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Apostila Otubo Ciencia - Materiais 2007
Apostila Otubo Ciencia - Materiais 2007
Introdução à Ciência
2007
J. Otubo 1
Uso exclusivo para a disciplina MTM 15 e MT 101
J. Otubo 2
PREFÁCIO
A Engenharia de Materiais está em nossa vida muito mais do que se possa imaginar. Da roupa
que vestimos, dos óculos que usamos, dos calçados, eletrodomésticos, carros, bicicletas para citar
alguns.
A Engenharia de Materiais está por trás de desenvolvimento de materiais mais leves e mais
resistentes para aplicações aeroespaciais/aeronáuticos em que o fator peso é fundamental gerando
economia de combustível e capacidade de carga maior. São exemplos desses materiais os compósitos a
base de fibras de carbono, as ligas de alumínio, as ligas de titânio, etc. Ainda nessa linha temos as
superligas resistentes à oxidação e que suportam altas temperaturas para seu uso, por exemplo, em
turbinas. Ainda na área aeroespacial, está se desenvolvendo sistemas de liberação de painéis solares de
satélites, atuados com ligas com efeito de memória de forma (ITA/INPE/UNICAMP/AEB). Pesquisas
estão também em andamento para desenvolvimento de sistemas de descongelamento (deicing) em
aeronaves, amortecimento de vibração, venezianas inteligentes para controle térmico de satélites e
outras aplicações usando ligas com efeito de memória de forma. Atualmente estes materiais são
conhecidos como materiais inteligentes porque funcionam como atuadores e sensores.
A Engenharia de Materiais está por trás de fibras óticas que revolucionou a área de
comunicações. Uma fibra ótica pode substituir centenas de pares de fios de cobre facilitando
sobremaneira a transmissão de dados. Recebemos também sinais de TV por assinatura via cabos óticos.
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Os materiais cerâmicos, apesar de conhecidos a milênios, seus estudos em profundidade são
bastante recentes. As cerâmicas apresentam aplicações desde materiais estruturais, cerâmicas elétricas a
supercondutores.
Falando em supercondutores, são esses materiais que permitem a levitação e propulsão de trens
através da geração de campos magnéticos permitindo velocidade de 400 a 500km/h. São materiais que
podem gerar altos campos magnéticos que pode chegar a 20T (1 tesla = 10.000 gauss).
Por fim pode se dizer que a evolução de um país pode-se medir pela capacidade do seu povo
transformar produtos de P&D em materiais ou bens que revertam para a sociedade como um todo e a
Engenharia de Materiais, com certeza, é a base para isso.
Este manuscrito é uma tradução livre do Livro: Introduction to Materials Science for Engineers,
Fifth Edition, 2000 de James F. Shackelford, University of California, Davis.
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CAPÍTULO 1
Introdução
Os primeiros humanos tinham acesso somente a um número limitado de materiais que ocorriam
naturalmente: pedra, madeira, argilas, peles, etc. Com o tempo descobriram técnicas para produzir
materiais com propriedades superiores àqueles que ocorriam naturalmente como jarros e metais. Nessa
época, o uso de materiais era totalmente um processo de seleção, isto é, decidir, a partir de um número
limitado de materiais, um que fosse mais adequado a uma determinada aplicação devido a suas
características. Mais tarde verificaram que as propriedades dos materiais poderiam ser alteradas
manipulando processos de produção. O entendimento da relação que existe entre estrutura e
propriedade é bastante grande. Este conhecimento, adquirido principalmente no último quarto de
século, permitiu aos pesquisadores o desenvolvimento de dezenas de milhares de diferentes materiais
com características específicas que atenda as necessidades da moderna e complexa sociedade; isto
inclui metais, plásticos, vidros e fibras.
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Figura 1.1 Utensílios domésticos de uma família
Em Ciência e Engenharia dos Materiais, estudamos a relação que existe entre estrutura
interna dos materiais e suas propriedades físicas tais como Elétricas, Óticas, Térmicas, Magnéticas e
Mecânicas.
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1.3 TIPOS DE MATERIAIS
1.3.1 Metais
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Figura 1.3 Elementos essencialmente metálicos dentro da tabela periódica.
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1.3.2 Cerâmicas e vidros
Com tais características porque a alumina não é utilizada, por exemplo, em motores
automotivos em vez de alumínio? A resposta a esta questão está ligada a um dos fatores limitantes
desse material e de praticamente todos os materiais cerâmicos – ser frágil.
Outros exemplos de materiais cerâmicos são o óxido de magnésio (MgO), a sílica (SiO2) e o
nitreto de silício (Si3N4).
Conforme mostrados na figura 1.5, os materiais cerâmicos são compostos químicos feitos de
pelo menos um elemento metálico (campo azul claro) e um dos cinco elementos não metálicos C, N, O,
P e S, campo azul escuro.
A figura 1.6 mostra algumas peças tradicionais feitas de material cerâmico e a figura 1.7, um
desenvolvimento recente de uso de cerâmica em peças de motores.
Os metais e cerâmicas mostradas nas figuras 1.2, 1.4, 1.6 e 1.7 apresentam características de
estrutura similares em escala atômica: São cristalinos, isto é, os átomos constituintes são empilhados
de maneira regular num padrão repetitivo. Muitos materiais cerâmicos podem ser produzidos de forma
não cristalina, isto é, seus átomos são empilhados de maneira irregular num padrão randômico. A
figura 1.8 mostra as duas condições. O termo geral de material não cristalino sólido é vidro (ou
amorfo), figura 1.9. O vidro das janelas é um exemplo típico. É composto normalmente de 72% de
SiO2 e entram como balanço, óxido de sódio (Na2O) e óxido de cálcio (CaO). Como as cerâmicas, os
vidros também são frágeis, mas são de grande interesse na engenharia, pois apresentam certas
propriedades como transparência à luz (ultravioleta e infravermelho) e são quimicamente inertes. A
figura 1.19 apresenta uma caçarola feita de aluminosilicato de lítio que apresenta baixo coeficiente de
expansão térmica e, portanto, não trinca com choques térmicos. É um material moldado no estado
vítreo e posteriormente devitrificado tornando-se material cerâmico.
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Figura 1.5 Tabela periódica mostrando composto cerâmico formado pela combinação de um ou mais
elementos metálicos (verde claro) com elementos não metálicos (verde escuro).
Figura 1.6 Algumas peças feitas de cerâmica para Figura 1.7 Vista de corte de uma turbina a gás
aplicações da engenharia tradicional. com vários componentes cerâmicos.
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Figura 1.8 Comparação esquemática em escala atômica da estrutura: a) cerâmica cristalina e b) vidro
(não cristalino) ou amorfo.
Figura 1.9 Vidro silicato para aplicações comuns Figura 1.10 Caçarola feita de vidro cerâmica.
de engenharia. Transparente e resistente a ataques Resiste a choque térmico e a altas temperaturas.
químicos.
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1.3.3 Polímeros
Talvez não exista uma classe de material mais característico do impacto da tecnologia moderna
no cotidiano das pessoas do que o polímero, mais comumente conhecido por plástico, que significa
alta formabilidade (ou deformabilidade) durante a fabricação. Esse material sintético é um ramo
especial da química orgânica. São inúmeros os exemplos de produtos funcionais de polímeros, figura
1.11. O “mero” é uma molécula de hidrocarboneto simples tal como o etileno (C2H4). Polímeros são
moléculas de cadeias longas compostas de muitos meros ligados entre si. O polímero comercial mais
comum é o polietileno (C2 H 4 )n em que n pode variar de aproximadamente 100 a 1000. A figura 1.12
mostra os poucos elementos que podem se combinar para formar os polímeros comerciais. A maioria
dos polímeros, como o polietileno, é composta de carbono e hidrogênio. Outros polímeros contêm
oxigênio (acrílico), nitrogênio (nylon) e silício (silicone). As características principais do plástico são:
a ductilidade, o baixo peso, o baixo custo podendo substituir muitas peças metálicas, por exemplo, na
fabricação de carros: pára-choques, painéis, etc., figura 1.13.
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Figura 1.12 Tabela periódica mostrando os elementos que formam os polímeros.
Figura 1.13 Substituição das tradicionais latarias de aço por plásticos de engenharia. No caso é um
nylon injetado.
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1.3.4 Compósitos
Os materiais compósitos, como o próprio nome diz, são feitos da combinação dos materiais
acima citados. O melhor exemplo é a fibra de vidro. São fibras de vidro embebidas numa matriz de
polímero e inventadas há algumas décadas e hoje bastante comuns. Combinam as melhores
características de cada elemento: alta resistência mecânica das fibras de vidro com a ductilidade da
matriz de polímero resultando em um material capaz de suportar cargas normais, pré-requisito de
materiais estruturais. As figuras 1.14 e 1.15 apresentam alguns exemplos.
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1.3.5 Semicondutores
Enquanto os polímeros são materiais de engenharia bastante aparentes, com impacto muito
grande na sociedade contemporânea, os semicondutores, praticamente invisíveis, estão presentes na
maioria dos aparelhos eletrônicos e revolucionando a era da comunicação.
Figura 1.16 Tabela periódica mostrando elementos semicondutores elementares (verde escuro) e
aqueles elementos que formam compostos semicondutores (verde claro).
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Figura 1.17 a) Microcircuito típico contendo um arranjo complexo de semicondutores e
b) vista ampliada do microcircuito.
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1.4 DA ESTRUTURA ÀS PROPRIEDADES
A relação que existe entre estrutura em nível atômico e propriedade pode ser citada através do
seguinte exemplo. Qualquer engenheiro preocupado com projetos deve saber que alguns metais são
dúcteis e outros frágeis. É sabido que as ligas de alumínio são caracteristicamente dúcteis e, as de
magnésio frágeis. Essa diferença no comportamento mecânico está relacionada à diferença na estrutura
cristalina dos dois elementos, figura 1.18. No capitulo 3, será visto com mais detalhes. Por hora basta
saber que o alumínio apresenta uma estrutura cúbica (CFC) e o magnésio, hexagonal compacto (HC) e
que a ductilidade depende da deformação ocorrendo facilmente em escala atômica (como será visto na
seção 6.3). Por sua vez, isso está relacionada a planos e direções de maior densidade atômica da
estrutura cristalina como mostrado na figura 1.18. O alumínio apresenta 12 combinações de planos e
direções de maior densidade atômica enquanto o magnésio, apenas 3. Portanto existem 4 vezes mais
combinações de planos e direções para a deformação mecânica na estrutura cristalina do alumínio que
no do magnésio. A figura 1.19 mostra o aspecto de fratura dos dois materiais em amostras tracionadas:
a) fratura dúctil em Al e b) fratura frágil em Mg.
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perda na transparência devido ao mecanismo de espalhamento da luz. Cada interface Al2O3 -ar na
superfície do poro é uma fonte de refração de luz (mudança na direção). Somente com cerca de 0,3%
ou menos de porosidade permite que o Al2O3 seja translúcido (capaz de transmitir uma imagem
difusa), e 3% de porosidade pode tornar o material completamente opaco, figura 1.20. A eliminação da
porosidade resultou de uma invenção relativamente simples: adição de uma pequena quantidade
(0,1wt%) de MgO que permitiu uma densificação elevada a alta temperatura dos pós de Al2O3 . A
microestrutura isenta de poros resultou em material praticamente transparente, com uma propriedade
adicional importante – excelente resistência ao ataque químico do vapor de sódio a alta temperatura.
Cilindros de Al2O3 translúcidos tornou-se o coração dos projetos de lâmpadas de sódio de alta
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Figura 1.20 a) Microestrutura porosa de Al2O3 (Alumina) policristalina leva a um material opaco, b);
c) Al2O3 policristalina isenta de porosidade se transforma em material transparente, d).
Figura 1.21 Lâmpada de vapor de sódio com cilindro translúcido de Alumina contendo vapor de sódio.
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1.5 PROCESSAMENTO DE MATERIAIS
O uso de materiais na moderna tecnologia depende da habilidade dos homens em produzir tais
materiais. Mais tarde veremos com mais detalhes como esses materiais são processados. Veremos que
o processamento dos materiais vai desde a tradicional fundição de metais, figura 1.22 a técnicas mais
recentes de fabricação de circuitos integrados, figura 1.23.
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1.6 SELEÇÃO DE MATERIAIS
Na seção 1.3 foi respondida a questão: Que materiais são disponíveis? Na seção 1.4
verificaram-se porque esses diferentes materiais comportam de uma determinada maneira. Uma nova
questão é: Que material deve se escolher para uma particular aplicação? A seleção de materiais é a
decisão prática e final no processo de projeto de engenharia e pode determinar por último se o mesmo é
viável ou não. De fato existem duas decisões separadas a serem feitas. Primeiramente, deve-se decidir
que tipo geral de material é apropriado (metálico, cerâmico, etc.). Em seguida, deve-se encontrar o
melhor material específico dentro daquela categoria (é a liga de magnésio preferível à de alumínio ou
ao aço?).
Assim como o metal é um material inadequado para substituir semicondutores, estes não podem
ser considerados para aplicações estruturais. Dos três materiais estruturais comuns (metal, cerâmica e
polímero), polímeros devem ser inicialmente rejeitados devido a sua baixa resistência mecânica.
Embora algumas cerâmicas estruturais possam resistir à carga de serviço antecipado, estas geralmente
falham no tocante à ductilidade e não resistem aos manuseios práticos. O uso desses materiais
extremamente frágeis num projeto que envolve pressão pode ser extremamente perigoso (materiais
cerâmicos são extremamente resistentes à carga de compressão como será visto futuramente). Vários
metais comuns apresentam resistência suficiente e ductilidade e seriam possíveis candidatos. Deve ser
notado também que muitos compósitos reforçados com fibras poderiam satisfazer os pré-requisitos do
projeto. No entanto, o terceiro critério, o custo, os eliminaria da competição. O custo adicional de
produção, com um material mais sofisticado, seria justificado somente se resultasse numa vantagem
especial, como por exemplo, na redução do peso. No entanto, para o cilindro de gás, figura 1.24-b,
metal seria a escolha certa.
Reduzindo a seleção aos metais, resta ainda uma lista enorme de materiais candidatos. Mesmo
considerando a disponibilidade comercial com preço moderado e propriedades mecânicas aceitáveis,
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sobra ainda uma lista considerável de candidatos. Ao fazer a seleção final da liga, comparações de
propriedades devem ser feitas passo a passo.
Figura 1.24 a) Seqüência de escolha levando à seleção do metal como material adequado para a
fabricação dos cilindros de gás e b) cilindros de gás.
RESUMO
A grande variedade de materiais disponíveis aos engenheiros pode ser dividida em cinco
categorias: metais, cerâmicos e vidros, polímeros, compósitos e semicondutores. As três primeiras
categorias podem ser associadas com distintos tipos de ligações atômicas. Compósitos envolvem a
combinação de dois ou mais materiais a partir dos três primeiros acima citados. As quatro categorias
iniciais constituem os materiais estruturais. Os semicondutores são uma classe especial de materiais
eletrônicos com características únicas com condutividade elétrica intermediária. Entender as
propriedades desses vários materiais requer o exame da estrutura em escala microscópica ou
submicroscópica. A ductilidade relativa de certas ligas metálicas está relacionada à arquitetura em
escala atômica. Similarmente, o desenvolvimento de cerâmicas transparentes requer o controle
cuidadoso da arquitetura em escala microscópica. Uma vez entendido as propriedades dos materiais, a
seleção prática dos materiais é feita em dois níveis. Num primeiro plano, existe a competição entre as
várias categorias de materiais. Num segundo plano, existe a competição dentro de uma categoria mais
apropriada para o material ótimo especificado. Alem disso, novos desenvolvimentos podem levar a
seleção de um material alternativo para um determinado projeto.
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CAPÍTULO 2
LIGAÇÕES ATÔMICAS
Introdução
No capítulo 1 foram mostrados os tipos básicos de materiais disponíveis aos engenheiros. Uma
maneira de classificar esses materiais é baseada na natureza das ligações atômicas. As ligações
atômicas podem ser classificadas em duas categorias: As ligações primárias que envolvem
transferência ou compartilhamento de elétrons e produz uma junção de átomos adjacentes
relativamente forte. Estão nesta categoria as ligações iônicas, covalentes e metálicas. As ligações
secundárias envolvem uma atração entre átomos relativamente fraca não ocorrendo transferência ou
compartilhamento de elétrons. As ligações de Van der Walls estão nesta categoria. Cada um dos quatro
tipos fundamentais dos materiais de engenharia (metal, cerâmica e vidros, polímeros e semicondutores)
está associado com um certo tipo (ou tipos) de ligação atômica.
A fim de se entender as ligações entre os átomos, é necessário ter uma visão da estrutura interna
do átomo individual. Para esse propósito, é suficiente usar o modelo planetário simplificado, isto é,
elétrons orbitando em torno do núcleo. Não é necessário considerar a estrutura detalhada dos núcleos
para os quais os físicos, nas últimas décadas, têm catalogado um vasto número de partículas
elementares.
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figura 2.1, contêm em seu núcleo seis prótons e seis nêutrons, portanto uma massa atômica de 12uma.
É também conveniente notar que existe 0,6023.1024uma/g. Esse número, conhecido como número de
Avogadro, representa o número de prótons ou nêutrons necessários para produzir a massa de 1g. O
número de Avogadro do átomo de C12 teria a massa de 12,00g 1 . Átomo de carbono que ocorre
naturalmente tem massa atômica 12,011uma devido à presença de 1,1% do isótopo de C13 na qual o
núcleo contém 6 prótons e 7 nêutrons. Nesse caso, o número de 6 prótons ainda identifica o elemento
como carbono. O número de prótons no núcleo é conhecido como número atômico do elemento.
Diferentes números de nêutrons (seis ou sete) identificam diferentes isótopos (várias formas de um
elemento que diferem no número de nêutrons no núcleo). A bem conhecida periodicidade dos
elementos químicos é baseada nesse sistema de número atômico elementar e massas atômicas
arranjadas em grupos quimicamente similares (colunas verticais) numa tabela periódica, figura 2.2.
Enquanto a identificação química é feita relativo aos núcleos, ligações atômicas envolvem
elétrons e orbitais eletrônicos. O elétron, com uma massa de 0,911.10-27g trás uma contribuição
desprezível a massa atômica de um elemento. Entretanto, essa partícula tem uma carga negativa de
─0,16.10-18C (coulomb) igual em magnitude a +0,16.10-18C, carga de cada próton. O nêutron é
eletricamente neutro.
