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o

om
ROBERT BARRASS
erland) a
(Professor da Politécnica de Sund

OS CIENTISTAS
PRECISAM ESCREVER
guia de redação
para
s
cientistas, engenheiros e estudante

Tradução de

LEILA NOVAES
e

LEÔNIDAS HEGENBERG

T. A. QUEIROZ, EDITOR
DE SÃO PAULO
EDITORA DA UNIVERSIDADE
São Paulo
BIBLIOTECA DE CIÊNCIAS NATURAIS
DIREÇÃO
Dr. Antonio Brito da Cunha
(do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo)
“ Volume 2
Para Ann
Do original inglês
SCIENTISTS MUST WRITE
A guide to better writing
for scientists, enpineers and students
publicado por
Chapman and Hall Ltd
Ti 0 do “quisição V Londres
Fdguir do obelo & 1978 Robert Barrass
ata fqu' sição.

roço, ECO, L
egg IP-Brastl. Catalogação-na-Fonte
mara Brasileira do Livro, SP
RO
bb. cum
- Robert.
B252c — Oscientistas precisam escrever : quia de redação
para cientistas, engenheiros e estudantes/ Robert
Barrass ; tradução de Leila Novaes e Leônidas He-
genberg. — São Paulo : T, A. Queiroz : Ed. da
Universidade de São Paulo, 1979.
(Biblioteca de ciências naturais
3 v.2)
na Bibliografia.

1. Trabalhos científicos - Editoração 2. Traba-

ai! q
lhos científicos - Normas 3, Trabalhos ctentifi-
cos - Redação 1. Título.

79-1457 CDD-BOB.0665

Indices para catãlogo sistemático:


. Escritos científicos : Redação 808.066:
Normas : Trabalhos científicos : Redação 808.0665
unir

Publicações científicas : Redação 608,0665


. Redação : Trabalhos científicos B0B.0665
« Trabalhos científicos: Normas : Redação 808.0665
- Trabalhos científicos : Redação 808,0665

Proibida a reprodução, mesmo parcial,


e por quaiguer processo, sem autori-
zação expressa do editor.

Direitos para a língua Portuguesa adquiridos por


T - À. QUEIROZ, EDITOR, LTDA.
Rua Joaquim Floriano, 733 — 4º
04534 São Paulo, SP
que se reserva a propriedade desta tradução.

1979
Impresso no Brasil
Sobre a edição brasileira

zidas
No limite do indispensável, algumas adaptações foram introdu
s vi-
nesta tradução, todas elas decorrentes de exigências naturai
sujeitas
sando ao leitor local: exemplificação de formas redacionais
no inglês e no
a interpretações ambíguas — nem sempre análogas
e inclusã o de
português —, de problemas mais comuns de língua,
normas técnicas adotadas em nosso País e sugestões de leitura
complementar pertinente.
Essa reduzida colaboração, necessária além de útil, e exercida
valor deste
com anuência do Prof. Barrass, reforça o interesse e O
ro, pre-
pequeno livro, dele fazendo, também para o leitor brasilei
não
ciosa fonte de informações e instruções sobre a arte de escrever
da
sô correta como apropriadamente sobretudo na área do ensino,
pesquisa e da atividade profissional ligada à ciência em geral.
Nestes tempos de deterioração do ensino, de descaso com O
r
vernáculo, de dificuldade às vezes quase insuperável de se traduzi
um pensamento em palavras, este livro surge como uma contri-
buição válida e oportuna ao esforço de superação do problema da
comunicação escrita. E é, por isso, com grande prazer profissional
que o oferecemos aos interessados em aprimorar a arte de escrever,
seja nas faculdades, seja nos laboratórios, seja ainda nas empresas.

Os editores
Sumário

Agradecimentos XV
Prefácio 1

1. OS CIENTISTAS PRECISAM ESCREVER 3

2. REGISTROS PESSOAIS 8
Escrever ajuda a lembrar 8
(Anotações feitas em aula — Registro de trabalhos
práticos)
Escrever ajuda a observar 12
Escrever ajuda a pensar 13
(A descrição de um experimento — Pensar e recordar
— Relatórios sobre o andamento do trabalho)
O exercício de escrever 17

3. COMUNICAÇÕES 19
Relatórios internos 19
Cartas e memorandos 20
A comunicação como parte da ciência 27
(O método científico — A publicação dos resultados
da pesquisa)
A popularização da ciência 29
Exercícios de comunicação 29
(Redação de uma carta — O preparo de instruções)

4. COMO OS CIENTISTAS DEVEM ESCREVER 31


Explicação 3
Clareza 31
Inteirezo 31
Imparcialidade 31
Ordem 33
Acuidade 33
Objetividade 34
(Expressões teleológicas)
Simplicidade 35
Escritos ctenííficos 36
(Como redigir instruções)
Escritos não científicos 37
. PENSAR, PLANEJAR, ESCREVER, REVER 40
O pensar eo plunejar 40
(A reunião de idéias e informações — Esboço preliminar '
— A ordem dos parágrafos)
Aredação 45 :
Arevisão 46 .
Praticar a redação de ensaios 50 É
Técnica de exame 54
(Como preparar exames e atribuir notas — Como usar
seu tempo da melhor maneira possível num exame —
Como responder às questões de um exame) 4

. PENSAMENTOS POSTOS EM PALAVRAS 58


o

Vocabulário 58
O significado das palavras 62
Termos técnicos 68
(Definições)
Abreviaturas 70
Nomenclatura

- O USO DAS PALAVRAS 72


+

Palavras no contexto 72
Palavras supériluas 74 -
(Motivos da prolixidade — A redação de um resumo)

AJUDANDO O LEITOR B6
Decisão sobre o que o leitor necessita saber 86
Escreva com a preocupação de tornar fácil a leitura 87
(Como principiar — Controle — Ênfase — Comprimento
das frases — Ritmo — Estilo) -
Captar e manter a atenção do leitor 92
Usar bom vernáculo 94 ,
(Obstáculos à comunicação efetiva — Regras da comunicação
eficiente)

. OS NUMEROS CONTRIBUEM PARA A PRECISÃO 103


o

O uso de números 103


(Unidades SI) ;
O uso de tabelas 106
O uso de gráficos e diagramas 109
- AS ILUSTRAÇÕES CONTRIBUEM PARA QUE HAJA CLAREZA 114
O uso de ilustrações 114
(Fotografias — Desenhos — Diagramas)
A arte da ilustração 119
Desenhos para relatórios 121
(Dimensões — Como desenhar)
A legenda, 125 n
Ilustrações terminadas 125
(Pontos a verificar nas ilustrações) !
1. LEITURA 128
O trabalho dos outros 130
ou
(Enciclopédias — Manuais — Guias de padronização
normativos — Diretórios, ou Guias — Livros — Resenhas
— Periódicos especializados — Periódicos especializados
Contents”)
em extratos, ou resumos — Índices — “Current
Anotações feitas durante a leitura 136
Como ler 137
Como fazer uma resenha 138

12. RELATÓRIOS E TESES .140


140
As partes de um relatório de pesquisa
Introdução — Materiais
(Capa — Folha de rosto — Sumário —
s — Result ados — Discus são — Resumo — Agradeci-
e método
— Lista de referên cias bibliog ráficas )
mentos
Relatório de projetos e teses 152
+

ão de projetos)
(Teses — Relatórios de projetos — Avaliaç
TIGAÇÃO 156
13. PREPARO DO RELATÓRIO DE UMA INVES
O preparo do manuscrito 156
(Pontos a verificar no manuscrito)
O preparo do original datilografado 159
a
(Instruções para o trabalho de datilografia — Pontos
verificar no original datilografado)
O preparo do índice remissivo 163
O prepar o do origina l datilo grafad o para a tipografia 164
(Correspondência com o redator — Pontos a considerar
pelos avaliadores, e autores — Direitos autorais —
Pontos a verificar na revisão de provas)
Resumo 170
sobre uma
(Como preparar, para publicação, um relatório
investigação ou um artigo)

14. FALAR SOBRE CIÊNCIA . 174


O preparo de uma conferência 174
— Uso de
(Avaliação do tempo — Uso do quadro negro
diapositivos)
A palestra 178

