Você está na página 1de 19

J010 Ferrelra de Lima

I
PROEZAS DE JOÃO GRILO
Autor: João Ferreira Lima

João Grilo foi um cristão


. que nasceu antes do dia
criou-se sem formosura
mas tinha' sabedoria
e morreu depois da hora ,
pelas artes que fazia. \ .
-. ,
E nasceu de sete meses "
chorou no bucho da mãe
quando ela pegou um gato
ele gritou: não me arranhe
não jogue neste animal
que talvez você não ganhe.

Na noite que João nasceu


houve um eclipse na lua
e .detonou um vulcão I

que ainda continua


naquela noite correu
um lobisomem na rua.
"
Porém João Grilo criou-se
pequeno, magro e sambudo
as 'pernas tortas e finas .
a boca gran'de ·~beiçudb
no s~tio ondé nroras'à
dava notícia de tudo:
João perdeu d pai
Um dia a mãe de João Grilo
com sete anos de idade foi buscar água à tardinha .
morava perto de um rio
deixou João Grilo.em casa
ia pescar toda tarde
e quando deu fé lá vinha
um dia fez uma cena um padre pedindo água
que admirou a cidade,
nessa ocasião não tinha.

o rio estava de nado


João disse: só tem garapa
vinh~ um vaqueiro de fora.
disse ó padre: donde é?
perguntou: dará passagem? João Grilo IhG respondeu:
João Grilo disse: inda agora é do engenho Cato.lé
o gadinho de meu pai
disse o padre: pois eu quero
passou com o lombo de fora. João levantou uma coité.

o vaqueiro botou o cavalo o padre-bebeu e disse


com um a braça deu nado oh! que garapa boa! ..
foi sair já muito em. baixo • João Grilo disse: quer mais?
quase que morre afogado o padre disse: e a patroa
voltou e disse ao menino: ~lão brigará com você?
você é um desgraçado. João disse: tem uma canoa

João Grilo foi ver o gado João trouxe outra coité


para provar aquele ato naquelemesmo momen~o
veio trazendo na frente disse ao padre: beba mais _
um bom rebanho de pato não precisa' acanhamento .
os patos passaram na água na garapa linha um ralo
João provou que era exato. estava podre e fedorento.

- 02 - -03 -
o padre disse: menino
João Grílc tinha um costume
tenha mais educação
pra toda parfé que ía
e por que-não me disseste?
era alegre e satisfeito
oh! natureza do cão
no convívio de alegria
pegou a dita coité
João Grilo fazia graça
arrebentou-a no chão.
que todo mundo sorria.

João 6rl;o disse: danou-se
Num \~iâ de sexta-feira
misericórdi~ São Bento!
as cinco hotas da tarde
com isso a mamãe se dana.
João Grilo disse: hoje à. noite
me pague mil e quinhentos
eu asso~bro aquele padre
essa coité, seu vigário,
se ele n~l'erdoar-me
é da mamãe mijar dentro.
na ~grej a'~~ novidade.
,•..\

o padre deu uma pôpa


Pegou numa lagartixa
disse. para o sacristão:
Amarrou-a pelo gogó
este menino é o diabo .
botou-a numa caixinha
em figura de cristão
no bolso do paletó
meteu o dedo na goela
foi confessar-se João Grilo
.quase vomita o pulmão:
com paciência de Jó.
I

João Grilo ficou sorrindo I


As sete horas da noite
pela cilada que fez
foi ao confessionário
dizendo: vou c()nf~ssar-me
fez logo o pelo sinal
no dia sete do mês
. posto nos pés do vigário
ele mmcaconfessou-se
o padre disse: acuse-se
foi essaapr.Qpeir61 vez.
I João disse ° necessário.

"t05 -
Eu sou aquele menino João disse: o padre é homem?
da garapa e da coité pensei que fosse mulher .
o padre disse: levante-se anda vestido de saia
eu já sei você quem" não' casa porque não quer .
João tirou a lagartixa isto ,é que é ser caviloso
. soltou-ajunto do pé. ., cara de mata bebél

. A lagartixa subiu I
o padre disse: João Grilo
'por debaixo da batina vai-te daqui infeliz
entrou na. pe~n,a da calça João Grilo disse: bravo
tornou-se feia a buzina do vigário da matriz
o padre meteu os pés é assim que ele me paga
arrebentou a cortina. o benefício que fiz.

