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CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
NATAL-RN
2018
NAYANE MENDONÇA DE MATOS
BANCA EXAMINADORA
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Dra. Alessandra Cardozo de Freitas – (Orientadora)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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Ms. Kivia Pereira De Medeiros Faria
Examinadora
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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Ms. Leonardo Mendes Álvares
Examinador
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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RESUMO
ABSTRACT
Literature is one of the most important resources for the development of language and orality.
In this perspective, the present work aims to highlight the importance of children's literature
for the development of orality, through an autobiographical account, in which from the
experiences lived, I present some memories of my childhood in which makes it possible to
relate the fable. and snow, with my process of orality development. As a theoretical reference,
we used the studies of Antunes (2003), Lúria (1991), Vygotsky (1998) Freitas (2000),
Fontana e Cruz (1997), Arroyo (1994) and Zilberman (2003). We employ qualitative research
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procedures in education, particularly the (auto) biographical method. The experiences brought
from my childhood show that the interaction with the fable, through the incentives of good
teachers, allowed the significant contact with literature, enabling the improvement of orality
in aspects related to speech enhancement and social interactions. Thus, it is concluded that
children's literature, for me, became essential, since it gave me relevant contributions to the
development of my orality, providing knowledge of me and what is around me.
A linguagem oral é utilizada pela criança de maneira bastante precoce, justamente por
ser responsável por grande parte da comunicação que ela precisa fazer, seja para, solicitar
determinadas ações ou, até mesmo, para expressar seus sentimentos, mesmo que esta criança
ainda não tenha desenvoltura para tal habilidade (CHAER E GUIMARÃES, 2012).
Sobre o lugar a partir do qual abordo a oralidade e o seu desenvolvimento na criança
de Educação Infantil, considero necessário evidenciar a compreensão de Luria (1991, p. 78)
sobre a linguagem. Segundo esse autor, a linguagem é “um sistema de códigos por meio dos
quais são designados os objetos do mundo exterior, suas ações, qualidades, relações entre
eles, etc”. Nesse sentido, a linguagem apresenta ou representa o mundo, por meio dela é que
tudo é nomeado e refletido. A linguagem trata, pois, da relação do homem com o mundo.
Vygotsky (1998, p. 27), por sua vez, afirma que “antes de controlar seu próprio
comportamento, a criança começa a controlar o ambiente com a ajuda da fala. Isso produz
novas relações com o ambiente”. A linguagem, no caso específico a fala, é considerada por
este autor como constitutiva dos processos de desenvolvimento e aprendizado humano. É
nesse contexto que situo a minha narrativa sobre a oralidade.
Sobre o desenvolvimento da oralidade, também me apoio na perspectiva histórico-
cultural. Para alguns dos autores filiados a essa perspectiva, a criança vivencia um longo
processo de aquisição da linguagem oral, marcado pela passagem da fala social à fala interior.
Em outros termos, o desenvolvimento da fala na criança acompanha o desenvolvimento de
outras operações mentais que envolvem o uso de signos, correspondendo inicialmente a um
processo interpessoal que, posteriormente, é transformado num processo intrapessoal
(FREITAS, 2000).
O esquema de desenvolvimento da oralidade vai da fala social, depois egocêntrica, e
então interior. De acordo com Vygotsky (1994), o pensamento e a fala têm raízes diferentes,
de modo que há um primeiro estágio, por ele definido como natural ou primitivo, em que o
pensamento é pré-verbal e a fala pré-intelectual. A fase pré-intelectual da fala corresponde às
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expressões de choro, riso, balbucio e mesmo as primeiras palavras que não têm relação direta
com o pensamento. Para Vygotsky (1994, p.33):
Esse momento ocorre aproximadamente aos dois anos de idade, quando o percurso do
pensamento encontra-se com o da linguagem, tornando a fala intelectual, isto é, com função
simbólica, e o pensamento verbal, mediado pela palavra. Essa etapa marca, em muitos casos,
o ingresso da criança na educação infantil, etapa de escolarização que evidencio neste estudo.
