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Gerda Alexander


n
Um caminho para a percepcão corporal

TRADUÇÃO
José Luis Mora Fuentes

REVISÃO T:fCNICA
Eugênia Tereza de Andrade

Martins Fontes
Título original:

Eutonie- Ein Weg der KO"rperlichen Selbsterfahrung


© Kosel-Verlag GmbH & Co., 1976

1~ edição brasileira: fevereiro de 1983

Revisão: Monica S. M. da Silva


Preparação de original: Elvira da Rocha Pinto

CIP-Br11111. Catalogaç&o-na-PubllcaQIO
c•mera Brulleln do Livro, SP

Ale_xander, Gerd.a.
Eutonia : um caminho para a peree~ção corpo-
ral I Gerda Alexander ; tradução Jose Luis Hora
Fuentes ; revisão MÔnica s. M. da Silva ; revi-
eão técnica Eugênia Tereza de Andrade. -- São
Paulo : Martins Fonte.s, 1983.

Bibliografia.

L Autopercepção 2. Expressão corporal 3. I-


me.gem corporal 4. Relaxamento I. T{tulo.

CDD-152
-152.1

=~~;:~q
lnd!ces para catílogo 1latemãtlco:
1. Autopercepção : Psicologia fiaiolÓ§ica 152.1
2. Corpo : Imagem : Psicologia .fiaiologica 152
3. Expressão corporal : Aptidão risica : Higiene
613.7
4. Imagem corporal : Psicologia fisiolÓgico. 152
5· Relaxamento : Higieoe 613.79

Produção gráfica: Nilton Thomé


Assistente de produção: Carlos To mio Kurata
Composição: Ademilde L. da Silva
c Lúcia Spósito
Revisão tipográfica: Nilza Agua
e Hercí'lio de Lourenzi
Paste-up: Newton Guarino Filho

Todos os direitos desta edição reservados à


LIVRARIA MARTINS FONTES EDITORA LIDA.
Rua Conselheiro Ramalho, 330/340
01325 -São Paulo- SP- Brasil
Introdução à edição brasileira

Conheci a Eutonia de Cerda Alexander através de Patrícia


Stokoe, de Buenos Aires, e do seu trabalho de Sensopercepção,
no qual os elementos básicos da Eutonia servem de suporte para
a Expressão Corporal.
Os ensinamentos de Cerda Alexander vieram juntar-se aos
de Rudolf Laban e de Stanislawsky e à minha prática de artista
e educadora nas linguagens do Teatro e da Expressão Corporal.
Por outro lado, vejo na Eutonia a possibilidade do homem expe-
rimentar, através do sensível, ser objeto e sujeito de constante
transformação. Essa vivência e essa compreensão da Eutonia
fizeram com que eu passasse a me empenhar na divulgação desse
trabalho.
Eutonia é uma obra humana e científica. Incorpora de
Henri Wallon o estudo da origem da consciência corporal e sua
contribuição mais expressiva: o caráter emocional do tônus mus-
cular. Nega a compartimentação do indivíduo, aborda-o tão
somente em sua "unidade". Sua eficiência foi comprovada na
cura de múltiplas patologias. A obra de Cerda Alexander é pio-
neira, adiantou-se curando. Alcançou-a posteriormente a teoria
para justificá-la e ampliar-lhe as possibilidades.
A Eutonia não adota modelos. Se o fizesse não atingiria a
profundidade que pretende. Adotá-los seria impedir o aflora-
mento da espontaneidade, seria inibir a investigação necessária a
este processo criador. Adotá-los seria impedir o delineamento

v
das individualidades. Cerda Alexander denomina o seu trabalho
de pedagogia terapêutica.
A Eutonia se faz entender sobretudo através da prática; a
conceituação não lhe basta, nem precede a vivência. Isto é um
alerta para os mais afoitos. Um arsenal teórico não substitui a
vivência. Aqui, a prática precede a teoria. Assim é nos proces-
sos individuais e assim foi na história da Eutonia de Cerda Ale-
xander, onde a ciência veio mais tarde justificar o que já eram
terapêuticas comprovadas.
Há os que se baseiam na introspecção, tendo como via um
desligar-se da realidade. E ainda há os que, em nome do desblo-
queio, da perda de preconceitos, do rompimento de amarras,
tomam o corpo objeto de torturas. A Eutonia impõe-se contra
os modismos de técnicas corporais carentes de justificativa cien-
tífica e de uma filosofia de respeito humano.
A Eutonia não atende ao consumo e, espero, resistirá a
todas as modas corporais. Impõe-se como uma postura diante
da vida. Implica uma atitude de permanente consciência. Não
compactua com a compartimentação do homem. E, se não bas-
tasse, atua contra a dessensibilização. Por isso, considero esta
edição bràsileira não só oportuna, como necessária.
Cerda Alexander tem a humildade dos criadores. Chega a
afirmar que sua Eutonia não mais lhe pertence.

Eugênia Tereza de Andrade


Professora de Expressão Corporal e Sensopercepção.

VI
Prefácio

Dedico este livro aos meus discípulos. O caráter único da per-


sonalidade e das reações de cada um deles ensinou-me a rever
constantemente minhas observações e experiências a partir de
pontos de vista sempre novos. Só assim foi possível traçar dire-
trizes universalmente válidas, que podem conduzir o homem de
nossa cultura a uma auto-realização consciente.
Grandes são as dificuldades com que esbarramos ao tentar
explicar este método -ainda que apenas de forma aproximada-
a pessoas que não ·têm uma experiência prática consciente do
corpo. Apesar disso, tornou-se necessário estabelecer por escrito
os fundamentos da eutonia. Dado que o círculo daqueles que
difundem os exercícios sem vinculá-los a seus contex tos, sem
conhecer seu sentido nem suas relações, vai-se ampliando a cada
dia, esta seria a única forma possível de evitar a aplicação inde-
vida deste método.
Devo expressar meu profundo reconhecimento ao dr. Alfred
Bartussek e a Alfons Rosenberg pela sua crítica valiosa e por sua
ajuda prática e inteligente: a Verena Dumermuth pela organiza-
ção do glossário; ao dr. Christoph Wild por seus conselhos refe-
rentes â ordenação do material deste livro.

Gerda Alexander

Copenhague, abril de 1976.

VII
Prefácio à terceira edição

Dedico este livro, em primeiro lugar, aos professores por mim


formados desde 1940, e que fizeram da eutonia elemento funda-
m ental de suas vidas. Não foi minha intenção, e nem me parecia
possível, esgotar todos os aspectos da eutonia. Essa intenção já
estaria, de início, fadada ao fra casso, porque a eufonia não é, de
forma nenhuma, um sistema isolado da prática cotidiana; ela
está constantemente ligada a todos os aspectos e atividades da
vida. A eufonia concerne tanto ao sadio quanto ao doente, tanto
ao esportista quanto ao dançarino, tanto aos que lidam com o
físico quanto aos que lidam com o psíquico. Por isso, essa diver-
sidade de atuação da eutonia proporciona, através de sua estru-
tura básica, múltiplas experiências, especialmente aos professo-
res de eufonia. Assim, no meu trabalho salientei especialmente
os aspectos que julgu ei fundam entais e que, ao mesmo tempo,
se distinguem basicamen te dos sistemas atuais de foT71Ulção m en-
tal e corporal do homem.
Essa distinção necessária não representa uma cr ftica aos
métodos consagrados de desenvolvimento da individualidade em
harmonia com as exigências da sociedade. Tenha consciência de
que esta tarefa será sempre enfrentada com empenho por cada
geração. Mas muitas e variadas observações me levaram a reco-
nhecer que a eufonia não se identifica com o ecletismo que, hoje
em dia, muitos terap eutas se julgam autorizados a praticar, por
considerarem a eufonia como uma simples técnica, entre muitas

IX
outras. Por isso é necessário observar que a maioria dos métodos
de treinamento corporal praticados hoje se baseiam em princí-
pios opostos aos da eu tonta. Essas práticas, portanto, não podem
ser associadas à eufonia sem que ela seja distorcida na sua essên-
cia. Façamos um resumo de alguns princípios da eufonia para
provar esta afirmação. Lembremo-nos, primeiramente, de que
o relaxamento, um aspecto do domínio do tônus, representa
apenas parte da eutonia. A eutonia se baseia na sensação tátil
consciente, no desenvolvimento da sensibilidade superficial
e profunda. Evita, portanto, qualquer sugestão ou influência
direta sobre a respiração, trabalha somente com influências indi-
retas sobre as ftmções vegetativas. Sua pedagogia se baseia na
realização do ritmo pessoal de cada aluno através da apresenta-
ção de propostas que exigem soluções próprias, sem que haja
um modelo a ser seguido. A "presença"(*) e o contato perma-
nente com o ambiente, um aspecto essencial da eufonia, desen-
volveu-se no decorrer do trabalho. O tato e o contato das pes-
soas entre si pressupõem uma normalização e domínio do tônus
para que cada parceiro não prejudique o outro pela transferên-
cia do seu modo de atuar ou de suas próprias dificuldades. Trata-
-se, portanto, no trabalho eutônico, de estar aberto e receptivo
aos outros, sem enfraquecer a própria personalidade. Há métodos
que se distinguem pelo uso de sugestões, pela influência prévia
sobre a respiração, pela apresentação de modelos, por ritmos de
ação predeterminados ou pela submersão em si mesmo, de tipo
oriental.
Neste livro, tentei propositalmente descrever apenas os
princípios da eu fonia, e não as suas práticas. Porém, alguns dos
meus alunos tomaram isto a seu cargo em publicações próprias,
como por exemplo G. Briegh el-Mü[/er no seu livro Eutonie et
relaxation, Ed. Delachaux et Niestlé.
Por isso, neste livro, fiz uma distinção entre os princípios e

(*) Presença, no alemão Prttesenz, neste contexto tem o sentido de


estar consciente da presença do próprio corpo como organismo perceptivo
e atento a tudo que nele ocorre. (N. do R. T.)

X
a práxis. A apresentação de séries de exercícios, como se faz em
certos manuais de escolas de ginástica e respiração, teria, muito
provavelmente, resultados negativos ou ilusórios, no caso de não
haver um professor que possa fornecer uma orientação correta.
A experiência mostra que o mesmo exercício executado
aparentemente da mesma maneira por diversas pessoas leva,
geralmente, a resultados e vivências diferentes. Cada aluno rea-
girá de maneira diferente, condicionado pelos seus hábitos,
tabus e inibições inconscientes, de acordo com a sua educação
e os modelos que tenta imitar.
Em conseqüência, a motórica será o resultado de informa-
ções conscientes ou inconscientes. Ela não se deixa reduzir a
uma seqüência de movimentos independentes, como se o corpo
fosse dirigido somente de fora. A ginástica tradicional permite a
execução, mais ou menos perfeita, de seqüências de movimentos
aprendidos, mas, sem uma nova "presença", esses exercícios têm
apenas um significado relativo; dentro do próprio indivíduo nada
de essencial mudará. Esse modo de trabalho não tem nada em
comum com ~ tania, porque esta, ao contrário, baseia-se na
capacidade readquirida de sentir consciente e individualmente.
Sentir e observar são caminhos diferentes - é necessário
que se inter-relacionem, num processo dialético. Para que a pes-
soa consiga um contato real consigo mesma, com o próximo e
com o ambiente, é preciso que vivencie conscientemente o seu
corpo, no movimento e no contato com o ambiente. Aprendi,
pela minha larga experiência, em muitos países, que uma instru-
ção predominantemente abstrata, embora aumente a capaci-
dade de reação intelectual, favorece, ao mesmo tempo, a ten-
dência a antecipar, somente a nível in telectual, o resultado de
um processo de trabalho, de maneira totalmente desvinculada
da realidade.
Tal abstração e representação fantasiosa é sinal da incapa-
cidade de permanecer presente na situação real e de atingir uma
sensação consciente. A tendência a se preocupar mais com espe-
culações intelectuais do que com vivências reais mantém, muitas
vezes, essas pessoas afastadas da realidade que lhes é proposta. O

XI
professor pode reconhecer claramente se o aluno trabalha de
fato em eufonia, se ele está, de fato, psíquica e somaticamente
presente, ou se esse trabalho só se realiza na sua imaginação. A
constante correlação entre personalidade e ambient e é, a nosso
ver, a pressuposição indispensável para a tomada de consciência
da realidade, o que representa a base para uma boa disposição
psíquica. Aprende r a sentir a si mesmo e sentir o ambient e com
realismo 'e a- manter essa habilidade em todas as circunstâncias
do áia a dia é, portanto, uma das primeiras contribuições e tare-
fas da eutonia.
Esse caminho só deveria ser empreendido com o auxílio de
um professor. O requisito para que o indivíduo possa realizar
um trabalho indepen denteme nte do acompanhamento de um
professor é que ele tenha a capacidade de descobrir, dentrQ....!j&_sj
_!Jlesmo, na sua própria experiência corporal, a verdadeira cons-
ciência das sensações - na qual tanto insisto e que represeffta ã
-base da eutonia. Ã lém disso, neste livro relembro a importância
primordial da pele como órgão, como invólucro vivo, com inú-
meras inervações do organismo inteiro. Ora, o tato da pele, que
nos proporciona informações sobre o mundo externo, _comunica-
-nos, ao mesmo tempo, conheci mentos essenciais sobre nós mes-
mos. Tudo aquilo que tocamos também nos toca. Por êãüSa da
influência reguladora sobre as funções tônicas, essa dialética está
na origem do sentimen to de unidade e bem-estar que o trabalho
de contato e tato da eu tonia consegu e proporcionar. Na vida
cotidiana não é possível, porém, através do tato consciente,
experimen tar todas as possibilidades proporcionadas pela eufo-
nia - pois isso pressupo ria a orientação qualificada de um pro-
fessor. Todavia, consegue-se chegar por este meio a algumas pri-
meiras descobertas, que prepararão lodos os passos seguintes.
O trabalho de contato por nós proposto proporcionará
efeitos imediatos. Esse trabalho desenvolve igualm ente a sensibi-
lidade, que nos abre uma parte do nosso eu e nos ajuda a redes-
cobrir nossa totalidade psicosso mática.
A posição deitada no chão é muito propícia para as primei-
ras descobertas, mas não é absolutamente necessário estar dei-

XII
tado para sentir conscien temente tudo o que toca o nosso corpo.
Por exemplo, na medida em que aprendemos a sentir as diferen-
ças quanto à qualidade do toque das roupas em nosso corpo, ou
dos objetos que manipulamos, estaremos ampliando as nossas
possibilidades de realizar descobertas pessoais. Quem conseguir
realizar essa presença, por menor que seja, sem ilusões, perce-
berá logo que o toque lhe abre imensas perspectivas de trabalho,
sem perigo para o equilíbrio psicossomático.
Descobertas como a do sistema nervoso gama ( 1946, Gran-
dit e Koda) e os trabalhos de Grillner (Suécia 1977), e Wyke
(Inglaterra 19 77) proporcionam agora explicações e provas cien-
tíficas. A história nos ensina que muitas descobertas - mesmo
que sejam apenas parciais ou provisórias - tiveram a sua expli-
cação científica somente muito depois dos fatos observados
empiricamen te.
Isso nos obriga a sermos humildes. O campo do treina-
mento corporal nos proporciona muitos exemplos de certos
métodos presunçosos (por exemplo o Body Building) que, ao
menos por curto tempo, foram considerados "científi cos" -
enquanto outras tentativas frutíferas foram consideradas não-
-científicas, por não terem sido ainda ordenadas racionalmente.
Os conheci mentos atuais em diversas disciplinas e as moder-
nas possibilidades de investigação proporcionam novas formas
de cooperação e a form ulação de conhecim entos fundamental-
mente novos. A gradecemos aos nossos alunos por terem iniciado
este trabalho com coragem e autocrítica.
Novos conheci men tos fisiológicos esclarecem cada vez mais
as leis objetivas que explicam os efeitos da eu fonia. Contato s
com cien tistas e instituto s de pesquisa fa vorecem esse processo
de esclarecimen to.
Certamente a eutonia não se teria desenvo lvido, se tivésse-
mos esperado as explicações científicas dos seus fenômen os
antes de verificarmos, em nós mesmos, os efeitos revolucionários
de um novo acesso a uma realidade m ultidimensional É o fato
que o homem, quando está à procura de sua identidade e de
uma experiência de vida mais abrangente, não pode excluir as

XIII
·---

possibilidades de investigação, mesmo que o reconhecimento


intelectual unilateral de certos fenômenos psicobiológicos seja,
muitas vezes, de pouca ajuda e possa até levá-lo a desvios.
Isso não surpreende, uma vez que sabemos que a origem
desses fenômenos situa-se nas regiões subcorticais. Os procedi-
mentos de manipulação e condicionamento que provocam os
desenvolvimentos conhecidos na nossa sociedade agem exata-
mente nesse nível. E de importância primordial não sucumbir-
mos a seus perigos.
Sem dúvida, nem todos têm o mesmo dom de aumentar
sua consciência corporal. E raro que uma primeira experiência
aja logo com tanta eficácia, como nos casos excepcionais, que
pude observar, de uma grande violinista e de um famoso regente,
cuja maneira de tocar e movimentos se modificaram fundamen-
talmente logo depois da primeira sessão. Geralmente é preciso
~
ter paciência e tempo para alcançar essa ''presença", porque
somos inibidos pela nossa educação e nosso modo de vida.
Sempre procurei expor as minhas idéias com a maior simpli-
cidade, e na elaboração deste livro tentei insistir num método de
trabalho que cada um poderia realizar na sua vida cotidiana. Per-
manecer simples não quer dizer simplificar. Muitas vezes o ele-
mentar é o mais importante, como, por exemplo, fazer reviver
cada órgão dos sentidos tal como era na primeira relação da
criança com o mundo.
Aos poucos, as ciências psicofisiológicas descobrem rela-
ções que conseguem explicar o extraordinário efeito de nosso
procedimento. Certas descobertas relativas à estrutura e à fun-
ção do sistema nervoso proporcionaram alicerces científicos
para nosso trabalho. Há vinte e cinco anos atrás era inexplicável
o fato de conseguirmos recuperar a capacidade de andar, através
da tomada de consciência das vias dos reflexos, em pacientes
paralíticos cujas vias nervosas consideradas imprescindfveis à
locomoção tinham sido destruídas. Naquele tempo, não tivemos
outra saída a não ser repetir, sem modéstia, as palavras de um
grande cientista: "Todavia, se move!"
Mas a eufonia assume o risco, e isto nos ajuda a descobrir

XIV
as possibilidades contidas na realidade biológica, e a nos adaptar
integralmente a um processo de vida sempre dinâmico e criativo,
sem sucumbir a estruturas rígidas de tensões e inibições.
As conseqüências de uma capacidade de reação reduzida
por tensões e inibições são hoje bem conhecidas. Quando uma
situação requer reações que superam nossas capacidades, isto
provoca uma espécie de fuga em pânico e comportamo-nos
como o cachorro espancado que não sabe se morde ou foge.
Certas fonnas de oposição significam tão-somente uma admis-
são de impotência, e não são sinal de maior liberdade. Henri
Wallon demonstrou com maestria que as emoções se fundam no
tônus muscular. Por isso, o fato de a escala do tônus conter um
amplo espectro de reações é fundamental para qu e se desenvolva

l
I
a capacidade de reagir à vida e aos outros. Pode-se demonstrar,
então, que os hipotônicos e os hipertônicos não são os únicos
r~primidos na sua vida emocional. Não é menos reprimido o indi-
v(duo fixado sobre um espectro estreito do tônus médio.
A capacidade de reação possibilitada pela flexibilidade má-
I
xima do tônus foi por nós ocasionalmente designada como "estar
em onlem ", o que não significa estar sujeito a uma ordem exte-
rior, rnas. pelo contrário, que o individuo dispõe de uma quanti-
.i dade máxima de possibilidades de reação, tanto na esfera pessoal
como na social. Assim, ganha-se uma amplitude de liberdade,
I sem a qual não existem nem meios de expressão nem capacidade
criadora. Também sabemos que os limites impostos por uma
estrutura rfgida são a razão principal da dfjlculdade de comuni-
cação com nossos semelhantes. A eutonia, baseando-se no con-
tato permanente com o ambiente, não só permite ao indivíduo
reencontrar a si mesmo. como, ao mesmo tempo. ajuda-o a rom-
per os limites do seu isolamen to.
Esse caráter essencial da eutonia. que inclui a educação,
a reabilitação e mesmo a terapia dentro da dinâmica geral entre
os homens e entre o indivz'duo e o ambiente, ta!l,ez não eja
reconhecidu imediatam ente pelo observador externo ou pelo
principiante. Uma observação atenta da ação em grupo demons-
tra o seu alcance total. Para mencionar um só exemplo: não

XV
será de suma importância para o aluno descobrir logo nas pri-
meiras experiências em eutonia que suas percepções sensoriais,
suas experiências pessoais e do mundo, diferem muitas vezes
completamente daquelas do seu vizinho, podendo até serem
opostas? Isto não é nem certo, nem errado, e não contém nenhum
julgamento de valor, representando porém um passo na direção
da independência pessoal e do reconhecimento das diversidades
humanas.
Também é de importância decisiva a pessoa descobrir que
se pode relacionar com um grupo por meio de um simples objeto
(por exemplo, uma vara de bambu), e que é possível agir como
grupo, relacionando-se com novas situações e promovendo uma
adaptação recíproca, sem que haja uma liderança.
O que os participantes experimentam durante a ação e o
que exprimem verbalmente ao fim do trabalho muitas vezes é
de uma profundidade incomum. As palavras também parecem
readquirir a sua força de expressão e comunicação. O que se
exprimiu ainda há pouco por mímica e postura, é expresso então
pela palavra, sem apelo a qualquer chavão.
Essa concordância entre a expressão corporal e a língua,
sinal de encontro sutil entre as manifestações do consciente e
as do inconsciente, ocorre muito raramente na vida cotidiana;
daí a importância de tais encontros para os envolvidos, como
preparação para uma maior unidade psicossomática.
A eufonia criada no Ocidente abre aos que estão vivendo
(ou morrendo) conosco - a possibilidade de viver o presente
com maior consciência e sentido. Ela lhes possibilita prever des-
vios e circunstâncias, e ajuda-os a se desenvolver e a se precaver
contra influências negativas deste mundo. Isso é necessário se
os homens pretendem conservar dentro de si as forças que lhes
permitem participar da evolução das idéias e do nascer do futu-
ro. A eutonia atua, portanto, no centro dos problemas do nosso
tempo.
Aos que perguntam em que corrente de idéias se classifica
a eutonia, eu responderia que ela se integra na grande corrente

XVI
de investigações que marcaram o século XX. Demonstrar isso
com maior precisão requereria um outro livro.
Em seguida procurarei expor resumidamente as idéias que
me guiaram há tempos atrás. Gostaria de indicar o parentesco
entre a eufonia e as formulações pedagógicas desenvolvidas na
Europa e na América depois da Primeira Guerra Mundial, dirigi-
das no sentido de uma nova pedagogia, e cujos representantes
estão reunidos na organização internacional New Education
Fellowship. Pela minha formação na escola de Otto Blensdorf
e de sua filha Charlotte BlensdorfMac-Jannet, tendo sido eu
uma das primeiras alunas de Jacques-Dalcroze, entrei em con-
tato com representantes dessas novas idéias. Recebi influência
marcante das experiências do primeiro instituto científico peda-
gógico da Universidade de lena sob direção do professor Peter
Petersen, assim como das minhas t>xperiências na Primeira Escola
Liv. • e Jardim de Infância da Dinamarca. Apesar de ter acompa-
nhado as idéias e pesquisas do meu tempo, participando intima-
mente delas, evitei tornar-me dependente de uma teoria rígida
ou de uma escola estabelecida.
Esta aspiração à independência de idéias e profissional sem
dúvida se baseia no meu passado pessoal. Apesar de conhecer
muitas possibilidades de formação humana, espiritual-corporal,
encontrar novos caminhos e meios de expressão era, para mim,
uma necessidade íntima. É preciso estar imbuído de uma moti-
vação irresistível para escapar da força de costumes adquiridos e
da coerção que visa ao enquadramento no sistema social. O meu
estado de saúde, no início da minha vida profissional, proporcio-
nou-me essa motivação. Esta força é, portanto, bastante frágil,
em comparação com as influências normativas que se movem por
caminhos já traçados.
Provavelmente o conhecimento da limitação das minhas
forças me tenha levado a evitar qualquer filiação a correntes inte-
lectuais da atualidade. Somente assim, consegui, no decorrer dos
anos, elaborar e aperfeiçoar um método novo sem ser desviada
pelas idéias e influências dos métodos que me haviam inspirado,
como, por exemplo, pela escola de Schlaffhorst-Andersen e sua

XVII
assistente A nita Hansen, que me proporcionaram valiosa assistên-
cia pessoal.
Hesitei em escrever este livro, seja pelo rec eio de que, aquilo
que para mim representa uma nova descoberta a cada dia, possa
se cristalizar através desse registro; seja pelo sentimento de impo-
tência perante a tarefa de traduzir em palavras a multiplicidade
de aspectos de um campo de experiências tão complexo. Sem
dúvida foi o medo de prejudicar a eutonia, não mais só de minha
propriedade, com uma obra que poderá provocar sectarismo ou
ecletismo.
É típico da prática da eutonia que cada um a experimente
de maneira diferente, como um caminho pelo qual a vida em si
se manifesta. Ora, a unidade almejada é criada pelo conjunto de
inúmeras forças internas e externas que alcançam, dentro de nós,
por maneiras sempre novas, um equilz'brio dinâmico. É uma ilu-
são pensar que seja possível, por exemplo, treinar certas capaci-
dades isoladamente, pela educação de movimentos, e depois
juntar num todo essas partes separadas, sem que se perca a tota-
lidade corporal da expressão de movimento. Logo cheguei a essa
conclusão, quando percebi as limitações impostas, mesmo a
grandes artistas, por uma determinada formação estereotipada.
Ajudando o homem a reencontrar as origens de sua espon-
taneidade, desperta-se nele o desejo de livre criação nos mais
diversos campos artísticos: no desenho, na pintura, na música,
na arte de representar, na improvisação de movimentos. Na
improvisação de movimentos livres, que leva à formação de
movimentos próprios no espaço, objetivando assim a realização
da espontaneidade, temos uma ajuda valiosa para o encontro e
conhecimento de si mesmo. Ju nto com o companheiro e com o
gn4po, experimentamos a predisposição para o comportamen to
social, a aceitação do outro na sua maneira única de sentir, a
adaptação sem perda da própria individualidade. Seria desejável
que muitos jovens pudessem jàzer uso dessa possibilidade a cuja
investigação dediquei o trabalho da minha vida. É de extrema
importância um constante referenciar-se à realidade como fonte
principal da espontaneidade, e a sua objetivação. Não é indife-

XVIII
rente a maneira pela qual nos realizamos. Empreendendo essa
procura em contato permanente com o ambiente, evitamos o
risco de nos perdermos em perigosas névoas de ideologias. O
essencial na formação do nosso destino se obtém pelo envol-
vimento na vida cotidiana. Por esse aspecto fundamental, a
eutonia se aproxima das grandes correntes de pensamento do
século XX, às quais pertence essencialmente a "nova pedagogia".
Esta explíca a profunda compreensão que meu trabalho obteve
na França, numa sociedade cuja atividade se baseia na idéia da
educação nova, primordialmente nos Centres d'Entrainement
aux Méthodes d'Education Active, com os quais colaboro há
muitos anos.
A experiência de captar o ser na sua totalidade, partindo
de um contato vivo através de experiências vivenciadas e obser-
vadas no ambiente, está em relação com a idéia básica da "nova
pedagogia", como caminho para a realização de si mesmo pela
abertura completa para os homens e para o fenômeno total da
vida. Mais um ponto fica claro através deste paralelo entre euto-
nia e "nova pedagogia": o respeito pela pessoa. O paralelo entre
eutonia e "nova pedagogia" resulta da recusa de qualquer norma
e qualquer modelo, de toda ritualização de gestos ou mecaniza-
ção de movimentos, de qualquer mera conveniência.
Isto implica que o aluno tenha o papel principal no trabalho
de eutonia. Ele mesmo tem que fazer suas descobertas e traba-
lhar para sua evolução. Educação e reabilitação são primordial-
mente assunto da pessoa envolvida, e não do professor, cujo
papel é a m otivação do processo, que não tem nada a ver com
passividade, nem com influência nonnativa sobre o aluno.
Por isso, a eutonia não é absolutamente um m étodo no sen-
tido tradicional, mas uma postura perante os homens e a vida.
Os procedimentos específicos que ela oferece e que representam
hoje em dia um instrum en tal coerente de propostas de trabalho,
só têm sentido dentro desta p erspectiva.
Mas é exatamente por essa razão que tanto a eutonia como
a "nova pedagogia " são tão controvertidas. As resistências hist~
ricas e sociais que elas enfrentam, e que não cabe analisar aqui,

XIX
não são os únicos responsáveis por essa situação. É antes a nossa
condição de ainda não estarmos preparados para as devidas mu-
danças, de maneira que, mesmo os que se referem à eutonia
muitas vezes a distorcem, sem terem consciência disso -na me-
dida em que favorecem todas as formas possíveis de aplicação
estranha, alterando tanto o sentido da eufonia, que tudo o que
resta é um aglomerado de meras técnicas.

Gerda Alexander

Copenhague, março de 1978.

XX
Índice

Prólogo: O lugar da eutonia no espírito da época ....... .

