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12 Data: Fls.f06

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Adolescentes e terapia comportamental

Roberto Alves Banaco

São comumente consideradas adolescentes pessoas Pois acredita que um conflito deve estar no ambiente,
que encontram-se na faixa etária que vai mais ou menos antes de esfar "no interior" de uma pessoa. Que insegu-t
dos 12 aos 20 anos. ranças são fruto de um-ambiente ~-xtremamente punitivo
Quando se referem a eles, leigos· e especialistas que não propicia aumento e adequação do wpertório
lembram-se de que a adolescência é um .Eeríodo de comportamental. Que muitos· do~ comportamentos pro-
grandes transformações,- tanto físicas quanto miJ;Qlógi- blemáticos apresentados por ad~lescentes devem ser
cas; que a rapidez dessas transformações assusta e incD=- comportamentos de esquiva, e s~ está ocorrendo esqui-
moda a todos OS gue estãO envolvidO~_Q!llJ1.J.\!1Q~o;n:­ va, deve haver algum agente pudictor no ambiente. En-
te e a ele próprio; gue é im~§f~!!_~~_!._~.9..!!~ar fim. que o..nroblema está na_relaç~o do ag@:s~~_,W
com o adolescente por sua inconstância, indolência, .o. seu mundo. E é nessa relagio que~ttm.{!S,J}!ld;!JJ~C.~Cas
- agressividade, insegyran窷__ç~Iudo a<iüiio qué·;;-;do causas dos c_wnpottamentod.JrrQ..b).s;t.m!Ji41ls (se as esti
adolescente é complicado e irritante. vermos procurando).
Várias teorias psicológicas tentaram explicar o por- A partir destas premissas será apresentada uma
quê dessas dificuldades tão grandes. Baseadas numa tra- proposta para a terapia comportamental de adolescen-
dição cultural e científica de procurar dentro das pessoas tes.
as causas dos comportamentos delas, essas teorias des-
crevem o adolescente como uma pessoa "em conflito"
causado pelas mudanças hormonais e fisiológicas. Tam-
O trabalho clínico
bém descrevem ser a adolescência um período de inse-
guranças que pãssariam com a idade adulta, como se
fossem estas (as inseguranças), características normais 1. Estabelecimento do vínculo terapêutico
da idade alcançada pelo ser humano, nessa fase. E é Já
dentro do adolescente que se tem procurado localizar os A primeira preocupação que um terapeuta compor-
conflitos, as inse~ranças, os anseios. enfim, os defei- tarnental deve ter diz respeito à relação com seu cliente.
tos. Se nós, behavioristas, acreditamos naquilo que prega-
Quem partilha de uma postura comportamentalista, mos, a primeira providência que temos qu_e tomar é que
no entanto, não fica satisfeito com .essas explicações. a sessão seja reforçadora para aumentar a chance do
144 Bernard Rangé (Org)

