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Na frança, em 1771, em Paris nascia uma pequena menina

chamada Éveline, dentro do bordel Les Deux Roses. Sua mãe,


Eva Durand era a moça mais requisitada do local e havia
engravidado de um nobre riquíssimo de uma família de renome e
obviamente ela tinha medo de revelar a gestação, portanto, pensou
e pensou de diversas formas em como iria criar aquela pequena
criança, mas nunca desistiu dela.
Ela prometeu a si mesma, que por mais difícil que fosse, iria
criar aquele bebê com todo amor e carinho que ela tivesse, pois
assim, não a condenaria ao destino cruel que lhe fora traçado.
Ao olhar seus pequenos olhinhos e alisar sua cabeçinha
ensangüentada com pouquíssimos cabelos, Eva, sentiu um imenso
amor a consumir , então pegou em sua pequena mãozinha e falou:
-- Minha pequena Éveline! Eu te dou minha vida se preciso
for, mas nunca a abandonarei e a esconderei de todos que forem
lhe fazer mal.

[música de Eva para Éveline]

E assim, Éveline foi criada em um quartinho escondido para


que nunca precisasse saber, ou presenciar o trabalho realizado ali,
mesmo que á contragosto da gananciosa Madame Geneviéve
Duverrot, que descontava do salário minúsculo de sua mãe, cada
minuto que fosse necessário para criar a pequena.
Assim, ela podia crescer inocente, e no quintal dos fundos
podia brincar em paz enquanto sua mãenão podia estar com ela, e
para sua sorte, algumas amigas e companheiras de trabalho de
Eva, Francine, Alexia e Emeralde também a ajudavam a cuidar de
Éveline.
O tempo passou para a pequena , e Eva percebeu que a
beleza da menina chamaria a atenção, pois aos seus olhos, Éveline
não só herdara a aparência do pai quanto a beleza da mãe. Eva
sentia a ansiedade queimar em seu peito e o medo lhe consumir os
seus pensamentos. “O que vão pensar de nós? E se descobrirem
de quem ela é filha? Ninguém pode saber como ela é” E um
pensamento lhe correu a cabeça. Ela iria esconder o rosto de
Éveline com um véu toda vez que precisasse sair com ela. E agora
aos cinco anos, a pequena e sua mãe, saiam o mais disfarçadas
que podiam pelas ruas e sempre com véus para que assim
parecessem estar enlutadas.
Claro que se criaram rumores pela cidade:
-- A pobre menina deve ser desfigurada!
-- Que escândalo, que vergonha uma prostituta com uma
criança!
-- Claro que deve ser um monstro, olhe como a mãe nem
quer mostrar o rosto da menina! Deve ter vergonha dela!
Melhor criarem rumores sobre ela ser um monstro e nunca
saberem a real aparência dela do que estragar o futuro de sua filha
e qualquer possibilidade dela ter outra vida que não uma igual a
dela, Eva pensava.
E assim os anos foram passando e Éveline agora tinha
quinze anos. Madame Duverot fazia cada vez mais pressão à Eva
para que a menina trabalhasse no Les Deux Roses, mas Eva
insistia em trabalhar dobrado, triplicado, quadriplicado que fosse
para que ela não precisasse ganhar a mesma vida que ela. Porém,
por ter sido privada de conhecer muito além do seu quarto, quintal
e muito raramente, a cidade, Éveline sentia a dúvida crescer
dentro de si, a jovem moça agora queria explorar a vida fora de
sua casa e entender o mundo.

[Música de introdução á Éveline]

