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A menina que guardou o sorriso

E assim, sem sorriso, ela saiu para um passeio.


Aos poucos percebeu que tudo estava diferente. As
ruas pareciam sem vida. O céu estava cinzento. A
escola estava vazia.
Não havia cores, nem luzes, tampouco graça
naquele dia. Pensou no sorriso, escondidinho lá no
armário. Então, ela decidiu que voltaria o mais rápido
possível e que colocaria o sorriso de volta no rosto.
Será que conseguiu?

Para meus pais, que sempre me apoiaram e


estiveram ao meu lado;
Para meus avós Lourdes e Bravo, exemplo de
vida e de superação;
Para meus avós Margarida, Ary e Nair, com
quem eu tive o privilégio de conviver e aprender;
Para o Jan, meu companheiro de todas as
horas, sempre pronto a me incentivar e a alimentar
os meus sonhos;
E, por fim, à pequena Juliana, que me ensinou o
poder que tem o sorriso de uma criança.

“O exterior é o reflexo do interior.”


(frase atribuída ao filósofo Immanuel Kant)
E então, um dia, a menina acordou e resolveu
guardar o sorriso no armário. Foi assim mesmo…
Tirou o sorriso do rosto, com todo o cuidado, e o
guardou junto com as suas bonecas, com os seus
jogos, com os seus gibis…
E assim, sem sorriso, ela saiu para um passeio.
Aos poucos percebeu que tudo estava diferente. As
ruas pareciam sem vida. O céu estava cinzento. A
escola estava vazia.
Não havia cores, nem luzes, tampouco graça
naquele dia. Pensou no sorriso, escondidinho lá no
armário. Então, ela decidiu que voltaria o mais rápido
possível e que colocaria o sorriso de volta no rosto.
Entrou em casa e correu para o seu quarto.
Percebeu, com espanto, que estava tudo muito
bagunçado. Não sabia mais como tinha conseguido
chegar até ao armário naquela manhã, tamanha a
confusão! Foi em frente afastando tudo que tinha no
caminho, fazendo uma bagunça ainda maior.
Acontece que, ao abrir o armário, ela viu que o
sorriso não estava mais lá. Procurou no meio das
bonecas, entre os jogos, embaixo dos gibis. Nada do
sorriso. Olhou com mais cuidado e descobriu que
aquela também não podia ser a prateleira onde tinha
guardado o sorriso. Levou um susto ao perceber que
o sorriso tinha ido parar na prateleira lá de cima.
Sem entender nada, ela foi atrás de um
banquinho para poder alcançar a prateleira.
Precisava do sorriso o mais depressa possível.
Levou outro grande susto quando viu que o
banquinho tinha crescido.
Ela se olhou no espelho, assustada. Foi então
que a menina percebeu que era ela que tinha
diminuído. Ficou tão pequenininha sem o sorriso!
Pensou por um instante em toda aquela maluquice.
Que ideia boba guardar o sorriso no armário! Por
que tinha feito isso? A menina não sabia. Mas sabia,
isso sim, que queria o seu sorriso de volta de
qualquer jeito.
Arrastou o banco pesado pelo quarto
bagunçado. Com muita dificuldade subiu nele e
pegou de volta o seu sorriso. Mas acontece que a
menina estava pequenininha e o sorriso continuava
grande. O sorriso grande não cabia mais na boca
pequena. Foi então que a menina entendeu! Neste
momento, o sorriso desapareceu de suas mãos,
como que por encanto. Mas ela já sabia o que fazer.
Ela deitou em sua grande cama e começou uma
viagem para dentro de si. Arrumou toda a bagunça
que encontrou. Foi, aos poucos, pondo tudo no
lugar. Sentimentos como amor, alegria, raiva,
tristeza. Muita coisa que ela nem sabia que estava lá
dentro. Não foi uma tarefa fácil. Foi, pra dizer a
verdade, mais difícil do que arrumar o quarto. Mas o
quarto já não precisava ser arrumado.
Quando terminou a sua viagem, ela percebeu
que tudo estava de volta no lugar. Viu seus
brinquedos guardadinhos nos lugares certos. Não
havia mais cadernos e bonecas espalhados. Ao
arrumar tudo que estava fora do lugar dentro dela, a
menina percebeu que as coisas se ajeitaram do lado
de fora. Sentiu uma felicidade incrível! Que
descoberta havia feito naquele dia!
A menina tentou sorrir, mas não conseguiu.
Faltava fazer mais uma coisa. Olhou com carinho
para o fundo do seu coração. Lá estava o seu
sorriso, maior do que nunca. Tão grande, forte e
bonito, assim como ela. Saíram para brincar pelas
ruas cheias de cores, de vida, de alegria. Os dois
juntos. A menina e o sorriso.
Paula Bravo
Ilustrações de Jefferson Galdino

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