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Por que Existem o Mal e o

Sofrimento Humano?
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Folia de
Reis

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Leandro Gomes de Barros* Um pouco da história e um roteiro desta importante tradição em alguns
(1865-1918) Carnavalesco Milton Cunha fala sobre seu mais recente municípios do estado do Rio de Janeiro
livro e de suas expectativas para o os próximos carnavais

15
Se eu conversasse com Deus
Iria lhe perguntar:

22
Por que é que sofremos tanto
Quando se chega pra cá?
Perguntaria também
Como é que ele é feito
O maior carnaval de
Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
todos os tempos
Em 1919 , após um longo periodo de distânciamento social devido a uma
Por que é que ele não fez pandemia, cariocas fizeram uma festa que mudou os costumes

e+
A gente do mesmo jeito?
O “Mulato do Morro
Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto? do Coco” As antigas tradições do carnaval do Rio de Janeiro
Em mais uma reportagem em homenagem aos 200 anos da
Nascemos do mesmo jeito, Independência, conheça a a trajetória de Nilo Peçanha, o primeiro Retrospectiva 2021:
Vivemos no mesmo canto. presidente negro da história do Brasil As realizações da Subdiretoria-Geral de Cultura

Quem foi temperar o choro Os cem anos de Leonel Brizola

E acabou salgando o pranto?


Expediente Tudo sobre a restauração do Palácio Tiradentes

LEGADO – Caderno de Leitura ALERJ Subdiretoria-Geral de Cultura


Nelson Freitas – Subdiretor-geral
Edição e redação final – Jan Theophilo

Projeto gráfico e diagramação – Fernando Ebert Equipe de Produção


*Leandro Gomes de Barros é considerado o primeiro escritor brasileiro de literatura de Cordel e o maior
poeta popular do Brasil de todos os tempos, autor de vários clássicos e campeão absoluto de vendas, com muitos Textos – Almeida dos Santos, Cláudia Maria, Cristina Ribeiro, Erasmo Carlos Santos, Edgar Baptista,
Gabriela Figueiredo, Geraldo Bastos, Jan Theophilo, Fernando Ebert, Gabriela Coutinho de Figueiredo, Jan
folhetos que ultrapassam a casa dos três milhões de exemplares vendidos. Joiane Ladislau, Luiz Marcelo Madalena, Theophilo, Joeane Ladislau Ferreira, Jorge Marques, Larissa
Marcia Ahouagi, Nelson Freitas, Lopes de Mattos, Letícia Loureiro, Luiz Marcelo Padilha
Sandro Cortes e Symone Munay Madalena, Márcia Ahougi, Marilia Aparecida
Thibau Costa, Sandro de Carvalho Cortes, Symone Munay
Distribuição - Marilia Aparecida Thibau Costa

Capa – Arte de Domi Junior


editorial Entrevista: MILTON CUNHA
O PRIMEIRO ANO DO
SOMOS SERES CULTURAIS, RESTO DE NOSSAS VIDAS
PORTADORES DE FUTURO Por Symone Munay
Divulgação

Comunicação Social/ ALERJ Foi o apelo dos fãs e dos seus se-
Na primeira quinzena de janeiro de 2022, a
guidores nas redes sociais que transfor-
capital do estado acolheu o Rio Innovation Week,
maram suas falas em livro. Uma criação
um evento dedicado à apresentação de projetos
em meio a disseminação mundial do co-
inovadores aliados às mais novas tecnologias, que
ronavírus (SARS-CoV2) e ao isolamento
reuniu importantes atores dos campos social, cultu-
social. O que não foi nada fácil para nosso
ral, político e econômico. Foi uma singular oportu-
entrevistado, Milton Cunha, o carnavales-
nidade de encontro entre autoridades públicas, di-
co, cenógrafo, historiador e profissional
ferentes representantes da sociedade, da iniciativa
das produções artísticas e das letras que
privada e do terceiro setor, em um esforço coleti-
acabou de lançar “Viva e Aproveite – O
vo de reflexão sobre projetos portadores de futu-
primeiro ano do resto das nossas vidas”,
ro, ou seja, aqueles que aliam desenvolvimento em
já nas principais casas do ramo. Uma pu-
harmonia com a qualidade de vida da população.
blicação da Faro Editoria, “fruto da pande-
mia”, como define o autor.
O Rio de Janeiro é e sempre foi um grande celei- São muitos os caminhos a serem percorridos, muitas
Atualmente comentarista na co-
ro de projetos inovadores, porque foi “desenhado”, adversidades ainda precisam ser enfrentadas e su- te em Johanesburgo, a maior cidade da África do Sul.
bertura do Carnaval feita pela TV Glo-
em toda a sua história, com traços, contornos e o pre- peradas e, por isso, faz-se urgente investir no pleno
bo, continua muito reverenciado pela trajetória
enchimento de uma cultura diversa e plural. A rica di- acesso de toda a sociedade aos meios de comunica- Bacharel em Psicologia pela Universidade Fede-
profissional, com passagens pelas mais tradicionais
versidade de expressão cultural do Rio se fortalece na ção digital, para que, em sua diversidade econômica, ral do Pará (1982), fez doutorado em Teoria Literá-
escolas de samba do Rio de Janeiro e São Pau-
sua originalidade, na pluralidade de seus grupos sociais cultural e social, ela possa ser abastecida pelas mais ria – Ciência da literatura (UFRJ) e pós-doutorado em
lo. Milton foi colunista também de carnaval em
e pelas novas identidades que se constroem a todo o inovadoras plataformas pedagógicas e, assim, se for- História da Arte pela Escola de Belas Artes da Univer-
outras emissoras, como TVE, CNT e Band TV.
tempo. E as últimas novidades em termos de comuni- talecer pela eficácia dos serviços educativos, o que sidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ (2017). Tem
cação e transmissão de conhecimento, devem ser uma pode gerar, além de mais produtividade econômica, especialização em Moda e Indumentária pela Univer-
Milton Reis da Cunha Junior, 59 anos, é na-
vigorosa ferramenta de fortalecimento da diversida- mais qualidade de formação técnica, humana e qua- sidade Estácio de Sá (2004) e trabalhou como figuri-
tural da pequena cidade de Peixe-Boi, no nordeste
de de expressão do povo, em toda a sua pluralidade. lidade de vida. A cultura é o bem mais valioso de nista e cenógrafo para shows em Angola e no Brasil
do Pará, cujo número de habitantes chega perto do
uma sociedade, de uma nação, afinal de contas, so- para artistas como Ney Matogrosso e Luan Santana.
número de integrantes de muitas agremiações car-
Mas precisamos ampliar o nosso olhar sobre as mos todos seres culturais, portadores de futuro. E, Cunha é autor de Carnaval é cultura: poética e técnica
navalescas, são 7800 habitantes. Morador de Co-
reais e verdadeiras experiências socioeconômicas na o Rio de Janeiro é, sem sombra de dúvidas, inovador no fazer escola de samba, pela editora Senac/SP, 2015.
pacabana, na zona Sul do Rio, carnavalesco por 16
segunda dezena do século XXI. Um fato de especial e, portanto, a maior vitrine que o Brasil possui para a
anos, Milton atuou na Beija-Flor, São Clemente, Vi-
relevância, antes de qualquer especulação sobre os apresentação de novidades e de projetos inovadores. Em 2013, foi condecorado com Medalha Ti-
radouro, Unidos da Tijuca, Porto da Pedra, União da
cenários do futuro, é reconhecer que as promessas Sem falar que a sua cultura, o seu modo de vida, e, radentes, maior honraria oferecida pela Assembleia
Ilha, Cubango e Leandro de Itaquera (SP). Em 2007
utópicas do início da Revolução Digital, que preconi- principalmente, o seu cenário é muito instagramável! Legislativa do Estado do Rio do Janeiro (ALERJ).
iniciou sua carreira internacional e trabalhou para o
zavam um tempo maior de aproveitamento de vida do Uma iniciativa do deputado Chiquinho da Manguei-
Brazilian Ball de Toronto (Canadá), um baile de car-
trabalhador para a sua melhor formação e para o lazer, “...A diversidade cultural é o patrimônio comum da ra (PSC), então presidente da Escola de Samba Es-
naval no modelo brasileiro, onde esteve até a última
sobretudo o lazer cultural, até agora não se fizeram humanidade...” – Declaração Universal Sobre a Di- tação Primeira de Mangueira. Em julho de 2021, a
edição, em 2012. Levou também sua experiência
sentir na prática. À exceção de uma ínfima minoria versidade Cultural (UNESCO). convite do presidente da ALERJ, deputado André
para o desfile da Unidos de San Luis: a Sierras del
ultra-high tech, o tempo de vida parece cada vez mais Ceciliano (PT), o carnavalesco foi conhecer as no-
Carnaval, na Argentina, defendendo as cores verde,
haver encurtado para a maior parte da humanidade. vas instalações do parlamento fluminense, o edifício
azul e branco, uma parceria do Governo da província
A velocidade dos acontecimentos, infelizmente, não Lúcio Costa, em companhia do Padre Omar, reitor
com a produtora do ator Antônio Pitanga, de 2010
está sendo utilizada para a construção de novos sa- do Santuário Cristo Redentor, e outros religiosos.
Nelson Freitas é subdiretor- a 2013. Ainda no exterior, ele consolidou trabalhos
beres, de mais espaço para o lazer, estudos, ou mes-
geral de cultura da ALERJ relacionados ao carnaval na Europa, como em Esto-
mo de cargas horárias de trabalho mais humanizadas. O cenógrafo lançou em 11 de novembro de 2021,
colmo (Suécia) e Londres (Inglaterra), posteriormen-
Legado - Cadernos de Leitura 6 7
no Hotel Nacional, em São Conrado, “Viva e Apro- processo de criação? te que mora dentro de você a luz. Busca ela por- até aqui! Precisamos honrar as mais de 600 mil
veite”, com texto de contracapa do padre Fábio que, mesmo como terremoto, eu digo: você vai pessoas que morreram com a pandemia. Em res-
de Melo e ilustrações em aquarelas de Marcelo de Meus seguidores, sim. Existe uma rede social se encontrar e saber de você e de seus sonhos. peito a tantas famílias destroçadas, vamos honrar
Cesar, uma publicação de crônicas e textos curtos que chamo de desvairada, uma rede que vende um o milagre que é viver. Tomara que dê tudo certo.
que fala de amizade, perdas, paixões e amor. “Trato padrão de felicidade que é impossível de acompanhar. Num universo de mais de 4 milhões de seguidores
de temas intensos e pensares sobre a vida e sobre É o corpo de uma, o nariz de outra, o botox facial da- nas redes sociais, as mulheres correspondem a 85 % do Como foi deixar a moda e dedicar-se ao carnaval?
o que enfrentamos nos últimos tempos”. O escri- quela. Esquece! Tenta sacar qual é a tua. Qual é a tua seu público. Você fala essencialmente para elas?
tor garante que é um livro esperançoso para fazer beleza, qual é a tua praia. As pessoas precisam apren- Eu bato a cabeça para a chance que o Anísio
com que os leitores sacudam a poeira e comecem der a dizer não. Não quero, não vou, não posso, não É, e elas são cercadas por maridos, padres, vizi- (presidente de honra do Grêmio Recreativo Escola
a fazer o que realmente querem para suas vidas. é minha proposta de vida. O que se assiste nas redes nhos, filhos, médicos, muito tudo. Muitas cobranças. de Samba Beija-Flor de Nilópolis, Anísio Abraão Da-
Depois do lançamento no Rio, com a presença de fa- sociais são projetos individuais de artistas. Não pire na São muitas demandas, sobretudo, para as mulheres de vid,) me deu. Ele foi o meu mecenas. Foi quem me
mosos e personalidades do carnaval carioca, foi a vez lancha, no iate, no jatinho do outro, na praia do Cari- minha geração – as nascidas na década de 1960. Elas tirou da moda e me jogou nessa janela linda que é
do Festival Literário Energia para Ler, em Itaocara, no be e por aí vai, meu amor! Eu falo sempre que se você me contam que mesmo com os adventos da liberação o desfile das escolas de samba. Sou um profissional
Noroeste Fluminense (14/11). Nas semanas seguintes é de Cachoeiro do Itapemirim, por exemplo, apro- sexual, da pílula anticoncepcional, do surgimento da antes do Anísio e outro depois do Anísio. Quando ele
ele partiu para as cidades de Quissamã, Paracambi, Bar- veita seus bosques, seus rios, suas cachoeira e monta- Aids, das loucuras do movimento hippie, por exem- me convidou (1994) para desenvolver na Beija-Flor
ra do Piraí e Campos dos Goytacazes, sob a promessa nhas. Faça com o que você tem o melhor que puder. plo, hoje em dia têm que ter equilíbrio porque as co- os enredos culturais, me dediquei muito. Tive a hon-
de levar sua publicação aos 92 municípios do Estado Este é o verdadeiro conselho de felicidade individual. branças continuam dentro e fora de casa. Por isso, ra de desenvolver enredos como, “Margareth Mee, a
e, em breve, ao Salão Nobre do Palácio Tiradentes. dou força para que comecem a fazer o que realmente dama das bromélias”, (1994); “Bidu Saião e o canto de
Como foi para você a fase de querem. Ouço inclusive do cristal” (1995), uma homena-
Como foi esse processo de reclusão? Você surtou em al- público masculino que de- gem à cantora lírica brasileira
transformar seu discur- gum momento? pois que suas companheiras e “Aurora do Povo Brasileiro”
so oral, com o apelo visual Quando os cientistas passaram a me seguir estão
da internet, em um livro A pandemia veio pra co- mais confiantes, determi- Eu respeito a cultura (1996), que retratava a impor-
tância dos sítios arqueológicos
de crônicas que traz tan- disserem “pode fa- locar a gente dentro de casa e aí nadas. Ótimo isso! Aguenta popular e tenho amor e pré-históricos do Brasil. Foi
tas perguntas e reflexões? zer”, será o estouro muita gente se questionou: Meu tua mulher, eu digo! (risos).
ao povo que faz esta uma grande chance na minha
Deus, o que fiz da minha vida? vida e eu abracei com tudo.
Transformar minha da boiada, vai ser a Se eu morrer nessa pandemia, Dois anos sem carna- festa .
fala em livro foi dificílimo! explosão eu vivi? Muita gente se indagou val no país do carnaval. Qual Valeu a pena?
Nas redes sociais eu tenho e inclusive me escreveu com é a expectativa para este re-
minha cara, meus olhos, mi- essa narrativa. E eu, o tempo começo? Valeu! Eu queria ser
nhas mãos e a força da voz. todo, disse: tomara que a gen- um comunicador. Mas sabia que os anos dentro das
Essa atmosfera visual não é permitida no texto. Mas te sobreviva para que possamos enfrentar o resto. Eu costumo dizer que os tambores silenciaram. agremiações seriam fundamentais para eu ser uma
é um livro para o leitor buscar a sua luz, a sua força. Depois dessa pandemia, todo mundo só tem o resto Tivemos os batuques desde a chegada da família real voz que vinha de dentro dos barracões do carnaval.
Quando me tranquei em casa a partir do dia 15 de de suas vidas. Esses questionamentos eu vivi e tirei e os índios com penas, negros com tambores e os Quando pude sair e falar, já tinha prática e juntei a
março de 2020, finalmente me dediquei a organizar proveito deles. Daí o título do livro. Depois da pan- brancos com renda Frufru. Faz parte do imaginário alegria do folião. Eu respeito a cultura popular e te-
a escrita que tanto me pediam. Apesar de dizer que demia todo mundo ficou com “o resto de suas vidas”. do povo carioca essa coisa do batuque. E, nesse perí- nho amor ao povo que faz esta festa. Estudo muito!
é um fruto da pandemia da Covid 19, eu não que- Viva e aproveite o resto. Mas é um livro esperançoso. odo, os tambores não tocaram para o réveillon, não Mas não sofro do enciclopedismo. Falo uma lingua-
ria que fosse apenas um texto normal, eu queria um tocaram para o início do verão, nos botequins. Foi gem que todos entendam. Eu descrevo o desfile com
livro bem a minha cara e então chamei meu irmão Em nenhum momento seu texto faz alusão à po- estranho viver no Rio de Janeiro sem o batuque nas o olhar de um menino encantado e o público vai ado-
(Marcelo de Cesar) que criou todos os personagens lítica, crença ou religião. Mas faz refletir. Po- quadras das escolas de samba e nas ruas sem os blo- rando, vai vendo que também sou um fã, como ele.
com a expressão de que estão pensando. É um livro demos definir como uma leitura de autoaju- cos. Foi o período das lives. Fui o rei do samba pela
bem animado. Bem coloridão, a minha cara. Eu que- da, um acalanto em pleno isolamento social? internet para angariar cesta básica, para ajudar o povo Milton Cunha é uma figura que já está incor-
ria isso, uma jóia pra ficar na mesa de cabeceira. É que ficou sem trabalhar nos barracões e quadras das porada ao carnaval. Você tem consciência disso?
possível ler todo dia um trechinho. São pensamen- É nada. É autodestruição, isso sim (risos)! Eu escolas. Quando chegou a campanha da vacinação,
tos que vou soltando aos poucos. Chamo de bom- destruo os paradigmas, destruo essa coisa de ser o acendeu uma luz de esperança. Agora, com a queda Eu tenho a consciência do que eu sou e que vou fa-
ba atômica. O objetivo é fazer as pessoas pensarem.
que os outros querem que você seja, entende? Eu dos números de internação, parece que o vírus zer falta um dia. Eu tenho a consciência de que sou um
É o que eu quero. Pensem em si mesmos! Qual é a costumo dizer que a saída é para dentro. A saída maldito vai deixar a gente fazer a folia. Mas falo participante dessa exibição. Fico feliz de estar no meio.
tua verdade? Tu nasceste pra quê? Eu parto do ponto
é você, é o autoconhecimento, a auto responsabi- com certa parcimônia. Quando os cientistas disse- Mas dou um passo atrás se precisar. E, na hora que acabar,
de vista da vida do leitor e não da minha. E provo-
lidade. Política e religião são temas de cunho mui- rem “pode fazer”, será o estouro da boiada, vai ser acabou. Tenho um estilo mambembe. Vou de praça em
co. E indago: qual é a tua verdade? A tua proposta
to pessoal e não toco nisso. Eu dou força para as a explosão ...vou arrancar minha roupa, vou subir praça. Quero ser feliz. Esse é meu comprometimen-
de vida? O que tu gostarias de fazer e não fizestes?
pessoas se procurarem. Não tenho um acalanto em poste, em árvores (risos). Vou me jogar enlou- to. Eu sou “uma poliana”, vejo maravilhas em tudo e
fofinho nem tão pouco apaziguador. Ele é um aca- quecido. É só comemoração. Vai ser o Carnaval da arranco da realidade o que tem de melhor, que é a
As redes sociais foram suas aliadas nesse último lanto terremoto, um acalanto tsunami. Acredi- lágrima no canto do olho. Meu Deus, eu cheguei beleza de estar saudável e sobrevivendo.

