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Neste quarto artigo desta série, comentaremos a respeito dos protocolos industriais que
operam sobre a Ethernet Industrial. Veremos que uma arquitetura de rede é modelada
em camadas hierárquicas. Em um destes modelos, o TCP/IP, os protocolos industriais
operam na camada superior. Logo abaixo, temos os protocolos TCP/IP, bastante
disseminados devido a Internet e, na camada inferior, opera a Ethernet, propriamente
dita. EtherNet/IP, PROFInet, Modbus TCP/IP são exemplos de protocolos industriais
disponíveis no mercado e que prometem reproduzir a “Fieldbus War” que ocorreu
durante os trabalhos de padronização de redes industriais do comitê IEC 61158.
Mauro Shirasuna
“Você precisa me dizer quem era aquele engenheiro de vendas, que você comentou no
seu segundo artigo, e que disse que Ethernet Industrial era puro marketing!” Foi o que
me falou “a queima roupa”, o gerente de vendas de uma grande multinacional de
automação durante um almoço com vários colegas de profissionais (os leitores devem
pensar que vivo em almoços de negócios o tempo todo, mas não é verdade). Perguntei,
meio atônito, a razão da pergunta e ele me respondeu: “Quero saber se ele é da minha
companhia! E mais, quero saber se ele é meu subordinado. Se for, vou chamar a sua
atenção!” No início, parecia sério, mas logo percebi um tom de brincadeira na frase.
Respondi que o tal engenheiro de vendas era de outra companhia (e era verdade!) e,
logo em seguida, ouvi uma expressão de alívio. Aí, pude me dedicar ao meu almoço.
Esta e outras manifestações permitem-me supor uma repercussão positiva que esta série
de artigos sobre a Ethernet Industrial está tendo entre os leitores (pelo menos entre os
meus amigos). Mas, vamos ao trabalho. Inicialmente, vamos aprender um pouco sobre o
modelo OSI.
O MODELO OSI
Para lidar com a complexidade dos vários aspectos que devem ser levados em
consideração quando desejamos possibilitar a comunicação entre computadores
(imagine cabos, conectores, placas de rede, tensões elétricas a serem especificadas,
protocolos de comunicação, etc.), a estratégia do modelo OSI foi dividir esta
complexidade em conjuntos de funções chamadas de camadas. A célebre idéia “dividir
para conquistar” é aqui aplicada. Seguem as principais características do modelo OSI:
Utilizando-se o modelo OSI, o projeto de uma arquitetura da rede se torna mais fácil. O
trabalho fica limitado a implementação de cada uma das camadas que podem ser
desenvolvidas independemente das demais. Além do mais, o trabalho de manutenção é
simplificado. Uma camada pode ser alterada, sem interferir nas demais camadas, desde
que os seus serviços permaneçam os mesmos. As 7 camadas do modelo OSI são
descritas na tabela 1:
Tabela 1 - Camadas do modelo OSI.
Na época da edição das normas, Ethernet ainda não era um padrão de facto do mercado
e concorria com Token Bus e Token Ring no ambiente de redes locais. A idéia do IEEE
era que existisse uma subcamada LLC comum a todas as redes locais e a subcamada
MAC fosse diferente de acordo com a tecnologia a ser adotada pelo usuário (Ethernet,
Tokem Bus ou Token Ring). Desta forma, se o usuário pretendesse implementar uma
rede Ethernet, deveria utilizar as normas IEEE 802.2 e 802.3 e, assim sucessivamente,
para Token Bus (IEEE 802.2 e 802.4) e, para Token Ring (IEEE 802.2 e 802.5).
Porém, como vimos nos artigos anteriores, Ethernet prevaleceu sobre todas as demais
tecnologias concorrentes, provocando o abandono das normas IEEE 802.4 e 802.5, e,
hoje, é sinônimo de rede local.
Depois de toda esta explanação, o leitor pode estar pensando: “Muito bem, entendi o
que é o modelo OSI. Vi que a Ethernet é implementada utilizando as normas IEEE
802.2 e 802.3 e ocupa as camadas 1 e 2. Mas, e as demais camadas? O que utilizamos
nas camadas 3, 4, 5, 6 e 7?” Bem, para tanto, temos que explicar o que são os protocolos
TCP/IP.
O MODELO TCP/IP
O modelo OSI foi concebido para que uma nova arquitetura de rede e seus protocolos
fossem concebidos e implementados encima deste modelo de referência. Com o TCP/IP
aconteceu o contrário: os protocolos foram primeiramente implementados e o modelo
veio depois. O modelo TCP/IP é apenas uma descrição dos protocolos existentes e é
baseado em 4 camadas: aplicação, transporte, inter-rede e interface de rede. A figura 3
mostra o modelo TCP/IP comparado ao modelo OSI e a tabela 2 descreve as camadas
do modelo TCP/IP.
Quando o modelo OSI foi proposto, em 1983, a indústria já tinha investido no TCP/IP e
não estava disposta a investir novamente em outro modelo. Além do mais, o modelo
OSI traz alguns problemas congênitos: algumas camadas são superdimensionadas,
quase vazias, como as camadas de sessão e apresentação, enquanto as camadas de
enlace e de rede são “pesadas” e cheias de funcionalidades para implementar. Embora
nenhuma rede tenha sido criada em torno de protocolos específicos relacionados ao
OSI, todos citam o modelo OSI por razões históricas e para guiar seu raciocínio quando
analisam uma arquitetura de rede.
Por estas razões, o modelo OSI não se tornou um padrão de facto para fabricantes e
usuários de redes. Essa função foi assumida pelo conjunto de protocolos TCP/IP, que
são os padrões, em torno dos quais, a Internet se desenvolveu. Outras razões para sua
adoção são a simplicidade e rapidez com que os padrões são criados.
Por outro lado, o modelo TCP/IP também apresenta problemas. Como o modelo é uma
descrição dos protocolos existentes, ele não consegue descrever outras pilhas de
protocolos, só o TCP/IP. Outra crítica é a junção das camadas Física e de Enlace do
modelo OSI numa mesma camada, chamada de Interface de Rede.
Bem, neste ponto, o leitor deve estar pensando: “Quanto rodeio para se chegar na
conclusão que se utiliza o modelo TCP/IP na prática. Na camada 1, utiliza-se a Ethernet,
na camada 2, o protocolo IP, na camada 3, os protocolos TCP ou UDP. Um momento...
e a camada 4 de aplicação?” Utilizam-se protocolos industriais fornecidos por empresas
do mercado. A tabela 3 fornece os principais protocolos da camada de aplicação
disponíveis no mercado:
Tabela 3 - protocolos da camada de aplicação
Porém, aquele leitor mais atento, e que está nos acompanhando desde o primeiro artigo,
com certeza terá a seguinte dúvida em mente: “A Ethernet Industrial não veio
justamente para ser um padrão único? Existem várias soluções para a camada de
aplicação? Bom, deve ser porque todas elas são compatíveis entre si...”. E a resposta
para essa afirmação é: não. Estes protocolos não são compatíveis entre si.