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Ilustrações: Adelaide Barbosa

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Carolina Rocha Antunes nasceu a 27 de Outubro de
1996 em Coimbra, com a sua irmã gémea Inês. Repartiu
a infância entre Vila Nova de Poiares, uma pequena vila
no distrito de Coimbra em ambiente rural, onde o
contacto com a Natureza, a serra, as plantas e os animais
eram uma constante, e a cidade de Leiria com a sua
história e beleza únicas. Desde cedo mostrou uma
tendência particular para o culto da palavra,
surpreendendo todos com a leitura aos 4 anos e com a
escrita pouco depois. Desde então, muito do seu tempo
livre é preenchido com a escrita de poemas e contos tendo já recebido alguns
prémios, de que se destacam o prémio no concurso de adaptação para teatro do
conto “Há dias assim…” de Margarida Fonseca Santos promovido pela Biblioteca
Municipal Afonso Lopes Vieira, e o prémio “Uma aventura literária 2009” na
modalidade de teatro. A par com a escrita, mostra grande interesse pela área de
teatro, tendo já realizado diversos “workshops” e participado em peças
desenvolvidas na escola. Actualmente frequenta o 9º ano de escolaridade na opção
de expressão dramática, termina o curso básico de dança do conservatório e é
atleta de competição em natação sincronizada.
“A menina sem nome” foi escrita aos 10 anos de idade”.

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PREFÁCIO

“As crianças são, por natureza, únicas, irrepetíveis, fascinantes. Crescem


folheando os dias da infância e devorando as horas da juventude, à procura de
caminhos que anseiam colorir com o pincel dos seus sonhos. Mas nem todas
deixam na tela do tempo, às vezes tão árida e dispersa, as marcas indeléveis do seu
talento. É essa a diferença que encontro na Carolina. Surge todos os dias como a
deambular sob os seus caracóis arrumados, na sua tez alva e com uns olhos
gigantes de quem reflecte o brilho do universo, neles espelhando a fantasia poética
da sua alma. Senta-se à minha frente, ávida do pouco que tenho para lhe ensinar, e
é no silêncio do seu gesto que absorve as palavras que dirijo à classe, com a
perspicácia de quem me vai oferecer um ramalhete de lírios dourados. Mas não são
lírios, professor! São personagens de enredos que a Carolina gosta de urdir nos
anéis fantásticos que giram em redor do seu planeta favorito – o planeta
criatividade.
Numa época em que os meus alunos se deixam prender pelas malhas da
cibernáutica e das tecnologias, a minha menina imaginativa e angélica aplica-se a
dar passos suaves, mas sequiosos, no mundo das folhas brancas que lhe pedem
para escrever palavras de encantar.
E aqui está ela, única, a Carolina, desfiando o seu colar de coral,
deambulando pelo seu planeta favorito, semeando pequenas estórias nas folhas de
papel.”

Luís Lobo

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Abraça a vida e nunca deixes de sonhar!

Teu pai, que te adora.

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A menina sem nome

Naquela manhã linda de Primavera, o passarito que


todos os dias vinha acordar Mariana não cantou; ao ver
uma janela aberta entrou logo para dentro do quarto.

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A mãe da menina, que preparava o pequeno-almoço
na cozinha, ao ouvir uns barulhinhos naquela direcção
pensou que era a filha e chamou com voz meiga:
-Mariana!
O passarito achou o nome tão bonito que o agarrou e
levou consigo.

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A Mariana acordou sobressaltada no momento em que
a ave saía pela janela.
Ainda tentou agarrá-la mas ela já ia alto.

