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EXPRESSÃO E DISTINÇÃO:

OS PARDOS NO ROSÁRIO DO ALTO DA CRUZ DE


VILA RICA, 1737-1829
Andressa Antunes

andressaantunes2@gmail.com

Situada no topo da ladeira, hoje conhecida como de LOCAIS DE MORADIA MAIS INDICADOS PELOS IRMÃOS, INSRAC
Santa Efigênia, a capela que tem em sua fachada uma

grande imagem da Senhora do Rosário abrigou uma

irmandade que se consitutiu com imponência e

envolvida em conflitos, ao longo do século XVIII.

Apesar da data de fundação ser incerta, estima-se

que foi estabelecida em Compromisso na década de

1710, o que conferiu prestígio entre as demais

confrarias pela antiguidade. Esta Irmandade, já em

seu estatuto de fundação, estabeleceu ampla

aceitação de indivíduos de qualquer condição,

qualidade e gênero. A maioria de irmãos livres,

entres mestiços e negros (africanos e crioulos) e do

sexo feminino, bem como seus locais de moradia nas

imediações na capela, contribuíram para a trajetória

de disputas externas e internas desta confraria.

No Livro de Entrada de Irmãos (1737-1829), dedicado


Fonte: Abecedário de Irmãos (1770-1810) AEPAD, Ouro Preto.
inicialmente ao assento dos irmãos brancos no

Rosário do Alto da Cruz, contabilizamos também OCUPAÇÃO ÉTNICA DOS CARGOS DA MESA E JUIZADOS
registros de pretos, crioulos e, especialmente, pardos.

Esta fonte chama atenção por conter não só os

pagamentos das taxas de entradas e anuais -

obrigatórias - mas também o investimento de grande

parte desses irmãos nas festividades dos santos

anexos e em outros momentos solenes. Os juizados

de santo por devoção se popularizaram na segunda

metade de XVIII "em função da diminuição das

rendas", como forma de as Irmandades angarariarem

fundos para as festas e fábrica da igreja. Notamos a

preferência dos irmãos e irmãs registrados como

pardos nos juizados por devoção à Santa Efigênia, a

despeito de Nossa Senhora.

É possível que esses irmãos pardos, interessados em

participarem das decisões desta confraria, tivessem

visto em Santa Efigênia uma possibilidade de

distinção social ao se aproximarem de irmãos

brancos e notáveis no interior do Rosário do Alto da


Fonte: Livro de Entrada de Irmãos (1737-1829), AEPAD, Casa dos Contos.

Cruz: ressaltamos os registros de Thomás Antônio

Gonzaga e Claudio Manoel da Costa, assentados em REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


AGUIAR, Marcos Magalhães. Vila Rica dos Confrades. 356 f. Dissertação (Mestrado em
1789, no Livro de Entrada de Irmãos (1737-1829).
História) – Universidade de São Paulo, Programa de Pós-Graduação em História Social, São

Considerando o contexto da política Pombalina, e da Paulo, 1993.

OLIVEIRA, Anderson José Machado de. Devoção e identidades: significados do culto de

relação dúbia da Coroa com a população mestiça - Santo Elesbão e Santa Efigênia no Rio de Janeiro e nas Minas Gerais no Setecentos, Topoi, v.

7, n. 12, jan.-jun. 2006, p. 89.


valorização das milícias, resposta a petições, e SILVA, Luiz Geraldo. Afrodescendentes livres e libertos e igualdade política na América

portuguesa. Mudança de status, escravidão e perspectiva atlântica (1750-1840).Almanack,


atenção às possibilidades de revoltas - percebemos
Guarulhos , n. 11, p. 571-632, Dec. 2015

no Alto da Cruz mais um indício do agenciamento SILVEIRA, M. A. Acumulando forças : luta pela alforria e demandas políticas na Capitania de

Minas Gerais (1750-1808). Revista de História, São Paulo, v. 158, p. 131-156, 2008.
dos afrodescentes e de estratégias de distinção. Projeto de Iniciação Científica orientado pelo Prof. Dr. Francisco Eduardo de Andrade, 2017-

2018

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