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E STA D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 4 D E M A R Ç O D E 2 0 1 2

FEMININO& MASCULINO 5

LÁ&CÁ
❚ PERFIL
Luciana Crivellari Dulci, da Universidade Federal de Ouro
Preto, fez doutorado e mestrado tendo a moda como tema

OLHAR SOCIAL
LILIAN MONTEIRO
>>f e m i n i n o . e m @ u a i . c o m . b r

Burle Marx
ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS

e H. Stern
Depois da
exposição
Joias de
Minas, a H.
Stern

H.STERN/DIVULGAÇÃO
apresenta a
coleção
Roberto Burle
Marx por H.
Stern em Belo
Horizonte,
inspirada nos
desenhos do
multiartista
brasileiro, que
ficou conhecido pelos projetos para jardins, mas foi um
incrível designer de joias. O lançamento é dia 13, na galeria
CMafra, espaço cultural de Cícero Mafra. Vão ser exibidas 26
novas peças, divididas em cinco linhas. Há brincos, colares,
anéis e pulseiras de ouro amarelo, ouro branco, diamantes
em diversos tons e granadas vermelho-fogo. Por quase 20
anos, a partir de 1948, Burle Marx criou cerca de 2 mil joias,
usando giz colorido sobre papel-cartão preto. Eram
desenhos que ele numerava e assinava. Em 2006, a H. Stern
adquiriu o direito sobre as criações, que, agora, são
reinterpretadas pelos designers da joalheria.

Graça sedutora
Longe das passarelas, mas com a
verve criadora de sempre e o talento
para fazer peças-desejo, Graça Ottoni
lançou na última quarta-feira, na loja
de Lourdes, a coleção inverno’2012,
desenvolvida em parceria com a
também estilista Ana Sudano. As
roupas exaltam a sedução nas
PAULO RAIC/DIVULGAÇÃO

transparências sem esquecer da


mulher chique e despojada em
bordados ton-sur-ton, renda guipure
sobreposta no linho com lurex e
patchworks em pretos variados. Foi
inaugurado ainda, no andar abaixo da
loja, um “jardim mineiro”, com
projeto do designer e paisagista
Marcos Ferreira.

Inverno da Alphorria ZEE NUNES/DIVULGAÇÃO

Com styling de Pedro


Sales e direção de Zee
Nunes, a Alphorria
lança sua campanha de
inverno’ 2012 com foco
na mulher sensual e
feminina. As estampas
são o ponto alto e os
shapes têm
modelagens que
LILIAN MONTEIRO ciana nasceu em Salvador e veio vão ao encontro da quase per- tável para encarar o transporte acentuam as formas
geométricas. Atenção

C
para Belo Horizonte aos 9 anos, feição estética”. público e próprios para trabalhos
riança, ela era apaixona- onde fez sua formação na Univer- O doutorado de Luciana foi mais pesados. Elas não lêem re- para os detalhes em
da por moda e uma so- sidade Federal de Minas Gerais uma evolução sua sobre a reflexão vistas de moda e a referência são recortes com
cióloga empírica da vi- (UFMG). A escolha acadêmica aca- de que “hoje em dia não há mais as atrizes de TV, novelas, moças transparências,
da. Sempre observado- bou sendo natural. Ela faz pesqui- uma explicação de moda como das propagandas e as vitrines” . bordados geométricos
ra de como as pessoas sa desde a graduação, sempre bus- existiaatéosanos1950.Apartirdos e a mistura de chifon e cetim com acabamento plissado. Já o
se vestiam e se ornamentavam. A cando entender a sociedade brasi- movimentossociaisdosanos1960, ELITE Tanto é que “uma persona- conceito jovem e cool é exaltado na Alphorria Cult, que tem
partir da imagem, adorava pensar leira. A primeira incursão moda a moda passa a ter outras referên- gem caricata pode ser moda”. o Safari Chic com toques étnicos. O animal print reina.
sobre a vida de cada uma a partir versus sociologia foi com o mes- cias de vestir incorporando estilos Como ocorreu com a Jade, da no- Daniel Hernandes assina a beleza e Tharine Garcia é a top.
das roupas e adereços. Os anos se trado concluído em 2004 com o tí- de grupos sociais como hippies, vela O clone, interpretada por
passaram e Luciana Crivellari Dul- tulo “Moda e cinema no Brasil dos punks e o boho chic. Agora, as pes- Giovanna Antonelli que fez a
ci, apesar de graduada em admi-
nistração de empresas, se desco-
anos 1950: Eliana e o tipo moci-
nha nas chanchadas cariocas”.
soas saem às ruas e tudo vira mo-
da dependendo do grupo a que se
maquiagem, tecidos e acessórios
usados em cena virarem uma fe-
Pintura em
briu atuando nas áreas de sociolo- Eliana Macedo era filha de diretor deseja pertencer”. A mudança, ex- bre no Brasil. Detalhe: as referên- porcelana
gia da cultura, metodologia de e assumiu o lugar de uma atriz plica a professora, é por causa da cias vinham da cultura e da tra-
pesquisa e produção do conheci- que faltou. Ficou no cargo por 20 “velocidade do mundo, da exigên- dição do Marrocos. A imagem Verona Simão é
mento científico e educação. Para anos encarnando um persona- cia da sociedade e da necessidade que se tornou moda para a essa formada em
PEDRO MOTTA/ESP. EM

