Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Carlo Collodi
Apresentação
Tatiana Belinky
Mestre Cereja, marceneiro, encontra um pedaço de madeira
que chora e ri como uma criança
Enquanto o pobre Gepeto era levado sem culpa para a prisão, aquele
danadinho do Pinóquio saiu correndo pelos campos para chegar mais depressa em
casa. Assim que passou a tranca deixou-se cair sentado no chão, soltando um
suspiro de contentamento.
Logo ouviu no quarto alguém que fazia:
— Cri-cri-cri!
— Quem é? — perguntou Pinóquio assustado.
— Sou eu, o Grilo-Falante, e moro neste quarto há mais de cem anos. Vou
lhe dizer uma grande verdade: ai dos meninos que se revoltam contra os pais. Nunca
serão felizes, e mais cedo ou mais tarde haverão de se arrepender.
— Pode ir cantando o que bem entender, Grilo. O que eu sei é que amanhã
ao nascer do sol quero ir embora porque, se ficar, vai acontecer comigo o que
acontece aos outros meninos: vão me mandar para a escola e, querendo ou não, vou
ser obrigado a estudar.
E, para dizer a verdade, acho muito mais divertido correr atrás das
borboletas e pegar passarinhos no ninho.
— Será que não sabe que desse jeito vai se tornar um grandíssimo burro e
que todos vão debochar de você? Se não gosta de ir para a escola, por que não
aprende pelo menos uma profissão?
— Quer saber? — perguntou Pinóquio. — Só existe uma profissão de que eu
realmente gosto: a de comer, beber, dormir, me divertir e vagabundear de manhã até
de noite.
— Para o seu governo — disse o Grilo-Falante com calma —, todos os que
escolhem essa profissão acabam quase sempre no hospital ou na prisão. Pobre
Pinóquio! Que pena você me dá!... É uma marionete e, o que é pior, tem a cabeça de
madeira.
Pinóquio levantou-se de um salto e, furioso, pegou um martelo e o atirou
contra o Grilo-Falante. Infelizmente, acertou-o bem na cabeça, tanto que o pobre
Grilo só teve fôlego para fazer cri-cri-cri e ficou ali, grudado na parede.
Lembrando que não havia comido nada, Pinóquio sentiu uma fome tão
espessa que dava para cortar com faca. Começou a revirar todos os cantos em
busca de qualquer coisa que desse para mastigar, mas não achou nada.
Então, chorando e desesperando-se, disse:
— O Grilo-Falante tinha razão! Se eu não tivesse fugido de casa e se meu
pai estivesse aqui, eu não estaria morrendo de fome! — e foi dormir faminto.
Ao amanhecer, Pinóquio acordou porque alguém batia à porta.
— Quem é? — perguntou bocejando.
— Sou eu — era a voz de Gepeto.
Pinóquio foi correndo tirar a tranca.
Gepeto tirou do bolso três peras e disse:
— Estas peras eram o meu café-da-manhã. Mas eu lhe dou com prazer.
Devoradas as frutas, Pinóquio disse soluçando:
— Eu prometo ao senhor que de hoje em diante vou ser bonzinho... Prometo
que vou à escola e que vou tirar boas notas. Mas preciso de uma roupa.
Gepeto, que era pobre, fez para ele uma roupinha de papel florido, um par
de sapatos de casca de árvore e um chapéu de miolo de pão.
— Mas para ir à escola ainda falta o principal: a cartilha — lembrou Pinóquio.
— Tem razão. Mas não tenho dinheiro para comprá-la — disse o bom velho,
triste. — Paciência! — gritou Gepeto de repente levantando-se. E depois de vestir o
velho paletó cheio de remendos, saiu de casa.
Voltou dali a pouco com a cartilha para o filho, mas não tinha mais o paletó.
O pobre homem estava em mangas de camisa, e lá fora nevava.
— E o paletó, pai?
— Vendi.
— Por que vendeu?
— Porque me dava calor.
Pinóquio compreendeu a resposta no ato e, não podendo frear o ímpeto do
seu bom coração, pulou no pescoço de Gepeto e começou a beijar-lhe o rosto todo.
O teatro de marionetes
Pinóquio, com sua bela cartilha nova debaixo do braço, ia fazendo mil
fantasias:
— Hoje, na escola, quero aprender logo a ler. Amanhã vou aprender a
escrever. E, depois de amanhã, a fazer os números. Depois vou ganhar um monte de
dinheiro e com o primeiro dinheiro que tiver no bolso quero fazer logo para o meu pai
um belo paletó todo de prata e ouro com botões de brilhantes.
