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A IMPORTANCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

CAMILA MAYARA DA SILVA

CIRA MARTA DE AMARINS

MAYARA ALVES DOS SANTOS

ROSANGELA APARECIDA SOARES LEANDRO

Bauru
2014
CAMILA MAYARA DA SILVA

CIRA MARTA DE AMARINS

MAYARA ALVES DOS SANTOS

ROSANGELA APARECIDA SOARES LEANDRO

A IMPORTANCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao curso de Graduação
em Pedagogia da Faculdade
Anhanguera de Bauru, como exigência
parcial para obtenção do título de
Pedagoga. ORIENTAÇÃO: Profª. Esp.
Regina Estela Correia Leite.

BAURU
2014
A IMPORTANCIA DA MUSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Graduação da

Faculdade Anhanguera de Bauru, como exigência parcial para obtenção do título de

Pedagoga.

( ) aprovado (a) ( ) reprovado (a) nota ______

____________________________

Regina Estela Correia Leite

Banca

____________________________

____________________________

____________________________
DEDICATÓRIA

Dedicamos todo o nosso esforço a Deus, autor das nossas vidas e de


nosso destino e a nossa querida família
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus que me deu forças para chegar até aqui, a
meus pais Iltemar e Valdelice, que me apoiaram e me deram forças, agradeço
também ao meu Noivo Lucas que me incentivou quando pensei em iniciar a
faculdade mesmo estando debilitada, mas me deu o maior apoio no momento que
eu mais precisava.

Agradeço também as minhas colegas de grupo que me ajudaram durante


esses três anos e meio, agradeço também as minhas colegas de apresentação que
juntas conseguimos chegar até aqui, e a todos os professores que fizeram parte
desse momento de aprendizagem na minha vida.

Camila Mayara da Silva


Agradeço em primeiro lugar a Deus que iluminou o meu caminho durante esta
caminhada.

Aos meus pais Luiz e Ruth mesmo não estando mais entre nós a quem, eu
rogo todas as noites a minha existência. Apoiaram-me nos momentos de
dificuldades, quero agradecer também meus irmãos. Que embora não tenham
conhecimento disto, mas iluminaram de maneira especial os meus pensamentos me
levando a buscar mais conhecimentos.

A todos os professores que me acompanharam durante a graduação, em


especial a Profª Regina Estela Correia Leite responsável pela realização deste
trabalho.

Cira Marta de Amarins


Há muito tempo atrás, ainda quando crianças, muitas vezes nos perguntaram
a respeito do que seríamos quando crescêssemos. Certamente, foi ouvido de nós,
atados de insegurança e imaturidade, respostas diversas, entre astronautas e
bailarinas e tantas outras respostas incertas, a única certeza que tínhamos é de que
queríamos ser felizes. Com o passar do tempo fomos amadurecendo, tomando
decisões importantes para realizações em nossa vida. Hoje nos tornamos
pedagogas, e não existem palavras melhores para descrever este momento, se não,
felicidade, realização e gratidão.
(Carola Guimarães).

Agradeço em primeiro lugar a Deus que iluminou o meu caminho durante esta
caminhada. Agradeço também ao meu esposo, Renato, que de forma especial e
carinhosa me deu força e coragem, me apoiando nos momentos de dificuldades,
e não deixando de agradecer de forma grata e grandiosa meus pais, Marcia e
Paulo, a quem eu rogo todas as noites a minha existência.

E o que dizer a você Cira? 


Obrigada pela paciência, pelo incentivo, pela força e principalmente pelo carinho. 
Hoje estamos colhendo juntas, os frutos do nosso empenho.
Esta vitória é muito mais sua do que minha!

Mayara Alves dos Santos


À minha família, por sua capacidade de acreditar e investir em mim.

A vocês meus filhos, meus maiores e melhores presentes pelo incentivo


constante e colaboração.

Mãe, seu cuidado e dedicação me deram em muitos momentos, a esperança


para seguir.

Pai, sua presença significou segurança e certeza de que não estava sozinha
em muitos momentos difíceis que passei nessa longa caminhada pena que tive que
terminá-la sem você. Você me faz muita falta.

Aos meus amigos, pelas alegrias, tristezas e dores compartilhadas.

A todos os professores do curso, que foram tão importantes na minha vida


acadêmica. E á todos com quem convivi neste espaço ao longo desses anos.

Valeu á pena toda distância, todo sofrimento, todas as renúncias.


Valeu á pena esperar... Hoje estamos colhendo, juntos, os frutos do nosso
empenho!

Rosangela Aparecida Soares Leandro


“E aqueles que foram vistos dançando foram
julgados insanos por aqueles que não podiam
escutar a música.”

Friedrich Nietzsche
RESUMO

É sabido que através de jogos musicais, o professor pode desenvolver em seus


educandos o raciocínio lógico, linguístico, a coordenação motora do corpo, a
criatividade, a autoestima, a autoimagem, a sensibilidade artística, a atenção e a
memória. Sendo a música tão importante para o homem e sua vivência, estudiosos
no campo da educação apontam para a necessidade da inclusão da música na
educação escolar infantil, salientando como um dos pontos centrais de sua
concepção educacional, a importância da música no desenvolvimento dos valores
espirituais e éticos das crianças. O presente estudo objetivou investigar qual é o
verdadeiro papel que a música pode desempenhar dentro da educação infantil e na
formação social e educacional da criança. A aprendizagem musical, de maneira
ativa e contínua, integra prática, reflexão e conscientização, transportando a
experiência para estágios cada vez mais elaborados de expressão e de ampliação
do conhecimento de mundo. Foi visto que apesar de sua importância a música ainda
continua a ser considerada como um trabalho a mais que pode ser desenvolvido ou
não na realidade escolar e muitas vezes a educação musical é apenas vista como
recurso didático para auxiliar na aprendizagem de outras disciplinas consideradas
relevantes. O professor deve utilizar a música e o ensino musical como meios de
ajudar a aprendizagem, não se contentando, contudo, em apenas colocar músicas
para o aluno ouvir, ou em dar possibilidades de se tocar algum instrumento, mas
explorar a musicalidade em todos os seus aspectos. Concluiu-se que ouvir e
aprender uma canção, participar de brincadeiras de roda e de atividades rítmicas,
são ações que despertam, estimulam e ajudam a desenvolver o gosto pela atividade
musical, além de viabilizar a vivência dos elementos estruturais da linguagem
musical. A criança por meio de brincadeiras relaciona-se com o mundo e dia após
dia descobre brincando como fazer música.

Palavras – chave: Educação Infantil; Aprendizagem musical; Atributos do educador.


ABSTRACT

It is known that through musical games, the teacher can develop in their students
logical reasoning, language, motor coordination body, creativity, self-esteem, self-
image, artistic sensitivity, attention and memory. Music is so important to man and
his experience, scholars in the field of education point to the need of inclusion of
music in early childhood education, emphasizing one of the central points of your
educational design, the importance of music in the development of spiritual values
and ethical children. The present study aimed to investigate what is the true role that
music can play in a child's education and social and educational development of the
child. The musical learning actively and continuously integrates practice, reflection
and awareness, bringing the experience to increasingly elaborate stages of
expression and expansion of world knowledge. It has been seen that despite its
importance to music still continues to be considered as extra work that can be
developed or not in school reality and often music education is just seen as a
teaching resource to assist in learning other subjects considered relevant. The
teacher should use music and musical education as a means to help learning, not
content, however, to just putting music to listen to the student, or to provide
opportunities to play an instrument, but to explore the musicality in all its aspects . It
was concluded that listen and learn a song, participate in games wheel and rhythmic
activities are actions that arouse, stimulate and help develop a taste for musical
activity, as well as providing the experience of the structural elements of musical
language. The child through play relates to the world and day after day playing
discovers how to make music.