Jogou a batina fora João Grilo foi embora


naquela grande fadiga o padre ficou zangado
a lagartixa cascuda João Grilo disse; ora sêbo
arranh~~o na barriga eu não' aliso croado
João Gt'dó de lá gritava: , vou vingar-me duma raiva
s-eu.padre, Deus lhe castiga! / que tive o ano passado.
- ,-

o padre imp-~ê~ente No subúrbio da cidade


naquele tum(mfu . morava um português
saltava pra tÓtu5 lado vivia de vender ovos
que paremi\'tifu timbu justamente nesse mês
acabou tiran(,tólsl'calças denunciou, deJoão Grilo
ficando (jcêlg'qüéléto nn. pelas artes que ele fez'
I

- 06- - 07 -
João encontrou o português João Grilo foi à escola
com a égua carregada com sete anos de idade
com duas caixas de OHjS com dez anos ele saiu
João lhe disse: oh! camarada por espontânea vontade
deixa eu dizer a tua égua todos perdiam pra ele
uma peq,uena charada. ' outro Grilo como aquele
I
perdeu-se a proprieda~e.

o português disse: diga ' João Grilo em qualquer escola


João chegou bem-no ouvido chamava o novo atenção'
com à ponta do cigarro passava quiíiau nos mestres
, soltou-a dentro escondido nunca faltou com a lição
a égua meteu os pés , era um tipo inteligente
foi temeroso estampido', no futuro e no presente
João dava interpretação.

Derrubou o português Um dia pergunta ao mestre:


foi ovos pra todo lado o que é que Deus não vê
arrebentou a cangalha o homem vê qualquer hora?
ficou ° chão ensopado diz ele: não pode ser '
o português levantou-se pois Deus vê tudo no mundo
tristonho e todo melado. em menos de um' segundo
de tudo pode saber. . I

o português perguntou: João Grilo disse: qual nada


o que foi que tu disseste quedé os elementos seus?
que causou tanto desgosto abra os olhos, mestre velho
a este animal agreste? ' que vou lhe mostrar os meus '
eu disse que a mãe morreu seus estudos se consomem
o português respondeu: um homem vê outro homem
ohl, égúabesta da peste!
., - 08-
só Deus não vê outro Deus.
- 09-
, ,.
"
Este mês eu não conheço
quem fez esta tabuada?'
João Grilo disse: seu mestre
João Grilo lhe respondeu:
me diga como se chama
ora.sêbo, camarada
a mãe pe todas as mães?
pra mim perdeu o valor
tenha cuidado no drama
ter nome de professor,
o mestre coça a cabeça
mas não conhece de nada.
disse; antes que me esqueça
Vou resolver o programa.
Este mês é fevereiro .
.An,l~ede.tbdas as mães por todos bem conhecido
é Maria Concebida .só tem vinte c oito dias
João Grilo disse: eu protesto' o tempo mais res~mido
antes dela. ser nascida ' entre grandes 'e peq~enos
já esta mãe existia é o que a mulher fala menos
não foi a Virgem Maria mestre, 'você está perdido.
ohl que resposta perdida.
.Seu professor me responda
João Gri \0 disse depois se algum tempo estudou
num bonito português: quem serviu a Jesus Cristo
a mãe de todas as mães morreu e não se salvou
já disse e digo outra vez no dia que ele morreu
como a escritura ensina seu corpo o urubu comeu.
é a nat1lTeza divina e ninguélIl o sepultou?
que tudo criou e fez.
Não conheço quem é esse
Me responda professor porque nunca vi escrito
entre grandes e pequenos João Grilo lhe respondeu
quero que fique notável foi um jumento, está dito
por todos nossos terrenos que a Jesus Cristo servia
. responda com rapidez' na noite que ele fugia
con;\O)e chama o-mês de Belém para Q Egito -11' -
que a mulher fala menos? - 10-
o

