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1 2 Se Ss SS \ fi O Desaparecimento Crm cla) Neil Postman en ary Dec! eed ed Ce ae) eu 56 6 possivel imaginar: aconteceu Dee tee ee ee infarcia inexistia até fim da Idade Pe ee ety eee Sear ere See ene Peete es ene a eet as eee Ce a ee eee eee limites bem demarcados entre eee es at Ce eee es ee ee) ee ee es partir do primeiro ano de vida - as Cee ee ae ee ee eee) eae es juvenl nos indices de criminalidade Poe eon es Se i ee ees So ees oe eee eee De eo Cen Cet ees ees Cees See Os prenincios dessa Coe ee nn ‘a ee ey Ce ate eee ee eect tees Cee eer et ei See ees claro, no campo do sexo e da vio- ry Nio ha solugdes féceis ¢ De eee canes Co Oars orcas de resistencia a este desfe- Core aes cones | ec aes Se Rees SN RS Postman tem vinte ros publica- Cee ee conexdes entre midia e educagio, | Senn ane en rams err Teaching as a Subversive Activity | CEC RCTs Lo cea Ta se Pg Educacion. Cee a) Cee ees ae ee Ce ae arte a Coe rere ce oir ar De gue ee tes Cee eu aes ome a ae Ce a ee Co ees rts DOT ae ier ae ce GRAPHIA EDITORIAL, Ru da Gléria, 366 ~ grupo 1001 — Giéria Rio de Janeiro ~202441-180 ~ Brasil Tel: (21) 2224-4554 \werwsgrapiaeditorialcom.br 2002 NEIL POSTMAN O Desaparecimento da Infancia Tradugao: ‘SUZANA MENESCAL DE A. CARVALHO E José LAurento pe Muto Primeira reimpresstio Edigao Proeros ng Comunteacho Lroa. "apa Chaubia Zanves Wantiast: Saisr ewan Fultoragio eletroniea Mancta Recina pe Jesus Camros José AckcIo ni: CaNros Tul original The Disappearance of Childhood Copyright © 1982, 1994, Neil Post Todos os direitos para a Yingua portagu ‘com exclusividade, no Br il, esta editors ‘Na capa, Tainal, aos sete anos. (Roto: Clauia Zarvos, 1999) C1P-BRASIL. CATALOGACAO-NA-FONTE. SINDICATO NACIONAL DOS EDITORE Postman, Neil Psd Ode ‘Surana Rio de Janeiro: Graphia, 1999, ‘Tradugdo de: The disappea Inclui bibliogratia 277-300 ince of childhood Criangas ¢adulos. 1 Titulo. cpp x 99-1087 reservados DELIVROS, RJ arecimento da infncia Nei! Postman tr enescal de Alencar Carvalho e José Laurenio de Melo. nas ~ Histria. 2. Comunicago de massa e criangas. 3 4 CDU316:346,32.053.2 Sumario Prefiicio a esta edigio Introdugao PRIMEIRA PARTE A Invengéio da Infancia apitulo 1 — Quando nao havia eriang pitulo 2 ~ A prensa tipogrifica e o novo adulto ‘apitulo 3 cunibulos da infiineia ‘apitulo 4 — A jornada da infincia SEGUNDA PARTE O Desaparecimento da Infancia Capitulo 5 ~ O prinefpio do fim iulo 6 — O meio que esc pitulo 7 ~ O adulto-eriang Capitulo 8 ~ A crianga em extingao Capitulo 9 — Seis questdes Notas Biblio indice remissivo Para Shelley Prefacio a esta edigao Ao me preparar para escrever um novo prefécio para esta reedigio de um livro publicado hé doze anos, tentei me enfro- nnhar outra vez nos minimos detalhes das questdes aqui aborda. tarefa desagradivel, ji que, de todos os escrevi, este sempre foi o meu favorito. Mas niio esta ido a ser indulgente com ele, Procurava especialmente as previsdes, implicitas ou explicitas, que no se confirmaram. Minha intengdo era dizer ao leitor que eu havia cometido esses. erros e portanto usar esta edi¢Zo como uma oportunidade para cortigi-los. Acreditem ou niio, esperava encontrar alguns erros ves. Afinal de contas, o livro estuda um tema um tanto triste, tomado ainda mais intragiivel pelo fato de nao oferecer solugoes Vigorosas para o problema que suscita — na verdade, niio oferece solugio alguma. Se pelo menos algumas tendéncias para o desa~ parecimento da infancia tivessem sido contidas ou revertidas desde que o livro foi escrito, eu estaria muito contente, Nao tra- ria vergonha alguma para mim ow para o livro dizer que algo que pensei que iria acontecer nao aconteceu; que algo que cu sabia que estava acontecendo no esti acontecendo mais, Nestas circunstincias devo deixar ficar o livro como o escre vi no final da década de 1970 e inicio da década de 1980. Naturalmente alguns dos exemplos que apresentei como prova da erosiio da linha divis6 4 sero desconhecidos dos leitores jovens. Eles tero que suprit Seus proprios exemplos, dos quais hd agora muitos mais a esco- tha. Cada vez mais. Os exemplos disponiveis hoje tem um espécie de ogante pertinéncia que nio seria de alguns anos. Para falar com franqueza, o livro prete tar de onde veio a idéia de infincia, porque floresceu durante 350 anos € porque esti desaparecendo rapidamente. Minha releitura do livro, lamento dizer, néio me leva a mudar nada de importante. O que acont ia entio, acontece agora. $6 que pior Mas nos iltimos doze anos 0 que aprendi sobre o assunto me leva a acrescentar algo que nio esti no livro. Nao te do que pudesse estar no Livro, Mas & correciio ag} Durante os sitimos doz, fundamental a ‘om prazer que fago um Anos muitos professores, do ens a univers alunos os ‘argumentos ¢ indicios reunidos neste livro. E alguns estudantes me escreveram manifestando seus pontos de vista sobre o assunto. Fiquei particularmente interessado na opiniao dos alu. ‘nos da quinta e sexta séries, ja que esto numa idade em que as ‘apenas sofrem os efeitos de uma vida adulta preco do desejada, mas sio também capazes de falar sobre estes efeitos © mesmo refletir sobre eles. Esses alunos tambéi de ten- a ser diretos € econdmicos em seu estilo, ndo tendo sido ainda estimulados a usar a linguagem para mascarar seus pensa: mentos. Por exemplo, uma garota chamada Nariclle concluitt sua breve carta dizendo que minhas idéias eram “esquisitas” Um garoto chamado Jack disse: “Acho que o seu ensaio 1 muito bom. A infanei: io desaparece assim, de estalo!” Joseph escreveu: “A infincia ndo desaparece porque a gente assiste TV. Acho que a infa lesperdigada quando vamos a escola cinco dias na semana, Na minha opinido, isto é demais. A infin é precios ase ir escola mais do que me Tina escreveu: “Quando vocé ¢ cria demais sema- na, ndo tem que se preoeupar seriamente com responsabilidade. As criangas t&m 6 que brincar mai n esereveu: “ idade certa para se tornar um adulto.” Patty: “Nao acho que uum garoto de dez anos assiste a um show para adultos nunca acho que 18 anos mais possa ser erianga novamente.” Andy: “A maioria da garo- luda que vé filmes na TV sabe que eles nao sS0 reais” Hi, & claro, muita coisa a aprender com esses comentirios, tnas, para: mim, sua ligio principal é que as préprias eriangas {io uma forga na preservagao da infancia. Nao uma forga politi ca, certamente. Mas uma espécie de forga moral. Nessas ques- tes talvez. possamos chamilas de n parece, aio somente sabem qt fo auton, as qoerem que 9 aga ura citing; sa cz melhor do que os adultos, que se perde algo « importante quando se borra essa distingio. 7 Sustento tema do livro: a cultura amerieana & hostil 8 i ia. Mas é reconfortante € mesmo animador pensar que Neil Postman Nova York, 1994 Introdugio AAs criangas sfio as mensagens vivas que enviamos a um tempo que no veremos. Do ponto de vista biol6gico é inconce- hivel que uma cultura esquega a sua necessidade de se reprodu- vin. Mas uma cultura pode existir sem uma idéia social de infiin- cia, Passado 0 primeiro ano de vida, a inffincia € um artefato social, no uma categoria biol6gica. Nossos genes nio contém instrugdes claras sobre quem é e quem nao ¢ crianga, e as leis de sobrevivéncia no ex se faga distingio entre 0 mundo do adulto ¢ 0 da crianga. De fato, se tomamos a palavra criangas para significar uma classe especial de pessoas situadas entre se c, digamos, dezessete anos, que requerem formas especiais de criagdo e protegio e que se acredi m qualitativamente dif rentes dos adultos, entio ha ampla evidéncia de que as eriangas existem hi menos de quatrocentos anos. Na verdade, se usamos a palavra criangas no sentido mais lato em que a entende o ame- ricano médio, a infncia no tem mais do que cento e cingiienta ‘anos. Vejamos um pequeno exemplo; 0 costume de comemorar 0 aniversdrio de uma crianga no existiu nos Estados Unidos no decorrer de quase todo o século dezoito,! e, de fato, a indicagio cexata da idade de uma crianga 6, afinal, um hébito cultural relati- vamente recente, com niio mais de duzentos anos.* ‘Tomemos um exemplo mais importante: ainda em 1890 as escolas secundarias americanas acolhia cento da populagio de jovens entre quatorze ¢ dezessete a [mins am nits eyes al nara on oto soe e ues por ceo exccutavam abl adult, lguns do nace 0 m todas as nossas grandes cidades. = gets no devemas confundt de info, fats sacsiséom ta Renae ave mas han, Ao a ceca do esialo-nago e da liberdade de religio, a inna, como do sul dees chegou refine foals hsrn dias. Mas como todos os arteftossocais, sun existéncia pron. sada nfo ¢inevtivel, Realmente ese live asceu daminka percepeZo de que a idéia de infancia esté desaparecendo, e numa velocidad espanoss, Pate da minha ‘aetna pias gue se seguem consiste em apresentar provi dessa observagio, embora desconfie de que a maioria dos leitores nio polis uit pra se convener disso. Acne quer que eu tenha ido far oo tas ws ven recimento da infanci ioe . tanto § oUvintes quanto os leitores no ar a proposigao como ‘me apoiaram com testemunhos procedentes de sua propria e oe AApeteepedo de quo a linha diviséra ete a laffncine a ade adulta esté se apagando rapidamente ¢ bastante comum entre os que esto atentos e & até pressentida pelos desatentos. O arena ite bem entendido é, em primeiro lugar, de onde vem a fein ainda menos, por que estaria desaparecendo, mene ter algumas respostas inteligiveis para estas perguntas, quase todas provocadas por uma série de conjeturas sobre como ot meio de eomuniago afetam oproseato de scala em Particular, como a prensa tipogrifiea criou a infincia e como nidia eletrOnica a faz “desaparece ; Em outras palav ‘medida em que me dou conta do que es calc ine i, a principal co buigdo deste livro nio reside na afirmago de que a infincia esti ndo, mas numa teoria a respeito do porqué de tal ecendo. O livro, portanto, esti divididoem duas se em mostrar de onde surgi desapar coisa estar acont partes. A Primeira Parte preocup: 1 idéia de inffincia: especificamente quais eram, a principio, as condigdes de comunicagdo que tornaram ainfancia desnecessi- via e depois tornaram-na inevitavel. A Segunda Parte nosinst ‘os ¢ tenta mostrar como a passagem do nos tempos mode mundo de Gutenberg para o de Samuel Morse transformou a fa santo estrutura social, em algo insustentivel e, na verdade, despropositade. Ha uma pergunta de grande importincia que este fivro no a saber; o que podemos fazer a respeito do desapare sei a resposta. Digo isto cia, enqui formul: cimento da infncia? A razdo € qu ‘om um misto de alivio e desalento, O alivio decorre do fato de Jo tenho 0 encargo de dizer aos outros como viver suas jue todos os meus livros anteriores atrevi-me a apontar Vidas. de resolver um ou outro problema. Os edu- cadores profissionais devem, acredito, fuzer