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16 Geologia do Brasil
AS ESFERAS TERRESTRES SE RECICLAM 1
Figura 1. Topografia e batimetria externas da Terra. A imagem exibe depressões marinhas e extensas cadeias montanhosas, continentais e
oceânicas. As plataformas continentais estão nas partes brancas. O relevo brasileiro apresenta variação de elevações, mas em geral apresenta
cotas baixas e médias, menores que as das grandes cordilheiras espalhadas nas zonas ativas do globo. (Newman 2007. Disponível em:
<http://geophysics.eas.gatech.edu/people/anewman/classes/geodynamics/misc/>)
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Pedosfera: é a esfera formada pelos solos e materiais
de alteração das rochas. Corresponde à parte superficial da
crosta, formada pela interação das rochas com o ar, a água
e os seres vivos. Na pedosfera o deslocamento de partí-
culas, íons dissolvidos e gases cria um ambiente rico em
nutrientes para plantas e animais. No topo da pedosfera,
onde a interação é mais intensa, forma-se o solo. A vida e
a morte de organismos são essenciais para a formação do
solo, que constitui a base da vida terrestre.
RECICLAGEM PERMANENTE:
CICLO DAS ROCHAS
dependendo das condições climáticas, de distribuição da grandes volumes de argilas, siltes e areias todos os anos.
vida e das formas de relevo, acima citadas, há predomínio Rios com grande volume de água e alta declividade pos-
de modificações físicas, químicas ou bioquímicas. suem grande capacidade de transporte e movimentam
A rocha, quando passa por processos intempéricos, partículas sedimentares de todos os tamanhos. Em tre-
forma camadas de materiais desagregados onde se formam chos onde a declividade diminui, a velocidade das águas
os solos, processo que recebe o nome de pedogênese. O se reduz na mesma medida. Mesmo que o volume de água
material solto torna possível desenvolver-se a vida de seja grande, a diminuição da velocidade reduz a compe-
plantas e pequenos animais, que por sua vez contribuem tência do fluxo e uma fração das partículas acaba sendo
para a decomposição ao formar o húmus. A moderna depositada.
preocupação com a sustentabilidade da Terra levou as O gelo é outro agente de erosão que promove des-
Geociênciasa migrar do conceito de solos como “materiais gaste nas rochas. Na erosão glacial, quando a capa de gelo
inertes e inconsolidados” utilizados na engenharia para a é espessa, o movimento da geleira remove todo o material
ideia dinâmica dos solos como a “pele viva do planeta”, ou mole (solos ou sedimentos) do caminho. Os fragmentos
“pedosfera”. Essa visão, mais próxima da dos ecologistas riscam a superfície das rochas subjacentes, e realiza-se
(Warshall 2000), reúne ainda as ideias de fertilidade, resis- portanto uma “raspagem” superficial. O poder destrutivo
tência à erosão e suporte físico, tão importantes para uma do gelo não pode ser comparado a qualquer outro agente
agricultura sustentável. Nessa concepção focalizam-se os superficial. Por outro lado, na maior parte da história da
quatro componentes do solo: (a) materiais inorgânicos re- Terra, os registros indicam que as áreas cobertas por ge-
sultantes do intemperismo dos minerais; (b) gases proce- leiras são restritas (como se observa no presente). O vento,
dentes da atmosfera e da atividade química e biológica do por sua vez, é capaz de selecionar cuidadosamente os se-
solo; (c) líquidos na forma de soluções que participam de dimentos e ao mesmo tempo remover partes menos resis-
todos os processos; (d) materiais orgânicos representados tentes da superfície das rochas, sobretudo em desertos e
por seres vivos e matéria orgânica morta. Além da matéria em zonas litorâneas. Onde a velocidade dos ventos é alta e
orgânica, cuja presença pode ser extremamente variável, o fluxo, relativamente contínuo, formam-se dunas e outras
deve-se levar em conta os gases e líquidos que compõem feições características.