PRIMEIRA PARTE
Os princípios da eutonia

I. O que é eutonia?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
O tônus. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
A respiração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 15
Tato e contato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 17
O movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 22
Conseqüências da regularização das tensões . . . . . . . .. 24
Importância fundamental da educação dos sentidos . . .. 25
A eutonia e o conhecimento científico atual. . . . . . . .. 27
A formação profissional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 29

11. Eutonia e pedagogia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33


O trabalho em grupo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Tomada de consciência dos ossos . . . . . . . . . . . . . . . . 37
O movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Contato com os outros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

III. Eutonia e terapia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47


SEGUNDA PARTE
Aplicações da eutonia

I. Seleção de comentários, desenhos e modelagens de


um grupo de alunos de eutonia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
11. A imagem do nosso corpo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
III. Posições de controle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
IV. Registros fisiológicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
V. Pinturas ............... . ........ .. ....... . . . 127
VI. Exemplos de aplicações terapêuticas. . . . . . . . . . . . . . 131
VII. A eutonia na emissora de rádio estatal dinamarquesa 159

Apêndice

Histórico do termo eutonia" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165


Histórico do ensino da eutonia e da tera pia eutônica. . . . . . 169
Professores diplomados em eutonia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193
Prólogo: O lugar da eutonia
no espírito da época

Hoje fala-se muito - entre lamentos e acusações- da decadên-


cia da cultura européia, de um relaxamento dos costumes, do
ocaso do ethos, do desaparecimento da fé religiosa enquanto
força, e do triunfo do materialismo. Pode ser que fiquemos desa-
nimados quando nos vemos forçados a admitir que a maior parte
dessas queixas se justificam. Entretanto, esses sintomas de
decomposição que nos saltam aos olhos não devem ser conside-
rados apenas como algo negativo. Acontece que atualmente
estamos atravessando um limiar cultural tão completo e trans-
cendente como o que o homem atravessou no fim da Idade da
Pedra. Existem novidades essenciais que lutam por um papel
claro na sensibilidade, na consciência e na ação do ser humano.
E essa é a razão pela qual boa parte do que é tradicional e até
agora vigente, incluindo o que é de natu reza mais nobre, começa
a definhar. Mas este processo - doloroso sob um certo ponto de
vista - não significa o "ocaso do Ocidente" , mas sim o começo
de uma nova fase criativa da Europa.
Quem achar que é preciso ser pessimista com relação à
situação das idéias do Ocidente, certamente não deixará de
encontrar razões que o justifiquem . Mas esse pessimismo é, pelo
menos, uma visão parcial. A quantidade de forças criativas que
se manifestam na Europa de hoje justifica uma visão otimista.
É verdade que o solo da cultura européia tem sido revolvido e
arado ... e em seus sulcos já brota a nova semente.
Os processos criativos, que ocorrem em profusão, não só
favorecem o futuro da Europa como também a subsistência de
toda a humanidade. Ora, a maioria dos povos não europeus esta-
ria condenada a perecer sem as novas idéias e os novos métodos
de estruturação da vida que estão sendo desenvolvidos na Euro-
pa. Neste continente encontra-se, hoje, a oficina de criação de
todos os povos, mesmo quando observamos alarmados os aspec-
tos sombrios do tremendo processo cultural e técnico, que pro-
curamos frear.
Mas, por mais fundamentais que sejam, para a renovação
da Europa, as invenções técnicas - sem as quais nossa vida na
Terra seria impossível -, sua importância é superada pela nova
imagem do homem que vem se desenvolvendo desde fins do
século XVIII. Nossa imagem do homem, tudo o que considera-
mos valioso e digno de ser realizado nele, determina a totalidade
da cultura, os direitos e os deveres do ser humano, sua relação
com o Divino e com a ordem social. E nesse aspecto produziram-
-se verdadeiras revoluções. Depois que, no século XIX, o homem
foi decomposto em partes, para nos apoderarmos das forças e
funções surgidas dessa dissecação, uma geração de estudiosos do
século XX redescobriu o ser humano na sua totalidade indivisí-
vel. Isso significou uma mudança decisiva de enfoque. Essa "nova
consciência" assim surgida, que já não atua só de forma lógica,
mas também paralógica, começa a manifestar-se em diferentes
domínios da vida européia, apesar de ainda encontrar resistências
previsíveis. Manifesta-se numa medicina que não considera só os
sintomas da doença, mas também o homem inteiro, numa psico-
logia que pretende chegar até as raízes da consciência e que reco-
nhece a íntima relação entre sorna, psique e pneurna : nu ma étka
que é capaz de vincular a sujeição do homem a seu eu, e o ''tu"
do próximo ... e, fi,lalmente, numa interpretação diferente do
corpo, que investiga sua realidade e simbolismo.
Sob a ótica da "nova consciência", o corpo já não é só uma
máquina que funciona bem ou mal, já não é só um instrumento
do homme machine; por outro lado, também não é a parte pere-

2
cível do ser humano, que contrasta com sua "alma imortal".
Corpo e alma são considerados agora como unidade, como ele-
mentos provenientes de uma mesma raiz. Ambos se vivificam
mutuamente. A psique informa o corpo, a partir do interior,
sobre os impulsos e leis que transcendem o tempo. O corpo, por
sua vez, atua sobre a psique ao lhe proporcionar informações
sobre a realidade temporal. Corpo e alma são irmãos surgidos de
um mesmo ventre ... só reunidos é que constituem "o homem".
A "nova consciência", porém, deve lutar contra duas forças
retardativas. Por um lado, há a resistência oferecida pela atitude
científica analítica, que continua predominando em amplos
círculos intelectuais e científicos ... ainda que apenas por razões
de conveniência, pois o homem "dividido" é comercializado com
maior facilidade e com melhores lucros. Esses setores procuram
evitar, ou pelo menos retardar, o aparecimento da "nova cons-
ciência". A segunda tendência retardativa provém da Ásia. Atra-
vés de um longo processo, a Europa abriu a Ásia para si. Mas
agora é o espírito asiático que flui cada vez com maior liberdade
na direção do Ocidente. E como os ocidentais estão cansados de
sua própria tradição, caem no Jascínio do exótico. Conseqüente-
mente, o europeu abandona o solo firme do espírito ocidental e
se perde numa bruma de palavras e conceitos que jamais teriam
surgido de um cérebro europeu e que jamais poderão ser incul-
cados com proveito em cérebros europeus ... "A imitação do
Oriente é um mal-entendido trágico, porque está em desacordo
com a psicologia ... Por isso é lamentável que o europeu renuncie
a si mesmo, para imitar e desnaturalizar o Oriente." Essas frases
pertencem a um profundo conhecedor da sabedoria oriental e
da psique do homem ocidental: o célebre psicólogo C. G. Jung.
Aponta com elas o perigo que ameaça os impulsos criativos da
Europa. Esse perigo, que provém da Índia e da Ásia oriental,
consiste na regressão a um período do mundo e do espírito em
plena fase de extinção. O aparecimento e o desenvolvimento
da "nova consciência", que se dispõe a colocar em marcha a
autêntica revolução mundial - uma revolução que não se limita
ao político -, não se poderá cumprir, quando experimentar

3
sinais de cansaço, se o europeu se apoiar no passado. Nessa situa-
ção precisamos nos manter alertas e ser capazes de diferenciar.
A concepção do corpo, estimulada pela "nova consciência",
não surgiu de repente, mas seu caudal se formou com a partici-
pação de muitos afluentes. Ao mencionar os principais criadores
e inspiradores dessa nova e complexa concepção do corpo, tra-
çamos como que uma história do movimento. Integram esta
lista, que bem poderia ser ampliada: P. Delsarte, Leo Kofler,
Jaques-Dalcroze, G. Stebbins, C. Schlaffhorst-H. Andersen, B.
Mensen, fundadores de Loheland, Eisa Gindler, R. Bode, F. M.
Alexander, H. Medau, a escola Günther, para a qual Orff criou
sua obra didática, R. von Laban, M. Wigrnan e Rosalia Chladek.
Entre esses grandes criadores de uma nova consciência do
corpo, e por conseguinte, de uma nova consciência do homem,
figura Gerda Alexander. Embora seu ponto de partida tenha
sido a "ginástica rítmica" de Jaques-Dalcroze, de fundamento
musical, a educação eutônica do movimento não se baseia na
música para liberar o ritmo e a dinâmica pessoais do indivíduo,
que permitem encontrar uma expressão motora própria. Gerda
Alexander vem desenvolvendo, ao longo de quatro décadas, esse
"método ocidental para uma tomada de consciência da unidade
psicofísica do ser humano", método que se conhece como
"eutonia", ou melhor, "eutonia de Gerda Alexander". No pro-
cesso de formação, os discípulos de Gerda Alexander chegam ao
conhecimento e à expressão de sua própria natureza, por meio
de um "compenetrar-se" (que exclui qualquer tipo de sugestão)
das realidades p sicossomáticas dessa natureza. Gerda Alexander
tem a convicção de que as forças criativas e as características
inconfundíveis da personalid ade não se li beram suprimindo a
con ciência (como p regam os orientais), mas sim ampliando-a.
Além disso, a eutonia não é um método d e relaxamen to. Isso
aparece já no termo "eutonia", derivado dos vocábulos gregos
eu = bem, correto, harmonioso, e tonos = tensão . O propósito
da eutonia não é o desaparecimento das tensões existentes, mas
o estabelecimento - como a própria palavra indica - da tensão

4
harmoniosa, ou seja, o equilíbrio das diferentes tensões que coe-
xistem no corpo, um equilíbrio do tônus geral.
Um dos objetivos da eutonia é que o homem chegue à sua
própria essência, encoberta pelos hábitos e pelas exigências do
meio; que atue de forma criativa, pisando seu próprio solo, e a
partir deste. Esse objetivo se alcança por meio de exercícios que,
no entanto, não se devem orientar pela imitação de modelos.
Por isso, o verdadeiro objetivo é a eutonia da personalidade em
geral. Para isso, Gerda Alexander criou diversos meios, que aqui
só mencionaremos de passagem: a consciência do corpo, as varia-
ções voluntárias do tônus, a técnica do contato e da irradiação,
o contato espacial , o "estiramento", o "fluxo" para além do
limite visível do espaço corporal, o compenetrar-se de cada seg-
mento de pele e cada espaço interior do corpo, incluindo os
vasos sangüíneos e os ossos. O curioso é que para tudo isso só
se recorra a "meios simples". Não existem grandes gesticulações
nem movimentos de descarga (grande parte do trabalho se faz
com a pessoa deitada no chão). Com um mínimo de esforço
alcança-se um máximo de resultado.
E é assim que o princípio básico de Gerda Alexander,
"consciência da natureza essencial através de uma tomada de
consciência do corpo", tem contribuído para a gestação da
"nova consciência", através da qual se descobrem novas dimen-
sões do ser humano.
Uma das convicções que serviu de estímulo à sua tarefa de
quarenta anos é a de que o h omem é m aior e mais profundo do
que hoje se supõe e q ue esse " h omem maior", que quer fazer
sua entrada no âmbito da h istória em m eio a dores de parto e
desgarramentos, exige tam bém um âm bito mais profundo e mais
amplo para sua realiz ação, e é preciso proporcionar-lhe isso.

Alfons Rosen berg

5
Primeira parte
Os princípios da eutonia
I. O que é eutonia?

A eutonia propõe uma busca, adaptada ao mundo ocidental,


para ajudar o homem de nosso tempo a alcançar uma consciên-
cia mais profunda de sua realidade corporal e espiritual, como
uma verdadeira unidade.
Convida-o a aprofundar essa descoberta de si mesmo sem
se retirar do mundo, mas ampliando sua consciência cotidiana,
permitindo-lhe liberar suas forças criadoras, possibilitando-lhe
um melhor ajustamento a todas as situações de vida e um enri-
quecimento permanente de sua personalidade e de sua realidade
social.
A palavra eutonia (do grego eu = bom, justo, harmonioso,
e tonos = tônus, tensão) foi criada em 1957 para expressar a
idéia de uma tonicidade harmoniosamente equilibrada, em adap-
tação constante e ajustada ao estado ou à atividade do momento.
Hoje conhecemos os vínculos íntimos que existem entre a
tonicidade e o vivenciado, consciente e inconscientemente. A
expressão do nosso corpo, tanto nas suas atitudes e movimentos
como na sua respiração e sua voz, depende diretamente deles, ao
mesmo tempo que os manifesta.
Investigações contemporâneas têm confliDlado as relações
estreitas e as interações constantes entre o tônus e a atividade
cerebral. O tônus postura!, próprio dos músculos clônicos, assim
como o sistema neurovegetativo e o conjunto das regulagens
fisiológicas estão em inter-relação estreita com nosso psiquismo.

9
Assim, por essas diferentes vias, manifestam-se em nosso
corpo a parte inconsciente e a parte consciente da nossa perso-
nalidade. Cada mudança de consciência atua sobre o conjunto
das tensões. Toda perturbação modifica não apenas o estado
corporal, mas também o comportamento e o estado de consciên-
cia da pessoa.
Compreende-se, então, que atuando sobre a tonicidade se
possa influir sobre todo o ser humano. Com base nisso, têm-se
elaborado numerosos métodos de relaxamento e, particular-
mente, alguns deles muito conhecidos hoje em dia por seu rigor
e por sua eficiência.
Mas, enquanto esses métodos têm por finalidade obter um
equilíbrio e uma diminuição do tônus, no sentido de relaxa-
mento, a eutonia proporciona ao interessado a possibilidade de
obter o tônus adequado não só a uma situação de repouso e reta-
\
xamento, mas também a todas as demais situações da vida.
Tentaremos mostrar, ao longo deste livro, os caminhos
através dos quais a eutonia permite que se atinja essa faculdade.
Nossa prática nos ensina que mediante o desenvolvimento da
sensibilidade superficial e profunda é que se chega a influir de
modo consciente sobre os sistemas, normalmente involuntários,
que regulam o tônus e o equilíbrio neurovegetativo.
Pará chegar ao desenvolvimento dessa sensibilidade é neces-
sária uma capacidade de observação profunda, uma "presença"
graçàs à qual se desenvolve a capacidade de ser objeto da própria
observação e, simultaneamente, de viver as mudanças que esta
observação produz em todo o organismo, de sentir consciente-
mente, também durante o movimento, as variações que surgem
ao nível do tônus e das funções vegetativas.
Esse estado de "presença" diferencia-se claramente dos
níveis de consciência do treinamento autógeno, da ioga e das
técnicas Zen. Medições encefalográficas têm demonstrado que
ele se desenvolve num estado de plena consciência.
Essa " resença" requer ao mesmo tempo uma neutralidade
de observação e uma amplitu e i! o Je zvos que não .v . .• ser
influenciadas pela expectativa de um determinado resultado.

10
Essa neutralidade e essa abertura são as condições fundamentais
para o desenvolvimento eufônico.
O grau de desenvolvimento da sensibilidade do principiante
pode ser determinado por meio do teste da imagem corporatO),
que consiste numa representação mais ou menos exata do pró-
prio corpo por meio da modelagem e do desenho de um corpo
humano. É surpreendente observar o quanto essa sensibilidade
está, atualmente, pouco desenvolvida, ela que desempenha um
papel tão importante na consciência que a pessoa tem de si
mesma e em todo o desenvolvimento corporal. Encontramos
poucas pessoas que têm uma representação exata do seu corpo.
Isso vale também para aqueles que se ocupam do corpo humano
profissionalmente, como os ginastas, os dançarinos, os fisiotera-
peutas e os médicos. Assim, pode-se avaliar a falta de experiên-
cia corporal e o isolan1ento em que nos encontramos pela inca-
pacidade de contato com os outros e com as coisas.
Por isso, a primeira tarefa, que pode levar muito tempo,
é a de despertar a sensibilidade da pele e, assim, recuperar a ima-
gem do corpo. Só então podemos desenvolver a consciência do
espaço corporal, tão importante para a eutonia, e que abrange
os músculos, os órgãos e a estrutura óssea.
Assim como o teste da imagem corporal, os testes muscula-
res podem ser realizados pelo próprio aluno. Consistem em uma
série de "posições de controle" que revelam a existência de ten-
sões crônicas. Os encurtam ntos no comprimento natural do
músculo (em repouso) limitam os movimentos das articulações
e dificultam o estabelecimento do reflexo tônico postural,
inconsciente e natural. A eliminação des as tensões exige,
além da regularização global do tônus, o empr go local de téc-
nicas eutônicas que estimulem a circulação e modifiquem o
metabolismo.

(1) Ver adiante, na segunda parte, ilustrações de modelagens.

ll
O tônus

Existem várias maneiras de definir o tônus, segundo diferentes


autores e disciplinas.
Essa diversidade reflete a riqueza de uma realidade cujas
descobertas relativamente recentes permitem, agora, compreen-
der melhor a sutileza de suas implicações psicossomáticas.
Os psicofisiólogos definem o tônus como "a atividade de
um músculo em repouso aparente" . Esta definição indica que o
músculo está sempre em atividade, mesmo quando isso não é
traduzido em movimentos ou gestos. Nesse caso não se trata da
atividade motora, no sentido mais freqüente da palavra, mas sim
de uma manifestação da função tônica.
Essa função tônica tem a propriedade de regular a ativi-
dade permanente do músculo, que condiciona nossa postura e
faz com que a musculatura esteja preparada para responder rapi-
damente às múltiplas solicitações da vida.
Por isso é tão importante adquirir o maior domínio possível
do tônus, do qual depende todo o comportamento.
O tônus se encontra em todo o organismo vivo e tem,
em condições ideais, um nível homogêneo em todo o corpo.
Aumenta com a atividade e diminui com o repouso. Todos sabe-
mos que uma criança parece mais pesada de ser levantada dor-
mindo que estando acordada. Seu peso real continua inalterado,
porém a densidade do corp o se altera de acordo com o nivel de
tônus. É preciso mais energia para mcvi..'ll en tar um corpo mole e
relaxado do que um outro tenso e tonificado.
Os estados e mudanças em ocionais, tais como a angústia ou
a alegria, as diversas formas de exal tação, o esgotamento físico e
psíquico e as depressões, estão em Última relação com o tônus.
Todas as pessoas têm experimentado tais mu dan ças. A mesma
escada que, num momento de alegria, subimos sem esforço , nos
parece interminável quando estamos num estado depressivo, em
que sentimos nosso corpo como se fosse feito de ch um bo.
Também a conduta dos outros modifica a tonicidade. Uma
pessoa tranqüila e relaxada pode exercer uma influência bené-

12
fica sobre todo um grupo, enquanto outra, nervosa e tensa, terá
o efeito contrário.
As crianças pequenas e os animais são particularmente sen-
síveis a essas transferências tônicas. Também as experimentamos
quando assistimos a uma partida de futebol, a um espetáculo ou
a um concerto, quando nos deixamos entusiasmar, quando nos
comunicamos, estremecemos ou nos tranqüilizamos. Embora
essas emoções sejam fonte de enriquecimento pessoal, é impor-
tante que o indivíduo saiba permanecer dono de seu tônus para
poder resistir às influências que julgue nocivas a seu próprio
equilíbrio.
Terapias baseadas na música e no teatro, onde o tônus e a
imitação desempenham um papel importante, têm dado exce-
lentes resultados. Isso não deveria surpreender ninguém, porque
já Henri Wallon apontou, em muitas de suas obras(2), a impor-
tância primordial do tônus na imitação e na gênese da persona-
lidade.
A flexibilidade do tônus permite que se passe por toda a
gama de sentimentos humanos e se retorne ao tônus habitual.
O nível desse tônus tenderá a ser um pouco mais alto ou um
pouco mais baixo, conforme a constituição e o temperamento.
Só existe uma hipotonia ou uma hipertonia no sentido médico
quando o nível anormalmente baixo ou alto do tônus de uma
pessoa se mantém fixo. Mas tam bém as pessoas em que o t ônus
se mantém fi o num nível médio, sem capacidade de oscilações
emocionais ou artí ticas, estão doentes. No entanto, a medicina
não lhes dá tanta atenção, porque a patologia não se evidencia
facilm ente.
Na euto nia falamos de:
- Regularização do tônus: quando o trabalho da eutonia con-
segue fazer de aparecer as fix ações existentes em grupos isola-
dos de músculos, rem tegrando--os ao comando geral.

(2) Les Origines du caractere e De l'Acte à la pensée [Tradução por-


tuguesa: Do Acto ao Pensamento. Lisboa, Moraes, 1979. (N. do E.)]

13
Hipertônus
---"tiJ IVel
médio
Hipotônus

Tônus normal e flexível que permite a uma pessoa adaptar-se


continuamente a situações exteriores e expressar-se adequadamente.

Hipertonia

Tônus fixo ou rígido que não permite uma adaptação e uma expressão
adequadas.

Jgualação do tônus: quando as fixações de uma ou várias


fibras musculares dentro de um músculo são dissolvidas.
A ação sobre o tônus se obtém, a princípio, dirigindo a
atenção para determinadas partes do corpo, para seu vo ume,
seu espaço interior, para a pele, os tecidos, os órgãos, o esque-
leto e o espaço interior dos ossos.
A mudança imediata e voluntária do tônus pode ser conse-
guida com a prática. É percebida subjetivamente como uma sen-
sação de peso ou de leveza respectivam en te nos casos de dimi-
nuição ou aumento do tônus. Objetivamente comprovamos essa
aptidão através do domínio do reflexo miotático, quer dizer,
pela supressão voluntária ou, ao contrário, pelo fortalecimento
do reflexo patelar. Um tônus elevado acentua o reflexo patelav,
enquanto um tônus baixo pode fazê-lo desaparecer. O autodo-
mínio do tônus pode ser conseguido com facilidade na nossa
prática diária. O aluno, passivo do ponto de vista motor, faz
subir ou descer seu tônus voluntariamente, enquanto o profes-

14
sor, manipulando seu corpo, observa as variações do tônus me-
diante as diferenças de peso.
Tudo isso permite que se compreenda melhor por que
a eutonia não é só um método de relaxamento. Oferece ao
homem a possibilidade de adquirir o domínio de seu tônus em
todos os tipos de atividade prática e artística, inclusive a capaci-
dade de baixar o tônus, conseguindo o relaxamento profundo
para o repouso.

A respiração

Assim que são eliminadas as fixações do tônus muscular, presen-


tes em quase todos os principiantes, toda percepção consciente
de uma parte do corpo atua não apenas sobre o tônus, a circula-
ção ou o metabolismo, mas também sobre a respiração habitual-
mente inconsciente.
A capacidade de adaptação instantânea da respiração à
necessidade circunstancial de oxigênio melhora notavelmente
após se desfazerem as fixações do tônus e da circulação (no perí-
neo, diafragma e intercostais).
Com certeza a unidade psicossomática da personalidade é
reconhecível imediatamente e influenciável pela respiração. Por
esta razão, no trabalho de eutonia o professor observa constante-
mente a respiração do aluno : seu ritmo, sua duração ou a falta
de pausa respiratória. O professor deve procurar não modificar
com demasiada rapidez o equilíbrio durante a regularização de
tensões, o que poderia provocar uma agitação emocional ou
criar uma situação de angústia. Porém , sobretudo, deve prestar
atenção nos pequenos matizes dos bloqueios respiratórios no
peito, no ventre e na pelve, pois são indícios significativos de
perturbações orgânicas e psíquicas.
A normalização da respiração não se realiza com exercícios
respiratórios diretos, mas sim indiretamente, relaxando as ten-
sões que impedem a plenitude da respiração inconsciente ade-
quada. Esta é inibida por tensões que podem estar situadas no

15
períneo, virilhas, musculatura abdominal, diafragma, intercos-
tais, ombros, nuca, mãos, pés, aparelho digestivo e órgãos geni-
tais. Se conseguimos eliminar essas tensões, a respiração se nor-
maliza por si. Se, pelo contrário, fazemos exercícios respirató-
rios voluntários, essas inibições são aparentemente desfeitas
num movimento respiratório mais amplo, mas reaparecem com
a respiração inconsciente no momento em que suspendemos os
exercícios.
Essas experiências são confirmadas continuamente com
alunos que já praticaram exercícios respiratórios conscientes:
cantores, atores, reeducadores, esportistas. Em todos eles a regu-
larização das tensões é, em princípio , mais demorada, uma vez
que as fixações de sua musculatura e de seus órgãos opõem mais
resistência do que no caso de alunos que nvnca realizaram exer-
cícios respiratórios. Isso pode retardar, às vezes por vários meses,
o desenvolvimento num trabalho de eutonia.
Apesar da importância considerável que damos à respiração,
evitamos falar dela, principalmente no começo . No momento
em que se pronuncia a palavra "respiração" num grupo, altera-se
a respiração de todos. Ela se torna voluntária, perde seu ritmo
e se torna menos adequada às necessidades reais e em constante
mudança da pessoa.
Para o professor também perde, por este simples fato , seu
valor enquanto manifestação atual do estado psicossomático.
Observar a própria resp iração sem influir sobre ela é extre-
mamente difícil, mesmo que se tenha desenvolvido uma cons-
ciência corporal relativamente boa. Como nossa respii:ação se
realiza, em grande parte, inconscientemente, o tr abalho mais
importante será norm alizar esse tipo de respiração.
Se pela elim: nação de fix ações tônicas chegam os a um equi-
líbrio de tensões, não será preciso nenhum exercício respirató-
rio específic·) para obter uma respiração adeq uad a às necessida-
des do momento, sejam quais forem suas características (uma
longa frase cantada, uma corrida de resistência, etc.). Sem dúvi-
da, existem outros métodos para alcançar os mesmos resultados.
Professores eminentes os têm conseguido através de enfoques

16
totalmente diferentes. Mas sem um professor competente corre-
-se o risco de cometer erros graves que levam rapidamente a
exercícios mecânicos, como os que ainda se observam com
muita freqüência em círculos esportivos ou em alguns tipos de
reabilitação.
Notemos, além disso, que as práticas respiratórias que se
ensinam atualmente surgiram de culturas diferentes. Seus exercí-
cios, desenvolvidos ao longo de milênios, têm como fundamento
li
efeitos psicossomáticos adaptados às necessidades da evolução
do homem numa época e num meio determinados. Eram ensina-
dos e experimentados em centros especiais, sob a direç?.o de
professores com quem os alunos viviam.
Nossa situação é mvito diferente. Devemos ter a lucidez de
encontrar um caminho que corresponda à nossa cultura. Precisa-
mos formar professores que, livres de qualquer preconceito, sem
a influência de sistemas existentes, saibam conciliar suas e;~pe­
riências da natureza humana com os conhecimentos mais recen-
tes da psicologia e da fisiologia . Por toda parte têm-se desenvol-
vido pesquisas nesse sentido. Quanto a mim , procurei encontrar
um caminho que influísse de maneira indireta sobre a respiração
através da regularização das tensões. Próximos da eutonia, posso
citar a escola Schlaffuorst-Andersen, à qual devo muitas idéias, e
os trabalhos práticos e científicos dos professores Horst Coblen-
zer e Franz Muhar.

Tato e con tato(*)

A eutonia faz distinção entre tato ~contato.


Por meio do ta to com o ambiente experimento os ümites
de meu organismo , vivendo minha forma corporal exterior, o
que me pennite a identificação omigo mesmo. Além disso, o
tato n os fornece infom1ações essenciais sobre o mundo que nos
cerca - suas f rmas, sua temperatura sua consistência - , sobre

( *) Em alemão Berührung und Kontakt. (N. do E.)

17
as numerosas sensações provenientes do exterior - pressões,
choques e golpes- e sobre a comunicação não-verbal, como por
exemplo sensações de ternura, dor, indiferença ou agressão.
Enquanto através do tato permanecemos na periferia da
pele pelo contato ultrapassamos conscientemente o limite visí-
vel de nosso corpo(3). Através do contato incluímos em nossa
consciência o campo magnético perceptível e eletricamente men-
surável do espaço que nos rodeia. É assim que podemos ter um
contato real com os seres humanos, os animais, as plantas e os
objetos através de sua "fronteira" exterior, mesmo quando não
os tocamos diretamente. Ampliando desse modo nossas possibi-
lidades de experiência, podemos atingir uma relação mais viva
com os seres e com as coisas.
Esse contato co·nsciente tem, sobre as mudanças no tônus,
na circulação, e no metabolismo, uma influência mais forte do
qu e a do tato . O contato dos pés com o solo, o contato das mãos
com um instrumento ou um material (por exemplo, ao modelar)
leva a uma harmonização das tensões emocionais.
Através das técnicas de contato e permeabilidade influímos
conscientemente no equilíbrio entre o simpático e o parassimpá-
tico , com suas conseqüências sobre a circulação e o equilíbrio
horm onal. Isso possibilita a passagem de um estado predominan-
temente simpaticotônico a um estado vagotônico, a estimulação
ou inibição das fun ções vegetativas e o restabelecimento do equi-
líbrio vegetativo.
AJém de uma regulação global, podemos exercer uma ação
l ocal e produzir uma mudan ça imediata e voluntária a nível de
um segn1ento ou de um só órgão. Enquanto desenvolvia esta téc-
nica, c.Jescobri aJgun ponto de zonas reflexas os quais, conforme
fi qu i sabendo mais tarde, eram utilizados pela acupuntura.
inconscientemente estamos sempre em pregando o contato,
m maior ou menor grau. O artesão experiente entra em con-

(3) O fenômen o do contato medido com o dermamômetro do pro-


fessor Regelsberger (Siemens) determina, segundo o professor Steitz, de
Munique, uma mudança específica na resistência elétrica da pele.

18
tato com os materiais por meio de suas ferramentas, e o bom
músico se "confunde" com seu instrumento. O psiquiatra suíço
J. de Ajuriaguerra(4) chama este aumento da consciência de "a
função delegada", e assinala que se desenvolve e se fortalecF pela
prática.
No movimento eutônico, que pressupõe a consciência do
espaço corporal, estendemos nossa presença através do espaço
mediante o contato (contato espacial). Nesse espaço, incluímos
também o espaço do outro, ou do grupo, e o espaço abaixo do
solo em suas três dimensões. Um contato assim, através do solo,
nas suas diversas direções possíveis, tem, além de uma ação sobre
o sistema vegetativo, uma influência visível e precisa sobre o
movimento. Sua utilização dá resultados particularmente impres-
sionantes quando se trata de rendimentos que exigem um grande
esforço. Mediante uma avaliação precisa do ângulo segundo o
qual a linha de forças proveniente do corpo atravessa o solo, e
da resistência que esta oferece, é possível obter uma grande capa-
cidade de força com um mínimo de enLrgia.
A aptidão inconsciente de contato é inata e se expressa
primeiro nas relações mãe-filho.
Essa faculdade de confundir-se com o outro, como a criança
pequena com sua mãe, é relativamente fácil de recuperar-se em
alunos neuróticos, com exceção de casos muito graves. Mas trat a-
-se apenas de uma etapa, pois nessa forma de relação corre-se o
risco de perder a própria identidade.
O contato consciente com uma pessoa que respeitamo s e
com a qual não nos confundimos é outra etapa, qu e só é possí-
vel alcançar graças ao desenvolvimento daquela aptidão.
Mais difícil ainda é criar um equilíbrio de contato com
duas pessoas ao mesmo tempo. A ilustração dessa inca pac.idad
da maioria das pessoas adultas em manejar um contato em duas
direções preservando seus equilíbrios pessoais é fo rnecida na
evolução ou elaboração dos movimentos no espaço . Ser três e

( 4) J. de Ajuriaguerra, Méconnaissances et hallucinations corporelles


(Paris).

19
não dois mais um, isto é, ser capaz de uma abertura simultânea
para cada um dos outros dois, é sinal de uma personalidade em
via de atingir uma certa maturidade.
Uma vez desenvolvida essa faculdade social básica, não há
grande problema em aumentar o grupo de três para quatro, cin-
co ou ainda mais pessoas. Pelo contrário, isso abre caminho para
uma expansão dinâmica de cada indivíduo do grupo a um autên-
tico estar juntos.
Não se deve confundir isso com a experiência de estar lado
a lado , proporcionada por um acompanhamento musical ou uma
simples percussão. Nesse caso, cada qual se concentra em domi-
nar a música, motivo pelo qual o contato imediato entre os
membros do grupo se enfraquece. Os grupos desse tipo são muito
mais fáceis de se constituir. O balé, o teatro e a ginástica rítmica
os utilizam, e em terapia têm valor como primeira experiência
comum. Mas falta neles o intercâmbio dinâmico de cada membro
do grupo com cada um dos outros, inclusive quando existe um
sentimento de unidade. Essa mesma impressão pode ser encon-
trada, em caso extremo, nos estados que se caracterizam por
uma diminuição da consciência, como nas pessoas embriagadas
ou drogadas.
A estruturação do movimento eutônico tende, pelo contrá-
rio, a ampliar e desenvolver o dinamismo corporal do indivíduo
num contato consciente com cada membro do gn1po.
O contato consciente com outra pessoa possibilita tam bém
aplicações terapêuticas.
Com efeito, a capacidade de observar, de dominar os dife-
rentes graus do tõnus e o eq uilíbrio neurovege tativo que ..nós
mesmos conseguimos desenvolver no próprio corpo, permite
equilibrar as tensões de outro organismo. O contato com o
outro proporciona informações precisas sobre suas necessidades
de dimimtição, estimulação ou harmonização das tensões para
restabelecer o equilibrio do corpo. Um contato dirigido tão
conscientemente é, por seus resultados, um dos elemen tos essen-
ciais da terapia eutônica. Não se tr ata de ter uma compreensão
e uma sensação vaga do outro ; é preciso, sim uma tom ada de

20
consciência muito clara do espaço além dos limites do corpo :
um transcender.
O aluno(S) treinado pode controlar onde e quando acon-
tece este contato. Por exemplo, se um osso é contatado em toda
sua forma, ou só parcialmente, se o corpo é abordado do lado
direito ou do esquerdo, se o contato estimula ou alivia.
O pedagogo de eutonia deve ser capaz de captar, a partir de
um único ponto do corpo do aluno, o organismo todo.
Isso pressupõe que tenha desenvolvido a capacidade de
completar uma forma em suas dimensões, a partir de um ponto
exterior de tato.
O treinamento que permite alcançar essa capacidade é pro-
gressivo e começa com objetos simples como, por exemplo, um
bastão de madeira, cujo comprimento se "capta" de olhos fecha-
dos, a partir de um ponto qualquer. Depois confere-se com a
mão livre, e finalmente com os olhos, se o comprim.ento real do
bastão corresponde à distância calculada anteriormente, de olhos
fechados , pela consciência.
A seguir exercitamos a consciência do volume com uma
bola, a qual primeiro apalpamos com ambas as mãos para regis-
trar seu grau de curvatura; depois com uma só mão, deixando a
consciência espacial completar a forma, e finalmente, partindo
da ponta de um dedo, a consciência deve completar toda a fo r-
ma da bola.
Essa capacidade se emprega constantemen te em euto nla
para se tomar consciência do espaço corporal interno. onde se
localizam o esqueleto e os órgãos. Na terapia, o dom ínio dessa
aptidão é mui to importante e abre grandes possibilidades como
por exemplo, no caso das tetraplegias, em que é possível obter
uma vitalização da parte paralisada : partindo de um tato ex te-

(5) Empregamos a palavra aluno para designar qualquer pessoa que


pratique eutonia, inclusive aquela que recebe um tratamento eutônico,
para deixar bem claro que, para nós, nunca se trata de ''pacientes", mas
sim de pessoas ativas e, em última análise, responsáveis por sua própria
evolução.

21
rior das apófises espinhais, "completa-se" conscientemente toda
a forma do osso da vértebra com seu arco vertebral, a medula
óssea, as cavidades de conjunção e os discos intervertebrais.
A utilização dessa terapia requer, por parte do terapeuta,
o domínio completo e a dosagem exata de todas as formas de
contato e, o que é muito importante, a capacidade de permane-
cer neutro durante a observação. Caso contrário, podem surgir
graves perturbações no equilíbrio psicossomático do aluno. Em
geral precisamos de três a quatro anos para aprender essas formas
de tratamento e desenvolver a maturidade pessoal indispensável.

O movimento

O movimento, na eutonia, caracteriza-se pela leveza na execução


e pelo emprego de pouca energia, inclusive para um rendimento
dinâmico, o que parece confirmado pela eletromiografia (vejam-
-se as figuras que são reproduzidas na segunda parte).
Essa leveza no movimento pressupõe que todas as fixações
do tônus tenham sido suprimidas e que os músculos que não
participam no trabalho permaneçam tonificados, em vez de se
tornarem frouxos.
A homogeneidade do tônus de base é vivida pela pessoa e
reconhecida pelos outros como uma manifestação da unidade
psicossomática. A igualdade do tônus num nível apropriado e o
equilíbrio das tensões nos músculos ativos obtêm-se com o con-
tato através do corpo e através do espaço por meio dos prolon-
gamentos. Em níveis altos de tônus esse equilíbrio de tensões
nos músculos que efetuam um trabalho é experimentado como
ausência de peso.
A técnica dos prolongamentos tem despertado interesse,
especialmente por parte dos professores de educação física e de
ioga, por sua· influência sobre um tônus rígido e pelas melhoras
visíveis que se produzem imediatamente na mobilidade de todas
as articulações.
Mas os prolongamentos podem ser muito perigosos se não

22
for feito um trabalho prévio de fortalecimento das sensações
reais do corpo através de um desenvolvimento consciente da sen-
sibilidade superficial e profunda. Uma mudança muito brus(;a e
rápida no nível do tônus, que não nos é poss ível acompanhar
conscientemente, pode provocar um estado de eu fo ria ou de
choque e até conduzir à perda de identidade, uma vez qu e a
consciência do eu está diretamente ligada às sensações corporai .
A inervação eutônica é apoiada por uma utilização cons-
ciente do reflexo proprioceptivo (postura!) que ergue e mantém
o corpo e permite dispor de um máximo de força da muscula-
tura clônica. É o que chamamos de transporte, para diferenciá-
-lo do reflexo proprioceptivo inconsciente. Seu desencadeamen-
to não só se produz a partir da sola dos pés, mas também a partir
das mãos, da cabeça e praticamente de todas as partes do corpo.
Assim, há possibilidades de combinações ilimitadas, que
aliviam consideravelmente a musculatura dinâmica. Movimentos
dessa natureza podem ser claramente observados nas crianças
pequenas, no caso de terem tido, desde o início, possibilidades
ilimitadas de movimento, como ficou magnificamente ilustrado
nos filmes do doutor E. Pickler(6).
O transporte e o contato com o meio ambiente estimulam
a circulação, conseguindo-se evitar o esgotamento, mesmo du-
rante um esforço violento.
O ritmo da respiração se adapta às necessidades de oxigê-
nio, independentemente do ritmo próprio dos movimentos. No ::il
movimento eutônico esses diferentes âm bitos são solidário :
tônus de base, equilíbrio neurovegetativo, inervação motora e
consciência do transporte. É possível perceber imediatamente
se o aluno conseguiu o equilíbrio dessas tensões na sua consciên-
cia corporal. Por exemplo, é possível alcançar um certo domínio
do tôn us e da inervação motora sem modificação da e fertt emo-
cional.