APÊNDICE 181
Unidades legais no Brasil 183
Projeto NB-66, da ABNT 197

Referências bibliográficas 219


“TES, er

Agradecimentos
.

na de
Não escrevo na condição de especialista em linguagem, mas
é
cientista atuante — sabendo o quão é difícil escrever bem e como
importante que os cientistas e engenheiros procurem fazê-lo.
Agradeço às seguintes pessoas, que leram os originais deste
livro, por sua ajuda e encorajamento: Professor P. N. Campbell,
Diretor do Courtauld Institute of Biochemistry (The Middlesex
Hospital Medical School, Universidade de Londres); J. Collerton,
e
" Diretor do Departamento de Humanidades da Newcastie-upon-Tyn
Polytechnic; Dr. G. Evans, do Depart amento de Geologi a do Im-
perial College of Science and Technology, da Universidade de Lon-
dres; Professor M. Gibbons, do Departamento de Estudos Liberais
E.
em Ciência, da Universidade de Manchester; e aos meus colegas
B. Davidson, Professor Titular do Departamento de Engenharia
Elétrica e Eletrônica, e Dr. J. B. Mitchell, Professor do Departa-
- mento de Biologia, da Sunderland Polytechnic. O Sr. D. W. Snow-
down preparou as fotografias dos desenhos reproduzidos de outras
fontes (como se indica nas legendas dessas figuras). O Sr. D. B.
Douglas desenhou as charges.
Prefácio

Há quem afirme que os jovens cientistas e engenheiros deviam


o que lhes possibilitaria ocupar cargos de
aprender a escrever —
m
administração e gerência. Isso é verdade, mas eles também precisa
como enge-
saber escrever corretamente se pretendem alcançar êxito
icose
nheiros e cientistas. Os requisitos para redigir trabalhos científ
E——

plicida de
técnicos são os mesmos: clareza, inteireza, acuidade, s
(ver o capítulo 4). Neste livro, por conseguinte, a palavra cientista
significa cientista e tecnólogo; e a expressão escrito científico
abrange escritos científicos e escritos técnicos.
as
Escrever é parte da ciência. Não obstante, muitos cientist
treinam ento na arte de escrever . Há uma certa
deixam de receber
ironia no fato de ensinarmos nossos cientistas e engenheiros a utili-
ão |
zarem instrumentos e técnicas, muitos dos quais jamais utilizar (mem

no entanto , não os ensin a


armos escre-
em sua vida profissional, e,
como
ver. Escrever é o que eles precisarão fazer todos os dias —
executi vos, como cientis tas.
estudantes, como administradores, como
e engenheiros.
Este livro, escrito por um cientista, não é uma gramática,
redigir
Também não se trata apenas de mais um livro sobre como
ção. O livro
relatórios técnicos, ou teses, ou artigos para publica
ante a estu-
aborda todos os modos pelos quais escrever é import
a lembrar,
dantes, cientistas atuantes e engenheiros para ajudá-los
idéias.
observar, pensar, planejar, organizar e transmitir suas
1, 2 e 3 versam todas as maneiras pelas quais
Os capítulos
O capítulo 4
escrever é importante para os cientistas ou tecnólogos.
que este livro
aborda as características do escrito científico. Espero
dades em tra-
possa auxiliar a todos aqueles que encontram dificul
a avaliar e
duzir seus pensamentos em palavras (capítulo 5), levá-los
utilizam
pesar as" palavras de que se utilizam (capítulo 6) e como
2 — PREFÁCIO

- essás palavras (capítulos 7 e 8). Nos escritos científicos os números


(capítuio 9) e as ilustrações (capítulo 10) são importantes, sendo que
o preparo das ilustrações é, habitualmente, o primeiro passo ao redi-
girmos a parte de resultados de um relatório, tese ou artigo científico
(capítulos 12 e 13). Foram incluídos um capítulo sobre leitura
(capítulo 11) e outro relativo à apresentação oral de idéias (capi-
tulo 14),
Sempre que conveniente, o conselho dado ajustou-se às normas
fixadas por órgãos competentes — norte-americanos (ANSI — Ame-
rican National Standards Institute), ingleses (BS — British Stan-
dards) e internacional (ISO — International Organization for Stan-
dards)* (v. capítulo 11) —, e, ainda, ao Guide for the preparation of
scientific papers and abstracts for publication (UNESCO, 1968).
Este livro pode ser lido ou como alternativa de um curso formal
sobre redação de trabalhos técnicos e científicos ou para comple-
mentar tal curso. Para facilitar a consulta de leitores que necessitam
de orientação a respeito de algum detalhe específico de redação,
foram incluídos um minucioso Sumário e um índice remissivo. Para
ajudar a todos os leitores e reduzir o número de referências cru-
zadas, vários pontos essenciais foram repetidos em contextos dife-
rentes. É
Foram incluídos exercícios em locais apropriados do texto (ver
Exercícios, no índice remissivo). São exercícios adequados para
auto-instrução. Há sugestões destinadas a facilitar a tarefa dos
professores de ciência ou de redação de textos científicos que dese-
jem utilizá-los ou utilizar exercícios similares em seus cursos. Exem-
plos de redação científica inadequada ou de redação incorreta são
acompanhados de notas sobre as falhas ou sugestões de apertei-
çoamento. Do mesmo modo que Gowers (1973), não forneço as
fontes de onde recolhidos tais exemplos, mas as redações são de
pessoas que conhecem seu idioma: algumas de professores univer-
sitários e todas de autores de livros ou colaboradores de revistas
especializadas.

Robert Barrass
30 de maio de 1977

* Não olvidando, é claro, as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).


(N.T)
ja
o
i
t
[O re
Biblioteon Ceni |)
«VFS i

1
Os cientistas precisam escrever

À indagação “Por que devemos escrever?” a maioria dos cientistas e


engenheiros logo pensa na necessidade de transmitir idéias. A comu-
nicação é tão importante que se torna fácil olvidar outros motivos
para se escrever. Escrevemos naturalmente, como parte do nosso
trabalho quotidiano: para ajudar-nos a lembrar, observar, pensar,
planejar e organizar, assim como comunicar (Tabela 1). Escrever
ajuda-nos, acima de tudo, a pensar e a expressar nossos pensa-
mentos — e quem quer que escreva mal leva desvantagem tanto no
estudo como no relacionamento com outras pessoas.
Escrevendo, podemos estabelecer comunicação com pessoas
conhecidas que podem julgar-nos com base em tudo aquilo que
sabem a nosso respeito — com base em nossa maneira de escrever e
de conversar, em nossa aparência e em nosso comportamento. Ão
escrever, porém, para pessoas que nunca vimos, elas só podem
julgar-nos de uma única maneira: pelo nosso modo de escrever.
Uma carta solicitando emprego, por exemplo, pode ser tudo que um
empregador necessita para concluir que o candidato não serve para
o trabalho. . “

Estudantes são avaliados por meio de seus trabalhos (breves


ensaios, registros de experimentos, relatórios de projetos, e teses) e
pelo seu desempenho em exames escritos. Apenas escrevendo bem
poderemos nos sair satisfatoriamente como estudantes, candidatos a
empregos ou empregadores (escrevendo cartas, instruções, relatórios
de atividades, artigos e resenhas, e contribuições científicas para
publicação).
Alguns cientistas e engenheiros sabem avaliar a importância
ao
que o escrever representa para o seu trabalho. Dão muita atenção
que escrevem. Outros sabem que escrevem mal, mas não se preo-
cupam com isso. Estão enganados se acreditam que escrever não é
4— OS CIENTISTAS PRECISAM ESCREVER

particularmente importante na ciência. Outros, ainda, por estarem


satisfeitos com o nível de sua redação, escrevem sem cogitar da
possibilidade de aperfeiçoamentos.
Muitas pessoas são levadas a crer que escrevem de modo satis-
fatório por causa do êxito que obtêm nos exames escolares e univer-
sitários. Todavia, a maior parte dos alunos alcançaria ainda melho-
res notas em seus exames e trabalhos escolares se estivesse em con-
dições mais satisfatórias de transportar seu pensamento para o
papel. Professores e examinadores sabem perfeitamente quantos
pontos perdem os estudantes em suas notas por não revelarem, de
modo claro, se tiveram ou não aproveitamento. Nas escolas, muitos
dos mais aptos estudantes não conseguem demonstrar suas aptidões.
Por exemplo, os comentários abaixo são do relatório de um exami-
nador sobre um trabalho de aproveitamento escolar:

Todas as respostas incluem informações bastante irre-


levantes. Mesmo quando um diagrama foi incluído,
a descrição completa, por escrito, também foi dada.
Expressões imprecisas indicam falta de raciocínio
cuidadoso. O padrão das explicações é desaponta-
dor (...) muitos candidatos conheciam q assunto,
mas foram incapazes de expressar-se adequadamente.
Bem poucas respostas foram compreensivas. Pontos
foram perdidos em decorrência de omissões. Mesmo
quando conheciam a resposta, muitos candidatos ti-
veram dificuldade em reunir os fatos em ordem apro-
priada,

Os estudantes universitários são brilhantes c hábeis, mas são preju-


dicados porque seus professores negligenciaram em lhes ensinar as
noções fundamentais da expressão literária (Rivet, 1976). O pro-
fessor Rivet examinou 44 trabalhos escritos por estudantes de huma-
nidades e ciências: Todos cometeram erros ortográficos. Termos
impróprios eram fregiientes. A sintaxe confusa era comum: abun-
dantes exemplos de mau uso dos particípios; sujeitos no singular
eram ligados a verbos no plural e vice-versa; a conjunção “portanto”
foi utilizada com o objetivo de introduzir uma idéia nova (sem a
noção de consegiiência); tempos verbais oscilavam de maneira alea-
tória. Na pontuação, o erro mais comum foi a troca de pontos por
vírgulas e vice-versa (dois pontos e pontos-e-vírgulas desaparece-
4 PP

O
OS CIENTISTAS PRECISAM ESCREVER — 5

ram), mas alguns alunos omitiram por completo as vírgulas en-


quanto outros as esparramaram de modo arbitrário, como se fossem
despejadas de um regador, dificultando a compreensão do texto
numa primeira leitura.
Muitos estudantes são suficientemente hábeis para compreen-
der a matéria estudada, porém não são capazes de transmitir seus
conhecimentos e suas idéias de modo eficiente. Necessitam de auxi-
lio em sua redação, mais do que novos esclarecimentos acerca dos
assuntos ou matéria que escolheram.
A necessidade de aperleiçoamento também fica patente nos
escritos de cientistas e tecnologistas, que presumivelmente fazem o
melhor que podem quando preparam trabalhos para publicação e,
não obstante, precisam — muitos deles — do auxílio de revisores e
redatores experientes:

A parte mais importante do meu trabalho editorial é


a de tentar ajudar os autores a registrar, de maneira
clara e concisa, aquilo que pretendem dizer.
(...) é dever de todas as universidades zelar no sentido
de que os jovens sejam, hoje mais do que nunca, trei-
nados para expressar-se de modo lúcido, conciso e
preciso.
Cambridge University Reporter,
C. F. A. Pantin (1959)

Enquanto faço a revisão de um artigo que talvez tenha


efetivamente algo de aproveitável entranhado na ver-
bosidade; enquanto tento substituir substantivos por
verbos e a voz passiva pela ativa, e procuro eliminar
'ismos" e “Yzações' em praticamente todo o texto —
estremeço ao pensar na quantidade de escritos conges-
tionados e obscuros que se toleram em ciências so-
ciais...
Only Disconnect, Bernard Crick (in McIntyre, 1975)

Apesar dos esforços dos revisores numerosos artigos são publicados


com redação verborrágica e períodos ambíguos, indicando que mui-
tas pessoas ou não pensam com cuidado acerca do que pretendem
dizer ou são incapazes de expressar as suas idéias de modo claro e
conciso (v. Tabelas 14e 15, cap. 8).
o Po

- 6 — OS CIENTISTAS PRECISAM ESCREVER

. Cientistas e tecnologistas devericm, todos, admitir que escrever


- é parte de seu trabalho; ra..s, a maior dificuldade enfrentada por
quem quer que procure aperfeiçoar os padrões da comunicação
escrita científica e técnica está em que a maioria das pessoas cultas
está satisfeita com o que escreve:

Dificilmente somos persuadidos de que ainda temos


muito que aprender nos domínios da linguagem, ou
de que nosso entendimento da linguagem é falho (...)
A primeira coisa a fazer para aperfeiçoar o uso que
os adultos fazem da comunicação escrita é destruir
essa absurda ilusão. :
Practical Criticism, I. A. Richards (1929)

Muitos estudantes de ciência e tecnologia não recebem instrução


formal sobre a arte de escrever; e quando se põem a escrever e escre-
vem mal seus erros talvez não sejam corrigidos. Essa a razão pela
qual muitos cientistas não compreendem o quão importante é a re-
dação na ciência, e a razão que os leva a não tomar conhecimento de
suas próprias deficiências.
Não basta ensinar ciência aos cientistas. Precisamos também
ajudá-los a serem eficientes como cientistas. Há uma certa ironia no
fato de ensinarmos nossos estudantes de ciência e engenharia a
utilizarem instrumentos e técnicas, alguns dos quais talvez nunca
venham a empregar em sua vida profissional, e, no entanto, não os
ensinarmos a escrever — exatamente aquilo que precisarão fazer
diariamente como estudantes e como administradores, executivos,
dirigentes, cientistas e engenheiros.
Os requisitos para bem escrever, na área técnica, são os.mesmos
que prevalecem na área científica: clareza, acuidade, inteireza,
simplicidade (v. capítulo 4).

Houve um tempo em que a Ciência era acadêmica e


inútil e a Tecnologia era uma arte prática; hoje, elas
se acham de tal modo interligadas que (...) [a maio-
ria das pessoas) não consegue separá-las.
Public Knowledge, John Ziman (1968)

A literatura científica provavelmente não seja pior


que qualquer outra literatura, mas deveria ser melhor
do que é. Um fenômeno espantoso é o fato de o cien-
OS CIENTISTAS PRECISAM ESCREVER — 7

tista, que habitualmente conduz sua pesquisa em labo-


ratório com o maior refinamento e a mais elevada pre-
cisão de que a ciência é capaz, com tanta fregiiência se
dispor a publicar trabalhos açodadamente sem antes
certificar-se de que suas afirmações se acham clara-
mente expressas. Mais do que qualquer outro profis-
sional, sem dúvida, o cientista tem a obrigação de es-
crever não apenas de maneira a fazer-se entendido
como de modo a não ser mal compreendido.
contra pets

E. H. McClelland (1943)

Os professores de ciência devem colaborar com o ensino da lingua,


mostrando aos jovens cientistas porque eles precisam escrever e
como eles devem fazê-lo. As crianças não saberão avaliar a impor-
tância da redação, em todos os seus trabalhos escolares, se o pro-
fessor de vernáculo for o único a preocupar-se com os erros grama-
ticais.
Os jovens cientistas deveriam saber, o mais cedo possível em
suas carreiras, que serão melhores estudantes e melhores cientistas
se estiverem capacitados a escrever corretamente. “A nossa edu-
cação depende, toda ela, da compreensão e do uso adequado da
linguagem — como disso depende também o êxito em numerosos
aspectos da vida adulta” (HMSO, 1975). Drucker (1952) deu o
seguinte conselho sobre como ser um empregado:

Se você trabalha com máquinas, sua habilidade de


expressar-se não terá grande importância. Na me-
dida, porém, em que o seu serviço se afasta do tra-
balho manual, e na medida em que seja maior a orga-
nização para a qual você trabalha, maior será a
importância de saber como transmitir seus pensa-
mentos, por escrito e oralmente. A capacidade de ex-
pressar-se talvez seja a mais importante de todas as
habilidades que você possa possuir.

É grande o poder das palavras corretamente escolhidas, sejam elas


usadas para informar, entreter ou persuadir (Potter, 1969). Não há,
contudo, atalhos para se conseguir escrever melhor. Aprendemos | /
através da práticada arte de escrever, levando em conta os comen-.
“tários de nossos professores e colegas ou os conselhos dos revisores, Lo,
e
seguindo os bons exemplos — lendo boa literatura. —
2
Registros pessoais

Escrever ajuda a lembrar |


A maioria dos cientistas se vale de uma agenda ou diário para ,
registro e lembrança do que fizeram e do que está por ser feito.
Quando precisam lembrar-se de procedimentos a adotar no uso de
um instrumento ou de uma técnica, seguem minuciosas instruções,
preparadas por outras pessoas. Um aluno, porém, quando se vale
pela primeira vez de anotações escritas, como auxiliar da memória,
registra sentenças completas ditadas pelo professor. Posteriormente,
os estudantes tomam notas durante as aulas e no decorrer de inves-
tigações (e enquanto lêem — v. capítulo 11).