Keywords: Childhood Education; Musical learning; Attributes educator.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 12

CAPÍTULO I – O ENSINO DA MÚSICA E A FORMAÇÃO HUMANA................. 15

1.1 A música na educação infantil segundo o RCNEI e o DCNEI......................... 19


1.2 Objetivos da música na educação infantil........................................................ 21

CAPÍTULO II – A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES........................................ 26

2.1 Princípios para o ensino de musica na Educação infantil................................ 27


2.2 Formação em musica dos professores da educação infantil........................... 27

CAPÍTULO III – A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL..... 29

3.1 A música como discurso de todo ser humano................................................. 29


3.2 Atributos do educador musical na Educação infantil....................................... 31
3.2.1 Atributos do educador musical no método Suzuki........................................ 32
3.2.2 Atributos para educador segundo Teça Alencar Brito.................................. 33
3.2.3 Atributos para educador segundo IIza Zenker Lema Joly............................ 34
3.2.4 Atributos para o educador segundo Perrenoud............................................ 35

CONCLUSAO........................................................................................................ 36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 37

ANEXOS................................................................................................................ 41
12

INTRODUÇÃO

Alguns estudos confirmam que a música age na afetividade, percepção,


expressão, sentidos, na análise crítica, criatividade, ou seja, influencia a pessoa
como um todo. Por isso, o desenvolvimento deste tema é a oportunidade de
aprofundar conhecimentos e de ajudar o aluno a ampliar suas referências de mundo,
através do ensino musical.
Tem como hipótese a visão de que, através de jogos musicais, o professor
pode desenvolver em seus educandos o raciocínio lógico, linguístico, a coordenação
motora do corpo, a criatividade, a autoestima, a autoimagem, a sensibilidade
artística, a atenção e a memória.
O professor deve utilizar a música e o ensino musical como meios de ajudar a
aprendizagem, não se contentando, contudo, em apenas colocar músicas para o
aluno ouvir, ou em dar possibilidades de se tocar algum instrumento, mas explorar a
musicalidade em todos os seus aspectos.
A música deve deixar de ser vista como algo supérfluo, já que possibilita um
trabalho completo com o educando, pois envolve movimento, traz emoção, além de
proporcionar sensações agradáveis, enfim, interfere positivamente no cognitivo.
Através das pesquisas com teóricos conceituados e respeitados ao redor do mundo
verifica-se que o ensino musical é um agente transformador do comportamento das
crianças.
Sendo assim, as crianças terão uma contribuição marcante da música na
estruturação de sua personalidade, pois dos 7 aos 10 anos elas estão mais abertas
e receptivas aos conhecimentos.
Para a maioria dos autores, a urgência da utilização do ensino musical na
educação acontece devido ao atual afastamento musical das pessoas, em especial
nas crianças. Embora na sociedade moderna a música esteja sendo tocada em toda
a parte, através do rádio, televisão, supermercados, ônibus e outros lugares, o que
ouvimos não é por prazer, nem de maneira atenta e participativa, mas de forma
passiva.
Para Howard (1984) o interesse pela música vem como consequência das
emoções que são despertadas por ela.
Assim como o professor incentiva a criança desenhar ou escrever livremente,
embora sabendo que isso não os transformará em grandes desenhistas ou
13

escritores, também se espera que o ensino musical não venha formar músicos, mas
que sua utilização desenvolva um processo de criação em que alunos e professores
possam ir construindo suas próprias músicas, através do ato educativo.
As questões que nortearam este estudo foram: Quais as reais vantagens do
emprego da música na educação infantil? Quais os benefícios da música para o
desenvolvimento cognitivo, afetivo e educacional de crianças? Os profissionais estão
e são preparados para utilizar esta modalidade e usufruir o máximo de seus
recursos na educação de crianças?
O presente estudo objetivou investigar qual é o verdadeiro papel que a
música pode desempenhar dentro da educação infantil e na formação social e
educacional da criança. Objetivou, ainda: contribuir para o ensino-aprendizagem;
desvendar a atração e a relação criada entre a criança e a música; refletir acerca da
validade da utilização da música como instrumento educacional; contribuir na
formação, maturação psicológica e no aprendizado dos alunos, despertando sua
criatividade; contribuir para um melhor entendimento de como o educador pode
realizar um trabalho com música; e servir de instrumento para a reflexão da
importância de uma educação, musical não só para o desenvolvimento cognitivo,
mas para um desenvolvimento total do ser humano.
Apesar de sua importância a música ainda continua a ser considerada como
um trabalho a mais que pode ser desenvolvido ou não na realidade escolar e muitas
vezes a educação musical é apenas vista como recurso didático para auxiliar na
aprendizagem de outras disciplinas consideradas relevantes.
Apesar de sua importância a música ainda continua a ser considerada como
um trabalho a mais que pode ser desenvolvido ou não na realidade escolar e muitas
vezes a educação musical é apenas vista como recurso didático para auxiliar na
aprendizagem de outras disciplinas consideradas relevantes.
Visconti e Biagioni (2002) dizem que o objetivo do professor é sugerir
atividades lúdicas, capazes de desenvolver o raciocínio, a sensibilidade rítmica e
auditiva do aluno com a finalidade dos seus alunos se tornarem mais receptivos aos
outros conhecimentos e mais sociável na interação com o ser humano.
Do mesmo modo, Libâneo (2000, p.27-28) destaca que a presença do
professor é assim conceituada como “indispensável para a criação das condições
cognitivas e afetivas que ajudarão o aluno a atribuir significados às mensagens e
14

informações recebidas das mídias, das multimídias e formas variadas de intervenção


educativa urbana”.
Percebe-se que apesar das correntes teóricas enfatizarem a importância da
música na formação de crianças acerca da possibilidade, em0000 obter resultados
satisfatórios através de seu emprego na educação infantil, ainda verifica-se que a
música é mal explorada no contexto escolar, principalmente em razão do despreparo
e da falta de formação específica ao educador de educação infantil para atuar com
este tema em sala de aula.
15

CAPITULO I: O ENSINO DA MÚSICA E A FORMAÇÃO HUMANA

O som vincula-se ao movimento e não existe na falta dele. Em termos físicos,


o som consiste em uma vibração que chega em nossos ouvidos no modo de ondas
que percorrem o ar que nos cerca.
Num texto falado, por exemplo, ouvimos sons e ritmos articulados, mas
cada palavra representa uma ideia definida, concreta. A música, ao contrário,

[...] nunca expressa uma ideia intelectual definida, nem um sentimento


determinado, mas somente aspectos psicológicos absolutamente gerais,
abstratos. Segundo Schopenhauer, essa generalidade não é, no entanto,
uma abstração vazia, mas uma espécie de expressão e de determinação
diferentes das que correspondem ao pensamento conceitual (SCHNEIDER
apud JEANDOT, 1997, p.12).