João Grilo chegou no rio


João Grilo olhou de um lado . às cinco horas da tarde
disse para o diretor: passou até nove horas
esse mestre é um quadrado porém tudo foi debalde \
fique sabendo o senhor na noite triste e sombria
sem dúvida exame não fez João Grilo, sem companhia
o aluno dessa vez' voltava sem novidade,
ensinou ao pf6fe~:;9f.
Chegando dentro da mata
'João Grilo foi para casa ouviu lá delltro(um gemido:
encontTOUSuamãe chorando os lobos devoradÓFes'
ele então disse: mam~e o caminho interrompido
\ não está ouvindo eu cantandQ? . e trepou -se num pinheiro
não chore, cante mais antes como era forasteiro'
pois o seu filho garante ficou calado escondido.
pra isso vive estudando.'
Os lobos foram. embora
A mãe de João Grilo disse: e João Grilo não quis descer
choro por necessidade -' disse: eu dormirei aqui
sou uma pobre viúva suceda o que suceder
e tu de menor idade eu hoje imito araquan
até da escola saíste só vou embora amanhã
João lhé disse: ainda existe quando o dia amanhecer.
o mesmo Deus de bondade,
o Grilo ficou trepado
A senhora pensa em carne temendo lobos e leões
de vinte mil réis o quilo pensando na fatal sorte
ou talvez no meu destino e recordando.as lições
que:àforça hei de segui-Io? que na escola estudou :
não chore, fique bem certa quando de súbito chegou
a senhora s~ se aperta . uns quatro ou cinco ladrões.
quando matare1p.João Grilo. 1 $. -
- 12 ~
João Grilo desceu da árvore
Eram lIDS ladrões de Meca quando o dia amanheceu
que roubavam no Egito mas quando chegou em casa
se ocultavam na mata não contou o que se deu
naquele bosque esquisito furtou um roupão de malha
pois cada um de per si vestiu, fez uma mortalha
que vinha juntar-se ali . lá no mato se escondeu.'
pra \ cr quem era perito.
" ·l'· .., i .
-. "r : À noit~ foipra capela
O capitão dQs~Jadrões . '.
~f!l di se não fala'l1ingu&m'.'
por detrás da sacristia
vestiu-se 'com a mortalha
útil rcspondeu.mâo senhor pois a capela jazia
disse ele: muito bem sempre com a porta aberta
.
cuidado. não roubem. vã . \ João Grilo partiu na certa
vamos ajuntar-nos amanhã colher o que pretendia.
na Capela de Belém.
Deitou-se lá num caixão
Lá partiremos o dinheiro que enterrava defunto
.pois aqui tudo é graúdo João Grilo disse: hoje aqui
. lemos um roubo a fazer vou ganhar um bom presunto
.\ desde ontem que estudo
f ., . os ladrões foram chegando
mas ja estou preparado João Grilo observando
Ia
e o Grilo trepado . sem pensar em outro assunto.
calado e escutando tudo.
Acenderam um farol
Os ladrões foram embora penduraram numa cruz
depois da conversação foram contar o dinheiro
João Grilo ficou ciente no claro de uma luz,
dizendo em seu coração João Grilo de lá gritou:
, se Deus ajudar à mim esperem por mim que vou
acabou-se tempo ruim com as ordens de Jesus. .- 15 -
sou eu quem ganho a questão.
- 14 -
"

Os ladrões dali fugiram'


o sultão pergunta ao Grilo:
) de onde você saiu?
.quando viram a alma em pé aonde você nasceu?
João Grilo ficou com tudo João fitou ele e sorriu:
disse: já sei como é sou deste mundo. de agora
nada no mundome atrasa nasci na ditosa hora
agora vou para casa que minha mãe me,pariu,
tomar um rico café.'
João Grilo, tu adv~nha? I
Chegou e,disse: mamãe
o Grilo respondeu: não
morreu nossa precisão eu digo algumas coisas
o ladrão-que rouba outro
conforme a ocasião
tem cem anos de perdão
quem canta de graça é galo
contou o que tinha feito'
cangalha só pracavalo
disse a velha: está direito'
e sêca SÓ no sertão.
vamos fazer refeição.
Eu tenho doze perguntas
Bartolomeu do Egito
pra você me responder
'foi um rei de opinião
no prazo de quinze dias
mandou. convidar João Grilo.
escuta o que vou dizer
pra uma adivinhação
veia lá como se arruma
João Grilo disse: eu vou'
é bastante faltar uma
no outro dia embarcou
está condenado a morrer.
. para saudar o sultão.
. I

João Grilo disse: estou pronto


João Grilo chegou na corte
pode dizer a primeira
cumprimentou o sultão
,se acaso sair-me bem
I disse: pronto, senhor rei
venha a segunda e a terceira , I

deu-lhe um aperto de mão


venha a quarta e a quinta t.
com calma e maneira doce
talvez o Grilo não minta
o sultão admirou-se
diga até a derradeira.
, da sua disposição.
- 16-
.1