Anotações feitas em aulas


O tipo de notas feitas pelos alunos depende da maneira pela qual a
aula é dada. Às vezes eles fazem anotações minuciosas mas pouco se
lembram do que foi dito na aula. Isso acontece quando o professor
fala devagar, como se estivesse ditando, permitindo que pratica-
estudantes tomam,
mente tudo seja registrado. Em outras aulas,os
“apenas algumas notas, mas com cuidado, selecionando títulos, sub-
títulos, palavras, números, abreviaturas, frases e sentenças que lhes
servirão de lembretes. Nessas aulas é que os estudantes aprendem
- mais: não estão totalmente
nente ocupados comn escrever e “dispõem
em de
“tempo para refletir.
A “tarefa do professor não é oferecer a cada estudante um
conjunto
to bem arranjado de anotações — ditando o resumo de livros-
texto — mas apresentar uma síntese dos pontos essenciais do tema
> — discutido, apoiado em exemplos; discutir problemas, hipóteses e
“ - evidências; explicar aspectos mais complicados, elucidar conceitos e A
* princípios; aludir a outras fontes de informação; e responder per-
- guntas. Dessa maneira, o professor age como um controlador de
REGISTROS PESSOAIS — 9

velocidade para o estudante, o qual, ouvindo, adianta-se mais rapi-


damente do que o faria caso se limitasse a ler. Não obstante, os
mo
aula se já tiverem Íeito leituras preliminares «ese tiverem compreen-—
dido e aproveitado as aulas anteriores do mesmo curso. «4

nova página, é a data e, em seguida, o tema da aula. A fim de


decidir a respeito da primeira anotação a fazer a maioria dos alunos
se baseia em alguma sugestão do professor. Alguns professores
parecem esperar que os alunos escrevam durante toda a aula, o que
pode ser desejável caso a informação apresentada não se encontre
acessível em livros-texto. Outros professores preferem que os alunos
apenas ouçam, compreendam o que foi dito e usem seu próprio
discernimento para distinguir os pontos essenciais dos pormenores
de apoio.
Um bom professor pode principiar sua aula dizendo de que
maneira pretende abordar o tema. Se a aula houver sido bem prepa-
rada, as notas de cada estudante revelarão um plano ordenado da
aula, semelhante ao plano preparado pelo professor enquanto deci-
dia o que dizer.
Tomar notas ajuda as pessoas a permanecerem atentas. Os
alunos devem ouvir a exposição e, depois, recorrer aos seus livros,
ou, alternativamente, devem fazer as anotações à medida que acom-
panham o pensamento e as explicações do professor. Em qualquer
dos casos, os alunos devem aprender durante a aula e devem estar
prontos a fazer ou a responder perguntas ao término da exposição.
Os alunos precisam pensar no material que convém levar a uma
aula. Alguns se valem de uma caderneta em que tomam notas de
muitas aulas diferentes; depois, em casa, perdem tempo copiando o
que anotaram. Outros se utilizam de vários cadernos, um para cada
curso, o que os poupa do trabalho de copiar as anotações mais
tarde, mas este método é incômodo. De tal sorte que a maioria dos
alunos prefere levar o chamado “fichário” de folhas soltas, desta-
cáveis: começam cada assunto novo do trabalho escolar numa nova
folha, deixando margens adequadas e espaçando as anotações, com
lugar para alterações e acréscimos. Com folhas soltas não há neces-
sidade de copiar as anotações, já que cada folha pode ser manu-
seada separadamente e mantida no arquivo mais apropriado em
casa, a ordem das folhas pode ser alterada quando necessário, e
10 — OS CIENTISTAS PRECISAM ESCREVER

“novas folhas podem ser incluídas a qualquer momento no lugar mais


conveniente,
A padronização é uma boa idéia (o papel 44, 210X297 mm (ou
formato ofício), é um tamanho adequado), assim como o uso de
papel com pautas largas para escrever e papel branco para dese-
nhar. O papel pautado com linhas muito juntas não é apropriado
para anotações e trabalhos de redação porque não há, entre as
linhas, espaço para pequenos acréscimos e correções.

Registro de trabalhos práticos


| Anotações preparadas no decurso de uma investigação não devem
| ser feitas em papel de rascunho, mas numa caderneta
de laboratório
Vo ou de campo. Tem-se, dessa forma, como no caso de um diário, um
:* registro permanente daquilo que foi feito em cada dia de trabalho
* (por exemplo, a quantidade de cada componente de uma mistura, o
' método usado em todas as preparações, as providências para padro-
nização das condições que prevaleceram durante a investigação, o
número de cada instrumento, e a temperatura e pressão atmosférica
se forem relevantes). A caderneta é, ainda, o local apropriado para
desenhar a aparelhagem, para os diagramas de circuitos, e para
registrar marcações dos instrumentos, descrições e esboços feitos ao
longo das observações.
A organização dos dados deve principiar no momento 'mesmo
em que eles são registrados, em folhas cuidadosamente preparadas
para este fim. Essas tabelas devem ocupar páginas da própria cader-
neta ou ser firmemente fixadas à página apropriada. Unidades de
medida devem constar de cada coluna, no topo. Essas tabelas são
um guia para a observação, pois dirigem a atenção para as medi-
ções requeridas e de tal modo que as coisas são registradas em
ordem, no momento certo. Elas facilitam, ainda, a utilização e a
análise de dados.
Toda
da anotação deve ser datada. A data não fica na memória e
pode, mais tarde, adquitir grande importância, indicando a ordem
em que as coisas se processaram. A data tambémé o elemento-
chave de registros feitos por técnicos em assuntos como clima,
duração do dia e as condições das marés. Convém, pois, registrar a
hora em que uma observação é iniciada, a hora em que cada
anotação é feita no decorrer da observação, e a hora em que a
observação termina.
REGISTROS PESSOAIS — 11

Pormenores desse gênero serão necessários se o trabalho reali- o


zado tiver de ser repetido; serão necessários, também, para as secções
“Materiais e métodos” e “Resultados” de um relatório: não devem
ser confiados à memória. É possível, mesmo, que um relatório não
possa ser escrito se algum pormenor ficar sem registro — perdendo-
se, assim, todo o tempo e todo o dinheiro gastos na pesquisa. Os
pormenores facilitarão ainda a redação da “Introdução” e da parte
relativa às “Discussões” do relatório, ese osos motivos que. levaram à.
investigação e as notas acerca do desenvolvimento das idéias e das
hipóteses forem registrados nºno decurso do trabalho.
As notas não devem ser rascunhadas e passadas & a limpo mais.
tarde. Isto é perda det tempo e possibilita o surgimento de enganos.
tas '“limpas” e escrever com cuidado perio-
É preferível preparar notas
dos bem construídos.
Perder uma caderneta de anotações, após uma investigação que
levou semanas, meses ou anos, representa considerável desperdício
de tempo e de dinheiro. Recomenda-se, pois, que durante o trabalho
os cientistas tirem uma cópia (com carbono) de cada página de suas ?

cadernetas ou cadernos, em folhas soltas, conservando-as em outro


lugar. Quem deixa de tomar essa precaução arrisca-se a perder
anotações insubstituíveis (Figura 1). Tais perdas, geralmente provo- —
cadas pelo fogo, jamais são previstas. Ao realizar projetos e pes-
quisas o cientista não deve desmontar a aparelhagem usada antes de
haver completado as observações, analisado os dados e preparado
uma primeira versão do relatório final, Aspectos aparentemente
irrelevantes durante uma investigação podem revelar-se importantes
mais tarde. O caderno de notas, nesse caso, estará em condições de
fornecer as informações sobre porque, como e quando as coisas
foram feitas. Na caderneta de campo devem ser anotadas não ape-
nas essas informações relativas ao porque, o como e o quando, como
também sobre onde elas tiveram lugar.
É preciso registrar meticulosamente quaisquer observações
inesperadas, pois é, em geral, a partir desses dados imprevistos e de
A
experimentos malsucedidos que mais aprendemos.
;
]

Adotei, também, durante muitos anos, uma regra de


ouro: sempre que qualquer publicação, nova obser-
vação ou pensamento contrários aos meus próprios
resultados chegavam ao meu conhecimento, tomava
12 — OS CIENTISTAS PRECISAM ESCREVER

nota disso imediatamente e sem falta; pois desco-


brira, pela experiência, que tais fatos e pensamentos
fugiam da memória muito mais facilmente do que
aqueles que me eram favoráveis.
Life and Letters, Charles Darwin (1809-82)

Escrever ajuda a observar


A observação é o alicerce da ciência, e o preparo de uma descrição,
como a execução de um desenho preciso (Figura 11A), ajuda a foca-
lizar a atenção sobre um objeto ou um acontecimento. Escrever é .
necessário para chegar a uma descrição precisa e é um auxílio para o
aprendizado.