o solo, essenciais para sustentação da vida. O húmus nos A sedimentação é o processo de acumulação dos se-
solos, além de representar nutrientes armazenados de dimentos em depressões, chamadas bacias sedimentares,
modo seguro para sustentar a vida, é também um modo de onde, dependendo das condições e da profundidade a que
reter carbono na forma de moléculas complexas e de evitar são submetidos, o peso dos sedimentos acumulados e a
seu retorno à atmosfera como um dos principais gases- movimentação de fluidos provocam compactação e cimen-
-estufa. Quanto maior a quantidade de húmus, menor o tação dos materiais. A transformação de um sedimento
risco de aquecimento global (Warshall 2000). em rocha sedimentar é chamada diagênese. Os sedimentos
A cadeia de processos de intemperismo pode atuar dividem-se em três categorias gerais: detríticos, químicos
sobre qualquer rocha (ígnea, metamórfica, sedimentar) ex- e orgânicos. O fato de ter havido deslocamento é comum a
posta à superfície da Terra. O intemperismo faz com que as todo tipo de sedimento, independentemente do tamanho
rochas percam a coesão, fator que facilita o papel da erosão das partículas envolvidas ou do agente de transporte: uma
em promover desgaste desses materiais e seu transporte. enxurrada, água do mar, água do rio, vento ou gelo.
Ao se deslocar, as partículas recebem o nome de se- Sedimentos detríticos são “fragmentos” mecanica-
dimentos. Estes são transportados e depositados em depres- mente removidos e transportados, formados a partir da
sões do relevo ou levados até o fundo do mar. O principal erosão de rochas, cujas partículas são lentamente divididas
agente de erosão é a água líquida, na forma de chuvas, rios e desmembradas pelos processos intempéricos (ação de
e córregos que denudam os continentes. Na superfície da águas e do calor ambiente) e depois transportadas.
Terra, o impacto das gotas de chuva com o solo desprote- Os sedimentos químicos são formados a partir da
gido dá início ao processo de erosão. Os movimentos de precipitação de certos compostos especiais. Calcários, por
massa são deslocamentos de grandes volumes de materiais, exemplo, formam-se a partir da precipitação de carbonato de
por efeito gravitacional. Outro tipo de deslocamento de cálcio contido na água dos mares, por influência ou não de
encosta refere-se aos movimentos de partículas isoladas, seres vivos, sendo portanto sedimentos químicos. O Brasil é
levadas pela água da chuva e pelas enxurradas. Nos canais rico em zonas onde predominam rochas calcárias antigas, no
de rios, cujo tamanho depende do gradiente de inclinação interior das quais formaram-se as inúmeras – e belíssimas –
e do volume de água disponível, movimentam-se sedi- cavernas. Em locais onde as águas continentais são muito
mentos, muitas vezes sob grande turbulência. ricas em carbonatos, podem acontecer precipitações, como
A capacidade de transporte dos rios pode ser muito os calcários dolomíticos da Bacia do Paraná aproveitados
grande, como é o caso do Amazonas, que leva até o mar em pedreiras da região de Rio Claro-Limeira (SP).
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Outro tipo de sedimentos químicos são os evapo- original e sua composição mineralógica; as principais
ritos, rochas formadas em ambientes restritos, nos quais transformações são a recristalização de minerais e/ou a
progressivamente os sais solubilizados se enriquecem na formação de novos minerais e deformações na estrutura
água restante, uma vez que uma parte dela se evapora. das rochas (dobras, foliação, lineação etc.).
Sabe-se que, durante a evaporação, apenas as moléculas Tomemos, por exemplo, um sedimento argiloso. O
de água são removidas do sistema e transferidas para a argilito, ou folhelho, é a rocha resultante da compactação
atmosfera, deixando de carregar os materiais dissolvidos. desse tipo de sedimento. O metamorfismo progressivo do
Estes acabam por se precipitar na base do corpo de água, folhelho envolve transformações, no estado sólido, que
dependendo de fatores como pressão, temperatura, so- podem formar, dependendo das condições de calor, pressão
lubilidade relativa dos sais, entre outros. Experimentos e presença de fluidos, uma sucessão determinada de rochas,
com a evaporação da água do mar revelam que, quando que são: ardósia, filito, xisto e gnaisse. Se as condições de
o volume de água cai aproximadamente para a metade, o metamorfismo forem muito intensas, as rochas podem se
carbonato de cálcio é precipitado; quando o volume de fundir, parcial ou totalmente, e gerar magmas. Estes, ao
água cai para aproximadamente 1/5, o sulfato de cálcio se solidificar, dão origem a novas rochas ígneas. Somente
se deposita até que o volume se reduza ainda mais. rochas que tenham atingido alta temperatura, equivalente
O cloreto de sódio, juntamente com o sulfato de mag- à dos gnaisses, podem atingir condições extremas, capazes
nésio e o cloreto de magnésio começam a se formar de realizar a fusão parcial ou total do material. O magma
quando o volume se reduz a 1/10 do volume inicial. assim formado, se for resfriado lentamente, dará origem a
Embora no Brasil extensos depósitos de evaporitos sejam uma rocha plutônica; caso contrário, se extravasar na su-
encontrados ao longo de bacias da margem continental, perfície da Terra, formará uma rocha vulcânica.