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Entrudo Wikimedia Commons

E POR FALAR EM SAUDADE


Conheça algumas das principais tradições da história do carnaval carioca que o levaram
a se tornar uma das maiores festas do mundo
Wikimedia Commons

Charges dos Jornais de época retratavam as batalhas de entrudo nas ruas do Rio de Janeiro

O entrudo pode ser considerado a primeira gundo estudiosos, se daria com a mudança de regime,
manifestação e adaptação de uma festa (folguedo) euro- onde a Monarquia deu lugar à República e, com esta,
peia, trazida de Portugal no século XVI e já definida por um processo de urbanização que previa a construção de
calendário, pois se dava nos três dia anteriores à Qua- uma nova e reluzente capital. Isto significava na prática a
resma. Nestes três dias os “foliões” arremessavam dos demolição de vários cortiços, onde concentravam-se as
cortiços baldes de água, limões de cheiro, ovos, tangeri- camadas populares da cidade, afastando-as do Centro.
nas, luvas de areia, além de golpearem-se com vassou- Tal fato pode ser compreendido como um processo de
ras e colheres de pau e sujarem-se com farinha e gesso. repressão a manifestações populares, pois, o entrudo
A data do atual carnaval se definiu a partir do Entrudo, passa a ser oficialmente proibido no início do século
no entanto, em finais do século XIX a festa passou a XX, quando a elite carioca cria os Bailes de Carnaval
ser malvista, devido a uma nova mentalidade que, se- fechados em hotéis, clubes e até teatros.

A arte de J Carlos retrata com maestria a empolgação do Carnaval de 1919


Por Luiz Marcelo Padilha e Sandro Cortes

Alalaô-ôôô-ôôô! Quando nós brasileiros ou- saico de cores e ritmos é fruto de uma história longa,
vimos qualquer coisa referente ao carnaval, rapida- rica e muitas vezes sofrida. Onde tradições conver-
mente nos sentimos orgulhosos. De imediato nos saram, se transformaram e outras, simplesmente, se
remete a alegria, ao bom humor, ao pertencimento perderam com o tempo. Mas saudade não tem ida-
de ser e de estar em uma festa que é um caldeirão de, e assim como o samba, este Caderno de Leitura
cultural formado pelas mais diversas contribuições _ pede passagem e lista algumas das mais importantes
e, cá entre nós, fazem aquela festa em Veneza pare- manifestações que merecem estar em seus devidos
cer um mero baile à fantasia de rico bobo. Esse mo- lugares na memória do povo brasileiro. Um tradicional entrudo carioca no traço do pintor francês Jean-Baptiste Debret
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Cordões Wikimedia Commons Corsos Wikimedia Commons

Coisa de gente fina da bossa: para participar da brincadeira era preciso ter uma novidade da época: um carro