Sua mãe exausta da noite, foi deitar-se de manhã com


Éveline, que ansiosa e cheia de perguntas a confrontou.
--Mamãe, por que a senhora não deixa eu explorar a casa?
Por que só fico aqui no quarto e no quintal? Porque Madame
Duverrot me olha com tanto ódio? Porque não posso sair como
todos, sem o véu?
Eva já quase nem concatenava um pensamento e respondeu:
-- Amanhã conversamos, meu bem, por favor, deixe-me
dormir um pouco.
--Mas mãe, eu não consigo dormir com essas perguntas no
meu coração e na minha cabeça! Quem sou eu? Porque eu não
posso sair e ser como as outras moças da minha idade? Por que eu
tenho que usar aquele véu estúpido pra sair na rua?
A menina se vira e encontra sua mãe já adormecida em sua
cama.
--Como sempre...
Um pensamento lhe corre a cabeça. Se sua mãe foi deitar,
agora seria a hora perfeita para explorar a casa toda sem que ela
soubesse. Ajeitou sua mãe confortavelmente na cama, a cobriu e
apagou as lamparinas e foi pé ante pé com o coração quase saindo
pela boca até a porta, tomando cuidado para não estalar nenhuma
tábua ou fazer qualquer barulho que fosse.
Ao sair de seu quarto, se deparou com uma despensa e uma
cozinha bem precárias, alguns ratos se amontoavam em um canto
comendo restos, a visão lhe embrulhou o estômago, portanto
prosseguiu ao se deparar com uma escada que a levava para cima.
Subindo, encontrou algo como um banheiro grande com várias
banheiras juntas e algumas peças de roupa ali jogadas.
-- Cheiro de perfume, suor e algo como rosas.
Em seguida, seus ouvidos captaram um som ao longe que
fez sua espinha gelar, algo como gritos estranhos, gemidos, e
gargalhadas misturadas.
Ela se escondeu arfando pelo susto e cobrindo a boca, tentou
identificar algo. “Não é minha mãe” pensou. Se suas tias ou
Madame Deverrot tivessem chegado para uma visita, àquela hora
ela estaria totalmente perdida! Juntou coragem e saiu dali se
arrastando pelas paredes e cantos. O som de gemidos e gritos
ficou mais forte. No mesmo corredor, encontrou diversas portas,
umas fechadas, e algumas entre abertas, o som vinha de uma das
portas entreabertas, e parecia estar com os lampiões acesos. Se
esgueirou curiosa para ver de que se tratava e o que viu, a fez
querer vomitar, gritar, desmaiar, mas ela apenas congelou. Sua tia
Alexia, tinha um homem em sua cama e ele a fazia gemer, gritar,
arfar... “Ele a estava machucando! E Ela estava sem as roupas!!”
Desesperada, Éveline correu para o quarto aceso mais próximo
para pedir ajuda ou talvez até se esconder e se deparou com mais
uma cena perturbadora. Suas outras tias, Emeralde e Francine,
ambas com um homem bêbado e velho em uma cama, sem
roupas, porém pareciam estar gostando e gargalhando, ao mesmo
tempo em que gritavam. Foi demais para ela, o pavor tomava
conta e ela simplesmente saiu correndo dali.
Procurando uma saída, deu de encontro com sua mãe muito
brava, de camisola e ceroulas que a recebeu com um estrondoso
tapa no rosto, derrubando-a no chão.
--ESTÁ CONTENTE AGORA? –Éveline tonta e enjoada
botou a mão na face quente e começou a chorar. – TUDO QUE
EU FIZ, DURANTE TODOS ESSES ANOS PARA TE
BLINDAR DESSA REALIDADE, DO MEU TRABALHO,
PARA TE PROTEGER DE TER QUE VER O QUE TENHO
QUE FAZER PARA COLOCAR COMIDA NO SEU PRATO, E
É ASSIM QUE VOCÊ ME RETRIBUI? SUA MENINA TOLA E
INGRATA! COMO OUSA? – Pegou-a pelo braço sacudindo-a.
-- Mãe... Você... VOCÊ ESPERA O QUE DE MIM? –
Gritou, soltando-se das mãos frágeis e cansadas da mãe. -- TODA
MINHA VIDA, EU FUI CRIADA EM SEGREDO! NINGUÉM
PODIA NEM VER O MEU ROSTO! EU OUVI TODOS,
TODOS OS RUMORES! – Esbravejou, se levantou do chão e