Perguntou: qual o animal


sta cova é uma viola
que mostra mais rapidez
com prima. baixa e bordão
que anda de quatro pés
mortas são as doze cordas
de manhã por sua vez
quando canta um cidadão
ao meio-dia com dois
canta, toca e faz o.verso
passando disto depois
cinco vivos num progresso
à tarde anda com três?
QS cincos dedos da Julio.

o Grilo disse: é'o homem


Houve uma salva de palmas
que. se arrasta pelo chão
com vivas que retumbou
no tempo de engatinhar
o sultão ficou suspenso
. depois toma posição .
seu viva também bradou
anda em pé bem seguro
depois pedindo silencio
mas quando fica maduro
com outro desejo Imenso.
faz três pés com o bastão.
í.1 terceira perguntou.

o sultão maravilhou-se
João Grilo qual é a coisa
com sua resposta linda
que eu mandei carregar
João disse: pergunte outra
primeiro dia e segundo
vou Ver a resposta ainda
no terceiro fui.olhar
segunda o sultão fez
quase dá-me a tiririca
João Grilo daquela vez
se tirar mais grande fica
. celebrizou sua vinda ..
não mingua. faz aumentar? .'
Grilo, você me responda
nhor rei .sua pergunta
em termos bem divididos
parece me fazer guerra
uma cova bem cavada
um grilo não tem saber
doze mortos estendidos
criado dentro da serra'
e todos mortos falando
!TI as digo pra quem conhece
cinco-vivos passeando'
O que' tirando mais cresce
trabalham com três sentidos. I
-18 - 6 um buraco na terra. - 19 -
, \

.João Grilo, vou terminar o rei disse: João Grilo,


, i
:.r....
J
fi
as perguntas "\0 tratado tua fama é um estrondo
,-....
o Grilo disse: pergunte João Grilo disse: eu sabendo
quero ficar descansando o que perguntar respondo
,,-'I ,
disse o rei: é muito exato disse o réi'enfurecido:
...- ./Ii;
o que é que vem do alto O que tem o pé comprido
cai em pé, corre deitado? O faz o rastro redondo?

Aquele que cai de pé Senhor rei, tenho, lebrança


e sai correndo no chão do tempo de minha avó
, será uma grande chuva que ela tinha um compasso
nos barros de um sertão na caixa do bororó, ' ..r A'lj

o rei disse: muito bem


I _ como esse eu também ando
no mundo todo nao tem fazendo o rastro redondo .
outro grilo como João. andando com uma perna só.

João Grilo, você bebe? João, qual é o bicho •


João disse: bebo um pouquinho que passa pela campina.
e disse: eu não sou filho fi qualquer hora da noite
de Baco quefez o vinho ) andando de lamparina?
o meu pai morreu bebendo . é um pequeno animal
e eu o que estou fazendo? tem luz artificial
sigo no mesmo caminho. vcj a o que determina.

o rei disse: João Grilo Esse bicho eu já vi


beber é coisa ruim pois eu tinha por costume
e Grilo respondeu: qual! de brincar sempre com ele
o meu pai disse assim: minha mãe tinha ciúme
na casa de seu Henrique ele andava pelo campo
zelambein um alambique uns chamavam pirilampo
melhor do que um jardim, c outros de vagalume.
- 20- I - 21
o rei já tinha esgotado' João lhe disse: esse objeto
a sua imaginação nem é manso nem é brabo
não achou uma pergunta nem é grande nem épequeno
que interrompesse a João n m é santo nem é diabo .
disse: me responda agora, bem que mamãe me dizia
qual é o olho que chora que eu ainda caía . .'
sem haver consolação? onde a porca torce o 'rabo.

o Grilo então respondeu: 'Trouxeram uma bandeja


lá muito perto da gente ornada de muitas flores
tem um oireiroimportante dentro del~ uma latinha
um moçomuito doente. cheia de muitos fulgores "
suas lágrimas tem paladar O rei lhe disse: João Grilo
quem não deixa de chorar \,;este o último estrilo
é olho d'água vertente. que rebenta ruas dores.

o rei inventou um truque João Grilo desta vez


do jeito que lhe convinha passou na última estica
vou arrumar umacilada adivinhar uma coisa
ver se João adivinha n jcnta que se pratica
mandou vir um alçapão Iu rir da sorte mesquinha
fez outra advinhação pois dentro da latatinha
escondeu um a bacurinha' um pouquinho de xinica.
. I ~.