Brincar carnaval é coisa de rico?!? Só na histó- folia. O Corso nesse período, início do século XX,
ria dos Corsos pode-se dizer que sim. Para participar era o evento mais importante do carnaval carioca du-
Foliã saúda o desfile do Cordão da Bola Preta que arrasta mais de dois milhões pela Avenida Rio Branco o folião precisava ter uma raridade chamada carro, rante os três dias de festa e os grandes centros ur-
geralmente de luxo e aberto, ou ter condições para banos rapidamente aderiram à moda e começaram
O cordão carnavalesco era um tipo de agre- Bola Preta (leia matéria nesta edição) que essen- alugar um nos dias de carnaval. Isso numa época em apresentar os seus nos mesmos moldes da capital.
miação formado por foliões comuns, gente do povo cialmente nunca foi um cordão, mas foi fundado que a cidade tinha bondes puxados a burro. Com in-
que andava em fila brincando carnaval fantasiados e como um bloco. Esse objetivo já demonstra que o fluência direta de cidades da Europa, como Nice no A decadência, segundo historiadores, se deu
mascarados. Foi muito popular entre o final do sécu- movimento estava no caminho da extinção, dife- sul da França, o movimento foi um tipo de agremia- por vários motivos, como: a popularização dos au-
lo XIX e início do século XX, principalmente no Rio rentemente de São Paulo, onde os cordões ainda ção carnavalesca que começou a acontecer no início tomóveis que afastou os foliões das classes média e
de Janeiro, quando em 1902, aproximadamente 200 sobreviveriam até o final da década de 1960, e do século XX, quando as sociedades carnavalescas alta; o surgimento de bailes exclusivos para a elite,
cordões foram licenciados pela polícia, dando início ainda foram diretamente responsáveis pelo sur- do século XIX se organizaram para promover desfiles como o do Teatro Municipal; e outros, como a di-
à Era dos Cordões na cidade do Rio. Um dos nomes gimento de grandes escolas de samba da capital, em automóveis enfeitados, geralmente, com foliões minuição da fabricação de carros abertos ou con-
mais conhecidos que surgiu em 1918 foi o Cordão da como Vai-Vai e Camisa Verde e Branco. fantasiados pelas ruas da cidade durante o carnaval. versíveis com capotas de lona. Algumas cidades bra-
sileiras ainda revivem o Corso, como uma maneira
Embora o desfile de corso já existisse, mesmo de homenagear o movimento, e Teresina, no Piauí,
antes do surgimento dos carros, em cidades como que realiza o desfile há vários anos, entrou no livro
Recife e Olinda, composto por carros puxados à Guiness Book em 2012, com o maior desfile de car-
cavalos (carruagens leves de duas rodas, charretes ros abertos do mundo.
etc.) foi no Rio de Janeiro, com o ad-
vento dos automóveis, que ele ganhou
enorme dimensão até os anos 1940,
quando foi desaparecendo. E uma das
importantes características do Corso
para a época, foi que as mulheres con-
sideradas honestas, que antes assistiam
a folia de longe, das sacadas de suas
casas, agora podiam participar, por-
que dentro dos carros estavam pro-
tegidas do contato com os foliões das
ruas. E a brincadeira de jogar confetes,
serpentinas e esguichar lança-perfu-
me nos ocupantes dos outros carros
também faziam parte do desfile e da
Após a era dos cordões do Rio, as agremiações permaneceram populares em São Paulo até fim da década de 1960
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Ranchos Marchinhas
Em fins do século XIX, o carnaval cario- Letras pequenas e simples; Compassos biná- ência da música comercial americana da era das ja-
ca começa a ganhar características mais parecidas rios; Sentido ambíguo; Humor; Melodia simples; Crí- zz-bands, a partir da segunda década do século XX,
com o que se vê nos atuais desfiles das Escolas de tica social e política; Ironia e escracho; são algumas quando passaram a ter o seu andamento acelerado, e
Samba. O Rancho tinha como característica o for- características que quando juntas formam o “corpo tiveram o seu auge nos anos 1930, 1940 e 1950. Foi só
mato de cortejo com a presença de reis e rainhas Wikimedia Commons e alma” das tradicionais marchinhas de carnaval, rit- a partir da década de 1960 que começaram a perder
caracterizados ao som da chamada mar- mo que embala os foliões brasileiros desde a déca- espaço para os sambas-enredo das escolas de samba.
cha-rancho que possuía uma cadência mais da de 1920. Só que
pausada que o samba, sendo acompanha- elas chegaram mais As marchinhas
da por instrumentos de sopro e corda cedo no Brasil. Inicial- ainda são lembradas
mente mais lentas, as nos carnavais atuais,
O pernambucano Hilário Jovino marchas populares e algumas cidades do
Ferreira, cria no Rio de Janeiro o “Reis de portuguesas faziam Brasil, ainda mantém
Ouro”, conhecido como o primeiro ran- grande sucesso por como tradição du-
cho carnavalesco da cidade. Essa novidade aqui. Mas, em 1899, a rante os dias de folia
introduziria elementos que se tornariam, maestrina e composi- o seu cantar, como
além de tradicionais, elementares para as tora brasileira Chiqui- nos casos de São
futuras agremiações carnavalescas, as Es- nha Gonzaga, compôs Luís do Paraitinga-SP
colas de Samba. Como o enredo, que de- por encomenda para o e Tiradentes-MG.
pois se tornaria o samba enredo, e o casal cordão Rosa de Ouro, No Rio de Janeiro, o
de mestre sala e porta bandeira foram con- do bairro do Andaraí, famoso carnaval de
tribuição direta dos ranchos carnavalescos, na zona Norte do Rio rua, que conta com
pois o “Reis de Ouro” abriria as portas de Janeiro, a marcha- mais de 400 blocos,
para uma tradição que duraria até a pri- -rancho “ô Abre Alas”, também mantém a
meira metade do século XX. Os ranchos considerada até hoje tradição de conta-
influenciariam também movimentos negros a primeira marchinha giar seus foliões com
de origem africana como os cucumbis, tais tipicamente brasileira. marchinhas antigas
fatos teriam início nas regiões do Rio co- Ela serviu também de revitalizadas e novas
nhecidas como Prainha e Pedra do Sal. Um inspiração para outros composições de cada
fato interessante dos Ranchos é que mes- autores brasileiros que bloco. Existe até um
mo sendo conhecidos como carnavalescos, começaram a criar as concurso nacional
eles desfilavam somente em Dia de Reis. suas próprias marchi- de marchinhas que é
nhas, fazendo do rit- considerado o mais
No início do século XX, os Ranchos passam a mo a cara do nosso tradicional do Brasil,
desfilar no carnaval, tornando-se a grande atração, carnaval. Elas também idealizado pela Fun-
principalmente com o desfilo do Rancho Ameno Re- sofreram grande influ- dição Progresso.
sedá que tinha por característica o formato de uma
grande brincadeira carnavalesca, caracterizadas como
verdadeiras óperas populares, dando um aspecto de
teatro ao ar livre. A popularidade dos ranchos foi tan-
ta que em 1894 o “Reis de Ouro” foi recebido no
Ô ABRE ALAS
Itamaraty pelo então presidente o Marechal Floria- Lançada em 1899 por Chiquinha Gonzaga, é considerada a primeira Marchinha da história do Brasil
no Peixoto e em 1911 o Ameno Resedá seria rece-
Peço licença pra poder desabafar Eu não quero a rosa
bido no Palácio Guanabara pelo Marechal Hermes
A jardineira abandonou o meu jardim Porque não há rosa que não tenha espinhos
da Fonseca. No entanto tais fatos fariam com que os
Só porque a rosa resolveu gostar de mim Prefiro a jardineira carinhosa
ranchos se identificassem mais com a classe média e
A jardineira abandonou o meu jardim A flor cheirosa
manteriam sua influência até meados do século, dan-
Só porque a rosa resolveu gostar de mim E os seus carinhos
do lugar as já proeminentes agremiações conhecidas
Ô abre alas que eu quero passar Ô abre alas que eu quero passar
como escolas de samba.
Peço licença pra poder desabafar Peço licença pra poder desabafar
A jardineira abandonou o meu jardim A jardineira abandonou o meu jardim
Só porque a rosa resolveu gostar de mim Só porque a rosa resolveu gostar de mim
A jardineira abandonou o meu jardim A jardineira abandonou o meu jardim
No alto, casal de mestre-sala e porta-bandeira, novidade introduzida pelos Só porque a rosa resolveu gostar de mim Só porque a rosa resolveu gostar de mim
ranchos. Abaixo o pioneiro Hilário Jovino Ferreira
Legado - Cadernos de Leitura 14 15
Clóvis
Bate- bolas, Clóvis, ou até mesmo Clowns
podem ser os nomes para designar um tradicional
personagem do carnaval carioca, em especial dos
variam a promoção de concorridos concursos de
turmas de bate-bolas, em meados dos anos 80.
A identificação dos bate-bolas com o subúr-
FOI NO CARNAVAL
subúrbios, Baixada Fluminense e Zona Oeste da ci-
dade do Rio, sendo mais uma adaptação de uma fi-
gura de origem europeia ao nosso carnaval. Segundo
bio do Rio se dá pelo fato de historicamente essas
regiões possuírem no começo do século XX vários
matadouros de bois e porcos, pois a bola era feita
QUE PASSOU
a pesquisadora Aline Gualda Pereira, a vestimen- de bexigas destes animais, principalmente na chama- Em 1919 folia mudou os costumes e ainda viu nascer o Cordão da Bola Preta
ta dos Clóvis, como eram chamados em referência da área rural da cidade. Santa Cruz, na Zona Oeste, Fotos:Wikimedia Commons
a clown (palhaço em inglês e alemão) , remetem a foi o grande fornecedor de bexigas para os bate-bo-
fantasias europeias de origem celta. No Brasil seriam las, onde segundo estudiosos do Centro de Refe-
adaptados ao carnaval com máscaras de palhaço e rência do Carnaval do Instituto de Artes da UERJ,
temas assustadores como caveiras e monstros, pois, onde de fato teria começado a ganhar popularidade.
a brincadeira principal sempre foi assustar crianças, Importante ressaltar, além de toda a rique-
principalmente ao bater com força a bola ao chão. za cultural e folclórica que envolve o personagem
Historicamente estes personagens fazem par- bate-bolas/Clóvis, em sua identificação e forma de
te do carnaval carioca desde o começo do século se expressar do subúrbio do Rio, os bate-bolas fo-
XX até meados dos anos 1990, tendo seu apogeu ram usados como forma de protesto. No começo
entre os anos de 1960 a 1980, quando grandes tur- do século XX, escravos libertos vestiam a fantasia e
mas se organizavam, com fantasias elaboradas e batiam as bexigas no chão como forma de protestar
luxuosas, onde se reuniam grupos de mais de cem por injustas perseguições por parte da polícia à épo-
componentes todos vestidos impecavelmente iguais, ca. Em 2012 a Prefeitura do Rio de Janeiro, declarou
desfilando pelas ruas em fila e chamando a atenção os Clovis/Bate-bolas, Patrimônio Cultural Carioca
ao baterem as bolas (bexigas) ao chão, tais fatos le- de Natureza Imaterial.
Divulgação

Por Gabriela Figueiredo e Joeane Ladislau co, mas recebeu esse nome porque a imprensa da Espa-
Muito mais mortal do que a disseminação da nha foi a primeira a noticiá-la. Passados quase dois anos
Covid 19, no século passado uma pandemia do vírus “toureando” o coronavirus, qualquer um hoje pode
influenza infectou cerca de 500 milhões de pessoas imaginar o sentimento de medo e apreensão que correu
em todo o mundo, matando 50 milhões delas – o o mundo entre janeiro e dezembro de 1918, período
que representou um quarto da população mundial da que coincidiu com o fim da Primeira Guerra Mundial.
época. Conhecida como a Gripe de 1918, ou Gripe Tão rápido quanto surgiu, a epidemia desapareceu.
Dupla de bate-bolas, ou clóvis, brinca durante o carnaval pelo Centro da cidade Espanhola, curiosamente não teve origem no país ibéri- E após meses de distanciamentos e isolamento,