este tipo de coisa. no pode seragradivel reconhecer que & Nao tinhatin capacidade de imaginar solugSes nfo vai além da compreensio meio maisefieaz do problema, (© desalento, naturalmente, vem da mesma fonte. Ter que ficar paraclo Aesperaenquanto ocharme, a maleabilidade,a ino- céncia e a curiosidade das criangas se degradam ¢ depois se udo-adultos é doloro- ram nos tragos mediocres de p: ncertante e, sobretudo, triste. Mas me consolo com »: se nada podemes dizer sobre como impedir um trans! esta reflex desastre social, talvez possamos também ser dteis tentando com- preender por que isto esté acontecendo. PRIMEIRA PARTE A Invengdo da Infancia Capitulo 1 Quando nao havia criangas No momento em que escrevo, garotas de doze tio entre as modelos mais bem pagas dos Estados Unidos. antincios de todos os meios de comunicacio visual so ipresentadas ao piblico como se fossem mulheres adultas pertas e sexualmente atraentes, completamente & vontade num mbiente de erotismo. Apés vermos tais exibigGes de pomogra clada, nés, que ainda nao estamos inteiramente condiciona. dos as novas atitudes americanas para com as criangas, temos audade do charme e da sedutora inocéncia de Lolita. Nas cidades de todo o pais diminui rapidamente a diferenga entre crimes de adultos ¢ crimes de criangas; ¢ em muitos Estados as penas se tornam as mesmas. Entre 1950 ¢ 1979, 0 indice de crimes graves cometidos pelos menores de 15 anos aumentou cento € dez vezes, ou onze mil por cento. Os mais elhos talvez. se perguntem o que aconteceu com a “delinguién- cia juvenil” e simtam saudades de uma época em que um adoles- cente que matava aula para fumar um cigarro no banheiro da escola era considerado um “problen Os mais vethos também se lembram do tempo em que havia uma grande diferenga entre roupas de criangas e de adultos. Na tiltima década a indistria de roupas infantis sofreu mudangas tio aceleradas que, para todos os fins praticos, as “roupas infantis” desapareceram. Tudo indica que a idéia langada por Erasmo e depois plenamente aceita no século dezoito ~ isto é, que criangas ¢ adultos necessitam de tipos diferentes de trajes — rejeitada por ambos os g Tanto quanto as diferentes formas de vestir, as brincadeiras de crianga, antes tio visfveis nas ruas das nossas cidades, tam- bémesttio desaparecendo, Mesmo a idéia de jogo infantil parece escapar & nossa compreensio, Um jogo infantil, como o enten: diamos, nao precisa de treinadores, arbitros nem espectadores utiliza qualquer espago e equipamento disponiveis; € jogado apenas por prazer. Mas o beisebol Little League ¢ o futebol Pee Wee, porexemplo, nao sdo somente supervisionados por adultos mas também baseados nos modelos rigorosos dos esportes das Big Leagues. Precisam de drbitros. Exigem equipamentos. Os adultos torcem e vaiam nas laterais. Nao é o prazer que 0s joge: dores buscam e sim a fama. Quem viu alguém com mais de nove anos brincando de cavalinho, cabra-cega ou de roda? Peter € fona Of identificaram centenas de jogos infantis tradicionais, dos quais e, grandes historiadores ingleses dos jogos infan quase nenhum é usado com regularidade hoje em dia p criangas americanas, Mesmo 0 esconde-esconde, que era prati cado na Atenas de Péricles ha mais de dois mil anos, esté agora quase completamente desaparecido do repert6rio das brincadei ras! organizadas pelas proprias criangas. Os jogos infantis, em resumo, siio uma espécie ameagada Como na verdade € a propria infaneia. Para onde quer que a gente olhe, é visivel que o comportamento, a linguagem, as ati tudes ¢ os desejos ~ mesmo a aparéncia fisica ~ de adultos € criangas se tornam cada vez mais indistinguiveis. Certamente & por este motivo que existe um movimento crescente no sentido de reformular os direitos legais das criangas para que sejam mais oumenos osmesmos dos adultos. (Veja-se, porexemplo, 0 livro de Richard Farson, Birthrights.) O impulso deste movi mento, que, entre outras coisas, se opde & escolaridade compul sGria, estd na alegacao de que o que se julgava iaelevagdo Jjatus das criangas 6, a0 contrério, apenas uma forma de Jo que as impede de participar plenamente da sociedade Analisarei mais adiante as evidéncias que confirmam 0 ponto lo vista de q quero ressaltar que, de todas as evidéncias, nenhuma é mais 1 infiincia est desaparecendo. Por enquanto uugestiva do que o fato de que a hist6ria da infancia se tornou jyora uma indiistria importante para confirmar a observagio de Marshall McLuhan de que ire 0s especialistas, Como que quando um artefato social fica obsoleto se transforma num obje- lo de nostalgia e contemplagio, os historiadores ¢ criticos wiais produziram, nas duas dltimas décadas, dezenas de traba: thos importantes sobre a hist6ria da infiincia, ao passo que pou quissimos foram escritos, entre, digamos, 1800 ¢ 1960.2 Na dade, € justo dizer que o livro de Philippe Ariés, Centuries of Childhood, publicado nos Estados Unidos em 1962, criow especialidade e iniciou a corrida, Por que agora? No minimo, podemos dizer que as melhores histrias de qualquer coisa siio produzidas quando um acontecimento est encerrado, quando uum petiodo esta em declinio, quando é improvavel que uma fase nova e mais vigorosa venha a ocorrer. Os historiadores normal- mente nao vém louvar ¢ sim enterrar. De qualquer modo acha mais facil fazer aut6psias do que relatar 0 curso dos fatos. Mas mesmo que eu esteja errado em acreditar que a si preocupagio de registrar a hist6ria da infincia é, em si mesma, um sinal do declinio da infaincia, podemos, pelo menos. ser gr tos por contarmos, finalmente, com informagBes que nos dize! de onde vem a infancia. Tais relatos nos permitem aprender por que uma idéia como a infiincia foi concebida e fazer conjectur a respeito das razGes por que deva tornar-se obsoleta. O que se segue, portanto, & a hist6ria da in de parte do material existente pode methor reconstrui-la Das atitudes para com as criangas na antigtiidade sabemos cia como um leitor de gran muito pouco. Os gregos, por exemplo, prestavam pouca atengio na infancia como categoria etdria especial, ¢ 0 velho adigio de que os gregos tinham uma palavra para tudo nao se aplica ao conceito de crianga, As palavras usadas por eles para crianga e jovem sio, no minimo, ambiguas e parecem abarcar quase qual- quer um que esteja entre a infiincia e a velhice. Embora nenhue ‘ma de suas pinturas tenha sobrevivido, ¢ improvével que os gre- Bos achassem digno de interesse retratar criangas em seus qua dros. Sabemos, sim, que dentre suas estétuas remanescentes nenhuma é de crianga, > HG referéncias em sua volumosa literatura ao que poderfa- mos chamar de criangas, mas sio obscurecidas por ambigiiida: des, de modo que niio podemos ter uma visio precisa da con cepgio grega, tal como era, de uma crianga. Por exemplo, Xenofonte fala do relacionamento de um homem com sua jovem esposa. Ela ainda no tem quinze anos e foi completa mente educada “para ver, ouvir e perguntar tio pouco quanto possivel.” Mas jé que também revela ter ouvido de sua mie que cla no tem nenhuma importincia ¢ que s6 0 marido importa ndio podemos avaliar claramente se estamos nos informando com as mulheres ou para com as Si gregos. ainda na época de ist6teles, nio restrigdes morais ou legais pritica do infanticfdio, Embora acreditasse que deveria haver limites impostos a essa pavorosa tradicao, Arist6teles no levantou objegdes firmes a ela.* Dai podemos presumir que a visio grega do significado da vida de uma crianga era drasticamente dife- rente da nossa. Mas essa suposigdo é desmentida as vezes. Herédoto conta virias histérias que insinuam uma atitude admissivel pela mentalidade moderna. Numa dessas historias, dez corintios vio a uma casa com © propésito de mat menino que, de acordo com um ordculo, destruiria a ci quando crescesse. Ao chegarem na casa, a mie, imaginando que faziam uma visita amistosa, poe 0 menino nos bragos de um dos homens. O menino sorri e, como diriamos, conquista 0 coragio dos homens, que saem sem executar sua missio monstruosa, Nio se diz a idade do menino, mas é obviamente pequeno o suficiente para ser carregado nos bragos de um adulto, Talvez se livesse oito ou nove anos, os homens nao tivessem tido dificul- dade de realizar seu intento. tatam de quesies como a possibilidade ou impossbilidade de ide clay wv ge "fle oa civilizads stava naturalmente o seu tempo pensando € edendo, Mesto os ferozes espartanos, que io eran foes peatland dor ovens do normal pelos modernos, “Os dados que colhi sobre métodos s," comenta Lloyd deMause, “levam-me crer que uma porcentagem muito alta das criangas de tempos anteriores ao século dezoito constituiria 0 grosso das “criangas maltratadas’ de hoje”.’ De fato, deMause acredita que uma ‘centena de geragdes de mies” viu impassivel seus bebés ¢ criangas serem submetidos a algum tipo de sofrimento porque elas (e, sobretudo, os pais) ndo possuiam o mecanismo psiquico necessério para ter empatia com criangas.® Ele provavelmente esti certo em sua conjectura. Mesmo nos dias de hoje, apés qu: trocentos anos de preocupagio com as criangas, ha pais que no conseguem estabelecer uma relagao de empatia com os filhos. E, portanto, inteiramente plausivel que quando Plato fala Protégoras em endireitar criangas desobedientes com “ame © pancadas, como se se tratasse de um pedaco de pau torto, podemos acreditar que esta é uma versio bem mais primitiva da adverténcia tradicional de que se pouparmos a vara, estr mos a crianga, Podemos também acreditar que a despeito de todas as stias escolas e de toda a sua preocupagao de ensinar vir- 9s jovens, os antigos gregos eram iludidos pela idéia de Psicologia infantil ou, por outro lado, educagao da crianga, Depois de dizer tudo isso, acho que é justo concluir que os os nos deram um prendincio da idéia de infiincia. A exemplo as idéias que aceitamos como parte de uma mentalidade ida, devemos aos gregos esta contribuigio. Bles certa mente nao inven infaincia, mas chegaram sufic te perto para que dois mil anos depois, quando ela fot in pudéssemos reconhecer-Ihe as rafzes. Os romanos, é claro, tomaram emprestado aos gregos a idéia de escolarizacdo ainda desenvolveram uma compreensiio da Infancia que superou a nogdo grega. A arte romana. por exem: plo, revela uma “extraordindria atengio a idade, a crianga Pequena e em crescimento, que s6 seria encontrada novamente na arte ocidemtal no perfodo da Renascenga."