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MEDIÇÃO DE ATERRAMENTO: INSTRUMENTAÇÃO E TÉCNICAS DE MEDIÇÃO

Felipe Pereira Santos; José Guilherme da Mata Reis; Júlio Cesar da costa; Laís Soares Pantuzzo; Layla Saade
Tomé; Nelson Morais; Robert de Morais Francisco; Wagner Silva Teixeira;
Leonardo Henrique de Melo Leite – Prof. MSc (Orientador)
Centro Universitário de Belo Horizonte, Belo Horizonte, MG
felipesotnas@outlook.com; damattareis@hotmail.com;
julio3542@hotmail.com;laispantuzzo@hotmail.com;laylasaade12@hotmal.com;nelsongmfd@hotmail.com;robert.m
orais@gmail.com; wagner@enerview.com.br.

RESUMO: Este trabalho aborda a importância de se implementar o aterramento nas instalações elétricas. A importância de
realizar regularmente o acompanhamento do valor que a resistência de aterramento apresenta também é tratada no trabalho em
questão. São apresentados os princípios utilizados nos equipamentos destinados à medição da resistência de aterramento e as
diferentes técnicas de medição.
PALAVRAS-CHAVE: Resistência de aterramento. Técnicas de medição. Instrumentação.
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1 INTRODUÇÃO

Em toda instalação, seja residencial ou industrial, o aterramento é uma das regras básicas a serem seguidas para
se garantir a segurança, de forma a proteger as pessoas e o patrimônio contra uma falta (curto-circuito) na
instalação, além de oferecer um caminho seguro, controlado e de baixa impedância em direção a terra para as
correntes induzidas por descargas atmosféricas.

A ausência do eletrodo de aterramento pode ocasionar perigos reais para a vida das pessoas e colocar em risco
as instalações elétricas e os bens. Mas a existência do eletrodo, simplesmente, não é o bastante para garantir
uma segurança eficaz. È necessário que a eficácia do aterramento seja conferida por meio de inspeções e
medições realizadas com certa regularidade.

2 ATERRAMENTO ELÉTRICO

Segundo Filho (2002), o aterramento elétrico consiste em uma ligação elétrica proposital de um sistema físico
(elétrico, eletrônico ou corpos metálicos) ao solo. Esse se constitui, basicamente, de três componentes:

 As conexões elétricas que ligam um ponto do sistema de eletrodos;

 Eletrodos de aterramento (qualquer corpo metálico colocado no solo);

 Terra que envolve os eletrodos.

O aterramento permite, assim, conectar ao eletrodo de aterramento, por meio de um condutor, às massas
metálicas que podem se tornar acidentalmente vivas, após a ocorrência de falha na isolação de um equipamento
elétrico. Assim, essa corrente de falta não ocasionará perigo para os indivíduos, devido ao seu escoamento para à
terra.

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De acordo com Leite (1996), o objetivo mais amplo de um sistema de aterramento é o de se obter uma condição
de diferença de potencial zero entre os condutores de proteção dos equipamentos, as carcaças dos
equipamentos, os condutos metálicos e todas as demais massas condutoras da edificação. Para qualquer pessoa
dentro da edificação, mesmo se houver um aumento do potencial dos elementos mencionados em relação ao
potencial de terra, não haverá o risco de choque elétrico, uma vez que todos os elementos estarão referidos ao
mesmo potencial.

2.1TIPOS DE ELETRODOS DE ATERRAMENTO

A norma ABNT NBR 15749 define por eletrodo de aterramento o elemento ou conjunto de elementos do sistema
de aterramento que assegura o contato elétrico com o solo e dispersa a corrente de defeito, de retorno ou de
descarga atmosférica na terra. De acordo com as definições de Costa (2010), os eletrodos de aterramento podem
ser divididos em:

a) Eletrodos existentes (naturais): prédios com estruturas metálicas são normalmente fixados por meio de
longos parafusos a seus pés nas fundações de concreto. Esses parafusos engastados no concreto
servem como eletrodos, enquanto que a estrutura metálica funciona como condutor de aterramento. Esse
tipo de eletrodo é mostrado na figura 2.1.1.

b) Eletrodos fabricados: se constituem, normalmente, por hastes de aterramento. Quando o solo permite, é
mais satisfatório o uso de poucas hastes profundas do que muitas hastes curtas. Esse tipo de eletrodo é
mostrado na figura 2.1.2.

c) Eletrodos encapsulados em concreto: o concreto em contato com o solo é um meio semicondutor mais
eficiente que o solo propriamente dito. Dessa forma, a utilização dos próprios ferros da armadura da
edificação, colocados no interior do concreto das fundações, representa uma solução pronta e de ótimos
resultados. Esse tipo de eletrodo é mostrado na figura 2.1.3.

d) Outros eletrodos: quando o terreno é muito rochoso ou arenoso, o solo tende a ser muito seco e de alta
resistividade. Caso não seja viável o uso das fundações como eletrodo de aterramento, fitas metálicas ou
cabos enterrados são soluções adequadas técnica e economicamente. Esse tipo de eletrodo é mostrado
na figura 2.1.4.

