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250 REVISTA DE LEGISLACAO E DE JURISPRUDENCIA 23998 Seco de Doutrina O “direito penal do bem juridico” como principio juridico-constitucional implicito (@ luz da jurisprudéncia constitucional portuguesa) IL. O problema do direito penal do bem juridico 1. Introdugéo Defendo, desde os finais dos anos sessenta do século anterior, que a doutrina penal deve Exc texto eve a sua origem numa comunicagio ‘que presenti na sesio comemorativa do 25. aniversirio do Tribunal Consiucional porugués: Coliguo Comemo- ratio do XXV Aniverio do Tribunal Consticcionl, Lisboa, 2008. XXV Anos defuriprudéncia Constuional Preuss, ‘Coiembrs: Coimbra Editora, 2009. Essa comunicaci foi ‘posetiormente publicada no Brasil, com pequenas alcers- ‘6es, in Luls GrecolAneronio Manrins (orgs), Dirto Penal como Crtica da Pena. Eudes em Homenagem a Jua- 1 Tavares em 2deseembre de 2012, Madsid: Marcial Pons, 2012, p. 248, Em 2013 reebi da revista jurdico-penal lem Golidemamer Archi fr Serfecht (=GA) ur hoax0s0 ‘convite para escever um artigo sobre o principio dodicito penal do bem juriico na doutrina ena jurisprudéncia por tuguess. Acedendo a0 convite (JORGE DE FIGUEIREDO Duss, «Das "Rechesgusraficcht” al verfssungarechdiches rinip uncer dem Blickwinkel der Rechesprechung des por- rugiischen Verissungsgetichtsy, GA 4/2014, p. 202), set ‘compreensivelmente, para uma parce da publiccio, os meus textos que acabei de mencionar. Por outra parte, tenho recebido a sugestio de dar a conhecer nas paginas dda Revista de Legislagt e de Jurisgradéncia a versio por- tuguesa do artigo publicado na Alemanhs, dada sobre- tudo dfeuldade do litorinteressado te aces0 a qual- quer dos meus textos referidos. Acedendo a uma tal Sugestio, essencialmente essa versio portuguesa, 2gora postacm dia face aleragiesulterioresdalgilagio penal portuguesa, que aqui apresent. ‘Agradego reconhecidamente 4 minha querida Colega ‘Doutora Mania Joso ANTUNES ter-me auiliado na pere- sgrinagSo pela jursprudéncia consticional portuguesa mais relevant para o tema, bem como a leitura eri €4 discusto do presence trio. O original dos acérdios do “iibunal Constcucional ue serio citads pode ser lido erm swnttrbunaleonstinusionl assentar em proposicées politico-criminais fun- damentais, constitutivas daquilo que designo como o “paradigma” do direito penal das ordens juridicas democréticas ©”, ‘Tendo em vista as Constituicées surgidas na segunda meade do skculo XX, verifica-se que muitas delas recebe- ram de forma expressa as proposiges politico- -criminais mais importantes, formando 0 que vou chamando a “Constituigio juridico-penal”. ‘Ora, se no cabe aos tribunais constitucionais a issio de interpretagao sistemtica das normas incriminadoras ordindras, jf eles tm por fun- ‘do especifica a interpretagio ¢ aplicagéo daque- les principios doutrindrios e daqueles preceitos penais fundamentais que tenham acabado por tomar assento na Constituicéo, seja nas suas normas expressas, seja nos seus principios regu- adores implicicos. E neste dominio que apraz comesar por salientar a forma como, durante os seus mais de trinta anos de existéncia, o Tribunal Constitucio- nal vem desempenhando a sua tarefa: com com- peténcia, mas também coma reserva eo cuidado particularmente impostos cm matéria tio deli- cada, Aqui e ali com diividas ou mesmo com equivocos e desvios? Decerto. Nem poderia ser de outro modo, desde logo tendo em conta que também a ligéo doutrinal nio é, nem foi ‘Bunca, nem o serd certamente no futuro, a cada ‘momento linear, indubitivel e unénime ®, Mas © Y, Ficurinso0 Dias, La reférme del derecho penal portugués: Principio y orientacionesfondamentaler, “Madi: Real Academia de Jursprudenciay Legislacién, 1971, p. 493 verso portuguesa foi depois publicada no Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra (=BFD) 48 (1972), p. 107 © A este propésito agora Roxin, “O conceito de bem juridico como padrio ertico da norma penal posto & provi’, Revista Portuguera de Citneia Criminal (=RPCC) 23 (2013), p. 7. Cf. rambém Fania Costa, "Sobre o objeto de protegéo do direito penal: o ugar do bbem juridico na doutrina de um dirito penal nto ilibe- ral", Revita de Lepslapoe de Jurisprudéncia (RL) V42 (2013), p. 163 5.

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