(6) La joie du mouvement, Vie active, Laissez dane tranquille


l'enfant e Moi tout seu! (Hungarofllm, Budapest V, B'athary V. 10, Hun-
gria).

23
A conseqüência da regularização das tensões

Os efeitos da prática da eutonia, tal como temos podido obser-


var ao longo de muitos anos, são múltiplos e profundos. Serão
~xpostos no dec·::>rrer deste livro. Não obstante, parece-nos
Importante resumi-los aqui brevemente:
- A restauração da sensibilidade de toda a superfície do
corpo é traduzida por uma melhoria da imagem corporal. Conse-
qüentemente, há uma melhora do estado geral, uma melhor cir-
culação, um melhor sono e maior segurança e liberdade nos mo-
vim entos e na postura. Isto pode ser observado, por exemplo, ao
se constatar os progressos surpreendentes obtidos no domínio da
técnica de um instrumento musicai, sem treinamento prévio(7).
Estes resultados podem ser comprovados obj etivamente
pel? ~este ~a imagem corporal(8), que revela as mudanças mais
sutis, mclustve quando o sujeito introduz correções voluntárias.
, - Em muitos casos a regulagem do equilíbrio vegetativo,
alem d~ atuar sobre a respiração inconsciente, atenua ou suprime
e~ muitos casos os dist úrbios psicossomáticos, as neuroses orgâ-
~~~as e de angústia, as defic iências endócrinas, a frigidez e a este-
nlidade no homem ou na m ulher(9). O desaparecim ento dessas
distonias vegetativas libera energias que aumentam a vitalidade
da pessoa.
, -:- A dissolução das fix ações do tônus elimina as fi xações
ps1qwcas como, por exemplo, os estados depressivos ou eufóri-
cos e .ou~s for:nas ~e conduta rigida. Essa liberação das reações
em oc10nrus habtturus abre o caminho à capacidade de viver mai
ampla e profundamente toda a gama dos sentimentos humanos.

(7) Veja-se o capítulo VI da segunda parte.


(B) Vejam-se as mudanças nas modelagens, nas figuras do capitulo I
da segunda parte.
(9) Estas experiências têm sido possíveis graças ao trabalho reali-
zado junt.o com ? ginecologista dinamarquês dr. Richard Hammen que
durante vm ~. e ~co anos nos tem enviado pacientes nos quais os trata-
mentos tradi.ClODaJ.S na'o tinham obtido êxito. Veja-se bibliografta.

24
- A flexibilidade do !ônus é, além disso, condição neces-
sária para o desenvolvimento ótimo de um meio de expressão: a
modelagem, a pintura, o desenho, a escrita, a voz, o movimento,
etc., cujas realizações são melhoradas e enriquecidas por uma
adaptação consciente às diversas situações e criação permanente.
- No plano do comportamento social, a flexibilidade do
tônus é essencial para uma verdadeira participação social que
não seja apenas baseada na compreensão intelectual.
- Os movimentos eutônicos permitem a realização das
próprias possibilidades de movimento numa integração cons-
ciente, de acordo com as leis psicossomáticas. Na vida cotidiana,
além de terem um efeito vitalizador sobre o organismo, signifi-
cam um aumento da qualidade e precisão dos movimentos.
A eutonia não é, no entanto, um estado que se alcança de
uma vez por todas, mas sim uma busca dinâmica que conduz a
experiências sempre diferentes e cada vez mais ricas.

Importância fundamental da educação dos sentidos

Ao iniciar a prática da eutonia, dá-se a maior importância ao


desenvolvimento do sentido do tato, isto é, da sensibilidade táti:
superficial e profunda. Além daquilo que já foi exposto anterior-
mente com referência às noções de tato e contato, devem os insis-
tir agora na importância do órgão da pele para nossas r !ações
com o ambiente (a terra, o espaço que nos circunda, as plantas,
os animais, os objetos e as outras pessoas) e para as funções de
regulagem dos processos bioelétricos que se relacionam int.:irna-
mente com as funções motoras, sensitivas e neur ovegetativas.
Observando as mudanças psicofisiológicas que se operam
nos alunos quando adquirem ess<;~. consciência dérmica, cons tata-
mos quantos elementos indispensáveis ao desenvolvimento cor-
poral e físico são negligencia dos pelas formas ocidentais de edu-
cação. Sem desconhecer seus eventuais inconveruentes, cabe
perguntar sobre a vantagem das práticas vigen tes em numerosos
países da Ásia, América, ou África, que permitem às crianças,

25
1
nos seus primeiros anos de vida, o contato corporal estreito com
a mãe e com as pessoas que lhe são próximas.
A eutonia também não descuida do desenvolvimento dos
demais sentidos. Um olhar que, ao invés de "captar" uma ima-
gem exterior, com tensões, deixa-a penetrar no interior, evita
muita fadiga e crispações inúteis na cabeça e no pescoço. Essa
forma de olhar pode aplicar-se em todas as circunstâncias da
vida cotidiana.
A eutonia desenvolve especialmente - nos alunos que
seguem a formação profissional - a capacidade de observação.
Devem aprender a registrar todas as variantes do comportamen-
to, mesmo detalhes que aparentemente não têm nenhuma impor-
tância. Devem chegar a perceber, através do espaço corporal do
outro, todo o esqueleto e a distribuição do peso sobre a coluna
vertebral. Devem aprender a descobrir em que momento e em
que parte do corpo a consciência, no corpo do aluno, passa a ser
ativa. Essa capacidade de observação baseia-se numa grande capa-
cidade de imitar o tônus, graças à qual a consciência corporal do
observador registra de imediato as tensões inadequadas do aluno
no próprio corpo.
O ouvido se desenvolve concentrando a atenção no som
das vozes, nos barulhos produzidos pelo andar ou nos ruídos da
vida cotidiana. Esses sons variam conforme se trate de pessoas
nervosas ou tranqüilas. É possível saber o nível do tônus e o
equilíbrio das tensões das pessoas que estão ao nosso redor,
mesmo sem vê-las. É possível perceber o estado em que se encon-
tra um artesão, um músico, um cantor ou um instrumentista, o
equilíbrio de suas tensões, seu contato com o instrumento ou
com a ferramenta de trabalho e seu contato com o solo, escutan-
do unicamente a qualidade dos sons que produz.
Alguns grupos de trabalho têm se dedicado especialmente à
educação do ouvido. Existem pesquisas e trabalhos práticos reac
lizados principalmente por meus colegas da escola de formação
rítmica de E. J. Dalcroze. Os trabalhos de Charlotte Ma c J eannet
t
Blensdorf, Henriette Goldenbaum, Mimi Scheiblauer e Karl
Heins Taubert têm exercido grande influência na formação pro-

26
1-
fissional de músicos, na atividade dos jardins de infância e de
algumas escolas primárias. Também é fácil perceber essa influên-
cia em numerosos cursos ou escolas de rítmica desenvolvidos
hoje em dia.

A eutonia e o conhecimento científico atual

A eutonia teve como ponto de partida meu desejo de criar, para


o homem de nosso tempo, um ensino capaz de dar a cada um a
possibilidade de desenvolver sua própria personalidade, encon-
trando as leis psicossomáticas dentro de si, escapando aos estilo ,
técnicas e modas, cuja influência geralmente procuramos ou so-
fremos sem perceber. Concebida deste modo, a eutonia devia
constituir uma base comum a todas as formas de movimento
artístico (rítmica, dança, ópera, teatro) e a todos os gestos de
nossa vida cotidiana, os jogos e os esportes.
No entanto, foram necessárias muitas experiências antes
que o ensino da eutonia chegasse a se concretizar e se impusesse
na sua forma atual. Por certo, as observações que realizei de mim
mesma, de crianças pequenas, de bailarinos como Clotilde von
Derp, do malabarista Rastelli e também de animais, como maca-
cos e gatos, contradiziam as teorias sobre o movimento e os
conhecimentos fisiológicos que vigoravam entre as duas guerras.
As relações entre as tensões psíquicas e físicas eram ent ão
incompreensíveis para a ciência. O sistema nervoso gama e sua
estreita relação com o hip otálamo, q Lle é infl uen ciável pela ima-
ginação e, reciprocamente, atua sobre ela~ só foram descobertos,
em 1945 pelos escandinavos Granit e Koda.
Noções tais como "tõnus r,síquico" e psicomolrioidade
eram desconhecid-1s e portanto inacessíveis a uma explicação
científica. O papel desempenhado pela fo m1ação reticular, pelo
sistema límbico, sobre a psique era desconhecido ou mal inter-
pretado, assim como o eram a diferença entre as funções da mus-
culatura dinâmica e a de sustentação, ou a existência de fibras
vermelhas e brancas nos músculos. Também não era conhecid<i

27
a importância fundamental da imagem corporal para o desenvol-
vimento da personalidade. Essas descobertas exigiram uma nova
orientação teórica em relação ao corpo e ao movimento, exigên-
cia essa só pressentida por alguns precursores, como Henri Wal-
lon, na França.
Deste modo, a eutonia obteve durante longo tempo, empJ-
ricamente, resultados que só é possível compreender com base
nas recentes descobertas realizadas em neuro-psico-fisiologia.
Embora todos esses dados sejam mencionados atualmente
em trabalhos especializados, sua interpretação correta e aplica-
ção prática são ainda muito raras. Isso se deve a diversas razões.
Uma das mais importantes parece ser que, mesmo atualmente
poucas pessoas levam em conta o fato de que é possível influir
sobre o sistema gama e o sistem a vegetativo sem que seja p r
meio de medicamento, hipnose ou auto-sugestão.
A seriedade das hipóteses explicativas form uladas atual-
mente nos meios científicos permitirá, sem dúvida, uma consi-
deração mais ampla dessas realidades.
Desejamos ardentemente que numerosos centros de pes-
quisa se interessem por essa pro biemática e que, junto ao pessoal
treinado em eutonia, empreendam trabalhos que os novos méto-
dos de investigação atualmente permitem realizar.
A eutonia representa uma nova forma de terapia, que abre
possibilidades absolutamente novas tanto para o tratamento de
doenças psicossomáticas como para tra tam en tos posteriores de
afecções neurológicas, hemiplegias, paraplegias, poliomielites,
dores-fantasma, artroses, traumatismos da coluna vertebral, etc.
Não surpreende que mudanças tão grandes na fom1a de
abordar e tra lar certas doenças e, d manell"a geral, de en frentar
os problemas referentes ao corpo, requeiram certo t mpo para
se impor. A formação dos educadores e terapeutas que de ejam
seguir essa orien tação exige tam bém o máximo rigor .

28
A fonnação profiSsional

A formação profissional em eutonia pedagógica e terapêutica


requer de três a quatro anos, dependendo da condição do aluno
e da sua formação anterior. Além do trabalho pessoal concer-
nente a seu próprio equilíbrio tônico e à aplicação da eutonia
em pedagogia e na terapia, o aluno assiste a cursos de anatomia,
fisiologia, neurologia, patologia e neuropatologia no mesmo
nível que os fisioternp~utas preparados na universidade. Os cur-
sos de psicologia e a iniciação à psiquiatria são relacionados com
o traball10 de eutonia. A informação sobre outros métodos se
faz por meio de aulas teóricas e práticas.
Três anos, no entanto, são insuficientes para abordar e do-
minar to das as áreas da eutonia. Cada grupo de alunos segue seu
próprio caminho: alguns se orientam mais para a pedagogia e a
terapia, enquanto outros se detêm principalmente na área artís-
tica. Os três anos de capacitação básica conferem, portanto, a
capacidade necessária para instruir os principiantes e praticar
terapia elementar. Para capacitar outros eutonistas profissionais,
no entan to, é pre iso ter uma experiência prática de pelo menos
dez anos nos setores mais importantes. Essas regras foram esta-
belecidas pela experiência, que tem demonstrado que a forma-
ção adquirida num período de tempo menor não p ermite atingll"
uma maturidade pessoal suficiente(lO).
~ bas tante compreensível, portanto, que os profissionais
experientes que participam dos cursos de infom1ação fiq uem

(lO) É por isso que os eutonistas profissionais diplomados sentiram


a necessidade de fundar a Associação lntemacional de Pedagogos de E uto-
rtia, com o objetivo de preservar a qualidade desta fonn ação, de contribuir
para o intercâmbio de expedências, de mante.r-se ao par da atualidade e de
aperfeiçoar sua fonnação pessoal, que jamais tennina. De fato, só superan-
do as próprias dillculdades é possível manter o equil.fb rio em si mesmo e
chegar à compreensão cada vez mais profunda da prática pedagógica e tera-
pêutica.

29
tão vivamente impressionados pelas possibilidades da eutonia,
que desejem aplicá-la o quanto antes.
Encontramo-n os aqui diante de um problema muito impor-
tante e difícil. Conhecemos excelentes professores que, depois
desses cursos informativos, têm reelaborado totalmente sua pró-
pria técnica de trabalho, relacionando-a com a eutonia, tanto
em se tratando de educação física, como de dança, expressão
corporal, ou mesmo no ensino geral.
Conhecemos também resultados notáveis obtidos por edu-
cadores de qualidade com uma abordagem totalmente nova,
aplicada a crianças e adultos nas múltiplas situações da vida diá-
ria, onde a eutonia encontra talvez suas aplicações mais úteis e
mais fecundas.
E desejamos lembrar aqui que a prática do tato consciente
oferece possibilidades infinitas de trabalho, sem nenhum perigo
de perturbar ou destruir o equilíbrio psicossomático dos alunos.
Por outro lado, é nosso dever advertir também aqueles que,
de boa fé, acham que podem dirigir verdadeiros cursos de euto-
nia, apesar de não terem o preparo necessário. Com efeito, não é
suficiente ter compreendido intelectualmen te o que é a eutonia;
é necessário principalment e adquirir o domínio do equilíbrio
corporal e psíquico, que permitirá enfocar de maneira muito
diferente a forma pela qual os alunos vivem as situações que lhes
são propostas.
É possível que depois de um ano de trabalho tenhamos a
impressão de ir muito bem, e às vezes realmente é assim, mas a
experiência demonstra que logo aparecerá o esclerosamento,
fazendo com que toda atividade seja mecânica e sem vida. O pro-
fessor de eutonia não segue rigorosamente um programa; ele
conduz o trabalho em função daquilo que vai sucedendo e dos
pedidos não-formulados mas que percebe nos indivíduos e nos
grupos, o que não tem relação alguma com uma improvisação
fantasiosa.
Também temos constatado que professores insuficiente-
mente preparados vêem-se tentados a alcançar resultados rápi-
dos por meio da sugestão, o que contraria muito a intenção da

30
eutonia. O professor deve ser capaz de guiar seus alunos de
modo a que estes sintam que seus progressos se devem, princi-
palmente, a seus próprios esforços.
O mais importante, no entanto, é que só o trabalho prolon-
gado sobre si mesmo, orientado para o perfeito domínio das
tensões emocionais e para o equilíbrio pessoal, permitirá obser-
var as verdadeiras reações do aluno. É necessário saber preveni-
-los para evitar dificuldades que poderiam ter graves resultados.
Sem essa formação e sem esse equilíbrio, o professor inex-
periente poderá inconscientem ente compensar certas dificul-
dades pessoais brincando de "mestre". Reforçará então a
dependência do aluno, dando as costas ao verdadeiro objetivo
da eutonia, que consiste, precisamente, em desenvolver em
cada um a possibilidade de ser seu próprio mestre.

31
11. Eutonia e pedagogia

Para ser pedagogo em eutonia, assim como para utilizar esse


método em terapia, é indispensável aprender primeiro a viver
a eutonia no próprio corpo. É a condição primordial, e é preciso
que se consiga exercer esta faculdade em todo lugar, não só em
um isolamento protetor, mas em quaisquer condições exteriores,
e mesmo em meio às influências perturbadoras da vida urbana.
Uma das tarefas mais importantes da pedagogia da eutonia
consiste em desenvolver no aluno a capacidade de observar, sem
preconceitos, as reações que se produzem em seu próprio corpo.
Particularmente, deve aprender a distinguir entre imaginação e
sensação real, e não se deixar levar por fantasias, tão nocivas
para o corpo como para o espírito.
A experiência de que todo pensamento, por mais abstrato
que seja, tem uma repercussão real no organismo inteiro, é a
base do trabalho em eutonia. Formas familiares em que pensa-
mos, como linhas retas, onduladas ou em ziguezague, círculos
ou triângulos, uma mudança de direção de uma linha fictícia,
formas que não acreditamos que tenham repercussão no corpo,
uma vez que foram apenas "pensadas", provocam, no entanto,
mudanças palpáveis e mensuráveis no tônus muscular e na cir-
culação. Cada um deve multiplicar e variar essas experiências.
Do mesmo modo, sentimentos como a angústía, o ódio ou
o ciúme são acompanhados de mudanças corporais. À angústia
corresponde freqüentemente uma hipertensão da região do perí-

33
neo, dos músculos do ventre e do diafragma. Para a maioria dos
alunos, a observação estritamente objetiva da sensação do corpo
é a primeira experiência impressionante, principalmente se for
intensificada por um ensino que não provoca somente mudanças
subjetivas, mas tamb ém mudanças que se podem medir (pulso,
temperatura, tônus). Basta dirigir a atenção, por exemplo, para
um pé e su as diferentes partes - artelhos, metatarso, tornozelo,
sola do pé ou articulações- para produzir, inclusive no não-ini-
ciado, mudanças sensíveis e mensuráveis da circulação e do tônus
muscular. Fazendo movimentos leves, os alunos notam uma dife-
rença evid ente com o outro pé.
A sensação pode variar consideravelmente, dependendo do
estado da pessoa. O indivíduo hipotônico sentirá o pé mais leve,
mais vivo , enquanto que o hipertôrúco o sentirá pesado. Um ter-
ceiro terá apenas uma sensação de calor formigante; outro, de
frescor. Num grupo numeroso, poucas pessoas farão as mesmas
observações.
Compreende-se, então, por que a eutonia evita, tanto quan-
to possível, a prática da sugestão. Os métodos baseados na suges;

---·
tão ao contrário da eutonia, baseiam-se em uma debilita~o da
consciente e. conseqüentemente, não ermitem ue pess
- obs
ª
realmen te os rocessos tal como os ex erimenta em seu
or an ~inado mom ~
---
É por isso que a eutonia, ~ sua prática pedagó~ca, ..nã.Q.i.
- = - Por outro lado, essas
com patível com o treinamento autógeno.
....._
técrúcas, cujo objeto é diferente, conseguem resultados terapêu-
ticos freqüentemen te preferíveis aos da quimioterapia.
Como já mencionamos, um mesmo exercício, realizado em
momentos diferentes, provoca na mesma pessoa reações diversas
ou opostas. A reação deve, pois, ser avaliada em relação com a
situação presente, a qual depende das ctisposições psíquicas e das
diferentes condições do meio ambiente, como a pressão atmos-
férica, a radioativid ade, etc. Essas experiências, que condicio-
nam totalmente a form a de trabalho pedagógico e terapêutico,
ensinam aos professores e aos alunos que não há uma solução
definitivamen te válida, e que não se devem ater a receitas que

34
tenham dado bons resultados, mas que convém reexaminá-las
constantemente de acordo com a realidade do momento.
É de suma importância que o professor desenvolva a capa-
cidade de observar o comportamento, a atitude corporal do
aluno, seus movimentos, o tônus, o ritmo respiratório e a quali-
dade da voz, a circulação, quer dizer, todas as manifestações não-
-verbais que indicam seu estado físico e psíquico. O professor
deve, além disso , experimentar em si mesmo o estado do tônus
do aluno.
O professor tem uma confirmação objetiva de todas as suas
observações e de suas próprias impressões subjetivas nos testes
aos quais nos referimos no capítulo anterior. Entre estes, as posi-
ções de controle permitem observar o estado articular e a elasti-
cidade muscular, enquanto que os movimentos passivos mostram
a capacidade do indivíduo para dominar sua inervação motora e
os reflexos miotáticos.
A partir dessas informações são organizados os grupos e as
aulas individuais.
O professor realiza em si mesmo a tarefa proposta. Por-
tanto , o que expressa é vivido e nunca apresenta uma repetição
mecânica. Raramente faz uma demonstração do trabalho pedido,
uma vez que não se trata de uma imitação mas, sim , de uma
transmissão de experiências. O aluno deve encontrar em si mes-
mo as leis de mudança de tônus, do reflexo postura! ou as con-
seqüências de um esforço dirigido. Ao propor um novo objetivo,
o professor permite que o aluno descubra essas leis e as reexa-
mine em situações sempre novas, de maneira que, em cada situa-
ção, chegue a descobrir em si mesmo uma nova unidade psicos-
somática.
As indicações se fazem numa linguagem clara sem tom
sugestivo, permitindo que cada um reconheça sua própria reali-
dade. Fala-se de temperatura do corpo, não de calor ou frio ;
pede-se ao aluno que sinta seu corpo, sem sugerir-lhe uma q uali-
dade (pesada ou leve).
O ponto de partida do trabalho prático pode ser muito dife-
rente, conforme se trate de formação profissional em eutonia,

35
de pessoas com dificll'ldades na execução de seu ofício (músicos
com problemas técnicos ou rítmicos, atores que sofrem de ner-
vosismo, bailarinos ou esportistas com músculos ou articulações
excessivamente cansados, etc.), de pessoas doentes que tenham
experimentado muitos outros meios antes de recorrer à eutonia,
de indivíduos que procuram desenvolver sua personalidade, a
consciência da realidade vivida e a descoberta de suas possibili-
dades criadoras.

O trabalho em grupo

As virtudes do trabalho em grupo já não precisam ser destacadas.


Para que um grupo se enriqueça com a diversidade das personali-
dades que o compõem, deveria ser constituído por pelo menos
oito participantes, com a condição de que o professor tenha
experiência suficiente para sentir separadamente cada elemento
do grupo. O ensino em grupo pode ser complementado, nos
casos necessários, por aulas particulares ou tratamen tos. Mas
mesmo que as múltiplas e profundas possibilidade da terapia
individual em eutonia obtenham resultados mul to rapidamente,
na maioria dos casos o aluno principiank.nã está ca acitado a
integrar conscienteme sas transfunn a ões na sua ima em
co 1 condição básica para extrair resultados duradouros do
ensino. Em vez de se tomar independente, o altmo corre o risco
de tomar-se dependente do professor. Só num estado posterior,
quando já tiver desenvolvido a fa culdade de observar as reações
de seu próprio corpo, tratamentos t ais como movimentos passi-
vos ex ecutados pelo professor poderão enriquecer consideravel-
mente sua imagem corporal.
Cabe assinalar no entan to que, no decorrer dos últimos dez
anos, o ensino em grupo tem alcançado, em casos de doenças
graves, resultados que só os tratamentos in dividuais pemlitiam
obter.
Num grupo, o aluno não se sente ·o bservado. Dispõe de
tempo para encontrar a maneira de trabalhar que lhe é própria.

36
Além disso, suas experiências o preparam para ser capaz de tra-
balhar sozinho.
O pro fessor observa a reação dos alunos e adapta a forma
do trabalho que propõe, até que cada um dos alunos se torne
consciente, por si mesmo, de seu próprio comportamento e do
comportamento dos demais. As diversas maneiras de alcançar o
mesmo fim enriquecem cada aluao, o que não se pode conseguir
em aulas individuais.
A formação profissional, em todo o caso, não pode ser
obtida através de um ensino individual. Toda a gama de possibi-
lidades de uma observação mútua no grupo, o contato próximo
com os companheiros, em cujo desenvolvimentc; cada um parti-
cipa por meio do seu próprio desenvolvimento, aprofundam a
compreensão de diferentes personalidades e desenvolvem uma
das qualidades fundamentais dos futuros professores: a capaci-
da rvar a expressão do corpo e o seu com ort a. _
Os estudos de movimento em grupo levam a um enriqueci-
mento incalculável e a possibilidades de expansão a que o indiví-
duo não poderia chegar sozinho. Este progresso nasce da neces-
sidade de adaptar seu próprio tônus, seu tempo, seu ritmo, aos
do grupo, sem perder-se em si mesmo. Desenvolveremos este
tema a propósito do movimento.

Tomada de consciência dos !:'SSos

No in ício, o desenvolvimento da tomada de consciência do sis-


tema ósseo constituía a etapa final da formação em eutonla.
Atualmente, consideramos que é importante começar este estu-
do o quanto antes: em primeiro lugar, para evitar a tendência
cada vez maior de largar o corpo com suas conseqüências (algias
de disco, do ciático, lombares) mas principalmente porque a
tomada de consciência dos ossos proporciona ao in dividuo uma
egurança interior e uma resistência que são da maior importân-
cia em nossa época de grande instabilidade. A vivência dessa
força interior, " o reflexo postura!" , libera a musculatura dinâ-

37
mica. por muito tempo desviada de sua função nas escolas de
ginástica tradicionais, e _pennite uma gr~E de mob.iE_~.'!9~·
Esta descoberta é essencial, não só para a formação física
geral, em ginástica, dança ou esportes, como também, e mais
ainda, em terapia.
O reflexo tônico postura! pode ser conseguido consciente-
meTi~ partir do arco do p é, passando pela tíbia, o perônio,
a articulação do joelho, o fêmur e a cabeça do fêmur, a articula-
ção do quadril, a cintura pélvica, e a parte superior do sacro em
direção à quinta vértebra lombar e através de toda a coluna, até
o atlas. Pode-se conseguir esse alinhamento não só a partir dos
pés, mas também a partir de qualquer outra parte do corpo: em
posição sentada, por exemplo, a partir do quadril. Chamei de
"transporte" esta utilização consciente do reflexo postura!, para
distingui-lo do reflexo postura! inconsciente.
Só quando experimentamos o "reflexo de transporte" em
todas as situações possíveis é que começamos a tomar consciên-
cia das formas ósseas exatas. Logo descobrimos que essa percep-
ção dos ossos produz um efeito regulador no tônus de todos os
músculos que estão em relação com os ossos realmente sentidos.
O fortalecimento da consciência do eu, obtido mediante o
desenvolvimento da consciência óssea e do relaxamento mus-
cular, é uma preparação de grande valia para diminur tensões
emocionais profundas, como as que se manifestam, por exemplo,
na musculatura do períneo, no diafragma, nos espaços intercos-
tais e na cintura escapular, Observamos que a sensação proprio-
ceptiva a nível das diferentes partes da coluna, da forma especial
dos corpos vertebrais, dos discos, da direção das apófises trans-
versas e espinhosas tem uma influência bem determinada em
cada segmento assim integrado na tomada de consciência to tal
do ossos e do organismo. Observamos sempre que falsas imagens
corporais, conscientes ou semiconscientes, em particular com
relação aos ossos, perturbam as funções corporais. Quantas inibi-
ções de movimentos, problemas dorsais e artroses de quadril
poderiam ser evitados se o professor de ginástica desenvolvesse
uma consciência real das articulações do quadril e da coluna ver-

38
tebral, ao invés de um conhecimento intelectual da anatomia. O
teste da imagem do corpo nos permite observar que os próprios
médicos raramente têm uma imagem correta do organismo vivo,
como por exemplo no que se refere à direção das costelas e do
esterno. Mediante uma nova consciência da realidade, uma respi-
ração normal inconsciente e a postura meiJ1oram consideravel-
mente.
A tomada de consciência das diferentes qualidades ósseas
(solidez, elasticidade, porosidade) e da medula óssea são as eta-
pas sucessivas que permitem viver a experiência da força vital
mais profunda.
Depois dessas tomadas de consciência parciais, a da totali-
dade do esqueleto geralmente só ocorre após anos de trabalho, e
às vezes no momento menos esperado.
O sistema ósseo, cuja eficácia está contida na beleza de
suas formas, tem em si todas as possibilidades do movimento.

O movimento

No ensino da eutonia, a ampliação da tomada de consciência


adquirida durante o trabalho no chão se integra nos movimentos.
Estiramentos em suas diferentes fonnas, jogos funcionais a par-
tir dos espaços determin ados pelas diferentes partes do corpo,
todos esses movim entos devem ser executados com a sensação
das variações do contato com o chão, a consciência do espaço
interior, uma respiração livre e a consciência dos ossos.
Esse trabalho se faz inclivldualmente, depois com um com-
panheiro e. finalmente, em grupo.
Nessa busca o aluno se apercebe das fi ações e d s limites
de seus movimentos, de seus próprios estereótipos. Estes podem
ser a expressão de distúrbios psíquicos agudos mas na maioria
dos casos trata-se de repetições de movimentos que expressam
estágios psicológicos já superados. Pode ser, também, que se
trate de imitação das atitudes ou dos movimentos de outras pes-
soas (modelos, pais, prof ssores o u artistas célebr ) ou da ado-

39
ção do estilo de movimento de diferentes técnicas de dança (balé
clássico, jazz, dança moderna). Quanto mais o indivíduo esti-
ver marcado por um estilo, mais difícil lhe será perceber que sua
capacidade de expressão ainda não está desenvolvida.
Ao longo dos meus estudos nos congressos de ginástica e
dança a que assisti, era muito raro ver alunos que tivessem uma
expressão de movimento que lhes fosse própria, mesmo quando
a "liberação da personalidade pelo movimento" constava em
todos os programas. Muito pelo contrário, podíamos reconhecer,
na vida cotidiana, em que escola cada um se tinha formado. Evi-
dentemente, os grandes artistas, como Mary Wigman ou Rudolf
von Laban, impregnavam com sua própria personalidade cada
membro de seu grupo, para realizar suas próprias criações de
dança. Mas na pedagogia do movimento, acima de tudo, temos
que dar lugar ao desenvolvimento da expressão pessoal de cada
aluno.
Mesmo no ensino das leis naturais do movimento, é neces-
sário dar bastante tempo ao aluno para que ele mesmo possa
fazer descobertas de acordo com seu próprio ritmo, antes de se
adaptar ao que lhe será imposto dentro de um grupo .
Tentei encontrar um caminho que permitisse a cada aluno
descobrir suas próprias possibilidades de movimento e expressão
e_que, ao mesmo tempo, lhe possibilitasse desenvolver suas capa-
cidades artísticas e sociais mediante uma regularização e uma
adaptação conscientes do tônus .
Esse caminho propõe, antes de tudo, exercícios de expres-
são, simples movimentos destinados a explorar todas as possibi-
lidades articulares e musculares do corpo, praticados com urna
consciência corporal global.
Cada aluno experimenta a multiplicidade de suas possibili-
dades sem demonstração alguma por parte do professor sem
indicação de ritmo ou de forma e sem acompanhamento m~sical
que estimule. Alguns alunos já descobrem nesses exerc ícios for-
mas de expressão incalculáveis, enquanto outrc.s precisam de
meses de trabalho e de busca antes de poderem liberar-se dos

40
exemplos tradicionais e de encontrar o desejo e a força para rea-
lizar seu modo próprio de movimento.
Durante as observações mútuas, o grupo reconhece esponta-
neamente que cada aluno revela uma imagem clara de sua situa-
ção psicológica. No decorrer da experiência, cada um vive em
seu próprio corpo o movimento do outro, qualquer que seja o
grau de consciência corporal global que os participantes tenham
alcançado.
Esse modo de participar no movimento do outro cria uma
atmosfera particular nas sessões: presença do grupo, unidade
entre executantes e observadores.
Uma vez que o tema do movimento tenha sido desenvol-
vido em todas as suas possibilidades de improvisação, o aluno
retém os motivos do movimento que lhe parecem melhores,
numa forma fixada que permita a repetição. Essa forma não é
determinada a partir do ex terior, arbitrariamente. A forma inte-
rior, já contida em germe nas improvisações anteriores, é extraída
e modelada até que forma interior .e forma exterior sejam uma
só. Durante as repetições necessárias, o movimen to deve conti-
nuar sendo vivido. A presença necessária para realizar, num mo-
mento dado, urna forma criada por nós mesmos exige uma disci-
plina espiritual tão grande quanto a exigida por uma meditação.
Mas a consciência do espaço interior, com seu centro de gravi-
dade na coluna e a respiração liberada das tensões emocionais,
deve poder se realizar tan to na ação como na calma e isolamen-
to. No jogo dinâmico do movimento, com a consciência de seu
próprio espaço interior, aparece a relação com o espaço exterior
e o espaço corporal dos outros. Desenvolve-se uma nova cons-
ciência que inclui, num mesmo momento, o interior e o exterior.
As exigências dessa realização podem ser momentaneamente
sentid as como uma limitação ao livre desenvolvimento. No en-