adolescente vir à terapia - o que não acontecerá se a te do psicoterapeuta. pois, em geral, é um tipo de reJa~
sessão for aversiva ou indiferente para ele. ção que ele não tem em seu ambiente - alguém que
Observando a grande maioria dos casos d~ adules- "esteja realmente'' do seu lado.
centes que vêm ao consultório, podemos dizer que em Por fim; no contrato deve ficar claro que as sessões
geral a motivação para que eles venham para a sessão é !~~º- melh.!>$s'-resuTfãdoSi}~~tod~s~-;:;;;;~~~~~-~~
dos país - e não deles. Partindo do princípio de que um ~lima de transparência (Deliui, 1988) entre cliente-tera-
ser humano deve estar motivado para emitir um compor- ~ Ou seja, o analista se propõe a expressai para o
tamento, portanto, existe uma baixa probabilidade de cliente tudo aquilo que sentir a seu respeito, esperando
que o adolescente queira inicialmente comparece.- aos que esta relação seja correspondida pelo adolescente. As
encontros com o terapeuta. vantagens dessa forma de conduzir a terapia são muitas.
É portanto essencial que o analista do comporta~ Para citar apenas algumas delas, pode-se lembrar que
mento aumente essa motivação, o que pode ser feito de em geral o adolescente sente-se _"enganado" por todos,
-várias formas. pois informações lhe são negadas acerca de sentimentos
Uma delas é dada p~lo próprio contato terapêutic~. que desperta nas pessoas, já que esses sentimentos são
Nele devem ficar claras algumas contingências que di- revelados apenas quando ocorrem explosões de raiva,
zem respeito ao comportamento do terapeuta. A primei- mágoa e ressentimento por parte das outras pessoas.
ra dessas contingências é deixar claro tanto pa~a o ado- Pior ainda, são expressos para ele somente os sentimen-
lescente quanto para as pessoas responsáveis por eles {e tos·negativos. A transparência do terapeuta servirá.por-
em geral as "donas" da queixa inicial) que se encara a tanto para {a) sinalizar para o adolescente. de uma ma~
todos aqueles que estão envolvidos C()m o adolescente ~uada socialmente. te e consisten-
como clientes, já que se acredita que, (a)_§!! o .ÇOJUP.Qrta- te aos sentimentos que ele desperta nos outros com seus
~e11~~ __ problel}lático ocorre é_JJorgue '"alguém'~_Q.u ~o~Ê.?i:!a~~!!!.2~;J.l&.ser modelo de expressão de senti-
"algo" estão m!lntendo esse cqmporJ:amento-_portant~.-- _mentos socialmente._aceita: (c) SeL.mQqelo de assertivi-·
paramu<J~ ~~~-·~itu_l~!iúi~~~-se _m~g~-ªJ~l..aç.~.Ç_Qffi~ d'á~~m rela_2ões extra-sessão; (d) ctruf a percepção ao
portamento-manut~nçã_~. e (b)_ pro~ove..I!!l_~__!flU!!.l!!J~S íi~-i:>~t?:;.~-dsLql.ie ele também é cªfaz de provoéar
ein seu (do adokscentç) reP.e~.QQ9.,JQll.dai-:sJ<:Í.Vl!9.el!.e- bons sentimentos (já que estes tambérp devem ser ex-
n_~~ o-co~pQiiiffi~~í;:;~cl~tamMm.9.s comp,ort~- press"Os_ pefõ-t~@.P!Ut~); Obviamente is~o de~e sé'rTntro~
~e~~~S:.Q~~~~~J2~~-~tl)'.Q!_yiºª-~ Esta colocação ipi- duzido aos poucos nas sessões e inicialmente pelos sen-
dal tem um efeito benéfico (no sentido de começar a au- timentos bons que o adolescente provoca - lembre-se
mentar-a probabilidade de o adolescente voltar à sessão} de que no início deve-se tornar a sessãolreforçadora para
porque começa a tirar a carga punitiva das relações até que o cliente compareça a ela! Um p\)uco de reforça-
sf
então estabelecidas com adultos que atribuem somente a mento contínuo é necessário antes de introduzir uma
ele a culpa dos problemas. intermitência de reforçadores e/ou introdução de méto-
Deve_ flcaL.claro..ainillLiliL<;.rultratllinic.ialg!Je reu- dos aversivõs para manter comportamentos.
niões ~oro famiJ.il!f.?.].._prQfissionais da escola gue o ado- Os resultados desse contrato (e de sua const;eução)
Jesêé"~te freqüenta ou com outras pes~oas significativas são extremamente reforçadores para o comportamento do
õé(;~er~o durante o processo terapêutico. Mas, a segun- cliente. Quando este percebe claramente, por meio dos
da forma de tomar a sessão terapêutica reforcadora diz comportamentos do terapeuta. que apresenta tanto compor-
respeito ao sigilo das informações obtidas nas sess~. tamentos indesejáveis quanto desejáveis começa a acreditar
~l!!li.Q.r!in~os sejam~~do~~"clieu~.n.t.Qll- que não é tão inadequado quanto pensava- melhor ainda. ·
trato de sigilo é feito apenas com o adolescent~- que que pode "escolher" o que quer" provocar nos outros, que
de-üiiiá·c~rta'i~""ir;)á-fôPescolhido" .Pãia-~Õ[~;~-proces~ tem controle sobre o mundo a sua volta. Quando o terapeu-
so terapêutico. Enquanto estivermos nos utilizando do ta se toma parte de·seu (do adolescente) ambiente e é con~
modelo de atendimento de -gabinete esbarrareJJ)OS nesta sistente naquilo que. sinaliza. dá ao cliente "consciência"
característica de precisarmos de informações adiciona_is sobre seus comportamentos e suas conseqüências, aumen-
que não apenas as descrições dos clientes. Pois bem, o tando a "confiança" que ele tem nas relações que estabele~
sigilo das informações dadas pelo adolescente ao tera- ce. Quando o cliente aprende, por meio de _modelo do tera~
peuta é total, mas ele tem o direito de saber trn:la e qual- peuta, "o que fazer" em determinadas situações problemá-
querinfonnação que· as outras pessoas derem sobre ele. ticas ou associadas a grandes brigas e desentendimentos,
Ou seja, o sigilo é unilateral (se encararmos adolescente fica menos ansioso- aumenta-se seu repertório compor-
x família/escola).lsto aproxima mais ainda o adolescen- tamental para essas situações.
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Psicoterapia comporlamental e cognitiva 145

