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onganiadares go reservar eta e Voz Preparaga deorginalserevsio iagramacaoe capa Estadio Xlack tacionals de Catalogacio na Publicagso (CIP) rapa no Bra Sentitay near Ana Maia Nad, el abi de Amel. Rard Sunthgo organder S80 beta Vor, 206 straps 2 Meméria- Aspects Sas {Mata An Maria Alea Jase blo de I Stig Ricardo cpp 909 HISTORIA PUBLICA NO BRASIL Sumario Introdugao 14 ‘Ana Maria Mauad, Juniele Rabélo de Almeida e Ricardo S: ISTORIA PUBLICA: QUESTOES GERAIS ~“Duas palavras, muitos significados: Alguns comentirios sobre a historia pablica no Brasil 23, Ricardo Santhiago Oconceito de piblico eo compartilhamento da histéria 37 Juniele Rabélo de Almeida (atti pin ao uma via de eaten aa eke \A evolugio do relacionamento entre historia oral e histéria piblica 71 Linda Shopes Michael Frisch AHISTORIA PUBLICA NAO E UMA VIA DE MAO UNICA ou De A Shared Authority a cozinha digital, e vice-versa Na qualidade de alguém ligado hi muitos anos com a histéria pablica nos Estados Unidos, pincipalmente através de meu envolvimento com a histéria oral, mas também em Fungo de trabalhos em documentitios,exposigdes € programas comunitéros, sinto prazer com a oportunidade de pi desse importante momento de anunciagio da histéria piblica como uma abordagem importante no Brasil, em termos de estudos e de pratica, e de ir para este novo movimento no Brasil com aquilo que estiver a0 Sei por experiéneia prépria que, embora a hist6ria piblica possa ser nova xno Brasil enquanto um campo que busca reconhecimento académicoe pibli- 0, ele no é nada novo em termos de priticae interesse. Ha mais de 15 anos, © privilégio de participar do encontro anual da Associagao Brasileira de Historia Oral, realizado no Recife ¢ organizado por meu amigo e cole- a Antonio Torres Montenegro. Fiquei estonteado com as proporgaes ¢ a energia dos trabalhos brasileiros que o encontro me apresentou. A propria, ‘mostra de livros era trés vezes maior do que aquelas dos encontros da Oral History Association dos Estados Unidos, eo leque de trabalhos comuniti ‘mente enraizado no solo da cultura brasileira, académica ou ni, Iss0 foi em 1997 ~ e foi uma grande emoglo para mim voltar ao Brasil ‘em 2012 para ver como aquele impulso cresceu, para vé-lo florescendo de ‘maneiras tio promissoras e estimulantes. Sent a forte energia que se de- r~ WwoneLos DE HISTORIA POBLICA: UMA VIA DE MRO Unie, pilblica ~ tanto como um impulso geral quanto como uma prética mais refed, ada internacional de real importincia. Ey fntas nos seus Variadoy ‘es em termos de forma ¢ gala formas um poueo diferentes © € contextos a0 redor do mundo. Mesmo ass nfase, parece que existem algumas preocupagbes recorrntes¢ persstentes ~ Um exo de bla tende ase revolver, de um jets ca de modos tio diferentes en A primeira vista, as énfases que moldam a historia Aiferentes paises poderiam invaldar qualquer coeréneia nes dda historia pica mui ‘todas as complexas tensbes que fazem da pol Udefinidor da histéria pablica. Nos Estados Un tomou forma enquanto tal, sua inclinagio tem, de modo eral, reforgado os valores consen- nis da classe média através da celebragio da histéria comunitéria e da hist6ria nacional Entretanto, uma tensio especifica foi responsivel por dar muito do gis da historia pablica recente feta no pais. As chamadas “querras culturais” ao redor do multiculturalism e as reivindicagBes de comunidades ligadas a identidades de raca, classe, género e sexualidade jaram os pressupostos da cultura nacional em muitos easos ¢ em muitos lugares, etm Lido um valor especialmente forte na histria piblica ,primeiro lugar onde a histéria pablica ‘moldada pelas diferengas contextuais, pela constelagh ia de cada pais ¢, por conseg representagao pablica de lo que parece ser compat