tanto, organizar o espaço à nossa volta integrar-nos a outros rit-
mos, ê uma necessidade fu ndamental do ser ltumano. Certos
rituais de antigas culturas, as cirandas e os jogos infantis podem
nos proporcionar muitos exemplos. Os próprios jovens, ao m s-
mo tempo que rejeitam as estruturas sociais, tentam obter a

41
satisfação dessa necessidade em certas formas populares de
ritmo e de danças que, apesar de rigorosamente ordenadas, con-
têm sempre uma parte de expressão corporal.
Mas para a eutonia essas primeiras realizações não têm inte-
resse, a não ser por conduzirem a uma etapa nova e fundamental:
a objetivação da situação pessoal, que representa um momento
importante no conhecimento de si mesmo. Encontrar uma forma
não é uma exigência só artística, mas também pedagógica, pois
a partir das soluções encontradas mutuamente, descobrem-se as
bases da utílização do espaço e do equilíbrio entre o conteúdo
I
e a forma. Naturalmente, não julgamos o resultado seguindo cri-
térios puramente artísticos, para não desestimular alguns alunos.
Por outro lado, no decorrer de Sua formação, revelam possibili-
dades de desenvolvimento sempre maiores do que as manifesta-
das no começo.
A execução de movimentos criados or outras essoas er- t
mite- cteSCObrírCflficuldades gu ~ nãoJ_e co eciamJ_ já que cada
um oculta inconscientemente suas maiores fraquezas nos seus
-- - - - - -
próprios estudos de movim~n.!Q§:
Para evitar que alunos que não têm uma grande necessidade
de expressão caiam em repetições de movimentos ou, tendo que
cumprir um determinado trabalho, se percam em clichês senti-
mentais sem base real, não se escolhem temas com conteúdo
emocional, exceto nos casos em ue há firu!lidade teraQ~.
Pode acontecer que necessidades profundas sejam expressadas
espontaneamente no decorrer das improvisações ou do trabalho.
Em compensação, atribui-se maior importância à hamoni-
zação do psicotônus, à fluidez do tônus de base que permite
expressar toda a escala da sensibilidade humana.
Na educação musical, na rítmica e na musicoterapia, tenta-
mos adquirir a h armonização e mobilidade do tônus por influên-
cia da música. Na eutonia, começamos pela tomada çk cons-
_ciência e liberação das_ (IXa_ções tônicas 1 que são manifestações
d inibições ou de traumatismos, freqüentem~ote de origem
psíq uica.
Uma vez obtidos a regularização e o equilíbrio do próprio

42
. t_Qnu~, é n_~º"~sário ~_çlª tá-los a yarijlções..maiores do ue as do
temperamento pessoal. Em alguns, essa possibilidade de adapta-
ção está muito desenvolvida, em outros é fraca e deve ser libe-
rada. Em todas as atividades artísticas, por outro lado, traba-
lhou-se sempre sobre a capacidade de adaptação tônica. Quando
- ~
um ator entra na pele de um personagem e o recna por me10 de
suas atitudes, seus moviiüentos e suavoz, este é produto rillci~
__E almenll!_de uma transformação do seu própriÕ tônus. o maestro
de orquestra ou o músico, para incitar os ouvintes a segui-los e a

I' __
vibrar com eles, devem ex eri e tar em odo o co o a dinâ-
mica da música
musical.
..-
e de cada um dos elementos da compoj iç[.o

O resultado liberador e terapêutico de todos os grandes


acontecimentos artísticos vividos, a catarse provocada pelos dra-
mas gregos, as curas através da música, provêm do fato de o
t no indivíduo, de repente ser liberado.
tônus ue estava
'
Toda
-
interação social, se é vivida sinceramente e não se
limita simplesmente a uma compreensão intelectual, é acompa-
nhada por uma mudança de tônus.
Por essas razões, a regularização do tônus e sua adaptação
ocupam o lugar central na pedagog:1 da eutonia. Desde o come-
ço, tentamos conscientemente consegui-las, primeiro em situa-
ção de repouso, depois em movimentos simples, até Q perfeito
jogo de conjunto com o companheiro ou com o grupo no qual
ninguém dirige nem é dirigido, mas onde um impulso comum se
realiza no espaço.

Contato com os outros

O tra balho em eutonia tem repercussões mtri to importantes no


desenvolvimento pessoal do indivíduo e na natureza de suas
relações com o meio e com os outros. O leitor já pôde tomar
consciência desse fato através do que expusemos até aqui.
Mas falta ainda alertar os "aprendizes de feiticeiros", adep-
tos de métodos novos mais ou menos assimilados ou desviados

43
tle suas finalidad es originais, que podem apresentar graves peri-
gos. Procuramos evitá-los, tanto na formação dos alunos profis-
sionais como nos aspectos pedagógicos ou terapêuticos de nosso
trabalho.
Nunca com eçamos, com adulto , por exercícios de tato e
de contato dos alu nos entre eles. Num contato corporal, a trans-
missão do tônus muscular e das tensões neurovegetativas é con-
sideravehnente reforçada. Nisto se baseia a terapia na eutonia.
Em casos simples de distonia, às vezes basta um toque consciente
do pedagogo para transmitir seu equilíbrio tônico ao aluno.
Em compensação, se esse toque se realiza entre os alunos, esse
contato talvez possa aju dar aqueles que têm dificuldades pes-
soais em sair momentaneamente de seu isolamento, mas tem
como conseqüência o fat o de cada um transmitir a própria de-
sordem ao outro. Dizer que deste in tercâmbio de desequilíbrios
resulta um maior equiUbrio e mais liberdade está muito longe
da realidade.
Como na nossa época a maioria das pessoas é incapaz de
reconhecer tais influências, estas permanecem inconscientes, o
que as toma ainda mais nocivas. Profissionais responsáveis, espe-
cializados em diferentes técnicas de terapia de grupo baseadas
no toque direto do corpo, têm consciência desse perigo e, em
muitos casos, como conseqüência de tais experiências, insistem
na necessidade de uma psicoterapia prolongada.
Em eu tonia, não se fazem exercícios de contato e de toque
entre os alunos enquanto a regularização de seu tônus não tiver
alcançado um estado de equilíbrio tal que não possa prejudicar
o dos outros. No decorrer de várias décadas de prática, adquiri
a certeza de que o contato com os outros é estabelecido mesmo
sem contato corporal direto, tão logo se tenha obtid o a regulari-
zação do tônus e do equilíbrio neurovegetativo por meio de
exer ícios de contato com o chão, com o espaço em volta e com
os objetos da vida cotidiana.
Assim, a pessoa desequilibrada não se libera de suas fixações
habituais de forma repentina. Tendo vivido e compreendido
seus comportamentos, orienta-se con cien temente na direção de

44
um novo equilíbrio de suas forças vitais e de suas possibilidades
criadoras.
A ampliação do consciente não é fruto de imagens mais ou
menos vagas ou de experiência místicas. Afirma-se pouco a
pouco por meio de exercícios precisos e conlínuos que aguçam
a sensibilidade proprioceptiva.
Dispomos então de novas capacidades, não só na vida pes-
soal mas também na vida profissional, quer se trate de atividades
práticas, intelectuais, artísticas ou terapêuticas.
A este respeito, devemos lembrar que o comportamento de
cada indivíduo influi física e psiquicamente sobre aqueles que o
rodeiam. Nosso comportamento reflete nosso inconsciente e
repercute no inconsciente dos outros, o que, por sua vez, pro-
voca uma mudança de seu comportamento.
Desta forma, o aluno observa mudanças no clima de seus
relacionamentos e atividades, ou em sua vida familiar, que pode,
assim, recobrar certa harmonia, enqua nto q ue desaparecem
alguns desequilíbrios observados em seus filhos.
Do mesmo modo, quando duas pessoas são muito ligadas
e a base do entendimento mútuo é sólida, se uma delas começa
este trabalho em si mesma, a outra logo sente necessidade de
segui-la.
A capacidade de vivenciar um contato mais profundo toma
possível uma união mais completa com o outro. Dá, àqueles que
a vivenciam , uma nova dimensão da sexualidade. Proporciona a
mais intensa das vivências de qu e o homem é capaz, uma liberta-
ção tão profunda e uma paz interior qu jamais poderiam ser
alcançadas através de vivências sexuais que não tomem a perso-
nalidade como um todo.
Dessa maneira é possível ver o quanto o trabalho realizado
para adquirir nosso próprio equilíbrio na unidade psicossomá-
tica, a compreensão de nosso inconsciente e, em geral, de nossos
detennln ísm os, podem trans ormar nossas relações sociais.
As ex.periências em eutonia mostram que a cada mudança
de campo de observação (espaço os o, massa) corresponde uma
mudança a nível do corpo, cujow efeitos podem ser medid os e

45
facilmente observados. Todo trabalho com o corpo, funcional
ou não, influi na personalidade inteira, mesmo que nem sempre
tenhamos consciência disso.
A experiência refere-se à pessoa, enquanto conjunto. Os
alunos integram na sua imagem corporal, pouco a pouco, zonas
que permaneceram no inconsciente, e situações emocionais repri-
midas podem fazer-se presentes.
Esse "saber" cresce com o aprofundamento da consciência
corporal, e um equilíbrio dinâmico consciente do tônus, da res-
piração, da atitude e do movimento, melhora com freqüência, e
muito profundamente, o estado psíquico.
Tomou-se comum dizer que não há divisão entre corpo e
espírito. Mas se o corpo também é espírito, se contém as marcas
do consciente e do inconsciente individual e coletivo, deve tam-
bém poder expressar, através das riquezas infinitas da sua consti-
tuição e de seu desenvolvimento, a totalidade de cada personali-
dade única, assim como todo o passado da humanidade e todas
as potencialidades do devir da espécie que ele traz em si.
É a esta conquista interminável que a eutonia nos convida.

46
111. Eutonia e terapia

Não é possível, em eutonia, separar os aspectos terapêuticos dos


pedagógicos. Em essência, os objetivos são os mesmos:
- n01malização do esquema corporal por meio da tomada
de consciência da sensibilidade superficial e profunda;
- harmonização, desenvolvimento e adaptação do tônus;
- regularização da circulação e da respiração inconsciente,
por meio de uma ação sobre o equilíbrio neurovegeta-
tivo;
- tomada de consciência do reflexo proprioceptivo postu-
ralO), considerado como fundamento pedagógico da
postura e do movimento;
- desenvolvimento da força máxima com um mínimo de
esforço.
O objetivo deste programa é capacitar a pessoa para que
equilibre seu tônus, para que se adapte às influências provenien-
tes do ambiente e para que desenvolva sua capacidade de con-
tato. Por isso, mesmo os doentes graves não são considerados
pacientes mas, sim, alunos.
O professor ajuda o aluno a ser atento aos efeitos que a ati-
tude pessoal exerce sobre seu próprio corpo. O tratamento per-
mitirá a um hipertônico descobrir a vivência de um estado de

(1) Lembremos que chamamos "transporte" a esta utilização cons..


ciente do reflexo postura!.

47
calma, ao hipotônico a leveza e a vivacidade que um tônus mais
elevado proporciona, e ao asmático uma respiração livre. Mesmo
nos casos graves, em que o professor se encarrega da maior parte
do trabalho, deve ser solicitada a atenção do aluno. ,
Se, pela experiência, se conhecem certas formas de regula-
ção tônica particularmente eficazes em doenças bem precisas,
não se devem aplicar automaticamente modelos de tratamento.
Os resultados da terapia dependerão da situação psicoló-
gica e fisiológica do organismo nesse momento, e das influências
atmosféricas. Para um mesmo aluno, os tratamentos poderão ser
muito diferentes, e até mesmo opostos, de uma sessão para
outra, dependendo do estado da pessoa, cujo nível tônico pode
variar de um dia para outro.
t fundamental, portanto, mais ainda do que na pedagogia
tradicional, não prever um desenvolvimento sistemático do tra-
balho, mesmo qua ndo for necessário repetir muitas vezes o trata-
mento. Por exemplo, para utilizar a técnica do "transporte" na
reeducação dos quadriplégicos, será necessário modificar, a cada
vez, a forma dos exercícios, evitando assim uma repetição mecâ-
nica que ameaçaria diminuir a " presença" do doente. Esta é a
condição primordial para atingir a unidade psicossomática, da
qual dependerá a eficácia do tra tamento.
Todo professor deve ter aprendido em si mesmo aquilo que
deseja que seu aluno descubra. Aquele que ainda apresenta ten-
sões no diafragma ou no períneo será incapaz, mesmo com a
melhor das técnicas, de ajudar um neurótico angustiado a norma-
lizar sua respiração inconsciente. Sem um trabalho de base sobre
si mesmo não se pode praticar a terapia. Esta regra é realmente
fundamental. Como já dissemos. são necessários de três a quatro
anos para que o professor possa sentir-se e liberar as tensões dos
outros em profundidade, sem que seu próprio equilíbrio seja
afetado.
Ao primeiro toque, o professor registra o estado das ten-
sões e fixações no outro. Observa as alterações na respiração, o
pulso, a circulação, os movin1entos oculares, o reflexo de deglu-
tição e as transformações faciais, que formam um conjunto de

48
reações. Estas observações determinarão a modalidade e a dura-
ção do tratamento.
A sensibilidade manual do professor deve ser especialmente
desenvolvida para que ele possa registrar as variações da textura
da pele, do tônus muscular e da consistência dos órgãos. Certos
tratamentos exigem uma igualação das forças que se aplicam à
direita e à esquerda. Outros requerem uma alternância dinâmica,
e outros, finalmente, um trabalho diferenciado de cada dedo
num mesmo momento. Como a pedagogia, a terapia requer, por
parte do professor, uma atitude pessoal equilibrada, aberta e
atenta, uma neutralidade que respeite integralmente a persona-
lidade do aluno. Não deve sufocá-lo com sua onipotência, nem
tratá-lo maternalmente, mas sim ajudá-lo a empreender o cami-
nho para a tomada de consciência. O professor que sente neces-
sidade, para sua auto-afirmação, da admiração e da dependência
dos alunos, não tem capacidade par3.fssumir tal papel.
A maioria dos alunos procura a terapia por causa de distúr-
bios psicossomáticos e neuróticos. A tomada de consciência da
superfície tocando o meio ambien te (chão, utensílios, etc.) leva
a uma regulagem tônica global, e rapidamente se obtém um alí-
vio dos sintomas. Os casos graves de insônia, os distúrbios cir-
culatórios, os tiques, as dores em um membro-fantasma, desapa-
recem gràças a essa consciência da superfície corporal utilizada
na técnica de contato. Isto demonstra a importância fundamen-
tal do órgão da pele para o equilíbrio das tensões do organismo.
No que diz respeito â técnica de contato, mJn.has pesquisas me
levaram a descobrir que as reações são mais pronunciadas em
certas zonas da pele e do tecido conj untivo. Essas localizações
coincidem sensivelmente com as de Head, as de Dicke-Leube e
a acupuntura chinesa.
O ponto de contato pode ser 'prolongado", consciente-
mente, da pele para o exterior: para o chão, para as varas de
bambu u as bolas e, na situação terapêutica, para a mão do
professor, que pode reforçar a descarga, caso seja necessário.
Se, pelo contrário, o tera peuta projeta seu pon to de contato
para o espaço interior do aluno pode aumentar as dores reumá-

49
ticas, por exemplo, e as tensões gerais. Esse contato, no entanto,
melhorará a circulação nos poliomielíticos e devolverá a sensibi-
lidade ao paraplégico ou quadrip1égico. No caso das nevralgias,
o efeito dirigido para o interior aumentará a dor até torná-la
insuportável. O contato orientado para o exterior, ao cont rário,
aliviará a dor imediatamente. No asmático, a ação para o inte-
rior provocará uma crise, enquanto que a descarga poderá acal-
mar e curar. O professor deve estar capacitado para determinar,
em cada caso, a modalidade de contato que se faz necessária
para conseguir o equilíbrio do tônus.
O fato de os alunos se verem livres de sofrimentos agudos
certamente é o que mais os interessa. O professor deve ajudá-los
a compreender que seus distúrbios são conseqüência de posturas
e reações viciosas que estão presentes em todas as suas manifes-
tações corporais, desde a respiração e o andar até cada pequeno
movimento da vida cotidiana, e que geram continuamente novos
sintomas.
Muitas destas reações viciosas, que se podem observar na
tensão da pele, do tecido conjuntivo e da musculatura, têm ori-
gem na primeira infância, por exemplo, numa comunicação mais
ou menos negativa entre o recém-nascido e sua mãe.
Com a regulagem do tônus e da respiração, podem aflorar
reminiscências da infância e mesmo da hora do nascimento. As
pessoas lembram-se, então, de terem estado presas num conduto
estreito, sentindo uma angústia terrível provocada por uma mu-
dança brutal na sua respiração. Gostaria de fazer referência, aqui,
à obra do dr. Leboyer, autor de La Naissance sans violence(*),
que mostra como é possível reduzir a um mínimo os traumatis-
mos do nascimento, por meio da adaptação progressiva ao meio
atmosférico : põe-se a criança em contato direto com a mãe, na
penumbra, durante o perído de modificação respiratória, em
que a criança se desliga da mãe. É importante lembrar também
o livro de Ashley Montagu sobre o contato mãe-filho.

(*) Nascer Sorrindo, Brasiliense. (N. do T.)

50
A comunicação entre mãe e filho se mantém depois do nas-
cimento, por meio do ajustamento tonal(2).
Desta maneira, a criança padece todas as tensões provenien-
tes da mãe e do ambiente. É por isso que a criança problemática
quase sempre apresenta melhora quando seus pais começam a
trabalhar para recuperar seu próprio equilíbrio. Esta constdta-
ção é importante, pois a experiência nos mostra que os pais das
crianças trazidas para o tratamento apresentam, freqüent~:;mente,
desequilíbrios vegetativos.
A criança adquire seu modo de respirar da pessoa mais
próxima dela, o que tem influência sobre seu sistema vegetativo
e seu metabolismo. É possível que isto também prcy are o terreno
para problemas de linguagem.
Inúmeros distúrbios na atitude e no movimento, que só se
manifestarão mais tarde, provêm freqüentemente de uma imita-
ção do ambiente familiar e educativo.
O treinamento excessivamente precoce do controle dos
esfíncteres pode provocar distúrbios na tonicidade dos apare-
lhos digestivo e geniturinário, do períneo e do diafragma, che-
gando até a gerar frigidez e neurose de angústia.
Os pais que não sabem esperar o momento em que a criança
está preparada para adotar posição vertical, e a estimulam inces~
santemente, provocam uma sobrecarga na musculatura dos mem-
bros inferiores, na pelve e na espinha dorsal. Essa conduta deter-
mina, freqüentemente, fixações de tônus e encurtamentos
musculares, difíceis de serem completamente corrigidos.
Se a isso for acrescentado um treino de ginástica, durante
o período escolar, visando unicamente ao reforço dos músculos
dinâmicos, o processo será agravado. A utilização da muscula-
tura dinâmica para cumprir a função tonal leva a uma diminui-
ção da mobilidade e da flexibilidade. A faculdade de reflexo
tônico postura! diminui, a sobrecarga da musculatura reforça a
pressão da cintura pélvica e dos órgãos internos sobre as cabeças

(2) Cf. Henri Wallon.

51
femorais e a articulação das cadeiras, abrindo inexoravelmente o
caminho para a artrose de quadril.
Também poderíamos citar o exemplo da criança obrigada a
comer sentada diante de uma mesa muito alta. Obrigada a levan-
tar os ombros, não pode deixar livre a articulação escápulo-ume-
ral, e nem a suspensão do braço. Uma vez fixada , essa atitude
defeituosa reaparecerá no aprendizado da escrita, principalmente
quando este for mal conduzido . Freqüentemente observa-se que,
em vez de permitir-se ao aluno que utilize livremente todo o seu
corpo para traçar no espaço todo tipo de figuras com o jogo de
movimentos que lhe dêem prazer, figuras essas que reencontrará
na escrita, o que se faz é ~brigá-lo, desde o início, a imitar pe-
quenos gestos, sem uma vivência da totalidade. Esse aprendizado
mecânico especializado não faz senão favorecer a crispação dos
ombros, braços e mãos, as tensões respiratórias e as crispações
do diafragma, da musculatura intercostal, das mandíbulas e da
garganta. Mais tarde, ele terá aquilo que se costuma chamar de
cãimbra de escritor.
É necessário lembrar também que muitas das tensões e
inibições foram, na infância, um meio de dominar o impacto da
angústia, da solidão, dos impulsos sexuais reprimidos. Posterior-
mente, .elas se tornarão inconscientes, habituais e mecânicas,
tornando impossível uma qualidade de emoção verdadeira.
A explicação intelectual das origens psicossomáticas dessas
tensões não é suficiente. A realidade dessa relação entre psique e
soma pode ser percebida com clareza, e as tensões podem desa-
parecer pelo restabelecimen to da sensibilidade das zonas segmen-
tárias reduzidas pelos tabus da educação.
Por meio da sensibilização(*) serão curados certos tipos de
esterilidade no homem e na mulher, assim como certos tipos
de frigidez. Por meio da supressão das fixações tonais na região
perineal, no diafragma, nos músculos intercostais e na laringe

(*) Quando a autora se refere a sensibilização não diz respeito a tra-


balhos de sensibilização difundidos em nosso meio mas simplesmente tor-
nar sensível, recuperar. (N. do R. T.)

52
libera-se a pessoa da neurose de angústia, tornando-lhe possível
descobrir, por exemplo, o prazer da expressão oral. Ao mesmo
tempo, a inibição das manifestações agressivas será transformada
'em imp ulsos criativos e manifestações emocionais positivas.
Todas essas tensões foram, em seu momento, inibições intencio-
nais ~ por meio das quais se tentavap reduzir emoçõ~s indesejá-
veis como o medo, o temor da solidão ou os impulsos sexuais
excessivamente fortes . Pouco a pouco, a repetição constante as
converteu em reações inconscientes que impossibilitam uma
intensidade autêntica de sentimentos e sensações.
_A_ liberação dessas fixações poderá provocar dores, que
representam os primeiros sinais de reintegração, na totalidade
<ro- sef, a éssas zonas rejeitadas. Não é raro produzirem-se crises
de riso ou de choro ou uma hiperventilação prolongada e pro-
funda até que se restabeleça a respiração normal.
É possível que durante a terapia eutônica aflorem à cons-
ciência as causas totalmente esquecidas desses distúrbios.
Espontaneamente reaparecerão lembranças da primeira
infância, como a angústia de ter estado só ou numa situação
desconfortável. Isso não surge sob forma de imagens, mas é
vivido dinamicamente e com a totalidade sensorial primitiva,
aomesmo tempo que há uma percepção simultânea das rela-
ções estreitas entre a situação vivida anteriormente com a
situação presente~
- Nos psicanalistas e naqueles que passaram por uma análise
tradicional, a eutonia permite um ressurgimento de aspectos da
etapa pré-verbal, o que não acontece na análise clássica. Por
experiência posso afirmar que certas reminiscências pré-verbais
oferecem uma riqueza, um brilho: uma globalidade mais intensa
do que as da etapa verbal.
É possível encontrar este despertar tanto no trabalho indi-
vidual como no grupal, sem que haja um objetivo terapêutico
preestabelecido. É fácil verificar objetivamente as liberações de
fixações de tônus mais habituais.
Estou convencida de que, se a comunicação pelo tato e a
adaptação tonal do indivíduo tiverem ocorrido de forma harmo-

53
niosa na época pré-verbal, o indivíduo será capaz e se com or-
tar de maneira mais equilibrada diânte dos confli!os que lhe são
colocados pela existência.
Essa capacidade de adaptação tonal não é própria somente
da infância, mas continua sendo possível durant toda a vida.
Notadamente nos artistas, constitui a condição fundamental
para que se possa, por exemplo, viver e interpretar a música,
assim como para que alguém possa experimentar em si mesmo
as dificuldades e alegrias dos outros. Um indivíduo fixado num
tônus rígido é incapaz de conseguir essa aproximação empática.
A liberação das fixações tonais influi também sobre a ati-
tude social como demonstra o exemplo seguinte.
Oito mulheres neuróticas vieram me consultar, pedindo
cada uma delas um tratamento individual. Inspirada pelas idéias
pedagógicas de Rudolf Steiner, que costumava organizar à tra-
balho em grupos de pessoas que apresentavam traços comuns,
eu experimentara esse método com crianças, e tivera êxito . Ten-
tei então o tratamento conjunto dessas oito pessoas. Cabe recor-
dar que naquela época não existia ainda terapia de grupo. Todas
as pacientes protestaram , negando-se a trabalhar em grupo. Eu
me mantive firme, e elas aceitaram assistir à primeira aula. Esta
transcorreu sem que nenhuma delas pronunciasse uma só pala-
vra. Cada uma tomou seu lugar sobre o tapete, mantendo-se dis-
tante das outras.
Seu protesto mudo foi diminuindo nas duas sessões seguin-
tes. Na quarta aula, experimentei o exercício do bastão susten-
tado por duas alunas: nunca esquecerei a atitude de todas elas,
cada uma expressando claramente o desprazer que sua compa-
nheira lhe provocava. Protesto vivo, e uma prim eira con cordân-
cia quanto à repulsa, mas uma porta estava aberta à comunica-
ção. Desenvolveu-se depois uma verdadeira terapia de grupo, na
qual minha participação foi mínima . E xpuseram seus problemas
familiares e pessoais. Organizaram encontros amigáveis fora do
instituto. Se uma das senhoras chegava a participar casualmente
num outro trabalho de grupo junto a principiantes, expressava
viva indignação pela falta de contato.

54
'
As oito mulheres tinham começado a trabalhar em outubro
de 194 7. No mês de fevereiro seguinte, durante um inverno
muito rigoroso em que tivemos temperaturas de -3so com
escassez de carvão, as participantes do grupo se organizaram '
para viver algumas semanas nas casas daquelas que ainda tinham
aquecimento. Uma delas se encarregou de cuidar de um bebê
durante um ano. O grupo continua a trabalhar uma vez por
semana durante anos, descobrindo sempre novas aplicações da
eutonia na vida diária e na educação dos filhos. As neuroses
desapareceram definitivamente.
No entanto, nem sempre encontramos na terapia esta capa-
cidade congênita de contato. Quando a criança, durante seu pri-
meiro ano de desenvolvimento, é marcada por uma total ausência
de contato afetivo, ou se é negligenciada em favor de outras
crianças, ou ainda se é confiada a uma pessoa que não tem con-
tato com ela, não terá confiança nem em si mesma nem nos
outros. Mesmo que se saia bem, como adulto, no plano social
ou familiar, sua atitude fundamental refletirá, nos seus contatos
sociais, a carência que sofreu durante a infância. Nem mesmo
tomando consciência dessa inibição ser-lhe-á possível recuperar
uma atitude espontânea. Braathj, um psiquiatra norueguês, em
seu livro De Nervose Sind , chega a falar de traumatismos de ter-
ceiro grau, numa classificação análoga à das queimaduras graves.
Mas é totalmente diferente a terapia nos casos de lesão cere-
bral (espásticos, por exemplo). Aqui será necessário pôr em jogo
todas as possibilidades pedagógicas e uma permanente criativi-
dade, a fim de captar o interesse da criança a cada momen to.
A observação consciente do tato é a base desse trabalho.
que, por meio d a regulagem do tônus, dará rapidamente bons
' resultados. Quando a idade da criança o permi tir, será possível
levá-Ia a estudar por si mesma o tato consciente nas diversas posi-
ções des eus mem bros em relação ao solo. Pode-se fazê-la sentir
as diferentes características ã os tapetes , dos pisos, das bolas, dos
- bastões, por meio de todÕÕseu corpo. O professor obs ervarão _

- -------
grau de atenção, Jâ tnHoda execu -ã mecânicasechõe"a contra
1Toss s metas. Ot rabalho fundamental consistirá na percepção

55 --
global do corpo (cabelos, orelhas, cabeça olhos nariz boca, lín-
güá, ar anta 1 · e et om o ob 'etivo de re ularizar_g tônu .
g obal, particularmen te útil para aprender a falar. Essa consciên-
cia mrus ou menos "'"Pfecisa da pele deve ser constantemen te exi-
gida, até chegar à integração total, primeiro em posição deitada,
depois sentada e de pé, utilizando o tato com as roupas, móveis
e paredes.
A utilização dos movimentos eutônicos com equilíbrio dos
músculos agonistas e antagonistas, com consciência dos prolon-
gamentos através do espaço, confere aos atetósicos o equilíbrio
do tônus em todo seu corpo. O transporte é sumamente impor-
tante em todos os casos, e não só naqueles que não conseguem
ficar na posição de pé.
Neste último caso, todo o êxito do trabalho depende da
capacidade do professor para dar e dosar de forma precisa os
estímulos que desencadeiam o transporte. São exercidas pres-
sões suaves de diversos tipos, sob a forma de vibrações conscien-
temente sentidas e dirigidas pelo professor, que dirige a cons-
ciência do transporte desde a articulação do quadril, diâmetro
menor da pelve, até a quinta vértebra lombar e até o atlas, des-
cobrindo assim os bloqueios da coluna vertebral. Essas vibrações
e essas sensações indicarão ao professor qual poderá ser a evolu-
ção da sua ação estimuladora. Dá-se início a estas fazendo vibrar
desde os ísquios, depois os trocanteres, e em seguida a partir dos
joelhos até os pés. Esta última estimulação aplica-se primeiro de
forma simultânea e depois alternada, conservando neste caso a
continuidade do transporte, até que o mesm o se mantenha está-
vel desde a sola dos pés até a cabeça, m esmo que os estímulos
variem ritmicamente. As crianças resplandecem durante este
exercício, e até os débeis mentais reagem com um vislumbre de
inteligência no olhar.
Os que rod eiam a criança logo verificam as suas m udanças
de comportamen to. Ela fica mais atenta, e suas reações são mais
vivas. Pode-se perceber tam bém como o alinhamento da coluna
exerce influência sobre a men te. Isto ilustra perfeitamente a
etapa mais importante da humanid ade, em que o ser humano,

56
ereto, toma-se realmente homem. Isso representa um passo
importante na evolução do homem em direção à consciência de
si mesmo .
Os resultados de todo esse trabalho dependerão da capaci-
dade do professor para despertar o reflexo proprioceptivo tônico
postura!, que o aluno nunca havia experimentad o antes, empre-
gando a estimulação necessária, utilizada com precisão, delica-
deza e sem excessos.
Vejamos alguns exemplos de tratamentos aplicados em
casos muito diversos. Começaremos por fazer referência a um
paciente espástico de cinco anos, gravemente afetado e com um
diagnóstico de "retardamento profundo". Depois de um ano de
observação num hospital da Universidade de Copenhague; resol-
veu-se enviá-lo a uma instituição onde se recebiam os casos con-
siderados incuráveis. O professor Plum, chefe do serviço de
pediatria da Clínica Universitária de Copenhague (Rigs Hospi-
tal)(3) me havia solicitado que aplicasse a eutonia em doentes de
seu pavilhão. Assim, encontrei esse menino numa das minhas
visitas com o médico, e um brilho que observei em seus olhos
me fez dizer: "Este menino não é um oligofrênico irrecuperá-
vel". O professor Plum me autorizou a fazer uma tentativa, em-
bora ele não tivesse nenhuma esperança. Depois de três semanas,
o menino, ao erguer-se pela primeira vez, exclamou : "Ka selv"
("Posso sozinho"). Três meses depois era capaz de sentar-se ,
levantava-se com a ajuda de seus braços, conúa e bebia sozinho.
Foram necessárias várias semanas para que aprendesse a sen tir
seus lábios e a fechar a be ca. Eu e um de meus professores tra-
balhávamos diariamente duran te várias horas. Depois de seis
meses o desenvolvimento do menino lhe permitia assistir às aulas
na escola do hospital. No principio, seus progressos motores fo-
ram atribuídos a um tratamento com curare; mais tarde, porém,

(3) Todas essas realizações e todas essas descobertas te.rapêuticas fo-


ram possíveis graças ao professor Plum, que pennitiu, meus a1 unos e eu,
que empregássemos a eutonia com as crianças atendidas em seu serviço,
entre 1945 e 1950. Nós lhe somos imensamente gratos.

57
1

descobriu-se que esse medicamento era ineficaz no tratamento


da espasticidade. A eutonia foi, portanto, a única responsável
por seu progresso motor. O pai muito impressionado, fundou a
primeira associação de espásticos da Dinamarca.
j
Os resultados obtidos com crianças asmáticas também
foram particularmente interessantes. O fato de que os de mais
idade, no decorrer do tratamento, apren d ssem a evitar por si
mesmos as crises desempenhou um pap el essencial no seu equilí-
brio psíquico. Essas ex periências levaram a uma colaboração de
vários anos com a Clínica para Asmáticos do Rigs Hospital Esta