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A menina procurou à pressa um nome provisório no
quarto: a primeira coisa que viu foi a sua almofada. “-
Seja!” pensou, “-É só por algum tempo!”. Vestiu-se e
saiu à procura do seu nome. Vivia na floresta, mas
achou que seria mais fácil encontrá-lo na cidade onde
havia muitas pessoas e lugares. Alguém haveria de a
ajudar.
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Foi primeiro a um restaurante. “-Bom dia!” disse a
menina delicadamente ao empregado que passava, ao
que este respondeu: “-Bom dia menina, que deseja?
Temos muita comida boa à escolha”. “-Na verdade não
vim aqui para comer, mas para lhe pedir ajuda” disse-
lhe a menina. “-Ai sim?” exclamou o empregado já
menos bem-disposto “-E como é que a menina se
chama?”. “-O meu nome é … almofada”. “-Almofada?”
disse o empregado, “-Mas esse não é nome de gente!”
e acrescentou: “-E quanto é que a menina pode pagar
pela ajuda?”. “-Pagar?” espantou-se a menina, “-Eu não
posso pagar! Não tenho dinheiro!”. “-Menina!” gritou o
empregado irritado, “-Sem dinheiro não há ajuda e não
queremos gente pobre neste restaurante. Os nossos
clientes são pessoas chiques e famosas. Ponha-se a
andar!”. A menina saiu a correr assustada.

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De seguida foi a uma loja. Viu muitas coisas bonitas e
uma senhora sorridente. “-Esta senhora simpática vai
ajudar-me” pensou a menina. Mas quando lhe explicou
o que queria a senhora respondeu-lhe num tom
ríspido: “-Olhe menina, se não tem dinheiro não há
ajuda. E vá-se embora que aqui não queremos
pedintes. Os nossos clientes são muito chiques e
elegantes!”.
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Depois foi a um Banco. “-Aqui há muito dinheiro; não
precisam de mais. Talvez me ajudem.” Pensou ela. “-
Desculpe menina mas não posso ajudá-la!” disse-lhe o
empregado da caixa. “-E vá saindo que tenho muitos
clientes importantes para atender”.
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Ainda foi a uma escola. “-Há aqui tantos meninos e
meninas como eu. Não pensam só em dinheiro como
os adultos. Talvez me ajudem” pensou Mariana. Estava
na hora do intervalo. Aproximou-se de um grupo de
meninos que brincavam animadamente. “-Que história
tão esquisita essa!” exclamaram os meninos quando
lhes contou o que se passava. “-E chamas-te almofada?
Que nome tão feio! Hahaha!” A menina ficou muito
aflita por troçarem dela e a mandarem embora.

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Desanimada, resolveu voltar para casa. Ninguém a
ajudara. “-Bolas!” pensou enquanto caminhava: “-Nesta
cidade só interessa o dinheiro e o aspecto das pessoas;
não há amizade e espírito de ajuda. Aqui não se pode
ser feliz!”. “-E agora?” pensou. Ia ficar Almofada para
sempre! A menina pôs-se a chorar. Ali, na floresta…, a
meio caminho de casa e a meio caminho da cidade.
Sentada, no meio de grandes árvores altas que
pareciam olhá-la com tristeza. As lágrimas deslizavam-
lhe pelo rosto branco e macio

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Foi então que ouviu passos. Alguém se aproximava. A
menina virou-se e viu um jardineiro. Não era chique,
nem famoso, nem muito importante. Era apenas um
simples jardineiro. “-Que tens menina? Porque choras?”
perguntou ele delicadamente: “-Como posso ajudar-
te?”. “-Não podes.”, disse a menina soluçando”-Eu não
tenho dinheiro para te pagar!”

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O jardineiro agarrou na mão da menina e levou-a para
a sua pequena e modesta casinha. Quando ela ficou
mais calma o jardineiro disse-lhe: “-Eu quero ajudar-te
menina. Não quero nada em troca. Vá, Conta-me o que
aconteceu!”. E a menina contou-lhe tudo o que se
passara naquele dia. Quando terminou, o jardineiro
olhou para ela com olhos doces e disse “-Espera aqui
que eu já volto”. Levantou-se e desapareceu.
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Voltou pouco depois, muito feliz. Aproximou-se da
menina e disse: “-Não encontrei o passarito; não
encontrei o teu nome, mas trouxe-te um nome novo
muito bonito”. E lá estava, na palma da sua mão, muito
quietinho: um nome. O jardineiro entregou-lho. A
menina agarrou-o muito depressa com medo que
fugisse. Agradeceu e despediu-se.

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O jardineiro, por sua vez, beijou-a na face corada e
disse com ternura:
-Adeus … flor!

FIM

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