Legado - Cadernos de Leitura 16 17


os cariocas em particular tiveram o momento ideal ministro das Relações Exteriores, José Maria da Silva toneladas de papel foram recolhidas das ruas depois e só no dia 31 de dezembro ganhou o nome atual.
para extravasar: o carnaval de 1919, que entrou para Paranhos Júnior, mais conhecido como Barão do Rio do carnaval. Outra curiosidade é que, quando o co-
a história como o maior carnaval de todos os tempos. Branco. Como ele era tido como um herói nacional, o mércio finalmente reabriu, dois itens se tornaram Diz a lenda que o bloco ganhou este nome
governo decretou o adiamento do Carnaval para 6 de os mais procurados: chapéus e perucas. Isto porque quando um de seus fundadores, Álvaro Gomes, co-
No livro “O carnaval da gripe e da guerra”, o abril, dois meses depois da data oficial. Nessas duas uma das sequelas da gripe era a perda de cabelo. nhecido como Caveirinha (pelo estado físico a que
escritor Ruy Castro ocasiões, os cariocas fora reduzido pela Gripe Espanhola), festejava o fim
descreve que a tal folia pularam o carnaval Mas a alegria reprimida dos foliões acabou por do ano no antigo e luxuoso Hotel Avenida (demolido
entraria para a história, nos dias de sempre, gerar uma transformação tamanha nos costumes da para a construção do Edifício Avenida Central). Ao
pois “os foliões pare- e depois novamente, época, que daria ao Carnaval de 1919 a importân- ver passar uma linda mulher com um vestido branco
ciam aproveitar a festa na data remarcada. cia que tem na história. “Foi a primeira vez na vida e bolas pretas, veio a ideia: Cordão da Bola Preta.
como se fosse a últi- em que vi uma mulher de umbigo de fora”, diria o
ma”, tamanha era a eu- Voltando a escritor Nelson Rodrigues, testemunha ocular do O Cordão da Bola Preta estreou com carros
foria coletiva depois de 1919, em janeiro a bundalelê, em uma entrevista em 1967. Dos bailes puxados a burro e já com a clássica “Marcha do Cor-
tantos terem alcançado rapaziada já começou do Theatro Municipal ou do Copacabana Palace, até dão da Bola Preta” que se tornaria hino (“Quem não
a imunidade, “afinal ti- a pôr o bloco na rua. as festas nas comunidades carentes, um tsunami eró- chora não mama! / Segura, meu bem, a chupeta / Lu-
nham sobrevivido à pes- Literalmente. Na- tico varreu o Rio de Janeiro. “Começou o carnaval e, gar quente é na cama/ Ou então no Bola Preta”). A
te e à Primeira Guerra quele mês desfilaram de repente, da noite música é de autoria
Mundial” (1914-1918). pelas ruas da cidade para o dia, usos, cos- de Nelson Barbo-
E como bem relatam blocos como os Te- tumes e pudores sa e Vicente Paiva,
os historiadores, era o nentes do Diabo, o tornaram-se antigos, este, autor de outro
carnaval da revanche, a Fenianos de Casca- obsoletos, e espec- clássico do carnaval
grande desforra contra dura e a Felismina, trais. A Espanhola carioca, a marchinha
a peste que dizimara a minha Nêga, entre trouxera no ventre “Mamãe eu quero”.
cidade. E entre as man- outros. Como não costumes jamais so-
chetes dos principais Jornais da época registravam a farra poderia deixar de ser nhados. E então, o Marcado pelo
jornais o “Gazeta de o espírito gaiato do sujeito passou a fa- espírito gaiato, entre
Notícias” anunciava: “Carnaval Triunfante”, o maior carioca se fez presente nas músicas, cujas temáticas, zer coisas, a pensar várias boas histórias,
carnaval de todos os tempos destacando que “o entu- em maioria, se referiam com deboche e chacota à gri- coisas, a sentir coi- o “Bola” inventou a
siasmo popular excedeu ontem toda a expectativa”. pe e suas consequências. A fantasia de espanhola foi a sas inéditas e, mes- primeira monarca da
mais usada pela cidade. A pandemia também inspirou mo, demoníacas”, Aprimeira formação do Cordão da Bola Preta folia. A versão “fe-
Inicialmente, te- as grandes socieda- afirmou Nelson Rodrigues. minina” do Rei Momo, foi criada em 1935, e, vá lá, foi
merosas, as autorida- des carnavalescas encarnada várias vezes por bolapretistas bigodudos e bar-
des haviam marcado (ainda não havia Foi também no carnaval de 1919 que surgiria o rigudos, até que em 1961 passou a ser vivida por Maura
o carnaval para o fim escolas de samba) que hoje é uma das maiores manifestações culturais do Possa, eleita a primeira mulher “Rainha Moma” do carna-
de março. Mas, com o que apresentaram planeta: o Cordão da Bola Preta, o mais antigo bloco val carioca. O Cordão da Bola Preta inspirou ainda o choro
avanço da imunidade, carros alegóricos de carnaval da cidade e último remanescente dos anti- “Bola Preta”, composto e gravado por Jacob do Bandolim
acabaram antecipan- decorados por no- gos Cordões Carnavalescos que existiram no início do em 1954, e foi enredo de duas escolas de samba: na Ale-
do para o dia primei- mes como Di Ca- século XX. Com desfiles que chegam a arrastar quase gria da Zona Sul em 2013, e na União de Maricá em 2018.
ro. Até porque, até valcanti e J Carlos. dois milhões de pessoas pela Avenida Rio Branco, ele
2021 apenas duas ve- disputa, folião por folião, com o pernambucano Galo Em 2022, com o cancelamento do carnaval de
zes o carnaval carioca Uma curio- da Madrugada, o título de maior bloco do mundo. rua na cidade, o tradicional bloco, resolveu promover
fora adiado: em 1892 sidade foi o uso de bailes na própria sede, além de uma extensa programa-
e 1912. Na primeira réplicas de xícaras Em dezembro de 1918, os irmãos Oliveira ção concebida para começar dia 20 de janeiro, dia do
vez, ainda no século de chá em vários Roxo, Jair, Joel e seus amigos Álvaro Gomes, Fran- padroeiro da cidade, São Sebastião, com a realização da
XIX, o ministro do In- desses carros, pois cisco Brício, Eugenio Ferreira, Joao Torres e Arqui- já conhecida feijoada e se estende até o Carnaval, com
terior, Cesário Alvim, havia um boato na medes Guimarães, todos sócios do histórico Clube a realização de mais uma feijoada, entre vários eventos
decidiu mudar a data Um dos carros que ironizavam o boato do chá da meia-noite cidade de que en- dos Democráticos, resolveram criar um bloco só e bailes com a banda tocando as animadas músicas que
para 26 de junho, ale- fermeiros da Santa para implicar com o então chefe de polícia Aureli- compõem o repertório da agremiação. A nossa inten-
gando o excesso de lixo gerado pelo evento. Para o Casa da Misericórdia serviam um chá letal, à noite, no Leal, que tinha acabado de proibir a constitui- ção é transformar a sede do Bola no Templo da Folia em
ministro, junho seria um mês “mais saudável” do que para matar os pacientes com a Gripe, e, assim, es- ção de blocos de carnaval no Rio de Janeiro. A di- 2022 – “Onde a gente vai realizar eventos praticamente
fevereiro. E olha que nessa época ainda nem havia vaziar mais rápido os leitos do hospital. Nas batalhas retoria, entretanto, não topou a brincadeira. O de quarta a domingo, com blocos coirmãos, mantendo
desfiles de escolas de samba ou megablocos. Já o se- de confete e serpentina, predominavam as cores da grupo fez as malas e formou o bloco que se chamou viva a chama do carnaval e da cultura do Rio de Janeiro”,
gundo adiamento da festa ocorreu devido à morte do Espanha. Dados da época registram que mais de 40 “Quem não chora não mama”, “Só Se Bebe Água” diz o presidente do Bola, Pedro Ernesto.

Legado - Cadernos de Leitura 18 19


Reflexões Wikimedia Commons
celino Kubitschek, ten-

BRIZOLA VIVEU, VIVE E VIVERÁ do Jango como vice.


Com seu projeto de-
senvolvimentista, 50
anos em 5, além da

Acervo Carta Capital


mudança da capital
para Brasília, Juscelino
ainda enfrentou alguns
sobressaltos até trans-
ferir a faixa presiden-
cial em 1961 pra Jânio
Quadros, que também
teve Jango como vice.

Posteriormente,
com a renúncia do pre-
sidente Jânio Quadros,
em 1961, Brizola, com
a campanha da legalida-
de, a partir do governo
do Rio Grande do Sul,
Brizola, carregando uma metralhadora, comanda a resistência pela posse de Jango na Presidência
afirmou a sua lideran-
ça, a sua capacidade de que Brizola seria eleito presidente da república em
mobilizar o povo brasileiro, bem como o destemor 1965 foi a gota d’água, na medida em que sinalizava
com que desafiou as forças golpistas, aliadas, como a continuidade do Projeto Nacional de Desenvolvi-
sempre, aos Estados Unidos da América do Norte. mento, fincado na soberania e nos direitos dos tra-
Garantida a posse do presidente João Goulart, embora balhadores, única forma para alcançar a justiça social.
com a derivação para o parlamentarismo, Brizola veio Ainda houve a tentativa de tornar Brizola inelegível
para o Rio de Janeiro, sendo eleito deputado federal, pelo fato de ser ele casado com a irmã do presi-
em 1962, com estrondosa votação, que garantiu e deu dente João Goulart, dona Neuza Goulart Brizola. O
a mais cabal prova da sua liderança e prestígio popular. slogan “Cunhado não é parente, Brizola Presiden-
te” era proclamado nas ruas pelo povo trabalhador.
A vitória do presidencialismo sobre o parlamen- Veio, em 1964, o golpe militar/empresarial, comprova-
tarismo no plebiscito de 1963, conferiu ao presidente damente patrocinado pelos Estados Unidos, jogando o
Leonel Brizola teve uma trajetória de vida dimento de que só o controle estatal dos setores João Goulart todos os poderes necessários à imple- Brasil na mais inominável ditadura, que ceifou todas as
e de luta marcada por compromissos explícitos estratégicos da economia seria capaz de alavancar o mentação das reformas de base pelas quais até hoje liberdades públicas e individuais, impondo, pelo terro-
que são testemunhados por suas ações concretas. desenvolvimento brasileiro, se distanciando da explo- o povo brasileiro espera, sendo importante citar pelo rismo de Estado, tantos sacrifícios e sofrimentos, como
O compromisso com a educação, com as crianças e jo- ração inaceitável. Quando falava das perdas interna- menos duas: a reforma educacional, tendo como meta banimentos, exílios, prisões, torturas e assassinatos.
vens, e com a soberania nacional, base do seu projeto cionais, muitos riam, se fazendo de desentendidos. imediata a erradicação do analfabetismo através do Mas a luta do povo brasileiro contra a ditadura foi
para o Brasil, fizeram de Brizola o herdeiro mais legítimo Assim, com desassombro encampou a empresa de co- método desenvolvido pelo professor Paulo Freire para alcançando lentamente poucos êxitos, até que algu-
da era Vargas e das reformas de base de João Goulart. municação (telefonia) e a de energia elétrica, deposi- o Plano Nacional de Alfabetização; e a reforma agrá- mas liberdades democráticas fossem reconquistadas,
tando quantia simbólica para configurar o pagamento. ria, enfrentando os latifundiários e, simultaneamente, fazendo com que, depois de anos de exílio, muitos
Não por acaso, como prefeito de Porto Ale- buscando a segurança alimentar, de modo a eliminar brasileiros, inclusive Brizola, retornassem ao Brasil.
gre e governador do Rio Grande do Sul, construiu O suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, cuja obra uma chaga nacional, a fome, até hoje não superada.
e viabilizou mais de seis mil escolas, além da re- até hoje não foi totalmente destruída, fez com que João Goulart ainda procurou dar passos largos na A pequena abertura política, no início da déca-
forma agrária, um dos pontos altos do seu go- Brizola assimilasse a visão da capacidade do imperia- busca da soberania nacional, avançando para ampliar da de 80, com a reformulação partidária e a garan-
verno. (década de 50 e início da década de 60) lismo internacional no sentido de impedir que países o controle estatal dos setores mais estratégicos da tia de eleições diretas para governador em 82, fez
A consciência que tinha do papel da educação e como o Brasil caminhasse na trilha da independência. economia, seguindo os passos de Getúlio Vargas. com que Leonel Brizola experimentasse outro revés.
da atenção devida às crianças está registrada na A carta testamento de Vargas estava gra- A ditadura não permitiu a Brizola a refundação do seu
frase que deixou para a posteridade: “Oportuni- vada na consciência e na alma de Brizola. O governo João Goulart representou a amea- Partido Trabalhista Brasileiro, o partido de Vargas e de
dade para todos, privilégio só para as crianças”. Com o seu suicídio, Vargas pelo menos garantiu a ça aos vendilhões da pátria e aos traidores do povo Jango, entregando a legenda à submissa Ivete Vargas.
Ao governar o Rio Grande do Sul, teve a coragem continuidade democrática da Constituição de 1946, brasileiro, servis como sempre ao domínio dos Es-
de encampar duas multinacionais, a partir do enten- sendo eleito presidente da república em 1955 Jus- tados Unidos da América do Norte. A certeza de O sofrimento de Brizola está registra-

