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Diz não ao Bullyng

Luís Fernandes
Editora: Plátano
Ano de edição: 2015

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Diz não ao bullyng


Não deixes que te façam mal!

O Mário tem 11 anos, era um rapaz muito alegre e um dos melhores alunos da
turma. Andou sempre na mesma escola até ao 4º ano, e sempre gostou muito
dela.
Os seus melhores amigos eram a Sara e o Luís.
Nos intervalos, gostava de brincar com os seus colegas, de jogar à bola e
também de ajudar os mais pequenos, sempre que era preciso.
Com o final do 4º ano e a mudança para uma nova escola, tudo começou a
mudar…
P. 5 do original

Alguns colegas mais velhos começaram a meter-se com o Mário e a chamar-


lhe “marrão e “caixa de óculos”. No início ele não ligava, mas, à medida que os
dias iam passando, ia ficando cada vez mais triste.
Todos os dias, o Mário tentava passar despercebido durante os intervalos, mas
esses alunos costumavam procurá-lo e encontrá-lo. Via-se que se divertiam
muito com o seu sofrimento...
Às vezes, o Mário desejava ser invisível, para que ninguém o visse.
P. 7 do original

Há umas semanas, o Hugo, um dos alunos mais velhos, começou ameaçar o


Mário, dizendo-lhe:
- Ó miúdo, amanhã tens de me trazer 1 euro, se não…!
P. 8 do original

Nem era preciso acabar a frase, o Mário já sabia o que poderia acontecer: ou o
Hugo lhe batia ou o envergonhava à frente de todos os outros colegas,
chamando-lhe nomes feios ou escrevendo mal dele em bilhetinhos que
circulavam entre os colegas na sala de aula. Um dia até o deixou fechado na
casa de banho durante o intervalo inteiro.
P. 9 do original

O Mário andava muito preocupado e não conseguia pensar em mais nada. Nas
aulas, começava a imaginar como ia ser o intervalo seguinte e, em casa, só
pensava como seria o próximo dia na escola. Nem conseguia dormir
descansado.
P. 10 do original

Os pais começaram a notar que andava mais triste e preocupado, mas, quando
lhe perguntavam, o Mário disfarçava. Tinha vergonha de lhes contar o que se
passava na escola.
P. 11 do original

No princípio, os seus melhores amigos, a Sara e o Luís, queriam contar a


alguém o que se passava, mas o Hugo também os ameaçou, e eles tiveram
medo. A pouco e pouco, foram-se afastando do Mário e deixaram de o apoiar.
Sentiam-se mais seguros assim.
P. 13 do original
Certo dia, durante o intervalo, a D. Júlia, funcionária da escola, viu o Hugo a
ameaçar o Mário e chamou-o à atenção. A partir daí, começou a estar mais
atenta às brincadeiras que aconteciam no recreio.
P. 14 do original

Nesse dia, no fim das aulas, pediu ao Mário para lhe contar o que estava a
acontecer. Ele ficou muito nervoso e desatou a chorar. Contou então que há
várias semanas o Hugo o ameaçava, obrigava a dar-lhe o lanche, não o
deixava brincar com os seus amigos e, não contente com isso, ainda lhe dizia:
“Se contares a alguém, bato-te e tudo vai piorar!”
- Mário, tem calma, não chores e escuta o que te vou dizer! - Disse
suavemente a D. Júlia, continuando:
- Olha, já podias ter contado a alguém, aos teus pais, à professora ou a mim,
não achas? Não podemos deixar que as outras pessoas nos tratem mal assim!
Já ouviste falar em bullyng? - perguntou ela.
- Bullyng? Não, nunca ouvi falar! – afirmou o Mário com ar de surpresa.
P. 15 do original

- Bullyng é o nome que se dá quando um ou vários alunos fazem mal aos


colegas, ameaçam, batem, não deixam brincar, envergonham ou perseguem
outro colega, e isso torna a vida dessa criança muito difícil e assustadora,
porque estes comportamentos acontecem muitas vezes! - Explicou a D. Júlia.
- Pois é, às vezes, isso acontece todos os dias, como a mim. E eles fazem de
propósito, não é? - perguntou o Mário.
- É verdade, mas não podes deixar que o Hugo ou outro menino qualquer te
ameace ou bata, não concordas? - perguntou a D. Júlia.
- Sim, eu sei... Mas eu tenho tanto medo e tanta vergonha de contar! - referiu o
Mário com um ar muito triste.
- Não tens de ter vergonha, quem devia ter vergonha é quem faz mal aos
colegas, não te parece? - questionou a D. Júlia com um olhar compreensivo, e
continuou:
P. 16 do original