Figura 2.1.1 – Eletrodos naturais Figura 2.1.2 – Eletrodo fabricado


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Figura 2.1.3 – Eletrodos encapsulados em concreto Figura 2.1.4– Outros eletrodos

2.2RESISTÊNCIA DE ATERRAMENTO

De acordo com Filho (2002), uma conexão à terra apresenta resistência, capacitância e indutância. Para
condições de baixa frequência, baixas correntes e valores de resistividade do solo não muito elevados, são
desprezíveis os efeitos capacitivos e de ionização do solo e esse se comporta praticamente como uma resistência
linear.

O termo adotado para designar a resistência oferecida à passagem de uma corrente elétrica para o solo através
de um aterramento é “resistência de aterramento” ou “resistência de terra”.

A quantificação do valor da resistência de aterramento pode ser traduzida através da relação entre o valor da
tensão resultante no eletrodo e o valor da corrente injetada no solo através dele.

3 INSTRUMENTAÇÃO PARA MEDIÇÃO DE RESISTÊNCIA DE ATERRAMENTO

O princípio básico de medição de resistência elétrica consiste em se fazer passar pelo correspondente resistor
uma intensidade de corrente elétrica conhecida, de forma a determinar a queda de tensão causada no resistor,
conforme explica Filho (2002).

A aplicação desse princípio pode ser efetuada de forma primária com o emprego de uma fonte de corrente, um
amperímetro e um voltímetro, ou mesmo por meio de instrumentos que forneçam a indicação direta do valor
medido em ohms. A estrutura básica desses instrumentos consta de:

 Uma fonte de potência capaz de fornecer a corrente mencionada na forma e valor adequados;

 Um sistema de medição composto de circuito amperimétrico (sensibilizado pela corrente que percorre o
resistor), de um circuito voltimétrico (sensibilizado pela queda de tensão no resistor) e dispositivos que
estabelecem a relação entre as grandezas sensibilizadas, fornecendo o valor da resistência;
 Filtros para eliminação de correntes e tensões espúrias, cuja função é evitar que qualquer corrente que
não aquela produzida pela fonte do instrumento afete os circuitos de medição.

A figura 3 esquematiza os componentes do instrumento em um diagrama funcional.

Figura 3 – Diagrama
funcional de um medidor de resistências
Fonte - FILHO, 2002, p.98.

3.1 ESTRUTURA BÁSICA DOS INSTRUMENTOS

3.1.1 FONTE DE POTÊNCIA

Um instrumento cujo uso mais frequente ocorre no campo deve ser provido de sua própria fonte de potência. Essa
apresenta a função de gerar uma corrente que percorre o solo e o circuito amperimétrico do instrumento,
sensibilizando-o e causando no solo uma queda de tensão adequada à sensibilização do circuito voltimétrico.

Usualmente, tal fonte constitui-se por um gerador eletromecânico a manivela ou por um circuito oscilador
eletrônico alimentado por pilhas ou baterias.

3.1.2 FILTROS DE ONDA

A finalidade de tais dispositivos é assegurar que apenas as correntes geradas na fonte do instrumento influenciem
na medição.

No solo podem estar presentes correntes e tensões espúrias. As correntes contínuas, de origem galvânica ou não,
assim como as correntes impulsivas, resultantes de fenômenos transitórios ou, ainda, aquelas correntes de alta
frequência provenientes de sistemas de comunicação são eliminadas dos circuitos do instrumento.
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3.1.3 SISTEMAS DE MEDIÇÃO

Esses sistemas fornecem uma indicação do valor da resistência ao estabelecer a relação entre a tensão e a
corrente no solo, que sensibilizam seus circuitos voltimétrico e amperimétrico.

Para executar essa função, esses sistemas devem apresentar dispositivos para:

 Ser sensibilizados pela corrente que circula pelo solo;

 Ser sensibilizados pela queda de tensão causada por essa corrente no solo;

 Estabelecer a razão entre a tensão e a corrente referidas.