2. Adequação da linguagem e conhecimento de ciais (derivadas de contingências às quais foram subme-


valores tidas as gerações antigas) que não descrevem mais as
contingências atuais nas quais eles estão inseridos.
Uma coisa é certa: o adolescente não precisa ·.de · Estar pronto para observar as mudanças sociais
· um terceiro adultQ igual ao seu pai e à. sua ·mãe. Julga- e/ou àmbientais e estar atento para a avaliação do que é
mentos morais, exigências de posturas físicas, aponta- adaptativo ou não nessas novas condições é um compor-
mentos de inadequações desprovidos de uma análise tamento que devemos ter durante toda a nos'sa atuação
funcional, conselhos, reprimendas etc. só reproduzirão profissional. Parodiando alguém a respeito desse aspec-
na relação terapêutica as relações que o adolescente já to, o problema reside no fato de que n6s estaremos en-
tem fora dela - e como se sabe, esse tipo de relação velhecendo sempre, mas os adolescentes terão sempre a
não foi capaz de resolver os problemas comportamenrais mesma idade!
que ele apresenta.
Para aumentar a empatia e tomar o trabalho mais ·
3. Fornecimento de informações
produtivo é necessário que o terapeuta conheça a li.ngua-
gem e os valores sociais dos grupos aos quais o adoles-
cente pertence. ~sto'Põde ser aprendido·pelo terapeuta
por meio do próprio adolescente que sentirá enorme pra-
Muitas vezes o problema do adolescente é estar in-
serido num ambiente extremamente pobre seja econômi-
ca, cultural ou psicologicamente falando. A terapia pode
I~ :

zer em ensinar~lhe alguma coisa. Também gostará de I'


servir para que o adolesànte obtenha informações sobre lI
:; .
perceber que o estilo de vida que adotou é importante
os aspecto~ ambientais de que necessita pa~a comportar-
para alguém. Terá a melhor das ''boas vontades" em '
semelhor. ·I;.,