Legado - Cadernos de Leitura 20 21


Acervo O Globo
do no magistral texto de Carlos Drummond nal e abria as portas para a tão almejada justiça social.
de Andrade, que começa dizendo: “Vi um ho-
mem chorar porque lhe negaram o direito de A fraude, segundo alguns historiadores, foi
usar três letras do alfabeto para fins políticos…”. responsável por retirar Brizola do segundo turno.
Brizola, então, cria o PDT, Partido Democrático Tra- A eleição da chapa Collor presidente e Itamar vice,
balhista, pelo qual se elegeu Governador do Estado com o patrocínio da mais importante rede de co-
do Rio de Janeiro por duas vezes, 1982 e 1990, con- municação, o sistema Globo, representou um gra-
firmando o seu compromisso com a educação, com o ve retrocesso. Na contramão do que estabelecia a
Projeto dos CIEPs, Centros Integrados de Educação constituição, o presidente Collor iniciou o desmonte
Pública, elaborado pelo da soberania nacional,
grande Darcy Ribeiro, privatizando os seto-
Acervo Hora do Povo
além do Sambódromo Acervo/PDT res não protegidos pela
– uma escola cujo teto constituição, a partir
eram as arquibancadas da frase: “quanto me-
– e da Universidade nos Estado, mais saúde,
do Norte Fluminense. mais educação e mais
segurança.” Com o im-
A partir da edu- pedimento de Collor, a
cação integral, com os posse de Itamar Franco
Brizolões, só possível não significou qualquer
com o horário integral, alteração na política de
o Estado do Rio de Ja- desmonte do Estado.
Leonel Brizola, na Mesa do Plenário Barbosa Lima Sobrinha, do Palácio Tiradentes, durante a posse como governador do Rio de Janeiro
neiro e o Brasil viram o À frente do governo do
alcance social do proje- estado do Rio de Janeiro,
to, principalmente para Brizola se empenhou o Brizola morreu em 2008, frustrado com as alian- Hoje, quando o sofrimento do povo brasileiro é tão
as famílias mais pobres. quanto pôde para evitar ças que o então presidente Lula, eleito em 2006, já co- evidente, com a fome e a miséria, a ignorância e a doença,
Educação, saúde, cultu- as privatizações, como meçava a fazer e com os rumos que dava ao seu governo. a exclusão e a desigualdade, o desemprego e o subem-
ra, esporte e lazer, além no caso da Companhia Brizola não viveu para assistir ao processo histó- prego, o desmonte do estado brasileiro com as privati-
da integração das co- Siderúrgica Nacional, rico que resultou na tragédia do bolsonarismo. zações e a desnacionalização da economia, a submissão,
munidades, como uma um marco da era Vargas Se Vargas foi levado ao suicídio e se Jango foi assas- a mais completa, aos interesses do capitalismo mundial,
espécie de embrião para o desenvolvimen- sinado no exílio, sem poder retornar ao Brasil se- e a disseminação do ódio, concluímos que a tarefa a que
do socialismo moreno. to autônomo do Brasil. quer para morrer, Brizola lutou e continuou lutando Brizola se propôs ainda representa o nosso maior desafio
A importância de Bri- Leonel Brizola perse- pelo povo brasileiro. Muitas são as lembranças de Por um Brasil soberano e socialmente justo, Brizola vi-
zola era reconheci- verou na luta política Brizola e muitos são os exemplos por ele deixados. veu, vive e viverá!
da por vários líderes buscando realizar to- Paulo Ramos é deputado federal pelo PDT-RJ
mundo afora. Não por dos os seus ideais, con-
acaso, o PDT era o
único partido políti-
correndo, mais uma
vez, à presidência da
VI UM HOMEM CHORAR*
Carlos Drummond de Andrade
co brasileiro a integrar República em 1994.
a Internacional Socialista. O presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, foi “Vi um homem chorar porque lhe negaram o direito de usar três letras do Vi a paixão e todas as suas cores. Envolta em diferentes vestes, adornada
Com a ampliação da abertura política, a história seguiu responsável por alterações profundas na constituição, alfabeto para fins políticos. de complementos distintos, era o mesmo núcleo desesperado, a carne
o seu curso com a eleição indireta da chapa Tancredo- acabando com os monopólios e prosseguindo nas pri- Vi uma mulher beber champanha porque lhe deram esse direito negado viva;
-Sarney. O presidente Tancredo Neves não chegou a vatizações dos setores mais estratégicos da economia, ao outro. E vi danças festejando a derrota do adversário, e cantos e fogos.
tomar posse (foi assassinado?), assumindo a presidên- o que provocou a maior revolta em Leonel Brizola. Vi um homem rasgar o papel em que estavam escritas as três letras, que Vi o sentido ambíguo de toda festa.
cia em 1985, o senhor José Sarney, um dos grandes Para Brizola, se o crime de lesa-pátria estivesse ti- ele tanto amava. Há sempre uma antifesta ao lado, que não se faz sentir, e dói para
quadros da ditadura que se pretendia superar, tendo pificado no Código Penal, Fernando Henriqu Car- Como já vi amantes rasgarem retratos de suas amadas, na impossibilida- dentro.
ele convocado a Assembleia Nacional Constituinte. doso deveria ter sido condenado à prisão perpétua. de de rasgarem as próprias amadas.
Brizola não chegou à presidência da república, haven- Vendo que as portas estavam fechadas, Brizola pro- A política, vi as impurezas da política recobrindo sua pureza teórica. Ou o
do, inclusive, afirmações sobre fraude nas eleições de curou influir principalmente nos governos com os Vi homicídios que não se praticaram, mas que foram autênticos homicí- contrário… se ela é jogo, como pode ser pura…
1989, realizadas após a promulgação da nova consti- quais chegou a acreditar ter afinidades progra- dios: o gesto no ar, sem consequência, testemunhava a intenção. Se ela visa o bem geral, por que se nutre de combinações e até de
tuição de 05 de outubro de 1988, adjetivada por Ulis- máticas, tendo sido candidato a vice-presidente Vi o poder dos dedos. Mesmo sem puxar gatilho, mesmo sem gatilho a fraudes? Vi os discursos…”
ses Guimarães como a constituição cidadã. Seu texto, na chapa de Lula na eleição seguinte, 1998. NÃO puxar, eles consumaram a morte em pensamento.
JORNAL DO BRASIL, 15 de maio de 1980
além de sepultar a ditadura, afirmava a soberania nacio- CONSEGUIU INFLUIR.

Legado - Cadernos de Leitura 22 23


Gente Nossa
CONHECENDO MARCOS GOMES:
DÉCIO VILLARES O GENERAL DA BANDA
senho do disco azul da bandeira do Brasil, pela
Imagem de Tirandentes, como conhecemos, e Comunicação Social/ ALERJ
pelo retrato de Benjamim Constant, conhecido como Marcos Gomes, ao centro da fila do
o pai do Positivismo brasileiro. Décio tem obras es- alto, durante apresentação do Coral
palhadas pelo Brasil e pelo mundo e é reconhecido ALERJ Pró Canto
como pintor, escultor, caricaturista e desenhista. Foi
um grande apoiador do Positivismo, apesar de não
ser um adepto oficial. criar um grupo de canto co-
ral. Em 2002, assisti a uma
Essa biografia é facilmente encontrada na inter- apresentação do Coral do
net. No entanto, o que não encontramos na rede é Theatro Municipal de uma
o fato de que Décio, nascido em 1 de dezembro de das galerias do plenário no
1851 e morto em 21 de julho de 1931, era filho de Palácio Tiradentes. Fiquei
José Rodrigues Villares e sobrinho de Luiz Rodrigues comovido com aquele som
Villares, ambos vereadores de Vila de Iguassu, entre com a acústica espetacu-
1847 e 1849. José e o irmão também foram subdele- lar e lembro que comentei
gados da Vila, onde possuiam terras e foram citados com a deputada Heloineida
várias vezes no Almanaque Laemmert, documento Sturdart (1932-2007), que
importantissímo da época. era muito voltada à cultu-
ra, que a ALERJ poderia ter
Em dezembro de 1851, ano de nascimento de um coro como aquele. Assim que acabou a apre-
Décio, José Rodrigues Villares e o irmão Luiz, são sentação procurei me informar sobre a criação legal
Em depoimento a Marcia Ahouagi
citados como grandes fazendeiros da época. Portan- do grupo e saí convocando os colegas de trabalho.
to, mesmo que Décio não tenha nascido em Vila de Cantar, eu canto desde criança. Minha saudosa
Imagem rara do perfil de Décio Villares
Iguassu, foi criado na região porque, naquele momen- mãezinha trabalhava como cantora na noite, e os Batalhei por sete anos até concretizar o projeto.
A região conhecida como Baixada Fluminense to, seu pai e sua mãe, dona Alexandrina Emília Villa- ensaios com os músicos aconteciam na nossa casa. O Coral ALERJ Pró-Canto já contou com 35 vo-
sempre foi muito discriminada. Marcada como violenta res, viviam na fazenda da família, conforme mapa que Então cresci ouvindo-a ensaiando e cantando clás- zes - servidores, funcionários e terceirizados - e
e cidade dormitório, dificilmente tem sua importância localiza a fazenda de Santa Anna no bairro Tinguazi- sicos de Cartola, Dolores Duran, Elizete Cardoso se apresentou em todas as cerimônias no Plená-
reconhecida. Poucos sabem de sua grande “intimida- nho, local próximo à fazenda de Morro Agudo, de e Lupicínio Rodrigues, além de muitos boleros, que rio Barbosa Lima Sobrinho, em espetáculos no sa-
de” com a Corte na época do Império e mesmo hoje Francisco José Soares, o Comendador Soares. ela adorava. Além disso, nós ouvíamos muito rádio lão nobre, escadarias do palácio e externos du-
ainda é pouco reconhecida por sua relevante contri- durante o dia. Acho que essa combinação foi de- rante. O coro foi instituído através de um projeto
buição para o desenvolvimento do Estado do Rio de Portando, esse material pretende colocar na terminante para eu gostar tanto assim de música. A de resolução, iniciativa do então deputado Gil-
Janeiro. Esse trabalho é o primeiro de muitos que pre- biografia de Décio Villares essa ligação dele com a ponto de não só cantar, mas também de compor. berto Palmares, que era o então diretor da Elerj.
tende apresentar grandes filhos/as, da terra. Pessoas Vila de Iguassu para que, quando citado em pales-
que ajudaram a construir o Estado e o país. tras, trabalhos e dissertações não se esqueçam de Ao longo da década de 1980, trabalhei na Co- Criamos um Encontro de Corais aqui na ALERJ,
mais desse detalhe, tão importante para quem vive bra Computadores, onde fui eleito diretor cultu- realizamos várias Cantatas de Natal e, participarmos
Nesse momento vamos falar sobre Décio Villa- na Baixada Fluminense. Um lugar que merece o res- ral da Associação de Empregados da Cobra (AEC). de Encontros de Corais no Ministério Público e em
res. Ele foi responsável, entre outras coisas, pelo de- peito e o reconhecimento de todos. Durante minha gestão criei o “Coral da Cobra”. parceria com a reitoria da UFF. No canal da TV ALERJ
Cantávamos praticamente em todos os eventos da no Youtube dá para encontrar algumas apresentações
empresa, lançamentos de produtos, participamos nossas. As atividades do Pró-Canto foram suspensas
também de vários encontros de corais corporati- em atenção às recomendações das autoridades sani-
vos. Quando vi, já era compositor e ainda ajudei a tárias relativa a pandemia da Covid-19, impossibilitan-
fundar quatro blocos carnavalescos: o Acuda Mãe, o do inclusive os ensaios fechados. Tudo correndo bem,
Oco do Mundo, o Bloco na Rua e o Olho do Furacão pretendemos retomar as nossas atividades, quando
a pandemia estiver mais sobre controle, é óbvio.
Foi dessa minha experiência de vida que surgiu a
ideia, quando cheguei aqui na ALERJ, em 1998, de Marcos Gomes é barítono e servidor da ALERJ
Legado - Cadernos de Leitura 24 25
200 anos Foto Arquivo MIS
lhor, com Ana de Castro Soares de Souza, descen- Eram tempos em que se podia votar no presidente de
dente das famílias mais aristocráticas e ricas de Cam- uma chapa e no vice de outra. Mas Nilo acabou me-
pos dos Goytacazes, neta do Visconde de Santa Rita, tendo um 7 a 1, ou mais respeitosamente falando, ob-
bisneta do Barão de Muriaé e do primeiro Barão de tendo uma vitória estrondosa. Foram 272.590 votos
Santa Rita. Para se casar, Anita precisou fugir de casa, contra apenas 618 dados ao outro candidato, o his-
pois a família não admitia seu casamento com “um toriador e diplomata Alfredo Varela que, como se vê,
mestiço pobre” – embora Nilo já fosse considerado não tinha bala na agulha nem pra se eleger vereador.
um jovem político promissor. Anita sofreu as piores
represálias sociais possíveis, mas era danada. Falava Faltando 17 meses para o fim do mandato, em
alemão e francês fluentemente e era uma craque na 1909, Nilo tornou-se um dos muitos vices brasileiros
equitação. Num raro convite para um evento familiar, que chegaram à Presidência, após a morte do titu-
na casa de uma prima, encantou-se com os talentos lar, Afonso Pena, um mineiro, que segundo os jornais
do cozinheiro dela e acabou aliciando o funcioná- da época era um “funcionário público que tinha sido
rio, que chegou a ser o chef da cozinha do Palácio promovido por abandono de emprego”. Isto porque
do Catete. Luís Cipriano Gomes mais tarde viria Afonso Pena, vice-presidente no governo anterior, pas-
a ser o avô materno de um tal Agenor de Oliveira, sara boa parte do mandato em sua fazenda, em Minas
mais conhecido no mundo da música como Cartola. Gerais, mesmo depois de ter sido nomeado vice pelo
presidente Rodrigues Alves, em um arranjo político
Já formado e casado, Nilo mudou-se para o Rio decorrente da morte do vice eleito, Silviano Brandão.
de Janeiro, onde aderiu primeiro às causas abolicionis-
tas e depois ao Partido Republicano, tendo apoiado o Oficialmente, Afonso Pena morreu vítima de
Golpe Militar de 1889. A partir de então sua carreira uma forte pneumonia. Mas o fato é que ele enfren-
política deslanchou. Foi eleito deputado constituinte tava intensas pressões em torno das articulações de
em 1891 e, em 1903, sucessivamente, senador e de- sua sucessão. Vigorava no Brasil a chamada política do
pois presidente do estado do Rio de Janeiro – como se Café com Leite, com a alternância de paulistas e minei-
chamavam os governadores de estado na época. Gra- ros no comando da nação. Mas Afonso Pena inventou