são relativamente poucas as ocorrências desse grupo de Raríssimas vezes, sob condições naturais, um sedi-
rochas marinhas entre Santa Catarina e Pernambuco. Em mento pode ser transformado, repentinamente, em ma-
ambientes áridos, sob certas condições restritas, também terial fundido. Quando ocorre o impacto de um corpo
podem ser formados evaporitos. celeste de grande porte, pode haver fusão instantânea de
Finalmente, os depósitos orgânicos são formados rochas e materiais nas proximidades da área impactada,
essencialmente pelos restos de plantas e animais cuja mas o fenômeno tem distribuição extremamente limitada
matéria orgânica é levada pelos agentes de transporte e na Terra. Quando ocorre intrusão de uma grande massa
depositada no fundo de lagos, rios ou mares. As mais co- ígnea (magma), pode haver nos arredores da intrusão
muns são a turfa, o betume e os restos de seres marinhos a fusão parcial do material adjacente. Mesmo sob tais
formadores do petróleo. A turfa, o carvão, o petróleo e o condições extremas, um eventual sedimento acabaria por
gás natural são os produtos dessa longa cadeia de trans- sofrer algum tipo de metamorfismo. As condições que
formações. determinam fusão de material durante o metamorfismo
Além das rochas sedimentares, existem outros dois progressivo são o aumento de temperatura, a diminuição
grandes grupos: as rochas ígneas, ou magmáticas, e as me- de pressão ou a introdução de água no sistema, que re-
tamórficas. A distinção entre elas é feita de acordo com baixa o ponto de fusão de diversos minerais silicáticos.
os processos geradores. Entretanto, variações nas condi- O magma é um líquido parcial ou totalmente fundido, de
ções de formação de rochas com mesma origem genética alta temperatura, em torno de 700°C a 1.200°C, prove-
podem resultar em diversos tipos de rochas em cada grupo. niente do interior da Terra e resultante do aquecimento e
Quando as placas litosféricas se movimentam ao da fusão de rochas a altas temperaturas, em determinadas
longo do tempo, as rochas podem ser levadas a ambientes condições e locais da litosfera ou astenosfera. Muitas vezes
muito diferentes daqueles sob os quais se formaram. o magma carrega consigo metais valiosos e, portanto, ja-
Rochas enterradas a grandes profundidades e submetidas zidas de vários metais como ouro, platina, cobre e estanho
ao calor interno da Terra e a pressões dirigidas desen- podem associar-se a corpos de rochas ígneas.
volvem reorientação dos minerais, em um processo deno- As rochas ígneas originam-se a partir do resfria-
minado metamorfismo. Qualquer rocha submetida a altas mento de magmas. O tamanho dos cristais geralmente é
pressões e temperaturas e à percolação de fluidos sofre proporcional ao tempo de resfriamento: quanto mais lenta
transformações dos minerais constituintes, além ter sua a cristalização, maiores os tamanhos dos cristais formados
estrutura modificada. Rochas metamórficas são formadas (Fig. 3). O magma pode migrar dos locais onde se originou
por transformações na mineralogia, química e estrutura de para regiões da crosta terrestre onde a pressão seja menor,
rochas já existentes, devido a mudanças nos parâmetros alojando-se como intrusão magmática. Existem três tipos
físicos (principalmente pressão e temperatura) e químicos, comuns de rochas ígneas: plutônicas ou intrusivas, sub-
diferentes das condições diagenéticas. As rochas resul- vulcânicas ou intrusivas rasas e vulcânicas ou extrusivas.
tantes do metamorfismo dependem do tipo de material Uma intrusão pode variar em tamanho e forma; quando
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