Este é o motivo pela qual uma música pode ser interpretada, compreendida e
até executada de modos diferentes.
Para Jeandot (1997, p.13), a música é “a linguagem do coração humano”.
Este conceito nos leva à uma ideia de ritmo, que é o básico elemento das
manifestações da vida e um princípio fundamental também na música. Certos povos
às vezes desconhecem uma melodia e a harmonia, porém nenhum desconhece o
ritmo.
O conceito de música varia de cultura para cultura. Embora a linguagem
verbal seja um meio de comunicação e de relacionamento entre os povos,
constatamos que ela não é universal, pois cada povo tem sua própria maneira de
expressão através da palavra, motivo pelo qual há milhares de línguas espalhadas
pelo globo terrestre.
A música é uma linguagem universal, mas com muitos dialetos, que variam de
cultura para cultura, envolvendo o modo de cantar, de tocar, organizar os sons e
estabelecer as notas básicas e seus intervalos.
Nesse sentido, questiona-se: é possível estabelecer a essência da música?
Manifestação sonora de espírito do universo? Sem nenhuma dúvida, pode-se dizer
que a música, estando tão vinculada estreitamente ao mundo pré-verbal e às
emoções, constitui uma privilegiada linguagem, por meio da qual os seres humanos
comunicam - se entre si.
Muitos são os achados literários que postulam sobre a importância da música
na formação humana. Friedenreiche (1990, p.186) afirma que “o ensino de música,
16

em conjunto com todas as outras disciplinas, deve estar a serviço da formação


humana”. Para ele, “na melodia, na harmonia, no ritmo, a música traz em si os
elementos do pensar, do sentir e do querer. Numa observação acurada, constata-se
que a música não é captada somente pelos ouvidos, mas por toda organização
corporal” (FRIENDEREICHE, 1990, p.187). Assim, o desenvolvimento da
musicalidade na instituição escolar deve prever ações que envolvam movimento
corporal.
O musical é vivenciado de acordo com o ponto em que se localiza no corpo
astral. Se o musical for levado à criança de maneira apropriada, com isto será ao
mesmo tempo, e da maneira certa, aperfeiçoado o corpo astral.

Assim como o corpo etérico está direcionado para o elemento em que se


exprime por meio de formas e imagens, assim o corpo astral que
fundamenta a vida dos sentimentos e das sensações é organizado visando
a natureza musical do ser humano. O corpo etérico é um escultor; o corpo
astral, um músico. Ele corporifica tudo que é musical; ele é completamente
formado a partir da estrutura musical (FRIEDENREICH, 1981, p.50).

Se for possível unir a educação musical de maneira singela, correspondente à


criança, com a eurritmia, isto resultará numa educação verdadeiramente harmônica
da vontade.

Se os pais aprendessem a ocupar-se euritmicamente com a criança, dentro


delas seria criado algo muito diferente do que habitualmente sucede.
Venceriam um certo peso que existe nos membros. Todas as pessoas têm
esse peso nos membros. Este seria vencido. E o que restaria quando
acontecesse a segunda dentição é a predisposição para todo o musical.
Cada um dos sentidos – o ouvido afinado musicalmente, o olho preparado
plasticamente – surge somente a partir desse musical. É uma
especialização do homem musical, sem eu aspecto total, aquilo que
designamos por ouvido musical ou o olho plasto-pictórico (STEINER apud
FRIEDENREICH, 1981, p.44).

Toda a educação da criança, até a troca dos dentes, precisa ser dirigida
principalmente no sentido de uma permeação sadia do corpo físico. Para tanto
deverão ser dadas, através dessas explanações, algumas indicações importantes.
Naturalmente deve o educador, apoiando-se nessas noções básicas generalizadas,
proceder individualmente e, sem cair em atitudes esquematizadas, orientar-se
sempre de acordo com o que lhe é oferecido em cada caso específico.
17

Quando o ser humano toca um instrumento, é o gesto que cria e controla o


som. A emissão vocal completa e reforça o gesto. A palavra cantada aumenta o
vigor da linguagem falada. Stockhausen apud Jeandot (1997, p.15) se manifestou
sobre a música, dizendo ser ela

[...] determinada pelos músculos: os da laringe para o canto, os dos dedos


para os instrumentos, os da respiração para os instrumentos de sopro, tudo
é determinado pelo corpo do homem e é por isso que nunca se tocou
segundo ritmos mais rápidos ou mais lentos que os naturais do corpo.

Com isto queria dizer que o homem evita tocar conforme ritmos incompatíveis
com os que dão características a sua natureza, por exemplo, sua pulsação cardíaca,
já que tal procedimento lhe provocaria estresse. Atualmente, com o avanço
tecnológico, o homem é apto de programar músicas mais lentas ou mais rápidas,
que podem ser efetuadas pelos instrumentos.
Nicole Jeandot também contribui nesse sentido mostrando a criança como um
ser musical, necessitando por parte dos educadores auxílio para construir seu
conhecimento sobre música.
Jeandot (1997, p.86) apresenta-nos seu ponto de vista de que “a música
representa uma importante fonte de estímulos, equilíbrio e felicidade ao ser humano,
especialmente no referente às crianças”.
Quanto mais elas possuem oportunidade de comparar as ações feitas e as
sensações obtidas através da música, mais seu conhecimento e sua inteligência,
vão se desenvolvendo.
A criança não é uma artista, nem um ser simplesmente contemplativo, porém
antes de tudo um ser “rítmico-mímico”, que utiliza de modo espontâneo os gestos ao
saber de sensação que eles despertam. É apenas observar um bebê com uma
colher à sua disposição antes da refeição: ele a bate na mesa, repetindo este gesto
para renovar a sensação que provocou. Pode repeti-lo de várias maneiras e diversas
vezes, diversificando seus efeitos. Este princípio da variação e da repetição.

[...] o bebê não se contenta mais em apenas reproduzir os movimentos e os


gestos que conduziram a um efeito interessante, mas varia-os
intencionalmente para estudar os resultados dessas variações, entregando-
se a verdadeiras explorações ou “experiências para ver (PIAGET apud
JEANDOT, 1997, p.20)”.
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Quando uma criança bate ou esfrega um bloquinho de madeira contra a


mesa, golpeando-o, a princípio rapidamente, depois mais devagar, jogando-o
posteriormente ao chão ou movimentando-o de várias maneiras, ela obtém
sonoridades diversas. Esses gestos revelam uma pesquisa sonora, que devemos
respeitar, encorajar e orientar, ainda que de imediato ela possa parecer sem sentido,
pelos movimentos desordenados que envolve. Com o tempo, tal atividade irá sendo
gradualmente aprimorada, até integrar-se ao corpo como um todo, transformando-se
em capacidade expressiva.
Segundo Aaron Copland (apud JEANDOT, 1997, p.22), “[...] todos nós
ouvimos a música de acordo com nossas aptidões, variáveis, sob certo aspecto, em
três planos distintos: sensível, expressivo e puramente musical, o que corresponde a
ouvir, escutar e compreender”. Essa é a razão pela qual o professor deve respeitar o
nível de desenvolvimento em que a criança se encontra, adaptando as atividades de
acordo com suas aptidões e seu estágio auditivo.
Snyders (apud SMOLE, 1996, p.123) afirma que:

[...] o homem entra, através da música, na posse unificada de seus recursos


e que, desenvolvendo sua audição e sensibilidade musical, chega a um
momento em que a sensibilidade e a inteligência, o afetivo e o racional, não
podem mais constituir-se em ordens opostas.

Snyders (apud SMOLE, p.145) afirma também que “desenvolver um sentido


musical é ter uma oportunidade fascinante de comunicar-se com o mundo de modo
qualitativamente diferente”. Para ele, como a música traz consigo um elemento
coletivo muito forte, estruturas e regras se criam pouco a pouco e constitui-se uma
diversidade que tem tendência à unidade, na qual cada participante acha apoio nos
outros, fortalece-se no outro.
Para as principais civilizações da antiguidade, o som organizado de forma
inteligente representava a mais importante de todas as artes, e a música – a
produção inteligente do som com instrumentos musicais e cordas vocais – a mais
importante das ciências.
Porém, os grandes pensadores da antiguidade destacavam o importante
efeito da música sobre o caráter do homem. E, visto que ela parecia exercer
tamanho poder no determinar a moral do povo, a música era um assunto que
nenhum dos grandes filósofos morais poderia ignorar. Aristóteles, por exemplo,
escreveu que:
19

[...] emoções de toda espécie são produzidas pela melodia e pelo ritmo;
através da música, por conseguinte, o homem se acostuma a experimentar
as emoções certas; tem a música, portanto, o poder de formar o caráter, e
os vários tipos de música, baseados nos vários modos, distinguem-se pelos
seus efeitos sobre o caráter – um incentivando a renúncia o outro o domínio
de si, um terceiro o entusiasmo, e assim por diante, através da série
(ARISTÓTELES apud TAME, 1984, p.19).