contar-lhe o que significam determinadas palavras que


Essa obtenção de informações pode também ser
utiliza, ou como avalia determinados .comportamentos
usada inicialmente como reforço para o comparecimento
·prÓprios é de outras pessoas (e áqui obtém-se a informa-
às sessões. Quando o terapeuta detém (e fornece) as in-
ção a respeito dos valores sociais que ele assume)."
formações que o adolescente tanto procura em sua vida
Nem sempre esses valores são os. mesmos que as-
e não acha, toma-se necessariamente reforçador. À me-
sumimos e corre-se o risco de expressarmos estranheza,
dida que o trabalho vai sendo desenvolvido, no entanto,
desagrado ou medo .em relação aos comportamentõs
g terapeuta dçye ensinar 29 se" çligntg...c.g.lU(kfiUSc~a
descritos por eles. Mas desde que o uso da transparência
Wfurmaç~_Qe _.9.l!.C::. !l.~.~~~~M.!I· Isto pode ser feito por
já esteja ·estabelecido na relação e que esses sentimentos
meio da análise f~ilciõnâi do problema apresentado e do
não sejam muito intensos (Banaco, I 993), a expressão
levantamento do repertório necessário para a resolução
das diferenças entre o profissional e o adolescente deve
desse problema. Da diferenÇa entre o repertório compor-
ser apen~ discutida em termos de: (a) o que ela teria a
lamentai do cliente para o repertório necessário para a
ver com o. processo terapêutico do cliente e (lb) como es-
solução do problema ~laneja-se as r~spostas que o clien-
sas diferenças resistiriam a uma análise funcional dentro
te deve desenvolver para viver de ,,uma maneira mais
do ambiente do adolescente. Por exemplo, pode-se, de-
adequada. Gradativamente o terape~ta vai se retirando
pois de ter expressado por intermédio da face uma re-
desse processo, "cobrando" do cliente que ele desenvol-
provação social de um comportamento qualquer descrito
va todas as habilidades de solução dos problemas - da
pelo adolescente, proceder-se a uma. análise funcional
análise funcional à busca de respostas alternativas - em
desse comportamento inicialmente reprovado e chegar-
cada oportunidade em que um novo aspecto da vida dele
se à conclusão de que ele é adaptativo no ambiente do
for enfOf?ado pela terapia.
cliente! Depois ·de revelar essa análise para ele e verifi-
car todas as conseqüências que têm grande probabilida-
de de advir desse comportamento a curto, médio e longo 4. Análise funcional das contingências nas quais o
prazos, nada mais deve ser feito pelo terapeuta. Ãesc~ adolescente está inserido
lha da resposta a ser emitida deve ser do próprio cliente. \·.
Esta talvez seja uma das maiores dificuldades que en- ~' Como. ficou sugerido até agora, é necessário que o
frentamos como psicoterapeutas. revelada no trabalho'!! terapeuta "ensine" ao adolescente a olhar para os proble-
· com adolescentes: pe~ceber que os valores :sociais queÍ} mas que ele traz com uma "lente de cor behaviorista".
assumimos não são mais funcionais para um c:onjunto def Obviamente, desde o primeiro item do contrato descrito
pessoas que está cresc~ndo.'f.Aeredito quedàTVenlia-·a acima, uma visão de homem e dos problemas human~s .,.
maior parte. dos conflitos dos adolescentes: regras so- diferente daquela que o cliente está acostumado a ter co-
146 Bernard Rangé (Org.)