? Além disso, os romanos comecaram a estabelecer uma conexao, aceita pelos hha. Foi este um passo crucial na evolugio do conceito de infin- 6 declinio da infancia tanto na Europa medieval como em nossa propria época. A questio é, simplesmente, que sem uma nogao im desenvolvida de vergonha a infaincia nao pode existir. Os fomanos ~ ¢ esse crédito ninguém Ihes pode negar — apreende- fam a questo, embora, evidentemente, nem todas eles € nem lum nimero suficiente deles. Numa extraordindria passagem de (eu comentirio sobre educaco, Quintiliano critica seus pares pelo desavergonhado comportamento deles na presenga de triangas romanas nobres: Nés nos deliciamos se elas dizem alguma coisa inconveniente, e palavras que no tolerariamos vindas dos labios de um pajem alexandrino sao recebidas com risos e um beijo. ... elas nos ouvem dizer tais palavras, véem nossas amantes e concw: binas; em cada jantar ouvem ressoar cangdes obs: cenas, ¢ sido apresentadas a seus olhos coisas das quais deverfamos nos ruborizar ao falar. * Aqui nos defrontamos com uma visio inteiramente modema, que define a infancia, em parte, reclamando para ela a necessi- dade de ser protegida dos segredos adultos, especialmente os segredos sexuais. A censura de Quintiliano aos adultos que dei Jos longe dos jovens oferece uma xam de manter esses se ilustragio perfeita de uma atitude que Norbert Elias, em seu notivel livro The Civilizing Process, diz ser uma caracteristica de nossa cultura civilizada: submeter a pulsio sexual a controles rigorosos, exercer forte presso sobre os adultos para que priva: tizem todos os seus impulsos (em espe: uma “conspiragio de siléncio” em torno das pulsdes sexuais na presenga dos jovens.? Evidentemente Quintiliano era professor de oratéria ‘a obra que 0 tornou mais conhecido mostra como educar um inde orador a partir da infincia, Portanto, podemos supor que ele estava bem 3 frente da maioria dos seus contemporineos ni sensibilidade para captar os aspectos especiais dos jovens. Ainda assim, ha uma linha divis6ria reconhecivel entre o sentimento, expresso por Quintiliano e a primeira lei conhecida proibindo 0 0. Essa lei 56 foi promulgada no ano 374 da era crist trés séculos depois de Quintiliano."” Mas é uma extensio da idéia de que as criancas necessitam de protegiio e cuidados, de escolarizagio e de estar a salvo dos segredos dos adultos. E entio, depois dos romanos, todas essas idéias desapare- Toda pessoa instruida conhece as invasdes dos birbaros do: Norte, 0 colapso do Império Romano, 0 sepultamento da cultura 'sio da Europa na chamada [dade das Trevas € depois na Idade Média. Nossos compéndios escolares cobrem essa transformacdo razoavelmente bem, exceto em quatro pon. tos que sio geralmente desprezados e qu especialmente relevantes para a hist6ria da infancia. O primeiro é que a capac dade de ler ¢ escrever desaparece. O segundo é que desaparece a educagio. O terceiro é que desaparece a vergonha. Eo quarto, como conseqiiéncia dos outros trés, é que desaparece a infiin cia. Para compreender essa conseqligncia, precisamos examina detalhadamente 0 desenrolar dos trés primeiros acontecimentos. © porqué do desaparecimento da capacidade de ler ¢ escre ver é um mistério to profundo como qualquer uma das incégni- tas relacionadas com 0 milénio que se estende da queda do Império Romano a invengao da imprensa, Entretanto a questo se torna acessivel quando posta numa forma semelhante a0 modo como é apresentada por Eric Havelock na sua obra Origins of Western Literacy. “Pot que Roma,” pergunta ele depois da queda de aconteceu que 0 uso do alfabeto romano se restringiu a tal ponto que a populagaio em geral deixou de ler cescrever de modo a fazer reverter a alfabetizagdo, antes sc lizada, a um estigio de alfabetizagdo praticamente corporativa, uma vez mais invertendo a marcha da hist6ria?”"” O que é bas- tante itil na indagagdo de Havelock é a distingao entre “alfabe- tizagao social” xetizagio corporativa.” Por alfabetizagio scial ou sdcializada ele entende uma condigaio em que a m do povo pode ler e realmente lé, Por alfabetizagiio corporat arte de ler esti restrita a va se entende uma condigao em que uns poucos que formam uma corporagdo de “escribas” e, por unto, privilegiada. Em outras palavras, se definimos uma cultu ra Ietrada ndo com base na posse de um sistema de escrita mas ‘com base na quantidade de pessoas que podem ler esse sistema, n que desembarago o léem, entao a indagagio sobre as cau: as do declinio da capacidade de ler e escrever permite algumas njecturas plausiveis. Uma delas é dada pelo proprio Havelock. Ele mostra como, lurante a Wdade das Trevas e a Idade Média, se multiplicaram os tilos de grafar as letras do alfabeto e as formas se tornaram rebuscadas e dissimuladas, Os europeus, parece, esqueceram jue 0 reconhecimento, que era a palavra grega para leitura, deve F ripido e automtico para que a leitura seja uma pritica dis minada. As formas das letras devem ser, por assim dizer yansparentes, pois um dos aspectos maravilhosos da escrita alfabética é que uma vez aprendidas as letras, no se precisa pensar nelas, Elas desaparecem psicol JpOem como objeto de pensamento entre o leitor e sua lembranga da lingua falada. Se a caligrafia chama atengao para si mesma hu é ambfgua, a idéia essencial da alfabetizagao esté perdida ou Plara ser mdis preciso, esté perdida para a maioria das pessoas. Havelock escreve: “O virtuosismo caligrifico de qualquer tipo fuyorece a alfabetizacao corporativa e é por cla fayorecido, mas { inimigo da alfabetizagdo social. O destino infeliz das versies jyrega e romana do alfabeto durante a Idade das Trevas ¢ a Idade Média demonstra suficientemente este fato."!? O que aconteceu iy Evrop Pimento do alfaber Wo leitor para interpretar o que se escrevia. Citemos Havelock para dizé-lo com simplicidade ~ nio foi o desapare foi, sim, o desaparecimento da capacidade amente: “A Europa, com efeito, reverte por algum tempo a Jima condicao de leitura andloga Aquela que prevalecia nas cul: Hiras mesopotimicas pré-gregas, Uma outra explicagdo para a perda da capacidade de ler € escrever, de modo algum contradit6ria com a primeira, é que as fontes de fornecimento de papiro e pergaminho escassearam; ou se no isso, entio, que a dureza da vida nao permitia o dispén« dio de energia para manufaturd-los. Sabemos que 0 papel n chegou a Europa medieval sendo no século treze, época em que 6s europeus comegaram logo a manufaturé-lo, consagrado pelo tempo ~ com as miios © os pés 10 do modo mas com os winhos dégua."* Certamente ndo foi por acaso que os primér- dios das grandes universidades medievais ¢ um correspondente teresse renovado pela alfabetizag0 coincidiram com a intro- dugio e manufatura do papel. , portanto, bastante plausivel que, por varias centenas de anos, a escassez de superficies ade- quadas & escrita tenha criado uma situagio desfavorivel a alfa- betizacdo socializada, Podemos também supor que a Igreja Catdlica nao fosse indi ferente as vantagens da alfabetizagio corporativa como meio de anter 0 controle sobre uma populagao numerosa e diversifica. da; quer dizer, manter 0 controle sobre as idéias, a organiz 4 fidelidade de uma populagdo numerosa ¢ diversificada Certamente interessava a Igreja estimular um acesso mais restri- alfabetizagao, i 105 a formar uma corpo- ago de escribas que fossem os tinicos a conhecer os segredos teoldgicos ¢ intelectual er que sejam as razdes, nao pode haver diivida a alfabetizagio social desapareceu por quase mil anos; ¢ nada pode transmitir melhor o sentido do que isso significa do que a imagem de um leitor medieval abordando tortuosamente tum texto. Com raras excegdes, 0s leitores medievais, indeper dentemente da idade, no liam ou nao podiam ler como nés 0 fazemos. Se pudessem ver um leitor moderno percorrer uma si apidamente, labios imé- veis, interpretariam isso como um mimero de magica. O leitor edieval tipico procedia mais ou menos como um dos nossos alunos recalcitrantes de primeiras letras: palavra por palavea, murmurando para si mesmos, pronunciando em voz. alta, dedo poniado em cada palavra, mal esperando que qualquer delas Figonse algum sentido.'* E aqui me refiro aqueles que et Teliidos. A maioria da populagdo nao sabia ler. Into significava que todas as interagdes sociais importantes Je foalizavam oralmente, face a face. Na Idade Média, conta-nos Harbara Tuchman, “o leigo comum adquiria conhecimento p [ipalmente de ouvido, por meio de sermées piiblicos, dramas sueros © recitais de poemas narrativos, baladas € contos."'6 Posta forma a Europa voltou a uma condigao “natural” de Honicacio humana, dominada pela fala ¢ reforgada pelo into, No curso de quase toda a nossa histéria foi desta maneira ile 0s seres humanos conduziram seus negécios e criaram cul- Afinal de contas, como Havelock nos lembra, somos todos s. Nossos genes so programados para a lin da. A capacidade de ler e eserever, por outro lado, & produto de condicionamento cultural.!” Com isso Jean: Hieques Rousseau, o grande defensor do bom selvagem, concor Mari prontamente, € complementaria que, para viver 0 mais Pidximo possivel da natureza, os homens devem desprezar os Hivfos e a leitura. Em Emilio ele nos conta que “ler & 0 flagelo Ma infincia, porque os livros nos ensinam a falar de coisas das idle nada sabemos.” Mineo, creio,esié correo, se entendermos que ele quer ue a Icitura é o fim da infaincia permanente e que ela des- Hl & psicologia e a sociologia da oralidade. Visto que toma fiealvel entrar num mundo de conhecimento'nao observivel siitrato, a lcitura cria uma separagdo entre os que podem ¢ os Wile ilo podem ler. A leitura é o flagelo da infancia porque: WeltO sentido, cria a idade adulta, A literatura de todos os tipos ~ Welusive mapas, grdficos, contratos e escrituras ~ retine J Aogredos valiosos. Assim, num mundo letrado, ser adulto Wplicn ter acesso a segredos culturais codificados em simbolos Wo Halurais. Num mundo letrado, as eriangas precisam srans- Pimarse cm adultos. Entretanto nun jo nao letrado nao Wi Hiecessidade de distinguir com exatidio a crianga € 0 adulto, pois existem poucos segredos e a cultura nao precisa ministrar instrugio sobre como entendé-La Por esta raz4o, como Barbara Tuchman comport mbém observa, 0 al era caracterizado pela infantilidade nr OS grupos etérios.'