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ESTUDOS
SOBRE TEATRO
Tradução de
FIAMA PAIS BRANDÃO
-
~
EDITORA
NOVA
FRONTEIRA
....
Capa:
Studio MSBB
Revisão:
Francisco Edmilson
FICHA C ATALOGRÃFICA
CI !'-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sinclicalo Nacional dos Editores de Livros, RJ.
L J
TEATRO RECREATIVO OU TEATRO DIDÁTICO?
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O TEATRO ÉPICO
O TEATRO DIDÁTICO
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Não fora esta possibilidade de uma aprendizagem divertida, e
o teatro. em que pese toda sua estrutura, não seria capaz de ensinar.
O teatro não deixa de ser teatro, mesmo quando é didático; e,
desde que seja bom teatro, diverte.
O TEATRO E A CIÊNCIA
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contrar em mim todos os fundamentos de ação observados no
homem que vêm transcritos em artigos de jornais ou de publicações
científicas. Tal como sucede a um vulgar juiz no momento em que
é proferida a condenação, sou incapaz de imaginar satisfatoria-
mente o estado de espírito de um assassino. A moderna psicologia,
cta psicanúlise ;tn beha\'iorismo. proporciona-me conhecimentos
que me facilitam uma apreciação totalmente diversa do caso em
questão, muito especialmente se tomar em conta os dados da
sociologia e não desprezar a economia e a história. Dirão que o que
proponho é complicado, ao que não poderei responder senão afir-
mativamente. Talvez acabem por se convencer e por concordar
comigo em que há uma boa porção de literatura que é bastante
primitiva, mas perguntarão, ainda, profundamente preocupados:
"Uma noite de teatro não passará, então, a ser uma coisa tremen-
da?" A resposta é negativa. Tudo o que uma poesia contiver de
caráter científico tem de estar completamente transposto para o
plano da poesia. Este aproveitamento poético de elementos cien-
tíficos contribui também para o prazer que vem do aspecto poético
propriamente dito. Porém, para que tal transposição não resulte
em prejuízo do prazer científico, é necessário aprofundar o pendor
para uma íntima penetração nas coisas, é necessário cultivar o
desejo de tornar o mundo susceptível de ser dominado; deste
modo, nos asseguraremos. numa época de grandes descobertas e
invenções, da fruição da sua poesia.
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considerava de interesse altamente recreativo. Para Schiller, nada
havia que fosse mais divertido e causasse maior satisfação do que
propagar ideais. A burguesia estava então estruturando a ideologia
nacional. - Arrumar nossa casinha, gabar a prata da casa,
aprt',cnlar coritas. '><tu L·oisa' altamente l'L'LTeati1:1-.. Por outro
lado, é muito triste falarmos da ruína da nossa casa, precisar de
vender a prata, pagarmos as contas. - Foi sob este prisma que
Friedrich Nietzsche encarou a questão, um século mais tarde. A
moral não lhe caiu no goto e, por conseguinte, tampouco o seu
homônimo.
Também muitos se voltaram contra o teatro épico, alegando
que era demasiado moral. Mas, apesar de tudo, no teatro épico
apenas secundariamente surgiam questões morais. O verdadeiro
propósito do teatro épico era, mais do que moralizar, analisar. As-
sim, primeiro, analisava-se a questão, e só depois vinha a "subs-
tância", a moral da história. Afirmar que nos entregamos a uma
análise por mero gosto de analisar, sem qualquer outro motivo
mais palpável, e que ficamos, depois, completamente surpreen-
didos com o resultado, é evidentemente falso. O motivo que nos
levou a tal análise foi, sem dúvida, os desacertos que víamos à nos-
sa volta, situações dificilmente toleráveis, situações que não só por
escrúpulos morais era difícil suportar. Não é apenas por escrúpulos
morais que é possível suportar a fome, o frio e a repressão. A fi-
nalidade das nossas pesquisas não se limitava a despertar escrú-
pulos em relação a determinadas situações (embora se pudessem
facilmente suscitar tais escrúpulos, se bem que não em todo o
auditório - era raro, por exemplo, manifestarem-se escrúpulos
nos ouvintes que tiravam proveito das situações em questão!); a
finalidade das nossas pesquisas era descobrir meios que pudessem
impedir a criação de situações como essas tão dificilmente tole-
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nome de todos os que sofrem danos, o que é muito diferente. Diz-se
com freqüência aos que foram lesados, recorrendo justamente a
alusões de ordem moral, que deveriam se conformar com a sua
situação. Para tais moralistas, são os homens que existem em fun-
ção da moral, e não a moral em função dos homens.
Do que ficou dito se poderá deduzir até que ponto e em que
sentido o teatro épico é uma instituição moral.
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PODER-SE-À FAZER TEATRO ÉPICO
ONDE QUER QUE SEJA?
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