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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO


CURSO DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
Química Geral Experimental 2 – Profª Carla Regina Costa
2º semestre / 2020

Experimento 03
Síntese da aspirina

1. Introdução

O ácido acetilsalicílico (AAS) é um composto orgânico sintético derivado do ácido salicílico. Ele constitui o princípio ativo do analgésico e
antipirético registrado e comercializado com o nome de Aspirina® (Figura 1).

Figura 1: Estrutura do AAS e foto do fármaco Aspirina®.

A história do ácido salicílico se inicia no século V a.C. com Hipócrates (Figura 2), filósofo e médico grego considerado o pai da medicina
moderna. Hipócrates prescrevia preparações que incluíam cascas e folhas do salgueiro para o tratamento de febres e para aliviar as dores do parto.
Assim como Hipócrates, Dioscórides (Figura 2), um dos mais notáveis médicos da Antiguidade que viveu na Grécia no século I da era cristã, receitava
emplastros feitos de folhas e cascas do salgueiro para o tratamento de dores reumáticas.
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Figura 2: Médicos gregos que usavam cascas e folhas de salgueiro para combater febres e dores.

Em 1828, o Professor Johann Buchner (Figura 3) da Universidade de Munique (Alemanha) isolou, a partir da casca do salgueiro, uma pequena
quantidade de um composto amarelo, de sabor amargo, cujos cristais tinham forma de agulha, o qual ele chamou de salicilina (Figura 4). Esta
substância era a responsável por promover o alívio da dor. Antes do Professor Buchner, dois pesquisadores italianos, Brugnatelli e Fontana, em
1826, teriam obtido a salicilina, mas em uma forma altamente impura. Em 1929, o químico francês Henri Leroux aperfeiçoou o procedimento de
extração da salicilina a partir da casca do salgueiro conseguindo obter cerca de 30g do composto a partir 1,5 kg de casca de árvore. Em 1838, o
químico italiano Raffaele Piria (Figura 3), então trabalhando na Universidade de Sorbonne em Paris (França), obteve o ácido salicílico (Figura 4) por
meio da hidrólise oxidativa da salicilina.
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Figura 3: Homens que fizeram parte da história da Aspirina®.

Figura 4: Foto do salgueiro branco e estruturas da salicilina e do ácido salicílico.

Em 1859, o alemão Hermann Kolbe (Figura 3), sintetizou pela primeira vez o ácido salicílico a partir do fenóxido de sódio, reação conhecida
como síntese de Kolbe (Figura 5). A grande aceitação do ácido salicílico pela medicina como remédio eficaz para o tratamento de febres reumáticas
agudas, artrites crônicas e gota levou a U.S. Salicylic Acid Company a obter de Kolbe o licenciamento para produção deste ácido nos EUA.
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Figura 5: Síntese de Kolbe.

In 1853, o químico francês Charles Frederic Gerhardt (Figura 3), sintetizou o AAS pela combinação de cloreto de acetila e salicilato de sódio.
Esta síntese foi uma das muitas reações que Gerhardt realizou para seu artigo sobre anidridos, mas ele não tinha vontade de vender o produto e
abandonou sua descoberta.
Em 1899, o químico alemão Felix Hoffmann (Figura 3), que trabalhava para uma empresa alemã chamada Bayer, redescobriu a fórmula de
Gerhardt. O pai de Hoffmann sofria de reumatismo crônico, o qual combatia diariamente com ácido salicílico. Este porém, lhe causava sérias irritações
estomacais e um desagradável gosto na boca, característica comum às substâncias que apresentam hidroxilas fenólicas. Não suportando mais os
efeitos colaterais do medicamento, o pai solicitou ao filho que sintetizasse outro fármaco. Hoffmann testou o novo anti-inflamatório em seu pai. Como
obteve bons resultados, ele convenceu a Bayer a comercializar a nova droga milagrosa. Assim, Friedrich Bayer, o empregador de Hoffman, patenteou
a Aspirina® e começou a comercializá-la em 1899.
O nome dado para o AAS foi A-spirina. Aparentemente o nome se originou de uma combinação dos termos acetilação (A-) com spirina, parte
do nome de uma ulmeira (Spiraea ulmaria, Figura 6), uma planta rica em salicilatos. A Aspirina® foi um enorme sucesso e as vendas cresceram
rapidamente. A empresa de Bayer ficou conhecida como a primeira empresa farmacêutica e a produção de Aspirina® é tida como o início da indústria
farmacêutica moderna.
A elucidação do mecanismo de ação do AAS veio a ser descoberto somente mais tarde pelo farmacologista britânico John R. Vane (Figura
7), premiado com o Nobel de medicina, em meados de 1970. Vane observou que o AAS inibia a síntese e liberação da prostaglandina (hormônio
responsável pela dor e inflamação) e, dessa maneira, interferia no processo inflamatório e na dor. Os efeitos antipiréticos resultam da inibição da
síntese da prostaglandina no hipotálamo. Atualmente, sabe-se que a aspirina inibe a produção de prostaglandinas através da inibição da enzima
ciclo-oxigenase (COX), responsável pela biossíntese de icosanóides derivados da cascata do ácido araquidônico, fosfolipídeo de membrana celular,
precursor das prostaglandinas. A inibição da ciclooxigenase também resulta numa diminuição da agregação de plaquetas no sangue, prolongando
o sangramento. O AAS também aumenta a vasodilatação e o suor.
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Figura 6: Fotos da Spiraea ulmaria.

Figura 7: Farmacologista britânico John Vane, Nobel de medicina de1970.