® Num mundo oral no ha um ‘onceito muito preciso de adulto e, portanto, menos ainda de nga. Esta € a razdo pela qual, em que na Idade Méd que sete? Porque é nesta idade que as criangas dominam a s as fontes, descobre~ a infincia terminava aos sete anos. Por palavra. Elas podem dizer ¢ compreender 0 que os adultos dizem e compreendem. Podem conhecer todos os segredos da lingua, que so os tnicos segredos que precisam conhecer. E sto nos ajuda a explicar por que a Igreja Catdlica escolheu os sete anos como a idade em que era de supor que se passava a conhecer a diferenga entre o certo ¢ 0 errado, a idade da razo. sto também nos ajuda a explicar por que, até o século dezesse te, as palavras usadas para denotar jovens do sexo masculino podiam referir-se a homens de trinta, quarenta, ou cingienta anos, pois nao havi nenhuma palavra ~ em francés, alemio ou inglés a designar um jovem do sexo masculino entre sete © os dezesseis anos. A palavra child (cria ade." Acima de tudo, porém, a oralidade da Idade Média nos ajuda a entender por que niio havia escolas parentesco, niio uma i primirias. Pois, onde a biologia determ comunicagio, no ha necessidade de tais escolas. - E claro que Média, algum lares. Mas a total auséncia da idéia de uma educagio priméria s escolas ndo sio desconhecidas na Idade is delas estio ligadas a Igreja, outras siio particu: para ensinar a ler e escrever, ¢ proporcionar o lastro para um aprendizado ulterior demonstra a inexisténcia de nconceito de educagio letrada, O modo medieval de aprender ¢ o da oralida- de: acontece essencialmente na pritica de algum servigo — 0 que poderiamos chamar de “estégio no trabalho”. Tais escolas. lo existiam, se caracterizavam pela “falta de gradagio nos currfculos de acordo com a dificuldade do as: nelda snsino das matérias, pela mistura das idades ¢ pe da Idade Média ia & anos de idade, provavelmente mais, eda fami UIherdade dos alunos." Se um menin Pieola, comegava aos June. Vivia sozinho em alojamentos na cidade, lon; His. Considerava normal encontrar adultos de todas as idades na Win turma e no se julgava diferente deles. Certamente no des: obra correspondéncia alguma entre as idades dos alunos € 0 {que eles estudavam, Era constante a repetigio das ligoes, ji que hovos alunos chegavam continuamente € nio tinham ouvido 0 {que 0 mestre tinha dito antes. Claro, nao havia mulheres preser [es, ¢ logo que os alunos eram liberados da disciplina da sala de ula estavam livres para fazer 0 que quisessem do lado de fora (© que podemos dizer, enti, com certeza é que no mundo fnedieval nao havia nenhuma concepgao de desenvolvimento infantil, nenhuma concepgio de pré-requisitos de aprendizagem iqencial, nenhuma concepgio de escolarizagio como prepara glo para o mundo adulto. Como resume Arits, “A civilizagio medieval tinha esquecido a paideia dos antigos ¢ ainda nio ubia nada sobre educagio moderna. Esta é a questio principal Nao tinha idéia alguma de educagao [grifo meu}, Também nio tinha, devemos desde ji acrescentar, um con- ceito de vergonha, pelo menos como a entenderia um moderne \ idéia de vergonha repousa, em parte, em segredos, como bia Quintiliano, Poderiamos dizer que uma das principais diferengas entre um adulto e uma crianga é que 0 adulto conhe- ce certas facetas da vida — seus mistérios, suas contradigdes, sua violéncia, suas tragédias ~ cujo conhecimento nio é considerado propriado para as criangas © cuja revelagio indiscriminada ¢ nquanto as ‘onsiderada vergonhosa, No mundo moderno, criangas se encaminham para a idade adulta, revelamos-Ihes ses segredos da maneira que acreditamos ser psicol te assimilavel. Mas tal idéia € possivel somente numa cultura m que ha uma diferenga marcante entre 0 mundo adulto © 0 mundo infantil, onde ha instituigdes que expressam esta dife- renga. O mundo medieval nao fazia tal distingo e nao tinha tais instituigdes. Imersa num mundo oral, vivendo na mesma esfera soci bert Elias, que “tis pessoas se relacionavam entre si de mbaracadas de instituigdes segregadoras ilo diferente do nosso. E isto envolve nio s6 0 nivel de cons- ide Média tinha acesso a quase todas as formas d a clara e racional; sua vida emocional também tinha uma ento comuns a cultura, O menino de sete anos ef yuiura e um cardter diferentes.”?> Nao tinham, por exemplo, dos adultos, des crianga da I ‘comport uum homem em todos os aspectos, exceto na capacidade delllmmlnesmo conceito de espago privativo que nés temos; nao s fazer amor e guctra.” “Certamente”, escreve J. H. Plumb, “alll repulst por certos adores humanos ou fungies do corpo: havia, em separado, um mundo da infancia. As criangas come jp tinham vergonha de fazer suas necessidades bioldgicas sob partilhavam os mesmos jogos com os adultos, os mesmos bring olhares dos outros: niio sentiam nojo de ter contato com as quedos, as mesmas hist6rias de fadas. Viviam ju a ys ¢ a boca dos outros. Em face disso, nao ficaremos surpre separados, A festa vulgar de aldeia pintada por Brueghel, mosslfqlmmms 40 saber que na Idade Média no ha indicios de ensinamento trando homens e mulheres embriagados, apalpando-se com Iuibitos de higiene nos primeiros meses da vida do bebé.* E luxtria desenfreada, inclui criangas comendo e bel veri surpreendente o fato de nao haver nenhuma relutincia adultos. fy discutir assuntos sexuais na presenga das criangas. A idéia Os quadros de Brueghel, na verdade, most 8 fesconder os impulsos sexuais era estranha aos adultos, © a sas de imediato: a incapacidade e falta de vontade da cultura de mggiin de proteger as criangas dos segredos sexuais, desconheci esconder qualquer coisa das criangas, que & uma parte da idéia IA "Tudo era permitido na presenga delas: linguagem vulgar de vergonha, ¢ a auséncia do que ficou conhecido no s Bluacdes e cenas escabrosas; elas ja tinham visto e ouvido dezesseis como civilidade, que é a outra parte Hido.””’ Realmente, na Idade Média era bastante comum os conteido rico de comportamento formal para a juventude aprene Iummilios tomarem liberdades com os dreds sexuats das criangas der, © quanto este contetido ficou empobrecido na [dade Média Para a mentalidade medieval tais préticas eram apenas brinca pode ser dificil de apreender por parte dos modemos. Erasmo, Igieltas maliciosas. Como Ariés observa: “A pritica de brincar escrevendo ainda em 1523, dé: e Hom as partes intimas das criangas fazia parte de uma tradigio laberna alema na sua Diversoria: Hé oitenta a noventa pessoas Mf frgamente aceita...""% Hoje essa tradigio pode dar até tr sentadas, Sio de todas as classes sociais e idades. Alguém est Ij gus de prisio. A falta de alfabetizagio, a falta do conceito de educagio, a Iilla do conceitorde vergonha — estas sio as razdes pelas quais © lavando roupas que pendura para secar sobre o fogao. Outro, limpa botas na mesa. Hi uma bacia comum para lavar as mos ‘mas a gua estd imunda. O cheiro de alho e outros odores estio I piiceito de infincia nao existiu no mundo medieval. Devemos em toda parte. Cuspir é frequiente € nio hi restrigio de local, |peluir na historia, é claro, nao s6 a dureza da vida, mas, em fpecial, a alta taxa de mortalidade infantil. Em parte por causa ia das criangas, os adultos nao 10 emocional Todos esto suando, pois a sala esté superaquecida. Alguns Wit incapacidade de sobreviv fipham, © ndo podiam ter, com elas 0 envoly amos como normal. O ponto de vista predominante era assoam-se nas roupas e no se viram quando fazem isso. Quando a refeigio ¢ trazida, cada pessoa mergulha 0 pio no prato comum, dé uma mordida e mergulha-o de novo. Nao hi garfos. Cada um pega a carne do mesmo prato com as mios, Ode nuitos filhos na esperanga de que dois ou trés sobrevi bebe vinho da mesma taga e sorve a sopa da mesma tijela24 Vossem. As pessoas, obviamente, nio podiam permitir-se, nesta Para entender como as pessoas supor to—na verdade J sltuaglo, ficar muito ligadas a prole. Aris cita um do hem m gistra observagao feita pelo vizinho de uma desolada smo notavam — devemos admitir, como nos lembra quer de cinco filhos. O vizinho diz, para confortar a mie: “Antes quel mbem era a mestna. Nao hi, pager ve adultos e eriangas Pa HAomplo, em lugar alguin referéncias & mancira de falar das Balaigus anvc crescam o suficiente para aborrecé-la, vocé tera perdido metade! » século dezessete, quando comegarain a se tor $0 a maioria das criangas niio ia a esco deles ou talvez todos.” Até 0 final do século quatorze as criangas nao sio nem) mesmo mencionadas em legados ¢ testamentos, um indicio de que niio havia nada importante para Ihes ensinar; a maioria balte que os adultos nao esperavam que elas vivessem muito tempo.% 8 ou De fato, provavelmente por causa disso, em algumas partes da Europa as criangas eram tratadas como se pertencessem ao WMA fhuindada embora de casa para fazer trabalhos mundo medieval a crianga é, numa palavta, invisivel neutro. Na Itilia do século quatorze, por exemplo, OM Piehinan resuine isto assim: “De todas as caracteristicas que i crianga que tivesse morrido nunca era registrado.24M_lferouciain a dade Média da moderna, nenhuina é tio contun Mas acredito que seria um erro dar importincia demasiada 2 alta gpjie quanto a falta de interesse pelas criangas. taxa de mortalidade infantil como meio de explicar a auséncia B entiio, sem que ninguém esperasse, um ourives de da idéia de infancia, Metade das pessoas que morreram emf Mogdncia, na Alemanha, com 0 auxilio de uma velha prensa Londres entre 1730 ¢ 1779 tinha menos de cinco anos de id vhs no fabrico de vinho, fez nascer a infaincia © ainda assim, j4 entio, ra tinha desenvolvido a idéia de infancia.* E isso porque, como tentarei mostrar no préximo lo, um novo ambiente comunicacional comegou a tomar: no século dezesseis como resultado do surgimento da fabetizagio socializada. A imprensa criou uma de idade adulta baseada na competéncia de lei ura, e, consequientemente, uma nova concepgio de infincia baseada na incompeténcia de leitura, Antes do aparecimento desse novo ambiente, a infaincia terminava aos sete anos € @ idade adulta comegava imediatamente. Nao havia um estigio intermediario porque nenhum era necessério. Por isso é que, antes do século dezesseis, nao havia livros sobre criagio de filhos e pouquissimos sobre mulheres no papel de mies.) Por isso também € q ceriménias, inclusive funerais, no havendo razio para protegé: ‘0s jovens tomavam parte na maioria das los da morte. E por isso no havia literatura infantil. Na verda- de, em literatura “o principal papel das criangas era morrerem, geralmente afogadas, sufocada andonadas...."™ Por isso é que ndo havia livros de pediatria. E por isso as pinturas coere temente retratavam as criangas como adultos em miniatura, pois logo que as criangas deixavam de usar cuciros, vestiam-se ex tamente como outros homens e mulheres de sua classe social. A predar numa disputa por RMA ARMs “invengio Worlds « on Hive ho por Baiada sie Wet We proprias palavras ¢ obras fixadas para sempre ih Hern so qu eae ati © reldgio mecinico, que Haina do tempo, © prelo captu Hips © dosse modo altera a conscigneia que a humanidade tem MPa mosma, Toxavia, enqu: Milmford, climinou a Eternidade como medida e centro das alia liga © presente Capitulo 2 nicas.."