unir seus dois maiores interesses, gem da vida real. Havia uma su- da moda pelo novo. O problema é classe não estava nas passarelas pedagogia, mas
ela conseguiu, por meio do mes- perposição entre o que ela repre- que criação demanda tempo, daí do circuito Nova York–Lon- depois de vários
trado e, em seguida, do doutora- sentava e era, isso no fim dos anos as épocas revisitadas”. A década de dres–Milão–Paris ou São Paulo cursos de pintura
do, fazer uma análise social da 1940, com auge na década de 1960 é um marco porque a moda Fashion Week. Para Luciana, o em porcelana em
moda. Seus estudos procuram 1950: “Quis mostrar como um deixoudeser“hierárquica,vertical público que analisou, se pensar- Belo Horizonte e
dissecar como esses dois mundos personagem bem trabalhado no (de cima para baixo), para ser di- mos nas redes de fast fashion, Buenos Aires,
interagem entre si e o papel da cinema tinha o poder de influen- fundida de forma horizontal. E a “compra o fim da cadeia, ou seja, decidiu dar aulas
roupa nas relações sociais. ciar a moda, principalmente por explicaçãoéapluralidadedevárias consome moda sem saber que de arte em sua
Luciana poderia ter estudado ser uma tipificação do que ela era tribos coexistindo”. está consumindo, já que não tem casa num
moda e comunicação ou moda e no seu cotidiano. As pessoas bus- Concluída em 2009, o título da informação”. Ela explica ainda condomínio da
literatura,masbuscouaanáliseso- cam essa identificação. É o que tese de Luciana, “Da moda às mo- que outro comportamento inte- capital. Envolvida com a técnica há 18 anos, ministra aulas
cial ao perceber que a “importân- ocorre hoje com a televisão”. Elia- das no vestuário: entre a teoria ressante é que “existe mais a elite (com duração de três horas) num ambiente descontraído,
cia da moda como expressão cul- na era a típica boa moça, “modelo hierárquica e o pluralismo, pelo olhando para essa classe do que o com interação entre as alunas, que ressaltam os encontros
tural era pouco estudada e as pes- aceito como o ideal para a mulher olhar da consumidora popular contrário”. Aliás, ela passa a ser como terapêuticos, ensinando as mais modernas técnicas
soas não a levam tão a sério. Ainda dos anos 1950. Quem fugia à regra em Belo Horizonte”, a levou a in- um fonte de ideias que são aper- em pintura. As aulas começam nesta terça-feira, das 14h às
que desde o início do século 20 era contra a moda”. dagações do tipo: como a classe feiçoadas pelo talento dos criado- 17h e das 19h às 22h. As turmas das quartas já estão cheias,
haja pesquisas de historiadores e popular usa moda? Como a mo- res de moda, posteriormente. por isso ela decidiu abrir outras na segunda, das 14h às 17hs,
sociólogos a respeito. No entanto, REVISITAR A partir dessa análise, da chega até ela? Ela sabe o que é Apaixonada por moda, Lucia- e na quinta, das 14h às 17h. Vagas limitadas.
eram sempre pontuais. Diferente Luciana respondeu uma indaga- moda e o que está fora de moda? na fez os primeiros croquis aos 8 Contato:verona.simao@gmail.com.
da postura que têm diante da aná- ção recorrente: a moda permite a Como ela consome? Qual a moti- anos, ainda que não seja uma de-
lise da pobreza ou do desemprego, individualização? “Na verdade, vação? Tem significado? Para res- signer de moda. Seu completo
considerados “temas sérios” com- quando se fala em moda sempre ponder, ela foi a campo na Aveni- interesse está no estudo da mo- Vídeos no Sá Maria
parado aumaáreaencarada como se envolve a ideia de grupo. E mo- da Paraná, Centro da capital, en- da. Para aqueles que ainda insis-
‘perfumaria’”. Visão que, para a da quer dizer reinvenção periódi- trevistar somente mulheres. O re- tem em observar o tema como O site A Casa da Sá Maria, criado por Carolina Machado e
professora, mudou há pouco tem- ca dos estilos de vestir. Numa sultado? “O que chega para essas só futilidade, ela lembra que Eduardo Drummond, é para a mulher que compartilha
po, quando o Brasil “passou a ter análise estética com associação mulheres é outra moda, não é a “historicamente todos os grupos informações de qualidade: saúde, moda, beleza e
escola superior de design de moda do corte, modelagem e caimen- da elite, da classe média ou de tri- sociais sempre se caracterizaram comportamento. O conteúdo também tem foco na família.
(antes era só tecnólogos), ou seja, to, vamos perceber que a moda bos como a galera da música ou também pelas suas vestimentas, Nele, profissionais e cidadãos comuns falam e discutem
há uns 15 anos”. nos leva de volta às décadas de da dança. Elas consomem um que é uma das principais expres- sobre diversos temas. O legal é que o site é todo produzido
De uma família de intelectuais 1920, 1950, 1960 e 1970, sempre vestuário simples e simplificado sões culturais. Como dizer que em vídeos, especialmente realizados para o Sá Maria.
e professores universitários, Lu- revisitadas porque, acredito, que possam repetir mais, confor- ela não é importante?” Acessem: www.samaria.net.br.

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