- Foste muito corajoso em contar e, agora que já sei o que se passa, prometo-
te que te vou ajudar. Já pensaste que, se as crianças que são vítimas de
bullyng, não contassem a ninguém, os colegas que as magoam iam fazendo
cada vez pior? - perguntou.
P. 17 do original

- É verdade, mas eu pensava que eram apenas brincadeiras normais entre os


colegas e que tinha de aguentar. Além disso, o Hugo estava sempre a dizer
que não podia contar a ninguém se não era um “queixinhas”, e os outros
meninos não gostam de quem anda sempre a chorar e a fazer queixinhas! –
explicou o Mário.
- Eu sei, Mário, já passou, agora podes estar descansado! Vou falar com a tua
professora e tu vais contar aos teus pais. Havemos todos de te ajudar! – disse
a D. Júlia de forma calorosa.
- E ele depois não me vai fazer pior? Não me vai ameaçar? – questionou o
Mário.
- Tenho quase a certeza que não! Não achas que vale a pena tentar mudar
esta situação? – perguntou a D. Júlia.
O Mário olhou para ela com esperança e acenou que sim com a cabeça.
P. 18 do original

- Todos juntos, eu, tu, os teus pais, os teus amigos e a tua professora,
havemos de conseguir ajudar, não achas? Somos muitos do teu lado - afirmou
com firmeza a D. Júlia.
P. 19 do original

Depois desta conversa, o Mário começou a sentir-se um pouco melhor, mais


confiante. Era como se todo o medo que ele sentia tivesse sido dividido com
todos os que agora sabiam o seu segredo. E esse segredo deixou de ser
segredo...
P. 20 do original

Passados alguns dias, quando a professora chegou à aula, vinha


acompanhada de um senhor.
- Bom dia, meninos e meninas. Este senhor chama-se Daniel e é psicólogo.
Esta manhã vai ensinar-nos algumas coisas sobre bullyng. Já alguém ouviu
esta palavra?
P. 21 Do original
Todos os alunos disseram que não. O Mário já sabia algumas coisas sobre
bullyng, mas preferiu não falar nisso. Em seguida, a professora disse:
- Vamos todos estar muito atentos ao que o Daniel nos vai contar!
O Daniel era muito simpático e trazia alguns vídeos e imagens muito giras.
Explicou-lhes o que era o bullyng e como poderiam defender-se nessas
situações. A turma do Mário percebeu que muitas brincadeiras que às vezes
alguns meninos faziam aos colegas eram bullyng, e que isso estava errado.
Todos acharam esta aula verdadeiramente espetacular!
Os amigos do Mário, a Sara e o Luís, perceberam melhor o que se passava e
começaram a ficar envergonhados por não o terem defendido.
Os outros colegas começaram a perceber que também podiam ter feito alguma
coisa. Até o Hugo se começou a sentir mal com o que tinha feito...
P. 23 do original

No final da manhã, todos os alunos fizeram desenhos e cartazes sobre o


bullyng. No seu desenho, o Mário escreveu:
"Diz NÃO ao BULLYNG. NUNCA TE CALES!!!".
Ao ler esta mensagem, o Daniel disse à turma:
- O que o Mário escreveu é mesmo o mais importante. Sempre que souberem
de uma situação de bullyng, têm de contar a um adulto... E NUNCA mas
NUNCA se devem calar...
A FORÇA DO AGRESSOR É O SILÊNCIO DA VITÍMA!!!.
A partir desse dia, tudo mudou.
O Hugo esqueceu-se depressa do que tinha sentido na aula, mas o Mário
decidira fazer-se respeitar.
Por isso, quando ele lhe tornou a pedir dinheiro e a ameaçá-lo, o Mário
respondeu-lhe que, se tornasse afazer isso nem que fosse só mais uma vez, ia
contar à professora, aos pais e a toda a gente. Ao ouvir isso, o Hugo quis
bater-lhe, mas a Sara e o Luís, que não se tinham esquecido da aula, puseram-
se à frente dele, dizendo-lhe:
P. 24 do original

- Hugo, se bateres ao Mário, mesmo que ele não se queixe de ti, queixo-me eu!
- disse o Luís.
-E eu! –disse a Sara.
O Hugo olhou para os três. Nunca tinha visto miúdos tão determinados, por
isso, resolveu ir-se embora com ar aborrecido.
- Acho que conseguimos! - disse o Mário um pouco amedrontado.
- Eu armei-me em forte mas estava cheio de medo! - disse o Luís. - Eu
também! - acrescentou a Sara.
P. 25 do original