Enquanto isso, chegou à Praça, que estava cheia de gente ao redor de um
grande barracão de madeira e de lona pintada de todas as cores. Num cartaz, em
letras vermelhas, estava escrito: GRANDE TEATRO DE MARIONETES...
— Quanto se paga para entrar? — perguntou Pinóquio a outro menino.
— Quatro tostões.
— Por quatro tostões, fico com a sua cartilha — gritou um vendedor de
roupa usada que tinha ouvido a conversa.
E o livro foi vendido ali, na hora.
Quando Pinóquio entrou no teatrinho, a peça já havia começado. Na cena
viam-se Arlequim e Polichinelo que, como sempre, ameaçavam-se de surras e
pauladas. A platéia, na maior atenção, rolava de rir.
De repente, Arlequim pára de representar e começa a gritar em tom
dramático:
— Mas aquele lá atrás é Pinóquio!...
— É Pinóquio, de fato — grita Polichinelo.
— É Pinóquio! — gritam em coro todas as marionetes saindo aos saltos dos
bastidores.
— É o nosso irmão Pinóquio!
— Pinóquio, venha aqui pra cima! — grita Arlequim. É impossível imaginar
os abraços, os pescoções e os beliscões de amizade e amor fraterno que Pinóquio
recebeu.
Então surgiu Tragafogo, o titeriteiro, um homenzarrão tão feio que dava
medo só de olhar. Tinha uma barbona negra tão comprida que descia do queixo até o
chão. Basta dizer que, quando andava, pisava nela com os pés.
Diante dessa inesperada aparição emudeceram todos.
— Por que veio trazer a barafunda ao meu teatro? — perguntou o teriteiro a
Pinóquio.
— A culpa não foi minha!...
— Agora chega! À noite acertaremos as contas.
Acabada a apresentação da comédia, o titeriteiro foi para a cozinha, onde
preparava para o jantar um belo carneiro no espeto. E porque estava lhe faltando
lenha para acabar de assá-lo, chamou Arlequim e Polichinelo e lhes disse:
— Tragam-me aqui a nova marionete. Tenho certeza de que vai dar uma
bela labareda para o meu assado.
Arlequim e Polichinelo, amedrontados, obedeceram. E dali a pouco voltaram
à cozinha trazendo nos braços o pobre Pinóquio, que gritava desesperadamente:
— Meu pai, venha me salvar! Não quero morrer!...
Tragafogo parecia um homem assustador, mas, quando viu diante de si o
pobre Pinóquio que se debatia gritando, começou a se comover e, depois de resistir
ao máximo, soltou um estrondoso espirro.
Tragafogo, sempre que se enternecia, tinha o vício de espirrar. Era uma
forma como outra qualquer de demonstrar a sensibilidade do seu coração. Porém,
sempre fazendo cara de mau, gritou para Pinóquio:
— Pare de chorar! Os seus lamentos me deram um enjoozinho no
estômago... Atchim! Atchim!
— Saúde — disse Pinóquio.
— Obrigado. Sabe lá que sofrimento seria para o seu velho pai se eu agora
mandasse atirar você naquelas brasas! Atchim! Atchim! Atchim! — e deu mais três
espirros.
— Saúde! — disse Pinóquio.
— Paciência! — disse Tragafogo. — Esta noite vou comer o carneiro meio
cru. Mas da próxima vez, ai de quem for o escolhido!...
Enquanto o pobre Pinóquio parecia mais morto que vivo, uma Menina de
cabelos azuis debruçou-se à janela da casinha e bateu palmas três vezes. Um
grande falcão veio pousar no peitoril da janela.
— O que ordena, minha graciosa Fada? — disse ele, abaixando o bico em
sinal de reverência. A Menina dos cabelos azuis nada mais era que uma bondosa
Fada que há mais de mil anos vivia no bosque.
— Está vendo aquela marionete pendurada num galho do grande carvalho?
Voe até lá, quebre com o bico o nó que a mantém suspensa no ar e a pouse
delicadamente, deitando-a na grama.
O Falcão foi e dois minutos mais tarde voltou dizendo:
— O que me ordenou está feito.
A Fada tomou no colo a pobre marionete e, levando-a para um quartinho,
mandou chamar os médicos mais famosos da vizinhança.
Os médicos chegaram rapidamente. Eram um Corvo, uma Coruja e um
Grilo-Falante.