Ra

Dave
Deuslas

Onde foi que deixei minhas anotações?

Fig. 1. Conservar, em lugar seguro, uma cópia de cada página do caderno de ano-
tações.
REGISTROS PESSOAIS — 13

Quando um ponto houver sido adequadamente coberto numa


descrição, que se procure algo mais para descrever. Isto ajuda a
perceber outros aspectos e a descrição não se limitará ao mais óbvio,
Um observador experiente deve procurar não perder nada.
A revisão de uma descrição enseja a oportunidade de rearranjar
as observações, de tal sorte que: haja uma clara distinção entre o
que parece ser as características mais importantes e aquilo que, com
relação a essas características, é detalhe; os acontecimentos sejam
descritos na ordem temporal correta ou em outra ordem lógica; e a
atenção seja voltada para diferentes observações que parecem estar
relacionadas.

Escrever ajuda a pensar


Pensamos com palavras e ao escrever procuramos captar nossos
pensamentos. Escrever é, portanto, um processo criativo que nos
ajuda a selecionar nossas idéias, preservando-as para posterior
consideração.

Dificilmente um pensamento original acerca de te-


mas sociais ou espirituais encontra eco na humani-
dade ou adquire importância adequada nos intelectos
— inclusive no de seu autor — antes de palavras e
frases habilmente escolhidas terem fixado de maneira
segura este pensamento.
A System of Logic, John Stuart Mill (1875)

(...) a difícil tarefa de escrever e repensar pode aju-


dar a esclarecer e fixar muitas coisas que permanc-
cem um pouco incertas em meu espírito por não te-
rem jamais sido anunciadas explicitamente, e eu de-
sejo descobrir suas incoerências ocultas e suas falhas
insuspeitadas. E tenho, assim, uma história.
The Passionate Friends, H. G. Wells (1913)

(...) um curso de inglês limitado à gramática seria


muito estéril, e o domínio de uma lingua é melhor
conseguido pelo seu uso como veiculo para discipli-
nar e registrar idéias e estimular o pensamento cria-
tivo.
The Language of Mathematics, F. W. Land (1975)
PE o

14 — OS CIENTISTAS PRECISAM ESCREVER

(o preparo de um ensaio ou relatório auxilia-nos a determinar o que


sabemos e a descobrir lacunas em nosso conhecimento, conduzindo,
pois, a uma compreensão mais profunda do trabalho em que nos
empenhamos.
Estudar a língua materna não se compara a estudar outras
disciplinas: é a condição indispensável da vida acadêmica. Mais
ainda, para as pessoas que falam o português, esse idioma é o único
meio de expressão que transforma essas pessoas em seres humanos
capazes de articular idéias e de se tornarem inteligíveis (Sampson,
1925)." Quando, portanto, alguém diz “Eu não sou bom em por-
tuguês”, essa pessoa na realidade está afirmando que... “Não sou
bom para pensar corretamente, não sei falar com clareza, não sirvo
para ser eu mesmo" (Strong, 1951). O ensino da língua é, conse-
guentemente, o ponto de partida indispensável de toda educação,
com todos os professores cuidando também do idioma.
Mesmo as pessoas educadas escrevem mal quando não pensam
bastante sobre o que desejam escrever.

As palavras são (...) a única moeda com que pode-


mos cambiar idéias, até mesmo em nossos monólo-
gos. Disso não decorre, portanto, que quanto mais
acuradamente usarmos as palavras mais precisamen-
te explicaremos nossos pensamentos? Disso não de-
corre que através do exercício de escrever com cla-
reza treinamos nossas mentes para tornarem crista-
linos nossos pensamentos?
On The Art of Writing,
Sir Arthur Quiller-Couch (1916)
-

! ; Escrever auxilia as pessoas a ordenar seus pensamentos e a planejar


: seus trabalhos (v. capítulo 5, “Pensar e planejar".
f O esforço de formular hipóteses (transformar em palavras as
! possibilidades que examinamos) resulta numa conjetura à qual po-
=. *, demos voltar posteriormente à luz de novas experiências e em busca
de outras possibilidades. As hipóteses dirigem nossa atenção para

* Sampson aludia, naturalmente, às pessoas que falam o inglês, asseverando que esse idioma é 0
único meio de expressão “by which they become articulate and intelligible human beings”, mas &
observação é válida, sem dúvida, para o português ou outra língua viva qualquer. (N.T.)
. REGISTROS PESSOAIS — 15

novas questões e para hipóteses alternativas. Aquilo que escrevemos /


» —
forma uma base para atento exame e um estímulo para ulteriores
1975). =
investigações (HMSO,
Nos estudos, o valor do que se escreve é demonstrado pelo uso
que os professores fazem dos ensaios, pela contribuição do relatório
de
escrito na avaliação de projetos, e pelo papel da tese no trabalho
obter um grau acadêmico mais
um estudante que se prepara para
“mas
alto. Um dos deveres da universidade é fornecer instrução,
O ensaio
nossa função precípua é ensinar os estudantes a pensar — €
desse objetivo”
ou à tese são a principal evidência da consecução
(Allbutt, 1923). |
o
A descrição de um experimento
no decorrer da y
“A descrição deve basear-se em registros preparados
e mé- '
investigação (inclusive notas sobre datas e prazos, materiais
apropriado a matéria é
todos, e dados). Depois de escolher um título
Íntro- Í ,
distribuída em seções, que habitualmente são as seguintes:
e
dução, Materiais e métodos, Resultados, Discussão e conclusões,
[e
Bibliografia. A organização das seções pode ser outra eventualmente
no ad
mais apropriada, a não ser que os estudantes sejam orientados
sentido de usarem a mesma orientação em todos os relatórios.
À
O titulo deve informar qual é o assunto do experimento.
seção
Introdução deve dizer porque o experimento foi realizado. A
deve ser suficientemente detalhada a fim de
de Materiais e métodos
permitir que qualquer pessoa de formação e treinamento similares
A seção
possa repetir as observações e chegar a dados semelhantes.
do que foi observado e inclui os
de Resultados é uma enunciação
dados (registrados em tabelas, gráficos ou
resultados das análises de
dados
estatísticas incorporados ao texto). Os dados (pelo menos os
ser necessários. A Discussão é a
representativos) também podem
dada pelo autor aos resultados obtidos, mas pode
interpretação
por |,
também incluir referências a trabalhos relevantes publicados
devem ser listadas, e cada uma
outros investigadores. As Conclusões
de comentário específico, numerado. A /
delas deve ser acompanhada

Pensar e recordar
anotações e um
É útil ter sempre no bolso um pequeno caderno de
de outra forma , acab ariam sendo
lápis, para registrar idéias que,
16 — OS CIENTISTAS PRECISAM ESCREVER

esquecidas. Convéra anotar idéias e associações de idéias, e possíveis


investigações adicionais, à medida que vêm à lembrança, a tim de
que não caiam no esquecimento e possam receber atenção mais
tarde.