• f '
João, o que é que tem rei disse: João Grilo
dentro deste alçapão? veja se escapa de morte
se não disser o que é o que tem nesta latiriha?
é morto, não rem perdão responda se tiver sorte,
João Grilo lhe respondeu: LOdo aquela populaça .
quem mata 11mcomo eu . queria ver a desgraça "
..não tem, dó nem coracão, do Grilo franzinó e forte,', '
\ . - 22- , , ) - 23 -
Minha DJ.?e~Rnj)f~ti~o~ , ',~' Junto delee~,t3\'a u n duque
que Q Ju.,~vr<?é ~infaperda 1.- que veio den unciar \
dessas aâi~,itJ.haçqes ' r I dizendo que o mendigo
brevemenie voCê' herda' na prisão ia nitorar \
faz de cb~t~ que já ví' ' " r '-, por não pagar as despe sas
como eS~,~,hoje fNqüi f' .
I I,
quy fizera por afoiteza '
parece que dá eili. merda. : I, ", 1 I
sem ninguém lhe convi il'r,
, !.

o rei ach8~:~uitA ,g~aça I " ,'i I" I João Grilo disse ao,mendígo:
nada teve;R"qti~,t~b't ': ,~lllr';{) e como.é, pobrb~ãà ,' I
João GrilQ'fic8" gM'cdt1'e" ptl~ Ir que se faz uma despesa
, t.~
.:':;n~~l'!~
. ,~( ri' , ."i,.
com regozJ..Jp e.l'~azer, .' sem ter no bolso um tostão
, dll'!! ,',., cr", ']/...11 ,fi;""
gozan o um .uQm pa EÍ4at . .' me conte todo o passado
foi comer ~~Qiiiâoà l1ar ) r, depois de ter escutado
desta data á{é1nóh-er.~ J' 1 ~, Ihe darei razão Óu não,

Disse o mendigo: sou pobre


e fui pedir Uma esmola
na casa do senhor duque , '

levei a minha sacola


quando cheguei na cozinha
ví cozinhando galinha
numa grande caçarola,
. f " ';.. ~
Certa "e~.!~ltégoii
I


f

c:ciftéJ '..J' , '


r_ . I

Como a comida cheirava


um menpIgo ésfarrap'adó -'~ '-,1 ' eu tive apetite nela
com uma JUoêliila' n~ 2QstaS:r' tirei um taco de pão
,dois guardas d~c~da,Jlado' "'r:_ f e marchei pro lado dela
seu rosto chéi9~àt;nãgbf", .,,1,1)' ,e sem pensar nas desgraça
os olho~~'eIifênao"ag'ua 'i, ,! H' '\r botei o pão rya fumaça ' .
,f '
faziape~J: Ó 'c6ii~d{j,ll' n, i 1í1~24_ que saía oa panela. ,",1,