Não obstante, situo, a partir das concepções de Vygotsky (1994), que a vivência por mim
relatada refere-se a um estágio superior no desenvolvimento da oralidade, denominado de
‘crescimento interior’. Nele a criança começa a operar com relações intrínsecas e signos
interiores. Em relação à fala, esse é o estágio da fala interior, silenciosa. Ressalta-se,
sobretudo, que continua havendo uma interação constante entre operações externas e internas,
entre fala externa e interna, uma se transformando na outra com freqüência” (FREITAS,
2000, p. 28-29). É justo nessa influência significativa do externo, das interações e mediações
com o outro e com os objetos culturais, para o desenvolvimento da fala interior que descrevo
o meu contato com a literatura.
inclusive na Educação Infantil, isto é, ler literatura como pretexto para ensinar regras de
comportamento e/ou apropriar-se da escrita correta de palavras, expressões, etc.
É possível que a criança vivencie diferentes maneiras de expressar/abordar a
linguagem por meio da literatura, seja oral ou escrita. O presente estudo se justifica por dar
continuidade a essas discussões. Nesse propósito, recorro algumas das minhas lembranças
escolares, particularmente no período da Educação Infantil em que me foi apresentada a
fábula A formiguinha e a neve, na versão de João de Barros.
Em razão de ter eleito as lembranças como fio condutor deste relato de experiência, é
que recorro a princípios do método autobiográfico. De acordo com Barbosa e Passeggi (2011,
p.8), “em educação a pesquisa (auto)biográfica amplia e produz conhecimentos sobre a pessoa
em formação, as suas relações com territórios e tempos de aprendizagens e seus modos de ser,
de fazer e de biografar resistências e pertencimentos”. Ampliar minha relação com a
literatura, considerando territórios e tempo de aprendizagem de ontem, hoje e amanhã, ou
seja, numa dimensão prospectiva revela-se importante no contexto em que me situo: de
formação inicial para a docência.
Entendo, ainda, segundo Fischer (2011, p. 17) que,
Foi nessa escola, com esse olhar de criança, que me lembro de alguns momentos em
que ali vivi. Lembranças que me reaproximam da época, a maioria delas, nascidas nas
relações que tive com alguns professores. No que diz respeito propriamente ao espaço físico
da escola, esse era para mim enorme, diante de tudo que me era oferecido, desde salas de aula
à quadra de esportes. Assim, consigo fazer um paralelo com a minha realidade, de hoje.
Enquanto estudante, tive e tenho boas relações com os professores, e a maioria deles, me
proporcionaram ensinamentos que estão para além do processo acadêmico, gerando
crescimento humano.
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A Formiguinha e a Neve
Obra clássica da literatura universal
Adaptada por
João de Barro (Braguinha)
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Certa manhã de inverno, uma formiguinha saiu para seu trabalho diário.
Já ia muito longe, à procura de alimento, quando um floco de neve caiu — pim! —
e prendeu o seu pezinho!
Aflita, vendo que não podia livrar-se da neve e iria assim morrer de fome e de frio,
voltou-se para o Sol e disse:
— Oh, Sol, tu que és tão forte, derrete a neve e desprende meu pezinho...
E o Sol, indiferente nas alturas, falou:
— Mais forte do que eu é o muro que me tapa!
Olhando então para o muro, a formiguinha pediu:
— Oh, muro, tu que és tão forte, que tapas o Sol, que derrete a neve, desprende
meu pezinho...
E o muro que nada vê e muito pouco fala respondeu apenas:
— Mais forte do que eu é o rato que me rói!
Voltando-se então para um ratinho que passava apressado, a formiguinha suplicou:
— Oh, rato, tu que és tão forte, que róis o muro, que tapa o Sol, que derrete a
neve, desprende meu pezinho...
Mas o rato, que também ia fugindo do frio, gritou de longe:
— Mais forte do que eu é o gato que me come!
Já cansada, a formiguinha pediu ao gato:
— Oh, gato, tu que és tão forte, que comes o rato, que rói o muro, que tapa o Sol,
que derrete a neve, desprende meu pezinho...
E o gato, sempre preguiçoso, disse bocejando:
— Mais forte do que eu é o cão que me persegue!
Aflita e chorosa, a pobre formiguinha pediu ao cão:
— Oh, cão, tu que és tão forte, que persegues o gato, que come o rato, que rói o
muro, que tapa o Sol, que derrete a neve, desprende meu pezinho...
E o cão, que ia correndo atrás de uma raposa, respondeu sem parar:
— Mais forte do que eu é o homem que me bate!