A corrente é geralmente detectada no circuito amperimétrico por um transformador de corrente ou pela queda de
tensão em uma resistência de valor conhecido. A tensão é amostrada pelos dois terminais do circuito voltimétrico.
A alta impedância do circuito voltimétrico determina o valor muito reduzido para a corrente que o percorre,
minimizando, assim, as quedas de tensão nos cabos e contato desse circuito.

3.2 PRINCÍPIOS MAIS COMUNS DE IMPLEMENTAÇÃO NOS INSTRUMENTOS COMERCIAIS

3.2.1 EMPREGO DE INSTRUMENTO DO TIPO QUOCIENTÍMETRO

Segundo Filho (2002), o instrumento quocientímetro é um aparelho de bobinas cruzadas, cuja deflexão do ponteiro
é função da relação entre as correntes que percorrem as bobinas amperimétrica e voltimétrica.

Nesse tipo de aplicação, o circuito amperimétrico do instrumento alimenta uma das bobinas com uma corrente
proporcional àquela que o instrumento faz circular pelo solo. A outra bobina do instrumento é percorrida por uma
corrente Iv, proporcional à queda de tensão causada no solo pela corrente do instrumento. Essa corrente Iv é igual
a Vsolo/Rv, onde o primeiro termo é a queda de tensão detectada no solo pelos terminais do circuito voltimétrico, e
Rv é a resistência interna colocada em série com a bobina nesse circuito. Tal medidor é representado na figura
3.2.1.

Figura 3.2.1 – Medidor tipo quocientímetro


Fonte - FILHO, 2002, p.109.
3.2.2 COMPARAÇÃO PELO MÉTODO DE ZERO

Por este princípio a queda de tensão na terra é comparada, por meio de um galvanômetro de bobina móvel ligado
a um circuito retificador, com uma queda de tensão de valor ajustável, graduado em uma escala, conforme explica
Filho (2002). Se as duas tensões forem diferentes, ocorre a passagem de corrente pelo galvanômetro e esse
deflete. Assim, o operador deve atuar no ajuste para alcançar uma queda de tensão equivalente àquela do solo, o
que é indicado quando o galvanômetro tem deflexão nula. Duas são as implementações mais práticas para esse
princípio:

 Comparação direta com a queda de tensão em resistências situadas no circuito amperimétrico;

 Comparação com a queda de tensão em resistências localizadas no secundário de um transformador de


corrente com primário no circuito amperimétrico.

A figura 3.2.2 ilustra esse princípio de funcionamento.

Figura 3.2.2 – Medidor com o princípio de comparação de zero


Fonte - FILHO, 2002, p.111.

3.2.3 TERRÔMETRO

O terrômetro é o aparelho que mede o quanto o aterramento está sendo realmente eficiente, percebendo através
de seus sensores se a terra tem resistência suficiente para ter um aterramento de pequeno ou grande porte como
no caso de empresas e indústrias.

Figura 3.2.3 – Terrômetro


Fonte – Site www.cimm.com.br
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4 TÉCNICAS DE MEDIÇÃO DE RESISTÊNCIA DE ATERRAMENTO

Como esclarece Filho (2002), em medições de resistência de “terra” deve ser utilizada corrente alternada, para
que não ocorra interferência dos efeitos galvânicos no solo na detecção da queda de tensão resistiva.

A resistência de aterramento pode ser obtida indiretamente por RT=V/I. A única diferença em relação aos
instrumentos de medição de resistência de “terra” consiste no fato destes fornecerem diretamente o valor da

resistência, já estabelecendo a relação entre as grandezas tensão e corrente .

Em todas as aplicações de medições, é recomendado que o sistema a ser medido se encontre desenergizado,
afim de priorizar a segurança. Além disso, recomenda-se a realização das medições quando o solo encontra-se
seco, pois nesse caso a resistência de aterramento terá possivelmente seu valor critico.

4.1 MÉTODO DA QUEDA DE POTENCIAL

Este método é recomendado para medições por meio de equipamentos específicos, por exemplo, o terrômetro.
Para a implementação de tal método, estabelece-se uma tensão entre o sistema de aterramento representado
pelos eletrodos X e o eletrodo de corrente C. Isso resulta no fluxo de uma corrente IT entre os eletrodos. Tal
corrente causa uma queda de potencial no solo e parte dessa queda é detectada pelo voltímetro através da haste
sonda P. Ao se deslocar o eletrodo de potencial entre X e C, registrando-se cada ponto a indicação do voltímetro,
obtém o perfil do potencial entre os dois eletrodos. Estabelecendo-se a razão entre a queda de tensão detectada e
a corrente que flui entre os eletrodos, obtém-se o valor da resistência. O referido método é mostrado na figura
4.1.a.