! Por lizabeth Bisenstei 1. Ossi Porque, sugere A prensa tipografica e 0 novo adulto je difusa idgia de individualidade. O prelo é nada n diivida to potente e nhocas de H.G. Wells. a também uma importante domestica e transforma 0 © relgio, como sustenta Lewis E 6bvio que para que uma idéia como a de infiincia se com cretize & preciso que haja uma sta mudanga no deve ser apenas de considerdvel m mas ta Wes humans, o prelo restaurou-a. A tipo hill © sempre. Transporta a identidade pessoal para reinos des Woithecidos. Com o prelo, o sempre pode ser alcangado pela voz nbém de natureza especial, Deve, expressamente. definigio de adulto, Durante a Idade Média how viirias mudangas sociais, algumas inv ntou 0 estribo, 0 arco, o bolo ou Ninguém sabe quem inve o mecdnico, e muitos acontecimentos notaveis, inclusivalge AWNNO 0s GculOs, porque a questio da realizagio pessoal era (ase irrclevante no mundo medieval. Realmente, antes da 8 tipografiea, © conceito de escritor, no sentido modemo, a Peste Negra. Mas nio ocorreu nada que exigisse que os aduld tos alterassem sua concepgao da propria vida adulta. Em m pr Hilo existia, O que de fato e: Houventura, que nos conta que no século treze havia quatro stia & descrito em det he por S30 dos do século quinze, contudo, tal acontecimento se verificou: a io da impressiio com caracteres méveis, O objetivo deste capitulo é mostrar como a tipografia criou um nove mundo simag Mmelr#s de fazer livros: bolico que exigiu por sua vez, uma nova concepgio de idadel adulta. A nova idade adulta, por definigio, excluiu as criangas Um howe podiar escrevéras‘obras di outros: $e acrescentar ou mudar nada, sendo neste caso cha: E como as ct ngas foram expulsas do mundo adulto, tomnou-se , necessfrio encontrar um outro mundo que elas pudessem habie een ee ee sents " chamado de “compilador Outro escreve tanto a obra de outros como a sua mas pondo a obra de Ha pelo menos sete cidades que pretendem ser o lugar de nas outros em primeiro lugar, acrescentando a sua para cimento da prensa tipogréfica, cada uma delas apontando um homem diferente como inventor. Tal disputa, por si 6, nos for# fine ‘dein Outro ‘agdo; é chamado de “comensador le tanto sua propria obra como a de nece um exemplo de um dos mais extraordindrios efeitos prensa tipogrifics s. mas pondo sua propria obra em primeiro out lugar, acrescentando a de outros para fins de confir- cla ampliou significativamente a busca de fama e realizagdo pessoal. “Nao € por acaso”, observa Elizabeth: ‘magito; ¢ tal homem deve ser chamado de “autor Eisenstein em The Printing Press As an Agent of Change, “que a Siio Boaventura ndo s6 nao fala de uma obra ori J mentidos, mais cedo ou mais tarde, em todos os seg tido modemo como ainda deixa claro que, para el * pretudo, a ta fa de afar as palavras, razo pela qual 0 0k ceito de autoria individua jnlonler como aqueles efeitos t@m relagdo com extremamente pessoal, nio pod HH creseimento da idéia de infincia, podemos nos orientar existir dentro de uma tradigio de escribas. Cada ¢ HHsinamentos de Harold Innis. Innis salientou que as cometia erros 20 copiar um texto como era livre para acresced igus nw twenologia da comunicagio tar, reirar, esclarecer, atualizar ou reconceber texto de OLE de efeitos: alteram a estrutura dos interesses (as coisas modo, como julgasse necessirio. Mesmo um documento t Pensamos), 0 carter dos simbolos (as coisas com que amado como a Magna Carta, que era lida duas vezes por ano ef os) ¢ w natureza da comunidade (a area em que os pensa- todo condado da Inglaterra, foi em 1237 éria de controvérsil Jesenvolvem).” Dizendo da maneira mais simples sobre qual das vérias verses era auténtica Biivel, toda maquina é uma idéia, ou um conglomerado de Depois da prensa tipos t 4 pergunia sobre quem escrevelmaillis. Mas no sio o tipo de idéias que levam tum inventor a © qué tomou-se importante, como a pergunta sobre quem fez ro lugar, xemplo, 0 que havia na mente de Gutenbs Hieber uma méquina em pri podemos sabe ™ podiam legitimamente viver nela era uma questo pela qual valid qué. A posteridade tornou-se uma idéia viva, e que nomedl da no fabrico do vinho & manufatura de elar uma prensa 4 pena lutar. Como se pode inferir da Gltima frase do Capitulo I MMos. mos & vélido conjeturar que e acolhi uma tradicio estabelecida ac nJo tinha intengiio de ¢ fixar em Johanil Gensfleisch Gutenberg como o inventor da impressio com caracd Wiplificar o individualismo ou, alias, solapar a autoridade da [joa Catdlica. Ha um sentido em que todos os inventores so um termo de Arthur Koe ni-los de Frankensteins, ¢ a totalidade teres méveis, embora o mais antigo exemplo datado de tal impr 1a verdade, 0 Saltério de Mo} Johann Fust e Pet ler — sondmbulos. Ou Para usarmos flyer pu de impresso pow Shoeffer, dois dos sécios de Gutenberg. Mast Sindrome de Frankenstein, Alguém cria uma seja quem for que tenha direito ao titulo - Gutenberg, Laurens ylquina para Coster, Nicolas Jenson, Fust, Schoeffer er al! — ist ma finalidade especial limitada. Mas, uma vez cestd bem Gonstruida a maquina, descobrimos ~ as yezes para nosso hor claro: quando Gutenberg anunciou que tinha manufaturado uml livro “sem o auxilio de clam por meio dal presa ~ que ela tem idéias préprias; que & bem capaz no s6 de maravilhosa concordincia, proporgio e harmonia de pungdes elf mudar noss tipos,”S ele e quais for, geralmente para nosso desconforto e Jempre para nossa sur ss habitos, mas também, como Innis tentou mostr putros impressores no podi 1m saber quel’ de mudar nosso feitio mental. constituiam uma irresistivel forca revoluciondria; que suas Una maquina pode nos fornecer um novo conceito de muiquinas infemais eram, por assim dizer, o documento impresso ff tempo, como fez 0 relégio mecinico. Ou de espago e escala, ‘no muro, delineando © fim do mundo medieval. Embora muitos Hfabe- eomo fez 0 telescépio. Ou de conhecimento, como fez cestudiosos jd tenham salientado a relevancia dest Ou das possibilidades de aprimorar a biologia humana, como fato, a exposi do de Myron Gilmore, em The World of Humanism, resume[ fizeram os éculos. Como ousou dizer James Carey, podemos tudo do modo mais sucinto: “A invencdo da impressio, éncia vem sendo remo- nips descobrir que a estrutura de nossa conse méveis provocou a transformagio mais radical nas condigdes de J delada para corresponder a estrutura da comunicagio:* e que ida intelectual na hist6ria da civilizagdo ocidental ... Seus efei nos tornamos aquilo que fizemos. Os efeitos da tecnologia sio sempre imprevisiveis. Mas nl sdo sempre inevitaveis. HA muitos exemplos lum “monstro de Frankenstein” que, ao acordar, olhou em volt julgou estar no lugar errado na hora errada e voltou a dormin Ni inicio do século oito os anglo-saxdes dispunham do estribo ma no do talento para perceber suas possibilidades. Os francos con tavam com 0 estribo € 0 talento de Charles Martel e, consequlens temente, empregaram o e: ‘que foi criad bo para criar um novo meio de guers sistema social e econémico inteira novo, 0 feudalismo’. Os chineses e os coreanos (quel inventaram 0 tipo mével de m ou nio ter contado com um génio capaz de ver as possibilidad da impressio de letras, mas que em definitivo Ihes f as letras n sistema alfabético de escrita. Assim, 0 ‘monstro” deles voltou a seu sono. Ainda é um mistério a raz pela qual os astecas, que inventaram a roda, jul sibilidades dela estavam esgotadas depois que a associaram a brinquedos das criangas, mas este € outro exemplo de que no & inevitivel que a tecnologia infunda idgias novas numa cultura Lynn White Jr., a0 usar uma outra metéfora para demonstrat esta proposigdo, observa: “A me preensio isto é, u 1m que as poss ida que aumenta a nossa come da tecnologia, fica claro que um novay no obriga ninguém a entrar. Al fio de um invento, ou até onde suas impli Ges se realizam se ele & aceito, depende tanto da condigao de uma sociedade, ¢ da imaginagio de seus lideres, quanto da natus reza do pré No caso da prensa de Gutenberg, sabemos, é claro, que a cul- {ura européia estava pronta para recebé-la. A Europa possuia um) ma de escrita alfabética estabelecido hi dois mil anos, € também um riquissimo acervo de manuscritos, 0 que si que havia textos importantes ificava zuardando © momento de serem npressos. Os europeus sabiam fabricar papel, 0 que vinham fazendo ha duzentos anos. Apesar do analfabetismo largamente disseminado, havia copistas que sabiam ler e escrever ¢ que pod Fa outros suas habilidades. A revivescéncia da 8 redescoberta da sabedoria da cultu- ido 0 apetite pelos livros. Nessa época, Miiigho no século treze © Wi lbvaicn vinharn a fan Har Meriiues jos ¢ confides. Assiin, podemos dizer que as condigi Tiiop om meados do século quinze tomaram a prensa tipogré- explica, sem divida, o fato de que tantos Wiens estivessem trabalhando na solugao do problema em tan- sao mesmo tempo, Usando a metéfora de 4 prensa tipogrética abriu uma porta na qual a cultura stivera ansiosamente batendo. E quando a porta foi ércio ¢ 0 inicio da era da exploragio os durdveis, fh expansiio do con jumentar a demanda por noticias, c ‘mapas padroni es intelectuais da Huropcia Hivalmente aberta, a cultura inteira saiu voando por ela Nilo havi nios para perceber algumas das Sonseqiiéncias da prensa tipogrifica. Cinquenta anos depois d: Invenio do prelo, mais de oito mithdes de livros tinham sido Por volta de 1480 havia tipografias em cento e dez fidades de seis pafses diferentes, cingienta s6 na Itélia. Em 1482 Veneza era a capital mundial da tipografia e Aldo veneziano, era provavelmente 0 tipégrafo mais «upado da cristandade. A tabuleta do lado de fora da su fy indicava uma queda para 0 jogo d mesmo tempo seu ramo de negécio: breve; 0 tempo é uma prensa.” Metade dos idos de Aldo ert composta de exilados ou refugiados gregos, tanto que por da sua morte, em 1515, todos os autores gregos conhe- idos haviam sido traduzidos e suas obras impressas."! Na época da morte de Aldo a prensa ti jd tomara possivel a carreira do primeiro jomalista, do primeiro chantagis- ta literdrio, ¢ do primeito produtor de pornografia de massa, todos na pessoa de Pietro Aretino.!? Nascido numa familia hhumilde ¢ sem educagao adequada, Aretino compreendeu intui- ra um instrumento de publi ele inventou 0 jornal, € & a ele que podemos a origem da escrita confessional. Salvo raras excegdes, como por exemplo as Conyissdes de Santo Agostinho, Maniicio, un ofici- avras apropriado e a0 e falar com Aldo, seja tivamente que a prensa tipogrifica cidade — isto também atribu 7 niio havia adigdo literria de revelagdo fntima, nem “voz™ por exemplo, de que seu Gargantua elecidos para expressar pensamentos privadi tom esta meses mais exemplares do que a Biblia Certamente ndo havia convengdes retGricas para dirigir a pil ucusado de impio e blasfemo por causa desta YRia uma multidio que 6 existia na imaginagao.'3 Sem recel # que relembra acusagdo semethante feita mais instrugio de ninguém (pois neniuma havia a receber), Areti John 1 apressou-se em publicar uma torrente de obscenidades anticle cais, hist6rias difamatorias, acu soais, que se tornar non por ter dito que os Beatles eram do que Jesus Cristo. A questdo é que a cultura \GOes piiblicas € opinides p jam parte de nossa tradigaio jomnalistical ainda prosperam nos dias de hoje. tbuthou conta aida dos direitos de propriedade Portanto, da individualidade intelectual. Como ih Wixenstein observa, “as condigdes da cultura dos 4-10 FERIA. thantiveram o narcisismo sob controle." A tipogra- \ sua época como 0 “iagelo dos Pr que cle se libertasse. cipes,” 0 Cidadao Kane do seu tempo. bs e deseacades ode Spiers AP iniexmo tempo que desencadeava uma elevada e despudo: Sua invengio da impr “marrom’” e de um estilo proprio de expresso torn famoso. Era conhecido Aretino representa 0 lado s6rdido de uma no} tadigao literéria que se dit PMN Hiloconsciéncia nos escritores, a prensa tipogrifica criava HHA Milde unsloga nos leitores. Pois antes da tipografia toda WPihleacdo humana acontecia num contexto social, Mesmo HMA Heltura como era feita usava como modelo o modo oral, © Wilde Pronunciando as palavras em vor alta enquanto outros 0 Honypanhavam."