Já quase sem forças, sentindo o coração gelado de frio, a formiguinha implorou ao
homem:
— Oh, homem, tu que és tão forte, que bates no cão, que persegue o gato, que
come o rato, que rói o muro, que tapa o Sol, que derrete a neve, desprende meu pezinho...
E o homem, sempre preocupado com seu trabalho, respondeu apenas:
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Foi oralizando essa fábula a partir das suas imagens - elemento que integra o projeto
gráfico do livro da literatura infantil - que comecei a aprender como acontece uma sequência
narrativa, relacionando imagens e letras, diálogos memorizados, que me provocaram a leitura
com significado das primeiras palavras escritas. Na época relatada, era uma criança tão
pequenina com uma fábula.
mesma ordem, até o fim. São histórias que se assemelham a uma longa parlenda, contada e
recontada para divertir as crianças. Além disso, desenvolve, nas crianças, a oralidade. Esse foi
o meu caso. Contudo a compreensão sobre a articulação entre a ação de recontar, as
características do texto e os aprendizados da oralidade, ocorreram muito depois. Na verdade,
na feitura deste texto, revelando o quanto o relato (auto)biográfico é formativo. Foi
(re)escrevendo o relato que compreendi a importância do reconto oralizado, inclusive de
planejar ações pedagógicas com esse procedimento em minha atuação como docente. Aprendi
enquanto menina o fato, tomei consciência do processo como professora em formação inicial.
Como afirma Freitas (2002, p. 126), o reconto de histórias permite à criança “[...]
explorar a linguagem verbal, mesmo antes do domínio convencional do código escrito,
fazendo uso de sua dimensão significativa, na recordação e comunicação do narrado”. Foi
recontando, pelas sequências narrativas que se repetiam ou conduzida pelas imagens, que
oralizei tantas palavras antes desconhecidas, ordenadas umas com as outras de modo a
descortinar um filme mental. O recontar oralmente foi dando lugar ao aprendizado de cenas,
oralizadas no compasso da trama, por isso organizando o pensamento. Assim, foi explorando
a oralidade por meio do reconto oralizado que comecei a me aproximar da leitura de literatura
com prazer. Lembro que desejava recontar e recontar A formiguinha e a neve sozinha ou
acompanhada. Assim foi o meu processo inicial de formação como leitora. Comparando o
contexto das minhas lembranças com a realidade atual, enalteço a participação dos pais no
processo de formação do leitor, desde a infância. Pois essa era a minha plateia dos eventos de
reconto.
de Rogério Borges é muito provocativo, pois procura representar as imagens como são na
realidade, sem recorrer a desenhos estilizados ou caricaturas. Apresento a seguir algumas das
ilustrações da obra:
REFERÊNCIAS
ANTUNES, I. Sala de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.
ANTONIO, C. O direito a literatura. Livaria duas cidades LTDA. São Paulo, 1977.
ARROYO, M. O significado da infância. Anais do seminário Nacional de Educação Infantil.
Brasília: MEC/SEF/COEDI, 1994.
BARBOSA, T. M. N. PASSEGGI, M. da C. Memorial acadêmico: gênero, injunção
institucional, sedução autobiográfica. Natal, RN: EDUFRN, 2011.
BARROS, J. A formiguinha e a neve. São Paulo: Moderna, 2001.
BORGES, R. Disponível em: < http://rogerioborgesilustrador.com/portfolio/a-formiguinha-e-
a-neve-2/>. Acesso em dez 2018.
CHAER, M. R, GUIMARÃES, E. da G. A. A importância da oralidade: educação Infantil
e séries iniciais do Ensino Fundamental. Minas Gerais, 2012. Disponível em: <
http://pergaminho.unipam.edu.br/documents/43440/43870/a-importancia.pdf> Acesso em 07
abril 2018.
COELHO, N. N. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. 1. ed, São Paulo, Moderna,
2000.
FARIA, M. A. Como usar a literatura infantil na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004.
FISCHER, B. T. D. (org). Tempo de escola: memórias. São Leopoldo: Oikos; Brasília:
Líber Livro, 2011.
FREITAS, A. C. de. Os filhos da carochinha: a contribuição da literatura na estruturação da
linguagem em crianças de educação infantil. 2002. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN.
FONTANA, R.; CRUZ, N. Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo: Atual, 1997.
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