nas palavras de um estudioso pésitos da historia publica 10, “um debate algo estéil” sobre a natureza e 0s prO- No cerne esse discurso, ¢ no cerne daquilo que parece ser sua esterilidade, reside uma de que na Ja 1 quem Formos) geramos “produts” de hisiapblia ¢ os “compuniamos” ales” ea quem eles fren), E caro que its & um avango em relagdo 4 presuposgiconvencional de que € normal ~ a iia, eraimente onasfalaem excusivamente entre ono sendo etenlalmenteunreloal~ uma va demo nen, Net etd, éeee- nd asta para eleva Social a mass 04 rais dominantes. Seja de cima para baixo dia sempre implica eb wees expla ¢ sind hstria po para subverer as eli ‘ou de btxo para cima, ica implica um fx drecional de “nds” para “eles”. Soe sa dicotomia é muito evident em muitos debates sobre histria pbc, a discussio a respeito de até que ponto a \algo mais do que dados para a interpretagdo subsequente do grupo de historiadores? \ p waco tones 1 4 ‘oque acontece em portugues ~ mas, em inglés, “experiencia” ¢ “expertise sio palavras com uma raiz comum ¢, se vocé parar pra pensar, com uma sugestiva ressonanci ‘A segunda anedota leva a0 mesmo lugar, mas mais como um sinal de aerta do que como uma oportunidade praticamente perdida, Ela veio de uma conferéneia de um dia numa bi- blioteca pablica em Buffalo, cidade onde moro ¢ trabalho. A conferéncia era sobre o papel das mulheres na direcio da indistria de ago organizando greves no final dos anos 1930. Um evento de destaque, quase ao fim da conferéneia, foi uma entrevista ao vivo, no pal ‘em um painel de esposas de velhos metalirgicos que recordou o papel crucial qu apoianddo seus maridos em greve e resistindo aos ataques brutais aos grevistas pela «pelos capangas da empresa. Foi um testemunho forte, comovente. [No encerramento da conferéncia, eu estava andando pelo sagudo com um grupo de professores ¢ alunos de pés-graduacao, a maior parte de n6s envolvides na agao politica dda esquerda progressista voltada a forjarlagos entre os trabalhadores e os sindicatos, Nos presenciamos as vividas historias orais oferecendo aquilo que era preciso para reacender as chamas de radicalismo e protesto em um sindicato de metaliirgicos que inchou ao longo de anos complacentes de contratos bem sucedidos, lucrativos, gragas a acordos de no greve com a administragdo, Bem naquela hora, ouvimos de relance um grupo de trabalhadores ~ sindicalistas de nivel médio, em sua maioria ~ conversando animadamente sobre como eles ‘tinham gostado da programagdo, Mas eles haviam visto as entrevistas como confirmagbes do tanto que 0 sindicato havia progredido, de quio felizes ees: dos “velhos tempos ruins” de organizagio ‘mesma porta ~ um grupo tendo ouvide uma réncia acabou: com “ligBes” sobre a histéria compartilhada publicamente eujas diferengas, segundo disse um amigo, deveria ter sido 0 ponto de partida (e nio o de chegada) para uma conversa real sobre a Sinttzada em me livzo de 199, que reunia ina colegio de ensaios, que tnham como fundamento ¢ objeto de reflexio projetos de hiséria pblica conerelos,aplicados. Hoje, cu sintctizaria essa posigo em uma questo mas ampla que eu dijo forma emergente da bistria plea no Bras sejam qual orem as forase as estriturasespeiias que infueneiam o carter eos ramos da pritca de histra palica no conexta de voces, em ‘que medida a istria publica no Brasil (como foi as vezesem outros lugares) uma ‘viz demo nia indo de um "6s" hstoidore um “les” pblico, ow em alguns casos, vice-versa come poderamos neste simp, eimaginar eerinlar esa ctrada Fumo 4.um terreno paleo verdadamenteincusiv, contesado abet edaigia? UMA ONICA PALAVR, nessa direcio, quero sugerir o valor de olhar- 0 de 1990, A Shared Authority: Essays on the [Nao quero parecer muito presungoso, mos I pra tris, através das lentes daqu Craft and