2. Síntese da aspirina
Neste experimento, você irá sintetizar a aspirina (ácido acetilsalicílico), purificá-la, determinar o rendimento da reação e confirmar se o produto
obtido é realmente a aspirina por meio da determinação de seu ponto de fusão.
A reação que será utilizada na síntese é apresentada abaixo (Figura 8). Nesta reação, um excesso de anidrido acético é adicionado para uma
determinada massa de ácido salicílico, na presença de ácido sulfúrico. A mistura é aquecida e a reação resulta na formação de ácido acetilsalicílico
e ácido acético. Depois de finalizada a reação, água é adicionada para promover a decomposição do excesso de anidrido e promover a cristalização
do produto. A aspirina é então coletada, purificada por recristalização e seu ponto de fusão é então determinado. Posteriormente a pureza do produto
pode ser determinada por titulação.
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Figura 8: Reação de síntese da aspirina a partir do ácido salicílico.

2.1. Parte 1: Procedimento de síntese da aspirina


1) Pese 5,00 g de ácido salicílico sobre um vidro de relógio. Em seguida transfira para um erlenmeyer de 125 mL com o auxílio de um funil e de um
bastão de vidro. Anote a massa pesada em seu caderno.
2) Com o auxílio de uma proveta, meça 10,00 mL de anidrido acético e transfira-o para o erlenmeyer contendo o ácido salicílico. CUIDADO: Use
luvas e jaleco para impedir que o anidrido acético entre em contato com a pele. Se possível, use também óculos de segurança.
3) Agite intensamente até formar uma mistura homogênea.
4) Fixe o erlenmeyer em com o auxílio de uma garra metálica e introduza o erlenmeyer em um banho banho-maria (100 ºC).
5) Adicione 10 gotas de ácido sulfúrico concentrado. A temperatura irá se elevar.
6) Aqueça o sistema. Depois que a água começar a ferver, aqueça por mais 15 min. Esporadicamente, agite a mistura com o auxílio de um bastão
de vidro.
7) Após o aquecimento, desligue a banho maria e remova cuidadosamente o erlenmeyer do banho-maria.
8) Deixe o frasco na bancada para esfriar durante aproximadamente 5 min e, em seguida, adicione 100 mL de água destilada e observe a formação
dos cristais de ácido acetilsalicílico. Deixe o erlemeyer em repouso até a próxima aula e então efetue a filtração da aspirina sólida.

2.1.1. Responda em seu caderno


1) Calcule o número de mol de ácido salicílico utilizado na reação. Para isso, anote as especificações do reagente em seu caderno.
2) Calcule o número de mol de anidrido acético utilizado na reação. Para isso, anote as especificações do reagente em seu caderno.
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3) Calcule a massa de ácido acetilsalicílico que você espera obter caso o rendimento da reação seja de 100%.
4) Qual a função do ácido sulfúrico. Ao invés de utilizá-lo você poderia utilizar ácido fosfórico? Justifique a sua resposta.
5) Como a água promove a decomposição do anidrido acético?

2.2. Parte 2: Filtração da aspirina


1) Efetue a filtração da aspirina pelo procedimento da filtração simples conforme indicado na Figura 9.
2) Em seguida, lave o erlenmeyer três vezes com 10 mL de água gelada para remover quaisquer cristais residuais.
3) Descarte o líquido filtrado em um frasco adequado, indicado pelo professor.

2.3. Parte 3: Recristalização da aspirina


A recristalização é um método rápido e conveniente de purificação de um composto orgânico sólido. Neste método, o material a ser purificado
é dissolvido em um solvente quente apropriado. Quando o solvente esfria, a solução torna-se saturada com relação à substância de interesse, a
qual então cristaliza enquanto que as impurezas permanecem em solução. Para recristalizar a aspirina, proceda da seguinte maneira:
1) Transfira o máximo de sólido possível do papel de filtro para um béquer de 250 mL limpo e seco.
2) Adicione 10 mL de etanol 95% ao béquer e, se necessário, aqueça, sem ebulir, a mistura em um banho de água para dissolver os cristais. Se os
cristais não dissolverem, adicione mais 2 mL de etanol e continue a aquecer a mistura até dissolver os cristais.
3) Quando os cristais dissolverem completamente, adicione 10 mL de água destilada e cubra o béquer com um vidro de relógio. Deixe a solução
esfriar lentamente na bancada do laboratório em repouso por cerca de 10 min.
4) Após 10 min, coloque o béquer contendo a aspirina em um banho de gelo. Cristais devem se formar. Se um óleo aparecer ao invés de um sólido,
reaquecer o béquer em banho de água quente até o óleo desaparecer. Se os cristais não aparecem, você pode arranhar a parte inferior do
recipiente com uma vareta de agitação para induzir a cristalização.
5) Utilizando um círculo de papel de filtro limpo de tamanho adequado e um cadinho de Gooch, filtre a aspirina purificada por filtração sob sucção.
Pese o conjunto cadinho de Gooch + papel de filtro antes da filtração.
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Figura 9: Reação de síntese da aspirina a partir do ácido salicílico.

6) Seque os cristais com o próprio vácuo durante 15 min e, posteriormente, descarte o filtrado em frasco apropriado.
7) Leve o produto para a estufa e deixe secar por um dia a aproximadamente 70 °C.
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8) Após a secagem em estufa, deixe o sistema esfriar em um dessecador e então pese o conjunto cadinho de Gooch + papel de filtro + aspirina para
determinar o rendimento da reação.

2.4. Parte 4: Determinação do ponto de fusão da aspirina


Com o auxílio de um fusiômetro, de um tubo capilar e de um termômetro, determine o ponto de fusão do ácido acetilsalicílico sintetiza e
compare com o da literatura. Ponto de fusão da aspirina igual a 135 °C.

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