? Com o livro impresso, porém, iniciou-se Ul tradicao: o leitor isolado e seu olho pessoalsA or Wileceu co leitor e sua reagio ficaram separados de um con: @ um piibiico massivo mas qi nao & visto, em ermos intimos, ento a obra de Montaiga representa seu lado mais saudavel. Nascido em 1533, quand Aretino jé tinha quarenta anos, Montaigne inventou um estil uma forma de discurso, uma persona, gragas a qual um indi¥ duo singular podia, com firmeza e de maneira direta, dirigit-s aos vivos que nao podiam ser vistos e também a posteridadel Montaigne inventou o ensaio pessoai, que € para o individuall idade Pessoal em coniraposicdo & histéria publica. Apesar de toda lp ile © s¢culo dezesseis até o presente, o que a maioria dos lei sua modéstia, de seu humor e de sua poderosa inteligéncia, dj Wes ¢Xigiv dos outros foi a sua auséncia ae cies S unicamente aff Mleneio. Na leitura, tanto 0 escritor como 0 leitor participam de mesmo: sua singularidade, suas sutilezas, seus preconceitogyy ill espécie de conspiragio contra a presenga ¢ consciéncia Quando, quatrocentos anos depois, Norm Aoeial. A leitura é, em resumo, um ato anti-social. obra de Montaigne nio celebra a comunidade m in Mailer escrevel Advertisements for Myself, estava apenas continuando —e dandgf| Dest maneira, nos dois extremos do processo — a produgio tum nome adequado a ~ uma tradigdo estabelecida por Mond © 0 Constimo ~ a tipografiacriow um ambiente psicokigico den- taigne: 0 escrtor como publicist, e divulgador de si iesmo a 0 do qual os reclamos de individualidade se tomaram iresst escritor como individuo em oposigdo 2 comunidade. Comal Yeis: Isto no quer dizer que o individualismo foi criado pela Marshall McLuhan observou, no seu estilo caracteristico, ‘com prensa tipogrifica, e sim que 0 individualismo se tomou uma 4 tipografia foi imediata a descoberta do vernaculo como siste-f Condicao psicol6gica normal ¢ aceitavel. Como observa Leo ima de alto-falantes."" Ele se referia niio sé @ Aretino e Mon-ff Owenthal, “a filosofia predominant da natureza humana desde taigne, mas especialmente a Francois Rabelais, que nio fot 1 Reuascenga se baseou na concepgdo de que cada individuo & Superado por ninguém em sua capacidade de auto-afirmagio eff um caso desviante cuja existéncia consiste, em grande parte, nos 40 seus esforgos para afirmar sua personalidade em contraposigiiy H@Ve 8 situagdo deste modo: “Mais do que qualquer outro as exigéncias restrtivas e niveladoras da sociedade."!8 {ivento, o livro impresso libertou as pessoas da dominagao do Seguindo o exemplo de Innis, isto é, sua percepgao de gulf {ieidialo c do local maior... a tipografia produziu uma impressio ma nova tecnologia da comunicagio altera a estrutura de nossa liitlor do que os acontecimentos reais. Existir era existir impres- interesses, podemos entio dizer que a prensa tipogrifica nos deff #0 testo do mundo tendia pouco a pouco a se tomar mais som- Nossos cus, como individuos tinicos, para pensar e falar deles. I Wile. Aprender tornou-se aprender nos livros. |grifo meu)..." este senso exacerbado do eu foi a semente que levou por fim af Que tipo de cio havia nos livros? Que coisas estavam florescimento da infancia. Claro que a infincia nao surgiu dij 4 disposigio de quem queria aprender? Havia, acima de wdo, noite para o dia, Precisou de quase duzentos anos para se transfom livros de “como fazer”: livros sobre metalurgia, botanica, linguifs- ‘mar num aspecto aparentemente irreversivel da civilizagao 0 > » pediatria. The Boke of Chyldren dental. Mas isto niio podia ter acontecido sem a idéia de que cad le Thomas Phaire, publicado em 1544, é geralmente considerado individuo é importante em si mesmo, que © primeiro livro de pediatria escrito por um inglés (um italiano, is transcendem a comunidade em algu lardo, publicou um bem antes, em 1498), Phaire reco: Pois quando a idéia de identidade pessoal se desenvolveu seu livro 0 uso de argolas de borracha para exercitar os se inexoravelmente sua aplicagio também aos jovens, de form lentes do bebé e fornece uma lista completa de “doengas graves & que, por exemplo, no século dezoito, a aceitagio da inevitabilidalg perigosas” das criangas, inclusive “apostema do cérebro” (prova: de da mortalidade infantil (0 conceito de “desperdicio elmente meningite), sonhos terriveis, prurido, olhos inj rio", no dizer de Ariés) ja tinha em grande parte desaparecido. Daj Wélica e ronco do estémago.*” A publicagao de livros de pediatria fato, quase no final do século dezesseis a morte de u { tunbém de boas maneiras é um forte indicio de que o conceito comegou a se 8 ie infancia ja comegara a se formar, menos de um século depois Ivez, mas indicativo de a da prensa tipogrifica, Mas o ponto a salientar aqui é que a prensa le toda a gente é importante gerou 0 que chamamos hoje “explosiio de conheci- smo sozinho nao podia ter produzido Ser um adulto em pleno funcionamento exigia que 0 infancia, que requer uma base convincente para separar as pesif Iividuo fosse além do costume e da meméria e se em soas em diferentes classes. Por isso, algo mais precisava acontedg mMundos nfo conhecidos nem contemplados antes, Pois além da onteceu. A falta de uma expresso melhor, vou chamé ormagiio geral, como era encontrada em livros de “como fazer” lacuna do conhecimento.” Decorridos cingllenta anos diff € guias © manuais variados, © mundo do comércio era, cada vex Jo da tipografia, era Sbvio que a ambiéncia comunica mais, constituido de papel impresso: contratos, es civilizagdo européia se dissolvia ¢ se reconstituia ag pomiss6rias ¢ mapas, (Nio admira que, num ambiente em qu longo de outras linhas. Formou-se uma nitida divisdo entegl iformacio passava a ser padronizada e repetivel, os aqueles que sabiam ler e os que no sabiam, ficando estes Gltigg eomecassem a excluir o “Paraiso” de seus mapas a pretexto de mos limitados a uma sensibilidade e um nivel de interess@ We & localizacdo era por demais incerta.*") medievais, a0 passo que os primeiros eram langudos nui De fato, tanta informago nova, de tantos tipos diferentes, mundo de novos fatos e percepg6es. Com a tipografia proliferagg estiva sendo gerada que os fabricantes de livros ja no podiam Fam novas coisas de que se podia falar. E e: livros, ou pelo menos cs ados do século dezesseis os impressores comegaram a expe- a2 43 rimentar novos f nemto de todos os lei BRN “ajudou a reord atos, sendo a inovacdo mais importante ope a numerar as paginas. O primeit publicada por Johann Froben, do Novo Tesiamento de Erase gmail io a ser 0 modo aceito de organizar um impressa em 1516. A paginagio levou, inevitavelmente, 3 feitigAmammM & forma cin que os livros apresentavam © material tor a de indices, notas e remissGes mais exatas, 0 que, por si BME # lovica da disciplina. Eisenstein tornece utn exemplo tipi extras mp redundou em —ou foi acon 0 do Direito, O professor medieval do nado por — inovagdes nos a demonstrar, nem p de pontuagio, seus alunos nem mo cada componente do Direito se relacion nas de rosto, nos titulos correntes. Ali pelo final do sécul P dezesseis o livro feito 4 méquina jé tinha uma forma tipog ica do todo porque pouquissimos professores tinham € um aspecto ~ € mesmo fungdes ~ compardveis aos pus Juris como um todo, Mas a partir de 1553 uma Entretanto, Pelayo de estudiosos do Direito atentos ao potencial da tipogra eS ainda, no mesmo século, os impressore: Pi desumiu a tarefa de editar © manuscrito na integra, inclusive preocupayam com a estéti eficigncia do formato di Hiiwanizar suas partes, dividindo-o livros. O impressor dos primeiros Decen APIECE Cote ale de Maquiavel lim indice de citagdes. Ao fazer isto, tormaram a antiga HoMipilacdo inteiramente acessivel, estilisticamente inteligivel e fine Haunt. Do mesmo modo, como Eisenstein observa, “a sim: tissimo bem sucedido. Descreveu a edigio espuiria como “inf mente coerente, o que vale dizer que reinventaram 0 rior ¢ barata ... mal encadernada, sem margens, paginas de rost miniisculas, sem guardas no principio e no fim, tipos tortos com erros de impressdo em varios lu Pls preparacaio de manuais de varios niveis para ensinar disc ares." E isto apenas cit Pllius diversas estimulou uma reavaliagio de procedimentos her qiienta anos depois da invengao da tipografia, ibs ¢ uma reformul; jo de abordagens em diversos cam Vale lembrar aqui a tese de Harold Innis de que as avras, a existéncia de diferentes textos outras pa nologias de comunicagio nos dio, além de novas coisa seqliéncia das partes; pensar, novas coisas com que pensar. A for na do livro impress@lf yo determinar o que vinha antes e que vinha depois, os auto- criou um novo modo de organizar o conteiido e, ao fazé-lo, pr de livros escolares estavam recriando suas areas de estudo. moveu um novo modo de organizar pensamento, A linearidad A mesmo tempo, ¢ inevitavelmente, os editores de livros do de inflexivel do livro impresso — a natureza sequencial de sui jlo dezesseis se preocuparam com a clareza e a ligica de apresentagio frase a frasé sua paragrafagdo, seus indices alfab&l gryanizacdo. “A ... norma que mandava que cada assunto fosse 0S, Sud ortografia e sua imiitica padronizadas ~ levou ao dividido em tpicos,” escreve Gerald Strauss, “que © melhor habitos de pensamento que, como disse zombetciramente James{ ipo de exposi¢ao era aquele que procedia por andlise, foi entu: Joyce, seguem a orientagio do é-bé-c@, indicando uma estruturall giasticamente adotada por editores e redatores."2° O que adota- de consciéncia que corresponde de perto a estrutura da tipograd Ante mente sus @ pensamento sobre umn assunto. E um valor inerente & estrutura tentado por Harold Innis ¢ Marshal McLuhan; mas mesmo umi aafia. De modo nenhum o Gnico. Como a fe houve uma destrui Yam, claro, era um valor a respeito do melhor meio de organizar fia. Este efeito da tipografia é um ponto extrava ealigrafia desapareceu, e conseqiient estudiosa prudente como Elizabeth Eisenstein acredita que nascente formato dos livros, sua maneira peculiar de codificar af glo da escrita idiossincratica, 