” Relatórios sobre o andamento do trabalho


Nos projetos e nas pesquisas, escrever deve ser parte integrante da
investigação e não uma tarefa indesejável a que só se dá atenção no
fim do trabalho. A atividade científica e a redação não são tarefas
independente s e sucessivas, É melhor começar por escrever, antes
A mesmo de investig ar. isto ajuda a definir o problema e a planejar os
+ “métodos e experimentos (v. “O preparo do manuscrito”). Aqueles
| que não começam a escrever enquanto a investigação não esteja
| concluída tornam seu trabalho desnecessariamente difícil. Um es-
| boço elaborado no começo da investigação deve ser revisto e am-
| pliado à medida que a pesquisa evolui. Isto permite praticar a arte
| de escrever e facilita a detecção de trabalhos adicionais que possam
' ser necessários. Dessa forma, sempre que informações sejam acres-
| centadas a cada seção o esboço de relatório transforma-se num
“registro atualizado do desenvolvimento do trabalho.

Auxílio útil para conseguir-se clara compreensão de


um problema é escrever um relatório sobre todas as
informações disponíveis. Isto ajuda quando se está
iniciando uma pesquisa, quando se enfrenta uma
- dificuldade ou quando a investigação estã quase ter-
/ minada. Também é útil no começo de uma pesquisa
ma formular claramente as questões a que se pretende
' responder. A formulação precisa do problema às ve-
zes é meio caminho andado para sua solução. À dis-
posição sistemática dos dados permite freqiente-
mente detectar falhas de raciocínio ou identificar li-
nhas alternativas de pensamento que haviam passado
“mm

desapercebidas. Pressupostos e conclusões inicial-


mente tidas como “óbvias” podem até mesmo revelar-
se indefensáveis quando claramente explicitadas e cri-
ticamente analisadas.
The Art of Scientific Investigation,
W.I.B. Beveridge (1968)
REGISTROS PESSOAIS — 17

Um relatório sobre o andamento do trabalho é de interesse para o


t
supervisor ou orientador e para aqueles que financiam a pesquisa,
mas é de interesse muito maior para o próprio autor. Auxilia o cien-
tista a planejar observações adicionais, a contornar perturbações
irrelevantes (e, pois, consegiente perda de tempo), a ver o projeto
como um todo e a perceber quando o trabalho está completo.

Tabela 1. O que os cientistas escrevem

Registros particulares

Notas de laboratório ou de campo; diários; estudos de casos


Folhas de dados
Descrições — como forma de auxílio à observação
Notas colhidas em aulas ou resultantes de leituras
Cartões-indice
Notas de idéias e lembretes; caderneta de bolso
Notas de informações e idéias que auxiliam a pensar e a planejar
Notas para o preparo de aulas

Comunicações

Cartões postais, cartas e memorandos


Ensaios, artipos, folhetos, livros
Ilustrações
Relatórios técnicos, descrições e especificações
Relatórios sobre andamento de trabalhos
Teses (Dissertações)
Artigos sobre pesquisa para publicação
Noticiário para a imprensa
Resenhas de livros

O exercício de escrever
1. Conservar o registro de todo trabalho prático numa cader-
neta de laboratório.
2. Usar escrever e desenhar como auxílios para a observação
e descrição. Boa parte dos escritos científicos baseia-se em
descrição clara e acurada; entretanto, se solicitarmos que
diversas pessoas, numa sala de aula, por exemplo, descre-
vam um acontecimento, processo ou qualquer coisa, nota-
remos consideráveis diferenças nas descrições não só quanto
18 — OS CIENTISTAS PRECISAM ESCREVER

à qualidade da redação como — o que é alarmante —


quanto à percepção daquilo que pedimos fosse descrito
(Henn, 1961).
3. Em trabalhos de projeto, escrever um relato sobre as obser-
vações e experimentos feitos à medida que o trabalho se
desenvolve. Entender que o relatório faz parte da investi-
gação. .
4. Usar escrever como um recurso de apoio ao pensamento.

Os professores podem iniciar um curso sobre redação científica soli-


citando que os alunos preparem, como material básico para dis-
cussões, uma lista dos tipos de redação utilizados pelos cientistas
(Tabela 1). Se possível, os professores (incluindo os professores de
vernáculo) devem basear tais cursos nos cadernos práticos de ano-
tações dos estudantes, nos relatórios e ensaios escritos pelos estu-
dantes; e os instrutores e redatores de indústrias e outras empresas
devem utilizar cartas, memorandos e relatórios feitos em seus pró-
prios escritórios. Esta é a melhor maneira, talvez a única, de mostrar
aos cientistas e engenheiros que escrevendo bem eles serão mais
eficientes em seu trabalho.
3
Comunicações
ms ea

Quando se redigem relatórios para administradores e políticos, ou se |


escrevem cartas, ou tenta-se popularizar
popularizar aa ciencia
ciência (tarefas que re- /
querem tacto, imaginação e compreensão das necessidades do lei- Pa
tor), é preciso escrever de modo ciaro e convincente, com palavras |
que as pessoas instruídas possam compreender, de modo que as
ratm

conclusões ou recomendações sobressaiam entre os pormenores de


ari

apoio e a mensagem não seja mal compreendida.


em es mira a

Relatórios internos
Uma pessoa é apreciada também pelo que escreve e seu valor, como
empregado, depende não apenas do conhecimento que tenha de
ciência e de engenharia, mas também da sua habilidade na trans-
missão de informações e de idéias.

A imagem popular de um engenheiro, por exemplo, é


a de um homem que trabalha com uma régua de cál-
culo, uma régua-T e um compasso. E os estudantes de
engenharia refletem essa imagem na atitude por eles
assumida em relação à palavra escrita, que vêem
como algo inteiramente irrelevante para seus futuros
empregos. Mas a eficiência do engenheiro — e, com
ela, a sua utilidade — depende tanto da sua habili-
dade de fazer com que outras pessoas entendam o seu
trabalho quanto da própria qualidade desse trabalho.
How to be an Employee, Peter F. Drucker (1952)

Os empregados e funcionários precisam comunicar-se com as pes-


soas para as quais trabalham e, na medida em que passam a ocupar
carevmrti camiaasirmam

postos de liderança, precisam transmitir instruções claras aos subor-


dinados.
inabim,
20 — OS CIENTISTAS PRECISAM ESCREVER

Não basta termos uma boa idéia ou executarmos um bom tra-


balho; é preciso também sermos capazes de fazer com que outras
pessoas entendam o que estamos fazendo, porque o fazemos e com
que resultados (v. Relatórios sobre o andamento de trabalhos). É
fácil fazer com que um assunto complicado pareça complicado; é
preciso inteligência e esforço, porém, para expor idéias e infor-
mações da maneira mais simples possível. São pontos importantis-
simos a considerar (neste, como em outros casos de comunicação):
por que se exige relatório? que informação é pedida? quem solicita a
informação? (V. capítulo 8.)
Um relatório interno deve estar de acordo com as normas da
empresa ou com as exigências do chefe de departamento. Se este não
der qualquer orientação, deve-se procurar dispor as informações
necessárias numa ordem adequada, em uma página, com título e
subtítulos apropriados, com as conclusões ou recomendações no
fim. Em relatórios pequenos como este quaisquer pormenores de
apoio, gráficos ou diagramas devem ser citados no pé da página e
incluídos em folhas separadas, anexadas ao relatório. (Sugestões
sobre a elaboração de relatórios mais extensos são apresentadas no
capítulo 12.) :
Muitos são os jovens que, depois de obterem seus diplomas na
área de ciências, passam de imediato ao trabalho administrativo ou
seguem cursos de gerência; seu êxito dependerá da capacidade que
tiverem de comunicar-se com o pessoal da própria firma em que
trabalham e com pessoas de fora. O administrador que se empenha
em melhorar sua redação será um administrador mais eficiente: seu
trabalho será organizado de modo mais eficaz, será mais facilmente
lido e mais facilmente compreendido; e ele estará em melhores
condições de avaliar os sentimentos e as necessidades alheias.