1
O número de Avogadro dos átomos de um dado elemento é denominado átomograma. Para um composto, o termo
correspondente é mol; isto é, um mol de NaCl contem número de Avogadro de átomos de sódio e número de Avogadro de
átomos de cloro.
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Figura 2.2 Tabela periódica dos elementos indicando o número atômico e a massa atômica (em uma)
Elétrons são exemplos excelentes da dualidade onda partícula; isto é, são entidades na escala
atômica exibindo o comportamento de uma partícula e comportamento de uma onda. Está além do
escopo dessa disciplina lidar com os princípios da mecânica quântica que definem a natureza dos
elétrons orbitais (baseado na característica ondulatória dos elétrons). No entanto, um breve resumo da
natureza dos elétrons orbitais é aconselhável. Como mostrado esquematicamente na figura 2.1, elétrons
são agrupados em determinados orbitais em torno do núcleo 2 . Adicionalmente, cada raio orbital é
caracterizado por um nível de energia, uma determinada energia de ligação entre o elétron e seu
núcleo. A figura 2.3 mostra o diagrama do nível de energia para os elétrons no átomo do C12. É
importante notar que os elétrons em torno do núcleo do C12 ocupam esse níveis específicos, com níveis
de energia intermediária proibidas. As energias proibidas correspondem a condições da mecânica
quântica não aceitáveis; isto é, ondas estacionárias não podem ser formadas.
2
As posições discretas na figura 2.1 na realidade representam posições médias. A mecânica quântica mostra que a carga
eletrônica é encontrada num intervalo de raio em torno da posição média. Isso terá conseqüências na definição do tamanho
de átomo na próxima seção.
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Figura 2.3 Diagrama dos níveis de energia para os elétrons orbitais do átomo de C12.
Uma lista detalhada das configurações eletrônicas para os elementos da tabela periódica se
encontra no Apêndice 1 juntamente com outros dados úteis. A notação para nomear os orbitais
eletrônicos é derivada a partir dos números quânticos da mecânica ondulatória. Esses inteiros
relacionam-se a soluções da equação de onda apropriada. Nesse livro não se lidará com detalhes desse
sistema de numeração. Por exemplo, o Apêndice 1 diz que existem dois elétrons no orbital 1s. O 1 é o
número quântico principal, identificando-o como o primeiro nível de energia. Existem também dois
elétrons cada nos orbitais 2s e 2p. As notações s e p, e assim por diante, referem-se a um conjunto de
números quânticos adicionais. Os seis elétrons no átomo do C12 são distribuídos como 1s22s22p2, isto é,
dois elétrons no orbital 1s, dois elétrons no orbital 2s e dois elétrons no orbital 2p. Na realidade, os
quatro elétrons do orbital externo do C12 se redistribuem para produzir a geometria característica de
ligações entre átomos de carbono e átomos adjacentes, isto é, 1s22s12p3. Essa configuração sp3 no
segundo nível de energia do carbono, chamada de hibridização, está indicada nas figuras 2.1 e 2.3 e é
discutida em maiores detalhes na seção 2.3 (veja especificamente a figura 2.19).
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2.2 LIGAÇÃO IÔNICA
É importante notar que a ligação iônica é não direcional. O Na+ carregado positivamente atrai
qualquer Cl − igualmente em todas as direções. A figura 2.5 mostra como os íons de Na+ e Cl − são
arranjados num sólido de cloreto de sódio (sal). Os detalhes dessa estrutura serão discutidos no capítulo
3. Por ora é suficiente saber que isso é um excelente exemplo de um material ligado iônicamente, e que
os íons de Na+ e Cl − são empilhados sistematicamente para maximizar o número de íons adjacentes de
sinais contrários.
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A ligação iônica é o resultado da atração coulombiana entre as espécies de sinais contrários. É
conveniente ilustrar a natureza das forças de ligações iônicas porque as forças coulombianas seguem
uma relação simples bem conhecida,
K
Fc = − E2.1
a2
K = k0 ( Z1q)(Z 2 q) E2.2
O gráfico da E2.1, figura 2.6, mostra que a força de atração coulombina aumenta
dramaticamente quando a distância de separação, a, entre os centros dos íons decresce. Isso por sua
vez, implica que o comprimento de ligação, a, idealmente estaria aproximando do zero. Mas
definitivamente isso não acontece, pois na tentativa de aproximar os dois íons de sinais contrários para
aumentar a atração coulombiana aparece uma outra força repulsiva, FR, que é devida à superposição
de campos elétricos de cargas de mesmo sinal (negativas) de cada um dos íons bem como a interação
entre os dois núcleos de cargas positivas. A força repulsiva em função da distância de separação a,
segue uma relação exponencial:
FR = λe − a / ρ E2.3
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Figura 2.6 Força de Coulomb em função da Figura 2.7 Curva da força de ligação líquida para
distância de separação a (E2.1). o par de íons Na+ e Cl-, ao=0,28nm.
dE
F= E2.4
da
Dessa maneira, a curva da força de ligação, figura 2.7, é a derivada da curva de energia de
ligação. Essa relação, mostrada na figura 2.8, demonstra que o comprimento de ligação de equilíbrio,
ao, que corresponde a F=0, também corresponde ao mínimo na curva de energia. Essa é a conseqüência
da E2.5; isto é, a inclinação da curva de energia no ponto de mínimo é zero:
⎛ dE ⎞
F =0=⎜ ⎟ E2.5
⎝ da ⎠ a = a0
Esse é um conceito importante na ciência dos materiais e será visto ainda muitas vezes nesse
livro. A posição estável do íon corresponde à energia mínima. Para mover os íons da posição de
equilíbrio, energia deve ser suprida ao sistema, por exemplo, por compressão ou por tração.
Tendo estabelecido que existe um comprimento de ligação de equilíbrio, ao, segue que esse
comprimento é a soma dos dois raios atômicos; isto é, para NaCl ,
J Otubo 29
a0 = rNa + + rCl − E2.6
Isso implica que os dois íons são esferas rígidas tocando em um ponto único. Na seção 2.1 foi
mencionado que, enquanto os elétrons orbitais são representados como partículas orbitando com raios
fixos, carga eletrônica é encontrada num intervalo de raios. Isto é verdade para íons bem como para
átomos neutros. Raio atômico ou iônico é, então, o raio correspondente à média da densidade
eletrônica na camada mais externa do orbital eletrônico. Figura 2.9 compara três modelos para o para
íon Na+-Cl─: a) mostra o modelo planetário para os dois íons; b) mostra o modelo de esferas rígidas e
c) o modelo de esferas não rígidas na qual a densidade eletrônica real nos orbitais externos do Na+ e do
Cl- se estendem um pouco mais que no modelo das esferas rígidas. Pelo fato de ao ser uma medida
bastante precisa, o modelo de esfera rígida funciona muito bem e será utilizado no restante do livro. O
Apêndice 2 dá uma lista detalhada dos raios iônicos calculados para um grande número de espécies
iônicas.
Figura 2.8 Comparação entre as curvas da força de Figura 2.9 a) Modelo planetário, b) Modelo de
ligação e energia de ligação para os íons Na+ e Cl esferas rígidas e c) Modelo de esferas “moles”.
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A ionização tem um efeito significativo no raio efetivo (esfera rígida) para as espécies atômicas
envolvidas. Embora a figura 2.4 não indique esse fato, a perda ou o ganho de um elétron por um átomo
neutro altera o seu raio. A figura 2.10 ilustra novamente a formação de uma ligação iônica entre Na+ e
Cl─ (compare com a figura 2.4). Na figura 2.10, as dimensões atômicas e iônicas são mostradas em
escala correta. A perda de um elétron pelo átomo de sódio permite que os 10 elétrons se aproximem
mais do núcleo que ainda contem os 11 prótons. Por outro lado, o ganho de um elétron pelo cloro
proporciona 18 elétrons em torno do núcleo de 17 prótons e, portanto um raio efetivo maior.
Figura 2.10 O efeito da ionização nos raios atômicos dos átomos de Na e Cl na formação de uma
ligação iônica.
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2.2.1 NÚMERO DE COORDENAÇÃO
No inicio dessa seção foi introduzido o conceito de não direcionalidade da ligação iônica. A
figura 2.5 mostrou a estrutura do NaCl na qual seis íons de Na+ circundavam cada íon de Cl─ e vice
versa. O número de coordenação (NC) é o número de íons (ou átomos) adjacentes circundando um
íon (ou átomo) de referência. Para cada íon na figura 2.5, o NC é 6; isto é, cada um tem 6 vizinhos mais
próximos. Para compostos iônicos, o NC do íon menor pode ser calculado de maneira sistemática
considerando o número máximo de íon maior (de carga oposta) que pode estar em contato com, ou
coordenado com o íon menor. O NC depende diretamente do tamanho relativo dos íons (positivos e
negativos). O tamanho relativo é caracterizado pela razão dos raios (r/R), onde r é o raio do íon menor
e R o do maior.
Para ilustrar a dependência do NC e a razão dos raios, considere o caso de r/R=0,20. A figura
2.11 demonstra que o número máximo de íons maior que pode coordenar com o menor é 3. Qualquer
tentativa de colocar 4 íons, requer que haja superposição dos mesmos. Essa é uma condição de grande
instabilidade devido ao aparecimento de forças repulsivas. O valor mínimo de r/R que pode produzir
NC=3 é r/R=0,155 como mostrado na figura 2.12, isto é, os íons de dimensão maior estão
simplesmente se tocando e, tocando o íon menor. O valor de r/R<0,155 não permite NC=3, assim
como NC=4 era instável na figura 2.11. À medida que a razão r/R aumenta acima de 0,155, estabiliza-
se o NC=3 (figura 2.11 para r/R=0,20) até r/R=0,225, quando o NC=4 torna-se possível. A tabela 2.1
resume as relações que existem entre NC e razão entre raios. Quando r/R=1 é possível ter-se NC=12.
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Figura 2.12 Razão máxima entre raios para que se tenha NC=4: r/R=0,155.
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2.3 LIGAÇÃO COVALENTE
Enquanto a ligação iônica é não direcional, a ligação covalente é altamente direcional. O nome
“covalente” vem do fato de os elétrons de valência serem compartilhados entre dois átomos adjacentes.
Elétrons de valência são os elétrons do orbital externo que tomam parte na ligação. A figura 2.13
ilustra uma ligação covalente na molécula de gás cloro (Cl2) com, a) no modelo planetário comparado
a b) densidade eletrônica real, que é claramente concentrado ao longo de uma linha reta entre os dois
núcleos de Cl. A notação comum de elétrons como pontos, c), e por linha de ligação d) é mostrada
também na figura 2.13.
A figura 2.14-a representa outra molécula covalente, o etileno (C2H4). A linha dupla entre os
dois átomos de carbono significa uma ligação dupla, ou compartilhamento covalente de dois pares de
elétrons de valência. Convertendo a dupla ligação para duas ligações simples, as moléculas de etileno
adjacentes podem ser ligadas covalentemente levando à formação de uma molécula de cadeia longa de
polietileno, figura 2.4-b. Tais moléculas poliméricas (cada unidade de C2H4 é um “mero”) são a base
estrutural dos polímeros. No capítulo 13, os materiais poliméricos serão discutidos em mais detalhes.
Por ora é suficiente entender que moléculas de cadeias longas desse tipo têm flexibilidade suficiente
para preencher o espaço tridimensional por uma estrutura encaracolada complexa. Figura 2.15 é um
esquema bidimensional de tal estrutura em forma de espaguete. As linhas retas entre C e C e entre C e
H representam as ligações covalentes fortes. Já as ligações entre as longas cadeias são feitas por
ligações secundárias. Essas ligações secundárias, que são ligações fracas promovem baixa resistência
mecânica e baixo ponto de fusão nos polímeros tradicionais. Contrastando, diamante, com excepcional
alta dureza e ponto de fusão maior que 3.500ºC, tem ligação covalente entre cada um dos pares de
átomos de carbonos adjacentes, figura 2.16.
É importante notar que a ligação covalente pode produzir NC substancialmente menor que o
previsto pela consideração de relação entre os raios da ligação iônica. Para o diamante, a relação entre
raios, r/R=1, (átomos iguais) mas a figura 2.16 mostra que o NC é 4 e não 12, como previsto pela
tabela 2.1. Nesse caso, o NC para o carbono é determinado por sua característica ligação de
hibridização sp3 na qual os quatro elétrons da camada externa do átomo de carbono são compartilhados
em direções igualmente espaçadas.
J. Otubo 34
logo abaixo do carbono no grupo IVA da tabela periódica e exibe comportamento químico semelhante e
4−
forma muitos compostos com NC=4. A unidade SiO4 mantém essa configuração de ligação, mas,
simultaneamente, tem característica iônica muito forte, incluindo concordância com a tabela 2.1. A
razão entre os raios ( rSi 4 + / rO2 = 0,039 nm / 0,132 nm = 0,295 ) está no intervalo correto
( 0,255 < r / R < 0,414 ) para produzir a máxima eficiência de coordenação iônica NC=4. De fato, a
ligação Si-O é aproximadamente metade iônica (transferência de elétrons) e metade covalente
(compartilhamento de elétrons).
As curvas de força de ligação e de energia de ligação para a ligação covalente é similar àquela
mostrada na figura 2.8 para a ligação iônica. A natureza diferente dos dois tipos de ligações implica,
certamente, que as equações de força (E2.1 e E2.2) não se aplicam. Apesar disso, a terminologia geral
de energia de ligação e comprimento de ligação se aplicam em ambos casos, figura 2.18. A tabela 2.2
resume os valores de energia de ligação e de comprimentos de ligações para as principais ligações
covalentes.
Outra característica importante dos sólidos covalentes é o ângulo de ligação, determinada pela
natureza direcional do compartilhamento dos elétrons de valência. A figura 2.19 ilustra o ângulo de
ligação para o típico átomo de carbono, que tende a formar quatro ligações igualmente espaçadas. A
configuração tetraédrica, figura 2.17, dá um ângulo de ligação de 109,5º. O ângulo de ligação pode
variar levemente dependendo das espécies na qual a ligação está acoplada, ligação dupla, e assim por
diante. Em geral, o ângulo de ligação envolvendo carbono é próximo de 109,5º.
J. Otubo 35
Figura 2.13 Ligação covalente em uma
Figura 2.14 a) Molécula de etileno – C2H4,
molécula de gás cloro, Cl2, a) Modelo
b) Molécula de polietileno através da
planetário, b) Modelo de densidade eletrônica,
transformação da ligação dupla C=C para
c) Elétrons como pontos e d) Representação de
ligação simples C-C.
um par de elétrons por linha.
J. Otubo 36
Figura 2.16 Estrutura tridimensional das ligações Figura 2.17 Íon de SiO44- .
covalentes dos átomos de carbono - diamante.
Figura 2.18 Forma geral de uma curva de energia de Figura 2.19 Configuração tetraédrica das
ligação covalente. ligações covalentes dos átomos de carbono. O
ângulo de ligação é de 109,5o.
J. Otubo 37
Tabela 2.2 Energia de ligação e comprimento de ligação para ligações covalentes.
Energia de ligação Comprimento de
ligação ligação
kcal/mol kJ/mol
(nm)
C–C 88 370 0,154
C=C 162 680 0,13
C–C 213 890 0,12
C–H 104 435 0,11
C–N 73 305 0,15
C–O 86 360 0,14
C–O 128 535 0,12
C–F 108 450 0,14
C – Cl 81 340 0,18
O–H 119 500 0,10
O–O 52 220 0,15
O – Si 90 375 0,16
N–H 103 430 0,10
N–O 60 250 0,12
F–F 38 160 0,14
H–H 104 435 0,074
A ligação iônica envolveu transferência de elétrons e era não direcional. A ligação covalente
envolveu compartilhamento de elétrons e era direcional. O terceiro tipo de ligação primária, a ligação
metálica, envolve compartilhamento de elétrons e é não direcional (as ligações). Nesse caso, os
elétrons de valência são não-localizados (móveis), isto é, tem a mesma probabilidade de estar
associado a qualquer dos inúmeros átomos adjacentes. Em metais típicos, essa não-localização está
associada com o material todo, levando a uma nuvem de elétrons, ou gás de elétrons, figura 2.20. Esse
“gás” móvel é a base para a alta condutividade nos metais. (As regras de estrutura eletrônica para
produzir elétrons de condução serão discutidas no capítulo 15).
Novamente o conceito de poço (well) de energia de ligação como mostrado na figura 2.18 se
aplica. Semelhante a ligação iônica, ângulos de ligação e números de coordenação são primariamente
determinadas pelas considerações de eficiência de empacotamento. Devido a isso, o NC tende a ser alto
(8 e 12). Em relação à curva de energia de ligação, uma lista detalhada dos raios atômicos para os
elementos é dada no Apêndice 2, que inclui metais elementares importantes e também uma lista dos
J. Otubo 38
raios iônicos. Algumas dessas espécies iônicas são encontradas em importantes cerâmicas e vidros.
Uma inspeção no Apêndice 2 mostra que o raio do núcleo do íon metálico envolvido em ligações
metálicas, figura 2.20, difere substancialmente do raio do íon metal que teve elétrons de valência
transferidos.
Em vez de uma lista de energia de ligações para metais e cerâmicas apresentadas para ligações
covalentes como na tabela 2.2, a tabela 2.3 mostra o calor de sublimação associado ao sólido como um
todo (bulk) de alguns metais comuns e seus óxidos (alguns compostos cerâmicos comuns). O calor de
sublimação representa a quantidade de energia térmica necessária para transformar 1 mol de sólido
diretamente em vapor a uma temperatura fixa. É uma boa indicação da relativa resistência da ligação
no sólido.
Al 78 326
Cu 81 338
J. Otubo 39
2.5 LIGAÇÕES SECUNDÁRIAS OU DE VAN DER WALLS
A maior fonte de coesão em um dado material de engenharia está baseada em um ou mais tipos
de ligações primárias anunciadas anteriormente. Como visto na tabela 2.2, energias de ligações
primárias típicas variam de 200 a 700kJ/mol (~50 a 170kcal/mol). É possível obter alguma ligação
atômica (com energia de ligação substancialmente menor) sem transferência ou compartilhamento de
elétrons. Isso é conhecido como ligação secundária, ou ligação de van der Walls. O mecanismo de
ligação secundária é de alguma forma similar à ligação iônica, isto é, a atração entre cargas opostas. A
diferença fundamental é que não ocorre transferência de elétrons. Atração depende da distribuição
assimétrica das cargas positivas e negativas dentro de cada átomo ou unidade molecular sendo ligadas.