Meaning of Oral and Public fico eo significado da histéria orl ep ter tido um papel iti, ou pelo menos frequentemente visivel, na crist ‘nesses dois campos. Embora eu nto esteja tao certo de o quanto ele é efetivamente _gratficante que o proprio titulo do livro seja mencionado com tanta frequéncia como um para abrir espago critico para considerar as escolhas em histéria oral e historia ce suas implicagses. das discussbes no periddico The Oral History Review, sob o titulo “Shar History and the Collaborative Process ("Compartilhando autorida« cesso colaborati licitado a oferecer alguns comentarios Foi uma honra enorme, ¢ evidentemente foi muito satisfatério que um didlogo que ev ajudara a iniciar estava vivo em novos trabalhos tio imaginativos e publicamente impor tantes, Em meus comentarios, tive o privilégio de celebrar a energia e © comprometimento ‘daqueles praticantes. Mas era um pouco mais delicado pontuar que a invocagio feita a0 seu livro pelo dcbate estava deixando de lado se no @ ponto, ao menos um dos pontos | ‘mais importantes, Isso se reduziu a uma ‘nica palavra ‘Sharing authority era o titulo do forum, com a implicagao de que compartilhar a autor: dade é uma Boa Agdo, entdo fagamos iss0 cada vez mais. Pedi aos leitores do Oral History Review que atentassem ao fato de que meu livro, na verdade, nao se chamava Sharing Authority (Compartithando autoridade), e que refletissem sobre a diferenga entre isso e A Shared Authority (Uma autoridade compartithadal. A diferenga que eu tinha em mente era essa: Sharing Authority sugere algo que nés é que fazemos ou deveriamos fazer ~ que “nbs” temos a autoridade, e que nés devemos ou deveriamos divi -om.os outros. Em oposi¢a0, A Shared Authority sugere algo que é que na za da histéria oral e da histéria publica ‘nis nao somos a tinica autoridade, os tnicos intérpretes, 0s vinicos autores-historiadores. Em ver disso, o processo de interpretagio e de construgéo de significados é, por defini «0, compartilhado, Até onde entendo, nis simplesmente nao temos a autoridade para sat Aistribuindo por ai, Assim, argumentei, somos convocados nem tanto para “eompar de em uma discussao de grupo ou em um programa piblico, mesmo no modo s se aproximam, se envolvem ou recebem uma exposigio em um muse ideias € hha um encontro pperiéneia. Em umi MAUAD, ALMEIDA & SaNTIHAGO [ONG] | 6 discussio, ¢ até coautor da exposigio recebida, em vez do significado projetado. Podemos F 0 compartilhamento da autoridade mais fécil e amplamente se reconhecermos autoria como sendo, nesses termos, dialégica por definigio ~ reconhecendo, sobretudo na lingua inglesa, 0 que é compartithado nas palavras Autor-ia [Author-ship] e Autor-idade [Author-ity]. E nés precisamos achar maneiras de agir sobre esse reconhecimento, UM OLHAR DIGITAL LA PRA FRENTE PARA ALEM DO CRU E DO COZIDO Para esborar © que iso pode sigificar na pitica da hiséria pbc, vow sir dessa de- rmorada volta ao passa para uma experiéncia excepcionalmente ata: o taba digital aque ven fazendo desde 2002, que me earregou em diregio a0 que paecia um terstrio totalmente diferente, com desfios muito distintos ~ uma paisagem que s6pouco a pouco mostou apresentar os mesmos problemas com os eu vinha latando, e oferecendo algumas das mesmas ligdes. inch agin oc Sco angen cis | oral das amarras que até pouco tempo atrstinham, paradoralmente, mado as gravades| «qe definem o métodoarplamenteinacessves esubutilzadas em quase todo os gares em, que se pratic histriapbliae documentiro.Venhotabalando para indexar documenta so distamente em dud e video, eno indiretamente por meio da transcrigo. so & parte de uma abordagem que vem se desenvolvendo por aparacolocar oor de ota na histria. _ora.O objetivo €reentalzarasgravagbes com aa fonts prima definidora para ahstria para