A pouco e pouco, o Hugo foi mudando de comportamento, tornou-se mais


simpático e nunca mais magoou ou ameaçou os seus colegas.
A professora disse-lhe que se via bem que ele estava diferente, mas, para que
todos pudessem começar de novo, devia pedir desculpa pelo que tinha feito,
não só ao Mário, como a todos os colegas. Ele percebeu que era justo e pediu
desculpa. Toda a turma o desculpou.
P. 26 do original

Agora são todos amigos, brincam e jogam à bola juntos, e sabem que mais? O
Hugo é um verdadeiro craque, mas toda a gente acha que quem mudou a valer
o futebol na escola foi o Mário...
Como árbitro! Porque o Mário não tem medo absolutamente nenhum de
assinalar faltas a todos os que se desviam das regras, e o futebol nos recreios
agora joga-se como deve ser.
Mas outra coisa mudou: o Mário tornou-se tão famoso por ter resistido ao Hugo
que agora, imaginem, até os colegas mais velhos de outras turmas, quando
estão a sofrer bullyng, lhe vêm perguntar o que devem fazer.
P. 27 do original

O que aprendeste com esta história?

É importante ajudar os outros: devemos sempre ajudar os outros quando


precisam. Neste caso, os amigos do Mário deixaram de o ajudar e foram-se
afastando, mas a D. Júlia e, depois, a professora encontraram uma forma de o
ajudar. A vinda do Daniel à escola ajudou muito a melhorar a vida do Hugo.
Porque toda a turma ficou mais consciente do mal que acontecia ao Mário.

É importante pedir ajuda: Se tiveres um problema ou se estiveres preocupado


com alguma situação, deves pedir ajuda a um adulto. Se o Mário tivesse
contado o seu problema aos pais ou à professora, eles teriam ajudado há mais
tempo.
P. 28 do original

Devemos reconhecer que agimos mal: devemos reconhecer que agimos mal e
não faz mal termos remorsos, porque isso ajuda-nos a pensar melhor sobre o
nosso comportamento e a portarmo-nos melhor no futuro. Nesta história, o
Hugo arrepende-se do seu comportamento e, embora não possa desfazer as
suas ações, compreendeu que errou e começou a portar-se melhor daí em
diante.

Devemos ser capazes de pedir desculpa: quando percebemos que errámos,


devemos pedir desculpa e dar o nosso melhor para repararmos os nossos atos.
O Hugo foi honesto e pediu desculpas ao Mário pelo seu comportamento.
P. 29 do original

Devemos respeitar os sentimentos dos outros: se tivermos consideração pelos


outros, é mais fácil eles terem também consideração pelos nossos
sentimentos. Sempre que o Hugo ameaçava ou perseguia o Mário, estava a
desrespeitar os sentimentos dele, causando-lhe medo, ansiedade e tristeza.

É errado fazer troça e ameaçar os outros: não devemos ser cruéis com os
outros, principalmente com colegas que não sabem ou que não conseguem
defender-se porque são mais pequenos ou mais novos. Nesta história, o Hugo
persegue e provoca o Mário, que é mais novo e se sente com medo de um
colega mais velho do que ele.
P. 30 do original

Não devemos pregar partidas aos outros: algumas partidas são divertidas para
quem as prega, mas também devem ser divertidas para quem é o alvo dessa
partida. Neste caso, o Hugo diverte-se a assustar e perseguir o Mário, mas não
gostaria que lhe acontecesse o mesmo. Quando pensamos em pregar uma
partida ou assustar alguém, devemos primeiro pensar como nos sentiríamos se
nos fizessem o mesmo.
P. 31 do original
É importante saber perdoar: é uma prova de amizade e de solidariedade,
quando somos capazes de desculpar os erros dos nossos colegas,
principalmente quando eles admitem que erraram e se arrependem.

Queixarmo-nos quando alguém nos faz mal não é sermos queixinhas: o Mário
tinha receio de ser chamado “queixinhas”, mas, na verdade, não tinha motivos
para isso. Quando nos magoam, nos perseguem ou nos assustam, não é
errado fazer queixa a alguém que nos pode ajudar.
Fazer “queixinhas” é diferente, acontece quando queremos deixar os outros
ficar mal e não quando nos estamos a defender.
É um direito teu não deixares que te façam mal!

FIM

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