Tame (1984, p.52) explica que, “na música a criança vivencia, a princípio,
apenas o fator volitivo, expresso no ritmo”. Nessa idade, a música rítmica atua de
maneira plástica sobre os órgãos. Por isso, é muito importante, na primeira infância,
que meios pedagógicos, tais como canções infantis, deixem uma harmoniosa
impressão rítmica aos sentidos. Deve-se dar menor valor ao conteúdo e valorizar
mais a bela sonância. Quanto mais estimulante for a atuação sobre a audição e a
visão, tanto melhor.
Nesse sentido, pode-se dizer que as brincadeiras musicais contribuem para o
reforço de todas as áreas do desenvolvimento infantil, representando um inestimável
benefício para formar e equilibrar personalidade da criança e a riqueza de estímulos
que a criança recebe por meio de várias experiências musicais contribui
significativamente para o seu desenvolvimento intelectual.
Sendo a música tão importante para o homem e sua vivência, estudiosos no
campo da educação como Tame (1984) apontam para a necessidade da inclusão da
música na educação escolar infantil, salientando como um dos pontos centrais de
sua concepção educacional, a importância da música no desenvolvimento dos
valores espirituais e éticos das crianças.

1.1 A música na Educação Infantil segundo o RCNEI e o DCNEI

No Brasil o ensino de música nas escolas se tornou obrigatório no século XIX,


mas foi somente com Getúlio Vargas, nos anos 30 do século seguinte, que houve
uma maior atenção para esta questão. Foi a época em que Villa-Lobos atuou na
SEMA, conforme já foi comentado anteriormente. Porém, segundo Hentschke e
Oliveira (2000), por volta dos anos 50 já havia ocorrido um arrefecimento da
proposta. Mas foi nos anos 70 do século XX , na visão de talvez a unanimidade dos
autores sobre o tema, que ocorreu um grande golpe contra a educação musical
escolar em nosso país, a promulgação da Lei 5.692/71. Segundo Penna (2002) esta
20

lei que implantou a educação artística intentava uma maior universalização das artes
e um compromisso do Estado em fornecer por 8 anos formação artística para a
população. A ideia era que não existiria mais uma disciplina de educação musical e
sim uma de educação artística na qual um único professor polivalente contemplasse,
com uma carga horária semanal de 1 hora aula, a música, o teatro e as artes
visuais.
Desta forma a postura do professor devia ser voltada mais para os processos
envolvidos nas diversas opções artísticas e não para o produto artístico final.
Segundo Fernandes (2004) desde a Constituição Nacional de 1998 já havia
um indicativo de retorno do ensino de artes como componente do ensino obrigatório
e, portanto, com a indicação dos conteúdos.
Assim, neste aspecto a LDBEN/96 surgiu para regulamentar o dispositivo
constitucional, pois indica que o Estado, por meio da educação básica (educação
infantil, ensino fundamental e ensino médio), deve garantir a criação artística e que o
ensino de arte fará parte do currículo obrigatório. Para dar forma às proposições
desta Lei outras normalizações tiveram que ser feitas como o Referencial Nacional
de Educação Infantil (BRASIL, 1998) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN),
para os ensinos fundamental e o médio. Ambos os regulamentos contemplaram,
como se esperava, o ensino de artes.
O documento de música presente em RCNEI segue a estrutura igual dos
demais documentos e encontra-se organizado em introdução, com um texto
ressaltando a presença da música na Educação Infantil e outro que faz
considerações a respeito da criança e a música em diferentes fases do seu
desenvolvimento. Na sequência o documento apresenta os conteúdos, os objetivos,
gerais orientações para o professor, registro, observação e a avaliação formativa e
termina com sugestões das obras musicais e a discografia.
A Música é uma das áreas de trabalho integrantes do âmbito da experiência e
do Conhecimento de Mundo. Neste sentido, o documento do campo de música traz
em seu texto uma proposta de ensino musical a ser desenvolvido por profissionais
de Educação Infantil. A concepção que RCNEI adota compreende a música como
uma linguagem e área de conhecimento e tem que esta tem características e
estrutura próprias devendo ser tida como: apreciação, produção e reflexão (BRASIL,
1998).
21

A produção encontra-se centrada na imitação e na experimentação, tendo


como produtos musicais a improvisação, a interpretação e a composição. A
apreciação compreende a percepção tanto dos silêncios e sons quanto das
organizações musicais e estruturas, buscando desenvolver, através do prazer da
escuta, a capacidade de análise, observação e reconhecimento. Finalmente, a
reflexão trata das questões referentes à organização, aos produtos, à criação e aos
produtores musicais (BRASIL, 1998).
O RCNEI traz ainda orientações referentes aos conteúdos musicais. Os
mesmos se encontram organizados em 2 blocos: “o fazer musical” - compreendido
pela composição, improvisação e interpretação - e “apreciação musical”, ambos
também abarcando questões referentes à reflexão (BRASIL, 1998).
Destaca-se que embora este documento de orientação pedagógica para uma
Educação Infantil, de caráter não obrigatório, traga uma detalhada proposta para a
música, ainda assim, é uma curricular proposta muito distante da realidade atual.
Acredita-se que isto se deve a diversos fatores como o próprio percurso do histórico
da Educação Infantil, a formação de professores deste nível de ensino, a carência
de materiais e recursos mínimos para o ensino de música.
Estes são alguns dos fatores que estão contribuindo para a não concretização
da educação musical em termos mais amplos. Nesse sentido, segundo Brito (1998)
o RCNEI é um ponto de partida para uma efetiva reformulação educacional.
Assim, entende-se que a Arte passou a ser oficialmente considerada como
um campo do conhecimento mas a LDBEN não tem garantido sua permanência e
consolidação na escola. Essa ausência da Arte se reflete, igualmente, não apenas
no modelo de educação musical que poderá ser adotado nas escolas de Educação
Infantil, mas, antes de tudo, no valor da música e da educação musical nesse.

1.2 Os objetivos da música na educação infantil

A música é experiência pelas pessoas em seu dia-a-dia, assim, pode-se


afirmar que esta é uma experiência universal, ou seja, é uma linguagem
culturalmente construída e diversamente experimentada de acordo com variadas
funções que desempenha na vida das sociedades.
22

A presença da música nos mais diferentes espaços faz com que a ela se
legitime como linguagem e forma de conhecimento. No contexto escolar essa
presença se faz também em diversas situações do cotidiano e vem atendendo a
vários objetivos juntamente com as demais áreas de conhecimento. A música,
presente nas culturas, nas mais variadas situações, faz parte de uma educação
desde há muito tempo, sendo que, na Grécia Antiga, era tida como fundamental
para a formação de futuros cidadãos ao lado da Filosofia e da Matemática (BEYER,
1999).
É no século XX que ocorrem as maiores revoluções na música, na pedagogia
e na educação musical. É também neste século que se caracteriza o educador
musical como se conhece hoje em dia, inclusive no Brasil.
No que se refere à educação em geral muitas teorias e práticas novas se
impuseram com o intuito de responder às demandas da época. Segundo Fonterrada
(2005), estava à vista a “dissolução do ser humano em meio à vida coletivizam-te
ordenada pelas condições massificadoras, pela maquinaria e pela burocracia” (p.
85).
Assim, com a anulação do individual pelo coletivizam-te a arte criativa
tenderia a perder sua força. A luta contra este estado de coisas se reproduziu na
educação como um todo e na educação musical especificamente.
A música na Educação Infantil acontece de várias maneiras e com diferentes
objetivos. Nesse sentido podemos afirmar que sua presença é fundamental para o
desenvolvimento das crianças sendo que pode ser trabalhada de distintos modos no
contexto escolar. Isso se confirma no cotidiano escolar em diversas atividades como
a recreação, as festividades ou comemorações, na formação de hábitos e também
como pano de fundo e recurso didático para diferentes fazeres da Educação Infantil.
Sendo assim, até o momento, o que percebemos é uma visão e uma prática
utilitaristas da música na escola de Educação Infantil, o que se distancia da
concepção de música como conhecimento que possui conteúdos próprios e
metodologias particulares (BEAUMONT, 2003; FONTERRADA, 2005).
Desta forma, refletir sobre as funções que o ensino de música poderá assumir
na escola nos motiva a considerar o cotidiano escolar, as práticas culturais de
professores e alunos, mas também outros variados propósitos pelos quais ela
poderá aparecer, de acordo com o contexto e as situações particulares e suas
próprias possibilidades como linguagem artística.
23