meça· a esboçar-se. Quando o cliente coloca em prática L Adição a drogas


as conclusões· alcançadas por mdo da análise funcional,
adquire conhecimento das relações de contingência que Talvez o maior problema que os pais temem que
mantém ou modificam os comportamentos seus próprios ocorra com seus filhos na adolescência. O medo maior e
ou das outras pessoas. Isto dá a ele um maior controle a fantasia de como o problema se instala é relatado por
sobre os aspectos de sua vida que até então não entendia eles mais ou menos da seguinte forma;
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e causava-lhe tanto transtorno. À medida que o adoles- Alguém (meio indeterminado rn!IS podem ser cole- I"
I
cente vai adquirindo as habilidades de proceder à análise gas da escola, do bairro, enfim, alguém interessado em I
I
funcional e de buscar repertório mais adequado a neces- que o adolescente se vicie} seduz e oferece a droga. Se a i
sidade do terapeuta vai diminuindo. E naturalmente pla- cri~ça não aceita existem outros meios de coerção '
neja.se a "alta". como gozação, intimidação etc., até que ela experimen-
te. Experimentando ela gosta e passa a usar- só que aí
a droga não é mais oferecida, àgora deve ser comprada.
Depois disso, as dwgas mais leves passam a não fazer
Os problemas mais comuns mais os efeitos desejados e as crianças passariam para
drogas ~ais fortes, mais caras, passando o viciado a ter
Este é um item delicado para se discorrer. Como que dispor de mais dinheiro e então fica a um passo da
sabemos, os comportamentos são multideterminados e marginalidade.
podem ter também várias funções diferentes em cada Pode não ser uma descrição de todo incorreta. Mas.
ambiente. Portanto, discorrer sobre comportamentos- a criãnça aprende desde cedo, em nossa culturà, operao-
problema sem a localização dentro de um repertório e temente ou por meio de aprendizagem por observação, a
em relaxão a um determinado ambiente resulta numa alterar seus estados internos. O uso do álcool, de drogas
-análise s~_E incomp~t~uitas vezes incõireta. que tiram a dor, que induzem o sono, que tinim o mes- .s--
"Eti1ãillbém é o motivo pelo qual behavioristas radi- mo sono. em outras oportunidades etc., ·mostram que o
cais evitam rotular problemas e sugerir determinados ~ontrole de estados internos usando drogas é possível -
procedimentos para determinados rótulos. Sem uma e desejável. Muitas vezes pessoas significativas no am-
análise funcional das contingências envolvidas na ma- biente do adolescente são dependentes de ansiolítiCos,
nutenção do comportamento que"resolveu-se" chamar antidepressivos e outras drogas (que podem ser até ali-
de problema corre-se o risco de fazer um trabalho erra- mentos - o que importa é o mecanismo: estou triste,
do, causando prejuízos não somente para o cliente como um bombom e me sinto melhot).
como para o próprio terapeuta e para a área de estudo. Par-alelamente, muitas regras ~,ociais são aprendi-
Talvez seja por isso que na literatura da psicoterapia das não porque descreváin conting~ncias experifuenta-
comportamental skinneriana fala-se tão pouco de pro- das pelas crianças, mas porque os ad/lltos que as descre-
blemas humanos que atingem grande parte da popula- vem têm um poder de autoridade sopre elas: as crianças
• I • • -
ção sob a ótica teórica, preferindo os autores relatarem sempre respeitaram essas regras parp. evatarem pumçao.
casos clínicos de clientes únicos: porque nestes últimos O agente punidor estava-sempre prfsente no ambiente
é possível proceder-.se a uma análise funcional com da criança. Quando esta cresce e se foma adolescente, o
grande parte dos elementos principais, inclusive defi- agente punidor não está mais prese~te o tempo todo, o
nindo melhor as combinações de repertórios com as que sabemos, tem um efeito sobre o icomportamento pu-
·· contingências. nido: ele "aparece" e tesiã a contingência.
No entanto, segue-se abaixo um esboço de rela- Uma dessas regras é a· de que as drogas são ruins.
ções mais freqüentemente encontradas ent~ os compor- Que são avassaladoras. que viciam etc. Quando entre-.
tamentos-queixa de adolescente mais comumente leva- visto clientes usuários ·de drogas em geral obtenho o
dos para os consultórios e algumas contingências que os dado de que eles experimentaram drogas peJa primeira
mantêm. Vale ressaltar que são esboços de relações. vez simplesmente por curiosidade (várias regras sociais
Para cada novo caso atendido podem ser encontradas re- vinham sendo testadas e não sustentavam as contingên-
lações completamente diferentes das listadas aqui. O ob- cias que descreviam) e por oportunidade. Urna vez ex-
jetivo de incluí-Ias é apenas o de nortear o terapeuta em perimentada (em geral. as crianças já conhecem o álcool
suas b~póteses a respeito de problemas que poderá en- no convívio familiar e têm o primeiro contato então com
frentar,-além de exemplificar, ainda que toscamente, o maconha), a droga tem novos efeitos sobre seus estados
que seria uma análise funcional. · internos. O adolescente aprende uma relação consumo-
Psicoterapia.comportamental e cognitiva