O Corvo tateou o pulso, o nariz e os dedos mindinhos dos pés de Pinóquio.
E pronunciou solenemente estas palavras:
— A meu ver, a marionete está morta. Mas se por desgraça não estiver
morta, então será indício seguro de que continua viva!
— Sinto muito — disse a Coruja — ter que contradizer o Corvo, meu ilustre
amigo e colega. Na minha opinião é o contrário: a marionete continua viva. Mas se
por desgraça não estiver viva, será sinal de que realmente está morta.
— E o senhor não diz nada? — perguntou a Fada ao Grilo-Falante.
— Eu digo que o médico prudente, quando não sabe o que dizer, o melhor
que faz é ficar calado. De resto, essa marionete não me é estranha, eu a conheço faz
tempo!...
Pinóquio, até então imóvel, teve um tremor que sacudiu a cama inteira.
— Essa marionete aí — continuou o Grilo-Falante — é um tratante de
carteirinha, um preguiçoso, um vagabundo...
Pinóquio escondeu a cara debaixo dos lençóis.
— É um filho desobediente, que vai partir o coração do seu pobre pai!...
Nesse momento, ouviu-se no quarto um som sufocado de choro e de
soluços. Quem chorava e soluçava era Pinóquio.
— Quando o morto chora, é sinal de que está a caminho da cura — disse
solenemente o Corvo.
— Sinto contradizer o meu ilustre amigo e colega — acrescentou a Coruja
—, mas para mim, quando o morto chora, é sinal de que lamenta morrer.
Assim que os três médicos saíram, a Fada aproximou-se de Pinóquio e,
após tocar-lhe a testa, percebeu que estava com uma febre altíssima.
Então dissolveu um pozinho em água e, estendendo-o para ele, disse
carinhosamente:
— Beba. É amargo, mas vai lhe fazer bem.
— Se é amargo, não quero.
— Quando tiver bebido lhe darei uma bolinha de açúcar.
— Antes quero o açúcar, e depois bebo essa água amarga...
— Você promete?
— Prometo...
A Fada lhe deu a bolinha e Pinóquio, tendo-a mastigado e engolido em um
instante, disse lambendo os beiços:
— Que bom seria se o açúcar fosse um remédio! Eu tomaria purgante todos
os dias.
Pinóquio pegou o copo na mão, de má vontade. Enfiou nele a ponta do nariz,
depois o aproximou da boca, depois voltou a enfiar a ponta do nariz. Finalmente
disse:
— É amarga demais! Não posso beber.
— Como é que você diz isso se nem provou?
— Imagino. Senti pelo cheiro. Antes quero outra bolinha de açúcar... Depois
bebo!
Então a Fada, com a paciência de uma boa mãe, botou-lhe mais um pouco
de açúcar na boca e em seguida ofereceu-lhe outra vez o copo.
— Assim não posso beber! — disse a marionete fazendo mil caretas.
— Por quê?
— Porque está me incomodando a porta do quarto, que está meio aberta.
A Fada fechou a porta.
— Eu não quero beber essa água amarga horrorosa, não quero!... Prefiro
morrer a tomar esse remédio ruim — gritou Pinóquio.
Nesse momento, a porta do quarto abriu-se e entraram quatro coelhos
pretos que traziam nos ombros um pequeno caixão.
— O que vocês querem de mim? — gritou Pinóquio, assustado.
— Viemos buscá-lo — respondeu o coelho maior.
— Mas eu ainda não estou morto!...
— Ainda não, mas sobram-lhe poucos minutos de vida, já que você se
recusou a tomar o remédio que teria acabado com a febre.
— Oh, minha Fada! — começou então a gritar a marionete —, dê-me logo
aquele copo... Depressa, pelo amor de Deus, porque não quero morrer, não...
E tomando o copo com ambas as mãos, esvaziou-o de um só gole.
— Paciência! — disseram os coelhos. — Desta vez fizemos a viagem à toa.
— E colocando novamente nos ombros o pequeno caixão, saíram do quarto.
O fato é que dali a poucos minutos Pinóquio pulou da cama completamente
curado porque, é bom que se saiba, as marionetes de madeira têm o privilégio de
adoecer raramente e de sarar muito depressa.
E a Fada, vendo-o correr e rolar pelo chão do quarto, alegre e irrequieto
como um franguinho novo, disse-lhe:
— Os meninos deveriam saber que um bom remédio tomado a tempo pode
salvá-los de uma doença grave, e talvez até da morte...