Também é importante refletir sobre como a música aparece nos saberes e


práticas de professores em contextos escolares, especificamente na Educação
Infantil, nosso lócus de pesquisa. Para tanto, faz-se necessário refletirmos a respeito
de outras possibilidades da música no currículo da Educação Infantil.
Pode-se perceber o currículo como forma de transmissão da cultura de uma
sociedade e, como terreno de criação de sentidos, de sujeitos, de significações; o
currículo pode ser modificado pela cultura, ou seja, é modificado quando a
sociedade, a escola, a cultura e as discussões modificam-no.
É nessa perspectiva que o currículo também se configura como resultado de
equilíbrio de forças e poderes sociais. O currículo como mediação de forças,
segundo Moreira e Silva (1994), está permeado por relações existentes como:
currículo e cultura, currículo, ideologia, poder e currículo e controle social.
No âmbito da ideologia, pode-se constatar que este processo está
relacionado às divisões que organizam a sociedade bem como as relações de poder
que sustentam essas divisões; já no âmbito da relação entre currículo e cultura
Moreira e Silva (1994) defendem que:

O currículo não é veículo de algo a ser transmitido e passivamente


absorvido, mas o terreno em que ativamente se criará e produzirá cultura. O
currículo é, assim, um terreno de produção e de política cultural, no qual os
materiais existentes funcionam como matéria-prima de criação, recriação e
sobretudo, de contestação e transgressão (MOREIRA; SILVA, 1994, p. 28).

Reconhecer que o currículo esteja atravessado por relações de poder implica


em considerar o poder se manifestar nas relações sociais entre indivíduos ou
grupos; o poder que se manifesta por meio das linhas divisórias que separam os
diferentes grupos sociais em termos de classe, etnia, gênero, etc., expressando
assim, os interesses dos grupos e classes colocados em vantagem na dinâmica
social. O que percebe-se então é que o currículo está no centro das relações de
poder e é expressão dessas relações sociais de poder.
Assim, essas relações de poder que constituem o currículo, partindo de
grupos cujos interesses são dominantes, precisa ser transformadora, ou seja, “o
currículo, como campo cultural, como campo de construção e produção de
significações e sentido, torna-se assim um terreno central dessa luta de
transformação das relações de poder” (MOREIRA; SILVA, 1994, p. 30). A
elaboração do currículo não pode ser considerada apenas como um processo pelo
24

qual se “inventa tradição”, como coloca Goodson (1995), mas como algo a ser
construído socialmente.
Portanto entender as práticas educativas desenvolvidas pelas professoras de
Educação Infantil no cotidiano, de algum modo procedem de orientações
curriculares e se traduzem em práticas curriculares - uma vez que o currículo não é
algo que se constitui a priori e sim decorre de experiências e de saberes -
acreditamos que, nesse contexto, a música estará ou não presente nos currículos de
acordo com essas práticas de professoras uni docentes. Então, tendo em
consideração que o currículo também é expressão de princípios pedagógicos,
ideológicos, sociais e políticos, este se configura como algo que se encontra entre o
que acontece realmente na sala de aula o que é prescrito.
A partir dessa concepção, procuramos refletir acerca do currículo da
Educação Infantil, no que se refere à música como um dos eixos educativos a ser
trabalhado na escola de Educação Infantil pelas professoras.
Como postulado acima, a Educação Infantil, segundo a LDBEN de 1996
constitui a “primeira etapa da Educação Básica, tendo como finalidade o
desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico,
intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (LDBEN
9.394/96, título V, capítulo II, seção II, art. 29).
Ainda segundo o artigo 30 da referida Lei, a Educação Infantil deve ser
oferecida em creches (para crianças de 4 meses até três anos de idade) e pré-
escolas (para crianças de quatro a seis anos de idade).
O RCNEI é um oficial documento que não possui impacto na prática
pedagógica de professores da Educação Infantil (PENNA, 2004), principalmente em
tratando-se da linguagem musical.
O desconhecimento de certos professores sobre o documento observa-se,
ainda, no específico caso da música, uma linguagem que colabora para que haja
dificuldades para a sua efetivação na prática.
Para Instituições da Educação Infantil, o RCNEI desenvolveu categorias
curriculares para organizá-los. Nesta organização - tendo em consideração a
elaboração dos conhecimentos e das diferentes linguagens, a construção de
identidades nas crianças, os processos da socialização e desenvolvimento de
autonomia das crianças - optou-se pela criação dos âmbitos e eixos de trabalho.
25

Assim, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI)


estabelece dois âmbitos das experiências formativas: Formação Pessoal e Social e
Conhecimento de Mundo (BRASIL, 1998).
A Formação Pessoal e Social abarca um eixo de trabalho chamado:
Autonomia e Identidade; o Conhecimento de Mundo abarca os eixos de trabalho.
São eles: Música, Movimento, Linguagem Oral e Escrita, Artes Visuais, Sociedade e
Natureza, Matemática. Porém, é importante destacar que esta divisão em eixos e
âmbitos é apresentada como sendo somente instrumental, cabendo, desta maneira,
aos professores na sua prática pedagógica, trabalhá-los de modo integrado e global,
segundo orienta o documento (BRASIL, 1998).
26

CAPITULO II: A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES

A legislação brasileira reconhece a importância da música na Educação. A Lei


de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9394/96) explicita no artigo 26,
parágrafo 2, que “o ensino da ARTE constituirá componente curricular obrigatório
nos vários níveis da Educação Básica, de maneira a promover o desenvolvimento
cultural dos alunos” (BRASIL, 1996).
Como documentos complementares, mas não normativos, o Ministério da
Educação (MEC) elaborou os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de 1ª a 4ª
Séries Iniciais do Ensino Fundamental, e os Referenciais Curriculares Nacionais
para Educação Infantil (RECNEI), os quais relacionam a área de Arte com as demais
áreas e reconhece as suas especificidades, ou seja, a Música, a Dança, as Artes
Visuais e o Teatro.
No entanto, em nenhum texto desta legislação existe uma definição clara
sobre a formação necessária do professor para ministrar as aulas nas modalidades
de ARTE aqui referidas.
Em sua recente investigação no sul do Brasil, Figueiredo (2003) apresenta
dados que integraram sua Tese de Doutorado “The Music Preparation of Generalist
Teachers in Brazil”, falando sobre a carência de definições mais objetivas com
relação ao profissional previsto para o "ensino das Artes" dizendo que,

Embora a nova legislação e os documentos de apoio apresentassem


perspectivas diferentes para as artes, não tem havido uma definição clara
sobre quem deveria ser o profissional responsável pelo ensino da música e
das artes nos primeiros anos escolares. Esta falta da definição tem mantido
as artes numa posição secundária na preparação de professores
generalistas nos cursos de Pedagogia (FIGUEIREDO, 2003, p.139).