nos enviava crianças que não reagiam aos tratamentos medica-
mentosos. Metad e dessas crianças viram-se livres de seus sinto-
mas; as outras melhoraram apesar de estarem sujeitas a recaídas
ocasionais.
No en tan to, observei qu e o estado de várias crianças se agra-
vava depois do controle que era feito semanalmente na clínica
para asm áticos. Acompanhei-as reiteradas vezes à grande sala de
espera, onde trinta a cinqü enta asmáticos esperavam , às vezes
durante horas.
To dos os que lidam com asmáticos sabem como é impor-
tante a influência que uma respiração difícil exerce sobr e as
pessoas que estão por perto e sabem também que o terapeuta
não poderá ajudar um asmático se ele mesmo não for capaz de
.regular constantemente sua própria respiração e o equilíbrio
do tõnus de seu diafragma e do fun do da pelve. Essa imitação
inconsciente do tônus e do ritmo respiratório geralmente é maior
nas crianças do que nos adultos. Não surpreende, portanto, que
depois de uma espera prolongada em companhia de outros doen-
tes, as crianças apresentassem uma forte perturbação em suares-
piração.
Vejamo um caso de gagueira. Durante muitos anos cola-
borei com os foniatras do In lituto Nacional Dinamarquês de
Foniatria. Tive oportunidade de trabalhar com crianças e adoks--
centes para os quais os exercícios de descontração habituais não
tinham dado resultado. Quando a situação não estava relacionada 1
com um conflito atual, era realmente admirável ver a melhora

58
1-

rápida e permanente que se obtinha simplesmente por meio da


regulagem do tônus e do sistema vegetativo.
j Um menino de 11 anos, apresentando gagueira muito pro-
nunciada, a quem os tratamentos anteriores não tinham ajudado,
veio do interior, durante as férias de outono, procurando-me
por recomendação do seu foniatra.
Regressou no fim de uma semana, após seis sessões de tra-
tamento efetuadas durante a tarde, depois das quais adormecia
contente e cabno. Não trocamos uma só palavra sobre sua doença,
e depois de um ano fiquei sabendo que não tinha tido nenhuma
recaída.
Os problemas são muito diferentes em traumatologia, por
exemplo, nos quadriplégicos. Depois de uma rápida melhora no
terreno circulatório e vegetativo (rins, aparelho digestivo), a difi-
culdade consiste em superar o ceticismo do paciente, a quem os
médicos condenaram à im obilidade.
Todo o mundo pensa que é inútil investir tanto esforço,
tempo e dinheiro, quando qualquer cura parece impossível.
Meu primeiro paciente foi um jovem mexicano de 17 anos,
paralisado há dois anos em conseqüência de um mergulho, quan-
do uma onda quebrou-lhe as vértebras cervicais. Reeducado à
maneira tradicional, conseguia mexer os braços, mas não conse-
guia comer sozinl10, pois todo o tronco estava paralisado, desd e
os om bros. Depois de cinco sema nas de tratamento e de traba-
lhos cotidianos, tinh a condições de dob rar e esticar os joelhos
empurrando o chão com a planta dos pés. Quando fazia uma
demon tração diante de seus pais, pedi-lhe que repetisse o mesmo
exercido apoiando-se nas suas muletas. Teve uma crise nervosa,
gritando: 'Não é verdade, eu sei que nunca mais poderei mover-
-me, você está tentando me enganar". Eu ignorava que, depois
de sua operação, um psiquiatra lhe tinha dito, com a louvável
intenção de evitar-U1e grandes decepções, que não acreditasse
em ninguém que pretendesse ajudá-lo a caminhar.
1 Depois dessa crise, seu médico o achou tão melhor, que lhe
permitiu guiar, sozinho, um automóvel, confinnando assim os

59
progressos realizados. Um ano depois mudou-se para a Europa
para continuar o tratamento .
Nas primeiras cinco semanas do tratamento realizado no
México, pude fazer observações interessantes sobre a ressensibi-
lização das partes declaradas paralisadas pelos exames de sensi-
bilidade. A cada dia, uma nova parte de seu corpo reagia à uma
pressão forte , sempre seguida de uma reação circulatória.
Finalmente, todas as zonas paralisadas tinham sido sentidas
pelo menos uma vez. No verão seguinte, durante um trabalho em
grupo, apoiado por alguns tratamentos individuais, reagiu espon-
taneamente a uma estimulação muito leve e inesperada, sem que
pudesse constatá-la visualmente.
Examinemos um outro caso: um jovem soldado estava
totalmente imobilizado em conseqüência de um acidente que
afetou sua coluna vertebral. Depois de dez dias de trabalho con-
seguiu assimilar o tato , o contato e o emprego consciente do
transporte. Esse jovem, que participava com seu fisioterapeuta
de um curso de verão, continuou trabalhando em sua casa e,
seis meses depois, caminhava vinte minutos sem muletas nem
próteses. De pé sobre um plano, apoiado numa semi-esfera, era
capaz de conservar o equilíbrio dobrando e estirando seus joe-
lhos. Esses resultados foram obtidos pela aplicação do movi-
mento eutônico.
Essas experiências, e especialmente a que foi realizada por
M. R. H.(4) , a qual achamos importante descrever em todos os
detalhes de sua evolução, dia por dia, parecem-me fundamentais
para uma nova orientação da reeducação dos paraplégicos.
Vejamos as regras essenciais:
1) O ponto de partida do tra tamento eu tônico é a norma-
lização da circulação, que pode ser obtida em duas ou três sema-
nas, através da técnica do contato.
2) A ressensibilização deve começar com a tomada de cons-
ciência da sensibilidade superficial e profunda das partes sadias
do corpo. No caso de paraplegia de M. R. H., desde o primeiro

(4) Ver o capítulo VI da segunda parte.

60
dia a tomada de consciência do tato nos braços despertou espon-
taneamente a mesma sensação nas pernas.
3) Para restabelecer a inervação muscular, é fundamental
atuar progressivamente. Convém, em primeiro lugar, ob_ter um
domínio consciente do tônus e, em especial, do reflexo proprio-
ceptivo tônico postura!. É essencia] que isso se realize antes de
restabelecer as contrações musculares, para evitar distúrbios cir-
culatórios.
No caso de M. R H., foi observada uma alteração no peso
das pernas ao efetuar os exercícios passivos, na primeira semana,
enquanto o sujeito participava mentalmente no movimento. No
transcorrer da segunda semana, professor e paciente puderam
perceber uma grande facilidade de mobilização. A modificação
do tônus provoca, de fato, uma variação do peso aparente. Além
disso foi possível, desde a primeira semana, empregar o reflexo
proprioceptivo , desencadeando-o a partir dos pés, estando o
sujeito de pé.
Ao término da primeira série de quinze tratamentos, o pa-
ciente descobre que lhe é possível, quando deitado de lado, com
as mãos abraçando os joelhos, apalpar o movimento nos múscu-
los e nos tendões quando tenta estirar as pernas, mesmo que lhe
seja impossível perceber esse resultado do exterior.
Graças à tomada de consciência do "reflexo de transporte",
os músculos clônicos se revelam. O eutonista pode detectá-lo
antes mesmo que as contrações musculares sejam visíveis. Pros-
segue-se com esse tratamento até o momento em que são obser-
vados os primeiros movimentos de extensão. Isso só é possível
depois de uma preparação prolongada, que atua sobre a circula-
ção. No começo é permitido ao aluno ensaiar o movimento uma
ou duas vezes, depois três ou quatro, para evitar assim uma so-
brecarga das funções que se desejam regenerar o que poderia
impedir todo o progresso. Durante muito tempo, fazem-se unica-
mente as extensões, até que um dia o aluno, por si mesmo, com
a nova força muscular adquirida, efetue contrações quase sem-
pre inconscientes. Nesse momento são incluídas no treinamento
as contrações musculares, respeitando o equilíbrio sinergético.

61
No entanto, nesse estágio, para todos os paralíticos surge o
problema da invalidez e da pensão. Invariavelmen te, o paciente
se pergunta: se eu melhorar, continuarei a receber os benefícios
da previdência social?
Lembro-me do caso de uma jovem poliomielítica que,
depois de estar paralisada durante anos, aprendeu rapidamente
a sentar-se e a caminhar sem dificuldade. Interrompeu brusca-
mente o tratamento por medo de perder seus benefícios, espe-
cialmente a bolsa que recebia para estudar canto na Itália, paga
pela assistência social.
Para que haja avanços nesse trabalho com paralíticos, será
primordial resolver esses problemas de previdência social.
Para concluir, desejaria citar mais três exemplos.
O contato com o ambiente oferece grandes recursos, prin-
cipalmente para as pessoas de idade, pois evita a sensação de
isolamento.
A sra. E. tem atualmente 85 anos; veio me ver aos 55, so-
frendo de uma asma cardíaca de que era acometida em todos os
invernos, o que exigia uma prolongada hospitalização em tenda
de oxigênio. Depois de um curso de um ano de duração, pôde
retomar seu lugar de chefe da organização feminina de alerta,
utilizando uma bicicleta como meio de locomoção. Acaba de
escrever um livro de grande sucesso; cuida dos doentes de sua
família, ajuda em nosso escritório, cuida de sua casa, do jardim
e faz os trabalhos de pintura. Certa vez caiu de uma escada, e
o médico comprovou que seus ossos apresentavam excepcional
resistência para sua idade.
Outra aluna minha, a sra. F., veio me ver há trinta anos,
com uma artrite tão grave, que eu não quis tratá-la. Insistiu
tanto, que finalmente a aceitei. O primeiro efeito inesperado
do trabalho consistiu na melhora da visão: pôde deixar de usar
óculos. Dois anos depois participava de uma demonstração de
posições de controle. Trabalhou conosco durante alguns anos,
e depois não soubemos mais dela. Quinze anos depois a sra. F.
me telefonou: ·
"Hoje completo 80 anos, e estou lhe mandando umas fio-

62
res para expressar meu agradecimento , pois tenho uma saúde
excelen.te. Tenho efetuado diariamente minhas po ições de
controle e passei quinze anos viajando , depois cuidando de meus
netos; agora, que já são grandes, estou disponível para trabalhar
em um grupo de rítmica."
Estes dois exemplos permitem vislumbrar a importância
que poderia ter a prática da eutonia no campo da geriatria.
Vejamos um último caso. Temos atualmente na escola uma
aluna com ambas as pernas amputadas acima da metade da oxa.
Seu primeiro trabalho consistiu em integrar a sensação de suas
pernas com suas próteses. É assombro o constatar os progres-
sos realizados sem tratamento especial , seguindo unicamente os
cursos de formação dos alunos professores. Realmente chega a
"sentir" as articulações do joelho, a tíbia, a barriga da perna, os
tornozelos, pés e dedos. A sensibilidade conseguida através das
próteses, a regularização das tensões ao redor da pelve, con-
tribuíram para melhorar seu equilíbrio . É capaz de caminhar
um certo tempo sem muletas. Realiza estudos de movimento,
incluindo trabalhos em grupo. É admirável constatar como suas
próteses se integram perfeitamente em seu esqu ema corporal.
O exemplo desta mulher, a cuja dramática evolução assis-
timos, fala, por si só da confiança que o futuro da eutonia
merece e que desejaríamos ver compartilhada .

63
Segunda parte
Aplicações da eutonia
I. Seleção de comentários, desenhos
e modelagens de um grupo
de alunos de eutonia

Daremos, a seguir, um exemplo que mostra a infinita variedade


de reações provocadas nos alunos pelos exercícios eutônicos
simples que, ainda partindo do corpo, abarca sempre o ser hu-
mano na sua totalidade. Ao iniciar um curso de verão (realizado
em Fischerhude/Bremen em 1975), assim que terminaram as
apresentações, pediu-se ao grupo, composto por principiantes
e alunos adiantados, que realizasse o seguinte exercício:
Os participantes, que estavam sentados à mesa tomando
café, deveriam fechar os olhos e permanecer imóveis na posição
em que estivessem naquele momento. Deveriam primeiro sentir
seu pé direito e depois o esquerdo, depois ambos ao mesm e
tempo, a sola dos pés, os dez artelhos, o calcanhar, o dorso e a
parte anterior do pé, os tornozelos a tíbia e o perônio, a barriga
da perna, os joelhos, e as coxas até a articulação do quadril. Par-
tin do do quadril, deveriam tomar consciência do contato com a
superfície do assento e em conexão com a pelve e o espaço abdo-
minal, até chegar ao espaço do tórax. Em seguida, deviam tomar
consciência das duas metades da caixa torácica com o estemo e
das inserções das costelas na vértebras; do espaço entre as duas
articulações úmero-escapulares e das axilas, em conexão com os
braços cotovelos, antebraços, mãos, pulsos e dedos ; igualmente,
do espaço dos ombros em conexão com o espaço do pescoço e
da cabeça, o espaço da boca e da garganta, os maxilares superior
e inferior incluindo língua, palato duro e mole, véu palatino , e

67
parte posterior da cabeça em conexão com os ouvidos, o nariz e
as órbitas oculares,. a calota craniana e o couro cabeludo. Dura-
ção do exercício: nove minutos.
Para evitar que as impressões de cada um fossem alteradas
ou apagadas p elos comentários do gru po, solicitou-se aos partici-
pantes que registrassem suas vivências imediatamente depois do
exercício, por escrito e por meio de desenhos. Em seguida , ten-
taram modelá-las em argila, com os olhos fechad o . Só então
procedemos à leitura dos textos, (que reprod uzim os a seguir) e
foram mo trado os desenhos e as figura modeladas.

Figura 1: Experiência das fonnas C.:o corpo e, através dos


pés, da forte vinculação com o solo, com a terra. Esp cialmente
intensa a tendência para dma, pelo estiramen to das vértebras-
ou seja, a "po tura eu tônica '. Em direção à região da cabeça
tudo se tomava mais leve , invadido de luz. Sensação de silênci o
de recolhimento e de emanações para o ambi ntc. Es tado de
com unhão com os outros participan tes. cheio de graça.

68

.
Figura 2.· Corporalidade, vigília.

Figura 3.· Os pés se apóiam firmemente no solo, a cabeça


se orienta para cima. O grupo impressiona por sua harmonia e
unidad e.

Figura 4: Depois deste intenso ocupar-me de mim mesmo,


espec ialmente como conseq üência de delinear sen orialmente a
posição e a liberaçã de cabeça e pescoço, tenho a sensação de
acabar, eu mesmo, de criar ou de modelar a ham10nia des te novo
ro to. Enquanto faz.ia a modelagem em argila tinha a impre são
de estar apalpanúo docemenle os traços de um rosto familia r
e amad o.

69
Figura 5: É a primeira vez que participo deste tipo de exer-
cício. Senti uma pressão intensa, mas agradável, sobre a região
glútea, e uma sensação de peso no baixo-ventre, mas nenhuma
relação com meus pés; só registrei que estavam frios, sobre o
chão. Durante o resto do exercício senti fortes tensões na região
da cintura escapular, onde tudo parecia obstruído. Não pude
sentir bem minha cabeça, somente as vértebras cervicais.

Figura 6: Costas, braços e ventre conformam um círculo


do qual emana calor. Senti a cabeça e o pescoço modelados de
fonna muito bonita. A região glútea proporcionava o apoio, o
espaço, o sossego. Os pés constituíam superfícies sem vincula-
ção com o corpo, frios e sozinhos. ·

70
Figura 7: Calor e sensação de mais vida de baixo para cima;
depois, melhor postura.

Figura 8: Diferença dos lados do espaço, qualidade e com-


primento. Em direção à cabeça fica mais claro; abóbada craniana
e cabelos especialmente transparentes. Os pontos de pressão fica-
ram mais fracos.

71
Figura 9: Meus pés cresceram, sentia mais minhas costas do
que a região anterior, principalmente meu pescoço, até os om-
bros, e a região occipital. Tomei consciência de meus ouvidos
(captando o que me diziam). Um desejo de receber os outros
(meu regaço redondo), mas dificuldade de ir até eles (ausência
de braços e pernas).

Figura 10: Tive uma sensação de paz interior, de recolhi-


mento. Infelizmente uma mosca ficou me pertur bando o tempo
todo. No entanto, quanto mais se prolongava o exercício, maior
a abertura, especialmente na cabeça. As preocupações e as penú-
rias de todos os dias ficaram para trás : sentia-me feliz. T en to
exp ressar a maneira pela qual o silêncio se difundiu em mim e
ao meu redor.

72
Figura 11: Contato nítido com pernas e pés. Através da
língua, tenho a sensação de abertura com relação ao interior do
corpo . As costas "crescem" para cima, em direção à cabeça.
Esta é grande, de linhas claras, e se m9vimenta levemente contra
o alinhamen to das costas.

Figura 12: Para mim a maior experiê ncia consistiu em sen 1T


·1 articulacão entre o pescoço e a parte posterior da cabeça. Ao
~frou xar ~s axilas. senti afro uxarem-se, ao me mo tempo, meu
joelhos. ontato com o solo, sinto O ' pés mu it o claram n te.

73
Figura 13: Impressionou-me especialmente a expenencia
comunitária . Senti-me como um ego - mas senti também, por
assim dizer, um superego. Senti-me como que envolto e prote-
gido - como se estivesse encolhido em um ovo - , e , ao mesmo
tempo, totalmente com e nos outros. Tive dificuldade em
modelá-lo.

Figura 14: Apesar de não ser essa a minha intenção - pois


eu só queria ocupar-me das superfícies de apoio - , surgiram
muitas das coisas que são mortificantes em meu CG "po. Em cima ,
demais ; embaixo, muito pouco .

74
Figura 15: Respiro - em meus pés, no meu pé esquerdo,
sinto contrações sutis - calor - minha boca se abranda- rosa-
da. De repente, sinto nitidamente minha cabeÇa , sua dureza , e
ela se apóia levemente sobre o meu pescoço. De repente, sinto
medo. O que me traz a eu tania, o que traz a todos nós? Para
onde nos leva?

Figura 16: Tive dificuldade em pas. ar do lado direito pa ra


o lado esq uerdo do p scoço. Sentia a parte ant erio r do pescoço
dura. No princípio experimen tei uma sensação próxima do des-
mai . O apoio do lado e querdo do quadril parece mais pesad o ,
talvez também menos s nsível.

75
Figura I 7: A partir de um estado anguloso, duro e torto,
passo a uma posição ereta e arejada, até os cabelos.

Figura I 8: Uma vivência do ser total, um locomover-se em


círculos através do espaço, concentrando-se palpavelmente em
grandes círculos concêntricos, semelhantes ao sol que Van Gogh
pintou tan tas vezes; depois, ovais. O contato com os ou t ros me
parecia quase uma expansão para ambos os latlos, da esqu erJ a
para a direita e da direita para a esqu~rd a, que se irradiava por
círculos etéreos, múltiplos. Eu mesmo m e encontrava na cama-
da ou parede exterior. Cabeça e co, tas permaneceram como esta-
vam , ainda que estreitam nte ligadas ao todo. Até meu quadril
era sens ível e acessível à minha consciência. Não me foi possí I
d sen har nada. Modelando, consegui alguma coisa que corres-
pende aproximadamente ao que senti.

76
Figura I 9: Tive consciência da forma e das relações do meu
corpo com o meio. Pressão forte nos olhos e nas costas.

Figura 20: Experimento uma tranqüilidade que faz bem,


uma largueza e uma soltura que parecem querer difundir-se,
mas que, no entanto, mantêm-se como uma unidade.

77
Figura 21: Minha cabeça é uma fonna redonda, tensa, sobre
um pescoço esticado.

Figura 22: Superada a sensação inicial de estar encerrado


numa esfera, gradualmente se inicia uma abertura para todos os
lados.

78
Figura 23: Tensão na cabeça; o contato dos pés com o solo
não foi muito bem conseguido. Leve afrouxamento dos mús-
culos das costas e dos braços.

Figura 24: Senti muito nitidamente o dorso do pé direito;


o lado esquerdo nem um pouco (somente o pé direito tocava o
chão, e estava frio).

79
Figura 25: A parte que, no meu desenho, está sombreada,
corresponde à que senti com maior nitidez. Tinha na pele uma
sensação de liberdade. Sentia a cabeça cálida, as orelhas quentes
e grandes.

Figura 26: Um grande oco nas pernas e no ventre; boca


grande, garganta grande.

80
Figura 2 7: As tensões entre representação e sensação, entre
corpo e espírito, se dissolvem. Depois encontro-me tranqüilo no
centro de mim mesmo e sinto meu corpo como uma unidade
fechada em si. Ao mesmo tempo me sinto transportado pelo
silêncio que reina no grupo.
Figura 28: Unidade, irradiação.

81
Figura 29: Estava sentado numa posição em que me sentia
muito desconfortável; meus pés estavam retorcidos, a parte supe-
rior de meu corpo estava inclinada para a frente. Sentia forte
tensão nas pernas e na região do pescoço, o que me dificultava
a concentração. Nesse desconforto tenso surgiram leves senti-
mentos agressivos, que eu vivenciava como se estivessem concen-
trados na região occipital. Minha cabeça parecia superdimensio-
nada, com forte projeção para fora.

Figura 30: Senti-me grande e maravilhosamente cálido, em


contato com as outras pessoas e com a cadeira.

Figura 31: Apesar da posição incômoda em que me encon-


trava, senti-me com maior amplitude, liberdade e calor; reno-
vado e livre. Produziu-se uma abertura em direção às outras pes-
soas que estavam no recinto. Experimentei principalmente uma
forte capacidade de endireitar-me e uma grande largueza. Uma
estrela de cinco pontas que descansa sobre si mesma.

82
Figura 32: Ao começar o exercício, meu pé direito se apoia-
va em cheio no chão, e durante todo o tempo eu o senti - e
também a perna direita - com muita nitidez e realidade. O pé
esquerdo tocava o chão apenas com a parte anterior e foi sumin-
do do quadro sensorial Sentia o restante do meu corpo como
três cavidades, uma para a cabeça, outra torácica e outra do ven-
tre e pelve. 1\$ partes sobre as quais se trabalhava davam a sensa-
ção de serem revestidas por uma pele mais grossa do que as
demais, que tinham paredes finas. Embora eu achasse que estava
modelando, com a massa plástica, uma figura totalmente abstrata
das três cavidades, o que eu havia modelado era uma figura
humana.

83
Figura 33: Para cim a descobd espa-ros ocos - um gorro
com uma pele em volta da cabeça - a farin ge é um tubo- om-
bros oprimidos, empurrados para baixo, em direção à bacia. As
partes apoiadas - joeU10s e calcanhares - me fazem sentir tran-
qüilo e confiante. O contato com tudo o que me rod ia se pro-
duz a partir da segurança do sentar.

Figura 34: Senti vazios na faringe, nas vértebras cervicais,


nas cavidades internas, na cabeça e no pescoço nt>s glliteos, no
quadril. nos mú culos, e até na soJa do pé.

84
Figura 35: Crescer a partir de dentro, ser perm ável a parlir
do interior.

85
Figura 36: Tranqüilidad e fechada , e, no entanto , em aber-
tura .

Figura 37: Concen trei-me princi palmente na cabeça e tive a


sensa ção de calor. Senti o silêncio ao meu redor. Na figura q ue
modelei falta a boca.

Te ndo por base estes exemplos torna-se evidente, m~smo


para o não-iniciado, que é impossív I adotar um único programa
de exercícios para o ensino da eu to nia, já que cada um deve se-
gtúr seu próprio caminho para alcançá-la.

86
11. A imagem do nosso corpo

Com o nascimento nos é dada nossa imagem corporal em forma


de sensibilidade para sentir o todo de nossa constituição corpo-
ral. Nos primeiros anos de vida, através do contato corporal
estreito com a mãe e pelos múltiplos contatos com as coisas, a
criança experimenta que ela e o mundo são duas coisas distin-
tas. Aos poucos ela torna-se consciente de sua própria forma
corporal. Se for permitida à criança pequena a liberdade de mo-
vimentos, será possível observar como, desde as primeiras sema-
nas, ela prepara constantemente o levantar-se. O reflexo de ali-
nhar, sustentar e andar já existe na criança saudável desde seu
nascimento. Quando seguramos um recém-nascido de forma que
as plantas de seus pés toquem o solo, ele se espicha e faz movi-
mentos de caminhar. Bem cedo começará a esticar-se deitado no
seu berço, apoiando-se nas grades de proteção. Durante meses
exercitará todas as variações possíveis, até conseguir levantar-se
e manter-se erguido sobre seus pés.
O desenvolvimento da autonomia corporal através do pro-
cesso de levantar-se, ficar em pé, do caminhar, do correr, até o
pular e saltar, constitui a base essencial para nossa autoconfiança
e seguTança.
Se o livre desenvolvimento dos movimentos na criança vai-
-se travando, seja por incompreensão dos adultos, pela falta de
espaço nas pequenas moradias das grandes cidades, pela ausência
de praças apropri~das ou pela prática de uma ginástica mecânica,

87
especialmente a ginástica de bebês, mas também pelos maus há-
bitos do movimento e na respiração de adultos reprimidos, cujas
posições defeituosas e tensões se imitam, perde-se a sensibilidade
para a totalidade do organismo, a segurança sem entraves na
postura e no movimento.
Inconscientemente, criam-se representações de formas e
proporções que estão em desacordo com a realidade de fato.
O reflexo postural é prejudicado por tensões musculares inade-
quadas, que conduzem a representações falsas da pelve, da
articulação do quadril, da espinha dorsal e das funções das
extremidades. Essas imagens corporais falsas são fáceis de serem
detectadas. Um observador bem treinado, logo notará tais repre-
sentações na postura e movimento ainda antes que elas levem a
danos no organismo.
No treinamento eutônico tem-se demonstrado que por
conscientização e correção dessas representações falsas, tanto
em crianças como em adultos, é possível corrigir em pouco tem-
po e sem exercitação especial hábitos de movimentos deturpa-
dos. Com efeito o melhor trabalho e até mesmo um tratamento
especial não terão sucessos duradouros se não estiver sendo corri-
gida simultaneamente uma inconsciente imagem corporal errada.
No ano de 1960, em meu curso, mandei fazer a primeira
modelagem corporal, esperando deste modo promover nos alu-
nos a consciência de sua imagem corporal. Para minha grande
surpresa apareceram , além de erros n a imagem em si, uma ausên-
cia de sentido do corpo e perturbações no movimento, insufi-
ciências respiratórias, doenças orgânicas, refletindo-se também
a disposição psíquica dos alunos. Mesmo quando se esforçavam
reiteradamen te para eliminar as falhas reconhecidas consciente-
mente, a superação só era possível quan do a sensação corporal
ausente despertava ou quando a pert urbação vegetativa era elimi-
nada. Aquele que, do ponto de vista psíquico, ainda não é capaz
de se manter sobre seus próprios pés, voltará a modelar uma
figu ra cujas pernas não têm pés, mesmo que se proponha firme-
mente a não os esquecer. Talvez acrescente o comentário de que
a massa não foi suficiente; mas não importa a quantidade de

88
material que lhe seja entregue: nu nca será suficiente para fazer
os pés. Do mesmo modo, os alunos que apre entam dificuldades
d comunicação por contato farão co m que faltem ·as mãos. É
sempre impressionante essa capacidade do ser humano de repre-
sentar sua unidade de corpo e espíri to, mesmo sem exercício
prévio.
O professor comenta as alterações que aparecem direta-
mente relacionadas com a imagem corporal ; no entanto , o aluno
compr ende logo que na figura modelada se manifesta sua perso-
nalidade total, e a interpretação que ele próprio realiza de seu
trabalho é, muitas vezes, surpreendentemente acertada.
Também chama a atenção o fat o de a grande maioria dos
alunos conseguir trabalhar com o pedaço de barro, cujo tamanho
é de sua escolha, de forma a, mesmo com os olhos fechados,
aproveitar a totalidade do material, em que sobre ou falte nada ;
por outro lado há outros para os quais, sejam quais forem as di-
mcnsõe de seu trabalho, sempre acabará sobrando ou falt and o
material.
O modo de trabalhar também permite inferir a atitude geral
do sujeito: a figura pode ser modelada a part ir de todo o pedaço
de argila, ou e ta pode ser divldída em ei partes, que serão uni-
dás depois de modeladas em separado. No último ca , lra a-se
quase 'empre de pessoas de predisposição analitica.
Observa-se com menor freqüência a realização de desejos
mai ou menos conscientes. Por exemplo, homens magros podem
representar homens superdimensionados, e mulheres despropor-
cionada pod m modelar corpos gracioso e elegantes. Freqüen-
temente ocorre que personalidades intelectualizadas resolvam o
exercfcio "modele Wll ser humano" com a figura de um corpo
sem cabeça ou a figura de uma cabeça sem o corpo; por sua vez,
o bailarinos tendem a representar o corpo preponderantemente
em relevo. É como se, por seu treinamento na frente do e peU1o,
tiv"ssem c nsciência em e pecial da parte anterior do corpo.
Geralmente, entretanto. não parece fundamental para a
imagem corporal o controle visual, já que as figuras dos cegos

89
de nascença não se diferenciam das realizadas pelas pessoas que
enxergam.
A seguir, são reproduzidos exemplos típicos de uma cole-
ção de cerca de duas mil folhas , executados predominantement e
por ginastas, esportistas, bailarinos e especialistas em exercícios
rítmicos, psicoterapeutas e médicos - que por sua profissão,
supostamente teriam uma sensação e uma imagem do corpo for-
temente desenvolvidas.
O exercício pedia:
a) Com os olhos fechados, modele um corpo humano.
b) Com os olhos fechados modele um corpo humano
(exercido proposto antes e depois de um curso de eutonia de
8 a 14 dias).
c) Desenhe um corpo humano (exercício proposto antes e
depois de um curso de eutonia de 8 a 14 dias).
d) Desenhe o que experimenta agora do seu corpo.
e) Desenhe um esqueleto humano.

a) Com os olhos fechados, modele um corpo humano.


Imagens corporais que demonstram o modo pelo qual se
manifesta a .totalidade da realidade psicossomática na modela-
gem do corpo humano :

90
39

Figu ra 38: o nc cbid a parti r da totalidade .

Figura 39: _on ~.:b id o a partir dn totalidade.

91
Tigu ra 40.- So lução de um a per o nal idade an alitica.

Figura 4/_ Pro fe . sor jovem e empree nd ed or, com os pés na


terra: pt: rce ba- ·e a re du ção do tama nh o à direit<t . Na t:n trevJsta,
cl escoh riu-se que não tinha o pu lm ão direito.

92
42 43

Figura 42.· - cr ida no jo 'l ho esq uerdo, curada há po uc o


meses.

Figura 43_- Es ta a lun a s fria úe gra es d ist ú rb ios ci rcula tó-


rio s e fa lt<J de sen ibilidad c no omb ro , bra ço c mão e. q uerelas.

93
11 45

Figura 44. Figura de um corpo humano: a pelve, o peito e


a coluna vertebral e táo superpos tos.

Figuro 45: A image m fala por si mesnu .

94
Figura 46: Solução típica de um a luno intt:lec t ual: corpo
sem cabeça ou cabeça sem corpo.

95
47

Figura 4 7· Solução dada por urna per. onaliclaúc anui íli<.:a.

Figura 4 8. Típica figura em cabeça dt: um iillcl ·ctua l.

96
9

IJ) Com os olhos fechado s, modele um corpo huma11o ( exercí-


cio proposto antes e depois de um curso de eutonia de 8 a 14
dias).

Figura 49: Modelagem de um corpo humano. Trabalho de


uma freira antes u depojs de um curso de cutonía de 14 dia.
d duração.

Figura 50. U ma mulher, que sofre intensamente por não


ter filhos, modela um bebê, na prirneird vez : dcpoi de dez d ias
representa uma pt:ssoa adulta, incapaz d manter--se. obre os pés.

97
Figura 51: Antes e depois de um curso de eutonia de 14
dias de duração.

98
Figura 52: T rabalho de um médico especialista em treina-
me nto aut ógeno.

99
53

Figura 53: Antes e depois d e um curso de eutonia de 14


dias d e d uração.

100
Figura 5 4: Um professor tle c portes mode la uma figurl:t
feminina e ntada, sem braços: depois de J ez dias uma figura
masculi na , de pé, c ujos braços estão apenas co lados - ausência
tot al de c n ação viva <.k co nexão co m a caixu torác i ~.:a .

IOl
r

Figura 55: A primeira modelagem desta mulher lembra figu-


ras pré-históricas e representa apenas u m esqu ma corporal que,
sem dúvida, se apóia sobre seus pés- no segundo há maior dife-
renciação dos braços e pelve.

102
r

,.

56

r) Desenhe um corpo humano (exercício proposto antes e de-


pois de um curso de eutonia de 8 a 14 dias).

Figura 56: Desenho de uma ginasta que se dedica à psico-


terapia c terapia do movime nto .

Figura 57.- Desenho da mesma pessoa depois de um curso


de eutonia de 14 dias.

l03
59

Figura 58: Desenho realizado antes do curso de eutonia.

Figura 59: Desenho da mesma pessoa (fig. 58) depois de


dois cursos de eutonia de 14 dias.

104
1

\.

:~1,1)\
I
60

Figura 60: Desenho realizado antes do curso de eutonia.

Figura 61: Desenho da mesma pessoa (fig. 60) depois de


um curso de eutonia de 8 dias.

105
-~ )
·-

62 63

Figura 62: Desenho realizado antes do curso de eutonia.

Figura 63: Desenho da mesma pessoa (fig. 62) depois de


um curso de eutonla de 1O dias.

106
d) Desenhe o que experimenta agora do seu corpo.
As figuras seguintes, realizadas por professores de esportes
e ginástica, dão idéia da forma parcial com que mesmo as pes-