— Da próxima vez vou me lembrar daqueles coelhos pretos com o caixão
nos ombros... aí vou tomar logo o copo na mão, e glupt.
— Agora me conte como foi que você acabou nas mãos dos assassinos.
Pinóquio contou tudo o que lhe havia acontecido.
— E agora, onde estão as quatro moedas? — perguntou a Fada ao fim da
história.
— Perdi! — respondeu Pinóquio. Mas mentiu, porque estava com elas no
bolso.
Assim que ele disse a mentira, seu nariz, que já era comprido, cresceu mais
dois dedos.
— E onde você as perdeu?
— No bosque aqui perto.
Com essa segunda mentira o nariz continuou crescendo.
— Se você perdeu as moedas aqui perto — disse a Fada —, vamos procurá-
las, porque tudo o que se perde no bosque aqui perto se encontra.
— Ah! Agora estou me lembrando direito — rebateu a marionete —, eu não
perdi as quatro moedas, mas, sem perceber, as engoli enquanto tomava o seu
remédio.
Com essa terceira mentira, o nariz cresceu de forma tão extraordinária que o
pobre Pinóquio não conseguia mais se virar para lado nenhum. Virando-se para cá,
batia o nariz na cama e nos vidros da janela, e virando-se para lá, batia com ele nas
paredes ou na porta do quarto.
A Fada olhava para ele e ria.
— De que está rindo? — perguntou Pinóquio, preocupado com aquele seu
nariz que crescia a olhos vistos.
— Da mentira que você contou.
— Como sabe que eu contei uma mentira?
— As mentiras, meu menino, se reconhecem logo, porque são de duas
espécies: as que têm as pernas curtas, e as que têm o nariz comprido. A sua é
justamente daquelas que têm o nariz comprido.
Pinóquio, não sabendo mais onde se esconder de vergonha, tentou fugir do
quarto. Mas não conseguiu. Seu nariz havia crescido tanto, que não passava mais
pela porta.
A Fada deixou que o boneco chorasse e gritasse ao longo de uma boa meia
hora. E o fez para dar-lhe uma lição severa e para que se emendasse do feio vício de
mentir, o vício mais feio que um menino pode ter. Mas quando o viu desfigurado e
com os olhos fora das órbitas de tanto desespero, penalizada, bateu palmas. E a
esse sinal, mais de mil Pica-Paus entraram pela janela e, pousando todos no nariz de
Pinóquio, começaram a bicá-lo com tal rapidez, que em poucos minutos aquele nariz
enorme se viu reduzido ao tamanho natural.
— Como a senhora é boa, minha Fada! — disse a marionete enxugando os
olhos.
— Seu pai já foi avisado — respondeu a Fada —, e antes que a noite
chegue estará aqui.
— Verdade? — gritou Pinóquio pulando de alegria. — Então, Fadinha
querida, quero ir ao encontro dele!
— Pode ir. Mas cuidado para não se perder.
Pinóquio se foi. Logo viu aparecer na estrada adivinhem quem?... A Raposa
e o Gato.
— Querido Pinóquio! — gritou a Raposa, abraçando-o. — Como é que você
está aqui?
— É uma história comprida — disse a marionete. — Na outra noite, quando
me deixaram sozinho na taverna, encontrei os assassinos no caminho... Mas eu
comecei a fugir até que me alcançaram e me enforcaram num galho daquele
carvalho...
— Nunca ouvi nada pior! — disse a Raposa. — Em que mundo nós
estamos? Onde encontrarão refúgio seguro as pessoas de bem como nós? E agora,
o que é que você está fazendo por aqui? — perguntou a Raposa à marionete.
— Espero meu pai, que deve chegar a qualquer momento.
— E as suas moedas de ouro?
— Estão sempre no meu bolso, menos uma que gastei na taverna.
— E pensar que, em vez de quatro moedas, poderiam ser duas mil! Por que
você não dá ouvidos ao meu conselho? Por que não vai semeá-las no Campo dos
Milagres?
— Hoje é impossível. Vou outro dia.
— Outro dia será tarde, porque aquele campo foi comprado por um homem
rico e, a partir de amanhã, não vai mais ser permitido a ninguém plantar ali o seu
dinheiro.
— Qual é a distância daqui até o Campo dos Milagres?
— Só dois quilômetros. Quer vir com a gente? Daqui a meia hora você está
lá, semeia logo as quatro moedas, depois colhe duas mil, e de noite volta com os
bolsos cheios.