Figura 4.1.a – Montagem do método de medição da queda de potencial


Fonte - FILHO, 2002, p.73.

Identifica-se na curva o valor da resistência do aterramento como a resistência correspondente á região do


patamar de potêncial, onde se localiza a “terra remoto”, conforme indicado na figura 4.1.b.
Figura 4.1.b – Perfil de potencial
Fonte - FILHO, 2002, p.75.

Esse é o método de medição mais empregado, o que se deve primordialmente a dois fatores: sua exatidão, e,
principalmente, ao fato de ele permitir uma avaliação da consistência dos seus resultados, pois é possível notar
imediatamente a concordância ou discordância dos valores de uma medição. A exatidão é decorrente de
praticamente não haver queda de tensão nos condutores do circuito voltimétrico, pois a corrente que percorre o
circuito é desprezível e a resistência interna do circuito é muito elevada e se compara aquela dos condutores de
ligação e do aterramento do eletrodo sonda.

4.2 MÉTODO DIRETO

Em locais onde existir uma conexão à terra cujo valo de resistência seja desprezível, este método pode ser
empregado, por exemplo, em uma rede hidráulica de tubos metálicos.O referido método é apresentado na figura
4.2.

Figura 4.2 – Montagem para medição pelo método direto


Fonte - FILHO, 2002, p.79.

Para se adequadamente empregado, devem satisfazer três condições:


 a conexão à terra usada deve ser suficientemente extensa para apresentar valor de resistência de
aterramento desprezivel;
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 o sistema usado deve ser todo metálico, sem acoplamento isolante, que restrinja, sua continuidade
elétrica;

 o sistema de aterramento sob teste deve estar a uma distância razoável dos componentes do aterramento
usado como referência para estar fora de sua esfera de influncia, o quem nem sempre é possiível
confirmar.

O maior emprego desse método ocorre em locais onde é difícil o uso de hastes de prova, e particularmente,
quando o teste destina-se simplesmente a verificar a existência ou não de um ponto de aterramento.

4.3 MÉTODO DO TRIÂNGULO (MÉTODO DO KOLRAUSCH)

O processo consiste em fincar duas hastes no solo formando, com o aterramento sob teste, a figura
aproximadamente de um triângulo equilátero de lados iguais a aproximadamente 30 metros, conforme indicado na
figura 4.3.

Figura 4.3 – Montagem para medição pelo método do triângulo


Fonte - FILHO, 2002, p.80.

É efetuada uma leitura para cada dois eletrodos. Observa-se que a resistência medida, em cada caso,
corresponde à soma das resistências de aterramento dos dois eletrodos enterrados. Somando-se as resistências
medidas, que incluem o aterramento sob teste, e desta soma subtraindo-se as resistências dos eletrodos
auxiliares, obtém-se o dobro do valor da resitência do aterramento X.

Apesar do método ser aparentemente simples, sua aplicação é muito restrita, por dificuldades de implementar a
geometria requirida nas condições de aplicação, sendo hoje considerado ultrapassado.
5 CONCLUSÃO

A partir do tema tratado neste trabalho, foi possível concluir que o aterramento tem papel fundamental nas
instalações elétricas, uma vez que ele é capaz de proteger equipamentos e pessoas contra correntes indesejadas.

Sendo assim, manter a integridade do sistema de aterramento deve ser ação prioritária para que seja garantida a
eficácia da sua função. Para isso, os métodos de medição e os princípios dos instrumentos apresentados ao longo
desse trabalho devem ser utilizados. Uma vez que existem diferentes métodos e instrumentos, deve-se avaliar
qual é o mais indicado para a aplicação desejada.

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REFERÊNCIAS

ABNT - NBR 15749: Medição de resistência de aterramento e de potenciais na superfície do solo em sistemas de aterramento.
Rio de Janeiro, agosto 2009.

COSTA, Paulo Fernandes; Aterramentos Elétrico. 1.ª ed. Rev São Paulo. : Ed. Artliber, 2002. 159 p.

Filho, Silvério Visacro; Aterramento Elétrico. 1.ª ed. Rev São Paulo. 2010. 38 p.

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