Cartas e memorandos
Uma carta é um bom teste para avaliar a capacidade de comuni-
cação adequada. Toda carta é um exercício de relações públicas; ela
representa quem escreve e, muitas vezes, o próprio empregador.
Quem escreve precisa, pois, cuidar da aparência de suas cartas, do
seu conteúdo e da disposição do texto escrito na página, assegu-
rando uma boa impressão do destinatário. Excetuando as breves, é
possível aperfeiçoar e encurtar todas as cartas: basta anotar os
mad
ee
COMUNICAÇÕES — 21

pontos que se deseja acentuar e depois numerá-los numa ordem


apropriada antes de escrever ou ditar uma carta. Às importantes
devem ser lidas por mais alguém da empresa e/ou reexaminadas
pelo autor no dia seguinte, e então — se necessário — revistas. À
parte um retardamento dessa natureza, necessário, toda correspon-
dência deve ser cuidada prontamente, o que é uma questão de cor-
tesia e eficiência. Ao escrever cartas ou memorando as exigências
básicas são as mesmas de outras formas de comunicação. Deve-se
saber o que se deseja dizer; em seguida, transmitir a mensagem de
de vista do
modo polido, claro € conciso, tendo em conta o ponto
destinatário e suas reações prováveis.
A maioria das cartas ocupa uma só página (Tabelas 3 e 4; ver
também a Tabela 5). A mensagem deve ser transmitida em poucas
autor e o(s)
palavras, criando-se um clima de entendimento entre o
destinatário(s). O tom de uma carta depende do seu propósito.

Tabela 2. Diversos tipos de cartas e os estilos correspondentes

Propósito da carta Estilo

(de reunião, de fundos para Claro, simples, direto e


Solicitação de pormenores
pesquisa, de um item de equipamento). cortez.
Convite a um conferencista.

Claro, direto objetivo.


Pedido de emprego, de recursos para pesquisa, etc.,
Confiante, sem ser
inclui indicação de qualificação e usualmente éinstruído
com informações adicionais em folhas separadas (p.ex., agressivo.
dados pessoais do requerente e/ou detalhes do projeto de
pesquisa proposto).

Claro e direto, mas não


Queixa ou reclamação.
agressivo.

Claro, direto,
Resposta (a um pedido de informações ou a uma recla-
informativo, polido,
mação) dando informações, instruções ou explicações.
e sincero.
— prestativo
Dar resposta a todos os pontos levantados no pedido.

Simples e direto.
Notificação de recebimento (de um pedido ou requeri-
mento).
Discreto.
Notificação de recebimento por cartão postal.

De reconhecimento.
Carta de agradecimento.
22 — OS CIENTISTAS PRECISAM ESCREVER

Tabela 3. Forma das cartas pessoais

Não é necessário usar pontos finais no endereço. As palavras não devem aparecer
abreviadas. A data deve ser indicada por extenso, sem pontuação. A saudação inicial
inclui o nome do destinatário. A saudação final toma, em geral a forma “Cordial-
mente”. A assinatura deve ser legível. Nome e endereço do destinatário escritos de
modo igual ao utilizado no envelope. A carta pessoal é usada na correspondência
de negócios quando o autor e destinatário já se conhecem pessoalmente, já falaram
por telefone ou já trocaram cartas anteriormente.

Endereço do remetente
(
espaços (
(
Data
,.
)
Saudação
)
1 Informação requerida
(
2 Pormenores de apoio

3 Conclusão e/ou ação exigida
(
Saudação final, ou fecho
(
Assinatura ,
( o
Nome (datilografado) do remetente
)
)
Nome e endereço do
destinatário*
)
)
)
Linha de referência: iniciais da pessoa que assina a carta;
iniciais do datilógrafo.

* Entre nós também é usual a colocação do nome e endereço do destinatário antes da saudação
inicial, ficando, neste caso, o endereço do remetente ou no pé da página ou logo abaixo da
assinatura, em seguida ao nome. (N.T.)
E qem e E

COMUNICAÇÕES — 23

Tabela 4. Forma das cartas comerciais

Não há pontuação no endereço. Pode-se abreviar certas palavras, como Companhia


(Cia.) e Limitada (Ltda.). A data deve ser indicada por extenso, sem pontuação.
fetos

Nome e endereço do destinatário idênticos à forma utilizada no envelope. A sau-


dação inicial pode ser Prezado Senhor, ou Prezados Senhores, ou Prezada Senhora.
A saudação final pode ser Atenciosamente ou Respeitosamente. Os pormenores de
apoio, caso exijam mais que poucas linhas, devem ser reunidos em folha à parte, enci-
mados por um título. Este e quaisquer outros anexos devem ser listados após o nome
do remetente, com a indicação: Anexos.

Endereço do remetente
(
espaços (
(
Data
. )
)
Cargo e endereço do
destinatário )
Saudação )
)
Referência (indicação do assunto)
1 Informação desejada

2 Pormenores de apoio

3 Conclusão e/ou ação exigida

Saudação final, ou fecho

Assinatura

Nome e cargo do remetente (datilografados).


)
)
Anexos:
Relação
)
)
)
Linha de referência: iniciais do signatário e do datilógrafo.
24 — OS CIENTISTAS PRECISAM ESCREVER

Pertencem à Coroa da Inglaterra os direitos autorais do se-


guinte memorando sobre Brevidade, escrito por Winston Churchill
em 1940 e encaminhado aos chefes de todos os departamentos
governamentais, e aqui reproduzido com permissão do “Cabinet
Office”: '

M Para executarmos nosso trabalho todos nós precisa-


mos ler grande quantidade de papéis. Quase todos são
/ excessivamente longos. Isso representa perda de tem-
po, e energia precisa ser gasta na identificação dos
: pontos essenciais daquilo que lemos.
Peço aos meus colegas e aos seus subordinados
que procurem tornar mais breves os seus Relatórios.
— () Oobjetivo deve ser: Relatórios que destaquem os
| pontos principais numa série de parágrafos cur-
tos e incisivos.
(ii) Se um Relatório se apóia em pormenorizada aná-
, lise de fatores de certa complexidade, ou em
o a dados estatísticos, eles devem ser reunidos num
ad Apêndice.
É (iii) Frequentemente, o melhor não é apresentar um
é Relatório completo, mas um aide-memoire apenas
t relacionando os tópicos, que poderão ser desen-
volvidos oralmente, se necessário.
(iv) Terminemos com frases como estas: “Também é
importante não deixar de ter em mente as se-
guintes considerações..." ou “Deve ser conside-
rada a possibilidade de levar a efeito...”. Quase
todas estas construções redundantes são meros
atavios que podem ser completamente abando-
nados ou substituídos por uma só palavra,
Não sejamos avessos ao uso de frases curtas é expres-
sivas, ainda que vazadas em linguagem coloquial.
Relatórios preparados do modo que proponho à
primeira vista podem parecer grosseiros quando com-
parados com a delicadeza do jargão oficial. Mas,a
economia de tempo será grande e o hábito de destacar
- apenas os pontos principais, concisamente, provará
ser útil para um raciocínio claro.

Em muitas organizações os memorandos substituem as cartas. Eles


representam o remetente (e também o seu departamento). Os memo-
qa

COMUNICAÇÕES — 25
ama

randos não precisam ser impessoais, mas devem ser diretos, dando
informações, sugestões ou recomendações, ou indicando claramente
cem

DIET STE en
a providência r requerida. Os parágrafos de um memorando devem
ser numerados (ou precedidos de títulos de referência). Os números
dm

servem para (1) dirigir a atenção do remetente e do destinatário para


cada um dos pontos principais; (2) levar o remetente a pensar
——

naquilo que deve ser dito; (3) levar o remetente a dispôr os assuntos
numa ordem adequada; e (4) facilitar a leitura pelo destinatário.
Cada memorando deve ser cuidadosamente elaborado; deve ser tão .
breve quanto possível, mas tão longo quanto necessário. É preciso
verificar com cuidado a quem o memorando será endereçado. Não
se deve remeter cópias desnecessariamente para pessoas que delas
não necessitam: isso é desperdício de papel, perda de tempo da
parte de quem lê e revela faita de discernimento do remetente.

Tabela 5. Uso de cartões postais


Não se insere saudação inicial, nem saudação final.

Data

Mensagem |

Assinatura

Nome e endereço do remetente (datilografado ou impresso) Í

(1) Lembre-se que um cartão postal pode ser visto por outras pessoas, além do
destinatário. Se, pois, um cartão postal é utilizado para acusar o recebimento de uma
carta, não deve ser redigido de modo a tornar público o conteúdo ou o propósito da
carta; deve conter apenas a data e os números de referência da carta.

