topo-


logia, sendo escolhido pelos ISPs devido à sua grande escalabilidade e ao
desempenho na convergência. Sua organização se dá por meio de divisão
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de áreas com o uso de dispositivos intermediários de diferentes níveis, que


são L1, L1/L2 e L2.
Os dispositivos intermediários no IS-IS podem manter adjacência somente
com outros dispositivos de mesmo nível, uma vez que há a característica de
diferentes LSPs para cada nível, ou seja, um dispositivo de nível 1 só reconhece
LSPs de nível 1, e, consequentemente, LSPs de nível 2 são reconhecidos pelos
dispositivos L2. O detalhe é que existe a figura de dispositivo de nível 1/2 (L1/
L2), que reconhece os LSPs de ambos os níveis.
Observe, na Figura 3, duas diferentes áreas IS-IS conectadas entre si com
o uso de um sistema intermediário de nível 2. Em cada uma das áreas, os
sistemas L1 mantêm adjacências entre si, enquanto os sistemas L1/L2 fazem a
fronteira entre os dispositivos L1 e L2, servindo como um gateway para as áreas.

L2

L1/L2 L1/L2

L1 L1 L1 L1

L1
L1

Área 1 Área 2

Figura 3. Áreas IS-IS.

Diferenças entre os protocolos IS-IS e OSPF


Apesar de os dois protocolos possuírem características de protocolos IGP com
o conceito de Link State, é na concepção dos protocolos que se encontram
suas principais diferenças. Como visto, o protocolo IS-IS não foi concebido
para a pilha de protocolos TCP/IP. Diante disso, pode-se dizer que a principal
diferença entre os protocolos está no fato de no IS-IS não haver necessidade
de endereçamento IP.
O IS-IS, apesar de dar suporte ao IP, por padrão foi desenvolvido para redes
connectionless network service (CNLS), um serviço de rede sem conexão, sendo
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um protocolo de camada 3 semelhante ao IP versão 4 (IPv4), para vincular


hosts (sistemas finais) a roteadores (sistemas intermediários) em uma rede
OSI (CLNS OVERVIEW, 2018).
A forma como os protocolos organizam a hierarquia de suas topologias, ou
subdminios, é outra importante diferença, onde o OSPF designa uma área de
backbone, normalmente usando a figura de um roteador area border router
(ABR), diferentemente do IS-IS, que faz uso de sistemas intermediários de
nível 2 para esta função.
Visto que ambos os protocolos possuem muitas similaridades, as termino-
logias usadas em cada um deles pode auxilar no entendimento das principais
diferenças. A primeira coluna do quadro expõe as terminologias OSPF, e a
coluna ao lado indica sua representação no conceito IS-IS.

Quadro 1. Terminologia OSPF vs. IS-IS

OSPF IS-IS

Host ES - End System (ES) – dispositivo


final

Roteador IS - Intermediate System

Link Circuito

Pacote PDU – Protocol Data Unit

DR – Roteador designado DIS – IS Designado

BDR – Rotador designado de backup Não há referência no IS-IS

LSA – Link-State Advertisement LSP – Link-State PDU

Pacote Hello IIH PDU – IS-IS Hello

DBD - Database Description CSNP – Complete Sequence Number


PDU

Area Sub Domínio

Non-Backbone Area Level-1 (Station)

Backbone Area Level-2 (Area)

ABR – Area Border Router L1L2 (station & Area)

Fonte: Smith (2017).


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A segurança é outro fator importante dos protocolos IS-IS e OSPF. Ambos


suportam autenticação, fazendo com que possam trocar mensagens de forma
segura, porém, uma das vantagens do IS-IS em relação ao OSPF é não estar
suscetível a ataques IP, uma vez que seus dados são encapsulados no enlace
(camada 2 do modelo OSI).

Implementação do protocolo IS-IS


Quando os protocolos foram desenvolvidos, o fato de o OSPF ser aberto e
dedicado a IP tornou-o muito mais popular que o IS-IS. Na verdade, o IS-IS
foi quase completamente esquecido. Com o passar dos anos, a popularidade
do OSPF encorajou a Internet Engineering Task Force (IETF) a adicionar novas
características. Passados dez anos da concepção dos protocolos, no início
dos anos 2000, alguns fatores fizeram com que o IS-IS recebesse uma nova
chance. Uma nova versão foi definida para integrá-lo com o IP e a internet;
e, visto que o OSPF fora concebido para endereçamento IPv4, o IS-IS acabou
tendo maior notoriedade com o advento do IPv6 (COMER, 2016).
A implementação do IS-IS é semelhante à do OSPF, desde que sejam
observadas as diferenças nas terminologias e conceitos apresentados no
quadro de terminologia. No IS-IS os sistemas intermediários têm de manter
adjacência entre seus vizinhos, o que ocorre com a troca de IIH PDU, para que
possam compartilhar os LSPs e assim definir o melhor caminho para atingir
os dispositivos finais.
A grande diferença, porém, está no fato de o IS-IS usar um sistema de
endereçamento baseado na arquitetura ISO, sendo referido como Network
Service Access Point (NSAP). O endereço de um sistema intermediário é co-
nhecido como Network Identity Tittle (NET).