/ - 25-
.: /
O cozinheiro zangou-se
chamou logo o/seu senhor
dizendo que: roubara
o mendigo sem demora
fez çqmg I} GrUo mandou
PêgQU essa moehilinha
/,t,
~~~

eqm a prata e balançou


da comida oeu sabor . sem compreender o truque
só por eu terfcolocado bem no ouvido do duque
, um taco de pão mirrado as moedas tilinteu.
,aproveitando o vapor. I
I ,
'. Di!l~eo duque enfurecido:
Por issojfui obrigado mas não recebi o meu
a pagar/ess~ qua~ti~ .. diz João Grilo: 'sim senhor
como não tive dinheiro
o duque por tirania
º
e isto foi que valeu
deixe de ser batoteiro
mandoutrazer-me escoltado o tüli(io dó dinheiro
prá depois de ser julgado o sénhQf já recebeu, (,.

, ser posto na enxovi a.


Você diz que o mendigo
João Grilo disse: está bem por ter provado o vapor ti
nã~ precisa mais falar foi mesmo que ter comido 01
então perguntou ao duque seu manjar o seu sabor i2~
quanto o homem vai pagar? pois também ó verdadeiro 1 li
cinco coroa de prata que o tinir do dinheiro
·msq
ou paga Ou vai pra chibata representa seu valor. .1.ugil
não lhe deve perdoar.
Virou-se para o mendigo
j. Ism1A
João GrÚo tirou do bolso. ~ disse: ~stá~ perdoad~ ";fH010n
a importância cobrada le,~a o dinheiro que deI-te) obfJfWp
na mochila do mendigo VaI pra casadescansado ;'tur~:g !.lUp ~
deixou-a depositada o du~ue olhou para o ,Gr:i &il.~.q ::.lb
. e disse-para o mendigo: depoIs.de ~ar um,estnl!?b r o:lnq!\2
balance a mochila amigo saiu.por ali danado. , -!!~,.,(.~;>o~
211Q
pIO duque ouvir a zuada.
- 26-
-p7 -
A fama então de João Grilo o rei disse não é ele
foi de nação em nação pois assim já é demais
por sua sabedoria João Grilo pediu licença
e por seu bom coração mostrou-lhe as credencias
sem ser por ele esperado embora o rei não gostasse
um dia foiconvidado mandou que ele Ocupasse
pra visitar um sultão, os aposentos reais.

o rei daquele País Só se ouvia cochichos


quis o. reino embandeirado , que vinham de todo lado
pra receber a visita ! as damas então diziam; .
, do ilustre convidado - é esse o homem falado?
'o castelo estava em flores duma pobreza tamanha
cheio de tantos fulgores e ele nem se acanha
ricamente engalanado. de ser nosso convidado?

As damas da alta corte Até os membros da corte


trajavam decentemente diziam num tom chocante;
toda corte imperial pensava que o João Grilo
esperava impaciente fosse dum tipo elegante
ou por isso ou por aquilo .mas nos manda 1remendado
para conhecer João Grilo sem roupa, esfarrapado
figura tão eminente. \ um maltrapilho ~bulante.

Afinal chegou João Grilo E João Grilo ouvindo tudo


no reinado do sultão mas .sem dar demonstração
quando ele entrou na côrte \ em toda a corte real
que. grande decepção .ninguém lhe dava atenção
, de palitó remendado por mostrar-se esmoiam bado'
sapato velho furado .tinha sidodesprezado
nas costas um matulão. naquela rica nação .:
-,29 -
o almoço foi servido
Afinal veio um criado porém João não quis comer
e disse sem o fitar: despejou vinho na roupa .
já preparei o banheiro só para vê-lo escorrer
para o senhor se banhar ante a côrte estarrecida
vista uma roupa minha . encheu os bolsos de comida
e depois vá prá cozinha para toda a corte ver.
. na hora de almoçar.
o rei bastante zangado
João Grilo disse: está bom perguntou para João: '
rn ,,"S disse com seu botão ponlue motivo o senhor
roupas finas trouxe eu não come da refeição?
dentro de meu m atulão . respondeu João com maldade:
me apresentei rasgado tenha calma, majestade
para ver nesse reinadõ digo já toda razão. .
, qual era a minhaimpressão.
Esta mesa tão repleta
João Grilo tomou um banho de tanta comida boa
vestiu uma roupa de gala não foi posta para mim
então muito bem vestido um ente, ulgar atoa .
apresentou-se 'na sala desde sobremesa à sopa
ao ver seu traje tão belo foram postas à minha roupa
houve gente no castelo e não à minha pessoa.
que quase perdia a fala,
.Os comensais se olharam
E então toda repulsa O rei pergunta espantado:
transformou-se de repente porque o senhor diz isto
o rei chamou-o prá rnesa . estando tão bem tratado?
como homem competente disse João: isso se explica
consigo, dizia João por estar de roupa rica
na hora dá refeição não sou mais esmolambado,
vou ensinar essa gente. - 31
'- 30-
E estando esfarrapado .
ia comer na cozinha
mas como troquei de roupa
como junto da rainha SOBRE O AUTOR:
vejo nisto um grande ultraje
. homenageiam meu traje
e não a pessoa minha.

Toda a corte imperial


,pediu desculpa a João João Ferre ira de Lima nasceu em São José do
, \ e muito tempo falou-se Egito (PE), em 1902 e faleceu em 1973.
naquela dota lição Escreveu sobre diversos gêneros, tendo se
e todo mundo dizia destacado em folhetos de discussão e peleja.
que sua sabedoria
era igual aSalomão.

FIM·

Os direitos autorais deste folheto pertencem à


'Juazeiro do norte - Ce..
2,006 Universidade Regional do Cariri (URCA)/Gráfica Lira
Nordestina.
,'.

! .
,
'. -32-
"I:

I""'!l!llIIIIIíioóIT
~
(tnos
U!iWf.K,lJiIAllt,Rt(/l(íNAL DO GutIRI

,~

.,? D
GOVERNO FEDERAL

IMPRESSO NA GRÁFICA LIRA NORDESTINA


URCA - Cam pus do Pirajá - Av. Castelo Branco, 150
Juazeiro do Norte (CE)
E-mail: lira@urca.br- Fones: (88) 9201-1143/3102-1150

Você também pode gostar