Tal assimetria de cargas é denominada de dipolo. As ligações secundárias podem ser de dois tipos
dependendo de os dipolos serem temporários ou permanentes.
A figura 2.22 ilustra como dois átomos neutros podem desenvolver uma força de ligação fraca
entre eles por uma leve distorção de sua distribuição de cargas. O exemplo é o argônio, um gás nobre
que não tende a formar ligação primária porque possui a camada orbital externa preenchida e estável.
Um átomo de argônio isolado tem uma distribuição esférica perfeita de cargas elétricas negativas
circundando o seu núcleo positivo. Entretanto, quando um outro átomo de argônio é aproximado, a
carga negativa é puxada levemente em direção ao núcleo positivo do átomo adjacente. Essa leve
distorção da distribuição de cargas ocorre simultaneamente em ambos os átomos. O resultado é um
dipolo induzido. Pelo fato de o grau de distorção, da carga relacionado ao dipolo induzido, ser
pequeno, a magnitude do dipolo resultante é pequena e conseqüentemente levando à energia de ligação
relativamente pequena (0,99kJ/mol ou 0,24kcal/mol).
Energias de ligações secundárias são um pouco maiores quando unidades moleculares contendo
dipolos permanentes são envolvidas. Talvez o melhor exemplo disso é a ponte de hidrogênio, que
conecta as moléculas adjacentes de água, H2O, figura 2.23. Devido à natureza direcional do
compartilhamento de elétrons na ligação covalente O-H, os átomos de hidrogênio tornam-se centros
positivos e os átomos de oxigênio centros negativos para as moléculas de H2O. A maior separação de
cargas possível em tal molécula polar, uma molécula com uma separação permanente de cargas, dá
um maior momento de dipolo (produto da carga versus distância de separação entre centros de cargas
negativa e positiva) e, portanto uma energia de ligação maior (21kJmol ou 5kcal/mol). As ligações
entre cadeias poliméricas adjacentes tal como no polietileno são ligações secundárias.
J. Otubo 40
Figura 2.22 Desenvolvimento de dipolos induzidos entre dois átomos de argônio (Ar) adjacentes
levando a uma ligação secundária fraca.
Figura 2.23 Ponte de hidrogênio. Ligação secundária formada entre dois dipolos permanentes em
moléculas de água adjacentes.
J. Otubo 41
2.6 MATERIAIS – A CLASSIFICAÇÃO DAS LIGAÇÕES
A representação das relativas energias de ligação dos vários tipos de ligações desse capítulo é
obtida por comparação dos pontos de fusão. O ponto de fusão de um sólido indica a temperatura na
qual o material deve ser aquecido para prover energia térmica suficiente para quebrar as ligações
coesivas. A tabela 2.4 mostra exemplos representativos usados nesse capítulo. Uma chamada especial
deve ser feita ao polietileno que apresenta caráter de ligação mista. Como discutida na seção 2.3, a
ligação secundária é uma ligação fraca que causa ao material perda de rigidez estrutural acima de
aproximadamente 120oC. Isso não é um ponto de fusão preciso, mas uma temperatura acima da qual o
material amolece rapidamente com o aumento da temperatura. A irregularidade da estrutura polimérica,
figura 2.15, produz comprimento de ligações secundárias variável e, portanto, energias de ligação
variável. Mais importante que a variação na energia de ligação é o valor médio que é relativamente
pequeno. Embora o polietileno e o diamante apresentem cada um ligação covalente C-C similar, a
ausência de ligação secundária fraca permite ao diamante manter sua rigidez estrutural mais de 3000oC
além do polietileno.
Foi visto até aqui os quatro tipos de ligações atômicas principais consistindo de três ligações
primárias (iônica, covalente e metálica) e ligação secundária. É tradição distinguir os três tipos
fundamentais de materiais estruturais (metais, cerâmicas e polímeros) como sendo diretamente
associados com os três tipos de ligações primárias (metálica, iônica e covalente respectivamente). Esse
é um conceito útil, no entanto foi visto nas seções 2.3 e 2.5 que polímeros apresentam tanto ligações
covalentes como ligações secundárias. Também na seção 2.3, foi visto que uma das cerâmicas mais
importantes tem caráter covalente forte e também iônico. A tabela 2.5 resume as características das
ligações associadas com os quatro tipos fundamentais de materiais de engenharia junto com exemplos
representativos. Vale lembrar o caráter de ligação mista para cerâmicas (iônica e covalente) e
polímeros (covalentes e secundários). A contribuição relativa dos diferentes tipos de ligações pode ser
mostrada através de um tetraedro de tipos de ligações, na qual cada vértice representa um tipo de
ligação pura, figura 2.24.
J. Otubo 42
Tabela 2.4 Comparação dos pontos de fusão de alguns materiais representativos.
Tabela 2.5 Características das ligações dos quatro tipos de materiais de engenharia.
Figura 24 Tetraedro de ligações para os quatro tipos principais de materiais de engenharia: metal,
cerâmica e vidro, polímeros e semicondutores.
J. Otubo 43
RESUMO
Uma das bases de classificação dos materiais de engenharia é a ligação química. Enquanto a
natureza química de cada átomo é determinada pelo número de prótons e nêutrons dentro do núcleo, a
natureza da ligação atômica é determinada pelo comportamento dos elétrons que circundam o núcleo.
Existem três tipos de ligações fortes ou primárias responsáveis pela coesão dos sólidos:
J. Otubo 44
PROBLEMAS EXEMPLOS (PE’s)
PE2.1 Numa análise química é tomado como amostra um cilindro com 1μm de diâmetro por 1μm de
profundidade na superfície do cobre sólido. Calcule o número de átomos de cobre amostrado.
PE2.2 – Um mol de MgO sólido ocupa um cubo de 22,37mm de lado. Calcule a densidade do MgO em
(g/cm3).
PP2.1 Calcule o número de átomos contido em um cilindro de 1μm de diâmetro por 1μm de altura do
a) Mg e b) Pb.
PP2.2 Usando a densidade do MgO calculado no PE2.2, calcule a massa de um tijolo refratário
(resistente ao calor) com dimensões: 50mm × 100mm × 200mm .
PP2.3 Calcule as dimensões de: a) um cubo contendo 1mol de cobre (Cu) e b) um cubo contendo 1mol
de chumbo (Pb).
PP2.5 a) Usando dados de raio iônico dados no Apêndice 2, calcule a força de atração coulombiana
entre o par de íons Mg2+-O2-. b) Qual é a força de repulsão nesse caso? (Veja PE2.5 e 2.6).
PP2.6 Calcule a razão dos raios mínimos para o NC a) 4 e b) 6. (Veja PE2.7).
J. Otubo 45
CAPÍTULO 3
Introdução
Vimos no capítulo 1 que os materiais poderiam ser cristalinos (arranjo regular de átomos) ou
não cristalinos (arranjo não regular de átomos).
A descrição da estrutura cristalina por meio de células unitárias é muito importante, pois todas
as estruturas possíveis se reduzem a um número reduzido de geometrias da célula unitária. Existem
somente sete formas únicas de célula unitária que podem ser empilhadas juntas para preencher o espaço
tridimensional. São os sete sistemas cristalinos definidos e ilustrados na tabela 3.1. Segundo, é
necessário saber como os átomos (modelo de esferas rígidas) podem ser empilhados dentro de uma
dada célula unitária. Para tanto, representamos os átomos reais como pontos denominados de pontos
da rede (lattice points). Novamente, existe um número limitado de possibilidades, denominados de 14
J. Otubo 46
redes de Bravais, tabela 3.2. O empilhamento periódico das células unitárias da tabela 3.2 gera os
pontos da rede, arranjo de pontos idênticos no espaço tridimensional. Essas redes são esqueletos sobre
os quais a estrutura cristalina é construída colocando-se átomos ou grupos de átomos.
A figura 3.3 mostra a possibilidade mais simples com um átomo centrado em cada ponto da
rede. Podemos ter também associado a um ponto da rede mais de um átomo.
Figura 3.1 Várias unidades estruturais que descrevem a estrutura cristalina. A unidade estrutural mais
simples é a célula unitária.
J. Otubo 47
Figura 3.2 Geometria de uma célula unitária
geral.
J. Otubo 48
Tabela 3.1 Os sete sistemas cristalinos.
J. Otubo 49
Tabela 3.2 As quatorze redes cristalinas (redes de Bravais).
Conforme pode ser observado no A1 (Apêndice 1), a maioria dos metais elementares, à
temperatura ambiente, são encontrados nas três formas estruturais: CCC, CFC ou HC.
A figura 3.4 mostra uma estrutura cúbica de corpo centrado (CCC). Um átomo centrado na
posição ½½½ e 1/8 de átomo nos 8 vértices da célula unitária (cada átomo do vértice é compartilhado
1
com 8 células unitárias vizinhas), ou seja, 1 + 8 × = 2 átomos. Portanto existem dois átomos por célula
8
unitária na estrutura CCC. O fator de empacotamento atômico (FEA) para essa estrutura é 0,68. Isto
é, os dois átomos ocupam 68% do volume da célula unitária. Metais típicos com essa estrutura incluem
o Fe-α (da temperatura ambiente até 912°C), V, Cr, Mo e W. Uma liga em que um desses elementos
seja predominante, tenderá a prevalecer essa estrutura.
J. Otubo 50
3.2.2 Estrutura Cúbica de Face Centrada
A figura 3.5 mostra uma estrutura cúbica de face centrada (CFC) com ½ átomo em cada face
do cubo e 1/8 de átomo em cada um dos vértices da célula unitária. Logo o número de átomos será:
1 1
6× + 8 × = 4 . O FEA=0,74 para essa estrutura, ou seja, 74% do volume da célula unitária é ocupada
2 8
pelos 4 átomos. É o empacotamento máximo que se consegue no empilhamento de esferas rígidas de
mesmo diâmetro. Seu NC=12 (número de coordenação). Metais típicos que apresentam estrutura CFC
incluem Fe-γ (forma estável do ferro entre temperaturas de 912 a 13940C), Al, Ni, Cu, Ag, Pt e Au.
A figura 3.6 apresenta uma estrutura hexagonal compacta (HC). Essa estrutura apresenta dois
átomos associados com cada ponto da rede de Bravais. Um átomo centrado dentro da célula unitária,
quatro átomos do vértice participando com 1/6 e quatro átomos com 1/12 perfazendo um total de 2
1 1
átomos/célula unitária, ou seja, 1 + 4 × + 4 × = 2 . O FEA é o mesmo da estrutura CFC, isto é, 0,74.
6 12
O NC de coordenação também é 12.
O que difere nessas duas estruturas é a maneira como os átomos são empilhados (arranjados)
para formar as respectivas estruturas. Para tanto veja a figura 3.7. As duas estruturas são
empilhamentos de planos de empacotamento denso. No caso de metais CFC, os planos de
empacotamento denso são os planos (111) e na estrutura HC são os planos (0002). No caso da estrutura
CFC, o arranjo de empilhamento é tal que a quarta camada (111) repete exatamente a primeira camada
(111). Na estrutura HC é a terceira camada (0002) é que se posiciona exatamente sobre a primeira
camada (0002) (veremos como identificar os planos mais adiante). Se chamarmos de A a primeira
camada, de B a segunda camada e de C a terceira camada de átomos, a seqüência de empilhamento na
estrutura CFC seria: ABCABCABC... e na estrutura HC seria: ABABAB... . Essa diferença no
empilhamento atômico pode levar a uma diferença significativa nas propriedades do material,
principalmente mecânicas como vimos no capítulo 2, caso do Al (CFC) e do Mg (HC). Metais típicos
com estrutura HC incluem o Be, Mg, Ti-α, Zn e o Zr.
A maioria dos metais cai dentro das três estruturas acima citada. Dê uma olhada no Apêndice 1
para ver alguns exemplos.
J. Otubo 51
Figura 3.5 Estrutura cubo de face centrada –
Figura 3.4 Estrutura cubo de corpo centrado –
CFC:
CCC:
a) O arranjo de pontos da rede para uma célula
a) O arranjo de pontos da rede para uma célula
unitária;
unitária;
b) O empacotamento real de átomos (modelo de
b) O empacotamento real de átomos (modelo de
esferas rígidas) dentro da célula unitária;
esferas rígidas) dentro da célula unitária;
c) A repetição da estrutura CFC, equivalente a
c) A repetição da estrutura CCC, equivalente a
muitas células unitárias juntas.
muitas células unitárias juntas.
J. Otubo 52
Figura 3.6 Estrutura hexagonal compacto – HC:
a) O arranjo de pontos da rede para uma célula unitária; existem dois átomos por célula unitária;
b) O empacotamento real de átomos (modelo de esferas rígidas) dentro da célula unitária;
J. Otubo 53
Figura 3.7 Comparação entre estrutura CFC e HC.
Existem poucas regras básicas para descrever a geometria dentro e em torno de uma célula
unitária. Vamos aprender um pouco dessas regras que falam da estrutura cristalina. Isso será útil mais
tarde quando estivermos lidando com propriedades dos materiais que são sensíveis à estrutura.
A figura 3.26 ilustra a notação para descrever as posições da rede expressas como frações (ou
múltiplos) das dimensões da célula unitária. Por exemplo, a posição de corpo centrado na célula
unitária se projeta a meio caminho de cada uma das arestas da célula unitária designado pela posição
111
. Um aspecto da natureza da estrutura cristalina é que uma dada posição da rede numa dada
222
célula unitária é estruturalmente equivalente à mesma posição em qualquer outra célula unitária de
mesma estrutura. Essas posições equivalentes são conectadas por translações na rede, consistindo de
inteiros múltiplos de constantes de rede ao longo das direções paralelas aos eixos cristalográficos,
figura 3.27.
J. Otubo 54
Figura 3.27 Translação da rede conecta posições
Figura 3.26 Notação para pontos da rede.
estruturalmente equivalentes.
A figura 3.28 ilustra a notação para descrever as direções da rede. Essas direções são expressas
como um conjunto de inteiros. Isso pode ser deduzido da seguinte forma: identifica-se o menor inteiro
de posição interceptado pela linha a partir da origem do eixo cristalográfico. Observamos que a linha
111
saindo da origem do eixo cristalográfico passando pela posição do corpo centrado pode ser
222
estendida para interceptar a posição 111 do vértice da célula unitária. Para não confundir com a
identificação de posição, os números indicando a direção são fechados entre colchetes. Logo a direção
que estamos procurando será [111]. Se o sentido for negativo, a notação deve indicar isso. Na figura
3.28, a barra sobre o número indica sentido negativo, isto é, a direção [111] indica que a linha sai da
origem e passa pela posição 11-1. Deve-se notar que as duas direções, [111] e [111] são estruturalmente
muito similares. Ambas são diagonais do corpo através de células unitárias idênticas. Na realidade,
todas as diagonais associadas ao sistema cristalino cúbico são estruturalmente idênticas diferindo
somente na orientação espacial, figura 3.29. As direções estruturalmente equivalentes são denominadas
de família de direções e é identificado por < >. A representação das diagonais do corpo no sistema
cúbico seria:
< 111 >= [111], [111], [111], [111], [111], [111], [111], [111] E3.1
J. Otubo 55
Figura 3.28 Notação para direções da rede.
Figura 3.29 Família de direções <111> representando todas as diagonais do cubo para as células
unitárias adjacentes no sistema cúbico.
J. Otubo 56
3.2.3 Planos da rede
A figura 3.30 ilustra a notação para descrever os planos da rede, isto é, planos na rede
cristalográfica. Tal como feito para indicar as direções, os planos também são indicados por um
conjunto de números inteiros conhecidos como índices de Miller. Os inteiros representam o inverso
das interseções dos eixos cristalográficos.
Considere o plano (210) (para representar plano usa-se parênteses) da figura 3.30a. A regra
básica para identificar um plano consiste em:
1
O plano em questão intercepta o eixo a em a , o eixo b em 1b e é paralela ao eixo c
2
(intersecção no infinito).
1 1 1
No caso seriam , , respectivamente, ou 2, 1, 0.
1
2
1 ∞
A notação geral para o índice de Miller é (hkl) e pode ser usada para qualquer um dos sete
sistemas cristalinos. Pelo fato de o sistema hexagonal poder ser representado convenientemente por
quatro eixos, um conjunto de quatro dígitos denominados de índices de Miller-Bravais (hkil) pode ser
definido como mostrado na figura 3.31. Desde que somente três eixos são necessários para definir a
geometria tridimensional do cristal, um dos inteiros do sistema Miller-Bravais se torna redundante.
Uma vez que um plano intercepta quaisquer dois eixos no plano basal da célula unitária, que contem os
eixos a1, a2 e a3, figura 3.31, a intersecção com o terceiro eixo do plano basal fica determinado. Como
resultado pode ser mostrado que h+k=-i para qualquer plano no sistema hexagonal. Isso permite que
qualquer plano no sistema hexagonal possa ser representado pelos índices de Miller-Bravais (hkil) ou
( )
por índices de Miller (hkl). Para o plano na figura 3.31 as designações poderiam ser 0110 ou (010) .
J. Otubo 57
Figura 3.30 Notação para planos (hkl) da rede. a) plano (210); b) outros planos.
Figura 3.31 Índice de Miller-Bravais, (hkil), para o Figura 3-32 Família de planos (100) representando
sistema hexagonal. todas as faces da célula unitária do sistema cúbico.
J. Otubo 58
PROBLEMAS EXEMPLOS – PE’s
PE3.8 Usando a tabela 3.2, liste as posições do ponto da rede para (a) rede de Bravais cubo de face
centrada (cfc) e (b) rede ortorrômbica de face centrada (ofc).
PE3.9 Que pontos da rede estão na direção [110] nas células unitárias cfc e ofc da T3.2?
PE3.14 Calcule a densidade linear de átomos ao longo da direção [111], a) no W (tungstênio) CCC e
b) no Al (alumínio) CFC.
Prof. J. Otubo 59
PROBLEMAS PRÁTICOS – PP’s
PP3.2 No PE3.2 a relação entre parâmetro de rede a , e o raio atômico r, para um metal CFC é dado
4
a= r
por 2 . Derive uma relação similar para: a) metal CCC e b) metal HC.
PP3.3 Calcule a densidade do Fe-α, que é um metal CCC. (Cuidado: Uma diferente relação entre o
parâmetro de rede a, e o raio atômico r, se aplicam para essa estrutura cristalina. Veja PP3.2 e T3.3.