0 eardter impessoal e repetivel da 44 45 1 condenagio de dois homens presos por rita impressa assumiu certo gra de utoridade. Até hoje a Bos vute no ob: Bbulo v casa do conde de Sussex em 1613.7 Mpipialia fez do vernéculo, pela primeira vez, um meio de Hawlio cle massa. Este fato teve consequéncias nio s6 muita nte a individuatidade dos autores ~ ha uma tendénel acreditar no que aparece impresso. Realmente. sempre qu marca de um individuo, singular e tnico, esta ausente d 2 ii ausente da pag considerar a pi ina impressa como uma voz ds aatodilil He que a linguagem fixada e visualizavel teve um papel clareza, numa atitude para com a autoridade da informagaiaaammmn ebelito mais direta ¢ incontestavelmente ligads & tipo Também redundou em novas percepgdes da forma literiia,gaMlll MO due & Reforma Protestante. Para esta afirmagio, nada prosa e a poesia, por exemplo, se distinguiram uma da oulfflllt do que 0 aval do préprio Martinho Lutero, que disse ter Pela maneira como as palavras se distribu‘am na pagina impreglfe MAME lipoetafia “o mais alto © mais extraordindrio privilégic sa. E, claro, a estrutura da péigina impressa, bem como o cardia agmlmmulo por Deus, por meio do qual o interesse do Evangetho poniill e repetivel do liv impresin decemmenn Bpomovido.” O luteranismo ¢ 0 livro sio insepardveis. E x e880, desempenhou um pa decisivo nao s6 na criago do ensaio mas tambsm na criagko Mo, apesar de toda a astiicia de Lutero no uso de panfletos e mpressos como meio de propag Muitos dos prime’ Ww ‘am também impressores, como & 0 caso day Mt Hieou surpreso i Samuel Richardson. E ao escrever 0 que poderiamos chamar djggume UPostafia. “Para mim € um mistério, Thomas M Ela lizer que nunea podemos subestimar o impact psicoligico dj WMO Acalémico aqui. Foram eseria = ados poderes de ficgio cientifica (sua Utopia), Si trabalhou a cada passo com seu impressor. Val Hantos lugar se destinavam exclusivan snte ao nosso cir ritas numa fit agem migracio massiva da linguagem do ouvido para o olho, da falil #¥ PeSs02s simples dificil a adv ro nilo se enganasse tanto se conhecess para a tipografia. Poder ver a prépria linguagem desta forma Iil¥e2 Lu duravel cionamento com ela. Hoje, com a lin, epetivel e padronizada resultou no mais profundo relai #la de Sécrates sobre a escrita, como se Ie no Fedro: “Un rita", disse Sécrates, “a palavra sai rolando por toda parte, agem escrita sempre a aparece indiferentemente entre aqueles que a entendem e aque nossa volta, de modo que ndo podemos dar conta de nossos af zeres se no sabemos ler, é dificil im: Jes a quem nada tem a dizer, sem saber a quem deve dirigir-se ¢ nar 0 assombro ¢ a sig, J quem nio deve.” E Sécrates no tinha em vista o livro impres 10, que agrava © problema uma centena de vezes. Certamente 0 nificagao da leitura nos séculos dezesseis e dezessete. Tao podedf rosa ~ talvez mesmo magi salvar um homem a ~ cra a capacidade de ler que podial ai que Lutero niio via neste caso era a evidente portatilidade dos em latim ja forea. Na Inglaterra, por exemplo, umf ladrao insignificante que soubesse ler uma frase da Biblia tinhal ‘apenas seus polegares marcados; outro, que ndo soubesse, mere: cia um destino diferente. “O citado Paul 16; que seja marcado alg © POF Outros paises, e os impres ferro quente; o citado William nio Ie livros impressos, Embora suas teses fossem escrit jas por toda a Alemanha académico, foram facilmente transpor sores também muito facilmente que seja enforcado.” Isto 46 crita sai rolando. Hise, Francis Bacon, Galileu, Johannes Kepler, William n saber a quem deve dirigir-se uulo quinze, e André Vi ande defensor da impressio em ver BipINice nasceu no fim do século q And ulo € explorou o fato de que a palavra toda parte, “se Escreveall He Descartes nasceram todos no século dezesseis; vale Biblia para que a Palavra de Deus atingissl grifica. Pocdemos te maior niimero de pessoas. Irfamos nos afastar dos nossos pre ios ca invencdo da prensa tipogrifica, Podemos te sitos se fOssemos discutir aqui as mui tipografia e a rebel sbyio d ediggo salem fundamentos da ciéncia moderna foram langados cem imer-relagdes entng Bile como foi dramat io religiosa, mas é necessério salientar o fa 1543 que a prensa tipogrifica colocou a Palavra de Deus py aparerernm: mesa da cozinha de cada familia ¢ numa linguagem que podia@alimfilbrica tle Vesi ser compreendida. Estando a palavra de Deus tio acessivel, @ammmiim # snatomia, De que modo o 1 cristos no precisavam que 0 papado a interpretasse para clea pOXZiU & Ou pelo menos foi nisto que mithies deles passa 1 cristianismo”, esereve Lawrence Stone livro, isto é, das Escrituras, tum segredo t De Revolutionibus de Copémico e 0 9, 0 primeiro reformulando a astronomia, 0 Hin primeiro lugar, a tipografia ndo s6 criou novos métodos ¢ na acredit ‘é uma religito diggin de co © desde que este livro deixou de seiqimmle # comunicacdo entre os cientist m guardado, prprio somente para ser lido pel padres, gerou uma pressiio pay ta de dados como também incrementou enorme ivogundo lugar. o impulso para a padronizagao resultow na snviticos, inclusive a troca dos ra a cringao de uma sociedade lett i rT Millormidade dos simbolos ma da”2* A Biblia tornou-se um instrumer refer pod 7 re Fe gem da Natureza,” cor sar, mas também um instrumento com que se podia pensar. Poig se houve alguma vez um exemplo de um meio de comu ‘uma mensagem que coincidissem precisa osigdes, fi omo a “lit acerte icagial ‘que outros cientistas podiam falar e compreender aquela m suas predigiliiguazem. Além disso, a padronizagio eliminou em grande foi o caso da tipografia e do protestantismo. Nai oat Pile a ambigididade nos textos e reduziu os erros em dia Somente revelaram as possibilidades do pensam nto © da acd piificos. tabelas e mapas. Ao viabilizar recursos visuais repet individual, como também as versdes poliglotas da Biblia tra Wels, a tipogratia fez formaram a Palavra de Deus, revelada na Biblia latina medieval MB 6, Portanto, mais acessivel. nas palavras de Deus. Gracas a tipografia, e mais unifor 1m que a natureza parecesse mais Deus tornou-se um oes s, dependendo do vernicula} Palavras foram reveladas. O efeito disto foi o fortaafy Hlas do século dezesseis ~ Harvey p\ lecimento da causa do nacionalismo enqu natureza sagt A tipografia também levou a popularizagio de idé inglés, ou um alemio ou um fe em que Suas 4s mediante o uso de idiomas verndculos. Embora alguns cien- anto enfraquecia aj 6m escrever cm latim, outros, come ida das escrituras. A subsequente substituicao doljy smente © verniculo, num esforgo de transmitir 0 no amor de Deus pelo amor da Patria, do século dezoito até 0 pres sente, pode perfeitamente ser um erafi 0s métodos da filosofia cientifiea. Term dos das conseqiéncias da tipo kegredos dos alquimistas, A Ciéncia tornou-se um assunt Nos dois siltimos séculos, por exemple 05 cristios inspisif piblico. Do Adiantamento das Ciéncias de Bacon, publica nacionalidade; a Deus, s6 retou a A substitui ro tratado cientifico importante escrito em wefa de se arranjar sozinho. J inglés. Um ano mais tarde Galileu publicou um opdsculo em ver » imprimiu em casa. Galilew 10 da ciéncia medieval aristotélica pela ciéncia J Miculo que, ao que parece, ele mesmo imp ‘ moderna também pode ser atribuida em ande parte hijo era insensivel ao poder do texto impresso em verndculo 19 ‘como meio de autopromogiio e, de ca a reivin e ventor do telescdpio, També haquela época, a tipogratia tornou di dade plo, foi langada No final do século dezesseis, n 10, usou-0 para tornar pi Capitulo 3 isponivel uma grande v Os incundbulos da infancia io $6 Euclides mas també textos de astronomia, anatomia ¢ fisica estavam to pritico sobi ia. No transcorrer do século ut ramente no ambiente encheu 0 mundo de novas abstratas. Exigia novas habilidades, novo tipo de consciéncia. Individual op nto conceitual, ruziio ~ tudo isto passou para o pris lismo medieval retrocedia eu, simplesmente, tinha sido criado. E ao chegar, deixou para tris as criangas. Posi JI, Plumb observa que “cada vez mais a cr no mundo medieval, nem os jovens nem os velhos sabiam ler elf phjeto de r seu interesse era o aqui e agora, 0 disse Mumford. por isso que no de infancia, porque todos compart informacional e, portanto, viviam no mi ial EM genx de pessoas, das quais as criangas sio um exemplo histérico e intelectual. Mas, quando a prensa tip e que uma nova espécie de idade adulta tinhal A partir dat a i tada, Tornou-se uma realizagio Depois da prensa tipografica, os jc da tipografia. E para realizar isso infincia num: le da palavra impressa, paixdo por clareza, seqiiéneia tos e, para isso, teriam de aprender a ler, entrar no mundo} Portanto a civilizagao européia reinventou as escolas. E, a0) ovo tinha sido criado. F informagoes e experiénci atitudes e, sobretudo, ut (Os primeiros cingtienta anos da prensa tipogrifica slo cha- lidade, enriquecida capaci ncundbulos, literalmente, 0 periodo do bergo. No vigor intelec em que 0 prelo saiu do bergo, a idéia de infiincia ocu Polo e seus proprios incundbulos duraram cerca de duzentos is e dezessete reconheceu-se Wiios. Depois dos séculos dezi ue foi que o Homem Letraddl§ fill dus coisas. Ao iro plano, enquanto 0 on infincia existia, que era uma caracteristica da ordem natu: screver sobre os incundbulos da infincia atura especial, de outra natureza peito, uma ci imediato e local,” come gon outras necessidades, que precisava estar separada e prot havia necessidade da idéidl| gy do mundo adulto.”' Separagdo 6, naturalmente, a havam o mesmo ambiental ghaye. Ao separarmos as pessoas umas das outras, ifica fez a sua jogadadl yy Mas Plumb entende isto de tras para diante. As eparadas do resto da populagio porque se ta tinha de ser conquiss sitava que tivessem uma “outra natureza ¢ outras necessida: imbélica endo biolégicad dos", Acreditava-se que tinham outra natureza e outras necessi: ovens teriam de se fornarll dudes porque tinham sido separadas do resto da populagao. F foram separadas porque passou a ser essencial na sua cultut precisariam de educagio, iyue elas aprendessem a ler e escrever, ¢ a ser 0 tipo de pessoa que uma cultura letrada exigia. necessidade. Naturalmente nao estava muito claro no inicio o que a leitura fe wescrita poderiam fazer ou fariam as pessoas. Como se podia instrugao pr por W.K. Jordan revela que em 1480 havia 34 escolas Inglaterra. Em 1660 havia 444, uma escola para cada 4.400 pes soas, aproximadamente uma escola a cada 19 km. Trés tipos de escolas se desenvolveram: as e res, ql colas element inavam a ler, eserever € contar; as escolas que ensi navam matemitica, composigdo inglesa e retdrica; e as escolagy \darias, que preparavam os jovens para as ui 08 cursos de Direito, : ersidades nnsinando-Ihes gramatica inglesa e ling tica clissica, Shakespeare freqlentou uma