sensação. A partir daí quando quer ou precis~ "repetir" pressão §.C.onfullica e/ou emocional pam...que__o a(iQles-
essa sensação volta a usar a mesma droga. E a ·•coisa ~u~s--p~Ftml-Ou..suportam.
terrível" que deveria acontecer- se a regra fosse ver- No caso deste problema a variabilidade pode ser tanta
. dadeira- não acontece: é mais uma delas quenão.sus- em termos de regras morais e contingências que não ca-
tenta a contingência. Deve ser lembrado aqui um outi-o· beriam em um único capítulo de um livro - quanto
problema no controle comportamental: a imediaticidade mais em um item dentro de um capítulo.
do estímulo. É claro que a longo prazo a utilizaçijo de Novamente ressalta-se que o início do problema
drogas causa vários danos. Mas ·isso ocorre a longo pra- pode ser localizado em nossa cultura que, neste caso,
zo e o efeito reforçador da droga· é imediato. Portanto, a tem sexualizado cada vez mais as relações infantis. em:i.
-ascendência da conseqüência Imediata e õperante sobre nando regras de coni:luta sexual muito cedo na vida das
uma outra descrita por regra e que vem a longo prazo é crianças. Vale lembrar que há bem poucos anos uma
inevitável. apresentadora de programa infantil cantava em seu hít !.
O trabalho que pode ser sugerido nesses casos é_o musical que ia encontrar o rapaz por quem se sentia
as
de dar.todas -il!fQ®ações a respeito de dro_gas_,_~ apaixonada, iargando tudo ("a escola pode esperar"),
efeitos biológicos. clínicos, comportamentais) em várias
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mas não o conhecia direito r'mas nem lembro o seu
~ndo para o clien~e~~_g_~e nomê") (Vou de táxi- Angélica).
p_~~t~ doy;radiente (desde a in~stão.J.>_rimeir~~...Q...Eõfui­
to a longo pr~ ele _se encontra, Esta é uma tentativa
de tornar o próprio efeito experimentado como sinaliza- 3. Dificuldades na escolha profissional e inde~
dor das cons.Çqüênciás ligadas ao abuso. Além disso, ~ pendência dos pais
:u!!_oga tivera função de "aliviar sintoma~' ansiógenos,
depressivos~_~aisguer outros, ~onstrar. pelo de- Este. como os outros problemas apresentados até
~Jiistóti!_de vida que ela não tem o poder de re- agora, não é de exclusividade de adolescentes. Em uma
~r.oblem,~-~-~~eio da sociedade na qual todo o sistema educacional está deca-
análise funcional, ~· Passa-se então a ~scutir qual é o dente e em um sistema econômico instável como esse
prQ,bleEJ.~ que causa éssas .sensações aliviadas pela droga sob o qual vivemos, fica desacreditado qualquer futuro
e esta pass_;:t__l~_Jie_r_~lema adjacente durante alg_!!m profissional. -
~P~· Depois, caso ela· não tenha sido eliminada, pro- Os adolescentes têm dificuldades em escolher uma
cede-se a uma nova análise funcional do seu uso_ carreira não apenas por falta de informação de toda a
gama de profissões disponíveis, mas também por falta
de conhecimentos básicos para a quase totalidade delas,
2. Problemas de ordem sexual por perceberem que teriam que dedicar-se muito mais
do que se dedicaram até agora em sua formação educa-
Seguido de perto pelo problema de adição às dro- cional e - muitas vezes - por não precisarem se ·preo-
gas, o segundo problema mais freqüentemente trazido cupar com isso no momento.
ao consultório é o descobrimento da vida sgxual dos fi- De fato, a grande maioria dos adolescentes que po-
lhos. Seja pelo fato de uma gravidez indesejável (e nes- dem pagar nossos serviços profissi~nais também não
ses casos os problemas podem ser mais complicados por têm sobre si uma pressão para q~e decidam rapidamente
decisões que esbarram em questões morais tais como ca- por uma carreira ou por outra. Além disso, não estão in-
samento sem amor, ou aborto), ou a descõberta de um seridos no mercado de trabalho, o que os deixa desinfor-
episódio ou prática homossexual, os pais costumam for- mados sobre o que cada profissão exigirá de si. As esco-
çar a vinda de seus filhos para a terapia. Em__geral esses lhas profissionais recaem por critérios espúrios (assim
pais ~ram q~~-deci~~~- ~f!iam__t~IJ_l~~~ _no_ s_en~ido como ser médico porque o pai já tem um consultório
·'
daguil.o q:u.e. que@JUJUe..os. fjJ.p.Qs_~!J@.Jll,_ montado), incapazes de mantê-los sequer na universida-
Da mesma forma que descrito no contrato inicial, de. Nada do que estudam é reforçador - aliás, saber,
as decisões devem partir do cliente, Jembi-ando-se, no aprender não é reforçador para eles. Pior ainda, sabem
entanto-'_9!J.e._de.,..adolescente, é -odOno..de..sna.Yida, mas que quando tiverem uma profissão terão que trabalhar e
"õSi)ãis são os responsáveis .civibnerue.pel~m­ perder vários outros teforçadores como surfar, jogar vi-
~ A eles caberá responder so~por deo gome, namorar o dia todo, passear de carro (sem
tudo aquilo que o adolescente fizer. Ao terapeuta cabe carteira de habilitação), dormir tarde etc., ou seja, perde-
ae~qeve~~ prever o que acontecerá; p.DSSÍielmente.uma rão tudo aquilo que os pais com a melhor das intenções
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propiciam a eles. Nesse contexto fica muito difícil conse- Referências