O PRESIDENTE NEGRO ças a uma gestão considerada exitosa, em 1906, foi


convidado a disputar a vice-presidência da República.
de quebrar esse pacto, com a ideia de indicar como
sucessor seu ministro da Fazenda, David Campista,
Amigo do marechal Cândido Rondon, Nilo Peçanha estabeleceu as bases da proteção aos índios, criou o Ministério da Agricultura e
ainda se tornou patrono da educação profissional e tecnológica no Brasil

Por Jan Theophilo “Vou fazer um governo baseado na paz e no amor”.


Nesses tempos polarizados em que vivemos, como
não gostar de um presidente que já começa assim?

Paz e Amor! Calma. Aqui não vai mais uma re- Nilo Peçanha nasceu em 10 de outubro de 1867
visão bobinha das mais famosas obras de Monteiro em um sítio paupérrimo no hoje distrito do Morro do
Lobato, como muitas das que já foram feitas. Mas, Coco, em Campos dos Goytacazes. Era filho de um
sim, da história do primeiro presidente negro do Bra- padeiro, Sebastião de Souza Peçanha, mais conheci-
sil: Nilo Procópio Peçanha, ou apenas, Nilo Peçanha. do como Sebastião da Padaria, que cedo percebeu
Isso mesmo. O Brasil já teve um presidente negro. Há a inteligência do filho e o incentivou o quanto pôde
quem diga que ele não era exatamente negro, mas um nos estudos. Nilo dizia que foi criado a base de pão
mulato beeeeem mulato. E ao longo de toda sua vida a dormido e paçoca. Mas era esforçado. Tanto que aca-
questão racial foi usada contra ele pela imprensa e ad- bou entrando para a prestigiada Faculdade de Direi-
versários políticos. Porém, basta olhar as fotografias de to da Universidade de São Paulo, berço de inúmeros
época, muitas delas retocadas para embranquecê-lo, políticos brasileiros, mas curiosamente preferiu ter-
que não resta dúvida: apenas 20 anos após a Abolição minar os estudos na Faculdade de Recife, outro his-
da Escravatura, Nilo foi o primeiro e até hoje único tórico polo de ebulição política na história brasileira.
presidente negro da História do Brasil. Mas, apesar
de todas as marcas, uma vida pontuada pelo enfrenta- Em 1895, aos 28 anos, foi protagonista de um
mento a todo o tipo de preconceitos raciais e econô- escândalo digno de capa de revista de celebridades.
micos, ao assumir o cargo máximo da Nação, fez um O “mulato do Morro do Coco”, como era tratado
discurso, no mínimo, 50 anos à frente de seu tempo: pela elite de sua cidade, casou-se com Anita, ou me- Um escândalo na alta sociedade: o casamento da aristocrática Anita de Castro Soares com o jovem “mulato do Morro do Coco”
Legado - Cadernos de Leitura 26 27
também mineiro. A trama, porém, foi descoberta e de Nilo Peçanha na Presidência do Brasil pode sim ser
sofreu fortíssima reação do então ministro da Guerra, considerado positivo. Foi em seu governo que surgiu
Hermes da Fonseca, sobrinho do Marechal Deodo- o Ministério da Agricultura e o Serviço de Proteção
ro da Fonseca, que aplicou o ao Índio, precursor da atu-
Golpe Militar Republicano, e, al Funai, que foi comanda-
pior ainda, do famoso sena- do por um de seus amigos
dor Pinheiro Machado, uma mais íntimos, o futuro ma-
das águias mais astutas do co- rechal Cândido Mariano
meço da República Brasileira Rondon. Ele também criou
– é dele a memorável frase, os primeiros impostos so-
ao se deparar com uma ma- bre territórios e fundou
nifestação contra ele na saída as primeiras Escolas de
do Senado, orientando a seu Aprendizes e Artífices, que
cocheiro que dirigisse: “nem dariam origem aos atuais
tão devagar que pareça afron- Centros Educacionais de
ta, nem tão depressa que pa- Educação Tecnológica, ou
reça medo”. A imprensa da simplesmente CEFETs. “O
época, entretanto, especu- Brasil atual saiu das acade-
lou que, na verdade, a mor- mias. O Brasil do futuro
te de Afonso Pena, além da sairá das oficinas”, dizia.
crise sucessória, teria como Por este ato, é considera- Ruy Barbosa, Pinheiro Machado e Hermes da Fonseca: adversários políticos de Nilo Peçanha
causa uma imensa depres- do Patrono da Educação
são provocada pela morte de Profissional e Tecnológica bol, usou-o como paradigma do mulato
Álvaro, seu filho mais velho. no Brasil, através da Lei que vence usando a malícia e esconden-
12.417/2011, que oficiali- do o jogo mencionando que “o nosso
Nilo assumiu um país zou a homenagem em 2011. estilo de jogar (…) exprime o mesmo
rachado. Mas já havia se tor- mulatismo de que Nilo Peçanha foi até
nado uma raposa felpuda da A questão racial, hoje a melhor afirmação na arte política”.
Afonso Pena: o presidente que morreu de desgosto
política. Foi o primeiro presi- entretanto, sempre des-
dente popular e populista do Brasil. Ao mesmo tem- pertou controvérsias. Para o historiador e membro Ao fim do mandato, Nilo Peçanha
po em que apreciava conversar com as pessoas nos da Academia Brasileira de Letras, Alberto da Costa apaziguara o Brasil, mas surpreendeu ao
cafés e bares da capital e gostava de circular pelas e Silva, Nilo Peçanha foi um dos quatro presidentes trocar de partido e apoiar o militar Her-
lojas mais chiques do Centro brasileiros que esconde- mes da Fonseca contra o intelectual Ruy
da cidade, atacou fortemen- ram os seus ancestrais Barbosa na sucessão presidencial. Anos
te seus adversários e coman- africanos, assim como depois, em 1914, foi eleito novamente
dou com mão de ferro um Campos Sales, Rodrigues Presidente do Rio de Janeiro. Anita e Nilo
país tumultuado. Ele criou o Alves e até mesmo o tiveram quatro filhos: Íris, Nilo, Zulma e
primeiro movimento perso- aristocrático Washington Mário Nilo, mas todos morreram logo
nalista da história do Brasil, o Luís e seu cavanhaque após o nascimento. Afastado da política,
Nilismo. Não, não estamos de romance francês. O Nilo morreu em 1924 com apenas 56
falando de Niilismo, a cor- professor e ex-senador anos de idade. Como prova maior de que
rente filosófica cuja principal Abdias Nascimento, já fa- o político sem sorte nasceu morto, du-
característica é uma visão lecido, também afirmava rante uma das festas de comemoração da
cética radical e, sobretudo, que, apesar de sua “tez posse de seu sucessor, Hermes da Fon-
pessimista em relação às in- escura”, Nilo Peçanha es- seca, chegou a notícia que um marinhei-
terpretações da realidade. condeu ao máximo suas ro chamado João Cândido, à frente de
É Nilismo mesmo. De Nilo. origens africanas e que dois mil marujos, tomara posse dos mais
Papo reto. Assim passaram seus descendentes e famí- poderosos navios de guerra do Brasil e
a se autodenominar seus lia sempre negaram que apontara os canhões na direção à capital
seguidores, que afrontavam Marechal Cândido Rondon, grande amigo de Nilo ele fosse mulato. Mas não ameaçando bombardeá-la caso não fos-
e muitas vezes enfrentavam seus inimigos políticos. era este o retrato que a imprensa fazia em charges sem extintos os castigos físicos na Mari-
e anedotas referentes à cor de sua pele. Certa vez, nha. Era o começo da Revolta da Chibata.
Mas, apesar dos pesares, o saldo dos 17 meses o sociólogo Gilberto Freyre, escrevendo sobre fute-
Paz e amor, bicho! As fotos oficiais de Nilo Peçanha tinham a intenção de embranquecê-lo
Legado - Cadernos de Leitura 28 29
FOLIAS DE REIS:
CONVITE A PAZ E DIVERSIDADE