No artigo 62, a LDBEN/96 reconhece a figura do professor especialista com


graduação plena e prevê a formação em nível superior para professores de todas as
modalidades de ensino, prescrevendo que:

A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível


superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e
institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o
exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do
ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal.
27

Portanto, a partir da LDBEN/96 entendemos que se reconhece a legitimidade


da formação dos seguintes profissionais para atuar na EI e SEIF:
 Professor de EI e SIEF: aquele formado pelos cursos “normal superior” e
“Pedagogia”, e/ou ainda como formação mínima, a oferecida em nível médio
(magistério).
 Professor especialista: aquele formado pelos cursos de “Licenciatura Plena”.
Esta legislação indicou a necessidade de curso superior para professores da
educação básica, o que levou muitos professores a buscarem qualificação em nível
superior em cursos de Pedagogia e Normal Superior. Mas ao mesmo tempo, esta
legislação faculta a formação em nível médio para professores de EI e SIEF.

2.1 Princípios para o ensino de música na Educação Infantil

O trabalho com música na Educação Infantil nos RCNI apresenta-se


organizado em dois blocos, sendo estes: “O fazer musical” e “Apreciação musical”.
Como fazer musical compreende-se a comunicação e a expressão
provenientes da improvisação, da composição e da interpretação. Já a apreciação
musical remete-se a audição e interação com diversos estilos musicais.
Os objetivos e formas de trabalhar cada uma das áreas citadas de acordo
com a faixa etária das crianças encontram-se melhor descritos a seguir, subdivididos
nos grupos etários de zero a três anos e de quatro a seis anos, para melhor
compreensão e visualização.

2.2 Formação em música dos professores da Educação Infantil

No Brasil, diversos pesquisadores vêm discutindo a questão da formação em


música do professor de EI e SIEF, seja em curso de “Pedagogia” ou em “Normal
Superior” - Bellochio (2002), Coelho de Souza (2003), Figueiredo (2003), Penna
(2004), Souza (2001), entre outros.
Esforços vêm sendo feitos para fornecer experiências formadoras em música
aos professores de EI e SIEF por pesquisadores de diversas universidades, dentre
elas a Universidade Federal de Santa Maria-RS, com Bellochio (2003, p.133),
afirmando que:
28

[...] ainda não temos um processo suficientemente articulado e refletido, que


possamos entender e significar como educação musical formal na formação
de professores e na escola. Esse problema se agrava nos anos iniciais de
escolarização, cujo espaço profissional tem sido ocupado por profissionais
de nível médio e superior que, na maioria das vezes, também não
desenvolveram conhecimentos musicais na sua formação profissional.
(p.129) (...) Enfim, o ensino de música na formação de professor e no curso
de pedagogia necessita ser pensado e repensado com base na
ação/relação dos alunos com a(s) própria(s) música(s) e nas relações que a
escola tem estabelecido com essa área do conhecimento.

Os currículos dos cursos de Pedagogia privilegiam a formação do profissional


da EI e SIEF para ser um potencializador de conhecimentos e saberes relacionado a
disciplinas como língua portuguesa, matemática, ciências, entre outras
(FIGUEIREDO, 2003). Por que não poderiam ser também potencializadores com
relação a atividades artísticas, inclusive musicais?
29

CAPITULO III : A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Observa-se a partir dos estudos e pesquisas que a importância da musica na


educação infantil é um papel importante, pois a musica colabora para o
desenvolvimento da criança em varias áreas, sendo ela a psicomotora, afetiva,
cognitiva e também a linguística.
A música também trabalha as emoções, a concentração, acreditamos
também que colabora também ate na parte do equilíbrio da criança, ela acalma a
criança e quando usada em sala de aula ajuda com que as crianças aprendam a se
relacionar e se descobrir. A música é um trabalho completo para ser utilizado na
face inicial das crianças em sala de aula, podendo colaborar e muito em todo o
restante do contexto em sala de aula.

3.1 A música como discurso de todo ser humano

Para se pensar em formação musical de professores de EI e SIEF,


necessitamos antes de, mas nada, entender o discurso musical destes sujeitos:
quais suas formas de expressão com os sons e quais os gestos musicais que lhes
são inerentes, embora muitas vezes, estes elementos ainda lhe passem
despercebidos.
O professor de música necessita estar atento às manifestações sonoras
destes sujeitos e trazê-las para o plano da consciência, buscando a transformação
destes materiais sonoros em experiências expressivas de formação. Importa que o
aluno de pedagogia na sua formação possa vivenciar e fazer parte do processo de
criação, interpretação e composição musicais.
Considerar o discurso musical dos alunos significa respeitar suas escolhas,
suas tomadas de decisões em relação aos seus gostos e permitir-lhes a fluência
musical antes de qualquer intenção de leitura ou escrita musical.
Swanwick (2003, p.69) diz que não acha “que a capacidade de ler ou escrever
seja o objetivo final da educação musical. (...) a sequência de procedimentos
(referindo-se a educação musical) mais efetiva é: ouvir, articular, depois ler e
escrever”.
30

Conforme afirma Nóvoa (2004), o professor ensina aquilo que é e naquilo que
é se encontra muito do que ele ensina. Perrenoud (2002, p.39) também confirma
isso, dizendo que "nossa ação sempre é a expressão daquilo que somos".
Pensar em música num contexto mais amplo significa perceber que esta pode
acontecer nas mais variadas formas e que ela não necessariamente precisa apenas
ser vivenciada através do canto. A música é constituída de sons e silêncios e está
presente no cotidiano de todo o ser humano, bastando-lhe para isso a iniciativa de
começar a explorar suas atividades a partir destes sons e silêncios. Podemos
explorar os diferentes sons corporais (bocejos, murmúrios, estalos, palmas, etc.).
Pode-se explorar os sons em diferentes materiais do cotidiano (na rua, em
casa, nos objetos que nos cercam... entre muitos outros) e, a partir desta
exploração, criar novas formas de organização destes sons. Com a voz podemos
entender as diferentes possibilidades de inflexão melódica. Podemos explorar os
ritmos, os instrumentos, perceber diferenciações de timbres e buscar e analisar a
música que encontramos na mídia em seus mais diferentes aspectos.
Szönyi (1996) indica alguns pontos sobre a educação musical salientados
pelo educador. A educação musical deve se estender e ser acessível a todos, pois é
de vital importância na formação geral. Para isto deve fazer parte da educação
proposta pelo Estado, com organização e controle adequado. Além disso, deve
haver uma boa formação de professores e um diálogo internacional com cooperação
e intercâmbio de ideias.
O primeiro educador musical da criança é a família, em especial a mãe.
Becker (1989) fala que quando a mãe canta para a criança dormir, ensina seu filho a
bater palmas, está educando musicalmente seu filho. Depois, na escola, a criança
terá sua educação musical formalizada.
A autora lembra que cabe aos professores dar oportunidades para os
educandos utilizar a música como uma forma de se comunicar e não deve existir a
ilusão de haver um grande interesse das crianças pela música só por elas estarem
cercadas de músicas através do rádio, televisão, pois isso não basta para
desenvolver um senso crítico musical. Atividades lúdicas como canto, brinquedos e
rodas cantadas são importantes para despertar a sensibilidade da criança.
Schaefer (1991) acredita que o trabalho do professor é descobrir o potencial
criativo das crianças para fazer música por si, apresentar aos alunos os sons do
ambiente, tratar a “paisagem sonora do mundo” como um composição musical da
31

qual o homem é o principal compositor e fazer julgamentos críticos que levem à


melhoria de sua qualidade. Descobrir um ponto de união onde todas as artes
possam encontrar-se e desenvolver-se harmonicamente.
Assano (2000) crítica professores que pensam que só pode trabalhar com a
linguagem musical quem sabe música, pois desta maneira deixam de criar e fazer
experiências com novos sons. Para ela isto não justifica a possível ausência da
música na sala de aula já que os músicos contemporâneos usam justamente sons
do cotidiano para compor músicas. Comenta ainda a autora que Cecília Conde
(apud ASSANO, 2000, p. 14) em suas aulas de música fazia qualquer coisa
transformar–se em música: vidros, latas, papéis, água, madeira, sons da natureza,
do corpo, da cidade. Tudo que era capaz de ser ouvido era transformado em
melodia pelos grupos que sentiam a alegria da criação. A conclusão da autora é
quem a teve como professora há de se ter tornado capaz de sentir o imenso prazer
de descobrir a música da natureza.
O primeiro instrumento musical que o professor pode e deve utilizar é o
próprio corpo, algo riquíssimo que podemos explorar. São diversos os sons que
podemos produzir com o corpo como cantar, gritar, suspirar, bater palmas, bater
com os pés, assobiar, esfregar, bater os dedos, sapatear, etc.
Cabe ao educador sentir o quanto ele é importante na construção dos
conhecimentos musicais de seus alunos, e assim utilizar cada vez mais a música em
sala de aula.