guir uma discu5são séria a respeito da escolha profissio-
nal. Banaco, R. A. (1993) O impacto do atendimento sobre a ·
pessoa do terapeuta. Temas em Psicologia. 2, 71-79.
Delitti, A: M. C. (1988}. A análise da transferência do pon-
to de vista da terapia comportamental. Palestra proferida
Resumo durante o Encontro de Psicologia do Paraná.
Guedes, M. L. (1989). Equívocos da terapia cómportamen-
Como foi apontado anteriormente, o objetivo deste taL Texto proferido na mesa redonda "Três casos clfní-
capítulo foi descrever algumas características do traba- cos em terapia comportamental: .o que há em comum?".
lho clínico com adolescentes sob a ótica do behavioris- XIX Reunião Anual de Psicologia da Sociedade de Psi-
. cologia de Ribeirão Preto.
mo radical. Aspectos da relação terapêutica, colocação
Skinner.'B. F. (1982): Sobre o behaviorismo. São Paulo:·
dos problemas e busca de soluções foram esboçados, as- Cultrix e Editora da Universiçladé de São Paulo.
sim como a descrição bem pouco detalhada dos três pro-
blemas mais freqüentemente trazidos por pessoas dessa
faixa etária. Muitos aspectos importantes foram· deixa-
dos de lado por ausência de espaço e por não ser este o
Sobre o autor
objetivo do capítulo. O que deve ser reenfatizado é que
as análises feitas aqui são esboços de relações. O objeti- -Roberto Alves Banaco
vo de incluí-las foi "apenas o de nortear o terapeuta em . Doutor em Psicologia, professor da Pontifícia Universi-
suas hipóteses a ·respeito de problemas que poderá en- dade Católica de São Paulo (PUC/SP), psicólogo clíni-
frentar, além de exemplificar, ainda ·que toscamente, o __ co.
que seria uma análise funcional".

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