Imagens do arquivo pessoal de Geraldo Bastos


comandada e fundada por Nestor Leal em 1970 e Mauro, hoje quem toca a folia é o Mestre Pipoca (La-
passou a bandeira para Jorge Oliveira (mestre Saba- monier), que também tem sua folia no bairro Kaonze
rá), não poderia dimensionar que o menino Carlos (Nova Iguaçu).
Alberto de Oliveira, que nasceu de parto natural em
casa, visitado pela folia um dia após o seu nascimento Jornada Estrela do Oriente de Lages/ Paracambi
em 20/01/1985, viria a ser, anos depois, o novo co- O Mestre Joãozinho, da Folia Estrela do Orien-
Jornada Estrela luminosa/ Mestre Negô Sabará mandante da jornada. Após o período de luto, em te do Carmary, em Nova Iguaçu, diz que começou
Por Geraldo Bastos* decorrência da morte do sr. Jorge Sabará, seu pai, em por intermédio do tio que montou a folia junto a seu
2016, e de muitas outras dificuldades estruturais, a pai, no ano de 1970, quando ele tinha sete anos de
As Folias de Reis são tradições culturais de ori- depois retornam à igreja. “Certa vez estávamos no folia deu a volta por cima e, com o Mestre Nego Sa- idade, e a sua esposa Cléia sempre foi a sua principal
gem cristã da europa. No Brasil, porém, ganharam culto, quando ouvimos o toque do tarol, do reco-re- bará, ganhou as ruas do Estado do Rio de Janeiro a incentivadora.
vários elementos da diversidade religiosa. Parte sig- co e do pandeiro, começamos a dançar espontanea- partir de 2021 formada em sua grande maioria por
nificativa das Folias do Estado do Rio de Janeiro são mente. Pedimos licença ao pastor e só retornamos à jovens. Através de oficinas realizadas pelo mestre A frente (direita) Mestre Joãozinho e a esquer-
centenárias e estão ativas em quase todas as cidades. igreja após o São Sebastião” (depoimento dos palha- Nego, os novos integrantes aprenderam a tocar os da - Mestre Nego
Em Duque de Caxias, tem a jornada Reisado Flôr do ços Cana Brava e Pelourinho – pseudônimos). instrumentos; a criar e interpretar as cantorias e ora- As Folias de Reis possuem ramificações em
Oriente, desde 1872, hoje comandada pelo mestre ções; a fazer a chula; e chegam a 2022 produzindo todo o Estado do Rio de Janeiro, tendo representan-
Rogério. Em Mesquita, a folia Sete Estrelas do Rosário Considerando o fato de que o segmento de encantamento cumprindo a sua jornada promovendo tes na Capital, na Região dos Lagos, na Região Serra-
de Maria, com data de fundação em 1874; e a Man- tradição cultural se ressente de políticas públicas conforto e a boa nova aos devotos. Assim, num uni- na, no Vale do Café e na Baixada Fluminense. Sua jor-
jedoura da Mangueira, uma das mais antigas, fundada voltadas a atender demandas mínimas, a falta de in- verso de folias centenárias, se consolidou uma jovem nada transcende uma simples peregrinação. É um ato
em 1855. vestimentos faz com que grupos de jovens compro- folia em pleno século XXI, saída de uma área muito de fé. Muitos dos seus membros cumprem, além da
metidos ideologicamente com o universo das folias, carente, com um forte potencial e um singular senti- devoção, promessas, geralmente de sete anos, que
Muitas folias deixaram de existir por diversos organizem apresentações batendo latas e panelas de mento de pertencimento. fizeram por doenças curadas pelos Santos Reis em si
fatores. O Censo (IBGE, 2010), que traz um novo forma improvisada, o que impacta negativamente na próprios ou em entes queridos.
perfil de religiosidade predominante, aponta que os imagem desses grupos na vida contemporânea. Um Na maioria das vezes, a jornada é incentivada,
cristãos protestantes ultrapassaram o número de ca- outro fator que interfere diretamente na dissemina- sobretudo, por familiares dos mestres que compõem Jornada Estrela da Guia / Vassouras (RJ)
tólicos na maioria das cidades do estado fluminense. ção dessa cultura é a violência nas comunidades con- o coletivo e dão continuidade à tradição. Gidalto Simbolicamente a Jornada da Folia de Reis con-
E esse segmento religioso, proíbe a participação dos flagradas, porque impede a circulação dos grupos pe- (Mestre Gigante) diz que sua esposa é sua parceira na siste na peregrinação dos três Reis Magos: Baltazar,
seus fiéis nas folias, identificando a manifestação de los diferentes territórios. folia - após ser curada de um câncer, assumiu a função Gaspar e Melchior, de Sabá, da Pérsia e da Babilô-
tradição cultural como uma “coisa do demônio”. Al- de bandeireira. A jornada Estrela do Oriente de La- nia em busca da manjedoura do Menino Jesus. Essa
guns palhaços que pediram para não ser identificados, Mesmo assim, são muitos os exemplos de re- ges/Paracambi, desde 1987 estava na responsabilida- peregrinação é conduzida pelo Mestre da folia que,
já convertidos, dizem que, durante o período nata- sistência cultural que se fazem presentes. A Folia de do Mestre Mauro (Mestre Tesourinha, que sempre segundo Marcelo, mestre da Jornada Estrela da Guia
lino, se afastam da congregação, saem na jornada e Irmandade Estrela Luminosa (Nova Iguaçu), que foi teve a ajuda da esposa e da sogra). Com a morte de de Vasssouras, tem a função de organizar o grupo,
Legado - Cadernos de Leitura 30 31
caras de figuras demoníacas para representar o mal. Em atua proativamente no Rio de Janeiro desde o Brasil/
suas apresentações, aproveitam o momento para mos- Império. Apesar dos inúmeros casos de persegui-
trar as suas habilidades com acrobacias durante a Chula. ção por intolerância religiosa continuarem, os foliões
persistem, resistem com dignidade e comprome-
A Chula é uma apresentação feita por palhaços, timento. Para o palhaço Ganso, da Jornada Estrela
uma atividade que, além do malabarismo, apresenta Guia, “os pobres e trabalhadores são o Menino Jesus,
recital de poesias, com versos definidos ou improvi- o Herodes está lá em cima. A polícia que mata ino-
sos. Os palhaços desenvolvem temas de seu interesse centes são os soldados; e os Reis Magos são os que
e durante alguns minutos presenteiam o público com ajudam as pessoas”.
suas rimas e meneios. Durante a jornada eles não po-
dem se posicionar à frente da Bandeira. A grande capacidade de adaptação do povo
brasileiro trouxe para estes grupos presentes nas
As Bandeiras/Estandarte são um símbolo de periferias da Região Metropoliana do Rio de Janei-
grande importância na folia, elas exorcizam os demô- ro as riquezas da cultura local, agregando em suas
nios e as forças do mal. São entregues ao dono da manifestações componentes de diversos credos re-
casa visitada, nelas poderão constar as imagens jun- ligiosos, o que contribui para fortalecer e afirmar a
tas ou separadas da Sagrada Família, São Sebastião e pluralidade cultural do Estado do Rio de Janeiro, que
o Menino Jesus. Ela é carregada pelo bandereiro e precisa respeitar as diferenças e atuar para a busca
acompanhada, de um lado pelo mestre e do outro constante da paz.
pelo contramestre.
*Pesquisador da Universidade
Na versão mais contemporânea das folias, as Federal do Rio de Janeiro.
bandeiras ganharam inovações tecnológicas com pai-
néis de Led que as identificam de longe. As bandeiras
também são usadas pelo mestre na abertura e no fe-
Mestre Nego e Mestre Joãozinho à frente chamento da folia, quando os palhaços, de joelhos,
da jornada Estrela do Oriente de Lage em Paracambi chegam até ela em sinal de reverência e, em sinal da
comandar e puxar as orações e cantorias. O Mestre prestam honras a Oxossi, por ser o rei do campo e cruz, quando posicionadas sobre as cabeças e as cos-
é a autoridade maior, é quem dá as diretrizes e ainda por já existir bem antes do menino Jesus nascer. O tas, a jornada termina.
mantem a disciplina. palhaço Mulatim, da folia Estrela do Oriente II, de Devota de São Sebasrião e dos Reis Magos, Dona Deise
Itaborai, diz que é umbandista com muito orgulho, As Folias de Reis são um valioso patrimônio (abaixo) beija a bandeira da folia, um dos principais
Inicialmente os grupos saem no dia 24 de de- porém a folia é católica e quando visita os devotos e imaterial da tradição cultural brasileira que resiste e elementos da jornada
zembro e vão às casas dos devotos para levar as men- leva alegria, não está fazendo favor, está sendo grato
sagens de boa nova, com orações e cantorias, até o a Deus – “uma outra história que não se conta é que
dia 06 de janeiro. Porém, no Estado do Rio de Janei- o palhaço que simboliza os soldados do Rei Herodes
ro, diversos grupos, mesmo fora da capital, estendem se converteram a Jesus Cristo e eu sou esse soldado
a jornada até o dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião. umbandista que tenho Cristo como guia” (Palhaço
A partir dessa data, as folias só se encontram para as Mulatim). Para ele, a intolerância religiosa cresceu
festas chamadas de Arremate, onde diversos grupos muito no Estado do Rio de Janeiro e as pessoas preci-
reúnem-se para festejar, tendo como um dos princi- sam tirar o Rei Herodes de si para deixar de perseguir
pais motivos o aniversário do grupo. a religião dos outros, só assim encontrarão o menino
Jesus. Neste sentido, o palhaço Pimenta concorda e
A grande maioria dos grupos de Folias de Reis afirma que nos fundamentos da palhaçaria de reis,
no Estado do Rio de Janeiro, apesar da tradição cató- do livro “O Mártir do Gólgota”, de Henrique Perez
lica, possuem entre seus membros adeptos de todas Escrich (1966), é feita a revelação de um mascarado
as religiosidades, inclusive evangélicos e de matriz que distrai os soldados do Rei Herodes para que eles
africana. Segundo o Babalorixá Marcelo, da folia Sem- não encontrem Jesus Cristo.
pre Viva do Oriente, do Mestre Felipe, fundada há
mais de 50 anos, com sede no terreiro Ile Asé Oju A versão mais recorrente é que os palhaços da
Aiye, no bairro Ipiranga, em Nova Iguaçu, os terrei- folia simbolizam os soldados de Herodes que estão
ros estão sempre abertos a receber as folias porque à procura do menino Deus para matá-lo. Eles geral-
são mensageiras de paz. Os palhaços Manhoso e Ma- mente se vestem de macacão com retalhos de diver-
nhosinho da mesma folia, dizem que as folias também sas cores, carregam um cajado/porrete e usam más-

Legado - Cadernos de Leitura 32 33


Retrospectiva 2021

SE A VIDA É URGENTE,
PRODUZIR CULTURA É
MAIS URGENTE AINDA
Foto:Roger Hitz
Um ano de foco na criação de conteúdo: as quatro edições do “Caderno de Leitura ALERJ, distribuídas a todos os deputados e principais autoridades do estado

cação com periodicidade trimestral, com tiragem de


mil exemplares distribuídos aos deputados, principais O aniversário do Palácio foi também capa da
autoridades do estado e aos dirigentes da Assembleia segunda edição do “nosso caderno de leitura”, lan-
Legislativa; assim como aos secretários municipais çada em maio. Mesmo com as restrições decor-
de Cultura, Educação e Turismo dos 92 municípios rentes da pandemia persistindo, produzimos a ex-
que compõem o estado; aos Museus e Centros Cul- posição “Liberdade Terapêutica”, organizada em
turais da Cidade, sobretudo os equipamentos cultu- parceria com a Frente Parlamentar em Defesa da
rais que compõem o já conhecido projeto “Caminhos Saúde Mental e da Luta Antimanicomial da ALERJ,
do Brasil-Memória – Centro Histórico Praça XV”. composta por 16 imagens impressas em painéis
de tecido, para um público muito restrito no Sa-
Mas logo um desafio se apresentou. O Palácio lão Nobre do Palácio e também nas redes sociais.
Tiradentes comemorava seus primeiros 95 anos e as
normas de distanciamento social não permitiam que se Em junho demos início à pré-produção do pro-
comemorasse a data como deveria ser, com presença jeto “A Música Cantando a Nossa História”, também
de público. Então, com presença de espírito, lança- em parceria com a FUNARJ, que consistiu na grava-
mos a exposição virtual “Meu Palácio Tiradentes”, ção de uma série de 26 programas para a TV ALERJ.
composta por regis-
tros documentais com
o olhar de quem mais
conhece os detalhes
do palácio: os fotógra-
Saulo Laranjeira, Moacyr Luz e Zeca Baleiro em um intervalo fos Rafael Wallace, Júlia
das gravações do projeto “A Música Cantando a Nossa História” Passos, Thiago Lontra
e Octacílio Barbosa,
Por Nelson Freitas Já começamos o ano com a oportunidade de sau- todos eles integrantes
“A vida é urgente”! Estamos vivos! E, embo- dar um herói cuja história enche de orgulho a todos da valorosa equipe da
ra ainda impactados pelas restrições impostas pela os brasileiros: o Almirante Negro. Em uma mobili- Assessoria de Comu-
pandemia, conseguimos, ao longo do ano que pas- zação envolvendo a Fundação Anita Mantuano de nicação da ALERJ. E,
sou, no âmbito da Subdiretoria-Geral de Cultura Artes do Estado do Rio de Janeiro (FUNARJ) e a junto, no dia 6 de maio,
da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, rea- Prefeitura de São João de Meriti foi dada a partida data do aniversário do
lizações que se somam à construção de um legado na criação da futura “Casa de Memória Marinheiro Palácio, lançamos em
de especial relevância para o cenário cultural do João Cândido”. O projeto celebrará, naquela cida- todas as nossas redes
nosso estado. Manifestações artísticas em sua gran- de, o líder da Revolta da Chibata, inscrito no Livro sociais um videoclipe
de maioria requerem presença de público, e como de Heróis do Estado do Rio de Janeiro por iniciativa da canção “Carinho-
juntar gente não era possível, investimos com ener- dos deputados André Ceciliano e Waldeck Carneiro. so”, de Pixinguinha,
gia em produção de conteúdo de qualidade. Não gravada no Salão No-
foi moleza não. Portanto senta que lá vem tex- Em março lançamos a primeira edição do nos- bre, em uma parceria Mostra “Liberdade Terapêutica” e
tão! Mas fique tranquilo, que é só tem notícia boa. so “Caderno de Leitura Legado ALERJ”, uma publi- com a FUNARJ e a Escola de Música Villa-Lobos. xposta na entrada do Palácio Tiradentes
Legado - Cadernos de Leitura 34 35
Comunicação/ALERJ Comunicação/ALERJ