3.2 Atributos do educador musical na Educação Infantil

Em 1983 foi publicada a teoria de Howard Gardner. Segundo o cientista


possuímos ao menos oito competências de inteligência: “a linguística ou verbal, a
lógico-matemática, a espacial, a musical, a sinestésica corporal, a naturalista, a
intrapessoal e a interpessoal”.
Ilari (2003) discute a inteligência musical como uma capacidade de percepção
sonora, identificação de sons, classificação de sons diferentes, de nuances de
intensidade sonora, direção da fonte sonora, andamentos, tonalidades, melodias,
ritmos, timbres, estilos etc. Para Gardner, qualquer pessoa normal pode desenvolver
todos os tipos de inteligência, mas terá mais facilidade em determinados momentos
da vida segundo o conceito de “janelas de oportunidades”. Um dado importante
32

sobre estas janelas é que quase todas se abrem até os 10 anos de idade, daí a
importância da educação infantil em todas as áreas. Segundo Ilari (2003) a principal
importância disto tudo para educação musical é a ideia de que basta para criança
fazer música para que desenvolva sua inteligência musical. Esta música deve ser
variada e manuseada por meio de diversos dispositivos e modalidades do fazer
musical.
Mas a autora aponta mais especificamente para algumas atividades como o
canto (que desenvolve ao menos 6 sistemas do cérebro), os jogos musicais (que
podem estimular diversos sistemas também), a execução instrumental (desenvolve
os sistemas de controle de atenção, memória, orientação espacial, ordenação
sequencial, o sistema motor, o de pensamento superior e, no caso de grupos
musicais, o sistema de pensamento social), a composição e a improvisação musical
(desenvolve também diversos sistemas), a notação musical (tanto a notação
“inventada” pela criança quanto a tradicional desenvolvem os sistemas de orientação
espacial, ordenação sequencial e do pensamento superior), a construção de
instrumentos (desenvolve sistemas como o do pensamento superior, de ordenação
sequencial, o motor e de controle da atenção).

3.2.1 Atributos para o educador musical no método Suzuki

O texto utilizado para indicar os atributos do educador musical no método


Suzuki chama-se “Educação é Amor: Um novo método de educação”. Nesta obra
têm-se os principais fundamentos do método Suzuki de educação musical. Foi
escrita pelo próprio criador do método e visa persuadir o leitor, por meio de dados
biográficos e exemplos práticos, o valor de suas ideias. Suzuki (1994) não prescreve
diretamente para o professor ou para o educador musical; é um texto escrito para
qualquer um que queira se inteirar de seus pensamentos. Muitos destes
pensamentos se refletem em atributos onde os professores devem ter, ou crenças
que eles devem seguir, como as seguintes: “Talento não é hereditário” (p. 17); “Boas
condições ambientais produzem habilidades superiores” (p. 20); “Habilidades
naturais aparecem através do treinamento” (p. 27); “Talento não é inato” (p. 40); A
repetição e a persistência são fundamentais no desenvolvimento do talento (pp. 45-
53); “A educação tem que ser baseada no amor para que desenvolva a verdade, a
alegria e a beleza como parte do caráter da criança” (p. 59). O objetivo geral do
33

método Suzuki é “treinar as crianças, não a ser músicos profissionais, mas a se


bons músicos e mostrar toda sua habilidade em qualquer profissão que escolherem”
(p. 76).

3.2.2 Atributos para o educador segundo Teça Alencar Brito

Teca Alencar de Brito traz muitas contribuições sobre os atributos do


educador musical. O texto que foi utilizado é “Música na educação infantil” (BRITO,
2004) que direciona-se à educação musical infantil no Brasil contemporâneo. A
seguir alguns fragmentos do texto serão extraídos com o intuito de salientar quais
são os atributos do educador musical trazidos no bojo da referência bibliográfica.
Quando versa sobre a necessidade de respeito ao processo musical infantil,
Brito (2004, p.45) indica:

[...] nesse sentido, o professor deve atuar – sempre – como animador,


estimulador, provedor de informações e vivências que irão enriquecer e
ampliar a experiência e o conhecimento das crianças, não apenas do ponto
de vista musical, mas integralmente, o que deve ser o objetivo prioritário de
toda proposta pedagógica, especialmente na etapa da educação infantil.

A autora ainda contribui ao se pronunciar sobre as novas teorias e


conhecimentos que vêm se formando de modo a auxiliar os educadores na sua
melhor compreensão da criança, conforme o fragmento a seguir:

O ensino-aprendizagem na área da música vem recebendo influência das


teorias cognitivas, em sintonia com procedimentos pedagógicos
contemporâneos. Amplia-se o número de pesquisas sobre o pensamento e
a ação musicais que podem orientar os educadores e gerar contextos
significativas de ensino-aprendizagem, que respeitem o modo de perceber,
sentir e pensar de bebês e crianças (BRITO, 2004, p. 53).

Outra contribuição está indicada no seguinte trecho:

O educador ou educadora deve buscar dentro de si as marcas e lembranças


da infância, tentando recuperar jogos, brinquedos e canções presentes em
seu brincar. Também deve pesquisar na comunidade e com as pessoas
mais velhas as tradições do brincar infantil, devolvendo-as às nossas
crianças, pois elas têm importância fundamental para seu crescimento sadio
e harmonioso (BRITO, 2004, p. 111).

Finalizando as contribuições da autora temos que: “o educador ou educadora


pode contar e sonorizar sua história [...]” (BRITO, 2004, p. 163); “É importante que
os educadores e educadoras se sintam capazes de criar arranjos simples e
34

adequados às possibilidades de realização musical das crianças, pois só assim


poderão inserir seus alunos nesse importante e gostoso processo de criação”
(BRITO, 2004, p. 173); “O educador ou educadora deverá observar como as
crianças registram os sons” (BRITO, 2004, p. 183); e “Cabe ao educador ou
educadora pesquisar exemplos e obras musicais que se aproximem de suas
crianças e de seu trabalho em cada fase” (BRITO, 2004, p. 194).