PP3.9 Da T3.2 liste as posições de pontos da rede para, a) rede de Bravais CCC, b) rede TCC e c) rede
OCC (ortorrômbica de corpo centrado). Dica: veja PE3.8.
PP3.10 Use um esquema para determinar que pontos da rede estão ao longo da direção [111] no, a)
CCC; b) TCC e c) OCC das células unitárias da T3.2. Dica: veja PE3.9.
PP3.14 Esquematize o plano (311) e suas intersecções. Dica: Veja PE3.12 e F3.30.
PP3.15 Esquematize os 12 membros da família de planos {110} determinados no PE3.13. Dica: Para
simplificar, você poderá usar mais de um esquema.
PP3.16 Calcule a densidade linear de átomos ao longo da direção [111] no, a) Fe CCC e b) no Ni CFC.
Dica: Veja PE3.8.
PP3.17 Calcule a densidade planar de átomos no plano (111) de a) Fe CCC e b) Ni CFC. Dica: Veja
PE3.9.
Prof. J. Otubo 60
CAPÍTULO 4
DEFEITOS CRISTALINOS
Introdução
Como dito acima, é impossível evitar certo grau de contaminação na preparação dos materiais.
Mesmos os mais puros semicondutores apresentam algum grau de impurezas (ppb – partes por bilhão
ou ppm – partes por milhão).
Prof. J. Otubo 61
Muitos materiais de engenharia contem vários elementos colocados propositalmente formando ligas.
Como no caso do sistema água-alcool que é uma solução líquida (completa solubilidade do álcool na
água), figura 4.1, temos também a solução sólida.
Para que ocorra a solução sólida substitucional, é necessário que existam semelhanças entre os
dois metais definidas pelas regras de Hume-Rothery:
Se uma ou mais regras de Hume-Rothery forem violadas, teremos solubilidade parcial (veremos
isso mais adiante quando estivermos falando de diagramas de equilíbrio).
Figura 4.2 Solução sólida substitucional de cobre em níquel mostrado ao longo do plano (100).
A figura 4.2 apresentou uma solução sólida randômica ou não ordenada. Alguns sistemas
apresentam solução sólida ordenada como é o caso do sistema AuCu3 abaixo de 390°C, figura 4.3. Os
Prof. J. Otubo 62
átomos de cobre se posicionam no centro da face e os átomos de ouro nos vértices da célula unitária.
Acima de 390°C, o sistema apresenta solução sólida randômica.
Figura 4.3 Ordenação da solução sólida do sistema AuCu3. a) Acima de 3900C, solução sólida
randômica dos átomos de Au e Cu nos pontos da rede CFC. b) Abaixo de 3900C, os átomos de cobre
ocupam preferencialmente as posições dos vértices na célula unitária.
Prof. J. Otubo 63
4.2 DEFEITOS PONTUAIS – IMPERFEIÇÕES DE DIMENSÃO ZERO
Em materiais reais, além das impurezas químicas, existem os defeitos estruturais. Vamos
analisar inicialmente os defeitos pontuais associados a pontos da rede. Conforme pode ser visto na
figura 4.8, o primeiro defeito pontual é a lacuna ou vacância (vacancy) que é a ausência de um átomo
numa posição da rede onde deveria existir. O segundo tipo de defeito é o intersticial (interstitial). É a
presença de um átomo numa posição intersticial, normalmente não ocupada em um cristal perfeito. A
figura 4.9 ilustra o análogo de lacuna e intersticial para compostos. O primeiro é o defeito Schottky
que é um par de lacunas formada pela ausência de íons de cargas opostas. O segundo é o defeito
Frenkel que é a formação de um par lacuna-intersticial com o movimento de um íon para a posição
intersticial formando lacuna. Átomos de impurezas em posições intersticiais ou substitucionais são
também considerados defeitos pontuais. Não será mostrado aqui, mas deve-se observar que a
concentração de defeitos aumenta com o aumento da temperatura devido ao aumento das vibrações
térmicas dos átomos e a dependência com a temperatura é exponencial (isto será visto no capítulo
sobre difusão).
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Figura 4.9 Dois tipos comuns em compostos: Defeito de Schottky e Defeito de Frenkel.
Tipos de discordâncias
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Figura 4.13
O primeiro defeito planar é o que nós chamamos de contorno de macla (twin boundary),
figura 4.15, que separa duas regiões cristalinas que são estruturalmente uma o espelho da outra. Essa
estrutura altamente simétrica pode ser produzida por deformação (maclas de deformação) em
estruturas CCC e HC e por recozimento (maclas de recozimento) em metais CFC.
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4.4.2 Superfície exposta
Nem todo material apresenta defeitos do tipo contorno de macla, mas todos os materiais devem
apresentar uma superfície. Isto é, todo material termina na superfície. A figura 4.16 mostra uma visão
simples de uma superfície cristalina. Se pensarmos em empilhamento atômico, os átomos da superfície
apresentam ligação química incompleta. A figura 4.17 apresenta uma visão mais detalhada de como
seria essa superfície. É o modelo de Hirth-Pound.
O defeito planar mais importante é o contorno de grão (grain boundary) (CG), que é a
separação entre dois monocristais adjacentes que denominamos de grãos (grains). O encontro de dois
grãos tem geralmente orientações cristalinas diferentes. Fora os cristais semicondutores que são
monocristalinos (uma única orientação cristalina), os materiais comuns da engenharia são
policristalinos, isto é, compostos por monocristais denominados grãos, cada grão com orientação
própria e separados pelos CGs como mostra a figura 4.18 (micrografia ótica (escala de μm, lembram-
se?)). Os CGs, sendo regiões de defeitos, refletem a luz de maneira diferenciada, o que evidencia o
contraste. Muitas propriedades dos materiais dependem dessa estrutura de grãos, principalmente do
tamanho dos grãos (veremos mais tarde como medir o tamanho do grão).
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Figura 4.15 Contorno de macla separa duas regiões cristalinas que são uma o espelho da outra.
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Figura 4.17 Modelo de Pound da superfície de um material cristalino.
Figura 4.18 Micrografia ótica de um material policristalino. Inoxidável com Efeito de Memória de
Forma (Tese: Otubo).
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Figura 4.19 Estrutura de CG simples onde os dois Figura 4.20
grãos adjacentes estão orientados com pequena a) CG de alto ângulo;
diferença angular e que podem ser acomodados
b) A extensão dos pontos da rede do grão a
introduzindo-se algumas discordâncias em cunha.
esquerda sobre o grão a direita, verifica-se que
Esse tipo de CG é denominado contorno de baixo
existe coincidência com os pontos da rede do grão
ângulo.
a direita a cada cinco posições do ponto da rede.
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4.4.4 Tamanho de Grão - Número de Tamanho de Grão G
N = 2 G −1 E4.1
onde N é o número de grãos observado numa área de 1"2 = 645mm 2 em um fotomicrografia com
aumento de 100X, como mostrado na figura 4.22.
Existem 21 grãos inteiros dentro do campo visual e 22 grãos cortados pela circunferência
dando:
22
21 + = 32 grãos em uma área circular de diâmetro = 2,25”. A densidade de grãos por
2
unidade de área será:
32 grãos grãos
N= 2
= 8,04
⎛ 2,25" ⎞ pol 2
π⎜ ⎟
⎝ 2 ⎠
Da E4.1 temos N = 2 G −1
ln N ln(8,04)
ou G= +1 = + 1 = 4,01
ln 2 ln 2
Uma outra maneira de indicar o TG é medir o diâmetro médio dos grãos numa secção
microestrutural.
C
d= E4.2
nL M
onde C é uma constante maior que 1 (C=1,5 para a maioria dos casos);
Aço carbono.
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PROBLEMAS EXEMPLOS
PE4.3 A fração de pontos da rede não ocupada em um cristal é tipicamente pequena. Por
exemplo, a fração dos pontos da rede do Al a 400oC é de 2,29.10-5. Calcule a densidade desses
vazios por m3.
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PROBLEMAS PRÁTICOS
PP4.1 O sistema Cu e Ni (que são completamente solúveis um no outro) satisfaz a primeira regra
de Hume-Rothery de solubilidade sólida como mostrado no PE4.1. Al e Si não são
completamente solúveis um no outro. Verificar se satisfaz a primeira regra de Hume-Rothery.
PP4.2 A posição intersticial do átomo de C no Fe-α foi mostrada na figura 4.4. O PE4.2 mostrou
que o átomo de C é mais de quatro vezes maior que a posição intersticial e conseqüentemente, a
solubilidade do mesmo no Fe-α é muito baixa. Considere agora a solução intersticial de átomo de
C no Fe-γ com estrutura CFC de alta temperatura. A posição de maior espaço intersticial é ½ 0 1.
a) Esquematize essa solução intersticial de maneira similar a figura 4.4. b) Calcule em quanto
excede o tamanho do átomo de C nessa posição intersticial. Observar que o raio atômico do Fe-γ
na estrutura CFC é de 0,127nm.
PP4.3 Calcule a densidade de pontos da rede vazio (em m-3 para o Al a 660oC (logo abaixo do
ponto de fusão) onde a fração de pontos da rede vazios é de 8,82.10-4. (veja PE4.3).
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CAPÍTULO 5
DIFUSÃO
Introdução
Q
−
taxa = Ce RT
(E5.1)
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C é uma constante pré-exponencial independente da temperatura,
Q é a energia de ativação,
Q1
ln(taxa) = ln C − (E5.2)
RT
Usando uma escala semi-log na ordenada e 1/T na abscissa podemos obter uma linha reta
conforme mostra a figura F5.1. Podemos ver que a inclinação da curva é –Q/R e extrapolando
para 1/T=0 (ou T=∞) teremos lnC.
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O resultado experimental da figura 5.1, denominado de gráfico de Arrhenius, é muito
poderoso pois, conhecendo se os valores das taxas de processo em duas temperaturas, podemos
conhecer a taxa numa terceira temperatura (dentro do intervalo linear). Podemos também
determinar a energia de ativação do processo. Conhecendo-se os valores da energia de ativação,
podemos saber que tipo de processo está ocorrendo.
q
−
taxa = Ce kT
E5.3
onde q = Q é a energia de ativação por unidade de escala atômica (átomos, elétrons, íons, etc.)
N0
A energia de ativação é a energia necessária para ultrapassar uma barreira de energia por
ativação térmica. A figura 5.2 mostra um átomo simples ultrapassando uma barreira de energia
q, isto é, o átomo sai de uma posição estável, passa pela barreira e volta a uma posição estável
novamente. A figura 5.3 mostra um exemplo mecânico na qual uma caixa é movida de uma
posição de equilíbrio a outra passando por uma barreira de potencial ΔE, análogo a q da figura
5.2.
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Figura 5.2 Um átomo indo de uma posição estável para outra posição similar passando por uma
energia de ativação q.
Figura 5.3 Uma caixa necessitando passar por uma barreira de potencial ΔΕ para se mover de
uma posição estável a outra.
Edefeitos
ndefeitos −
= Ce kT
E5.5
nlocais
ndefeitos
onde é a razão entre o número de defeitos e o número de locais de um cristal
nlocais
perfeito,
T é a temperatura absoluta.
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A figura 5.4a ilustra a produção de vacâncias térmicas no alumínio. Uma pequena
Ev
nV −
= Ce kT
E5.6
nlocais
onde
nv é o número de vacâncias,
nv Ev 1
ln = ln C − E5.7
nlocais k T
A figura 5.4b mostra o gráfico linear de ln(nv / nlocais ) em função de 1/T. A inclinação dá –
Ev/k. Esse dado experimental indica que a energia requerida para criar uma vacância na estrutura
cristalina do alumínio é 0,76eV.
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Figura 5.4 (a) A expansão térmica total ΔL/L do alumínio é visivelmente maior do que a
expansão no parâmetro de rede Δa/a pelo fato de as lacunas serem produzidas por agitação
térmica. (b) Um gráfico semilog do ln(concentração de vacâncias) versus 1/T baseados nos
dados da 5.4a. A inclinação da curva (-Ev/k) indica que são necessários 0,76eV para criar uma
vacância simples na estrutura cristalina do alumínio.
∂c
J x = −D E5.8 onde
∂x
Jx é o fluxo ou taxa de fluência da espécie que está se difundindo na direção x devido ao
gradiente de concentração ∂c ,
∂x
A geometria da E5.8 é ilustrada na figura 5.9. A figura 5.7 nos mostra também que o
gradiente de concentração num ponto específico ao longo do caminho de difusão varia com o
tempo t. Essa condição de transiente é representada pela equação diferencial de segunda ordem
também conhecida por segunda Lei de Fick,
∂c x ∂ ⎛ ∂c ⎞
= ⎜D x ⎟ E5.9
∂t ∂x ⎝ ∂x ⎠
∂c x ∂ 2cx
=D 2 E5.10
∂t ∂x
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A figura 5.10 mostra uma aplicação comum da E5.10: a difusão em um sólido semi-
infinito enquanto a concentração superficial da espécie que está difundindo, cs é mantida
constante. Um exemplo disso é o processo de carbonetação da superfície dos aços para torna-los
resistentes ao desgaste superficial. O processo consiste na difusão dos átomos de carbono no aço
na presença de uma atmosfera rica em carbono. A solução dessa equação diferencial com uma
dada condição de contorno é,
c x − co ⎛ x ⎞
= 1 − erf ⎜⎜ ⎟⎟ E5.11 onde
c s − co ⎝ 2 Dt ⎠
co é a concentração inicial do elemento que está difundindo e
A função erro é tabelada conforme mostrado na tabela 5.1. O grande poder dessa analise é
que o resultado da equação E5.11, perfil de concentração da figura 5.10, seja replotado numa
curva mestra como mostrado na figura 5.11. Tal gráfico permite rápido cálculo do tempo
necessário para saturação do sólido em função de x, D e t. A figura 5.12 mostra curvas de
saturação para várias geometrias.
A análise matemática que fizemos até agora considerou implicitamente que a temperatura
era constante. Conforme visto na E5.5, a difusão é altamente dependente da temperatura. Os
dados de difusividade são representados pela equação de Arrhenius,
D = Do e − q / kT E5.12 em que
D = Do e − Q / RT E5.13 onde
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figura 5.14 mostra dados de difusividade para alguns sistemas metálicos. A tabela 5.2 fornece os
parâmetros de Arrhenius para esses dados. Por exemplo, o C através do mecanismo de
intersticiais pode difundir mais prontamente no Feα de estrutura CCC do que no Feγ de estrutura
CFC, isto é, QCCC<\QCFC, tabela 5.2. Lembre que a estrutura CCC do Feα é mais aberta que a
estrutura CFC do Feγ. Analogamente, a difusão própria do Fe pelo mecanismo de lacunas é maior
na estrutura CCC. A figura 5.15 e a tabela 5.3 dão a difusividade para vários sistemas não
metálicos. Em muitos compostos tal como a alumina (Al2O3), a espécie iônica menor, no caso
Al3+, difunde através do sistema.
Figura 5.5 A migração atômica ocorre pelo mecanismo de migração de vacância. Verifique que o
movimento do material é oposto ao da vacância.
Figura 5.6 Difusão pelo mecanismo de intersticiais ilustrando o movimento ao acaso de migração
atômica.
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Figura 5.7 Interdifusão de materiais A e B.
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Figura 5.9 Geometria da primeira Lei de Fick, E5.8.
Figura 5.10 Solução para segunda Lei de Fick, E5.10, para sólido semi-infinito, cs é a
concentração da espécie difundente mantida constante na superfície, co concentração inicial do
material e D o coeficiente de difusão, no caso, constante.
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Figura 5.11 Gráfico mestre que resume todos os gráficos da figura 5.10 numa curva simples.
Figura 5.12 Curva de saturação similar ao da figura 5.11 para várias geometrias.
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Figura 5.13 Gráfico de Arrhenius da difusividade do carbono no Feα.
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Figura 5.15 Gráfico de Arrhenius de dados de difusividade para sistemas não metálicos.
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Tabela 5.1 Função Erro
z erf(z) z erf(z)
0,00 0,000 0,70 0,6778
0,01 0,0113 0,75 0,7112
0,02 0,0226 0,80 0,7421
0,03 0,0338 0,85 0,7707
0,04 0,0451 0,90 0,7969
0,05 0,0564 0,95 0,8209
0,10 0,1125 1,00 0,8427
0,15 0,1680 1,10 0,8802
0,20 0,2227 1,20 0,9103
0,25 0,2763 1,30 0,9340
0,30 0,3286 140 0,9523
0,35 0,3794 1,50 0,9661
0,40 0,4284 1,60 0,9763
045 0,4755 1,70 0,9838
0,50 0,5205 1,80 0,9891
0,55 0,5633 1,90 0,9928
060 0,6039 2,00 0,9953
0,65 0,6420
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Tabela 5.2 Dados de difusividade para alguns sistemas metálicos
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Problemas Exemplos
PE5.1 A taxa de oxidação de ligas metálicas em atmosfera contendo oxigênio é o exemplo
prático da utilidade da equação de Arrhenius, E5.1. Por exemplo, a taxa de oxidação da liga de
Mg é representada pela constante de taxa, k. O valor de k a 300oC (573K) é 1,05.10-8kg/(m4.s) e a
400oC (673K) é 2,95.10-4kg/(m4.s). Calcule a energia de ativação Q, para esse processo de
oxidação (em kJ/mol).
PE5.2 Já vimos no PE4.3 que a 400oC (673K) as vacâncias de pontos da rede do Al é 2,29.10-5
para cada átomo de Al. Calcule a fração a 660oC (933K), logo abaixo do seu ponto de fusão de
660,452oC.
PE5.3 A superfície do aço pode ser endurecida por carbonetação como mostrado na figura 5.10.
Durante um tratamento a 1000oC, percebe-se uma queda da concentração de carbono de 5% para
4% quando vamos de 1mm para 2mm da superfície para o interior da peça. Estime o fluxo de
átomos de carbono para o interior da peça próximo a superfície. Considere a densidade do Feα
como sendo 7,63g/cm3.
PE5.4 O resultado de difusão descrito na E5.11 pode ser aplicado para o processo de
carbonetação como mostrado no PE53. Podemos ter um ambiente de carbono que forneça
cs=1,0wt% (1% em peso). O teor de carbono inicial no aço é co=0,2wt%. Usando a tabela 5.1 da
função erro, calcule quanto tempo levaria a 1000oC para que se tenha um teor de carbono de
0,6wt% a uma distância de 1mm a partir da superfície.