soas que praticam o treinamento corporal concebem o corpo.
Somente as partes sombreadas ou realçadas da figura corporal
são as que foram experimentadas realmente, isto é, de forma
consciente. Esta sensação parcial do corpo não constitui exce-
ção, mas sim a regra entre os membros de nossa cultura. A maio-
ria só experimenta a sensação do seu corpo quando sente dor ou
uando sente um a eressão exterior.
-x-psiquiatria tem considerado, até agora, que uma sensa-
ção ou imagem coipõraT íncompletã é sinal de alterações men-
tais gravs:s.- De acordo co_m mmhas experíências, é praticamente
impossí~el que as pessoas sintam a totalidade do corpo sem trei-
namento prévio.

F' )J.)

107
'
I

I
\
'
I

I
\

1
e) Desenhe um esqueleto humano.
Os desenhos típicos de esqueletos que selecionamos repre-
sentam deformações da imagem corporal que ÍJrlplicam desvios
evidentes de postura e movimentos.
Grupo I: ilustra as múltiplas possibilidades de representa-
ções defeituosas da coluna vertebral, que têm como conseqüên-
cia uma sobrecarga dos músculos das costas, região glútea, cabe-
ça, pescoço, ombros e braços (observe-se a posição normal da
articulação do quadril e coluna vertebral em relação à linha que
marca o centro do corpo, na fig. 71 ). Além disso, o desloca-
mento da espinha dorsal do centro do corpo para a periferia
das costas fala de uma perda do centro axial, do sentido da
independência.
Grupo li: demonstra o desconhecimento da ligação das per-
nas com o quadril e a pelve. Leva à sobrecarga da musculatura
da pelve e das pernas e à redução da mobilidade da articulação
do quadril.
Grupo III: ilustra a impressão generalizada acerca das cos-
telas e o esterno, que imobiliza a musculatura intercostal, limi-
tando a mobilidade do diafragma e o volume e capacidade de
ajuste na função respiratória. O fato de representações como
essas ocorrerem também por parte de médicos, psicoterapeutas
e ginastas se deve à má montagem dos esqueletos geralmente
utilizados nas aulas de anatomia.

110
71 2

Figura 71: Posição normal


Figura 72: Grupo J

I li
74

Figura 73: Grupos I e 11


Figura 74: Grupos II e III

112
.
I
I

I
1
I
75 I
' 76

Figura 75.· Grupos 11 e III


Figura 76.· Grupos I c li

113
______77

Figura 77: G rupos Il e III

114
78 79

Representações corporais defeituosas por parte de médicos. psi-


coterape utas, ginastas e tr einadores de movimento corporal.

Figura 78: Grupo lil


Figura 79.· Grupos I, fi e 111

115
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Figura 80: Grupos I e 11
Figura 81: Grupos I, 11 e 111

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82
--
83

Desenhos de alunos sem aprendizado profissional prévio em ana-


to mia e afins.

Figura 82: Grupos I, 11 e UI


Figura 83: Grupos I, II e III

117
64

Figura 84: Grupos I, li e lll

118
•r
111. Posições de controle

Para evitar confusões convém esclarecer que as posições de con-


tro le em euto rtia têm fm~ totalmente diferentes daqueles visados
na prática das posturas de certos métodos, como a ioga.
As posições de controle nos permitem ver se nossos mús-
culos têm a elasticidade e comprimento normais, condição pri-
mordial para um ótimo movimento das articulações, assim como
para a postura e o movimento funcionais.
Se os músculos têm comprimento normal, essas posições
de controle podem ser adotadas automaticamente, sem dificul-
dade, por criat'.ças ou adultos de qualquer idade como se adotas- l
sem posições de descanso. Em compensação, se os músculos
estão encurtados devido a uma ten ão, qualquer que seja sua
origem, essas posições de controle provocam sensações de dor
ou incômodo ou são até mesmo impraticáveis.
As posições de controle permitem, portanto que a pessoa
tome consciência, sozinha e em poucos minutos, dos pontos de
tensão do seu corpo.
Mas depois de alguma prática em eutonia, as p 'ções de
controle oferecem, ou podem ofereceL outras....possibilidades
de trabalho .
Juntando o tato e o contato (com o meio circundante, o
espaço .interior, a onsciência dos ossos, etc.) e conservando
constantemente essa 'presença", é possível encadear diferen tes
posições de controle.
I

119
r-'
Esse encadeamento pode ser feito primeiro de uma forma
livre, depois numa seqüência imposta. Quando os alunos adqui-
rirem esta última faculdade estarão prontos a participar verda-
deinunente de um trabalho coletivo, com a capacidade de alcan-
çar um tônus de grupo.

Posições de controle
(Testes de tensão)

De joelhos, sentado sobre os calcanhares, com os dedos dos pés


-- tornozelos).
flexionados (controle dos dedos e dos _ _ .----
Todos os dedos (inclusive o dedo mínimo) estão em contato
com o solo.
O peso do corpo recai por completo sobre os calcanhares.

da articulação do tornozelo
..__
t
Como o anterior, mas desta vez o pé está em extensão (controle
e dos dedos do pé) .

120
Sentar-se sobre o quadril entre as pernas flexionadas e ligeira-
mente separadas (controle dos joelhos, da articulação do quadril
e do músculo anterior da coxa).
As nádegas devem tocar o chão.

. ------~ ~
R~
De quatro : cruzar as pernas, uma por cima da outra, depois sen-
tar-se entre as pernas (controle dos músculos posteriores e late-
rais externos da coxa).
Ãs nádegas devem tocar o chão.

Sentar- e com as pernas cruzadas, um pé apoiado sobre a coxa


oposta, o outro debaixo (ou t ambém em cima, se possível); incli-
nar-se depois para a frente flexionando a articulação do quadril,
mantendo as costas tão retas quanto possível e sem levantar as
nádegas do chão (controle das articulações do quadril e das arti-
culações dos j oelhos e dos tornozelos).

121
Como o anterior, mas as pernas em lugar de estarem cruzadas,
estão separadas, flexionadas, e os pés um adiante do outro (con-
trole dos ~tores e do quadril, dos jo.Jill!2s e dos~ .

Extensão lateral de uma perna, sentado sobre o calcanhar opos-


to; a) sentar-se no chão mantendo as duas pernas em sua posição
inicial; b) ligeira rotação do tronco, que se flexiona sobre a perna
estendida (controle dos adutores e do qua~l).

Sen.tado, pernas flexionadas, braços entre as pernas, mãos colo~


cadas na metade inferior da tíbia, estender progressivamente as
pernas. Do começo ao fim, a testa está sobre os joelhos (controle
das ~as, nuca, músculos e articulações das pernas).

De costas, os joelhos ao lado das orelhas (controle da muscula-


tura das costas, e lateral do pescoço, e flexibilidade da coluna
vertebral).

122
Deitado, braços sob a cabeça, as plantas dos pés apoiadas no
chão. Osjoelhos caem para a direita, depois para a esquerda, sem
levantar as omoplatas.

Deitado de lado: a) girar o busto até ficar deitado sobre ascos-


tas, b) o joelho permanece na mesma posição em contato com o
chão. O ombro correspondente a esse joelho deve normalmente
tocar o chão na posição b ). (Controle da coluna vert e bral e das
costas, ombros, braços, quadril, coxas.)

Deitado, braços "em castiçal", antebraços dirigidos para cima,

123
depois para baixo. Ombros, cotovelos, pulsos e dedos devem,
sem esforço, estar em contato com o chão. (Controle de ombros,
braços e mãos.) Controle da flexibilidade e das possibilidades de
rotação da coluna cervical e da articulação do ombro.

Braços e pernas encostados no chão. Orelhas e rosto encostados


no chão.

Rotação da cabeça em contato com o chão, nariz para cima,


parte posterior da cabeça encostada no chão.

Rotação da cabeça como antes, mas em sentido inverso, nuca


para cima, nariz encostado no chão.
IV. Registros fisiológicos

Miografia de movimentos gerais e eutônicos, registrados por S.


Molbech no Instituto da Associação de Poliomielite de Cope-
nhague.
Figura 85, em cima: Inclinação do quadril com técnica de
ginástica. Eletromiograma dos músculos bíceps crural (curva
superior) e reto anterior da coxa (curva inferior). O aluno se
encontra em decúbito dorsal e levanta a perna verticalmente,
com o joelho estendido de forma normal. A maior parte do tra-
balho é realizado pelo músculo psoasilíaco. A pelve se fixa por
meio do reto maior do abdômen em trabalho isométrico. As duas
curvas centrais representam o trabalho integrado dos dois mús-
culos medidos (IEMG).

125
Figura 85, embaixo: Inclinação do quadril com técnica
eutônica. Os registros são idênticos aos da figura 85, em cima.
A comparação das duas figuras mostra que a atividade muscular
é mais intensa na técnica de ginástica do que na eutônica. Isto é
particularmente significativo, pois o movimento total registrado
com técnica eutônica foi maior do que o executado com técnica
de ginástica. Observou-se outra diferença marcante referente à
duração do período de atividade, que é consideravelmente maior
na técnica de ginástica do que na eutônica.
Alteração antecipatória do tônus muscular: as diferenças
na atividade muscular permitiram inferir uma alteração anteci-
patória do tônus, anterior ao início do movimento. (Compara-se
com a reação irregular que ocorre quando se levanta um objeto
cujo peso é sensivelmente maior que o previsto.)
S. Molbech
Copenhague, fevereiro de 1976.

126
V. Pinturas

Aquarelas realizadas por um jovem arquiteto:


Figura 86: Um dia antes do printeiro tratamento eutônico.

Figura 87: No dia seguinte ao primeiro tratamento.

Ocorreu uma mudança não só das formas, mas também ·das


cores, podendo-se observar a passagem de tonalidades tênues
para cores fortes e vivas, que assinalam a resolução das repressões
agressivas.

Figuras 88 e 89: Dois desenhos da "vivência" de contato


corporal com a terra e o espaço circundante.

Figura 90: Aquarela feita espontaneamenteporumamulher


de 40 anos, depois do quarto tratamento. Representa a Virgem
Maria dando à luz o menino Jesus.
Durante seu primeiro parto, dezesseis anos antes, teve seu
primeiro orgasmo. Educada num ambiente muit rigoroso, havia
reprimido essa sensação total e havia-se tornado psicótica.
Perdera sua identidade e, durante seis meses, acreditou ser
a Virgem Maria que tinha dado à luz o menino Jesus. Não reco-
nhecia nenhum membro de sua família.
Durante o tratamento eutônico, recordou o nascimento de
seu filho e sua psicose, durante a qual via os retratos de seus pais

127
90

pendurados na pare de . olhand -a ameaça Jora mente.


De poi dessa lembrança es po n tâne a, seu comportamen to
mdhorou nos três tra ram e ntos eguint~s.
As relações com seus fam iliares mell10raram e os distúrbios
sexuais, de que ofria de ·de sua psicose, de apareceram.

129
--·
VI. Exemplos de aplicações
terapêuticas

I
I
Para dar uma idéia mais completa das diferentes aplicações tera- 1
pêuticas da eutonia, descrevemos a seguir a evolução de alguns
casos particularmente significativos. Publicamos estas notas em
sua forma original, sem comentários, na eloqüência da sua crono-
I
logia, de acordo com as observações e sentimentos do paciente.
Para compreendê-las melhor, resumimos aqui diferentes formas
de intervenção utilizadas para devolver o equilíbrio ao organis-
mo durante as sessões de tratamento individual:

1. Movimentos passivos: rotações, estiramentos, movimentos


circulares que permitam explorar, em dinâmicas diversas, todas
as possibilidades das articulações.
2. Toque da pele: toque da superfície cutânea do aluno com a
palma da mão, as pontas dos dedos e das unhas; preensão da 1

pele, do tecido subcutâneo e dos músculos.


3. Diferentes tipos de contato: neutro; contato em duas dire-
ções - carga e descarga ; contato dinâmico (mudança alternada
entre carga e descarga); contato com uma região ampla e pontos
reflexos.
4. Irradiação: pulsação, vibração.
5. Vitalização dos ossos: periósteo, diáfise, medula.
6. Despertar e estímulo do reflexo postura! (transporte): refle-
xo proprioceptivo.
::
131
!
I

~
7. Desenvolvimento de uma força máxima mediante movimen-
tos de "rechaço" dirigidos conscientemente.
Todas essas técnicas, nas suas diferentes formas, estão liga-
das à técnica do "contato", que varia de acordo com as necessi-
dades.

Um caso de insônia

Um psiquiatra de Copenhague, dr. G. J., que comprovara o


resultado da eutonia em vários pacientes, pediu-me que aten-
desse, no Hospital Bispebjerg de Copenhague, a sra. F., mulher
de um médico interno. Há meses ela vinha sendo atendida por
problemas de insônia. Os soníferos não faziam mais efeito. De-
pois da primeira aula, trabalhou-se o contato com os bambus
para relaxar tensões nas costas e em seguida relaxou-se a cabeça
e a nuca. Dormiu tão profundamente que não ouviu uma sirene
de alarme. Mais tarde deixou o hospital e durante vários meses
veio duas vezes por semana para continuar um curso e um trata-
mento.
Seus problemas nervosos acabaram desaparecendo.

Um caso de tiques

A sra. X., uma mulher de 50 anos, me foi enviada pelo dr.


K. H., médico chefe do serviço de neurologia do Hospital Bispeb-
jerg de Copenhague.
Desde a morte de seu marido sofria de tiques faciais. Por
experiência, sei que os tratamentos de tiques são, na maioria das
vezes, muito difíceis e longos. Como eu devia viajar ao exterior,
pedi-lhe que seguisse as sessões de um grupo de principiantes, na
escola, uma vez por semana. Tomei a vê-la depois de cinco aulas,
nas quais tinha feito principalmente contato(*) com o chão em

( *) O contato, aqui, não se refere à "técnica de contato", mas sim-


plesmente a tocar o chão. (N. do R. T.)

132
diferentes posições, para conseguir uma normalização geral do
tônus. Estava irreconhecível. Seu rosto estava tranqüilo e disten-
dido.
Seguindo minhas indicações, tinha praticado todos os dias
pelo menos meia hora de contato com o chão. No fim de uma
semana já tinha conseguido progressos. Tratamentos individuais
já não eram necessários. A sra. X. participou das sessões de gru-
po de outubro a junho. Voltei a vê-la alguns anos depois. Nunca
mais tinha tido problemas.

Um caso de displasia congênita

J. M., 14 anos, pianista. Apresenta perda de força e uma


incapacidade da mão direita, que não lhe permitem tocar piano.
Pratica então a viola da gamba, já que a pronação não é necessá-
ria para suster o arco. Vem nos consultar por recomendação de
seu professor.
A circulação na mão direita é lenta e os dedos têm um cen-
tímetro menos do que os da mão esquerda. Depois de seis trata-
mentos, a circulação e a força no braço melhoram e os dedos
recuperam seu comprimento. Quase não há diferença de força
entre os dois braços e o jovem encontra a energia necessária para
trabalhar em seu jardim .
.Depois de dez tratamentos, os dedos da mão direita tor-
nam-se mais fortes e mais compridos do que os da mão esquerda;
o professor M., do serviço de ortopedia cirúrgica do Hospital
Rigs, comprova um progresso na capacidade de pronação.
Durante o trimestre seguinte, uma de nossas alunas prossegue os
tratamentos para obter uma melhora do organismo em geral.
· Junto com o refortalecimento do organismo consegue-se
maior harmonia psíquica ; as relações de J. M. com seus compa-
nheiros melhoram. Sua vocação de músico já não está entravada.

133
Tratamento de dores num membro-fantasma

Um jovem estudante vem me consultar, a conselho de um


companheiro. Solicito que seja examinado no serviço de neuro-
logia do médico chefe K. H. do hospital de Bispebjerg.
Histórico do paciente: em conseqüência de um acidente de
motocicleta ocorrido há dez anos, a articulação do ombro e o
nervo braquial ficaram gravemente danificados. Há paralisia do
braço direito com perda parcial da sensibilidade. Havia recusado
a amputação. A reeducação não dava resultados. No decorrer
dos dois anos anteriores à sua consulta, a atrofia muscular e as
dores cada vez mais fortes haviam produzido um desequilíbrio
do grande-simpático. Após a simpaticotomia, as dores aumenta-
ram a tal ponto que o paciente já não podia concentrar-se em
seu trabalho. Como último recurso, propuseram que fizesse uma
lobotomia, pela qual não conseguia se decidir.
Depois de um primeiro tratamento eutônico, as dores ces-
sam por alguns momentos. No segundo tratamento aprende a
suprimir as dores nascentes pela técnica de contato. No terceiro
tratamento, a circulação se regulariza; a temperatura é normal
no braço e na mão, a coloração azul desaparece. No quarto tra-
tamento, é possível descobrir uma ligeira sensibilidade no braço
e na mão. Pode mover os dedos e consegue uma leve supinação
da articulação do pulso. Depois do sexto tratamento, consegue
retomar normalmente seus estudos, ser aprovado nos exames e
exercer sua profissão.

Um caso de ciática

M. J. R. encontrava-se no Hospital Militar de Copenhague


por causa de um abcesso pulmonar. Uma noite, um auxiliar lhe
aplica uma injeção de morfina e toca o nervo ciático. Alguns
meses mais tarde, a pedido do paciente e com a concordância
do médico, o professor M. F., tentei aliviar as fortes dores que

134
aumentavam progressivamente e que desencadeavam episódios
de vômitos.
O exame da perna mostrava um retardamento da circula-
ção e uma atrofia muscular, com dificuldade de movimentação.
O tratamento no hospital se prolongou por seis semanas
uma hora por dia. As dores diminuíram rapidamente. Em um~
semana conseguiu-se normalizar a circulação. A musculatura se
fortaleceu progressivamente e o estiramento tornou-se possível.
O paciente pôde deixar o hospital ao fim de seis semanas com
apenas um pequeno defeito na movimentação e um pouco menos
de força na perna lesada. Um ano depois, como seqüela de uma
gripe, produziu-se um agravamento que desapareceu por com-
pleto depois de seis tratamentos eutônicos.
Desde então, nenhum tratamento foi necessário.

Tratamento de uma coxartrose

A sra. P., 65 anos, recorre ao tratamento em maio de 1963.


~uas primeiras dores no quadril começaram em 1935. Numa
radiografia de 1936 é possível ver as primeiras lesões da cavi-
dade cotilóide, com deformação do colo do fêmur. Um trata-
mento por radioterapia não proporciona nenhum alívio às dores.
1960: a recolocação do colo do fêmur e a medicação (buta-
zolidina e deltabutazolidina) conseguem acalmar a dor.
1961: uma fratura do colo torna necessária uma permanên-
cia de seis meses numa clínica especializada na Alemanha. Depois
de nove semanas de imobilidade, engessada em extensão, o joe-
lho está completamente rígido .. As massagens não proporcionam
mais do que uma leve melhora. Depois de deixar a clínica, surge
uma flebite.
1962: histerectomia seguida de problemas circulatórios e
de dores ainda mais vivas que acentuam a limitação dos movi-
mentos e agravam o estado geral.
Fim de maio de 1963: começo do tratamento em eutonia
(sem nenhum outro tratamento médico). A perna esquerda é

135
três centímetros mais curta do que a outra. Atrofia muscülar e
encurtamento dos tendões, com possibilidade de flexão do joe-
lho muito reduzida. Problemas circulatórios e dores intensas. A
paciente não podia nem se deitar de lado nem fazer movimentos
de "rechaço" quando de lado . Não podia sentar-se normalmente.
Depois de dezoito dias de tratamento, a amplitude da arti-
culação do joelho está quase recuperada, as dores desapareceram ,
e já não há mais problemas circulatórios. A paciente pôde
deitar-se de lado e fazer movimentos de "rechaço" a partir do
trocanter (reflexo proprioceptivo de extensão). A perna doente
continua sendo mais curta, mas só um centímetro; o joelho se
torna muito mais flexível. Também é possível observar uma me-
lhora notável na amplitude de movimento do quadril; a paciente
pode sentar-se normalmente. Agora que aprendeu a trabalhar
sozinha, pode voltar para casa. Pela primeira vez, desde os 28
anos, pode executar, sem problemas, os afazeres domésticos e
cuidar de seu jardim.
No outono de 1963, volta à clínica alemã para um controle.
Uma radiografia mostra que a cartilagem articular se recompô .
As radiografias de 1960, 1961 e 1963 estão reunidas no
acervo científico da clínica.
Em 1964 a paciente fez , uma vez mais, um tratamento de
quinze dias em eutonia, e em 1965 participou do curso de verão
da escola.

Seqüelas de uma poliomielite ( t)

Uma jovem estudan te de direito inscreveu-se num curso de


verão de onze dias. Desde a infância tinha as duas pernas parali-
sadas a partir do quadril, em conseqüência de uma poliomielite.
Tinha q ue caminhar com mule tas. A jovem explicou que não
vinha para melhorar essa situação, mas sim por causa da fraq ueza
de suas costas, de desarranjos intestinais e gá tricos e problemas
circulatórios nas pernas, que lhe impossibilitavam fi car na posi-
ção sentada. Participou de aulas com um grupo de quarenta alu-

136
nos, duas vezes por dia (sessões de uma hora e quinze minutos).
Ao finalizar o curso, suas pernas tinham-se tornado tão fortes
que, deitada de costas, podia apoiar-se nas duas pernas. A cir-
culação tornara-se normal, as dores nas costas· tinham desapare-
cido e a jovem podia permanecer sentada sem incômodos. Nove
meses depois voltou para uma série de oito tratamentos que for-
taleceram suas costas e suas pernas, a ponto de ela conseguir
manter-se em pé.
Um ano depois, voltou a fazer oito tratamentos que corri-
giram notavelmente sua escoliose. Suas pernas adquiriram mais
força e a jovem pôde aprender a caminhar com uma bengala.
Um ano mais tarde, disse que não tinha desarranjos e podia loco-
mover-se pela casa, sem usar a bengala.

Seqüelas de uma poliomielite (2)

Um estudante de direito, M. F., apresenta-se para as aulas


de grupo. Tem as duas pernas paralisadas e frias. Aos quatro anos
sofria de asma, com problemas circulatórios. Aos seis anos, em
1952, é tratado de poliomielite no Instituto para Poliomielíticos
de Copenhague.
Primeira operação do lado esquerdo do quadril, aos 7 anos
(alongamento).
Segunda operação, aos 1O anos: deslocamento de um mús-
culo do dedo grande do pé direito para o calcanhar (sem resul-
tado).
Terceira operação para colocar o pé esquerdo mais para
fora, para permitir o crescimento.
Quarta operação do lado esquerdo do quadril (alongamen-
to): êxito.
Quinta operação, Jacto direito do quadril engessado. Não há
resultados a longo prazo. Usa fundas (Candy-staliv com fecho
suíço), botas para sustentar os tornozelos, duas muletas, dife-
rentes aparelhos durante a noite para impedir as contrações do
pé (Spitzfuss) e para estirar os joelhos.

137
Aos 20 anos, tomava trinta miligramas de Librium por dia,
por causa de um hipertiroidismo. Como não obtivesse resultados
abandonou a medicação, por iniciativa própria, não querendo'
habituar-se aos calmantes.
Conclusão: As duas pernas frias. Atrofia muscular na
esquerda. Não consegue dobrar as pernas. Os joelhos caem
um sobre o outro. No lado esquerdo não há reflexo propriocep-
tivo de extensão.

Além dos cursos semanais em grupo, um estudante da escola


lhe faz um tratamento eutônico por semana. Consegue-se a nor-
malização da circulação em muito pouco tempo. A musculatura
das duas pernas se fortalece a ponto de, seis meses depois, o
paciente poder caminhar sem bengalas. No ano seguinte, viaja
ao exterior e se casa. É aprovado no exame nacional e, desde
então, trabalha como jurista numa comissão internacional.
Segundo seu testemunho, o ensino da eutonia lhe propor-
cionou sobretudo relaxamento psíquico e físico, e capacidade
de aceitar suas limitações sem tentar compensá-las em outros
aspectos. Sua capacidade de concentração aumentou. Seu equi-
líbrio e sua postura corporal têm melhorado tanto que as benga-
las já não são necessárias.

lnfonoe do médico sobre este caso em maio de 1975

"Depois do primeiro ano de aulas e de tratamento em euto-


nia, as pernas nunca mais ficaram frias. Não há edemas. O pa-
ciente se re fere à sensação de bem-estar nas pernas, que estão
integradas agora na sua sensação corporal, como sendo um pro-
gresso notável. Caminha até quinhent os metros sem aparelhos,
mas utiliza-os habitualmente quando sai. Em casa, caminha sem
parelhos nem bengalas. Pode rechaçar o chão ao caminhar. Seus
joelhos têm uma leve hipertensão. Sua consciência corporal e seu
equilíbrio têm melhorado consideravelmente. Como utiliza me-

138
nos as bengalas para caminhar, seus braços estão menos cansa-
dos. A diferença de comprimento entre as duas pernas é de
2,5 em".
Dra. Lise Plum

Um caso de paraplegia

O informe que se segue, sobre um caso de paraplegia, inclui,


além das próprias observações do paciente, muitos detalhes que
podem servir a terapeutas experimentados para dar a seus trata-
mentos tradicionais uma nova orientação, o que redundaria em
novas possibilidades aos paralíticos.
A doutora Lise Plum, especialista em medicina física, pro-
fessora de anatomia e de neurologia na escola Gerda Alexander
de Copenhague, escreve a esse respeito:
"Nos meios médicos tradicionais, considera-se que uma
pessoa que sofre de paralisia provocada por uma secção medular
traumática (como paraplégicos ou quadriplégicos) pode conse-
guir, durante dois anos, uma melhora no plano neurológico, pela
regeneração das fibras nervosas. Passado esse prazo, a situação
sensório-motora é considerada estacionária. Quatro pessoas para-
lisadas por causa de secções medulares traumáticas em ní veis
diferentes foram tratadas por eutonia, mais de dois anos depois
do acometimento.
"Nos quatro casos. puderam-se desenvolver capacidades
sensório-m otoras que não parecem corresponder àquelas que até
agora foi possível de envolver nesses casos, o que justificaria que
se reconsiderassem certas idéias sobre o funcionamento e a utili-
zação do sistema nervoso . Em todo caso, seria bom afastar-se
dos cam in hos trarlicionais de raciocútio e seguir novos rumos
para a investigação.
"Quanto a isso, o estudo dos casos de paralisia por secção
medular traumática é particularmente revelador; de acordo com
a ótica tradicional, apresentam uma lesão localizada, à qual estão

139
ligados sintomas bem catalogados. Aqui não é possível atribuir
as melhoras a um fenômeno psicossomático qualquer."

Anexo do informe da clínica especializada para q uadriplégicos


de 24.12.72

"Em 1971, o sr. R. H., que tinha então 24 anos, foi vítima
de um aciden te automobilístico n o qual fraturou a 7~, a 9~, e a
12~ vértebras dorsais, assim como a H vértebra lombar, com
lesão da medula à altura da 6~ e 1 2~ dorsais e especialmente por
baixo da OS e 010 com paraplegia co:1secutiva e uma paralisia
da bexiga e do cólon. Depois de seis meses de tratamento na clí-
nica, não se observou nenhuma melhora, o que leva à afirmação
categórica de que esta paralisia ê uma conseqüência direta do
acidente e que perd urará por toda a vida."
"O sr. R. H. está condenad o a utilizar uma cadeira de rodas
pelo resto de sua vida. A longo prazo n ão terá nenhum controle
sobre o funcionam ento da bexiga e do reto. Também deverá
suportar o sério dan o ocasionado a suas funções sexuais. Esta
situação o torna extremamente dependente da ajuda de outras
pessoas e faz com que precise de muitos cuidados. As conseqüên-
cias desse acidente pennitem prever uma invalidez de 100 %.
"Parece pouco provável que o sr. R. H. possa, no futuro,
COJ_TI esta grave invalidez, continuar seu estudos e começar de-
pms a trabalhar, pois qualquer esforço constante lhe é impossí-
vel. O sr. R. H. estará no futuro sob cuidado médicos, com con-
troles regulares, fisioterapia permanente e talvez tam bém, mais
tarde, tratamentos clínicos."

Assinatura do chefe da clínica

Em janeiro de 1973, R. fi inicia um tratamento com a


sra. Aiexander. A sef,'Uir, transcrevemos um extrato do diário
no qual o pacien te anotou suas rea ões pessoais:

140
Primeiros tratamen tos com a sra. Alcxander, em Cope-
nhague, de 16 de janeiro a 4 de fevereiro de 1973 (acidente: 8
de maio de 1971).
16/1: Senti um formigamento ·ntenso nas duas pernas; à noite
dormi pouco e mal.
17/1 : dormi mal; muita sede.
18/1: pela primeira vez senti o esqueleto até o calcanhar. Minha
perna podia estirar-se com a pressão que exercia a mão do
terapeuta; senti o movimento da articulação no joelho es-
querdo e nos dois lados do quadril O formigamento não é
tão difuso. Depois do tratam ent o, tive frio durante duas
horas e depois dormi um so no profundo e tranqüilo.
19/1: dia de descanso. -
20/1: durante o tratamento tive frio ; num certo momento senti
a pressão na musculatu ra do fêmur esquerdo. Sentir já não
exige de mim tanta concentração, agora que a sensação é
mais forte n os ossos. O reflexo proprioceptivo, o trans-
porte, tornam-se fáceis de encontrar.
21/1: Ao fazer o inventário da sensibilidade do corpo, a sensa-
ção nas partes do corpo que não estão paralisadas adapta-se
às que estão paralisadas, e vice-versa, de modo que o corpo
volta a ser uma unidade. O equilíbrio na posição sentada é
muito mais seguro, quase bom com os olhos fechados. Ao
sacudir minha cadeira de rodas, pude sentir deslizar a pele
sob os ísqu ios.
22/ 1: ao sentir o braço direito, imediatamente surge o formiga-
m ento na perna direita. Com a mão, é o pé que responde.
O mesmo acontece com o lado esquerdo. Posso estirar m e-
lllOr a perna direita do que a querda.
23 / 1: dia de descanso.
24/1 : ao caminhar, consigo mover melhor uma perna se repul-
sar a outra.
25/1: o reflexo proprioceptivo se torna cada vez mais forte e
mais fácil de sentir. Não há mudanças particulares na sensa-
ção. Quando quero ajudar A. a dobrar m eus joelhos, ela
nota que estão mais pesados do que de costume. Isto é por-

141
que não tive a sensação de dobrá-los, e, ao invés disso, esti-
quei minhas pernas. Mas recomeço e consigo fazê-los reto-
mar o peso normal.
26/1: depois do tratamento , sinto-me forte e cheio de vida. Sin-
to na minha articulação do joelho que, ao caminhar, sou
capaz de estirar-me dentro de meu aparelho. Se eu mesmo
me toco, sinto-o de forma cada vez mais precisa, especial-
mente na perna esquerda. À noite tenho o nariz, a garganta
e a pele muito secos. No dia seguinte, depois de uma cami-
nhada de três horas, percebo que estou cansado.
28/1: caminhei antes do tratamento. O tratamento foi longo e
intensivo. Levantando-me sobre os joelhos, posso mover as
pernas de frente para trás. A coxa esquerda torna-se cada
vez mais sensível. Nenhuma diminuição da sensibilidade,
mas, sim, ao contrário, uma ligeira melhora geral.
29/1: melhora do estado geral. Durante a manhã, espasmos pro-
fundos.
30/1: de pé, o estiramento dos joelhos (nos aparelhos fixos) me
é bastante fácil. Hoje senti pela primeira vez, durante o
estiramento , uma solidez desde o quadril até o pé. Isso me
dá segurança quando fico em pé. O formigamento na perna
esquerda e no músculo direito é ainda forte e quente. Hoje,
a doutora Lise Plum e a sra . Alexander examinam meus
primeiros progressos.
1/2 : a -bexiga sem tensão reteve 290 cm3 (de manhã, durante os
movimento s passivos).
2/2: senti claramente os músculos do abdômen sobre a bexiga:
posso movimenta r esses músculos. No dia seguinte, em duas
ocasiões, urinei 300 cm3. Dormi mal, estirei as pernas de
muitas maneiras. Depois do t ratamento, formigam ento
muito fort e sensação de agulhadas nas duas peruas. À
noite, só depois de algumas horas pude encontrar descanso.
3/2: ao apalpar a coluna vertebral entre as omoplatas, senti ime-
diatamente reações muito fortes e rápidas no estômago.
Depois, fiquei com o estômago e a barriga irritados até de
noite. Também senti a estabilidade da musculatur a ao

142
redor da pelve, particularm ente quando movimentava a
perna em direção ao ventre. Deitado de lado, pude sentir
o deslocamento dos músculos sobre o colo do fêmur. A
bexiga se esvazia se apalpo sem pressionar.
Estava realmente nocaute depois do tratamento.

Fim do tratamento em Copenhague.

R. H. anotou no seu diário, de 5/2 até 25/2:


1) O movimento e a sensação dos músculos das costas até
o cóccix.
2) Depois dos movimentos passivos e palmadas leves, uri-
nei 350 cm3 e outra vez 400 cm3.
3) Em posição sentada, pude estender os músculos das
coxas e deixar-me cair para a frente, sem dificuldade .
4) Deitado de lado, com as mãos entre os joelhos, as per-
nas dobradas, posso sentir, faz uma semana, todos os movimen-
tos dos tendões, quando tento estirar as pernas e voltá-las para
mim, apertá-las uma contra a outra ou separá-las.
5) Posso deter os espasmos nas pernas quando as estiro
voluntariam ente até os calcanhares.

Observações feitas durante o curso de verão em Fischerrhude,


em 1974, e depois do curso

29/7: dia completo. De manhã, depois de ter trabalhado com o


