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Banaco (1995) PDF
Banaco (1995) PDF
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12 Data: Fls.f06
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São comumente consideradas adolescentes pessoas Pois acredita que um conflito deve estar no ambiente,
que encontram-se na faixa etária que vai mais ou menos antes de esfar "no interior" de uma pessoa. Que insegu-t
dos 12 aos 20 anos. ranças são fruto de um-ambiente ~-xtremamente punitivo
Quando se referem a eles, leigos· e especialistas que não propicia aumento e adequação do wpertório
lembram-se de que a adolescência é um .Eeríodo de comportamental. Que muitos· do~ comportamentos pro-
grandes transformações,- tanto físicas quanto miJ;Qlógi- blemáticos apresentados por ad~lescentes devem ser
cas; que a rapidez dessas transformações assusta e incD=- comportamentos de esquiva, e s~ está ocorrendo esqui-
moda a todos OS gue estãO envolvidO~_Q!llJ1.J.\!1Q~o;n: va, deve haver algum agente pudictor no ambiente. En-
te e a ele próprio; gue é im~§f~!!_~~_!._~.9..!!~ar fim. que o..nroblema está na_relaç~o do ag@:s~~_,W
com o adolescente por sua inconstância, indolência, .o. seu mundo. E é nessa relagio que~ttm.{!S,J}!ld;!JJ~C.~Cas
- agressividade, insegyran窷__ç~Iudo a<iüiio qué·;;-;do causas dos c_wnpottamentod.JrrQ..b).s;t.m!Ji41ls (se as esti
adolescente é complicado e irritante. vermos procurando).
Várias teorias psicológicas tentaram explicar o por- A partir destas premissas será apresentada uma
quê dessas dificuldades tão grandes. Baseadas numa tra- proposta para a terapia comportamental de adolescen-
dição cultural e científica de procurar dentro das pessoas tes.
as causas dos comportamentos delas, essas teorias des-
crevem o adolescente como uma pessoa "em conflito"
causado pelas mudanças hormonais e fisiológicas. Tam-
O trabalho clínico
bém descrevem ser a adolescência um período de inse-
guranças que pãssariam com a idade adulta, como se
fossem estas (as inseguranças), características normais 1. Estabelecimento do vínculo terapêutico
da idade alcançada pelo ser humano, nessa fase. E é Já
dentro do adolescente que se tem procurado localizar os A primeira preocupação que um terapeuta compor-
conflitos, as inse~ranças, os anseios. enfim, os defei- tarnental deve ter diz respeito à relação com seu cliente.
tos. Se nós, behavioristas, acreditamos naquilo que prega-
Quem partilha de uma postura comportamentalista, mos, a primeira providência que temos qu_e tomar é que
no entanto, não fica satisfeito com .essas explicações. a sessão seja reforçadora para aumentar a chance do
144 Bernard Rangé (Org)
adolescente vir à terapia - o que não acontecerá se a te do psicoterapeuta. pois, em geral, é um tipo de reJa~
sessão for aversiva ou indiferente para ele. ção que ele não tem em seu ambiente - alguém que
Observando a grande maioria dos casos d~ adules- "esteja realmente'' do seu lado.
centes que vêm ao consultório, podemos dizer que em Por fim; no contrato deve ficar claro que as sessões
geral a motivação para que eles venham para a sessão é !~~º- melh.!>$s'-resuTfãdoSi}~~tod~s~-;:;;;;~~~~~-~~
dos país - e não deles. Partindo do princípio de que um ~lima de transparência (Deliui, 1988) entre cliente-tera-
ser humano deve estar motivado para emitir um compor- ~ Ou seja, o analista se propõe a expressai para o
tamento, portanto, existe uma baixa probabilidade de cliente tudo aquilo que sentir a seu respeito, esperando
que o adolescente queira inicialmente comparece.- aos que esta relação seja correspondida pelo adolescente. As
encontros com o terapeuta. vantagens dessa forma de conduzir a terapia são muitas.
É portanto essencial que o analista do comporta~ Para citar apenas algumas delas, pode-se lembrar que
mento aumente essa motivação, o que pode ser feito de em geral o adolescente sente-se _"enganado" por todos,
-várias formas. pois informações lhe são negadas acerca de sentimentos
Uma delas é dada p~lo próprio contato terapêutic~. que desperta nas pessoas, já que esses sentimentos são
Nele devem ficar claras algumas contingências que di- revelados apenas quando ocorrem explosões de raiva,
zem respeito ao comportamento do terapeuta. A primei- mágoa e ressentimento por parte das outras pessoas.