PE5.5 Recalcule o tempo de carbonetação para as condições do PE5.4 usando o gráfico mestre da
figura 5.11 em vez da função erro.
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PROBLEMAS PRÁTICOS
PP5.1 Baseados no que foi visto para o PE5.1, calcule o valor constante de taxa k para a oxidação
da liga de Mg a 500oC.
PP5.2 Calcule a fração dos vazios dos pontos da rede de alumínio a: a) 500oC, b) 200oC e c)
25oC. Veja o PE5.2.
PP5.3 Suponha que o gradiente de concentração descrito no PE5.3 ocorreu a 1100oC em vez de
1000oC. Calcule o fluxo de átomos de carbono para esse caso.
PP5.4 No PE5.4, o tempo para gerar um dado perfil de concentração de carbono usamos a função
erro dado na tabela 5.1. O teor de carbono na superfície era 1,0wt% e a 1mm da superfície era de
0,6wt%. Para o mesmo tempo de difusão, qual seria o teor de carbono a uma distância de: a)
0,5mm da superfície e b) a 2,0mm da superfície.
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CAPÍTULO 6
Introdução
Nossos estudos serão baseados principalmente nos ensaios de tração. No entanto, ensaios
de dureza, fadiga, fluência não devem ser descartados.
Como os metais são os elementos estruturais mais usados, vamos começar investigando as
propriedades mecânicas dos mesmos e suas ligas. A Tabela 1 ilustra algumas classes de metais e
ligas.
Prof. J. Otubo 95
Figura 6.1 Ensaio de tração.
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Figura 6.3 Tensão versus deformação obtido a partir dos dados da F6.2.
P
σ= E6.1
A0
l − l 0 Δl
ε= = E6.2
l0 l0
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deformação, Figura 6.4. A tensão de escoamento representa a tensão necessária para essa pequena
deformação permanente de 0,2%. A Figura 6.5 indica uma pequena recuperação elástica quando a
carga é aliviada.
A Figura 6.6 resume as propriedades mecânicas que podem ser obtidas através de um ensaio de
tração.
Figura 6.4 Tensão de escoamento a 0,2% (0,002) de deformação. Mostra o início da deformação
plástica.
Figura 6.5 Recuperação elástica ocorre quando a tensão é removida (mesmo quando a amostra
já tenha sofrido deformação plástica).
Prof. J. Otubo 98
Figura 6.6 Propriedades mecânicas que podem ser obtidas a partir do ensaio de tração: 1. Módulo de
elasticidade E; 2. Tensão de escoamento; 3. Resistência máxima a tração; 4. Deformação até a ruptura;
5. Tenacidade ou área sob a curva tensão-deformação.
σ = Eε E6.3
O ponto 2 na Figura 6.6 representa a tensão de escoamento, σe, do material. É a tensão acima
da qual o material sofre deformação plástica permanente. Seu valor tem um significado prático muito
importante na conformação mecânica dos materiais (forjamento, laminação, estampagem, trefilação,
etc.).
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fato de se considerar a secção reta original da amostra e não a secção verdadeira que diminui ao longo
do ensaio. Se a diminuição na secção reta da amostra for levada em conta, teremos a curva tensão
Para muitos metais e ligas, a região da curva de tensão verdadeira (σV) versus deformação
verdadeira (εV) entre o começo da deformação plástica (correspondendo a tensão de escoamento na
curva tensão-deformação de engenharia) e o começo do estricção (correspondendo a resistência
máxima na tração na curva tensão-deformação de engenharia) pode ser aproximado por:
σ V = Kε Vn E6.4
onde K e n são valores constantes para um dado metal ou liga mas dependente da sua história
termomecânica (grau de conformação mecânica, tratamento térmico, etc.). Os parâmetros n e K são
denominados respectivamente de expoente de encruamento (strain-hardening expoent) e
coeficiente de resistência (strength coefficient). A curva tensão verdadeira-deformação verdadeira
nessa região é aproximadamente uma reta em coordenadas logarítmicas. A inclinação do gráfico log-
log dá o parâmetro n e K é a tensão verdadeira quando ε=1. Só para dar um exemplo, para aços baixo
carbono, n é aproximadamente 0,22 possibilitando conformar formas complexas. O material apresentar
expoente de encruamento alto indica a possibilidade de conformação maior minimizando afinamento
(de chapas) ou fratura da peça.
O alongamento que o material sofre até a fratura mede a ductilidade do mesmo, E6.2. A
ductilidade pode ser medida também em termos de redução de área:
A0 − A f A0 − A f
RA = ou RA = × 100% E6.4
A0 A0
Um outro fato que devemos levar em conta é se um material dúctil tem boa resistência
mecânica. Um material de alta resistência mecânica, mas frágil pode ser tão ruim quanto um material
de alta ductilidade e baixa resistência mecânica. A Figura 6.9 mostra dois materiais com boa
ductilidade, mas de resistência mecânica diferente. Tenacidade (toughness) é o termo usado para
descrever essas propriedades. Voltando a Figura 6.6, ponto 5, a tenacidade é definida como sendo a
Dos cinco parâmetros básicos obtidos a partir do ensaio de tração, quatro estão mostrados na
Tabela 6.2 e a Tabela 6.3 apresenta os valores de K e n da E6.4.
Figura 6.7 Estricção da amostra devido à Figura 6.8 Tensão verdadeira (carga dividida pela
deformação além do limite elástico. seção reta real da amostra na região do estricção)
versus deformação verdadeira.
Existem materiais como os aços baixo carbono que apresentam ponto de escoamento bastante
nítido: ponto de escoamento superior e ponto de escoamento inferior. Entre esses dois pontos, o
material apresenta deformação considerável com tensão oscilando em pequenos valores. A partir do
ponto de escoamento inferior, inicia-se a fase de deformação geral, isto é, aumento da tensão com a
deformação. Veja a Figura 6.10.
εx
ν =− E6.5
εz
Vamos analisar agora um material, na região elástica, sujeito a uma carga de cisalhamento puro.
A tensão de cisalhamento (shear stress) é definida como:
Ps
τ= E6.6
As
onde Ps é a carga de cisalhamento e As é área sobre a amostra paralela a carga aplicada. A tensão de
cisalhamento produz um deslocamento angular α com deformação de cisalhamento γ (shear strain)
sendo definido por:
Prof. J. Otubo 104
γ = tan(α ) E6.7
τ
G= E6.8
γ
E = 2G (1 + ν ) E6.9
Valores típicos de G estão dados na Tabela 6.4. Como os dois módulos estão relacionados entre
si pela E6.9 e pelo fato de ν variar em torno de 0,3, a relação entre eles é da ordem de 0,4. Veja
novamente a Tabela 6.4.
3FL
MOR = E6.10
2bh 2
F= força aplicada e
Figura 6.13 Curva tensão-deformação de materiais cerâmicos mostrando fratura na região elástica. a)
tração; b) compressão.
Modelo de trinca de Griffith – Conforme mostrado na Figura 6.15, Griffith considerou que
em qualquer material real existem trincas elípticas tanto na superfície como no seu interior. A
concentração de tensão na ponta da trinca poderia ser dada por:
1/ 2
⎛c⎞
σ m = 2σ ⎜⎜ ⎟⎟ E6.11
⎝ρ⎠
σ = tensão aplicada
c= comprimento da trinca e
ρ pode ser tão pequeno quanto dimensões atômicas. Logo σm pode atingir valores extremamente
elevados.
Vamos analisar agora o que acontece em escala atômica quando submetemos um material em
tração na região elástica.
A Figura 6.18 mostra que o mecanismo fundamental é o alongamento das ligações atômicas. A
fração de deformação do material na região elástica inicial é pequena de modo que em escala atômica
estamos lidando somente com a porção da curva força-distância de separação na vizinhança da
distância de separação de equilíbrio a0 (F=0). Lembram-se disso quando falamos das ligações atômicas
no Capítulo 2? Quando tracionamos ou comprimimos a amostra, estamos tirando da posição de
equilíbrio passando de a0→a (a≥a0 para tração ou a ≤ a0 para compressão). Ao aliviarmos a carga, os
átomos voltam à posição de equilíbrio, a→ ao e temos a recuperação da deformação. Em escala
macroscópica isso se traduz também na relação linear carga versus alongamento ou tensão versus
deformação como mostrada na Figura 6.18.
Figura 6.18 Relação entre deformação elástica e alongamento das ligações atômicas.
Vamos falar agora sobre a região da curva tensão-deformação onde ocorre deformação plástica
do material (deformação não recuperável). No capítulo 4 introduzimos o conceito de discordâncias.
Isso vai nos ajudar na compreensão do mecanismo de deformação plástica.
Uma outra maneira de aumentar a resistência mecânica do material é por introdução de átomos
de soluto em posições substitucionais ou intersticiais. Esse processo causa distorção na rede cristalina
que dificultam a movimentação de discordâncias aumentando conseqüentemente a resistência
mecânica. Esse processo é denominado de endurecimento por solução (solution hardening). Veja a
Figura 6.25.
Figura 6.25 Átomos de impurezas gerando campos de tensão na rede cristalina dificultando a passagem
da discordância.
Como último aspecto vamos relacionar a tensão de tração, macroscópica, com o mecanismo de
sistemas de escorregamento, microscópico. A Figura 6.26 define o que seja a tensão de cisalhamento
resolvida, τ, (resolved shear stress) que é a tensão real operando no sistema de escorregamento (na
direção e no plano de escorregamento) devido a aplicação de uma força externa F. Se A é área da
F
seção reta, a tensão de tração será, σ = . Se λ for o ângulo entre a direção da força aplicada e a
A
direção de escorregamento (slip direction), a força na direção de escorregamento será: F cos λ . Se ϕ
for o ângulo entre a direção da força aplicada e a normal ao plano de escorregamento, a área projetada
nesse plano será A / cos ϕ
F cos λ F
τ= = cos λ cos ϕ = σ cos λ cos ϕ E6.14
A / cos ϕ A
6.4 DUREZA
Prof. J. Otubo 116
O ensaio de dureza é uma alternativa ao ensaio de tração. O ensaio de dureza mede a
resistência do material à penetração e dá uma idéia qualitativa da resistência mecânica. Esse ensaio foi
visto no Laboratório e não será aqui comentado. Simplesmente será apresentado a tabela 6.10 que
mostra os principais tipos de ensaios de dureza: Brinell, Vickers, Knoop e Rockwell. Maiores detalhes
poderão ser vistos no Livro Texto: Introduction to Materials Science for Engineers, James F.
Schackelford, 5a edição, pg 219-222.
O ensaio de tração sozinho não pode prever o comportamento de materiais estruturais usados a
temperaturas elevadas. A deformação induzida em um metal típico abaixo da tensão de escoamento à
temperatura ambiente pode ser calculada a partir da lei de Hooke, E6.3. Essa deformação, geralmente
não mudará com o tempo sob uma carga fixa, Figura 6.29. Repetindo esse experimento a uma
temperatura “elevada” (intervalo de temperatura absoluta entre 1/3 a ½ da temperatura de fusão)
produz-se um resultado bem diferente. A Figura 6.30 mostra uma máquina de ensaio típico e a Figura
6.31 uma curva de fluência (creep curve) típica na qual a deformação ε gradualmente aumenta com o
tempo depois de um carregamento elástico inicial. Fluência (Creep) pode ser definida como
deformação plástica permanente ocorrendo a alta temperatura sob carga constante num período de
tempo bastante longo (dias, semanas, meses até anos).
Depois da deformação elástica inicial em t=0, a Figura 6.31 mostra três regiões de deformação
por fluência.
O segundo estágio da deformação por fluência é caracterizado por uma linha com taxa de
deformação constante, Figura 6.31. Nesse estágio, a facilidade de escorregamento devido a mobilidade
a alta temperatura é contrabalançada pelo aumento de resistência ao escorregamento devido ao
aumento da densidade de discordâncias e outras barreiras microestruturais.
No terceiro estágio a taxa de deformação aumenta devido ao aumento na tensão verdadeira que
resulta da diminuição na secção (estricção ou empescoçamento) ou devido a existência de trincas
internas. Em alguns casos, a fratura pode ocorrer ainda no segundo estágio.
A Figura 6.33 mostra como as curvas de fluência características variam com a mudança na
temperatura de ensaio ou na carga aplicada. A taxa de fluência, ε& aumenta tanto com o aumento da
temperatura como com o aumenta da tensão aplicada. Sendo a fluência um processo ativado
A Figura 6.34 mostra o gráfico do ln ε& × 1 para a fluência no segundo estágio de estado estacionário.
T
Como em outros processos ativados termicamente, a inclinação do gráfico de Arrhenius fornece a
energia de ativação Q para o mecanismo de fluência cuja expressão pode ser dada por:
ε& = Ce − Q / RT E6.16
Um outro fato de suma importância que deve ser observado na Figura 6.34 é a possibilidade de
predizer, a partir de dados obtidos a altas temperaturas, o comportamento a baixas temperaturas
indicadas pela linha tracejada, isto é, os dados a baixas temperaturas podem ser extrapolados. Isto tem
um aspecto prático muito importante. Os tempos de ensaios são tanto menores quanto mais alta é a
temperatura (de ensaio).
A Figura 6.35 mostra o gráfico de taxa de fluência do segundo estágio e o tempo (t) necessário
até a ruptura da amostra. O gráfico desses parâmetros juntamente com a tensão aplicada (σ) e a
temperatura de ensaio (T) fornece um conjunto de dados interessantes para engenheiros de projetos na
seleção de material para serviços em alta temperatura, Figura 6.36.
PE6.2 Uma barra de 10mm de diâmetro de aço carbono 1040 (veja a tabela T6,2) está sujeito a uma
carga de tração de 50kN levando a além do ponto de escoamento. Calcule a recuperação elástica que
ocorreria após a retirada da carga. E=200GPa
PE6.3 a) Uma barra de 10mm de diâmetro de liga de Al 3003-H14 está sujeito a uma carga de tração
de 6kN. Calcule o diâmetro da barra resultante. A tensão de escoamento desse material é:
σ e = 145MPa e E=70Gpa; ν=033
b) Calcule o diâmetro se a mesma barra está sujeita a uma carga de compressão de 6kN.
PE6.4 Uma placa de vidro contem uma trinca de superfície cujo raio é da ordem do diâmetro de íon de
O2-. Se o comprimento da trinca é c≈1μm, e a tensão teórica do vidro isento de falha é da ordem de
7,0GPa, calcule a tensão de ruptura da placa de vidro. É dado rO2-=0,132nm (veja A2).
PE.6.7 Na ausência de tensão, a distância de separação entre átomos de Fe é de 0,2480nm na direção
<111>. Sob tensão de 1000MPa nessa direção, a distância de separação atômica é de 0,2489nm.
Calcule o módulo de elasticidade na direção <111>.
PE6.8 Um monocristal de Zn (zinco) está sendo tracionado com a direção de tração fazendo um ângulo
[ ]
de 600 com o plano basal (0001) e 400 com a direção de escorregamento 1120 .
a) Qual é a tensão de cisalhamento resolvida, τ, atuando na direção de escorregamento quando a
tensão de tração é de 0,69MPa?
b) Que tensão de tração é necessário para alcançar a tensão de cisalhamento resolvida crítica,
τC, de 0,94MPa?
PE 6.10 Num experimento de fluência em laboratório a 1000°C, uma taxa de fluência no estado
estacionário de 5.10-1% por hora é obtida para uma liga metálica. O mecanismo de fluência para essa
liga é por escalagem de discordâncias com energia de ativação de 200kJ/mol. Predizer a taxa de
fluência em serviço à temperatura de 600°C.
PROBLEMAS PRÁTICOS
PP6.1 A tabela abaixo mostra os dados de carga versus comprimento útil obtidos num ensaio de tração
de uma amostra de aço inoxidável 304 de diâmetro inicial d0=12,7mm.
Carga (N) Comprimento l(mm) Carga (N) Comprimento l(mm)
0 50,800 35,220 50,9778
4,890 50,8102 35,720 51,0032
9,779 50,8203 40,540 51,8160
14,670 50,8305 48,390 53,340
19,560 50,8406 59,030 55,880
24,450 50,8508 65,870 58,420
27,620 50,8610 69,420 60,960
29,390 50,8711 69,670(Max) 61,468
32,680 50,9016 68,150 63,500
33,950 50,9270 60,810(fratura) 66,040(após fratura)
34,580 50,9524
a) Faça o gráfico de carga em função do alongamento como apresentado na F6.2.
b) De maneira similar faça o gráfico de tensão em função da deformação como mostrado na F6.3.
c) Refaça o gráfico de tensão em função da deformação tomando somente os valores iniciais da
deformação como mostra a F6.4 usando uma escala expandida.
d) Usando os resultados de a- c, calcule o módulo elástico E, σe e σr e a porcentagem de alongamento
até a fratura. Expressar as unidades em Pa (1Pa=1N/m2).
PP6.2 Para o aço inoxidável 304 do PP6.1, calcule a recuperação elástica da amostra após a retirada da
carga de a) 35.720N e b) 69.420N. (Veja PE6.2)
PP6.3 Para a liga do PE6.3, (liga de Al 3003-H14), calcule o diâmetro da barra na tensão de
escoamento de 145MPa.
PP6.4 Calcule a resistência a ruptura de uma dada placa de vidro contendo a) uma trinca de superfície
com comprimento de c=0,5μm e b) c=5μm. Exceto para o comprimento da trinca, use as condições
descritas no PE6.4.
PP6.7 a) Calcule a distância de separação de centro a centro de dois átomos de Fe na direção <100> na
ausência de tensão.
b) Nessa mesma direção, calcule a distância de separação entre os dois átomos quando a amostra
estiver sujeita a uma tensão de tração de 1000MPa. Veja PE6.7.
PP6.8 Repita o PE6.8 considerando agora que os dois ângulos são de 600 e não mais 400 e 600.
PP 6.11 No PE 6.11, nós estimamos a temperatura máxima de serviço para o Inconel 718 para que
trabalhe 10.000h a 690MPa. Qual deve ser a temperatura de serviço para que suporte (a) 100.000h e
(bPP 6.10 Usando a equação de Arrhenius nos pudemos predizer a taxa de fluência para uma dada liga
a 600oC no PE 6.10. Para o mesmo sistema, calcule a taxa de fluência a (a) 700oC, (b) 800oC e (c)
900oC. (d) Faça o gráfico de Arrhenius similar a Figura 6.34.