3.2.3 Atributos para o educador segundo Ilza Zenker Leme Joly

Joly (2000) inicia sua tese valorizando a importância da educação musical


para a formação do indivíduo, depois traça um histórico sobre seu desenvolvimento.
Joly também disserta sobre o processo de musicalização infantil, sobre a
educação musical no contexto escolar, sobre programação de ensino e sobre a
construção do conhecimento pedagógico musical. Segundo ela o processo de
formação de professores necessita de avanços, e é importante o professor conhecer
as competências com as quais ele poderá auxiliar seus alunos a se desenvolverem.
A autora também utiliza os conceitos de Schön, e salienta a necessidade de que o
professor tenha uma reflexão-na-ação, isto é: seja capaz de planejar e adaptar
procedimentos de ensino conforme as características, necessidades, dificuldades,
facilidades e interesses de seus alunos.
O professor deve refletir diariamente para poder articular a teoria com a
prática, deve também ensinar e observar o aluno e não apenas realizar um seguir
cego a procedimentos. A autora também valoriza a necessidade de se compreender
a forma de atuação do professor e o ambiente onde este está inserido para se
identificar aspectos fundamentais que influenciam na sua formação.
Sobre a formação de professores Joly (2000) indica como necessário
preparar o profissional para ensinar e aprender, ser observador, ser perspicaz e ser
reflexivo. O conhecimento deve funcionar como meio para o desenvolvimento das
aprendizagens para que o indivíduo possa atuar na sociedade. Desta forma, em um
programa para formação de professores é necessário definir-se os comportamentos
mais significativos para o profissional. Para este fim a autora elaborou uma
programação que cumpriu as seguintes etapas: descrição das classes de
comportamento do professor para planejar aulas, executar aulas e avaliar aulas de
musicalização, descrição dos objetivos comportamentais e descrição das situações
35

de ensino. Segundo o texto é necessário que o professor seja um observador eficaz


e flexível de modo que não insista em um procedimento improdutivo.
Joly (2000) propõe condições para o ensino de comportamentos envolvidos
num programa de formação de professores de musicalização infantil. A idéia é tornar
este mecanismo o mais real possível em relação às atividades inerentes à prática e
a vivência comum do professor de musicalização.
Deve-se fazer uma análise dos componentes dos objetivos comportamentais
e das situações e condições de ensino correspondentes para que se obtenha
melhores evidências sobre a aprendizagem.

3.2.4 Atributos para o educador segundo Perrenoud

Perrenoud (2000), falando da educação em geral trabalha com o conceito de


competências para o educador. Neste contexto indica dez novas competências que
devem se adicionar às velhas competências dos profissionais da educação. Estas
dez competências não deixam de ser uma certa escolha política e de visão de
mundo, mas de qualquer forma elas buscam ser mais amplas e isentas. Segundo o
teórico da educação:

O referencial escolhido acentua as competências julgadas prioritárias por


serem coerentes com o novo papel dos professores, com a evolução da
formação contínua, com as reformas da formação inicial, com as ambições
das políticas educativas. Ele é compatível com os eixos de renovação da
escola: individualizar e diversificar os percursos de formação, introduzir
ciclos de aprendizagem, diferenciar a pedagogia, direcionar-se para uma
avaliação mais formativa do que normativa, conduzir projetos de
estabelecimento, desenvolver trabalhos em equipe docente e
responsabilizar-se coletivamente pelos alunos, colocar as crianças no centro
da ação pedagógica, recorrer aos métodos ativos, aos procedimentos de
projeto, ao trabalho por problemas abertos e por situações-problema,
desenvolver competências e a transferência de conhecimentos, educar para
a cidadania (PERRENOUD, 2000, p. 14).

É interessante notar que este contexto que o autor chama de renovação da escola
está em sincronismo com o histórico do desenvolvimento da educação no século
XX.
36

CONCLUSÃO

Face ao exposto pode-se concluir que ouvir e aprender uma canção,


participar de brincadeiras de roda e de atividades rítmicas, são ações que
despertam, estimulam e ajudam a desenvolver o gosto pela atividade musical, além
de viabilizar a vivência dos elementos estruturais da linguagem musical.
A criança por meio de brincadeiras relaciona-se com o mundo e dia após dia
descobre brincando como fazer música. Receptiva, curiosa, a crianças busca por
materiais sonoros, descobre instrumentos, inventa canções e escuta com prazer
diversos tipos de música.
A aprendizagem musical, de maneira ativa e contínua, integra prática,
reflexão e conscientização, transportando a experiência para estágios cada vez mais
elaborados de expressão e de ampliação do conhecimento de mundo.
Na Educação Infantil, a música encontra-se presente em todos os instantes
da rotina escolar, constituindo-se em uma fonte de prazer, aprendizagem e de
expressão corporal.
Se pensarmos que a Escola não possui condições, nem nos oferece
possibilidades para trabalhar com música, seja por falta de material sonoro, seja por
falta de espaço físico, ou mesmo devido à insegurança do professor, nada irá
acontecer. No entanto, se formos capazes de despertar o gosto pela música na
Educação Infantil e incentivarmos que isto possua continuidade nas outras séries,
teremos uma Escola mais feliz; uma escola onde alunos, pais e professores irão
interagir de forma harmônica, pois estarão de verdade sendo os sujeitos da
edificação de sua própria história.
37

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41

ANEXOS

1-Quais as reais vantagens do emprego da música na educação infantil?


R: A criança que em contato com a música aprende a conviver melhor com outras
crianças, estabelecendo uma comunicação mais harmoniosa. Nesta idade a música
as encanta da segurança emocional, confiança, porque se sentem compreendidas
ao compartilhar canções, e inseridas num clima de ajuda, colaboração e respe Ito
mútuo.
2- Quais os benefícios da música para o desenvolvimento cognitivo afetivo e
educacional da criança?
R: A música também é benéfica para a criança quanto ao poder de concentração,
além de melhorar sua capacidade de aprendizagem em matemática. A música é
pura matemática. Além disso, facilita a aprendizagem de outros idiomas,
potenciando sua memória. A musica desenvolve a coordenação motora. Promove o
trabalho em grupo. Facilita o processo de alfabetização. Aguça a sensibilidade,
ajuda os tímidos a se comunicarem melhor, aumenta a autoestima.
3- Os profissionais estão e são preparadas para utilizar está modalidade e
usufruir o máximo de seus recursos na educação das crianças?
R: Não. Porque na grade curricular do curso de pedagogia, falta uma disciplina
chamada: musicalização na Educação Infantil. Onde deveria ter um profissional bem
qualificado para desenvolver esta atividade, não só na teoria como de preferência na
prática.
4-Para você qual é a importância da música dentro da educação Infantil?
R: A música possui um papel importante na educação das crianças, Ela contribui
para o desenvolvimento psicomotor, sócio afetivo, cognitivo e lingüístico, além de ser
facilitadora do processo de aprendizagem. A musicalização é um processo de
construção do conhecimento, favorecendo o desenvolvimento da sensibilidade,
criatividade, senso rítmico, do prazer de ouvir musicada imaginação memória
concentração atenção do respeito ao próximo, da socialização e afetividade,
também contribuindo para uma afetiva consciência corporal e de movimentação.

5- A aula de educação musical ela pode colaborar com a rotina dentro da sala
de aula?
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R: O modo como as crianças percebem, aprendem e se relacionam com os sons, no


tempo-espaço, revela o modo como percebem e aprendem e se relacionam com o
mundo que vem explorando e descobrindo a cada dia.
6- Pode-se dizer que a musica na educação infantil é uma atividade completa?
R: A criança por meio da brincadeira relaciona-se com o mundo que descobre a
cada dia e é dessa forma que faz música: brincando. Sempre receptiva e curiosa,
ela pesquisa materiais sonoros, inventa melodias e ouve com prazer a música de
diferentes povos e lugares. Por meio das brincadeiras de explorar como: brincar
com os objetivos sonoros que estão ao seu alcance, experimentar as possibilidades
da sua voz e imitar o que ouve, a criança começa a categorizar e a dar significado
aos sons que antes estavam isolados agrupando-os de forma que comecem fazer
sentido para ela. E isso que fará dela um ser humanos capaz de compreender os
sons de cultura. Por meio desse contato o ser humano começa a desenvolver uma
identidade a música que está a sua volta.
7-Quais recursos utilizados em uma aula de música na educação infantil?
Alguns recursos utilizados nas aulas são: aparelho de som, brinquedos que emitem
s nos e com texturas diferentes; instrumentos de percussão (tambor, chocalho,
guizos, pandeiros, pratos, triângulos, agogô e outros); colher de pau; blocos
sonoros; bexigas; jogos rítmicos e musicais; xilofone; paus de chuva; bambolês;
sinos; bolas e livros de historias infantis e bandinha rítmica.

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