escola secundéria s experiéneia ali o in célebra| protesto (por ter sido prov do a ler a Latin Grammar de Lyly). No Henrique VI, Parte Il, Shakespearg lu a expressar u Do modo mais desleal corrompeste a juventude dd) Sera provado, na tua cara, que tens d ta volta homens reino ao contruir uma escola secundéria que habitualmente falam em substantivos, verbo e outras tantas palavras abomindveis que nenhum owvido cristo suporta ouvir ‘ Mas a maioria dos ingleses nio concordava com Shakespeas re que a criago de escolas corrompia a juventude do reino. De fato, os ingleses nem se opunham a a educagdo gratuita oferecida em Norwich estava a0 aleance das criangas de ambos os sexos. E embora se deval entender que o ensino escolar era em grande parte um pagio das classes média e alta, hi evidéncias de que mesmo classes pobres algumas mulheres sabiam ler Mas, & claro, os homens eram muito m ndar m para a escol is numerosos. De 204. réus primarios foram condenados & morte de Middlesex entre 1612 e 1614, 95 deles invo. © “beneficio de clérigo nificava que podiam enfret © desafio de ler uma frase da Biblia e, portanto, ser poupados da homens, que, embor pelos juiz Conelui o Professor Lawrence Stone que, s¢ quarenta € nto dos grupos criminosos sabiam ler, a taxa de alfa- r sido forca." petizagZo na totalidade da populagio masculina deve jdentemente € possivel que 0s “grupos crimi- vito mais alta (E fiosos” fossem muito mais espertos do que supde o professor to de suas prioridades). Jo sio dificeis de esta estimou que em 1533 a ler figurasse nO as de alfabetizs st Em todo caso, elecer com preciso, Sir Thomas More fnis da metade da populagdo sabia ler uma tradugio inglesa da Wiblia, A maioria dos estudiosos concorda que esta estimativa iia demais ¢ se fixou num indice (para homens) em torno de a por cento, no ano de 1675, Mas uma coisa é sabida: no 1m publicados mais de 2000 panfletos diversos. fim 1645 foram langados mais de 700 jor nire 1640 © 1660 0 total combinado de panfletos ¢ jornais era de 22.000." F ‘ados do século dezessete fosse correta esta a era em todos os niveis a sociedade ertamm qu ano de 1642 fo possivel que nos Afirmativa: “A Inglate jnais alfabetizada que © mundo ji conhecera.” {nicio do século dezessete seus lideres politicos eram instruidos © que, aparentemente, também era o caso da Franga. Na Inglaterra o dltimo analfabeto a ocupar um alto cargo foi 0 pri jneiro conde de Rutland. Na Franga, foi o condestivel Montmorency.'? Embora 0 estigio da alfabetizagaio na Franca {quer dizer, 0 desenvolvimento de escolas) estivesse defasado Jo ao da Inglaterra, em 1627 havia aproximadamente fn re 40,000 criangas sendo educadas na Franga. Tudo isto ocasionou uma mudanga novel no estatuto social Alos jovens. Como a escola se destinava a formar adultos instrut los, os jovens passaram a ser vistos nio como miniaturas de completamente diferente: adultos ainda ia escola identificou-se co ‘Grupos etdrios » observa Aries. E assim como no ser definida pelo alis- Adultos, mas como all mados. A aprendii erenove a adolescéncia passot igat6rio, nos séculos dezesseis e de: amento militar obri ssele a infiincia foi defi boy (cole Wi adolescéncia existia uma variedade de catego- a pela freqéncia escolar. A palavra scho jal) tomnou-se sindnima da palavra child (crianga). If Pinchbeck e Margaret Hewitt exprimem isso desta maneir juando umn grupo ~ qualquer grupo ~ é form Bia ein na vinica caracteristica, & inevitivel que outras Enquanto no sistema tradicional [de aprendizadal jam notadas. O que ¢ fi sinadas a ler, termina como um 4 “infaincia” terminava efetivamemte aos sete am que devem ser ensinad feito da educacdo formal organizada foi pra Bil pereebida como Gnica em maltiplas dimensées. Como r 0 periodo durante o qual as criancas fied i nflincia se tornou uma categoria social e intelectual, os vam a salvo das exigéncias e responsabilidades dl infiincia tornaram-se visiveis. Elizabeth Eisenstein e e recebendo mundo adulto. A infiincia se tornava, de fato, bet Wf questo: “Recém-segregados em escolas, menos uma necessidade biolégica de importanei fais Inypressos especiais elaborados para diferentes fases de nao mais do que passageira; pela primeira ve Mleayern, vicram a luz “grupos afins’ isolados, uma ‘cultura aparecia como um periodo formativo de alcang comegou a existit Iii Gorn caracteristicas propri D ijue uit a isso foi inevitavel, ou assim parece em cada vez maior."* Bajecio. Em primeiro lugar, 0 vesiudrio infantil se diferen O que se diz aqui & que a ingen ia wmnou-se uma descrigdl Mo dos adultos, No final do século dezesseis o costume exi de wn nivel de realizagao simbé ica. O primeiro estégio dil infancia terminava no ponto em que o dominio da fala eral alcangado. O segundo comegava com a tarefa de aprender a lent tivesse roupas especiais."? A diferenga no Bains criangas, bem como a diferenga na percepgaio adulta leristicas fisicas das criangas, esta bem documentada Na verdade, a palavra child era muito usada para designar adule Jo século dezesseis em diante, isto &, as criangas tos que no sabiam ler, adultos que eram consider BMF Mio mais representadas como adultos em miniatura. A lin tualmente infantis. No século dezessete todos admitiam, coma fjemn das criangas comegou a se diferenciar da fala dos adul Plumb nos relata, que “os processos de uma educagao letradaf Bh Como foi observado antes, o jargdo ou a giria infantil era deviam evoluir com o desenvolvimento da crianca: a leitu Miseonhecida anies do século dezessete. devia comegar aos quatro ou cinco anos, seguindo-se a escrita, Cm desenvolvimento, Também proliferaram os livros de px depois, gradualmente, deviam ser Depois teve ripido e icrescentados assuntos mais sofisticados. ... A educagdo [ficou] quase inflexivelmente ligada i idade cronol6gica das criangas.""5 Mas © vinculo entre a Md. Um cesses livros, o de Thomas Raynald, era tio popular s de 1600 Hi 1676. Meso o simples ato de di Pilletindo o novo estatuto delas. Na [dade Média ndo era BoMwm dar nomes id€nticus a todos os irmiios, distinguindo-se asearam Mam MAK dos Outros por de suas idades cronolégi lp love sete edigdes ai continuow a ser publicado nome As criangas mudou, ducagio e a idade cronolégica das! criangas levou algum tempo para se desenvolver. As primeiras tentativas de estabelecer classes ou séries de alunos a capacidade de ler dos alunos, nao e HAgnol6gica de nascimento. Mas no século dezessete este costu. as io por idade veio n almente davam a cada filho ais tarde. Como expli Hie tinha desaparecido e os pais, io de classes escolares como uma hierarqui Wir nome exclusivo, quase sempre determinado pelas expectat de competéncia de leitura trouxe a “compreensio a natureza \¢o & crianga.2” Com algum atraso em especial da infincia ou adolescéncia e da idéia de que dentro aragiio com outros acontecimentos, a literatura infantil DH Howlay quer que levemos em consideragao aqui & ‘comegou a aparecer em 1744, quando John Newbery, e Besos epee muak Pe Aerramovokaihh = Mullion dia condigaio econdmica propiciou a intensifi- drino, imprimiu a historia de Jack, 0 Assassino Gigante, 1780, muitos autores profissionais jé tinham voltado sua ‘lo para a produgdo de literatura juvenil! emaliment span Quando © modelo da infiincia tomou forma, 0 modelo Biv ile Taio, a primeira categoria de pessoas especializa familia moderna tomou forma também. O acontecimento essdl 0 Hioselénicia no que toca as eriangas © as tornow mais, sim como & bom lembrar que 0s meni ambéin lembrar que eles eram os meninos da a Mili. A infincia comegou indiscutivelmente como uma | na criagiio da familia modema, como Ariés enfatizou, fall mi, A inf " io € depois expansio da escolarizagio formal lasso média, em parte porque a classe média podia sus- billivapestciegen tases Bat BW Diitro século se passaria antes que a idéia se infiltas: zéncia social de que as criangas fossem formalmente educad por longos perfodos levou a uma reformulagio do relacioy ‘mento dos pais com os filhos. Suas expectativas e responsabil Bi tis baixas. ses acontecimentos foram os sinais externos do sur- ile una nova classe. Eram pessoas que falavam de modo dades tornaram-se mais sérias € mais numerosas quando 08 Bifbs adultos, que passavam seus dias de modo diferente passaram a ser (utores, guardides, protetores, mantencdol punidores,érbtros do gosto da retidao. Eisenstein nos du outrarazio para esta evolugio: “.. Uma intermindvel tore ee oad de literatura moralizante penetrou na privacidade do lar hy lana sajna rors i ee ducecionaisiaay Ho precedentes sobre 0 ambiente simbélico do jovem, ¢ fie de modo diferente, aprendiam de modo diferente © Mids contas, pensavam de modo diferente. O que tinha giosas."?? Em outras palavras, com livros oferecidos tanto escola como no mercado sobre todos of t6picos imaginaveis, Hi, portanto, aptos e convidados a estabelecer as condigdes Jivais uma crianga iria se tomar um adulto. + isto no quero insinuar que os adultos tivessem nsciéneia do que faziam ou da razdo por que o faziam. medida os acontecimentos foram ditados pela naturezat pais se viram forgados a viver os papéis de educadores e te6l6 gos ¢ tiveram de se preocupar com a tarefa de fazer de se filhos adultos instrufdos e tementes a Deus. A familia como ing tituigdo educacional comega com a tipografia, no s6 porque! familia tinha que assegurar que as criangas recebessem edu ao na escola, mas também porque tinha que proporcionar un educagio suplementar em casa Ww Mas aconteceu a fami ais que dizia respeito ao con - ceito de infincia e que nio deve ser livios c das escolas. Por exemplo, ao escrever livros escola- colares d om a idade Werlados c organizar classes escolares de acordo com a id Bega, os professors inventaram, por asim dizer, os esd Wi infincia, Nossas nogées do que uma crianga pode apre (W) deve aprender, e em que idade, foram em grande parte pilvalas do conceito de curriculo seriado; isto é, do conceito Ba pré-requisito. Desde o século dezesseis.” observa Elizabeth Eisenstein, “0 m através dos fivios, para alien Inglaterra, para tomarmos 0 exemplo mais dbvio, surgiu um classe média visivel e florescente, pessoas com dinheiro ¢ @ desejo de gasté-lo, De acordo com FRH. Du Boulay, eis 0 qual faziam com ele: “Investiam em casas maiores, com mais quarto Wil de entrada para a aprendiz: Talis us criangas do Ocidente, tem sido memoriz: Wis fixa de letras isoladas representadas por simbolos e sons Wweapressivos.”5 A professora Eisenstein esté descrevendo aqui para a privacidade, em retratos seus ¢ de suas familias e nog filhos por meio de educagio e vestuirio. O excedente em dinheis 70 tornou posstvel usar as criangas como objetos de consumo conspicuo” |grifo meu).24 {i primeiro passo na dirego da vida adulta - 0 dominio sobre 0

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