Introdução
No capítulo 1 vimos uma idéia geral dos principais tipos de materiais de engenharia, a
dependência das propriedades desses materiais em função da sua estrutura, etc. A partir do Capítulo 2,
começamos a “construir” esses materiais com o conhecimento da estrutura atômica e os tipos de
ligações químicas entre os átomos (iônica, covalente, metálica e de Van der Walls). Posteriormente, no
capítulo 3, vimos como esses átomos se arranjavam no espaço formando a estrutura cristalina. Demos
bastante ênfase às estruturas cristalinas metálicas: CCC, CFC e HC. Eram estruturas cristalinas
perfeitas que se repetiam no espaço tridimensional com a justaposição das células unitárias. A seguir,
no Capítulo 4 vimos que não existe material perfeito por mais puro que seja. Vimos então o conceito de
defeitos pontuais (lacunas, átomos substitucionais, átomos intersticiais, defeitos de Frenkel, defeitos de
Schottky), defeitos lineares (discordâncias em cunha, hélice e mista) e finalmente os defeitos planares
ou bidimensionais (superfície exposta, contornos de macla e contornos de grãos). Quando falamos em
contornos de grão, introduzimos o conceito de microestrutura que é o aspecto do material em escala
microscópica (1μm=10-6m). Neste capítulo vamos introduzir o conceito de Diagrama de Fase que é
uma espécie de “mapa” dos materiais. Através do Diagrama de Fase podemos prever o tipo de
microestrutura que o material ou a liga pode apresentar. Não só isso, mas também as suas propriedades
(mecânicas, elétricas, térmicas, etc.) podem ser previstas. É baseado nesses diagramas que os
engenheiros projetam as ligas.
Um outro termo importante quando lidamos com fases e componentes é o que denominamos de
graus de liberdade (degrees of freedon). Graus de liberdade é o número de variáveis independentes
que o sistema possui. Por exemplo, um metal puro no seu ponto de fusão não tem grau de liberdade, ou
o seu grau de liberdade é zero. Vamos ver porque. Nessa condição ou estado, o metal se apresenta
com duas fases em equilíbrio, isto é, fase líquida em equilíbrio com a fase sólida. Qualquer aumento de
temperatura, todo o sólido se transforma em líquido e qualquer diminuição de temperatura, todo o
líquido se transforma em sólido. Resumindo, não há grau de liberdade que permita a coexistência das
duas fases com qualquer mudança na temperatura. As variáveis de estado que o engenheiro tem
controle em estabelecer uma determinada estrutura são a temperatura, a pressão e a composição
química.
A relação entre variáveis de estado e microestrutura é dada pela regra de fases de Gibbs:
F=C – P +2 E9.1
C= número de componentes
P= número de fases.
F=C – P + 1 E9.2
Vamos analisar o caso do metal puro em seu ponto de fusão. Nesse caso teremos:
C=2; P=2, logo, F=2 – 2 + 1=1, ou seja, um grau de liberdade. Como o sistema tem somente
um grau de liberdade, ou uma variável independente que é a temperatura, qualquer variação nesse
parâmetro implica necessariamente na variação da composição. Portanto a composição é uma variável
dependente.
A regra de fases de Gibbs nos dá informações importantes, no entanto, uma visualização melhor
poderá ser dada com o conceito de digrama de fases o “mapa” dos materiais.
Figura 9.2 Microestrura de duas fases da perlita encontrado em aços com 0,8% em peso de
carbono. Aumento 500X. A perlita é constituída de ferrita com 0,02% em peso de carbono alternada
com cementita, Fe3C, com 6,7% em peso de carbono formando lamelas. A estrutura mais fina é a
cementita.
Figura 9.4 (a) Representação esquemática do diagrama de fase de um componente para o ferro
puro. (b) Projeção do diagrama de fase para 1atm mostrando as temperaturas de transformação.
Diagrama de fase é uma representação gráfica das variáveis de estado (pressão, temperatura e
composição) associado com a microestrutura através da regra de fases de Gibbs. Os engenheiros e
pesquisadores de materiais estarão lidando com diagramas de fase binários (C=2) ou ternários
(C=3). Nesse curso vamos lidar com diagramas de fase binários.
Já comentamos sobre solução sólida no capítulo 4 e citamos o caso da liga Cu-Ni que é uma
liga binária. Vamos ver agora em termos de diagrama de fases, dois elementos que são completamente
solúveis um no outro tanto na fase líquida como na fase sólida. A Figura 9.5 mostra um diagrama de
fase binário para dois elementos A e B em tais condições. Na ordenada temos a temperatura como
variável e na abscissa, a composição. Os pontos de fusão dos dois elementos estão também indicados.
Em temperaturas relativamente altas, qualquer que seja a composição, os dois componentes estão
fundidos originando o campo da fase líquida, indicado pela letra L. Em outras palavras, A e B são
completamente solúveis no estado líquido. A baixas temperaturas, a fase sólida é também
completamente solúvel dando o que já comentamos anteriormente solução sólida indicada por SS.
Entre os dois campos de fase simples temos o campo de duas fases L+SS. A região de duas fases,
L+SS, é separada na parte superior pela linha liquidus e na parte inferior, pela linha solidus. Portanto
acima da linha liquidus temos somente a fase líquida e abaixo da linha solidus, somente a fase sólida.
Num dado ponto de estado (par temperatura e composição), dentro da região de duas fases, líquido
rico em A existe em equilíbrio com a SS rica em B. A composição das duas fases é estabelecida como
mostrado na Figura 9.6. A linha horizontal (temperatura constante) passando através do ponto de
estado corta a linha liquidus e a linha solidus. A composição da fase líquida é dada pela intersecção
da linha horizontal com a linha liquidus e a composição da SS é dada pela intersecção dessa mesma
linha com a linha solidus. Essa linha horizontal é denominada de linha de ligação (tie line) e será útil
mais tarde quando introduzirmos o conceito de regra da alavanca para a determinação da composição
de cada fase.
Prof. J. Otubo 133
Vamos analisar o uso da regra de fases de Gibbs, E9.2 (pressão constante) através da Figura 9.7
nas várias regiões do diagrama de fases. Por exemplo, no ponto de fusão do elemento puro B, F=0 e
denominamos de ponto invariante. Nesse extremo, qualquer mudança na temperatura, por ser o
sistema de um componente, muda a microestrutura. Aquecimento causa a fusão completa (fase líquida)
e esfriamento, solidificação completa. Dentro da região de duas fases (L+SS), existe somente um grau
de liberdade. A mudança na temperatura é possível, mas como indica a Figura 9.6, a composição da
fase não é independente. Qualquer mudança na temperatura implica na mudança de composição que
por sua vez é estabelecida pela linha de ligação. A região de uma única fase de solução sólida
apresenta dois graus de liberdade; isto é, a temperatura e a composição podem ser variadas sem que
ocorra mudança na microestrutura. A Figura 9.8 resume microestruturas características das várias
regiões do diagrama de fases. O sistema Cu-Ni, Figura 9.9, é o exemplo clássico de diagrama de fase
binário de solução sólida completa. Como exemplo de solução sólida completa em materiais cerâmicos
podemos citar o sistema NiO-MgO cujo diagrama de fase é mostrado na Figura 9.10. Nos materiais
cerâmicos a composição química é dada em fração molar em vez de porcentagem em peso. Isto não
invalida o uso da regra da alavanca (que será vista na sessão 9.3) para o cálculo da composição de
cada fase.
Figura 9.5 Diagrama de fase binário mostrando solução sólida completa. L é a fase líquida; SS é
a fase de solução sólida e L+SS região de duas fases.
Figura 9.7 Aplicação da Regra de Fases de Gibbs (E9.2) nos vários pontos do diagrama de
fases da Figura 9.5.
Vamos agora analisar o caso de sistemas binários que são o oposto daquilo que discutimos
anteriormente. Alguns componentes são tão diferentes que a solubilidade um no outro é praticamente
nulo. O sistema Al-Si é um exemplo típico (veremos mais tarde). A Figura 9.11 mostra o diagrama de
fase característico desse tipo de sistema. A primeira diferença em relação ao que vimos até agora é que
em temperaturas relativamente baixas existe campo de duas fases tanto para o sólido A como para o
sólido B, consistente com a nossa observação de que os dois componentes não podem se dissolver um
no outro. Uma segunda característica é que a linha solidus é uma linha horizontal e corresponde a
temperatura eutética (eutectic temperature). Eutético vem da palavra grega eutektos que significa
facilmente fundido. Um material na composição eutética se encontra completamente fundido na
temperatura eutética. Qualquer composição fora da composição eutética não estará completamente
fundida na temperatura eutética. Entre a linha solidus e a linha líquidus teremos no lado da composição
rica em A, A+L, e no lado da composição rica em B, B+L, isto é, regiões de duas fases no diagrama
binário eutético.
A Figura 9.13 apresenta o sistema eutético Al-Si que é uma aproximação bastante próxima da
Figura 9.11 embora aquele apresente pequena solubilidade do Al no Si. Vamos voltar a esse assunto
quando estivermos falando da regra da alavanca e quando tratarmos de tratamentos térmicos nos
materiais.
Para muitos sistemas binários, os dois componentes são parcialmente solúveis um no outro. O
diagrama de fase é um diagrama intermediário ao que vimos até agora como mostra a Figura 9.14. Ele
se assemelha à Figura 9.11 exceto nas regiões de solução sólida. Nessas regiões se assemelha a SS de
fase única exceto que os componentes não existem em forma de solução sólida simples em
composições intermediárias. Como resultado temos duas fases distintas α e β e freqüentemente com
estrutura cristalina também distinta. No entanto, a estrutura da fase α será a do componente A e a da
fase β do componente B. Isso acontece porque, a fase α consiste de SS de B na rede cristalina de A (A
é solvente e B é soluto) e a fase β, SS de A na rede cristalina de B (B é solvente e A é soluto). O uso de
linhas de ligação determina as composições de α e β nas duas regiões de maneira semelhante feita na
Figura 9.6. A Figura 9.15 apresenta as microestruturas típicas. O sistema Pb-Sn é um bom exemplo do
sistema binário eutético com SS parcial e está mostrado na Figura 9.16. A liga Pb-Sn é utilizada como
material de solda. Seu baixo ponto de fusão permite soldar componentes sem que estes sejam afetados
pelo calor.
Figura 9.14 Diagrama de fase binário eutético com solução sólida parcial. A diferença em
relação a Figura 9.11 está em apresentar regiões de SS α e β.
A transformação do líquido eutético para uma microestrutura bastante fina de sólido bifásico no
resfriamento é dada pela reação eutética:
L(eutético) ⎯resfriamen
⎯⎯⎯ to
→α + β E9.3
Alguns sistemas binários apresentam o análogo da reação eutética no estado sólido denominada
de reação eutetóide, Figura 9.17. A reação eutetóide é dada por:
γ (eutetóide) ⎯resfriamen
⎯⎯⎯ to
→α + β E9.4
A Figura 9.18 apresenta microestruturas típicas. Note que no diagrama temos a reação eutética
e a reação eutetóide. A reação eutetóide é muito importante na tecnologia dos aços.
Figura 9.17 Diagrama de fase mostrando a reação eutética e seu análogo no estado sólido
reação eutetóide.
O sistema Fe-Fe3C, Figura 9.19, é de longe o mais importante diagrama de fase comercial que podemos
encontrar. Ele dá as bases científicas para a industria do ferro e do aço. É considerado aço, o sistema
Fe-C com carbono até próximo de 2% (limite de solubilidade do C na austenita). Acima de 2% de C
temos os ferros fundidos (vamos discutir isso mais tarde).
A Figura 9.19 mostra parte do digrama de fase Fe-C. Como vimos no início desse capítulo, Figura 9.4,
o Fe puro ao ser aquecido, tem duas mudanças na estrutura cristalina antes de fundir. De temperatura
ambiente até 912oC a forma estável é a ferrita ou Feα de estrutura CCC (cubo de corpo centrado).
Acima de 912oC até 1394oC a fase estável é a austenita ou Feγ de estrutura CFC (cubo de face
centrada). Acima de 1394oC, o Feγ se transforma novamente na estrutura CCC denominada de Feδ e a
1538oC, o ferro se funde. A transformação de uma estrutura cristalina para outra é denominada de
transformação polimórfica ou alotrópica. Essas transformações são bastante visíveis na ordenada
(eixo da temperatura).
O diagrama de fase mostra até 6,7%C. Nessa composição, forma-se o composto imtermetálico
carboneto de ferro, ou cementita (Fe3C) que é representado pela linha vertical do diagrama de fase.
Um outro tipo de reação que ocorre nos sistemas binários é a reação peritética. Em todas as
ligas binárias inspecionadas até aqui, os componentes puros tinham pontos de fusão distintos. Em
alguns sistemas, os componentes podem formar composto estável que pode não ter ponto de fusão
distinto. Um exemplo disso é ilustrado na Figura 9.21. Nesse exemplo, A e B formam um composto
estável AB (que é 50 mol% A mais 50 mol% B) que não funde a uma temperatura única como fazem os
componentes A e B. Uma simplificação feita aqui foi ignorar a possibilidade de alguma solução sólida
entre os componentes e o composto intermediário. É dito que os componentes apresentam fusão
congruente quando no aquecimento tem a mesma composição do sólido que originou. No caso do
composto AB é dito apresentar fusão incongruente, pois o líquido formado após a fusão tem
composição diferente de AB. Dizemos então que o sistema apresenta reação peritética. O termo
peritético vem do grego que significa fusão próxima. A reação peritética pode ser escrita como:
AB ⎯aqueciment
⎯ ⎯ ⎯o → L + B E9.5
onde a composição da fase líquida está indicada na Figura 9.21. Algumas microestruturas
representativas são mostradas na Figura 9.22.
Na seção 9.2 vimos o uso do diagrama de fases para determinar as fases presentes em equilíbrio
num dado sistema e as respectivas microestruturas. A linha de ligação, Figura 9.6, dava a composição
de cada fase na região de duas fases. Vamos agora analisar a quantidade de cada fase nessa mesma
região. Na região de fase líquida ou SS está claro que é 100% fase única.
Para calcular a quantidade das fases na região de duas fases temos duas possibilidades.
1. Balanço de massas.
A Figura 9.31 é equivalente a Figura 9.6 mostrando a linha de ligação dando a composição das
duas fases associadas com o ponto de estado na região de L+SS. Adicionalmente, estão
indicadas a composição de cada fase e a composição de todo o sistema.
O balanço de massas requer que a soma das duas fases seja igual ao total do sistema. Vamos
supor que a massa total seja de 100g. Então teremos:
m L + m SS = 100 g E9.6
Por outro lado, a quantidade do elemento B na fase líquida mais a quantidade de B na SS deve
ser igual à quantidade de B da composição total. Na Figura 9.31, à temperatura T1, L contem
30%B e na SS, 80%B e o sistema como um todo, 50%B. Portanto podemos escrever:
m L = 60 g
mss = 40 g
xα mα + x β m β = x (mα + m β ) E9.8
A Equação 9.8 pode ser rescrita para se ter a quantidade relativa de cada fase em termos das
composições:
mα xβ − x
= E9.9
mα + m β x β − xα
mβ x − xα
= E9.10
mα + m β x β − xα
A analogia com o sistema mecânico pode ser vista na Figura 9.32. A composição média x
corresponde ao fulcro da alavanca e a linha de ligação, o braço da alavanca. A massa de cada fase está
suspensa nas extremidades da alavanca correspondendo as suas composições. A quantidade relativa da
fase α é diretamente proporcional ao comprimento do braço da alavanca oposto (=xβ - x). É essa
relação que permite que as quantidades relativas das fases sejam determinadas pela simples inspeção
visual. O PE9.3 mostra como se utiliza essa ferramenta.
Vamos voltar ao caso de completa solubilidade tanto na fase líquida como na fase sólida. A
Figura 9.33 mostra a solidificação gradual de uma liga com composição 50%A e 50%B (já vimos isso
nas Figuras 9.6; 9.8 e 9.31). A regra da alavanca é aplicada em três temperaturas dentro do campo de
duas fases L+SS. É importante observar que a aparência da microestrutura na Figura 9.33 corresponde
diretamente com a posição relativa da composição média do sistema ao longo da linha de ligação. A
altas temperaturas (T1) a composição média está próxima do contorno da fase líquida e a microestrutura
é predominantemente líquida. A temperaturas baixas (T3), a composição média está próxima do
contorno da fase sólida e a microestrutura é predominantemente sólida. À temperatura T2, uma
temperatura intermediária, a microestrutura é parcialmente sólida e parcialmente líquida. Na realidade,
a composição das fases sólida e líquida varia continuamente com a temperatura através da região de
duas fases. No entanto, em qualquer temperatura, a composição média é 50%A e 50%B. Isso é uma
manifestação direta da regra da alavanca, E9.8.
O caso de ligas eutéticas com composição eutética já foi mostrado nas Figuras 9.12 e 9.15. A
Figura 9.34 mostra com um pouco mais detalhes indicando que a composição de cada fase de SS (α e
β) e suas quantidades relativas variam levemente abaixo da temperatura eutética.
Vamos analisar agora o caso de uma composição fora da composição eutética. A Figura 9.35
mostra a variação da microestrutura para uma composição hipereutética (composição acima da
composição eutética). O crescimento gradual dos cristais de β acima da temperatura eutética é
semelhante ao que foi mostrado na Figura 9.34 para o caso de completa solução sólida. Uma diferença
é que, na Figura 9.35, os cristais de β param de crescer próximo da temperatura eutética com somente
67% da microestrutura solidificada. Solidificação final ocorre quando o líquido restante, com a
composição eutética, transforma repentinamente na microestrutura eutética ao passar pela temperatura
eutética. Dessa forma, os 33% da microestrutura que é líquida logo acima da temperatura eutética sofre
uma reação eutética mostrada na Figura 9.35. O cálculo da regra da alavanca à temperatura T3,
temperatura essa logo abaixo da temperatura eutética, indica que a microestrutura é 17% α3 e 83% β3.
Prof. J. Otubo 156
A análise do diagrama de fase mostra que a fase β se apresenta em duas formas. Grãos grosseiros
produzidos durante o resfriamento no campo de duas fases L+β chamado de β proeutético (proeutético
significa, antes do eutético) e a fase β de estrutura fina formada durante a transformação eutética
denominada de β eutético.