bastões sob o sacro, senti como se uma cobra tivesse me
picado. Cóccix gelado. De repente, um aumento de energia
física e mental. Mas não dura muito. Antes do almoço estou
cansado.
À tarde, o mesmo exercício com os bastões é doloroso. A
sra. Alexander me ajuda e as dores logo desaparecem. O
movimento eutônico provoca um formigamen to desagradá-
vel nas pernas. Senti as tensões nos músculos.

143
30/7: trabalhamos o pescoço e as vértebras cervicais. À tarde,
"giro de coluna", insistindo nas articulações costa-verte-
brais e estemo-costela. Prolongamento do estemo nos bam-
bus. Descargas intensas. À noite urinei muito, mesmo sem
ter bebido nada .
2/8: trabalhei todo o dia; à tarde tenho a impressão de ter per-
nas finas. Muitas vezes, ao concentrar-me num estiramento
de todo o corpo, tive verdadeiros estremecimentos no joe-
lho e coxa esquerdos.
3/8: enquanto trabalho, tenho a sensação de que minhas pernas
se tomam fmas.
4/8: tenho calor demais nas pernas.
5/8: não sinto necessidade de trabalhar mais. Ao caminhar, senti
toda a linha de força até dentro do sapato. Descansei muito,
mas estou totalmente esgotado. Por quê?

Fim do curso

6/8 : um pouco de febre, mas não sei por que. À tarde estou
exausto demais para manter a consciência das minhas per-
nas; elas incham.
7/8: furúnculo na nádega.
10/8: minhas pernas voltam lentamente à vida.
11/8: hoje estão inteiramente presentes. Tenho vontade de tra-
balhar e energia para dar e vender.
12/8: ontem trabalhei muito bem, mas minhas pernas estão ter-
rivelmente finas. Hoje, a mesma coisa: quando faço pressão
sobre a perna direita, fica uma mancha roxa. Na esquerda
isso não acontece.
15/8: caminhei novamente, e muito bem.
20/8 : hoje notei que me mantenho melhor de pé com os olhos
fechados do quando os abro. Minha concentração é tão
boa que faço tudo bem.
11/9: defecação muito grande, sem transpiração. Cada vez que,
casualmente, apalpava o joelho para sentir o transporte

144
para o chão, notava uma contração dos músculos da coxa.
Espasmo reflexo. A próxima vez, irei fazê-lo concentrando-
-me e observando. Andei bem.
12/9 : dor nos dedos dos pés. Formigamento mais intenso. Ao
"rechaçar" a partir dos pés, as pernas se separaram uma da
outra espontaneamente.
14/9: ao caminhar, se "rechaço" o pé direito, por duas vezes
levemente e de maneira inesperada, o pé esquerdo vem por
si mesmo. Acredito que são os primeiros sinais de um pro-
gresso notável.
17/9: senti a articulação do pé e do joelho ao tocar o chão. Bom
contato com as pernas. Não caminhei.
18/9: casamento.
Notei que posso dominar meus espasmos nas pernas e que
me estiro.
25/9: agora ficou patente. Com o tórax inclinado sobre as coxas,
impulsiono com a mão direita a articulação do pé direito.
Como de costume, exerço pressão sobre o calcanhar e sinto
imediatamente que os tendões internos se estendem, desde
o tornozelo até os dedos, a cada vez. Formidável!
26/9: caminhei de modo sensacional.
30/9: caminhei como nunca o tinha feito antes. De pé por um
momento breve, sem aparelhos fixos.
2/10: outra vez estremecimentos de calor e frio na coxa. Dei-
tado sobre o lado esquerdo, observei como o quadril se
move sozinho, sem a ajuda dos músculos superiores. Cami-
nhar excelente, com força à direi ta e à esquerda. Tentei
relaxar os músculos do ventre, erguendo o quadril.
3/10 : durante todo o dia minhas pernas estavam vivas e sentia-as
facilmente; depois desapareceram.
9/10: caminhei ainda mais rápido depois de uma sensação muito
intensa nos dedos dos pés e uma defecação muito violenta,
sem transpiração.
10/10: caminhei muito, muito bem, também recuando. Acredito
que pela primeira vez compreendi que para caminhar devo
estirar-me e inclinar-me para a frente. Sensação muito

145
intensa nos dedos e tensão nos músculos das nádegas.
16/10: depois de ter caminhado muito, durante uma hora senti
formigamentos nas pernas e nas nádegas.
21/10: sensacional!
Durante uma pausa, sento-me na minha cadeira, e, enquan-
to me estiro, sinto oscilações nos músculos situados ao
redor da rótula. Depois, como de costume, fico muito esti-
mulado. À noite, na minha cama, deitado de lado, "recha-
ço" pela primeira vez a partir do trocanter, até a cabeça se
levantar por si mesma.
22/10: outra vez caminhei muito bem. Os músculos do ventre
estão cada vez mais relaxados. Ao bater no meu joelho,
imediatamente sinto formigamentos.
30/10: outro dia muito puxado na escola onde trabalho. Minhas
pernas mantêm-se bem. Tenho a impressão de que a tensão
diminuí se me ergo na minha cadeira.
É difícil conseguir estabilidade ao caminhar; mais espasmos,
provavelmente devidos à escola. À noite tenho frio nas
duas coxas.
11/11: caminhei muito bem em posição de pé; sinto-me livre,
apoiando-me ligeiramente nas barras para manter o equilí-
brio. Comprovo que estar sentado exige força e que os pro-
gressos ocorrem lentamente e requerem paciência.
12/11 : pernas finas, apesar de não ter trabalhado muito. Isto
significa certamente que estão integradas na minha imagem
corporal cotidiana.
16/11: viagem a Copenhague.
17/11: caminhei mal; às duas da tarde, a sra. Alexander come-
çou o tratamento e, de repente, meu corpo se tomou frio,
minhas unhas brancas, sentia muito frio. Depois do trata-
mento estava muito cansado; dormi três horas com cam-
painhas nos ouvidos e visões lwninosas diante dos olhos.
Os dedos dos pés queimavam de frio. Mais tarde, sensação
de frio apenas em um pé, até a metade da noite.
18/11: durante o tratamento, deitado de lado, a sra. Alexander
pressiona sobre o sacro e o quadril. De repente, um estre-

146
mecimento intenso me percorre o corpo e manifestam-se
tensões enormes em todas as partes paralisadas do corpo.
Ao mesmo tempo, um local dolorido por baixo do rim
esquerdo se relaxa. Desde então, não há mais dores.
À noite estou totalmente exausto.
19/11: sensação de gripe.
20/11: depois do tratamento, como um garoto, continuo brin-
cando com os músculos até os joelhos. De novo empurrei,
pratiquei a manobra do "rechaço" contra a parede.
21/11: hoje eu o consegui facilmente. O resultado é sempre
melhor quando não estou excessivamente concentrado.
Depois, tratamento especial para as pernas, o que as deixa
geladas até à noite.
22/11 : cochilei o dia todo. Esta tarde, cada coisa me parece
mais difícil: tenho os pés quentes, cheios de formigamen-
tos. À noite, dor de cabeça.
23/11: tratamento muito intensivo. Depois de ter visto ontem o
esqueleto, encontrei em 100% a linha de força exata do
trocanter ao pé. O tratamento da coluna me deixa muito
dolorido até a noite, especialmente ao nível de Dl2.
25/11: trabalhei muito no estiramento das pernas. Durante uma
flexão do calcanhar, senti levemente, mas de forma bem
clara, o tendão de Aquiles esquerdo, até o quadril. Sensa-
ção de progresso total. Muito cansado.
26/11: outra vez uma grande sensação de progresso no estira-
mento e, estando sentado, maior estabilidade. Depois,
minha coxa esquerda arde até à tarde.
27 e 28/11: duas vezes estirei as pernas para o lado, mas não
encontrei bem o jeito de fazê-lo. Sobre o ventre é mais
fácil, e sinto as coxas quentes e cheias de formigamento.
No dia seguinte acordo com dor de cabeça.
2 9f 1 I : consegui imaginar o caminho correto para estirar as per-
nas. O cansaço e essa sensação de peso desapareceram.

Regresso de Copenhague

147
3/12: novamente em casa durante o dia, nada especial. Minhas
pernas ficavam agradecidas quando as tocava com atenção
e a resposta se traduzia em formigamento. À tarde, traba-
lho curto e muito intensivo de "contato".
4/12: finalmente caminhei! Primeiro muito mal, depois muito
bem. Espero ter feito bem o exercício de "rechaço". À
tarde, trabalhei três quartos de hora na cama, porque tinha
frio a partir da cintura. Ao sentir o osso da pelve, cóccix,
púbis, reação muito forte nos intestinos.
5/12: à tarde, calor desagradável nas coxas. Das 17 às 23 horas,
passo sentado todo o tempo.
6/12: de manhã, espasmos muito fortes. Durante todo o dia, um
tônus alto que, freqüentem ente, provoca espasmos (tem-
pestade - baixa pressão atmosférica ). Estando de joelhos,
depois sobre os calcanhares, faço movimento s de "rechaço"
partindo das tíbias, num ângulo de 45° com o solo e volto
outra vez a ficar de joelhos como se fosse uma mola. Era
realmente verdade.
7/12: sobre os joelhos, como ontem, observei o trabalho dos
músculos da coxa quando usava o rechaço contra o chão.
9/12: problemas com a bexiga. Esvazia-se lentamente e dói.
11/12: não voltei a caminhar. Tempo demais sentado, mas as
pernas não estão inchadas. À tarde, trabalhando com minha
mulher, de repente ti ve calor; não há regressão.
12/ 12: senti tensões para cima e para baixo da cavidade dos joe-
lhos durante o estiramento . Caminhei bem.
14/12: estive muito tempo fora, no frio, e sentia frio desde os
pés, em todo o corpo. Senti fmalment e que a regulagem do
calor funciona normalmen te em todo o corpo.

Tratamento em Copenhague de S a l S de maio de 1975

5/5/75: A sra. Alexander não fez mais do que por assim dizer,
me beliscar a pele das costas. Desd e então, sinto-me reto e
com maior segurança na minha cadeira de rodas. À noite e

148
na manhã seguinte, muitos espasmos. Urinei pouco, apesar
de ter bebido muito . Depois do tratamento estava sem
forças.
6/5: senti a diferença entre o reflexo e o trans arte a partir dos
pés até as costas.
7/5: senti as pulsações que o terapeuta fazia nos pés até a altura
do pescoço. Ao procurar girar os pés para dentro e para
fora, os músculos utilizados ficam muito quentes, principal-
mente se Annegret põe a mão em cima. O "giro" dos pés
pode ser visto inclusive de fora. ·
8/5: deitado de lado, tentei estirar as pernas, usando o repulsar a
partir do trocanter. Girei os pés para dentro e para fora e
estirei as pernas flexionadas a partir da parede. Hoje tenho
dificuldade em achar, na minha consciência, o caminho até
os pés, mesmo podendo sentir realmente a ajuda da sra.
Alexander (resistência contra os pés e os joelhos).
9/5: hoje senti um contato melhor em direção aos pés. O trata-
balho intenso de ontem deu frutos.
10/5: descanso.
12/5: os primeiros resultados do esforço de sexta-feira se fazem
sentir. Encontro o caminho exato para estirar as pernas,
estando deitado de lado. Enquanto caminhava, num mo-
mento em que sentia que minha postura estava direita, a
perna esquerda estendida se liberou como se ela se voltasse
para a frente por si mesma. Tenho certeza de que não era
um espasmo.
Em posição sentada, depois de ter corrigido a posição da
coluna vertebral, senti sem dor a conexão com a pelve e, ao
mesmo tempo, por fun, o ísquio esquerdo com o peso do
corpo descansando sobre ele.
13/5: o estiramento das pernas em decúbito dorsal é finalmente
mais claro e mais fácil de sentir e também realmente mais
forte, como quatro pessoas puderam comprovar. Senti de
um modo extraordiná rio o fêmur direito, pude jogar com o
osso, tão vivo, e com o espaço ao redor. Sentar-me sobre· o

149
tapete ou sobre uma superfície dura já não me incomoda,
ao contrário, me dá muita segurança na posição.
14/5: hoje me levantei com o pé esquerdo e me parecia que
nenhum exercíCio saía bem, mesmo que a sra. Alexander e
os outros me dissessem o contrário, acrescentando que
inclusive estava muito melhor que da última vez, mas eu
não me sentia assim. Tive espasmos durante todo o dia e
continuo insatisfeito com o trabalho.
15/5: filmam-me para registrar meu estado atual.
17/5: regresso à Alemanha. Trabalhei durante uma hora de for-
ma intensiva com Annegret. O estiramento das pernas, a
partir das pernas flexionadas, aconteceu sozinho. Pude sen-
tir todo o tempo onde estavam as mãos durante .Q._Contato
iliavésd;'pele, e senti um formigamento intenso nas per-
nas. Lamentavelmente, não chego a sentir todo o transporte
até a cabeça, pois Annegret ainda não é capaz de ajudar-me
precisamente na resistência. Fiz uma nova descoberta per-
manecendo sentado numa superfície dura: ajudando-me
ligeiramente com as mãos, posso deslocar-me para a frente
e para trás, girando a pelve a partir dos ísquios. O ísquio de
apoio exige uma atenção particular, já que devo "rechaçar"
com ele, obliquamente ao chão, para frente e para trás, de
modo que o outro lado avance por si mesmo e leve a perna
com ele. O passo com o ísquio direito é nitidamente mais
difícil, pois não sinto bem o ísquio esquerdo, com o qual
tenho dificuldade de "repulsar" obliquamente ao solo.
19/5: uma hora de trabalho intensivo. Infelizmente, não estava
bastante descansado. Só sinto o contato ligeiramente, mes-
mo sentindo vida nas pernas. O estiramento das pernas em
decúbito dorsal, a partir das pernas flexionadas, saiu muito
bem. Depois dos exercícios, eu me sinto muito melhor do
que antes.
20/5: o contato através da pele foi conseguido realmente muito
bem, e logo fez efeito. Deitado de lado, senti casualmente
o toque das pernas com o chão. Depois de alguém me aju-
dar a levantar a perna de cima, que pesava demais sobre a

150
,

outra, consegui finalmente, com um esforço intenso, esti-


rar lentamente as duas pernas ao mesmo tempo, contra a
resistência que exercia Annegret no joelho e no pé.

Situação depois da última série de tratamentos, em maio de 1975

Antes de dar os resultados do exame médico, o médico faz ques-


tão de registrar que, depois de ter sido aprovado no seu exame
de assistente social, R. H. está empregado, oito horas por dia,
num centro para adolescentes com problemas de caráter. Exer-
cita-se em caminhar e manter-se de pé com muletas durante
quinze minutos por dia; o resto do tempo, está sentado na sua
cadeira de rodas.

No plano da sensibilidade

Lado direito: normal até imediatamente abaixo do umbigo.


Lado esquerdo: normal até cinco centímetros abaixo do
umbigo.
No nível da pelve e dos membros inferiores, o aluno men-
ciona "uma sensação às vezes difusa, às vezes localizada, de toque
ou de pressão, sendo a mais evidente a pressão contra o osso".
A qualidade dessa sensibilidade varia de um dia para outro.
A sensibilidade térmica não corresponde à estimulação
externa da pele, nem à sua temperatura própria.

No plano motor

Os testes habituais de força muscular não revelam força


mensurável nas pernas e só a revelam de maneira duvidosa na
parte inferior do tronco.
Não obstante, o modo de R. H. movimentar-se é completa-

151
mente diferente, do que se observa em paralíticos do mesmo
tipo e do mesmo nível, reeducados pelos meios tradicionais. É
indubitável que não se trata do emprego da espasticidade (a neu-
tralidade consciente da espasticidade é, pelo contrário, uma con-
dição prévia para o êxito do movimento eu tônico).
R. H. pode conscientemen te deter o movimento espástico
do pé e também aprendeu a conter os espasmos.

Alguns exemplos de movimentos eutônicos praticados por R. H.

"Utilizando o transporte, pode mover a coluna e a pelve de


maneira coordenada; por exemplo, estando sentado e sem apoiar-
-se em nada, pode deslocar-se cinco graus em relação à vertical.
Apoiando-se nas mãos, desloca-se trinta graus sem perder o sen-
tido da coordenação coluna/pelve (isto foi filmado).
"Sentado no chão com as pernas dobradas, e tomando
impulso com os pés, pode levantar-se do chão e sentar-se na sua
cadeira. Neste movimento é evidente que a força provém mais
das pernas do que dos braços.
"Antes, quando estava deitado, dava a volta com a ajuda
do impulso dos braços. Agora realiza esse movimento a partir do
tronco. Depois recoloca as pernas com as mãos.
"Com seus aparelhos e a ajuda de bengalas inglesas, perma-
nece de pé; o eixo de gravigade passa pela articulação do quadril.
Pode deslocar as pernas isoladamente (ritmo em quatro tempos),
utilizandoto transporte através da perna fixa; ainda perde o equi-
líbrio algumas vezes. Na vida normal, caminha em dois tempos.
Exercita-se em permanecer de pé e em caminhar sem aparelho.
"As aptidões no plano motor parecem depender direta-
mente de uma boa circulação sangüínea nas pernas. Depois dos
tratamentos por eutonia, é evidente uma melhor irrigação san-
güínea dos músculos da pele.
"Pele: calor e cor normais.
"Não há edemas, ulceração ou marcas de pressão na pele

152
dos pés ou das nádegas, apesar de trabalhar sentado oito horas
por dia.
"O sr. R. H. recebeu três séries de respectivamen te quinze,
onze e nove tratamentos, em Copenhague; além disso, partici-
pou, em duas ocasiões, dos cursos de verão da escola, onde mui-
tos terapeutas puderam comprovar seus progressos.
"Depois da primeira série de tratamentos, e de maneira
totalmente inesperada, as coxas tinham engordado a ponto de
ser necessário alargar os aparelhos."

Abril de 1977
Dra. Lise Plum

Um caso de pleurite exsudativa aguda

Anamnese: O sr. N. H., de 38 anos, sofre de disfagia (difi-


culdade para engolir) há dois dias, acompanhada de inflamação
nos gânglios parotídeos do maxilar esquerdo. Primeiro registro
de temperatura do dia anterior, 38,2° C. Sintomatologi a geral
de resfriado (tremores).
Resultado do exame: Temperatura ao meio dia, 38,2° C; à
noite, 39,5° C. Estado geral, circulação e coração: excetuando
uma levíssima taquicardia, sem particularidades. No pulmão, à
direita e atrás da base 4 QuF, forte amortização do eco que
ascende de forma lateral e se desloca completament e ao respi-
rar; respiração um tanto atenuada, no mais s. p.
Diagnóstico: Pleurite exsudativa, dxtr. ac.
Na consulta, quando se tenta determinar as causas possí-
veis do surpreendente aumento de temperatura entre o meio-dia
e o anoitecer, o paciente informa que é aluno da sra. Gerda Ale-
xander, de Copenhague, e que, tendo sido treinado em seu mé-
todo de relaxamento e irradiação, tinha se concentrado num
exercício de calor e irradiação no plexo solar, numa tentativa

153
de autodiagnóstico. Uma hora depois, registrava-se a tempera-
tura elevada.
Em conseqüência desta informação, resolveu-se, depois de
consultar a sra. Alexander, suspender momentaneamente o tra-
tamento médico tradicional e tentar atuar sobre o processo por
meio de uma terapia compatível com o método Alexander. Pres-
creveu-se ao paciente, portanto, uma dieta simples de manuten-
ção, nos primeiros dias, foi-lhe administrado um laxante suave
para regular o intestino, evitando todo o tipo de terapia farma-
cológica ou física. Durante os primeiros doze dias da doença,
enquanto o paciente se mantinha no leito, foram-lhe aplicados
diariamente dois tratamentos de meia hora cada um, pela sra.
Alexander ou alguma de suas assistentes. Esses tratamentos con~
sistiam numa "irradiação" do tórax, que se conseguia apoiando
as mãos sobre a parte afetada, completando com exercícios de
concentração efetuados pelo próprio paciente. O controle médico
regular do paciente e do sistema pulmonar constatou o seguinte
resultado: do ponto de vista subjetivo, uma total ausência de sin-
tomas, com exceção de um episódio de cefalalgia; bem-estar ge-
ral. Objetivamente foi registrada, no princípio, leve transpiração,
sem particularidades na condição geral e circulatória. Rápida
redução da temperatura em apenas três dias, até alcançar níveis
subfebris, que se mantiveram inclusive depois que o paciente se
levantou e fez alguns passeios, a partir do décimo terceiro dia
de doença, chegando unicamente a 37° C durante as horas do
meio do dia e nos dias 20 e 21 (últimos dias de observação). O
diagnóstico local foi extremamente interessante e peculiar. A
altura da exsudação desceu permanentemente durante os primei-
ros nove dias de tratamento, de 4 a 1 QuF sobre a base inferior
esquerda do pulmão (linha escapular). No décimo dia registrou-
-se o notável quadro que se segue: o limite superior de amortiza-
ção que registrava originalmente o eco na região dorsal, paralelo
à base horizontal do pulmão, e que subia um pouco na direção
axilar, havia se deslocado. Enquanto a zona de amortecimento
da axila até 4 QuF lateral a partir da espinha dorsal somente
registrava uma altura de 1 QuF, subia desse ponto até quase

154
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tocar a espinha dorsal, alcançando uma altura de 4 QuF em
forma de triângulo.
Comentando este diagnóstico com a sra. Alexander chegou-
-se à conclusão de que a mudança na exsudação poderia estar
relacionada com a forma de tratamento (apoio das mãos do tera-
peuta na linha axilar). Modificou-se então a terapia de modo que
a mão fosse apoiada junto à espinha dorsal. Imediatament e ini-
ciado o novo tratamento, procedeu-se ao controle do paciente.
Em relação à zona de amorteciment o registrada anteriormente
(marcada sobre as costas do paciente), observou-se uma redução
da limitação do eco (sempre medida sob inspiração profunda)
exatamente para a metade. O controle efetuado três dias depois
encaminhou, como condição inicial, o mesmo estado descrito
acima, enquanto que a medição registrada depois de um trata-
mento de meia hora confirmou uma nova redução para a meta-
de. ~o décimo quarto dia de tratamento, o diagnóstico inicial
lateral à espinha dorsal apresentava um amorteciment o de um
dedo e meio em 5 QuF, e lateralmente nenhuma interferência.
Depois do tratamento de meia hora, nova redução à metade.
Subjetivamente, a condição do paciente era muito boa (não
registrou cansaço numa caminhada forçada de meia hora).
Diante da insignificância da perturbação e da iminência de sua
partida, resolveu-se dar alta ao paciente depois de vinte dias,
estando ele praticamente recuperado.
Resumo: um caso de ·pleurite exsud. dxtr. aguda, com der-
rame de altura, 4 QuF e temperatura de até 39,5° C foi tratado
de acordo com o método Alexander sem terapia adicional, man-
tendo repouso e com dieta leve. Todos os sintomas objetivos da
doença cederam no transcurso de 3 semanas. Subjetivamente, o
paciente não registrou quase nenhum sintoma. Toma-se parti-
cularmente notável neste contexto um desenvolvimento rápido
e livre de complicações do tratamento e a confirmação do retro-
cesso excepcionalm ente rápido e contínuo dos sintomas de exsu-
dação por efeito das mãos que o trataram, especialmente na zona
de apoio e circundante. A interpretação da sintomatologi a obser-
vada excede, sem dúvida, a presunção de uma aplicação de calor

156
sobre a zona de reflexos correspondent e ao órgão doente. Deve
ter-se produzido uma influência sensivelmente superior, que ati-
vou o funcionament o celular total da região corporal afetada e
que poderia ter relação com a ativação de processos bioelétricos.

Dr. Alfredo Bartussek


Médico especialista em doenças internas

Asma

Uma dona-de-casa de 28 anos, mãe de três filhos, inscreve-se


num treinamento grupal por causa de uma afecção asmática que
a aflige desde sua juventude. (0 pai sofre de asma desde quando
ela tem lembrança.) Os sintomas asmáticos desapareceram du-
rante o inverno e não tomaram a se apresentar.
Três anos depois, é transferida para terapia eu tônica por'
seu médico, em conseqüência de uma persistente agitação psico-
motora que lhe provoca dores no estômago, no diafragma e na
região do coração, sem que tivesse havido melhora pelo trata-
mento habitual através de massagem e exercícios de relaxamen-
to. Manifestava também aversão a qualquer tipo de aproximação
sexual por parte de seu marido. Esta aversão era particularmen te
intensa quando seu marido lhe tocava na região do pescoço. (A.
tinha sido tratada por dois psiquiatras, pelo método psicanalí-
tico, por causa de sua frigidez.)
Depois dos dois primeiros tratamentos eutônicos, registra-
ram-se crises de choro. A partir da terceira sessão ela desperta
durante a noite por causa de um intenso cheiro de éter, mas ela
se levanta e revista a casa sem encontrar éter em nenhum lugar.
Lembra bruscamente o momento em que, quando criança, suas
amígdalas foram extraídas por um médido a quem admirava
muito, e que era pai de uma amiga sua. Cada vez que, já adulta,
via esse médico, experimentava forte aversão, mesmo sem se
lembrar da operação.
Uma vez tendo aflorado esta lembrança, desaparece seu

157
desagrado por ser tocada no pescoço. Depois da quarta aula,
pouco depois de se ter retirado, volta ao instituto completam ente
alterada. Acabava de encontrar, na rua, o referido médico, o qual
estava morando no interior. Depois que se tranqüilizou um pouco
disse de repente, inesperadamente: "Agora tenho que resolver
com meu marido".
A partir de então sua vida matrimonia l melhorou conside-
ravelmente, e voltou a interessar-se por seus filhos. Depois do
sexto tratamento saiu de férias. Desde então só se registraram
irregularidades leves de tensão em períodos de grande cansaço.
Seu casamento é feliz e harmonioso.

Tratamento de uma lesão ocular

Aos 14 anos, durante uma tempestade , X. teve um fragmento de


vidro incrustado no olho. Da operação que se fez necessária
adveio um engrossamento da córnea, reduzindo ao mínimo a
potência visual. A cicatriz se abriu depois de uma forte bron-
quite, e X. teve que voltar a depender de médicos. Desde então,
a cicatriz se reabria a cada dez anos, provocando consideráveis
dificuldades a X., que trabalhava com pintura e artesanato. A
última ruptura da cicatriz foi tratada há seis anos, costurando-se
as pálpebras pelo espaço de meio ano, e dando injeções diaria-
mente no olho a fim de ativar a circulação. X. inicia a terapia
eutônica com a esperança de poder impedir a próxima abertura,
esperada para dali a quatro anos.
Durante o tratamento eutônico teve intensas vivências de
cor, que também se apresentaram durante o exercício individual.
Depois de alguns meses encontra-se capacitada para ler os títu-
los dos jornais. Por meio de exercício cotidiano, foi aumentand o
a capacidade visual, até poder ler escrita manual com letras gran-
des. Ao mesmo tempo foram desaparecendo as dores nos braços
que a atormentav am há anos, provocadas pelo excesso de esfor-
ço realizado trançando cestas. A melhora se manteve até hoje.

158
VIl. A eutonia na emissora de rádio
estatal dinamarquesa

Resultado da pesquisa feita com


sessenta membros da emissora de rádio
estatal dinamarquesa, que assistiram a
um curso de eutonia de três meses de duração

58 dos 60 participante s (os que não respondera m estavam impe-


didos de fazê-lo por motivos de doença) responderam às seguin-
tes perguntas:
Quantos dias de doença registrou durante os três meses de
experiência?
30 participante s (entre os quais 22 músicos): nenhum dia
de doença.
28 apresentaram doença (8 resfriados, 8 gripes, dois casos
de caxumba, uma perna machucada numa queda, uma úlcera no
estômago, uma bronquite, uma inflamação da córnea e uma
gota).
O senhor se apresentou às aulas de eutonia porque sofria
de alguma doença?
37: sim.
21: não.
As doenças mencionada s são: fadiga dos músculos dos bra-
ços e das pernas, tenocinovit e (inflamação da bainha de um ten-

159
dão), problemas de gota, inftltrações dos músculos, dores de .
cabeça, lumbago, ciática, úlcera de estômago.
As aulas de eutonia modificaram suas doenças?
33: sim.
17: ainda não podemos julgar.
8: não tínhamos problemas de saúde.
Os senhores acreditam que as aulas de eutonia tiveram
influência favorável no seu trabalho e na satisfação que este
lhes dá?
33: sim.
19: não podemos dar uma resposta.
I : é possível.
5: não.
Esta pergunta parece ter provocado uma certa irritação que
põe em evidência a ambigüidade de uma experiência deste tipo,
realizada num meio profissional, no estado atual de nossa socie-
dade. Devemos ter isso em conta.
Vocês acreditam que as aulas de eufonia tiveram influência
favorável na sua capacidade de concentração?
21: sim.
12: não podemos dar uma resposta.
18: sem resposta.
5: não.
Deseja continuar as aulas?
53: sim.
7: não (entre estes, 4 tinham participado muito raramente
das aulas).
As respostas dadas verbalmente pelas pessoas ausentes estão
incluídas nestes números.
Porém, devemos mencionar que a maioria das respostas
dadas por escrito eram detalhadas. Principalmente quando se
tratava de respostas relativas a uma melhor manipulação do arco,
ao controle dos nervos e das tensões musculares, a uma técnica
mais flexível para os instrumentos de sopro, ou à cura de tenoci-
novite ou de cãimbras do escritor, os empregados, os encarrega-
dos e os músicos deram freqüentemente muitos detalhes, ficando

160
evidente que tinham compreendido perfeitamente o sentido do
trabalho.

Dr. Thorkil Vangaard


Psiquiatria-neurologia
Copenhague

"Nos dias 1O e 12 de março, examinei os músicos da orques-


tra de concerto da emissora de rádio estatal dinamarquesa que
participaram, numa experiência de três meses, de um curso de
tratamento por eutonia.
"Solicitamos a 31 pessoas que comparecessem ao exame:
4 não se apresentaram, 3 tinham participado muito pouco tem-
po para serem consideradas admissíveis, 2 estiveram doentes por
seis semanas durante o período da experiência não podendo,
portanto, ser incluídas entre os participantes.
"Entre as 22 nas quais se pode julgar o resultado dos trata-
mentos por eutonia, há 8 membros da orquestra, 14 eQ1pregados
que trabalham nos escritórios, no controle ou nos serviços téc-
nicos.
"O resultado do exame dos 8 músicos é o seguinte: todos
confirmam uma resposta satisfatória aos tratamentos. As dores
ou as tensões na musculatura desapareceram ou se atenuaram;
conseqüentemente, o domínio técnico dos instrumentos e a
capacidade de expressão musical evoluíram.
"Além disso, podem efetuar execuções extensas sem expe-
rimentar fadiga nem tremores musculares.
"V árias pessoas assinalam que seu nervosismo diante das
tarefas difíceis desapareceu, que seu estado geral melhorou e que
sua capacidade de se entregar a um ótimo repouso aumentou.
"Fazia quatro anos que uma pessoa padecia de dores de
cabeça permanentes, como seqüela de uma comoção cerebral;
essas dores desapareceram por completo depois do tratamento.
Outra sofria há anos de dores ciáticas que desapareceram com os
exercícios. Uma terceira se queixava de cansaço e de dor por ter

161
os pés chatos; já não sofre nem precisa usar palmilhas ortopé-
dicas. Outra ainda, que não conseguia tocar passagens tecnica-
mente difíceis porque seus dedos estavam sempre frios, pode
agora manter seus dedos quentes por meio de exercícios de euto-
nia. Com relação aos 12 participantes que trabalham no controle
ou nos serviços técnicos, pode-se assinalar o seguinte:
"Num caso, o sujeito não experimentou resultado algum.
Os demais afmnarn que o tratamento lhes proporcionou um
grande alívio, principalmente no que se refere a dores e fadiga
musculares, que desapareceram ou estão consideravelmente
atenuadas.
"Uma tenocinovite desapareceu por completo. Igualmente,
um caso de dor de cabeça. Uma periartrite umeral, que durava
há um ano, com dores e restrição considerável de movimento,
melhorou notoriamente, de sorte que hoje só subsiste um leve
impedimento.
"Depois do exame realizado no pessoal, antes e depois do
período da experiência de um mês com tratamentos eutônicos,
posso afirmar que o resultado geral é satisfatório."

Dr. Thorkil Vangaard

162
Apêndice
l
Histórico do termo eutonia

O método de Gerda Alexande r que, no princípio , estava orien-


tado para o fenômeno do relaxamen to, demonstr ou, depois de
uma experiênc ia e de um desenvolv imento mais profundo s, exer-
cer influência sobre todo o organismo, superando de longe o
efeito de relaxamen to.
De fato, para vencer as perturbaç ões, não bastará supri.rilir
as tensões; é necessário um equilíbrio do tônus muscular, e, por
sua vez, dos sistemas nervoso e sangüíneo . Poderíam os chamar
"normoto nia" a este estado do tônus equilibrad o, mas a palavra
"normal" perdeu, há muito tempo, seu sentido de naturalida de
e equilíbrio em todas as ordens, incluindo a da saúde. O que cha-
mamos normal, atualmen te, correspon de a um preceito médio
freqüente mente distante - infelizm ente- de um estado de har-
monia e equilíbrio , e não se aplica a um estado ótimo das fun-
ções e do desenvolv imento do organismo. É por isso que a
expressão "normoto nia" não era apropriad a para o método de
Gerda Alexander, seus efeitos e seu objetivo.
É freqüente , em medicina, o uso do prefixo "dis" para indi-
car um mau funcionam ento: disfunção, disritmia... O contrário
de "dis" em grego é "eu", que significa bem, bom, justo. No en-
tanto, as palavras formadas por "eu": eubiótica , eupepsia, sâo