ra dessas contingências é deixar claro tanto pa~a o ado- Pior ainda, são expressos para ele somente os sentimen-
lescente quanto para as pessoas responsáveis por eles {e tos·negativos. A transparência do terapeuta servirá.por-
em geral as "donas" da queixa inicial) que se encara a tanto para {a) sinalizar para o adolescente. de uma ma~
todos aqueles que estão envolvidos C()m o adolescente ~uada socialmente. te e consisten-
como clientes, já que se acredita que, (a)_§!! o .ÇOJUP.Qrta- te aos sentimentos que ele desperta nos outros com seus
~e11~~ __ problel}lático ocorre é_JJorgue '"alguém'~_Q.u ~o~Ê.?i:!a~~!!!.2~;J.l&.ser modelo de expressão de senti-
"algo" estão m!lntendo esse cqmporJ:amento-_portant~.-- _mentos socialmente._aceita: (c) SeL.mQqelo de assertivi-·
paramu<J~ ~~~-·~itu_l~!iúi~~~-se _m~g~-ªJ~l..aç.~.Ç_Qffi~ d'á~~m rela_2ões extra-sessão; (d) ctruf a percepção ao
portamento-manut~nçã_~. e (b)_ pro~ove..I!!l_~__!flU!!.l!!J~S íi~-i:>~t?:;.~-dsLql.ie ele também é cªfaz de provoéar
ein seu (do adokscentç) reP.e~.QQ9.,JQll.dai-:sJ<:Í.Vl!9.el!.e- bons sentimentos (já que estes tambérp devem ser ex-
n_~~ o-co~pQiiiffi~~í;:;~cl~tamMm.9.s comp,ort~- press"Os_ pefõ-t~@.P!Ut~); Obviamente is~o de~e sé'rTntro~
~e~~~S:.Q~~~~~J2~~-~tl)'.Q!_yiºª-~ Esta colocação ipi- duzido aos poucos nas sessões e inicialmente pelos sen-
dal tem um efeito benéfico (no sentido de começar a au- timentos bons que o adolescente provoca - lembre-se
mentar-a probabilidade de o adolescente voltar à sessão} de que no início deve-se tornar a sessãolreforçadora para
porque começa a tirar a carga punitiva das relações até que o cliente compareça a ela! Um p\)uco de reforça-
sf
então estabelecidas com adultos que atribuem somente a mento contínuo é necessário antes de introduzir uma
ele a culpa dos problemas. intermitência de reforçadores e/ou introdução de méto-
Deve_ flcaL.claro..ainillLiliL<;.rultratllinic.ialg!Je reu- dos aversivõs para manter comportamentos.
niões ~oro famiJ.il!f.?.].._prQfissionais da escola gue o ado- Os resultados desse contrato (e de sua const;eução)
Jesêé"~te freqüenta ou com outras pes~oas significativas são extremamente reforçadores para o comportamento do
õé(;~er~o durante o processo terapêutico. Mas, a segun- cliente. Quando este percebe claramente, por meio dos
da forma de tomar a sessão terapêutica reforcadora diz comportamentos do terapeuta. que apresenta tanto compor-
respeito ao sigilo das informações obtidas nas sess~. tamentos indesejáveis quanto desejáveis começa a acreditar
~l!!li.Q.r!in~os sejam~~do~~"clieu~.n.t.Qll- que não é tão inadequado quanto pensava- melhor ainda. ·
trato de sigilo é feito apenas com o adolescent~- que que pode "escolher" o que quer" provocar nos outros, que
de-üiiiá·c~rta'i~""ir;)á-fôPescolhido" .Pãia-~Õ[~;~-proces~ tem controle sobre o mundo a sua volta. Quando o terapeu-
so terapêutico. Enquanto estivermos nos utilizando do ta se toma parte de·seu (do adolescente) ambiente e é con~
modelo de atendimento de -gabinete esbarrareJJ)OS nesta sistente naquilo que. sinaliza. dá ao cliente "consciência"
característica de precisarmos de informações adiciona_is sobre seus comportamentos e suas conseqüências, aumen-
que não apenas as descrições dos clientes. Pois bem, o tando a "confiança" que ele tem nas relações que estabele~
sigilo das informações dadas pelo adolescente ao tera- ce. Quando o cliente aprende, por meio de _modelo do tera~
peuta é total, mas ele tem o direito de saber trn:la e qual- peuta, "o que fazer" em determinadas situações problemá-
querinfonnação que· as outras pessoas derem sobre ele. ticas ou associadas a grandes brigas e desentendimentos,
Ou seja, o sigilo é unilateral (se encararmos adolescente fica menos ansioso- aumenta-se seu repertório compor-
x família/escola).lsto aproxima mais ainda o adolescen- tamental para essas situações.
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Psicoterapia comporlamental e cognitiva 145
sensação. A partir daí quando quer ou precis~ "repetir" pressão §.C.onfullica e/ou emocional pam...que__o a(iQles-
essa sensação volta a usar a mesma droga. E a ·•coisa ~u~s--p~Ftml-Ou..suportam.
terrível" que deveria acontecer- se a regra fosse ver- No caso deste problema a variabilidade pode ser tanta
. dadeira- não acontece: é mais uma delas quenão.sus- em termos de regras morais e contingências que não ca-
tenta a contingência. Deve ser lembrado aqui um outi-o· beriam em um único capítulo de um livro - quanto
problema no controle comportamental: a imediaticidade mais em um item dentro de um capítulo.
do estímulo. É claro que a longo prazo a utilizaçijo de Novamente ressalta-se que o início do problema
drogas causa vários danos. Mas ·isso ocorre a longo pra- pode ser localizado em nossa cultura que, neste caso,
zo e o efeito reforçador da droga· é imediato. Portanto, a tem sexualizado cada vez mais as relações infantis. em:i.