Cartas e memorandos devem ser escritos em papel não pautado


e, de preferência, a máquina. Cópias com papel carbono devem ser
arquivadas. Memorandos utilizados para transmissão rotineira de
informações devem ser feitos em impresso padronizado; isso econo-
26 — OS CIENTISTAS PRECISAM ESCREVER

miza tempo, ajudando quem escreve a saber prontamente o que foi


pedido, e por quem, e auxiliando quem recebe a localizar, sem difi-
culdade, quaisquer detalhes.
o A fim de fazer com que todas as comunicações sejam breves e
diretas, os pormenores indispensáveis ou as informações adicionais
| devem merecer rápida menção e juntadas na forma de anexo. Quem
* inicia qualquer
correspondência deve indicar o objetivo da carta ou.
s, numa linha inicial de referência clara, precisa e específica, ou na
* primeira sentença. A resposta, e toda correspondêndia subseguente,
: deve ser iniciada: “Agradeçosua carta de... a respeito de...”. Assim
' procedendo, as pessoas que se correspondem sabem prontamente de
- que trata cada comunicação (v. também a Figura 2).

Aguardando o favor de sua resposta,


subscrevo-me

Amo. Ato. Obrdo.

Fig. 2. As cartas devem ser escritas em linguagem comum; evitar O emprego


de
construções antigas, ainda encontradas em cartas comerciais Vargão comer-
cial). .
po
TT

COMUNICAÇÕES — 27

Ainda não há meio de comunicação que supere a utilização de


cartas e memorandos. Acordos feitos por telefone precisam ser
TT

confirmados por escrito. Os mal-entendidos são possíveis, a menos


que as partes interessadas conservem registros escritos da conver-
sação. Todas as cartas e memorandos devem ser criteriosamente
arquivados pelo remetente e pelo destinatário. Convém, pois, que
cada carta e cada memorando abordem um só assunto. Se for
preciso escrever a respeito de mais de um assunto, para um mesmo
destinatário, convém tratar cada um deles numa comunicação inde-
pendente mesmo que todas as comunicações sejam remetidas num
só envelope.
TDT

A comunicação como parte da ciência

|O método científico o
A pesquisa científica origina-se de um problema que pode ser levan-
tado por observação pessoal ou da verificação de trabalhos alheios.
Os problemas são examinados pelo método de investigação, numa
tentativa de obter-se evidência que se associe a uma hipótese. Se o
problema é posto como uma indagação, então cada hipótese é uma
possível resposta a essa indagação ou uma possível explicação. As
observações e medidas registradas durante uma investigação trans-
formam-se em dados, que são organizados, classificados, estudados
e comparados com outros dados recolhidos em outras investigações.
Esta análise leva a reunir informações de variadas fontes, conduz a
sínteses, ao reconhecimento da ordem (para classificações) e leva a
generalizações (apresentadas como normas, conceitos, princípios,
teorias e leis).
Quando uma evidência dá apoio a uma hipótese e rejeita outras,
hipóteses adicionais podem proporcionar explicações alternativas.
Cada hipótese é conservada apenas enquanto fornece explicação
- satisfatória para as observações colhidas sobre o assunto. Uma hipó-
tese de aceitação geral entre os cientistas que trabalham na mesma
área pode ser considerada uma teoria, e pode conduzir a um prin-
cípio, ou lei, cujo valor está não apenas no fato de explicar as obser-
vações feitas mas também em permitir previsões do que acontecerá,
em futuras observações e experimentos. .
28 — OS CIENTISTAS PRECISAM ESCREVER

ão
A comunicação está envolvida em todos os estádios de aplicaç
do método científico. A hipótese em que cada investigação se baseia
po

pode surgir das observações do próprio investigador, mas ele deve


N
, conhecer as observações e experimentos de outros cientistas que tra-
balham no mesmo problema ou na mesma área de estudo. Isto
+
1
ajuda a evitar duplicação desnecessária de esforços (v., contudo, o
j
/
A início do capítulo 11), podendo ainda resultar em contribuição para
onam
o conhecimento ao assegurar que novas observações se relaci
a

com aquilo que já conhecemos.


Y

Hipóteses, teorias e leis devem ser modificadas ou mesmo


descartadas se a qualquer momento se revelarem falhas ou se uma
explicação melhor for proposta para as observações acumuladas
sobre o assunto. Não obstanteos cientistas possam trabalhar sozi-
| nhos, o método científico torna, assim, a ciência uma tarefa de
| cooperação e nenhum trabalho estará completo antes de um relatório
ser escrito.

Apublicação dos resultados da pesquisa


À literatura científica, registro permanente da comunicação entre
cientistas, é também a história da ciência: registro da busca da ver-
dade, de observações e opiniões, de hipóteses que foram despre-
zadas ou se revelaram falhas ou que resistiram ao teste de obser-
vação e experimentação ulteriores. A ciência é um esforço incessante
no qual o fim de uma investigação pode transformar-se no início de
outra. Os cientistas devem escrever, portanto, para que suas desco-
bertas sejam difundidas. o

Seu objetivo, em suma, é elaborar Registros fide-


dignos de todos os Trabalhos da Natureza, ou da
Arte, que venham a colocar-se ao seu alcance: de tal
sorte que'a Era atual, e a posteridade, possam ser
capazes de assinalar os Erros, que tenham sido refor-
çados por longa prescrição: de restaurar as Verdades,
que ficaram esquecidas; de dar, às Verdades já conhe-
cidas, novas e mais variegadas aplicações; e de aplai-
nar a via de acesso âquelas que permaneceram ocul-
tas. Este é o alcance de seu Destino.
History of the Royal Society, Thomas Sprat (1667)
COMUNICAÇÕES — 29

A popularização da ciência
Os cientistas devem escrever relatos formais de seu trabalho para
publicação em revistas lidas apenas por especialistas, mas que são
acessíveis a cientistas em toda parte. Mas, a ciência está moldando o
nosso mundo, e os cientistas, quer estejam buscando a verdade
apenas pela verdade, quer estejam tentando resolver problemas
práticos, também devem escrever artigos, resenhas e livros — rela-
tando o que estão fazendo, e porque, e comentando o trabalho de
outros cientistas — disseminando informações entre cientistas de
outras áreas, entre alunos de ciência e outros interessados.
Se não nos preocuparmos com a divulgação da ciência, ou com
o debate sobre o impacto da ciência na sociedade, não deveremos
nos surpreender se a ciência e a tecnologia permanecerem um livro
fechado, inacessível a muitas pessoas educadas, se o povo não confia
no cientista, se não se dá valor à interdependência entre a ciência
pura e a aplicada, ou se as pessoas esperam demais da ciência.
Nos livros escolares os cientistas apresentam a ciência não
apenas para os cientistas de amanhã, mas também para os estu-
dantes que irão trabalhar e tomar decisões em outros campos. O
autor de livros didáticos dispõe, assim, de uma oportunidade única
de despertar interesse e informar. Se não tiverem esse interesse
despertado na juventude, é pouco provável que as pessoas venham a
interessar-se pela ciência depois de maduras. Escrever bons livros
para os jovens é uma das mais importantes obrigações de cada
geração de cientistas. Quanto mais baixa a faixa etária de leitores
para os quais se escreve, mais importante é o seu trabalho, pois as
crianças não titubeiam em escolher entre os assuntos que interessam
e os de que não gostam. Se uma criança não entende ouCL não é levada
a interessar-se pelo seu primeiro livro sobre um determinado as-
sunto, à oportunidade de cativá-la pode estar perdida para sempre.

Exercícios de comunicação

Redação de uma carta


A maioria dos estudantes achará útil e interessante o exercício de
redigir uma carta solicitando um emprego. Esta é uma boa ocasião
para se começar a ensinar os pontos essenciais de uma redação
clara, concisa e polida.
30 — OS CIENTISTAS PRECISAM ESCREVER

O preparo de instruções
Usamos instruções na ciência e na tecnologia, assim como na vida
cotidiana: como montar um equipamento, como preparar uma mis-
tura, como encontrar um livro numa biblioteca, etc. O preparo de
instruções claras é um bom teste na arte da comunicação. O exer-
cício seguinte pode ser feito por qualquer pessoa, trabalhando sozi-
nha, ou pode ser utilizado por um professor de redação científica,
primeiro como trabalho de grupo e posteriormente como assunto de
discussão em classe:
Escrever um conjunto de instruções com o título “Como escre-
ver instruções"
Veja uma solução, ou resposta, no próximo capítulo.

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