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O dom de cada um

Encontrei a professora na porta da sala, antes mesmo de tocar o sinal. Ao entrarmos ela me
mostrou toda feliz um cartaz com o desenho do pequeno príncipe e me disse que uma
aluna estava desenhando o cartaz pelos 80 anos do livro. Contou que não era uma aluna
exemplar nas outras matérias mas o desenho não parecia ter sido feito por uma criança, os
traços estavam exatamente onde deveriam, o sombreado, o olhar da aluna estava no
cartaz. Uma esperança autêntica.
Lembrei então de outra aluna que durante as aulas faz pulseira de miçanga. Não se mostra
muito interessada também na arte de escrever, mas domina a arte de ter paciência em
colocar miçanga por miçanga, uma por uma, como se deixasse o mundo desenrolar
sozinho.
O dia inteiro se passou e não consigo tirar da memória o sorriso da menina perguntando se
poderia terminar o cartaz. Era uma urgência e uma ansiedade que ela não conseguia mais
esconder. Nasceu para a arte de desenhar.
Mas o que me deixa com uma certa melancolia é a questão: Quantos artistas, músicos e
artesãos, os livros com seus assuntos sérios mataram? Quantas poesias morreram quando
as letras foram levadas a sério demais?

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