A Figura 9.38 mostra a curva de resfriamento para o ferro fundido branco. A reação eutetóide
para produzir perlita é mostrada na Figura 9.39 com teor de carbono de 0,77% que é a composição do
aço ABNT 1080. A microestrutura de uma perlita real foi mostrada na Figura 9.2 onde lamelas de
cementita se alternam com lamelas de ferrita (Feα). Uma composição hipereutetóide (C>0,77%,
composição acima da composição eutetóide) é mostrada na Figura 9.40. Esse caso é similar ao caminho
hipereutético mostrado na Figura 9.35 exceto que a cementita proeutetóide, Fe3C, é a matriz na
microestrutura final enquanto naquela era a fase isolada. Isto ocorre porque a precipitação da cementita
proeutetóide é uma transformação de estado sólido dando preferencialmente em contorno de grão. A
Figura 9.41 ilustra o desenvolvimento de uma microestrutura de composição hipoeutetóide
(C<0,77%).
Com os casos analisados até aqui, temos condições de analisar qualquer sistema binário.
Figura 9.34 Desenvolvimento microestrutural durante resfriamento lento de uma composição eutética.
Prof. J. Otubo 158
Figura 9.35 Desenvolvimento microestrutural durante resfriamento lento de uma composição
hipereutética.
Figura 9.36
Desenvolvimento microestrutural durante resfriamento lento de uma composição eutética.
PE9.1 A 200oC um liga 50%Pb-50%Sn existe como duas fases, sólido rico em Pb (chumbo) e líquido
rico em Sn (estanho). Calcule os graus de liberdade (F) para essa liga e comente o significado prático.
(ver Figura 9.16).
PE9.2 Uma liga A-B descrita na Figura 9.25 é formada pela fusão de partes iguais de A e A2B.
Descreva qualitativamente o desenvolvimento microestrutural que ocorrerá após resfriamento lento.
PE9.3 A temperatura de 1kg da liga mostrada na Figura 9.31 é baixada lentamente até que a
composição da solução líquida seja de 18%B e a composição da solução sólida (SS) seja de 66%B.
Calcule a quantidade de cada fase.
PE9.4 Para 1kg do aço eutetóide a temperatura ambiente, calcule a quantidade de cada fase (α e Fe3C)
presente.
PE9.6 A Figura 9.35 mostra o desenvolvimento microestrutural para uma liga com 80wt%B.
Considere agora 1kg de uma liga com 70wt%B.
a) Calcule a quantidade da fase β a temperatura T3.
b) Calcule qual a fração em peso dessa fase β a temperatura T3 é próeutético.
PE9.7 Para 1kg de aço com 0,5wt%C, calcule a quantidade de α proeutetóide nos contornos de grãos.
PE9.9 Considere 1kg de uma liga fundida de Al-Si com 10wt%Si.
a) No resfriamento, em que temperatura apareceria o primeiro sólido?
b) Qual é a primeira fase sólida e qual a sua composição?
c) Em que temperatura a liga estará completamente solidificada?
d) Quanto de fase proeutética será formada na microestutura?
e) Como é a distribuição do Si na microestrutura a 576°C?
PP9.1 Calcule os graus de liberdade, F, a pressão constante de 1atm para a) solução sólida (SS) de Sn
(estanho) dissolvido no solvente Pb (chumbo), b) Pb puro abaixo do seu ponto de fusão e c) Pb puro
no seu ponto de fusão.
PP9.2 Descreva qualitativamente o desenvolvimento microestrutural que irá ocorrer em um
resfriamento lento a partir da fase líquida de uma liga com igual partes de A2B e AB.
PP9.3 Suponha que a liga no problema PE9.3 seja reaquecida até uma temperatura na qual a
composição do líquido seja de 48wt%B e a composição da SS seja de 90wt%B. Calcule a quantidade de
cada fase.
PP9.4 No PE9.4 encontramos a quantidade de cada fase num aço eutetóide a temperatura ambiente.
Repita os cálculos para um aço cuja composição média é de 1,13wt%C.
PP9.6 No PE9.6 calculamos a informação microestrutural acerca da fase β para uma liga com 70wt%B,
Figura 9.35. De maneira similar calcule:
a) a quantidade de fase α a temperatura T3 para 1kg de uma liga com 50wt%B e,
b) a fração em peso da fase α a temperatura T3 que é próeutético (veja também a Figura 9.36).
PP9.7 Calcule a quantidade de cementita proeutetróide no contorno de grão em 1kg de aço
hipereutetóide com 1,13wt%C ilustrado na Figura 9.40.
PP9.9 No PE9.9, nós monitaramos o desenvolvimento microestrutural para 1kg de uma liga fundida de
Al-Si com 10wt%Si. Repita o problema para uma liga 20wt%Si-80wt%Al.
PP9.10 No PE9.10, calculamos a porcentagem em peso da fase θ a temperatura ambiente para uma liga
95,5wt%-4,5wt%Cu. Calcule a porcentagem em peso da fase θ em função da temperatura que ocorreria
sob resfriamento lento no intervalo de temperatura de 548,2°C à Temperatura Ambiente.
PP9.11 Calcule a microestrutura para (a) uma liga 40:60 Pb-Sn e (b) uma liga 60:40 Pb-Sn a 200 e
100°C.
Introdução
No capítulo 9 vimos uma poderosa ferramenta que era o diagrama de fases para descrever o
desenvolvimento de microestruturas de equilíbrio durante o resfriamento lento a partir do estado
líquido. Na prática, o fator tempo é um parâmetro importante no processamento de materiais e
raramente se trabalha em condições de equilíbrio. O aspecto prático disto é o tratamento térmico, a
história de temperatura versus tempo para gerar uma microestrutura desejada. O fundamento básico
para o tratamento térmico é a cinética que define a ciência das transformações de fases dependentes do
tempo.
Uma outra maneira de analisar é dizer que o tempo necessário para que a reação de
solidificação se complete varia com a temperatura. No sentido de comparar os tempos de reação de
maneira consistente, Figura 10.1 representa o caso ideal de têmpera (quenching = resfriamento rápido)
do líquido a partir do ponto de fusão instantaneamente para alguma temperatura mais baixa e então
medir o tempo necessário para completa solidificação naquela temperatura. A primeira vista, a reação
na Figura 10.1 parece surpreendente, pois próximo à temperatura de fusão e em baixas temperaturas se
processa lentamente. Em temperaturas intermediárias, a reação é mais rápida. Para entender essa curva
de transformação do tipo cotovelo, devemos explorar alguns conceitos fundamentais da teoria cinética.
Para esta discussão vamos analisar a precipitação de uma fase sólida simples dentro de uma
matriz líquida, Figura 10.2. Esse processo é o exemplo de uma nucleação homogênea, significando
que a precipitação ocorre dentro de um meio completamente homogêneo. O caso mais comum é a
ocorrência de nucleação heterogênea na qual a precipitação ocorre em alguma imperfeição estrutural
como superfície externa. A imperfeição reduz a energia de superfície associada à formação da nova
fase. O processo de precipitação ocorre em dois estágios. Primeiro a nucleação. A nova fase, que se
forma porque é mais estável, primeiro aparece como um pequeno núcleo. Isto resulta das flutuações
atômicas locais e são de dimensões de algumas centenas de átomos. Esse estágio inicial envolve o
aparecimento aleatório de muitos núcleos. Somente aqueles de um dado tamanho são estáveis e podem
continuar a crescer. Esse núcleo de tamanho crítico deve ser grande o suficiente para contrabalançar a
energia de formação da interface sólido-líquido. A taxa de nucleação – a taxa com que os núcleos de
tamanho crítico ou maior aparecem – é o resultado de dois fatores que competem entre si. Na
temperatura exata de transformação – no caso o ponto de fusão – as fases sólida e líquida estão em
equilíbrio, e não existe força motriz líquida para que a transformação ocorra. Quando o líquido é
A explicação da Figura 10.1 com o uso da Figura 10.4 é preliminar porque ainda não incluímos
a etapa de crescimento (veja a Figura 10.2). Este processo, como no caso de aglomeração de átomos na
nucleação, é difusional por natureza. Isto faz com que a taxa de crescimento possa ser expresso por
uma equação de Arrhenius:
Q
−
G& = Ce RT E10.1
Figura 10.3 A teoria da nucleação clássica envolve o balanço de energia entre o núcleo e o líquido
circunvizinho. Um núcleo como o mostrado na Figura 10.2c será estável somente se o crescimento
posterior reduz a energia líquida do sistema. Um núcleo idealmente esférico será estável se o seu raio,
r, é maior que um raio crítico, rc.
Figura 10.5 A taxa de transformação total é o produto da taxa de nucleação N& e da taxa de
crescimento G& .
Figura 10.7 Diagrama TTT para o aço eutetóide mostrado juntamente com o diagrama de fases Fe-
Fe3C. O diagrama TTT mostra que, para certas temperaturas de transformação, em vez da perlita se
forma a bainita. Em geral, quanto menor a temperatura de transformação mais refinada é a
microestrutura. A taxa de nucleação aumenta e a difusividade diminui a medida que se baixa a
temperatura. A curva sólida a esquerda representa o início da transformação (1% transformada), a
curva pontilhada intermediaria, 50% e a curva cheia a direita representa o fim da transformação (99%
transformada). Essa convenção é utilizada nos diagramas posteriores.
Figura 10.9 A microestrutura da bainita envolve agulhas extremamente finas de Feα e Fe3C em
contraste a estrutura lamelar vista no capítulo 9. Aumento 535X.
A reação eutetóide mostrada na Figura 10.7 é um processo difusional por natureza. No entanto
uma inspeção detalhada no diagrama TTT mostra que não existe informação abaixo de 250°C. A
Figura 10.11 mostra que um processo bem diferente ocorre a baixas temperaturas. Duas linhas
horizontais são adicionadas para representar a ocorrência do processo sem difusão conhecido como
transformação martensítica. Isto é um termo genérico que se refere a uma grande família de
transformações sem difusão que ocorre em metais e não metais. O efeito de memória de forma se
baseia no processo de transformação martensítica.
Vamos exemplificar a transformação martensítica baseado no aço eutetóide. Neste sistema, o
produto formado a partir de resfriamento rápido da austenita é denominado de martensita. O processo
de resfriamento é denominado têmpera (não confundir com o termo “tempering” em inglês que
significa revenir, veremos mais tarde). O resfriamento rápido da austenita permite que o cotovelo do
diagrama TTT em torno de 550°C não seja cortado evitando se assim a transformação difusional. Ao
evitarmos o processo difusional, cria se uma austenita instável sendo a instabilidade tanto maior quanto
menor a temperatura. Em torno de 215°C a instabilidade é tão grande que uma pequena fração (menos
Figura 10.12 Para aços, a transformação martensítica envolve uma reorientação dos átomos de C e Fe a
partir de solução sólida de estrutura CFC-Feγ denominada austenita para solução sólida de estrutura
tetragonal de corpo centrado TCC denominada martensita. a) Célula unitária TCC é mostrada relativo
a estrutura CFC pelo eixo <100>α. b) A célula unitária TCC é mostrada antes (esquerda) e após
(direita) a transformação. Os círculos abertos representam os átomos de Fe e os círculos cheios os
átomos de C posicionados intersticialmente.
Figura 10.14 Diagrama CCT é mostrada superposta ao diagrama de transformação isotérmica da Figura
10.11. O efeito geral do resfriamento contínuo é deslocar as curvas de transformação para baixo e para
a direita.
Figura 10.16 Diagrama TTT para o aço hipoeutetóide (0,5%C) juntamente com o diagrama de fases. O
desenvolvimento microestrutural para essa liga foi mostrado na Figura 941. Comparando as Figuras
10.11, 10.15 e 10.16, deve-se notar que a temperatura de início da transformação martensítica MI
diminui a medida que se aumenta o teor de carbono.
Com os diagramas TTT disponíveis, podemos ilustrar alguns dos princípios básicos dos
tratamentos térmicos dos aços. É um campo vastíssimo de significado comercial muito grande. Para
começar vamos analisar o caso de aços de composição eutetóide.
Como discutido anteriormente, a martensita é uma fase frágil. De fato, um aço 100%
martensítico é tão frágil que tornaria seu uso muito difícil. Uma prática comum para acerto das
propriedades mecânicas dos aços é inicialmente transformá-lo completamente em martensita através de
têmpera (resfriamento rápido). Posterior reaquecimento a uma temperatura na qual transformação de
fase de equilíbrio de α (ferrita) e Fe3C seja possível tornará o material menos frágil. Reaquecimento por
um curto período de tempo a temperatura moderada produz um o aço de alta resistência e baixa
ductilidade. Reaquecimento por um tempo prolongado produz um aço de ductilidade maior devido
diminuição no teor de martensita. A Figura 10.17 mostra a curva da história térmica sobreposta às
curvas do diagrama TTT representando um processo convencional denominado de revenimento
(tempering em inglês). A microestrutura α+Fe3C produzida por revenimento é diferente daquela da
perlita e da bainita. Devemos observar que os caminhos são diferentes. Perlita e bainita são formadas
pelo resfriamento da austenita, uma solução sólida de cubo de face centrada. A microestrutura da
martensita revenida (tempered martensite), Figura 10.18, é formada pelo aquecimento da martensita,
uma solução sólida de cubo de corpo centrado de Fe e C. A morfologia na Figura 10.18 mostra que os
carbonetos coaleceram formando partículas isoladas na matriz de ferrita.
Um problema possível em têmpera e revenimento convencional é o empenamento e o
aparecimento de trincas na peça devido ao resfriamento não uniforme (durante a têmpera). O
resfriamento exterior da peça é mais rápido transformando em martensita antes da parte interior.
Durante o tempo em que a parte externa tem uma estrutura diferente da parte interna, tensões
significativas podem ser geradas. A região de estrutura martensítica, mais frágil é susceptível à trincas.
Uma solução simples para esse problema é o tratamento térmico denominado de martêmpera ilustrado
na Figura 10.19. Nesse processo, a têmpera é parada logo acima da temperatura MI, mantida
isotermicamente até que toda a peça tenha adquirido a mesma temperatura e então resfriada lentamente
para que a transformação martensítica ocorra de maneira uniforme. O passo final é fazer o
revenimento.
Figura 10.17 Revenimento é uma história térmica na qual a martensita, formada a partir da têmpera da
austenita, é reaquecida. A martensita revenida consiste de fases de equilíbrio de Feα e Fe3C mas de
microestrutura diferente da bainita e da perlita. Veja a Figura 10.18.
Figura 10.19 Na martêmpera, o resfriamento rápido (têmpera) é parado logo acima da temperatura MI.
Resfriamento lento através do intervalo de transformação martensítica reduz as tensões mecânicas
associadas com a mudança de estrutura. O reaquecimento final é o mesmo usado no revenimento.
Figura 10.21 Ilustração esquemática do Ensaio Jominy para verificar a temperabilidade dos aços.
Na sessão 6.3 vimos que pequenos obstáculos ao movimento de discordâncias podem aumentar
a resistência (dureza) de um metal, Figura 6.25. Pequenos precipitados de segunda fase podem ser
efetivos nesse sentido. No Capítulo 9, vimos que o caminho de resfriamento para certas composições
da liga levava a precipitação de uma segunda fase, Figura 6.37b. A ilustração mais comum se encontra
no sistema Al-Cu (vimos um pouco no PE9.10). A Figura 10.25 mostra o diagrama de fases do sistema
Al-Cu no lado rico em Al juntamente com a microestrutura que se desenvolveria no resfriamento lento.
Como, no resfriamento lento, os precipitados são relativamente grosseiros e localizados nos contornos
de grãos, pouco aumento de dureza é produzido com a presença da segunda fase. A Figura 10.26
mostra uma história térmica diferente. Aqui a microestrutura grosseira é reaquecida a uma temperatura
onde existe fase única κ. Isto é que denominamos de solubilização. Na temperatura de solubilização, os
precipitados são redissolvidos formando a fase única κ. Posteriormente, a estrutura de fase única é
resfriada bruscamente (têmpera) até a temperatura ambiente onde a precipitação é praticamente nula
(lembre-se, o processo é controlado por difusão) resultando em solução sólida supersaturada
metaestável. Ao ser reaquecido a uma temperatura intermediária, a difusão no estado sólido, dos
átomos de Cu no Al, torna-se apreciável permitindo que uma fina dispersão de precipitados se forme.
Prof. J. Otubo 186
Esses precipitados são efetivos como barreiras para a movimentação de discordâncias e levam a um
substancial aumento da dureza da liga. Pelo fato de a precipitação levar algum tempo, o processo é
também denominado de envelhecimento. A Figura 10.27 ilustra o superenvelhecimento na qual o
processo de precipitação é mantido por um longo período de tempo de modo que os precipitados
tenham a chance de coalecerem originando precipitados grosseiros que são menos efetivos para barrar
a movimentação de discordâncias. A Figura 10.28 mostra a estrutura formada durante os estágios
iniciais de precipitação que é efetiva como barreiras de discordâncias. Esses precipitados são
denominados de preipitados de Guinier-Preston ou zonas de G.P. e são distinguidos por
apresentarem interface coerente entre a matriz e o precipitado. Interfaces coerentes são interfaces
entre duas fases que apresentam continuidade da estrutura cristalina. À medida que o precipitado
cresce, a coerência é perdida e é o que acontece no superenvelhecimento.
Figura 10.25 Precipitados grosseiros formam em contornos de grão na liga Al-4,5wt%Cu quando
resfriados lentamente a partir da região de fase única κ para região de duas fases θ+κ do diagrama de
fases. Os precipitados grosseiros pouco afetam em termos de dureza da liga.
10.5 RECOZIMENTO
Um dos tratamentos térmicos mais importante introduzidos neste capítulo é o revenimento na
qual o material no estado martensítico, é amolecido com aquecimento a uma temperatura alta.
Recozimento é um tratamento térmico na qual a dureza de uma material de microestrutura deformada
mecanicamente é reduzida no aquecimento a altas temperaturas (lembram-se da experiência de
dobramento dos arames de inox?). Para melhor entendermos o desenvolvimento microestrutural, vamos
analisar: trabalho a frio, recuperação, recristalização e crescimento de grão.
Figura 10.29 Exemplos de operações de trabalho a frio: a) laminação a frio de uma barra ou chapa;
b) trefilação a frio de um fio ou vergalhão. Observe que a redução de área pela operação de trabalho a
frio gera orientação preferencial dos grãos denominado de textura.
