O documento discute como as pessoas tendem a ignorar informações que contradizem suas crenças através do viés de confirmação. Isso cria "bolhas epistêmicas" nas redes sociais onde só ecoam opiniões semelhantes, promovendo polarização. Estudos mostram que usuários se agregam em grupos com interesses comuns, reforçando vieses e segregando opiniões diferentes.
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OrkQmcrSQ C5EJnK0kPwHw Bcf1c24f38b3425fa413d2af28066df1 Texto Opiniao Nao e Argumento Parte 2
O documento discute como as pessoas tendem a ignorar informações que contradizem suas crenças através do viés de confirmação. Isso cria "bolhas epistêmicas" nas redes sociais onde só ecoam opiniões semelhantes, promovendo polarização. Estudos mostram que usuários se agregam em grupos com interesses comuns, reforçando vieses e segregando opiniões diferentes.
O documento discute como as pessoas tendem a ignorar informações que contradizem suas crenças através do viés de confirmação. Isso cria "bolhas epistêmicas" nas redes sociais onde só ecoam opiniões semelhantes, promovendo polarização. Estudos mostram que usuários se agregam em grupos com interesses comuns, reforçando vieses e segregando opiniões diferentes.
cundário: a propaganda, o discurso político e sobretudo as fake news estão nesse compartimento. Mas, se crenças, ainda que verdadeiras e embasadas em evidências, não se confundem com opiniões, com fa- tos ou com argumentos, o que dizer de crenças falsas? Como elas são engendradas? Entra em cena o já quase famoso “viés de confirmação”, a tendência das pessoas de acolher informações que apoiem suas crenças e rejei- tar informações que as contradigam. Das muitas formas de pensamento defeituoso já identificadas, o viés de con- firmação está entre os mais bem catalogados. Mesmo após a evidência de que suas crenças foram totalmente refutadas, os indivíduos em geral não conseguem fazer revisões apropriadas em certas crenças. Um aliado perverso do viés de confirmação é a “ilusão de profundidade explicativa”: as pessoas acreditam que sabem muito mais do que realmente sabem, e o que lhes permite persistir nessa crença é a ressonância em outras pessoas ó dificilmente sabemos dizer onde o nosso enten- dimento termina e o do outro começa. Essa confusão de fronteiras, usada de forma positiva, parece ser crucial para o que consideramos progresso. Mas, como regra geral, de agostini/getty images
sentimentos fortes sobre questões candentes não surgem
de uma compreensão profunda, e mais se parecem com os de uma torcida organizada. Duas metáforas recentes tentam explicar mais meto- dologicamente esses fenômenos: a ideia da “bolha epistê- mica” e a da “câmara de eco”. Um estudo publicado na re- Diálogo entre o céu e a terra Platão e vista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências Aristóteles, no afresco Escola de Atenas, de Rafael (“The spreading of misinformation online”, https://doi. org/10.1073/pnas.1517441113), examinou dados sobre te- uma câmara de eco ó cujo nome nada tem a ver com o mas discutidos em redes sociais entre 2010 e 2014. O estu- conhecido escritor italiano. do constatou que os usuários tendem a se agregar em co- Não é necessariamente verdade, como disse Umberto munidades de interesse, o que causa reforço e promove Eco, que “as redes sociais deram voz a uma legião de imbe- vieses de confirmação, segregação e polarização. Uma cis”. Basta que milhões de pessoas instantaneamente co- “bolha epistêmica” se forma em grupos (redes sociais, nectadas caiam vítimas do viés de confirmação e da ilusão igrejas ou tendências políticas), nos quais vozes discor- de profundidade explicativa, e teremos o cenário pronto dantes são excluídas por omissão, de maneira inadvertida para a agressividade e polarização nas redes, cujo efeito, ou proposital, pelo mecanismo de viés cognitivo. Isso ou parte da causa, se vê no Judiciário, na imprensa e em acontece quando redes construídas por motivos eminente- outras instituições. mente sociais começam a ser usadas como fontes de in- O que o diretor e o ministro da Educação deveriam ter re- formação. No segundo caso, uma “câmara de eco” é uma conhecido ao estudante e aos ofendidos com o curso “O gol- estrutura social na qual vozes discordantes são ativamen- pe de 2016” é que, sim, eles têm um direito moral à sua cren- te desacreditadas. Numa bolha epistêmica, vozes des- ça, e têm o direito moral de não ter essa crença arrancada à toantes não são ouvidas; numa câmara de eco, essas vozes força. Mais nada. A filosofia da religião permanece no pro- são sabotadas. A prisão de Lula pode ser vista como um grama, e o programa do curso permanece vigente. ƒ episódio de perseguição judicial ou como um exemplo de avanço no combate à corrupção no país. Mas quem já ten- * Walter Carnielli é matemático e professor titular de tou discutir com qualquer dos lados, penetrando numa lógica e filosofia da ciência do Centro de Lógica e do bolha epistêmica através das redes sociais, sentiu o que é Departamento de Filosofia da Unicamp, em Campinas