-ascendência da conseqüência Imediata e õperante sobre nando regras de coni:luta sexual muito cedo na vida das
uma outra descrita por regra e que vem a longo prazo é crianças. Vale lembrar que há bem poucos anos uma
inevitável. apresentadora de programa infantil cantava em seu hít !.
O trabalho que pode ser sugerido nesses casos é_o musical que ia encontrar o rapaz por quem se sentia
as
de dar.todas -il!fQ®ações a respeito de dro_gas_,_~ apaixonada, iargando tudo ("a escola pode esperar"),
efeitos biológicos. clínicos, comportamentais) em várias
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mas não o conhecia direito r'mas nem lembro o seu
~ndo para o clien~e~~_g_~e nomê") (Vou de táxi- Angélica).
p_~~t~ doy;radiente (desde a in~stão.J.>_rimeir~~...Q...Eõfui
to a longo pr~ ele _se encontra, Esta é uma tentativa
de tornar o próprio efeito experimentado como sinaliza- 3. Dificuldades na escolha profissional e inde~
dor das cons.Çqüênciás ligadas ao abuso. Além disso, ~ pendência dos pais
:u!!_oga tivera função de "aliviar sintoma~' ansiógenos,
depressivos~_~aisguer outros, ~onstrar. pelo de- Este. como os outros problemas apresentados até
~Jiistóti!_de vida que ela não tem o poder de re- agora, não é de exclusividade de adolescentes. Em uma
~r.oblem,~-~-~~eio da sociedade na qual todo o sistema educacional está deca-
análise funcional, ~· Passa-se então a ~scutir qual é o dente e em um sistema econômico instável como esse
prQ,bleEJ.~ que causa éssas .sensações aliviadas pela droga sob o qual vivemos, fica desacreditado qualquer futuro
e esta pass_;:t__l~_Jie_r_~lema adjacente durante alg_!!m profissional. -
~P~· Depois, caso ela· não tenha sido eliminada, pro- Os adolescentes têm dificuldades em escolher uma
cede-se a uma nova análise funcional do seu uso_ carreira não apenas por falta de informação de toda a
gama de profissões disponíveis, mas também por falta
de conhecimentos básicos para a quase totalidade delas,
2. Problemas de ordem sexual por perceberem que teriam que dedicar-se muito mais
do que se dedicaram até agora em sua formação educa-
Seguido de perto pelo problema de adição às dro- cional e - muitas vezes - por não precisarem se ·preo-
gas, o segundo problema mais freqüentemente trazido cupar com isso no momento.
ao consultório é o descobrimento da vida sgxual dos fi- De fato, a grande maioria dos adolescentes que po-
lhos. Seja pelo fato de uma gravidez indesejável (e nes- dem pagar nossos serviços profissi~nais também não
ses casos os problemas podem ser mais complicados por têm sobre si uma pressão para q~e decidam rapidamente
decisões que esbarram em questões morais tais como ca- por uma carreira ou por outra. Além disso, não estão in-
samento sem amor, ou aborto), ou a descõberta de um seridos no mercado de trabalho, o que os deixa desinfor-
episódio ou prática homossexual, os pais costumam for- mados sobre o que cada profissão exigirá de si. As esco-
çar a vinda de seus filhos para a terapia. Em__geral esses lhas profissionais recaem por critérios espúrios (assim
pais ~ram q~~-deci~~~- ~f!iam__t~IJ_l~~~ _no_ s_en~ido como ser médico porque o pai já tem um consultório
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daguil.o q:u.e. que@JUJUe..os. fjJ.p.Qs_~!J@.Jll,_ montado), incapazes de mantê-los sequer na universida-
Da mesma forma que descrito no contrato inicial, de. Nada do que estudam é reforçador - aliás, saber,
as decisões devem partir do cliente, Jembi-ando-se, no aprender não é reforçador para eles. Pior ainda, sabem
entanto-'_9!J.e._de.,..adolescente, é -odOno..de..sna.Yida, mas que quando tiverem uma profissão terão que trabalhar e
"õSi)ãis são os responsáveis .civibnerue.pel~m perder vários outros teforçadores como surfar, jogar vi-
~ A eles caberá responder so~por deo gome, namorar o dia todo, passear de carro (sem
tudo aquilo que o adolescente fizer. Ao terapeuta cabe carteira de habilitação), dormir tarde etc., ou seja, perde-
ae~qeve~~ prever o que acontecerá; p.DSSÍielmente.uma rão tudo aquilo que os pais com a melhor das intenções
148 Bernard Rangé (Org.)
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