O ator Deo Garcez interpreta o abolicionista Luiz Gama nas escadarias do Palácio Tiradentes. Abaixo público acompanha a encenação

A ação é um registro documental da memória parte das celebrações pelo Bicentenário da Inde-
histórica e contemporânea de criadores da Músi- pendência. Na sequência, lançamos a terceira edi-
ca Popular Brasileira, e contou com a participação ção do “Caderno de Leitura Legado ALERJ”, com
de renomados artistas do cenário musical nacional. foco na produção cultural brasileira mais popular.
Dentre os nomes que compõem a primeira tempo-
rada da série já gra-
vada destacam-se o
casal Francis e Olivia
Hime, Zeca Baleiro,
Sandra Sá, Xangai,
Moacyr Franco, Ge- Para celebrar os 95 anos da antiga sede da ALERJ foi organizada a exposição virtual “Meu Palácio Tiradentes”
raldo Azevedo, João coma participação dos fotógrafos da Assessoria de Comunicação da casa
Donato, Joanna, a
dupla gaúcha Klei-
ton e Kledir, Geral- Sentindo, e muito, a falta de contato com o com o Consulado-Geral da Itália no Rio de Janeiro,
do Azevedo, Toni- público, em agosto, com o início do relaxamento de produzimos a exposição “Dante...Vale”, que consiste
nho Horta, Wagner algumas restrições da crise sanitária, realizamos a na reprodução de 17 esboços originais criados para
Tiso, Carlos Dafé, apresentação da peça teatral “Luiz Gama – uma voz carros alegóricos que desfilaram em diferentes anos
entre outros. pela liberdade”. Concebido e organizado pelo man- no carnaval de Viareggio, cidade da região da Toscana,
dato da deputada Renata Souza (PSOL), em parceria onde a festa popular tem 148 anos de tradição. As
Os programas com a Subdiretoria Geral de Cultura, a encenação te- artes satirizam “A Divina Comédia”, uma das obras li-
serão exibidos na atral foi montada nas escadarias do Palácio Tiradentes terárias mais famosas do mundo, e estava inserida nas
TV ALERJ ao longo com o objetivo de celebrar os 139 anos da morte de homenagens ao poeta italiano Dante Alighieri, morto
do primeiro semes- Luiz Gama, o principal líder abolicionista brasileiro. há 700 anos.
tre de 2022, como
Em outubro, numa inédita parceria da ALERJ Desde sua abertura, em 19 de outubro, a mostra
Legado - Cadernos de Leitura 36 37
Divulgação/ANTP
foi vista por cerca de três mil pessoas. O sucesso levou E uma de nossas menina dos olhos, o projeto
à prorrogação da exposição até o dia 26 de fevereiro.
“Caminhos do Brasil-Memória”, despertou atenção
Outubro foi ainda o mês de lançamento da quarta edi-
do secretário municipal de Planejamento Urbano,
ção do “Caderno de Leitura Legado ALERJ”, desta Washington Fajardo, que, a nosso convite, visitou o
vez com destaque para a campanha Outubro Rosa. Palácio Tiradentes. No encontro, o secretário deu
detalhes do projeto “Reviver Centro” e foram inicia-
Nos meses de novembro e dezembro, mais das tratativas para que os “Caminhos” se integrem
ações em parceria com a Fundação Anita Mantu- às iniciativas para a retomada do crescimento eco-
ano de Artes do Estado do Rio de Janeiro (FU- nômico, social e cultural do Centro da cidade.
NARJ) foram realizadas, já em caráter presencial,
graças ao relaxamento das medidas sanitárias Paralelamente, com a transferência das ativi-
contra a pandemia. Dentre elas, o projeto “Viva dades legislativas para o Edifício Lúcio Costa, pude-
o Compositor Brasileiro”, que reuniu Ivan Lins, mos acelerar o projeto do novo equipamento cul-
Wagner Tiso e a dupla Kleiton e Kledir, para a tural da cidade: a “Casa da Democracia”. Além da
apresentação de oito espetáculos – quatro deles realização de um novo inventário de todo o mobili-
no Teatro Armando Gonzaga, em Marechal Her- ário e do levantamento documental, iconográfico e
mes, e outros quatro no Teatro Arthur Azevedo, histórico das obras de arte e dos espaços originais
em Campo Grande. do Palácio Tiradentes, demos o pontapé inicial para
a realização do projeto Oficina-Escola de Restauro e
Em dezembro, também em parceria com a Conservação.
FUNARJ, o projeto “Primavera do Forró” cele-
brou o aniversário do “Rei do Baião” Luiz Gonza- Portanto, parafraseando o saudoso Alcione
ga, com duas apresentações, já com plateia, da Or- Araújo, em seu livro de crônicas “Urgente é a Vida”,
questra Sanfônica e do Grupo Pimenta do Reino no se “urgente é a vida”, produzir, cultura, arte, leitura
Teatro João Caetano, nos dias 7 e 8 de dezembro. se faz mais urgente ainda. Vamos que vamos!

O 441, que levou passageiros pelo Catumbi e Ilha do Governador, hoje circula em Middletown, na Pensilvânia

ANTIGOS BONDES DO RIO


AINDA CIRCULAM NOS EUA
Tem gente que acredita que foi quase um crime. eles conseguiram adquirir da CTC 12 bondes se-
Depois de mais de 100 anos de bons serviços pres- lecionados a dedo por sua variedade e raridade.
tados nas ruas do Rio de Janeiro, o bonde começou
a ser desativado nos anos de 1960, implacavelmente Eles ainda circulam em passeios promovidos
quase da noite para o dia. O transporte foi substituído por museus. Mas, por ironia, o bonde 441, que já le-
inicialmente por ônibus elétricos e posteriormente a vou passageiros pelo Catumbi e pela Ilha do Gover-
gasolina, como é até hoje. A frota de bondes era en- nador, hoje cruza as ruas de Middletown, na Pensil-
tão considerada uma das maiores do mundo com tri- vânia. Lá, os carros rodam por um circuito turístico
lhos rasgando as ruas nas principais regiões da cidade. com seis estações. Recentemente, o bonde número
No Instituto Pereira Passos há uma animação mos- 1779 voltou a ser pintado no mesmo verde-escuro
trando todas as rotas existentes. É de cair o queixo. dos tempos em que circulava no Rio. Não falta ima-
ginação para manter os velhos veículos em ação. O
A maior parte dos bondes, acredite, foi des- bonde 441 funciona graça um gerador a diesel. Foi
montada em ferros velhos e as cabines incineradas. a solução que o Middletown & Hummelstown Mu-
No entanto, 12 exemplares sobrevivem até hoje seum encontrou para promover passeio em uma ci-
porque foram comprados por Paul Class e Lou- dade sem _vejam só que absurdo - rede aérea de
is J. G. Buehler, da Associação dos Museus de Car- energia elétrica. Outros exemplares circulam em
Governador Claudio Castro, o cônsul da Itália no Rio, Paolo Miraglia, e o presidente da ALERJ, André Ceciliano, na abertura da mostra “Dante...Vale” ris dos Estados Unidos. Por módicos US$ 1.200 Tennessee, Iowa e Connecticut.
Legado - Cadernos de Leitura 38 39
ÚLTIMAS NOTÍCIAS NOSSA HOMENAGEM AOS QUE NOS DEIXARAM

Tudo o que você queria saber sobre a adaptação do Palácio Tiradentes como o mais novo equipamento cultural do Rio de Janeiro
Comunicação Social/ ALERJ

Tarcisio Meira Paulo José Orlando Drummond Gilberto Braga Luis Gustavo
ator ator, roteirista e diretor ator, dublador e radialista escritor e autor de telenovelas ator
05/10/1935 - 12/08/2021 20/03/1937 - 11/08/2021 18/10/1919 - 27/07/2021 01/11/1945 - 26/10/2021 02/02/1934 - 19/09/2021

Mila Moreira João Acaiabe Nelson Sargento Monarco Genival Lacerda


modelo e atriz ator e contador de histórias cantor compositor e artista plástico cantor e compositor cantor e compositor de forró
18/05/1946 - 06/12/2021 4/05/1944 - 31/03/2021 25/07/1924 - 27/05/2021 17/08/1933 - 11/12/2021 05/04/1931 - 07/01/2021

Com extensa pesquisa documental e iconográ- Mas para cumprir sua nova função de espaço
fica, já está praticamente encerrada a primeira eta- cultural, o Palácio Tiradentes precisará reformular
pa dos trabalhos que adaptarão o Palácio Tiradentes suas diretrizes de conservação e manutenção. Por-
como mais novo equipamento cultural do estado. tanto, buscando aperfeiçoar o trabalho já realizado
Foram catalogados e registrados mais de 700 itens pelas equipes de limpeza e conservação, a subdire-
de mobiliário, além de lustres e esculturas. Um dado toria Geral de Cultura, através da Superintendência
curioso foi a constatação da relevante quantidade de da curadoria do Palácio Tiradentes, realizará uma
escultores de renome entre as mais diferentes ten- série de Oficinas de capacitação. As primeiras tur-
dências estéticas da década de 1920 que trabalharam mas serão para os ofícios de mobiliário e metais e
no palácio. Foram identificados nada menos que 11 contarão com a participação dos servidores da ALERJ Francisco Weffort Contardo Calligaris Elza Soares Marilia Mendonça Sérgio Mamberti
artistas, oriundos da antiga Escola Nacional de Belas que atuam na área. Nas oficinas os alunos executa- ex-ministro da Cultura ecritor, psicanalista e dramaturgo cantora e compositora cantora e compositora ator, diretor e politico
Artes e do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. 02/06/1948 - 30/03/2021 02/06/1948 - 30/03/2021 23/06/1937 - 20/01/2022 22/07/1995 - 05/11/2021 22/04/1939 - 03/09/2021
rão atividades práticas de conservação orientados
por mestres artífices especialistas nesses ofícios.
Foram realizadas também 12 prospecções para
identificar qual a cor original, após anos e anos de re- As oficinas serão sempre focadas nos materiais
formas e demãos de tinta. De acordo com a pesquisa e sistemas construtivos existentes no Palácio Tiraden-
e os registros de época, o tom original não era o cre- tes, de modo que as competências desenvolvidas nos
me de hoje em dia, mas um cinza mais claro. Foi man- alunos tenham aplicabilidade imediata na melhorai da
tido todo o mobiliário considerado original do Palácio manutenção do edifício. Também serão realizadas pa-
Tiradentes. Depois de uma limpeza geral no edifício, lestras sobre educação patrimonial, abordando temas
começa uma nova etapa pelo Salão Nobre, que terá como a importância histórica do Palácio, patrimônio
suas estátuas reformadas e ganhará novas cortinas cultural, importância da preservação de bens tomba-
em veludo. Dois sofás redondos verdes, que ficavam dos entre outros. As oficinas são o primeiro passo Nelson Freire Cassiano Artur Xexeo Paulo Gustavo Eva Wilma
no Salão Getúlio Vargas, foram localizados em um para a criação da futura Oficina de Restauração, que pianista cantor e compositor jornalista e dramaturgo ator, humorista, roteirista e diretor atriz e bailarina
depósito da ALERJ em Benfica e, estão sendo ava- atenderá não só ao Palácio Tiradentes, como outros 18/10/1945 - 01/11/2021 16/09/1943 - 07/05/2021 05/11/ 1951 - 27/06/2021 30/10/1978 - 04/05/2021 14/12/1933 - 15/05/2021
liados para verificar a possibilidade de recuperação. edifícios de significativo valor histórico do estado.

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Legado - Cadernos de Leitura 42

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