pouco utilizadas, sem dúvida porque esses estados ou capacida-
des são alcançado s muito raramente . Agora, porém, pelo método

165

l
de Gerda Alexander, consegue-se precisamente esse tão pro-
curado tônus corporal e psíquico, justo e apropriado.
Em 1957, em Friburgo, propus a Gerda Alexander que,
com referência a seu trabalho, não se falasse mais em relaxa-
mento, mas sim em regularização !kj:~~, A expressão euto-
nia parecia traduzir perfeitamente os efeitos deste trabalho. Por
iniciativa da Sociedade de Ritmo e Relaxamento, que apóia a
obra de Gerda Alexander desde 1944, realizou-se uma pesquisa
para verificar se o termo eutonia já não era utilizado na Europa,
América ou outro lugar. Como conseqüência desta pesquisa,
Gerda Alexander pôde aplicar a seu trabalho o nome de pedago-
gia e terapia eutônicas. Lamentaveimente, não foi possível res-
tringir a aplicação do termo de forma específica e exclusiva ao
método de Gerda Alexander. A sra. Alexander o havia exposto
e explicado pela primeira vez numa importante conferência apre-
sentada diante de um conclave de especialistas por ocasião do
primeiro congresso internacional sobre "Relaxamento e movi-
mento natural". Três anos depois, foi publicado um livro com o
temário rtesenvolvido neste congresso (edições Karl F. Haug,
atualmente em Heidelberg). Seu título, Eutonia, fez com que
este nome fosse conhecido por todos, mas constitui, ao mesmo
tempo, infelizmente, o ponto de partida de uma lamentável
incompreensão e má utilização.
Existem pensamentos e descobertas que estão "no ar", e
para os quais as pessoas estão de certo modo maduras. Corres-
pondero às suas necessidades e iluminam sua consciência. Pare-
ceria que, numa época de insegurança crescente, de uma civiliza-
ção atormentada e destruída, o termo eutonia viria cristalizar o
desejo de hannonia. Sem dúvida, é por isso que a eutonia tem
captado a atençf.o de tão vastos círculos e teve tanta repercus-
são. Quem pratica a eutonia será considerado moderno e progres-
sista; e será considerado exemplar, pioneiro, se a aplicar na sua
própria especialidade. A indústria fannacêutica logo o descobriu,
utilizando na propaganda de medicamentos relaxantes ou cal-
mantes os slogans do tipo "eutonia por. .. ", seguido do nome
complicado e fantasioso de um produto químico. É fácil imagi-

166
nar o interesse que suscita o método por parte de quem se ocupa
de relaxamento, ginástica, fisioterapia, ioga, etc. E é assim que
se multiplicam os anúncios de cursos de eutonia ou de tratamen-
tos que não têm nada a ver com o método de Gerda Alexander.
Muitos destes organizadores e professores têm-se apropriado de
suas noções básicas e seus exercícios para integrá-los em suas
próprias práticas.
No entanto, não basta a boa intenção para adquirir um
conhecimento preciso da eutonia. É preciso um longo trabalho.
O mau uso de um conceito não só decepciona a quem o criou,
mas também prejudica seu trabalho e afeta gravemente o reco-
nhecimento e o interesse dos círculos científicos. Desta forma,
atrasam-se investigações mais profundas sobre os fenômenos que
aparecem no trabalho eu tônico. Não é possível, lamentavelmente,
patentear um termo como este nem impedir que outros, no inte-
resse de seus próprios fins, se sirvam de uma expressão que é de
interesse geral.
Para evitar a confusão entre essas diferentes escolas e o mé-
todo criado por Gerda Alexander e suas aplicações, impõe-se
falar de "pedagogia e terapia eutônicas de G. Alexander" ou,
simplesmente, de "a eutonia de G. Alexander".

Dr. Alfred Bartussek


Médico especialista em enfermidades internas

167
I

1
Histórico do ensino da eutonia
e da terapia eutǻnica .

As idéias e conceitos fundamentais sobre a teoria e a prática da


eutonia foram expostos e difundidos entre 1929 e o fim da Se-
gunda Guerra Mundial, por meio de cursos e seminários para
professores de jardim de infância e do primário, para professores
de ginástica, dança, fonologia e música, assim como para artistas
e músicos, tanto em Copenhague como em Malmõ/Lund (Syds-
venska Gymnastikinstitutet), Gõteborg e Estocolmo. Desde
1945 sucederam-se numerosos congressos internacionais e semi-
nários na Europa, Israel, Estados Unidos e América Latina (Ar-
gentina, México, Venezuela).
O pleno alcance de uma escola que, por meio da tomada de
consciência da própria "corporalidade" contribui ao mesmo
tempo para o desenvolvimento da personalidade, para a indivj
duação e para um comportamento social de acordo com a
realidade. no princípio só foi reconhecido por Wl S pouco , j á
que esses result ados não podem ser obtidos nwn curso breve.
No entanto, certos princípios da eutonia que conseguiam sur-
preendentes resultados, mesmo em aplicações isoladas, foram
imediatamente reconhecidos como ajudas práticas para a vida
diária e para a terapia. A atenção dirigiu-se então exclusivamente
para o relaxamento, em vez de tentar uma regularização delibe-
rada do tônus total para obter o equilíbrio das tensões e, assim,
a capacidade de ativar a tensão de base mais apropriada para
cada tarefa. Alguns exercícios e tratamentos isolados de relaxa-

169
mento, que só atendem a um aspecto da eutonia, foram adotados
por professores dinamarqueses com o nome de "pedagogia de
relax", dado por minha escola. Esta expressão foi utilizada, na
falta de outra mais apropriada e abrangente, pelo grupo de tra-
balho que, em 1945, se dedicou pela primeira vez a desenvolver
a tomada de consciência do próprio corpo, buscando seu ponto
de partida não mais na música, mas no treinamento rítmico de
Jacques Dalcroze. Este tipo de exercícios de relaxamento só se
pratica na Escandinávia.
Outro dos princípios eutônicos, o de "conJ~t9", teve es e-
cial aceitação na América. Por contato entende-se a c;-;cldade
de alcançar, além das -limitações
--
visíveis
- -- - --
do próprio
--
corpo ' uma
comunicação real com o ambiente, as coisas e as pessoas, harmo-
nizada com os processos bioelétricos do organismo. Em 1955
estabeleceram-se múltiplas conexões com psiquiatras, psicólogos
e educadores numa oportunidade surgida por um giro de quatro
meses pelas universidades norte-americanas, desde a Flórida até
Boston, que levou depois a um seminário e a um simpósio de
·duas semanas de duração em Arlington/Boston.
Em 19 57 criou-se, como denominação própria e certeira
para os fundamentos e objetivos de meu trabalho, o termo
"eutonia", que eu aceitei e impus para substituir o termo "rela-
xamento". Foi apresentado ao público, pela primeira vez, em
1959, na ocasião do "Primeiro Congresso Internacional de Rela-
xamento e Movimento Funcional", que foi convocado por minha
escola em Copenhague com o apoio do Ministério de Educação
da Dinamarca. Nessa oportunidade apresentaram-se a aproxima-
damente 500 especialistas de 22 países não apenas minha "peda-
gogia eutônica", mas também outras correntes afins, de persona-
lidades como Rosalia Chladek, Moshe Feldrenkrais, o trabalho de
Charles Neil (Mathias Alexander), e outros. As atas do Congresso
foram publicadas em 1964, em forma de livro, com o título
Eutonia, editadas por Karl F. Haug, Ulm/Donau (atualmente em
Heidelberg). Só a partir de então ganhou popularidade a palavra
"eutonia".
Eu esperava que, com o Congresso de Copenhague, ficas-

170
sem assentadas as bases para a colaboração entre todos aqueles
que estavam empenhados na busca de novos conhecimentos.
Para isso seria preparado um arquivo que reuniria as experiên-
cias práticas do mais variado teor para sua ponderação científica
e seu aproveitamento como material de treinamento nos diversos
institutos. Lamentavelmente, esta esperança não se concretizou.
Atualmente, a percepção corporal, depois de ter passado
pelos mais variados métodos e sistemas, até o contato indiscri-
minado de todos com todos, retoma dos Estados Unidos, tor-
nando-se moda também na Europa. Assim, mais do que nunca,
faz-se urgente uma revisão dos resultados efetivos de todo esse
trabalho.
Como a nova experiência da corporalidade, partindo de
Delsartes e Dalcroze, através de Schlaffhorst-Andersen, Gindler
e Reich, já conseguiu acesso à cultura ocidental, e haverá de
influenciá-la mais ainda, o interesse crescente pelo desenvolvi-
mento histórico desta orientação transborda os círculos especia-
lizados.
Quando e onde aparece a pedagogia eutônica participando
neste desenvolvimento, é o que se pode observar na lista que se
segue. Ela foi concebida como uma primeira abordagem à histó-
ria do desenvolvimento da experimentação corporal, que se
espera há anos nos diversos institutos de ensino.

Cronologia da difusão da eutonia em diferentes ambientes


e países

Além da Escola G. Alexander de Copenhague, as noções e a prá-


tica da eutonia têm sido apresentadas e demonstradas em nume-
rosos congressos, cursos nacionais e internacionais, seminários e
cursos de aperfeiçoamento dirigidos por Gerda Alexander ou por
seus alunos. Só nos será possível, neste livro, citar as datas dos
principais trabalhos dirigidos pessoalmente por Gerda Alexander.

171
1933-34 Acampamento de verão da Escola
Superior de Música Frederiksberg
(C. M. Savery). Fabricação de
flautas de bambu e aulas de
flauta.
1933-38 Suécia Curso de verão, de rítmica, no
Instituto de Ginástica Sydsvenska
Gymnastikinstitutet-Lund (Ma-
jor Thulin). Malmahed, Revin-
gehed, Estocolmo.
1933-45 Dinamarca Pipers Guild Intemational. Curso
para aprendizagem e fabricação
de flautas. Curso para professo-
res e grupos de crianças. Demons-
trações e transmissões radiofô-
nicas.
1935-38 Dinamarca Curso de verão, de rítmica e rela-
xamento para professoras suecas.
Sorr/J.
Dinamarca Curso para professores de música
e dicção, professores de ginástica
e professores de jardim de infân-
cia. Copenhague.
1939 Dinamarca Primeiro seminário de ritmo e
pedagogia de relaxamento ( euto-
nia).
1939-45 Dinamarca Demonstrações mensais, com
assistência do público, perante
professores de música , movi-
mento e dicção.
Demonstrações anuais, com assis-
tência do público, dos métodos
de trabalho no Conservatório
Real de Música de Copenhague.
1939-49 Dinamarca Curso de verão do grupo em for-
mação. Hove.
1942 Dinamarca Primeiro exame fmal das equipes
em formação. Aplicação dos mé-

172
todos de trabalho em jardins de
infância e escolas primárias.
1942-46 Dinamarca Cursos para estudantes de música
do Conservatório Real e para
estudantes de Música da Univer-
sidade de Copenhague.
1944 Dinamarca Fundação da Associação para
Pedagogia, Ritmo e Relaxamento
(eutonia) de Dinamarca. Apresen-
tação dos candidatos no Museu
Nacional, perante professores de
música, atores, bailarinos, artis-
tas, pedagogos, e médicos, com
assistência dos representantes
dos Ministérios de Educação e
Cultura.
1945 Noruega Congresso de Pedagogia Musical,
Oslo.
1945-50 Suécia Academia de Música de Esto-
colmo. Curso de pós-graduação
para professores, professores de
jardim de infância, professores
de música e sociologia. Seminá-
rio (Alva Myrdal).
Suécia Seminário para professores de
jardim de infância e professores
de dicção em Gõteborg.
Suécia Curso de verão para professores
de canto em Smaaland (Ake
Nygren).
1946 Dinamarca Promovidos pelo diretor de or-
questra Erik Tuxen e o oboísta
Waldemar Wolsing, são ministra-
dos cursos de eutonia para os
membros da orquestra, do coro,
e empregados da rádio Copenha-
gue. Os cursos se realizaram
durante as horas de trabalho.
Ver comentários dos participan-

173
tes e os comentários médicos
anteriores e posteriores ao curso.
1947 França Curso de duas semanas para os
músicos da orquestra de Paris e
os alunos de flauta de M. Moi.se,
Paris .
1950 Áustria Primeiro Congresso Internacional
de Ortopedia, organizado pelo
Ministério Austríaco de Educa-
ção, Viena.
1951 Áustria Curso de verão em Goisern. Or-
ganizado com a colaboração dos
médicos do método Mayr (grupo
de investigação em saúde).
1952-58 Alemanha Federal Cursos anuais de verão em Gross-
main/Salzburgo, com a colabora-
ção do doutor Alfred Bartussek.
1953 Alemanha Federal Curso para professores de rítmica
em Berlim.
1953-60 França Curso para as indústrias CEGOS
(por gestão das grandes indústrias
da França e da Bélgica), Paris,
Barbizon e Talloires.
1954 França Congresso "Luta contra a estafa"
nas Indústrias CEGOS de Paris,
em colaboração com o doutor
A. Bartussek e CEMEA.
França Conferência e demonstração na
sede dos centros de treinamento
dos métodos de educação ativa
(CEMEA) de Paris.
Suíça Congresso Internacional de Rít·
mica e curso de verão em Ge-
nebra.
Conferência "Preparação do mo-
vimento por meio do relaxamen-
to". Curso ("O movimento orgâ-
nico e o movimento rítmico").
1955 Estados Unidos Quatro meses de conferências

174
nas universidades estadunidenses
(Winterpark Boston) e conferên-
cia no Hospital Bellevue, a con-
vite da doutora Lauretta Bender.
Sessões de pedagogia do relaxa-
mento em Arlington, Mass., e
cursos para psiquiatras, psicólo-
gos, professores e educadores.
1956 Áustria UIPD (União Internacional de
Professores de Dalcroze) em
Grossmain/Salzburgo. "Como afi.
namos este instrumento, nosso
corpo."
1957 Suíça Curso de verão e sessões no Ins-
tituto J acques Dalcroze, Gene-
bra.
1958 Dinamarca Congresso para professores de
música escandinavos. Curso para
professores de música.
Janeiro Suíça Trabalho em colaboração com
professores e alunos do Instituto
J acques Dalcroze, Genebra.
Páscoa França Curso para a UIPD em Talloires.
Temas: "A preparação corporal
para a expressão artística"; "O
aprendizado da rítmica de Dai-
croze por e para o movimento".
Agosto Dinamarca Congresso do ISME (Educação
Musical Internacional) em Cope-
nhague. Curso e conferências
sobre "Relaxament o e rítmica
na educação dos músicos".
1959 Suíça Curso para um seminário de rít-
mica de Mirni-Scheiblauer. Con-
servatório de Zurique.
Dinamarca Reunião do Primeiro Congresso
Internacional para o Movimento
Funcional e Relaxamento, sob os
auspícios do Ministério de Edu·

175
cação Dinamarquês, incluindo
cursos práticos dados pelos pro-
fessores Rosalia Chladek, Moshe
Feldenkrais e Gerda Alexander,
com assistência de aproximada-
mente quinhentos participantes
de 22 países.
1960 França Conferência e filme, com a Asso-
ciação de Medicina Psicossomá-
tica, Paris, dirigida pelo profes-
sor Kammerer, de Estrasburgo.
Agosto Suíça Curso no Instituto Jacques Dal-
croze de Genebra, para os grupos
A e B. Tema: "Relaxamento,
equilíbrio psicofísico e movi-
mento funcional" .
1961 Áustria Curso de eutonia para o UIPD na
Academia de Danças de Schoen-
brunn, Viena, em relação com o
Congresso do ISME (cursos e
conferências).
França Conferências, cursos de iniciação,
demonstrações de tratamentos,
com participação de dez alunos.
Filme para o Congresso de Rela-
xamento na Faculdade de Psi-
quiatria de Estrasburgo, dirigido
pelo professor Kammerer e o
doutor V. Bousingen.
França Curso para médicos em Talloires.
1961 -67 Israel Cursos anuais para professores
de ginástica, terapeutas, profes-
sores de rítmica e bailarinos,
organizados pelo Ministério de
Educação de Israel, em colabora-
ção com as diversas organizações
de Te! Aviv, Haifa, os kibutzirn,
a Universidade de Jerusalém, e a

176
Escola Superior de Esportes de
Wingate.
1962 Dinamarca Cursos de aperfeiçoamento para
professores de ginástica dinamar-
quesa, patrocinado pelo Ministé-
rio de Educação.
1962-64 Dinamarca Cursos Internacionais de verão
da escola Gerda Alexander, em
Krogerup, Hif>js.kole.
1963 Suíça Congresso de bail;•dnos de Zuri-
que. Conferências e cursos.
Alemanha Federal Congresso da AFA (Terapia de
Respiração) Freudenstadt/Florés-
ta Negra. Conferências e filmes.
1964 Alemanha Federal Congresso de Rítmica e Terapia
em Munique. Reunião Internacio-
nal da UIPD em Munique, Sessão
Terapia.
Conferência "Eutonia e Terapia".
França Congresso Mundial de Psicodra-
ma, em Paris. Filme sobre o tra-
balho de eutonia na Escola. Ex-
posição de aspectos da eutonia
na medicina, trabalho do doutor
Doury-Laudon, chefe do Depar-
tamento de Medicina do Traba-
lho nos Estabelecimentos Berliet
Lyon, e da doutora Lise Plum
"Lower back syndrom".
Conferência e filme no Congresso
Internacional de "Ginástica vo-
luntária" de Toulouse.
"Sicob", de Paris. "J ournée de
l'homme." Conferencia, demons-
trações, filme e discussão com a
direção de A. de Peretti.
1965 Alemanha Federal Congresso da AFAFreudenstadt.
Cursos e filme .
Agosto Suíça Congresso com tema do centenA-

177
rio de J acques Dalcroze.
Conferência "A Eutonia: Funda-
mentos para a consciência corpo-
ral e a educação rítmica". Curso.
Filme sobre eutonia.
1967
Janeiro Grécia Filme e curso para o teatro de
danças Chorika, atores, bailari-
nos e coreógrafos do Teatro Na-
cional Grego e da Escola de Rít-
mica de Atenas.
França Conferência e filme para profes-
sores e estudantes de ginástica e
para a Escola Superior de Educa-
ção Física da Universidade de
Paris, ENSEPS.
Fevereiro Suíça Conferência e filme nos Conser-
vatórios de Música de Zurique e
Lucema.
Março França Week-end para os professores de
ginástica formados no ENSEPS
de Paris.
Abril Dinamarca Curso para professores de música
do Liceu ( eutonia e rítmica) de
Silkeborg.
Itália Conferência, filme e discussão
organizada por CEMEA, filial de
Roma, e pela professora de euto-
nia Ruth Cramer para os convi-
dados (pedagogos, psiquiatras,
atores, e cineastas).
Israel Curso para professores de educa-
ção física e estudantes da Uni-
versidade de Jerusalém.
Curso para professores de rítmica
e bailarinos de Tel Aviv.
Curso para fisioterapeutas, pro-
fessores de movimento e ginás-
tica.

178
Seminário de kibutz.
Curso na Escola Superior de Edu-
cação Física de Wingate. Simpó-
sio sobre a imagem corporal, em
colaboração com os professores
Rosalia Chladek e Moshe Felden-
krais.
Maio Dinamarca Odder H</>jskole. Curso para pro-
fessores de música da Escola Nor-
mal ( eutonia e rítmica).
Setembro Alemanha Federal Escola Superior de Munique. Fil-
me e conferência de introdução
aos cursos de Marianne Kjelmp.
Novembro Dinamarca Hjorting, Seminário Estadual.
Cu rso de eutonia e de rítmica
(sessão música).
1968
Abril Holanda Centenário de Bess Mensendiek.
Conferência e filme em Amster·
dam.
Conferência, filme e curso para
professores holandeses de Dal-
croze.
Agosto Estados Unidos Conferências e cursos para baila-
rinos, terapeutas, professores de
rftrnica e alunos de eutonia de
Monique Nagy, Pittsbu rgh .
Setembro México Tratamento diário de um para-
plégico.
Venezueb Por iniciativa de Mareei Ho.rande
(Sessão de Investigação Médica
da Universidade), conferências,
filme e traball1o prático para
terapeu tas, médicos, no l nstituto
Alemão, no lnstítu to Estadual de
Ginástica e Esportes, na Escola
lfumboldt, centro para crianças
excepcionais com Cerebral-Pal-
sy, e de ortopedia e terapia por

179
meio da música e do ritmo, e no
Centro de Investigações nos cen-
tros-piloto para formação de pro-
fessores de jardins de infância.
1969
Janeiro Holanda Curso ministrado para professo-
res e estudantes da Academia
Nacional de Danças de Rotter-
dam.
Fevereiro Dinamarca Curso para professores e estu-
dantes da Academia Nacional de
Dança, Hjorring.
Março Alemanha Federal Conferências com exibição de
filmes, organizados pelo conser-
vatório de música de Friburgo e
pela Escola de Formação de Psi-
coterapeutas.
Abril Bélgica Curso de pedagogia e terapia
eutônica para todas as faculda-
des da Universidade de Louvain.
Maio Dinamarca Snogh~j H~jskole. Curso de euto-
nia e rítmica para professores de
música.
Outubro França Universidade de Bordéus. Peda-
gogia e terapia eutônica, com
organização da Faculdade de Psi-
cologia, Esportes e Fisioterapia.
Novembro Dinamarca Conferência, exibição de flime e
curso para professores e alunos
da Escola Nacional de Teatro
Aarhus (professor de eutonia:
Agnete Hammerich).
Dezembro F rança Marly-le-Roi. Primeiras sessões
do "Grupo Internacional".
Curso sobre movirnento eu tônico
para professores de ginástica.
1970
Janeiro Dinamarca Copenhague. Três horas por
semana de eutonia e rítmica para

180
professores dinamarqueses de
ensino superior (conferências e
trabalhos práticos).
Fevereiro Dinamarca Conferência, curso e exibição de
filme para pedagogos da Escola
de Música de Egtved.
Março Bélgica Cursos de informação sobre peda-
gogia e terapia eutônicas na Uni-
versidade de Louvain.
Abril Bélgica Segundas Sessões do "Grupo
Internacional".
Maio Dinamarca Snogh~j. Curso de eutonia e rít-
mica para a União Dinamarquesa
de Professores de Música.
Junho Alemanha Federal Riederau Ammersee. Seminário
para médicos e terapeutas, intro-
dução à terapia eutônica.
Julho França Aix-en-Provence. Terceiras ses-
sões do "Grupo Internacional".
Setembro França Marly-le-Roi. Quartas sessões do
"Grupo Internacional".
Alemanha Federal Conferência e exibição de filmes.
Instituto de Ensino Superior de
Munique.
Dezembro França Marly-le-Roi. Quintas sessões do
"Grupo Internacional".
1971
Janeiro Dinamarca Fim de semana para psicólogos.
Rorvig.
Abril Bélgica Universidade de Bruxelas. Curso
de uma semana para estudantes
de educação física.
Bélgica Universidade de Louvain. Sextas
sessões do "Grupo Internacio-
nal".
Cursos de Informação.
Maio Alemanha Federal Willingen. Segundo Congresso
Internacional de Ioga. Curso,
conferências e flimes.

181
Julho França G renoble. Sétimas sessões do
'G rupo Internacional".
Argentina Buenos Aires. Segundo Seminá-
rio Internacional de Música para
a América Latina. Curso, confe-
rência e exibição de filme e con-
ferência plenária: "A eutonia
como base da pedagogia musi-
cal". Conferência com exibição
de ffime para bailarinos, arte dra-
mática e direção artística.
Argen tina Universidade de La Plata. Curso,
conferência plenária : ' Eutonia e
terapia através da música".
Agosto França Grenoble. Oitavas sessões do
"Grupo Internacional".
Outubro França Pau. Cursos de informação para
médicos, professores e alunos do
Instituto de Kinesiterapia dos
1972 Pireneus Atlânticos.
Janeiro França Curso de informação para médi-
cos e terapeutas do Centro Mé-
dico Psicopedagógico de Tou-
louse .
Fevereiro Suécia Fim de semana. Curso para pro-
fessores suecos de arte dramática,
Estocolmo.
Março Dinan1arca Odense . Demonstração do grupo
de formação para professores de
canto.
Maio -rança Cursos de informação para peda·
gogos e professores de ginástica
no CREPS de Dijon.
Junho Alemanha Federal F reising. Conferência e demons-
tração para pedagogos e alunos
de Marian Kjelrup.
Outubro Holanda Semana de eutonia para músicos,
professores de r.í tmica e bailari·

182
r

nos do Conservatório de Rotter-


dam.
Apresentação dos alunos de pro-
fessorado com demonstrações do
trabalho efetuado na Escola. Rot-
terdam, Louvain, Paris, Genebra,
Zurique, Basiléia, Copenhague.
Apresentação organizada pelo
Ministério de Cultura Dinamar-
quês, pelo Conservatório de Mú-
sica de Rotterdam, pela Universi-
dade de Louvain e a Associação l
Belga· de Eutonia de Cerda Ale- ~
xander, pela Associação Fran-
cesa de Eutonia e CEMEA, Asso-
ciação Suíça de Eutonia Cerda
Alexander e o Instituto J acques
Dalcroze.
Novembro Dinamarca Copenhague. Demonstração na
série "Ballets contemporâneos
ou românticos" da Volksuniver-
site.
Novembro Bélgica Fim de semana: curso de infor-
mação em Louvain.
Dezembro Duas semanas de seminário p ata
as Escolas de Teatro Belga de
Amberes, Bruxelas, Llege, enqua-
dradas no intercâmbio cultural
Belga-Dinamarquês.
•J973 Dinamarca Curso para a União de Professo-
res de Arte Dramá1ica de Cope·
nhague.
Suíça Cutso para pedagogos, terapeu-
tas e médicos organizado pela I
Associaç ão de Terapia e Psico-
motricidade e pelo Serviço Cultu·
ra1 da Universidade de Genebra.
França Annecy. Demonstrações no Cur-
so Internacional de Jovens Vir-

183

l
tuosos (de diferentes instrumen-
tos).
"Eutonia e Técnica Instrumen-
tal", em colaboração com Char-
lotte Mac Jannet.
França Universidade de Aix-en-Provence.
Curso da Faculdade de Psicolo-
gia, e para alunos de teatro, de
expressão corporal e de ginástica.
França Pau. Curso para fisioterapeutas e
médicos do Instituto de Kinesi-
terapia dos Pireneus Atlânticos.
França Vaugrigneu'se. Curso para mem-
bros da AFEGA (Associação
Francesa de Eutonia Gerda Ale-
xander).
1974 França Fim de semana: Seminário em
Paris, organizado pelo doutor
Jean-Georges Henrotte.
Alemanha Federal Sociedade Internacional de Psi-
cologia profunda
E. V. (médico e pastor). Jorna-
das no Castelo de Elmau, Cursos
de Informação e filme sobre
eutonia (de Yves Zlotnika).
1975 Dinamarca Duas semanas de cursos para
professores dinamarqueses de
ensino superior.
Conferência oficial e demonstra-
ção com alunos do professorado
da Universidade de Copenhague.
Junho França Seminário de oito dias para pro-
fessores de eutonia e fundação
da Sociedade Internacional de
Pedagogos Diplomados em Euto-
nia, Talloires.

184
Cursos anuais da Escola Gerda Alexander

Desde 1939 Curso de formação para pedago-


gia da eutonia e da rítmica ( 1P
de outubro a 1P de junho). Três
a quatro anos, Copenhague.
Desde 1949 Cursos de verão em Talloires/
Lago de Annecy, França.
Desde 1960 Vaugrigneuse, França. Sessões de
professores do CEMEA (Centros
de Treinamento nos Métodos de
Educação Ativa).
Desde 1964 Riederau/ Ammersee, Alemanha
Federal.
Desde 1965 Fischerhude/Bremen, Alemanha
Federal.
Desde 1967 Essen. Cursos privados para pro-
fessores e alunos da Escola de
Ginástica de Karin Gebhardt
(sucessora de Dore Jacobs).
Desde 1969 Escola Superior de Música Egt-
ved, Dinamarca. Rítmica e euto-
nia para pedagogos.

185
Professores diplomados em eutonia

Alemanha Lise Ellesq>e Hansen


Marion von Blumenthal Lisbeth Hartvig-Sq>rensen
Gerlinde Brückner Lise Plum Holm
Regine Femow Ebba Hyldgaard-Jensen
Mariann Kjellrup Karen Juel-Hansen
Ellen Mortensen
Argentina Lise Otzen
Berta Vishnivetz Lis Kq,ie Palsvig
Bodil Stegelmann
Bélgica Marianne Walther
Horta van Hoye Else Wienberg
Benoit lstace-Melot
Albert Liegeois França
Simon Robinet Maurice David
Odile Geringer
Canadá Annick Guillemin
Jacques Laflamme Denise Lancerotto-Digelmann
Micr.eline Renald Yvette Rostan
Ursula Stuber Yves Zlotnicka

Dinamarca Holanda
Dea Aerq, Rosa Spekman
Ketty Andersen
Tyt lb Andersen Itália
Tove Appel Ruth Cramer
Martha Obel Bjerregaard Nina Zenner

187
Noruega Bemard Dupont
Anne-Trine Feurtado-Grimnes Eva Gisel
Jette R~-Fredborg Marie-Claire Guinand-Billeter
Françoise Schaller
Suécia Ursula Sclunidt
Gun Kronberg Barbara Steiner
Brigitt J ohanna H. Levy Roswit Tauber

Suiça
Gunna Brieghel-Müller
Verena Dumermuth

188
Glossário

Agonista: músculo cuja ação se opõe à de outro, chamado antagonista.


Atetósico: que sofre de atetose. O quadro clínico da atetose é caracteri-
zado por movimentos involuntários, irregulares, executados com len-
tidão, que aparecem particularmente exagerados e distorcidos nas
partes distantes dos membros.
Coxartrose: artrose da articulação do quadril.
Displasia: estrutura corporal muito diferente do normal.
Distonia: tônus em desequilibrio nos músculos e vasos, produzindo rea-
ções anormais durante a excitação ou esforço.
Distonia vegetativa: expressão que designa um quadro caracterizado pela
ausência de patologia, permitindo portanto inferir distúrbios no
equilibrio funcional de um ou vários órgãos.
Dor fantasma: sensação dolorosa experimentada em membros paralisados
ou amputados.
Eletroencefalografia (EEG): método para representar as manifestações
bioelétricas do cérebro através do registro das oscilações do potencial
do couro cabeludo (medição das correntes cerebrais).
. Eletrorniografia: registro de atividade muscular para o diagnóstico de
doenças na estrutura muscular ou nas inervações.
Equíhbrio emocional-vegetativo: equiliôrio entre o aspecto corporal e
' vegetativo que se reflete no equilíbrio psíquico.
Equíhbrio neurovegetativo: equiliôrio entre o simpático e o parassim-
pático.
Escoliose: desvio lateral da coluna vertebral.
Espasmo: contração muscular involuntária.
Estado simpaticotônico: atividade exacerbada do simpático (estresse).

189
Estado vagotônico: aquele em que predomina o parassimpático (calma
regeneração).
Expressão psicomotora : expressão corporal do estado de tensão corporal.
Feixe piramidal : conduto motor principal do sistema nervoso central que
transmite os impulsos nervosos para o movimento deliberado e har-
mônico.
Fisioterapia : ginástica curativa.
Formação reticular: substância reticular, área de substância cinza na
medula cervical e parte superior da medula torácica , assim como no
tronco encefálico e no tálamo, atravessada por substância branca.
Cumpre funções importantes para a totalidade do sistema nervoso
central pela ativação não específica do córtex e da regularização do
tônus dos músculos profundos ou clônicos.
Hipertonia: tensão aumentada.
Hipotálamo : porção cerebral situada debaixo do tálamo.
Hipotonia: tensão reduzida.
Inervação : ativação dos condutos nervosos de determinadas partes do
organismo (órgãos, tecidos).
Inervação motora: ativação dos nervos do movimento.
Inervação reflexa: ação muscular desencadeada por reflexo.
Miografia, mio grama: representação da atividade muscular.
Músculo sinérgico: aquele que apóia a ação de outro músculo dentro de
um conjunto muscular.
Paraplegia : paralisia simétrica das extremidades inferiores.
Paresia cerebral: lesão cerebral congênita ou adquirida.
Poliomielite: paralisia infantil.
Processos sensitivos: processos registrados nos nervos sensoriais.
Pro rioce tivo: d'é"PrópriÜ ", que lhe corres onde com exclUsiVidade.
Psicossomático : _gue a ran e co o e es írito.
Psicotônus:· tensão psíquica de base.
Psoasilíaco : músculo lombar.
Reflexo : resposta provocada po~estímulo físico ou uírnico sobre Q~
- - nervos recep ores;-a qual ~festa por uma contr ão muscula;
(reflexo motor), ou outra rea ão do ti o nervoso or exem lo, nas
glândulas (reflexo secretor ou noLY._asos san .. ' eos reflexo vaso-
motor).
Reflexo miotático: reflexo próprio do músculo.
Reflexo pateta r: reflexo próprio do músculo quadríceps c rural (coxa),
produzido por percussão sobre o ligamento rotular.

190
CO!PO ...
Ressensjl!_iliza -o: restabelecimento da sensibilidade.
Sine · : a ão con·unta de músculos , por exemplo, dos diversos músculos
flexores e tensor .- - - - - - -
Sistema límbico: compreende uma série de regiões cerebrais estreitamente
- -con-;tadas entre si por vias nenrQsas ue constituem principalmente
o substrato fisiológico do cérebro para re ar os processos vêgei'ãti-
vos, e às uais se atribui a era ão das emoções e t~as instin-
~ .
Siste!Jla nervo~ gama: fibras nervosas l!!QiQ!_as eferentes ue artem da
- --- ·medufã espinhal em direção aos músculos profundos e daí para os
· fusos musculares contidos na musculatura dinãriúc.ã,Cõii.StituíiidOãS
terminações sensitivas alongad~do=músculo em questao. Fica ~vi­
dente que o sistema gama regula o ~s !!JUSCular e coman~ a con-
tração muscular.
Sistema neuromotor: sistema dos nervos do movimento.
Sistema n~urovegetativo: porção do sistema nervoso a as funçõ~
vegetativas (digestão, respiração, metabolismo).
SNC: sistema nervoso central.
Sofrologia: terapia por meio da hipnose.
Tensã otora:~açio.dos.Jle.IYos,do._-movimento
Tônus: tensão básica do Qiganismo, dos músculos e_dos órgã.w;.
- Tônus reflexo: tônus básico inconsciente do sistema muscular.
Trocanter maior: lugar de inserção muscular no extremo superior do
fêmur.
Vias extrapirarnidais: expressão que designa todos os sistemas motores do
sistema nervoso central que não correspondem à via piramidal, ou
seja: os gânglios motores e, num sentido amplo, o cerebelo. Segundo
alguns autores, também as áreas parapirarnidais do córtex. ~ respon-
sável pela atividade motora automática, mais ou menos inconsciente
ou inadvertida, como por exemplo o andar, os movimentos associa-
dos, os movimentos expressivos, a estática, o equilíbrio, etc.
Zonas de Head: regiões particularmente sensitivas ou dolorosas na pele do
tronco, que aparecem por doenças dos órgãos internos e slro clara-
mente perceptíveis por estimulação dérmica.

191
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Este livro foi impresso
(com filmes fornecidos pela Editora)
na Gráfica Editora Bisordi ltda.,
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São Paulo.

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