chorando terminou:-- SE NÃO ME QUERIA MENTINDO
PARA VOCÊ, NÃO DEVIA TER MENTIDO PRA MIM!
Sua mãe caiu de joelhos chorando. Culpa, alívio, exaustão,
medo, tudo isso a consumia. Ela respirou fundo e murmurou sem
forças.:
--Éveline, você foi longe demais agora. Eu sinto muito por
ter mentido para você, mas eu tentei te proteger. Agora não tem
jeito. Ela sabe que você sabe o que fazemos... Não tem mais jeito.
Vá embora.
--Mas mãe, eu...
--VÁ EMBORA! “Ou você vai terminar como eu...”—
Murmurou para logo em seguida gritar: NÃO SE ATREVA A
VIRAR UMA PUTA BARATA COMO SUA MÃE!!
Éveline saiu correndo dali, rumo a uma porta grande e
pesada, escancarou-a. Não tinha tempo de se despedir, Se
arrependeu no minuto em que sair daquele lugar, não tinha mais
aonde ir, mas aquilo era horrível, não podia aceitar viver daquele
jeito.
Pela primeira vez, viu a rua sem véu. Era mais iluminada do
que pensava. Pela primeira vez era algo que sentia ser real. Pela
primeira vez... Liberdade.
Lágrimas não pararam de lhe cair do rosto desde a briga
com sua mãe, mas agora, eram de liberdade. Ela correu até chegar
em uma ponte, corria, corria e sentia o vento em seu rosto. Ela
girou, riu, e gritou até que percebeu que incomodara uma senhora
que tentava dormir, que xingou-a pela janela. Ela andou e
perambulou até achar um jardim muito bonito por trás de algumas
árvores. Ali tinha um coreto coberto e um banquinho com
algumas almofadas, e foi ali mesmo, que entregue ao cansaço, ela
dormiu.
No dia seguinte, foi acordada com um beijo de bom dia.
--Bom dia, mãe.
Abriu os olhos em Choque lembrando-se do que acontecera
na noite passada.
--MÃE!
Um cachorro bobo, baixinho e muito simpático a lambera,
em saudação.
--Pierre! Pierre! Venha! –Um rapaz surgira de trás dos
arbustos do jardim chamando pelo cão. E ao se deparar com ela.
Gritou de susto, aliás, ambos gritaram!
--QUEM É VOCÊ? – Perguntou ele.
--QUEM SOU EU? QUEM É VOCÊ?
--VOCÊ QUE INVADIU O MEU JARDIM, MADAME!
--O QUE? INVADI O SEU JARDIM? EU ESTAVA
APENAS DORMINDO NA RUA, SEU CABEÇA OCA!
Ele riu, o que a assustou um pouco, “e nossa, como ele
ficava bonito rindo” pensou.
--Rua? Se este canto fosse a rua, não estaria bem cuidado
desse jeito, não acha, madame?
--Pare de me chamar de madame, meu nome não é madame,
é Éveline Durand.
Após isso, ele chama ela para aprender com ele desde que
ela trabalhe como empregada para ele e os pais dele. Já no bordel,
Madame Duverrot descobre sobre a real beleza de Éveline e a
almeja para substituir sua mãe como a mais requisitada moça do
Bordel, anunciando que irá cobrar até quatro vezes a mais pela
moça se a trouxerem de novo para o Les Deux Roses.
De volta á Éveline, ela e o Visconde Gérard se apaixonam
perdidamente porém ele esconde um segredo, ele é prometido em
casamento para outra moça. Após revelar o segredo para Éveline,
ele parte seu coração, e sem poder se posicionar, é seqüestrada
pelos capangas de Madame Duverrot, sendo abusada dentro do
Cabaret. Porém, quando ela menos espera, recebe uma carta de
seu pai biológico. Gerárd não havia lhe usado, afinal, ele foi atrás
do pai de Éveline e ele agora a queria como sua legítima herdeira.
Gérard, apareceu no bordel para salvá-la de Madame
Duverrot e a comprou por um preço alto, ficando ciente de que
não era mais virgem.
Ao ser salva, procurou seu pai que lhe ofereceu abrigo e
amor pois sempre desejou ter filhos e nunca conseguiu. Éveline
agora era nobre e podia se casar com Gérard, não fosse a família
dele estar sob investigação no ápice da revolução francesa. Desde
modo, o destino estava nas mãos de Éveline.

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