o envolvimento tecnologias, me envolvi com esse trabalho quase que por acidente. Mas gracas ao efeito domi- 1né de uma sequéncia de pequenos projetos, ele se tomou cada vez mais central para a minha Dritica e para a minha reflexio sobre histsra oral ehistria pablica. © que me interessou profundamente foi a empolgacio em ir além daquilo que chamei de “o Grande Segredo Obscuro” ¢ “a Pressuposigio Nio Analisada”. © Grande Segredo Obscuro era o de que enquanto vozes,rostos ¢ expresses corporais esto no Amago daqui- lo que toma a historia oral apaixonante, € sio a raziio pela qual somos levados a fazé-la, ‘até no muito tempo atras rela oucos pesquisadores passaram algum tempo ‘ouvindo ou assistindo a entrevistas de histéria oral gravadas; em vez disso, a transcrigio textual tem sido a base principal para o envolvimento, ‘A Suposigio Nio Examinada era a de que, enquanto quase ninguém conteste que a ‘uma representagio de uma entrevista “melhor” do que a prépria gravagio, sm sido entendlidos com o prego necessirio a ser pago ~ como uma espécie de rc IsTORIA PODLICA NO BEASHL taxa de ingresso ~ para contornar a intratabilidade de gravagbes e as exigencias enorme, de examing-las em tempo rea, linear. aso, associada a um amplo leque de ferramentas de software, affouxou dry, essasresrigbes. Nbs podemos anotar, marcar, catalogar, indexare fazer buses, Poderos exportar passagens selecionada, tem sido parte daquilo que & hoje uma ex, de forma interativa, muitas vezes bascado, inis, museus e instalagdes ‘orale piblica com a qual estou mais fami em um novo contexto. mor que medida a pritica tradi me ajudou a apreciar em sm sido governada por de rento para estes novos mi historia oral vamente “eruas “natural liotecas € arquivos, como fontes 1 smo a transcrigao é entendida como uma representagao deste es da historia oral. E contamos com scholars, produtores de documenti rios, euradores de exposigdes, e com 0 desejo de encontrar e processar algo a partir dess: a crua,resultando em uma apresentacio bem cozida, agradavel, de alguim tipo: um um artigo de pesquisa, um documentario, a etiqueta de uma exposicao ou tm kiosk ‘um podcast, € outras coisas mais, formas através das quais a hist6ria oral costuma chegar is comunidades mais amplas de receptores ou consumidores. | AAciferenga entre o cru o cozdo ésubstancial,consubstanciadovirias tensées problem ica e produtivas entre os muitos polos que mantém a estrutua da historia oral e da historia piilica em pé ~ entre curadores e designers, arquivislase professores, scholars ecineastas,¢ assim por diante. Nese sentido, uma das coisas que me entusiasma em relagio ao trabalho de gerenciamento digital de conteido € sua localizagéo bem no meio do camino: esses novos ‘mois de acess transformam a colegio erua em um portal legivele explorével,e, com ist fazem com que o enquadrament e fabricagao de produtos cozidos uilizves sejam process ‘mais abertos, fidose continuos ~e mas inclusivose comparihiveis enquanto process. ‘A COZINHA DIGITAL ssBes de autoridade compartir ria oral convencionais slo, fisicamente como em sua organizagio int para usuérios comuns, que poderiam levar até eles as suas curiosidades ¢ interesses. D! ‘mesma forma, documentirios ou exposigbes de museu convencionais, mesmo quando itt ‘MAUAD, ALMEIDA @ SANTINAGO [ORG]. | «3 formadas por preocupagées politicas e comunitirias progressistas, ndo poderiam ser mais, ‘autor-itirias": 0 filme ou a exposigio representam uma construgio e uma redugio mes~ cladas. £ geralmente uma ordem singular, linear, ¢ um caminho por uma massa de mate~ ia dentre inumeriveis historias que podem ser las e contadas pelos outros. ‘Com essa percepso, comecei a pensar sobre como os modos digitais podem superar a

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