Pinóquio hesitou um pouco, porque se lembrou da boa Fada, do velho
Gepeto e dos conselhos do Grilo-Falante. Mas acabou fazendo como fazem todos os
meninos que não têm coração nem juízo, ou seja, acabou sacudindo a cabeça e
dizendo à Raposa e ao Gato:
— Vamos logo. Vou com vocês.
E foram.
Depois de caminhar durante metade do dia, atravessaram uma cidade que
se chamava Enrola-Trouxas e pararam num campo solitário parecido com todos os
outros campos.
Pinóquio cavou, depositou na cova as quatro moedas de ouro e cobriu-as
com um pouco de terra.
— Agora podemos ir embora — disse a Raposa. — Você vai voltar daqui a
uns vinte minutinhos e encontrar a arvorezinha já crescida, com os galhos todos
carregados de moedas.
A pobre marionete, que não cabia em si de alegria, agradeceu mil vezes à
Raposa e ao Gato e lhes prometeu um magnífico presente.
— Nós não queremos presentes — responderam os dois malandros. — Para
nós, basta ter-lhe ensinado a maneira de enriquecer sem fazer força.
Dito isso, despediram-se de Pinóquio e, desejando-lhe uma boa colheita,
seguiram seu caminho.
Voltando à cidade, Pinóquio começou a contar os minutos um a um. Quando
achou que estava na hora, tomou novamente o rumo que levava ao Campo dos
Milagres. Enquanto andava apressado, sentia o coração bater com força.
Aproximou-se do campo e parou para ver se vislumbrava alguma árvore com
os galhos carregados de moedas. Mas não viu nada. Foi direto para a pequena cova
onde havia enterrado suas moedas, e nada... Então começou a se preocupar.
Nisso, ouviu uma gargalhada. E olhando para cima viu numa árvore um
grande Papagaio.
— De que é que você está rindo? — perguntou Pinóquio com voz irritada.
— Estou rindo daqueles basbaques que acreditam em qualquer bobagem e
se deixam enganar pelos mais espertos.
— Por acaso você está falando de mim?
— Estou sim, estou falando de você, pobre Pinóquio, que é ingênuo a ponto
de acreditar que dinheiro pode ser semeado e colhido nos campos, como se
semeiam feijão e abóbora.
Para juntar honestamente algum dinheiro é preciso saber ganhá-lo com o
trabalho das próprias mãos ou com a inteligência da própria cabeça.
— Não estou entendendo — disse a marionete, que já começava a tremer.
— Vou lhe explicar melhor — respondeu o Papagaio. — A Raposa e o Gato
tiraram as moedas de baixo da terra, e fugiram rápidos como o vento.
Então, tomado de desespero, Pinóquio voltou correndo para a cidade e foi
direto ao tribunal para denunciar os dois malandros.
O juiz era um velho macacão respeitável por sua idade avançada, por sua
barba branca e sobretudo por seus óculos de ouro, sem lentes. Ele o ouviu com
grande benevolência, participou vivamente do relato, se enterneceu, se comoveu.
Quando a marionete não teve mais nada a dizer, estendeu a mão e tocou a
campainha.
Imediatamente apareceram dois cães mastins. Apontando a marionete, o juiz
disse para eles:
— Esse pobre-diabo teve roubadas quatro moedas de ouro. Ponham-no
imediatamente na cadeia.
Pinóquio ficou petrificado. Os cães, para evitar inúteis perdas de tempo,
taparam-lhe a boca e o levaram para o xilindró.
E ali teve que permanecer durante quatro longuíssimos meses. Teria ficado
mais ainda, não houvesse acontecido um fato muito feliz.
O jovem Imperador que reinava na cidade de Enrola-Trouxas, tendo obtido
uma grande vitória sobre os seus inimigos, ordenou que se realizassem grandes
festas públicas, com fogos de artifício, corridas de cavalos e de velocípedes, e em
sinal de extrema alegria quis que fossem abertas as cadeias e libertados todos os
gatunos.
— Eu também quero sair — disse Pinóquio ao carcereiro.
— Você não — respondeu o carcereiro —, porque não é dessa turma...
— Mas — replicou Pinóquio — eu também sou um gatuno.
O carcereiro, então, tirando o boné respeitosamente, abriu-lhe as portas da
cadeia e deixou-o fugir.
Pinóquio na escola
O Circo
O Tubarão
Sobre O Autor