O estudo da historiografia da Literatura Brasileira e a sua importância
para uma construção de caráter cultural e identitário
A Literatura Brasileira pode ser entendida como uma das possíveis
fontes de acesso aos registros que se têm das formas de organização social que permeavam o país de acordo com os seus textos. Desta forma, é imprescindível que o leitor tenha acesso a estes textos para que possa conhecer a história da formação sociocultural de seu povo, sendo assegurado o direito de participar da vida artística de seu país e o dever de preservar estas obras para a futura replicabilidade dos conhecimentos sedimentados pela sociedade ao longo da História.
Estudar os poetas árcades de meados do século XVIII pode auxiliar o
leitor brasileiro a compreender melhor a organização da chamada Inconfidência Mineira, movimento que prezava por uma maior autonomia do Estado de Minas Gerais sobre as amarras portuguesas, sendo este um dos eventos marcantes que levou o país a conquistar a derradeira independência política mais à frente.
No movimento literário que sucede o Arcadismo, temos o Romantismo
como sendo contemporâneo à Independência do Brasil, no século XIX. É importante que o leitor brasileiro tenha acesso às produções deste período, uma vez que a grande preocupação de seus escritores, principalmente durante a Primeira Geração Romântica, era a de criar uma identidade única para o país, que tentava se desvincular completamente do domínio colonial português. Para tanto, o nacionalismo era presente em poemas como “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, onde a natureza brasileira é descrita como algo sem igual e que motiva saudades. Uma tendência dos românticos era a de recorrer à Idade Média e resgatar e glamourizar a figura dos cavaleiros, vistos como nobres heróis. O Brasil, destituído de uma “Idade Média”, recorre à figura do índio enquanto herói, lançando-se assim a tendência dos romances e poemas épicos indianistas, como é o caso de “O Guarani”, de José de Alencar, e “I-Juca Pirama”, também de Gonçalves Dias.
Apesar do grande desejo de desvinculação com Portugal, o Brasil ainda
bebeu muito em fontes europeias mesmo após a sua emancipação política. Foi somente a partir da década de 1920, com a chamada Semana de Arte Moderna, que instaura o movimento modernista no país, que de fato vemos uma ação agressiva de escritores, poetas e artistas de estabelecerem uma linguagem puramente brasileira que seria utilizada em sua literatura. É importante que se saiba a história do Modernismo para que se tenha conhecimento de como os produtores de literatura do nosso país fizeram movimentos mais ousados para enfim estabelecer a identidade cultural de nosso país, como é o caso de obras como “Macunaíma”, de Mário de Andrade, “Vidas secas”, de Graciliano Ramos, e “Grande sertão: veredas”, de João Guimarães Rosa, todas obras extremamente emblemáticas que tinham o objetivo de retratar a realidade do país e quem é de fato o Brasil.
Estudar a literatura brasileira vai além de estudar somente a estética
proposta pelos artistas que mediaram as escolas literárias ao longo da história. É reconhecer a trajetória da formação identitária de nosso país, traçar paralelos do que é recorrente ao longo destes últimos 522 anos e, sobretudo, pensar em maneiras de atravessarmos esta realidade, de transformá-la a partir do que acreditamos não estar de acordo com as necessidades de nosso povo. A literatura, enquanto um instrumento de formação crítica e de apreensão do mundo, nos ajuda a não somente identificá-lo, mas nos oferece meios de problematiza-lo, atuar nele e modifica-lo.