Figura 4. Formato de endereçamento ISO.


Fonte: ISO (2002, p. 16).

A Figura 4 expõe o formato de um endereço NSAP. Esse endereçamento


tem duas partes principais: a parte inicial do domínio, que é o Initial domain
part (IDP), e a parte específica do domínio, que é o Domain specific part (DSP).
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O IDP consiste em uma autoridade e em um identificador, que é o Authority


and format identifier (AFI), que é codificada pela ISO. O Initial domain identifier
(IDI) é um identificador inicial de domínio que depende da autoridade, no qual
normalmente são usados valores diferentes para identificar os clientes que
se refere ao domínio ou sub domínio.
A segunda parte do endereço é o DSP, que são as configurações locais.
O DSP é dividido em três partes: o High Order DSP, que é onde é inserido o
número da Área IS-IS; o System ID, que é o ID exclusivo para cada roteador;
e o NSEL, que se assemelha a uma porta ou socket no TCP/IP.
A Figura 5 mostra um exemplo de um endereço NET de um sistema inter-
mediário. Observe que o system ID possui similaridade com um endereço
IPv4, visto que normalmente são derivados dos endereços de loopback dos
roteadores com o OSPF. Neste exemplo o System ID foi definido a partir do
endereço IP 192.251.1.12.

Figura 5. Formato endereçamento NET.


Fonte: Roy (2014).

Os aprimoramentos do IPv6 no IS-IS permitem que o IS-IS anuncie prefixos


IPv6, além das rotas IPv4 e OSI. IS-IS é um protocolo de roteamento intrado-
mínio extensível. Cada roteador tem o domínio de roteamento e emite um link
state protocol data unit (LSP) que contém informações pertencentes a esse
roteador. O LSP contém dados de comprimento variável digitados, muitas
vezes referidos como type lenght values (TLVs). O protocolo foi estendido com
dois novos TLVs para transportar informações necessárias para executar o
roteamento IPv6 (HOPPS, 2008).

IS-IS com IPv6


No IS-IS os dados são transmitidos usando o TLV, que é um método de co-
dificação usado para inserção de um elemento de informação opcional no
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protocolo. Visto que o IS-IS não fora concebido para uso no IPv4, ele utiliza
o TLV para inserir uma nova extensão para o IP. A Figura 1 mostra o TLV no
encapsulamento do IS-IS. O TLV pode ser usado, por exemplo, para informar
o nome de um host dinâmico ou métricas do IS-IS.
A Figura 6 mostra o exemplo de um TLV 129 de verificação de protocolo,
no qual se vê que o protocolo inserido corresponde a um endereço IPv6. Este
TLV é transmitido em todos os pacotes IIH e/ou LSP.

Figura 6. TLV de verificação de protocolo.


Fonte: Roy (2014).

A capacidade IPv6 é habilitada por padrão e é anunciada com IIH por meio
do TLV 139. Para oferecer suporte ao IPv6, o ISIS apenas adicionou novos TLVs
para descrever as informações de acessibilidade do IPv6.
Os novos TLVs inseridos foram o TLV 236 - IPv6 Reachability, que indica
a acessibilidade de uma rede especificando o prefixo e a métrica da rota, e
o TLV 232 - IPv6 Interface Address, que é semelhante ao TLV de IPv4, porém
com a diferença de que o tamanho do endereço passa a ser de 128 bits,
compatível com o IPv6.
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Referências
CLNS OVERVIEW. Juniper Networks, 2018. Disponível em: https://www.juniper.net/
documentation/en_US/junos/topics/concept/clns-security-overview.html. Acesso
em: 26 out. 2020.
COMER, D. E. Redes de computadores e a Internet. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2016.
HOPPS, C. Routing IPv6 with IS-IS. IETF Tools, 2008. Disponível em: https://tools.ietf.
org/html/rfc5308. Acesso em: 26 out. 2020.
ISO. ISO/IEC 10589: Information technology: telecommunications and information
exchange between systems: Intermediate System to Intermediate System intra-domain
routeing information exchange protocol for use in conjunction with the protocol
for providing the connectionless-mode network servisse (ISO 8473). 2. ed. Geneva:
ISO, 2002. Disponível em: https://standards.iso.org/ittf/PubliclyAvailableStandards/
c030932_ISO_IEC_10589_2002(E).zip. Acesso em: 26 out. 2020.
ROY, D. ISIS training and Junos configuration. iNET ZERO, 2014. Disponível em: https://
www.inetzero.com/isis-training-and-junos-configuratio/. Acesso em: 26 out. 2020.
SMITH, P. Comparing IS-IS and OSPF. NSRS: Network Startup Resource Center, 2017.
Disponível em: https://nsrc.org/workshops/2017/ubuntunet-bgp-nrens/networking/
nren/en/presentations/08-ISIS-vs-OSPF.pdf. Acesso em: 26 out. 2020.

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