10.5.2 Recuperação
O estágio mais conveniente do recozimento é a recuperação. Aqui não ocorre uma mudança
mircroestrutural muito grande. No entanto, a mobilidade atômica é suficiente para diminuir a
concentração de defeitos pontuais dentro dos grãos e, em alguns casos, permitir que as discordâncias se
locomovam para posições de energia mais baixas (rearranjo de discordâncias). Este processo permite
um pequeno decréscimo na dureza e pode ocorrer em temperaturas logo abaixo daquela necessária para
produzir uma mudança microestrutural significativa. Embora o efeito estrutural da recuperação produza
um modesto efeito no comportamento mecânico, condutividade elétrica aumenta significativamente
devido a eliminação dos defeitos pontuais.
Prof. J. Otubo 191
10.5.3 Recristalização
Na sessão 6.3 citamos um conceito importante que dizia: A temperatura na qual a mobilidade
atômica é suficiente para afetar propriedades mecânicas se situa entre um terço a metade do ponto de
fusão absoluto, TF. O resultado microestrutural de exposição a tal temperatura é denominado de
recristalização e está ilustrado nas Figuras 10.30a-d. Novos grãos equiaxiais, isentos de tensão
mecânica nucleiam em regiões de alta tensão na microestrutura trabalhada a frio, Figura 10.30b. Esses
grãos crescem juntos até constituírem a microestrutura inteira, Figura 10.30c e 10.30d. A concentração
de grãos é tanto maior quanto maior é o grau de trabalho a frio. Dito de outra forma: a granulometria é
tanto mais fina quanto maior é a deformação, isto é, os grãos recristalizados tendem a ser menores
quanto maior a deformação. Como mostrado na Figura 10.31, ocorre um decréscimo na dureza com o
recozimento. A regra do intervalo de temperatura citado no início dessa sessão é valida e define a
temperatura de recristalização, Figura 10.32. Para uma liga com uma dada composição, a
temperatura de recristalização depende do grau de deformação. Deformação elevada requer
temperatura de recristalização mais baixa, pois parte da energia térmica foi suprido pela mecânica,
Figura 10.33.
Figura 10.31 Uma queda brusca na dureza indica que a temperatura de recristalização está em torno de
290°C para o latão C26000 (cartucho de bala).
Figura 10.33 Para este latão trabalhado a frio, a temperatura de recristalização diminui levemente com
o aumento do grau de deformação a frio.
PE10.6 Uma medida de dureza foi feita num ponto crítico do eixo de trailer feito em aço 4340 forjado.
O valor da dureza foi 45RC (Rockwell C). Qual foi a taxa de resfriamento sofrida durante o forjamento
do ponto em questão.
PE10.7 Estime a dureza que seria encontrado no ponto crítico do eixo discutido no PE10.6 se o mesmo
fosse feito de aço 4140 em vez de aço 4340.
PE10.8 a) Calcule a quantidade de fase θ que precipitaria nos contornos de grãos na microestrutura de
equilíbrio mostrado na Figura 10.25. b) Qual é a quantidade máxima de Zona G-P esperada na liga Al-
4,5%Cu?
PE10.9 Latão para cartucho tem composição aproximada de 70wt%Cu e 30wt%Zn. Como esta liga
pode ser comparada àquela mostrada na Figura 10.32?
PP10.1 No PE10.1 foi calculado a energia de ativação para crescimento do cristal na liga de cobre.
Usando aquele resultado, calcule a temperatura na qual a taxa de crescimento tenha decrescido de três
ordens de grandeza relativo a taxa a 900°C.
PP10.2 No PE10.2 determinamos o tempo necessário que se transforme a austenita em 50% de perlita e
50% de bainita a 600°C e 300°C respectivamente. Repita esses cálculos para: a) 1% de transformação e
b) 99% de transformação.
PP10.3 Uma história térmica detalhada é delineada no PE10.3. Responda as mesmas questões do PE
fazendo uma mudança na história térmica, ou seja, a etapa (i) é uma têmpera instantânea para 400°C e
não 500°C.
PP10.4 No PE10.4, estimamos a taxa de resfriamento para mantermos a austenita abaixo do cotovelo
da perlita. Qual seria a porcentagem da martensita formada em cada composição se a têmpera
continuasse até 200°C?
PP10.5 No PE10.5 calculamos o tempo necessário para austêmpera para aços com três teores diferentes
de C. Para fazermos a martêmpera (F10.19), é necessário esfriar o aço antes que comece a formação da
bainita. Quanto tempo os aços podem ser mantidos 5°C acima da temperatura MI antes que a formação
da bainita se inicie para: a) 0,5%C; b) 0,77%C e c) 1,13%C?
PP10.6 No PE10.6 estimamos a taxa de resfriamento que levou a uma dureza de 43RC no aço 4340.
Qual deveria ser a taxa de resfriamento para: a) 50RC e b) 40RC?
PP10.7 No PE10.7 verificamos que a dureza do aço 4140 é mais baixa que a do aço 4340 para uma
mesma taxa de resfriamento. Determine a dureza correspondente para: a) aço 9840; b) aço 8640 e c)
aço 5140.
PP10.8 A natureza da precipitação na liga Al-4,5%Cu foi vista no PE10.8. Repita os cálculos para a
liga Al4,0%Cu.
PP10.9 Observando o resultado do PE10.9, faça o gráfico do intervalo de temperatura estimado para a
recristalização da liga Cu-Zn em função da composição para todo o intervalo de composição desde o
Cu puro ao Zn puro.
Metais
Introdução.
Como vimos no Capítulo1, nenhum material está tão próximo dos engenheiros como os metais.
Exemplo disso são os aços estruturais. Nesse capítulo vamos analisar com mais detalhes os principais
tipos de metais. Vamos começar com as ligas ferrosas que incluem os aços carbonos, ferros fundidos e
outros tipos de aços. As ligas não ferrosas são as outras ligas que não incluem o ferro como elemento
principal. Exemplos disto são as ligas de alumínio, magnésio, titânio, cobre, níquel, zinco e chumbo
bem como os metais refratários e preciosos. Aqui necessitaremos dos conceitos obtidos em capítulos
anteriores como estrutura cristalina, defeitos cristalográficos, transporte difusional e propriedades
mecânicas. Embora este capítulo dê uma introdução dos aspectos fundamentais dos metais, muitos
aspectos já foram vistos no capitulo que tratou dos diagramas de equilíbrio e posteriormente no
capitulo sobre tratamentos térmicos.
Para começar, é interessante citar que mais de 90% dos materiais metálicos usados pelo homem
são ligas ferrosas. Daí a importância do conhecimento dessas ligas. No final do capítulo 9 falamos do
sistema Fe-C. É considerado aço, o sistema Fe-C com carbono até próximo de 2% (limite de
solubilidade do C na austenita). Os ferros fundidos contem entre 2,0 e 4,5wt%C. Se além do carbono,
outros elementos são adicionados, teremos outras categorias de aço. Adição de outros elementos, fora o
carbono, em até 5% teremos os aços baixa-liga (low-alloy steels). Acima desse valor teremos os aços
alta-liga (high-alloy steels). A adição de outros elementos se faz necessário para se ter produtos com
características especiais como: resistência à corrosão, resistência mecânica, estabilidade a altas
temperaturas, etc. No entanto, essas adições encarecem o produto final devendo, portanto ser feitas com
muito critério.
A maior parte das ligas ferrosas ou são aços carbonos (já falamos bastante dos aços carbonos
nos capítulos 9 e 10) ou são aços baixa-liga. São materiais de baixo custo e dúcteis facilitando a
conformação mecânica para produtos finais (barras, chapas, fios, etc.). Encontram aplicações em vários
campos da atividade humana: desde fabricação de rolamentos até chapas para carrocerias de carros.
Uma designação conveniente está mostrada na Tabela 11.1. É baseada na norma AISI (American Iron
and Steel Institute) – SAE (Society of Automotive Engineers). No Brasil temos a norma ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnicas) equivalente. Os dois primeiros números dão o código do
tipo de adição e os dois (ou três) últimos, o teor de carbono. Por exemplo um aço carbono com
0,40wt%C seria um aço 1040. Já um aço com 1,45wt%Cr e 1,50wt%C seria o aço 52150.
Uma classe de aços, de desenvolvimento mais recente, sãos os aços alta-resistência baixa-liga
(ARBL), “high-strenth low-alloy” (HSLA). São aços de resistência mecânica elevada que surgiram
para reduzir o peso dos carros. São ligas que possuem em torno de 1wt% de elementos de adição como
o Mn, P, Si, Cr, Ni ou Mo e com 0,2wt%C.
Como dissemos anteriormente, são aços cujos elementos de liga ultrapassam 5wt% não levando
em conta o teor de carbono. São materiais de custo mais elevado e deve ser escolhido de acordo com a
aplicação a que se destina. Aços inoxidáveis (stainless steel) requerem adição de elementos que
impeçam a corrosão e possam ser utilizados em ambientes agressivos. Aços ferramentas requerem
adição de elementos que endureçam a liga para permitir seu uso como ferramentas de corte na
usinagem. Superligas requerem adições para aplicações a altas temperaturas como palhetas de turbina
(turbine blades).
Aços inoxidáveis devem conter teor de Cr (cromo) acima de 4%. Normalmente acima de 10%
tendo ligas com até 30% de Cr. A Tabela 11.2 resume as designações para os vários tipos de aços
inoxidáveis.
2. Aço inoxidável ferrítico, sem adição de Ni, a estrutura estável é o CCC. São aços
com menos elementos de liga que o inoxidável austenítico e portanto, de custos
menores, utilizados em aplicações onde se exige menor resistência a corrosão.
3. Aço inoxidável martensítico pode ser obtido através de resfriamento rápido a partir
da fase γ austenítica resultando na estrutura tetragonal de corpo centrado (TCC)
denominada de martensita, conforme visto no capítulo 10. Esse tipo de estrutura
resulta em alta resistência mecânica e baixa ductilidade. São aços usados para
cutelaria e fabricação de molas.
Aços Ferramentas são aços de alta resistência mecânica utilizadas para cortar outros materiais
(usinagem) ou dar formas para outros materiais (matriz de estamparia). A Tabela 11.3 mostra exemplos
dos tipos principais de aços ferramentas e no seu final, o aço carbono W1. Esse aço pode ser utilizado
como ferramenta em usinagem que não requer alta performance. Na realidade até meados do século
dezenove, as ferramentas de corte eram feitas de aço carbono. Hoje em dia é comum o uso de aços
ferramentas de alta liga. A vantagem da última é apresentar alta dureza com tratamento térmico simples
e manter essa dureza em operações em altas temperaturas. Os principais elementos de liga nos aços
ferramentas são o tungstênio, o molibdênio e o cromo. Ultimamente tem sido comum o uso de material
cerâmico como o carboneto de tungstênio (WC) como ferramenta de corte. Será visto posteriormente
nas aulas de processo.
Superligas incluem uma classe grande de materiais que apresenta alta resistência mecânica a
temperaturas elevadas (temperaturas acima de 1000oC não são raros). A Tabela 11.4 sumariza os
Como dissemos anteriormente, definimos ferros fundidos como liga ferrosa com teor de
carbono acima de 2%. Contem geralmente até 3%Si para controlar a formação de carbonetos (Fe3C).
Os ferros fundidos possuem baixo ponto de fusão e apresentam também baixa viscosidade o que
permite produzir formas complexas na fundição. Os ferros fundidos são vazados diretamente no molde
e produzidos no formato final. Exemplos disso são as estruturas para bancos de jardim e corpos de
maquinas ferramentas. Apresenta resistência mecânica mais baixa comparada a outros aços
trabalhados. São quatro os tipos principais de ferros fundidos:
Embora as ligas ferrosas sejam usadas na maioria das aplicações metálicas, ligas não ferrosas
têm um papel importante na nossa tecnologia sendo a lista das mesmas, bastante extensa. A seguir
vamos citar as principais com suas respectivas características.
As ligas de Al são conhecidas por apresentarem baixa densidade e resistência a corrosão (já falamos
disso antes, lembram-se, o Al reage prontamente com o oxigênio formando uma película óxido
estável). Alem disso apresenta boa condutibilidade elétrica, facilidade de fabricação e uma boa
aparência (aplicações domésticas e arquitetura). O interesse maior no alumínio e nas suas ligas é
devido ao seu baixo peso que em certas aplicações é fator fundamental: Por exemplo, carros
americanos tiveram seu peso médio reduzido de 16% entre 1976 e 1986 passando de 1705 para
1438kg. A maior parte dessa redução de peso ocorreu devido ao decréscimo de 29% no uso do aço
convencional (de 941 para 667kg) e ao aumento de 69% no uso do Al (de 39 para 63kg) e ao
aumento de 33% no uso de polímeros e compósitos (de 74 para 98kg). As designações das ligas
estão apresentadas na Tabela 11.7. A Tabela 11.8 resume os tratamentos característicos e suas
designações.
Uma das áreas de maior desenvolvimento na metalurgia do alumínio é a série 8XXX envolvendo o
lítio como o principal elemento de liga. As ligas de Al-Li apresentam baixa densidade bem como
rigidez aumentada. O custo elevado do lítio e a necessidade de processamento em atmosfera
controlada (o lítio é muito reativo) são justificados pelo seu uso em aplicações especiais como em
aeronaves.
No capítulo 10 vimos uma variedade de tratamentos térmicos para ligas. Para algumas ligas, aos
tratamentos térmicos padrões são dados código de números tornando-se parte integral da
designação da liga como mostrado na Tabela 11.8.
As ligas de magnésio possuem densidade menor que a do alumínio e como resultado aparecem
em varias aplicações estruturais (projetos aeroespaciais). A densidade do magnésio é de 1,74g/cm3 e de
fato o mais baixo dos elementos estruturais. Ligas de magnésio extrudados têm aplicações também em
Prof. J. Otubo 201
produtos como estrutura para raquetes de tênis e suporte de malas. Possui uma das maiores relações
resistência/densidade. Comparado ao alumínio, o magnésio apresenta baixa ductilidade. Lembrem-se
do Capítulo 1 e do Capítulo 4 em que frisamos o porque disto. O magnésio tem estrutura HC
(hexagonal compacto) com três sistemas de escorregamento enquanto o alumínio, de estrutura CFC
(cubo de face centrada), doze.
O cobre e suas ligas apresentam boa condutibilidade elétrica e são muito usadas na produção de
fios e cabos elétricos. Devido a sua alta condutibilidade térmica é também muito usada como
radiadores e trocadores de calor. É também usada em ambientes marinhos devido a sua resistência a
corrosão. Pelo fato de possuir estrutura CFC, apresenta alta ductilidade permitindo fácil conformação
mecânica. As principais ligas a base de cobre estão listados na Tabela 11.9. Temos os latões, uma liga
de cobre com o zinco como elemento principal de adição apresentando boa resistência a corrosão. Os
latões são utilizados para a fabricação de cartuchos, radiadores, instrumentos musicais e também em
joalherias e bijuterias. Uma outra classe de ligas de cobre bastante conhecida são os bronzes. São ligas
de cobre com adição de elementos como o estanho (Cu-Sn), alumínio (Cu-Al), silício (Cu-Si) e níquel
(Cu-Ni) apresentando alta resistência à corrosão e resistência mecânica superior ao latão. O cobre de
alta pureza é um material mole com alta condutividade elétrica. A adição de 2wt% de berílio (Cu-Be)
As ligas de níquel como a liga Cu-Ni foi utilizada no capítulo 9 para exemplificar a completa
solubilidade sólida. Monel é a denominação dada às ligas de Ni-Cu cuja relação é da ordem de 2:1.
Esse é um bom exemplo de endurecimento por solução na qual as ligas têm suas resistência mecânica
aumentada pela restrição à deformação plástica devido à formação de solução sólida (reveja a Figura
6.25). A introdução de soluto distorce a rede que por sua vez dificulta a movimentação de
discordâncias. A resistência mecânica do níquel é superior que a do cobre mas a do monel é superior
que a do níquel. Níquel apresenta boa resistência à corrosão e alta resistência mecânica a temperaturas
elevadas.
Já listamos algumas ligas de níquel na Tabela 11.4 quando falamos de superligas. Inconel, uma
liga a base de níquel-cromo-ferro e Hastealloy de níquel-molibdênio-ferro-cromo são outros exemplos
importantes. As superligas de Níquel-Alumínio é objeto de pesquisa e desenvolvimento intensos.
Com a composição de Ni3Al, possui uma estrutura cristalina semelhante a do Cu3Au mostrado na Figura
4.3 com o níquel correspondendo o cobre e o alumínio correspondendo ao ouro. A microestrutura da
superliga envolve uma matriz de fase gama com estrutura cristalina desordenada da Figura 4.3a e o
precipitado fase gama linha de estrutura cristalina ordenada da Figura 4.3b. Este sistema e os
relacionados a ele com adições modestas de elementos de liga, exibem excepcional resistência
mecânica a alta temperatura e resistência a corrosão. As propriedades atrativas do Ni3Al tem levado a
um esforço maior de pesquisa e desenvolvimento sobre um estudo sistemático de compostos
intermetálicos para uso estrutural a altas temperaturas. Como exemplo de força motriz para essas
investigações, o desenvolvimento de tais ligas para motores a jato permitindo um aumento na
temperatura máxima de operação dos atuais 1400°C para 1800°C reduziria o custo operacional de vôos
transoceânicos em mais de 25%. Uma gama de composições, especialmente vários intermetálicos a
base de titânio estão sendo pesquisados.
Ligas de chumbo são duráveis e versáteis. Tubulações feitas de chumbo instaladas nos banhos
públicos romanos na cidade de Bath, na Inglaterra, com mais de 2000 anos estão ainda em uso. As ligas
de chumbo são usadas nos terminais das baterias, soldas, proteção contra radiação e estruturas para
controle de sons.
Os metais refratários como o molibdênio (Mo), nióbio (Nb), rênio (Re), tântalo (Ta) e
tungstênio (W) são resistentes a altas temperaturas mais que as superligas. No entanto, devido a sua
reatividade, é necessário trabalhar em atmosfera protetora ou a vácuo.
Os metais preciosos incluem o ouro (Au), irídio (Ir), ósmio (Os), paládio (Pd) platina (Pt),
ródio (Rd), rutênio (Ru) e prata (Ag). Os mesmos apresentam alta resistência a corrosão combinada
com algumas propriedades inerentes e tem aplicações em vários campos. Jóias, circuitos eletrônicos,
ligas dentárias e outras.